GrandOlhar_edicao23_março_2021

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Editorial Por Prof. José Abreu Às mulheres O editorial do Grand´olhar começa numa longa viagem aos nossos antípodas, palavra que significa «lugar diametralmente oposto a outro» e que, no caso de Portugal, esse lugar e a Nova Zelandia. Foi nesse país longínquo do hemisferio sul que no dia 19 de Setembro de 1893 foi conce-

dido o direto de voto as mulheres, tornando-se assim no primeiro país do mundo a ter um sufragio verdadeiramente universal, fruto da luta de mulheres como Kate Sheppard. Cerca de 127 anos depois, chegam-nos, novamente, magníficas notícias da Nova Zelandia, dignas de admiraçao e de alguma inveja: a Nova Zelandia tornou-se neste ano pandemico de 2021 uma referencia mundial de sucesso no combate a covid 19, liderado por uma mulher, a primeira-ministra Jacinda Ardern. Deixemos o outro lado do mundo e falemos um pouco das mulheres do nosso país e contemos um pouco da historia da sua caminhada ate a obtençao de direitos políticos iguais aos dos homens, o direito ao voto, princípio fundamental da democracia. Durante a I Republica portuguesa (1910-1926), a medica Carolina Beatriz Angelo foi a primeira e unica mulher a votar nas primeiras eleiçoes republicanas, tornando-se notícia a nível internacional e colocando Portugal na vanguarda do movimento sufragista. Interpretando de forma correta o codigo eleitoral que atribuía o direito ao voto a todos os portugueses que a data de 1 de maio de 1911 fossem maiores de vinte e um anos e que residissem em territorio nacional, soubessem ler e escrever e fossem chefes de família. Beatriz An-

gelo, sendo medica e viuva, alem de ter formaçao superior era chefe de família, viu assim uma decisao judicial dar-lhe razao contra a vontade do ministerio do Interior e da comissao de recenseamento, que nao a queriam deixar votar por ser mulher. Claro que a lei foi alterada (1913) para impedir que, de futuro, as mulheres pudessem votar. As mulheres portuguesas continuaram a lutar durante a I Republica, a ditadura militar (1926-1933) e o Estado Novo (1933-1974), obtendo pequenas vitorias legislativas no seu direito ao voto mas que excluíam sempre a esmagadora maioria das mulheres. O sufragio universal so chegou a Portugal apos o 25 de Abril de 1974, nas primeiras eleiçoes livres de Abril de 1975, em que homens e mulheres foram as assembleias de voto como iguais. Termino este editorial pedindo-vos que reflitam um pouco naquilo que a humanidade perdeu e perde, em tantas partes do mundo, por nao ter dado e nao dar direitos iguais a homens e a mulheres. 3


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