Revista
Keyboard ANO 3 :: 2015 :: nº 29 ::
:: Seu canal de comunicação com a boa música!
Brasil
www.keyboard.art.br
AMYR CANTUSIO JR Autoridade máxima no campo do Rock Progressivo e da música eletrônica no Brasil!
35 ANOS SEM JOHNN LENNON: O homem que mudou o mundo com suas músicas, palavras e atitudes!
PREPARE-SE PARA O 5º FESTIVAL MÚSICA EM TRANCOSO: Bobby McFerrin, César Camargo Mariano, Benoit Fromanger, Rüdiger Liebermann, Carlos Moreno, Michael Hell, Rock Symphony...
MICHEL HUYGEN: Entrevista exclusiva com um dos melhores compositores do estilo progressivo eletrônico da Europa e idealizador da banda Neuroniun!
E MAIS: Funk Como Le Gusta / Luciano Leães / Musiquins / Eron Guarneri...
Espaço do Leitor DICA PARA TECLADISTAS: galera, entre no site da Revista KEYBOARD DIGITAL. É de graça para ler tanto no PC, tablet ou celular (iOS e Adroid). Muito boa. Na edição deste mês (72 páginas) tem uma matéria muito legal do Luiz Carlos Rigo Uhlik (Luiz Carlos Rigo Uhlik) sobre teclados arranjadores; uma matéria interessante sobre os impactos no cérebro de quem toca piano; home studio e muito mais. TUDO DE GRAÇA! (tem edições de 2010 até hoje). Vale a pena conferir! Já compartilhei o link da revista em todos os grupos de Whatsapp que participo de música. Júlio Jose – via Facebook Fiquei lindo nessa "foto", Mateus Schanoski! Acho que vou pra Globo... Totalmente Excelente! Luiz Carlos Rigo Uhlik – via Facebook Uau..... Parabéns à Revista Keyboard e sucesso ao querido Luiz Carlos Rigo Uhlik! Cromatica Instrumentos Musicais – via Facebook Mais um artigo para a Revista Keyboard! Obrigadíssima sempre, Editora Keyboard! Patrícia Santos – via Facebook Só hoje ultrapassou 50.000 downloads! (Referente à matéria de capa Revista Keyboard Brasil edição 28). Mateus Schanoski – via Facebook
Capa: Cáthia Ca
ntusio
Expediente
Leiam a revista, é show! Áurea Regina Uhlik – via Facebook Olha que legal pessoal! (Referente à matéria Aulas de piano e seus impactos no cérebro, edição 28). Convep – via Facebook Matéria de capa da edição de novembro da revista Keyboard Brasil com tecladistas de rock! Muita honra fazer parte deste time! Obrigado Editora Keyboard!! Vida longa ao Heavy Metal!!! É só clicar no link para a matéria completa! Fabrizio Di Sarno – via Facebook Honra em sair na capa de uma das revistas mais legais sobre teclado com os tops Nei Medeiros e Fabrizio di Sarno... Valeuzasso ao mago das teclas Mateus Schanoski pelo convite!! Rafael Agostino – via Facebook
Que bom! É necessário o nosso povo saber que temos ótimos músicos de vanguarda! (Referente a matéria de Amyr Cantusio Jr., edição 28). Vanderlei Dos Reis – via Facebook É preciso valorizar o que temos de muito bom!!! (Referente a matéria de Amyr Cantusio Jr., edição 28). Néa Selma Leven – via Facebook
Dezembro / 2015 Editora Musical
Revista Keyboard Brasil é uma publicação mensal digital gratuita da Keyboard Editora Musical. Diretor: maestro Marcelo D. Fagundes / Editora: Heloísa C. G. Fagundes Capa: Cathia Cantusio / Marketing e Publicidade: Keyboard Editora Musical Correspondências / Envio de material: Rua Rangel Pestana, 1044 - centro - Jundiaí / S.P. CEP: 13.201-000 / Central de Atendimento da Revista Keyboard Brasil: contato@keyboard.art.br As matérias desta edição podem ser utilizadas em outras mídias ou veículos desde que citada a fonte. Matérias assinadas não expressam obrigatoriamente a opinião da Keyboard Editora Musical. 04 / Revista Keyboard Brasil
Editorial
Heloísa Fagundes - Publisher
Com muito pesar começo o editorial deste mês lamentando o falecimento do músico independente e extremamente talentoso, Daniel Lewen, gaúcho de Porto Alegre. Dedico esta edição a ele. Aliás, este mês, nossa revista está maior do que o habitual, são mais de 20 páginas
para brindarmos as festas de final de ano fechando 2015 com garra e perseverança, palavras-chave para continuar seguindo nosso caminho cultural! Este mês, nosso colunista e autoridade máxima do Rock Progressivo Amyr Cantusio Jr é a nossa capa. O músico sem papas na língua, além de ser nosso entrevistado do mês, presenteia vocês leitores com uma entrevista direto da Espanha, com o músico Michel Huygen, idealizador da banda progressiva eletrônica Neuroniun, considerado um dos melhores compositores do gênero da Europa. A edição segue com homenagens de grandes nomes que se foram mas que deixaram enormes legados, como Jimmy Smith e Johnn Lenon; e apresenta lançamentos de bandas e músicos nacionais (alô músicos), além de dicas como a de Murilo Muraah sobre produção musical e Luiz Carlos Rigo Uhlik sobre pianos acústico e digital. Obrigada a todos (equipe, colaboradores, parceiros, leitores, músicos, admiradores da boa música e da cultura), excelente leitura, feliz Natal e boas festas!!! E que venha O músico D Lewen e su aniel 2016!!! a matéria na ediç ão passada.
Boas Festas Revista Keyboard Brasil / 05
Índice
08 SUAS COMPRAS: CD The Power of Love
10 MATÉRIA DE CAPA: Amyr Cantusio Jr - por Heloísa Godoy Fagundes
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PERFIL: Eron Guarnieri - por Mateus Schanoski
APRENDA AGORA: Produção Musical, uma breve introdução - por Murilo Muraah
68 SOBRE OS SONS: Luciano Leães lança The Power of Love - por Márcio Grings
06 / Revista Keyboard Brasil
26
AGENDA MUSICAL: 5º Festival Música em Trancoso 2016
DIVULGAÇÃO: Funk Come Le Gusta por Patrícia Palumbo
42
36 ENFOQUE: O envelhecido e superado pensamento musical de Theodore Adorno - por maestro Osvaldo Colarusso
54
52 LANÇAMENTO: CD Maré Maria, da banda Musiquins
20
REVOLUÇÃO MUSICAL: Michem Huygen e o Neuronium - por Amyr Cantusio Jr.
74
80
MEMÓRIA: PONTO DE ENCONTRO: Jimmy Smith, o mestre do Nação empreendedora, empresários empreendedores Hammond B3 - por Marcelo Fagundes - por Luiz Bersou
NOSTALGIA: Há 35 anos morria John Lennon - por Heloísa Godoy Fagundes
64 A VISTA DO MEU PONTO: A briga entre o piano acústico e o digital - por Luiz Carlos Rigo Uhlik
86 COMEMORAÇÃO: Beethoven: 245 do gênio imortal
Foto: Doni Maciel
Suas compras
THE
POWER
OF
LOVE
ACOMPANHADO DA BAND THE BIG CHIEFS, PIANISTA LUCIANO LEÃES APRESENTA SEU PRIMEIRO TRABALHO AUTORAL. Por Heloísa Godoy Fagundes
N
a estrada há 20 anos se apresentando como sideman de diversos nomes de
peso da música nacional e internacional, Luciano Leães apresenta seu primeiro trabalho autoral. Intitulado “The Power of Love” o álbum, viabilizado via crowdfunding e, magistralmente elaborado, revela onze canções assinadas pelo músico. Ao lado de Luciano estão os Big Chiefs – banda que o acompanha, composta por: Edu Meirelles (baixo); Alexandre Loureiro (bateria) e Gabriel Guedes (guitarra). Leães coproduziu “The Power of Love” ao lado de Paulo Arcari (que também fez a mixagem), com finalização e masterização em Nashville, Tennessee (EUA), por Russ Rags-
08 / Revista Keyboard Brasil
dale – engenheiro de som e produtor norte-americano que leva no currículo, colaborações com Michael Jackson, Muddy Waters, Leon Russell, Edgar Winter, Travelling Wilburys, entre outros. Entre as participações, Ron Levy, pianista e organista de B.B. King nos anos 1970; a guitarra do músico gaúcho Solon Fishbone; a atual sensação do blues tupiniquim, o guitarrista Igor Prado; a gaita de boca de Gaspo Harmônica; além dos norte-americanos Rex Gregory (Clarinete), Ben Polcer (trompete) e John Ramm (trombone), trio de sopros capitaneado por Matt Aguiluz, engenheiro de som da Preservation Hall, e proprietário do Marigny Studios, em New Orleans.
MatĂŠria de Capa
10 / Revista Keyboard Brasil
Amyr Cantusio Jr é compositor, multi-instrumentista, produtor, arranjador, programador de sintetizadores, letrista e desenhista dos logos e capas de seus próprios LPs/CDs, além de escritor, colunista, teósofo e psicanalista ambiental.
AMYR
CANTUSIO JR
AUTORIDADE MÁXIMA NO CAMPO DO ROCK PROGRESSIVO E DA MÚSICA ELETRÔNICA, ELEITO "MELHOR TECLADISTA DO ANO" DUAS VEZES POR REVISTAS ESPECIALIZADAS DO GÊNERO E CO-FUNDADOR DO PRIMEIRO SELO DO ROCK PROGRESSIVO E MÚSICA ELETRÔNICA EXPERIMENTAL DO BRASIL, AMYR CANTUSIO JR., COLABORADOR DA REVISTA KEYBOARD BRASIL, LIDEROU O ALPHA III COM QUEM LANÇOU DIVERSOS ÁLBUNS NO BRASIL E EXTERIOR DURANTE OS ANOS 80 E 90, CONSTRUINDO UMA CARREIRA DE SUCESSO. ESTE MÊS, O MÚSICO SEM PAPAS NA LÍNGUA SOLTA O VERBO NUMA ENTREVISTA EXCLUSIVA. Por Heloísa Godoy Fagundes
Foto: Cathia Cantusio
N
ascido em Campinas, interior de São Paulo e filho de imigrante italiano, Amyr Cantusio Jr. iniciou seus estudos de piano e violão aos 5 anos de idade. Formou-se em Música Erudita pela Unicamp e é autodidata em música eletrônica com teclados e estruturas de orquestração, música experimental progressiva kraut rock, canterbury fusion,
entre outras... Tem cursos nas áreas de Psicanálise Integral pela Escola Analítica Existencial do Dr. Victor Frankl em Viena, extensivo em Psicanálise Trilógica ministrado pelo Dr. Norberto Keppe e nas áreas de Musicoterapia, Ocultismo, Meditação e Revista Keyboard Brasil / 11
Filosofia Oriental de Teosofia e Yoga. Cantusio Jr. foi crítico musical e colunista do Jornal Diário do Povo de Campinas e em revistas nacionais como a Zen, a Pendulum e a Bons Negócios e internacionais como a Background Magazine (Holanda) e Paperlatte (Itália) e na revista germano-brasileira Hard Valhalla. Também foi coordenador de vários projetos musicais, entre eles “Rock Todas as Vertentes” (1986) como assessor da Secretaria de Cultura do Secretário Marco Rocha, na cidade de Campinas. De 20132014 trabalhou também na função de assessor do Secretário Ney Carrasco na Secretaria de Cultura da mesma cidade. Autoridade máxima no campo do rock progressivo e da música eletrônica, o músico foi co-fundador do primeiro selo do Rock Progressivo e Música Eletrônica Experimental do Brasil em 1984 (FAUNUS) e fundador do 2° selo na cidade de Campinas (ALPHA III ARTISTICAL PRODUCTIONS LABEL) em 1985. Como artista plástico, desenhou a maioria dos logos e capas de seus próprios LPs e CDs e é pintor de surrealismo gótico, com vários desenhos para capas e telas. Também produziu inúmeras bandas no Brasil e no Exterior, trabalhou na trilha sonora do alemão Holger Kernstein “Jesus Viveu na Índia” (1996) e também criou jingles, spots e trilhas sonoras na Junta de Rádio e Televisão e na Rádio e Televisão Bandeirantes. Em seu currículo consta, ainda, a produção independente de 50 CDs e 7 LPs, desde 1974.
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Amplamente premiado no Brasil e no exterior, Cantusio Jr. recebeu a Medalha Carlos Gomes (Campinas) por representar a cidade em mais de 15 países do mundo com seus discos e foi o primeiro lugar de arranjo e composição do Projeto Guarani. Além disso, foi considerado o melhor tecladista do mundo por três vezes consecutivas: Espanha (com o álbum Ruínas Circulares) 1986; Japão 1986; Canadá (Festival de Música Eletrônica Internacional) com o álbum Seven Spheres, 1991. Melhor tecladista do mundo (Itália selo Mellow Records), 1993. Melhor tecladista do mundo (1996) Green Dolphin 3°. Anual International Critics and Musicians Poll (Latvia/Escandinávia/Holanda). Atualmente, desenvolve com sua esposa, Cathia Cantusio, projetos no Espaço Cultural Lince Negro e no Espaço Flor de Lótus sobre World Music e ritmos árabes e hindus (música oriental) onde toca e ministra aulas de Filosofia Oriental, Teosofia, História da Música e Instrumentação (instrumentos exóticos orientais: daff, derback, flautas, shenai, etc).
Trabalhos LPs: 1983 - Mar de Cristal 1986 - Sombras 1987 – Agartha 1988 - Ruínas Circulares 1989 - Temple of Delphos 1989 - The Aleph 1990 - The Seven Spheres
CDs: 1993 - Voyage to Ixtlan 1995 - The Edge 1995 - Acron 1996 - Grimorium Verum 1996 - Oásis 1999 - The Edge of Vortex 2000 - BOOK of Sacred Magik 2001 - Live Destroyer – (Studio) 2001 - Spectro 2002 - Lord of the Abyss 1998 - The Aleph 1999 - New Voyage to Ixtlan 2000 - Seven Spheres 2004 - Ruinas Circulares 2004 - Temple of Delphos 2008 - Mar de Cristal 2008 - Sombras 2008 - Live-Shades of Windows 2010 – Vitória ou a Filha de Adão e Eva (Libreto de Barata Cichetto) * Ver discografia completa no link do BLOG do músico. Livros: - Rock, Filosofia & Ocultismo - Musicoterapia - Anjos, As Sentinelas do Universo - A Era da Escuridão - A Era da Escuridão II - A Música Erudita de Todos os Séculos - Led Zeppelin (Compilação) - Magia e Ocultismo na Música - Jornada para o Sol. A seguir, leia a entrevista especial com Amyr Cantusio Jr.
ENTREVISTA Revista Keyboard Brasil: Amyr, qual a sua formação musical? Sua mãe, sendo professora de piano e canto pela PUCCamp o influenciou? Amyr Canusio Jr.: Bem, eu cresci ouvindo os discos 78 RPM de minha mãe, além dela estar sempre tocando piano... nos anos 60 e 70... Depois ela parou. Peças de Schubert, Bach, Liszt, entre outros, me emocionavam aos 6 anos de idade. Comecei a tocar piano lá pelos 11 anos. Eu amo música erudita e piano. Revista Keyboard Brasil: Você iniciou seus estudos musicais aos 5 anos de idade. Sendo multi-instrumentista, quais instrumentos você sabe tocar? O que você ouvia no ambiente familiar? Amyr Canusio Jr.: Comecei com 6 anos violão clássico. Eu era influenciado pela Jovem Guarda, Beatles e rock dos anos 60. Depois, mais ainda nos anos 70, onde já tinha 20 anos e dominava o piano e órgão (synths também). Sempre toquei paralelamente flauta, percussão, baixo, guitarra e bateria. Só não sei tocar instrumentos de arco (cello, violino, etc...) As bandas como Led Zeppelin, Van Der Graaf Generator, EL&P, Pink Floyd, Black Sabbath, Genesis, Gentle Giant e Yes eram “devoradas” o dia todo!!! Depois tive acesso ao rock alemão (kraut) mais ousado, eletrônico e experimental (Ammon Duul II, Kraftwerk, Tangerine Dream, Cluster, Klaus Schulze, etc....) Foram muitas e muitas informações e audições!
Revista Keyboard Brasil / 13 04
Revista Keyboard Brasil: Você aprimorou sua técnica sob influência de Frans Liszt. O nome de seu filho é em homenagem a ele (Michael Liszt Cantusio). Sabemos que suas influências musicais são muitas. Pode nos dizer sobre elas? Amyr Canusio Jr.: Venho de uma hierarquia mística no piano: Liszt, Anton Rubinstein Rachmaninoff, Magdalena Tagliaferro, Stelinha Epstein, Lucimar U. Cantusio (minha mãe) e eu. Nesta ordem de Mestre e Discípulo, sou o sétimo. Revista Keyboard Brasil: Você foi eleito um dos melhores tecladistas do mundo. Quais os estilos que mais te agradam? Amyr Canusio Jr.: Erudito (barroco, medieval, renascença, clássico) e a música de vanguarda contemporânea (Glass, Reich, Riley, Stockhausen, Varèse, Schoemberg, etc...). Além, é claro, do Rock (em especial o progressivo e kraut) e o jazz de vanguarda (free-jazz) como os da gravadora alemã ECM. Eu fui citado como músico (tecladista) e com meu projeto (Alpha III) em várias revistas do mundo todo muitas vezes, com prêmios de “melhor tecladista” ou “melhor LP ou projeto”... Isto foi muito gratificante e sacramentou meus discos em revistas como a Marquee (Japão), Mellow Records (Itália), e livros de Hans pokora (Reino Unido) e Roger Dean (Yes) entre centenas de sites no planeta.Estou grato por ter conseguido fazer isto sem a mídia ou produtores, ou mesmo grana!! Revista Keyboard Brasil: Seu trabalho é reconhecido em várias partes do mundo 14 / Revista Keyboard Brasil
Além de músico, Amyr Cantusio Jr. é artista plástico de telas de surrealismo gótico. Também desenhou a maioria dos logos e capas de seus próprios LPs e Cds.
Revista Keyboard Brasil / 15
mas infelizmente, no Brasil, como acontece com tantos outros músicos excelentes, pouca gente o conhece. Fale sobre isso. Amyr Canusio Jr.: O Brasil é um país subdesenvolvido na arte, educação e cultura, retrógrado, preconceituoso e averso à cultura de nível elevado intelectual ou espiritualmente. O brasileiro adora modinhas idiotas, mediocridades, letra fácil, música superficial, pornografia, coisinhas engraçadinhas e de fácil entretenimento. Infelizmente é a maioria. Por isto, artistas como eu enfrentam um inferno diário para sobreviver e conseguir um mínimo de espaço ou locais para se apresentar. Lastimável. Revista Keyboard Brasil: O projeto Alpha III, que abrange rock progressivo, erudito experimental e eletrônico, foi o trabalho que te projetou internacionalmente? Qual ou quais te deram essa projeção internacional? Amyr Canusio Jr.: Logo após o lançamento de meu primeiro LP (ALPHA III Mar de Cristal) misto de New Wave e progressivo, os LPS seguiram para o exterior vias colecionadores! Os primeiros países que gostaram foram Alemanha, Itália, Japão e Estados Unidos. Isto em 1984.Depois foi uma sequência de lançamentos dos LPS nos anos 80 que me deram um prestígio internacional. Mas nos anos 70 o SPECTRO (do qual hoje temos um memorável CD já na segunda prensagem) era um grupo muito Cult e apreciado no Estado de São Paulo.
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RKB: Você pinta quadros e desenhou a capa de vários discos seus. De onde busca a inspiração para a pintura? ACJ: É algo muito pessoal, místico e espiritual como minha música. RKB: Amyr, você é extremamente culto e possui um grande senso crítico do caos cultural que o Brasil vive atualmente. Poderia nos dizer sobre esse momento vivido no país? Como anda o incentivo para a realização de seus projetos e apresentações musicais? ACJ: Muito grato pelo “culto” (risos). Eu realmente sou um fis-surado pela informação e cultura. Creio quase no alto dos meus 58 anos, nunca vi uma decadência estúpida, cretina, senil, pornográfica (e não sou moralista) à que o Brasil chegou. E vejo isto como início grave no governo do PT, onde a entrada de um insano analfabeto e idiota (Lula) para comandar um país de 200 milhões de habitantes causou uma ruptura total no ensino, valores culturais e educação. Infelizmente, isto se alastrou e se tornou um tumor maligno, do qual eu acredito, não haverá volta. Não sou otimista. Não acredito em Papai Noel ou milagres obtusos e ignorantes. Acredito que o “que se planta, se colhe”. Ação e reação. Então, teremos uma reação péssima de acordo com os 15 últimos anos de decadência hostil da sociedade como um todo. RKB: Da safra atual, quem você gosta de ouvir? ACJ: Muita coisa. Gosto muito de Black
Metal Sinfônico, Ghotic Rock e bandas de R.I.O (rock in opposition). Coisas como Moonspell, Graveworm, Him, Therion, Corvus Corax, Knorkator, Nightwish, Epica, Within Temptation, After Forever, Dimmu Borgir, Pain, Rammstein, Art Zoyd e afins. RKB: Lutando contra as limitações do mercado, você em parceria com Luiz Carlos Barata Cichetto (poeta, escritor, produtor de eventos e apresentador de Webradio), estão preparando o lançamento da terceira Opera Rock, intitulada Madame X. Fale sobre esse trabalho e suas participações. ACJ: Isto surgiu de uma depressão, do caos e de nossas respectivas reclusões em nossas moradas artísticas, ilhados pela intolerância religiosa, preconceito, imbecilidade e, ao mesmo tempo, de nossas respectivas pesquisas artísticas. Foi baseada num fato psicanalítico real da doença de Cotard onde o paciente se vê como um Zumbi. Daí que o tema é atual, macabro, forte e interessante. Me deu atmosfera para compor tudo. O Barata desenterrou o tema e escreveu o libreto, sobre o qual fui montando as músicas. As participações são da cantora Liz Franco e do ilustre amigo desenhista/músico Edgar Franco, além de algumas inserções como Adilson (guitarras) etc... A capa e arte feita pela Nua Estrela reflete exatamente o tema. As narrações e vocais estão a cargo variado (meu, Barata, Liz e Edgar) Eu gravei todos instrumentos e orquestrações.
RKB: Fale da sua paixão e seu envolvimento com a dança, seus projetos holísticos e a filosofia oriental. ACJ: Eu sou um agnóstico. Estudei Zen Budismo, a Bhakti Yoga, karma yoga, Samkya Yoga. Pratiquei, também, artes marciais e meditação Zen. Estudei a música dos Mosteiros da China, Egito, Afeganistão, Índia, Arábia Saudita, entre outros, além das músicas de Pitágoras, Hermes e Templárias (Arqueômetro). Ministrei aulas de Musicoterapia por 30 anos. Como tenho uma formação dupla (música e psicanálise) uni tudo. Trabalhei em Espaços Orientais como Solarium, Shamballah, Shantidan, Anahata, Lince Negro e agora Flor de Lótus. Fiz milhares de palestras e vivências, workshops. RKB: Fale sobre seu lado místico. ACJ: A base de meu estudo está no VEDAS (Índia 5.000 a.C.), Budismo e Zen Budismo, Ocultismo e Magia (Crowley, Grimoriums, Kabballah, etc...) e participei de Ordens como Sociedade Teosófica (Blavatsky), Draconiana, Templária, Quarto Caminho (Sufi) e fui um adepto muito profundo da escola Ashram de Swami Prabhupada (hare Krishna, Vedas, Índia) entre outros estudos na área. Minha literatura é inspirada em Goethe, Dante, Milton, Crowley, Castañeda, Poe, Lovecraft, Papinni, Guy de Maupassant e muitos outros. RKBl: Para finalizarmos nossa entrevista, o que você gostaria de dizer aos nossos leitores?
Revista Keyboard Brasil / 17
ACJ: Abrirem a mente... Estamos no século XXI e não saímos da mente arcaica medieval e preconceituosa, da religião castradora e insana, das guerras por preconceitos e idiotices, do culto às “bugigangas”. Acreditar no que não existe e nunca existiu como fuga da realidade é um dos piores pesadelos da humanidade, que a mantém escrava de deuses inexistentes e tormentos sem fim. Voar, ouvir e selecionar peças de arte de nível.
18 / Revista Keyboard Brasil
RKB: Muito obrigada pela entrevista e por sua grandiosa colaboração em nossa Revista Keyboard Brasil. ACJ: Eu que agradeço e desejo à todos leitores que desfrutem de toda esta revista que preza pela educação e formas de levar conhecimento de nível a outros setores da sociedade. Obrigado e uma ótima passagem de ciclo solar a todos! Saiba mais sobre Amyr Cantusio Jr.:
Agenda Musical
20 / Revista Keyboard Brasil
EM
2016,
MÚSICA
O
EM
FESTIVAL TRANCOSO
– MAIOR EVENTO DO SUL DA BAHIA – SUA
COMEMORA
QUINTA
EDIÇÃO
PROMOVENDO PETÁCULO
UM
QUE
VAI
ESDO
ROCK À MÚSICA CLÁSSICA NO TEATRO L'OCCITANE. ENTRE
AS
ATRAÇÕES,
PREVISTAS PARA OS DIAS 5 A 12 DE MARÇO, ESTÃO BOB MCFERRIN E CESAR CAMARGO UM
MARIANO
PÚBLICO
E
ESTIMADO
EM MAIS DE 8 MIL PESSOAS.
A
o chegar à sua quinta edição, o festival Música em Trancoso, maior evento do sul da Bahia, se consolida, definitivamente, na agenda cultural brasileira. Com sucesso crescente a cada ano, também se fortalece como um efetivo fomentador sociocultural, turístico e econômico na região. Entre 5 e 12 de março de 2016, o Teatro L'Occitane deve receber cerca de 8 mil pessoas; pela primeira vez via streaming (transmissão ao vivo), a meta é atingir 10 milhões de espectadores online em todo o mundo. Revista Keyboard Brasil / 21
Foto: Jean de Matteis
Festival Música em Trancoso: o melhor da música clássica com o melhor da MPB, tudo junto em um local paradisíaco!
Com direção artística do Mozarteum Brasileiro, o festival, depois de promover, em 2015, o encontro da música clássica com o samba e o tango, desta vez cede espaço ao rock, que dará o tom à quinta edição. Atração mais aguardada, o músico norte-americano Bobby McFerrin se apresentará duas vezes. Na noite de abertura (5/3), denominada “Bobby McFerrin Meets Brazil”, ele irá reger a Orquestra Experimental de Repertório (de São Paulo); na segunda-feira (7/3), será acompanhado ao piano por Cesar Camargo Mariano — que comanda a tradicional soirée “Bossa Nova” desde a primeira edição do festival, e sua banda composta por grandes instrumentistas da música brasileira. Mas, além do rock, outros ritmos também têm lugar garantido na programação de 2016. No domingo (6/3), o público será brindado com uma noite dedicada à “Opereta”. Sob a regência do maestro Carlos Moreno, a Orquestra 22 / Revista Keyboard Brasil
Experimental de Repertório acompanhará a violinista Elena Graf, a mezzosoprano Angelika Kirchschlager e o barítono Rafael Fingerlos. Na terça (8/3), músicos da Salon Chamber Soloists Basel levarão o melhor da música de salão para a plateia. No dia seguinte (9/3), a música de câmara toma conta do teatro com os solistas do Septeto Celibidache da Filarmônica de Munique. No dia seguinte (10/3), ocorre a aguardada Jam Session coordenada por Cesar Camargo Mariano e com a participação de instrumentistas estrangeiros. A noite dedicada à música clássica (11/3) levará ao palco os integrantes da Orquestra Sinfônica de Minas Gerais, que se apresentará sob a batuta de Benoit Fromanger. No último dia (12/3), a orquestra mineira volta ao palco com o maestro Wolfgang Roese para encerrar o festival acompanhada pela Banda Rock Symphony: música clássica e rock prometem encantar e surpreender.
Foto: Carol Friedman
BOBBY MCFERRIN — Com forte influência do Jazz, o cantor, produtor, palestrante, professor, compositor e arranjador cresceu cercado de todo tipo de música. 10 vezes premiado com o Grammy, McFerrin é conhecido por sua enorme extensão vocal de quatro oitavas e pela habilidade em usar a voz para criar efeitos diversos. Sua capacidade vocal unida a sua técnica aprimorada o permite alternar falsette (agudos) rapidamente com profundas notas graves. O músico é também capaz de entoar canto difônico (Tuva)— prática muito comum em países asiáticos — em que o cantor produz intervalos harmônicos e acordes a partir de uma só voz. Por tudo isso, Bobby inspirou artistas do beatbox de todo o mundo. Seus reflexos rápidos aliados a um profundo conhecimento dos estilos musicais fazem com que suas performances de solista sejam inesquecíveis, além de um grande entretenimento. CESAR CAMARGO MARIANO — Acumulando quase 60 anos de experiência na área musical, o pianista, compositor, arranjador e produtor, internacionalmente reconhecido, começou cedo e desenvolveu seu talento tocando de ouvido, tanto que foi chamado de “menino prodígio”. No início de sua carreira, produziu jingles e músicas para cinema e propaganda. Ao longo dos anos, fez parceria com grandes nomes como Elis Regina, Chico Buarque, Maria Bethânia, Jorge Ben, Airto Moreira, Humberto Claiber, Sadao Watanabe, entre outros. Gravou discos importantes para a história da música brasileira e foi o primeiro a usar um teclado sintetizador em seus arranjos. Morando nos Estados Unidos desde 1994, Cesar continua em contato permanente com os maiores nomes da MPB, dirigindo e produzindo discos e espetáculos. Revista Keyboard Brasil / 23
Além das atrações no teatro, três concertos educativos serão realizados pelo Conjunto de Câmara da Orquestra Experimental de Repertório, sob regência do maestro Carlos Moreno, para a comunidade local. As apresentações gratuitas ocorrerão no Bosque do Quadrado, sempre das 12h30 às 13h30, nos dias 7, 9 e 11/3. Assim como ocorre desde a primeira edição (2012), o festival, que também tem por objetivo incentivar o aprendizado da música, promoverá masterclasses com os experientes músicos estrangeiros convidados desta edição
para jovens estudantes, com o intuito de aperfeiçoar a prática e identificar talentos que possam ser elegíveis para bolsas de estudos em academias ou festivais europeus. Além disso, alunos do ensino fundamental das escolas públicas de Trancoso e região receberão aulas de iniciação musical, de segunda a sexta-feira, das 8h às 10h30, com a participação de integrantes das orquestras. Para ter uma ideia do alcance desta iniciativa pedagógica e educativa, nas quatro edições anteriores o festival promoveu 95 masterclasses com 751 alunos e 3.737 crianças receberam aulas de iniciação musical.
Sobre o Festival O Festival Música em Trancoso surgiu em 2012 como fruto do sonho de quatro amigos. Sabine Lovatelli, Reinold Geiger, Carlos Eduardo Régis Bittencourt e François Valentiny desejavam realizar um evento que reunisse jovens músicos e profissionais consagrados e, ao mesmo tempo, colaborasse para promover as belezas naturais da região e estimulasse seu desenvolvimento econômico. Com direção artística do Mozarteum Brasileiro, já passaram pelo evento mais de 34 mil espectadores e 300 músicos subiram ao palco, reunindo intérpretes de reconhecimento internacional de música erudita e popular do Brasil e de várias partes do mundo, além de orquestras jovens brasileiras. Com duas plateias (uma coberta e outra ao ar livre, com mais de 1.000 luga24 / Revista Keyboard Brasil
res cada), o Teatro L'Occitane também abriga variadas atividades culturais e socioeducativas, transformando-se num centro permanente de produção e disseminação cultural. Seu anexo, o Facilities, dispõe de salas de ensaio e aulas, bar, salas de reunião e toaletes.
Serviço: 5° FESTIVAL MÚSICA EM TRANCOSO Data: 5 a 12 de março de 2016 Horário: a partir das 17h / início dos concertos às 18h30 Local: Teatro L'Occitane Endereço: Estrada Municipal de Trancoso, km 19 – Trancoso, Bahia Ingresso antecipado: R$ 120 (por noite); para adquirir, clique no link:
Foto: Laura Loureiro
Divulgação
26 / Revista Keyboard Brasil
Expoentes do groove brasileiro, a big band paulistana Funk Como Le Gusta está de volta com o álbum A Nave Mãe Segue Viagem.
PRODUZIDO PELO GUITARRISTA EMERSON VILLANI, O NOVO DISCO DO FUNK COMO LE GUSTA, TEM A PRESENÇA DO TECLADISTA ITUANO, ERON GUARNIERI. * Por Patrícia Palumbo
esde que os ritmos AfroCubanos viraram a cabeça dos músicos norte americanos nas décadas de 20 e 30 o Jazz nunca mais foi o mesmo. Gene Krupa, Xavier Kugat, o encontro de Dizzy Gillespie com Mario Bauza, Tito Puente e Stan Kenton. A lista é enorme. Por toda a América a polirritmia africana se impôs. Uma música criada para sobreviver aos maus tratos, ao banzo - não podemos esquecer, e com uma força transformadora. Aqui no Brasil deu no samba e nas maravilhosas orquestras de baile como a inesquecível Tabajara de Severino Araújo. Bailes de gafieira, bailes de charme, música boa pra ouvir e pra dançar. O Funk Como Le Gusta faz parte dessa linhagem. Uma bigband com um naipe de sopros infernal, percussão africana, latina e portanto brasileiríssima. São 17 anos de muito groove, suíngue e alto astral.
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Revista Keyboard Brasil / 27
O novo disco “A Nave Mãe Segue Viagem” confirma essa caminho. Um álbum delicioso pra curtir do começo ao fim. Abre com o baixo marcando o clima em Auto Carro Veloz e ele volta forte com cara de Tim Maia Racional em Você Verá. Wati Wati faz sorrir e pensar na praia. Pappa Girl é puro James Brown com a assinatura inconfundível dos sopros do FCLG. Som de Preto tem deliciosos riffs de guitarra, suave. Motown Song lembra os deliciosos bailinhos da minha adolescência, é pra deslizar na pista. Volta o beat com Yeah, Yeah, Yeah que nos leva pro baile charme dos anos 90, que tempo bom! Tudo no Lugar lembra Miles Davis e Wayne Shorter, clima jazzy com o lindo solo de saxofone. Funk Nu a Murit traz sopros e teclados com um acento oriental. O Funk Como Le Gusta está na minha vida há quase 20 anos. Acompanho de perto desde o começo. Uma banda
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brasileira com carreira consistente, grandes músicos e que segue a risca aquela máxima de Rita Lee: leve a sério a brincadeira. É sempre delicioso quando chega um disco novo. Nesse tempo de playlists dar uma geral no repertório do FCLG é garantia de sucesso! Essa mensagem do bem que vem nas letras de Nave Mãe e que fica implícita nesse convite pra dançar é o que precisamos agora. Foi dançando e cantando que civilizações escaparam da barbárie. Façamos o mesmo! Bem vinda, Nave Mãe! Vamos embarcar! Lembrando que estão previstas edições do novo álbum em CD e vinil. Saiba mais sobre FCLG:
*Patrícia Palumbo é jornalista, especializada em rádio, música e meio ambiente.
Perfil
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E R O N GUARNIERI COM AS TECLAS FAZENDO PARTE DE SUA VIDA DESDE A INFÂNCIA, A ESCOLHA DE SUA PROFISSÃO NÃO FOI UMA TAREFA DIFÍCIL. * Por Mateus Schanoski
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Foto: Carol Siqueira
ianista, tecladista e produtor musical, Eron Guarnieri começou a estudar piano aos 6 anos de idade em Itu, sua cidade natal. No ano 2000 se formou pelo Conservatório de Tatuí em piano MPB/Jazz, onde também estudou piano erudito. Morando em São Paulo desde 2005, trabalhou em algumas escolas de música, acompanhou ou gravou diversos artistas como João Donato, Sérgio Britto, Moraes Moreira, Ney Matogrosso, Fernanda Abreu, Frejat, Thaíde, Bruna Caram, Wanessa e os músicos americanos Ike Willis, Bob Martin e Ray White. Atualmente é tecladista do Funk Como Le Gusta, The Central Scrutinizer Band, Karnak e integra a banda do cantor e compositor Renato Godá. Já se apresentou na Argentina, Paraguai, Estados Unidos, Alemanha, Espanha e Suíça. Paralelamente aos palcos, produz trilhas para desenho animado em parceria com o guitarrista Marcos Kleine e trabalha como produtor e arranjador de trilhas publicitárias na produtora de áudio “A Voz do Brasil”.
Saiba mais sobre Eron Guarnieri: Revista Keyboard Brasil / 31
Aprenda agora
PRODUÇÃO MUSICAL: UMA BREVE INTRODUÇÃO Para atingir seus objetivos é importante que se tenha conhecimento técnico e criatividade suficientes! * Por Murilo Muraah 32/ Revista Keyboard Brasil
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erminei a coluna passada, minha primeira coluna na Revista Keyboard Brasil, apon-
tando três pontos fundamentais para a produção de áudio com boa qualidade: o local utilizado, as ferramentas disponíveis e o conhecimento necessário. O conhecimento, é claro, é essencial já no processo de analisar e determinar como trabalharemos no local que possuímos, com as ferramentas que podemos ter à disposição. Por esse motivo, antes de olharmos para os dois primeiros pontos com mais cuidado, vale a pena entendermos melhor o que é uma produção musical – e o que pode ser feito dentro desse processo. Diferentes produtores musicais podem compreender a produção musical de diferentes maneiras e, assim, atuar de formas também diferentes. Mas podemos pensar que a produção musical envolve dois aspectos básicos: o trabalho técnico e o trabalho criativo. O trabalho técnico envolve o domínio e aplicação de diferentes conceitos e ferramentas musicais e de áudio, como teoria musical, noções de arranjo, harmonia, composição, técnica vocal e de instrumentos, conhecimento sobre áudio analógico e digital, acústica, processadores de áudio, hardwares e softwares variados, etc. Já o trabalho criativo envolve a aplicação do conhecimento e dos recursos técnicos disponíveis de forma a atingir os objetivos traçados em cada produção, para que sejamos capazes de driblar as limitações técnicas e ainda chegarmos aos resultados desejados. Esse
ponto é muito importante: não adianta ter o conhecimento e os recursos técnicos se não souber utilizá-los para chegar na sonoridade que se quer. E a sonoridade pode variar bastante de acordo com cada projeto, dependendo do gênero musical, da estética desejada, do público-alvo, da mídia de lançamento... Tradicionalmente, o produtor musical possui a responsabilidade de compreender o que o artista deseja realizar musicalmente e artisticamente, direcioná-lo para que o trabalho seja coerente e viável e garantir que a produção musical atinja os objetivos traçados em conjunto com o próprio artista, mas também com outros interessados (selo, gravadora, empresário, etc.). Isso não significa que todo o trabalho técnico e criativo dependerá apenas do produtor musical, pois, dependendo das condições do projeto, ele poderá contar com outros profissionais durante a produção: técnicos de áudio, engenheiros de mixagem e masterização, arranjadores, os próprios músicos, etc. Cada profissional oferece sua capacidade técnica e criativa dentro da produção – cabe ao produtor saber extrair o que podem oferecer, sempre buscando atingir a realização musical de acordo com os objetivos traçados. Nas produções musicais em home studio, muitas vezes o próprio artista assume a função de produtor musical e não pode contar com outros profissionais para auxiliá-lo. Nesses casos, é importante que ele tenha conhecimento técnico e criatividade suficientes para atingir seus Revista Keyboard Brasil / 33
Murilo Muraah é músico, compositor de trilhas sonoras, produtor musical, professor e colaborador da Revista Keyboard Brasil.
objetivos – mas é muito importante também que ele saiba definir quais são seus objetivos. Dessa forma, mesmo não tendo a mesma estrutura disponível em grandes produções, ele poderá buscar a sonoridade desejada a partir dos recursos que possui. A respeito dessa sempre polêmica dúvida sobre o que podemos realizar de fato em nossos home studios, vale uma reflexão: se muitas vezes não possuímos as mesmas condições e utilizamos espaços e equipamentos mais limitados, não podemos esperar tirar o mesmo som daqueles de qualidade superior – não é por acaso que eles custam muitas vezes mais do que aqueles que conseguimos adquirir até o presente momento. Mas isso só será um problema sem solução se quisermos simplesmente copiar alguma sonoridade que ouvimos antes ou que julgamos ser ideal. Se estivermos em busca de nossa própria 34 / Revista Keyboard Brasil
sonoridade, buscando atingir aquilo que a música pede durante nossas produções, existem muitas ferramentas acessíveis que nos permitem realizar trabalhos de alta qualidade. Vale lembrar que ainda ouvimos muitas músicas de diferentes décadas que foram produzidas com ferramentas muito mais limitadas do que possuímos em nossos home studios. Por isso, tanto quanto a utilização das ferramentas, é muito importante ter uma visão de onde queremos chegar – e ter a capacidade de trilhar esses caminhos. E o mais importante de fato é sempre a própria música. A produção musical, incluindo a execução dos músicos envolvidos, pode fazer com que uma música fique mais ou menos atrativa, é claro. Pode até destruí-la ou ajudá-la a atingir mais do que era esperado. Mas, se a própria música não for capaz de emocionar, empolgar ou atingir outros objetivos que traçamos para ela, não é o
som desse ou daquele equipamento que fará com que isso aconteça. Nessa busca pelos objetivos de uma produção musical, também é fundamental conhecer o que é feito em diferentes etapas desse processo. Ainda que a produção musical realizada hoje utilize ferramentas e abordagens que sequer existiam há poucos anos ou décadas, compreender as etapas que compõem esse processo pode nos ajudar a visualizar melhor o que queremos fazer, buscar extrair da música o máximo que ela pode oferecer, além de evitar que problemas não corrigidos em uma etapa acabem virando pesadelos em outras que virão depois. Mas sobre isso falaremos na próxima coluna. Até lá!
*Murilo Muraah é Bacharel em Comunicação Social pela FAAP e proprietário da Muraah Produções, onde atua como professor de áudio analógico e digital, produtor musical, compositor de trilhas sonoras e músico. Possui vasta formação, com cursos realizados dentro e fora do Brasil, incluindo: Diploma de Música (Southbank Institute of Technology Brisbane/AUS), Formação de Apresentadores de Rádio (Rádio 4EB FM – Brisbane/AUS), Radialista – Sonoplastia (SENAC), além de diversos cursos de composição, produção musical, áudio e acústica em escolas onde atuou também como professor. Atualmente vem apresentando cursos, palestras e workshops em importantes eventos e instituições de ensino, como a Campus Party Brasil, a Faculdade de Música do Centro Universitário FIAM-FAAM e a SAIBADESIGN, além de atuar como técnico de áudio no estúdio da Fábrica de Cultura Jardim São Luis.
Revista Keyboard Brasil / 35
Enfoque
Theodor Adorno trilhou os caminhos do atonalismo e mesmo do serialismo vienense. 36 / Revista Keyboard Brasil
O ENVELHECIDO E SUPERADO PENSAMENTO MUSICAL DE
THEODOR ADORNO MESMO NASCIDO EM UM AMBIENTE EXTREMAMENTE MUSICAL, THEODOR ADORNO POSSUÍA UM PENSAMENTO MUSICAL RESTRITO E ULTRAPASSADO. ENTENDA O PORQUÊ! ** Por Maestro Osvaldo Colarusso
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heodor Adorno (1903-1969) foi um dos mais importantes filóso-
fos do século XX. Nascido em Frankfurt em 1903 demonstrou desde cedo paixão por duas áreas: a filosofia e a música. Em termos filosóficos sua colaboração permanece ainda como algo de uma enorme importância até os dias de hoje. Junto com outros pensadores como Max Horkheimer, Walter Benjamin e Herbert Marcuse formou o que se chama de “Escola de Frankfurt”, cujo pensamento, altamente complexo, deriva da dialética de Georg Hegel, filósofo alemão que nasceu no século XVIII, e que foi incensado pelos pensadores marxistas no século XX. No
aspecto musical Theodor Adorno, nascido num ambiente altamente favorável a seu desenvolvimento musical (sua mãe era uma cantora lírica profissional), estudou composição musical com grandes nomes, dos quais se destaca o compositor austríaco Alban Berg (1885-1935), compositor das óperas Wozzeck e Lulu. Sua afinidade com o pensamento musical da segunda escola de Viena (Arnold Schoenberg, Alban Berg e Anton Webern) o levou a trilhar os caminhos do atonalismo e mesmo do serialismo vienense.
Um filósofo compositor Dono de uma formação musical de altíssimo nível escreveu Revista Keyboard Brasil / 37
diversas composições, entre as quais se destacam suas obras para quarteto de cordas e para piano. Se compôs sempre de forma esmerada em termos técnicos, a originalidade de suas obras fica bem abaixo do esperado. Sua “Klavierstück” (Peça para piano) de 1921, por exemplo, é uma notória cópia das magníficas “Três peças para piano” opus 11 de Arnold Schoenberg e suas “Três peças para piano” compostas a partir de 1934 são um flagrante plágio das “6 pequenas peças para piano” opus 19 também de Schoenberg. Suas obras para Quarteto de cordas, impecavelmente escritas para esta difícil formação, não contribuem muito para o enriquecimento do repertório camerístico. A imitação de seu mestre, Alban Berg, fica flagrante em obras como suas “Duas peças para quarteto de cordas” de 1925. Se suas composições, volto a dizer, são impecáveis do ponto de vista técnico, mas pobres de originalidade, os textos filosóficos que escreveu sobre música são, até hoje, referências extremamente importantes. Seu texto “filosófico – musical” mais conhecido em nosso país é “Filosofia da nova música”, lançada no Brasil pela Editora Perspectiva, na tradução razoável de Magda França. Livro de leitura complexa, tem uma introdução brilhante, que é seguida por uma longa confrontação entre a maneira de compor de Arnold Schoenberg (1874-1951) (o capítulo que ele batiza como “Schoenberg e o progresso”) e de Igor Stravinsky (18821971) (“Stravinsky e a restauração”). Sua identificação com o compositor austríaco 38 / Revista Keyboard Brasil
Alban Berg e Arnold Schoenberg: os ídolos de Adorno.
faz com o que o capítulo dedicado a ele seja bem maior do que o capítulo dedicado ao compositor russo, e nos textos fica clara a sua preferência.
A rejeição ao Jazz e a Stravinsky Adorno, que era um severo crítico do Jazz (abominava qualquer fenômeno musical americano) e da música popular, acaba esbarrando em uma dicotomia que está, no mínimo, envelhecida. Primeiro de tudo, dividir o mundo da composição musical da primeira metade do século XX em apenas dois nomes, é de uma pobreza lamentável. Se bem que ele estende o setor musical de Schoenberg a seus discípulos (Berg e Webern), esta “Filosofia da nova música” exclui uma parcela enorme e importante da riquíssima produção musical de seu tempo. Se o mundo da composição musical se resume apenas à maneira de pensar de Schoenberg e Stravinsky, como se explica então compositores tão importantes e totalmente independentes destes dois músicos como o francês Edgar Varèse e o tcheco Leoš Janáček. Nesta envelhecida e pobre discussão entre Schoenberg e Stravinsky fica de fora um gênio de primeira grandeza como o húngaro Bela Bartók, e, no preconceituoso pensamento do filósofo alemão, ficam de fora também uma lista enorme de gênios como Manuel de Falla, Benjamin Britten, Sergei Prokofiev, Jean Sibelius e tantos outros. As opiniões de Adorno se afinam à maneira de pensar do compositor Anton Webern, discípulo de Schoenberg, e muito admirado (e imitado) pelo filósofo alemão. Webern em seu livro “O caminho para a música nova”, bem traduzido para o português por Carlos Kater (Editora Novas Metas, esgotado), compilação de diversas palestras que o compositor fez no início da década de 1930, Revista Keyboard Brasil / 39
percebemos a enorme pretensão do grande músico em pensar que a forma de conceber música da sua “escola” (Schoenberg e Berg incluídos) é a única. Se Adorno não foi um compositor brilhante, Webern, apesar de sua belíssima produção musical, é um pensador que esbarra na mediocridade. Mas há algo que os une: Adorno e Webern pensam mesmo em um mundo irreal onde a música e a arte devem uniformemente serem concebidas. Quem não compactuar com eles será desprezado. Para percebermos a origem desta forma de pensar existe uma carta datada de 1914 de Arnold Schoenberg para Alma Mahler (viúva do grande compositor) na qual ele declara que nada composto fora da produção alemã – austríaca é relevante e chega a considerar a música francesa e italiana de “segunda classe”. Esta maneira antipática dos compositores da assim chamada “Segunda escola de Viena” pensarem, contribuiu bastante para que muita gente achasse sua música pouco “amigável”. Diversas obras de Arnold Schoenberg, de Anton Webern e de Alban Berg são verdadeiras obras primas. Mas não são as únicas de seu tempo. Os textos sobre música de Theodor Adorno são importantes, mas envelheceram, e merecem ser lidos mais por sua impecável metodologia do que pela discussão em si. Seu livro “Quasi Una Fantasia: Essays on Modern Music”, que denigre a criação de Igor Stravinsky, (que só conheço na versão em inglês), é indigno do grande pensador que foi. Como existe uma ignorância generalizada em termos musicais no ambiente intelectual brasileiro (vide os artigos que saíram em revistas ditas “especializadas”), e uma falta de interesse no
40 / Revista Keyboard Brasil
O compositor russo Igor Stravinsky: alvo de críticas ferozes de Adorno.
assunto entre os músicos, a lógica do que estou tentando dizer neste texto talvez passe batida tanto num meio quanto no outro. Mas se posso resumir o que tentei explicitar digo que Adorno, em termos musicais, se equivocou. Prova maior disso é que pouco tempo depois da publicação de “A filosofia da nova música”, em 1949, Stravinsky passou a compor seguindo os moldes de Schoenberg. Reafirmo que Adorno é um gigante do pensamento filosófico. Livros como Minima Moralia (1945) e Dialética do Esclarecimento (1947) são absolutamente fundamentais. É no seu pensamento musical que sinto algo restritivo e ultrapassado que realmente não pactuo. * Texto retirado do Blog Falando de Música, do Jornal paranaense Gazeta do Povo. ** Osvaldo Colarusso é maestro premiado pela Associação Paulista dos Críticos de Arte (APCA). Esteve à frente de grandes orquestras, além de ter atuado como solista. Atualmente, desdobra-se regendo como maestro convidado nas principais orquestras do país e nos principais Festivais de Música, além de desenvolver atividades como professor, produtor, apresentador, blogueiro e colaborador da Revista Keyboard Brasil. Revista Keyboard Brasil / 41
Foto: Arquivo pessoal
Osvaldo Colarusso: maestro premiado pela APCA, professor, blogueiro, produtor, apresentador e colunista da Revista Keyboard Brasil.
Foto:s Divulgação
Nostalgia
HÁ 35 ANOS MORRIA
John Lennon O EX-BEATLE
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O Edifício Dakota, local exato onde John Lennon foi executado.
JOHNN LENNON MUDOU A DIREÇÃO DO ROCK EM DIREÇÕES QUE NINGUÉM, NO ALVORECER DA DÉCADA DE 1960, JAMAIS PODERIA TER IMAGINADO. O HOMEM QUE MUDOU LITERALMENTE O MUNDO COM SUAS MÚSICAS, PALAVRAS E ATITUDES COMPLETA, ESTE MÊS, 35 ANOS DE MORTE. Por Heloísa Godoy Fagundes
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músico inglês John Lennon teria completado 75 anos em 9 de outubro se não fosse tra-
gicamente alvejado a tiros diante do edifício Dakota, onde vivia com Yoko Ono, em frente ao Central Park, na cidade de Nova York. Levado às pressas para um hospital, o ex-beatle morreu ainda na ambulância. Eram pouco antes das 23h do dia 8 de dezembro de 1980. Seu assassino, Mark David Chapman já o esperava há algumas horas diante do edifício que visitava várias vezes ao dia dizendo ser “um grande fã do músico”. Naquela noite, horas antes, Lennon autografara para seu próprio assassino, uma cópia de seu recém-lançado álbum Double Fantasy.
Nestes dias de fama instantânea e heróis descartáveis, parece quase pitoresco reconhecer alguém como Lennon. Estrela do rock, apóstolo da paz, drogado, multimilionário de origem humilde... O que pode ser dito sobre o músico que já não foi dito um milhão de vezes? Uma coisa é certa! Lennon mudou literalmente o mundo com suas músicas, palavras e atitudes. Lennon e Paul McCartney tornaram-se a dupla de compositores de maior sucesso da história da música. Entretanto, era Lennon o autor das principais músicas dos Beatles. Aliás, o nome da banda era um trocadilho com “beetles” (besouros) e “beat” (batida ou compasso ritmado). As Revista Keyboard Brasil / 43
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O grupo musical mais bem-sucedido e aclamado da história da música era formado por John Lennon (guitarra rítmica e vocal), Paul McCartney (baixo, piano e vocal), George Harrison (guitarra solo e vocal) e Ringo Starr (bateria e vocal). Enraizada do skiffle e do rock and roll da década de 1950, a banda veio a assumir mais tarde, diversos gêneros: do folk rock ao rock psicodélico, muitas vezes incorporando elementos da música clássica e outros, em formas inovadoras e criativas. Revista Keyboard Brasil / 45
Os Beatles conquistaram multidões. Pelo mundo, as lentes capturavam a histeria das fãs.
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canções dos Beatles sintetizaram o espírito dos anos 1960 e se tornaram padrões de uma ou duas gerações, e apesar de outros artistas, ao longo do tempo, terem vendido mais discos e tocado para milhares de fãs, acredito que ninguém nunca vai se igualar ao impacto causado pelos quatro integrantes da cidade de Liverpool, Inglaterra: John Lennon, Paul McCartney, George Harrison e Ringo Starr. O primeiro compacto dos Beatles, “Love me do”, foi lançado em 1962. Três anos depois, o fab four já era então o maior fenômeno do universo Pop-Rock no século XX. Eles venderam – e vendem até hoje – milhões de discos e se apresentaram diante de milhares de fãs em histeria coletiva. Isso na Europa, nos Estados Unidos, no Japão e na Austrália. A histeria em massa sem precedentes causada pelos Beatles incomodava Lennon e, por isso, começou a se isolar cada vez mais. O ex-estudante de Artes de Liverpool sonhava com os primeiros anos do grupo, com as primeiras apresentações em Hamburgo, com os primórdios do Rock'n'Roll. Seu desejo constante de encontrar novos sons e escrever músicas melhores, mudou a direção do Rock em direções que ninguém, no alvorecer da década de 1960, jamais poderia ter imaginado. De “She Loves You” para “Strawberry Fields Forever” passaram-se incríveis e pouco mais de três anos! E, seguiram sucessos... “Love me do” (1962); “I Want you Hold your Hand” (1963); “Can't Buy me Love” (1964); “A Hard Day's Night”
(1964); “Help!” (1965); “Eleanor Rigby” (1966); “Penny Lane” (1967); “All you Need is Love” (1967); “Hey Jude” (1968); “Revolution” (1967); “Don't Let me Down” (1969); “Something” (1969); “Let it Be” (1970); “Across the Universe” (1970). Em 1970, o conjunto se dissolveu num clima não muito amigável. Na época, Lennon estava casado pela segunda vez, com a artista japonesa de vanguarda Yoko Ono, figura forte e misteriosa, a quem muitos responsabilizam como a causa da desagregação do grupo. Ambos se engajavam politicamente e Lennon quase foi deportado. O compositor começou a enfocar a paz e a tematizar sua infância triste, a morte prematura da mãe e a ausência do pai. Yoko Ono fez com que Johnn seguisse seu coração, tanto musicalmente quanto pessoalmente. E eram famosamente inseparáveis. Seus discos solo tiveram alguns destaques incríveis e outros altamente questionáveis. Tiveram de tudo, menos a monotonia. Durante muitos anos, o filho mais velho de Lennon
John Lennon: “Mesmo tendo cantado tanto sobre o amor, eu só fui saber o que era isso de verdade quando conheci Ono”. Revista Keyboard Brasil / 47
com sua primeira esposa, Cynthia Powell, Julian Lennon atacou a imagem do pai: “podia falar de paz e amor ao mundo, mas nunca os mostrou para as pessoas mais próximas” e considerava Yoko Ono a ruína de sua família. Johnn deu mais atenção ao segundo filho, Sean Lennon. Pelo garoto, o músico afastou-se do show business e passou a ser visto rotineiramente empurrando o carrinho do bebê no Central Park, enquanto a esposa administrava a fortuna de 500 milhões de dólares. Então, no final de 1980, Lennon voltou à cena musical, com o lançamento do disco Double Fantasy, gravado com Yoko e uma turnê mundial marcada para 1981. Mas, o que seria um recomeço foi tragicamente interrompido pelos tiros diante do edifício Dakota.
Lennon sabia tocar diversos instrumentos, entre eles: gaita, banjo, guitarra, piano, Mellotron e acordeon.
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A morte de Lennon ocorreu poucas semanas após o cantor voltar a gravar o álbum Double Fantasy, ao lado de sua esposa, a artista Yoko Ono. Para o ano seguinte, estava programada uma grande turnê mundial dos dois. Lennon é tido como um grande defensor da paz e especialmente durante sua carreira solo, após o fim dos Beatles, se tornou uma das maiores vozes do movimento pacifista. A canção "Imagine" tem sido há décadas o símbolo da oposição à guerra e à violência.
Stand by me Letra e mĂşsica: Jerry Leiber, Mike Stollerand Ben King Arranjo: Marelo Fagundes
* Solicite a partitura completa pelo email: contato@keybaord.art.br Revista Keyboard Brasil / 49
O assassino
Chapman: Uma relação de fascínio e ódio com Lennon.
Mark David Chapman nunca negou ter cometido o crime. Alegou tê-lo feito por “ouvir vozes” que lhe deram tal ordem. Chapman, no entanto, nunca foi diagnosticado como perturbado mentalmente, ficando provado que tinha plena consciência do que fazia e, por isso, foi efetivamente condenado à prisão perpétua desde seu julgamento, em 1981. Sua liberdade condicional, com possibilidade bienal permitida a partir do ano 2000 (após vinte anos no cumprimento de sua pena), foi negada por oito vezes. As autoridades informaram em um comunicado que “Sua libertação afetaria de maneira importante o respeito pela lei e tenderia a banalizar a trágica perda humana causada como resultado de um crime atroz, não provocado, violento, frio e calculado”. A próxima audiência está marcada para agosto de 2016. Chapman, naquela época, então com 25 anos, era um jovem desequilibrado que recorria frequentemente a 50 / Revista Keyboard Brasil
drogas. Citou o romance O Apanhador no Campo de Centeio, de J.D. Salinger, como inspiração para o crime. O livro trata da história de um adolescente revoltado. O assassino dizia identificar-se com o protagonista do livro, que odiava a falsidade, e desferiu cinco tiros acertando quatro nas costas de Lennon. Sabe-se que tinha uma relação de fascínio/ódio com Lennon. Se, por um lado gostava da sua música, que lhe tinha servido de inspiração para a vida, por outro criticava publicamente o estilo de vida luxuoso de Lennon, tal como os seus comentários religiosos – lembre-se que Lennon comparou a fama dos Beatles à de Jesus e dissera mais de uma vez que Deus não existia. Entretanto, por diversas vezes, Chapman informou que matou o exBeatle porque este era o alvo mais fácil do que outros que ele teria em mente, como o apresentador de televisão Johnny Carson e a atriz Elizabeth Taylor.
Lançamento
MARÉ MARIA
A mistura de estilos musicais que deu certo!
NA ESTRADA HÁ 15 ANOS, A BANDA MUSIQUINS APRESENTA SEU ATUAL TRABALHO, FIEL À MISTURA DE ESTILOS MUSICAIS COMO SAMBA, BOSSA NOVA, ELETRÔNICA, ROCK E MÚSICA CUBANA.
A
banda Musiquins – um dos sons musicais mais influentes e nada original do cenário Pop/ MPB, há 15 anos vem demonstrando uma fértil parceria dentro do rico universo musical brasileiro através dos músicos Pablito Morales e Delmo Biuford. Acompanhando a dupla Delmo Biuford (vocais) e Pablito Morales (gui52 / Revista Keyboard Brasil
* Da Redação
tarra), estão os músicos: Odair Marcelo (bateria), Daniel Kid Ribeiro (baixo), Raphael Carvalho (teclados e programações) e Jeferson Torres (guitar solo). A Trupe conta ainda com as participações de um grande elenco de cantores: Ozias Stafuzza, Rose Santana e demais convidados!
Fotos: Divulgação
Pablito Morales: Guitarrista e compositor da maioria das inovadoras músicas do grupo. Possui um estilo nada convencional de compor músicas sofisticadas. Utiliza melodias complexas e cuidadosamente planejadas. Um grande entusiasta e observador das misturas de músicas Afro-latina, Erudita, hip-hop, bossa nova, jazz, house dance, entre outras tendências e invencionices. Delmo Biuford: Cantor, poeta, escritor, letrista e também compositor do grupo. Suas criações melódicas apresentam forte influência de ritmos do tipo bossa nova, samba, pop e nordestinos. Audiófilo, possui fortes influências internacionais. Utilizando letras com temas sensíveis que nos transportam para outros mundos, destacando-se em suas letras p o é t i c a s , ve r s o s e l a b o r a d o s c o m a l t a s d o s e s d e l i r i s m o .
O CD Maria Maré O CD Maria Maré apresenta letras com mensagens otimistas, carregadas por uma atmosfera melancólica e sedutora ressaltando em algumas baladas, a sempre fiel mistura de samba, rock e música cubana que o grupo tem mostrados em suas apresentações. Nesta viagem musical, percorrendo a Bahia até a Floresta Amazônica, estão os temas como “Bahia Bahia” e “Grão do Pará”, onde a trupe resgata os principais aspectos rítmicos do Axé music com elementos linguísticos e religiosos da cultura africana. Se uma parte de nós é multidão, a outra parte descreve estranheza e solidão, descritas nas músicas “Inútil Sol” e “Prá Semana que Vem”.
Ficha Técnica: Wagner Passos – Piano e teclados Igor Thomas – Flauta e sax alto Antonio Galba – Violino e Bandolim Silvio Tomaz – Bateria e Percussão Tiago André – 7 Cordas e Banjo Roberto Gava – Baixo e Guitarra Marinho Pereira – Cellos Paulo Muniz Kannecc – Piano elétrico Vocais: Rose Santana Cristina Pini Roselita de Jesus Ana Lee Mario Montaut Cássio Gava Saiba mais sobre o duo Musiquins:
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Revolução Musical
Michel Huygen e o neuronium
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CONSIDERADO UM DOS MELHORES COMPOSITORES DA EUROPA E NA ESTRADA HÁ QUASE 40 ANOS GARANTINDO A MESMA VERVE E VITALIDADE DE SEMPRE, O IDEALIZADOR DA BANDA PROGRESSIVA ELETRÔNICA NEURONIUN – DE GRANDE POPULARIDADE E PRESTÍGIO – MICHEL HUYGEN É O GRANDE PRESENTE DE NATAL DO COLABORADOR AMYR CANTUSIO JR. PARA OS LEITORES DA REVISTA KEYBOARD BRASIL !!! * Por Amyr Cantusio Jr.
Revista Keyboard Brasil / 55
A história (1977-2015)
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e origem belga mas que adotou a Espanha para viver há muitos anos, o músico e compositor MICHEL
HUYGEN é o idealizador do termo
psychotronic para definir a música que criou há quase 40 anos através de seu g r u p o p r o g r e s s i vo e l e t r ô n i c o , o NEURONlUM (no ano de 1976) registrando, no ano seguinte, para o selo Inglês EMI, seu primeiro álbum, intitulado QUASAR 2C361, considerado também o primeiro disco de música cósmica já registrado na Espanha. O grupo então era formado por Michel Huygen, Carlos Guirao e Albert Jiménez. Em 1978, Neuronium gravou seu segundo álbum VUELO QUIMlCO, com a participação extraordinária de NlCO, exvocalista da banda LOU REED's, THE VELVET UNDERGROUND. Em março de 1981, o grupo viajou pela primeira vez a Londres, a convite do VANGELlS, a fim de realizar juntos a música composta por Michel Huygen, para um show, filmado pela Televisão Espanhola para o seu programa Musical Express. O resultado foi realmente incrível! Uma simbiose total entre ambos os estilos e sons. A linha musical básica do Neuronium nos anos 70 transitava entre o Rock Progressivo Experimental que o Aphrodite Child fazia e entre algo do Tangerine Dream e Kraut Rock.
56 / Revista Keyboard Brasil
Enquanto eram um grupo, soavam mais progressivos, com uma instrumentação mais variada calcada no rock experimental. A partir dos álbuns solos (vide Huygen Solos) o som ficou totalmente eletrônico, new age e cósmico. Focado em ampla gama de sintetizadores eletrônicos (incluindo grandes modulares) Huygen vai para o estilo similar ao Jean Michel Jarre, Tangerine Dream, Klaus Schulze, Kitaro, entre outros. Trabalhos complexos, místicos e densos, altamente indicado para pessoas com sensibilidade espiritual e psíquica. No Brasil, a partir de 2000, foram
lançados alguns CDS belos pela Azul Records (Hydro é um indicado), dentro daquela denominação “New Age” que é abominada por muitos músicos que fazem música com synths e teclados. Eu considero válido já que o termo vem de segmentação europeia do início do século XX, baseado nos trabalhos esotéricos do Mestre G.Gurdjieff. Daí a ampla gama de músicas viajantes, longas, hipnóticas (principalmente no Kraut Rock de Berlim) seguiram esta denominação que foi ponto alto nos anos 80 com Kitaro, Deuter, Aeolliah, Iesus, entre outros grandes músicos underground.
Carlos Guirao, Michel Huygen e Albert Jiménez.
Revista Keyboard Brasil / 57
Discografia oficial
(1997): Psykya (Neuronium) (1999): Ultracosmos (Huygen)
(1977): Quasar 2C361 (Neuronium)
(1999): Alienikon (Neuronium)
(1978): Vuelo Quimico (Neuronium)
(2000): Directo al Corazón (Huygen)
(1980): Digital Dream (Neuronium)
(2001): Hydro (Neuronium)
(1981): The Visitor (Neuronium)
(2002): Placebo (Huygen)
(1982): Chromium Echoes (Neuronium)
(2002): Azizi ( Neuronium)
(1982): Absence of Reality (Huygen)
(2005): Mystykatea (Neuronium)
(1983): Invisible Views (Neuronium)
(2006): Synapsia (Neuronium)
(1984): Heritage (Neuronium)
(2006): Angkor - Extreme Meditation. Vol.1 (Huygen)
(1984): Capturing holograms (Huygen) (1986): Barcelona 1992 (Huygen) (1987): Supranatural (Neuronium) (1988): From Madrid to Heaven (ao vivo) (Neuronium) (1989): Elixir (Huygen) (1990): Olim (Neuronium) (1990): Numerica (Neuronium) (1990): Intimo (Huygen) (1991): Extrisimo (Neuronium, incluindo faixas de trabalhos solo de Huygen) (1991): Sybaris (Neuronium) (1992): En busca del misterio (Huygen) (1993): Oniria (Neuronium) (1994): Infinito (Huygen) (1995): Música para la buena mesa (Huygen) (coleção de faixas de outros álbuns do Neuronium e de Michel Huygen) (1995): Sonar (live) (Neuronium) (1995): Astralia (Huygen)
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(2007): Irawadi - Extreme Meditation. Vol.2 (Huygen) (2008): Nihilophobia (Neuronium) (2010): Etykagnostyka (Neuronium) (2010): Hydro 2. The Deep End (Neuronium) (2010): Krung Thep - Extreme Meditation Vol.3 (Huygen) (2012): Exosomnia (Neuronium)
EXTRAS (1987): Alma (Neuronium) (remixes) (1993): A SEPARATE AFFAIR- In London (Neuronium); (gravado em 1981 com Vangelis) (1998): Oniria Neuromance (CDR) (2003): LSD (Cybernium) (em colaboração com Pascal Languirandd do Trans-X) (2004): Sensorial (Huygen) (2005): Chilled Drive
Michel Huygen é o idealizador do termo psychotronic para definir a música que criou há quase 40 anos através de seu grupo progressivo eletrônico, o NEURONlUM
Entrevista Revista Keyboard Brasil: Para ir direto ao ponto, quais são suas influências musicais, sua formação? Cite grupos, músicos, discos, seus estudos e preferências musicais. Michel Huygen: Minhas influências reais começaram em 1974 com Tangerine Dream e seus álbuns Rubycon e Phaedra. Mas Timewind, de Klaus Schulze foi realmente o começo para mim. Eu estava compondo em minha casa muita música cósmica, ritualística e, então, eu ouvia esses três álbuns. Aí eu soube que minha música não era esquisita e eu decidi seguir em frente com o meu projeto que eu chamei Neuronium. Sobre meus estudos musicais, minha formação, eu comecei de maneira normal. Porém, dois anos depois, eu estava me sentindo absolu-
tamente “congelado” pelo sistema clássico de 'ensino' e então, eu decidi continuar da minha própria maneira, como Vangelis e Kitaro fizeram, ambos meus amigos mais tarde. Com Vangelis tudo começou porque um programa de televisão espanhol estava fazendo um especial de duas horas sobre a música eletrônica cósmica através de minhas composições, e Vangelis me convidou para ir ao seu Estúdio Nemo, em Londres para tocarmos juntos e gravar um show especial para TV. Nós fizemos isso e, mais tarde, a música foi lançada em um álbum chamado In London. Voltei muitas vezes a Londres e, como amigos, tivemos muitas reuniões em sua casa e muitas refeições engraçadas também. Para o mesmo programa na TV espaRevista Keyboard Brasil / 59
nhola, eu convidei Klaus Schulze pessoalmente e, assim, nos tornamos amigos também. Revista Keyboard Brasil: Qual é a sua atual formação universitária? Michel Huygen: Me formei em medicina pela Medicine Unversity of Barcelone. Tenho diploma de paramédico e trabalhei durante 11 anos no serviço de emergência de um hospital famoso em Barcelona. Contudo, já estava dando meus primeiros passos importantes na música. Então, deixei o campo da medicina em 1986 para me dedicar exclusivamente à minha jornada musical! Revista Keyboard Brasil: Qual é a sua visão espiritual sobre a vida, a morte, em que você acredita? Vida após a morte? Seres alienígenas? Demônios e anjos? Deus existe? Michel Huygen: Minha busca espiritual pessoal na vida é realmente baseado em fenômenos paranormais e nada baseado em religiões, que eu respeito profundamente, mas, pessoalmente, eu não acredito em qualquer tipo de Deus. Eu acho que é uma invenção pura da humanidade para tentar explicar o que não podemos explicar... Se não for através de contos de fadas. Por esta razão, eu lancei álbuns como MYSTYKATEA (você pode ser muito profundo em seus pensamentos e em seu estilo de vida, mas ateu) e, mais tarde, ETYKAGNOSTYKA (você pode ser ético na vida sem acreditar em qualquer tipo de ser superior ou Deus). Eu sou ateu e agnóstico também. 60 / Revista Keyboard Brasil
Vangelis, Carlos Guirao e Michel Huygen, no Nemo Studio.
Revista Keyboard Brasil / 61
Então, eu não acredito em qualquer tipo de deus e nem estou interessado em saber se existe um Deus ou não. Eu acredito em alienígenas e estes devem ser os verdadeiros deuses para mim se um dia eles realmente aparecerem na Terra em uma reunião oficial! RKB: Cite 5 livros especiais e autores que fizeram e fazem a sua cabeça!! MH: Eu estava realmente impressionado com um livro quando eu era jovem, FLASH era o título e foi a história, a história real de um homem que decidiu acabar com sua vida tentando todos os tipos de substâncias psicodélicas. Eu provei diferentes tipos de LSD em tempos distintos que abriram minha cabeça para uma atividade cerebral incrível. Isso aconteceu quando eu tinha 21-22 anos de idade e isso nunca mais aconteceu, uma vez que eu também nunca mais voltei a usar qualquer tipo de substância nem drogas. Nunca! Todos os outros livros foram escritos por Eric Von Däniken como, por exemplo, livros de investigações arqueológicas, porque é uma das minhas paixões também (conhecer o máximo possível sobre o nosso passado real, nossas civilizações passadas reais e criações). RKB: Qual o equipamento usado para gravar? Teclados? Computador? Forma? Conteúdo? Que tipo de som que você prefere, independentemente do que gosta? Como escreve suas músicas? MH: Eu tenho usado durante anos gravadores digitais, mas agora utilizo exclusivamente computadores , sinteti62 / Revista Keyboard Brasil
zadores e o software X PRO LOGIC incrível, e centenas de plugins. Eu uso hardwares reais como Moog, Memotron, sequenciadores de diferentes marcas e possibilidades, mas eu gosto de criar meus próprios sons. Eu também usei a Coleção Arturia V extremamente poderosa e bem feita e a coleção completa da Native Instruments uma vez que ambos são incrivelmente grandiosos. Minha marca favorita de Reverber é, sem qualquer dúvida, Eventide mas, em termos de amostragem, o meu grande favorito é o software criado por Eduardo Tarilonte, como Cantus, Shevannai, Era II, Mystica, etc ... Eduardo é o melhor criador de sofisticados softwares vocais. Graças a essa minha descoberta, também me tornei amigo de Eduardo desde que nos conhecemos na Califórnia, na convenção da NAMM. Eu também gosto do programa EastWest Symphonic coros. Você pode escrever as letras e os coros do seu teclado 'cantam' perfeitamente seu texto! Todas as músicas gravadas em meus 41 álbuns lançados são 100% composições minhas. Compus até agora, 487 peças diferentes de música, todas, obviamente, com os direitos autorais protegidos através da Sociedade Espanhola de compositores onde eu sou um membro, é claro. Atualmente, estou mixando meu álbum 42º chamado JAMAIS VU, recheado de sons e sequenciadores do Mellotron. Provavelmente, o mais cósmico do meu estilo excêntrico, o meu tão sonhado álbum em décadas e que deverá ser lançado em janeiro de 2016.
Michel Huygen em 2013 no Ambient Festival, em Gorlice (Polônia).
RKB: Quantos álbuns você tem gravado ao todo e quando (o ano) data o seu primeiro trabalho? MH: Tenho lançados 42 álbuns (incluindo este novo trabalho), mas eu também lancei álbuns em parceria com outros músicos como Vangelis, Tangerine Dream, Mark Shreeve, Enya, Mike Oldfield, etc e etc ... Meu primeiro álbum como Neuronium foi lançado em 1977: QUASAR 2C361, e foi lançado no mundo inteiro pelo selo Harvest, da Emi Music, o mesmo selo do Pink Floyd e do Deep Purple. Depois, o segundo, VUELO QUÍMICO foi lançado por este mesmo selo e teve a colaboração de NICO, famoso membro da banda Velvet Underground, de Lou Reed. DIGITAL DREAM, o terceiro álbum do Neuronium, foi lançado em 1979 pelo meu próprio selo o Neuronium Records. Agora, todos eles estão sob o domínio do meu selo. No Brasil, minha música foi lançada por um selo legal da cidade de São Paulo, chamado New Age
Music, através da gravadora do Aurio Corra (Azul Records). Eu vim para o Brasil em turnê promocional no ano de 1998. RKB: Finalizando, obrigado por ceder uns minutos de seu tempo para nossa entrevista e quais seus projetos futuros? MH: Para 2016 vocês verão provavelmente a maior conquista da minha carreira, algo realmente muito grande, com um grande impacto para mim em termos de coisas positivas e, também, uma audiência enorme a nível mundial... Por enquanto, eu não posso 'revelar' essas notícias, mas fiquem atentos leitores da Revista keyboard Brasil, através de Amyr Cantusio Jr. para o próximo ano de 2016! Notícias acerca de dois diferentes e fantásticos projetos!!! Obrigado pela honra e pelo prazer da entrevista !!! Saiba mais sobre Michel Huygen:
*Amyr Cantusio Jr. é músico (piano, teclados e sintetizadores) compositor, produtor, arranjador, programador de sintetizadores, teósofo, psicanalista ambiental, historiador de música formado pela extensão universitária da Unicamp e colaborador da Revista Keyboard Brasil. Revista Keyboard Brasil / 63
A vista do meu ponto
A “BRIGA” ENTRE O PIANO ACUSTICO ´ E O DIGITAL AO CONTRÁRIO DE OUTROS INSTRUMENTOS DE CORDA, OU MESMO DE BONS VINHOS, UM PIANO NÃO GANHA EM QUALIDADE COM O PASSAR DO TEMPO. * Por Luiz Carlos Rigo Uhlik
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P
eguei você, heim? Duvido que você tinha este tipo de
informação. Começo minha matéria argumentando o óbvio, e que, infelizmente, não acontece no Brasil. Piano bom é piano novo. O resto é piano morto. Cada vez que escuto um “tecladista” comentar sobre a qualidade do som de piano do seu teclado, ou Piano Digital, fico me perguntado: que referência “pianística” ele tem para dizer que este, ou aquele piano, é o melhor? Portanto, um Piano Digital só vai ter qualidade, realmente, se você souber diferenciar o som de um bom Piano Acústico.
UMA COISA NÃO EXISTE SEM A OUTRA Mas, vamos lá: na verdade não existe uma “briga” entre Piano Digital e Acústico. Se pudesse escolher, ficaria com os dois. Ambos tem características fantásticas, que só ampliam o potencial de inspiração e música. Aliás, não é isso que interessa? Revista Keyboard Brasil / 65
Entretanto, há evidências que fazem do Piano Digital uma excelente opção para quem quer estudar piano e teclas sem o investimento portentoso que existe na aquisição de um bom Piano Acústico. Se você puder estudar piano, entender os elementos melodia, harmonia e ritmo, certamente o resultado será fantástico num Piano Digital. Portanto, a “briga” já tem um vencedor: a Música!
O PIANO DIGITAL, HOJE, TEM CARACTERÍSTICAS INSUPERÁVEIS Existem modelos com preço extremamente atraente, tem a sensibilidade das teclas e o comportamento sonoro dos bons pianos acústicos, tem som de piano muitas vezes melhor que a maioria dos acústicos que você encontra em escolas e instituições musicais, são leves, fáceis de transportar, tem especificações técnicas que ajudam no desenvolvimento da habilidade musical, tem a facilidade da utilização do fone de ouvido, não desafinam, você pode gravar as suas performances, e por aí vai. Se mencionarmos, então, os Pianos Digitais, com características de Teclado Arranjador, ficaríamos páginas e páginas detalhando as maravilhas destes Instrumentos. Já o Piano Acústico é o bom e velho piano de sempre: um investimento razoável que revela, digamos assim, a magia da música.
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Se você entrar num ambiente qualquer e se deparar com um piano, naturalmente você percebe a energia e a vibração da música no local. Isso é fantástico e basicamente só o piano consegue essa proeza. O Piano Acústico reúne a energia, a vibração e o encanto do som original, produzido aí mesmo, na ação das suas mãos, teclas, martelos, cordas, tábua de ressonância, feltro, ferro, couro, madeira, tudo. A física, a química, a sensibilidade, a alma, fazem do Piano Acústico o sonho de todo pianista. A boa notícia é que existem empresas que já conseguem produzir pianos acústicos com qualidade e tecnologia dos pianos digitais. Além da vibração e da energia do piano, você tem as facilidades que as modernas tecnologias podem oferecer: fone de ouvido, gravação MIDI e de áudio, acesso aos diferentes sons e vozes, sistemas de amplificação, conexão com a internet e um sem número de artimanhas do mundo da informática. Vou reforçar: quem tem condições financeiras deveria, como obrigação, ter um Piano Acústico e um Piano Digital dentro de casa. Vou mais além: os pianistas eruditos deveriam ter um Piano Digital Portátil como parte da sua bagagem. No hotel, no camarim, este é o meio mais fácil de “aquecer os dedos” e não ter o inconveniente de que as outras pessoas possam “participar” dos seus estudos.
Veja que maravilha as características do Piano Digital: barato, fácil de transportar, grande poder de revenda, você pode, com o fone de ouvido, estudar sem atrapalhar as outras pessoas, não precisa de afinador e é o show na hora das performances. Resumindo: venha para o Mundo do Piano; venha para o Mundo da Música. Quer com o Piano Acústico, quer com o Digital, ou mesmo, os dois, as vantagens são fantásticas. Reserve um momento, só seu, para desfrutar das maravilhas que só a Música pode proporcionar. Os “pianistas” vão ficar loucos; os “pianeiros”, mais ainda... Avante!
André Luiz
E PARA O INICIANTE, ENTÃO?
*Amante da música desde o dia da sua concepção, no ano de 1961, Luiz Carlos Rigo Uhlik é especialista de produtos e Consultor em Trade Marketing da Yamaha do Brasil.
http://www.jazzsinfonica.org.br/ Revista Keyboard Brasil / 67
Sobre os Sons
THE
POWER
OF
LOVE
ÁLBUM DE ESTREIA QUE FIRMA LUCIANO LEÃES COMO PROTAGONISTA NO CENÁRIO DO BLUES NACIONAL! EM SEU PRIMEIRO TRABALHO AUTORAL, LUCIANO LEÃES MOSTRA QUE NÃO É NECESSÁRIO SER NEGRO OU BRANCO PARA FAZER BLUES. E, MUITO MENOS, TER NASCIDO NO SUL DOS ESTADOS UNIDOS. * Por Márcio Grings
J
á ouvi muitos discos atestados com selo de qualidade soando ilegítimos como uma fraude.
Pense numa garrafa de bourbon cheia de chá preto… Não serve para nada. A cor até engana a torcida, mas quando a luz bate no vidro ou o sabor é colocado à prova, não resta dúvidas. No entanto, grande parte da humanidade necessita apenas de rótulos bonitos. Não é o caso de “The Power of Love”, disco de estreia do pianista
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gaúcho Luciano Leães, pois nos basta apenas um breve vislumbre, para termos a certeza de que o conteúdo faz jus a embalagem. “Gosto de imaginar que o mundo todo é uma coisa só”, diz o músico. Afinal, o blues do século XXI é uma pátria sem bandeira. Tentar cerceá-lo ou limitá-lo a um território específico é tão inútil quanto colocar arame farpado numa fronteira invisível. Buddy Guy sabiamente nos relembra: “Não é necessário ser negro ou branco para
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New Orleans sempre foi o paraíso para mim e a maior influência na minha forma de tocar!
Foto: Zé Carlos de Andrade
Luciano Leães
Revista Keyboard Brasil / 69
fazer blues”. E nem ter nascido no sul dos Estados Unidos... Depois de duas décadas gravando e se apresentando como sideman de diversos nomes de peso da música nacional e internacional, Leães desvela seu primeiro trabalho autoral. E todas as onze canções do álbum são assinadas por ele. A première aconteceu dia 3 de
dezembro, no Centro Histórico-Cultural Santa Casa, em Porto Alegre, onde Leães tocou ao lado dos Big Chiefs, mesma banda que o acompanha no álbum: Edu Meirelles (baixo); Alexandre Loureiro (bateria) e Gabriel Guedes (guitarra). A arte da capa e encarte é de Mônica Kelly, artista sintonizada com a cena de New Orleans.
Colaborações de peso Leães co-produziu “Power of Love” ao lado de Paulo Arcari (que também fez a mixagem), com finalização e masterização em Nashville, Tennessee (EUA), por Russ Ragsdale. O engenheiro de som e produtor norte-americano leva no currículo colaborações com Michael Jackson, Muddy Waters, Leon Russell, Edgar Winter, Travelling Wilburys, entre outros. “A dedicação e o comprometimento do Russ foram surpreendentes”, fala Luciano. E Ragsdale não poupa elogios ao trabalho de estreia do bluesman brasileiro: “Esse é um álbum que definitivamente as pessoas vão continuar falando nos próximos anos. A autoridade e o domínio de Leães nas teclas, o modo como expressa e busca as influências de seus artistas prediletos, abduz o passado para uma perspectiva atual. Ouvir as 11 canções de 'The Power of Love' é como cair no buraco do coelho de 'Alice no País das Maravilhas' e ter uma incrível experiência com imagens multissensoriais”, diz o produtor. Entre as participações, Ron Levy, pianista e organista de B.B. King nos anos 1970; a guitarra do músico gaúcho Solon 70 / Revista Keyboard Brasil
Fishbone; a atual sensação do blues tupiniquim, o guitarrista Igor Prado; a gaita de boca de Gaspo Harmônica; além dos norte-americanos Rex Gregory (Clarinete), Ben Polcer (trompete) e John Ramm (trombone), trio de sopros capitaneado por Matt Aguiluz, engenheiro de som da Preservation Hall, e proprietário do Marigny Studios, em Nova Orleans.
Mônica Kelly: Artista idealizadora da capa e do encarte.
Foto: Doni Maciel
Luciano Leães e os Big Chiefs: banda que o acompanha no álbum: Edu Meirelles (baixo); Alexandre Loureiro (bateria) e Gabriel Guedes (guitarra).
O éden de Leães
“New Orleans sempre foi o paraíso pra mim e a maior influência na minha forma de tocar”, afirma o músico. Entre abril e maio de 2014, Leães fez um tour pela cidade. Por lá, passeou pelas mesmas vielas que alguns de seus heróis um dia gastaram a sola dos sapatos. Assistiu apresentações, sentiu o cheiro de mofo dos antigos papéis de parede nos quartos de hotel, apreciou a francesia decadente das casas e edificações, tocou na rua como se fosse um músico local, conheceu pessoas, se impregnou e imergiu de corpo e alma na cultura local. Sem pressa, teve suas epifanias e revelações.
E toda essa imersão pelo Éden do gênero, norteou parte do processo de composição e gravação de “The Power of Love”. “Esse disco não apenas representa o que sou agora, ele também revela boa parte da minha vida como músico”. E como estudioso do gênero, Luciano ainda buscou aperfeiçoamento na língua inglesa: “Não fiquei pirando em soar como um nativo dos Estados Unidos, mas achei importante ser bem entendido”. As pronúncias tiveram a afinação da professora norte-americana Maureen Turnbull Arbelo e da musicista Myla Hardie.
Revista Keyboard Brasil / 71
Aula de Piano Blues
“Luciano é um pianista e organista que conhece como poucos a linguagem do blues e principalmente a sonoridade de New Orleans. Além do talento nato, ele ainda é um pesquisador incansável. O resultado disso não poderia ser outro: música de altíssima qualidade”, disse Solon Fishbone, guitarrista em “The Best of Me”, uma das melhores faixas do disco, que também conta com o Hammond de Ron Levy. “Aprendi a tocar piano ouvindo blues, então é quase impossível não sofrer influência e não utilizar esse influxo em qualquer tipo de música que eu faça”, nos avisa o protagonista. E apesar do disco contar com nomes de peso, quem realmente brilha durante a audição é o próprio Leães.
Luciano Leães: “Aprendi a tocar piano ouvindo blues, então é quase impossível não sofrer influência e não utilizar esse influxo em qualquer tipo de música que eu faça”.
Liberdade musical Faixas como o blues arrasa quarteirão ”Sinner, not a Saint” confirmam a sensação de revisitação ao passado. A mixagem também reforça a identidade com o vernáculo do gênero:”Utilizamos algumas trucagens velhacas de mixes, sacadas utilizadas nos antigos discos da Staxx, por exemplo”, reforça o artista. Esse espelhamento pode ser facilmente entendido em temas como “Fight the Power” (autêntica canção/vodu vinda direto dos pântanos da Louisiana, com vocais de apoio bruxuleantes de Luana Pacheco); “Life's a
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Game” (puro dixieland); “Song for JB” (homenagem a lenda do piano blues James Booker); “Take Me to the Top” (ecos de rock'a'billy com a marca do guitarrista Igor Prado) e “Blackout Party” (típico blues com o gingado sulista acentuado na gaita de Gaspo Harmônica). Quem também ouviu “The Power of Love”, foi Bob Lohr, pianista que já atuou em gravações e turnês com Billy Boy Arnold e Chuck Berry: “Luciano é um dos mais surpreendentes músicos que se arriscam no rhythm & blues e teclados ao estilo de New Orleans”.
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Como é engrandecedor saber que em nosso país existem músicos do naipe de Luciano Leães! Trabalho excelente, com arranjos marcantes e bem estruturados e um piano Blue maravilhosamente tocado!
– Maestro Marcelo Fagundes (maestro, arranjador, compositor, pesquisador, escritor, professor e editor da Revista Keyboard Brasil)
Fiquei muito impressionado com o material que recebi do trabalho do músico Luciano Leães. O que se percebe é sua total empatia com o estilo do Blues, estilo este ainda pouco conhecido por aqui. Sua energia fica bem clara quando nos deparamos com o vigor de suas execuções. Sei que o Blues não bem a linguagem com a qual me expresso mais facilmente, mas pude constatar uma excel e n t e e s t ru t u ra e m s u a c o m p o s i ç ã o Song for J. B. Obra excelente e de uma excelente porta de entrada para esta arte.
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Foto: Dedstudio Arqdesign
– Maestro Osvaldo Colarusso (maestro premiado pela APCA, professor, produtor, apresentador, blogueiro e colaborador da Revista Keyboard Brasil)
*Márcio Grings é programador na radio web OnTheRocks, músico e colunista dojornal A Razão. Revista Keyboard Brasil / 73
Ponto de Encontro
(da Música, Arte, Beleza, Educação, Cultura, Rigor, Prazer e Negócios)
N A Ç Ã O EMPREENDEDORA, EMPRESÁRIOS EMPREENDEDORES HÁ MUITOS ANOS COMENTO AS ESCOLHAS DAS SOCIEDADES. O CAMINHO DO FRACASSO OU O CAMINHO DO SUCESSO. NO PRESENTE TEXTO, DISSERTO SOBRE O QUE FAZ UMA SOCIEDADE PERCORRER O CAMINHO DO SUCESSO. ESSE CAMINHO DO SUCESSO PASSA SEMPRE PELA CONTRIBUIÇÃO DOS EMPRESÁRIOS. POR OUTRO LADO, A CAPACIDADE DE CONTRIBUIÇÃO DOS EMPRESÁRIOS PASSA TAMBÉM PELA CAPACIDADE DE CONTRIBUIÇÃO DOS SEUS COLABORADORES. CICLOS F É RT E I S A L I M E N TA N D O O CRESCIMENTO E A RIQUEZA. * Por Luiz Bersou 74 / Revista Keyboard Brasil
N
ação Empreendedora é o título de um livro escrito por Dan Senor e Saul Singer. Tive a oportunidade
de conhecer Saul Singer pessoalmente. O livro trata de como um povo, no caso o de Israel, constrói a capacidade de fazer com que seus cidadãos trabalhem em conjunto para chegar aos objetivos da sociedade e nesse contexto aos objetivos de cada um. Criação de “Centros de Conhecimento”. Nesse ambiente, quanta inovação, quantos prêmios científicos, quanta contribuição para a qualidade de vida, quanto resultado econômico! No contexto das nações que escolhem o caminho do sucesso ou o caminho do fracasso (Colapso – Jared Diamond - Prêmio Politzer), claramente escolheram o caminho do sucesso.
PAULO GUEDES
O sucesso do capitalismo não se deve ao capital. Ele se deve à capacidade de trabalho convergente dos diferentes atores em ambientes de liberdade, responsabilidade e segurança funcional. Não interessa o nome que se dê à causa desse sucesso tão temido e amaldiçoado por nossos governantes. Ele acontece e contribui para a melhora de qualidade de vida de todos. Há formação de riqueza e como decorrência, investimentos que beneficiam a todos.
Revista Keyboard Brasil / 75
UM CASO DE REFERÊNCIA Nos anos 90 desenvolvemos um projeto para a construção de uma planta de ácido acético e seus derivados na Índia, perto de Nova Delhi. Naquela época, a empresa que nos contratou faturava 500 milhões de dólares por ano. Passados 17 anos eles nos procuraram outra vez. Perguntei sobre o seu faturamento. Responderam: 5,5 bilhões de dólares. Elogiei o resultado. Responderam: não tem que elogiar, o que fizemos os outros também conseguiram. Notícias recentes nos mostram o sucesso da economia indiana. Estão crescendo mais do que a China, isso em um regime não autoritário e de planejamento central como é o chinês, referência para todo o bolivarianismo que está por aí.
CARACTERÍSTICAS DE NAÇÕES EMPREENDEDORAS Olhando não somente Israel, mas a Índia, os países bálticos, os países nórdicos, países que no passado foram os tigres asiáticos, na América Latina a Colômbia e o Paraguai, percebemos claramente uma verdade que cada vez se revela mais importante. Como disse Paulo Guedes, o sucesso do capitalismo
não se deve ao capital, se deve ao viés empreendedor daqueles que tem liberdade de pensamento, tem ideias e projetos. 76 / Revista Keyboard Brasil
Nesse ambiente de liberdade, ideias, múltiplas contribuições, projetos, aceitação do risco, baixos custos operacionais, a capacidade de cooperação na direção do pró ativo cria recursos, cria riquezas e constrói a qualidade de vida. Complementando, temos em todos esses países as evidências de como a educação faz a sociedade de capital evoluir para a sociedade de conhecimento e já no momento atual, evoluir para a sociedade da inteligência. Quando o Brasil vai entrar no ciclo das sociedades de inteligência?
CENTROS DE CONHECIMENTOS Em muitos dos casos de empreendedorismo ativo que pesquisamos, aparecem como pano de fundo os “Centros de Conhecimento”. São entidades que respeitam o conhecimento especializado determinante, revelam uma grande capacidade de trabalho em conjunto, mas que tem a capacidade de os complementar com diferentes visões e experiências profissionais. Em um projeto de gestão na Saúde que foi coordenado por nós durante um ano de trabalho, de 27 profissionais, 12 eram médicos. Os outros 15 eram todos de diferentes profissões. O projeto, por conta desse padrão de contribuição ganhou muitos valores importantes e diferenciadores.
O CENTRO DE CONHECIMENTO NAS EMPRESAS A partir da premissa de que a responsabilidade pelo resultado financeiro é de todos, não somente dos colaboradores do setor financeiro de uma empresa, iniciamos há mais de 20 anos uma caminhada de respostas muito interessantes. A consciência financeira é sempre fator determinante da evolução de maturidade de nossos colaboradores. A ação de todos os atores de uma empresa afeta resultado financeiro expresso pela melhoria de desempenho da estrutura de capital de giro – contas mutantes. Esse resultado se irradia em seguida para os diferentes desempenhos que acontecem na empresa, pois o planejamento da estrutura do capital de giro é o planejamento mãe de muitos planejamentos operacionais que afetam a resposta das empresas. Em mais de 90% dos casos conseguimos em pouco tempo construir um clima de consciência financeira nos colaboradores de nossos clientes, ambientados em torno de “Mesas de Sincronia”, envolvendo, a exemplo dos Centros de Conhecimento, diferentes conhecimentos que em muitos casos, por conta de um taylorismo prepotente, eram rejeitados. Mesas de sincronia foram implantadas nas mais diferentes empresas e o encontro produtivo entre diferentes profissionais começou a acontecer. Aquilo que começou com uma visão de sincronia
no capital de giro que é de responsabilidade de cada um, evoluiu de forma extremamente interessante. O ambiente positivo e consciente das Mesas de Sincronia fez dos seus participantes pesquisadores de novas ideias, novas soluções e novos resultados. A mesa de sincronia foi evoluindo para um centro de pesquisa e distribuição de conhecimento. O que de melhor pode acontecer em uma empresa que luta por resultados?
MODELOS DE ANÁLISE, CONDUÇÃO ESTRATÉGICA E CONDUÇÃO OPERACIONAL
Em trabalhos mais recentes confirmamos o que escrevemos e insistimos já há mais de 20 anos. Para a construção dos pilares do sucesso da empresa, é fundamento estabelecer a trajetória –Modelos de Análise – Modelos de Gestão – Dedução dos organogramas. O que temos percebidos é que nas empresas em que os Modelos de Análise, recursos de interpretação do que acontece com os negócios e o campo de valor que envolve todos os coparticipantes do resultado econômico, foram objeto de análises profundas, os fundamentos Visão e Missão se tornam muito mais consistentes e viram referencia das equipes que estão nas Mesas de Sincronia e Centros de Conhecimento. Esse estado gera autossuficiência, atitude e determinismo, pois o caminho a ser percorrido está delineado. Revista Keyboard Brasil / 77
BACKOFFICE, FRONTOFFICE E AGREGAÇÃO E VALOR A evolução das Mesas de Sincronia para Centros de Conhecimento promove mudanças importantes. O Brasil é o país do BackOffice, pois a mentalidade de controle herdada de nosso passado colonial analfabeto sempre se fez presente. Lembremos sempre que no caso brasileiro, o Estado nasceu antes da Sociedade, que cresceu em um ambiente passivo, obediente, sem atitudes voltadas para a liberdade de pensamento e proatividade. Os nossos empresários repetem esse modelo do passado e o que mais percebo nas empresas é a falta de atitude de tantos colaboradores, que navegam às cegas sem entenderem a razão do que fazem e onde há muito mais controle do que orientação. Muitos não percebem que centros de BackOffice são apenas recursos de segurança de uma empresa, não são recursos que promovem resultados. Os estragos são imensos tanto nos ambientes das empresas como nos ambientes de governo. O resultado que nos interessa é sempre produto da orientação e suporte à operação e não do controle dentro dos 78 / Revista Keyboard Brasil
padrões que costumam acontecer entre nós. Partindo do fundamento de que em qualquer empresa e qualquer governo é a gestão dos variáveis que interessa, que essa gestão está no FrontOffice, que é onde está o trabalho produtivo que agrega valor que envolve clientes e fornecedores integrados em sincronia com a empresa, percebemos rapidamente os benefícios que a conexão natural entre Mesas de Sincronia e os Modelos de Análise e Modelos de Gestão decorrentes da visão de FrontOffice proporcionam. Os benefícios líquidos desse entendimento passam hoje de centenas e centenas de milhões de reais.
Foto: Arquivo pessoal
A decorrência dessa situação se reflete na riqueza da contribuição de cada um e no estado de colaboração positiva que toma conta das equipes.
Luiz Bersou: os mais diversos e importantes assuntos com o intuito da reflexão!
* Atualmente dirigindo a BCA Consultoria, Luiz Bersou possui formação em engenharia naval, marketing e finanças. É escritor, palestrante, autor de teses, além de ser pianista e esportista. Participa ativamente em inúmeros projetos de engenharia, finanças, recuperação de empresas, lançamento de produtos no mercado, implantação de tecnologias e marcas no Brasil e no exterior.
Memรณria
80 / Revista Keyboard Brasil
O MESTRE DO HAMMOND B3
Jimmy Smith ÍDOLO ABSOLUTO DE ROQUEIROS COMO KEITH EMERSON, GREGG ALLMAN, BRIAN AUGER E VIRTUOSES DA NOVA GERAÇÃO COMO JOEY DE FRANCESCO, JIMMY SMITH (1925 – 2005) REVOLUCIONOU O JEITO DE TOCAR ÓRGÃO AO CRIAR NOVOS CONCEITOS RÍTMICOS, TÉCNICAS INÉDITAS DE USO DOS PEDAIS E FORMAS DE EXPRESSÃO AINDA NÃO OUVIDAS. * Por Maestro Marcelo Fagundes
Foto: Redferns – Getty Images.
S
Se estivesse vivo, o norteamericano e um dos criadores do Soul Jazz (influenciado pela música Gospel e pelo Blues), James Oscar Smith ou, simplesmente, Jimmy Smith completaria 90 anos. Frustrado por ser obrigado a tocar em pianos desafinados nos clubes em que era contratado, o então jovem pianista da Filadélfia Jimmy Smith passou a estudar os rudimentos do órgão aplicando seus conhecimentos como pianista de Jazz – a ideia de trocar o piano Jimmy Smith e o órgão Hammond B3 em apresentação no Reino Unido, em janeiro de 1964.
pelo órgão lhe ocorreu depois de ouvir Wild Bill Davis tocar em uma festa de casamento, Jimmy Smith achou que com um órgão Hammond, ele se veria livre dos pianos desafinados que tinha de enfrentar. Músico de formação completa estudou, além do piano, contrabaixo e harmonia. Suas maiores referências não vieram de organistas, mas do pianista Art Tatum e do saxofonista Charlie Parker. Jimmy Smith desejava tocar órgão com o toque do Bebop, Revista Keyboard Brasil / 81
O Hammond B3 foi um instrumento criado para ser tocado nas Igrejas pois era mais acessível do que os grandes órgãos tubulares.
coisa que nenhum organista havia feito até então (início da década de 1950), tornando sua meta primordial.
1956 - Impacto no Jazz A estreia de Jimmy Smith nos domínios do Jazz, utilizando o órgão, em 1956, foi um impacto tão grande que ele passou a ser comparado imediatamente ao guitarrista Charlie Christian, em termos do comando que um músico pode ter sobre seu instrumento. Com novos conceitos rítmicos, técnicas inéditas de uso dos pedais e formas de expressão ainda não ouvidas, Jimmy Smith revolucionou o jeito de tocar órgão. Smith foi o primeiro organista a usar os baixos como base para tocar órgão, provavelmente um reflexo de seu conhe82 / Revista Keyboard Brasil
cimento do contrabaixo de cordas acústico, bem antes de se aventurar a tocar órgão. Ele instituiu o fraseado bebop no instrumento, fragmentado, como Dizzy Gillespie fez no trompete. Smith foi, sobretudo, um músico versátil – gravou discos de Jazz, baladas, Blues e até várias peças para piano. Foi, também, um dos primeiros músicos de Jazz a mergulhar na música comercial – vários de seus discos no selo Verve, nos anos 60, tinham essa direção de “música feita para consumo”. Além disso, gravou discos com orquestras inteiras também, como em “Pedro e o Lobo”, de Prokofiev, com arranjos de Oliver Nelson. Ao longo da sua carreira Smith teve a maioria de seus trabalhos editados pelas mais consagradas editoras do meio jazzístico, como a Blue Note Records e a Verve Records, onde trabalhou com
C-Jam Blues MĂşsica: Duke Elington Arranjo: Marcelo Fagundes
* Solicite a partitura completa pelo email: contato@keybaord.art.br
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Para muitos, Les Strand foi o mais puro organista Bebop que já existiu.
músicos como Kenny Burrell, Lee Morgan, Lou Donaldson, Tina Brooks, Jackie McLean, Ike Quebec, Stanley Turrentine e o guitarrista Wes Montgomery. Os anos 70 e início dos 80 foram dedicados a várias turnês. A partir de 1995, Smith fez uma pausa em sua carreira, regressando apenas em 2001, com os trabalhos Fourmost Return e Dot Com Blues. Este último com as participações de Dr. John, Taj Mahal, Etta James, Keb'Mo' e B. B. King. O último trabalho de Jimmy Smith foi uma participação no álbum Legacy, ao lado do organista Joey DeFrancesco, em 2005, pouco antes de sua morte. Embora Jimmy Smith tenha sido a referência fundamental para uma legião de organistas da época de ouro do Organ Jazz, a recíproca não é verdadeira: Smith somente admitiu gostar de ouvir um único organista chamado Les Strand, a quem ele se referiu algumas vezes como “o Art Tatum do órgão”. *Marcelo Dantas Fagundes é músico, maestro, arranjador, compositor, pesquisador musical, escritor, professor, editor e membro da ABEMÚSICA (Associação Brasileira de Música). 84 / Revista Keyboard Brasil
Comemoração
Beethoven: 245 anos Do genio imortal O LEGADO DEIXADO POR BEETHOVEN É CONSIDERADO UM DIVISOR DE ÁGUAS NA HISTÓRIA MUSICAL EM TODO MUNDO. POR REPRESENTAR UMA TRANSIÇÃO ENTRE A MÚSICA DO SÉCULO XVIII, CLASSICISTA, E A DO SÉCULO XIX, ROMÂNTICA, CONSEGUIU CONSERVAR O RIGOR, O EQUILÍBRIO E A DISCIPLINA FORMAL. ACOMPANHE UMA PEQUENA HOMENAGEM DA REVISTA KEYBOARD BRASIL EM FORMA DE LINHA DO TEMPO. * Da Redação Casa de Beethoven em Bonn, Alemanha.
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17 de dezembro de 1770 – Nasce o gênio. Batizado na igreja de St Remigius, em Bonn, na Alemanha. Há quem diga que seu nascimento possa ter sido no dia anterior. 1778 – Primeira aparição pública. Seu pai anunciava em Colónia a idade do filho prodígio: seis anos, embora tivesse de fato, sete, provavelmente para estabelecer comparações favoráveis com outra criança prodígio: Mozart. 1780 – Passou a ter lições com Gottlob Neefe, que o descreveu: “Beethovem toca cravo muito habilmente e com poder. Esse gênio juvenil é merecedor de ajuda para capacitá-lo a viajar e certamente se tornará um segundo Wolfgang Amadeus Mozart se continuar como ele começou”. 1784 – É nomeado organista assistente da corte ao lado de Neefe.
1787 – Conhece Mozart. Beethoven alcança sua ambição de longa data ao viajar a Viena para se encontrar com Mozart. Pouco mais de dois meses e depois de ter impressionado Mozart que concorda em levá-lo como um aluno, Beethoven foi obrigado a voltar para Bonn, pois sua mãe estava morrendo. 1790 – Músicos se recusam a realizar a Cantata Death of Joseph II alegando ser impossível tocá-la. Neste mesmo ano, Haydn em seu caminho para Londres, conhece Beethoven que, impressionado, encorajando-o a ir para Viena como seu aluno. 1792 – Um mês antes de completar 22 anos, deixa Bonn rumo à Viena para estudar com Haydn. Em 18 de dezembro seu pai morre. 1793 – Começa suas aulas com Haydn. Beethoven participa de competições de improvisação ao piano, derrotando cada um dos competidores. Rapidamente estabelece sua reputação como o melhor virtuoso do piano em Viena. 1795 – Beethoven apresenta seu Trio Piano Sonatas para Haydn, que o desaconselha a publicar. Beethoven fica furioso, mas, inteligentemente dedica as Sonatas para Piano a seu professor e, assim é desfeito o mal entendido. 1797 – Beethoven contrai possivelmente tifo. Isso pode ter marcado o início de sua surdez. 1798 – Em uma explosão extraordinária de criatividade, Beethoven compõe inúmeras obras. 1800 – Beethoven derrota o célebre virtuoso do piano prussiano Daniel Steibelt em
um concurso de improvisação no palácio do príncipe Lobkowitz, e nunca mais foi convidado a participar desses concursos. Sua posição como o maior virtuoso do piano de Viena é seguro e permanece incontestada para o resto de sua vida. 1801 – Em uma longa carta a seu velho amigo Dr. Franz Wegeler em Bonn, Beethoven menciona pela primeira vez a sua surdez: “... Minha audição tornou-se pior nestes três últimos anos...” 1802 – Em 06 de outubro Beethoven escreve o Testamento Heiligenstadt, reconhecendo publicamente sua surdez pela primeira vez “... Oh, todas as pessoas que pensam ou dizem que eu sou hostil a você, ou que eu sou teimoso , ou que eu odeio a humanidade, você não percebe o mal que você me fazer ... Eu sou surdo ... ” 1825 – Já completamente surdo, Beethoven assistiu o ensaio de um grupo que executaria seu “Quarteto em Mi bemol maior op. 127”. Um dos violinistas, Joseph Böhm, disse que Beethoven “estava tão surdo que não podia ouvir o som celestial das suas próprias composições”. Porém, para o espanto de todos, Beethoven chamou a atenção do grupo para os menores erros de execução. “Seus olhos seguiam os arcos, e assim ele era capaz de notar as menores flutuações no tempo ou no ritmo, e corrigi-las na hora”, anotou Böhn. 1827 – Beethoven morreu em 26 de março. Naquele dia, as escolas de Viena foram fechadas. O compositor deixou um legado de 138 composições únicas e extraordinárias, além de outras 200 canções, cânones e danças.
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