BEATLES PARA CRIANÇAS: Um espetáculo dinâmico, animado e com música de qualidade para toda a família!
ELIANE ELIAS E O GRAMMY 2016: Superando seus dons pianísticos!
TRITONO BLUES E O LANÇAMENTO DO CD TRITONO BLUES PLAYS RAY CHARLES: A mistura de sucesso entre o Blues e outros estilos!
E MAIS:
Sergio Ferraz, Luiz Lugo, Tony Banks e Rafael Sanit... E as colunas do maestro Colarusso, Bersou, Uhlik e Muraah.
MÚSICA CLÁSSICA X MÚSICA POP: Essa briga é covardia!
Editorial
Heloísa Fagundes - Publisher
Salve apreciadores da boa música! Em tempos de crise econômica e musical no Brasil, onde grande parte dos brasileiros parece se interessar apenas por lepo-lepos, bará-bará-barás e trá-trá-trás, uma grande notícia: o Grammy para a pianista paulistana radicada em Nova Iorque Eliana Elias!! Sem dúvida, merecedor!! E, remando contra a maré, mas com a convicção de que é importante divulgar o que temos de melhor em nosso país, abrimos nossa edição com a matéria de capa de um músico de extrema educação, gentileza e, acima de tudo, competência, André Youssef! Complementando a
04 / Revista Keyboard Brasil
matéria de capa, que conta com uma entrevista exclusiva, este mês apresentamos o mais recente trabalho de sua banda, a Tritono Blues. A Revista também traz, este mês, um projeto bem legal e que já é um sucesso de público. Estou falando do Beatles para Crianças, idealizado pelo músicoartista plástico-cordelista Fábio Freire. Nosso colaborador Joêzer Mendonça volta com força total discorrendo sobre a briga entre a Música Clássica e a Música Pop! Nossa publicação também alcança outros ares, por isso este mês, a Keyboard Brasil apresenta uma matéria e entrevista com o fantástico pianista e maestro cubano, que atualmente vive na Argentina, Luis Lugo. Amyr Cantusio traz para o perfil deste mês, Sergio Ferraz, premiado músico (em seu currículo consta, além de outros prestigiados trabalhos, a parceria com o saudoso Ariano Suassuna). Amyr também traz o mundo progressivo através do tecladista Tony Banks, da banda Genesis. Além destas, destaque também para as colunas de Murilo Muraah, Luiz Carlos Rigo Uhlik, maestro Colarusso e professor Bersou. E, para finalizar, uma novidade: apresentamos nosso novo colaborador, Rafael Sanit, que trará notícias musicais do Norte e Nordeste! Sempre termino o editorial agradecendo a todos que nos ajudam na tarefa de proporcionar um conteúdo relevante, confiável e interessante. Então, este mês quero deixar aqui uma frase que devemos seguir ao pé da letra:
‘‘Ser talentoso te abre muitas portas. Porém, ser agradecido, as mantém abertas.’’ Obrigada equipe, colaboradores, leitores, anunciantes. Obrigada Deus. Excelente leitura!
Espaço do Leitor Aeeeee! Fomos destaque de lançamento na revista da Editora Keyboard, pense numa alegria de ver nosso trabalho sendo espalhado para os tecladistas do Brasil! Tem um pouco da nossa história contada lá, dá pra ler a matéria toda no site da Keyboard www.keyboard.art.br Obrigado a todos da Editora Keyboard, parabéns pelo trabalho!! (Referente à matéria da banda Moldar) Vitor Garcia – via Facebook Minha matéria saiu na revista Editora Keyboard! Muito obrigado Mateus Schanoski! (Referente à coluna Perfil de Salomão Soares). Salomão Soares – via Facebook
Li a entrevista! Certeira, além de falar sobre as influências musicais, fala também de seu ideário transcendente! E em uma grande revista brasileira! As perguntas do Amyr Cantusio foram bem pertinentes! Parabéns!! (Referente a Edgar Franco em matéria de Amyr Cantusio Jr.) Danielle Barros – via Facebook Que bacana! Quero ler. Vou publicar na página do Culturama! (Referente a Edgar Franco em matéria de Amyr Cantusio Jr.) Nega Lilu – via Facebook
A revista keyboard Brasil está espetacular. Muito conteúdo. Professor Luiz Bersou – via email
Parabéns Helô pela matéria! Adoro Beethoven e ouço sempre as composições dele. Sua obra não tem nenhum ponto baixo! (Refrente ao matéria sobre Beethoven: 245 anos do gênio imortal). Igor Maxwel – via Blogg
Heloísa Godoy Fagundes: Grato pelo seu bom gosto musical e por nos ter ajudado na Revista Editora Keyboard. Serei eternamente agradecido e pelo resto da minha vida lhe agradecerei ! Que a Paz esteja sempre contigo ! Pablito Morales MUSIQUINS – via Facebook
A Revista Keyboard Brasil agradece a todos os comentários e lança uma pergunta: o que desejam que a Revista publique? Queremos saber o que nossos leitores pensam! Deixem sua opinião em nossa página do facebook, no site da editora Keyboard, no blog da Revista ou mande um e-mail.
Excelente entrevista! (Referente a Edgar Franco em matéria de Amyr Cantusio Jr.) Eduardo Spicacci – via Facebook
Expediente
Revista
Fevereiro / 2016
Keyboard Revista
www.keyboard.art.br
Brasil
Editora Musical
Revista Keyboard Brasil é uma publicação mensal digital gratuita da Keyboard Editora Musical. Diretor: maestro Marcelo D. Fagundes / Publisher: Heloísa C. G. Fagundes Caricaturas: André Luiz / Capa: Fernando Velozo / Marketing e Publicidade: Keyboard Editora Musical Correspondências / Envio de material: Rua Rangel Pestana, 1044 - centro - Jundiaí / S.P. CEP: 13.201-000 / Central de Atendimento da Revista Keyboard Brasil: contato@keyboard.art.br As matérias desta edição podem ser utilizadas em outras mídias ou veículos desde que citada a fonte. Matérias assinadas não expressam obrigatoriamente a opinião da Keyboard Editora Musical. zo rnando Velo
Capa: Fe
Revista Keyboard Brasil / 05
Índice
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MATÉRIA DE CAPA: O Blues man da cena paulistana André Youssef
MUSICANDO: Beatles para Crianças - por Heloísa Godoy Fagundes
APRENDA AGORA: As etapas de uma produção musical, parte 2 por Murilo Muraah
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38 LANÇAMENTO: Tritono Blues e o CD Tritono Blues plays Ray Charles - por Heloísa Godoy Fagundes
32
28
POR DENTRO: Eliane Elias e o Grammy 2016
PERFIL: Sérgio Ferraz - por Amyr Cantusio Jr e Heloísa Godoy Fagundes
OPINIÃO: Música Clássica X Música Pop - por Joêzer Mendonça
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68
78
A VISTA DO MEU PONTO: Por que os livros de autoajuda geralmente não funcionam por Luiz Carlos Rigo Uhlik
PELO MUNDO: Luis Lugo: De Cuba para o mundo - por Heloísa Godoy Fagundes
MUNDO PROGRESSIVO: Tony Banks por Amyr Cantusio Jr.
82 NOVIDADE: Rafael Sanit, nosso novo colaborador - por Heloísa Godoy Fagundes
06 / Revista Keyboard Brasil
84 ESPECIAL: O ministério da saúde adverte: as obras de Pierre Boulez não fazem mal à saúde - por maestro Osvaldo Colarusso
86 PONTO DE ENCONTRO: O que estamos fazendo com a classe média? - por professor Luiz Bersou
MatĂŠria de Capa
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ANDRE YOUSSEF O blues man da cena paulistana
PIANISTA, ORGANISTA, ARRANJADOR, COMPOSITOR E CANTOR PAULISTANO. EM 23 ANOS DE CARREIRA, YOUSSEF ATUOU COMO TECLADISTA DE INÚMEROS ARTISTAS E EM VÁRIAS BANDAS, PASSANDO PELO POP, ROCK, BLUES, SOUL E MÚSICA BRASILEIRA. É COM ELE NOSSA MATÉRIA DE CAPA E ENTREVISTA EXCLUSIVA!
Foto: Pati Patah
Por Heloísa Godoy Fagundes
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C
orre música nas veias de André Youssef... Mais precisamente Blues. Na estrada
desde os 17 anos de idade, o músico se destaca pelo estilo tradicional de tocar teclado com grande acentuação e linguagem Blues. Possui uma versatilidade imensa unindo a energia do Rock'n'Roll, balanço brasileiro, improviso do Jazz e o vocabulário da música Pop. Tem como principais sonoridades o piano acústico, o órgão hammond e pianos elétricos antigos. Além de tocar um pouco de acordeon, violão, guitarra, gaita e percussão. Dentre as influências musicais estão Ray Charles, The Beatles, Louis Armstrong, BB King, James Brown, Rolling Stones, Johnny Cash, Elton John, Eric Clapton, James Taylor, Willie Nelson, Mark Knoplfer, Tim Maia, Wilson Simonal, Jorge Benjor e Luiz Gonzaga. Quanto às influências no instrumento, destacam-se Billy Preston, Dr. John, Jimmy Smith, César Camargo Mariano, entre outros. Além de fazer parte do Tritono Blues e da banda de Nasi, vocalista do Ira!, André Youssef é requisitado constantemente para participações especiais em shows e gravações de várias bandas e artistas. Revista Keyboard Brasil / 11
A música em sua vida...
André tocando órgão aos 11 anos de idade, em 1987 (arquivo pessoal).
Com a cantora americana Jai Malano & Igor Prado Band em 2015 (crédito: Carla Sagula).
Acompanhando a cantora de Chicago Big Time Sarah em 2006 (arquivo pessoal).
Com o cantor JJ Jackson em 2014 (arquivo pessoal).
Foto de divulgação do projeto Sympathy for The Blues em 2013 (crédito: Fernando Velozo). 12 / Revista Keyboard Brasil
Aos 7 anos André Youssef começou sua iniciação musical no CLAM (Centro Livre de Aprendizagem Musical), Escola de Música do Zimbo Trio, pioneira no Brasil. Estudou órgão dos 8 aos 15 anos e piano até os 18. Desde os 17 anos toca profissionalmente, destacando-se no cenário do Blues ao fazer parte de várias bandas: Osstreiros in blues, Derivados do Blues, a atual Tritono Blues além de acompanhar nomes importantes do gênero como Blue Jeans, Igor Prado Band, Nuno Mindelis, J.J. Jackson, André Christovam, Sérgio Duarte, Vasco Faé, Flavio Guimarães, Nasi e os irmãos do Blues, entre outros. Ao lado da Igor Prado Band acompanhou diversos artistas internacionais como as cantoras Jamie Wood, Tia Carroll, Jai Malano e Whitney Shay, o guitarrista de Chicago James Wheeler e Curtis Salgado, eleito em 2010 o melhor cantor de SoulBlues americano. Em 2007 participou da gravação do álbum de estreia intitulado Upsidown, do guitarrista Igor Prado, considerado o oitavo melhor disco de Blues do ano pela revista canadense Real Blues. Nesse disco, dividiu faixas com os americanos Steve Guyger, RJ Mischo, JJ Jackson e Greg Wilson. Ao lado do Blue Jeans fez shows com a cantora de chicago Big Time Sarah, com os guitarristas Andreas Kisser (Sepultura), Luiz Carlini (Tutti-Frutti), Celso Blues Boy e com o trombonista Bocato. Em 2011 acompanhou o guitarrista de Chicago Carlos Johnson em uma pequena turnê em São Paulo. Nesse mesmo ano fez uma turnê com o “Blueseiros do Brasil”, um projeto idealizado por Vasco Faé, que reúne um seleto time de artistas do Blues nacional. Em 2014 se apresentou com a cantora Carlise Guy (filha de Buddy Guy).
Na estrada desde os 17 anos de idade, o músico se destaca pelo estilo tradicional de tocar teclado com grande acentuação e linguagem Blues (crédito: Carla Sagula).
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Participou de shows dentro da programação da Virada Cultural na cidade de São Paulo (2008 a 2011), sendo que neste último fez uma apresentação solo no palco “Piano na Praça” interpretando Ray Charles. Tocou na maior feira de música da América Latina, a ExpoMusic, nos anos de 2005, 2006 e 2012. Em 2013, ao lado das bandas Tritono Blues e Montana Blues, integrou e fez a direção musical do projeto ‘‘Sympathy For The Blues’’ com músicas dos Rolling Stones em versões exclusivas com a linguagem Blues.
A banda de Nasi... Desde 2008 faz parte da banda do cantor Nasi (integrante fundador do Ira!, umas das mais importantes bandas do rock paulistano dos anos 80). Dentre os eventos mais significativos ao lado de Nasi estão aberturas de shows internacionais como AC/DC no Estádio do Morumbi em 2009 e Echo And The Bunnymen no Via Funchal em 2008. Shows como o de homenagem ao Raul Seixas na Virada Cultural em São Paulo e o show de Aniversário de 10 anos da Rádio Kiss FM em 2011 com Frejat, Roger (Ultraje a Rigor), 14 / Revista Keyboard Brasil
Foto de divulgação do DVD Nasi Vivo Na Cena em 2009 (crédito: Rui Mendes).
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Marcelo Nova, Cachorro Grande e Ronaldo e os Impedidos. Além de inúmeros programas de TV. Em 2009 se envolveu na concepção e na gravação do DVD em estúdio “NASI Vivo Na Cena”, que teve a produção de Roy Cicala, engenheiro de som americano que gravou todos os discos de John Lennon, além de Jimmy Hendrix, Frank Sinatra, Aerosmith, Tom Jobim, entre outros. Como consequência, este disco foi indicado ao Grammy Latino 2010 como melhor álbum de Rock brasileiro. Em 2012 entrou novamente em estúdio para gravar o disco “Perigoso”, lançado pela gravadora TRAMA. Os shows de lançamento contaram com a participação de Erasmo Carlos. Em 2015 gravou o terceiro trabalho de Nasi, o DVD/CD “Egbé”, gravado ao vivo no Audio Arena, no Estádio do Morumbi, e exibido pelo Canal Brasil. Contou com a participação especial de Renato Teixeira.
Geração 80... Youssef participa constantemente do projeto Geração 80, que reúne artistas do Rock Nacional da década de 80. Faz diversos shows com Marcelo Nova (Camisa de Venus), Kid Vinil, Nasi (IRA!), Kiko Zambian16 / Revista Keyboard Brasil
Show Geração 80 com Kiko Zambianchi, Ritchie e Mingau (Ultrage a Rigor) (arquivo pessoal).
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chi, Roger (Ultrage a Rigor), Frejat (Barão Vermelho), George Israel (Kid Abelha), Leo Maia (Filho de Tim Maia), Ritchie, Toni Garrido (Cidade Negra), Paulo Miklos (Titãs), Marcelo Bonfá (Legião Urbana), Charles Gavin (Titãs), Afonso Nigro (Dominó), Thedy Correa (Nenhum de Nós), Milton Guedes, Mauricio Gasperini, Willie e Gel (Rádio Taxi), entre outros.
Tritono Blues... Membro fundador desde 2007 do Tritono Blues ao lado do cantor Bruno Sant'Anna, do gaitista André Carlini e mais recentemente do baixista Edu Malta, a banda realiza apresentações nas melhores casas de shows de São Paulo, em hotéis, além do circuito SESC e eventos corporativos de várias empresas. Participa de diversos programas de Rádio e TV. Lançou o CD Groovin' (2008) e o álbum autoral Mojito do bom (2013), que contou com o requisitado e ganhador de vários Grammys Luis Paulo Serafim, engenheiro de som de nomes como Roberto Carlos, Daniela Mercury, Djavan, Cesar Camargo Mariano, entre outros. Para este ano, a banda lança seu terceiro álbum, Tritono Blues Plays Ray Charles. Todos pela gravadora Movieplay. Com o Tritono Blues, André Youssef aprimorou a técnica de executar os baixos do piano na mão esquerda, simultaneamente a harmonia e solos na mão direita. Leia a entrevista a seguir. 18 / Revista Keyboard Brasil
Foto de divulgação do projeto: TRITONO BLUES PLAYS RAY CHARLES – formação em Octeto (crédito: Rogério Borges).
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ENTREVISTA Revista Keyboard Brasil – Quais são suas influências musicais? Como decidiu seguir o caminho do Blues? André Youssef: Meu pai ouvia muita música clássica, italiana, francesa, mas também Beatles, Elvis, Cat Stevens, Neil Diamon, Ray Charles, Rod Stewart, etc... Essa foi a primeira influência na minha infância na década de 80. Comecei a me interessar pelo rock dos anos 60, mas ao contrário de alguns amigos, ao invés de partir para o rock setentista, mais pesado, etc, eu fui atrás das raízes, e me apaixonei por Little Richard, Chuck Berry e Jerry Lee Lewis. Por volta dos 10 anos, tive uma professora, que me passava exercícios de progressões 1°, 4° e 5°, e eu sempre pedia para repetí-los até esgotar suas possibilidades com inúmeras variações, ritmos, tonalidades, etc... Inconscientemente eu estava aprendendo os fundamentos do Blues. Com 14 anos comecei a entender o que realmente era o Blues, e o meu primeiro disco desse estilo foi o Harp Attack, quatro grandes gaitistas acompanhados por um pianista: Lucky Peterson. Aí não parei mais, descobri Pinetop Perkins, Dr. John, Charles Brown, os guitarristas BB King, Stevie Ray Vaughan, Eric Clapton, Buddy Guy, etc.. No início da década de 90 eu era um tecladista que queria tocar numa banda. As “bandas de garagem” dessa época tocavam Rock dos anos 80. Então, foi assim que eu comecei. Somente em 95 fui convidado a tocar numa banda de Blues. Peguei uma fase 20 / Revista Keyboard Brasil
legal com vários locais na cidade para se tocar Blues, casas como o Blue Night e o Bourbon Street acabavam de ser inauguradas. Então foi um caminho natural para mim, mas não sou fechado, tenho um gosto bastante amplo, aprecio boa música. Revista Keyboard Brasil – Atualmente, o Blues tornou-se novamente muito apreciado no Brasil. Citando apenas alguns expoentes, temos você, o Adriano Grineberg, o Luciano Leães, o Big Chico, enfim... Acredita que o estilo tende a crescer mais? Por que? André Youssef: Na minha opinião não vivemos uma época muito favorável para música de qualidade em geral, principalmente aqui no Brasil. Em se tratando de mainstream, há mais de 30 anos o espaço para boa música vem numa descida, infelizmente... Mas a evolução digital e a rápida difusão do conhecimento possibilitam as pessoas a terem acesso ao Blues, ao Jazz, à música clássica, e tantos outros estilos musicais... Olhando por esse prisma, eu acredito que o Blues crescerá cada vez mais. Toco constantemente com a minha banda Tritono Blues em eventos corporativos e sociais, onde introduzimos esse estilo e suas vertentes para as pessoas. Quando elas entendem que o Blues é a raiz de quase tudo o que ouvimos na música ocidental, se surpreendem e passam a se interessar mais. Bem resumidamente: O Blues teve um filho, o Rock que depois teve as suas inúmeras variações. O outro filho foi o Soul e, na sequência o Funk, representado por James Brown, sem ele não teríamos Michael
Jackson, o rei do Pop. Não teríamos Beyoncé, etc... Portanto, está tudo ligado. Revista Keyboard Brasil – Jimi Hendrix disse uma vez: “O Blues é fácil de tocar, mas é difícil de sentir”. Você concorda? André Youssef: Concordo em partes. O Blues tem a estrutura harmônica muito simples, e fácil de entender. Como eu disse anteriormente, são 3 acordes, distribuídos em 12 compassos (em sua grande maioria). Muitos músicos costumam dizer: “Blues é fácil, são só 3 acordes”. Porém, não basta conhecer somente essa estrutura, existe a linguagem, que foi desenvolvida ao longo do tempo. A melodia é muito importante, trazida dos cânticos spiritual, foi evoluindo na maneira dos negros cantarem, depois migrada para os instrumentos como o violão, o piano e depois a gaita e a guitarra. E é nessa química que entra o sentimento, a emoção. Sem esses ingredientes, fica impossível de tocar o Blues. Revista Keyboard Brasil – Além de tocar com muitos artistas e bandas de Blues, você acompanha muitos outros estilos diferentes. Como isso influencia na sua música? De que forma isso é dosado na hora em que você, como integrante do Tritono, desenvolve novas músicas? André Youssef: Fora do Blues, toquei com bandas que tinham o repertório voltado para o Rock e o Pop. Algumas mais focadas nos anos 80, outras mais na linha do Classic Rock das décadas de 60 a 90. Algumas com trabalhos autorais em português, tive experiências com o Jazz
tradicional, com a Bossa Nova e Chorinho. A música é uma só, como eu disse, está tudo ligado. Amo Jazz, ele traz o improviso, a eterna aprendizagem. Amo Rock'n'Roll dos anos 50 e 60. Gosto das produções e arranjos dos anos 80. Adoro samba, caras como Paulinho da Viola, Cartola e Vinícius são eternas inspirações. Tim Maia, Simonal e Luis Gonzaga são outros gênios da nossa música. Pode soar estranho o que vou falar, mas vejo “Blues” nesses caras. Trago comigo todas essas influências, principalmente para o Tritono, seja na escolha do repertório, seja para novas composições. Revista Keyboard Brasil – Hoje, quem são os blueseiros que fazem a sua cabeça no cenário mundial? André Youssef: Eu continuo ouvindo os mestres consagrados do Blues, e sempre descobrindo outros nomes. Não é exatamente Blues, mas Amy Winehouse sem dúvida foi uma das grandes revelações que trouxe elementos Blues e Soul para o mainstream da música. Na cena Blues atual, gosto do Keb'Mo, ele consegue trazer uma atualidade para as músicas sem perder a essência do Blues tradicional. Hoje, tem alguns guitarristas novos que estão se destacando na cena americana, mas sinceramente, não tem nada de novo no que eles estão fazendo. O que fazer depois de B.B. King, Hendrix e Clapton? Revista Keyboard Brasil – E o Blues nacional? Quais são os grandes ícones na sua opinião? Revista Keyboard Brasil / 21
André Youssef: Começando com as teclas temos o Ari Borger, pioneiro no Boogie Woogie aqui no Brasil. O organista Flávio Naves. O showman Adriano Grineberg e Luciano Leães com o seu estilo New Orleans. Na guitarra, Nuno Mindelis conseguiu uma notoriedade bem legal. Mas o grande destaque na minha opinião, é o guitarrista Igor Prado, que está conquistando o mundo. O seu mais recente CD foi indicado ao Blues Music Awards, comparável ao oscar do Blues mundial. Fico honrado quando sou convidado a participar de seus shows. RKB – Quais seriam os 5 CDs de Blues que você levaria para uma “ilha deserta”? AY: Posso citar 6 ? (risos...) 1. James Cotton, Junior Wells, Carey Bell, Billy Branch – Harp Attack! 2. B.B. King – Live at Apollo 3. Lou Rawls – Tobacco Road 4. Big Joe Turner – The Definitive Black & Blue Sesions – Texas Style 5. Miles Davis –Kind of Blue 6. Ray Charles – Modern Sounds in Country and Western Music RKB – De que forma você vê a fusão do Blues com alguns outros ritmos, como vários artistas clássicos e contemporâneos têm praticado de uma forma cada vez mais constante? AY: Eu sou completamente a favor dessa fusão. Tudo é uma questão de abordagem, de bom gosto, de conceito e justificativa para tal mistura. O Blues nasceu no sul dos EUA no final do século XIX, e na 22 / Revista Keyboard Brasil
sequência nasceu o Jazz. Desde essa época iniciou-se essa fusão, ritmos vindos da Europa, da música country, da música cubana, etc... Nos anos 50 o Blues influenciou o nascimento do Rock, em contrapartida o próprio Rock dos anos 60 com suas guitarras distorcidas influenciou o Blues. No final dos anos 70 o Blues foi influenciado pela Disco Music, caras como BB King, Freddy King e Junior Wells lançaram álbuns super dançantes maravilhosos, com direito a naipe de metais, fender rhodes, etc... No Brasil, vários artistas trouxeram o Blues para sua música. Jackson do Pandeiro foi um dos primeiros a misturar o Swing americano com o Samba (Chiclete com Banana). Wilson Simonal, Jorge Bem e Tim Maia também usaram essa mistura. O estilo Samba-Rock é a prova disso. Alceu Valença e Raul Seixas misturaram o Blues com o Forró. Raul cantou: “Let me sing my Blues and go”, Cazuza compôs alguns Blues em português, e por aí vai... RKB – Você possui projetos paralelos ao Tritono. Como ingressou na banda do Nasi? AY: O Tritono é a minha banda do coração onde me realizo em todos os sentidos: musicalmente, profissionalmente, empresarialmente, artisticamente, etc... Mas sempre tive a necessidade de tocar com músicos e artistas diferentes, para absorver as novas experiências, evoluir musicalmente, profissionalmente, ouvir histórias dos mais velhos. Sempre gostei de trabalhar como músico sideman. Para variar, o Blues me levou até o Nasi (risos).
Além do IRA!, o Nasi desenvolveu uma carreira paralela: Nasi e os irmãos do Blues. Um big band que ele formou no início dos anos 90 com a nata dos músicos de Blues da cena paulistana. Com o final do IRA! em 2007, Nasi resolveu transformar a sua carreira paralela em trabalho solo principal, onde tocaria alguns sucessos do IRA!, Blues e outras coisas. Para os teclados, Nasi chamou o seu braço-direito e multi-instrumentista Johnny Boy, que havia sido seu tecladista tanto em sua carreira paralela quanto no IRA!, mas ele declinou, por causa de um outro trabalho. O amigo Adriano Grineberg, que era o tecladista da fase final do IRA! também foi convidado para assumir o cargo, mas também declinou por causa de outros trabalhos. Então, indicou o meu nome. Para esta nova fase, Nasi chamou para assumir a bateria Junior Moreno, da extinta Blue Jeans, banda muito conhecida no cenário Blues brasileiro. Como eu já havia feito vários shows com o Blue Jeans, Junior Moreno também falou no meu nome para o Nasi. Ao chegar no ensaio, já rolou uma empatia logo de cara e permaneci na banda até hoje. Viajei pelos quatro cantos do Brasil, aprendi muita coisa dentro e fora dos palcos. RKB – Sobre o projeto Geração 80, acredita que esteja faltando algo para a música brasileira atual comparando com o que tivemos na década de 80, por isso esse saudosismo? Qual seu ponto de vista? AY: Vivemos numa realidade diferente
dos anos 80. Naquela época, com abertura política, havia uma necessidade de dar voz aos jovens, então as gravadoras investiram nas “bandas de garagem” que traziam uma nova atitude, tanto na música, quanto nas letras, como no comportamento. Isso foi até o final dos anos 80. Com a mudança do governo, o foco mudou, o dinheiro começou a ser mais importante e não mais o lado artístico. Vieram o Sertanejo, o Pagode e o Axé. É só lembrar o que aconteceu nos anos 90. Então, respondendo a pergunta, temos muitos talentos aqui no Brasil, o que está faltando é dar oportunidade para as pessoas ouvirem de tudo, e não só esses estilos que citei acima. Esse projeto ‘‘Anos 80’’ é sempre bem vindo para o público dessa geração, que quer rever no palco esses artistas e ouvir os sucessos dessa época. É um prazer poder tocar e ouvir as histórias desses ícones, que eu curtia quando criança. RKB – Sobre o seu set, para a gravação dos CDs, quais equipamentos você utilizou? E nos shows, quais utiliza? AY: Para a gravação do CD do Ray Charles, utilizei um piano acústico de cauda Yamaha, um órgão Hammond B3, com uma caixa Leslie, um piano elétrico Fender Rhodes Mark 1 e um acordeon scandalli 80 baixos. Para os shows, nem sempre é possível utilizar os instrumentos acima. Às vezes, em alguma casa de shows tem um piano acústico, um órgão ou ep. Mas o meu set principal é um Yamaha CP-33 para os pianos e um Hammond SK-1. Atualmente tenho o Revista Keyboard Brasil / 23
apoio da Hammond Brasil. Tenho orgulho de fazer parte deste seleto quadro de artistas que representam este órgão lendário aqui no Brasil. Um abraço para o Wagner Carneiro da Hosmil.
Tocando Hammond na gravação do DVD EGBE de Nasi em 2015 (arquivo pessoal).
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RKB – Quero agradecer pela entrevista concedida e desejar muito sucesso! AY: Quero agradecer a todos da Revista pela oportunidade desta matéria e entrevista, em particular a Heloísa pelo convite e ao amigo Mateus Schanoski.
www.beatlesparacriancas.com
Por Dentro
ELIANE ELIAS e o Grammy 2016 RADICADA EM NOVA I O R Q U E , A P I A N I S TA BRASILEIRA CONQUISTOU O GRAMMY 2016, NA CATEGORIA JAZZ LATINO. ELIANE ELIAS É UMA PIANISTA CULTUADA NO EXTERIOR DESDE OS ANOS 1980 MAS PRATICAMENTE DESCONHECIDA PARA OS BRASILEIROS.
Da Redação
26 / Revista Keyboard Brasil
R
adicada nos Estados Unidos há 35 anos, a pianista, cantora e compositora paulistana Eliane
Foto: Bob Wolfenson
Elias construiu uma sólida carreira
internacional. Com 24 álbuns solo lançados no mercado norte-americano, após sete indicações, Eliane conquistou, na última terça-feira (15), o primeiro Grammy de sua carreira, na categoria Melhor Álbum de Jazz Latino, premiação conferida a Made In Brasil, álbum lançado em 2015, pelo selo Concord, com repertório composto por clássicos de nossa música popular, como Águas de Março, de Tom Jobim, Aquarela do Brasil, de Ary Barroso, e Rio, de Ronaldo Bôscoli e Roberto Menescal que, aliás, participa do trabalho cantando e tocando guitarra. Made in Brazil é o primeiro trabalho da pianista a ser gravado em São Paulo, sua cidade natal, com participações de Ed Motta e Roberto Menescal. Neste Grammy, além da categoria que venceu, ele foi indicado a melhor engenharia de gravação (Best Engineered Album), mas não ganhou. Em seu site, a pianista define este trabalho – em que atuou em várias frentes, incluindo as de produtora, compositora e vocalista – como “uma espécie de volta às origens”. Na cerimônia, Eliane foi representada pela filha mas agradeceu o reconhecimento e o apoio dos fãs em sua página no Facebook.
Revista Keyboard Brasil / 27
Musicando
BEATLES PARA Crianรงas
28 / Revista Keyboard Brasil
UM QUINTETO... UM SHOW DE ROCK PARA AS CRIANÇAS... UM REPERTÓRIO INCRÍVEL COM INSTRUMENTOS INUSITADOS... HISTÓRIAS CONTADAS E CANTADAS... PARTICIPAÇÃO DAS CRIANÇAS TOCANDO INSTRUMENTOS COM A BANDA... A FAMÍLIA SE DIVERTINDO... UM ESPETÁCULO DINÂMICO, ANIMADO E COM MÚSICA DE QUALIDADE! Por Heloísa Godoy Fagundes
Revista Keyboard Brasil / 29
Beatles para Crianças é liderado por Fabio Freire (voz, violão e ukulele) e completado por Gabriel Manetti (voz), Ludi (guitarra, teclados e gaita), Humberto Vigler (bateria) e Johny Frateschi (baixo).
B
eatles para Crianças é um projeto criado por Fabio Freire – professor do Teatro Escola
Célia Helena – educador, músico e diretor musical. Com sua experiência de professor de música há mais de dez anos para crianças de todas as idades, com quatro CDs compostos para o público infantil e diversas apresentações musicais e teatrais, Freire se reuniu com outros 3 músicos e o ator Gabriel Manetti para formar este show. A ideia é fazer um show de Rock para as crianças, onde todas as gerações se divirtam e apreciem boa música e boas histórias. As crianças e os adultos participam de brincadeiras com as canções, sobem ao palco para fazer vocais e tocar alguns instrumentos com a banda e se deliciam com canções que não deixam ninguém ficar parado. O projeto ganhou força quando Fabio foi selecionado pela Rede Globo de televisão, para conhecer o Beatle Paul McCartney, em Recife, no ano de 2012. Os vídeos das apresentações deste projeto encantaram os jurados e o ídolo. Assim, o projeto ganhou autorização “oficial” do mestre.
Desde então, o grupo se apresenta em eventos, escolas, SESCs e projetos por todo o Brasil. Desde outubro de 2014, o grupo mantém temporada no Teatro UMC, em São Paulo. O show conta com uma grande interação do público, projeções de fotos, vídeos e um aparato técnico de luz e som que acrescentam mais potência às canções do quarteto britânico. É um bom lugar para toda a família se divertir como nunca curtindo música de qualidade. Contatos BPC produção: Tel: (011)99955-3947 bpc.producao@gmail.com grupopassarinho@gmail.com Serviço - Beatles para Crianças CLASSIFICAÇÃO: Livre – Musical Infantil VALOR: R$ 60,00 (inteira) e R$ 30,00 (meia) Crianças a partir de 2 anos pagam. LOCAL: TEATRO UMC DURAÇÃO: 70 Minutos SITE DO TEATRO: www.teatroumc.com.br ENDEREÇO: Av. Imperatriz Leopoldina, 550 (Entrada pelo Boulevard Lateral do Fran's Café) HORÁRIOS: Fevereiro: aos domingos 15h. Março: aos domingos 11hs. BILHETERIA: (11) 2574-7749 Site de vendas: www.compreingressos.com
30 / Revista Keyboard Brasil
Aprenda agora
AS ETAPAS DE UMA PRODUÇÃO MUSICAL - Parte 2
32 / Revista Keyboard Brasil
CONHECIMENTO É FUNDAMENTAL EM QUALQUER PROFISSÃO. QUANDO O ASSUNTO É PRODUÇÃO MUSICAL, MURILO MURAAH EXPLANA COM PERFEIÇÃO. EDIÇÃO, MIXAGEM E MASTERIZAÇÃO SERÃO OS ASSUNTOS ABORDADOS A SEGUIR. * Por Murilo Muraah
Revista Keyboard Brasil / 33
N
a coluna anterior, pudemos compreender um pouco melhor o que pode ser feito durante as etapas de Pré-Produção e Gravação. Agora seguimos para as etapas seguintes: Edição, Mixagem e Masterização.
Edição A partir do material gravado, diversos procedimentos podem ocorrer para torná-lo mais adequado ao que buscamos em nossa produção musical. Idealmente, a gravação terá ocorrido de forma bem feita e com boa qualidade, minimizando a necessidade de edições para corrigir diferentes problemas. Mas mesmo as melhores gravações podem conter pequenas falhas técnicas e elementos sonoros indesejáveis que serão eliminados na edição. Assim, a edição corretiva pode incluir a remoção de ruídos, o corte de partes de uma pista(1) onde o instrumento não está sendo executado, aplicação de fades(2), etc. A edição também pode envolver a correção ou melhoria de elementos musicais presentes na execução das vozes e instrumentos captados. Isso pode significar selecionar e juntar partes de takes(3) diferentes, a correção de uma nota que foi tocada fora do tempo, a afinação de vozes, tudo sempre de acordo com a necessidade e proposta estética do trabalho. Alguns gêneros, como o Pop, podem permitir que a edição ocorra de forma bastante pesada, já que até mesmo sons bem artificiais muitas vezes podem ser utilizados como recursos estéticos. Já 34 / Revista Keyboard Brasil
em outros gêneros, como o Jazz, a sonoridade mais natural e orgânica costuma ser mais desejada, permitindo a presença de elementos sonoros que geralmente seriam removidos ou corrigidos em outros gêneros. A captação de instrumentos virtuais também pode exigir edições. Nesses casos, as edições geralmente serão feitas através de ferramentas que modificarão as informações MIDI(4), nos permitindo alterar o posicionamento, duração, altura (pitch), intensidade e outros elementos das notas, possibilitando criar novas notas ou apagar notas indesejadas, tudo isso de forma incrivelmente simples. Mas nem só corretiva precisa ser a edição. A edição criativa também é possível, permitindo que cortes, repetições e outras edições ocorram de forma a interferir diretamente no arranjo da música. Isso pode incluir a execução de um som de trás para frente, cortes bruscos em um instrumento para criar um efeito interessante, a repetição de um riff em uma parte da música onde ele originalmente não aparecia, enfim, tudo vai depender da sua imaginação e criatividade. Finalizadas as edições, é uma boa ideia transformar os instrumentos MIDI em áudio, consolidar os arquivos, fazendo com que as edições realizadas passem a ser parte dos novos arquivos de áudio que serão gerados, além de limpar e organizar o projeto para a mixagem. Com essas ações, o projeto ficará mais leve e organizado, liberando mais capacidade de
processamento e tornando tudo mais simples e prático para a mixagem.
Mixagem A palavra mixagem vem do inglês mix, que significa misturar. Nesta etapa, todos os elementos sonoros serão misturados e trabalhados para que tenham seu espaço e realizem sua função na música da melhor forma possível. Mas antes disso, é preciso ter uma ideia de qual sonoridade queremos que a música tenha. Assim, antes de começar a mixar, podemos pensar em como será o palco sonoro da música, ou seja, onde os instrumentos estarão localizados, além de definir quais deles estarão em primeiro plano, quais estarão presentes de forma mais discreta, que tipos de efeitos serão utilizados, quais timbres desejamos, etc. Antes de realizar a mixagem final, é comum que uma mixagem rápida seja realizada para testar se nossas ideias para a música de fato irão soar bem. Chamada de Rough Mix, que pode ser traduzido como um esboço da mixagem, essa mixagem rápida geralmente envolve apenas um rápido equilíbrio de volumes e posicionamento dos instrumentos no campo estéreo, além da aplicação de um ou outro efeito criativo (como um delay bem longo na voz em alguns momentos da música, por exemplo) que pensamos que deveriam estar presentes na mixagem final. Na mixagem final, além de trabalhar de forma mais cuidadosa os elementos já testados na Rough Mix, outros tipos de processamento também
podem ser aplicados nas pistas individuais ou em grupos de instrumentos: processadores de dinâmica (como compressores, limiters e gates), equalizadores, reverbs, delays, chorus, distorções e tantos outros efeitos de mixagem. Também podemos automar diferentes elementos de nossa mixagem, permitindo que um mesmo parâmetro possua valores diferentes em diferentes partes da música (podemos, por exemplo, fazer com que o volume do piano fique mais alto durante os versos, ou que o delay da guitarra fique mais longo durante o solo, etc.). Terminada a mixagem, faremos a gravação ou bounce do projeto, fazendo com que as múltiplas pistas individuais sejam misturadas de forma definitiva e gerem um novo arquivo, de acordo com o formato desejado: estéreo, surround, etc. Em alguns casos, a mixagem também pode ser finalizada em stems(5), caso isso tenha sido combinado com o técnico que realizará a masterização.
Masterização A masterização visa fazer com que as músicas atinjam a melhor sonoridade final possível e estejam adequadas à mídia em que serão lançadas. Isso significa que uma mesma música ou álbum pode passar por mais de um processo de masterização. Por exemplo, hoje não seria estranho se um projeto tivesse uma masterização realizada para lançamento em CD, outra para vinil e outra para iTunes e outras plataformas digitais. Revista Keyboard Brasil / 35
Durante a masterização, podem ser realizados procedimentos corretivos, como a remoção de ruídos, além de processamentos envolvendo equalização, dinâmica, saturação, imagem estéreo e profundidade, geralmente buscando melhorar ainda mais o som da mixagem, gerando um som melhor balanceado, minimizando as sobras de frequências, realizando ajustes de nível necessários e aprimorando a imagem estéreo, tudo de acordo com a sonoridade desejada naquela produção. É também na masterização que serão realizados o equilíbrio de volume e o equilíbrio tonal entre as diferentes faixas de um álbum, além da transição entre elas e a inserção do ISRC(6) das músicas, antes de finalizar o projeto de acordo com a mídia de lançamento, como mencionado antes. Definições (1) Pista: um canal de áudio. Quando realizamos uma gravação por pistas, captamos os instrumentos separados, permitindo que sejam processados de forma independente. Dessa forma, podemos ter uma pista só com o baixo, outra só com a guitarra, outra com o teclado, outra com a voz, outra com o bumbo, outra com a caixa, etc. (2) Fades: transições graduais de volume, indo do silêncio até o nível determinado de uma pista (Fade In) ou do nível determinado até o silêncio (Fade Out). Existe ainda o Crossfade, que faz a transição entre duas regiões de áudio em uma mesma pista, realizando o Fade Out da região que está terminando ao mesmo tempo que realiza o Fade In da região que está começando. (3) Takes: tomadas de gravação. Um mú-sico pode fazer diferentes takes da música inteira ou de diferentes partes da música, para que os 36 / Revista Keyboard Brasil
melhores takes sejam selecionados durante a edição. (4) MIDI: Musical Instrument Digital Interface. Protocolo de comunicação digital que permite a transmissão de dados entre instrumentos musicais, computadores e outros equipamentos. (5) Stems: grupos de instrumentos. Finalizar uma mixagem em stems permite que o técnico de masterização tenha controle individual sobre diferentes grupos. Por exemplo, ele pode equalizar as guitarras de uma maneira, comprimir apenas as vozes ou adicionar um pouco de reverb apenas à percussão. A masterização por stems é um assunto polêmico, pois muitos masterizadores consideram que esse trabalho por grupos de instrumentos deveria ser realizado durante a mixagem, não na masterização. Por esse motivo, é sempre uma boa ideia conversar previamente sobre como a mixagem deve ser enviada para a masterização quando for trabalhar com um técnico de masterização. (6) ISRC: International Standard Recording Code. Código-padrão internacional de identificação de gravações musicais que permite que uma música seja identificada quando for executada publicamente em alguns meios, permitindo a arrecadação de direitos aos compositores e músicos envolvidos na gravação. *Murilo Muraah é Bacharel em Comunicação Social pela FAAP e proprietário da Muraah Produções, onde atua como professor de áudio analógico e digital, produtor musical, compositor de trilhas sonoras e músico. Possui vasta formação, com cursos realizados dentro e fora do Brasil, incluindo: Diploma de Música (Southbank Institute of Technology - Brisbane/AUS), Formação de Apresentadores de Rádio (Rádio 4EB FM – Brisbane/AUS), Radialista – Sonoplastia (SENAC), além de diversos cursos de composição, produção musical, áudio e acústica em escolas onde atuou também como professor. Atualmente apresenta cursos, palestras e workshops em importantes eventos e instituições de ensino, como na Campus Party Brasil, na FIAM-FAAM e a SAIBADESIGN, além de atuar como técnico de áudio no estúdio da Fábrica de Cultura Jardim São Luis.
Foto: Carla Sagula
Lanรงamento
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Foto: Divulgação Revista Keyboard Brasil / 39
Tritono Blues Fluindo no ritmo...
A BANDA TRITONO BLUES APRESENTA SEU TERCEIRO TRABALHO INTITULADO TRITONO BLUES PLAYS RAY CHARLES E FALA SOBRE A MISTURA DE SUCESSO ENTRE O BLUES E OUTROS ESTILOS. * Por Heloísa Godoy Fagundes
BRUNO SANT’ANNA
ANDRÉ YOUSSEF (piano e voz) – pianista e organista, já trabalhou com grandes nomes do Blues nacional e internacional. Atualmente é também integrante da banda de Nasi (Ira!) com quem tem 3 álbuns gravados.
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ANDRÉ CARLINI (gaita e voz) – gaitista de estilo inconfundível, com ênfase na parte rítmica e acentuação, líder da banda de funkgroove-jazz Lado Black e coordenador da pasta de harmônica na EM&T (Escola de Música e Tecnologia).
EDU MALTA (baixo) – atua com artistas dos mais variados estilos como Sérgio Hinds, Havana Brasil, Celso Pixinga, Tavito, Zé Rodrix, Mafalda Minnozzi, Adriana Peixoto, Zé Barbeiro e muitos outros.
(voz e percussão) – grande cantor e também um criativo percussionista. Líder da Bruno Santanna Band, excrooner da Big Band Kings de La Noche e também exintegrantefundador da banda de Blues Rock Blindog.
A
mistura que faz uma ponte entre o Blues e outros estilos como o Soul, o Jazz, a música
latina, o Rock, o Funk, o Country Blues, a Bossa e a MPB, está na estrada desde 2007 e atende pelo nome de Tritono Blues. A banda que, no início, era composta por um trio começou de um jeito despretensioso, reunindo-se para tocar num barzinho que queria um som acústico. O entrosamento foi tão grande que foram contratados para uma temporada de um ano e nunca mais pararam! Desde então, a banda realiza apresentações nas melhores casas de shows de São Paulo, hotéis, além do circuito SESC e eventos corporativos de várias empresas. Artistas como Wilson Simoninha, Leo Maia, Nasi e Kiko Zambianchi já dividiram o palco com o Tritono Blues. Com três CDs lançados: Groovin', gravado em 2008 que, devido ao grande sucesso, teve seu relançamento em 2013 pela gravadora Movieplay / Edições Musicais 2001; o autoral Mojito do Bom, em 2013, que contou com o requisitado e ganhador de vários Grammys Luis Paulo Serafim, engenheiro de som de nomes como Roberto Carlos, Daniela Mercury, Djavan, Cesar Camargo Mariano, entre outros; e o terceiro, lançado este ano, Tritono Blues Plays Ray Charles, que promete uma repercussão tão grande quanto os anteriores. A seguir, a entrevista exclusiva com a banda.
ENTREVISTA Revista Keyboard Brasil – O Tritono Blues nasceu em 2007 reunindo três de vocês, André Carlini, André Youssef e Bruno Sant'anna. Atualmente, faz parte também o baixista Edu Malta. Como surgiu a parceria entre todos vocês? Youssef: Eu conheci o Bruno em meados da década de 90. Ele fazia parte da Blind Dog e eu dos Osstreiros in Blues. Tocávamos nos mesmos lugares, mas não formamos banda nessa época. Já o Carlini eu conheci no final dos 90, quando fui convidado para tocar na sua banda Jolly Roger. Na sequência formamos uma banda de Blues, e já rolou uma sintonia bem legal ! Bruno: Já na década de 2000, eu cantava numa banda de Blues em que o gaitista saiu e indicou o Carlini para substituí-lo. O Carlini trouxe o Youssef para essa banda que durou cerca de dois anos e acabou, o fim dessa banda foi o nascimento do Tritono Blues comigo, Carlini e Youssef. O baixista e arranjador Eduardo Malta entrou 4 anos atrás também por indicação do Carlini. Revista Keyboard Brasil – O trabalho do Tritono faz uma ponte entre o Blues e vários estilos, como o Soul, o Jazz, a música latina, o Country Blues, o Rock, o Funk, a Bossa e a MPB. E essa mistura deu certo. Como chegaram até ela? Bruno: Nós três temos o Blues, o Jazz e o Soul em comum desde o início. Com o passar dos anos (temos 9 anos de Revista Keyboard Brasil / 41
Tritono...) a amizade foi naturalmente aumentando, assim cada um foi trazendo as influências e sua história de vida para a banda. As músicas que ouvimos na vida, que foram e ainda são ‘baita’ sons na nossa opinião, trazemos para a forma de tocar do Tritono. Não sei definir bem a fórmula, mas acredito que a chave seja a flexibilidade, a forma do Youssef tocar o piano, por ele gostar de fazer o baixo na mão esquerda, do Carlini saber tocar linhas de metais com a gaita, saber solar de forma tão rápida e complexa quanto um guitarrista e a batida do Cajon que é simples, mas tem um “molho especial”, o Youssef chama de “a batida Tritono”. O Edu chegou depois e também trouxe sua contribuição, soube analisar os pontos fortes da banda com sabedoria para somar e usar seus talentos como baixista e arranjador sem descaracterizar a sonoridade, se encaixando perfeitamente na banda. Revista Keyboard Brasil – Vocês são uma banda independente. Porém, o primeiro álbum lançado em 2008 “Groovin” fez tanto sucesso que a gravadora Movieplay relançou o disco em 2013. Estão no terceiro trabalho. Continuam independentes ou não? Bruno: Fomos independentes até 2013, de lá para cá temos como parceiros a gravadora Movieplay, que lançou os nossos discos Groovin, Mojito do Bom e que também lança agora em 2016 o nosso novo trabalho Tritono Blues Plays Ray Charles. Este último associado com a Radar Records. 42 / Revista Keyboard Brasil
Youssef: É uma parceria muito legal. Nunca passou pela nossa cabeça fazer parte de uma gravadora, numa época de transição, em que as pessoas não compram mais CDs, ouvem música pela internet. Mas a Movieplay também entrou de cabeça nesse mundo digital e disponibilizou os nossos três CDs em todas as plataformas virtuais existentes. Revista Keyboard Brasil – Já no segundo álbum “Mojito do Bom”, gravado em 2012 e lançado em 2013, as músicas eram todas autorais, misturando influências da música brasileira, latina, inglesa e norte-americana. Um disco que contou com o requisitado e ganhador de vários Grammys Luis Paulo Serafim, engenheiro de som de nomes como Roberto Carlos, Daniela Mercury, Djavan, Cesar Camargo Mariano, entre outros. Como foi o processo de criação desse álbum? Fale sobre as composições. Como foi essa parceria? Bruno: Este disco tem nove composições dos três fundadores da banda, e duas de fora, ‘‘Candelabro Italiano’’ e ‘‘Mr. Blue’’, elas foram rearranjadas e trazidas para nossa interpretação. “Serra do Mar”, “Demorei Tanto”, “Tritono Theme”, “Meio da Arena”, “Musa do Bar”, “Rotina da Semana”, “Verdade Pura”, “Brasil Brasileiro”, “Olha a Pamonha”, são de nossa autoria. Eu e o Carlini tínhamos mais experiência em compor. O Carlini trouxe a música “Rotina da Semana” prontinha. Só fizemos algumas adaptações na parte instrumental. Ele trouxe também “Demorei Tanto”, nessa já mexemos bastante. O
Sobre o atual trabalho, Bruno diz: “Não é um disco cover do Ray Charles, fizemos versões exclusivas que trazem clássicos desse ícone da música para a sonoridade da banda.”
processo de composição foi bem democrático. Apesar dos longos anos na estrada da música, essa foi umas das primeiras experiências de composição do Youssef. Todos foram se evolvendo nos temas, eu mais nas letras e melodias e o Youssef e o Carlini nas harmonias, e fomos criando essas nove inéditas. Além disso, nós três tocamos no disco todo. O processo todo demorou três anos, entre composição, gravação e o lançamento. Como o Edu Malta tinha acabado de entrar na banda, ele acabou não participando dessa produção. Revista Keyboard Brasil – Este ano, o Tritono está lançando o terceiro trabalho intitulado Tritono Blues Plays Ray Charles. Podem nos dizer sobre ele? Bruno: Este disco é a realização de um sonho, lançar um disco homenageando um artista da grandeza de Ray Charles é um imenso prazer e, uma grande responsabilidade. Neste disco todos opinaram
À direita acima: “Groovin”,primeiro álbum lançado em 2008 e relançado em 2013. Abaixo, o segundo álbum “Mojito do Bom”, gravado em 2012 e lançado em 2013,
na escolha das músicas e em parte dos arranjos, mas a produção e a direção musical foi do mais recente membro do Tritono: Edu Malta. Não é um disco cover do Ray Charles, fizemos versões exclusivas que trazem clássicos desse ícone da música para a sonoridade da banda. Youssef: Um destaque interessante neste disco é a versão de “I Can't Stop Loving You”. Além do piano, toquei acordeon numa pegada zydeco. A batida do Cajon e a linha de baixo lembrando uma tuba deram uma cara New Orleans para a música. Malta: Foi um motivo de muito orgulho para nós, receber essa incumbência da gravadora Movieplay de gravar um disco com o repertório do gigante Ray Charles! Fui graciosamente escolhido para produzir o disco e já na primeira conversa que tivemos sobre o trabalho, o Youssef me contou sobre a ideia do naipe de metais com a gaita, a cozinha misturando o cajon com bateria, arranjos diferenciados Revista Keyboard Brasil / 43
adaptados para a linguagem do Tritono, nesse momento já comecei a visualizar e ouvir a sonoridade toda na minha cabeça! O que me deixou muito empolgado, pois percebi na hora que isso daria muito pé! Gostamos muito do resultado e eu pessoalmente acho que o trabalho tem muita consistência! O Tritono toca Blues com propriedade e acho que conseguimos um equilíbrio bom, frescor e inovação sem perder a reverência ao estilo, linguagem musical e ao próprio Ray. Revista Keyboard Brasil – Cada um de vocês tem projetos paralelos ao Tritono. Compõem, produzem, são professores, fazem shows, enfim. Duas perguntas: Como conseguem conciliar? Existe uma rotina de estudo diário do instrumento de vocês? Youssef: Fico muito feliz de fazer parte da família Tritono. É a minha banda, é o meu trabalho. É onde eu me realizo musicalmente, profissionalmente, empresarialmente, artisticamente, enfim... Mas sempre sinto a necessidade de tocar com outras pessoas, compartilhar e absorver conhecimento, experiências, histórias etc. Tocar com artistas de mais renome exige outras responsabilidades. O meu instrumento me possibilita ser sideman de outros artistas e bandas. É uma função bem diferente de ter uma banda, e mais diferente ainda de cantar e ser frontman, como estou começando a me aventurar agora. A parte mais difícil é justamente conciliar todas essas atividades com o Tritono. Inúmeras vezes fico numa encruzilhada quando aparecem dois 44 / Revista Keyboard Brasil
shows importantes no mesmo dia, e na mesma hora, eu tenho que decidir qual vou fazer. O meu jeito organizado de ser me ajuda muito em fazer a agenda, para não encavalar compromissos. Já aconteceu de eu fazer três shows no mesmo dia. Ainda bem que existem os subs (risos)... Com relação ao estudo, a música na minha vida é um eterno aprendizado. Confesso que não me debruço horas por dia no meu instrumento executando escalas, etc... Mas todos os dias tenho que aprender novas músicas para os trabalhos que estou envolvido. Atualmente o meu estudo está direcionado a cantar e aumentar o meu repertório de músicas. Bruno: Exceto minha família, minha prioridade é o Tritono Blues. Os outros compromissos estão sujeitos ao tempo que sobra em minha vida. Estudo quando tem músicas novas para aprender, novidades que precisam de dedicação. Então estudo muitas vezes o arranjo antes dos ensaios. É muito importante chegar nos ensaios sabendo muito bem as músicas e sua parte nelas, isso é respeito à música e aos seus companheiros de banda. Malta: A conciliação é complicada, depende de uma organização pessoal bem elaborada, mas sempre damos nossos jeitos. Quanto a estudar, eu há muitos anos não consigo mais ter uma rotina de estudo para o instrumento, escrevo e produzo muito, além dos ensaios e shows do dia a dia. Mas de vez em quando vem aquela vontade de sentar com o baixo e ficar algumas horas tentando subir mais um “degrauzinho”
dessa escada infinita que a gente resolveu encarar! Carlini: Eu sempre dei aula. Não somente pelo dinheiro. Como eu desenvolvi um estilo bem diferente, me sinto na obrigação de divulgar esse novo jeito de tocar, ‘‘O que não se passa se perde...’’. Porém, nos últimos anos reduzi a quantidade de alunos por causa da agenda de shows do Tritono. Quanto a minha rotina de estudo eu tento estudar uma média de 3 horas diárias.
Foto: Carla Sagula
Revista Keyboard Brasil – Gostariam de falar sobre seus projetos em andamento? Projetos futuros? Muito obrigada pela entrevista e sucesso sempre! Youssef: Com o Tritono pretendemos levar este show do Ray Charles para todos os cantos do Brasil. Já algum tempo estou focando na minha carreira solo, praticando o canto, pesquisando repertório, fazendo shows, etc. Essa experiência acabo trazendo para o Tritono, e vice versa, o Tritono me ajuda muito, abrindo espaço
para eu cantar alguns números, eles me incentivam, me orientam, etc.. Quero agradecer a Heloisa e toda equipe da Editora Keyboard pela oportunidade. Obrigado ! Bruno: Temos um outro disco do Tritono Blues praticamente pronto, estamos na captação de recursos para ele e para um DVD ao vivo. Fora do Tritono estou no processo de lançamento de uma nova banda a Rock Weeding. Agradeço muito a Revista Keyboard Brasil pelo espaço de divulgação do nosso trabalho. Parabéns Youssef! Malta: Tenho um projeto muito bonito em andamento que é o Quinteto do Zé, todas composições maravilhosas e encrencadas do Zé Barbeiro numa formação de quinteto de Jazz/Choro. Ele no violão de 7 cordas, eu no baixo, Giba Favery na bateria, Cesar Roversi no sax e a pianista é a Makiko Yoneda, moça que largou o Japão pra vir aprender e tocar choro no Brasil!
Saiba mais sobre a banda Tritono Blues...
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OpiniĂŁo
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Cena do filme Intocáveis (2011), de Eric Toledano e Oliver Nakache, com François Cluzet e Omar Sy nos papéis principais, é a segunda maior bilheteria da história do cinema francês.
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MÚSICA CLÁSSICA
MÚSICA POP Essa briga é covardia! CADA ESTILO TEM SEU PROPÓSITO. A MÚSICA CLÁSSICA NÃO É CHATA SÓ PORQUE NÃO FOI FEITA PARA SE DANÇAR. E, PARA NÃO GOSTAR DE UMA CANÇÃO COMO 'BOOGIE WONDERLAND' SÓ SENDO RUIM DA CABEÇA OU DOENTE DO PÉ. VOCÊ CONCORDA OU NÃO? LEIA O TEXTO E TIRE AS SUAS CONCLUSÕES!
* Por Joêzer Mendonça
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V
ocê já viu essa cena: uns 'tiozões' vestindo black-tie acompanhados de umas 'coroas' de na-
riz empinado assistem reverentemente a um concerto de música erudita. A orquestra toca trechos das grandes obras-primas de Handel, Vivaldi ou Mozart. Reina um silêncio sepulcral e todos entendemos que a música clássica é uma chatice! Mas isso não é suficiente. É preciso humilhar mais. A cena corta para um cara simples, descolado e que prefere música para dançar e não para ficar sentado. Aí rola uma black music dos anos 70, daquelas irresistíveis, e todos entendemos que música pop é bem mais legal que música clássica. Essas cenas estão em dezenas de filmes, mas foi assistindo ao francês “Intocáveis” que eu voltei a perceber que a briga entre música clássica e música pop, além de ser ridícula e fora de contexto, quase sempre termina em covardia. “Intocáveis” conta a história de um milionário tetraplégico que melhora muito de humor quando está sob os cuidados de um imigrante senegalês. É um filme agradável, que alterna momentos de comédia e ternura, e ainda ironiza expressões artísticas intocáveis, como a arte contemporânea, a ópera e a música clássica. O imigrante simples e pragmático mostra como passamos recibo de esnobes ridículos ao levarmos demasiadamente a sério um tipo de arte, a contemporânea, que recebe o selo da crítica e o status da elite econômica. O fato é que, em geral, nos filmes, novelas e até em comerciais de TV, os
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ouvintes de música clássica são sempre gente esnobe e 'metida a besta', enquanto quem ouve música pop é a galera simples e gente boa. Não deixa de ser um retrato do mundo da música clássica. Há músicos que tratam os compositores clássicos como entidades divinas que legaram obras admiráveis e acreditam que toda música pop, por ser automaticamente vulgar e efêmera, se encontra distante do Olimpo onde está o panteão de vultos e obras eternas da humanidade. Por outro lado, não dá para concordar com as cenas midiáticas que, no afã de contrastar diversão e formalismo, toca um pouco de música clássica e, em seguida, uma música pop sacolejante. Esse contraste é muito primário. Fico imaginando um grupo de cineastas e publicitários quebrando a cabeça para filmar uma cena que ressalte a diferença entre monotonia e alegria: “Já sei, que tal a gente mostrar o tédio com música clássica e a felicidade com música pop?” Gênios do estereótipo falido! Esse clichê é falso porque não respeita o contraste de propósitos de cada música, a clássica e a pop. Muita obra clássica, de fato, foi composta para ser fundo musical de jogos de cartas e jantares da aristocracia. Outras, porém, foram compostas para ser apreciadas por meio da contemplação, da concentração. E isso não é solenidade ou formalismo; é só item necessário para se apreciar a música. Uma música não é chata só porque não foi feita para se dançar.
Foto: Arquivo pessoal
‘ ‘
Foi assistindo ao filme francês Intocáveis que voltei a perceber que a briga entre música clássica e música pop, além de ser ridícula e fora de contexto, quase sempre termina em covardia.
‘ ‘ – Joêzer Mendonça
Voltando ao filme “Intocáveis”: depois de a orquestra tocar um pouco de música barroca, como os manjados trechos de “As Quatro Estações”, o imigrante põe todo mundo para dançar ao som do clássico pop “Boogie Wonderland”, do grupo Earth, Wind & amp; Fire. Aí eu digo que é muita covardia. Até porque, para não gostar de uma
canção dessa, só sendo ruim da cabeça ou doente do pé.
* Joêzer Mendonça é mestre e doutor em Musicologia pela UNESP. É professor do curso de Música da PUC-PR e pesquisador as áreas de música popular e sacra. É autor do livro ‘‘Música e Religião na Era do Pop’’. Revista Keyboard Brasil / 49
Perfil
A mistura musical de
SERGIO FERRAZ COMPOSITOR, VIOLINISTA E TECLADISTA, SERGIO FERRAZ É UM DOS PIONEIROS NO BRASIL NA ARTE DO VIOLINO ELÉTRICO E DA SUA INCLUSÃO NA MÚSICA POPULAR E INSTRUMENTAL DE VANGUARDA. O MÚSICO GANHOU DESTAQUE NO CENÁRIO NACIONAL E INTERNACIONAL, MISTURANDO INFLUÊNCIAS DA MÚSICA INDIANA, DO JAZZ, DO ROCK PROGRESSIVO, DA MÚSICA BRASILEIRA, DA MÚSICA 1ARMORIAL E DA E L E T R O A C Ú S T I C A D E VA N G U A R D A . RECENTEMENTE LANÇOU SEU SEXTO CD INTITULADO FLOATING OVER THE WAVES (FLUTUANDO SOBRE AS ONDAS), DEDICADO À COMPOSIÇÃO EM SINTETIZADORES ANALÓGICOS. Amyr Cantusio Jr. Heloísa Godoy Fagundes
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atural de Garanhuns, Sergio Ferraz começou na idade de 9 seus estudos musicais, na época muito influenciado pelo rock das bandas dos anos 70 e do jazz fusion da Mahavishnu Orchestra, bem como o violinista de jazz rock Jean Luc Ponty, a música indiana clássica de Ravi Shankar e do flamenco de Paco de Lucia. Inicialmente, a guitarra e o violão eram seus instrumentos. Aos 12 anos já tocava guitarra em bandas de rock de Recife, iniciando seus estudos de violino no Conservatório de Música de Pernambuco, onde desenvolveu seu interesse pela música clássica. Bacharel em música pela UFPE (Universidade Federal de Pernambuco) e residindo em Recife, Sergio Ferraz é um músico atuante na cena pernambucana desde meados dos anos 80. Da guitarra para o violino formou, no início da década de 90, o grupo Alma em Água com o qual participou de importantes eventos em Pernambuco, como o Projeto Seis e Meia, no Teatro do Parque, abrindo para o grupo carioca Boca-Livre em 1993. Ainda com o grupo Alma em Água, foi destaque do Festival de Inverno de Garanhuns de 1995 e 96 no Palco Guadalajara, além de participar do primeiro projeto REC BEAT. Em 1997 foi contratado pela produtora norte-americana Rena Shagan Associates, sendo o único grupo brasileiro
selecionado para uma grande turnê tocando nas principais cidades dos Estados Unidos. Em meados de 2001 formou o grupo instrumental Sonoris Fábrica, que reuniu elementos do jazz e da música nordestina, tocando em diversos festivais na cidade de Recife, tais como Recife Jazz Festival em 2003, 2004 e 2008 e Festival de Inverno de Garanhuns em 2003 e 2009, no Palco Instrumental. No ano de 2008, Ferraz foi convidado pelo Escritor Ariano Suassuna para integrar o grupo de artistas de suas aulasespetáculos. Também neste ano, Ferraz passou a fazer parte do Quarteto Romançal. Em 2010 lançou, no Teatro de Santa Isabel, o CD Segundo Romançário, um duo de violino e violão em parceria com Antonio Zoca Madureira, líder e fundador do lendário Quinteto Armorial. Neste trabalho, Ferraz explorou as sonoridades e estilos do violino na música nordestina. Com este duo de violino e violão participou da Mostra Internacional de Música em Olinda (MIMO 2010). Em 2011, com o seu grupo instrumental Sonoris Fábrica lançou com show no Teatro de Santa Isabel o CD homônimo. Com este trabalho se apresentou em diversos palcos em Pernambuco, como o Festival de Inverno de Garanhuns, a MIMO 2011, e seguiu para
1. Criado na década de 1970 pelo dramaturgo, romancista, ensaísta e poeta brasileiro Ariano Suassuna (1927-2014)
o Movimento Armorial era uma espécie de manifesto que procurava esclarecer as questões de uma arte erudita baseada nas raízes populares da cultura brasileira, encarada por ele como uma espécie de patrimônio nacional. Segundo Suassuna o movimento tinha como objetivo, “criar uma arte erudita brasileira a partir das raízes populares da nossa cultura, e de combater, assim, o processo de vulgarização cultura ao qual ainda hoje nos encontramos submetido”. A arte Armorial tem uma enorme abrangência, englobando o teatro a literatura, a arte visual e a música. 52 / Revista Keyboard Brasil
Fotos: Chico Porto
São Paulo, onde gravou para o SESC TV no Programa Instrumental Brasil. Em Outubro do mesmo ano, participou da WOMEX 2011, em Copenhagen, Dinamarca. Em dezembro lançou seu primeiro CD solo Dançando aos Pés de Shiva, que alcançou sucesso de venda com 1000 cópias vendidas em apenas 1 mês, partindo para a sua segunda tiragem. O CD com 12 faixas autoral foi todo produzido, arranjado e executado pelo próprio Ferraz, que além do violino elétrico tocou também piano e sintetizadores. O trabalho contou ainda com a participação do percussionista Jerimum de Olinda em 6 músicas do CD. Trata-se de um trabalho instrumental onde o violino elétrico é o instrumento solista explorando diversos timbres, e dialogando com a percussão. Neste seu CD solo, além da inspiração indiana, ressalta-se, também, elementos da música minimalista, atonal e eletroacústica. Com este trabalho, o músico fez diversas apresentações em Pernambuco, Rio de Janeiro e em São Paulo. Em 2012, compôs e estreou um Concerto para violino e orquestra intitulado “Concerto Armorial”, dedicado ao escritor Ariano Suassuna, estreado no Teatro de Santa Isabel pela Orquestra Sinfônica Jovem do Conservatório Pernambucano de Música, sendo o próprio Sérgio Ferraz solista do concerto. Ainda em 2012, Ferraz concluiu a gravação do segundo CD solo, A Sublime Ciência e o Soberano Segredo. Um trabalho, fruto de seus estudos sobre a música eletrônica erudita, da música minimalista e indiana que trazia ainda uma forte influência do rock progressivo dos anos 70. Nele, Ferraz tocou, além do violino elétrico, sintetizadores analógicos Moog Little PhattyStage II, Roland Gaia SH- 01.
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Contou ainda com a participação de Jerimum de Olinda, percussionista titular de Geraldo Azevedo e que recentemente tocou e gravou com o consagrado percussionista Naná Vasconcelos. No baixo elétrico e piano teve a participação de seu filho Gustavo Ferraz. Três dos quatro CDs de Ferraz foram vencedores do Prêmio da Música Pernambucana, na categoria de Melhor CD Instrumental. São eles: Sergundo Romançário (2010), Dançando aos Pés de Shiva (2012) e A Sublime Ciência e O Soberano Segredo (2014). Ferraz também é integrante da Orquestra de Câmara de Pernambuco, e vem também se dedicando a composição de músicas Eletroacústicas, Concreta e peças para orquestra. Seu trabalho Electronic Imaginary Soundscapes, publi54 / Revista Keyboard Brasil
cado apenas virtualmente no SoundCloud (endereço no ícone da página) vem despertando grande interesse por parte do público especializado. Em 2014, lançou seu quinto CD Concerto Armorial, com a participação da Orquestra de Câmara de Pernambuco, sob a regência do Maestro José Renato Aciolly. Ao final de 2015 Ferraz lançou seu sexto CD Flutuando Sobre As Ondas. Um trabalho conceitual no qual explora as sonoridades dos sintetizadores analógicos além do violino elétrico. O CD foi totalmente produzido, gravado, composto e tocado pelo músico e contém forte influência dos compositores de música eletrônica alemã do Kraut Rock e do Rock Progressivo instrumental.
Foto: Paulo Paiva / DP/D.A.Press
Na página ao lado, Sérgio Ferraz rodeado por seus instrumentos e sua discografia: SEGUNDO ROMANÇÁRIO (2010); SONORIS FÁBRICA (2011); DANÇANDO AOS PÉS DE SHIVA (2012); A SUBLIME CIÊNCIA E O SOBERANO SEGREDO (2013); CONCERTO ARMORIAL (2014); FLUTUANDO SOBRE AS ONDAS (2015/16). Abaixo, por volta de 1977, o músico com sua pequena guitarra de brinquedo.
ENTREVISTA Revista Keyboard Brasil: Para irmos direto ao ponto, quais suas influências musicais e formação? Cite grupos, músicos, discos, teus estudos e preferências musicais a vontade. Sergio Ferraz: Tive a sorte de ouvir muita coisa boa já na minha infância. Até os meus 7 anos, morava em Garanhuns (cidade florida de clima frio do agreste de Pernambuco). Era a década de 70 e na rádio tocava Beatles, Elvis, Luiz Gonzaga, Jackson do Pandeiro... Eu já era louco por música, Rock principalmente, pirava quando via uma guitarra, queria pegar e tocar. Perto de completar 8 anos me mudei para Recife. Sempre convivi com pessoas mais velhas e, morando no Recife, comecei a ouvir Deep Purple, Led Zeppelin, Rush... Aos 9 anos finalmente consegui um violão e fui para uma escola de música aprender... Logo depois ganhei minha primeira guitarra, formava banda com os amigos... Cada vez mais fui tomando gosto por aprender. Sempre quis ir fundo na música. Quando ouvi John McLaughlin e a sua fantástica Mahavishnu Orchestra com Jean Luc Ponty entendi naquele momento qual era o meu caminho. Muitos discos e artistas foram e são de grande importância e influência na minha vida. Todos os discos da Mahavishnu Orchestra, também do Jean Luc Ponty, Ravi Shankar e Yehudi Menuhim (West Meets East), Yes (Fragile, Close To The Edge, Yessongs…), Rick Wakeman (Jorney to The Center of The Earth), ELP (Trilogy), Rush (do primeiro álbum até o Grace Under Pressure), Pink Floyd (todos), Klaus Schulze (Time Wind). Aos 12 anos fui para o Conservatório Pernambucano de Música estudar violino. Revista Keyboard Brasil / 55
Nessa época, passei a ouvir e tocar muita música erudita: Bach, Paganini, Liszt, Chopin, Beethoven, Mozart, Bartok, Stravinsky... Depois me graduei em Bacharelado em Música na Universidade Federal de Pernambuco e passei a compor melhor, escrevi meu Concerto para Violino e me interessei mais profundamente pela música eletroacústica, a música do Stockhausen, Pierre Boulez, John Cage, Webern... Revista Keyboard Brasil: Qual tua formação Universitária atual? (Outras)? Especializações na Música? Arte geral? Sergio Ferraz: Sou graduado em Bacharelado em Música pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) com especialização em violino. Durante uma época também trabalhei muito o conceito da Música Armorial (mistura da música erudita com elementos das etnias que formam o povo brasileiro) e também por técnicas de composições pós-tonal, serialismo, minimalismo, música concreta, acusmática... Também pinto e desenho, me interesso por artes plásticas e dança. Gosto de compor para dança contemporânea. Desde cedo me interesso por Filosofia, Antroposofia... Revista Keyboard Brasil: Sobre o movimento armorial, por que se interessou e como foi trabalhar com Ariano Suassuna? Sergio Ferraz: A ideia de Ariano Suassuna em reunir músicos e compositores de alto nível para compor e desenvolver uma sonoridade que representasse a cultura 56 / Revista Keyboard Brasil
nordestina foi de fato uma experiência bastante exitosa. Vale lembrar que isso aconteceu em final dos anos 60. Ouvi pela primeira vez no final dos anos 80 o Quinteto Armorial e a Orquestra Armorial de Câmara tocando uma música instrumental virtuosa e de sonoridade única, isso me chamou muita atenção. Trabalhei com Suassuna oito anos tocando no grupo de câmara que o acompanhava nas suas aulas-espetáculo. Por trás de suas piadas havia um homem de profunda erudição, grande conhecedor da literatura Russa, Francesa, Espanhola, Portuguesa, ouvia Bach, Stravinsky, Beethoven, Bartók. Era um homem preocupado com os desvios e decadência da música brasileira, ele se preocupava em conscientizar as pessoas desse problema. Revista Keyboard Brasil: Além da música armorial e concreta há, também, a união de muitos outros sons, como o Jazz, o rock progressivo, a música indiana e a brasileira. Você transita pelos universos e concepções musicais aparentemente mais diversos. Por conta disso, seu trabalho tem se destacado cada vez mais. Você acredita que ainda tem muito a explorar? Sergio Ferraz: Há um vasto caminho pela frente. A criação musical é como um oceano sem fim. Quanto mais mergulho nele, sinto que ainda posso ir mais fundo. Quero também estreitar relações com músicos do sul do Brasil, fazer novas parcerias, novos grupos. Estou a toda hora tendo ideias, espero ter tempo para por isso tudo em prática.
RKB: Além do violino elétrico, sabemos que você toca guitarra e teclado. Mais algum instrumento? SF: Teve uma época que toquei um pouco de bandolin e baixo. Me interesso por instrumentos de corda e teclados, tanto acústico como elétrico. Gostaria de ter uma grande coleção desses instrumentos. Quem sabe um dia eu grave um CD, tocando todos eles, violinos, teclados, violão e guitarra. Com uma parte toda acústica e outra elétrica. RKB: Quantos CDs gravou ao todo e quando (ano) data tua primeira obra? SF: Tenho seis CDs lançados. São eles: Segundo Romançário de 2010 (um duo acústico de violino e violão com Antonio J. Madureira), em 2011 lancei o CD da minha banda instrumental de Jazz brasileiro Sonoris Fábrica com a qual toquei por dez anos, depois em 2012 gravei meu primeiro CD solo, Dançando aos Pés de Shiva, em 2013 A Sublime Ciência e O Soberano Segredo, 2014 Concerto Armorial e agora estou lançando Flutuando Sobre As Ondas. Eu não lembro mais em que ano comecei a compor até porque isso também sempre foi um exercício diário, sempre desde muito cedo ainda na época das primeiras bandas que toquei eu já fazia músicas, isso era final dos anos 80 início dos 90. RKB: Você integra o conceituado Quarteto Romançal desde os anos 90, ao lado de Antonio “Zoca” Madureira – compositor e fundador do lendário Quinteto Armorial na década de 70 , com
quem gravou, em 2010, Segundo Romançário, um duo de violino e violão. Fale sobre essa parceria. SF: Quando ouvi pela primeira vez o Quinteto Armorial não podia imaginar que anos mais tarde eu estaria tocando aquela música ao lado do seu criador, o violonista e compositor Antonio “Zoca” Madureira. Foi uma valiosa oportunidade de conhecer na fonte como aquela música fora feita. Zoca tinha gravado um álbum em duo com o baixista Rodolfo Stroeter chamado Romançário, e quando estávamos tocando juntos com o Quarteto Romançal ele achou bacana a ideia de gravar comigo um duo de violão e violino nos moldes daquele álbum, então eu sugeri o nome Segundo Romançário. RKB: Com os violonistas Leonardo Melo e Josinaldo Costa você formou o trio de música instrumental SONORIS FÁBRICA, lançando um CD com o mesmo nome tendo um repertório de música instrumental inspirado na música brasileira de raiz popular com influências na música ibérica e no jazz. Fale sobre essa parceria. SF: O Sonoris Fábrica foi uma feliz experiência. Tocamos em vários festivais, ganhamos prêmios e tocamos em São Paulo no SESC Instrumental Brasil (esse show foi ao ar pela SESC TV várias vezes). Em 2011 lançamos nosso CD com um belo show no Teatro de Santa Isabel no Recife. O Sonoris surgiu numa época em que a música instrumental estava parada no Recife, nós mudamos isso e abrimos caminhos para vários grupos. O Josinaldo Revista Keyboard Brasil / 57
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Concerto Armorial para Violino e Orquestra de Cordas Sérgio Ferraz e Orquestra Sinfônica Jovem do Conservatório Pernambucano de Música.
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Costa é doutor em violão erudito e reside nos Estados Unidos, ele também leciona em vários festivais de música por todo o mundo, o Leonardo está em Portugal fazendo Mestrado. RKB: A espiritualidade da Índia é outra grande fonte de seus trabalhos. Vemos isso em Dançando aos pés de Shiva e A Sublime Ciência e o Soberano Segredo, lançados em 2012 e 2013, respectivamente. Fale sobre isso. SF: O meu interesse pela música indiana me levou a querer saber sobre a religião Hindu. A música clássica indiana ainda conserva sua forma ritualística original, os Ragas - ligados aos chacras e às horas do dia, o papel da música indiana é conectar-se aos mundos espirituais. A música ocidental, aos poucos, foi perdendo o seu papel original de conexão espiritual como tinha o Cantochão e outras formas de música do passado. Dançando Aos Pés de Shiva é um trabalho que fala da dança cósmica de Shiva, ou seja, a dança do próprio universo. A Sublime Ciência e o Soberano Segredo foi inspirado no Bhagavad Gita, a história do guerreiro Arjuna que se vê diante do dilema de lutar contra sua própria família, uma simbologia da luta da superação. Meu novo CD, Flutuando Sobre As Ondas foi inspirado em Vishnu, o Deus mantedor do universo. Vishnu aparece sobre a forma de avatares para salvar o mundo, também aparece sobre a forma do deus que flutua sobre as ondas do oceano que é o próprio universo. Esses três CDs formam uma trilogia. 60 / Revista Keyboard Brasil
RKB: Sobre o CD A Sublime Ciência e o Soberano Segredo, além do piano e sintetizadores, você contou com a participação do percussionista Jerimum de Olinda e do baixista Gustavo Ferraz, seu filho. O que mais o ouvinte poderá descobrir ao ouvir esse seu rico trabalho? SF: Quando comecei a compor A Sublime Ciência e o Soberano Segredo me preocupei com a questão da espacialização sonora na composição eletrônica. Nesse álbum também trabalhei com conceitos minimalistas no que diz respeito ao uso de células rítmicas-melódicas para construir a base das composições. Outro aspecto foi a sonoridade: procurei unir os sons eletrônicos a percussão acústica do Jerimum de Olinda. Também os elementos rítmicos do nordeste estão presentes neste trabalho: maracatu, baião... Há peças atonais também. Tive também a alegria de tocar com meu filho, Gustavo Ferraz que tocou o baixo elétrico e o piano na faixa ‘‘Deus dos Ventos’’. RKB: Em seu quinto CD Concerto Armorial você é acompanhado pela Orquestra de Câmara de Pernambuco. Fale sobre essa obra que foi dedicada ao escritor Ariano Suassuna. SF: Dentro da composição Armorial para orquestra, o violino desempenha um papel central. Procurei na literatura e vi que nenhum dos compositores armoriais haviam escrito um concerto para violino e orquestra, então assumi eu mesmo essa tarefa. Escrevi o concerto em 2012 usando temas das minhas composições anteriores. Cada um dos movimentos está ligado
a elemento que, segundo Ariano Suassuna, formam o embrião da nossa cultura. O primeiro movimento é um cavalomarinho, um tipo de música popular de caráter brincante, o segundo (Lamento) traz os elementos ibéricos e o terceiro movimento (Zumbi) os elementos afrobrasileiros. Trata-se de um maracatunação onde usei acordes com intervalos de segunda menor em linhas contrapontísticas. A Orquestra de Câmara de Pernambuco tem permitido que jovens compositores possam mostrar suas peças, além de desempenhar um excelente trabalho de formação e ótimos instrumentistas. RKB: Seu mais recente trabalho, Flutuando sobre as ondas, mescla técnicas da música concreta e eletrônica, derivadas do pensamento de Schaeffer e Stockhausen; do rock progressivo e do metal utilizando os sintetizadores analógicos. Como foi o processo de criação desse seu álbum ? SF: Flutuando Sobre As Ondas é uma extensão ou desenvolvimento de conceitos que eu já havia começado a trabalhar no álbum A Sublime Ciência e o Soberano Segredo. Explorei ainda mais a questão da espacialização sonora, os timbres dos sintetizadores analógicos, usei sons da natureza (paisagens sonoras) carros no trânsito, insetos, batida do coração, água... O colorido harmônico impressionista, escalas indianas, atonalismo. O violino nesse trabalho não é o único instrumento solista, ele divide espaço com os moog. Há, também, o uso do leit motiv. Tudo
nesse álbum trabalha a favor da composição. Iniciei esse trabalho em 2013 logo após ter terminado A Sublime Ciência e concluí em 2015. RKB: Que tipo de som prefere fazer, independente do que gosta? Como grava tuas músicas? Instrumentos principais? Toca quais? SF: Não consigo nem imaginar eu tocando algo que não goste. Sempre que estou envolvido em algum trabalho é porque ele reflete o momento que estou vivendo. Tem épocas que estou curtindo tocar acústico, então tenho trabalhos em formação acústica. No meu mais recente CD Flutuando Sobre As Ondas, toquei muitos sintetizadores analógicos numa linha mais Kraut Rock. Quanto à técnica de gravação, ela também vai depender do trabalho que estou fazendo. Tenho meu próprio estúdio que está equipado para gravar instrumentos plugados, então meus sintetizadores e violinos elétricos gravo em casa mesmo. O meu novo CD, foi todo gravado no meu estúdio. Tenho dez violinos e, dependendo do trabalho, vejo qual é mais adequado; para as apresentações do novo CD uso um violino elétrico de 5 cordas da DS Desing e mais as pedaleiras e teclados que já citei acima. RKB: Que equipamento usa para gravar? Teclados? Computador? Forma? Conteúdo? SF: Uso softwares Sonar ou Pro Tools, meus teclados atualmente são o Moog Little PhattySatage II, Roland Gaia SH 01, Roland Juno Di, Piano Sample Casio, Revista Keyboard Brasil / 61
Pedaleiras Boss Loop Station RC 50 e RC 300, Boss GT 100, Violinos Fender (4 cordas) NS Desing (5 cordas) entre outros... Quanto à forma e conteúdo, se se refere à composição componho usando várias técnicas. Nesse novo CD, por exemplo, usei técnicas mistas incluindo música concreta, atonalismo, minimalismo, música eletroacústica harmonia impressionista, escalas indianas etc... RKB: Qual a tua visão ESPIRITUAL da vida, da morte? No que acredita? Vida após a morte? Seres aliens? Demônios e Anjos? Deus existe? SF: Não acredito na visão cristã de um Deus “humano” que fica observando nossas vidas e julgando o destino de cada um, quem morre, quem vive, quem vai para o “céu” ou para o “inferno”... quem vai ser rico ou pobre, quem vai ter sucesso e quem não vai, etc... Se fosse isso verdade então estaríamos ferrados nas mãos de um “Deus” muito cruel! Eu acredito em Forças, Energias que estão por aí... Não há uma “distância” entre os mundos espirituais e o plano físico. Tudo está interligado. Essas “Energias” atuam em todos os planos. Atuam em todos nós também, mas não são elas donas do nosso destino. Cabe a nós decidir nosso caminho
Saiba mais sobre Sergio Ferraz
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de vida. Essas “Energias” podem interferir nas pessoas mas não decidem, cabe a cada um decidir e assumir a responsabilidade por seus próprios atos. RKB: Cite 5 livros e autores ESPECIAIS que fizeram e fazem a tua cabeça. SF: Assim Falava Zaratustra, O Anticristo, A Genealogia da Moral, Ecce Homo (Nietzsche), Viagem a Ixtlan, Portas para o Infinito, Uma Estranha Realidade (C. Castañeda), Faust (Goethe), O Mundo Como Vontade e Representação (Schopenhauer), O Método Científico de Goethe, Filosofia da Liberdade (Rudolf Steiner). RKB: Para finalizar, gostaríamos de saber sobre seus novos projetos e agradecer imensamente pela entrevista. Sucesso sempre! SF: Espero ainda fazer muita coisa. Formar novos grupos, compor para orquestra. Tenho ideia de um concerto para violino de 5 cordas e uma outra peça para sintetizadores e orquestra. Também gosto de tocar em duo e trio, espero fazer parceria com outros artistas e sempre poder contribuir a manutenção de uma música voltada para o enriquecimento da cultura e para o espírito.
A vista do meu ponto
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POR QUE OS LIVROS DE AUTOAJUDA GERALMENTE
NÃO
FUNCIONAM? ESQUEÇA OS LIVROS DE AUTOAJUDA!
Foto: Lilley Photography
COLOQUE MÚSICA EM SUA VIDA E ESTABELEÇA UM EQUILÍBRIO ENTRE O CORPO E A MENTE! TEXTO PARA REFLETIR!
* Por Luiz Carlos Rigo Uhlik
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cesso do momento. A grande maioria dos Editores adora este tipo de “roteiro” porque vende muito. Parece que os
livros de autoajuda são a solução para todos os problemas. Mas, o que se percebe, realmente, é que eles funcionam somente como autoajuda para os editores e autores. Todos eles, editores e autores, estão “muito bem, obrigado”! Mesmo os mais medíocres. O que é que falta, então, para que os livros e os conselhos dos mestres espirituais realmente funcionem? A resposta é bastante simples: MÚSICA! A
música é a única forma de estabelecer equilíbrio entre o corpo e a mente; é a única forma de “conversar com Deus, com o Divino, com o Superior, com a Fonte de Toda a Existência”! Vamos imaginar que Deus quisesse falar com você... Por que não? Por que você acha que Deus não fala com você? Tudo bem... Você não está conseguindo ouvir. É normal! Aprenda a tocar um instrumento musical e você vai entender a mensagem que ele quer te passar. Somente com a música, com a vibração e o silêncio, podemos entender o que Deus quer nos dizer. E digo mais: ouça o silêncio por trás dos sons! A linguagem, a pronúncia, os fonemas, a sintaxe são coisas dos humanos. Tudo isso existe 66 / Revista Keyboard Brasil
quer experimentar a magia do Universo, da conversa franca com Deus, do acesso à fonte inesgotável de alegria e felicidade, coloque música em sua vida. Música sem máscara! Música sem espelho! Música executada por você, pela sua habilidade, pelo seu jeito de ser! O Universo, o planeta, as pessoas, Deus vão agradecer o grande passo que você estará dando em busca da realização pessoal. Isto sim é autoajuda! O resto é sucesso editorial e um grande meio de enriquecer autores. Avante!
*Amante da música desde o dia da sua concepção, no ano de 1961, Luiz Carlos Rigo Uhlik é especialista de produtos e Consultor em Trade Marketing da Yamaha do Brasil.
André Luiz
É
bastante comum observar, nas livrarias e bancas de revistas, o destaque que os livros de autoajuda têm. Eles são o su-
somente para que possamos compreender uns aos outros, possamos nos comunicar; ou então, possamos criar toda esta confusão que estamos vivenciando no nosso dia a dia. Veja! Não é através da língua, falada e escrita, que Deus vai entrar em contato com você. A grande maioria das pessoas que escrevem livros de Autoajuda esvazia a cabeça para encher o estômago. E isto tem se tornado comum e um grande sucesso para os Editores e Autores. Portanto, se você realmente
Arranjo de
Letra e mĂşsica de
MAESTRO MARCELO DANTAS FAGUNDES
* Para ter a partitura completa, basta enviar um e-mail para contato
@keyboard.art.br Revista Keyboard Brasil / 67
Pelo mundo
LUIS LUGO De Cuba para o mundo... 68 / Revista Keyboard Brasil
GRANDE PIANISTA, MAESTRO, COMPOSITOR, PRODUTOR, ROTEIRISTA, ARRANJADOR, SEJA DE MÚSICA CLÁSSICA, CUBAN-JAZZ OU WORLD MUSIC. ESTAMOS FALANDO DO CUBANO LUIS LUGO, DIRETO DA ARGENTINA. Por Heloísa Godoy Fagundes
1
U
El piano de Cuba... m dos intérpretes imprescindíveis da música cubana e do folclore latino-americano, denominado
“El piano de Cuba”, Luis Lugo é definido pela crítica especializada como um concertista de técnica espetaculares que permitem lograr interpretações muito notáveis de obras extremamente difíceis. Nascido em Havana, Cuba, Luis Lugo veio de uma família extremamente musical – fundamental para a sua formação profissional. Mercedes Lugo, sua mãe, era uma professora de piano e diretora de coral e seu pai, Manuel Borges, um virtuoso pianista. Iniciou seus estudos em uma idade adiantada e, por onze anos estudou na Escuela Provincial de Música “Amadeo Roldan”, de Havana. Ainda garoto, foi convidado pelo reitor Mtislav Smirnov, do Conservatório Tchaikovsky de Moscou para continuar seus estudos de piano na famosa Escola Central do Conservatório. Meses depois, juntou-se ao eminente pianista russo Rudolf Kerer realizando audições periódicas.
No Conservatório Tchaikovsky de Moscou, obteve os títulos de pianista concertista, licenciado em Música, onde realizou um brilhante exame obtendo o máximo de pontuação com as sonatas de Scarlatty, sonata em ré menor de Liszt e o concerto 3 de Rachmaninoff em ré menor para piano e orquestra. Durante sua estada, realizou diferentes festivais organizados para estudantes estrangeiros, através de uma série de concertos no Museu Gorky, concertos na cidade de Sochi, no Mar Negro, a competição Internacional Vioty da Itália, entre outros. Os anos posteriores ao regresso de Moscou foram marcados por intensas viagens por toda Cuba integrando diversas delegações artísticas representando a Agrupación Nacional de Conciertos del ministerio de cultura e de aprofundamento em seus estudos acadêmicos nas diferentes cenas de arte, adquirindo grande experiência na área de gestão cultural: pós graduou-se em Estética no Revista Keyboard Brasil / 69
Instituto Superior de Arte de Havana, de História do cinema na Universidade de Havana, foi professor no Instituto Superior J. Varona e no Instituto Superior de Arte de Havana, Presidente de Música da Asociación de Jóvenes Talentos Hermanos Saiz de Havana e de Santiago de Cuba, especialista e assistente de direção de arte na província de Pinar del Rió, secretário executivo do Comitê de Desenvolvimento Provincial, chefe do departamento técnico artístico da empresa artística de Pinar del Rió, diretor musical do Festival Internacional de Boleros de Oro '95, de Havana, membro do conselho técnico da Cidade de Havana, substituto do diretor da empresa artística “Adolfo Guzmán”, artista exclusivo da Albert S. L. da España '92, artista exclusivo da Latín Touch Entertaiment Londres '93. Participou de festivais de música como o “Santiago 84”, Festival Internacional “Lecuona” em Havana. Em 1987, realizou uma série de sete concertos no Museu da Música em Havana e uma série de palestras e concertos no Centro Universitário de Pinar del Rio, pelo qual recebeu um reconhecimento especial. Entre 1987-1988 realizou concertos em um dos maiores e mais importantes teatros de Cuba, o Teatro Mella, em Havana. De 1991 a 1992, recebeu convites para realizar alguns festivais internacionais, como o ‘‘Gran Fiesta’’ no Festival Centre Real e o Caning Waterman House, em Londres. Em 1992 foi eleito membro da prestigiada ‘‘União Nacional de Artistas de Cuba’’, que reúne os artistas mais aclamados do país. 70 / Revista Keyboard Brasil
A combinação do complexo ritmo afrocubano com seu intelecto acadêmico clássico, torna Luis Lugo um dos intérpretes imprescindíveis da música cubana e do folclore latinoamericano.
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Lugo fez parte do júri do 1º Festival de Ópera de Havana e do 5º Festival Internacional de Música e de Competição realizado no Teatro Colón, em Buenos Aires, Argentina, ministrando masterclasses no evento. Aos poucos foi ganhando espaço na cena artística e social da Argentina, participando da maioria dos programas da televisão aberta e fechada, atuando regularmente nos cenários mais importantes da música clássica e popular incluindo a participação na maioria dos festivais de Jazz, World Music e Música Clássica naquele país. Tem sido elogiado por seu trabalho de divulgação da cultura cubana, colaboração e apoio a artistas locais por instituições e governos. Seu concerto “Luis Lugo piano de Cuba” foi declarado de interesse cultural pela Secretaria de Cultura da Nação Argentina e do Uruguai. Igual declaração cultural recebeu de diversas cidades da Argentina. Teve seu concerto itinerante The Cuban Experience declarado de interesse parla-mentar pela Câmara de deputados da nação Argentina.
Suas inquietudes musicais o levaram a diferentes níveis de criação artística como a composição no campo da música clássica, sinfônica e popular, com um forte interesse na transcrição de material temático de obras populares e indígenas, colocando na categoria de concertos o folclore e temas latinos, incursionando no mundo da improvisação jazzística e da música cubana e incorporando 72 / Revista Keyboard Brasil
toda a técnica espetacular do mundo eletrônico e o laser com sons computadorizados, de acordo com as exigências sonoras contemporâneas. Além de suas atividades como compositor e pianista, Lugo desenvolveu uma intensa atividade docente, sendo periodicamente convidado a dar conferências e a oferecer workshops e masterclasses sobre música, estética e técnica pianística em numerosas universidades da Argentina e Chile. Também escreve artigos para revistas especializadas de música de Cuba e Argentina. Além do trabalho de compositor de obras que incluem concertos, sonatas, rapsódias para piano, com orquestra e instrumentos de percussão cubana e obras para teatro musical, para piano solista, bandas, entre outros. No pianismo de Lugo se reconhecem as influências dos proeminentes pianistas Chucho Valdés, Gonzalito Rubalcaba, Ernesto Lecuona, Keith Jarret, Horowitz, e Alfred Cortot. Luis Lugo tem atuado no Brasil, Espanha, Itália, Rússia, Grã-Bretanha, Angola, Cuba, Chile, Suíça, Ucrânia e Argentina. Em seu repertório atual inclui a maioria das grandes obras de todos os tempos, principalmente a partir do romantismo de Chopin, Liszt, Scriabin, Rachmaninoff, Cesar Frank, Ravel, Prokofiev, autores que, para Lugo, imprimem um carisma especial ao público.
Atualmente, o músico realiza incontáveis viagens executando concertos por diferentes partes do mundo, além de presidir a Afro Cuban Concert Music de desenvolvimento artístico que promove
projetos sócio-culturais e agencia o desenvolvimento de talento na carreira artística, visando proporcionar um impacto de alcance global.
ENTREVISTA Revista Keyboard Brasil: Posso dizer que o ambiente musical o influenciou em sua escolha profissional. O que ouvia em sua infância? Luis Lugo: Cresci em um ambiente musical. Em minha casa havia um piano devido minha mãe ser pianista e diretora de um coral e meu pai, um pianista aficcionado. Cuba tem uma maneira muito particular de falar através de uma cadência rítmica própria. Caminhamos com ritmo. É um dos poucos povos onde a dança é natural e com um ritmo próprio. Os gestos são rítmicos, por isso, é uma maneira de vida própria. É um estado filosófico onde se pode recriar todas as suas ansiedades. Por isso, todas as variáveis musicais as quais todos os cubanos estão acostumados a ouvir, influenciou significativamente os traços da minha personalidade. Revista Keyboard Brasil: Como surgiu o convite do Sr. Mstislav Smirnov para estudar no Conservatório Tchaikovsky de Moscou? Luis Lugo: O conservatório Tchaikovsky é um complexo nutrido fundamentalmente da “Cenchat” escola central
adjunta do Conservatório (para crianças prodígios), onde se estuda desde a infância até 18, 19 anos de idade, idade onde esses jovens passam por testes para ingressar ao Conservatório. Esta também é uma escola exclusiva com duração de 4 anos, para a idade de 15 a 19 anos, denominada “Uchiliche”. Estes dois centros são adjuntos ao Conservatório Tchakovsky onde a capacidade de admissão é muito restrita, representando o maior centro de desenvolvimento pianístico mundial. As técnicas pianísticas russas são muito peculiares. A estrutura técnica artística desenvolve e reforça os elementos mais marcantes do virtuosismo através de uma estética musical rígida, isso é crucial para os elevados níveis de excelência que estão bem acima do resto das escolas, globalmente falando. Neste contexto, tive o privilégio de ser convidado aos 15 anos após uma audição que fiz em Havana para o vice reitor Smirnov para continuar meus estudos na Cenchat e logo dar continuidade no Conservatório, tudo isso pode ser feito somente após a conclusão de meus estudos de nível médio em Havana.
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RKB: Você nasceu em Cuba e mais tarde estudou em Moscou. Como foi esse intercâmbio? Havia obstáculos em seus estudos musicais por estar em países extremadamente comunistas naquela época? LL: O itercambio foi intenso já que felizmente fui por recomendação de Rudolf kerer que pediu a Valery Kamichov (pianista amplamente conhecido por kerer já que haviam competido juntos com Vladimir Ashkenazy no Concurso Nacional de Pianistas onde Kerer ganhou o 1º prêmio). Politicamente falando, naquela época Cuba e Rússia eram adiados e, por isso, eu me sentia confortável. Simplemente desfrutava de uma experiência de outra natureza. Nunca havia viajado e tive a possibilidade de viver em um ambiente extremamente competitivo no qual não havia outra maneira de estar. A derrota era a exclusão do Centro e o retorno, sem glória, à Cuba. Tive a possibilidade de conviver com companheiros que, na atualidade, são os melhores músicos do mundo como Andrei Gabrilov, Nicolas Demidienco, Mijail Pletnev, Dhain Than Shong e me tornar amigo de grandes professores como Vlasenko que compartilhou o prêmio com Ban Kliburt, Bachikirov que visitou a rainha Sofia quando eu estava em turnê há alguns anos juntamente com outros músicos. Revista Keyboard Brasil: Atualmente vive na Argentina. Por que elegeu este país para viver?
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Encontro com a Orquestra de Crianรงas de Panguipulli, Chile.
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LL: A primeira vez que estive na Argentina, fui convidado por uma organização, a Fundação Proarte, para realizar vários concertos. Logo ocorreram vários convites ao longo daquele país, para realizar concertos e palestras sobre música em universidades e teatros. Também fui chamado para fazer parte da obra Bola de Neve que esteve por vários meses no Metropolitan de Buenos Aires e, a partir daí, decidi organizar minha oficina de gestão e conteúdo cultural AfroCubanConcertMusic nessa cidade, da qual sou titular até hoje! RKB: No âmbito mundial, quais são suas referências musicais, além das já citadas? LL: Keith Jarret, Vladimir Horowuitz, Rudolf kerer, Mijail Pletnev, Gonzalo Ruvalcaba , Chucho Valdes , Metálica e Limbizki. RKB: Você é conhecido por recriar, à sua maneira, obras de grandes compositores clássicos como Chopin e Bach. Quando e por que decidiu ir por esse caminho? LL: Há uma mudança de paradigma na percepção do conceito “música” por parte da sociedade. Um momento chave foi quando o resultado da incapacidade dos músicos fez surgir o conceito de “DJ”. Logo, essa mesma incapacidade auditiva “anoréxica” dos músicos fez que parte dessa incompetência por parte dos sem talento começasse a ocupar posições em empresas privadas, gravadoras e agências de gestão até chegar aos grandes executi-
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vos, o que levou à distorção da palavra comercial que, por sua vez, promoveu o exotismo adolescente. O resultado atual é uma demagogia intelectual assombrosa mas tolerada e aceita por músicos e pela sociedade. Minha contribuição é encontrar, de alguma maneira, uma linguagem técnico-musical que sobreponha à antinomia ideológica musical e para os que desejam navegar nas águas revoltas desta dicotomia. A pergunta é: por que não ir a um grande teatro e ouvir um fragmento da 8ª Sinfonia de Mahler e o segundo tema uma versão de Alfonsina, de Ariel Ramirez, ou uma versão de um tema folclórico, onde se leva a um extremo os valores técnicos do Jazz e o público não se aborrece em ouvir tal estilo musical? Não me interessa sobre Chopin para um público hostil de música clássica, nem tão pouco me aproximo de Piazzolla para um público que não lhe interessa o tango. Por último, a culpa é dos músicos que suspiram por um falso intelectualismo quando tocam para mostrar pouco o seu vasto conhecimento e não levam em conta a massa social que não entende o que eles estão fazendo. Se não quantificam as pessoas que vão a uma festa eletrônica, quantos aplaudem os youtubers, quantos vêem a cantora argentina Lali Exposito ou quantos pagarão uma entrada para assistir um concerto de jazz ou música clássica de um artista comum? RKB: Você divide com as pessoas, através de seus vídeos no YouTube e de seus concertos, worshops e master-
classes, o seu conhecimento. Pode nos dizer sobre isso? LL: Tenho minha inquietude intelectual, nutro-me do espírito científico de Bach com sua concepção da improvisação e o desenvolvimento do tom, o livre arbítrio da forma de Beethoven, a linguagem emotiva do levmotiv de Liszt/Wagner, o escândalo sonoro de Stravinsky através da escola russa de piano, a mística do continente americano através de Alejo Carpentier e Garcia Marquez. RKB: Pode nos falar sobre o Afro Cuban Concert Music? LL: A ACCM é uma instituição de desenvolvimento de conteúdos. A principal ideia é poder ajudar artistas jovens para desenvolver suas habilidades, longe de toda esta difícil situação musical mundial. Creio que os artistas que escolhi podem fazer muitas coisas dentro da minha filosofia musical. Temos artistas muito jovens entre as idades de 19 a 35 anos, todos com olhares diferentes. Gostaria de incluir artistas negros dentro da música clássica e da World Music criando um sistema de festivais, tomando
como exemplo o WOMAD, para desenvolver na Rússia, Argentina, Brasil, enfim. Mas, para isso acontecer, precisamos de parcerias, patrocínio financeiro e unir vontades. RKB: Fale sobre seus projetos para este ano de 2016. LL: Meus projetos para este ano são firmar acordos para o crescimento artístico e gravar as sonatas 7 op10 n. 3 e as sonatas Hamme Klavier n. 29 e 30 em Mi e a 31 em La b de Beethoven. Algumas obras de Mozart e Haydn, a sétima sonata de Prokofiev, Dumka de Tchaikovsky, 6 estudos de Rachmaninoff e a segunda sonata de Rachaninoff. Também gostaria de fazer um concerto com teclados sintetizadores com Emelson e com Gonzalo Rubalcaba e Michel Camilo. Promover meu último concerto “Ecos del Piano & Experienc Extravagance” no Brasil, nos Estados Unidos da América e vários em países de Eurásia. RKB: Obrigada pela entrevista! LL: Obrigado à Revista Keyboard Brasil e a você, Heloísa.
Luis Lugo em masterclass na cidade de Mendoza, Argentina.
Revista Keyboard Brasil / 77
Mundo Progressivo
O DOM MELÓDICO E PROGRESSIVO DE
tony banks 78 / Revista Keyboard Brasil
Essa foi a formação que gravou alguns dos maiores clássicos do rock progressivo, na primeira metade dos anos 70. Da esquerda para a direita: Gabriel, Collins, Banks, Rutherford e Hackett.
POR DETRÁS DAS TECLAS DE UMA DAS BANDAS DE ROCK MAIS BEM SUCEDIDAS DE TODOS OS TEMPOS – GENESIS – ESTÁ TONY BANKS, O HOMEM QUE DEU UMA DIMENSÃO FANTÁSTICA ÀS MELODIAS E HARMONIAS DO ROCK PROGRESSIVO. * Por Amyr Cantusio Jr.
A
nthony George Banks ou, simp l e s m e n t e , Tony Banks , nasceu em Oriente Hoathly,
Sussex, Inglaterra no ano de 1950. Tecladista, compositor e violonista, recebeu formação clássica em piano e aprendeu sozinho a tocar guitarra. Banks e Gabriel, juntamente com o baterista Chris Stewart, formaram uma banda chamada Garden Wall. Esta banda fundiu com outra chamada Anon, que incluiu Mike Rutherford e Anthony Phillips. Juntos gravaram um conjunto de demos, o que levou à formação da grandiosa banda Genesis. O Primeiro
disco realmente forte e importante do grupo foi o TRESPASS (1970) onde o Genesis já definia os rumos e adquiriu seu estilo bizarro, sinfônico e surreal para sempre (aqui o baterista John Mayhew faz um maravilhoso trabalho). O disco antecessor “From Genesis to Revelation”, de 1969, tem raros momentos bons, pois o grupo ainda não havia se definido. Com a entrada de Phil Collins e Steve Hackett, o Genesis adquiriu o status de super grupo, algo que poucos grupos da época atingiram, tal como o Yes. O disco em questão é o lindo “Nursery Cryme” (1971). Depois seguem as obras Revista Keyboard Brasil / 79
primas: “Foxtrot”, de 1972; “Selling England by the Pound” (1973) - que faturou ao grupo o disco de ouro; “The Lamb Lies Down on Broadway”, de 1974 (duplo! Considero o ponto máximo e o melhor disco da banda e de toda a história do rock progressivo). “A Trick of the Tail”, de 1976 (ainda maravilhoso e já sem Peter Gabriel, com Phil Collins assumindo os vocais); “Wind & Wuthering”, de 1976 ainda lindíssimo e mostra o talento máximo de Anthony Banks no foro orquestral; “And Then There Where Three”, de 1978, fecha a história em alto nível. Os teclados de Banks aqui são estupendos, pois cobrem toda a lacuna deixada com a saída de Steve Hackett do grupo. Lindo disco. Melancólico e sofisticado. Alguns discos são imponentes, na minha opinião, tais como: ‘‘Trespass’’ (1970) foi o primeiro disco realmente forte e importante do grupo onde a banda adquiriu seu estilo bizarro, sinfônico e surreal para sempre. “Selling England by the Pound” (1973) faturou o disco de ouro. “A Curious Feeling” (1979) foi o primeiro disco solo de Tony Banks com o baterista Chester Thompson e o vocalista Kim Beacon. Um disco sutil, melancólico e denso, onde Banks projeta toda sua alma. Um disco altamente 80 / Revista Keyboard Brasil
Citarei os dois discos ao VIVO, são eles: “GENESIS LIVE” ( 1973) - mágico! Uma obra imperdível, e o “SECOND'S OUT”, de 1977 (duplo com dois bateras: Phil Collins e Chester Thompson, além da participação de Bill Brufford (Yes) em algumas faixas. Uma obra derradeira. Depois disto, o Genesis virou “carne de vaca” com um sucesso pop ali, outro acolá, enfim. Anthony Banks lançaria seu primeiro LP solo em 1979 “A Curious Feeling” com o baterista Chester Thompson e o vocalista Kim Beacon. Amo este disco! Sutil, melancólico e denso, onde Banks projeta toda sua alma e vários outros instrumentos também. Um disco altamente indicado. Pena que, posteriormente, Banks se enveredou ao Pop mais medíocre e superficial. E, por fim, encerro sua carreira neste período musical prolífero. Pessoalmente, esta é minha opinião.
Com mais de 150 milhões de discos vendidos ao longo de sua carreira, o Genesis se consagrou com uma das bandas de maior sucesso na história do Rock e também fora dele, sendo eleito pela Revista Rolling Stone um dos 30 maiores artistas da música durante a segunda metade do Século XX. A sonoridade, complexidade hamônica e técnica são indiscutivelmente uma das melhores encontradas no Rock Progressivo, influenciando milhares de outros músicos e bandas. A seguir, listei os teclados e sintetizadores principais os quais usou para fazer a vasta obra da banda entre 1969 e 1990. Hammond L-100 organ, Hohner Pianet Mellotron MK2 RMI 368x Electra Piano e Harpsichord,
MXR Phase 100 Yamaha CP-70 electric grand piano. ARP Pro Soloist, Hammond T-102 Mellotron M400 ARP 2600, Polymoog Hammond T-102 organ. Roland RS-202 s Fender Rhodes Piano Yamaha CS-80, Sequential Circuits Prophet-5, ARP Quadrasynth Roland VP330 Vocoder Plus Prophet 10 synthesiser Synclavier II E-mu Emulator Yamaha DX7 Sequential Circuits Prophet-5 Grand Piano ( Yamaha, Steinway)
*Amyr Cantusio Jr. é músico (piano, teclados e sintetizadores) compositor, produtor, arranjador, programador de sintetizadores, teósofo, psicanalista ambiental, historiador de música formado pela extensão universitária da Unicamp e colaborador da Revista Keyboard Brasil. O estopim para o fim da banda, se deu em meados dos anos 1990, com a queda das vendas devido ao sucesso do movimento Grunge na cena Rockeira e a saída de Phil Collins, que passou a seguir carreira solo.
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Novidade
RAFAEL SANIT 82 / Revista Keyboard Brasil
O EIXO SUL-SUDESTE ESTÁ FICANDO PEQUENO DEMAIS PARA NOSSA REVISTA KEYBOARD BRASIL! ESTE MÊS, TEMOS A ALEGRIA DE APRESENTAR O MÚSICO RAFAEL SANIT, NOSSO MAIS NOVO COLABORADOR QUE TRARÁ ÓTIMAS NOTÍCIAS M U S I C A I S D A S R E G I Õ E S N O RT E E N O R D E S T E ! Por Heloísa Godoy Fagundes
T
ecladista, Dj e produtor Rafael Sanit iniciou sua carreira musical aos 10 anos de idade através de seu pai – Domingos Santana – saxofonista e professor de Música. Seu primeiro instrumento foi bateria tocando até os 12 anos. Por sugestão de seu pai, passou a estudar teclado. No ano de 1997, já como tecladista,começou a tocar em bares na cidade de Belém do Pará. Em seu repertório estilos diversos, tais como: Calypso (que, naquela época não era conhecido nacionalmente, e em Belém era denominado Brega), Carimbó, MPB, Baião, Xote, Reggae, Zook... Literalmente de A a Z, fazendo parte de várias bandas paraenses, além de acompanhar vários cantores regionais. Em 2004 ingressou nas fileiras da Força Aérea Brasileira ficando durante 4 anos longe dos palcos e shows. Quatro anos depois, já como civil, retornou seus trabalhos musicais, desta vez em Igrejas sendo, também, tecladista e produtor da banda cristã paraense EM MILAGRE,
onde produziu o CD “Vida em Milagre” e acompanhou vários cantores Cristãos como CHRIS DURAN, PASTOR LUCAS, WLADIA LEYLIANE, ROBERTA DI ANGELLIS, dentre outros. Em 2015 ingressou também como DJ no segmento Gospel, atualizando-se de forma constante em música eletrônica. Atualmente, trabalha como produtor nos estúdios M2 e Top 3 em Belém e desenvolve um trabalho instrumental com seu quarteto RAFAEL SANIT QUARTETO tocando Jazz e música brasileira. Ainda este ano, atuará como tecladista, Dj e produtor em sua banda cristã de rock alternativo ADORAÇÃO MUSICAL, trabalho voltado à música eletrônica. Rafael Sanit é endorsee das marcas Roland, Stay Music, Mac Cabos e Jones Jeans, além de trabalhar como demonstrador de produtos Roland onde realiza treinamentos para consultores de lojas através de workshops. Saiba mais sobre Rafael Sanit:
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Especial
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O MINISTÉRIO DA SAÚDE ADVERTE:
AS OBRAS DE
Pierre Boulez NÃO FAZEM MAL À SAÚDE DA ARIDEZ AO CAMINHO MÁGICO DA RESSONÂNCIA BOULEZ ASSUMIU UM ESTILO QUE O TORNOU INCONFUNDÍVEL, AFUGENTANDO PREGUIÇOSOS, INCAPAZES E ALIENADOS. ** Por Maestro Osvaldo Colarusso
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P
ierre Boulez, falecido aos 90 anos no início de janeiro, ficou muito mais conhecido por sua
atividade como maestro do que pelo seu trabalho como compositor. Penso mesmo que apenas como compositor ele não viveria numa enorme vila em meio a um gigantesco bosque em Baden-Baden na Alemanha, onde estão dezenas de valiosíssimas obras de arte. Sei que sua obra não é fácil de ser compreendida, mas é fato também a atitude tipicamente hostil do público de música clássica frente à criação contemporânea. Diante desta hostilidade muitos compositores, alguns até mesmo com as melhores intenções, resolveram “dourar a pílula”, facilitar as coisas para o ouvinte, e mudaram de estilo. Se observarmos certos compositores contemporâneos a Boulez, e que escreveram obras tão herméticas quanto as dele, percebemos em Boulez um tipo de firmeza que não ocorreu entre muitos de seus colegas. Karlheinz Stockhausen (1928-2007) por exemplo, um dos mais importantes compositores da segunda metade do século XX, autor de “Zeitmasse” e “Gruppen”, a partir dos anos 60 do século passado dedicou-se mais a happenings, verdadeiros shows onde a música, que se tornou ‘capenga’, era apenas um pano de fundo para seu “esdrúxulo” espetáculo. Luciano Berio (1924-2003), autor de obras primas como “Sinfonia” e das maravilhosas “Sequenzas”, em seus últimos anos de vida parou 86 / Revista Keyboard Brasil
Homenagem pรณstuma a Boulez na cidade americana de Chicago.
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Répons de Boulez em recente apresentação em Paris.
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Foto: Joel Robine/AFP/Getty Images
9 de janeiro de 1984: Pierre Boulez (direita) conversa com o compositor e guitarrista Frank Zappa e com o ministro da cultura da França, na Êpoca, Jack Lang, no Theatre de la Ville em Paris, quando ele dirigiu 3 obras de Zappa.
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Ensaiando com Daniel Barenboim (ao piano), para concertos no Royal Festival Hall, Londres, em 2011.
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de compor e se dedicou exclusivamente, com resultados discutíveis, a orquestrar e completar obras de compositores do passado (Brahms, Puccini, Schubert, etc.). No caso de Krzysztof Penderecki (nascido em 1933) a mudança foi brutal, sendo que o ousado compositor de “Trenodias para as vítimas de Hiroshima” (1960) tornou-se uma espécie de neo-Bruckner em suas composições atuais. Mesmo os compositores mais jovens largaram uma postura
ousada para se tornarem arautos do conservadorismo. É o caso do inglês Thomas Adés (nascido em 1977) que depois da originalidade de obras como Asyla (1977) dirigiu-se para um estilo bem mais açucarado. Aliás Penderecki e Adés são os campeões mundiais de encomendas destinadas a compositores de música clássica. A mudança de estilo foi bem providencial.
UMA PRODUÇÃO DESAFIADORA Voltando a Boulez percebemos que sua produção evoluiu, amadureceu, mas nunca retrocedeu. Quando nos deparamos frente às suas primeiras obras importantes, como suas duas primeiras Sonatas para piano (1949-1950), percebemos uma certa aridez. Mas a partir de “Le marteau sans maître” (1955), obra para meio soprano e pequeno conjunto instrumental, o caminho mágico da ressonância parecia se abrir. Em 1965, com a obra “Éclat”, para pequeno conjunto instrumental, o som de Boulez assume um estilo que se tornou inconfundível. Reforço a questão da “ressonância” pois ao privilegiar instrumentos como a harpa, o vibrafone, o glockenspiel, o cimbalum, o violão e mesmo o piano, suas obras tornam-se realmente fascinantes por este processo “ressonante”. Uma de minhas obras favoritas do compositor, “Sur incises” (1996-1998),
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escrita para três harpas, três pianos e três percussionistas mostra, além de um vocabulário sempre novo, esta capacidade de certos instrumentos se complementarem. A culminância de sua linguagem acontece na obra “Répons”, concluída em 1984. As ressonâncias são enriquecidas por processos eletrônicos que modificam ao vivo os sons dos seis solistas (harpa, cimbalum, vibrafone, glockenspiel/ xilofone e dois pianos). Obra ambiciosa, necessita, para ser executada, um espaço em que os seis solistas se coloquem a uma certa distância em volta da orquestra que deverá ficar no meio do espaço. Uma verdadeira Sinfonia onde percebemos nos seus 40 minutos de duração claras divisões de movimentos: uma introdução agitada, a entrada dos solistas, um movimento central bem lento, espécie de marcha soturna, um Scherzo rapidíssimo, e um Finale onde os sons se esvaem.
Mesmo com tantas dificuldades técnicas e de logística “Répons” foi executada em diversas cidades da Europa e Estados Unidos, e creio mesmo que a completa percepção da obra se dá mesmo numa execução ao vivo. Não há dúvida que muitas composições da última fase do autor, como “Dérive 1”, Dérive 2” (sua última obra completada, de 2006) e a
versão orquestral de “Notations” são mesmo muito mais sedutoras, mas sua complexidade não facilita muito a sua realização e nem a sua compreensão. Em diversas ocasiões Boulez usou o termo “alienante” para composições previsíveis. Sua ideia sempre foi de lançar um desafio a quem mergulhava em suas obras, fosse esse um ouvinte ou um executante.
NOVOS INTÉRPRETES Por muito tempo as obras orquestrais de Boulez só conseguiam serem realizadas quando ele próprio regia. Felizmente as inúmeras dificuldades técnicas de suas partituras têm encontrado intérpretes competentes que continuam a fazer execuções de altíssimo nível. Entre estes intérpretes seria justo aqui citar em primeiro lugar Daniel Barenboim, que tem regido diversas obras de Boulez, como “Sur incises”, “Dérive 1” e Dérive 2” e as versões orquestrais de “Notations”, que ele próprio encomendou. Destaco três jovens e excepcionais maestros: o alemão Mathias Pintscher, que dirigiu de forma brilhante “Répons” no ano passado na nova “Philarmonie” de Paris, Ulrich Pöhl, um outro jovem maestro alemão, que também regeu “Répons” em Utrecht, na Holanda, durante um Festival Boulez em dezembro
de 2015 e o francês François-Xavier Roth que tem regido com frequência a obra de Boulez sobretudo à frente da GürzenichOrchester Köln (Colônia). Quatro músicos fantásticos que se propuseram a manter viva uma obra que muitas vezes é desprezada e esnobada. Aos músicos, especialmente os pianistas, que torcem o nariz ao se depararem frente às dificuldades das partituras de Boulez é bom lembrar que uma pianista que se tornou uma reputada intérprete de Chopin e Rachmaninoff, Idil Biret, gravou, e bastante bem, as três Sonatas para piano dele. Maurizio Pollini, renomado pianista, incluiu diversas vezes “Notations” e a “Sonata N° 2” em seus recitais. A obra de Boulez não faz mal à saúde, mas tem o poder de afugentar os preguiçosos, incapazes e, como dizia o compositor, os alienados.
* Texto retirado do Blog Falando de Música, do Jornal paranaense Gazeta do Povo. ** Osvaldo Colarusso é maestro premiado pela Associação Paulista dos Críticos de Arte (APCA). Esteve à frente de grandes orquestras, além de ter atuado como solista. Atualmente, desdobra-se regendo como maestro convidado nas principais orquestras do país e nos principais Festivais de Música, além de desenvolver atividades como professor, produtor, apresentador, blogueiro e colaborador da Revista Keyboard Brasil. Revista Keyboard Brasil / 95
Ponto de Encontro
(da Música, Arte, Beleza, Educação, Cultura, Rigor, Prazer e Negócios)
O QUE ESTAMOS FAZENDO COM A CLASSE MÉDIA? PARTE 1
O QUE TEMOS EM COMUM COM OS SOFISTAS GREGOS DO PASSADO? PARA RESPONDER ESSA PERGUNTA TÃO ATUAL, BASTA LER O TEXTO DO PROFESSOR BERSOU! * Por Luiz Bersou
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TALES DE MILETO E A SÉTIMA PERGUNTA
T
ales de Mileto foi considerado
um dos sete sábios da Grécia Antiga. O seu legado se perdeu no tempo e hoje só nos restam citações dos seus contemporâneos. Outro dia ganhei um presente que foram as nove respostas de Tales às perguntas dos sofistas gregos. Todas brilhantes, mas a sétima é muito adequada ao nosso momento atual.
SOFISTAS GREGOS A Grécia teve um momento em que o centro de interesses da sociedade era a educação, pois no imaginário da época, era o caminho para a perfeição e virtude. Nesse ambiente, os debates públicos, as palestras de quem tivesse o que falar atraiam público. Foi nesse contexto que nasceu o sofismo. Sofistas privilegiavam a beleza do discurso, a retórica e o brilho da oratória, tudo em prol do poder do convencimento. Nesse contexto de valorização do poder do convencimento, perde-se no tempo, o compromisso com a verdade. A verdade ficou em segundo plano. Um registro interessante desse momento histórico, nos diz que os sofistas foram os primeiros advogados da história ocidental!! Volto então o pensamento para os juízes no Supremo Tribunal Federal. Percebo a preocupação com o brilho da
oratória, a beleza do discurso e a preocupação clara em aparecer bem na fotografia. Voltando no passado, aparece o registro de quantas vezes esse tribunal deixou de ser tribunal onde fica o altar da honra e da justiça para ser partícipe em jogadas de interesses de políticos de ocasião, na defesa de temas de Estado de Direito de honra duvidosa. Faço, então, a pergunta delicada: Que pensamento posso elaborar sobre juízes e sofistas?
A CIÊNCIA DA VERDADE Ampliando as considerações sobre juízes, coloco essa questão no contexto atual, afirmando que socialistas, petistas e comunistas de hoje nada mais são do que os sofistas gregos do passado, que a sociedade de então soube identificar e rejeitar. Foi nessa luta que se reforçaram as bases da filosofia,que nasceu lá e que nada mais é do que a ciência da verdade! Continua na próxima Revista Keyboard Brasil...
* Atualmente dirigindo a BCA Consultoria, Luiz Bersou possui formação em engenharia naval, marketing e finanças. É escritor, palestrante, autor de teses, além de ser pianista e esportista. Participa ativamente em inúmeros projetos de engenharia, finanças, recuperação de empresas, lançamento de produtos no mercado, implantação de tecnologias e marcas no Brasil e no exterior. Revista Keyboard Brasil / 97