INSTITUTO POLITÉCNICO DE BEJA Escola Superior de Educação Artes Plásticas e Multimédia
CULTURA VISUAL ANÁLISE
Hélder Francisco Gonçalves Leal Carlos
Beja 2014
INSTITUTO POLITÉCNICO DE BEJA Escola Superior de Educação Artes Plásticas e Multimédia
CULTURA VISUAL ANÁLISE
Trabalho de investigação elaborado no âmbito da disciplina de Cultura Visual
Elaborado por: Hélder Francisco Gonçalves Leal Carlos Docente: José Pedro Fernandes
Beja 2014
RESUMO Desde os nossos antepassados que existia a composição de imagem. A representação de icones e figurações de ações de caça era uma característica que descreve uma cultura primordia. Este veículo de informação permite a expressão de uma ideia, de um objectivo e a imagem é o reflexo de uma sociedade. Mais forte que mil palavras, a imagem afirma-se como uma linguagem, constituida por uma lógica e uma razão, cada uma com a sua carga simbolica fruto da significação. A carga ética e a estetica assumem uma posição de influência na análise de significação.O objectivo maioritário será conseguir produzir um “mix” de observação mais ideia, conhecimento mais poder de análise sendo igual, por sua vez á compreensão do conceito cultura visual.
Palavras-chave:imagem, análise, estrutura, composição, temática, expressão, simbologia, cor, postura, espaço, percepção, observação.
ABSTRACT The image´s composition exists since our ancestors. A representation of figurative icon regarding hunting is a major aspect of our primordial culture. This way of communication allows the expression of ideas, objects and images reflected by a society. the visual image can be stronger than words, having a language of its own and built by logic and reason , each one of them with its own symbolic charge. An ethics and aesthetics charge holds influence in this significance analysis. The major goal is to be similar to the apprehension of visual culture concept.
Keywords: image, analysis, structure, composition, theme and expression, symbolism, color, posture, space, perception, observation.
ÍNDICE I.Introdução.......................................................................................................................1 II.Edouard Manet Análise ..............................................................................................................................2 III.Contextualização..........................................................................................................5 IV.René Magritte Análise .............................................................................................................................7 V Contextualização...........................................................................................................8 VI.Conclusão................................................................................................................9 VII.Bibliografia...........................................................................................................10 VIII.Anexos.....................................................................................................................11
I. INTRODUÇÃO A presente investigação pretende ir de encontro a um tema que frisa a capacidade de análise de duas obras relacionadas por conceitos e imagética. Este poder de observação permite desconstruir e desmistificar tudo aquilo que está para além da observação do publico leigo. A ideia é entender as intenções do artista, a simbologia, as estruturas de composição, onde, no fim, tudo de torna mais claro e justificado, a isso se chama, análise completa do que é apresentado. É de extrema importância adquirir esta competência , classificada como a chave-mestre para a composição desenvolvida numa imagem ou análise de uma qualquer.
II.Edouard Manet -Analise da obra De acordo com o primeiro impacto, o que atrai visualmente o espectador, é claramente a tonalidade dos dois elementos femininos representados na obra. De seguida o espectador, num tom de satisfação da sua curiosidade prossegue á descoberta dos restantes elementos nomeadamente, a figura masculina, de resto, vem por acrescimo. Ordenadamente, da esquerda para a direita é possivel observar uma especie de perciana verde tropa com uma repetição de elementos paralelos, provocando alguma dinamica de equilibrio visual e alguma noção de ritmo e sequência. No seguimento deste eixo vertical verifica-se a presença de um elemento complementar á composição geral , afim de provocar alguma harmonia , uma hortência com varias folhas, plantada num vaso branco com pinturas de varias hortências em seu redor . O vaso tem uma base espessa. No eixo vertical aeguinte, é possivel verificar a presença de um elemento quase desvanecido cromáticamente com o plano de fundo , um rapaz de camisa branca e casaco escuro com a cabeça inclinada a 45ºgraus com o corpo direcionado para o lado direito. Esta rotação mostra o dominio da representação anatómica do corpo humano. O Proximo eixo vertical “atinge” uma senhora com um ar sereno, confiante e determinado, sentada naquilo que se supõe ser uma cadeira onde exibe um longo e largo vestido branco,decotado, com uma encharpe também branca, com pregas nas bordas do tecido. Este elemento feminino fisicamente tem cabelo castanho escuro encaracolado e preso atrás com algo não identificável deixando duas pontas de cada lado, soltas, caindo pelos sobre os seus ombros delicados. Tom de pele esbranquiçado, olhos castanhos escuros acentuados e de sobrancelhas grossas transmite um olhar focado para o lado esquerdo, objectivo.Nariz fino e longo, lábios bem desenhados com um queixo pouco desenhado e pequeno salientando-se as bochechas ,numa postura geral extremamente séria. Possui um colar com uma fita verde e um “pêndulo” de ouro. As suas mãos encontram-se no parapeito das “vigas da varanda” onde a mão esquerda está sobreposta á direita e ao mesmo tempo a mão direita segura um leque vermelho fechado. Ainda neste eixo vertical vê-se um cão de pequena porte com o corpo aproximadamente a 120graus para a esquerda e a cabeça a 50graus para a direita. Com o pelo considerado comprido, castanho na cabeça e branco no resto do corpo com algumas manchas também castanhas.
Em frente ao cão, existe uma bola com cores cruzadas na verticas, de branco e vermelho. No proximo eixo vertical visualiza-se a representação de umaa figura masculina de cabelo curto cartanho claro de olhos claros e um tom de pele rosado. Apresenta sobrancelhas finas e cuidadas tambem castanhas claras, nariz bicudo mas pequeno, e um bigode em tons de ruivo impedindo ao espectador visualizar os labios.Queixo com traços pouco acentuados numa postura de indiferença, numa rotação de ¾. Posui ainda uma camisa branca de colarinho alto acompanhada de uma gravata curta e grossa azul escura. Casaco preto de fato, decotada dando quase a sensação de smoking. A sua mão esquerda está ligeiramente erguida acima da cintura mas abaixo da linha do peito, de mão fechada de forma suave , sem firmeza. A sua mão direita esta ligeiramente mais abaixo da linha horizontal da mão esquerda mas ainda assim acima da cintura e abaixo do peito, mão fechada, esta com mais firmeza e menos suavidade no gesto. As calças são do mesmo tecido do casaco, e da mesma cor. Postura geral do corpo, firme, requintada e delicada. No eixo vertical seguinte está a representação de uma senhora, por sinal mais nova que a anterior, localizada á esquerda da figura masculina, e de estatura mais baixa que este,de hortência fixa no seu cabelo apanhado, na zona frontal, esta, com o rosto ligeiramente inclinado para a direita, de sobrancelhas curvas, palpebras pesadas de olhos escuros. Nariz longo mas pequeno, e labios avermelhados, bastante desenhados. Queixo extremamente redondo. Possui um vestido branco , ligeiramente decotado, cintado até aos tornozelos, com folhos em redor. As sua mãos estão ligeiramente fletidas na direção de baixo para cima, remetendo o espectador para a sensação de uma fluidez natural da sua postura. O seu braço esquerdo está a amortizar/balançar o peso do guarda-chuva que se encontra numa inclinação de aproximadamente 35 graus. Este possui uma pigmentação esverdiada de tonalidade escura com um cabo em madeira. É possivel visualizar nesta representação da figura feminina um calçado que faz referência a um bota de tonalidade preta, ou algo semelhante, e só é possivel observar o pé esquerdo da senhora. Seguidamente, prossegue-se a descrição dos eixos horizontais desta representação pictórica onde , do sentido de baixo para cima e numa sequência de planos é possivel visualizar umas “vigas” cruzadas ,esverdiadas que faz referência ao simbolo que o inconsciênte associa como sendo o parapeito de uma varanda. Nos 4 cruzados destas “vigas” encontram-se elementos particulares circulares da mesma, fazendo parte da estrutura. Posteriormente, e já em segundo plano encontra-se na mesma linha horizontal,a bola. Logo por cima da bola surge a linha horizontal do cão e do vaso com a hortência.No
eixo onde se encontra o parapeito da “varanda”, vê-se ainda o braço direito da primeira representação da figura feminina apoiado nesta estrutura. Logo de seguida encontra-se o eixo que atravessa o rosto desta senhora e as mãos da outra senhora. Outro eixo importante é o que traça a horizontalidade da segunda figura feminina com a figura masculina, á partida, criança que se encontra em quarto plano, quase difundido no escuro que o rodeia e determina a noção de profundidade. O ultimo eixo horizontal traça o rosto da representação da figura masculina. Em termos de elementos base (triângulo,rectangulo e circulo) nesta imagem é possivel observar as três componentes. O triângulo, onde os vertices acentam no rosto das duas figuras femininas e o ultimo vertice no rosto da figura masculina sendo que forma um tiângulo isosceles cujo o vértice mais distante está acente no rosto da figura feminina mais á esquerda de toda a composição da imagem.Os quatro rostos que compõem a narrativa da imagem formam um quadrado ligueiramente torcido e obliquo a aproximadamente 45graus.Existe ainda uma outra triangulação entre as mãos dos três elementos que compõem a narrativa desta pintura.
III.CONTEXTUALIZAÇAO Obra de Edouard Manet “Balcão” encontra-se no Museu D´Orsay em Paris. Edouard Manet (1832-1883), pintor de transição entre o realismo e o impressionismo, torna a imagem transportável, isto foi um avanço significativo na arte apesar de ser um paradoxo autêntico face á fotografia, mas inevitavelmente é óbvia a relação de Manet com a fotografia visto que o pintor retratava o seu quotidiano, o que se aplica simultaneamente á fotografia. A sua realidade, o “frame” era também o ponto de encontro, a imagem complementada com a pintura (realidade). Desde este artista, tudo aquilo que lhe sucedeu e relacionando com o conceito janela aberta, a imagem tem, claramente, o poder de “raptar” o espectador da sua realidade obrigando-o a interpretar a realidade do pintor (quotidiano), o mesmo se aplica á fotografia. A noção de espaço infinito formada no renascimento é agora “sugada” para o efeito “caixa” onde as representações não eram nem infinitas nem “estampadas” com um efeito 2D. Havia sim um reduzido espaço designado de caixa onde o espectador era convidado visualmente a entrar sem perder a noção de profundidade.Caracterizado por criar representações do quotidiano , Manet foi considerado o pintor da vida moderna, expondo ainda o minimo de assuntos na pintura. A disposição dos elementos caracterizam-me como misteriosas, a pintora Berthe Morisot situada á esquerda é a futura mulher do irmão de Edouard Manet casando em 1874 com Eugéne.Esta é considerada uma das modelos preferidas do pintor apresentada como heroína romântica e inacessivel. Á direita encontra-se a mestre de violoncelo Fanny Claus e no centro da composição Jean Baptista Antonine Guillemet. Os restantes elementos apresentam uma postura de indiferença. Nas “profundezas” deste pequeno espaço de “efeito caixa” bastante representado no trabalho de Manet encontra-se o seu filho, Leon Leenhoff que terá pousado como um simples criado.
Manet inspirou-se no quadro “Las majas en el balcón” de Francisco Goya para construir esta composição.Para tal foi produzido um estudo preparatório, o “Retrato de Mademoiselle Claus” que se encontra no Museu Ashmolean em Oxford. O tema do quadro é Fanny Claus, a melhor amiga da esposa de Manet, Suzanne Leenhoff. Manet quebra as regras tradicionais da pintura sendo que a vivacidade das cores provoca um certo impacto, o verde da varanda, o azul da gravata da figura masculina, o traje branco das figuras femininas e até mesmo o pormenorizado da hortência estar mais explorado de alguns rostos. O quadro de Manet, na sua altura não foi totalmente aceite na apreciação do publico alvo sendo criticado e desvalorizado o mistério em torno desta grandiosa composição.
IV.René Magritte -Análise da obra Em termos visuais a representação desta obra é muito semelhante á obra de Manet, intencionalmente. Os planos são os mesmos, o efeito caixa também, sendo possivel a maior comparação destas duas composições. Direcionando então para o centro de acção, situa-se no caixão “sentado”, o que representa o maior equilibrio tanto na localização como no contraste de luz-sombra. O centro de acção encontra-se exatamente onde se situa este caixão o que provoca uma visão de enquadramento exata.Apesar de haver uma ausência extremista de narrativa de representação elementar consegue-se ainda classificar a obra como dinâmica na sua organização de elementos e face á dinâmica de centros visto que o caixão mais á direita da composição também provoca alguma curiosidade. Na sua composição geral, para além das mesmas percianas , varandim, verifica-se algumas mudanças trazendo ainda mais mistério mas nesta obra, um mistério mais mecânico mais conceptual e menos visual. Surgem 4 elementos formais geométricos , caixões esses associados a cada elemento que Manet representou figurativamente na sua obra. Citação do Artista: “For me the setting of The Balcony offered a suitable place to put coffins. The "mechanism" at work here might form the object of a learned explanation, which I am unable to provide. The explanation would be valid, indeed beyond question, but that would not make it any less mysterious. ”
A hortênsia na obra de Magritte é representada com ainda mais pormenor, mais viva realçando aqui o conceito de morte da representação do quotidiano por parte de Manet e o reavivar da percepção visual. O elemento quadripede(cão) de Manet foi retirado agora talvez porque representar um caixão no local em vez do cão iria desenquadrar o campo visual e a composição harmonioza da disposição de elementos. Existe na composição uma triangulação nos elementos do primeiro, segundo e terceiro elemento excluindo automáticamente o caixão em ultimo plano que supostamente seria o caixão do Filho de Manet.
V.CONTEXTUALIZAÇAO Obra de Rene Magritte(1898-1967), exposta no Museu “Voor Schone Kunsten”, Ghent, Belgica.Pintor surrealista exploroador do conceito de enigma na pintura, fenomenologia da percepção desafiando o espectador a questionar-se sobre aquilo que é a representação do real, o real, a suposta representação do real idealizada pelo espectador e aquilo que se pretende realmente transmitir. A questão é, “será que é isto que se está a ver?? Ou o artista queria mostrar insto?’ não, afinal é aquilo! Estranho.” Estas são algumas das interrogações na análise da obra deste “génio da percepção”. O proprio pintor questiona-se: “Depois da pintura, o que poderá ser a pintura aplicando o enigma?” Resposta: A fenomologia da percepção é extremamente explicita neste tipo de arte. A metalógica da imagem é o trunfo maioritário nas obras de Magritte, levando o espectador a desconfiar das suas representações por sendo improváveis, irreais, verdadeiros paradoxos de visão, levando-o a ser raptado do seu ambiente e de tudo a que está habituado a ver. A desconfiança da imagem consiste em tirar o espectador do seu ciclo vicioso de pensamento porque a primeira impressão/opinião pode fazer sentido inicialmente mas á medida que se faz a desconstrução das representações, frame a frame no final o significado altera-se por completo face aquilo que foi pensado com a primeira impressão e assim torna o espectador comum num espectador crítico. So assim, após uma “metamorfose” do pensamento e da postura do espectador é que o encaminha consciênte/inconsciêntemente para a desconstrução do conceito complexo das suas obras.
VI.CONCLUSÃO O objectivo maioritário desta investigação é, certamente, influenciar directa ou indirectamente o conhecimento do individuo face a este conceito tão objectivo e que se tem moldado tanto no contexto histórico como na linha de pensamento e análise humana. Actualmente, o factor visual provoca um impacto fulminante para os comuns, é o que os define, o que torna legível, seja na religião, cultura, educação e principalmente conceitos como foram descritos ao longo da investigação, conceitos esses que se tornam veículo de percepção de imagem. Contudo, esta informação projecta o individuo para a introspectiva profunda e consequentemente uma reflexão, que eventualmente poderá trazer consequências bastante positivas para o estado de espirito e pensamento global tornando o individuo mais observador naquilo que é a exploração dos padrões visuais.
VII.BIBLIOGRAFIA http://www.renemagritte.org/the-balcony.jsp
http://www.all-art.org/art_20th_century/magritte5.html
http://www.famous-painters.org/ReneMagritte/Perspective.shtm
http://pt.wikipedia.org/wiki/%C3%89douard_Manet
http://en.wikipedia.org/wiki/The_Balcony_(painting)
http://www.telegraph.co.uk/culture/art/9461397/EdouardManets-Portrait-of-Mademoiselle-Claus-an-appreciation.html
VIII.Anexos
de Edouard Manet “Balcão” Museu D´Orsay em Paris.
Rene Magritte(1898-1967), Museu “Voor Schone Kunsten”