MELHOR POR UM MUNDO
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ANO I JUL/AGO/SET 2017 BRASÍLIA - DF EDITORA PALOMITAS
PORQUE O MUNDO TAMBÉM É REPLETO DE BOAS NOTÍCIAS E PESSOAS EXTRAORDINÁRIAS
SANTOS INOCENTES MÁRTIRES SALVANDO MÃES E BEBÊS HÁ MAIS DE UMA DÉCADA
A CURA PELAS VIRTUDES
O perdão e
seu poder transformador
DOAÇÃO DE ÓRGÃOS
Mulher vive para
ofertar esperança
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EDITORIAL A persistência do bem Da primeira edição da revista Por Um Mundo Melhor, lançada em julho de 2015, até esta segunda edição, publicada agora em julho de 2017, extensiva ao trimestre, parece que mais de dois anos se passaram: tanto aconteceu no país, nestes 24 meses, que isso mais dá a impressão de que uma década ficou para trás. Durante estes dois anos, o Brasil passou por uma recessão econômica difícil (da qual tenta, ainda, a duras penas, se livrar) e intensificou-se uma situação política e social conturbada. Além disso, a própria área do jornalismo (que antes se autoproclamava a detentora “oficial” da divulgação da informação de qualidade), hoje, na era digital, vive compulsoriamente uma reformulação necessária, assim como seus profissionais, que precisaram se reinventar para continuar trabalhando. Tudo para acompanhar o advento da educomunicação e da mídia comunitária e virtual, que vieram para ficar e democratizar os meios de informação, empoderando grupos e atores sociais antes relegados ao esquecimento. Com tudo isso, não seria surpreendente que a própria revista Por Um Mundo Melhor, que então recém surgia, no epicentro da crise econômica de 2015, também não passasse por um período de adequação, para se adaptar a uma época de resiliência editorial, decorrente das novas mídias e de novas maneiras de se ver o jornalismo, distintas da tradicional. Mas como bem dizia o filósofo pré-socrático Heráclito de Éfeso, “a única coisa que não muda é que tudo muda”. Foi assim, em meio ao turbilhão de mudanças que tomou de assalto o cenário brasileiro, que nós, da Editora Palomitas, pensamos: ora, se há outra coisa que não muda na humanidade, embora o caos de nossas cidades e da condição humana pareça dizer o contrário, é a persistência do bem, mesmo a despeito do declínio dos valores nas relações sociais que temos perplexamente presenciado no mundo.
<http://www.acessibilidadetotal.com.br/a-que-voce-e-grato>
A esperança que a busca do bem propicia, alheia a toda a dor e à indiferença circundantes, é o que nos motiva a dizer que, sim, faz bem pensar e viver o bem, acreditar no bem, ter a certeza de que o bem prevalece, embora muitos de nós não tenhamos condições de perceber isso, porque estamos inconscientes, adormecidos para o bem, que é a essência de nosso ser e de nossa concepção primeva. Essência que se manifesta em solidariedade, perdão, compaixão, amor... e nos ideais latentes em nós que propagam não a utopia, mas o embrião inevitável de um mundo melhor, como as matérias desta edição bem mostram. Na seção “Perfil”, apresentamos a história de uma cientista inglesa que se notabilizou por doar seus órgãos para pessoas desconhecidas (!!!). Como matéria de capa, mostramos a história de uma creche em Samambaia (DF) que realiza um maravilhoso trabalho de resgate de mães e crianças, como opção humanitária contra o aborto. Além disso, trazemos uma matéria especial sobre o valor do perdão para a vida e de como ele é fundamental para a concepção de um mundo melhor e até para a cura. Esperamos que você curta esta edição, que preparamos com muito carinho para você. Uma boa leitura.
EXPEDIENTE
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A revista Por Um Mundo Melhor é uma publicação trimestral da Editora Palomitas e não tem fins lucrativos. Todos os recursos advindos da comercialização de seus anúncios se destinam à sustentabilidade do periódico, à remuneração de seus profissionais e ao apoio a projetos sociais, ambientais e de defesa dos vulneráveis.
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Cláudio Domenech Tupinambá
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Cleber de Albuquerque Colônia Editora Independente CNPJ: 24.206.387/0001-03 www.coloniaeditora.com.br
SUMÁRIO “É parte da minha natureza fazer algo de bom”
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O amor humanitário dos Santos Inocentes Mártires
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O recipiente da dor
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Exemplo de dedicação à infância
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Determinação de fazer a diferença
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O amor é o remédio
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Um segundo pai
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O que pode o perdão?
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Tempeh tem o pé na proteína
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Índio se torna enfermeiro para atuar em sua aldeia
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Vencendo o medo
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À procura de uma alimentação responsável e sem desperdício
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Deficiências
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“É PARTE DA MINHA NATUREZA FAZER ALGO DE BOM”
TRACEY JOLLIFFE www.sundaypost.com
PERFIL
Tracey Jolliffe Tracey Jolliffe: “Eu doei um rim para alguém necessitado. Você doaria?”
Conheça a inglesa que doa seus próprios órgãos a pessoas desconhecidas e já ajudou a mudar o destino de muitas vidas
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Você provavelmente já viu o filme “Sete Vidas”, que conta a história de um personagem, interpretado pelo ator Will Smith, que doa seus órgãos a pessoas anônimas para salvar suas vidas, como uma forma de expiar seu passado. Longe da ficção, com os pés bem plantados na realidade, a cientista britânica Tracey Jolliffe bem poderia ter servido de inspiração para o filme. Ela se registrou como doadora de sangue e de medula quando tinha 18 anos. De lá para cá, jamais parou de ampliar seu exemplo. Atualmente, aos 50 anos, ela continua disposta a doar o que pode de seus próprios órgãos para salvar outras pessoas, mesmo que sejam de indivíduos que ela jamais viu na vida. Em 2012, ela foi uma voluntária, entre as menos de cem pessoas, no Reino Unido, a doar um rim sem saber quem o receberia. Pode parecer um número elevado, mas em meio a uma população de 65 milhões e meio de indivíduos e considerando-se, ainda, o altíssimo índice de mortalidade relacionado às doenças renais e a comorbidades na Grã-Bretanha, o gesto de Tracey pode ser considerado, por muitos, no mínimo, surpreendente (talvez louco?), mas – sobretudo – heroico. Hoje, ela apoia a organização de caridade Give a Kidney (“Doe um Rim”, em inglês), que incentiva outras pessoas a repetir sua atitude louvável. Além do rim, ela também já doou 16 óvulos para casais inférteis e mais de 45 litros de sangue para acidentados e enfermos. Como se fosse pouca a sua contribuição para a sobrevida e a saúde de muitos, há poucos meses ela planejava doar parte de seu fígado também e ainda pretende deixar seu cérebro para ser estudado pela ciência. Conheça um pouco da extraordinária vida de Tracey Jolliffe.
A educação familiar como base para uma personalidade solidária Tracey Jolliffe é microbióloga e trabalha no National Health Service (NHS), o sistema de saúde público britânico. Seus pais eram enfermeiros. Como parte da educação que eles lhe proporcionaram, Tracey passou a vida ouvindo histórias sobre a importância da assistência médica sob um ponto de vista profissional e também humanista. Quando chegou à idade adulta, ela se tornou uma “doadora altruísta”, que é como são chamadas
No Brasil, o número é quase quatro vezes maior: entre adultos e crianças, até março de 2016, eram 20 mil pessoas que aguardavam um rim, segundo os dados mais recentes da Associação Brasileira de Transplante de Órgãos. O rim é, de longe, o órgão mais requisitado. De todos os pacientes à espera por um transplante de órgãos no Brasil, 58,7% aguardam por um rim, enquanto 4,2% precisam de uma doação de fígado, o segundo mais demandado na lista.
TRACEY JOLLIFFE quando acordo”, diz ela, orgulhosa. “Se tivesse mais um rim extra, eu o doaria também”, disse ela ao programa da Victoria Derbyshire, da BBC de Londres. No entanto, não foi uma decisão impulsiva. Doar um rim é um “processo complexo”, diz ela, já que as avaliações das condições do doador levam até três meses para que sejam concluídas. Isso inclui exames de raio-X, cardíacos e de funcionamento do órgão, por meio de uma série de testes de sangue. “Não é algo que você faz se tem medo de agulhas”, ela brinca.
“Todos os dias, quando acordo, eu me lembro disso [de que o rim que ela doou provavelmente salvou uma vida]”
na Grã-Bretanha as pessoas dispostas a dar um órgão para salvar a vida de um desconhecido. Até 30 de setembro de 2016, 5.126 pessoas estavam na fila do NHS, no Reino Unido, necessitadas urgentemente da doação de um rim, cujo tempo médio de espera é de três a quatro anos. Um prazo ao qual muitos não resistem.
Um gesto que não foi parte de uma decisão impulsiva Diferentemente da maioria dos transplantes, uma pessoa pode estar viva para doar um rim, porque só precisa de um dos dois existentes para sobreviver. O rim doado por Tracey provavelmente salvou a vida de uma pessoa. “Eu me lembro disso todo dia
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PERFIL
Os riscos associados à doação de rim são baixos se o doador estiver saudável, com uma taxa de mortalidade de uma para cada 3 mil pacientes, o que corresponde ao mesmo risco a que os pacientes estão sujeitos em remoções cirúrgicas de apêndice. O NHS enfatiza que a maioria dos doadores de rim tem uma expectativa 7
PERFIL
Já segundo a ONG britânica Kidney Research UK, pelo menos 60% das pessoas que recebem um rim podem ter a expectativa de viver em média por mais 15 anos após o transplante.
“Se eu tivesse mais um rim extra, eu o doaria também” Auxílio a casais inférteis Além de ter ajudado a salvar vidas – inclusive com mais de 45 litros de sangue que já doou até hoje –, Tracey já doou 16 óvulos, que permitiram a três casais ter filhos. Foi fácil tomar essa decisão, diz ela. “Não tenho vontade de ter filhos; então, pensei: ‘Sou saudável! Por que não?’”.
Mas muitos doadores têm uma vida longa e saudável após o transplante, diante da “incrível capacidade de regeneração” do órgão, esclarece Tracey. Quase imediatamente após a cirurgia, o restante do fígado do doador começa a crescer, um processo conhecido como hipertrofia, que continua por até oito semanas. Tracey afirma não ter dúvidas de que continuará a doar enquanto puder e espera fazer isso mesmo após morrer. “Eu me registrei para dar meu cérebro para a ciência médica quando partir”, diz ela. Doações de cérebro são efetivadas até 24 horas após a morte de uma pessoa e contribuem para o estudo de males como, por exemplo, a demência. Mas quais são as razões de Tracey para doar órgãos, seja um cérebro ou um
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Tracey Jolliffe recebe o certificado de vencedora de uma categoria do prêmio Fame Lab de 2017
rim? “É parte da minha natureza, minha oportunidade de fazer algo de bom”. Solidariedade Se a doação de um rim ou de uma parte do próprio fígado representa para você um gesto radical e perigoso, o que é natural e legítimo pensar, planeje realizar doações que não apresentam riscos para você, mas são fundamentais para as vidas de tantas pessoas, como a doação de sangue e medula óssea. Texto reproduzido da matéria original de Adam Eley e Jo Adnitt, a partir do programa de Victoria Derbyshire, da BBC de Londres (UK). Disponível em: <http://www.bbc.com/news/ health-38637348>. Acesso em: 30/06/2017 .
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Agora, ela espera doar parte de seu fígado – e, de novo, para alguém que ela não conhece. Como é uma profissional de saúde experiente, Tracey está ciente dos riscos
envolvidos. “O perigo é muito maior do que na doação de rim”, afirma. A taxa de mortalidade de uma doação a partir do lóbulo direito do órgão é de uma morte a cada 200 pessoas e, a partir do lóbulo esquerdo, de um óbito a cada 500.
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de vida equivalente – ou maior – do que a média geral das pessoas. Tracey conta ter ficado internada no hospital por cinco dias após a operação e que sua vida “voltou ao normal” após seis semanas.
TRACEY JOLLIFFE
Cena do filme “Sete Vidas”, com os atores Will Smith e Rosario Dawson Título original: 7 Pounds Gênero: drama País: EUA Ano: 2008 Duração: 118 min Direção: Gabriele Muccino
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Elenco: Will Smith (Ben Thomas), Rosario Dawson (Emily Posa) e Woody Harrelson (Ezra Turner). Infográfico mostra as doações realizadas por Tracey Jolliffe
Fundado em 2009, o Instituto Americano de Desenvolvimento – IADES – é uma organização da Sociedade Civil de Interesse Público que realiza seleções públicas e privadas, planeja e executa projetos de capacitação profissional e promove atividades que auxiliam na profissionalização, no empreendedorismo e na geração de renda. Ciente do seu papel junto a sociedade, o IADES desenvolve ações de enfrentamento da pobreza, compatíveis com os próprios objetivos estatutários, por meio de apoio financeiro a entidades que realizam iniciativas de tal natureza, e atualmente está com os seguintes projetos em andamento: • Mãos que criam – Associação das Costureiras e Artesãs da Estrutural; • Igreja Cristã Evangélica Betesda; • Sociedade Espírita Irmã Rosália; • Federação Brasiliense de Vela Adaptada. Nós, do IADES, trabalhamos todos os dias para construir uma sociedade melhor, priorizando os princípios da legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade, economicidade e da eficiência.
QE 32 Conjunto C Lote 2 - Guará II - DF • (61) 3574-7200 • www.iades.com.br • www.iamericano.org.br
DEFESA DA VIDA
O AMOR HUMANITÁRIO DOS SANTOS INOCENTES MÁRTIRES PAULO CASTRO
mãe caminha desolada pela rua. Em desespero, não sabe como resolver o que, para ela, talvez seja o drama mais difícil de sua vida e, certamente, também da vida que ela carrega em seu próprio ventre: uma gravidez indesejável. Sem saber a quem recorrer, ela subitamente lê um anúncio inusitado, para não dizer chocante, afixado em uma parede da rua: “Pensando em aborto? Ligue para...”. Sem sequer pensar, ela arrisca uma ligação para o local. Com extrema perturbação, a mãe aflita fala para a pessoa interlocutora que ela tem um inconveniente que precisa ser resolvido.
Paulo Henrique de Castro/Editora Palomitas
A
Resgatando vidas e oferecendo abrigo e suporte emocional a mães angustiadas e suas crianças há 13 anos, creche de Samambaia (DF) é referência no País por apresentar uma alternativa humanitária contra a opção do aborto, mas passa por dificuldades financeiras
Do outro lado da linha, a pessoa fala para a mãe que o problema dela tem solução. Em nenhum momento da conversa, embora esteja subentendida para ambas, a temida (quase proibitiva) palavra “aborto” é mencionada, devido à discrição da pessoa interlocutora e por causa do pudor, da vergonha e do medo da mãe. A conversa entre elas é apenas mais uma das várias que ocorrem todos os meses entre mães de várias proveniências e a creche Comunidade Católica dos Santos Inocentes Mártires, em Samambaia (DF). A mulher em questão, cujo nome é guardado com sigilo inviolável, pode ser qualquer uma das diversas mães anônimas que já ligaram para a instituição, pensando que ali se tratava de uma clínica de aborto, mas não de uma entidade séria para o resgate de bebês indesejados e para o suporte emocional, o abrigo e o apoio material, financeiro e espiritual a mães desamparadas.
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Já a pessoa interlocutora pode ser qualquer um dos missionários voluntários da Associação Santos Inocentes (Asai), entidade civil sem fins lucrativos que atua como pessoa jurídica da creche. São tais missionários que fazem o primeiro contato com as mães e dão início a toda a rede de proteção às mulheres e aos seus bebês ainda não nascidos em tão difícil provação para muitas famílias, em missão denominada “resgate de inocentes”. Considerando-se que muitas mulheres também morrem ao tentar realizar aborto em clínicas clandestinas, o trabalho da entidade prioriza tanto salvar as
Ari França: “Quando uma mãe entra em contato conosco, a primeira coisa que nós fazemos é pedir, em orações, ajuda superior, porque se nós dependermos exclusivamente do esforço humano, nada dá certo”
vidas dos bebês quanto de suas mães, em apoio integral.
PORTO SEGURO Encravada em uma das regiões mais violentas de Samambaia, paradoxalmente, a creche onde funciona a associação é um porto seguro de paz, tranquilidade, limpeza, organização e, sobretudo, acolhimento para mães e crianças. “Após o primeiro contato das mães, nós oferecemos a elas o apoio psicológico. Conversamos com elas e as orientamos a levar adiante a gestação. Para as mães carentes, oferecemos um abrigo provisório, creche para a criança resgatada, além de todo o apoio material de que a mãe e seu bebê precisam. Após o nascimento da criança, se ainda assim a mãe não quiser ficar
Apesar das limitações financeiras da entidade, seu trabalho é notável: a creche atende não só mães do Distrito Federal, mas também de outros estados. “Já acolhemos mulheres do Piauí, do Pará, de Minas Gerais...”, lembra Ari. Além da creche para crianças resgatadas e também para crianças de mães da comunidade que precisam trabalhar e não têm onde deixar seus filhos, a instituição conta ainda com a Casa de Missão dos Santos Inocentes.
Todavia, em treze anos de existência da instituição e nos dez anos em que Ari participa de seu trabalho, isso nunca aconteceu. “Dos casos de mães que permitem o nosso acompanhamento, 100% deles são vitoriosos. As mães não só resolvem levar adiante a gestação, como também, após o nascimento, resolvem ficar com seus bebês”, complementa ele. De onde vem tanta força para levar adiante missão tão difícil? Ari garante que não vem da capacidade humana. “Quando uma mãe entra em contato conosco, a primeira coisa que nós fazemos é pedir, em orações, ajuda superior, porque se nós dependermos exclusivamente do esforço humano, nada dá certo”, salienta ele.
É uma moradia de acolhida para mulheres carentes que desistem de abortar e que não têm lugar para ficar, bem como para suas crianças, além de vítimas do abandono. As crianças são acolhidas em regime de creche até os três anos de idade. Assim, a casa oferece condições para que a mãe não aborte e possa trabalhar, enquanto o filho permanece em um local seguro.
A entidade também acolhe, em regime de creche, filhos de mães carentes da comunidade durante o horário escolar
Paulo Henrique de Castro/Editora Palomitas
Apesar de contar com um quadro de profissionais que exige um bom suporte financeiro, a creche depende exclusivamente de doações e não tem apoio do GDF. Ari, que – por lei – poderia ser remunerado, não tem provento algum. Já o carro de que a creche dispõe ficou um bom tempo com o IPVA vencido e precisa de manutenção, mas a associação não dispõe de recursos para isso. O veículo é utilizado nos resgates, nas visitas e nos trabalhos da assistência social. “Temos o desejo de possuir mais um carro, para auxiliar nessas demandas; porém, ainda não temos verba para isso”, esclarece Ari. Para ajudar a custear suas muitas despesas, colaboradores da instituição realizam, uma vez ao ano, um evento chamado Tarde de Tortas. Além disso, a associação realiza um bazar pelo menos quatro vezes por ano.
Paulo Henrique de Castro/Editora Palomitas
CASA DE MISSÃO A estrutura da associação conta com o trabalho voluntário de duas assistentes sociais (além de dois estagiários), uma enfermeira, três psicólogas (para o acompanhamento emocional das mães), quatro pediatras, uma ginecologista e três advogados, que são acionados, inclusive, para auxiliar em casos de exame de DNA, para detectar a paternidade quando os pais se recusam a assumir sua prole. Além desses voluntários, a entidade conta ainda com 14 funcionários remunerados. Entre eles, sete monitoras das crianças, um motorista e uma cozinheira.
DEFESA DA VIDA
com seu bebê, nós acionamos a Vara da Infância, que encaminha a criança para adoção”, explica Ari França (39 anos), administrador da entidade.
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Paulo Henrique de Castro/Editora Palomitas
vezes em relação à própria vida pessoal de seus servidores. Mas Ari garante que é recompensador saber que seu empenho foi determinante para reorientar mulheres, ajudar a estruturar famílias e salvar as vidas de muitas mães e crianças, tantas que ele nem se lembra quantas são. Quando é indagado a respeito de quem teria afixado cartazes da instituição pela cidade com os contatos telefônicos da creche, Ari revela que não sabe quem teve essa ideia, mas que a medida foi bem acolhida por ele, porque serve de chamariz para as mães aflitas. “Elas fazem o contato, mas só ficam sabendo do nosso trabalho na conversa que temos pessoalmente. Elas pensam que vão para uma clínica de aborto e descobrem que aqui estamos para ajudálas e para salvar as vidas delas e de suas crianças”, ressalta ele. Ari complementa que muitos contatos são feitos também por mães e por seus parentes que têm acesso a informações sobre a associação pela internet.
Paulo Henrique de Castro/Editora Palomitas
Ari acrescenta que o trabalho deles os motiva a amar o dom da vida de cada ser humano. E quando a instituição recebe mais mães e crianças do que sua capacidade para abrigá-las? “A gente se põe a orar e os meios surgem milagrosamente. Não podemos recusar ajuda para nenhuma mãe. Cada criança e mãe que são resgatadas representam uma estrela de esperança para outros tantos bebês e mães em risco”, finaliza ele.
A entidade também acolhe, em regime de creche, filhos de mães carentes da comunidade durante o horário escolar
A Casa de Missão acolhe 50 crianças atualmente, divididas em três berçários. Devido à lotação esgotada, ela não tem mais vagas para a comunidade. “Temos uma lista de espera e, à medida que as crianças vão saindo, quando alcançam a idade de três anos, elas dão lugar para outras. Para os casos de resgates, sempre temos vagas, pois são a nossa prioridade”, ressalta Ari. Embora tenha sido inaugurada em 2010, a Casa de Missão ainda não foi completamente adquirida. “Ela está financiada. O custo total do imóvel é de R$ 80 mil”, explica Ari França.
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Um trabalho vocacionado como este tem uma boa dose de amor abnegado, mas também de renúncia, muitas
Detalhe da foto: pequenos bonecos de plástico representando fetos aos pés da imagem de Nossa Senhora simbolizam as crianças salvas e as vidas protegidas pela instituição
DEFESA DA VIDA
Paulo Henrique de Castro/Editora Palomitas
Direitos da infância previstos no Estatuto da Criança e do Adolescente
Serviço Endereço: QR 425, conjunto 5, casa 15, Samambaia Norte (DF) Tels.: (61) 3459-2867 3359-3652 E-mails: arifrancainocentes@gmail.com santosinocentessaojose@gmail.com Site: www.santosinocentes.org.br
Como surgiu a expressão “Santos Inocentes Mártires”? Consagrada como data cristã já no calendário cartaginês do século IV e, pouco depois, no Sacramentário Leoniano, a festividade dos Santos Inocentes é uma homenagem às crianças assassinadas pelo rei Herodes I, em Belém, entre 37 a.C. e 33 a.C. Embora o episódio narre o suplício de crianças nascidas, a festividade incluiu também, em sua homenagem, as crianças não nascidas, que também são consideradas pelo poeta romano cristão Prudêncio (348 d.C. – 410 d.C.), de cujos textos é tirada a liturgia deste dia, como ‘flores martyrium’, as primeiras flores germinadas em torno da manjedoura. A festividade tem como base as palavras de Cristo: “quem perde a vida por minha causa a achará” (Marcos, 8:35) .
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<http://luxosimplesassim.blogspot.com.br/2011/09/aquavit-oferece-almoco-aos-sabados.html>
ENSINAMENTO ZEN
O RECIPIENTE DA DOR
U
m velho mestre se cansou das queixas do seu aprendiz. Uma manhã, ele o pediu para apanhar um pouco de sal. Quando o aprendiz voltou, o mestre lhe pediu que misturasse um punhado de sal em um copo de água e depois bebesse. “Como é o gosto?”, o mestre perguntou. “Amargo”, disse o aprendiz. O mestre sorriu e pediu ao jovem que pegasse o mesmo punhado de sal e o levasse a um lago. Os dois caminharam em silêncio até o lago e, uma vez que o jovem jogou o sal na água, o velho mestre disse: “Agora beba do lago”. Enquanto a água escorria no queixo do jovem, o mestre perguntou: “Como é o gosto?”. “Fresco”, comentou o aprendiz. “Você sente o gosto do sal?”, perguntou o mestre.
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“Não”, disse o jovem. Então, o mestre se sentou ao lado do sério jovem e lhe disse suavemente: “A dor da vida é puro sal; nem mais, nem menos. A quantidade de dor na vida permanece exatamente a mesma. No entanto, a quantidade de amargura que sentimos depende do recipiente no qual colocamos a dor. Assim, quando você estiver sentindo dor, a única coisa que você pode fazer é ampliar seu sentido das coisas. Deixe de ser um copo. Torne-se um lago”. Fonte: autor desconhecido.
EXEMPLO DE DEDICAÇÃO À INFÂNCIA
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DRIBLANDO AS LIMITAÇÕES
Kesz ao lado do prêmio
Garoto que viveu em lixão ganha prêmio internacional da paz por ajudar crianças fugir e procurar ajuda, segundo informações dos organizadores do prêmio. Ele foi acolhido por um grupo cristão e, aos sete anos, começou a ajudar as crianças da comunidade. Toda semana, ele e amigos vão a locais carentes para falar com meninos e meninas sobre higiene, alimentação e direitos das crianças. Em seu país, nas Filipinas, 246 mil meninos e meninas vivem nas ruas, sujeitos a abusos, violência e ao trabalho infantil. A ação também é multiplicadora: Kesz ensina a transmitir os conhecimentos a outros jovens.
Aos cinco anos, Kesz sofreu queimaduras no braço e nas costas, o que o obrigou a sarahsensei.wordpress.com
O
jovem Cris Valdez, aos 13 anos de idade, ganhou o Prêmio Internacional da Criança pela Paz, em Haia, na Holanda. Apelidado de “Kesz”, o garoto, que é exmorador de rua e viveu em um lixão, foi premiado por seus esforços para melhorar a vida de crianças na mesma condição de vulnerabilidade social em que ele vivia. Kesz sofria violência em casa e foi forçado a trabalhar no lixão desde pequeno.
Kesz criou uma fundação, a “Championing Community Children” (“Defendendo as Crianças da Comunidade”), que já atendeu mais de 10 mil crianças. O prêmio foi entregue ao adolescente pelo vencedor do Prêmio Nobel da Paz Desmond Tutu, arcebispo da África do Sul. O garoto ganhou 100 mil euros. Durante a cerimônia, ele mandou uma mensagem às crianças do mundo: “Nossa saúde é a nossa riqueza! Ser saudável permitirá a vocês brincar, pensar claramente, se levantar e ir para a escola e amar as pessoas ao seu redor de muitas formas. Para todos no mundo, lembrem-se de que, a cada dia, 6 mil crianças morrem de doenças relacionadas à falta de saneamento, falta de higiene, e nós podemos fazer algo sobre isso!”. Entre os finalistas do prêmio, patrocinado pela organização Kids Rights (Direitos das Crianças), estavam uma garota de 15 anos de Gana e outra, de 16, da Índia. Mais de 90 crianças que lideram ações sociais pelo mundo disputaram a indicação.
Kesz e Sarah Sensei, divulgadora do aikidô no mundo e ativista pela educação
Fonte: <http://www.sonoticiaboa.com.br/index.php (com adaptações).
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DRIBLANDO AS LIMITAÇÕES
DETERMINAÇÃO DE FAZER A DIFERENÇA Ryan Hreljac, o garoto que saciou a sede de milhões de africanos http://arianeribeiro.files.wordpress.com
CARLOS GUTEMBERG Tudo começou em uma das aulas de sua escola, quando uma professora falou sobre o drama da falta de água vivido por milhões de crianças africanas. Ela contou que muitas delas chegavam a morrer de sede, por não haver poços onde pudessem encontrar água. Ao saber disso, Ryan ficou bastante comovido. Ele não entendia o porquê de tantas crianças passarem por essa situação, enquanto ele tinha água limpa quando quisesse, sem nenhum esforço, bastando abrir a torneira de sua casa. Ainda na escola, o garoto perguntou para sua professora quanto em dinheiro ele precisaria para levar água para as crianças africanas. Ela lembrou que havia uma organização não governamental (ONG) chamada WaterCan, que perfurava poços artesianos, e que esse trabalho custava, em média, 70 dólares.
Alimentando um sonho Chegando à sua casa, Ryan logo foi até a sua mãe, Susan, para dizer-lhe que precisava daquela quantia para construir um poço de água e, assim, ajudar as crianças da África. Ryan Hreljac
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Com seu trabalho, ele já ajudou a construir mais de 630 poços artesianos, levando água potável e serviços de saneamento básico à população do continente história do canadense Ryan Hreljac, de 21 anos, mostra que não se deve subestimar o desejo de uma criança que, mesmo de forma inocente, sonha em mudar o mundo em que vive. Aos 6 anos de idade, ele passou a alimentar o sonho de levar água potável para crianças na África e perseverou até conseguir alcançar esse objetivo – já saciou a sede de quase 1 bilhão de pessoas no continente mais pobre do mundo.
Num primeiro momento, ela não lhe deu o dinheiro, mas propôs que ele fizesse algumas tarefas domésticas, a fim de arrecadar esse valor. Durante quatro meses, o garoto realizou várias atividades, até conseguir o que queria. Sua mãe esperava que, com isso, ele se sentisse mais produtivo, participativo e ligado à causa. Com o dinheiro em mãos, o garoto e a sua mãe foram até a WaterCan. Ao chegarem à entidade, foram informados de que 70 dólares era o preço da bomba manual. Na verdade, cada poço perfurado custava cerca de 2 mil dólares, valor que nem ele nem a sua família tinham naquele momento. Ryan prometeu que, em breve, voltaria com o dinheiro. Sua determinação contagiou seus vizinhos, irmãos e amigos. Todos eles se propuseram a trabalhar, vender produtos e conseguir doações pela causa. Em pouco tempo, arrecadaram 700 dólares. Vendo esse esforço, a WaterCan resolveu completar o que faltava e, em 1999, o poço tão almejado por Ryan foi construído na região de Uganda, beneficiando milhares de pessoas com água potável. O garoto não se conteve com esse resultado. Depois disso, passou a se corresponder com crianças beneficiadas por sua ação e conheceu o pequeno Jimmy Akana. Antes da construção do poço, o menino andava 8 quilômetros para ter acesso a uma água imunda.
Ryan em um poço em Uganda (2006) criado graças ao seu trabalho
Ryan e Jimmy, agora irmãos, em Uganda (2000)
Em 2000, Ryan viajou com os pais para Uganda, até o vilarejo onde foi construído o poço com os recursos arrecadados por ele. Lá, ele se surpreendeu com os milhares de meninos e meninas que, enfileirados, o aplaudiam pelo seu feito. Quando Ryan foi levado até o poço, os líderes locais pediram que ele lesse o que estava escrito no concreto: “Poço de Ryan. Financiado por Ryan Hreljac, para a comunidade de Angolo”, dizia a placa.
Sequestro e adoção Em outubro de 2002, no meio da noite, Jimmy foi sequestrado por um grupo rebelde que tentava derrubar o governo local e que já tinha capturado mais de 20 mil crianças desde 1986, transformando-as em guerrilheiros. O garoto conseguiu fugir do cativeiro, se escondendo no meio da floresta. Sozinho, ele foi até a casa de um amigo, que entrou em contato com a família de Ryan, que logo se dispôs a acolhê-lo. Depois de enfrentar muitas barreiras, Jimmy finalmente chegou ao Canadá e foi morar na casa de Ryan. Hoje em dia, ele é um membro permanente da família Hreljac. Concluiu o ensino médio e se adaptou bem à nova língua e ao país.
Ryan Hreljac, o apresentador de TV Gordon Moyes e Jimmy Akana
Fundação e reconhecimento pelo trabalho
DRIBLANDO AS LIMITAÇÕES
ryanswell.ca/media/photos-for-media.aspx
Emocionado com os fatos relatados por Jimmy em suas cartas, Ryan passou a querer ver de perto essa dura realidade do novo amigo e de outras inúmeras crianças africanas.
www.123people.com/g/jimmy+akana
Conhecendo a realidade de perto
O irmão adotivo de Ryan também é o seu braço direito na Ryan’s Well Foundation (“Fundação Poços de Ryan”), criada em 2001. A entidade faz apresentações e oferece conhecimento ao mundo todo sobre questões relativas à água. Em seus mais de 10 anos de existência, a fundação já ajudou a construir cerca de 630 poços artesianos e 700 latrinas, levando água potável e serviços de saneamento básico para quase 1 bilhão de pessoas no continente africano. Reconhecido pelo Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) como “Líder Global da Juventude”, Ryan hoje discursa em palestras em vários países, escolas e igrejas, falando de forma apaixonada sobre a necessidade de água limpa em todo o mundo. Não deixe de assistir ao documentário sobre a história de Ryan Hreljac: <http:// www.youtube.com/watch?v=fWk2_ LZ1zFM>. Fonte: <http://www.arcauniversal.com/comportamento/ historias-de-vida/noticias/ryan-hreljac-o-garoto-que-saciou-a-sede-de-milhares-de-africanos-11453.html>.
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COMPORTAMENTO
<http://coukie24.unblog.fr/2011/08/24/aimer-les-autres-cest-vouloir>
O AMOR É O REMÉDIO
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ENILDES CORRÊA ão atemorizantes as estatísticas que revelam o uso crescente de álcool e outras drogas entre a população jovem do nosso país. Aderir ao uso dessas substâncias parece que está se tornando um dos rituais de passagem para a adolescência dos tempos modernos, infelizmente. Estamos diante de um processo que está devorando a vida, mas não me parece que as autoridades governamentais estejam se dando conta da extrema gravidade dessa
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“Normalmente, queremos usar as nossas faculdades mentais na direção de ficarmos livres do problema, em vez de procurarmos entender a causa do problema. Entender a causa leva a encontrar a solução correta do problema. Sem entender a causa, o remédio não se torna remédio, não faz o efeito” (Kiran Kanakia)
situação. Caso contrário, estaríamos tendo uma verdadeira revolução quanto à valorização da vida, principalmente na área da educação e da saúde pública. Vemos com angústia crescente as escolas se tornarem alvo dos traficantes. E, ao mesmo tempo, grande parte das instituições escolares públicas e particulares mantém-se quase à margem desse processo, sem haver um reconhecimento do papel social fundamental que exercem nessa grave questão. Os jovens das diferentes classes sociais iniciam-se no álcool e em outros tipos de drogas por motivos diversos. Os da classe mais privilegiada têm tudo fácil e ficam sem desafios e objetivos na vida. Neste caso, a facilidade financeira para satisfazer os desejos
Aos pobres, por sua vez, falta-lhes quase tudo. Esses jovens, que já nascem sem direito a quase nada, muitas vezes, nem mesmo à presença e ao amor dos seus pais, sentem sua sobrevivência ser ameaçada constantemente. Sem emprego, sem esperanças, abandonados pela família, pela sociedade e pelo governo, veem se descortinar diante de si um futuro nada agradável de se enfrentar. Desorientados, frustrados e rejeitados, enxergam nas drogas uma válvula de escape para os seus problemas. Apesar das diferenças entre os jovens das várias camadas sociais que entram nas drogas de uma forma mais intensa, geralmente há algo em comum entre eles: não conseguiram obter o amor de que necessitavam para se sentirem protegidos e fortalecidos para enfrentarem o mundo com confiança, seja na família, na escola ou na sociedade. Em algum nível lhes faltou o amor essencial, aquele que dá sustentação a uma vida saudável. Aqueles que se tornam dependentes químicos revelam alto grau de insegurança e frustração. Entretanto, a tendência dos pais, ao se depararem com um filho pego pelas drogas, é culpá-lo, cobrando dele, geralmente de forma agressiva, mudanças de comportamento imediatas. Nem sempre esses pais procuram analisar as situações que contribuíram para que o filho se tornasse uma presa fácil dos vícios. Muitos pais nem se questionam sobre o seu jeito de agir, se foram presentes ou ausentes na vida dos seus filhos ou qual foi a qualidade do relacionamento familiar. Esses questionamentos são dolorosos, mas necessários para que a verdade aflore. Quando enxergamos e aceitamos um problema, sem tentar fugir dele, sem mascará-lo ou reprimi-lo, ganhamos forças para enfrentá-lo, e as verdadeiras causas que o originaram emergem por si só. Como consequência, as soluções aparecem e, no devido tempo, tudo se ajusta. É uma lei natural da vida. Na realidade, os jovens estão sendo vítimas de um contexto familiar e social desorganizado. Na nossa sociedade, cujo conceito de felicidade está baseado em algo externo, frequentemente no poder econômico e de consumo, há uma completa inversão de valores, responsável por inúmeros desajustes no convívio social. O ter tomou a frente de tudo e o ser gente ficou para trás. Os valores materiais preponderam sobre os valores morais, éticos e espirituais.
“Só aquilo que somos realmente tem o poder de nos curar” (Carl Jung)
Sabemos que a melhor prevenção ocorre dentro da própria família. Pais amorosos e presentes no dia a dia de seus filhos são um fator fundamental para que eles cresçam seguros e tranquilos emocionalmente, tendo, assim, mais chances de resistir aos apelos (internos e externos) em relação ao uso das drogas. Uma pessoa, por mais pobre que seja, se tiver um referencial afetivo forte, ficará mais imune às doenças de origem psicológica. O amor é uma grande força protetora e fortalecedora para qualquer pessoa.
COMPORTAMENTO
de consumo, inclusive da droga, aliada a uma educação sem imposição de limites claros e firmes, com mais ausência do que presença afetiva dos pais, abre espaço para tais experiências.
Contudo, para que possamos ser amigos dos nossos filhos, precisamos, em primeiro lugar, nos relacionar com nós mesmos de modo amigo e pacífico. E isso só acontece se compreendemos e aceitamos a nossa individualidade. Se a relação que tivermos conosco for de inimizade, como poderemos ser amigos e amorosos com alguém? Ninguém dá o que não tem, nem mesmo para um filho que saiu do próprio ventre.
“Nós não ensinamos os filhos a respeitarem a vida; nós os ensinamos a respeitarem as coisas materiais. Nós não damos vida, damos coisas materiais. Na Índia, procuramos dar às crianças contato com a vida” (Mukund Bhole)
Percorrer o caminho do autoconhecimento, sendo honestos e verdadeiros com nós mesmos, dá ensejo a que essas e outras questões íntimas sejam esclarecidas, possibilitando-nos construir relações de amizade e harmonia dentro e fora da família. Vale lembrar que momentos de crise são oportunidades ímpares para uma reconstrução da vida, sobretudo para aqueles que estão abertos e dispostos a buscar a verdade dentro de si mesmos. Fonte: http://somostodosum.ig.com.br/clube/c.asp?id=32214 (com adaptações).
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GRANDES REENCONTROS
UM SEGUNDO PAI 17 anos depois, moça conhece bombeiro que a salvou quando ela era um bebê
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o ano de 1998, em Wenatchee, uma cidade do estado norte-americano de Washington, o bombeiro americano Mike Hughes respondeu a um chamado do qual ele jamais esquecerá. Quando ele chegou ao local, o cenário era dramático: a casa estava em chamas e uma família inteira estava presa lá dentro. Um por um, os adultos e as crianças foram resgatados, mas a bebê da família tinha ficado para trás. Mike não pensou duas vezes e enfrentou novamente o fogo. Em um dos quartos, ele encontrou Dawnielle Davison, que na época tinha só 9 meses de idade e estava encolhida no canto do berço. Ele cautelosamente pegou a criança no colo e conseguiu tirá-la de lá. O bombeiro afirma que a imagem daquela bebê retraída no berço nunca saiu de sua mente e ele sempre se perguntou sobre o paradeiro dela. Anos depois, ele resolveu procurar por ela no Facebook. Quando encontrou seu perfil, ele lhe escreveu uma curta mensagem. “Olá. Eu acho que uma vez eu salvei você de um incêndio, quando você era bem pequenininha”. A partir desse momento, os dois desenvolveram uma ligação especial e passaram a manter contato constante. Mike tornou-se uma espécie de segundo pai para Dawnielle.
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Em 2015, 17 anos após o incêndio, Dawnielle terminou o ensino médio. Mike foi convidado para a cerimônia de formatura. Quando Dawnielle subiu ao palco para fazer seu discurso, Mike não conseguiu segurar as
Reportagem de 1998 de um jornal local com a cobertura do incêndio. Nos braços de Mike Hughes pode-se ver Dawnielle Davison
lágrimas. Ela disse: “Mike, a sua presença aqui é muito importante para mim. Sempre choro de felicidade quando penso sobre como tudo poderia ter sido diferente. Eu não estaria aqui se não fosse por você”.
Dawnielle e Hughes em 2015, no dia da cerimônia de formatura da moça
Mike ficou extremamente orgulhoso dela. Emocionado, ele deu um abraço apertado na jovem. Dawnielle se sente muito sortuda por ter Mike na sua vida. Além de ser seu salvador, ele é também um grande amigo. Graças aos esforços de Hughes, que hoje está aposentado, estamos certos de que ele e Dawnielle nunca se esquecerão desse dia especial.
Fonte: <http://www.naoacredito.com.br/mike-dawnielle-incendio>.
A CURA PELAS VIRTUDES
O QUE PODE O PERDÃO? Pouco compreendido e muito menos ainda estudado, o perdão é um desafio para adeptos de diversos credos, filosofias, culturas, para as convenções sociais e até mesmo para a ciência. Em uma civilização cujas motivações contínuas são sempre os instintos primários (a ambição, a competição, a “esperteza”, a malícia, a busca insana e desenfreada pelo prazer, o revanchismo, o “olho por olho, dente por dente”, o “vencer a qualquer custo e a qualquer preço, custe a quem custar”, entre outras distorções sociais), causa perturbação, incompreensão, sensacionalismo, dúvida, incredulidade, pasmo – e mesmo ironia cínica – ver alguém perdoar quem lhe tirou o que lhe era mais caro: mesmo a vida de um ser querido. Alheio a tudo isso, o perdão ainda é uma incógnita e segue sendo uma árdua (mas milagrosa) prova a ser vivida mesmo pelas almas mais fortes. Da parte da ciência, os poucos estudiosos que se debruçam sobre o assunto atestam que o perdão tem uma capacidade singular de aliviar transtornos emocionais e mentais e possibilitar até curas mais profundas. Ainda inconclusas, suas pesquisas objetivam avaliar o que mais o perdão é capaz de fazer PAULO CASTRO
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ançado em 2015, o documentário “Humano: Uma Viagem pela Vida” (http://sato.tv.br/humano/), do diretor francês Yann Arthus-Bertrand, por onde passou, acolheu aplausos, prêmios e merecidos elogios da crítica especializada e do público de todos os países, tendo sido já considerado um dos mais importantes filmes da década. Seu principal mérito está em apresentar, em 63 diferentes idiomas, de forma aberta, sem máscaras e sem retoques, cerca de 2.020 tocantes depoimentos de camponeses, trabalhadores braçais, donas de casa, sentenciados à pena de morte, aborígenes, refugiados, soldados, moradores de rua, rebeldes... Pessoas comuns, como eu ou você, que falam espontaneamente de suas experiências de vida e da forma como esses indivíduos enxergam seus aprendizados, suas perdas e sua própria capacidade (ou não) de superação. Dada sua imensa quantidade de depoimentos, o filme até ganhou diferentes versões, muitas delas disponíveis gratuitamente na internet (veja em destaque alguns
desses endereços virtuais). Entre tais entrevistados, quatro deles chamam particularmente a atenção, pois tratam do seu próprio aprendizado sobre o perdão (veja os depoimentos em destaque). Seus testemunhos nos trazem algumas indagações: que poder o perdão tem sobre nossas vidas? E o que mais ele é capaz de realizar? Tais questionamentos foram o ponto inicial de investigação de alguns pesquisadores. Corrigindo: não exatamente “o ponto inicial”, porque o princípio de tudo, o que motivou algumas das pesquisas sobre o assunto foi mesmo uma experiência pessoal de perdão vivida pelos próprios estudiosos. “Perdoar é a arte de fazer as pazes quando algo não acontece como queríamos”, explica o professor Fred Luskin, doutor em aconselhamento clínico e psicologia da saúde pela Universidade de Stanford (EUA). Autor do livro “O Poder do Perdão”, Luskin deu início às suas pesquisas sobre o tema depois que se magoou com o melhor amigo e sentiu dificuldades de perdoá-lo. Após vencer o ressentimento e se abrir para o perdão, Luskin desenvolveu uma técnica e começou a investigar sua eficácia com outras pessoas em casos parecidos e em situações até mais graves.
PROJETO UNIVERSITÁRIO Há 18 anos, Luskin criou na Universidade de Stanford um projeto para estudar o tema, aliando sua pesquisa a uma técnica psicoterapêutica (com base em emotividade racional) e realizando alguns experimentos sobre o impacto das emoções negativas sobre as pessoas. Ele conseguiu demonstrar como tais pessoas adoeceram e tiveram suas vidas paralisadas e
comprometidas por conta de pensamentos obsessivos e cíclicos de raiva e mágoa. Muitas apresentaram transtornos patológicos complexos, algumas com sequelas sérias nos sistemas nervoso, digestivo e cardíaco.
O QUE PODE O PERDÃO?
Suas técnicas foram aplicadas em várias experiências, sendo uma delas com dois grupos de pessoas que foram atingidas pelos conflitos entre protestantes e católicos na Irlanda. Em um grupo estavam mães que tiveram seus filhos mortos. Em outro, homens e mulheres que perderam parentes. Para isso, Luskin contou com o apoio de uma militante irlandesa que trabalha pela paz em sua pátria há três décadas.
pensamentos e sentimentos obsessivos e autodestrutivos do indivíduo, que vão – a curto, médio e longo prazo – minando sua saúde e comprometendo seus relacionamentos, sua carreira profissional, seus contatos sociais e afetivos... Em suma, toda a sua vida.
Professor Fred Luskin: “O perdão é uma cura”
Em entrevista exclusiva para a revista “Sexto Sentido” (https://www. ippb.org.br/textos/especiais/mythos-editora/a-cura-pelo-perdao), Luskin afirmou que o rancor e a desesperança são particularmente perigosos para o bem-estar das pessoas. “O perdão reduz a agitação que causa problemas físicos. Perdoar reduz o estresse que vem de se pensar em algo doloroso, mas que não pode ser mudado. Ele também limita a ‘ruminação’, que traz um sentimento de impotência e que reduz a capacidade de alguém de cuidar de si mesmo. O perdão é uma cura”, afirmou o estudioso. Para o pesquisador, o perdão verdadeiro não deve levar em conta a reação do outro. Ou seja, se o indivíduo perdoado estava ou não com a razão, isso não deve importar a quem verdadeiramente perdoa. “Às vezes, a pessoa foi realmente prejudicada. O perdão não elimina esse fato. Apenas torna-o menos importante. O perdão possibilita que uma pessoa fique em paz mesmo tendo sofrido um grande mal. O perdão faz a pessoa reconhecer o mal causado a si, mas permite que o prejudicado leve a vida em frente”, diz ele. Em outras palavras, o perdão – para a pessoa que perdoa – “liberta-a” da sua “prisão interior” de ressentimento, ódio, mágoa, busca desenfreada por vingança e justiça... Enfim, liberta a pessoa de
De acordo com o professor, perdoar a si mesmo também é tão importante quanto perdoar o outro. Não se trata de ser condescendente ou permissivo com as próprias falhas – o que traz omissão e indiferença (podendo acarretar, para si e para outrem, males tão nocivos quanto a dificuldade de perdoar) –, mas sim de viver a humildade de reconhecer como somos falíveis e de que precisamos também estender às nossas próprias vidas o benefício que queremos para toda a vida: a benesse do perdão. Segundo Luskin, muitas situações são complexas e nelas não se pode simplesmente buscar eleger uma pessoa “boa” (vítima de uma situação) e uma pessoa “ruim” (causadora do transtorno), mas sim admitir que existem duas (ou mais) pessoas que estão juntas em um acontecimento difícil e que elas precisam encontrar a melhor forma de conviver com o ocorrido. Para o pesquisador, o hábito de remoer sentimentos e pensamentos obsessivos de vitimização constitui um fator que intensifica a dor causada e impossibilita que o perdão possa surgir. Entre eles, pensamentos como: “eu sou uma vítima!”, “por que Deus fez isso comigo?”, “eu sou um coitadinho!” etc.
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Além disso, tanto o perdão quanto a ausência dele não irão fazer o tempo voltar atrás e impedir o ocorrido, mas o perdão pode e será fundamental para atenuar, equilibrar e até eliminar os efeitos da situação causada para quem perdoa e mesmo para quem é perdoado. Até enfermidades com progressão psicossomática (entre elas, alguns tipos de câncer) podem ser evitadas com a prática do perdão. De igual forma, mesmo guerras e conflitos fratricidas (como o que ocorreu em Ruanda, em 1994, que deixou mais de um milhão de mortos) podem ser evitados quando culturalmente o perdão é incentivado, ensinado, estudado e torna-se uma necessária meta de vida, uma verdadeira escola.
TRECHOS DO FILME “HUMANO: UMA VIAGEM PELA VIDA” Identificado simplesmente como Leonard, o primeiro depoente é um condenado à prisão perpétua nos EUA, que nos conta como ele teve sua vida radicalmente transformada, ao ser perdoado possivelmente pela última pessoa que teria condições de fazê-lo Leonard (EUA): “Minha melhor lição de amor”
Luskin acredita que suas descobertas sobre o perdão são universais e aplicáveis a todas as sociedades globais. “Até o momento, a pesquisa que eu e outros estudiosos temos conduzido sugere que o perdão tem valor em dificuldades muito variadas. Pode envolver esposas ou maridos que enganam seus cônjuges, crianças que sofreram abusos, sócios fraudulentos e até pessoas que tiveram seus filhos assassinados. Trabalhamos com uma grande variedade de nacionalidades e tivemos bons resultados”, salientou.
REVIVENDO TRAUMAS
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Além de Luskin, a pesquisadora Charlotte van Oyen Witvliet – professora de psicologia do Hope College, em Michigan (EUA) – e seus colegas fizeram, em 2002, uma experiência com 71 voluntários. No estudo, foi solicitado a eles que se lembrassem de alguma ferida antiga, algo que os tivesse feito sofrer. Nesse instante, foi registrado o aumento da pressão sanguínea, dos batimentos cardíacos e da tensão muscular dos voluntários, reações idênticas às que ocorrem quando as pessoas sentem raiva. Mas quando lhes foi solicitado que eles se imaginassem entendendo e perdoando as pessoas que lhes haviam feito mal, os voluntários se mostraram mais calmos, com pressão e batimentos mais leves.
“Eu me lembro que meu padrasto me batia com extensões elétricas, cabides, pedaços de madeira e todo o tipo de coisas. E ele sempre me dizia: ‘Isso dói mais em mim do que em você. Só fiz isso porque te amo’. Ele me transmitiu uma ideia errada do que era o amor. Durante muitos anos, achei que o amor tinha de fazer mal. E eu fazia mal a todo mundo que eu amava. Eu media o amor em relação à dor que alguém pudesse suportar de mim. Foi somente quando vim para a prisão, este ambiente desprovido de amor, que comecei a entender melhor o que era o amor e o que não era. Então, conheci uma pessoa que me deu o primeiro vislumbre do que era o amor, porque ela me viu além da minha condição de condenado à prisão perpétua pelo pior tipo de assassinato: o de uma mulher e de uma criança. Foi a Agnes – mãe e avó de Patricia e Chris, a mulher e a criança que eu havia assassinado – quem me deu minha melhor lição de amor, porque ela tinha todo o direito de me odiar, mas não me odiava. E, com o passar do tempo, nessa jornada que fizemos juntos, foi incrível. Ela me deu amor e me ensinou o que era o amor”. Disponível em: <https://www.facebook.com/humanoofilme/videos/134635170280011/>.
Com o nome de Bassam, o segundo depoente é um pai palestino que teve sua vida completamente mudada em uma manhã de 2007 Bassam (Palestina): “Em 16 de janeiro de 2007, um policial israelense de fronteira matou minha filha Abir, de 10 anos, em frente à sua escola, em Anath, onde eu moro. Ela estava com a irmã e dois amigos, às 9h30 da manhã. O soldado atirou na cabeça dela, por trás, a uma distância de 15 a 20 metros, com uma bala de borracha. Abir não era combatente. Ela era apenas uma criança. Não sabia nada sobre o conflito, nem fazia parte dele. Infelizmente, ela perdeu a vida por ser palestina. Como somos seres humanos, às vezes, pensamos: ‘se eu matar quem a matou ou alguém do lado dele, um israelense, ou talvez dez deles, isso vai trazer minha filha de volta’. Não. Só vou causar mais dor e mais vítimas do outro lado. Por isso, eu – eu mesmo – decidi romper o círculo de violência, sangue e vingança, parando as matanças e o desejo de revidar. Muitos me disseram: ‘você não tem o direito de perdoar em nome dela’. Eu respondo: ‘também não tenho o direito de me vingar em nome dela’. Espero que ela esteja satisfeita [com minha decisão]. Espero que ela descanse em paz”.
O QUE PODE O PERDÃO?
“Não tenho o direito de me vingar em nome da minha filha”
Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=ZJ3cImzjNps&index=2&list=PLdTvmFPBr0MmlhTVhP1Nncs3GADBCL7u8>.
Já Rami é um pai israelense que teve alterada a sua noção de ‘lados’ (no conflito Israel vs. Palestina) após vivenciar uma grande perda em 1997 Rami (Israel): A paz a qualquer preço “Sou um israelense que perdeu a filha em um atentado suicida no dia 4 de setembro de 1997. Sou o produto de um sistema de educação. São duas sociedades em guerra, que preparam a geração jovem para se sacrificar quando chegar a hora. É assim na sociedade palestina e também na israelense. Minha definição de ‘lados’ mudou radicalmente. Hoje, do meu lado estão todos os que querem a paz a qualquer preço. E, do outro lado, estão aqueles que não querem a paz a qualquer preço”. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v= ZJ3cImzjNps&index=2&list=PLdTvmFPBr0MmlhTVhP1N ncs3GADBCL7u8>.
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O último depoente não teve seu nome identificado em algumas versões do filme, mas trata-se de um homem que ficou cego após ser baleado por um soldado britânico. Ele também nos deixa um precioso legado de aprendizado sobre o valor do perdão Uma grande experiência de vida, graças ao perdão “Durante a maior parte da minha juventude, o final da minha adolescência e da minha vida adulta jovem, pensei muito sobre o soldado inglês que atirou em mim. Porque quando você pensa na minha história, no final, ela se resume a duas pessoas: eu e ele. Pensei se iríamos apreciar ou não uma situação como esta, porque nós estávamos em uma espécie de conexão. Eu estava cego, e isso era por causa dele. A pessoa que eu sou, o trabalho que faço, a personalidade que tenho: tudo foi ditado por esse incidente, creio eu. E eu não conhecia a outra pessoa que disparou a bala de borracha que mudou minha vida para sempre. Então, eu sempre me perguntava quem ele era, o que ele estava fazendo, se ele alguma vez pensou em mim. Mas eu nunca sentia raiva. Nunca tive um momento de ódio ou mágoa em relação a ele ou ao exército britânico. E estou satisfeito com isso, porque acho que raiva e amargura são emoções autodestrutivas. Ao refletir sobre isso, penso: ‘se eu tivesse ficado realmente com rancor, quem teria sido mais afetado? Não seria o soldado. Teria sido eu’. Então, sempre quis conhecê-lo. Mas eu não sabia o nome dele até 33 anos depois de eu ter sido baleado. Foi quando descobri seu nome: Charles. Escrevi para ele uma carta em 2005 e, em janeiro de 2006, voei para a Escócia e o conheci. Tenho de ser honesto e dizer que, me sentar em frente ao homem que me cegou para toda a vida e causou tantas dores para mim e para a minha família e, além de tudo isso, gostar dele, foi uma grande experiência. Charles e eu somos bons amigos agora”. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=SK5eDTcvDbE>.
Alguns links disponíveis na internet para o download gratuito de algumas versões do filme: “Humano: Uma Viagem pela Vida”: https://www.youtube.com/watch?v=TnGEclg2hjg&list=PLdTvmFPBr0MmlhTVhP1Nncs3GADBCL7u8&index=1 https://www.youtube.com/watch?v=ZJ3cImzjNps&list=PLdTvmFPBr0MmlhTVhP1Nncs3GADBCL7u8&index=2 https://www.youtube.com/watch?v=RVWwGak3nQY&list=PLdTvmFPBr0MmlhTVhP1Nncs3GADBCL7u8&index=3
Outras histórias sobre o perdão
Da esquerda para a direita: 1) mãe perdoa o assassino do próprio filho; 2) Dayse Laurino, uma comerciante de Indaiatuba (SP), perdoou o matador do seu filho e ainda começou a prestar auxílio à mulher e aos filhos pequenos do criminoso; 3) José Benedito Oliveira, um agricultor de Cunha (SP), perdoa o assassino de duas de suas três filhas. O criminoso era um ex-condenado que havia sido acolhido por Benedito e convivia com a família do agricultor há mais de um ano, antes dos crimes.
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Vídeos disponíveis em: <https://www.youtube.com/watch?v=-8H6LGmpEVI>, <https://www.youtube. com/ watch?v=cyO4iAnBCk0> e <https://www.youtube.com/watch?v=uTWnX7x_ljE>.
O passo a passo do perdão • Vive em ti a essência do perdão e começa por perdoar a ti mesmo: teu passado, teus erros, teus descaminhos, tua ignorância. Perdoa o presente e deixa para o futuro o aprendizado de uma possibilidade de perdoar cada vez maior. • Depois, perdoa o próximo, recordando os teus erros e tuas imperfeições. Perdoa com base na compreensão da origem tortuosa da humanidade e da profundidade das raízes que a levam a errar. Perdoa, unindo a capacidade de amparar de teu coração com o conhecimento de tua consciência e lança mão de cada aspecto de teu ser para aprender a amar e perdoar. • Perdoa, então, a consciência das nações e tudo aquilo que, como nações, elas causam ao planeta. Perdoa a humanidade como consciência única e abre uma porta para que a fonte do Perdão de Deus desça sobre as almas. • Sabemos que existem coisas que, para a mente humana, são muito difíceis de ser compreendidas. Se não são compreendidas, muito mais difícil é que sejam perdoadas, mas se as pessoas colocam suas consciências no amor verdadeiro e o vivem, tudo quanto lhes parecia inalcançável se dissolverá: as barreiras cairão por terra e seus corações sentirão a graça de poder perdoar e pedir perdão sem temor. • Já não guardem os rancores e as dores em seus corações. Já não alimentem os pequenos conflitos e as competições, porque um dia eles se tornarão grandes e colocarão em risco a evolução de uma alma que necessitava viver o amor e ser perdoada e, no entanto, foi ignorada com sua ferida durante toda a vida.
“O PERDÃO É A MAIOR FORMA DE AMOR. ELE PRECISA DE UMA PESSOA FORTE PARA DIZER QUE ESTÁ ARREPENDIDA E OUTRA PESSOA MAIS FORTE AINDA PARA PERDOAR”
(DITADO ANÔNIMO)
Obra do artista plástico Alexander Milov, chamada “Amor”. A arte mostra dois adultos magoados, orgulhosos, incapazes do perdão mútuo, mas suas crianças interiores anseiam pela reconciliação.
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tahinitoo.wordpress.com
SAÚDE
TEMPEH TEM O PÉ NA PROTEÍNA Conheça o sabor e os benefícios do tempeh para a sua saúde
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EDISON SARAIVA NEVES preciado há milênios na Indonésia e hoje reconhecido como uma iguaria devido à sua complexa produção e ao seu alto valor nutritivo, o tempeh é um alimento considerado uma fonte básica riquíssima de proteína. Atualmente, ele está se tornando cada vez mais popular em todo o mundo, na medida em que as pessoas buscam maneiras de aumentar sua ingestão de soja devido ao seu alto teor proteico e aos benefícios que proporciona à saúde. Assim, muitas pessoas vêm descobrindo a versatilidade e o delicioso sabor do tempeh. Ele tem uma textura firme e um sabor de cogumelo e nozes. É muito versátil e pode ser utilizado de diversas maneiras e em diversas receitas. Normalmente, o tempeh é fatiado ou cortado em cubinhos e frito até a superfície ficar crocante e dourada. Também é possível esfarelá-lo ou gratiná-lo.
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Com o tempeh, a culinária ganha um grande aliado na arte de unir sabor e saúde. Vegetarianos ou não, todos podem beneficiar-se da ingestão de alimentos à base de soja. Fontes saudáveis de proteína e de nutrientes importantes, os alimentos à base de soja são uma excelente alternativa para quem está atento ao colesterol. Em Brasília (DF), você pode encontrar o tempeh na Bioon Ecomercado.
Fundamental para a sobrevivência de soldados na II Guerra Mundial Pesquisadores ocidentais interessaram-se pelo tempeh logo após a II Guerra Mundial. No front indonésio, inúmeros prisioneiros britânicos e holandeses sobreviveram graças à parca ração diária de tempeh adicionada ao arroz branco. Concluiu-se que o alimento protege o sistema digestivo e deixa o organismo mais resistente às infecções. O tempeh é um fermentado de soja que tem tudo para cair nas graças dos amantes de temperos: em estado bruto, é discreto e só revela sua versatilidade quando salpicado de shoyu, pimenta e outras especiarias. De recheio de pizza a estrogonofe, de hambúrguer a taco mexicano, de espetinho a feijoada, substitui a proteína animal nas mais diversas receitas. Cortado em tiras ou cubinhos, ralado, picado, assado, frito, cozido, tostado na chapa ou refogado, este fantástico coringa da gastronomia conquista na hora os adeptos da culinária vegetariana. Vegetarianos e veganos, em especial, acham a estrutura e o teor proteico interessantes.
Riquíssimo em nutrientes Segundo Ros`Ellis Moraes, nutricionista do restaurante Girassol, em Brasília (DF), “o tempeh é rico em probióticos, lactobacilos que podem se reproduzir em vários meios de cultura e que têm funções importantes no organismo, como colaborar no equilíbrio da flora intestinal. Não é um alimento vivo, mas um alimento ‘com vida’, pois – embora na sua produção ele tenha sido cozido – os probióticos trazem vida para o sistema novamente”. Seu alto teor proteico, seus altos níveis de ácidos graxos essenciais, suas inúmeras vitaminas e sais minerais, além de fitoquímicos como isoflavonas e saponinas, agregados ao seu alto teor de fibra, são associados a uma gama de benefícios para a saúde: • redução dos sintomas da menopausa, em especial os fogachos, graças às isoflavonas;
• alto teor de proteína saudável: muitos especialistas recomendam que se limite a ingestão de proteína animal por proteína vegetal; • prevenção da osteoporose: as isoflavonas da soja aparentemente aumentam o conteúdo de sais minerais nos ossos em mulheres após a menopausa, reduzindo o risco de osteoporose; • redução do colesterol: as isoflavonas possuem ação antioxidante e não apenas ajudam a reduzir o colesterol ruim (LDL), como também aumentam o bom colesterol (HDL); • suave para os rins: pessoas com a função renal comprometida – tais como diabéticos com neuropatias – podem beneficiar-se da substituição de proteína animal por proteína de soja; • processo digestivo saudável devido ao alto teor de fibra.
Quantidade & qualidade Substituto perfeito da carne, o tempeh tem alta concentração de proteína. Comparado a outros derivados da soja, o tempeh sai na frente: para se obter as 25g diárias de proteína de soja recomendadas pelo FDA americano, seria necessário ingerir apenas 100g de tempeh, em comparação com 306g de tofu ou 864g de leite de soja. Sabe-se que, em comparação também com outros
grãos, a soja tem maior valor proteico (38%). Além disso, contém todos os aminoácidos essenciais. Dr. Edison Saraiva Neves, nutrologista da Clínica de Ecologia Médica, em Brasília (DF), chama a atenção para o fato de que o tempeh é fermentado, o que neutraliza as toxinas naturais da soja e evita a atuação de fatores bloqueadores. Segundo o médico, “a soja in natura ou consumida em forma de farinha, grão torrado ou proteína texturizada tem fitoaglutininas, que são antinutrientes, substâncias químicas que interferem na absorção de nutrientes importantes como o ferro, o cálcio e o zinco. É por isso que no Japão o consumo de fermentados da soja (shoyu, missô e tempeh) é elevado”.
SAÚDE
• redução do risco de certos cânceres: o consumo de produtos à base de soja parece reduzir o risco de câncer de mama, de cólon e de próstata;
O médico destaca ainda a diferença entre o tempeh e a proteína texturizada de soja (PTS ou PVT). “O tempeh contém soja integral e, por isso, maior concentração de aminoácidos por grama. Não tem antinutrientes e apresenta todas as vantagens da soja fermentada, tais como: isoflavonas, lecitina, vitaminas (inclusive do grupo B), minerais (ferro, zinco, magnésio e cálcio) e fibras. Além disso, o tempeh não contém glúten, nem colesterol”, finaliza. Tempeh nos restaurantes de Brasília: O tempeh é servido nos restaurantes brasilienses Girassol, Naturetto, Terra Viva e Bhumi. Onde encontrar o Bioon Ecomercado? Tels.: (61) 3326-2943 ou 3326-2944 (serviço de entrega). Para saber mais: <www.saudecomtempeh.com.br> <www.centrovegetariano.org> <www.alimentacaosaudavel.org/tempeh.html> Fonte: Info 46/nov. 2011 Colaboração: Esther Castro
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DRIBLANDO AS LIMITAÇÕES
ÍNDIO SE TORNA ENFERMEIRO PARA ATUAR EM SUA ALDEIA
O registro no Conselho Regional de Enfermagem (Coren) foi intermediado pela Secretaria de Estado para os Povos Indígenas (Seind), e a viagem para a aldeia Campo Alegre, localizada no município de São Paulo de Olivença, a 988km de Manaus (AM), representou um retorno muito desejado às suas origens. Jorge Luiz quer seguir o exemplo das tarianas Maria Rosineide Feitoza e Eufélia Lima, que se graduaram em Enfermagem em 2012 pela Universidade do Estado do Amazonas (UEA) e optaram por exercer a profissão no Alto Rio Negro, onde vivem os indígenas tarianos. A meta do tikuna é realizar trabalhos relacionados ao uso de álcool pela juventude indígena de São Paulo de Olivença. “Foi o tema do meu TCC [Trabalho de Conclusão de Curso] e é um assunto sério, que tem comprometido a vida de muita gente dentro da aldeia”, disse Jorge Luiz. “Quero ajudar o meu povo”, justificou.
Início difícil
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O caminho de Jorge Luiz até a faculdade começou no Seminário Teológico Evangélico da Tribo Tikuna, localizado em Benjamim Constant, a 1.116km de Manaus. Lá, ele foi incentivado por um pastor a fazer o
www.g1.com.br
tikuna Jorge Luiz Rosindo, de 29 anos, é mais um indígena amazonense a concluir um curso superior e a retornar à sua aldeia de origem para desenvolver os conhecimentos adquiridos durante a graduação em benefício dos outros índios de seu povo. Após receber aulas particulares de língua portuguesa e morar em um orfanato, Jorge colou grau e é o primeiro amazonense a graduar-se em Enfermagem pelo Centro Universitário de Anápolis (Unievangélica), em Goiás. Jorge Luiz colou grau e prometeu voltar à sua aldeia, no Amazonas, para ajudar seu povo
vestibular em Anápolis (GO). O receio em deixar a aldeia e mudar-se para um local até então desconhecido por ele deixou o indígena apreensivo, mas a recompensa veio logo em seguida. Jorge foi aprovado em segundo lugar no vestibular e ainda recebeu uma bolsa de estudo integral para fazer a faculdade. No início, a maior dificuldade foi com o idioma. Em Campo Alegre prevalece a língua tikuna e, a exemplo dos outros seis irmãos, Jorge tinha dificuldades de aprender, por conta do pouco contato com a população não indígena de São Paulo de Olivença. No entanto, com o reforço de uma professora de português goiana, o problema foi amenizado. www.unievangelica.edu.br
O
Ele venceu a barreira do idioma e partiu em uma jornada de milhares de quilômetros para realizar o sonho de se formar
O indígena entre professoras e integrantes da banca de avaliação
Enquanto estudava, Jorge precisou ser abrigado no Instituto Cristão Evangélico de Goiás e, após um ano e meio de curso, começou a fazer estágio no laboratório de um hospital em Anápolis. Um futuro brilhante, de ajuda ao seu povo, o espera. Fonte: <http://g1.globo.com/am/amazonas/noticia/2013/02/indio-do-am-vence-barreira-do-idioma-e-viraenfermeiro-para-atuar-em-aldeia.html> (com adaptações).
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VENCENDO O MEDO Garoto introvertido tem doença que deixa músculos tensos e teve sua vida transformada depois de ganhar cão com três patas
Haatchi e Owen: o valor de uma vida transformada não pode ser descrito em palavras.
wen Howkins, um menino inglês de apenas sete anos, venceu o medo de sair de casa depois que ganhou como amigo o cão Haatchi, um pastor-daAnatólia sem uma das patas traseiras, segundo relatou o site do diário britânico “Daily Mail”.
Haatchi perdeu uma pata e parte do rabo após ter sido abandonado amarrado a um trilho de trem. Ele foi encontrado com essas partes do corpo machucadas e os veterinários não tiveram alternativa senão amputá-las. Uma ONG colocou o cachorro para adoção, e o pai de Owen resolveu levá-lo para casa. O menino já era introvertido por causa da doença, mas quando começou a ir para a escola a diferença entre ele e as outras crianças <http://www.ultra.com.mx/noticias/tlaxcala/Internacional>
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<http://tech.ifeng.com/photo/miracle/detail_2012_10/23/18486754_0.shtml#p=4>.
AMIGOS SEM FRONTEIRAS
Owen e Haatchi são inseparáveis
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O jornal conta que o garoto deixou de participar de atividades sociais e até de ir para a escola, porque é portador da síndrome de Schwartz-Jampel, uma rara doença que deixa seus músculos sempre tensos. A família de Owen mora em Basingstoke, no sudeste da Inglaterra.
ficou ainda mais marcante para ele, que passou a não querer sair mais e se relacionar com outras pessoas. Mas, depois de ganhar o cachorro, passou a frequentar espetáculos de animais com o companheiro e quer falar a todos sobre o cão. “A diferença que vemos nele não pode ser explicada em palavras”, conta Colleen Drummond, noiva do pai de Owen. Fonte: <http://g1.globo.com/bemestar/noticia/2012/10/menino-com-rara-sindrome-vence-medo-de-saircom-ajuda-de-cachorro.html> (com adaptações).
RESPONSABILIDADE SOCIAL
À PROCURA DE UMA ALIMENTAÇÃO RESPONSÁVEL E SEM DESPERDÍCIO PAULO CASTRO
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Em um mundo castigado ou pela fome crônica ou pelas enfermidades decorrentes da má alimentação, chama a atenção a iniciativa de um fotógrafo de conscientizar as sociedades globais contra os modelos alimentares equivocados e o desperdício Organização Mundial da Saúde (OMS) há décadas vem publicando diversos estudos que mostram que a alimentação desequilibrada é tão perigosa quanto a fome e a desnutrição crônicas. A prevalência desses males, com a conivência de muitos governos, afeta várias partes do mundo, principalmente no continente africano e em vários países da Ásia e das Américas, comprometendo a vida de populações inteiras e, sobretudo, das crianças. As enfermidades decorrentes da obesidade, do sedentarismo e dos distúrbios alimentares, como a diabetes, as doenças coronarianas e os acidentes vasculares cerebrais (AVC), são hoje tidas como as mais sérias em várias sociedades de nações desenvolvidas e emergentes, como o Brasil. Já o uso de agrotóxicos é apontado por especialistas como a principal causa de vários tipos de câncer no sistema digestivo. Prática que é considerada uma consequência direta do equivocado modelo de agricultura intensiva para exportação, em detrimento do investimento na agricultura familiar, cujos produtores podem optar pelo cultivo de alimentos
orgânicos (mais saudáveis), mas muitas vezes não contam com incentivos governamentais. A prevenção e o tratamento de doenças causadas pela má alimentação têm sido motivos de pesados investimentos para vários governos no mundo todo. O assunto é tão sério que, há alguns anos, o governo chinês proibiu, por lei, que suas escolas fornecessem fast foods para as crianças. A medida tem finalidade também econômica, além de social: em uma população com mais de 1,35 bilhão de habitantes, o tratamento de milhões de pessoas enfermas, devido à má alimentação, poderia levar o sistema de saúde chinês ao colapso, acarretando a quebra da economia e a falência do próprio país. Em 2013, o GDF adotou igual iniciativa, ao sancionar a Lei no 5.146, para promover a alimentação saudável nas escolas da rede de ensino público do Distrito Federal.
“Planeta Faminto” Outro componente que agrava a situação alimentar no mundo é o desperdício. A Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO) estima que 1/3 do alimento produzido em todo o planeta vira lixo. Isso equivale ao desperdício anual de 1,3 bilhão de toneladas de alimentos jogados em aterros. Enquanto isso, quase um bilhão de pessoas passam fome em todo o mundo e carecem do essencial para a sua própria subsistência. Mais: isso ainda significa o desperdício e o mau uso de todos os recursos empregados na produção de alimentos (água, adubo, terras cultiváveis, mão de obra, investimentos, etc.). Pensando na difícil tarefa de expor essa situação de maneira didática, o fotógrafo americano Peter Menzel e sua esposa, Faith D’Aluisio, viajaram pelo mundo para mostrar em
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fotos como os hábitos alimentares diferem de país para país. Depois de visitar 24 nações e fotografar 30 famílias diferentes com seus alimentos usuais, o casal apresentou seus resultados em um álbum de fotos chamado “Planeta Faminto: O Que o Mundo Come” (Hungry Planet: What the World Eats). Além de instigante e educativo, o projeto suscita debates sobre as questões sociais decorrentes da alimentação (ou da falta dela) em várias sociedades. As listas de compras semanais expostas nas fotos fornecem informações não apenas sobre os hábitos alimentares de cada família, mas também sobre saúde, economia, estilo de vida, etc. Ela também evidencia, de maneira gritante, o abismo (social, cultural, econômico, político, etc.) que separa o primeiro mundo dos países subdesenvolvidos.
Todavia, o mais curioso ainda está por vir: as famílias mais carentes e menos abastadas comem alimentos mais nutritivos do que aquelas que podem pagar por comida industrializada. Já as famílias economicamente mais estáveis comem mais alimentos processados (e, portanto, menos saudáveis), enquanto os produtos frescos representam apenas uma pequena parte de sua dieta semanal. Apresentamos, nestas páginas, as fotos de oito famílias com sua respectiva alimentação e o valor aproximado, em reais, do que elas gastam com comida em apenas uma semana. As fotos são tocantes.
Família Melander – Bargteheide, Alemanha – R$ 1.116,00
Família Fernandez – Texas, Estados Unidos – R$ 549,00
Família Bainton – Wiltshire, Reino Unido – R$ 558,00
Família Ahmed – Cairo, Egito – R$ 176,00
Família Natomo – Kouakourou, Máli – R$ 55,00
Família Ayme – Tingo, Equador – R$ 32,00
Família Aboubakar (Breidjing, campo de refugiados) – Darfur, Sudão – R$ 2,70
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Família Namgay – Shingkhey, Butão – R$ 11,00
“Muito da tecnologia terrestre é empregada na obtenção de alimentação inadequada” (Trigueirinho: “Erks: Mundo Interno”) A última família apresentada, de Darfur, no Sudão, tem que se virar com muito pouco dinheiro por semana para poder alimentar seis pessoas. Isso mesmo: R$ 2,70 (dois reais e setenta centavos) por semana! Eles não gastam mais do que R$ 130,00 por ano com comida. Fontes: <http://oscarfilho.terra.com.br/tag/canada> e <http://www.satisfeito.com>.
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DEFICIÊNCIAS MÁRIO QUINTANA “Deficiente” é aquele que não consegue modificar sua vida, aceitando as imposições de outras pessoas ou da sociedade em que vive, sem ter consciência de que é dono do seu destino. “Louco” é quem não procura ser feliz com o que possui. “Cego” é aquele que não vê seu próximo morrer de frio, de fome, de miséria, e só tem olhos para seus míseros problemas e suas pequenas dores. “Surdo” é aquele que não tem tempo de ouvir um desabafo de um amigo ou o apelo de um irmão, pois está sempre apressado para o trabalho e quer garantir seus tostões no fim do mês. “Mudo” é aquele que não consegue falar o que sente e se esconde por trás da máscara da hipocrisia. “Paralítico” é quem não consegue andar na direção daqueles que precisam de sua ajuda. “Diabético” é quem não consegue ser doce. “Anão” é quem não sabe deixar o amor crescer. E, finalmente, a pior das deficiências é ser miserável, pois “miseráveis” são todos os que não conseguem falar com Deus.
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http://minhaformadeexpressao.blogspot.com.br/2011_08_15_archive.html
CITAÇÕES
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