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Destaques
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Como as novas tecnologias vão impactar o manejo de percevejos em soja na safra 2020/21 no Brasil
Base sólida
A importância de controlar as pragas iniciais para a proteção das lavouras de algodoeiro
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@RevistaCultivar
Índice
Novo momento
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Acerte na escolha
Que características são
Cultivar Grandes Culturas • Ano XX • Nº 257 Outubro 2020 • ISSN - 1516-358X Crédito de Capa: Cecilia Czepak
www.grupocultivar.com contato@grupocultivar.com Assinatura anual (11 edições*): R$ 269,90 (*10 edições mensais + 1 edição conjunta em Dez/Jan)
Broca-do-café
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Coluna Agronegócios
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Pragas iniciais em algodoeiro
10
Spraytec
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Impactos do clima na produtividade da soja
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Capa - Novidades no manejo de percevejo
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Manejo de resistência de daninhas em soja
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Controle de daninhas em milho
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Manejo de resistência em cultivares Bt
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Escolha correta de fertilizantes
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Manejo do percevejo-do-colmo em arroz
36
Publieditorial Corteva
38
Coluna Mercado Agrícola
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Coluna ANPII
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Fundadores: Milton Sousa Guerra, Newton Peter e Schubert Peter
qualidade dos fertilizantes
Diretor Newton Peter
04
Expediente
importantes e impactam na
Grupo Cultivar de Publicações Ltda. CNPJ : 02783227/0001-86 Insc. Est. 093/0309480 Rua Sete de Setembro, 160, sala 702 Pelotas – RS • 96015-300
Diretas
Números atrasados: R$ 22,00 Assinatura Internacional: US$ 150,00 Euros 130,00 Nossos Telefones: (53) • Geral 3028.2000 • Comercial: • Assinaturas: 3028.2065 3028.2070 3028.2066 • Redação: 3028.2067 3028.2060
Por falta de espaço não publicamos as referências bibliográficas citadas pelos autores dos artigos que integram esta edição. Os interessados podem solicitá-las à redação pelo e-mail: contato@grupocultivar.com Os artigos em Cultivar não representam nenhum consenso. Não esperamos que todos os leitores simpatizem ou concordem com o que encontrarem aqui. Muitos irão, fatalmente, discordar. Mas todos os colaboradores serão mantidos. Eles foram selecionados entre os melhores do país em cada área. Acreditamos que podemos fazer mais pelo entendimento dos assuntos quando expomos diferentes opiniões, para que o leitor julgue. Não aceitamos a responsabilidade por conceitos emitidos nos artigos. Aceitamos, apenas, a responsabilidade por ter dado aos autores a oportunidade de divulgar seus conhecimentos e expressar suas opiniões.
REDAÇÃO • Editor Gilvan Dutra Quevedo
COMERCIAL • Coordenação Charles Ricardo Echer
• Redação Rocheli Wachholz Karine Gobbi Cassiane Fonseca
• Vendas Sedeli Feijó José Geraldo Caetano
• Design Gráfico e Diagramação Cristiano Ceia
CIRCULAÇÃO • Coordenação Simone Lopes
• Revisão Aline Partzsch de Almeida
• Assinaturas Natália Rodrigues
GRÁFICA: Kunde Indústrias Gráficas Ltda.
• Expedição Edson Krause
Diretas Estratégias
A Bayer promoveu, em setembro, um café virtual com a nova líder da Divisão Agrícola para o Brasil, Malu Nachreiner. A CEO, que atua há 17 anos na empresa e que até o momento estava à frente da área de Marketing na Divisão para América Latina, assumiu o atual cargo em agosto deste ano. “Temos estratégias sólidas e bem definidas, que darei continuidade, e terei papel de aceleração em ações nos pilares de inovação, transformação digital e sustentabilidade: como fazer isso com um olhar para o futuro, criando oportunidades para futuras gerações e trazendo a sustentabilidade como parte central da nossa estratégia”, explicou.
Marcela Borges
Campanha
Malu Nachreiner
A FMC apresentou sua nova campanha institucional “Cada grão de café é motivo de orgulho”, que tem como objetivo contribuir para o planejamento da safra e no controle de pragas e doenças com produtos para cada fase do plantio. “Buscamos oferecer soluções em que possamos contribuir com o cafeicultor de forma sustentável. Nosso portfólio não possui restrição pelas certificadoras; eliminamos produtos de alta toxicidade; focamos no desenvolvimento de formulações mais práticas para manuseio, armazenagem e em segurança de aplicação”, ressaltou a gerente de Desenvolvimento de Mercado, Marcela Borges. A FMC pretende investir US$ 1,8 bi em Pesquisa e Desenvolvimento até 2025.
Adjuvante
A equipe de Pesquisa e Desenvolvimento da Ubyfol conseguiu reunir na formulação do adjuvante Disperse Ultra, três efeitos desejáveis nesse tipo de tecnologia. “O produto contribui para reduzir as perdas por deriva, favorece um maior contato da gota com o alvo, por ter um alto poder de quebra da tensão superficial dessa gota, e consequentemente um melhor espalhamento. Além disso, essa formulação traz o efeito de redução de espuma formada nas misturas de tanques, reduzindo possíveis perdas que isso possa trazer”, explica o gerente de Desenvolvimento Técnico de Mercado da Ubyfol, João Alves Silva. O adjuvante é multifuncional e possui em sua composição química surfactantes não iônicos, e organosiliconado. Além disso, é recomendado para todo tipo de cultura e pulverizaJoão Alves Silva ções.
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Outubro 2020 • www.revistacultivar.com.br
Time
A FMC anunciou três novas contratações. Sergio Catalano assume a posição de Gerente de Portfólio de Inseticidas (químicos e biológicos), Paulo Queiroz passa a responder pelo cargo de Gerente de Portfólio de Fungicidas e Herbicidas e Claudio Oliveira é o novo gerente comercial de Plant Health Brasil, soluções biológicas, tratamento de sementes e micronutrientes. “Estamos confiantes que as contratações permitirão promover maior aproximação com nossos clientes para entender suas necessidades e oferecer soluções cada vez mais inovadoras para o campo. Ao longo dos anos temos cultivado relações duradouras e colocamos suas necessidades no centro de tudo o que fazemos. Por isso, acreditamos que esse reforço no time vai permitir maior alinhamento dos negócios e fortalecerá a sinergia entre as áreas, resultando em tecnologias eficientes e sustentáveis para o produtor rural”, avaliou a diretora de Marketing da FMC, Daniela Tavares.
Premiação
A Corteva Agriscience realizou, em setembro, o evento virtual de premiação Colheita Farta Safra 19/20, uma iniciativa desenvolvida em parceria com o Desafio Nacional de Máxima Produtividade de Soja, do Comitê Estratégico Soja Brasil (Cesb). Na categoria Irrigada, o campeão foi Edson Norio Tanabe, de Água Fria de Goiás, com 99,91 sacas de soja por hectare. Na categoria Não Irrigada Sul, o vencedor foi Egon Heinrich Milla, de Candói, no Paraná, com 116,44 sc/ha. Já na categoria Não Irrigada Cerrado, o campeão foi Marcelo Baron Polanczyk, de Cabeceiras, no estado de Goiás, com 89,67 sc/ha. “O Colheita Farta é mais uma iniciativa da Corteva para estimular o incremento da produtividade em todo o Brasil e, consequentemente, gerar maior rentabilidade para os sojicultores, além de promover conhecimento sobre o manejo correto, as melhores soluções para a cultura da soja e reforçar as boas práticas agrícolas”, opinou o líder de Marketing de Proteção de Cultivos da Corteva Agriscience, Felipe Daltro.
Tecnologia
A Basf apresentou no AGROtic, encontro anual com a finalidade de debater o papel das tecnologias digitais na agricultura, o xarvio Field Manager, solução desenvolvida para auxiliar os produtores a melhor conduzirem seus talhões com aumento de eficiência, economia de tempo e otimização no uso de insumos. “Na última safra, com o xarvio Field Manager, os agricultores otimizaram em média 60% de recursos no manejo de suas plantações. Tudo isso por meio de aplicação inteligente, manejo eficiente e suporte técnico, proporcionados pela ferramenta”, comentou o gerente comercial de Produtos Digitais da Basf, Lucas Marcolin.
Sinergia
A Stoller do Brasil vai lançar o primeiro inoculante com os benefícios da sinergia entre as cepas das bactérias Azospirillum brasilense e Bradyrhizobium japonicum. “Descobrimos em uma etapa inicial da pesquisa, que a união entre as bactérias não é restrita apenas quando estão em contato com a planta de soja. Ocorre Tiago Gontijo também, e de maneira muito significativa, dentro de uma formulação correta, possibilitando assim nascimento de uma nova categoria de inoculante”, explica Stela Cato, diretora de P&D da Stoller. Com o registro recentemente aprovado pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), a tecnologia tomou forma, batizada como Masterfix L Dual Force. Recentemente, houve o lançamento técnico para os colaboradores da empresa e também o início de uma parceria com 40 distribuidores para a seleção de mais de 200 agricultores espalhados pelo País. “Essa demonstração do potencial faz parte de um processo que visa o lançamento comercial do Masterfix L Dual Force, previsto para o início de 2021. Queremos a sua aplicabilidade em larga escala na próxima safra de soja”, explica o diretor de Negócios da Stoller do Brasil, Tiago Gontijo.
Aplicativo
A marca NK da Syngenta passou a oferecer um novo aplicativo ao mercado. Disponível para toda a cadeia, incluindo produtores e canais de distribuição, seu objetivo é indicar ao agricultor a melhor variedade de soja ou híbrido de milho de acordo com sua necessidade, de forma ágil e simples. A partir da seleção das características de campo do usuário, como região, data estimada de plantio e potencial produtivo da área, o aplicativo recomenda as sementes mais adaptadas para cada situação, trazendo o correto posicionamento, e demais informações técnicas. "A ferramenta também dispõe de funcionalidades para a comunicação direta com o produtor, com links para conteúdos e vídeos explicativos. Com o aplicativo, o produtor tem na palma de sua mão a rentabilidade com genética e tecnologia de NK", explica a gerente de Branding da marca NK, Tatiana Cunha.
Correção
Na edição 255, artigo Lições do Desafio, tabela 2, página 20, cometemos um equívoco quanto aos valores da Eficiência Climática (EC). Os percentuais corretos são os que se lê agora e não os publicados anteriormente.
Tabela 2 - Produtividades potencial (PP), atingível (PA) e real (PR) para os campeões do Desafio Nacional de Máxima Produtividade do Cesb e para seus respectivos estados, com PR proveniente do relatório da Conab de julho de 2020, e as eficiências climática (EC) e agrícola (EA) para cada situação
Lucas Marcolin
Local e Estado
PP2
Mangueirinha, PR Patrocínio, MG B.V. das Missões, RS Campos de Júlio, MT B. G. do Ribeiro, PI
176,2 168,8 199,1 130,8 156,2
PA2 Sacas/ha 132,3 162,4 167,6 117,1 111,6
CESB PR
EC
118,8 118,6 111,9 103,2 101,8
75,1 96,3 84,2 89,6 71,4
EA %
89,8 73,0 66,8 88,1 91,2
ESTADO PA2 PR EC EA Sacas/ha % 132,3 62,9 75,1 47,5 162,4 60,6 96,3 37,3 90,0 30,7 45,2 34,1 117,1 59,0 89,6 50,4 111,6 52,1 71,4 46,7
1 Os valores de PP e a PA estaduais foram admitidos como sendo iguais aos obtidos nas áreas campeãs, com exceção do estado do Rio Grande do Sul, onde a estiagem reduziu a PA em grande parte do estado. 2 Os valores de PP e PA foram obtidos do Sistema Agrymax da empresa Agrymet.
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Café
Grande no prejuízo De tamanho reduzido, o pequeno besouro da brocado-café Hypothenemus hampei figura como uma das principais pragas na cultura, capaz de desencadear diversos danos, tanto à produtividade como à qualidade da bebida. Seu manejo deve ser realizado de modo integrado, através de métodos cultural, comportamental, biológico e químico
C
onhecida por todos os cafeicultores, a broca-do-café Hypothenemus hampei (Ferrari, 1867) (Coleoptera: Scolytidae) foi observada no Brasil pela primeira vez em 1913, no estado de São Paulo. É uma praga de origem africana que foi introduzida por meio de sementes de café infestadas e rapidamente disseminou-se para todas as regiões cafeeiras do País, sendo considerada uma das principais pragas do cafeeiro. As larvas deste pequeno besouro causam danos aos grãos de café, pois vivem em seu interior e se alimentam do conteúdo interno do grão verde ou maduro, ocasionando assim perdas quantitativas e qualitativas que vão da queda de frutos e diminuição do peso à alteração da bebida no processamento final do café. A perda de qualidade na bebida não está diretamente ligada ao ataque da broca ao grão de café, mas sim pela facilidade com que micro-organismos penetram no fruto através do orifício feito por esse inseto, como alguns fungos do gênero Fusarium e Penicillium. Referente às perdas quantitativas, estudos demonstraram que a queda natural dos frutos, ocasionada pelo ataque da broca, pode atingir 13% em cultivos de Coffea arabica L. (Arábica) e em torno de 46% em Coffea canephora Pierre & Froehner (Conillon). Os frutos atacados que permanecem na planta têm redução de peso e, durante seu processamento, podem quebrar devido à fragilidade e serem descartados no descascamento. Além disso, fragmentos de insetos no produto comercial podem gerar barreiras fitossanitárias, impedindo que o produto seja exportado, visto que a demanda internacional se baseia em cafés de qualidade superior.
DESCRIÇÃO
O ovo dessa praga é arredondado, com superfície esbranquiçada e brilhante, medindo ao redor de 0,5mm. O tempo para a larva eclodir é influenciado principalmente pela temperatura e umidade, variando de quatro dias a 16 dias. A larva é de coloração esbranquiçada e ligeiramente transparente. Em estádio mais jovem, tem corpo mais largo no centro e afunilado nas extremidades, com cerca de 0,75mm de comprimento. Quando totalmente desenvolvida, mede até 2mm de comprimento, 06
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Fotos Nathan Lopes (2020)
Ovos da broca-do-café depositados dentro das galerias da semente de café
Larvas da broca-do-café no interior da semente de café
sendo que o estágio larval pode durar de 14 dias a 27 dias. A pupa da broca-do-café apresenta coloração esbranquiçada no início dessa fase e escurece à medida que amadurece, tendo muitas vezes a coloração dourada na fase final de desenvolvimento. O comprimento médio da pupa varia de acordo com o sexo, sendo que a fêmea é maior e mede ao redor de 1,84mm, enquanto o macho tem 1,30mm. O período pupal varia de sete dias a 16 dias. O adulto possui diferenças morfológicas entre os sexos, de forma que a fêmea é sempre maior, medindo ao redor de 1,80mm. O corpo é totalmente preto, exceto pelas antenas e pernas, que são mais claras (castanho-claro) que o corpo. As asas são constituídas por élitros escuros e com aparência encerada brilhante. O macho, por sua vez, apresenta sempre tamanho reduzido, com aproximadamente 1,25mm. O macho dessa espécie não voa por possuir suas asas atrofiadas. Referente à duração da fase adulta, a fêmea pode viver até 285 dias e o macho, apenas 50 dias. Em uma população desse inseto, apenas 9,3% são machos, salientando que a proporção sexual característica da espécie é de um macho para dez fêmeas. A cópula ocorre dentro do fruto, onde a fêmea se torna adulta, pois o macho nunca deixa o fruto perfurado. Após a cópula, a fêmea fértil deixa o fruto e começa um novo ciclo, podendo colocar ao todo 120 ovos durante aproximadamente 20 dias. No período de setembro a dezembro, devido às altas temperaturas, essa praga pode alcançar até sete gerações.
O monitoramento populacional da broca nos cafezais é importante por estar diretamente relacionado com as estratégias de controle. A amostragem deve ser realizada por meio da coleta dos grãos em diversos pontos do cultivo, coletando principalmente frutos da parte mais baixa e úmida da lavoura. Para a amostragem, é recomendado formar talhões não muito extensos (cerca de 5ha), para facilitar o caminhamento entre o cultivo durante as amostragens. Deve-se amostrar ao menos 30 plantas em cada talhão, caminhando-se em zigue-zague aleatoriamente, observar 60 frutos em cada planta, sendo dez frutos por ramo escolhido e registrar em planilha o número de frutos com perfurações. Em seguida, a porcentagem de infestação é calculada por meio da divisão do número total de frutos atacados pelo valor fixo de 18. Quanto ao nível de controle, tem-se recomendado de 3% a 5% de frutos brocados para aplicação de inseticidas; entretanto, existem casos onde se tem realizado o controle com cerca de 1%, visto que alguns inseticidas atuam melhor em infestações mais baixas e também pelo fato de as populações desse inseto apresentarem alto potencial biótico.
AMOSTRAGEM E MONITORAMENTO
No período de “trânsito”, a broca-do-café apresenta um comportamento em que a fêmea adulta abandona o fruto remanescente da safra anterior e ataca o fruto verde desenvolvido (chumbão) da nova safra, onde coloca seus ovos. O monitoramento populacional dessa praga na lavoura deve começar três meses após a grande florada, que ocorre geralmente em outubro. No período de novembro a janeiro, os grãos de café estão com alto teor de umidade, cerca de 86%, e, em função disso, as brocas perfuram os frutos mas os abandonam logo em seguida, sem colocar ovos, pois não se constituem em alimento ideal para as larvas se desenvolverem.
MÉTODOS DE CONTROLE
O manejo da broca-do-café pode ser realizado por meio dos métodos cultural, comportamental, biológico e químico. É importante que possam ser utilizados de forma integrada para a regulação populacional da broca em lavouras cafeeiras.
MÉTODO CULTURAL
Constitui-se, talvez, no mais eficiente método de controle da broca-do-café. Os cafezais devem ser plantados em espaçamentos que permitam maior arejamento e penetração de luz, a fim de propiciar baixa umidade do ar em seu interior, condições que são desfavoráveis à praga, além de permitir a circulação de pulverizadores acoplados a tratores nas ruas de cultivo. Deve-se realizar a colheita bem feita, visto que dentre os frutos deixados no chão e/ou na planta, pesquisas demonstraram que em torno de 75% estão contaminados com a broca; assim, uma das formas de controlá-la é destruir os restos de frutos deixados no chão. A colheita deve ser sempre iniciada nos talhões que apresentarem os cafeeiros mais infestados, a fim de que sejam evitawww.revistacultivar.com.br • Outubro 2020
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Nathan Lopes (2020)
dos maiores prejuízos, pois a broca apresenta grande capacidade de reprodução e, em anos de alta infestação, os últimos talhões a serem colhidos apresentarão, sem dúvida, aumento de populações de broca e consequentemente maiores prejuízos. Após a colheita, o repasse com catação de frutos remanescentes na planta e/ou no chão deve ser realizado. Essa atividade, já praticada nos primórdios da cafeicultura brasileira, deve ser levada em consideração para o manejo da broca-do-café, em virtude dos altos custos e da baixa eficiência de controle desse inseto por alguns inseticidas atualmente registrados.
MÉTODO COMPORTAMENTAL
Nesse método de controle destaca-se o uso de armadilha com semioquímico, que é obtido pela mistura de três partes de metanol e uma parte de etanol mais a adição de café puro torrado e moído, na proporção de uma colher de sopa cheia por litro de solução. Atualmente, esse tipo de armadilha vem sendo mais utilizado para o monitoramento da broca no seu período de trânsito, sendo recomendada a instalação de uma a duas armadilhas por hectare. Tabela 1 – Princípios ativos registrados contra a broca-do-café Metaflimizona (semicarbazone) azadiractina (Tetranortriterpenóide) Ciantraniliprole (antranilamida) etanol (álcool alifático) + metanol (álcool alifático) clorpirifós (organofosforado) clorpirifós (organofosforado) clorpirifós (organofosforado) clorpirifós (organofosforado) clorpirifós (organofosforado) clorpirifós (organofosforado) clorpirifós (organofosforado) clorpirifós (organofosforado) Etiprole (Fenilpirazol) Abamectina (avermectina) + clorantraniliprole (antranilamida) clorpirifós (organofosforado) clorpirifós (organofosforado) indoxacarbe (oxadiazina) + novalurom (benzoiluréia) acetamiprido (neonicotinóide) + bifentrina (piretróide) clorpirifós (organofosforado) acetamiprido (neonicotinóide) + bifentrina (piretróide) Espinosade (espinosinas) etofenproxi (éter difenílico) Ciantraniliprole (antranilamida) Metaflimizona (semicarbazone) Abamectina (avermectina) + clorantraniliprole (antranilamida) clorpirifós (organofosforado) Fonte: Agrofit/Mapa
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Fruto de café perfurado, porém com galeria não atingindo a semente
MÉTODO DE CONTROLE BIOLÓGICO COM ENTOMOPATÓGENO
O uso do fungo Beauveria bassiana tem sido bastante difundido entre os cafeicultores, porém esse organismo se mostra eficiente no controle da broca somente quando aplicado em condições de umidade maior que 65% e temperaturas entre 25°C e 30°C. O fungo germina sobre o tegumento do inseto, atravessa a cutícula e penetra na cavidade geral do corpo. Em seguida, produz conídios em grande quantidade que vão ser responsáveis pela morte da broca e também pela sua disseminação por meio da esporulação. O inseto morto pelo fungo permanece geralmente na região da coroa do fruto e com a parte externa do corpo branca.
MÉTODO QUÍMICO
O controle químico da broca-do-café deve ser realizado 90 dias após a grande florada (geralmente em janeiro), porém dependendo da região e das condições climáticas (como alta umidade), pode ser antecipado para 60 dias após a grande florada. É de suma importância que as amostragens sejam realizadas no período de “trânsito” da broca para determinação do nível de infestação e aplicação do inseticida. Os maiores espaçamentos de plantio utilizados nas lavouras cafeeiras do Brasil permitem pulverizações de produtos químicos com pulverizadores acoplados a tratores. Desta forma, torna-se prático o uso de inseticidas, diferentemente do que ocorre em alguns países produtores que praticam uma cafeicultura adensada e ou sombreada. É importante salientar que o método químico só é eficiente se os inseticidas fo-
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rem aplicados no período de “trânsito” da broca, em que as fêmeas estão selecionando os frutos para depositarem seus ovos, permanecendo, na maioria das vezes, do lado de fora. No Agrofit/Mapa (2020) são encontrados 26 produtos comerciais para controle da broca-do-café, pertencentes aos seguintes grupos químicos: diamida antranílica, tetranortriterpenoide, semicarbazone, fenilpirazol, avermectina, espinosinas, éter difenílico e organofosforado. Como o ataque da broca não apresenta distribuição uniforme em lavoura cafeeira, recomenda-se o controle apenas nos talhões cuja infestação já atingiu de 3% a 5% dos frutos amostrados. Portanto, na maioria das vezes, o controle não é feito em toda a lavoura, mas limitando-se a alguns talhões. Em lavouras irrigadas, o controle químico pode ser necessário na maioria dos talhões. Muitas pesquisas têm sido desenvolvidas na área do manejo integrado da broca-do-café buscando formas alternativas de controle, como estudo de parasitoides para atuar no controle biológico, novas armadilhas utilizando feromônio para monitoramento populacional, além de pesquisas relacionadas ao silenciamento de genes mediadas por RNA interferente. Espera-se que a ciência possa colaborar cada vez mais para o fornecimento de informações e tecnologias, visando ao manejo da broca-do-café de forma mais sustentável. C Nathan Jhon Silva Lopes, Lara Sales, Karolina Gomes de Figueiredo, Gabriel Tadeu de Paiva Silva e Geraldo Andrade Carvalho, Universidade Federal de Lavras – Ufla
Coluna Agronegócios
Agroideal
E
m 2018 foi lançada uma ferramenta denominada Agroideal, um sistema de inteligência e gestão territorial que auxilia na tomada de decisões que objetivem evitar ou mitigar riscos socioambientais, sem prejuízo das metas produtivas e financeiras. A ferramenta está disponível on-line (https:// agroideal.org), sendo seu uso gratuito. A intenção deste artigo é promover a discussão sobre o tema e sobre a importância desta ferramenta e de similares, para a competividade do agronegócio. A soja é o grande produto do agro brasileiro, e continuará sendo por décadas avante, razão pela qual o foco do Agroideal se iniciou por esta cultura, mas já incorporou também a pecuária. A soja movimenta inúmeros elos ao longo de sua cadeia de valor, tangenciada por outras cadeias importantes, como carnes e bioenergia. Mas não se restringe a isso, são mais de 500 produtos que utilizam soja, seja pelo consumo direto ou aditivos. A soja está presente na margarina, na maionese, nas barrinhas de cereais, nos molhos para saladas e nos suplementos proteicos. Ela é também utilizada na fabricação de tintas, velas, giz de cera, estofados, papel-jornal reciclado, bancadas, painéis particulados e em uma variedade de outros produtos de uso diário.
RESPONSABILIDADE SOCIOAMBIENTAL
A demanda global por soja deve se manter em alta nas próximas décadas. O Brasil, atualmente responsável por mais de um terço da produção mundial de soja, tem tudo para ampliar seu protagonismo no mercado internacional, nos próximos anos. Para tanto, é necessário agir com visão e inteligência, para atender as crescentes exigências de sustentabilidade, que são impostas pelos países importadores, mercê da pressão social. A soja, que iniciou sua saga no Brasil pelo Rio Grande do Sul, em terras já ocupadas pela agricultura, expandiu-se gradativamente rumo ao Centro e ao Norte do País. Ocupou parcelas importantes do Cerrado e franjas do bioma amazônico. Que originalmente abrigam uma grande biodiversidade, incluindo espécies endêmicas, não encontradas em outros habitats. Além disso, a cobertura florestal original abriga grandes reservatórios de carbono, essenciais para impedir o avanço das mudanças climáticas. A forma como se vai aumentar a produção de soja é muito importante para a preservação desses ecossistemas. Preferência deve ser dada ao aumento sustentável da produtividade. E se for necessário expandir área de cultivo, o desafio é utilizar áreas onde se possa cultivar soja de forma sustentável, tanto quanto possível mantendo as florestas intactas, sempre resguardando a produtividade e o retorno financeiro. Para tanto, é mister que as empresas e os produtores rurais possam acessar informações e parâmetros de sustentabilidade corretos e precisos. Segundo os desenvolvedores do Agroideal, este é o objetivo precípuo da ferramenta, pois permite que seus usuários gerem mapas de exposição ao risco e oportunidades sustentáveis em uma determinada região e avaliem a ameaça de expansão sobre a vegetação nativa. Também analisam que os usuários podem incorporar estas informações às estratégias de desenvolvimento regional, permitindo planejar a expansão em áreas que já foram desmatadas anteriormente, reduzindo a
conversão de áreas naturais e minimizando os impactos sociais e ambientais.
A FERRAMENTA
O Agroideal é uma iniciativa desenvolvida de forma cooperativa por traders, bancos, empresas de consultoria, instituições de pesquisa e ONGs. A ferramenta oferece informações sobre as regiões do Cerrado e da Amazônia, identificando os riscos e oportunidades em três quartos do território nacional. Os desenvolvedores preveem que, no futuro próximo, será possível expandir seu uso para outras regiões, inclusive abarcando partes da Argentina e do Paraguai. Pretendem, ainda, incluir outras commodities além da soja e da pecuária. O uso de ferramentas como o Agroideal não se constitui em movimento isolado, porém faz parte de uma tendência dominante envolvendo organizações empresariais e ONGs de diversas partes do planeta, tendo como foco melhorar a sustentabilidade de suas cadeias de abastecimento. As empresas agem movidas pelo sentimento social em busca de um desenvolvimento sustentável do planeta, pela pressão da sociedade por exigências crescentes da otimização de uso dos recursos ambientais e por ganhos sociais associados às cadeias produtivas. Que se reflete em normas governamentais dos países importadores, impondo grande parte dessas exigências.
REFLETIR E AGIR
Não é nosso interesse promover uma ferramenta específica, seja o Agroideal ou outras que estiverem à disposição dos produtores. O que nos move é provocar uma reflexão de quão cruciais são os compromissos com a sustentabilidade para a competividade comercial. A produção de alimentos, como outras atividades produtivas, tem um impacto significativo sobre a capacidade do Brasil de cumprir metas globais, como o Acordo de Paris sobre o Clima e os Objetivos do Desenvolvimento Sustentável. Todos os produtores de alimentos serão cobrados por isso. É importante ter em mente que o crescimento populacional e o incremento da renda per capita, nos próximos anos, conduzirão à elevação dos padrões de vida, ao aumento do consumo e à mudança de hábitos alimentares. A FAO estima que a demanda global por alimentos crescerá entre 40% e 50% até 2050, o que poderia levar ao aumento da pressão sobre as paisagens em todo o mundo se o crescimento econômico não for cuidadosamente gerenciado. Se vamos alimentar uma população crescente e, ao mesmo tempo, preservar o habitat e minimizar as mudanças climáticas, precisamos ser mais inteligentes em relação à forma pela qual produzimos alimentos. O mote para reflexão é que, nos próximos C anos, não bastará produzir, é imperativo ser sustentável. Decio Luiz Gazzoni O autor é Engenheiro Agrônomo, pesquisador da Embrapa Soja www.revistacultivar.com.br • Outubro 2020
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Algodão
Base sólida
Pragas iniciais demandam máxima atenção dos produtores de algodão, já que problemas no início do desenvolvimento das lavouras podem ser irreversíveis e comprometer todo o investimento. De pouco ou nada adiantará outros cuidados se o cotonicultor já começar o trabalho perdendo o jogo
O
produtor de algodão prepara-se para semear uma nova safra, e as pragas iniciais demandam estratégias de manejo para a manutenção do estande e o melhor desenvolvimento das plantas. O agroecossistema utilizado no Centro-Oeste é um ambiente favorável à multiplicação de pragas, onde o algodoeiro vem sendo utilizado no sistema de rotação de culturas, principalmente com a cultura da soja. Desta forma, os cultivos sucessivos, hospedeiros de diversas pragas, aliados a fatores como condições climáticas favoráveis, de altas temperaturas e de inverno ameno, tornam-se ideais para a multiplicação dos insetos. A semente é o início de uma nova vida, carrega diversas características genéticas que definem o potencial produtivo, além de outros itens como químicos, inoculantes, estimulantes, entre outros. Para se ter uma boa semente envolveram-se diversas pessoas, empresas, proporcionando um alto valor agregado para a nova cultura. O aumento de custo das sementes é inegável ao longo dos anos em função de toda a tecnologia embarcada. Um bom desenvolvimento inicial da cultura tende a levar maior acúmulo de massa, fazendo com que a cultura consiga suportar um maior número de estruturas reprodutivas, levando à maior
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produtividade. Existem diversas pragas ocorrendo na fase inicial da cultura do algodoeiro e, nos últimos anos, algumas têm se destacado. Entre estas, podem-se citar tripes, lagartas (gêneros Spodoptera e Helicoverpa armigera), lagarta Elasmopalpus lignosellus, pulgão, entre outras pontuais. O algodoeiro brasileiro caracteriza-se pela presença de grandes propriedades, altamente mecanizadas. Atualmente, muitos dos produtores fazem uso de culturas de cobertura, dentro do sistema plantio direto, proporcionando alimento para diversas pragas, o que resulta na ausência de intervalos para a quebra nos ciclos desses insetos. A lagarta-elasmo (Elasmopalpus lignosellus) é uma das principais pragas iniciais na cultura do algodoeiro. O seu principal dano consiste na redução no estande de plantas e por consequência leva a perdas de produtividade. Esta praga apresenta grande polifagia, além do algodoeiro ataca a soja, o milho e outros vegetais. Diversas plantas daninhas servem como hospedeiros alternativos, como capim-braquiária, capim pé-de-galinha, capim-colchão, milheto e outras.
Fotos Germison Tomquelski
As lagartas apresentam coloração variável de esverdeada a arroxeada, com a cabeça escura. Perfuram as plantas na região do colo, fazendo galerias e consequentemente provocam a morte de plântulas. Como forma de abrigo, constroem um casulo com teias, facilmente encontrado no campo. Os adultos são mariposas de coloração cinza a cinza-claro, asas com envergadura de aproximadamente 10mm. Ao completarem seu ciclo larval, as lagartas empupam próximo à planta em sua base ou no solo (Tomquelski e Martins 2017). Áreas com textura arenosa, sujeitas a estresses hídricos, ou mesmo com a presença de plantas hospedeiras são mais propensas ao ataque e demandam maior cuidado do produtor. Nos últimos anos, as lagartas com hábito de “rosca” ou mesmo “desfolhadoras na fase inicial” têm ocorrido em maior quantidade em função do sistema de produção. A Spodoptera frugiperda (lagarta-do-cartucho-do-milho) se apresenta atualmente como um grande desafio. Esta praga possui alta taxa reprodutiva, sendo as massas de ovos em torno de 150 ovos, podendo a espécie colocar até mil ovos. As lagartas se caracterizam pela variação de coloração marrom e são difíceis de encontrar, pela localização neste momento próxima ou no solo. Apresentam um “Y” invertido na parte frontal da cabeça e quatro pontos equidistantes no final do seu dorso. É uma praga que permanece de 12 a 30 dias no estádio de lagarta, alcançando, em média, 5cm de comprimento. A pupa é frequentemente encontrada no solo. O adulto é uma mariposa com asas anteriores mais escuras e desenhadas que as posteriores, medindo 3,5cm de envergadura. O aumento desta praga nas diversas regiões é um ponto que merece atenção, e sua polifagia (vários hospedeiros disponíveis), tem levado à maior permanência da praga no sistema. As plantas tigueras de milho, comumente presentes nas diversas regiões do Brasil, também demandam atenção. No Brasil, pragas como Spodoptera frugiperda podem apresentar muitas gerações em função da tropicalidade das regiões, e algumas biotecnologias por selecionarem indivíduos resistentes, têm levado a escapes de controle desta
A lagarta-elasmo é uma das principais pragas iniciais na cultura do algodoeiro
praga, necessitando de ferramentas para auxiliar no controle. Outra praga de grande importância, os tripes atualmente apresentam grande relevância na cultura do algodoeiro. O seu ataque no início do desenvolvimento da cultura leva a prejuízos significativos, sendo, em alguns casos, responsável pela perda de toda a aplicação de nitrogenado. A predominância desta praga é de Frankliniella schultzei na cultura do algodoeiro, porém podem-se encontrar também as espécies Thrips palmi e Caliothrips phaseoli (Goussain et al., 2015; Lima et al., 2013; Monteiro, 2002). Os danos diretos ocorrem no tecido vegetal durante a alimentação. Esta praga apresenta um destaque maior em função da transmissão de agentes fitopatogênicos, especialmente vírus. Dentre os transmitidos por tripes, os tospovírus (Ortotospovirus) e Ilarvirus estão entre os mais importantes, levando a perdas econômicas em várias culturas no mundo, em algodoeiro, soja e tomate, além das plantas daninhas (Barbosa et al., 2001; Monteiro et al., 2001). Dependendo da região, a presença de determinadas plantas daninhas pode ser um fator agravante no sistema, em função da origem regional. Normalmente, se estabelecem em
tecidos novos, tanto na face inferior como superior de folhas enroladas, e com o aparato bucal levam a injúrias que irão posteriormente levar à deformação das folhas, consequentemente afetando a fotossíntese das plantas. Com o início do período reprodutivo, esta praga tende a buscar as flores. Se o ataque é intenso, inicialmente as folhas apresentam um aspecto queimado, prateado, podendo cair. O ciclo é por hemimetabolia, apresentando ovos, ninfas e adultos. Ovos são colocados nas plantas e posteriormente as ninfas colonizam os tecidos. Durante um período, descem ao solo, onde podem terminar a fase ninfal e posteriormente, na fase adulta, atacam novas plantas. Esta fase no solo leva a grande dificuldade, em função dos diversos hospedeiros, dificultando o controle de toda a população da praga no talhão. O pulgão é uma praga clássica na cultura do algodoeiro, chegando, na região dos Chapadões, a representar mais de 70% das pulverizações na cultura nos anos de 1998 a 2000. Aphis gossypii ocorre inicialmente, sendo em muitas regiões uma das primeiras na cultura, colonizando as plantas pequenas, levando a danos que impactam no desenvolvimento e na produtividade. São insetos de tamanho pequeno, coloração variável de amarelo-claro a verde-escuro. Vivem sob as folhas e os brotos novos das plantas, sugando a seiva. Os adultos apresentam tamanho em torno de 1,5mm,
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so. A construção de um histórico das áreas com informações sobre a dinâmica populacional desses insetos, pode ajudar na definição do manejo. Algumas pragas são observadas visualmente, através de contagem direta nas plantas, no entanto, atualmente o uso de armadilhas tem auxiliado no entendimento das populações. Entre as estratégias de MIP, o tratamento de sementes é a base em pragas iniciais. Tem por objetivo “quebrar a dinâmica populacional”, mantendo as populações em níveis adequados, ou seja, controla da primeira geração que possa vir a colonizar a lavoura e mesmo parte da população já presente. É considerada por muitos produtores-técnicos como um “seguro”. Entre os inseticidas de tratamento de sementes, as moléculas de fipronil, thiametoxan, imidacloprid + tiodicarbe, imidacloprido + bifentrina, clothianidim, clorantraniliprole e ciantraniliprole isoladamente e em diversas associações têm proporcionado bom controle, desde que analisados as infestações e os alvos. A biotecnologia é uma ferramenta adotada na maioria das áreas, alcançando em algumas propriedades mais de 90%. Porém, há de se considerar que é uma estratégia, e como sempre deve se integrar às demais. Lagartas, tanto cortadeiras como E. lignosellus, têm atacado nas diversas regiões. Mesmo com o controle pela ferramenta, se acaba perdendo plantas. O controle de praga presente nas culturas de cobertura quando da dessecação e semeadura em intervalos curtos (três dias a sete dias) requer pulverizações, a fim de levar menor ataque inicial. Alguns inseticidas encontram-se registrados nesta modalidade de manejo, sendo importante destacar diamidas, carbamatos e também alguns piretroides. De modo geral, com toda esta adversidade, como aumento populacional de pragas, quebras de tecnologias, pragas do sistema de produção, e a busca por maiores rentabilidades, de nada adianta o produtor ter uma boa escolha de materiais, boas práticas da semeadura-correção-adubação, bons maquinários, se começar perdendo o jogo. Problemas no início do desenvolvimento das lavouras são irreC versíveis. Uma boa base faz toda a diferença no resultado.
Fotos Germison Tomquelski
sendo o ciclo médio de oito dias. É uma praga em que a fêmea pode gerar de 25 a 50 indivíduos, sendo a longevidade média dos indivíduos de 20 dias. O pulgão suga a seiva, reduzindo o crescimento e o desenvolvimento das plantas, provoca encarquilhamento das folhas e deformação dos brotos. Os pulgões também são transmissores de vírus causadores de doenças, como o vermelhão do algodoeiro, a doença azul (mosaico das nervuras – “forma Ribeirão Bonito”) e, nas últimas safras, a virose atípica. Os sintomas dessa última doença são palidez das nervuras e enrugamento das bordas, e com sua progressão as folhas ganham coloração avermelhada-arroxeada. Seus prejuízos têm sido comumente observados nas mais diversas localidades brasileiras, sendo comum a observação ao final do desenvolvimento das plantas. Vale destacar que diversas plantas daninhas podem ser hospedeiras destas viroses, levando à chamada “ponte verde” para a doença. A capacidade de reprodução destes insetos é enorme e favorecida por temperaturas elevadas e condições normais de umidade relativa. Sua reprodução por partenogênese telítoca (sem a presença do macho) leva rapidamente a grandes populações. Períodos de estiagem inicialmente levam a dificuldades de manejo, em função da menor eficiência da tecnologia de aplicação e menor quantidade de inimigos naturais. Diante deste grande número de pragas na cultura, o Manejo Integrado de Pragas (MIP) é de grande necessidade, a fim de evitar os prejuízos e custos. Nenhuma estratégia deve ser considerada isoladamente para o controle das pragas e sempre deve-se integrar os métodos de controle. O MIP, em função desta complexidade, precisa ser tratado de forma mais estratégica neste âmbito multicultural. De certa forma, o conhecimento da praga, assim como da lavoura pelo “produtor-técnico”, torna-se a base para a construção das estratégias de manejo. Ou seja, conhecimento da biologia das principais pragas ocorrentes na região e uma boa amostragem a campo. A amostragem deve ser constante em virtude da presença de plantas no campo o ano todo. O treinamento da equipe antes do início da safra proporciona alinhamento das estratégias de manejo, além da melhoria – aperfeiçoamento do proces-
Agroecossistema utilizado no Centro-Oeste cria ambiente favorável à multiplicação de pragas com o algodoeiro cultivado em rotação com outras culturas
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Germison Tomquelski, Fundação Chapadão
Informe
Doses eficientes Paulo Sérgio dos Santos
Fertilizante multielementar mostra ação positiva na redução de nematoides na cultura da soja
A
utilização de Tractus Smart nas doses de 30kg/ ha e 60kg/ha apresentou excelente eficiência no manejo das espécies de nematoides Meloidogyne javanica e Pratylenchus brachyurus por grama de raiz de soja. Nematoides estão entre os principais problemas fitossanitários da cultura da soja e, no Brasil, os fitonematoides mais prejudiciais à cultura são os formadores de galhas (Meloidogyne spp.) e o das lesões radiculares (Pratylenchus brachyurus). Existe uma série de métodos recomendados para o manejo de nematoides na soja, dentre eles rotação de culturas, uso de genótipos resistentes, controle químico e biológico, isolados ou as-
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sociados. Entretanto, alguns produtos têm demonstrado potencial para o manejo desses parasitas. Neste contexto, a Spraytec desenvolveu o Tractus Smart, que é economicamente viável e ecologicamente correto, devido à sua formulação completa e à tecnologia disruptiva, aliando nutrição e correção na medida certa. Tractus Smart é um fertilizante multielementar para ser aplicado como complemento e associado ao adubo de base, no sulco ou a lanço. Um único grânulo contém quantidades equilibradas de macros e micronutrientes, ácidos húmicos, silício e aminoácidos de alta solubilidade e prontamente disponíveis às plantas, sem salinizar o solo,
possibilitando maior crescimento radicular e estabelecimento inicial da cultura. Outra inovação é que, em resposta à aplicação de Tractus Smart, os mecanismos de defesa são ativados, induzindo a planta a sintetizar metabólicos secundários, que atuam como barreiras físicas e químicas, dificultando a entrada e o desenvolvimento de patógenos, como os nematoides. A utilização de cultivares de alto potencial genético associada ao desenvolvimento sustentável exige produtos de vanguarda, como o Tractus Smart, que atende aos anseios do campo, pois vai além da simples nutrição da planta, garantindo sanidade e produtividade da cultura.
OBJETIVO
Avaliar o efeito de doses de Tractus Smart no manejo de Meloidogyne javanica e Pratylenchus brachyurus na cultura da soja.
MATERIAIS E MÉTODOS
O experimento foi conduzido sob a supervisão da pesquisadora Cláudia Regina Dias Arieira, em casa de vegetação, na Universidade Estadual de Maringá, Campus Regional de Umuarama, em delineamento inteiramente casualizado, com seis repetições. Os tratamentos estudados foram Tractus Smart nas doses 0, 30 e 60 kg por hectare, sendo a
dose zero a testemunha. Foram utilizados recipientes de poliestireno contendo 500ml de uma mistura de solo e areia (1:1), previamente autoclavado (120ºC/2h). Em cada unidade experimental foi feito um orifício no qual foram depositados os respectivos tratamentos, o inóculo do nematoide e, em seguida, uma semente de soja cultivar M6210 IPRO. O inóculo consistiu-se em uma suspensão de 2ml contendo 500 espécimes de P. brachyurus, ou dois mil ovos de M. javanica. Os inóculos foram obtidos de populações puras dos nematoides, mantidas em soja, em casa de vegetação, por um período de dois meses, sendo extraídos das raízes pelo processo de extração proposto por Coolen e D’Herde (1972) e Boneti e Ferraz (1982), respectivamente. Decorridos 60 e 70 dias da instalação do ensaio para M. javanica e P. brachyurus, respectivamente, as plantas foram cuidadosamente coletadas, separando-se parte aérea e raiz. Na parte aérea foram avaliadas altura, massa fresca e seca. As raízes foram cuidadosamente lavadas e submetidas ao processo de extração dos nematoides já citados. As amostras obtidas foram avaliadas em microscópio de luz, usando câmara de Peters quanto ao número total de nematoides. Esse foi dividido pela massa de raiz, determinando-se o
número de nematoides por grama de raiz. Os dados obtidos foram submetidos à análise de variância a 5% de probabilidade e, em caso de significância, as médias dos tratamentos foram comparadas pela análise de regressão linear ou quadrática. A melhor dose do Tractus Smart foi comparada com a testemunha (dose zero) pelo teste T de Bonferroni, a 5%.
RESULTADOS
Para Meloidogyne javanica/g de raiz de soja, a melhor dose para redução do nematoide foi observada ao aplicar 30kg do produto por hectare, que promoveu uma redução de 76%. Com aplicação de 60kg, a redução foi de 64% (Figura 1). Já para Pratylenchus brachyurus, Tractus Smart na dose de 30kg/ha promoveu redução de 77% no número de nematoides por grama de raiz se comparado à testemunha. Com aplicação de 60kg, a redução foi de 2,8% (Figura 2).
CONCLUSÃO
As duas doses avaliadas de Tractus Smart promoveram redução no número de Meloidogyne javanica e de Pratylenchus brachyurus por C grama de raiz de soja. Departamento de Pesquisa e Desenvolvimento Spraytec
Figura 1 - Número de Meloidogyne javanica por grama de raiz de soja em função Figura 2 - Número de Pratylenchus brachyurus por grama de raiz de soja em função do tratamento com doses crescentes de Tractus Smart do tratamento com doses crescentes de Tractus Smart
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Soja
Mudanças de clima
Wenderson Araujo CNA
Fenômenos climáticos extremos, como o El Niño Oscilação Sul (Enos), têm se transformado nos maiores limitantes da produtividade da soja no Brasil. A escolha da data de semeadura pode auxiliar a diminuir os impactos deste evento, contudo outras alternativas, como a adoção da irrigação quando possível, o plantio direto, a melhoria do perfil do solo e a adoção de cultivares resistentes às secas, também devem ser consideradas
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O
Brasil é o maior produtor mundial de soja, e isto é possível devido à grande área cultivada e às altas produtividades. A produtividade média de soja no Brasil é de 3,3t/ha (Figura 1a). Em comparação, a produtividade média de soja nos Estados Unidos, Argentina e China, os maiores produtores mundiais, foi de 3,4t/ha, 3,1t/ha e 1,7t/ha, respectivamente. Contudo, os eventos de secas e de altas temperaturas têm sido os maiores limitantes para a obtenção de altas produtividades no Brasil, e tendem a se tornar mais frequentes e intensos com as mudanças climáticas. Historicamente, a maioria dos eventos climáticos extremos é causada pelo efeito do fenômeno El Niño Oscilação Sul (Enos). O Enos é um fenôme-
tiva da cultura. Para isso, foi utilizada uma série diária histórica de chuva, radiação solar, temperatura máxima e mínima de 56 anos (1961-2016). Os resultados indicam que os impactos das fases dos Enos na produtividade da soja no Sul do Brasil variam de acordo com a localidade, e podem ser divididos em três grupos (Figura 2a): I) Grupo I (Sul do Rio Grande do Sul): os impactos da fase El Niño no Sul do Brasil tendem a ser benéficos à produtividade de soja em todas as datas de semeadura; o oposto ocorre durante a fase La Niña. Neste grupo, a ocorrência de eventos de seca nas fases vegetativa e reprodutiva é mais frequente durante a fase La Niña, independentemente da data de semeadura (Figura 2b). A perda de produtividade média durante o La Niña, neste grupo, supera 1.000kg/ ha (Figura 2e). II) Grupo 2 (Norte do Rio Grande do Sul, Santa Catarina e parte da região Sul do Paraná): as fases El Niño e La Niña tendem a impactar positivamente a produtividade de soja; geralmente, os anos com produtividade abaixo da média ocorrem durante a fase neutra (Figura 2f), uma vez que a ocorrência de eventos de seca nas fases vegetativa e reprodutiva é mais
no oceânico atmosférico, caracterizado por anomalias da temperatura da superfície do Oceano Pacífico. Quando a temperatura é 0,5°C maior que a média, tem-se a fase quente, ou El Niño; e quando a temperatura é 0,5°C menor que a média, tem-se a fase fria, ou La Niña. Durante a fase La Niña, há uma possibilidade maior de ocorrência de secas e de altas temperaturas no Sul do Brasil, e o contrário ocorre durante a fase El Niño. A safra de 2012 ocorreu durante a fase La Niña e foi desastrosa no Sul do Brasil. A produtividade média nacional caiu 10% em relação à média histórica, e 16% comparada à de 2011 (Figura 1a, círculo vermelho destaca 2012), equivalendo a uma perda de dez milhões de toneladas de soja. Esta queda de produtividade foi devido a uma intensa seca durante os meses de
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novembro e dezembro de 2011, seguida de altas temperaturas em janeiro e fevereiro de 2012, ocorridas na região Sul do Brasil (Figura 1d, 1e e 1f). Nesta região, a redução de produtividade foi superior a 20% (Figura 1b). No Oeste do Rio Grande do Sul e no Paraná, a perda de produtividade chegou a 90%, em algumas regiões (Figura 1c). Recentes estudos indicam a escolha da data de semeadura como uma potencial estratégia para a redução dos efeitos dos eventos climáticos extremos. Assim, utilizou-se o modelo de simulação de crescimento de cultura (DSSAT-CROPGRO), para simular a fenologia e a produtividade de soja em diferentes localidades no Sul do Brasil, e determinar em número médio a ocorrência de eventos de seca (sete dias consecutivos sem precipitação) durante as fases vegetativa e reprodu-
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Tony Oliveira CNA
Figura 1 - A produtividade de soja no Brasil e a safra de 2012. (a) Média de produtividade de soja no Brasil corrigida pela têndencia tecnológica (Conab, 2020). (b) Média de produtividade de soja no Sul Brasil corrigida pela têndencia tecnológica. (c) Variação da produtividade da soja em 2012 em relação à média do período de 20 anos (2000-2020), adaptado de IBGE (2020). Boxplots (d) chuva acumulada mensal, (e) média da temperatura máxima mensal, (f) média da temperatura mínima mensal e (g) média da radiação solar mensal. (d-g) Os valores referentes as médias mensais da safra 2011/2012 estão destacadas com o asterísco vermelho. Figura adaptada de Nóia Júnior et al. (2020)
frequente nesta fase (Figura 2c). III) Grupo 3 (Paraná em geral): os impactos positivos e negativos das fases do fenômeno Enos variam de acordo com a data de semeadura; isso se dá, pois a frequência de ocorrência de eventos de seca durante as fases reprodutiva e vegetativa durante as diferentes fases do Enos também varia de acordo com a data de semeadura (Figura 2d). Por exemplo, nota-se que a frequência de eventos de seca durante a fase reprodutiva (fase mais sensível ao déficit hídrico) aumenta quando ocorre a antecipação da data de semeadura da soja para setembro e início de outubro durante a fase La Niña. A antecipação do plantio da soja durante a fase La Niña e Neutro pode gerar perda de até 500kg/ha (Figura 2g). Por outro lado, a antecipação da semeadura da soja é favorecida pela fase El Niño. A fase El Niño pode ter efeito negativo na produtividade de soja, caso a semeadura seja realizada a partir da metade do mês de novembro, devido à maior ocorrência de eventos de seca no período reprodutivo da cultura (Figura 2d). A ocorrência de eventos de seca durante as fases reprodutiva e vegetativa da soja varia de acordo com a região, a data de semeadura e a fase
Figura 2 - Impactos do fenômeno El Niño Oscilação Sul sobre a cultura da soja no Sul do Brasil. (a) Grupos homogêneos quanto ao impacto do fenômeno El Niño sobre a cultura da soja determinado por análise de agrupamento. (b-d) Número médio de eventos de seca (7 dias consecutives sem chuva) durante a fase vegetativa e reprodutiva da cultura na soja nos Grupos (b) I, (c) II e (d) III em diferentes data de semeadura e fase do ENOS. (e-g) Produtividade média da soja em diferentes datas de semeadura e fases do ENOS nos grupos (e) I, (f) II e (g) III. Figura adaptada de Nóia Júnior et al (2020)
do Enos. Assim, uma maneira interessante de se minimizar os impactos das fases dos Enos é através da escolha da data de semeadura. Contudo, vale a pena ressaltar que a ocorrência de eventos de seca não está relacionada somente às fases do fenômeno Enos. Assim, outras alternativas, como a adoção da irrigação quando possível, o plantio direto para auxliar na manutenção da umidade do solo, a melhoria do perfil do solo em profundidade para possibilitar o melhor crescimento das raízes e a adoção de cultivares resistentes às secas, devem ser consideradas para minimizar os efeitos do fenômeno Enos, a variabilidade climática e os eventos climátiC cos extremos.
Rogério de Souza Nóia Júnior Universidade da Flórida Mauricio Alex Zientarski Karrei Universidade da Flórida Clyde William Fraisse Universidade da Flórida, EnsoAg LLC Bruno Fardim Christo Agroconsult
Nóia Júnior lembra que é preciso estar atento à semeadura
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Capa
Novo momento
Fotos Mônica Debortoli/Phytus Group
Manejo integrado de percevejos em soja ganha importantes aliados com a chegada de novidades para a safra 2020/21 no Brasil. Inseticidas químicos com modo de ação diferenciado, cultivares tolerantes ao ataque e primeiro bioproduto contra ovos da praga alargam as opções de ferramentas disponíveis ao produtor
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s percevejos são as principais pragas da fase reprodutiva da soja, por alimentarem-se dos grãos ou sementes, o que compromete a produtividade da lavoura e a qualidade da soja produzida, reduzindo o valor que o produtor receberá na indústria. A estratégia comumente utilizada para controlar essas pragas tem sido o controle químico, com uso de inseticidas sintéticos. Porém, sua utilização abusiva e de forma preventiva acarreta aumento nos custos de produção, promove a seleção de percevejos resistentes, elimina seus inimigos naturais e pode deixar resíduos nos grãos produzidos, além de contaminar o aplicador e o ambiente. Até a última safra o produtor contava com apenas algumas poucas ferramentas de manejo para o controle do percevejo, o que, 20
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na prática, se restringia ao uso de inseticidas químicos. Mesmo os inseticidas, apesar das diferentes marcas comerciais existentes, podiam ser reunidos em apenas dois grupos, de acordo com o seu modo de ação: 1) Os inseticidas do grupo 1 (inibidores da acetilcolinesterase), que na prática é o acefato, e 2) Os inseticidas formados por misturas de um neonicotinoide (grupo 4: moduladores competitivos de receptores nicotínicos da acetilcolina) com um piretroide (grupo 3: moduladores de canais de sódio). Com essa pequena diversidade de opções, a rotação de produtos de modos de ação diferenciados ficava comprometida. O uso repetido do mesmo grupo de modo de ação associado ao uso abusivo desses inseticidas, o que em algumas regiões pode chegar a até três ou mais aplicações por safra, levou à seleção de
populações de percevejos resistentes. A ocorrência de populações de percevejos resistentes aos inseticidas disponíveis no mercado é um dos grandes problemas atualmente enfrentados pelo agricultor. Entretanto, para a safra 2020/2021 que se inicia, o sojicultor conta com algumas novidades, que serão importantes aliadas para um melhor manejo de percevejos no campo. Uma das novidades reside na entrada de novos produtos químicos no mercado com diferentes modos de ação. Isso facilita o manejo de resistência de percevejos aos inseticidas. Com a oferta de um novo inseticida (etiprole) com modo de ação (bloqueador de canais de cloro mediados pelo Gaba) pertencente a um grupo diferente (grupo 2) do grupo 1 ou grupo 4 + 3, que eram os únicos disponíveis até o momento, o produtor pode mais facilmente rotacionar o modo de ação no uso de inseticidas para controle de percevejos em sua área. Outro fato novo é o registro de cultivares de soja tolerantes ao ataque de percevejos (tecnologia Block). Também se soma às novas alternativas o registro do primeiro bioproduto com um agente de controle biológico (Telenomus podisi) para manejo dos ovos de percevejos. Essas novidades, se utilizadas dentro dos conceitos de manejo integrado de pragas (MIP-Soja), irão marcar um novo momento na sojicultora, com resultados mais eficientes no manejo de percevejos pelo produtor.
SOJA BLOCK
Principalmente para áreas com histórico recorrente de problemas com percevejos é importante que, a partir do momento do plantio, o sojicultor possa optar por utilizar cultivares mais tolerantes ao ataque da praga. Para tornar isto possível, a Embrapa, através do melhoramento genético convencional, selecionou cultivares de soja que apresentam maior tolerância ao ataque de percevejos. Assim, em 2019 foi lançada no mercado brasileiro a tecnologia Block. Essa tecnologia identifica as cultivares de soja que apresentam menor perda de produção quando submetidas ao ataque intenso de percevejos, comparativamente às cultivares sem a tecnologia Block.
Figura 1 - Comparativo dos grãos em diferentes intensidades de infestação
Agente de controle biológico (Telenomus podisi) é uma das ferramentas para o manejo dos ovos de percevejo
São cultivares que, como pode ser observado na Figura 1, têm alto potencial produtivo, comparado aos melhores padrões do mercado. Além da alta produtividade, quando submetidas a populações mais altas de percevejos, não terão sua produção comprometida com a presença de grãos chochos e danificados na mesma intensidade das cultivares sem a tecnologia. Essas cultivares são oferecidas associadas ou não a outras tecnologias. Sendo assim, já é possível encontrar cultivares Block como soja Bt, soja RR ou mesmo soja convencional (para mais informações sobre a Tecnologia Block, consulte https://www.embrapa.br/en/soja/block).
TELENOMUS PODISI
Telenomus podisi é um inseto parasitoide de ovos de percevejos, naturalmente encontrado no ambiente. O adulto desse inseto é uma microvespa (~1mm) que se desenvolve (de ovo a adulto) dentro dos ovos do percevejo hospedeiro, matando-o e impedindo a emergência de ninfas. Sendo assim, no ovo parasitado, ao invés da emergência de uma ninfa de percevejo, emerge um adulto do parasitoide, que continuará parasitando e controlando novos ovos de percevejo durante sua vida adulta. Esse parasitoide é um agente de controle biológico bastante eficaz no controle do percevejo-marrom, sendo que uma fêmea adulta do parasi-
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Figura 2 - Ação de Telenomus podisi em ovos de percevejo
MANEJO DE RESISTÊNCIA
É natural e esperado que existam na natureza percevejos resistentes. Entretanto, quando esses insetos são manejados corretamente, aqueles considerados resistentes serão minoria na população e sua presença não comprometerá a eficiência do controle. Entretanto, quando um inseticida com o mesmo modo de ação é usado repetida e abusivamente na lavoura, os insetos resistentes serão os únicos a sobreviver. Cruzando entre si, esses insetos resistentes irão se multiplicar e passar a ser maioria na população, quando então o inseticida não mais irá funcionar. Para evitar a
Fotos Adeney Bueno
toide pode parasitar até 100 ovos deste inseto-praga. Considerando que a quantidade de T. podisi na natureza pode ser insuficiente para manter a população de percevejos em níveis baixos, o produtor já pode comprar esse parasitoide e liberar em sua lavoura. Isso deve-se ao fato de que após anos de pesquisa foi registrado, em dezembro de 2019, o primeiro bioproduto com esse agente de controle biológico no Brasil. Portanto, a partir da safra 2020/2021 em vias de estabelecimento, a oferta e o uso dessa nova ferramenta de manejo devem aumentar gradativamente nas diferentes regiões. É importante que o sojicultor que fizer uso dessa “vespinha” no campo fique atento a algumas de suas peculiaridades. Como esse parasitoide não controla o percevejo e sim os ovos que darão origem aos percevejos, o momento certo de sua utilização no campo é crucial para seu sucesso. A pesquisa recomenda iniciar a liberação dessas microvespas quando for detectada a presença dos primeiros adultos dos percevejos nas lavouras, realizando duas a três aplicações no intervalo de sete dias. Isso aumentará as chances de coincidir a presença do parasitoide no campo com seus hospedeiros, que são os ovos de percevejos.
A liberação do parasitoide é realizada usualmente no estádio de pupa. Essas pupas podem ser distribuídas no campo de forma avulsa ou protegidas dentro de cápsulas contendo ovos parasitados pela vespinha, que devem ser distribuídos estrategicamente na área, em pontos equidistantes. É importante que essa liberação seja realizada o mais próximo possível da emergência dos adultos, evitando-se dias muito quentes (o final da tarde é o período usualmente mais indicado) para reduzir a mortalidade dos parasitoides. Também, é importante considerar que essas vespinhas são organismos vivos, razão pela qual deve-se evitar aplicações de inseticidas na área onde ocorreu a liberação dos parasitoides, pelo menos dez dias antes e duas semanas após a liberação desses parasitoides. Logo após sua emergência no campo, as fêmeas do parasitoide irão localizar os ovos dos percevejos e depositar neles seus ovos, interrompendo o desenvolvimento da praga e dando início ao desenvolvimento de um novo parasitoide. Os ovos parasitados levam cerca de duas semanas para darem origem a uma nova população de “vespinhas”, cujas fêmeas são copuladas e saem em busca de novas posturas do percevejo para parasitá-los, evitando o nascimento de mais percevejos-praga.
Adulto do percevejo-marrom (Euschistus heros)
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Bioproduto tem como alvo os ovos da praga
seleção de insetos resistentes é preciso adotar algumas medidas de manejo de resistência. A principal consiste na rotação de produtos de diferentes modos de ação. Isto, até a safra passada, era mais difícil de ser realizado devido à existência de poucos grupos de inseticidas com modos de ação diferentes. Com a oferta do etiprole no mercado, a partir da nova safra que se aproxima haverá mais um grupo distinto de modo de ação que pode ser usado na rotação com os outros produtos do mercado e assim auxiliar no manejo de resistência de percevejos aos inseticidas. O ideal seria que a cada aplicação necessária no campo, o sojicultor adotasse um inseticida com modo de ação diferente (para consultar o grupo de modo de ação de um inseticida, acesse https://www. irac-br.org/modo-de-acao).
MANEJO INTEGRADO DE PRAGAS PARA PERCEVEJOS
É importante relembrar que qualquer estratégia de manejo de pragas (nova ou antiga) somente será eficiente a longo prazo se adotada dentro dos conceitos de MIP-Soja. Os resultados positivos com a adoção de MIP-Soja vão além de pesquisas e já podem ser observados no campo em áreas de produtores que adotam a tecnologia. No estado do Paraná, o MIP-Soja é levado ao produtor em um trabalho conjunto entre o Instituto de Desenvolvimento Rural do Paraná- Iapar-Emater (IDR-Paraná) e a Embrapa Soja. Os resultados dos primeiros cinco anos do MIP-Soja indicaram economia no uso de inseticidas entre 43,2% (safra 2016/2017) e 55,9% (safra 2017/2018). No sexto ano do projeto (safra 2018/2019), os resultados foram separados para as áreas cultivadas com soja Bt e soja não Bt. Foi observada uma redução de 48,8% no uso de inseticida devido à adoção do MIP-Soja em áreas de soja não Bt e uma redução de 53,6% em inseticidas em áreas de soja Bt. Essa redução no uso de inseticidas economizou o valor equivalente a duas sacas de soja de 60kg/ha nessa safra. Em geral, a grande vantagem do MIP-Soja é a possibilidade de reduzir o uso de inseticidas sem nenhuma perda de
nas entre 60 dias e 78,7 dias após a semeadura. Da mesma forma, na safra 2018/2019 na média do estado do Paraná, a primeira pulverização de inseticida ocorreu 38,7 dias e 48,7 dias após a semeadura da soja não Bt e Bt, respectivamente, enquanto a primeira pulverização de inseticida nas áreas de MIP foi realizada 66,2 dias e 80,8 dias após a semeadura da soja não Bt e Bt, respectivamente. Esse maior período sem inseticidas na lavoura permite maior preservação dos inimigos naturais das pragas, o que auxilia na manutenção do seu controle. As novidades de manejo de percevejos ofertadas no mercado deverão aumentar ainda mais o sucesso do MIP e consequentemente seus benefícios. É importante salientar que outras novas tecnologias de controle de percevejos estão em vias de desenvolvimento e deverão estar disponíveis em um futuro próximo, como o uso de RNAi, microbiológicos, entre outras. Todas deverão ser integradas no MIP-Soja para garantir o sucesso e a sustentabilidade de sua utilização ao C longo das safras.
Bueno e Dall'Agnol estão otimistas com a chegada de novas tecnologias
produtividade. Assim, aqueles agricultores que adotaram o MIP-Soja no estado do Paraná, economizaram um valor equivalente entre 1,8 (safra 2016/2017) e três sacas de soja de 60kg por hectare/ ano (safra 2014/2015), ao longo dos seis anos de vigência do projeto. Isto se traduz em maiores lucros para os produtores e, também, benefícios para o ambiente. A adoção do MIP-Soja não apenas reduziu o uso total de inseticidas, como também atrasou a primeira aplicação de inseticidas. Na média, no Paraná, a primeira pulverização de inseticida nas áreas que não utilizaram o MIP-Soja foi realizada entre 33 dias e 43,6 dias após a semeadura. Essa primeira aplicação nas lavouras com MIP-Soja ocorreu ape-
Adeney de Freitas Bueno e Amélio Dall’Agnol, Embrapa Soja
Resultados Médios do MIP-Soja no Paraná. (Adaptado de Conte et al., 2014, 2015, 2016, 2017 e 2018) Variáveis Número de aplicações de inseticidas por safra Dias até a primeira aplicação de inseticida Controle de pragas (sacos de 60kg) Produtividade (sacos de 60kg/ha)
Comparação MIP Sem MIP MIP Sem MIP MIP Sem MIP MIP Sem MIP
2013/14 2,3 (46 áreas) 5,0 (333 áreas) 60 dias 33 dias 2,41 5,03 49,23 48,67
Safra 2014/15 2015/16 2,1 (106 áreas) 2,1 (123 áreas) 4,7 (330 áreas) 3,8 (314 áreas) 66 dias 66.8 dias 34 dias 36 dias 2.00 2.00 5.00 4.00 60.20 57.10 58.60 54.70
2016/17 2,0 (141 áreas) 3,7 (390 áreas) 70.8 dias 40.5 dias 2.30 4.10 64.50 64.20
2017/18 1,5 (196 áreas) 3,4 (615 áreas) 78.7 dias 43.6 dias 1.41 3.27 61.7 60.4
Resultados Médios do MIP-Soja no Paraná na safra 2018/2019 (Adaptado de Conte et al., 2019) Variáveis Número de aplicações de inseticidas por safra Dias até a primeira aplicação de inseticida Controle de pragas (sacos de 60kg) Produtividade (sacos de 60kg/ha)
Comparação MIP Sem MIP MIP Sem MIP MIP Sem MIP MIP Sem MIP
não-Bt 2,1 (113 áreas) 4,1 66,2 38,7 2,6 5,0 50,9 48,3
Safra 2018/19 Bt 1,3 (128 áreas) 2,8 80,8 48,7 1,6 3,4 49,5 51,1
Média 1,7 (241 áreas) 3,4 (773 áreas) 74,0 40,3 2,1 4,1 50,1 48,6
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Soja
Mitigação da resistência
Na luta contra plantas daninhas resistentes o uso de boas práticas agrícolas é fundamental. Manter a cultura no limpo com diversidades de práticas agronômicas no sistema de produção, usar diferentes mecanismos de ação de herbicidas, praticar rotação de culturas, usar doses recomendadas dos produtos e realizar controle em pré e póscolheita estão entre as principais recomendações
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Fotos Paulo Lanzetta
revenção ou manejo dos problemas crescentes de resistência de plantas daninhas a herbicidas é na atualidade um dos maiores desafios enfrentados pelos produtores de soja no Brasil. Para enfrentar este problema é recomendado que seja aplicado o conceito de mitigação da resistência, que consiste na ação de reduzir a propagação, a severidade e o impacto econômico da resistência, através do uso de boas práticas agrícolas (BPA). Uma BPA envolve principalmente o conceito de diversidade, que se aplica de forma ampla ao sistema de produção como um todo na propriedade, assim como nas práticas específicas de manejo dentro da condução dos tratos da cultura. Nas áreas produtoras de soja pelo Brasil é adotado um sistema de produção
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que envolve diferentes cultivos em sucessão em um mesmo ano agrícola, assim, diversificar estes cultivos significa mudar o ambiente de produção, e dessa forma quebrar o sincronismo entre a planta daninha resistente e a monocultura. Da mesma forma, na condução de uma cultura é recomendável diversificar práticas de manejo, principalmente aplicando herbicidas de diferentes mecanismos de ação, onde o uso de residuais desempenha um papel importante no processo. Destacam-se cinco BPAs, juntamente com algumas orientações ao produtor, para adoção no processo de mitigação da resistência em seu sistema de produção. Uma BPA a ser adotada e que resulta em grande ajuda no manejo da resistência é o manejo outonal
Fotos Pedro J. Christoffoelti
Figura 1 - Área dessecada com glifosato após o cultivo da cultura de cobertura com capim-braquiária, na região de Sinop (MT)
no pousio. Um bom exemplo reside no sistema de produção do Cerrado, onde o produtor utiliza a sucessão de soja/milho, e em seguida tem um período de pousio, com baixa precipitação pluvial, até o novo plantio da soja. Nesse sistema, uma prática que com certeza resulta na supressão da infestação das plantas daninhas resistentes é o uso de cultura de cobertura. Porém, a baixa incidência de chuva limita essa prática. Para isso é recomendado o cultivo do capim-braquiária, que além da rusticidade, apresenta uma excelente cobertura e grande produção de fitomassa, suprimindo completamente a população de plantas daninhas resistentes, além das vantagens agronômicas desta prática. Na Figura 1 é possível observar uma área após a dessecação do cultivo da braquiária, com a excelente cobertura do solo e supressão total da infestação de plantas daninhas. Em outras regiões são recomendadas outras culturas, adaptadas às condições locais. Caso o produtor não esteja disposto a utilizar uma cultura de cobertura, é recomendável que após o cultivo do milho, como segunda safra, seja empregado um tratamento herbicida, chamado de manejo outonal. Para isso, são utilizadas associações de herbicidas com ação pós e pré-emergente, como glifosato, 2,4-D, graminicidas, saflufenacil, diclosulan, flumioxazin, dentre outros recomendados para essa modalidade de aplicação. A segunda BPA recomendada é a dessecação sequencial, ou seja, em áreas onde as plantas daninhas resistentes ao glifosato fazem parte da comunidade infestante nas proximidades do momento da semeadura da soja, há necessidade de aplicações sequenciais, para que o produtor utilize o conceito de “plantio
Figura 2 - Área de soja em Alto Parnaíba (MA), com uso integrado de cultura de cobertura e herbicidas residuais
no limpo”. Para isso, é realizada primeiramente a aplicação de glifosato associado com um herbicida de translocação, como o 2,4-D, para controle de folhas largas, ou um graminicida para controle do capim-amargoso ou do capim-pé-de-galinha. Sequencialmente, dez a 15 dias após, para complementar o controle dessas plantas resistentes, utiliza-se geralmente um herbicida de ação de contato. Na semeadura da soja, vem a terceira BPA recomendada, que é o uso do herbicida residual. Pode ser aplicado junto com a sequencial do herbicida de contato ou após a semeadura da soja. Esta prática proporciona uma dianteira competitiva para a soja, que inicia seu desenvolvimento no limpo, e flexibiliza a aplicação do glifosato na soja, evitando a matocompetição precoce (Figura 2). A escolha do herbicida residual depende do espectro de plantas daninhas existentes na área, sendo que se espera do produto alta eficácia, amplo espectro, seletividade para a cultura, sustentabilidade econômica e ambiental, além de que permita associações com outros herbicidas, sem efeito de carryover para culturas em sucessão. A etapa seguinte de uma BPA é a aplicação seletiva de herbicidas depois da implantação da cultura da soja, ou seja, os herbicidas seletivos. Claro que neste momento o produtor lança mão do glifosato como principal ferramenta da manejo, porém, a eventual presença de plantas daninhas resistentes ao glifosato exige herbicidas alternativos. Destacam-se os herbicidas inibidores da Protox e ALS para folhas largas, e os graminicidas pós-emergentes para o controle de gramíneas. A grande preocupação neste momento é a seletividade dos pós-emergentes para folhas largas. Finalmente, a eliminação das plan-
tas daninhas resistentes na pré-colheita, juntamente com o controle das plantas daninhas em bordas de talhão e estradas, bem como preventivamente limpar colhedeiras após o uso em áreas com plantas daninhas resistentes, completa as BPAs. Através desta BPA, adota-se o conceito de “tolerância zero” para as plantas daninhas resistentes, pois é nesta fase que essas plantas constroem o seu banco de sementes, e se o objetivo é mitigar a resistência, o banco de sementes das plantas daninhas resistentes deve ser exaurido, evitando a introdução de novas sementes. A mensagem aos produtores é simples: “cultura no limpo com diversidades de práticas agronômicas no sistema de produção”. Use diferentes mecanismos de ação dos herbicidas, pratique rotação de culturas, use doses recomendadas de herbicidas e faça controle em pré e pós-colheita. Boas práticas agrícolas contribuem para a sustentabilidade da produC ção no campo. Pedro Jacob Christoffoleti Agrocon Assessoria Agronômica
Christoffoleti chama atenção para importância de boas práticas agrícolas
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Milho
Plano conjunto
Fotos Acácio Neto
Manejar plantas daninhas e a resistência a herbicidas na cultura do milho exige um olhar atento e amplo, que leve em consideração os sistemas de produção, a pressão das infestações e as interações com as outras culturas presentes na área
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uando se menciona o manejo de plantas daninhas em culturas como o milho, deve-se considerar que estas são produzidas no Brasil dentro de complexos e diversos sistemas de produção e tratadas dentro de cada sistema como um ciclo de produção. Assim, quando se almeja a produção de soja, esta pode ser sucedida por milho, o qual seria encarado como safrinha, e depois, dependendo da região, a área pode ser explorada com uma cultura de inverno. Dessa forma ocorre uma intensificação das práticas de manejo e no caso de plantas daninhas é possível ter situações em que as áreas de produção se tornem mais manejáveis. Mas quando se aplica uma visão simplista do sistema ou se explora apenas uma cultura, ocorrem oportunidades que proporcionam (em uma situação mais normal e aceitável) as reinfestações das áreas com plantas daninhas de ocorrência normal, ainda que em pressão de infestação muito maior. Em situações em que se simplifica muito o sistema de produção quanto ao manejo 26
de plantas daninhas, a resistência dessas plantas é um sintoma natural, observado com mais frequência na cultura da soja, onde plantas daninhas resistentes aos herbicidas inibidores da ALS, da ACCase e da EPSPs têm mais frequência. Ou seja, quanto mais simples o manejo de plantas daninhas, mais complexo será o controle e vice-versa. Para um manejo de plantas daninhas adequado e bem-sucedido, a primeira etapa de cada ciclo de produção é a dessecação das áreas para semeadura. Esta prática torna possível a diminuição da pressão de infestação de daninhas oriundas de sementes e elimina restos de plantas daninhas com capacidade para propagação vegetativa. Nesta etapa, o uso do glifosato é fundamental, representando a principal ferramenta neste processo e necessitando de parceiros para boa dessecação de plantas daninhas tolerantes e resistentes a esse herbicida. Ainda, a colocação de herbicidas
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residuais neste processo auxilia a ação do glifosato e promove a desinfestação almejada, diminuindo a pressão de infestação de certas espécies de plantas daninhas. A dessecação pode ser dividida em duas etapas espaçadas de duas semanas, em que, na primeira, é o glifosato o protagonista, tornando a área semeável pelo simples fato de se eliminar a cobertura vegetal que dificulta a semeadura, sendo auxiliado principalmente pelo 2,4-D ou herbicidas inibidores da Protox, como saflufenacil, flumioxazina e carfentrazone. Na segunda etapa há espaço para uma complementação, com herbicidas de contato como diquat ou amônio glufosinato, os quais complementaram a ação do glifosato sobre as plantas mais entouceiradas ou de mais difícil controle (aplique e plante). Seja junto com o glifosato ou na segunda etapa da dessecação, a inserção de produtos residuais como atrazina, flumioxazina, s-metolaclhor e outros, ajuda na
dianteira competitiva sobre as plantas daninhas “dentro da cultura”. Com relação aos residuais utilizados na dessecação ou mesmo em pós-emergência das culturas, há de se considerar a capacidade desses produtos em serem seletivos ao milho obviamente, mas tão importante quanto será entender qual a capacidade destes herbicidas em causar danos às culturas em sequência, no fenômeno conhecido como “carry over”. Culturas como o milho, agora resistente ao glifosato e ao amônio glufosinato, não há mais a “cultura da fitotoxicidade”, o que não é tolerado, seja por residuais de outras culturas, seja pelo pós-emergente. A dessecação é um momento vital no manejo de plantas daninhas dentro do sistema de produção de soja e milho, sendo fundamental sua realização, bem como a manutenção do tempo entre dessecação e semeadura, mesmo que as condições da região se mostrem proibitivas. Ignorar esta etapa em função do operacional é o segundo maior entrave do sistema de produção, responsável direto pelos problemas com plantas daninhas resistentes em meio à soja e também ao milho. Após a etapa de dessecação e semeadura existe a oportunidade de uso do pré-emergente, principalmente se não foi utilizado herbicida residual na dessecação normal ou no “aplique e plante”. Todo herbicida registrado como pré-emergente, para cada cultura, tem espaço, desde que considerados o alvo (planta daninha) e a composição do solo do local, principalmente quanto à argila e à matéria orgânica. Estas observações evitam as fitotoxicidade e as reaplicações em áreas de resistência de plantas daninhas herdadas da soja ou do algodão, especialmente aquelas resistentes ao fotossistema II (FSII). A atrazina, presente nas recomendações oficiais de manejo de plantas daninhas em milho, é uma ferramenta importantíssima nesse manejo. O uso de glifosato ou amônio glufosinato em pós-emergência da cultura de milho, com tecnologia de resistência aos respectivos herbicidas, é uma ferramenta indispensável, pois maneja uma gama de espécies infestantes, além de controlar velhos problemas de resistência nacionais, provenientes da soja na maioria dos sistemas de produção brasileiros. É muito bem-vindo o auxílio de herbicidas parceiros em pós-emergência para o glifosato, desde que sejam seletivos à cultura e sempre respeitando como limite de aplicação o estádio de desenvolvimento V4 (Rodrigues & Almeida, 2011). O milho possui dois produtos recomendados que são inibidores da síntese de carotenoides, grupo restrito de herbicidas, sem outras opções em pós-emergência seletiva, por hora no País. Assim, a despeito da possibilidade de uso de glifosato e amônio glufosinato em pós-emergência, o uso de mesotrione e tembotrione deve estar presente em uma programação de uso de herbicidas sustentável.
CULTURAS DE COBERTURA
Dentro de um sistema de produção, com o intuito de conservação de solo, eliminação de plantas daninhas e produção de grãos, existem as culturas de inverno ou de cobertura. Na região Sul do Brasil, as culturas utilizadas são os chamados cereais de inverno, muitas vezes com intuito de produção de grãos. São exemplos disso o trigo, a cevada e o triticale. Ainda, a aveia, o centeio e o azevém servem de cobertura vegetal para geração de palhada no plantio direto. No Cerrado, o uso de sorgo, milheto, braquiária (B. ruziziensis) e girassol são os exemplos mais comuns. Todas estas culturas possibilitam a cobertura no solo no inverno, impedem as altas produções de sementes do pousio (como ocorre com a buva) e fazem uso, ainda que não frequente, de herbicidas alternativos ao glifosato. A pós-colheita da cultura do milho, se não imediatamente seguida por outras culturas como o próprio milho ou alguma cobertura/ cultura de inverno, deve ser incrementada com o uso de herbicidas pós-emergentes ou com efeito residual. Isso é uma tentativa de evitar a produção de sementes de plantas daninhas, resistentes ou não, e consequente incremento do banco de sementes das áreas, no pousio.
BOAS PRÁTICAS
Por fim, não deve ser esquecido que as boas práticas agronômicas indicam que culturas bem conduzidas quanto à sanidade e à nutrição têm menos problemas com plantas daninhas. O uso de sementes de qualidade, a definição de orientações espaciais de semeadura (espaçamento) e variedades com ciclos mais precoces são estratégias de manejo integrado de plantas daninhas muito presentes nos sistemas de produção brasileiros. No tocante à questão de resistência de plantas daninhas, o manejo e principalmente a prevenção são preocupações constantes devido ao crescimento do problema e à falta de engajamento do produtor em função da questão do custo. O produtor deve entender o conceito de investimento no sistema de produção e isso é a principal barreira para um bom manejo de plantas daninhas. Assim, a continuidade das orientações técnicas dentro do sistema de produção de milho é fundamental. É muito importante que se pense em prevenção do problema de resistência com algum tipo de investimento no sistema de produ-
PLANTAS TIGUERAS E VOLUNTÁRIAS
Não se pode deixar de mencionar a questão das plantas voluntárias ou tigueras. Cada sistema de produção no Brasil tem uma situação em que a semente caída na colheita das áreas comerciais gerará uma planta que se tornará daninha no cultivo em sucessão, como observa-se claramente com o milho geneticamente modificado para resistência a glifosato, nas áreas de soja RR. Tal situação demanda práticas de manejo voltadas a este problema, como aumento do intervalo entre os ciclos de produção para alongar a janela de manejo destas plantas voluntárias, além, claro, do uso de herbicidas destinados a estes alvos.
Importância da utilização de um parceiro junto ao glifosato na dessecação. Na imagem, uma área com alta infestação de buva e capim-amargoso. À direita, foi utilizado glifosato + saflufenacil, e à esquerda, somente glifosato. Foto tirada três dias após a aplicação
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Fotos Acácio Neto
ninhas na cultura do milho, com sua dose variando entre 180ml/ha e 240ml/ha de produto comercial, dependendo da espécie de planta daninha e de seu estádio de desenvolvimento.
GLIFOSATO
Importância da utilização de pré-emergentes na cultura do milho. À esquerda, uma área sem aplicação de pré-emergente, e à direita, uma área com aplicação de s-metolaclhor + atrazina
ção, seja mediante variação de estratégias herbicidas (residual), seja com a diversificação do sistema de produção utilizando-se rotação de culturas, palhada e eliminação do pousio com manejo outonal. O glifosato deve ser auxiliado no manejo de plantas daninhas e não utilizado como única ferramenta, pois o tempo em que se fazia tal utilização já passou.
PRINCIPAIS HERBICIDAS RECOMENDADOS PARA A CULTURA DE MILHO ATRAZINA
Na cultura do milho no Brasil, a utilização de herbicidas do grupo dos inibidores do fotossistema II (triazinas- atrazina/ametrina/simazina) em pré e pós-emergência é muito grande na maioria das propriedades, sendo aplicados em forma isolada ou em associação. Já existem no Brasil casos de resistência de plantas daninhas à atrazina, como para a planta daninha picão-preto (Bidens subalternans) (resistente aos herbicidas inibidores da ALS e do Fotossistema II). Dessa forma, é certo que a seleção de biótipos resistentes à atrazina leva um longo período de tempo até o problema se tornar evidente. Entretanto, nos Estados Unidos, os casos de resistência de plantas daninhas às triazinas são inúmeros, com milhões de hectares infestados, justamente pelo uso destes herbicidas em milho. A sucessão das culturas de soja e milho constitui-se em uma forma excelente de retardar o aparecimento de biótipos resistentes em regiões de cultivo destas culturas, pois na literatura mundial não existem relatos de desenvolvimento de biótipos resistentes às triazinas em áreas com esta rotação.
NICOSULFURON
A maioria dos casos de resistência aos herbicidas inibidores da ALS estudados (A. retroflexus, A. palmeri, A. viridis, Bidens pilosa, B. 28
subalternans, Conyza sumatrensis, Cyperus difformis, Echinochloa crusgalli, Euphorbia heterophylla, Fimbristylis miliace, Oryza sativa, Parthenium hysterophorus, Raphanus sativus e Sagittaria montevidensis) apresenta resistência cruzada aos diversos grupos químicos de herbicidas que têm este mecanismo de ação (mecanismo de resistência relacionada à alteração no sítio de ação do herbicida). Na cultura do milho, existem riscos para os herbicidas inibidores da ALS como nicosulfuron aplicados em pós-emergência, devido ao amplo uso deste herbicida e pela sua eficácia.
MESOTRIONE
O modo de ação do herbicida mesotrione consiste na inibição da biossíntese de carotenoides através da interferência na atividade da enzima HPPD (4-hidroxifenilpiruvato-dioxigenase) nos cloroplastos. Pertence ao grupo químico das tricetonas. Sua aplicação é recomendada em pós-emergência e a associação com atrazina ou nicosulfuron é encorajada, no intuito de ampliar o número de plantas daninhas controladas na cultura do milho, bem como prevenir o desenvolvimento de biótipos de plantas daninhas resistentes ou manejar os eventualmente já presentes.
TEMBOTRIONE
Trata-se de outro herbicida pertencente ao grupo químico das tricetonas, como mecanismo de ação de inibição da biossíntese de carotenoides. É capaz de manejar plantas daninhas resistentes ao glifosato e inibidores da ALS, bem como plantas daninhas tolerantes ao glifosato, como trapoeraba (Commelina benghalensis) e corda-de-viola (Ipomoea grandifolia). Tembotrione tem seu uso indicado para o controle pós-emergente das plantas da-
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O glifosato possui mais de 50 produtos comerciais disponíveis no mercado brasileiro, com recomendações que vão desde 180 gramas por hectare de equivalente ácido de glifosato (g e.a./ha) até 2.160g e.a./ha. A recomendação para o controle de plantas daninhas em milho ocorre com aplicações entre 360g e.a./ha e 1.080g e.a./ha, em uma ou mais intervenções até o fechamento da cultura. Se por um lado o glifosato é uma alternativa de manejo para plantas daninhas resistentes a outros mecanismos de ação, como os inibidores da ALS, por outro o aparecimento de casos de resistência de plantas daninhas até o momento envolvendo esse herbicida está diretamente relacionado com a sua utilização intensiva nas áreas de plantio direto e em outras áreas de controle não seletivo de plantas daninhas (café, fruticultura, florestas, etc.) e também pelo potencial de aplicação em culturas geneticamente modificadas, particularmente nas culturas de soja, algodão e milho.
AMÔNIO-GLUFOSINATO
O amônio-glufosinato é um herbicida de contato, não seletivo e de amplo espectro de controle sobre plantas daninhas. No Brasil e no mundo, este herbicida é amplamente utilizado em dessecação pré-plantio, culturas perenes ou em pós-emergência de culturas anuais contendo a tecnologia Liberty Link. Uma das características marcantes do amônio-glufosinato é o seu rápido efeito de dessecação sobre plantas suscetíveis. Apesar de ser um herbicida inibidor da glutamina sintetase, as causas do rápido efeito (ação de contato) sobre as plantas eram atribuídas ao acúmulo de amônia e à inibição da fotossíntese. Sua recomendação pode variar de dois litros por hectare a três litros por hectare de produto comercial, dependendo da espécie C de planta daninha presente na área.
Acácio Gonçalves Netto, Agrocon Assessoria Agronômica
Milho e soja
Biotecnologia protegida Observar as áreas de refúgio, fazer uso de inseticidas não Bt, lançar mão de tratamento de sementes e de aplicações na parte aérea fazem parte das alternativas para o manejo de resistência em áreas de soja e de milho cultivadas com organismos geneticamente modificados
O
crescimento da agricultura brasileira tem gerado um aumento no mercado de defensivos no País. Na safra 2018/19, conforme pesquisa realizada com produtores pela agência Kleffmann Group, apud SNA 2020, em volume, as vendas totais de defensivos aumentaram 7% em relação ao ciclo 2017/18, para 809.700 toneladas. Dentre os defensivos utilizados é possível destacar o uso de inseticidas, pois há aumento de incidência de pragas nas lavouras nas últimas décadas. Inseticidas podem acarretar consequências ao homem e ao ambiente em geral, já que além de exterminar populações de insetos não alvos, causam o aparecimento de pragas resistentes. Portanto, esta prática deve ser reduzida, adotando-se alternativas mais seguras para o controle de pragas (Praça et al., 2004), dentre as quais destaca-se uma muito recorrente atualmente: o uso da biotecnologia com a transgenia. Transgênico – organismo geneticamente modificado (OGM) – é um organismo que recebeu um gene de outro organismo. Vale ressaltar que essa técnica não foi inventada em laboratórios. Foi observando a natureza que se descobriu que alguns organismos têm a capacidade natural de transferir características genéticas, como é o caso, por exemplo, de uma bactéria do solo chamada Agrobacte-
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Jonas Dahmer/Elevagro
rium tumefasciens, que há milênios transfere genes naturalmente. Então, passou-se a utilizar essa bactéria para transformar as plantas, em laboratório, com o objetivo de promover uma agricultura mais saudável. O avanço dessa tecnologia, denominada como biotecnologia, tem alterado o manejo de lagartas nas culturas da soja e do milho no Brasil. A tecnologia Bt na soja, também conhecida por tecnologia Intacta, caracteriza-se pelos genes utilizados, os quais têm origem na proteína da bactéria Bacillus thuringiensis.
SOJA
pesquisadores tinham 100% da área cultivada com as variedades Intacta. No ano de 2017, em uma área da localidade de Chapadão do Céu, em Goiás, a Equipe Pragas e Plantas Daninhas da Fundação Chapadão, apud Gottems 2017, verificou H. armigera resistente à soja Intacta RR2 PRO. Uma ferramenta fundamental para
Jonas Dahmer/Elevagro
No ano de 2013 foi lançada no mercado brasileiro a segunda geração de transgênicos, a soja Bt (Intacta RR2 PRO), com a expressão da proteína Cry1Ac. A tecnologia Intacta RR2 PRO controla quatro espécies de lagartas falsa-medideira (Chrysodeixis includens), lagarta-da-soja (Anticarsia gemmatalis), lagarta-da-maçã (Heliothis virescens) e broca-das-axilas (Epinotia aporema); e causa supressão às lagartas do gênero Helicoverpa (Helicoverpa zea e Helicoverpa armigera) e à lagarta-elasmo (Elasmopalpus lignosellus). A pesquisa do BIP (Business Inteligence Panel) Soja Sementes detectou avanço da tecnologia Intacta na região Sul e no Cerrado brasileiro, consolidando quase 75% das áreas de soja, contra 65% do ciclo 2018/19, divulgado pela consultoria Spark Inteligência Estratégica. Segundo o coordenador de projetos da Spark, o economista Rodrigo Lorenzon, o BIP Sementes apurou ainda que 42% das propriedades visitadas pelos
Presença da Spodoptera frugiperda no solo
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evitar a seleção de lagartas resistentes nas lavouras com a tecnologia Intacta RR2 PRO é a utilização de áreas de refúgio. Esta é uma medida preventiva que consiste na coexistência de lavouras com a tecnologia Intacta RR2 PRO ao lado de lavouras não dotadas desta tecnologia – no mínimo 20% de soja não Bt, a uma distância máxima de 800 metros. O aumento da área cultivada da soja com tecnologia Intacta provoca maior pressão de seleção de genótipos resistentes. A melhor prática de manejo é seguir o Manejo Integrado de Pragas (MIP), utilizando o manejo conjunto com a biotecnologia. A tecnologia Intacta não controla as lagartas do gênero Spodoptera (S. frugiperda, S. cosmioides, S. eridanea e S. albula). Além de polífaga, a lagarta-do-cartucho (Spodoptera frugiperda) alimenta-se das plantas em diferentes estágios, fazendo com que a planta fique vulnerável por um longo período quando atacada em estágio inicial (SÁ et al., 2005).
Monica Debortoli/Elevagro
O uso de inseticidas, com exceção dos inseticidas Bt, é necessário para evitar a formação de genótipos resistentes e também para controlar as lagartas do gênero Spodoptera e percevejos na cultura da soja, no entanto, a necessidade do uso de inseticidas deve ser determinada pelo monitoramento de pragas. Dentre as técnicas disponíveis, o uso do pano de batida na cultura da soja é uma excelente técnica de monitoramento de lagartas na lavoura. Pesquisas realizadas comparando a eficácia do pano de batida, quanto à sua capacidade de extração de insetos em uma e duas fileiras de soja, mostraram maior eficiência de extração em apenas uma fileira de soja (Corrêa-Ferreira, 1993; Corrêa-Ferreira; Pavão, 2005; Ribeiro et al., 2006). Através da batida de pano em apenas uma fileira é possível determinar a quantidade de lagartas por pano de batida, e com o parâmetro nível de controle da praga, toma-se a decisão de aplicação de inseticidas.
trole, como físico, biológico, químico, dentre outros, tornam esta técnica adequada para ser incorporada em programas de manejo integrado de pragas (Vendramim; Nishikawa, 2001). A espécie Spodoptera frugiperda, conhecida como lagarta-do-cartucho, é considerada a praga-chave da cultura do milho no Brasil, por proporcionar perdas significativas na produção, especialmente pela voracidade das lagartas e pela sua ocorrência durante todo o ciclo da cultura, com capacidade de completar mais de oito gerações por ano em alguns sistemas de produção de cultivos do Brasil (Rosa et al., 2011; Barros et al., 2010). Após o lançamento da tecnologia Bt no milho, em 2007, em poucos anos já foram reportadas a quebra da resistência e a consequente redução de eficácia das proteínas Cry1F e Cry1Ab à lagarta-do-cartucho e à S. frugiperda a essas tecnologias (Farias et al., 2014; Omoto et al., 2016). Do mesmo modo como a cultura da soja, em milho é fundamental a utilização de áreas de refúgio para evitar a seleção de lagartas resistentes nas lavouras com a tecnologia Bt, sendo também indicada a coexistência de lavouras com a tecnologia Bt ao lado de lavouras não dotadas desta tecnologia – no mínimo 20% de soja não Bt, a uma distância máxima de 800 metros. O uso de inseticidas não Bt também pode ser considerado uma ferramenta para evitar a formação de genótipos resistentes à tecnologia Bt. O uso do tratamento de sementes com inseticida tem se mostrado uma excelente alternativa para o controle de S. frugiperda, principalmente na fase inicial do desenvolvimento da cultura. O tratamento de sementes é mais seletivo que a pulverização, em função da formulação do produto e do modo de utilização (Embrapa, 2015). A seletividade de um inseticida ou do modo de aplicação tem relação direta com a preservação dos inimigos naturais das pragas. Isto comprova que o tratamento de semente é uma ótima alternativa para evitar genótipos resistentes no milho Bt. Outra alternativa reside na aplicação de inseticidas na parte aérea, quando aparecerem as primeiras raspagens nas folhas das plantas, ainda no período do desenvolvimento C vegetativo da cultura.
Jonas Dahmer, Phytus Group/Elevagro Coord. de Entomologia, Herbologia e Nutrição Vegetal • Sul
MILHO
O estudo anual BIP Milho, da Spark Inteligência Estratégica, apud Campos 2020, apontou que as cultivares de milho Bt+RR ocuparam aproximadamente 78% das áreas plantadas com o grão no País, o que representa um avanço de 4% na safra 2019-20 em relação à safra anterior. A facilidade de utilização da tecnologia Bt, a não interferência nas demais práticas culturais e o fato de normalmente apresentarem compatibilidade com outros métodos de con-
Dahmer aborda aspectos relacionados ao manejo de resistência
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Fertilizantes
Wenderson Araujo Sistema CNA
Acerte na escolha
O que levar em consideração na hora de escolher o fertilizante a ser aplicado em sua propriedade e como a qualidade do produto pode impactar em problemas como segregação, variação da dose e da fórmula no sulco
O
tema qualidade de fertilizante, apesar da importância, ainda é pouco abordado. Todo ano é comum produtores perguntarem pela qualidade de sementes, sobre quanto o material produziu, com o objetivo de realizar as compras do ano seguinte. Mas infelizmente o mesmo critério não é adotado em relação à qualidade de fertilizantes. No Brasil, boa parte das empresas de fertilizantes é apenas misturadora de grânulos, que elabora as formulações. A produção interna de matérias-primas tem sido insuficiente para atender à demanda, o que resulta no aumento das importações dos macronutrientes nitrogênio, fósforo e potássio, que constituem os três grupos de materiais de fertilizantes presentes na composição do enxofre, da amônia, da rocha fosfática e rocha potássica. De acordo com a Associação Nacional para Difusão de Adubos (Anda), em 2019 foram consumidos aproximadamente 36,3 milhões de toneladas de fertilizantes no Brasil, um aumento de 2,25% em relação ao ano de 2018. Você costuma dosar a quantidade de adubo com base na intepretação da análise de solos? Ou acaba comprando o mesmo adubo que o vizinho? Ou, ainda, o mais barato? Saiba que adubação em excesso ou insuficiente pode acarretar complicações. As adubações em excesso podem causar custos desnecessários, desenvolvimento anormal da planta, toxidez, salinidade, redução na absorção de outros nutrientes devido ao acúmulo de outro, crescimento excessivo, ou seja, acamamento, dificultando a colheita. Já as adubações insuficientes, bem como menores quantida34
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des dosadas, ocasionam falhas na germinação, desuniformidade de plantas, que ficam mais suscetíveis à entrada de doenças e pragas, plantas de porte menor, deficiências de nutrientes e, consequentemente, queda na produtividade.
QUALIDADE DOS FERTILIZANTES
Infelizmente, alguns fertilizantes nacionais são de péssima qualidade. Basta olhar para o fertilizante e avaliar os tamanhos dos grânulos. Primeiramente, há diferentes nutrientes, cada um com tamanho e formato diverso (Box). A falta de padrão de tamanho pode acarretar problemas, como segregação, variação da dose e variação da fórmula no sulco. Segregação é a separação dos grãos, que em algumas unidades beneficiadoras pode ser feita pela mesa densimétrica, pelo movimento vibratório em uma mesa que tem cada canto de suas pontas em uma altura diferente. Dessa forma, irá separar os grãos por tamanho, pois cada um tem um peso, que na vibração tenderá a se separar. Isso irá ocorrer também na semeadora, claro que não na mesma intensidade de vibração do exemplo fornecido. Mas esta ação irá resultar na alteração da fórmula que está caindo no sulco, ou seja, se planejei e regulei 250kg/ha de dose, esta dosagem não estará com a quantidade de N-P-K que deveria ter. A variação da dose precisa levar em conta que os dosadores já variam acima de 20% no campo. Dependendo do modelo, alguns oscilam de 50% a até 75%. Fator que resta agravado por esta variação no tamanho dos grânulos e no seu formato. Para verificar
Formato de cada nutriente Potássio é achatado, cheio de ângulos nas suas faces
Fósforo é arredondado
Rosa, Girardi e Conte explicam características dos fertilizantes
zantes testados apresentou um índice de dispersão granulométrica considerado baixo, apenas os fertilizantes D e E demonstraram média segregação e uniformidade de aplicação. Já os demais apresentaram alta segregação. Isso significa que ocorrerá uma desuniformidade na aplicação de fertilizantes, devido à separação dos grânulos na própria “caixa de adubo na plantadeira”. Isso irá resultar na má distribuição dos nutrientes, ocasionando manchas com deficiências de alguns elementos na lavoura. A granulometria do elemento fósforo da fórmula 02-23-23 (Fertilizante D) apontou um coeficiente de variação de 58,60%. Se isso já ocorreu apenas com a presença do fósforo, quando forem adicionados o nitrogênio e o potássio, que também possuem uma granulometria diferenciada no seu tamanho, a tendência é de que haja ainda mais segregação quando juntar toda essa variação de granulometria na caixa da semeadora C ao dosar. David Peres da Rosa, Junior Girardi e Paulo Henrique Conte, IFRS Campus Sertão Nesma
Figura 1 - Índice de dispersão granulométrica ou de partículas (GSI)
Nitrogênio e cálcio são arredondados
Tabela 1 - Avaliação realizada pelo Nesma com cinco fertilizantes 1 2 3 4 5
03-21-21 – NPK no grão (A); 02-23-23 – mistura de grânulos (B); 05-20-20 – mistura de grânulos (C); 02-23-23 – mistura de grânulos (D); 05-20-20 – mistura de grânulos (E).
Figura 2 - Índice de dispersão de partícula (GSI) e coeficiente de variação (CV) da distribuição linear dos fertilizantes
Figura 3 - Adulto (A) e larva (B) de Phyllophaga capillata
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Fotos C. M. Oliveira
este exemplo na prática, basta ir até a semeadora com algumas sacolas e coletar fertilizante a cada 10m. Faça três coletas e após compare as amostras. Em função da segregação, esta separação dos grânulos irá repercutir na alteração da fórmula inicial, pois os grânulos mais pesados tenderão a ir para o fundo da caixa, assim, dosando mais um nutriente do que outro e resultando na variação da fórmula no sulco. Além disso, há inúmeras causas que afetam a dose do fertilizante, como densidade, umidade, dureza, dosagem, tipo de dosador, perfil e tamanho da rosca, inclinação do terreno e velocidade de deslocamento. Embora existam regulamentações a serem seguidas (Instrução Normativa n° 39, de 2018), o fertilizante não é avaliado, em virtude de uma grande infraestrutura governamental necessária e não disponível. Entretanto, há um parâmetro utilizado para controle de qualidade, o índice de dispersão granulométrica ou de partículas (GSI), que fornece quanto o fertilizante irá segregar, ou seja, a separação e acomodação seletiva das partículas por ordem de tamanho, com a movimentação e a trepidação do produto (separação dos grânulos). A baixa segregação irá resultar em alta uniformidade de aplicação. Já a média, em média uniformidade de aplicação, e a alta segregação fornecerá uma baixa uniformidade de aplicação. Um trabalho realizado no Nesma, com avaliação de cinco fertilizantes utilizados no Rio Grande do Sul, chegou aos resultados observados na Tabela 1 e na Figura 2. Conclui-se que nenhum dos fertili-
Arroz
Colmos sugados Fotos André Cirilo de Sousa Almeida
O percevejo Tibraca limbativentris é uma das principais pragas que provocam prejuízos à cultura do arroz, seja por dificultar a fotossíntese ou por prejudicar o transporte de nutrientes à planta. Para enfrentar este inseto, o ideal é que se utilize a associação de medidas de controle, que levem em consideração as condições ambientais, o conhecimento do agroecossistema e a presença de inimigos naturais
V
ários fatores causam queda no rendimento e na produção das culturas de interesse agrícola. Sem dúvida, pragas é um deles. Na cultura do arroz, o percevejo-do-colmo (Tibraca limbativentris) é reconhecido com uma das principais, causando preocupação aos orizicultores brasileiros. Caso o controle não seja realizado e os surtos elevados, esse 36
inseto é capaz de reduzir a produção em até 80%. Presente nos países da América do Sul e Central, o percevejo-do-colmo do arroz tem potencial para se tornar uma praga invasora nos Estados Unidos. Distribuído na maioria dos estados onde se produz arroz no Brasil, a praga ocorre em todos os sistemas de cultivo, tanto no arroz irrigado quanto
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em terras altas, também conhecido como arroz de sequeiro. Na fase de desenvolvimento vegetativo da cultura, entre os 30 dias e os 50 dias, encontra-se o período crítico de incidência da praga, sendo recomendado o monitoramento constante da lavoura e, se necessário, a aplicação de medidas de controle. Inseto de hábito alimentar sugador, o percevejo-do-colmo se ali-
menta na base dos colmos das plantas de arroz. Ao inserir o aparelho bucal no colmo da planta de arroz, o inseto suga a seiva e introduz saliva que contém enzimas, que necrosam a área onde acorre a alimentação, ocasionando a interrupção parcial ou total do transporte de nutrientes na planta. Na fase vegetativa, o dano resulta no sintoma conhecido como “coração morto” (morte da folha central) e na fase reprodutiva, no sintoma conhecido como “panícula branca” (má-formação das panículas). Esses danos causam a redução da fotossíntese na planta, que é convertida em perdas econômicas para os produtores. O percevejo não causa danos diretos às panículas. O ciclo de vida do percevejo (ovo a adulto) é de aproximadamente 60 dias, dependendo das condições climáticas (temperatura e umidade). Os ovos são cilíndricos, depositados em fileira dupla, preferencialmente na parte abaxial das folhas mais velhas. O período ninfal apresenta cinco instares. A partir do segundo instar, as ninfas começam a se alimentar. Depois de 24 horas de contínua alimentação, as plantas de arroz podem apresentar os sintomas decorrentes do dano. Uma fêmea adulta pode ovipositar até 1.300 ovos. A cada 60 dias, uma nova geração pode se iniciar, assim, estima-se que até três gerações do percevejo-do-colmo possam ocorrer em uma mesma estação de cultivo de arroz. Na entressafra e em escassez de alimento, o percevejo-do-colmo é comumente encontrado em gramíneas, em diversas espécies de ciperáceas nativas ou, ainda, abrigado sob os restos culturais. Nesses locais, o percevejo entra em diapausa reprodutiva, reduzindo o seu metabolismo. Com o início das chuvas e o aumento das temperaturas, os insetos deixam os locais de refúgio e se movem para as lavouras de arroz. O principal método de controle adotado pelos produtores é o químico, por meio dos inseticidas sintéticos. Em geral, os produtores fazem de uma a três aplicações, dependendo do nível de infestação. Muitas vezes as pulverizações são realizadas via aérea, principalmente no sistema de cultivo irrigado. Um dos entraves que fazem com que as pulverizações com inseticidas não sejam eficientes é o fato de ninfas e adultos se localizarem preferencialmente na base dos colmos, reduzindo a chance de que o inseticida atinja o alvo. O uso excessivo e indiscriminado de inseticidas pode acarretar perda de eficácia e resistência dos percevejos. Fato esse que pode ser confirmado no primeiro registro de resistência de T. limbativentris na região produtora de Formoso do Araguaia - Tocantins. Sendo assim, é importante considerar este aspecto ao escolher o inseticida, bem como os cuidados com a aplicação. Além dos inseticidas químicos, outras alternativas podem ser utilizadas no controle do percevejo-do-colmo. Uma delas é o controle biológico por meio de parasitoides de ovos. A espécie Telenomus podisi tem se destacado nos últimos anos em pesquisas, mostrando eficácia no controle do percevejo-do-colmo em arroz, com alto índice de parasitismo. Esse parasitoide já é comercializado para o controle do percevejo-marrom (Euschistus heros) na cultura da soja, sendo vendido comercialmente. Outro agente de controle biológico de eficácia comprovada reside nos fungos entomopatogênicos, envolvendo principalmente o fungo Metarhizium anisopliae. A aplicação de M. anisopliae para o controle do percevejo-do-colmo tem apresentado eficiência de controle satisfatória, com bom potencial de epizootia, se
Ovos e ninfas de Tibraca limbativentris
espalhando rapidamente, causando o colapso da população de percevejos. A ação do fungo pode ser favorecida pelas condições ambientais de alta umidade do cultivo de arroz irrigado, permanecendo ativo por um período maior no ambiente. Essa espécie de fungo é disponível comercialmente em formulações, que podem ser aplicadas por meio de pulverizadores convencionais, sendo compatível com outros inseticidas. Uma prática importante no manejo do percevejo-do-colmo consiste na destruição das plantas hospedeiras localizadas em torno da lavoura, ou de qualquer elemento que possa servir de abrigo para os insetos no período de entressafra. Essa prática contribui para a redução da população de percevejos que estão em diapausa e consequentemente na diminuição da população da safra seguinte. Pode ser realizada por meio de roçada e até mesmo com a associação de inseticidas químicos. Para implementar um manejo eficiente do percevejo-do-colmo do arroz é imprescindível a amostragem da lavoura. O controle é recomendado quando as populações atingirem uma média de 0,8 percevejo/m² a um percevejo/m2. O ideal é que se utilize a associação de medidas de controle, considerando as condições ambientais, o conhecimento do agroecossistema e a presença de inimigos naturais. Por meio do manejo integrado, é possível diminuir a população do percevejo-do-colmo, mantendo-a abaixo do nível de dano econômico, reduzir as perdas em arroz e o uso de C inseticidas químicos. André Cirilo de Sousa Almeida, IF Goiano-Campus Urutaí www.revistacultivar.com.br • Outubro 2020
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Publieditorial
Programa de manejo Doenças como ferrugem-asiática e manchas em soja são responsáveis recorrentes pela limitação da produtividade da cultura da soja. Por isso compreender a dinâmica desses patógenos e aprender a reagir, com medidas como a definição do momento ideal de início das aplicações de fungicidas, a combinação correta de ingredientes ativos e avaliações de desempenho a campo, são fundamentais para resguardar a sanidade das lavouras e proteger o investimento do produtor
O
a produção brasileira na safra 2020/21 pode atingir 131 milhões de toneladas, cerca de 19 e 77 milhões de toneladas a mais que Estados Unidos e Argentina,
Corteva
Brasil é o maior produtor de soja no mundo. Na última safra o país produziu mais de 120 milhões de toneladas (Conab, 2020), estimativas apontam que
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respectivamente (USDA, 2020). Os valores não serão maiores ainda devido a reduções de produtividade por estresses abióticos, como seca e bióticos como o ataque de pragas e doenças. Estima-se que reduções de 15 a 20% na produção de soja seja devido ao ataque de patógenos em parte aérea. A mais de uma década, o fungo Phakopsora pachyrhizi, causador da ferrugem asiática da soja, vem protagonizando o papel de “vilão” nas lavouras de soja do Brasil. Apesar disso, nos últimos anos, as doenças conhecidas como DFC’s (Doenças de final de ciclo), passaram de “coadjuvantes” a “protagonistas” em algumas regiões, causando grandes reduções de produtividade. Um exemplo, é a Corynespora cassiicola, agente causal da mancha-alvo. Estudos apontam reduções de produtividade de 42% devido ao patógeno (Molina et al., 2019). No manejo de doenças foliares da soja, o momento ideal de início das aplicações, a combinação de ingredientes ativos na primeira e sucessivas aplicações, a adição ou não de multissítios, em quais aplicações adicionar multissítios
são perguntas constantes de produtores, técnicos e pesquisadores. Na busca de informações acerca destas questões, uma rede de ensaios composta por instituições do Brasil e Paraguai foi desenvolvida. O objetivo foi avaliar programas de fungicidas aplicados para o controle de ferrugem asiática e mancha-alvo em dois cenários (semeadura cedo e tardia), combinando momento e ordem de aplicação de diferentes produtos, além da adição de multissítios. Para sumarizar os resultados das diferentes regiões, a técnica conhecida como metanálise foi adotada.
ENSAIOS
Na safra 2019/20 foram realizados 46 ensaios distribuídos nas principais regiões produtoras de soja do Brasil e do Paraguai, sendo estes conduzidos por instituições de pesquisa, universidades, pesquisadores e consultores. Em cada local, duas épocas de semeadura (cedo e tardia) foram realizadas. Para semeaduras precoces (cedo) o objetivo foi estudar programas de fungicidas aplicados para o controle de manchas foliares e, na semeadura tardia, o objetivo foi avaliar o controle da ferrugem asiática da soja. Nos dois cenários, foi mensurado a eficiência de controle das doenças e o impacto destes programas na produtivi-
dade da cultura. Os tratamentos foram compostos por combinações de fungicidas disponíveis no mercado e produtos em processo de registro no MAPA (ensaios instalados sob RET). Ingredientes ativos, concentrações e doses utilizadas estão descritas nas Tabelas 1 e 2. Os ensaios contaram com 12 tratamentos conduzidos em delineamento de blocos casualizados e quatro repetições. Três programas de manejo (protocolos) foram conduzidos de acordo com a região de condução do ensaio (Sul e Cerrado/ Sudeste) e a época de semeadura (cedo e tarde) (Tabela 3).
FERRUGEM ASIÁTICA
Ensaios conduzidos na segunda época (tardia) apresentaram como objetivo o controle da ferrugem asiática. No sul, os ensaios foram compostos por 12 tratamentos, sendo uma testemunha sem aplicação de fungicidas e tratamentos com início das aplicações no estádio vegetativo (V7-V8, 25 a 30 dias após emergênciaDAE) ou início do reprodutivo/pré-fechamento (R1, 30 a 45 DAE) com aplicações posteriores em intervalo de 14 dias. Os tratamentos foram compostos por diferentes combinações de grupos químicos e ingredientes ativos (Tabela 4- Protocolo 1).
Tabela 1 - Ensaios conduzidos na safra 2019/20 com semeadura cedo Executor Centro Sul Cons. CERES Cons. Circulo Verde F. Chapadão FitoLab F. Rio Verde F.MS Inst. Phytus/DF Inst. Biológico UFMT Agrodinâmica Kasuya cons. PA cons. F. MT CTPA UPF Caroline Wesp CCGL URI Inst. PythusRS Passo Fundo Consultor UEL F. ABC
Grupo Cerrado Cerrado Cerrado Cerrado Cerrado Cerrado Cerrado Cerrado Cerrado Cerrado Cerrado Cerrado Cerrado Cerrado Cerrado Sul Sul Sul Sul Sul Sul Sul Sul Sul
Estado GO MT BA MS MT GO MS GO SP MT MT BA MT MT GO RS RS PR RS RS RS PY PR PR
Cultivar BMX Desafio RR TMG 2181 IPRO M9144 RR DM 75I76 TMG 2181 IPRO TMG 2181 IPRO BMX Garra IPRO TMG 7059 IPRO 98Y30RR M8210 IPRO TMG 2181 IPRO M8349 IPRO HO Javaés IPRO TMG 2181 IPRO GA 76 IPRO ATIVA BMX ZEUS IPRO BMX ZEUS BMX ZEUS BMX Lança IPRO BMX ZEUS BMX Garra BMX Lança IPRO
Data de semeadura 18/11/2019 15/10/2019 30/11/2019 15/10/2019 11/10/2019 15/10/2019 17/10/2019 23/12/2019 10/10/2019 29/10/2019 11/10/2019 17/11/2019 30/10/2019 16/10/2019 05/11/2019 25/11/2019 24/10/2019 23/10/2019 24/10/2019 29/10/2019 22/11/2019 11/10/2019 23/10/2019 30/10/2019
Alvo Manchas Manchas Manchas Manchas Manchas Manchas Manchas Manchas Manchas Manchas Manchas Manchas Manchas Manchas Manchas Manchas Manchas Manchas Manchas Manchas Manchas Manchas Manchas Manchas
Já os tratamentos conduzidos no Cerrado para controle da ferrugem asiática apresentaram início das aplicações dos fungicidas no pré-fechamento das entrelinhas (35-40 DAE) com diferentes combinações de grupos químicos e ingredientes ativos na primeira (35-40 DAE) e segunda (50-55 DAE) aplicações, além da presença ou não de multissítios em todas as aplicações (Tabela 5- Protocolo 3). As aplicações foram realizadas através de pulverizador costal de pressão constante (CO2) e volume de calda de 150 L ha-1.
ENSAIOS MANCHAS
Os ensaios conduzidos no Sul e Cerrado na primeira época (semeadura cedo) apresentaram como objetivo o controle de manchas foliares, principalmente mancha-alvo, causada por Corynespora cassiicola. No sul, os mesmos tratamentos utilizados para controle de P. pachyrhizi (Ferrugem asiática) foram testados para mancha-alvo. Nos ensaios conduzidos no Cerrado, em todos os tratamentos, exceto na testemunha, houve a adição de multissítio a diferentes combinações de estrobilurinas + carboxamida e estrobilurinas + triazol nas duas primeiras aplicações (Tabela 6- Protocolo 2).
AVALIAÇÕES
Em todos os ensaios foram realizadas avaliações de severidade das doenças previamente à primeira aplicação e também aos 7 e 14
Tabela 2 - Ensaios conduzidos na safra 2019/20 com semeadura tarde Executor Centro Sul Cons. CERES Cons. Circulo Verde F. Chapadão FitoLab F. Rio Verde F.MS Inst. Phytus/DF Inst. Biológico UFMT Agrodinâmica Kasuya cons. PA cons. F. MT CTPA UPF Caroline Wesp CCGL URI Inst. PythusRS Consultor UEL F.ABC
Grupo Cerrado Cerrado Cerrado Cerrado Cerrado Cerrado Cerrado Cerrado Cerrado Cerrado Cerrado Cerrado Cerrado Cerrado Cerrado Sul Sul Sul Sul Sul Sul Sul Sul
Estado GO MT BA MS MT GO MS GO SP MT MT BA MT MT GO RS RS PR RS RS PY PR PR
Cultivar Data de semeadura BMX Desafio RR 20/12/2019 Syn 1687 IPRO 21/11/2019 M8349 IPRO 02/01/2020 M8372 RR IPRO 19/11/2019 M8372 RR IPRO 05/12/2019 M8372 RR IPRO 11/12/2019 HO Tererê IPRO 18/12/2019 HO Maracaí IPRO 23/12/2019 98Y30RR 27/11/2019 BMX FOCO 28/01/2019 Msoy 8372 IPRO 29/11/2019 M8349 IPRO 16/12/2019 TMG 2181 IPRO 05/12/2019 M8372 RR IPRO 20/11/2019 BMX BÔNUS IPRO 02/12/2019 NS 6909 IPRO 30/11/2019 BMX Lança IPRO 21//11/2019 BMX Lança 29/11/2019 BMX Lança 29/11/2019 BMX Lança IPRO 30/11/2019 12/12/2019 BMX Potência 28/12/2019 BMX Lança IPRO 20/12/2019
Alvo Ferrugem Ferrugem Ferrugem Ferrugem Ferrugem Ferrugem Ferrugem Ferrugem Ferrugem Ferrugem Ferrugem Ferrugem Ferrugem Ferrugem Ferrugem Ferrugem Ferrugem Ferrugem Ferrugem C Ferrugem Ferrugem Ferrugem Ferrugem
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Figura 1 - Estimativa média do efeito da aplicação de fungicidas para controle de ferrugem asiática na produtividade e eficiência de controle através da metanálise (Ensaios região Sul). Box verde indica efeito significativo (P<0,05), box vermelho indica efeito não significativo (P>0,05). Valores dentro dos boxes indicam incremento em produtividade ou eficiência de controle
Figura 2 - Estimativa média de produtividade e eficiência de controle de comparações entre programas de manejo de ferrugem asiática com aplicação de fungicidas através da metanálise (Ensaios região Sul). “vs” indica o comparativo entre os tratamentos
dias após cada aplicação. A severidade foi estimada com auxílio das escalas diagramáticas de Mancha-alvo (Soares et al., 2009) e Ferrugem asiática (Godoy et al., 2006). Com base nos dados de severidade, foi calculada a Área Abaixo da Curva de Progresso da Doença (AACPD) e baseado nesta, foi determinada a eficiência de controle. As avaliações de produtividade foram realizas com a colheita das três linhas centrais de cada parcela e a umidade dos grãos corrigida para 13%.
-alvo) superior a 10% na última avaliação foram incluídos, e, casos em que ocorreram outras doenças (além da doença alvo) a níveis superiores a 10% não foram considerados. A metanálise multivariada foi adotada para estimar o efeito de programas de controle na produtividade e eficiência de controle (a 5% de probabilidade). A abordagem permite a comparação entre todos os tratamentos. Dois cenários foram testados: 1) Produtividade de tratamentos com aplicação de fungicidas em relação a testemunha sem aplicação e 2) Comparações entre os tratamentos com aplicações de fungicidas. As análises foram realizadas com auxílio do programa R.
ANÁLISE ESTATÍSTICA
As informações obtidas em todos os ensaios foram sumarizadas através da metanálise. De forma simples, a metanálise é um conjunto de técnicas estatísticas que visa sumarizar o efeito verdadeiro de uma técnica ou produto, que ao conduzir apenas um ou dois ensaios muitas vezes não é clara. Para isso, inicialmente, a análise de variância foi realizada em cada ensaio. Produtividade e eficiência de controle, além dos valores do erro padrão da média de cada tratamento foram utilizados para metanálise. Para inclusão do ensaio na análise, critérios de seleção foram adotados: apenas ensaios que apresentaram severidade da doença alvo (Ferrugem ou ManchaFigura 3 - Estimativa média de produtividade e eficiência de controle de comparações entre programas de manejo de ferrugem asiática com aplicação de fungicidas através da metanálise (Ensaios região Sul). “vs” indica o comparativo entre os tratamentos
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RESULTADOS
Os ensaios conduzidos na safra 2019/20 totalizaram 46, sendo 28 no Cerrado e 18 no Sul. Destes, 2 ensaios não apresentaram ocorrência de doenças, 6 apresentaram severidade na testemunha <10%, 12 apresentaram outras doenças além da doença estudada a níveis >10% e por isso, não foram considerados para metanálise. Ao todo, 26 ensaios atenderam os pressupostos e foram usados na metanálise. Os ensaios não apresentaram fitotoxicidade. Em geral, não foram identificados sintomas e sinais de doenças no momento Figura 4 - Estimativa média do efeito da aplicação de fungicidas para controle de ferrugem asiática na produtividade e eficiência de controle através da metanálise (Ensaios Cerrado). Box verde indica efeito significativo (P<0,05), box vermelho indica efeito não significativo (P>0,05)
Figura 5 - Estimativa média de produtividade e eficiência de controle de comparações entre programas de manejo de ferrugem asiática com aplicação de fungicidas através da metanálise (Ensaios Cerrado). “vs” indica o comparativo entre os tratamentos
Figura 6 - Estimativa média de produtividade e eficiência de controle de comparações entre programas de manejo de ferrugem asiática com aplicação de fungicidas através da metanálise (Ensaios Cerrado). “vs” indica o comparativo entre os tratamentos
da primeira aplicação.
getativo). Já no tratamento com duas aplicações de picoxistrobina + protioconazol (F12), o início das aplicações em V8 (T4) apresentou produtividade média superior de 231,1 kg ha-1 em relação ao equivalente iniciando em R1 (T8). Não houve efeito na produtividade do início das aplicações em V8 e R1 para tratamentos com picoxistrobina+protioconazol (F12) e Vessarya (T3 vs T7) e Vessarya e picoxistrobina+protioconazol (F12) (T5 vs T9). Da mesma forma, a produtividade não diferiu entre os tratamentos com aplicação de Vessarya (T5 e T9) ou picoxistrobina + protioconazol (F12) em R1 (T3 e T7) (Figura 2). A produtividade média foi de 253,1 e 229,6 kg ha-1 superior nos tratamentos com início das aplicações em V8 e Vessarya (T2) ou picoxistrobina+protioconazol (F12) em R1 (T4), em relação ao tratamento com (trifloxistrobina + protioconazol + bixafem) + mancozeb (T10) (Figura 3).
FERRUGEM – ENSAIOS SUL
No sul, os primeiros casos de ferrugem asiática foram relatados na primeira e segunda semana de dezembro de 2019 no Paraná e Rio Grande do Sul, respectivamente. Vale destacar que o número de ocorrências, bem como o progresso da doença no campo foi inferior quando comparado à safras anteriores. Em função disso, cinco ensaios foram utilizados para metanálise. Os resultados mostram que a produtividade foi superior em todos os tratamentos com aplicações de fungicidas em relação à testemunha, sem aplicação destes produtos. As estimativas médias de ganho de produtividade variaram de 619 a 893 kg ha-1, em função do programa adotado. O programa com início das aplicações em V8 (25-30 DAE) e combinações de Vessarya e ou picoxistrobina + protioconazol, apresentaram as maiores estimativas médias de produtividade em relação à testemunha (Figura 1). Na comparação entre os tratamentos, não houve efeito significativo entre o Tratamento 2 (iniciando em V8 e duas aplicações de Vessarya) e o Tratamento 6 (equivalente, sem aplicação no veFigura 7 - Estimativa média do efeito da aplicação de fungicidas para controle de Mancha-alvo no cerrado na produtividade e eficiência de controle através da metanálise (Ensaios Cerrado). Box verde indica efeito significativo (P<0,05), box vermelho indica efeito não significativo (P>0,05)
FERRUGEM – ENSAIOS CERRADO
Os ensaios conduzidos no Cerrado incluídos na metanálise foram 12. Todos os tratamentos apresentaram produtividade superior à testemunha sem aplicação. No controle da Figura 8 - Estimativa média de produtividade e eficiência de controle de comparações entre programas de manejo de mancha-alvo com aplicação de fungicidas através da metanálise (Ensaios Cerrado). “vs” indica o comparativo entre os tratamentos
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Figura 9 - Estimativa média de produtividade e eficiência de controle de comparações entre programas de manejo de mancha-alvo com aplicação de fungicidas através da metanálise (Ensaios Cerrado). “vs” indica o comparativo entre os tratamentos
Tabela 3 - Fungicidas utilizados nos programas de controle de doenças foliares em soja g.ia.L Produto Ingrediente ativo dose (mL/ha) Fungicida 1 (F1) piraclostrobina+epoxiconazol+fluxapiroxade 50+50+81 800 500 Fungicida 2 (F2) clorotalonil 1500 250+150 Fungicida 3 (F3) difeconazol+ciproconazol 200 300+150 Fungicida 4 (F4) azoxistrobina+benzovindiflupir 200 150+175 Fungicida 5 (F5) trifloxistrobina+protioconazol 500 Fungicida 6 (F6) trifloxistrobina+protioconazol+bixafem 150+175+125 600 333+167 Fungicida 7 (F7) piraclostrobina+fluxapiroxade 300 375+160 Fungicida 8 (F8) trifloxistrobina+ciproconazol 200 588 Fungicida 9 (F9) Oxicloreto de cobre 500 750 Fungicida 10 (F10) fenpropimorfe 300 800 Controller NT Mancozebe WP 1500 750 Fungicida 11 (F11) Mancozebe WG 1500 100+116 Fungicida 12*(F12) picoxistrobina+protioconazol 600 90+40 Fungicida 13* (F13) picoxistrobina+ciproconazol 600 100+50 Vessarya picoxistrobina+benzovindiflupir 600 *Produto em processo de registro fase III (RET)
ferrugem asiática, tratamentos com aplicação de Vessarya e picoxistrobina+protioconazol (F12) (T7) ou picoxistrobina + protioconazol (F12) e Vessarya (T4) em R1 e R3-R4 apresentaram a maiores estimativas médias de ganho de produtividade em relação a testemunha, com 820,5 e 824,6kg ha-1, respectivamente (Figura 4). A adição de multissítio a picoxistrobina+protioconazol (F12) e Vessarya nas aplicações em R1 e R3-R4 (T4), respectivamente, resultaram em acréscimo médio de produtividade de 118.7 kg ha-1 em relação ao tratamento correspondente sem adição (T3). Ainda, os resultados mostram que a primeira aplicação (R1) com Vessarya (T7) ou picoxistrobina+protioconazol (F12) (T5) apresentaram produtividade média de 91,6 e 128,7 kg ha-1 superior a picoxistrobina+ciproconazol (F13) (T6) na primeira aplicação, não diferindo entre si. Nesse contexto, a adoção de Vessarya na primeira aplicação em R1 (T7) apresentou produtividade 145,7 kg ha-1 superior ao programa com aplicação de picoxistrobina + protioconazol (F12) na primeira em R1 (T3) (Figura 5). Os tratamentos com aplicação de picoxistrobina + protioconazol (F12) + multissítio (T4), picoxistrobina + protioconazol (F12) (T5), pi coxistrobina+ciproconazol(F13) (T6) e Vessarya (T7) apresentaram produtividade superior ao tratamento com (azoxitrobina + benzovindiflupir) (T10) e não diferiram de (trifloxistrobina + protioconazol + bixafem) (T9) e (fluxapiroxade + piraclostrobina) (T8) (Figura 6).
MANCHA-ALVO – ENSAIOS CERRADO
Os ensaios conduzidos no Cerrado incluídos na metanálise foram 11. Todos os tratamentos apresentaram produtividade superior à testemunha sem aplicação. Os tratamentos com aplicação de picoxistrobina+protioconazol (F12) e (trifloxistrobina + protioconazol + bixafem) em R1 apresentaram as maiores estimativas de ganho de produtividade em relação a testemunha, com 796,4 e 801 kg ha-1, respectivamente. O tratamento com (fluxapiroxade + piraclostrobina) (T8) apresentou o menor incremento de produtividade em relação a testemunha, com 269,5 kg ha-1 (Figura 7). Resultados semelhantes foram apresentadas por Molina et al. (2019) em estudo de metanálise com ensaios conduzidos entre 2012 e 2016 em seis estados brasileiros, com estimativa média de incremento de 330 kg ha-1. A adição de multissítio nas aplicações aos 65-70 e 80-90 DAE (T4) no programa com picoxistrobina + protioconazol (F12) e Vessarya, resultaram em acréscimo de produtividade médio de 221,7 kg ha-1 em relação ao tratamento correspondente sem adição nas duas últimas aplicações (T3). Não houve efeito significativo em produtividade entre os tratamentos com Vessarya (T7), picoxistrobina + protioconazol (F12) (T5) e picoxistrobina + ciproconazol (F13) (T6) na primeira aplicação para o controle de manchas foliares (Mancha-alvo) (Figura 8).
Tabela 4 - Programa de aplicação de fungicidas em ensaios conduzidos no grupo sul Trat 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12
25-30 DAE Testemunha F13*** F13*** F13*** F13***
*Padrão consultor livre
35-45 DAE (pré-fechamento) Testemunha Vessarya + Controller NT F12** + Controller NT F12 + Controller NT Vessarya + Controller NT Vessarya + F2 F12 + Controller NT F12 + Controller NT Vessarya + F2 F6 + F12 F7 + F9 Padrão consultor livre
Protocolo 1 50-60 DAE Testemunha Vessarya + Controller NT Vessarya + Controller NT F12 + Controller NT F12 + Controller NT Vessarya + Controller NT Vessarya + Controller NT F12 + Controller NT F12 + Controller NT F5 + F12 F1 + F9 Padrão consultor livre
65-75 DAE Testemunha F13 + Controller NT F13 + Controller NT F13 + Controller NT F13 + Controller NT F13 + Controller NT F13 + Controller NT F13 + Controller NT F13 + Controller NT F13 + Controller NT F13 + Controller NT Padrão consultor livre
80-90 DAE** F13 + Controller NT F13 + Controller NT F13 + Controller NT F13 + Controller NT F13 + Controller NT F13 + Controller NT F13 + Controller NT F13 + Controller NT F13 + Controller NT F13 + Controller NT Padrão consultor livre
DAE = Dias após emergência; * Produtos escolhidos de acordo com o executor; **Aplicação realizada no caso de alta severidade da doença, ****Produto em processo de registro fase III (RET)
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Tabela 5 - Programa de aplicação de fungicidas em ensaios conduzidos no grupo cerrado em semeadura "Tarde" Trat 35-40 DAE Testemunha F13** F12** F12 + Controller NT F12 F13** Vessarya F7 F6 F4 Padrão consultor Padrão consultor
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12
50-55 DAE Testemunha Vessarya Vessarya Vessarya + Controller NT F12 F13 F14 F1 F6 F4 Padrão consultor Padrão consultor
Protocolo 3 65-70 DAE Testemunha Vessarya + Controller NT Vessarya + Controller NT Vessarya + Controller NT Vessarya + Controller NT Vessarya + Controller NT Vessarya + Controller NT F10 + F9 F8 + F11 F3 + F2 Padrão consultor + Controller NT Padrão consultor
80-85 DAE Testemunha F13 + Controller NT F13 + Controller NT F13 + Controller NT F13 + Controller NT F13 + Controller NT F13 + Controller NT F10 + F10 F8 + F12 F3 + F3 Padrão consultor + Controller NT Padrão consultor
DAE = Dias após emergência; * Produtos escolhidos pelo consultor com adição de Controller NT **Produto em processo de registro fase III (RET)
Os tratamentos com aplicação de picoxistrobina + protioconazol (F12) + multissítio (T4), picoxistrobina + protioconazol (F12) (T5), picoxistrobina + ciproconazol (F13) (T6) e Vessarya (T7) apresentaram produtividade superior aos tratamentos com (azoxitrobina + benzovindiflupir) (T10) e (fluxapiroxade + piraclostrobina) (T8) e não diferiram de (trifloxistrobina + protioconazol + bixafem) (T9). Para início das aplicações com picoxistrobina + protioconazol (F12) (R1) e na sequência Vessarya (R3-R4) a produtividade foi em média 444,4 e 268,9 kg ha-1 superior a programas com aplicação de (fluxapiroxade + piraclostrobina) (T8) e (azoxitrobina + benzovindiflupir) (T10), respectivamente (Figura 9). Os resultados revelaram incremento de produtividade quando multissítio foi adicionado às aplicações de 65-70 e 80-90 DAE. Godoy et al. (2020) em ensaios em rede também observaram melhora no controle de mancha-alvo com adição de multissítios em regiões onde foram relatados menor sensibilidade do fungo a sítios-específico.
CONCLUSÕES
No controle da ferrugem asiática da soja os programas com adição de multissítios a sítio-específicos apresentaram produtividade média superior de 220 kg ha-1. Programas com aplicações de picoxistrobina+protioconazol (F12) e Vessarya foram superiores a programas que iniciaram as aplicações com (azoxitrobina + benzovindiflupir) e (fluxapiroxade + piraclostrobina), e não diferiram dos programas com (trifloxistrobina + protioconazol + bixafem). A adição de multissítios a misturas de fungicidas sítio-específicos conferiu acréscimo de 120 kg ha-1 no controle de mancha-alvo. picoxistrobina+protioconazol (F12) e Vessarya apresentaram produtividade superior quando comparado a picoxistrobina+ciproconazol (F13) na primeira aplicação. Vessarya na primeira aplicação e picoxistrobina+protioconazol (F12) na segunda, apresentaram-se como importantes ferramentas no controle de C manchas foliares da soja.
Expert Team Corteva
Alfredo Riciere Dias, Fundação Chapadão Eder Novaes Moreira, FitoLab Luana Belufi, Fundação Rio Verde Jose Fernando Grigolli, Fundação MS Nedio Rodrigo Tormen, Instituto Phytus Silvania Helena Furlan, Instituo Biológico Solange Maria Bonaldo, UFMT Valtemir Jose Carlin, Agrodinamica Luis Henrique Barbosa Kasuya, Kasuya Consultoria Paulo Sergio de Asuncao, PA Consultoria Jose Nunes Junior, CTPA Mônica Müller, Fundação MT Monica Cagnin Martins, Circulo Verde Ricardo Silveiro Balardin, Instituto Phytus Wilfrido Morel, Consultor Marcelo Giovanetti Canteri, UEL Senio Prestes, Fundação ABC Lucas H. Fantin, UEL Rogerio Rubin, Fabricio Passini e Marcus Fiorini, Corteva Agriscience
Tabela 6 - Programa de aplicação de fungicidas em ensaios conduzidos no grupo cerrado em semeadura "Cedo" Trat 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12
Protocolo 2 35-40 DAE Testemunha F13** + Controller NT F12** + Controller NT F12 + Controller NT F12+ Controller NT F13 + Controller NT Vessarya + Controller NT F7 + Controller NT F6 + Controller NT F4 + Controller NT Padrão consultor + Controller NT Padrão consultor
50-55 DAE Testemunha Vessarya + Controller NT Vessarya + Controller NT Vessarya + Controller NT F12+ Controller NT F12+ Controller NT F12+ Controller NT F1 + Controller NT F6 + Controller NT F4 + Controller NT Padrão consultor + Controller NT Padrão consultor
65-70 DAE Testemunha Vessarya Vessarya Vessarya + Controller NT Vessarya Vessarya Vessarya F10 F8 F3 Padrão consultor Padrão consultor
DAE = Dias após emergência; * Produtos escolhidos pelo consultor com adição de Controller, **Produto em processo de registro fase III (RET)
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80-85 DAE Testemunha F13 F13 F13 + Controller NT F13 F13 F13 F10 F8 F3 Padrão consultor Padrão consultor
Coluna Mercado Agrícola
Setembro de 2020 vai ficar marcado na história do agro brasileiro, mês dos recordes
S
etembro de 2020 vai ficar marcado nos anais da história do agronegócio brasileiro como o mês dos recordes históricos de cotações em reais nos principais grãos produzidos no Brasil, como soja, milho, arroz e trigo. Houve uma conjuntura perfeita para isso. Forte demanda interna e apoio externo com alta dos grãos em dólar, que se somaram à cotação da moeda norte-americana acima de R$ 5,50 no Brasil. Os indicativos da soja chegaram aos maiores níveis desde maio de 2018 em Chicago. No mercado interno houve prêmios fortes acima de 150 pontos positivos. Como a demanda seguia aquecida devido às exportações recordes, as cotações chegaram a R$ 150,00 a saca
MILHO
A safrinha do milho, que é a maior safra do ano e teve uma colheita ao redor de 72 milhões de toneladas, já está com a maior parte negociada. Setembro mostrava seca no Sul, principalmente Paraná e Santa Catarina, o que atraiu os compradores para formar estoques temendo pela falta do grão no começo de 2021. As chuvas vieram no final do mês e deram condições ao plantio, o que ajudou a acalmar o mercado.
SOJA
Até o final de setembro o Brasil superou a marca de 84 milhões de toneladas exportadas. Com indicativos firmes e compradores ativos, houve recordes de cotações. A forte demanda do farelo e do óleo, ambos em alta, garantiu fôlego ao grão e às indústrias para bancar cotações fortes
no mercado interno do Rio Grande do Sul. Portos levaram mais de 84 milhões de toneladas no acumulado do ano até o final de setembro. Com a soja em alta, o milho seguiu o mesmo curso, com os indicativos em Chicago para a casa de 4,00 dólares por bushel. Com a comercialização brasileira bastante avançada, sobrou pouco para ser negociado, desta forma os indicativos alcançaram entre R$ 60,00 e R$ 65,00 por saca do milho, apoiados por grandes exportações do setor das carnes. O arroz chegou a superar os R$ 110,00 por saca no mercado gaúcho. Foram 1,5 milhão de toneladas exportadas até o final de setembro, o que diminuiu a oferta.
que devem permanecer neste restante de com isso a oferta de feijão deve ser limitada ano, porque resta menos de 5% da safra nestes próximos dois meses. para atender ao consumo até fevereiro, quando chegam os primeiros grãos da ARROZ safra de 2021. Mercado teve um ano muito forte de demanda, e como a exportação tamFEIJÃO bém carregou volumes que superaram a Mostrou avanços nos indicativos nas marca de 1,5 milhão de toneladas, houve últimas semanas em função do final da fôlego para recorde histórico de cotação colheita da safra irrigada ou terceira safra, do grão após o setor amargar prejuízos com os níveis entre R$ 260,00 e R$ 320,00 há pelo menos dez anos. Cotações recora saca. Cenário deve permanecer até o fi- des devem permanecer no restante do nal de outubro, quando começam a che- ano, com estímulo ao novo plantio que C gar as primeiras lavouras irrigadas de São deve crescer. Paulo. Como a demanda segue aquecida, pode avançar ainda mais nos indicativos do Vlamir Brandalizze grão que ainda está disponível nas mãos Twitter@brandalizzecons de poucos produtores do Sudeste e do www.brandalizzeconsulting.com.br Centro-Oeste. A primeira safra do Paraná Instagram BrandalizzeConsulting sofreu com a forte seca em setembro e ou Vlamir Brandalizze
Curtas e boas TRIGO - Apoiado pelo dólar em alta no Brasil, o mercado manteve indicativos firmes desde o começo da pandemia. Houve boa demanda interna, cotações fortes para importar e valorização do grão nacional. O consumo deve fechar o ano acima de 12 milhões de toneladas, com necessidade de importação de mais de seis milhões de toneladas do grão, que chega ao Brasil com valores acima dos R$ 1.250,00 por tonelada. Fôlego aos indicativos internos para níveis favoráveis aos produtores nesta fase de colheita, que vai até novembro, no Sul. EUA - Os produtores estão colhendo a safra que chega para atender forte demanda na exportação, pressionada para cima pelo apoio da grande demanda chinesa que batia recorde de compra de soja e de milho americanos (já somava mais de 23 milhões de toneladas acumulados). Fôlego positivo para manter os níveis em Chicago nos melhores momentos em mais de dois anos. CHINA - A China sofreu muito em 2020, porque começou o ano comercial local em fevereiro com os menores estoques de
alimentos em quase dez anos, disparada das cotações internas e junto veio a pandemia. Desta forma, o país foi forçado a comprar e reforçar os estoques e mudou a política de estoques. Voltou a crescer forte na produção de suínos, o que demanda muita ração e deve seguir importando forte nestes próximos anos, porque além do consumo humano, o país entrou na era da produção do etanol de milho, o que também vai demandar muito grão. ARGENTINA - Safra próxima da normalidade e neste ano a grande vantagem do setor reside no fato de que o dólar disparou internamente. Assim, mesmo com a volta das retenciones que o governo implantou sobre a exportação dos grãos, o mercado foi favorável e proporcionou lucros aos argentinos. Desta forma, devem registrar leve avanço no plantio deste novo ano, tanto para o milho e a soja, como para o arroz, que já estava no quinto ano seguido de queda de área e agora deve recuperar um pouco o espaço perdido devido à boa demanda internacional e às cotações lucrativas. www.revistacultivar.com.br • Outubro 2020
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Coluna ANPII
Uso crescente Em 2018, a coinoculação abrangeu 15% da área de soja no Brasil. Um ano depois, aumentou dez pontos percentuais e passou a atingir algo em torno de nove milhões de hectares
A
adesão do agricultor brasileiro às novas boas práticas da agricultura já é um fato conhecido, e celebrado, mundialmente. Seguidamente observam-se exemplos práticos da veracidade desta afirmativa, e esta disposição em utilizar novas ferramentas é uma das razões do sucesso do agronegócio brasileiro. No caso particular da fixação biológica do nitrogênio, esta verdade é fartamente confirmada. O aumento constante no uso dos inoculantes é uma prova de utilização das modernas tecnologias biológicas no aumento da produtividade e rentabilidade por parte dos agricultores. Em pesquisas realizadas nos últimos três anos pela empresa Spark, por encomenda da Associação Nacional dos Produtores e Importadores de Inoculantes (ANPII), ficou comprovado que em torno de 80% da área de soja é utilizado o inoculante como fonte de nitrogênio para a cultura. É um fato inédito no mundo. Um exemplo da utilização de uma tecnologia antiga, mas que se renovou e atingiu novos patamares de qualidade e retorno financeiro para o meio agrícola. Mais recentemente, em 2013, foi colocada mais uma valiosa ferramenta nas mãos dos plantadores de soja e feijão: a coinoculação, ou seja, a utilização de dois inoculantes em conjunto, o tradicional inoculante para soja, à base de bactérias do gênero Bradyrhizobium (ou Rhizobium, no caso do feijão) e o produto à base da bactéria Azospirillum. Este uso associado das duas bactérias tem possibilitado aumentos médios de 16% em produtividade, com um baixíssimo investimento, proporcionando altos retornos para o agricultor.
Embora a técnica do uso conjunto das duas bactérias tenha sido divulgada há poucos anos, sua utilização, pelos excelentes resultados apresentados, vem em um crescendo constante, conforme constatou a pesquisa Spark-ANPII e a produção de inoculantes pelas empresas da associação. Em 2018, a utilização da coinoculação abrangeu 15% da área de soja no País, e em 2019 já aumentou dez pontos percentuais, atingindo 25% da área, o que é significativo, atingindo algo em torno de nove milhões de hectares. Ainda resta muita área a ser coinoculada, mas é certo que o crescimento se dará em patamares ainda maiores, trazendo aumentos de produtividade para um número cada vez maior de agricultores. No mapa pode-se observar o crescimento de 2018 para 2019, embora ainda haja disparidade entre os estados, no que se refere à aderência à tecnologia. Enquanto alguns estados têm um uso acima da média, como Pará e Tocantins, que apresentam 80% e 70%, respectivamente, Rio Grande do Sul e Paraná estão com apenas 11%. O paradoxal é que o estado gaúcho é o berço da inoculação da soja, com as primeiras pesquisas sobre o tema, as primeiras seleções de cepas da bactéria e a primeira fábrica de inoculante no País, e o Paraná, o berço da coinoculação, cujos primeiros trabalhos foram desenvolvidos pela Embrapa Soja, em Londrina. Será a máxima de que “santo de casa não faz milagres”? Os resultados demonstram claramente que a coinoculação é uma ferramenta de alto valor, com consistência nos resultados, e com o “boca a boca” divulgando o sucesso de sua utilização, irá elevar substancialmente esses números, levando sua utilização aos níveis hoje mostrados para a inoculação tradicional, com apenas um inoculante. A ANPII vem desenvolvendo contínuas ações para divulgação da coinoculação, através de artigos, de participação em seminários, de comunicados, com todos os meios de comunicação à disposição para levar informações que auxiliem o agricultor a aumentar sua proC dutividade. Solon C. Araújo, Consultor da ANPII
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Algodão • Outubro 2020
Mais qualidade Basf
Nos últimos cinco anos o algodão brasileiro tem registrado salto qualitativo importante quanto aos principais indicadores de classificação do produto. Com grande potencial de expansão da cultura, o país precisa continuar a fazer o dever de casa, com a adoção de boas práticas agrícolas e o uso correto da tecnologia para os manejos fitossanitários
O
algodão é uma “commoditie” agrícola com características específicas, que o colocam em grau diferente de análise em relação aos grãos. A grande diferença baseia-se nas características da pluma e suas finalidades, isto é, nas qualidades da fibra do algodão. Quando se abordam os números do algodão, observa-se sua mutabilidade. Um exemplo está na Figura 1, sobre as estimativas do Departamento de Agricul-
tura dos Estados Unidos (USDA) para o algodão no mundo, no qual as previsões para a safra 2020/2021 sofreram alterações em um período de apenas um mês (julho para agosto) diante da incerteza do mercado. Para se blindar deste risco do agronegócio, resta ao agricultor buscar alcançar altas produtividades de algodão com qualidade. A Figura 2 ilustra a flutuação dos números da área colhida de algodão no mundo desde 1960. A previsão da área
para a safra 2020/2021, de 33.106.000 de hectares, faz parte da oscilação da área do algodão nestes últimos anos e mesmo com o impacto da pandemia de Covid-19, não figurará entre os anos de menor área. A Figura 3 mostra a fragilidade do algodão. Os cinco maiores produtores mundiais são responsáveis por 73,1% de toda a área cultivada de algodão no mundo. Reforçando esta vulnerabilidade, a Figura 4 mostra que considerado 03
Algodão • Outubro 2020
qualificam como o Brasil para atender às fiações mais exigentes no mundo.
Figura 1 - Dados FAS - USDA no mercado do algodão mundial Algodão Mundial até Agosto de 2020 Atributo Área colhida Estoques iniciais Produção Importações Oferta total Exportações Utilizado Perdido Total de Consumo Documentado Estoques finais Distribuição total % de Estoque para Utilização Produção
20/21 Ago 20 33,106 100,557 117,530 41,575 259,662 41,585 113,054 113 113,167 104,910 259,662 67,84 773
Mudança +131(+.4%) -359(-.36%) +1282(+1.1%) -267(-.64%) +656(+.25%) -220(-.53%) -1240(-1.08%) -22(-16.3%) -1262(-1.1%) +2138(+2.08%) +656(+.25%) +2(+3.04%) +5(+.65%)
20/21 Jul 20 32,975 100,916 116,248 41,842 259,006 41,805 114,294 135 114,429 102,772 259,006 65,84 768
19/20 34,980 80,227 122,993 40,108 243,328 40,279 102,396 96 102,492 100,557 243,328 70,48 766
18/19 33,356 80,923 118,654 42,273 241,850 41,401 120,179 43 120,222 80,227 241,850 49,65 774
17/18 33,755 80,228 123,959 41,150 245,337 41,551 122,748 115 122,863 80,923 245,337 49,25 800
16/17 29,761 90,159 106,677 37,687 234,523 37,932 116,157 206 116,363 80,228 234,523 52,07 780
Acesso em 27/08/2020: https://apps.fas.usda.gov/psdonline/app/index.html#/app/compositeViz
o volume produzido pelos cinco maiores produtores de algodão, do qual o Brasil é o quarto país, com 10,2%, o percentual do volume de algodão sobe para 78,7%. Entre os países com as dez maiores produtividades de algodão no mundo (787kg/ha) apresentados na Figura 5 estão Israel (1.872kg/ha), China (1.751kg/ha), Brasil (1.686kg/ha), Turquia (1.653kg/ha), Austrália (1.591kg/ ha), México (1.575kg/ha), Quirguistão (1.591kg/ha), Venezuela (1.234kg/ha), Grécia (1.219kg/ha) e Síria (1.219kg/ha). Aos olhos de um leigo, a cor branca da pluma do algodão esconde muitas características que fazem parte do vocabulário dos classificadores de algodão. Pode-se destacar entre os muitos quesitos o comprimento, a resistência, a uniformidade, o índice de fibras curtas, o micronaire, entre outros. Cada uma destas características compõe as dimensões de qualidade da fibra do algodão. Nos últimos cinco anos, as carac-
terísticas que conferem indicadores de qualidade, como o índice de fibras curtas do algodão brasileiro, vêm melhorando. Nesta safra, no laboratório de fibras da Unicotton, em Primavera do Leste (Mato Grosso), em um universo de 446.452 amostras analisadas até o momento, acima de 88% estão com índice abaixo de 10%. Em grande parcela graças às novas variedades implantadas pelos agricultores, além dos cuidados do manejo da cultura e o descaroçamento do algodão. Outros indicadores, como a uniformidade, têm mais de 90% das amostras com uniformidade acima de 80%, micronaire na faixa “premium” acima de 86% das amostras, resistência acima de 28gf/tex com 86,5% das amostras e comprimento acima de 1,08 polegada (27,3mm) superior a 96%. Ao analisar características como condições de oferecer a área, o volume, a produtividade e a qualidade da pluma do algodão, percebe-se que poucos países se
BOAS PRÁTICAS E MANEJO DE DANINHAS
O manejo de plantas daninhas é um fator fundamental no sucesso do algodoeiro, e o advento da transgenia contribuiu expressivamente para o êxito nesse processo. Porém, as múltiplas alternativas de manejo criaram a complexa missão de decidir qual é a estratégia que cumpre as premissas das boas práticas agronômicas. As boas práticas agronômicas no manejo de plantas daninhas do algodoeiro exigem alguns conhecimentos preliminares essenciais para organizar a sequência de eventos deste importante processo que envolve o controle. Em primeiro lugar é preciso entender o sistema de produção agrícola, estabelecendo as culturas e as sequências destas lavouras ao longo dos anos dentro da propriedade, e antes de elaborar qualquer atitude que envolva o controle de plantas daninhas devem ser considerados também o histórico e o levantamento florístico em cada plantação. O momento ideal de controle e a agilidade na execução das providências de manejo desempenham uma relevante atitude para o êxito do manejo de plantas daninhas no algodoeiro. O fundamento básico é evitar o período de interferência dessas plantas e uma forma muito prática consiste em atuar na redução do banco de sementes, geralmente antes da implantação da lavoura. A elaboração da estratégia de manejo envolve a diversificação das formas de controle, sempre tendo em vista o manejo de resistência de plantas daninhas
Figura 2 - Dados FAS – USDA, histórico da flutuação da área Figura 3 - Dados FAS – USDA, Expectativa da participação das colhida de algodão no mundo e expectativa para 2020/2021 áreas colhidas de algodão para 2020/2021
Acesso em 27/08/2020: https://apps.fas.usda.gov/psdonline/app/index.html#/app/compositeViz Acesso em 27/08/2020: https://apps.fas.usda.gov/psdonline/app/index.html#/app/compositeViz
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Figura 4 - Dados FAS – USDA, Expectativa da participação do Figura 5 - Dados FAS – USDA, Expectativa da produtividade de algodão para 2020/2021 algodão para 2020/2021
Acesso em 27/08/2020 https://apps.fas.usda.gov/psdonline/app/index.html#/app/ Acesso em 27/08/2020 https://apps.fas.usda.gov/psdonline/app/index.html#/app/ topCountriesByCommodity compositeViz
nhas são expostas a um único herbicida como o glifosato, em vários sistemas de cultivo o domínio da flora ocorrerá pelas plantas tolerantes ou resistentes ao herbicida. Como exemplo, é possível citar a soja Roundup Ready e outras espécies com indivíduos resistentes como o capim-pé-de-galinha (Eleusine indica), o capim-amargoso (Digitaria insularis) e a buva (Conyza bonariensis). Neste ambiente, o algodão tolerante ao herbicida glufosinato de amônio ocupa uma posição de vantagem. Seu uso deve obedecer critérios básicos para evitar a seleção de novas plantas daninhas resistentes a esse importante herbicida.
SAFRA ATUAL E O FUTURO
O início de qualquer premissa precisa ancorar-se em algumas referências. Para o
algodão brasileiro, os cultivos no Cerrado Mato-grossense (Figura 9) representarão o roteiro desta análise. A avaliação da safra atual do algodão é uma tarefa mais simples que o prognóstico para o futuro. Tratando-se do algodão, o desafio é ainda maior, pois os números finais serão obtidos apenas com a conclusão do descaroçamento e o destino da próxima safra depende da semeadura da soja nesta safra. Procedendo este parecer do desfecho da safra de algodão para a semeadura, é possível afirmar que os trabalhos da algodoeira devem encerrar mais cedo nesta safra, mesmo com estimativas de maiores produções (2.004.286 toneladas em 2019/2020, 1,9% superior à safra passada, segundo o Imea-MT). Isso se deve às melhorias e às algodoeiras mais
Evaldo Kazushi Takizawa
e a ação dos herbicidas. Essas premissas guiarão todas as práticas a serem estabelecidas. Tomando um exemplo prático do algodão cultivado no Cerrado brasileiro e tendo em mente os passos preliminares atendidos é possível desenvolver uma estratégia a partir das espécies mais problemáticas. Estabelecidas as principais espécies de plantas daninhas, seus estádios e grau de infestações, a etapa seguinte é conhecer onde o manejo ocorrerá (Figura 7). Esta informação fundamentará as escolhas de herbicidas e doses dentro da estratégia de controle químico. É preciso considerar que o clima representa um componente importante na eficiência do manejo de plantas daninhas. A Figura 8 ilustra as principais culturas no Cerrado brasileiro onde o algodoeiro está inserido, mostrando uma diversidade de sistemas de produção agrícola com uso intensivo do solo em sucessões ou alternância de culturas. As setas indicam as intervenções com herbicidas e nem sempre há uma interação harmosiosa entre as culturas no tocante ao manejo de plantas daninhas. A tarefa de equacionar o manejo de plantas daninhas pode ser complexa quando se atende às boas práticas agronômicas e para isso é vital a presença de profissionais qualificados, para visualizar o mapa de todo o processo abrangido no manejo, considerando que resíduos de herbicidas da cultura antecessora podem prejudicar o algodoeiro, assim como os herbicidas usados no algodão podem injuriar culturas sucessoras. Em um cenário onde as plantas dani-
Figura 6 - Levantamento florístico identificando as espécies na fase de plântula e mais suscetível aos herbicidas pós-emergentes
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Figura 7 - Os ambientes e as condições climáticas das regiões de Cerrado brasileiro e as principais espécies que compõem a flora de plantas daninhas
Figura 8 - A multiplicidade dos sistemas de produção agrícola, as sucessões, plantas voluntárias e a repetição do uso de herbicidas do mesmo grupo
Figura 9 - O ambiente agrícola que o algodão está inserido no Mato Grosso
algodoeiro, se comportou de forma atípica, como é frequente. Neste mesmo ano houve problemas de estiagens ou chuvas em abundância comprometendo algumas lavouras. Ocasionalmente, um mesmo agricultor foi acometido com dois eventos climáticos prejudiciais. Mesmo assim, o balanço final indica que esta safra tende a estar entre as melhores do algodão. No manejo fitossanitário (pragas, doenças e plantas daninhas) e nutricional, mesmo com um início de safra com altos índices do bicudo-do-algodoeiro houve uma mobilização coletiva dos agricultores e os danos estão restritos a um pequeno grupo de agricultores ainda reticentes na aplicação de boas práticas agronômicas. As escolhas dos solos mais férteis da propriedade resultaram em lavouras bem nutridas e com excelente qualidade da fibra. Diante dos resultados do passado e do presente, os horizontes para o futuro indicam que os agricultores tradicionais, com toda a infraestrutura instalada para a condução do algodoeiro, devem manter suas atividades no algodão, adequando as áreas para um melhor dimensionamento em que as operações elementares como a época de semeadura e colheita sejam executadas dentro do período ideal, evitando atrasos. A cada safra do algodão brasileiro, o profissionalismo ocupa maior espaço e as exigências para sustentabilidade nesta atividade impõem redução nas perdas e maior habilidade do gereciamento da escassez de recursos. Isso representa maior C eficiência produtiva.
Divulgação
Valmir Lana, Unicotton Evaldo Kazushi Takizawa, Ceres Consultoria Agronômica
modernas em atividade, setor claramente deficitário para atender ao volume da safra de algodão. A colheita seguiu em ritmos acelerados favorecidos pelo tempo seco e quente, permitindo os trabalhos durante 24 horas e o aumento da capacidade operacional de muitos agricultores, reconhecendo a importância 06
da agilidade na colheita. Embora o atraso da colheita ainda represente um dos grandes vilões do algodoeiro, ocorrendo novos investimentos e modernização da frota das colhedoras, a performance no futuro tem espaço para grande melhoria. O clima durante os tratos culturais, principal fator de produtividade do
Lana e Takizawa apontam para as boas práticas no manejo do algodoeiro
Abapa
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Programa fitossanitário
O Brasil reúne capacidade para um aumento exponencial da área de cultivo de algodão. Mas para que isso ocorra é preciso união de esforços em torno de um plano estratégico com manejos regionalizados
A
cultura do algodoeiro é hospedeira de um complexo de pragas, que podem ocasionar danos às raízes, ao caule, às folhas, aos botões florais, às flores, às maçãs e aos capulhos. Os níveis populacionais dessas pragas flutuam grandemente e infestações elevadas provocam sérios prejuízos à cultura. No caso da cotonicultura baiana, que encontra-se em expansão, isto significa do ponto de vista fitossanitário a possibilidade de maior ocorrência de pragas. Uma das pragas diretas, que possui grande potencial causador de injúria, é o bicudo-do-algodoeiro. Em regiões altamente infestadas e onde o controle adequado não é realizado, o inseto pode inviabilizar o cultivo a longo prazo. Em decorrência dos danos causados e da considerável importância econômica, o
bicudo-do-algodoeiro (Anthonomus grandis), as lagartas Helicoverpa ssp, Spodoptera ssp, ácaros e a mosca-branca (bemisia tabaci) se configuram nas pragas mais importantes da cotonicultura baiana.
BOAS PRÁTICAS E MANEJO INTEGRADO
A adoção de boas práticas no manejo do algodoeiro é fundamental para o sucesso da cotonicultura. Um dos bons exemplos reside no Programa Fitossanitário da Bahia, criado em 2003 e denominado inicialmente de projeto de controle do bicudo naquele Estado. Os trabalhos na região Oeste da Bahia estão mais avançados, tendo em vista que o Programa Fitossanitário vem atuando há mais tempo no local e atualmente a cotonicultura possui uma tecnologia mais avançada. Para isso, foi fundamental o
trabalho dos líderes regionais dos núcleos. Hoje a região se encontra no topo de melhor produtividade média por hectare da pluma em algodão de sequeiro, em uma ótima condição de qualidade de fibra, fatores indispensáveis quando se pensa em aumento de área a longo prazo. Atualmente o Manejo Integrado de Pragas ou MIP do algodão focado no bicudo-do-algodoeiro (Anthonomus grandis) também abrange trabalhos para o controle da Helicoverpa ssp, e Spodopteras ssp, manejo da resistência das proteínas, manejo da ferrugem-asiática da soja, manejo da cigarrinha-do-milho, trabalhos de eficiência de produtos para bicudo e ácaros, manejos de nematoides, de plantas daninhas e de ramulária. O MIP deve ser realizado de forma regionalizada em toda a paisagem agrícola. O Programa Fitossanitário de manejo de pragas é efetuado de forma coletiva, entre as associações, toda a cadeia do agro, juntamente com a Associação Brasileira dos Produtores de Algodão (Abrapa), a Agência de Defesa Agropecuária da Bahia (Adab), o Fundo de Apoio ao Desenvolvimento do Agronegócio (Fundeagro), a Fundação Bahia, a Embrapa e o Instituto Brasileiro do Algodão (IBA). O MIP de forma regionalizada é realizado através dos núcleos formados com a integração de todos os produtores de algodão, situados em uma determinada sub-região, que se comprometem a seguir, de maneira organizada, eficiente e responsável, um plano técnico contendo medidas eficazes de monitoramento e controle das principais pragas do algodoeiro, durante a safra e a entressafra do algodão. Com esses núcleos se busca reduzir continuamente as populações de pragas nas microrregiões ao longo das safras.
POTENCIAL DO ALGODÃO EM 20 ANOS
Nos próximos 20 anos o Brasil tem condições de aumentar o cultivo para três ou quatro milhões de hectares de algodão, mas para que isso ocorra é preciso montar um plano estratégico dentro e fora da porteira. Focar nas novas tecnologias de sementes, materiais mais produtivos e resistentes às doenças, bem como nas questões de logística e de mercado. Preservar a lei Kandir, que exonera os impostos de ICMS para exportação. Dentro da porteira é preciso reduzir o número de aplicações para controle do bicudo (realizar de 15 a 20 aplicações por 07
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Figura 1 - Mapa dos núcleos produtores de algodão região Brasil, toda cadeia têxtil também precisa Oeste da Bahia estar envolvida. Um Programa Fitossanitário de sucesso precisa ser constituído por equipe institucional, com os presidentes das instituições e sindicatos envolvidos constantemente. Equipe operacional dos programas e das propriedades capacitada para diagnosticar os problemas que ocorrem nas lavouras. Recursos financeiros precisam ser aportados, para projetos, pesquisas e fiscalizações. O apoio das empresas fornecedoras do agro, dando resposta às demandas de toda cadeia, é fundamental para o sucesso do programa fitossanitário. safra é insustentável), além de diminuir as populações do inseto e os custos de LAGARTAS NO ALGODOEIRO produção. São enormes as consequências causaReduzir o número de problemas de das pelo bicudo, sendo a principal praga soqueiras e tigueras de algodão, aumen- desta cultura. Mas outras pragas também tar o vazio sanitário da cultura no Brasil causam danos econômicos, tais como as central. Obter mais oferta de produtos lagartas, ácaros, mosca-branca, perceveeficientes disponíveis para controle do bi- jos, pulgões e nematoides. cudo. O principal inseticida, Malathion, Nesse contexto, destacam-se as deve ser aplicado em Ultrabaixo volume lepdopteras, que na Bahia causaram (UBV) e Baixo volume oleoso (BVO), muitos problemas, atacando a parte lembrando que essas aplicações são mais aérea das culturas, provocando danos eficientes quando realizadas, aéreas ou constantes. Nas safras 2012/13 houve terrestres, com no máximo dez litros de ataques severos da Helicoverpa armigera calda por hectare. em soja e em algodão, somando mais de Melhorar o MIP coletivo (Programa R$ 2 bilhões de prejuízo no Oeste da Fitossanitário) é fundamental para obter Bahia. No complexo de lagartas ainda reduções de custos, de riscos e de perdas. existem pressões fortes das Spodopteras Um Programa Fitossanitário eficiente ssp que atacam as principais culturas do será essencial para diminuir os custos sistema e são de difícil controle. para os patamares de 0,50 a 0,55 cents de dólar por libra peso (lpb). TECNOLOGIAS BT O aumento de área a longo prazo só Outro fator importante se refere à será obtido com alta qualidade da fibra e preservação das proteínas Bts, que se com baixos custos por lbp, com mercado perdem rapidamente no Brasil Central, acima dos 0,65 – 0,70/lbp, com menores onde a pressão das lagartas é muito forte. riscos principalmente fitossanitários de O aumento do algodão geneticamente bicudos e lagartas, com alta competitivi- modificado com toxinas Bt amenizou dade e a imprescindível sustentabilidade. o problema com algumas lagartas, com Para que esse espaço para expansão a introdução da proteína VIP3A, com do cultivo do algodão seja ocupado pelo maiores proporções de áreas nos últimos 08
dois anos, somados à piramidação de outras proteínas, conseguindo um bom manejo de todas as lagartas da parte aérea, inclusive Spodoptera frugiperda. Nos materiais em que estas proteínas não estão presentes, ocorre muito escape, principalmente de S. frugiperda. Situação preocupante porque não se tem conseguido realizar um adequado manejo de resistência na região. Outra preocupação é que há poucas moléculas químicas e/ou biológicas para combater e controlar lagartas, o que acaba por sobrecarregar os inseticidas que ainda estão funcionando. Medidas proativas de boas práticas de manejo de resistência abrangentes, que envolvam o sistema soja, milho e algodão, podem salvar tanto a tecnologia Bt como os inseticidas. O algodão é altamente dependente de toxinas Bts e de inseticidas químicos e biológicos. A cultura exige mais aplicações por conta do ataque de muitas pragas e doenças, o que resulta em necessidade de manejos de resistência, muito mais que em soja ou milho. Mas esse manejo tem que se dar em todo o sistema agrícola. Na Bahia, especialmente, se torna ainda mais urgente e indispensável o manejo de resistência de algumas toxinas e inseticidas, porque há milho safra e milho safrinha, algodão safra e algodão safrinha. Com isso, ocorre uma sequência de uso das mesmas moléculas ao longo do ano, com uma exposição muito grande a pragas e doenças. A cultura do algodão acaba também recebendo muita pressão de lagartas de outras culturas. Por isso só será possível alcançar um adequado manejo agrícola se todos os produtores se unirem, trabalhando juntos e estabelecendo uma organização chamada C Programa Fitossanitário. Celito Breda e Antonio Carlos Santos Araújo, Abapa
Breda e Araújo detalham programa fitossanitário
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Papel das sementes
Como a associação de tecnologias presentes no material genético pode auxiliar o produtor de algodão, tanto através da tolerância a herbicidas, que facilita o manejo de daninhas, como pela resistência a lagartas de difícil controle, com impactos positivos na produtividade e qualidade de fibra
A
tecnologia GLTP é a primeira em sementes de algodão, com dupla tolerância a herbicidas e tripla resistência a lagartas no mercado brasileiro. Trata-se do resultado da associação das tecnologias GlyTol LibertyLink (GL) e TwinLink Plus (TP). Além dos herbicidas residuais que podem ser aplicados na pré emergência da cultura, as variedades com a tecnologia GLTP oferecem maior flexibilidade para o manejo das plantas daninhas com a tolerância aos herbicidas Liberty (glufosinato de amônio) e ao glifosato, o que reduz o risco do surgimento plantas daninhas resistentes. Estes herbicidas podem ser aplicados na pós emergência das plantas
daninhas e do algodoeiro, protegendo a variedade contra a mato competição.
RECOMENDAÇÃO DE USO
O acompanhamento do histórico da área e o levantamento da flora de plantas daninhas do talhão a ser cultivada é de suma importância para a determinação do manejo das plantas daninhas e dos herbicidas a serem utilizados para o cultivo do algodoeiro GLTP.
INICIE NO LIMPO
O potencial produtivo da cultura do algodoeiro pode ser reduzido significativamente em função da competição inicial causada por plantas daninhas. Entretanto, para a realização do bom
manejo de plantas daninhas, deve-se iniciar o plantio do algodoeiro em área limpa, realizando uma boa dessecação pré-plantio. Para isso, recomenda-se identificar e quantificar as espécies de plantas daninhas que ocorrem no talhão e aplicar os herbicidas no estádio correto. Nos casos em que a primeira dessecação apresentou escapes, realizar uma segunda dessecação. Em situações de alta pressão de plantas daninhas, recomenda-se a utilização de herbicidas residuais em pré-emergência. Após a emergência da cultura, deve-se realizar aplicações dos herbicidas Liberty ou glifosato separadamente, com o intuito de melhor controle das plantas daninhas e evitar o surgimento da resistência. 09
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MANTENHA NO LIMPO
Para manter a lavoura no limpo devem-se realizar aplicações sequenciais dos herbicidas Liberty ou glifosato na dosagem recomendada, sempre que necessário, quando as plantas daninhas estiverem na fase inicial de desenvolvimento. A aplicação do herbicida Liberty deverá ser realizada em aplicações sequenciais, sendo que o intervalo entre as aplicações recomendado é de 14 dias do herbicida Liberty na dosagem de 2,0L/ha a 2,5L/ha. A aplicação deve ser realizada quando as plantas daninhas estiverem com duas folhas a quatro folhas, ou seja, no estágio inicial de desenvolvimento. Em situações onde as plantas daninhas de folhas largas apresentem 4 a 6 folhas e as gramíneas com até dois perfilhos, recomenda-se aplicar Liberty na dose de 3,0L/ha a 3,5 L/ha. A tecnologia também oferece o que há de mais avançado no controle de lagartas, facilitando o manejo na lavoura e protegendo o potencial produtivo da variedade. Esse manejo mais eficiente poderá proporcionar uma produção de algodão mais rentável, contribuindo para a longevidade da cotonicultura.
TWINLINKPLUS TERCEIRA GERAÇÃO DE BT
Esta tecnologia foi a primeira da 3ª geração Bt lançada no Brasil. A tecnologia GLTP combina os dois genes de TwinLink, Cry1Ab e Cry2Ae, com o gene Vip3A para aumentar a proteção contra as lagartas mais difíceis de serem controladas. As proteínas Bt são expressas durante o ciclo da cultura, auxiliando na proteção da planta contra o ataque de lagartas. Assim que as lagartas se alimentam de tecidos vegetais contendo proteínas Bt, essas proteínas se ligam à parede do intestino causando danos ao sistema digestivo, afetando o desenvolvimento da praga e impossibilitando a conclusão do ciclo biológico. Aliada ao Manejo Integrado de Pragas (MIP),
a tecnologia GLTP oferece proteção contra lagartas (Tabela 1)
MIP PARA A TECNOLOGIA GLTP A CAMPO
É recomendado realizar monitoramento de pragas a cada 3 dias a 4 dias. Para o monitoramento deve-se avaliar criteriosamente toda a planta, iniciando no terço superior até o terço inferior. Recomenda-se inspecionar folhas, botão floral, brácteas, flores, pétalas e maçãs. Para a definição do número de pontos amostrais, considerar um ponto amostral/ha, sendo que a forma do caminhamento deve ser em zigue-zague. Quantificar a presença de postura, identificando qual a espécie de lagarta, se o ovo está próximo à eclosão da lagarta, se está parasitado por inimigo natural, ou se é postura recente. Identificar e quantificar as lagartas. Além da identificação correta das espécies, também é necessário verificar o local onde esses insetos se encontram (ponteiro, brácteas, botão floral, folha, etc), bem como definir o tamanho (ínstar) das lagartas entre recém eclodidas, pequenas, médias ou grandes. Implementar o Programa de Manejo Integrado de Pragas (MIP), uma vez que a integração dos métodos de controle de pragas, baseado no monitoramento e nos níveis de controle para cada praga, tem o intuito de proteger o potencial produtivo da cultura. Identificar e quantificar as mariposas, pois o monitoramento por meio de armadilhas de feromônio, antes do plantio do algodoeiro e durante a condução da lavoura, auxilia na contextualização do ambiente de pressão da praga. Preservação de inimigos naturais através do uso de inseticidas seletivos.
PRÁTICA DE REFÚGIO
A estratégia mais eficiente para dificultar o surgimento de insetos re-
Tabela 1 - Proteção da tecnologia GLTP contra lagartas Controle Moderado Helicoverpa (Helicoverpa spp.) Spodoptera frugiperda
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Controle Lagarta-das-maçãs (Chloridea virescens) Curuquerê-do-algodoeiro (Alabama argillacea) Falsa-Medideira (Chrysodeixis includens) Spodoptera cosmioides Spodoptera eridania Lagarta Rosada (Pectinophora gossypiella)
sistentes à tecnologia consiste no uso da prática de refúgio. O tamanho da área de refúgio deve ser de no mínimo 20% da área total a ser plantada com algodão GL e estar a uma distância de no máximo 800m. O refúgio precisa ser plantado com uma variedade de ciclo vegetativo similar para que os estágios de desenvolvimento também sejam semelhantes. Nessas áreas de refúgio, o manejo deve ser realizado respeitando os níveis de controle (NC) recomendados para algodão não Bt. Uma vez atingido o NC, o produtor deverá realizar controle químico e/ou biológico para evitar a destruição precoce da cultura. É importante ressaltar que nas áreas de refúgio não se recomenda a aplicação de produtos a base de Bts, pois podem interferir de forma negativa no Manejo de Resistência de Insetos (MRI);
GERMOPLASMA FIBERMAX 100% ALGODÃO
Uma das variedades que tem se destacado com essa tecnologia, é a FM 985 GLTP, que, além de facilitar o manejo de pragas e plantas daninhas, também oferece alta produtividade com qualidade de fibra.
LIDERANÇA NO MERCADO
FiberMax é a marca líder no mercado de sementes de algodão do Brasil e reconhecida globalmente por sua qualidade de fibra e produtividade. A BASF tem um portfólio robusto para a cultura, com produtos diferenciados que atendem às necessidades do agricultor e garantem a longevidade do seu negócio. O portfólio conta com sementes, produtos químicos e biológicos para proteção de cultivo, além de serviços e ferramentas digitais que vão ao encontro das necessidades dos cotoC nicultores.
Encarte Técnico Circula encartado na revista Cultivar Grandes Culturas nº 257 • Outubro 2020 Capa - Basf Reimpressões podem ser solicitadas através do telefone: (53) 3028.2075
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