PROGRAMAÇÃO ASSOCIAÇÃO “OS FILHOS DE LUMIÈRE” AUDITÓRIO Organização e Produção Cristina Grande Pedro Rocha Ana Conde Coordenação Técnica e Som Nuno Aragão Luz Rui Barbosa Cinema/Vídeo Carla Pinto
PRÓXIMA SESSÃO
15 NOV 2009 (Dom) / 16h00 VESTÍGIOS / Tiago Afonso / m/12 BELARMINO / Fernando Lopes / m/12
Momento XVI
CICLO O SABOR DO CINEMA OUT-NOV 2009 Auditório
08 NOV (Dom), 16h00 O QUE TE QUERO, Jeanne Waltz PEIXE LUA, José Álvaro Morais
Informações: 808 200 543 Reserva Bilhetes: 226 156 584 Geral: 226 156 584 Rua D. João de Castro, 210 4150-417 Porto. Portugal www.serralves.pt | serralves@serralves.pt
APOIO INSTITUCIONAL
COM APOIO
m/12
O QUE TE QUERO
PEIXE-LUA
Argumento, Câmara, Realização e Montagem: Jeanne Waltz Som: Joaquim Pinto, Nuno Carvalho, Nuno Leonel Produção: Antónia Seabra Interpretação: Ricardo Aibéo, Glicínia Quartin, Beatriz Batarda, Rafaela Santos, Alexandre Conefrey Portugal, 1998
Realização: José Álvaro Morais Argumento: Jeanne Waltz e José Álvaro Morais Fotografia: Edgar Moura Som: Philippe Morel, Pedro Melo Cenografia: João Calvário Guarda-roupa: Silvia Grabowski Montagem: Jackie Bastide Produção: Paulo Branco Interpretação: Beatriz Batarda, Marcello Urgeghe, Ricardo Aibéo, Luís Miguel Cintra, Isabel Ruth, Paula Guedes, Asunción Balaguer, Fernando Heitor, Francisco Rabal, Afonso Melo, Lúcia Sigalho, Rita Durão, Rita Loureiro, Adelaide João, Teresa Roby, José Pinto, José Meireles, Dinis Gomes, etc. Portugal, 2000
«Está uma manhã clara e a rua apinhada de gente quando tu me chamas. Há um ano que não te vejo. Há um ano que me deixaste, ou eu a ti, tanto faz. De repente estás à minha frente, sorridente, deslumbrante, grávida. Julgava-me curada de ti. Mas apareces, e sucumbo a um ataque de imagens, de recordações. Aos montes, um aluimento. Só me resta fugir. Fujo. Tu, há um ano atrás, já falavas em cobardia...» Eis a singela sinopse da curta-metragem de uma realizadora que se tem notabilizado pelo seu trabalho de argumentista no quadro do cinema português de autor. Citem-se, a título de exemplo, as suas colaborações com Manuel Mozos, Paulo Rocha, Solveig Nordlund e José Álvaro Morais, segundo autor em destaque nesta sessão. Jeanne Waltz assina também a imagem e a montagem deste filme belo e abrupto, feito de encontros-desencontros, banhado na calda fervilhante do desejo, eivado de uma força subterrânea que organiza e desorganiza vidas, para o qual escolheu – a dedo, sublinhe-se – um elenco excepcional.
JOÃO – cujo nome dúbio se encontra em sintonia com a rajada de androgenia que varre as personagens deste filme ciclone – quer casar, não quer casar. Dilacerada entre o que quer e o que não quer, bebe para pensar, foge e regressa para escapar à terra a que está amarrada por laços fundos, incalculáveis, enraizados numa infância e adolescência em que o sexo, o bem e o mal foram permanecendo indistintos. Ruma a Espanha com um veleiro atrelado ao veículo que a transporta, percorrendo as planícies meridionais de súbito transformadas em oceano e no seu perfeito avesso. Maria-rapaz no centro de uma fratria, não lhe será possível encontrar relações mais fortes do que aquelas que moldaram a sua irreverente meninice. José Álvaro Morais terá dito acerca da sua obra cinematográfica que ela esboça persistentemente o retrato de «um país que agarra as pessoas com tanta força ao mesmo tempo que lhes dá vontade de fugir». Depois de realizar O BOBO – filme maior do cinema português em que conduz uma reflexão paralela acerca da matriz da nacionalidade (o corte necessário com a instância do poder maternal representado por Dona Teresa) e da falência do processo revolucionário encetado em 74 (simbolizada pela venda de armas destinadas a fortalecer o braço do povo) –, José Álvaro Morais desvia-se decididamente das referências oficiais de uma certa ideia de portugalidade para tentar construir uma cartografia identitária compósita. Em ZÉFIRO, convoca e explora a ideia de Sul, elevando a travessia do Tejo ao estatuto de passagem de uma fronteira que abre, secreta mas indomavelmente, para o mundo árabe. No seu último filme, QUARESMA, o pólo de atracção é o Norte, entre a Serra da Estrela (berço da sua família) e a Dinamarca; e esse Norte metafórico magnetiza a vidas de personagens, casadas e desavindas com figuras nimbadas de loucura e ancestralidade. Neste seu PEIXE-LUA, o cineasta opera uma fusão entre o Ribatejo e a Andaluzia, com touros a pastar nas herdades e a serem debitados em bife pela mão da talhante Isabel Ruth, jovens e fogosos cavaleiros em conflito íntimo com a cartilha do marialva, e com o apelo desse leste a leste que faz realmente as vezes de paraíso para um punhado de almas ciganas e aristocráticas. O texto de Lorca onde José Álvaro Morais colhe o título da sua obra funciona no filme mais como um emblema do que propriamente como um flash-back credível. A batuta de Francisco Rabal, o tio-avô amoralmente genial e louco, aponta de facto para um universo animado pelas luzes, sombras, enlevos e relevos do poeta andaluz, embora o cineasta se tenha inspirado em Visconti para o desenho da sua personagem. Reza a história que, uma vez por ano, o mestre italiano se disfarçava de velha tia sinistra para assustar e divertir os seus queridos sobrinhos…