Tabela 1 - Estimativas de limiar de falhas para diferentes níveis tecnológicos considerando o preço de sementes e outros para o replantio
o investimento na lavoura foi para obter uma produtividade de 200 sacas de milho/ha, com as falhas produzirá apenas 184 sacas, ou seja, uma perda de 16 sacas/ha. Considerando as estimativas de perda devido às falhas, qual seria o limiar entre fazer ou não o replantio em função dos custos dessa operação e da porcentagem de falhas na lavoura? Obviamente, esse limiar varia de lavoura para lavoura, dependendo basicamente dos custos de replantio e da produtividade esperada, que é função dos investimentos em manejo cultural, das tecnologias utilizadas, das condições de solo e do ambiente. Como exemplo, considerando o custo de sementes = R$ 700,00/ha e os demais custos de replantio em R$ 500,00/ha, isso totaliza R$ 1.200,00/ha. Considerando, ainda, um preço médio (mercado futuro do milho na data da redação desse artigo) de R$ 50,00/saca, o custo de replantio equivale a 24 sacas de milho (R$ 1.200,00/R$ 50,00) e a produção com as falhas corresponderia a 88% da produção esperada, ou seja, 12% de perdas. Se para cada 1% de falha corresponde 0,77% de perda na produção (média das perdas – Figura 2), dividindo-se 12/0,77 encontra-se a porcentagem de falhas correspondente a esse custo, ou seja 15,6%. Portanto, para esses dados simulados, a observação de qualquer porcentagem de falhas acima de 15,6% é econômico replantar, e abaixo desse valor não compensaria o replantio. Esse cálculo foi como exemplo e para cada situação será necessário estimar a porcentagem de falhas, pois apesar de possíveis diferenças em função das densidades de plantio utilizadas em cada lavoura, as variáveis como produção, preço de comercialização esperado e o custo de replantio devem ser diferentes para cada caso. Esse cálculo pode ainda ser útil na previsão de safra do produtor em função do estande/falhas que obteve na sua lavoura. Na Tabela 1 está estimada a equivalência entre o custo de replantio e a porcentagem de falhas para lavouras com base em valores médios para diferentes níveis de tecnologia utilizada e produtividade esperada. Para estimar a porcentagem de falhas na lavoura é necessário fazer uma amostragem representativa da área. Como discutido anteriormente, as imagens obtidas através de drones, Vants ou satélites podem facilitar a identificação das áreas mais afetadas, economizando uma amostragem da área total da lavoura, mas a quantificação das falhas demanda avaliação in loco. O tamanho ideal dessa amostra depen-
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Produção (sacas/ha) planejada 60 70 80 90 100 110 120 130 140 150 160 170 180 190 200
Valor da produção Valor da produção Custo estimado Limiar entre custo de sem falhas com falhas de replantio (%) replantio e % de falhas* Baixa tecnologia (R$ 300,00 + R$ 500,00 = R$ 800,00)/ha (média 18,4) 3.000,00 2.450,00 26,7 34,6 3.500,00 2.950,00 22,9 29,7 4.000,00 3.450,00 20,0 26,1 4.500,00 3.950,00 17,8 23,1 5.000,00 4.450,00 16,0 20,8 Média tecnologia (R$ 500,00 + R$ 500,00 = R$ 1.000,00)/ha (média 15,2) 5.500,00 4.750,00 18,2 6.000,00 5.250,00 16,7 6.500,00 5.750,00 15,4 7.000,00 6.250,00 14,3 7.500,00 6.750,00 13,3 Alta tecnologia (R$ 700,00 + R$ 500,00 = R$ 1.200,00)/ha (média 13,4) 8.000,00 7.050,00 15,0 8.500,00 7.550,00 14,1 9.000,00 8.050,00 13,3 9.500,00 8.550,00 12,6 10.000,00 9.050,00 12,0
23,6 21,6 20,0 18,6 17,3 19,5 18,3 17,3 16,4 15,6
*Porcentagem de perdas de estande devido às falhas que provocam perdas na produtividade equivalentes ao custo aproximado de replantio.
de da uniformidade de ocorrência dessas falhas na área. Em geral, se considera razoável uma amostra de 10% do total a ser avaliado. Entretanto, nem sempre se utilizam os parâmetros ideais. Para o monitoramento da incidência de pragas na cultura do milho se tem adotado a avaliação de dez pontos de amostragem para cada 100ha. Nesses pontos são tomadas cinco amostras aleatórias de 10m de linha, contando-se o número total de plantas e as falhas observadas. A porcentagem de falhas na amostra pode ser calculada multiplicando o número de falhas por 100 e dividindo o resultado pelo número total de plantas esperadas na amostra (nº de falhas mais o de plantas), ou seja: % falhas = 100 x nº falhas/nº total (plantas + falhas). Fazendo-se a média das amostras em cada ponto e entre todos os pontos, se tem uma estimativa final da porcentagem de falhas na gleba considerada. Os resultados discutidos aqui se basearam apenas na compensação da perda de estande pela planta-referência (principal) e não foi considerada a compensação via perfilhamento. Em geral, o perfilhamento do milho é considerado uma característica indesejável, pois geralmente é improdutivo e rouba energia da planta principal, reduzindo sua produtividade. Um ou mais perfilhos comumente se formam quando o colmo principal é danificado ou morto por diferentes fato-
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res que afetam a cultura no início de seu desenvolvimento, como, por exemplo, granizo, geadas, insetos-praga, vento, pneus de trator etc. Em alguns híbridos, se o perfilhamento ocorrer cedo, esses perfilhos poderão desenvolver e produzir espigas que irão contribuir com a produtividade final. Finalmente, chega-se à conclusão de que, na cultura do milho, geralmente a compensação de plantas vizinhas às falhas existe, mas não na proporção que se pode imaginar. Todos os cuidados na obtenção do estande ideal da lavoura do milho é altamente relevante na obtenção de altas produtividades. Portanto, tomar todos os cuidados para o estabelecimento da cultura, com a densidade ideal de plantas, é essencial para se obter alta produtividade. Esses cuidados iniciam-se pelo planejamento antecipado, aquisição, transporte e armazenamento das sementes, bem como nas operações de plantio e tratos culturais durante a emergência das plântulas. Para a tomada de decisão, em fazer ou não o replantio, além de se considerar a porcentagem de falhas deve-se, ainda, ponderar o efeito da nova data de planC tio na produção esperada. José Magid Waquil UFSJ-Campus de Sete Lagoas Antônio Carlos de Oliveira Embrapa Milho e Sorgo