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ANO III Jul/AGO/SET 2019 BRASÍLIA - DF EDITORA PALOMITAS COLÔNIA EDITORA ISSN: 2358-3207
OBSERVAVES: PROTETORES DE PÁSSAROS
CRISTINA ZENATO: ENCANTADORA DE TUBARÕES INSTITUTO RITA TRINDADE: PROJETO SOCIAL DE DESTAQUE
PORQUE O MUNDO TAMBÉM É REPLETO DE BOAS NOTÍCIAS E PESSOAS EXTRAORDINÁRIAS 1
SUAS CORES E FORMAS SÃO AINDA MAIS BELAS QUANDO A IMPRESSÃO É DE QUALIDADE.
Empresa certificada
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| editorial A CIÊNCIA CIDADÃ DOS PROTETORES AMBIENTAIS Na edição passada de Por Um Mundo Melhor, abordamos como matéria de capa o trabalho do Projeto Tamar e os esforços de governos, ONGs e voluntários para salvar as tartarugas marinhas do impacto ambiental deletério deixado pelo homem. Nesta edição de agora, voltamos a tratar do tema dos protetores ambientais, mas com um viés diverso. Desta feita, também como matéria de capa, mostramos o resultado formidável da ciência cidadã, realizada por fotógrafos amantes dos pássaros e da natureza, que – de forma tão louvável quanto o Projeto Tamar – levam adiante, com pouquíssimo apoio externo, um incrível trabalho de registrar a fauna alada do Brasil, mostrando a importância dos parques nacionais e das reservas nativas para a preservação de biomas vitais também para a existência do próprio homem. Trata-se dos protetores ambientais do Observaves. Confira as imagens belíssimas deles e o exemplo de cidadania, ciência e amor que esses abnegados defensores legam para a sociedade e a natureza. Na seção perfil, reproduzimos uma entrevista concedida pela mergulhadora italiana Cristina Zenato, conhecida como a “encantadora de tubarões”, pela sua notável e inédita habilidade (ou dom?) de deixar esses animais imobilizados. Confira a pérola de seu tocante depoimento, repleto de doação abnegada, entrega sem medo e vocação para o amor. Também apresentamos a importância da arte solidária para o embelezamento da vida e a propagação de sentimentos de paz, serenidade, pureza e resiliência. Para isso, focamos nos belíssimos trabalhos artísticos de duas ilustradoras e docentes: Roberta Camargo e Vivi Dourado, que
– com sua iniciativa voluntária altruísta e incondicional, com dedicação amorosa – ilustram muros, escolas, paradas de ônibus, postos de saúde e hospitais, em verdadeira doação também como educadoras sociais. Ainda sobre ação social, mostramos o notável trabalho do Instituto Rita Trindade (IRT) no atendimento de populações carentes, levando ações de saúde, cultura, educação, lazer e cidadania para erradicar difíceis situações da infância. Para isso, o IRT investiu até na criação de personagens que ensinam brincando e fazem a alegria da criançada: trata-se da Turma da Ritinha. Confira a bela iniciativa de Rita Trindade (e de seus profissionais, voluntários e patrocinadores) e apoie também mais esta louvável causa. Além disso, apresentamos ainda um projeto de cultura e educação ambiental que debate e exercita, de forma lúdica, pedagógica e artística, com alunos de escolas públicas do Nordeste, a eficiência energética como forma de mitigar os efeitos das mudanças climáticas. Uma iniciativa que leva o selo de projeto apoiado pelo WWF. Na seção de cultura, registramos o visceral trabalho artístico da ilustradora e escritora vietnamita Thi Bui, que revisitou a saga do exílio de sua família nos traços sanguíneos de sua impressionante grafic novel: “O Melhor que Podíamos Fazer”. Apreciem esses destaques e mais nesta edição, que preparamos com muito carinho para vocês. Esperamos que vocês gostem. Até a próxima edição.
expediente | A revista Por Um Mundo Melhor é uma publicação trimestral da Editora Palomitas e da Colônia Editora Independente e não tem fins lucrativos. Todos os recursos advindos da comercialização de seus anúncios se destinam à sustentabilidade do periódico, à remuneração de seus profissionais e ao apoio a projetos sociais, ambientais e de defesa dos vulneráveis. Editora Palomitas - CNPJ: 19.920.208/0001-57 Fundador e editor-chefe: Paulo Henrique de Castro e Faria / RP MTb: 4136/DF Projeto gráfico e Diagramação: Léo Silva Assistente editorial: Neuza Castro e Silva Foto de capa: Rodrigo D’Alessandro (ninho de guaracava-de-barriga-amarela)
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Representação comercial e consultoria em produção gráfica: Cleber de Albuquerque | Colônia Editora Independente Eirelli CNPJ: 24.206.387/0001-03 coloniaeditora.com.br Tel.: 55 61 99964 7263 Impressão: Qualidade Gráfica e Editora Tiragem: 3.000 exemplares ISSN: 2358-3207 Distribuição gratuita
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SUMARIO | 6
EM CONTEMPLAÇÃO À NATUREZA ALADA
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CRISTINA ZENATO: A ENCANTADORA DE TUBARÕES
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MUITO LONGE DAS RAÍZES
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A EDUCAÇÃO AMBIENTAL QUE FAZ A DIFERENÇA
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O PAPEL TRANSFORMADOR DA ARTE SOLIDÁRIA
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UMA TURMA PARA O EXERCÍCIO DA CIDADANIA
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MATÉRIA DE CAPA
EM CONTEMPLAÇÃO À NATUREZA ALADA Empenhados em procurar e fazer o registro de pássaros, os fotógrafos do grupo Observaves atuam como protetores ambientais, mostrando o valor da preservação e sua importância para a biodiversidade PAULO CASTRO
Ainda que pareça uma atividade nova para alguns, o hábito de observar aves, registrar sua presença e catalogá-las é até mais antigo do que nossa própria ideia de nação. “Até nas cartas de Pero Vaz de Caminha é feito o registro das aves encontradas em solo brasileiro”, afirma Tancredo Maia Filho, integrante do Observaves, que – de São Desidério (BA), onde “passarinhava” – gravou para nós um rico depoimento. Natural do Rio Branco (AC) e “brasiliense” desde 1978, já aos 10 anos de idade este acreano tinha uma coleção de ovos de aves, que ele classificava por tamanho e cor e guardava em caixas de sapatos, como uma espécie de “iniciação científica” precoce.
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1 RODRIGO D’ALESSANDRO/ OBSERVAVES
primeira vista, o verbo “passarinhar” pode até causar um certo estranhamento aos leigos, mas para o grupo Observadores de Aves do Planalto Central (Observaves), o verbo não só faz todo o sentido, como tem uma conjugação necessária à proteção de espécies importantes para a fauna brasileira. Embora seja um verbo intransitivo, a atividade de passarinhar carrega, no seu próprio nome, o seu complemento essencial. Munidos de binóculos e câmeras fotográficas, esses observadores da fauna alada têm um papel relevante também para a educação ambiental e a preservação de unidades de conservação quase desconhecidas pela população e até por quem aprecia o contato com a natureza.
MARCELO MONTEIRO/OBSERVAVES
À
2 1- Alma-de-gato / 2- Guaracava-de-barriga-amarela
TANCREDO MAIA FILHO/ OBSERVAVES
Há 10 anos, já aposentado e vizinho do Parque Olhos d’Água, Tancredo viu um ninho de beija-flor no local e voltou a passarinhar. Desde então, já voou para praticamente todas as regiões do país na condição de passarinheiro. Em uma delas, fez o registro fotográfico raríssimo de uma choca-do-acre. Para ele, a atividade propicia a divulgação da diversidade e da riqueza da fauna, cujos dados auxiliam pesquisas. Existem cerca de 457 espécies de aves catalogadas em Brasília, muitas delas registradas por membros do Observaves.
A parceria com o Ibram
RODRIGO D’ALESSANDRO/ OBSERVAVES
RODRIGO D’ALESSANDRO/ OBSERVAVES
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Criado em 2005 por Rodrigo D’Alessandro e mais três fotógrafos, o Observaves já chegou a contar com 180 a 200 observadores em Brasília, sem necessidade de registro e sem haver uma presidência, uma vez que é um grupo informal. Um dos hábitos do Observaves é visitar mensalmente um parque de Brasília, não só os organizados, mas também os abandonados e sem infraestrutura. Tratadas com seriedade e espírito científico pelos seus membros, as atividades do grupo atraíram a atenção do Instituto Brasília Ambiental (Ibram), que fez uma parceria com os passarinheiros em 2016, que resultou em publicações, exposições, novas expedições e encontros repletos de registros e catalogações.
MARCELO MONTEIRO/ OBSERVAVES
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TANCREDO MAIA FILHO/ OBSERVAVES
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5 1- Bem-te-vi / 2- Mineirinho / 3- Chifre-de-ouro / 4- Cigana / 5- Príncipe
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REVISTA : IBRAM/OBSERVAVES
VOANDO NAS PÁGINAS Uma dessas publicações foi a revista: “Vamos passarinhar nos parques do DF”. Já outra publicação foi o livro: “Aves Águas Emendadas: oito fotógrafos e um desafio”, obra que, segundo Marcus Paredes, chefe da Unidade de Educação Ambiental do Ibram, mostrou que a Estação Ecológica das Águas Emendadas tinha 21 espécies novas de aves sem catalogação para essa específica unidade de conservação. Das 307 espécies catalogadas até então, o quantitativo passou para 328. O servidor afirma que o grupo realiza “um trabalho de ciência cidadã” que possibilita a preservação da biodiversidade. A parceria ainda propiciou a visita do Observaves a várias unidades de conservação pouco conhecidas pela população e até por aficionados pela natureza, o que facilitou o acesso popular a essas unidades, cujo benefício para a sociedade é inegável. “Quando a comunidade abraça, apoia e frequenta um parque assim, ela vira uma aliada: passa a fiscalizar, contribuir, ajudar a conservar mais a unidade, vigiar o bem-estar da natureza”, afirma Marcus Paredes. “Ela faz a manutenção das trilhas, recolhe o lixo, ajuda na prevenRODRIGO D’ALESSANDRO/ OBSERVAVES
MARCELO MONTEIRO/ OBSERVAVES
ção de incêndios”, complementa. Atividades que “tornam os usuários mais conscientes, fomentam o turismo e movimentam a economia na unidade de conservação”, finaliza.
Papa-moscas-do-campo
Soldadinho
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Aliança solidária em prol da vida
Para a melhor compreensão dessa importância para o planeta, o pesquisador Sandro Von Matter afirma que, “enquanto as árvores fornecem alimento e moradia, as aves, em contrapartida, polinizam suas flores e espalham suas sementes, e todos se beneficiam dessa aliança, que já dura milhões de anos”. Ele alerta que “a maioria das aves brasileiras possui relação tão íntima com as árvores que, em alguns casos, como o do Palmito-juçara, nativo da Mata Atlântica, o desaparecimento de espécies de aves de grande porte – que não apenas agem na dispersão de suas sementes, como também selecionam os frutos maiores – pode causar, em poucas décadas, mudanças drásticas na biodiversidade e no equilíbrio do ecossistema”, prejudicando o próprio ser humano. MARCELO MONTEIRO/ OBSERVAVES
RODRIGO D’ALESSANDRO/ OBSERVAVES
Outro membro do grupo, o biólogo carioca Marcelo Monteiro, explica que, bem antes de sua formação acadêmica, ele já havia se encantado com as aves do cerrado. Fotógrafo da avifauna desde 1997, época em que quase ninguém fazia isso, Marcelo afirmou que, há 22 anos atrás, “a criação de um grupo de observação de aves já era um grande sonho” para ele. Especialista em ornitologia (ramo da zoologia que estuda as aves), ele conta que a maior parte da população não tem a menor noção da importância dessas espécies para a preservação dos biomas.
3 TANCREDO MAIA FILHO/ OBSERVAVES
TANCREDO MAIA FILHO/ OBSERVAVES
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1 - Estrelinha-ametista / 2 - Guaracava-de-barriga-amarela
3 - Saíra-amarela / 4 - Guaracavuçu
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Serviço Site: http://observaves.blogspot.com/ Facebook: https://www.facebook.com/Observaves/ Publicações: https://bit.ly/2Ypzd2S (revista) https://bit.ly/2MhC0Ka (livro)
A PAIXÃO PELAS AVES NO CINEMA FILME: “BIRDY” (1984), DE ALAN PARKER TÍTULO EM PORTUGUÊS: “ASAS DA LIBERDADE” GÊNERO: DRAMA PAÍSES: UK/USA
Uma amizade improvável surge entre Birdy (um jovem obcecado por pássaros) e Al (um namorador incorrigível). Mas ambos são convocados para a Guerra do Vietnã e não retornam os mesmos. Diagnosticado com síndrome de estresse pós-traumático, Birdy volta mudo e completamente alheio à realidade, o que o leva a ser internado na ala psiquiátrica de um hospital, onde pensa que é um pássaro. Impotentes, os médicos permitem que Al visite o amigo todos os dias, como forma de ajudá-lo. Para isso, Al tenta fazer Birdy relembrar memórias saudosas da adolescência de ambos, a fim de fazê-lo retornar à realidade.
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PERFIL
CRISTINA ZENATO: A ENCANTADORA DE TUBARÕES Em um mundo no qual a comunicação (ou a falta dela) causa até guerras, uma mulher encontrou uma forma de se comunicar por amor, com uma linguagem que pode ser ouvida mesmo nos oceanos e até pelos seres “delicados e vulneráveis” que o mundo se acostumou a chamar de “maiores predadores dos mares”
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ascida na Itália e criada nas florestas do Congo, Cristina Zenato é instrutora de mergulho nas Bahamas há mais de 24 anos e é mundialmente conhecida pelo seu dom de “encantadora de tubarões”, por conseguir deixá-los de ponta-cabeça, completamente imobilizados, como se estivessem hipnotizados, fenômeno que os especialistas chamam (erroneamente, segundo Cristina) de imobilidade tônica (IT). No ano passado, em entrevista para Kinga Philipps, do site Inside Hook, Cristina Zenato fez um balanço de sua carreira e de suas conquistas (principalmente as mais importantes, as do coração) e se sente agraciada, por ter conseguido levar seu amor pelo oceano e pelos tubarões a tão notável patamar, que lhe resta somente constatar que “conservaremos [da vida] apenas o que amamos”. KINGA PHILIPPS
A paixão é uma poderosa força motriz para as pessoas. Como a sua paixão desenvolveu e moldou quem você é e o que faz? A paixão é minha energia e minha paixão fundamental é pela vida em todas as suas formas e ambientes. Tive a sorte de ter pais que eram apaixonados pela água e que me apresentaram ao oceano ainda muito jovem. A primeira vez que eles mergulharam meus dedos no mar, essa paixão simplesmente inundou meu
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CRISTINA ZENATO
corpo e foi como um compromisso vitalício. Uma vez que me encontrei totalmente imersa no oceano e em sua beleza, percebi que havia encontrado meu lugar, minha casa, minha paz espiritual. Anos depois, observei que eu não era muito boa em relacionamentos, pois eles nunca pareciam durar muito tempo. Uma ex-aluna e agora uma querida amiga minha me disse que ela me considerava a pessoa mais fiel que ela já havia encontrado em sua vida e que se inspirava em mim. Ela me viu casada com o oceano e como a minha vida era e é completamente dedicada a isso, não importa o que aconteça. CRISTINA ZENATO
“A coisa incrível a observar é como posso ficar no meio de um grupo imenso de tubarões com comida em minhas mãos e nunca ser mordida. Assim que começarmos a aprender e entendê-los, saberemos que representamos uma ameaça bem maior para eles e para a vida no planeta do que eles representam para nós”.
Aqueles que lhe conhecem afirmam que você tem uma conexão espiritual com os tubarões, algo que eles nunca viram antes. Descreva essa conexão da sua perspectiva. Quando olho para um tubarão, vejo um ser vivo, um indivíduo. Eu me conecto a uma mente e a uma personalidade. Sinto uma alma ali. Sinto também seus medos e suas dores e me dói não poder ajudar sempre. Para mim, os tubarões têm uma das almas mais puras que já encontrei e nada é cruel a respeito deles. Sentirei falta deles quando eu me for. Não importa quantas horas eu tenha passado com eles, pois ainda compartilho uma parte mínima do mundo deles. Quando entro na água e estou
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CRISTINA ZENATO
com eles, estou feliz e confortável. Estou com seres em quem posso confiar, estou em casa. Os tubarões me trazem serenidade e paz. É quase como se eles tivessem um efeito hipnótico sobre mim e não o contrário. Conte-me sobre o ato de colocar um tubarão em imobilidade tônica.
“Esses tubarões são meus bebês, cada um deles com uma personalidade e uma atitude, cada um deles tão único aos meus olhos quanto poderiam ser 20 pessoas diferentes em uma sala” entramos em contato uns com os outros, alguns deles parecem desenvolver um interesse maior em querer ser tocados por mim e nadar comigo. Eles naturalmente vão para o fundo do oceano quando param de nadar. É por isso que você me vê sempre ajoelhada com um tubarão no meu colo. O que temos é uma decisão do tubarão de querer ser acariciado, meu toque e meu entendimento de que não devo forçar o animal se ele não estiver interessado. “Ela”, na realidade, porque quase todos os CRISTINA ZENATO
A IT é uma reação natural de um animal ao estresse ou a uma ameaça. Então, tento não chamar de IT o que faço com os tubarões, porque sei que não causo estresse ou ameaça. Prefiro chamar de estado relaxado do tubarão. O relacionamento que tenho com esses tubarões é de presença e comportamento repetidos. Tenho mergulhado e interagido com eles no mesmo lugar nos últimos 24 anos. O que faço com eles é o que prefiro chamar de “imprinting” [termo que designa o reconhecimento que um animal jovem estabelece com outro animal como uma mãe ou um ser no qual ele pode confiar]. São os tubarões que conheço há pelo menos 10 anos. Um deles, chamado Stompy, conheço há 11 anos. Eu os vi surgindo, decidi ficar e os vi crescerem como adultos maduros. Observei-os partirem durante a época de acasalamento e voltarem todos com cicatrizes, como acontece depois desse período. Vi também os ventres das fêmeas crescerem durante a gravidez e, um ano depois, eu as vi voltarem bonitas e magrinhas depois de darem à luz. E já vejo a nova geração. Quando começamos a passar mais tempo juntos e
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CRISTINA ZENATO
tubarões com quem interajo neste nível são fêmeas, à exceção de um macho, Mad Eye, que – depois de muitos anos – começou a relaxar e a apreciar o meu toque, mas que, infelizmente, se foi nos últimos dois anos. Esses tubarões são meus bebês, cada um deles com uma personalidade e uma atitude, cada um deles tão único aos meus olhos quanto poderiam ser 20 pessoas diferentes em uma sala. Então, colocar o tubarão em um estado relaxado não é um ato, mas uma parte da nossa conexão.
“Quando olho para um tubarão, vejo um ser vivo, um indivíduo. Eu me conecto a uma mente e a uma personalidade. Sinto uma alma ali. Sinto também seus medos e suas dores e me dói não poder ajudar sempre. Para mim, os tubarões têm uma das almas mais puras que já encontrei”. Você disse que pode sentir a necessidade de um tubarão ou o que ele quer conforme a resposta dele ao seu toque. Você pode traduzir a experiência dessa troca de energia
e comunicação entre um humano e um ser marinho que muitas pessoas veem como um dos “animais mais temidos do planeta”? O toque é parte da maneira como me comunico com os tubarões. O toque ou a falta dele é o modo como eles se comunicam comigo. O que precisamos é aprender a entender sua linguagem e seu processo de pensar. Precisamos superar as noções preconcebidas que nos foram ensinadas com informações falsas e sem base. Precisamos superar o estigma que a palavra “tubarão” nos causa e aprender a vê-los como são: animais com sistemas de comunicação complexos, um papel, uma importância e uma presença neste planeta que excede em muito a nossa presença em milhões de anos. Precisamos ter o desejo de entendê-los e de nos comunicar usando a linguagem que pode ser entendida por ambas as partes. Pelo conhecimento vem a compreensão e pelo entendimento vem a falta de medo. É o que me permite receber os tubarões no meu colo. Acredito que é um tributo ao meu conhecimento e respeito por esses animais. A coisa incrível a observar é como posso ficar no meio de um grupo imenso de tubarões com comida em minhas mãos e nunca ser mordida. Assim que começarmos a aprender e entendê-los, saberemos que representamos uma ameaça bem maior para eles e para a vida no planeta do que eles representam para nós.
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Todos têm uma mensagem, que divulgam ao mundo por palavras, ações e estilo de vida. Qual é a sua?
Descreva a sensação de estar em contato físico com um tubarão. O tubarão vem ao meu tórax em um mergulho lento. Ele para de repente e afunda suavemente. Eu sigo seu movimento, enquanto o abraço. Então, sua cabeça repousa suavemente no meu colo. Posso sentir o peso dela e sua respiração, a abertura rítmica e o fechamento de sua mandíbula, enquanto ela bombeia a água sobre suas guelras para “respirar”. Olhando para ela, posso ver sua história, as pequenas cicatrizes deixadas em sua pele, os padrões únicos de sua cor e a forma única de suas barbatanas. Como o tubarão Olho Nebuloso, com seu olho direito nublado; ou a Vovó, com sua coloração cinza-clara, como o cabelo de uma avó e a gentileza e o sossego tranquilo típicos de uma pessoa mais idosa e mais lenta. Sob o beijo dos meus lábios, suas peles ficam macias e quentes.
Você é um laçador de estrelas e todas as suas ações contam. Você não precisa ser um super-herói para ser um. Sua ação, conectada com as ações de todos os outros indivíduos, se tornará uma ação em grupo, um movimento com poder e importância. Nunca subestime seu próprio poder. Neste vasto mundo, você acha que só faz uma pequena diferença, mas para alguém essa diferença pode significar o mundo. Cada indivíduo é importante e nunca sabemos a diferença que poderíamos fazer para uma pessoa apenas dizendo poucas palavras. Posso não ser capaz de salvar o mundo, mas tento salvar um pouco do meu pequeno mundo. Tento viver minha vida pela famosa citação do [engenheiro florestal senegalês] Baba Dioum: “No final, conservaremos apenas o que amamos. Se formos amar somente o que compreendemos, entenderemos apenas o que nos é ensinado”.
Como você se sente com suas conquistas? Em um mundo que exige que sejamos sempre alguém, sinto que fui capaz de permanecer a mais verdadeira que pude para mim mesma. Escutei meus valores e desejos pessoais e construí uma vida satisfatória pelos meus padrões. É uma vida rica, mas não em termos materialistas. Rica de experiências, encontros, memórias e conexões. A maioria das pessoas ficaria aterrorizada em fazer o que você faz. Então, o que lhe apavora? Se é que há algo?
LEIA A ENTREVISTA COMPLETA:
A conformidade de uma vida focada na meta única de possuir ou tornar-se algo. Uma vida que, em vez de ser vivida, é cheia de tempo perdido e oportunidades perdidas. Uma vida em que a conformidade é a norma e vivemos pelo que “devemos fazer”, em vez do que “amamos fazer ou ser”. Tenho visto tantas pessoas infelizes vivendo a vida que deveriam viver em vez da vida que gostariam de viver. Então, elas esperam, enquanto suas vidas fluem por entre seus dedos. Tenho medo de ter que me “encaixar”, em vez de poder transbordar. Tenho medo de conversas vazias e de pessoas que não conseguem brincar como crianças, pessoas que mantêm as aparências em vez de poderem usar o coração.
HTTPS://WWW.INSIDEHOOK.COM/ ARTICLE/ACTION/CRISTINA-ZENATO (EM INGLÊS)
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SITE: HTTPS://CRISTINAZENATO.COM
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CULTURA
MUITO LONGE DAS RAÍZES A HQ “O Melhor que Podíamos Fazer”, de Thi Bui, traz uma narrativa gráfica arrebatadora e real sobre as dores do exílio forçado, as perdas humanas que uma guerra traz e a necessidade da resiliência em terra estranha PAULO CASTRO
O
filósofo hindu Sri Aurobindo certa vez afirmou que “todas as possibilidades do mundo estão esperando no homem, assim como a árvore espera em sua semente”. Mas e quando a própria terra é negada a essa semente? A reflexão sobre desenraizamento e sobre as drásticas consequências a quem ferido precisa se reinventar distante do solo natal é muito apropriada a quem lê a excelente grafic novel: “O Melhor que Podíamos Fazer”, da quadrinista vietnamita Thi Bui. Em tom memorialístico candente, a autora documenta o complexo exílio de sua família após a queda do Vietnã do Sul (1975), retratando em nuances sanguíneas as agruras vividas por seu núcleo familiar para sobreviver em uma cultura desconhecida e que não os aceitava. Exilados na América, Thi Bui e seus familiares tentam cicatrizar as feridas de seu paraíso perdido para a colonização francesa, a guerra civil e o napalm dos americanos, entre os quais agora eles vivem. Resgatando as dúvidas, incertezas e angústias do que seus pais
viveram, Thi Bui se vê revolvendo o seu passado quando engravida e coloca-se, então, no lugar deles, para tentar compreender suas escolhas em meio a tantas perdas e aceitá-las sem mágoas. Com narrativa forte e
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ARQUIVO THI BUI
sensível, além de traços cativantes e matizes que acompanham os sentimentos dos personagens, Thi Bui consegue apresentar suas dores com honestidade e delicadeza, abrindo brechas para que a esperança possa curá-las, no desabrochar de novas sementes.
“O MELHOR QUE PODÍAMOS FAZER: MEMÓRIAS GRÁFICAS” AUTORA: THI BUI (ROTEIRO E ARTE) EDITORA: NEMO NÚMERO DE PÁGINAS: 336 Thi Bui: narrativa honesta e delicada
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MEIO AMBIENTE
A EDUCAÇÃO AMBIENTAL QUE FAZ A DIFERENÇA Acreditar no potencial de jovens e professores para replicar conceitos da eficiência energética como forma de mitigar as mudanças climáticas é a proposta do projeto Educação com Energia, iniciativa que une diferentes setores em prol da conscientização ambiental
WWF
JULIANA MARINHO
Alessandra Mathyas, analista de conservação do WWF-Brasil, em dia de premiação de professores e alunos, em Salvador (BA)
O
Festival Tô Ligado na Energia, que acontece desde 2016 em três estados do Nordeste, é um exemplo de como a parceria entre uma grande empresa, o setor público e uma ONG consegue fazer a diferença nas áreas da educação e da sustentabilidade. Em uma gincana, que acontece durante mais de um mês em escolas públicas do Rio Grande do Norte (RN), de Pernambuco (PE) e da Bahia (BA), educadores contratados usam atividades lúdicas, participativas e artísticas (como tea-
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tro, dança, música e grafite) para transmitir conceitos de eficiência energética e sustentabilidade. O resultado é reconhecido pelos próprios alunos. “Participar do festival foi uma experiência única. Aprendi muito sobre união e protagonismo”, comenta Ludmylla Sarah, aluna do Centro Estadual de Educação Profissional Lourdinha Guerra, do município de Parnamirim (RN). Uma equipe artística e pedagógica conduz oficinas em cada es-
Que Transforma, outra iniciativa do projeto, oferece aulas para professores sobre energias renováveis, meio ambiente e sustentabilidade, eficiência energética, segurança em energia, além de debates e conceitos em cidadania e educação ambiental.
Débora Barreto, que foi blogueira na Bahia, destaca a forma com que o conteúdo é transmitido aos estudantes. “Em muitas escolas, nós nos deparamos com alunos que tinham dificuldade em absolver os conteúdos escolares, mas, quando foi apresentada a didática do festival, com os assuntos tratados de forma lúdica, por meio da arte, ficava evidente que o aluno se divertia aprendendo”. No quesito energia, o impacto foi além da redução na conta, relatada por muitos estudantes, mas também nas próprias escolas participantes, que passaram a tratar o tema da eficiência energética com mais cuidado. As instituições que alcançaram melhores resultados de economia foram premiadas com mais eficiência do prédio, prioritariamente com a troca por lâmpadas mais econômicas.
As distribuidoras fornecem material didático aos professores, a partir de metodologia desenvolvida pela Fundação Roberto Marinho e pelo Canal Futura, para que eles possam trabalhar com seus alunos em sala de aula no dia a dia de forma multidisciplinar. O projeto existe desde 2013 e, somente em 2018, beneficiou 40 mil estudantes e capacitou 700 professores de escolas públicas. Ao longo do ano,
Show de música dos jovens participantes do festival WWF
Além disso, com a tarefa chamada Vale Luz, várias entidades filantrópicas dos municípios receberam descontos na sua fatura de energia elétrica, proporcionais ao montante de recicláveis que os alunos levaram para a escola durante o festival. “Ganham o aluno, a escola e a comunidade, mas principalmente o meio ambiente, pois quando se usa a energia elétrica de forma eficiente, preservam-se os recursos naturais necessários para a geração dessa eletricidade”, destaca Ana Christina Mascarenhas, gerente de Eficiência Energética do Grupo Neoenergia. Com o suporte pedagógico da Associação de Voluntários para o Serviço Internacional (AVSI) e a execução artística do WWF-Brasil, da Rádio Bahia FM e de outros parceiros locais, o festival acontece em 20 escolas dos três estados e é um exemplo que pode ser replicado.
WWF
cola. As atividades objetivam o engajamento digital e pessoal dos alunos, de suas famílias e de seus amigos. Cada uma das três equipes de cada escola tem seu próprio time de blogueiros, que alimentam o site do projeto e incentivam os colegas a divulgar o dia a dia da gincana.
FORMAÇÃO DE PROFESSORES
O festival é uma das ações do projeto Educação com Energia. A iniciativa é capitaneada pelas empresas Coelba, Celpe e Cosern, que fazem a distribuição de energia do grupo Neoenergia nos três estados (BA, PE e RN, respectivamente), no âmbito do Programa de Eficiência Energética da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel). O Energia
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Ana Mascarenhas, gerente do Programa de Eficiência Energética do Grupo Neoenergia, apresentando os resultados do projeto Educação com Energia
WWF.
Espaço interativo Aulas de Energia, em Fernando de Noronha (PE), que recebe cerca de 200 visitantes por mês
Sensibilização de turistas no paraíso Outra iniciativa está em pleno arquipélago de Fernando de Noronha. Lá, no Espaço Aulas de Energia, os visitantes entendem como é gerada a energia nessa ilha oceânica, que já conta com duas usinas solares em operação. “Os visitantes, em sua maioria, não tinham ideia das dificuldades para proporcionar uma infraestrutura razoável neste lugar isolado, como a grande quantidade de energia elétrica usada somente para a dessalinização da água ou o alto custo ambiental e econômico para transportar praticamente todos os resíduos produzidos para o continente”, avalia Alessandra Mathyas, analista de conservação do WWF-Brasil.
rários do dia. Há também óculos de realidade virtual, que proporcionam uma viagem por dentro da usina, o que permite que o público entenda cada parte da sua estrutura e como ocorre a conversão da energia solar para elétrica. “Os visitantes saem estimulados a instalar módulos fotovoltaicos em suas casas, pois percebem a boa relação custo-benefício na conta de luz e na conservação do meio ambiente”, conclui Alessandra Mathyas. WWF
um instituto de pesquisa acompanha alguns professores para validar a fixação do conhecimento e verifica o que de fato o investimento feito na ação traz de retorno em benefício da comunidade, como redução no consumo de energia elétrica.
Com um simulador, o público pode entender brincando quantas residências da ilha as usinas fotovoltaicas alimentam em diversos ho-
Grafite de alunos em parede de colégio atendido pelo projeto Educação com Energia em Recife (PE)
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CULTURA E CIDADANIA
O PAPEL TRANSFORMADOR DA ARTE SOLIDÁRIA Com pincéis, tintas e grafites nas mãos, artistas fazem dos espaços públicos da cidade seus ateliês, procurando transformar paradas de ônibus, postos de saúde, hospitais e ruas, com a crença de que, ao melhorarem o ambiente, tudo pode mudar, inclusive as pessoas PAULO CASTRO
á dois anos, o então prefeito de São Paulo, João Doria, se viu às voltas com uma polêmica, ao combater não só pichadores, mas também grafiteiros e artistas de rua. Tudo ocorreu depois que ele ordenou que fossem cobertas com tinta cinza verdadeiras obras de arte urbana expostas em muros, paradas de ônibus e fachadas de prédios, pagas com dinheiro público e assinadas por renomados artistas. O caso suscitou acalorados debates na mídia e até rendeu a Doria uma ironia (o trocadilho de “Dorian Gray”, em referência ao cinza e à obra de Oscar Wilde). Além disso, o episódio trouxe um questionamento: qual é o papel da arte para a transformação das pessoas? Para ilustradoras como Roberta Camargo e Vivi Dourado, a pergunta foi respondida por elas com suas posturas perante a vida e seu compromisso com a solidariedade humana, em trabalho artístico voluntário. Se você já passou por algum hospital, posto de saúde, muro ou ponto de ônibus enfeitados com belas pinturas em Brasília, provavelmente já viu algum dos muitos painéis delas, ornamentando e tornando melhores as vidas das pessoas, com sua beleza. No caso de Roberta, que – desde 1989 – é artista voluntária, isso foi como um chamado natural. Autodidata precoce, formada em Artes Visuais pela UnB (2013), “só para ter um diploma, mesmo”, desde muito novinha ela teve seu talento reconhecido pela mãe e pe-
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ROBERTA CAMARGO
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las professoras e, aos 16 anos, já trabalhava com arte como professora da educação infantil. Mas a oportunidade como voluntária só surgiu quando trabalhava como recreadora e estimuladora precoce no Ministério da Saúde (MS), na creche Narizinho, onde cuidava também da decoração e criou até o logotipo. O reconhecimento pelo seu trabalho de excelência na creche lhe abriu outras portas e um convite foi surgindo após o outro. O primeiro foi ainda no MS, onde ela fez um painel do Banco do Brasil sobre a fome. O fato de trabalhar no MS facilitou muito seu acesso aos postos de saúde e aos hospitais. Foi assim que ela recebeu o convite para pintar setores do então HRAS: a emergência e a UTI pediátricas, os ambulatórios, o banco de leite...
VIVI DOURADO
ROBERTA CAMARGO
Desde então, foram muitos os estabelecimentos hospitalares que ganharam as cores preferidas do seu coração, para a alegria dos pequeninos: muitos postos de saúde, o Hospital do Guará, o HRAN... Ambientes onde a delicadeza e a doçura de seu traço com temas infantis ajudavam as crianças a tolerar com maior resiliência suas duras experiências de internação hospitalar, para as quais nenhum universo infantil está suficientemente preparado e consegue compreender. O Hospital de Base foi outro local onde a artista deixou sua marca. Roberta ornamentou com seus traços as paredes da ala pediátrica, do banco de sangue, da odontologia, da hemoterapia... “Eu passava as madrugadas pintando a ala de oncologia infantil e aquilo distraía as crianças com câncer. Eu passava muito tempo com elas”, lembra a artista, que procurava cobrir com a pureza de seus desenhos os espaços vazios dos pequenos corações que a dor infantil tentava preencher. A sua atuação como artista de rua também impressiona. Pela dedicação de seu trabalho como voluntária, Roberta foi
chamada para participar do Projeto Cor-Abrigos (1997), que reuniu 37 artistas plásticos da cidade para realizar a revitalização de paradas de ônibus. Desde então, foram muitas outras participações (a exemplo do Projeto Arte nas Quadras, do GDF) e até como ilustradora de livros infantis. Hoje, ela leciona para jovens especiais no Centro de Ensino Especial nº 1. Mas se há algo mais que entristece o coração dessa artista descendente de russos é o descaso de quem não valoriza a humanização do espaço público, como a direção de alguns hospitais, principalmente porque, além do carinho de sua dedicação voluntária, que não é pouca, ela sempre pagou pelas tintas que usa e nunca cobrou ajuda de custo para o material utilizado. Por isso, hoje ela evita pintar em hospitais. Apesar de tudo, somente a gratificação de ver o efeito terapêutico da beleza, que sua arte causa nas pessoas, já é uma retribuição à altura de tanto esforço e doação de sua parte.
Transformando a comunidade Já a artista, conselheira de cultura, educadora social e líder comunitária Vivi Dourado começou seu voluntariado em 2015, quando se surpreendeu com os números de violência na sua comunidade (o Cruzeiro), bem como os índices de suicídio, depressão e vício, além de ver a terceira idade inativa. Foi, então, que buscou a autoestima comunitária pelo viés da arte, como transformação social, como viu ocorrer ao pintar muros e pontos de ônibus. Foi durante o Projeto Arte na Parada, para o qual
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VIVI DOURADO
Vivi e alunos dela pintaram mais de 20 painéis a céu aberto, contando a história de Brasília e do Cruzeiro. A próxima atuação ocorreu em outros pontos pioneiros da cultura regional e da assistência social: a Escola de Samba Aruc, o Grupo Arco-Íris (que atende soropositivos no Cruzeiro) e a creche dos vicentinos. Além disso, a artista ministrou oficinas de arte para crianças e idosos nas paradas de ônibus. A iniciativa envolveu toda a comunidade e até comerciantes contribuíram com materiais. “Senti a necessidade de fazer algo, enquanto centenas vivem na indiferença e não percebem a importância da arte como transformação social”, ressalta.
soas repensarem a vida, a história da trajetória humana, debatendo conceitos, modos de ver a vida”, garante.
O passo seguinte foi dar aulas de arte para moradores de rua, para a geração de renda. Momentos em que eles refletiam sobre a sua condição, a convivência com o vício e a falta de condições básicas de subsistência (higiene, saúde, educação, saneamento básico, moradia, desemprego, a ausência da família...). Resultado: em 2018, alguns deles saíram das ruas e deixaram de usar drogas. Inclusive, um deles está em uma casa de recuperação e trabalha em uma igreja como missionário.
Como uma profissão de fé, ela também acredita que existe uma força superior, que guia quem se dedica a embelezar o mundo e transformar as pessoas pela arte. “Por exemplo: não acho certo ninguém dormir em paradas de ônibus, mas se essas pessoas estão nessa condição de vulnerabilidade e eu tenho poucos meios de tirá-las dessa situação, por que elas não podem dormir em uma parada limpa, bonita, cheirosa, com uma bela arte e uma mensagem positiva?”, declara. Vivi diz que sua função é melhorar o ambiente e, ao modificar o exterior, ela espera que isso se espelhe para o interior das pessoas.
Em busca de um mundo melhor No mesmo ano, Vivi atuou como educadora social no projeto Arte na Escola, quando trouxe ex-alunos e ex-moradores de rua para ajudá-la a revitalizar o colégio Cemi, do Cruzeiro. Um desses ex-moradores, que era seu aluno, ajudou-a com murais e painéis que abordavam a escola como extensão da casa. “A arte não é só estética, mas também a possibilidade de transformar vidas”, afirma ela. “É uma onda positiva, que vai contagiando as pessoas, agregando valores. É, ainda, uma atividade multidisciplinar, porque faz as pes-
ROBERTA CAMARGO
VIVI DOURADO
“Eu perguntava para alguns moradores de rua por que eles estavam dormindo naquele ponto de ônibus especificamente, e eles diziam que deitaram lá porque a parada estava limpa e tinha um desenho bonito, que lhes passava uma bela mensagem, acolhedora, que lhes embalava o sono”, completa. Hoje, a educadora atende crianças na escola que precisam de um atendimento especial, como autistas e portadores de síndrome de Down.
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AÇÃO SOCIAL
UMA TURMA PARA O EXERCÍCIO DA CIDADANIA O Instituto Rita Trindade apoia e desenvolve ações para a defesa, a elevação e a manutenção da dignidade humana. E ainda conta com a Turma da Ritinha para ações de educação, cultura, saúde e empoderamento social e de gênero DA REDAÇÃO
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IRT
mbora conte com uma das mais altas cargas tributárias do mundo, o Estado brasileiro se mostra ausente em várias áreas da atividade humana no país, deixando brechas sociais profundas e difíceis de serem erradicadas. De modo a suprir a omissão estatal, diversas iniciativas sérias do terceiro setor tentam – em trabalho árduo e sem apoio, às vezes à custa dos próprios recursos (humanos e financeiros) – preencher com sua dedicação a lacuna deixada pelos governos. Uma dessas entidades é o Instituto Rita Trindade (IRT), que desde 2004 tem uma trajetória de amparo social às comunidades desassistidas do DF. Com a missão de apoiar e desenvolver ações para a defesa, a elevação e a manutenção da dignidade humana, o IRT atua como uma rede de cooperação nacional e internacional, voltada para a promoção da inclusão plena e sem distinção de qualquer natureza para o exercício da cidadania.
IRT
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2 1- Ação do IRT no Varjão (DF) (2009) / 2 - Rita Trindade e crianças em teatrinho do Programa Evoluir Sorrindo Cultura
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O IRT cumpre os objetivos do desenvolvimento sustentável da ONU, a fim de assegurar uma vida saudável e promover o bem-estar, garantir uma educação inclusiva, equitativa e de qualidade, promovendo oportunidades de aprendizagem ao longo da vida, além de incentivar a igualdade de gênero, empoderando crianças, adolescentes e suas famílias nas escolas e comunidades onde vivem.
Ainda que tenha uma atuação focalizada no Núcleo Bandeirante e no Riacho Fundo I, o IRT já criou campanhas e ações sociais em todo o DF e até em outros estados. Entre as inúmeras ações, está o apoio do IRT à Creche Manancial de Vida. Lá, o IRT desenvolve ações educativas periódicas, levando doações, alegria e ensinamentos de higiene bucal para as crianças. Outra ação do IRT ocorreu em Cravinhos (SP), em 2004, quando prestou atendimento odontológico a adolescentes que atuam nas áreas de conservação dos recursos naturais, educação ambiental e de qualificação profissional, com inclusão produtiva para geração de renda e trabalho. No mesmo ano, outra campanha, chamada de Xeriflúor no Sertão Nordestino, foi realizada em Mauriti (CE), onde o IRT atuou no combate às doenças bucais da população local, distribuindo kits de higienização bucal para os participantes, além de orientação. Em 2006, o IRT foi a Águas Lindas de Goiás para realizar uma ação social na Casa de Moisés, que incluiu ensinamentos de saúde bucal, a partir de palestras educativas e distribuição de kits com produtos odontológicos, lanches e brincadeiras.
as ações do IRT se ampliaram, com a criação do Programa Evoluir Sorrindo, que deu origem a outros projetos, como uma grande ação realizada em 2018.
Apoio às ações do IRT No ano passado, o Programa Evoluir Sorrindo Saúde Bucal, desenvolvido na Escola Classe 2 do Riacho Fundo I, contou com apoio do Grupo dos Cônjuges de Chefes de Missão (GCCM) e do Serviço Social da Indústria da Construção Civil (Seconci). O GCCM doou materiais odontológicos e dois consultórios portáteis para a realização de procedimentos preventivos. Já o Seconci cedeu um trailer equipado com dois consultórios tradicionais completos, para a realização de procedimentos curativos. IRT
Disseminando campanhas, ações e atividades lúdicas
Já em 2016, o IRT realizou um trabalho na Abrace, com a entrega de 399 itens de proteção e apoio às crianças com câncer. A partir de 2012, IRT
Caravana do Sorriso no atendimento da população
Participação do IRT na Ação Global
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A ação resultou em 2.553 procedimentos para 311 crianças da educação infantil ao 5º ano, inclusive com necessidades especiais. Tais números representam a gravidade da condição da saúde bucal nessa faixa etária. E o IRT esteve presente para transformar isso, impactando positivamente o conjunto aluno-família-escola. Porém, todo o custo administrativo e de pessoal ficou a cargo do Spa Médico-Odontológico Rita Trindade. É preciso, portanto, conquistar investimentos contínuos que viabilizem a continuidade das ações com dedicação e excelência.
IRT
Por isso, o IRT abriu, em seu site (http://irt.org.br/), um canal direto para receber doações de materiais e
Antes da fundação do IRT, Rita Trindade – criadora da iniciativa e odontóloga de profissão – já contava com um trabalho de dedicação, de muitos anos, cuidando da saúde bucal, do reforço escolar, do lazer, da cultura e do acompanhamento psicológico de muitas crianças e famílias de comunidades pobres. Diretora do Spa Médico-Odontológico Rita Trindade, ela – contudo – diz que, desde criança, seu caminho já se mostrava assinalado na defesa e na preocupação com os mais carentes. “Costumo dizer que o IRT surgiu de um olhar diferenciado para a ação social pelas mãos de minha mãe, que há muitos anos já atuava no auxílio aos mais pobres”, diz a odontóloga. IRT
Teatrinho com aula prática de saúde bucal na ação Xeriflúor no Sertão Nordestino
Marca de vocação para o social até no DNA
IRT
equipamentos, captar investimentos e atrair instituições parceiras que possam auxiliar as ações do IRT. Vale acessar, conhecer mais e preencher o formulário que melhor atender às suas possibilidades de fazer parte dos ideais da entidade.
IRT na Ação Global 2018
Aula de judô do Programa Evoluir Sorrindo Esporte
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E não são poucos os que acham que Rita Trindade deixa, nas pessoas, uma marca de amor, compromisso, zelo, carinho e atenção para com todos os que a cercam. A advogada Denise Rodrigues diz que “Rita Trindade, além de uma grande profissional, resgata não só o sorriso da boca, mas como contribui para o resgate do sorriso da alma”. A própria Rita Trindade afirma que, em seu trabalho, “enxergamos a pessoa por inteiro. Por isso, agregamos a medicina, a psicologia e a odontologia na nossa atuação”.
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Crianças do DF atendidas pelo IRT na ação Voluntários do Sertão
A TURMA DA RITINHA CHEGA PARA CONSCIENTIZAR AS CRIANÇAS
ENTRA EM CENA UMA TURMINHA ENCANTADORA Como se não bastasse toda sua intensa dedicação aos desassistidos, Rita Trindade achou que precisava fazer mais, principalmente pelas crianças. Foi, então, que ela decidiu criar a Turma da Ritinha, composta de vários personagens que, de forma lúdica, engraçada e educativa, buscam envolver a criançada em enredos nos quais sempre estão em foco o cuidado com a própria saúde, a busca da cidadania e o fortalecimento dos valores e dos princípios dignos da vida. Para isso, a turminha foca na prevenção de doenças, na conscientização de valores sociais e ambientais e em projetos que promovam a valorização e o desenvolvimento infanto-juvenil. Para a saúde bucal, a turminha une dentistas, educadores e as comunidades em esforço concentrado para tratamentos odontopediátricos, facilitando a comunicação dos profissionais com as famílias. Na promoção da saúde em geral, a
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turma desmistifica medos próprios da infância e conscientiza as crianças sobre a importância da vacinação, da alimentação saudável e da construção de sentimentos de amizade, afeto e humor como formas de conquistar uma boa saúde. Em educação e cultura, a turma fortalece os vínculos afetivos e a valorização do saber, incentivando o convívio social e familiar, o respeito às diferenças e a felicidade nas relações construídas. Já nas questões ambientais, a turminha foca na construção de valores compatíveis com as necessidades do mundo atual e na importância do uso inteligente da água e do lixo.
“BIOGRAFIA” DA PERSONAGEM PRINCIPAL DA TURMA
Ritinha
Idade: 7 anos. Traços principais: Ritinha tem uma personalidade forte e um coração generoso. Muito inteligente, adora ler e escrever. É leal aos amigos e nunca deixa passar a oportunidade de viver uma boa aventura.
Com um coração generoso e personalidade forte, Ritinha nasceu preparada para defender a todos!
Objetos especiais: a mochila (que se transforma em capa durante as ações de heroísmo) e o caderno (no qual escreve, além das dúvidas, das descobertas e dos sentimentos, uma lista de palavras engraçadas). Dilema: Ritinha supera os seus limites pessoais. Sua coragem é renovada sempre que precisa enfrentar o mal e a injustiça. Quer vê-la zangada, aborrecida e sem paciência? Discrimine alguém perto dela! A menina já nasceu com a missão de defender todos os que praticam o bem. Frases de efeito: “Ah! Sorri, que passa!”. “Diz, para mim, algo gentil que eu te mostro o poder de um sorriso”. “O sorriso é o nosso idioma universal”.
Era uma vez... Em um lugar não muito distante, chamado Mundo Encantado... Fadas dos dentes, crianças e adultos se misturam para combater vilões e exércitos de bactérias, que tentam invadir esse mundo. Nessa grande aventura, a Turma da Ritinha tem a missão de apresentar, de forma lúdica, a importância de cuidar da saúde bucal e também da saúde geral e do meio-ambiente.
Ritinha, com toda a sua graça
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