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Doutrina Histórias trançadas

Fotos: Fernando Siqueira Museu Judaico, uma nova matriz com princípios de diversidade, resistência e atualidade. Um espaço para manter vivas memórias e tradições num diálogo com a cultura brasileira e a arte contemporânea

Museu Judaico de São Paulo

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HISTÓRIAS TRANÇADAS

Por Paula Santana

Foram vinte anos de planejamento, fruto de uma mobilização entre a sociedade civil. Revitalização, restauração, modernização e se fez o Museu Judaico de São Paulo, recém-inaugurado, no antigo prédio do templo Beth-EL, uma das sinagogas mais antigas da cidade, no bairro da Bela Vista. Um reconhecido presente para a comunidade judaica, que tem presença em solo brasileiro desde o século XVI.

Com narrativas diversas, o local trata da história de um povo com trajetória milenar ligada também à força da comunidade em Recife e ao judaísmo amazônico, exemplos de reverberações locais que, por mais que se diferenciaram em alguns pontos ao longo dos séculos, compartilham a mesma originalidade.

Ao mesmo tempo, há o incentivo de produções artísticas contemporâneas ao promover o diálogo profícuo da cultura brasileira e da arte contemporânea. É um museu conectado a seu tempo, mas que reverencia o memorial histórico – como um talit com mais de 150 anos e talheres vindos de um campo de concentração, além de numerosos documentos e objetos – junto às produções atuais.

Teresita, Alex Cerveny Timbuktu, Alex Cerveny

Fotos: Divulgação

Rolo com oval de porcelana branca, Anna Bella Geiger

Livro Socorro 1, Hilal Sami Hilal

O museu abriu com quatro exposições simultâneas: A vida judaica e Judeus no Brasil: histórias traçadas, ambas de longa duranção; e Inquisição e cristãos novos no Brasil e Da letra à palavra, em cartaz até o dia 28 de março. Elas contemplam o schedule do espaço, que tem à frente do projeto o presidente Sergio Simon, o diretor executivo Felipe Arruda e, na curadoria, a pesquisadora e crítica Ilana Feldman, além do grupo de voluntários que construiu a instituição.

Segundo a curadora, o museu “não é apenas lugar de preservação e difusão, mas de produção de conhecimento e experiências, em conexão com o tempo presente”. Além de quatro andares expositivos, há uma biblioteca com mais de mil livros para consulta e um café com comidas judaicas.

O Centro de Memória do MUJ é uma atração expressiva. Oriundo do espólio do antigo Arquivo Histórico Judaico Brasileiro, foram coletados documentos raros sobre a comunidade judaica no Brasil no âmbito narrativo, proporcionando o acesso atual a documentos que ajudam pessoas a compreenderem suas relações genealógicas. São mais de 20 mil livros (8 mil em íidiche), 100 mil fotos, 400 depoimentos de história oral, um milhão de documentos, periódicos e outros registros que versam sobre os imigrantes, as instituições, a cultura e a contribuição à sociedade brasileira. Tal gesto possibilita uma história viva que redescobre, na atualidade, gerações e elos até então perdidos.

“Concebemos o Museu Judaico de São Paulo como um espaço de visões plurais sobre o judaísmo, apresentado como um complexo sistema cultural e identitário, que está sempre se reinventando. A partir da experiência judaica, o MUJ reflete sobre o tempo presente e cria tranças com a diversidade cultural do contexto brasileiro, acionando debates sobre preconceito, intolerância e outras questões sociais e políticas urgentes”, afirma Felipe Arruda.

@museujudaicosp

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