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Décor A soma perfeita
A SOMA PERFEITA
Cada um compõe a sua história, mas, quando atuam juntos, o resultado se torna uma empolgante contradição. Mariana Jardim e Gilson Freire são robustos no conceito, leves na execução
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Por Giovanna Pereira
Brasília é encontro. A união de caminhos e histórias. Desde sempre foi assim. Do sonho que reuniu homens e mulheres de todo o País para construção de uma nova capital até hoje, quando amigos de escola se reencontram para contribuir com a cidade que os acolheu.
A história dos arquitetos Mariana Jardim e Gilson Freire é essa. Ambos se conheciam de outros carnavais, até que Brasília os uniu profissionalmente anos mais tarde. Nascidos no Rio de Janeiro, ele na capital do estado e ela, em Niterói, vieram para a cidade da República ainda na infância, aqui ficaram e se apaixonaram por este museu aberto. Cada um seguiu seu caminho, mas logo no ensino médio se conheceram.
“Foi na escola, durante a época do Marista, que nos esbarramos pela primeira vez”, lembra Mariana. Por entre os corredores, durante as lições de Matemática e de Artes, na fala dos professores que lhes ensinavam que a criatividade é transformadora, a todo instante, desde cedo, os interesses de ambos convergiam. “Criamos um laço sincero de amizade e, quando a vida sorriu, nos encontramos novamente já formados para trabalhar juntos”, brincou.
Entretanto, chegar até aqui, o caminho, para Mariana não foi tão simples. Tornar-se arquiteta foi uma enorme transformação. “Em 1991 fiz vestibular para Arquitetura, não passei em Brasília, apenas em Belo Horizonte. Como em minha família muitos são juristas, meu pai me sugeriu fazer uma universidade particular de Direito para ficar na cidade”, conta. “Foi um período infeliz”, completa. O caminho jurídico a levou a ganhar uma bolsa de estudos na Espanha. “Quando cheguei lá, maravilhada com o que via, veio a pergunta: é isso mesmo que eu quero para mim? Definitivamente não era”.
De volta ao Brasil, Mariana engravidou pela primeira vez e foi a grande chance da virada. Era hora de recomeçar. Matriculou-se em Arquitetura e Design. Entre idas e vindas, com uma rotina sempre muito exigente, ela conseguiu, finalmente, em 2018, formar-se. Sua atuação aos poucos foi crescendo, começou projetando quartinhos de bebê e, assim, sua empresa prosperou na capital e projetos importantes entraram no portfólio.
Paralelamente a essa história, caminhou a jornada do arquiteto Gilson Freire. Formado em Arquitetura pela Universidade de Brasília (UnB), desde 1998 ele atua na capital. “Assim que me formei, trabalhei em grandes escritórios da cidade, com nomes importantes da arquitetura local. Também me aproximei da engenharia, acompanhei projetos de obras grandes na cidade”, conta.
Músico, Gilson não mede as palavras ao contar que cada projeto deve “pulsar, ser inspirador e empolgante, se não for assim não vale a pena”. Em 2003, o arquiteto abriu seu próprio escritório e, desde então, escreve partituras visuais em diferentes escalas, desde a residencial até a urbana, com projetos em maior escala. Mas a lição que Gilson leva da arquitetura é a que ela “nos permite, enquanto profissionais, trocas riquíssimas com o meio, com o outro e com nós mesmos”.
Foto: João P. Teles Os arquitetos Gilson Freire e Mariana Jardim
Casa Ipê: a dupla criou um ambiente em homenagem à GPS|Foundation na CasaCor 2021
Fotos: Cláusen Bonifácio
A simplicidade e a força dos ipês
Enquanto a poesia de Mariana está na paixão de encontrar-se, em olhar para o detalhe e realizar sonhos, Gilson arquiteta cada etapa do projeto com maestria. Foi reconhecendo essa harmonia de contrários que a dupla de arquitetos se uniu para criar um ambiente na 29ª edição da CasaCor Brasília, que homenageou o trabalho realizado pela GPS|Foundation. Na Casa Ipê, o trabalho de ambos foi exaltado em um ambiente robusto em conceito e execução leve. “Inicialmente, havíamos pensado em um projeto mais glamoroso, seguindo a identidade do grupo GPS, mais voltada para o lifestyle. Mas, então, adaptamos para a proposta que homenageia o lado social”, explicou a arquiteta e designer. “A partir disso, pensamos em um conceito que pudesse amarrar nossas ideias visuais e o trabalho realizado pela entidade. Buscamos nos ipês essa inspiração. Voltamos nosso olhar para Brasília e para a beleza do Cerrado”, completou Freire. No ambiente, um mobiliário contemporâneo com toque de rusticidade e brasilidade. Elementos naturais, como painéis de madeira e iluminação cênica, além disso, o projeto usou materiais de cunho ecológico no piso, aplicados na entrada. “O olhar para a sustentabilidade, exigência da edição da feira de 2021, muito nos alegrou”, disse Mariana.
A Casa Ipê convidou a todos para circularem em um espaço de eventos, onde os arquitetos propuseram, assim, um ambiente sem recortes. “Criamos um projeto leve, com um mood tranquilo e convidativo, como é o carinho e o jeitinho de Brasília”, disseram.
Com aproximadamente 90m², o espaço na mostra inspirou-se na força dessa árvore tão característica da cidade, que, mesmo em situações adversas, tem sua floração. As diferentes flores da espécie foram representadas nas cores alegres do ambiente.
Um dos destaques foi aplicação de tecido no teto, que remete à formação de nuvens no céu da capital.
Em uma união de amizade, profissão e missão, Gilson diz sem titubear: “Eu e Mari somos uma soma perfeita. Ela é detalhista, carinhosa e cuidadosa com o lado humano do projeto. Eu olho para o material, para a escala e percurso de execução. O olhar para o macro e para o micro”. Mariana logo finaliza dizendo que “por mais trabalhoso que seja um projeto, por mais enlouquecedor, tudo vale a pena se fazemos comprometidos com o conceito e com a vontade de uma entrega de excelência. A casa Ipê foi isso”.
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