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ASSIM CAMINHA A HUMANIDADE

A trilogia em quadrinhos “A Marcha” mostra os primórdios da luta pelos direitos civis nos EUA e apresenta John Lewis como um de seus principais protagonistas, ao lado de grandes vultos desse período histórico, como Martin Luther King Jr., Harry Belafonte e Rosa Parks

PAULO CASTRO

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“É um pequeno passo para um homem, mas um gigantesco salto para a humanidade”. A citação de Neil Armstrong, embora irônica – pois, até hoje, não se sabe de fato qual foi o “salto” dado pela humanidade na corrida espacial –, bem poderia ser aplicada seriamente a outro contexto histórico anterior, no qual, este sim, um pequeno passo de muitos representou significativas manifestações contra a segregação racial e conquistas sociais em prol dos direitos civis, com repercussões em leis mais justas e mobilizações memoráveis contra o racismo, o preconceito e a intolerância.

A série “A Marcha”, concebida pelo célebre congressista americano John Lewis, escrita por seu assessor político Andrew Aydin e ilustrada pelo premiado ilustrador Nate Powell, tem como mote a primeira das três marchas pacíficas (1965), realizadas por manifestantes em protesto contra a política racista do Alabama e a morte de um ativista, Jimmie Lee Jackson. Na tentativa de trilharem os 85 km da rodovia entre Selma e Montgomery, quando marchavam sobre a ponte Edmund Pettus, os manifestantes foram detidos e selvagemente agredidos por policiais. As marchas se tornaram ícones do movimento antissegregacionista nos EUA e levaram à aprovação da Lei dos Direitos ao Voto, um marco na luta pelos direitos civis no país.

SANDI VILLARREAL/DIVULGAÇÃO

Os autores Nate Powell, John Lewis e Andrew Aydin na ponte que ficou marcada na história dos direitos civis americanos

A trajetória de John Lewis como ativista, político e humanista, saído de uma humilde fazenda no Alabama até o Congresso americano, começou quando, ainda adolescente, lhe caiu nas mãos uma HQ: “Martin Luther King and the Montgomery Story” (1956), que por muitos anos foi como um manual para ele, uma ferramenta indispensável ao movimento, que ensinava como implementar o ativismo não violento nos protestos. Foi o principal motivo para John Lewis decidir narrar sua própria história em quadrinhos. Os três exemplares da saga são repletos de momentos antológicos. No primeiro fascículo, destaco alguns, dentre tantos. Um deles foi a temerária viagem que Lewis, ainda criança, fez com o tio, do Sul até o Norte, pela rodovia, cuja tensão, provocada em ambos, foi relembrada, resgatando toda a dramaticidade do momento, uma viagem de iniciação para o militante que Lewis viria a se tornar. Outro momento resgata o pesado e humilhante treinamento dos ativistas para evitarem revidar as agressões de seus algozes. Por fim, cito as prisões, as lutas nos tribunais e o espírito de resistência, de arrepiar, que lhes movia, mesmo atrás das grades, com suas canções de protesto e apoio mútuo.

A trilogia mostra que o grande passo da humanidade é o efetuado em direção à conscientização coletiva, mesmo à custa de humilhações, dores, perdas e baixas pelo percurso, na esperança das grandes conquistas, quando o caminhante e o caminho se reconhecem como um só.

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