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Artigo O estúpido e a manada
Nelson Wilians
Empreendedor e advogado
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O ESTÚPIDO E A MANADA
No ano de 2022 temos eleições, o que me faz recordar uma frase do primeiro-ministro inglês Winston Churchill: “A diferença entre os humanos e os animais é que os últimos nunca permitem que um estúpido lidere a manada”.
As pesquisas eleitorais continuam a apontar uma polarização entre esquerda e direita, que, diga-se, fornece até aqui uma âncora para a tomada de decisões políticas de parte do eleitorado, na ausência de apego partidário.
No livro O Mito do Eleitor Racional, o economista americano Bryan Douglas Caplan faz reflexões sobre o comportamento do eleitor. Em síntese, ele diz que o maior obstáculo para uma política econômica sólida não são os interesses especiais arraigados ou o lobby desenfreado, mas os equívocos populares, as crenças irracionais e os preconceitos pessoais dos eleitores comuns.
Caplan argumenta que os eleitores elegem continuamente políticos que compartilham seus preconceitos ou fingem fazê-lo, resultando em políticas ruins, que vencem repetidas vezes pela demanda popular. Extremamente provocativo, ele afirma ainda que a democracia falha precisamente porque faz o que os eleitores querem. Discordo em parte, até porque o direito de votar e determinar quem irá deter o poder político é fundamental e protegido por todas as democracias. A nossa Constituição de 1988, por exemplo, além da inclusão do voto em vários casos, como para Presidente da República, assegurou o atual regime político (“Todo o poder emana do povo, que o exerce por meio de representantes eleitos ou diretamente, nos termos desta Constituição”).
Até este momento, dois candidatos imensamente conhecidos (Lula e Bolsonaro) continuam a manter acesas “as crenças irracionais e os preconceitos pessoais dos eleitores comuns”.
Esse posicionamento vai ao encontro do pensamento do sociólogo e cientista político italiano Giovanni Sartori, que entende que “a competição eleitoral não garante a qualidade dos resultados, apenas seu caráter democrático”.
Porém, tudo está dentro do jogo democrático. A democracia política é, sem dúvida, condição indispensável para a conquista das democracias social e econômica. Mas o regime democrático, como é sabido, é caracterizado não apenas pelo aspecto representativo, mas por ser um sistema de expectativas.
Nem sempre a democracia “quantitativa é qualitativa”, mas, em tese, o esforço é escolher sempre aquele que irá agir no melhor interesse da nação.
Retornando às eleições de outubro, duas figuras extremamente divisivas predominam no cenário político nacional. Até aqui, a eleição sinaliza a despedida do poder para um e o retorno de outro.
Mas tudo pode mudar no inconstante cenário eleitoral.
Há ainda um tempo, um precioso tempo para que se manifestem milhões de brasileiros, que torcem para que a esquerda e a direita percam, pois não se alinham a essa “identidade social” e aos seus eixos econômicos e socioculturais.
Lula e Bolsonaro carregam um enorme fardo emocional e psicológico, são extremamente dependentes de seus eleitores fiéis e fortemente rejeitados pelos outros. E, ainda, parecem incapazes de satisfazer a uma cidadania mais crítica, distante do engajamento político institucional e do ativismo partidário.
Essa parte do eleitorado, desconfiada, permanece silenciosa.
E pensar que esse eleitorado, independente e cansado da polarização, está apenas esperando o afago de outra opção identificada com o centro é puro engano. Eleitores “moderados” não formam um bloco homogêneo. Eles são complicados, têm pouco em comum e são ideologicamente diversos, não havendo, portanto, um posicionamento simples que agrade a todos.