Hoje Macau 1 NOV 2016 #3687

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DIRECTOR CARLOS MORAIS JOSÉ

TERÇA-FEIRA 1 DE NOVEMBRO DE 2016 • ANO XVI • Nº 3687

MOP$10

POLUIÇÃO

Ar que se lhe deu GRANDE PLANO

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A arrumar a casa PÁGINA 5

LAG 2017 TRANSPORTES E HABITAÇÃO SÃO PREOCUPAÇÕES MAIORES

Planeamento urbanístico

A VALSA DOS TERRENOS PÁGINAS 8-9

PARQUES INFANTIS

Mudar para brincar PÁGINA 7

Palavra vs. palavra

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PAULO JOSÉ MIRANDA

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hojemacau

MELODIAS DE SEMPRE

A caminho da apresentação das Linhas de Acção Governativa do Executivo para 2017, as preocupações dos residentes repetem-se. Um inquérito da Associação Nova

Visão revela velhos problemas. Habitação, transportes, saúde e desenvolvimento económico surgem no topo das apreensões da população de Macau.

PÁGINA 4

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AGÊNCIA COMERCIAL PICO • 28721006

ADMINISTRAÇÃO


2 GRANDE PLANO

Há milhões de crianças que, todos os dias, são afectadas pela falta de qualidade do ar na rua e dentro de casa. A zona onde vivemos é das mais perigosas do planeta. A organização das Nações Unidas publica, pela primeira vez, um relatório que quer ver discutido na próxima semana, quando os líderes mundiais se juntarem em Marrocos para falar das alterações climáticas

POLUIÇÃO UNICEF ALERTA PARA EFEITOS NAS CRIANÇAS

C

ERCA de 300 milhões de crianças vivem em locais onde os níveis de poluição são tão elevados que podem ter consequências graves para a saúde. É a conclusão de um estudo levado a cabo pela UNICEF. No relatório – feito pela primeira vez pela agência das Nações Unidas –, alerta-se para a possibilidade de a poluição causar danos no desenvolvimento cerebral destas crianças. Em termos globais, uma em cada sete crianças no mundo respira ar na rua que é, pelo menos, seis vezes mais poluído do que o recomendado nas directrizes internacionais. A poluição atmosférica é, neste momento, um dos principais factores para a mortalidade infantil. O relatório foi publicado a uma semana da conferência das Nações Unidas sobre as alterações climáticas, que se realiza entre 7 e 18 de Novembro em Marrocos. Com a divulgação destes dados, a UNICEF pretende alertar os líderes da comunidade internacional para a urgência de acções que levem à redução da poluição. “A poluição atmosférica é um dos principais factores na morte de cerca de 600 mil crianças com menos de cinco anos, todos os anos, e ameaça a vida e o futuro de muitos

milhões todos os dias”, destaca Anthony Lake, director executivo da UNICEF. “As substâncias poluentes não afectam apenas os pulmões em desenvolvimento dos mais pequenos. As partículas atravessam as protecções do cérebro e causam danos permanentes no modo como se desenvolvem as crianças. Nenhuma sociedade deve ignorar o problema que é hoje a poluição atmosférica”, continua o responsável.

PROBLEMA DAS CIDADES MÉDIAS

Entre outros dados, a organização recorreu a imagens de satélite que confirmam que dois mil milhões de crianças vivem em zonas onde a poluição ao ar livre excede as linhas orientadoras para a qualidade do ar definidas pela Organização Mundial de Saúde. O ar está contaminado com as emissões dos veículos, combustíveis fósseis, pós, cinzas e outras substâncias poluentes. É no Sul da Ásia que se encontra o maior número de crianças a viverem nestas condições – são 620 milhões. Depois, vem África, com 520 milhões, a zona do Sudeste Asiático e Pacífico, com 450 milhões. Quanto à classificação por países e cidades, o estudo faz a divisão por dois grupos, ao analisar os

A poluição atmosférica é, neste momento, um dos principais factores para a mortalidade infantil diferentes tipos de partículas inaláveis. No primeiro grupo olha-se para a situação das fracções PM10 (com diâmetro inferior a 10 µm): Onitsha, na Nigéria, é o local com o quadro mais grave, seguindo-se Peshawar, no Paquistão, e Zabol, no Irão. A China consegue estar fora da lista dos piores dez locais. Quanto ao segundo grupo, são tidos em conta os níveis de partículas inaláveis com diâmetro inferior a 2.5 µm: Zabol, no Irão, é a pior cidade no mundo neste aspecto, sendo que a Índia contribuiu com duas cidades para o top três. A China já aparece citada no grupo das dez zonas mais preocupantes, com as cidades de Xingtai e Baoding, ambas na província de Hebei, na nona e na décima posição, respectivamente. O relatório destaca que estudos feitos recentemente permitem chegar à conclusão de que as cidades

mais poluídas já não são as capitais e os grandes centros metropolitanos, mas sim cidades de tamanho médio, zonas suburbanas e centros manufactureiros. A UNICEF mostra-se preocupada não só com a situação actual, mas também com o futuro, se nada for feito: “À medida que a economia se torna mais industrializada, a procura por veículos tem tendência a aumentar. Há dois caminhos possíveis: ou se continua a depender dos combustíveis fósseis, ou aposta-se nas energias renováveis. As diferenças poderão ser enormes para as crianças nos países mais afectados”. A organização alerta para a possibilidade de as três nações com uma maior população infantil – Índia, China e Nigéria – terem um aumento considerável no número de veículos nas próximas décadas. “Investir em energias verdes não poderia ser mais importante”, aconselha.

TODOS A GANHAR

O estudo da UNICEF também se pronuncia sobre a poluição em espaços fechados, normalmente

CRESCER

SEM RES


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causada pela queima de carvão e madeira para o aquecimento e para a confecção de alimentos. Juntamente com os agentes poluentes ao ar livre, a poluição dentro de casa está directamente ligada a pneumonias e outras doenças respiratórias que são responsáveis por quase uma morte em cada dez de crianças com menos de cinco anos, aponta a organização. A agência das Nações Unidas sublinha que as crianças são mais susceptíveis à poluição – tanto dentro, como fora de casa – porque ainda têm o organismo em desenvolvimento. O sistema imunitário, os pulmões e o cérebro ainda não reúnem as defesas necessárias para enfrentarem ambientes com elevados níveis de substâncias poluentes. As crianças mais vulneráveis a doenças causadas pela poluição

atmosférica são aquelas que vivem em situação de pobreza: por um lado, têm uma condição física mais frágil e, por outro, o acesso a cuidados de saúde é difícil. Em suma, a UNICEF pede por medidas mais eficazes para reduzir os níveis de poluição, aumentar os cuidados de saúde prestados às crianças e a monitorização da poluição, de modo a que se possa

As cidades mais poluídas já não são as capitais e os grandes centros metropolitanos, mas sim cidades de tamanho médio

evitar a exposição das crianças a ambientes que lhes sejam prejudiciais. A organização deixa várias pistas e exemplos de medidas a adoptar. A agência das Nações Unidas recorda também que estão provadas as ligações entre a saúde e o desenvolvimento económico. A poluição atmosférica tem repercussões no desenvolvimento cognitivo das crianças, com reflexos no aproveitamento escolar – algo que terá impacto nas competências futuras dos jovens em questão. Além disso, vinca-se no relatório, o custo dos tratamentos médicos associados à poluição é elevado. Muitas destas doenças são crónicas, passando da infância para a idade adulta, com repercussões ao nível da economia familiar e dos sistemas de saúde dos diferentes países.

PIRAR

O EXEMPLO AQUI TÃO PERTO

A

o contrário do que é hábito nos estudos sobre poluição, a China não aparece desta vez como o pior aluno entre os maus alunos no relatório ontem divulgado pela UNICEF, e há mesmo uma cidade que merece um destaque especial por parte da agência das Nações Unidas: Shenzhen. A zona metropolitana vizinha de Hong Kong é referida como sendo pioneira na gestão da qualidade do ar na China e um modelo em que três factores saem a ganhar – ar puro, baixo carbono e crescimento económico. Como primeira cidade com uma população com mais de 10 milhões de pessoas a conseguir alcançar, com sucesso, os padrões de qualidade definidos pelo Governo Central, Shenzhen voluntariou-se para reduzir

“Ao investir na redução da poluição atmosférica, as famílias e os governos podem poupar em despesas com hospitais e clínicas, melhorar as condições de vida das crianças e con-

os níveis de partículas inaláveis com diâmetro inferior a 2.5 µm. O objectivo é chegar a 2020 com os níveis propostos pela Organização Mundial de Saúde. A UNICEF destaca que, depois de alcançados os padrões nacionais, o produto interno bruto de Shenzhen subiu, em 2015, 8,9 por cento – bastante mais do que a média do país (6,9 por cento). A energia usada é metade da média chinesa. Shenzhen é uma das cidades que se juntou a organizações internacionais que apoiam o combate à poluição atmosférica, tendo contribuído de forma activa para revisão da legislação nacional sobre a matéria, ao disponibilizar apoio técnico. Tem ainda partilhado conhecimentos com outras cidades.

tribuir para que possam ser cidadãos activos no futuro. Isto pode ter um grande efeito para o emprego, o nível salarial e a economia no seu todo”, indica o relatório. I.C. (com agências)


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TIAGO ALCÂNTARA

POLÍTICA

LAG RESIDENTES PEDEM SOLUÇÕES PARA HABITAÇÃO E TRANSPORTES

Música para os nossos ouvidos Um inquérito realizado pela Associação Nova Visão revela que a habitação e os transportes continuam a estar no topo das preocupações dos residentes, numa altura em que o Governo se prepara para apresentar as Linhas de Acção Governativa para 2017

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Associação Nova Visão voltou a cumprir um ritual pré-Linhas de Acção Governativa (LAG), tendo inquirido os residentes sobre os seus anseios para o programa que o Chefe do Executivo, Chui Sai On, apresenta este mês. Os resultados revelam que mais de 75 por cento dos inquiridos estão preocupados com as questões sociais, sobretudo no que diz respeito às políticas para habitação

O

Chefe do Executivo esteve ontem reunido com a Federação da Juventude da China para preparar o programa das Linhas de Acção Governativa (LAG). Segundo um comunicado oficial, Chui Sai On disse

pública, a melhoria dos transportes e a reforma do sistema de saúde. No que toca ao desempenho do Governo, a fiscalização nas obras públicas gera mais insatisfação. Questionados sobre as dez medidas que devem ser incluídas nas LAG para o próximo ano, surge à cabeça a necessidade de “acelerar a construção de habitação pública”, seguindo-se o “esforço da regulação dos autocarros e a resolução das dificuldades sentidas pelos residentes em relação aos

aos jovens que “o sector do jogo está a regressar gradualmente ao caminho da estabilidade”, sendo que o território “tem uma reserva financeira relativamente suficiente”. Tudo isso faz com que o líder do Governo esteja

transportes”. Em terceiro lugar vem o pedido para “acelerar a reforma do sistema de saúde”. O inquérito foi realizado este mês, tendo sido realizadas 818 entrevistas telefónicas válidas. Em segundo lugar, com 19,82 por cento de respostas, surge o desenvolvimento económico como a área que gera mais preocupação, seguindo-se a política e o sistema legislativo, com 4,98 por cento. A “continuação do controlo do mercado imobiliário”, o “controlo da introdução de mão-de-obra não residente e garantia de emprego local” são os factores que se seguem, tal como a “continuação do regime de atribuição dos vales de saúde”. Todos estes pedidos foram escolhidos por quatro por cento dos inquiridos. Quem participou neste inquérito pediu ainda que o Chefe do Executivo mantenha a “continuação

75%

dos inquiridos estão preocupados com questões sociais da comparticipação pecuniária” ou que “desenvolva a educação de elevada qualidade”, bem como o “aumento de despesas de previdência social”. Estes factores ocupam os lugares mais baixos da lista de dez medidas desejadas, sendo que “o controlo do preço dos produtos alimentares” desceu dos lugares cimeiros que costumava ocupar.

SEGURANÇA SOCIAL SATISFAZ

A Nova Visão mediu ainda o pulso à satisfação dos residentes sobre sete políticas, sendo que a segurança social, segurança do sistema de saúde ou a construção de uma

CHUI SAI ON DEVAGAR ISTO VAI LÁ “convicto de que agora é o momento oportuno para apoiar Macau a enfrentar as novas oportunidades de desenvolvimento”.

No encontro, os responsáveis da Federação da Juventude da China defenderam a “importância de saber aproveitar as medidas

plataforma entre a China e países de língua portuguesa receberam mais de cinco pontos. O grupo de notas positivas contém ainda factores como a “conservação cultural”, o “desenvolvimento económico” e as “garantias de acesso ao mercado de trabalho”. Mereceram destaque notas negativas, inferiores a cinco pontos, questões como a “reforma administrativa”, a “reforma jurídica” e a “optimização dos serviços de autocarros ou transporte”. No fim da tabela, com notas inferiores a quatro pontos, estão medidas como o “controlo do mercado imobiliário”, a “responsabilização dos governantes” e a “fiscalização das obras públicas”.

do Governo Central que beneficiam Macau, reforçar o ensino da língua portuguesa e criar uma base de dados de pessoal qualificado em língua portuguesa”. Foram ainda pedidas medidas para resolver “os problemas e

Angela Ka (revisto por A.S.S.) angela.ka@hojemacau.com.mo

transtornos que as obras nas vias têm gerado”. Os jovens pediram ainda políticas que incentivem as “oportunidades de desenvolvimento e progressão na carreira”, além de pedirem mais habitação.


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RESTES a completar o segundo ano de mandato, a Secretária para a Administração e Justiça, Sónia Chan, deu uma entrevista ao jornal Ou Mun, onde traça um balanço positivo dos trabalhos da sua tutela e onde

Casa quase limpa Sónia Chan admite reestruturação nos Serviços de Identificação

anuncia mudanças na Direcção dos Serviços de Identificação (DSI). Sónia Chan explicou que, ao longo dos anos, o organismo tem vindo a acolher novos serviços, sendo que o atendimento anual ultrapassou um milhão de pessoas. Por forma a garantir que o funcionamento da entidade corresponda ao desenvolvimento da sociedade, a DSI poderá receber mais serviços na área da gestão do atendimento ao público. “Ainda não tomámos a decisão se vai ser criada uma nova divisão ou um departamento”, referiu. A Secretária para a Administração e Justiça admitiu que as revisões da lei de protecção dos consumidores e do regulamento dos táxis poderão não dar entrada na Assembleia Legislativa (AL) nesta sessão legislativa, por ser necessária uma avaliação interna e tendo em consideração a quantidade de diplomas que os deputados estão a analisar nesta fase. Quanto à proposta de revisão dos crimes sexuais no Código Penal, poderá ser entregue ao hemiciclo

GCS

A Secretária para a Administração e Justiça, Sónia Chan, deu uma entrevista ao jornal Ou Mun onde admite mudanças na Direcção dos Serviços de Identificação, que já atende cerca de um milhão de pessoas por ano. Os diplomas sobre os táxis e os direitos dos consumidores deverão demorar

ainda este ano, como já tinha sido noticiado.

SEM VOLTA ATRÁS

Apesar das inúmeras críticas de que tem sido alvo, Sónia Chan garante que tem feito tudo aquilo a que se propôs quando tomou posse, há cerca de dois anos. “Não há volta atrás. Continuamos a fazer o que nos propusemos e esperamos poder

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aproximarmo-nos mais do desenvolvimento social, da vida da população e das orientações da RAEM.” A governante garantiu que a maioria dos trabalhos programados para as áreas da Administração e Justiça já foi concluída, tendo dado como exemplo a reestruturação das competências e das consultas públicas, os trabalhos para a instalação de órgãos municipais sem poder político e o planeamento do Governo Electrónico. Sónia Chan falou ainda da revisão da lei eleitoral para a AL e a optimização do regime de responsabilização na Função Pública. Quanto à coordenação de trabalhos entre a AL e a Direcção dos Serviços para os Assuntos de Justiça, Sónia Chan confirmou que tudo começou a ser preparado na segunda metade deste ano, tendo já sido decididas políticas para grandes propostas de lei. Nesse âmbito já terá sido elaborado o índice de técnicas legislativas, para que quando as leis cheguem ao hemiciclo não necessitem de ajustes técnicos. “Precisamos de afiar o cutelo e encontrar tempo para fazermos toda a coordenação”, referiu.

UMA EQUIPA MAIOR

Sónia Chan indicou ainda que a DSAJ poderá receber mais juristas:

POLÍTICA

As revisões da lei de protecção dos consumidores e do regulamento dos táxis poderão não dar entrada na Assembleia Legislativa nesta sessão legislativa “A DSAJ vai continuar a expandir a sua equipa. Os que são mais experientes vão ajudar na formação dos mais novos e vamos ainda realizar mais cursos de formação”. O mesmo organismo está ainda a preparar uma consulta pública sobre a revisão do regime de licenciamento de empresas, por ser algo que aumenta a burocracia junto de pequenas e médias empresas. “Vamos analisar a necessidade da emissão de algumas licenças, tendo em conta a tendência da não obrigatoriedade de alguns documentos. Vamos tentar facilitar todas as formalidades”, apontou. Angela Ka (revisto por A.S.S.) angela.ka@hojemacau.com.mo


6 POLÍTICA

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Elevador que não sobe Au Kam San descontente com a falta de qualidade das obras públicas

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Administração DEPUTADO QUESTIONA RECENTES REESTRUTURAÇÕES DE SERVIÇOS

Afinal em que ficamos? Em dois anos, o Governo reestruturou 15 departamentos públicos, tendo eliminado seis. Ainda assim, o deputado Chan Meng Kam considera que, na prática, poucas alterações ocorreram

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OGO no início de funções, o Governo propôs a implementação da “racionalização de quadros e simplificação administrativa”, com o objectivo de acelerar os trabalhos governamentais. Na primeira fase, que durou dois anos, foram reorganizados 15 departamentos, tendo sido eliminado seis. Contudo, numa interpelação escrita, o deputado Chan Meng Kam considera que poucas mudanças se verificaram. “Apesar de muitos departamentos já terem sido alvo de uma reestruturação e fusão, não se notam grandes resultados com essa racionalização de quadros”, defendeu. “Parece-me que houve apenas uma transferência de quadros e mesmo alguns departamentos passaram a ter mais funcionários do que antes, o que mostra que não foi feita uma coordenação de forma científica”, disse ainda Chan Meng Kam. Para o deputado, “a reestruturação visa principalmente resolver os problemas da complexidade dos procedimentos administrativos e a baixa eficácia da execução

das políticas mas, para já, não se vêem os resultados pretendidos”, acrescentou. Chan Meng Kam questionou, na sua interpelação escrita, se o Governo fez uma avaliação dos resultados práticos após a fusão dos departamentos, no sentido de saber se os objectivos foram ou não atingidos. Quanto à alocação de funcionários, que não resultou em despedimentos, o deputado

“Apesar de muitos departamentos já terem sido alvo de uma reestruturação e fusão, não se notam grandes resultados com essa racionalização de quadros.” CHAN MENG KAM DEPUTADO

eleito pela via directa defendeu que não se pode apenas transferir funcionários públicos, já que muitos deles acreditam que os seus direitos foram prejudicados. Por isso, Chan Meng Kam pretende saber se houve uma garantia dos seus direitos laborais e se foi atingido um equilíbrio. Chan Meng Kam questiona ainda o Executivo sobre a segunda fase de reestruturação dos departamentos da Função Pública, no sentido de saber se vai ser realizada uma avaliação das medidas e dos resultados. Um dos serviços que foi extinto no âmbito desta reforma foi a Direcção dos Serviços da Reforma Jurídica e do Direito Internacional, tendo sido feita uma fusão com a Direcção dos Serviços para os Assuntos de Justiça (DSAJ). Relativamente ao Instituto para os Assuntos Cívicos e Municipais (IACM), todas as actividades e funções de âmbito cultural foram transferidas para o Instituto Cultural (IC).

U Kam San escreveu ontem ao Governo para perguntar dos critérios de avaliação da qualidade das obras públicas de Macau. Não é a primeira vez que o deputado tem uma iniciativa do género sobre esta matéria – acontece que as respostas que recebeu até à data não o satisfazem. O pró-democrata dá como exemplo, desta vez, a passagem superior pedonal na Rotunda do Istmo, no Cotai. “Alguns dos elevadores e escadas rolantes estão avariados, mas esta passagem só entrou em funcionamento há um ano”, apontou, recordando que “custou mil milhões de patacas”. Au Kam San entende que a situação da passagem superior “é apenas a ponta do iceberg” e representa a “má qualidade das obras públicas de Macau”. Para sustentar a acusação, volta a referir o exemplo do Edifício do Lago, um complexo de habitação pública na Taipa que tem revelado vários problemas. O tribuno fala em elevadores avariados – “Num deles, um cabo de aço quebrou-se” –, para sublinhar que o edifício é habitado há apenas três anos. Sobre este caso, lembra, o Governo alegou que os problemas detectados se deviam à utilização, explicação que não o convenceu. O deputado entende que é preciso que a Administração faça com que os empreiteiros das obras públicas assumam os erros cometidos: “Neste momento, está a permitir-se que fujam às responsabilidades”. Au Kam San vai mais longe e pergunta mesmo “se a má qualidade se deve à incapacidade do Governo ou se é por causa de algumas regras tácitas” do entendimento entre empreiteiros e o Executivo.

E OS FISCAIS?

Depois, Au Kam San sustenta que é preciso exigir mais das empresas de consultoria que são contratadas pelo Governo para a fiscalização e verificação da qualidade das construções públicas. “Os empreiteiros ainda são chamados a resolver os problemas no prazo de manutenção, mas as empresas de consultoria parecem não ter de assumir responsabilidades”, sublinha. O deputado gostaria ainda que o Executivo revelasse os critérios para avaliar os estragos e problemas nas construções públicas, de modo a que se perceba quais são decorrentes da utilização e aquelas que têm que ver com a falta de qualidade. A.K./ I.C.

Angela Ka (revisto por A.S.S.) angela.ka@hojemacau.com.mo

Au Kam San


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RESTAURO OBRAS NA ANTIGA MURALHA DA CIDADE COMEÇAM HOJE

PATRIMÓNIO NOVA PÁGINA NA INTERNET PARA DIVULGAR MACAU

Foi apresentada ontem uma nova página electrónica sobre o património cultural de Macau, numa iniciativa do Instituto Cultural (IC). Com o novo site pretende-se “divulgar informações sobre dados e actividades do património cultural, de modo a construir uma ponte de comunicação na rede e sensibilizar ainda mais o público” para a matéria. A página www. culturalheritage.mo substitui assim a página do património de Macau (www.macauheritage.net), passando a ser uma plataforma para divulgação de notícias e de dados sobre o património cultural, escreve o IC num comunicado à imprensa. A página abarca património imóvel classificado e património intangível, oferecendo não só notícias diárias como também políticas legais, orientações e informações de consulta pública, entre outras informações. Também a página do “Património Mundial de Macau” (www.wh.mo) foi revista – passa a divulgar conteúdos relacionados com o Centro Histórico de Macau. As duas páginas estão disponíveis em chinês tradicional, chinês simplificado, português e inglês.

SOFIA MOTA

O Instituto Cultural (IC) anunciou ontem que vai restaurar o troço da Antiga Muralha da Cidade: as obras começam hoje e terminam a 31 de Dezembro. Em nota à imprensa, o organismo explica que, por motivos de segurança pública, vão ser colocados andaimes e vedações junto à zona em causa. No entanto, os trabalhos não vão ter impacto na abertura das outras secções da muralha. O troço em questão foi vandalizado com graffiti no início deste ano, levando à destruição da estrutura em “chunambo”, um material feito de argila, areia, terra, palha de arroz, pedras e conchas, e “à imagem geral do monumento”. Na altura, o IC encaminhou o caso para as autoridades policiais.

SOCIEDADE

O escorrega do parque infantil dos Jardins do Oceano vai ser retirado ainda esta semana por já não se encontrar em condições de utilização. O IACM confirma ainda que todos os parques e equipamentos vão ser avaliados até final deste ano

IACM ANÁLISE AOS PARQUES INFANTIS CONCLUÍDA ATÉ FINAL DO ANO

Escorrega cai de vez

O

Instituto para os Assuntos Cívicos e Municipais (IACM) vai remover os equipamentos considerados perigosos dos parques infantis do território. Ao HM, uma porta-voz da entidade – em resposta a perguntas colocadas por este jornal na semana passada – confirmou ontem que o escorrega do parque infantil dos Jardins do Oceano vai ser retirado ainda esta semana. “As instalações consideradas perigosas do parque infantil dos Jardins do Oceano vão ser removidas atempadamente e vão ser substituídas atempadamente. Chegou-se à conclusão de que não

vale a pena fazer reparações nestas instalações. Também se chegou à conclusão de que o escorrega já tem algum tempo e que cada material tem o seu tempo de uso, e não poderá ser reparado. O escorrega vai ser retirado dentro desta semana.” Já depois de uma carta enviada ao IACM, assinada por moradores do complexo habitacional, o escorrega terá estado na origem de um incidente, noticiado pelo jornal Ponto Final, que resultou no braço partido de uma criança. Quem vive no local diz que são frequentes acidentes por causa do estado de degradação da estrutura. Quanto aos restantes parques infantis, o organismo liderado

MERCADO DE COLOANE PODERÁ FECHAR PARA RENOVAÇÃO

J

osé Tavares, presidente do IACM, indicou ontem à Rádio Macau que o actual mercado municipal da vila de Coloane poderá fechar portas para dar lugar a um novo espaço. “Acho que futuramente vamos ter de encontrar outra solução

porque não dá para vitalizar, isso já está mais que provado. Se calhar, encontrar uma nova solução para a população de Coloane, para um novo mercado. Quanto ao actual mercado, usá-lo para outros efeitos.” A saída de muitos residentes

e a falta de lugares de estacionamento estão na origem da existência de muitas bancas vazias. “Isto é um ciclo vicioso, daí que as pessoas vão fazer as compras aos grandes mercados por oferecerem mais escolhas”, rematou.

“O IACM estabeleceu novas definições relativamente aos parques infantis e o nosso pessoal vai começar a tratar essa questão de acordo com as novas definições.” PORTA-VOZ DO IACM por José Tavares promete avaliar todos até ao final do ano. “O IACM estabeleceu novas definições relativamente aos parques infantis e o nosso pessoal vai começar a tratar essa questão de acordo com as novas definições. Relativamente aos parques infantis no geral, já foi feita uma revisão geral dos parques e 80 por cento dos trabalhos que poderiam ser feitos sobre esses parques

já foram feitos. Os restantes 20 por cento serão feitos até ao final do ano. Aí serão tomadas as medidas consideradas necessárias”, disse ainda ao HM a mesma porta-voz.

CONFIRMAÇÃO PRESIDENCIAL

Ontem de manhã, em declarações à Rádio Macau, o presidente do IACM, José Tavares, confirmou a retirada dos equipamentos perigosos do parque nos Jardins do Oceano. “Esses materiais para serem renovados levam tempo, mas para serem removidos é um instante. Julgo que ainda esta semana vão ser removidos”, afirmou, tendo falado da criação de novas definições. Tudo para que o “pessoal possa gerir melhor esses equipamentos que, como estão constantemente expostos ao exterior, podem deteriorar-se e causar esses tipos de incidentes”. José Tavares pediu ainda a atenção e colaboração dos pais quando brincam com os filhos nos parques infantis. “Também têm de ter o cuidado de vigiar as suas crianças durante essas actividades, porque qualquer material lá exposto tem os seus potenciais perigos”, rematou. Andreia Sofia Silva

andreia.silva@hojemacau.com.mo

Sofia Mota

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8 SOCIEDADE

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GOOGLE STREET VIEW

MAIS ACESSOS AO TAP SEAC

O parque de estacionamento previsto para o terreno junto à Avenida de Sidónio Pais e que abrange a Escola Secundária Luso-Chinesa pode ser alargado e ter mais do que uma entrada. A ideia foi adiantada ontem no Conselho de Planeamento Urbanístico (CPU). Dadas as obras previstas relativas à construção de dois silos na zona do Hotel Estoril enquanto parte do projecto anunciado para o Centro de Tap Seac, a proposta do CPU é de alargar as entradas de forma a conseguir um maior número de lugares de estacionamento possível.

“O

U fazemos com qualidade ou em quantidade”, afirmou ontem o Secretário para os Transportes e Obras Públicas, Raimundo do Rosário, em resposta às insuficiências apontadas pelos membros do Conselho de Planeamento urbanístico relativas à planta para a zona B dos novos aterros. Em causa está o facto do anteprojecto para a construção de instalações públicas “não ter condições para avançar”, ideia partilhada ontem por grande parte dos membros do CPU. O conselho manifestou, em reunião plenária, que este é um “projecto simplista e que necessita de mais trabalho e pormenor”.

Planeamento ZONA B POLÉMICA POR SER DEMASIADO SIMPLES

Não há condições A planta apresentada “não tem condições para ser emitida”, afirmou Manuel Iok Pui Ferreira. Para o membro do CPU, o diploma não contém informações suficientes e, comparado a outros projectos do Executivo, está “pobre no que respeita à apresentação de pormenores e faltam informações”. “O projecto para a Zona B dos novos aterros está em construção desde 2008 e continua a não ter informações importantes”, apontou. Manuel Iok Pui Ferreira considerou ainda que há que ter em conta a morosidade de todo o processo caso se continue “desta forma”.

ACESSOS BLOQUEADOS

Rui Leão alertou também para a ausência de informações importantes na planta apresentada. Para o arquitecto, uma das questões prementes, e que não se encontra contemplada, é a acessibilidade a esta área, nomeadamente o acesso pedonal. “Além de não se entenderem as alturas dos edifícios propostos na planta apresentada ou a divisão concreta do espaço e dos seus fins, não se percebe como é que as pessoas podem ter acesso ao local se quiserem ir a pé. O espaço é limitado por uma via rápida e não inclui qualquer plano de acessos pedonal ou de construção de passagens aéreas”, notou o arquitecto, argumentando que “não se pode pensar na construção

de uma zona maioritariamente ocupada por serviços públicos sem pensar na sua acessibilidade”. Para o membro do CPU, há que “ter este aspecto em conta de imediato, e não deixar a resolução destes problemas para o futuro de modo a evitar soluções improvisadas e que não cumprem as necessidades”. Por outro lado, Rui Leão considera ainda que caso se soubesse se passaria ou não por ali uma linha de metro GCS

A planta para a zona B dos novos aterros foi ontem tida como “insuficiente” para avançar pelo Conselho de Planeamento Urbanístico. Raimundo do Rosário diz que é impossível fazer tudo em Macau: há que decidir se se quer quantidade ou qualidade

ligeiro, toda esta discussão também seria diferente. Mas, ainda assim, há que proceder a mudanças das vias destinadas aos transportes de modo a que possam ser de utilidade aos utentes. “É a acessibilidade que deve marcar este local”, remata.

PERGUNTAS SEM RESPOSTA

Já Lam Iek Chit considera que as actuais plantas não estão a ir de encontro aos desígnios evocados pelo Governo Central na medida em que não têm

previstas as construções a que se propõem. Para o membro do CPU as questões são claras: “Como é que vamos construir mais de 100 instalações do Governo nesta área? Que serviços vai incluir? O Executivo vai transferir os serviços que estão no NAPE? Há ou não definição do que vão ser instalações do Governo e edifícios habitacionais?”, lançou. “A necessidade de ter um plano específico e concreto é o mote para a concordância do CPU e da população”,

afirmou Leong Chong In, que considera que actualmente “não há uma apresentação concreta desta zona e, como tal, não há condições para se poder pensar nela”. O membro do CPU entende que este é um “plano irrealista” em que é impossível prever um tempo para a sua conclusão, sendo que é necessário existirem projectos e objectivos bem definidos para que o apoio seja concedido e os avanços feitos.

Em causa está o facto do anteprojecto para a construção de instalações públicas “não ter condições para avançar.” Na resposta a estas críticas, Raimundo do Rosário falou também enquanto cidadão e manifestou a sua concordância com as opiniões emitidas. No entanto, e como Secretário dos Transportes e Obras Públicas, questionou o conselho acerca do que é que afinal pretende. Para o governante, todos os assuntos da entidade que tutela “são de carácter urgente e são muitos”. “Há que escolher: ou se quer qualidade ou quantidade”. Ainda assim, o projecto apresentado vai ser reformulado de modo a que possa ser completado – volta a reunião plenária para nova discussão. Sofia Mota

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SOCIEDADE

CPU TERRENO DE WAI LONG PODE SER PARCELADO

Não escondam a montanha Dados divulgados ontem pelos Serviços de Estatística e Censos (DSEC) revelam que as excursões de turistas para Macau diminuíram, em média, 20 por cento. As excursões oriundas da China diminuíram 23 por cento, enquanto a vinda de grupos de Taiwan registou uma quebra de 11 por cento. Quanto aos visitantes de excursões da Coreia do Sul, registaram um aumento de 44,9 por cento. Já o número de residentes que foram em excursão à China Continental diminuiu 36,8 por cento por cento. As excursões para a Coreia do Sul registaram um notável aumento de 220,8 por cento.

DADOS REVELAM DIMINUIÇÃO DE VEÍCULOS NAS ESTRADAS

Números oficiais ontem divulgados demonstram que o número de veículos e motociclos a rodar nas estradas sofreu uma ligeira quebra. Em Setembro foram atribuídas 979 matrículas novas a veículos, menos 40,1 por cento em termos anuais. Nos três primeiros trimestres deste ano havia 10.978 carros com novas matrículas, uma quebra de 31,7 por cento. Quanto aos motociclos, diminuíram 41,9 por cento. No que toca a acidentes de viação, ocorreram um total de onze mil, menos 6,4 por cento em termos anuais, com um total de 3346 vítimas, entre elas oito mortes.

HOSPITAL DE SÃO JANUÁRIO PASSA EM NOVA AVALIAÇÃO AUSTRALIANA

O hospital público foi avaliado, entre os dias 24 e 28 deste mês, pela entidade Australian Council on Healthcare Standards (ACHS), tendo passado em todos os exames efectuados. No total, o hospital foi avaliado com base em 47 critérios, tendo em quatro desses parâmetros obtido o “nível 4 – realização extensiva”. Esses quatro critérios dizem respeito à prestação de informação ao público, a participação dos utentes dos cuidados de saúde, a prevenção de queda de utentes e a gestão de vigilância. O São Januário já tinha obtido a acreditação da mesma entidade em 2012.

D

ESTINAR o terreno junto à Avenida Wai Long, na Taipa, apenas a habitação pública foi a ideia que menos consenso reuniu ontem na reunião plenária do Conselho de Planeamento Urbanístico (CPU). A construção de cerca de 8000 fracções não reúne a concordância dos membros do CPU e as dúvidas vão desde questões ambientais à necessidade de construção privada e à altura prevista dos edifícios. A primeira questão levantada foi a necessidade de um estudo de impacto ambiental: há preocupações com a altura dos edifícios. Segundo o projecto, os edifícios devem ter 60 metros mas, e caso a Direcção dos Serviços de Protecção Ambiental (DSPA) concorde, pode ir até aos 105 metros. O limite é, para o CPU, “impensável”. “Aaltura é um problema”, disse Manuel Iok Pui Ferreira, que considerou que “se se for para a frente com a construção de edifícios com 100 metros de altura, vai estragar-se a vista da montanha e a própria montanha”. Por estar perto do aeroporto, os residentes podem ainda estar em contacto muito próximo com agentes poluentes, considera o CPU, pelo que é necessária “uma avaliação ambiental para se perceber se esta zona será boa para se viver”. Manuel Iek Pui Ferreira pede ainda a suspensão do projecto, a não ser que venha a ter uma altura limitada a 60 metros acima do nível do mar de modo a permitir ter uma paisagem verde. “Se não travarmos este projecto serão construídos muitos edifícios que irão destruir a ecologia.” Si Ka Lon, também preocupado com o ambiente, teme que se tenha de recorrer a explosivos para a construção da habitação. Por outro lado, considera que com tanta habitação o tráfego daquela zona venha a ser seriamente afectado. “Estamos perante mais um emparedamento da paisagem natural”, afirmou o arquitecto Rui Leão. “Esta parede que está prevista vai desqualificar todo o Cotai e toda a zona sul da Taipa. Está em

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EXCURSÕES DE TURISTAS DIMINUÍRAM 20 POR CENTO

O terreno junto à Avenida Wai Long, destinado à construção de habitação pública, pode ser parcelado e ter uma ocupação diversificada. Esta é a ideia que junta a generalidade dos membros do CPU para um melhor aproveitamento daquela área

completo desacordo com as linhas directivas do plano quinquenal, vai contra a harmonia”, explica.

PÚBLICO VERSUS PRIVADO

A questão de ser uma área “tão grande” apenas destinada a construção pública também é assunto polémico entre os membros do conselho. A ideia foi associada à falta de previsão de construção de equipamentos sociais para aquele terreno capazes de corresponder às necessidades de um tão grande número de residentes. Por outro lado, indicou Leong Heng Kao, “é um terreno longe da cidade e sem nada à volta, e

“Estamos perante mais um emparedamento da paisagem natural” RUI LEÃO ARQUITECTO

as pessoas que recorrem a habitações sociais e económicas são de classe baixa, vão precisar de transportes públicos para ir às compras ou mesmo as crianças para irem para a escola”. Para o membro do CPU, o ideal será “mudar os requisitos” e que “a venda das fracções possa ser destinada a particulares da classe média”. Leong Heng Kao considera que, desta forma, se poderiam construir outro tipo de estruturas, nomeadamente parques de estacionamento, ao mesmo tempo que se baixaria a densidade populacional e, logo, a altura dos edifícios. Leong Chong In não entende porque é que aquela área é destinada a habitação social e não pode ser aproveitada para o investimento privado dirigido à classe média para que “fosse possível ir combatendo a especulação de preços”. Para o membro do conselho, o ideal será “dividir o terreno em parcelas: ter uma para habitação social e outras

para a construção privada em que possam ser incluídos centros comerciais e outras instalações favoráveis a Macau”. Esta medida também pouparia os cofres públicos, completa Wu Chou Kit. A divisão entre público e privado acabou por obter consenso entre muitos dos membros do CPU. “É uma boa estratégia subdividir o lote, uma parte para concessionários e outra para classe média e média baixa. Importante também porque o urbanismo é isso”, ilustra Rui Leão. No entanto, e a ter em especial atenção, na opinião do arquitecto, são os acessos de modo a não condicionar a “tão necessária via rápida que serve o aeroporto e o futuro terminal marítimo. Há que arranjar uma alternativa para a mobilidade de acesso àquela zona”, remata. Raimundo do Rosário disse não ter respostas para “tantas questões”, mas prometeu que o processo vai ser estudado. Sofia Mota

sofia.mota@hojemacau.com.mo


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EVENTOS

Música QUARTETO ALL STARS POWER NA 5ª SEMANA DO JAZZ DE MACAU

“Género musical em crescimento” Pelo quinto ano consecutivo, a Associação Promotora do Jazz de Macau volta a organizar a Semana do Jazz de Macau, com um concerto do quarteto All Stars Power. Mars Lee, presidente da associação, diz querer aproximar ainda mais este estilo musical das pessoas

J

EREMY Monteiro, de Singapura, Tots Tolentino, das Filipinas, Eugene Pao, de Hong Kong, e Hong Chanutr Techatana-nan, da Tailândia. Todos eles são músicos de jazz e vão actuar no próximo dia 27 de Novembro no pequeno auditório do Centro Cultural de Macau, no âmbito da 5ª Semana do Jazz de Macau, com o nome All Stars Power. Esta é a segunda vez que o quarteto actua em Macau, depois da presença no Festival Internacional de Música de Macau. Há seis anos que o grupo dá concertos, tendo passado recentemente pelo EFG London Jazz Festival. Mars Lee, presidente da Associação Promotora de Jazz de Macau, contou ao HM que, para celebrar uma data “memorável”, será realizado um concerto com músicos que podem não ser muito conhecidos ao nível mundial, mas que começam a dar cartas no panorama do jazz da Ásia.

“Sempre tivemos bons músicos a participar, mas este ano tentamos trazer grandes músicos de jazz da Ásia e grupos internacionais. Este ano é especial”, referiu. Além do concerto, vão ser realizadas pequenas actividades com músicos locais, nomeadamente com o grupo do Conservatório de Macau. “O grupo do conservatório é um grande apoio para o jazz em Macau, porque eles tocam as músicas mais tradicionais e também têm uma vertente educacional.” Cinco anos após ter sido dado o pontapé de saída para este evento, o jazz está mais forte do que nunca. “Esperamos mais público este ano. Ao longo de todo este tempo temos vindo a promover a música e a própria cultura do jazz, não apenas para os residentes, mas também para visitantes que vêm a Macau só para ver os nossos concertos, o que é, de facto, uma grande honra para nós”, contou Mars Lee. “Hoje em dia, depois destes anos loucos de crescimento económico, as pessoas estão mais atentas à qualidade de vida, e vemos mais eventos culturais a acontecer. E o jazz tem sido um estilo musical em crescimento, porque estabelece uma ligação com as pessoas. Não é como a música pop, ou clássica. Tem uma certa identidade e uma intenção muito próprias”, indicou o músico e presidente da associação. Educar o público é outro dos objectivos da Associação Promotora de Jazz. “Organizamos este evento por ano, com diferentes espectáculos. Queremos promover a música, mas mais do que isso: queremos educar as pessoas, não apenas os músicos, mas o público também. Queremos que mais pessoas possam apreciar este tipo de música e que possam compreender esta cultura”, adiantou Mars Lee.

“Queremos promover a música, mas mais do que isso: queremos educar as pessoas, não apenas os músicos, mas o público também.” MARS LEE PRESIDENTE DA ASSOCIAÇÃO PROMOTORA DE JAZZ DE MACAU

da Fundação Macau, mas os meios ainda são poucos para trazer mais música ao território, sobretudo se falarmos do número de salas de espectáculo. “Todos os eventos precisam de dinheiro. Continuamos a ter margens pequenas de lucro e se o Governo pudesse apoiar mais seria o ideal”, disse Mars Lee.

“Temos alguns nomes nos restantes festivais organizados em Macau, mas porque existem estruturas maiores. Da nossa parte temos uma menor dimensão. Não temos fins lucrativos e dependemos do apoio do Governo, e é importante que nos foquemos nos nossos grupos. A maioria destes músicos não tem muita exposição, não são muito conhecidos, mas são muito bons.” Apesar dos desafios constantes, Mars Lee garantiu estar satisfeito com o trabalho realizado até aqui. “Queremos fazer de Macau uma plataforma para os músicos asiáticos, porque essa foi a forma como começámos. Já conhecíamos todos estes músicos, da Malásia, Taiwan, Tailândia, não apenas da China. É importante que possamos aumentar ainda mais este círculo. O jazz começou na América, mas foi um movimento cultural que se espalhou para a Europa e agora para a Ásia”, concluiu. Andreia Sofia Silva

andreia.silva@hojemacau.com.mo

POUCOS MAS BONS

A 5ª Semana de Jazz de Macau conta com o apoio do Instituto Cultural e

À VENDA NA LIVRARIA PORTUGUESA DEZ CONTOS PARA LER SENTADO • vários autores

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Pode um objecto tão simples (uma cadeira) traduzir o mundo em que vivemos? A resposta para os portugueses é por de mais evidente, ou não tivesse o nosso destino mudado após a queda de uma cadeira. O país que se suspende em torno da forma de fazer uma cadeira. Um mundo onde, até nos lugares mais comuns, há sempre uma cadeira do poder e uma dança de cadeiras. As cadeiras lusófonas deste livro são feitas de dor, de guerra, morte e abandono. Neste volume encontram-se contos de autores bem conhecidos como Mia Couto, Ondjaki, João Tordo ou Arthur Dapieve, até autores revelação, para o meio editorial português, como os brasileiros Ana Paula Maia e Vinicius Jatobá ou o cabo-verdiano Abraão Vicente. Para além da viagem à África de Waldir Araújo, estas cadeiras navegam ainda até Timor, onde Luís Cardoso nos seduz com o aroma do sândalo.

O SENTIDO DO GOSTO • José Bento dos Santos

Neste livro apresenta-se uma panóplia muito vasta da cozinha histórica, desde os pratos mais populares e tradicionais, às receitas que os grandes Mestres criaram e elaboraram, não esquecendo o “tour de main”, a pequena chispa culinária, que permitirá a qualquer leitor – mesmo com pouca prática de cozinha – deliciar-se em sua casa a executar estas receitas.


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Open Tender Notice Request for Proposal - “MIA - Design and Build for Generator Installation in SS3 SS4 and SS5” (RFQ-219) 1. 2. 3.

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Company: Macau International Airport Co. Ltd. (CAM) Tendering method: Open tendering Objective: To select a suitable Contractor to supply and install three new diesel generators for sub-stations SS3, SS4 and SS5 in Macau International Airport, and design and build a generator room beside sub-station SS3. Request for tender documents: Tender Notice and Tender Document can be downloaded from CAM’s website www.camacau.com . Please regularly check the website for any clarification or changes/ modification/ amendment in the Tender Document. Location and deadline for submission of Bidders’ tenders: Macau International Airport Co. Ltd. (CAM) 4th Floor, CAM Office Building, Av. Wai Long, Taipa, Macau Before 12:00 pm (noon) on 5 December 2016 (Macau Time). The addressee of the tender shall be Mr. Deng Jun – Chairman of the Executive Committee. The tenders received after the stipulated date and time will not be accepted. CAM reserves the right to reject any tender in full or in part without stating any reasons. -END-


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PEQUIM PEDE QUE UE CUMPRA OBRIGAÇÕES SOB ENTRADA NA OMC

O prometido é devido Nas vésperas da visita do primeiro-ministro chinês Li Keqiang ao Quirguistão, Letónia e Rússia, Pequim pressiona a União Europeia a honrar as promessas feitas relativas à entrada da China na Organização Mundial do Comércio

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China espera que a União Europeia (UE) possa cumprir com as obrigações definidas no Artigo 15 do Protocolo sobre a entrada da China na Organização Mundial do Comércio (OMC), disse esta segunda-feira um alto diplomata do país. “Estas são obrigações e promessas internacionais da UE”, disse o ministro adjunto dos Negócios Estrangeiros Liu Haixing em conferência de imprensa sobre a próxima visita do primeiro-ministro chinês Li Keqiang ao Quirguistão, Letónia e Rússia. Durante sua estada na Letónia, Li participará na Quinta Cimeira da China e dos Países da Europa Central e Oriental (16+1) em Riga. Ao enfatizar que a China cumpriu com as suas promessas desde que entrou na OMC em 2001, Liu disse que o bloco europeu também tem a obrigação de honrar suas promessas. “Esperamos que a UE possa cumprir nítida e completamente as suas obrigações relacionadas com a OMC até 11 de Dezembro sem nenhuma condição adicional”, disse Liu à imprensa.

Liu Haixing

As obrigações da OMC exigem que a UE abandone o “sistema de país substituto” até 11 de Dezembro de 2016, sob o qual os custos de produção num terceiro país são usados para calcular o valor dos produtos das economias que não são de mercado. Ao responder se a China “pressionará” os países da Europa Central e Oriental sobre o assunto, Liu disse

QUASE METADE DOS BEBÉS NASCIDOS ATÉ JUNHO SÃO SEGUNDOS FILHOS

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NTRE os bebés que nasceram na China, na primeira metade do ano, 44% são segundos filhos, avançou ontem a imprensa oficial, no primeiro ano em que o país permite aos casais ter mais que uma criança, desde 1980. Os dados, difundidos pela Comissão Nacional da Saúde e Planeamento Familiar, representam um aumento de 6,9%, face ao ano anterior, e de 16,7%, quando comparado com 2010, destacou o jornal China Daily. Em algumas regiões do país, sobretudo nas principais cidades, a proporção de segundos filhos é já superior a 50%, detalhou a mesma fonte. Os responsáveis do organismo chinês encarregue de implementar as políticas de natalidade afirmaram

que a percentagem deverá ser maior no final do ano, já que a “política dos dois filhos” entrou em vigor oficialmente em Janeiro de 2016, depois de muitas das crianças que nasceram na primeira metade do ano terem sido já concebidas. Já em 2013, a direcção do Partido Comunista Chinês decidiu aliviar a política “um casal, um filho”, permitindo aos casais em que ambos os cônjuges são filhos únicos ter um segundo filho. Pelas contas do Governo chinês, a abolição daquela política permitirá aumentar em 30 milhões a população em idade activa, em 2050. Com 1.374 milhões de habitantes - cerca de 18% da humanidade - a China é o país mais populoso do mundo.

que o país “não pressionará os 16 países, mas que negociará com eles”. “Há 11 membros da UE entre os 16 países da Europa Central e Oriental, esses países certamente esclarecerão as suas posições dentro da UE”, disse Liu. “Esperamos que tomem a decisão correcta e estimulem a UE a cumprir com as suas obrigações dentro do devido tempo”, acrescentou.

ASSINADO ACORDO DE SEGURANÇA SOCIAL COM FRANÇA

A China e a França assinaram um acordo sobre segurança social esta segunda-feira que isentará os funcionários expatriados que trabalham nos dois países de contribuir com o seguro social obrigatório. Kong Changsheng, vice-ministro dos Recursos Humanos e da Segurança Social da China, e Jean-Marc Ayrault, ministro dos Negócios Estrangeiros da França, assinaram o acordo em Pequim. Antes do acordo, os cidadãos franceses que trabalham na China são obrigados a participar de cinco programas de segurança, entre eles o de pensão, médico, de segurança no trabalho, desemprego e maternidade. Tanto o funcionário como o empregador contribuem com o pagamento da segurança social. Os pagamentos feitos pela segurança social representam quase 40% do salário de um funcionário estrangeiro caso este tenha contribuído com um mínimo de 15 anos. Além da França, a China já assinou acordos bilaterais de segurança social semelhantes com a Alemanha, Coreia do Sul, Dinamarca, Finlândia, Canadá, Suíça e Holanda.

CHINA

ARRANCOU CONSTRUÇÃO DE PARQUE DE DIVERSÕES DA UNIVERSAL STUDIOS

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construção do parque de diversões da Universal Studios, um dos maiores grupos cinematográficos de Hollywood, em Pequim, arrancou ontem, avançou a imprensa estatal, na mais recente investida mediática no crescente mercado chinês do entretenimento. O complexo, cujo investimento está fixado em 50 mil milhões de yuan deverá ser inaugurado em 2020, anunciou a agência oficial Xinhua. Nos últimos anos, foram abertos mais de 300 parques de diversão na China, segundo dados citados pela imprensa local, numa altura em que Pequim está a encetar uma transição no modelo económico, visando transformar o consumo interno no principal motor de crescimento. Em Junho passado, a gigante da animação Disney abriu o seu primeiro parque de diversões na China continental, em Xangai, a “capital” económica do país, num investimento fixado em 5,5 mil milhões de dólares. O DreamWorks Animation, outro gigante de Hollywood, está a colaborar na construção de uma zona de entretenimento em Xangai. PUB

Decidido a construir parques de diversão com elementos da cultura chinesa, também o conglomerado Wanda Group, de Wang Jianlin, considerado o homem mais rico da China, abriu este ano dois parques temáticos no país. O grupo prevê abrir um total de 20 parques, até 2020, cinco dos quais além-fronteiras. A imprensa estatal revela que, no ano passado, abriram 21 parques de diversão no país, enquanto mais 20 estão em construção. O complexo da Universal Studios em Pequim será o terceiro na Ásia, depois de o grupo ter inaugurado parques em Singapura e na cidade japonesa de Osaka. Na capital chinesa, o parque terá 40.000 metros quadrados e incluirá dois ‘resorts’ e um centro comercial, escreveu a agência oficial chinesa Xinhua.


h ARTES, LETRAS E IDEIAS

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Palavra contra palavra

A

(continuação)

palavra escrita tem a primazia, não porque seja mais educada ou mais limpa, mas porque tem uma relação especial com “aquilo que não é”, como no poema à página 38, “Poema com muito vago erotismo ao fundo”: “Não é a mesma a língua com que te falo a língua com que te beijo ou esta língua outra em que te escrevo, a tinta espessa, vagamente húmida. É preferível escrever-te que beijar-te: a folha rasa limpa é corpo liso acolhendo quente o contorno da letra e com essa língua sinceramente falo e digo quase sinto o beijo que te escrevo e não te dou.” A narradora do poema diz ser preferível escrever a beijar o amante, e quase sente o beijo que escreve e não lhe dá. Não é a escrita que está aqui em causa, evidentemente, mas aquilo que não é, aquilo que poderia ser ou não, mas que não é e passa a ser daquele modo poderoso sobre nós “como seria” ou “poderia ter sido tão bom”… A palavra escrita tem o poder do invisível, o poder da liberdade infernal. Se é verdade que a poeta assenta os seus poemas num forte chão parmenidiano, ela mesma escreve “(…) Nada / existe sem palavra que o diga (…)” (p. 40), numa identificação entre ser e pensar (e pensa-se com palavras), também não é menos verdade que há um outro lado mais obscuro de entender a relação entre a palavra e o ser. Rita Taborda Duarte começa o seu poema “Quando muito é um cachimbo” - do qual também fazem parte os últimos versos citados - com este verso: “A palavra nunca é uma palavra, quando muito é um cachimbo (…)” (Ibidem) No mesmo poema em que inscreve a sua herança de Parménides, começa por dizer que a palavra está além ou aquém de si mesma. Sem dúvida, é uma tese metafísica, mas de carga contrária à do filósofo eleata. É então talvez chegado o momento de abordarmos o poema “Lá fiz o poema”, onde a poeta escreve aquilo que poderá ser o modo como ela se relaciona com o fazer do poema. Pode ser ou não, verdade é que, neste poema, é assim que o narrador se mostra na sua relação como o fazer do poema, dos poemas. Podemos estar certos de uma coisa: não é nada fácil encontrar um verbo que defina o “fazer do poema” que a poeta aqui nos traz. Leia-se primeiro o poema, para depois podermos entender melhor as dificuldades que a poeta nos arranjou, e algumas alegrias também, evidentemente:

“Lá fiz o poema hoje sequer o escutei, primeiro, pois que nem estava dito ainda; os meus poemas não andam sumidos em silenciosinhos cúmplices, à espera de que eu chegue e venha resgatá-los. Nada me sussurra voz nenhuma de deus nenhum. E o meu silêncio sequer é um silêncio-metafórico a murmurar flores escondidas. É um silêncio silencioso silêncio oco: sem nada a declarar por dentro. E esse silêncio, é curioso, nunca me dita poemas. Mantém-se calado, tal lhe convém. Pura e simplesmente, o meu poema não estava em parte alguma, nem agasalhado em sossegos nem em qualquer sítio que se percebesse. Ou se lá estava tanto pior; que se havia um poema omnipresente embrulhado em silêncios em todo lado e em qualquer parte, outro o escutou o mostrou o fingiu o disse, outro, não eu, que a haver poema passou-me distraidamente ao lado. Portanto, resumindo, este poema que eu fiz nem sequer se encontrava inscrito no mundo por aí para que eu fosse lá e ao menos partisse as unhas escavando as pedras. Em lado nenhum. O poema que eu fiz não estava em parte nenhuma em nenhum lugar E tive de ser eu, com certeza, a massacrá-lo letra branca em tecla preta, a confiscá-lo ao teclado, sem a musa do outro arrastada pelo cachaço, e, em mangas de camisa, diria, não fora eu mulher e não usasse nunca nem a camisa nem as mangas nem o casaco. Sequer um cigarro onde pudesse ir fumando rimas por dentro das palavras. O meu poema tive de ser eu a escrevê-lo sozinha. E eu não escrevo como se tocasse piano, que o portátil não traz uma partitura, nem ninguém havia, lá, presente ausente para mo trautear. As teclas fazem barulho, sujam os dedos e nada tem mais micróbios do que um teclado, dizem.

Foi, portanto, um mau poema: fiquei cansada e nem uma folha, ao menos, para amarfanhar.” (pp. 14-5) Para além da estrofe final do poema - do mau e do bom poema, de hoje nem podermos esmagar com as nossas mãos o mal que fizemos -, que seria um outro texto, interessa seguir a pista do que aqui temos seguido. O poema


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máquina lírica

Paulo José Miranda

te não metafísica do mundo. Talvez se entenda melhor se pensarmos que para Rita Taborda Duarte tudo é metafísica, tudo é sempre mais do que é, tudo é o que é e o seu excesso, e a palavra é o lugar onde nós e o excesso nos encontramos. Pois mesmo em silêncio, a palavra arde. Ou dito muito melhor, com versos da poeta: “(…) E no quarto / entranhado na fibra dos lençóis, o cheiro forte e acre, / de uma palavra ardida.” E o fazer do poema é a única coisa concreta que há no mundo (não sabemos se pode ou não ser estendido a outras artes). Fazer um poema é tentar limpar a sujidade da palavra, mantendo nela a centelha ancestral e a vontade do que se quer dizer. Fazer um poema, aqui, neste livro sui generis, é como tudo o que o humano faz, isto é, aquilo que é mais concreto neste planeta: as acções. Só a acção não é metafísica, pois são todas elas éticas, de resto o planeta (adivinha-se o universo) é todo ele, na sua unidade e na multiplicidade dos seus elementos, um excesso de sentido, que a palavra mostra de um modo privilegiado. “(…) Nada / existe sem palavra que o diga (…)” Mesmo aquilo que vive apenas e só nos interstícios da palavra. É também um livro cheio de ironia, como se deve ter entendido pelos versos citados e, principalmente, pelos títulos dos poemas. Resta-me dizer uma ou duas coisas, antes de terminarmos com a voz da Rita Taborda Duarte: sublinhar que se trata de um livro precioso, onde a palavra é simultaneamente sujeito e objecto (por conseguinte para guardar onde se guardam os vinhos mais preciosos), e deixar um conselho ao leitor: se está a tentar deixar de fumar, não leia este livro. Excerto de “Alfabeto”: “Faço, então, a cama, aliso os vincos, bato a almofada entalo um gemido breve de palavra, o sinal da pulga, a pata da borboleta (ou era o veio esgarçado de uma asa ?), entalo o lençol puído no colchão e sacudo para o chão uma sílaba do teu corpo. Tua, sim. Não será minha: As minhas palavras são mais louras e compridas...

não foi escutado; o poema não veio do silêncio, nem de uma musa; o poema não foi escavado; não foi construído (se fosse, a poeta tê-lo-ia escrito); e também não foi inventado (se fosse, a poeta tê-lo-ia escrito); o poema não chega como uma composição e também não é a execução de uma partitura. O que sabemos do poema é: não estava em parte alguma antes, e teve de ser a poeta a escrevê-lo sozinha, num teclado, que tem mais micróbios do que qualquer coisa do mundo. Com este poema a poeta parece querer des-

truir a metafísica, que tanto acarinha ao longo dos seus poemas. Pois tudo em Rita Taborda Duarte excede a própria coisa: os corpos, as partes dos corpos (“qualquer coisa dos corpos fica ainda / ainda quando os corpos se levantam”), as palavras (“O desperdício sobrevindo da palavra”), as próprias coisas (“Só as rugas desta cama enxovalhada / nos perseguem as manhãs, pelo rosto dentro / como a teima de um poema por escrever.”). Tudo, não. Nem tudo excede o si mesmo que é. O fazer do poema é, ou parece ser, a par-

Nunca saio à rua, sem esticar os lençóis à cama com a precisão de quem faz as manhãs todos os dias, de quem dá um jeito à vida, antes de se pôr a trabalhar. Uma cama bem feita vale bem um verso terminado, sem o desperdício das palavras que não rimam. Há que resgatar o gesto repetido, dia a dia, como quem cumpre a métrica precisa do poema; uma cama desfeita e ao desalinho é um sítio perigoso para deitar o corpo a descansar, lugar de roturas, ligamentos um passo em falso, tropeçado sem cuidado, e podemos dar um mau jeito ao coração.”


16 DESPORTO

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Sporting e Porto conhecem árbitros europeus

EQUIPA DE RÚBEN MICAEL DESCE PARA A SEGUNDA DIVISÃO CHINESA

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Makkelie arbitra em Dortmund. Undiano Mallenco no Dragão

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U E FA designou o holandês Danny Makkelie para arbitrar a visita do Sporting ao Borussia Dortmund e o espanhol Alberto Undiano Mallenco para a recepção do FC Porto ao Club Brugge, ambos da Liga dos Campeões, na quarta-feira. Danny Desmond Makkelie, de 33 anos e internacional desde 2011, vai apitar pela segunda vez um clube português, na quarta-feira, para o agrupamento F, depois de ter dirigido a visita do Marítimo ao Newcastle (1-1), na fase de grupos da Liga Europa de 2012/13. O holandês já apitou duas vezes a selecção principal portuguesa, na derrota num particular com a França (1-0), PUB

em 04 de Setembro de 2015, e na vitória na visita à Irlanda do Norte (4-2), na qualificação para o Mundial2014, em Setembro de 2013, além do triunfo da equipa das ‘quinas’ de sub-21 diante da Inglaterra (1-0), no Euro2015 da categoria. Undiano Mallenco, de 43 anos e internacional desde 2004, conta mais encontros com formações lusas, as últimas das quais na edição 2013/14 da ‘Champions’, com o empate caseiro do Benfica frente ao Olympiacos (1-1), da fase de grupos, e a derrota do Paços de Ferreira no terreno do Zenit São Petersburgo (4-2), do ‘play-off’. O espanhol vai arbitrar pela terceira vez os ‘azuis e brancos’, também na quarta-

-feira, a contar para o Grupo G, depois do empate no recinto do Dínamo Kiev (0-0), da fase de grupos da Liga dos Campeões de 2012/13, e o triunfo no terreno do Fenerbahçe (2-1), na mesma competição de 2008/09. No domingo, o organismo que rege o futebol europeu já tinha designado o francês Clément Turpin para o encontro entre Benfica e Dínamo Kiev, da quarta jornada do Grupo B, agendado para terça-feira, no mesmo dia em que o português Jorge Sousa vai dirigir o embate entre Borussia Mönchengladbach e Celtic Glasgow. Danny Makkelie

Shijiazhuang Ever Bright, equipa de futebol da China onde alinha o internacional português Rúben Micael, caiu para a segunda divisão, após terminar a actual edição da Superliga chinesa no último lugar da tabela. A equipa da capital da província de Hebei, a cerca de 300 quilómetros de Pequim, venceu por sete vezes esta época, em 30 jogos disputados, e perdeu em 14 ocasiões. Na última partida desta época, disputada este domingo, o Ever Bright venceu o Guangzhou Fuli, por 3 a 2, mas os três pontos não foram suficientes para assegurar a manutenção. Rúben Micael, que chegou no ano passado à China após representar o Sporting de Braga durante três temporadas, alinhou no ‘onze’ inicial.

O Tianjin Teda, equipa orientada pelo treinador português Jaime Pacheco, terminou o campeonato na 10.ª posição, quatro pontos acima da linha de manutenção. Jaime Pacheco foi apresentado como treinador do Teda em Agosto passado, substituindo o bósnio Dragan Okuka, quando faltavam nove jornadas para o fim da competição. Desde então, a equipa somou três vitórias, cinco derrotas e um empate. A superliga chinesa, disputada por 16 clubes, terminou a 30 de Outubro. O Guangzhou Ever-grande, conjunto orientado pelo técnico brasileiro Luíz Felipe Scolari e onde alinha o ex avançado do FC Porto Jackson Martinez, sagrou-se campeão pela sexta vez consecutiva.


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O CARTOON STEPH

ESCULTURA “LIGAÇÃO COM ÁGUA” DE YANG XIAOHUA Museu de Arte de Macau (até 01/2017)

Cineteatro

C I N E M A

SALA 1

NEVER GO BACK [C]

Filme de: Scott Derrickson Com: Benedict Cumberbatch, Chiwetel Ejiofor, Rachel McAdams 14.30, 16.45, 21.30

Filme de: Edward Zwick Com: Tom Cruise, Cobie Smulders, Danika Yarosh, Austin Hebert 14.30, 16.45, 19.15, 21.30

DOCTOR STRANGE [B]

DOCTOR STRANGE [B][3D] Filme de: Scott Derrickson Com: Benedict Cumberbatch, Chiwetel Ejiofor, Rachel McAdams 19.15 SALA 2

JACK REACHER:

UM FILME HOJE

1.17

Gostei de ver, neste caso ouvir, os políticos portugueses a virem a Macau convidar as empresas daqui para irem a Lisboa. Mas não são empresas quaisquer. São as startups de Macau, esses negócios que começam do nada e prometem inovar nas suas áreas. O único problema é que esses dirigentes, quando fizeram o convite, não sabiam que em Macau as únicas startups que existem são...nenhumas. Não conheço, até hoje, nenhum exemplo concreto que tenha saído das universidades locais, dos cursos de gestão de empresas ou economia. Há projectos interessantes nos laboratórios, e só isso. Digam-me quais são as incubadoras de empresas que há aqui e que conseguem fazer um brilharete em Lisboa. Infelizmente não existem. São poucas, contam-se pelos dedos das mãos. No meio do Jogo e do turismo, sobrevivem algumas Pequenas e Médias Empresas (PME) que querem começar e não conseguem, que querem sobreviver e também não conseguem. Para haver startups é preciso ter ideias, pensar fora da caixa, viver lá fora se for preciso e voltar. Deixar de ter o rabo na cadeira. Falo de indivíduos e do Governo também. Porque dinheiro Pu Yi já há.

THE GRAND BUDAPESTE HOTEL (WES ANDERSON)

The Grand Budapest Hotel traz a história do concierge de um famoso hotel europeu durante as duas guerras, Gustave H., e Zero Moustafa, o paquete que se torna no seu amigo de confiança. Num cenário com uma fotografia impecável, como é hábito de Wes Anderson, que tem a seu cargo a realização da película, assistimos à história que envolve o roubo e a recuperação de uma preciosa pintura renascentista e a luta por uma enorme fortuna de família, numa Europa entre mudanças. Hilariante e muito bonito, não apetecesse colocar em pausa neste ou naquele plano que mais parece pintura, um filme a ver. Sofia Mota

SALA 3

HEARTFALL ARISES [C] FALADO EM CANTONÊS LEGENDADO EM CHINÊS E INGLÊS Filme de: Ken Wu Com: Nicholas Tse, Sean Lau 14.30, 16.30, 19.30 21.30

PROBLEMA 112

SOLUÇÃO DO PROBLEMA 111

SUDOKU

DE

EXPOSIÇÃO “MEMÓRIAS DO TEMPO” Macau e Lusofonia afro-asiática em postais fotográficos Arquivo de Macau (até 4/12)

DOCTOR STRANGE

YUAN

STARTUP, O QUE É ISSO?

EXPOSIÇÃO “SE EU ESTIVESSE EM SÃO FRANCISCO/MACAU” Fundação Rui Cunha

EXPOSIÇÃO “EDGAR DEGAS – FIGURES IN MOTION” MGM Macau (até 20/11)

0.22 AQUI HÁ GATO

EXPOSIÇÃO WORLD PRESS PHOTO Casa Garden

EXPOSIÇÃO “O ARAUTO DOS TEMPOS: O POETA F. HUA-LIN” Academia Jao Tsung-I (até 13/11)

(F)UTILIDADES

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Propriedade Fábrica de Notícias, Lda Director Carlos Morais José Editores Isabel Castro; José C. Mendes Redacção Angela Ka; Andreia Sofia Silva; Sofia Mota Colaboradores António Falcão; António Graça de Abreu; Gonçalo Lobo Pinheiro; José Drummond; José Simões Morais; Julie O’Yang; Maria João Belchior (Pequim); Michel Reis; Paulo José Miranda; Rui Cascais; Sérgio Fonseca Colunistas António Conceição Júnior; André Ritchie; David Chan; Fernando Eloy; Isabel Castro; Jorge Rodrigues Simão; Leocardo; Paul Chan Wai Chi; Paula Bicho; Rui Flores; Tânia dos Santos Cartoonista Steph Grafismo Paulo Borges Ilustração Rui Rasquinho Agências Lusa; Xinhua Fotografia Hoje Macau; Lusa; GCS; Xinhua Secretária de redacção e Publicidade Madalena da Silva (publicidade@hojemacau.com.mo) Assistente de marketing Vincent Vong Impressão Tipografia Welfare Morada Calçada de Santo Agostinho, n.º 19, Centro Comercial Nam Yue, 6.º andar A, Macau Telefone 28752401 Fax 28752405 e-mail info@hojemacau.com.mo Sítio www.hojemacau.com.mo


18 OPINIÃO

hoje macau terça-feira 1.11.2016

RUI TAVARES Público

OLIVER STONE, ALEXANDER

Aristóteles/Nicómaco 2016

M

AIS uma voltinha no carrossel, mais um túnel da morte nas eleições presidenciais dos EUA. Tempo para o pânico entre as hostes democráticas. Uma semana após as melhores sondagens para Hillary Clinton e o seu partido em toda a linha, incluindo nas eleições para o Senado, a nova semana começa com a sua vantagem reduzida apenas a um ponto. Neste momento, milhões de pessoas em dezenas de estados já votaram, dando a Trump uma montanha mais inclinada para subir. No entanto, ele está a subi-la, com a preciosa ajuda de um director da polícia federal norte-americana, o FBI, que numa carta revelou ter encontrado novos e-mails de Hillary Clinton — que ainda não investigou e afirma não saber se são relevantes — num computador que uma sua assessora partilhava com o então marido (agora ex-marido e a ser investigado por alegados crimes sexuais que nada têm a ver com a campanha). Em resumo, o destino do mundo pode estar a ser decidido por um gesto tão simples quanto qualquer um de nós consultar e-mails de trabalho no computador de casa. É difícil imaginar como poderia Hillary Clinton controlar ou impedir tal coisa. Mas isso pouco importa; o que é decisivo

é que esta história parece confirmar a sensação que muitos eleitores têm sobre uma insinceridade de fundo de Hillary Clinton. Insinceridade? Os apoiantes de Clinton em geral reagem mal a essa suspeita. Então o que dizer de Donald Trump, a que ninguém acusa de ser insincero mas que é um mentiroso encartado? E é aí que Aristóteles pode entrar para nos ajudar a procurar a resposta. Na sua Ética a Nicómaco, o grande filósofo e pedagogo da Grécia Antiga distingue

Na sua Ética a Nicómaco, o grande filósofo e pedagogo da Grécia Antiga distingue entre dois tipos de mentira: a do eíron, que nunca diz tudo o que deveria, e a do alaízon, ou fanfarrão, que exagera sempre em tudo o que diz. Dois mil e quatrocentos anos exactos após o nascimento de Aristóteles, dificilmente poderia haver melhor ilustração para esta sua distinção do que a eleição presidencial norte-americana de 2016

entre dois tipos de mentira: a do eíron, que nunca diz tudo o que deveria, e a do alaízon, ou fanfarrão, que exagera sempre em tudo o que diz. Dois mil e quatrocentos anos exactos após o nascimento de Aristóteles, dificilmente poderia haver melhor ilustração para esta sua distinção do que a eleição presidencial norte-americana de 2016. Hillary Clinton não é uma mentirosa como Donald Trump: no entanto, dificilmente ela escapa à impressão de que não nos diz a verdade toda. Quanto a Donald Trump, talvez nunca tenha havido melhor exemplo do fanfarrão aristotélico. Quando ele diz “ninguém respeita tanto as mulheres quanto eu”, ninguém — nem ele — acredita numa única palavra. Muito se discute verdade e mentira em política. Mas poucas vezes pensamos como a democracia depende da sinceridade com que as pessoas, estejam certas ou erradas, participam no debate público. Sem a “sinceridade cívica” a que Aristóteles chamava parrésia, toda a população se torna cínica. Foi por reacção contra a hipocrisia pública generalizada que Bernie Sanders teve tanto sucesso nas eleições primárias: a grande maioria dos americanos poderia não se considerar socialista como Sanders, mas respeitava profundamente o socialismo dele — por ser sincero. Precisamos de sinceridade na política. O problema para as eleições americanas hoje é que o eleitorado pode confundir sinceridade com autenticidade. Na comparação entre Clinton e Trump, o segundo parece mais autêntico do que a primeira. E é por isso, que na sua justa busca por sinceridade, há de novo o risco que os eleitores optem por Donald Trump. Trump é autêntico. Um autêntico mentiroso. Mas já não temos Aristóteles para nos ajudar a fazer as distinções que contam.


19 hoje macau terça-feira 1.11.2016

OPINIÃO

sexanálise

TÂNIA DOS SANTOS

ZHONG YU, TRAIL OF THE PANDA

O

S pandas são muito preguiçosos para se envolverem numa actividade sexual. Eles só dormem, comem e julgam qualquer outra actividade para além das suas possibilidades. Julgam-nos assexuados, detentores de uma libido baixíssima. O recorde de envolvimento sexual vai nos 7 minutos e 45 segundos, quando a média é normalmente de 1 minuto. Quando é que eles vão conseguir finalmente procriar? Ninguém sabe. Já é difícil o suficiente saber quando é que uma panda fêmea está a ovular, que normalmente dura uns 3 dias por ano. Uma janela de possibilidade estreitíssima para podermos garantir a continuação da espécie. Como o habitat natural do panda está em risco, os preocupados na matéria viram-se obrigados a levar pandas para serem tratados em cativeiro. A partir do momento que os pandas se viram no ambiente artificial de zoológico, a sua libido caiu ainda mais, sendo por isso muito difícil fazer com que os pandas procriem nestas condições. A criatividade e o desespero dos cientistas e dos seus tratadores fizeram com que aparecessem soluções verdadeiramente originais, uma delas é a pornografia – pornografia de pandas. Com o auxílio de uma televisãozita, obrigam os pandas a verem outros pandas na sua performance sexual. Como devem calcular a eficácia deste tratamento é duvidosa, mas há quem julgue o contrário. Os pandas, como fofos e amorosos que são, têm todo o planeta a torcer pelo seu sexo, custe o que custar. Nós queremos mais pandas bebés! Mas prova-se uma tarefa difícil. Os estudos recentes começam a perceber que, porque estes animais estão em cativeiro, há certos processos naturais de ‘corte’ e namoro que se tornam impossíveis. No habitat natural eles têm a possibilidade de deixar dicas de desejo, através de uns gritos aqui e ali, e de deixar cheiros a sinalizar a chegada do cio. Acima de tudo, os pandas têm mesmo que gostar do parceiro para se envolverem com ele. Sim, sim, há quem o chame de amor ou simplesmente desejo, mas eles precisam de uma ‘ligação’.

O sexo dos pandas Quando nós achávamos que os pandas não podiam ser mais adoráveis, eles tornam-se ainda mais adoráveis! Não fossem eles o símbolo da maior instituição de protecção animal e ambiental. O que provavelmente não sabiam é que a China pratica frequentemente a diplomacia do panda – os pandas estão directamente envolvidos na criação de laços internacionais por todo o mundo. Basicamente, desde os anos 50 que os pandas eram usados como oferenda comum a zoológicos de muitos países, contribuindo para o bom relacionamento político. Agora o serviço já não é tão gratuito. Os pandas são ‘emprestados’ por períodos de 10 anos pela módica quantia de 1.000.000 USD por ano. Para além de que todos os bebés que nascem destas aventuras para além fronteiras são indiscutivelmente propriedade chinesa. Mas como já devem ter percebido, ter bebés não é coisa que aconteça muito regularmente. E se acontecer, irá aparecer no telejornal das 8.

“O sexo dos pandas é como o sexo dos anjos, um mistério ainda por resolver” O sexo dos pandas é como o sexo dos anjos, um mistério ainda por resolver. Na sua tentativa de ser ‘verde’, esta luta pela procriação do panda gigante continua a contribuir às tão generosas oferendas que vêm a fortalecer ligações diplomáticas - mas ainda não sabemos que desenvolvimento terá. A China tem a fama de não ter uma posição clara em relação às estratégias externas utilizadas. Com discursos e acções que contribuem para uma visão múltipla de posições, ficamos na expectativa do que é que vem para aí – muitos mais pandas, provavelmente. Pandas que nos presenteiam com a sua fofura e simpatia, capazes de derreter corações por onde passam, mas que têm muita dificuldade em ter sexo. O que vale é que os pandas são criaturas divertidíssimas. Com uma sexualidade desastrosamente trapalhona, ainda podem deleitar-se com os vídeos que foram apresentados como incentivo ao sexo dos animais algures online. Não é por acaso que este é um animal com fãs por todo o planeta. Nem é por acaso que os pandas são os embaixadores de uma China repleta de fofura.


Em Macau temos os casinos. No mundo temos a Síria.

terça-feira 1.11.2016 Atlântido

MARROCOS MORTE TRÁGICA DE PEIXEIRO DESENCADEIA MANIFESTAÇÕES

A morte trágica de um vendedor de peixe, esmagado por um camião do lixo, suscitou no domingo uma vaga de indignação e de manifestações em Marrocos, onde o Governo expressou a sua vontade de punir os responsáveis pelo caso. Mouhcine Fikri, um vendedor de peixe de 31 anos, morreu na sexta-feira à noite em Al-Hoceima, esmagado por um camião do lixo, quando tentava opor-se à apreensão e destruição da sua mercadoria por agentes da cidade. As circunstâncias da sua morte, filmadas por um telemóvel e difundidas na internet, chocaram a população. Uma foto da vítima, inanimada, com a cabeça e um braço visíveis no mecanismo de compactação do lixo, foram largamente difundidas nas redes sociais, que espalharam o apelo a manifestações em todo o país.

BENFICA GRIMALDO VOLTA FRENTE AO DÍNAMO KIEV

Depois de ter sido poupado frente ao Paços de Ferreira, o lateral espanhol Grimaldo irá regressar, esta terça-feira, ao onze do Benfica para a partida diante do Dínamo Kiev, na Luz, em jogo para a Liga dos Campeões. O regresso de Grimaldo é um importante reforço para o treinador Rui Vitória, visto que o lateral tem estado em destaque na equipa. O defesa-central Luisão já recuperou do respectivo problema.

JAPÃO PAIS LANÇAM PETIÇÃO PARA IMPEDIR “POKÉMON GO” DURANTE CONDUÇÃO

O

S pais de uma criança que morreu no Japão num acidente de trânsito relacionado com o “Pokémon Go” lançaram uma petição para impedir a utilização do jogo durante a condução de veículos, segundo o jornal diário japonês Asahi. Na quarta-feira, Keita Noritake, de 9 anos, morreu depois de ser atropelado por um camião conduzido por um motorista que estava a jogar no seu ‘smartphone’. Esta foi a terceira vítima mortal no Japão em acidentes de viação relacionados com o “Pokémon Go”. O condutor do veículo, um homem de 36 anos, está a aguardar o desenrolar do processo judicial e deverá ser acusado de negligência ao volante. Os pais da criança impulsionaram uma petição pública para “colocar em marcha medidas que impeçam a utilização da aplicação durante a con-

dução e assim evitar mais mortes”, explicaram numa entrevista publicada ontem pelo citado jornal japonês. Keita Noritake foi a primeira criança a morrer num acidente de viação num caso relacionado com o “Pokémon Go”, depois de dois outros acidentes em que morreram duas mulheres, uma de 72 anos e outra 29 anos, desde que o jogo foi lançado em Julho no Japão. A primeira sentença do primeiro caso foi divulgada ontem pelo tribunal distrital de Tokushima (oeste do país), na qual o condutor responsável pelo acidente foi condenado a 14 meses de prisão. Keiji Goo, de 39 anos, foi condenado por homicídio negligente por estar a jogar “Pokémon Go”, jogo de realidade aumentada, enquanto dirigia a sua carrinha, causando a morte de uma mulher e outra sofreu ferimentos graves.

Eternamente perseguidos ONG insta Nações Unidas a investigarem abusos contra minoria na Birmânia

A

Human Rights Watch (HRW) denunciou ontem a queima de aldeias rohingya no oeste da Birmânia, apelando à ONU para investigar os relatos de abusos das forças de segurança cometidos contra aquela minoria desde o início do mês. O exército birmanês declarou como “zona de operações” o norte do estado Rakhine, na fronteira com o Bangladesh, onde vive a maioria dos rohingya, após o ataque de um grupo armado contra três postos da polícia fronteiriça a 9 de Outubro. O assalto e posteriores distúrbios causaram pelo menos 40 mortos entre polícias, militares, assaltantes e moradores, e levou ao destacamento do exército, a quem activistas locais acusam de execuções, violações e saques contra os rohingya. A HRW utilizou imagens de satélite para fundamentar a nova denúncia, que fez horas antes da chegada ao local de uma delegação das Nações Unidas e do Governo birmanês, criticado pela organização não-governamental por causa das “desculpas” para impedir o acesso das agências humanitárias àquela zona. “Novas imagens de satélite revelam destruição em Rakhine que exige uma investigação imparcial e independente, algo que o Governo birmanês ainda não foi capaz de fazer”, afirmou o sub-director da HRW para a Ásia, Phil Robertson, em comunicado.

DANOS DESCONHECIDOS

Segundo a HRW, as imagens mostram rastos de incêndios que coincidem com as denúncias de organizações locais e alertou que, apesar de o número de habitações afectadas ser “incerto”, os danos na zona podem ter sido subestimados. Os rohingya vivem na Birmânia (Myanmar) há séculos mas não são reconhecidos como cidadãos birmaneses nem como imigrantes bengalis. Aproximadamente 120 mil rohingya – minoria apátrida que as Nações Unidas consideram uma das mais

“Novas imagens de satélite revelam destruição em Rakhine que exige uma investigação imparcial e independente, algo que o Governo birmanês ainda não foi capaz de fazer” PHIL ROBERTSON HUMAN RIGHTS WATCH PUB

perseguidas do planeta – vivem confinados em 67 acampamentos e sofrem todo o tipo de restrições desde o surto de violência sectária em 2012 entre esta minoria muçulmana e a maioria budista da região, que causou pelo menos 160 mortos. Os rohingya são um assunto sensível na política birmanesa, condicionada por grupos budistas radicais que levaram o anterior Governo a adoptar múltiplas medidas discriminatórias contra aquela minoria, como a privação da liberdade de movimento. O actual Governo, liderado pela Nobel da Paz Aung San Suu Kyi, criou em Agosto uma comissão liderada pelo ex-secretário-geral da ONU Kofi Annan, incumbida de elaborar um relatório com recomendações para solucionar o conflito sectário.


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