Anima 2ª edição

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ANIMA II Anima – Revista Literária Uma publicação Edições Norton-Kappa


2ª Edição 22-01-2014 Editores Alexxander R. Norton (Em conquista) Kappa (Em remissão) Design por Gonçalo Neves Cruz



Anima – Revi


Editorial 4 Selene 5 A Barca da Fantasia 6 As cores de um camarão louva-deus 8 A Minha Cidade 12 Breviário de Orações a Pã 14 No Jardim, Amanhã à Tarde 19 Digitação 20 Na Mente de Um Deus Há Muito Morto 22

ista Literária


Editorial É primeiro que tudo um enorme orgulho iniciar esta segunda edição desta magnífica revista. Podemos constatar, isto é indubitável, que estamos perante uma SEGUNDA EDIÇÃO de uma revista feita pelos dois cavalheiros antes anunciados. Uma honra assim feita para quem se propõe a continuar as tiragens, não pode passar sem nota. Como foi a primeira edição, perguntam? Magnífica! Viajámos por dezenas de terras várias, conhecemos indivíduos de grande notoriedade e perdemo-nos um bocadinho entretanto. Quem ignorará ainda a magnífica revista Anima? Certamente quem não anda de elevador, adivinho. Não, mas tentemos a seriedade.

Não temos tido grande saída mas o produto que aqui dispomos possui tantas mais colaborações que sentimos que estamos num caminho proveitoso. Abandonar agora, sempre uma possibilidade quando se lança um projecto freelance, cuja intenção primária é queimar dinheiro para auto-satisfação, seria um grande desgosto para nós. Infelizmente poderão compreender que nem sempre é tomado de bom-tom fazer paráfrases rocambolescas as peças do Doutor Artur D’Albuquerque no prefácio da sua Cruzélia – aparentemente a obscuridade é algo que é de igual medo mal interpretado. Por isso exortamos a que, se não gostarem

Não temos tido grande saída


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o produto que aqui dispomos possui tantas mais colaborações que sentimos que estamos num caminho proveitoso

de algum conteúdo que vos providenciamos, nos avisem. Com isto não queremos dizer que esta revista será feita ao gosto do consumidor. Estamo-nos a lixar para o que o “consumidor” quer. Mas no fundo o consumidor é muitas vezes um gajo extremamente porreiro que quer realmente ler uma boa publicação, tem bom gosto, e até sabe dar alguns conselhos simpáticos sem ofender as mães de ninguém – esse tipo de consumidor é bem-vindo no enviar-nos um e-mail ou contactar-nos telefonicamente, como entenderem mais apropriado. Sim, sabemos bem que não somos conhecidos em círculo nenhum. Que os nossos trabalhos são ainda

imaturos, infantis, pouco trabalhados (nisto falamos por nós, os editores enquanto escritores, e deixamos ao critério dos nossos colaboradores concordarem ou discordarem), pouco delapidados, pouco sofridos. Sim sabemos que o que as pessoas querem é um bom livro ou uma boa revista, as pessoas querem um bom algo – não prometemos dá-lo. Mas tentamos. De certo modo, censurem-nos o trabalho como quiserem – mas nunca nos criticarão a inércia. Alexxander Ritzer Norton Kappa Kurtz


SINTO TODO O OS OLHOS QU NÃO VÊEM. AS TOCAM MAS N CORPO, DEMA TÉNUE FRONT TORNA DÍSPAR TODA A EXIST CONECTAR-SE DE CORPÓREO CHUVA, QUE N LATEJAR DO V VENTO (E DEM SÊ-LO). A SÓR LUA QUE ME S EVANESCÊNCI QUE NÃO O SÃ PODERIAM SE ENERGIA, QUE DOCE, ORA AB ESSA FORÇA IN DO ESPÍRITO M COMO FILHO Q GEROU E A TI S MOMENTOS D SOU O PROLON COMO EXTENS CORPO SIMUL PERPÉTUO E M BRUTA, TRANS MINHA ESSÊN CHAMEI POR T FUGAZ, OFERT RESOLVENDO (MINHAS MÁG É TEMPO DE A ESSE ESPAÇO HORA DO RETI


O NÃO SENTID UE VÊEM MAS S MÃOS QUE NÃO TOCAM. ARCANDO A TEIRA QUE ME R DE VÓS. SIN TÊNCIA TERREN E EM MIM, NO O SE EXTINGUE NÃO O É. O GÉL VENTO, QUE N MAIS, NÃO POD RDIDA VISÃO D SEDUZ E A LÚC IA DO REI FOG ÃO E JAMAIS O ER. É MERAME E ME PENETRA BRUPTA, SUBL NCOMENSURÁ MÃE. AMO-TE Selene QUE EM TI SE SE RECOLHE N DE INSANIDADE NGAMENTO, SÃO DO TEU LTANEAMENTE MUTÁVEL. NOI SPARÊNCIA DA NCIA. SELENE.. TI. TU VIESTE, TANDO TEU CO MEUS SUPLÍC GOAS, ILUSÕES AUSÊNCIA, QUE SE IMPÕ IRAR, POIS A Sinto todo o não sentido. Os olhos que vêem mas não vêem. As mãos que tocam mas não tocam. Corpo, demarcando a ténue fronteira que me torna díspar de vós. Sinto toda a existência terrena conectar-se em mim, no que de corpóreo se extingue. A chuva, que não o é. O gélido latejar do vento, que não é vento (e demais, não poderia sê-lo). A sórdida visão da lua que me seduz e a lúcida evanescência do rei fogo, que não o são e jamais o poderiam ser. É meramente energia, que me penetra, ora doce, ora abrupta, sublime! Essa força incomensurável do espírito mãe. Amo-te como filho que em ti se gerou e a ti se recolhe nos momentos de insanidade. Sou o prolongamento, como extensão do teu corpo simultaneamente perpétuo e mutável. Noite bruta, transparência da minha essência. Selene... Chamei por ti. Tu vieste, fugaz, ofertando teu corpo, resolvendo meus suplícios (minhas mágoas, ilusões). É tempo de ausência, esse espaço que se impõe. Hora do retirar, pois a minha criança clama por descanso. Sofia Carvalhinha


A Barca da Fantasia Excerto de “A Barca da Fantasia”, Canto X O campo para onde se dirigiam ainda era longe, mas era aquele que tinha melhor vegetação para as ovelhas. Chamava-se Má Lã, sabia-se lá porquê. No caminho não encontraram ninguém, apesar dos empregados e dos escravos saírem à primeira hora do dia – aquele momento ainda era apenas o nascer do dia. Eurídice tinha trazido o almoço e mais alguma comida. Fazia-o todos os dias, mas hoje trazia a mais para partilhar com Santiago. A partilha de um para o outro fazia-os ter mais certezas de que precisavam de viver juntos, mas primeiro tinham de arranjar algo que pudesse ser um casamento, algo que pudesse dizer que os casou. Chegaram ao campo, as ovelhas espalharamse por aqui e por ali, pastando, balindo, dando de mamar aos cabritos quietos, enquanto os inquietos iam correndo no meio das outras. O silêncio ali era o ruído da natureza: os pássaros que cantavam, as moitas que se arrastavam ao vento, o rio que corria, o Sol que se erguia cada vez mais – tudo isso tem um ruído que não se ouve, tem um ruído que não se traduz – acontece apenas. A rapariga começou a bordar, era a sua distracção de todos os dias durante o pasto das ovelhas. Contudo, Santiago não a deixava em paz, pedia explicações do que ela estava a fazer, do porquê de pastar as ovelhas, no porquê de ser ela a fazêlo… - É uma honra ser a pastora! Sabes, Santiago, é uma grande responsabilidade. O pastor tem o dever de afastar os lobisomens que querem devorar o seu gado… Grandes lobos que surgem à noite quando a lua brilha, lobos que durante o dia são homens – e que querem devorar as minhas ovelhas! Então, eu como pastora tenho de as proteger com uma dança e uma reza… As minhas ovelhas… Todas têm um nome, sabes? - Todas?, sem excepção? – Perguntou incrédulo Santiago. - Todas! Aquela ali é a Maria, vês?, aquela a Isabel, ali ao fundo é um carneiro, é o Henrique. – Eurídice ia apontando conforme ia dizendo os nomes. – O cão chama-se Teseu. Sabes, os animais precisam de ter um nome tal como as pessoas, isso afasta os males, eles têm males como nós. Santiago no seu comportamento infantil, aceitava tudo isto, acreditava em tudo isto. Ora, e porque não o deveria fazer? Talvez essa dança, talvez o acto de dar nomes aos animais para afastar males, não funcionasse, mas mal também não fazia. Deixemos as pessoas acreditarem no que quiserem.

Deix as p acre rem quis


xemos pessoas editam no que serem. Quando a barriga já chamava pela merenda de Eurídice, tiraram de uma sacola um pão, chouriço, queijos, uma cabaça de vinho. Almoçaram ali mesmo, nas ervas onde estavam sentados, pois nestes anos isso não era um problema, antes pelo contrário: era natural e confortável. Até o cão, o Teseu, veio cheirar e pedir um pedaço para si, o que não lhe foi negado. Lá foi Teseu de novo correr atrás de um cordeiro, ou de uma ovelha que se distanciava. Mas, por vezes, o carneiro ao estar farto que o cão corresse atrás da sua família, corria atrás de Teseu, que com medo de levar uma marrada – fugia. Depois de almoçarem, Eurídice e Santiago deitaram-se da relva, olharam-se nos olhos um do outro… E procuraram-se. Estavam ali os dois, ninguém os olhava, porque não, afinal? Desejavam-se, e isso era parte de se amarem. Ao contrário daqueles tempos, em que procuraremse era um pecado. Mas eu não acredito que quem se amasse cumprisse essas regras, essas inocências da falta de inteligência – não!, quem se amasse procurava-se, fosse em que situação fosse, indo contra as ideias daqueles tempos. Kappa


As cores de um camarão louva-deus Sussuro-lhe sibilâncias por entre as substâncias que nos compõem, e ela compreende-me perfeitamente, como se tivesse sempre feito aquilo que lhe foi dito árida e rispidamente, como um comando de computador ordenado sem protocolo algum. “Tens realmente pena” E eu sussuro-lhe nos cabelos amendoados que não. E é só isso. Não há mais nada que eu lhe possa dizer. Mas ela pára, imóvel, incapaz de realmente absorver seja o que for da natureza à sua volta. Ao longe, para lá da casa de Mr. Dust, havia um casarão importado e imponente de Melbourne, lentamente devorado pelas silvas e as heras. O contraste das linhas sólidas e grotescamente fixas do casarão com a fluidez orgância do ser possante e sibilante que ali se me afigurava perturbante, quase dissonante no funcionamento interno do ouvido. “Acho que compreendo o que queres dizer...” Fito-lhe a face, complacente e com um sorriso forçado, e obrigo-me a chorar. Não consigo conceber a verdadeira natureza de o que quer que aquilo seja. Não consigo, não quero. Digo-lhe frases que me ouvi dizer dezenas de vezes, que o amor é o veneno emocional, que abençoados sejam aqueles que ainda podem receber a esperança, que lhe chamaram a ela a fénix de sépia e que eu sou o araúto da luz - mas na realidade penso em todo o tempo pelo qual terei de andar à procura, imagino rodas e mecanismos dentados em circulares e a minha tentativa de os inverter. A força do meu corpo a ser aplicada nos dentes ferrosos do relógio, uma luta contra molas e progressões invariavelmente aritméticas (cada roda calcula com a sua passagem uma equação vez após vez após vez para saber a qualquer dado momento o valor temporal que lhe corresponde), e depois bombardeio o tempo ele mesmo, e é a ele que dirijo todo o meu ódio e por fim recupero alguma dessa definição para mim. Ela abraça-me abruptamente e eu deixome estar estático, imóvel, rígido e áspero. E é só isso. Tento convencê-la de que tudo o que existe é apenas uma farça criada por nós, ou que no fundo ela apenas interpretou mal os meus gestos quando lhe disse que a amava. Os seus cabelos flutuam em cores de néon como uma estampa colorida de fim de século e os seus olhos cortamme a alma como tambores - ignóbil surgeme na mente. Para lá do que eu sou ela vê algo e eu não consigo saber o quê. Para lá do casarão há uma cidade deserta que nunca poderá existir de onde, se fitarmos o mundo em silêncio é possível ver cada canto da cidade de cada canto da cidade,

sem dúvida, isso eu sei. O paradoxo lógico da cidade se desdobrar sobre si mesma em toda a sua existência, com as cores que surgem de três cones de visão serem mil ou dois mil e todo o espectro de luz ser visível aos olhos de quem o vê. Tudo fluído, tudo calmo, ela fita-me por mim, atravessa-me, corta-me e recorta-me, como um grito da música de michael gira erguendo-se monstruoso, acima do vento e da existência ela mesma! Expludo por todas as veias que tenho no corpo, respiro violência em cada poro, pondero destruir a rapariga bela e frágil, de beleza frágil, de fragilidade bela. -Talvez tudo isto tenha sido de facto um erro. Tens razão. O grande final, aproxima-se o corte da faca, toda a gente para observar o fim estrondoso! Ela diz-me, árida, seca, ríspida, áspera, mística, destrutiva, ácida, métrica, calculista, fria, estatueta de jade estatueta de marfim, crispando, raspando, mil e uma voltas e cada voz dizendo algo, míriade, deserto, toda ela um congregado de anjos terrenos! -Alguma vez me amaste? Resposta ribombante. Um não flutua-me dos lábios como um balão de fala. Ela sai a chorar e eu quedo-me, ledo, lendo o jornal, jorna passageira, passageiro de comboio, bóia abandonada a um destino triste.

OU

A água é muda e densa quando se a pisa de noite. Nus, depostas as roupas nas pedras, mergulha-se de um salto só – espera-se a limpidez do luar e a largueza dos movimentos aquíferos – e embatese na abominação acastanhada que berra o raiar e as estrelas ardentes (‘Ó sublime pele exterior, deixa-me’). Crê-se que meditar é possível. Talvez. A mente observa cada passo dado em direcção à clareza de espírito, e à larva das pistolas oblongas. O som estanque. Os pés fundos no imenso estupor do húmus e na merda dos morcegos – passos tomados em direcção à água, onde está?, sim, e “por onde é” como a questão impossível de ser feita. O sol que se ergue no Douro matutino brilha as nuvens imóveis, pintadas. Kayl dorme, o seu sono angélico trovado em cores que só ela vê – os olhos de Kayl são cores de visão que não há – e esquece-se


ao vê-la dormir, por um momento, o ardor da lama peganhenta na fazenda, o sal poroso e denso que se agarra à pele, seca as vértebras e mirra as pétalas. Os olhos fecham-se ([a]percebe-se a imensidão do mar atlântico), e abrem-se para ser tarde para ser tarde. A sucessão sombria de fetos, primos anciãos, árvores crípticocrépitas, as lentes vidrosas entorpecendo a visão. Tudo neste mundo se prende com o órgão que mais facilmente se corrompe. As chagas que o astro-rei crispa na retina propagam-se numa folha em branco, sórdidas, mudas, incapazes por si só de levar a crer na universalidade do fitar. Mas na placidez de um insecto santo-dólmen, ele, imerso na merda dos ancestrais, o outro, no fitar de um cemitério orbital, saúdo quem consegue não pensar no óculo como instrumento máximo. Cada visão apontada como um salmo guardado, cada olhar trocado uma prece entre pântanos. Num pântano toda a água é muda e densa. A morte é um fastio e um pretexto para o erro, e a clamação é consequência exequível. Os uivos voluptuosos são-o por isso mesmo – pelo vulpis-raposa ser que trauteia, pela voz aguda, por cada nota que encarna quer se queira quer não. O sorriso de um ser maior que aspira até ser suficiente para a água estagnar – os pântanos formar-se por sonhos supracumpridos em prazos para sempre presos em horas. O traçar das horas por nós é laudável, no entanto. Fitar Kayl a dormir é a mesma vontade de disparar para o ar cartuchos brancos. O silêncio ergue-se da mesma maneira. Os seus lábios delineiam um ligeiro trejeito quando se ri, dormindo, o cabelo curto amontoado dócil na almofada – falo assim para lhe não fitar com atenção, o óleo da sua pele, a caspa necessária, as olheiras – e o sol fresco acerta-lhe em brisa e levanta as pupilas arquejando as pernas num plié e olha-me. Há flechas que cortam menos som que o humor vítreo de sangue e de luz. E o som ecoa em todos as paredes antes de ser absorvido pelo chão – ela algures numa cama e eu de olhos levantados, atolado até ao pescoço no caldo húmido e quente da Terra Mater. Ela solta uma interjeição matinal sequenciosa e prática, lânguida, nobre e fútil – e oferece-me o seu ser nela. -Bom dia. O gesto miúdo que as suas mãos orbitam para obter um toque onimoso e fervente, de madeira quando se fecha o frame, estendendo-se ao gorro para proteger as sinapses do frio, escondendo as pestanas demasiado femininas para pertencerem a um ser homem ou um ser mulher, e o

sol brando de um país inerme levanta-se em saudação, brindando a sua submissa conquista na cara. O sinal pendente no tecto indica o caminho para uma glória inaudita – as mulheres de lenços de linho na mão e seda como cutículas – e o gáudio de se saber ardente de gás nobre – nenhum peixe sabe como reluz uma cor fuschia senão pelos olhos de um camarão louva-deus. Levanta-se num espasmo e irradia cores de gama e beta indistintas, irriga a sala de um violeta âmbar bruto, e maltisa o chão em que me afundo. Na orla sombria, pairando junto ao dólmen de toterismo – “les fleurs de rêve tinten, échatment, éclairent” – ideias mórbidas assolam-sme e abismam-me. Abaixo do sumptuoso cordão da voz, em lânguido negrume de calidez paira – as minhas órbitas esvaziaram-se em terra, e os portos em barcos, pela mesma razão. Os cinco que eram, desfizeram-se em uniões separados e a água coalhou com a areia destronada este caudal doce de formosura dúbia. Grito, -Serás Artémis que me salves, e me levas para onde há vida, darás à curva negra de um deus sol o vidro doce da memória? E nem resposta nem olhar me poupa, ela, quedadando-se larval, seios desnudos, olhos aquososos, peito arfante e pescoço fino, enquanto eu luto pela existência dos músculos. O orvalho queima-me as pupilas em lágrima, e o sorver é letal. As cores que pairam nos olhos tristes são as que nunca poderei ver. E engulo o gelo lamacento antes de rebentar em grito tricónico de insulina-adrenalina epidermal, bombardeamento orientado e um coração colapsante – vendo Kayl vestir-se sem saber que nunca nos conhecemos. Alexxander R. Norton


Joaquim Morgado

A Minha Cidade

Cesequis eumque pratem sum, quaest aut ullenis molorem volupis cillace rchicid ut utene porro quoditatur sus as exerumq uatibusti reriberchil esequodigent pores eaquid eaquis qui apero mincit omnim a non ra quae nis num ut ditis seque pliquat enimporero quiam, quo cone remporeratis voluptati re doluptas res dus ullandipsam, es nim fuga. Epro conet, ut que aut ipsa dolorrum di di qui alis sequi ut perumquatem cum dolutam et fugiaessitis delis dem re nonseditia iume voluptaquia net aut et quat fugia sus autecto imillabo. Ut re possus et quia coreperia simporionse nonsequatis is velescienem sum eicit am hillectem volorei caboreicia debis et el et fugiam invende stiatem alictori oditia venihilibus a ad ero blab iumenienda con consecte veliatetus ut et qui untium am cusciis maxim nonessunt inventiae plaut aut eium nos eum, volupta spicia nobitatiis id et labo. 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Sinveru ptibus. Temquae storitatius, officid ebitatius nos autemporerum fugiaesequo mollaut quibus re sit volorepe veleste corestis aut dolupta eperferspit porum fugiam voluptis accabo. Ut litatin necupta esequae. Et labor ratia num iniminv elluptatius, vid esti dit, consequi coresequate dolume videmol ecatur asped quiatem nos anto quamet venimil liquos sitatquibus ut explissit autatib uscitati int, sitam, ipsam, qui doluptae mod mi, amus, quia nullestius diorum custrum num rerovidus, sintio corumque es erecest pre coreptam, utes por rerepudit et res volestibus, offictios molorro magnam aditiatume ra int everro mo il maxim utatemos qui dit quam facillu ptatus eosandam andit, omnimodio bea dusae. Uptatur archici que estrum raecero quasped et fuga. Itas aut laceatibus, solorem eumquiam, eum vendissim fugit od quam, cum, quiam accabo. Tus alit ius. Omnimin con ea debitatin prerrum quatet esti blantia ssitaturio ma cus moditem vel iur, sum ad essim ad quisque minum susamendam aut eium imusam, cupis seditatempos aut eatis eatur sit qui rem quaesciet exernati doloribus, quodite id molor sapersp iendita aut alit,


A minha cidade é um buraco Onde a minha alma mergulha sem augúrios De cada vez que regresso E é de algum dos meus múltiplos desnortes O recetáculo caldo de uma sopa Onde me sinto mergulhar devagarmente Cova da piedade como consta Ser o nome de uma outra invulgaríssima cidade Poderia ser o nome desta em que padeço Por ser a cova De todos os maiores e mais pequenos devaneios da minha alma E por ser pia Tanto em concreto no sentido utilitário da palavra Como sempre foi e tanto o mais ainda canónico sentido O pio sentido de causar tanta piedade Aos seus tão pouco numerosos circunstantes E por ser mais Mais uma vez e como sempre Dos males de uma canção perdida Dos prantos de um amor desencontrado Ou dos tépidos anseios ao vil descaso Me tem suado e tido refém minha cidade De uma prisão à qual fui condenado Sem que porém jamais tenha existido julgamento Sentença e muito menos ou sequer Condenação.

Quando aqui regresso alçado do meu sonho Sinto-me separado Do mundo em que me vejo em florescência Esquecido da figura e sem ciência Dos périplos asmáticos que eu vou Rasgando nos martírios desse tédio Com que me prende o senso do a esmo E que me levam para onde a minha alma clara chama Em latitudes mais da minha natureza E outras paisagens que os meus olhos bebem Como sedentos tuaregues sem oásis Sem património nem benesses consignadas Tudo eu revelo aos pavores da minha noite Mas é quando regresso àquele abraço Sufocante e frio do meu antanho Que vejo relativo o seu tamanho E dos meus ócios citadinos e vulgares A lenta pasmaceira em que mergulha A minha complacente paz Aborrecida. Fosfatos e estrelinhas também vejo Na ilha do farol ali defronte Nas noites em que a luz é benfazeja Não essa amarela de elétricas fontes Mas a do olhar puro e do mais são Deslumbramento Em que bem perto Posso olhar sereno e não muito distante A silhueta como uma corola vegetante Da minha cidade inteira e esparramada no horizonte.

A minha cidade tem esquinas vãs nos edifícios Definindo um contorno ensolarado De um céu que outros mais notáveis têm dito Ser de um único azul muito bonito E onde as esparsas nuvens que se formam Da humanitária e natural respiração Criam imagens que ao meu olhar são recorrentes De todos esses dias que não conto Mas em que vejo A sombra dos pintores renascentistas E essa cor Deixa a dever o sal da perfeição Aos meus antigos Que no chão esgravatam complacentes as salinas Talvez alguns desses desenhos do Leonardo Chegassem perto de fazer lembrar alguns recortes desses céus Em que eu costumo descansar o meu olhar Quando estou farto do barulho da cidade A minha cidade Onde tem dias assazmente insuportáveis Mas como foi ditado em solução maior Que o suicídio não é a solução Não uma que credível se apresente pelo menos Eu os suporto Impassível à passagem dos momentos Que passam implacáveis no meu livro Esse dourado que se diz ser o da vida Livro da vida em que a vida se consome Inútil e parada como se não existissem Nem dias nem momentos nem anos nem decénios Nem aflitos os nervos reclamassem Desse fascínio o tédio De serem os dias vividos remissíveis E de se poder enfim fazer parar o tempo.


Breviário de Orações a Pã I – O Guarda dos Campos Canta uma voz pelos campos de verdes e azuis. E todas aquelas cores que o campo tem ao longe. Hoje canta a voz daquele que para sempre ficará. Nunca se ouviu canto assim nos meus ouvidos Nem nunca quererei ouvir mais canto algum. Está vivo Pã dos Bosques – aquele que vem cantando. E com ele vêm as ovelhas, as ovelhas, os cavalos, Todos aqueles animaizinhos pequenos das flores. E eu estou vivo e canto com Pã até os campos Se perderem pela vista que não atinge o outro lado do monte. Nunca tive tanta alegria no meu coração de negrume. Não sei se foi magia, se foram as flores na pele de Ceres – Mas hoje estou sacro na choupana desta ruralidade. Campestre paisagem de árvores e ribeiras que são mais que eu: Puras almas dos nossos corações enfeitiçados Por uma magia que tu, oh Pã, tens na tua flauta. Nunca ouvi eu uma música assim… Que não me enche, Mas eleva-me até ti e às tuas ovelhas e às tuas abelhas; De onde recolhes a lã e o mel que me deste um dia E com que vestes e regas os campos que felizes te acolhem. Isto tudo é uma religião de respirar e de sonhar: Aquilo que vemos e que nos embala no sono, Aquilo que cheiramos e nunca vemos, Aquilo que tocamos e que nos toca na alma, Aquilo que ouvimos em verdade de ouvir, Aquilo que mastigo e que me foi dado a beber. Flores em vinho de intenso cheiro e grosso moldar – Transcendo-me em ópios campestres que bebo do riachos, E que quero que me consumam a alma que me sangra. Pã, rasga-me a alma até não ter corpo e ser o campo inteiro. Os campos, Pã, não se rendem a ti nem te aclamam – Tu és os campos e os campos são tu – o teu suspirar. O seu corpo, as árvores, flores, cearas e ervas: é Ceres. O corpo nu de Ceres estende-se até ao infinito da tua [respiração. Perco-me nisto, no meu olhar que não tem nada além dos peitos [nus de Ceres. E se vi mais do que esses nus seios, não reparei em tal – As minhas visões são de ti, ó Pã, nesse brotar de vida que quero [para mim. As minhas visões são dessas árvores que respiram, as flores que [dançam; Dessas tuas ovelhas que pastam pelo monte, abelhas que fazem [zumbidos ao mel. Orgíaca Ceres que Pã consome em suores que darão riachos e [ribeiras e rios. Rosas do meu campo de onde apareces de cajado na mão – Chamas-me com o som da tua flauta, o balir da tua ovelha. E eu corro nu, como de ilusões embriagado estivesse, Pelos montes e vales que são o monte inteiro, Planícies de ervas que doiram ao Sol e dançam ao vento – Vidas que serão incendiadas por línguas que se arrastam Pelo monte de Ceres de onde brota a vida, não de Vénus. E nesta choupana onde estamos, olham-nos Pã e Ceres Através de janelas estilhaças, quebradas por Cronos. Somos o mundo inteiro, corremo-lo, e nunca saímos daqui. Eu vou com o guardador dos campos Pã. Vamos até ond’a vida é Vida: Alto do mundo onde está Ceres nua. Onde o mundo inteiro se vê – Nem cidades, nem homens, nem modernidades se vê. Apenas o vale lá em baixo é o mundo, E as ovelhas, flores, abelhas, árvores São os habitantes desta campestre casa – E nós, bela Deenion, somos mais que Pã e Ceres, E nunca precisamos de sair da nossa choupana.


II – Canto às ovelhas Um dia olhei uma ovelha ao longe, Quis perguntar-lhe o que sentia E que pensamentos eram os dela Mas ela baliu e nem me olhou. Quero ser como esta ovelha. Ser guiado por um pastor eterno Que me guiava de cajado na mão E me chamava com a sua flauta – Era ovelha e não mais do que isso. Sem gente a quem responder. Poderia viver na Natureza Sem saber que vivia na Natureza. Mas assim não admiraria a beleza campestre – Ceres não seria mais do que humana. Os homens serão sempre as ovelhas dos deuses. Se eu fosse uma ovelha correria no monte, De um lado para o outro lado Em busca da erva mais verde do vale – Em busca de algo que não existe. Não pensaria no quê disso, apenas na busca. E agora nós, Deenion, Buscamos o rebanho por pastar E que o pastor deixou no caminho – Olha, olha pela choupana: As ovelhas espalham-se pela encosta. Quem dera ao meu ser Sermos as ovelhas que pastam Nesta campestre vida bucólica – A busca de coisas inexistentes Fez de nós amantes do nada. Deenion… Ser livre é algo que nunca conseguiremos. Agora fecharemos a janela azul da choupana, As ovelhas dormem na noite – Dormiremos nós na vida E acordaremos já do outro lado do rio. Viver a vida que nunca quisemos Fez do nosso corpo pasto Para animais rastejantes e vis – Não as inocentes ovelhas. E ainda assim são animais do campo. Livrai-nos, Pã dos Bosques, deste mal Que é não podermos ser guiados, E ter a consciência da perdição – Nem os montes fizeram a prisão Da nossa alma que nunca voou. E eu sou esta ovelha Que bale ao homem de barba que passa, Ele que vai caminhando lentamente – E antes que chegue ao fim da estrada Já terá desaparecido no bosque. O que foi feito do antigo pastor? Espera que as ovelhas que foram suas Voltem, de novo, a serem suas – Pã espera-nos lá longe No campo, no bosque… Na vida! Quando o voltarmos a achar Seremos de novo ovelhas Que seguem a sua flauta – Tristes de nós que nos tresmalhamos E que ainda não nos encontramos.


III – O Lobisomem voador A Lua toda brilha na noite – despida na noite. Nem as estrelas se vêem, nem o vento uiva. Mas lá alto no monte um vulto à Lua uiva. Corre o lobo que quer devorar As ovelhas que de Pã são. E até ao final desta noite onde apenas a Lua se vê, De nós, Deenion, não restará nada, nem a memória. Não guardemos na memória aquilo que nunca aconteceu. Nem este sedento e bestial animal, Nem as ovelhas adormecidas – são reais. Livre-nos, Pã dos Bosques, da bestialidade animalesca E transforme-nos em árvores desta floresta Que se vê além deste campestre vale: Eramos o bosque inteiro – As árvores, as ninfas… A vida! Da noite não vemos nada, além da branca Lua. Nem o teu rosto, Deenion, consigo vislumbrar – Nem os cascos de Pã oiço no caminho de Terra. O Lobisomem foi o presságio Da noite que nunca findou. Somos vorazes, quer queiramos quer não. Devoramo-nos no êxtase de vinhos entornados, Uvas que foram apanhadas lá na vinha da encosta. E que nos altere o vinho nesta noite de cheia Lua: Devoramos os corpos nossos que são dois e unos. Deenion, o vinho de nós escorre; Nós que somos taças profundas De líquidos que escorrem pela nossa pele. E antes que esta noite acabe Os nossos gemidos elevar-se-ão acima da flauta de Pã. E a nossa choupana do tamanho do mundo Passou a ser um Templo enorme do tamanho do universo. E este templo é a ti, Pã, e aos teus campos – Neste templo há flores em jardins, um bosque inteiro, E nem precisamos de sair daqui! Os lençóis da cama nossa são campos, Que se banham pela luz da Lua que entra Pela janela que é o céu inteiro. E não há lobisomem que nos devore – Tristes discípulos de alguém que nunca chegará. Assim, Deenion, não há nada mais que fazer! Aqui ninguém por nós espera. Nem nós esperamos que esta noite acabe: A Lua para sempre estará na cúpula dos campos – Nada há mais do que ervas banhadas em luar.


E nós, sem qualquer salvação possível por Pã, Seguimos aquele lobo que uiva, Ali ao longe da nossa choupana em ruínas – As janelas já não têm portadas, o vento entra com fria brisa – E nós seguimos o lobo pelos caminhos em terra, Rodeados, não de campos, mas de negra floresta, árvores em podridão Que se inclinam sobre os nossos nus corpos. Mas não tenhas medo, ninfa que é minha: Se o bem não nos deu a imortalidades pelos campos, Chegaremos aos profundos pântanos da maldade e imortais seremos No abismo que já não é campestre: o campo já não existe. O lobo? Esse já não o vejo desde que a noite findou: Agora que fomos corrompidos pelo desejos dos corpos, De nos consumirmos, Deenion, penetrei-te! E agora que olho os campos pela nossa choupana, Vejo que o mundo és tu, estas galinhas, As abelhas que voam pelas nossas flores. As ovelhas, as ovelhas que foram de Pã dos Bosques, Pastam pela verde encosta de novo. E já nada disto tem a mesma beleza. Kappa


No Jardim, Amanhã à Tarde Descubro, as pupilas aprendizes das íris dos olhos, teus, predilectas sensoriais denúncias das fabulosas marítimas ondas dos grãos de areia com que me acolhes em tuas mãos. Deleitas as tuas sensualidades, cristas das ondas navegadas das motivações alucinadas nos acasalamentos das tuas borboletas gigantescas dos casulos, habitáculos dos tremores funcionais nos prazeres sedutores escritos nas escrivaninhas do tempo. Usurpações dos ventos onde elevamos as asas flutuantes dos vulcões orgânicos, versados nas bocas onde me desvirtua as luas do esplendor do quarto crescente onde os desígnios centralizam todas as

amoras degustadas nestas paixões platonicas no sentimento bondosas de me acordar em teus olhos. Estas pandoras pélvicas da caixa do teu corpo, me descobrem todos os segredos das privações escondidas nas muralhas escravizadas pelos tempos nauseabundos aprisionados pelas angústias do passado. As chaves, desta caixa, celestial inferno diabólico, se incumbe de me refugiar nas tentações presas nas sombras dançantes do enxofre que me snifa a areia do meu corpo envidraçado nas molduras do tempo. Eis os ventrilucos do meu corpo, estas nuvens napoleónicas dos canhões assinalados nas guerras com os


meus antepassados medos. Os teus olhos azuis, me reforçam o verde da esperança, este jardim de outroras prisões, se desvanecem todos os sepulcros destas muralhas enclausuradas em mim. E acredito, nas flores piedosas do teu poder de forca, de me possiblitar todas as sedutoras coragens de me banhar no mar do teu Machado, em que assassinas os meus medos, sem pudor, nem Piedade, aclamando toda a presença tua, nesta aclamação missal eminente das orações gravitacionais no cetim sedutor dos barcos roseirais dos nossos corpos. Vitor Hugo Moreira


Digitação digito crânio ovário de Édipo const Digitação dos arquétipos do e emancipo a bolha de desinfecção de uma fo piolho a rolha em tes digito uma capicua q num sentido ma abertas deslumbram imprevistos desperto eoceano ascéticos. digito a capotado de p nunca poesiou que digito moribundos rebeldia desmecânica cáustica dos pressup ultrapassados. digito saber do coração do s sua cinza acústica: ou não é ruído turístico cálice de porto na mã boca. não seremos ma d’m deus conceptual se minúscula que digo “ mais: léguas longe nos dos neutros delicado, teatros: tende referê cabrinhas aos saltos de musgo e névoa; bú compasso da substâ natação do fogo; re apreciado na imper que foi e que é exem alavanca das semente no fim da folha: que opoesia pêlo trémulo dos s fulgente si indomesticável sobre defronte d’uma cruz a deporta-de-dentes escrever abando don

Digitação crânio freudiano de Édipo c me no p dos ar do est dissipo e e aque bolha d des de uma olho na piolho a r testas de sentido di capicua vnum e r s i f m a l m e cápsulas deslumbr aidespertos u t o m á m p r e v sonhos ina ascéticos venda tam oceano c de pessoa quem poesiou molde um digito mo m a r t arsénicos desmecân óleo da p cáustica panedótico r e s s u p ultrapas digito carimbada saber do do seu branco cinza a ou se a arranco nã turístico digito ist de porto esquerda boca. não m a r i o alienígena deus co sequer (e com minús digo “deus digito mai longe nos éguas mo neutros esquisito nos teatro roh e f e r ê p cabrinhas saltos vão terrenos musgo e bússola p ou o c da su énatação arruin d respelho e f e r ê n a na im assimetria foi e que é da difer alavanca sementes digito qua da folha: roça-se e odos pêlo apoesia an sfindomes i n e s r e g u sobre a c maresia digito crânio lésbico freudiano no ovário de Édipo constipo-me no protótipo dos arquétipos do estereótipo dissipo e emancipo a bolha de razão que demolha a desinfecção de uma folha e olho na boca do piolho a rolha em testas de vácuo sentido digito uma capicua qualquer versificada num sentido malmequer cápsulas abertas deslumbramentos automáticos imprevistos despertos oh sonhos inauditos e ascéticos. digito a venda também um oceano capotado de pessoas.

digito quem nunca poesiou que molde uma pedra.

digito moribundos martelos arsénicos rebeldia desmecânica no óleo da penumbra cáustica dos pressupostos anedóticos já ultrapassados. digito força carimbada não saber do coração do seu rumor branco da sua cinza acústica: ou se a cor que arranco não é ruído turístico nenhum.

digito isto: cálice de porto na mão esquerda voando à boca. não seremos marionetas alienígenas d’m deus conceptual sequer (e é mesmo com minúscula que digo “deus” agora)


otipo-me lésbicono freudiano no protótipo estereótipo dissipo e razão que demolha a olha e olho na boca do stas de vácuo sentido qualquer versificada almequer cápsulas mentos automáticos os oh sonhos inauditos apessoas. venda também um digito quem molde uma pedra. martelos arsénicos apostos no óleoanedóticos da penumbra já oseu força carimbada não rumor branco da u se a cor que arranco oãonenhum. digito isto: esquerda voando à arionetas alienígenas equer (e é mesmo com “deus” agora) digito sesquisito outros. éguas monge irónico, nos ências, oh patéticas vãos sobre terrenos ússola pulmonar ou o ância é arruinado na eferência-te espelho rfeita assimetria do mplo da diferença e es do eu. digito quase ente roça-se em mim sonhos a anestésica inestesia freguesia e a crescente maresia admirável. e a máquina ona-me num sorriso na de raízes, dentro.

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e a máquina de escrever abandona-me num sorriso porta-de-dentes dona de raízes, dentro. Gavine Rubro


Na Mente de Um Deus Há Muito Morto The thunder is shouting ever forward! The holiness of the-a-a-a, god of long times lost, in a reactor of times loooooooost, I have foreseen the holiness of this mind, his mind is beyond the words of mere mortals, they will see what the lightning sparks and the thunder says, and the pieces of a thousand suns will ever grow inwards, oh mighty ritual of blossom, your times are sacred! The colors are violent, they are violant, they are the bolts of solemn procession raging from these hands of ever present demise, oh times of sacred sins, oh damnation, I stand before you mater mea, Luna!, and matricide is the flash of light in the mind of these carcassic ordeal, this corruption of lost souls, oh brilliance of my soul! Aqueles que aqui se ajoelham vêem a protuberante face dos deuses antigos, e sabem o que é a voz do vento siroco e do zéfiro cruel! Oh holy be my name for I am the extension of the weather which time has taken from us with sickle and blood! Seja feita a minha vontade carnal de consumir os espíritos humanos em olho de tempestade e clamor imperativo e estupendo! Ou lançar os rrrrrrrrrrrrrrrrrraios eternos, oh foda-se, a concrudescente imperatriz dos meus costumes, serei don-o/u(l)tra cravo e faca armados em cada mão, cortarei as ervas florescentes com o largar de um rasgo de voz, esta voz, esses rrrraios sim! We progress in the black masses and destruction of property, and the lightning shines the path of eléctron(s)-ic devices as we march forever in marshes and succumb to all but none, simplistic voices coming through a desert I will raise with the power of the mind alone, and going through the cities of jungle I shall desecrate them and order the appeasing of my appetites with bloody sacrifice, oh looooooost ree-ohnoi-ver of curled beauty sempestra, the river that flows I shall invert! How long has this god been god, this deus of forgotten eras turned to ash and dust and mist and this empty mind of subtle destructiveness, how long must have it been for the hollow cave of basilar berserkness clench the raios que se soltam dos meus olhos como dardos, escoando pelo chão o lânguido verniz que me cega e me dá coooooooooooor.ahr.po, harpejo com os dedos dedilhados os sons sublimes da vida superior, e tudo o que ultrapassa estas santificações! Oh gratiatis, senhora minha, voz do titã que sou que somos todos, e delírio das horas frias, may the holiness of our times become the ominosa morte of the santos dos altares desbispais e eu largarei da minha mão o sermão de fogo que iluminará o

Acre nada ser t como vonta most as pe desn deste mundo eternamente em chamas de cuspo e física clássica, oh seja assim the ordeal of hemispherius and hermes-oh-no-aphrodite. O trovão fala, ele diz, sim, BZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZ ZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZ com o largar das cordas eléctricas, o destoar das tormentas que duram uma vida inteira sem tirar nem por, tudo isso é o som da trombeta divina que desce e de mim para vós, e EU, na mente de um deus há muito morto olho as cavernas com o peito cheio de tormenta e solto os ciclones que guardo na boca enquanto fito o mundo e anseio queimá-lo com raios plasma


edito que a consegue tão mágico o uma ade de trar ernas nudas e modo brancura e clamor ardente, and the tarmac will rise unto the ceiling of the caves where the cats are all but white and I’ll drink the air and suck the blood and rant at the spinning of my hand – consegues ver como a minha mão se aguenta e se wave upon the air enquanto tento largar o sol com toda a minha força, e globo estelar incerto impotente nas suas vozes mágicas e miraculosas, oh EU que sou, a força que controla, levanto um braço e o céu tropeça, e se fosse eu o grande titã Atlas, cujo suor rasga o peito em gotas grandes e verdejantes, e pausasse um dia para me ver nesta mente de deus enfermo, e contemplasse a minha força, e o tecto que SÓ sustento, e se

fitasse esse corpo áureo, se os raios que lanço lhe tocassem e a sua boca abrisse em suspiro, e largasse uma questão, ao ver que ninguém presta atenção, e lhe pudesse dizer uma só coisa, a single word before the drop and the conclusion of all times past and present, I would tell him to Silence, hush now, I must get to work on these new interesting projects, for the time comes that we should maximize the level of our shining magic – you see the bling of our collars, ain’t it marvelous hun? Acredito que nada consegue ser tão mágico como uma vontade de mostrar as pernas desnudas deste modo, brilharei como um deus que


grita a sua complexidade, sem noção de estar repleto de brilho de Moloko e comida abstracta, o caminho tomado de óculos escuros so I can spy on all that can’t see me, you get it, like a model of power and prowess – and all we want to be is the glorious pastiche of others who were once like us, but in their youth lost the spirit to be spectacular and destructive like we felt the need to one day raise the spirit! And we’ll dance in the clubs, with some blow and a joint and the wardrobe, yeah, I suppose, but there’s no glamour in pastiche. Olho em frente na janela amarela e, sim, podes querer até dizer que a luz que entra não é real e que tudo o resto para lá do visor é normal, rotineiro, habitual mas sabes que os carris estão lá e que as pontes são abertas ao vento e que o azeite que cai da mesa não é senão um rumor de aves sob o chão. -E se quisesse despir-me já aqui, quem me impediria? Tu? - perguntou, com um brilho de desdém reluzindo no olhar. Obrigada Oscar, com esta maravilhosa introdução começamos o que, estou certa, não será uma tão brilhante exposição de pensamentos. Sussuro-lhe sibilâncias por entre as substâncias que nos compõem, e ela compreendeme perfeitamente, como se tivesse sempre feito aquilo que lhe foi dito árida e rispidamente, como um comando de computador ordenado sem protocolo algum - a Historiografia dos Movimentos Sociais sofreu alterações profundas à medida que caminhamos no percurso histórico. White cold clínico, brilha e paramos. Branco, sobre branco, com branco. E tu olhas, e esperas, com mais calma, com mais alegria, com um pedaço de pão agarrado aos dedos, com um pedaço de céu parado debaixo da língua e não sabes que mais pode ser isto a não ser um pequeno muro de gente que habita a alvenaria dos mármores de tons rosados que o chão desenha no chão: a análise que os historiadores, investigadores, pensadores e construtores da ideia histórica, fizeram ao longo dos tempos sobre esse complexo sujeito que compõe os movimentos sociais foi sendo modificada ao longo da evolução teórica da História. -Não digas disparates. - Tens realmente pena?” - Falemos sobre a moderação. O próprio vocábulo é tão baço que dificilmente deixa espaço a que a dissertação seja brilhante, ou sequer remotamente cintilante: tão delicado de tocar e silêncio. E eu sussuro-lhe nos cabelos amendoados que não. Sim, repetição de uma palavra, chão

gritado ao expoente máximo do infinito, levado aos extremos estelares de um universo poético que só o é por tudo ser. - retorquiu com alguma indignação - Nunca te impediria de fazer o que quer que fosse! Se te queres despir, fá-lo. Estou-me nas tintas para ti! Ah! - a Historiografia Iluminista abriu o campo de estudos da História. As teorias desenvolvidas com base nas Luzes, trazem para a disciplina novos campos de possibilidades de estudo. E no entanto é tão tediosamente explícito o seu significado. -Não digas uma coisa dessas - disse, dando-lhe então uma valente bofetada. Não, silêncio não, ritmo. Não sei se dedilhar pianos como se fossem guitarras suspensas de uma corda enfeitada de tule e rendas pode ser considerado uma arte barroca mas talvez quando olhares pelo cinzeiro dentro e vires que as beatas se deitam como qualquer outra pequena partícula do universo, aí entendes que o copo de café é apenas a procura de uma inspiração perdida outrora nas folhas das plantas. E é só isso. Não há mais nada que eu lhe possa dizer, mas ela pára, imóvel, incapaz de realmente absorver seja o que for da natureza à sua volta, fitando ao longe, para lá da casa de Mr. Dust, um casarão importado e imponente de Melbourne, lentamente devorado pelas silvas e as (h)eras: o contraste das linhas sólidas e grotescamente fixas do casarão com a fluidez orgância do ser possante e sibilante que ali se me afigurava era perturbante, quase dissonante no funcionamento interno do ouvido. Voltaire alarga o campo saindo da História estritamente política e militar e alertando para a importância da História Absoluta e da História da Cultura. E o género de viagem que descrevo aqui tem como objectivo último o caminhar, esse sim é o objectivo, não destino, não pausa, nem caminha quieto. MODERADAMENTE. -Tu preocupas-te comigo! nem te atrevas a insinuar o contrário acrescentou com um tremor choroso na voz - não suportaria... -Anda cá - respondeu, colocando os braços em seu redor - Porque é que insistes em ser assim? Quão exageradamente real pode uma palavra ser? Como se num editor de vocábulos tivéssemos aumentado a sua definição a 100%. Ritmo que não pára, poço dentro infinito. Hopper: cores azul, amarelo, laranja. . Aponta ainda a necessidade de uma História dos Homens para lá da História dos Reis…mas o social não conhece ainda nesta fase o futuro papel de destaque que assumirá três séculos depois, nem a concepção mental das


sociedades é ainda uma realidade no estudo histórico. “Acho que compreendo o que queres dizer...” Fito-lhe a face, complacente e com um sorriso forçado, e obrigo-me a chorar. Ficas quedado no rumor de fogo sob a noite estrelada, becos, chapitô, trinta e três minutos de opressão e libertação da malandragem. Não estás a pensar nem sequer achas que algo que a cadeira faça possa ser um pedaço de madeira real. Fugiram árduas incapacidades, rumando às incrédulas árvores-onde se escondem as raposas. Não tens que ter medo amigo, aqui as raposas não fazem mal tudo vai ficar bem! Podes confiar em mim. Estamos na floresta, é um sítio seguro, acredita, vai ficar tudo bem. Também vieste sozinho? Foi o que achei, eu vim porque os meus pais queriam madeira para a lareira, e não havia em casa, e por isso disseram para eu vir cá buscar um bocadinho. Sabes, eu também tinha medo de raposas quando vim para a floresta pela primeira vez, mas depois vi uma pela primeira vez, com as suas caudas cor de laranja, e não podia ter medo, elas são fofinhas e seguras também! Queres vir comigo apanhar paus? Ok, mas nesse caso tens que fazer pouco barulho, porque os meus pais disseram que se eu falasse com alguém essa pessoa podia-me fazer mal, mas tu também és simpático, por isso não deves fazer mal. Há aqui cogumelos sabias? Olha, olha, aqui, vem, se corrermos um bocadinho ali à frente ainda há bocadinho vi cogumelos. Sabes, eu costumava ter medo das plantas, as árvores metem medo, e li num livro que há plantas que são venenosas, mas eu não as como. Costumas vir à floresta? Eu já vim muitas vezes, por aquele lado é onde há mais madeira. Mas tens de vir atrás de mim, se não podes-te perder ou pisar um caranguejo, pelo menos acho que são caranguejos, o meu primo mais velho quando vim cá com ele disse-me que haviam muitos bichos que picam aqui, mas ele já me mentiu muitas vezes, por isso não sei se ele estava a falar a sério. Como é que te chamas? É um nome bonito! Olha, está ali, estás a ver, um grande monte de madeira, muito bonito! Só preciso de uns raminhos e posso voltar para casa, onde é que tu vives? Ali? Olha, queres brincar antes de irmos? Ainda não está escuro, o papá disseme que estar na floresta quando está escuro é sinal de má fortuna, lembro-me bem, mas não sei o que isso quer dizer mas acho que é para não estarmos na floresta quando

está escuro, mas ainda não está, por isso podemos brincar! Queres lutar com espadas? Eu fico com este, é o que eu gosto mais…não, este é meu, podes ficar com qualquer outro, mas este é meu…larga, este…está bem, eu fico com outro, este também é bom, está bom assim? Eu não costumo encontrar muitas pessoas na floresta, és novo aqui? Há duas semanas? Eu há duas semanas não me lembro, mas no Verão passado fui com os meus pais a França, já lá foste? É muito bonito, tem árvores muuuuuuito maiores que estas, e os meus pais foram comigo à floresta de lá, gostava de lá voltar, mas eles dizem que é muito caro ir para lá, eu tentei explicar que eu só queria ir à floresta, mas eles não perceberam. Não faz mal. Oh, magoaste-te? Não faz mal, ali à frente há água, pões aí, e há ali uma folha que se tu puseres por cima fica bom, vai deixar de doer, não precisas de contar aos teus pais, eles são capazes de ver, mas não se vão preocupar, vais ver que fica tudo bem…oh, mas queres ir já? Sim, tens razão, está a ficar escuro, mas também não faz muito mal, podíamos brincar mais um bocadinho…oh, está bem. Não faz mal, amanhã vens cá outra vez? Não? Oh, ok, talvez noutro dia. Vais já? Eu vou só subir à árvore. É a minha árvore. Lá em cima é muito bonito, se quiseres podes subir também, não precisas de ter medo, eu ensino-te…não precisas de ter medo, é fácil, é só pores aqui o pé e depois…está bem, eu ensino-te amanh…noutro dia. Daqui de cima eu vejo tudo. E é impressionante o quanto se consegue ver quando se contempla a vastidão da floresta com olhos de quem quer absorver cada gota de luz e cor para as orbes famintas, e como consigo respirar um ar imensamente mais puro quando uso este casaco amarelo e vermelho, e como de cada vez que penso no tempo que levo a trovar cada uma destas realidades me apercebo que sou um servo de serventes… Vais já? Eu fico só mais um bocadinho, depois devo de ir ter com os meus pais, eles precisavam de madeira…não… voltas para brincar comigo? Sim. Não tens de temer que o abandono seja eterno quando se trova as vozes soturnas, arrastadas e melancólicas do fundo do mar. No mais denso lamaçal do oceano vive um povo de sombra e escória, vaga memória do que foram pelo que são capazes de transformar, eles, senhores invictos da face e da sombra. Alexxander R. Norton


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