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Leitura A diferença entre vitoriosos e fracassados
Recurso para se fortalecer da fragilidade provocada pela pandemia, há dois anos o livro Mais Esperto que o Diabo é best seller no Brasil. O autor Napoleon Hill discorre sobre os medos que o dito cujo imprime na mente humana
Fotos: Divulgação
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A DIFERENÇA ENTRE VITORIOSOS E FRACASSADOS
Por Morillo Carvalho
“Um dos mais astutos instrumentos que uso para o controle da mente humana é o medo. Planto a semente do medo nas mentes das pessoas e, conforme essas sementes germinam e crescem, pelo uso contínuo dos pensamentos negativos, controlo o espaço que elas ocupam. Os seis medos mais efetivos são o medo da pobreza, da crítica, da perda da saúde, da perda do amor, da velhice e da morte”.
Palavras do diabo, a quem me referirei com inicial minúscula por não conseguir me livrar do dogmatismo cristão nem mesmo no campo profissional. Mas, sim, cada frase foi proferida pelo dito cujo a Napoleon Hill, autor estadunidense que, na década de 1930, esteve com ele, o próprio, transformando suas palavras em livro que, agora, em 2022, comemora dois anos seguidos como o maior best seller do Brasil.
O autor era daquelas pessoas que têm o que se costuma chamar de faro para o dinheiro. O que tocava transformava-se em ouro, em qualquer ocupação que resolvesse ter. No entanto, após algum tempo em cada uma das profissões que exerceu, e foram muitas, entrava num ciclo de tédio e desânimo que o levava a desistir. Por vezes, abrindo mão também das fortunas que ia acumulando.
Essa inquietude levou Hill a procurar respostas que o tirassem deste círculo vicioso que alternava prosperidade e penúria, e uma das missões que assumiu para si foi entrevistar Andrew Carnegie. À época, o escocês radicado nos Estados Unidos era um dos homens mais ricos do mundo, industriário, chamado de Rei do Aço. Queria compreender, conhecendo os seres humanos mais bem-sucedidos, o que os levara ao sucesso. Foi quando ouviu o desafio de Carnegie: que não se dedicasse a conhecer apenas as mentes dos milionários, mas também a dos fracassados. Que entrevistasse centenas, milhares de pessoas, num trabalho que duraria décadas, para desenvolver uma filosofia de realização prática, e que desse o insumo para que outras a conhecessem e passassem a, também, deixar o círculo de derrotas. A partir dessa busca nasceu Mais Esperto Que o Diabo.
Na imersão por ir ao encontro de vitoriosos e fracassados, Napoleon encontrou-se com um dos seres mais bem-sucedidos da História do mundo: o capiroto. Segundo o ser das trevas, 98% da humanidade estaria sob seu controle, pois teria implantado toda a noção derrotista diante da vida. “Planto esses medos nas mentes das pessoas de forma tão inexorável que elas acreditam que são a sua própria criação. Realizo essa tarefa, fazendo com que as pessoas acreditem que eu estou lá, esperando-as no portão de entrada da próxima vida, esperando para julgá-las e puni-las por toda a eternidade. É claro que não posso punir ninguém, exceto na própria mente dessa pessoa, por meio de alguma forma de medo – mas medo daquilo que não existe é tão útil para mim quanto o medo daquilo que existe. Todas as formas de medo ampliam o espaço que ocupo na mente humana”, revelou.
O livro, portanto, é uma arma para combater aquilo que o mundo ocidental convencionou, por sua tradição judaico-cristã, chamar de diabo. E entrega as ferramentas para que seja possível vencê-lo, sem a necessidade de unir-se ao próprio, contrariando a máxima norte-americana sobre inimigos, segundo a qual, “se não pode derrotá-los, junte-se a eles”. E se, num tempo de medo de algo que existe – o coronavírus – o cão fez a festa, é bem provável que esteja bem triste em saber que muita gente optou por enfrentá-lo ao escolher pela leitura de um livro que entrega as ferramentas para tal.
O editor da versão brasileira, líder de vendas em 2020 e 2021, Marcial Conte Jr, credita o sucesso das palavras de Hill a uma missão – já que ele é considerado o pai da literatura de desenvolvimento pessoal, ou autoajuda. “O propósito era trabalhar com desenvolvimento pessoal. Colocar em prática a filosofia do sucesso era colocar em prática as regras de ouro”, revela Conte.
Nesse percurso de crises existenciais de Napoleon, em 1937, um ano antes de encontrar o sucesso quando escreveu este livro, houve o fundo de um poço. “Ele foi acabar morando no sótão da casa de parentes, no oeste da Virgínia. E dizia pra si: como eu, que fiz as maiores entrevistas com os homens de maior sucesso, e descobri as causas do sucesso e do fracasso, como é que eu posso estar numa situação dessa? Ele não conseguia se olhar no espelho”, detalha. Depressão, juras de morte e proximidade da loucura foram as consequências deste processo. E foi quando ele teve essa epifania. “Foi quando decodificou a mente do diabo e descobriu como ele faz pra sabotar a mente e a vida das pessoas. É quando ele tem a revelação de que o diabo não é uma criatura de rabo pontudo e cara feia e sim a parte negativa de tudo, está presente no átomo. E você tem a opção de vibrar negativo ou vibrar positivo”, destaca o editor brasileiro.
Se contarmos mais do que isso, estragaremos toda a graça e a surpresa da leitura. Então tomemos como exemplo a jornada do nosso conterrâneo: seguindo os passos de Napoleon Hill, o editor brasileiro deu uma virada radical na própria vida. De empresário da área de saúde, viu no texto a possibilidade de abrir uma editora para criar a edição brasileira. Nas prateleiras das livrarias desde 2014, sempre com boas vendas, o best seller atingiu os ápices nos anos pandêmicos. “Esse livro eu comprei numa viagem. Cheguei no Brasil e quis dar de presente para um tio, mas não tinha esse livro aqui. Aí mandei um e-mail para a fundação Napoleon Hill, que me informou que não existia tradução em português do Brasil. Fiz contato com um grupo de investidores e montei a editora para o livro. E hoje a Citadel tem 230 títulos lançados e, este ano, lança mais cem títulos”, conta.
Uma coisa é certa: se quer ter sucesso, melhor seguir o exemplo dos que já o encontraram...
O autor norte-americano Napoleon Hill, na década de 30
Mais Esperto Que o Diabo Editora Citadel, 208 páginas Preço médio: R$ 20