Revista GPS Brasilia 17

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Diretora de redação Paula Santana Coordenadora de jornalismo Mariana Rosa Reportagem Andressa Furtado, Larissa Duarte, Marcella Oliveira, Pedro Lira Editora de criação Chica Magalhães Editor de fotografia Celso Junior Fotografia Gustavo Moreno e Zuleika de Souza Produção e Projetos Karine Moreira Lima Colaboradores Bernardo Rostand, Dany Oliveira, Duda Portella Amorim, Jéssica Dantas, Maria Thereza Laudares, Maurício Lima e Patrícia Justino Vaz Revisão Jorge Avelino de Souza Diretor de Relacionamento Guilherme Siqueira Diretora de Marketing Flaviany Leite Comercial e Administrativo Rafael Badra Tiragem 30 mil exemplares Circulação e Distribuição EDPRESS Transporte e Logística

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GPS|BRASÍLIA EDITORA LTDA. www.gpsbrasilia.com.br

SÓCIOS-DIRETORES RAFAEL BADRA PAULA SANTANA GUILHERME SIQUEIRA FLAVIANY LEITE SHIS QI 05, bloco F, sala 122 Centro Comercial Gilberto Salomão CEP: 71615-560 Fone: (61) 3364-4512

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EQUIPE

Chica Magalhães

Pedro Lira

Mariana Rosa

Celso Junior

Marcella Oliveira

Andressa Furtado

Karine Moreira Lima

Larissa Duarte

COLABORADORES

André Nicolau

Clarissa Jurumenha

Conceição Freitas

Edinho Guimarães

Fernando Veler

Flávia Medeiros

Gustavo Moreno

Krisna Carvalho

Luara Baggi

Marcus Barozzi

Paulo Pimenta

Vini Goulart

Vivian Soares

Zuleika de Souza

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ANO 6 – Nº 17 – JUL AGO SET 2017

Paolla Oliveira foi fotografada por André Nicolau, com styling de Dany Oliveira e beleza de Krisna Carvalho

ERRATA

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Gilda, o barco de JK está à venda

Na edição número 16, do ano 2017, da revista GPS, às folhas 116 e 117, em matéria denominada “negócio de Família”, diversas inverdades foram publicadas, atingindo diretamente a NOTIFICANTE, fazendo necessário esclarecimentos:

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a) A Marca Piquet Pneus, por contrato, é de uso exclusivo da empresa GARANTIA PNEUS que possui sócios diferente do grupo Pneuline, onde o Sr. Flavio de Oliveira jamais foi sócio, administrador, empregado ou teve qualquer outro cargo ou função; b) Não existe “Oficina Piquet Pneus” no Centro Oeste ou em qualquer outro lugar, trata-se de uma ofensa denominar Piquet Pneus, um centro automotivo e revenda autorizado Pirelli, de oficina; c) O Grupo Pneuline não ocupa o primeiro lugar de venda de pneus no Centro Oeste; d) A empresa Piquet Pneus não pertence ao grupo Pneuline, não tem vínculo jurídico ou vínculo de outra natureza com referida empresa; e) Os proprietários da empresa Piquet Pneus não exercem nenhum cargo ou função em conselho no grupo Pneuline.

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A MUSA DO LAGO IATE, O CLUBE DO CORAÇÃO Lazer e esporte no lugar tradicional

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ANCORAR NO PARAÍSO Mercado de lanchas cresce na Capital

AONDE O VENTO O LEVAR Felipe Rondina é esperança na vela

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MERCADORES DE UM NOVO TEMPO Portugal é a nova menina dos olhos

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VERDES SÃO OS JARDINS DE PORTUGAL Conheça a charmosa Embaixada lusitana

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MUITO GIRO! Fabiano Cunha Campos apresenta Lisboa

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ALÉM DO HORIZONTE Visionário, empresário conta suas conquistas

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TERRA DE MILAGRES Descubra a história de Nossa Senhora de Fátima

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TETÊ COM ESTILO

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OLHAR

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A NOVA CARA DO PARLAMENTO

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ARTIGO

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O SUPERENDIVIDAMENTO EMPRESARIAL

Colunista sugere must to go em Lisboa Duda Portella Amorim te convida a passear Jovens na renovação Câmara dos Deputados

Deputado Robério Negreiros e suas conquistas

Advogada aponta a importância da revisão contratual

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MUDAR É PRECISO!

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O CARTÃO IDEAL

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TRIBUTO À FOTOGRAFIA

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NEGÓCIO FECHADO

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O CORPO EM EQUILÍBRIO

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DO OUTRO LADO DO MUNDO

Edinho Magalhães propõe mudanças políticas Programa de recompensas BRBConnet atrai os jovens SP-Foto/Arte elenca os melhores cliques do centenário Jovens dão cara ao empreendedorismo em Brasília Flávio Passos e as dicas para a boa alimentação Em Tóquio, descubra o restaurante K’shiki

100 UM IMORTAL ENTRE NÓS

João Albino é o nosso imortal na ABL

104 ALEGRIA COM RESERVAS

Editora Thesaurus, a primeira da Capital

Louis Vuitton - R$ 2.100 cada

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109 ENSINAMENTOS NA TEORIA E NA PRÁTICA

196 PASSARELA

114 PALAVRAS ESCRITAS, HISTÓRIAS CONTADAS

200 ENCANTO, INOVAÇÃO E EXCELÊNCIA

A história admirável de Dad Squarisi

Surpreenda-se com o escritor Maurício Gomyde

118 O JANGO DE JOÃO

Filho do ex-presidente lança livro de memórias

122 CALOROSO ESPETÁCULO

O Cirque du Soleil encanta multidões

128 HEY, HO, LET’S GO!

Banda Raimundos cai na estrada em show acústico

132 CENTENÁRIO DE BENÇÃOS

Padre Armando completa aniversário no Cruzeiro

Confira os looks que desfilaram nos fashion shows As novas lojas internacionais do Iguatemi São Paulo

202 ENTRE NÓS

As novidades de Patrícia Justino

204 A ARTE DE AMAR

Momesco Orandi doa obras de Raphael Galvez

208 A GRAÇA DA VIDA

O renomado curador de exposições Marcelo Dantas

214 O HOMEM QUE VIVEU NO FUTURO Gê Orthof e seu amor pela arte e por Brasília

136 DEUS É AMOR

218 ARTE

138 O ABRAÇO

220 MERCADO COM DESIGN

Grupo acolhe comunidade homossexual Arquidiocese posiciona-se sobre abertura da Igreja

140 SORRIA, ELA FAZ A DIFERENÇA

A competência e a beleza da dentista Lorena Leão

146 SOCIAL

Os eventos que agitaram a Capital

160 PAOLLA OLIVEIRA

A atriz exala simpatia e sensualidade

Maurício Lima apresenta Nazareno A maior feira da América Latina

222 UMA OBRA ADMIRÁVEL

Os inventivos George Miller e José Bruguera

228 ALMA PRÓPRIA

Profissionais explicam as vertentes da criação de produtos

232 DESIGNER DE TODAS AS OBRAS

Gustavo Piqueira é destaque mundial no setor

168 MODA

238 AS FACES DE DALÍ

180 PRATELEIRAS

242 O REAL E A FICÇÃO

Susan Neves é a queridinha de maisons internacionais Os itens-desejo e lançamentos da temporada

Além da pintura, artista aventurou-se pela joalheria e arquitetura Chris Cravo apresenta o espetacular ensaio na África

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EDITORIAL

Paula Santana

Flay Leite

Guilherme Siqueira Rafael Badra

SOPA DE LETRINHAS

V

er uma revista ser concluída, a cada edição, pode parecer procedimento causal, rotineiro, para quem lida há décadas com o feito. Mas não é, jamais será. Qualquer editor dirá isso. Chegar ao fim, concluir, é ato similar a cruzar a linha de chegada de uma maratona. Na linguagem dos atletas, é um aprazível combo de serotonina e endorfina. O principal prazer dessa engrenagem não consiste no desafio de sua criação puramente, e, sim, ver o conteúdo ganhar vida própria e ser protagonista de sua narrativa, fazendo com que nós sejamos apenas a ferramenta que condensa tudo em produto.

Indo aos fatos, tivemos essa sensação ao perceber a sincronia das belas paisagens extraídas diante dos temas factualmente abordados. Olha a sintonia… A Gilda devassa as águas do Lago Paranoá, ao mesmo tempo em que ele é invadido com o belo cair do sol na Barragem ao final de um dia de passeio de lanchas, que tem como portos os clubes de Brasília, como o Iate. Assim abrimos a revista, com a sempre suspirante paisagem cênica da nossa cidade. Também em época de encontros de literatura e design, resolvemos investigar ambos os universos. No mundo das letras, chegamos a um time de escritores fantásticos, que culmina com João Almino nos representando na Academia Brasileira de Letras. Daí, descobrimos que arte e design – substantivos que nos fazem parecer chiques ao discorrermos sobre eles – são gêneros absolutamente distintos, porém, simbióticos

e que merecem atenção nesse entendimento. E, tomando posse do populesco “já que…”, entramos na atmosfera dos exóticos Salvador Dalí e Raphael Galvez, chegando até os densos Christian Cravo, George Miller e Gê Orthof, num expressivo retrato recente da arte e suas variações. Desbravamos Portugal para entender porque o fado está dando samba. Nunca houve um êxodo tão generoso de brasileiros rumo à terra de seu descobridor. Na música, ficamos felizes ao relatar a triunfal volta dos Raimundos, que gravam CD novo e lotam casas do País inteiro, rememorando os anos 90 e o inventivo forrocore. Finalmente, chegamos até a Paolla Oliveira, que, desde que pisou em Brasília, em 2014, para gravar minissérie, nunca mais saiu do pensamento dos candangos. Como esquecer Danny Bond, em Felizes para Sempre? Foi em solo brasiliense que ela explodiu como atriz e o Brasil se rendeu a tamanha beleza e sensualidade. Agora, ela encena a complicada e perfeitinha, com Jeiza, a policial de A Força do Querer. Agitada, determinada, Paolla conta que consegue tudo o que quer, pois sua energia vem através do equilíbrio das coisas. Vou te contar… ela é bonita demais, meu Deus. Fica até difícil se concentrar na leitura depois de admirá-la. Vamos às páginas!!!

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RETRANCA PATRIMÔNIO

A MUSA DO LAGO

Reformada, Gilda atrai olhares por onde navega

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APÓS UMA DÉCADA SUBMERSA, GILDA VOLTOU IMPONENTE ÀS ÁGUAS DO PARANOÁ. CENÁRIO DE GRANDES FESTAS ORQUESTRADAS PELO PRESIDENTE JK NA DÉCADA DE 60. APÓS 12 ANOS DE RESTAURAÇÃO, AGORA, ELA ESTÁ À VENDA POR

JÉSSICA DANTAS « FOTO CELSO JÚNIOR

M

ajestosa em madeira brilhosa, Gilda, o primeiro barco do Lago Paranoá, carrega a história de Brasília sob a proa. A grande paixão do ex-presidente Juscelino Kubitschek passou dez anos abandonada nas nossas águas até ser restaurada pelo empresário Gerard Souza e reinaugurada em 2014. Agora, o monumento aquático está à venda. Aos interessados, lance mínimo de R$ 700 mil. O motivo da venda de Gilda é a dedicação e o tempo necessários para manter um clássico navegando com

frequência. “A parte mais difícil eu já fiz. Está na hora da embarcação voltar a ter atenção exclusiva de apenas um proprietário”, conta Gerard, que é administrador de uma marina e de lojas de embarcações. O empresário ganhou o barco de presente de um amigo. Ele não navegava mais. O coração apertado fez com que Gerard decidisse reformar Gilda para devolvê-la com todo o vigor às águas. “Amo barcos. Me doeu ver aquela lancha apodrecendo, despedaçada. Ela iria desmanchar. Um completo descaso com a história”, conta.

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Fotos: Divulgação ão Iugoslávia, A primeira-dama da ent rechal Tito, durante Jovanka, mulher do ma a no Lago Paranoá passeio a bordo da Gild

ILUSTRE

CONTEXTO No interior, ela é espaçosa e aconchegante. Tem janelas cobertas por cortinas brancas bordadas com detalhes clássicos. Móveis originais da década de 1960 decoram sala, cozinha, suíte, cabine e varanda. Gilda chama à atenção por destoar dos vizinhos ancorados na Vila Náutica. O barco é construído em madeira de lei, com 14 metros de comprimento, dois motores de 106 cavalos e 2,5 toneladas de peso. Entretanto, a vida lhe reservou muitas surpresas. O barco ficou quase uma década abandonado. Para ser restaurado, passou por mais de 20 profissionais do Brasil e do exterior. O projeto de reforma durou 12 anos. Hoje, quem encontra Gilda toda bonita e vistosa nem a imagina irreconhecível, coberta por um amontoado de tábuas podres. Após a reforma, o objetivo de Gerard era transformá-la em barco-escola. Foi o que aconteceu. “Levamos crianças e também idosos que vivem em lares. Eles passeavam e ficavam fascinados em poder navegar numa embarcação histórica”, observa.

Gilda está navegando há aproximadamente dois anos. O barco foi construído pela Marinha, no Rio de Janeiro, na década de 1950, para conduzir autoridades locais. A pedido de JK, foi transportada para o Lago Paranoá, assim que Brasília tornou-se a capital. Foi uma verdadeira operação de guerra planejada pelos militares. Uma carreta e um guindaste percorreram mais de mil quilômetros, escoltados por motos e jipes. Tornou-se o barco oficial de seis presidentes. Juscelino foi quem mais aproveitou o veículo. Nas horas de lazer, passava boa parte do tempo navegando. Quando queria festejar, organizava luxuosas festas a bordo, repletas de pessoas famosas, autoridades políticas e diplomatas, como a primeira-dama da então Iugoslávia, Jovanka, mulher do marechal Tito. Após uma década, em 1970, a lancha recebeu o presidente Emílio Médici, um dos últimos a se render aos encantos de Gilda antes de cair no esquecimento. Em 1973, foi repassada à Federação de Iatismo de Brasília. Algumas vezes, foi utilizada em regatas pelo Iate Clube de Brasília, mas logo tornou-se obsoleta. Perdeu a força e o vigor. Os motores começaram a falhar, a água tomou conta. Após inúmeros descuidos, exposição ao sol e temporadas de chuva, a musa não aguentou. Com menos de 30 anos, já não tinha a boa forma de outrora. Ficou inutilizável e afundou. O nome faz homenagem a Rita Hayworth, de quem JK era fã. À época, a atriz hollywoodiana interpretou uma sensual personagem chamada Gilda. Serviço O barco está ancorado na Villa Náutica , no Clube Monte Líbano Setor de Clubes Esportivos Sul, trecho 2 conjunto 3, lote 9, parte A. Fone: (61) 3223-0201 ou (61) 99297-0907 A visitação é gratuita, diariamente, das 9h às 18h. É necessário agendar visitas com antecedência.

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LAZER

DA INSTALAÇÃO DO PÍER AINDA COM O LAGO VAZIO, PASSANDO PELOS TEMPOS ÁUREOS DOS BAILES NOS ANOS 70 E SE CONSOLIDANDO COMO A CASA DE ESPORTISTAS CAMPEÕES, O IATE É PAIXÃO DISTRITAL. EM ÓTIMO ESTADO, 16 MIL FREQUENTADORES DESFRUTAM DE UM DOS MELHORES CLUBES DO BRASIL POR MARCELLA OLIVEIRA « FOTOS GUSTAVO MORENO E ZULEIKA DE SOUZA

IATE, O CLUBE 26 « GPSBrasília

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Foto aérea do clube em 1960

Vista panorâmica do clube em 1960

Dia 30 de abril de 1960, escolha do local para as primeiras obras do Iate Clube de Brasília

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É

inverno, mas o sol está forte. O céu azul tem poucas nuvens, o suficiente para formar um cenário cinematográfico com o Lago Paranoá, com um leve movimento causado pelo vento e dezenas de barcos na marina do Iate Clube de Brasília. Na margem, famílias curtem o domingo. Uma mãe passa protetor solar nos filhos, enquanto o marido joga futevôlei. Crianças correm pelo gramado, curtem a piscina e o toboágua. Mulheres estão estiradas sob o sol. Tem gente praticando tênis, vôlei, corrida. Amigos batem papo, tomam uma cerveja e se deliciam com um frango à passarinho ou um filé acebolado com pão. Chama a atenção um senhor de 87 anos, sentado em uma cadeira de plástico, com uma latinha de cerveja apoiada na mesa e um olhar contemplativo. Léo Sebastião David, sócio-fundador do Iate Clube de Brasília, é presença certa aos finais de semana – chega pelo lago, no comando do seu próprio barco. Quem o vê abre logo um sorriso e troca meia dúzia de conversas com o pioneiro. Ele é venerado. “Seu Léo é um frequentador assíduo e muito querido”, garantem os amigos. Foi pelas dependências do clube que o pioneiro criou dez filhos e muitos dos 22 netos. Já foi praticante de tênis. Mas é a náutica que o encanta. “Velejei muito nesse Lago, tive o primeiro barco à vela de Brasília. Quando me lembro do mato que era aqui e no que isso se transformou, meu sentimento é de vitória”, afirma o pioneiro, que é advogado, professor e aposentado pelo Tribunal de Justiça do DF. “É o clube mais bonito de

todo o Brasil. Ele é parte da minha vida. Eu ainda vivo o Iate”, diz, emocionado. O clube nasceu sob a bênção do ex-presidente Juscelino Kubitschek, na década de 1960. “Pelos seus salões desfilam todas as gerações que vieram, com amor e bravura, plantar no coração do Planalto a cidade da esperança”, disse JK, certa vez, em uma carta. A história de seu Léo é parecida com a de tantos candangos. O clube proporcionava um acalento para quem deixava para trás sua cidade natal e sua família. Com o conceito de sócio-cotista, é como se cada titular fosse dono do clube. “Priorizamos a história. Cuidamos de algo que é nosso. Eu cresci aqui e tenho um imenso amor pelo clube. É com esse sentimento que atuo como Comodoro”, garante Edison Garcia. Aos 55 anos, ele frequenta o clube desde os dez.

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AS INSTALAÇÕES Em 150 mil m2 à beira lago, o Iate Clube de Brasília abriga uma verdadeira cidade, que funciona de 6h às 22h. Nos dias úteis, chega a receber duas mil pessoas. Aos sábados e aos domingos o número sobe para seis mil visitantes por dia. “O sócio só não dorme aqui porque não tem alojamento”, brinca o segurança, ao comentar sobre a quantidade de carros no estacionamento. Cerca de 500 funcionários se revezam em turnos para cuidar dos sócios. A maioria trabalha lá há décadas. Por ser um clube privado, sustenta-se com as contribuições dos sócios e tem um orçamento anual de R$ 56 milhões. “Não temos nenhum tipo de benefício do governo. É um clube que visa conforto do sócio, não o lucro. Então, estamos sempre investindo”, conta o Comodoro. Dentre as atuais melhorias, estão a reforma na entrada principal, a construção de um espaço concierge para o sócio e o emborrachamento da pista de corrida. Chama atenção as 20 modalidades esportivas praticadas no local. O iatismo continua sendo a vocação. Foi a partir da marina do Iate que os medalhistas olímpicos Lars e Torben Grael iniciaram a carreira. “A nossa base veio aqui de Brasília”, costuma dizer Lars, que ainda guarda sua carteirinha da época de sócio. O clube tem uma das maiores marinas do Brasil, que abriga 550 embarcações. Há ainda grande procura pelos esportes tradicionais, como o tênis. Mais de 800 tenistas buscam uma das seis quadras cobertas e cinco descobertas, todas de saibro.

Há boas estruturas para os clássicos natação, vôlei, futebol, squash. Tem ainda grupos de cartas, peteca e sinuca. Atualmente, os mais populares são a patinação – com um grande ringue para treinos, reúne 280 praticantes, a partir de seis anos – e o beachtennis – com atletas que representam o Brasil em competições mundo afora. Para as crianças, parquinho e a famosa piscina em forma de feijão, inaugurada em 1961 e xodó dos sócios. Amigos se reúnem nas 21 churrasqueiras, três gourmets. A antiga sede de madeira tem um salão social para até 150 pessoas. Já os maiores eventos são realizados no Salão Social, que comporta até mil pessoas. Lá tem de tudo um pouco. A academia oferece equipamentos de malhação, além de pilates, boxe e ginástica localizada. Sauna, massagem, salão de beleza e curso de inglês para crianças. Há ainda sala de descanso e para estudos. Há uma variedade de opções de alimentação nos três restaurantes, quatro bares, lanchonetes e creperia. “O Iate é um clube referência pelo seu conjunto: a diversidade de atividades, a beleza natural, a riqueza de flora e fauna e seu conceito familiar”, diz o Comodoro.

O INÍCIO A sede abriga um Memorial que conta parte da sua história. O próprio prédio de madeira é uma relíquia. Estão ali fotos dos primeiros anos, reportagens de jornais e troféus de várias modalidades conquistadas por atletas do clube. Em uma parede, retratos do arquiteto Oscar

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O clube tem cerca de quatro mil sócios

Niemeyer e do ex-governador José Aparecido, além dos 36 fundadores, dos quais apenas Léo Sebastião David, Álvaro Alberto Sampaio e Carlos Murilo estão vivos. JK não está na lista de fundadores, mas tem uma posição de destaque: é o patrono do clube. O Memorial expõe uma carta datada de 21 de março de 1975, em que JK escreveu para o ex-Comodoro Onisio Ludovico de Almeida. Nela está a frase célebre do ex-presidente sobre o Iate: “é a sala de visitas da Nova Metrópole”. Tão venerado que é, foi homenageado com a Regata JK, realizada desde 1993, sempre em setembro. Nas primeiras competições, quem entregava o prêmio era Dona Sarah. Depois, as filhas. Hoje, ou a neta Anna Christina ou um dos bisnetos de JK participam da premiação. Tudo começou antes mesmo da inauguração da Nova Capital. Um grupo de amigos se reuniu para fundar a sociedade recreativa à beira do Lago Paranoá, que estava prevista no projeto do urbanista Lúcio Costa. Era 1959 quando onze pioneiros registraram o Estatuto do Iate Clube de Brasília no cartório de Planaltina. Após a inauguração oficial de Brasília, em 21 de abril de 1960, outro grupo comandado por assessores de JK e integrantes da equipe de Niemeyer foi fazer o registro e viu que ele já existia. Então, em um acordo, decidiram todos juntos criar o Iate Clube de Brasília. A data comemorativa do aniversário do clube ficou sendo 5 de abril de 1960, por conta do registro de fundação. Em 30 de abril do mesmo ano foi escolhido o lugar onde as edificações seriam construídas. A primeira sede provisória ficou pronta em 25 de junho. As primeiras instalações foram o cais com 300m de extensão, garagem para barcos, ginásio coberto de esportes,

Léo Sebastião David, sócio-fundador

piscina infantil, dois bares das piscinas, alambrado, asfalto e sede social. O píer foi colocado quando o Lago Paranoá ainda estava vazio. Em 1960, a lancha presidencial Gilda atracou no cais do Iate, depois de partir da Baía de Guanabara, no Rio de Janeiro. JK frequentou as dependências do clube. “Ele estava sempre por aqui, principalmente com o pessoal que tocava violão. Tirava o sapato, ficava balançando a perna e curtindo as serestas”, recorda Léo David.

TEMPOS ÁUREOS Foi pelas décadas de 1960 e 1970 que o Iate Clube de Brasília viveu seus melhores tempos. Nesse período, era referência na vida social da Nova Capital. Às sextas-feiras, a parada obrigatória era a boate do Iate. As eleições para o cargo de Comodoro agitavam o clube. Na época que os moradores da cidade não votavam para escolher os políticos – vivíamos a Ditadura

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VALORES NÁUTICOS O Iate é regido pelos valores náuticos. O presidente é chamado de Comodoro em referência à patente militar do chefe de uma embarcação. No ato da posse, recebe um timão – volante de um barco –, como se estivesse conduzindo uma embarcação. Quando ele entra no clube, assume o navio e, por isso, uma bandeira é hasteada para demonstrar sua presença. O trabalho é voluntário e sem remuneração. O próximo pleito será em outubro, para mandato de três anos sem reeleição, com escolha do Comodoro, vice-Comodoro e conselheiros.

PARA CURTIR O CLUBE Militar –, as campanhas do Iate davam ao brasiliense o sentimento de exercício da democracia. Os Carnavais eram movimentados, com pessoas elegantes e bem arrumadas. “Os bailes não eram lotados, naquela época não tinha tanta gente na cidade. Vínhamos para a noite de Carnaval e ficávamos para o café da manhã, esperando o dia amanhecer na beira do Lago”, relembra Léo David. Por algumas décadas, os foliões brasilienses se revezavam. Duas noites na festa do Iate e duas no Clube do Congresso. “Hoje, não conseguimos fazer aquele carnaval de salão, porque a festa tomou conta das ruas e temos outro modelo de comemoração. Ainda assim, mantemos a tradicional matinê, em um evento para a família”, explica o Comodoro Edison Garcia. O Salão Social do Iate, por muitos anos, recebeu os principais bailes da cidade. Sua construção, com amplas janelas de vidro e vista para o lago e para a piscina, é charmosa e acolhedora. Edições do Miss Brasília, festas de debutantes, aniversários da cidade e eventos políticos aconteceram lá. Ganhou fama por ser o clube da elite brasiliense. Após perder um pouco do luxo dos bailes, o Iate investiu nos esporte e reforçou o conceito familiar. Até hoje, é um orgulho exibir a carteirinha de sócio do Iate Clube de Brasília. Se você não é sócio, vale descolar um convite e passar um dia por lá. É bem capaz de você se apaixonar.

Somente sócios, suas famílias e seus convidados podem usufruir das instalações do Iate Clube de Brasília. Hoje, são 4.125 títulos, formando uma comunidade de 16,5 mil pessoas. O Iate não vende mais títulos. Mas, os sócios podem vender diretamente ao interessado. Em média, o valor é de R$ 75 mil mais R$ 18 mil ao clube pela transferência.

GRANDES EVENTOS Além da festa de Réveillon, a Matinê no Carnaval e eventos esportivos, o Iate faz três grandes eventos culturais por ano, abertos ao público: •

Luau do Iate – Há 17 anos a festa reúne cerca de três mil pessoas. O mais recente foi em agosto, com apresentação da banda brasiliense Capital Inicial

Festa Junina – Com três noites de festa, é uma das mais tradicionais da cidade. O público de cinco mil pessoas por dia diverte-se com comidas típicas, quadrilhas, danças e shows musicais

Iate in Concert – É o projeto mais recente, foram apenas três edições. Sempre em junho, um palco montado à beira lago recebe a Orquestra Sinfônica do Teatro Nacional. Cerca de cinco mil pessoas ouvem clássicos da música erudita e vêem o pôr do sol. O evento é beneficente

Iate Clube de Brasília www.iateclubedebrasilia.com.br Setor de Clubes Esportivos Norte, trecho 2 Fone: 3329-8700 Funcionamento: diariamente, das 6h às 22h

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TRADIÇÃO

ANCORAR NO PARAÍSO COM MERCADO NÁUTICO AQUECIDO, O LAGO PARANOÁ OSTENTA LANCHAS CADA VEZ MAIS LUXUOSAS E A OPÇÃO DE USO COMPARTILHADO POR VÁRIOS DONOS. NOS 40 KM2 DE EXTENSÃO, CIRCULAM CERCA DE OITO MIL EMBARCAÇÕES APESAR DA QUANTIDADE, HÁ POUCO ESPAÇO PARA OS BARCOS ATRACAREM NA ORLA POR FLAVIA MEDEIROS « FOTO GUSTAVO MORENO

O

s traços arquitetônicos singulares e o famoso céu de Brasília não estariam completos sem a paisagem estonteante do Lago Paranoá. O brasiliense sabe aproveitar essa maravilha como ninguém. A começar por ser o terceiro maior parque náutico do Brasil, atrás apenas do Rio de Janeiro e de São Paulo. Cerca de oito mil embarcações fazem ondas nas águas do Lago. São lanchas que custam entre R$ 80 mil e R$ 500 mil. Entretanto, algumas ultrapassam, e muito, a cifra dos milhões.

O Lago Paranoá possui 40 km2 de extensão e cerca de 80 km de perímetro. Transitar de um lado para outro não costuma levar muito tempo. Para se ter ideia, gasta-se dez minutos para percorrer os 5 km entre o Clube Motonáutica – na raia Norte – e a Barragem do Lago Paranoá – na direção oposta. Vale lembrar que para circular no Lago, as embarcações precisam ser regularizadas nas capitanias, delegacias ou agências da Marinha do Brasil. Um dos apaixonados pelas águas brasilienses é Marcelo Gallerani, 45 anos. Navegante do Lago Paranoá há

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LICENÇA PARA PILOTAR O processo para conseguir a arrais é semelhante ao da Carteira Nacional de Habilitação (CNH), com aulas práticas e teóricas – e prova composta por 40 questões objetivas. “Para obter a licença é necessário ter pelo menos 50% de acerto”, adverte o sargento Rocha, bombeiro e instrutor da Escola Náutica Brasília. A instituição, que recebe cerca de 30 alunos todo mês, é uma das credenciadas junto à Capitania Fluvial de Brasília, pertencente à Marinha do Brasil. Categoria amador: para embarcações náuticas, como lanchas e iates de qualquer tamanho, em águas interiores, como o Lago Paranoá. Obrigatórias seis horas de prática. Categoria motonauta: inclui jet skis. Obrigatórias três horas práticas. Tempo para tirar licença: de 30 a 40 dias Idade mínima: 18 anos Valor: de R$ 500 a R$ 800 Informações: http://www.mar.mil.br/dlguaira/arrais.html

30 anos, confessa que, com apenas dez anos, já brincava com seu barco inflável. Dono de uma lancha de 32 pés, o vice-diretor de motonáutica do Iate Clube de Brasília passeia todo final de semana com o tanque de 200 litros cheio. Média de R$ 600 por saída. “Se for levar em consideração o dinheiro investido, sai mais barato que pagar um psicólogo”, brinca Gallerani. “Não é caro, basta olhar o outro lado da vida. É um lazer saudável, que precisa apenas de manutenção e cuidado”.

BOM NEGÓCIO Há 11 anos no mercado, o gerente da marina Nauss, Edil Júnior, reconhece a mudança no nível das lanchas na Capital. “Há dez anos, o alto padrão era ter uma lancha de 30 pés. Hoje, esse é o tamanho médio. Essas embarcações custam entre R$ 200 mil e R$ 300 mil”, ressalta. Segundo ele, a explicação para esse crescimento é a tendência de amigos comprarem juntos a embarcação, as famosas cotas.

ENCONTRINHOS O Lago Paranoá tornou-se definitivamente área de lazer do brasiliense. Aproveitando a ideia de reunir amigos e curtir bons momentos, surgiu o Brasília Yacht Day (BYD). “Começou com uma postagem nas redes sociais, convocando 20 lanchas e 150 amigos para um encontro. Logo na primeira edição apareceram mais de cem lanchas e 700 pessoas”, comemora José Marques, sócio-diretor do evento.

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CURIOSIDADES NÁUTICAS A maior e mais cara lancha do DF está na Villa Náutica. O imponente modelo italiano tem 54 pés, ou seja, mais de 16 metros de comprimento. Para quem gosta de navegar no lago, mas não têm interesse em comprar uma lancha, uma alternativa é o aluguel. Na Lake Tour Turismo Náutico, por exemplo, uma lancha de 34 pés para até nove pessoas custa R$ 650, a hora, com marinheiro incluso.

A 8ª edição do BYD reuniu três mil pessoas e 400 lanchas. Uma novidade que chamou atenção, de acordo com Marques, foi o tamanho das embarcações. “No primeiro encontro não havia nenhuma lancha com 50 pés. Este ano foram entre oito e dez acima desse patamar. São lanchas que valem mais de R$ 1,5 milhão”, conta. Para os praticantes desse hobby de luxo, o gasto financeiro é secundário, se comparado ao prazer proporcionado. É o que acontece com a família Mosquera, fã incondicional de passeios náuticos. O casal Isapaula Monteiro e Victor Mosquera e os dois filhos, Victor Hugo, 20 anos, e Daysa, 28 anos, navegam todos os finais de semana no Lago Paranoá. “Sabemos que é caro, mas é um gasto prazeroso. Tira o estresse do cotidiano. Saímos às 9h da manhã e voltamos por volta das 17h. Fazemos o percurso do Clube Naval e até a Barragem umas três vezes”, conta a matriarca.

MARINAS PÚBLICAS A orla do Lago Paranoá oferece um polo gastronômico diversificado, com bares, restaurantes e opções de entretenimento. Entretanto, para chegar a esses estabelecimentos via lancha o acesso é restrito, porque não há onde atracar as embarcações. Todas as 12 marinas existentes são particulares, vinculadas a clubes, marinas ou hotéis. Como parte do Projeto Orla Livre, o Governo do Distrito Federal avalia a construção de mais decks públicos. “O Pontão do Lago Sul tem um deck, mas ele só comporta cinco lanchas paradas ao mesmo tempo. Já o shopping Pier 21 possui uma ampla orla, mas não tem marina”, ressalta João Carlos Bertolucci, presidente da Associação Esportiva Náutica de Brasília. “Qualquer lago na Europa, por menor que seja, tem acesso público. Brasília tem que utilizar mais o Lago Paranoá. Não existe cidade no Brasil com um lago mais bonito do que esse”, conclui.

DE OLHO NO TANQUE A quantidade de postos de abastecimento na orla do Lago é reduzida por conta da legislação. Por isso, hoje, apenas dois pontos às margens do lago abastecem iates, lanchas e jet skis. O clube Cota Mil vende gasolina, enquanto a Villa Náutica oferece gasolina e diesel. Ambos permitem o acesso do público geral, praticando preços semelhantes aos das bombas para carros.

A VAGA IDEAL Villa Náutica – Clube Monte Líbano O local guarda 300 lanchas, com capacidade para mais. Preço médio mensal da vaga: R$ 1,2 mil Nauss – Hotel Lakeside Atualmente, o local possui 120 embarcações. Preço médio mensal da vaga: R$ 1.380 Clube Motonáutica Comporta 200 barcos.Preço médio mensal para vagas: R$ 1.280 Não possuem vagas – Iate Clube de Brasília e Cota Mil No Iate, a fila de espera tem 170 pessoas. No Cota Mil existem 26 pessoas aguardando.

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PRODÍGIO o

Fotos: Divulgaçã

Amor e dedicação são os trunfos do jovem para angariar prêmios nacionais e internacionais. Treinamento diário fazem parte da sua rotina

AONDE O VENTO O LEVAR A VIDA NAS ÁGUAS TEM SEUS ENCANTOS. É O QUE DIZ FELIPE RONDINA, JOVEM VELEJADOR DE 20 ANOS, QUE VIAJA O MUNDO CONQUISTANDO CAMPEONATOS E PREPARA-SE PARA SER UM VENCEDOR NAS OLIMPÍADAS DE 2020 POR CLARISSA JURUMENHA

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objetivo é pensar mais rápido do que o vento. Dentro de um barco, escolher direita ou esquerda, hastear ou baixar a vela, faz toda a diferença. Tomar uma decisão ruim ou não traçar a estratégia perfeita pode, em poucos segundos, mudar o curso e levar tudo por água abaixo. Focado e treinando cinco horas por dia, no mínimo, o brasiliense Felipe Rondina, 20 anos, conquistou o bicampeonato brasileiro da Classe Snipe, ano passado, após sagrar-se campeão mundial em 2014, no Canadá, e em 2016 no Chile pela Classe Lightning. “Eu

tenho dedicado minha vida inteira ao esporte. Isso nunca me incomodou e nem acredito que incomodará”, atesta o jovem com mais de 40 competições no currículo. Olimpíadas de 2020. Esse é o objetivo – não é o sonho, é bom frisar – do jovem Felipinho, como é conhecido nos treinos. Quando está dentro do barco, o sentimento do velejar é de autocontrole e de superação. “Às vezes, ele sai sozinho para a água. Volta para a terra, come alguma coisa rápida e volta ao treino”, conta o técnico Gabriel Raulino, que acompanha o atleta há dois anos. O despertar para o esporte aconteceu aos três anos de idade, enquanto admirava a prática com o irmão mais velho, João Antônio. Somente aos sete anos, o pai Edgard matriculou o caçula na escola de vela do Iate Clube. O irmão deixou o esporte, enquanto Felipe tocou a carreira ao lado do técnico Alexandre Kronenberger. O primeiro barco veio em 2005, quando ingressou oficialmente nas competições pela Classe Optimist. Carreira que já proporcionou momentos incríveis ao velejador, como carregar a Tocha Olímpica, no dia 3 de maio de 2016 – o símbolo da competição foi passado ao jovem pelo primeiro-sargento Manoel Messias. Descendo de rapel pela ponte JK, o policial entregou o objeto ao atleta, que o aguardava numa lancha da PM. “Sem dúvida, essa foi uma das melhores e maiores experiências que tive na vida”, emociona-se.

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Felipe Rondina, atualmente, compete em duas classes, nas quais se destacam os prêmios: Classe Snipe • 2014 – Campeonato do DF – 1º lugar • 2015 – Campeonato Mundial Júnior em Talamone, Itália – 2º lugar • 2015 – 66º Campeonato Brasileiro – 1º lugar • 2016 – Regata Aniversário Iate Clube de Brasília – 1º lugar • 2016 – 68 º Campeonato Brasileiro – 1º lugar geral (bi-campeão brasileiro) Classe Lightning • 2014 – Campeonato Mundial Júnior, em Ridgeway, Canadá – 1º lugar • 2016 – Campeonato Paulista – Campeão Paulista • 2016 – Campeonato Mundial Júnior, em Salinas, Equador – 1º Lugar Geral

JOVEM AINDA O estudante de Educação Física da Universidade de Brasília (UnB) tem uma rotina agitada, mas nada que o atrapalhe. Como a maioria dos campeonatos importantes acontecem nos meses de férias – janeiro, julho e agosto –, ele consegue conciliar bem os estudos com as viagens. Nas horas vagas, uma saída aqui, outra ali, viagens e saídas com os amigos confirmam o espírito jovem. “Faço tudo que uma pessoa da minha idade costuma fazer. Nada é diferente, só a rotina que é mais agitada, mas eu nunca deixo de estar na companhia das pessoas que importam para mim”, diz. Treinando no Iate Clube de Brasília desde o início de sua carreira, o jovem é admirado, inclusive, pelo Comodoro Edison Garcia. “Acho incrível a capacidade que o Felipe tem de tomar decisões. É como se ele soubesse exatamente de onde o vento vem, para onde vai, para onde torna, para onde retorna”, conta. Rondina recém-chegou de La Coruña, na Espanha. Participava do Campeonato Mundial. “Ele gosta mais que os outros de treinar, tem um dom, uma coisa profunda com a vela. O maior diferencial do Felipe é que ele faz tudo por um enorme prazer”, atesta o técnico Raulino.

TRANSIÇÃO Na vela, é comum os esportistas começarem na categoria Optmist – um barco individual, pequeno e com apenas uma vela. À medida que o atleta ganha força, discernimento e idade, evolui para as classes Lightning e Snipe. Snipe possui duas velas. Embarcam o timoneiro e o proeiro. Já a categoria Lightning comporta três pessoas, são duas velas e um balão que ajudam a frear a movimentação rápida sob a água. Ambas as classes são Pan-Americanas e Felipe compete nas duas. Para se enquadrar na categoria Olímpica, o atleta precisa treinar na categoria 470. O nome é por causa do tamanho da embarcação, 470 cm. São barcos muito rápidos e sensíveis ao movimento, por isso o comandante e o proeiro precisam ter de 110 a 145 kg. A classe, no entanto, não existe em Brasília. Os treinos de Felipe acontecem no Rio de Janeiro e em Porto Alegre. Se o iatista entrar no ranking das seletivas, embarcará para treinos oficiais em Tóquio 2019. @felipesrrondina GPSBrasília « 37

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Fotos: Divulgação

TENDÊNCIA

Praça de D.Pedro IV, mais conhecida por Rossio

MERCADORES DE UM NOVO TEMPO PORTUGAL E BRASIL VIVEM MOMENTO DE PLENA HARMONIA. NO ÚLTIMO ANO, A COMPRA DE IMÓVEIS NO PAÍS POR BRASILEIROS AUMENTOU EM 40%. SINAL DE QUE OS IRMÃOS NÃO FALAM SÓ A MESMA LÍNGUA, COMO ALMEJAM O MESMO INTERESSE: VIVER BEM POR LARISSA DUARTE

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ortugal não colonizou o Brasil apenas geograficamente. Costumes, cultura, tradições permaneceram arraigadas desde o Brasil colônia entre os países irmãos. E, como em toda boa família, existem desavenças e picuinhas, reconciliações, carinho e amizade, que integram o mesmo contexto. No momento, Brasil e Portugal vivem a good vibe – a onda boa, como dizem os jovens – que a conjuntura do milênio lhes oferece. Portugal está na moda. Já somos 85 mil brasileiros morando no país com visto legal de residente. Legados culturais e riquezas históricas são apenas dois dos in-

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Shopping Colombo

Teleférico

Praça do Marquês de Pombal

contáveis atrativos que transformaram o país lusitano em destino inquestionável para viajantes, investidores, empresários e famílias que buscam novos ares para viver. Os brasileiros são atraídos, principalmente, pela facilidade na comunicação, pelos benefícios oferecidos pela imigração e pela oportunidade de fazer negócios em euro. Apesar das dificuldades político-econômicas, os tupiniquins apresentam saldo positivo e progressivo para o mercado português. As principais indústrias são de alimentos processados, têxteis, maquinaria, produtos químicos, produtos de lã, cristal e cerâmica, petróleo

refinado e material de construção, segundo a Ficha de Mercado do Brasil de 2017, feita pela Agência para Investimento e Comércio Externo de Portugal (Aicep). Em 2016, no comércio de bens, fomos o 13º cliente de Portugal e seu 10º fornecedor, principalmente em bens agrícolas, veículos, máquinas e produtos alimentares. De acordo com a Associação dos Profissionais e Empresas de Mediação Imobiliária de Portugal (Apemip), a compra de imóveis no país, por brasileiros, aumentou mais de 40% no primeiro trimestre deste ano, se comparada ao mesmo período de 2015. Um apartaGPSBrasília « 41

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Fotos: Divulgação

Rua Augusta

O poema clássico de Fernando Pessoa ilustra o momento intenso que Portugal viveu durante as navegações ocorridas durante os desbravamentos. Inclusive, dos versos vieram uma das frases mais célebres da nossa história: “tudo vale a pena, se a alma não é pequena”.

MAR PORTUGUÊS Ó mar salgado, quanto do teu sal São lágrimas de Portugal! Por te cruzarmos, quantas mães choraram, Quantos filhos em vão rezaram! Quantas noivas ficaram por casar Para que fosses nosso, ó mar! Valeu a pena? Tudo vale a pena Se a alma não é pequena. Quem quer passar além do Bojador Tem que passar além da dor. Deus ao mar o perigo e o abismo deu, Mas nele é que espelhou o céu. Fernando Pessoa

mento de dois quartos custa entre € 300 mil (R$ 1,110 milhão) e € 500 mil (R$ 1,850 milhão). Um imóvel com vista para o Rio Tejo, o maior rio da Península Ibérica, vale uns € 2 milhões (R$ 7,4 milhões).

VISTO DE OURO Por até 90 dias, os brasileiros não precisam de visto para entrar em Portugal. É exigido, apenas, seguro saúde e passaporte dentro da validade. Contudo, se o interesse for alongar a temporada no país, o governo português propõe o Golden Visa, uma autorização de residência para investidores, destinada a pessoas sem cidadania europeia por descendência familiar. O requisito básico para obter tal visto é a intenção de desenvolver uma atividade de investimento durante um período mínimo de cinco anos. Em contrapartida, após esse período, o governo oferece ao investidor o Cartão de Residência, podendo tornar-se permanente. A partir do sexto ano, é possível solicitar a cidadania portuguesa, em que a dificuldade será uma prova que comprove a sua familiaridade com a língua portuguesa.

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Vasco da Gama Shopping

PASSADO GLORIOSO Economicamente, a atenção está virada para Portugal, porém, há muito tempo já vivemos rodeados das graças portuguesas. Desde o descobrimento, em 1500, temos a religião católica ortodoxa romana presente em nossa cultura. Existem 123 milhões de católicos no Brasil, ou seja, 64,6% da população profetizam essa fé, responsável por inspirar grandes manifestações tradicionais brasileiras, como as Festas Juninas – dedicadas a homenagear três santos católicos no mês de junho: Santo Antônio, dia 13; São João Batista, dia 24; e São Pedro, dia 29. Inclusive, por falar em festa, se o sertanejo é um dos ritmos mais populares no Brasil, os acordes começaram alguns séculos antes. Portugal é conhecido pela tradição folclórica, as danças nas festas religiosas e na corte deram origem às quadrilhas. Preste atenção à melodia sofrida do fado – Patrimônio Cultural e Imaterial da Humanidade pela Unesco em 2011 – e veja se a dolência e a melancolia não nos lembram algumas canções sertanejas. Mais do que o idioma em que escrevemos músicas e toda a literatura brasileira, de um jeito ou de outro, sofremos influência dos versos portugueses. Um dos primeiros grandes nomes foi Padre Antônio Vieira. Lá por volta de 1650, ele fazia sermões como ninguém e deixou legado para os católicos. Depois do pioneiro, temos nomes ain-

da famosos e respeitados. O que dizer do realista Eça de Queiroz e o Primo Basílio, ou de um denso Luís Vaz de Camões em Os Lusíadas. Mais recentemente, quem nunca teve notícia de Fernando Pessoa e seus heterônimos; e sobre o Nobel de Literatura angariado por José Saramago. A poesia da representante feminina Florbela Espanca ainda dá o que falar, mesmo após 87 anos de sua morte. Portugal foi uma das maiores potências navais do mundo. Visionários à época, conheceram todos os continentes, sempre atentos a novidades e produtos que poderiam gerar riquezas. Eles eram mestres no escambo de mercadorias. Como passavam meses nos navios, precisavam de alimentos resistentes às intempéries. Daí veio o gosto por vinho, pão, azeite, carne salgada e, claro, frutos do mar. Bacalhau em sua maioria. Nos doces, os tradicionais pastéis de Belém e de Santa Clara são desejados até hoje. Nas artes, todos os movimentos culturais vieram de navio ao Brasil. Arte sacra era o forte da época. As influências chegavam à colônia com alguns séculos de atraso, mas chegavam. Foi assim com o Barroco, uma continuação do Renascimento que já existia na Europa antes mesmo de o País ser descoberto. As igrejas, principalmente as da costa brasileira, são todas rebuscadas, com muitos detalhes e círculos por causa dessa intervenção. O maior representante, Aleijadinho, o mineiro de Ouro Preto, soube como ninguém absorver a arte lusitana em seu talento de esculpir obras sacras. GPSBrasília « 43

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Fotos: Divulgação

Universidade de Coimbra

CAPITAL CULTURAL Lisboa foi eleita, pela União das Cidades Capitais Ibero-Americanas, a Capital Cultural de 2017. Ou seja, 120 milhões de pessoas da Península Ibérica, das Américas do Sul e Central, México e dos países das suas diásporas, convergem as atenções para capital de Portugal. Desde 7 de janeiro até 31 de dezembro deste ano, a cidade é palco de eventos que envolvem o tema Passado e Presente. Incluem exposições, teatro, shows, concertos, dança, festivais gastronômicos, tours pela cidade, entre outras atividades culturais.

Ruas de Lisboa

ENTENDA PORTUGAL

Fronteira: Portugal faz fronteira a Norte e a Este com um único país, a Espanha.

Localização: é um estado da Europa Meridional, fundado em 1143.

População: 10,32 milhões em 2016.

Território: ocupa uma 92.212 km². Abrange, ainda, duas regiões autônomas, localizadas no Oceano Atlântico: os Arquipélagos da Madeira (constituídos pelas Ilhas da Madeira, Porto Santo, Desertas e Selvagens) e os Açores (formado por nove ilhas e alguns ilhéus como Santa Maria, São Miguel, Terceira, Graciosa, São Jorge, Pico, Faial, Flores e Corvo).

Clima: mediterrânico e temperado. O país é caracterizado por invernos suaves e verões amenos, variando de região para região.

Principais cidades: Lisboa, Porto, Guimarães, Aveiro, Coimbra, Faro, Funchal, Ponta Delgada.

PIB: USD 204,6 bilhões em 2016.

Agricultura: trigo, milho, batata, tomate, uva.

Pecuária: bovinos, suínos, ovinos, aves.

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EXTERIOR

Jardim de inverno

VERDES SÃO OS JARDINS DE PORTUGAL

Entrada do Instituto Camões com cerâmicas de Querubim Lapa

Jardins no interior do prédio

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O suntuoso prédio em concreto leva a assinatura do arquiteto modernista Raul Chorão Ramalho

TODO O LIRISMO PORTUGUÊS ESTÁ CONDENSADO NA EMBAIXADA LUSITANA, ERGUIDA DENTRO DA ESTÉTICA MODERNISTA DA CIDADE QUE A ACOLHE E MANTENDO A PROXIMIDADE COM O BRASILENSE, QUE A TEM COMO UMA DAS MAIS ENVOLVENTES DA AVENIDA DAS NAÇÕES POR LARISSA DUARTE « FOTOS GUSTAVO MORENO

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m dos monumentos mais eruditos da arquitetura portuguesa modernista está eternizado na Capital Federal. A Embaixada de Portugal foi inaugurada na manhã do dia 23 de maio de 1978, na Avenida da Nações, quadra 801 Sul. “Vida longa a Portugal e ao Brasil. Que a relação de excelência entre os dois países irmãos viva para sempre”, profetiza Jorge Cabral, atual embaixador de Portugal no Brasil. Desde então, em Brasília, vivem 1.489 dos 329.199 nacionais portugueses no País, segundo a Polícia Fe-

deral. Porém, a maior concentração dele é no Rio de Janeiro, com 130.488 estrangeiros. Na portaria principal do complexo, após a identificação, quem recebe a equipe da GPS|Brasília é outro Cabral. Um simpático e bem verdinho papagaio. O nome da ave, claro, é uma homenagem ao navegador português e descobridor do Brasil, Pedro Álvares Cabral. Ironicamente, assim como o explorador veio parar no Brasil “por acaso”, ninguém sabe ao certo como a ave apareceu nos jardins do complexo. Segundo os funGPSBrasília « 47

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Luara Baggi

Embaixatriz e embaixador de Portugal, Maria Rita e Jorge Cabral completam um ano no Brasil

O EMBAIXADOR Jorge Tito de Vasconcelos Nogueira Dias Cabral, ou apenas, Jorge Cabral, 59 anos, é o embaixador de Portugal no Brasil. Prestes a completar um ano no cargo, dia 19 de outubro, o diplomata assumiu o posto, exaltando as relações políticas, sociais e culturais entre os dois países. Do ponto de vista econômico, o representante reconhece o Brasil como um dos principais parceiros no processo de globalização das empresas portuguesas. “O investimento brasileiro em Portugal é significativo, mas abaixo do grande potencial que possui. Mutuamente, esforçamo-nos para aumentar essa relação positiva”, afirma. O português nascido em Coimbra estudou Direito na Universidade Católica Portuguesa. Desde que assumiu a carreira diplomática, há 34 anos, exerceu funções em oito países, entre eles, Alemanha, Egito, Afeganistão e Irã. Antes do Brasil, sua última colocação foi em Ancara, na Turquia.

cionários, certo dia, anos atrás, o papagaio pousou por ali e nunca mais foi embora. Vaidoso, posa para todas as selfies ao lado dos visitantes. Por mais que ele fique solto, voando entre as árvores ou se refrescando sob um grande comedouro de madeira construído para ele, o animal não sai dali. Adotou o lugar e virou mascote. Ainda na entrada, deparamo-nos com um espelho d’água que reflete a frente do edifício de dois andares da Embaixada. No laguinho, esculturas e pequenos jardins flutuantes dançam com os movimentos dos peixes – local onde todos param para fazer uma foto como registro da visita, enquanto a criançada aproveita para procurar a carpa mais colorida. O verde preservado do jardim chama ainda mais atenção quando caminhamos pelas laterais do lote. Como o edifício está centralizado no terreno de 800 m2, seus arredores são todos contemplados pela natureza.

Os funcionários divertem-se, dizendo que possuem um pomar particular. Existem mangueiras, jabuticabeiras, limoeiros, laranjeiras, abacateiros, entre outras árvores frutíferas. Algumas até abrigam pequenos macacos espoletas da espécie mico e muitas casas do pássaro João-de-barro. Além dos frutos, a sombra fresca das árvores completam o clima bucólico do complexo. Em meio às plantas, na parte de trás do prédio, há a vermelha Cruz de Cristo 3D, do escultor português José Aurélio.

CONCRETUDES O conjunto arquitetônico começou a ser construído em 1973. O prédio suntuoso em concreto leva a assinatura de Raul Chorão Ramalho. O português é um dos grandes destaques da geração modernista de arquitetos do país, surgida na segunda metade do século XX, no

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Biblioteca

período pós-guerra. Sua gramática arquitetônica pode ser encontrada também em Macau, nas ilhas atlânticas Açores e Madeira e na capital, Lisboa, principalmente. Os efeitos do clima sobre as construções sempre foi um dos pilares das obras de Ramalho. Tal preocupação é notada no plano da fachada da Embaixada, trabalhado com espaços recuados e janelas com gelosias. Essa estrutura é responsável por harmonizar a relação interior e exterior e dar ritmo leve ao desenho do prédio. Vistas pelo lado de fora do complexo, as floreiras das varandas contrastam com o cinza do cimento e dão vida ao edifício. O prédio da chancelaria é o principal. Possui duas divisões: o Instituto Camões e a área dedicada aos serviços da Embaixada, como a seção consular. A entrada do auditório do Instituto é embelezada pelo azul proveniente de dois baixos-relevos cerâmicos, pintados em 1976, pelo ceramista português Querubim Lapa. O lo-

cal recebe eventos para os mais variados fins – na maioria das vezes, abertos ao público –, como lançamento de livros, shows e festas. Entre os artistas portugueses que já passaram por lá, estão o escritor José Luís Peixoto, o barítono André Baleiro e a cantora Rita Dias. Ainda no Instituto está a biblioteca. Um dos espaços mais prestigiados do complexo guarda a maior herança cultural do nosso irmão europeu: a literatura, onde o grande astro é Os Lusíadas. A obra poética do incomparável escritor Luís Vaz de Camões foi publicada pela primeira vez em 1572. No enredo, a viagem de Vasco da Gama às Índias e outras sucessões de feitos memoráveis daquele povo – por isso é considerada uma epopeia. Nas estantes do local, dezenas de traduções, retraduções, estudos e análises do livro. Já na entrada da ala do consulado, o azul sai de cena e entram os tons vermelho e laranja. No hall principal, a GPSBrasília « 49

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Auditório do Instituto Camões

Entrada da ala consular

cor destaca-se no sofá, no tapete e no quadro, esse último batizado de Desenvolvimento em Círculos VIII, obra do artista plástico português Eduardo Nery. Ao avançar os degraus para o segundo andar, deparamo-nos com um busto de Dom Pedro I, o primeiro Imperador do Brasil, posicionado entre as bandeiras dos dois países. Nas paredes dos corredores do piso, obras de artistas contemporâneos, como João Abel Manta, Sá Nogueira e Guilherme Camarinha. No mesmo andar, em uma sala com varanda no fundo do corredor, o embaixador Jorge Cabral cuida das relações diplomáticas de que lhe são cabidas. Os grandes cômodos também estão reservados para o ministro-conselheiro, o adido de defesa, a primeira-secretária, entre outros cargos do corpo de serviços da chancelaria. Mantendo os ideais do arquiteto Raul Chorão Ramalho, a expressão da continuidade é mantida e minuciosamente calculada com a projeção rítmica das sombras nos espa-

ços recuados, permitindo com que a luz do sol realce os azulejos pintados à mão nas paredes dos pequenos pátios. Um dos serviços oferecidos pela embaixada é a retirada de visto para longa temporada, no caso de estudo, por exemplo. Por um período de até 90 dias, os cidadãos brasileiros não necessitam de visto para entrar em Portugal. Para viajar como turista é necessário apenas de um de seguro saúde particular ou público e um passaporte dentro da validade. Seja apenas admirando por fora ou se aventurando por dentro de suas estruturas, a Embaixada de Portugal realça nossa percepção artística, fazendo-nos querer explorar cada detalhe da sua história. A visita é uma verdadeira viagem cultural. Embaixada de Portugal em Brasília www.embaixadadeportugal.org.br Setor Embaixadas Sul, Avenida das Nações, quadra 801, lote 2 Fone: (61) 3032 9600

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Fotos: Divulgação

DESTINO

Sintra

Zuleika de Souza

MUITO GIRO! N

ossa família tem uma relação estreita com Portugal. Meu pai começou a fazer negócios por lá na década de 1980, como alternativa ao governo Collor. Desde então, frequentamos muito aquela terra. Minhas três irmãs elegeram o país para se casar e foi por lá que conheci minha mulher, Luciana. É assim que Fabiano Cunha Campos explica como a família criou laços fortes de amizade com amigos portugueses.

O PAÍS REPLETO DE ENCANTOS E RECANTOS NÃO ESCONDE O CARINHO PELOS BRASILEIROS, QUE SE SENTEM CADA VEZ MAIS ACOLHIDOS. FREQUENTADOR ASSÍDUO DE PORTUGAL, O EMPRESÁRIO FABIANO CUNHA CAMPOS REVELA DICAS PRECIOSAS DAS TERRAS LUSITANAS

O país sofreu uma grande transformação no últimos anos. Se antes era considerado o patinho feio da Europa, ao longo do tempo muitos descobriram seus encantos: a amabilidade do povo, os preços melhores e a sofisticação na prestação de serviços. Além do mais, com os recentes atentados na França e na Inglaterra, especialmente, Portugal se efetivou como destino seguro e de excelência.

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Fotos: Divulgaçã o

Hotel Tivoli

Hotel Ritz

OS HOTÉIS São muitas as ótimas opções de hospedagem em Lisboa. Começando pelo Ritz Four Seasons, com a bela vista para o Parque Eduardo VII, sua piscina coberta e o fitness no rooftop do hotel. Neste ano, o Tivoli Liberdade concluiu a imensa reforma e restaurou o glamour do hotel, sempre atrelado à excepcional localização. A piscina, ligada ao palacete restaurado, é o toque final de sofisticação e conforto. Na própria Avenida da Liberdade, foram criados diversos hotéis boutique bem charmosos. Vale destacar o moderno e hype Valverde Hotel, que tem o jardim como cenário perfeito para o transado brunch de domingo ao som de jazz ou bossa nova. A turma que o frequenta é a mais moderna da cidade. Para quem deseja ficar em um hotel-palácio, vale se hospedar nos renomados Lapa Palace e Pestana Palace. A experiência vale cada centavo.

O ALGARVE

No verão a pedida é ir para a região de Algarve. Há inúmeras opções de hotéis e praias interessantíssimas. O up to date é a de Comporta. Diversos jet setters aterrissam por lá. Um dos empreendimentos mais tradicionais e consolidados é o Quinta do Lago, desenvolvido por empresário luso-brasileiro ainda no século passado.

AS VIZINHAS Ainda sobre hotelaria, vale esticar até as cidades Cascais e Sintra, ambas cidades a poucos quilômetros de Lisboa. O charme do Hotel Albatroz, com o restaurante debruçado sobre o mar e a charmosa piscina de onde se vê toda a cidade, são pontos altos. Já em Sintra, vale uma visita ao Hotel Penha Longa, cenário do casamento das irmãs de Fabiano. Recentemente, o local foi muito destacado na mídia por ter sido sediado a comemoração dos 80 anos do empresário Abílio Diniz. Ali perto há o Hotel Palácio de Seteais, que fica numa encosta com vista panorâmica da serra. Vale almoçar ou jantar no Restaurante Seteais, com tempo para um drink no charmoso bar. Reservas podem ser feitas no próprio site do hotel. GPSBrasília « 53

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Museu Coleção Berardo

AS COMPRINHAS As lojas em Portugal se sofisticaram nos últimos anos e não deixam nada a desejar a outros países da Europa. Dentre as multimarcas, o empresário destaca três que têm fantástica curadoria de marcas: Stivali, Loja das Meias e Fashion Clinic. Esta última fica dentro de um espaço denominado JNcQuoi, em que há um restaurante, um delibar com ostras frescas – a primeira Ladurée portuguesa. Completam o mix a filial da livraria Assouline e uma loja gourmet, cujo estoque apresenta gama de vinhos, azeites, trufas e até porcelanas. A visita é imperdível. Aliás, para comprar vinhos, o subsolo do El Corte Inglés é ótima pedida, pois possui grande variedade a preços justos.

A CULTURA Para quem gosta de arte e dispõe de pouco tempo em Lisboa, recomenda-se a visita à Fundação Calouste Gulbenkian e ao Museu Coleção Berardo – no Centro Cultural de Belém, um dos maiores centros culturais da Europa, bem pertinho de atrações importantes da capital portuguesa, como a Torre de Belém, o Museu Nacional dos Coches, o Padrão dos Descobrimentos e o Mosteiro dos Jerónimos. Na oportunidade do passeio, a dica imperdível é provar um delicioso e quentinho pastel de Belém, acompanhado de uma bica – cafezinho –, na pastelaria 54 « GPSBrasília

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Varanda do restaurante do Hotel Ritz

Fotos: Divulgaçã

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Restaurante Eleven

Restaurante A Travessa

de nome homônimo e que existe desde 1837 no mesmo local. Programa delicioso. Por outro lado, para curtir as touradas portuguesas com o toureiro a cavalo, vale checar a programação na histórica arena Campo Pequeno. A dica para conhecer tudo isso é comprar o Lisboa Card logo que chegar ao país. Ele dá direito a livre acesso ao ótimo transporte público, museus, monumentos, além de promover descontos em locais interessantes. Pode ser 24h, 48h ou 72h.

AS COMIDINHAS A diversidade é tão grande que Fabiano considera importante fazer um panorama identificado por tipo de comida e ambiente. O power lunch de Lisboa acontece na Varanda do Ritz Four Seasons de segunda a sexta-feira. Ali perto, há outro famoso restaurante, o Eleven, que fica no Parque Eduardo VII e que detém uma estrela Michelin. Recentemente, foi aberta filial na Avenida Vieira Souto, no Rio de Janeiro. Conhecido dos brasileiros, o Solar dos Presuntos tem ambiente informal e acolhedor. Está sempre animado e com público mesclado de turistas e portugueses. A Travessa situa-se no Convento das Bernardas, fundado em 1653, trata-se do melhor das cozinhas portuguesa e belga.

Brunch do Hotel Valverd

Os mais trépidos são os restaurantes Pap’Açorda e Bica do Sapato – este último tem vista linda e o ator americano John Malkovich como sócio –, sempre com gente jovem e bonita. Para os fãs da gastronomia portuguesa, os mais premiados são os restaurantes 100 Maneiras, o bem transado XL e a tradicional Cervejaria Trindade. Para quem quer comer um peixe “sem igual”, como eles mesmos dizem, o empresário brasiliense recomenda o passeio até as casas próximas a Cascais. A saber: Porto Santa Maria e Mestre Zé para comer a famosa cataplana de frutos do mar. E também o eterno Monte Mar para saborear o peixe com banana, o preferido do ex-presidente português Cavaco Silva. Um pouco antes, no Casino do Estoril, está situado o melhor chinês da região, o Mandarin. O restaurante possui vista para os jardins do Casino, com apresentação das fontes iluminadas em determinados horários noturnos. Informe-se ao fazer a reserva. Para aqueles que são fãs das casas de fado, as recomendadas são o Clube de Fado e os restaurantes João da Praça, Sr. Vinho e Marquês da Sé, com atrações das fadistas Maria da Fé e Alexandra. GPSBrasília « 55

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PERSONALIDADE

ALÉM DO HORIZONTE EM QUATRO DÉCADAS DEDICADAS AO TRABALHO, O PIONEIRO ARNALDO CUNHA CAMPOS TROCOU A MEDICINA PELO SETOR IMOBILIÁRIO E DEIXA SEU LEGADO COMO O HOMEM QUE ENXERGOU O FUTURO DA CAPITAL. COM NEGÓCIOS EXPANDIDOS PARA PORTUGAL E ESTADOS UNIDOS, É EM BRASÍLIA QUE ELE PROJETA SEUS PRÓXIMOS SONHOS POR ANDRESSA FURTADO

« FOTOS ZULEIKA DE SOUZA

Dotado de uma inteligência singular, além de possuir espírito pragmático e nível cultural de tirar o chapéu, é um líder nato. Seguido e respeitado primeiramente pela sua prole – quatro filhos e 11 netos –, Arnaldo não gosta de falar de si mesmo. “Como vou falar de mim mesmo? Pergunte aos meus filhos”, afirma direto e reto, sem rodeios ou conversa fiada. A família de Arnaldo possui ligação direta com Portugal. Cada filho ama a região a sua maneira. No geral, é um dos destinos favoritos do clã. “Ana Luisa morou lá por cinco anos, é quem cuida do patrimônio que possuímos na região; Fabiano conheceu sua mulher nas terras lusitanas; Liliana, na volta de sua temporada em Milão e Firenze, onde estudou arquitetura, morou um ano no país. Sempre que pode, passa uns dias em Cascais; e Ana Maria é casada com filho de português e volta sempre ao Brasil para rever a família e os amigos. Temos muito apreço por Portugal”, diz Arnaldo sobre a relação da família com o país. A característica latente nas decisões o patriarca aplica nos negócios. “Empreendi durante anos em Portugal, mas, diante da grande burocracia e da crise econômica do país, mudei meu foco para Boca Raton, na Flórida”, conta.

RAÍZES

V

isionária. Tem gente que é assim. Nasce com um dom especial de enxergar a vida. O palpável não é suficiente, o necessário é ir além. No dicionário, a explicação é simples: aquele que tem ideias quiméricas, idealistas ou grandiosas. A definição poderia dar como exemplo o mineiro Arnaldo Cunha Campos. Nascido em Uberaba, Minas Gerais, mas, considerado patrimônio brasiliense, o empresário de 81 anos destaca-se sobremaneira no campo do empreendedorismo.

Casou-se em abril de 1965 com Maria Josina Lemos de Abreu e teve quatro herdeiros: Fabiano, Ana Luisa, Liliana e Ana Maria. É filho de Adroaldo Cunha Campos e Zenaide Oliveira, irmão de Laurita Florentina e Fabiano (ambos falecidos). Veio de uma família com problemas financeiros, mas o fato nunca abalou o relacionamento entre eles. Apenas quando o irmão Fabiano, aos 30 anos, morreu em um acidente de carro, houve luto na casa. “Ele era um modelo para o meu pai”, relembra Ana.

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Quatro anos antes do casamento, formou-se na Universidade do Brasil, pela Faculdade Nacional de Medicina, no Rio de Janeiro. Na sequência, especializou-se em Otorrinolaringologia, na Faculdade Santa Casa, em São Paulo. A vida profissional do empresário começou como médico em Brasília, logo após a residência no Hospital de Taguatinga. Foi sócio fundador da Clínica São Braz e médico pioneiro da Fundação Hospitalar do Distrito Federal da Benecap e do Governo do Distrito Federal (GDF). Neste período, muitos plantões e noites viradas. “Mesmo naquela época, era garantia certa de colocação no mercado. Logo se conquistava um bom padrão de vida. Não havia médicos desempregados, como até hoje não há”, explica o filho Fabiano Cunha Campos, sobre a motivação do pai na escolha da carreira.

Imponência. Do alto do Complexo Brasil 21 o empresário admira a cidade que o acolheu e na qual dedicou sua vida e carreira

O patrono relacionou-se com pioneiros importantes da Nova Capital, como o presidente Juscelino Kubitschek – quando ele já estava fora do poder. “Costumava visitá-lo para batermos papo. Eram tardes muito agradáveis”, relembra Arnaldo. O rol de amigos passa por Hélio Doyle; pelo antigo governador, Wadjo Gomide; Osório Adriano, que foi sócio de seu irmão Fabiano; Gilberto Salomão, coincidentemente oriundo da mesma cidade; Wilson Fidalgo; Edson Sebba, entre outros empresários. O lado empresarial aflorou em 1968, quando se tornou sócio fundador da Cocitra – representante das fábricas de cimento Cauê e Itaú na cidade. Com a confiança conquistada, quatro anos depois, investiu fortemente em sua veia dos negócios. Fundou a empresa Hotéis Turismo Regência, atualmente denominada Hotur Administração e Participação Ltda., proprietária do terreno no qual está localizado o Complexo Brasil 21, no Setor Hoteleiro Sul. Ao construir a sede da Clínica São Braz na Asa Sul, instituiu a Arca Empreendimentos Imobiliários, em 1974. A empresa dedicou-se, inicialmente, a empreendimentos imobiliários ligados à saúde, tais como o Edifício de Clínicas e o Centro Clínico na Asa Norte. Posteriormente, a companhia deslanchou com fins comerciais diversos. Três anos depois, foi outorgado com o diploma de sócio fundador do Clube dos Pioneiros de Brasília – um testemunho da sua participação na construção e na consolidação da nova Capital. “Brasília é seu lar, onde construiu seu patrimônio, gerou empregos, fez amigos e para onde sempre volta, embora tenha negócios na Europa e nos Estados Unidos”, revela Fabiano. Arnaldo é um idealista corajoso. Trouxe para o Cerrado um modelo de negócio multiuso inédito nacionalmente. Inclusive, o projeto do Complexo Brasil 21 é considerado o maior empreendimento imobiliário do País. Possui 200 mil metros de área contínua construída, composto por três torres de escritórios, três torres de hotelaria e centro de convenções. “Uma pena o brasiliense ainda não ter compreendido como usufruir esse complexo em sua totalidade. Acho que falta mais divulgação dos nossos serviços”, lamenta o patriarca. O grande espaço é um dos fortes exemplos do legado que a família deixará para os moradores daqui. “Além de ser um empresário honesto, trabalhador e leal, meu pai só fez coisas boas pela cidade”, afirma a filha Ana Luisa.

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SANTUÁRIO

TERRA DE MILAGRES UM DOS ESPAÇOS MAIS VISITADOS DE PORTUGAL, FÁTIMA FORMOU-SE NO LOCAL ONDE A VIRGEM MARIA APARECEU AO LONGO DE SEIS MESES, CEM ANOS ATRÁS. DESDE ENTÃO, A PEQUENA CIDADE RECEBE MILHÕES DE FIÉIS POR ANO POR PAULO PIMENTA

Stock Photos Art / Shutterstock

À

medida que o carro diminui a velocidade, ao avistar o estacionamento do Santuário de Nossa Senhora de Fátima, o coração acelera. Não importa o motivo da visita, a imensa esplanada com a qual se depara na chegada ao santuário deixa evidente a pequenez de cada devoto. Por causa dos peregrinos que passou a receber e para preservar o lugar sagrado, ao redor da aparição foi construída a cidade de Fátima, em Portugal. Conta a história que ela apareceu para os pastorinhos Lúcia, Jacinta e Francisco, revelando-lhes alguns segredos importantes sobre o mundo e a fé. Durante seis meses, a Virgem visitava as crianças sempre no dia 13 até se despedir com um milagre, fazendo com que o sol girasse no céu.

Em 2017, a Igreja Católica celebra os cem anos da aparição de Nossa Senhora de Fátima. Na comemoração do centenário, católicos de todo o mundo juntaram-se na Basílica ao lado do papa Francisco, que aproveitou a ocasião festiva para canonizar Jacinta e Francisco, declarados santos após a Igreja reconhecer o milagre que curou o brasileiro Lucas Baptista, de nove anos, de uma lesão cerebral. Em terras brasileiras, a comemoração foi extensa. Em Brasília, como de costume, fieis rezaram por 13 dias consecutivos na Igrejinha da 307/308 Sul até chegar o dia da festa da padroeira. No Santuário de Fátima, o tema central do centenário, “O meu coração Imaculado vos conduzirá até Deus”, foi celebrado todo o mês.

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A CIDADE

CAPELA DAS APARIÇÕES

Fátima possui pouco mais de 12 mil habitantes, porém recebe em média seis milhões de turistas por ano. Cerca de 130 km separam Fátima da capital portuguesa, Lisboa, de onde partem os principais veículos até o Santuário. A cidade possui um pequeno heliponto, mas o recomendado é ir de carro, uma viagem tranquila pela autoestrada A1, a principal de Portugal, a mesma que vai até a cidade do Porto. Um dia no local é o suficiente para conhecer todos os pontos mas há quem queira participar de alguma oração à noite – são mais de 15 momentos oferecidos pelo Santuário entre 7h30 e 22h45. Três capelas principais estão no local: Capela das Aparições, Basílica de Nossa Senhora do Rosário de Fátima e Basílica da Santíssima Trindade, cada uma com um formato e história diferentes. Em geral, quem pernoita na cidade prefere se hospedar no centro. Há opções para todos os bolsos, desde pousadas mais simples a €20, a diária, até hotéis quatro estrelas por €460.

Das seis vezes em que Maria apareceu aos pastorinhos, cinco foram no local onde está construída a Capela das Aparições. Em um desses encontros, Nossa Senhora pediu que fosse erguida uma capela em sua honra. Em 1919, ficou pronta e em 1923 precisou ser restaurada, após ter sido destruída com dinamites em um ato de vandalismo. Ali, de fato, está o coração do Santuário de Fátima. A imagem de Nossa Senhora foi colocada em uma pequena coluna erguida ao meio, exatamente onde se encontrava a azinheira sobre a qual Maria aparecia. Ao longo do dia, missas, terços e outras orações reúnem os devotos. Um piso diferente, mas não mais confortável, encaminha os pagadores de promessas até o altar.

A BASÍLICA Inaugurada em 1953, a Basílica de Nossa Senhora do Rosário de Fátima é uma construção branca imponente, confeccionada com pedras da região e que chama a atenção de longe. Ali, estão enterrados Lúcia, Jacinta e Francisco. Nos túmulos, a inscrição: “A quem Nossa Senhora apareceu”. De acordo com os relatos, a Basílica foi erguida no lugar em que as crianças brincavam no dia 13 de maio de 1917 – dia da primeira aparição da Virgem – quando viram um relâmpago. Logo em cima da entrada principal, um mosaico feito nas oficinas do Vaticano revela Nossa Senhora sendo coroada pela Santíssima Trindade.

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SANTÍSSIMA TRINDADE

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Com projeto de autoria do arquiteto grego Alexandros Tombazis, a basílica foi inaugurada em 12 de Outubro de 2007 – comemorando 90 anos de aparição da santa –, passando a comportar 8.633 pessoas sentadas. A construção é dedicada ao culto da Santíssima Trindade. Desde 1973 havia o desejo de construir um novo templo porque a antiga basílica não acolhia mais os peregrinos. Em 1997, o Santuário de Fátima organizou um concurso internacional para a concepção do novo edifício. Em 13 agosto de 2012 a igreja foi elevada à categoria de Basílica. A porta principal, em bronze, é dedicada a Cristo e as laterais, também em bronze, aos 12 apóstolos.

COMO TUDO COMEÇOU “Uma senhora vestida toda de branco, mais brilhante que o sol”. Foi assim que irmã Lúcia descreveu sua visão, quando tinha apenas dez anos, acompanhada dos primos Francisco, 9, e Jacinta, 7. As aparições aconteciam na Cova da Iria, a cerca de 3 km da cidade Aljustrel, em Portugal, sempre por volta do meio-dia, em cima de uma árvore chamada azinheira. Francisco só conseguia vê-la. Jacinta, via e ouvia. Lúcia conseguia ver, ouvir e conversar com a Virgem. As crianças não conseguiam enxergar o rosto de Nossa Senhora por estarem muito perto e serem impedidas pela luz que a cercava. Apesar disso, o primeiro diálogo foi para tentar acalmar os pastorinhos: “Não tenhais medo, eu não vos faço mal”. Questionada por Lúcia sobre o que queria, respondeu: “Vim para vos pedir que venhais aqui seis meses seguidos, no dia 13, a esta mesma hora. Depois vos direi quem sou e o que quero”. Antes de encerrar a primeira aparição e subir aos céus, deixou um pedido: “Rezem o terço todos os dias para alcançarem a paz para o mundo e o fim da guerra”.

Na segunda aparição, contou que Francisco e Jacinta morreriam em breve e que Lúcia viveria mais tempo – o que, de fato, aconteceu. Na terceira, revelou dois dos três segredos de Fátima. A quarta vez não aconteceu no dia 13. As crianças foram sequestradas pelo administrador da cidade de Ourém, que queria descobrir à força os segredos da milagrosa. Apesar disso, os três não contaram. Sendo assim, o encontro se deu alguns dias depois, no mesmo lugar. Na quinta aparição, todos queriam ver, falar e fazer pedidos às crianças para que apresentassem à Virgem. Até que num reflexo de luz Nossa Senhora apareceu sobre a azinheira orientando os devotos a rezarem o terço. O ciclo terminou no dia 13 de outubro de 1917. “Não ofendam mais a Deus Nosso Senhor, que já está muito ofendido”, pediu a Virgem Santíssima. Por fim, enquanto elevava-se ao céu, uma multidão – entre 50 e 70 mil pessoas – presenciava o milagre do sol. Eles o viram como um enorme disco de prata em zigue-zague no céu. O milagre durou por volta de dez minutos. Antes do ocorrido, chovia muito e a multidão estava encharcada. Ao final, as roupas dos fieis havia secado completamente. O fenômeno foi visto numa distância de 40 quilômetros da cidade portuguesa.

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OS SEGREDOS Era sempre Lúcia quem recebia as mensagens. No primeiro, ela contou que Nossa Senhora abriu as mãos e os reflexos que saíam delas penetraram a terra. Naquele momento, veio a visão do inferno. “Como um grande mar de fogo e mergulhados nesse fogo os demônios e as almas como se fossem brasas transparentes e negras ou bronzeadas, com forma humana, que flutuavam no incêndio, levadas pelas chamas que delas mesmas saíam”. Nessa hora, a Virgem disse, já dando início à segunda parte do segredo: “Vistes o inferno, para onde vão as almas dos pobres pecadores. Para salvá-las, Deus quer estabelecer no mundo a devoção ao meu Imaculado Coração. Se fizerem o que eu vos disser, salvar-se-ão

muitas almas e terão paz”. No segundo segredo, Fátima disse à pastorinha: “Se atenderem a meus pedidos, a Rússia se converterá e terão paz; se não, espalhará seus erros pelo mundo, promovendo guerras e perseguições à Igreja”, alertou Nossa Senhora. Nos anos 40, Lúcia escreveu uma carta com o terceiro segredo, a qual não deveria se tornar público antes de 1960. O documento foi levado para o Vaticano e três Papas tiveram acesso a ele: João XXIII, Paulo VI e João Paulo II. A revelação falava, segundo o Vaticano, de um atentado sofrido por um papa. O que leva à interpretação de que seria que o papa João Paulo II, na praça de São Pedro, no dia da festa de Nossa Senhora de Fátima, em 1981, quando foi atingido por uma bala.

Divulgação

A igrejinha da 308 Sul foi construída em agradecimento à Nossa Senhora de Fátima pelo milagre em Márcia Kubitschek

NO PLANALTO CENTRAL, O PRIMEIRO MILAGRE Nossa Senhora de Fátima faz parte da história de Brasília antes mesmo da inauguração da cidade. Sarah Kubitschek, à época, primeira-dama do Brasil, fez uma promessa para curar a filha Márcia, gravemente enferma. Por conselho da esposa do famoso médico português Craveiro Lopes, dona Sarah orou para a Virgem e prometeu que a primeira igreja de Brasília seria a ela consagrada. Para toda a família, a cura de Márcia tratou-se de um milagre. Em 28 de junho de 1958, o primeiro templo em alvenaria foi inaugurado na nova capital: a Igreja Nossa Senhora de Fátima, a Igrejinha da 308 Sul. Anos depois, o Santuário de Nossa Senhora de Fátima, na 906 Sul, começou a ser construído com a imponência da matriz em Portugal. São mais de 70 metros de comprimento, com espaço para 800 pessoas sentadas. O Santuário tem uma belíssima imagem de Nossa Senhora de Fátima vinda de Portugal. Esculpida em cedro brasileiro, a obra mede 2,50 metros. A coroa, encomendada de Roma, furtada uma vez, está protegida por um vidro. Aos pés da imagem, fotos de Lúcia, Jacinta e Francisco, além de pedidos de orações depositados por fieis. Outras cinco paróquias no Distrito Federal são dedicadas a Fátima. Ficam na Asa Sul, no Gama, na Granja do Torto, em Taguatinga e Samambaia. Imagem de Nossa Senhora de Fátima

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TETÊ COM ESTILO POR MARIA THEREZA LAUDARES mtlaudares@blogazine.com.br – @mtlaudares

LISBOA

ESB Professional

/ Shutterstock

LISBOA REVELA-SE UM DESTINO ACOLHEDOR NO ANO EM QUE É CELEBRADA COMO A CAPITAL IBERO-AMERICANA DA CULTURA. SELECIONAMOS LUGARES QUE EXPRESSAM SEU PATRIMÔNIO RICO E VARIADO.

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Fotos: Divulgaçã

PHARMÁCIA A chef Susana Felicidade comanda o restaurante Pharmácia, hospedado no prédio do premiado Museu da Farmácia. Inspirada no mundo vintage das farmácias antigas, a decoração conceitual é uma atração à parte pelo mundo dos medicamentos. O menu privilegia o sabor da culinária portuguesa e propõe pratos para serem compartilhados, proporcionando maior convívio e experiência gastronômica. Rua Marechal Saldanha , 2, Santa Catarina

PARIS EM LISBOA – LOJA DE TECIDOS E ENXOVAIS Aberta em 1888, a loja de tecidos recriava a sofisticação parisiense em Lisboa. Em sua história, a Paris em Lisboa forneceu à Casa Real Portuguesa e chegou a nossos dias com uma preservação impressionante. O lugar volta no tempo, quando os produtos de moda passaram a ser oferecidos como mercadorias ao alcance das mãos, indo ao encontro da decoração de interiores recém-criada para tais ambientes. Vale à pena visitar. Rua Garret 77 – Chiado

100 MANEIRAS A cozinha criativa do 100 Maneiras é uma experiência única pelo mundo dos sabores portugueses e internacionais. O restaurante trabalha com um único menu degustação, que é elaborado diariamente pelo chef Ljubomir Stanisic com ingredientes frescos escolhidos por ele. O efeito surpresa é de deixar qualquer um com vontade de quero mais. O toque final de sofisticado urbanismo fica por conta da decoração Art Déco. (Recomenda-se fazer reserva.) Rua do Teixeira, 35 – Bairro Alto www.100maneiras.com

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FEIRA DA LADRA

MUSEU CALOUSTE GULBEKIAN Reconhecido como uma das melhores coleções de arte do mundo, o museu Calouste Gulbekian se destaca por exibir obras que vão da antiguidade ao século XX. As seis mil peças do acervo criam uma espécie de linha do tempo. Obras primas de Rubens, Van Dyck, Renoir, Monet e Degas dividem o espaço com arte egípcia e joias de René Lalique.

Para os amantes de antiguidades e objetos usados, a Feira da Ladra é o lugar ideal para encontrar pequenos achados cheios de história. Aproveite o passeio para apreciar a fachada da casa número 124-126 da praça. Construída em 1860, a casa é considerada a mais bela fachada de azulejos em Lisboa, por sua estética romântica portuguesa recheada de elementos barrocos em amarelo, azul e branco. Terças e sábados pela manhã Campo de Santa Clara

Avenida de Berna, 45A tt s gul en ian t

Goran Bogicevic

/ Sutterstock

FORA DO COMUM – AZULEJARIA

hy / Shutterstock

Kajzr Photograp

Arte nacional de Portugal, a azulejaria reflete a história do país. Presente em igrejas, residências, mosteiros, palácios e até estações de metrô os azulejos ocupam lugares de destaque na cultura nacional. Em Lisboa é possível visitar fábricas e até mesmo encomendar azulejos artesanais. Fábrica Sant’Anna – Criada em 1741, a Fábrica Sant’Anna reproduz peças dos séculos XVII e XVIII, além de peças originais. Na fábrica é possível ver o processo de pintura manual. Rua do Alecrim, 95 – Baixo Chiado

Loja dos descobrimentos – Famosa pela reprodução de padrões clássicos, a loja funciona junto à oficina onde podem-se observar os artesãos trabalhando a cerâmica. Aqui é possível escolher o desenho e fazer encomendas. Rua dos Bacalhoeiros 12A www.loja-descobrimentos.com

LX FACTORY Viúva Lamego – A fábrica de cerâmica Viúva Lamego foi fundada em 1849, no mesmo prédio onde hoje ainda funciona a loja da marca. A antiga residência, que mais tarde se transformou em fábrica, foi revestida por azulejos em 1865, com imagens românticas que remetem ao comércio entre Portugal e o Oriente. As peças pintadas à mão reproduzem desenhos dos séculos XVI ao XVIII e podem ser encomendadas.

Conhecida como “fábrica” ou ilha de criatividade a LX factory é a área hipster lisboeta. Os 23 mil m2 do antigo complexo industrial que em 1846 abrigou a Companhia de Fiação e Tecidos Lisbonense ganhou nova vida a partir de 2008 e, hoje, abriga lojas, cafés, livraria e restaurantes. Por aqui é fácil encontrar móveis vintage em perfeita harmonia com design contemporâneo. A arte está presente em todos os lugares, até nas fachadas que doam seu espaço à street art. Rua Rodrigues Faria, 103 - Alcântara

Largo do Intendente, 25 www.viuvalamego.com

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OLHAR POR DUDA PORTELLA AMORIM

contatodudapa@gmail.com – @dudaportellaamorim

QUE TAL DAR UMA VOLTA COMIGO NESTE VERÃO? VAMOS PRIMEIRO À FRANÇA, PARIS LOULOU

MAISON

Situado no Jardim de Touleries, no Museu do Louvre, esse restaurante e bar está entre os meus lugares prediletos, especialmente para jantar durante o verão. É perfeito para admirar a paisagem e tomar um drink olhando a bela paisagem. tt s loulou aris com

WILD & THE MOON

Um dos lugares com mais gente descolada em Paris. Além dos jovens, é famoso pelos tradicionais chai lattes, comida raw e vegana. Não perca as deliciosas tortinhas doces. Também é um cantinho quieto para trabalhar na frente do computador. tt

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Uma série de exposições imperdíveis acontecem por lá até o final de 2017. Eu sugiro a imperdível exposição Christian Dior, couturier du rêve, no museu Les Arts Décoratifs. Dividida em duas gigantes alas, a mostra celebra os 70 anos da maison e revisita criações dos sete estilistas que comandaram o ateliê. Inclusive, a mostra aborda temas como Colorama e Petit Trianon – do uso preciso de todas as cores até à estética do século XVIII. tt

lesartsdecoratifs fr

NEXT STOP: VAMOS PARA SAINT-TROPEZ? MUST HAVE

Pegue o seu maior e mais stylish lenço para dar aquela “divada” no look.

MUST DRIVE

Alugue um conversível com todo o conforto que você merece para aproveitar cada pedacinho da comuna francesa.

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MUDANDO DE PAÍS, QUE TAL A ITÁLIA?

RAVELLO

A charmosa cidade é um atrativo por si só. Andar apreciando as milhares de flores espalhadas por todos os cantos é revigorante. Sugiro almoçar no hotel Caruzo, onde fica o famoso restaurante Belvedere.

POSITANO

Para mim, um dos hotéis mais charmosos que existem. A paisagem de frente para a costa é de tirar o fôle go. Não deixe de ir ao bar de ostras e champanhe do Le Sirenuse. tt

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NEXT STOP: CAPRI NATUREZA

Com antecedência, reserve o beach club La Fontelina. Faça um passeio pela bela Gruta Azul. Depois das 17h, se quiser dar um mergulho, passe para ver o famoso Faraglioni. Não se esqueça de fazer um pedido quando passar embaixo deles! tt

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DA PAOLINO

MUST STOP

Pare em Saint-Paul-de-Vence. Tudo é tão charmoso por lá que você pode escolher à vontade qualquer restaurante para almoçar. Aproveite e dê uma olhada nas galerias da cidade. Elas apresentam o cream de tudo o que está acontecendo na arte contemporânea.

THE BEACH

Chegando a Saint-Tropez não deixe de conhecer a minha praia favorita. A Pampelonne me encanta com seu mar calmo e beleza paradisíaca. Para o descanso, almoce no restaurante peruano que eles têm. É perfeito! tt

Na decoração, o restaurante é cheio de limoeiros. Adivinha o que tem de mais especial por lá? Um limoncello especial. Não deixe de experimentar! tt s

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BAR DO QUISISANA

Antes do jantar, vá tomar um drink no Quisisana. Este lugar me faz pensar que o glamour triunfa nas terras italianas. tt

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A NOVA CARA DO PARLAMENTO Celso Junior

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POLÍTICA ELES SÃO CHAMADOS “OS CABEÇAS PRETAS” DO CONGRESSO NACIONAL. COM MENOS DE 40 ANOS, HASTEIAM A BANDEIRA GERACIONAL E TRAZEM A INTENÇÃO DE LEGISLAR COM NOVOS PRINCÍPIOS, CUJA DINÂMICA SE CONVERTE PARA O MUNDO CONECTADO, ÁGIL E TRANSPARENTE POR EDINHO MAGALHÃES « FOTO GUSTAVO MORENO

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enhuma legislatura teve tantos parlamentares eleitos na faixa etária abaixo dos 40 anos como a que está em atuação no Congresso Nacional (20152019). São cerca de 80 deputados que formam a “bancada jovem” da Câmara do Deputados e que se negam a ser meros expectadores do processo decisório da Casa, apenas observando a atuação dos veteranos. Eles criaram o grupo Jovens da Política, que reúne, no aplicativo WhatsApp, pelo menos, 60 deles em torno de ações estratégicas dentro do parlamento. Esse grupo é mais do que um canal de comunicação. É uma ferramenta poderosíssima que os mantém unidos e em alerta sobre a necessidade de agir ou reagir. Eles agem em bloco. Juntos, eles já partem em qualquer votação com ao menos 60 votos. Para se ter uma ideia do que isso representa, o maior partido da Câmara, o PMDB, tem 62 membros. Trata-se, portanto, da segunda maior bancada da Casa. Eles impõem respeito não somente pelo tamanho, mas também pelas estratégias de suas ações. Movidos pelo sonho de uma bandeira geracional que significa “novos princípios da nova geração de brasileiros que pensa em mudanças num mundo conectado rápido e transparente”, o grupo partiu para executar suas estratégias e exercer o protagonismo

dos trabalhos parlamentares na administração da Câmara dos Deputados. Esperar pra quê? Os “Cabeças Pretas” – como ficaram conhecidos por causa da cor dos cabelos que contrasta com o da maioria dos membros do parlamento – querem ser o instrumento da mudança e não apenas esperar por ela. A maioria deles pertence à família de políticos, mas todos demonstram forte personalidade para tomar decisões independentes. E foi assim que nas últimas eleições internas conseguiram emplacar nada menos que três dos sete cargos da Mesa Diretora da Casa: Segunda vice presidência e as Segunda e Terceira Secretarias. Se levarmos em consideração que o Presidente Rodrigo Maia, o Vice Fábio Ramalho e o Primeiro Secretário Fernando Giacobo têm todos menos de 50 anos, temos então uma mesa diretora praticamente inteira sem nenhum veterano da Casa, panorama impensável até pelo menos quatro anos atrás, quando a tradição começou a ser quebrada. Os Jovens da Política ocupam também lideranças partidárias, vice lideranças, presidem comissões, CPIs e até concorrem à presidência da Câmara. Baseado nesse critério de destaque em cargos, que a revista GPS|Brasília conversou com alguns dos “Cabeças Pretas” para apresentá-los, em breve resumo, aos nossos leitores.

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MARIANA FONSECA RIBEIRO CARVALHO DE MORAES Mariana Carvalho é natural de São Paulo, tem 30 anos, é formada em medicina e direito e é filiada ao PSDB. Mesmo em primeiro mandato já ocupa lugar de destaque, compondo a Mesa Diretora da Câmara como Segunda Secretária (cargo responsável, entre outras coisas, pelas viagens e missões internacionais dos parlamentares). Por tudo isso, não parece surpresa ter sido eleita por Rondônia devido a “laços familiares”. Ela acredita na renovação da política como ponto de partida para as mudanças necessárias nesse momento que o País atravessa. Reconhece o peso da responsabilidade da juventude em estar ocupando espaços e do desafio de manter a unidade do grupo dentro da Câmara em prol de novos conceitos e novos tempos. “É preciso ter força de vontade para manter esse potencial, de se articular e conquistar espaços”. Mariana mantém o foco de seu mandato na educação e na saúde, em especial às causas da primeira infância e de doenças raras. Foi presidente da CPI sobre Crimes Cibernéticos e é vice-líder do seu partido, onde mantém voz dissonante com relação ao apoio ao Governo Temer.

FELIPE LEONE BORNIER DE OLIVEIRA Felipe Bornier é um dos veteranos da nova geração. Chegou à Câmara para exercer seu primeiro mandato com 29 anos em 2007. Percorreu um bom caminho para acumular experiência na Casa e no início desta Legislatura ocupou a Segunda Secretaria da Mesa Diretora, em que chegou a dividir os trabalhos da Presidência durante a “Sessão do Impeachment” da ex-presidente Dilma. Carioca (vem de uma família com tradição política no Rio de Janeiro) está na terceira filiação partidária e, atualmente, é vice-líder do bloco formado pelo PROS. Em seu mandato, defende o servidor público e é contra a forma como o Governo conduz as reformas, em especial a da previdência. “Falta um diálogo mais amplo e democrático com o trabalhador, com a população”. Felipe defende a redução dos impostos e o fim da burocracia como forma de criar emprego e renda. Para alavancar a economia e tirar o país da crise, o deputado acredita no desenvolvimento do setor privado com ações planejadas.

EFRAIM DE ARAÚJO MORAIS FILHO Assim como Felipe Bornier, Efraim Filho está em seu terceiro mandato e pode-se dizer que chegou ao auge da maturidade política também nesta Legislatura. Foi presidente da CPI dos Fundos de Pensão entre 2015 e 2016, uma das poucas que não “viraram pizza”, denunciando um escândalo de corrupção tão grande quanto o do “petrolão” e que serviu para mudar o marco regulatório do setor no País. “O mais doloroso foi descobrir que a corrupção nos Fundos desviavam cruelmente dinheiro de aposentados e pensionistas”. Efraim é o atual líder do DEM, partido do presidente da Casa, Rodrigo Maia, que está em plena articulação para aumentar o tamanho da bancada do Democratas. Assim como seu pai (ex-deputado e ex-senador Efraim Morais), ele pretende chegar à presidência da Câmara. É o relator da “PEC do fim do foro”, que promete acabar com “o último resquício aristocrático da Democracia”, que é o foro privilegiado de autoridades perante a Justiça. Advogado, Efraim acredita nas reformas como forma de melhorar a economia criando emprego e renda para a população.

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RAFAEL HUETE DA MOTTA Mesmo tendo familiares na política do Rio Grande do Norte, Rafael Motta, PSB, imprime uma forma própria para desempenhar o seu trabalho. Aos 31 anos completados este mês, está no primeiro mandato na Câmara Federal e foi indicado para ocupar a recémcriada Secretaria de Juventude da Casa, com todas as prerrogativas de líder partidário (tempo de tribuna e voz com voto no Colégio de Líderes). Motta se revela bem realista ao falar da juventude: “Somos mais de 50 milhões de jovens no Brasil, onde muitos não se sentem representados na política. Nosso papel é o de fazer essa ponte de comunicação. O jovem de hoje está mais politizado. Ele é o ‘manifestante digital’ nas redes sociais em torno dos seus direitos e se posicionando contra injustiças na política. É um momento muito oportuno para criarmos as mudanças sociais do nosso País”. A Secretaria de Rafael Motta introduziu em plenário um “pacote de projetos suprapartidários” com a ideia de assegurar direitos importantes à juventude, numa ação inovadora no parlamento brasileiro.

JOÃO HENRIQUE HOLANDA CALDAS Aos 30 anos, João Henrique Caldas, mais conhecido como JHC é um dos porta-vozes dos Jovens da Política, grupo do WhastApp que reúne ao menos 60 parlamentares desta legislatura, todos abaixo dos 40 anos de idade. É dele o conceito de bandeira geracional para definir a “nova geração da política que pretende fazer mais com menos, de um jeito novo para tentar o mundo à nossa maneira: a gente não vê preço, a gente vê o valor das coisas”. Filho do ex-deputado João Caldas, que foi da tropa de choque do ex-presidente Fernando Collor, JHC tenta mostrar autonomia e independência em seu mandato. Eleito como deputado mais votado de Alagoas, foi candidato a prefeito de Maceió ano passado, ficando em empate técnico com o segundo colocado. Em seu primeiro mandato já conseguiu eleger-se para a Mesa Diretora da Câmara como Terceiro Secretário (responsável pelo reembolso de passagens aéreas e análise das faltas dos parlamentares). “Tenho orgulho desse grupo oxigenando as ideias e sendo ouvidos para modernizar o parlamento”. JHC é, ainda, vice-líder do PSB.

WILSON SANTIAGO FILHO O deputado Wilson Santiago Filho foi um dos mais jovens deputados do País a tomar posse na Câmara Federal, em 2010, com apenas 21 anos. Em seu segundo mandato, renovado em 2014, tornou-se primeiro Vice-líder do PTB, presidente da comissão de Finanças Controle e Fiscalização e assumiu a coordenação da bancada federal de seu estado, a Paraíba, com 28 anos. Foi candidato a vice-prefeito de João Pessoa em 2016 e pretende seguir o caminho trilhado pelo pai, o ex-senador Wilson Santiago.

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CRISTIANE BRASIL FRANCISCO “Cris Brasil”, como ficou conhecida na política, nasceu no Rio de Janeiro, foi vereadora da capital fluminense por três mandatos e em 2015 elegeu-se, pela primeira vez, deputada federal. Sua bandeira histórica de atuação é focada nas políticas públicas em benefício da população idosa. Sempre filiada ao PTB, chegou a ocupar a presidência nacional do partido e, como uma das líderes dos “cabeças pretas”, foi candidata à presidência da Câmara dos Deputados no ano passado (na vaga aberta pelo afastamento de Eduardo Cunha). Foi vice-presidente da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), a mais importante da Casa e, atualmente, é vice-líder do bloco de seu partido. Experiente, Cris Brasil herdou a vocação política do pai, ex-deputado Roberto Jefferson. É advogada e autora de projeto de lei que prevê a regulamentação do lobby – transparente e monitorado – no Brasil.

HUGO MOTTA WANDERLEY DA NÓBREGA Também oriundo de uma família política, Hugo Motta conseguiu mostrar seu potencial desde sua chegada à Câmara em 2011, aos 22 anos. No segundo mandato pelo PMDB, Hugo ganhou o respeito de seus pares quando teve a chance de conduzir os trabalhos na presidência da CPI da Petrobras ao longo de 2015 (aquela em que o ex-presidente da Casa, Eduardo Cunha, foi prestar esclarecimentos espontaneamente e terminou complicando-se). Médico por formação, conseguiu o prodígio de concluir o curso em pleno mandato, ocupando, ainda, a presidência da Frente Parlamentar do Jovem Empreendedor, em 2012; a presidência da Comissão de Fiscalização e Controle, em 2014 e, ainda no mesmo ano, a direção dos trabalhos na Comissão Especial da Zona Franca do Semiárido Nordestino. Considerado um talento para a sua idade (completa 28 anos em setembro), Hugo disputou a liderança do PMDB ano passado e responde pela vice-liderança do partido que tem a maior bancada da Câmara.

FORÇA JOVEM Pelo critério adotado, ainda integram essa lista os deputados Pedro Cunha Lima que, aos 27 anos, foi o deputado mais votado da Paraíba em 2015 e é o primeiro vice-líder do PSDB; Caio Nárcio, do PSDB de Minas Gerais, com 31 anos, atual presidente da Comissão de Educação; Shéridan Oliveira, do PSDB de Roraima, eleita com a maior votação proporcional do país, com 33 anos, e é presidente da Comissão dos Direitos da Mulher; Bruna Furlan, PSDB de São Paulo, que preside a Comissão de Relações Exteriores, aos 33 anos; Irajá Abreu, PSD de Tocantins, 34 anos, foi presidente da Comissão de Agricultura e Pecuária até o ano passado; e André “Fufuca”, 27 anos, que é do PP do Maranhão e está na segunda vice-presidência da Câmara. Além deles, um senador integra o grupo de jovens políticos “Cabeças Pretas”: Gladson Cameli, eleito em 2014 pelo PP do Acre, então com 36 anos, considerado o mais jovem senador da República na história do Parlamento.

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ARTIGO ROBÉRIO NEGREIROS* deputado distrital

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m janeiro do próximo ano, o Distrito Federal completará 28 anos desde sua autonomia política. Nesse tempo, a capital de todos os brasileiros consolidou um estilo próprio, a partir da referência de vários estados. Hoje, tem uma população, em sua maioria, de brasilienses nascidos do chão candango.

Nós, filhos da terra, começamos a ocupar os espaços que antes estavam entregues às velhas raposas acostumadas à decrépita politicagem. Somos novos parlamentares, arejando a política da Capital Federal. Prova disso é que, entre os 24 parlamentares que ocupam as cadeiras da Câmara Legislativa atualmente, oito nasceram no DF. Nossa nova energia sobre os poderes locais tem renovado as esperanças da população. Principalmente, pelas atuações junto às comunidades em causas sensíveis e de interesse coletivo. Sou muito ligado a minha família e às questões que envolvem a causa da deficiência. Fui propositor de diversas medidas que visaram proporcionar maior amparo às pessoas, dentro de uma perspectiva mais polida da relação entre a política e a sociedade como um todo. Encontro na minha família o vigor e a inspiração para fazer da política um instrumento eficaz para promover as mudanças expectadas pela população. Eu sou casado e pai de três filhas. Considero a família fundamental para que tenhamos uma visão mais sensível sobre o que as pessoas estão passando na realidade. Isso é importante para pensarmos a política de um jeito novo. As pessoas não querem mais discursos inflamados em gabinetes e palanques. Elas querem um parlamentar próximo e atuante nas questões que realmente afetam o cotidiano delas. Justamente a partir dessa perspectiva familiar, decidi, há quatro anos, incorporar uma nova linha de atividade ao meu trabalho. Em 2013, lancei o grupo Amigas do Ro-

Divulgação

UM NOVO OLHAR SOBRE A POLÍTICA DISTRITAL

bério, capitaneado pela minha esposa Flávia Negreiros. O nosso objetivo é estar perto das pessoas. Este grupo nos permite captar demandas e tentar contribuir para que as pessoas alcancem um estado de bem-estar social. Em 2017, na Câmara Distrital, já apresentei 30 projetos de lei e garanti a aprovação de normas jurídicas importantes, como a Lei 5.914/2017 – que estabelece prioridade de matrícula para filhos de mães vítimas de violência doméstica. A minha grande satisfação de estar político é cuidar das pessoas de algum modo. É isso que pauta minhas ações como parlamentar. *Robério Negreiros está no segundo mandato como deputado Distrital. Além do cargo, atua como segundo secretário da Mesa Diretora da Câmara Legislativa, res ons vel ela administração e finanças da asa

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ARTIGO LUANA LIMA FREITAS FERREIRA

Advogada e mestranda em Direito e Desenvolvimento Econômico pelo UniCEUB. Entre as áreas de atuação, trabalha com recuperação de empresas. contato@limaferreiraadvogados.com.br

O SUPERENDIVIDAMENTO EMPRESARIAL VAMOS ABORDAR UM TEMA RECORRENTE ENFRENTADO POR EMPRESÁRIOS BRASILEIROS. AO EFETIVAR UM CRÉDITO BANCÁRIO, QUAL A EFICÁCIA DA REVISÃO JUDICIAL NA MANUTENÇÃO DA EMPRESA?

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o mundo do empreendedorismo, boa parte das empresas ao captar recursos para fomentar a sua atividade empresarial, procuram estabelecimentos bancários. Elas visam a obtenção de um crédito líquido, que se adeque à sua capacidade financeira de pagamento. Neste cenário, os bancos disponibilizam o crédito por intermédio de um contrato de adesão, que acaba impondo termos mais favoráveis aos mais fortes, que detêm o maior poder econômico. Em geral, é daí que surgem as estipulações que reduzem unilateralmente as obrigações do contratante mais forte ou agravam as do mais fraco, criando uma situação de grave desequilíbrio entre elas. Ao analisar esses contratos é possível constatar a cumulação de diversos encargos que disfarçam a aplicação de uma taxa de juros diferente da contratada, como, por exemplo, a cobrança da comissão de permanência cumulada com a correção monetária e juros de mora, acima do limite permitido pelo código de defesa do consumidor. Sob esta realidade, o superendividamento empresarial por contratações desajustadas pode ter consequên-

cias nefastas às atividades das empresas, sendo a falência a primeira delas, bem como a situação de a empresa perdurar em uma sustentabilidade precária, como atrasos constantes de pagamentos de fornecedores, salários de empregados, de maneira geral, atrasos e ausência de cumprimento de obrigações assumidas. Nesse panorama, a revisão judicial dos contratos é uma alternativa eficaz para validar os atuais princípios contratuais da boa-fé, da função social e principalmente da dignidade da pessoa humana, visto que o contratante não está mais obrigado a cumprir o contrato a qualquer custo. A revisão promove a equidade dos contratantes, mantendo não só o objetivo do pacto, mas, sobretudo, a manutenção da atividade empresarial que se encontra sem alternativas para renegociar condições razoáveis frente ao poderio das instituições financeiras. Ademais, esta medida não tem como escopo uma justificativa para inadimplência contratual, mas uma forma de expurgar as ilegalidades e os abusos. Acima de tudo, que as empresas possam manter as suas atividades, contribuindo para economia, e cumprindo sua função social com a geração de empregos.

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ARTIGO EDINHO MAGALHÃES

Jornalista e advogado, atua como consultor parlamentar no Congresso Nacional.

MUDAR É PRECISO!

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pesar de seco e frio, o clima em Brasília continua efervescente no tocante à política. Mesmo após a votação no plenário da Câmara Federal que arquivou a denúncia do Procurador-Geral contra o Presidente da República, ainda são evidentes os resquícios de beligerância no cenário nacional. É evidente que a transparência no devido processo legal tem que ser observada e que as investigações das lava-jatos possam alcançar a todos, igualmente, perante a lei. Porém, o que era para ser uma causa de unanimidade nacional “o povo contra a corrupção”, corre o risco de sofrer questionamentos, justamente, pelo modus operandi de algumas investigações. Claro que não se deve deixar de investigar, mas também não se pode banalizar denúncias e delações. Estamos vendo uma série de investigados presos delatando outra série de investigados soltos. Mas há que se ter, sempre, os devidos critérios e cuidados para saber “quem está falando o quê de quem”. Se aos olhos das autoridades, delator e delatado, seriam todos ladrões, causa arrepios imaginar que a assertiva “ladrão que dedura ladrão, ganha perdão” encontre algum fundamento entre os doutos investigadores. Não me parece ser o que o povo quer. Se comprovadamente ladrão, criminoso, não merece perdão, pelo menos enquanto não reparar o dano.

E o que o povo quer? Enquanto se aguarda um amadurecimento político da sociedade (num cenário ideal, com mais acesso à educação e eleitores com maior discernimento), arriscaria dizer que o povo deseja muito mais além do que as investigações sobre o passado. Quer mudanças para o futuro! O país precisa de uma série de melhorias pontuais em diversos setores e não pode ficar “suspenso” a cada nova denúncia ou delação, num eterno “estado sub judice”. Nesse sentido se apresentam como urgência da República as mudanças

no formato de reformas: tributária, previdenciária, da máquina pública e política. As três primeiras dizem mais respeito, num primeiro momento, à questão econômica. A última, porém, em épocas de “lava-jato”, com o “denuncismo” midiático diário, transformou-se na “mãe das reformas”, sem a qual não será possível evitar ainda mais corrupção nas próximas campanhas eleitorais e – nos governos por elas eleitos. O melhor remédio é a prevenção. Nesse sentido, não adianta apenas mudar pessoas, é necessário mudar o sistema. Não adianta trocar jogadores mantendo a mesma regra do jogo. O atual sistema político-partidário-eleitoral está falido. Não funcionou. É primo-irmão da corrupção em todos os níveis e nas três esferas. É preciso mudar: diminuir o número de partidos, por fim às coligações partidárias, dar legitimidade à vontade dos eleitores (elegendo os mais votados no chamado “distritão”), acabar com as campanhas milionárias, com a compra de votos, com a relação espúria entre empresas e partidos. E, não menos importante: é necessário aumentar a fiscalização, endurecer as penas e agilizar as sentenças eleitorais, pondo fim, também, à sensação de impunidade. Por tudo isso, neste momento, a Reforma Política surge como a mais importante na pauta da República. E, por fim, como toda boa mudança, precisamos também mudar o pensamento do próprio povo. O brasileiro não pode se permitir cometer pequenos pecados capitais no dia a dia e achar que “político ruim cai do céu ou nasce do chão”. Não, senhor! Cada povo tem o Governo que merece, pois o Governo é um reflexo de cada povo. A começar, devemos ser mais participativos e pensar mais no coletivo. Que venham as reformas. Precisamos mudar para mudar o País! Muda Brasil!

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PUBLIEDITORIAL

PARA QUEM CURTE INTENSAMENTE A CIDADE, CONNECT, O PROGRAMA DE RECOMPENSAS DO BRBCARD, FOI PLANEJADO PARA PRIVILEGIAR O PÚBLICO JOVEM

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rasília é uma cidade instigante. Paralela à rotina dos prédios públicos e monumentos que identificam a capital do País, existe uma agenda cultural que arrasta milhares de brasilienses de origem, e filhos adotivos do quadradinho, para fora de casa. A juventude de Brasília é viva e ligada às novidades do cenário nacional e mundial. Para acompanhar todo esse movimento, a BRBCARD lançou um cartão que é a cara desse público que não perde um agito e está em busca de cultura e diversão. O BRBCARD Connect é o cartão perfeito para o jovem brasiliense que curte intensamente a cidade, pois as compras realizadas podem ser convertidas em ingressos de cinema, shows, festas e descontos em restaurantes e bares. O programa de relacionamento do Connect foi pensado a partir dos gostos e hábitos do brasiliense de 18 a 35 anos que vive o que de melhor a cidade tem a oferecer, mas quer um cartão de crédito que ofereça recompensas. Apesar de todas as vantagens oferecidas, o Connect não é um cartão restrito aos correntistas do banco. Solicitar um é bem fácil. Basta apresentar documento oficial com foto e comprovante atual de residência. A comprovação de renda não é obrigatória, no entanto, interfere no limite oferecido. Assim que ativar o cartão, o cliente receberá dois mil pontos de bônus. Com três mil pontos já é possível resgatar ingressos e ter descontos em festas. Entre os estabelecimentos parceiros estão as casas de shows: Bamboa, Dallas e Roda do Chopp. Ao receber o cartão, o cliente também terá o direito de utilizar a Sala Vip do Aeroporto de Brasília. Mais uma inovação: o jovem não pagará anuidade no primeiro ano.

Foto: Divulgação

O CARTÃO IDEAL Diretor de tecnologia Humberto Coelho

Diretor-presidente Rail Nassif Salomão

Como adquirir o cartão? Nos pontos de atendimento BRB ou pelo site www.brbcard.com.br, na opção “Adquira seu cartão.” Quais os documentos necessários? Documento de identificação com foto, CPF e comprovante atualizado de residência. Não é preciso apresentar comprovante de renda para fazer o cartão. Anuidade: Grátis no primeiro ano de uso. Resgates: Com o aplicativo próprio, troca com parceiros como InMais, Smiles, Multiplus e outros. Benefícios: Bônus de dois mil pontos na ativação, resgates a partir de três mil pontos e descontos em restaurantes, casas de shows e acesso à sala Vip do Aeroporto de Brasília.

O diretor-presidente da BRBCARD, Rail Nassif Salomão, explica que foi possível criar o programa de vantagens sem onerar o custo das operações, graças à remodelação nos processos que envolvem, por exemplo, o Call Center e as Centrais de Cobrança. “A eficiência operacional foi convertida em benefícios para o cliente. Queremos que o jovem brasiliense tenha o Connect como a primeira opção de cartão de crédito. Nossos futuros clientes poderão ter crédito sem comprovação de renda e sem ser um correntista. A BRBCARD pretende participar desse começo de vida do jovem, ser parte das conquistas do início de carreira, crescimento profissional e inserção financeira da juventude de Brasília”, afirma.

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COMPOSIÇÃO

TRIBUTO À FOTOGRAFIA 82 « GPSBrasília

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DIVIDIDA EM TEMAS QUE A CREDENCIAM COMO REFERÊNCIA MUNDIAL, A ARTE GANHA MÉRITO, ÊXITO E EXPRESSIVIDADE AO SER EXPOSTA COMO ELEMENTO ARTÍSTICO NA FEIRA QUE ELENCA AS MELHORES IMAGENS DOS ÚLTIMOS CEM ANOS POR PAULA SANTANA Bolsa de Arte por André GPSBrasília « 83Severo, 2017

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Obra sem título do fotógrafo Gringo, 2015

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Amigo em gravação simultânea, Edmund Collein (Bauhaus), 1928, ampliada em 1983

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ão onze anos com olhar educado para luz, sombra, ângulos, perspectivas. Fernanda Feitosa, colecionadora, fundadora e diretora da SP-Arte/Foto traz ao cenário a expressividade que o segmento vem alcançando a cada ano e todas as referências necessárias para aqueles que se interessam pela linguagem. Realizada no JK Iguatemi – o shopping que abraça e interage com a moda inúmeros movimentos de arte –, este ano a feira ampliou o debate das dimensões da fotografia contemporânea. “Atuamos em três pilares para desenhar esse panorama: o privado, o institucional e o de museus. Essas três engrenagens transformam o circuito fotográfico numa experiência muito mais rica”, define Fernanda Feitosa. Dentre os segmentos que merecem destaque e apreciação, atualmente, estão as fotografias moderna, contemporânea, documental e fotojornalismo, expandida, a cidade e a arquitetura. Ao reuni-las, todas as galerias envolvidas estiveram sob a perspectiva de grandes mestres, que validaram a curadoria. Artur Walther é um deles. Colecionador e fundador do museu The Walther Collection, em Neu-Ulm, na Alemanha, e em Nova York, nos Estados Unidos, ele ofertou a visão antropológica do segmento. A jornalista e crítica Simonetta Persichetti abriu o debate sobre os desafios da cena contemporânea com Michael Famighetti, editor da Aperture, revista americana especializada, fundada em 1952. Para completar o time de expertises, Paulo Miyada, curador do Instituto Tomie Ohtake, ao lado de Simon Baker, curador da Tate, de Londres, explanaram sobre o papel do curador ao inserir a fotografia em centros de arte. “Reunimos fotógrafos que atuam e atuaram em cem anos de uma história narrativa do nosso País”, explica Fernanda.

Nazdar num campo de refugiados, Mauricio Lima, 2015

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Obra sem título de Celina Portella, da série Puxa, 2015

Missão Francesa, André Penteado, 2017

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EMPREENDEDORISMO

NEGÓCIO FECHADO QUANDO A VONTADE DE EMPREENDER ESTÁ NO SANGUE, NÃO TEM CRISE QUE SOBREVIVA. JOVENS EMPRESÁRIOS COM DIFERENTES HISTÓRIAS MOSTRAM QUE FAZER O QUE GOSTA, TRABALHANDO, VALE MUITO

João Gabriel Amaral tem apenas 24 anos e abriu seu próprio café este ano

POR ANDRESSA FURTADO « FOTOS ZULEIKA DE SOUZA

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er empresário no Brasil não é fácil”. Essa é a máxima que perpetua entre os aspirantes a empresários. São inúmeros os obstáculos e dificuldades encontrados por aqueles que querem transformar o sonho de empreender em realidade. Os altos impostos, a burocracia infindável e a falta de incentivo do governo desmotivam os aspirantes. No setor gastronômico, esses fatores ajudaram Brasília a perder algumas de suas casas mais amadas, como o Balaio Café, o famoso Schlob e até o tradicional Mercado Municipal. Felizmente, na contramão da crise, existe o empreendedorismo jovem. De acordo com dados da pesquisa Global Entrepreneurship Monitor (GEM) de 2016 – patrocinada pelo Sebrae –, 50% dos novos empresários do Brasil, em todos os segmentos, possuem até 34 anos. Na sequência, a faixa etária é de 35 a 44 anos, com 23%. A Capital Federal segue essa tendência. A GPS|Brasília selecionou alguns dos novos empresários que estão transformando a realidade da cidade. Eles são corajosos, ousados e apostam em seus negócios. Provavelmente, você ainda vai ouvir falar muito deles.

O DESTEMIDO Comida caseira farta, simples e fresquinha. Esse é o lema do pequeno estabelecimento, recém-inaugurado, do empresário João Gabriel Amaral. A notícia da abertura do Café e um Chêro, na 109 Norte, se espalhou pela cidade tão rapidamente que surpreendeu até mesmo o proprietá-

rio. Verdade é que brasiliense adora um café, ainda mais quando a casa é aconchegante e te abraça. Literalmente. O carinho de João com seus clientes é visível. Sente na cadeira e observe. Está frio? Mantas quentinhas esquentam quem decide beber um chocolate ou um cafezinho coado. Está calor? Refresque-se com a água do filtro de barro, que fica no balcão da casa – é de graça e passa aquela nostalgia boa. Da cozinha, o cheiro de carinho toma conta do espaço. Deve ser porque quem faz é Alba, a mãe do João. A maranhense é guerreira. Teve um câncer, mas não sucumbiu. Faz um cuscuz cheio de amor, sem nem saber para quem é. “A felicidade do meu filho é a minha felicidade”, afirma. O jovem de 24 anos é empreendedor nato. A personalidade, com certeza, ajuda-o bastante. Desenrolado, proativo e ótimo vendedor, desde a adolescência, no colégio, vendia pirulito. “Não sobrava nada. Depois, acrescentei bala, chocolate e chiclete. Quando vi, tinha virado comerciante”, relembra. De lá para cá, ele não parou. Criou uma empresa de seleção de pessoas e logo descobriram seu talento para gerenciar. Foi daí que iniciou seu trabalho no grupo Primeiro Bar e Hum! Burguer, onde ficou três anos. Como ter seu próprio negócio sempre foi seu objetivo, decidiu resgatar a essência nordestina e montar o seu café. A rotina é pesada. Acorda às 6h, abre o café às 7h, vai ao Ceasa. Tem dias que nem almoça. Vai ao banco, faz uma paradinha no supermercado. Volta para o café, atende a clientela, só sai de lá meia-noite. Paga os funcionários, as

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Fernando Veler

contas, engana a crise. Cria ações, gerencia os erros. Ufa! No outro dia, começa tudo de novo. De segunda a sábado. João não tem sócio, também não veio de uma família com posses. Juntou o dinheiro suado e abriu o café. “Sempre quis proporcionar afeto e felicidade por meio da comida. Meu sonho? Expandir a marca Chêro com esse mesmo conceito. Quem sabe eu não consigo?”, indaga.

OS VISIONÁRIOS Os irmãos gêmeos Alexandre e Eduardo Coelho, 28 anos, além de fisicamente parecidos, compartilham o tino para os negócios. “Nós gostamos de lançar tendência, trazer para Brasília o que ainda não tem. O importante é ser o primeiro. Depois os outros copiam”, afirma Eduardo. Ambos formados em Administração, começaram a trabalhar aos 17 anos com o pai, um dos sócios da empresa de informática CTIS. Em 2010, o pai saiu da sociedade. Foi a deixa para a dupla criar a própria história. A primeira aposta foi na produtora de eventos Nout – responsável também pela idealização do projeto Na Praia. Na sequência, enveredaram pela gastronomia. Trouxeram, em 2013, a primeira unidade do L’Entrecôte de Paris – casa paulistana que trabalha apenas com o corte francês de carne bovina equivalente à ponta do contrafilé acompanhado por molho à base de mostarda e batatas fritas. O início não foi fácil. Eles aprenderam a lidar com a rotatividade de funcionários, relacionamento com fornecedores e feedback do público. “Apanhamos demais,

Divulgação

Os gêmeos Eduardo e Alexandre Coelho são sócios em quatro empreendimentos na cidade

Eduardo Mujica investe junto com os amigos Eduardo e Alexandre Coelho no The Room e no Manifesto Coworking

mas agora a casa já está redonda”, conta Alexandre, responsável pelas compras do estabelecimento. Esse ano, a dupla abriu a Manifesto Coworking – espaço com escritórios compartilhados e ideal para fazer networking. Ao lado dos sócios Eduardo Mujica e Leonardo Ornelas, foram os primeiros a trazer o conceito para o Planalto Central. Ainda este ano, a dupla inaugura o bar The Room, na QI 11 do Lago Sul. Com previsão de abertura para setembro, o cardápio conta com consultoria do chef Paulo Tarso, além do repeteco na sociedade com Eduardo Mujica. A carta de drinks será do mixologista Victor Quaranta. Projeto arquitetônico assinado por George e Julia Zardo. “Você não vai encontrar nenhum prato do nosso cardápio em outros restaurantes da cidade. Serão inéditos. A decoração então nem se fala. Somos muito detalhistas e trouxemos muitas inspirações de fora”, adianta Eduardo. E, acredite, eles não pretendem parar por aí. “Ano que vem teremos mais novidade”, finalizam. GPSBrasília « 91

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Ricardo Sechis é criador e administrador da Boutique assion com sede em Brasília e filial em oi nia

O CORAJOSO Ricardo Sechis Filho segue os passos do pai, o pecuarista Antônio Ricardo Sechis, mais conhecido como Bigode. O criador da marca e do conceito Beef Passion – grife de carnes que trabalha apenas com animais de alto padrão de qualidade – é responsável pelo sangue empreendedor do filho mais novo, de 21 anos. Desde pequeno, Ricardinho vê o dinheiro de forma diferente. “Eu ganhava R$ 10 por semana de mesada. Reclamava que era pouco. Minha mãe disse que não aumentaria o valor. Então, comecei a vender uma fruta chamada abiu, que tinha no quintal da minha casa. No primeiro dia, voltei com R$ 80 no bolso”, conta. Ricardo ainda se lembra de uma história do Ensino Médio. No colégio, foi desafiado a abrir uma empresa e lucrar com ela. Ricardo apostou em kits de café da manhã. Ele e um amigo levaram 30 cestas para vender no Setor Comercial Sul. Entretanto, das 7h às 9h da manhã, a dupla não vendeu nada. Resultado: prejuízo. Mesmo assim, Ricardo manteve o espírito empreendedor. A próxima empreitada foi vender espetinho na porta da escola. O jovem saía mais cedo da aula, acendia o carvão, preparava as carnes e esperava os alunos.

Lidou com a polícia, com morador reclamando, “mas as vendas foram boas”, lembra. Em janeiro de 2015, teve a ideia de abrir a Boutique Passion – uma loja de revenda de carnes para pessoas físicas, diferente da loja do pai, que é destinada apenas a empresas. Após a negativa de sociedade com as irmãs, ele apostou no delivery e no e-commerce para economizar com espaço físico. O resultado da empreitada? No primeiro dia, recorde de R$ 8 mil reais de vendas. Um ano depois, abriu o espaço físico na 516 Sul. Seis meses depois, abriu a primeira unidade em Goiânia. A próxima cidade-desejo é São Paulo. Além disso, este ano, ao lado da chef Renata Carvalho e do empresário Ricardo Emediato, Sechis pretende abrir a Ricco Burger – uma hamburgueria na 306 Sul, com carnes apenas da Beef Passion.

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Seis tatuadores se revezam nas salas do Rabisco, na 210 Sul

OS IDEALIZADORES Mateus Barjud e Júlia Zerbinato têm apenas 22 anos e um grande negócio para administrar. Desde junho deste ano, orquestram o Rabisco Tattoo Lounge Bar, na 210 Sul. A proposta do local é oferecer uma experiência diferente na hora de fazer tatuagem, com direito a comida, bebida e entretenimento. Ela é designer de moda, ele é contador. Os dois são apaixonados por tatuagem. “Um tempinho atrás fizemos grandes tatuagens pelo corpo e levamos quatro dias para finalizá-las. Foi um processo chato e cansativo. Para piorar, o ambiente não era confortável”, conta Júlia. Daí surgiu a ideia de criar o Rabisco. Antes de enveredar no segmento, investiam em moda. “Queria ter uma coleção autoral e deixar de revender produtos de outras marcas”, explica Mateus, que já tinha Júlia como parceira. “Só que o mercado fashion em Brasília é saturado. Diante disso, colocamos no papel, fizemos um plano de negócio, inúmeras consultorias, fomos ao Sebrae e criamos o conceito do Rabisco”, completa a empresária.

WNa tatuagem, vídeo game na sala de espera e seis profissionais experts no assunto. Ahoto domina a geometria e o pontilhismo, além de traços sutis; Dope, no blackwork e old school; Aline Hueb, com seu estilo delicado; Fabi Barros é focada no realismo; Junior Lima, especialista em Maori, pontilhismo e geometria; completa o time amante do realismo Luiz Octávio. A jovem dupla orquestra 14 funcionários em dois turnos e respira seu empreendimento. Ambos administram tudo – desde a parte burocrática, até o relacionamento com o público. “Só terceirizamos o financeiro”, diz Júlia, que, em breve, lançará a sonhada coleção de roupa autoral chamada Rabisco. Café e um Chêro @cafeeumchero CLN 109 bloco C loja 37 – Asa Norte L’Entrecôte de Paris @lentrecotedeparisbrasilia CLS 402 bloco D loja 9 – Asa Sul The Room (previsto para setembro) QI 11 – Lago Sul Boutique Passion @boutiquebpassion 516 Sul, entrada pela via W2 – Asa Sul Rabisco Tattoo Lounge Bar @rabiscoloungebar CLS 210, bloco C, loja 6 – Asa Sul

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SAÚDE

O CORPO EM EQUILÍBRIO TER ROTINA ALIMENTAR, NÃO SE PREOCUPAR EM SER PERFEITO E SABER O QUE ESTÁ COMENDO SÃO SEGREDOS QUE O ESPECIALISTA FLÁVIO PASSOS DIVIDE COM TODOS AQUELES QUE JÁ ENTENDERAM A IMPORTÂNCIA DE UMA DIETA SAUDÁVEL POR PEDRO LIRA

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Fotos: Divulgação

Panqueca verde

Canelloni de beringela

“COMIDA BOA NÃO É CARA, A RUIM QUE É BARATA” Flávio Passos

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ma frase simples de Hipócrates, o pai da Medicina, inspirou a transformação na vida de um joven de 15 anos. Até então obeso e com vários problemas de saúde, ao ler a citação “faça do seu alimento o seu remédio. Faça do ato de comer um auxiliar da saúde”, Flávio Passos decidiu reinventar-se. Hoje, aos 35 anos, tornou-se especialista em nutrição e apresentador do programa Comer Bem, que Mal Tem? do canal Sony, onde defende com veemência a filosofia de que saúde e felicidade estão intimamente ligadas. “Saúde não é a falta de sintomas, mas sinônimo de equilíbrio, satisfação, prosperidade. Ao entender que ela faz parte das finanças, da área mental, emocional, dos relacionamentos, você percebe que saúde e felicidade são a mesma coisa”, afirma. Para quem acha que a vida de Flávio é apenas programas de televisão e receitas saudáveis, o nutricionista surpreende. Passos é fundador da empresa Pura Vida, fábrica dos chamados super alimentos. “Costumo dizer que só ofereço aquilo que eu mesmo usaria”. Fruto de um estudo de mais de 20 anos, os produtos buscam atingir pessoas que querem uma vida saudável, mesmo àquelas com o estilo de vida onde tempo é dinheiro. A marca oferece alimentos frescos e de produção de origem orgânica. Entre os destaques estão as microalgas Clorella, Spirulina, consideradas umas das mais nutritivas do mercado; e a Maca Golden, única do Brasil que não é misturada

a outras farinhas. Para o futuro, Flávio adianta que a marca irá lançar o chocolate ao leite de coco. Além disso, o livro de autoria do nutrólogo – Comer bem, que mal tem? – ensina 21 receitas práticas e rápidas que apresentam baixo nível de carboidratos e com alto teor de gorduras naturais saudáveis.

A DESCOBERTA DO CAMINHO Flávio nasceu em uma família onde não havia a preocupação com alimentação saudável. Os pais, trabalhadores caóticos da vida moderna, passavam os dias fora de casa e quem cuidava do pequeno era uma babá, que, por sua vez, não tinha a menor noção de cozinha. O menino foi criado à base de comida industrializada. Macarrão instantâneo todos os dias, enlatados, bolachas e refrigerante. Aos 15 anos, o mineiro de Belo Horizonte foi diagnosticado com cirrose hepática, asma crônica, obesidade, síndrome do intestino irritado, déficit de atenção, entre outros problemas. “Eu não era feliz. Não dormia bem, não tinha energia para estudar, para praticar esportes, não fazia nada”, lembra. Com visitas frequentes a médicos, que receitavam remédios e mais remédios, Flávio, ainda jovem, sentiu que precisava fazer algo por ele mesmo. “A minha vida tinha que ser mais do que aquilo. Mudei tudo por uma iniciativa pessoal e por necessidade”, relembra. GPSBrasília « 95

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Flávio não nega que a transição para uma alimentação equilibrada foi difícil. “Ainda jovem, à medida que fui deixando de comer algumas coisas me dei conta de como era viciado, principalmente, em açúcar”. Na época, a saída foi superar os limites. “Eu me forcei. Com o tempo, percebi que precisava criar uma estratégia para ser tudo mais fácil”, conta. Hoje, casado e residente do litoral paulista, Flávio é pai da pequena Sol, de oito anos. A rotina da filha do especialista em alimentação saudável não é perfeita. O foco é na “espinha dorsal da dieta” com alimentos orgânicos e nutritivos. Na casa dos Passos não entram industrializados, nem refrigerantes. “Mas, é claro que na casa dos coleguinhas e em festas, não vamos mandar uma lancheira com a comida dela. A criança é livre para experimentar as coisas, a vida é assim”.

A velha conversa de que uma alimentação boa e saudável custa caro é logo derrubada por Flávio por meio de uma diferente perspectiva. “Comida boa não é cara, a ruim que é barata”. O nutricionista explica que, para ter um bom preço na comida industrializada, essa é produzida em larga escala, sacrificando a qualidade. “Produto natural, fresco, artesanal não é caro. É o preço real que o alimento bem cultivado vale”. Acompanhando a vertente, um estudo da Euromonitor Internacional, mostrou que o Brasil já ocupa a quinta colocação no ranking de vendas de alimentos e bebidas saudáveis. Entre 2009 e 2014, o mercado de alimentação voltada à saúde cresceu 98% por aqui. Em 2015, o mercado mundial do setor movimentou mais de USD 27 bilhões e nos próximos anos deverá crescer cerca de 20%.

Fotos: Divulgação

CARO X BARATO

Sopa de abóbora feita com leite de coco

Tais dados animam quem cozinha em casa. Preparar uma boa refeição caseira pode custar mais barato do que comer na rua. A dica é saber se programar, seja cozinhando em um momento reservado do dia ou uma vez na semana e congelando os produtos. “Opções de comida boa e acessível são várias, como ovos, legumes e tantas outras. O problema é que as pessoas se acostumaram aos baixos valores dos industrializados”.

Passos é fundador da empresa Pura Vida, fábrica dos chamados super alimentos

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MUDANÇA MUNDIAL Segundo o relatório The Top 10 Consumer Trends for 2017, que analisa tendências, há uma inclinação dos consumidores pelos itens considerados saudáveis. Segundo a pesquisa, 83% dos entrevistados estão dispostos a gastar mais para obter esse ganho; 79% já substituem produtos da alimentação convencional; 28% acham importante consumir alimentos com alto teor nutricional; 22% optam por comprar alimentos naturais sem conservantes; 44% dão preferência a produtos sem corantes artificiais; 42% optam por itens sem sabores artificiais. Há 20 anos, quando Flávio começou as pesquisas, ninguém conhecia muito a respeito. Comida natural na época era arroz integral. “Hoje temos superalimentos, comida fresca, concentrados, cada dia mais presentes na rotina das pessoas”, defende.

AYURVEDA, LOW CARB, FUNCIONAL “Todo conhecimento precisa ser vivido, se não ele é vazio”. É com essa filosofia que Flávio estuda e testa diferentes perspectivas sobre nutrição. Passou pela ayurveda, nutrição funcional, macrobiótica chinesa, vegetarianismo, alimentação crua e dieta low carb. Por fim, decidiu-se por integrar todos os sistemas. “Busco comer o que nossos ancestrais comiam: Pouco açúcar, pouco óleo e alimentação minimamente processada, que faz uso de todos os reinos: fungos, vegetais e animais”. Além do low carb, o vegetarianismo está entre as dietas favoritas. “Admiro a ideia de minimizar o sofrimento dos animais e o impacto no planeta que essa indústria causa”. A verdade é que Flávio não se opõe a nada. “É legal não escolher um caminho, mas perceber que eles têm muito mais semelhanças do que diferenças”.

Nunca é tarde para mudar os hábitos. “Todo mundo começa por algum lugar”, diz Flávio. Para ajudar, o especialista escolhe três alimentos para tornar aliados na busca por saúde, e três que devem ser excluídos de quem busca um corpo pleno. São eles: • • •

Coco: Tudo o que vem do coco é ótimo: a água, a castanha cheia de fibras e até o óleo. Legumes e verduras: vegetais de baixo amido são bons, baratos e muito nutritivos. Os melhores exemplos são rúcula, abobrinha e brócolis. Peixes não criados em cativeiro: é um alimento extremamente nutritivo, principalmente a sardinha. Até mesmo a enlatada. É uma pedida simples que considero um dos melhores alimentos do planeta.

DEIXE DE LADO • Açúcar: o maior destruidor da saúde. O açúcar industrializado é o principal item que precisamos tirar da alimentação. • Óleos ultraprocessados: seja de soja, milho, canola ou margarina. São alimentos que devem ser eliminados e não combinam com conceito saudável. • Embutidos: salsichas, salames, presuntos e variados. Para mim são sinônimos de alimentos processados sem nenhum critério de qualidade. Três principais dicas para quem busca um novo estilo de vida: •

Primeira – Elaborar uma rotina alimentar em que seja possível dar para o corpo uma variedade de alimentos ricos e saudáveis. Dessa forma, a comida ideal irá satisfazer as necessidades nutricionais e gerar saciedade. “Em vez de lutar contra a fome, você preenche as necessidade do organismo e ele deixa de demandar os velhos hábitos”. Segunda – Não se preocupar em ser perfeito. Se houver uma base alimentar saudável e equilibrada, não há problema em abrir exceções. É mais gostoso viver se permitindo sair e comer algo que não é ideal ou perfeito de vez em quando”. Pequenos desvios não vão te maltratar. Terceira – Prestar atenção na nossa rotina é fundamental. Quando você sabe o que está comendo, se dá conta de que não é uma porção de fritas que vai te tornar mais completo ou feliz”, diz. Segundo o especialista, é superficial a significação de prazer que criamos sobre a comida. “Transformação de hábitos, sobretudo alimentares, amadurece com o tempo. Estabelecer metas como ‘amanhã não como mais tal coisa’ só dificulta. É a flexibilidade que te permite amadurecer”.

Flávio Passos tt s avio assos com avio assos uravida avio assos uravida

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JAPÃO

Fotos: Divulgação

Sense

Mandarin Bar K'Shiki

DO OUTRO LADO DO MUNDO UM DOS HOTÉIS MAIS APRECIADOS DA ÁSIA, O MANDARIN ORIENTAL DE TÓQUIO, OFERECE UMA GAMA EXTENSA DE RESTAURANTES PREMIADOS, INVOCANDO A GASTRONOMIA MUNDIAL. UM DELES, O K’SHIKI POR RAFAEL BADRA

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óquio – Visitar o Japão finalmente tornou-se realidade para mim. Quando desembarquei no aeroporto de Narita e olhei pela janela do avião, senti uma enorme sensação de prazer. Pode parecer tolo, mas eu estava realizava um sonho. Ver o país que sempre admirei, com os próprios olhos e não mais por revistas ou documentários, fazia-me parecer, naquele momento, personagem de um filme. De repente, eu estava diante de toda a essência da cultura japonesa. Os jardins exibindo as cerejeiras floridas, a religião budista, a qualidade de vida do cidadão. Imediatamente eu quis me sentir integrado àquilo tudo. Narrar sobre essa terra milenar levaria páginas e páginas da revista. Resolvi falar da minha experiência de viajante ao entrar em um dos mais belos hotéis de Tóquio, o Mandarin Oriental, localizado no distrito central. Assim que cheguei ao lobby o que mais chamou a atenção foram os detalhes. A luz alaranjada escura dava a ideia de que o sol adentrava o recinto, iluminando internamente todo o espaço. Os móveis em madeira, a instalação

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área de fios vermelhos, a tapeçaria, completavam a decoração espaçosa e futurista, cuja concepção se remete a uma árvore frondosa, significando acolhimento a quem chega. A recepção, no entanto, é no 38 andar. Ah, são 178 acomodações, todas com vista total da cidade. Todavia, o intuito é falar da gastronomia do hotel. São doze locais para se comer muito bem. Três restaurantes ostentam uma estrela Michelin cada: o Sense, de culinária cantonesa; o Signature, de culinária francesa; e o Tapas Molecular Bar, que mistura ciência e gastronomia em pratos modernos. Mas o que me encantou, na verdade, foi o K’shiki (cenário, em japonês), que oferece culinária italiana. Mesmo mergulhado nas raízes da cidade, não resisti. Optei pelo menu Danielle, super recomendado e premiado. A comida é absolutamente incrível. São oito pratos, começando com bruschetta de presunto de Parma e mozzarella, seguido de macarrão Agnolotti de camarão. Para o prato principal, Seared de carne de bovino japonês (isso foi realmente delicioso!) e sobremesa de morangos crocantes mil folhas e sgroppino, uma bebida de álcool congelado, muito semelhante a um sorvete. Ao findar a experiência gastronômica, o sol começava a se pôr. As luzes da cidade acendiam num ritual simétrico e nós, panoramicamente instalados, assistíamos a tal espetáculo no lado oposto da minha terra natal. Mais uma vez veio aquela sensação de realização. São nessas horas que paramos por um segundo no tempo, e, silenciosamente, dizemos na língua do anfitrião: “arigatou”.

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RECONHECIMENTO

UM IMORTAL ENTRE NÓS BRASÍLIA PODE DIZER QUE TEM SEU PRIMEIRO REPRESENTANTE NA ACADEMIA BRASILEIRA DE LETRAS. O DIPLOMATA JOÃO ALMINO ASSUME A CADEIRA 22, DE IVO PITANGUY, E USA A CAPITAL COMO CENÁRIO PARA SEUS ROMANCES DE FICÇÃO POR CONCEIÇÃO FREITAS « FOTOS ZULEIKA DE SOUZA

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ujeitos autorais costumam ser de algum modo extravagantes, com singularidades mais ou menos evidentes. João Almino não veste o estereótipo. É um escritor que parece se esconder nas brumas dos dias e das noites. De quem não se espera gestos largos, discursos altissonantes, eloquências barrocas. Este nordestino que passou a infância entre Mossoró (RN) e o sertão do Ceará transita pela vida atento a tudo o que se move ao redor e sabendo agir na hora certa e no tempo certo, de um jeito quase imperceptível. Foi assim que conseguiu vestir o fardão da Academia Brasileira de Letras para ocupar a cadeira de número 22, que pertenceu a Ivo Pitanguy. O pequeno grupo de imortais é impermeável a lobbies quando se trata de eleição interna. Costuma-se dizer lá dentro que as projeções dos escrutínios na ABL são como as nuvens no céu, um dia estão de um jeito, no outro, de outro. O diplomata que tirou o primeiro lugar no curso de formação do Instituto Rio Branco soube fazer a coisa direitinho. A Academia vinha de uma eleição, em novembro de 2016, na qual não houve maioria de votos para nenhuma das duas cadeiras. Ou seja, céu de ventania. Depois de consultar alguns imortais, viu que a hora era propícia para se lançar a uma vaga no céu das imortalidades e, entre a candidatura e a eleição, nem respirou para não chamar a atenção para si. Não alardeou

à imprensa que era candidato, não pediu aos amigos que fizessem campanha junto ao pequeníssimo colégio eleitoral – são 40 membros efetivos, mas por razões as mais diversas nem todos votam. Levou 30 dos 33 votos. Não se imagina João Almino dando uma gargalhada ou dando murros no ar de felicidade, por exemplo. Mas, por certo, riu muito do lado de dentro. A estratégia definida no fim da adolescência – fazer o Rio Branco e tornar-se diplomata para, ao mesmo tempo, como tantos outros, se dedicar à literatura – tinha dado certo de um modo extraordinário: João Almino é imortal como foram João Guimarães Rosa, João Cabral de Melo Neto e Antônio Houaiss, todos diplomatas.

ORIGEM João Almino é brasiliense, embora potiguar. Cinco de seus livros de ficção, o chamado quinteto brasiliense, estão demarcados pela geografia de Brasília, e foi na cidade que escreveu os dois contos de onde brotou Ideias Para Onde Passar o Fim do Mundo, romance de estreia. O imortal brasiliense/potiguar já morou em dez cidades do planeta, entre as quais Paris, Londres, Madri e Washington, mas foi na de arquitetura e do cerrado monumentais onde ele passou mais tempo, pouco mais que os 12 anos vividos em Mossoró.

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Por conta do ofício de diplomata, viveu em Brasília em períodos intermitentes desde os anos 1970. E está novamente morando na cidade. Da primeira vez, deixou-se enlevar – como todos os que aqui chegam – pelo céu descomunal, pelo horizonte que contornava toda a cidade e pela arquitetura de Oscar Niemeyer. Mas a grande sacada não foi essa – seria fácil. Leitor e admirador da literatura regionalista, em especial por Graciliano Ramos, o ainda inédito João Almino não queria fazer esse percurso já consagrado. Queria um “Brasil de Brasis”, como ele mesmo diz, e com uma pegada nordestina. Não havia outro lugar, era Brasília, para onde veio pela primeira vez no começo dos anos 1970. Encontrou uma cidade fortemente nordestina, de contradições, de utopias e de desigualdades. Era este o lugar para a ficção de João Almino. Os quatro romances seguintes, Samba-Enredo, As Cinco Estações do Amor, O Livro das Emoções e Cidade Livre estão todos delimitados pelas coordenadas brasilienses. Daí que não é exagero dizer, como se tem dito e festejado, que Brasília já tem um imortal. Vale lembrar, com névoas de lamento, que Juscelino Kubitschek foi rejeitado pela ABL numa eleição que até hoje suscita constrangimentos. O fundador de Brasília

concorria com Bernardo Élis. Biógrafos de JK especulam que Golbery do Couto e Silva se movimentou para evitar a vitória de Juscelino, inimigo do regime militar. O autor de Veranico de Janeiro venceu por 20 x 18, num escrutínio tumultuado que teve de se repetir três vezes. No dia da derrota, Juscelino escreveu em seu diário: “Estou pulverizado por dentro. Pus muita fé na minha eleição. Desejava ardentemente o prestígio que compensasse os imensos dissabores de 1964... Nunca pensei que uma derrota pudesse me ferir tanto.”. São bem outras as circunstâncias de João Almino, que tem um percurso fortemente intelectual e literário. Fez mestrado na UnB, doutorado na França, pós-doutorado na USP. E tem mais livros de ensaios de filosofia, história e literatura que de ficção. Mas, de um modo bem João Almino, diz que imortal é a língua portuguesa e é por ela a sua imortalidade acadêmica. “Não tenho certeza sequer de que meu próprio trabalho é algo que possa permanecer. Mas a língua portuguesa, que todos nós tenhamos condições de ajudar de alguma maneira a que ela se mantenha”. João Almino não é apenas um escritor imortal, é também um diplomata incessante. João Almino tt oaoalmino com @joaoalmino

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MEMÓRIAS

ORIUNDO DAS MASMORRAS PORTUGUESAS, SEU REFÚGIO PARA FAZER CULTURA NOS ANOS 60, O INTELECTUAL VICTOR ALEGRIA FOI O PRECURSOR DA LITERATURA BRASILIENSE. EM TRÊS DÉCADAS, SUA EDITORA PUBLICOU MAIS DE DOIS MIL TÍTULOS. O ENSINO DE BRASÍLIA, ELE CLASSIFICA: “UMA VERGONHA” POR ANDRESSA FURTADO FOTOS ZULEIKA DE SOUZA

Victor Alegria em seu escritório na editora em que fundou, a Thesaurus

ALEGRIA COM RESERVAS U m personagem e tanto. No jornalismo é assim que denominamos o entrevistado principal da matéria. Ele ganha todos os holofotes e é o mais importante componente da narrativa. Não teria como ser diferente com Victor Alegria. Editor, cronista, fundador e proprietário da Editora Thesaurus. Dono de uma personalidade ímpar e uma alegria que não faz parte apenas do sobrenome.

Ele não é só personagem principal desse enredo, mas também da história cultural de Brasília. Desembarcou por aqui em 1963, depois de fugir da ditadura Salazar, em Portugal – logo após uma boa temporada nas masmorras de Lisboa, juntamente com outros intelectuais. Acreditou que estaria a salvo na capital do

Brasil, mas enganou-se. Acabou sendo preso, no ano seguinte, durante o Golpe Militar de 1964. O motivo? “Sou o único editor no mundo que já foi preso por publicar cultura”, responde o português. O livre-pensador abriu a primeira livraria de Brasília, chamada Encontro, no Hotel Nacional. Orgulha-se ao contar que o primeiro engarrafamento da cidade ocorreu na rua em frente a ela. Na ocasião, o jornalista Gilberto Amaral lançava o livro Quem É quem?. Nos tempos áureos, entre 1965 e 1978, era bem frequentada. Abria às 9h da manhã e só fechava após o último cliente sair. Juízes, ministros, advogados batiam o ponto por lá. “Um deles era o Sarney, quando ainda tinha cabelos pretos”, relembra com humor.

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BAGAGEM Na época, a livraria fazia um papel de Secretaria da Cultura. Promovia e sediava os primeiros encontros de poesias da cidade, estreava como galeria de arte, recebia inúmeras exposições. Criou até um Instituto de Filosofia no local. Mas a Ditadura fez com que sua livraria fechasse as portas. “Fui preso com o escritor Agnaldo Silva, felizmente, fiquem tranquilos. Não fomos maltratados”, conta Victor, que passou três meses atrás das grades. No escritório, o telefone não para. O entra e sai da sua sala também não. Alegria esbanja saúde. Sobe e desce escadas e caminha pelo prédio da sua editora sempre bem trajado, com camisa social de mangas curtas, calças frouxas e suspensórios. Nem parece que já está na casa dos 80 anos de idade. Seu refúgio fica bem ali na quadra 8 do Setor de Indústrias Gráficas. Os quatro andares da Editora Thesaurus é um mundo de histórias a ser desbravado. O prédio precisa de uma reforma. A fachada também. Mas Alegria já pensou na solução. “Vou repaginar a editora. Além da gráfica, vou transformar isso aqui num centro cultural. Vai ter aula de fotografia, teatro, cineclube, discoteca e um boteco para quem quiser se reunir e jogar conversa fora”, adianta. Adivinha qual será o nome do local? Encontro. O editor fará uma homenagem à biblioteca que criou e onde viveu grandes emoções.

Alegria é cronista, fundador e diretor do jornal O Mensageiro, redator do jornal A Planice, fundador da revista Coordenada – todos em Portugal; diretor e editorialista da revista Meio Ambiente, editorialista do jornal Livros e Cultura, da Câmara do Livro do Brasil Central. Ganhou o prêmio Nórdica de Imprensa e pertenceu ao Instituto Histórico e Geográfico do Distrito Federal e à Associação Nacional de Escritores. Há 39 anos, transformou o sonho de ter uma editora em realidade, quando abriu as portas da Thesaurus – uma das empresas do mercado cultural mais importantes do País. “Publiquei livros como A Nova Capital Federal, uma obra que estava desaparecida, mas que interessa a todos que desejam preservar a memória nacional. É a história das primeiras pessoas que pisaram nesse quadrado chamado DF”, relembra. A editora publica livros em todas as áreas do conhecimento, por conta própria, de terceiros, parceiros e coedições. Esse é o maior diferencial. Victor levou para dentro de sua empresa e para dentro da sua família a máxima de que é necessário batalhar pela causa dos escritores brasileiros. “Precisamos apoiar novos escritores e abrir espaços para eles em feiras literárias, livrarias e outros eventos”, afirma. Há mais de 20 anos que a Thesaurus distribui, gratuitamente, os chamados Livros de Rua, em formatos minúsculos, sobre escritores e poetas brasileiros. GPSBrasília « 105

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O cronista caminha pelas estantes repletas de livros publicados pela sua editora

“NINGUÉM QUER LER LIVROS EM TELAS DE COMPUTADOR. ISSO É MITO” São mais de dois mil títulos publicados, sendo 95% de autores nacionais. Por ano, a Thesaurus publica em torno de 100 novos títulos, sendo que boa parte destes são primeiras edições. À frente disso tudo, o personagem principal, pai de cinco filhos e avô de sete netos. Na família, apenas o filho Victor Tagore Alegria seguiu o caminho do patriarca. Desde 2015 é dono da Editora Tagore, especializada em livros infantis e adolescentes. O português com alma brasiliense conversou com a GPS|Brasília, reforçando o bom humor e a forte opinião sobre temas polêmicos. Como você analisa o estudo das crianças nas escolas feito por tablets e computadores?

Estamos formando zumbis. As instituições de ensino não estão preocupadas em levar conhecimento a esses meninos. A preocupação é cobrar altas mensalidades e fazer uma lavagem cerebral neles. Você sabia que cerca de 500 mil estudantes tiraram nota zero no ENEM em 2015 e um milhão foram reprovados em 2016? Não sei onde vamos chegar, mas é necessário que algo aconteça urgentemente. A zumbilândia e a diplomocracia estão tomando conta do País. O que seria diplomocracia?

Pagou pelo estudo, levou o diploma. Simples assim. O importante é ter o certificado e não o conhecimento.

Como você enxerga a cultura e o ensino de Brasília?

Uma vergonha. A Biblioteca Demonstrativa está fechada. O Teatro Nacional não tem previsão de abertura. A Universidade de Brasília (UnB) precisa ser revitalizada. Mas o governo não está preocupado em oferecer nada disso para a cidade. Minha esperança está nessa geração de jovens que querem mudar a realidade em que vivem. É necessário dar continuidade à história dessa cidade, que é lindíssima. O que as pessoas gostam de ler no Brasil?

Traduções. Acredite se quiser, mas 84% dos livros publicados no País são traduções estrangeiras. O escritor brasileiro está sendo assassinado. Vivemos uma situação tão grave que os bons escritores estão indo embora daqui. O que você acha dessas grandes livrarias, como Fnac, Cultura, Leitura...?

Elas foram as responsáveis por acabar com as pequenas livrarias e criar um monopólio. Salve-se quem puder. Você acredita que o boom digital vai acabar com os livros impressos? Assim como dizem que o jornal vai deixar de existir?

Isso é mentira criada por jornalistas. Se você for atrás de dados, vai descobrir que o interesse por livros e o download deles não passam de 8% no mundo. Ninguém quer ler livros em telas de computador. Isso é mito.

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PERFIL

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ENSINAMENTOS NA TEORIA E NA PRÁTICA LIBANESA POLIGLOTA E EXPERTISE NA LÍNGUA PORTUGUESA, DAD SQUARISI É SUMIDADE NO UNIVERSO LITERÁRIO. COM BOSSA, HUMOR E RIGOR, ELA ENSINA BRASIL AFORA AS DELÍCIAS DO BEM ESCREVER. APÓS DOAR A BIBLIOTECA COM VINTE MIL TÍTULOS, HOJE ELA SÓ PENSA EM VIAJAR POR MARIANA ROSA « FOTO GUSTAVO MORENO

E

la passou por um raro transplante de medula óssea; foi um sucesso. Conhece meio mundo; em breve, conhecerá o Irã e quer passar um mês no Japão. Escreveu mais de vinte livros. Sua coluna, Dicas de Português, é publicada em quinze jornais no País. Cursou Letras na UnB, especializou-se em Linguística, fez mestrado em Teoria da Literatura. Consultora legislativa do Senado Federal na área de discurso, formou embaixadores no Instituto Rio Branco, lecionou Português e Literatura em todos os níveis de educação. Como teórica, é criticada por uns e amada por outros. No dia a dia, é apaixonada pelos netos, pela comunicação, pela vida. Com vocês, Dad Abi Chahine Squarisi. Dad é uma mulher personalíssima. Sempre um passo à frente no tempo. Requintada, de fino porte, com fala doce, riso suave, diverte-se com as próprias brincadeiras. Como uma verdadeira árabe, fala por meio dos olhos expressivos, com conhecimento e sabedoria dignos de quem aprendeu muito com a vida. Tudo o que precisa está no flat de 50 m2, no maior hotel de Brasília, onde vive há 15 anos. “Aqui, não

preciso me preocupar em pagar conta, arrumação e tenho lazer. É muito prático”. No ambiente aconchegante, não existe um espaço mal aproveitado. Tudo está ali por algum motivo, com uma história por trás. São peças de viagens, presentes de amigos queridos, bibelôs e, claro, muitos livros. De família maronita – um ramo do cristianismo com rito oriental –, hoje, a escritora tende ao espiritismo. “Eu gosto muito de religiões, de como as pessoas buscam Deus”, conta, sentada com as pernas cruzadas no sofá amarelo de dois lugares na sala. “Hoje, eu só trabalho para viajar. Todo o meu dinheiro é gasto com viagens. Eu não compro mais nada”. O motivo da decisão forte é porque, antes do flat, Dad vivia em uma casa de 600 m2 no Lago Norte. Atualmente, o filho único mora na residência com a mulher e os dois filhos. Na mudança de vida, doou a biblioteca com 20 mil livros, abriu mão de roupas, sapatos, bolsas, quadros, tapetes, esculturas. “Me pergunta se eu senti falta de alguma coisa? Nenhuma. Eu tenho roupa suficiente para viver mais 20 anos bem vestida”, responde.

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A entrevista (ou o bate-papo?), de quase três horas, foi acompanhada por música clássica do início ao fim. Na chegada, ofereceu-me um Nespresso. “Esse café é muito bom. Antes do transplante, eu tomava café a qualquer hora e não perdia o sono. Agora, não posso mais”. Na despedida: “aceita um chocolate? Você deve estar com fome”, e me oferece uma caixa com diversos tabletes de Lindt. “Esse é chocolate ao leite, esse é 70% cacau. Quer mais um cafezinho, um suco de laranja?” Enquanto me conta uma história, presenteia-me com seus principais livros e me acompanha ao elevador, eu agradeço: Obrigada, Dad. Obrigada por tudo! Em linguística, Morfologia é o estudo isolado das palavras, sem olhar a frase ou o período. Está agrupada em dez classes. Os intertítulos dessa matéria foram inspirados nessa área gramatical. Em cada um, a própria entrevistada relata histórias, opiniões e ensinamentos.

SUBSTANTIVO: FAMÍLIA Eu saí do Líbano com seis anos de idade. Fui alfabetizada em francês e já falava árabe. Meu pai, Youssef Abi Chahine, era exilado político por causa da Guerra de Independência do Líbano – pouco antes de 1944. Moramos na França, Espanha e Argentina. No Brasil, no Rio Grande do Sul, vivia um irmão do meu pai. Viemos visitá-lo e ficamos por lá. Éramos eu, minha mãe, Hindgalep, minha irmã, Houda (falecida), e Maria (que vive em São Paulo). Casei tarde para a época, 22 anos. Aos 26, tive o Marcelo, hoje com 44. Olha só que bonitinhos! Esses são meus netos na foto do porta-retratos, João Marcelo, 14, e Rafael, 12. Como boa árabe, eu só teria o segundo filho se o primeiro fosse mulher. Como ele foi homem, eu não quis ter mais filhos. Até porque eu trabalhava e viajava muito. Fiquei 20 anos casada, até meu marido morrer.

ADVÉRBIO: AQUI Cheguei a Brasília em 1968 por recomendações médicas. Morava em Porto Alegre e precisava de um clima mais seco, por causa da saúde. Eu vim sozinha trabalhar no gabinete do governador do Rio Grande do Sul. Como o governador tinha medo de avião, ele nunca vinha a Brasília. O único pedido que me fez foi para eu receber os convidados dele na cidade. Então, era guia turística! O turista que mais me intrigou foi um professor alemão. Do alto da Torre de TV, ele viu um casal com saco-

las e três filhos tentando atravessar o Eixo Monumental. Ele me disse: “esta não é uma cidade do tamanho do homem. Brasília não é feita para pessoas, é uma cidade feita para impressionar os olhos. Tudo é lindo, mas falta transporte público, faltam sombras”.

VERBO: TRABALHAR Sou editora de opinião do Correio Braziliense. Todos os dias vou à redação. Tudo começou quando o jornalista Ricardo Noblat assumiu a direção do jornal na década de 1990. Ele era muito exigente. Precisava de alguém que o ajudasse a fazer a primeira capa sem erros. Convidaram-me e eu aceitei. A capa só era liberada depois que eu conferisse. Até que abriu o concurso público para o Tribunal de Contas. Foram 30 mil candidatos inscritos. O jornal precisava oferecer alguma coisa a eles. Sugeri uma coluna de português com dicas de concurso, sendo bem-humoradas e em sintonia com a notícia. Após o concurso, a coluna saiu do ar. As pessoas reclamaram, a coluna voltou e continua até hoje.

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INTERJEIÇÃO: CORAGEM! Eu descobri a leucemia em abril de 2016. Completaria 70 anos naquele ano. Viajaria para o Irã – a antiga Pérsia – e terminaria a viagem em Beirute, para jantar com alguns familiares. Fui ao dentista fazer um implante. No exame para a cirurgia, deu tudo alterado. Perguntei se poderia viajar e fazer o tratamento na volta. Ele disse que não. Pelo protocolo, eu teria que ser internada imediatamente. Pensei: tudo bem ser internada, mas eu vou para o Hospital Israelita Albert Einstein, em São Paulo. No local, com franqueza, disseram que eu tinha três saídas: não fazer nada e morrer em seis meses; fazer quimioterapia e ter uns três anos de vida; ou fazer o transplante, com possibilidade de cura. Eu estava numa fase tão boa, tão feliz, queria conhecer a Pérsia… Decidi fazer o transplante. Minha irmã foi minha doadora. Desde a alta do hospital, em janeiro, eu me sinto muito bem. Por causa da minha imunidade baixa, uso copo, prato, talher, tudo descartável. Na alimentação, só tomo suplementos alimentares.

NUMERAL: TRINTA Internada na bolha, pensei o que eu poderia fazer para preencher meu tempo, além de ler o Velho Testamento! Conversei com o doutor Nelson Hamerschlak, coordenador do serviço de hematologia de transplante de medula óssea do Einstein. Disse a ele que, como jornalista, gostaria de fazer uma entrevista com todos os internados na bolha. Três dias depois ele trouxe a notícia de que a diretoria estava interessada no meu projeto. Como o hospital completaria 30 anos de transplante de medula óssea, eles queriam que eu escrevesse 30 depoimentos para a comemoração da data. O hospital contratou uma editora de luxo, mandaram um estúdio fotográfico para cada paciente. Eu entrevistei todos. Ficou um livro muito bonito. Uma joia. Com histórias cheias de vida, sofrimento e superação. Ao ler as 30 histórias, cheguei à conclusão de que a travessia é diferente para cada pessoa.

ARTIGO: OS Tenho três escritores favoritos da literatura brasileira. O autor que mais gosto é Machado de Assis. Ele escreveu no século passado, mas o estilo dele é muito contemporâneo – ele não me dá a sensação de poeira no tempo. O segundo é Graciliano Ramos. O mais contemporâneo dos escritores adoraria o Twitter, porque

o estilo dele é todo curtinho. O terceiro é Guimarães Rosa, com sua escrita caudalosa. Na nova geração, eu gosto muito do João Ubaldo Neto. Dos estrangeiros, José Saramago, Honoré de Balzac e Marguerite Yourcenar – a escritora belga de Memórias de Adriano. Eu só li a primeira história do Harry Potter, não tive paciência para os outros. Parece mitologia disfarçada. Confesso que leio com muita dificuldade. Outro que eu leio com dificuldade é Paulo Coelho. Eu tento, mas ele não me convence. Eu não consigo embarcar na história dele. Eu tenho muito claro que aquilo é autoajuda. Nada contra autoajuda, mas, quando eu leio literatura, eu quero ler uma coisa muito boa.

PRONOME: VÓS A fonética do português de Portugal evoluiu muito mais do que a nossa. Nós temos o português que os portugueses falavam há 300 anos. Eles se tornaram uma língua consonantal e a nossa, vocálica. Por exemplo, nós dizemos “esperança”, eles dizem “sprança”, aumentam a pronúncia da sílaba tônica. Em Portugal, sinto-me na casa da avó. Eles têm nosso jeitão, sinto-me acolhida. Dizem que quando o colonizador impõe a língua, ele tem o domínio do colonizado. Além disso, o português é dado à miscigenação, namoravam as índias e as negras. Isso contribuiu na imposição da língua. Há quem diga que daqui a menos de cem anos o português irá desaparecer. Será tudo espanhol. Eu não sei se isso tem procedência, mas espanhol é uma língua que cresce no mundo. Dizem que as línguas morrem, o que é mentira. As línguas evoluem e se tornam outras línguas. O francês é a língua que tem menos diferença entre o falado e o escrito, por causa do estudo.

CONJUNÇÃO: CONTUDO Muita gente acha que usar a norma culta é falar difícil. Não é. Norma culta é falar como manda a gramática, é escrever como manda o dicionário. Só que a nossa escola não ensina. Universalizou-se o acesso à educação, mas não se universalizou o direito ao conhecimento. Temos pessoas que terminaram o ensino médio e são incapazes de escrever um e-mail. A fundação Ayrton Senna tem um lema que diz: “nossas escolas são do século XIX, nossos professores são do século XX e nossos alunos são do século XXI”. A reforma na educação é um desafio no mundo todo. A nossa geração é digital, enquanto nossos currículos são analógicos. GPSBrasília « 111

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PREPOSIÇÃO: SOBRE O novo acordo ortográfico é só ortográfico. A unificação fonética é impossível, porque cada cultura evolui de um jeito. O objetivo dele foi unificar a grafia do português de Portugal e do brasileiro no âmbito dos documentos internacionais. O Brasil se recusava a assinar um documento escrito com a grafia de Portugal e vice-versa. É muito difícil se comunicar. Como dizia Mário Quintana: “a gente pensa uma coisa, diz outra, o leitor entende outra, e a coisa propriamente dita desconfia que não foi dita”. Por exemplo, eu tenho uma cozinheira de poucas letras e quero que ela faça um bolo. Se essa receita for publicada na revista Playboy, terá um texto mais sensual. Se for publicado na revista GPS|Brasília, terá um texto mais sofisticado, mais exigente, com toque de classe. Eu tenho de aprender a ser poliglota na minha língua. Saramago dizia: “nós não falamos português, falamos línguas em português”. A chave para a boa comunicação é o conhecimento.

ADJETIVO: VISIONÁRIA Eu tenho vontade de montar uma escola, mas eu prefiro criar um aplicativo para celular. Imagine que legal seria um aplicativo que mostre como escreve exceção, que explique concordância verbal e nominal em poucas linhas. O meu filho é especialista em aplicativos e ele já está criando um para mim. Será uma gramática, um dicionário, sempre com bom humor.

Fotos: Divulgação

PENSAMENTOS DA DAD

Sete dos mais de 20 livros publicados pela linguista

O bom humor quebra o gelo, derruba barreiras, torna as coisas mais fáceis.

O segredo para não envelhecer é ser contemporâneo. O tempo exige rapidez.

Morrer é um prêmio. Se eu morresse, eu só queria morrer sem dor.

Manter-se ocupada é uma grande saída para não pensar em doença.

Leitura é habilidade e exige treino. Para escrever bem, você precisa ler bem.

É preciso ter coragem para escrever. Não ter medo da crítica dos outros.

As regras de ouro são três: menor é melhor; menos é mais; variar para agradar.

Você sempre escreve para o outro, nunca para você.

Praticar pilates melhora as articulações.

Fazer meditação todos os dias acalma.

Ouvir música clássica ajuda na concentração.

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ESTANTE

PALAVRAS ESCRITAS, EXPOENTE NA LITERATURA CONTEMPORÂNEA, MAURÍCIO GOMYDE USA A DINÂMICA DE BRASÍLIA PARA DAR ENREDO ÀS NARRATIVAS E COMPOR PERSONAGENS. FAMOSO NO UNIVERSO DIGITAL, SUAS OBRAS GANHAM ESPAÇO EM ESTANTES DE BIENAIS E NO SELETO MUNDO DE FINALISTAS DO PRÊMIO JABUTI POR LARISSA DUARTE « FOTOS GUSTAVO MORENO

O

despertador está programado para tocar às 5h. Mas, por volta das 4h30, ele está automaticamente de pé. Na verdade, já está sentado. À sua frente, a tela do computador em branco. Ou com o cursor piscando no final de um trecho incompleto. Ele estrala os dedos, sussurra a si mesmo: “Vamos lá”. É hora de entrar em ação e encarnar um personagem. Qual será o protagonista da vez?

É assim que o escritor Maurício Gomyde, 46 anos, inicia a rotina diária. Sábado, domingo, feriado, não importa. Para um dos maiores destaques da literatura independente brasileira, todo dia é dia útil para escrever histórias. Nascido em São Paulo, considera-se cem por cento brasiliense. Seu processo criativo é, em peso, influenciado por sua adolescência vivida na Capital e pelas particularidades da cidade. Para ele, Brasília é apaixonante e original. Característica que deixa evidente ao criar personagens e cenas para suas obras. O escritor faz referências a locais específicos, costumes brasilienses e ao cenário musical, como sucessos da icônica Legião Urbana. Elementos da cultura pop também são temas assíduos em seus romances.

A história de amor com a literatura começou cedo. Nascido em família de alma leitora, as estantes de casa sempre estiveram abarrotadas de livros. “Aquela história de que livros são difíceis ou distantes de crianças foi um mito pra mim. Sempre tive muitos livros ao meu alcance”, conta. No ambiente escolar, Maurício agradece por ter estudado em uma escola onde toda segunda-feira os alunos tinham que entregar cinco redações. “Isso era o terror da maioria dos meus colegas, mas eu adorava”, lembra. Na faculdade, mesmo cursando Tecnologia em Processamento de Dados, na Universidade de Brasília, a literatura sempre o espreitava. Vira e mexe escrevia uma história. Para si mesmo, como um inocente hobby. Assim, nasceu seu primeiro livro O Mundo de Vidro, em 2001. Nos anos seguintes ao lançamento, trocou a caneta pelas baquetas. A carreira como escritor ganhou um pause para dedicar-se ao rock. Até hoje, a banda Birinaite está em atividade pelos pubs da Capital. Anos depois, em meados de 2009, Maurício recebeu um e-mail de um amigo com um link do Skoob – a primeira rede social brasileira de literatura. O endereço levava

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a uma versão virtual da sua primeira obra, postada por algum fã misterioso. Surpreso e saudosista, o autor resolveu melhorar o livro “já que a primeira versão tinha ‘falhas’ de escrita e lógica”, explica. Reescrito e com nova capa, O Mundo de Vidro foi relançado na plataforma digital em 2010. O escritor considera uma loucura, mas, sem nenhum arrependimento, ao que fez à época para divulgar a publicação: “Eu vendi meu fusquinha para fazer uma tiragem de mil cópias do livro. Enviei e-mails para 500 leitores do Skoob, perguntando se eles gostariam de receber meu livro em casa. Eles toparam. Mandei as cópias para eles e logo os feedbacks começaram”, relembra. Além das boas avaliações, os leitores cobravam por novas histórias. Desde então, a internet tornou-se aliada. A partir do lançamento do segundo livro, Ainda Não te Disse Nada, em 2011, o escritor firmou parcerias, chegando a ter 700 parceiros. No ano seguinte, foi a vez de O Rosto que Precede o Sonho, que trouxe em suas páginas a história de um personagem que mora em um barco ancorado no Lago Paranoá. Em vez de enviar obras para editoras, Maurício decidiu aproveitar o crescimento da internet e das redes sociais a seu favor e evoluiu no segmento de forma independente. Tudo começou a mudar em 2013, quando lançou o quarto livro, Dias Melhores para Sempre. Maurício esteve no Rio de Janeiro coincidentemente no mesmo período da Bienal do Livro. No evento, por intermédio de uma amiga casual, deixou o livro com um representante da editora Novo Conceito. Já em 2014, junto com a ligação surpresa da editora, veio a proposta para lançar o quinto livro. A Máquina de Contar Histórias ficou pronto no mesmo ano e lhe rendeu seu primeiro estande na Bienal de São Paulo. Após esse lançamento, Maurício conversou com sua agente e revelou o desejo de migrar para a editora Intrínseca, uma das maiores do País, responsável pela publicação dos best-sellers A Menina que Roubava Livros (Markus Zusak), A Culpa É das Estrelas (John Green), Extraordinário (R. J. Palacio). Seu texto e proposta foram bem recepcionados pela empresa e, assinando pela nova casa, escreveu o sucesso mais recente: Supreendente! A obra entrou para listas de mais vendidos pelas revistas Veja e Publish News, além de elencar os finalistas do Prêmio Jabuti, tudo em 2016. Além disso, atravessou o Atlântico e chegou a Espanha, Portugal, Itália e Lituânia.

TODO ESCRITOR É UMA ANTENA Maurício Gomyde revela que a inspiração pode vir a qualquer momento. Seja onde for, quando uma ideia aflora, ele abre o bloco de notas do celular e registra tudo. No meio da rua, no almoço, na fila do mercado, no trânsito, no expediente profissional – o escritor também é auditor no Tribunal de Contas da União (TCU) – qualquer hora é hora para surgir uma nova trama ou personagem. Por exemplo, a reflexão para o livro O Rosto que Precede o Sonho surgiu durante o velório de um amigo. “Era uma ocasião muito triste e um rapaz fez um discurso tocante sobre as lições de vida que aprendeu com o falecido”, conta Maurício, que, internamente, dedica a obra ao amigo. Maurício conecta-se completamente com cada personagem que cria. Por trás deles, o escritor desenvolve uma história de vida que, não necessariamente, estará descrita nas páginas. Faz parte do processo criativo. “Eu encaro todas as minhas criações. Já fiz até aula de surfe por causa de um personagem. O importante é viver intensamente o que você está escrevendo”, explica.

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SURPREENDA-SE A história do seu sexto livro surgiu a partir de uma simples pergunta que minou na cabeça do escritor: qual é a pior coisa que pode acontecer com um cineasta? Assim nasceu o personagem Pedro de 25 anos, diagnosticado na adolescência com uma doença degenerativa que o levaria à cegueira. Sob essa condição e movido pela vontade de usufruir da sétima arte, ele decide gravar seu próximo filme. O objetivo? Ganhar o prêmio fictício Cacau de Ouro e se consagrar como diretor, já que ficará cego. As filmagens do filme são feitas durante uma road trip de São Paulo até Pirenópolis, Goiás. Pedro e os amigos Fit, Mayla e Cristal viajam a bordo de um Opala “envenenado” enquanto o autor faz diversas referências ao cinema. De cara, os cinéfilos se identificarão com o livro. Durante a aventura e seus altos e baixos, nasce a história de uma amizade verdadeira. O final, não poderia ser outro além de um desenlace surpreendente tanto para o leitor, quanto para o personagem principal. “Poucos sabem, mas eu coloquei um enigma ao longo da história. Ao todo, o livro traz seis dicas de qual é o filme favorito de Pedro, um ‘mistério’ que deixa o leitor curioso quando a história termina”, confessa Maurício. A GPS|Brasília indica a viagem.

LIVROS PUBLICADOS • • • • • •

O escritor é destaque na geração de brasilienses que sabe usar a internet para promover seus livros

O Mundo de Vidro, 2001 Ainda Não te Disse Nada, 2011 O Rosto que Precede o Sonho, 2012 Dias Melhores para Sempre, 2013 A Máquina de Contar Histórias, 2014 Surpreendente!, 2015

Maurício Gomyde @mauriciogomyde mauriciogom de com

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HERANÇA

SOB A PERSPECTIVA DE UM FILHO, DOCUMENTOS E LEMBRANÇAS COMPÕEM A OBRA DE JOÃO GOULART, QUE LANÇA LIVRO REVELANDO OS BASTIDORES DE UM PAI PRESIDENTE EM TEMPO DE DITADURA E EXÍLIO POR LARISSA DUARTE

Fotos: Divulgaçã

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“Até hoje muita coisa é escondida da população brasileira sobre o golpe de 1964", diz João Vicente Goulart

João Vicente com o pai no Palácio do Alvorada

Os irmãos João Vicente e Denize Goulart na piscina do Palácio da Alvorada

O JANGO DE JOÃO

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ei das reações que nos esperam, mas, acima de tudo, estou tranquilo. O povo brasileiro está amadurecido, tem consciência da sua força e da sua unidade e não faltará com seu apoio às medidas de sentido popular e nacionalista”. Vinte dias após declamar tal trecho em discurso num grande comício na Central do Brasil, no Rio de Janeiro, o então presidente do Brasil, João Goulart, foi destituído por militares contrários ao seu governo. Assim, em 31 de março de 1964, começou a ditadura no Brasil. No Poder, as Forças Armadas. Nas ruas, a violência opressora. Nas artes, incentivo à resistência. Começa assim um inquietante e misterioso período da história do País.

Golpe, tortura, exílio, perseguição. Imagina decodificar tal caos sob a perspectiva de uma criança? Quarenta anos após a morte do pai, João Vicente Goulart compartilha essa visão com os brasileiros por meio do seu livro Jango e Eu: memórias de um exílio sem volta, da editora Civilização Brasileira. Igualmente com o objetivo de preservação histórica, o filho mais velho do ex-governante está à frente do Instituto Presidente João Goulart, fundado em 2004 por amigos, familiares e ex-colaboradores de Jango. “Até hoje muita coisa é escondida da população brasileira sobre o golpe de 1964. Esclarecer isso é uma de nossas missões, por isso cogito escrever mais um livro sobre essa história”, afirma. Enquanto isso, o herdeiro dedica-se à carreira política e aos cuidados com o Instituto.

Com o pai em solenidade

Maria Tereza Goulart e os fil os no e ílio no ruguai

JOÃO BELCHIOR MARQUES GOULART Nasceu em São Borja, no Rio Grande do Sul, em 1º de março de 1919. Conhecido popularmente como Jango, foi o 24º Presidente do Brasil, de 1961 a 1964. Acreditava nas reformas de base para a economia crescer – agrária, tributária, administrativa, bancária e educacional. À época, organizou um comício na Central do Brasil, no Rio de Janeiro, onde anunciou a mais de 300 mil pessoas que daria início às reformas. Por causa das ideias e proximidade com o governo chinês, foi acusado de comunista. A partir daí houve uma mobilização social anti Jango. Assustados com o governo, grande parte da população deu apoio aos militares, que tomaram o poder. Jango não resistiu. Deixou o governo no dia 31 de março de 1964 e foi exilado no Uruguai, onde morreu em 1976, aos 57 anos, vítima de um infarto.

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João Vicente tinha apenas sete anos de idade quando partiu para o exílio com a família. Chegaram ao Uruguai dia 2 de abril de 1964. “Meu pai acreditava que a situação política seria passageira e tinha esperanças de retornar em breve ao Brasil”, lembra. A história conta que o período foi mais longo do que parecia. Foram 12 anos de ditadura. A expectativa de Jango de voltar ao País não foi atendida. Faleceu dia 6 de dezembro de 1976, em Mercedes, no Uruguai. Deixou dois filhos, uma mulher e muitas histórias. Assumindo a responsabilidade de eternizar o legado do pai, João Vicente expressa no livro as atribulações da família que assistiu de longe a consolidação da ditadura no Brasil. “Eu resgato como era a convivência em casa com um pai ex-presidente. Ao mesmo tempo, narro a relação humanista dele com os amigos”, conta. A palavra “exílio” não é comum no vocabulário de uma criança. João lembra que o pai tentava explicar aos filhos a presença da família em outro país, o porquê de não poderem retornar ao Brasil e como lidar com a saudade. Além de diálogos e lembranças, a obra é constituída por várias cartas pessoais, entrevistas e documentos inéditos sobre o período. Todavia, João alerta que Jango e Eu não se trata de um livro acadêmico ou para pesquisa, mas, sim, de uma extensão da história de alguém que amava o Brasil. “Meu pai nunca desistiu do País. Sofreu com a distância e por não poder ajudar de perto os brasileiros”, conta. Aos poucos a família entendia o que acontecia. Foram pegos de surpresa pelo golpe militar. Quando perceberam a situação, já era tarde. Na década de 1960, as ditaduras formavam-se na América Latina e tornaram-se “aves peregrinas”, como descreve o autor. Voavam de país em país em busca de estabilidade. Uruguai, Paraguai, Argentina, Chile, e tantos outros Estados viveram seus governos militares. Personalidades próximas a Jango também são lembrados no livro como Darcy Ribeiro, Paulo Freire, Celso Furtado, Raul Ryff e Miguel Arraes. “Descrevo algumas das muitas visitas desses personagens à nossa casa no exílio. Em todos os diálogos, meu pai sempre dizia com firmeza que só voltaria ao País quando o último exilado também retornasse”, relembra João.

EM MONUMENTO Muito antes de o livro acontecer, outro elemento em homenagem ao presidente João Goulart foi preconcebido. Com assinatura de Oscar Niemeyer, o Memorial Liberda-

Divulgação

EM PÁGINAS

de e Democracia Presidente João Goulart seria um grande salão histórico, com lembranças da ditadura e do exílio. O plano inicial era levantar o prédio em Brasília, no Eixo Monumental, entre o Memorial JK e a Catedral Rainha da Paz. Porém, em 2015, a obra gerou polêmica pelo Ministério Público. O órgão investigava se as regras de transferência da área pública ao Instituto foram corretamente cumpridas. Por causa disso, o Governo do Distrito Federal decidiu anular a construção do espaço. Mesmo revoltado com a decisão do GDF, João e o Instituto mantêm o projeto. Desta vez, com foco na cidade do Rio de Janeiro. No desenho do monumento, Niemeyer atinge a cúpula do memorial com uma flecha vermelha que traz escrito o ano 1964. Segundo João, o memorial não seria um mausoléu, como foi construído para o ex-presidente Juscelino Kubitschek, em Brasília. A ideia é criar um espaço onde a sociedade recorde o momento triste da democracia brasileira. “A intenção do arquiteto era criar um monumento em homenagem à liberdade e à democracia, para as pessoas não esquecerem o terror da ditadura”, finaliza. Instituto João Goulart www.institutojoaogoulart.org.br Livro: Jango e Eu: memórias de um exílio sem volta Autor: João Vicente Goulart Editora: Civilização Brasileira

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lgaçã Divu Fotos :

Mesmo com o alvoroço provocado pela aquisição dos homens azuis, no momento, a menina dos olhos da trupe é o espetáculo Crystal – A breakthrough ice experience (Crystal – uma experiência inovadora no gelo). O 42ª show do Cirque é a primeira feita numa pista de gelo. A produção é ousada ao combinarem patinação e deslizamento a efeitos acrobáticos. O espetáculo estreia 5 de outubro em Las Vegas. Por enquanto, sem data para vir ao Brasil. Por outro lado, os brasileiros terão a oportunidade de assistir ao espetáculo Amaluña. A sexta produção canadense a chegar ao País – após Saltimbanco, Alegria, Verekai, Corteo e Quidam – desembarca em São Paulo de 5 de outubro a 17 de dezembro de 2017 e no Rio de Janeiro de 28 de dezembro de 2017 a 21 de janeiro 2018. O enredo é inspirado em mitologias onde as mulheres são as heroínas da história. Desde 2012, o espetáculo foi visto por mais de quatro milhões de espectadores em 30 cidades de dez países.

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A patinadora Madeline Lydia Stammen é a artista principal do Cirque On Ice

Em 1983, o fundador da trupe, Guy Laliberté, era artista cuspidor de fogo

Amaluña retoma as apresentações dos canadense no Brasil após quatro anos

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CLUBINHO Érica Catanho, Hugo Sales, Euler Kaleb e Thiago Motter criaram há quatro anos a página Cirque du Soleil Fãs Brasil. Nela, divulgam aos 30 mil seguidores informações sobre a companhia, artistas e espetáculos da trupe pelo mundo. “Somos apaixonados pelo jeito como, há 30 anos, eles conseguem passar magia aos espectadores, de forma que cada um sente-se único ao assistir um show”, contam. Percorrer todos os shows em atividade antes que sejam descontinuados é o grande sonho dos fãs. Atualmente, o Cirque conta com 20 espetáculos em operação, espalhados pelo mundo, “o que dificulta um pouco a logística, mas nada a que um fã apaixonado não se submeta!”, confessam. O sonho dos fãs ficaria mais fácil se a trupe visitasse mais o País. Na maioria das vezes, os shows que vêm ao Brasil estão em turnê há pelo menos dez anos. “Vale ressaltar que alguns nem passam por aqui e outros, mesmo em turnê pela América, não acontecem em solo tupiniquim, como o caso de Kooza”, lamentam.

Espetáculo Verekai

ELE ESTÁ MORRENDO? O Cirque du Soleil é um espetáculo à parte no mundo. “Na atualidade, não há um circo que concorra conosco. Eles tentam nos copiar, mas não conseguem. Talvez a Broadway chegue perto de nós”, confirma Imbeau. Se a disparidade entre os circos é tão acentuada, isso reflete uma decadência no setor? Depende do ponto de vista. Dominique Jando, fundador do site Circopedia, é categórico: “Não, o circo não está morrendo. Vivemos apenas um ponto de virada, como aconteceu muitas vezes durante seus 250 anos de história. Ele está mais vivo do que nunca”, explica. O Ciropedia é a maior enciclopédia on-line do mundo sobre a arte circense. O site americano, criado em 2007, ajuda o público a entender e apreciar o circo como um fenômeno global. Isso porque, o circo tradicional, de lona itinerante, é considerado uma atividade manufatureira, vive da bilheteria e é uma profissão de risco, principalmente no sentido artístico, no monetário e no logístico. GPSBrasília « 125

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Divulgação

O fundador do Cirque du Soleil, Guy Laliberté, integra a Calçada da Fama Hollywood

“Nas grandes cidades, quase não há terrenos para os artistas montarem seus circos e fazerem temporadas. Fico preocupada”, confessa Cristina Bend, criadora do Circodata, site que reúne informações sobre os circos brasileiros desde o século XIX até final do XX – que conta com o apoio do programa Rumos, do Itaú Cultural. “Criei esse banco de dados como uma homenagem a eles. O circo e seus artistas são verdadeiros heróis”, finaliza.

HISTORINHA •

Há relatos de que o circo começou na China, há muitos e muitos séculos. Contorcionistas e equilibristas apresentavam-se para os monarcas com a intenção de diverti-los.

Primeiro circo oficialmente conhecido foi o Circus Maximus, inaugurado no século VI a.C no Império Romano. Comportava 150 mil pessoas. As atrações eram corridas de carruagem, lutas de gladiadores, domadores de animais e engolidores de fogo. Destruído por um incêndio, foi substituído pelo atual Coliseu, na Itália, em 40 a.C.

O primeiro a imaginar a ideia do circo como um show de variedades assistido por um público pagante foi o inglês Philip Astley. Em 1768, ele criou um espaço onde apresentava acrobacias com cavalos, acompanhado por um tocador de tambor.

No século XIX, o equilibrista britânico Thomas Taplin Cooke chegou a Nova York com seu conjunto de artistas de rua.

Na Europa, conta-se que esses artistas eram ciganos e usavam tendas para realizarem festas. Até metade do século XX, o circo viveu um período de retração por causa das duas guerras mundiais. Ao mesmo tempo, o aparecimento do rádio e da televisão criou uma nova concorrência.

No Brasil, a arte chegou em meados do século XIX. Começou com ciganos vindos da Europa. Eles apresentavam-se nas ruas com números de ilusionismo, malabarismo e domando cavalos.

Atualmente, usa-se a expressão “novo circo” para definir a tendência que adiciona às técnicas de circo tradicionais à influência de linguagens artísticas, como a dança e o teatro. O Cirque du Soleil é o representante máximo dessa vertente.

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MÚSICA

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PARAM O RAIMUNDOS SE O D S A D A ÉC D BANDA E DUAS ÚSTICO QUE A C A POUCO MAIS D W O SH TE IDAS, DO RECEN LO PAÍS. ENTRE PRIMEIRO DISCO PE Ê RN TU EM ESENTA RESUME: BRASILIENSE APR IGÃO, O LÍDER, D S, O EÇ M O C S E RE TE VINDAS, PAUSA S” POR LARISSA DUAR SE FA E D A D N A “SOMOS UMA B

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ue tal misturar o punk nova-iorquino dos anos 1970 com o puro forró nordestino brasileiro? A combinação parece confusa à primeira vista, contudo, se você olhar de pertinho, a mistura não é tão estranha quento parece. Inclusive, essa brilhante ideia, proveniente de uma brincadeira de músicos adolescentes apaixonados por rock’n’roll, em 1987, deu origem a uma das bandas brasilienses de maior sucesso nacional: Raimundos. Com letras maliciosas e satíricas, a banda é marcada por sucessos icônicos na cultura brasileira como Mulher de Fases, A mais Pedida, Selim, e tantas outras. Entre idas e vindas de integrantes, muita polêmica, temperamentos aflorados e paixão pela música, em 2017, o quarteto Digão, Canisso, Marquim e Caio Cunha reuniram-se para excursionar o Brasil – e o Uruguai –, levando o show Raimundos Acústico. O projeto mais audacioso do grupo teve gravação em Curitiba. Quatro mil fãs saudosistas aplaudiram de pé o retorno da banda. “Ao longo dos anos, foram muitos altos e baixos. Somos assim, uma banda de fases. Já passamos por várias delas sem jamais negar a possibilidade de experimentar coisas novas. Sabemos que outros momentos difíceis virão e estamos fortalecidos para eles”, afirma Rodrigo Aguiar Madeira Campos, o eterno Digão dos Raimundos. Tudo começou como uma brincadeira de criança “Quando eu tinha 16 anos, estava em casa de bobeira e ouvi de longe alguém tocando bateria. Pulei a janela e fui correndo atrás do som. Cheguei a uma casa próxima, toquei

Após encontros e desencontros, Canisso, Marquim, Digão e Caio estão na estrada com o show Raimundo Acústico

a campainha e quem abriu a porta foi Rodolfo Abrantes. O resto é história”, lembra o vocalista, guitarrista, fundador e integrante original da banda que começou em Brasília. As visitas à casa do vizinho tornaram-se frequentes. As brincadeiras pós-aula viraram ensaios. Juntos, faziam covers das bandas favoritas, como Dead Kennedys e Ramones. O local era repleto de instrumentos musicais, incluindo bateria, que Digão era louco para tocar. Para participar da banda em formação, convidaram os amigos Titi e Canisso, para assumirem vocais e baixo, respectivamente.

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O curioso “forró-core” – mistura de forró com hardcore – chamou a atenção pelas letras politicamente incorretas para a época. Por outro lado, apresentavam ritmo envolvente e qualidade de som. Fórmula que agradou aos brasileiros. A mistura surgiu em um momento de pura zoeira entre os integrantes da banda. “O Rodolfo cantarolava as músicas do cantor e sanfoneiro Zenilton durante os ensaios e em uma dessas brincadeiras a gente decidiu misturar Ramones com forró. O resultado foi a coisa mais doida e irada do mundo. Achamos sensacional”, conta

Digão, no auge dos 47 anos. Consequentemente, o nome Raimundo foi inspirado na banda nova-iorquina Ramones, sucesso mundial na década de 1970. O primeiro show aconteceu na virada de ano de 1987 pra 1988, em uma festa de Réveillon na casa de Gabriel Thomas, do grupo Autoramas. Os músicos impressionaram o público com a autenticidade das músicas e incentivaram os garotos a continuarem. Titi saiu da banda logo após o show, porém, os Raimundos seguiram com o trio Digão, Canisso e Rodolfo, que passou para o vocal. GPSBrasília « 129

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Em turnê com som baixo e vocais tranquilos, o show aimundos c stico lota teatros or onde assa

NA ESTRADA Atualmente, os Raimundos aventuram-se Brasil afora com um desafio completamente diferente de tudo que a banda já fez na vida: uma turnê acústica. A extensa grade de shows é consequência do lançamento do DVD Raimundos Acústico, gravado em novembro de 2016 pela Som Livre, em Curitiba. No trabalho, participações especiais que vão além do rock’n’roll, como o Dinho Ouro Preto, Ivete Sangalo, Alexandre Carlo do Natiruts, Marcão do Charlie Brown Jr., Oriente e o baterista da formação original, Fred Castro. O conceito da apresentação acústica pede som baixo, tranquilidade nos vocais e público sentado. Algo improvável a uma banda tão agitada como Raimundos. Segundo Marquim, o estilo do show traz uma renovação positiva nas músicas que tocam há tantos anos. “A recepção dos fãs tem sido ótima, muita emoção, muitas lágrimas... É como um momento de desforra para os fãs, que sempre souberam que essas músicas eram especiais, mas incompreendidas”, explica. Para os integrantes, o show acústico é muito mais complexo, com sample tracks (acompanhamento virtual) e click (metrônomo) em todas as músicas. “Para mim, tocar violão é mais difícil fisicamente do que tocar guitarra. Mas, o resultado é ótimo! A adaptação das músicas foi um processo às vezes difícil e às vezes fácil”, acrescenta Marquim. Afinal de contas, algumas músicas da banda, inclusive hits, nasceram para ser tocadas no violão, como Cintura Fina, I Saw You Saying, A Mais Pedida, entre outras. “Ficamos muito tempo no estúdio ‘esculpindo’ as músicas, fazendo os arranjos básicos e depois tivemos a ajuda nos arranjos de teclados, cordas e metais do Jorge Bittar, do Surf Sessions, que fez um excelente trabalho e abriu ainda mais os horizontes das músicas”, conta.

IDAS E VINDAS Tal qual o título de um dos seus maiores sucessos, Mulher de Fases, o Raimundos passou ao longo de sua trajetória por alguns vai e vens de integrantes. Dois anos após a criação, o grupo teve seu primeiro pause, quando José Henrique Campos Pereira, o Canisso, deixa o grupo para iniciar a faculdade e conceber uma família. Por problemas auditivos, Digão troca as baquetas pela guitarra. Em 1992, a banda reúne-se novamente. Desta vez, com Digão na guitarra, partiram em busca de um novo “batera”, vaga ocupada por um fã dos Raimundos, Fred Castro. Banda formada, partiram para gravar uma fita demonstrativa do trabalho deles. O áudio de 1993 foi a porta de entrada da banda no mercado. Abriam shows grupos de rock nacional, como Camisa de Vênus, Titãs e Ratos de Porão. O primeiro disco, de fato, foi lançado em 1994 com título homônimo. Na capa simples do CD, o nome Raimundos decorado com um chapéu de cangaceiro. No repertório, o “forró-core” em peso com letras bem-humoradas e cheias de palavrões. Quem passou pela década de 1990 reconhece o impacto que o álbum teve no cenário musical do País ao apresentar canções icônicas como Puteiro em João Pessoa e Nega Jurema. Todos cantavam de cor e salteado – e cantam até hoje – a letra do sucesso Selim, do verso: “Eu queria ser o banquinho da bicicleta...”. Em 1995, o álbum Lavô Tá Novo continuou no gosto dos brasileiros, misturando ritmos que impediram a banda de cair na mesmice. O grande lançamento das músicas Eu Quero Ver o Oco, Esporrei Na Manivela, Tora Tora,

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O Pão da Minha Prima e I Saw You Saying (That You Say That You Saw) fizeram com que o Raimundos tivesse ainda mais destaque na rádios, TVs e festivais. Entretanto, o melhor ainda estava por vir. O CD Só no Forevis é lançado em 1999 e se consagra, anos depois, como o mais vendido da banda. Nele vieram os sucessos A mais Pedida, Me Lambe e a emblemática Mulher de Fases. A capa amarela, com os integrantes da banda imitando um grupo de pagode, selou o estilo irônico do grupo. O título é uma homenagem ao bordão do humorista dos saudosos Trapalhões. Forevis é sinônimo para "nádegas"), que morreu em 1994. Após os dias de glória, o novo século trouxe dias de luta para a banda. O vocalista Rodolfo converte-se ao protestantismo, muda radicalmente hábitos e condutas e deixou a banda de uma forma pouco amistosa. Após várias reuniões, Raimundos anuncia seu fim em junho de 2001. Poucos meses se passaram até que os músicos voltassem a tocar, desta vez sem Rodolfo, que nunca mais voltou a tocar com a banda. Na necessidade de um novo guitarrista, eis que surge Marquim. “Foi uma conjunção de fatores: eu conhecia o Tom Capone, diretor artístico da gravadora Warner Music à época. Ele era muito amigo do Fred. Tinha acabado de encontrar com ele em São Francisco, nos Estados Unidos, onde eu estudava Produção Musical e sua mulher estudava inglês. Quando o Rodolfo saiu, eles pensaram em mim para assumir a guitarra”, conta o músico. De 2002 a 2008, mais mudanças na formação. Canisso afasta-se da banda por cinco anos, voltando em 2007. Na mesma data, o baterista, Fred, resolve sair. O brasiliense Caio Cunha assume as baquetas. “Entrei em um show para substituir o Fred, sem compromisso. Eu sou muito fã do Raimundos. Quando a oportunidade apareceu, não pude ignorá-la”, conta Caio, que entrou na banda no mesmo ano em que montou seu consultório de odontologia em Brasília.

A nova formação deu segurança para a banda iniciar a turnê A Volta de Canisso, em 2008. O público percebeu que a essência do bom e velho Raimundos estava mais viva do que nunca. Após 12 anos sem lançar discos, a banda finalmente apresenta aos fãs, em 2014, o Cantigas de Roda, o oitavo álbum de inéditas do Raimundos. Como mudanças, renovação e ousadia são adjetivos presentes na carreira dos roqueiros. Em 2017 entraram em uma nova fase. A fase da maturidade, presente no show Raimundo Acústico, vem angariando elogios por onde passa. Parece que os músicos brasileiros seguem ao pé da letra o hit Blitzkrieg Bop, da banda inspiradora, Ramones. O refrão “Hey ho let’s go” (hey ho vamos lá!) parece ter sido criado para eles. Vida longa ao rock!

DISCOGRAFIA •

Raimundos (1994)

Lavô Tá Novo (1995)

Cesta Básica (1996)

Lapadas do Povo (1997)

Só no Forévis (1999)

MTV Ao Vivo (2000)

Éramos 4 (2001)

Kavookavala (2002)

Roda Viva (2011)

Cantigas de Roda (2014)

Cantigas de Garagem (2014)

Raimundos Acústico (2017)

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O PADRE QUE FOI À SEGUNDA GUERRA, CONVIVEU COM SÃO PIO E CONHECEU O PAPA JOÃO PAULO II, HOJE, AOS CEM ANOS, VIVE NO CRUZEIRO, CELEBRA MISSA E SE EMOCIONA AO FALAR DE NOSSA SENHORA POR PAULO PIMENTA FOTOS CELSO JÚNIOR

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se estava feliz com o aniversário, sorridente, respondeu: “Sim, estou feliz. Eu não era digno de chegar a essa idade, mas Deus quis. Se Ele me colocou aqui, que seja feita a vontade Dele”. Apesar da idade avançada, o padre centenário surpreende pela lucidez. Lembra-se de muitas histórias e emociona-se ao contar algumas delas, como a de quando conheceu São Pio de Pietrelcina – um dos santos mais conhecidos da Igreja Católica. O sacerdote visitava a paróquia do jovem. Para vê-lo, Armando entrou na clausura – local de acesso proibido aos leigos. Assustado, o padre perguntou o que o jovem fazia ali. “Perguntei se ele era o Frei Pio. Ele respondeu que sim e quis saber o que eu fazia ali. Respondi que queria conhecê-lo. Aí, sorrindo, ele disse ‘já me viu? Então, tchau’”, relembra, aos risos. Tempos depois de conhecê-lo, com 12 anos de idade, padre Armando tornou-se coroinha do santo nas missas da tarde.

UM BAMBINO

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senhor está bem?”, perguntei. “Sim, claro, estou vivo!”, respondeu, sorrindo, o padre Armando Brédice, ao receber a equipe da GPS|Brasília, dias antes de completar cem anos de idade. Após uma pequena caminhada, em passos curtos, nos encontramos em sua sala na Paróquia Santa Teresinha, no Cruzeiro. Em pouco mais de uma hora, o religioso contou algumas de suas histórias e o segredo para comemorar tantos aniversários.

A rotina de Armando é tranquila: reza o terço todos os dias, joga conversa fora, dá uma volta na praça em frente à igreja para tomar sol, recebe alguns amigos e sorri. Sorri muito. Ele parece ter descoberto, já há algum tempo, o segredo da vida: “Procuremos salvar-nos, porque só a alma serve. O resto não vale nada”, aconselha. Embora estivesse um dia ensolarado, fazia frio. Ele vestia calça de moletom cinza, camisa azul por baixo de um casaco preto e sapatos da mesma cor. Por cima das vestes, um crucifixo prateado com coração vermelho no meio – presente do papa Francisco aos padres da ordem Guanellianos de todo o mundo. Óculos e aparelho auditivo completavam o visual do sacerdote. Com certa dificuldade, acomodou-se em uma poltrona na sua sala. O espaço é decorado por quadros de Honra ao Mérito, Cidadão Honorário de Brasília, caixas com os livros que escreveu e algumas fotos com o Papa João Paulo II – canonizado em 2014. No dia 22 de agosto, o italiano de San Marco de La Catola, cidadezinha de 28 km², completou um século de vida, comemorado com festa na Paróquia. Perguntado

Até hoje, Armando remete-se à sua mãe, Angiolina Jeronimo Brédice, como mamãe. “Ela era a rainha da casa”, lembra. O pai, Celestino Brédice, trabalhava como mecânico. Pelos caminhos da vida, apaixonou-se por outra moça. Largou tudo e foi morar com ela na Argentina. Deixou a mulher grávida e os nove filhos na Itália. À primeira família, o patriarca mandava uma mesada. Dos irmãos, o padre comenta apenas sobre a irmã Filomena, a Miúcha, por quem demonstra enorme carinho. Até os 20 anos de idade, Armando levava uma vida tranquila na Itália. Estudava, cuidava da família, tinha amigos e gostava muito da sua amiga Maria, a quem chamava, carinhosamente, de Meri. Até que, por volta de 1940, foi convocado para a Segunda Guerra Mundial. A apreensão diminuiu um pouco quando descobriu que trabalharia como intérprete, pois falava alemão. “Mesmo sem ir para a linha de frente da batalha, foi horrível ver o desastre de uma guerra”, lembra. Hoje, além de italiano e alemão, o padre fala português, espanhol, inglês, latim e um pouco de francês. Ao retornar da guerra, aos 28 anos, voltou para casa e sentiu o chamado de Deus para seguir a vida religiosa. No entanto, como todas as congregações recuperavam-se dos prejuízos da guerra, nenhuma o aceitou. A solução foi procurar ordens religiosas em outras cidades. Porém, antes de iniciar essa busca, foi à casa da melhor amiga contar sua decisão e despedir-se dela. “Ela me olhou nos olhos e disse que se fosse por causa de mulher, ela me matava. Como era por Jesus, desejou que eu fosse em paz”, conta. GPSBrasília « 133

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“TUDO PASSA. EU PASSO, TU PASSAS, TODOS PASSAMOS. DE QUE ADIANTA APEGARSE ÀS COISAS DESTE MUNDO SE TUDO PASSA? SOMOS UM MONTE DE OSSOS JOGADOS EM UMA FOSSA COMUM” Padre Armando

a arede o elo convite do anivers rio e certificado de consagração sacerdotal

Das mãos de D. Sarah Kubitschek o religioso recebe a Medalha Alvorada

Encontro com o Papa João Paulo II

Com a benção da amiga, chegou à Basílica de São José Triunfal, em Roma. “Quero ser padre, mas ninguém me quer”, lamentou ao pároco local. Solidário, o padre pediu para ele datilografar uma carta. Ao realizar a tarefa, ouviu: “Bravo, tu vais ser meu secretário”. Assim, em 1947, foi introduzido à Igreja. Pouco tempo depois, passou a integrar a congregação Servos da Caridade, obra de São Luís Guanella, em Milão, onde estudou até fazer os votos religiosos. No dia 19 de dezembro de 1953, foi ordenado padre pelo bem-

-aventurado Ildefonso Schuster. “Vai, prega, perdoa e consagra”, ouviu, à época, do cardeal de Milão. Armando conta que, há algumas décadas, ligou para falar com a amiga Meri. Só atenderam o telefone na terceira vez. Da Itália, o homem de voz grossa disse que só ouviu o telefone tocar porque passava perto dele para pegar uma roupa para Meri ser enterrada. Ela havia acabado de partir. “Eu quase morri também”, lembra o padre. “Desliguei o telefone, desci e celebrei a primeira missa pela alma dela”, diz, emocionado. Armando carrega no pescoço uma Medalha Milagrosa que ganhou da amiga. Não a tira por nada, até já a perdeu duas vezes no mar e conseguiu encontrá-la.

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UM CONTINENTE Ao ser ordenado, perguntaram para onde ele gostaria de ir. De pronto, falou que queria ser mandado para a África. Porém, como não havia a congregação no continente africano, foi mandado para o Paraguai, onde ficou cinco anos. Em seguida, veio para o Brasil. Passou pelo Rio Grande do Sul e por São Paulo até chegar a Brasília, em 1983. Instalou-se no Cruzeiro Novo, onde “não havia quase nada, só uma capelinha”. Junto com outros padres, o recém-chegado ajudou a erguer uma escola e auxiliou na construção da Paróquia Santa Teresinha. Entre os outros padres, recebeu o apelido de “Mosquito Elétrico”, porque era muito agitado e nunca parava. Ao lembrar essa época, comenta sobre como gostava de correr no trânsito. “Ninguém me pegava”, diverte-se. A paixão pelos brasileiros e brasilienses – e pelo time de futebol Palmeiras – foi à primeira vista. Em um encontro com São João Paulo II, perguntou se a Santidade o permitia trazer a bênção dele aos brasileiros. “Sim, padre Armando, leve esta bênção para eles e diga que os amo muito”, disse o santo a Armando.

UM CISNE Reza a lenda que os cisnes entoam um bonito canto antes de morrerem. É para avisar aos outros animais sobre a partida deles. Ao completar 96 anos, Armando publicou o livro O Último Canto do Cisne, um compilado de textos que mostra o amor do padre por Nossa Senhora. Devoto de Nossa Senhora das Graças, o sacerdote chora ao falar da mãe de Jesus. “Sem ela eu não teria conseguido. Cheguei a Brasília sem nada e ela me acomodou. Por isso, dou a ela toda a minha vida. Todas as minhas atividades foram sob a proteção e o manto de Maria”, emociona-se. Por sorte, aquele não foi o último canto e a comunidade teve a oportunidade de ouvi-lo tantas outras vezes. Quando a conversa com o sacerdote estava perto de completar uma hora, a cuidadora trouxe um suco de laranja para ele tomar. Uma deixa para encerrar o bate-papo. Para finalizar, perguntei o que ele aprendeu nesses quase cem anos de vida. Ao responder, as lágrimas passaram com mais intensidade pelo rosto pouco enrugado do padre: “Tudo passa. Eu passo, tu passas, todos passamos. De que adianta apegar-se às coisas deste mundo, se tudo passa? Somos um monte de ossos jogados em uma fossa comum”. Se depender da legião de fãs e admiradores que o gigante de 1,50 metro de altura mais querido do Cruzeiro tem, ele jamais passará. O sorriso fácil e as mãos sem-

PERSISTÊNCIA Durante a semana, padre Armando celebra missas na capela da casa dos padres. Apenas para uma ou duas pessoas próximas. Aos fins de semana, auxilia outro padre a celebrar a missa. Chega à igreja com meia hora de antecedência e segue para a sacristia. Coloca as vestes cuidadosamente, ajudado por algumas senhoras e coroinhas. Aguarda os membros da equipe litúrgica no altar. Senta-se na metade da frente do assento, sem tocar o encosto. Se encostar, não consegue colocar os pés no chão. Muito embora, na hora da consagração, parece mesmo estar no céu, tamanha a plenitude do momento. Nas missas, usa o cálice que ganhou de sua mãe no dia em que celebrou pela primeira vez, ainda nos anos 1950. Armando contou para algumas pessoas que a mãe precisou pedir um empréstimo à patroa para conseguir comprar o objeto litúrgico.

pre estendidas servem de consolo a muitos fiéis. Para quem gostava tanto de correr, os passos curtos e lentos mostram que a sabedoria chega com o tempo. Assim, padre Armando prepara-se para cantar mais algumas vezes. Nos despedimos com a sensação de ter conhecido um homem santo. Um aperto de mão, um abraço e um arrivederci selam o encontro. Naquela sala, o tempo passou devagar. Também, pudera. Para quê a pressa quando se está prestes a completar um século de vida? Paróquia Santa Teresinha Missas na Paróquia: de segunda a sábado: 07h e 19h. Domingo: 07h, 09h, 10h30, 18h e 20h. Missas na capela Rainha da Paz: quarta-feira, 19h. Sábado, 18h. Domingo, 09h e 18h.

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RETRANCA

Newton, José Carlos, Henrique e Flávia entre a imagem de Santo Inácio de Loyola

DEUS É AMOR ACOMPANHADO POR PADRE JESUÍTA, GRUPO DE HOMOSSEXUAIS SE AMPARA NAS PALAVRAS DO PAPA FRANCISCO SOBRE A INSERÇÃO DA CLASSE NA IGREJA CATÓLICA E PROMOVE RETOMADA DA VIDA ESPIRITUAL POR PAULO PIMENTA « FOTO GUSTAVO MORENO

P

apa Francisco retornava para o Vaticano após despedir-se do Rio de Janeiro, onde estivera por ocasião da Jornada Mundial da Juventude. Era dia 28 de julho de 2013. Ao embarcar, o pontífice atendeu aos repórteres que o acompanhavam no avião. Após 20 perguntas, foi a vez de Ilze Scamparini, correspondente da TV Globo na Itália. A brasileira

perguntou ao religioso sobre o lobby gay, um dos temas mais sensíveis entre as religiões conhecidas. Calmamente, o Papa respondeu: “Se uma pessoa é gay, procura o Senhor e tem boa vontade, quem sou eu para julgá-la? O Catecismo da Igreja Católica explica: ‘Não se deve marginalizar essas pessoas, elas devem ser integradas à sociedade’. Devemos ser irmãos”. A partir

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daquele momento, levantou-se, novamente, as discussões sobre a abertura da Igreja aos homossexuais. Coincidentemente – ou não –, dias antes da fala de Francisco, gays cristãos reuniam-se no Centro Cultural de Brasília sob a supervisão dos padres da Companhia de Jesus – jesuítas da mesma congregação do Papa. Eram protagonistas da primeira reunião do grupo Diversidade Cristã. A fala do Papa soou como uma bênção aos religiosos. Para Bruno Feittosa, 34 anos, um dos coordenadores do círculo, “a finalidade do grupo é religar as pessoas com Deus, amadurecer a espiritualidade nelas, fazer com que tenham uma vida espiritual mais madura”. Atualmente, as reuniões mensais recebem cerca de 30 participantes.

ACOLHIMENTO DA COMUNIDADE Quase dois anos depois da cena no avião, na homilia do dia 13 de março de 2015, o Papa Francisco disse que “ninguém pode ser excluído da Misericórdia de Deus. Todos conhecem o caminho para aceder a ela. A Igreja é a casa que acolhe todos e não rejeita ninguém”. Todo terceiro sábado de cada mês o Diversidade Cristã é responsável por animar a missa das 19h, no Centro Cultural de Brasília. “Todo ritual da comunidade tem um gay, um casal hétero, um casal separado, tem de tudo. A celebração é da comunidade. Nós estamos aqui por um sentimento de pertencimento”, adverte o coordenador Newton Rodrigues, 35 anos. Mesmo de criação católica, Flávia Lara, 33 anos, afastou-se da Igreja quando se descobriu homossexual. Após casar-se, sua companheira insistia para que ela voltasse às atividades religiosas. Flávia conta que se sentia perdida antes de participar das reuniões e lembra que o acolhimento do grupo fez toda a diferença para o seu retorno à igreja.

EXERCÍCIO DO DIÁLOGO Todo o trabalho desenvolvido pelo Diversidade Cristã é acompanhado pelo padre jesuíta Alex Pin, 35 anos. O jesuíta percebe o amadurecimento do grupo ao longo desses anos e o enxerga como uma oportunidade de inclusão para a Igreja Católica de Brasília. Pin acredita que a principal mudança em relação ao tema já está

Padre Alex é responsável por acompanhar o grupo Diversidade Cristã

acontecendo: falar sobre isso. “Embora tenhamos alguns relatos preconceituosos, nenhum padre com o qual eu conversei mostrou-se resistente à ideia do grupo. Isso só me permite concluir que precisamos exercitar o diálogo”, pondera. Além do Diversidade Cristã, a Igreja Católica, em Brasília, conta com o Apostolado Courage Brasil. Formado por leigos católicos que desejam viver de forma casta e em acordo com os ensinamentos da Igreja sobre a homossexualidade. Criado em Nova York nos anos 80, o Courage tem aprovação da Santa Sé e possui mais de 200 células espalhadas por todo o mundo. No Brasil, está em São Paulo, Rio de Janeiro, Curitiba e Brasília. Diversidade Cristã Reunião no 1º sábado de cada mês, às 16h, no Centro Cultural de Brasília - SGAN 601 Módulo “B” - Asa Norte Apostolado Courage O interessado precisa fazer um contato pelo e-mail brasilia@couragebrasil.com antes de ser direcionado para os grupos presenciais

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ARTIGO PADRE CRISTIANO JOSÉ

Representante da Arquidiocese de Brasília para falar sobre a relação entre a Igreja de Brasília e os católicos homossexuais

O ABRAÇO A

Arquidiocese de Brasília, em comunhão com o Papa Francisco, tem o desejo de acolher as pessoas que sentem atração pelo mesmo sexo com a mesma caridade que acolhe os demais irmãos. A Arquidiocese compartilha o mesmo desafio que o Papa: oferecer a essas pessoas o braço e colo de mãe. É isso que ela quer ser. Compor essa resposta é um desafio para a Igreja, porque, isso não é um tema novo, mas hoje pede um cuidado novo. A Igreja está tendo o cuidado de ser o que sempre foi: honesta e prudente na elaboração de uma trajetória que signifique o caminho autêntico de Cristo hoje. Para nós, católicos, esse caminho deve progredir sem relativizar a fé, formulando uma resposta autêntica. É justamente por respeitar profundamente a obra de Deus que a Igreja pede tempo para calcular e amadurecer certas posturas. Este é um tempo que exige construir pontes. Não é um caminho fácil. As iniciativas estão se desenhando e

o desafio é esse: acompanhar a Igreja-mãe e dar aos nossos irmãos que têm atração pelo mesmo sexo a acolhida autêntica. Empenho pelo qual a Igreja tem feito esforços que pedem paciência, pois é uma questão muito complexa. Ponte não se constrói só com tijolos, constrói-se com abraços. No desafio dos relacionamentos é importante preencher as lacunas com a escolha que Deus nos ordena a sempre ter: o amor. Em cada gesto, em cada cuidado de proximidade, de fala, Deus diz “Eu te amo”. E o amor de Deus é a razão da nossa luta. Para toda pessoa, incluso para o homossexual, eu digo: Preste atenção no amor que Deus tem por você, depois, aposte nele; deixe-se surpreender. Redescubra Deus dizendo “eu te amo aqui e agora. Eu te quero porque te amo”. Depois, aposte n’Ele como nos sugere Josué em seu livro: “Sê firme e corajoso, não temas e não te apavores, por que o Senhor teu Deus está contigo onde quer que andes” (Js 1.9).

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SUCESSO

SORRIA, ELA FAZ A DIFERENÇA OS SONHOS DE INFÂNCIA SE TRANSFORMARAM EM META PARA A ODONTÓLOGA LORENA LEÃO, QUE, APÓS ESTUDOS EM UNIVERSIDADES EXPRESSIVAS NOS ESTADOS UNIDOS, FUNDOU SUA CLÍNICA E ATUALMENTE CUIDA DO SORRISO DE INFLUENTES DA CAPITAL

César Rebouças

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omandar uma das empresas de odontologia mais conceituadas da Capital, educar o filho, estudar, participar de congressos pelo Brasil e manter a forma – tudo isso sem perder o estilo e o bom-humor – parece difícil, mas é a rotina de Lorena Leão, a dentista queridinha dos brasilienses, uma das mais procuradas pela sociedade quando o assunto é sorriso e estética do sorriso e da face. Artista por trás de belezas influentes da cidade, a candanga é especialista em ortodontia e estética da face. Estudou nos Estados Unidos, precisamente em Harvard, em Nova York, e no Miami Anatomical Research Center, em Miami. Em Brasília, graduou-se pela Faculdade de Odontologia do Planalto Central (Foplac), com especialização em Ortodontia e Odontopediatria (ABO-DF) pela equipe do Instituto Lenza Funorte Brasília. Por dentro das tendências, sua nova paixão é a harmonização orofacial, ou odontologia estética, que foca na construção detalhada de dentes perfeitos. “Eu adorava ir ao dentista quando criança, que inclusive era no Brasília Shopping, onde hoje funciona minha clínica. A paixão pela profissão veio de berço, sempre sonhei em ser odontologista e tenho memórias muito boas da infância, cuidando dos dentes”, relembra, nostálgica. Lorena é fundadora da clínica que leva seu nome e comanda uma equipe de mais de dez profissionais espe-

Com currículo invejável, a dentista, especialista em ortodontia e estética da face, é a preferida de clientes famosos na Capital

cialistas em clareamento a laser, lentes de contato, implantes e estética dentária. No espaço, oferece tratamentos como botox, preenchimento com ácido hialurônico, lipo enzimática para diminuição da papada, skin booster para hidratação e estímulo do colágeno, fios de sustentação e também a específica técnica da bichectomia. “Gosto de dizer que sou dentista da família toda. Meus clientes chegam crianças, crescem comigo”, conta. Casada com o jovem empresário Júnior Leão há 13 anos, tem um filho de 12, Guilherme Leão, e a en-

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Quando questionada sobre os planos para o futuro, Lorena se diz satisfeita com o presente. “Acredito que estou vivendo o futuro que planejei: ser ortodontista e odontopediatra. Sonhava em comandar uma equipe de profissionais em várias áreas; hoje, tenho dez especialistas de excelência no meu time. Estou muito realizada profissionalmente”, garante. Jovem na profissão, é um case de sucesso entre outros dentistas no Brasil. “Entrei na faculdade cedo e trabalhei muito. Nunca parei de estudar e construí minha carreira enquanto criava meu filho”, lembra. “Foram desafios que enfrentei sempre com um sorriso no rosto”. Lorena garante que não há mistério para o sucesso. “Acredito que minha credibilidade veio por eu fazer tudo da melhor forma possível. Os resultados positivos massageiam meu ego; se não for para ficar perfeito ou próximo disso, prefiro não fazer”, explica.

DENTISTA E DIVA Lorena é hoje parte de um grupo de mulheres brasileiras que inspiram outras profissionais da área. O Dentistas Divas do Brasil foi criado para enaltecer conquistas femininas e mostrar para a nova geração casos de sucesso pelo Brasil. “Faço parte do grupo onde só existem profissionais incríveis. É uma honra”, conta Lorena. Apaixonada por ensinar e influenciar os mais jovens da odontologia, a dentista conta que, para o futuro, está amadurecendo a ideia de uma carreira acadêmica. A vertente nunca foi um plano na vida da brasiliense, mas ela cogita essa ideia. Ela sempre preferiu a parte prática da carreira. Prova disso é o evento anual Sucesso Além da Técnica, que se realiza em Brasília e tem Lorena como idealizadora. O circuito de palestras foi pensado para estudantes e profissionais da área e conta com fortes parcerias na cidade.

NA MODA

teada de 18, Camila Leão. O xodó da família, no entanto, é o pequeno Gucci, o cãozinho da raça Lulu da Pomerânia. E quem acha que o sucesso profissional a priva de uma rotina saudável com a família está enganado. Lorena equilibra o consultório com academia e treinos de tênis, seu esporte favorito. “Hoje, malho ao menos três vezes por semana e jogo tênis quase sempre com meu filho Guilherme”, revela.

Lorena nunca negou sua outra paixão: a moda. Sempre por dentro das tendências, influenciou a criação da moda odontológica. A dupla de estilistas da Holi Coats, voltada para o segmento da saúde, criou um jaleco em homenagem à dentista. “O modelo carrega meu nome e é chiquérrimo”, brinca Lorena orgulhosa. No site da empresa é possível fazer o pedido, que é entregue para todo o Brasil. Clínica Odontoclean – Lorena Leão @dralorenaleao Brasília Shopping, bloco A, sala 1.229, Torre Norte – Asa Norte Fone: (61) 3327-8120

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SOCIAL

AO SOM DE NEGO DO BOREL, CATARINA LINS REUNIU 350 CONVIDADOS NA CASA DOS AVÓS MATERNOS. NOITE CUIDADA POR RUBINHO LEMOS E LUCIANA ALCAMIM. COMIDINHAS DA LA FIESTA, DANCING BAR, CHOCOLATES LINDT E MARIA AMÉLIA. OS TRÊS VESTIDOS FORAM ASSINADOS POR ANDRÉ KALLAGRI FOTOS: LUARA BAGGI

Catarina Lins

15 ANOS DE PRINCESA Flávia e Robério Negreiros com Catarina Lins

Catarina Lins com o seu avô Luiz Coelho

Elsa Coelho, Lia Sá e Sandra Freitas

Catarina Lins com a irmã Nathália

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Luiz, Geórgia e Bruno De Luca Isadora Campos e Yara Berocan

Catarina com as amigas

Andressa Beluco e Bruno Mendes Nadim e Mônica Haddad

A aniversariante com o Nego do Borel

Guilherme Haddad e Maria Eduarda Farah

Agenor e Adriana Chaves alentina arcia e ofia osta

Ana Beatriz Tude e Melissa Amorim

Maria Victoria Venâncio e Catarina Henriques

Carolina Bueno, Karen Rosso e Duda Maia

Nego do Borel

Patricia e Luiz Jr. Coelho Ana Luiza Ávila, Paulo Henrique Chaves e Vitoria Cruz

Breno Arduini e Maria Maia

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SOCIAL

EM SUA CASA, NO LAGO SUL, COM DECORAÇÃO FLORAL BY VALÉRIA LEÃO, A BELA RECEBEU 70 CONVIDADOS EM CLIMA INTIMISTA. ANIMAÇÃO GARANTIDA COM O DJ SONY. BEBIDAS DO BAR DRINK’S, BUFFET DA CREP’S E DOCES LAS PITANGAS FOTOS LUARA BAGGI

Flay Leite

PARABÉNS, FLAY LEITE Flay Leite e suas amigas

lia Mun o

driana reitag e uliana Marcondes

Iracema Portella e Milena Godoy

Victoria e Marita Lira

Valéria Bittar

Anielle Almeida e Carolina Oliveira Georgia De Luca e Luciana Cortes

Margot Albuquerque, Elisa Castelo Branco e Laisa Figueiredo

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Ana Paula Cameli e Raquel Castelo Branco Manuella e Rafaela Amaral

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SOCIAL

O PADRE VALÉRIO, DA IGREJA ORTODOXA, ABENÇOOU O CASAL AO SOM DO GRUPO TOCCATA. A NOIVA VESTIA YOLAN CRIS, BELEZA RICARDO MAIA, BRINCOS SILVA BADRA E TIARA DORA THIAGO. NOS DOCES, ZENAIDE BOLOS, LANA BANDEIRA, CIRÔNIA E SEPHORA. MENU BY RENATA LA PORTA E DA COZINHEIRA BAIANA DADÁ; DRINKS HELP!BAR. MÚSICA DO DJ MATEUS FONSECA E DO CANTOR PIERRE ONASSIS. CERIMONIAL, FABIANI GATTAI E DECOR NA E NAS FOTOS CELSO JUNIOR

Flávia e Samir Nasr

Flávia Nasr e Tiago Mendonça

FLÁVIA NASR E TIAGO MENDONÇA

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Os noivos com Felipe, Eliane e Samir Nasr

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Os noivos

A noiva Tiago Mendonça, Flávia e Felipe Nasr

Samir e Eliane Nars

Flávia com Eliane e Felipe Nasr Os noivos Giovana e Fábio Pohl

Flávia Nasr Felipe, Flávia e Luiza Nars

Amir, Samir e Munir Nasr

Luiza Nars e Gabriela Bessa

Tiago, Flávia com familiares e amigos

A noiva com Amir, Samir, Munir e Felipe Nasr

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SOCIAL

Patrícia Garrote e Carlos Castellanos

Patrícia Garrote com seu pai

Os noivos

PATRÍCIA E CARLOS

Anna Luisa Garrote

O PALCO DESSA UNIÃO FOI O PORTO VITTORIA, DECORADO POR PAOLA MARCANTE. ENQUANTO PATRÍCIA VESTIA BRUNA LETTIERI, JOIAS DEISE AVIZ, ALIANÇAS TIFFANY&CO. E BUQUÊ RODRIGO RESENDE; O NOIVO CHEGAVA EM UMA HARLEY-DAVIDSON. HUGO AULER E TIAGO CORREIA ASSINARAM O CERIMONIAL FOTOS: ???

Os noivos e suas demoiselles

Os noivos entre Lilian Natali, Roberto Pla, Maria Teresa Albuquerque e Afrânio Souza Filho

O brinde dos noivos

Os noivos

Os noivos entre seus familiares

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Luciana Cirillo, Rosana Renaud, Cecília Bugarin, Lilian Natali, Silvana Monterosa, Cibeli Guimarães

Os noivos com Vanessa Bruni e Alexandre Bitencourt

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VANESSA E ADRIANO

Vanessa Meireles e Adriano Mesquita

Os noivos trocam as alianças

Padre Fábio

SOB UMA IGREJA NO LAGO PARANOÁ DECORADA POR MÔNICA LIPIANI, COM VOCAIS DO PADRE FÁBIO DE MELO E ZIZA FERNANDES, A NOIVA VESTIU-SE DE CRISTIANO BERNARDES E CRISTINA GOMES. BELEZA, OHARA JORGE E GISELE SALES. NA SEQUÊNCIA, FESTA NA CASA DOS PAIS DA NOIVA PARA 400 AMIGOS. NO SOM, PAULO HENRIQUE E PAPAGAIO. NOS DOCES, RICHESSE, ALESSANDRA LAZZARINI, LOUZIEH E TATIANA BARROS. FOTOS: BRUNO STUCKERT

Os noivos entre Andréa e Geovani Meireles e Ana Cláudia e Marcelo Mesquita

Andréa e Geovani Meireles

A noiva Vanessa

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Padre Fábio de Melo e Tânia Oliveira Padre Fábio de Melo e Tânia Oliveira

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SOCIAL

Rafael Badra, Paula Santana e Rodrigo Freire Vivianne Leão Piquet e Tatiana Lacerda

Valdir Piran e Tatá Canhedo

Guga Camafeu

CHEERS IN PROVENCE O SUNSET GPS|BRASÍLIA FOI MARCADO PELO LANÇAMENTO DO VEUVE CLICQUOT RICH ROSÉ. DURANTE 12 HORAS O RESTAURANTE OLIVER TRANSFORMOU-SE EM UM JARDIM FRANCÊS ANIMADO PELOS ILUSTRES DJS ELY YABU E SONY BEM COMO PATRÍCIA MEDEIROS, SURF SESSIONS, GUGA CAMAFEU, DJ CARREY E JONAS CAMPELO DO PROJETO SAX FUN HOUSE. NO OPEN FOOD, OLIVER E CRU BALCÃO CRIATIVO, C’EST SI BON E LA BOULANGERIE. A FESTA CONTOU COM LOUNGE IGUATEMI BRASÍLIA. FERNANDO VELER E LUARA BAGGI

Patrícia Medeiros

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Manuella Delpino, Sabrinna Albert e Ana Mélia Rodrigues

Ana Luiza Favato e Junia Souto

Eugênio Carvalho e Maria Victória Salomão

Ilca Estevão DJ Ely Yabu

Eugênio e Tatiana Lacerda

Ruy Hernandez e Raissa Leitão Milena e Eduardo Godoy

Paula Santana

Thales Sabino

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Rafael e Lucila Pena

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SOCIAL

A RESIDÊNCIA DA FAMÍLIA RECEBEU 600 CONVIDADOS PARA A NOITE ESPECIAL. A AMIGA VALÉRIA BITTAR CUIDOU DA DECORAÇÃO. OS CONVIDADOS DELICIARAM-SE COM BUFFET ADRIANA, DRINKS COM ABSOLUT, CHIVAS REGAL E TANQUERAY. NAS PICAPES, DJ’S DAI, SONY E O FRANCÊS ARNO COST FOTOS FERNANDO VELER

Cláudia e Márcio Salomão

MÁRCIO SALOMÃO, 50 ANOS

Gilberto, Maria Victória e Maria Valentina Salomão

Gilberto Salomão e Maria Victória Salomão

Fernando e Caroline Collor Marília Salomão, Ana Cristina Souza, Silvinha Badra e Maria Paula Fidalgo

Paula Santana, Claudia Salomão, Celso Junior e Silvana Cascão

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Cristiane Adriano e Isabella Carpaneda

DJ Dai

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DJ francês Arno Cost

Marcelo Quadros e André Furini

Lílian Lima e Sylvinha Lacerda

Carla Amorim e Fábio Andrade

Bianca Juliani, Juliana Cunha Campos e Marina Carlos

Tata Gouveia e Thiago Lacerda Canhedo

Almyr e Eliana Barros

Sonia e In Loon Lim

Fabiano e Luciana Cunha Campos Duda Piran Deborah e Ana Pinheiro Amanda Guerra e Sandro Covre

Ana Luisa e Elsinho Cascão

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Digão, Daniele e Marlon Egido

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P CAPA

PAOLLA OLIVEIRA

LUZ PRÓPRIA DE BELEZA ESTONTEANTE, A PAULISTANA TEM A DETERMINAÇÃO E A DISCIPLINA NECESSÁRIAS PARA PROTAGONIZAR SEUS SONHOS. TÃO LOGO DESCOBRIU A PAIXÃO PELAS ARTES CÊNICAS, A ATRIZ VIVE ENTRE A RAZÃO PARA MANTER O FOCO E A ENERGIA QUE LHE TRAZ O EQUILÍBRIO POR MARCELLA OLIVEIRA « FOTOS ANDRÉ NICOLAU

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A

lmoço em pé, celular na mão, FaceTime com a família, mensagens no WhatsApp. Uma pilha de papéis com cenas para decorar. Paolla Oliveira é agitada, apesar do jeito doce e calmo de falar. Com mil coisas na cabeça, a concentração vem quando está em cena. Ou no ringue. “O que a luta me trouxe de mais interessante foi a concentração. Porque lá, se você não está 100%, leva um soco na cara”, brinca a atriz global.

Foi na luta que Paolla encontrou uma forma para liberar as tensões. A prática entrou em sua vida quando começou a compor a personagem Jeiza, da novela A Força do Querer. A atriz é intensa e veste suas personagens com uma verdade única. O reconhecimento nas ruas mostra isso. “Já encontrei policiais militares me chamando de major e batendo continência para mim”, diverte-se, ao falar da policial militar durona que interpreta na novela das 21h, na Rede Globo – primeiro trabalho com a autora Glória Perez. Enquanto esperava a gravação da próxima cena, conversou por telefone com a revista GPS|Brasília. O papo lhe trouxe memórias da Capital em sua passagem por aqui, por quase um mês, durante as filmagens da minissérie Felizes Para Sempre?, exibida em 2015. “Adorei Brasília. É uma cidade linda e fui muito bem recebida. Achei interessante conhecer um pouco dessa estrutura, uma cidade ampla, bem diferente de Rio e São Paulo. Tem uma hora em que a cidade fica vazia, parece que as pessoas somem das ruas. Além de ter um pôr do sol com uma energia singular”, contou a atriz, que teve a oportunidade de conhecer as cachoeiras nos arredores e ficou com vontade de voltar e explorar mais a região. Falar na minissérie nos remeteu à famosa cena mostrando seu corpo escultural, de costas e só de calcinha preta, entre as cortinas de um hotel em Brasília, na pele da prostituta de luxo Danny Bond. É redundante falar de sua beleza física, ressaltada em tantos trabalhos como atriz, e também quando foi, por dois anos, rainha de bateria da escola de samba Grande Rio, em 2009 e 2010, e no quadro Dança dos Famosos, do Domingão do Faustão, de onde saiu vitoriosa. A bem da verdade, Paolla é um mulherão. Com traços delicados, cabelos loiros, a mulher que já foi eleita a mais sexy do mundo – pela revista Sexy, em 2013 – esculpe o corpo com dieta regrada, exercícios aeróbicos e musculação, acrescidos, atualmente, da luta. “Estou sempre me movimentando. Gosto de ioga, dança, andar de bicicleta e até arrisco umas manobras no skate”, conta a atriz de 35 anos, que há um ano e meio tem um relacionamento discreto com o diretor artístico da Globo, Rogério Gomes, de 56 anos.

BELEZA

“Adoro me cuidar. Não tem segredo, sabemos o que deve ser feito. Encontrei o equilíbrio na alimentação, mas, de vez em quando, sem exageros, como chocolate ou massa. Descobri o prazer em malhar. Fico feliz quando as pessoas elogiam meu corpo e minha beleza. Mas não podemos nos basear só nisso. Somos um complexo, é tudo misturado. Sintome mais bonita quando estou em equilíbrio com mente e corpo”.

MODA

“Sou eclética. Às vezes me visto de forma básica, outras vezes moderna ou até sensual. Depende do momento e do lugar. Normalmente, no dia a dia, estou diferente da personagem que interpreto, porque passo muito tempo com o figurino de trabalho”.

VIDA DE ATRIZ

“Gosto muito do palco, da rua, do circo. Aos poucos me descobri atriz. Sempre quis trabalhar com pessoas e, na tevê, a gente atinge muita gente. Me encontrei pelo trabalho e pela arte”.

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Look total Gucci

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Paolla passa uma energia em seu jeito e em sua fala. “Nós somos o que fazemos, mas também o que emanamos. Eu tento ter equilíbrio entre a razão e a energia. Me considero agitada, mas procuro exercitar a alma”, conta a atriz, que adora acordar cedo para curtir o dia. Amante da natureza, mora em uma casa grande perto dos estúdios da Globo, no Rio. “Tenho dez gatos, vários cachorros, até um mico. Minha casa tem o maior astral”, revela. Com tanto amor pelos animais, não foi difícil criar afinidade com o principal companheiro de cena, Iron, o cão policial parceiro da Jeiza. “Temos uma conexão”, brinca a atriz, que cuida dele nos intervalos das gravações. Morando há 12 anos no Rio de Janeiro, ainda tem um pouco de sotaque paulistano. Nascida e criada em São Paulo, Paolla não cresceu com o desejo de ser atriz. Um curso de teatro na adolescência para ajudar na timidez resultou em trabalhos com publicidade, que a ajudaram a pagar a faculdade de Fisioterapia. Entretanto, o jaleco e as técnicas de saúde ficaram somente nos estágios. Encantou-se pelos palcos, já que na época fazia teatro amador. Após a formatura, veio o teste para a novela Belíssima, sua estreia nas telinhas, em 2005. Foi quando seguiu definitivamente o rumo para a Cidade Maravilhosa. “Eu sou muito ariana, firme nos meus propósitos. Se estivesse na fisioterapia, teria a mesma dedicação com a qual atuo”, afirma a atriz em carreira ascendente. Ela foi conquistando espaço na Rede Globo e se tornando protagonista de trabalhos na emissora, como a Paloma, de Amor à Vida, e Melissa, de Além do Tempo. “Há quem fale em sorte, mas eu garanto que é muito trabalho”, declara. O nome de batismo da atriz é Caroline Paola. No início, nos trabalhos como modelo, chegou a usar Caroline, depois Carol. “Não sei explicar por que, foi uma coisa que senti e acabei adotando o Paola. Um tempo depois fiz numerologia e inclui outro L no nome”, conta. Parece que deu certo. Em 12 anos, são oito novelas, além de minisséries e filmes. A próxima estreia nas telonas será em outubro, com o filme Mulheres, onde interpreta uma personagem desconfiada de não ter sorte em relacionamentos. Cada novo trabalho faz com que Paolla entregue-se de corpo e alma. Muda a estética corporal, cor do cabelo, aprende algo novo. “Não tem como ser diferente. É a nossa vida, nosso corpo”, afirma. O trabalho como atriz a deixou menos tímida e mais extrovertida. “Sou assim porque me encontrei, me descobri. Não foi só o trabalho, foi o amadurecimento também. Tem coisas que só o tempo molda”, acredita.

PERSONAGENS

“História a gente conta. Não precisa parecer com a gente, senão não interpretaríamos vilões, assassinos, loucos. Faço o que vier. Em alguns personagens eu até me inspiro. A Jeiza, por exemplo, tem bom caráter, é firme, boa filha e boa profissional”.

POLÍCIA MILITAR

“Como a Jeiza, estou representando uma classe que, literalmente, fica no meio da confusão. São profissionais fortes, batalhadores. Meu pai trabalhou 35 anos na corporação, hoje é coronel reformado. Tive um laboratório em casa, que me ajudou a construir a postura da personagem”.

MULHER FORTE

“A Jeiza, com certeza, representa a verdadeira mulher moderna: forte, poderosa, com opinião. Ela encara tudo de forma natural, não é impositiva. Com suas atitudes ela consegue reconhecimento”.

FEMINISMO

“Acho que todos nós somos feministas. Falar sobre feminismo passa pelo machismo, em como mulheres criam homens, como os influenciamos no educar. Acredito que vai além. É uma questão de respeito”.

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Vestido Dolce & Gabbana

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S

SUSAN NEVES

POR LARISSA DUARTE « FOTOS VINI GOULART

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la é intensa. Quando se propõe a fazer algo, une corpo e alma. Vive com expressividade. Mas isso não quer dizer que ao mergulhar de cabeça em uma possibilidade significa fechar os olhos para as outras rotas que o universo lhe proporciona. Muito pelo contrário. Seja por onde for, a brasiliense Susan Neves leva consigo a postura engrandecida por suas experiências de vida e legado intelectual. Herança da educação dos pais argentinos, Hugo Nicolas Nazareno, físico e pesquisador, com Norma Del Carmen Marquez, advogada formada em Letras.

Não poderíamos esperar diferente de uma escorpiana com ascendência em gêmeos, que cresceu na Asa Norte, entre entusiastas de filosofia, literatura. Não demorou para que esse universo sem fronteiras se tornasse o seu também. Ex-modelo, ela já viajou pelos quatro cantos do mundo – a trabalho, por pura aventura e para acompanhar as Semanas de Moda – e morou em cidades como Santa Barbara, nos Estados Unidos; Montreal, no Canadá; Milão, na Itália; Hamburgo, na Alemanha; e Seul, na Coreia do Sul.

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Entre todas, não há delongas para escolher a cidade preferida: Milão. “É uma cidade grande, cosmopolita e compacta, urbanisticamente falando, mas sem os problemas de uma cidade grande, como trânsito e segurança”. A vida cultural ativa, a comida deliciosa e as pessoas sempre bem vestidas “com todos os tons mais lindos e possíveis de azul-marinho” conspiram para Susan amar aquele lugar. “Brinco que fui italiana em outra vida”, diverte-se. Aos 35 anos, apesar do passaporte carimbado, Susan é apaixonada pela Capital Federal, onde reside. Por aqui, cursou o primeiro e o segundo grau e formou-se em Relações Internacionais no Uniceub. Atualmente, dedica-se aos estudos da Arquitetura na mesma universidade. Tal como ilustra sua opção de curso e este editorial, fotografado em uma casa desenhada por Oscar Niemeyer, Susan possui forte ligação com diversas vertentes das artes. “Adoro tudo o que tem design. Na verdade, o que é bonito me chama a atenção”, conta. Mais uma vez, a herança da infância, em que jogos e brincadeiras se relacionavam com leitura, teatro, música erudita.

FASHION ARTSY

UMA DAS MULHERES MAIS CELEBRADAS DE BRASÍLIA PELAS MAISONS FRANCESAS E ITALIANAS, SUSAN NEVES USA A MODA COMO ELEMENTO DE ARTE... E ENCANTA

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Para ela, não há coisa mais aprazível do que olhar o conjunto das obras do centro de Brasília em harmonia com o emblemático céu da cidade. Além da Esplanada dos Ministérios, da Catedral Metropolitana e da Igrejinha da 308 Sul, a obra preferida da jovem é o Palácio do Itamaraty. “Niemeyer era um gênio capaz de usar plasticidade e elegância em formas simples e puras”, conta. Entusiasta, Susan lista seus artistas e vertentes preferidos. Do século XX, Gustav Klimt, Chagall e Georgia O’keeffe são seus ídolos. Entre os brasileiros, Burle Marx e Abraham Palatnik. Dos contemporâneos, Damien Hirst e as instalações do argentino Leandro Erlich lhe encantam. Em Brasília, admira o artista Christus Nóbrega, cujo trabalho conheceu recentemente. Não é de se estranhar o fato de as marcas internacionais a elegerem em Brasília como as chamadas fidèle, mulheres emblemáticas que representam o DNA das maisons. Susan é presença confirmada como convidada especial nos desfiles mais aguardados das temporadas europeias. E, claro, ela se posiciona à altura do posto que representa. A interação com cores e texturas ajudou a colorir e dar vida aos cliques desse editorial. As obras de João Angelini e Christus Nóbrega interagiram com primor ao lado da modelo. Os dois representam a geração renomada de jovens artistas plásticos da cidade. Entregam-se à arte conceitual, trabalhando com a inquietude do olhar. Direção: Paula Santana Fotos: Vini Goulart Beleza: Ricardo Maia Styling: Marcus Barozzi Assistente: Bernardo Rostand Produção executiva: Karine Lima

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Obras Que Comam Brioches, Natureza bela e morta II, Natureza bela e morta I da série Brinquedos de Papel de Christus Nóbrega Vestido Gucci Joias Miranda Castro

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Vestido Gucci Brincos Antonio Henrique Bolsa Louis Vuitton Meias Surreal

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Camisa e casaco Burberry Joias Carla Amorim Meias acervo pessoal Obra Coronรกrias de Joรฃo Angelini

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Lenço e casaco Dolce & Gabbana Meias Surreal Poltrona Sonia por Samuel Lamas

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Vestido, bolsa e alça Prada Brincos D’or por Silvia Badra Sapatos Yves Saint Laurent Obra A menina ao vento da série Labirinto de Christus Nóbrega

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Top Christian Dior Saia Gucci Brincos D’or por Silvia Badra Cabeça Maison Michel

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Vestido Saint Laurent Joias Miranda Castro

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BLING BLING HERANÇA DOS EXCESSOS DE RAPPERS, BICHEIROS, JOGADORES DE FUTEBOL TOMAM CONTA DOS ACESSÓRIOS. TEM DE SER EXAGERADO, PARECER MILIONÁRIO

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Dolce & Gabbana - R$ 7.700

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CRONOS

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NATUREZA

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Bulgari - a partir de R$ 10 mil

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OURO

PURO

Pulseira com ideograma força, R$ 928 - D'or por Silvia Badra

Anel em ouro amarelo, ônix, pérola e brilhante, RS 7.600 - Antônio Henrique

PRIMOR

PENSADAS EM CADA MILÍMETRO, AS JOIAS SUPERAM-SE NA PERFEIÇÃO DOS CONJUNTOS QUE COMPÕEM. CORTES ELEGANTES EM PEDRAS E CORES ENCANTAM O OLHAR. ÀS VEZES, O BRILHO É SUFICIENTE POR SI SÓ. CADA PEÇA É UM ELEMENTO DE DESIGN APURADO EM SINCRONIA COM OS DESEJOS.

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Brincos com esmeraldas, reço so consulta rifit

Brincos da coleção Hard Wear, R$ 1.245 - Tiffany & Co. Pulseira em prata de lei da coleção Hard Wear, R$ 4.855 - Tiffany & Co.

Anel T'surus com brilhante negro, R$ 1.800 - D'or por Silvia Badra

Brincos cascata de diamantes, mil rifit Brincos com ágata branca e granada, R$ 2.400 - D'or por Silvia Badra

Brincos cadente em ouro rosa, R$ 12.790 - Carla Amorim

Pulseira em ouro, diamante dark brown e marchetaria R$ 44 mil - Silvia Furmanovich

Brincos em ouro branco com brilhantes, R$ 45.500 - Carla Amorim

Brincos em ouro, diamante light brown, turmalina rosa, cianita e marchetaria, R$ 41.600 - Silvia Furmanovich

Anel Chama em ouro branco com brilhantes, R$ 13.960 - Carla Amorim

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brilhantes,

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PASSARELA

Armani Privè

BLACK COUTURE Azzedine Alaïa

Rainhas medievais entre laços e veludos na passarela de Elie Saab ou a rica pesquisa de Azzedine Alaia depois de seis anos afastado da couture, num desfile repleto de estrelas, como Naomi Campbell. Alexandre Gauthier entrou na pista glamourosa e sensual do Studio 54, enquanto Armani Privè manteve o clássico entre jaquetas e saias longas com pitadas do tom pastel. O libanês-americano Rami brincou com os grafismos em padrões mais rígidos. Azzaro, com nova direção criativa, surge com vestidos simples de efeitos cintilantes. E Rolland evoca as divas reais em vestidos esculturais, com tendências fortemente artísticas. Tudo isso envolto na black vibe da alta-costura francesa em sua edição de outono. (Paula Santana)

Alexandre Vauthier

Stéphane Rolland

Elie Saab Azzaro Couture

Rami Kadi

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SO NAVY

Agnona

A ESTÉTICA NÁUTICA É ETERNA, MAS TEM A LIBERDADE DE DEIXAR AS LISTRAS SE APRESENTAREM DE MANEIRA INESPERADA EM SHAPES CONTEMPORÂNEOS

Carolina Herrera

Milly

Dsquared2

Lanvin

PEÇAS SÓBRIAS EM REFINADOS ACABAMENTOS E SOFISTICADOS PADRÕES COMPÕEM O NOVO OUTFIT DAQUELES QUE USAM A MODA PARA DEMONSTRAR O SEU PODER INTELECTUAL

NEW NORMAL

Hermès

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Aquilano Rimondi

Balmain

Jil Sander

Emilio Pucci

S A DUPLA JAMAI MO ES M , TA SE AFAS NTE VA LE RE O ND SE TE. DESSA INDIVIDUALMEN ANCO VEZ, PRETO E BR VA NO RA PA EM SE UN RICA, ÉT M O DINÂMICA GE CA TI Ó E GRÁFICA

BEM S O D A CAS 198 « GPSBrasília

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ROMANTIC RUFFLES

Blumarine

Elie Saab

Dennis Basso

Phillip Lim

UM FLAIR ROMÂNTICO TRANSITA PELAS COLEÇÕES DO RESORT EUROPEU. OS VESTIDOS SÃO DISCRETAMENTE ARRUINADOS, MAS ADORÁVEIS EM SEUS BABADOS E MINIADORNOS

Ellery

SER SUBVERSIVO A AUDÁCIA DOS ANOS 80 GANHA FORÇA. O PVC, A ROUPA DE PLÁSTICO, TAMBÉM CHAMADA DE VINIL, É A NOVA GRAÇA DE QUEM GOSTA DE BRINCAR COM A MODA

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INTERNACIONAL

ENCANTO, INOVAÇÃO E EXCELÊNCIA

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ão Paulo –- O primeiro shopping de São Paulo, o Iguatemi, não cessa de dar sinais de rejuvenescimento desde a celebração de seus 50 anos, em 2016. Após a abertura ano passado de YSL, Cartier, Rolex, chegam para integrar esse cast de luxo três novas maisons:: Fendi, Valentino e Hermès.

Com design extremamente sofisticado em seus mais altos níveis, elas trazem o frescor da nova arquitetura do luxo, assinada por expressivos designers que se empenham em manter a classitude histórica de cada uma, somada à contemporaneidade exigida pela velocidade do hiper modernismo. (PAULA SANTANA)

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Fotos: Divulgaçã

FENDI – TRADIÇÃO E EXPERIMENTAÇÃO O local conta com 140 m2 e design que segue as raízes da maison romana. Além dos acessórios, a nova loja inclui pretà-porter masculino, feminino e coleções de acessórios criados por Karl Lagerfeld e Silvia Venturini Fendi. Os móveis finos e texturizados criam ambiente intimista, com sofás oblongos do designer londrino Jasper Morrison. As paredes são decoradas em ráfia pintada com mesas em formato de sino criadas por Sebastian Herkner. Os vestiários têm rascunhos de desenhos originais de Karl Lagerfeld. Todas as prateleiras da loja vêm revestidas com couro Selleria branco gelo para combinar com a cor de pergaminho usada pela maison desde seu início. A fachada, totalmente envernizada, tem estilo Mondrian para somar-se à sensação de luxo no interior da loja.

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HERMÈS – PAIXÃO PELO FUTURO Após oito anos desde a inauguração da primeira Hermès em São Paulo e um ano após a abertura em Ipanema, Rio de Janeiro, a loja de 185 m2 é a única stand alone ao ocupar um quarteirão inteiro do shopping. Suas fachadas brancas rememoram a arquitetura brasileira dos anos cinquenta. O projeto foi feito pela RDAI, escritório parisiense, sob a direção criativa de Denis Montel, que obteve materiais naturais locais, como a madeira Cabreúuva. O interior traz ready to wear, couro, selaria, joalharia, fragrâncias e relógios. O emblemático mosaico da Hermès é feito em preto e branco, evocativo dos típicos pisos portugueses. A vitrine chama a atenção: uma escultura cinética composta de 180 braços amarelos, criada pelo artista francês Zaven Paré, representam o sol, numa homenagem às mãos talentosas dos artesãos da Hermès.

VALENTINO – HERANÇA E ESTILO A boutique de 100 m2 no Iguatemi representa um passo importante e dá continuidade ao conceito inovador de lojas desenvolvido pelo diretor de criação Pierpaolo Piccioli em conjunto com o arquiteto britânico David Chipperfield. O antigo e o novo criam atmosfera semelhante à de um palazzo. O projeto tem estética que dialoga com o público atual, mas preservando a identidade da marca – amabilidade, graça e elegância num futuro que não é nostálgico, mas cheio de memórias. A arquitetura é projetada com uso de uma série de materiais discretamente opulentos – piso Palladiana, paredes em Terrazzo, mármore Carrara, mobiliário de bronze e carvalho, além de carpete e couro cinzas, que criam atmosfera de intimidade. A boutique está estruturada em três ambientes fluidos: acessórios, calçados e uma área mais reservada dedicada ao prêt-àporter feminino.

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ENTRE NÓS POR PATRICIA JUSTINO

pattyjustino@hotmail.com – @patjustinovaz

THE BEATS/ BALMAIN

PARA OS AMANTES DO DESIGN

Diversos segmentos do mercado têm buscado parcerias com as marcas de moda para desenvolverem produtos diferenciados e atrair o olhar dos consumidores. Dois grandes ícones mundiais acabaram de fazer isso: a poderosa The Beats – especialista em caixas de som compactas e headphones padrão luxo – e a Balmain – respeitada marca francesa desejada por 100% do meio fashion. O produto da vez, que será lançado em setembro e já tem gigantesca lista de espera, é o Powerbeats3 Wireless Earphones, uma edição limitada de fones de ouvido, com design e cor exclusiva disponível em três modelos diferentes. Os fashionistas e aficionados por tecnologia já esperam ansiosos. Sua alta performance inclui Bluetooth, flexibilidade do aparelho, resistência à água e ao suor, além de conectar com aparelhos como iPhone, Apple Watch, iPad e Mac, podendo receber chamadas, fazer o controle da música e ativar a Siri. O estilista da marca, Olivier Rousteing, elegeu as cores safári e dourado para revestir o aparelho e a linda case em couro, que leva o brasão da grife. Um luxo!

Celebrando a abertura do espaço multifacetado VON|TENÓRIO STUDIO no Upper Gabriel, o QG que também abriga o Tenório Studio, apresenta a exposição Origens Lapidadas, que tem curadoria de Lili Tedde. A trend forecaster assina a exposição com trabalhos realizados por Rodrigo Ambrosio, Simone Coste e Osvaldo Tenório. Sob a visão do erudito e dos traços urbanos, os artistas designers apresentam espelhos, mesas, bancos, luminárias e obras de arte realizadas em madeira, pedra, ferro, latão, bronze e resina. Tenório apresenta coleções de design sob a ótica da cidade. Ambrosio, famoso pela construção de uma inusitada cadeira de rapadura, é conhecido por resgatar a origem cultural através do equilíbrio de materiais naturais. Para a mostra, ele leva elementos orgânicos para o ambiente urbano. Já Simone Coste, apresenta uma arte onde blocos de resina são marcados por elementos fotográficos e mesas lapidadas que trazem as linhas da geometria das suas joias para o mobiliário. Al. Gabriel Monteiro da Silva, 492, São Paulo. De segunda a sábado das 10h às 19h

www.balmain.com

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BECKHAM Há exatos nove meses quando se uniram e fizeram o lançamento da primeira capsule collection – recorde de vendas – a gigante dos cosméticos Estée Lauder aposta novamente no sucesso da parceria com a designer Victoria Beckham. Dessa vez, o investimento quase triplicou de tamanho. O resultado foi uma coleção mais robusta, passando de dez para 28 produtos que atingirão cerca de 1.200 lojas ao redor do mundo a partir de setembro. A forte imagem e o apelo fashion de Beckham realmente surpreendem e agregam valor em tudo o que leva o seu toque. Inclusive, depois da coleção originária, muitos se perguntam se ela será comparada a Tom Ford, que começou na moda e também se perpetuou no mercado de cosméticos, em especial no mercado de maquiagens. Não poderia ser diferente: o bom gosto e o trabalho avassalador que Victoria faz nas mídias sociais encanta e carrega a qualquer lugar sua legião de fãs. A coleção é bem completa e com embalagens chiquérrimas. Segue aqui a lista tem-que-ter: • “The morning aura”, o poderoso creme iluminador • “Skin Perfecting Powder” • “Aura Gloss in Honey” • “Eye Ink Máscara” www.esteelauder.com

RELAX IN PARIS Não é novidade que é um encanto estar em Paris, andar a pé pelas ruas, visitar os inúmeros monumentos e, claro, fazer compras. Pensando no after desses maravilhosos programas, elegemos um dos melhores spas urbanos do mundo, que fica no coração da Cidade Luz, para descansarmos. O The Península Spa nos convida a equilibrar nossa passagem pela cidade, trazendo momentos de relax e inúmeras experiências sensoriais. É o maior e mais luxuoso spa da cidade, distribuído em 1.800 m2 de bemestar, serenidade e refinamento. Com o objetivo de Diversas marcas de oferecer uma verdadeira exaltação à beleza, segue roupas e acessórios já os moldes franceses ao mesmo tempo em que investiram em temas utiliza práticas da ancestralidade asiática. O spa divertidos em suas oferece seis diferentes tratamentos individuais, coleções. O resultado duas suítes privativas, uma suntuosa piscina é uma moda indoor, duas piscinas especiais para terapias autêntica e de vitalidade, saunas, Hammams, banhos eclética, que terápicos e, para arrematar a experiência, normalmente um menu criado pelo chef Christophe atrai fãs de todas Raoux, inspirado na cozinha asiática. Já as idades. Moschino, quer fazer a sua reserva? Miu Miu, Chanel, todas spappr@peninsula.com já viveram momentos de Paris: (+33) 1-5812-6682 brincar com personagens, cores e temas, como Barbie, Bob Esponja, super heróis. Dessa vez, quem vem encantando é uma coleção cápsula, da britânica Charlotte Olympia, que apostou no mundo Marvel e Spider-Man. Ícones da marca, como sapatilhas de gatinho, saltos de sandálias, clutches e sneakers, foram totalmente caracterizados. Onde quer que cheguem, é impossível passarem despercebidos. Acabaram de chegar às lojas, vale a pena conferir!

SUPER HERO STYLES

EPICENTRO DE MODA E DE ARTE A cidade de Marrakech foi escolhida para abrigar, a partir de outubro, nada mais, nada menos do que o Musée Yves Saint Laurent, um museu dedicado inteiramente à vida, à luxúria e ao império fashion de Yves Saint Laurent. Segundo o premiado curador Björn Dahlström, que está cuidando pessoalmente de cada detalhe da montagem, o designer deve muito à cidade. Foi lá que o estilista passou parte de sua vida criando, viveu o mundo mais colorido, e onde criou

www.charlotteolympia.com

icônicas coleções. Por tudo isso, Dahlström fala que o museu não poderia deixar de ser exótico, extraordinário e mágico. Esses foram os pilares imprescindíveis na construção do projeto, que promete ser um verdadeiro centro cultural. A construção trará no prédio principal cinco mil peças do acervo de alta costura, 15 mil acessórios desenvolvidos pelo designer ao longo da carreira, fotos, desenhos e muito mais. Haverá também espaços para exposições temporárias, auditório para shows, estrutura tecnológica para apresentações e reproduções ao vivo de óperas e teatros que rodam pelo mundo, e trará ainda uma biblioteca com mais de cinco mil volumes, loja de livros, café, oficina e escritórios. Tem tudo para ser fabuloso!

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GRANDIOSO

A ARTE DE AMAR o

Fotos: Divulgaçã

IMPORTANTE ARTISTA DA SEGUNDA GERAÇÃO DO MOVIMENTO MODERNISTA, RAPHAEL GALVEZ SERÁ GRANDIOSAMENTE ETERNIZADO POR MEIO DO DETENTOR DE SEU ACERVO, QUE DOA 60 OBRAS PARA A ORGANIZAÇÃO MÉDICOS SEM FRONTEIRAS POR PAULA SANTANA 204 « GPSBrasília

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Fotos: Divulgação

Liberdade de expressão (Bairro da Cachoeirinha), 1947, óleo sobre cartão, 33,8 x 50, 5 cm

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ma história de amizade e solidariedade. Assim pode ser definida a estreita relação entre Orandi Momesso e Raphael Galvez, empresário e artista, respectivamente, que, na década de 80, iniciaram uma trajetória em torno da arte que ainda hoje, mesmo após a morte do modernista, prolonga-se. Momesco descobriu Galvez durante uma coletiva no MAM. Encantado com o trabalho aplicado nas mais variadas manifestações artísticas, Momesco foi à procura de Galvez e logo se tornaram grandes amigos. “Semanalmente, saia do meu escritório e ia visitá-lo em seu ateliê. Ele era muito versado em tudo. Conviveu com os grandes artistas. Ao seu lado, o aprendizado era enorme”, relata Orandi.

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Ostentação (Bairro da Barra Funda), 1946, óleo sobre cartão, 33,8 x 46 cm

Fotos: Divulgaçã

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Nu sentado VI, 1956, carvão sobre papel, 47 x 36 cm

u reclinado

grafite so re a el

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Erudito e de hábitos simples, o artista, por sua vez, passou grande parte da vida dividido entre pinturas e desenhos que realizava por puro prazer. Por apego, recusava-se a vender seus trabalhos, o que fez com que passasse despercebido do grande público, apesar do segmento sempre o considerar um importantíssimo nome do movimento. À época, para o seu sustento, Galvez produzia esculturas tumulares para cemitérios e monumentos. Acolhido por uma associação de artistas, o Grupo Santa Helena, seu talento fez com que se tornasse parceiro de ateliê de Mário Zanini, mas não o impediu de viver em prolongado recolhimento a partir da década de 60. Pouco antes de falecer, em 1998, Galvez chegou a comercializar algumas de suas obras, devido à insistência do amigo Momesso. Mas ele retrucava quando questionado sobre o porquê da resistência: “Você venderia um filho seu?”. Preocupado com o bem-estar de seus dois irmãos e duas irmãs, que viviam sob seus cuidados, o artista solicitou ao amigo que, após a sua morte, ele assumisse seu acervo, bem como os familiares. “Eu assim o fiz, conforme o prometido. Os irmãos me doaram todas as obras e eu passei também a tomar conta deles até a morte. Todos foram muito longevos, faleceram com mais de 90 anos."

Momesso tornou-se colecionador de alto garbo ao longo de sua bem-sucedida trajetória profissional. Após vender seus negócios, há oito anos, passou a dedicar-se integralmente à sua coleção. São cerca de 3,4 mil obras, dentre elas urnas funerárias da época pré-Cabral, mobiliários e pratarias dos séculos XVII, XVIII, além dos acadêmicos modernistas. O fruto mais recente do colecionador transformou-se numa mostra beneficente realizada na Galeria Almeida e Dale, São Paulo. Ele doou um conjunto de 60 obras de Galvez, entre 40 pinturas e 20 desenhos, cuja renda integral se destinará à organização internacional sem fins lucrativos Médicos Sem Fronteiras. “A ideia surgiu em 2016, quando me deparei com uma videorreportagem que apresentava o trabalho da instituição. Fiquei emocionado com a atuação dos profissionais de MSF, e decidi que deveria ajudar. Esses médicos não estão preocupados com ganhos financeiros, mas, sim, ajudar o próximo. Assim como Galvez, que não se interessava por glórias ou com o ganho das vendas”. Para auxiliá-lo no processo de escolha das obras, o colecionador convidou o curador Rui Moreira Leite. “A exposição traz um recorte bastante interessante da produção de Galvez, um registro do que foram, para o artista, os anos 30 até 80. Ganham destaque nesta época uma série de paisagens de São Paulo”, diz Leite.

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Divulgação

A GRAÇA

Joana França

BASTIDORES

Exposição O Corpo é a Casa, de Erwin Wurm

"Big Mother" da exposição ComCiência de Patricia Piccinini

DA VIDA MARCELLO DANTAS TRAZ EM SUA JORNADA COMO CURADOR OBRAS QUE INTRIGAM AO MESMO TEMPO QUE DIALOGAM SOBRE O COMPORTAMENTO HUMANO. SUA MISSÃO É ABSORVER O ESPECTADOR E DINAMIZAR OS SEUS PENSAMENTOS POR LARISSA DUARTE

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Marcello Dantas

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Bebê Híbrido da exposição ComCiência de Patricia Piccinini

Joana França Joana França

Exposição O Corpo é a Casa, de Erwin Wurm

Dantas morou dois anos na Capital Federal, quando estudou Relações Internacionais na Universidade de Brasília. Mas, seu talento era mesmo para as artes. Mudou para Nova York, onde formou-se em Cinema e Televisão pela New York University, nos Estados Unidos, e também em História da Arte e Teoria de Cinema, em Florença, na Itália. Atualmente, aos 50 anos de idade e 21 de experiência, é curador e diretor de planejamento do Japan House, um projeto do governo do Japão em São Paulo. “Eu me interesso pela vida. Arte tem que ser a vida”, afirma Dantas sobre sua linha curatorial. Logo nos títulos das exposições ele chama a atenção para assuntos reais, como cotidiano, genética, comida, corpo humano. “A prática de pensar exposições consiste na criação de universos inteiros que precisam respeitar a experiência da pessoas", explica.

A

dentrar uma exposição de arte é como embarcar em uma viagem celeste. É possível sobrevoar horizontes. As escalas podem ser longas, com pausas para apreciar as particularidades de cada ambiente. Construir um cenário artístico que inebria o espectador exige uma verdadeira logística. Para haver enredo, uma mostra de arte precisa ter ordem e ser dinâmica. Essa missão é um dos pilares do ofício de um curador. Ele é responsável por selecionar, montar e, finalmente, apresentar o conjunto de obras completo ao público. O carioca Marcello Dantas é destaque mundial como documentarista e direção artística. Na bagagem, honrarias na Bienalle Internationale du Film Sur L`Art do Centro Georges Pompidou, em Paris; no FestRio e no International Film & TV Festival of New York, além do célebre ID Design Award da revista BusinessWeek.

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Joana França

RETRANCA

UM ARTISTA APRESENTANDO OUTRO Na lista de curadorias, Dantas preza por personalidades e movimentos que enaltecem a singularidade da arte. Ele usa como exemplo a mostra Erwin Wurm: O Corpo É a Casa, que desembarcou no CCBB, em Brasília, no primeiro semestre de 2017. Na ocasião, as obras do artista austríaco foram exibidas pela primeira vez no Brasil. “Erwin sempre olhou para o nosso dia a dia como ninguém mais olhava”, diz. Dantas conta que o artista enxerga a escultura como mídia transformadora. “Nós pensamos na escultura como mídia fechada. Para ele, ela é dinâmica, permite o movimento”. Além disso, Erwin retrata a sociedade contemporânea, no momento em que poucos artistas conseguem tal tradução. Na exposição, Erwin desafia formas tradicionais. Carros, casas, sofás e pessoas distorcidas e expandidas são representados em 40 obras, entre esculturas, vídeos, instalações, performances e intervenções. Com isso, o austríaco mostra que nós estamos “fora de forma” e que a nossa função deixou de existir. Outro diferencial que o curador destaca sobre o artista é o aspecto participativo de sua obra, pois ele faz isso com humor, uma linguagem com a qual o brasileiro se relaciona muito bem.

Modelo para Sobrevivência, 2014 de Julia Castagno

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Exposição Evento

DESAFIO DA ATUALIDADE Isso explica a incorporação tecnológica dentro dos espaços expositivos, como experiências com vídeos interativos, computadores, mesas de toque, entre outros recursos. O curador evidencia que a arte há de se reinventar. Para envolver as pessoas, é necessário criar ferramentas que as mantenham tempo suficiente observando uma obra. “O brasileiro, por exemplo, tem esse traço muito forte de tentar capturar a arte. Ele quer pegar a coisa para si”, conta.

Carol Quintanilha

Dantas acredita que um dos maiores desafios da museologia é conservar a capacidade de atenção das pessoas. Segundo ele, metade do público frequentador de museus tem menos de 20 anos. Ou seja, integra uma geração que nasceu inserida na era tecnológica. Logo, se a museologia não levar em conta tais hábitos, ela perderá a direção. “A tecnologia está no mundo, a solução foi trazê-la para dentro das exposições. A união do antigo e do novo é algo alcançável”, afirma.

Exposição Japan House 212 « GPSBrasília

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ARTE

O HOMEM QUE VIVEU NO FUTURO AOS SEIS ANOS, GÊ ORTHOF DECIDIU SER PINTOR. CRIADO NO VAZIO DO PLANALTO CENTRAL, ELE TRANSITOU NO TEMPO E NOS ESTUDOS PAÍSES AFORA ATÉ VOLTAR PARA BRASÍLIA. ATUALMENTE, O MAIS EXPRESSIVO ARTISTA DA CAPITAL PREPARA OBRA E LIVRO PARA GANHAR O MUNDO MAIS UMA VEZ POR ANDRESSA FURTADO « FOTOS ZULEIKA DE SOUZA Coleção Home Cultural Center

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Fotos: Divulgaçã

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Instalação Pasaquan, a Primeira Carta no John Michael Kohler Arts Center

G

ê Orthof transcende. Não só com seu dom das palavras, mas com a personalidade e a forma como enxerga o cotidiano. Gê é patrimônio tombado de Brasília. Chegou à cidade em janeiro de 1960, vindo de Petrópolis, Rio de Janeiro, exatamente três meses antes de a Capital Federal ser inaugurada. Seu pai veio para ser o primeiro diretor do Hospital de Base, que, na época, chamava-se Hospital Distrital. Sua mãe, para dar aula de teatro na Universidade de Brasília (UnB). Ele tinha apenas seis meses de vida.

Cresceu no meio da poeira. Resume esse período de amadurecimento como uma infância de vazios. “Morei durante anos na 106 Sul, num bloco virado para o Eixão. Sempre ficava na janela olhando aquela imensidão de vazios. Quando via um carro passar, eu vibrava. A cidade não tinha completamente nada. Esse céu absurdo era o que me marcava”, relembra. Geraldo Orthof Pereira Lima sempre amou a arte. Sozinho, criava geringonças em seu quarto. Não gostava de brincar no parquinho embaixo do bloco. “Fui uma criança esquisita”, conta. Gê lembra que vivia no futuro em diversos momentos da sua vida. Como o artista ia à Cidade Maravilhosa constantemente rever a família, quando retornava para a escola contava tudo que ainda ia acontecer. “Era muito interessante, porque eu sentia esse descompasso do tempo e me achava um viajante do futuro. Bem como

no filme 2001 – Um viajante do tempo”, compara. Naquela época, as novelas, filmes, propagandas, chegavam a Brasília de avião em fitas cassetes “depois que todo mundo já tinha visto”. Com seis anos de idade, fez o planejamento da sua vida: decidiu ser pintor. Ele acreditava que precisava escolher uma profissão que conseguisse seguir até os 103 anos de idade. Além disso, era aficionado pela Dinamarca. Seu fascínio pelo país não tinha motivos aparentes. Vai entender, o menino queria ser dinamarquês em pleno Planalto Central. Mal sabia ele que anos depois se tornaria cidadão do mundo. “Montei uma bicicleta com o assento de veludo. Tomei um banho, penteei o cabelo de lado e saí pedalando da minha casa até a Embaixada da Dinamarca. Bati na porta e disse: eu quero morar aqui”, conta. Claro, ninguém entendeu nada. Dali em diante tornou-se um visitante ilustre do lugar, até que, anos depois, conheceu ao vivo e a cores o país nórdico. Sua família fugiu do Brasil por causa da Ditadura. O destino? A França. Logo depois, ganhou uma bolsa para passar um ano em Nova York na School of Visual Arts (SVA), escola conhecida por formar artistas famosos. “Eu comecei a expor quando entrei para a Escola Superior de Desenho Industrial no Rio, por volta dos 19 anos”, conta. Voltou para NY para fazer mestrado e doutorado na Columbia University, onde ficou mais oito anos. Só decidiu fincar raízes em Brasília, em 1993, para ser professor da Universidade de Brasília (UnB), onde leciona até hoje.

O ARTISTA Orthof é um artista contemporâneo conhecido pelas instalações. “Trabalho com miniaturas que ocupam dimensões inteiras”, explica. O fio que permeia suas obras tem tudo a ver com o filme 2001, citado anteriormente. “Na história tem a transição entre a pré-história e o futuro. O homem é o elo entre esses dois períodos. Eu queria viver nesse mundo entre macacos, ossos e naves espaciais. Essa maneira de conectar coisas aparentemente interditadas ou proibidas sempre me interessou”, diz. Outro detalhe presente em seu processo criativo é que em todas as suas criações, procura um livro que tenha a ver com o que está construindo. “Cada trabalho tem seu livro”, revela. Conquistou um grande público fora do País. Recebeu bolsas e prêmios de instituições como Penn State University, na Pensilvânia, da Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo, da Columbia GPSBrasília « 215

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Instalação Pasaquan, a Primeira Carta no John Michael Kohler Arts Center

PRINCIPAIS EXPOSIÇÕES INDIVIDUAIS: • • • •

Écoute, ARS 117 (Bruxelas, Bélgica, 2009); 800C, Davis Museum (Barcelona, Espanha, 2009); A violência da história: O chão de Gertrud, Centro de Arte Moderno (Madri, Espanha, 2008); Transteatralidade, Casa da Cultura da América Latina (Brasília, 2006).

PRINCIPAIS EXPOSIÇÕES COLETIVAS: • •

Brasília Síntese das Artes, Centro Cultural Banco do Brasil (Brasília, 2010); Moradas do Íntimo, Espaço Cultural Marcantonio Vilaça (Brasília, 2009).

Gê Orthof tt geort of org @georthof Referência Galeria de Arte tt referenciagaleria com r SCLN 202 bloco B loja 11 subsolo Fones: (61) 3963-3501 ou (61) 98162-3111

Isaias Martins

University, em Nova York, da Associação de Críticos de Arte de São Paulo, do Centro Cultural de Curitiba e da Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil do Rio de Janeiro. Em 2010, foi indicado ao Prêmio PIPA. Já em 2015, foi o único brasiliense a ganhar o Prêmio CNI SESI SENAI Marcantonio Vilaça para as Artes Plásticas – o maior e mais importante do segmento. Dentre trinta nomes selecionados, apenas cinco venceram. Gê foi um deles, ao lado de Virgínia Medeiros, Berna Reale, Grupo Empreza e Nicolas Robbio. “Foi muito importante para mim, porque meu trabalho começou a circular por outros espaços. Acabou sendo uma troca de experiências ao conhecer outros artistas, outras pessoas e suas obras”, comemora. Este ano, o artista vai expor em Londres, no Terra Gallery, no Rio de Janeiro e na Alemanha. Sua agenda está sendo orquestrada juntamente com a produção do livro homônimo, que conta sua trajetória ao lado do curador, professor e crítico de arte, Agnaldo Faria. É representado por uma galeria da Finlândia e lida com o público internacional constantemente. “Tenho admiradores do meu trabalho em vários lugares do mundo. Isso é motivo de orgulho”, afirma. Em Brasília, suas obras podem ser apreciadas na Galeria Referência. Gê sobreviveu à poeira e à terra vermelha e viu de perto a cidade ganhar vida. Mudou a história cultural do Planalto Central. Seu sonho? Expor no Museu de Arte Moderna de Nova York, o famoso MoMA.

Divulgação

RETRANCA

crílico e cai as de m sica

oleção do artista

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ARTE POR MAURÍCIO LIMA

mauricio@galeriaclima.com.br

Felicidade scultura lã

NAZARENO N

ascido em São Paulo em 1967, Nazareno cresceu em Fortaleza, Ceará. O mundo das artes apareceu em sua vida ainda na infância. Ele cresceu em uma casa com uma coleção de arte maravilhosa, que incluía, entre outras, obras do renomado artista gaúcho Iberê Camargo. Ainda conviveu com algumas tias que estudaram na Escola Nacional de Belas Artes, no Rio de Janeiro.

Durante esse período, a preocupação com o detalhe foi incorporada ao seu repertório visual. É como um fascínio, um flerte com o detalhe. O artista usa peças pequenas, mas cheias de detalhes, como pequenos móveis e cadeiras perfeitamente entalhada em madeira. Os detalhes que exige em seus objetos também são notados em seus desenhos. A minúcia empregada exige muita dedicação. Alguns trabalhos demoram dias para serem preenchidos por suas mãos habilidosas. Segundo o artista, “cresci vendo o cuidado de fazer as coisas mínimas, escutando que o benfeito está nos mínimos detalhes”. A preocupação com os pequenos elementos, às vezes quase imperceptíveis, veio da avó, cos-

tureira de conhecida maestria, da tia bordadeira e da mãe, que dominava sofisticadas técnicas de culinária. Aos 19 anos, muda-se para Brasília-DF, onde cursa bacharelado em Artes Visuais, na Universidade de Brasília (UnB). Em 1997 começa a carreia criando desenhos, esculturas e obras multimídias. Desde o início, Nazareno chamou a atenção de críticos e curadores com obras geralmente desenvolvidas em escala miniaturizada, mas com potente raiz conceitual. Em seu trabalho, o artista aborda os pormenores das relações humanas (aqueles pequenos mistérios que chamamos socialização), bem como questões referentes a infância, contos de fadas, jogos e outras coisas que compreendemos como memória e história. Devido aos pequenos tamanhos dos objetos usados, suas obras são facilmente associadas a brinquedos. “Eu sempre acreditei na força dos brinquedos como um símbolo de algo

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Valentes esen o

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Nascemos para viver esen o a el madre rola

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scultura madeira m rmore

perdido apenas esperando para ser resgatado”, comenta o artista, mas ele ressalta que “o assunto não é a minha infância. Tratam-se de questões gerais sobre o tema”. Em 2003, depois de entender que o mercado e a cena de arte na Capital Federal ainda era muito incipiente, teve coragem de largar tudo e se mudar para São Paulo, onde vive e trabalha até hoje. Nazareno tem participado de inúmeras exposições nacionais e internacionais. Destaque para mostras em São Paulo no MAM, Itaucultural, Instituto Tomie Ohtake, Video Brasil, SESC Pompeia, MAC, CCBB, e no Rio de Janeio no MAM, OI Futuro, MAR, CCBB, entre outros. Ao longo de sua trajetória, publicou os livros São as coisas que você não vê que nos separam (2004), Num lugar não longe de nocê (2013), ABC Um guia prático para pessoas de todas as idades (2014), Uma vez de olhos abertos, Abra-os novamente (2015), Somos iguais (2017). Algo que sempre devemos observar quando pensamos em comprar uma obra de arte é saber se grandes e importantes coleções e acervos já têm o trabalho do artista. No caso do Nazareno, sua obra faz parte do acervo de importantes museus, como o MAM e MAR no Rio, MAMAM no Recife, MAB em Brasília, MAC em São Paulo e FVCB em Porto Alegre.

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CRIAÇÃO

Cadeiras Tri por Vasconcellos Barreto

MERCADO COM DESIGN

Luminária Medusa por Designer 80e8

Já ouviu falar da MADE? Tratase da maior feira de design colecionável da América Latina. O evento movimentou São Paulo com cem expositores de todos os cantos do mundo, como Bélgica, Coreia do Sul, Suíça, Holanda e Portugal. O tema Tramas trouxe a sinergia entre a matéria-prima e a manufatura. “A plataforma promove e fortalece as relações do design, mantendo o foco no design autoral”, diz Waldick Jatobá, idealizador do evento. Um dos pontos altos das exposições, que ocorreu no Prédio da Bienal, quando a parceria entre o Studio Guilherme Torres e a NOS Furniture comemoraram os dez anos da mesa Jet. Veja os high lights.

Luminária da coleção Elo por Ana Neute

Peça por Giaco Vaso Raízes por Carol Gay Vaso Imigrante por Nicole Tomazi

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Estante Plana por F. Studio Tapete Jean Gillon por Estudo de Tapeçaria

Fruteira Cordilheira por Studio Thiago Bicas

Luminária Bamboula por Noemi Saga Atelier

Poltrona quadrada por Decarvalho Atelier

Peça por Giacomo Tomazzi Studio Cesto Musgo por Ines Schertel

Mesa Vibra por Érico Gondim

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COMPOSIÇÃO

UMA OBRA ADMIRÁVEL GRANDIOSO ARQUITETO, RESPONSÁVEL POR OBRAS MONUMENTAIS MUNDO AFORA, GEORGE MILLER REALIZA O SONHO DE CONHECER BRASÍLIA, “UMA CIDADE CONSTRUÍDA DO ZERO”. IMPRESSIONADO, ELE DIZ QUE OSCAR NIEMEYER E LÚCIO COSTA COMPREENDIAM QUE “O FUTURO CONSISTIRIA NO IR E VIR DOS CIDADÃOS”

Christian Mueller/Shutterstock

POR PEDRO LIRA

P

irâmide do Museu do Louvre, em Paris; Hotel Four Seasons, em Nova York; Centro de Governo e Estudos Internacionais da Universidade de Harvard; Palazzo Lombardia, em Milão; torre do Banco da China, em Hong Kong; Museu de Arte Moderna de Luxemburgo. O que todas essas construções têm em comum? Saíram de geniais mentes, reunidas na Pei Cobb Freed & Partners, em Nova York. O maior escritório de arquitetura do mundo. Entre os principais nomes desse time dos sonhos está George Miller. O nova-iorquino e sócio-diretor da empresa foi responsável por uma centena de projetos em todo o mundo. Destaque para o Meyerson Symphony Center, em Dallas; o National Constitution Center, na Filadélfia; e a sede do Banco da China em Midtown, Manhattan. Para citar alguns.

MUDAM – Museu de Arte Moderna de Luxemburgo

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Fernando Veler

Miller levou Brasília no coração e nas fotografias tiradas ao lado de estudantes nos monumentos da cidade

Adivinha qual cidade do mundo Miller sempre desejou conhecer? Brasília. Não é de se surpreender, dada a peculiaridade da arquitetura da cidade em relação a outras no mundo. A convite do Instituto de Educação Superior de Brasília (IESB), o desejo deles foi realizado. Ele e o arquiteto madrileno José Bruguera estiveram por três dias na Capital para um encontro com estudantes. Ministraram palestras e passaram uma manhã inteira turistando. A GPS|Brasília acompanhou tudo e conta as impressões dos surpreendentes gringos sobre os gênios brasileiros Oscar Niemeyer e Lúcio Costa. “Sempre foi um sonho conhecê-la. Agora, percebo que ela é ainda mais linda do que eu imaginava”, elogia Miller. “Difícil não ter curiosidade numa cidade construída do zero. É impressionante ver tudo isso de perto”, completou Bruguera. Miller apaixonou-se pela Catedral Metropolitana de Brasília. Comentou sobre os vitrais, escutou atentamente a história da construção e, claro, fez vários registros com a máquina fotográfica. “Vista por fora a construção é bela e sensível; quando entramos, a experiência é ainda mais profunda. Esses anjos suspensos são encantadores”, observou. Questionados sobre a técnica usada por Niemeyer e Lúcio Costa, ambos concordam que o projeto foi bem-sucedido no quesito trânsito de pessoas. “É claro que eles não podiam prever, em 1960, que o número de carros e

moradores cresceria tanto”, defende Miller. “Brasília é uma cidade livre, verde, onde as pessoas não precisam andar em linha reta. São livres para passar embaixo de blocos, atravessar as entrequadras, trafegar pelas ciclovias. É admirável”, comenta o profissional.

NOVA ARQUITETURA Falando sobre os desafios futuros da disciplina, Miller e Bruguera defendem o pensamento verde da nova geração. “Os jovens perceberam a importância de uma arquitetura sustentável. Essa concepção ecológica na hora de criar um projeto é fundamental para o desdobramento do mundo”, defendem. Por outro lado, a falta de foco no que realmente importa pode ser um empecilho às novas gerações. Miller é enfático ao explicar que a arquitetura deve ser pensada e feita para as pessoas. Precisa funcionar na prática, com uma sociedade inserida ali. Bruguera pensa na mesma linha. Para ele, é necessário ao bom profissional entender essa regra. “Ele precisa pensar além do projeto, na praticidade da construção. Como Brasília, onde as pessoas circulam, têm acesso por onde passam”. por: Assim como Brasília foi pensada, para as pessoas circularem com facilidade", opina.” GPSBrasília « 223

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Fotos: Divulgação Isaac Mok/Shutterstock

Banco da China em Midtown, Manhattan, é um projeto de George Miller

A pirâmide do Museu do Louvre, em Paris, é um dos projetos do escritório Pei Cobb Freed & Partners

Enquanto se fartava em admirar Brasília, George Miller conversou com a revista, revelando suas impressões sobre nosso lifestyle. •

308 Sul, a quadra modelo do projeto original: espantou-se ao detectar como o ar circula de forma livre entre os prédios.

Cobogós: ficou impressionado por não existir uma frente principal dos prédios, para pessoas poderem entrar por todos os lados.

Athos Bulcão e a Igrejinha de Nossa Senhora de Fátima: “O formato do prédio é muito encantador, sem falar na elegância dos azulejos de Athos Bulcão” – foi a primeira vez que o arquiteto conheceu nosso artista.

Setor Militar Urbano: divertiu-se com os sons do eco na Concha Acústica.

Projeto favorito: apaixonado por pessoas, sua maior paixão é criar centros culturais, como museus, bibliotecas e universidades.

Cidade preferida: categoricamente responde Nova York. A segunda é Paris, por ser bonita e bem organizada.

GEORGE MILLER É formado em arquitetura pela Universidade da Pensilvânia. Ingressou no time da Pei Cobb Freed & Partners em 1975 e se tornou sóciogerente em 1990. Foi reconhecido pelo Instituto de Arquitetos Americanos do Estado de Nova York por suas contribuições com a profissão. Na Pei Cobb Freed & Partner, é responsável pela administração geral, operações e gerenciamento de pessoal. Sob sua liderança, centenas de grandes projetos foram conduzidos, desde a concepção até a conclusão, como o Meyerson Symphony Center, em Dallas, e a sede do Banco da China, em Midtown, Manhattan. Entre os cargos de liderança na profissão, atuou como presidente nacional do Instituto Americano de Arquitetos (AIA) em 2010.

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Hall do hotel de luxo Four Season em Nova York

JOSÉ BRUGUERA •

Instabilidade política brasileira e americana: defende todos os tipos de manifestações, por acreditar que, assim como a arquitetura, elas constroem o futuro. “Em Brasília as pessoas protestam no coração do centro político do País. É muito bonito”.

Se fosse construir uma cidade: priorizaria a mobilidade urbana. “Niemeyer fez um ótimo trabalho nesse aspecto. A cidade do futuro precisa pensar no ir e vir das pessoas”.

Conselho profissional: “Seja prático e trabalhe menos”. Ele explica que na sede da Pei Cobb Freed & Partners, que funciona 24h, é comum encontrar pessoas virando noite em cima de plantas e projetos.

Sobre o tempo: “Eu não mudaria muita coisa na minha vida, mas uma delas seria ter trabalhado menos e ter vivido um pouco mais”, conta, saudosista, o americano que nunca se casou e não tem filhos.

É formado em arquitetura pela Universidade Nacional do México e mestre pela Universidade Estadual de Nova York. Ingressou na Pei Cobb Freed & Partners em 1989 e tornou-se parceiro em 2009. Seu trabalho é rico em detalhes e materiais geométricos, invenção arquitetônica e domínio da tecnologia de construção. Como designer principal de muitos projetos recentes na Europa, seu trabalho inclui o Grand Marina Hotel em Barcelona; Torre Espacio em Madrid; Palazzo Lombardia – nova sede do governo para a região da Lombardia, na Itália; e a Universidade Europea de Madri.

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PANORAMA

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rte ou design? “Uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa”, diria a vã filosofia do provérbio popular. Será que se confundem? Eles são artistas, designers? Pontuar as disparidades entre ambos é algo tênue. Mas criatividade e genialidade circundam os dois gêneros. A grande diferença, no entanto, é a origem do estímulo. Na arte, ele é interno, no design é externo.

A palavra arte, do latim ars, significa técnica, habilidade. Possui o intuito de expressar emoções e ideias, traduzidas num significado único para cada obra. “Olha que coisa mais linda, mais cheia de graça, é ela, a menina que vem e que passa”, descreveu Vinicius de Moraes na canção Garota de Ipanema. A música é a descrição da mulher amada, um estímulo interno do artista… arte pura.

Fotos: Divulgação

ALMA PRÓPRIA

CADA VEZ MAIS INSERIDO E NECESSÁRIO NO COTIDIANO, O DESIGN E SUAS EXTENSAS VERTENTES SE DISTANCIA DO CONCEITO DE ARTE, CONSOLIDA-SE COMO MOVIMENTO CONTEMPORÂNEO E FAZ A JUNÇÃO DA CRIAÇÃO COM A FUNCIONALIDADE POR PEDRO LIRA

Irmãos Campana, Romero Britto, Iomar Augusto da Adidas e Alexandre Herchcovitch são brasileiros renomados no design

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COISA ANTIGA O design moderno despertou atenção a partir de uma junção de movimentos artísticos e suas influências nos idos do século XIX. Mas foi no Cubismo de Picasso que o segmento começou a ganhar identidade. Muitos foram os colaboradores. Até a Teoria da Relatividade de Albert Einstein serviu, ao mudar a visão da realidade; ou Sigmund Freud, que inspirou os surrealistas a criarem a partir de seus sonhos, de seu inconsciente e de seu imaginário, saindo absolutamente do convencional.

Fotos: Divulgação

E tudo o que vem a partir daí como produto é design. Por exemplo, se o designer personalizar uma xícara com as formas do corpo da personagem da Garota de Ipanema, imprimir a letra da música no utensílio, agregar funcionalidade e colocar o objeto à venda, então tem-se um design. “Design não é arte. Design responde uma pergunta, enquanto a arte propõe a pergunta”, explica Bruno Porto, coordenador do curso de Design Gráfico do Instituto de Educação Superior de Brasília (Iesb) e curador da Bienal de Design Gráfico do Brasil. “Enquanto a arte é individual e tem relação única com cada pessoa, o design é um projeto que atende ao maior número possível de indivíduos a partir de seu objetivo”, completa.

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Fotos: Divulgaçã

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Tudo é designer. Acima randing de marca ao lado, cartazes de Felipe onda a ai o relic rios de São Tolosa

A figura central do design gráfico foi o italiano Fortunato Depero, um futurista que transformava ideias poéticas em imagens visuais e acabou por influenciar escolas importantes para o segmento, como Dadaísmo, Construtivismo, De Stijl. E até a Bauhaus, que teve seu movimento encerrado pelos nazistas, mas mesmo assim fez vingar a nova estética do século XX. Foi nos anos 50 e 60 que a chama gráfica reacendeu com a chegada da Pop Art, vinda diretamente dos Estados Unidos e da Inglaterra. A ideia era que artistas produzissem algo que exprimisse o verdadeiro espírito do mundo atual, usando objetos de uso corrente e envolvendo a arte no contexto cotidiano. E se houvesse intenções de crítica e sátira social, melhor ainda.

POR AQUI Durante 22 anos de ditadura militar, seguida por uma economia frágil, sofrendo a instabilidade da inflação, a produção comercial e o incentivo à criatividade foram escanteados no País. Esse quadro começou a mudar nos anos 1990, quando voltamos a nos desenvolver social e economicamente. No novo milênio, nunca se produziu tanto design no País. A onda de empreendedorismo e startups é considerada o motivo da guinada no setor. “As pessoas arriscam-se mais, correm atrás de criações para aumentar a renda em momentos de crise. Inconscientemente, elas trabalham com design”, defende Bruno. O Brasil é referência no assunto. Uma das vantagens da área é a versatilidade do setor. São muitas ver230 « GPSBrasília

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TODO DIA É DIA DE DESIGN por Guto Lins, poeta e designer

“Todos os dias quando o design toca, você levanta da sua design, calça um design e vai ler o design do dia. Senta no design da cozinha enquanto o pão esquenta no design. Toma um design de leite veste um design correndo e sai atrasado para pegar um design na esquina. Pela design você vê design para todos os lados: o design de uma peça de teatro, o design que para a seu lado quando o design fecha e também o design que o guarda sopra quando o design abre. Entra no escritório pisando forte, fazendo barulho com seu design novo e antes de ligar o seu design de última geração, senta na sua design acolchoada, pega esta design, e fica mais confuso ainda… Afinal, o que é design?”

cima ca as da oleção agalume ao lado a riel B nos uadrin os a ai o oster de Mattula

tentes. Entre os expoentes: design de produto, de moda, gráfico, de interiores, visual, tipográfico, editorial, de embalagens, institucional, de jogos, digital, de hipermídia e web design. “Hoje, além de ter aumentado a representatividade, há, pelo menos, no mundo, um brasileiro em destaque em cada área”, aposta Bruno. Sebastião Salgado na fotografia; Romero Britto no comercial pop; Fábio Moon e Gabriel Bá nos quadrinhos; Alexandre Herchcovitch na moda; Irmãos Campana no mobiliário. Contudo, existem brasileiros em escritórios de grandes projetos internacionais. É o caso de Marina Willer, brasileira, sócia da gigante Pentagram, escritório responsável por projeto como o Tate Museum, em Londres. “Iomar Augusto é um brasiliense que está na Adidas, ele criou a fonte da marca, incluindo a da bola de futebol Jabulani, oficial da Copa do Mundo de 2014”, lembra o acadêmico Bruno. O Brasil está presente em empresas como Google, Nokia, Facebook, Ford e entre outras.

EM CASA Pela primeira vez a Bienal de Design Gráfico Brasileiro se realizou em Brasília. Felipe Honda e Lívio Lourenzo, dois entusiastas do segmento representam Brasília. Honda é fundador da feira de publicações Motim. Ele desenvolve cartazes, pôsteres e lambes cidade afora. Lourenzo criou a primeira marca de souvenir da Chapada dos Veadeiros: a Mattula, que produz caleidoscópios, acessórios, velas e imãs de geladeira. “Os empresários têm percebido a necessidade do design e investido nesse mercado”, aposta Lourenzo, enquanto Honda conclui: “O bom design precisa possuir estética e funcionalidade”. GPSBrasília « 231

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CONVERSA

POR PEDRO LIRA

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DESIGNER

UM DOS MAIORES REPRESENTANTES DO DESIGN GRÁFICO BRASILEIRO, GUSTAVO PIQUEIRA, EM SEUS PENSAMENTOS INQUIETOS, DINAMIZA O MERCADO AO CRIAR VÍNCULO ESTREITO COM A ARTE, INSERIR SUAS CRIAÇÕES NA LITERATURA E AINDA FAZER DO SEGMENTO ALGO EXTREMAMENTE RELEVANTE AO COTIDIANO

ual o limite do design? Existe um ponto máximo para a criatividade, ou é possível quebrar barreiras e recriar conceitos, misturar o mundo das imagens e das palavras? É com esse ar de provocação que Gustavo Piqueira cria e recria novas formas da expressão visual e textual. Ele coleciona cinco How Design Awards, três Communication Arts Design Awards, dez Creativity Awards, nove Internation Design Awards mais outros 413 prêmios de design internacionais em 20 anos de carreira com projetos editoriais, corporativos e ambientais, tipografia, ilustrações e criação de objetos.

DE TODAS AS OBRAS

O paulista formado em Arquitetura e Urbanismo é fundador da Casa Rex, uma dos maiores espaços de design gráfico do País, com sede em São Paulo e Londres. Desde 1997, por lá, são produzidos projetos diversos, de extensas produções globais para marcas de consumo até projetos experimentais, como ilustração, tipografia e objetos, passando por editoriais, identidade visual e ambientação.

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Fotos: Divulgação

Macunaima

ro eto gr fico e ilustraçoes

Além disso, o artista é escritor. Já publicou mais de 16 obras, divididas entre ficções, livros infantojuvenis, design, releituras de clássicos e uma coleção de filosofia. Disposto a fugir do grande mercado, Piqueira destaca-se com algumas publicações fora do lugar-comum. Entre elas, o livro Clichês Brasileiros, publicado em 2013. Nele, fez uso de uma coleção de matrizes tipográficas do início do século XX para contar a história do Brasil. O livro raro teve apenas mil exemplares, com capa de madeira impressa em serigrafia, fixada com fita adesiva. Outro projeto de destaque foi Seu Azul, denominado livro-performance, pois leva o leitor ao papel de narrador da história. A obra é revestida com areia, que vai se soltando à medida que a leitura avança. Essa mistura de literatura com o cotidiano é especialidade do designer. Gustavo lançou este ano a obra Lululux, dividido em 34 partes escritas em um jogo de jantar: é composta por 20 guardanapos, seis jogos americanos e oito porta-copos. Com humor ácido e pensamento fora da caixinha, Gustavo criou o projeto Mateus, Marcos, Lucas e João, que mescla tipografia, narrativa ficcional e história gráfica. Para trazer a bíblia aos dias atuais, o autor substituiu Jesus por um creme anticelulite. A obra ganhou quase todos os prêmios importantes do design mundial: AIGA/Design Observer 50/50, TDC Type Directors Club, iF Design Awards, Red Dot Awards, D&AD, Core77, Communication Arts Awards, Print Magazine Design Awards, German Design Awards, How International Awards e London International Awards. Por ocasião da 12ª Bienal do Designer Gráfico em Brasília, Piqueira esteve na cidade ministrando palestra, lançando o livro Oito Viagens ao Brasil e inaugurando a exposição Primeiras Impressões – O Nascimento da cultura impressa e suas influências na criação da imagem do Brasil em mostra na Caixa Cultural até 10 de setembro. Em entrevista para a GPS|Brasília, contou sobre seus livros, projetos e, claro, design.

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RETRANCA

senso em do s ecífico a s e u lico e jetos q ue pro enas um q a h c Você a atingem a stões. odos? s duas que tinm t u a r m a o p c a é para a esign mum Ou o d ondo sim o senso co usar esResp e saem d or ca u cos p ssoas como q fi í s c o e t é Proje blicos esp ria das pe design s o ú i , p a o m d m a na ge mo o l mento r outr e deve tranha . Mas, po ão acho qu espécie n a do um to os, sim. Só nceito num to e ser d o o c o t r e p je cado. para ar ess riga todo ifi m r o f ob decod naria e e trans u o q d a gma ra tor reci de do amente ap , tal postu os rica e n at ca imedi e ser utópi de bem me a d tivid . Além uma a ela é hoje n g i s e e u q od nte do m, releva . Poré e o sign? e d d u t o para para istant limite limite em mais d cone t Existe s i ex os a stá b Sim, , ele e acostumam s e z e s sv muita nós estamo e u do q normal. r sidera

As ideias de Gustavo Piqueira polemizam o mercado do designer ao misturar elementos conceituais

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r. e janta jogo d rna m u e m d e scritas a bíblia mo artes e um m 34 p oão propõe e a id id J iv e d s a é c lux , Lu ra Lulu us, Marcos te o, a ob Ao lad projeto Ma ,o Abaixo

: Fotos

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a. arte? com a próxim s n g o i s c e s d e t o a d en gr u relação ão de par resentar a l a u Q ade, ap relaç pode e proximid is Uma m é a mb e um m ue ta sidad Mas q s de inten toriamente ei ga variáv endo obri o. tr av não h do que o ou n o e desig t e ução d cado tão corr d o r p sobre a se mer pinião tá o País nes o a u s nes Qual urece Como d ? a a r i m e a . l brasi e vem ravelmente u q o ã ? e ç vasto produ rrido. consid É uma pandindo a ser perco se ex ém, muito r do e em a há, po ertenc p a s d da a o n r i v A us li mpara e e o s c e e s u cosuena ado d isso? dizer q s é peq obre o merc ra que riastuma O que seria o r o u v t c i s l ê i s c s u e Vo am ar”. pensa dos se e mat os, pel ão-lug agens ragem itoras. O que es? i ã t um “n meus livro o, imagem n A ar tir os“ ç t e n d n d a t e e c s x d l p es No nisso tre te não grand ões indepen nca foi a mente im is zer en vezes caio e aquilo a ç u a a t a f n c e i n l l o a a p b é m u qu pu tum dei om ão i s tas c n i o m s u a a e a r l i h m u u r a um f q c e , Min s – s alguns re escrito em a lidade Designers uais dizem não é lia c i m d o ô , is ”. ue astron onsiderand ro Lululux o mercado l -lugar , artistas v as letras q itar esse v d c b i n ve l e a g á o , i u h r l o v síve é des uais, o po rmina por omo n inegável q ha conside das vro. i c l , é o s e s i t o v u que e gan ativa artes . Meu livro ro, mas nã tar. É e jan dependent os. Altern tão caiv a l d r u é t o a g e . r l jo te orqu temp onizações ão in tesana rso, p blicaç s últimos ial e ar ois? r u t adr s p unive u d d no te às p . n am in o entre os o r e ç u r t a O f s i p is is es rer. os m laçã s atua udáve o ocor al a re rabalh s ais sa as dos dia Seus t nciona e qu ra para iss lidade do m licaçõe fu reg iabi erístic o as pub v t t a d c n e Como o m a a r d r u u u t q o á apore o fu Não h é um estud produtivo isões je, proão sob v i o e n i o r e t p e t p n o s u ta xi ua o, ho o das tico q precisa que e o manual, Qual s as? ntrári ouco temp omân o r c e s s s não l s i o s e e a e r A p ná. ja, té mp rm esso r i o e a r i o proc s c t p P s m i l o . m a x a i o D sei eir anu Ele e ue vigorav e o livro tivos. , não u o financ rtesanal/m d g o o q u r L q a icas os p ro. gital. dam calípt cesso ar em term tá-lo. oncor elo livro di há um futu c á j r n a todos erminado p as sei que funcio refiro desc m p xt , o i r será e rá o futuro, trá e s como GPSBrasília « 235

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Fotos: Divulgaçã

Acima, Casa Rex, um dos maiores escritórios de designer do País. À direita, o projeto Brigaderia. À esquerda o Beluga Café

Qual o papel do designer na relação das pessoas com os livros?

A atitude de uma pessoa diante de um livro muda dependendo do formato, acabamento, se o conteúdo é mais textual ou visual. É uma ilusão acreditarmos que as pessoas não agem de forma pré-condicionada quando se deparam com algo. Dos autores com quem já trabalhei como designer,, estabeleci relações das mais variadas: desde proximidade, discutindo a obra antes de executar o projeto, até a total distância. De muita interferência à total liberdade. Os resultados foram variáveis, nem sempre vinculados a este ou àquele modelo. É bem particular. De onde veio a inspiração para escrever um livro em peças de um aparelho de jantar?

De questionar o que, de fato, consideramos ser um livro: uma narrativa impressa ou um formato específico. Porque, se você optar pela primeira definição, Lululux é um livro. Já pela segunda, não é. Logo, essa brincadeira com ressignificação de objetos me pareceu uma ideia interessante de se propor.

Existe um trabalho favorito?

Não, é impossível pensar em termos de unicidade. A relação que tenho com cada um de meus projetos não é isolada ou pontual, formam o conjunto dos meus trabalhos. Como funciona seu processo criativo?

Do jeito mais livre e variado possível a cada projeto. Não me inspiro só em outros designers, mas na rotina e nos detalhes do cotidiano. Gustavo Piqueira www.gustavopiqueira.com.br Casa Rex www.casarex.com

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Divulgação

ECLÉTICO

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igueres, Espanha – Amigo do poeta Federico García Lorca e do cineasta Luis Buñuel, admirador dos arquitetos Le Corbusier e Antoni Gaudí, Dalí conviveu com a nata artística de seu tempo – conta a lenda que também foi íntimo de Coco Chanel. Tantas influências não poderiam deixar de dar frutos: o expoente do surrealismo começou a desenhar itens como sapatos, gavetas e cadeiras em suas obras. Logo nos anos 1930, suas esculturas e objetos-móveis já começam a causar furor.

Ovelhas em forma de mesas (ou seriam mesas em forma de ovelhas?), uma cama com pernas-serpente, estátuas das quais saem gavetas, uma banheira esculpida como uma fênix. Os frutos da criatividade de Dalí eram incontáveis. Aos poucos, ganhou a admiração e o apoio de mecenas, que o financiavam em suas empreitadas exóticas. Foi graças a um deles, Edward James, que Dalí começou a se aventurar em desenhar objetos como o Telefone Lagosta e em construir projetos arquitetônicos como o Pavilhão de Vênus, exibido na Feira Mundial de 1939, em Nova York. Floresciam as novas facetas do artista: designer de objetos, móveis e casas – inclusive, ele exerce essa última função na construção de sua própria moradia, após ser expulso da casa paterna, por ser controverso demais. Com o mobiliário, porém, Dalí foi um pouco mais prolífico. Uma de suas primeiras criações, o mundialmente conhecido Sofá-Lábios (Dali lips), foi inspirado na atriz americana Mae West e hoje ocupa um dos espaços mais concorridos do Museu Teatro Dalí. O objeto, um dos poucos que teve sua produção supervisionada de perto pelo autor, tornou-se símbolo cult. A riqueza de detalhes dos desenhos, gravuras e pinturas do artista fez com que muitos móveis que existiam apenas nas telas de pinturas se tornassem tridimensionais. É o caso de mesas, lâmpadas e cadeiras que hoje podem ser adquiridos por alguns milhares de euros graças a uma empresa catalã, a BD Barcelona Design, que o comercializa os objetos de forma exclusiva.

SURREALISTA DE OBRAS ONÍRICAS, BIGODES TRAVESSOS E COMPORTAMENTO EXCÊNTRICO, SALVADOR DALÍ FOI MUITO ALÉM DAS TINTAS. CRIATIVO E INCANSÁVEL, O ARTISTA TAMBÉM FOI ARQUITETO, DESIGNER DE MÓVEIS E DE JOIAS, DEIXANDO UM LEGADO DE BELEZA E INSPIRAÇÃO NA SUA CATALUNHA NATAL POR VÍVIAN SOARES

JOALHEIRO Extravagante e gastador, Dalí tinha fascinação pelo ouro, metal que revestiu muitas de suas obras. Sua imaginação surrealista, somada a um mecenas que o incentivou no caminho da ourivesaria, gerou também uma coleção de joias deslumbrantes e de qualidade artística inquestionável. Nesse momento, início dos anos 1940, o artista já tinha atingido fama internacional. Ao perceber que milionários de todo o mundo disputavam suas criações, não teve pudor em aventurar-se em novas empreitadas artísticas. Muito bem remuneradas, diga-se. No caso das joias, a maior parte das “encomendas” foi realizada por americanos abastados, e tiveram sua fabricação minuciosamente acompanhada por Dalí enquanto vivia nos Estados Unidos. Seguindo o estilo de inspirar-se no mundo dos sonhos, nas décadas seguintes ele dedicou-se a criar corações em rubis, dentaduras de pérolas e toda uma fauna mitológica em águas marinhas e esmeraldas. GPSBrasília « 239

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Byelikova Oksana/Shutterstock

O artista construiu a própria casa, em sua cidade natal, Figueres, na Espanha,após ser expulso da casa dos pais

Um dos ícones desta fase é Lábios de Rubi (1949), que, não por coincidência, remete ao famoso sofá de Mae West – a inspiração também foi o sorriso da atriz. O Olho do Tempo (1949), um broche de diamantes, platina e rubi, desenhado por Dalí para presentear sua mulher e musa inspiradora, Gala. A joia reúne dois dos temas mais presentes nas pinturas do artista: os relógios e as retinas dos olhos. As peças que mais impressionam, porém, são as que incorporam movimento, graças aos intrincados mecanismos da relojoaria. A obra Coração Real (1953), feita em homenagem à Rainha Elizabeth II, é um relicário de ouro, que guarda em seu interior rubis e diamantes pulsantes, sincronizados a 72 batidas por minuto. Como um coração real. As obras de joalheria foram compradas por inúmeras famílias ao redor do mundo, antes de serem exibidas ao público pela primeira vez, nos anos 1970. Apenas em 1999, dez anos após a morte do artista, a Fundação Dalí conseguiu readquiri-las e reuni-las em um museu especial, sediado em sua cidade natal, Figueres, a duas horas da grande Barcelona. No espaço, aberto à visitação, também é possível visualizar os esboços de algumas delas, nos quais se vê a riqueza dos traços do designer de joias Dalí.

Inspirado pelo espírito de seu tempo, pelos sonhos e até mesmo pelo dinheiro, o surrealista transitou por todas as formas de arte que pôde. Além de pintura, escultura, arquitetura e design de objetos, aventurou-se também pelo cinema, pela literatura e pela publicidade. Esse ecletismo teve espaço até mesmo no amor e na política – comunista e libertário sexual em seus verdes anos, flertou, no final da vida, com a ditadura franquista e com o catolicismo extremo. Multifacetado e polêmico, Dalí continua, ainda hoje, a nos surpreender.

Teatro Museu Dalí Praça Gala-Salvador Dalí, 5 Figueres, Espanha (138 km de Barcelona) Entrada: 9 a 15 euros (crianças grátis até 8 anos) Dalí-Jóias ua u ada del astell sem n mero Figueres, Espanha (138 km de Barcelona) Entrada: 4 a 7 euros (crianças grátis até 8 anos) Casa de Salvador Dalí – Portlligat Portlligat E- 17488 Cadaqués – Espanha (175 km de Barcelona) Entrada: 8 a 11 euros (crianças grátis até 8 anos) – necessário reservar previamente

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Lâmpada Bracelli A lâmpada-escultura foi usada por Dalí em sua casa litorânea de Portlligat, onde viveu por décadas. O pedestal ziguezagueante é coberto por laminado de ouro, metal que era uma das obsessões do pintor. A muleta que dá suporte ao objeto está presente em muitas de suas obras. Preço: € 5 mil (sem impostos)

Olho do Tempo (1949) Homenagem à mulher Gala, o broche de platina, diamantes e rubi contém um relógio dentro de suas retinas pintadas de azul.

Mesa Baixa Leda Em bronze e mármore, a mesa também foi extraída do quadro Mulher com Cabeça de Rosas pela empresa. Destaca-se pelos elementos frequentes da obra de Dalí: o ovo, braços, pernas e o sapato. É comercializada em duas versões, a original em dourado e branco, e a edição especial, com acabamento negro. Preço: € 16,5 mil (versão original) ou € 19,5 mil (edição especial), ambas sem impostos.

Fotos: Divulgação

Cadeira Leda Desenhada pelo artista em um de seus quadros mais intrigantes (Mulher com Cabeça de Rosas, 1935), a cadeira Leda foi a à vida pelo escritório de design BD Barcelona Design, com o aval da Fundação que cuida do espólio de Dalí. Por ser uma cadeira pesada, de latão maciço, e por ter apenas três pés – elegantamente colocados em saltos, note-se bem –, guarda mais características de obra de arte do que de objeto funcional. Preço: € 20 mil (sem impostos)

Xai Xai é a palavra catalã para carneiro, e esse é o personagem principal dessa mesa-obra. Foi adaptada de desenhos extremamente detalhados feitos por Dalí, que era fascinado por animais empalhados. O original aparece na pintura Estudos de interpretação para um estábulo biblioteca, de 1942. Além do aparador e da gaveta, o móvel tem pés de bronze. Preço: € 40 mil (sem impostos)

Coração Real (1953) Um dos primeiros objetosmóveis criados pelo artista, desenhado em homenagem à coroação da Rainha Elizabeth II da Inglaterra. Um grande coração de ouro contém outro menor, revestido em rubis e diamantes e pulsando continuamente. Dalilips O famoso sofá inspirado nos lábios da atriz Mae West precisou esperar décadas para ser produzido em larga escala e comercializado. Em uma entrevista recente, o arquiteto Oscar Tusquets Blanca, amigo pessoal e correalizador dos móveis de Dalí, disse que o surrealista adorava plástico, daí a ideia de produzir o sofá em polietileno. Preço: € 1,7 mil (sem impostos)

Vis-à-vis de gala Extraído de desenhos do artista, o sofá é projetado para suas pessoas, que se sentam em direções opostas. Os detalhes em ouro folheado revelam duas mãos que abraçam o ocupante de cada lugar duas de um lado um raço masculino com rel gio de outro um feminino. É produzida na cor rosa (de acordo com o original) e em negro, em edição especial. Preço: € 26,4 mil (versão original) ou € 31,3 mil (edição especial), ambos sem impostos.

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EXPOSIÇÃO

O REAL E C A FICÇÃO PURAS FORMAS DE LUZ E SOMBRA COM A EXCLUSÃO DA FIGURA HUMANA SÃO O RESULTADO DE ANOS IMERSO NA ÁFRICA, CONTINENTE ONDE O FOTÓGRAFO CHRISTIAN CRAVO BUSCOU ELEMENTOS PARA SUPRIMIR A MORTE DO PAI, MARIO CRAVO NETO POR PAULA SANTANA

hristian Cravo tem olhar excêntrico. Nascido e crescido em ambiente artístico, sua arte não demorou a aflorar. Aos 11 anos, na Dinamarca, onde morava com a mãe, o garoto já revelava intimidade em detectar atmosferas cênicas para a fotografia. Foi aos 22 anos, quando voltou à terra natal, a Bahia, que o jovem incorporou a máquina fotográfica como instrumento de trabalho. E lá se vão duas décadas. Desde então, o fotógrafo teve seu trabalho reconhecido em importantes instituições culturais, como Paris, Nova York, Copenhague. Foi, inclusive, um dos mais jovens artistas a receber o prestigioso Prêmio Guggenheim. Ao Prix Pictet foi indicado três vezes. Cravo é sobrenome sonoro aos que se enveredam pela cultura. Christian é filho do expressivo fotógrafo Mário Cravo Neto e neto de Mário Cravo Júnior, renomado escultor. Seu talento tem hereditariedade e perpetua o nome da família no segmento. As exposições que realiza mundo afora também se transformam em livros, uma vez que todas vêm carregadas de humanismo. Dentre as seis publicações, duas se destacam. Nos Jardins do Éden, 2010, em que mergulhou no universo catastrófico do Haiti após o terremoto. E, mais recente, Mariana, 2016, quando decidiu passar alguns dias na pequena cidade mineira, extraindo imagens da tragédia ambiental.

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Imagens do ensaio Luz e Sombra realizada na África em 2015

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No continente africano, o fotógrafo buscou o isolamento após a morte do pai em 2009. No local, buscou a ausência do ser humano. O fotógrafo buscava a solidão.

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A NOVIDADE A morte prematura do pai, em 2009, fez com que Cravo voltasse os olhos para a África. Não o continente, mas o local onde identificaria a ausência do ser humano. O fotógrafo buscava a solidão. A partir daí, sob sua ótica, surgiu uma terra monumental, plástica e nada clichê, construída a partir de recortes abruptos de animais e paisagens. Foi assim que veio o projeto Luz e Sombra, desenvolvido ao longo dos últimos sete anos, imerso em sete países: Namíbia, Zâmbia, Botsuana, Quênia, Tanzânia, Congo e Uganda. Atualmente, está em exposição na Galeria Dan, em São Paulo. ”A África é um continente de múltiplas facetas, raças, culturas e biodiversidade. A minha experiência anterior a 2010 era restrita à natureza humana, à cultura e aos desdobramentos pan-africanos”, afirma o fotógrafo, confirmando que nesse ensaio, pontualmente, faz uso exacerbado de cortes sem documentar o real. Cravo usa ousados enquadramentos, secciona paisagens e corpos de animais, e destaca, muitas vezes, apenas texturas. “No fundo, ele evita toda e qualquer narratividade para que a técnica possa se curvar ao simbólico e ao ficcional”, afirma Ligia Canongia, crítica e curadora de arte.

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ÚLITMO SUSPIRO

Prada – a partir de R$ 5.600

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