Zine [Punktugal]

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S

PEDRO SERAPIC O

2015

PROJETO DE PESQUISA

GONÇALO NEVES CRUZ


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Este livro surge na sequência do gosto do punk (musical e graficamente) e pela perceção da atitude de criar com parcos recursos e despreocupação face ao resultado. Fazer para transmitir alguma informação em que se acredita. Inicialmente essa cultura gráfica era efeito da forma como eram trabalhados os materiais. Muito plástico e sem enormes conhecimentos técnicos (ou grandes preocupações sobre a forma correta de fazer). Ainda assim, as fanzines eram partilhadas, viajando por um mundo sem Internet, sedento por novidades. Se os media não falavam, a comunidade falava. Passamos tanto tempo (como designers gráficos) preocupados com a forma como apresentamos a informação, o tamanho da tipografia, intervalo entre páginas, spreads interessantes. Fazemos de tudo para cativar o leitor e, olhando para as fanzines, é interessante perceber como a paixão por um assunto em que se acredita veemente faz esquecer qualquer pormenor gráfico mal resolvido. Talvez não seja a melhor forma de introduzir um projeto de pesquisa para o final da licenciatura de design gráfico. Não quero dizer que o design gráfico é desnecessário. Ele é de extrema importância para uma sociedade sem aspirações: na dose banal (comercial), funciona como uma pala, indicando aos utilizadores ou leitores para onde devem olhar ou o que devem ler. Na dose certa (experimental) desafia o pensamento, confunde e perturba o leitor. Um bom livro mal paginado é lido com muita dificuldade, mas se a história for verdadeiramente boa lê-se até ao fim. Um livro com uma narrativa terrível, paginado de uma forma surpreendente e agradável... Será lido até ao fim?



Grafismos da altura (1970-1982) 8 dadaĂ­smo 10 fluxus 14 o punk 22 a imagem do punk 24 manifesto anti-punk 26 os fanzines 32 a maximum rock n roll e a flipside 34 vestĂ­gios visuais do punk 48 fanzines, punk e designers grĂĄficos 54 e agora? 68



1970 Bitches Brew

1970 Fun House

1970 Paranoid

1971 Shaft

1971 Songs of Love and Hate

1972 Transformer

1973 Aladdin Sane

1973 Faust IV

1973 The Dark Side of The Moon

1974 Autobahn

1976 Ramones

1977 All The Filth

1977 Marquee Moon

1977 My Aim is True

1977 Suicide

1979 A Different Kind of Tension

1979 Entertainment

1979 Live (X-Cert)

1979 London calling

1979 Nina Hagen Band

1980 Gyrate

1980 Killing Joke

1980 Kings of The Wild Frontier

1980 Remain in Light

1980 Second Edition

1981 Kollaps

1981 Talk, Talk, Talk

1982 Plastic Surgery Disasters

1982 Pornography

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1971 Sticky Fingers

1972 Exile on Main St.

1972 Let’s Stay Together

1972 School’s Out

1972 the slider

1974 Country Life

1975 Horses

1976 Blondie

1976 Destroyer

1976 Music From The Penguin cafe

1977 The Clash

1977z Never Mind The Bollocks here’s The Sex Pistols

1978 Q Are We Not Men A We Are Devo

1978 The Man-Machine

1978 The music has cracked

1979 Pre Teenage Jesus And The Jerks

1979 Reggatta de Blanc

1979 The B52’s

1979 The Undertones.jpeg

1979 Unkown Pleasures.jpeg

1980 Songs the Lord Taught Us

1981 Architecture and Morality

1981 Damaged

1981 Dare!

1981 Fire of Love

Grafismos da altura (1970-1982) O que se via do punk e para lá do punk? Como eram os álbuns na altura? uma noção da cultura gráfica a partir de um apanhado de capas de vinis da época


dadaísmo “A palavra Dada foi descoberta por acaso por mim e Hugo Ball num dicionário francês-alemão. Dada significa cavalo de pau em francês.” Richard Huaelsenbeck

Criado em 1916 em Zurique (não tendo porém nenhum elemento nascido na Suiça) o Dadaísmo “não era exclusivamente um movimento artístico, literário, musical, político ou filosófico. Na realidade era todos, e ao mesmo tempo o posto: antiartístico, provocativamente literário, divertidamente musical, radicalmente político mas antiparlamentar, e por vezes simplesmente infantil.”, diz-nos Dietmar Elger no livro Modern Art Foi um movimento de reação contra tudo o que se passava na sociedade moderna, destacando-se a aversão à violência da primeira grande guerra, o que explica a sua localização geográfica inicial: uma Suiça sem guerra, onde se concentravam “jovens artistas, pacifistas e revolucionários de toda a Europa” , acrescenta Dietmar. A anarquia, o irracional e o intuitivo. Adquiriu o termo devido à sua falta de sentido estético (que rompia com os standards da altura). Os novos artistas revoltavamse contra as barbaridades da guerra e negavam o refúgio na beleza convencional.

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Hannah Hoch


Johannes Baader n. 1875 m. 1955 Teve oportunidade de estudar arquitectura e tornar-se arquitecto, sendo considerado como inadequado para o serviço militar, dedicou as suas energias a um arquitectura utópica/metafísica.

O recorte das frases que se alia à despreocupação com a leitura imediata. A cor predominante é o amarelo, que reage ao coro de rosa do selo. As cores ainda não são vivas, mas a base para o punk já lá está. É interessante também os dois planos de escrita, Uma mecânica, recortada e colada de forma crua, outra escrita à mão, na vertical, bem perceptível. Também importante neste exercício visual é a idea do selo, de carta, com ligação à mail art.

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Hannah Hoch n. 1889 m. 1978 A única mulher do movimento. Com dificuldade, conseguiu fazer parte da Primeira Feira Internacional Dada, mas acabou por ser a estrela com a obra Incisão com faca de cozinha dada através da barriga de cerveja da última época cultural alemã. “Hoch entrelaçou inúmeros detalhes, figuras, retratos, elementos mecânicos, paisagens citadinas e exortações textuais na sua colagem. Ela descreve uma situação de convulsão, caos e contradição.” A fotomontagem, colagem de personalidades e anúncios populares usados com o propósito de criar composições com significados agressivos chocaram, pelo poder que que a propaganda tinha e por serem pioneiros a explorar este tipo de linguagem.

Com o fim da Primeira Guerra Mundial, os membros separaram-se. O percurso do do dadaísmo foi curto. Teve continuidade a partir de outros movimentos anti-art. O surrealismo, o punk, o pós-modernismo partilham da mesma capacidade de surpreender e chocar, criando novas formas de pensamento (ou abstenção de tal).


fluxus A palavra significa fluente, fluido. Um grupo de artistas, compositores e designers, cujo movimento não teve a mesma projeção do Dada e do Surrealismo, mas lhes deu continuidade: a anti-arte, o anti-comercial continua e, neste caso, o são antigaleria. Produzem bastantes trabalhos impressos (manifestos, publicações e selos). O que desperta o interesse, na perspetiva gráfica é a mail arte. A mail arte levava o ideal de anti-galeria ao extremo: ignorar esses suportes que excluíam e escolhiam quem deles fazia parte e enviar diretamente a arte a outros artistas ou apreciadores. Eram feitos através de carimbos ou qualquer material barato e com capacidades de repetição.

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George Maciunas, manifesto 1963


Jlius Koller, No Art 1970

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Joseph Beuys 1964


Robert Watts, Safe Post 1962

Robert Watts, Yamflug 1963

Ray Johnson, Mail Art 1970

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Publicação Fluxus


Publicação Fluxus

Mark Pawson 1983

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Publicação Fluxus

Ray Johnson, Mail Art


o punk "A história do punk não pode ser contada, tem que ser vista" Johan Kugelberg, Punk: An Aesthetic O Punk foi um movimento cultural e musical que começou no princípio dos anos 70 e terminou no princípio dos anos 80, com aparecimento do post-punk, do hardcore e do new wave. A sua história é contada de várias formas. Os historiadores americanos acreditam que “o punk rock cresceu das experimentais e difícieis de categorizar bandas que tocavam no CBGB, em Nova York, em 1974. Bandas como Ramones, Patti Smith, Television,” diz-nos Brian Cogan no livro The Encyclopedia of Punk, “o punk explodiu deste cenário, adquirindo o nome a partir da revista Punk (início em 1976), com um sentido de moda e escrita de Richard Hell,” que deu aos punks de Londres a inspiração para o que seria o princípio de uma nova tribo britânica iniciada pelos os Sex Pistols. Na velha Europa (particularmente no Reino Unido), acredita-se que o punk teve a inspiração na revolta do quotidiano social e político: “O Partido Trabalhista que tanto prometera após a guerra, fizera tão pouco pelos trabalhadores, que estes estavam confusos sobre a sua identidade e já nem sabiam o significado da classe trabalhadora. Era uma época fria e horrível. Não se conseguia emprego. Viviam todos do subsídio. Se não se nascia rico, mais valia dizer adeus à vida, que ela nada valia. A semente dos Sex Pistols teve origem aí” The Filth and The Fury, Julien Temple 2005 Geografia à parte, sob a perspetiva gráfica do movimento, é importante referir a cultura DIY do punk. As roupas rasgadas, as correntes, alfinetes e outras soluções encontradas para resolver problemas como calças largas ou simplesmente chocar de forma original são transportadas para o papel. Interessava comunicar dentro da comunidade, criar e consumir informação sobre o punk. De acordo com Rick Poynor ( The Art of Punk and the Punk Aesthetic) “Era uma arte de conveniência, usar colagens, desenhos de bandas-desenhadas, escrever à mão, fazer uso de carimbos tipográficos, recorte aleatório de letras, stencils and fotocópia Xerox a preto branco”. Um enorme barulho à volta do conceito gráfico que acompanha a música: os pósteres, os álbuns, os pins, as t-shirts, os flyers e, essencial, a fanzine.

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Jamie Reid, conceito grรกfico para o primeiro รกlbum dos Sex Pistols 1976

Paula Scher, posters para Public Theatre 1996


a imagem do punk Com influências no Futurismo, Dadaísmo, Construtivismo, Expressinismo, na Pop Art e na Bauhaus, o Punk chocou o mundo (que ficou outra vez chocado) com (mais) uma atitude subversiva de revolta. Um esforço constante pelo romper dos cânones (ainda mais). Cores fortes apresentadas de forma violenta que eram criadas de forma DIY (Do It Yourself)

Jamie Reid 1 - Anarchy in the UK fanzine 1976 (Soo Catwoman na fotografia)

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Keith Flint (the Prodigy) Walter Stern, para o videoclip da mĂşsica Firestarter 1996


manifesto anti-punk

Daniel Reis, mundo da canção 1983 Uma geração que consente deixar-se ludibriar pelo punk (música/indivíduo) é uma geração que nunca o foi. É um colo de indigentes, de indignos e de areúdos! É uma geração que nunca o foi porque quando o termo “punk” surgiu já estava mais que morto; a vida que posteriormente lhe deram é o ritual monetário das exéquias lucrativas! Uma geração punkada é uma resma de charlatães” e de vendidos/vendedores, e só pode entender de música abaixo do zero! Abaixo a geração! Morra o punk, morra! Pim! Uma geração com o punk nas orelhas é uma corja de desmiolados em cujos ouvidoas a música e terramoto é uma mesma coisa! Uma geração com o punk nas orelhas é uma geração sem orelhas! O punk é um sem orelha! Morra o punk, morra! Pim! O punk saberá acupuntura, ocultismo, espiritismo, ovnilogia, escutismo, ecologia, gramática e tabuada, saberá de tudo menos de música! O punk pesca tanto de música como uma formiga de economia, com a diferança de que a formiga é muito pequenina e o punk nem sequer existe! O punk tem mau gosto! o punk veste-se mal! O punk usa ceroulas negras de coura e copia os “rockers”! O punk é panca! O punk tem cascas de noz na cabeça! O punk não tem olho de vídeo mas usa óculos por causa do nevoeiro mental! Morra o punk! Pim! Ao contrário do que muitos pensam - desde o “escrevinhadores” editados por Albin Michel aos

o odeia e as respetivas contradições da sociedade em que foi lançada e da qual é, em grande parte, um produto em vias de desumanização mercê de complexos mas inteligíveis “processos”. Porque senão saberia a quem serve o seu pretenso niilismo talvez de um anarquismo tão primário que Bakunino, se fosse vivo, os correria a pontapé! - e o que está por trás de toda essa chamada “nova vaga”. Que a música dos Genesis, Yes, King Grimson, Van Der Graa, Pink Floyd, etc., já nada lhes diga é uma coisa, mas não procurar saber porquê (e isso passaria pela compreensão do fenómeno rock inserido em toda uma sociedade capitalista), isso é que é grave. O punk não sabe para que serve a violência inerente ao exercício do poder numa sociedade repressiva e alienante! Porque não sabe ver num simples e aparentemente inofensivo anúncio de televisão uma forma muito subtil da violência institucionalizada. Mas o punk não pode ver nada disto porque foi comido/mastigado/vomitado, porque é um produto sem imaginação: foi imaginado, programado, estudado, computorizado e promovido! Isto independentemente de uma hipoteticamente possível “honestidade” de um punhado de “iniciadores”! Numa sociedade onde rebenta cada vez mais violência - derivada sobretudo da reação do poder estabelecido à contestação dos indivíduos à sociedade onde ele é exercido, mesmo de modo ambíguo e indiferenciado - nada mais lógico para esse mesmo poder do que procurar “criar” formas ambíguas e domesticadas de uma “outra violência” para canalizar e controlar o movimento (“amoda”? a falsa imagem da liberdade

“rabisqueiros” do Le Monde, passando pelos “esferografizados” do Melody Maker, New Musica Express, Record Mirror e quejandos - a punkitude não é uma atitude mas justamente a ausência de uma atitude! E não é ua atitude porque não resulta da compreensão do fenómeno/evolução do rock, com todas as suas ambiguidades e contradições, com as ainda que reduzidas/limitadas tentativas de se subtrair/inverter/desmascarar o mundo alienante das sociedades ocidentais industrializadas que o fizeram “nascer”! Não é uma atitude mas sim uma incapacidade, uma negação inconsciente do que não chegou sequer a ser compreendido! O punk nada percebe de rock! Morra o punk, morra! Pim! O punk é um comodista que não quer/pode fazer o mínimo esforço para compreender o mundo que

de “contestar”?) que contra si se “levanta”! Nada mais lógico do que despojar a violência das suas origens e razões e servi-la de bandeja, inofensiva, controlada e dominada, num processo de sublimação generalizada o máximo possível! DEpois é só misturar o “brinde” na máquina de fabricar substitutos e escapes (do tipo “sexta-feira-à-noite”!) para a autêntica revolta e servi-lo acompanhado de ambiguidade, mistificação, embuste e mentira! O “comércio” (e o resto!) garante o sucesso, embala, põe a marca devidamente publicitada/imposta, distribui prospetos informativos dos “princípios” do produto e inundam os meios de comunicação! O punk não nasceu, pois! Morra o punk, morra! Pim! O punk sofre de diarreia mental/musical! O punk em génio é um farsante, no comportamento é um

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hipócrita, disfarçado e envergonhado de ser ele próprio e em talento é pim-pam-pum! O punk é bum-ba-da-bum, bum-bum! Morra o punk, morra! Pim! O punk nu é horroroso! E ainda por cima, ó horror!, o punk português tem de pior que os outros o ser português e, para cúmulo, via Cascais ou Estoril, Antas ou Foz! O punk português, ó supremo horror!, foi “hippy” em Vilar de Mouros, “rocker” em diversos concertos, “freak” no jazz de Cascais, “beatnick” na boleia, “mood” na praia e nu é horroroso! E senão foi nada disso também para começar, nada é! Apenas a arte (?!) de mal imitar o mau importado! E ainda há quem duvide de que o punk não vale nada e que não sabe nada, e que nem é inteligente, nem decente nem indecente, nem zero! E ainda por cima o punk sente-se como um cavalo de Tróia, só que não vê que não há nem cavalo nem Tróia! O punk é uma fossa mal cheirosa (leia-se: não tem nada a ver com Música) em cima de um vulcão em atividade (leia-se: não tem nada a ver com o rock pois não chega sequer a ser melhor do que o pior rock que no mercado já foi lançado! E dizem os “rabiscadores” do Le Monde que com a “cena punk” o rock “saiu embelezado”! O punk é o escárnio da música! Se o punk é música eu quero ser surdo, já! Morra o punk, morra! Pim! O punk é a nulésima versão de grupos/tipos do estilo de Black Sabbath, Deep Purple, Slade, etc., etc., nos “deram”, se bem que esses grupos ainda tenham tido a sua razão de existir (dentro de uma linha necessária de evolução do rock) e, porque

pronunciado “cansaço”, quer devido às limitações derivadas da sua própria estrutura quer devido à intoxicação efetuada pelos meios de comunicação social. Durante esses períodos, em que “tudo” parece ter terminado, a indústria discográfica não para e , normalmente , recorre à promoção das chamadas “ondas revival”, ondas especialmente propícias ao aparecimento de uma numerosa corte de oportunistas (estudem-se mais detalhadamente estes ciclos da história da pop/rock e interessantes serão as conclusões). Mas claro que o punk não pode fazer esta detour. Nem sequer é capaz de compreender o que realmente digno de um mínimo de atenção trouxe Sex Pistols e muitíssimo poucos mais, quanto mais entender na globalidade a questão! E ainda há quem fale, sem saber, nas “profundas implicações” do chamado “movimento punk”! Morra o punk, morra! Pim! Os coletes, as correntes, os brincos, os medalhões, os alfinetes, as lâminas de barbear, etc., são berliques e berloques de outrora, as bugigangas – o cenário tipificador e tipificante! O punk é um tipo! E a cruz suástica? Para chocar a opinião pública? Como? O medo pelo fascismo ou nazismo é um tigre de papel? A melhor denúncia do que foi o fascismo não será precisamente a luta pela criação das sociedades mais justas e humanas? Mas o punk não percebe nada disto porque não foi inventado para o perceber! O punk nem sequer sabe que só sabe o que quiseram que ele soubesse (o sistema) e nada mais! Morra o punk, morra! Pim! O punk de espontâneo tem apenas o facto de não

não, a sua validade e importância (quanto mais não fosse para exibirem o lado negativo do rock: o seu carácter cíclico, o estafar de formas, etc.), enquanto o punk é o cágado da não-história transformado em caranguejo e com as garras escondidas na areia! E ainda há quem não core quando diz gostar do punk! E ainda há quem compre os discos! Brrr! E quem fale/use vestuário dito punk! Brrr! E quem tenha pena do punk! Morra o punk, morra! Pim! O punk é uma etiqueta dourada com letras pretas e vice-versa (mesmo mudando de cores) que se cola num disco! O punk é uma etiqueta na linha do revivalismo que ciclicamente inunda o mercado. O rock, nas suas múltiplas expressões atingiu sempre, de tempos a tempos, um “certo” e

ser espontâneo! A originalidade do punk enm sequer chega a residir na sua falta de originalidade porque o punk nunca existiu e não passa de uma marca registada pela “Money Music Incorporated”! Que já se cansou e, como tal, para manter os gráficos de vendas em ascenção, já promove as formas “New Wave”, “After punk”...! O Punk é um tarado! O punk é um acidente de percurso! Morra o punk, morra! Pim! PS: Almada Negreiros, nada ofendido por eu ter utilizado um seu texto tão bom com tão fraco defunto, levantou-se da sepultura e gritou: Morra o punk, morra! Pim!


“Tocámos uma sem Wycombe, antes d Sutch. Lembro-me tipos guedelhudos mais tarde, tocáva E via os mesmos t o cabelo curto e co rasgada” John Lydo the Fury

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mana em high da Screaming Lord e dos rostos e de s. E uma semana amos em Nashville. tipos, mas com om uma t-shirt on, The Filth and


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as fanzines Jerry Siegel criou, com 14 anos, aquilo que conhecemos como fanzine. Fruto de uma máquina de escrever, vontade de escrever e desenhar à volta do tema da ficção cientifica, era feita de forma arcaica. Habitualmente criadas de forma manual (a máquina ou à mão), sendo a técnica de impressão baseada nos meios e orçamento (parcos), os fanzines não tinham um número muito grande de reproduções. “Não havia dinheiro para mandar vir de fora... Tínhamos algumas e quando alguém comprava imprimíamos quem não comprava.”, recorda José Cruz. Apesar do começo se ter dado por volta de 1930, os fanzines adquiriram uma comunidade global abrangente com o punk (no Reino Unido e nos Estados Unidos da America) por volta de 1970. Era o local para falar sobre discos, política, criação DIY e sobre o próprio punk (como cultura). “O aparecimento das primeiras fanzines punk em Portugal aparece a partir de finais dos anos 70, na zona de Lisboa. É o caso da fanzine Desordem Total, editada por Nuno Esterco, Luís Bosca e Pedro Merda”, escrevem Pedro Quinta e Paula Guerra – no ambito do projecto KISMIF (Keep It Simple Make It Fast) – no artigo Fanzines Punk em Portugal (1978-2013): uma cronotopia, “e do fanzine Estado de Sítio, editado por Paulo Borges.” A inspiração DIY de recorte e colagem de texto e imagem provém daquilo que é criado internacionalmente. Na temática punk, os primeiros fanzines conhecidos datam de 1976: a Sniffin’ Glue, no Reino Unido, criada por Mark Perry e a Punk, fundada em Nova York por John Holmstrom, Ged Dunn and Legs McNeil.

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a maximum rock n roll e a flipside

A Flipside e a Maximumrocknroll eram revistas fanzines americanas, importantes para o punk, que influenciaram a forma como os projectos DIY de fanzines amadoras eram paginados. A Maximumrocknroll teve início em 1982 e era baseada numa economia não lucrativa (ainda assim cara para portugueses que a pediam do outro lado do Atlântico. A Flipside teve início em 1977, tendo associada uma editora, a Flipside Records em 1978.

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as próximas páginas são fruto de uma recolha sobre o tema, com pesquisa no espólio de portugueses que guardam esta forma de comunicação

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copiar para comunicar vender vestígios visuais do punk “o único princípio que não dificulta o progresso é o vale tudo” Paul Feyerabend

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Porto, 2015


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GNR, material promocional, 1983


poster plano b 2014


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fanzines, punk e designers gráficos

adam ant Nascido em Londres, o músico inglês é responsável pela criação da imagem associada à banda Adam and the Ants, tendo produzido posters e fanzines. Com sete anos, teve problemas por atirar (duas vezes) um tijolo à sala do director da escola que frequentava. Foi então aconselhado pela professora Joanna Saloman a desenvolver as capacidades artísticas. Stuart Goddard viria mais tarde a apontar essa professora como a primeira pessoa a fazê-lo perceber que podia ser uma artisticamente criativo. Frequentou a Horsney College of Art, onde estudou design gráfico, mas desistiu para se dedicar à sua carreira musical. Apresenta, nesta fanzine um estilo muito caótico e recortado.

Adam Ant, 1977

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Barney Bubbles Barney Bubbles

Barney Bubbles


Correio de f達s dos Ramones 1977

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Gee Vaucher 1978 Crass, Feeding of the 5000

Malcom Garret, Trade Test Trasnmissions 1993

Dan Phillips, Ed Colver, Gary Kail Anti, I Don’t Want to Die in Your War 1982

Prag Vec, Existential 1978

Malcom Garret, Orgasm Addict 1977


designer desconhecido, flyer para os Circle Jerks, 1981

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Julia Gorton capa single Teenage Jesus and the Jerks 1978

Gary Panter, poster Screamers

Neville Brody, The Face

JĂşlia Gordon, capa single Teenage Jesus and the Jerks 1978


Neville Brody, The Face

Neville Brody, The Face

Neville Brody, The Face

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Malcom Garret 2


neville brody “Londres sempre foi a minha base, é um sítio que sempre atraiu pessoas criativas”, diz-nos Neville Brody em entrevista para o Design Museum, “O punk foi o que mais me influenciou em Londres.” continua Brody, que estudou durante três anos na London College of Printing (com uma educação mais contida e certa relativamnete a composições tipograficas) “a cena música em Londres era tão vital que existiam concertos independentes, um crescente número de editoras independentes. E se não fosse isso, pessoas como eu, Vaughan Oliver , Al Mcdowell, Peter Saville, Malcom Garret não teriam sobrevivido.”. A revista Face, fundada por Nick Logan foi também importante na continuidade do trabalho de experimentação e liberdade concetual de Brody.

Neville Brody, The Face


poster dead boys

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poster the clash


poster the cramps 64



Terry Jones, 1978 Not Another Punk Book 1

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Terry Jones, 1978 Not Another Punk Book 2

Unzipping The Abstract fanzine 1980

Terry Jones, 1978 Not Another Punk Book 3


e agora? “Para além da internet, as ferramentas digitais à disposição dos designers hoje impedem o desenvolvimento das capacidades para esboçar. Templates e tipografias são abundantes e à distância de um clique. Tesouras, stencils, letrasets, x-actos e pastéis não são necessários – as ferramentas descartadas de uma civilização passada. Estes trabalhos foram criados antes da Adobe, maioritariamente criados à mão. Os desafios dos jovens designers parecem ser insurmountable. Quando Foi a última vez que ficamos espantados com um póster de música ou um flyer criado nos últimos 15 anos? Para mim o período de 1976-82 marca o último grande aparecimento do design gráfico autenticamente criativo. Tal como no rock hoje em dia, vejo designers a usar ou misturar elementos de trabalhos criados há mais de 30 anos atrás e apresentar as suas criações como novas e originais. Infelizmente (ou talvez não) os jovens consumidores não se apercebem estão a ver derivados.” Andrew Krivine, em entrevista para Rebel Rebel Anti-Style

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Eu não sou original, os fanzines não são originais, o punk não é original, o fluxus não era original, o dada não é originalidade. Há muitos anos que nos cansamos e tentamos rasgar o tradicional. A verdade é que a evolução se faz disso mesmo, embora aquilo que pareça ser completamente diferente. “A nova imagem datará tão depressa como as antigas. Talvez daqui a uns cinquenta anos se ache qualquer uma delas típica da sua época sem que isso seja um problema. Não tenham ilusões: a função do trabalho de um designer não é a originalidade absoluta mas produzir algo que se enquadra na sua época. Até o que é considerado um estilo intemporal muda regularmente com os anos. A originalidade absoluta, extrema, interessa a pouquíssima gente.”, escreve Mário Moura no blogue Ressabiator. O sonho do punk nunca foi tão alcançável. A partilha da informação, o sentido de comunidade estão ao alcance de todos a partir a internet. Ainda assim nunca tivemos que nos esforçar tanto para que leiam os textos ou vejam as imagens. O excesso de informação resultou num preguiçar e cansar constante relativamente a novos conteúdos. O punk teve a oportunidade de criar material gráfico para os interessados, sem filtros informativos ou abusos comerciais (exagero, havia publicidade, é possível ver nas revistas. Mas até essa publicidade é interessante). Pretendo que este exercício de pesquisa seja mais visual do que textual. Do fanzine pouco ou nada se fala na história do Design Gráfico. Mesmo do punk, há uma suave conversa sobre Jamie Reid. Mas a massa de papel impresso que se criou passa ao lado de Philip Meggs ou Richard Hollis. Retomando o princípio do texto, o punk não é original, mas fundou novas perspetivas que foram traduzidas para a pop e para o comercial, mudando t-shirts, cabelos, publicações, cartazes, música e a noção do aceitável, razoável e bonito.



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web e bibliografia As 'cenas' punk em Portugal http://www.aps.pt/viii_congresso/VIII_ACTAS/VIII_COM0629.pdf Fanzines punk em Portugal (1978-2013): uma cronotopia http://www.punk.pt/2014/01/17/fanzines-punk-em-portugal-1978-2013uma-cronotopia/ http://www.punk.pt/congresso-3/ Billy News http://billy-news.blogspot.pt/ 4 the kids http://4-thekids.blogspot.pt/ The Ressabiator https://ressabiator.wordpress.com/?s=fan+zine Paula Guerra FLUP http://sigarra.up.pt/flup/pt/func_geral.formview?P_CODIGO=216354 Rude and Reckless: Punk/Post-Punk Graphics, 1976-82 http://www.prweb.com/releases/2011/6/prweb8559713.htm acedido a 10/05/2015 Safety pins and Letraset | Jamie Reid: The Rise of the Pheonix http://www.eyemagazine.com/review/article/safety-pins-and-letraset Dadaism, Jammie Reid and Neville Brody http://liampva.blogspot.pt/2014/01/dadaism-jammie-reid-and-nevillebrody.html Modern Art | Taschen Johannes Baader | Sabine Kriebel Art History Unstuffed | Dr. Jeanne Willette http://www.arthistoryunstuffed.com/comparison-of-dada-andsurrealism/ Design Observer - The Art of Punk and the Punk Aesthetic | Rick Poynor http://designobserver.com/feature/the-art-of-punk-and-the-punkaesthetic/36708/ TATE http://www.tate.org.uk/learn/online-resources/glossary/m/mail-art Rebel Rebel Anti-style http://rebelrebelantistyle.blogspot.pt/2011/07/5-minutes-with-andrewkrivine.html The Art of Punk | Russ Bestley, Alex Ogg Punk: An Aesthetic | Johan Kugelberg, Jon Savage The Encyclopedia of punk | Brian Cogan Stacy Thompson | Punk Productions: Unfinished State


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