INSTITUTO PIANO BRASILEIRO: Resgatando o rico patrimônio pianístico brasileiro!
EXPOMUSIC 2015: Tops de linha
JEAN-MICHEL JARRE: A odisseia de Sintetizadores
DAVID KERR & CANASTRA TRIO: Clássicos do Jazz em apresentações memoráveis!
CRISTIAN B U D U Talento, carisma e o delivery musical PIANOSOFIA !
Revista
Keyboard ANO 3 :: 2015 :: nº 27 ::
:: Seu canal de comunicação com a boa música!
Brasil www.keyboard.art.br
Índice
06
08
LANÇAMENTO: Electronica 1 - The Time Machine
MATÉRIA DE CAPA: Cristian Budu
14 MEMÓRIA: Música em casa, por Marcelo Fagundes
34
40
POR DENTRO: Maria João Pires
MUSICANDO: Pianosofia
CULTURA: Novo site resgata o rico patromônio pianístico brasileiro, por Osvaldo Colarusso
44 PERFIL: David Kerr & Canastra Trio
Expediente
PIONEIRISMO: Jean-Michel Jarre, por Amyr Canusio Jr.
32
31 ACONTECEU: Proshows na Expomusic 2015
22
48
54
NOVIDADES: MÚSICA DOS SENTIDOS: Expomusic 2015 Professores chamados criança, por Patrícia Santos
60 PONTO DE ENCONTRO: Valores da sociedade e formação musical precoce, por Luiz Bersou
Revista
Outubro / 2015
Keyboard www.keyboard.art.br
Brasil
Editora Musical
Revista Keyboard Brasil é uma publicação mensal digital gratuita da Keyboard Editora Musical. Diretor e Editor executivo: maestro Marcelo D. Fagundes / Chefe de Redação e Design: Heloísa C. G. Fagundes Caricaturas: André Luíz Silva da Costa / Foto da Capa: Helena Marcondes Machado / Marketing e Publicidade: Keyboard Editora Musical Correspondências / Envio de material: Rua Rangel Pestana, 1044 - centro - Jundiaí / S.P. CEP: 13.201-000 / Central de Atendimento da Revista Keyboard Brasil: contato@keyboard.art.br condes elena Mar
As matérias desta edição podem ser utilizadas em outras mídias ou veículos desde que citada a fonte. Matérias assinadas não expressam obrigatoriamente a opinião da Keyboard Editora Musical.
Foto: H Machado
04 / Revista Keyboard Brasil
Editorial Este mês, a Revista Keyboard Brasil traz um projeto muito interessante criado pelo pianista de renome internacional Cristian Budu, nossa capa. Podemos dizer que Pianosofia é o nome de um delivery de música de câmara, novidade sensacional no Brasil! Amyr Cantusyo Jr fala de Jean-Michel Jarre e seu som revolucionário. Em tempos de descuido com nossa música, atentando à gramática, às ideias e à poesia, surge um site que resgata nosso rico patrimônio pianístico brasileiro. Esse é o tema da coluna de nosso maestro Colarusso. Expondo na ExpoMusic 2015, trouxemos para nossos leitores, alguns instrumentos tops de linha! Confira essas e outras novidades, na revista feita para você e por você, leitor apreciador do bom gosto musical! E, não se esqueça! Queremos saber a sua opinião! Então curta, comente e compartilhe! E, músicos: continuem enviando seu material e sejam vistos por mais de 250 mil leitores! Excelente leitura e
Marcelo, diretor da Keyboard Editora e Heloísa Fagundes, Publisher da Revista Keyboard Brasil.
fiquem com Deus!
Espaço do Leitor Grande capa!! Parabéns Camelo!! Marcel Papa – via Facebook Show! Parabéns! (Referente à matéria de capa de Mario Camelo, edição 25) Mariana Baltar– via Facebook Adorei a energia, entusiasmo e fé de Hercules! Piano, piano si vá lontano !!! (Referente à matéria de Hercules Gomes, edição 26) Denise Hardt de Carvalho – via Facebook Gostaria de falar que a qualidade da Revista de vocês está excepcional! Excelentes matérias! Pâmela Mônaco – via e-mail.
Muito boa a matéria do Jerry Lee Lewis!!! Achava que ele tinha morrido!!! Carlos Arruda – via e-mail. Maestro Colarusso fez um texto digno de aplauso! Música e pintura! Duas artes que caminham juntas, se completam! Amanda Gomes de Almeida – via e-mail. Space Rock! Cara, que matéria!! Parabéns!! (referente à matéria sobre Space Rock de Amyr Cantusio Jr, edição 26) Carlos R. Silva – via e-mail.
Revista Keyboard Brasil / 05
Fotos: Divulgação
Lançamento
Jean-Michel Jarre: “Lang Lang me ajudou a encenar minha relação especial com a China. E o escolhi porque sempre foi interessado em explorar as possibilidades de seu instrumento, que produz o som e as relações entre os seres humanos e suas emoções justificadas.”
Electronica 1 - The Time Machine APÓS SETE ANOS, JEAN-MICHEL JARRE LANÇA NOVO ÁLBUM ONDE CONTA A HISTÓRIA DA MÚSICA ELETRÔNICA
F
oram quatro anos de muitas pesquisas musicais e viagens em três continentes para concluir
seu novo álbum “Electronica 1: The Time Machine”, o décimo oitavo de sua carreira. Nele, Jean-Michel Jarre apresenta, através de sua visão e experiência, a evolução e a história da música eletrônica em seus mais de 40 anos de carreira. Trata-se do primeiro álbum de estúdio inédito do músico francês em sete anos e o primeiro projeto totalmente realizado em colaboração com vários artistas, como Boyz Noize, M83, Air, o tecladista das bandas Depeche Mode e Erasure, Vince Clarke, Fuck Buttons, Moby, o legendário guitarrista da banda The Who, Pete Townshend, a cantora 06 / Revista Keyboard Brasil
inglesa Little Boots, a banda alemã Tangerine Dream, o brilhante pianista chinês Lang Lang, o cineasta e compositor John Carpenter, Massive Attack, a cantora e performer Laurie Anderson e o DJ holandês Armin Van Buuren, entre outros. Dividido em dois volumes, o primeiro lançado dias atrás e o segundo, somente entre março e abril de 2016, através do selo Columbia Records, com distribuição mundial pela Sony Music. “Meu novo álbum Electronica é um projeto baseado no desejo de reunir, em torno de mim, artistas e músicos, direta ou indiretamente relacionados com a cena eletrônica, abrangendo quatro décadas, desde quando eu comecei a fazer música eletrônica por mim mesmo”, finaliza Jarre.
Revista Keyboard Brasil / 07
Matéria de Capa
Cristian Budu TALENTO, CARISMA E RECONHECIMENTO
08 / Revista Keyboard Brasil
NASCIDO E CRIADO EM UM AMBIENTE MUSICAL E FILHO DE PAIS ROMENOS, CRISTIAN BUDU DESDE CRIANÇA SE ARRISCAVA NAS TECLAS DE UM ANTIGO PIANO DE ARMÁRIO EXISTENTE EM SUA CASA. VENCEDOR DE INÚMEROS PRÊMIOS NACIONAIS E INTERNACIONAIS E, ATUALMENTE VIVENDO EM BOSTON, CRISTIAN DESENVOLVE UMA CARREIRA INTENSA COMO SOLISTA E CAMERISTA, ALÉM DE SER O IDEALIZADOR DO PROJETO QUE REAVIVA OS PIANOS ADORMECIDOS NOS LARES DOS BRASILEIROS – O PIANOSOFIA. Heloísa Godoy Fagundes
B
rasileiro de origem romena, o jovem pianista Cristian Budu, 27, é considerado um dos expoentes de sua geração. Dota-
do de uma musicalidade genuína e de uma calorosa força de comunicação, sua personalidade artística e seu colorido pianismo vêm sendo internacionalmente reconhecidos. Cristian cresceu em Diadema (SP) e sempre viveu em um ambiente musical. “Meus pais são romenos e, na Romênia, até hoje, as pessoas estudam música como parte do currículo. Meu pai sempre tocou piano e clarinete, então, na minha casa sempre tinha música e, foi assim que eu comecei a me interessar também. A música era parte da minha vida como era qualquer outra coisa – eu tocava, jogava bola – era uma das minhas
atividades. Foi dessa maneira que eu conduzi até entrar na faculdade”. Conta Cristian. E, procurando caminhos a seguir na vida musical, teve seus primeiros contatos com o multi-artista Antônio Nóbrega, que o introduziu ao rico universo das músicas e danças tradicionais brasileiras. Cristian foi aluno do Instituto Brincante por 4 anos, tendo aulas com Rosane Almeida e diversos artistas populares, e lá seu aprendizado foi de grande importância ao seu desenvolvimento artístico. Cristian formou-se em música pela USP (Universidade de São Paulo), onde teve como professor, o pianista Eduardo Monteiro. Também foram seus professores, anteriormente, Elsa Klebanovsky, Marina Brandão e Cláudio Tegg. Nos Revista Keyboard Brasil / 09
Estados Unidos, tornou-se mestre em performance pianística sob tutela de Wha-Kyung Byun, com uma bolsa de estudos especial concedida pelo New England Conservatory de Boston. Em 2014, Cristian foi aceito na mesma escola para o Artist Diploma, programa de maior prestígio dos conservatórios norteamericanos que oferece, além de bolsa integral e patrocínio, diversos concertos solo, de câmara e com orquestras nos Estados Unidos. Desde muito jovem, Cristian alcançou os primeiros lugares em diversos concursos nacionais, como o Concurso Nelson Freire e o Programa Prelúdio da TV Cultura. Daí para os prêmios internacionais foi um pulo. Em Boston, Cristian integrou um quarteto especializado em música brasileira que, em 2013, venceu o Honors Competition do New England Conservatory, na categoria “Improvisação Contemporânea”. Esta premiação proporcionou diversas apresentações nos EUA e a gravação de um CD. No mesmo ano, Cristian tornou-se o primeiro brasileiro a vencer o Grande Prêmio – mais 2 prêmios extras, incluindo o prêmio do público – do Concurso Internacional Clara Haskil, na Suíça, um dos mais importantes e prestigiados do cenário mundial, que elege apenas um ganhador por edição (e, por vezes, nenhum). Laureados anteriores incluem nomes como Richard Goode, Christoph Eschenbach, Mitsuko Uchida e Evgeni Korolyov. Tal prêmio foi conside-
rado pela crítica especializada 10 / Revista Keyboard Brasil
Cristian Budu toca Schumann: Concerto pour piano en la mineur, Op. 54, acompanhado pela Orchestre de la Suisse Romande, na final do Concurso Internacional Clara Haskil de piano, na Suíça, em 2013. Revista Keyboard Brasil / 11
como a mais importante conquista por parte de um pianista brasileiro nos últimos 22 anos, e lançou Cristian numa carreira internacional, sendo empresariado pela agência Artematriz para concertos na América Latina e pela agência Caecilia, uma das mais tradicionais na Europa, que empresaria artistas como Daniel Barenboim, Nelson Freire, Joshua Bell e a própria OSESP. Cristian venceu, também, o Prêmio 2013 na Categoria Jovem Talento da Revista Concerto, e foi convidado pela mesma para gravar o CD do ano que foi lançado em 2015 para seus assinantes. Neste ano, Cristian foi também convidado a gravar um CD solo comercial, pelo selo Claves, na Suíça. Já foi convidado a se apresentar nos festivais J. S. Bach na Suíça, na série 'Rising Stars' do Festival Frankische Musiktage, na Alemanha, no Festival da Radio France, no Festival de Delft, na Holanda, no Rockport Music Festival, nos EUA, no Festival Internacional de Campos do Jordão, em que também fez parte do corpo docente, na série da OSESP com o Quarteto de Cordas da Cidade de São Paulo, com a Orquestra Sinfônica de Lucerne, Orquestra Sinfônica 12 / Revista Keyboard Brasil
de Jerusalém, entre outros. Já solou em salas como Jordan Hall, Liederhalle, Ateneu de Bucareste, Sala São Paulo, e à frente de orquestras como Orquestre de la Suisse Romande (Suíça), Orquestra Sinfônica da Rádio de Stuttgart (Alemanha), Orquestra Emil Nichifor (Romênia), Orquestra Sinfônica Brasileira, Orquestra Filarmônica de Montevideo, Orquestra Filarmônica de Minas Gerais, Orquestra Petrobrás Sinfônica, Orquestra Sinfônica do Paraná, entre tantas outras. Reconhecido também por sua sensibilidade camerística, Cristian já teve a honra de dividir o palco com grandes nomes como Antonio Meneses, Claudio Cruz, Christian Poltera, Jennifer Stumm, Rick Stotijn, Alexandra Soumm, Giovanni Gnocchi, Joseph Conyers, Semion Gavrikov, Frederic Chaslin, Sebastian Baverstam, Roberto Minczuk, George Li, Iosif Ion Prunner, Guilherme Mannis, Roberto Tibiriçá e Julio Medaglia. Atualmente, além dos concertos e apresentações pelo mundo, Cristian também participa de Congressos e desenvolve um duo com a violinista suíça Esther Hoppe, vencedora do Concurso Internacional Mozart e que leciona no Mozarteum, em Salzburg.
Quando se mudou para Boston, em 2010, Cristian hospedava saraus especiais em sua casa que inspiraram posteriormente a criação do projeto Groupmuse (www.groupmuse.com), que gerou grande impacto na mídia e ganhou a parceria da Boston Symphony Orchestra. “Como eu sempre gostei muito de confraternizar com as pessoas e compartilhar o que há de melhor na vida, reunia meus amigos para tocarmos juntos na minha casa. Fazíamos muita música num ambiente extremamente prazeroso. O público que vinha assistir, muitas vezes, consistia de jovens que nunca haviam frequentado a sala de concerto, mas se sentiam entusiasmados e ficavam boquiabertos diante de uma Arte que não tinham ideia que podia ser tão orgânica e comunicativa. Assim surgiram a ideia dos projetos Groupmuse e Pianosofia”. No Brasil, Cristian é criador do
projeto Pianosofia, que traz música clássica para a casa das pessoas por parte de uma comunidade de músicos que frequentemente se encontram, ensaiam e cultivam o genuíno amor pela Música. O projeto valoriza formações de câmara com piano, na intenção de “acordar” os pianos que estão “mudos” nas casas das pessoas e tem o importante apoio da Sociedade Cultura Artística. O Pianosofia também prevê a expansão da comunidade por parte do público, sendo que todos os membros são conhecidos pessoalmente em saraus que podem ser requeridos através do próprio site. (Saiba mais sobre o Projeto Pianosofia na página 34).
Saiba mais sobre Cristian Budu:
Revista Keyboard Brasil / 13
Memรณria
14 / Revista Keyboard Brasil
MÚSICA EM CASA A REALIZAÇÃO MAIS ELEGANTE DA SOCIEDADE, COM DIREITO A PIANO DE CAUDA E FREQUENTADA APENAS POR PESSOAS “ILUMINADAS” CULTURAL E FINANCEIRAMENTE. ESSA ERA A DEFINIÇÃO PARA OS SARAUS, QUE PROMOVIAM OUVIR COM REQUINTE A BOA MÚSICA DENTRO DAS RESIDÊNCIAS. Maestro Marcelo Fagundes
A
prática de sarau é milenar. Os aristocratas há mais de mil anos já se reuniam em suas mansões e palacetes, onde apresentavam
aos seus convivas os dotes artísticos dos seus filhos, netos, sobrinhos, parentes e apadrinhados
em geral. Nessas reuniões de antigamente – muito festivas e cem por cento realizadas pela casta da sociedade – os poetas, músicos e artistas eram muito bajulados. Revista Keyboard Brasil / 15
Entre os séculos XVI e XVIII, o
Os avanços tecnológicos e industri-
cravo e o alaúde ou mesmo uma pequena
ais no século XIX tornaram os instrumen-
orquestra particular supriam de música
tos mais baratos e compactos. Isso criou
os ricos; os demais contentavam-se com
uma nova demanda pelos que pudessem
uma rabeca, a voz humana ou um pássaro
ser tocados em casa, o que levou à
engaiolado. Compositores produziam
explosão de obras de música de câmara,
para a Igreja, a corte e o palco. A música
transcrições para diferentes instrumentos
cantada ou tocada em casa consistia,
e peças para música solo. A urbanização e as grandes mudanças nos padrões de trabalho e de mobilidade social durante a Revolução Industrial levaram a protestos contra a mecanização e à ascensão do Romantismo. Os compositores românticos defendiam o mundo natural, idealizavam a vida simples e enfatizavam as emoções, ampliando o apelo da música “séria”, até então formal na construção e no tom.
geralmente, em melodias folclóricas passadas de geração a geração ou em baladas populares.
Durante o século XIX, a música se tornou indispensável no âmbito doméstico, tanto como forma de entretenimento, quanto para marcar a ascensão social da florescente classe média.
Mais tempo livre O surgimento de uma grande
partituras, o que alimentou a nova
classe média abastada na Europa e nos
demanda por música doméstica. Esse
Estados Unidos foi acompanhado da
mercado expandido coincidiu com o fim
melhora no nível de educação e do
do modelo tradicional de patrocínio dos
aumento do tempo livre. A realização
compositores e da produção musical pela
musical tornou-se valorizada como forma de promover as aspirações sociais e também, como fonte de
aristocracia. Com a falta de oportu-
entretenimento durante as longas noites nos salões ou salas de estar das residências. Os métodos de produção em massa permeiam a vasta proliferação das
16 / Revista Keyboard Brasil
nidades nas cortes, os músicos voltaram-se para apresentações individuais em recitais e festas particulares, alimentando ainda mais a produção de música de câmara.
Instrumentos solistas A perícia em um instrumento musical era característica importante da educação completa, em especial, para as meninas. Vários deles podiam ser tocados em casa: harpa, violino, violoncelo, harmônio, sopros, concertina e banjo. Mas
nenhum instrumento foi tão importante da educação ou popular como o piano, ideal para a execução solo ou acompanhando outros instrumentos, o canto e a dança. Com a criação de pianos mais baratos e compactos, adequados para salas pequenas, toda casa respeitável tinha um deles. A proliferação de obras para piano fez surgir peças de execução difícil, com novos nomes: às sonatas seguiram-se noturnos, polonesas, mazurcas, improvisações e estudos. Schubert, Chopin e Liszt destacaram-se entre os compositores para piano solo. Duetos e peças para quatro mãos também se tornaram muito populares. Com o piano como instrumento principal da criação musical, as transcrições tornaram-se o principal meio de divulgação da música séria, das árias aos oratórios. Liszt levou a arte a novos níveis de sofisticação, com as transcrições das sinfonias de Beethoven e Berlioz e variações criativas das partituras de ópera que popularizaram as obras originais.
Como era possível formar pequenos conjuntos em famílias numerosas ou entre amigos, ou
contratá-las para saraus, a música de câmara era muito requisitada. O piano era acompanhado por outros instrumentos, em duetos ou trios. Conjuntos maiores, às vezes sem piano, serviam a encontros mais formais. A nova paixão pela música de câmara gerou uma demanda insaciável por quartetos. A maioria dos compositores alimentava esse próspero mercado mesmo os que normalmente não se identificavam com a música instrumental, como o compositor de ópera italiano Gaetano Donizetti.
Revista Keyboard Brasil / 17
No Brasil Literatura, música, champanhe e
Era a realização mais elegante da
vinhos eram alguns dos ingredientes dos
sociedade, com direito a piano de cauda e
saraus do Brasil do século XIX. Então
frequentada apenas por pessoas “ilumi-
privilégio de seleto público, esse tipo de
nadas” cultural e financeiramente. A
encontro chegou ao Brasil em 1808, com
maioria dos saraus tinha participação de poetas e músicos ilustres, mas artistas anônimos também gostavam de sondá-los à procura de um mecenas, para proteção financeira e social.
D. João, e seguia os moldes dos salões franceses. Inicialmente, eram realizados no Rio de janeiro, mas logo fazendeiros de São Paulo resolveram aderir à moda e já na metade do século XIX estavam
Foto: Edison National History Site
espalhados por todas as capitais.
O fonógrafo, inventado em 1877 por Thomas Alva Edison, era um aparelho que registrava e reproduzia o som. Uma derivação direta do fonoautógrafo inventado por Scott de Martinville em 1857 e do paleofono, criado por Ch. Cross. O fonógrafo era basicamente um receptor constituído por um funil metálico cujo o extremo mais estreito ligava a uma membrana unida a um estilete. Ao falar para a embocadura a membrana vibrava em função do som emitido e a vibração era transmitida ao estilete que gravava sobre a superfície de um cilindro de cera giratório, que constituía o sistema de registro. O receptor movia-se, por sua vez, no sentido perpendicular ao movimento de rotação do cilindro, com o que se conseguia um sulco espiral, que abrangia toda a superfície deste. Para reproduzir usava-se outro funil, o mesmo ou maior, em cujo extremo mais estreito existia outra membrana e outra agulha. No momento da reprodução, tanto o cilindro como o elemento reprodutor seguiam o mesmo movimento que no momento da gravação. A agulha seguia o sulco registrado na superfície da cera e transmitia a vibração reproduzindo assim o som original. Mais tarde, o fonógrafo foi substituído pelo gramofone, que utilizava discos em vez de cilindros.
18 / Revista Keyboard Brasil
Do cilindro ao disco e os instrumentos portáteis O surgimento do fonógrafo, em
cantores famosos. A partir dos anos 1920,
1877, por Thomas Edison trouxe a música
o rádio substituiu a prática musical como
para dentro de casa. As
mais antigas
principal forma de entretenimento
gravações musicais remanescentes são da
doméstico. A par disso, cada vez mais
música coral de Haendel, executada em
pessoas encontravam divertimento fora
1888, no Palácio de Cristal, em Londres. O
de casa, como no cinema.
gramofone, com discos gravados, de um
O piano continuou a ser um
só lado, substituiu, os cilindros, de cera na
símbolo de status nos lares, mas o espaço e
virada para o século XX.
o custo popularizaram instrumentos
Em muitos lares, pela primeira vez,
portáteis, como o violão.
ouvia-se o som de uma orquestra ou de *Marcelo Dantas Fagundes é músico, maestro, arranjador, compositor, pesquisador musical, escritor, professor, editor e membro da ABEMÚSICA (Associação Brasileira de Música).
PARTITURA
Revista Keyboard Brasil / 19
PARTITURA
20 / Revista Keyboard Brasil
Pioneirismo
22 / Revista Keyboard Brasil
JEAN - MICHEL JARRE Uma odisseia de sintetizadores UM DOS MAIORES GÊNIOS DOS TECLADOS DE TODOS OS TEMPOS VEM DA FRANÇA. JEANMICHEL JARRE É, SEM DÚVIDA, UM ÍCONE DA MÚSICA ELETRÔNICA. UM DOS PRIMEIROS A FAZER EXPERIMENTOS COM SINTETIZADORES E DIVERSOS OBJETOS PARA CRIAR EFEITOS E REPRODUZIR SONS NO INÍCIO DOS ANOS 70 E CONSIDERADO POR MUITOS, ATÉ HOJE, PIONEIRO DO ESTILO.
J
Amyr Cantusio Jr.
ean-Michel Andre Jarre, 67 anos, nasceu em Lyon, na França. Tecladista, compositor e
produtor musical, Jean-Michel é filho do compositor e maestro Maurice Jarre. Um dos pioneiros da música eletrônica, seu primeiro grande sucesso foi o álbum Oxigène, lançado em 1976. Gravado no estúdio improvisado em sua casa, o álbum vendeu cerca de 12 milhões de cópias em todo mundo. Oxigène é uma obra única, onírica e maravilhosamente orquestrada com uma ampla e enorme quantidade de sintetizadores. Sua
sonoridade é futurística e, até hoje, ainda aparece como temas de filmes e documentários espaciais e de ficção científica. Até o ano de 2004, Jarre tinha vendido aproximadamente 80 milhões de álbuns. Foi o primeiro músico ocidental a ser autorizado a realizar um show na República Popular da China, além de deter o recorde mundial para a maior público num evento ao ar livre. Na realidade, Jarre superou
os grandes nomes dos tecladistas de vanguarda dos anos 70, c o m o Ta n g e r i n e D r e a m , Automat, Vangelis e Kitaro. Conseguiu popularizar e exRevista Keyboard Brasil / 23
24 / Revista Keyboard Brasil
‘ ‘
Quando eu estudava com Stockhausen, e, principalmente, com Pierre Schaeffer e Pierre Henry, no Centro de GRM, (Groupe de Recherche de Musique Concrète), experimentávamos uma forma contemporânea. E o que significava ‘Contemporânea’? Não significava nada! E, assim, surgiu o termo Contemporânea, uma forma mais atonal, mais experimental. Depois de um tempo, percebi um monte de artistas fazendo isso de uma forma muito intuitiva e autodidata, como Soft Machine e Pink Floyd. Foi mais ou menos o mesmo tipo de abordagem sonora que estávamos fazendo lá atrás, e disse que eu realmente gostaria de criar uma ponte entre a música experimental pura e a música pop, com a ideia de sempre considerar a melodia na música muito importante mesmo sendo considerada, naquele tempo, algo muito extravagante.
‘
– Jean-Michel Jarre
Revista Keyboard Brasil / 25
pandir enormemente sua música, fazendo monstruosos eventos ao ar livre. Os três mais fantásticos e marcantes são o Live Lyon (França) , o Live Egito (2000) chamado Millenium e o Live in China. Jarre trouxe, junto ao palco, mais de 5 tecladistas de apoio, além de uma orquestra sinfônica e coro. No Egito, contou com Natascha Atlas (cantora consagrada anteriormente em trabalhos solos e com Robert Plant / Led Zeppelin) nos vocais e uma banda de instrumentos folclóricos árabes.Tudo isto ainda regado com uma banda de apoio (bateria, baixo e percussão) e uma maravilhosa produção de efeitos de luzes, juntamente com sua “harpa Synth laser” tocada com luvas, interrompendo raios 26 / Revista Keyboard Brasil
laser que acionavam notas de um teclado gigante no palco! Os melhores discos de Jarre, na minha opinião musical, são Oxigène (que também ganhou destaque e prêmios pela capa escatológica, com desenhos de um planeta sufocado sem oxigênio), Equinoxe (segundo álbum que ainda considero melhor que Oxigène e o melhor de todos!), Live in China, Magnetic Fields, Waiting for Cousteau, e um dos mais marcantes por conter alusões sinfônicas a peças de Beethoven, o lindo Rendez-Vous. Outro álbum que tem o sabor metafísico e espacial, associado à uma atmosfera do antigo Egito e oriental, o Metamorphoses (com Natascha Atlas nos vocais) uma obra prima.
Falar da formação musical de Jean-Michel é remontar ao Instituto de Pesquisas Eletrônicas e Música Experimental/Concreta de Paris. Foi aluno do inovador Karlheinz Stockhausen e do famoso mestre Pierre Schaeffer. Também foi um dos primeiros músicos a introduzir a música eletrônica na Ópera de Paris (isto por volta de 1972). Compôs uma peça que representava um som para cada cor do Arco-Íris, numa coreografia e trabalho de Norman Schmucki. Em 1974, foram criados os sintetizadores Matri-Sequencer e Digi-Sequencer especialmente para os shows e gravações de estúdio de Jarre, por Michel Geiss. O LP Equinoxe acaba sendo trilha sonora do filme “La Maladie de Hambourg” e conquista o disco de ouro (isto em 1978). Interessante lembrar um acontecimento em 1983. Um grupo de pintores e escultores franceses estavam prestes a realizar uma exposição sobre supermercados. Assim, tiveram a ideia de chamar Jarre para compor a base musical da exposição. Interessado pela ideia, compôs 30 minutos de música para a exposição. Foram 3 meses de trabalho. Durante esse período, ele comparou seu futuro álbum com uma pintura ou escultura. Desse modo, decidiu que seria produzi-
da apenas uma cópia e depois posta à venda. Depois da referida exposição, ocorrida no Hotel Drout, em 6 de Julho de 1983, o álbum foi a leilão sendo vendido por 69.000 FF, tornando-se o álbum mais caro vendido na França. O dinheiro arrecadado foi doado aos artistas responsáveis pela exposição e, no mesmo dia, o álbum foi tocado integralmente pela única vez na Rádio Luxemburgo e o próprio Jarre autorizou que os ouvintes gravassem em fitas as músicas do álbum. Embora o álbum seja único, algumas partes de seu conteúdo foram aproveitadas em futuros trabalhos como Rendez-Vous e Zoolook. Pessoalmente, como músico-compositor (também de música eletrônica erudita de vanguarda) e tecladista, considero Jean-Michel Jarre um marco e essencial para pesquisas de suas obras, indicado à todos aqueles que querem se enveredar pelo árduo caminho deste estilo complexo. O estudo da música de Varèse, Pierre Schaeffer, Stockhausen, entre outros, além da iniciação ao aprofundamento de pesquisas de componentes eletrônicos e programação de sistemas (sintetizadores) devem ser, no mínimo, praticados minuciosamente e, com muito afinco pelos futuros aspirantes da área.
Revista Keyboard Brasil / 27
28 / Revista Keyboard Brasil
Em 1986, a cidade de Houston, no Texas (EUA) e a NASA planejaram comemorar os 150 anos da cidade e o 25º aniversário da agência espacial e convidaram Jean-Michel que realizou um concerto ao ar livre. Um concerto muito caro (5 milhões de dólares) onde Jarre usou seu próprio dinheiro para torná-lo possível, trabalhando noite e dia. Um dos astronautas do ônibus espacial Challenger chamado Ron Mc Nair era saxofonista e se apresentaria ao vivo, no espaço, para o concerto. Infelizmente, a Challenger explodiu logo após a decolagem e todos os astronautas morreram. Jarre e os produtores queriam cancelar o concerto, mas a Nasa convenceu-os a transformá-lo em uma homenagem aos mortos. Meses depois Jean-Michel realizou o concerto inesquecível de luzes, lasers, fogos de artifício e a música em homenagem Rendez-vous Houston. Esse concerto está registrado no Livro Guiness de recordes, com uma audiência de 1,5 milhões.
Revista Keyboard Brasil / 29
Sintetizadores mais utilizados por Jarre ARP 2500; ARP 2600; CASIO C Z - 5 0 0 0 ; C L AV I A N o r d l e a d ; C L AV I A Nordlead 2; ELKA Synthex; EMINENT 310 Univers; EMS Synti AKS; EMS VCS3 “The Putney”; E-MU Emulator II; FAIRLIGHT CMI-I; FAIRLIGHT CMI-II; FA I R L I G H T C M I - I I I ; FA R F I S A O r g a n Professional; KAWAI K5; KORG 01; KORG PE 1000; KORG PE 2000; KORG MicroKorg; KORG Prophecy; KORG PS 3300; KORG SAS 20 Personal Keyboard; KORG T3; KORG Z1; KURZWEIL K2000; MELLOTRON; MOOG Liberation; MOOG MiniMoog; MOOG MemoryMoog; MOOG System 55; OBERHEIM 2 VOIX; OBERHEIM OBX; OBERHEIM OBX-A; Oxford Synthesizer Company OSCar; QUASIMIDI The Raven; QUASIMIDI Sirius; RMI Harmonic Synthesizer; ROLAND AX-1; ROLAND Jupiter 8; ROLAND D5; ROLAND JV90 (Details); ROLAND JD 800 (Details); ROLAND JV1080; ROLAND JP8000; ROLAND JX 8P
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(Detail); ROLAND SH-101 (Details); RSF Kobol (Details); SEIKO DS 250 (Details); SEQUENTIAL CIRCUITS Prophet 5 (Details); THEREMIN ( D e t a i l s ) ; WA L D O R F Wa v e (Details); YAMAHA CS60 (Details); YA M A H A C S 8 0 ( D e t a i l s ) ; YAMAHA DX7 (Details); YAMAHA DX1000 (Details); YAMAHA CS1 X; YAMAHA AN1 X. Além desses álbuns citados com links, existem também os álbuns ao vivo. É uma questão de tempo para ouvir todos, já que música de qualidade é o que devemos buscar! Até a próxima!
*Amyr Cantusio Jr. é músico (piano, teclados e sintetizadores) compositor, produtor, arranjador, programador de sintetizadores, teósofo, psicanalista ambiental, historiador de música formado pela extensão universitária da Unicamp e colaborador da Revista Keyboard Brasil.
Aconteceu
PROSHOWS: marcando presença na Expomusic 2015 Da Redação
A
ProShows marcou presença no
quarto maior evento do mundo para os negócios da música, a ExpoMusic 2015 – Feira Internacional da Música. O evento aconteceu entre os dias 16 a 20 de setembro e contou com a presença de fabricantes, importadores, lojistas, músicos amadores e profissionais, instituições religiosas, entre outros. A feira que estimula a música em diversos aspectos foi um grande sucesso. E nela, a ProShows apresentou novidades para o mercado de áudio e iluminação, como os novos modelos de mixers da Linha X Air, o XTouch Mini, as novas ribaltas da PLS e as caixas ativas da Lexsen. Além disso, o estande da ProShows contou com a presença de endorses das marcas, como Little Will, Dio Lima, Tiquinho Santos, Tiago Leal, Erywan Freitas, Nando Fernandes, David Tanganelli e Marcinho Eiras que animaram o público com suas apresentações.
O time da Proshows marcou presença na ExpoMusic 2015, apresentando novidades para o mercado de áudio e iluminação.
Conheça as novidades: Revista Keyboard Brasil / 31
Por dentro
MARIA JOÃO PIRES
Foto: Harald Hoffmann / Deutsche Grammophon
PIANISTA PORTUGUESA RECEBE PRÊMIO GRAMOPHONE,CONSIDERADO O OSCAR DA MÚSICA CLÁSSICA CONSIDERADA UMA DAS MELHORES PIANISTAS VIVAS, COM UMA CARREIRA BRILHANTE E EXEMPLAR, SEM JAMAIS ABANDONAR A SUA IMAGEM VINCULADA AO COMPROMISSO PEDAGÓGICO E À COLABORAÇÃO COM OS PIANISTAS MAIS JOVENS, MARIA JOÃO PIRES PERTENCE A UMA FAMÍLIA DE AMPLA SENSIBILIDADE ARTÍSTICA E SEMPRE SE MOSTROU UMA INTÉRPRETE PURA DE CHOPIN E SCHUBERT. Por Carol Dantas
32 / Revista Keyboard Brasil
A
gravação dos concertos para piano nº 3 e nº 4 de Beethoven pela pianista Maria João Pires, um disco editado em em 2014 venceu o prestigiado prêmio Gramophone na categoria Concerto, entregue numa cerimônia realizada em Londres, dia 17 de Setembro. Os Prêmios Gramophone são uma das mais respeitadas e influentes distinções na indústria discográfica de música clássica, atribuídas anualmente desde 1977. Os prêmios são divididos em 12 categorias e os vencedores são escolhidos pelos críticos da revista britânica de música clássica Gramophone e membros da indústria, incluindo estações de rádio, diretores artísticos e músicos. O disco de Maria João Pires, gravado em estúdio com a Orquestra Sinfônica da Rádio Sueca, sob direção do maestro britânico Daniel Harding, foi o primeiro lançamento da pianista portuguesa na Onyx Classics, editora com a qual assinou no final de 2013, deixando a Deutsche Grammophon, onde se encontrava desde 1989. Na sua crítica ao disco em Outubro de 2014, a revista Gramophone destacou “Ela faz parte desses verdadeiros grandes artistas que parecem fazer muito pouco mas acabam por fazer tudo”. Em 2013, a pianista foi finalista do Prêmio Gramophone, na categoria Instrumental, pela gravação das sonatas de Schubert na Deutsche Grammophon. Em 2009 e 2013, Maria João Pires também esteve nomeada para o Grammy, na categoria Melhor Interpretação Solo, com gravações de Chopin e Schubert, respectivamente.
A gravação dos Concertos para piano nº 3 e nº 4 de Beethoven, pela pianista Maria João Pires em 2014, renderam-lhe o prêmio Gramophone, considerado o Oscar da música clássica.
Sobre Maria João... Maria João Pires nasceu em Lisboa em 23 de julho de 1944. É a mais internacional e conceituada das pianistas portuguesas, com um percurso artístico que remonta a finais dos anos 1940, quando se apresentou pela primeira vez em público aos quatro anos de idade. Entre os prêmios conquistados pelo talento artístico, contam-se o primeiro prêmio do Concurso Internacional Beethoven (1970), o prêmio do Conselho Internacional da Música, pertencente à UNESCO, (1970) e o Prêmio Pessoa (1989). Tocou com as mais importantes orquestras e nas mais relevantes salas de espetáculos do mundo e fundou o projeto artístico Associação Belgais, que fechou as portas em 2009.
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Musicando
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Cristian Budu: “O objetivo principal do Pianosofia é aproximar as pessoas da Música e umas das outras devido a ela, criando um ambiente inspirador e produtivo. Esse projeto não é uma empresa, pelo contrário. Fazemos isso porque queremos alcançar as pessoas pelo lado humano e musical, visamos sempre essa relação de pessoalidade e a confiança no contato humano é essencial. ”
PIANOSOFIA Levando música para a casa das pessoas! UM PROJETO QUE VEM REUNINDO MÚSICOS E OUVINTES CONECTADOS ENTRE SI ATRAVÉS DA MÚSICA EM UM AMBIENTE CALOROSO ESTÁ AJUDANDO A “REAVIVAR” OS PIANOS ADORMECIDOS ESPALHADOS PELAS RESIDÊNCIAS DOS BRASILEIROS E A DIMINUIR O ABISMO EXISTENTE ENTRE AS PESSOAS E A MÚSICA CLÁSSICA. CONHEÇA O PIANOSOFIA! Heloísa Godoy Fagundes
C
riado e desenvolvido pelo pianista brasileiro de origem romena, Cristian
Budu, o projeto Pianosofia é a consequência de suas experiências ao conviver com a Música, os músicos e o público, e do que observou e pensou entre essas relações, além de virar um forte atrativo para as pessoas que gostam de se reunir e festejar, ou simplesmente ouvir boa música dentro de suas casas, em tempos de violência e arrastões pelas ruas das grandes cidades do Brasil. Suas verdadeiras origens são tão antigas quanto a apreciação da
Música em ambientes caseiros. O que Cristian Budu e o grupo de músicos promove, chamado comumente de “sarau”, ganhou muita força principalmente no século XIX, quando grandes compositores visavam a íntima experiência musical ao tocarem e ao escreverem muitas de suas obras, como Franz Schubert, que sem grande reconhecimento do público durante sua vida organizava reuniões entre amigos, amantes da Música, para apresentar suas composições – gerando as famosas Schubertiades – ou, então, Johannes Brahms, que dizia que para suas últimas obras Revista Keyboard Brasil / 35
para piano, uma pessoa na plateia era quase demais para a intimidade que elas evocavam ou, ainda, Fréderic Chopin, que teve grande renome mas, mesmo assim, apresentou-se pouquíssimas vezes em lugares públicos, preferindo tocar em salões mais íntimos em que se encontravam artistas e apreciadores diversos. E, sendo a música desses grande gênios, tão maravilhosa, foi levada às salas de concerto.
Entrevista Revista Keyboard Brasil: Sabemos que o projeto Pianosofia nasceu de suas experiências onde se compartilhava música espontaneamente. Pode nos falar sobre isso? Cristian Budu: Pianosofia é a consequência de experiências que tive ao conviver com a Música, os músicos e o público, e do que observei e pensei nas relações entre estes. Eu já desenvolvia uma carreira de músico aqui no Brasil, quando em 2010 mudei para Boston (EUA), para fazer meu mestrado em performance pianística. Num momento em que a Música desvendou seu significado imprescindível para minha vida, tive o privilégio de conhecer colegas tão inspiradores vindos de diversas partes do mundo. E, como eu 36 / Revista Keyboard Brasil
Sustentando o projeto Pianosofia, está o grupo de músicos que se encontra regularmente para ensaiar, com o intuito de tocar música clássica com primor em todos aspectos da execução, mostrando principalmente que a música de câmara é viva! E é estruturalmente primordial que os músicos cultivem esse ambiente entre eles antes de mais nada, pois só assim se garante que a essência dessa ideia chegue às pessoas.
sempre gostei muito de confraternizar com as pessoas e compartilhar o que há de melhor na vida, chamava-os para nos reunir e tocar junto na minha casa, que tinha a sorte de dividir com músicos brasileiros excepcionais – o saxofonista Gustavo D'Amico e os compositores Rafael Borges Amaral e Luciano Leite Barbosa. Nessa nossa casa de estudantes, não tínhamos muita mobília, mas tínhamos meu piano na sala de estar, o que já era motivo suficiente para festejarmos muito! Com a imprescindível sugestão e diligência de Tommy Boynton, incrível cantor de jazz que frequentava nossa casa, começamos a organizar saraus de música clássica mais bem estruturados, e deles participavam músicos como Sebastian Baverstam, Yannick Rafalimanana, Brendan O'Donnel, Sam Waring,
Lizzie Burns, entre tantos outros. O público que vinha assistir, muitas vezes, consistia de jovens que nunca haviam frequentado a sala de concerto, mas se sentiam entusiasmados e ficavam boquiabertos diante de uma Arte que não tinham ideia que podia ser tão orgânica e comunicativa. Foi inspirado nesses encontros que meu amigo Sam Bodkin teve a ideia de criar o site do Groupmuse (www.groupmuse.com) – usando a ferramenta da internet para promover saraus. Eu quis trazer o projeto para o Brasil, mas percebi logo que aqui eu precisaria – como em qualquer lugar – me adaptar a uma cultura local, que me inspirava ideias próprias. E, matutando muito nessas questões, nas ideias de desenvolver um projeto com os pianos espalhados pela cidade, nas experiências que tive de conviver com músicos num ambiente em que se compartilha Música espontaneamente e, vendo também a possibilidade de usar uma ferramenta moderna para conectar as pessoas de uma forma real, decidi criar o Pianosofia que, com suas regras e fatores singulares, é uma comunidade que cultiva a sincera, orgânica e íntima ligação da música clássica com as pessoas. Para mim, o Pianosofia representa muito mais do que um projeto ou uma palavra nova; evoca uma mentalidade que é, ao meu ver,
essencial para que as pessoas sintam aquilo que a Música fala à sua maneira peculiar, de constante transformação. Quero, com isso, estreitar a relação das pessoas com a música. RKB: Como escolheu o nome para seu projeto? CB: O nome Pianosofia me ocorreu enquanto eu pensava sobre o piano em diversos aspectos. Eu já havia ouvido falar do termo “Pianolatria”, cunhado por Mário de Andrade, que representou a aqui presente adoração pelo repertório de piano solo – o Brasil teve e tem uma forte tradição pianística. E, é dessa época que vem a tradição de se ter um piano em casa. Porém, percebi que hoje tantos desses pianos não são tocados, estão como que “adormecidos” nas casas e, como normalmente faz “parte da casa”, vira um forte atrativo para as pessoas que querem se reunir e festejar ou, simplesmente, ouvir música. Foi pensando nisso que me veio a palavra Pianosofia, ou “a sabedoria do piano”, dando nome a um projeto que ajudasse a “reavivar” os pianos que estão espalhados pelo Brasil, para reunir músicos e ouvintes à sua volta num ambiente caloroso em que as pessoas se sintam conectadas entre si e com a Música.
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invadindo o meio musical, que deveria justamente salvar-nos dessa impessoalidade e nos aproximar das ideias, me deixa extremamente preocupado.
RKB: Você é bem crítico em relação ao circuito dos concertos chegando a dizer, certa vez, ser um mundo demasiadamente artificial. Pode nos dizer sobre isso? CB: Há, hoje em dia, uma questão que sem dúvida aflige a muitos; sente-se por vezes um abismo entre as pessoas e a música clássica, criado por forças diversas. Muitas vezes, foca-se nas regras externas ao conteúdo musical para definir o que esse “tipo” de música é – talvez é uma tendência de nossa época; julga-se a Arte através de uma aparência enrijecida e não se observa de fato o conteúdo daquilo que se experimenta. Mas outras tantas vezes, os próprios músicos não sentem essa conexão orgânica com a Música, ou são infelizmente guiados nesse mesmo caminho que os desconecta dela e, esse abismo só aumenta. Esse problema não está só na música clássica. Essa “falta de significado” aparece espalhada em todos os campos; e com o lado humano cada vez mais deixado de lado, isso gera nas pessoas um profundo vazio anímico. Ver hoje uma extrema frieza maquinal 38 / Revista Keyboard Brasil
RKB: Por que a música de câmara como elemento principal? CB: A música de câmara já exige que estes valores humanos que eu disse a pouco, sejam cultivados entre os próprios músicos que tocam – e há uma infindável beleza em sentir cada um tocando sua parte mas, ao mesmo tempo, todos estarem engajados numa conversa elevada em que um estimula o outro, falando de um assunto maior, tocando a mesma peça. A real música de câmara traz naturalmente à tona esses valores, essenciais para se fazer Música em qualquer formação. De uma forma, sempre tentei buscar essa sensação mesmo quando toco solo (em que isso acontece na minha imaginação) ou com orquestra, formação que deveria ser sempre um grande grupo de música de câmara. RKB: Esse projeto se estende a quais cidades? Como funciona? Existe algum custo? CB: Se o anfitrião não morar na cidade de São Paulo, deve arcar com os custos de transporte de ida e volta e qualquer despesa necessária para que os músicos realizem o evento. Como não somos nenhuma empresa, a logística de transporte e afinação do piano (se necessários) deve ser acertada pelo próprio anfitrião. Mas temos um grande facilitador! Felizmente conseguimos o importante apoio
da Aronne Pianos, que oferece 50% de desconto na afinação de pianos para eventos que são aprovados, e desconto também no transporte do piano cedido pelo Cultura Artística! E, nesse caso, a afinação vem inclusa! Basta entrar no site para saber mais ou tirar suas dúvidas. RKB: Como fazer para que os saraus aconteçam nas residências? CB: Para pedir um evento na sua casa é bem simples. Basta contactar-nos através do site escrevendo uma mensagem no formulário. Se o anfitrião não tiver piano, temos a honra de ter o apoio da Sociedade
Cultura Artística, que nos cedeu seu piano para levarmos aos eventos! Ao tocarmos no sarau, coletamos contatos daqueles que estiverem presentes e que se interessarem em fazer parte de uma posterior fase do projeto, que envolverá uma comunidade também por parte do público. Então, se você conhece alguma casa que ou tem piano ou suportaria trazer um para reunir bons amigos e celebrar a vida e a música, entre em contato no nosso site! Saiba mais sobre o projeto PIANOSOFIA
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Cultura
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Heitor Villa-Lobos ao piano, Fructuoso Vianna (primeiro de pé à esquerda), Felicja Blumental (de branco, ao centro) e Julieta Strutt (irmã de Mindinha Villa-Lobos, escorada ao piano). As demais pessoas não foram identificadas. Sem data. Acervo particular de Annette Celine.
NOVO SITE RESGATA O RICO
PATRIMÔNIO PIANÍSTICO BRASILEIRO A VALORIZAÇÃO DO PASSADO MUSICAL BRASILEIRO ATRAVÉS DE NOTÁVEIS PIANISTAS, PARTITURAS E UM ENORME ACERVO DE FOTOGRAFIAS:UMA IDEIA MAIS DO QUE NOTÁVEIS DO PIANISTA BRASILIENSE ALEXANDRE DIAS ** Maestro Osvaldo Colarusso Revista Keyboard Brasil / 41
O
patrimônio pianístico brasileiro é enorme. A quanti-
falha surge um site na Internet que resgata muito deste glorioso patrimônio:
dade de notáveis pianisnistas nascidos no país ou que adotaram o Brasil como sua pátria é impressionante. No entanto, mesmo
Instituto Piano Brasileiro
(www.institutopianobrasileiro.com.br), um site idealizado pelo pianista Alexandre Dias. O site, que ainda não conta com pianistas de fama mundial como Guiomar Novaes e Magda Tagliaferro são rara- todos os recursos que pretende oferecer, já mente valorizados por aqui e, especial- disponibiliza dados fantásticos: uma lista mente no caso da primeira, seu renome é de gravações realizadas por pianistas brasileiros desde 1904, um levantamento muito maior fora de nosso país. Um dos maiores pianistas da de Capas e conteúdo de outros tantos lançamentos discoatualidade, Nelson gráficos e uma enorFreire, é brasileiro, me lista de partituras mas seria ele o único a editadas. Ainda está merecer o prestígio em construção uma que possui? Creio que enciclopédia enfocannão. Falando apenas do pianistas brasileide artistas já falecidos ros, e está sendo (não cito os vivos para prometida a possibinão cair no erro de me lidade de muitas esquecer de alguém) partituras serem a quantidade de piadisponibilizadas e de nistas brasileiros m u i t a s g r a va ç õ e s internacionalmente serem acessadas. importantes é enorNa minha opinião o me: Roberto Szidon, O pianista Alexandre Dias grande destaque desAntônio Guedes Barbosa, Jaques Klein, Anna Stela Schic, te site é o seu acervo de fotografias. Yara Bernette, Bernardo Segall, Edson Coleções particulares como as da artista Elias, José Feghali, Manoel Braune, Souza plástica Annette Celine (filha da pianista Lima e muitos outros. Citaria ainda dois Felicja Blumental) e do pianista Nelson grandes expoentes pianísticos que Freire apresentam imagens surpreendenadotaram o Brasil como pátria: o alemão tes de Villa-Lobos, o então menino Arthur Fritz Jank e a polonesa Felicja Blumental. Moreira Lima, o maestro Eleazar de Especialmente a nova geração de músicos, Carvalho, entre tantas outras. Uma e o público em geral, desconhece centena de fotografias inestimáveis. Uma completamente quem foram estes delas inclusive foi assunto em um dos notáveis artistas. Tentando reparar esta textos do meu blog. Este site merece mesmo a sua visita.
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Outros sites com música clássica brasileira O pianista brasiliense Alexandre Dias tem se tornado um grande expoente em termos da valorização do passado musical brasileiro em geral com um foco particular no patrimônio pianístico nacional. Através dele surgiram além do site Instituto Piano Brasileiro, sites extremamente importantes e úteis no resgate de grandes compositores brasileiros, muitos deles esquecidos. Entre estes sites destaco o chiquinhagonzaga.com.br focado na obra da compositora carioca Chiquinha Gonzaga, que oferece, entre outras coisas, cópias em PDF da maioria das obras que ela escreveu. Outro site maravilhoso, criado junto ao Instituto Moreira Sales, é o www.ernestonazareth150anos.com.br construído quando dos 150 anos de Ernesto Nazareth. Neste site também a grande maioria das composições do autor estão disponíveis em PDF. Mas Alexandre Dias não ficou apenas com nomes tão consagrados.
Graças a ele temos agora acesso a obras de dois compositores quase que esquecidos, mas de suma importância na história da música brasileira: Henrique Alves de Mesquita (1830-1906) e Marcello Tupinambá (1889-1953). Isto através dos s i t e s http://www.henriquealvesdemesquita.co m . b r / p / h o m e . h t m l e w w w. m a r c e l l o t u p y n a m b a . c o m respectivamente. Também nestes dois sites, a grande maioria das obras dos compositores está disponível em PDF. Nos mesmos moldes temos ainda mais dois sites pensados por Alexandre Dias. Um focado na obra de Zequinha de Abreu e outro na obra de um autor completamente esquecido: Eduardo Souto, autor que viveu de 1882 até 1942. Em todos estes sites além de partituras disponíveis em PDF informações biográficas, imagens, informações sobre gravações. Enfim, sites bem completos e únicos em termos de utilidade.
** Osvaldo Colarusso é maestro premiado pela Associação Paulista dos Críticos de Arte (APCA). Esteve à frente de grandes orquestras, além de ter atuado como solista. Atualmente, desdobra-se regendo como maestro convidado nas principais orquestras do país e nos principais Festivais de Música, além de desenvolver atividades como professor, produtor, apresentador, blogueiro e colaborador da Revista Keyboard Brasil.
Foto: Arquivo pessoal
* Texto retirado do Blog Falando de Música, do Jornal paranaense Gazeta do Povo. Conheça o blog clicando em http://www.gazetadopovo.com.br/blogs/falando-de-musica/
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Perfil
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David Kerr Canastra Trio &
HÁ 10 ANOS NA ESTRADA RESGATANDO CLÁSSICOS DO JAZZ EM APRESENTAÇÕES MEMORÁVEIS! Carol Dantas
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D
avid Kerr & Canastra Trio revive os clássicos do
Great American Songbook, reinterpretando seus standards e grandes sucessos de Frank Sinatra, Tony Bennett, Chet Baker, Nat King Cole entre outros.
Dono de uma voz que remete aos grandes crooners norte-americanos, David Kerr é reconhecido na noite jazzística paulistana como um dos novos talentos da cena. Dono de um suave timbre vocal e, acompanhado de seu trompete, apresenta sua forma única de interpretar as grandes canções do jazz norteamericano. O músico é acompanhado pelo competente Canastra Trio formado pela nova geração de jazzistas brasileiros.
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Participantes de festivais, como o Festival de Inverno de Paranapiacaba, Festival “I Love Jazz” de Belo Horizonte, apresentam-se nos Sescs da cidade de São Paulo e no interior do Estado tocando, também, em bares, restaurantes e eventos.
Professor da renomada Conhecido por seu estilo Fundação das Artes de São marcante ao tocar, Gustavo Caetano do Sul e pianista Sato tem o reconhecimento titular do reconhecido de grande contrabaixista da Terraço Itália, o pianista noite na cena musical pauRodrigo Braga se caractelista, acompanhando desde riza por seu estilo influenos mais experientes e recociado por Bill Evans e nhecidos músicos, assim Oscar Peterson, destacancomo novos talentos da do-se como promissor música brasileira. talento no cenário do jazz nacional. CONTATO: (11) 98292-8209
Exibindo seu raro refinamento musical, o baterista Edu Nali completa o Canastra Trio com seu swing pulsante sem, entretanto, perder a sutileza e a criatividade, combinação digna dos grandes ritmistas norte-americanos.
Saiba mais sobre David Kerr & Canastra Trio
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Novidades
TOPS DE LINHA NA
32ª Feira Internacional da Música A REVISTA KEYBOARD BRASIL MOSTRA, A SEGUIR, ALGUNS LANÇAMENTOS EM INSTRUMENTOS RELACIONADOS AO MUNDO DAS TECLAS APRESENTADOS NA MAIOR FEIRA DE ÁUDIO, ILUMINAÇÃO E INSTRUMENTOS MUSICAIS DA AMÉRICA LATINA – A EXPOMUSIC. Da Redação 48 / Revista Keyboard Brasil
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Reface Mobile Mini Keyboards são interfaces reinventadas de clássicos teclados Yamaha. Possuem alto falantes integrados e potentes e funcionam a pilhas.
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CVP 709
50 / Revista Keyboard Brasil
Os modelos de pianos digitais Yamaha CVP, possuem grande variedade de funções como, acompanhamento automático e acesso direto à Internet que permite seleção a partir de uma ampla série de canções interativas. O objetivo é alcançar a verdadeira capacidade expressiva de um piano de cauda, o que só acontece quando estes três fatores: som, toque e pedais estão em harmonia.
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De elegante e compacto, a inteligente e livre. Mais sofisticado e mais original. Os modelos Privia são a perfeição sonora do piano do futuro. Os modelos Privia, simulam a delicada reverberação e ressonância nítida associadas aos pianos. Nova tecnologia de amostragem em busca da expressiva potência de um piano acústico. Diversas funções para lições e performances: gravador de áudio e MIDI, função metrônomo, biblioteca de música e muito mais.
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Até o ano que vem! Revista Keyboard Brasil / 51
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Pa600 BR Sons e ritmos brasileiros!
MĂşsica dos Sentidos
Professores chamados C R I A N Ç A 54 / Revista Keyboard Brasil
ESSE TEXTO MOSTRA QUE O AMOR GARANTE A ARTE, QUE SÓ EXISTE ATRAVÉS DOS SENTIDOS! VAMOS REFLETIR? * Patrícia Santos Revista Keyboard Brasil / 55
N
unca pensei que lendo um livro ou vendo uma cena, uma imagem, em poucos segundos me fariam
refletir tanto!
No percurso para casa ao som de “Ludovico Einaudi”, com os fones de ouvido no último volume, avistei um casal muito jovem que brincava com sua criança. Estenderam-lhes os braços e apontaram para cima, para que a criança pudesse ver... Tinha caído aquela típica chuva de verão e, como de costume, sempre depois de um temporal vem a bela criação da natureza... um lindo, colorido e luminoso Arco-Íris. A criança olhava aquilo como um espetáculo. Eu não podia ver ao certo sua expressão mas, pela idade, certamente era a coisa mais bonita que já viu. Possivelmente, essa perplexidade de encanto irá acompanhá-la por toda a vida como acompanha para nós, adultos, nos momentos de fascínio. Estou lendo um livro chamado Questão de Ênfase, da escritora americana Susan Sontag. Nele, há uma pequena passagem que a autora diz: “A homenagem aos outros é o complemento de relatos a respeito de si mesmo: O poeta é salvo do egoísmo vulgar, pela força e pela pureza da admiração que sente por outros”. Essa frase me veio como um estalo agudo, um piscar de olhos e, fiquei olhando para o livro por horas pensando naquilo que li e, a partir disso, compreendi muitas coisas.
As crianças são nossos maiores professores, são os maiores artistas, com uma capacidade suprema de amar (porém, algumas 56 / Revista Keyboard Brasil
infelizmente nascem sem essa capacidade). Se deixam inundar de contemplação por coisas minúsculas que, às vezes, os adultos com os tropeços dos dias cansados e por egoísmo, nem sequer notamos. A vida é tão curta e parece que esses seres miúdos já nascem sabendo dessa brevidade e, por isso, vivenciam os momentos ao extremo como se não houvesse amanhã, afundando-se em suas chateações e tristezas sem meio termo, sentindo tudo de forma elevada multiplicando as sensações. A felicidade, então, se torna um mar de sorrisos sem fim, os olhos brilham, falam todo tempo, correm de um lado para o outro sem medo de cair. E, assim nos ensinam que aproveitar os momentos torna o mundo mais aprazível. Quando as crianças percebem a dor do outro, são capazes de sentir em si mesmas e, intuitivamente, por já saberem que a vida é rápida, tentam sempre transformar o ambiente em diversão, trazendo paz e vida para alguém. Se uma criança é solidária em entender e até sentir a dor de uma pessoa, possivelmente vem de um meio onde foi ensinada a ver o mundo através do outro e, não a partir de si mesma. É no mundo em que ela irá crescer que estão os aprendizados, os obstáculos, onde as pessoas lhe farão companhia e mostrarão o que ainda não viu e não conhece. Que a felicidade é completa quando vivida com todos, não apenas sozinha. Que o partilhar o que se é, ajudará a se conhecer e a conhecer os caminhos pelo qual passará, e que são esses mesmos caminhos
que um dia aprendeu que usará para ensinar outras pessoas, que o seu viver e experiência é essencial para o universo fluir. A palavra “homenagem” é muito vasta. Leva a um pensamento sobre a arte muito profundo e complexo, envolvendo a interpretação das obras, e dando traduções delicadas em aspectos e aos nossos sentidos humanos. Pensando na criança como esse ser artista, criador, fica extremamente fácil de explicar a frase de Susan. A primeira coisa que pensei quando li foi: - É isso, a Arte não está em nós, está no mundo! E que, se o artista atender ao ego, nunca haverá arte! Porque nós somos constituídos de emoções. Os que podem enxergar sabem da beleza dos mares e das flores, árvores, dos abraços e sorrisos, as palavras, os olhares. Quem não enxerga, sabe porque pode ouvir tudo isso como uma música. E, quem não pode ver e não pode ouvir, continuará a saber, porque pode sentir. Ninguém está isento disso, todo ser humano participa da poesia no mundo. O que o artista faz é mostrar o que o ser humano tem feito com isso! Então eu penso: - Se eu ou alguém com seus estudos e esforços não enxergar, não se abrir para o mundo, o que irá criar? Se, dentro de nós há tantas vias inacabadas, tantas feridas abertas, tanto a se construir e mudar todo dia, o que podemos dar aos outros? Se pensamos somente em nosso bem maior, em estar no trono de majestade como centro do universo, o que sairá? O que sai de dentro de você, se tudo o que você vive está do lado de fora? É por esse motivo simples, com
propriedade, que afirmo: - As crianças são os maiores professores, artistas. Porque até certa idade, esse ser pequeno vai experimentando as formas, as cores, cheiros, sons, e extrai o máximo que pode de tudo que encontra, para compreender o instante em que está vivendo. Expreme tudo, como uma fruta, até tirar a última gota da polpa. A admiração por alguém e por algo ensina. O artista aprende com qual matéria é feito um sentimento e uma sensação e, a partir disso, traduz e conduz as pessoas a vivenciarem o que ainda não tinham vivido ou tinham e, se esqueceram. Esse ato dos artistas que recriam e criam obras, das crianças e pessoas que experimentam esses elementos, sentem um amor muito humano, que é transmitido com uma energia que passa por correntes até chegar no ponto mais alto, que é o nosso coração.
Exercitar essa humanidade é uma habilidade a ser desenvolvida com amor, é um modo de oração, é viver em contato com o divino acerca do bem e da paz, semeando o que há de bom a cada passo, é um trabalho de formiguinha, de grão em grão, sem expectativas de que enxerguem as ações... É uma individualização que vai se tornando humanização, pouco a pouco. O amor garante a arte, que só existe através dos sentidos! Certa vez escrevi que a arte é uma ferramenta para consertar a máquina, que é esse lugar que estamos, que temos por dentro e por fora e que precisa de ajustes e reparos com retoques. Todas as pessoas, Revista Keyboard Brasil / 57
de todas as idades, quando ainda não aprenderam a ajustar os laços dos tamanhos certos, se entristecem, porque existe um risco... O ser humano pode e deve amar, doarse, estender a mão para todos que encontrar e que necessitem. Porém, não se pode impedir de que modo isso será interpretado. Não se pode prever a reação do mundo à você.
Você pode e deve viver seus valores mas, jamais terá o controle de como o outro irá entender, não sabemos o
Foto: arquivo pessoal
que as pessoas esperam, querem, farão. Para isso, só temos que assistir e aguardar e, ver como a arte cumpre o seu papel. O papel de comunicar, através das crianças, das coisas, das palavras, sons e imagens, dos dias, dos adultos, qualquer maré, qualquer vento em direção contrária. Tudo que estiver diante de seus olhos vai te ensinar e mostrar sempre que não importa onde esteja, sempre haverá uma forma de aprender a arte, de fazer a arte, sobretudo dar, acima de qualquer dificuldade que possa surgir, em cada momento será um presente viver e experimentar, a arte de amar! Até a próxima!
Patrícia Santos: Estudante de Música e de uma sensibilidade sem tamanho! 58 / Revista Keyboard Brasil
Ponto de Encontro
(da Música, Arte, Beleza, Educação, Cultura, Rigor, Prazer e Negócios)
I Valores da sociedade e a precoce formação
musical
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SAIBA PORQUE É PRECISO BUSCAR A INTEGRAÇÃO GRUPAL PRECOSE PARA SEUS FILHOS NOS AMBIENTES ONDE A ARTE E A MÚSICA SE FAZEM PRESENTES. * Luiz Bersou
Quantos gênios temos por aí?
M
ozart começou seu processo criativo na precoce idade de quatro anos. Foi um gênio
muito diferenciado e justamente enaltecido. Temos que reconhecer que nem todos tem potencial para essa genialidade, mas fica uma pergunta: Quantas crianças potencialmente válidas do ponto de vista artístico, estamos perdendo a cada dia, por não darmos atenção aos sinais que elas emitem e o suporte ao seu crescimento como artistas e como indivíduos? Nesse momento de nossa vida em sociedade, em que a internet rapidamente coloca os jovens ainda em tenra idade no contato virtual - uma virtualidade vazia, em que os jogos eletrônicos os seduzem com suas cenas de violência - a relação Íntima e espiritual com os outros, base do amor na sociedade, que o ser humano pede ou vai pedir, E de que tanto necessita, é deixada de lado. Qual pode ser o
papel da música, artes e do seu ensino na formação do caráter de tantas crianças e seu amadurecimento ?
O que nos conta a história? O pastor grego e a flauta fazem parte da história. Tocava para ele mesmo, mas também para os outros, até para os animais, pois os acalmava. Percorrendo os diferente países e suas histórias, nos damos conta de como a música tem um fator de agregação e harmonização tão fortes!
A música aproxima os indivíduos, os coloca em colaboração, em cooperação, os leva a aprender a trabalhar juntos, pois a música em grupo é sempre um momento de extrema felicidade, chamando aos envolvidos para mais e mais aproximação. No momento atual de nossa sociedade, aproximar crianças e jovens para momentos de felicidade, em contra ponto ao risco de os aproximar para momentos de violência, já é uma grande vitória. Trata-se de um recurso precioso. Só por esse argumento, todo pai de família deveria buscar a integração grupal precoce para os seus filhos nos ambientes onde a arte e a música se fazem presentes.
Revista Keyboard Brasil / 61
A beleza e o altar do rigor Somos ainda uma sociedade com graves deformações de caráter e desigualdades sociais. Muitos dos nossos cidadãos ainda precisam aprender a caminhar pelos próprios pés. O canto da sereia desse socialismo que aí está a enganar a tantos os ensinou, durante anos, que os governantes darão na bandeja tudo de graça. Sem esforço. Como decorrência, temos uma grave decadência moral e cívica, decorrente dessas promessas, da falência do nosso sistema de ensino e do desarranjo familiar que crava cada vez mais a sociedade. Um fator alimenta o outro em ciclo contínuo e perverso. Por conta dessa história, temos uma sociedade que convive com o lixo nas ruas, aceita as drogas, as paredes pichadas, o desperdício em tantas coisas, a corrupção, o roubo e nisso tudo, a exemplo do que já aconteceu também em tantas sociedades que souberam evoluir, vemos um mundo feio, sujo, escuro e triste, onde tudo está fora do lugar. Ao mesmo tempo, encontramos em muitos lugares a percepção de que o belo na natureza sempre foi algo extremamente rigoroso. O belo na natureza coloca as coisas no lugar, cada uma no seu lugar. A perfeição e a beleza são entidades rigorosas. Podemos dizer que a beleza representa o altar do rigor. As pétalas das rosas, o desenho das folhas, as cores do beija flor, o quadro de Da Vinci, o trabalho de Michelangelo, o desenho do avião, são exemplos do virtuosismo do rigor. A natureza na busca da perfeição e da harmonia. O homem, 62 / Revista Keyboard Brasil
também na busca da perfeição e da harmonia. A arte e a busca inerente da perfeição são mecanismos de formação de sociedade e construção do seu valor no tempo. Há aqui um grande significado, um enorme potencial de influência e realização, em particular nas crianças e nos mais jovens. A decorrência prática
é que aquele que busca o rigor e a perfeição na arte, na música, também pratica na vida comum a busca da perfeição e da beleza no ambiente da harmonia.
Precisa colocar arte no produto Eu morava na Itália, quando começou o movimento de apoio à média e pequena empresa que tantos benefícios proporcionou ao país. Nunca me esqueço de um discurso de Edoardo De Regibus, uma figura ilustre que acompanhei por mais de vinte anos em suas andanças pelo mundo. Ele disse: “Precisamos colocar arte nos nossos produtos, pois esse é o nosso dom natural e seu fator de valorização. ”
A Itália sempre se distinguiu por essa vocação, colocar a arte e o belo em tudo. Valor agregado, resultado econômico em um movimento que por mais de 20 anos representou tempos de bonança na vida italiana. Em que medida a arte pode também fazer bem para os produtos do Brasil? Em que medida a nossa capacidade musical pode ser ainda mais desenvolvida e se transformar a cada dia em produto de mais e mais valor?
Foto: Arquivo pessoal
Luiz Bersou: os mais diversos e importantes assuntos com o intuito da reflexão!
As correlações que podem ser feitas em benefício da sociedade É histórico que arte e música sempre colaboraram para o desempenho escolar. Por razões que agora não vem ao caso relembrar, o Ministério da Educação levou as escolas a abandonarem essas disciplinas. O que foi progressivamente sendo constatado é que o ambiente escolar mudou, para pior. Nesse momento, em que mais do que nunca precisamos correr na busca da construção de uma sociedade de conhecimento, a apresentação às crianças e jovens do ambiente musical e artístico tem o potencial de os levar à procura positiva de sua própria superação como indivíduos, crianças ou jovens, alunos e futuros cidadãos. * Atualmente dirigindo a BCA Consultoria, Luiz Bersou possui formação em engenharia naval, marketing e finanças. É escritor, palestrante, autor de teses, além de ser pianista e esportista. Participa ativamente em inúmeros projetos de engenharia, finanças, recuperação de empresas, lançamento de produtos no mercado, implantação de tecnologias e marcas no Brasil e no exterior. Revista Keyboard Brasil / 63