TECLADISTAS DO METAL Nei Medeiros Rafael Agostino Fabrizio Di Sarno
TECLADOS ARRANJADORES: Atualize-se, leitor!
ECOMÚSICA: O novo trabalho do pianista Fábio Caramuru
AULAS DE PIANO: Seus impactos para o cérebro
HOME STUDIO: Para quê?
Revista
Keyboard ANO 3 :: 2015 :: nº 28 ::
:: Seu canal de comunicação com a boa música!
Brasil www.keyboard.art.br
Índice
06 DIVULGAÇÃO: Uma temporada fora de mim Hélio Flanders
28 A VISTA DO MEU PONTO: A revolução dos teclados arranjadores - por Luiz Carlos Rigo Uhlik
08 MATÉRIA DE CAPA: Tecladistas do Metal Brasileiro: a nova geração! (Fabrizio di Sarno, Rafael Agostino e Nei Medeiros) por Mateus Schanoski
32 NEUROCIÊNCIA: Aulas de piano e seus impactos no cérebro: um exercício completo! - por Heloísa Godoy Fagundes
PONTO DE ENCONTRO: Sucesso das empresas e governos ladrões e assassinos - por Luiz Bersou
39 HOMENAGEM: Adilson Godoy recebe comenda da Ordem do Mérito Cultural
54
46
APRENDA AGORA: Home Studio: para quê? - por Murilo Muraah
Expediente
26 LANÇAMENTO: Ecomúsica: conversas de um piano com a fauna brasileira - Fábio Caramuru
40 PERFIL: Daniel Lewen: Do Clássico ao progressivo - por Amyr Cantusio Jr.
60 MEMÓRIA: Carlos Gomes: um compositor esquecido que tornou-se apenas nome de praças - por Osvaldo Colarusso
68 MÚSICA DOS SENTIDOS: Birdy - por Patrícia Santos
Revista
Novembro / 2015
Keyboard Revista
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Brasil
Editora Musical
Revista Keyboard Brasil é uma publicação mensal digital gratuita da Keyboard Editora Musical. Diretor e Editor executivo: maestro Marcelo D. Fagundes / Chefe de Redação e Design: Heloísa C. G. Fagundes Caricaturas e Capa: André Luíz Silva da Costa / Marketing e Publicidade: Keyboard Editora Musical Correspondências / Envio de material: Rua Rangel Pestana, 1044 - centro - Jundiaí / S.P. CEP: 13.201-000 / Central de Atendimento da Revista Keyboard Brasil: contato@keyboard.art.br é Luiz Capa: Andr da Costa
Silva
As matérias desta edição podem ser utilizadas em outras mídias ou veículos desde que citada a fonte. Matérias assinadas não expressam obrigatoriamente a opinião da Keyboard Editora Musical.
04 / Revista Keyboard Brasil
Espaço do Leitor
Editorial
É uma honra estar na capa da última edição da Revista Keyboard, que traz também uma matéria sobre o projeto Pianosofia. Muito obrigado à Heloísa Fagundes e à toda equipe! Cristian Budu – via Facebook. In recent days, Jean-Michel Jarre gave many interviews in Polish media. Great article! Michał Pax – via Facebook. I really like this excellent pianist, listening to her playing Mozart and Bach, the delicate touch keys, perfect interpretation! (Referente à matéria sobre a pianista portuguesa naturalizada brasileira Maria João Pires). Cantabile – via G+. Essa pianista portuguesa eu também curto bastante! (Referente à matéria sobre a pianista portuguesa naturalizada brasileira Maria João Pires). Igor Maxwel – via G+. Interessante ler! Eu recomendo! (Referente à matéria sobre os saraus de antigamente). Dimas Costa – via G+. Amo Jean Michel-Jarre! (Referente à matéria de Amyr Cantusio Jr., edição número 27). Patricia Lima – via G+.
Heloísa Fagundes - Publisher
A cada mês, novas alegrias, grandes conquistas! Nesta edição, apresentamos nossos novos colaboradores, profissionais sérios e competentes: Murilo Muraah, com uma matéria para aqueles que pensam em montar ou melhorar seu Home Studio e Luiz Carlos Rigo Uhlik, que escreve sobre a revolução dos teclados arranjadores. Em um ambiente dominado por guitarras, Mateus Schanoski entrevista a nova geração de tecladistas do Heavy Metal (nossa capa do
A Revista Keyboard Brasil é uma interessante publicação ! Carlo Lamberti – via G+.
mês)! E a experiência de nossos fiéis e exímios colaboradores: Maestro Osvaldo Colarusso, Luiz Bersou, Patrícia Santos e
Sempre dando uma zoiadinha! Eicha povo competente!! Maga Lee Craveiro – via G+. Essa ideia de Cristian Budu trazer vida aos pianos de nossas casas é muito legal! Amei a ideia! Assim que tiver um sarau aqui na minha casa, mandarei fotos para vocês! Abraços!! Virgínia Salvadore – via e-mail.
Amyr Cantusio Jr, trazendo cultura para o nosso país! Obrigada a todos que buscam os mesmos ideais e que fazem parte desse projeto, projeto esse que busca transformar o mundo da música em algo melhor. Desejo uma excelente leitura! E, não se esqueça! Queremos saber a sua opinião! Então, além de curtir,
Precisamos desse resgate cultural! Parabéns ao Alexandre Dias!! (Referente à matéria de Osvaldo Colarusso, edição número 27). Milton Castro – via e-mail.
comente e compartilhe! E, músicos: continuem enviando seu material e sejam vistos por mais de 250 mil leitores! Revista Keyboard Brasil / 05
Fotos: Divulgação
Divulgação
Autor: Helio Flanders Estúdio Claraboia Gravadora: Deck
UMA TEMPORADA FORA DE MIM Da Redação
U
ma Temporada Fora de Mim é o primeiro trabalho solo do compositor e multi-instru-
mentista Helio Flanders, membro fundador da banda Vanguart. Apenas com composições próprias, o álbum traz uma sonoridade mais intimista, inspirado no tango, na solidão das grandes cidades e na canção melodramática. A formação conta com Helio nos vocais, piano, trompete, acordeon e violão e se juntam a ele os argentinos Ignacio Varchausky (baixo acústico) e Martín Sued (bando-neon), além dos brasileiros Bruno Serroni (violoncelo) e Leo Mattos (bateria e percussão). Do bairro de Almagro, em Buenos Aires, um dos mais tradicionais do tango, Helio trouxe Ignacio Varchausky, para muitos o maior contra-baixista de tango da Argentina, titular na Orquestra El Arranque, e do bairro da Boca, Martín Sued, uma das revelações do bandoneon, tanto acompa-
06 / Revista Keyboard Brasil
nhando artistas argentinos, como com seu trabalho no Tatadios Cuarteto. As composições tratam de amor, morte, transformação, dores e lucidez. Há parcerias com Julio Nhanhá (“Major Luciana”), Thiago Pethit (“Romeo”) e Arthur de Farias (“Cuyaba Tango”). A cantora Cida Moreira faz um dueto com ele na belíssima “Dentro do Tempo que Eu Sou”. A produção do álbum ficou à cargo de Helio e do gaúcho Arthur de Faria, conhecido por seu grupo Arthur de Faria & Seu Conjunto e por suas inúmeras trilhas para cinema e teatro. Com capa que expõe foto intencionalmente desfocada de Daryan Dornelles e arte assinada pelo Estúdio Claraboia, o primeiro álbum solo de Helio Flanders está disponível nas plataformas digitais em edição da gravadora Deck. Saiba mais sobre Helio Flanders:
MatĂŠria de Capa
METAL BRASILEIRO:
Tecladistas do
08 / Revista Keyboard Brasil
A NOVA GERAÇÃO! Revista Keyboard Brasil / 09
Foto: Ethan Miller, Getty Images
OS TECLADOS CONSOLIDARAM SUA PRESENÇA NO HEAVY METAL DURANTE AS ÚLTIMAS DÉCADAS, COM A DIVERSIFICAÇÃO DO GÊNERO EM NOVOS ESTILOS CRIADOS EM PROFUSÃO. E O ESPAÇO PARA A CRIATIVIDADE DOS MÚSICOS VAI SE EXPANDINDO. EM UM PAÍS COM GRANDE LEGIÃO DE SEGUIDORES DO METAL, COMO O BRASIL, ESSES SONS TAMBÉM GANHAM RELEVÂNCIA. MATEUS SCHANOSKI ENTREVISTOU TRÊS IMPORTANTES MÚSICOS QUE ATUAM NESSE CENÁRIO: RAFAEL AGOSTINO, FABRIZIO DI SARNO E NEI MEDEIROS. OS TRÊS TÊM UMA EXTENSA GAMA DE TRABALHOS, QUE INCLUEM ÁLBUNS E TURNÊS COM BANDAS DE HEAVY METAL, TRILHAS SONORAS E PROJETOS SOLO. E APRESENTAM AQUI UMA VISÃO DE MUNDO PARA ALÉM DO ÂMBITO MUSICAL (Ricardo Alpendre).
Por: Mateus Schanoski Revisão: Ricardo Alpendre 10 / Revista Keyboard Brasil
Discografia
Karma – Inside the eyes
Karma – Leave Now!!!
A Tribute to Queensriche – WARNING: Minds of Ranging Empires
Paul di Anno – Nomad
Psymbols – Faces
Shaman – Immortal
Angra – Aurora Consurgens
Almah – Fragile Equality (Programação de timbres)
fabrizio Di Sarno
Angra – The course of Nature EP
O
músico, tecladista e professor universitário Fabrizio Di Sarno inicio seus estudos de piano aos 8 anos de idade. A partir daí seu interesse por música só aumentou aprendendo também, flauta e guitarra. Graduado em Composição e Regência pela Faculdade de Artes Alcântara Machado/FAAM (2002), Mestre em Comunicação Audio-visual pela Universidade Anhembi-Morumbi (2012) e Produção Musical pelo Senac, além de seu trabalho como tecladista, Fabrizio possui vasta experiência profissional na área de trilha sonora, composição, produção, execução, gravação musical e docência. Atua como coordenador e professor do curso de Licenciatura em Música do Centro Universitário Nossa Senhora do Patrocínio (CEUNSP) e professor no curso de Produção Fonográfica pela Fatec de Tatuí. Gravou, produziu e tocou com um grande número de bandas de Rock, MPB e Pop como, por exemplo, Angra, Paul diAnno, Shaman, Bittencourt Project, Karma, Symbols, Edu Ardanuy, entre outras.
Rafael Bittencourt – Leo Von- Leo Von Brainworms
Angra- Aqua – participação especial)
Edu Ardanuy - eletric Nightmare
Origins- Shaman
ShamanAnimelive- DVD
Fabrizio Di Sarno – Mystical Ways Shaman - DVDMasters of Rock Revista Keyboard Brasil / 11
nei medeiros
ei Medeiros iniciou seus estudos na música aos 13 anos de idade. Estudou piano popular e teclado no Conservatório Souza Lima e piano erudito com Leandro Mamede (professor formado pela UNESP – Universidade do Estado de São Paulo). Na ULM – Universidade Livre de Música, formou-se em harmonia popular com o professor Júlio César e, além de aperfeiçoar seus estudos em piano popular com a pianista Lis de Carvalho, o músico avançou em diversos estilos tais como, Jazz, música brasileira e Blues (estilo pelo qual tem uma grande admiração). Finalizando, estudou percepção avançada com Maria Zeí, Júlio Bellodi e Tânia Tonus. Suas principais influências são Chick Corea, Herbie Hancock, Michel Camilo, Keith Jarret, Telonius Monk, Jordan Rudess, Kevin Moore, Keith Emerson, Cesar Camargo Mariano entre outros. Em 2005, Nei Medeiros foi convidado para integrar a banda que acompanha o Padre Marcelo Rossi como tecladista em suas missas no Santuário Mãe de Deus, em São Paulo e também em shows por todo o Brasil. Junto com o Padre Marcelo Rossi, teve oportunidade de acompanhar grandes nomes da música brasileira: Ivete Sangalo, Daniel, Belo, Edson e Hudson, KLB e grandes outros. Ainda com o Padre Marcelo Rossi e Danilo Lopes, compôs 14 faixas para o Cd “O Tempo de Deus” lançado pela Sony Music com mais de 1 milhão e 500 mil cópias vendidas em todo o Brasil. Em 2008, foi convidado para fazer parte da banda de Rock Cristã Ceremonya gravando, em 2010, o segundo Cd da banda pela gravadora Paulinas/Comep. Atualmente, acompanha o guitarrista da banda Angra Rafael Bittencourt com seu projeto solo, o Bittencourt Project. Também se apresenta com a banda de Pop/Rock Bellatrix em shows pelo Brasil, além de trabalhar no estúdio Nação Musical, gravando grandes artistas. Em 2013, lançou seu primeiro Cd de música instrumental - uma mistura de música progressiva e trilha sonora voltada para games intitulado Uprise. O Cd conta com grandes músicos participantes, tais como: Rafael Bittencourt (Angra), Gustavo Dubbern (Ceremonya), Marcell Cardoso (Edu Ardanuy, Karma), Bruno Ladislau (Andre Mattos), Juninho Freire (Cantores de Deus).
N
Discografia
Angra – Aqua Front
Bittencourt – Project
Angra – Secret Garden
Angra – Ceremonya
Nei Medeiros – Uprise 12 / Revista Keyboard Brasil
rafael agostino
R
afael Agostino iniciou na música aos 12 anos de idade tocando bateria e, aos 15, migrou para o teclado e piano. Estudou com professores particulares, utilizando a metodologia da Fundação Magda Tagliaferro. Em 2002, excursionou pelo Brasil fazendo shows e workshops com a banda Eterna e, no mesmo ano, gravou o disco Terra Nova. Em 2005, gravou Epiphany, da mesma banda. Em 2008 graduou-se em Rádio e TV trabalhando com trilhas para vídeos institucionais e filmes publicitários. Em 2010, produziu e gravou os teclados do EP da banda Sancti com os ex membros da banda Eterna. Em 2013, produziu, compôs e gravou os teclados e guitarra base do EP da banda Blood own Blood. Em 2014, viajou para Dinamarca com a banda Mad Old Lady, para gravar o álbum Power Of Warrior com a produção de Tommy Hansen. Produziu e gravou os teclados da música How Many Tears, interpretada pelo vocalista Pastore ao tributo brasileiro a banda alemã Helloween. Produziu e gravou os teclados e guitarra solo da música Magdalene, interpretada pela banda Ravenland ao tributo brasileiro a banda portuguesa Moonspell. Este ano, além de viajar para os Estados Unidos, tocando no Motorboat Cruise, com a banda Mad Old Lady ao lado de grandes nomes como Slayer, Motorhead e Anthrax, também produziu e gravou os teclados do disco Mindlomania da banda Silver Mammoth. Atualmente, além de tocar na banda Mad Old Lady, é sideman do artista Pedro Autz, e integrante de algumas bandas covers, além de atuar como produtor musical e audiovisual.
Discografia
Eterna – Terra Nova
Blood own Blood – The First Blood
Eterna– Epiphany
Sancit – Além do Horizonte
Mad Old Lady – Power of Warrior
Em Nome do Medo – A Brazilian Tribute to Moonspell
Halloween Brazilian Tribute – 30 Years of Happiness
Silver Mammoth– 30 Years of Mindlomani Revista Keyboard Brasil / 13
Entrevista Revista Keyboard Brasil: Sei que é óbvio
demais, mas como começaram a tocar teclado, e porque escolheram o heavy metal? Quando começaram a tocar em bandas, já foram direto para este estilo? Rafael Agostino: O teclado me chamou a atenção quando ouvi os discos Sabbath Bloody Sabbath e Never Say Die, do Black Sabbath. O som de piano e sintetizadores junto com a guitarra pesada me fascinou. Anos depois descobri bandas como Savatage e Opeth, que viraram grande influência. Minhas primeiras bandas foram de metal; tive uma banda de cover na qual tocávamos Savatage, Stratovarius, e outra autoral, chamada Evora, em que por coincidência o Fabrizio havia tocado. Os teclados no heavy metal são bem característicos e bem orgânicos; os timbres mais usados são os famosos strings/orchestra, harpsichord, piano e os leads sempre tentando imitar uma guitarra (risos), além dos clássicos já herdados do rock'n'roll setentista: Hammond e Moog. Fabrizio Di Sarno: Não me lembro da época em que eu não tocava piano/ teclado (risos). A minha mãe tinha uma escola de música, e eu tocava desde muito pequeno. Na adolescência, comecei a gostar de metal e nunca mais consegui parar. Já toquei em bandas de todos os gêneros (até pagode, para ajudar a pagar a faculdade), e fundei a minha primeira banda de metal progressivo, o Karma, 14 / Revista Keyboard Brasil
junto com o Tiago Bianchi. A partir daí toquei em muitas bandas, fazendo a minha primeira turnê internacional (Fireworks Tour) com o Angra quando eu ainda estava na faculdade. Nei Medeiros: Comecei a tocar teclado por uma paixão, a música, por meio do meu pai. Ele nunca tocou qualquer instrumento, mas sempre foi apaixonado por música e, assim, sempre motivou os filhos, no caso eu e meu irmão, a escolher e tocar um instrumento. Eu sempre fui apaixonado pelo piano... Toda vez que via um piano em qualquer lugar, queria abrir, escutar o som, ver a mecânica. Mas como meu pai não tinha money para me comprar um, me deu de presente um teclado, que na época foi um singelo PSR 185, da Yamaha. Eu tinha 13 anos na época. Então, comecei a tirar músicas de ouvido, e acho que uma das primeiras bandas que tirei de ouvido no teclado foi alguma coisa do Deep Purple. Sempre gostei muito do trabalho do Jon Lord. Infelizmente, não tinha muitos amigos que tocavam instrumento, e muito menos rock. Então, comecei a tocar em bandas de casamento, tocando todos os estilos. Isso não foi ruim, por causa disso comecei a ouvir e tocar todos os estilos musicais.
Revista Keyboard Brasil: Todos vocês tiveram e têm como base o piano erudito. Expliquem a importância de estudar esse estilo, e por que é tão próximo do metal. O metal será considerado erudito daqui uns 50 anos?
Rafael Agostino: O conceito e a técnica do heavy metal realmente são muito próximos do erudito. Lembro que o Hannon e o Czerny foram de grande ajuda para conseguir tirar algumas músicas mais rápidas. O metal é tão diversificado dentro de suas vertentes, que tem influências desde o erudito até o rap, passando pelo jazz, fusion, blues, etc. Acredito que no heavy metal, daqui uns anos, quando não existirem mais bandas como Black Sabbath, Iron Maiden e tantas outras, haverá grandes apresentações de intérpretes, como vemos hoje com a música de Mozart, Chopin e todos os compositores clássicos. Há muitos sites já catalogando esse acervo enorme de bandas, então não duvido que, daqui uns anos, o heavy metal se torne literalmente um clássico.
Nei Medeiros: Estudar piano erudito é importantíssimo, pela técnica e, também, pela leitura. O repertório é maravilhoso, além de ser uma imersão na história musical. Como é bom você poder tocar uma composição que foi feita há muito tempo! Meu compositor favorito é Chopin. Estudei e estudo muitas coisas. Gosto muito da sensibilidade das músicas de Chopin. Também gosto muito de Bach e acho maravilhoso o processo de sobreposição e encadeamentos das vozes. É genial! Apesar de o metal ter muita linguagem erudita, está muito longe de ser erudito. O metal está mais para o clássico. Então acho que a maioria das bandas e grandes hits irão se juntar ao grande hall dos grandes clássicos. Mais do que justo.
Fabrizio Di Sarno: Alguns estilos de metal possuem essa influência da música erudita, não todos. É o caso do metal progressivo e do metal melódico, os dois estilos que eu mais gosto de tocar. Estudar erudito me deu uma base muito grande na parte técnica e teórica, já que o piano erudito tem séculos de desenvolvimento, com muitos tratados e livros didáticos. Isso é muito bom para quem deseja se desenvolver profissionalmente como tecladista e compositor. Na minha opinião, o metal nunca será considerado erudito, apesar de ser, muitas vezes, mais sofisticado do que a maioria dos gêneros populares.
R.K.B.: Contem como é a rotina de estudo de vocês. Qual o cronograma diário? O que estudam no dia a dia? R.A.: Infelizmente não estudo mais todo dia, ensaio três vezes por semana com banda e, geralmente, aqueço tocando alguns exercícios do Hanon. Espero num futuro breve voltar a tocar pelo menos duas horas por dia. Nunca fui um músico muito disciplinado aos estudos, sempre gostei de criar e improvisar, então quando sentava no piano para estudar, não passava 30 minutos, já perdia o foco... E é assim até hoje (risos), as horas de estudo acabam sendo para tirar música nova ou treinar e limpar alguns licks.
Revista Keyboard Brasil / 15
F.S.: Hoje em dia não fico muito tempo estudando técnica. Antes de tocar, eu alongo e faço um pequeno aquecimento para não ter algum problema físico, principalmente quando vou gravar trilha sonora, pois chego a ficar tocando por várias horas seguidas. Depois disso faço alguns exercícios de técnica, toco algumas músicas e dou início ao trabalho. N.M.: Eu estudo muito todos os dias, e várias coisas diferentes, de música erudita a latina. Atualmente, estudo muita leitura. Quando você começa a tocar em muitas bandas e precisa tirar tudo de ouvido, acaba se acostumando em apenas “tirar” de ouvido, e esquece da leitura. É muito difícil você encontrar todos os arranjos escritos em uma banda. Então, você acaba perdendo um pouco dessa prática. É mais comum ter todas as partes escritas em estúdio. O músico que trabalha muito acaba tendo um contato de pelo menos dez horas por dia com a música, entre estudos, músicas para tirar, arranjos para fazer, escutar música. E isso tudo não deixa de ser um estudo. Mas é preciso saber organizar os estudos. Estudar técnica, leitura e repertório é essencial. R.K.B.: Considero vocês músicos completos. Compõem, produzem, criam arranjos, gravam, fazem shows, são sidemen e ainda dão aulas. Diferente dos tecladistas de outros estilos. Vocês fazem tudo isso por que sentem necessidade? Ou também para terem mais possibili-
16 / Revista Keyboard Brasil
dades artísticas e mais grana? Como conseguem tempo para tudo isso? Como se organizam? R.A.: O teclado sempre foi uma ferramenta fácil para se tornar produtor, temos uma gama enorme para arranjar e criar, apesar de que no metal às vezes prefiro criar a partir da guitarra e arranjar com o teclado. Sempre gostei muito de riffs, e isso me influenciou muito na parte de criar com o teclado também, sempre tento criar riffs ao invés de melodias. Viver de música se torna cada dia mais difícil, então cada vez mais temos que ter novas funções, seja lecionando ou produzindo, ou como sideman. O networking, acredito eu, é o fator mais importante no meio musical. Então, quanto mais trabalhos nos envolvermos e fizermos bem feito, mais seremos lembrados, porém temos que ter cautela para nos organizar e cumprir todos os compromissos. Realmente não é fácil. F.S.: São fases da vida. Quando a minha filha nasceu, senti a necessidade de parar de fazer shows todos os finais de semana. Eu viajava muito e não tinha tempo para vê-la. Senti a necessidade de ganhar dinheiro sem viajar tanto, então parei de fazer turnês e passei a dar aulas nas duas faculdades em que estou até hoje. Como sempre faço trilha sonora, desde a minha adolescência, continuo em contato com músicos e tocando bastante. De vez em quando toco com bandas e músicos, mas não dependo mais disso para ganhar a vida.
N.M.: Acho que hoje, no Brasil, tecladistas de qualquer estilo precisam saber “se virar” em qualquer outro estilo. Precisase criar muito, arranjar, gravar e transitar em todos os estilos musicais. Se não for assim, acaba não conseguindo trabalhar direito. As aulas, geralmente, são um pouco mais fáceis de organizar. A maioria dos meus alunos são particulares, então é mais fácil de se lidar e remanejar os horários, caso precise por causa de algum show ou gravação. R.K.B.: Os três têm experiência em gravações, home studio e shows. Qual preferem e por quê? R.A.: O maior êxtase para mim é tocar ao vivo. Quando o som está bom, a banda tem afinidade e o público interage, não tem adrenalina maior. Mas também curto muito gravar e produzir. São sensações completamente diferentes: quando compomos, é a sensação da criação, da inspiração, e de ouvir algo que criamos depois; na produção a sensação de construção também é maravilhosa, as coisas vão tomando forma e é incrível quando ouvimos o resultado final. F.S.: Hoje em dia, minha atividade profissional preferida é compor. Geralmente, gravo as guias e componho na minha casa mesmo, daí vou para algum estúdio na hora de gravar os instrumentos e mixar. Na maioria das vezes vou para o estúdio Fusão, do Thiago Bianchi, pois lá trabalho com o Bianchi e o Fernando Quesada, que são grandes amigos e profissionais excelentes.
N.M.: Eu gosto de ambos. Qual músico não gosta de fazer shows? A energia do palco e a resposta do público, de imediato, a energia e a ansiedade de tocar que só o show me proporciona. Gravação é uma maneira de imortalizar seu trabalho, porque fica para sempre. Gosto muito de gravar em casa, no meu home studio também, pois tenho mais liberdade e trabalho de acordo com meus horários e sem pressão. R.K.B.: Tecladistas de metal são poucos no Brasil. No decorrer dos anos, isso está aumentando aos poucos. Qual a opinião de vocês? O metal continua crescendo no Brasil? O que mudou desde o início das suas carreiras para agora, em 2015? Melhorou, piorou ou vai melhorar? R.A.: Na minha opinião, o estilo continua crescendo no Brasil, as bandas antigas ainda lançam material novo, e há muitas bandas novas. Porém, hoje o uso de samplers está cada vez mais comum devido à falta de tecladistas e, geralmente, já tocamos em três bandas ou mais, então realmente é muito difícil conciliar datas. Já teve caso de eu não poder fazer show de alguma banda que toco e gravar os samples para soltarem ao vivo. O trato foi de não me “despedirem” depois (risos).Acredito que esse cenário vai melhorar: há muitos tecladistas hoje, e o estilo vem se reinventando cada vez mais, então não duvido que logo veremos mais bandas com até dois tecladistas. F.S.: O que mudou é que o metal não figura mais na grande mídia. O rock, no Revista Keyboard Brasil / 17
geral, deu uma caída nesse sentido. Perdendo espaço para outros gêneros musicais. Isso significa menos shows, menos dinheiro e menos gravadoras interessadas. O estilo ainda tem muitos fãs e consegue sobreviver aos trancos e barrancos mas, na maioria dos casos, as bandas e os músicos de metal trabalham muito mais por paixão do que por profissão, o que muitas vezes faz com que os músicos tenham que sobreviver através de outras atividades profissionais e não apenas tocando. N.M.: O estilo metal no Brasil, por si só, já é difícil. Por que será que a maioria das bandas brasileiras de metal canta em Inglês? Porque não tem público em massa aqui, infelizmente. E, para um músico profissional entrar nesse meio é porque gosta e acredita muito no estilo. Eu acho que está, sim, crescendo o número de tecladistas do metal no Brasil, só acho que não se conhecem muitos. Temos poucos incentivos de shows, não se valorizam bandas novas, não temos festivais de musica autoral. Por isso que falei que precisa gostar e acreditar muito. Temos grandes talentos escondidos por aí, grandes tecladistas. Viajo muito com o Ceremonya por todo o País, e já conheci vários bons músicos. O problema é só mesmo o incentivo por parte cultural do nosso país. R.K.B.: Falem sobre os recentes lançamentos de vocês e como foi a produção desses trabalhos: R.A.: Esses dois últimos anos acredito que 18 / Revista Keyboard Brasil
foram os melhores na minha carreira. No ano passado, fiquei um mês na Dinamarca, gravando o álbum da banda Mad Old Lady com o Tommy Hansen (produtor que já trabalhou com Helloween, Jorn, etc.). Foi uma experiência incrível. Ele também é tecladista, e passamos horas no Hammond, além de, é claro, passarmos horas vasculhando bibliotecas de instrumentos virtuais. Mas, realmente o foco foi gravar de forma orgânica, isso me fez repensar em muito na forma de tocar e produzir. Inclusive, neste ano de 2015, fiz minha primeira produção de um álbum inteiro, da banda Silver Mammoth. Além de produzir, gravei os teclados e escrevi algumas faixas também, foi um processo bem orgânico. Além das gravações e produções, este ano tive a oportunidade de tocar nos EUA, em um cruzeiro do Motorhead e em um show em Miami. O preconceito das pessoas que curtiam o metal mais pesado como thrash e death vem diminuindo em relação ao teclado, isso possibilita ainda mais a inclusão do nosso instrumento em tantas vertentes do estilo. F.S.: Sou mais ativo na área de trilha sonora, principalmente trilha para propagandas. Minhas últimas trilhas sonoras são para vídeos comerciais e institucionais, como a campanha contra o câncer de mama protagonizada por atores da TV Globo:
Trilha sonora: Fabrizio Di Sarno
As campanhas dos perfumes Luna e Ilía, da Natura:
Trilha sonora: Fabrizio Di Sarno
E o spot, da Odebrech:
Trilha sonora: Fabrizio Di Sarno
Por vezes, lanço alguma composição original, como a música “Indizível”:
Trilha sonora: Fabrizio Di Sarno
E a música “Tão perto, tão longe”:
Trilha sonora: Fabrizio Di Sarno
N.M.: Lancei no ano de 2014, meu primeiro CD solo de música instrumental, intitulado Uprise, que teve participações de grandes músicos, como Rafael Bittencourt (Angra), Marcel Cardoso (Karma, Família Lima), Bruno Ladislau (André Matos), Gustavo Dubbern (Ceremonya), Juninho Freire e Regis Costa (Ceremonya). Para mim, foi uma grande conquista. Esse CD é uma mistura de várias coisas de que gosto, principal-
mente a parte de trilha sonora. É uma mescla de triha de games com música progressiva, é meio doidão. Realmente me senti realizado. Existem poucos tecladistas no Brasil com um CD de música instrumental solo. Por favor, escutem (risos)! Estamos na finalização do CD novo do Ceremonya. Esse CD vai ser bem diferente, com muitas coisas eletrônicas. Quem acompanha e conhece o trabalho do Ceremonya sabe como foi difícil o processo até este ponto. O último CD lançado foi em 2010, e ainda teve mudança de formação. Esse CD do Ceremonya vai ser lançado pela Gravadora Paulinas/Comep, e os produtores do CD são Marcelo Pompeu e HerosTrenchi (Korzus), do Estúdio Mr. Som. Provavelmente deve ser lançado somente em 2016. Estou também na produção do DVD do Bittencourt Project, que será gravado no dia 13 de janeiro, aqui em São Paulo. Estamos no processo de ensaio do DVD. Será feito totalmente pelos fãs. O Rafael disponibilizou várias coisas legais para o fã que queira ajudar nesse processo, como assistir ensaios ou até mesmo aparecer no encarte do DVD. Bem bacana. Para quem quiser acompanhar e ajudar, segue o link:
R.K.B.: Que equipamentos usam em home studio? E ao vivo nos shows? R.A.: Depois que eu descobri o mundo dos instrumentos virtuais, fiz o possível Revista Keyboard Brasil / 19
para levar isso ao palco. Hoje uso um Mac Mini e revezo meu controlador M-Audio com um piano digital da Yamaha, ambos de 88 teclas. Eu prefiro sempre levar um teclado maior e fazer o split com vários timbres a levar dois teclados, então hoje não tem muita diferença entre o equipamento que eu gravo e o que toco ao vivo. Mas espero um dia ter estrutura para deixar o mundo virtual de lado e ter o mundo real nas mãos, que seria levar ao palco um piano, Hammond, Wurlitzer, Mellotronett – e tantas teclas (risos). Mas por enquanto é logisticamente e financeiramente inviável. F.S.: Hoje em dia, prefiro tocar com um teclado controlador ligado a um laptop, contendo diversos sintetizadores virtuais dentro dele. Não apenas pela mobilidade mas, também, pela imensa variedade de timbres que esse sistema pode conter. Como na maioria das vezes eu gravo no estúdio Fusão, que fica em Cotia, e tenho à disposição muitos equipamentos de primeira linha na Fatec, no curso de Produção Fonográfica no qual eu leciono, não tenho a necessidade de ter muitos equipamentos na minha casa. N.M.: No estúdio, eu uso meu piano digital maravilhoso Roland FP-4F, um controlador Arturia Mini Lab 49, trabalho com o Logic Studio e muitos VSTs em meu home studio. Ao vivo, no momento, estou usando um Korg Krome 61, um Korg Triton Extreme 61, um Roland Lucina que o uso apenas como controlador, e meu Macbook “véio de guerra”, que está 20 / Revista Keyboard Brasil
recheado com muitos VSTs. Junto com o Lucina e o Macbook, uso um transmissor MIDI Wireless chamado Air Power, da empresa Star Labbs. R.K.B.: Além do metal, vocês também trabalham em outros estilos. Contem sobre esses trabalhos e como o metal influencia nesses projetos. R.A.: Alguns anos atrás eu me foquei bastante no piano e toquei por um bom tempo sozinho, sem banda. Foi quando produzi e gravei algumas trilhas para filmes publicitários e vídeos institucionais. Hoje, além de tocar metal, acompanho também um artista pop chamado Pedro Autz. Ele está iniciando a carreira com o pé direito, já tem música na novela e uma gravadora. Na verdade, são estilos completamente diferentes. Acho que o diferencial é justamente não trazer tanto as influências existentes; o mais sábio a fazer é pesquisar um pouco do estilo que iremos tocar e agregar como uma nova influência. F.S.: Além de metal, também trabalho na área de produção musical, na área de trilhas sonoras, e componho músicas eruditas. No meu canal do YouTube é possível ver parte desse trabalho. N.M.: Precisa-se estudar e conhecer outros estilos musicais. Esse é um segredo para ser um bom tecladista, não só de Metal... OK? Eu trabalho com uma banda de pop/dance chamada Bellatrix. Essa onda eletrônica eu sempre admirei muito, e tenho estudado muita coisa. Me ajudou
muito em questão de timbres e nessa parte do pop e música eletrônica. Eles trabalham muito com camadas de timbres, ou seja, são vários timbres sobrepostos, para se chegar no som que se quer, bem “gordo”. Precisa-se pensar como um DJ. Escutem o CD do James LaBrieque se chama Impermanent Resonance. O tecladista usou muita coisa pop/eletrônica no CD, e isso com certeza foi um diferencial. Escutem os sons novos do Korn, tem muita coisa de dubstepno som atual deles. Com certeza, um diferencial. Precisamos parar de tocar só com strings, Hammonds e pianos no metal. É difícil de se achar tecladistas atuais que exploram suas máquinas. Antigamente, tecladistas como Keith Emerson (ELP) e Rick Wakeman (Yes), passavam horas e horas timbrando seus Moogs, seus Hammonds, para se chegar em algum timbre desejado. R.K.B.: Que outros estilos vocês admiram e gostam de tocar? R.A.: Eu gosto muito do piano clássico, pelo fato de ser intimista e da gama sonora que ele pode oferecer sozinho. Gosto também de música com groove, como funk e fusion, mas preciso aprimorar esse lado. F.S.: Minha banda preferida é o Dream Theater. Gosto de tocar e ouvir. N.M.: Eu curto muito jazz e música brasileira. No samba e baião, sempre gostei muito da pulsação do baixo, e isso me ajudou muito. Estudei na ULM, então
tive muito contato com esses estilos. Ouço muito da música latina e curto muito um pianista chamado Michel Camilo. Se não conhecem, vão atrás “pelamordedeus”, porque é maravilhoso. Gosto de música pop: Michael Jackson, Stevie Wonder, Dirty Loops, Lady Gaga, Skrillex, etc. Ouço muita coisa de música eletrônica há muito tempo. Acho que o metal e a música eletrônica são os dois estilos que mais escutei na vida. Sou muito eclético no meu gosto musical. R.K.B.: Quais bandas e artistas novos vocês estão ouvindo atualmente? R.A.: É bem comum eu acompanhar lançamentos de bandas de que já gosto, como Deep Purple, Opeth, que por sinal vem fazendo um trabalho incrível nos dois últimos discos, voltados para o rock setentista progressivo; mas tem, sim, algumas bandas novas que eu gosto de ouvir, como Rival Sons, Muse e Ghost. Eu gosto muito também de um trio brasileiro chamado Hammond Grooves; e, claro, as bandas que acabo produzindo ou gravando, como o Silver Mammoth e Yuri Fulone. F.S.: Ouço bastante outros estilos musicais, mas, como o foco é metal, estou ouvindo no momento bandas de progressivo que conheci recentemente como Tesseract e Circus Maximus. N.M.: Atualmente, estou ouvindo Muse, Royal Blood, Dirty Loops, Lady Antebellum e Alter Bridge. Tem um tecladista que se chama Nigel Stanford, Revista Keyboard Brasil / 21
que eu acho incrível! Adoro Purple, e não paro de ouvir. Dream Theater não pode faltar no play também. E o que eu mais escuto, principalmente, é trilha sonora, mais precisamente Hans Zimmer (a trilha do filme Inception é uma obra de arte) e Vince Di Cola. R.K.B.: Quais são seus projetos futuros e lançamentos? R.A.: Em 2016, vou finalmente gravar o disco solo, me dedicar mais à minha música. Vai ser um disco versátil, com todas as minhas influências, variando do clássico, pop, rock e metal. Já tenho algumas faixas compostas e outras gravadas. F.S.: Estou coordenando o NAV (Núcleo de Audiovisual da Fatec-Tatuí), pois tenho Mestrado em Audiovisual, e estamos trabalhando fazendo vídeo e trilhas institucionais na Fatec. Também acabei de gravar um clipe de uma composição minha com a participação de músicos parceiros. Tenho ainda duas composições para serem mixadas e lançadas até o final do ano. Além disso, sempre gravo muitas trilhas para as campanhas de final de ano. N.M.: Próximos projetos: CD novo do Ceremonya, que já está no forno, e a gravação do DVD do Bittencourt Project. R.K.B.: Como vocês se veem daqui 30 anos? R.A.: Com 60 anos espero ainda estar tocando, viajando e fazendo música. 22 / Revista Keyboard Brasil
F.S.: A música sempre estará em minha vida, daqui a 30 anos espero ser uma pessoa culta, feliz e sempre em contato com a música, profissionalmente ou amadoramente. N.M.: Daqui a 30, 40 ou 50 anos, tanto faz. Não tem como parar de tocar. Me vejo no palco viajando nas teclas. R.K.B.: Que dicas vocês dão aos novos tecladistas de metal? R.A.: A dica que eu deixo para os tecladistas é que não basta apenas tocar bem: você tem que saber se relacionar, fazer networking, ser humilde e querer sempre aprender. Além disso, buscar personalidade musical, tanto na forma de tocar como nos timbres. Os presets de fábrica dos teclados vêm para você ver o que eles têm para oferecer, mas tente criar seu timbre, sua identidade. F.S.: Acima de tudo seja uma pessoa culta e estudada, não apenas na música, mas também em outras áreas. Nunca conheci um único músico genial que não tivesse uma visão abrangente do mundo. A música é comunicação, e não adianta se comunicar bem se não há coisas profundas para comunicar. O grande músico domina a linguagem musical, mas também conhece o mundo de uma maneira reflexiva e original, é culto e trabalha para desenvolver a inteligência em diversas áreas do conhecimento humano. Quanto mais inteligente você for, melhor músico você será! Conheça a arte, a filosofia, a ciência, a história, e não
seja apenas um apertador de teclas. N.M.: Seja humilde. Não menospreze alguém que está começando. O mundo é um aprendizado, e logo aquele “moleque” chinês de oito anos de idade vai estar tocando muito melhor do que você (risos). Trabalhe com honestidade, pesquise, valorize novas bandas, músicos e artistas. Estude bastante, se atualize e jamais desista da música. E, se optar em seguir a
carreira como tecladista de metal, estude mais ainda. No final, tenha certeza de que vai valer muito a pena. É muito gratificante tocar um estilo musical que você ama e cresceu ouvindo. É isso aí. Obrigado ao Mateus Schanoski, e a todos da redação da revista por essa excelente matéria com novos tecladistas. Sei que é apenas o começo para expandir esse estilo que respiramos.
Exercícios Exercício 1 - para soltar os dedos da mão esquerda:
Exercício 2 - para soltar os dedos da mão direita:
“Este exercício consiste em prender uma nota, marcada com o número do dedo entre parênteses, e
tocar as outras em uma sequência específica em legato, sem soltar a nota que deve ser presa. É um difícil exercício que serve para soltar os dedos das mãos agregando técnica e independência” – Fabrizio Di Sarno. Revista Keyboard Brasil / 23
“Acima, segue um trecho da música de minha autoria, Night Train” – Nei Medeiros.
24 / Revista Keyboard Brasil
“Uma das primeiras músicas que tirei de metal foi Stratosphere, do Stratovarius. Essa música
usa bastante a técnica de repetição de nota, também conhecida como “Ostinato”... Lembro que usava o recurso de gravação do teclado e gravava em uma velocidade bem mais lenta e acelerava depois para ver como ficava... (risos)”. – Rafael Agostino.
* Mateus Schanoski é graduado em Piano Erudito (Conservatório Bandeirantes), Piano Popular (CLAM e ULM), Teclado e Tecnologia (IT&T). É tecladista, pianista, organista, sideman, arranjador, produtor musical, professor e colaborador da Revista Keyboard Brasil. Revista Keyboard Brasil / 25
Foto: Otavio Dias
Lançamento
Fábio Caramuru: “A natureza é o mais completo instrumento musical que existe. Com o projeto EcoMúsica, busco aproximar as pessoas da beleza sonora do Brasil”.
E C O M Ú S I C A Conversas de um piano com a fauna brasileira COM UMA SÉRIE DE EVENTOS NO RIO DE JANEIRO E EM SÃO PAULO, SERÁ LANÇADO NOS MESES DE NOVEMBRO E DEZEMBRO O CD ECOMÚSICA | CONVERSAS DE UM PIANO COM A FAUNA BRASILEIRA, DO PIANISTA FÁBIO CARAMURU. Da Redação
D
iscípulo da lendária pianista franco-brasileira Magda Tagliaferro, com um consistente
histórico como criador e intérprete, Fábio Caramuru vem acumulando vasta experiência e familiaridade com diversos gêneros da música brasileira, de concerto e improvisação, com realizações ousadas, inovadoras e de amplo espectro sonoro. O músico também vem realizando concertos como solista e com orquestras em diversos países. Mais 26 / Revista Keyboard Brasil
recentemente, destacam-se suas atuações como intérprete de Tom Jobim e como integrante do duo Brasil em Dois Pianos, com o pianista Marco Bernardo, além de seu instigante projeto EcoMúsica, que prevê uma série de criações de música e de vídeo dedicadas a diferentes temas ecológicos.
EcoMúsica | Conversas de um piano com a fauna brasileira traz um registro sonoro inovador, no qual o pianista apresenta um diálogo entre o
piano e os sons de aves, insetos e um anfíbio, obtidos na Fonoteca Neotropical Jacques Vielliard (FNJV), da Unicamp. Temas originais, criados especialmente por Caramuru, foram agregados e amalgamados cuidadosamente aos sons captados em diversos locais do país, resultando em um trabalho artístico que homenageia com reverência e delicadeza a natureza brasileira. Piano e os sons dos bichos operam no mesmo status, em tempo real, indo além do conceito de solo/acompanhamento, podendo ser observados nas 14 faixas do CD, diferentes procedimentos de criação musical, tais como imitação, contraste, contraponto, melodia acompanhada, atonalismo, referências modais, blues, jazz, entre outros. A iniciativa artística mostra a ousadia do pianista, com o ineditismo de sua linguagem inovadora ao adotar procedimentos de criação pouco usuais na música de concerto, unindo, de maneira incomum, música e sons da natureza, além de ser um projeto cultural que ressalta a importância da preservação do meio ambiente.
Com patrocíno do Grupo Libra e projeto gráfico do artista Guto Lacaz, trata-se do sétimo álbum do eclético pianista, que já lançou os CDs Tom Jobim Piano Solo, Especiarias do Piano Paulista, Dó Ré Mi Fon Fon, 27 cantigas brasileiras, Moods Refctions Moods, Bossa in the Shadows e Piano - Tom Jobim por Fábio Caramuru. Ficha técnica: Gravação | Estúdio Legato, José Luis Costa (Gato) Edição e mixagem | José Luiz Costa (Gato) Capa | Reprodução de azulejos pintados por Ronald J.Caramuru Projeto gráfico | Guto Lacaz Produção gráfica | Edson Kumasaka Fotos | Otávio Dias Composição, piano, edição, sound design e direção artística | Fábio Caramuru Coordenação | Alexandre Barros | Echo Promoções Artísticas | www.echobr.com.br Contato e informações sobre vendas | www.fabiocaramuru.com.br Patrocínio | Grupo Libra
Saiba mais sobre Fábio Caramuru
Revista Keyboard Brasil / 27
A vista do meu ponto
28 / Revista Keyboard Brasil
A revolução dos
teclados
arranjadores
VOCÊ AINDA ACREDITA QUE OS TECLADOS ARRANJADORES SÃO BRINQUEDOS OU SERVEM APENAS PARA SEREM TOCADOS EM CHURRASCARIAS? ATUALIZE-SE LEITOR! E NÃO PERCA MAIS TEMPO! * Por Luiz Carlos Rigo Uhlik
T
eclados Arranjadores! Torceu o nariz, né? Não tem como negar:
os Teclados Arranja-
dores revolucionaram o mercado de instrumentos musicais nos últimos anos. Tempos atrás esses equipamentos eram vistos como verdadeiros “brinquedos”, ou eram chamados de “ Teclados de Churrascaria”. Hoje, se você tem um estúdio moderno e não tem um bom Teclado Arranjador para resolver aquelas “pegadas” rápidas, você está perdido. Duvida? Vamos imaginar que o seu cliente peça, com urgên-
cia, uma vinheta de 30 segundos com uma boa levada de Big Band. Onde você vai encontrar um bom naipe de metais, com feeling, groove equilibrado e pegada das grandes orquestras americanas? Num Teclado Arranjador! E se o pedido for com relação a um estilo musical que não é comum para nós; por exemplo, um “Saeidy”, ritmo oriental? Teclado Arranjador! O Sistema Operacional destes equipamentos melhorou muito nos últimos anos. Em tempo real você consegue produzir arranjos, com a mão esquerda, que seriam inimagiRevista Keyboard Brasil / 29
náveis 10 anos atrás. Os timbres, então, nem se fala! Cada lançamento apresenta nuances de sons que impressionam até os bons profissionais das teclas, com articulações e o verdadeiro “feeling” do instrumento original. Um bom Hammond? Tem. Um excelente Sax Soprano? Claro. Um bom EP, na linha dos DXs e Rhodes? Certamente. Aquele naipe de violinos das boas trilhas do cinema? Lógico que tem... – Agora vou pegar você: “tem sample?” Hoje, os bons teclados arranjadores, mesmo modelos residenciais, armazenam e editam samples. – Consigo mixar? Sim. Sequenciar? Certamente. “Rodar” arquivos waves e MP3? Pode. Editar as peças dos Kits de Percussão? Pode! Mudar os “envelopes” dos timbres? Praticamente todos os modelos fazem isso; até os mais simples... Sou entusiasta deste tipo de equipamento há mais de 25 anos. Sempre usei, apoiei e tive a oportunidade de influenciar a destinação destes equipamentos no Brasil e no Mundo. O trabalho sério e dedicado me levou a influenciar na estruturação de Teclados Arranjadores específicos para o nosso Mercado. Tive boas experiências na Roland, Korg, Michael e, ultimamente, na Yamaha. Com a nova lei que exige o ensino de música em todas as escolas básicas do Brasil, o Teclado Arranjador pode ter uma influência muito importante nesta tarefa. Mesmo que o “professor” não tenha intimidade com música (o que representa a grande maioria dos “mestres” que vão sustentar estas aulas), os recursos 30 / Revista Keyboard Brasil
desses equipamentos permitem a compreensão dos três principais elementos que formam a Música: Melodia, Harmonia e Ritmo. Mas, o que um Teclado Arranjador tem de bom para ensinar aos alunos? Tudo! 1. Ritmos – a grande variedade de ritmos, que envolve praticamente todas as vertentes da cultura musical mundial, está disponível nestes teclados. Mas, se a questão for ensinar instrumentos percussivos, o processo ainda é bem mais fácil com este tipo de equipamento. 2. Melodia – mesmo os teclados mais simples, de preços mais acessíveis, possuem sons, timbres, “Voices”, que são um verdadeiro encanto. Se o professor quiser ensinar a sonoridade dos principais instrumentos, como saxofone, piano, trompete, violão, etc., o Teclado Arranjador apresenta um elenco invejável de instrumentos. 3. Harmonia – Com o recurso de arranjo na mão esquerda, exatamente dando sentido ao termo Teclado Arranjador, o professor tem condições de apresentar, exatamente, tudo o que representam os acordes na construção de um tema musical. Percebeu? Num único instru-
mento toda a verdade sobre o ensino musical. Mas, então, por que as empresas, os distribuidores, os músicos profissionais, as lojas de instrumentos, as Instituições Governamentais, não se atentaram para isto? Não sei responder! Quando observo a rotina das Instituições Públicas e Privadas, hoje, fico
André Luiz
imaginando se elas não são administradas por estagiários... Pior, estagiários de péssima reputação. A música já deveria fazer parte do ensino escolar sem a necessidade de leis ou a interferência do governo. Deveria ser um processo natural. Portanto, nada mais completo e verdadeiro do que um único Teclado Arranjador para demonstrar, com segurança, o que significa melodia, harmonia e ritmo. Isto, sim, vai fazer com que a criançada, o vô, a vó, o tio, seus amigos, seus pais, aprendam e se interessem por música. E se você é um Tecladista Profissional e ainda “torce o nariz” quando se fala em Teclado Arranjador, seria interessante você, na calada da noite, experimentar um bom modelo e apreciar o sol nascer!
*Amante da música desde o dia da sua concepção, no ano de 1961, Luiz Carlos Rigo Uhlik é especialista de produtos e Consultor em Trade Marketing da Yamaha do Brasil. Revista Keyboard Brasil / 31
NeurociĂŞncia
32 / Revista Keyboard Brasil
AULAS DE PIANO E SEUS I M PAC T O S NO CÉREBRO UM EXERCÍCIO COMPLETO! AO TOCAR UM INSTRUMENTO COMPLEXO COMO O PIANO, SÃO ATIVADAS MUITAS REGIÕES DO CÉREBRO DE UMA MANEIRA QUE NENHUM OUTRO INSTRUMENTO CONSEGUE REALIZAR TAL FAÇANHA. Por Heloísa Godoy Fagundes Revista Keyboard Brasil / 33
M
uito se fala do efeito da música no espírito e nas emoções. Atualmente, a ciência defende que apren-
Outro estudo indicou que “formação musical dá a um indivíduo a capacidade de resposta acústica de uma criança de cerca de 2 a 3 anos mais velha”.
der a tocar um instrumento, tal
como o piano, afeta e até mesmo modifica o cérebro para melhor. São estudo que comprovam a maior capacidade dos músicos em integrar informações sensoriais de audição, tato e visão. A grosso entendimento, é como aprender a andar de bicicleta. Mesmo que seus estudos sejam precoces e que você pare de estudar/tocar por um tempo, seu cérebro continuará beneficiado.
Córtex Auditivo Muitas pesquisas mostram que a música tem efeito sobre o córtex auditivo situado no cérebro. Um artigo da Live Science declara: “pianistas mostram mais atividades cerebral no seu córtex auditivo - a parte no cérebro responsável por processar os sons - do que os não músicos, ao ouvirem notas de piano”. Um estudo do Institute for Music and the Mind na Universidade de McMaster, em Ontário (Canadá), mostrou “maiores respostas cerebrais para um número de testes de reconhecimento de som” entre préescolares com treinamento musical. Eles também reportaram um estudo da Universidade de Harvard que “encontrou uma correlação entre formação musical na primeira infância e habilidades motoras e auditivas aprimoradas, assim como melhorias na habilidade verbal e raciocínio não verbal”. 34 / Revista Keyboard Brasil
Memória Estudos também mostraram que aprender a tocar piano ou outro instrumento pode ter um impacto na memória. Um estudo realizado por Agnes Chan, da Universidade Chinesa de Hong Kong e, publicado na Nature, descobriu que: “... adultos que recebem formação musical antes da idade de 12 anos têm melhor memória para palavras ditas que aqueles que não tiveram. A formação musical na infância pode, portanto, ter efeitos positivos a longo prazo na memória verbal”. Outro estudo, agora através do Instituto para a Música e Mente, da Universidade de McMaster, foi declarado: “Nós [...] levantamos a hipótese de que a formação musical [...] afeta a atenção e a memória, assim como a formação musical pode levar a um melhor aprendizado... ”.
Vias neurais e neuroplasticidade Uma revisão da pesquisa conduzida pela doutora Nina Kraus, da Northwestern University, descobriu que “os efeitos da formação musical no sistema nervoso podem construir padrões significativos importantes a todos os tipos de aprendizado”, de acordo com a UPI. O estudo revisou resultados de pesquisas de todo o mundo para concluir que “um engajamento ativo com sons musicais não apenas melhora a
neuroplasticidade mas, também, cria padrões permanentes importantes para todo aprendizado”. A neuroplasticidade é definida pelos pesquisadores da Northwestern como “a habilidade do cérebro de se adaptar e mudar como resultado de treinamento e experiência”. Além disso, a Forbes declarou que a especulação do pesquisador da Universidade de Wisconsin, Frances Rauscher, de que “entender música, particularmente aprender a traduzir símbolos musicais em sons, pode ser transmitido a outras habilidades, pois estão compartilhando caminhos neurais similares”.
Função espaço-temporal De acordo com um artigo no site da Universidade de Wisconsin, um estudo em que foram dados oito meses de aulas de piano a crianças mostrou correlação entre estudo de música e raciocínio espaçotemporal. No estudo, aos grupos de controle foram dadas aulas de canto, de computação, ou nenhuma aula. A descoberta foi: “... que apenas as crianças que receberam aulas de teclado melhoraram no teste espaço-temporal”, que envolvia montar quebra-cabeças. Um estudo da Universidade da Califórnia, mostrou resultados similares: “crianças préescolares que receberam seis meses de aulas de piano melhoraram drasticamente no raciocínio espaço-temporal, enquanto que crianças em grupos de controle apropriado não melhoraram”.
Tudo o que seu cérebro faz de uma só vez ao tocar piano! Ao tocar piano são ativadas muitas regiões do cérebro de uma maneira que nenhum outro instrumento consegue. Ou seja, é um exercício total do cérebro!
Olhos: a leitura à primeira vista no piano envolve a leitura de duas linhas de música, cada uma em uma clave diferente.
Ouvidos: ao ouvirem alguns acordes, os pianistas possuem a capacidade de acompanhar o ritmo desenvolvendo a música.
Mãos: ambas as mãos tocam notas diferentes. Manter o tempo: os pianistas mantém o tempo (andamento) de forma precisa, por sintetizar e sincronizar todas as atividades motoras sensoriais. Além disso, são capazes de subdividir a batida em diferentes maneiras.
10 Dedos: existem poucos instrumentos que exigem o uso de todos os dez dedos das mãos como é o caso do piano.
Ordenamento: os pianistas sabem onde todas as notas estão dispostas sem ter que olhar para as teclas.
Interpretação do artista: os pianistas transmitem emoção através da captura do estilo de uma música, usando técnicas de desempenho, tais como dinâmica, articulação, ritmo e tempo expressivo.
Propriocepção e toque: os pianistas sabem do esforço empregado em cada movimento de seus corpos ao tocar o piano e usam o toque para determinar quanta força é necessária para pressionar as teclas do piano e os pedais. Pés: além dos dez dedos, os pianistas precisam usar os pés. O pé esquerdo para operar o pedal una corda e o pé direito para operar o pedal de sustentação.
Revista Keyboard Brasil / 35
A pianista chinesa, nascida em Pequim, Yuja Wang é detentora de uma técnica precisa, limpa e inesquecível. 36 / Revista Keyboard Brasil
Destros e ecanhotos O piano é um instrumento inigualável em termos de habilidade e exigência: duas mãos tocam juntas e simultaneamente enquanto seus dedos deslizam pelas 88 teclas. E, para o músico conseguir essas habilidades deve desenvolver uma capacidade cerebral totalmente única, revelada pela ciência. Os pianistas superam algo inato para quase todas as pessoas: o nascer destro ou canhoto, porque ambas as mãos são necessárias e igualmente ativas para dominar o instrumento. Na maioria das pessoas, a profundidade do sulco central do cérebro pode ser mais profunda ou no lado direito ou no lado esquerdo, assim é determinado qual lado é o dominante. Mas, quando os cientistas escanearam os cérebros de pianistas, descobriram algo diferente: pianistas possuem um sulco central comprovadamente mais simétrico do que todos os outros - apesar de terem nascido destros ou canhotos, seus cérebros mal registravam estas diferenças. Pelo fato dos pianistas ainda possuírem uma mão dominante, os pesquisadores especulam que essa profundidade simétrica não seja natural mas, sim, resultado da capacidade dos pianistas em reforçar o seu lado mais fraco para igualar ao seu lado dominante.
Resolução de problemas e improvisação Em outro estudo, realizado pela neurocientista Ana Pinho, do Instituto Karolinska, em Estocolmo, mostrou-se que, quando pianistas de jazz tocam, seus cérebros têm uma conexão extremamente eficiente entre as diferentes partes do lobo frontal, em comparação aos não-músicos. Isso é uma grande descoberta, pois o lobo frontal desempenha um papel importante na resolução de problemas, linguagem, espontaneidade, tomada de decisão e comportamento social. Pianistas, então, tendem a integrar, com mais eficiência, todas as informações do cérebro em processos de tomada de decisão. Devido a esta ligação em alta velocidade, exploram a criatividade de maneira mais rápida e espontânea. Mais incrível ainda, doutora Pinho também descobriu que, quando os pianistas experientes tocam, eles literalmente desligam a parte do cérebro associada com o fornecimento de respostas estereotipadas, garantindo que eles toquem à sua própria maneira, improvisando.
Concentração, comunicação e sintaxe Os pianistas são marcados por cérebros que preservam a energia pela alocação de recursos de maneira mais eficaz do que qualquer outra pessoa. Dr. Timo Krings digitalizou cérebros de Revista Keyboard Brasil / 37
pianistas e descobriu que eles bombeiam menos sangue do que as pessoas comuns na região do cérebro associada com as habilidades motoras finas. Menor fluxo de sangue significa menos energia necessária para se concentrar. Nesse caso, a alteração no fluxo sanguíneo libera os pianistas para se concentrarem em outras coisas que são totalmente exclusivas para os mesmos - como sua própria forma de comunicação. É um conceito difícil de entender, mas é uma das coisas mais legais sobre ser um pianista. Quando pianistas improvisam, a parte da linguagem do seu cérebro permanece ativa - como qualquer músico tocando música, ou seja, é fundamentalmente um ato de comunicação. Mas, a
grande diferença para os pianistas é que a sua comunicação é realizada através da sintaxe¹, e não por palavras. O estudo do Dr. Charles Limb mostrou que, quando pianistas solam, seus cérebros respondem como se estivessem em uma conversa, mas prestam atenção ao fraseado e estrutura “gramatical”, em vez de palavras e frases específicas. Conclui-se que, tocar um instrumento musical como o piano, é uma experiência multi-sensorial e motora que envolve sistemas de prazer e recompensa no cérebro, além de gerar novos processos cerebrais, em diferentes fases da vida, e com uma série de impactos sobre a criatividade, cognição e aprendizado.
¹Sintaxe musical: A música constitui-se de uma sintaxe de notas musicais ordenadas em determinada disposição. É assim que a música se expressa chegando ao nosso sentido auditivo possibilitando um sentimento estético. A sintaxe é a ordem presente na música, o encadeamento de sons que se unem harmoniosa e melodicamente. A música é a arte de combinar sons de maneira agradável ao ouvido através da sensibilidade.
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Foto: Roberto Stuckert Filho
Homenagem
ADYLSON GODOY RECEBE COMENDA DA ORDEM DO MERITO CULTURAL ADYLSON GODOY RECEBE A CONDECORAÇÃO DE COMENDADOR DA ORDEM DO MÉRITO CULTURAL DAS MÃOS DA PRESIDENTE E DO MINISTRO DA CULTURA.
A
presidente Dilma Rousseff homenageou dia 09 de novembro passado, os artistas brasileiros agraciados com a Ordem do Mérito Cultural de 2015, concedida a personalidades, grupos ou instituições, como reconhecimento por suas contribuições ao País. Adylson Godoy recebeu a condecoração de “Comendador” e a sua menção no livro de honra do evento. A edição da Ordem do Mérito Cultural de 2015 teve como homenageado especial, o poeta paulista Augusto de Campos – criador, ao lado do irmão,
Da Redação Haroldo de Campos e de Décio Pignatari, do movimento nacional de poesia concreta, na década de 1950. A cerimônia foi realizada com a presença do ministro da Cultura, Juca Ferreira e de dezenas de convidados, entre artista, intelectuais e representantes de várias áreas de criação, pesquisa e cultura. O cantor e compositor Caetano Veloso, acompanhado de vários músicos, fez um show durante o evento, no Palácio do Planalto. Também foram laureados Vanisa Santiago, Rolando Boldrin e Arnaldo Antunes. Revista Keyboard Brasil / 39
Perfil
DANIEL LEWEN Do clรกssico ao progressivo
01 / Revista Ke 40 Keyboard yboard Brasil
MUITOS AINDA NÃO ACREDITAM QUE UM MÚSICO INDEPENDENTE POSSA VIVER DE SUA PRÓPRIA MÚSICA. DANIEL LEWEN PROVA QUE SIM. BASTA SER COMPETENTE.
* Por Amyr Cantusio Jr.
G
aúcho de Porto Alegre,
Ubirajara Daniel Lewen Jr, é músico inde-
pendente. Formou-se em piano clássico, na Escola Superior de Música Carlos Gomes, em Blumenau, Santa Catarina. Ministrou aulas de iniciação musical para crianças e harmonia, improvisação e arranjo na Escola de Música Sol Maior. Trabalha com produção de áudio e composição de trilhas para cinema e teatro no meio alternativo há mais de 20 anos. Tocou com músicos do sul do país,
dentre outros, Marcelo Gross (Cachorro Grande & Jupiter Maçã) e Marcelo d’Ávila (considerado o melhor cover de Eric Clapton do Brasil). Também atuou como tecladista para várias bandas de Rock de Santa Catarina e do Rio Grande do Sul (Máquina Viva, Faraway, Tempus). Atualmente vive em Balneário Camboriú e realiza trabalhos de composição e divulgação de sua música progressiva. A seguir, a entrevista realizada por nosso colaborador Amyr Cantusio Jr.
Entrevista Revista Keyboard Brasil: Para irmos
Blumenau, cursos de iniciação musical,
direto ao ponto, quais suas influências
improvisação harmonia e arranjo. Minhas
musicais e formação? Cite grupos,
influências, sem dúvida nenhuma, vem
músicos, discos, teus estudos e prefe-
do rock progressivo britânico setentista.
rências à vontade. Daniel Lewen: Tenho seis anos de formação de piano clássico na Escola Superior de Música Carlos Gomes, em Blumanau, Santa Catarina. Dei aulas na Escola de Música Sol Maior durante grande parte da década de 90, também em
Bandas como Yes, Genesis, ELP, Renaissance etc. Tecladistas como Rick Wakeman, Patrick Moraz, Keith Emerson, Amyr Cantusio Jr (sem bajulação!) também fazem minha cabeça mas, também sou amarradão na música eletrônica de vanguarda, tais como Revista Keyboard Brasil / 41
Vangelis, Tangerine Dream, música eletrônica alemã (Kraut Rock) e música eletrônica japonesa, nomes conhecidos como Isao Tomita e Kitaro. RKB: Qual tua formação Universitária atual? DL: Formação universitária incompleta. RKB: Qual a tua visão ESPIRITUAL da vida, da morte... No que acredita? Vida após a morte? Seres aliens? Demônios & Anjos? Deus existe? DL: Olha, acredito sem dúvida na espiritualidade humana. Creio que somos matéria e espírito. Creio na vida após a morte, mas rejeito completamente o estereótipo das religiões e igrejas que estão em grande evidência hoje em dia, para falar a verdade eu as abomino... Deus está dentro de nós e se manifesta através de nossas atitudes. RKB: Cite 5 livros e autores ESPECIAIS que fizeram e fazem tua cabeça. DL: Eu gosto muito de Carlos Castaneda, Julio Verne, Stephen Hawkings, Shakespeare, Daniel Defoe, Carl Seagan. Meu gosto, eu diria, é bem variado! RKB: Que equipamento usa para gravar? Teclados? Computador? Forma? Conteúdo? DL: Eu sempre sofri de um extremo caso de amor por sintetizadores, mesmo nos tempos de criança na academia. Me esfolava todo para a audição de um clássico, depois ia para casa escutar um Kraftwerk só para relaxar (risos). 42 / Revista Keyboard Brasil
Daniel Lewen: “Meus Cds são todos de produção independente e, acredite quem queira, vivo muito bem do meu trabalho.”
Atualmente, tenho um home
samplers e ambiências sonoras,
studio 24 horas por dia à
eu acho que é o que todo mundo
disposição para extravasar
faz hoje em dia. Adoro corais
minha criatividade. Trabalho
medievais ao melhor estilo
com muitos Synths, tais como
Carmina Burana (risos)...
Korg Cronos (adquirido recentemente), Korg Triton, Korg M1, Korg dss1, Korg N364, Roland Fanton G7, Roland XP 30, Roland Juno G, Kurzweill Stage Piano 88 pro midi controladores, entre outros... Ah... também tenho um Poly 800 uma massa, fora os virtuais, que são uma infinidade... Minha plataforma de gravação atualmente é o Reaper. Na verdade, estou em curso de aprendizagem com o grande produtor, gran mestre do Reaper aqui em Santa Catarina Juca Nacimento. Trabalhei algum tempo com o Sonar pois venho da geração do Cakewalk, mas realmente não me adaptei...
RKB: Que tipo de som prefere fazer, independente do que gosta? Como grava tuas músicas? DL: Só faço o que gosto. Sempre serei um renegado por isso, porque acredito que a verdadeira arte tem que proporcionar prazer ao artista. Como comentei anteriormente, de uma maneira muito livre, para mim não existe maneira errada ou certa de gravar, simplesmente tento ter a cabeça limpa e a mente aberta para as ideias que surgem, tento me colocar no lugar do meu ouvinte... E fazer as coisas com muita paixão é um bom caminho.
Trabalho com uma placa de som Ultra 8 R da M Áudio, nada de muito especial... Me considero bastante indisciplinado para gravar produzir ou compor, são raríssimas as vezes que tenho uma obra completa na cabeça, as coisas acabam acontecendo de uma maneira bem intuitiva, sabe na prática mesmo, experimentando aquele tal acorde com aquela frase, combinando timbres, mexendo nos filtros, envelopes e afins. Gosto muito de
RKB: Quantos CDs gravou ao todo e quando (ano) data tua primeira obra? DL: Atualmente, disponibilizo 6 CDs, todos de produção independente e, acredite quem queira, vivo muito bem do meu trabalho, vendo diariamente meus cds de mão em mão nos restaurantes “chiquetosos” de Balneário Camboriú, me dando uma receita monetária mensal bem acima do que se estivesse Revista Keyboard Brasil / 43
tocando músicas de outros artistas (covers) em barzinhos ou baladas. E, isso já faz 14 anos! Eu até falo de brincadeira para meus amigos músicos que eu sou o cara que mais vende Rock Progressivo
RKB: Obrigado Daniel! DL: Muito obrigado pela honra e prazer da entrevista!!! Agradeço imensamente a oportunidade e me sinto lisonjeado pela indicação. Abraços!
aqui na minha cidade que o Pink Floyd e o Yes juntos (risos). Obviamente que isto é uma grande piada (risos)...
Saiba mais sobre Daniel Lewen:
*Amyr Cantusio Jr. é músico (piano, teclados e sintetizadores) compositor, produtor, arranjador, programador de sintetizadores, teósofo, psicanalista ambiental, historiador de música formado pela extensão universitária da Unicamp e colaborador da Revista Keyboard Brasil.
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Ponto de Encontro
(da Música, Arte, Beleza, Educação, Cultura, Rigor, Prazer e Negócios)
SUCESSO DAS EMPRESAS E GOVERNOS LADRÕES E ASSSASSINOS 46 / Revista Keyboard Brasil
POUCOS SE DERAM CONTA DE QUE A IDEOLOGIA COMUNISTA QUE NESSE MOMENTO É CAUSA RAIZ DA NOSSA CRISE ECONÔMICA E MORAL GEROU, NAS SUAS TENTATIVAS DE CONQUISTA DE PODER, MAIS DE 100 MILHÕES DE MORTOS. REPITO: 100 MILHÕES DE MORTOS. NESSE MOMENTO, TEMOS O REGISTRO DE QUE O ESTADO ISLÂMICO MATOU, EM PARIS, MAIS DE 100 PESSOAS. ESTAMOS ESTARRECIDOS. JÁ ESQUECEMOS QUE MAIS DE 100 MILHÕES TAMBÉM FORAM ASSASSINADOS POR CONTA DE IDEOLOGIAS. COM A CLEPTOCRACIA DE ESTADO INSTALADA NO BRASIL, QUADRILHAS SE ORGANIZANDO PARA PILHAR O PODER, CONSIDERANDO QUE O SUCESSO DO CAPITALISMO É MUITO MAIS DECORRENTE DA CAPACIDADE DE COESÃO E SINCRONIA DO QUE DO RECURSO PROPRIAMENTE DITO, A FORÇA QUE NOS RESTA ACIONAR ESTÁ NA CLASSE EMPRESARIAL. TEMOS PELA FRENTE UM GRANDE PROCESSO DE TRANSFORMAÇÃO, TRANSFORMAR A NÓS MESMOS, ALGO QUE PRECISA COMEÇAR LOGO, POIS SEGURAMENTE VAI LEVAR, PELO MENOS, DUAS GERAÇÕES. E, OS DESEMPREGADOS NÃO TEM TODO ESSE TEMPO! * Por Luiz Bersou Revista Keyboard Brasil / 47
SUCESSO DAS EMPRESAS
T
ivemos êxito. Muitos empresários atribuem ao nosso trabalho parte importante do seu sucesso. Houve uma razão, a teimosia na pesquisa no Brasil e fora, das razões do insucesso de tantas empresas. Caminho oposto ao de tantos, que acreditam que o estudo do sucesso é prioritário, como tanto acontece nas faculdades de administração. Para fundamentar nossas propostas fizemos, no Brasil, a autópsia de mais de 200 empresas para entender o que se passava e os fatores contributivos. Essa experiência nos colocou na boca um profundo e amargo sabor, que sempre nos é dado quando vemos a morte de perto.
Murphy tinha razão quando expressou a famosa lei: o que puder acontecer de errado vai acontecer! Nesse percurso, tivemos que aprender a repensar tudo, a não acreditar em nada e em ninguém. Nos espanta como gente com tantas formações tem, na cegueira, as razões do erro e, ao mesmo tempo, todas as suas razões e certezas. Enquanto isso, as empresas levam uma vida menor, medíocre e morrem de inanição. Seguimos essa rota de análise porque está registrado que, na história
da humanidade e na transferência do conhecimento para a formação da riqueza, sempre foi muito mais importante o ensino do “não errar” do que o ensino do “acertar”. 48 / Revista Keyboard Brasil
AUTÓPSIA DE SOCIEDADES Assim como me dediquei a fazer a autópsia das empresas, também fui pelo caminho da pesquisa das razões das sociedades, que as levam para o caminho do sucesso ou para o caminho do fracasso. A memória infantil das entregas de comida e roupas à Cruz Vermelha, em São Paulo, para nossos parentes na Europa (Segunda Guerra Mundial), alimentaria mais tarde a pesquisa do entendimento e razões da Guerra da Coreia e seus desdobramentos posteriores. Foi o começo de uma caminhada por dezenas de países e o fato de ter visitado boa parte dos seus museus históricos, facilitou a aquisição de conhecimento. Nunca me esqueço de quando estive a trabalho na América Central e percebi que o salário mínimo no Haiti era maior do que o do Brasil. Que história e que estrago! Quais razões? Nunca esqueço que Roberto Campos deixou, em suas memórias, que o Brasil persisten-
temente buscou o caminho do fracasso por conta da nossa visão de Brasil Grande, objeto da psicose idiota de cobiça dos inimigos e do nosso nacionalismo tupiniquim, que sempre colocou tudo a perder. A história registra esse caminho claramente. Um estrago maior ainda. No momento atual, um desastre de grandes proporções.
Foto: Arquivo pessoal
Por conta de um artigo no jornal Estadão me dedico a pesquisar a história do território pueblo “Mesa Verde”, que entrou em colapso por volta de 1.275 (Estados Unidos). A autópsia nos fala de um povo que foi feliz, produtivo, mas que se perde no tempo e fica o registro da extrema violência que ocorreu na sociedade antes do seu fim. Tal como acontece aqui atualmente! Comecei a rever as análises das diferentes sociedades que caminharam para o fracasso, adicionando a questão da violência que nunca tinha sido considerada de forma mais adequada.
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GUERRAS E GENOCÍDIOS
A história da humanidade tem milhares de guerras para contar. Inimigos externos. Elas sempre contaram com a presença das formas armadas para as justificar e dizer da necessidade e nobreza das causas. O objetivo era prevenir agressões e conquistar territórios para o conceito de espaço vital. Modernamente espaço vital ficou anacrônico e inútil e só vale para os tupiniquins brasileiros. A mentira do Brasil Grande. Pouco se fala dos genocídios. Eles tem como fundamento o inimigo interno, a exaltação da ideologia, poder e tem, como alvo, o intelectual que pode contestar e o cidadão desarmado qualquer que seja ele. O objetivo é sempre o seu extermínio físico e confisco de suas propriedades.
O Brasil persistentemente buscou o caminho do fracasso por conta da nossa visão de Brasil Grande, objeto da psicose idiota de cobiça dos inimigos e do nosso nacionalismo tupiniquim, que sempre colocou tudo a perder. ! – Luiz Bersou
Na história recente temos o genocídio de 1,5 milhão de armênios pelos otomanos, 6 milhões de judeus pelos nazistas. Na África e em muitos territórios, casos demais. Entretanto, o que mais espanta e de forma conveniente não é adequadamente divulgado, são os 100 milhões ou mais de
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mortos causados pela ideologia comunista a mando de Lenin e Stalin na Rússia, Mao na China, Pol Pot do Khmer Vermelho no Camboja, Fidel Castro e Che Guevara em Cuba e em países da América Latina. Verificamos que mecanismos genocidas se apresentam com muita frequência. Nascem com argumento de que são necessários para construir novas sociedades mas, na verdade, eles buscam algo muito objetivo e concreto, que é o poder e domínio total das sociedades onde eles acontecem, sempre buscando a eliminação física de qualquer resistência. A antítese da democracia e liberdade.
bolivarianismo, dá muitos indicativos dessa visão. O crime vira prática e objetivo maior dos políticos que veem, nessa prática, a saída fácil para os seus delírios. O Estado de Direito que tem sido criminosamente instalado em favor deles, já não é mais suficiente para abastecer a sua ganância. Essa questão se revela importante para nós. Temos a cleptocracia instalada no governo, tal como descreve o Ministro Gilmar Mendes. Desde a eleição de Lula, o PT que tem em Stalin um herói oculto, não hesita em dizer que os fins, que são apenas os deles, justificam os meios, não interessando quem pague por isso.
GOVERNOS LADRÕES E ASSASSINOS O QUE É O ESTADO BRASILEIRO Na história russa, burgueses e intelectuais que não representavam 10% do conjunto dos interesses russos, aderiram a Lenin. Influíram na nomeação de Stalin e na evolução dos acontecimentos. Stalin, que mais tarde se revelou um gênio eficaz, nada mais era do que um assaltante e assassino, que se disponha a fazer o trabalho sujo que os burgueses, intelectuais e religiosos não se permitiam. Foi o começo de uma nova história.
Em todos os movimentos comunistas e socialistas que se disseminaram, o crime sempre foi razão e manejo de Estado, na busca sistêmica de recursos para os fins de construção de poder. A pesquisa sobre o “Fórum São Paulo”criado entre nós pelo
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Temos que lembrar que no caso brasileiro, o Estado confiscatório, legal, arrogante, controlador, já existia antes da Sociedade. Está claro que atualmente a burocracia, a ideologia, o Estado de Direito perverso, a arrogância das estruturas de governo, a falta de percepção do que é a vida moderna e do que é o atual estado de competitividade e produtividade, são fatores que fazem com que
o Brasil caminhe para trás e não corra em velocidade acelerada para a frente. A fala recente do diretor da Receita Federal registrada na revista Veja, caso do terrorismo de Estado em relação aos patrões das empregadas domésticas,
“tem que cumprir o prazo, está na lei”, fala bem do Estado psicopata que só vê os seus interesses e suas razões. Um criminoso agindo contra a sociedade a quem ele deve servir.
Temos que nos conscientizar que o inimigo declarado desse governo é o empresário comum, aquele que não faz parte do capitalismo de quadrilha que foi instalada no Brasil, em conluio com os agentes de Estado em um “mundo de privilégios”.
MOVIMENTOS EM CURSO Já passou o momento de submissão da sociedade a esse Estado prepotente e ignorante. A história registra que todos os regimes prepotentes e ignorantes das condições da sociedade entram em colapso, mais cedo ou mais tarde. Pode levar 70 anos como foi o caso do regime soviético ou mais de 59 anos, no caso cubano. Porém, sistemicamente, entram ou entrarão em colapso. Dada essa visão, quadrilhas presentes no congresso brasileiro estão se organizando para o butim.
A inútil oposição no Brasil, mais parece um amontoado de vermes que se alimentam de material putrefato. Estão mais preocupados com as fotos que vão aparecer na mídia do que com o tema maior que é o resgate da sociedade brasileira. Eles também tem a mesma busca, domínio e poder. Não servem. Temos alternativas?
O PAPEL DOS EMPRESÁRIOS Quando participei da gestão Mario Amato, na FIESP, dizia que o único direito a ser reconhecido dos empresários brasileiros deveria ser o de “ser competitivo”. Eu fazia analogia com a Carta Magna do Reino Unido. Lá, liberdade é o direito central do cidadão. Aqui, com a Constituição de 88, passamos a produzir direitos como um cupinzeiro produz cupins danosos que vão destruir tudo. Perdemos progressivamente a nossa liberdade, indo para o caminho de nos transformarmos em servos desse governo central com seus diretores de Receita Federal, atuando de forma danosa. O nosso empresariado preferiu, entretanto, o caminho da busca fácil e enganosa de muitos direitos, muitas reservas de mercado e todo tipo de proteção do mercado interno. Construiu a própria fraqueza, fraqueza que se aprofunda e a falta de visão de competitividade. Entre nós, o empresário tem tudo a perder no jogo atual e, por isso mesmo, deveria ser o mais interessado em congregar forças para reação a esse estado de coisas. Muitas vezes, propus que
as atuais entidades representativas de classe assumissem o tema da competitividade como fundamento de transformação do Brasil. Isso não vai acontecer por que os seus dirigentes são parte do problema e não da solução. Nunca vão abandonar suas famigeradas reservas e Revista Keyboard Brasil / 51
direitos que são razões primais de tanto atraso. Empresários evoluídos precisam então apresentar à sociedade novas entidades de classe, missão de busca de competitividade e ocupação do espaço político que essa questão – a questão da sobrevivência – venha a proporcionar. Ocorre, contudo, colocar questões básicas: (1) O empresariado precisa assumir a sua própria maioridade, largando da saia da mãezona estatal, sua
burocracia e lucros do passado; (2) O empresariado deve lutar para forçar a desregulamentação das atividades em seus negócios (produtos, mão de obra, contratos, moeda, etc.) e substituir Agências Reguladoras e Conselhos Profissionais e Sindicatos, que tem tido uma ação destruidora, por mecanismos de Coordenação de Autorregulação, como o atual Conar que, no Brasil, é um exemplo que tem dado certo. O resto? O resto é meter a mão na massa...
* Atualmente dirigindo a BCA Consultoria, Luiz Bersou possui formação em engenharia naval, marketing e finanças. É escritor, palestrante, autor de teses, além de ser pianista e esportista. Participa ativamente em inúmeros projetos de engenharia, finanças, recuperação de empresas, lançamento de produtos no mercado, implantação de tecnologias e marcas no Brasil e no exterior.
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HOME STUDIO Para quĂŞ? 54 / Revista Keyboard Brasil
Murilo Muraah ĂŠ mĂşsico, compositor de trilhas sonoras, produtor musical, professor e colaborador da Revista Keyboard Brasil.
Revista Keyboard Brasil / 55
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* Por Murilo Muraah
É
com grande prazer que inicio esta coluna sobre um assunto que, apesar de tão discutido nos dias atuais,
ainda gera tantas dúvidas e confusões. Acredito que muitos leitores da Revista Keyboard Brasil já navegaram por diferentes sites e fóruns ou mesmo tiveram a oportunidade de entrar em lojas especializadas em equipamentos musicais para tentar encontrar algumas respostas para suas dúvidas. E não me surpreenderia saber que, após visitar alguns sites e lojas, essas dúvidas ficaram ainda maiores. Afinal, preciso mesmo de uma mesa de som? Por que em um lugar recomendaram um microfone condensador e em outro um dinâmico? Qual a diferença entre eles? Se já tenho um fone de ouvido que utilizo diariamente, devo mesmo investir meu dinheiro em outro? O que ele tem a oferecer que o meu não tem? Ou será melhor comprar um par de monitores de estúdio? Mas qual? Interface de áudio, pré-amplificador, controlador MIDI, cabos, softwares, o quê, quantos, como, por quê? Não é por acaso que o título desta primeira coluna é uma pergunta...
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Por melhor que seja o vendedor que te atender, por mais que os sites e fóruns que você frequenta possuam informações úteis e de qualidade, existe algo essencial para que você possa buscar respostas adequadas para suas dúvidas:
você precisa saber com clareza os serviços que pretende realizar no seu home studio. Sabendo isso, você poderá fazer perguntas mais adequadas ou buscar informações que se apliquem ao seu caso específico. Assim, antes de pensar em quais equipamentos são necessários, você precisa definir o que quer fazer no seu home studio. Claro que aquilo que você está pensando hoje talvez não seja exatamente o que você estará fazendo amanhã, mas ter uma ideia inicial do que pretende fazer te ajudará a escolher melhor os equipamentos e softwares que você irá utilizar nesse momento. Lembra da dúvida sobre a mesa de som? Não vai ser legal comprar uma e depois perceber que ela pouco te ajuda naquilo que você faz. Melhor saber o que ela faz e como funcionaria dentro do seu sistema antes de fazer a compra, não? Ou será que um home studio só pode ser chamado assim se tiver uma mesa de som,
Murilo Muraah: “Antes de qualquer coisa, você precisa saber com clareza os serviços que pretende realizar no seu home studio”.
um computador, um microfone, uma interface, monitores, fones, prés e tantas outras ferramentas que te indicaram? Um home studio nada mais é
do que um estúdio dentro de casa. Uma tradução comum para home studio é “estúdio caseiro”, mas essa definição pode nos enganar, pois a ideia de algo “caseiro” muitas vezes remete a algo amador, de baixa qualidade. Isso muitas vezes pode ser verdade, mas desde já é preciso deixar claro que, há algum tempo, home studios têm sido utilizados para realizar produções profissionais de áudio para diferentes áreas: locução comercial, dublagem, rádio, TV, cinema, games, publicidade, produção musical de artistas e bandas, etc. Um home studio, portanto, pode conter apenas um celular, fones de ouvido e um ou dois apps que te permitam realizar aquilo que você pretende. Quer um exemplo? Se alguém pretende ter um home studio apenas para criar e editar partituras, as ferramentas que citei talvez já sejam suficientes para dar conta do serviço. Porém, se pretendo realizar
algum tipo de gravação, seja de instrumentos reais ou virtuais, utilizar apenas essas ferramentas pode ser ineficaz. Lembre-se: tudo depende do objetivo e da qualidade desejados. Realizar gravações de áudio utilizando o microfone do celular ou do computador pode ser adequado se quero apenas registrar ou compartilhar uma ideia, por exemplo. Mas, se a boa qualidade sonora estiver entre os objetivos, esses equipamentos talvez não sejam capazes de entregar aquilo que preciso. Quais são, então, os seus objetivos? Seu home studio será uma ferramenta profissional ou irá apenas te auxiliar em seus estudos? Você vai realizar gravações? Com quais instrumentos? Serão gravados separadamente ou ao mesmo tempo? Você mesmo irá editar, mixar e talvez até masterizar essas gravações? Elas serão ouvidas por outras pessoas ou servirão apenas como registro sonoro para sua utilização? Saber responder essas e outras perguntas sobre seus objetivos te permitirá ter uma imagem melhor do que você Revista Keyboard Brasil / 57
precisa para começar a montar o seu home studio. Ou permitirá ainda que aqueles que já possuem um home studio possam visualizar com mais clareza quais devem ser seus próximos passos, suas próximas aquisições, os próximos objetivos a serem atingidos. Tendo maior clareza sobre seus objetivos, outras perguntas precisarão ser respondidas: qual é o local que você possui para seu home studio? Ele permite que você faça o trabalho que deseja? O que você precisa fazer para tornar o local mais adequado? De quais equipamentos e softwares você precisa para que seu home studio funcione de acordo com seus objetivos? O que fazer caso não tenha tudo
o que gostaria neste momento? Que tipo de conhecimento será necessário para realizar seu trabalho com a qualidade desejada? Perceba que essas perguntas se referem a três pontos fundamentais para quem quer realizar produções de áudio com boa qualidade: o local utilizado, as ferramentas disponíveis e o conhecimento necessário. Se esta primeira coluna está recheada de perguntas, as próximas serão dedicadas a trazer informações sobre esses pontos. Espero que elas sejam úteis para o desenvolvimento do seu home studio, te inspirando sempre a fazer novas perguntas e a buscar ainda mais informações e respostas.
*Murilo Muraah é Bacharel em Comunicação Social pela FAAP e proprietário da Muraah Produções, onde atua como professor de áudio analógico e digital, produtor musical, compositor de trilhas sonoras e músico. Possui vasta formação, com cursos realizados dentro e fora do Brasil, incluindo: Diploma de Música (Southbank Institute of Technology - Brisbane/AUS), Formação de Apresentadores de Rádio (Rádio 4EB FM – Brisbane/AUS), Radialista – Sonoplastia (SENAC), além de diversos cursos de composição, produção musical, áudio e acústica em escolas onde atuou também como professor. Atualmente vem apresentando cursos, palestras e workshops em importantes eventos e instituições de ensino, como a Campus Party Brasil, a Faculdade de Música do Centro Universitário FIAM-FAAM e a SAIBADESIGN, além de atuar como técnico de áudio no estúdio da Fábrica de Cultura Jardim São Luis.
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Memória
Monumento a Carlos Gomes junto ao Teatro Municipal de São Paulo, que não monta uma obra do compositor há décadas. 60 / Revista Keyboard Brasil
Carlos Gomes UM COMPOSITOR ESQUECIDO QUE TORNOU-SE APENAS NOME DE PRAÇAS!
CARLOS GOMES FOI O PRIMEIRO COMPOSITOR BRASILEIRO A ADQUIRIR RENOME INTERNACIONAL. MESMO ASSIM, FOI PERSEGUIDO, SOFRENDO GRANDES INJUSTIÇAS. SE, PARA VOCÊ, O COMPOSITOR AINDA É UMA PERSONALIDADE DESCONHECIDA, É HORA DE LER ESSE ARTIGO!
N
** Por Maestro Osvaldo Colarusso os idos da década de 1990, o jornalista Boris Casoy, na época “âncora” do TJ Brasil
(telejornal do SBT), fez uma reportagem que incluía uma enquete pública: – Quem foi Carlos Gomes? Mais de trinta respostas
gravadas, sendo que delas apenas quatro faziam alusão de que Carlos Gomes foi um compositor. A grande maioria arriscou um palpite de que Carlos Gomes foi um político. Muitos disseram “senador”, outros falaram em “deputado” e Revista Keyboard Brasil / 61
dois falaram nos depoimentos que o músico teria sido presidente da república. Apesar de esta enquete ter sido feita por volta de 1995, acredito que o resultado hoje seria ainda pior. Se hoje Carlos
Gomes empresta seu nome a avenidas e praças a razão para tal é desconhecida da maioria dos brasileiros. UMA TRAJETÓRIA NOTÁVEL Nascido em Campinas, interior de São Paulo, Antônio Carlos Gomes (18361896) teve o mérito de nascer pobre numa cidade pouco importante (imaginem Campinas em 1836) de um país atrasado e de fazer sucesso num dos mais importantes teatros de ópera do mundo, o Teatro Alla Scala, de Milão. Equivaleria, nos dias de hoje, a um cineasta nascido de família pobre no interior de Goiás ir para Los Angeles e, em sete anos, ganhar um Oscar.
Só isto já faria dele um verdadeiro herói nacional. Se pensarmos que este sucesso retumbante que aconteceu na estreia da ópera Il Guarany na noite de 19 de março de 1870, aconteceu a um músico de apenas
34 anos de idade, vemos que as injustiças ao primeiro compositor brasileiro a adquirir renome internacional foram terríveis. Começaram ainda no século XIX e se estendem até os dias de hoje.
PERSEGUIÇÕES PRIMEIRA GRANDE INJUSTIÇA: OS REPUBLICANOS Carlos Gomes foi estudar na Europa com apoio pessoal do Imperador Dom Pedro II. Além de uma ajuda financeira, o Imperador – extremamente culto e bem relacionado com o meio cultural europeu – abriu caminho para o jovem músico não só através de meios financeiros mas por meio de cartas de recomendação. A estreia brasileira de sua ópera mais conhecida, Il Guarany, no mesmo ano da estreia europeia, foi um grande êxito para o império brasileiro, e sua ópera Lo Schiavo (O escravo) foi dedicada à princesa Isabel em 1887, pouco antes de ela ter assinado a Lei Áurea. Quando a república foi proclamada em 1889, a situação de
Caruso - Quando nascesti tu - Lo Schiavo - Carlos Gomes. 62 / Revista Keyboard Brasil
Carlos Gomes ficou bem incômoda frente aos novos governantes. Esta guinada política coincide com o início da doença que iria lhe tirar a vida. Os militares republicanos recusaram oferecer a ele a direção do Conservatório de Música do Rio de Janeiro, sendo que sua única opção foi aceitar um cargo em Belém do Pará, cargo este que nem chegou a ocupar formalmente, visto que a doença o matou logo depois de sua chegada ao Pará, em 1896.
A maneira repulsiva como os sórdidos implantadores da república o tratou foi a primeira grande injustiça que sofreu, ainda em vida, nosso maior compositor do romantismo musical.
SEGUNDA GRANDE INJUSTIÇA: OS MODERNISTAS No magnífico livro “Carlos Gomes – Um tema em questão: a ótica modernista e a visão de Mário de Andrade”, do maestro Lutero Rodrigues (Editora Unesp), podemos tomar contato com a maneira que os artistas paulistas viam a obra de Carlos Gomes. Pouco antes de acontecer a “Semana de Arte Moderna”, de 1922, Oswald de Andrade publicou um longo texto com as seguintes ofensas ao compositor: “Carlos Gomes é horrível(…). De êxito em êxito, o nosso homem conseguiu difamar profundamente o seu país, fazendo-o conhecido através dos Peris de maiô cor de cuia e vistoso espanador na cabeça, a berrar forças indômitas em cenários terríveis”. Cito apenas uma pequena parte do que Oswald de Andrade escreveu a respeito. Ele chama a arte de Gomes de “inexpressiva, postiça, nefanda…”, e estas opiniões abalaram de
forma decisiva o prestígio do compositor. Em 1936, o centenário do nascimento do músico foi comemorado como uma espécie de resgate do “Estado Novo” e, as punhaladas que Mário e Oswald de Andrade deram no
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As injustiças ao primeiro compositor brasileiro a adquirir renome internacional foram terríveis! – Maestro Osvaldo Colarusso
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C. Gomes: Il Guarani - M.Caballe & J. Carreras / Sento una forza indomita
compositor foram minimizadas. Numa época em que as óperas de Carlos Gomes eram montadas com frequência, tanto no Brasil como no exterior, fizeram destes raivosos comentários uma coisa vista como meras excentricidades.
TERCEIRA GRANDE INJUSTIÇA: O ESQUECIMENTO NOS DIAS DE HOJE Se os republicanos decretaram o ostracismo de Carlos Gomes e, se os Modernistas o chamaram de vergonha nacional, o meio musical brasileiro dos dias de hoje comete uma injustiça tão grande como as duas já citadas. A obra
de Carlos Gomes é raramente executada. Exemplo disso é nossa melhor orquestra, a OSESP, que simplesmente ignora o grande compositor. Em uma excursão pela Europa, a orquestra – que brilhou executando a Primeira Sinfonia de Mahler – realizou, como abertura em diversos concertos, um arremedo sem graça em cima do Hino Nacional composto por uma autora mais ligada à música popular. Por que não abrir o concerto com páginas sinfônicas de 64 / Revista Keyboard Brasil
grande beleza e efeito do compositor campineiro como a “Alvorada” da ópera Lo Schiavo, ou a abertura de Il Guarany? O famoso maestro italiano Giusepe Sinoppoli (1946-2001), por exemplo, costumava abrir alguns concertos na Alemanha com as aberturas das óperas Fosca e Il Guarany, coisa raramente feita aqui. As partes orquestrais das óperas menos conhecidas do compositor (Maria Tudor, Condor) estão se desfazendo, e em breve não será mais possível executá-las. Nas décadas de 50, 60, 70 e 80 o Theatro Municipal do Rio de Janeiro e o de São Paulo executavam com frequência as óperas do mestre, e artistas internacionais como o tenor Mario del Monaco e a soprano Antonieta Stella mantinham Il Guarany e Lo Schiavo em seus repertórios. Isto tudo virou passado. Em São Paulo havia um maestro que defendia com unhas e dentes a obra de nosso conterrâneo: Armando Belardi. A convicção com a qual ele dirigia as obras de Carlos Gomes não sai de minha memória. O famoso tenor espanhol Plácido Domingo se interessou pela obra mais conhecida do compositor, Il Guarany,
mas mesmo com ele cantando exemplarmente, a gravação que realizou não decolou pela falta de comprometimento da equipe. Se a obra se chama Ópera Ballo por que ‘cargas d'água’ cortaram o ballet, uma das páginas mais interessantes da obra? Aliás, mesmo com condições técnicas inferiores é bem preferível a gravação feita em 1959 em São Paulo com a impecável e comprometida regência de Armando Belardi e com a participação da eterna Niza de Castro Tank. A propósito, vale a pena ressaltar que, junto ao Theatro Municipal de São Paulo, há um belíssimo monumento homenageando o compositor, mas este mesmo teatro não monta uma obra de Carlos Gomes há décadas. O Theatro Municipal do Rio de Janeiro, que já montou obras importantes do autor, encontra-se de tal forma sucateado que também não monta nada do compositor há muito tempo.
FATOS E VERSÕES Algo bem prejudicial a Carlos Gomes é compará-lo a Giuseppe Verdi. Sem dúvida, o compositor italiano
possuía um tipo de genialidade que o brasileiro não tinha. Mas, se o Brasil fosse um país que tomasse mais a sério a sua produção cultural poderíamos perceber e, defender, que Carlos Gomes não fica nada a dever a compositores da mesma época como Amilcare Ponchielli (1834 –1886), autor da famosa ópera La Gioconda. Muitas pessoas criticam que o índio Peri canta em italiano, mas estas mesmas pessoas esquecem que isso era uma convenção da época. Poderíamos criticar então que os espanhóis em Le nozze di Figaro, de Mozart cantaram em italiano para um público austríaco, mas isto também seria um completo absurdo. A obra de Carlos Gomes tem um valor indiscutível e, conhece-la é de uma enorme importância para nós, brasileiros. A bibliografia sobre o compositor é dificilmente encontrada e nem sempre de alto nível. Lamento, por exemplo, o desaparecimento total do livro “Uma força indômita”, do musicólogo Marcus Góes, editado pela Secretaria de Cultura do Pará, o mais bem documentado estudo sobre o compositor. Ele aparece à venda no Mercado Livre por R$ 250,00 como uma raridade!!! Não posso deixar de registrar
Rio Novello - Era um tramonto D'Oro Colombo - C. Gomes Revista Keyboard Brasil / 65
aqui os grandes defensores da obra do compositor. Perdão pelos esquecidos. Inicialmente a soprano Niza de Castro Tank, grande artista, que fez um trabalho de resgate da obra de seu quase conterrâneo (ela nasceu em Limeira) e que sempre cantou a música de Carlos Gomes com uma fé inquebrantável. Em outubro de 1992 tive um dos maiores privilégios de minha vida quando executei com ela, em Brasília, o Oratório Colombo. Já falei da arte do maestro Armando Belardi, mas destaco também a fé e energia do maestro Eleazar de Carvalho. Quem o viu regendo Lo Schiavo sabe o que quero dizer com “fé inquebrantável”. Dois barítonos não me saem da mente: Fernando Teixeira e Rio Novello. Eles também me fizeram acreditar na genialidade do compositor.
Com tanto desprezo e esquecimento creio que Carlos Gomes será, em pouco tempo, lembrado
A soprano Niza de Castro Tank, grande defensora da obra de Carlos Gomes.
apenas como nome de rua e de praça, e será tido para muitos, como um político…
* Texto retirado do Blog Falando de Música, do Jornal paranaense Gazeta do Povo. Conheça o blog clicando em http://www.gazetadopovo.com.br/blogs/falando-de-musica/ ** Osvaldo Colarusso é maestro premiado pela Associação Paulista dos Críticos de Arte (APCA). Esteve à frente de grandes orquestras, além de ter atuado como solista. Atualmente, desdobra-se regendo como maestro convidado nas principais orquestras do país e nos principais Festivais de Música, além de desenvolver atividades como professor, produtor, apresentador, blogueiro e colaborador da Revista Keyboard Brasil.
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Música dos Sentidos
A INTERPRETAÇÃO MAGISTRAL DA INGLESA BIRDY, D E A P E N A S 19 ANOS, SENSIBILIZA E TRAZ UMA NOVA APARÊNCIA PARA A JUVENTUDE ATUAL, MOSTRANDO QUÃO BELO É A SIMPLICIDADE! * Por Patrícia Santos
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ecebi a indicação de uma amiga, que me mostrou a capa do álbum de seu Ipod, e comentou que a garota
tocava piano, cantava e fazia alguns covers. Não levei muito a sério, já que cover é algo muito comum! Pensei eu com meus botões em nem ouvir, deixei de lado e, depois de alguns dias, pesquisando alguns artistas pela internet, coloco uma cantora para ouvir e, imediatamente, associei a capa do álbum com aquela “pequena notável” que eu estava assistindo e, desde o primeiro instante, fiquei perplexa! Como estudante de música, tranquilamente poderia dar início a este artigo, falando de grandes músicos que fizeram e fazem parte da história da música, seria típico, Mas não! Gosto de
ter os olhos e ouvidos abertos para o que é “novo”, sem medo de fugir da época e realidade em que vivemos, esses tempos modernos onde é evidente que, ao passar dos anos, o que passou se torna sempre velho e visto como antiguidade, fora de uso, fora da modernidade. Esse pensamento sobre o mundo atual moderno se estaciona em diversos conceitos, desde a moda até chegar ao sistema educacional. A música “funcional”, por exemplo, tem tido cada vez menos importância. As pessoas aprendem uma arte na mesma velocidade que precisam expressá-la. Não há uma digestão dos problemas, dos acontecimentos e do dia a dia – fatores essenciais que são sempre responsáveis pela criação. Hoje, há apenas uma
rapidez em aprender para fazer e mostrar algo à sociedade. Talvez por isso tenha tanta falta de criadores pelo mundo, aquele famoso gênio, que articulava ideias e transcendia o raciocínio fora de certos padrões. Não somente na arte, mas em todos os âmbitos, está muito difícil de reconhecer um ser pensante, porque a modernidade não permite que as pessoas e, principalmente, os jovens criem e pensem, pois tem sempre que ter gente para operar esta máquina invisível do mundo, de modo que, os estudantes e os profissionais ao invés de inovarem com suas ideias, se tornam apenas repetidores de uma prática, operadores de um sistema. Não posso deixar passar a oportunidade de mostrar, falar um pouco de uma jovem que me impressiona muito, com sua maturidade musical e artística. Jasmine van den Bogaerde, ou apenas Birdy , tem pais músicos, começou a tocar piano aos quatro anos de idade, aos doze ganhou um concurso de cantores e compositores chamado “Open Mic UK”', hoje tem dezenove anos, é cantora, compositora e pianista, estuda numa pequena escola de artes, a ''Priestlands School'', localizada num bairro da Inglaterra chamado Lyminton, onde nasceu e mora até hoje. Por enquanto, possui apenas dois álbuns: “Birdy”, lançado no ano de 2011, que tem somente uma música de sua composição “Without a Word”, e “Fire Within”, de 2013. Neste, Birdy escreveu Revista Keyboard Brasil / 69
todas as letras e participou na criação das músicas. É o bastante para exibir toda sonoridade e competência que está disposta a produzir pela frente. O disco atual é estruturado com a atmosfera de sua idade, porém a qualidade sonora está além do que se espera pelo ouvinte, pois suas músicas falam e são tocadas por sentimentos, dores e adeuses. São muito diferentes dos ritmos e dos andamentos do cenário pop atual, fazendo de Birdy uma artista única. É mais conhecida dentro do “Indie Rock”; novo estilo musical que faz a mistura de muitos elementos e etnias, sendo mais presentes o folk, blues e o rock. É como encontrar uma pérola no deserto. O que mais chama atenção é que a música nas mãos e na voz dessa jovem, se torna atemporal, mostrando que nunca um conceito antigo deve ser jogado fora. É muito visível, ao observar sua interpretação ao piano, sua técnica e destreza. Certamente estuda piano com muito apreço e, talvez por métodos dos quais a juventude “descoladinha” sabe-tudo, arrogante, torce o nariz, e faz um péssimo julgamento. Uma artista completa, se fazendo notar por sua delicada, intensa e profunda interpretação, semelhante mesmo a um pássaro, com muita facilidade em fazer modulações e nuances nas essências das composições, como ocorreram nas músicas: “1901”, dos franceses da banda Phoenix, “Skinny Love” da banda americana Bon Iver, e “Shelter” dos ingleses The XX. Se você parar para comparar uma 70 / Revista Keyboard Brasil
dessas músicas com as originais, você vai se surpreender! As “baladas animadinhas com velocidade agressiva e ondas soturnas” foram substituídas por melodias calmas, cuidadosamente harmonizadas, tratadas com muito requinte, trazendo aos ouvidos uma sensação de conforto e pacificação. No primeiro álbum, Birdy vai colorindo com o piano os acordes, retirando a caricatura de pesos e sombras que há em algumas composições, e dando forma a uma neblina calorosa e refletora de matizes que vai se espalhando ao tocar e cantar. Birdy, unindo os instrumento com sua voz mezzo-soprano, consegue iluminar qualquer ambiente e transformá-lo em um espaço apaixonado e vibrante, como oscilações de sensações nas trocas das estações do ano. Ouvi-la é uma experiência e um encontro com a complacência e a beleza da vida. A notoriedade de Birdy foi tanta, que rendeu uma parceria incrível com a banda “Mumford & Sons” na canção “Learn Me Right” que faz parte da trilha sonora do filme ''Brave”. “Skinny Love” apareceu no episódio da segunda temporada da série: “The Vampire Diaries - The Sun Also Rises”, “Shelter no episódio - The End of the Affair", “Wings” do segundo álbum também apareceu no último episódio da quinta temporada da série, chamada “Home”. A canção “Just A Game” é parte da trilha sonora do filme ''Jogos Vorazes. ” Recentemente, também foram inseridas na trilha sonora do filme “A culpa é das estrelas”, as canções: “Best
participação de Jaymes Young), “Not About Angels” e “Tee Shirt'' (faixa bônus). Fez, também, em agosto de 2015 uma participação lindíssima na música e vídeoclip de David Rhodes, ''Let it all go''. As músicas ''Wings'' e ''Light me up'', do segundo disco, tem sabores variados, melodias doces e refrões vibrantes. Acha pouco as coisas realizadas? Ao fazermos um balanço de qual o papel de Birdy na música, podemos observar que existe muitas finalidades para a utilização do som. Vemos que existe a música que é o entretenimento para um determinado público e a música que é arte para outro. O que Birdy faz é arte! Ela não precisa de roupas sensuais, colorir os cabelos a cada dia para ficar diferente, nem ter um comportamento que façam com que as pessoas se choquem, porque ela é uma artista, veio transmitir uma mensagem e não sua própria imagem. A menina só precisam sentar-se ao piano e cantar. Apenas isso! E, já será o bastante para encantar qualquer um, dizer e mostrar do que o mundo precisa. Para alguém dessa idade, penso ser muito além do que a indústria fonográfica propõe, com uma interpretação magistral e sentida, ela faz muito mais do que
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O que Birdy faz é arte! Ela não precisa de ro u p a s s e n s u a i s, colorir os cabelos a cada dia para ficar diferente, nem ter um comportamento que façam com que as pessoas se choquem, porque ela é uma artista, veio transmitir uma mensagem e não sua própria imagem.
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Foto: arquivo pessoal
– Patrícia Santos
o ouvinte espera, sensibiliza e traz uma nova “aparência'' para esta juventude, mostrando o quão belo é a simplicidade. Que venham mais Birdys, impermeando autenticidade e identidade musical, mostrando que para a música feita com alma, não existe idade, tempo e, muito menos lugar!
Patrícia Santos: Estudante de Música e de uma sensibilidade sem tamanho!
Revista Keyboard Brasil / 71