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Música Bhaskar, hey mr. DJ
BHASKAR, HEY MR. DJ
Personagem influente no mainstream eletrônico, Bhaskar ascende tal qual o irmão gêmeo, Alok, expandindo sua música para fora do Brasil. Nascido em Goiânia e criado na Chapada dos Veadeiros, é Brasília onde considera o seu lar
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O cenário era a Brasília dos anos 2000. O momento do rock já tinha passado, e a capital vivia uma descoberta de outros sons, com o eletrônico. Foi então que os irmãos gêmeos Bhaskar e Alok, por volta de 16 anos, começaram a se aventurar nas picapes. Até então, nada surpreendente, uma vez que cresceram acompanhando os pais Adriana ‘Ekanta’ e Juarez ‘Swarup’ Petrillo, DJs e idealizadores do Universo Paralello, realizado inicialmente em cenários como a Chapada dos Veadeiros e, mais tarde, em lugares paradisíacos do Nordeste. “Quando estávamos finalizando o Ensino Médio, a carreira de DJ estava acontecendo. Tínhamos várias solicitações para turnê internacional, havia várias músicas nossas nos charts do beatport [site que ranqueia hits de música eletrônica]”, conta Bhaskar, sobre o início da carreira.
Ao completar 18 anos, os irmãos foram se aventurar na Europa. Os primeiros dois meses foram de abundância, mas depois veio um período complicado. Os irmãos tiveram que procurar empregos em outras áreas. “Eu trabalhei de pintor e garçom, o Alok de barman. A gente teve que mudar nosso contexto de vida. Eu pensei: ‘será que a música é isso mesmo?’”, questionou.
Era hora de se reencontrar. O retorno a Brasília foi o desfecho natural. Bhaskar passou anos afastado das picapes. “Precisava ter esse movimento de pausa para entender que era isso mesmo que eu queria. Nossos pais sempre foram DJs e fomos vinculados a uma vida artística. Nesse momento, eu quis viver outra experiência. Mas, no final, eu resolvi atender ao chamado da música”.
A identificação com Brasília se deve aos períodos em que morou na cidade, dos 11 aos 18 e dos 25 aos 30 anos. “Eu até brinco com as pessoas que eu me considero meio a meio. Eu não nego minhas raízes como goiano, mas eu fui criado em Brasília. Toda minha personalidade foi criada pela capital. Eu a tenho como meu lar”, revela.
Caminhos
Enquanto Alok passou a fazer apresentações ao lado de artistas mais populares, Bhaskar optou por se firmar na cena da música eletrônica. As comparações entre os irmãos ficaram para trás. “Para mim, foi bom e foi ruim. Houve essa pressão porque as pessoas perguntavam ‘será que o irmão do Alok vai ser o novo Alok?’, mas ao mesmo tempo abriu muitas portas”, admite.
A pegada de Bhaskar é mais conectada às músicas de baladas da cena eletrônica. O DJ até fez incursões no mainstream, como a remixagem de um hit de Anitta e Silva, além de uma música com o rapper Hungria. Entretanto, o que move Bhaskar é fazer música para a cena de origem. Já o irmão, Alok, rompeu a bolha do gênero e passou a atuar na música popular, com presença frequente em festivais ao lado de artistas de sertanejo e axé, por exemplo. Além das parcerias musicais e dos laços familiares, os gêmeos também estão juntos na gravadora Controvérsia, fundada por Alok, na qual Bhaskar exerce o cargo de A&R (Artistas e Repertório). Trata-se de uma espécie de curadoria para pesquisa de talentos e novos negócios. O DJ resume a relação com o irmão com uma frase curiosa: “Apesar de termos nossos caminhos bem distintos, a Controvérsia nos une”.
Como planos para o futuro, Bhaskar estipula a meta de ser mais conhecido no mercado internacional, já que tem bons resultados no Brasil. A imersão em música eletrônica é tanta que Bhaskar escuta o gênero em 90% do tempo. Como referências, o DJ elenca os trabalhos de Zoo, Sofi Tukker e Rufus. De vez em quando, os fones de ouvido tocam MPB, hip hop e trap.
Fotos: Filipe Miranda
Momento
Bhaskar se considera um cara de família e passa bastante tempo em casa, mas sabe que é o momento de se dedicar ao trabalho. O DJ tem turnês agendadas em março e maio nos Estados Unidos, temporadas de semanas a milhares de quilômetros da família.
A carreira musical de Bhaskar dá sinais de consolidação nos últimos anos. Apenas em 2021, mais de 21 milhões de pessoas ouviram suas músicas no Spotify. O canal no Youtube tem hoje 47 milhões de visualizações e 235 mil inscritos. Ao mesmo tempo que os negó-
Foto: Filipe Miranda
Além de músico, Bhaskar tornou-se empresário e, nas horas livres, refugia-se em casa com a mulher e o filho
cios vão bem e o foco é o trabalho, o DJ encontra tempo para ficar com a mulher, Carol Cola, e o filho Gaian, de 2 anos e 8 meses, além de andar de skate.
Em Brasília, é sócio do gastrobar Mezanino, na Torre de TV, seu primeiro projeto que não está diretamente relacionado à música. “Eu sou sócio da Evvo, que agencia vários artistas da música eletrônica. Era um trabalho que estava dentro da minha zona de conforto. Eu ajudava a aplicar os acertos da minha carreira com outros artistas, mas o Mezanino foi uma experiência totalmente nova que estamos adorando”, garante.
A intenção foi fazer um espaço que reunisse música e arte, com comida e bebida de qualidade. As inspirações vieram das experiências individuais dos participantes da empreitada. “Eu, que viajo muito, conheço restaurantes e esse é um dos meus maiores prazeres. Às vezes eu até prefiro ir jantar, comer muito bem, beber muito bem, do que ir para uma festa”, confessa.
A decisão de se mudar para São Paulo, há seis meses, ocorreu depois de um período muito produtivo para ele no Distrito Federal. Bhaskar começou a fazer sucesso em 2016, ainda morando na capital. No ano de 2018, veio uma sociedade com a R2 Produções, que rendeu bons frutos em eventos, maior visibilidade e um leque maior de contatos comerciais.
A pandemia foi um momento de aprender a capitalizar de outras formas e entendeu que os músicos também precisam entender da parte empresarial. Antes de 2020, o DJ nunca teve um patrocínio e foi aí que a cerveja Becks entrou para dar força às lives. Agora que os eventos estão voltando, as portas que foram abertas nos últimos anos continuam escancaradas.