Revista
Keyboard ANO 3 :: 2015 :: nº 20 ::
:: Seu canal de comunicação com a boa música!
Brasil www.keyboard.art.br
Tecnologia: iPad: o melhor amigo do tecladista, por Daniel Baaran
Especial: Comemorando 30 anos do Axé Music, uma entrevista com 4 grandes tecladistas da atualidade!
Projeções para 2015 e 2016: A visão da destruição do Brasil e os ensinamentos de Luiz Bersou
Músicos do Mar:
Osvaldo Colarusso Maestro por formação. Comunicador por vocação!
Dicas e experiências de Mateus Schanoski para o trabalho em transatlânticos
Amyr Cantusio: Expoente do Rock Progressivo nacional!
Índice
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SUAS COMPRAS: Cds, DVDs e Livros
MATÉRIA DE CAPA: Maestro Osvaldo Colarusso
EXPERIÊNCIAS: Tocando no mar, por Mateus Schanoski
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32 POR DENTRO: A técnica do maestro, parte final, por maestro Angelino Bozzini
50 PONTO DE ENCONTRO: Previsões para 2015 e 2016, por Luiz Bersou
Expediente
Foto: Igor Salsicha
Foto: Igor Salsicha
TECNOLOGIA: iPad: o melhor amigo do tecladista, por Daniel Baaran
36 ESPECIAL: Tecladistas da Bahia: Fabinho Scooby Vaccarezza, Fabinho Carmo, Juliano Valle e Billy Rasec
56 PERFIL: Amyr Cantusio Jr.: Expoente do Rock Progressivo Nacional
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60 FALANDO SOBRE NOSSA MÚSICA: Parte final, por Heloísa Fagundes
TOQUE E APRENDA: Parte 14, por maestro Marcelo Fagundes
Revista
Março / 2015
Keyboard www.keyboard.art.br
Brasil
Editora Musical
Revista Keyboard Brasil é uma publicação mensal digital gratuita da Keyboard Editora Musical. Diretor e Editor executivo: maestro Marcelo D. Fagundes / Chefe de Redação e Design: Heloísa C. G. Fagundes Caricaturas: André Luíz Silva da Costa / Marketing e Publicidade: Keyboard Editora Musical Correspondências / Envio de material: Rua Rangel Pestana, 1044 - centro Jundiaí / S.P. CEP: 13.201-000 / Central de Atendimento da Revista Keyboard Brasil: contato@keyboard.art.br As matérias desta edição podem ser utilizadas em outras mídias ou veículos desde que citada a fonte. Matérias assinadas não expressam obrigatoriamente a opinião da Keyboard Editora Musical. 04 / Revista Keyboard Brasil
Espaço do Leitor
Editorial
A matéria do Elvis estava incrível... Sou fã desse cara! André Luiz Silva da Costa – via facebook. Daniel, excelente profissional e um grande amigo! Parabéns a todos vocês... Rafael Santana – via facebook.
Heloísa Fagundes - Publisher
Parabéns!!! Muito legal a nova edição (número 19)!!! Germano Wagner Grossklauss – via facebook. Obrigado pela homenagem à Banda BANDA SINFÔNICA DE SÃO PAULO! Maestro Marcos Sadao Shirakawa – via facebook. Parabéns Felipe Leme! Vale a pena ler, está demais! Thamires Frediani – via facebook. Parabéns!!! Ótima entrevista, adorei!!! Sucesso sempre para Felipe Leme! Sonia Leme – via facebook. Parabéns a todos da Revista Keyboard Brasil! As matérias são bem diversificadas, falando um pouco de tudo! Adorei a matéria das marchinhas. Edivaldo Santos – via e-mail. Acompanho a coluna do senhor Bersou. Seu último texto nos diz para pensarmos de forma estratégica, inovar e agir diante de anos tão difíceis como este em que estamos. Mas quero dizer que não há ânimo quando passamos por dificuldades econômicas e precisa sim de coragem, muita coragem conforme o senhor diz em seu excelente texto (edição 19). Carlos Eduardo Martins – via e-mail. Nossa! Não sabia que usavam piano nos carnavais de antigamente! Matéria muito interessante! Antonia Y. Mikki – via e-mail.
A Revista Keyboard Brasil, em sua 20ª edição, traz, como matéria de capa, um exemplo de profissional, ao demonstrar todo seu apreço pela arte que escolheu abraçar. Osvaldo Colarusso, premiado maestro, ao dividir seus conhecimentos, seja nos concertos que rege; em seus programas na Rádio Educativa do Paraná ou para seus inúmeros alunos, nos presenteia com cultura. E cultura é o que falta em nosso país. Começa lá atrás, na educação que é dada desde pequenos. É por isso que valorizamos, além do maestro Colarusso, os maestros Angelino Bozzini e Marcelo Fagundes, nossos colaboradores Luiz Bersou, Mateus Schanoski, Daniel Baaran, Joêzer Mendonça, Marina Ribeiro, entre outros... Pessoas que possuem essa vontade de ensinar! Pessoas dignas, educadas, cultas! É por isso que agradeço a TODOS os nossos colaboradores por tornar nossa publicação cada vez mais rica em conteúdo. Obrigada aos leitores que curtem, compartilham e comentam nossas matérias. É para vocês que escrevemos! E músicos: continuem enviando seu material e sejam vistos por mais de 250 mil leitores! Excelente leitura!
SAIBA MAIS: Revista Keyboard Brasil / 05
Suas compras
Musas & Músicas A mulher por trás da canção Autora: Rosane Queiroz Editora: Tinta Negra Bazar Editorial Páginas: 160
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Encontrei, ao todo, 33 musas reais, fictícias e fulgazes, aquelas que apareceram por um momento e sumiram, ou que existiram, mas já se foram. Se todas elas possuem um elo em comum, é que, em algum momento, foram objeto de desejo, admiracão ou amor dos artistas que inspiraram.
Se a MPB tem um sexo, ah... Ele é feminino! Já o nome... Desde que passou por Tom e Vinícius com seu “doce balanço a caminho do mar”, a carioca Helô Pinheiro transcendeu a praia de Ipanema. Sua canção Garota de Ipanema ganhou mais de 500 versões, do japonês ao esperanto, e é a segunda mais tocada no planeta depois de Yesterday, dos Beatles. Mas e as outras? E a Camaleoa, de Caetano? Alguém conheceu a Conceição, de Cauby? E que fim levou a Kátia Flávia, de Fausto Fawcett? Você sabe quem foi a Amada Amante? Ou para quem foram escritos os versos de Espanhola? Amélia existiu de verdade? E a cigana Sandra Rosa Madalena era cigana mesmo? Qual o veneno da Menina Veneno? Por que o compositor nunca sonhou com a Lígia? No livro Musas & Músicas – a mulher por trás da canção, de Rosane Queiroz, você descobrirá a identidade das mulheres que foram as musas inspiradoras dessas e de outras músicas, bem como a relação que havia entre elas e os compositores dessas belas canções. “Descobrir quem são as mulheres nas entrelinhas das partituras musicais é o projeto da minha alma. Uma busca que começou há uma década e o resultado é este livro!”, ressalta Rosane Queiroz.
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Rosane Queiroz é jornalista independente. Foi editora da revista Marie Claire, atualmente colabora com Veja SP Luxo e Status, entre outras, e mantém o blog Epifania – Por uma vida fora de série https://epifaniarosanequeiroz.wordpress.com/ 06 / Revista Keyboard Brasil
The Rolling Stones Rolling Stones – a memória fotográfica em 53 anos de Rock & Roll!
Fotos: Divulgação
A maior banda de rock em atividade, The Rolling Stones, faz 53 anos. Em homenagem ao mais de meio século de boa música e muito estilo, a Taschen lançou um superlivro em três versões. Intitulado apenas como The Rolling Stones, a biografia fotográfica da banda inglesa traz mais de 500 páginas com registros fotográficos de nomes como Anton Corbijn, Annie Leibovitz, Helmut Newton, David Bailey, Bent Rej, Andy Warhol, entre outros grandes que retrataram a banda ao longo das últimas cinco décadas. A edição mais acessível do livro custa 150 dólares. Porém, há edições exclusivas que custam 5 mil e 10 mil dólares. A versão de 10 mil dólares mede 50X50 centímetros e deve seduzir colecionadores pela preciosidade trazida: cada exemplar é autografado, de próprio punho, por Mick Jagger,
Editora: Taschen Páginas: As três versões possuem mais de 500 páginas.
Keith Richards, Ron Wood e Charlie Watts e ainda acompanha um pôster assinado pelo autor da foto. A versão intermediária, do mesmo tamanho, é também autografada pelos músicos, mas não traz o pôster e, por isso, sai por 5 mil dólares. A versão menor – 33X33 centímetros e sem as valiosas assinaturas é bem mais acessível, custa 150 dólares. As três versões chegam às livrarias este mês (março) e apresentam mais de 500 páginas contendo textos, ilustrações e retratos. Revista Keyboard Brasil / 07
Matéria de Capa
OSVALDO COLARUSSO MAESTRO POR FORMAÇÃO. COMUNICADOR POR VOCAÇÃO! MAESTRO PREMIADO PELA APCA (ASSOCIAÇÃO PAULISTA DE CRÍTICOS DE ARTE), PROFESSOR, RESPONSÁVEL PELO BLOG “FALANDO DE MÚSICA”, ALÉM DE DESENVOLVER, HÁ 17 ANOS, ATIVIDADES COMO PRODUTOR E APRESENTADOR DE PROGRAMAS DE RÁDIO, O PAULISTA CRESCIDO NO BAIRRO
ITALIANO
DA
MOÓCA,
OSVALDO
COLARUSSO, 56 ANOS, AINDA ENCONTRA TEMPO PARA AJUDAR CÃES ABANDONADOS NAS RUAS DA CIDADE QUE ESCOLHEU PARA VIVER: CURITIBA. A REVISTA KEYBOARD BRASIL DESTE MÊS, ENCONTROU UMA BRECHA NA AGENDA ATRIBULADA DO MAESTRO, QUE NOS CONCEDEU UMA BELA ENTREVISTA.
Foto: Cida Demarchi
Heloísa C. G. Fagundes
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Desde 1980, Osvaldo Colarusso atua como maestro convidado das mais importantes orquestras do país, como a Orquestra Sinfônica Brasileira, a Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo, a Orquestra Sinfônica de Porto Alegre, a Orquestra Sinfônica do Teatro Nacional de Brasília, a Orquestra Sinfônica da Bahia e inúmeras outras.
Revista Keyboard Brasil / 09
Foto: Arquivo pessoal
O COMEÇO DE TUDO A h i s t ó r i a d e O s va l d o Colarusso como músico, ao contrário de muitos, começou tarde, na adolescência, quando se encantou com a complexidade da trompa – instrumento de sopro, desvendando seu aprendizado com o professor Enzo Pedini na Escola Municipal de Música. Mais tarde, formou-se pela UNESP. Teve, como professores, o maestro Eleazar de Carvalho e o francês Michel Philippot que o advertiu sobre seu sonho: “Se quer ser maestro, tem que aprender piano.” Por isso, além das aulas na universidade, tomava lições na residência do estrangeiro, que logo o indicou para cursos e concursos na França. Anos depois, Colarusso aperfeiçoou-se em Regência de Orquestra com o Maestro russo Genady Roshdestvensky na Accademia Chiggiana de Siena, na Itália.
Desde muito cedo, o maestro já ouvia música clássica na rádio Eldorado, em São Paulo, junto com seu pai, João Carlos Santos, falecido em 1987.
DÉBUT Seu début profissional em 1980 foi frente à Orquestra Sinfônica do Teatro Municipal de São Paulo, onde conquistou
o prêmio de melhor maestro de orquestra da temporada, pela APCA. Por seis temporadas foi maestro do Coral Lírico do Teatro Municipal de São Paulo (1980-1985), o que lhe valeu inúmeros prêmios por suas execuções de grandes obras corais, tais como Les Noces, 10 / Revista Keyboard Brasil
de Stravinsky, Requiem Alemão, de Brahms e Missa em dó menor, de Mozart. Seu repertório é extremamente vasto, com destaque para os grandes clássicos do século XX. Regeu as primeiras audições mundiais de obras de José Penalva, Lívio Tragtemberg, Ricardo Tacuchian e Ernest Widmer, entre muitos outros. Além disso, realizou primeiras audições brasileiras de obras de Hinde-
Foto: Arquivo pessoal
mith, Arnold Schoenberg, Anton Webern, programas de Música Clássica na Rádio Michel Tippet e B. A. Zimmerman. Educativa do Paraná (EParaná) com o N e s t e s s e u s m a i s d e 5 0 0 intuito de aproximar a música erudita dos concertos regidos, Colarusso já atuou ouvintes. Também é responsável, desde com solistas como Mikhail Rudi, Nelson 2011, por um dos blogs mais importantes Freire, Vadim Rudenko, Arnaldo Cohen, de música clássica no Brasil, o “Falando Arthur Moreira Lima, Gilberto Tine i, de Música” do jornal paranaense Gazeta do Marco Antônio de Almeida, Amaral Povo. Há 2 anos, passou a fazer parte do Vieira, Eva Nievergelt, Richard Markson, núcleo de pós-graduação da Universidade Dang Thai Son, David Garret, Miha Positivo, em Curitiba, além de ministrar Pogagnick, entre muitos outros nas mais aulas particulares. importantes orquestras do país, como a Leia, a seguir, nossa entrevista Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo, a especial com o maestro. Orquestra Sinfônica Brasileira, a Orquestra Sinfônica de Porto Alegre, a Orquestra Sinfônica do Teatro Nacional de Brasília, a Orquestra Petrobrás Sinfônica do Rio de Janeiro, a Orquestra Sinfônica da Bahia e inúmeras outras. Além disso, já atuou nos principais Festivais de Música do país, como Campos do Jordão, Curso de Verão de Brasília e Festival de Música de Londrina, do qual foi Diretor Artístico. De 1985 até 1998 foi maestro da Orquestra Sinfônica do Paraná, período em que regeu centenas de récitas de concertos, óperas e ballets no Teatro Guaíra, em Curitiba. Além de suas atividades como maestro convidado das mais importantes orquestras do país, Osvaldo Colarusso desenvolve paralelamente atividades como A trompa foi seu primeiro instrumento. O registro, feito na Escola Municipal de Música de São Paulo é de 1974. produtor e apresentador de
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Foto: Cida Demarchi
Entrevista
Há 17 anos, Osvaldo Colarusso produz e apresenta programas de rádio que aproximam a música erudita dos ouvintes: ‘‘Leio muito normalmente, e estas leituras e estudos encontram eco no meu trabalho na rádio’’.
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Revista Keyboard Brasil: Você iniciou seus estudos de trompa somente aos 14 anos de idade. Por que se interessou por esse instrumento? Maestro Osvaldo Colarusso: Desde o início, eu pensava em ser maestro. Para se tocar trompa necessitamos saber todas as 7 claves. E, um bom maestro deve dominar todas as claves. Esta foi a razão de ter escolhido este instrumento. Revista Keyboard Brasil: Pode nos contar como foi sua infância? Recebeu alguma influência por parte de sua família, de seu pai, talvez, o físico João Carlos Santos, em sua vocação profissional? Maestro Osvaldo Colarusso: Tive sorte de ter um pai extremamente culto. Ele adorava música clássica, e todo sábado à tarde escutava horas de música. Apesar de suas limitações financeiras, comprava discos em sebos e tinha uma boa discoteca. Foi dele que herdei este amor pela música. Revista Keyboard Brasil: Quais são seus compositores favoritos? Por que? Maestro Osvaldo Colarusso: Vamos por períodos: Idade média: Machaut. Renascença: Dufay, Janequin. Barroco: Monteverdi, Purcell, Bach. Clássico: Haydn e Mozart. Românticos: Beethoven, Wagner, Brahms. Século XX (meu período favorito... A lista é longa): Debussy, Ravel, Stravinsky, Schoenberg, Berg, Webern, Bartók, Janaceck, Ligeti, Lutoslawsky. Século XXI: Kaja Saariaho e Thomas Adés.
Revista Keyboard Brasil: Sua didática tem história, e não apenas porque também é professor, mas porque foi influenciado por um de seus professores, o maestro Eleazar de Carvalho (1912-1996). Explicar os concertos sempre fez parte de sua atuação como regente? Maestro Osvaldo Colarusso: Não há dúvida de que as explicações do Maestro Eleazar calaram fundo na minha mente. Lembro de um concerto didático no Municipal de São Paulo em que ele explicou as 6 peças para orquestra de Webern. Acho que foi naquele dia que resolvi sempre explicar uma obra antes de regê-la. Revista Keyboard Brasil: Muitos músicos desistem da carreira erudita por ser um meio difícil. Poucas oportunidades e muitas vaidades. Por que se cansou do trabalho de regente passando gostar de atuar como maestro convidado? Maestro Osvaldo Colarusso: Durante quase 14 anos, fui maestro da Orquestra Sinfônica do Paraná. Apesar de grandes realizações artísticas, emocionalmente não posso dizer que era uma pessoa feliz. Depois de 1998, quando me desliguei da orquestra, tive grandes momentos como maestro convidado. Por exemplo, em 2005, quando regi a estreia brasileira de Erwartung, de Schoenberg no Theatro Municipal do Rio. Sem desagaste, só prazer, apesar da enorme dificuldade da partitura. Como convidado, regi perto de 50 concertos com a OSB. Como convidado não havia desgaste. Continuo regendo, sempre com grande prazer. Sem prazer Revista Keyboard Brasil / 13
não tem o porquê. RKB: Um episódio que contribuiu para a antipatia em relação à atuação do regente frente à orquestra, foi o ocorrido em 2011, com a Orquestra Sinfônica Brasileira, regida por você em dezenas de ocasiões. Por solidariedade a amigos músicos que foram demitidos e por considerar injustas as ações dos gestores da orquestra, você conduziu, meses depois, um concerto de protesto dos músicos demitidos, juntamente com a pianista Cristina Ortiz. Quatro anos se passaram, o referido maestro continua no posto, e muitos músicos estrangeiros agora fazem parte da Orquestra. Para alguns regentes, nossos músicos não estão gabaritados a pertencer a uma grande orquestra. O que tem a dizer sobre isso?
MOC: O que se passou na OSB foi algo grotesco. Mentira! Falta de caráter: isso sobrou em 2010 e 2011. Vi músicos magníficos sendo sumariamente demitidos. Nosso movimento resultou no surgimento de uma outra orquestra, a “OSB Repertório e ópera”. Resolveram contratar no ano passado todos os músicos, que não são obrigados a tocar quando aquele que planejou a demissão em massa rege. Situação grotesca. Lógico que a OSB, a OSESP e outras podem contar com músicos brasileiros. Vale lembrar que um maestro bem conhecido me disse que sonhava em ensaiar em inglês. De chorar, né? RKB: Por que decidiu se mudar para Curitiba? MOC: Em 1985, fiz um concurso para ser
Foto: André Rodrigues (Gazeta do Povo).
Maestro Osvaldo Colarusso: explicações detalhadas sobre as obras ao reger a Camerata Antiqua de Curitiba, em 2014.
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admitido como maestro da Orquestra Sinfônica do Paraná. Um concurso bem rigoroso, com ditado, redução de orquestra para piano, etc. Eram 19 candidatos. Fui o único a ser aprovado. Entrei pela porta da frente. Resolvi abandonar São Paulo (era maestro do Coral Lírico do TM paulistano, na época) e me transferi para Curitiba. Não me arrependo nem um pouco. São Paulo é uma cidade inviável. E, lá, eu seria “mais um”. Estando aqui, sei que faço uma grande diferença. RKB: Como comunicador, há 17 anos você apresenta programas de rádio, aproximando o público da boa música. Como surgiu a oportunidade de se tornar um comunicador do rádio? MOC: Quando houve o “divórcio” entre eu e a Sinfônica do Paraná, em 1998, por ser funcionário de carreira no Estado do Paraná, procurei outra área no Estado. Fui recebido com júbilo na Rádio Educativa. Eles me amam, e eu os adoro. Na Rádio me sinto útil e feliz. Sei que sou importante na vida de muita gente. RKB: Atualmente, você responde por quais programas na grade da Emissora Estadual do Paraná? MOC: Produzo e apresento três programas semanais: “Os grandes ciclos da história da música”, que vai ao ar todas as terças-feiras às 20 horas. Explico didaticamente ciclos de Sinfonias, Quartetos, Sonatas. Nas sextas feiras, também às 20 horas, apresento “Falando de música”, um programa que apresenta concertos ao vivo (muitas vezes, oferecidos por
emissoras europeias) e os últimos lançamentos discográficos. E, aos domingos, ao meio dia (com reprise às 21 horas), “O maestro explica”, programa bem acessível, onde misturo estilos e faço uma aproximação de quem gosta de música clássica para a música popular e vice versa. Meu trabalho na rádio vai contra o que se chama no jargão de “vitrolão”, aquele tipo de programa em que o locutor anuncia uma obra e, por mais de uma hora, toca uma Sinfonia de Bruckner. Isto é uma idiotice, acredito eu. RKB: Com essa aceleração do mundo, as pessoas, infelizmente, não têm mais tempo ou paciência de ir ao teatro e ficar sentadas durante mais de uma hora para ouvir um concerto. Em sua opinião, pode-se dizer que seus programas ajudam a driblar esse problema? MOC: Um concerto aqui no Brasil, sem nenhum tipo de explicação, é apenas um acontecimento social. Nada de cultural. Tento, sim, contornar isso falando sempre antes de meus concertos e, logicamente faço o mesmo na rádio. RKB: Como é o Osvaldo Colarusso pesquisador? Como realiza sua pesquisa e escrita dos roteiros para seus programas? Faz um cronograma anual? MOC: Minha pesquisa é meio aleatória. Mas investigo sempre se não esqueço nenhum período, nenhum compositor. Leio muito normalmente, e estas leituras e estudos encontram eco no meu trabalho na rádio.
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Revista Keyboard Brasil: Mudando de assunto... Sabemos de seu apreço pelos animais abandonados através de sua rede social. Ainda encontra tempo para tais afazeres? Maestro Osvaldo Colarusso: No ano passado, comprei uma boa casa e, no momento, vivo com quatro cães abandonados. Estou no paraíso com eles. Penso que certos seres são particularmente indefesos: as crianças, os excepcionais, os idosos e os animais, os mais perversamente maltratados. Escolhi os últimos para dedicar meu tempo e minha energia. Sou daqueles que sinceramente aprecio muito mais os animais do que muitos seres humanos. RKB: Gostaria de deixar alguma mensagem aos leitores de nossa Revista Keyboard Brasil? MOC: Música pode ser um instrumento de sutilização emocional e uma ferramenta fantástica para a melhor compreensão da história. A música clássica percorre séculos desta história. Nossa intelectualidade a ignora. Tento lutar contra isso. RKB: Muito obrigada pela entrevista e por abrilhantar nossa Revista com sua colaboração! MOC: Eu que agradeço essa excelente oportunidade de expor um pouco de minha vida e falar sobre o que eu acredito. Acesse o Blog Falando de Música
16 / Revista Keyboard Brasil
! E D A D I V O N
Fotos: Divulgação
Experiências
Tocando no mar NO INÍCIO DE CADA ANO, MUITOS MÚSICOS, ESPECIALMENTE PIANISTAS E TECLADISTAS, FAZEM CONTRATOS PARA PARTICIPAR DE CRUZEIROS TOCANDO PELO MUNDO. NESTA MATÉRIA, DAREI DICAS E MOSTRAREI ALGUMAS EXPERIÊNCIAS AOS MARINHEIROS/MÚSICOS DE PRIMEIRA VIAGEM. Mateus Schanoski 14 / Revista Keyboard Brasil 18
1.
A Preparação
Normalmente, os contratos para músicos de navios variam de 3 a 9 meses, portanto, creio eu que você não tem medo de mar. Caso contrário, desista já. Para ficar tanto tempo em alto mar, você pelo menos tem que gostar de mar, concorda? Aceitando esse contrato, normalmente existem testes em empresas especializadas e você terá uma série de documentos para entregar no dia do embarque. O contrato geralmente é assinado no
próprio navio, no dia do seu embarque. Essa documentação varia de Companhia para Companhia, mas os básicos são: Passaporte – Não precisa de visto, apenas em alguns países, e a própria companhia cuida disso para você. Atestado de Antecedentes – Este documento pode ser solicitado via Internet. R.G. ou carteira de habilitação. Cursos CBSN (Curso Básico de Segurança de Navio) e CFPN (Curso de FamiliaRevista Keyboard Brasil / 19 15
rização de Proteção de Navio) – Esses cursos são obrigatórios pela Marinha. São um pouco caros, mas são parcelados e você pode negociar. Duram 2 dias, em média, e o certificado vale por 5 anos. Existem empresas especializadas, normalmente em cidades portuárias. Antes de fazê-los, confirme com a agência contratante a data do seu embarque.
2.
Sua saúde
Você tem que estar bem de saúde para ser um tripulante. Por isso, é exigido vários exames médicos que serão entregues ao Oficial Médico do navio que embarcará. Após a avaliação dele, você será encaminhado para a assinatura do contrato. Os exames básicos são: Raio X Hemograma completo Atestado preenchido por um médico Clínico Geral. Toda essa documentação varia de Companhia para Companhia. Maiores informações, você obtém no site da companhia de seu interesse ou, pela agência contratante.
3.
Companhias
As melhores Companhia são as Europeias (navios espanhóis e italianos). Já ouvi dizer que navios portugueses são os melhores. Músicos são muito
respeitados pelo restante da tripulação, inclusive pelos oficiais. Porém, o mesmo não acontece nas Companhias brasileiras e os salários são bem menores. 20 / Revista Keyboard Brasil
4.
Lingua
A maioria das Companhias pede o inglês fluente, mas não se desespere. Você não terá contato direto com passageiros e tripulantes estrangeiros, a não ser que você queira. Se o navio é espanhol, um pouco de espanhol ajuda. O mesmo vale para outros idiomas. Você passará muito tempo no navio e terá oportunidade de aprender outras línguas também. No desespero, peça ajuda dos amigos brasileiros, sempre dá certo. Poderá, também, comprar um dicionário de línguas ou usar aplicativos. Todos farão de tudo para te entender e você terá que fazer o mesmo para entendê-los. Ensine outros tripulantes seu idioma. Ensine gírias, empreste livros e CDs de MPB. O mesmo farão com você.
5.
Enbarcando
Com toda essa correria, você também deve se preocupar com o repertório. Você pode trabalhar no navio como pianista solo, pianista/ tecladista de um duo, ou em uma pequena banda. Geralmente, a empresa contratante já tem todo o repertório escrito e as partituras. Mas você deve se prepara: Estude antes e mais até do que o necessário. Você terá que tocar de tudo: hits, Jazz, Dance, Bossa, etc. É sempre bom montar medleys e levar ao navio, os novos sucessos da atualidade. Você tocará, em média, de 2 até 4 horas por dia. Às vezes, menos, dependendo do local do navio onde estará tocando.
Se você for um pianista solo, tocará num café ou cassino. Assim que estes ambientes começarem a esvaziar e o chefe destes locais permitirem o fechamento, você estará livre. Se for de um duo, será também fixo em um bar e restaurante do navio, funciona quase que o mesmo com o pianista solo. Sobre as bandas, essas trabalham de formas diferentes. Dependendo do tamanho do navio, podem haver até duas bandas. Uma é fixa para tocar num bar ou em baladas maiores, e a outra reveza com shows de dia, na piscina e espetáculos no teatro, à noite. Você sempre estará disponível para espetáculos no teatro, criados pelo Diretor de Cruzeiro, responsável pelo entretenimento do navio. Você tocará todos os dias, não terá folga. Portanto, em um mês você já estará enjoado do seu repertório e terá que tirar mais músicas durante a sua temporada. E terá tempo de sobra para isso. Normalmente, os navios possuem vários pianos espalhados. Você terá tempo de tirar músicas e estudar. Aproveite! Não estude só o seu repertório mas, sim, tudo o que você precisa ou nunca teve tempo de estudar. Faça uso também de playbacks e bases pré-gravadas para melhorar a sua performance, mas só em estilos que achar necessário. Em momentos de pouco público, abuse nos improvisos e tente redescobrir sua musicalidade a cada semana que passa. Você voltará um músico muito melhor do que antes. Garanto!
Além dos oficiais, o músico é o único tripulante que tem livre
acesso por todo o navio, até um determinado horário. De dia, terá de usar um uniforme e, à noite, a roupa que representa a festa da mesma. Por exemplo, noite de gala, terá que usar smoking ou terno e gravata. Noite Tropical, um social esporte mais tranquilo. E, assim por diante. Na maioria dos navios, as roupas que você usa para tocar e o uniforme, são lavadas pela lavanderia do navio, o restante, você mesmo lavará nas máquinas que tem em todos os andares da tripulação.
6.
Safety Training
Fora os cursos que já fez, você também terá mais aulas de Treinamento de Segurança durante sua temporada. Estes são dirigidos por oficiais do navio. Participará, também, de simulações e terá uma responsabilidade neste treinamento. Nunca falte a nenhuma aula.
7.
Alimentação
A maioria dos navios possuem 5 refeições diárias. Breakfast ou café da manhã light, almoço, lanche da tarde, jantar e lanche da madrugada. As alimentações são servidas no restaurante da tripulação e, normalmente, são preparadas por tripulantes estrangeiros. Portanto, não sentirá o tempero brasileiro por muito tempo. O Breakfast é como o americano: ovos, bacon, frituras em geral, etc. O light não tem coisas pesadas e é como o nosso Revista Keyboard Brasil / 21
A Lenda do Pianista do Mar -
Drama de 1998, com roteiro e direção de Giuseppe Tornatore.
Conhece esse belo filme? Existem, pelo menos, três cenas que entraram para a história, cenas antológicas e líricas, certamente maravilhosas. Uma delas é o duelo entre Mil Novecentos (Tim Roth) e Jelly Roll Morton (Clarence Williams III). Clique e assista, pois é de arrepiar!
café da manhã. Porém, aquele cafezinho nunca será igual ao do Brasil. No almoço e no jantar, sempre terá saladas, algumas folhas e frutas, uma massa, arroz, e sempre uma carne vermelha e uma carne branca, variandoas no dia a dia. Às vezes, algum chefe brasileiro faz uma feijoada, mas é raro isso acontecer. Alguns lanchinhos da tarde são reaproveitados na maioria das vezes no lanche da madrugada e, sinceramente, não são muito gostosos. Após alguns meses, você enjoará do tempero da comida do navio. Isto é fato. Para driblar essa gastronomia, passo as seguintes dicas: Compre temperos, um bom azeite, pimenta ou uma mistura de ervas para driblar o gosto. Aproveite para conhecer os temperos dos países que estará visitando também. 22 / Revista Keyboard Brasil
Sempre que o navio atracar, desça e coma uma refeição local. Desceu do navio, vá até ao mercado e compre algumas besteirinhas para beliscar. Bolachas, salgadinhos, chocolates, etc. Não se esqueça de comprar bons vinhos lá fora. São bem baratos e você pode bebê-los na sua cabine e, às vezes, em festas da tripulação. Aproveite e beba vinho com seus amigos tripulantes. Fazia isso com meus amigos músicos italianos e tive momentos muito especiais. Peça taças emprestadas ao chefe do bar e não se esqueça de devolver depois. Nós, músicos, além de termos livre acesso, temos também algumas regalias dos passageiros em algumas Companhias. Por exemplo: pizza após a meia noite, lanche da madrugada dos passageiros após um certo horário, almoço do restaurante da piscina. Não na piscina, mas no restaurante daquele ambiente.
Tem também o padeiro do navio, que trabalha de madrugada. Faça amizade e aproveite para pegar guloseimas fresquinhas direto do forno. Banquete das festas da piscina, após um certo horário, também pode. E aproveite, porque são muito melhores do que a refeição da tripulação. Para saber, converse com os chefes ou o Diretor do Cruzeiro. Chegou uma época que eu só fazia o Breakfast, porque eu adoro, e o restante, curtia todas as outras regalias.
8.
O dia a dia no navio
Você trabalhará poucas horas por dia, dependendo do tema do cruzeiro. Portanto, terá muito tempo livre. Os navios possuem academia para a tripulação. Faça exercícios. Alguns possuem bicicletas que você pode passear na terra.
Aproveite, pois fará passeios baratos e estará cuidando da sua saúde. Leia livros! Navios também possuem bibliotecas. Faça amizades com todos que puder da tripulação, mesmo que você não entenda a língua deles. Aprenda. Todo estrangeiro adora o Brasil, fale do nosso país e saiba mais de outras culturas. As festas da tripulação são muito divertidas. Sempre aproveite esses bons momentos. O navio ficará cada vez menor, a cada dia que passa. Última e mais importante dica: Por mais cansado que esteja, por talvez ter de tocar a noite inteira numa festa, sempre desça do navio. Navio atracou, vá para a terra, você precisa de terra firme. Esqueça o sono e vá conhecer o mundo. Faça suas comprar necessárias, não gaste muito, coma, passeie, conheça e, o mais importante de tudo, divirta-se!
* Mateus Schanoski é graduado em Piano Erudito (Conservatório Bandeirantes), Piano Popular (CLAM e ULM), Teclado e Tecnologia (IT&T). É tecladista, pianista, organista, sideman, arranjador, produtor musical, professor e colaborador da Revista Keyboard Brasil. CONTATOS:
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Tecnologia
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iPad:
o melhor amigo do
TECLADISTA! STEVE JOBS CRIADOR DA APPLE, IPOD, IPHONE, IPAD... COLOCOU A TECNOLOGIA NA PALMA DE NOSSA MÃO. HOJE VOU FALAR SOBRE ALGUNS APLICATIVOS PARA IPAD DEDICADOS À MÚSICA NA APPLE STORE QUE UTILIZO EM MEU SET NOS SHOWS. * Daniel Baaran
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O gênio visionário Steve Jobs – criador da Apple, iPod, iPhone, iPad... Foi o responsável por revolucionar segmentos da indústria e colocar a tecnologia na palma da mão do consumidor.
Em 27 de Janeiro de 2010, em uma conferência para imprensa, em São Francisco (Estados Unidos da América), o grande mestre e CEO da Apple – Steve Jobs – nos apresentou um meio termo entre o smartphone e o notebook, o iPad. Lembro-me muito bem desse dia e, minha impressão sobre esse produto, não era das melhores. Na verdade, não concordava com Steve Jobs. Achava que o iPad não fazia o que um notebook fazia! Também não era pequeno ao ponto de colocá-lo no bolso… Essa impressão durou bastante tempo, até que um dia, vi um rapaz tocando bateria com os dedos no aplicativo Garage Band. Foi incrível ouvir tamanha qualidade sonora em um aparelho tão fino e portátil. Após esse acontecimento, é claro que eu fiquei louco para comprar um 22 / Revista Keyboard Brasil 26
iPad! Um amigo estava vendendo e fui correndo comprá-lo. No começo, fiquei meio perdido. Com o tempo, comecei a descobrir app cada vez melhores. Entretanto, na tela, esses app pareciam mais brinquedos que um instrumento virtual que se pode usar profissionalmente. E, assim, surgiu a seguinte pergunta: – Como vou ligar um teclado ou controlador no meu iPad? A resposta veio bem rápido em minhas pesquisas pela maravilhosa internet: era só comprar o Camera Kit Conection (imagem abaixo)! Um acessório que servia para passar suas fotos direto da câmera para o iPad. Na verdade, ele transformava saída de 30
pinos do Ipad em USB possibilitando, assim, que eu usasse um controlador ou interface MIDI X USB para controlar o iPad. Claro que o iPad não alimentava um controlador, então, eu ligava o controlador com uma fonte e, depois só mandava as informações MIDI pelo cabo USB. Existem empresas que também fizeram adaptadores específicos para essa função como, por exemplo, o iRig MIDI e o MIDI Mobilizer 2 da Line 6. Agora que eu já sabia como conectar meu teclado no iPad, era só procurar um aplicativo com qualidade sonora em um nível professional. Assim, começou a busca. Existe uma infinidade de aplicativos dedicados à música na Apple Store e, a cada dia, esse número cresce. Hoje, vou falar sobre alguns que me identifiquei e, por consequência, são utilizados em meu set nos shows. Recomendo com certeza! O primeiro que baixei foi o SampleTank, um aplicativo fantástico que possui uma biblioteca muito rica de sons e, o mais interessante, é que você pode combinar até quatro sons em um único timbre. O SamleTank disponibiliza uma versão FREE que vem com uma pequena amostra do que o aplicativo faz e, posteriormente, você poderá comprar mais sons clicando em menu e visitando a loja. Existe a biblioteca FULL e outras adicionais.
SampleTank é a revolucionária estação de trabalho de sons e grooves multitimbral móvel de 4 partes que põe centenas de instrumentos e padrões sampleados na ponta de seus dedos.
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iGrand Piano é o primeiro aplicativo de piano com qualidade de concerto, oferecendo até 40 pianos multisampleados com som lindo, verdadeiramente estéreo, com fidelidade que rivaliza com os melhores instrumentos profissionais de piano para Mac e PC.
O aplicativo iLectric Piano traz sons de clássicos pianos elétricos e teclados eletrônicos que produziram alguns dos mais marcantes timbres que enfeitaram e definiram desde megahits do Pop a standards do Jazz ao Rock clássico, entre outros, tudo dentro do iPad.
Jordan Rudess – tecladista do Dream Theater e o nome da vez no metal progressivo, é um dos maiores tecladistas da atualidade. O músico também se encantou pelo iPad e criou uma empresa para se dedicar à criação de aplicativos voltados para música. Três grandes sucessos são os Morphwiz, SampleWiz e Geo Synthesizer. 28 / Revista Keyboard Brasil
Outro aplicativo muito interessante é o iGrand Piano que vem com ótimos sons de piano acústico com vários modelos diferentes, tanto de cauda, quanto pianos de armário. Outra vantagem do iGrand Piano é que você pode editar os sons com parâmetros como equalizador de 5 bandas, ambiência, transposer, afinação e release. O aplicativo também possui metrônomo para estudo. Para a IK Multimedia somente os pianos acústicos e outro com uma biblioteca geral, não eram suficientes. Por isso, recentemente, a IK Multimedia lançou mais um aplicativo incrível, chamado iLectric Piano. A proposta é a mesma do iGrand, porém, com sons de pianos elétricos como os Rodhes Mack 1, Marck 2 e Mark 5, Yamaha DX-7, Clavinet e Wurly.
Piano Partner é um app exclusivo para iPad da Roland, que fornece uma maneira nova e interativa de aprender e tocar um piano. Contém três aplicações: cartão flash, navegador de conteúdo, e DigiScore Lite. Estas aplicações inspiram e ajudam a aprender mais sobre música e a tocar piano.
A Roland também tem investido pesado em aplicativos para iPad. Tanto aplicativos com interação com teclados Roland, quanto aplicativos independentes. Veja alguns exemplos: Com Piano Partner você controla os pianos Roland e, ainda, tem jogos interativos como os Flash Card e DigiScore Lite. Outros aplicativos interessantes são os editores de timbres como o do JÚPITER 80, INTEGRA 7 VR-09, entre outros. A Roland também criou um aplicativo muito interessante chamado R-MIX
TAB. A versão para iPad do grande software de computador que mostra onde cada instrumento ou voz atua através de cores e você pode escolher se aquela região do instrumento está atuando e atenuá-lo ou deixá-lo mais evidente. Ou seja, se você identifica uma voz principal poderá abaixar seu volume e, assim, criar um playback. A Korg também não ficou atrás e começou a desenvolver aplicativos de alta qualidade como o Korg iMS-20, iElectribe, iPolysix, iKaossilator e Module.
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O IMS-20 da Korg pontua como uma das melhores marcas possuindo tons ricos e de estilo analógico.
Esses aplicativos trazem sons clássicos da Korg como os do sintetizador MS-20 e Polysix. São bem divertidos e nos dá uma noção de como são os sintetizadores analógicos. Certo dia, um rapaz falou para mim: “Por mais que esses aplicativos sejam legais, nunca serão iguais aos instrumentos reais”. E ele está certo! Porém, o mais legal é que esses aplicativos são baratos e te dá uma boa ideia dos sons e funções que o instrumento real possui. Desse modo, após experimentá-los, você poderá ir à loja sabendo manusear seu instrumento.
Outra vantagem de ter um iPad é que, além dos instrumentos virtuais, também funciona como agenda, Bíblia, calendário… Tem internet, facebook e muito mais. Por isso, eu sempre digo: se você é tecladista, tem obrigação de ter um iPad para somar em seu “SET”, além de ser divertido também. Essa é mais uma dica para você, tecladista e leitor da Revista Keyboard Brasil! Tamu Junto!
* Daniel Baaran é especialista de produtos da Roland e colaborador da Revista Keyboard Brasil. 30 / Revista Keyboard Brasil
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Foto: Arquivo pessoal
Por dentro
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A TÉCNICA DO
MAESTRO A arte dos gestos do regente - Parte 2 ** Maestro Angelino Bozzini
A formação do regente O regente deve ter, primeiramente, uma sólida formação musical . Precisa conhecer a teoria da música, a harmonia, o contraponto, as formas musicais e a história da música, além de ter um bom treinamento em percepção e solfejo. Além dos conhecimentos da linguagem da música, é preciso dominar as características e peculiaridades sonoras de cada instrumento e também da voz humana, quando trabalhar com coros e solistas vocais. Essa base permite que, a partir da partitura, o regente possa formar uma imagem musical da obra clara e rica em sua imaginação. A partir do momento em que essa imagem ideal da obra tenha se formado 32 / Revista Keyboard Brasil
em sua mente, a técnica possibilitará que ele dê vida à sua imaginação, através da orquestra, materializando sua concepção sonora. Vamos à prática.
Conselhos preliminares Devido à limitação de espaço, este artigo não pode ser um curso sistemático de regência. Assim, vamos iniciar a parte prática com algumas premissas básicas: 1. Não faça mais gestos do que o necessário para transmitir uma ideia. Você irá confundir em vez de esclarecer; 2. Encontre o eixo vertical de seu corpo. Mantenha-o vertical e deixe seus gestos irradiarem desse centro; 3. Dê unidade aos seus movimentos. Se,
ao bater um tempo, você articular batuta, pulso, cotovelo, ombro, cabeça e tronco, os músicos terão muita dificuldade em entender qual dos movimentos está indicando o tempo. 4 . Não tente substituir a clareza de seus gestos pela sua expressão facial. Embora ela possa ajudar a acentuar a expressão de determinados trechos, não se rege com a face. 5. Acredite no poder expressivo dos gestos! Não tente reforçá-los com outros movimentos. Isso seria redundante e desnecessário. 6. Autoridade e humor são coisas distintas. Não tente impor sua autoridade pelo mau humor. A competência costuma levar a melhores resultados nessa área. 7. Fale o mínimo necessário. Um ensaio não é uma palestra nem uma aula expositiva. É um trabalho coletivo que tenta recriar a concepção musical de um indivíduo. 8. O ideal é reger de cor sem a necessidade de olhar para a partitura. Caso isso não seja possível, use-a apenas como uma referência. Seu olhar deve manter um contato direto com o dos músicos. Essa é a principal forma de manter o controle e a unidade psicológica da orquestra. 9. Cuide do seu corpo! Relaxe sua musculatura! A linguagem da regência é simbólica. Para indicar um forte, basta fazer o gesto adequado, não precisa contrair toda sua musculatura para isso. Se você estiver usando seu corpo corretamente, sentir-se-á revigorado ao final de uma apresentação ou ensaio. Caso sua sensação seja a de que um trator lhe
passou por cima, pode ter certeza de que não está usando seu corpo adequadamente. 10. Seja explícito, não dê margem à comunicação equivocada. Se a telepatia é possível, ela não é um pré-requisito para um músico. Portanto, não espere que os músicos adivinhem suas ideias. Mostre-as claramente através de seus gestos! 11. Cultive sua riqueza interior. Um
maestro deve ser admirado pelos músicos por sua humanidade e não somente respeitado por sua autoridade. Seu verdadeiro trabalho inclui muito além de notas afinadas e ritmos corretos. Vejamos agora alguns detalhes técnicos.
A Intensidade O regente deve ter clara para si uma área no espaço onde seus gestos acontecerão. A maioria de seus movimentos acontecerá no centro dessa área. Qualquer deslocamento desse centro deverá provocar uma diferença dinâmica ou expressiva dos músicos. Como base, você deve imaginar um T invertido cuja base estará na linha de sua cintura. Para corais, ou dependendo da colocação dos músicos no local de execução, esse plano pode ser deslocado para cima.
O gesto preparatório Talvez seja o movimento mais importante de todos, pois deve indicar simultaneamente o tempo, a dinâmica e o caráter da música que vai se iniciar. Revista Keyboard Brasil / 33
A velocidade do gesto indicará o tempo; o peso, a dinâmica; a forma do gesto (angular ou redondo) indicará a articulação. O gesto preparatório determina, também, o local no espaço onde reside a linha de base da regência. Veja a ilustração: Fig. 1 - O gesto preparatório plano vertical
esquema, optando pelo "T" invertido. A principal razão disso é que, ao marcar todos os tempos numa linha de base, você fica com o restante da área de regência livre para indicações expressivas. A ilustração mostra, como exemplo, o padrão do compasso de 4 tempos em legato. Como regra: quanto mais legato o trecho musical, mais redondos devem ser os gestos; quanto mais marcato o trecho, mais angulares os gestos.
gesto preparatório Fig. 2 - A marcação do compasso quaternário (mão direita) Plano horizontal 1º tempo (ictus)
Marcação preparatória do 1º tempo
Um bom local para se praticar o gesto preparatório é sobre uma mesa que tenha como altura a linha de base de sua área de regência. Seu pulso deve estar reto, ficando sua mão como uma continuação de seu braço. Ao tocar a mesa, no ponto de marcação preparatória do primeiro tempo, o gesto deve ser idêntico aquele que fazemos quando queremos verificar se um ferro de passar roupas está quente, ou aquele que fazemos com uma baqueta tocando a pele de um tambor. É um gesto elástico que não empurra, mas sim tira energia do contato. Pratique com os dois braços juntos e, depois, com cada um, individualmente.
A marcação do compasso Você encontrará em vários livros antigos gráficos de marcação de compassos baseados em uma cruz. Quase todos os regentes de hoje já abandonaram esse 34 / Revista Keyboard Brasil
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As entradas e os cortes Embora os dois braços possam trabalhar simetricamente para reforçar a imagem dos gestos, o normal é que o braço direito indique, principalmente, a marcação do tempo, da dinâmica e da articulação, ficando para o esquerdo, as entradas, os cortes e o fraseado. Você deve praticar uma marcação contínua do compasso com o braço direito e, com o esquerdo, indicar entradas em cada um dos tempos. Em trechos de instrumentação mais complexa, pode-se também indicar entradas para instrumentistas individuais com a cabeça. Na ilustração, vemos o gráfico do gesto para um corte. Ele pode ocorrer em qualquer dos tempos do compasso.
Fig. 3 - O corte final
Não se dê nunca por satisfeito. Procure sempre aprofundar sua concepção. Uma obra de arte é como um indivíduo que, a cada nova abordagem, pode nos revelar uma nova face antes desconhecida.
A ‘‘aura’’ sonora do regente Praticando Se você já é regente e tem um conjunto sob sua batuta, pode desenvolver mais rapidamente e ver – na prática – o resultado do seu estudo. Para os que ainda estão se preparando, aconselho trabalhar muito a imaginação, cantando interiormente, visualizando o conjunto instrumental à sua frente. Só utilize gravações depois que tiver formado sua própria imagem sonora da obra. Do contrário, você é quem será regido pelo seu aparelho de som.
Finalizando, vale à pena falar de um fenômeno interessante: a “aura sonora” do regente. Ao amadurecer
sua imaginação musical e aperfeiçoar sua técnica, o maestro cria no seu espírito um mundo sonoro próprio, impregnado com sua marca pessoal. Essa aura o acompanha aonde for. Assim, da mesma forma que um bom instrumentista tira o “seu” som, qualquer que seja o instrumento que esteja em suas mãos, o bom maestro faz o mesmo com cada orquestra que reger.
* Textos publicados originalmente na extinta Revista Weril n.º 120 e 121. ** Angelino Bozzini é psicanalista, maestro e trompista.
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Especial
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Foto: Arquivo pessoal de Billy Rasec
NO ANO EM QUE O AXÉ MUSIC FAZ 30 ANOS, NOSSO COLABORADOR MATEUS SCHANOSKI SAI A CAMPO E NOS APRESENTA QUATRO FIGURAS IMPORTANTES DO GÊNERO, OS TECLADISTAS FABINHO SCOOBY VACCAREZZA, BILLY RASEC, FABINHO CARMO E JULIANO VALLE. Entrevista: Mateus Schanoski Texto: Heloísa C. G. Fagundes O Brasil é mundialmente conhecido por suas misturas. Cada região do país possui suas características e costumes e, no quesito musical, não é diferente. Um dos ritmos mais populares é o axé. O gênero, que marca o carnaval baiano e leva milhões de foliões à loucura, surgiu da mistura do samba, frevo, rock, reggae, merengue e tambores africanos, consagrando uma geração de popstars da Bahia como Daniela Mercury, Carlinhos Brown, Ivete Sangalo, Margareth Menezes, Netinho, além de grupos como Chiclete
com Banana, Olodum, Timbalada, Araketu e Asa de Águia que não precisaram mudar para o Rio de Janeiro ou São Paulo para se estabelecer como artistas. O gênero contagiante, que está completando 30 anos inovou ao introduzir os teclados, desbancando a guitarra baiana, criada na década de 40 por Dodô¹ influenciando, inclusive, os demais ritmos regionais, como o sertanejo e o pagode. Leiam, a seguir, a entrevista realizada pelo nosso colaborador, Mateus Schanoski.
* Dodô (Adolfo Nascimento) e Osmar Macedo inventam o carnaval baiano moderno ao incluírem eletricidade e movimento nas ruas na década de 1950. Ao mesmo tempo em que tocavam frevos pernambucanos num instrumento inusitado chamado de “pau elétrico”, o faziam em cima de um carro em movimento, um Ford Bigode batizado de Fobica. No ano seguinte, contrataram mais um músico, Temístocles Aragão, e a dupla elétrica sobre o carro passou a ser referida como “trio elétrico”. No ano seguinte uma empresa de refrigerantes percebeu o enorme sucesso do trio e colocou um caminhão decorado à disposição dos músicos, inaugurando o formato consagrado por todos os carnavais até hoje. Revista Keyboard Brasil / 37
Nascido no meio do Carnaval de 1980, Fabinho Vaccarezza teve uma formação musical bastante diversificada. Cresceu ouvindo os hinos e de uma igreja e os batuques de um terreiro de Candomblé na frente da sua casa. Seus pais ouviam Jazz, Blues, Joplin, Hendrix, músicas do Recôncavo Baiano, músicas francesas e italianas. A rádio fervia com o crescimento do Rock Nacional, da Lambada, do Samba e do Sertanejo. O OLODUM e a Timbalada começavam a despontar no cenário nacional. Explosão da ‘‘Axé Music’’! Assistindo à Tv, ouvindo as rádios, disse: ‘‘Eu quero viver disso!! Quero ser isso!!’’ Profissionalmente desde 1999, sempre foi um músico bastante atuante dentro do Mercado Musical Baiano/Nordestino. Já acompanhou bandas e artistas de diversos estilos, indo de A até Z ‘‘Arrocha até Zouk’’! (sic) Autodidata, começou a aprender ‘‘de ouvido’’ e observando. Após alguns anos, ingressou na Oficina de Piano da UFBa e fez extensão no Núcleo Moderno de Música, do maestro BIRA (Ubiratan) Marques. Duas faculdades trancadas, muitas noites de sono perdidas e o velho Fabinho Scooby Vaccarezza atualmente encontra-se feliz e nômade rodando pelo Brasil e alguns outros países, junto com seus amigos/irmãos, praticando o melhor esporte do mundo: ‘‘levantamento de multidões!’’
Fabinho Scooby Vaccarezza é tecladista, produtor musical, arranjador e programador. Parceiro ROLAND BRASIL e STAY MUSIC
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Além de tecladista, produtor musical, arranjador e programador, Fabinho Scooby já dividiu palcos com ArmaSamba, Bandha AH!!!, Tambores Urbanos, Bragadá, BragaBoys, Marreta you Planeta, Negra Cor, Tribahia, Carla Cristina, Banda Melafricana ( Patricia Gomes ,Ex- Timbalada), Xexéu ( Ex- Timbalada), Amanda Santiago ( Ex-Timbalada), Maniçoba Hype. Acompanhou e fez a direção musical de Carla Cristina, Catia Guimma, Robertinho Silva (Maniçoba Hype), Marcela Martinez, Adelmo Casé, Xexéu, Patrícia Gomes, Sérgio Passos, entre outros. Participou de projetos como: Híbrido Bossa (Para a Semana IGUATEMI de Moda), Rádio Cotovelo (com Ludmillah Anjos do THE VOICE BRASIL), Limousine (Show/espetáculo teatral), Disco /Show LINHA 8 SOUL do compositor Sérgio Passos (dirigido por Guilherme Arantes), Disco /Show PONHA OS PÉS NO CHÃO de Sérgio Passos, Troféu Dodô e Osmar com a participação de artistas como Carlinhos Brown, Saulo Fernades, Bell Marques, Luís Caldas, Ivete Sangalo, Moraes Moreira, Davi Moraes e Gerônimo, Troféu Castro Alves, com a apresentação do grupo #TECLADISMO, em homenagem ao Carnaval de Salvador e ao primeiro tecladista a colocar os intrumentos num Trio Elétrico, ‘‘ADEMAR ANDRADE- Banda FURTACOR’’.
Nascido em Alagoinhas, cidade do interior da Bahia, em 1987, Juliano Valle é pianista, compositor e arranjador. Desde 2009 é graduando do curso de Composição e Regência da Universiadade Federal da Bahia (UFBA), com habilitação em Composição, tendo como mestres o Dr. Paulo Costa Lima e Dr. Agnaldo Ribeiro. Participou de masterclasses com os professores Jon Appleton, Antônio Borges Cunha, Paulo C. Chagas, Helmut Flama e Felipe Lara. Foi Bolsista de Iniciação Científica pela Fapesb e pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (Cnpq), realizando pesquisas sobre O Ensino de Composicão na Bahia: “O atual estado de formação de Compositores na escola de música – UFBA”, sob orientação do Prof. Dr. Paulo Costa Lima. Teve uma das suas peças – Demônios Tristes, para Quinteto de Cordas, vencedora do concurso Funarte ”Prêmio de Composição Clássica”, considerada a mais importante mostra de música erudita do país, apresentada ao vivo no Rio de Janeiro. Teve a sua peça erudita Côncavo, com formação camerística para flauta, clarinete, pandeiro, violino e violoncello, que apresenta como alicerce composicional, uma alusão à música e às expressões intrínsecas ao samba de roda do recôncavo baiano; Vencedora, também, do concurso “Prêmio Funarte de Composição Clássica”. Assinou a releitura da composição do documentário ”Nanook of the North” apresentada ao vivo no I festival de Documentários de Cachoeira. Participou como pianista base e solista em duas músicas instrumentais vencedoras do concurso “Festival de Música Educadora FM” 2012, “Abstrato”, do baixista Nino bezerra e “Rio das Contas”, do baterista Beto Martins. Ainda no cenário da música instrumental, fez parte do trio que acompanhou o guitarrista Allen Hinds. Participou como pianista na base da MOSTRA SESC DE MÚSICA 2013. Em sua trajetória no cenário da música popular já dividiu palcos, atuou como diretor musical, arranjador e instrumentista em turnês nacionais e internacionais (Londres, Peru, Argentina, Paraguai). Com artistas locais (Salvador-BA,) Juliano Valle dividiu palco com Daniela Mercury, Ricardo Chaves, Alexandre Peixe, entre outros. Em Londres,
Juliano Valle é pianista, compositor e arranjador.
Juliano Valle teve a oportunidade de interagir com músicos locais, participando de workshops com a Banda Candyló, que levou para a capital da Inglaterra um trabalho musical que resgata ritmos e canções do grande acervo de ritmos musical da Bahia. Participou também em Londres do grande Festival musical 'Back2Black', com atrações expressivas de várias partes do mundo! Atualmente, além de trabalhar com a artista baiana Margareth Menezes, tem colocado sua energia em dois trabalhos pessoais específicos: está finalizando seu primeiro livro/método para piano e realizando a composição do seu disco “Samba de roda: Raízes e Paráfrases”. Revista Keyboard Brasil / 39
Billy Rasec nasceu em Salvador. Multiinstrumentista e autodidata, sua curiosidade o despertou aos 9 anos de idade. É tecladista desde 1992 e produtor musical desde 2000. Atualmente, faz trabalhos como técnico de mixagem e masterização, além de ser músico e produtor musical. Billy Rasec já participou de bandas como: Chica Fé, Jheremmias não bate corner, Pimenta Nativa, Kaoma, Papa léguas, Vixe Mainha, Banda Patrulha e Furtacor. Já acompanhou e realizou a direção musical de artistas como Armandinho, Dodô e Osmar, Márcia Freire, Cátia Guimma, Carla Vizi, Márcia Short, Gilmelândia, Netinho,
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Alexandre Peixe e Alinne Rosa. Participou de projetos como: EME XXI, tendo a participação de artistas como Vânia Abreu, Will Carvalho, Márcia Short, Carla Vizi, Catia Guimma e Gilmelândia; Troféu Dodô e Osmar com a participação de artistas como Carlinhos Brown, Saulo Fernandes, Luís Caldas, Ivete Sangalo, Moraes Moreira, Davi Moraes e Gerônimo. Trabalhou também no Estúdio Elos, considerada a maior produtora de áudio de Salvado-BA. Ao lado de Flávio Morgade e Dito Martins, produziu trilhas para campanhas publicitárias nacionais e locais. Atualmente, faz a direção musical na carreira solo de Alinne Rosa e sócio arranjados do BPM Studios.
Fabinho Carmo é tecladista e pianista. Estudou música popular na EMUS (UFBA) Oficina de Piano e Harmonia, Percepção Musical e Teoria Musical na FUNCEB (Fundação Cultural do Estado da Bahia). Já acompanhou vários artistas nacionais e internacionais entre eles: Patrícia Costa (Sony Music), no show Acústico Bahia, Banda Mel, Beto Jamaica, Chica Fé, Margareth Menezes, o inglês Siddy Ranks (Reggae), o trompetista uruguaio Raul Gonzales, entre outros.
Atualmente, dedica-se a projetos pessoais: Banda Reggfus (Pop Reggae), Grupo Cultural Akidara e o inovador 3h3ads. Esse último, voltado totalmente ao uso exclusivo de teclados e samplers. Músico versátil, já passeou por diversos estilos musicais como samba, axé music, sertanejo, pop rock, reggae e instrumental. Setup atual: Yamaha Motif Xs8, Yamaha Motif Es7, Novation Mininova, Korg X50, Korg N264, controlador Akai Lpk 25.
Fabinho Carmo é tecladista e pianista.
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Revista Keyboard Brasil: Vocês são de uma cidade onde a percussão é muito forte entre os músicos. Por que escolheram ser tecladistas? Fabinho Scooby Vaccarezza: Engraçado que onde eu morava, tinha uma igreja na frente e, na esquina, um terreiro de Candomblé. Cresci ouvindo os hinos cristãos e os toques de culto aos Orixás. Além de ter acompanhado o surgimento de várias bandas de percussão e o crescimento musical de vários percussionistas. Era o único pianista numa rua de ritmistas. Como aconteceu, não sei explicar...Tinha os instrumentos em casa e era uma criança bastante tímida. Na verdade, as teclas me escolheram. Elas me adotaram! Juliano Valle: Meu pai foi o meu incentivador pois, como era músico, queria muito que eu me tornasse um também. Ele era guitarrista. Porém, sempre gostou de piano e tocava um pouco. Como comecei totalmente por intermédio dele, o teclado acabou sendo meu instrumento escolhido. Fabinho Carmo: Na verdade, comecei sendo percussionista numa banda percussiva do bairro onde cresci. Nesse mesmo período, minha mãe tinha comprado um teclado para meu irmão, eu [escondido] treinava nas teclas. Um dia, eu e uns amigos do bairro resolvemos formar uma banda, e o pai do baterista tinha um teclado. Descobriram [incluindo eu] que eu tinha “facilidade” para o instrumento. Billy Rasec: A percussão é o motor do axé. Sempre que escutava música me sentia atraído pelo som dos sintetizadores, metais e cordas. Foi natural optar pelo teclado, já que ele nos dá essa possibilidade de expansão. Revista Keyboard Brasil: O principal estilo musical que vocês trabalham, atualmente, é o Axé. Começaram tocando este estilo mesmo? Contem como foi: Fabinho Scooby Vaccarezza: Comecei ouvindo coisas na TV/Rádio acompanhando no instrumento. Mas o ‘‘começar’’ de verdade, foi com o Axé mesmo. Já toquei com muita, muita gente! Estilos de A até Z (de Arrocha a Zouk). Eu e uns amigos do colégio inventamos uma bandinha para tocar na festa de final de ano da sala. A brincadeira tomou conta e nunca mais consegui me separar da Música.
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Juliano Valle: Sim. Comecei tocando Axé. Meu pai era cantor na década de 90, aqui em Salvador e, desde pequeno, dava canjas nos shows dele [muitas vezes nem alcançava o teclado direito, pois o suporte estava alto para mim!] (Risos). Meus primeiros repertórios foram de músicas baianas. Acabei crescendo dentro desse cenário. Mesmo buscando fazer outros trabalhos, outros conceitos, sempre estou participando de algum projeto do cenário Axé Music. Fabinho Carmo: A Bahia é uma terra de diversidade. Sim! temos a Axé Music que se tornou uma identidade baiana no cenário musical mas, temos também, outros estilos que trabalhamos por aqui como Pop, Rock, Reggae, instrumental e Forró. Toquei bastante tempo Forró e também em bandas de baile [que foi, para mim, a maior escola de música popular: ou tocava certo, ou estava fora]! Billy Rasec: A nossa música é muito forte em nosso Estado, muito atraente aos iniciantes. Difícil não se contagiar. Comecei e permaneço até hoje no Axé Músic. Também participei de projetos variados em outros estilos musicais mas, o Axé, ainda é muito presente na minha carreira. Revista Keyboard Brasil: Vocês fazem parte da nova geração de tecladistas da Bahia. Quais são os tecladistas baianos que mais gostam e por quê? Fabinho Scooby Vaccarezza: A Bahia teve e tem uma safra de tecladistas bastante diversificada. Não posso deixar de citar Ademar ‘‘FURTACOR’’ Andrade, Ricardo ‘‘RAMBO’’ Ferraro, Adriano ‘‘RATÃO’’ Gaiarsa, Wadinho Marques, Zé de Henrique, Radamés Venâncio, Mikael Mutti, Jomar Freitas, Yacoce Simões, Alexandre Cortes. Entre tantos outros, antes de tudo, influências para todos os tecladistas baianos. Além disso, hoje os tenho como padrinhos e AMIGOS. O mais importante! O #Tecladismo nasceu aqui!! Na verdade, sou muito fã de todos e de todas as gerações (risos)! Juliano Valle: Aqui tem muita gente tocando bem. Admiro muitos tecladistas. Cada um na sua vertente, com seu modo de tocar. Difícil citar dois ou três ou mesmo mais. Fabinho Carmo: Eu aprecio muito: Mikael Mutti, Ademar Andrade, Luisinho Assis, Yacoce Simões, Radamés (que é pernambucano mas mora aqui desde criança), Juliano Valle, Danilo Costa, Billy Rasec, Fabinho Scooby, Tiago Toxa (que é mineiro mas também mora aqui), André Magalhães, Bruno Aranha, Jomar Freitas. Todos esses que citei são excelentes músicos, arranjadores, produtores, programadores com estilos diferenciados de tocar, do Jazz ao popular, sou realmente fã de todos eles. Billy Rasec: Sempre gostei de músicas com textura sonora, densa. Aqui em nossa terra tivemos boas referências como: Ademar Andrade (Furtacor) Ricardo Ferraro (Rambo, do Asa de Águia), Jomar Freitas (Netinho) e, atualmente, temos um grande exemplo, o Mikael Mutti, um arranjador de reconhecimento internacional e nosso grande amigo. Revista Keyboard Brasil / 43
Revista Keyboard Brasil: Quantos carnavais vocês já participaram? Contem como é fazer shows em um Trio Elétrico durante todo o Carnaval. Como se preparam? Qual é a diferença do palco? Fabinho Scooby Vaccarezza: Estou no décimo quarto! Ano que vem, 15 anos! (Risos). Tocar no Trio Elétrico sempre é uma experiência diferente. Não existe nada comparado. E não adianta o ensaio...Todos precisam estar em bastante sintonia já que tudo pode mudar a qualquer momento... Seja o público, o som, o clima, o cenário ou o ARRANJO! (risos). A preparação para o Carnaval, vem através do ano todo. Como se fizéssemos vários testes durante o ano, onde a prova final é no Carnaval! A adrenalina, os amigos de todos os lugares que chegam para participar, as canjas... E, depois da Quarta de Cinzas, ficam as fotos, os vídeos e as imagens na lembrança que, só quem estava naquele caminhão tocando de 5 a 8 horas direto, jamais esquecerá! O show de palco é mais certinho... O trio tem o improviso a cada minuto... A emoção torna mais gostosa! (risos). Juliano Valle: 14 carnavais. Cresci vendo trios elétricos. Meu pai e boa parte da família eram envolvidos com o carnaval, sempre tive contato. Existem pessoas que não gostam de tocar no trio. Um dos principais motivos é o tempo dos percursos. Geralmente, são longos. Mas é uma sensação completamente diferente de estar num palco. Uma situação nova a cada instante, público novo a cada minuto Acabam anulando um pouco os problemas. Não faço uma preparação específica para o carnaval. Talvez as micaretas ao longo do ano já sejam uma preparação. Fabinho Carmo: Nossa, essa é difícil, mas acho que toco em carnavais desde 2001 e tocar em trio elétrico no carnaval é uma experiência inigualável, pois os percurssos de Salvador são extensos, o que poderia ser tortuoso. Porém, a cada 10 metros percorridos, o público se renova. E, também, renova-se a energia! Adoro a parte de ver meus amigos me felicitando, pessoas acenando, pessoas felizes! Enfim, é incrível! Billy Rasec: Boa pergunta! (risos). Já faz 23! Estou velho! O trio elétrico é mágico. Uma jornada cansativa mas que te anestesia quando você se depara com aquela multidão cantando. É de arrepiar! Minha preparação é mais psicológica. Muitos ensaios e uma pre-produção. O trio é móvel e com maior duração de show do que um palco. Você tem que estar preparado e bem alimentado (risos). Revista Keyboard Brasil: Em uma turnê, vocês fazem muitos shows e viajam muito por todo o Brasil. Contem como é uma turnê: Fabinho Scooby Vaccarezza: Você toma café em um lugar, almoça e dorme em outro... Oi? Dorme? Às vezes, não! Às vezes não come, dorme em um quarto sozinho, cama 44 / Revista Keyboard Brasil
King Size, ar condicionado, banheira de hidro... No outro dia, divide um banheiro e um quarto com alguns beliches e briga por um ventilador (risos). Ser músico é ser guerreiro! É maravilhoso conhecer sotaques, climas e temperos diferentes! Fantástico aprender músicas que estão tocando naquele local específico e você ouvir pelo celular... Fazer um arranjo no camarim rapidinho e ir lembrando para a galera no microfone de comunicação interna. No final, respirar porque deu certo e dizer a todos: ‘‘Deu certo! UFaaa! Obrigado, irmãos!’’ (risos). Com todo stress, correria e, muitas vezes, ainda o preconceito. Ser músico é viver em turnê, estúdio... Isso é muito bom! Não quero outra vida! Juliano Valle: Tem que gostar. Estar na estrada (no sentido lato), suscetível a tudo e a todos, é muito complicado, se parar para pensar friamente! Ainda mais nos dias de hoje. Muitas vezes, vamos à cidades sem o mínimo de estrutura. Mas claro, tem muitos prós. Se olhar por outra ótica, todas essas situações deixam de ser problemas e viram aprendizado para vida. Conhecer lugares e pessoas diferentes, conviver com os amigos da banda. Fabinho Carmo: Depende de qual artista esteja acompanhando. Já viajei bastante! Às vezes, saindo às terças e chegando aos domingos. Por 3 semanas seguidas! Hoje, tenho meu próprio projeto que está engatinhando e, por enquanto, toco mais na capital baiana mesmo. Porém, com pretensão, sim, de fazer turnê! A parte boa de fazer turnê é a oportunidade de se conhecer novas pessoas e novos lugares [e ainda receber por isso]! Billy Rasec: É uma difícil escolha! Muito tempo na estrada fazendo shows. Houve uma época em que fazia, em média, 18 shows por mês. Mas o trabalho compensa. O resultado de ver uma turnê na estrada é muito gratificante, realizador! Para nós, os produtores que participamos desde a concepção até a execução, é um trabalho de muita responsabilidade. E, vale a pena! Revista Keyboard Brasil: Quais equipamentos vocês usam? Fabinho Scooby Vaccarezza: Pois bem... Na estrada, vou para a ‘‘Guerra’’ com o Roland RD300 NX, o Roland FA06, o Roland GAIA , o Roland AX-Synth, o TOKAi TX-5... Uso um MacBook e um Ipad para disparar alguns efeitos e usar alguns acompanhamentos em V.S. Uso suportes da StayMusic. Em casa, tenho alguns outros equipamentos e uso alguns virtuais para gravações. Juliano Valle: Na estrada eu uso o Nord Electro 4hp, o Nord Lead 3, o Alesis mícron e o Macbook pro.
Revista Keyboard Brasil / 45
Fabinho Carmo: Atualmente, estou em posse de um Motif ES 7, um Korg N264, um Korg X50, um Novation MininovA, um Novation impulse 49 e um Akai lPK 25, além de alguns acessórios. Billy Rasec: Atualmente, meu setup de estrada são: Nord Stage 2 para as bases, samples; Alesis ion digital com modelagem analógica; Roland XPS 10, uma espécie de coringa no palco; korg R3, que é um digital synthesizer de ótima qualidade e, em algumas situações, utilizo um órgão TOKAY TX5 e um Roland D50, para uma sonoridade mais vintage. Revista Keyboard Brasil: Quais são seus projetos fora do Axé? Fabinho Scooby Vaccarezza: Tenho um projeto chamado 3h3ads ( ThreeHeads) Keys com Fabinho Carmo. Projeto este onde produzimos trilhas de áudio e alguns vídeos com arranjos experimentais de clássicos da MPB, sem preconceito de estilo e sem um molde determinado. Mashups (misturas entre músicas) quase sempre fazem parte. Temas instrumentais e músicas internacionais passeiam pelos arranjos também! Geralmente, chamamos um ‘‘terceiro elemento’’, ou seja, o terceiro participante cabeça. Daí, o nome 3 H3ads (Three Heads) = Três Cabeças! Decidimos usar o nome em inglês e a grafia com números, por facilitar o entendimento em qualquer lugar do mundo. Um Samba de Roda, pode vir num arranjo de Drum n' Bass... Um Rock’n’Roll, pode vir em Funk.... Elementos da Cultura Nordestina, passeando pela textura de uma música Eletrônica... Ao postarmos nosso primeiro vídeo chamado #GROOVARIATIONS tivemos mais de 1.300 visualizações em menos de 12 horas! É um tema de FUSION, tendo como base o Pagode ‘‘Groove Arrastado’’ Baiano... Passeando pelo Funk, com acordeom também... Vale a pena assistir! Também tem o #TECLADISMO... Como não falar dele?!?! Sonhava em poder conversar com meus velhos e novos amigos, de igual para igual, em uma linguagem única! A MÚSICA. Sem esse papo de fulano é melhor... Beltrano é melhor... Tal estilo é mais bonito... O outro é mais feio... Uma conversa sem barreiras ou preconceito musical! Respeitando a todos. Hoje, tenho orgulho de dizer que todas as vezes que me chamaram de ‘‘doido’’, valeram a pena... Meu #Tecladismo, virou hoje em dia, o ‘‘NOSSO’’ #Tecladismo !!!! A cada dia, nosso movimento cresce!!! Não é um movimento político, é um movimento MUSICAL. A ideia é a profissionalização, organização e mudança de postura do profissional tecladista dentro e fora da banda, estúdios... A maioria dos tecladistas é produtor musical, arranjador, diretor musical, programador... Nada como todos conversando o mesmo ‘‘idioma’’ e ajudando uns aos outros! Timbres, programações, ideias, dicas, macetes... Estamos juntos!!! #TECLADISMO #TECLADISMOBrasil
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Juliano Valle: Sou formado em Composição e Regência pela UFBA. Fui duas vezes contemplado com o Prêmio Funarte de Composição Clássica. Toquei com o baterista Mokhtar Samba e o guitarrista Allan Hinds quando estiveram no Brasil. Atualmente, estou me preparando para o mestrado. Elaborando plano de projeto. Fabinho Carmo: Tenho um projeto com Fabinho Scooby chamado 3h3ads [three heads] que é algo alternativo onde usamos muita tecnologia. Também sou sócio de uma banda de Reggae chamada Reggfus e de uma banda percussiva chamada Akidara. Todos os projetos daqui de Salvador. Billy Rasec: Além de tecladista, sou produtor musical e sound design. Passo a maior parte do tempo em estúdio produzindo, arranjando e trabalhando com propagandas de rádio e televisão.
Revista Keyboard Brasil: Quais dicas vocês poderiam dar aos novos tecladistas? Fabinho Scooby Vaccarezza: ESCUTAR! Escutar tudo, sem rótulos, sem preconceitos musicais. Tocar, tocar, tocar... Quanto mais vocês escuta e toca coisas diferentes, menos vai se ver em situações conhecidas como ‘‘saia justa’’. Aparece uma canja, do nada, de um artista que seus pais escutavam... O baile e os shows em bares (além de acompanhar os discos e diversos artistas), te darão a segurança de ‘‘meter a mão’’ e fazer acontecer! E se der algum ‘‘problema’’ no meio, você contorna a situação e continua!!! Experiência própria! (risos). Tenham um repertório enorme!! Em vários tons!!! Tenham ‘‘cartas na manga’’, sempre ! Juliano Valle: Cada vez mais o tecladista é requisitado para várias funções numa banda. Tocando, montando e disparando sessões, direção musical e afins. Com isso, nosso ‘‘zoom’’ (analogia) das coisas precisa estar cada vez mais ampliado. Tudo é muito importante. Porém, nunca deixar de priorizar a boa execução no seu instrumento. Isso faz muita diferença no final das contas. Fabinho Carmo: Aos novos tecladistas, minha dica é sobre equipamentos! Não se guiem por “teclados do momentos”! Existem opções boas entre os antigos. Por isso, se ATENTEM AO ESTADO DE CONSERVAÇÃO E SEJAM FELIZES! Billy Rasec: O investimento nunca é em vão. Às vezes, ponderamos o tipo de trabalho para fazer uma compra de um instrumento ou de um software por conta da remuneração. Meu conselho: o investimento é em você! Independente da remuneração, você tem que ter um equipamento que te satisfaça. No fim das contas, é o seu trabalho acima de tudo! Revista Keyboard Brasil / 47
Revista Keyboard Brasil: Deixem aqui seu recado. Fabinho Scooby Vaccarezza: Estudem... Estudem... Não para serem melhor que os outros, mas para serem melhores para vocês mesmos! Sem isso de máfia!!! Música não é olimpíada... Não existe primeiro, segundo, terceiro... Tem lugar para todo mundo! Faça valer o seu, sem precisar pisar ou agir de má fé com ninguém! Se ouvir a música com sentimento, você já vai ‘‘visualizar’’ a estrutura dela e poder colocar o seu ‘‘sotaque’’, sua influência... Assim, fica definido o SEU SOM! Tente achar o SEU jeito de tocar! Outra coisa: o seu som está 70% em sua mente e nas suas mãos. O equipamento ajuda, claro! Mas, não ache que investir milhares de reais em teclado, interface de áudio, notebook, será a salvação! Se você não tem a ideia do som que quer tirar, não adiantará! Além de estudar Música, dedique-se ao NATURAL... Português, Matemática, História, Geografia... O músico tem que ser inteligente! Você tem que saber se expressar! Se você quer ser diretor, produtor, você tem que saber se comunicar com as pessoas!!! INGLÊS para nós, tecladistas, é coisa básica! Tudo está relacionado ao inglês! Hoje em dia, você pode estudar tudo de GRAÇA, na Internet! Basta Procurar! Procurem! Mais uma vez, finalizando: escutar, estudar, tocar com amor e respeito ao próximo!!! Princípios básicos do #Tecladismo!!! #oPoderEstáNaUNIÃO #Tecladismo #TecladismoBrasil #3h3ads Muito obrigado!!! Juliano Valle: Meu recado é: ter a música como principal ou, única profissão, é difícil. Requer bastante persistência e dedicação. Os momentos complicados certamente virão, mas digo, com certeza: se fizer com amor e verdade, a música não lhe deixará na mão! Fabinho Carmo: Gostaria de agradecer a Mateus Schanoski por nos dar espaço na Revista Keyboard Brasil. Obrigado e me adicionem nas redes sociais! @fabinhocarmo [instagram e twitter] Billy Rasec: Aprender nunca é demais. Escute sempre a opinião dos companheiros! Você pode ter um gênio na sua equipe, mas só saberá se lhes der a oportunidade de atuar. Humildade e união! Abraço a todos!
Obrigado aos amigos tecladistas que conseguiram um tempo em suas agendas para que eu, Mateus e a galera da Revista Keyboard Brasil pudéssemos realizar essa matéria. Valeu e até a próxima! Abrassom! 48 / Revista Keyboard Brasil
Ponto de Encontro
(da Música, Arte, Beleza, Educação, Cultura, Rigor, Prazer e Negócios)
Foto: Arquivo pessoal
PROJEÇÕES para
2015 e 2016 VOCÊ ACREDITA QUE A CRISE QUE ASSOLA O BRASIL É PASSAGEIRA? QUAIS SÃO SUAS PREVISÕES? SAIBA QUE TEMOS ELEMENTOS DE SOBRA PARA ACREDITAR QUE NOSSA CRISE DEVERÁ SE ESTENDER ATÉ 2020! * Luiz Bersou
50 / Revista Keyboard Brasil
Projeção para 2015 e 2016 Para acalmar a opinião pública, estão sendo geradas informações sugerindo que a crise de 2015 pode chegar à 2016 para, assim, entramos em período de recuperação da economia. Acho que temos elementos de sobra para não acreditar nessas previsões e pensar que nossa crise deverá se estender até 2018 ou, quem sabe, bem mais além.
O sucesso de alguns países Acabamos de receber uma informação carregada de sutilezas. Das cinco cidades que melhor cresceram em todo o mundo com qualidade de vida, três delas estão na Turquia. Países crescendo de forma vigorosa se apresentam em todo o mundo. No Brasil, nos acostumamos a falar de meia dúzia de países problemáticos e nos comparamos a eles. Porém, no mundo, temos 196 países. A comparação vai nos
Fotos: Divulgação
mostrar que não estamos nada bem na fotografia. O que temos aqui é um conjunto de equilíbrio de fundamentos que geram a resposta esperada para esse mesmo equilíbrio. O que existe de característico é o longo tempo de maturação para os resultados acontecerem. Temos histórias em que o resultado vem de um trabalho consistente e virtuoso de 95 anos, que é o caso da Áustria, mesmo com a 2a Guerra Mundial no meio. Em outros casos, o sucesso
vem de ciclos de trabalho de 20, 10 anos e, assim por diante. O sucesso resulta do trabalho formiguinha. Ordem e trabalho com objetivo de evoluir na qualidade das nações. Leva sempre um bom tempo.
Situações como o caso do Brasil, em que se perde tempo, são uma tragédia. Quando morava fora do Brasil costumava dizer que estávamos 30 anos atrás de outros países. Minha visão atual é de que essa distância aumentou para mais de 50 anos. Marchamos para trás, e eles marcham para a frente. Tudo é relativo. A distância aumenta.
A crise de alguns países Em 2008, ficou evidente a crise já instalada nos Estados Unidos e, em diversos países da Europa. Reflexos em muitos países fora da Europa. Essa crise eclodiu em 2008, dando sinais anos antes. A aritmética diz que 2015 – 2008 = 7 anos. Dos países que entraram na crise, quantos podem dizer que, após 7 anos, já saíram completamente dela? Podemos dizer isso da Espanha, Itália, França, Grécia, Alemanha, Japão e Estados Unidos?
O estado de organização dos países em crise Analisando as condições de reação dos diversos países que entraram em crise, podemos dizer muito claramente que os países europeus cometeram a heresia de Revista Keyboard Brasil / 51
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o socialismo funciona enquanto o dinheiro dos outros está disponível. Quando ele acaba, não sobra nada. e Não há sopa de graca!
- Margaret Hilda Thatcher (1925 – 2013) primeira-ministra do Reino Unido de 1979 a 1990. POR sua dura oposicão aos sindicatos e sua forte crítica à União Soviética, recebeu a alcunha de "Dama de Ferro".
gastar mais do que podiam, socialismo barato, entraram em endividamentos que não suportaram, sendo esse uma das razões maiores dessa crise generalizada. Como dizia Margaret Thatcher: ‘‘O socialismo funciona enquanto o dinheiro dos outros está disponível. Quando ele acaba, nada sobra. Não há sopa de graça!’’ Por outro lado, esses países tem história, conhecimento, boas escolas, tecnologia, base empresarial, ambientes de negócios favoráveis, importantes bases industriais, instituições sólidas que são fatores de contribuição à recuperação da atividade econômica e condição competitiva. Acrescenta-se que a crise dos bancos já passou, boa parte das perdas com a crise de 2008 é apenas passado. Mesmo com esses atributos favoráveis, passaram-se 7 anos! 7 anos de luta onde a condição econômica está melhorando, mas os índices de desemprego são elevados e preocupantes. Há muito subemprego entre imigrantes. Crises sociais e de religião latentes. Há progresso, contudo está difícil. 52 / Revista Keyboard Brasil
O estado de organização dos países em crise e o caso do Brasil O Brasil não tem mais nenhum dos atributos que caracterizam os outros países em crise como histórico de conhecimento, boas escolas, tecnologia, base empresarial sólida, ambientes de negócios favoráveis e base industrial. O ambiente empre-
sarial, onde se trabalha o conceito de campos de valor, está péssimo. O Brasil se especializou em destruir valor e não construir valor. Está tudo fraco e deixando a desejar. Escola é uma vergonha. Muita coisa boa foi destruída, mercê de regulamentações de governo espúrias e confusas, para não dizer mal intencionadas. São, pelo menos, 12 anos em que de forma sistemática e planejada, o excesso de regulamentação de governo destrói empresas brasileiras. Temos casos de empresas que tem patentes registradas nos Estados Unidos, exportam para lá, mas não conseguem registro de patentes no Brasil e estão, incrível, proibidas de vender no Brasil. Regulamentos da burocracia brasileira. Pode? Nossa indústria amarga um colapso monumental. Nossa condição competitiva só piora e, continua piorando. Os indicadores de qualidade
de vida e competitividade nos
mostram uma situação vergonho- gastar menos consigo mesmo. Pelo sa. Cada vez mais embaixo. Nossa contrário, vemos seguidas amostras de engenharia deixa a desejar. Conhecimento superficial e fora de foco em administração. Administração, no Brasil, é ensinada para as grandes empresas. Empresas médias e pequenas não tem o charme para receber a atenção devida da Academia. Severa restrição de capital como sempre aconteceu em nossa história. E isso é um pouco do conjunto de estragos que consta de nosso passaporte para viajarmos para o futuro. Há uma razão para tudo isso. A frase da filósofa Ayn Rand, explica: ‘‘Quando você perceber que, para produzir, precisa obter a autorização de quem não produz nada; quando comprovar que o dinheiro flui para quem negocia não com bens, mas com favores; quando perceber que muitos ficam ricos pelo suborno e por influência, mais que pelo trabalho, e que as leis não nos protegem deles, mas, pelo contrário, são eles que estão protegidos de você; quando perceber que a corrupção é recompensada, e a honestidade se converte em autossacrifício; então poderá afirmar, sem temor de errar, que tua sociedade está condenada’’. Nossa sociedade já está condenada! Em cima desse passivo colossal, repito, colossal, pois as pessoas não estão se dando conta do estrago que está acontecendo, temos um governo que se preocupa em salvar a si próprio, sem reconhecer a necessidade de ficar menor e
pouca vergonha na coisa pública, típico de um estado oligárquico, com esbanjamentos que a sociedade continua a aceitar.
Com esse estado de coisas, quem pode acreditar que, em dois anos, o Brasil volte a crescer? Se conseguirmos, ao menos, copiar os outros países, a aritmética diz que 2015 + 7 anos = 2022. O ano de 2022 não é o ano 2016. Enxergo bem com os dois olhos.
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Quando você perceber que, para produzir, precisa obter a autorizacão de quem não produz nada; quando comprovar que o dinheiro flui para quem negocia não com bens, mas com favores; quando perceber que muitos ficam ricos pelo suborno e por influência, mais que pelo trabalho, e que as leis não nos protegem deles, mas, pelo contrário, são eles que estão protegidos de você; quando perceber que a corrupcão é recompensada, e a honestidade se converte em autossacrifício; então poderá afirmar, sem temor de errar, que tua sociedade está condenada! - Ayn Rand, nascida Alisa Zinov'yevna Rosenbaum (1905 - 1982) escritora, dramaturga, roteirista e filósofa norteamericana de origem judaico-russa, mais conhecida por desenvolver um sistema filosófico chamado de Objetivismo, Sua filosofia enfatizava, sobretudo, suas nocões de individualismo, autossustentacão e capitalismo. Revista Keyboard Brasil / 53
Amigos, na minha visão, nossa crise vai ser grave e entra nos anos 20. Por conta dessa visão, como nos proteger? Como salvar nossas empresas? (Aqui,
lê-se todo tipo de empresa. Você músico, também está dentro do barco). Continuaremos conversando!
* Atualmente dirigindo a BCA Consultoria, Luiz Bersou possui formação em engenharia naval, marketing e finanças. É escritor, palestrante, autor de teses, além de ser pianista e esportista. Participa ativamente em inúmeros projetos de engenharia, finanças, recuperação de empresas, lançamento de produtos no mercado, implantação de tecnologias e marcas no Brasil e no exterior.
Revista Keyboard Brasil informa:
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Fotos: Arquivo pessoal
Perfil
56 / Revista Keyboard Brasil
O premiado músico
Amyr Cantusio Jr. HÁ MAIS DE 40 ANOS, O ROCK PROGRESSIVO NACIONAL TEM UM IMPORTANTE - EMBORA, NÃO TÃO FAMOSO - EXPOENTE: AMYR CANTUSIO JR. MULTIINSTRUMENTISTA, PRODUTOR, COMPOSITOR, ARRANJADOR, PROGRAMADOR DE SINTETIZADORES - MÚSICO EXCEPCIONAL - PREMIADO INTERNACIONALMENTE, INÚMERAS VEZES COMO PIANISTA. Júnior Rodrigues
Amyr Cantusio Jr. iniciou seus estudos musicais com o violão clássico, aos 6 anos de idade. Aos 9, passou para o piano erudito, influenciado por sua mãe, que foi professora de música (piano e canto) na PUCCamp (Universidade de Campinas). Mais tarde, Amyr formou-se em Música Erudita pela Unicamp, tornandose autodidata em música eletrônica com teclados e estruturas de orquestração, música experimental progressiva e Canterbury Fusion. Tem cursos nas áreas de Psicanálise Integral, pela Escola Analítica Existencial do Dr. Victor Frankl em Viena, extensivo em Psicanálise Trilógica ministrado pelo Dr. Norberto Keppe e nas áreas de Musicoterapia, Ocultismo, Meditação & Filosofia Oriental de Teosofia e Yoga. Possuindo formação totalmente erudita, suas grandes influências são:
Mozart, Chopin, Rachmaninoff, Liszt, Beethoven, Wagner; os russos Mussorgsky, Strawinsky, Prokofiev, RimskyKorsákov, além de J.S. Bach, J.B. Lully, Monteverdi e Scarlatti. Já no campo do jazz, seus pianistas prediletos são McCoy Tyner,Chick Corea, Gonzalo Rubalcaba e George Duke. Finalizando no progressivo, Amyr cita Ed Jobson, Tony Banks, Keith Emerson, Dave Greenslade, Rick Wakeman, Vangelis, Klaus Schulze, Edgar Froese, Brian Eno, Tomita, Kerry Minnear, Rick Van Der Linden. Ou seja, um universo bastante amplo. Sobre obras de outros artistas que influenciaram Amyr, o músico prefere citar os relacionados aos anos 70, como Gentle Giant, Van Der Graaf Generator, Yes, Pink Floyd, Genesis, EL&P, Klaus Schulze, Tangerine Dream, Vangelis, Beatles, Led Zeppelin, Black Sabbath e Deep Purple. Revista Keyboard Brasil / 57
Incansável, Amyr foi crítico musical e colunista do Jornal Diário do Povo de Campinas e em revistas nacionais como Zen, Pendulum e Bons Negócios; e nas internacionais Background Magazine (Holanda), Paperlatte (Itália) e na revista germano-brasileira Hard Valhalla; além de co-fundador do primeiro selo do Rock Progressivo e Música Eletrônica Experimental do Brasil em 1986 (Faunus) e coordenador de vários projetos musicais em Campinas, entre eles “Rock Todas as Vertentes” (1986). Também produziu inúmeras bandas no Brasil e no Exterior, trabalhou na trilha sonora do alemão de Holger Kernstein “Jesus Viveu na Índia” (1996) e também criou jingles, spots e trilhas sonoras na Junta de Rádio e Televisão e na Rádio e Televisão Bandeirantes. Em seu 58 / Revista Keyboard Brasil
currículo consta, ainda, a produção independente de 20 CDs e 7 LPs desde 1974. Recentemente desenvolveu com sua esposa, Cáthia Cantúsio, projetos de World Music e ritmos árabes e hindus com Filosofia Oriental, Instrumentação, Teosofia e História da Música. Amplamente premiado no Brasil e no exterior, Cantusyo Jr. recebeu a Medalha Carlos Gomes (Campinas) por representar a cidade em mais de 15 países do mundo com seus discos e foi o primeiro lugar de arranjo e composição do Projeto Guarani. Além disso, foi considerado melhor Tecladista e melhor Projeto do mundo em vários festivais internacionais: Espanha/1986; Japão/1986, Canadá/1991, Itália/1993, Escandinávia e Holanda.
Amyr Cantusio Jr. e seus projetos SPECTRO (1974) e Alpha III (1983) Em meados de 1970 ganhei de meu pai minha primeira guitarra "snake"com distorção embutida, semiacústica (verde metálica!!) Imaginem como foi... Eu já tocava piano erudito há 5 anos, sendo iniciado pela minha mãe que era pianista e professora da Universidade Católica de Campinas (PUCC). Formei minha primeira banda chamada ‘‘Arka’’ com dois vizinhos Clayton (guitarrista, já falecido) e Marcos (no baixo e vocal). Compusemos a faixa ‘‘Liberdade para os Robôs’’ que se encontra hoje (letra) no primeiro LP do ALPHA III PROJECT (faixa Andrômeda) de 1983. Dissolvemos a banda, após minha ida para uma chácara em Monte Mór (próximo a Campinas) onde uns malucos se reuniam para as noitadas de som e zoeira. Nessa época, conheci outros dois músicos (bateria e baixo). Havia um bom equipamento de som lá, um órgão Caribean III (sonzaço) e muita energia!! Rolou uma Jam entre nós e a coesão foi tão perfeita, que fundamos o ‘‘Spectro’’, naquela noite de 1973. Neste meio tempo, conheci também um grande pianista denominado ‘’Sombra’’, por causa de sua altura e cabelos compridos com o qual faturei, em 1974, o primeiro lugar no Projeto Guarani (um dos maiores Festivais do Estado de Sampa) com melhor arranjo e música e, onde participavam nada menos que Johnny Alf e Itamar Assunção. Daí parti para ‘’jams’’ com o Spectro, de 1973 até 1979, em longas noitadas nas cidades do Rio, de São Paulo, festivais, etc... Nosso único registro BOM de estúdio foi feito por Fernando Canabarra (Grupo e Estúdio Sexto Sentido) em Campinas, gravado num Gravador de Rolo Teac 2 Canais -1/4 ´pista 15 RPM Stereo. Foram gravadas 5 faixas numa única jam, já que estávamos bem ensaiados. As outras duas faixas extras (Pyaramid e Molécula) foram gravadas em meados de 1979 (perto do fim do grupo), em estúdio caseiro, fita cassete. Eu mesmo remasterizei a última versão para este LP. Todas as músicas e letras são de minha autoria.
Num show em 1975 ou 76, na inauguração da Concha Acústica de Campinas, tocamos ao lado dos ‘‘falecidos grupos’’ Burmah (Argentina) e Rock da Mortalha (São Paulo) onde, numa noite mágica e inesquecível, com uma plateia de 2.000 pessoas, rolamos e deitamos até altas horas! Nesta época de sonhos, o Spectro alcançou grande fama e tocamos ao lado do Made in Brazil, Tutti-Frutti, etc... Ainda me lembro, com grande nostalgia, de outra banda (da cidade de Campinas), a Tio Mellius, sediada em Ubatuba (litoral de São Paulo) do meu amigo Gustavo Rebuá. Com o Spectro ganhamos um grande Festival de rock em campinas, no clube Cultura Artística onde, no Teatro Castro Mendes, em 1977, fechamos novamente o primeiro lugar com a música ‘‘Reverbers ao Spectro’’. Resolvemos, então, lançar em LP nosso primeiro disco. Fomos à sede da gravadora WEA, no Rio, onde faríamos um contrato final, por volta de 1976. Por obra do destino, o produtor morreu num desastre de carro e nunca conseguimos efetivar o lançamento deste LP ! Desta forma, o Spectro morreu em 1979 com o último show feito nas montanhas da cidade paulista de Brotas. Em 1983, de suas cinzas, nasceu o ‘‘Alpha III Project’’, num show da Concha Acústica, onde conheci o baterista paulista Maurício e um produtor executivo. O primeiro LP do Alpha III (Mar de Cristal) não foi mixado nem produzido por mim (1983), mas por uma firma de produções artísticas e os termos foram meio fechados. Eu teria só que ir ao estúdio e gravar o som e o restante ficaria por conta deles. A mixagem não saiu do meu gosto, obviamente. Mas era a única forma de poder registrar meu primeiro LP, já que era uma façanha gravar um nestes períodos ‘‘primitivos’’. (Entrevista realizada em 2014, por ocasião do relançamento do CD ‘‘Spectro’’, pela Gravadora independente Projeto Luz Eterna, do Rio de Janeiro.)
Quer um espaço para mostrar o seu trabalho também? Entre em contato com a Revista Keyboard Brasil no e-mail: contato@keyboard.art.br Revista Keyboard Brasil / 59
Falando sobre nossa Música
Música
Brasileira Dos primórdios até os dias atuais - Parte final Heloísa C. G. Fagundes
60 / Revista Keyboard Brasil
Ao produzir músicas de qualidade, o pernambucano de Recife Lenine conquistou o posto de um dos renovadores da MPB, projetando o gênero nos anos 90, miscigenando-o às influências do Pop.
2000 – A década perdida da música brasileira?
Foto: Nana Moraes
Os anos vão se passando e muitas canções brasileiras passam a ser compostas por letras sem conteúdo. A TV dita o que se deve ouvir, quais são os melhores cantores, o que é música de qualidade o que não é, premiando quem bem entende. Até o início da década de 1990, a música baiana denominada Axé Music trazia em suas músicas, mais conteúdo. Porém, ainda nessa década, o estilo passou a proporcionar, também, algumas das mais constrangedoras composições. Expressões do quilate “vai dançando gostoso, balançando a bundinha” tornaram-se símbolos de uma geração destruída por uma tendência irrefreável, que só se acentuaria ao longo dos anos na música brasileira: a substituição da música de qualidade, aquela das velhas temáticas, com letras elaboradas cantando o amor, a vida simples, a liberdade, os sonhos, a relação entre pais e filhos, ou a esperança, pela música sem conteúdo que incentiva a promiscuidade, a irresponsabilidade e a bebedeira desenfreada. Suas letras também se encontram Revista Keyboard Brasil / 61
A música, como qualquer manifestação artística, é influenciada pelos fatores sociais, políticos, culturais, econômicos e tecnológicos da sociedade.
em estilos como o Funk (com seus MCS e mulheres frutas) o Pagode e o Sertanejo, agora dito universitário. Nesse último, muitos de seus compositores passam a compor valorizando a mínima emissão de voz na entonação de seus versos, economizando em palavras o que se pode expressar, em seu entender, perfeitamente com vocábulos monossílabos. É daí que nasce a tendência manifestada nas composições do estilo em priorizar a vocalização de uma única sílaba. Exemplificativamente, temos: “Eu quero tchu, eu quero tcha”, de João Lucas e Marcelo: “Eu quero tchu, eu quero tcha. Eu quero tchu tcha tcha tchu tchu tchã. Tchu tcha tcha tchu tchu tcha”. Também não podemos deixar de mencionar o estouro do Calípso, que se separou estilisticamente da lambada e tomou seu próprio rumo na voz da cantora Joelma, vocalista da Banda Calypso; e da música Gospel, muito lucrativa, tendo como artistas Aline Barros, Regis Danese, Diante do Trono, entre outros. Além das 62 / Revista Keyboard Brasil
novas representações do dito Rock atual, com as bandas emos Fresno, Strike e Restart. Em contrapartida, ainda se produz música de qualidade. Porém, cada vez com menos espaço na mídia. A chamada nova geração da MPB possui nomes como Jorge Vercilo, Ana Carolina,Vanessa da Mata, Lenine, Maria Rita, Seu Jorge, Céu, Bruna Caran, Tulipa, Tiê, Flora Ma os, Luciana e Jair Oliveira, Pedro Mariano, Maria Gadú, Roberta Sá, entre outros. Nossa coluna termina, mostrando que o tempo passa e, consequentemente, há mudanças em todos os sentidos e,
como qualquer manifestação artística, a música é influenciada por fatores sociais, políticos, culturais, econômicos e tecnológicos de uma sociedade. As mudanças nesses vetores ocorridas em cada período repercutem indefectivelmente sobre seus criadores, modificando consequentemente o resultado de sua obra – a música.
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Toque e Aprenda
- continuação...
APRENDA OU MELHORE SEU DESEMPENHO NAS TÉCNICAS DO
JAZZ-BLUES
* Maestro Marcelo Fagundes
ACORDES com 7ª SÉTIMA O termo ‘‘acorde com a sétima’’ é usado para descrever os acordes de quatro SONS, deixando de ser Tríades para se tornarem Tétrades e consiste em adicionar uma nota mais alta, a 7ª acima da raiz ou, melhor dizendo, acima da nota fundamental, a que dá o nome para o acorde.
Os acordes de quatro partes mais comumente usados em Jazz-Blues são: Sétima Maior, Sétima Menor, Sétima Dominante, Sétima Dominante Suspensa e Sétima Diminuta. Observe os exemplos dos acordes de quatro sons, com estas Sétimas construídos a partir da fundamental DÓ.
Acorde Maior com Sétima Maior: Fundamental, Terça Maior, Quinta Justa e Sétima Maior. Cifra C7M Acorde menor com Sétima menor: Fundamental, Terça menor, Quinta Justa e Sétima menor. Cifra Cm7 Acorde Maior com Sétima Menor: Fundamental, Terça Maior, Quinta Justa e Sétima Maior. Cifra C7 Acorde Sus 4 com Sétima menor: Fundamental, Quarta Justa, Quinta Justa e Sétima Menor. Cifra C7sus (Este é o Acorde Dominante Suspensa).
Acorde Diminuto com Sétima Diminuta: Fundamental, Terça menor, Quinta diminuta e Sétima diminuta. Cifra C°7 64 / Revista Keyboard Brasil
Também é possível alterar os Acordes Maiores, menores e dominantes com 7, alterando em um semitom para cima ou para baixo a QUINTA do ACORDE, tendo QUINTAS AUMENTAS e QUINTAS DIMINUTAS. Observe:
Se construir acordes com 7ª respeitando os acidentes da escala criamos Acordes Diatônicos. Observe na escala de Dó maior.
Tendo este exemplo como modelo, monte os acordes com 7ª para outras tonalidades, outras escalas e toque-as. A seguir, exercite os acordes com 7ª tocando a música Cheek to Cheek, de Irving Berlin Bons estudos.
Cheek to Cheek Música e letra: Irving Berlin Transcrição: Maestro Marcelo Fagundes
Revista Keyboard Brasil / 65
(Para obter a partitura completa envie um e-mail para contato@keyboard.art.br)
Cheek to Cheek é uma canção escrita por Irving Berlin para o filme de 1935 ‘‘Top Hat’’, que foi imortalizada com a cena em que Fred Astaire e Ginger Rogers dançam ao som dos versos cantados pelo próprio Astaire. * Marcelo Dantas Fagundes é músico, maestro, arranjador, compositor, pesquisador musical, escritor, professor, editor e membro da ABEMÚSICA (associação Brasileira de Música). 66 / Revista Keyboard Brasil