SEMANA DA CULTURA CHINESA
中 國 文 化 週
15-19 de Junho APOIO Casa de Portugal em Macau Fundação Macau
Fundação Rui Cunha Av. da Praia Grande, 749
D
EPOIS de na dinastia Han, o confucionismo se ter tornado numa ortodoxia de Estado, especialmente durante a dinastia Tang, a chamada intromissão de crenças estrangeiras, nomeadamente budistas, e a influência do daoísmo mágico, foram relegando o confucionismo para uma posição secundária. Nas cortes, os letrados ru perderam a sua posição e influência. Esta situação viria a causar uma forte reacção, com o advento da dinastia Song, originando o que se convencionou chamar de “neo-confucionismo”, ou seja, uma rejeição quase liminar do budismo e do daoísmo, acompanhada de um expressivo renascimento da ideias confucianas, agora reordenadas, reeditadas e reinterpretadas segundo os sábios desta dinastia. Entre eles, destacou-se Zhu Xi (1130-1200), que repenOS QUATRO LIVROS
Cinco dias,
se baseavam fundamentalmente n’ Os Cinco Livros, algum tempo depois de reconhecido e apreciado o trabalho de Zhu Xi, a cultura chinesa conheceria uma reorganização dos seus textos de referência. Nela assumia agora lugar preponderante a formação ética da pessoa por oposição ao sublinhar da importância dos ritos. Os Quatro Livros passaram a ser a base dos exames imperiais e regularam o ethos chinês desde então até ao século XX. E, mesmo rejeitados e de novo queimados, pelas correntes modernas novecentistas ou pelo radicalismo dos Guardas Vermelhos, estes volumes continuam a encerrar os valores e ditames que ainda hoje regulam o comportamento e formam a culpabilidade de muitos milhões de pessoas. Daí que tenhamos entendido como fundamental para o leitor conOS QUATRO LIVROS
OS QUATRO LIVROS 四書
Durante cinco dias, o Hoje Macau e a e ao público de Macau, falante de Portuguê a Cultura Chinesa. Pensamento, poesia, pintura são os temas abordados na apres com duas excepções, nunca antes conh Camões. De dia 15 a 19 de Junho, na F
OS QUATRO LIVROS 四書
LIVROS DO
O arqueiro, quando falha o centro do alvo, é em si que procura descobrir a causa do erro.
ESTUDO MAIOR
大 學
DA XUE Prefácio e Comentários de Zhu Xi
LIVROS DO
A PRÁTICA DO MEIO ZHONG YONG
ESTUDO MAIOR DA XUE
MEIO
A PRÁTICA DO MEIO
中 庸 ZHONG YONG
LIVROS DO
MEIO
MEIO
sou e reorganizou o cânone confuciano, nomeadamente através da edição d’ Os Quatro Livros (Estudo Maior, Prática do Meio, Analectos e Mêncio), que viriam a ser a base incontornável do pensamento chinês tal qual o Ocidente o encontrou no século XVI, sob a lupa dos padres jesuítas, os seus primeiros tradutores para línguas europeias. Assim, operara-se uma mudança fundamental: enquanto que, até à dinastia Song, os estudos e os exames
temporâneo empreender a publicação dos referidos volumes em língua portuguesa, pois neles se revelam as doutrinas que constituem a mais importante raiz não apenas do actual pensamento chinês como da modulação de comportamentos e práticas existentes na China e noutros países influenciados por esta corrente do pensamento. O confucionismo é hoje uma das doutrinas mais presentes e realmente praticadas em todo o planeta. A sua
influência não somente enforma a sociedade chinesa, com os seus 1,4 mil milhões de pessoas, como se espalhou a outras civilizações asiáticas onde desempenha um papel central (como a Coreia, Japão, Vietname e Singapura) ou constitui uma importante influência (como a Tailândia, Indonésia, Laos, Camboja e Malásia). Fazendo as contas, o confucionismo constitui a base moral de mais de um terço da humanidade e, com o crescimento da importância da
China no palco mundial, a sua expansão não deverá ficar por aqui. Em palavras contemporâneas, diríamos que, para Confúcio, o homem é, antes de mais e de tudo, um produtor de moral. Sabe distinguir o bem do mal e encontra-se dotado de livre arbítrio. Estas qualidades distinguem-no dos animais e de todos os outros seres. Portanto, daqui advém também a sua responsabilidade, o dever de incorrer em acção correcta, de modo a criar um mundo em que prevaleça a harmonia. Assim, o modo como se apresenta, como se veste, como anda e como fala; o que diz, o que lê, o que desenvolve como actividade, o que produz e como se dirige aos outros; enfim, toda e qualquer acção humana (e mesmo a ausência dela) é imediatamente produtora de valores morais (e, num plano superior, estéticos), quer como exemplo para os outros, quer a partir dos resultados das práticas concretas. O Estudo Maior e A Prática do Meio são, claramente e antes de mais, textos políticos, destinados a serem lidos pela classe dominante, um manual ético da boa governação. Trata-se de uma leitura lenta, pausada, elíptica, onde cada sentença é uma porta para uma longa meditação. Contudo, como em todos os grandes dispositivos de ideias, o confucionismo oferece portas de saída, linhas de fuga, acesso a territórios inesperados. Ora é precisamente na exploração desses territórios marginais, onde a doutrina se rende aos paradoxos e contradições que ela mesma encerra, que realmente emerge a sua riqueza e longevidade, e o leitor encontrará grande parte da sua fruição intelectual e estética.
, sete livros LIVROS DO
editora Livros do Meio vão proporcionar ês, um contacto próximo e profundo com , etnografia, estratégia militar e teoria da sentação e lançamento de sete livros que, Os belicosos, que extraem prazer da guerra, heceram qualquerlevam tradução na língua de os seus reinos à perdição e os que anseiam espólio horas. Fundação Rui Cunha, pelaspelo18:30 de guerra cairão em desgraça. A guerra não é algo que se
É
deva desfrutar e a vitória não é algo de
孫 臏 兵 法 As Leis da Guerra
MEIO
Sun Bin
uma história de génio, inveja e ria então desenvencilhar-se dele para que traição. Dois jovens partilham emse deva sempre. Mas Sun dera finalmente conta lucrar. reclusão o mesmo mestre, tecem da falsidade de Pang e fingiu ter sido imperecíveis laços de amizade e confian- acometido por uma estranha forma de ça. Ambos se distinguem no domínio das loucura, exprimindo-se desordenadaleis da guerra. Um deles, Sun Bin, é des- mente e sem qualquer sentido. Pang, cendente do famoso Sun Wu, também desconfiado, pô-lo a viver numa poconhecido por Sun Zi (Mestre Sun), que cilga para estudar as suas reacções mas 160 anos antes escrevera um imortal tra- Sun não deixou cair a máscara: não tado militar. O outro, Pang Juan, esperto apenas mostrou sentir-se muito feliz e ambicioso, findos os estudos, viaja até nos novos aposentos como, reza a lenWei, então o mais poderoso dos Reinos da, terá provado algumas fezes de cerdo Combatentes da China do século IV e garantido que estavam deliciosas. Ou a.E.C., onde a sua perícia e astúcia o ele- seja, fez o suficiente para enganar Pang vam a comandante do exército. que, a partir desse lamentável episódio, Garantida a sua posição, Pang Juan o deixou em paz. recorda genialidade do seu condiscípulo Não estava, porém, escrito no livro e convida-o para a corte de Wei. Preci- do destino que haveria de se quedar por sa dos conselhos, da argúcia e sobretudo ali. Ao lado, no reino de Qi, proliferado pensamento estratégico do seu amigo. vam histórias sobre Sun, agora rebaptiSun não se faz rogado. Chegado a Wei, zado de Bin (o aleijado). De tal modo cedo espalha o seu génio, logo retrata os que um dos seus mais importantes geerros e estabelece novos protocolos. A nerais, Tian Ji, preocupado com o adsua lógica militar permanece imbatível. vento da guerra, mandou um comando De tal modo sobressai que Pang Juan se a Wei com o objectivo de o raptar e trasente tomado pelo vírus da inveja, que zer para o seu lado. Assim foi feito. Chedia e noite o atanaza, fazendo dissipar gado a Qi, rapidamente Sun Bin deu a antiga amizade para dar espaço a um mostras da sua capacidade de estratega ódio surdo, que nem as maneiras afáveis militar mas quando o rei o quis nomear e corteses de Sun atenuavam. chefe dos exércitos, ele recusou, dando o Finalmente, rendido aos maus sen- lugar a Tian Ji, argumentando que um timentos, Pang acusa secretamente Sun homem sentado não podia comandar de traição, forjando provas e aparecen- outros homens. Então, o general mando depois, hipocritamente, como seu dou fazer uma cadeira de rodas, para defensor perante a corte. Claro que a que Sun Bin acompanhasse as tropas e sua tímida defesa de nada serviu. Sun assim aconteceu. é condenado à subtracção das rótulas e Como surge descrito no primeiro a ser marcado na face. Assim, julgavam capítulo deste livro, um dos feitos mais os seus verdugos, nunca poderia sair de espantosos de Sun Bin foi a estratégia Wei e seria para sempre ostracizado. definida para capturar Pang Juan. ReEntretanto, Pang Juan pretendia trocedendo de uma invasão ao reino de que Sun vertesse a sua sabedoria num Zhao, para defender uma cidade atacada livro. Mal este estivesse pronto, pode- por Qi, Pang Juan caiu numa armadilha
Sun Bin As Leis da Guerra 孫 臏 兵 法
montada por Sun Bin. Dizem que vendo o caminho barrado por um tronco no qual estavam escritos alguns caracteres, Pang Juan acendeu uma tocha para os conseguir ler. Era o sinal necessário para que dez mil arqueiros o crivassem de flechas. Moribundo, Pang Juan acabou por cometer suicídio. Entretanto, as forças de Qi capturavam o príncipe de Wei. No tronco estava escrito “Pang Juan morrerá sob esta árvore”. Quando atingiu uma idade avançada, Sun Bin retirou-se da vida pública e viveu simplesmente como um monge, retirado na montanha, até à sua morte em 316 a.E.C.. * Este livro, apesar de citado em vários documentos ao longo da história chinesa, esteve perdido até 1972, tendo mesmo sido posta em causa a sua real existência. Mas, em escavações arqueológicas efectuadas na província de Shandong, foram encontrados vários rolos de tiras de bambu, datados da dinastia Han, entre os quais se encontra-
va o Sun Bin Bing Fa, ou seja As Leis da Guerra de Sun Bin. O livro tem exactamente o mesmo título que o volume atribuído ao seu antepassado Sun Zi, normalmente traduzido no Ocidente por Arte da Guerra. Dois motivos levam-nos a alterar o título tradicional. Primeiro, para facilitar a distinção entre os dois livros. O segundo porque, na realidade, bing (guerra) fa (lei) quer dizer à letra leis da guerra, ou seja, o conhecimento fundamental das estratégias militares. Também por isso – para abrirmos um pouco mais o escopo das interpretações e não nos fecharmos na habitual ideia “romântica” da China – apresentamos este trabalho sob este novo título. Não estamos aqui perante uma edição académica, imbuída de um forte rigor formal e pejada de notas explicativas, sem dúvida necessárias a um entendimento mais profundo do texto. Pretendemos, outrossim, dar a conhecer a genialidade de Sun Bin, até hoje não vertida em língua portuguesa.
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LI HE
李 賀
李
賀
Balada do Mundo
in Nova História dos Tang, acabado de compilar no ano de 1060, no decorrer da Dinastia Song
que subsiste ainda nos nossos dias. Aqui são descritos detalhadamente os tenebrosos Dez Tribunais do Inferno, os erros e pecados que condenam as almas e as torturas a que são submetidas, até serem devolvidas à luz para reencarnarem noutro ser. Nesta concepção não estamos perante um inferno transcendente, que existiria num mundo separado do nosso como no cristianismo. Pelo contrário, tal como na Grécia Antiga, o inferno chi-
TEORIA DA PINTURA CHINESA II
TRADUÇÃO E NOTAS
Paulo Maia e Carmo
LIVROS DO MEIO
TEORIA DA PINTURA CHINESA II
Xie He 謝赫 Yao Zui 姚最 Jing Hao 荆浩 Guo Xi 郭熙 Zhang Yanyuan 張彥遠
O FASCÍNIO DO GESTO
TEORIA DA PINTURA CHINESA I
Os eixos da tradição
nês tem uma localização exacta na Terra e não uma existência num mundo à parte. A “autoria” deste texto seria, supostamente, do próprio Yu Ti (o Legislador Divino) que, levado pela misericórdia, terá decidido transmitir este Divino Panorama à humanidade, como meio de a prevenir para os horrores que esperam os iníquos depois da morte e assim a todos inspirar uma vida virtuosa.
O fascínio do gesto Xie He 謝赫 Yao Zui 姚最 Jing Hao 荆浩 Guo Xi 郭熙 Zhang Yanyuan 張彥遠 TRADUÇÃO E NOTAS
Paulo Maia e Carmo
LIVROS DO MEIO
Neste livro são descritas detalhadamente as trevas dos Dez Tribunais do Inferno chinês, os erros e pecados que condenam as almas e as torturas a que são submetidas, até serem devolvidas à luz para reencarnarem noutro ser.
S
UM INFERNO CHINÊS
E
OS EIXOS DA TRADIÇÃO
Xin Tang-shu
DIVINO PANORAMA
STE livro apresenta uma versão do inferno chinês elaborada a partir da tradução efectuada por Herbert A. Gilles em Strange Stories from a Chinese Studio, uma selecção de contos de Pu Songling, onde surge como apêndice. Nela podemos encontrar um sincretismo popular dos Três Sistemas (taoísmo, confucionismo e budismo), eivado de superstições, cujo resultado é a religião popular chinesa,
TEORIA DA PINTURA CHINESA I
não estava a cair de bêbedo, ou de luto, era assim que passava os dias. Depois de ter escrito um poema, não se preocupava grandemente com o que lhe sucedesse. Sua mãe fazia a criada vasculhar o saco e, quando notava que escrevera tanto, exclamava enfurecida: “O rapaz só se dará por contente quando vomitar o coração”. Dado o pai se chamar Jin-su, não lhe era permitido inscrever-se nos exames de oficiais de doutoramento. Em sua defesa, Han Yu escreveu o Ensaio Sobre Nomes Proibidos; mas He nunca foi admitido como candidato. A sua poesia compraz-se no extraordinário. Tudo quando escreveu é inquietantemente notável, quebrando com a tradição literária aceite. Nisso, nem um dos seus contemporâneos foi capaz de o igualar.
UM INFERNO CHINÊS
DIVINO PANORAMA
Balada do Mundo
LI HE
I HE [790-817, Fu-chang, Henan], de seu cognome Chang-ji, era descendente do Príncipe Zheng. Com apenas sete anos escrevia versos. Quando Han Yu e Huang-fu Shi souberam disto não quiseram acreditar. Então, apareceram de surpresa em sua casa e pediram-lhe que compusesse um poema. He pegou no seu pincel e rapidamente escreveu um, como se simplesmente estivesse a ser-lhe ditado, dando-lhe o título: A Carruagem do Alto Oficial Vem de Visita. Os dois homens ficaram atónitos. A partir de então, He tornou-se famoso. Li He era frágil e magro, com sobrancelhas que se juntavam e longas unhas. Escrevia a grande velocidade. Todos os dias de madrugada saía de casa montado num potro, seguido por um jovem servo com um saco de tapeçaria às costas. Quando a inspiração o tomava, anotava os versos e atirava-os para o saco. Nunca escrevia poemas sobre um tópico determinado, forçando, como outros fazem, os seus versos a conformarem-se ao tema. Ao cair da noite regressava a casa, trabalhando os versos até obter um poema acabado. Quando
ENDO a pintura Chinesa, sobretudo a clássica, um mundo difícil de penetrar para o apreciador ocidental, estes dois volumes constituem uma oportunidade única para um mergulho nas suas profundidades, pelo pincel dos principais teóricos que, ao longo dos tempos, produziram textos que a enquadram e explicam. Do século VI ao século XIX, poderemos constatar nestes escritos as transformações ocorridas, que a nível técnico quer temático, isto para além de também situarem filosoficamente a pintura e a caligrafia, em cada uma das eras descritas. Longe de ter permanecido uma arte imóvel, a pintura chinesa surpreende-nos pelo modo como responde, por exemplo, ao contacto com os mestres ocidentais, com a questão da perspectiva, da gestualidade e muitas outras. Este conjunto de textos, divididos em dois volumes, são aqui apresentados pela primeira vez em língua portuguesa, permitindo aos leitores uma viagem pela estética chinesa como até hoje nunca foi feita na língua de Camões.