Revista GPS Brasília 28

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Athos Bulcão página 20

ANO 9 « Nº 28 « 2020

Clarice Lispector página 82

Carla Amorim página 116

Esber Hajli página 120

O QUE VEM A SEGUIR... Como crianças num fluxo de amor, o momento sugere cuidar do outro, transcender fronteiras e nos colocar a serviço da esperança 10-12_revistaGPS-ed28.indd 1

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Diretora de Conteúdo Paula Santana Editora-chefe Marcella Oliveira Editora de Criação Chica Magalhães Diagramação Vanessa Kassabian Fotografia Celso Junior e Luara Baggi Produção Executiva Karine Moreira Lima Pesquisa de Imagens Enaile Nunes Reportagem Carolina Cardoso, Daniel Cardozo, Giovanna Pereira, Larissa Duarte, Marina Adorno, Nathália Borgo, Paulo Pimenta e Theodora Zaccara Colaboradores Bruno Aguiar, Bruno Cavalcanti, Edinho Magalhães, Gustavo Breder, Isadora Campos, Marcus Barozzi, Maria Thereza Laudares, Mário Rosa, Maurício Lima e Patrícia Justino Revisão Jorge Avelino de Souza Diretor Executivo Rafael Badra Diretor de Relacionamento Guilherme Siqueira Gerente Comercial Will Madson

GPSIBRASÍLIA EDITORA LTDA www.gpslifetime.com.br SÓCIOS-DIRETORES

Contato Publicitário José Roberto Silva

RAFAEL BADRA PAULA SANTANA

Tiragem 30 mil exemplares

SHIN CA 04 Bloco A lojas 147/148 Shopping Iguatemi Brasília Lago Norte – Brasília (DF) CEP: 71.503-504 Tel.: (61) 3364-4512 | (61) 3963-9003

Circulação e Distribuição EDPRESS Transporte e Logística 8 « GPSLifetime

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EQUIPE

Chica Magalhães

Marcella Oliveira

Karine Moreira Lima

Celso Junior

Marina Adorno

Luara Baggi

Theodora Zaccara

Enaile Nunes

Gustavo Breder

Giovanna Pereira

COLABORADORES

Vanessa Kassabian

Carolina Cardoso

Daniel Cardozo

Larissa Duarte

Nathália Borgo

Paulo Pimenta

Bruno Cavalcanti

Bruno Aguiar

Marcus Barozzi

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ANO 9 – Nº 28 – OUT-NOV-DEZ/2020

As crianças Maria Isabel Campos Palhares e Paulo Henrique Bittar Roriz foram fotografadas por Celso Junior no Clube de Golfe de Brasília

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SERÁ QUE É ATHOS? SIM, É UM ATHOS

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A SUTILEZA DO CONCRETO ARMADO O charme dos prédios do Plano Piloto

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REFORMA ADMINISTRATIVA: É BOM PRA QUEM? As mudanças em discussão no Congresso Nacional

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ESSE NOSSO CHÃO Terracap acelera regularização fundiária

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GESTÃO HUMANIZADA

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CARROS EM STREAMING Felipe Cardoso moderniza a Nara Mitsubishi

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ARTIGO POR RODRIGO DA COSTA MARQUES

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O deputado fala sobre a organização da cidade

A VELOCIDADE DA SUPERAÇÃO O crescimento de vendas do Grupo Smaff

Entrevista com Chico Maia, presidente da Fecomércio-DF

ARTIGO POR ROBÉRIO NEGREIROS

UM ENORME QUEBRA-CABEÇAS Higino França e a criatividade à frente da Casa da Moldura

NEW GENERATION A criativa Agência MENTHA

AMOR NO CORAÇÃO Fausto Stauffer se destaca pela medicina humanizada

O 13o salário em tempos de pandemia

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MODA EM MOLDES Senac-DF se reinventa nas plataformas digitais

NA ARIDEZ, O FORTE DA ARTE CCBB Brasília celebra 20 anos

ARTIGO POR EDINHO MAGALHÃES Política na pandemia ou pandemia na política?

Além dos azulejos, as criações de Athos Bulcão

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ARTIGO POR RAFAELLA MELO A estética a favor das varizes

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MEDICINA, ESTUDO ETERNO

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MUITO MENOS QUE MAIS

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PAPO DE CINEMA

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NO AR!

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PARA CLARICE LISPECTOR

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ARTIGO POR MÁRIO ROSA

A expertise do ortopedista Rodrigo Lima O pagode brasiliense do grupo Menos é Mais René Sampaio e sua Brasília cinematográfica Os 70 anos da televisão brasileira O centenário da inesquecível escritora O homem frágil pelo olhar do escritor

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CAFE IS COOL

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NOBREZA INGLESA, CALOR BRASILEIRO

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Hypado, o Cafe de La Musique chega à capital The Queen’s Place Greenhouse e seu charme londrino

106 SLOW LIFE

Editorial de moda apresenta marcas brasilienses

116 CARLA AMORIM, O BRILHO QUE ILUMINA CAMINHOS

A designer brasiliense conta sua trajetória

120 UM NEGÓCIO APAIXONANTE

A gestão de Esber Hajli à frente da 7 for All Mankind

124 TETÊ COM ESTILO POR MARIA THEREZA LAUDARES A retrospectiva de Gabrielle Chanel

126 MODA: NEGÓCIO E PAIXÃO

Louback Jacoby inaugura terceiro empreendimento

128 ENTRE NÓS POR PATRÍCIA JUSTINO As novidades da temporada132

132 TRADIÇÃO E MODERNIDADE História e DNA nos 25 anos da Grifith

ÁGUA IN BOCA

O sabor italiano do Totti Cucina

144 ENTRE O SONHO E A REALIDADE Cartela de tons contribui para o bem-estar

O QUE VEM A SEGUIR...

O futuro dos filhos da pandemia

100 A ESCOLA DO FUTURO É...

Os desafios do ensino na pandemia

104 ÍCONES POR ISADORA CAMPOS A geração SARS-COV

146 A DIVISA DE CONCRETO Modernista, os cobogós ainda estão na moda

147 FORMAÇÕES ROCHOSAS As infinitas possibilidades das pedras no décor

148 ARTE POR MAURÍCIO LIMA

Eduardo Coimbra, a materialização do vazio

150 SENTIR ANTES, ENTENDER DEPOIS

Pinacoteca traz exposição inédita dos artistas OSGEMEOS

154 MULHERES NO SINGULAR A catarse feminina na SP-FOTO

158 OBRAS-PRIMAS EXCLUSIVAS

Clássicas hospedagens em Genebra e Madrid

160 EXPLORA POR MARCELLA OLIVEIRA Os sabores da América Latina

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162 OBSERVAI ATENTAMENTE AS AVES DO CÉU

Ed Ferreira registra o encanto dos pássaros

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EDITORIAL

SEJA REALISTA, ACREDITE EM MILAGRES

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uantas indagações 2020 nos deixou? E quantas respostas concretas conseguimos obter? Saímos do discurso para a permanência da ação? Esse discernimento é muito pessoal. Mas se encerrarmos este ano com o entendimento de que 2020 nos tornou mais humanos, então arrisco dizer que sim, os nove meses de pandemia trouxeram um sentido para as nossas vidas. No marketing fala-se muito no agir a partir das “dores” do cliente. É um termo comum no segmento. Então, ter sobrevivido pode-se considerar uma grande vitória. Mas você tem dito “obrigado por existir“ todos os dias? Ou sua rotina tem sido de murmúrios e praguejos? Qual a vacina necessária para a sua cura interior? A do julgamento, da inveja, do ressentimento, do medo? São as “dores” da alma. Sobre aliviar a nossa existência, a Carta Encíclica Laudato Si’ do papa Francisco provoca uma reflexão: “Os desertos externos estão crescendo no mundo porque os desertos internos se tornaram tão vastos”. Verdade, nos tornarmos uma máquina de estímulos dentro de um sistema de tentações. Quem são os ídolos da contemporaneidade? Deus deveria ser o único, ele é o criador. Mas existe a concorrência... a tecnologia, o dinheiro, a ciência. Mas olha, quisemos controlar a natureza e perdemos controle do natural da vida. E agora? Bem, eu diria que o agora é a hora de eliminar as fronteiras que nos polarizam, dar as mãos e nos colocar a serviço da esperança e não do medo. O medo paralisa. A esperança nos move.

Um desses filminhos que circulam nas redes traz uma mensagem muito linda. Um pai ensinando História para as filhas buscava a explicação para Civilização. E a antropologia definiu: ser civilizado é ser cuidado pelo coletivo. Que coisa mais densa, simples e bela. E aí podemos ir mais longe nesse pensamento. E se trocarmos a palavra ajudar – que tanto enchemos o peito para falar deste nobre gesto que esconde um pouco da nossa miséria humana, a soberba – por cuidar? Vai fazer toda a diferença. Porque é perene. E, assim, nesse movimento civilizatório de amor, criamos laços de confiança. E, cuidando uns dos outros, sabendo que não estamos sozinhos, alcançamos a leveza. Que delícia ser leve! E esta edição propõe o despertar de um novo pensamento. Ao vermos a suavidade e a presteza do voo de um pássaro, ao reverenciarmos aqueles que merecem nossa admiração por suas obras em vida, ao deixarmos que arte e moda nos proponham um olhar mais contundente sobre a realidade. Também ao abrirmos nossas mentes para os detentores do saber sobre a condução de nossas atribuições cotidianas. Mas a capa, o que são aquelas duas crianças com aqueles doces olhares questionativos, sentadinhas entre o verde exuberante e a terra rude? Eles são o que vem a seguir. Os que nasceram neste novo formato de subsistência ainda indefinido. De prosseguimento. Mas que podem amenizar este mundo de contrastes. Temos hoje, aqui, agora, a chance de fazermos de novo, e melhor. Porque somos os espelhos destas crianças. Qual a responsabilidade planetária que elas carregarão? O futuro da humanidade depende apenas de indivíduos. Deus já fez a parte dele. E encerro, concluindo que, diante de tantas perguntas, e assolados por este presente suspenso, sejamos provavelmente personagens protagonistas da literatura de Guimarães Rosa, transcorrendo a trilha da nossa aridez física, mental e espiritual. Mas este mesmo gênio da literatura, que nos alerta em o quanto viver é perigoso, também profetiza: seja realista, acredite em milagres! Com amor, esperança e coragem, Paula Santana, Rafael Badra e equipe GPS

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TOMBAMENTO

ELE DIZIA TER A SORTE DE GANHAR UMA CIDADE INTEIRA PARA EMBELEZAR. BEM ALÉM DOS AZULEJOS, ATHOS BULCÃO FOI UM GENIAL MESTRE NO MANUSEIO DE CORES E FORMAS QUE CRIAM LUZ NA RIGIDEZ DO CONCRETO POR PAULA SANTANA

SERÁ QUE É ATHOS?

SIM,

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Foto: Celso Junior

Painel do Congresso Nacional

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thos era muito tímido na infância, quase não saía de casa. Sua maneira de se expressar vinha muito por meio dos desenhos, mas que passaram despercebido pela família. Especialmente pelas irmãs adolescentes, Mariazinha e Dalila, que assumiram sua criação após a morte da mãe, Antonieta. Tudo isso aconteceu no Rio de Janeiro, numa ampla casa em Teresópolis. O pai, Fortunato, era um bom homem, viúvo provedor dos filhos, amigo e sócio de Monteiro Lobato. GPSLifetime « 21

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RETRANCA

Cine Brasília Foto: Celso Junior

Essa breve narrativa sobre um dos maiores artistas brasileiros faz todo sentido atualmente, ao vermos suas obras sempre amplas e escancaradas para o público. No seu universo de introspecção, fantasia e realidade podiam tornar-se um só movimento. E como Athos floresceu com o Modernismo, o desabrochar de sua arte veio de modo catártico, quando entendeu que estava diante de uma temporada de subjetividade, de ruptura de padrões e, sobretudo, de uma imensa permissão para a liberdade expressiva. Seu enlace com a arte veio de modo despretensioso, ao acaso, como dizem os biógrafos. Até porque, além da presença literária em casa, suas irmãs sempre o levaram para passeios em salões de arte, óperas, espetáculos teatrais. Na juventude, época em que abandonou o curso de Medicina para estudar arte, conviveu com jornalistas, escritores e poetas, artistas, músicos, arquitetos e grupos de intelectuais cariocas. Os amigos o apresentaram a Portinari, com quem trabalhou como assistente no Mural de São Francisco de Assis na Pampulha e aprendeu muitas lições importantes sobre desenhos e cores. “Arte é cosa mentale”, dizia, citando Leonardo da Vinci. Oscar Nie-

meyer entrou em sua vida aos trinta e poucos anos. Mas foi na década seguinte, 1957, que desembarcou para sempre em Brasília. Athos foi um dos geniais que se fazem presentes na história da capital federal. Sua generosidade lhe cabia ao criar especialmente para cada projeto. Arquiteto e artista se debruçavam juntos. Pensavam elementos visuais, enquanto equacionavam questões funcionais de espaço diante da monumentalidade de suas obras. Athos não acreditava em inspiração. Planejava absolutamente tudo, inclusive a estética desprogramada de seus painéis de azulejos. “O artista tem que saber o que quer fazer”. Bem disse ele, uma vez que consagrou seu legado ao público em geral, que sua arte não cabia tão somente em museus. A dinâmica de um belo dialogar de painéis e esculturas com paredes e prédios. Um retroalimento entre obra e urbanismo. Na rua, exposta pela cidade, dando cor, luz e forma ao concreto armado. Simples assim. Como pensar Brasília sem a alegria da obra resoluta, leve e contundente de Athos Bulcão? Athos foi um dos poucos artistas da geração que construiu Brasília que a elegeu como morada fixa.

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Foto: Cortesia/Fundathos

A notoriedade não lhe tirou a timidez totalmente. Aos poucos foi se recolhendo. Em 1991, iniciou tratamento contra o Mal de Parkinson no Hospital Sarah Kubitschek. Faleceu em 2008, aos 90 anos. Quando Brasília era a pauta da prosa, ele dizia sobre a sorte que teve de encontrar uma cidade inteira para embelezar. E emendava com sua célebre frase: “Artista eu sou, pioneiro eu me fiz”. Em Brasília, a secretaria de Turismo criou roteiro especialmente dirigido para o inventário da obra de Athos Bulcão, editado pelo Instituto do Patrimônio

Palácio do Jaburu

Fotos: Edgard César

Palácio do Itamaraty

Histórico e Artístico Nacional. São dezenas de painéis dispostos em órgãos públicos, prédios, escolas, hospitais, hotéis e residências. Nesta matéria trazemos o além-azulejo. Athos escancaradamente presente sob nossos olhos, e muitas vezes passamos por tanta riqueza sem nos darmos conta. “Será que é Athos? Sim é um Athos”. @seturdf @fundathos

Prismas do Teatro Nacional

Foto: Celso Junior

Biblioteca do Ministério da Saúde

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HERANÇA

A SUTILEZA DO CONCRETO ARMADO

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POR CAROLINA CARDOSO

H

istórias sobre Brasília não param de surgir e nas entrelinhas sempre é possível descobrir particularidades escondidas da cidade. Ela, que acabou de entrar para a melhor idade, recebe inúmeras perguntas relacionadas a forma como funciona, seu planejamento e sua organização. Um dos questionamentos mais emblemáticos diz respeito às quadras serem conhecidas como de determinado órgão público. Quem nunca ouviu falar sobre “a quadra dos deputados” ou “a quadra do Banco do Brasil”? Sabe-se que esses endereços, por tempos a fio, abrigaram majoritariamente funcionários públicos. E tudo começou no papel quando Lúcio Costa desenhou o projeto do Plano Piloto. O urbanista queria que sua obra habitacional fosse integrada e autossuficiente em serviços básicos para a população.

Fotos: Joana França

OS BLOCOS DO PLANO PILOTO, NOBRES PELO MINIMALISMO ARQUITETÔNICO, RECEBEM O SELO CAU/DF E PERPETUAM A MEMÓRIA MODE NISTA DE AS LIA

SQS 210 bloco C

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Fotos: Joana França

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SQS 309 bloco E Foto: Joana França

Chamadas de Unidades de Vizinhança, a estrutura seria composta por quatro quadras que dariam aos moradores o conforto de encontrar serviços de comércio, lazer, educação, religiosos, desportivos e culturais próximos de casa. O plano realizou-se apenas nos conjuntos das 107, 307, 108 e 308 Sul – isso por conta de mudanças que o projeto original teve ao longo dos governos que passaram pela capital federal. Nenhuma modificação interferiu no todo da obra. Havia regras estabelecidas por Lúcio Costa, que, de um modo geral, foram respeitadas. O urbanista, por exemplo, queria que os moradores tivessem livre acesso ao chão da quadra, sendo a arborização um ponto essencial: “Edifícios de até seis pavimentos de altura entremeados, preferencialmente, por densa arborização, preferindo os edifícios baixos”, mostra a publicação do Iphan: As Superquadras de Brasília: preservando um lugar de viver, de 2015. Nas características arquitetônicas, segundo depoimento de Nauro Esteves, que viria a substituir Oscar Niemeyer na chefia da Divisão de Arquitetura da Novacap, também existia um código de obras desenvolvido por ele e por Niemeyer. Laura Camargo, arquiteta do Iphan, conta que Lúcio Costa desenvolveu um material nesse sentido, publicado no Diário Oficial de Brasília da época, e depois incorporado ao código de obras. “Tratando apenas do setor residencial, o trabalho definia algumas diretrizes, como o partido deve ser claro, e as formas devem ser simples; deve haver sobriedade no emprego de elementos e no de materiais diferentes. As formas usadas nas estruturas monumentais não podem ser transportadas para a escala residencial”. A informação, citada por Laura, é do livro

“A invenção da Superquadra: o conceito de Unidade de Vizinhança em Brasília”, de Marcílio Mendes de Ferreira e Matheus Gorovitz. Quando inaugurada, Brasília não estava completamente pronta, as quadras eram grandes canteiros de obras de chão batido. A Divisão de Arquitetura da Novacap, liderada por Niemeyer nos primeiros anos, era uma das organizações responsáveis por erguer os edifícios. Na época, encabeçaram os primeiros projetos de superquadras. As construções tiveram sua maior intensidade no governo militar, entre 1966 a 1969, período em que, segundo a urbanista Marília Machado, em sua dissertação de mestrado: “Superquadra: pensamento e prática urbanística”, mais funcionários públicos foram transferidos para a capital federal. As edificações e ocupações seguiram até 1980. Foi o Instituto de Aposentadoria e Pensões dos Comerciários que ficou responsável pela construção do primeiro prédio de Brasília, finalizado em 1959, na 106 Sul. O bloco D, construído aos trancos e barrancos por causa da dificuldade de se transportar material vindo de Anápolis (GO), viria a ser habitado pelos primeiros servidores públicos da cidade. Suas características estéticas vieram de um projeto que precisava ser rápido e eficaz, já que, além do bloco, havia uma superquadra inteira para erguer. O edifício deu início aos tradicionais cobogós, que ajudam na ventilação e entrada de luminosidade nos apartamentos. Oscar Niemeyer foi pragmático. Elaborou seis modelos de quadras, apenas com as disposições dos blocos. Em sua equipe, sete grandes nomes da arquitetura, além de Nauro Esteves: Sabino Barroso, ítalo

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Foto: Joana França

Foto: Joana França

SQS 314 bloco K

SQS 203 bloco C

Campofiorito, Adeildo Viegas, Glauco Campelo, Glauss Estelita e José de Souza Reis. “A gente não podia ficar fazendo quadrinha por quadrinha porque o tempo era curto e tinha que ficar pronta a cidade, que era mais importante. Então a gente pensou o seguinte: nós vamos fazer seis quadras, seis modelos básicos. E vamos então misturar nas quadras, todas elas, esses seis vamos misturar à vontade por aí”, conta Nauro Esteves em entrevista citada por Marília Machado. Instituições como o Banco do Brasil, a Caixa Econômica Federal, a Fundação da Casa Popular e os Institutos de Aposentadorias e Pensões foram as principais responsáveis pelas construções. Além de prédios para seus próprios empregados, por meio de convênios com órgãos federais, essas organizações elaboravam e colocavam em prática os residenciais. Uma dessas parcerias ocorreu entre a Caixa e a UnB, em 1974, e deu origem à 206 Norte. Quem estava à frente era Marcílio Mendes Ferreira e o colega Takusoo Takada, que projetaram a área residencial em apenas dois meses. Por lá, eles replicaram os prédios do tipo A-22, colocando uma variação nas cores das pastilhas de vidro, aplicadas na parede abaixo das esquadrias da fachada. Eduardo Negri, outro arquiteto de renome nos projetos residenciais e influenciador direto de Marcílio enquanto chefe da Divisão de Projetos da Caixa, trabalhou no design dos blocos tipo A-10, um de seus modelos mais reproduzidos – são 21 projeções. Na 302 Norte é possível encontrar o padrão nove vezes, nos blocos de A a I, que ainda hoje são funcionais do Congresso Nacional. A 308 Sul, quadra modelo e parte da única Unidade de Vizinhança funcional da cidade, também tem muitas histórias a contar. Muito além do paisagismo de Burle Marx, ali encontram-se os primeiros residenciais do Banco do Brasil, projetados em 1959 por Sérgio Rocha e Marcelo Campelo. Os prédios, financiados pelo banco para os próprios funcionários, não têm torres, são lineares, horizontais e parte de um único bloco visual. No documento original das orientações básicas de obra, previam-se “fachadas [com] esquadrias de ferro, iguais em todos os prédios, onde a variação será dada apenas pela cor do peitoril em chapa de ferro esmaltada, que mudará em cada prédio. As GPSLifetime « 27

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empenas serão revestidas com mosaico de vidro em tom neutro; pilotis branco e piso preto”. Ainda há presença de cobogós, que novamente aparece na área de serviço. A preservação dessas histórias e características dos prédios residenciais, no entanto, fica por conta da consciência do cidadão. Brasília é uma cidade tombada no conjunto urbanístico, levando em consideração as suas quatro escalas essenciais (monumental, residencial, gregária e bucólica), mas para os prédios não há regras específicas quanto à manutenção de características.

história, nossa identidade cultural e nossa formação como sociedade”, afirma o presidente do CAU-DF, Daniel Mangabeira. Para 2021, o Conselho planejou abrir inscrições aos edifícios que se consideram aptos a receberem o selo. É importante que essas construções tenham boa conservação nas fachadas e no pilotis. Prédios já reformados também podem se candidatar, desde que a intervenção tenha respeitado as características originais. Lúcio Costa ao projetar as superquadras deu um horizonte e um limite para a arquitetura. A padronização que se enxerga em Brasília foi ocasionada pelo tempo de construção, e não por projeto como muitos pensam. É nas aleatoriedades arquitetônicas e na organização urbanística bem definida, porém, que encontramos a beleza e o encanto da cidade moderna dos blocos parecidos e ao mesmo tempo repleto de histórias a serem contadas.

O SELO, UM RECONHECIMENTO

1º Selo – SQS 210 bloco C 2º Selo – SQS 309 bloco E 3º Selo – SQS 314 bloco K 4º Selo – SQN 108 bloco D 5º Selo – SQN 206 bloco I 6º Selo – SQN 416 bloco H 7º Selo – SQS 204 bloco K 8º Selo – SQS 203 bloco C

Foto: Victor Machado

Acostumada a cuidar de seus bens históricos, Brasília ganhou, em agosto deste ano, uma iniciativa do Conselho de Arquitetura e Urbanismo do Distrito Federal (CAU-DF). O Selo CAU/DF – Arquitetura de Brasília traz à tona “as boas práticas de conservação e manutenção predial” que preservam a linguagem arquitetônica do movimento moderno. Ao todo, 30 prédios foram indicados, mas apenas oito escolhidos – entre eles, o bloco I da 206 Norte, projetado por Marcílio Mendes Ferreira e Takusoo Takada. Na Asa Sul, cinco prédios receberam o selo, enquanto que na Asa Norte, três. A certificação será aplicada sobre o prisma de identificação dos blocos residenciais, e também nas placas das portarias de entrada. A marca foi desenvolvida pelo arquiteto e urbanista Danilo Barbosa – coordenador da equipe que criou o projeto das placas de sinalização da cidade, em 1976. “O conselho está extremamente orgulhoso de propiciar o selo como salvaguarda e para preservação do nosso patrimônio arquitetônico. É uma ação civilizatória, no sentido de informar a sociedade sobre a importância desses projetos para a nossa

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O projeto deste empreendimento encontra-se aprovado na SEDETH e o memorial de incorporação devidamente registrado sob o nº R22 da matricula 105.520, no Cartóriodo 2º Ofício do Registro de Imóveis do DF. As imagens, perspectivas, paisagismo são meramente ilustrativas e por se tratar de material impresso poderão não retratar GPSLifetime « 29

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HOMENAGEM

NA ARIDEZ, O FORTE DA ARTE CCBB CELEBRA DUAS DÉCADAS NA CAPITAL FEDERAL E EXPÕE SUA MARCA AO INSERIR BRASÍLIA NO CIRCUITO DA ARTE MUNDIAL, BEM COMO SUA GLORIOSA PERFORMANCE NA PROFISSIONALIZAÇÃO DO SETOR LOCAL POR GIOVANNA PEREIRA « FOTOS BRUNO CAVALCANTI

C

hegar ao Centro Cultural Banco do Brasil em Brasília excita. Enche os olhos, dinamiza a alma. É saber que ali comumente seus sentidos serão despertados. O novo virá ofertado. O pensamento, provocado. É como se o concreto falasse por meio de curvas e retas, impondo sua aguda energia distribuída por todo o complexo arquitetônico rabiscado em traços longos e característicos do modernismo marcante da cidade. Robusto e ao mesmo tempo fleumático, abraçado à vegetação que designa elementos que compõem o jardim do Cerrado. O CCBB é uma fortaleza. Um for-

te cercado por um lago, que abriga o contemporâneo, acolhe o humano, hospeda o essencial. São 20 anos. Monumento assinado por Oscar Niemeyer, o edifício Presidente Tancredo Neves foi inaugurado em 1993, inicialmente como sede do Centro de Formação. Estrutura e local privilegiados fizeram mais sentido em outubro de 2000, quando as instalações transformaram-se em Centro Cultural. O objetivo: a inserção da capital federal na rota internacional de eventos e produções culturais. Claro, ampliando a performance dos demais filiados de trazer a população

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Fotos: Bru

no Cavalc

para dialogar com todas as formas de arte e criatividade possíveis. Hoje, o conjunto arquitetônico abriga também a Fundação Banco do Brasil. Com seu imenso projeto paisagístico, idealizado por Alda Rabello Cunha, o CCBB conta com amplos espaços de convivência, café, restaurante, galerias, sala de cinema, teatro, jardins e uma praça central para eventos abertos, onde são realizados shows, espetáculos e performances. Para a criançada o Casulo Interativo, feito especialmente para o imaginário infantil se aproximar da arte. O artista plástico Darlan Rosa assina as lúdicas obras Casulo, Lagarte, Navete e Colmeia. O pavilhão de vidro é a enorme vitrine. Obra de concepção leve e convidativa. O mais recente espaço expositivo traz em sua forma uma grande e imponente caixa de vidro que possui visibilidade externa e interna em todas as suas faces. O ambiente se destaca no jardim de onde é possível admirar a Ponte Juscelino Kubitschek. No comando do CCBB Brasília, Fábio Cunha assumiu a desafiadora tarefa de ser gerente-geral em meio a um contexto sem precedentes, a pandemia. “Cheguei faz pouco tempo, mas meu envolvimento com a instituição já é de longa data. Trabalhei na implantação quando mudei para Brasília, há 20 anos. Depois disso, também atuei na instituição do Rio de Janeiro, e, agora, é um privilégio retornar para o que vi sair do papel”. São vinte anos. Momentos inesquecíveis. Cada projeto tem sua história. Um registro memorial. Falar da trajetória de Brasília e não validar Athos Bulcão é impossível. Intimamente ligado ao cenário da cidade,

anti

o muralista teve em 2002 sua primeira exposição retrospectiva conduzida pelo CCBB Brasília. Este grande dia contou com a presença do artista que, emocionado, conseguiu ver em vida seus trabalhos reunidos num ambiente excepcional. “Esta é uma lembrança indelével e emocionante na história da instituição”, completou Cunha. O executivo do CCBB comentou que cada projeto tem suas características e, por consequência, seus desafios particulares. “Aqueles que se realizam na área externa, como os shows de música, festivais de cinema e teatros ao ar livre demandam uma logística complexa, porque precisam de grande infraestrutura para receber os visitantes com conforto e segurança. Já as exposições com acervos de museus internacionais necessitam de tempo de planejamento e exigências museológicas rigorosas. Entretanto, essas dificuldades são parte de uma rotina rica em aprendizado”. E em duas décadas “nada se compara ao desafio de enfrentar a pandemia”. O impacto no setor da cultura foi enorme. Assim como muitos centros culturais pelo país, o CCBB precisou se reinventar para continuar GPSLifetime « 31

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60 DE BRASÍLIA, 20 DE CULTURA

Num breve revival, Cunha frisa: “Algo muito importante que vimos acontecer nesses vinte anos e temos o orgulho de participar é o crescimento e profissionalização da produção cultural da cidade, item de suma importância na consolidação de Brasília como centro produtor de arte e cultura na economia criativa, gerando emprego e renda para milhares de pessoas”. Atualmente, o CCBB é reconhecido também como um dos principais pontos turísticos da capital federal. Para tal, na expectativa de um 2021 menos turbulento, o CCBB Brasília promete performance estratégica de revitalizado da alma para o público. “Começaremos com a aguardada exposição Egito Antigo: Do Cotidiano À Eternidade. Teremos também novidades nas Artes Cênicas, Música e Cinema, além da programação gratuita até as casas das pessoas por meio do #CCBBemCasa”.

EXPOSIÇÕES MARCANTES Foto: Augusto Cos ta

oferecendo programação cultural para o público e fomentando a produção de arte em um cenário completamente inusitado num estilo de vida sem precedentes e sem definições claras. Para se manter relevante neste período, o centro cultural ofereceu programação online variada e gratuita, e ainda o festival Drive-in CCBB, que em dois meses apresentou uma agenda de cinema, música e teatro. Nesse projeto, a renda da bilheteria foi revertida para ações de assistência a pessoas em vulnerabilidade social e também para apoio à Associação dos Produtores de Teatro (APTR), beneficiando camareiras, operadores e técnicos de teatro que tiveram suas atividades paralisadas.

2020 Chiharu Shiota

2013 – Mestres do Renascimento

Mais de 100 mil visitantes, reuniu diversas obras que marcaram o período cultural na Itália e em todo o mundo, entre os artistas de destaque da mostra estavam Leonardo Da Vinci, Rafael e Michelangelo.

A artista japonesa é conhecida principalmente por seus trabalhos intitulados site specific – obra que toma forma de acordo com o local onde está instalada.

2019 – Obsessão Infinita Yayoi Kusama Marcou a estreia da japonesa no Brasil. Foram apresentados cerca de 100 trabalhos entre pinturas, trabalhos em papel, esculturas, vídeos, apresentação de slides e instalações, que cobrem o período de 1949 a 2012.

www.bb.com.br @ccbbbrasilia

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2016 – Mondrian e do movimento De Stijl

A trajetória percorrida pelo pintor holandês em mais de 50 anos de trabalho foi o foco da exposição interativa.

2010 – Vertigem, OSGEMEOS Foi a primeira exposição do museu itinerante de OSGEMEOS, que esteve em quatro cidades do Brasil. O prédio Pavilhão de Vidro propôs aos artistas um novo formato – a fachada foi completamente pintada, transformando-se em uma gigante cabeça.

2018 A arte de JeanMichel Basquiat

Reuniu mais de 100 trabalhos do artista. A mostra trouxe o acervo da família Mugrabi, dona da maior coleção do artista.

2019 – A Beleza Sombria dos Monstros: 10 anos da Arte de Tim Burton

Inspirada no livro A arte de Tim Burton, que reúne os 40 anos de sua arte e que completou 10 anos desde a sua publicação. O próprio diretor veio a Brasília para uma palestra.

2010 – O Mundo Mágico de Escher

Reuniu 95 obras, incluindo todas as mais importantes produzidas pelo mestre da ilusão de ótica e dos paradoxos. Marcou a comemoração pelo 10° aniversário do CCBB Brasília.

2002 – Athos Bulcão, Construção e Poesia A mostra homenageou o muralista e artista, que na época estava com 83 anos. A exposição reuniu seus trabalhos em diferentes linguagens.

2002 – Rembrandt e a Arte da Gravura

83 gravuras do mestre deixaram o Museu Casa Rembrandt e se instalaram na capital federal em uma exposição expressiva do artista holandês.

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POLÍTICA

REFORMA ADMINISTRATIVA:

É BOM PRA QUEM?

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A FIM DA ESTABILIDADE E AVALIAÇÃO DE PRODUTIVIDADE SÃO ALGUMAS MUDANÇAS PROPOSTAS NOS NOVOS MOLDES DE CONTRATAÇÃO. O DEBATE É PROFUNDO. EM UMA DÉCADA, ESTIMA-SE CORTE DE R$ 300 BILHÕES POR DANIEL CARDOZO « FOTOS CELSO JUNIOR

perspectiva de novas regras para as carreiras do serviço público já é motivo suficiente para polarizar ainda mais o debate político. A Reforma Administrativa proposta pelo governo do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) promete novos moldes de contratação apenas para novos servidores, mas os atuais temem que o precedente seja aberto para quem já está na ativa. O texto enviado ao Congresso Nacional tem como pontos importantes o fim da estabilidade, a realização de avaliação de desempenho, a extinção de promoções automáticas e mudanças no estágio probatório. O empresariado se anima com a possibilidade de enxugamento de gastos previsto pelo Ministério da Economia. De acordo com o ministro Paulo Guedes, a expectativa é de que sejam cortados pelo menos R$ 300 bilhões em dez anos. Um dos principais trunfos do Poder Executivo para o impacto positivo no orçamento é a redução considerável do salário inicial dos futuros servidores. Além disso, as promoções por tempo de serviço chegariam ao fim. Especialistas ressaltam a necessidade de aprovação das mudanças. Matheus Rosa, economista e pesquisador do Instituto Brasileira de Economia da Fundação Getúlio Vargas (FGV IBRE), explica que os pontos mais importantes do texto são o fim de privilégios e a economia de gastos com pessoal. O presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM) descartou a inclusão da reforma ainda este ano, mas a expectativa é que o projeto seja apreciado pelos parlamentares no início de 2021. O ministro Marco Aurélio Mello, do Supremo Tribunal Federal, negou o pedido para paralisar a tramitação. A ação foi movida por parlamentares que reagiram ao fato dos estudos de impacto financeiro terem sido deixados como sigilosos por parte do governo. Se seguir os moldes da Reforma da Previdência, a nova proposta deve iniciar a tramitação na Comissão de Constituição e Justiça, onde serão analisados aspectos legais do texto. Uma comissão mista formada por senadores e deputados federais pode ser convocada para agilizar a tramitação. Com um parecer aprovado nessa etapa, restará aprovação nos plenários das duas casas.

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PRINCIPAIS MUDANÇAS ESTABILIDADE A proposta prevê diferentes tipos de contratação. O primeiro grupo, denominado cargos típicos de Estado, continua com a exigência de concurso público. Tratam-se de servidores considerados indispensáveis para a representação do Estado, como diplomatas do Ministério das Relações Exteriores. Uma lei a ser proposta delimitará quais serão esses profissionais dentro da estrutura governamental. Os servidores de funções administrativas, técnicas ou especializadas serão incluídos na classe denominada cargos por prazo indeterminado e contratos por prazo determinado. Por mais que se mantenha a exigência de concurso, eles podem ser demitidos em ambos os casos. Similares aos atuais comissionados e de confiança serão os cargos de liderança e assessoramento. A expectativa é de que esses sejam os servidores indicados por políticos, o que já acontece atualmente. Ou seja, seria apenas uma mudança de nomenclatura. BENEFÍCIOS Algumas vantagens dos atuais servidores estariam com os dias contados. Licença prêmio, progressão de carreira baseada em tempo de serviço, incorporação de cargos e funções ao salário e adicional por tempo de serviço são exemplos de itens que podem ser extintos. Férias superiores a 30 dias por ano também. A estabilidade é alcançada após estágio probatório de três anos. A proposta é de que esse período seja flexibilizado e que seja possível demitir os servidores que não se adequarem.

mas nós não vemos esse investimento se revertendo em um bom atendimento ao cidadão. O Judiciário, por exemplo, gastou mais de R$ 36 bilhões em auxílios e penduricalhos para juízes nos últimos anos”, opina. É exatamente no Poder Judiciário que mora uma das ressalvas de Paula Belmonte sobre a Reforma Administrativa. A parlamentar é autora de projeto de lei que delimita 30 dias de férias para todos os servidores. O texto de autoria do governo federal exclui juízes, parlamentares, procuradores e militares, o que é considerado pela deputada uma injustiça. “Sou a favor de uma reforma que valha para todos. Algumas carreiras possuem benefícios demais e quem paga essa conta é o contribuinte. Mas, obviamente, precisamos garantir que a lei seja aplicada apenas a futuros servidores, por uma questão de segurança jurídica e para não mudar as regras durante o jogo”, ponderou. Uma frente parlamentar até tentou incluir os atuais servidores no regime jurídico que pode ser aprovado pelo Congresso Nacional. Entretanto, a iniciativa enfrenta a resistência do presidente da Câmara, Rodrigo Maia. Para o economista Matheus Rosa, a exclusão de carreiras é, realmente, um proble-

A FAVOR Entre os parlamentares da bancada do Distrito Federal, a deputada federal Paula Belmonte (Cidadania-DF) é uma das defensoras da Reforma Administrativa. Para ela, é preciso aumentar a eficiência do serviço público e equiparar regras com trabalhadores da iniciativa privada. “O Brasil tem um dos maiores gastos proporcionais do mundo com servidores, 36 « GPSLifetime

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ma. Entretanto, o pesquisador vê avanços importantes no texto enviado ao Congresso Nacional, como a flexibilidade de contratação e o incentivo à avaliação de desempenho. O especialista faz uma ressalva sobre os parâmetros de avaliação a serem implantados pelo governo. “Caso os critérios não sejam muito bem definidos, a impessoalidade na gestão pública poderia ser afetada, eventualmente abrindo espaço para a ingerência política citada. Cabe ao Estado, na definição dessas leis infraconstitucionais, impedir que isso aconteça”, opinou.

CONTRA A lista de críticas do deputado federal Israel Batista (PV-DF) ao projeto apresentado pelo Poder Executivo é longa. O fato de a reforma ter a economia como principal objetivo é um dos principais problemas vistos pelo parlamentar. “Se nós estivéssemos muito satisfeitos com o serviço público, pensando que ele entrega mais do que se espera, seria o caso de cortar gastos. Mas não é esse o caso. O maior custo é o salário de servidores, naturalmente. É preciso pensar em formas de melhorar a qualidade do serviço prestado”, disse. Batista reconhece que promover mudanças é necessário, mas argumenta que existem pontos do texto que podem trazer efeitos colaterais. O fim da estabilidade e a maior possibilidade de interferência política

no trabalho dos servidores comprometeriam o serviço público, na visão do deputado do DF. Existe um diálogo de Israel Batista, presidente da Frente Parlamentar em Defesa do Serviço Público, com o grupo liderado pelo deputado Tiago Mitraud (Novo-MG), favorável à Reforma. “Se temos algo que estamos de acordo, é que se faça avaliação dos servidores. Existem divergências sobre como isso deve ocorrer. É preciso que se avalie dentro de um contexto, mas também dentro das capacidades de um órgão. Não adianta dizer que um médico é ruim porque não fez uma cirurgia, se não fez porque não tinha um bisturi higienizado”, exemplificou. As altas carreiras do serviço público podem ser afetadas pela Reforma Administrativa, a exemplo dos servidores do Tribunal de Contas da União. O presidente da União dos Auditores Federais de Controle Externo (Auditar), Wederson Moreira, teme que o próximo passo do governo seja mirar nos servidores já contratados. O auditor acredita que a intenção é jogar a culpa nos profissionais pelo fracasso da administração pública. “Como seremos avaliados se sequer temos metas ou parâmetros para os gestores? O projeto do ministro Paulo Guedes ataca exclusivamente o servidor público, enquanto o governante eleito é que deveria ter metas e ser responsabilizado quando políticas públicas falham. É um texto vingativo e que pode, sim, ser direcionado aos atuais servidores”, criticou.

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CIDADE

ESSE NOSSO CHÃO DETENTORA DE 92% DAS TERRAS RURAIS DO DF, TERRACAP CRIARÁ UM INSTITUTO PARA ACELERAR A REGULARIZAÇÃO FUNDIÁRIA DE CERCA DE 5 MIL OCUPAÇÕES HISTÓRICAS. LEI PROFESSOR ANÍBAL FOI SANCIONADA PELO GOVERNADOR IBANEIS ROCHA POR NATHÁLIA BORGO

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FOTO LUARA BAGGI

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iariamente, milhares de pequenos, médios e grandes produtores rurais trabalham com sol a pino. Geram emprego e renda no campo, mas, a grande maioria deles, sem a merecida segurança jurídica quanto à legitimidade de posse das terras em que plantam e colhem. Embora ocupadas há décadas, as áreas são públicas. E é esta situação que será resolvida com a Lei Professor Aníbal, sancionada em 3 de dezembro pelo governador Ibaneis Rocha. A nova legislação permitirá que mais de 5 mil ocupações históricas de natureza rural possam ser regularizadas no DF. De acordo com o diretor de Regularização Social e Desenvolvimento Econômico da Agência de Desenvolvimento do Distrito Federal (Terracap), Leonardo

Mundim, “a nova lei traz segurança jurídica aos ocupantes históricos a partir de uma construção democrática do anteprojeto, que foi imbuída da vontade de encontrar ou criar soluções.” A Lei Professor Aníbal alterou a legislação até então vigente (Lei 5.803/2017) para incluir novos modelos de regularização. Um deles beneficia a produtora rural Cleusa Gallo (69). Há quase três décadas, ela mora em uma gleba de 4 hectares, no Núcleo Rural Capoeira do Bálsamo. No local, planta verduras, condimentos e frutas – todos orgânicos. A variedade é tanta, que dona Cleusa já não consegue mais listar todos os alimentos produzidos na terra. Ela também cria porcos e galinhas. Para dar conta da produção, tem cinco empregados.

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cria porcos e galinhas. Para dar conta da produção, tem cinco empregados. A área ocupada pela pequena produtora fica no Lago Norte e, embora com características rurais, atualmente, está situada formalmente em uma zona urbana pelo Plano de Diretor de Ordenamento Territorial do Distrito Federal (PDOT). Com a nova lei, as glebas com características rurais inseridas em zona urbana também serão regularizadas. A Lei Professor Aníbal prevê a possibilidade de formalizar contratos específicos para que esse tipo de ocupação seja legalizada. E, em razão do foco na utilização rural, a ser certificada pela Secretaria de Agricultura, Abastecimento e Desenvolvimento Rural (Seagri), a retribuição desse tipo de gleba terá isonomia com o preço de concessão da macrozona rural, ou seja, será baseada na tabela de preços mínimos expedida pelo Incra, hoje em R$ 70,11 por hectare, por ano. “Para nós, produtores rurais, a lei é maravilhosa. Beneficiará não só a mim como a milhares de famílias que se sustentam do fruto do campo”, disse dona Cleusa. Ela explica que a regularização e o futuro acertamento fundiário e registral, também previstos na lei, trarão ainda mais segurança jurídica, dando a segurança na ocupação consolidada da terra, o que permitirá a manutenção dos empregos e da produção. Outro antigo problema, agora solucionado, são as ocupações em terras desapropriadas em comum, quando não há definição precisa de quais são parcelas públicas ou particulares. Cerca de 9% do território do DF encontram-se nesse impasse jurídico. A nova lei prevê que poderá ser assinada concessão de uso com a Terracap, com aprovação prévia da Seagri, mediante inserção da chamada cláusula de ressalva de alegação de propriedade. Ou seja, o concessionário não abrirá mão de pleitear sua quota de propriedade, se for o caso, quando da futura divisão judicial ou extrajudicial da fazenda entre os diversos donos registrais.

ACERTAMENTO FUNDIÁRIO E REGISTRAL A Lei ainda aloca recursos – de pelo menos 50% da receita arrecadada com o preço público da Concessão de Uso Oneroso (CDU) e da Concessão de Direito

Real de Uso (CDRU) – para a Terracap e a Seagri-DF realizarem o acertamento fundiário e registral de todas as terras públicas rurais do Distrito Federal. A falta de acertamento fundiário e registral é o maior entrave para a política de regularização das terras públicas aos legítimos ocupantes, e agora começa a sua solução. De acordo com o texto em vigor, a Terracap terá que concluir o acertamento fundiário e registral das terras públicas rurais de propriedade do DF até 31 de dezembro de 2023. “Hoje, um processo de regularização pode demorar até 3 anos, pela falta de técnicos e veículos para que a Seagri visite essas ocupações, chácaras, fazendas, sítios, e certifique a utilização rural ou ambiental. Agora, será permitido o sensoriamento remoto, ou seja, a tecnologia a serviço da regularização”, completa Leonardo Mundim. Para ajudar nesse processo, o GDF anunciou a criação do Instituto de Terras Rurais do Distrito Federal (Inter-DF), o novo órgão vai funcionar como uma subsidiária integral da Terracap, nos moldes do Parque Tecnológico (Biotic), ou seja, uma empresa que terá autonomia jurídica, operacional e financeira. “Ele vai acolher parte das atribuições da Secretaria de Agricultura e parte das atribuições de três diretorias da Terracap. O processo ficará centralizado desde o começo do acertamento fundiário registral até a entrega do título de regularização”, explica Mundim. www.terracap.df.gov.br | @terracap

A LEI PROFESSOR ANÍBAL O texto da lei, de iniciativa do Executivo local, foi elaborado pela Terracap em conjunto com a Seagri-DF, e contou com dezenas de sugestões do setor produtivo rural. Batizada de Lei Professor Aníbal, a redação final vem ao encontro da reivindicação de produtores que ocupam terras públicas rurais há décadas. O professor Aníbal Coelho, falecido em janeiro deste ano, foi fundador e líder comunitário da Associação de Proprietários e Produtores Rurais do Núcleo Rural Casa Grande, no Gama, desde 1978. Ele é um exemplo no DF da luta pela regularização rural. GPSLifetime « 39

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EMPREENDEDORISMO

Foto: Bruno Cavalcanti

A FECOMÉRCIO-DF TORNOU-SE REFERÊNCIA NA PANDEMIA. AO ENGAJAR A CADEIA PRODUTIVA, FRANCISCO MAIA CONSEGUIU DAR SUSTENTABILIDADE A EMPREGADO E EMPREGADOR. EM 2021, PROJETOS PROMETEM MEXER COM A CIDADE

GESTÃO HUMANIZADA POR PAULO PIMENTA

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o dicionário Michaelis, a palavra “destino” tem o significado de “série de fatos a que supostamente estão sujeitas as pessoas e as coisas do Universo, independentemente da vontade humana”. E é a esse substantivo que o presidente da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Distrito Federal (Fecormércio-DF), Francisco Maia, atribui a sua gestão. “Eu nunca imaginei que seria presidente daqui”, confessa Chico – como os mais próximos o chamam –, em sua sala de trabalho, ao receber a equipe da revista GPS. E continua, ao dizer que, apesar de não imaginar, estava preparado para a função: “Eu não ficava pen-

sando em concorrer, nunca falei que tinha interesse. Você ser presidente de alguma coisa é questão de destino. Me cabe dentro disso e eu estou feliz. Eu me sinto à vontade e faço [o trabalho] com gosto”. Chico chegou em Brasília aos 13 anos, após ganhar vida em Teresina (PI) e passar a infância em São Luís (MA). A formação em jornalismo e a experiência em diversos veículos de comunicação da capital serviram de base para que ele abrisse o seu próprio negócio anos mais tarde, hoje sob o comando de seus filhos, nas áreas de hotelaria e comunicação. E o talento nato para liderança fez com que entrasse para a diretoria da Fecomércio-DF há 21 anos e, desde fevereiro de 2019, comanda a entidade.

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DE REPENTE, UMA PANDEMIA Certamente, quando foi eleito para ser o presidente, Chico não planejava enfrentar uma pandemia mundial poucos meses depois. Diante de toda a situação causada pelo novo coronavírus no DF, viu o comércio, os serviços e o turismo serem diretamente impactados pela Covid-19. Ele afirma que foi uma “prova de fogo” quando as portas dos estabelecimentos começaram a se fechar. “Como é que essas pessoas vão sobreviver?”, questionou-se ao pensar nos empregados e nos empregadores. Rapidamente, assim que o Governo do Distrito Federal decretou o lockdown, em março, a Fecomércio-DF montou uma super estrutura de atendimento e buscou soluções financeiras para os atingidos pela crise. O montante conquistado em linha de crédito orientado chegou a R$ 1 bilhão incialmente, o que ajudou mais de duas mil empresas filiadas aos sindicatos da Federação. A Fecomércio-DF também não deixou a outra ponta desamparada. Com o fechamento da rede de restaurante-escola, a solução foi produzir e vender marmitas – estima-se que mais de 500 mil unidades foram vendidas até novembro. Ao custo de R$ 5, a refeição também ganhou o turno da noite em forma de “jantinhas”. O que sobra das marmitas é transformado em sopa e distribuído para a população em vulnerabilidade socioeconômica. Durante a pandemia, o programa Mesa Brasil Sesc não parou no DF. Para combater a fome da população assistida e evitar o desperdício de alimentos, as doações de alimentos continuaram a ser feitas na Sede Logística do Sesc e atenderam as instituições cadastradas. Idosos, famílias e pessoas com deficiência física amparadas por esses locais foram beneficiados. No total, o programa chega a atender 70 mil pessoas por mês.

O DESAFIO Diante de todas as mudanças e as novas formas de enxergar o mundo em 2020, a Fecomércio-DF passou a ter um papel fundamental na sustentabilidade do

trabalhador. A relação entre empregador e empregado foi transformada e, inserido em um cenário de incertezas e inconstâncias, um novo panorama precisou ser traçado. “Dos exemplos que a gente já escutou, esse tem sido um momento de solidariedade de todo mundo. Muitos empresários ajudaram seus funcionários a arrumarem uma nova forma de sobrevivência”, lembra Chico, ao dar como exemplo os garçons que precisaram se transformar em entregadores de comida. Sobre a realidade atual, o presidente faz um alerta para dois fenômenos que, segundo ele, são muito importantes. O primeiro é o fim de algumas profissões devido à pandemia e à necessidade de essas pessoas se reciclarem. O segundo é sobre o e-commerce e o crescimento do comércio digital. “Quem não se adaptar vai sumir do mapa. O mundo digital está modificando nossos comportamentos”, justifica. Assim, com um legado claro, Chico segue na linha da inovação, da gestão e da ação com muita proatividade. O plano de trabalho gira em torno de fazer o Sesc crescer e reformular o Senac. De portas abertas e sem segredo, Chico, vocacionado à presidência da Fecomércio-DF, deixa sua marca registrada na cidade.

A TRANSFORMAÇÃO De acordo com Chico, é preciso apresentar uma outra Brasília para a geração mais jovem da cidade e trazer à tona as possibilidades do empreendedorismo na Capital. “A gente tem muito aquela imagem de Brasília que só se fala da Esplanada [dos Ministérios]. Vamos mostrar que temos força, empresas muito fortes, empresas que exportam. Brasília não suporta mais ser uma cidade só de funcionários públicos”, pondera.

SINDICATOS Chico conseguiu levar os sindicatos para dentro da Fecomércio-DF e também foi responsável por criar essa relação mais próxima com eles. Além do apoio oferecido, o presidente também tem pensado em programas que unem o Sesc e o Senac aos sindicatos. Um exemplo é a criação de uma clínica de saúde que terá a renda revertida para eles.

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Foto: Cristiano Costa/Fecomércio DF

A MUDANÇA PARA O DIGITAL Em dezembro de 2020, a Faculdade Senac passará a ser totalmente digital e adequada aos novos tempos. A nova sede será na 913 Sul, em Brasília. “Eu sou homem de inovação. Tudo o que estamos fazendo é diferenciado, o que achamos ter receptividade, o que deixa as pessoas mais felizes”, conta o presidente.

NATAL SEMPRE “QUEM NÃO SE ADAPTAR VAI SUMIR DO MAPA”

UM HOMEM DE VISÃO Chico diz que, por conta de sua formação em Comunicação, tem uma visão diferente dos processos. Essa visão “para fora”, como ele diz, tem permitido que a Fecomércio desenvolva grandes projetos. Neste ano, ajudou a criar e se tornou o primeiro presidente do Fórum do Setor Produtivo do Distrito Federal, formado pelas principais entidade representativas do setor, como a Fecomércio, a Federação das Indústrias do Distrito Federal (Fibra), a Federação da Agricultura e Pecuária do DF (FAPE), a Federação Interestadual das Empresas de Transporte de Cargas do DF (FENATAC), a Câmara dos Dirigentes Lojistas (CDL), a Federação das Associações Comerciais e Industriais e o Sebrae-DF. Além dessas parcerias, o presidente afirma que a Fecomércio foi essencial no apoio à aprovação do Programa de Incentivo à Regularização Fiscal (Refis-DF 2020), que oferece melhores condições para pessoas físicas e empresas regularizarem débitos fiscais com o governo. “O Refis é um projeto muito corajoso. Essa costura toda fomos nós que fizemos. A junção das entidades nos fortaleceu”, afirmou.

Em busca de mobilizar a sociedade para se engajar nas ações de Natal voltadas à população em situação vulnerável, Chico reuniu cerca de 60 empresários e entidades do setor produtivo na missão de proporcionar a algumas famílias uma festa mais esperançosa. Foram distribuídas, em 12 comunidades do DF, 9,6 mil marmitas-ceia, acompanhadas de kits de higiene e limpeza, além de brinquedos para as crianças, totalizando mais de 38 mil itens. Chamada de Carreata de Natal Sesc, a alegria também integra o projeto com o clima circense. No dia a dia, o Sesc-DF se responsabiliza pela confecção mensal de mais de 65 mil marmitas.

FUTURO Para 2021, Chico tem grandes sonhos. O plano é inaugurar um espaço próximo à Ponte JK, à beira do Lago Paranoá, em novembro do ano que vem. A novidade contará com uma arena coberta para mil pessoas, restaurante-escola e área para exposições de arte. Além disso, Chico quer instalar uma árvore de Natal dentro do Lago e iluminar a Ponte JK no período natalino. Para somar ao projeto, um mirante com vista para as águas do lago e uma Maria-fumaça com dois vagões serão instalados no local. www.fecomerciodf.com.br | @fecomercio.df

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ARTIGO RODRIGO DA COSTA MARQUES

Sócio na Área Trabalhista do Nelson Wilians Advogados

OAB/RJ 162.222

O 13º SALÁRIO EM PERÍODO PANDÊMICO

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om o isolamento social, a sociedade passou por uma grande e intensa transformação de forma célere, impactando diretamente as relações havidas entre empregados e empregadores. Muitas incertezas sobre as consequências e impactos sociais e econômicos fizeram com que o Governo editasse diversas medidas, entre elas a Medida Provisória nº 936 de 1 de abril de 2020, que instituiu o Programa Emergencial de Manutenção do Emprego e da Renda dos trabalhadores. A MP nº 936 autorizou, por meio de acordo individual ou coletivo, respeitando todos os regramentos nela contidos, a redução proporcional de jornada e remuneração, bem como a suspensão do contrato de trabalho por prazo determinado. A Medida Provisória foi aprovada pelo Congresso Nacional e Convertida na Lei 14.020 de 2020. A redução proporcional de Jornada e Remuneração quanto a Suspensão Contratual passaram a possuir prazo máximo de 240 dias, desde que respeitado o período de estado de calamidade. Considerando a proximidade do pagamento do 13º Salário, surgiram questionamentos sobre a sua base de cálculo. A Gratificação Salarial utiliza como base de cálculo a remuneração percebida no citado mês, sendo 1/12 avos por mês de serviço trabalhado ou por fração igual ou superior a 15 dias de labor. Em virtude da atipicidade do momento, cenários diversos podem surgir nas relações de trabalho, tais como um funcionário que possuiu a redução de jornada apenas nos meses de novembro e dezembro, cujo cômputo do 13º salário deverá considerar a remuneração percebida em dezembro, o que poderá reduzir em até 70% a gratificação natalina do obreiro. De outro lado, poderá existir um profissional que

ajustou a redução de remuneração com a empresa no início da vigência da MP 936, tendo voltado à integralidade de sua remuneração em novembro. Este trabalhador receberá integralmente seu 13º salário, uma vez que o salário base para cômputo do 13º é o de dezembro, conforme disposto no Art. 7º da Constituição e na Lei 4.090. Em relação aos acordos de suspensão de contrato de trabalho, durante o período em que não houve quaisquer prestações de serviços pelos funcionários, não há que se falar em cômputo do mês para pagamento da Gratificação Natalina. O Ministério da Economia emitiu Nota Técnica sugerindo a desconsideração da redução de salário disposta na Lei nº 14.020 para cômputo do 13º salário dos trabalhadores em 2020. Frisa-se que a Nota Técnica não é vinculativa, destacando-se, ainda, que a Justiça do Trabalho não se manifestou quanto ao tema em questão. A empresa poderá optar por seguir uma das correntes acima dispostas, ou seja, a concessão do 13º salário nos termos da legislação trabalhista em vigor ou observando as diretrizes do Ministério da Economia. Existindo, ainda, uma terceira opção referente ao ajuste e cláusulas pactuadas em Norma Coletiva referente à gratificação natalina em períodos pandêmicos. Daí porque as diretrizes existentes deverão ser analisadas considerando os impactos da decisão na rotina das atividades empresariais, verificando a saúde financeira do empregador, bem como o cenário único decorrente da pandemia em curso, sempre fundamentando a tomada de decisão de forma adequada, pois, assim, deverá ser mantida a atividade empresarial e os empregos.

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ARTIGO ROBÉRIO NEGREIROS

Deputado Distrital pelo PSD/DF e Segundo Secretário da Câmara Legislativa do Distrito Federal

NEM TUDO DÁ SAUDADE A MEMÓRIA PRECISA SER SELETIVA. A DESORGANIZAÇÃO DA CIDADE TEM DE FICAR NO PASSADO. ESSA É UMA OBRIGAÇÃO DO GOVERNO, DOS PODERES LEGISLATIVO E JUDICIÁRIO E DE TODOS NÓS, CIDADÃOS

N

ós somos nostálgicos por natureza e há, inclusive, na indústria do entretenimento e da moda, uma certa onda review com anos 80. Mas esse saudosismo todo deveria ficar apenas nas mangas balonê e na vibe vinil que pulula nas várias tribos de meia idade que circulam por Brasília. Digo isso porque, andando pelas ruas da capital – um hábito que adquiri desde o primeiro mandato –, tenho percebido o crescimento de invasões pelas Asas Sul, Norte e cidades satélites. Uma paisagem que era corriqueira nos anos 80 e que está querendo nos revisitar. Comunidades inteiras, como a antiga invasão do Ceub, estão sendo erguidas sem sofrerem nenhum incômodo por parte do poder público. Não se trata de elitismo, mas de uma questão social mais ampla. Essas famílias precisam ser assistidas e ajudadas a encontrarem seu lugar nesse mundo, de maneira digna, universal e justa. Mas há também a reclamação que tenho escutado de muitos moradores com relação à deterioração da sensação de segurança e do aumento nos casos de criminalidade. É evidente que a maioria daquelas famílias que estão acampadas nas proximidades da Universidade de Brasília, no fim da Asa Norte, ao lado da Rodoviária interestadual, no viaduto de acesso ao Park Way, próximo ao aeroporto, nas imediações do Ceub e do Detran e em outras tantas áreas são formadas

por pessoas de bem, mas nem todas. Recebo relatos de moradores que informam consumo e venda de drogas, cometimento de pequenos furtos e até roubos cometidos com armas brancas. Não se trata de um caso de polícia, mas de um caso que tem de ter a atenção da Secretaria de Desenvolvimento Social. Essas famílias precisam ser triadas, atendidas, removidas para lugares com condições mais dignas e orientadas para acessos universais a saúde, educação e trabalho. Hoje, como está, caracteriza uma grave ofensa ao direito dos acampados e ao dos moradores dessas regiões. É o retorno de uma situação grave que Brasília havia enfrentado no final dos anos 80, ainda durante o governo tampão de Joaquim Roriz. Naqueles dias, o governador teve coragem para enfrentar essa questão social grave, agindo de forma justa, triando as famílias e entregando a elas o necessário para garantir uma vida digna. Essa é uma pauta que tratarei com o nosso atual governador. Sei que ele é uma pessoa sensível a questões urgentes como essa, principalmente nesses dias em que a pandemia nos obriga, como políticos, a cuidar das pessoas de maneira ainda mais acurada. Sei que o governador dará solução eficiente e suficiente para esse caso e o retorno aos anos 80 servirá apenas de titulo para festas da saudade e como expressão da moda e do entretenimento.

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ARTIGO EDINHO MAGALHÃES

Jornalista e advogado, atua como consultor parlamentar no Congresso Nacional – edinho.assessoria@gmail.com

POLÍTICA NA PANDEMIA OU PANDEMIA NA POLÍTICA?

E

nquanto a pandemia não para, o Congresso Nacional tenta avançar na política. E a política que todos esperam que avance no Congresso é a que possa ajudar a parar a pandemia. Atualmente, existem mais de 4,5 mil projetos em tramitação (alguns já aprovados) que tratam sobre o tema, com propostas que vão desde o Dia Nacional em Memória aos Pacientes de Covid (13 de Março) até importantes alterações na Constituição para combater os efeitos da doença. De acordo com o site do Tesouro Nacional (www. tesourotransparente.gov.br), somando os valores dos principais projetos do Governo e do Congresso Nacional no combate à Covid, o Brasil chega neste fim de ano à casa de meio trilhão de reais já investidos, sendo metade disso apenas em auxílios emergenciais às pessoas mais vulneráveis. A outra metade se divide entre recursos para Estados e Municípios e programas nas áreas da saúde, economia e ação social. Isso tudo foi importante para que o Brasil e o brasileiro pudessem enfrentar a pandemia ao longo de 2020, minimizando seus efeitos sem um pandemônio ainda maior na economia. Porém, esse esforço não pode parar. O mundo percebe sinais de uma segunda onda da pandemia e não sabemos se nosso país terá condições de manter a mesma disposição financeira de ajuda a diversos setores. Então, é preciso criar uma nova ordem e se preparar para novas prioridades: é necessário economizar. O momento é mais do que oportuno! O Congresso tem a responsabilidade de elencar as prioridades do Orçamento do Tesouro para 2021 e é preciso uma cota de sacrifício de todos, inclusive

dos próprios políticos e das autoridades brasileiras. É preciso cortar gastos e rever uma série de benefícios pagos somente a uma casta de pessoas. Não se trata de legalidade, mas de moralidade. Será coerente, por exemplo, a Câmara dos Deputados manter um orçamento de R$ 6 bilhões por ano*? O Senado outros R$ 4,7 bi? E mais outros R$ 2,3 bi do TCU? Já indo ao Poder Judiciário, o orçamento total previsto para 2021, segundo o CNJ, poderá chegar a R$ 50 bilhões. São números emblemáticos. Mas será que realmente são necessários? O que não pode é se tornarem dramáticos... pois é provável que pessoas percam vidas devido à pandemia, mas não seria aceitável que pessoas ainda morram por falta de assistência em meio à pandemia. Voltando ao Congresso, os parlamentares se preparam para votar uma série de Reformas. Mas parece que suas Excelências ainda não se incluíram nessas mudanças necessárias. A maioria das propostas miram apenas no Serviço Público. É preciso, sim, melhorar a eficiência e a qualidade do serviço público, mas é preciso entender, também, o trabalho típico das carreiras de Estado que devem ser preservadas em meio a esse caos de pandemia. Tão importante quanto as autoridades são os servidores essenciais à administração pública. Eis, então, a missão do Governo e do Congresso: diminuir despesas sem diminuir os serviços essenciais. É saber usar a política contra a pandemia...na própria política! Missão nada fácil. *Dados levantados pela Proposta de Lei Orçamentária encaminhada pelo Governo ao Congresso (www.gov.br/economia/pt-br/assuntos/planejamento-e-orçamento)

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RETRANCA

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ENSINO

MODA EM MOLDES M

SENAC-DF SE REINVENTA NAS PLATAFORMAS DIGITAIS PARA MANTER ATIVO O FOMENTO DA MODA LOCAL − DA MASTERCLASS SENAC FASHION DAY À IMPLEMENTAÇÃO DE UM SOFISTICADO SOFTWARE DE MODELAGEM. E, EM 2021, A ESTREIA DO CURSO SUPERIOR EM GESTÃO DE NEGÓCIOS POR THEODORA ZACCARA « FOTOS BRUNO CAVALCANTI

oda: substantivo feminino. Do latim, modus: costume, maneira, jeito. Não é verbo, mas conjuga – transita, transforma. Sempre existiu, mas tem quem diga que só na França renascentista que foi fazer-se “gente grande”. Sempre existiu, mas sempre foi jovem. Brasília: nome próprio, com letra maiúscula e tudo. Do brasileiro, Brasil: Juscelino, Lúcio, Athos. Cidade que mexe com um pouco de música, de arquitetura, de política, de religião, e de quebra tem o melhor pastel de queijo do Centro-Oeste. Já era em tempo desses dois conceitos se cruzarem. Quando Verônica Goulart desembarcou na capital federal não foi uma, nem duas, nem três vezes que ouviu: “Aqui essa história de moda não dá futuro! Vá para Goiânia, que já é polo de consumo e possui muitos eventos do nicho”. Era início de 2016, e a carioca não desanimou. “Cheguei com intenção de fomentar o negócio de moda em Brasília. Pensava que aqui havia muito potencial para crescimento nesse setor, e estava certa”, lembra. Em alguns meses, a hoje Coordenadora de Moda do Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial (Senac) pôde acompanhar essa evolução com as mãos. “No mesmo ano em que me mudei, abrimos o primeiro curso de Costura na unidade de Sobradinho. A experiência formou 64 alunos, e a partir dela desenvolvi uma vasta pesquisa e entreguei uma proposta ao Senac”. Em 2017, os inscritos do programa catapultaram para 598, divididos entre cinco cursos distintos. Nos anos seguintes, a métrica acompanhou a tendência: 737 aprendizes em 2018, 1.237 acadêmicos em 2019 e, em 2020, uma crise para agitar

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as águas. “A pandemia veio acelerando um processo de inovação que acontece no varejo há cerca de uma década. O produtor que já tinha presença online saiu na frente, e as marcas que estavam apenas começando a projetar essa evolução tiveram que acelerar. Quem não sabia trabalhar via internet teve que aprender, quem não tinha familiaridade com a câmera teve que dar um jeito”. Desse modo, o Senac Fashion Day, um evento estilo masterclass que estava apenas em sua segunda edição, também aprendeu a “rebolar”. Lançado em 2019, tem palestras, talks, painéis, mesas redondas, oficina. No ano da pandemia, o show não podia parar. As salas de aula abarrotadas foram riscadas, abrindo espaço para um encontro totalmente virtual. “Esse tem sido um ano de ressignificação, de reinvenção, de sair da zona de conforto, pensar fora da caixa. As palavras de ordem são colaboração e cooperação, e nós queremos, como uma instituição de ensino que forma funcionários dessa cadeira tão potente, entregar as ferramentas para que os profissionais se ergam”. Com tema Boto Fé, a versão ‘pandêmica’ do encontro fez uso da gíria hiperbrasiliense para direcionar esperança: sim, é possível acreditar numa saída para o caos. “Nós, os criativos, somos a melhor tribo pra criar soluções inovadoras. Boto fé que a gente vai superar tudo isso. Boto fé que tudo vai melhorar, aprenderemos muito e sairemos mais fortes”. Mais de 500 inscritos compareceram aos 11 eventos, como o workshop de bordado apresentado por Kátia Ferreira, do Instituto Proeza, e o painel de consultoria de imagem capitaneado pelo professor Fernando Demarchi. Essa última contou com a participação de cinco ex-alunas do curso de Consultoria de Imagem. “A intenção, além desta autodescoberta de vivenciar o processo, é prepará-los para gerenciar seus próprios negócios, auxiliando futuros clientes a descobrirem a grandeza que está no ato de se vestir”, diz.

UM MERCADO DE NÚMEROS

Os dados não mentem: de acordo com levantamentos da Associação Brasileira da Industria Têxtil, o mercado da moda é o segundo maior gerador de empregos no Brasil. Isso se traduz em cerca de 1,5 milhões de trabalhadores e oito milhões indiretos – 75%, dos quais, são mulheres. Mais de 25 mil empresas formais atuam em solo “brazuca” produzindo uma média de 8,9 bilhões de peças. Aqui se tem a maior cadeia têxtil completa do Ocidente: da produção das fibras com o plantio de algodão até o produto final para consumo, passando por fiação, tecelagem e outros processos. O mercado acompanha a matéria do início ao fim, da imaginação ao toque, do fazendeiro ao stylist. Essas esferas erguem a operação Senac. “Temos cursos de criação, desenvolvimento de coleção, estamparia, vitrinismo, visual merchandising e construção de uma imagem de moda”, lista Goulart. “E temos também aulas de costura, bordado, alfaiataria. Gestão de Negócio de Moda, por exemplo, é algo estamos lançando em 2021. Será primeiro curso lato senso na faculdade Senac com toda a estrutura necessária para gerir uma marca de moda, com gestão de produto e sustentabilidade no setor têxtil”. Para agregar tanto, a tecnologia entra como aliada do duo “teoria e prática”. Com isso, a educadora apresenta com orgulho a mais nova aquisição da instituição: o software Aldacis. Produto de uma startup nacional, o programa aterrissou nos computadores Senac ofertando a possibilidade de conceber, com praticidade e rapidez, trabalhos de modelagem, estamparia e confecção de roupas digitais. “Na própria plataforma é possível criar, ajustar, corrigir e enviar o seu projeto para o cliente. Dominando essa ferramenta, você envia seu trabalho para qualquer lugar do mundo”, conclui. www.df.senac.br @senacdf

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PIONEIRISMO

UM ENORME QUEBRA-CABEÇAS FOI PRECISO SAIR DA MOLDURA PARA MANTER VIVA UMA DAS CASAS MAIS ANTIGAS DE BRASÍLIA. EM TRÊS DÉCADAS DE MERCADO, HIGINO FRANÇA NÃO SE ABATEU: ADAPTOU O BUSINESS E NÃO CESSOU O TRABALHO UM DIA SEQUER POR MARINA ADORNO « FOTO LUARA BAGGI

Inaugurada em 1989, a Casa da Moldura tem duas lojas, uma na Asa Norte e uma na Asa Sul, além de uma unidade de produção localizada no Setor de Armazenagem e Abastecimento Norte (SAAN). Com dedicação diária, seu Higino conseguiu ver o empreendimento prosperar, receber o selo Top Of Mind e se tornou figura conhecida da “cena brasiliense” por nunca se ausentar do negócio. Ele faz questão de associar sua imagem à empresa que tanto sonhou e que é referência quando o assunto são as molduras. 54 « GPSLifetime

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ano é 2020. Pandemia. Isolamento social. Um dos maiores clichês da quarentena? Montar quebra-cabeças. E, com tudo fechado, como eternizar o passatempo em um quadro na parede? Chamada de vídeo com um consultor, análise do que seria emoldurado, o local que receberia o quadro, um bate-papo sobre as opções de décor. “Foi preciso criar uma nova forma de prestar o serviço para não pararmos”, conta Higino França, proprietário da Casa da Moldura. Seu Higino, como é chamado, afirma que foi o maior desafio da carreira. “De repente, tocar o meu negócio não dependia mais de mim”, relembra. Com 31 anos de existência e uma vida em meio a vidros, madeiras e acrílicos, a Casa da Moldura precisou “sair da caixa”. “Nunca tivemos uma situação de não ter receita e fechar as portas da loja por tempo indeterminado. O primeiro momento foi de pavor e pânico”, lembra. Entretanto, apesar de todos os pesares que circundavam a situação, a Casa da Moldura conseguiu sobreviver ao período e não apenas isso. “Após dez dias fechados, demos início ao atendimento em domicílio e inserimos na rotina as vendas por meio de chamadas de vídeo”. Para o empresário, o fato de as pessoas estarem socialmente isoladas as levaram a voltar seus olhares e atenções para as próprias casas e os novos formatos permitiram continuar a par das demandas. Além dos quebra-cabeças – sucesso absoluto, que levou a esgotar o estoque de cola para finalizá-los –, a demanda aumentou para emoldurar fotografias e objetos afetivos. “Em outubro, registramos o pico de vendas desde a inauguração”, comemora o carioca-brasiliense, na capital desde 1974. Das lições que a quarentena deixou, o empresário destaca as alternativas de atendimento remoto. “É simples e descomplicado. Hoje em dia, as pessoas valorizam muito a forma como gastam o tempo delas”, avalia. Quando perguntado sobre o maior ensinamento enquanto líder, disse: “O pé tem que estar sempre no chão.” www.casadamoldura.com.br @casadamoldura

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GERAÇÃO

A VELOCIDADE DA SUPERAÇÃO OS OBSTÁCULOS NÃO DETIVERAM OS IRMÃOS MACHADO. DE REVISÃO DE FROTAS A TEST DRIVES DIGITAIS DURANTE O PERÍODO CRÍTICO DA PANDEMIA AO VERTIGINOSO CRESCIMENTO DE VENDAS NOS ÚLTIMOS MESES, A MISSÃO FOI REINVENTAR-SE TODO DIA POR NATHÁLIA BORGO « FOTO LUARA BAGGI

F

oi preciso estratégia e planejamento. E coragem. O grupo Smaff não parou durante a pandemia da Covid-19. Mas não foi por insensibilidade ou falta de cuidados com a saúde do próximo. Pelo contrário, quem é do grupo de risco foi para o teletrabalho e quem permaneceu nas lojas teve que se adequar aos protocolos de segurança. Por isso, foi preciso união e compreensão em meio aos 416 funcionários. Resultado: nenhum caso de transmissão dentro da empresa. “Tomamos medidas de prevenção e motivacionais desde o início para proteger e, ao mesmo tempo, aliviar o medo das pessoas, encorajando-as a vencer os desafios. O objetivo era fazer com que aqueles que ainda estavam trabalhando presencialmente entendessem que é possível continuar, mesmo com o que estávamos enfrentando”, revela uma das diretoras à frente do grupo com os irmãos, Fernanda Farah. A ordem era manter os empregos. Segundo os diretores, na contramão da tendência mundial de mercado, a Smaff decidiu que ninguém seria demitido. E foi além. Um time que antes do mês de março era formado por mais de 300 funcionários, hoje conta com mais de 400. E, ainda, a empresa está com vagas abertas nos setores de vendas, mecânica, atendimento em postos e até reformulou o departamento de vendas diretas, o Fleet Sales, focado em consórcio, carro por assinatura, vendas especiais e possíveis parcerias.

Um dos diretores, Marcelo Machado, conta que o grupo parou por apenas 24 horas, quando o Governo do Distrito Federal lançou o primeiro decreto. Todas as atividades da Smaff, então, foram em função do que a lei permitia ou estipulava. Por ser parte do ramo de necessidades básicas, o grupo reabriu as portas das oficinas em seguida e, para confirmação, os primeiros clientes eram de uma família que teve problemas na estrada e precisou de um conserto para voltar para Minas Gerais. “Carros da Força Nacional fizeram revisão conosco. Atendemos uma grande frota de veículos de home care, ambulâncias, carros que não podem parar, pois realizam os atendimentos residenciais. Os próprios veículos de delivery, que precisam de manutenção diária”, enumera.

CAUTELA Não foi preciso muita preocupação com o trabalho à distância, a Smaff já atuava com um processo de vendas digital. “Antes da pandemia, éramos uma concessionária que estava a nível 2.0. Nós já tínhamos uma estrutura montada. Durante esse período, notamos, inclusive, que outras concessionárias do mercado ainda estavam se estruturando, enquanto nossos colaboradores já eram formados para isso. A pandemia foi apenas uma confirmação que todo o investimento

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valeu a pena”, avalia a gerente de Marketing do Grupo Smaff, Ana Luiza Assis. Hoje, a empresa atua com cerca de 80% das vendas iniciadas de forma online. Muitas delas passam por todo o processo no sistema de distanciamento, com test drive digital e entregas de carros nas residências. Foi implantado nas lojas do grupo todo o processo de sanitização para segurança da equipe e dos clientes que preferem o atendimento presencial, com aferição de temperatura, orientações sobre prevenção e disponibilização de álcool em gel. Diariamente, duas vezes ao dia, o Departamento de Recursos Humanos confere a temperatura dos colaboradores.

EM V NA PRÁTICA De acordo com o diretor Márcio Machado Júnior, o grupo percebeu um aumento exponencial do mercado automobilístico, passado o período crítico da pandemia. O segmento de automóveis no Brasil movimentou em V, ou seja, ele caiu e subiu bruscamente. Na Smaff, em março, a queda nas vendas foi de aproximadamente 39%. Em abril, aumentou para 75%. Em maio, houve uma leve recuperação e a redução foi de 64%. Até que em julho, a empresa já havia superado a crise e voltou a vender como em janeiro e fevereiro de 2020. No mês de setembro, o Grupo apresentou aumento de vendas em 24% e, em outubro, 37%. Entre algumas ações promissoras, a Smaff realizou em agosto o Feirão Virtual inédito no segmento. Em três dias, mais de 300 carros foram vendidos. Ao lançar o Nivus, a Volkswagen promoveu uma ação totalmente digital, em âmbito nacional, para a venda do novo modelo entre o final de junho e o início de julho. A montadora, em sete dias, captou aproximadamente 900 intenções de compra para o novo

produto. De forma paralela, a Smaff promoveu a Nivus Week, uma campanha própria do Grupo, e reuniu 150 intenções de compra em menos de 20h, com um ótimo número de conversões. E a expansão não se refletiu apenas no número de vendas. A Smaff abriu mais uma unidade no início de novembro, no Gama-DF, uma multimarcas. “Chegamos na cidade de quem ama e, como comprovação do sucesso, em menos de um mês, a meta planejada com base num estudo de mercado já foi superada pela nova loja”, pontua a Controller do grupo, Márcia Teles. Para Márcio Júnior, todo esse cenário serviu de aprendizado. Diversos departamentos da Smaff foram readaptados em virtude do vírus, para que os trabalhadores não entrassem nas estatísticas. Isso gerou, inclusive, reconhecimento por parte das montadoras. A Ford, por exemplo, certificou o grupo como uma empresa padrão de regularização no combate à Covid-19. Para além de números, altas e baixas, ficou claro aos diretores, gestores e todo o corpo de funcionários da Smaff que a união faz a força. O conhecido clichê que fez a diferença. “Aquilo que qualquer líder ou empresário coloca como objetivo só é alcançado quando o conjunto apoia. Aqui, nosso sucesso foi devido a isso. Todo mundo acreditou”, conclui Fernanda. www.smaff.com.br | @smaffvolkswagen | @smaff.hyundai | @smaff.ford @smaffseminovos | @smaff.autogrupo

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Foto: Agência Cayac

AUTOMOTIVO

CARROS EM STREAMING INVESTIMENTO EM ENTRETENIMENTO SERTANEJO, TERCEIRO SETOR E PÚBLICO FEMININO FIZERAM COM QUE A NARA MITSUBISHI, COMANDADA PELO EMPRESÁRIO FELIPE CARDOSO, SUPERASSE A CRISE, CONVERTENDO AÇÕES DIGITAIS EM RECORDE DE VENDAS

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paixão por carros e a relação intensa com a Mitsubishi, que começou ainda na infância, fizeram do jovem empresário Felipe Cardoso, de 33 anos, diretor da Nara Mitsubishi, um dos principais representantes da marca no Brasil. “Desde os quatro anos de idade eu escuto meu pai falar da Mitsubishi, eu não me vejo fazendo outra coisa. Sou piloto da marca, comecei aos 17 anos como assistente de vendas na concessionária e passei por vários setores até chegar aqui.” Há dois anos na diretoria, Felipe reestruturou a empresa e, em dezembro de 2019, pela primeira vez em 29 anos de história, a Nara superou todas as concessionárias do Brasil e ficou em primeiro lugar em vendas. Com a pandemia, o comércio precisou se reinventar e, mais uma vez, o jovem executivo saiu na frente e apostou todas as fichas no marketing digital. Ele trouxe para dentro da concessionária a Cayac Publicidade. A partir dessa parceria, a marca, que até então tinha como foco o público do esporte em suas estratégias comerciais, começou a participar das lives de vários artistas sertanejos. “Os investimentos nas lives também servem para mostrar para o cliente que de alguma forma a gente está ali, do lado dele. Hoje, com a pandemia, poucas pessoas saem de casa para ir à concessionária comprar um carro. E essa é uma forma de a gente chegar até o cliente, que antes vinha até a gente”.

Felipe Cardoso entre o Mini Cooper de Daniel Alves e a L200 Triton Sport de Gusttav o Lima

A primeira investida foi na apresentação da dupla sertaneja Jorge e Mateus e, com o sucesso na divulgação da marca, a estratégia publicitária foi levada para lives de artistas locais e de outros famosos como Bruno e Marrone, Gusttavo Lima e Daniel, quando o nome Mitsubishi atingiu o ápice de pesquisa no Google no ano. Inclusive, foi até à casa do Gusttavo Lima entregar a L200 Triton Sport da foto para ele. Agora, a ideia é expandir o projeto para a apresentação de artistas de outros estilos musicais, e também grandes influenciadores digitais, como Lucas Guimarães e Carlinhos Maia. Assim, o empresário pretende chegar a um público maior e mais diversificado. As ações para atrair consumidores, nesse novo normal, não param por aí. A Nara comprou o carro personalizado do jogador da Seleção Brasileira Daniel Alves, um Mini Cooper. Além de ajudar uma ONG com o negócio, a concessionária tem esse veículo exclusivo disponível para seus clientes. Um outro público beneficiado com essas mudanças são as mulheres. Em parceria com a BlueFit e apoio do GPS|Lifetime, extremamente importante nesse momento de reposicionamento da marca, a Nara está promovendo aulões de dança e treinos funcionais exclusivos. Com isso, tem atraído o público feminino que ainda sofre com o machismo presente no setor automobilístico. Com uma mente criativa que não para, Felipe tem um novo projeto: o Injetados, um programa de autoria própria, que vai falar tudo sobre carros e será exibido em uma das plataformas de streaming. www.nara.com.br | @naramitsubishi | @cayacproducoes

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MERCADO

NEW GENERATION OS COMUNICÓLOGOS ANDRESSA FURTADO, JÚLIA CABRAL E THIAGO MIRANDA UNEM EXPERTISES, CRIAM AGÊNCIA MENTHA E PLANEJAM VOOS NACIONAIS FOTO CELSO JUNIOR

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velha máxima “a união faz a força” se fortaleceu durante a pandemia. E foi assim que o trio de comunicólogos Andressa Furtado, Júlia Cabral e Thiago Miranda pensou quando decidiu fazer a fusão de suas empresas: o Grupo Objetiva e a Maçarico Digital. Surgiu, então, a MENTHA – Agência que vibra. “Juntos vimos que poderíamos dar um novo frescor ao mercado, unindo a expertise e a experiência que temos com assessoria de imprensa e relações públicas no Grupo Objetiva com o trabalho despojado, autêntico e criativo que a Maçarico Digital possui”, explica o diretor de relacionamento, Thiago Miranda. Conhecidos na capital por atuarem na área há mais de dez anos e com bagagens diferentes, os três criaram a nova empresa em novembro. “Poder trazer ao cliente uma comunicação 360º desde o offline até o digital é motivador para nós”, diz Andressa Furtado, diretora de conteúdo digital. A união oferece ao mercado um serviço completo na área da comunicação: assessoria de imprensa, gerenciamento de crise, social media, inbound marketing, branded content, influencer marketing, seeding e RSVP. E o objetivo é se posicionar como uma das maiores do Brasil, conquistar até mesmo contas públicas em sua carteira de clientes. “Cada um com seu know how traz para a agência muita energia para proporcionarmos aos clientes um trabalho personalizado, focado e com muita dedicação”, conta a diretora de conteúdo, Júlia Cabral, responsável pela área de assessoria de imprensa. A carteira abriga clientes de diferentes segmentos: política, saúde, educação, telefonia, entretenimento e cultura, gastronomia, lifestyle, moda, economia, direito, varejo, além de sindicatos, associações, shoppings centers e luxo. Entre eles, AMBEV, Iguatemi Brasília, Iguatemi São Paulo, Claro, Bodytech Brasília e Goiânia, SINDAC-DF, Hospital Anchieta, UniCEUB, Colégio Objetivo, Café e um Chêro, Aroma, ‘A Mano, Rubaiyat, Para Ouvir, Café de La Musique Brasília, Rio Claro Investimentos, Boulevard Shopping, Instituto Felicência e Evolve. “Os clientes são como verdadeiros filhos para a gente, elogiamos, damos bronca quando necessário, nos emocionamos com as conquistas”, brinca Júlia Cabral.

NOVA AGÊNCIA, NOVO LAR Nada melhor do que um novo espaço de trabalho para reforçar essa união. Por isso, os sócios pensaram em um novo endereço para toda a equipe, que hoje já conta com cerca de 30 profissionais, entre jornalistas, publicitários e administradores. Uma casa na 704 Sul foi escolhida a dedo pelo trio. “Sabe aquela famosa frase ‘quem casa, quer casa?’. Para celebrar o nosso enlace, nada melhor do que irmos para um local que transmitisse para toda a equipe o que estamos dispostos a entregar, a fazer, a ousar no nosso trabalho”, enfatiza Andressa. Com projeto assinado pela arquiteta Carol Resende, do escritório com/c arquitetura, o espaço de 260m² foi todo estruturado na identidade visual da marca. “Com uma pegada mais cool, os sócios queriam tornar a casa mais despojada, jovem, combinando com o conceito ExperiMENTHA. A ideia foi deixar os ambientes mais integrados em que as pessoas compartilhassem seus momentos de trabalho junto com os momentos de descompressão também”, descreve a arquiteta, que usou as cores branca, cinza, verde menta e preta. Entretanto, por que na 704 Sul? O local fica bem próximo à W3 Sul, rua já considerada por muitos como o coração de Brasília, e que está sendo revitalizada pelo Governo do Distrito Federal desde 2019, em parceria com a Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Distrito Federal (Fecomércio) e a Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL). Com isso, toda a equipe estará bem próxima a restaurantes, shoppings, padarias, farmácias, além de pontos de transporte público, como metrô e paradas de ônibus. “Encontramos um ponto na região central de Brasília perfeito para receber nossa equipe. Será um local importante para nos reunirmos com nossos clientes, apresentar nossos projetos e muito mais”, conclui Miranda. www.agenciamentha.com.br @agenciamentha

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SAÚDE

AMOR NO CORAÇÃO COM A DESENVOLTURA E O DOMÍNIO NECESSÁRIOS TANTO NA ATUAÇÃO CLÍNICA QUANTO EM PESQUISAS E NO T ATO UMANO O CA DIOLO ISTA FAUSTO STAUFFER SE DESTACA PELO EXERCÍCIO DA MEDICINA HUMANIZADA POR NATHÁLIA BORGO

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tendimento clínico sem fronteiras quase 24 horas por dia. “Mesmo depois de abrir mão dos plantões, continuo como médico assistente em todos os hospitais de Brasília. Eu acompanho meu paciente em qualquer unidade onde ele se interna. Gosto de saber de cada um, estar presente e resolver o problema”. A afirmação é de um cardiologista de coração firme e pés fincados na medicina humanizada, o carioca radicado em Brasília Fausto Stauffer. Adepto ao estilo mais antigo de clinicar, o médico preza pela anamnese do fio de cabelo ao dedo do pé. Um diagnóstico completo por uma relação inteira. “Além da visão científica, é necessário ter visão holística do ser humano”, destaca. Stauffer sonhava com a profissão desde menino e hoje exerce o ofício no consultório que leva o próprio nome, na Asa Sul. O pai era auditor fiscal da Receita Federal e a mãe, economista. Ambos fizeram de tudo para que o médico pudesse se dedicar à área pela qual ele já tinha tanto amor, mesmo sem conhecer. “Criamos uma fascinação sobre a missão humanitária do médico com a possibilidade de curar doenças e salvar pessoas. Mas só conhecemos a medicina quando finalmente nos inserimos nela, e somente após a faculdade é possível decidir qual área seguir de fato”, relata sobre sua escolha. O curso, de acordo com o cardiologista, possibilita a atuação em diversas frentes, como acadêmica, informática ou administrativa, e não somente em salas de cirurgia. “É uma imensa janela para pesquisas, como eu fiz durante um bom tempo de estudos. Ou você pode se tornar um ótimo gestor”, explica.

Formado e pós-graduado em medicina pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Stauffer veio para Brasília guiado pelo mesmo amor que ele alimenta pelo ofício e por pessoas. Foi professor adjunto na Universidade de Brasília (UnB) entre 2008 e 2010 e hoje faz pós-doutorado em reabilitação cardiopulmonar e insuficiência cardíaca na mesma universidade. E na administração da agenda que se divide entre pacientes e familiares, o cardiologista se doa na diretoria científica da Sociedade de Cardiologia do Distrito Federal (SBC/DF).

PHILOSOPHIAE DOCTOR Na raiz grega da expressão: “amor ao conhecimento”. Assim como os grandes filósofos da humanidade, o médico avançou ao mais alto nível de formação, com o título de MD PhD. Incansável nos estudos, Stauffer também cursou uma parte de seu doutorado em Portugal, na França e em Buenos Aires. Além de marcar presença em congressos e cursos internacionais, bem como ser palestrante no Congresso Brasileiro de Cardiologia. “Atualização é a coisa mais importante na área médica”, conclui. Uma contribuição antecipada à esta pandemia viria bem antes de o mundo conhecer o vírus SARS-CoV-2. Fausto recebeu o Prêmio Capes de Teses pelo método de Inativação Viral para formulação de vacinas, elaborado durante o doutorado. Procedimento ainda utilizado pela Fiocruz em pesquisas em laboratórios. www.faustostauffer.com.br

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RETRANCA

ARTIGO RAFAELLA MELO

Cirurgiã Vascular – CRM-DF: 16594

@dra.rafaellamelo

A ESTÉTICA A FAVOR DAS VARIZES

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s varizes são as alterações vasculares mais comuns em pessoas maiores de 15 anos. Dados da Organização Mundial de Saúde (OMS) sugerem que 33% da população brasileira (dos quais, 75% são do sexo feminino) apresenta ou apresentará essas alterações. No Brasil, o bom resultado estético tem sido procurado cada vez mais, por se tratar de um país com o clima quente e a vaidade resultantes de um país tropical. Mas o que são varizes? Varizes (ou varicosas) são veias superficiais anormais, doentes, dilatadas e tortuosas, caracterizando uma alteração funcional da circulação venosa do organismo. Existem diversos tipos de varizes, que vão desde “vasinhos” (microvarizes) até as mais calibrosas. O objetivo é aliviar os sintomas (como dor tipo "queimação" ou "cansaço", sensação de peso e edema das pernas), tratar e prevenir complicações e proporcionar satisfação cosmética. Nos últimos 20 anos, a tecnologia atuou a favor da flebologia moderna, proporcionando novos procedimentos para o tratamento em consultório, sem a obrigatoriedade de uma internação hospitalar. Assim, em tempos de pandemia e, até mesmo, pós-pandemia, nada mais justo do que optar por tratamentos minimamente invasivos, com mínimo ou nenhum

repouso pós-procedimento. Nesse contexto, temos diversas modalidades que podem proporcionar bom resultado, com segurança adequada. O laser transdérmico, amplamente utilizado na medicina, apresenta-se como meio revolucionário no tratamento de lesões vasculares. Há uma variedade grande de laseres e ajustes que possibilitam adaptar o tratamento a uma grande variedade de lesões vasculares (desde microvarizes até varizes um pouco mais calibrosas). Sempre utilizado com um aparelho resfriador de pele para minimizar a dor do procedimento. Até as microvarizes da face podem ser tratadas por este método. Método ClaCs (Cryolaser + Cryoescleroterapia): consiste em uma técnica que associa o laser transdérmico e a escleroterapia com glicose. Muito útil e amplamente utilizado em veias menos calibrosas e superficiais na pele. Tratamento com espuma densa: injeção de produto concentrado, manipulado em forma física de espuma, para o tratamento de veias mais calibrosas, podendo substituir cirurgia de varizes em alguns casos. E, nos casos de comprometimento da veia safena, podemos optar pela termoablação: tratamento utilizando laser endovenoso, em que uma fibra óptica é introduzida na veia para “queimá-la” por dentro. Procedimento este, considerado padrão ouro. Entretanto, o paciente deve passar por avaliação criteriosa pelo cirurgião vascular/angiologista, de forma a ser determinada qual será a melhor abordagem terapêutica. Lembrando que o tratamento deve ser individualizado e que, hoje, disponibilizamos tratamentos pouco invasivos, praticamente sem repouso e realizados em consultório. Atendimento na Clínica Metafísicos Telefones: (61) 3039-8207 / (61) 98193-0093

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MEDICINA

MEDICINA, ESTUDO ETERNO RODRIGO LIMA ATUOU NO FRONT DE UM DOS HOSPITAIS MAIS CONCEITUADOS DOS ESTADOS UNIDOS, O CEDARS SINAI, E TROUXE ESSA EXPERIÊNCIA PARA O MERCADO DE BRASÍLIA POR MARINA ADORNO « FOTO LUARA BAGGI

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medicina é uma profissão que muito exige daqueles que a escolhem. Além das incontáveis horas de estudo para entrar na faculdade, dos dias envoltos em pesquisa e dos plantões extensos, para exercê-la é preciso manter os conhecimentos atualizados. Afinal, enquanto ciência, ela está em constante evolução. Foi justamente essa percepção que fez o ortopedista brasiliense Rodrigo Lima buscar especialização em sua área fora do País, em 2017. Na sua lista de opções estavam hospitais da Europa, Ásia e dos Estados Unidos da América, mas acabou optando por este último, mais precisamente pelo Cedars Sinai, em Los Angeles, Califórnia, centro de saúde renomado na América do Norte. “A minha ideia nunca foi ficar lá. Eu queria aprender as técnicas que os colegas norte-americanos aplicam e trazer esse conhecimento para os hospitais brasileiros”, afirma Rodrigo. Durante seu intercâmbio, acompanhou a rotina de Neel Anand, especialista em cirurgia minimamente invasiva. Segundo Rodrigo, um dos melhores profissionais da atualidade nas intervenções de coluna. “Acordava às 6h e assim que chegava no hospital a gente tinha o briefing dos casos que iríamos operar. Realizávamos duas a três cirurgias por dia. Eu saía de lá às 19h”, comenta. Segundo o médico brasiliense, foi um choque de cultura muito grande e, no primeiro mês, teve vontade de desistir, mas aos poucos se acostumou e se inseriu no novo ambiente de trabalho. Baladas hollywoodianas

não faziam parte da rotina de Rodrigo. Esta se resumia entre os estudos e o hospital. “É importante você ir com um objetivo e eu sabia qual era o meu”.

DESAFIO O profissional que, antes de ingressar na no curso de Medicina na Escola Superior de Ciências da Saúde (FEPECS), atuou como eletrotécnico da Companhia Elétrica de Brasília (CEB), reconhece que essa não é uma experiência acessível para todos e para ele também não foi. Rodrigo relembra que se organizou durante um ano para viabilizar o fellowship no exterior e para isso trabalhou em ritmo intensivo. Pegando plantões extras e até mesmo se dividindo na ponte aérea Brasília-Belo Horizonte para conseguir juntar o montante necessário para se manter durante três meses em Los Angeles. “Abri mão de muita coisa por esse sonho”, avalia. Na bagagem, além da força de vontade, Lima levou consigo muitos medos. Tantos que para alguns não encontrava sequer motivo, mas o maior de todos era não ter o máximo de aproveitamento no aprendizado. Hoje, estabelecido no mercado brasiliense como um especialista conceituado em cirurgias de coluna vertebral, ele assegura que valeu a pena. “Mudou a minha formação, se não fosse esse período no Cedars Sinai, o meu mundo seria muito fechado. Eu devo a essa experiência o patamar de referência que atingi na minha carreira e sou muito grato em saber que os meus pacientes não precisam mais ir para fora para fazer uma cirurgia de coluna”, conclui. @dr.rodrigo_lima @clinicaortosulbrasilia

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Foto: Ricardo Ribeiro

MÚSICA

MUITO MAIS QUE MENOS EM QUATRO ANOS, O JOVEM QUINTETO TROCOU A CANTORIA NOS BOTECOS DO DF PARA SUBIR AO PALCO E ECE E O PRÊMIO MULTISHOW E PLOSI OS NA INTERNET, REÚNEM MILHÕES EM AUDIÊNCIA, ENQUANTO AGUARDAM A HORA DE CANTAR PRESENCIALMENTE EM ESTÁDIOS BRASIL AFORA POR MARCELLA OLIVEIRA

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enredo é típico da novela das 21h. Imagina aquele fim de tarde, amigos reunidos, cerveja gelada, uma banda jovem ao fundo toca clássicos do pagode. Todo mundo se diverte, mas ninguém presta atenção em quem segura o microfone, toca o cavaquinho ou o pandeiro. No último capítulo da trama, vão de desconhecidos para o palco do maior prêmio da música brasileira. Parece ficção, mas é história da vida real. “Nosso primeiro show foi em um barzinho no Taguaparque para 50 pessoas”, lembra o músico Jorge Farias (tantã), do grupo brasiliense Menos é Mais, sobre a estreia, em 2016. Eles não imaginavam a ascensão meteórica que viveriam. Presença constante em bares da cidade como Bar do Calaf, Buteco da Boa, Serpentina Zero Grau, Brazolia Bar, o sucesso foi coroado em novembro de 2020 com a vitória na categoria Experimente, do Prêmio Multishow. “Foi surreal”. Jorge fundou o grupo ao lado de Gustavo Goes (repique de mão). Aos poucos, outros músicos se juntaram, até a formação do quinteto atual: Jorge, Goes, Duzão (vocalista), Paulinho Félix (pandeiro) e Ramon Alvarenga (surdo). “Ramon e Paulinho vem de família de músicos e já trabalhavam profissionalmente. O

Duzão havia começado a tocar na noite. Eu e Goes tínhamos outro trabalho, eu cursava Engenharia e ele era jornalista”, conta Jorge. A jovialidade dos músicos – com idades entre 24 e 31 anos – reflete-se no elemento que eles atribuem ao responsável pelo seu sucesso: o digital. Somam 1,3 milhão de seguidores no Instagram, 2,2 milhões de inscritos no canal do Youtube, 660 milhões de visualizações e 3,5 milhões de ouvintes mensais no Spotify. “Brasília não tem força nas rádios, no meio artístico. Não tem empresários nem artistas próximos para nos apadrinhar. Então, resolvemos investir na internet. Era a saída para aumentar nossa audiência para o Brasil”, explica Jorge. Mais do que videoclipes cada vez mais bem produzidos, o quinteto sabe que é preciso se comunicar com o público como influenciadores. De bastidores dos shows a vídeos divertidos do TikTok, o Menos é Mais nasceu e cresceu digital, ultrapassando as fronteiras do Distrito Federal e caindo no gosto de artistas do pagode nacional, como Alexandre Pires, e até mesmo de celebridades, como o jogador Neymar. Antes mesmo da conquista do Prêmio Multishow, eles vinham galgando o espaço no meio artístico.

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“Em janeiro deste ano, vimos que tinha dado certo”, analisa Goes, sobre a grande expectativa para a carreira em 2020. “Quando fomos obrigados a parar, veio o medo do desconhecido. Mas como temos um trabalho muito forte na internet, a gente conseguiu manter nossa receita. Nossa primeira live, em abril, bateu meio milhão de visualizações simultâneas”, lembra Duzão. O canal no Youtube tinha sido lançado em dezembro de 2019 e eles já vinham numa crescente. Com a pandemia, saíram à frente de muitos artistas por já ter um extenso material no canal. Tornaram-se um fenômeno digital. “Ao mesmo tempo que achávamos que o isolamento social seria uma âncora, porque já estávamos viajando o País e tínhamos muitos convites, o digital nos ajudou a ter essa força que precisávamos nesse momento”, analisa Jorge. Se digitalmente atingiram todo o Brasil, ainda não visualizaram ao vivo e a cores o sucesso alcançado. Aquelas primeiras 50 pessoas no show do barzinho no Taguaparque já se tornaram 11 mil no Samba da Feira, no Rio de Janeiro, mas eles querem mais. “Tenho um desejo de ver o Mané Garrincha lotado”, almeja Jorge. “Ainda não rodamos o Brasil todo, mas aos poucos a gente está indo. Para dezembro, temos 20 shows agendados. Por onde a gente passa, já estamos recebendo muito carinho do público”, conta Ramon.

Diminuir o ritmo de shows também proporcionou ao grupo dedicação ao trabalho autoral – e rendeu um contrato com a Som Livre e com o escritório carioca GH Music. No final de novembro, lançaram a primeira parte do álbum de inéditas, batizado de Plano Piloto. São seis canções, com participações de Dilsinho e Xande de Pilares. “O Duzão até arrisca algumas composições, mas nesse novo álbum nós buscamos compositores já renomados no samba e no pagode, como Diney, Xande de Pilares, Carlos Caetano, Leandro Fab, Lucas Morato, Cleitinho Persona, Elizeu Henrique, Rodrigo Oliveira e várias outros fenômenos da ‘caneta’”, conta Ramon. Com orgulho de representarem o pagode, não se intimidam em falar onde querem chegar. “Temos referências nacionais, como Revelação e Fundo de Quintal, e também da cidade, como Coisa Nossa, Amor Maior e AdoraRoda. Mas nossa maior inspiração, sem dúvidas, é o Exaltasamba”, revelam. Mudar de Brasília por ora não é um ponto em discussão. “Aqui é nosso porto seguro”, defendem. Assim como o nome do grupo propõe, querem mostrar que a simplicidade pode ser tudo. O menos sempre pode ser mais. Mas em tempos em que a música foi um dos ingredientes para acalmar nosso coração aflito, esse Menos tornou-se tudo. @grupomenosemais

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OS MENINOS Jorge Farias (tantã), 28 anos Música: “é minha vida” Brasília: “é minha origem, nasci em Manaus, mas sou cria de Brasília. Aqui é nosso porto seguro” Menos é Mais: “um projeto de vida que tem tudo para dar muito certo” Ramon Alvarenga (surdo), 31 anos Música: “toco desde meus 13 anos. É a minha vida, não é menos que isso” Brasília: “tenho o maior orgulho de ser daqui. A gente faz questão de falar que é daqui. Nosso cantinho” Menos é Mais: “família. Convivemos mais entre a gente do que com as nossas próprias famílias” Duzão (vocal), 24 anos Música: “quando pensei em desistir, recebi o convite para o Menos é Mais. Desde lá, a música vem sendo tudo para mim” Brasília: “sou nascido e criado no Gama. Aqui é e sempre será a minha casa” Menos é Mais: “foi onde eu consegui realizar um dos meus sonhos e vou realizar mais sonhos ainda com essa rapaziada”

Paulinho Félix (pandeiro), 28 anos Música: “sempre vivi de música e exerço essa profissão com amor. Fico emocionado mesmo ao falar da música” Brasília: “é onde estão meus laços, onde me renovo. É a minha casa” Menos é Mais: “realização e sonho. Tem quem sonhe em ser jogador de futebol. Eu vim de uma família de músicos e sonhava em viver o que estamos vivendo hoje” Gustavo Goes (repique de mão), 26 anos Música: “fui escolhido pela música. É a força que me move” Brasília: “sou carioca, mas moro aqui dede que tinha seis anos. É onde me sinto em casa” Menos é Mais: “hoje representa 100% da minha vida, onde fiz a minha família”

Foto: Luara Baggi

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Foto: Leo Aversa

TELONA

RENÉ SAMPAIO INTEGRA O ELENCO DOS MELHORES DIRETORES DA ATUALIDADE. PREMIADO EM FESTIVAIS INTERNACIONAIS, UM DE SEUS PERSONAGENS PRINCIPAIS É BRASÍLIA. DENTRE AS ESPERADAS PRODUÇÕES, EDUARDO E MONICA, CANÇÃO DE RENATO RUSSO POR MARCELLA OLIVEIRA

PAPO DE CINEMA B

rasília, década de 80. Um menino ficava nas tardes quentes e secas típicas da capital colado no rádio. Esperava o momento exato para apertar o rec e gravar em fita cassete a música mais tocada da época. Desde então, já se encantava com boas histórias, especialmente uma certa contada em mais de dez minutos pela Legião Urbana. Ou aquela outra que tinha como cenário o Parque da Cidade e seus “camelos”.

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João de Santo Cristo, Maria Lúcia, Eduardo, Mônica. Os personagens criados por Renato Russo caíram no imaginário popular brasileiro. Cada um fez sua versão dessas histórias de amor. Mas coube a um brasiliense, é claro, transformá-las em filme. “Tanto Faroeste Caboclo quanto Eduardo e Mônica são filmes-eventos. Não é a mesma coisa de ver no sofá de casa”, acredita o diretor brasiliense René Sampaio. Surpreendido pela pandemia, o lançamento de Eduardo e Mônica era para ter sido em junho de 2020, mas foi adiado. Chegou a receber propostas lança-lo em streaming, mas optou por esperar. “Esse é um filme catártico. Quem quiser participar do evento, aguarde um pouco. É que nem o Rock in Rio. Dá para ver o show online? Dá. Mas não é a mesma coisa de estar lá. Só vamos lançar quando pudermos exibi-lo com segurança nos cinemas”, afirma. Mais do que contar uma história, René se alegra por poder mostrar, mais uma vez, Brasília nas telonas. “Ela é um personagem, assim como o Eduardo e a Mônica”, brinca. “Tenho uma relação umbilical com a cidade. Meu primeiro instinto quando ouço ou penso uma história é colocá-la em Brasília, pois é visceral pra mim. Brasília me dá conforto e inquietude ao mesmo tempo”, revela. Além das duas adaptações para o cinema das canções de Legião Urbana, Brasília já foi retratada por René na série Amor ao Quadrado, exibido pela Globo. O diretor tem ainda no currículo a série Dupla Identidade, também da Globo, e Impuros, produção da Fox Premium, já em sua quarta temporada. “E faremos um terceiro filme inspirado em obras de Renato Russo. É uma trilogia. Mas só vou revelar qual será a música depois que lançar Eduardo e Mônica”, diz, cheio de mistérios. Enquanto isso, ficamos aqui entoando os versos e imaginando o célebre encontro da moça de moto com o menino de camelo lá no Parque da Cidade.

IDENTIDADE CANDANGA René nasceu, cresceu e iniciou a trajetória profissional na capital. Por mais de vinte anos, morou na mesma casa na 704 Norte. “Ainda tenho grandes

amigos de infância e um grupo no WhatsApp chamado ‘704’”, revela, aos 45 anos. No currículo escolar, frequentou o Montessori, o Inei e o Sigma, antes de ingressar na Universidade de Brasília (UnB) para cursar Jornalismo e Publicidade. “Mas queria mesmo saber de cinema e televisão”, confessa. Foi na universidade que descobriu o que hoje é seu lugar preferido na capital: o Cine Brasília. Primeiro como espectador, depois trabalhando. Foi lá que estreou seu curta-metragem Sinistro, vencedor de sete candangos no Festival de Brasília do Cinema Brasileiro. Aos 45 anos, René vive hoje boa parte do seu tempo no Rio de Janeiro, onde moram a mulher, a atriz Bruna Spínola, e a filha, Maria Luísa, de 11 meses. “Eu vivo mesmo dentro de uma mala, onde o trabalho está. Mas Brasília é minha raiz e não largo dela não”. “Tenho residência, título de eleitor e, principalmente, novos projetos no DF”, completa.

CINEASTA NA PANDEMIA “Eu já era um cara meio trabalhador de casa. Eu escrevo, estudo, trabalho à distância. Tenho produção acontecendo em Brasília e São Paulo ao mesmo tempo. Em relação aos projetos, foi muito frutífero. Mas foi quase impossível rodar algo. Conseguimos aprovar, rodar e estrear duas coisas durante a pandemia. A minha produtora fez um projeto chamado Bar Aberto, com a Marina Persona, na Band. E, na Globo, fizemos o Replay, a regravação de Acabou Chorare, o disco mais importante e com os maiores sucessos dos Novos Baianos.”

O RETORNO AOS SETS “O próximo desafio é saber como as produtoras independentes vão agir. A Globo, por exemplo, tem condição, artisticamente, de trabalhar com um formato que permite uma câmera parada de cada lado e um acrílico no meio, em estúdio, luz controlada. Em um caso como Impuros ou Eduardo e Mônica, em que os atores estão muito próximos e a câmera perto, é muito difícil filmar com segurança.” GPSLifetime « 75

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EDUARDO E MÔNICA “Foi uma grande frustração para todos não termos feito o lançamento no dia 12 de junho de 2020, Dia dos Namorados. Mas o público pode esperar um filme à altura da música. A gente tentou ser o mais fiel possível à história, inventando o que tem que inventar para fazer um filme de cinema.”

O FILME EM FESTIVAIS “Tínhamos uma estratégia de apresentar o Eduardo e Mônica em festivais internacionais e depois lançar no Brasil. A estreia foi em março, no Festival Internacional de Miami, suspenso logo após às duas exibições do filme, por causa da pandemia. Tivemos que voltar correndo para o Brasil antes que os aeroportos fossem fechados. Foram sessões lotadas, recebemos um retorno muito positivo do público e chamou atenção da crítica. A partir daí, os festivais tiveram que se reinventar e quase todos viraram eventos online e a gente não quis disponibilizá-lo virtualmente pra não correr o risco da pirataria. Fomos convidados para mais de 10 ou 15 festivais bacanas. O festival de Edmonton no Canadá, em outubro, foi presencial. Ganhamos o prêmio de Melhor Filme. Ele tem tradição em selecionar filmes que futuramente serão candidatos ao Oscar de Melhor Filme Estrangeiro. Em 2016, programou todos os cinco indicados ao prêmio de Melhor Filme Estrangeiro, juntamente com Moonlight, que venceu na categoria de Melhor Filme.”

O CASAL MAIS QUERIDO “A Alice [Braga] e o Gabriel [Leone] tiveram uma química muito bacana. Nesse caso, a gente não escolheu um personagem, mas um casal. E eles super abraçaram a história e foram atores que se entregaram muito. Todo mundo queria ser a Mônica, queria ser o Eduardo, inclusive a gente.”

BRASÍLIA CINEMATOGRÁFICA “Tudo que eu faço tem um pouco de Brasília. Faroeste Caboclo não faria sentido em outra cidade. Eduardo e Mônica é um triângulo amoroso com a cidade.

A cidade é uma parte da história. E fora que, visualmente, Brasília é sensacional. Pela arquitetura, pelo céu, pela luz. O contraste do que é bonito e do que é feio. Tem a questão estética muito forte que eu gosto de explorar, tento colocar nos planos abertos em contradição aos planos fechados. E tem a narrativa, acho que Brasília faz pessoas, tempos e espaços diferentes.”

PRODUÇÃO BRASILIENSE “Trabalho com bastante equipe local sempre. Talvez não tenha o mesmo volum e de produção de outros estados, mas com apoio e investimento do FAC, fazemos filmes de importantes diretores como Iberê Carvalho, Belmonte, Vladimir Carvalho, Mauro Giuntini. Acho que a produção de Brasília é muito bacana, precisa que os mecanismos de incentivo continuem funcionando.”

CINEMA NACIONAL “Fazer cinema, teatro ou arte é resistência. Nunca será fácil, ainda mais porque a nossa cadeia produtiva é dominada pelos filmes norte-americanos. Eles têm o mérito deles, não estou criticando. Eu acho que a gente precisa de mecanismos que incentivem o fomento. Hoje, o sistema não está funcionando. Acho importante que ele volte a funcionar. Netflix, Amazon, Globo são empresas privadas que investem em produção. Mas um apoio governamental é essencial.”

FESTIVAL DE BRASÍLIA “Eu o descobri quando entrei na UnB. Desde 1992, frequentei muitas edições. Como plateia, como técnico, trabalhando no filme dos outros, como estudante, diretor, palestrante. Para mim, é o principal festival do cinema brasileiro. Os de São Paulo e Rio são maiores, mais internacionais, mas para o cinema brasileiro e para o cineasta, Brasília tem uma dimensão política de quem faz cinema. Tem uma plateia muito viva. Você percebe na hora se o filme está indo

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Foto: Janine Morae s

Foto: Mariana Vianna

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Foto: Arquivo Pessoal

Foto: Hugo Miranda

Com Gabriel Leone e Alice Braga nas gra vações de Eduardo e Mônic a, no Parque da Cid ade

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bem ou não. Até na respiração. O Cine Brasília é uma panela de pressão quando está cheio.”

PRÓXIMOS PROJETOS “A gente tem aprovada uma série que ainda não posso contar detalhes, em parceria com a Netflix. É a primeira série do Matheus Souza, que é um grande roteirista e também diretor, outro brasiliense fazendo história mundo afora, que foi também roteirista de Eduardo e Mônica. É uma outra história de amor, em formato série. A gente deve rodar no ano que vem.”

PLANOS INTERNACIONAIS “Depois do sucesso de Faroeste Caboclo, passei a ser consultado para projetos no exterior. Meu manager em Los Angeles e eu recebemos diversos roteiros dos estúdios de Hollywood. Estou lendo algumas coisas enquanto desenvolvo meu próprio material. Nessa indústria ser o dono da propriedade intelectual te dá muito mais força. Vamos esperar e fazer o projeto correto.” GPSLifetime « 77

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pesar de tradicional e de certo modo até afetivo, o “boa noite” de Willian Bonner não pode ser considerado a saudação mais emblemática da televisão brasileira. O posto fica com Sonia Maria Dorce. Em 18 de setembro de 1950, uma garotinha de seis anos de idade era o primeiro rosto a aparecer na TV do brasileiro. Com um cocar na cabeça, Sonia anunciava uma novidade que mudaria as nossas casas, o nosso estilo de vida e a nossa maneira de nos comunicar: “Boa noite. Está no ar a televisão do Brasil!”. O adorno indígena foi a pedido do ousado Assis Chateaubriand, o magnata que ali tornava realidade a primeira emissora de tevê do País e da América Latina, a TV Tupi. O resto é história. Uma história que começou a ser contada timidamente em preto e branco, com hora marcada para acordar e para dormir. Mas que hoje dá continuidade aos seus capítulos em altíssima definição e durante 24 horas por dia. Em 2020, a TV brasileira “setentou”, mas se engana quem acha que ela envelheceu. Pelo contrário, mostra-se cada vez mais viçosa. Em todos esses anos, não saiu de moda uma vez sequer – e com tranquilidade assumimos que nunca sairá. Se antes cabia apenas numa ampla sala de estar, hoje a colocamos no bolso e a levamos para qualquer lugar.

Para quem já andava desacreditado da magia da tevê, principalmente por conta das plataformas de streaming e das mil e uma novas distrações que surgiram nas últimas décadas, a pandemia veio para acabar com o ceticismo. Um exemplo? Confinados em casa, sem mesmo o rotineiro futebol para acompanhar, a união dos brasileiros diante da televisão fez do Big Brother Brasil 2020 uma edição histórica. No topo das audiências do ano, o reality show transmitido pela Globo entrou para o Guiness World Records, o livro dos recordes, como o programa de TV que recebeu a maior quantidade de votos do público. Mérito de um “paredão” que somou 1,5 bilhão de votos. Parecia coisa de Copa do Mundo!

SEM IGUAL Por meio de programas para lá de originais e de difícil definição – como explicar uma figura com roupas espalhafatosas e uma buzina pendurada no pescoço gritando “Quem quer bacalhau?” –, a TV brasileira foi e segue como um grande pilar na construção da cultura popular do País.

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Além do bacalhau e da Terezinha de Chacrinha, o “velho guerreiro” que fez gargalhar muitas emissoras entre as décadas de 1960 e 1980, vários outros bordões e rostos se transformaram em símbolos da TV brasileira e foram eternizados no imaginário do telespectador. O “gracinha” da eterna rainha Hebe Camargo, o “quem quer dinheiro?” de Silvio Santos, o “beijinho, beijinho, tchau, tchau” da intergaláctica Xuxa, o dominical “ô loco, meu!” do Faustão, o empolgado “valendo!” do Gugu para liberar a banheira, o simpático “beijo do gordo” de Jô Soares... O almanaque é extenso. No quesito humor, mais uma lista longa de nomes e produtos marcaram gerações e inspiraram formatos atuais, como Chico Anysio e sua Escolinha, e Renato Aragão e seus Trapalhões. Entre outros títulos que jamais serão esquecidos pela salva de risadas, vale exaltar a autenticidade de A Praça é Nossa, Família Trapo, TV Pirata, Sai de Baixo, Casseta & Planeta, Urgente!, Zorra Total e A Grande Família. Carro-chefe do rádio, a música também trilhou um caminho de êxito rumo à tevê. Muito antes da MTV Brasil chegar com uma programação 100% dedicada a esse universo, em outubro de 1990, o Festival de Mú-

Raimundo

sica Popular Brasileira fez e aconteceu lá em 1960. O concurso musical foi o responsável por alavancar as carreiras de Elis Regina, Caetano Veloso, Chico Buarque, Jair Rodrigues, entre outras figuras que se tornariam ícones da MPB.

VALE A PENA VER DE NOVO É claro, falar de televisão brasileira é falar de um dos nossos maiores tesouros e motivo de orgulho: as telenovelas. Não é por nada que as produções nacionais sempre marcam presença no Emmy Internacional, considerado o Oscar da televisão. Doze novelas já foram indicadas ao prêmio criado em 2008, todas da Rede Globo. Destas, sete saíram com a estatueta, sendo as mais recentes para Verdades Secretas (2015), de Walcyr Carrasco, e Órfãos da Terra (2019), das autoras Duca Rachid e Thelma Guedes. Seja trazendo representações sociais da vida real ou a mais pura ficção mística, quando a trama pega, o país inteiro para. É assunto na escola, no trabalho, no bar, nas redes sociais... Em 1988, quando estava GPSLifetime « 79

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no ar Vale Tudo, de Gilberto Braga, ainda não existia Twitter para comentar sobre o assunto mais falado do momento: “Quem matou Odete Roitman?”. Mesmo assim, esse foi o mistério que engajou o Brasil durante 13 dias, com direito a fartas apostas e rifas para quem acertasse quem foi que tirou a vida da personagem de Beatriz Segall. Na mesma década, José Wilker, Regina Duarte e Lima Duarte fizeram subir a audiência da Globo com Roque Santeiro (1985), de Dias Gomes e Aguinaldo Silva, entrando para a história da teledramaturgia como uma das tramas mais comentadas até hoje. Antes da virada do milênio, também fizeram sucesso as histórias de Guerra dos Sexos (1983), Vamp (1991), Tieta (1989), Torre de Babel (1998), Pantanal (1990), A Viagem (1994), entre outras. Depois dos anos 2000, mais comoção para uma nova geração de noveleiros. Como Camila, Carolina Dieckmann raspou a cabeça ao som de Love by grace em Laços de Família (2000). Malu Mader e Cláudia Abreu protagonizaram uma das maiores surras da TV nos papeis de Maria Clara e Laura em Celebridade (2003). Susana Vieira como Maria do Carmo viveu embates angustiantes com Renata Sorrah na pele da vilã Nazaré Tedesco em Senhora do Destino (2004).

o Perdidos na Noite

Em 2012, na primeira novela que estremeceu as redes sociais, Adriana Esteves na desequilibrada Carminha e Débora Falabella na mocinha Nina colocaram a Avenida Brasil (2012) no topo da audiência de vários países.

“HAJA CORAÇÃO!” E quando o assunto é esporte a emoção vem em dose cavalar. Como era de se esperar no País do Futebol, a estreia da Copa do Mundo na TV brasileira, em 1970, foi um verdadeiro acontecimento – já em cores para pouquíssimos, mas ainda em preto e branco para a maioria. Em vez de uma torcida com ouvidos atentos em volta do rádio, pela primeira vez os olhares se fixavam numa tela para prestigiar a seleção Canarinho, que naquele ano conquistaria o icônico “Tri”. Para a cobiçada cobertura, foi acordado um pool entre Tupi, Globo, Record e Bandeirantes, que exibiram os mesmos jogos em cadeia, ou seja, cada trecho das partidas era transmitido e narrado ao vivo pela equipe de uma emissora diferente. Imagina só... Fora de campo, vimos Emerson Fittipaldi vencer o primeiro título brasileiro na Fórmula 1, seguido de

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Nelson Piquet. E não havia quem segurasse as lágrimas quando o capacete verde-amarelo de Ayrton Senna erguia a bandeira nacional ao som de Tema da Vitória. Mas com o passar dos anos ainda brilharíamos no basquete, na piscina, nas ginásticas, no vôlei, no tênis, nos ringues... E depois de assistirmos à nossa bandeira estrear tantos outros títulos mundo afora nas mais diversas modalidades, em 2016 as emissoras nacionais e internacionais voltaram sua programação para um único cenário: o Rio de Janeiro. A primeira edição dos Jogos Olímpicos no Brasil foi responsável por uma cobertura midiática nunca vista antes por aqui. Apesar de tantos pódios triunfantes, o recorde de audiência nacional do evento ficou para a cerimônia de abertura: 28 milhões de olhares escoltaram Gisele Bündchen cruzando o Maracanã ao som de Garota de Ipanema. Que momento...

JANELA PARA O MUNDO A chegada da televisão no País não trouxe somente entretenimento, mas também a História para mais perto dos brasileiros. O primeiro telejornal foi lançado no dia seguinte da inauguração da TV Tupi. Ainda com um “quê” de rádio, o Imagens do Dia apresentava notícias narradas ao vivo enquanto eram exibidas imagens previamente gravadas por cinegrafistas. Mas

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logo, logo o telejornalismo encontraria o seu tom. Ainda na Tupi, o Repórter Esso, “a testemunha ocular da História”, fez certo ao migrar da rádio para a tela, em 1952. Apesar do sucesso, em 1969 chegaria um fortíssimo concorrente com script inovador. O primeiro “boa noite” do Jornal Nacional foi entoado em 1º de setembro daquele ano, pela inconfundível voz de Cid Moreira, que dividia a bancada com Hilton Gomes. Como já sabemos, o telejornal da Globo conquistou a preferência do público e se consolidou. Grandes nomes e marcas do jornalismo brasileiro surgiram desde então, entregando notícias que poderiam ser inacreditáveis se não fosse pela validação das imagens. O homem chegando à Lua, inícios e fins de guerras, golpe militar, tragédias espantosas, manifestações colossais, impeachments, pandemias, eleições históricas... Todos têm na ponta da língua uma cobertura que marcou. E é por essas e outras que a televisão não se intimida com a chegada das novas tecnologias. Tudo se soma. A reportagem do telejornal agora tem um espaço para aprofundar os conteúdos no formato de podcast, o capítulo perdido da novela está guardado on-line para ser assistido depois, a emissora já cria séries exclusivas para os assinantes do streaming próprio... Ao vivo ou on demand, a tevê brasileira ainda cumpre com triunfo aquela missão assumida na noite de 18 de setembro de 1950: ficar no ar! GPSLifetime « 81

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Foto: Arquivo Clarice Lispector/Divulgação Rocco

LITERATURA

PARA CLARICE LISPECTOR O JORNALISTA PAULO PIMENTA SE DEBRUÇA NA OBRA DA ESCRITORA E DIALOGA COM ELA EM UMA DAS FORMAS QUE ELA MAIS AMAVA... POR CARTAS. INSTIGANTE, OS AMIGOS DIZIAM QUE ELA ESCREVIA COM A MÃO DE DEUS EM SEUS OMBROS Clarice, Você e eu não nos conhecemos. Digo, você não me conhece. Eu li seus textos, suas crônicas, suas cartas e seus livros. Li o que escreveram sobre você também – e foi muita coisa. Assisti à entrevista que você concedeu a uma emissora de televisão e que é também um dos poucos registros que temos de você em vídeo. Conversei com uma de suas grandes amigas e com gente que te estudou nesses últimos anos. Somente depois disso, senti que te escrever uma carta não seria tanta intromissão assim. Aliás, a artista

plástica e também sua amiga Maria Bonomi escreveu no começo do livro Correspondências: “Como nos fazem falta as pessoas como Clarice, a quem se possa escrever certas cartas”. O fato é que agora em dezembro você completaria cem anos e há homenagens por toda a parte. E ganhar o mundo é algo que você aprendeu desde pequena. Você, Clarice, que nasceu Haia Lispector, em Chechelnyk, na Ucrânia, em 1920, chegou em Maceió (AL) ainda pequena acompanhada dos seus pais e das suas duas irmãs. Seu nome significava “vida” e você

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renasceu aqui, no Brasil, ganhando o nome pelo qual todos te conhecem – este que, muitas vezes, dispensa o sobrenome. Clarice já basta. Todos reconhecem. A Clarice estrangeira, a Clarice que se vai embora das terras alagoanas com destino ao Recife, em Pernambuco, onde passa a infância antes de desembarcar no Rio de Janeiro. A Clarice naturalizada brasileira. Por falar em Rio de Janeiro, você soube que fizeram uma estátua sua no Leme? O artista Edgar Duvivier foi o responsável por isso: você e Ulisses, o cachorro, eternizados. Há quem diga que consegue conversar com você ali. Sentada em uma mureta, você mantém as costas eretas e olha para longe. Em busca de respostas sobre você, eu me adiantei e conversei com três pessoas que sabem muito de sua vida, de sua obra e dos seus desdobramentos. Gente que conviveu de perto com você e gente que não chegou a trocar palavras com você, mas que te decifrou em cada linha escrita e, feito quebra-cabeças, juntou as peças que estavam separadas e deu forma a sua imagem Liguei para Pedro Vasquez, o editor de sua obra nos últimos anos pela Editora Rocco, e ele disse que, de forma sistemática, são 15 anos trabalhando com você. Engraçado usar “você”, sendo que não é propriamente a Clarice de carne e osso a quem ele se refere, mas, sim, a seus textos. Ele contou que você teve seus livros reeditados para comemorar o seu centenário, Clarice, e algumas capas foram estampadas com suas pinturas. Pois é... Muita gente nem desconfiava de que você pintava. Nos 18 livros que compõem essa edição, as capas revelam uma outra face artística e são também uma oportunidade para que a abstração de seus quadros atinja até mesmo quem nunca suspeitou desse dom. Pedro fez uma analogia interessante sobre o seu processo criativo. Disse que era como se você montasse um filme. Isso porque você sempre anotava tudo de repente. No cinema, na rua, no restaurante, onde quer que estivesse, anotava a ideia em um papel e guardava na bolsa. Depois, o colocava em uma caixa junto com outras anotações e, então, dava sentido e ordem às anotações. Ele disse que parecia cinematográfico, que você fazia takes literários e depois montava. Uma montadora de cinema. Pedro Vasquez falou também que as suas cartas têm um valor literário, mas têm, sobretudo, um valor

biográfico. Pedro contou que havia apenas três mulheres em sua turma da Faculdade Nacional de Direito. Foi lá que você conheceu Maury Gurgel Valente, o pai de seus filhos, não é mesmo? Engraçado como ainda no meio do curso você consegue um emprego como redatora e migra para o jornalismo sem abandonar a primeira graduação. André Luís Gomes, professor do Departamento de Teoria Literária e Literaturas da Universidade de Brasília (UnB), estudou as relações entre a sua obra e o teatro. Aqui no Brasil, muitos de seus textos foram adaptados para os palcos. O professor ressaltou que seus textos são monólogos que dialogam e, por isso, gera tanto interesse nos adaptadores. Clarice, como você fazia para ser tão instigante e para mobilizar todas essas emoções? André também destacou o seu comprometimento com as questões sociais e do cotidiano, as crônicas que escreveu como meio de interferir politicamente e socialmente e ainda o envolvimento como outras artes, como já falamos antes. Você ganhou o Prêmio Graça Aranha com o primeiro romance que escreveu, Perto do Coração Selvagem. A lista de livros cresceu à medida que o tempo passou e até mesmo livros infantis foram escritos por você. O que seus filhos acharam? Sei que foi a pedido de um deles. É mais fácil escrever para crianças ou adultos? Não precisa responder. Você disse em uma entrevista: “Quando me comunico com criança é fácil porque sou muito maternal. Quando me comunico com o adulto, na verdade, estou me comunicando com o mais secreto de mim mesma”. Foto: Arquivo Clarice Lispector/D

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Também conversei com uma pessoa que conheceu alguns de seus segredos, Clarice. Mas não se preocupe. Nélida Pinõn, sua amiga por 18 anos, disse que não conta nada. A escritora, que te acompanhou até o seu último suspiro – ela estava segurando a sua mão quando você descansou –, já havia te falado que não conseguiria escrever a sua biografia porque ela sabia demais e, por saber demais, não contaria nada. Nós rimos nessa hora da conversa. Ela sente a sua falta, Clarice. Nesses últimos tempos, aliás, mesmo sem nenhum pedido, Nélida, aos 83 anos, provou a sua amizade. Ao descobrir que um quadro pintado por você iria a leilão, preocupou-se. Ela me contou que não queria que você ocupasse as paredes de um lar que nada significasse para você. Ela sabia o quanto era bom ter você em casa, afinal, você mesma a presenteou com um quadro inspirado no título de um livro dela mesma. O leilão chegou a valores estratosféricos que ela não quis dizer quais. Mas tanta confiança e lealdade certamente faria uma amizade como a de vocês mover céus e terras para conseguir o que quer. Nélida, que também é escritora, disse, em tom de brincadeira, que ouvia você dizendo para ela: “Quero ir para a tua casa”. E foi mesmo. “Fiz um esforço para que ela se sentisse em casa e para acolhê-la”, contou-me. Por fim, você encontrou repouso na parede dela. Eu adorei saber a forma que vocês se conheceram. Nélida disse que nunca quis ser sua discípula, mas sua amiga. Então, um dia, passando por uma loja de chocolates em Copacabana, viu os doces em formato de ovos pequenos. Lembrou-se na mesma hora do seu conto Uma Galinha. Comprou os ovinhos de chocolate e deixou-os junto de um cartão na sua porta. Sem assinar, escreveu um trecho do seu texto: “Foi então que aconteceu, de pura afobação a galinha pôs um ovo”. E então, guiadas por uma amiga em comum, se encontraram algum tempo depois e dali nasceu essa amizade que não acabou nem mesmo com a sua partida deste mundo, Clarice. Nélida esteve com você até a manhã daquele 9 de dezembro em que você se foi, Clarice. Segurava a sua mão esquerda quando te viu ir embora por causa de um câncer no ovário. Quem morre um dia antes do aniversário? Eu diria que apenas as personagens de livros, novelas e filmes. Será que você era uma personagem criada por você mesma? Nélida disse que você escrevia com a mão de Deus em seus ombros. Ainda que você não esteja escrevendo mais nada agora, você virou um fenômeno aqui. Um interesse generalizado ronda suas obras. Queria que você soubesse todas essas coisas boas que andam dizendo de você e do barulho que você tem causado neste ano do seu centenário. Os tempos por aqui não estão fáceis, tem uma pandemia que assombra todo o mundo. Enquanto isso, seguimos lendo suas obras, pensando e sentindo. Afinal, como você mesma escreveu no começo de A Hora da estrela: “Pensar é um ato. Sentir é um fato”. Paulo

“QUE NINGUÉM SE ENGANE, SÓ CONSIGO A SIMPLICIDADE ATRAVÉS DE MUITO TRABALHO.”

A HORA DA ESTRELA

“A ESPERANÇA É UM FILHO AINDA NÃO NASCIDO, SÓ PROMETIDO, E ISSO MACHUCA.”

A PAIXÃO SEGUNDO G.H

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o melhor de casa está aqui.

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ARTIGO POR MÁRIO ROSA

Jornalista e escritor

HOMEM FRÁGIL ENCONTREI VOCÊ, VOCÊ SE ARREDA E EU ME ASSUSTO: NÃO É JUSTO!

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ão é justo! Não é justo eu ver você desfilar como uma gazela e só me restar o papel de espectador de sua plateia. Não é justo eu me arder tanto e saber que o meu vulcão foi feito pra se derramar em suas escarpas, enquanto você fabrica os ardis mais cabulosos e, ao fim, de mim escapa. Não é justo desperdiçar tanta atração, tanto louvor, tanta faísca, tanta alquimia porque você e eu não somos fenômenos que acontecem todo dia. Não é justo você não dar seu passo em falso. Pois eu não sou e nem serei seu cadafalso. Não é justo imaginar que nossa explosão possa provocar um escarcéu de estilhaços. Não é justo se congelar dentro de si diante de mim sendo você um meu pedaço. Não é justo ter a certeza de que você é a mais sublime expressão e a síntese mais concreta de toda a poesia e, ao mesmo tempo, não te viver, só imaginar você na fantasia. Não, não é justo percorrer você até o meio do caminho, sabendo que sua trilha tem as linhas de um que desenham meu destino. Não é justo você brincar como se tivéssemos todo o tempo, quando a minha sensação é que estamos apenas desperdiçando desde já nosso momento. Não é justo você não perceber que o mundo nos amalgamou e somos já uma substância e que toda sua prudência não tem qualquer importância. Não é justo eu

ser solitário quando já encontrei você e você parecer não ser sem estar comigo. Não é justo eu te chamar de amor e você, de amigo. Não é justo eu identificar entre bilhões a sua criatura e ouvir você se arredando dos meus braços e falando "seu figura". Não é justo você perder o prumo ao saber que ia me ver pela primeira vez e achar que minha chegada em sua vida provocou-lhe um engulho e que isso foi mero detalhe, um mal estar fortuito talvez. Não é justo eu continuar procurando o que já encontrei e você insistir num desencontro porque essa é a sua lei. Não é justo a minha vida não entrar na sua e não é justo a sua não entrar na minha. Não é justo eu estar só nem você sozinha. Não é justo não nos lançarmos em nosso precipício e ficarmos jogando fora um amor, colocá-lo no altar de um inútil sacrifício. Não é justo eu ter certeza que você está pronta para amar e ser amada e ter de conviver com a sensação exasperante que sua cadência pode me condenar ao simplesmente nada. Não é justo termos percorrido nos dois a longa estrada e nos cruzarmos apenas para sermos uma encruzilhada. É por tudo isso que às vezes eu sinto raiva, fico perplexo, e que eu me assusto: porque encontrar alguém como você e não te ter, definitivamente, não é justo.

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SPOT

CAFE IS COOL APÓS TRÊS ANOS DE EXPECTATIVA, CAFE DE LA MUSIQUE SE UNE A SÓCIOS LOCAIS E APORTA NA CAPITAL DA REPÚBLICA COM SEU MOOD SOFISTICADO. PARA CELEBRAR OS CONVIVAS, DÉCOR E GASTRONOMIA CONTEMPLAM A DIVERSIDADE DO CERRADO BRASILIENSE POR GIOVANNA PEREIRA

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atmosfera sugere despretensão very chic, inspirado nos beach clubs europeus, como St. Tropez, Capri e Monte Carlo. Projetado na cena por reunir o clã beautiful people do Brasil, o Cafe de La Musique atrai pela imagem que construiu ao longo dos últimos 15 anos, quando nasceu, em São Paulo. Época em que a economia criativa fervilhava com moda, noite e música dando o tom da balada. Mas foi nas praias de Jurerê Internacional, em Florianópolis, que a casa se consagrou como destino de luxo do verão brasileiro. E é em Brasília que o Cafe se ressignifica ao unir sua história no entretenimento com a brasilidade que a capital federal reúne. O endereço é à beira-lago. A casa ocupa a área de 1,8 mil m² da antiga boate Pink Elephant, no Setor de Clubes Sul. A versão brasiliense tem a identidade da casa, mas carrega brasilidade em referências aos povos indígenas e nordestinos. “Na decoração, há muito artesanato e iluminação quente, que lembra o pôr do sol. Privilegiamos materiais naturais como pedras, couro e palha. Tudo bem brasileiro, tropical e atemporal”, revela a arquiteta Vick Bacchi, que, ao lado da irmã, Bárbara, lidera o escritório Imã Brands, responsável pelo projeto arquitetônico. O empresário à frente da brand, Álvaro Garnero, que desde 2017 planejava a abertura na capital, encontrou os sócios Wellington Rodrigues, Ana Carla Alves, Gustavo Gomes e Wesley Rodrigues, da Top7 Entretenimento, para a 18ª operação do Cafe, e a primeira na região Centro-Oeste. “Esperamos trazer algo que represente nosso País. O espaço em Brasília une

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Foto: Top7 entretenimento

natureza, história e gastronomia em ambientes únicos”, comenta Gustavo. Com pegada forte na música eletrônica, o spot inserirá a cidade no tour de DJs expressivos, bem como será destino de personas que compõem o mood da temporada. “Brasília é jovem, mas já carrega uma importante relevância no cenário nacional. Aqui é um grande berço de diversidades. E vamos aproveitar as maravilhas gastronômicas do Cerrado, além de levar o sabor do mar aos brasilienses”, afirma Ana Carla.

Foto: Raul Zito - Divulgação

Wellington Rodrigues, Ana Carl a Alves , Gustavinho Gomes e Wesley Rodrigues , sócios proprietários da Top7 Entretenimento

PALADAR AGUÇADO Cumaru, bottarga, buriti, castanha de baru, maracujá pérola do Cerrado e sálvia. Esses ingredientes peculiares prometem enriquecer o paladar do público em uma experiência gastronômica pelas mãos do chef Lui Veronese. “O Cafe de La Musique segue um padrão de cardápio, onde 70% são pratos predefinidos pela casa e os outros 30% são de autoria do chef. Contudo, tive a surpresa de ter a liberdade para poder montar um cardápio 100% autoral e com o meu estilo, algo até então jamais liberado pelos sócios da marca. E valorizando ingredientes do Cerrado”, revela Veronese, que vai trabalhar com polvo, lula, camarão, lagosta, salmão e mexilhões feitos na parrilla. Os drinks terão combinações inéditas que o mixologista brasiliense Gutto Lopes preparou. Insumos como o cumaru, plantas alimentícias e ervas não convencionais, sálvia, jambu, melaço de cana, leite de castanha de caju compõem grande parte dos coquetéis. “São ingredientes que as pessoas jamais imaginaram que poderiam compor um drink. Venho me especializando em coquetelaria criativa, então, o público irá se surpreender”, garante o mixologista.

Alvaro Garnero

RÉVEILLON 2021 Com menos de um mês de operação, o Cafe de la Musique prepara sua festa de Réveillon, seguindo todas as normas de segurança previstas pelas autoridades de saúde. A festa será full service de open bar, com menu especial a venda, uma lineup com o melhor do house, eletrônico e música brasileira, além de 15min de fogos, estacionamento privado com serviço de transfer, mimos e surpresas durante toda a experiência. Os ingressos estão disponíveis no site oficial da Top7 Entretenimento e no Sympla. Devido à pandemia, a quantidade de pessoas é limitada e as informações da organização ainda podem ser alteradas antes da grande comemoração.

@cafedelamusiquebrasilia | www.top7entretenimento.com.br

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PÂTISSERIE

NOBREZA INGLESA, CALOR BRASILEIRO UMA CASA PARA APRECIAR, SONHAR, DEGUSTAR. O GREENHOUSE, O MAIS RECENTE EMPREENDIMENTO DA REDE THE QUEEN’S PLACE, CONQUISTA O LA O SUL E AMPLIA SUA EDE DE ELACIONAMENTO NO UNI E SO ONLINE POR THEODORA ZACCARA « FOTOS LUARA BAGGI

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cenário é típico britânico – mas isso você já sabe. O chá é quente, os bolos são obras de arte em açúcar, a decoração é de outro mundo – e sempre foi assim, mas encanta toda vez. Os lustres estão em pé de perfeição, assim como a textura dos aveludados macarons. O olhar que analisa o branco de cada porcelana é o mesmo que confere o sal em todo prato. Inaugurado em agosto de 2020, o The Queen’s Place Greenhouse, resposta da rede Queen’s Place à demanda no Lago Sul, é um desses fenômenos que desafia os conceitos de tempo: é clássico apesar de ser jovem, é fresco mesmo sendo tradicional. E ainda que a receita do Victoria Sponge Cake tenha nascido lá no século XVIII, o spot que a reproduz não foge da inovação. A primeira de muitas mudanças está no horário de funcionamento. Aberto no olho do furacão pandêmico, o espaço teve de pinçar seu conceito para corresponder ao novo normal. Idealizado para ser o destino go to do café da manhã ao jantar, abriu mão do serviço matutino durante os dias de semana. Passado o “grosso” da crise, a administração do estabelecimento ergueu os braços e pode finalmente estabelecer o cronograma que planejou: de terça-feira a domingo, das 9h às 23h. “As pessoas estão nos conhecendo aos poucos e se encantando cada vez mais. É uma casa de sonhos, e a região onde estamos precisa de espaços assim”,

entrega o manager Reinaldo Gomes. “Queremos que a vizinhança do Lago Sul e dos condomínios encontre uma gama de serviços convenientes para as mais diversas necessidades, do café de negócios ao jantar em família. Queremos realizar desejos, da sonhada fatia de bolo ao mini wedding com pessoas especiais”. Em boa hora, a extensão de horários do café da manhã ganha um forte aliado em 2021: uma nova carta de cafés especiais. “Nós servíamos apenas o espresso, mas os clientes sempre pediam café coado, chemex e outros métodos”, relembra o gestor. “Trouxemos grãos especiais de Minas Gerais e estamos treinando a equipe para servir os diferentes métodos com maestria”, garante. E por falar em 2021, o restaurante e casa de chás pretende entrar no ano “de cabeça”. Por isso, apostou em artifícios tecnológicos, como o site oficial Greenhouse, para manter a clientela engajada. Por lá, é possível não apenas realizar pedidos online – os bolos customizados são um mimo de reis, confie –, como também conferir imagens do espaço, ofertas especais e todos os itens do rico menu. Fato é que muito há de se aguardar para os próximos meses no The Queen’s Place: muitos eventos, novas receitas, serviços diferentes e uma forte atuação no quadrado Lago. O que não há de mudar é o jeito britânico – mas com acolhimento brasileiro – de servir a xícara. www.thequeensplace.com | @matildegemeli

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GASTRONOMIA

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m italiano, a palavra totti tem um significado afetivo. Simboliza família, pessoas que vivem na mesma casa, que têm o mesmo sangue. Mas foi por acaso que os proprietários do novo restaurante de Brasília descobriram a definição. A ideia inicial foi homenagear o jogador de futebol italiano Francesco Totti, ídolo da família Melo, que idealizou a casa ao lado dos Ramos e Corrêa. A definição foi ao encontro da proposta: foi com uma atmosfera caseira e familiar, aliada ao requinte e à alta gastronomia, que o Totti Cucina abriu suas portas na QI 11 do Lago Sul em outubro de 2020. O menu italianíssimo ficou a cargo do chef Josivaldo Mariano de Lima, o Petí, com mais de dez anos de experiência no extinto Gero Brasília. Com ele, vieram o maître Alexandro Araújo e parte da equipe de garçons. A ITÁLIA EM RELEITURA Em uma mistura do clássico E NOSTALGIA com o tradicional, a casa tem receiGASTRONÔMICA APORTA tas com toques do mediterrâneo. O EM BRASÍLIA COM A menu carrega a viagem degustativa, CHEGADA DO TOTTI por exemplo, com a Polenta Al Nero CUCINA, NO LAGO SUL Al Mare; o Ravioli de Brie e o GnocPOR NATHÁLIA BORGO « FOTOS MARCUS OLIVEIRA chi di Patate com Tartufo Nero.

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Em pouco tempo de funcionamento, o cardápio já ganhou novidades: aos sábados e domingos, pizzas direto do forno à lenha, no térreo do restaurante, com sabores diferenciados. “Abrimos em plena pandemia, assim que os restaurantes reabriram. Estamos levando com muita calma, mas muita vontade. Para 2021, mesmo a casa sendo nova, já queremos adicionar outras novidades ao cardápio”, comenta Luiza Melo, uma das empresárias da casa. Enquanto Petí é o responsável por levar os brasilienses à Itália por meio do paladar, coube à Babel Arquitetura, de Plínio Barros, Sophia Rabelo e Tharla Stambassi, o desafio de criar um ambiente lusitano. Quem já conhecia o espaço antes ocupado pelo Dudu Bar, viu o décor moderno ser substituído pela tradição da cantina italiana. “Quando a gente pensa em Itália, pensa em algo mais caricato. A gente aproveitou a estrutura do prédio, mas quis trazer esse ar do antigo com itens modernos”, destaca Tharla. O projeto evidencia arcos com serralheria rústica – para fazer uma referência visual ao logo do Totti e à arquitetura lusitana –, além de mesas de madeira e cadeiras em pátina branca. No teto, luminárias de vidro dão o ar de sofisticação. “As cores foram escolhidas em referência aos ingredientes, como o bege vem do trigo, o verde, do manjericão, e cores nas molduras”, explica a arquiteta. No banheiro, uma surpresa: fotos de momentos ligados à culinária lusitana. “A gente quis deixar o espaço parecido com um cenário típico italiano”, conclui. @totticucina

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Em 2020, muita coisa ficou parada. Mas o GDF nunca parou. Iluminação de LED em diversas cidades. Asfalto novo e duplicação de pistas. Sete novas UPAs em construção. 500 escolas reformadas, 90 ampliadas. Nova Galeria dos Estados. Terminais Rodoviários de Sobradinho e de Santa Maria. Revitalização da W3 e do Setor Hospitalar. Grandes obras em Vicente Pires. Reforma do Museu de Arte. Conclusão da Saída Norte. Hospital Oncológico. Túnel de Taguatinga. Viadutos no Sudoeste e no Riacho Fundo.

Já reparou? Para onde você olha, tem obra no Distrito Federal. Muitas delas esperadas há anos. Algumas já entregues. Outras, em pleno andamento para que, em breve, possam beneficiar toda a população. É que o GDF não para. E sempre está em ação para melhorar a vida das pessoas.

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LEGADO

O QUE VEM A SEGUIR... O

ano é 1938. Um família é levada para um campo de concentração nazista durante a Segunda Guerra Mundial na Itália. Afastado da mulher, um pai usa a imaginação para fazer o filho acreditar que o cenário atípico não passa de uma grande brincadeira. A ideia é proteger o pequeno da realidade que os cerca. Provavelmente esse enredo lhe soou familiar. Essa é a história do clássico do cinema italiano A Vida é Bela, de 1989. Três décadas mais tarde, a trama de ficção "se repete". Pais e mães têm o desafio de criar seus filhos diante de uma pandemia que alterou a forma como o mundo funciona. O desabrochar de bebês e crianças consiste em conhecer e desbravar o universo que os acolhe. Os primeiros passos, palavras e interações sociais são momentos aguardados ao longo do desenvolvimento. Mas o que fazer e esperar quando o mundo está inteiramente adaptado? Suspenso. Segundo estimativa da Unicef, 116 milhões de bebês nascerão no mundo sob a sombra da Covid-19. O Brasil está entre os dez países com maior projeção de natividade, são 2,3 milhões. Apesar do reduzido ta-

manho, os pequenos absorvem o que está acontecendo ao seu redor. Se a Ditadura Militar criou a geração Coca-Cola, o coronavírus pode definir a “geração álcool em gel”. Carinhosamente chamados de coronials – uma referência ao termo millennials, que designa os nascidos entre os anos 1980 e metade dos 1990 –, eles já esboçam reflexos ao momento atual. Seja um olhar de estranhamento ao se deparar com uma pessoa mascarada ou uma atitude mais introvertida ao conhecer alguém que não estava previamente inserido na bolha de isolamento social. Doutor em sociologia e professor da Universidade de Brasília (UnB), Erlando da Silva Rêses afirma que a pandemia afeta todas as pessoas de forma indistinta e não é possível dizer que um determinado grupo será mais prejudicado que outro. Para ele, o impacto nas crianças está subordinado às mudanças de humor, comportamento e postura daqueles que os cercam. "Muito da aprendizagem está ligada aos primeiros anos de vida e isso pode gerar um impacto ruim na educação das crianças."

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PAIS DE PRIMOGÊNITOS VIVEM O ENFRENTAMENTO DE SEREM O ESPELHO DE SEUS FILHOS BEBÊS NA PANDEMIA. MASCARAR O FATO NÃO É UMA OPÇÃO. MAS DEIXÁ-LOS SEGUROS PARA QUE NÃO VIVENCIEM A ANSIEDADE E O MEDO DOS ADULTOS POR MARINA ADORNO « FOTOS CELSO JUNIOR

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A partir dos dois anos, a capacidade cognitiva aumenta e as crianças começam a desenvolver uma consciência maior do que está acontecendo e, de acordo com o especialista, é importante que os responsáveis não tentem mascarar a situação e deixem claro que é uma fase. "A pandemia deve ser lembrada como algo ruim e negativo que a nossa sociedade viveu", pontua. Sobre a conduta de Guido Orefice em A Vida é Bela, o especialista pondera que essa não é uma postura interessante. "Mesmo que, aos poucos, isso tem que ser processado na mente deles. É preciso aplicar o princípio da realidade, de Freud", ressalta. O pensamento do psicanalista prevê que faz parte do amadurecimento normal do indivíduo aprender a suportar a dor e adiar a gratificação, não o contrário. Quando questionado sobre a possibilidade de que a pandemia dite comportamentos e traços psicológicos, Erlando acredita que essa pode crescer como uma geração adulta mais consciente com os cuidados com a saúde e com a higiene. "Torceremos para que isso não se transforme em uma postura individualista de medo", conclui. Em seus atendimentos, a médica pediatra do Hospital Santa Lúcia e membro titular da Sociedade Brasileira de Pediatria, Nathália Sarkis, têm recebido muitas crianças que já apresentam atrasos causados pelo que ela define como um abismo no desenvolvimento neuropsicomotor. Porém, ela garante que as perdas podem ser recuperadas. “Até os seis anos existe uma janela de oportunidade muito importante no quesito evolutivo. Quanto mais estimulada, mais resposta a criança apresentará”, defende. A médica destaca que o dano está relacionado ao fato de que para os pequenos o aprendizado é um espelho. Eles imitam os pais. Escutam o que eles falam e observam até mesmo o movimento da boca. O convívio com seus pares também é essencial. “O contato com outras crianças ajuda no de-

senvolvimento. Por isso o retorno as aulas é primordial”, defende. Apesar dos benefícios do convívio intenso entre pais e filhos no período, ocasionado pela implementação generalizada do regime home office, a pediatra evidencia um ponto negativo que deve ser considerado. “Os pais estão em casa, mas precisam trabalhar. Muitas vezes os filhos estão no colo, no berço…mas a verdade é que eles precisam ir pro chão para ter experiências sensoriais. Sentar-se, se sustentar em quatro apoios, engatinhar e ficar em pé são partes de um processo de evolução motora”, pondera. Outra alternativa problemática é a exposição desmedida a telas. Sejam elas de smartphones, tablets ou tevês. “Elas precisam de interação e contato visual. Esses artifícios não substituem o olho no olho”, aconselha. A psicóloga Carolina Leão acrescenta que os efeitos psicológicos mais comuns da quarentena nas crianças são irritabilidade, ansiedade e sono desregulado, mas que um diagnóstico mais alarmante, como a depressão, não atinge apenas os adultos. "Para diminuir o estresse é muito importante que elas gastem energia ao longo do dia, seja brincando ou fazendo alguns exercícios.” Com a responsabilidade de não desencadear seus próprios medos e inseguranças nas crianças, muitos pais somatizam o que está acontecendo. “Tem pessoas que lidam com o confinamento de forma muito mais leve. Outros já entram em estados de pânico muito mais acentuados. Carregam a pressão de acompanhar os filhos na escola, somado a ausência de ajuda em casa e ter que, além do trabalho, assumir essas funções domésticas. Ter todos em casa constantemente é uma mudança de rotina muito grande”, justifica Carolina. Mesmo tão pequenas, as crianças são tidas como uma representação do futuro. Que futuro será esse? Atualmente, não há pai ou mãe que detenha essa resposta.

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VALÉRIA BITTAR RORIZ, MÃE DO PAULO HENRIQUE Quando a pandemia alterou o ritmo da vida, o filho da advogada Valéria Bittar tinha 11 meses. Sociável e divertido, mesmo morando em um apartamento, ele desfrutava diariamente de momentos ao ar livre, muitas vezes com os amigos do prédio que a família mora em Brasília. “Quando nos aproximávamos com o Paulo Henrique da janela ele esticava a mãozinha pedindo para descer”, conta a mãe. Na mesma época, Lela, como é conhecida, se preparava para retomar a rotina profissional no escritório. Foi preciso pisar no freio, voltar para ao lado do pequeno e se reinventar em prol do filho. A sala, que antes recebia amigos e familiares, virou uma brinquedoteca e Valéria deu início a uma série de atividades para preencher o dia do pequeno. Arroz colorido, massinhas, gelatinas, tintas e o onipresente tie-dye foram algumas das alternativas. Os prazos, petições, recursos e processos ficavam para o final do dia. Quando Paulinho dormia, Valéria dava início a jornada de advogada. “Com ele em casa é difícil trabalhar, tenho que parar muitas vezes. Então optei por trabalhar de 20h à meia noite.”

Na avaliação dela, no começo Paulinho estranhou muito a nova situação. As máscaras já assustaram, hoje não mais. O álcool gel que fica no hall é parada obrigatória. Ele pede para passar e quando a mãe fala que ele precisa lavar a mão, Paulo Henrique já começa a fazer os movimentos que lhe foram ensinados. O bebê, agora com um ano e sete meses, não ficou de fora das chamadas de vídeo que marcaram a rotina dos adultos durante o longo período de afastamento. “Como não conseguíamos ver nossos familiares fizemos muito FaceTime. Sempre muito carinhoso, ele começou a acariciar e beijar a tela do telefone nesses momentos”, revela. Lela fica feliz ao perceber que apesar de tantas mudanças bruscas não percebe mudanças na personalidade de Paulo Henrique Bittar Roriz. A mãe comenta que fez questão de explicar tudo que estava acontecendo para facilitar o entendimento do primogênito, mas confessa que também sofreu. “Eu me culpava por ter colocado uma criança no mundo justamente no momento em que tudo está de cabeça para baixo e ficava pensando se um dia iremos voltar ao que éramos antes. Espero que ele consiga ter de novo toda a liberdade que tinha.” GPSLifetime « 97

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ISADORA CAMPOS PALHARES, MÃE DA MARIA ISABEL “Como mãe, minha maior preocupação foi zelar pela saúde de minha filha”, afirma a advogada, empresária e RP Isadora Campos Palhares, mãe de Maria Isabel, de um ano. Nascida no Rio de Janeiro, ela teria um chá de apresentação em março para conhecer o lado brasiliense da vida da advogada que se divide entre as duas cidades. “Logo, recebemos a notícia e as incertezas afloraram. Como não estávamos em Brasília, tivemos que nos isolar por cuidado a ela e aos meus pais”, lembra. Foram quase três meses na fazenda, em completo isolamento. O primeiro contato de Maria Isabel com outras crianças aconteceu apenas após o sexto mês de vida e, segundo a mãe, ainda assim foi limitado a pontuais amigos. Isadora contou ainda com as orientações qualificadas do pediatra e de uma enfermeira. Outra parte importante do desenvolvimento de Maria Isabel é a aula semanal com outros seis bebês, onde ela escuta música, participa de brincadeiras e atividades de psicomotricidade, conhece texturas, cores, e aprende a conviver com outras crianças. “Esses estímulos foram estratégicos.”

As máscaras foram um ponto de estranhamento para a bebê. Com os pais em home office, esse era um “acessório” que Maria Isabel ainda não conhecia até os sete meses – quando retomaram as visitas aos avós. Hoje, quando ela vê os pais colocarem as máscaras, já sabe que vai sair e por muitas vezes demonstra euforia. O álcool em gel é um item que ela incorporou facilmente. “Ela estica a mãozinha quando nós vê usando e, em seguida, ela mesma esfrega”, descreve a mãe. Isadora ressalta que as crianças aprendem com o exemplo e repetem tudo. Por isso faz questão de realizar esses gestos encorajadores na frente da filha. “Encaramos muito a pandemia como uma oportunidade de poder curtir ao máximo essa primeira infância ao lado dela. Trabalhando de casa, conseguimos dar pausas, estender nossos momentos juntos, e nos deliciar com cada aprendizado dela. Foi uma experiência calorosa para nós “, valoriza. Depois de um convívio tão intenso, Isadora confessa que é difícil imaginar retornar ao cotidiano e atividades que não incluem a filha. “Não fizemos nenhuma viagem sem ela, nem saímos sem ela. Nós teremos de aprender a retomar a vida como um dia foi. Hoje, não imagino planos em que ela não esteja conosco”, confessa.

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EDUCAÇÃO

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UMA AGÊNCIA DE ESTUDANTES. CRIANÇAS COM INTELIGÊNCIA EMOCIONAL E HABILIDADES SOCIOAFETIVAS. PROFESSORES DEIXAM DE SER CONTEUDISTAS E TORNAM-SE INFLUENCIADORES DE CIDADÃOS TICOS E COM SENSO DE RESPONSABILIDADE POR CAROLINA CARDOSO

s atuais circunstâncias trouxeram a necessidade de se repensar as perspectivas para o futuro. O mundo não é mais o mesmo, porém isso não significa o fim dos bons olhos para os tempos que há de vir. A educação, por exemplo, é um assunto que vem passando por intensas mudanças ao longo desta crise. Mostra, no entanto, que em meio aos problemas, soluções apontam para uma aprendizagem mais efetiva e direcionada à formação de indivíduos saudáveis e protagonistas de suas próprias vidas. No Brasil, ainda há grandes desafios para a área, entretanto, boas chances de crescimento e progresso no sistema responsável por formar o futuro do País: as crianças. Elas foram um dos grupos que mais sofreu com as consequências do distanciamento social, mas mesmo assim descobriram formas criativas e tecnológicas de aprender e ver o mundo sob outras perspectivas. Assim também os professores tiveram de se reformar na hora de ensinar, aprender e até cuidar dos outros e de si próprios. “A aula à distância não é necessariamente pegar o conteúdo que se dava na sala de aula e transformar mecanicamente em aula remota. O professor teve de aprender muito, e aprender infelizmente na dor. Muitas vezes, porém, os períodos de crise são disruptivos no bom e no mal sentido, inclusive na aprendizagem”, afirma Cláudia Costin, ex-diretora global de Educação do Banco Mundial e professora da Fundação Getúlio Vargas (FGV). Costin é também diretora do Centro de Excelência e Inovação em Políticas Educacionais, da FGV, no Rio de Janeiro, e atualmente assessora de 50 secretários municipais e três estaduais de educação. Por dentro das transformações causadas pela Covid-19 na área, a especialista reflete que a pandemia afetou toda a sociedade, para ela é “uma crise sanitária, econômica e educacional”. Ela conta que a suspensão quase imediata das aulas, para se evitar o contágio pela Covid-19, foi uma GPSLifetime « 101

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solução temporária, mas que aumentou problemas educacionais antecedentes à crise sanitária. O problema na aprendizagem e na desigualdade educacional foram as questões mais aprofundados neste período. “Quando veio a pandemia, aconteceu um crescimento brutal na desigualdade educacional e ainda um aprofundamento da crise de aprendizagem. Brutal, porque... imagine cerca de oito meses com escolas fechadas, alguns tendo casas com livros, equipamentos eletrônicos por aluno e condições melhores para aprender, enquanto outra parte da população se acumula em um cômodo, não tem um ambiente sossegado, não tem equipamentos ou livros”, explica. Os problemas citados acertam em cheio escolas públicas e isso é anterior à pandemia, como disse Costin. Divulgado em novembro deste ano, o Sistema de Avaliação da Educação Básica 2019 (Saeb) indicou que o Brasil teve pequenos avanços comparados à última avaliação, realizada em 2017. Além disso, as análises mostram que 17 estados ainda não alcançaram a média esperada em alfabetização. Em meio às dificuldades, contudo, há espaço para inovações. Apesar do longo caminho que a educação brasileira precisa percorrer até chegar à igualdade educacional, soluções que apontam para um futuro melhor são os respiros no meio da crise. E na era da Revolução 4.0, a tecnologia não deixaria de estar em meio às soluções, na verdade o uso dela neste período pandêmico foi necessário e facilitou um olhar personalizado nos processos de aprendizagem. “A pandemia também trouxe um acesso, apesar de desigual, muito maior às plataformas digitais para o processo de ensinar e aprender. Isso trouxe algo que mostrou que a escola não vai ser a mesma”, ressalta Costin. Aplicativos conhecidos como plataformas adaptativas têm mudado a vida de educadores e alunos. Essas permitem identificar quais são as insuficiências de aprendizagem de cada estudante para em seguida direcioná-lo a uma aula virtual com o conteúdo não aprendido. A necessidade do intenso contato entre universo digital e educação, porém, não é uma solução temporária. Essa união aponta para uma Nova Educação, em que professores exercem cada vez mais um papel crítico no desenvolvimento dos alunos, preparando para a sociedade cidadãos que não trazem somente conteúdo

e conhecimento na bagagem, mas inteligência emocional e habilidades socioafetivas importantes para o mercado de trabalho. “A escola do futuro é uma escola que ensina a pensar. Ela pede uma forma de ensino que incorpore pensamento crítico, abstrato e criativo, e isso não pode ser realizado apenas por meio de aulas expositivas rápidas. É muito mais aprender fazendo, ter atividades com aplicações de conceito, colocar a mão na massa. E isso não dá para fazer 4h no turno da manhã, 4h no turno da tarde”, explica a educadora. A mudança vem passo a passo, e possibilita um futuro no qual aulas expositivas e conteudistas serão adaptadas para plataformas de aprendizagem mais lúdicas e dinâmicas, sem a necessidade de o professor ter o trabalho exaustivo de escrever toda a matéria no quadro ou simplesmente passar slides pouco atrativos, por exemplo. Alguns podem até pensar que essa utilização da inteligência artificial ameace o papel do professor, contudo, o educador faz muito mais do que isso. “Por que acho que isso não é uma ameaça ao professor? A criança e o adolescente precisam de um adulto para organizar o ambiente de aprendizagem, que o apoie nesse processo de aprender. Essas plataformas adaptativas nos permitem quebrar algo que parecia quase impossível há poucos anos, que é mudar essa lógica de se ter um processo do ‘eu ensino e você aprende, e se não aprender será reprovado’”, comenta Costin. A educação do futuro aponta para outro papel do professor na sala de aula. Além de ensinar, eles serão aqueles que incentivam os alunos a tomarem o protagonismo de suas próprias aprendizagens. E esse papel, inclusive, já tem nome, em inglês é chamado de “student agency”. Segundo a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), o termo descreve um aluno com senso de responsabilidade, que participa da sociedade e visa influenciar pessoas, eventos e circunstâncias para o melhor. “Nessa visão, o aluno é sujeito da sua própria aprendizagem, naturalmente não por decreto, mas com incentivos e uma preparação para que ele seja protagonista do seu processo de aprender. Quem for protagonista da própria aprendizagem será protagonista da própria vida”, finaliza Costin.

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ÍCONES POR ISADORA CAMPOS @isadoracampos

GERAÇÃO SARS-COV: A LUZ NA ESCURIDÃO DO ISOLAMENTO O RELATO DE MÃES QUE TIVERAM SEUS BEBÊS PRIMOGÊNITOS DURANTE A PANDEMIA E COMO ESTA EXPERIÊNCIA AS TRANSFORMOU POR COMPLETO Prescrito para a contenção da vigente pandemia, metódicos procedimentos restritivos e higiênicos têm composto a rotina dos cidadãos de todo o mundo. Como efeitos colaterais, o novo normal pressupõe o atento ao isolamento social, à limitação do convívio e do sair de casa, e muitos foram os adiamentos de celebrações. Entretanto, não há como adiar planos em curso e já constituídos, como a data do nascimento de um bebê. As gestações vividas nesse percurso incerto trouxeram grandes desafios, temores e, também, muitas alegrias ao recriar a rede de apoio que tanto permite às mulheres se erguerem em seus puerpérios. Sejam em grupos de whatsapps, lives de conteúdo informativo, consultas médicas online, treinamento de cuidados aos recém-nascidos oportunizados de forma virtual, ou mesmo os chás de bebês feitos em original modalidade drive thru, o importante é que mulheres têm reinventado as suas rotinas para zelar pela nova geração, nascida em tempos de pandemia global.

GABRIELLA CONSTANTINO, MÃE DO VITTORIO A empresária Gabriella Constantino Bethonico Foresti Leal, 30 anos, deu à luz ao seu primogênito Vittorio em 12 de agosto. Fruto do casamento com o empresário Luiz Paulo Machado Leal, o bebê teve a sua doce espera diferente do planejado. O enxoval seria feito em viagem ao exterior, em abril. Esse sonho também teve que ser recriado, junto ao chá de bebê que inovou em ser drive thru, em que os convidados passavam de carro levando seu carinho aos futuros pais. “Tudo foi muito diferente do sonhado por mim: até o parto e hospital que não pode nem ter a presença dos avós”, sintetiza ela que limitou o seu convívio social e já não sai para trabalhar todos os dias, tampouco faz as viagens e eventos como organizava antes.

“TUDO FOI MUITO DIFERENTE DO SONHADO POR MIM.”

SABRINA CARDOSO CASTILHO, MÃE DO HENRIQUE

“ME TROUXE PARA O PRESENTE, AO QUE CABE A MIM RESOLVER HOJE.”

Sabrina Cardoso Castilho, 31 anos, viu-se em um desafio ainda maior: foi diagnosticada positiva para Covid-19 na semana de seu parto, em 29 agosto. “A pior parte foi não poder ficar na maternidade após o parto, e ter ficado internada na ala de Covid”, relembra, sobre o nascimento de Henrique Leão, fruto do casamento com Paulo Henrique Castilho. Um dos maiores desafios foi aliar tudo isso ao home office. “Me vi obrigada a fechar a loja temporariamente e trabalhar apenas por delivery. Decidi encarar eu mesma o desafio de vender durante a quarentena, mesmo já nitidamente grávida”, conta. O que aprendeu? Segundo ela, a paz que a maternidade trouxe. “Me trouxe para o presente, ao que cabe a mim resolver hoje, em vez de sofrer por um futuro incerto”, diz.

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ISABELLA NASSER, MÃE DA STELLA E DA ISADORA O apoio de um grupo de amigas também mães em tempo de pandemia foi essencial para a joalheira Isabella Nasser, 36 anos. Frutos de seu casamento com Gustavo Ferreira, nasceram as gêmeas Stella e Isadora. “Estava com cinco/seis meses de gestação quando veio o isolamento. Tive medo do inesperado e do incontrolável, mas acho que a nova rotina acabou me preparando para as meninas”. Quando tinham dois meses, Isabella foi diagnosticada com Covid-19. “Fui a única que peguei. A orientação era que eu não ficasse tanto com elas, mas continuasse amamentando. Foi um período muito difícil emocionalmente”, afirma. Por serem duas, não conseguiu abrir mão de ajuda. “Todos tivemos que, forçosamente, olhar para dentro e conviver com nós mesmos. Foi importante buscar paz e equilíbrio interiores”.

“TODOS TIVEMOS QUE, FORÇOSAMENTE, OLHAR PARA DENTRO E CONVIVER COM NÓS MESMOS.”

“FUI TOMADA PELO MEDO. FOI TUDO DIFERENTE, ASSUSTADOR E FRUSTRANTE.”

BRUNA RESENDE, MÃE DA ALICE

“PUDE VIVENCIAR CADA MUDANÇA DELA SEM QUE NADA INTERFERISSE NESSA TROCA.”

Aos 32 anos, Bruna Resende Dantas Lacerda vive a plenitude pelo nascimento de Alice, fruto da relação com o empresário Rafael Moraes Lacerda, no dia 13 de agosto. “Com as incertezas da pandemia, decidimos nos isolar. Trabalhamos em home office e nos encontrávamos apenas com nossos pais, tomando todos os cuidados possíveis. Como ficamos muito juntos, tivemos a oportunidade de curtir muito a nossa gravidez e apreciar cada alteração que ia ocorrendo, as novidades e maravilhas de cada fase em que nossa bebê ia se desenvolvendo”, conta. Até Alice completar dois meses, apenas os avós e irmãos do casal a conheceram. “Pude vivenciar cada mudança dela sem que nada interferisse nessa troca. É impressionante como o instinto materno realmente existe e sempre dá certo”, assegura.

THAIS BAÈRE, MÃE DA MANUELA A rotina da psicóloga Thais Delmonte Baère, 32 anos, mudou completamente com a pandemia. “Eu trabalhava o dia inteiro, praticava atividade física diariamente e estava bem feliz mostrando a barriga crescer para todo mundo”, lembra. Manuela, do seu relacionamento com Samuel Pires de Deus Rocha, nasceu dia 1.º de maio. “Fui tomada pelo medo. E também me bateu uma tristeza por ter filho numa fase tão ruim do mundo, por não poder seguir o que planejei; por estarmos ‘sozinhos’ numa fase que demanda uma rede apoio presencial”. Sem chá de fraldas, fotógrafo nem filmagem na maternidade, e encontro com os avós só depois de 20 dias do nascimento. “Foi tudo diferente, assustador e frustrante”, revela. Hoje, frequento com ela aulas de psicomotricidade, musicalização e natação. Estamos voltando a viver, mas sempre com cuidado”. GPSLifetime « 105

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LIFE

EDITORIAL

SLOW POR PAULA SANTANA FOTOS BRUNO AGUIAR STYLING MARCUS BAROZZI

DIZEM QUE SOMOS A CIVILIZAÇÃO DA LEVEZA. PELA POSSIBILIDADE ADQUIRIDA DO PODER QUASE TUDO. ÍCARO, SEDUZIDO PELA FALSA SENSAÇÃO, CONSTRUIU PARA SI ASAS. E VOOU. TÃO ALTO QUE ACABOU SE QUEIMANDO PELOS RAIOS DE SOL. FOI A EXPERIÊNCIA DO PRAZER. SUA LIBERDADE TORNOU-SE UM FARDO. E A LEVEZA FICOU PESADA DEMAIS.

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om o tempo, estabelecemos rotinas áridas e enrijecidas. Porque nossas necessidades não pararam de crescer. E o processo do consumo sem coerência nunca, na verdade, tornou-nos mais felizes. Mas quando percebemos que era preciso retornar às coisas elementares... descobrimos que a condição humana fora marcada pela fragilidade e a finitude. Estamos no início de uma nova sabedoria. Uma consciência colaborativa. Num movimento saudável de dar as

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Look total Letícia Gonzaga e óculos Lucila Pena para Rever

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mãos e seguir. De se colocar a serviço de um coração puro e não dos medos que agoniam a alma. Talvez a nova imaginação esteja em caminhar com alegria e coragem. A liberdade do agora fala da verdade tão somente. E talvez agora faça sentido deixar de ser uma máquina movida a estímulos. O comportamento planetário pode estar numa cruzada moral. O desenvolver da humanidade depende apenas do nosso transformar como indivíduos vivendo em comunidade. Salvando-nos uns aos outros. Sim, pode parecer um peso, mas nos fará leves. E o que ficou pelo caminho há de ser deixado à margem, porque não nos pertencia de fato. O consumo deste instante vem embalado pela justiça social. O único molde permitido traz o desenho da resiliência. Da flexibilidade. A leveza consiste em trazer o olhar para perto do enxergar a simplicidade do real. Da natureza. Sem querer apropriar-se dela. Não mais, nunca mais. A ciência, a tecnologia, a matéria jamais serão maiores que a criação divina ricamente confeccionada pelas mãos de Deus. A moda, sensível que é, e adaptável a modelos do agora, saberá bem decifrar esse novo código. E que ela, com a sua fortaleza imagética, seja portadora da nossa nova forma de existir, e coexistir. 108 « GPSLifetime

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Vestido Bernardo Rostand e acessórios acervo pessoal

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Look total Setedezessete

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RETRANCA

Vestido Lucila Pena, tênis Avanzzo e acessórios acervo pessoal

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Look total Dane-se e acessórios Abi Project

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RETRANCA

Camiseta Celso Junior Galeria e cesta Confraria Studio

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Look total e acessórios Avanzzo

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Blusa e saia Nagela Maria, corset e lenço acervo pessoal

Beleza Lidiana Queiroz Modelo Naiara Reis Assistente de styling Deni Moreira Agradecimentos ValĂŠria Gontijo

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CARLA

AMORIM,

Foto: Marcio Scavone

JOALHERIA

O BRILHO QUE ILUMINA CAMINHOS 116 « GPSLifetime

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Foto: Marcio Fischer

NATUREZA, RELIGIOSIDADE E BRASÍLIA SÃO PILARES QUE DERAM À DESIGNER NOTORIEDADE NA JOALHERIA. O TALENTO QUE RECEBE COMO DOM DIVINO TRANSFORMOU-SE NUM OFÍCIO AFETIVO, EM QUE MAIS DE TRÊS MIL PEÇAS FORAM CRIADAS POR MARCELLA OLIVEIRA

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uando a água do mar encontra a areia da praia, a inquietude daquele movimento resulta em uma espuma branca que flutua na superfície. Observar o ir e vir das ondas em compasso ensaiado de dança é hipnotizante. E foi aquela imensidão natural o ponto de partida para a designer Carla Amorim criar sua primeira joia. “Sou capaz de ficar horas contemplando esse espetáculo da natureza”, confessa. Batizado de Espuma do Mar, o anel desenhado há mais de 25 anos é atemporal. Uma das marcas registradas da designer, a textura, compõe ainda pulseiras, brincos e colares. Deu tom ao estilo que consagrou a designer: O contemporâneo e o clássico, como a própria Carla é. “As minhas peças são muito a minha cara. São joias que eu faria para mim e que as pessoas querem para si”, define a designer de 55 anos. Quem diria que aquela menininha apaixonada por brincos, pulseiras e anéis faria da paixão o seu ofício. Foi na juventude que começou a cultivar o hobby de criar joias nas horas vagas. “Não era nada profissional, mas as pessoas elogiavam muito as minhas criações. Só que eu nem pensava que poderia ser minha profissão", lembra.

Ela tinha uma rotina comum. "Fui professora de inglês, depois trabalhei no Banco de Boston, e ainda fui servidora pública no Ministério do Meio Ambiente”, conta. E como descobriu que a joalheria era seu caminho? “Em oração”, afirma. “Tive um discernimento de que aquela seria minha trajetória profissional. Não era uma coisa só minha, era algo de Deus. Ele me deu o dom e abençoou meu trabalho”. Carla foi destemida. Na época, em 1992, não se falava da profissão “designer de joias”. “Achei por muito tempo que seria funcionária pública”. Pediu demissão, fez inúmeros cursos de ourivesaria, pedras e desenho. Ela queria se profissionalizar, ser expert do ofício. Desenvolveu as joias iniciais, colocou numa caixinha e apresentou para a família. A irmã Katia foi a primeira a comprar uma peça. “Eu fazia tudo sozinha. Eu criava, comprava o ouro, vendia as peças, organizava os cheques. Ia de casa em casa apresentando meu trabalho”, revive. Foi quando ela começou, além de reconhecer seu talento artístico, desenvolver seu lado empreendedor. Com a demanda aumentando e para otimizar o tempo, passou a receber as clientes e fazer o atendimento na mesa de jantar da sala da casa dos pais, na Asa Sul. “Após um ano, contratei a primeira pessoa para me ajudar. Seis meses depois, mais uma. Éramos três quando decidi abrir a primeira loja, um espaço bem pequeno no hotel Kubitschek Plaza”, lembra, parando para refletir que as duas funcionárias se transforaram hoje em mais de 150 colaboradores. Os poucos metros quadrados foram ganhando proporção até que inaugurou a loja na QI 5 do Lago Sul, onde está até hoje. Com jeito doce e calmo de falar, Carla não é ligada em datas. “Acho que tem uns 15 anos que estamos lá”, pensa. Atualmente, toda a produção funciona em São Paulo, onde tem duas lojas nos shoppings Iguatemi e JK Iguatemi, além de Rio de Janeiro, Belo Horizonte e Recife. E tem sua irmã Kelly como sócia. Nesta jornada, conquistou a admiração de belas brasileiras, como Gisele Bündchen, Grazi Massafera, Mariana Ximenes, Isis Valverde, Bruna Marquezine, Carol Dieckmann e também das internacionais Michelle Obama, Anne Hathaway, Taylor Swift e Jennifer Lopez. “Mas quando eu encontro com pessoas usando uma criação que surgiu da minha essência, eu sempre agradeço. Pode ser a vizinha da esquina ou a Gisele, sou verdadeiramente grata”, diz. GPSLifetime « 117

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Foto: Front Filmes

Entretanto a brasiliense que conquistou o mundo sabe bem onde estão suas raízes. “Me dou ao luxo de morar em Brasília, apesar de ir com frequência a São Paulo. Mas aqui é minha casa, uma cidade tranquila, com qualidade de vida e uma arquitetura linda. Acho que eu combino com a cidade. Sou apaixonada”, confessa. Paixão que herdou do pai, que era engenheiro e pioneiro na construção de Brasília. “Só falta o mar”, brincou. “Mas sempre que posso, estou na praia. Gosto de mar quentinho, para ficar horas observando todas as suas formas, cores e volumes”, diz. Com um hábito totalmente noturno, é no silêncio da madrugada que Carla tem seu ápice criativo. Observadora que é, durante o dia, vai juntando as ideias, está sempre com um papel e lápis à mão. "É como se eu fosse colocando as coisas dentro de uma bolsa e chega uma hora em que você abre a bolsa, pega tudo e organiza. É na madrugada que me entrego, que crio minhas joias. Faço minhas orações, tomo um banho demorado, sei que ninguém vai me chamar e não estarei atrasada para nenhum compromisso. A impressão é que em cada madrugada eu tenho tanto tempo que é infinito", revela, sobre o processo criativo na calada da noite.

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É em uma casa no Lago Sul que vive com o marido, Fábio Andrade, com quem é casada há 21 anos e tem os gêmeos Felipe e Tiago, de 20 anos. “Engravidei na lua de mel”, conta, sobre os dias no Algarve após o casamento no Santuário de Fátima, em Portugal. “Eu tinha uns 19 anos quando fui lá a primeira vez. Ainda não tinha tido o encontro com Nossa Senhora. Chorei muito. Um choro de alegria, de emoção, de amor. No dia eu pensei: ‘se um dia eu casar e se for possível, eu gostaria que fosse aqui’. E deu certo”. A fé é uma das suas marcas registradas. Quem a acompanha sabe que sempre carrega consigo a imagem da santa. “Fui criada com a doutrina católica, mas foi aos 15 anos que comecei a trilhar meu próprio caminho na religiosidade. Tive uma depressão e passei a ir muito fundo na busca pelo encontro pessoal íntimo com Deus”, revela. Com a vida muito atribulada, a rotina intensa entre trabalho e vida pessoal, Carla não tem problema em dizer que, vez ou outra, a depressão a acomete. “Eu sou muito sensível, como todo artista. Quando encontro espaço, revejo minha rotina. Além da parte médica, me entrego a Deus. É como um músculo que você precisa fortalecer com a malhação. Intensifico meus horários de oração, no que chamo de santo egoísmo. Às vezes, a gente vai fazendo tanta coisa e tem que parar e olhar para dentro de si”, diz. Carla tem um tripé criativo formado pela observação da sua vida religiosa, da natureza e de Brasília. Brasiliense nata, nascida e criada aqui, a leveza das curvas de Oscar Niemeyer e estética impecável da arquitetura da capital também são fonte que abastece sua criatividade. “São mais de três mil modelos desenhados e sempre baseados nesses três pilares”, diz, sobre as mais de quatro coleções que lança por ano. Permitir-se, Infinito, Sagrado, Poesia, Semear, Cerrado, Água, Momentos, Minha Essência. É assim que batiza suas coleções. Muito mais que sintonia de cor, leveza, pedras e brilho, Carla Amorim emprega em suas criações afeto e amor. E permite o sobrenatural agir na sua criação. Com essa interferência divina, pode-se dizer que o brilho de Carla ilumina caminhos. @carlaamorim_

Fotos: Marcio Fischer

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Foto: Front Filmes

“NÃO ERA UMA COISA SÓ MINHA, ERA ALGO DE DEUS. ELE ME DEU O DOM E ABENÇOOU MEU TRABALHO”

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EMPREENDEDORISMO

UM NEGÓCIO APAIXONANTE

O MAIOR EXPERT EM DENIM NO PAÍS RETORNA À SUA MISSÃO. APÓS CUMPRIR O ACORDO NON COMPETE COM A ITALIANA DIESEL, QUE COMANDOU POR UMA DÉCADA, ESBER HAJLI ASSUME A CALIFORNIANA 7 FOR ALL MANKIND POR PAULA SANTANA

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Fotos: Divulgação

abe fascínio? Desde os 15 anos Esber Hajli tem paixão por jeans. Descendente de família libanesa e italiana, em sua verve está a aptidão pelos negócios e muita garra para o trabalho. Esber é impetuoso. Depois de longa temporada nos Estados Unidos, voltou destinado a se tornar o mestre do denim. E conseguiu. No início do novo século aos trinta e poucos anos, e já com vasta experiência no retail, tornou-se distribuidor da Diesel no Brasil, após conhecer Renzo Rosso, italiano dono da marca, num encontro dez anos antes em Nova York. Esber conseguiu posicionar a label no high-end da moda, à época repleta de vigor. Dez anos se passaram até que os pensamentos entre sócios começaram a divergir e ele deixou o negócio. Afastado do mercado por contrato, o denim continuava em seu coração. E foi por isso que ele não resistiu o iniciar de uma longa conversa com os californianos 7 For all mankind. O desfe-

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cho em 2018 foi benéfico para todos. Esber voltou ao encontro de seu grande amor e a label se reposicionou vinda de uma temporada oscilante. Excelência no produto pela tecnologia em plataformas lux performances e stretchabiliyt, o caminho agora é em dois anos transformar-se numa empresa verde em 85% de sua produção. Um gigante desafio. O amor cresceu ainda mais quando Esber entendeu que a 7FAM atua num forte propósito social. Deu match. Com lojas em São Paulo, Rio de Janeiro e Brasília, o mestre do denim enfrenta o desafio global da pandemia, mas já avisa: “Eu sou metido, persistente. Você vai ver o que farei com a 7FAM”. Você esteve à frente da Diesel no Brasil por quase vinte anos e conseguiu posicionar a marca no high-end do denim num período importante para a moda brasileira. Por que se desfez do negócio?

Quando eu encerrei meu contrato com a Diesel, obviamente eu não queria terminar, mas foi por causa de preço. Porque o Enzo Rosso (italiano, dono da marca), que é amigo meu até hoje, não queria abrir mão dos seus preços e eu não podia abrir mão dos meus princípios. Na época, USD 400, USD 500 custava uma linha classuda Made In Italy. Eu não queria vender calça Made in Colombia, Made in não sei onde, que é o que acontece hoje. Ou eu vendia a preços universais ou o negócio não era mais interessante. Daí falei: “Enzo, eu vou fechar as lojas”. Assinei um non compete de ficar cinco anos fora do mercado. Você é autoridade no universo do jeans. Como iniciou o relacionamento com a 7FAM?

Após essa fase, que terminou em 2018, a 7FAM me procurou. E eu disse: “Para ser do jeito que está sendo, não. Para vender 50, 60, 70% mais caro do que lá fora, eu teria ficado com a Diesel lá atrás. A gente monta uma sociedade. Ou vocês vêm para o Brasil e me colocam de CEO. Marcas gringas, vendendo calça de USD 250 por USD 500 aqui... Acabou. Isso não existe. Aí eles propuseram uma sociedade. Eu falei: beleza”. E após os shared holders agreement realizados, mais uma vez você se tornando o mestre do jeans no Brasil...

Eles ficam com 51%, é uma empresa pública, tudo bem. Mas deixei claro que tocaria as operações sozi-

nho e sem interferências. Eu não abri mão disso. Eles não entendem nada do mercado brasileiro, iam só fazer bobagem. Você assumiu a A no final de com projetos em ão Paulo, Rio de Janeiro e Brasília, cuja abertura teria sido dias antes de iniciar o lockdown.

Foi uma loucura assumir Brasília em plena pandemia. Mas eu sou um infrator de regras. E adoro Brasília. Tenho uma verdadeira paixão por essa cidade. Eu adoro arquitetura, moda, música... tudo que é muito misturado. Eu tenho esse fascínio porque sei que Brasília é assim. Você veio de uma din mica italiana de produção bem sofisticada e caiu no sportswear descolado do universo californiano.

Então, eu não larguei a Itália, porque o que mais me fascinou na 7FAM foi descobrir que a marca tem sua estrutura em Los Angeles e Nova York, mas uma base na Europa fortíssima que é em Milão, o Made In Italy. Mas acredita que minha coleção para o Brasil é 70% europeia e 30% americana. A roupa fabricada na Europa é mais chique, equilibrada. Tem técnica de lavagem de alta tecnologia. É o que eu quero para o Brasil. Então é viver no melhor dos dois mundos. Atualmente, o que a marca representa para o varejo de luxo?

Conforto e tecnologia. É o único jeans que ao chegar em casa você não tira correndo. Especialmente a brasileira prefere ele mais justo. O que faz a 7FAM ser oque ela é: a modelagem impecável. São várias plataformas de lux performances, cada uma delas tem um tipo de stretchability. Esta tecnologia do jeans sempre foi muito agressiva com pesquisa. De que fonte bebe este mercado?

Itália e Japão. O que eu vou falar não é novo, mas a maneira como vai ser apresentada daqui pra frente, sim. As pessoas vão morrer, as marcas vão morrer, se a sustentabilidade não for levada a sério. E como anda essa consciência ambiental na moda?

É bacana ter um Instagram charmoso e vender dez peças por dia e dizer “eu sou verde, eu sou sustentável”. Legal. Outra coisa é uma marca de meio bilhão GPSLifetime « 121

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A marca se reposicionou num momento em que vivemos em suspenso à mercê de uma pandemia? Como seu marketing está se remodelando para essa fase?

de dólares, gigante, se mover de maneira a tornar-se sustentável. É mentira, é impossível fazer isso overnight. E como afinar este discurso entre necessidade e realidade?

A nossa estratégia de marketing é o marketing. O que é isso? É devolver para a sociedade o pouco do que a gente vai ganhar. Como? Com causas sociais, cuidando mais das pessoas, dos lugares... mas de verdade. É uma linha de ação da vida minha, eu já fazia isso na Diesel há 20 anos atrás, só que não era moda. Então quando eu encontrei a 7FAM, com esse man kind e veio com essa we are made for this, ajudando pequenos negócios, como hostels, eu me encontrei. A gente tem que ajudar, tem que ajudar. Luxo. Você vê sentido ainda nessa palavra?

A revolução está aí. Para o ano que vem, ao menos quatro plataformas serão sustentáveis. Eliminando o poliéster, usando o moliéster, inserindo zíper, botões, etiquetas recicláveis. Uma série de mudanças que vai fazer com que essa peça seja 90% verde. E comercial, mantendo os empregos e as lojas abertas. Essas são outras responsabilidades igualmente importantes.

Eu posso até ser polêmico, mas eu não acho que a gente tem que se levar tanto a sério. O luxo como forma de exacerbação é coisa de imbecil. Entrar numa loja e gastar 500 mil não está certo. É legal ter a bolsa da Louis Vuitton e a da feira hippie. O que eu não acho certo é trocar valores, fazer coisas erradas. Atrasar a escola dos filhos para comprar uma bolsa. Isso é doença.

Você acha que o jeans merece um reposicionamento dentro do novo comportamento do consumidor, em que excessos são reavaliados e a roupa ganha outra notoriedade?

Você acredita no poder das mídias sociais como valor de negócio?

O jeans tem a pegada de entender e responder o consumidor. O momento e o movimento que ele está vivendo. O jeans representa a liberdade dentro do guarda-roupa. O jeans é uma declaração, o statement de um mundo livre. Me diz que roupa é um agente tão transformador. Você é apaixonado por denim?

Apaixonado. Tenho um amor enorme. Desde os meus 15 anos eu só penso nisso. Eu entendo, sou especialista. Gosto do cheiro, do toque, eu acho jeans fantástico. Repara, você usa o mesmo jeans durante a semana inteira. Ninguém repara. Agora, vai repetir a camiseta?

É inacreditável. É assustador. Agora, não é só isso. Marketing não é uma batalha de produtos, mas de percepções. Ter conteúdo e posicionamento e fazer disso um veículo das coisas boas. É storytelling. Quem sabe contar a melhor história se dá melhor. Diante de tanta vulnerabilidade, não há como pensar nas nossas ações nas frentes nas quais atuamos, como pais, chefes, filantropos. O que você diria para um jovem empreendedor, para seus filhos, para a sua equipe?

Não viva sem um plano. Acredite e trabalhe muito por ele. Seja ético. Não engane ninguém, não trapaceie porque eu realmente acredito que Deus está vendo. Causa e efeito. Ahhh, estude inglês. Eu não seria nada se não falasse essa língua. E, claro, tenha coragem

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TETÊ COM ESTILO POR MARIA THEREZA LAUDARES mtlaudares@gmail.com – @mtlaudares

CHANEL REVOLUCIONÁRIA

A PRIMEIRA RETROSPECTIVA

MUSEU EXPLORA O LADO CONTRACORRENTE DE GABRIELLE CHANEL

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abrielle Chanel manifesto de moda é o titulo da exposição de reabertura do Palais Galliera, que reconhece Coco Chanel como aquela que desafiou a moda de forma radical. Gabrielle Chanel ficou para a história não apenas por suas criações, mas em especial pelo seu estilo inconfundivelmente único. Ela costumava dizer que não fazia moda, ela era moda. Após dois anos fechado para reforma, o Palais Galliera, Museu da moda da cidade de Paris, reabre suas portas com a primeira exposição retrospectiva dedicada ao trabalho de Mademoiselle Chanel. A reforma, financiada pela Maison Chanel, acrescentou ao museu 1.500 metros quadrados de área distribuídos em novas salas e galerias de exposição. As duas novas galerias, batizadas de Gabrielle Chanel, abrigarão uma mostra permanente do acervo museal. Em ordem cronológica, as 350 peças que compõem a exposição revelam a construção do estilo icônico de Chanel, destacando dois momentos distintos que marcaram a moda: o início da marca na década de 10 do século passado e o período pós-Segunda Grande Guerra nos anos 50. Do primeiro momento da marca, descobrimos a famosa veste Marinière, marinheira, datada de 1916, que libertou a mulher da cinta que as criações de Poiret ainda exigiam. Nos anos 10 do século XX o uso do espartilho ou da cinta para modelar a cintura era item obrigatório para o alcance da silhueta perfeita, que simbolizava o luxo da época. Para Chanel, o corpo não deveria sofrer constrições e desafiou a moda logo no início de sua carreira.

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A liberdade da mulher é um dos elementos mais intencionais na obra de Chanel, tal qual o conforto. Liberdade e conforto irão conferir às criações um caráter quase esportivo. Coco Chanel era avessa a restrições e suas modelagens conferiam mobilidade. De personalidade enérgica a couturière, movia-se o tempo todo, não ficava parada. O conforto parecia algo impensável no Novo Look proposto por Dior no período pós-guerra. Revoltada com o retorno da falta de praticidade no vestir, Coco Chanel foi contracorrente e lançou seu tailleur. É verdade! O tailleur Chanel foi lançado em 1954, ano no qual Chanel, inconformada com a moda vigente, decidiu retornar à ativa, reabrindo as portas de sua maison homônima no emblemático endereço parisiense – 31, rua Cambon.

A exposição traz ainda um grande número de vestidos de noite de várias décadas, elaborados em musseline, plumas, renda, cetim e tantos outros tecidos e bordados preciosos. É curioso ver a valorização da naturalidade feminina promovida por Chanel, que dava preferência às linhas puras com pouca ou nenhuma decoração. Vestidos de noite na cor vermelha chamam a atenção pelo fato de não representarem uma cor da cartela da Maison que privilegia preto, branco, off-white, bege, além de pinceladas de azul-marinho, rosa e verde. De fato, a modernidade expressa no trabalho de Coco Chanel revela-se no apuro da forma, na simplicidade confortável, que faz com que sua obra adquira estética atemporal. A soma de conforto, simplicidade, liberdade, leveza e juventude é a formula da modernidade eterna assinada por Chanel. Sem extravagâncias, a coerência do estilo criado por Gabrielle Chanel demonstra que a elegância não é se vestir em excesso. Não é elegante ser elegante demais, explicava a Mademoiselle. Em tempos de mudança quanto à postura do consumo de moda, Gabrielle Chanel manifesto de moda nos faz questionar a relação entre o passageiro e a qualidade. A exposição fica em cartaz até março do próximo ano. Segundo Arzaluz, diretora do museu, o grande objetivo a partir de agora é valorizar cada vez mais a capacidade e o empoderamento feminino na moda. Gabrielle Chanel, manifeste de mode Palais Galliera, Paris Até 14 de março de 2021 www.palaisgalliera.paris.fr

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VAREJO

MODA:

NEGÓCIO E PAIXÃO Fachada da loja do Lago Sul

ESTUDAR E EMPREENDER AO MESMO TEMPO. ATITUDE FEMININA QUE LOUBACK JACOBY INCORPORA EM CONCEITOS DISTINTOS APLICADOS EM SUAS LOJAS LAGO SUL E ÁGUAS CLARAS POR THEODORA ZACCARA « FOTOS LUARA BAGGI

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vermelho derrama por todos os cantos. Da entrada à recepção, provador, pelas araras. O carpete é macio, daqueles que convidam a tirar os sapatos e sentir. No ar, cheiro de roupa nova, sabe como? Que acabou de ser passada, pendurada, disposta como um troféu entre cabides. Flutuando por etiquetas como Morena Rosa, Animale e Carmim, o sentimento vem de supetão: poderia ficar aqui por horas. Inaugurada em agosto de 2020, a loja Louback Maison é jovem, sim, mas tem currículo. Já é o terceiro empreendimento de Louback Jacoby Fernandes, e mesmo abrindo as portas no olho do furacão pandêmico, escreve “sucesso” em letras cursivas. Mas comecemos do começo.

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O espaço em Águas Claras

Era 2018 quando a autoproclamada fashionista, em pesquisa pela região de Águas Claras, observou: “As mulheres daqui quase sempre passam o dia no Plano Piloto, entre trabalho, tarefas… não seria legal se elas tivessem um ambiente mais próximo que fosse só delas?”. Em pouco tempo, montou o Backstage Feminine. Híbrido de salão de beleza e multimarcas, o endereço rapidamente se tornou uma “casa de bonecas” feita sob medida para a mulher prática: lá, é possível fazer as unhas, retocar a raiz, marcar uma massagem, comprar um novo acessório, tudo junto e simultâneo. “A ideia é unir todas as necessidades num lugar só. Você pode chegar, escolher o look, o penteado, a maquiagem e

sair pronta para qualquer evento”, explica. “Quis facilitar de todas as formas, entregando tudo que ela procura num lugar mais perto e conveniente”. Nos meses que sucederam, era difícil ver o spot vazio. A chegada da loja apresentou o público de Águas Claras a marcas que outros estabelecimentos da área não carregavam. Com o perímetro conquistado, começou a bolar planos de expandir o negócio. Sua estreia no Lago Sul foi um pouco diferente. Pensada para satisfazer as clientes do “quadrado”, a gestora dá boas-vindas a um novo nome e conceito: a Louback Maison. Com tapeçaria que imita os red carpets – “Toda mulher merece se sentir numa premiação” – e acabamento clean e elegante, a boutique reflete o estilo moderno e apurado da “mulher Lago”. “É uma pegada diferente”, assume a proprietária. A novidade chega de mãos dadas a outro lançamento: a estreia como designer. Estudante de Moda, cursando o último período no IESB, a gestora transformou seu Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) em desejo criando uma linha apoiada em clássicos com perfume de “coisa nova”. “Minha primeira e maior preocupação é com o caimento, com os detalhes, a costura de um botão, o desenho de uma manga. Quero que a mulher sinta que aquela roupa foi feita para ela”, entrega. A inspiração para a linha veio de longe, mas é eterna: Versailles, o castelo e corte que pautaram o rococó como a estética querida “dos bem-vestidos”. “Sou apaixonada pelo visual francês, seja nas roupas ou na decoração. Minhas maiores referências são Dior, Chanel… gosto desse universo”. Assim, entram em cena peças com mangas volumosas, cores abertas, projeções cheias de dimensão e um design para a “mulher de hoje”. @loubackmaison @backstagefeminine @backstagefemininesalon

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ENTRE NÓS POR PATRICIA JUSTINO

pattyjustino@hotmail.com – @patjustinovaz

DESTINO: PARAÍSO

Muita gente busca realizar sonhos antigos de viagem e recuperar o tempo perdido durante a pandemia; apesar de serem poucos os destinos hoje disponíveis. Empresários do turismo revelam que os pacotes a lugares mais exóticos e afastados são os mais procurados no momento. Há anos, roteiros como as ilhas Maldivas, por exemplo, sempre estiveram no top 10 das listas de desejos. E desde que reabriram suas fronteiras para os turistas, os resorts maldivianos, apesar de não serem as opções mais econômicas no momento, estão se tornando um hit entre os viajantes brasileiros. Nesse contexto dos sonhos, a ilha resort Anantara Kihavah destaca-se entre as cerca de 200 ilhas habitadas do arquipélago asiático. Sua estrutura dispõe de acomodações tipo chalés sobre as águas com piscinas privativas ou vilas luxuosas que dão aos hóspedes o privilégio de estarem com os “pés na areia” e capacidade para abrigar famílias inteiras. Lá, todas as acomodações são amplas e sofisticadas, com leves toques rústicos e coloniais. Nas áreas comuns, piscina de borda infinita; academia com amenities que incluem até modelos de tênis femininos e masculinos com uma grade completa de numerações para serem usados pelos hóspedes; arena de muay thai com personal class; quadra de tênis; centro de esportes aquáticos. E ainda cinco

restaurantes com especialidades internacionais: o asiático Spice; o italiano Manzaru; o See, um dos mais famosos da região, especialmente por ser submerso a 6m de profundidade no mar e ter vista panorâmica dos corais e vidas marinhas; o japonês Fire, com bancadas ao redor do chef, que atrai todos os olhares com suas habilidades e performances na montagem dos pratos, e o Sky, num rooftop perfeito para apreciar um dos sunsets mais lindos do mundo. Passeios de barco para ver golfinhos ou mantas gigantes, visita noturna ao observatório de constelações, jantar a dois em tendas privativas na praia, café da manhã flutuante na piscina do quarto e passeios de bicicleta ao redor da ilha são apenas algumas das opções de lazer. Quanto aos serviços, um detalhe faz toda a diferença: cada habitação tem direito a um mordomo que se encarrega de todos os cuidados com os seus hóspedes, tais como: o transporte interno em carrinhos de golfe, as reservas de restaurantes, dos passeios ou de alguma atividade extra. Um verdadeiro luxo para se trazer nas melhores memórias da vida. www.anantara.com | @anantarakihavah

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LIBERDADE ESTÉTICA

A marca mineira Ana Duque+ lança a coleção Place of Freedom. A marca mineira mergulha em costumes, culturas e visões de mundo para criar uma narrativa única de produtos. A marca se baseia na importância da sua origem e na força de suas raízes para se expressar por meio da moda e da arte. A nova coleção exalta a pluralidade cultural como força motriz para o desenvolvimento da sociedade e traz uma novidade, os objetos, que conversam com as roupas, e que foram 100% produzidos pelas mulheres do Vale do Jequitinhona. Como parte do projeto da marca, a valorização dos processos é uma jornada de produto 100% transparente, que visa valorizar mão de obra artesanal e dar voz a quem produz. “Queremos respeitar e entender que a união de pessoas de lugares distintos abre a possibilidade de diálogo e de crescimento mútuo”, conta Ana Beatriz, designer da marca. A coleção pode ser encontrada online. www.anaduquemais.com.br | @anaduquemais

ARTE POPULAR BRASILEIRA

Através do olhar de Lara Calaça e sua curadoria para o Instagram Apaixonada Por Isso, surge uma interessante parceria que resultou na exposição de uma minicoleção de esculturas criadas pela artista Naide Wanderley exclusivamente para a concept store Q.U.A.D.R.A, no Lago Sul. Suas obras, árvores bordadas com linhas coloridas de algodão, têm base em madeira, formas e tamanhos variados e revelam uma arte cheia de amor, afeto e brasilidade. Original de Pernambuco, Naide começou a bordar para expressar os seus sentimentos. Logo, os seus trabalhos tridimensionais caíram no gosto de colecionadores de arte, arquitetos e consumidores em geral. Todas as peças da exposição estão à venda na loja brasiliense, possuem tiragem única e já viraram as bestsellers da vez. @apaixonadaporisso | (61) 3248-2840

SOBRE AMORES E SABORES

Fabiana Ruas sempre teve paixão pela cozinha e sempre reuniu seus queridos em volta da mesa. Em 2020, esse amor passou de hobbie a negócio e ela criou a Amores&Sabores, empresa que proporciona experiências gastronômicas. São kits para cozinhar. Um roteiro, várias dicas e todos os elementos dos pratos escolhidos porcionados e separados prontos para cozinhar. De quem ama a cozinha àqueles que não sabem cozinhar, o kit agrada a todos e ainda proporciona uma experiência completa, que vai muito além a mesa. Uma dica? O bobó de camarão, entre os pratos mais pedidos do variado cardápio, tem cara de comfort food e entrega todo o refinamento para receber famílias e amigos. @amoresabores.bsb

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Brinco em ouro amarelo topázio, citrino, ametista e quart o rosa Grifit R$ 13.100,50

JOALHERIA

Colar em ouro e topázio e rodolita, Grifit R$ 7.100,50

MAIS COR, POR FAVOR Ar nostálgico de vintage, somado a um pouquinho de candura, mas também com certa monumentalidade. Se o minimalismo pretende se instalar, na joalheria tudo indica que não agora. Sim, não há excessos, mas brilho há de existir. Em uma outra aura... a das gemas, pedras que iluminam, alegram, energizam (PS)

Anel em ouro amarelo, topázio, citrino, quartzo rosa e ametista, Grifit

Anel em ouro amarelo e ametista, Silvia Badra R$ 1.980,99 Anel em ouro rosé e diamantes, Miranda Castro - preço sob consulta

Brinco em ouro amarelo, citrino e topázio branco, Silvia Badra - R$ 3.800

Anel em ouro com rubi e diamantes, Miranda Castro - preço sob consulta

Anel Brilhar em ouro com água marinha e brilhantes, Carla Amorim - R$ 20.540

Brinco Brilhar em ouro com água marinha e brilhantes, Carla Amorim - R$ 19.310

Aliança de tanzanitas e diamantes, DIO Watches & Diamonds - R$ 23.500

Anel com tanzanitas e brilhantes, DIO Watches & Diamonds R$ 12.500

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Brinco Sonhar, Carla Amorim preço sob consulta

Brinco com safiras rosa e azul e diamantes, Miranda Castro - preço sob consulta

Brinco com tanzanitas e brilhantes, DIO Watches & Diamonds R$ 75 mil

Anel em ouro amarelo, citrino e granada, Silvia Badra R$ 2.300

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MANIFESTO

POR PAULA SANTANA

A máscara não oferece apenas segurança ou oferta o gesto da cautela. Ela exalta a postura da empatia. Em alguns anos, quando esta fase fizer parte dos livros de história, qual o valor e o significado que a máscara representará? Certamente nos autos da moda ela terá seu protagonismo. Em construções urbanas, nas quais o fashion people optou por roupas casuais e desconstruídas em proporções maxi e de volumes sobrepostos, a máscara teve seu papel agregador e fantasioso.

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Fotos: Cortesia

CELEBRAÇÃO

TRADIÇÃO E MODERNIDADE A MARCA PAULISTANA GRIFITH CELEBRA 25 ANOS COM UMA SÉRIE DE AÇÕES PARA EXPANDIR SUA HISTÓRIA E SEU DNA POR CARINA BENEDETTI

A

palavra de 2020 foi adaptabilidade. Reinventar-se foi ordem em um ano que tomou um curso inesperado. Pessoas e empresas precisaram parar e recarregar a rota. A Grifith já estava em processo de olhar para dentro e refletir sobre o futuro. O dilema era: como ser fiel ao próprio DNA e expandir? Como crescer sem perder a essência? A reflexão era natural para uma marca que chegou aos 25 anos. Foi em 1995, em um ateliê em Pinheiros, São Paulo, que a Grifith nasceu. Tudo começou com o desejo

de Jorge Alberto dos Santos Fernandes de inovar o mercado de joias no Brasil. Faltava uma marca que fizesse uma joalheria autoral, mas clássica, com design único e qualidade incontestável. As missões da Grifith são definidas na criação, credibilidade, atualidade e proximidade com o cliente. Ao longo de sua trajetória, a Grifith ganhou corpo

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e desenvolveu uma estética própria. Em suas coleções, conta histórias e privilegia um design elegante e clássico, criando joias que são para a vida toda. É no ateliê próprio que nascem as peças, feito raro na maioria das joalherias atuais. Outro diferencial é o trabalho dos ourives e dos cravadores, que se debruçam em cada etapa para obter o melhor resultado possível. Outro marco que a Grifith comemora é a chegada na capital. A loja, que já completa uma década de existência, é um reflexo da afinidade com a cidade. Design e arte estão no DNA de Brasília e essas são fontes de inspiração sem fim para a marca que na cidade tem gestão e olhar de Tatiana Mauriz e Marcelo Lourenço. Para mostrar que está não só de olho no futuro, mas se movendo em direção a ele, a Grifith preparou uma série de ações que remodelam a experiência da marca. A primeira delas é a inauguração de uma loja no empreendimento que promete remodelar o mercado de luxo no Brasil: o CJ SHOPS. O shopping, localizado nos Jardins, em São Paulo, tem como premissa a curadoria de nomes e contará com um espaço da joalheria projetado pelas arquitetas Michelle Boccalato e Mariana Goes. No ano que vem, mais uma novidade: o lançamento de um e-commerce. O objetivo é a acessibilidade e a experiência de consumo online. Porém, sendo o atendimento um dos diferenciais da Grifith, o serviço será adaptado para a plataforma, que terá consultores especializados disponíveis. A marca quer se modernizar e estar disponível em novos mercados, ao mesmo tempo em que quer manter suas tradições. Por fim, a Grifith lança o projeto Pre-owned, um braço sustentável da marca. O projeto será dividido em dois segmentos: o de relógios, com compra e venda de peças usadas e seminovas; e outro de upcycling. Esse último, por sua vez, será ramificado em: compra de matéria-prima para criação de novas peças, sem vínculo; ou a reformulação de alguma peça antiga, em um processo feito a quatro mãos com o cliente. Fica claro o esforço em se modernizar para não só manter a relevância, mas também para sair à frente e inovar no mercado de joias. Como poucos, a Grifith equilibra a tradição e a vanguarda e se mostra como uma marca consistente, que possui uma história e que está aberta a escrever novos capítulos. grifit com br

@grifit oal eiros

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PASSARELA

A PROVÁVEL LEVEZA DO SER

Zuhair Murad

POR PAULA SANTANA

A mensagem não era a tendência, o código não era a roupa. O discurso evocou, sobretudo, na desconcertante realidade das passarelas europeias que posicionaram suas coleções numa teatralidade referendada pelo propósito... de consciência ambiental, de atitude étnica, de postura ética, do convívio em comunidade. E de isolamento. E seus frutos. Em que contexto cabe falar de moda diante da pequenez do ser humano? Sim, a vida segue digitalmente acelerada, fisicamente ressignificada. As labels fizeram entregas para uma vida de verdade. Tiraram histórias de seus baús, esvaziaram estoques de tecidos, promoveram a economia circular com naturalidade. E deixaram como reflexão a possibilidade de imaginar que a simplicidade pode ser um lugar sensível e aprazível para recomeçar.

Sara Battaglia

Weekend Max Mara

Valentino

Tod’s

Fendi Versace

Equipment

Emilio Pucci

Chanel

Emporio Armani

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Emanuel Ungaro

Dior

Prada

Elie Saab Balmain

Louis Vuitton

Kenzo Blumarine

Hermès

Boss

Zadig Voltaire Dion Lee Lanvin

Mugler

Shi.RT Maje

Miu Miu

Salvatore Ferragamo

MSGM

Paco Rabanne

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Tory Burch

Céline

Altuzarra

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TENDÊNCIA

Balmain

Versace

FUNCTIONAL

BAGS

Fendi

Miu Miu

POR PAULA SANTANA

Se é urbana, utilitária e surgiu das ruas, então é trendy.. As nanos surgiram juntas com o recall das pochetes, e ficaram meio lá, meio cá, no tráfego fashion. Agora, quando tudo precisa estar à mão diante do imprevisível instante, elas dominaram as passarelas. Na transversal, especialmente, elas se acomodaram muito bem. Mas nos ombros, nas alças das bolsas ou como clutches ou colares também fazem sentido. Extremamente pequenas, mas grandes o suficiente para transportar o novo necessário: cartão, celular, chaves e... um gloss.

Chanel

Max Mara

Longchamp

Louis Vuitton

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ESTILO

ETERNOS TRANSGRESSORES

Burberry - R$ 8.080

Dolce & Gabbana R$ 5.200

Miu Miu - R$ 4.900 Jimmy Choo - R$ 5.904

Maison Margiela R$ 5.600

David Koma

Quem diria que os primeiros desfiles de prêt-à-porter idealizados por Pierre Cardin ou YSL conseguiriam iconizar por meio destes geniais designers um simples uniforme de trabalho rural... o jeans. Aconteceu. Mais recentemente, o atual vintage anos 90 o trouxe à passarela com a volúpia de Versace ou o minimalismo de Calvin Klein. Evidentemente eles sempre estiveram fortemente presentes no retail, na distinta condição de clássicos premium.. Mas a passarela o elege vez em quando. Desta vez, sua funcionalidade e tecnologia se aliaram à possibilidade da nova busca pelo conforto e acolhimento. Agregado à necessidade de ser uma persona up to date aos preceitos da moda, que não mais impõem, apenas sugerem (PS) Saint Laurent - R$ 9.270

Dior - R$ 7.400

Chanel - preço sob consulta

Dolce & Gabbana preço sob consulta

P ilosop i Loren o Serafini para Farfetch - R$ 6.148

Paris Texas para Farfetch R$ 1.924

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MOVIMENTO

Dries Van Noten

Balenciaga

JW Anderson

JW Anderson

FUTUREWEAR POR PAULA SANTANA

Quando a vida surpreende a moda, que se apresenta para a arte, que se apropria de ambas para (des)construir com plasticidade e... vestir pessoas, ou não, o estranho não é feio ou bonito. É, sobretudo, inquietante. Diante da nitidez da caótica urbana, tudo precisa também ser orgânico. Real, de verdade, mesmo que esteticamente frágil. Enquanto a filosofia dialoga com o sobreviver, a imagem provoca a diversidade de sentidos, tal qual a poesia. A narrativa em questão é a conflituosa relação entre moda e individualidade no arquétipo de um tempo em que desfile, performance ou experiência não podem mais simplesmente resultar num mero ato de desejo e consumo.

Dries Van Noten

Loewe Balenciaga Loewe

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Maison Margiela

Raf Simons

Marine Serre

Thom Browne

Raf Simons Marine Serre

Givenchy Noir Kei Ninomiya

Rick Owens Givenchy

Stella McCartney

Stella McCartney

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CONCEITO

SEJA LUZ Ambiente natural, linhas sofisticadas. Tom utilitário em peças desestruturadas. Explosão de cores candy, toques de neon. Alfaiataria em proporções generosas, shorts curtos com camisaria, conjuntos de duas peças coordenadas. O homem está híbrido. Busca leveza, liberdade e viaja no tempo. Está tech, mas se alimenta do vintage. Pede roupas que não se complicam. Sua mensagem é: sorria, tudo vai ficar bem e, quando este momento chegar, quero estar preparado (PS)

Balmain

Dsquared2

Emporio Armani

Salvatore Ferragamo

Dior Louis Vuitton

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Balmain Moschino

Off White

Tods

Balenciaga

Fendi

Louis Vuitton

Dior

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VERÃO A. Teodoro

Maggie Marilyn

Stella McCartney

O NATURAL NOS CAI BEM

Alanui

Dolce & Gabbana

Um pouco de arte. Das mãos. Que bordam, que tecem, que tramam. Que fazem surgir crochês e macramês. Que criam bordados delicados. Um tiquinho de natureza. De onde nasce o artesanato. De onde saem palhas e sementes. Fibras naturais que se transformam em costume, em estilo, em tendência, em propósito. O verão é isso. Cores terrenas, construções longe do corpo, mood místico, valores humanos (PS)

Oscar de la Renta

Lenny Nieimeyer

Chanel

Christian Dior

Altuzarra Lutz Huelle

Missoni

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Marques’Almeida

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Chanel

Gucci

Loro Piana

Johanna Ortiz

Etro Michael Kors

Chloe

Miu Miu

Louis Vuitton

Alice + Olivia

Brandon Maxwell

Gabriele Colangelo

Oscar de la Renta

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BEM-ESTAR Foto: Brejo

O PODER DA COR. NO PERÍODO MARCADO PELA TRANSFORMAÇÃO, CARTELA MUNDIAL DE TONS CONTRIBUI PARA O BEM-ESTAR DA ALMA POR MEIO DO DÉCOR. RESGASTE, CONSCIÊNCIA E CONEXÃO SÃO AS PALETAS DA VEZ POR PAULA SANTANA

Foto: Brejo

ENTRE O SONHO E A REALIDADE 144 « GPSLifetime

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Fotos: André Klotz

O

modo de morar, especialmente de vivenciar a casa, mudou completa e bruscamente ao longo de 2020. Tudo precisou ser ressignificado em tempo real. Com a rotina alterada, humores invertidos e perspectivas obscuras, o universo das cores tão presentes na moda, decoração, beleza e, claro, na natureza ganhou extrema importância. Tornou-se luz, vida, energia. Anualmente, birôs de tendências lançam suas cartelas para distintos segmentos. Para 2021, a Suvinil assumiu esse papel com bastante propriedade. Neste contexto, Michell Lott, jornalista, diretor criativo de cores da marca, propôs a todos uma imersão que sugere sobretudo a contemplação batizada de Meia-luz, em que imagens como o pôr do sol são a grande inspiração. “Se abraçarmos o presente como ele é, teremos a chave para compreender a importância dos detalhes, poderemos aprender como as cores causam impacto direto em nós. Elas são energia. É a dose diária de vigor que precisamos”, explica Sylvia Gracia, consultora de marketing. E contar histórias por meio das cores pode ser um belo exercício em tempos caseiros.

O RESGATE A simplicidade ancestral que conecta as pessoas independentemente de seus perfis. Essa atmosfera emoldura a curadoria com brancos orgânicos. O lar como o espaço de proteção física e mental. Tempo de cores cromáticas, como os amarelos inspirados nas fibras naturais; os marrons amadeirados, retirados

do uso rústico proposto pelas madeiras; a reconexão complementar vinda de azuis inspirados na cor do céu e no reflexo das águas; e até os cinzas esfumaçados, que simbolizam o carvão como símbolo que nos conecta aos rituais.

A CONSCIÊNCIA O cuidado do indivíduo com ele mesmo e com o planeta. Demonstra a transformação das ações e, principalmente, do consumo que traz o racional para a vida. Quanto mais atividades em um mesmo espaço, mais sustentável ele será. Tons medianos, calmantes e orgânicos. Vermelhos e terrosos sejam contraponto para os diferentes azuis do céu. Cores clarinhas de concentração e felicidade complementam-se com os verdes temperados e mais ligados aos alimentos e ao tempo. Um novo minimalismo.

A CONEXÃO O olhar otimista sobre a tecnologia, reforçando como todos habitam o ciberespaço e, com sua presença ativa no ambiente digital, passa a ajudar as pessoas ao redor do mundo. Com esse alinhavado de ideias, o real e o imaginário se alinham, colaborando na criação de soluções únicas. Escolha que traz esperança e inspiração nas paletas rosas e lilases crepusculares; verdes azulados acqua; e as pinceladas energéticas como opções sempre abertas no resgate de memórias bem vividas de felicidade. GPSLifetime « 145

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PAREDES

A DIVISA DE CONCRETO Um português, um alemão e um pernambucano encalorados em Recife criaram um elemento decorativo que permitia que luz e brisa se fundissem. Foi tudo tão despretensioso e criativo que lhes deram a alcunha de cobogó, a junção da inicial dos nomes dos três geniozinhos do início do século passado. À época modernista, por volta dos anos 40-50, as paredes tornaram-se spots da arquitetura dentro das casas de design. Brasília nos anos 60 se encarregou de transformá-los em arte numa escala industrial. Ainda hoje, quase cem anos depois, os cobogós se fazem presentes. Atualmente os clássicos permitem novas interpretações. Com tons distintos e também em materiais como pedras, cerâmicas e até madeiras. Se antes os blocos vazados lidavam com a natureza, hoje sua funcionalidade maior se destina a dividir ambientes. (PS)

@decortiles

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RÚSTICO

Pedras extraídas da natureza nunca são iguais. Cores e veios de contornos únicos se configuram como a impressão digital do produto. E é isso que confere a sua nobreza no décor, que não cessa a vontade de utilizá-las cada vez mais. As infinitas possibilidades de uso são os atrativos. Mas entender que elas são duráveis, funcionais e sustentáveis as tornou o top trend das construções mais limpas e sofisticadas que se estabelecem no novo normal. Este elemento ganha mais imponência quando seu perfil se constrói a partir da explicação de que sua resistência é parâmetro apenas do inquebrável diamante. (PS)

@lusso | @decolores

FORMAÇÕES ROCHOSAS

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ARTE POR MAURÍCIO LIMA

EDUARDO COIMBRA A MATERIALIZAÇÃO DO VAZIO

Foto: Mario Grisolli

mauricio@galeriaclima.com.br

A

pós se graduar em engenharia elétrica pela PUC Rio, o carioca Eduardo Coimbra (1955) fez uma pós-graduação em Arquitetura e História da Arte, e esse aprofundamento nos estudos das artes plásticas fez com que, na década de 1990, Coimbra começasse sua trajetória como artista. É possível pensar que houve uma mudança de direção entre seus estudos formais e a carreira que decidiu seguir, mas, ao se aprofundar no conjunto de trabalhos criados por Coimbra nesses 30 anos, fica claro que todo o conhecimento de um engenheiro/arquiteto teve uma participação fundamental na criação das obras e conceitos envolvidos. O curador e escritor Otavio Leonidio, em seu texto Eduardo Coimbra: arquitetura, escultura e desastre, escreveu que a arquitetura, em suas diversas dimensões e instâncias (a urbana inclusive), foi sempre um tema central da pesquisa de Coimbra. Faz de fato bastante tempo que o artista investiga, e sobretudo afronta, algumas das noções e categorias mais elementares do discurso arquitetônico. A noção de “paisagem” (não exclusiva, mas todavia central à arquitetura), abordada à exaustão pela obra de Coimbra, é talvez a ocorrência mais óbvia no quadro de uma prática que, não raro, opera no limite entre arquitetura e tudo aquilo que o discurso da arquitetura, por costume ou precaução, não se dispõe a incorporar. Logo na primeira década de trabalho, Coimbra já foi escolhido para participara da III Bienal do Mer-

Situações Especiais 9 e 5

cosul e, nove anos depois, participou da Bienal de São Paulo, uma das exposições mais importante do Brasil. Ainda em 2010 começa uma linda serie chamada Luz Natural. Foi uma versão desse trabalho que Coimbra apresentou na Bienal. Segundo o artista, imagens de céu são imagens da própria luz. O azul do céu não é uma qualidade cromática de um plano físico, mas o resultado da refração dos raios de luz através das camadas da atmosfera. Quando você vê uma foto do céu, você vê um objeto de cor azul, mas ao ver o céu de verdade você só vê luz azul, é a expressão visível do vazio. Ao usar lâmpadas, o trabalho projeta a luz azul, aproximando conceitualmente o trabalho do céu verdadeiro. A serie Situações Espaciais, de 2011, cria um estranhamento na nossa percepção de volume. À primeira vista, o trabalho apresenta formas geométricas que parecem ser planas, apesar de criarem uma impressão óptica de

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Foto: Fernando Lazlo Foto: Otto Saxinger

Luz Natural da Bienal

Luz Natural de Linz

Foto: E. Coimbra

Escultura III

que algumas partes do trabalho se projetam à frente. Ao se aproximar, começa a ser possível notar que todas as áreas pretas, que de longe parecem ser planas, são profundas, criando uma volumetria real. Em 2014, Coimbra participa da Exposição Experiência da Arte – Serie Arte para crianças, no CCBB de Brasília, ao lado de outros grandes nomes da arte brasileira, como Waltercio Caldas, Cildo Meireles, Vik Muniz e Ernesto Neto. Coimbra faz uma adaptação de uma obra já apresentada na Praça Tiradentes, no Rio de Janeiro. Trata-se de uma obra interativa, que, segundo o artista, é uma série de trabalhos formados pelo empilhamento de vários cubos com lados de diferentes dimensões: 2m, 1m e 0,5m. Sem duas faces frontais, os cubos têm em seu interior espaços para serem ocupados pelo público, convidando os visitantes a criar percursos dentro, entre e sobre os elementos. A obra de Coimbra participa de importantes coleções, como a do Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro e a da Pinacoteca do Estado de São Paulo. O artista vive e trabalha no Rio de Janeiro. GPSLifetime « 149

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ARTE

Foto: Levi Fanan

UM MUNDO IMAGINÁRIO ONDE É PERMITIDO SONHAR EM SUA ESS NCIA MAIS SINCE A NUM EXPRESSIONISMO SIM I TICO OS I MÃOS OT IO E USTA O OSGEMEOS, TRAZEM A POESIA URBANA DE VOLTA AO INVADIR A PINACOTECA POR GIOVANNA PEREIRA

Foto: Levi Fanan

SENTIR ANTES, ENTENDER DEPOIS

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ontar histórias por meio da arte. Em um universo de muita fantasia, relações afetivas, questionamentos sociais, sonhos e experiências de vida, os trabalhos da dupla de artistas OSGEMEOS é reconhecido por sua linguagem urbana multicolorida. No intuito de revelar ainda mais encantos, a Pinacoteca de São Paulo preparou a primeira exposição panorâmica da dupla, em um passeio imersivo pelos trabalhos envolventes dos irmãos. “Expondo na Pinacoteca, abrimos portas para as novas gerações de artistas, mostramos que, quando você acredita nos seus sonhos, é possível viver da arte”.

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Foto: Levi Fanan

A mostra OSGEMEOS: Segredos conta com dezenas de obras inéditas no Brasil e mil itens cuidadosamente preservados. A exposição inclui pinturas, instalações imersivas e sonoras, esculturas, intervenções site specific, desenhos e cadernos de anotações. Esses últimos, da fase ainda adolescente e apresentados ao público pela primeira vez, antecedem os famosos personagens amarelos, abrindo caminho para a compreensão da raiz de seu surgimento. As obras invadem o museu, ocupando as sete salas de exposições temporárias do primeiro andar, um dos pátios, diversos espaços internos e externos, além de uma instalação, concebida especialmente para o octógono.

OSGEMEOS: UM ÚNICO ARTISTA

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Foto: Isabela Matheus

Sempre juntos! A conexão íntima dos irmãos e a forma singular de produzir fizeram com que eles trilhassem um caminho de reconhecimento nacional e internacional, construindo uma trajetória repleta de personalidade no mundo das artes. Quando perguntados sobre a forma como trabalham, os irmãos repetem: “Eu tenho a ideia, ele desenha. Ele tem a ideia, eu desenho. Ou nós dois temos a ideia, nós dois pintamos juntos. Sempre foi assim. Não dá para explicar. Quando éramos pequenos, pintávamos em um só papel, não precisávamos de duas folhas”. Sem nunca ter perdido de vista o desejo de manter-se acessível ao grande público, Otávio e Gustavo tomaram o espaço urbano como lugar de vivência e de pesquisa. Os artistas jamais deixaram de fazer grafite, mas, com o passar dos anos, esse universo criado pela dupla, com o qual sonham e se inspiram, ultrapassou as ruas, transformando-se numa linguagem própria e em constante evolução, com diversas referências e influenciado por novas culturas.

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theus Foto: Isabela Ma

Carregados de inúmeras influências da cultura hip hop, que havia chegado ao Brasil no momento em que começaram a produzir, em meados da década de 1980, OSGEMEOS se deixaram influenciar também por dança, música, muralismo e, ainda, pela cultura popular. Tudo isso contribuiu para que pudessem desenvolver esse trabalho tão singular. No cenário internacional, realizaram mostras individuais e coletivas em museus e galerias pelo mundo, desembarcando em Cuba, Chile, Estados Unidos, Itália, Espanha, Inglaterra, Alemanha, Lituânia e Japão. Para entender a obra de OSGEMEOS é necessário deixar que a razão dê lugar ao imaginário – atravessar portas, permitir-se perceber as sutilezas e embarcar em uma experiência que excede a visual. Foram muitas realizações, o percurso dos ir-

mãos gêmeos inclui a participação em mostras nas principais instituições internacionais, como o Hamburger Bahnhof, em Berlim, em 2019, com um projeto concebido em parceria com o grupo berlinense de breakdance FlyingSteps – um dos mais premiados mundialmente; a Vancouver Biennale, Canadá (2014); o MOCA – Museum of Contemporary Art, em Los Angeles (2011); o MOT – Museum of Contemporary Art Tokyo, em Tóquio, Japão e a Tate Modern, em Londres, Reino Unido (ambas em 2008) e a Trienale de Milão (2006), entre outros. Ao longo de sua carreira, os irmãos também receberam convites para criar para os principais espaços públicos de mais de 60 países, incluindo Suécia, Alemanha, Portugal, Austrália, Cuba, Estados Unidos – com destaque para os telões eletrônicos da Times Square, em Nova York(2015) –, e tantos outros.

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A curadoria da mostra carrega o nome do diretor-geral da Pinacoteca, Jochen Volz, que em seu texto de apresentação escreve. “Se, na época moderna, o fenômeno o artístico tem a cidade como seu lugar de existência, pensar a arte é pensar sua inscrição na urbanidade. O urbano, a cidade, as relações que se dão nesse espaço específico são tanto temas da arte quanto o próprio modo de sua aparição. Viver em cidades significa partilhar

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Foto: Levi Fanan

de uma sociabilidade singular, marcada pelo deslocamento, pelo anonimato, pela produção coletiva, geradores de conflitos e desigualdades, mas também dotada de um potencial de liberdade e transformação, caros às práticas da arte moderna e contemporânea.” “Sentir, antes, para entender depois”, diz a dupla. As exposições dos gêmeos são sempre um convite ao mundo dos sonhos. A criatividade, a pulsação das cores e o imaginário íntimos desses dois artistas se desenvolveu dessa forma, pois eles se permitiram sonhar, criar sem julgamentos e de forma sincera. A dupla assumiu sua verdade e encantou o mundo. No espaço urbano ou na galeria, em projetos públicos ou privados. Os gêmeos permitem que, em qualquer idade, as pessoas que se deparem com as obras consigam novamente brincar e sonhar.

Foto: Isabela Matheus

Gustavo e Otavio Pandolfo, OSGEMEOS, nasceram em 1974 na cidade de São Paulo. Passaram a infância e a adolescência no Cambuci, um dos mais tradicionais bairros da cidade. Quando crianças, desenvolveram um modo distinto de brincar e se comunicar através da arte. Com o apoio da família e diversas influências, eles encontraram uma conexão mágica e dinâmica em um modo único de se comunicar com o público. Formados em desenho de comunicação pela Escola Técnica Estadual Carlos de Campos, começaram a pintar grafites em 1990 no bairro em que cresceram, e aos poucos se tornaram uma das influências mais importantes na cena paulistana, ajudando a definir um estilo brasileiro de grafites. A cidade de São Paulo continua sendo a maior fonte de inspiração para os trabalhos dos artistas que mantêm, até hoje, eu ateliê no antigo bairro de operários e imigrantes na região central. Os irmãos passam a maior parte do tempo na capital paulista, mas estão sempre viajando o mundo. www.pinacoteca.org.br @pinacotecasp @osgemeos

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FOTOGRAFIA

MULHERES

NO

SINGULAR Série Uk, Alessandra Rehder (2020)

Barcode in Blue and Orange, Jaimee Todd

SER ÚNICA OU POSSUIR REPERTÓRIO IMAGÉTICO PRÓPRIO QUE FAZ SENTIDO PARA O COLETIVO. NA SPFOTO VIEWING ROOM, A CATARSE FEMININA MANIFESTADA EM LUZ E SOMBRAS TROUXE O RETRATO REFLEXIVO DESTE TEMPO POR PAULA SANTANA

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O perfume, Natas

ha Ganme (2020)

Escavar o escuro,

Daniela Paoliello

(2020)

Rabo de galo, Rochelle Costi (2020)

O

escritor Millôr Fernandes dizia que “uma imagem vale mais do que mil palavras... mas experimente dizer isto sem palavras”. Na feira onde a mistura entre casas estrangeiras, coletivos, vintage e contemporâneos se faz em perfeita harmonia, o agradável encontro SP-Foto Viewing Room apresenta uma seleção minuciosa de fotografia e videoarte. No último semestre, na efervescência da pandemia, Fernanda Feitosa, idealizadora e diretora do SP-Arte, manteve o projeto de pé e contabilizou ao final mais de 56 mil visitantes em busca da ascendente linguagem da arte fotográfica. Nesta temporada, ainda em formato digital, mais de 50 galerias transformaram os corredores de outrora numa experimental navegação, percorrendo uma trilha expositiva com até 20 obras selecionadas. Cada exposição foi enriquecida por conteúdo em textos, vídeos e áudios, numa narrativa imersiva. “Cada edição da SP-Foto é

Ninfea, Rochelle Costi (2018)

Camélia branca, Rochelle Costi (2019)

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a Silveira Sem título, Gabriel

(2017)

a (2019)

, Laryssa Machad Ouro por espelho

única, singular. Buscamos sempre renovar a experiência com o público por meio de diferentes iniciativas em que a fotografia ocupa posição central”, explica Fernanda.

Folhada #1, Paula Huven (2019)

Veredas mágicas, Norma Viei

ra (2020)

Para validar o segmento, foi bastante relevante a presença de instituições como o Museu de Arte Moderna de São Paulo, que comemora os 20 anos de seu Clube de Colecionadores de Fotografia, o Instituto Mário Cravo Neto e a Associação Brasileira de Arte Contemporânea. “A fotografia brasileira ocupa uma importante posição no circuito internacional. A cada edição, promovemos um encontro de gerações entre artistas e galerias já consolidadas no circuito e jovens expositores que estão florescendo agora, são apostas, nomes que acreditamos que vão ascender cada vez mais”, afirma. Entretanto, foram as mulheres que tiveram flashes direcionados para suas obras e criações desta vez. A exemplo do

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Mahnilei, Salimah Mahnilei (2016)

sco (2013)

Sítio, Elaine Tede

coletivo MFON: Women Photographers of the African Diaspora. Fundado por duas fotógrafas nova-iorquinas, cujo cerne são trabalhos de mulheres e não-binárias de ascendência africana. O coletivo reúne projetos de artistas de diferentes regiões, nacionalidades, pesquisas e gerações e fez sua estreia em solo brasileiro. A ideia surgiu em 2006 para a publicação de um livro concebido somente por mulheres negras. O projeto não evoluiu, mas em 2017 ele voltou com fôlego. Atualmente, são 118 fotógrafas, entre os 14 e os 92 anos, de 27 países, expressando-se do documental ao artístico. Também com foco na presença feminina, a Piscina Art trouxe à feira obras produzidas por jovens artistas que tratam de temáticas relacionadas a autoimagem, representação e corpo, além de processos de transformação e diferentes percepções e meios de estar na natureza. A Piscina foi fundada por três artistas brasileiras de estados distintos, ali a quebra de fronteiras estava especialmente em dar luz ao feminino, revelando que “mulheres artistas existem e estão fazendo coisas incríveis”. A ideia é, sobretudo, inspirar outras mulheres. O trabalho começou em 2015, aberto a ilustração, fotografia, colagem, têxtil, escultura, pintura.

Animais noturnos 7, Paula Klien (2019)

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Girar (um corpo) em torno de si mesmo, Camila Fontenele (2020)

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PRAZERES

The Woodward, Genebra

OBRAS-PRIMAS

EXCLUSIVAS A primavera europeia não tarda por esperar... se tudo correr bem. Ao longo do período de recolhimento, grupos hoteleiros de alto garbo usaram tal momento para o renovo, ansiando para o dia em que os corredores palacianos estarão repletos de hóspedes. A elegância e o classicismo se uniram ao contemporâneo, mantendo costumes, mas redirecionando valores. Para esta temporada que se aproxima, dois ícones preparam para se sobressair. (PS)

The Woodward, Genebra

A JOIA DE GENEBRA

Le Jardinier, New York

O The Woodward é o novo hotel no coração de Genebra que a Oetker Collection adicionou ao seu portfólio exclusivo de hotéis masterpieces. Propriedade da Bastion Holdings, ele está situado às margens do Lago de Genebra. Vistas panorâmicas do Mont Blanc integram o elenco de maravilhas a serem apreciadas. Originalmente construído em estilo pós-Haussmann, o hotel vem sendo cuidadosamente transformado pelo famoso arquiteto Pierre-Yves Rochon.

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Mandarin Oriental Ritz, Mad

rid

Cada uma das 26 suítes foi pensada para possuir a própria identidade, como lareiras de mármore ou estantes de livros. As joias da coroa são a Suíte Presidencial, projetada em elegantes tons de marfim, com sala de jantar privativa e loggia. Já a Suíte Real, acessível por elevador privativo, foi projetada para lembrar um aristocrático apartamento parisiense. Experiências gastronômicas se realizam no L’Atelier de Joël Robuchon e Le Jardinier, ambos premiados com estrelas Michelin por seus postos renomados em Nova York. Para a hora do aprazível relaxamento, o Instituto de Bem-Estar da Maison Guerlain possui piscina coberta de 21 metros − a mais longa de Genebra. Timo Gruenert, ceo da Oetker Collection, comenta: “Nossos hotéis são obras-primas, com design interior refinado e ofertas culinárias emocionantes. Hospitalidade calorosa e luxuosa são os valores da nossa empresa de espírito familiar“. @thewoodwardgeneva The Woodward, Genebra

Mandarin Oriental Ritz, Mad

rid

ARTE E HISTÓRIA EM MADRID Uma reforma ambiciosa ao longo dos últimos três anos − a mais extensa de seus 110 anos de existência − fez do Mandarin Oriental Ritz, em Madrid, um dos spots mais aguardados para a próxima estação. O arquiteto Rafael de La-Hoz e os decoradores parisienses Gilles & Boissier propuseram uma ambientação absolutamente sofisticada, preservando o caráter único do estilo Belle Époque. Dentre as 153 habitações, há 53 suítes, cuja Real é a mais preciosa. Ocupa 190m2 e durante mais de cem anos abrigou realezas e personalidades que não se cansavam de apreciar a espetacular vista do Museu del Prado. Aliás, o hotel tem forte vínculo com artistas, artesãos e criadores locais. Para a reabertura, em março, o hotel oferecerá aos hóspedes um tour guiado para os mais exclusivos locais de Madrid. Outra parte interessante para surpreender serão presentes variados, pertencentes à rotina histórica do del Ritz, como toalhas e roupões. “Estamos encantados em reabrir nossas portas ao mundo. Este precioso hotel está preparado para ser um dos mais icônicos da Europa”, diz Greg Liddell, diretor geral do Mandarin Oriental Ritz. “Capacitamos nossa equipe por três anos, que recebeu intensa formação para que o serviço seja legendário, assim como as experiências se tornem únicas”, finaliza. Atualmente, o Mandarin Oriental opera com 33 hotéis e sete complexos em 23 países. @mo_ritzmadrid

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EXPLORA POR MARCELLA OLIVEIRA @marcella_oliveira

Alex Atala

o Dangelo Foto: Ricard

OS MELHORES DA AMÉRICA LATINA

Sou daquelas que quando programa uma viagem, já inicia a pesquisa para fazer também um passeio pela gastronomia local. Explorar os sabores faz parte da experiência turística. A carrocinha do cachorro quente e o boteco aça ch da esquina são paradas obrigatórias, mas ca e a ig Form conhecer restaurantes conceituados e premiados enriquecem a vivência. Quando vi a lista dos 50 melhores restaurantes da América Latina pelo The Worlds 50 Best (Latin America's 50 Best Restaurants), divulgada no início de dezembro, reconheci alguns endereços. Desta vez, uma típica parrilla argentina ganhou a disputa, desbancando os peruanos, que lideravam a lista nos últimos sete anos. Mas nem é preciso ir longe para saborear o melhor da gastronomia. Nove espaços brasileiros foram O próximo restaurante paulistano da contemplados, sendo seis deles em São Paulo – A Casa lista é o consagrado D.O.M., do prestigiado do Porco (4º lugar), D.O.M (13º), Maní (23º), Evvai (26º), e premiado chef Alex Atala. A casa funciona Mocotó (33º) e Corrutela (50°) –, dois no Rio de Janeiro desde 1999 e desde sempre figura entre os melhores – Oteque (12º) e Lasai (21º) – e um em Curitiba, o Manu restaurantes do Brasil. Inclusive, é reconhecido pelo (44º) e Mais do que ir ao restaurante do momento, Guia Michelin e Atala foi eleito o melhor chef brasileiro o passeio te leva a colocar novos ingredientes no pelo The Best Chef Awards 2020, e o 16º melhor chef tradicional arroz com feijão. Experimente! do mundo. O ambiente clean e elegante faz desse um www.theworlds50best.com dos endereços mais disputados de São Paulo. O menu se destaca pelo olhar de Atala para os ingredientes brasileiros, cultivados por pequenos produtores, especialmente a partir da gastronomia amazônica e indígena. De jambu a formigas, os pratos surpreendem pela apresentação e sabor. Parece Foi assim que os organizadores do prêmio definiram A Casa levar ao pé da letra o significado de D.O.M: do Porco. Todo amante da gastronomia, especialmente quem Deo Optimo Máximo, que se traduz circula por São Paulo, já ouviu falar do restaurante, que subiu como 'A Deus, O Bom, O Grande'. duas posições neste ano na lista e configura em quarto lugar @alexatala geral, sendo o primeiro brasileiro. É quase uma lenda conseguir degustar uma refeição por lá. A espera in loco é longa e nem sempre é fácil fazer uma reserva. O que todo mundo quer conhecer? O cardápio criativo com pratos a base de carne suína, criação dos chefs Janaína e Jefferson Rueda. Difícil escolher um destaque, mas vale ressaltar a pancetta com goiabada, apresentada na cabeça de porco de porcelana, ou o sushi de papada. Dentre os mais pedidos, a estrela do salão, o San Zé, o famoso porco caipira assado por seis a oito horas, que pode ser visto pelos clientes. “Aproveitamento do focinho ao rabo”, diz a máxima da casa.

RAÍZES AMAZÔNICAS

“PARAÍSO DE UM CARNÍVORO”

@acasadoporco

Pancetta Porco San Zé

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Restaurante Maido

Restaurante Central

SABORES PERUANOS

A viagem ao Peru é muito mais do que visitar sítios arqueológicos e sentir a energia única de Machu Picchu, uma das sete maravilhas do mundo. Impossível não mergulhar nos sabores que o país oferece. Seja com os tradicionais ceviches ou lomo saltado, até misturas mais exóticas, os restaurantes peruanos tinham liderado as sete primeiras edições da premiação. Neste ano, ficaram em segundo e terceiro lugares: o Maido (campeão nos últimos três anos) e o Central, respectivamente, ambos localizados em Lima. Mas dos 50 escolhidos, dez são peruanos, o que mostra a força da culinária de lá. O Maido, do chef Mitsuharu Tsumura, caiu de posto, mas deve ser lembrado pelo menu Nikkei Experience, uma viagem pela fusão da cozinha peruanajaponesa. Já o Central, dos chefs Virgilio Martinez e Pia Leon, traz a tradicional cozinha peruana, mas brinca com as inúmeras variações de milho e tubérculos do Peru. @mitsuharu_maido @centralrest

CLÁSSICO ARGENTINO

A esquina que abriga do Don Julio Parrilla, no bairro de Palermo, em Buenos Aires, nem é tão imponente. É charmosa e discreta, não denuncia que ali tem o restaurante número 1 da América Latina – primeira vez que um argentino vence a premiação. Quando se aproxima do horário de abertura da casa, a fila que se forma entrega: estamos em um dos spots mais disputados da cidade. O que chama atenção? Sob o comando do restaurateur Pablo Rivero, os cortes são originais de novilhos da raça Aberdeen Angus e Hereford, criados no interior do país com alimentação à base de capim. Até chegar à mesa, as carnes passam por uma maturação de pelo menos 21 dias. Como um bom argentino, o bife de chorizo é um dos mais pedidos da casa. Um dos charmes? Você poder ir até uma mesa com vários tipos de tomates para selecionar o que será utilizado para fazer a sua salada. Vale a espera – e a visita para descobrir a culinária que representa a Argentina em uma refeição. @donjulioparrilla

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ENSAIO

OBSERVAI ATENTAMENTE AS AVES DO CÉU

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O

escritor francês Paul Valéry tem uma frase célebre: “É preciso ser leve como o pássaro e não leve como a pluma”. A pluma flutua sem direção. O pássaro tem seu plano de voo. Qual a mística que faz dos pássaros aves tão emblemáticas? Eles estão por toda parte da Terra. Tão normais, tão comuns. Mas encantadores. “São selvagens inseridos na urbanidade”, diz Ed Ferreira, fotógrafo carioca radicado em Brasília, que nos presenteia com este ensaio, retratando as espécies do Cerrado. Selvagens quando pensamos que seu habitat é a natureza. Silvestres quando percebemos que eles se tornaram no caminhar evolutivo um fascinante companheiro que deslumbra pelas cores, agrada pelo canto, intriga pelo comportamento. Ed pontua que os enxerga como humanos. “Eles têm humores variados. Uns são exibidos, outros mais tímidos. Têm os zelosos com seus ninhos e filhotes, há os mais

LÍRICOS, CIENTÍFICOS, DIVINOS. PÁSSAROS VOAM SOBRE A NATUREZA E A LITERATURA. COM SUAS ASAS, DIALOGAM COM O TEMPO E O VENTO. E, NESTE MOMENTO, INSPIRAM A SERMOS COMO ELES: MENSAGEIROS DA BOA NOVA POR PAULA SANTANA « FOTOS ED FERREIRA

livres e desapegados. Pelo canto é possível identificar o que sentem ou pretendem”. Chega a ser um desafio acreditar que houve um consenso científico no século XIX, identificando que na biologia evolutiva as aves são um grupo que descendem dos dinossauros terópodes. Por outro lado, na Bíblia, em Gênesis 1, versículos 20 a 23, encontra-se a descrição do Quinto Dia da criação, quando Deus criou os animais marinhos e as aves do céu. “...E Deus viu que ficou bom... E multipliquem-se as aves na terra”.

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Com efeito, no pragmatismo da vida terrena, pássaros são extremamente hábeis e ágeis e participam de uma variada interação da natureza. Ora presas, ora predadores. E frequentemente servis para o ecossistema, quando sem perceber dispersam sementes de plantas frutíferas, permitindo acontecer um belo ciclo de regenerativo na sucessão ecológica. Asa Branca, Azulão, Bem-te-vi... quantos sobrevoam, cantarolam ou fazem malabarismos diante de olhos que mal os observam no itinerário de conturbados acontecimentos cotidianos? O Brasil tem 20% das aves do mundo, com aproximadamente 1,9 mil espécies. Dessas, 874 encontram-se no Cerrado. É o que apontam os estudiosos chamados ornitólogos. Ou mesmo os birdwatchers, observadores que o fazem como atividade recreacional ou científica. Todavia, não é segredo a rica avifauna brasileira. Não somente na natureza, mas inspirando a literatura e a música. Sabiá, patativa, rouxinol. “Tudo é muito cantável”, escreveu Guimarães Rosa na definição de seu personagem Riobaldo sobre a grandeza de sons e ruídos na trilha do sertão para o cerrado, em Grande Sertão Veredas. Daí citamos também o lírico Canção do Exílio do poeta Gonçalves Dias, nos idos de 1800: Minha terra tem palmeiras, Onde canta o Sabiá; As aves, que aqui gorjeiam, Não gorjeiam como lá. E no voar do tempo, os pássaros deram asas à imaginação humana, jamais deixando de chamar a atenção do homem. Voos e gestos despertam as vicissitudes do destino. Na ciência, admirado pela inteligência. Os místicos gostam de conferir-lhes a virtude da sabedoria. E até mesmo o animal que conecta a alma ao divino. E por serem donos de seu destino, por que não assumirem a missão de mensageiros entre céus e terra?

“AS ESCRITURA NÃO DIZ MAS DIZ CORAÇÃO MEU: DEUS, O MAIÓ DOS JUIZ, NO DIA QUE RESSORVEU A FAZÊ O SABIÁ DO MIÓ MATERIÁ QUE HAVIA INRIBA DO CHÃO. O DIABO, MUNTO INXERIDO, LÁ NUM CANTINHO, ESCONDIDO, TAMBÉM FEZ O GAVIÃO”. Patativa do Assaré, literatura de cordel

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