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Mapa incompleto

Produtores de algodão e grãos ainda não usufruem plenamente dos mapas de colheita e da agricultura de precisão

Omapa de colheita é a prova de campo que possibilita visualizar e quantificar detalhadamente as variabilidades espacial e temporal da produtividade. A massa de algodão colhido por unidade de área (kg/ha) pode variar em cada ponto do talhão devido a um ou mais fatores, naturais e/ou antrópicos. São exemplos de causas naturais a mineralogia e textura do solo, a declividade e o regime de chuvas. Dentre os fatores antrópicos estão a compactação, a irrigação, a fertilização e o pisoteio de plantas.

Diversos trabalhos científicos demonstraram que a série temporal dos mapas de colheita é uma infor- mação imprescindível para um estudo de causa e efeito sobre a produtividade. As causas da variabilidade podem ser determinadas correlacionando a produtividade sítio-específica com mapas de outros dados georreferenciados como índices vegetativos, obtidos de imagens de satélite e/ou de drones, mapas de condutividade elétrica aparente e análises de textura e fertilidade do solo. Portanto, os mapas de produtividade são absolutamente necessários para planejar a gestão dos insumos da próxima safra. Inclusive no momento de checar os resultados obtidos, estimar a exportação dos nutrientes para as plantas e continuar otimizando o manejo no sentido da maximização da produtividade. Assim, conforme as condições peculiares de cada ano, aplica-se a quantidade necessária, espacialmente variada, da população de sementes de algodão, do regulador de crescimento e dos macro e micronutrientes.

Os monitores de colheita de algodão estão disponíveis nas co- lhedoras desde 1997, mas fatores como a resistência à mudança da rotina de trabalho das equipes de colheita e alguns problemas operacionais impossibilitam a obtenção dos benefícios decorrentes da aplicação plena da agricultura de precisão. Experimentos “on farm” de curta duração já demonstraram que o ganho de produtividade pode ser de 13% para a produção do algodão.

Os produtores pagam pelos monitores de colheita embarcados nas colhedoras, mas, geralmente, não os utilizam adequadamente ou nem os utilizam. Então, não têm meios para avaliar detalhadamente o retorno do investimento em cada área.

Quanto às questões operacionais, algumas situações comuns podem dificultar uma avaliação mais precisa, como veremos a seguir.

Por exemplo, mapas de colheita, onde faltam muitos dados, contêm valores impossíveis ou medidas com baixa acurácia. Ocorre até em grandes fazendas que dispõem de frotas modernas de colhedoras e equipe técnica treinada. Falhas de leitura dos sensores e erros de ajuste de altura da plataforma colhedora ao final das manobras são possí- veis causas.

Quando há muitas colhedoras trabalhando no mesmo talhão, até 12 colhedoras é comum observar. Esta situação pode gerar descontinuidades no mapa de colheita, devido às diferenças de calibração entre os monitores. Pode causar mascaramento da variabilidade da cultura ao somar com as variações inseridas pelos monitores. Alguns talhões têm geometria irregular, o que faz com que a largura de corte da colhedora não seja totalmente ocupada em algumas passadas, o que é evidenciado pela queda brusca de produtividade nas bordaduras dos talhões. Aceleração ou desaceleração da colhedora, respectivamente, subestima ou superestima a produtividade.

Muitos produtores que compraram colhedoras usadas não podem ter os mapas de produtividade porque os respectivos softwares não foram transferidos. Esses programas contêm algoritmos proprietários, os quais são específicos para cada marca e modelo. Eles decodificam o arquivo binário lido do cartão

Calibrações mal executadas também prejudicam a análise dos dados coletados de memória do monitor de colheita e o convertem para formato compatível com sistema de informações geográficas (SIG), arquivo tipo “shape”. Ou até mesmo para outro formato proprietário acessível apenas para o software de análise dos mapas que o fabricante da máquina fornece.

Para ilustrar os problemas operacionais, observamos o caso de um talhão de produção de algodão, com área de 208 ha. A Figura 1 mostra os mapas de colheita das safras de 2019 e 2021, respectivamente. Em 2019, os valores de produtividade instantânea foram normalizados em função da soma das pesagens de todos os fardos colhidos no talhão. Nesse ano, podemos notar a perda de leituras de várias linhas inteiras. Se esse mapa for ampliado, uma quantidade muito maior de falhas será facilmente visualizada. No mapa de 2021, onde a normalização não foi realizada, existem várias medidas de produtividade instantânea irreais ou muito baixas (menores que mil kg/ha) ou muito altas (maiores que 6 t/ha), até ultrapassando 40 t/ha!

A Figura 2 mostra os respectivos histogramas daquelas duas colheitas. Na safra de 2019, a média é 5,6 t/ha e o desvio padrão de 0,7 t/ha. Na colheita de 2021, a média é 8,1 t/ha e o desvio padrão é igual a 2,2 t/ha, valores que exemplificam claramente a falta de calibração.

O monitor de colheita de algodão pode empregar sensor baseado em micro-ondas ou em luz visível. Enquanto o primeiro é instalado na face externa, o segundo fica na face interna do duto por onde flui o algodão, com o emissor e o sensor óptico em faces opostas do duto. Explicando de forma simplificada, a interferência nas micro-ondas ou a atenuação da luz, por unidade de tempo, é convertida para quilogramas por meio de fórmula de calibração específica para cada monitor de colheita.

Considerando que o monitor de colheita está sujeito às condições de campo como calor, poeira, umidade e vibração; conclui-se que são necessárias calibrações periódicas, além de outras causas que serão apresentadas mais adiante. Além da parte eletrônica é importante checar a plataforma e os dutos quanto à presença de galhos e raízes que podem interferir no fluxo do algodão. O objetivo da calibração é maximizar a acurácia instantânea e mantê-la constante.

Três tipos de acurácia são definidos para os monitores de colheita de algodão: acurácia instantânea refere-se a cada ponto medido na grade do mapa de colheita; acurácia de carga refere-se à relação entre a medição do monitor e a pesagem de cada fardo ou cesto de algodão; acurácia de talhão refere-se à relação entre a medição do monitor e a somatória dos pesos dos fardos colhidos num talhão. A acurácia de talhão é a mais utilizada pelos consultores de venda porque é normalmente o maior valor dentre os três. Integradas ao longo da área do talhão inteiro, as acurácias instantâneas se compensam na média.

Antes de iniciar o processo de calibração do monitor de colheita, é necessário verificar se os sensores ópticos estão livres de sujeiras que podem obstruir a luz e se os chicotes de fios e conectores dos sensores estão em bom estado. Deve-se verificar se o sensor de altura da plataforma de corte (quando equipado) está em bom estado, inclusive fiação e conectores. Se ele não operar corretamente, não haverá medição em vários pontos. Além disso, é necessário observar a calibração da medida de distância percorrida. Deve ser igual àquela que está sendo registrada pelo monitor. Os monitores de colheita calculam a produtividade em função da área percorrida por unidade de tempo (ha/h) e da variação do fluxo de massa. Portanto, se a área registrada tiver 15% de erro, aproximadamente o mesmo erro se propagará para a medida de produtividade.

Os fabricantes de monitores de colheita recomendam que a calibração deve ser feita sempre que as condições de campo variem (troca da variedade de algodão, uso ou não de irrigação, qualidade da desfoliação e alterações significativas entre talhões). Recomenda-se também checar os monitores de colheita, os receptores de GPS e as interfaces homem-máquina nas cabines, pelo menos duas semanas antes do início da colheita. É importante verificar se estão disponíveis atualizações para o receptor de GPS e para o monitor de colheita e assim garantir a melhor estabilidade de operação e acurácia do sistema durante toda a colheita. Nessa oportunidade deve-se se assegurar que os arquivos da safra anterior já foram exportados para um backup seguro antes de eventual atualização.

Para a calibração do monitor de colheita, pelo menos duas cargas de calibração devem ser utilizadas. Uma que preencha entre um quarto e metade e outra entre três quartos e a totalidade da capacidade do cesto ou fardo de algodão. A melhor acurácia de calibração é obtida com quatro a cinco cargas de calibração diferentes. A rotina de calibração deve ser iniciada no painel do monitor de colheita. Em seguida, cada carga obtida deve ser pesada e o respectivo peso digitado no painel. Dependendo do fabricante do monitor de co- lheita, o programa solicitará a inserção do peso da carga após a colheita de cada uma ou pedirá a digitação da sequência completa de pesos ao final da colheita de todas as cargas programadas.

Durante o percurso, o operador deve se manter atento à tela do monitor para verificar a coerência das leituras de produtividade e regularmente checar se elas estão sendo gravadas e sempre lembrar de encerrar o processo (“job”) ao terminar cada talhão, com a finalidade de manter os registros separados. Ao final da colheita, é importante dedicar um tempo para transferir os arquivos e analisar os mapas de produtividade.

Incorporar as rotinas de checagem e calibração do monitor de colheita à primeira vista pode parecer perda de tempo e aumento de despesas operacionais, mas, na verdade, é um excelente investimento, em vários aspectos. É necessário seguir todas as etapas recomendadas para que o produtor se beneficie da tecnologia pela qual já pagou em grande medida e tenha o retorno sobre seu investimento no mais curto espaço de tempo.

O problema de impossibilidade de acesso aos dados dos monitores de colheita ainda está para ser resolvido. É latente a necessidade de executar projeto tecnológico que, por meio de engenharia reversa, desenvolva um sistema universal de acesso aos mapas de produtividade. Independentemente da marca, modelo e ano de fabricação, leia os arquivos contidos nos cartões de memória e converta os dados de produtividade georreferenciada para o formato de arquivo “shape”, compatível com SIG.

Manter o trator em condições ideais de funcionamento exige uma manutenção periódica bem realizada, seguindo todos os critérios estabelecidos pelo fabricante

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