Revista por um mundo melhor edição 05

Page 1

5

POR UM MUNDO

MELHOR

ANO II Jul/Ago/Set 2018 BRASÍLIA - DF EDITORA PALOMITAS

ISSN: 2358-3207

Porque o MUNDO também é repleto de BOAS NOTÍCIAS e PESSOAS EXTRAORDINÁRIAS

EDUCAÇÃO

JORNALISMO EM QUADRINHOS: FERRAMENTA PEDAGÓGICA SOLIDARIEDADE

MISSÕES HUMANITÁRIAS E CRISES MIGRATÓRIAS: REALIDADE INDISSOCIÁVEL DE HOJE

PERFIS

O DIÁRIO DE MYRIAM: A GUERRA PELO OLHAR DE UMA CRIANÇA


FALE INGLÊS COM

SEGURANÇA

FAZER SÓ INGLÊS FICOU ANTIGO. FAÇA CULTURA. Na Cultura, você conta com turmas exclusivas para adultos, conversação com pessoas de outros países, coaching para o seu desenvolvimento, plataforma digital com atividades extras, chat online com professores e muito mais.

Matricule-se já www.culturainglesa.net ÁGUAS CLARAS - (61) 3435-4430 ASA NORTE - (61) 3272-2227 ASA SUL - (61) 3244-5650 SUDOESTE - (61) 3343-3366 TAGUATINGA - (61) 3351-0269



EDITORIAL

AS MISSÕES HUMANITÁRIAS EM TEMPOS DE CAOS E DE CRISE DE VALORES Basta um breve vislumbre do noticiário de todo dia para que cheguemos a uma conclusão clara sobre a inegável relevância das missões humanitárias, principalmente nestes difíceis tempos de crises migratórias, como o Brasil vem experimentando, ao tomar contato com a dolorosa situação dos nossos irmãos venezuelanos. É inquestionável que tais missões são imprescindíveis para erradicar situações de exceção vividas por tantas populações vulneráveis mundo afora, sendo que muitas das quais recorrem à migração como único meio de sobrevivência. Lamentavelmente, o amparo, o socorro e o asilo aos refugiados constituem questões sensíveis e distantes da unanimidade para muitos países (como a Itália e os EUA, que lhes negam auxílio e abrigo). A União Europeia (UE) se declara empenhada em ajudar muitas dessas vítimas. Não por acaso, o bloco e os países que o compõem são, em conjunto, o principal doador mundial de ajuda humanitária, que representa apenas 1% do orçamento total da UE, o que equivale a pouco mais de 2 euros para cada cidadão europeu. Grande parte dessa ajuda é destinada a organizações humanitárias, que prestam auxílio às populações (atingidas por catástrofes, guerras, epidemias...) e também aos refugiados. Mas como o inadmissível caminha ombro a ombro também com os esforços necessários para debelar as distorções da nossa humanidade, atualmente algumas organizações humanitárias – cuja missão, até por força de sua razão de existir, é garantir a integridade das vítimas que deveriam socorrer – têm suas ações refutadas e são alvos de investigações, por atuarem na contramão do que deveriam cumprir. É o que revela um relatório independente do Reino Unido, que põe em questão as atuações de algumas entidades humanitárias reconhecidas e apoiadas até por recursos da coroa britânica.

POR UM MUNDO

ELHOR

EXPEDIENTE M

Todavia, como é fundamental separar o joio do trigo, nesta edição da revista Por Um Mundo Melhor, vamos enfatizar as missões louváveis que uma entidade humanitária de excelência vem realizando em auxílio aos brasileiros e a povos de vários países: trata-se da Fraternidade

A revista Por Um Mundo Melhor é uma publicação trimestral da Editora Palomitas e não tem fins lucrativos. Todos os recursos advindos da comercialização de seus anúncios se destinam à sustentabilidade do periódico, à remuneração de seus profissionais e ao apoio a projetos sociais, ambientais e de defesa dos vulneráveis. CNPJ: 19.920.208/0001-57 Contato: revistaporummundomelhor@gmail.com Tel.: (61) 99819-9828 Fundador e editor-chefe: Paulo Henrique de Castro e Faria (RP MTb: 4136/DF) (paulo.castro.jornalista@gmail.com) Facebook: Revista Por Um Mundo Melhor

2

– Federação Humanitária Internacional (FFHI). Conheça a entidade e os esforços notáveis que tal organização humanitária vem realizando em prol de um mundo melhor: mais fraterno, humano, solidário e inclusivo. No mesmo sentido, na nossa seção Perfil, conheça o “Diário de Myriam”, um relato corajoso de uma menina síria sobre a guerra e o seu mundo, subitamente transformado pelo arbítrio dos homens. Também falamos do papel do jornalismo em quadrinhos como importante ferramenta pedagógica para a compreensão de direitos sociais negados aos indivíduos. Como a conscientização também faz parte do foco editorial da nossa revista, na seção de Cultura, falamos de um documentário que expõe responsabilidades históricas de indústrias farmacêuticas que negaram medicamentos de baixo custo para populações africanas, asiáticas e latino-americanas no caso de uma epidemia fatal, porém evitável. Por fim, falamos da consciência social semeada pelo Instituto Canopus, que inspira muitas vidas em serviço abnegado ao próximo. Até a próxima edição. Boa leitura!

Boa leitura!

Projeto gráfico: Paulo Moluap Tel.: (61) 99962-4463 Diagramação: IMAD Representação comercial, consultoria em produção gráfica: Cleber de Albuquerque Colônia Editora Independente CNPJ: 24.206.387/0001-03 www.coloniaeditora.com.br Tel.: (61) 99964-7263 Assessoria de Editorial: Neuza Castro e Silva Impressão: Qualidade Gráfica e Editora Tiragem: 3.000 exemplares ISSN: 2358-3207 Distribuição gratuita


4

De Volta das Cinzas, Renovada

8

Só o Amor Pode Curar a Dor

11

Quadrinhos & Jornalismo: Tudo a Ver

16

Instituto Canopus: Vidas em Serviço ao Próximo

22

Dor nas Costas: Como Evitar?

26

A Ambição Acima da Vida

28

3

S UMÁRIO

“Estou Recuperando a Minha Infância”


P ERFIS

PERFIL: MYRIAM RAWICK

“ESTOU RECUPERANDO A MINHA INFÂNCIA”

A

frase lida no título é de Myriam Rawick, de apenas 13 anos de idade, uma criança síria de família cristã humilde, de origem armênia, que ficou famosa no mundo, quando seu diário – que relata o dia a dia de seus familiares na guerra que se abateu sobre o seu país – foi publicado, expondo os horrores que ela presenciou e sentiu. Myriam teve que fugir de seu bairro, na cidade de Alepo, onde vivia; sofreu com os bombardeios, o sequestro do primo, os bloqueios, os combates constantes e se tornou refugiada em sua própria cidade. Um pesadelo que ela registrou em árabe em um caderno de 50 páginas, que cobre cinco anos do conflito, visto a partir da perspectiva da menina. Em 2016, o jornalista francês Philippe Lobjois conheceu a jovem e resolveu publicar o “Diário de Myriam”. Nesta seção Perfil, mostramos trechos da narrativa da adolescente repletos de poesia e doces lembranças, que ela apresenta ao mundo, com o lamento do que se foi. Um documento tocante, que reforça a máxima de que as crianças e os demais seres inocentes são as maiores vítimas das guerras. Uma narrativa, repleta de nostalgia, que deixa a noção clara de que as guerras são os argumentos dos bárbaros: as mais lamentáveis evidências de que a humanidade ainda não está preparada para uma forma de vida superior PAULO CASTRO

POR UM MUNDO

MELHOR

A vida subitamente transformada por “coisas de adultos” “Meu nome é Myriam, tenho treze anos. Cresci em Jabal Sayid, bairro de Alepo, onde também nasci. Um bairro que não existe mais. Tenho medo de esquecer essas imagens, essa cidade que desapareceu, esse mundo que afundou no caos”. “Quando a guerra começou, minha mãe sugeriu que eu escrevesse um diário. Nele, contava tudo o que tinha feito no meu dia. Eu pensei que assim eu poderia um dia me lembrar de tudo o que aconteceu”.

4

“Outro dia, mamãe me disse que meus olhos não eram os únicos guardiões de minhas lembranças. Eu podia também confiar em meus dedos, meus ouvidos, meu olfato”. “Até que tudo acontecesse, cresci neste paraíso de cores, cheiros, sabores. Até que tudo acontecesse, me bronzeei sob o sol de Alepo, bebi a água de Alepo”. “Adorava minha cidade, meu bairro. Gostava de sentir o calor de suas pedras polidas pelo tempo, de ouvir o canto dos almuadens, de me proteger à sombra das igrejas. Eu era feliz, leve. E não imaginava que a vida pudesse ser de outra forma”.


F. Thomas (divulgação)

“Eu acordei uma manhã com o barulho de coisas quebrando, pessoas gritando ‘Alá Akbar’ [“Deus é grande”, em árabe]. Senti tanto medo que fiquei com vontade de vomitar. Abracei forte minha boneca, dizendo ‘não tenha medo, não tenha medo, eu estou aqui com você’”. “Quando a gente abre as janelas, não há um barulho de vida sequer. Não existem flores, não existem cores e até os pássaros já nos deixaram”.

A fuga de casa “Corri para colocar meus livros na mochila. Eu adoro os livros, não podia abandoná-los. Eu coloquei dois anoraques [agasalhos impermeáveis com capuz], um por cima do outro, para me proteger das balas perdidas”.

Após a rendição dos insurgentes, trégua em Alepo “Já não temos medo de que bombas caiam sobre as nossas cabeças. Estou recuperando a minha infância, voltando a brincar com as crianças da vizinhança”.

O retorno ao que restou de seu bairro e de sua vida passada “Era como se meu coração estivesse voltando a bater: tudo estava destruído, mas eu me lembrei de todos os momentos que vivi lá. Havia um perfume da felicidade passada. Mas eu não vou voltar a morar ali”.

“Tivemos que sair de madrugada da nossa casa nova. Desde que a guerra começou, percorrer alguns quilômetros leva um tempo infinito. Ao chegar ao nosso bairro, não pude sequer me mexer, de tão triste que era o espetáculo que se estendia diante de nós. Escombros e metal por todos os lados”. “Ao me virar, vi um pedaço de rua. Não reconheci na hora, mas fiquei olhando para ela por um bom tempo, como se tivesse sido misteriosamente atraída. Depois de alguns minutos, perguntei à mamãe: ‘Era aqui?’. Ela entendeu imediatamente do que eu estava falando. Ela assentiu com a cabeça e me estendeu a mão. Era a nossa rua”. “O apartamento [onde morávamos] não tem mais porta. Não tem mais janela. Quase não tem mais móveis. [...] Eu queria ir ao meu quarto. Mas, enquanto andava, minha sandália ficou presa no chão. Tropecei e caí de joelhos. Quando tentei me levantar, percebi algo no chão. Uma caixinha vermelha, amassada pelo tempo. [...] Fechei a caixa. Ao olhar de novo a tampa, lembrei-me imediatamente de onde ela vinha. Na vida de antes, ela estava guardada embaixo da minha cama de madeira [...]. Como ela tinha ido parar ali? Não faço

5


MELHOR POR UM MUNDO

ideia, mas, com ela, tudo estava lá. O cheiro da padaria, o grito das crianças na rua, os bolos da minha mãe, o sorriso do dono do mercado [...]. Foi ali, pela primeira vez, que entendi o que significava a guerra. A guerra era minha infância destruída sob essas ruínas e fechada em uma caixinha. Agarrei a caixa, bem decidida a levá-la. Desde então, nunca me separei dela. Nunca mais. Alguns têm fotos ou filmes, outros ainda guardam brinquedos, bichos de pelúcia ou roupas. Objetos que vão nos conectar às lembranças de antes. Para mim, da minha infância só resta isso. Só uma caixinha amassada”. “Os cheiros, os gostos, a felicidade agora estavam aqui, sob as ruínas, abafados sob os tetos desabados”.

6

“Basta que eu feche os olhos e me concentre para que tudo volte”.

As doces lembranças “Tenho três anos e me agarro ao sofá da sala para tentar escalá-lo. Meu rosto enfiado nas almofadas de bordado vermelho. Ouço o riso da mamãe atrás de mim”. “Tenho quatro anos e espero impacientemente meu bolo de aniversário. [...] Mamãe me vestiu com um vestido, meu preferido. Branco com florezinhas de todas as cores, costuradas por todo canto. Passo o dedo por cima dele para contar o número de pétalas de cada flor. Papai abriu bem as janelas da sala. Vemos o vento sacudir as árvores, que quase chegam até a janela. Uma


brisa entra, nos refresca e, como se fosse mágica, apaga as velas colocadas em cima do meu bolo, antes que eu tivesse tempo de soprá-las”. “Cheiros, risos, cores. Tantas lembranças, que me fazem recordar minha vida de antes. Lembranças que são como miragens. Tão distantes daquilo que vivo hoje. Daquilo que vejo. Daquilo que sinto”. “Um dia, quando eu era bem pequena, papai disse: ‘Alepo é a estrela da Terra’. E ele tinha razão. Alepo era um éden, era o nosso éden”.

Estudantes brasileiros se emocionam com diário da menina síria e recebem a visita do jornalista francês que a conheceu

O futuro e a esperança que ele traz “Adoraria que, um dia, as estrelas da minha bandeira fizessem parte de uma constelação e pudessem ser vistas por qualquer pessoa de qualquer parte do nosso planeta”. A adolescente, que sonha ser astrônoma, “porque ama as estrelas”, continua escrevendo no seu diário “Não quero me esquecer do que estou vivendo agora”.

Na edição brasileira, além do diário, os leitores poderão encontrar as cartas dos alunos e um prefácio escrito pela equipe do jornal Joca.

Alunos da EMEF Professor Laerte José dos Santos, de Osasco (SP), receberam a visita do correspondente de guerra francês Philippe Lobjois, que conheceu Myriam e incentivou a jovem a publicar seu diário. Na visita, os alunos também se emocionaram quando assistiram a um vídeo gravado pela própria Myriam Rawick, que agradeceu aos estudantes brasileiros a atenção dada à sua história de vida. Os estudantes souberam da história da adolescente síria a partir da leitura de uma notícia do jornal estudantil Joca (https://jornaljoca.com. br/portal/), redigido unicamente por crianças e adolescentes. Após a leitura do texto, os alunos ficaram comovidos com a trajetória de vida da menina e enviaram, para a redação do Joca, mais de 200 cartas pedindo a tradução do Diário de Myriam. Os pedidos foram encaminhados para várias editoras, até que uma delas resolveu editar o livro em português.

Vídeo da visita do jornalista francês aos estudantes brasileiros: <http://g1.globo.com/fantastico/ noticia/2018/07/menina-que-descreveusofrimento-da-familia-na-siria-comovebrasileiros.html>.

Vídeo gravado por Myriam Rawick para os alunos do Brasil: <https://www.youtube.com/watch?time_ continue=55&v=pcVl2ENPpgw>.

7


o .. ós o incêndi

PAULO CASTRO

E

m 14 de julho, ocorreu a reinauguração do Espaço Santo Antônio, da Associação Santos Inocentes Mártires. O galpão havia sido consumido por um incêndio criminoso, no dia 26 de maio, que queimou roupas, mantimentos, móveis e outros itens do bazar da instituição. Segundo Ari França, administrador da entidade, “foi tudo destruído”, inclusive materiais que estavam sendo produzidos para a festa junina, mas ninguém se feriu.

e ...

Mutirão social para reconstrução e reinauguração de galpão da Associação Santos Inocentes Mártires após incêndio evidencia a solidariedade de quem acredita na iniciativa em prol da vida de mães e suas crianças

. o e sp a ç o

Ap

ão d

Solidariedade

DE VOLTA DAS CINZAS, RENOVADA

de

po

is d a

aç ur g u reina

O local, já reconstruído e reinaugurado, servirá agora para a instalação de consultórios para atendimentos das mães, realização de atividades para elas e para a comunidade local, além da promoção de eventos. O mutirão social de restauração do espaço é fruto da solidariedade de pessoas anônimas e de diversas entidades filantrópicas e órgãos públicos, como o Rotary Club do Sudoeste e servidores da Vara da Infância e da Juventude do DF.

CAUSA NOBRE

POR UM MUNDO

MELHOR

A Associação Santos Inocentes Mártires foi tema de capa da 2ª edição da revista Por Um Mundo Melhor. A entidade defende a vida desde a concepção até o seu término natural, atuando pela conscientização sobre o valor de cada vida humana. A instituição realiza o trabalho de resgate de inocentes, que consiste em ir ao encontro da mãe ou família que esteja pensando em realizar um aborto – por terem sido vítimas de agressões, por questões financeiras, traumas afetivos, depressão etc. –, conscientizá-las a respeito da dádiva que é a vida e apoiá-las (de modo psicológico, material e espiritual), para que não seja feito o aborto. O acompanhamento e o apoio à mãe e ao bebê ocorrem até depois do nascimento da criança. A entidade também atua no acolhimento de gestantes que não tenham onde ficar, assim como de crianças resgatadas do aborto e vítimas de abandono. A entidade funciona quase que exclusivamente de doações e dos poucos eventos que realiza. Endereço: QR 425, conjunto 5, casa 15, Samambaia Norte (DF). Tels.: (61) 3459-2867 / 3359-3652. | E-mails: arifrancainocentes@gmail.com santosinocentessaojose@gmail.com | Site: www.santosinocentes.org.br

8


9


10

POR UM MUNDO

MELHOR


Em tempos de profunda crise de valores e de referenciais de vida em escala planetária, faz toda a diferença, para milhões de pessoas em situação de vulnerabilidade social, a atuação das missões humanitárias. São iniciativas de pessoas e entidades que, de forma voluntária, desinteressada e abnegada, sem qualquer retribuição, prestam serviços de saúde, oferecem suporte material, garantem apoio emocional e psíquico, orientam e amparam vocações e resgatam a autoestima e a esperança. Conheça o trabalho da Fraternidade – Federação Humanitária Internacional (FFHI), uma das organizações brasileiras que se notabilizam por prestar incondicional solidariedade PAULO CASTRO

O

início deste século XXI marca o auge de um desequilíbrio de alcance planetário sem precedentes na história da nossa civilização, uma desarmonia que recrudesce como uma sangria, desabando como golpes viscerais sobre muitos povos e a maioria esmagadora das nações. Hoje, a maior parte dos países do globo enfrenta desafios aparentemente insolúveis, como a violência, a corrupção, economias falidas, problemas climáticos (como o aquecimento global), o desmatamento, a extinção da fauna e de biomas, o contingenciamento estatal, o desabastecimento hídrico e a escassez de recursos naturais, só para citar alguns. Como todo sistema que está em colapso prenuncia o surgimento de um movimento contrário, que tende a resistir ao declínio e a estabelecer o equilíbrio, trazendo vislumbres de uma vida nova, inúmeras iniciativas em âmbito global mostram que a humanidade não está passiva, assistindo à própria ruína. Uma dessas louváveis iniciativas traz o nome de Fraternidade – Federação Humanitária Internacional (FFHI) (www.fraterinternacional.org), uma organização sem fins lucrativos, suprapartidária e ecumênica, sediada em Carmo da Cachoeira (MG).

Mantida por doações e unicamente por trabalho voluntário, a FFHI pratica e dissemina os princípios da vida fraterna, contribuindo para a ampliação da consciência, a vivência da paz e do amor, o serviço altruísta e a expressão de novos padrões de conduta na civilização. As missões humanitárias são apenas uma faceta de suas atividades e se constituem em um dos principais pilares de sua atuação no Brasil e no exterior, levando apoio médico, odontológico, de enfermagem, emocional, espiritual e material aos assistidos.

Catástrofe humanitária venezuelana Entre as várias missões empreendidas pela Fraternidade em diversas regiões do planeta, chamam a atenção duas que ocorrem em caráter permanente, dada sua atualidade e considerando-se o copioso sofrimento com o qual lidam, por causa da falta de efetiva garantia dos direitos humanos mais basilares: as crises migratórias. Hoje em dia, o Brasil – além de presenciar um cenário de profunda desigualdade social de contingentes amplos de sua própria população – ainda assiste estarrecido a outro quadro igualmente cruel: uma catástrofe humanitária decorrente da migração de centenas de venezuelanos, que chegam diariamente ao país, a partir de Pacaraima (RR), cidade de fronteira com a Venezuela, porta de entrada da maioria dos migrantes, que dali buscam refúgio por todo o território nacional brasileiro. Muitas famílias venezuelanas, premidas pelo

11

Solidariedade

SÓ O AMOR PODE CURAR A DOR


desmonte estatal do seu país (econômico, político e social), chegam ao Brasil em situações precárias e pungentes: várias chegam sem quaisquer recursos, doentes, famintas, apenas com a roupa do corpo e os próprios pertences trazidos à mão.

do que chegam à Europa após arriscarem suas vidas na travessia do Mar Mediterrâneo, fugindo de guerras, crises políticas, caos social e perseguições religiosas, além de condições precárias de existência em seus países de origem.

De modo a prestar os mais diversos serviços de auxílio aos venezuelanos migrantes desassistidos, a Fraternidade estabeleceu, em 2016, a Missão Roraima Humanitária, uma iniciativa permanente que envolve cuidados de saúde e de higiene, apoio psicossocial, abrigo às

POR UM MUNDO

MELHOR

Na Missão Roraima Humanitária, voluntária médica da Fraternidade atende uma criança indígena venezuelana

famílias, fornecimento de alimentos, roupas, remédios, entre muitos outros suportes. Antes do estabelecimento das missões humanitárias internacionais, a FFHI já contabilizava uma experiência considerável no Brasil, prestando em território nacional o mesmo auxílio que agora estende aos povos estrangeiros, principalmente para populações vulneráveis e atingidas por catástrofes.

Oriente Médio: missão permanente a migrantes e refugiados Ainda em 2016, a Fraternidade instituiu a Missão Grécia Humanitária, também em caráter permanente, atuando nas cidades de Anavissos e Lagonisi. A 16ª missão da entidade oferta ajuda humanitária aos refugiados do Oriente Médio, da África e de outras partes do mun-

12

Na Missão Etiópia (2012), missionários da Fraternidade atuaram na capital do país (Adis Abeba). As tarefas ocorreram em um abrigo das Irmãs de Caridade de Madre Teresa de Calcutá que acolhe cerca de mil pessoas, a maioria delas com doenças graves, existindo muitos casos terminais No mesmo ano, 14 Missionários da Paz da Fraternidade participaram da Missão Turquia (janeiro/fevereiro/2016), que acudiu refugiados sírios e de países como Irã, Iraque, Sudão, Paquistão, Afeganistão, Palestina, entre outros. Os voluntários atuaram em sete cidades: Ancara, Gaziantep, Nidge, Adana, Mugla, Izmir (Esmirna) e Istambul, em cooperação com a Associação de Solidariedade de Solicitantes de Refúgio e Migrantes (Asam). Pela seriedade e pela amplitude das tarefas que realizam, as missões humanitárias empreendidas pela Fraternidade ganharam também o respeito e o suporte da Acnur, a agência da ONU de apoio a refugiados.


Quanta dor pôde ser mitigada com tais ações? É impossível mensurar.

CONHEÇA AS VÁRIAS MISSÕES HUMANITÁRIAS REALIZADAS PELA FRATERNIDADE Site: https://www.fraterinternacional. org/missoes-humanitarias/

move: trata-se de um grau de sofrimento que eles não conheciam, que se gesta e cresce no interior de cada expatriado, independentemente de sua raça e condição social, pela perda repentina de toda referência (família, habitat, fontes de subsistência, entretenimentos, cultura, sensação de pertencimento a uma comunidade). Desconcertados e impotentes, os migrantes são consolados não apenas em questões materiais básicas pelos missionários, mas também com um sorriso, um abraço, uma palavra de alento. “Cada vez que realizo um atendimento de enfermagem, procuro também conversar, escutar e deixar uma palavra de ajuda, aliviar um pouco do enorme sofrimento pelo qual eles passam”, relata Bruno Rodriguez, enfermeiro voluntário no albergue indígena de Pintolândia, na Missão Roraima Humanitária. No referido abrigo, mais de 600 indígenas venezuelanos das etnias Warao e E’ñepa esperam por dias melhores.

MAIS INFORMAÇÕES SOBRE A MISSÃO RORAIMA HUMANITÁRIA

A Missão Nepal (outubro/2011) levou auxílio para vários locais na cidade de Katmandu. Os missionários realizaram também tarefas em um asilo, onde vivem 250 pessoas abandonadas por suas famílias e recolhidas das ruas. Os voluntários ainda trabalharam em um hospital de câncer infantil e em um orfanato

Site: https://www.fraterinternacional.org/ campanhas-ffhi/missao-roraima-humanitaria/?portfolioCats=30 Celular: (+55) (35) 98826-9730 E-mail: emergencias@fraterinternacional.org

Ampliação da consciência Movidos por sua grande sensibilidade, os voluntários das várias missões humanitárias realizadas pela FFHI não se acomodam com a ajuda profissional que prestam e vão mais além, buscando contatar o ser humano que está na essência de cada paciente. No caso dos migrantes e refugiados, o que os missionários descobrem muito os co-

13


PARTICIPE DOS ENCONTROS GRATUITOS DE VIVÊNCIA MISSIONÁRIA DA FRATERNIDADE Informações e inscrições: Celular: (+55) (35) 99914-1200 E-mail: secretaria@fraterinternacional.org

Na Missão Confraternizar (fevereiro/2018), missionários da FFHI acorreram à província de Salta (Argentina) para auxiliar as vítimas de inundações causadas pelas chuvas e pelo transbordamento do rio Pilcomayo. As tarefas se deram em cinco comunidades indígenas próximas a Tartagal, onde foram assistidas numerosas famílias da etnia Wichi

dígena, que também colabora nos esforços humanitários em Pintolândia.

Ensinamentos preciosos Enquanto isso, além de servir, os colaboradores vão extraindo lições de vida com cada experiência. “Muitas vezes, nós nos sentimos insatisfeitos com o que temos, mas este serviço humanitário [em Roraima] está me levando a ser mais agradecida e a valorizar tudo: a possibilidade de ter casa, comida, a família reunida…”, confessa Samanta Sing, técnica em enfermagem e colaboradora no albergue para famílias não indígenas de Nova Canaã. “Pessoalmente, isso me leva a refletir sobre minha postura como profissional e como ser humano. Para mim, representa uma grande oportunidade de crescimento”, finaliza Bruno Rodriguez.

APOIE OS ESFORÇOS DA FRATERNIDADE Os recursos financeiros recebidos como doações serão utilizados para deslocamentos dos missionários, alimentação, transporte e outras despesas. A doação de milhas é muito importante para os deslocamentos aéreos.

POR UM MUNDO

MELHOR

Doações como alimentos, roupas e outros tipos de bens materiais deverão ser notificadas pelo E-mail: <secretaria@ fraterinternacional.org> ou pelo telefone: (+55) (35) 3225-1233.

“Eu me coloco no lugar deles porque também sou indígena, da etnia Macuxi, do Brasil, e sei o quanto é difícil viver separado dos rios, da selva, recebendo uma alimentação industrializada. Durante as conversas que mantenho com eles, sempre escuto o desejo que eles têm de contar com um pedacinho de terra para cultivá-la e viver mais da natureza”, afirmou Dejaíne Viriato, gestora em saúde coletiva in-

14

Acesso aos diários e vídeos de missões humanitárias já realizadas https://www.fraterinternacional.org/category/ noticias/diario/


15


Educação MELHOR POR UM MUNDO

QUADRINHOS & JORNALISMO: TUDO A VER Antes desprezadas e consideradas, por educadores, protótipos de uma arte pueril, subversiva e infensa aos objetivos pedagógicos, as histórias em quadrinhos (HQs) alcançaram sua maioridade e, em pleno século XXI, não podem ser contidas unicamente nos estreitos limites do incômodo gueto ao qual injustamente estavam relegadas: o mundo de fantasia dos super-heróis da indústria norte-americana. Ao contrário do que acredita o senso comum, nem sempre as HQs habitaram o imaginário de paladinos da justiça e alimentaram as utopias dos jovens. É o que evidencia o notável gênero do jornalismo em quadrinhos, que vem se mostrando hoje uma impressionante ferramenta de aprendizagem, arte e informação, como suporte de educadores contra o analfabetismo funcional e o prejudicial hábito brasileiro da falta de leitura PAULO CASTRO

Imagens de “O Fotógrafo”, “Maus”, “A Vida na Grande Cidade” e “Notas sobre Gaza”.

16


Frame de “Notas sobre Gaza” (2010). No trabalho mais ambicioso de sua carreira, o quadrinhista Joe Sacco funde passado e presente para contar a história da escalada de violência no conflito entre israelenses e palestinos a partir de dois episódios esquecidos, relegados às notas de rodapé dos livros de história.

A

s mais recentes pesquisas sobre analfabetismo funcional no Brasil mostram que apenas 8% das pessoas em idade de trabalhar são consideradas plenamente capazes de entender e se expressar por meio de letras e números. Ou seja, somente oito a cada grupo de cem indivíduos da população têm plenas condições de assimilar sentenças de nível intermediário de compreensão e se comunicar por escrito. Em tal contexto, que importância teria o apoio das imagens dos chamados gibis para a compreensão de fatos reais da história e o debate de questões complexas da nossa civilização? Para o famoso ilustrador americano Will Eisner (1917-2005), a importância é vital. “Devido à sua simplicidade, os quadrinhos dão a impressão de terem sido criados apenas para os jovens ou para pessoas com capacidade limitada de leitura. Mas o gênero é muito versátil. Enquanto

muitos profissionais da área [educacional] insistiam em ver os quadrinhos como algo de segunda categoria, eu considerava o gênero tão cheio de possibilidades que poderia até ser usado como ferramenta de ensino”, afirmou Eisner. Sua lúcida análise foi publicada no artigo “Rindo por Último: Minha Vida nos Quadrinhos” (1990), publicado originalmente no New York Times Review e reproduzido como prefácio em uma de suas obras biográficas: “Ao Coração da Tempestade”, que acompanha as memórias de Willie durante seu engajamento como soldado na Segunda Grande Guerra e disseca o antissemitismo sofrido pelo autor durante toda sua vida. Outro relato

17


igualmente notável das memórias de Eisner é “O Último Dia no Vietnã: Reminiscências”, que traz várias histórias reais presenciadas e vividas pelo ilustrador durante os referidos conflitos e também na Guerra da Coreia.

tos, com peso brutal equivalente, a história real dos anos de guerra e perdas humanas inocentes decorrentes dos embates entre as forças do Estado peruano e guerrilheiros do grupo armado que dá título ao livro.

As ilustrações como denúncias de abusos na imprensa e como registro histórico

“Com a transformação das editoras de quadrinhos industriais norte-americanos em simples linhas auxiliares da indústria cinematográfica e de licenciamento e com o despencar das vendas de seus comic books, os quadrinhistas do Ocidente ficaram livres do peso que significavam esses quadrinhos industriais como referência básica e obrigatória”, ressaltou Rogério de Campos. Ele diz que, com isso, os autores ficaram novamente livres para retomar ideias antigas e experimentar outras novas que vinham sendo desenvolvidas ao longo dos séculos da

Diversas obras de relevo evidenciam que, centenas de anos (!!!) antes que a sombra de um morcego fosse projetada recortada sobre as nuvens de Gotham e uma teia de aranha fosse alçada sobre os arranha-céus de Manhattan, o vínculo entre os ilustradores e a imprensa já vinha sendo alinhavado em diversos países mundo afora, contando sua perspectiva histórica da humanidade.

POR UM MUNDO

MELHOR

Arte do miolo e capa de “O Paraíso de Zahra” (2012). Após suspeitas de fraudes nas eleições presidenciais no Irã (2009), estudantes tomam as ruas e alguns são violentamente reprimidos, presos, torturados e mortos. Com autoria assinada a partir dos pseudônimos de Amir e Khalil, os criadores desta grafic novel preferiram se manter incógnitos, com medo de represálias do governo iraniano. Um relato corajoso, poético, triste e de denúncia sobre uma realidade de difícil resolução no Oriente Médio

“A história dos quadrinhos peruanos poderia começar em 1615, com ‘El Primer Nueva Crónica y Buen Gobierno’, escrita e desenhada por [...] Felipe Guamán Poma de Ayala. Em suas 1.180 páginas, a obra denuncia as injustiças sofridas pelo povo indígena do país”, salienta o tradutor brasileiro Rogério de Campos no prefácio à edição brasileira da grafic novel “Sendero Luminoso: História de uma guerra suja”, de Alfredo Villar, Luis Rossell e Jesús Cossio. A obra narra com reportagens, recortes de jornais da época, ilustrações e fo-

18

história da narrativa gráfica. “Forças criativas notáveis eram aprisionadas por esse modelo [da HQ tradicional]”, já alertava Will Eisner em seu supracitado artigo. No Brasil, o jornalismo em quadrinhos também é quase tão antigo quanto a imprensa. No século XIX, por exemplo, o ilustrador pioneiro Ângelo Agostini denunciou abusos contra escravos por intermédio de desenhos legendados em sequência nas páginas dos jornais. Apesar da longevidade do gênero,


Frame de “Maus” de Art Spiegelman. Trabalho iniciado em 1980, mas somente concluído no início dos anos 90. Ganhador do “Prêmio Especial Pulitzer”, categoria especialmente criada para resolver uma indecisão do comitê sobre a classificação da obra, se ficção ou biografia.

Capa de “Refugiados: A última fronteira”, de Kate Evans (2018). Na cidade portuária francesa de Calais, surgiu uma cidade dentro de uma cidade. Conhecida como a “Selva”, essa esquálida favela de contêineres e barracas foi o lar de milhares de refugiados, principalmente do Oriente Médio e da África, à espera de chegar ao Reino Unido. A autora britânica Kate Evans lança uma luz sobre essa história, combinando técnicas de reportagem gráfica a partir dos depoimentos de testemunhas. Uma obra cheia de imagens pungentes, chocantes, irônicas e comoventes. Ela examina a crise de refugiados de múltiplos ângulos: moral, político e econômico. Emocionante e chocante, a HQ é uma leitura complementar perfeita para os fãs de “O Diário de Myriam”

reportagens em quadrinhos só começaram a ganhar notoriedade no Ocidente a partir de 1992, quando Art Spiegelman, filho de judeus poloneses remanescentes do holocausto, ganhou o prêmio Pulitzer por “Maus: Relato de um sobrevivente”.

Fantasmas da memória O reconhecimento público de “Maus” trouxe à tona relatos de guerra em quadrinhos publicados anteriormente, na década de 1970, como a série de fôlego “Gen: Pés descalços”, em que o japonês Keiji Nakazawa faz um tocante relato sobre o crime de guerra do qual ele, seus familiares e sua cidade foram vítimas e de como ele sobreviveu à bomba de Hiroshima, sorte que sua família não teve. Nakazawa é expoente dos autores de mangás, as HQs japonesas que, ao contrário do que se pode pensar no Ocidente, não é exclusividade do público jovem, uma vez que executivos, idosos, presidentes de empresas e até professores universitários leem e consideram uma notável fonte de debate de ideias e formação de opinião pública. Outro exemplo de notável, visceral e perturbadora catarse dos fantasmas do passado, só que desta vez escrita pelo lado dos “vencedores”, é “Valsa

19


com Bashir”, do escritor e cineasta israelense Ari Folman, que serviu na Guerra do Líbano durante os famosos massacres de refugiados de Sabra e Chatila, pesadelo que o autor resgata em suas páginas, enquanto bem mais velho tenta investigar que estresse pós-traumático lhe ocorreu a ponto de lhe apagar por completo sua experiência como soldado no conflito. A obra foi adaptada para o formato de HQ a partir de seu longa-metragem de animação.

Jornalismo em quadrinhos em grande estilo A notoriedade de “Gen” e de Nakazawa no Ocidente abriu caminho para uma nova e promissora geração de “repórteres do traço”, cujo maior representante é o jornalista e ilustrador maltês Joe Sacco. Entre seus livros de reportagens gráficas estão “Palestina: Uma nação ocupada”, “Uma História de Sarajevo”, “Área de Segurança Gorazde: A guerra na Bósnia oriental: 1992–1995” e “Notas sobre Gaza”, estes últimos, talvez, seus mais ambiciosos projetos.

POR UM MUNDO

MELHOR

Seu mais recente livro é “Reportagens”, que, fazendo jus ao título, traz algumas coberturas jornalísticas gráficas que Joe fez para veículos de imprensa, reportando julgamentos de criminosos de guerra sérvios em Haia, conflitos nos territórios palestinos, relatos de refugiados chechenos na Rússia, depoimentos de soldados na Guerra do Iraque, denúncias de violência, tortura e mortes na casta dos “intocáveis” na Índia e narrativas de refugiados da atualíssima crise migratória na Europa. “Joe Sacco prova que não só é possível [escrever uma reportagem como se fosse uma HQ], como, em certos aspectos, sua reportagem em quadrinhos é bem mais eficaz do que o tradicional texto jornalístico ou mesmo histórico ou acadêmico. E esse é o ponto mais fascinante: com muita ousadia, Sacco demonstrou a potência de uma linguagem que, aparentemente, é inadequada para tratar de um tema tão

20

Página de “O Fotógrafo: Uma história no Afeganistão” (2007), de Didier Lefèvre, Emmanuel Guibert e Fréderic Lemercier: relato da missão humanitária dos MSF em meio à resistência afegã contra a invasão russa (1986). A foto de Didier na página registra uma família, atendida pelos médicos após um bombardeio russo destruir sua vila

grandioso e terrível [o conflito no Oriente Médio]”, afirmou José Arbex Jr. no prefácio de “Palestina: Uma nação ocupada”.

Reportagens completas em narrativas arrojadas Muitos autores de grafic novels do gênero do jornalismo em quadrinhos não se contentam em apresentar reportagens bem embasadas por notáveis ilustrações: várias obras também têm o suporte do fotojornalismo, como é o caso emblemático da série “O Fotógrafo: Uma história no Afeganistão”, dos franceses Didier Lefèvre (argumento e fotografias), Emmanuel Guibert (roteiro e ilustrações) e Fréderic Lemercier (diagramação e cores). Em 1986, o fotojornalista Lefèvre acompanhou uma equipe


dos Médicos Sem Fronteiras (MSF) em uma missão humanitária no Afeganistão, invadido na época pela então URSS. O resultado é impressionante: um relato bem documentado, pungente e pessoal do que Lefèvre viveu, sofreu e presenciou, com o registro do desperdício de vidas inocentes e dos esforços ingentes dos agentes de saúde para assistir a população indefesa dos vilarejos afegãos bombardeados. “Ao contrário das atuais coberturas de guerra, em que notícias impessoais são produzidas à distância a partir de material de agências internacionais, o testemunho visualmente instigante de ‘O Fotógrafo’ é mais uma prova de que os quadrinhos podem tratar temas complexos como a guerra com mais profundidade e humanismo do que na anestesiada grande mídia”, salientou uma crítica da Gazeta de Alagoas à época de lançamento da série no Brasil. Outra narrativa impressionante de mesmo viés é “O Mundo de Aisha: A revolução silenciosa das mulheres no Iêmen”, uma extraordinária reportagem em quadrinhos do ilustrador italiano Ugo Bertotti, construída a partir das fotos, do testemunho e das entrevistas realizadas pela fotojornalista e documentarista francesa Agnes Montanari, um manifesto pelo empoderamento feminino e uma denúncia terrível da opressão sofrida pela mulher em uma das sociedades patriarcais mais asfixiantes do mundo. São obras para todos os gostos, que servem para mostrar, mesmo para a área educacional, que os quadrinhos podem (e devem) ter estreita participação na conscientização do indivíduo, em prol de um mundo melhor. Capa e fotos de “Haiti: 7.0 Richter”, do fotojornalista Alan Marques, do ilustrador Léo Silva e do roteirista Paulo Castro, com produção de Vivaldo Sousa e TI de Pablo Amorim. Grafic novel ainda inédita, a obra reproduz as reportagens e o trabalho fotográfico de Alan Marques no Haiti após o terremoto de 2010, em cobertura jornalística do copioso drama humano presenciado e dos esforços dos organismos internacionais de ajuda humanitária para socorrer as vítimas

21


Ação Social

INSTITUTO CANOPUS: VIDAS EM SERVIÇO AO PRÓXIMO Cada vez mais, paralelamente à sua atuação profissional, empresas de vários segmentos têm apresentado notáveis projetos de responsabilidade socioambiental. A fim de ampliar o escopo de suas ações e, consequentemente, o público beneficiado por suas atividades, tais empresas criam institutos, fundações e oscips, entre outras pessoas jurídicas, com um papel bem definido: o auxílio aos desassistidos. Conheça uma dessas louváveis iniciativas: o Instituto Canopus HENRIQUE FARIA

E

POR UM MUNDO

MELHOR

ra o ano de 1977. O país ainda viveria mais oito anos de regime militar. A internet não existia. A TV a cores ainda era um privilégio em algumas famílias. Rachel de Queirós se tornava a primeira mulher eleita para a Academia Brasileira de Letras. Pelé encerrava sua carreira profissional de futebol nos EUA. Jimmy Carter tomava posse como o 39º presidente americano. No mesmo ano, era promulgada a lei que criaria o Estado de Mato Grosso do Sul. No mesmo contexto, um jovem devoto participava de um retiro espiritual na paróquia Nossa Senhora Aparecida de Mirassol D’Oeste (MT) e se sentiu transformado com os ensinamentos que recebeu. Na ocasião, o jovem Marcos Roberto Cruz pensou que seria egoísta de sua parte guardar apenas para si tudo o que aprendeu, sentiu e vivenciou interiormente naqueles dias de profundo mergulho existencial e espiritual. Foi então que pensou em dividir, de algum modo, os

22

conhecimentos recebidos e as inspirações vividas naqueles dias, mas não conseguiu colocá-los em prática de imediato. No decorrer dos anos e de seu trabalho, esse projeto ficou guardado em seu coração,


Instituto Canopus (divulgação)

como uma semente social à espera de terreno propício e da estação própria para germinar. Só em 1991, já empresário, Marcos Cruz percebeu que não podia sufocar mais o chamado pelo social e viu o momento certo para pôr em ação seu plano: brotavam ali os primeiros vislumbres do que viria a se tornar futuramente o Instituto Canopus, que começou com a realização de cursos, palestras motivacionais e culturais, amostra de vídeos e filmes educativos nos bairros de Cuiabá (MT). Nessas pequenas ações, Marcos Cruz contava sempre com a ajuda do Sr. Sebastião, um colaborador do empresário que se identificou com seu sonho e pôs-se a ajudá-lo, fazendo a diferença na vida das pessoas.

A concretização do sonho Batizado com o nome de uma das estrelas mais brilhantes vistas da Terra, o Instituto Canopus existe para atender direitos sociais básicos de populações desassistidas, combater a exclusão social e proteger o patrimônio ecológico em quase todo Brasil, porém com maior participação nos Estados de Mato Grosso, Rondônia, Amazonas, Pará, Maranhão, Tocantins, São Paulo, Rio de Janeiro e no Distrito Federal. A entidade desenvolve inúmeros projetos e ações beneficentes em asilos, creches, orfanatos, casas terapêuticas, associações e hospitais, contando sempre com a colaboração de parceiros e voluntários, que hoje são mais de 5 mil em todo território nacional.

23


Instituto Canopus (divulgação)

CONHEÇA APENAS ALGUNS DOS PROGRAMAS BASEADOS NO ESTILO DE VIDA E DE SERVIÇO AO PRÓXIMO DO INSTITUTO CANOPUS • Encontros Estilo de Vida Canopus: são reuniões anuais, com centenas de participantes, que ocorrem em várias cidades do país. Neles, são tratados assuntos essenciais sobre o equilíbrio do ser humano. Tudo para despertar, em cada indivíduo, a necessidade de planejar sua vida e incentivar o exercício do voluntariado em ações e projetos para a melhoria da qualidade de vida nas comunidades assistidas pelo Instituto Canopus, dando prioridade ao atendimento e à inclusão dos mais carentes.

POR UM MUNDO

MELHOR

• Projeto Primeiros Passos: com o agravamento da situação socioeconômica da população brasileira e a baixa qualificação profissional das pessoas, o Instituto Canopus resolveu implementar o Projeto Primeiro Passos, que desenvolve cursos profissionalizantes, formando e capacitando jovens e adultos de comunidades menos favorecidas. Com isso, oferece uma educação profissional com qualidade, mediante orientação didático-pedagógica, sem custo à população carente, a fim de preparar os jovens para o primeiro emprego e a inserção no mercado de trabalho. • Projeto Criança Feliz: proporciona às crianças carentes um dia de atividades lúdicas, propiciando-lhes alegria com educação, estimulando suas potencialidades e seus talentos. Assim, contribui para a formação de uma identidade e uma consciência crítica e reflexiva dos jovens perante a sociedade, oferecendo-lhes meios para que se desenvolvam enquanto indivíduos, o que melhora sua qualidade de vida e a de sua família. O Instituto Canopus acredita que, pela dança, pela música, pela leitura e pela sensibilidade à cultura, incentivando os dons e talentos de cada criança, é possível contribuir por um mundo melhor. A lista completa das atividades e dos vários projetos empreendidos pelo Instituto Canopus pode ser lida na íntegra em: <www.institutocanopus.org.br>.

Venha conhecer e faça parte dos esforços do Instituto Canopus em prol de uma sociedade mais justa e inclusiva.

24


25


Saúde

DOR NAS COSTAS: COMO EVITAR?

RAFAEL VASCONCELOS

D

ores nas costas são cada vez mais frequentes e atingem cerca de 80% da população mundial, segundo a OMS. A Pesquisa Nacional da Saúde (2014) concluiu que 18,5% da população adulta do Brasil (27 milhões de pessoas) é acometida por doenças crônicas na coluna. O problema não está restrito à idade. Cada vez mais, crianças e adolescentes também são afetados por essas dores. Diante de números tão alarmantes, listei sete fatores de risco para dores nas costas.

POR UM MUNDO

MELHOR

Tabagismo: O fumo pode elevar o desenvolvimento de dor nas costas (principalmente em pessoas que sofreram alguma lesão na região) e ainda prejudica a boa recuperação de pacientes que passaram por cirurgias na coluna. Estudos têm demonstrado que o tabagismo pode aumentar as dores musculares e articulares. Além disso, quando associado ao processo de envelhecimento, aumenta as chances de doenças articulares, com o aparecimento,

26

principalmente, das artrites, artrites reumatoides ou osteoartrites.

Sobrepeso: Pessoas que estão acima do peso acabam impondo um esforço adicional sobre a coluna, agravando o problema de dores nas costas. Daí a necessidade de investir em uma alimentação bem selecionada e também na prática de atividades físicas para manter o peso do corpo equilibrado. Para isso, consulte profissionais capacitados a dar orientações sobre a dieta mais adequada e instruções corretas sobre os exercícios físicos.

Má alimentação: Uma dieta bem selecionada é fundamental na busca por um bom condicionamento físico. A falta de uma alimentação saudável contribui para o sobrepeso. Alimentos como o açaí e as frutas cítricas auxiliam a regeneração muscular, prevenindo o maior desgaste e a fadiga. Evite alimentos indus-


trializados e ricos em gordura saturada e gordura trans. Fortalecer a musculatura de sustentação da coluna é essencial para prevenir as dores na região.

Sedentarismo: Pratique exercícios físicos regularmente, porque o nível de condicionamento físico influencia bastante a ocorrência ou não de dor nas costas. Isso acontece porque a ausência de atividades que fortaleçam os músculos de sustentação da coluna acarreta menor resistência aos impactos ou à sobrecarga que a coluna sofre comumente.

Trabalho repetitivo: O trabalho repetitivo, a inclinação e a torção do tronco, ações de empurrar e puxar, além de posturas de trabalho estáticas ou sentadas, podem ser prejudiciais. Pesquisadores descreveram o alto risco de lesões lombares relacionadas ao trabalho devido ao manuseio de cargas sob uma postura assimétrica, envolvendo a rotação de tronco. É importante mensurar como diferentes técnicas de manuseio de cargas podem ajudar a diminuir os riscos de lesões ocupacionais.

Postura incorreta: A boa postura é imprescindível para se evitar a dor nas costas. A posição sentada é uma grande vilã para a humanidade e para as alterações dos ângulos do quadril e da coluna. Estudos comprovam que as alterações desses ângulos são os principais causadores de dores, de lesões degenerativas e de cirurgias na coluna vertebral. Uma postura correta deve ser funcional e esteticamente aceitável. Tenha o habito de não permanecer sentado mais de 50 minutos ininterruptos.

Envelhecimento: É mais comum que, com a idade, a dor nas costas seja mais recorrente. O hábito de cuidar bem da coluna desde a juventude ajuda bastante na condição do paciente na velhice. Os bons hábitos devem ser utilizados desde a infância. Mantendo os péssimos hábitos atuais, chegaremos aos mesmos resultados: uma população doente que precisa cada vez mais de cuidados médicos. Rafael Vasconcelos é fisioterapeuta, diretor do ITC Vertebral, especialista em pilates clínico, método McKenzie, estabilização vertebral segmentar, liberação miofascial conceito Rolf. Inscrição/ Crefito: 93374-F.

27


CULTURA

A AMBIÇÃO ACIMA DA VIDA Quando produzir e vender medicamentos contra uma grave síndrome tratou-se unicamente de uma questão de lucro, mas não de salvar seres humanos? Documentário resgata vozes de pacientes e vítimas de indústrias farmacêuticas estrangeiras, que lucraram milhões à custa do sofrimento e das mortes de portadores de HIV e Aids no Terceiro Mundo PAULO CASTRO

O

POR UM MUNDO

MELHOR

documentário “Fire in the Blood” (2013) (“Fogo no Sangue”), do cineasta canadense/indiano Dylan Mohan Gray, desvenda o que foi chamado de “crime do século”: grandes empresas farmacêuticas impediram que pessoas mais pobres do mundo – em geral, de países africanos, asiáticos e latino-americanos – tivessem acesso a medicamentos de baixo custo para HIV e Aids, condenando-as a mortes desnecessárias e agonizantes, calculadas em mais de 10 milhões, segundo estimativas “otimistas”. No início dos anos 2000, diante de filas imensas de famílias inteiras condenadas a morrer de uma síndrome tratável, muitos médicos da África subsaariana foram obrigados, pelas empresas farmacêuticas estrangeiras, a “brincar de Deus”: precisaram escolher quais pessoas receberiam os fármacos que salvariam suas vidas, por causa dos estoques limitados. “A tragédia central do filme é que seu conteúdo abominável era completamente evitável. A escolha do governo dos EUA, sob a pressão da ‘grande indústria farmacêutica’, de defender teimosamente as patentes de medicamentos antirretrovirais, indiretamente levou cerca de 10 milhões de pessoas à morte. ‘Fire in the Blood’ transmite podero-

28

samente a sensação de impotência e frustração que deve ter sido sentida por todos aqueles que trabalharam no combate ao HIV/Aids na época”, afirmou Rosalie Tostevin, então administradora de programas do Geology for Global Development no Himalaia, em artigo publicado (2013) no jornal britânico The Guardian.

A recusa da garantia à vida por menos de US$ 1,00 O documentário mostra também a “guerra” de milhões de ativistas e soropositivos pela sobrevivência, bem como a verdadeira batalha que encerrou o boicote letal das indústrias farmacêuticas, a partir da narrativa e do testemunho pessoal de alguns dos principais protagonistas do filme, do ex-presidente americano Bill Clinton a um fisiculturista HIV positivo. James Love, um advogado americano, fundador da ONG Knowledge Ecology International, passou anos fazendo a mesma pergunta: quanto custa realmente produzir um tratamento para HIV/Aids? Incrivelmente, ninguém – além das indústrias farmacêuticas – parecia saber (ou se importar com isso, à exceção daqueles cujas vidas dependiam


dessa resposta). “Se os americanos soubessem que um antirretroviral poderia ser produzido por menos de um dólar por dia, eles poderiam começar a questionar não apenas por que o país deles estava negando tratamento àqueles que vivem em países de baixa renda, mas também por que eles mesmos, enquanto população, estavam pagando algo tão caro, produzido por um custo tão baixo”, ressaltou Rosalie Tostevin no artigo.

Uma narrativa de tragédias e vitórias conquistadas ao preço do próprio sangue Além de James Love, “Fire in the Blood” narra também os esforços incansáveis de pessoas como Edwin Cameron (um juiz soropositivo da Corte Constitucional da África do Sul), Zackie Achmat (ativista sul-africano soropositivo, fundador da Treatment Action Campaign) e Yusuf Hamied (químico indiano, diretor da indústria farmacêutica Cipla, em Mumbai, que finalmente desenvolveu medicamentos antirretrovirais genéricos, mas sofreu duras consequências e perseguições das indústrias do primeiro mundo). Não se pode deixar de mencionar, ainda, a estarrecedora confissão de Peter Rost (ex-vice-presidente da indústria farmacêutica Pfizer), que revelou todos os subterfúgios das indústrias para boicotar o terceiro mundo, selando os destinos de milhões.

indiferentes do mesmo ser humano. Um filme indicado não só para profissionais de saúde, jornalistas, comunicadores e gestores públicos, mas também para todos os que trabalham para o desenvolvimento global e buscam um mundo melhor para todos os seres. Por fim, trata-se de uma reportagem de fôlego essencial, sobretudo para aqueles que prezam a própria saúde e precisam conhecer “o valor silencioso colocado na vida e na humanidade pelo mercado global, algo que é tristemente familiar para todos nós”, como bem afirma Rosalie Tostevin.

O documentário transmite também uma mensagem poderosa: se você vê algo de que não gosta, você pode mudar o mundo. “Fire in the Blood” expõe, ainda, uma visão crua, reveladora e essencial da condição humana, em tudo o que ela tem de mais frágil e venal. Uma perspectiva que disseca as necessidades do ser humano e mostra como elas são reféns dos interesses mais

29


30

POR UM MUNDO

MELHOR


31


32



Imagem meramente ilustrativa.

O seu primeiro híbrido.

INTELIGENTE – ECOLÓGICO - EFICIENTE Feito para facilitar a vida de quem o conduz, o Prius Híbrido garante uma condução mais suave, econômica e de alta performance. Com dois motores, um elétrico e um a gasolina, o Prius Híbrido oferece consumos incrivelmente baixos, diminuindo a sua ida a postos de gasolina. Além disso, dirigir um carro híbrido é colaborar com o meio ambiente. É possível acelerar de 0 a 50km/h sem produzir qualquer emissão.

Faça um test drive e dirija o futuro!

999

PARCELAS A PARTIR DE

R$

,00

EPIA Lote 3 Televendas: 61 2108 7878 | 61 9 9987 1200 SPMS Núcleo Bandeirante

No trânsito, a vida vem primeiro.


Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.