ORLAN CHARLES Do erudito ao sertanejo
CD CREOLE CONNECTIONS: O CD norueguês mostra o antes e o depois de Ernesto Nazareth
Máquina de escrever partitura: Uma raridade digna de colecionadores!
O que sobrou da indústria de instrumentos musicais no Brasil? Saiba porque fatores de sucesso e fracasso ainda permanecem
Motivação & Prazer: Palavras-chave Por que tocar um instrumento não pode estar desvinculado do prazer?
Conheça os melhores! ROLAND XPS-10 KURZWEIL ARTIS 7
Revista
Keyboard ANO 3 :: 2015 :: nº 25 ::
:: Seu canal de comunicação com a boa música!
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Índice
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DIVULGAÇÃO: CD Romaria Choral Music From Brazil
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REVOLUÇÃO MUSICAL: Grandes desenhistas do Rock, por Amyr Cantusio Jr.
MEMÓRIA: Máquina de Escrever Partitura
40 PERFIL: Samuel Quinto
Expediente
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MATÉRIA DE CAPA: Orlan Charles
MERCADO: Roland XPS-10
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POR DENTRO: CD Creole Connections, por maestro Osvaldo Colarusso
48 EDUCAÇÃO: Motivação & Prazer: palavras-chave, por maestro Marcelo Fagundes
VITRINE: Kurzweil Artis 7
52 MÚSICA DOS SENTIDOS: Debussy: o presente de férias!, por Patrícia Santos
58 PONTO DE ENCONTRO: O que sobrou da indústria de instrumentos musicais no Brasil?, por Luiz Bersou
Revista
Agosto / 2015
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Brasil
Editora Musical
Revista Keyboard Brasil é uma publicação mensal digital gratuita da Keyboard Editora Musical. Diretor e Editor executivo: maestro Marcelo D. Fagundes / Chefe de Redação e Design: Heloísa C. G. Fagundes Caricaturas: André Luíz Silva da Costa / Foto da Capa: Denis Ono / Marketing e Publicidade: Keyboard Editora Musical Correspondências / Envio de material: Rua Rangel Pestana, 1044 - centro - Jundiaí / S.P. CEP: 13.201-000 / Central de Atendimento da Revista Keyboard Brasil: contato@keyboard.art.br As matérias desta edição podem ser utilizadas em outras mídias ou veículos desde que citada a fonte. Matérias assinadas não expressam obrigatoriamente a opinião da Keyboard Editora Musical. 04 / Revista Keyboard Brasil
Editorial
Espaço do Leitor Excelente entrevista de Daniel Baaran! Parabéns! (Referente à entrevista de Jean Carllos para a Revista Keyboard Brasil edição 24). André Vinícius Pessôa – via Facebook Heloísa e Editora Keyboard, sou imensamente grata! É uma honra escrever a coluna para a revista, por toda a competência e versatilidade! Obrigadíssima, estou muito feliz, pois, não é todo dia que um jovem ganha espaço para expressar pensamentos! Obrigada! Os longos caminhos começam com pequenos passos! Patrícia Santos (nova colaboradora da Revista Keybaord Brasil) – via Facebook Bacana... Não sou evangélico mas gosto muito do oficina G3... Muita música boa! Pedro Jorge Honorio de Godoy – via Facebook Poxa, vou ler a revista porque, pelas chamadas, tá boa prá cace.... Sonia Maria Rossini – via Facebook Obrigado à Revista Keyboard. Eis aí outra matéria que fiz em homenagem ao Chris Squire (R.I.P.)! Amyr Cantusio Jr. (músico e grande colaborador) – via Facebook
Heloísa Fagundes - Publisher
Quero começar nossa conversa dizendo que a edição anterior (capa de Jean Charlles, do Oficina G3) foi um sucesso de visitação!!! Por isso deixo a minha gratidão a toda a equipe que faz de nossa publicação, um sucesso digital!!! Este mês, pela primeira vez, abrimos espaço para um gênero musical que conquista cada vez mais espaço no mercado brasileiro: o sertanejo. O mú-
Obrigado à Editora Keyboard e aos amigos Ravel Amanajás, Arlen Monteiro, Bruno Monteiro, Railson Rodrigues e Liph Lipeh Rodrigues. Alan Flexa – via Facebook
sico Orlan Charles, capa desta edição, migrou do erudito para o estilo em questão e não se arrepende. Além de fazer parte da dupla Edson e Hudson,
Parabéns pela matéria sobre Ivan Lins!!! Nosso país está precisando de muito mais dessa outra realidade! Parabéns pelo trabalho Editora Keyboard. Daltro Vieira – via Facebook
possui projetos paralelos de extrema competência, além de ter ganho o primeiro lugar no concurso promovido pela Kurzweil Music System ® tornan-
De maneira clara e concisa, Joêzer Mendonça buscou esclarecer alguns pontos importantes na conversa sobre a música na igreja. (Referente à matéria Mente, Caráter e Musicalidade, edição 24) Elton Machado – via Facebook Realmente é um grande mito! Em Belo Horizonte, a Orquestra Sinfônica toca em parques públicos e fica superlotado. O Festival de Jazz, que aconteceu recentemente na praça, onde Andre Mehmari se apresentou, também estava lotado! Tivemos orquestras! Então, a música clássica não é elitista! (Referente à matéria Música Clássica e Elitismo: Verdades e Mentiras, edição 24) Maga Lee Craveiro – via G+.
do-se um dos endorsers da marca. Entre tantas matérias interessantes, este mês também destacamos o magnífico CD Creole Connections,
a motivação e o
prazer no aprendizado pianístico e o porquê dos fatores de sucesso e fracasso permanecerem no Brasil. Curta, comente e compartilhe! Queremos saber a sua opinião! E, músicos: continuem enviando seu material e sejam vistos por mais de 250 mil leitores! Excelente leitura e fiquem com Deus! Revista Keyboard Brasil / 05
Divulgação
Intérpretes: Coral da Gonville & Caius College Cambridge, sob regência do maestro Geoffrey Webber Gravadora: Delphian
Romaria
Fotos: Div
ulgação
Este CD pode ser baixado no iTunes store e na Presto Classical http://www.prestoclassical.co.uk
Música Coral do Brasil Maestro Osvaldo Colarusso O selo inglês Delphian acaba de lançar um CD com o título de “Romaria – música coral do Brasil”. Nele, um dos melhores corais da Inglaterra, Choir of Gonville & Caius College Cambridge, interpreta um repertório que abrange muitas das inúmeras influências que formam nosso patrimônio cultural. O excelente coro e seu maestro, Geoffrey Webber, receberam comentários muito elogiosos da crítica especializada (revistas Gramophone e BBC Music entre elas), tanto pela escolha original do repertório como pela admirável qualidade técnica da realização. As obras escolhidas são, em geral, complicadíssimas e, infelizmente, 06 / Revista Keyboard Brasil
desconhecidas por aqui. O projeto só foi possível com o envolvimento do Departamento de música da USP, que junto ao pessoal de Cambridge, resgatou partituras raras e muitas vezes não editadas. O repertório inclui obras de Henrique de Curitiba, Osvaldo Lacerda, Ernani Aguiar, Almeida Prado, Claudio Santoro, Aylton Escobar, Villa-Lobos, Carlos A. Pinto Fonseca e arranjos de Ernst Mahle e Marco Antônio da Silva Ramos. Através desta obra impecável nós, brasileiros, tomamos conhecimento da alta qualidade de parte de nosso patrimônio musical. Fonte: http://www.gazetadopovo.com.br/
MatĂŠria de Capa
08 / Revista Keyboard Brasil
Foto: Maurício Santana
ORLAN CHARLES Transitando do erudito ao sertanejo NASCIDO EM RIO CLARO, INTERIOR DE SÃO PAULO, O PIANISTA, TECLADISTA, F L A U T I S TA , P R O D U T O R , ARRANJADOR E COMPOSITOR ORLAN CHARLES, 34 ANOS, MIGROU DO ERUDITO PARA O SERTANEJO E NÃO SE ARREPENDE. DESDE A DÉCADA DE 90, É T E C L A D I S TA D A D U P L A EDSON E HUDSON. ALÉM DE TRABALHAR COM PRODUÇÕES MUSICAIS E GRAVAÇÕES EM ESTÚDIOS, O MÚSICO PASSA PELA FASE EM QUE O LADO COMPOSITOR/ARRANJADOR DESPERTA UM OLHAR PARA O NOVO DENTRO DA MÚSICA. Heloísa Godoy Fagundes Revista Keyboard Brasil / 09
A
tuando como tecladista da dupla sertaneja Edson e Hudson desde 1996, é difícil
imaginar que a flauta doce tenha sido o início do interesse pela música para Orlan Charles Marchiori Prado, ensinada na escola Fábio Marasca, em sua cidade natal, aos 11 anos de idade. Pouco tempo depois, estudou flauta transversal e piano erudito na Escola de Música de Piracicaba, atualmente Unimep, com os professores Rafael Gobeth e Cecília Bellato. No ano seguinte, passou a ser flautista das Orquestras Sinfônicas de Rio Claro e Limeira e flautinista da Orquestra PróMúsica, na cidade de Campinas. Paralelamente à música clássica, Orlan Charles mantinha um grupo de choro chamado Showrinho, onde se apresentava em bares e restaurantes pelo interior do Estado de São Paulo. No ano de 1996, começou a trabalhar com teclado, realizando free-lances com bandas e duplas sertanejas locais, vinculando-se com a banda da dupla Edson e Hudson conciliando, também, com a banda de apoio do apresentador Raul Gil, na extinta Rede Manchete de televisão. Em 2001, passou uma
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temporada nos Estados Unidos apresentando-se com o grupo de samba e pagode Sensassamba tocando, também, choro e MPB com seu grupo Showrinho em bares e restaurantes na região de San Francisco. Com a dupla Edson e Hudson passou a excursionar pelos Estados Unidos e Europa participando, também, de gravações de DVDs e CDs para diversos artistas. Em parceria com o amigo Renato Napty e a Soulmix Estúdio, gravou trilhas para curta-metragem, vídeos institucionais, jingles e spots publicitários. Recentemente, o músico ganhou o primeiro lugar em um concurso promovido pela Kurzweil Music System®, onde teve a oportunidade de mostrar seu lado compositor, tornando-se um dos endorsers da marca através da Proshows, que é a atual importadora da Kurzweil Music System® no Brasil. Incansável, juntamente com o trabalho realizado com a dupla Edson e Hudson, as produções musicais e gravações em estúdios, Orlan Charles ainda encontra tempo para o despertar de seu lado arranjador/compositor. Leia, a seguir, uma entrevista exclusiva com o músico!
Orlan Charles: ‘‘Algumas vezes tocava com bandas da região sem ensaio e, apesar de soar desorganizado, para o músico, o momento do inesperado o torna mais atencioso e ágil!’’
Revista Keyboard Brasil / 11
Entrevista Revista Keyboard Brasil: Seus estudos musicais não iniciaram tão cedo como é de costume. Você começou aos 11 anos de idade. Alguém te influenciou ou o ambiente familiar propiciou essa escolha? E ao escolher a música como profissão, teve o apoio, o suporte, de sua família? Orlan Charles: O interesse pela música começou em 1991 com a flauta doce na época de colégio, onde a aula de música fazia parte da grade curricular. Fui com meus pais em uma apresentação da Orquestra de Rio Claro, e fiquei encantado. Meus pais foram até os bastidores conversar com o maestro sobre aulas de música. Eles sempre me apoiaram em tudo, desde a compra de instrumentos até me levar nas aulas, ensaios e estarem presentes nas apresentações que eu participava. Revista Keyboard Brasil: Você iniciou seus estudos com a flauta e tocou durante algum tempo flauta transversal em orquestras. Quando surgiu o interesse pelo piano e como foi essa transição? Orlan Charles: A transição foi bem ao acaso. Durante muitos anos meus pais revendiam encomendas de produtos importados. Um dia, minha avó comprou deles um teclado (Yamaha PSR-19) que vinha um livro com as notas e os adesivos para colar nas teclas, e eu adorava tocar as músicas junto aos playbacks dele. Quando meus pais perceberam o meu interesse e entusiasmo com aquele teclado, me matricularam em aulas de 12 / Revista Keyboard Brasil
piano com uma professora tradicional de Rio Claro. RKB: Conte-nos sobre a relação entre você e a música. OC: A música sempre esteve presente em minha vida. Desde o descobrimento de um mundo novo que surgia, o desenvolvimento do lado musical até o da consolidação da profissão que é o momento onde o retorno financeiro se mostra. Hoje, vivo exclusivamente da música, e estou passando pela fase em que o lado compositor/arranjador me desperta um olhar para o novo dentro da música. Tudo em minha vida tem a música como um dos personagens. RKB: Quais são suas influências musicais? OC: Houve época em que ouvia muita música do período barroco como Bach e Vivaldi, clássico/romântico como Beethoven, Chopin, e de outros períodos c o m o R a c h m a n i n o v, G i n a s t e r a , Stravinsky, Villa-Lobos. Meu favorito sempre foi Khachaturian. Entre bandas e músicos é uma mistura, vai desde os brasileiros Hermeto Pascoal e Egberto Gismonti, passando pelos progressivos como Pink Floyd, Rick Wakeman, Jethro Tull, Triumvirat, seguindo para o lado do rock mais pesado e virtuoso como Dream Theater. Porém, meu “divisor de águas” se fundou em Emerson, Lake e Palmer. RKB: A maioria dos músicos inicia sua vida profissional tocando em bares e ministrando aulas. Conte-nos sobre sua trajetória artística. Teve dificuldades?
OC: Minha independência musical começou quando a dupla Edson e Hudson já estava no auge. Antes eu tocava com orquestras, grupos de música de câmara, casamentos, onde além do prazer por tocar, adquiri muito aprendizado e experiência. Algumas vezes tocava com bandas da região sem ensaio e, apesar de soar desorganizado, para o músico, o momento do inesperado o torna mais atencioso e ágil. RKB: Como surgiu a oportunidade de trabalhar com a dupla sertaneja Edson e Hudson? OC: Através da Orquestra de Limeira. Na época, eu tocava flauta na Orquestra e o baterista da dupla (Narciso) tocava percussão. Em um intervalo de ensaio, comecei a tocar um piano que tinha em uma das salas e ele ficou assistindo. Logo depois, veio conversar comigo e disse que tocava com uma dupla que estava precisando de tecladista, me passou as músicas para tirar e, na semana seguinte, fiz um show. RKB: Ao escolher ser tecladista de uma dupla sertaneja, você sentiu algum preconceito pela escolha deste estilo? OC: Nunca. Sempre existiu muito respeito entre todos os gêneros musicais dentro da área da música. A forma de tocar música erudita é diferente de samba/pagode que é diferente de sertanejo, mas todas tem seu grau de dificuldade e exige um conhecimento, a começar pelos instrumentos diferenciados e o “desapego da partitura”.
RKB: Além do trabalho realizado com a dupla Edson e Hudson, você é compositor e arranjador. Conte-nos sobre estes projetos paralelos. OC: Eu sempre gostei de dois tipos de formação instrumental, a de câmara e a sinfônica. Sempre tive um sonho de compor algo para piano e, aos poucos, acabei compondo uma peça de 20 minutos. Para câmara, escrevi algumas peças para quarteto de cordas e acabei modificando para grupos de flauta doce; além da minha peça para piano e flauta transversal. Junto com um amigo de Piracicaba (Renato Napty) gravamos a trilha sonora de um curta-metragem, trilha para vídeos institucionais, vários jingles e spots publicitários, e estamos trabalhando em um projeto instrumental com banda e orquestra sinfônica que será uma sequência de músicas narrando uma história de ficção científica. RKB: Você também realiza um excelente trabalho com flautas doce. Pode nos falar sobre isso? OC: Como sempre toquei flautas, aos poucos fui comprando flautas diferentes. Quando comprei a flauta-baixo comecei a fazer arranjos e gravar. Um dia, por acaso, coloquei no Youtube. Senti de imediato uma resposta positiva, com muitos contatos de pessoas interessadas no meu trabalho com a flauta e continuei fazendo. Um dos meus vídeos (a música Sapato Velho) foi divulgado no Facebook da banda Roupa Nova. O que vejo em relação a trabalho com flautas é que tem muitos grupos de estudo e pouco material para Revista Keyboard Brasil / 13
utilizar. Então, além de divulgar o instrumento, divulgo meu trabalho como flautista levando um material novo. Pessoas dos Estados Unidos, França, Dinamarca, México e Peru se interessaram e entraram em contato solicitando o material depois da divulgação dos vídeos. RKB: Ano passado, a Kurzweil Music System ® promoveu um concurso onde você ganhou o primeiro lugar, tornandose um dos endorsers da marca. Pode nos falar sobre isso? OC: A Kurzweil divulgou no site que estaria promovendo um concurso para quem gravasse um vídeo apenas com equipamentos da marca. Achei uma boa oportunidade para mostrar meu lado compositor, afinal estaria concorrendo e divulgando uma obra minha, mas jamais esperava ganhar, ainda mais o primeiro lugar. Quando acessei o site em janeiro e vi meu nome em primeiro lugar, eu e minha esposa demos um pulo e lemos e relemos o resultado pois não acreditávamos!! Em Junho meu Kurweil Forte ® chegou, e a Proshows que é a atual importadora da marca me chamou para fazer parte do time de endorsers.
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Tudo em minha vida tem a música como um dos personagens. 14 / Revista Keyboard Brasil
RKB: Obrigada pela entrevista e parabéns pelo excelente trabalho que vem realizando. Sucesso sempre! OC: Eu que agradeço a oportunidade, e parabéns para a Revista. Saiba mais sobre Orlan Charles. Acesse:
Mercado
Daniel Baaran: músico autodidata, especialista de produtos da Roland e colaborador da Revista Keyboard Brasil.
Desvendando o
ROLAND XPS-10 SEM DÚVIDA ALGUMA O ROLAND XPS-10 É O LANÇAMENTO MAIS COBIÇADO DA ATUALIDADE. AGORA... POR QUE ESSA FAMA? O QUE ELE TEM DE TÃO ESPECIAL? O QUE É DIFERENTE NELE? HOJE ESTOU AQUI PARA MOSTRAR PORQUE O XPS-10 SE TORNOU O LANÇAMENTO DO ANO. Daniel Baaran
O
Roland XPS-10 nasceu como um projeto da Roland Japão dedicado aos países
emergentes. Desse modo, uma força tarefa reuniu os especialistas de alguns 16 / Revista Keyboard Brasil
países para desenvolver um produto com a cara de cada país. A Roland Brasil trabalhou diretamente no desenvolvimento de funções e escolhas de sons. No banco Word/Others, por exemplo, você
encontra uma série de sons com a sigla (BRA) após o seu nome, isso indica que esses sons foram escolhidos por especialistas da Roland Brasil. Na verdade o foco inicial, ou seja, o público alvo, era destinado para os tecladistas iniciantes, aquele primeiro contato com um teclado Roland. Porém, não foi isso que aconteceu. Como o XPS-10 mostrava muita praticidade pesando apenas 4kg e com uma qualidade sonora de alta performance, logo os músicos profissionais começaram a se interessar pelo pequeno mas, poderoso instrumento. Da mesma forma que o som produzido por ele traz muita qualidade, suas funções não ficam atrás. Pensamos em alguns recursos para facilitar no dia a dia dos clientes, uma função muito importante que não poderia ser esquecida é a de sons favoritos, onde você organiza os sons que mais usa ou faz uma sequência de sons de acordo com seu repertório
repertório do dia. O mais legal é a facilidade em colocar seus sons favoritos na ordem! Basta escolher o som que deseja salvar, segurar o botão “FAVORITE” e apertar o botão que deseja salvar o som, por exemplo… Eu escolhi o som de piano numero 10 e quero acessá-lo através do favorito número 3. Eu só preciso segurar o botão “FAVORITE” e depois o botão 3. Pronto! O piano número 10 já estará salvo nessa registração. Após escolher seus sons favoritos, basta apertar o botão “FAVORITE”. Ele acenderá indicando que os botões de famílias de sons agora funcionam com os “favoritos”. Agora vem outra pergunta: Quantos favoritos eu posso salvar? A resposta é bem simples: até 100 favoritos! Quando você ocupar os 10 botões (de 0 a 9) poderá mudar para outro banco. No total, o XPS-10 contém 10 bancos com 10 locações cada, ou seja, 100 sons favoritos. Para mudar o banco é simples: do lado do número “0” você vai encontra o botão “BANK”, quando Revista Keyboard Brasil / 17
acionado, possibilita a mudança dos bancos. Quando você ligar o XPS-10, sempre aparecerá no banco o “0”. Para mudar, pressione o botão “BANK” e, depois, o número do banco que você deseja. Outro recurso muito interessante no XPS-10 é o de misturas de sons que ele possibilita. Você pode trabalhar com até 16 sons simultâneos no modo performance ou, com estrema facilidade, misturar 2 sons no modo DUAL ou, ter um som em cada mão no modo SPLIT. Para ter um som em cada mão é muito simples! Basta você apertar o botão “SPLIT/ DUAL” uma única vez. Automaticamente, os sons se separam no teclado, um fica para ser tocado pela mão esquerda e o outro, pela mão direita. O mais comum, nesse caso, é um baixo na mão esquerda e um piano na direita. Porém, você é livre para experimentar o que quiser. Para mudar os sons é bem simples: use as teclas “<CURSOR>” para direita ou, esquerda, para selecionar a parte que você vai modificar. As teclas “- VALUE+” mudam o som de cada parte. Lembre-se de usar os botões de famílias para achar mais rápido o som desejado. A função DUAL não é diferente: quando você aciona o botão “SPLIT/DUAL” pela segunda vez, ele vai ficar piscando, indicando que está ativada a função DUAL, ou seja, agora os dois sons estão sobrepostos, por exemplo: um piano e um strings, para modificar cada som, use o mesmo procedimento adotado na função 18 / Revista Keyboard Brasil
SPLIT: use as teclas “<CURSOR>” para direita ou, esquerda, para selecionar a parte que você vai modificar. As teclas “VALUE+” mudam o som de cada parte. O mais legal e, um diferencial do XPS-10, é que essas duas partes (tanto DUAL quanto SPLIT) possuem um volume independente separadamente. Próximo ao centro do teclado, temos a sessão "SOUND MODIFY” dedicada às edições de sons e volumes das partes. Da direita para esquerda, vemos o volume dos “AUDIO PAD” (que explicarei depois), os volumes das duas partes, efeitos como “CHORUS” e “REVERB” e os envelopes (CUTOFF, RESONANCE, ATTACK e RELAESE). Tudo isso facilita muito sua performance ao vivo e não importa se você toca em uma balada eletrônica, se é em uma igreja ou no seguimento da música sertaneja. Um dos recursos mais legais que esse teclado possui é a função “AUDIO PAD”, onde possibilita o usuário disparar músicas, vinhetas, samplers e muito mais! Você pode deixar essa música em “LOOP”, ou seja, se repetir várias vezes. Você também tem o controle de volume dos pads na sessão “SOUND MODUFY”, para disparar uma música através da função “AUDIO PAD”. É bem simples! Basta ter uma música em um pendrive comum, formatado através do XPS-10 na pasta “SONG”, que a mesma será disparada pelos pads. Caso queria estabelecer uma ordem das músicas, basta renomeá-las com número antes do nome da música. Ou seja, se quero que a música “Grande é o Senhor” seja a primeira a ser
Daniel Baaran: ‘‘O Roland XPS-10 foi destinado aos tecladistas iniciantes, aqueles que teriam um primeiro contato com um teclado Roland. Porém, possuindo muita praticidade, pesando apenas 4kg e com uma qualidade sonora de alta performance, muitos músicos profissionais começaram a se interessar pelo pequeno mas, poderoso instrumento’’.
tocada, renomeie-a como “01 Grande é o Senhor”. Automaticamente, ela será direcionada para o pads 1. Caso queira tocar mais de 6 músicas, você pode criar pastas e subpastas direcionando todo o seu repertório. O XPS-10 comporta arquivos MP3, WAVE, AIFF e SMF, todos em 44kHz. Quando você estiver com o pendrive encaixado no XPS-10 automaticamente os pads acionam os ritmos internos do XPS-10. Cada estilo possui 6 variações, ou seja, uma variação por pad. Para trocar o estilo, pressione o PAD “LIST” e use “- VALUE +”, caso queira mudar a bateria que está sendo usada no ritmo, use os botões “<CURSOR>” para selecionar a função de troca e “- VALUE +” para selecionar a bateria desejada. Por último mas não menos importante, o XPS-10 possui uma função que geralmente só está presente nos teclados de ponta, a função “SAMPLER”. Esse recurso destaca o XPS-10 dos seus concorrentes: você pode pegar amostras
de sons de outros instrumentos e importar para as teclas do XPS-10. Isso mostra a versatilidade do pequeno notável, ou seja, quando você desejar ter sons mais potentes ou atuais é só conseguir as amostras e distribuí-las através de toda extensão do teclado. O XPS-10 tem a capacidade de até 32 mega de amostras. Isto é, uns 3 sons usando 15 samplers distribuídos através do modo “PERFORMANCE” (o resultado fica com alta qualidade). Bem, essa é a minha visão de um dos teclados mais marcantes da história da Roland Brasil! Esse instrumento é tão bom que comprei um para mim! Caso você queira saber mais sobre o Roland XPS-10 ou adquiri-lo, estou à disposição p a r a a j u d á - l o , s e j a n o www.facebook.com/danielbaaranoficial ou pelo fale conosco do meu site www.keyboardcenter.com.br Tamu Junto !!!
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Revolução Musical
20 / Revista Keyboard Brasil
Fotos: Divulgação
Grandes desenhistas do
ROCK
Os mais exuberantes desenhistas de capas de LPs/Vinil do século XX! POR EXPERIÊNCIA PRÓPRIA E ADMIRAÇÃO PELA ARTE DE VANGUARDA, ESTE MÊS VOU CITAR NOMES E OBRAS QUE ME VÊM À CABEÇA NESTES ÚLTIMOS 40 ANOS, REVERENCIANDO OS ARTISTAS GRÁFICOS PRINCIPAIS DE TODO UM PERÍODO QUE SE INICIOU EM FINS DA DÉCADA DE 60 DESEMBOCANDO NOS ANOS 80
–
UM REGISTRO
PARA CONSULTA E PESQUISA A TODOS OS AMANTES DO VELHO E FANTÁSTICO ROCK VINTAGE. * Amyr Cantusio Jr.
Amyr Cantusio Jr: músico premiado no exterior e colaborador da Revista Keyboard Brasil! Revista Keyboard Brasil / 21
As capas de discos, além de espelhar a visualidade dos aspectos que os estudos culturais privilegiam (se levarmos em consideração que a música é uma das mais fortes expressões culturais e, por isso, o disco era um produto consumido por muitos), refletem um período de enorme criatividade em fins da década de 1960 até o início da década de 1980!
N
a passagem dos finais dos anos 60 aos anos 70 (década toda), o Rock ampliou seus horizontes não só na música,
mas na arte, em geral. As obras pas-
saram a ser complexas, conceituais e elaboradas. O embasamento da literatura ocultista, fantástica, ficção e filosofia (oriental e ocidental) passaram a ser parte íntima dos discos. Para acompanhar, foram contratados designers (artistas gráficos, desenhistas e fotógrafos altamente qualificados) para desenhar as capas dos LPS. Helmut Wenske (Chris Hyde) um dos mais velhos (nascido em 1940, na Alemanha) fez várias capas do Nektar (banda progressiva inglesa, que gravou parte dos LPS na Alemanha). O Nektar, ao lado do Eloy, possui de longe as capas mais lindas do Rock Progressivo alemão.
22 / Revista Keyboard Brasil
Para não me estender, vou citar nomes e obras que me vêm à cabeça nestes últimos 40 anos, por experiência própria e admiração pela arte de vanguarda, aquilo que experimentei ao longo dos anos adquirindo meus discos durante a vida.
Se deixar passar algo (e vai passar uma boa quantidade) quero lembrar a vocês, leitores, que este artigo é somente para reverenciar os artistas gráficos principais de todo um período (Vintage) que desemboca nos anos 80, já sem a força que possuía nos seus primórdios e as bandas mais famosas, as quais sacramentaram seus trabalhos. Então, fica aqui um registro para consulta e pesquisa a todos os amantes do velho e fantástico Rock Vintage. (R.I.P. é a sigla para “Descanse em Paz”, utilizada aos artistas já falecidos).
Artistas – Roger Dean (Inglaterra): desenhista principal de 3 bandas clássicas, a saber Yes, Uriah Heep e Greenslade. – Patrick Woodroofe (R.I.P.): Greenslade e Pallas. – G.Giger (R.I.P. Suíça): E,L&P. – Frank Frazetta (R.I.P.): Nazareth, Dust, WolfMother e Molly Hatchet. – Rodney Matthew (Alemanha): Eloy, Thin Lizzy e Scorpions. – Dave Fairbrother Roe (R.I.P.): Popol Ace e Jon Anderson primeiro LP. – Alain Voss: desenhista de duas capas dos Mutantes maravilhosas (Jardim Elétrico e Mutantes no País dos Baurets). – Chris Achilleos: Whitesnake e Uriah Heep. – Marcus Keef (Inglatera): Fez a famosa primeira capa do BLACK SABBATH (1970). Fotógrafo, designer e capista. Desenhou ainda as capas para: Cressida, Manfred Mann, Colosseum , Zior, David Bowie, Uriah Heep e Beggars Opera, entre os mais famosos. Talvez o mais famoso por ser o mestre do selo mágico “Vertigo”. – Mark Wilkinson: Especialista nas maravilhosas capas do Marillion, citando-o como um dos principais na entrada dos anos 80. – Barney Bubbles: Várias capas fantásticas do Hawkwind, banda de space rock inglesa. PARA FECHAR: – Storm Thorgerson and Aubrey Powell (Hipgnosis) em especial, a maior produtora, a mais carismática e poderosa, foi realmente a Hipgnosis com extensa obra de discos, entre os quais, a fabulosa capa história do LED ZEPPELIN (Houses of the Holly). A seguir, as capas dos grupos de Rock sob esta marca maravilhosa. Storm Thorgerson (à direita, falecido em 2013) e Aubrey "Po" Powell (esquerda), fundadores do Hipgnosis - um grupo britânico de design gráfico artístico especializado em criar arte de capa para álbuns de músicos e bandas de rock, sendo mais notável os seus trabalhos para o Pink Floyd, Wishbone Ash, UFO, 10cc, Bad Company, Led Zeppelin, Yes, The Alan Parsons Project e Genesis. Revista Keyboard Brasil / 23
Lembrando que citei nomes e obras que me vieram à cabeça nestes últimos 40 anos. Se você, leitor, quiser enviar sua lista
para a Revista Keyboard, basta mandar um e-mail para contato@keyboard.art.br Até a próxima edição!
*Amyr Cantusio Jr. é músico (piano, teclados e sintetizadores) compositor, produtor, arranjador, programador de sintetizadores, teósofo, psicanalista ambiental, historiador de música formado pela extensão universitária da Unicamp e colaborador da Revista Keyboard Brasil. 24 / Revista Keyboard Brasil
Memรณria
mรกquina de escrever
partitura Uma raridade digna de colecionadores!
26 / Revista Keyboard Brasil
A ARTE DA IMPRESSÃO MUSICAL É UM ASSUNTO FASCINANTE E QUASE NUNCA É MENCIONADA NAS SALAS DAS UNIVERSIDADES OU ENTRE OS MÚSICOS. EXISTIRAM TÉCNICAS VARIADAS PARA A IMPRESSÃO DE MÚSICAS NO MUNDO OCIDENTAL, MAS HOJE VOU FALAR DE UM ARTEFATO TECNOLÓGICO QUE SERVIU DURANTE UM TEMPO PARA FACILITAR A VIDA DOS MÚSICOS. JÁ OUVIU FALAR NAS MÁQUINAS DE ESCREVER PARTITURAS? SABE-SE QUE ELAS FACILITARAM MUITO A VIDA DE MÚSICOS, PROFESSORES E ALUNOS DE MÚSICA ANTES DO SURGIMENTO DOS COMPUTADORES, MESMO MUITOS COMPOSITORES AINDA PREFERIREM ESCREVER AS PAUTAS DE PRÓPRIO PUNHO NAQUELA ÉPOCA. Heloísa Godoy Fagundes
A
s primeiras máquinas de escrever partitura foram desenvolvidas no século XVIII, tornando-se populares até meados da década de 1950. Vários modelos diferentes foram inventados, mas havia dois conceitos diferentes que se tornaram padrão. O Keaton Música Typewriter era muito diferente de uma máquina de escrever. Ele tinha dois teclados, um que era móvel e um fixo; e os modelos mais parecidos com uma máquina de escrever regular. Eles empregaram símbolos musicais em vez
de letras. Depois que a música era escrita no papel, o original era fotografado ou copiado para fazer as cópias suplementares necessárias para distribuir e vender. Embora a maioria dos itens que se seguem são máquinas de escrever música, outros dispositivos semelhantes para a impressão de músicas foram incluídos aqui. Também quero deixar claro que foram escolhidos os projetos a seguir, ficando tantos outros fora da minha lista, pois há uma longa história de máquinas concebidas para escrever a música.
Revista Keyboard Brasil / 27
1885 – columbia music typewriter
A Columbia Music Typewriter foi inventada por Charles Spiro e patenteada em 01 de dezembro de 1885. Foi produzida pela Columbia Music Typewriter Company. Era uma máquina compacta, simples, portátil. A máquina de Spiro era vendida por US $ 10, em 1886.
1891 – type writing machine
(1, 2 e 3) Charles Spiro e sua máquina portátil, compacta e simples’’. (4) patente de John Henry Green para sua Type writing machine.
Em 1891, um dos primeiros também a tentar adaptar um teclado normal de uma máquina de escrever para reproduzir partituras foi John Henry Green, que patenteou seu invento em Indianápolis, nos EUA. Green foi seguido, em 1893, pelo primeiro dos três Franks de Massachusetts: Frank H. Bowen; Frank H. Beals e Frank C. Winn, ambos em 1900.
1910 – nocoblick music typewriter
O Nocoblick foi projetado por Ludwig Massen e foi bastante utilizado entre 1910 e 1917. A máquina foi produzida por Groyen e Richtmann de Colônia, Alemanha. O Nocoblick permitiu aos músicos produzirem partituras completas, ou seja, com letras. Movendo uma alavanca, o Nocoblick também poderia ser utilizado como uma máquina de escrever normal. Porém, a procura não era tão grande e apenas alguns sobreviveram. As notas musicais eram inseridas conforme necessário em um suporte especial. Em 1917, George Blickensderfer morreu. 28 / Revista Keyboard Brasil
Como resultado, a máquina não pode mais ser comercializada do outro lado do Atlântico. Hoje, o Nocoblick é um achado raro.
1923 – Walton music typewriter
O reverendo J. Walton inventou uma máquina de escrever música que veio a ser conhecida como Walton Music Typewriter. Produzida pela The Music Typewriter Co. nos idos de 1923. A empresa era localizada em Londres, Inglaterra, e a máquina era capaz de desenhar as aduelas, imprimir símbolos musicais e texto. O operador podia ver o caractere e a linha em que a música era impressa. Também poderia ser utilizada para fazer transferências litográficas, para fazer uma cópia à texturização, ou para a preparação de stencils de cera. 1931 – Melotyp / Nototyp Music Typewriter
O Melotyp Music Typewriter foi inventado pelo engenheiro Gustave Rundstatler em Berlim, Alemanha. A data mais antiga atribuída ao Melotyp é 09 de setembro de 1931, a partir do Algemeen Handelsblad, um jornal diário sediado em Amsterdã. Especula-se, no entanto, que Carl Winterling trabalhou para a fabricante alemã Triumph Adler, de máquinas de escrever, e é possível que Rundstatler tenha vendido seu projeto para que o Melotyp fosse construído por Otto Rechnitz e Alfred Bernstein, em Berlim.
Acima: o Nocoblick permitiu aos músicos produzirem partituras completas, ou seja, com letras. Ao centro: a máquina criada pelo reverendo J. Walton. Abaixo: modelo Nototyp à venda, atualmente, em Montevidéu, Uruguai, por US$ 4900! Revista Keyboard Brasil / 29
30 / Revista Keyboard Brasil
Porém, a patente registrada nos Estados Unidos, leva o nome de Gustave Rundstatler com uma data de aplicação de 24 de Setembro de 1936. Em 1937, a Melotyp ganhou o grande prêmio na Exposição Internacional de Paris. Especula-se que apenas dez dessas máquinas foram feitas e cinco foram exportadas para os Estados Unidos em 1938. Quatro dessas máquinas agora estão em museus ou outras instituições musicais e, apenas uma está em mãos privadas. Nada mais se sabe sobre as outras cinco máquinas. Em 1939, no início da II Guerra Mundial, a Alemanha invadiu a Polônia. Como resultado, a produção de muitos produtos, incluindo o Melotyp parou e, após a guerra, nunca mais foi retomada. O Melotyp foi o antecessor do Nototyp que também foi desenhado por Gustave Rundstatler.
1936 – Keaton Music Typewriter
A primeira patente da Keaton Music Typewriter foi registrada em 1936, por Robert H. Keaton, na Califórnia. Nesta primeira versão, ela possuía 14 teclas. Em 1953, outra patente foi registrada, desta vez considerando 33 teclas. Somente seu funcionamento se assemelhava bastante a uma máquina de escrever convencional, pois bastava uma folha de papel inserida de forma correta sob sua estrutura, totalmente aparente, para seu manuseio. A venda popular das Keaton aconteceu por volta dos anos 50 e seu preço era algo em torno dos 225 dólares. Atualmente, a
Acima: Patente do Melotyp, invento criado por Gustave Rundstatler. Ao centro: um panfleto de propaganda das máquinas de partitura Keaton. Abaixo: Atualmente, é possível encontrar menos de uma dúzia da Keaton Music Typerwriter no mundo, e seu preço sai por aproximadamente R$10.800,00. Revista Keyboard Brasil / 31
(1 e 2) Esta máquina de escrever música pertence à coleção da Biblioteca Nacional da Austrália (NLA). (3) Anúncio da Musicwriter. (4) Cecil Effinger, à direita demonstrando seu invento com seu assistente.
engenhoca tornou-se uma raridade digna de colecionadores. E, segundo a CBS News, ainda é possível encontrar menos de uma dúzia no mundo, e seu preço sai por aproximadamente R$10.800,00.
1946 – Olympia Musicwriter
O Olympia Musicwriter foi inventado por Cecil Effinger, um músico americano, compositor e professor de música coral, que patenteou o modelo em 1954. Durante a Segunda Guerra Mundial, Effinger ingressou no exército, tornando-se diretor da banda do Exército 506. Depois da guerra, desenvolveu o trabalho de editor de música para The Denver Post, de 1946 a 1948. Por volta de 1946, Effinger criou o protótipo. Em 1954, completou sua invenção e patenteou sua máquina como Olympia Musicwriter. Exibiu seu primeiro modelo de produção em julho de 1955, em Denver. Sucesso comercial em todo o mundo por mais de quarenta anos! Durante esse período, mais de 5000 Musicwriters foram fabricadas em vários modelos. Entre outras criações, inventou um metrônomo que chamou de Tempowatch, na forma de um cronômetro - dispositivo para determinar com precisão o tempo da música (como ela está sendo executada). Estas foram algumas das inúmeras invenções criadas com o intuito de produzir partituras musicais.
32 / Revista Keyboard Brasil
Fotos: Divulgação
Por dentro
34 / Revista Keyboard Brasil
Morten Gunnar Larsen: instrumentista excepcional e possuidor de um conhecimento histórico fantástico.
CD norueguês mostra o antes e o depois de
ERNESTO NAZARETH
** Maestro Osvaldo Colarusso
Osvaldo Colarusso: maestro premiado pela APCA, professor, blogueiro, produtor, apresentador e colunista da Revista Keyboard Brasil.
Foto: Arquivo pessoal
CONHECIDO POR SEU TRABALHO NO JAZZ, PIANISTA MORTEN GUNNAR LARSEN MOSTRA G I N G A A O R E V I S I TA R O B R A S D E COMPOSITOR BRASILEIRO.
Revista Keyboard Brasil / 35
Ernesto Nazareth: Filho de “creole” haitiana, Nazareth é uma figura chave na história da música brasileira.
L
ançado recentemente pelo selo norueguês LAWO CLASSICS o CD Creole connections, que
ganhou nota máxima na revista BBC music, é uma verdadeira aula de história em torno do compositor brasileiro Ernesto Nazareth (1863-1934). O termo “Creole”, utilizado no título do CD, se refere originalmente a um filho de europeu ou africano nascido na América, e o que aprendemos neste CD é que Ernesto Nazareth beneficiou-se deste fascinante cruzamento cultural. O notável pianista norueguês Morten Gunnar Larsen, muito mais conhecido por seu trabalho jazzístico, demonstra neste CD toda sua paixão pelo compositor brasileiro, cuja obra ele conheceu em Nova Orleans nos Estados Unidos na década de 1980. Ele excuta todas as obras com um gingado de fazer inveja a muitos pianistas brasileiros. Vamos às origens da linguagem musical de Nazareth: Louis Moreau Gottshalk (1829-1869), filho de um judeu americano e de uma “creole” haitiana, compositor e pianista americano que faleceu no Rio de Janeiro (compôs a célebre Fantasia sobre o Hino Nacional Brasileiro), foi o primeiro a compor miniaturas pianísticas com ritmos latinos e africanos. O CD mostra quatro obras dele sendo que uma delas foi composta em Porto Rico e três no périplo que fez pelas Américas Central e do Sul. Nelas, podemos perceber o surgimento de uma estética que cairá como uma luva em Ernesto Nazareth. 36 / Revista Keyboard Brasil
Morten Gunnar Larsen e o pianista carioca Luiz Simas executam juntos em Oslo, Noruega, as variações sobre “Tico tico no fubá”, de Zequinha de Abreu.
A obra de Gottshalk foi apresentada ao compositor brasileiro por outro “Creole”, o professor de Nazareth, Lucien Lambert (1828–1896), pianista americano negro que viveu na então capital brasileira, e que foi grande amigo de Gottshalk. Estas conexões são impressionantes e quase que desconhecidas por aqui. Do compositor brasileiro, o CD apresenta oito composições, desde o famoso Odeon até composições raramente executadas como misterioso Tango Labirinto (com originais pausas em meio às frases), a valsa Turbilhão de beijos e o maravilhoso Tango Carioca. Mas o CD vai ainda mais longe. Mostra uma bela composição do compositor cubano Ignácio Cervantes (1847-1905), também amigo de Gottshalk, e duas do também cubano Ernesto Lecuona (1895-1963). Outra obra interessantíssima do CD foi composta pelo venezuelano Lionel Belasco (1881-1967), Pequena melodia venezuelana. Belasco, como Gottshalk, era filho de um judeu e de uma mãe negra. O CD apresenta também leituras entusiasmantes de duas obras primas do
argentino Astor Piazzolla (1921-1992): Retrato de Alfredo Gobbi e La muerte del angel.
Não só o pianista Morten Gunnar Larsen é um instrumentista excepcional, mas demonstra ter um conhecimento histórico fantástico. O texto escrito por ele que vem no encarte, em norueguês e inglês, traz informações preciosas entre as quais o fato de Nazareth ter criado padrões rítmicos complexos em obras pianísticas bem antes do nascimento do “ragtime” americano. Ler esse texto é mergulhar num mundo repleto de influências, que vão desde Chopin até os ritmos africanos. Nazareth é uma figura chave na história da música brasileira. Prova disso é que Heitor Villa-Lobos dedicou a ele, em 1920, seu Choros Nº1. Conhecer a obra de Ernesto Nazareth suas origens e suas consequências, é indispensável para termos uma visão mais precisa de nossa linguagem musical. Este CD está disponível na iTunes Store por U$ 10,99. Baixando o CD vem o encarte em PDF. Recomendo fortemente.
* Texto retirado do Blog Falando de Música, do Jornal paranaense Gazeta do Povo. Conheça o blog clicando em http://www.gazetadopovo.com.br/blogs/falando-de-musica/ ** Osvaldo Colarusso é maestro premiado pela Associação Paulista dos Críticos de Arte (APCA). Esteve à frente de grandes orquestras, além de ter atuado como solista. Atualmente, desdobra-se regendo como maestro convidado nas principais orquestras do país e nos principais Festivais de Música, além de desenvolver atividades como professor, produtor, apresentador, blogueiro e colaborador da Revista Keyboard Brasil. Revista Keyboard Brasil / 37
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Revista Keyboard Brasil / 39
Perfil
40 / Revista Keyboard Brasil
Foto: Celso Godoi
SAMUEL QUINTO O talento brasileiro que ultrapassou fronteiras é considerado atualmente, um dos maiores representantes do
Latin Jazz na Europa! PIANISTA, MAESTRO, PRODUTOR, ARRANJADOR E EDUCADOR MUSICAL, O PARAENSE SAMUEL QUINTO É ARTISTA FRITZ DOBBERT ALÉM DE SER UM DOS MELHORES PIANISTAS DE LATIN JAZZ DA ATUALIDADE. Heloísa C. G. Fagundes
A
boa música feita pelo paraense Samuel Quinto, 41 anos, vem
da sua infância. Autodidata, foi em Salvador, Bahia, que Samuel desenvolveu o seu talento musical a partir dos 7 anos de idade. Seu primeiro contato com o piano foi através da música gospel. Frequentando a Igreja Batista com sua
família em Salvador, passou a tocar para os mais de 500 membros daquela comunidade, com apenas 12 anos. Tudo o que sabia veio da prática de ouvir e reproduzir, seja na igreja ou em casa, onde seus pais tinham um piano. Aos 25 anos, Samuel abandonou o curso de Engenharia Civil na Universidade Federal da Revista Keyboard Brasil / 41
Bahia para se dedicar à música. E, assim, iniciou sua carreira musical profissional, tocando piano do Hotel Marriott, na Costa do Sauípe, trilhando sua trajetória de sucesso. Com um repertório vasto e variado, Samuel consegue recriar, de forma original, os temas tradicionais brasileiros mais conhecidos como “Asa branca” e “Sandália de Prata”, passando pelas emblemáticas composições dos mais consagrados compositores e músicos de Jazz, desde as clássicas composições de Cole Porter até as músicas mais efusivas de Chick Corea. Radicado em Portugal desde 2004, Samuel coleciona vitórias importantes para um músico brasileiro. Ele é o primeiro músico a gravar/editar um CD de Latin Jazz em Portugal e a criar o primeiro curso do gênero no país ministrado por ele na Escola Jazz ao Norte. Por isso, Samuel Quinto é considerado atualmente, pelas revistas The Latin Jazz Corner e The Latin Jazz Network como um dos maiores representantes do Latin Jazz na Europa. Seu primeiro Cd, lançado em 2007 e intitulado “Latin Jazz Thril”, foi apreciado pela crítica musical europeia e muito divulgado naquele continente. Este primeiro trabalho passou a ser utilizado na Universidade de Música do Porto (ESMAE), no curso de graduação em Jazz, como material de estudo na formação dos alunos de Jazz. Além de ser convidado para ser o diretor artístico de um dos mais tradicionais jazz clubs de Portugal, o Bflat. 42 / Revista Keyboard Brasil
O 2º Cd do pianista veio em 2009. “Salsa'n Jazz” - álbum que aflora intensamente, o lado compositor de Samuel Quinto, mesclando raízes brasileiras com ritmos cubanos, sem esquecer o aroma africano - possui oito composições e conta, ainda, com as presenças dos músicos Marcos Borges, baixista brasileiro com formação clássica; e Manuel Santiesteban, cubano formado em bateria em Havana. Este trabalho figura entre os primeiros lugares nas recomendações da maior revista especializada em jazz nos EUA, a All-About-Jazz, além de ter recebido valiosa crítica por veículos de comunicação em diversos países, a exemplo da BBC londrina. Mas seu talento musical não se resume apenas ao Jazz. Samuel também passou a desenvolver o lado erudito, até então adormecido em sua música. Inspirado em grandes compositores como Beethoven, Mozart, Bach, Tchaikovsky, Brahms entre outros, iniciou composições para acompanhamento de ballet em espetáculos, bem como para orquestra e coro. Mas tarde, Samuel passou a compor minuetos, hinos e tangos. Este ano, o músico passou a ser o mais novo pianista representante da marca de pianos Fritz Dobbert, com um concerto de estreia no Teatro Gazeta, em São Paulo, além de gravar seu mais novo trabalho, o DVD “Solo Performance Latin Jazz.” Leia, a seguir, a entrevista exclusiva com Samuel Quinto.
Entrevista Revista Keyboard Brasil: Sabemos que você é autodidata. Ou seja, aprendeu tudo o que sabe sem qualquer acompanhamento de professores, desenvolvendo suas capacidades de pianista aprendendo também, harmonia, leitura e escrita da música, orquestração e composição musical. A partir de quantos anos o estudo musical passou a fazer parte da sua vida? Podemos concluir que você é um prodígio? Samuel Quinto: Senti a real necessidade do estudo formal de música quando fui convidado a acompanhar uma orquestra e não sabia ler música. Pensava que tudo se resumia ao “tocar de ouvido”. Triste ilusão (risos). Não sei se sou um prodígio, mas sei que sempre tive a música fluindo com relativa facilidade em compreensão na minha mente. Isso faz com que você entenda a essência das técnicas e consiga elaborar “caminhos” no estudo. Revista Keyboard Brasil: Seus pais tinham um piano em casa. O ambiente familiar era propício para que surgisse um prodígio na família? Samuel Quinto: O ambiente era ótimo! Meus pais sempre tiveram orgulho de me mostrar tocando piano para família e amigos. Também tem o fato de ter crescido vendo bons pianistas eruditos na igreja Batista onde minha família e eu frequentávamos. Revista Keyboard Brasil: Quais são suas influências musicais? Samuel Quinto: Tenho muitos artistas
que me inspiram muito, e isso em várias áreas. Do rock ao erudito, do jazz a nossa MPB, música gospel, etc. Mas um artista que me influenciou profundamente foi Michel Camilo. Pude ver seu concerto e perceber que era uma linha de interpretação e composição muito aproximada do que eu gostaria de fazer. Também ouço Bach, Mozart, Chick Corea, Pat Metheny, Tom Jobim, Milton Nascimento e tantos outros grandes gênios, em vários gêneros. Revista Keyboard Brasil: Com quantos anos passou a compor? Como era esse processo? Mudou alguma coisa? Samuel Quinto: Passei a compor com 12 ou 13 anos, mas já não me recordo bem disto. Era um processo bastante intuitivo e simples. Hoje, componho de várias formas, com aplicação de técnicas diversas, nunca deixando de lado a mesma intuição da minha infância. Também gosto de saber a opinião dos meus amigos, músicos ou não sobre ideias musicais. Gosto de pesquisar, de colher dados rítmicos por exemplo. Estudei várias claves afro-cubanas, brasileiras, porto-riquenhas etc, de maneira geral sulamericanas, para aplicar nas minhas composições sobre melodia, ataques, fraseados etc. Revista Keyboard Brasil: Por que escolheu o gênero Jazz Latino? Samuel Quinto: Achei que por ser Latinoamericano vivendo na Europa e por ver o crescente interesse do público europeu pelo gênero, seria mais fácil conseguir mostrar minha música. Revista Keyboard Brasil / 43
Foto: Ricardo Costa / Imagem do Som
Samuel Quinto lançou dois Cds de grande repercussão na europa: Latin Jazz Thrill, em 2007 e Salsa´n Jazz, em 2009.
RKB: Como os ouvintes europeus receberam o Jazz Latino no início? SQ: Deu certo (risos!). Minha música foi muito bem recebida. Sou muitíssimo grato a todos os europeus, pois pude conhecer países e culturas fazendo a minha música e agregando valores a ela. RKB: Na Europa existem muitos estudantes com interesse por este estilo? SQ: Tem surgido cada vez mais. O que acho ótimo! É gratificante ver estudantes interpretando minhas músicas e pensando sobre elas. E, aqui vai meu agradecimento a todos os estudantes que ajudam a divulgar ainda mais este estilo no mundo. 44 / Revista Keyboard Brasil
RKB: Você ministra palestras e workshops numa área que abrange desde produção musical e composição, como técnicas instrumentais e vocais. Nunca sentiu preconceito por não ter tido uma formação musical convencional? SQ: No início da minha carreira eu sofri um pouco. Mas a perseverança faz uma grande diferença na vida de uma pessoa, me ajudou a querer ser um pesquisador. Comecei então um processo didático pessoal, de estudo teórico-prático de 12 a 14 horas diárias. Desta forma, fui ampliando o domínio técnico do instrumento, e do conhecimento em áreas diversas. Ainda continuo com esse estudo profundo. Não consigo parar (risos). RKB: Por que escolheu Portugal para morar? SQ: Já tinha passado pela Espanha e Inglaterra. Já vivendo em Porto, Portugal, eu percebi que nunca tinha sido editado um álbum deste gênero. Vi uma grande possibilidade de conquistar um público que gostasse das minhas composições e arranjos, além de ser muito bem recebido pelos portugueses.
RKB: Pode nos falar sobre sua primeira composição sinfônica, composta em 2011, intitulada Sinfonia nº1 em Lá Bemol Maior “Pascha Aeternam”? SQ: Bom, pensei assim “nunca compus uma valsa”. Queria algo majestoso, como as valsas de Tchaikovsky ou Brahms. Tive ideia do motivo em Lá Bemol Maior e comecei a desenvolver a estrutura da valsa. Pensei numa formação sinfônica clássica e fui montando a grade. Quando terminei, pensei que poderia escrever uma variação menor com menos notas do motivo e criar um adagio ou moderato. Percebi que poderia, então, criar uma sinfonia em 4 movimentos na forma sonata. Para o 2º movimento, ouvi atentamente por várias vezes a Lacrimosa e Confutatis do Réquiem de Mozart para me inspirar. Para o 1º movimento foram usadas variações dos outros dois. O 4º movimento foi inspirado pelo Messias de Handel. Depois, pensei em transformar a obra numa sinfonia coral, como a Sinfonia nº 9 de Beethoven, mas com libreto em Latim e Português, retratando a Paixão de Cristo. A letra foi em parceria com meu amigo André Lamas Leite.
Foto: Divulgação
RKB: Quais são seus projetos futuros? SQ: Muitos!!! (risos) A priori, vou fazer concertos de divulgação do DVD Solo e concluir a ópera Sansão e Dalila que está a meio caminho. Também continuando a dar Master Classes e Wokshops como forma de motivar os estudantes no sério estudo da música em suas mais variadas vertentes.
RKB: Obrigada pela entrevista e sucesso! SQ: Sou muitíssimo grato a Deus e a Keyboard pela oportunidade de mostrar um pouco o meu trabalho, e pelo apoio em promover nossa arte.
Novo trabalho em
2015: DVD Solo Performance Latin Jazz.
Saiba mais sobre Samuel Quinto:
Revista Keyboard Brasil / 45
Educação
48 / Revista Keyboard Brasil
motivação
& prazer: Palavras-chave!
NO APRENDIZADO DO PIANO, ASSIM COMO EM TODA APRENDIZAGEM, A DISCIPLINA E A PERSEVERANÇA SÃO INDISPENSÁVEIS. MAS, COMO CONSERVAR A MOTIVAÇÃO NECESSÁRIA? POR QUE TOCAR UM INSTRUMENTO NÃO PODE ESTAR DESVINCULADO DO PRAZER? *Maestro Marcelo Fagundes
Revista Keyboard Brasil / 49
V
ivemos na era do desenvolvimento pessoal, onde é de extrema importância conhecer a si próprio de forma plena para que se possa escolher adequadamente o caminho a seguir. Nunca tivemos tantas oportunidades de encontrar a autorrealização e o aproveitamento destas chances depende unicamente de cada um de nós. Sem metas não há razão para se fazer algo. São as metas que nos motivam cotidianamente e, a motivação -
elemento essencial para o desen-
volvimento do ser humano - é o que faz com que os indivíduos dêem o melhor de si. Ou seja, a motivação o instiga a continuar progredindo para atingir suas metas. A motivação pode acontecer de duas maneiras: a primeira, chamada de auto-motivação, ou motivação intrínseca, ou seja, cada pessoa tem a capacidade de se motivar ou desmotivar através de uma força interior; e a segunda, chamada de motivação extrínseca, que é aquela gerada pelo ambiente que a pessoa vive, ou seja, o que ocorre na vida dela influencia em sua motivação.
A motivação e os pianistas O universo da música é apaixonante. O piano é considerado por muitos, como um objeto de fascínio e é impossível não se impressionar pelo mágico e requintado som desse instrumento considerado um dos mais clássicos do mundo ocidental! No aprendizado do piano, assim como em toda aprendizagem, a disciplina e a perseverança são indispensáveis. Mas, como conservar a motivação necessária?
O prazer que nos produz uma atividade é o maior motor para entregar-nos a ela sem medir esforços. Por isso, tocar um instrumento não pode estar desvinculado do prazer. Perder o frescor do tocar é perder a alma da música. No entanto, as exigências cada vez maiores de rendimento tornam difícil conservar esta atitude lúdica. Enganosa50 / Revista Keyboard Brasil
mente, muitos pensam que os mais altos níveis técnicos e interpretativos só podem conseguir tal feito sacrificando tal atitude. Lamentavelmente, esta postura frente ao progresso pianístico traz, como consequência, a perda da paixão pelo que fazemos e o empobrecimento artístico. Entretanto, a perfeição técnicointerpretativa pode ser conseguida plenamente através de uma atitude prazerosa. E isso motiva, porque implica estar concentrado e distendido, abrindo caminhos para a criatividade, enfrentando desafios e superando nossos limites, ao mesmo tempo que sentimos prazer no qual as horas não contam. Esta atitude frente ao instrumento resulta em progressos permanentes, além de resultar no desfrute do processo. Veja, a seguir, um excelente vídeo sobre motivação!
Um concerto inesquecível... Um vídeo que correu o YouTube há algum tempo mostra uma ideia de motivação. Nele, está para acontecer um concerto do pianista polaco Ignaz Paderewski¹. Com o objetivo de encorajar o filho a estudar mais piano, a mãe o leva a um recital de Paderewski. Depois de se sentarem, o garotinho aproveita a oportunidade e vai explorar a sala de espetáculos, entrando na zona reservada aos artistas. A senhora nota o sumiço do filho e pergunta ao marido, que não sabe onde ele possa estar. Quando as luzes da sala diminuem para o concerto dar início, a cortina se abre revelando um imponente piano Steinway no palco. Horrorizados, todos reparam que o garoto está sentado ao piano tocando inocentemente a melodia tradicional Twinkle, Twinkle, Little Star (“Brilha, brilha, estrelinha”). Nesse momento, Paderewski entra e diz para o garotinho não parar de tocar. Então, debruça-se sobre ele com um braço de cada lado e começa a improvisar um baixo nos graves e um “preenchimento” nos agudos. Assim, o mestre e a criança transformam o que poderia ser uma situação assustadora numa experiência criativa e motivadora. ¹Ignacy Jan Paderewski (1860–1941): virtuoso pianista, compositor, diplomata e político, tendo sido o primeiro ministro da Polônia independente depois da Primeira Guerra Mundial.
*Marcelo Dantas Fagundes é músico, maestro, arranjador, compositor, pesquisador musical, escritor, professor, editor e membro da ABEMÚSICA (Associação Brasileira de Música). Revista Keyboard Brasil / 51
MĂşsica dos sentidos
52 / Revista Keyboard Brasil
Foto: arquivo pessoal
Patrícia Santos: Estudante de Música e de uma sensibilidade sem tamanho!
DEBUSSY: o presente de férias! SE QUISER SENTIR-SE LIVRE BASTA OUVIR DEBUSSY E TUDO FARÁ SENTIDO NOVAMENTE! * Patrícia Santos
Imagem: Van Gogh
T
odos os dias eu costumava abrir a janela na esperança de ouvir um som diferente dos habituais, um som profundo, mais reluzente,
mais tangível, mais do que os sons que conheço, que experimento, que busco. Passei a tarde a procurar. Da rua vinham as nuvens enfumaçadas dos automóveis, trazendo o clima arenoso que até sufocava, passantes rápidos e apressados pelas calçadas apertavam e aceleravam os passos, fazendo sapateados desordenados, chegando em formas de ritmos até a minha janela. Sentei e me deixei levar pelo pensamento... Revista Keyboard Brasil / 53
Tenho corrido atrás de um som tangível e sempre escuto o caos! Não há nada mais tangível que o próprio caos, daquele que arrebata e mostra escuridões e sombras jamais vistas por ninguém, além de si mesmo. Fazemos uma força constante frente à humanidade, mostramos apenas o que temos de belo e brilhante. Mas o caos é a escuridão e, para o desconforto universal, é nossa maior fonte de auto-conhecimento, como disse Nietzsche: – “É preciso ter um caos dentro de si para dar à luz a uma estrela cintilante.” Como você pode saber o que é sentir, se não sentiu? É preciso sentir, é preciso chorar pelo o que for dolorido, para enxergar o que pode sanar uma dor, e trazer um sorriso. É preciso saber o que é a escuridão para enxergar e saber o que pode ser uma luz. A profundidade que há num som também há em nós. Talvez por isso a emoção fique tão visível diante de sons elaborados por estes caminhos – imensos e diversos – as emoções são almas gêmeas e, em determinados instantes, se encontram nessa imensidão, unindo-se para sempre. Mas, a profundidade ao que percebo enquanto procuro esse som reluzente hoje, não é muito apreciada, porque exige coragem habilidosa de mergulhar em si mesmo e descobrir até onde podemos ir, o que podemos e o que não podemos. E, admitir que não podemos algo por diversos motivos, é aniquilador! Sempre queremos poder tudo! E, à medida em que os dias envelhecem, nos entristecemos, por enxergar em um dado 54 / Revista Keyboard Brasil
momento que não podemos o tudo, porque existem limites, o que é nosso e o que não é. Durante minhas férias, li muita literatura, principalmente as latinas, que tem uma escrita muito calorosa e realista, como o uruguaio Mario Benedetti, que é o alicerce em letras; tocava o pequeno método de introdução de piano e assistia as imagens observando as emoções, como todos os dias. Mas ontem, havia uma inquietação constante por dentro, nada satisfazia. O que seria? Fui até a estante, olhei os discos, pensei em colocar alguns deles para tocar, mas já ouvi tanto, tantas vezes todos, que desafiei experimentar um pouco da contemplação e, notei que, não importa quantas vezes ouvimos uma música, mesmo se decorarmos todos os compassos, todas as notas, todo o conjunto, sua sonoridade sempre soará diferente para nossos ouvidos, pois sinto que o som se transfigura na realidade e reflete o instante, entra em contato com a atmosfera e se condensa no ar, o som se reconstrói, se alinha, se torna parte do ambiente, as cores e os contornos dos móveis, das paredes, das coisas, as luzes que entram, o clima, ao silêncio ou ao barulho que estamos presenciando junto com nossas emoções, principalmente. Antes, por exemplo, não suportava o silêncio! Sempre queria estar em ambientes ruidosos entre muitas conversas, em sons contínuos. Mas, depois de muito experimentar, descobri que a solidão traz um silêncio de preenchimento, pois é no silêncio que podemos ouvir nossa própria
Abraçando escalas não-tradicionais e estruturas tonais, o compositor Claude Debussy (1862-1918) é um dos compositores mais conceituados do final do século XIX e início do século XX e é visto como o fundador do impressionismo musical.
voz. Peguei na mão o disco que recentemente ganhei de presente e gostei imensamente, é uma coletânea do compositor francês Claude Debussy, com interpretação do pianista italiano Arturo Benedetti Michelangeli, que foi um pianista magistral ao que tenho descoberto. É novidade deliciosa a música
de Debussy para mim, como a interpretação de Michelangeli e o aprendizado da música! Tudo é novo. Mas, independente de conhecer ainda tão pouco, de ser uma iniciante, o que acima de tudo me impulsiona a estudar e me chama a atenção, é a curiosidade e a vontade de saber: como a música é feita? Como os sons funcionam? E, sem qualquer análise, pois não tenho ainda conhecimento técnico para fazê-la, sinto vontade de voar cada vez que ouço a obra dele, as sensações de tensão e relaxamento que comecei a estudar, parecem não existir em seus discursos sonoros. É como se fossem as pétalas daquelas flores “dente-de-leão”, que quando assopramos voam alto e que eu, quando criança, dizia serem as fadas. Diz a lenda, que essa flor se abre antes do nascer do sol e se fecha, ao
poente, que ela nasce sem intervenções humanas, em lugares pouco férteis com facilidade, resistindo aos maltratos dos dias. Bem parecida com a sonoridade de Claude Debussy, na minha percepção. A obra que ele criou se materializa, reflete no mundo. Sinto como se Debussy tivesse atingido um grau de elevação espiritual, de uma consciência do mundo tão grande, que foi capaz de exprimir em forma de música, imprimindo no som sua visão e posição diante da vida. Quando ouço é o ápice da liberdade que enxergo, se quiser sentir-se livre basta ouví-lo e tudo fará sentido novamente! Não me parece que Debussy pensava em si próprio apenas, pois a música é ampla e com muitos espaços! Acredito que possuía um pensamento cheio, flutuante, de uma dimensão além, de uma modificação oscilante entre a vida e os ideais, com desejos e ideias que outros não tinham. Isto está explícito para mim em suas notas... Ouvia sons
que ninguém mais ouvia, como Van Gogh, que enxergava os expirais e os desenhava como uma assinatura, como sua marca original. Revista Keyboard Brasil / 55
Penso e sinto tantas coisas ao ouví-lo, que algumas ligações se estabelecem sem que eu perceba, como associá-lo e comparálo à personalidades femininas literárias como a amada Virginia Woolf, a delicada e triste Florbela Espanca, e as incógnitas agridoces e densas Hilda Hilst, Cecília e Clarice. Penso que essas mulheres souberam entender, de um modo muito sábio, os problemas do mundo. Talvez por isso eu o compare com essas mulheres, pois a música que ele deixou se apresenta à mim da mesma forma. Enxergo os problemas, as
dores, as alegrias, os amores, a revolta... Ouço a vida acontecendo, se modificando e se ascendendo ao som de Debussy. Talvez eu tenha encontrado o som reluzente e tangível que eu procurava, e toda essa luminosidade esteja visitando essa época de vida, como um viajante que olha um lugar que desejava muito conhecer pela primeira vez. É com essa atmosfera que ouço Debussy. Talvez exista realmente esta transparência de vida impregnada nas notas que ele fez. Depois de muito pensar, comecei a ouvir as notas caindo, começando numa sutileza sendo puxadas pelo vento forte, todos os sons estavam acontecendo do lado de fora. Pensava que talvez o som que eu tanto buscava estivesse dentro de um disco na minha mão. Mas não, não era o som de Debussy, ou qualquer outro. Começou a chover! E pensei: – “O que pode ser mais reluzente, tangível e necessário, quanto a chuva? ” * Patrícia Santos é estudante de Música da Faculdade de Artes Alcântara Machado (FAAM). 56 / Revista Keyboard Brasil
Ponto de Encontro
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(da Música, Arte, Beleza, Educação, Cultura, Rigor, Prazer e Negócios)
Foto: Arquivo pessoal
Cenas do filme Note By Note: The Making Of the Steinway L1037 - maravilhosa história da fabricação do Steinway L1037, desde sua origem humilde nas florestas do noroeste do Pacífico ao showroom dos melhores instrumentos da Steinway Company. Direção de Ben Niles, 2007.
Luiz Bersou: os mais diversos e importantes assuntos com o intuito da reflexão sempre!
Fotos: Divulgação
O QUE SOBROU DA INDÚSTRIA DE INSTRUMENTOS MUSICAIS NO
PORQUE FATORES DE SUCESSO OU FRACASSO PERMANECEM? QUAL É O TIPO DE PLANEJAMENTO QUE O BRASILEIRO AINDA TEIMA EM APRENDER? O QUE ACONTECEU COM O ESTILO DE ADMINISTRAÇÃO PARA CHEGAR ONDE CHEGARAM OS NOSSOS EMPRESÁRIOS? LEIA E DESCUBRA! * Luiz Bersou
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Um olhar pelo nosso cenário...
studei piano por 14 anos. Toquei por bastante tempo. Quando trabalhava em Grenoble, França, que era uma cidade de uns 300.000 habitantes, ia sempre a uma loja onde estavam expostos muitos pianos, de todos os tipos, de todas as marcas. Passou o tempo e pouca coisa mudou.
Olhando para o nosso Brasil, o que vemos é um cenário muito triste. O número de lojas diminuiu muito e praticamente não existem mais por aqui fabricantes de instrumentos musicais. Conversando com empresários temos sempre como argumento a culpa dos outros. São os impostos, são os fornecedores, é a CLT, são os chineses, a pirataria, contrabando, o cliente que não paga e tudo mais. Fica uma pergunta: será que a culpa é só dos outros? O que aconteceu com o estilo de administração de nossos empresários para chegar onde chegaram, tão no fundo do poço? Algo tão grave no atual cenário macro econômico?
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Um estilo de administração - necessidade de capital de giro Fazendo uma amostra de empresas do setor de instrumentos musicais, encontramos sempre um mesmo padrão de funcionamento e sempre as mesmas razões para elas se perderem. Em um país como o nosso, em que há uma séria restrição à oferta de capital de giro, nenhuma das empresas analisadas tinha a noção exata da quantidade de capital de giro de que necessitava para manter o ritmo dos negócios. O problema ainda é visto como sendo do financeiro, que precisa ir ao banco buscar recursos. Que enorme engano!! O problema não é esse! Não dominando no seu dia a dia a quantidade de capital de giro que está utilizando, as empresas perdem o seu principal instrumento de planejamento operacional. Poucos se dão conta de que o planejamento do uso do capital de giro é a mãe de todos os planejamentos que acontecem na empresa e fator maior de sincronia mental e operacional no
ambiente da empresa. Ele começa com vendas e termina na cobrança. Trata-se de um ciclo econômico só que requer percepção do que está acontecendo. Vamos lembrar que esse tipo de planejamento é algo que falta muito por aqui! Esse ponto é particularmente importante. A questão não é somente a quantidade de recursos que está sendo administrada. Poucos se dão conta de que a necessidade de capital de giro de uma empresa ao administrar em conjunto com a equipe, une os colaboradores, cria mecanismos de ajuda mútua e um estado de consciência que gera soluções para manter o ritmo operacional de toda a empresa. Decorre que todos saboreiam um sentimento de vitória que é a capacidade de trabalhar juntos de uma forma muito bonita. Essa vitória é sempre a de minimizar o dinheiro que as empresas são obrigadas a buscar nos bancos. Essa vitória é a de ter uma equipe que luta pela causa do empresário.
Um estilo de administração - resultado no cliente Percorrendo ainda a mesma amostra, percebemos um outro problema crônico do empresário brasileiro que é a
falta de leitura da contribuição insuficiente dos variáveis no resultado da empresa, em particular e muito importante, a contribuição dos variáveis no resultado do cliente. Vamos lembrar que temos, no Brasil, um dos maiores custos comerciais do mundo. Em primeiro lugar, a cultura de que o único argumento comercial é o preço. É argumento de entrada em 70% de nossas observações. Vamos lembrar que desconto comercial é custo comercial. Custo de nossa incapacidade de praticar o preço de que precisamos. Trata-se de um sinal dos tempos, atestando a pequena capacidade comercial do brasileiro em geral. Por outro lado, enfrentamos os territórios com baixa densidade populacional, com baixo poder de compra, onde se fazem presentes viagens longas e
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custosas que nossos vendedores são obrigados a fazer. O WhatsApp ainda não faz milagres, não substitui completamente a venda olho no olho e os nossos sites ainda deixam por demais a desejar como instrumento de venda, relacionamento e, em particular, mobilização
O mais interessante é que essa não percepção de qualidade de resultado por cliente acontece também na área de serviços. Quantas vezes vimos distribuidores com resultados negativos ou pífios, pela falta da metodologia de medir resultado dos variáveis no cliente?
dos clientes, palavra nova que apenas começa a aparecer, mas que é tão importante na geração de resultados. São, ainda, os custos com a remuneração dos vendedores que precisam sobreviver e os fretes, caros, muito caros. Muitas vezes, o custo comercial no cliente é muito maior do que o custo variável da mercadoria produzida e poucos percebem. Quantas vezes mostrei que a margem de resultados variáveis em determinados clientes eram negativa em até 30%? E o que era chocante, o industrial não estava percebendo esse estrago. E, o que era mais chocante ainda, arrumava desculpas por conta da visão de que precisa manter o volume de vendas. Vendas com margens negativas já nos variáveis? É querer quebrar mesmo!
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Poucos se dão conta de que o planejamento do uso do capital de giro é a mãe de todos os planejamentos que acontecem na empresa e fator maior de sincronia mental e operacional no ambiente da empresa!
Vamos lembrar que prêmios Nobel já foram dados por temas ligados à questão de que o vendedor tem que conhecer mais os critérios de qualidade do que o seu próprio cliente e que a
economia é a ciência dos recursos escassos. Como padrão brasileiro temos sempre a análise superficial da relação “vendedor x cliente”. O planejamento operacional, muitas vezes, praticamente inexistente, em particular no momento atual. Temos, então, dispêndio de energia sem entender a verdadeira predisposição do cliente para comprar ou não. Mas o problema maior é sempre de querer sustentar vendas sem preocupação com a rentabilidade no cliente. Todo o jogo se concentra em fazer volume. A qualquer custo. Vem, então, uma análise que sempre fazemos. O empresário está no jogo do “crescer para lucrar” ou no jogo do “lucrar para crescer”? O que há de conteúdo nessa frase? O que mais percebemos no setor de instrumentos musicais foi a tentativa de
‘ ‘ - luiz Bersou.
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Modelos de gestão no Brasil e nos países mais avançados
crescer para lucrar com métodos de trabalho comercial imaturos, pouco consistentes. Nesse padrão de abordagem comercial o preço cai, a necessidade de capital de giro é obviamente autofinanciada com muito mais dificuldade, muitas vezes gerando endividamento e, então, a empresa vai se perdendo pouco a pouco. Quando a empresa pratica o lucrar para crescer acontecem dois fenômenos muito importantes que muitas vezes não são percebidos. O lucrar para crescer permite trabalhar com mais autonomia em relação aos bancos, depender menos deles. Mas o mais importante, é que nesse tipo de raciocínio, temos com mais clareza a consolidação do método de trabalho comercial ideal para cada tipo de empresa no seu relacionamento com o mercado de cada uma. A margem dos variáveis positiva em cada cliente aparece e tudo passa a dar certo.
O futuro dos empresários do setor musical no Brasil Nossos empresários, trabalhando com indústria ou trabalhando com produtos importados, continuam tendo os mesmos problemas. Ou seja, o de dominar a necessidade de capital de giro, de ter margem dos variáveis positiva no cliente e ter métodos comerciais consistentes. O que gerou boa parte do estado de colapso que caracteriza a nossa antiga indústria permanece com o potencial de contaminar as atividades atuais de importação e comércio. Permanece como algo que pode impedir uma eventual volta de nossa indústria. Isso significa que fatores de sucesso ou fracasso permanecem. Tudo vai depender do estado de consciência dos nossos empresários. O que vão querer para o futuro?
* Atualmente dirigindo a BCA Consultoria, Luiz Bersou possui formação em engenharia naval, marketing e finanças. É escritor, palestrante, autor de teses, além de ser pianista e esportista. Participa ativamente em inúmeros projetos de engenharia, finanças, recuperação de empresas, lançamento de produtos no mercado, implantação de tecnologias e marcas no Brasil e no exterior.
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