Revista ANO 4 :: 2016 :: nº 30 ::
Brasil
:: Seu canal de comunicação com a boa música!
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Sintetizadores nas nuvens do Japão com
ISAO TOMITA
GILBERTO MENDES: O adeus ao pioneiro da música concreta no Brasil
BACHIANAS Nº 5: A difícil arte de se cantar em português!
REVOLUÇÃO MUSICAL: A atual batalha dos músicos com a extinção dos chamados mecenas
PROFISSÃO: O que é preciso para ser um músico profissional
E mais: Banda MØLDAR, Salomão Soares, Rodrigo Boechat e a banda Soulspell, Edgar Franco - o Ciberpajé e muito mais...
Espaço do Leitor Leiam a revista, é show! Áurea Regina Uhlik – via Facebook Bom demais compartilhar culturahammond! As novas gerações precisam conhecer os mestres para terem as referências certas da melhor música. (Referente à matéria escrita pelo maestro Marcelo Fagundes, na edição nº 29, sobre o mestre do Hammond B3, Jimmy Smith). Zé Osório – via Facebook A Acoustic Project se orgulha e parabeniza o pianista Samuel Quinto pela belíssima entrevista dada à Revista Keyboard Brasil! Confira a entrevista completa pelo link http://vp.virtualpaper.com.br/keyboard?e=3 5&l=1 Acoustic Project – via Facebook O Nosso presente de Natal chegou mais cedo na edição de dezembro da revista Keyboard Brasil! Grato à Heloísa Fagundes, da Editora Keyboard por sua dedicação e paciência em nossa matéria! Obrigado pela sua gentileza amor e boa vontade conosco! Um Feliz Natal à todos bjks. Cartomante Cartomante – via Facebook Excelente matéria sobre a briga entre o piano acústico e o digital, tema da coluna de Luiz Carlos Rigo Uhlik. Jefferson Gama – via Facebook Que alegria estar no "Perfil" da Revista Keyboard deste mês! Fica aqui meu agradecimento ao parceiro Mateus Schanoski! Tem matéria sobre o disco novo do Funk Como Le Gusta também... é só clicar! Eron Guarnieri – via Facebook Veja o melhor da informação, entretenimento, música e mais na Revista keyboard Brasil Pablito Morales – via Facebook
04 / Revista Keyboard Brasil
A matéria está fantástica! Recomendo a todos que leiam. (Referente à matéria de Luiz Carlos Rigo Uhlik sobre a briga entre o piano acústico e o digital.) Odùgbénró Fáwẹh ̀ ìnmi – via Facebook Vai aí a matéria que me enche de orgulho da Revista Keyboard sobre o disco The Power of Love. Texto do Márcio Grings com complementos do editorial da revista e críticas bastante positivas de dois maestros de São Paulo: Marcelo Fagundes e Osvaldo Colarusso. Música e preconceito, para mim, não combinam e acredito muito na liberdade criativa para fazermos aquilo que nos faz vibrar, sem muitas regras ou convenções. Ver a minha música tocando pessoas dos mais diversos estilos gostando e indo além do blues e da música de New Orleans me deixa muito feliz e me dá uma sensação boa de dever cumprido. No fim é apenas música. E isso já é o bastante! Segue o baile minha gente. Luciano Leães – via Facebook Retificação edição 29 matéria sobre Michel Huygen: Prezados, bom dia!!! Referente a excelente matéria que acabo de ler na edição 29 (de Amyr Cantusio Jr.) sobre o hispano-belga Michel Huygen, ressalto que os cds do referido músico foram lançados no Brasil pela gravadora Alquimusic, pertencente a Áureo Corrá. A gravadora Azul Music foi criada pelo também músico e produtor Corciolli. De qualquer modo, parabéns pelas edições. Att. Marcos Antonio – via email
Agradecemos a todos pelo carinho, pelas palavras e pedimos desculpas pela falha na matéria de Michel Huygen.
Salve 2016! O mês de janeiro costuma ser aquela época em que ainda não caiu bem a ficha de que um novo ano começou e muita gente fica em modo de economia de energia, aguardando o Carnaval chegar. Ou seja, como sempre, o ano começa quando o Carnaval termina. Só que nós não fazemos parte dessa turma que fica esperando as coisas acontecerem. Para nós, o ano já está correndo a todo o vapor e estamos em capacidade máxima de produção! Daí que, enquanto os outros estão pegando um bronze, nós estamos trabalhando como nunca para entregar um conteúdo que esperamos que faça a diferença na vida dos leitores ávidos por cultura. Para atingir esse propósito, como sempre, buscamos novidades. Por isso, quero anunciar nossa parceria com a equipe do tecladistas.com.br - um portal que busca conteúdos relevantes para os tecladistas, composto por um time de excelentes profissionais. Nesta edição, Amyr Cantusio Junior traz, além da excelente matéria de capa com Isao Tomita, grande tecladista japonês, uma entrevista com Edgar Franco, o ciberpajé do underground brasileiro! Daniel Baaran volta com sua coluna, dessa vez com um tema muito interessante e importante para quem deseja seguir a profissão de músico. Murilo Muraah nos traz a continuação das etapas para a produção musical. Luiz Carlos Rigo Uhlik nos traz o assunto polêmico da perpetuação da música. Maestro Colarusso discorre sobre a difícil arte de se cantar em português as Bachianas nº 5, de Villa Lobos. Mateus Schanoski traz o perfil de Salomão Soares, músico que está cada vez mais em evidência na cena musical paulistana. Luiz Bersou sempre enfocando além de nossa cultura, temas da atualidade de nosso país, dessa vez, nos faz pensar sobre a escolha certa para a recuperação de nossa economia. Patrícia Santos sempre tratando seus temas com
Expediente
Janeiro / 2016
Editorial
Heloísa Fagundes - Publisher
muito sentimento e sensibilidade, como nessa edição, sobre Hélenè Grimaud, pianista francesa das mais célebres do momento. Quero agradecer aos materiais recebidos para a divulgação em nossa publicação. Obrigada pela confiança! Também quero agradecer (porque agradecer NUNCA é de mais) a todos (equipe, colaboradores, parceiros, leitores, músicos) que nos fazem acreditar que estamos no caminho certo, mesmo remando contra a maré da mídia que ainda insiste em oferecer aos brasileiros, a má qualidade musical. Um viva para nós, sobreviventes desse Brasil! Boa leitura!
Revista
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Revista Keyboard Brasil é uma publicação mensal digital gratuita da Keyboard Editora Musical. Diretor: maestro Marcelo D. Fagundes / Editora: Heloísa C. G. Fagundes Caricaturas: André Luiz / Marketing e Publicidade: Keyboard Editora Musical Correspondências / Envio de material: Rua Rangel Pestana, 1044 - centro - Jundiaí / S.P. CEP: 13.201-000 / Central de Atendimento da Revista Keyboard Brasil: contato@keyboard.art.br As matérias desta edição podem ser utilizadas em outras mídias ou veículos desde que citada a fonte. Matérias assinadas não expressam obrigatoriamente a opinião da Keyboard Editora Musical. Revista Keyboard Brasil / 05
Índice
10
08 LANÇAMENTO: Banda MØLDAR lança CD Mostarda
26 HOMENAGEM: Gilberto Mendes - por Heloísa Godoy Fagundes
MATÉRIA DE CAPA: Isao Tomita - por Amyr Cantusio Jr
30
PERFIL: Salomão Soares, por Mateus Schanosky
22 APRENDA AGORA: As etapas de uma produção musical, parte 1 por Murilo Muraah
38
34
PONTO DE ENCONTRO: República, Oligarquia e Parlamentarismo - por Luiz Bersou
42
46
PROFISSÃO: O que é preciso para ser um músico profissional? - por Daniel Baaran
UNDERGROUND BRASILEIRO: Edgar Franco, o ciberpajé - por Amyr Cantusio Jr.
REVOLUÇÃO MUSICAL: Artistas sem mecenas - por Antonio Carlos da Fonseca Barbosa
DIVULGAÇÃO: Rodrigo Boechat e a Banda Soulspell
54 ENFOQUE: Bachianas Brasileiras nº 5 e a difícil arte de se cantar em português - por maestro Osvaldo Colarusso
66 TUTORIAL: Dicas do portal tecladistas.com
06 / Revista Keyboard Brasil
18
62 A VISTA DO MEU PONTO: Perpetuação da música - por Luiz Carlos Rigo Uhlik
68 MÚSICA DOS SENTIDOS: Hélène Grimaud, a mensageira da beleza! - por Patrícia Santos
Foto: Laura Loureiro
Lançamento
MØLDAR BANDA MØLDAR APRESENTA SEU PRIMEIRO TRABALHO INTITULADO ‘MOSTARDA’ Redação
P
roduzido por Raphael Mancini e lançado em novembro passado, Mostarda é o primeiro trabalho da
banda paulistana de rock alternativo MØLDAR, formada em 2013. Influenciados por bandas de estilos diferentes como Foo Fighters, Los Hermanos, The Classic Crime, Switchfoot, The Juliana Theory, entre outras, seus integrantes são: Gustaf Rosin (vocal e guitarra base), Ellen Lousada (guitarra solo), Bruno Dantte (baixo), Daniel Cavalcante (bateria) e Vitor Garcia (teclados). Para a escolha das
08 / Revista Keyboard Brasil
11 músicas do CD Mostarda, houve um longo processo de seleção do rico material guardado há tempos por Gustaf. O resultado é um trabalho bem diversificado no estilo, tendendo para o rock alternativo um pouco mais pop com letras cheias de melodias e arranjos. As gravações ocorreram no Lab Mancini, na cidade de São Paulo e no Estúdio Grave, em Boituva, interior do Estado. O resultado pode ser conferido através das diversas plataformas de streaming.
As teclas do MØLDAR ...
V
itor Garcia, 29 anos, toca piano
desde os 8. Estudou piano clássico e MPB/Jazz no Conservatório Dramático e Musical Dr. Carlos de Campos, em Tatuí (São Paulo). Apesar do estudo clássico sempre tocou outros estilos com improvisos e composições próprias em grupos e bandas locais. Iniciou a faculdade de Produção Fonográfica e atuou como arranjador com cantores do meio cristão. Atualmente, é tecladista e backing vocal na banda MØLDAR , participando da composição e harmonização de sons e timbres do álbum “Mostarda” lançado em novembro de 2015. Para a gravação do disco, Vitor utilizou teclados Roland Fantom X6 e Nord Stage 2 HA76. Utilizou sons de piano, rhodes, órgãos, pads e sintetizadores eletrônicos.
Saiba mais sobre a banda MØLDAR...
Revista Keyboard Brasil / 09
MatĂŠria de Capa
10 / Revista Keyboard Brasil
Sintetizadores nas Nuvens do Japão com
ISAO TOMITA PREMIADO TECLADISTA JAPONÊS NASCIDO EM TÓQUIO ISAO TOMITA, 83 ANOS,
É
CONSIDERADO UM DOS PIONEIROS DA MÚSICA ELETRÔNICA. * Por Amyr Cantusio Jr.
I
sao Tomita nasceu em Tóquio,
Olímpicos de Melbourne, na Austrália.
capital do Japão, em 1932. Teve
Ao longo dos quinze anos seguintes,
aulas particulares de composição, orquestração e teoria ao mesmo
Tomita consolidou sua reputação no Japão realizando trabalhos para a
tempo que compunha para orques-
NHK,
tras locais. Ao se formar, em 1955,
japonesa, se interessou por sinteti-
embarcou em uma carreira como
zadores e construiu seu estúdio
compositor para cinema, televisão e
caseiro. Tornou-se conhecido inter-
teatro. Um de seus primeiros
nacionalmente e até hoje mantém-se
trabalhos, “Wind Mills” foi aceito
na ativa.
rede nacional de televisão
pela Japan Federation of Choral Organizations como a canção a ser utilizada para todos os participantes na competição nacional de coral, além de escrever a música tema para a equipe de ginástica olímpica japonesa em 1956, para os Jogos
A descoberta dos sintetizadores... Isao Tomita viu um sintetizador pela primeira vez na contra-capa de um disco sobre Bach. Dessa maneira, descobriu que o sintetizaRevista Keyboard Brasil / 11
Wendy Carlos construiu sons líricos que antes ninguém imaginaria que poderiam sair de um sintetizador digital com o álbum Switched on Bach.
dor era um instrumento musical, e não só
com sintetizadores. A obra ganhou três
uma máquina obscura usada por
Grammys e sentindo-se claramente
professores em laboratórios para criar
impressionado com os detalhes e
aqueles sons robóticos esquisitos. O ano
musicalidade daquele virtuoso instru-
era 1977 e Tomita ficou impressionado
mento, Tomita converteu-se defini-
após ouvir Wendy Carlos e seu seminal sensibilização do público para o sintetiza-
tivamente à música eletrônica, deu início à construção de seu estúdio caseiro e adquiriu um moog III.
dor no ano de 1968. Wendy Carlos pegou
Seu primeiro álbum eletrônico foi
um sintetizador Moog, um instrumento
Switched on Rock (Electric Samurai),
desconhecido até então, e reconstruiu
lançado no Japão em 1972 e, nos Estados
eletronicamente os seis “Concertos de
Unidos, em 1974. O álbum teve destaque
Brandenburgo” de Johann Sebastian
nos sons eletrônicos contemporâneos do
Bach, ou seja, Wendy construiu sons
rock e pop, enquanto utilizou a síntese de
líricos que antes ninguém imaginaria que
voz (voz criada no sintetizador) em vez de
poderiam sair de um sintetizador digital.
uma voz humana. O músico passou a
Como resultado, Switched on Bach se
organizar peças impressionistas e de
transformou no primeiro álbum clássico a
Claude Debussy para sintetizador e, em
ganhar um disco de platina, tornando-se
1974, o álbum Snowflakes are Dancing foi
um dos clássicos “eletrônicos” mais
lançado; tornando-se um sucesso mun-
influentes de todos os tempos, quebrando
dial, sendo responsável por popularizar
as fronteiras entre música clássica e a feita
vários aspectos da programação do
Switched on Bach, registro este que trouxe a
12 / Revista Keyboard Brasil
instrumento. O conteúdo do álbum incluía ambiente, simulações realistas de cordas; uma tentativa antecipada para sintetizar o som de uma orquestra sinfônica; assobios e abstratos, bem como uma série de efeitos de processamento, incluindo reverberação, mudança de fase, flanging e modulação em anel. Versões quadrafônicas do álbum proporcionaram um efeito de áudio espacial usando quatro alto-falantes. Uma particularmente significativa conquista foi sua versão polifônica de som, criada antes da era de sintetizadores polifônicos. Tomita criou a polifonia do álbum (como Wendy Carlos tinha feito anteriormente) com o uso de gravação multitrack, registrando cada voz de um pedaço de cada vez, em uma faixa de fita separada, e, em seguida, misturou o resultado para estéreo ou quadrafônico. Demorou 14 meses para essa produção. Com o LP Snowflakes are Dancing, Tomita recebeu o prêmio da National Association of Record Merchandisers (NARM) como melhor gravação de música clássica do ano. Em seus primeiros álbuns, Tomita também fez uso efetivo de sequenciadores analógicos de música, que usou para repetidas experiências de campo, filtros ou efeitos alterados, moduladores de sons, apitos humanos, etc... copiados nos presets de instrumentos eletrônicos posteriores. Sua versão de “Arabesque nº 1” foi usada mais tarde como tema para a série de televisão Jack Horkheimer: Star Gazer (originalmente intitulado Estrela
Hustler) visto na maioria das estações radio-astronômicas; no Japão, foram usadas partes de sua versão de “Rêverie” para a abertura e fechamento das transmissões da Fuji TV; na Espanha, “Arabesque nº 1” foi também utilizada para TV na introdução do infantil Planeta Imaginário. Após o sucesso do LP Snowflakes are Dancing, Tomita lançou uma série de álbuns “classicamente” temáticos, incluindo arranjos de Igor Stravinsky em The Firebird, Modest Mussorgsky em Quadros de uma Exposição e Gustav Holst em The Planets. Neste último, introduziu uma ficção científica no “tema do espaço” causando polêmica em seu lançamento com o fato de Imogen Holst, filha de Gustav Holst, recusar a permissão para o trabalho de seu pai ser interpretado dessa maneira. Com isso, o álbum foi retirado de circulação e é, por conseguinte, raro em sua forma original em vinil. Enquanto trabalhava em seus álbuns de sintetizadores clássicos, Tomita também compôs numerosas partituras para a televisão japonesa e filmes, incluindo a série de televisão Zatoichi, dois longas-metragens Zatoichi, o Oshi Samurai (Mute Samurai) numerosas séries de televisão e filmes, como Toho, Catastrophe 1999, As Profecias de Nostradamus, Últimos dias do Planeta Terra. As performances e misturas com sintetizador de pop-rock e instrumentos de orquestra foram largamente utilizadas.
As produções de Tomita na década de 1970, envolvem muitas Revista Keyboard Brasil / 13
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tarefas de criação e transformação do som. As partituras dos grandes compositores foram analisadas e as possibilidades de utilização dos sintetizadores para a criação das versões eletrônicas foram cuidadosamente estudadas. O músico adaptou partituras orquestrais para o sintetizador e desenvolveu técnicas de obtenção de sons eletrônicos para serem empregados no lugar dos sons dos instrumentos acústicos. O álbum Daphnis et Chloé – The Ravel Album (1979), também lançado com o título de Bolero, é o preferido de Tomita e, sem dúvida, um de seus trabalhos mais expressivos. Uma versão eletrônica magnífica para a obra de Ravel demonstrando toda a genialidade do músico. Em Bermuda Triangle, também indicado ao Grammy de 1979, Tomita realizou versões para obras de Prokofiev, John Willians e Ravel. Tomita tem apresentado concertos denominados
“Nuvens Sonoras“ com um sistema de alto-falantes em torno do público para projetar os sons eletrônicos de diferentes pontos. Um grande concerto foi realizado em 1984 no festival anual de música contemporânea Ars Electronica em Linz, Áustria. O músico executou suas gravações numa pirâmide de vidro suspensa sobre uma audiência de oitenta mil pessoas. Meu álbum predileto é Pictures at an Exhibition (M. Mussorgsky) executado aqui por Tomita com uma preciosidade incrível e variada de sintetizadores! Imperdível obra de requinte. Porém, recomendo toda sua obra!!
Obras... – Álbums de estúdio Switched on Rock (as Electric Samurai, 1972) Snowflakes Are Dancing (1974) Pictures at an Exhibition (1975) Firebird (1976) The Planets (1976) The Bermuda Triangle (1978) Kosmos (1978) Daphnis et Chloé (1979)
“A ideia de Wendy Carlos em basear um álbum inteiro em torno de um sintetizador cativou a imaginação de Tomita, que pensou em fazer a mesma coisa, e o fez melhor”, disse certa vez Robert Moog. Revista Keyboard Brasil / 15
Da esquerda para a direita: O maestro Sachio Fujioka, o compositor contemporâneo de música clássica Takashi Yoshimatsu, Isao Tomita e Keith Emerson.
Bolero (1980) Grand Canyon (1982) Dawn Chorus (1984) Space Walk - Impressions of an Astronaut (1984) Misty Kid of Wind (1989) Storm from the East (1992) Shin Nihon Kikou (1994) Nasca Fantasy (supporting Kodo, 1994) Bach Fantasy (1996) 21 seiki e no densetsushi Shigeo Nagashima (2000) The Planets 2003 (2003) Planet Zero (2011) Symphony Ihatov (2013) Space Fantasy (2015) 16 / Revista Keyboard Brasil
– Álbums ao vivo The Mind of the Universe - Live at Linz (1985) Back to the Earth - Live in New York (1988) Hansel und Gretel (live VHS, LD, 1993) The Tale of Genji (1999) – Coletâneas Sound Creature (1977) Greatest Hits (1979) A Voyage Through His Greatest Hits, Vol. 2 (1981) Best of Tomita (1984) Tomita on NHK (2003) – Trilhas sonoras
Jungle Emperor Symphonic Poem (1966) Prophecies of Nostradamus (1974) School (1993) First Emperor (as musical supervisor, 1994) Gakko II (1996) Jungle Emperor Leo (1997) Sennen no Koi Story of Genji (2001) Tokyo Disney Sea Aquasphere Theme Music (2002) The Twilight Samurai (2002) The Hidden Blade (2004) Black Jack: The Two Doctors of Darkness (2005) Love and Honor (2006) Kabei: Our Mother (2008) Até a próxima!
*Amyr Cantusio Jr. é músico (piano, teclados e sintetizadores) compositor, produtor, arranjador, programador de sintetizadores, teósofo, psicanalista ambiental, historiador de música formado pela extensão universitária da Unicamp e colaborador da Revista Keyboard Brasil.
O álbum Snowfaker are Dancing teve um sucesso crítico em todo o mundo e foi nomeado para quatro Grammys em 1974, tornando Isao Tomita o primeiro japonês a ser reconhecido na cerimônia de premiação.
Saiba mais sobre Isao Tomita:
Revista Keyboard Brasil / 17
Foto:Tati Rocigno
Perfil
18 / Revista Keyboard Brasil
Foto: Halana Faria
Salomão Soares toca com Hermeto Pascoal e Grupo.
ROMPENDO PARADIGMAS E CONTRIBUINDO PARA O RECONHECIMENTO DA CULTURA POPULAR E DA MÚSICA INSTRUMENTAL BRASILEIRA, SALOMÃO SOARES TEM GANHADO CADA VEZ MAIS NOTORIEDADE NA CENA MUSICAL PAULISTANA, SENDO SEU TRABALHO MUITO REQUISITADO EM FESTIVAIS, SHOWS E GRAVAÇÕES, ENVOLVENDO TAMBÉM AS MAIS DIVERSAS ESFERAS CULTURAIS DO ENTRETENIMENTO, COMO O TEATRO, A TELEVISÃO, O RÁDIO E A INTERNET. * Por Mateus Schanoski
Revista Keyboard Brasil / 19
ascido e criado no interior paraibano, o pianista e arranjador radicado na cidade de São Paulo Salomão
Soares, apesar de seus vinte quatro anos, carrega uma vasta experiência em suas criações musicais. Durante sua infância e adolescência, sempre ouviu boa música em casa e respirou bons ares interioranos em Cruz do Espírito Santo, aflorando sua musicalidade desde muito cedo por influência de seus pais. O pai, seu José, sempre foi um apaixonado pela música brasileira de Luiz Gonzaga, Paulinho da Viola e Elis Regina. A mãe, Maria José, muito cuidadosa, tinha todas aquelas melodias antigas na ponta da língua, além de dedilhar algumas das quais gostava ao violão. Notável terra musical que é, o menino cresceu nesse pedaço de nordeste ouvindo histórias do sertão paraibano, tocando saxofone na banda marcial da cidade, batendo triângulo, zabumba e pandeiro embalado pelas festas de São João. De 2008 para cá, mergulhou profundamente nos estudos, pesquisas e em seu desenvolvimento como instrumentista, arranjador e compositor. Como consequência dessa busca, Salomão segue com destino à São Paulo com intuito de expandir suas fronteiras e se forma em Piano Popular pelo conceituado Conservatório Dramático e Musical de Tatuí, sendo orientado pelo pianista André Marques (Hermeto Pascoal e Grupo). Daí em
diante, seu caminho tomou ainda mais prumo. Envolto de talento e sensibilidade incríveis, o pianista paraibano domina diversas linguagens da música popular, que lhe permitem uma versatilidade muito grande em seus trabalhos. Suas performances são notáveis e já foram realizadas ao lado de alguns nomes marcantes música brasileira como Hermeto Pascoal, Filó Machado, Nenê, Vinícius Dorin, Fábio Leal, Arismar do Espírito Santo, Altay Veloso e Lilian Carmona. Excursiona com o Rodrigo Digão Braz Trio, participando de festivais pelo Brasil inteiro. O trio gravou, no final de 2014, o seu primeiro disco intitulado “Carvão”. Salomão Soares também produziu e arranjou o disco “Casa que é mundo” da cantora paraibana Rinah, que será lançado ainda este ano. Mostrando-se claramente como um dos destaques da nova geração do piano brasileiro e apadrinhado pelo músico Itiberê Zwarg (Hermeto Pascoal e Grupo), Salomão Soares tem ganhado cada vez mais notoriedade na cena musical paulistana, sendo constantemente requisitado para participações em festivais, shows e gravações, envolvendo também as mais diversas esferas culturais do entretenimento, englobando o teatro, a televisão, o rádio e a internet. Rompendo paradigmas e contribuindo para o reconhecimento da cultura popular de seu país, do compositor e da música instrumental brasileira.
*Mateus Schanoski é graduado em Piano Erudito (Conservatório Bandeirantes), Piano Popular (CLAM e ULM), Teclado e Tecnologia (IT&T). É tecladista, pianista, organista, sideman, arranjador, produtor musical, professor e colaborador da Revista Keyboard Brasil. 20 / Revista Keyboard Brasil
Foto: Halana Faria
Saiba mais sobre SalomĂŁo Soares...
Contatos: Email: salomao_soares13@hotmail.com / Telefone: +55- 11- 98504 -5737 Revista Keyboard Brasil / 21
Aprenda agora
AS ETAPAS DE UMA PRODUÇÃO MUSICAL - Parte 1
22 / Revista Keyboard Brasil
ENTENDA PORQUE É MUITO ÚTIL COMPREENDER O QUE PODE SER FEITO NAS ETAPAS DE UMA PRODUÇÃO MUSICAL E COMO ELAS SE RELACIONAM. * Por Murilo Muraah
N
a coluna do mês passado, tivemos uma breve introdução à produção musical,
para entender melhor aspectos básicos dessa área. Já sabemos que produtores diferentes encaram a produção musical de formas diferentes - e visões diferentes também podem existir quando falamos sobre como o trabalho pode ser construído, quais ferramentas serão utilizadas, de quais maneiras, em quais momentos, para quais fins. Para podermos entender de forma mais fácil e objetiva como uma produção musical pode partir da ideia inicial do compositor e chegar até o produto final apresentado ao público, nas próximas duas colunas veremos aqui uma forma mais tradicional e bastante linear de como esse trabalho pode ser realizado. É muito útil
compreender o que pode ser feito nestas etapas e como elas se relacionam. Podemos pensar que ocorrem na seguinte ordem: Pré-Produção, Gravação, Edição, Mixagem e Masterização. Pensar nas etapas dessa forma linear pode nos ajudar a fazer escolhas em momentos mais apropriados, para
não cair naquele velho papo de que é melhor resolver um problema que se apresenta agora em alguma etapa seguinte. Nos ajuda também a focar nossa atenção de forma mais apropriada ao trabalho que está sendo realizado em cada momento. Se estamos fazendo uma mixagem e precisamos nos preocupar com problemas que poderiam ter sido resolvidos na edição, por exemplo, muitas vezes teremos que deixar de lado um estado mental mais criativo para fazer um trabalho mais mecânico além do cansaço que virá, essa troca de foco pode dificultar a volta ao trabalho criativo. Por outro lado, devemos lembrar que o trabalho que caracteriza cada uma destas etapas nem sempre ocorre de forma linear. Por exemplo: a gravação de um instrumento virtual presente em uma música pode ter ocorrido durante a Pré-Produção, às vezes antecipando até o uso de ferramentas e técnicas que geralmente são utilizadas nas etapas de edição e mixagem. Mas, afinal, o que acontece nestas etapas? Revista Keyboard Brasil / 23
Pré produção Todo o trabalho realizado antes de iniciarmos a gravação. Essa etapa é muitas vezes negligenciada , fazendo com que as etapas seguintes sejam mais problemáticas do que deveriam ser. Durante a pré-produção, podemos planejar qual é e como será utilizado o orçamento da nossa produção, o cronograma de execução das diferentes atividades necessárias ao projeto, qual é o público que pretendemos atingir, etc. Além de questões burocráticas, também podemos trabalhar aspectos técnicos e artísticos muito importantes nessa etapa: qual é a estética que buscamos nesta produção, quais músicas do repertório do(s) compositor(es) serão gravadas, como essas músicas podem ser arranjadas e muitas vezes até modificadas para se aproximarem mais da estética e dos objetivos desejados, etc. Uma pré-produção bem feita nos dará a possibilidade de compreender, desde muito cedo, o que esperamos do trabalho que estamos produzindo e quais caminhos podemos seguir para chegar onde queremos, além de identificar possíveis pontos fortes e fracos do projeto, nos permitindo fazer escolhas mais conscientes durante toda a produção. Durante esta etapa, toda a preparação para a gravação também pode ser feita, garantindo que a próxima etapa ocorra de forma mais segura, rápida e com maior qualidade. Podemos não apenas planejar quando as gravações vão 24 / Revista Keyboard Brasil
acontecer, quanto tempo nos dedicaremos a elas e que salas, equipamentos e técnicas de captação poderemos utilizar, mas também garantir que todos os músicos envolvidos no projeto estarão bem preparados para executar suas partes.
Gravação Nesta etapa, buscamos gravar todos os sons que estarão presentes na produção com a maior qualidade possível. Lembrando que a qualidade está totalmente ligada à estética desejada para a produção - o mesmo instrumento captado de forma limpa, transparente, pode representar um som de alta qualidade em um projeto e péssima qualidade em outro, caso a estética buscada exija, por exemplo, algo sujo, artificial, distorcido. Nesse exemplo, estaríamos perdendo a chance de buscar o som desejado já na gravação, deixando para tentar criá-lo nas etapas seguintes algo que nem sempre trará resultados satisfatórios.
Para garantir que uma boa gravação ocorra, não basta plugar ou microfonar um instrumento de qualquer jeito e apertar o REC. Muitas vezes precisamos gastar muito mais tempo testando formas diferentes de gravar um instrumento do que de fato realizando a captação da execução do músico. Isso acontece porque, dependendo do local e equipamentos que temos à disposição, podemos testar como o instrumento soa não apenas em salas diferentes, mas em
locais diferentes dentro de uma mesma sala. Podemos testar também quais equipamentos serão utilizados para realizar a captação (microfones, DIs, préamplificadores, etc.), como posicionaremos os microfones para captar o som que desejamos, quais bibliotecas de samples serão utilizadas para gravar os instrumentos virtuais, etc. Percebam que muitas destas atividades envolvendo a exploração de instrumentos, equipamentos e ambientes podem ocorrer ainda na Pré-Produção, principalmente quando gravamos o
projeto em nosso próprio home studio. Isso pode facilitar demais o trabalho que será realizado durante a gravação, pois os músicos e técnicos envolvidos poderão focar sua energia principalmente na captação da melhor execução musical possível. Se os sons forem gravados com boa qualidade, as etapas seguintes também terão menos complicações. Sobre elas falaremos na próxima coluna. Aproveito para desejar a todos os leitores um grande ano, com muita música e muitas produções!
*Murilo Muraah é Bacharel em Comunicação Social pela FAAP e proprietário da Muraah Produções, onde atua como professor de áudio analógico e digital, produtor musical, compositor de trilhas sonoras e músico. Possui vasta formação, com cursos realizados dentro e fora do Brasil, incluindo: Diploma de Música (Southbank Institute of Technology - Brisbane/AUS), Formação de Apresentadores de Rádio (Rádio 4EB FM – Brisbane/AUS), Radialista – Sonoplastia (SENAC), além de diversos cursos de composição, produção musical, áudio e acústica em escolas onde atuou também como professor. Atualmente vem apresentando cursos, palestras e workshops em importantes eventos e instituições de ensino, como a Campus Party Brasil, a Faculdade de Música do Centro Universitário FIAM-FAAM e a SAIBADESIGN, além de atuar como técnico de áudio no estúdio da Fábrica de Cultura Jardim São Luis.
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Homenagem
O pioneirismo no campo da mĂşsica c o n c r e t a
Gilberto Mendes 26 / Revista Keyboard Brasil
CONHECIDO COMO UM DOS PRINCIPAIS CRIADORES DA MÚSICA DE VANGUARDA NO PAÍS, O MAESTRO E COMPOSITOR GILBERTO MENDES MORREU AOS 93 ANOS EM 1º DE JANEIRO. Por Heloísa Godoy Fagundes
U
m dos grandes nomes da música de concerto do Brasil e de fama internacional, o
maestro e compositor Gilberto Ambrósio Garcia Mendes, ou apenas, Gilberto Mendes, foi um dos signatários do Manifesto Música Nova, ocorrido em 1963 e publicado na revista de arte e vanguarda Invenção, ao lado de nomes como Willy Correia de Oliveira, Damiano Cozzela, Rogério Duprat e Júlio Medaglia.
O Manifesto, pioneiro no Brasil no campo da aleatoriedade, da música microtonal e concreta, valiase de novas notações musicais, visuais e teatrais. Gilberto Mendes também fundou o Festival Música Nova da cidade de Santos, em 1962. No Brasil, recebeu, entre outros, o Prêmio Carlos Gomes, do Governo do Estado de São Paulo, além de diversos prêmios da APCA, o I Prêmio Santos Vivo, dado pela ONG de mesmo nome, por sua obra “Santos Football Music”, além de ter sido indicado para o Primeiro Prêmio Multicultural do jornal “O Estado de São Paulo”. Também
recebeu a Bolsa Vitae, o prêmio Sérgio Mota hors concours 2003 e o título de “Cidadão Emérito” da cidade de Santos, dado pela Câmara Municipal de Vereadores. Em cerimônia no Palácio do Planalto, em Brasília, no ano de 2004, o autor recebeu a insígnia e diploma de sua admissão na Ordem do Mérito Cultural, na classe de comendador, do Ministério da Cultura, das mãos do então presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, e do Ministro da Cultura, Gilberto Gil. Verbetes com seu nome constam das principais enciclopédias e dicionários mundiais, como o Grove em inglês, o Rieman alemão, o Dictionary of Contemporarry Music, de John Vinton e vários outros. Sua obra já foi tocada nos cinco continentes, principalmente na Europa e nos EUA. Destacam-se, para orquestra, Santos Football Music e o Concerto para Piano e Orquestra; para grupos instrumentais, Saudades do Parque Balneário Hotel, Ulysses em Copacabana Surfando com James Joyce e Dorothy Lamoura, Longhorn Trio, Rimsky; para coro, Beba Coca-Cola, Ashmatour, O Anjo Esquerdo da Revista Keyboard Brasil / 27
Fotos: Divulgação
Foto: divulgação
Gilberto Mendes: “O Manifesto da Música Nova deu um direcionamento à música brasileira. Achávamos, eu e Willy Correia de Oliveira, Damiano Cozzela, Rogério Duprat e Júlio Medaglia, que ela estava muita atrasada em relação ao avanço que a música tinha tido no mundo. Havia normas ultrapassadas, a gente dizia que o mundo era outro, houve uma revolução tecnológica”.
História, Vila Socó, Meu Amor e inúmeras peças para piano e canções. Gilberto Mendes foi doutor pela Universidade de São Paulo, onde deu aulas no Departamento de Música da Escola de Comunicações e Artes até se aposentar. Fez parte, como membro honorário, da Academia Brasileira de Música, e do Colégio de Compositores Latino-americanos de
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Música de Arte, com sede no México. O músico estava internado desde a véspera do Natal na Unidade de Tratamento Intensivo (UIT) da Santa Casa de Santos devido a problemas respiratórios. Morreu por falência múltipla de órgãos. Gilberto era casado há 40 anos e tinha três filhos, um deles já falecido.
Ponto de Encontro
(da Música, Arte, Beleza, Educação, Cultura, Rigor, Prazer e Negócios)
REPÚBLICA, OLIGARQUIA
&
PARLAMENTARISMO
NÃO SEJA TOLO! ENTENDA O QUE PREGA CADA SISTEMA EM TERMOS DE PROPOSTAS CONCRETAS PARA NOSSA RECUPERAÇÃO ECONÔMICA E SAIA ÀS RUAS SABENDO O QUE REALMENTE DESEJA PARA O NOSSO BRASIL! * Por Luiz Bersou 30 / Revista Keyboard Brasil
Reprodução de uma frase A democracia não é só o império do voto, da vontade da maioria. A democracia é também o altar do respeito às leis. Não sei quem é o autor, mas a frase nos leva à razão de sucesso de tantas sociedades. As leis são para valer e a democracia se traduz pela prática da convivência no respeito a elas. O interessante é que a expressão democracia não aparece nas cartas magnas das Repúblicas mais importantes e douradoras que a história registra, a saber a República Romana e Estados Unidos. A razão é que, fundamentos e princípios de base, geraram a qualidade das leis que se colocam então acima da democracia. Colocada a questão da qualidade das leis, vem então a qualidade dos sistemas que constroem as leis e dos sistemas que praticam a justiça diante das leis. Algo muito sério a ser muito trabalhado.
A grande missão do Líder Quando do Pacto de Moncloa, Filipe Gonzalez, então primeiro Ministro da Espanha enunciou uma frase que desde então é uma referência para líderes de governos e de empresas também. Nessa frase, ele diz que o papel principal do governante é ter mais velocidade do que a sociedade. A partir de princípios e fundamentos bem estabelecidos, deve correr na frente, enxergar antes e, dessa forma, preparar antecipadamente os caminhos que a sociedade irá percorrer na busca de sua maturidade, liberdade,
qualidade do trabalho, eficiência e, acima de tudo, na construção de mais riqueza e qualidade de vida para todos. O que se caracteriza aqui é que há uma questão de velocidade na caracterização do funcionamento de uma sociedade. A proliferação de favelas, o colapso da indústria, a evolução do crime e o colapso do ensino são manifestações de eventos em alta velocidade e sem controle e resposta. Fica evidente, então, que a qualidade do conjunto de leis, em ambientes em contínua transformação como acontece hoje em dia, tem muito a ver com o tema velocidade. Velocidade de transformação social tendo, como contrapartida, a velocidade de ação de governo. Trata-se de um tema que nunca foi discutido nas nossas estruturas de governo. A ação de governo precisa ser consistente, bem pensada, bem estudada e veloz. Velocidade de ação e resposta é fator fundamental de eficácia.
A organização do Estado e o seu encontro com a Sociedade Vamos lembrar que no caso brasileiro, a organização do Estado existiu antes de existir a sociedade. Não foi a sociedade brasileira que, ao longo do tempo, foi dando estrutura e consistência ao Estado como aconteceu com a maioria dos países que não vieram de oligarquias e ditaduras. Aqui, as capitanias hereditárias fizerem esse papel. Constituíram o Estado patrimonialista antes da Sociedade. Conceitos absolutistas com objetivos de Revista Keyboard Brasil / 31
submissão e obediência imposta e controle da sociedade. O pior é que esse modelo de governo foi adotado por clonagem em muitas empresas. Dessa maneira, temos a sociedade a serviço do Estado como querem as entidades de governo e não o Estado a serviço da sociedade como é necessário que assim seja. Sujeitos a uma situação de Brasil Colônia, apenas nos era imposto alimentar esse triste Estado. Foi então sendo constituído desde aquela época o que temos hoje, que são os fundamentos do dito Estado de Direito. Direitos não de justiça, mas direitos daqueles que para sua conveniência constituíram esse Estado de conveniência, de proteção de interesses, ardilosamente chamado de Estado de Direito para dar uma satisfação enganosa aos eleitores. Decorre que governos absolutamente corruptos como temos atualmente, tem toda uma base “dita legal” para continuar a sua caminhada, produzindo como sempre emanações fétidas que se espalham por todo lado. Por conta dos arranjos que aí estão colocados, falhamos miseravelmente no fundamento velocidade. Assistindo debates políticos fico escandalizado como os participantes concordam que para ajeitar as coisas, de forma que nenhuma das partes perca, esse é sempre o viés político brasileiro, vamos levar de 10 a 20 anos para corrigir esse estrago todo. Enquanto isso, esperam dos desempregados, aqueles que não tem mais tempo, a 'paciência de Jó'. 32 / Revista Keyboard Brasil
Estado e oligarquia O discurso que vemos na mídia é muito claro. Preservação de oligarquias instaladas nos governos, sempre a serviço de seus próprios interesses. Nenhum agente de governo está interessado no Brasil. Eles estão interessados no que podem arrancar de todos nós para o seu próprio benefício. É interessante que no passado tivemos para a América Latina programas sociais como, por exemplo, a Aliança para o Progresso. Eles buscavam cooperação econômica tendo como referência o Plano Marshall que existiu para aumentar a velocidade de recuperação econômica da Europa destruída pela Segunda Guerra Mundial. A Segunda Guerra gerou a necessidade de um plano de recuperação econômica. A destruição da economia latino americana pelas oligarquias que sempre a dominaram, requereu também planos de modernização e recuperação econômica. O Plano Marshall na Europa cumpriu seus objetivos. Aliança para o Progresso e seus equivalentes foram desativados por falta de resultados. Culpa das oligarquias como temos aqui.
Parlamentarismo como solução de velocidade e agilidade de governo O grande mérito dos sistemas parlamentaristas é de que os incompetentes caem em poucos dias. No Brasil se defende a tese de que o incompetente e corrupto tem o direito de manter o poder até o fim do seu governo, porque ele foi
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eleito para um determinado período de tempo. Somos especialistas na ideia do Parto da Montanha. A tese é de que o respeito pelo tempo dado ao governante é mais importante do que a falta de respeito pelo estrago que ele possa provocar na nação. Um absurdo. Essa tese é simplesmente ridícula. Estamos todos paralisados querendo que o tempo resolva o que nós não queremos resolver. Está então na hora de entendermos com profundidade os méritos e problemas de um sistema parlamentarista e partir para ação. Os movimentos sociais de contestação que estão por aí continuam com mãos vazias em termos de propostas concretas para a recuperação econômica. Ruas mais vazias quando dos protestos. Por que não assumir a proposta parlamentarista?
Luiz Bersou: os mais diversos e importantes assuntos com o intuito da reflexão!
* Atualmente dirigindo a BCA Consultoria, Luiz Bersou possui formação em engenharia naval, marketing e finanças. É escritor, palestrante, autor de teses, além de ser pianista e esportista. Participa ativamente em inúmeros projetos de engenharia, finanças, recuperação de empresas, lançamento de produtos no mercado, implantação de tecnologias e marcas no Brasil e no exterior. Revista Keyboard Brasil / 33
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RODRIGO Boechat
MARCADO PELO ECLETISMO MUSICAL E PELA CRIAÇÃO DE TIMBRES AUTÊNTICOS, O CARIOCA DE 26 ANOS, RODRIGO BOECHAT DESENVOLVE IDEIAS QUE PASSAM PELO ERUDITO, BLUES, ROCK, METAL E PROGRESSIVO. É TECLADISTA DA BANDA PAULISTA SOULSPELL METAL OPERA, COMPOSITOR E PROFESSOR POR SKYPE. Redação
No começo... Irmão caçula de instrumentista, Boechat passou a infância convivendo no meio musical. Desse modo, não demorou muito a demonstrar sua vocação artística. Aos 15 anos, inspirado por seus ídolos, decidiu estudar música e ganhou seu primeiro teclado.
No teclado... De início, Boechat estudou seu instrumento de maneira autodidata, tendo bons frutos de sua dedicação logo no primeiro ano de aprendizado, participando de sua primeira banda formada por amigos do colégio, na qual tocavam covers de Angra, Helloween, Dream Theater, Sonata Arctica, entre outras bandas de Metal. No ano seguinte, Boechat passou a tocar na noite carioca com seu irmão mais velho, obtendo suas primeiras experiências profissionais como músico. Após três anos de estudos Revista Keyboard Brasil / 35
empíricos e já possuindo certa bagagem musical, decidiu melhor se profissionalizar e entrou para a Escola de Música Villa Lobos, matriculando-se no curso de piano erudito. Após dois anos de estudos, entrou para o Conservatório Brasileiro de Música para cursar Licenciatura em Música.
Nas entrelinhas... Enquanto esteve na Escola de Música Villa Lobos, Rodrigo Boechat foi aluno do renomado pianista João Carlos Assis Brasil. Boechat atua, também, como professor de teclado por skype, algo novo que resolveu investir e que vem obtendo ótimos resultados.
Soulspell Metal Opera... Ao longo de sua carreira, o ecletismo musical e a criação de timbres autênticos tornaram-se características marcantes como tecladista, desenvolvendo livremente ideias que passam por
Rock Progressivo, Power Metal, Erudito, Blues, entre outros. Há um ano, lançou seu vídeo mais recente, um cover da música Requiem Aeternam, do Freakeys – muito elogiado e citado pelo tecladista Fábio Laguna (Hangar), idealizador do projeto Freakeys. Atualmente, Rodrigo Boechat é tecladista da banda paulista Soulspell Metal Opera, com o qual gravou ao lado de grandes nomes do metal mundial e também nacional, tais como Blaze Bayley (Ex Iron Maiden), Tim Ripper Owens (Ex Judas Priest, solo), Michael Vescera (Ex Malmsteen, Dr. Sin), Ajen Lucassen (Ayreon), Pedro Campos (Hangar, Soulspell), Tito Falaschi (Symbols), Daísa Munhoz (Vandroya), entre outros. Além de participar do CD de 25 anos de carreira do vocalista Edu Falaschi, ao lado do Dr. Sin, Alirio Neto, Rafael Bittencourt e muitos outros artistas, a banda prepara para este ano, o álbum o Soulspell Act. IV - The Second Big Bang. Vamos aguardar! Foto do novo tributo — com Sérgio Pusep, Wanner F. Maurício, Rodrigo Boechat, Daísa Munhoz, Pedro Campos, Heleno Vale e Leandro Erba em Riomar Studios RJ.
Saiba mais sobre a banda SOULSPELL...
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Por Dentro
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ARTISTAS SEM
mecenas NO PASSADO, AS ARTES SERVIAM COMO INVESTIMENTO FINANCEIRO E STATUS SOCIAL. DESSE MODO, MUITOS ARTISTAS VIRTUOSOS RECEBIAM A PROTEÇÃO FINANCEIRA DOS CHAMADOS MECENAS. O TEMPO PASSOU, OUTRAS FORMAS DE INVESTIMENTO SURGIRAM, BANALIZARAM A QUALIDADE, SEM DIZER NA FALTA DE INCENTIVO QUE RESTRINGE O SONHO DE COMPETENTES MÚSICOS. ENTÃO, É PRECISO BATALHAR PARA SE DESTACAR. SER BOM E CRIATIVO SÃO OBRIGAÇÕES. UMA VISÃO DE MERCADO SERÁ O DIFERENCIAL. * Por Antonio Carlos da Fonseca Barbosa
Federico II da Prússia causou sensação no século XVIII, não apenas através de seu talento para comandar exércitos (o próprio Napoleão o admirava), mas também como músico, compositor e mecenas. Óleo sobre tela, com Federico II tocando a flauta transversa em um concerto no Palácio de Sanssouci, datado do século XIX, por A. A. von Henzel. Revista Keyboard Brasil / 39
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os séculos passados alguns artistas (pintor, músico e escultor) virtuosos ganhavam a proteção finan-
ceira, abrigo e prestigio de nobres mecenas. Esses, por sua vez, investiam na produção e divulgação das obras dos seus poucos escolhidos. O artista ganhava título de nobre para poder se dedicar exclusivamente às suas criações. Mas o tempo passou e os mecenas foram desaparecendo da cena cultural. No passado, obras de artes serviam como investimento financeiro e status social. E a música tinha um valor lúdico impressionante. No clero e nos palácios havia muitos mecenas. Na atualidade, as formas de investimentos com lucros mais rápidos e status equivalente, contribuíram para a extinção dos tradicionais mecenas. E, outras formas apareceram, os chamados produtores e agenciadores artísticos de pop star que, ao criar uma estrutura imensa, em poucos meses possibilitam a projeção de um cantor medíocre. Desse modo, alguns músicos passam a acreditar em contos de fada, agindo como “gatas borralheiras” em pleno século XXI, onde um produtor – o príncipe encantado – aparece em sua porta procurando uma voz de sereia ou um gênio da composição e/ou de um instrumento musical. Hoje, o músico que acordar para vida real tem mais chances de furar o bloqueio da falta de incentivo financeiro e construir uma carreira profissional com profissionalismo e metas. Ser bom e criativo são obrigações e se possuir uma visão de mercado, este será o diferencial. Não se contente com o seu melhor hoje, acredite sempre que será muito melhor amanhã. Muitos músicos são virtuosos na sua arte e se esquecem de expor para o público que 40 / Revista Keyboard Brasil
Através de seu admirador e mecenas, o imperador D. Pedro II, Carlos Gomes foi enviado a Milão, na Itália, para que aprimorasse seus conhecimentos em música dando início à brilhante carreira do compositor ao se apresentar no Teatro Alla Scallaa com a ópera O Guarani, baseada no romance homônimo de José de Alencar.
deseja atingir. O músico independente, em particular, não tem fôlego para lançar um disco a cada dois anos, tendo em vista seus poucos recursos de divulgação e distribuição de seu CD. O mais aceitável será traçar metas a curto, médio e longo prazo. Os primeiros mil CDs são fáceis de vender. Contudo, multiplicar esse número por dez é mais complicado e leva mais tempo. Antes de se enroscar com gravadoras que não tem uma infraestrutura de divulgação e distribuição, busque caminhos próprios. Lembre-se do dito popular:
“Quem trabalha para pobre pede esmola para dois”. Conhecemos uma gravadora competente pelo seu plano de mídia (divulgação em rádios, jornais, revistas e internet) e ampla distribuição. Se o artista consegue chegar a um sucesso considerável sozinho terá mais independência de negociar contratos favoráveis com gravadoras maiores. Hoje, as gravadoras contratam artista com a matriz do disco (fonograma) com qualidade e já com um certo público comprador. E, se você tem um CD de qualidade, uma visão de mercado e um público crescente, os modernos mecenas aparecem em filas indianas. Mas, não se pode esperar para ser financiado por “caças talentos”. Então, volte para a realidade. Pense na sua carreira como um empreendimento empresarial e deixe para a criação e apresentação ao público, a sua essência criativa e emocional. Ser famoso virou lugar comum. O difícil é no futuro existir pessoas comuns para consumir as obras de tantos artistas.
*Antonio Carlos Da Fonseca Barbosa é jornalista, músico, letrista e poeta paraibano criador da revista online Ritmo Melodia com o intuito de divulgar a música popular, regional, instrumental e erudita, além de músicos - brasileiros ou não. Revista Keyboard Brasil / 41
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ProfissĂŁo
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O QUE É PRECISO PARA SER UM MÚSICO
Profissional? HUMILDADE, PONTUALIDADE, MATURIDADE ENTRE OUTROS FATORES, DEVEM SER LEVADOS A SÉRIO SE QUISER TORNAR-SE UM MÚSICO COMPETENTE, PROFISSIONAL! * Por Daniel Baaran
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omo todo mundo sabe, eu sempre deixei bem claro que o meu começo na música foi na igreja.
Quando tinha 14 anos, eu já admirava dois tecladistas que tocavam na igreja, chamavam-se Lincoln e Reynaldo Daudt. Tocavam muito bem e encantavam a todos com uma bela harmonia vinda da música Gospel. Meu interesse era muito grande sobre como funcionava um piano ou teclado, como eles geravam esses sons e qual combinação era necessária para formar essa harmonia. Certo dia, um amigo chamado Victor do Carmo que, atualmente é músico profissional, ia tocar um hino antes de começar o culto, “o que
chamamos de prelúdio”, e me chamou para acompanhá-lo ao piano. Eu pensei: “Como vou acompanhá-lo se não sei tocar?” Porém, seu professor me ensinou meus 3 primeiros acordes. Por esse motivo, comecei uma jornada que mudaria a minha vida para sempre. Fiquei tocando na igreja durante 8 anos, sabendo o necessário para suprir o que os hinos e os louvores pediam. Contudo, chegou uma hora em que a música pedia mais do que somente tocar aos domingos. E, aí veio a grande pergunta: “- O que é preciso para ser um músico profissional?” Hoje, vou falar sobre os 10 principais pontos necessários para que Revista Keyboard Brasil / 43
você se torne um músico profissional de sucesso. 1º Estude muito – quando você toca na igreja ou como um hobby, você não tem a necessidade de sempre acertar. Pode ser que às vezes você dê uma “erradinha” e ninguém note. Porém, quando se é profissional, não se pode errar. Cada erro gera um comentário entre os músicos e isso pode acarretar uma má fama! No site da Editora KEYBOARD você encontra vários cursos que o maestro disponibiliza com preços acessíveis. Então, aproveite e estude muito para se tornar um profissional competente. 2º Tire as músicas com antecedência – muitas vezes na igreja, o pessoal nem passava o repertório com antecedência. Usávamos o ensaio para tirar algumas músicas e as outras já tínhamos na ponta da língua, esse método não funciona quando se está no meio de profissionais. O ensaio dos músicos profissionais “quando tem ensaio”, na verdade, é para passar a música e acertar detalhes e não para tirar a música na hora. Caso você não tenha se dedicado à tirar sua parte antes do ensaio da banda, provavelmente seus companheiros ficarão muito bravos com você. 3º Menos é mais – no meu primeiro ensaio com músicos profissionais, aprendi uma lição muito importante: menos é mais! Como todo bom tecladista, gostava de mexer um pouco na harmonia, colocava uma tensão ou fazia o acorde mais cheio. Porém, isso não funciona em bandas profissionais. Quando cheguei nesse ensaio e comecei a mostrar minha bela harmonia fui logo levando uma bronca 44 / Revista Keyboard Brasil
dos meus companheiros de trabalho. A grande pergunta que eles fazia era: “-O que você está fazendo? Que nota é essa? Estava no CD?” O mais certo a fazer é sempre deixar a música mais parecida o possível com a original. Se a música pede uma nota “dó” faça apenas um “dó”. Não precisa dar uma cara mais Soul ou complicar mais para parecer bonito. 4º Não se atrase! – Encarar a música com seriedade é demonstrar que você têm responsabilidade. Que cumpre horários assim como em qualquer outro trabalho. Quando ensaiava na igreja pagávamos por 2 horas de ensaio em um estúdio de música. Isso nos ajudava a não causar atrasos, fosse na pontualidade ou na montagem dos instrumentos. Quando você é profissional, não pode se dar ao luxo de atrasar, porque isso é um desrespeito com seus companheiros e tempo é
dinheiro! 5º Conheça seu equipamento – outro fator importante é conhecer o seu equipamento, independente se é um teclado ou
um acessório, a leitura do manual do usuário e a busca por tutoriais na internet, trarão um resultado mais satisfatório quanto à exploração do seu equipamento de trabalho. Já vi várias vezes pessoas chegando com teclados simples porém bem timbrados e impressionando muito tecladista de Nord, Kronos, Fantom ou Motif por aí. O conhecimento do seu teclado vai te trazer resultados melhores e mais saudáveis para tocar sem tanto esforço. Procure sempre aprender e explorar cada dia mais o seu equipamento. 6º Invista no que há de melhor – no início, o músico pode começar com um equipamento mais simples e cachês mais baixos. Porém, quando você atinge uma maturidade profissional é importante pegar parte do lucro que obteve e investir em um novo equipamento. Quanto melhor seu equipamento, mais respeito você terá à primeira vista. Então, invista em teclados melhores, assim conseguirá cachês maiores. 7º seja profissional – não é porque você trabalha no que gosta que a sua vida será uma maravilha. Muitas vezes, ter que tocar na hora que não queria ou a música que não queria e no lugar que não queria. Porém, coloque-se no seu lugar e seja profissional. Entregar entretenimento não é necessariamente se divertir, faça tudo com excelência e aprenderá a ser um profissional maduro. 8º Não tenha preconceitos – conheço vários músicos que só tocam o que gostam como Jazz, Soul, música instrumental.
Isso é legal para ter como convicção e estilo de vida. Porém, não vejo nenhum deles com dinheiro na mão. Ser um profissional vai além de tocar o que gosta, se esses amigos tocassem outros estilos, estariam muito bem financeiramente. Por isso, um conselho: deixe seu orgulho de lado e entre de cabeça nos estilos que dão mais lucro. Tenho certeza que nas horas vagas, você poderá tocar o que quiser com seu equipamento de ponta e em um lugar legal, porque seu trabalho proporcionou isso. 9º Não perca a humildade – muitos músicos após alguns anos de trabalho, obtém o reconhecimento. Isso pode trazer o que chamamos de ego inchado, conhecido também pela frase “subiu pra cabeça”. Muitas vezes, esses músicos de origem simples tornam-se soberbos, arrogantes. Para eles, eu cito uma frase da Bíblia, muito verdadeira, que diz: “o orgulho precede a queda”. Por isso, não deixe que o seu “EU” fale mais alto que a razão. 10º Divirta-se – mesmo seguindo os passos acima esteja certo que trabalhar com música, sem dúvida alguma, é muito divertido. Então, aproveite! Ria, toque com alegria, aproveite ao máximo porque você tem um trabalho que pessoas dariam a vida para ter e não conseguiram chegar onde você chegou. Espero que essas dicas ajudem você na conquista de ser um profissional de qualidade na área da música. Tamu Junto!!!!
*Daniel Baaran é músico autodidata e colaborador da Revista Keyboard Brasil. Revista Keyboard Brasil / 45
Fotos: Lucas Dal Berto e Hudson Lima
Underground brasileiro
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EDGAR FRANCO O CIBERPAJE´ DA BANDA
POSTHUMAN TANTRA CONHECIDO NACIONAL E INTERNACIONALMENTE NO MEIO UNDERGROUND, EDGAR FRANCO SE AUTODENOMINA CIBERPAJÉ. UM ARTISTA TRANSMÍDIA, PÓSDOUTOR EM ARTE E TECNOCIÊNCIA PELA UNB, DOUTOR EM ARTES PELA USP, MESTRE EM MULTIMEIOS PELA UNICAMP E PROFESSOR DO PROGRAMA DE DOUTORADO EM ARTE E CULTURA VISUAL DA UFG . POSSUI OBRAS PREMIADAS NACIONALMENTE NAS ÁREAS DE ARTE E TECNOLOGIA, PERFORMANCE E HISTÓRIAS EM QUADRINHOS, ALÉM DE ÁLBUNS LANÇADOS POR GRAVADORAS EUROPEIAS. LEIA, A SEGUIR, A ENTREVISTA CONCEDIDA A NOSSO COLABORADOR AMYR CANUSIO JR. * Amyr Cantusio Jr.
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Entrevista Revista Keyboard Brasil: Edgar, para irmos direto ao ponto, quais suas influências musicais e formação? Cite grupos, músicos, discos, teus estudos e preferências musicais à vontade. Edgar Franco: Eu sou um músico autodidata que tenho formação formal na área de artes visuais. Sou pós-doutor em arte e tecnociência pela UnB, doutor em artes pela USP e mestre em multimeios pela Unicamp. Meu trabalho é transmídia, crio arte em múltiplos suportes e plataformas como pintura, desenho, quadrinhos, HQtrônica, games, instalações interativas, música e também as performances transmídia com minha banda Posthuman Tantra, envolvendo interação com vídeos criados a partir de meus desenhos, efeitos computacionais de realidade aumentada - somos a banda pioneira a utilizá-los no Brasil – e mágica eletrônica. Musicalmente, comecei como baixista influenciado pelo heavy metal e progressivo, depois migrei para os teclados, sintetizadores e controladores midi e conheci a música experimental e ambient que passou a ser forte referência para o Posthuman Tantra. Entre as bandas que considero seminais estão King Crimson, Tangerine Dream, Celtic Frost, Coph Nia, Brighter Death Now, Merzbow, Melek-tha, Alpha III, Mental Destruction, Abruptum, Sunn O, Ulver; entre os músicos, destaco Syd Barret, Kitaro,
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Trent Reznor, Alan Parson, e Raul Seixas. Para citar alguns discos: I Robot (Alan Parson's Project), Crises (Mike Oldfield), To MegaTherion (Celtic Frost), Holy War (Coph Nia), Evil Genius (Abruptum), Monoliths & Dimensions (Sunn O). Revista Keyboard Brasil: Qual tua atuação universitária atual? Edgar Franco: Como destaquei sou pósdoutor em arte e tecnociência e atualmente professor efetivo do Programa de Pós-graduação em Arte e Cultura Visual da Faculdade de Artes Visuais da UFG Universidade Federal de Goiás, em Goiânia. Oriento pesquisas de doutorado e mestrado envolvendo múltiplas linguagens artísticas e suas conexões com as tecnologias recentes. Sou coordenador do grupo de pesquisa CRIA_CIBER, com investigações que incluem performances musicais transmídia. Em estúdio, minha banda Posthuman Tantra, sou só eu, que gravo todos os instrumentos, sintetizadores e vozes. Já nas performances ao vivo, que passaram por 4 regiões do Brasil – em eventos acadêmicos da área de artes e festivais como Woodgothic Festival (MG) e Goiânia Noise Festival (GO) – conto com integrantes do grupo de pesquisa atuando ao meu lado como musicistas, VJs, performers e auxiliares de palco. Revista Keyboard Brasil: Quando iniciou seu contato com a música, como foi a migração para o experimentalismo sonoro? Edgar Franco: Muito cedo. Meu pai,
Dimas Franco, sempre gostou de música, mas ouvia quase só música erudita. Minha mãe, Alminda Salomão, sempre foi apaixonada pelas cantoras e cantores da chamada “Era do Rádio”, e ela canta muito bem, sempre trabalhou cantando durante os afazeres domésticos. Eu até gravei sua voz para uma das faixas do álbum “Neocortex Plug-in”, do Posthuman Tantra. Mas o meu interesse por criar música só surgiu quando conheci o rock e o heavy metal, no início da década de 80, primeiro com Queen e depois Ozzy e Iron Maiden. Fui fisgado de vez quando conheci Celtic Frost, Possessed e Kreator, eu já desenhava quadrinhos de terror nessa época e vi que aquela música agressiva era a trilha sonora poderosa para o grotesco. Comprei um baixo tonante e aprendi alguns acordes, tendo participado de algumas bandas de death e black metal de fundo de quintal em minha cidade natal, Ituiutaba, MG. Aos poucos, meu gosto musical foi se expandindo e conheci o rock progressivo com as bandas que flertavam com o experimentalismo sonoro. Na primeira metade dos anos 90, conheci a gravadora sueca Cold Meat Industry e adentrei-me no obscuro mundo da música dark ambient, noise e industrial. Essas múltiplas paisagens sonoras serviram de inspiração para minha retomada da criação musical que aconteceu na segunda metade dos anos 90. RKB: Qual a tua visão ESPIRITUAL da vida, da morte? Em que acredita? Vida após a morte? Seres Aliens? Demônios & Anjos? Deus existe?
EF: Sou um livre pensador e creio no mistério e na experiência do agora! O racionalismo cientificista que reina no mundo ocidental por quase três séculos – tendo a ciência como novo dogma e panaceia para a compreensão do universo e todos os seus fenômenos – é extremamente limitado para explicar inúmeros mistérios que rompem com seus princípios. A ciência é só mais um dos caminhos possíveis e incompletos, como tantos outros, não deve tornar-se um dogma. Execro também as religiões massificantes e robotizantes, com um discurso dogmático pré-medieval, gerando ódio e promessas de paraísos pós-vida. Tenho experiências transcendentes de contato com criaturas/entidades sencientes e de vasta sabedoria, não me preocupo em classificá-las como seres extradimensionais, aliens, santos, anjos, demônios, ou algo do tipo, a mim interessa os frutos desses contatos, as transformações em minha vida. A vida após a morte não me interessa, preocupo-me em fluir o agora, o momento presente, uma dádiva cósmica incrível e mágica. Em 2011, declarei-me Ciberpajé, meu novo nome de ser transmutado que tem como objetivo a busca de minha integralidade, de tornarme uma entidade cósmica holotrópica. Vejo-me como uma imagem holográfica do universo. Portanto, trago em mim o todo, assim como qualquer outro ser consciente que vive no Cosmos, assim, eu sou DEUS! RKB: Cite 5 livros e autores especiais que fizeram e fazem tua cabeça. Revista Keyboard Brasil / 49
EF: Sou um leitor voraz de filosofia ocidental, oriental, ocultismo, misticismo, magia, poesia, biografias e inúmeros outros assuntos, tenho o costume de ler até 15 livros simultaneamente. Seria muito difícil escolher 5 obras marcantes das milhares que já li, então vou selecionar 5 livros seminais que estou lendo nesse momento: – A Vida de Phillip K. Dick: O Homem que Lembrava o Futuro, de Antony Peake. Biografia do notório escritor de FC que destaca suas experiências transcendentes. – Ayahuasca: A Enredeira do Rio Celestial, de Cláudio Naranjo. Relatos de Naranjo sobre o poder do enteógeno em processos psicoterapêuticos. – Gaia: Alerta Final, de James Lovelock. Um dos maiores biólogos da história fala do aquecimento global causado por nossa voracidade devastadora, e do iminente fim de nossa espécie. – Science Fiction and Digital Technologies in Argentine and Brazilian Culture, de Edward King. Abordagem rica sobre as características da FC na literatura e quadrinhos desses 2 países. – Jardim Filosofal: Filosofia de Deuses e Demônios, de Adriano Camargo Monteiro. Obra seminal do ocultista Monteiro sobre metafísica do ser. Como defensor do potencial filosófico e reflexivo das histórias em quadrinhos citarei também 5 obras de HQ que li recentemente: – Zodiako Premium, de Jayme Cortez. Edição luxuosa do álbum mais importante de um dos maiores ilustradores e quadrinhistas do mundo, o genial Jayme 50 / Revista Keyboard Brasil
Lúcifer Transgênico é o novo álbum conceitual do Posthuman Tantra lançado pela Terceiro Mundo Chaos Discos. O trabalho foi criado e gravado em um processo ritualístico singular desenvolvido pelo Ciberpajé Edgar Franco. O conceito da obra trata da extinção iminente da espécie humana, que tem sido prevista por cientistas como o notório biólogo James Lovelock, Paul Ehrlich da Universidade de Stanford, e outros biólogos de Princeton e Berkeley, apontando a sexta extinção em massa na Terra.
Saiba mais sobre Edgar Franco:
Cortez. HQ de fortes contornos míticos e místicos. – Garras de Anjo, de Moebius e Jodorowsky. Erotismo e sexualidade cósmica dão o tom dessa fascinante obra. – Rabid Eye - The Dream Art of Rick Veitch, de Rick Veitch. O notório quadrinhista estadunidense criou um álbum de 200 páginas totalmente inspirado em suas experiências oníricas. – Yeashua, de Laudo Ferreira Jr. e Omar Viñole. Trilogia que revisa a história do Cristo a partir de um viés muito interessante e humanista. – Primas, de Alberto Pessoa. Álbum que narra a história de uma prostituta do interior nordestino, uma bela e multidimensional história universal contada com ambientação regional. RKB: Que equipamento usa para gravar? Teclados? Computador? Forma? Conteúdo? Como grava tuas músicas? EF: Meu estúdio é conciso e trabalho com um set básico. Utilizo um controlador midi Ozone, com cerca de 15 plug-ins sonoros, alguns softwares para as apresentações ao vivo e gravações, com destaque para o Ableton Live e Fruit Loops. Utilizo muito também um sintetizador Korg Kaossilator, compacto e intuitivo. Tenho 3 bons microfones para captação de voz e de alguns instrumentos acústicos que utilizo, como didgeridoo, flautas indígenas, apitos, berimbau de boca, entre outros. Tenho uma boa placa de som e utilizo PC & MAC para as gravações, faço tudo em meu estúdio e, eventualmente, a masterização é feita em estúdios profisRevista Keyboard Brasil / 51
sionais, como no caso de meus dois álbuns lançados pela gravadora Suíça Legatus Records que foram masterizados no estúdio suíço BWS. RKB: Que tipo de som prefere fazer, independente do que gosta? EF: Gosto da música que crio, chamo-a de “sci-fi ambient experimental”, pois soa como uma trilha sonora para ambientar meu universo de ficção científica, a “Aurora Pós-humana”, para o qual também crio quadrinhos, aforismos, contos, games, etc. Inclusive todas as artes de capa e encartes dos CDs do Posthuman Tantra são criados por mim. Sou um investigador de sons, sempre livre para buscar novas ambiências sonoras. Para ouvir, sou eclético no rock e música experimental, ouço desde o black metal extremo até música eletroacústica. E, se não estou criando música, estou sempre ouvindo música quando crio em outras linguagens expressivas. RKB: Quantos CDs gravou ao todo e quando (ano) data tua primeira obra? Agradeço pela honra e prazer da entrevista, pela amizade e trampos que desenvolvemos juntos! EF: Em 2014, o Posthuman Tantra completou 10 anos de existência, e a gravadora inglesa 412 Recordings propôs o lançamento de um álbum duplo, tributo à banda, uma forma digna e bela de
comemorar os 10 de existência como uma das forças pioneiras do gênero dark ambient no Brasil. O selo me deu completa liberdade para escolher e convidar as 14 bandas, de 4 países, que integram o tributo. O álbum duplo veio em uma embalagem especial de DVD com cards exclusivos criados pelo artista Jorge Del Bianco. O primeiro CD do Posthuman Tantra foi Pissing Nanorobots, lançado de forma independente em 2004. Em 2007, o Posthuman Tantra foi a primeira banda brasileira do gênero ambient a assinar com um selo Europeu, a Legatus Records, da Suíça, por onde já lancei 2 álbuns. Nesses 11 anos de Posthuman Tantra, gravei mais de 30 horas de música espalhadas em inúmeros CDs, EPs, splits, coletâneas, edições especiais, net labels, etc. Tenho trabalhos lançados nos 5 continentes do planeta. Já produzi mais de 10 videoclipes oficiais da banda e realizei 22 performances ao vivo. Recentemente, lancei pela gravadora “Terceiro Mundo Chaos” o novo CD do Posthuman Tantra, “Lúcifer Transgênico”, álbum conceitual que terá sua versão europeia lançada pela gravadora inglesa 412 Recordings. Para conhecer minha música e também as criações em outras linguagens sugiro aos leitores a visita ao meu blog. Minha gratidão e honra à você, meu amigo e admirável músico Amyr, e à Revista Keyboard Brasil pelo espaço. Abraço cósmico do Ciberpajé.
*Amyr Cantusio Jr. é músico (piano, teclados e sintetizadores) compositor, produtor, arranjador, programador de sintetizadores, teósofo, psicanalista ambiental, historiador de música formado pela extensão universitária da Unicamp e colaborador da Revista Keyboard Brasil. 52 / Revista Keyboard Brasil
Enfoque
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BACHIANAS BRASILEIRAS nº 5 E A DIFÍCIL ARTE DE SE CANTAR EM PORTUGUÊS A BACHIANAS BRASILEIRAS Nº 5 É A COMPOSIÇÃO CLÁSSICA BRASILEIRA MAIS CONHECIDA NO MUNDO E, POR SER UMA OBRA VOCAL, LEVANTA O PROBLEMA SÉRIO DO CANTO LÍRICO NA LÍNGUA PORTUGUESA. ANTES DE COMENTARMOS OS PROBLEMAS SÉRIOS DE PRONÚNCIA EM NOSSO IDIOMA VALE A PENA FALAR UM POUCO DA OBRA. ** Por Maestro Osvaldo Colarusso
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Bachianas Nº5 – Curiosidades que pouca gente conhece
V
illa-Lobos escreveu esta composição para soprano e orquestra de violoncelos em duas etapas: em
1938 escreveu a primeira seção, a “Ária” (Cantilena), e somente em 1945 escreveu a “Dança” (Martelo). Isso explica a razão do primeiro registro fonográfico da composição, com a célebre cantora brasileira Bidu Sayão (1902-1999), realizado em 1938 e regido pelo próprio compositor, só conter a primeira seção, pois a segunda só seria escrita sete anos depois. Somente depois de ter composto a última Bachianas, a de número nove, é que Villa-Lobos escreverá a segunda seção da obra, a “Dança”. “Se a ideia da “Ária” era imitar um Choral figurado de Bach, a segunda parte, a “Dança” nos remete ao nordeste do Brasil, especialmente na maneira de imitar os cordelistas. Ao colocar o termo “Martelo” nesta segunda seção ele se refere não a um tipo de dança nordestina mas, sim, a um estilo poético inventado pelo escritor Jaime Pedro Martelo (1665-1727) que inventou um tipo de poema frequentemente usado pelos cordelistas. Se a “Ária”, em sua parte central, contém um texto pouco relevante de Ruth Valadares Corrêa (cantora responsável pela estreia mundial desta seção), na segunda parte temos uma poesia de um grande nome da literatura brasileira: Manuel Bandeira (1886-1968).
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Manuel Bandeira, poeta brasileiro O que pouca gente sabe é que VillaLobos escreveu a música sem texto, e foi pedir para o poeta colocar um texto numa música já pronta. O poeta não gostou muito da ideia, e ele mesmo declarou uma vez: “Esta tarefa de escrever texto para melodia já composta, coisa que fiz duas vezes para Jaime Ovalle e muitas vezes para VillaLobos, é de amargar. Pode suceder que depois de pronto o trabalho, o compositor ensaia a música e diga: – Ah, você tem que mudar esta rima em i, porque a nota é agudíssima e fica muito difícil emití-la nessa vogal”. Mas, percebemos que Villa-Lobos modificou algumas coisas na parte musical por causa da poesia. Exemplos mais flagrantes acontecem quando o poema fala “Seu assobio é tua flauta de irerê” e o compositor utiliza harmônicos agudos nos violoncelos, e quando o canto dos pássaros é imitado pelos instrumentos. Como sempre, a intuição do compositor acabou gerando uma obra muito convincente, mesmo que sua estrutura não tenha sido previamente pensada.
A língua portuguesa: desafio para os cantores líricos Existem dois problemas para uma a perfeita pronúncia de nosso idioma em obras clássicas, o que fica mais aparente nesta obra tão Revista Keyboard Brasil / 57
Maria Lúcia Godoy
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Anna Moffo
Bachianas Brasileiras nº 5 Ária Adágio
Heitor Villa Lobos Transcrição: maestro Marcelo Fagundes
A partitura completa poderá ser adquirida pelo email: contato.keyboard.art.br Revista Keyboard Brasil / 59
famosa. O primeiro deles é uma Vale a pena salientar que na gravação ausência de formação no ensino de canto tendo em vista a nossa língua pátria. Um aluno de canto inicia seus estudos com árias antigas em italiano. Posteriormente, canções em alemão ou francês, e acaba se aprimorando em trechos de óperas de Verdi, de Mozart, de Puccini. Com isso, fica flagrante que não temos uma escola brasileira de canto. Se ouvimos às vezes cantores brasileiros cantando obras em português com “sotaque” italiano, temos que entender que esta é a referência deles. O segundo dos problemas para uma boa pronúncia em português é bem mais problemático: o desprezo por nosso idioma da parte de cantores estrangeiros. O exemplo mais flagrante disso são as gravações de obras de Villa-Lobos (“Bachianas 5” e “Floresta do Amazonas”) da grande cantora norte-americana Reneé Fleming. Ela, que é excelente e canta com perfeita pronúncia em italiano, francês, alemão e tcheco, apresenta um português péssimo, se assemelhando algumas vezes a algum idioma “artificial” como o esperanto. O mesmo se passa com as cantoras Dona Brown e Anna Korondi, que apresentam pronúncias sofríveis em gravações das mesmas obras realizadas com a OSESP. Aliás, nunca entendi estas artistas terem sido convidadas para gravar obras tão importantes do repertório nacional com nossa principal orquestra, sendo que entre as brasileiras existem dúzias de cantoras excelentes (Adélia Issa, Adriane Queiroz, Marília Vargas, Celine Imbert, entre tantas outras) que poderiam fazer jus ao texto das obras. 60 / Revista Keyboard Brasil
integral das “Bachianas Brasileiras” lançada pelo selo Naxos e gravada de forma exemplar nos Estados Unidos, a solista da “Bachianas Nº 5” é uma brasileira, Rosana Lamosa. Manuel Bandeira agradece. Outros exemplos desastrosos em termos de pronúncia são da russa Galina Vishnevskaya e da americana Barbara Hendricks.
Anna Moffo, cantora ítalo-americana pronúncia exemplar Duas cantoras estrangeiras merecem destaque quando falamos das “Bachianas N° 5”, especialmente na questão da pronúncia de nosso idioma. A grande surpresa é a cantora ítaloamericana Anna Moffo. Ela gravou esta obra com a American Symphony Orchestra regida por Leopold Stokowski, no ano de 1964. A doçura de sua voz na “Ária” e a precisão da pronúncia na “Dança” sempre me impressionaram. É uma gravação que todo brasileiro deveria conhecer. Outra intérprete da obra que deixou um registro marcante é a catalã Victória de Los Angeles, que gravou a obra em Paris na década de 50 sob a regência do autor. Sua pronúncia da “Dança” é muito boa, e sua expressão na “Ária” é exemplar. Para completar falo de uma execução que julgo ser, dentre as realizadas por cantoras brasileiras, a que mais me agrada: o registro feito por
Maria Lúcia Godoy sob a regência de Alceo Bocchino. Infelizmente não
Foto: Arquivo pessoal
tenho informações de quem são os violoncelistas, pois soam de maneira tão boa que adoraria cita-los aqui. Tenho certeza que Manuel Bandeira adoraria ver suas palavras cantadas com tanta clareza e com tanta expressão.
* Texto retirado do Blog Falando de Música, do Jornal paranaense Gazeta do Povo. ** Osvaldo Colarusso é maestro premiado pela Associação Paulista dos Críticos de Arte (APCA). Esteve à frente de grandes orquestras, além de ter atuado como solista. Atualmente, desdobra-se regendo como maestro convidado nas principais orquestras do país e nos principais Festivais de Música, além de desenvolver atividades como professor, produtor, apresentador, blogueiro e colaborador da Revista Keyboard Brasil.
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A vista do meu ponto
PERPETUAÇÃO da
MÚSICA! COMO FAZER COM QUE A MÚSICA PERPETUE? QUEM ESTÁ REALMENTE ENSINANDO? MÚSICOS? PROFESSORES DE MÚSICA? MALABARISTAS? COMO IDENTIFICAR UM BOM PROFISSIONAL DA MÚSICA PARA NOS CONDUZIR AO VERDADEIRO APRENDIZADO MUSICAL? QUER AS RESPOSTAS? LEIA O TEXTO!
* Por Luiz Carlos Rigo Uhlik
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A
O que significa perpetuar? Perpetuar é propagar; eternizar; imortalizar; transmitir de geração para geração... Percebeu? E só existe uma maneira de fazermos com que a música seja uma constante na vida das pessoas, que a música perpetue, que se propague, eternize, seja transmitida de geração para geração: Através do ensino, de aulas, de professores de Música! Muita gente tem me perguntado sobre como classificar um professor de música. Assim como na maioria das
profissões, a música também tem seus profissionais qualificados e aqueles que não tem a mínima ideia do que estão fazendo. E, o pior: é a grande maioria. Pense comigo: Quem está, realmente, ensinando música? Músicos? Professores de música? Malabaristas? Mas, então, como identificar um bom profissional da música para nos conduzir ao verdadeiro aprendizado musical? A resposta é simples: observação. Observe as atitudes do seu “mestre”, a forma como ele realmente encara a música, como ele enxerga os conceitos básicos de melodia, harmonia e ritmo e se as músicas que estão tocando nas rádios, na Internet, nas Mídias Sociais estão próximas ou distantes dele. Não digo que ele deva ter um repertório moderno. Isso não. Nem eu
André Luiz
música precisa perpetuar! Pelo amor de Deus, a Música precisa perpetuar!
tenho. As músicas que estão disponíveis hoje, na grande maioria são uma grande porcaria. O que as torna famosa é o lixo intelectual que a grande maioria das pessoas tem na cabeça e a qualidade impressionante dos processos de gravação. Como disse Lima Duarte:
“estamos no auge da glamourização da ignorância!” Assim como acontece na medicina, os equipamentos para detectar doenças e problemas de saúde estão extremamente sofisticados. Já os médicos... Alguns professores estão aptos para preencher esta lacuna do aprendizado musical desde que tenham alcançado um ponto além do nível das escolas, conservatórios e institutos de música. E, principalmente, que sejam capazes de criar e sustentar o interesse pela música de forma completa e gratificante. Se o professor lhe dá arrepios, emociona, incentiva você a viver música todos os dias, então siga em frente. Afinal de contas, o melhor professor é aquele que ensina onde olhar sem dizer o que ele vê. Agora, se isto não acontece, procure outro mestre! A Música precisa perpe-
tuar!
*Amante da música desde o dia da sua concepção, no ano de 1961, Luiz Carlos Rigo Uhlik é especialista de produtos e Consultor em Trade Marketing da Yamaha do Brasil. 64 / Revista Keyboard Brasil
Tutorial
A PARCERIA ENTRE A REVISTA KEYBOARD BRASIL E O PORTAL WWW.TECLADISTAS.COM.BR TRAZ ESTE MÊS OS MÚSICOS SIDINHO LEAL E THIAGO MINEIRO!
Roland RD-300NX Tutorial Split & Layers Neste vídeo, Sidinho Leal, parceiro do site tecladistas.com.br ensina como configurar Split e Layers no teclado Roland RD300NX. Estas dicas também valem para o RD-700NX e o RD800NX. Sidinho Leal – Tecladista da banda Brilhantina em Belo Horizonte e Parceiro Roland Brasil. Músico autodidata com diversos tutoriais pela internet, é tido como uma das maiores referências em programação e configuração de teclados do Brasil. 66 / Revista Keyboard Brasil
Someone like you (Adele) Nesta Aula de teclado, Tiago Mineiro ensina a tocar o grande sucesso Someone Like You, de Adele!
Tiago Mineiro – Conhecido por sua versatilidade, acompanha artistas como Tony Tornado, Edu Falaschi, Made in Brazil, Maria Christina entre outros, o músico já dividiu o palco com nomes como Seu Jorge, Thaíde, Lanny Gordin, Urs Wittwer (Suíça), Rene Calvin (Camarões) e Mind Priority (Bélgica). É endorse: ASK suportes, Mac Cabos, Capcase e Meteoro.
http://www.jazzsinfonica.org.br/ Revista Keyboard Brasil / 67
MĂşsica dos Sentidos
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HÉLÈNE GRIMAUD
A MENSAGEIRA
DA BELEZA! EM UM MUNDO COMO ESTE, ONDE MUITAS MULHERES COMO CAMILLE CLAUDEL E SIMONE DE BEAUVOIR SOFRERAM E AINDA SOFREM, É UMA ESPERANÇA VIVA VER A PIANISTA HELENE GRIMAUD CAMINHANDO PELO MUNDO. * Por Patrícia Santos
QUAL É A ARTE FEMININA?
A Foto: Mat Hennek
s sufragistas foram mulheres que sofreram muito no século XIX. Reivindicavam pelo di-
reito da mulher na democracia. Sofreram, foram agredidas brutalmente. Neste e em muitos outros movimentos feministas, houve sangue e morte de muitas, antes mesmo de verem seus ideais concretizados. Camille Claudel foi uma brilhante escultora francesa, aprendiz e ajudante de Auguste Rodin. Dona de uma sensibilidade extraordinária, pagou um preço altíssimo por sua personalidade revolucionária, que não era e não é permitida para mulheres. Foi jogada num
manicômio, tendo permanecido lá, por mais de trinta anos, e após ter vivido as piores dores existenciais, foi abandonada. Chegou ao fim da vida incompreendida, sozinha e renegada, como é típico acontecer com pessoas que possuem um curioso tipo de genialidade. A linda Simone de Beauvoir! Em plena atualidade, ano de 2015, uma mulher brilhante e impressionante na história do pensamento e do feminismo, deixou uma legado literário invejável e incomparável, é agredida postumamente com acusações e palavras aviltantes, que tentaram inviabilizar todos os seus escritos e valores criados. Revista Keyboard Brasil / 69
Eu, aos vinte e oito anos de idade, me orgulho com felicidade infinita de ser mulher, e lamento profundamente por essas e tantas outras mulheres que dia após dia, lutam incansavelmente por seus espaços e direitos, por sofrerem em silêncio e até os dias de hoje passarem por situações que a meu ver, na minha rasa utopia, ser humano nenhum deveria passar. Claro que a política e a fome são assuntos de extrema urgência a serem debatidos e resolvidos. Mas o comportamento humano e o modo como lidamos com o semelhante, também é um assunto (para aqueles que se preocupam com o mundo e com o outro) para validarmos a todo instante. Saídas para soluções devem ser encontradas em muitos âmbitos. Sempre enxergo a arte como aquele feixe de luz que entra pela janela no escuro, aquela brisa que vem justamente quando estamos sufocados e precisando de um respiro. A arte, sem dúvida, traz algum alento, seja para quem vê ou para quem cria, não importando se há fama, elogios ou aplausos, o artista será sempre artista, sozinho dentro de seu pequeno quarto com seu singelo universo, ou num palco com luzes aplausos e público. Aliás, se o artista se preocupa com isso, sempre entro na questão: ''Está havendo ou não arte no enredo em que o artista criou e se colocou?'' Há certa ''falta '' e ''sobra'', que daria outro pensamento. Comecei a pensar nisso, na época em que iniciei os métodos introdutórios ao piano. E sempre pensava: ''Por que o 70 / Revista Keyboard Brasil
Saiba mais sobre HÊlène Grimaud...
Revista Keyboard Brasil / 71
desempenho é algo que mexe tanto comigo? Eu não devia me preocupar apenas em desenvolver a habilidade e técnica para aprender tocar as lições? '' Hélène Grimaud, pianista francesa de quarenta e seis primaveras , apaixonada por lobos e natureza, foi a resposta para todas as minhas perguntas. Desde o feminismo à arte. É como se ouvir e vê-la, trouxesse uma força divina neste mundo tão cruel e pesado, nos elevando, nos suspendendo no ar e então, tornando assim os dias mais leves. E onde estão mulheres como essas? Onde estão as criadoras, as lutadoras, mensageiras? Onde estão as mulheres gênios? A primeira vez que a vi, estava tocando Chaconne In D Minor Bwv 1004, do compositor barroco alemão Johann Sebastian Bach. Ali, onde ao mesmo tempo em que me faltava o ar de tanta emoção ao ver a musicalidade que transpirava de seus poros e pele, suas veias saltadas no pescoço, no rosto e têmporas, a laringe que subia e descia involuntariamente, é possível observar, por exemplo, sua luta sublime travada entre a emoção incontrolável e a técnica absoluta. Nunca tinha visto nada parecido! Sonata Nº31 Op110, de Beethoven... Que loucura! Hélène traduz o virtuosismo do compositor por si mesmo, elabora as cenas da peça com seus movimentos arquitetônicos, recriando e não tem medo de trazê-la para um aspecto moderno e presente. Não tenho embasamento para dialogar sobre as técnicas pianistas 72 / Revista Keyboard Brasil
porque não sou pianista. Mas, em se tratando da música e da arte posso falar com propriedade e é evidente que cada artista, neste caso, cada pianista, tem suas particularidades. Claro que todas as pessoas são diferentes e, se tratando de mulheres, há uma complexidade ainda maior em discutir diferenças, necessidades e processos artísticos. Mas em relação à Hélène, existe uma transcendência pairando, vista pela minha ótica, numa leitura terna e sem qualquer pretensão, através das execuções das peças e que está além do esforço feminino ou masculino, do material, da técnica, deste plano físico. Hélène é sobrehumana, certamente um alguém evoluído. Numa apresentação gravada, Concerto em G Maior, de Maurice Ravel, essa lógica da perfeição pode ser assistida como um verdadeiro espetáculo, contando ainda com a enérgica e suntuosa regência do Maestro Vladimir Jurowski. Ao tocar, Hélène se une aos músicos, às notas, ao ritmo, às dinâmicas, como se ela mesma as fosse, compreende as mensagens dos compositores e as revela através de seus gestos, corpo e suspiros. Penso que Hélène tem uma relação com a música como um elemento a mais, além da terra, fogo, água, ar e o espírito. o som se alinha na atmosfera, Para ela, a música é um elemento inerente à sua construção enquanto mulher e pessoa. Quando toca Concerto No.23 In A Major, K 488 Adagio, de Mozart, sua força e feminilidade são alcançadas pelos ouvidos.
Existe uma potência muito contínua em Hélène. Isso fica tão claro, que executando Sonata em B menor, de Franz Liszt, é como se pudéssemos ver, o próprio Lizst ali tocando e conversando pela sonata, com suas articulações e trejeitos. É absurdo o quanto Hélène internalizou essa obra e tantas outras para ter provocado algum pensamento em mim e em muitos outros com tal sensibilidade. Todas as vezes que ouço, sinto uma quebra muito sutil, uma modificação muito segura e tranquila nos tempos. Chego algumas vezes a comparar as peças. Alegra-me essa característica, a bela mulher constrói sua própria identidade a partir de uma modificação ínfima, dá um silencioso grito simbólico de fuga, a padrões estipulados por um ou outro que tenta repreender a liberdade e a criatividade.
‘ ‘
Talvez seja exatamente isso: tantas atrocidades ao papel feminino, de tanta repressão e preconceito, Hélène encontrou uma superação, uma solução mais singela para exercer sua independência e humanidade com autonomia na música e possivelmente no mundo...
E, em um mundo como este, onde as mulheres sofreram tanto, como os exemplos do início, é uma esperança viva, ver uma mulher como Hélène caminhando e exibindo tanta virtuosidade. Não importa o quão pobre ou rica uma pessoa seja. Cada pessoa que nasce é destinada a lidar com suas limitações e desafios internos, para se ajustar ao universo como um caminho de aprendizado, para tornarse alguém melhor do que é. E, como tudo na vida é uma escolha, escolhemos enfrentar ou não. Creio que, para ter chegado a tal grau de entrega e interpretação da música, fez o que muitas mulheres em especialidades e âmbitos diferentes fazem (além de todo o estudo necessário): Hélène lutou muito, principalmente por ser mulher. Lutou consigo mesma e com o mundo. E é só analisar o que significa ser uma pianista MULHER hoje, especialmente com este requinte! Talvez seja exatamente isso, tantas atrocidades ao papel feminino, de tanta repressão e preconceito, Hélène encontrou uma superação, uma solução mais singela para exercer sua independência e humanidade com autonomia na música e possivelmente no mundo... Sua pacificação e reverência para com a vida, por tudo que presenciamos quando senta-se ao piano: o encontro das suas mãos com as teclas, formando desenhos iluminados, esculturas no ar. Talvez seja por isso que admiro tanto sua imagem e sonoridade. A saída que Hélène encontrou e tantas outras que também encontraram, para não se deixar apagar nas escuridões internas e alheias, e não se
‘ ‘ – Patrícia Santos
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Foto: arquivo pessoal
enganar com a vida que nos foi dada, sabendo que é preciso moldá-la no mundo em que se vive, de acordo com as próprias necessidades, penso que Hélène não é só uma pianista mulher. Nesse mundo torpe, ela é uma heroína que, por fim escolheu viver toda a sua força de feminilidade pelo som e jamais se calar diante do mundo, falando através das obras, de seu corpo, mente e alma, mostrando com delicadeza o caminho que a música ensina... A Beleza!
Patrícia Santos: Estudante de Música e de uma sensibilidade sem tamanho!
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