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Mais atenção
Com a evolução tecnológica dos pulverizadores autopropelidos aumentou também a necessidade de ampliar os pontos e sistemas a serem inspecionados para garantir um pleno funcionamento da máquina, sem desperdício de produtos e riscos de avarias
Ao longo das jornadas de trabalho a que são submetidos, os equipamentos agrícolas sofrem diversos tipos de desgastes, que vão depender da natureza da máquina e da operação a que se destinam. Os pulverizadores, por manusearem produtos com diferentes potenciais de agressão aos seus componentes ativos, ficam particularmente expostos ao desgaste de componentes essenciais e suscetíveis a problemas que resultam em alteração no desempenho. Nesse contexto, os pulverizadores autopropelidos são máquinas que cumprem numerosas e prolongadas jornadas de trabalho, ao longo do ciclo das culturas agrícolas e muitas vezes os devidos cuidados de manutenção acabam por ser negligenciados.
Ao lado disso, o excesso de confiança no bom desempenho dos componentes eletrônicos embarcados nessas máquinas pode ocasionar erros de proporções indesejadas na qualidade das aplicações de produtos para a proteção de plantas. Por esses motivos, a inspeção técnica de pulverizadores autopropelidos já deveria ser uma prática rotineira, como uma forma de assegurar o bom termo das aplicações de defensivos agrícolas, em nível de propriedades rurais no Brasil. Por outro lado, ainda existe carência de norma técnica que oriente a prática da inspeção deste grupo de pulverizadores, sendo que a norma internacio- nal existente é aplicável apenas para os pulverizadores acionados por tratores agrícolas.
Por isso, é importante discutir alguns aspectos relevantes para uma adequada inspeção técnica de pulverizadores autopropelidos, que deve ser um tema melhor discutido com o passar do tempo.
A inspeção de pulverizadores
Internacionalmente, em 2015 foi publicada a Norma ISO 16122, que apresenta metodologia padrão para inspeção de pulverizadores, e estabelece os requisitos e métodos para as verificações necessárias nas inspeções técnicas de pulverizadores, referindo-se principalmente ao estado de conservação da máquina, à segurança operacional e ambiental, bem como formas de otimizar as aplicações, tornando-as mais precisas. Conforme descrito nesta Norma, a inspeção dos pulverizadores visa à redução da contaminação ambiental e ao eficiente controle do alvo biológico, como resultado do estado de conservação, da correta manutenção e utilização dos pulve- rizadores agrícolas.
Considerando a realidade das áreas agricultáveis do Brasil, o avanço tecnológico da agricultura e a diversidade de máquinas e equipamentos de pulverização comercializados no mercado brasileiro, observa-se que a metodologia apresentada na ISO 16122 se aplica perfeitamente às inspeções de pulverizadores acoplados aos três pontos do sistema hidráulico ou à barra de tração dos tratores agrícolas. No entanto, esta Norma não contempla de forma satisfatória a inspeção completa de pulverizadores autopropelidos, principalmente aqueles que utilizam dispositivos avançados de dosagem e aplicação, controles eletrônicos e interfaces de apresentação de dados.
No caso destes pulverizadores com maior nível tecnológico, é possível realizar a inspeção de somente alguns dos itens obrigatórios, sendo eles: os elementos de proteção e segurança; a presença de vazamentos; o depósito, os filtros, da barra de pulverização e seus componentes; a uniformidade visual das pontas e seu posicionamento na bar-
A inspeção técnica de pulverizadores autopropelidos já deveria ser uma prática rotineira, como uma forma de assegurar o bom termo das aplicações de defensivos agrícolas ra; a válvula antigotejo e o agitador de calda. No entanto, quando se faz necessário avaliar o sistema de formação de gotas, pressão de trabalho, sua variação, interrupção e distribuição em diferentes pontos da barra vazão das pontas; distribuição transversal da barra; volume de aplicação por área; bem como componentes, como o manômetro, não é possível utilizar a metodologia apresentada na Norma, pois há conexão eletrônica entre alguns deles, impedindo a sua retirada e avaliação externa.
O avanço tecnológico dos equipamentos utilizados e das práticas agrícolas ocorreu, de forma rápida e em tal intensidade, visando possibilitar a execução de atividades mais precisas, mais rápidas e com menor impacto aos seres humanos e ao meio ambiente. Porém, cabe destacar que a utilização da eletrônica embarcada em máquinas agrícolas, neste caso especificamente os pulverizadores autopropelidos, levantou um ponto a ser pensado e debatido no que diz respeito à necessidade de desenvolver metodologias para a inspeção destes, uma vez que a metodologia em vigor não se adapta, principalmente, para aqueles que fazem uso da inteligência artificial, da programação e controle lógico de variáveis do processo.
Os desafios gerados pela tecnologia embarcada
Tratando-se especificamente destas máquinas que utilizam controladores lógicos e a inteligência artificial, alguns pontos merecem destaque para que seja possível a manutenção da qualidade das partes que os constituem e da atividade realizada.
O controle de processos eletrônicos pode adotar a utilização de sinais analógicos ou sinais digitais, os quais irão possibilitar que o processo seja executado (realização de uma atividade). Para tanto, haverá necessidade da utilização de sensores, os quais irão detectar algum evento no processo e emitir um sinal de resposta a este evento. A informação fornecida pelo sensor será processada pelo controlador, que armazena a informação, desenvolve a lógica de programação e, por sua vez, emite uma resposta ao atuador que irá executar a atividade, conforme a necessidade. Dito isso, pode ser observado que automação de processos é algo que envolve muito mais que somente sensores e atuadores, ou seja, demanda de programação e de cuidados para o correto funcionamento.
Sendo assim, cabe destacar que somente a programação não irá executar uma atividade, para tanto, é necessário que a comunicação entre os sensores, controladores e atuadores seja rápida, exata e não sofra interferências indesejadas. Desta forma, é necessário que periodicamente os sensores utilizados em uma máquina, como, por exemplo, os responsáveis pelo nivelamento e altura da barra, sensores de abertura e fechamento de seções ou bicos, sensores de fluxo, entre outros, sejam aferidos e, caso necessário, sejam substituídos ou calibrados.
Tratando-se especificamente de fluxômetros, válvulas PWM (do inglês Pulse Width Modulation – modulação da largura de pulsos) e válvulas NCV (do inglês Nozzle control valve –válvula de controle de bicos), que fazem a correlação entre a velocidade de deslocamento da máquina com outras variáveis, como, por exemplo, o volume desejado (L/ha), se indevidamente calibrados, podem alterar de forma significativa a pressão do circuito hidráulico, o que irá influenciar na vazão das pontas, no tamanho de gotas geradas e no ângulo de abertura no leque (caso a ponta utilizada seja de jato plano), podendo influenciar na qualidade de cobertura do alvo e/ou possíveis perdas por deriva. Outro exemplo importante a ser considerado é a necessidade de desenvolver formas para realizar a avaliação de dispositivos eletrônicos que fazem a seleção/comutação automática das pontas de pulverização, conforme a vazão necessária para atender o volume de aplicação informado ao sistema, ou mesmo para o corte de seções.
Ainda com relação aos cuidados, embora se saiba que a programação do sistema seja normalmente “fechada” ao usuário, questões como o tempo de ação e reação para diferentes atividades devem ser observadas. Por exemplo, a alteração da vazão da bomba, para adequar o volume de aplicação quando a máquina sofre variação na velocidade de deslocamento, bem como o tempo para ocorrer a alteração da altura das barras e seu nivelamento em áreas com relevo acidentado, e, ainda, tempo de injeção de produtos na linha de água ou de calda quando se utiliza o sistema de injeção direta de defensivos agrícolas, em que se usa um reservatório específico para defensivos separado do reservatório principal do pulverizador que estará preenchido apenas com água.
Os pontos aqui abordados merecem atenção, visto que, muitas vezes, passam despercebidos pelos usuários ou responsáveis técnicos, pois não constam como itens a serem inspecionados na metodologia existente. Desta forma, cabe a discussão para o desenvolvimento de técnicas e a definição da periodicidade que as avaliações deverão ser realizadas, uma vez que, sem sombra de dúvidas, a utilização constante pode resultar em avarias e erros que comprometam a qualidade da aplicação de defensivos agrícolas.