PROGRAMAÇÃO ASSOCIAÇÃO “OS FILHOS DE LUMIÈRE” AUDITÓRIO Organização e Produção Cristina Grande Pedro Rocha Ana Conde Coordenação Técnica e Som Nuno Aragão Luz Rui Barbosa Cinema/Vídeo Carla Pinto
MOMENTO XIV
SERVIÇO EDUCATIVO
CICLO O SABOR DO CINEMA
Programação/Coordenação Elisabete Alves Sofia Victorino Consultora Elvira Leite Assistentes Cristina Lapa Carla Almeida Diana Cruz
30 NOV, DOMINGO, 16h00 MÚSICA DE CÂMARA > Tiago Afonso GABBEH > Moshen Makhmalbaf PRÓXIMA SESSÃO 07 DEZ 2008 MÁSCARAS > Noémia Delgado
Informações: 808 200 543 Reserva Bilhetes: 226 156 584 Geral: 226 156 584 Rua D. João de Castro, 210 4150-417 Porto. Portugal www.serralves.pt | serralves@serralves.pt
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GABBEH
MÚSICA DE CÂMARA Realização: Tiago Afonso Imagens: Tiago Afonso, Artur Afonso, Amarante Abramovici Montagem: Tiago Afonso, Regina Guimarães Música: Franz Schubert “Quartettsatz”, interpretada por Melos Quartett PORTUGAL, 2006 Não se trata bem de um ciné-diário, embora contenha imagens do quotidiano e imagens filmadas ao sabor dos dias. Não se trata de um documentário embora a utilização de certas imagens e a maneira como outras foram registadas seja moldada por um olhar de documentarista. Não pode ser designado como um ciné-ensaio, embora, através da montagem, as imagens polemizem temas e, mais importante ainda, se interroguem a si mesmas. Não é propriamente um ciné-poema, apesar de algumas sequências obedecerem a sistemas de continuidade e ruptura próprias da poesia e a despeito de muitas imagens reivindicarem, clara e internamente, um estatuto poético. Estamos perante um objecto que reclama para si a liberdade de expressão que só nos livros tem atingido este patamar, coisa que, de resto, amiúde vale dissabores aos seus autores. A liberdade de expressão a que concretamente aludimos (que inclui a liberdade de ponto de vista e a de mistura de suportes) tem sido preocupação de raros cineastas. O cinema só muito a medo assume a primeira pessoa e não falta quem qualifique esse atrevimento de narcisista. O filme de Tiago Afonso intitula-se MÚSICA DE CÂMARA e é óbvia a inspiração musical que preside à partitura de montagem deste filme que até se dá ao luxo de esboçar «andamentos». O texto fílmico corre por cima e por baixo e a par de um quarteto inacabado de Schubert, compositor que faleceu jovem – como se diz que é próprio daqueles que os deuses amam. E também por esse lado do inacabamento (neste caso assumido) esta curta-metragem cava. Porque uma das mais nobres e abertas funções da imagem é existir para que outras, a seu tempo, possam vir a acontecer...
Realização: Moshen Makhmalbaf Fotografia: Mahmoud Kalari Montagem: Moshen Makhmalbaf Música: Hossein Alizadeh Som: Mojtaba Mirtahasebi, Abbas Rastegarpour, Behroz Shahamar Interpretação: Abbas Saya, Shaghayeh Djodat, Hossein Moharami, Rogheih Moharami, Parvaneh Ghalandari IRÃO/FRANÇA, 1996 No sudeste do Irão, uma tribo nómada – na qual, por tradição, se tecem tapetes de lã colorida chamados gabbeh – encontra-se em vias de extinção... No início do filme de Moshen Makhmalbaf, uma velha mulher lava e faz falar um velho tapete de sua própria confecção, cujos motivos evocam a história dos amores contrariados pelo clã a que pertence, mas também a tenacidade do seu amante que, estranho ao dito clã, persegue incansavelmente a respectiva caravana, desafiando a autoridade patriarcal, as asperezas do terreno e as intempéries. A despeito do seu aspecto grosseiro (nos antípodas dos sumptuosos e lendários tapetes persas), este tapete falante constitui a prova de que as histórias densas de sentido persistem para além dos seus carnais actores, por um lado, e de que o desejo de rasto propiciou, em muitos lugares e épocas, o surgimento de códigos e suportes parentes do objecto livro, por outro. Mas, se a relação entre as personagens e as cores representadas nos gabbeh e uma escrita ideográfica se torna óbvia no filme – onde há travessia de deserto, nasce um amarelo; onde há um luto, a lã passa a ser negra –, não menos evidente será uma vontade de falar da passagem dos humanos pela paisagem como uma forma de escrita, mesmo quando, nómadas, esses humanos deixam escassos vestígios. Moshen Makhmalbaf é um realizador cuja obra se afirma no Irão pós revolução – pós queda do Shá e de um regime tão ocidentalizado quanto ferozmente controlado pelo ocidente –, num contexto fortemente condicionado pela ortodoxia religiosa e pela opressão exercida sobre as mulheres. Enganam-se pois os muitos que não vêem neste filme senão uma história de encantar, os muitos que consideram esta obra destituída de propósitos políticos. Num quadro sócio-cultural em que a figuração na arte e o papel das mulheres na vida pública são dois terríveis entraves à liberdade de expressão, é disso antes de mais que nos fala GABBEH. E não será por acaso que o realizador, rejeitando a concepção americana do cinema «janela», define a sua prática como sendo, assumidamente, a de um cinema «espelho».