MOP$10
GCS
SCHWENINGER
QUARTA-FEIRA 1 DE ABRIL DE 2020 • ANO XIX • Nº4499
DIRECTOR CARLOS MORAIS JOSÉ
MACAU | HONG KONG
OPERADORAS
POLÍCIA JUDICIÁRIA
O FIM DE UMA CARREIRA
DIVERSIFICAR SEM ATROPELOS
INJECÇÃO DE REFORÇOS
FICÇÃO DE SEXO E DO VÍRUS II
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TÂNIA DOS SANTOS
hojemacau
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HOJE MACAU
OPINIÃO
Saber ouvir O futuro reitor da Universidade de São José fala de fé, do papel da instituição enquanto ligação entre o universo lusófono e o mundo chinês, e prevê novos desafios saídos da crise da covid-19. Salienta, no entanto, que antes de traçar objectivos tem muito para ouvir: a universidade, a igreja, o Governo e a comunidade de Macau.
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ENTREVISTA
CUMPRIR A MÃO JOÃO PAULO COTRIM
A HORA DAS PEQUENAS COISAS
NUNO MIGUEL GUEDES
2 ENTREVISTA
STEPHEN MORGAN FUTURO REITOR DA UNIVERSIDADE DE SÃO JOSÉ
Nomeado para reitor da Universidade de São José (USJ), o diácono galês Stephen Morgan antevê desafios no rescaldo do novo coronavírus. Quer ouvir antes de traçar objectivos específicos, mas salienta o papel da USJ como ponte entre os mundos chinês e lusófono, e defende que a liberdade de expressão acarreta responsabilidades
Como se sente depois de ter sido nomeado como reitor? Há dois sentimentos avassaladores. Um é um grande sentido de honra, e o outro uma sensação de gratidão à Fundação Católica por me nomear e gratidão ao meu predecessor, o padre Peter Stilwell, que tem sido notavelmente eficiente e um firme reitor da universidade. Estou um pouco intimidado pelo desafio, mas isso é em parte aliviado pelo facto de a equipa na universidade ser de primeira classe. São pessoas boas e com um sentido de propósito. Como é que a fé despertou em si? Não tenho consciência de nunca ter tido um sentido de confiança em Deus. Pensamos frequentemente em fé enquanto ascensão intelectual a uma série de proposições, e é isso, mas é mais, é um sentimento
de confiança. Tenho muita sorte de vir de uma família amorosa e estável. Era um ambiente acolhedor, onde a fé era tida por garantida. Não era algo que uma pessoa se sentisse forçada a fazer - tenho dois irmãos que, tanto quanto sei, não têm qualquer crença religiosa explícita, mas eu cresci com isso. Sou o filho mais velho, e os filhos mais velhos tendem a ser bastante respeitadores e obedientes. Era muito chegado à minha avó, uma mulher católica muito devota. Não fui criado católico, mas protestante, e era muito próximo da minha avó. Quando ficava com ela íamos juntos à missa. Tornou-se uma coisa natural. Mas não houve um momento em que subitamente algo me transformou em crente.
HOJE MACAU
“Somos uma instituição
Sobre o seu novo papel, o que imagina para a instituição? A universidade tem um número de aspectos que quando colocados em conjunto são uma proposta interessante. Somos a única universidade Católica da China, e isso significa que temos uma responsabilidade para com Macau e a China no sentido de sermos um local de testemunho de uma série de valores que são adquiridos na nossa fé. Mas que podemos reconhecer vastamente como valores humanos sobre a importância da dignidade da pessoa humana e das responsabilidades desta em relação à família e à sociedade. Somos também uma comunidade muito internacional, com mais de 40 nacionalidades no corpo estudantil da universidade, esse lugar de diálogo intercultural é muito importante, abre a visão de uma pessoa. Em terceiro, somos uma comunidade que tenta aprender e ensinar e trabalhar numa língua que não é primeira língua de ninguém na universidade. Temos muito poucos falantes de inglês como primeira língua. Penso que é uma combinação atractiva.
nascida do coração da Igreja, mas ao serviço da sociedade. Acho que antes de começar a traçar objectivos concretos tenho de ouvir muito. Ouvir a universidade, a Igreja, o Governo e a comunidade de Macau. Foi-me dito uma vez que temos uma boca e dois ouvidos, e que o melhor é usá-los nessa proporção.
Tem objectivos específicos que queira atingir? Acho que é demasiado cedo para dizer. Quero que a Universidade viva, prospere, cresça, seja consciente de, e apreciada pelo seu serviço à comunidade de Macau. À comunidade Católica de Macau em primeira instância, mas também de forma mais vasta. Penso que está na natureza do que uma universidade Católica deve ser:
“Não somos uma universidade com enormes reservas, por isso as decisões sempre tiveram de ser feitas com um olhar cuidadoso em relação ao impacto financeiro.”
Quais os principais desafios que espera encontrar? Teria tido uma lista diferente se me tivesse feito esta pergunta há seis meses, apesar de nessa altura não ter expectativa de ser reitor da universidade. Acho que no rescaldo do coronavírus o primeiro desafio que a universidade e toda a Macau terá de enfrentar é como voltar à vida normal. E será a vida normal depois do coronavírus igual ao que era antes? Inevitavelmente, não. Uma das coisas que me impressiona mais no novo Governo de Macau é como cuidadosamente, decididamente e sabiamente actuou. Não pode ter sido fácil lidar com isso. (...) Acho que vai afectar, por exemplo, o recrutamento internacional. A probabilidade de os estudantes virem este ano vai descer, isso pode fazer parte do desafio. Sinto
que o Governo de Macau vai responder ao período pós-vírus com o mesmo grau de certeza com que actuou durante esta fase. São muito sérios em relação à diversificação da economia e a educação superior tem um papel a desempenhar nisso. Penso que será um desafio para mim. Ponho isso quase acima de tudo o resto. Antes de isso estar na agenda havia todo o tipo de coisas, a maioria delas técnicas em relação ao funcionamento interno da Universidade, porque as decisões grandes e estratégicas, como a mudança para o Campus da Ilha Verde, por exemplo, foram parte do que o actual reitor atingiu (...). O seu predecessor a dada altura fechou cerca de 30 cursos. De momento, como estão as finanças da Universidade?
3 quarta-feira 1.4.2020 www.hojemacau.com.mo
de confiança”
isso de forma eficiente, acho que a situação financeira ao longo dos próximos anos vai gradualmente melhorar. Nunca vamos estar na situação das universidades de financiamento público, isso está na natureza de ser uma universidade privada.
“Trazer as nossas próprias noções de como a sociedade deve funcionar e ser governada, e assumir que são normativas para toda a gente parece-me neocolonialismo.”
Estáveis. Acho que [foi] uma das maiores conquistas na sua vida na universidade. Não somos uma universidade com enormes reservas, por isso as decisões sempre tiveram de ser feitas com um olhar
“Antes de começar a traçar objectivos concretos tenho de ouvir muito. Ouvir a universidade, a Igreja, o Governo e a comunidade de Macau. Temos uma boca e dois ouvidos, e o melhor é usá-los nessa proporção.”
cuidadoso em relação ao impacto financeiro. Em alguns aspectos tive sorte, com o meu tempo em Hong Kong e depois os 14 anos na diocese. O trabalho que fiz aí foi de director operacional e por isso tinha uma diocese com 73 escolas com 4500 professores, 27 mil crianças e 160 igrejas. Por isso, gestão financeira é algo que passei muito tempo da minha vida a fazer, estou confortável nesse mundo. O facto de o Padre Peter ter conseguido estabilizar e melhorar as finanças da universidade de tal forma que nos últimos quatro anos teve excedente é extraordinário, tendo em conta que é um académico teólogo sem experiência nesse mundo. Mas as finanças estão estáveis. A primeira tarefa nesse processo é demonstrar às pessoas o valor daquilo que temos a oferecer. E se fizermos
Um estudo da rede "Scholars at Risk" do ano passado concluiu que há uma erosão na autonomia das universidades em Macau. Como é que esta pressão na liberdade académica é sentida na USJ? Não tenho qualquer sensação de pressão na liberdade académica. Não estou ciente de que qualquer dos meus colegas sinta que esteja sob maior pressão do que poderia estar se ensinasse em Portugal ou no Reino Unido. Eu, certamente, não sinto. Fiz algumas conferências aqui, uma delas co-organizada com a Renmin University of China, e não senti qualquer sugestão de que tinha de ter cuidado com o que dissesse. Há algo de que talvez tenhamos perdido a visão, sob a influência do entendimento americano da liberdade de expressão, mas o direito a exprimir opiniões vem com uma responsabilidade. A responsabilidade dessas opiniões. A sensação que tenho, do que vi da nossa interação com o Governo de Macau, não é de estar sob pressão governamental para ser cuidadosos com o que dizemos e fazemos, de todo. É algo à volta de responsabilidade e carinho da parte deles. Claramente, quando estão a gastar o seu próprio dinheiro têm o direito de decidir para onde esse dinheiro vai. Uma vantagem de ser uma universidade privada é que não estamos tão dependentes disso. Vi o relatório do Scholars at Risk, e outro da Human Rights
Watch. É muito interessante, mas não é o que se sente em Macau. Qual a sua posição em relação a professores da universidade expressarem a sua opinião política pessoal em público ou nos meios de comunicação? Depende da forma como a pessoa o faz. Estou ciente que há alguns anos, um professor expressou opiniões de uma forma que a universidade teve de lhe dizer adeus. Esta é a interacção entre direitos e responsabilidades. Tivemos um grande caso de tribunal no Reino Unido há alguns anos, sobre a responsabilidade da Igreja e as acções dos padres. Um dos juízes colocou a situação da seguinte forma: se a Igreja puser alguém num púlpito, tem responsabilidade pelo que a pessoa diz, e essa pessoa tem responsabilidade para com a instituição, para garantir que não abusam da sua posição. As pessoas não costumam pedir a opinião do Stephen Morgan porque é o Stephen Morgan, pedem-me a minha opinião porque sou o director de uma faculdade. Quando expresso as minhas opiniões tenho de ter um sentido de responsabilidade por essa razão. Penso que é algo difícil de assimilar para europeus e norte-americanos, porque estamos muito habituados a um sentido de liberdade de expressão que é quase ao nível da permissão completa, sem consideração por consequências do que se diz. Para além disso, temos de reconhecer que enquanto estrangeiros temos o dever de compreender e respeitar a comunidade onde vivemos. Trazer as nossas próprias noções de como a sociedade deve funcionar e ser governada, e assumir que são normativas para toda a gente parece-me neocolonialismo. Quais as expectativas de a USJ receber estudantes da China Continental? Não sabemos porque é que não podemos receber estudantes da China Continental. Mas uma das coisas que aprendi quando estive nesta parte do mundo, há 25 ou mais anos, é que o importante é construir relações de confiança. Não se pode forçar a velocidade a que se constrói uma relação de confiança. Só se pode ganhar a confiança de alguém depois de um período de tempo em que há exposição mútua. Estive em Pequim em Janeiro com o reitor e um dos nossos vice-reitores e fomos
BILHETE DE IDENTIDADE Quando tinha 17 anos, os professores diziam a Stephen Morgan que devia ser académico. Optou pela Marinha Real. “Todos tomamos decisões aos 17 que talvez não sejam as melhores”, comentou. Depois estudou três anos para ser padre. Até que foi confrontado com uma decisão: um professor perguntou-lhe se queria ter filhos. Sem saber a resposta, tirou um ano para reflectir sobre o assunto. Não muito depois de sair do seminário conheceu a mulher de quem, dois meses e meio depois, ficou noivo, e com quem casou 10 meses depois. Já lá vão 30 anos. Com o objectivo de ganhar a vida para suportar a família, passou pelo ramo das finanças, que o levou a Hong Kong, de onde partiu em Dezembro de 1995, para educar o filho mais velho que estava quase a ir para a escola na Grã-Bretanha. Trabalhou em Londres, e em 2004 passou a ter como entidade patronal a Igreja de Inglaterra. Daí à ordenação como diácono foi um passo. Porém, decidiu abraçar o trabalho académico, estrada que o levaria Oxford, onde tirou mestrado em história eclesiástica e doutoramento em teologia. Stephen Morgan publicou o seu primeiro artigo antes de completar o mestrado, descobrindo que “tinha alguma facilidade nisso, era relativamente bom investigador e escritor”. Apercebeu-se já na casa dos 40 anos que afinal os professores da escola estavam certos. Deu aulas em Oxford e num Instituto Católico. Macau entrou-lhe vida adentro através de um padre chinês, seu amigo, que o alertou para uma vaga na Universidade de São José que exigia administrativas, de investigação e um pouco de ensino. Veio a Macau em Dezembro de 2017 para “dar uma vista de olhos” e regressou meses depois para uma entrevista. Foi selecionado, culminando “um percurso fora do padrão”, como reconhece.
recebidos aberta e graciosamente pelo United Front Work Department e pelos presidente e vice-presidente da Conferência Episcopal Católica. Vamos demonstrar que somos uma instituição em que se pode confiar, e com tempo isso pode abrir a nossa universidade a receber estudantes da China Continental. Mas a estratégia da universidade não depende disso. Salomé Fernandes
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4 coronavírus
1.4.2020 quarta-feira
COVID-19 TERMINA TRANSPORTE ESPECIAL DE RESIDENTES PARA MACAU
Sem terceira fase
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Governo de Macau deixa de prestar, a partir de hoje, o apoio na concessão de transporte especial para residentes que regressem de países estrangeiros para o aeroporto internacional de Hong Kong. A medida teve duas fases, compreendidas entre os dias 17 e 22 e entre 22 e 31 de Março, e não será prolongada, disse ontem Inês Chan, representante da Direcção dos Serviços de Turismo (DST). “Esta medida foi adoptada há 15 dias e em todo o mundo estão a ser adoptadas diferentes medidas de prevenção e há muitas limitações, como o fecho das fronteiras. Devido a este desenvolvimento mundial não teremos mais a operação para ir buscar residentes ao aeroporto de Hong Kong”, explicou. Até ontem existiam ainda 129 pessoas inscritas junto do Gabinete de Gestão de Crises de Turismo para terem acesso a este apoio, mas podem ainda surgir constrangimentos a muitas pessoas
SOFIA MARGARIDA MOTA
Acabou a segunda e última fase da medida de transporte especial de residentes do aeroporto internacional de Hong Kong para o território. Até ontem existiam ainda 129 pessoas inscritas para esse apoio. Governo sugere a residentes para ponderarem bem o regresso
que estão em trânsito ou a pensar voltar a Macau. “Hoje [ontem, 31 de Março] vamos buscar mais 129 pessoas. Será que todas essas pessoas vão conseguir apanhar os voos para regressarem a Hong Kong? Estamos a contactar com os residentes que fizeram o check-in, mas podem existir situações em que os voos internos tenham sido cancelados, podendo existir obstáculos para apanhar depois o voo para Hong Kong”, adiantou Inês Chan. Até esta segunda-feira, 30, o Governo de Macau transportou um total de 2007 residentes no âmbito desta medida, tendo recebido mais dois pedidos adicionais de consulta relativos ao regresso à RAEM. “Não podemos pedir apoio a Hong Kong sem limites só para ir buscar os residentes de Macau. Também temos de respeitar as regras do Governo vizinho.”
QUE ALTERNATIVAS?
ZHUHAI TNR VOLTAM A PODER FAZER QUARENTENA
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assa a estar activo, a partir de hoje, o local, em Zhuhai, destinado à quarentena de trabalhadores não residentes (TNR) que visitaram ou estiveram no Interior da China e que pretendam entrar em Macau. Ontem, na habitual conferência de imprensa do centro de coordenação e contingência do novo coronavírus, o agente da Polícia de Segurança Pública (PSP) declarou que o local anteriormente designado para a quarentena deixa, assim, de estar suspenso, sendo que os TNR devem munir-se de uma declaração médica que comprove que não estão infectados antes de entrarem no território. PUB
Quem não for residente de Hong Kong não tem sequer oportunidade para fazer check-in, mesmo que esteja ainda na Europa ou noutro país estrangeiro. Inês Chan falou ainda de outras alternativas. “Quem tem salvo conduto e pode viajar para a China pode depois voltar por essa via, é uma possibilidade, mas quem não tem não há hipótese. Alguns são residentes de Macau e também portadores do BIR de Hong Kong. Há dias fomos contactados por um estudante que se encontra em Portugal e que, primeiro, decidiu ficar no país, mas só hoje quis voltar a Macau, mas já não há bilhetes”, exemplificou a responsável da DST.
“Não podemos pedir apoio a Hong Kong sem limites só para ir buscar os residentes de Macau. Também temos de respeitar as regras do Governo vizinho.” INÊS CHAN REPRESENTANTE DOS SERVIÇOS DE TURISMO
Inês Chan disse não poder dar resposta relativamente a todos os residentes que se encontrem no exterior, tendo alertado para que estes ponderem bem o seu regresso. “Fazemos um apelo porque é necessário tomar uma decisão com prudência. Se os residentes quiserem voltar a Macau podem consultar outros meios mas têm de ter em conta as medidas de contenção, porque a sua deslocação pode ser impedida”, rematou. Andreia Sofia Silva
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SSM REGISTADOS 41 CASOS. MENINA DE 9 ANOS “EM RECUPERAÇÃO”
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STA terça-feira foram registadas mais duas ocorrências de covid-19, registados como 40.º e 41.º casos confirmados. O 40º caso, a doente é uma mulher de 47 anos de idade, residente de Macau, doméstica, que regressou a Macau proveniente do Reino Unido, enquanto o 41º caso foi diagnosticado num homem de 20 anos de idade, estudante no Reino Unido, filho do 40º caso. A mãe e o filho chegaram a Hong Kong na tarde do dia 27 de Março, vindos de Londres, e foram transportados até Macau pelo transporte exclusivo do Gabinete de Gestão de Crises do Turismo através da Ponte Hong Kong-Zhuhai-Macau. Foram encaminhados ao Hotel Dragão Royal para observação médica, tendo realizado ontem testes de zaragatoa nasofaríngea cujos resultados foram positivos confirmando a pneumonia causada pelo novo tipo de coronavírus. Já o 39º caso de infecção com o novo coronavírus, é o de uma menina de 9 anos filha do 34º infectado. A menina terá contraído a covid-19 nas Filipinas, para onde viajou a 17 de Janeiro com o pai e o irmão para visitar a mãe. Ao início não apresentava sintomas, tendo sido feitos testes a 26 de Janeiro, com resultado negativo, e mais dois testes no dia seguinte, em que um deles deu positivo. “Achamos que contraiu a doença nas Filipinas, a criança não sentiu nada, mas já apresentava sintomas. Os resultados dos testes deram primeiro negativo e depois positivo. Achamos que não é um caso muito especial, porque a criança apanhou a doença naquele país e não se sentiu mal”, disse o médico Alvis Lo. O profissional de saúde acrescentou que não se trata de uma nova infecção e que o facto de ter apresentado sintomas depois de quatro semanas está relacionado com o desenvolvimento do vírus no corpo humano. “Normalmente, após uma primeira infecção, há casos em que pode aparecer novamente o resultado positivo. Ela está na fase de recuperação, estamos a fazer um tratamento anti-viral e não consideramos que é uma nova infecção”, concluiu Alvis Lo.
política 5
quarta-feira 1.4.2020
Mais vale tarde…
OPERADORAS DIVERSIFICAÇÃO NÃO DEVE ATROPELAR PME, DEFENDEM DEPUTADOS
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Os deputados querem que o Governo exija às operadoras uma aposta maior em actividades fora do âmbito do jogo e deram mesmo ideias a ser incluídas nos futuros contratos de concessão. No entanto, estas não devem entrar no raio de acção das pequenas e médias empresas
Obrigações além jogo
Governo admitiu ontem vir a aumentar o tecto máximo das indemnizações resultantes de acidentes de trabalho, sendo que para os casos de morte a actualização deverá ser entre os oito e os 10 por cento. O anúncio foi feito ontem por Ng Wai Han, subdirectora dos Serviços para os Assuntos Laborais (DSAL), em resposta a uma interpelação oral levada ao plenário pelo deputado Lam Lon Wai. “Tendo em contas as partes patronal e laboral e o diálogo com as associações das companhias seguradoras, em Novembro do ano passado, na reunião geral do Conselho Permanente de Concertação Social, concordámos com a actualização dos valores através de uma ordem executiva. Estamos a proceder à actualização das normas”, afirmou Ng Wai Han. Apesar da luz verde em matéria compensações resultantes de acidentes de trabalho, foram vários deputados a mostrar preocupação com os atrasos do Governo na actualização de diplomas relacionados com questões laborais. Isto porque a lei prevê, por exemplo, que seja feita uma revisão anual do salário mínimo ou uma revisão bianual do montante mensal que serve de base para calcular as indemnizaçoes em caso de despedimento por justa causa, mas na realidade isso não tem acontecido. A deputada Ella Lei, lamentou mesmo a “lentidão de trabalho, a falta de transparência e a revisão não atempada das leis”. “O limite máximo das prestações por morte, em caso de acidente laboral ou doença profissional não é alterado desde 2011. O salário mínimo até pode não ser actualizado, mas o Governo tem de analisar os dados, ouvir as opiniões da população e divulgar a sua decisão”, apontou Ella Lei.
FERIDAS RECENTES
TURISTAS, PRECISAM-SE
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A R A muitos deputados, a crise provocada pelo surto do novo tipo de coronavírus veio pôr a nu a necessidade de apostar na diversificação económica de Macau e, por isso mesmo, foram inúmeras as ideias lançadas ontem pelos próprios sobre o que deve ser exigido às operadoras de jogo, nos futuros contratos de concessão, depois de 2022. Contudo, numa sessão plenária dedicada a interpelações orais, os deputados alertaram o Governo que estas actividades além-jogo não devem colidir com os negócios tradicionais das pequenas e médias empresas (PME), como a restauração e o retalho. As intervenções surgiram na sequência de uma interpelação oral de Si Ka Lon sobre a necessidade de se investir noutras
indústrias além do jogo, para se promover Macau como Centro Mundial de Turismo e Lazer A organização de eventos desportivos e culturais foram desde logo as actividades além-jogo apontadas pelos deputados Mai Chi Seng e Mak Soi Kun, nas quais as concessionárias deviam apostar. “É necessário entender bem a definição de actividades além-jogo. Por exemplo, penso que
“Se a competitividade além-jogo for só no sector da restauração (…) vai contribuir para criar maior concorrência.” MAK SOI KUN DEPUTADO
AMCM Obrigações verdes vão poder ser emitidas Em resposta a uma interpelação oral do deputado Ip Sio Kai, a Autoridade Monetária de Macau (AMCM) admitiu ontem avançar com uma revisão do sistema financeiro do território até ao final do primeiro semestre de 2020. De acordo com Benjamin Chan, que preside à AMCM, na nova proposta de lei vai estar contemplada a emissão de obrigações, incluindo as chamadas obrigações verdes. Também conhecidas por “green bonds”, estes títulos da dívida são em tudo
podemos pensar em competições desportivas e eventos de grande dimensão que impliquem convidar cantores de renome e para os quais o Governo não tem capacidade de investir. Já se a competitividade além-jogo for só no sector da restauração, isso não é realista, porque vai contribuir para criar maior concorrência”, expôs Mak Soi Kun. Já o deputado Wang Sai Man sugeriu que sejam atribuídas às concessionárias a responsabilidade de revitalizar um determinado espaço geográfico dentro da cidade, para “evitar que o consumo da população seja desviado para os grandes complexos em detrimento dos sectores tradicionais”. Para proteger as PME, o deputado Zheng Anting sugeriu ainda que as operadoras pudessem assumir alguns dos negócios do sector tradicional.
semelhantes às obrigações comuns, mas têm como objectivo financiar projectos ambientais. “A AMCM já lançou uma equipa de trabalho e depois de tomarmos como referência a experiência das regiões vizinhas, estamos agora preparados para alterar o nosso regime financeiro”, afirmou Benjamin Chan. O responsável explicou ainda que a alteração ao sistema financeiro está a ser feito de modo a que “os países de língua portuguesa também possam participar”.
Sobre o desenvolvimento de Macau como Centro Mundial de Turismo e Lazer, a Directora dos Serviços de Turismo, Maria Helena de Senna Fernandes afirmou que apesar de o objectivo ser o de “atrair cada vez mais turistas internacionais”, a situação provocada pela covid-19 obriga a apostar, no imediato, no mercado do Interior da China por ser mais “prático” e pelo actual contexto internacional. Defendendo que “atrair turistas para Macau é trabalho do Governo”, a deputada Song Pek Kei questionou as autoridades sobre a estratégia a adoptar. Em resposta, o Governo afirmou estar a desenvolver novos produtos turísticos assentes em vectores como a gastronomia e roteiros marítimos, assegurando que está a “fazer todos os esforços para apoiar os sectores que estão a sofrer com a epidemia”. Pedro Arede
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RÓMULO SANTOS
O deputado Sulu Sou considerou “inaceitável” o facto de a taxa de inflação não ter sido tida em conta para o cálculo da actualização de montates relacionados com as questões laborais e relembrou o recente acidente no estaleiro de obras de construção da terceira fase de expansão do Cotai Galaxy Resort que provocou três mortos e quatro feridos. O legislador alertou ainda para a necessidade de se alargar o leque de membros do Conselho Permanente de Concertação Social, de modo a elevar a representatividade do órgão. P.A.
Outros deputados como Chui Sai Peng ou Pang Chuan sublinharam que a indústria do jogo contribui para impulsionar outros sectores de actividade, com o último a sugerir que seja desenvolvida em Macau “uma indústria da produção de cartas e slot machines”. Na resposta, o director dos Serviços de Inspecção e Coordenação de Jogos (DICJ), Paulo Martins Chan considerou “preciosas” as opiniões dos deputados e assegurou que serão tidas em conta pelo o Governo, quando chegar a hora de assinar os novos contratos com as operadoras.
GCS
Indemnização em caso de morte vai ser actualizada até 10%
6 sociedade
1.4.2020 quarta-feira
SEGURANÇA POLÍCIA JUDICIÁRIA FICA COM VAGAS DE CONTRATAÇÃO DOS BOMBEIROS E PSP
Os homens do secretário
Com poderes reforçados para combater as ameaças ao Estado, a Polícia Judiciária vai precisar de contratar mais agentes. Só na área forense está prevista a contratação de 58 técnicos e técnicos superiores da AL. “Sabemos que há falta de pessoal na PJ, que vai enfrentar cada vez mais trabalho, devido a essas leis. Por isso, é necessário contratar mais talentos para esta área, também de forma a satisfazer as necessidades de investigação criminal”, acrescentou. A transferência das vagas, em vez do aumento do número de pessoal da tutela, tem em conta a política prometida por Ho Iat Seng no programa de candidatura a Chefe do Executivo. Segundo essas linhas de orientação, o Governo ia evitar ao máximo aumentar os seus quadros e proceder a contratações de forma muito rigorosa. “No novo mandato o governo da RAEM tinha referido que ia ser mais exigente na contratação de trabalhadores. Portanto, o secretário referiu que em vez de aumentar o número de vagas para contratação na sua tutela que iria transferi-las para a Polícia Judiciária”, apontou o deputado. Ainda de acordo com Ho Ion Sang, os deputados presentes na reunião da 1.ª comissão não mostraram qualquer reserva perante a medida.
MAIS 58 CONTRATAÇÕES
A
execução das Lei de Defesa do Estado, Cibersegurança e Criminalidade Informática carece de reforço dos quadros da Polícia Judiciária (PJ). Para o efeito, vão ser disponibilizadas vagas de contratação de pessoal do Corpo de Bombeiros (CB) e Corpo de Polícia de Segurança Pública (CPSP). A informação foi transmitida por Wong Sio Chak, após uma reunião na Assembleia
Legislativa para discutir o regime de carreiras especiais da PJ. “Tendo em conta que foram aprovadas várias leis, nomeadamente a Lei da Segurança do
Estado, Cibersegurança, entre outras, é necessário aumentar o número do quadro de pessoal da Polícia Judiciária”, afirmou Ho Ion Sang, presidente da 1.ª Comissão
O número de técnicos superiores de ciências forenses vai crescer dos actuais 23 para 56 profissionais. Já o número de técnicos forenses vai quase triplicar, de 13 para 38
O conjunto de leis mencionado anteriormente explica a necessidade de proceder a 58 novas contratações. Assim sendo, o número de técnicos superiores de ciências forenses vai crescer dos actuais 23 para 56 profissionais. Já o número de técnicos forenses vai quase triplicar, de 13 para 38. O presidente da comissão explicou ainda que as vagas serão ocupadas por pessoal altamente especializadas para a recolha de provas materiais. Por exemplo, vão ser contratados técnicos especializados em química, a pensar nos crimes de droga, biologia, para análise de ADN, ou em engenharias e física, a pensar na balística. João Santos Filipe
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Iao Hon Incêndio afectou 12 pessoas
Um incêndio na manhã de ontem, por volta das 11h30, no Edifício Heng Long, no Bairro do Iao Hon, obrigou à retirada de 12 pessoas do prédio. As chamas deflagraram numa unidade no segundo andar, que as autoridades acreditam que funcionavam como dormitório, mas a única mulher presente na fracção, à altura da ocorrência, conseguiu sair pelos próprios meios, pelo que não se registaram feridos. O fogo começou no canto de um quarto e foi rapidamente extinto pelos bombeiros. Ontem, a origem das chamas ainda estava a ser investigada, de acordo com o Macau Daily.
CPSP Mulher andava nua na rua
Uma mulher, com cerca de 40 anos, foi ontem encontrada sem roupa na Rua de Pedro Nolasco da Silva, pelas 10h00. Além das imagens terem sido captadas e colocadas a circular online, a mulher acabou interceptada por dois agentes que a transportaram para o hospital. Ao HM, fonte do Corpo de Polícia de Segurança Pública confirmou que a pessoa em causa é residente e sofre de problemas psíquicos, o que fez com que tivesse adoptado aquele comportamento. Por este motivo não vai responder por qualquer infracção. Após ter identificado a mulher, as autoridades acabaram por entrar em contacto com os familiares, para lidarem com a situação.
DSSOPT Executivo recupera dois terrenos
O Governo recuperou ontem de manhã dois terrenos na Baía da Praia Grande, identificados com os Lotes C10 e C11, que ficam à frente da Assembleia Legislativa. Um dos terrenos com 3.490 metros quadrados fica no cruzamento entre a Rua do Lago Sai Van, a Avenida Doutor Stanley Ho e a Rua Oeste de Entre Lagos. O outro, com uma área de 3.232 metros quadrados, situa-se no cruzamento entre a Rua Oeste de Entre Lagos, Rua Sul de Entre Lagos e a Rua do Lago Sai Van. O Executivo avançou para acção de despejo, depois de os prazos legais para a desocupação voluntária terem sido ultrapassados.
sociedade 7
quarta-feira 1.4.2020
Aeroporto Fluxo de passageiros desce 45%
O número de passageiros no Aeroporto Internacional de Macau caiu 45 por cento, entre o início do ano e 30 de Março, enquanto os voos caíram 55 por cento, em relação ao período homólogo em 2019, de acordo com dados divulgados ontem pela CAM, a sociedade que gere o aeroporto. “Devido à epidemia desencadeada pela covid-19 desde o início deste ano, a procura pela indústria da aviação caiu drasticamente”, apontou em comunicado a entidade. A Direcção dos Serviços de Estatística e Censos, que também divulgou dados ontem, especificou que em Fevereiro houve um total de 1.138 voos comerciais, o que representou uma quebra de 79,6 por cento em relação a Fevereiro de 2019, com particular destaque para os voos entre Macau e o Interior da China que diminuíram 88,4 por cento.
Acidentes Número cai mais de 62 por cento
Em Fevereiro de 2020 houve 432 acidentes de viação, uma quebra de 62,6 por cento em termos anuais, em que se registaram 150 feridos, revelam dados da Direcção dos Serviços de Estatística e Censos (DSEC). Até ao final do mês em análise houve um aumento ligeiro de veículos matriculados em Macau, sendo que o número com matrículas novas equivaleu a 436 o que representa menos 39,9 por cento do que em Fevereiro do ano passado. Com uma queda na ordem dos 65 por cento do movimento de automóveis nos postos fronteiriços, observou-se a tendência inversa na Ponte Hong Kong-Zhuhai-Macau. Aí, o movimento de 21.897 automóveis representou mais 11,2 por cento em termos anuais. Ao nível das mercadorias, as toneladas de entrada e saída de carga em contentores por via terrestre aumentou cerca de 15 por cento a nível anual. Por outro lado, houve mais pessoas a usarem telemóvel e os assinantes de serviços de internet cresceram 8,4 por cento. Foram usadas 128 milhões de horas destes serviços.
Ensino Superior Exame de Acesso este mês
O Exame Unificado de Acesso ao Ensino Superior de Macau para o próximo ano lectivo vai decorrer entre 16 e 19 de Abril. As datas foram acordadas depois de um encontro entre os representantes da Universidade de Macau, Instituto Politécnico de Macau, Instituto de Formação Turística de Macau e Universidade de Ciência e Tecnologia de Macau. Os exames avaliam as disciplinas de Português, Chinês, Inglês e Matemática e servem para aceder às instituições em causa. Face à pandemia da covid-19, há medidas especiais para a realização das provas que passam pela utilização de máscaras, reforço de limpeza e desinfecção das salas de exame, maior distância entre as cadeiras e o preenchimento da declaração de saúde.
O Governo está a impedir a circulação nos trilhos, o que faz com que os praticantes do ciclismo todo-o-terreno fiquem sem qualquer lugar para a modalidade. Segundo o IAM, os ciclistas podem utilizar as ciclovias alcatroadas
O
Instituto para os Assuntos Municipais (IAM) está a impedir a circulação de bicicletas nos trilhos, o que faz com que os fãs da modalidade todo-o-terreno (BTT), ou seja de ciclismo fora de estrada, fiquem sem locais para praticar desporto. O IAM justifica a medida com a necessidade de garantir a segurança das pessoas que caminham nos trilhos. Porém, para os praticantes ouvidos pelo HM nada impede que se criem vias especiais só para as bicicletas, ou que estas estejam autorizadas a circular em determinadas horas. O que é visto como incompreensível é o facto de se ter optado pela proibição sem alternativas. “Os praticantes da modalidade sentem uma enorme frustração e preocupação ao verem as autoridades de Macau impedirem, de forma sistemática e activa, a prática deste desporto. [...] O Governo utiliza como argumento a segurança. E só tenho a dizer que concordo, respeito e até acompanho a preocupação”, começou por ressalvar Ricardo Lopes, residente que pratica BTT há mais de 30 anos. “Mas a forma de resolver este assunto não é escorraçar os
IAM PROIBIDA CIRCULAÇÃO DE BICICLETAS NOS TRILHOS DE MACAU
Sem volta a dar ciclistas, atirá-los para debaixo do tapete, como se fossem um não-assunto. Não quero enviar farpas, mas é abusivo agir desta forma porque a proibição torna-nos completamente discriminados em relação aos outros desportos. Com a proibição não temos um único local para praticar este desporto”, explicou. A mesma opinião é partilhada por Sérgio Guiu, que também defende alternativas para a circulação das bicicletas em condições de todo-o-terreno. Praticante há mais de 20 anos, admite que já foi por várias vezes expulso dos trilhos pelos trabalhadores do IAM: “O Governo deveria de forma clara criar condições e autorizar a prática do BTT. Não vejo uma razão para que não se criem estas condições”, considerou. “Os trilhos onde as pessoas fazem caminhadas teriam sempre que exigir que houvesse prioridade para quem está a pé. Também
tem de haver uma moderação da velocidade por parte dos ciclistas. Aceitamos isso. Mas, paralelamente nada impede que se criem trilhos que possam ser utilizados para a prática de BTT. Não vejo razão para o Governo não o fazer”, apontou.
LUGARES RECOMENDADOS
Ao HM, o IAM justificou a proibição com a segurança das pessoas que caminham nos tri-
“Nada impede que se criem trilhos que possam ser utilizados para a prática de BTT. Não vejo razão para o Governo não o fazer.” SÉRGIO GUIU PRATICANTE DE BTT
lhos. Por outro lado, defendeu que o Regulamento Geral de Espaços Públicos permite proibir a circulação das bicicletas, apesar do Despacho do Chefe Executivo n.º 432/2005, que complementa o regulamento, abrir uma excepção para a entrada de bicicletas nos trilhos. “Circular de bicicleta nos trilhos pode representar um perigo para o condutor e para as pessoas que caminham neste espaço público. A proibição de utilizar a bicicleta nos trilhos está devidamente assinalada em todas as entradas e saídas dos trilhos, sendo que o infractor pode ser punido nos termos do Regulamento Geral de Espaços Públicos”, sustentou o organismo ao HM. “Para a sua segurança e dos utilizadores dos trilhos, os ciclistas devem usar a ciclovia da Marginal da Taipa ou a ciclovia Flor de Lótus”, foi acrescentado pelo HM.
Estes espaços são alcatroados, o que impede a prática de BTT. No entanto, Ricardo Lopes, praticante e advogado, faz uma leitura diferente do IAM, uma vez que entende que o despacho assinado por Edmund Ho, que complementa o Regulamento Geral de Espaços Públicos, permite mesmo a circulação de bicicletas nos trilhos. Quanto à Associação Geral de Ciclismo de Macau, contactada pelo HM, através do representante e deputado Chan Chak Mo, apontou que houve conversas anteriores com o Governo sobre o assunto. Na altura, o IAM terá escutado opiniões da associação sobre a criação de um espaço temporário só para bicicletas BTT. “Concordamos com a sugestão e esperamos que essa zona seja criada. Segundo o Executivo, deverá ser complicado ter uma zona permanente, mas uma temporária pode ser mesmo criada. E estamos de acordo”, afirmou Chan Chak Mo, ao HM. Questionado sobre este projecto e uma possível data de arranque, o IAM não respondeu. João Santos Filipe joaof@hojemacau.com
8 coronavírus
(À HORA DO FECHO DA EDIÇÃO)
TOP 20 DOS PAÍSES
30409 Em estado crítico
802967
172396
Infectados (total cumulativo)
COM MAIS CASOS 164435
Itália
101739
Espanha
94417
China
81518
Alemanha
67051
Irão
44605
França
40174
Reino Unido
22141
Suiça
16176
Bélgica
12775
Holanda
12595
Turquia
10827
Áustria
9920
Coreia do Sul
9786
Canadá
7474
Portugal
7443
Israel
4831
Brasil
4661
Noruega
4592
Austrália
4557
Suécia
4435
Curados
Co novel
591546 Infectados
(total cumulativo)
E.U.A.
1.4.2020 quarta-feira
(casos activos)
43 Curados
PORTUGAL
160 Mortos
PAÍSES LUSÓFONOS (total cumulativo)
Portugal
7443
Brasil
4661
Moçambique
8
Angola
7
Guiné-Bissau
4
Timor-Leste
1
Cabo Verde
6
São Tomé e Principe
0
PORTUGAL
países sem casos de nCov
Infectados (casos activos)
31 MACAU
PAÍSES ASIÁTICOS (total cumulativo)
China
81518
China | Macau
41
China | Hong Kong
714
China | Taiwan
322
Coreia do Sul
9786
Japão
1953
Vietname
207
Laos
9
Cambodja
109
Tailândia
1651
Filipinas
2084
Myanmar
8
Malásia
2766
Indonésia
1528
Singapura
926
Borneo
129
7240
países com casos de nCov
Infectados (casos activos)
10 Curados
HONG KONG
582 Infectados
Macau
(casos activos)
4
HONG KONG
128 Curados
Hong Kong
Mortos
quarta-feira 1.4.2020
coronavírus 9
22872
ovid-19 l coronavírus
Casos suspeitos
39025 Mortos
0 1-9 10-99 100-499 500-999 FONTES:
+1000
• https://gisanddata.maps.arcgis.com/apps/ opsdashboard/index.html#/ • https://www.who.int/emergencies/diseases/ novel-coronavirus-2019/situation-reports bda7594740fd40299423467b48e9ecf6 • https://www.cdc.gov/coronavirus/2019-ncov/ index.html • https://www.ecdc.europa.eu/en/geographical-distribution-2019-ncov-cases • http://www.nhc.gov.cn/yjb/s3578/new_list.shtml • https://ncov.dxy.cn/ncovh5/view/pneumonia
Ocorrências nas áreas afectadas
Dados actualizados até à hora do fecho da edição
Covid-19 vs SARS
CHINA NÚMERO DE INFECTADOS E MORTOS POR REGIÃO
400000 150000 100000 75000 50000 25000 12500 0
20
40
60
dias dias dias Dia em que a OMS recebeu os primeiros avisos do surto
80
dias
100
dias
120
dias
REGIÃO Hubei Guangdong Henan Zhejiang Hunan Anhui Jiangxi Shandong Jiangsu Chongqing Sichuan Heilongjiang Pequim Xangai Hebei Fujian Guangxi
INFECTADOS 67801 1475 1276 1254 1018 990 935 760 631 576 538 480 414 337 318 296 294
MORTOS 2641 7 20 1 4 6 1 6 5 6 3 13 5 3 6 1 2
REGIÃO Shaanxi Yunnan Hainan Guizhou Shanxi Tianjin Liaoning Gansu Jilin Xinjiang Mongólia Interior Ningxia Hong Kong Taiwan Qinghai Macau Tibete
INFECTADOS 245 174 168 146 132 136 121 91 91 76 75 71 162 77 18 13 1
MORTOS 2 2 5 2 0 3 1 2 1 2 0 0 3 1 0 0 0
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Anúncio Concurso Público N.º 5/ID/2020 « Serviços de limpeza na Sede e no Edifício Administrativo da Ala Oeste Instituto do Desporto » Nos termos previstos no artigo 13.o do Decreto-Lei n.o 63/85/M, de 6 de Julho, e em conformidade com o despacho da Ex.ma Senhora Secretária para os Assuntos Sociais e Cultura, de 24 de Março de 2020, o Instituto do Desporto, vem proceder, em representação do adjudicante, à abertura do concurso público para os serviços de limpeza na Sede e no Edifício Administrativo da Ala Oeste do Instituto do Desporto durante o período de 1 de Julho de 2020 a 30 de Junho de 2022. A partir da data da publicação do presente anúncio, os concorrentes podem dirigir-se ao balcão de atendimento da sede do Instituto do Desporto, sito na Avenida do Dr. Rodrigo Rodrigues, n.º 818, em Macau, no horário de expediente, das 9,00 às 13,00 e das 14,30 às 17,30 horas, para consulta do processo de concurso ou para obtenção da cópia do processo, mediante o pagamento de $500,00 (quinhentas) patacas. Pode ainda ser feita a transferência gratuita de ficheiros pela internet na área de «Informação relativa à aquisição» da página electrónica do Instituto do Desporto: www.sport.gov.mo. Os concorrentes devem comparecer na sede do Instituto do Desporto até à data limite para a apresentação das propostas para tomarem conhecimento sobre eventuais esclarecimentos adicionais.
1.4.2020 quarta-feira
Aviso Faz-se público que, por despacho do Ex.mo Senhor Secretário para os Transportes e Obras Públicas, de 4 de Março de 2020, se encontra aberto o concurso de avaliação de competências profissionais ou funcionais, externo, do regime de gestão uniformizada, para o preenchimento de três lugares vagos de motorista de ligeiros, 1.º escalão, da carreira de motorista de ligeiros, em regime de contrato administrativo de provimento do Gabinete para o Desenvolvimento de Infra-estruturas. Os detalhes e outras informações sobre o concurso podem ser consultados no Boletim Oficial da Região Administrativa Especial de Macau, n.º 14, II Série, de 1 de Abril de 2020, e na página electrónica da Direcção dos Serviços de Administração e Função Pública (http://www.safp.gov.mo/) e deste Gabinete (http://www.gdi.gov.mo/). Gabinete para o Desenvolvimento de Infra-estruturas, aos 24 de Março de 2020. O Coordenador Lam Wai Hou
O prazo para a apresentação das propostas termina às 12,00 horas do dia 27 de Abril de 2020, segunda-feira, não sendo admitidas propostas fora do prazo. Em caso de encerramento do Instituto do Desporto na data e hora limites para a apresentação das propostas acima mencionadas, por motivos de tufão ou de força maior, a data e a hora limites estabelecidas para a apresentação das propostas serão adiadas para a mesma hora do primeiro dia útil seguinte. Os concorrentes devem apresentar a sua proposta dentro do prazo estabelecido, na sede do Instituto do Desporto, no endereço acima referido, acompanhada de uma caução provisória no valor de $100 000,00 (cem mil) patacas. Caso o concorrente opte por garantia bancária, esta deve ser emitida por um estabelecimento bancário legalmente autorizado a exercer actividade na Região Administrativa e Eespecial de Macau e à ordem do Instituto do Desporto ou efectuar um depósito em numerário ou em cheque emitido a favor do Instituto do Desporto na mesma quantia, a entregar na Divisão Financeira e Patrimonial, sita na sede do Instituto do Desporto.
Aviso
O acto público do concurso terá lugar no dia 28 de Abril de 2020, terça-feira, pelas 9,30 horas, no auditório da sede do Instituto do Desporto, sito na Avenida do Dr. Rodrigo Rodrigues, n.o 818, em Macau. Em caso de encerramento do Instituto do Desporto na data e hora para o acto público do concurso acima mencionadas, por motivos de tufão ou de força maior, ou em caso de adiamento na data e hora limites para a apresentação das propostas, por motivos de tufão ou de força maior, a data e hora estabelecidas para o acto público do concurso serão adiadas para a mesma hora do primeiro dia útil seguinte.
Faz-se público que, por despacho do Ex.mo Senhor Secretário para os Transportes e Obras Públicas, de 20 de Março de 2020, se encontra aberto o concurso de avaliação de competências profissionais ou funcionais, externo, do regime de gestão uniformizada, para o preenchimento de dois lugares vagos de auxiliar, 1.º escalão, da carreira de auxiliar, área de servente, em regime de contrato administrativo de provimento do Gabinete para o Desenvolvimento de Infra-estruturas. Os detalhes e outras informações sobre o concurso podem ser consultados no Boletim Oficial da Região Administrativa Especial de Macau, n.º 14, II Série, de 1 de Abril de 2020, e na página electrónica da Direcção dos Serviços de Administração e Função Pública (http://www.safp.gov.mo/) e deste Gabinete (http://www.gdi.gov. mo/).
As propostas são válidas durante 90 dias a contar da data da sua abertura.
Gabinete para o Desenvolvimento de Infra-estruturas, aos 24 de Março de 2020.
Instituto do Desporto, aos 1 de Abril de 2020. O Presidente, Pun Weng Kun
O Coordenador Lam Wai Hou
china 11
quarta-feira 1.4.2020
A
S autoridades de Taiwan revelaram ontem à Lusa terem informado o Centro Europeu de Prevenção e Controlo das Doenças, no final de Janeiro, sobre uma mulher que testou positivo para a covid-19 depois de regressar da Europa. Trata-se de uma guia turística residente em Taiwan, que acompanhou, entre 16 e 25 de Janeiro, um grupo de turistas oriundos de Wuhan, o epicentro do novo coronavírus, numa visita a vários países europeus. Numa entrevista por escrito à agência Lusa, o Centro de Comando Central da Epidemia (CECC, na sigla em inglês) de Taiwan revelou que o caso de infecção referido foi o quarto detectado pelas autoridades da ilha, em 27 de Janeiro passado. A mulher apresentou sintomas como tosse no regresso, a partir de Cantão, onde fez escala no regresso da Europa, pelo que foi submetida a um exame médico no aeroporto. "Considerando que a paciente tinha visitado vários países europeus, nós informámos, não apenas a Organização Mundial da Saúde sobre o quarto caso, como também o Centro Europeu de Prevenção e Controlo das Doenças", apontou a CECC. A mesma fonte explicou à Lusa como agiu semanas antes de as autoridades em Pequim reconhecerem a existência de um surto ou que a doença era infecciosa entre seres humanos. "Em 31 de Dezembro passado, no mesmo dia em que foram noticiados os primeiros casos de uma pneumonia viral em Wuhan, começámos a realizar exames médicos a todos os passageiros que chegavam da cidade", contou. "A partir de 5 de Janeiro, os hospitais em todo o país foram
TAIWAN PRIMEIRO CASO ORIUNDO DA EUROPA DETECTADO EM JANEIRO
de saúde, visando atribuir um nível de risco infeccioso com base no percurso dos últimos 14 dias - o período máximo de incubação da doença.
A tempo e horas
“Considerando que a paciente tinha visitado vários países europeus, nós informámos, não apenas a Organização Mundial da Saúde sobre o quarto caso, como também o Centro Europeu de Prevenção e Controlo das Doenças.” CENTRO DE COMANDO CENTRAL DA EPIDEMIA DE TAIWAN
ordenados a relatar e testar qualquer caso de pneumonia por causas desconhecidas", detalhou. As revelações ajudam a explicar o contraste entre vários países asiáticos, que apesar da proximidade com a China contiveram o surto logo no estágio inicial, e a Europa, que é agora o epicentro da pandemia do novo coronavírus. Com cerca de 23 milhões de habitantes, entre os quais mais de um milhão a viver e a trabalhar na República Popular da China, Taiwan contabiliza apenas 306 casos de infecção pela covid-19, a grande maioria importados do exterior. Hoje, países que fazem fronteira com a China, como o Vietname ou a Mongólia têm 204 e 12 casos, respectivamente. No conjunto, o
continente europeu regista mais de 413 mil infectados e mais de 26.500 mortos.
APRENDER COM A SARS
O CECC revelou ter escrito à OMS, em 31 de Dezembro, a pedir informações sobre a nova doença, incluindo se era transmissível entre seres humanos. "Perguntámos se havia possibilidade de transmissão entre seres humanos. Perguntamos e reforçamos a importância desse ponto", explicou, acrescentando que a OMS confirmou ter recebido a carta, mas não respondeu. Além das medidas preventivas adoptadas nos aeroportos, Taiwan activou o Centro de Operações de Emergência, em 2 de Janeiro.
Taiwan enviou então especialistas para Wuhan, mas estes não obtiveram permissão para estar com pacientes ou ir ao mercado onde o vírus alegadamente teve origem. A viagem fez com que as autoridades de Taiwan percebessem que tinham que agir rapidamente, explicou o CECC. As autoridades explicaram como recorreram então ao uso de Inteligência Artificial e 'big data' [análise de dados maciça], para identificação e colocação em quarentena de casos suspeitos ou alertas em tempo real durante visitas clínicas, com base no historial de viagem e nos sintomas dos pacientes. Taipé apelou também à população para que partilhasse ‘online' o histórico de viagens e os sintomas
Pessoas que não viajaram para áreas consideradas de alto risco receberam uma declaração de saúde via SMS, permitindo uma passagem mais rápida nos controlos fronteiriços. Quem tinha estado em regiões tidas como de risco foi submetido a quarentena em casa, explicou o CECC. A prontidão de Taiwan é também resultado dos danos causados pelo surto da pneumonia atípica, ou síndrome respiratória aguda grave (SARS), que entre 2002 e 2003 fizeram 73 mortos no território. "A crise da SARS levou-nos a aprimorar a governação nesta matéria, através da aprovação de leis de prevenção e controlo de epidemias, estrutura organizacional, protocolo para vigilância de epidemias ou medidas de rastreamento na fronteira e reserva de equipamentos médicos", apontou o CECC. Lusa
COVID-19 GOVERNO CHINÊS REAFIRMA “TRADIÇÃO DE APOIO MÚTUO” COM AUTORIDADES PORTUGUESAS
MANUFACTURA ACTIVIDADE SUPERA EXPECTATIVAS APÓS FORTE CONTRACÇÃO
O
A
ministro chinês dos Negócios Estrangeiros reafirmou ontem a "tradição de apoio mútuo" na relação com Portugal e mostrou disponibilidade para ajudar activamente, numa conversa telefónica com o homólogo português, Augusto Santos Silva, sobre a pandemia da covid-19. Citado pela agência noticiosa oficial Xinhua, Wang Yi, que é também conselheiro de Estado, afirmou que o lado chinês se "identifica com os sentimentos das pessoas em Portugal" e transmitiu "profunda solidariedade" pelas
vítimas e infetados pelo novo coronavírus. "Como parceiros estratégicos, sempre tivemos a grande tradição de apoio mútuo", afirmou Wang Yi, que expressou também a sua gratidão a Portugal pelo apoio dado à China na luta contra a epidemia.
O ministro chinês disse ainda estar disposto a fornecer apoio máximo a Portugal e a ajudar activamente na compra de equipamento médico a fornecedores chineses. Wang Yi expressou ainda a esperança de que Portugal salvaguarde efetivamente a saúde, segurança e os legítimos direitos e interesses dos cidadãos chineses a viver no país. E afirmou acreditar que a confiança política mútua e a cooperação prática entre os dois lados serão aprimoradas ainda mais na luta contra a doença.
actividade da indústria manufactureira na China voltou a crescer em Março, após forte contracção no mês passado, à medida que o país suspende as medidas que serviram para conter a epidemia da covid-19. O índice de gerentes de compra (PMI, na sigla em inglês), subiu para 52 pontos, depois de, em Fevereiro, ter colapsado para os 35,7 pontos - o nível mais baixo desde que há registo -, reflectindo a paralisia da actividade económica, com centenas de milhões de pessoas a cumprirem regime de quarentena. O número, divulgado pelo Gabinete Nacional de Estatísticas (GNE) chinês, representa o maior crescimento nos últimos doze meses, e o maior aumento
desde Setembro de 2017, superando as expectativas dos analistas, que esperavam uma recuperação para 45 pontos, mas sem regressar a níveis de crescimento. Quando se encontra acima dos 50 pontos, o PMI sugere uma expansão do sector, abaixo dessa barreira pressupõe uma contracção da actividade. Entre as empresas não manufactureiras, o crescimento fixou-se nos 52,3 pontos, após ter registado 29,6 pontos, em Fevereiro passado. O sector dos serviços, que representa mais da metade do PIB (Produto Interno Bruto) do país, fixou-se nos 51,8 pontos, em Março, depois de, em Fevereiro, ter registado 27,1 pontos.
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Diário de um editor João Paulo Cotrim
PALHAVÃ, LISBOA, SEGUNDA 3 FEVEREIRO A notícia da morte de George Steiner (1929-2020) apanha-me prostrado, tentando afastar do pensamento por razões práticas a sempre próxima. Tão próxima que se fez querida. Na arrumação dos dias, agigantou-se a mesa de cabeceira, ou talvez a estante se tenha aproximado ainda mais do lugar onde tombo a cabeça. Estendo a mão e puxo o robusto introito à obra e figura do mestre, composto e interpretado a quatro mãos por José Pedro [Serra] e Ricardo [Gil Soeiro], «George Steiner, Das cinzas do silêncio à palavra de fogo» (ed. Exclamação). A poesia e o programa do título cumpre-se em vários ensaios dos queridos organizadores, além do «elogio» e resposta aquando do doutoramento Honoris Causa, em 2009, de uma entrevista e de utilíssimas bibliografias. Atenho-me em «Steiner ou Palavra Viva», no qual José Pedro desenha o perfil do pensador a partir das suas entrevistas e que se resume na frase que sublinho a lápis, que devia aprender de cor: «o seu humanismo consiste, com a ajuda dos melhores, em colocar o homem perante os múltiplos cantos de todas as Esfinges, em procurar olhar os abismos da alma, em lançar o pensamento até ao limite do compreensível, em proclamar a superioridade do Bem, em aludir à misteriosa e inefável experiência do Belo.» Parêntesis longo: as páginas iniciais desenvolvem notáveis argumentos para a instituição da entrevista enquanto género literário e dos mais radicais elogios que me foi dado ler sobre tão menosprezada prática (mais ou menos) jornalística. «A entrevista é lugar único e inimitável para uma característica formulação de um pensamento, para a experiência de um sentimento, de um entusiasmo poético, para o eco do pulsar cardíaco de uma revelação ou de uma inquietação.» O essencial está na «visão encarnada» das ideias a habitarem o tempo daquele individuo, tendo invariavelmente por perto a Senhora Morte, dada a nudez radical que se exige aquele que se joga na entrevista. «Esta coloca-nos não apenas perante a ideia, mas perante o homem que pensa a ideia, não apenas perante o sentido de um caminho sugerido, mas perante o homem que arrisca o caminho, que o trilha e o desbrava». Parêntesis fechado. O Steiner que aqui se desbrava, feito percurso e planeta resulta de um magma de alta cultura europeia, com andantes raízes no judaísmo, assombrado pelo Mal impensável entrevisto no Holocausto, em busca incessante pelo Sentido e pelo Absoluto em diálogo com o Transcendente, talvez Deus. Interpela-me o «cancro do pensamento», a «patologia do absoluto» que Deus, incandescente
1.4.2020 quarta-feira
Que morte vem matar a lábil curva da dor?
Cumprir a mão ilustração para estas horas difusas, em que não sabemos se subimos ou descemos, em que deixámos de ver o chão, mas não sabemos onde colocar os pés), de textos literários e reflexões (Schwob, Tolstoi, Zweig, Verlaine, Anselm Jappe, José Manuel Martins), de atenção às efemérides (A Batalha), de evocações afectivas (Bruno da Ponte, Alexandre Vargas), de traduções inéditas de documentos, como este «Ruptura inaugural», de 1947, e que acaba por contaminar tudo nas páginas seguintes. É que o surrealismo não se afirmava «apenas» enquanto movimento literário, mas revolução interior, gesto capaz de radical «resolução de conflitos que bloqueiam o acesso a toda a liberdade, estejam eles entre o sonho e a acção, o maravilhoso e o contingente, o imaginário e o real, o exprimível e o indizível, a candura e a ironia, o fortuito e o determinado, a reflexão e o impulso, a razão e a paixão, exemplos particulares de uma antinomia mais vasta, contrapondo, no mais profundo da natureza humana, o desejo e a necessidade.» Esse relâmpago rasga a diversidade do volume, que se desmultiplica em tantas outras leituras, se cristaliza e dispersa, que interroga e consola, que perturba e apazigua: a poesia enquanto o princípio e a fonte de todo o conhecimento.
até na sua ausência, nos terá inoculado de modo a que qualquer interpretação seja uma interpelação. Encontro estranho conforto nesta tessitura entre a questão de Deus, em mim adiada, e o mergulho em apneia no texto. Sem esquecer o desencanto das construções políticas, a tragédia do aparente falhanço das utopias. Em frutuoso diálogo, José Pedro discorda de Steiner quanto à «tragédia absoluta», espécie de buraco negro, pois encontra no coração das trevas «sempre um resistente traço de luz que se recusa a extinguir, rebelde traço oposto ao negro traço deixado pela tragédia.» Quero crer em uma rebeldia de luz, com raiz na palavra. Que outra forma teríamos de desenhar chão ou céu? PALHAVÃ, LISBOA, QUARTA 18 MARÇO A máscara no rosto faz com que a respiração me embacie os óculos, e a
limpeza das lentes a cada passo parece apropriada para o que de explosivo contém este número 87, 88 e 89 d’«A Ideia», a revista de cultura libertária, companheira de há muito, que me fez chegar o velho e querido amigo António [Cândido Franco], seu director (que digo? alma). Não se encontrará hoje, entre nós, publicação mais desafiante, capaz de propor pensamento nas mais díspares direcções, de recolher pistas das mais distintas tradições de resistência e produção de paisagens outras. Este número entusiasma de tão exemplar, na sábia mistura de dossiers (escrita automática e surrealismo, com texto notável de síntese e potência do António, além de interessante inquérito, mas também em torno de Agostinho da Silva ou sobre anarquismo), de poemas e contributos artísticos (de que o trabalho de Maria João Vasconcelos nesta página é marcante exemplo, uma
SANTA BÁRBARA, LISBOA, SEXTA 20 MARÇO Este parêntesis (não será antes movediças reticências?) em que mergulhámos dá-nos a falsa sensação de que a vida se suspendeu, mas ela continua sob todas as suas formas. Até a habitual morte. Deixa-nos Rogério Petinga (1935-2020) que, sobretudo na Quetzal da prometedora origem, desenhou livros com cuidados de barroca filigrana aproximando leitores de autores fundamentais. SANTA BÁRBARA, LISBOA, DOMINGO 22 MARÇO Recebo uma folha, que parece tombada de árvore outonal, portanto desalinhada com as estações, com marca das hastes e restos de seiva. Diz a Sara: «eu por aqui, vou-me podando. E às plantas também. Observo, espero por notícias que a mão vai cumprindo, sem a turvez e a hesitação que cá dentro acontece. Identifico as ervas daninhas que na sua característica persistência invadem com teimosia e arranco-as com suavidade, na esperança de que cá dentro se lhe copie o modo. Olho para aquelas que já não darão frutos, apesar de todos os cuidados e atenção e com uma coragem muda assumo o seu fim honrando-as numa nova existência.» Deixo divagar com as notícias que a mão vai cumprindo.
ARTES, LETRAS E IDEIAS 13
quarta-feira 1.4.2020
A hora das pequenas coisas
Divina Comédia Nuno Miguel Guedes Ao JP Simões, praticante do infinito das pequenas coisas
E
NFIM, nem tudo pode ser mau, embora pareça. Este tempo deu-me oportunidade para fazer algo que já pratico regularmente com algum prazer: reler. Mas as escolhas agora são feitas em função destes dias e portanto não é por acaso que regressei a um dos meus livros mais acarinhados e que carrega o maior número de notas nas margens (sim, sou desses. E a caneta). Trata-se de Cartas A Lucílio, de Lúcio Aneu Séneca (4 a.C- 65 d.C.). É uma demonstração prática da filosofia estóica sob forma epistolar e que ao longo dos anos em que o tenho lido me ajudou a criar a minha visão do mundo e da vida. E mais uma vez não me falhou. Eis a abertura da primeira
carta: “Procede deste modo, caro Lucílio: reclama o direito de dispores de ti, concentra e aproveita todo o tempo que até agora te era roubado, te era subtraído, que te fugia das mãos”. E mais à frente: “Nada nos pertence, Lucílio, só o tempo é nosso”. Aqui está então um dos maiores desafios destes estranhos dias: o que fazer com o que sempre foi nosso? Descobrimos com surpresa que não estamos preparados para o ócio no seu sentido mais nobre. Há uma proporção e uma hierarquia diferente de coisas e sentimentos, perspectivas que se modificam, pontos de fuga que se esvaem. Redescobrimos a profunda importância das pequenas coisas e acarinhamo-las. Re-
cuperámos por exemplo a noção de ausência. Para nós, portugueses, recuperámos da pior maneira um atavismo nacional: a saudade. E felizmente que o estamos a usar. Recuperámos a vontade de um sorriso, de um passeio, de uma paisagem, de um abraço. Há o sentimento real de que a nossa vida nos foi tirada em vida. As emoções surgem com um altíssimo grau de pureza que assustaria até o mais veterano dos toxicodependentes. Não ficarei insultado se alguém me disser que o aqui escrevo não passam de truísmos. São-no, de facto; e se os uso é porque também eu preciso deles para me reassegurar e encontrar alguma ordem num labirinto construído à revelia
Aqui está então um dos maiores desafios destes estranhos dias: o que fazer com o que sempre foi nosso? Descobrimos com surpresa que não estamos preparados para o ócio no seu sentido mais nobre
da minha vontade. Provavelmente será sempre assim quando somos confrontados com o tanto que temos por garantido, os ínfimos pormenores essenciais que sustêm a nossa fragilidade que se passeia pelos dias. Vivemos no mundo da Alice de Lewis Caroll, onde tudo é certo e nada é certo. Ferem-me agora uns versos que fiz para um fado baseado nessa personagem extraordinária e que reflecte alguém perdido dentro da sua vida: “Todas as coisas são estranhas / Todas as dores são tamanhas/ E eu o seu inventário”. Não gosto de profecias e muito menos quando sou eu que as faço. Mas nestas horas turvas reparai na beleza possível, amigos. Acarinhai-a. Que grandes ficam as pequenas coisas. Recebo agora de um amigo-irmão uma versão apressada, hesitante, ansiosa do Suzanne de Leonard Cohen. Este meu querido amigo, músico e autor extraordinaire, alimenta o meu isolamento com o dele. E isto é tão simples e tão pequeno e portanto, na nova matemática dos dias, é igual a infinito.
14 (f)utilidades
1.4.2020 quarta-feira
TEMPO PERÍODOS DE CHUVA MIN 16 MAX 20 HUM 75-98% • EURO 8.75 BAHT 0.24 YUAN 1.12 ´
DO SONHO AO PESADELO 26
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imposição de uma quarentena de 14 dias a quem chegar à ilha. “Perante a situação, a administração, a polícia, o exército Indonésio (TNI) e outros elementos podem realizar esforços mais rigorosos para impedir a covid-19”, disse o secretário da administração de Bali.
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28 Cineteatro 6 8 BLOODSHOT [C] 7 5 2 9 BIRDS OF PREY [C] 9 4 8 3 1 7 HAPPY OLD YEAR [B] 4 2 5 6 3 1 SALA 1
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C I N E M A
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Um filme de: David S. F. Wilson Com: Vin Diesel, Eiza Gonzalez, Sam Heughan, Toby Kebbel, Guy Pearee 15.30, 21.00
Um filme de: Cathy Yan Com: Margot Robbie, Mary Elizabeth Winstead, Jurnee Smollet-Bell 18.00 SALA 2
(FALADO EM THAI LEGENDADO EM CHINÊS E INGLÊS) Um filme de: Nawapol Thamrongrattanarit Com: Chutimon Chuengeharoensukying, Sunny Suwanmethanont
SOLUÇÃO DO PROBLEMA 29
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PROBLEMA 30
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A ilha de Bali, onde estão dezenas de turistas portugueses retidos à espera de conseguir viajar para Portugal, declarou o estado de emergência, que determina medidas mais rígidas para conter a propagação da covid-19. Entre as medidas anunciadas, contam-se mais controlos nas entradas e a
30 1 4 3 2 5 6 8 9 7 7 2 4 5 3 8 9 6 1 6 7 9 3 www. 8 2 hojemacau. 4com.mo 1 5
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9 7 4 5 8 4 2 1 5 3 8 7 6 TURNING 1 [C]3 8 THE 2 5 1 9 3 9 5 6 A BEAUTIFUL DAY IN THE NEIIGHBORHOOD [B] 1 6 9 3 4 8 7 2 7 2 6 4
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UM2 FILME HOJE 8 3 6 4 1 7
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Houve tempos em que morei ao pé do jardim Luís de Camões numa casa inteira, mas pequena, só para mim. A localização era perfeita: estava ao pé da biblioteca do Tap Seac, do café Honolulu, da Cinemateca Paixão, do restaurante Afonso e dos bares Che Che e Mico. Durante o dia frequentava os três primeiros, à noite os restantes. Aquela rua quieta, aonde não ia vivalma, era nossa. Primeiro jantávamos no Afonso, depois passávamos para o Che Che, cigarro atrás de cigarro, e depois terminávamos a noite no Mico. Às vezes começávamos a noite no Mico e bebíamos whisky japonês. Durante a semana ou aos fins-de-semana, conforme a disposição e a vontade de qualquer coisa. Aos meus poucos leitores, peço que me desculpem esta onda de saudosismo, mas quando soube da morte do Pedro Ascensão, este domingo, recordei-me 9 5 em3que6subia7aquela 8 rua4 destes tempos que fazia noites. 2 as6minhas 7 4 9 Dono 1 de8 um feitio muito particular, Pedro era 8 pôr1 pessoas 4 3no olho 2 da 5 rua7 capaz de como também contava as histórias fas2 em 9 que4deu3aulas6 cinantes5dos8tempos no Alentejo e dormia ao depois 4 3 6 8relento, 1 7 9 de andar quilómetros de motorizada. Aconteceu 1 comigo. 7 9 A2minha 5 casa 6 foi3 vendida, saí. Pedro morreu e o Afonso 9 1 7 6 rua, 2 que5 fechou3 o restaurante. Aquela era nossa, 6 e2que 8foi minha, 5 3terá4agora1 outra forma. Andreia Sofia Silva
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EMBRIAGADO DE MULHERES E DE PINTURA (2002)
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Um filme de: Leigh Whannell Com: Elisabeth Moss, Adis Hodge, Storm Reid 17.00 SALA 3
Um filme de: Floria Sigismondi Com: Mackenzie Davis, Finn Wolfhard, Brooklynn Prince, Barbara Marten 15.00, 20.15
Um filme de: Marielle Heller Com: Tom Hanks, Mattaew Rhys, Chris Cooper 17.45
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Este filme, disponível online no9 site da 6 sala5de cinema 7 3 Medeia Filmes, conta a his5 pintor 6 coreano 4 8 tória 3 de um do século XIX, de nome 2 9 mais 3 co-7 Jang 1Seung-up, nhecido por Ohwon, 8 7 4 5 que1 viveu entre 1843 e 1897. De origens 6 9humildes, 1 8 Oh-5 won conseguiu revolu4 8da 1 2 cionar5o mundo arte na Coreia do Sul, à época. Vi3 2 Ohwon 9 6 ciado7 em mulheres, envolveu-se com várias à medida que ia aperfeiçoando a técnica do pincel e aumentando a sua fama no 5 Sofia 3 Silva 8 4 país. 1 Andreia
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THE INVISIBLE MAN [C]
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A RUA ERA NOSSA, FOI MINHA
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VIDA DE CÃO
opinião 15
quarta-feira 1.4.2020
sexanálise
Ficção do Sexo e do Vírus II
YOUNG LOVE, BY SCHWENINGER
TÂNIA DOS SANTOS
J
Á há novas estórias de amor - fictícias e verídicas - em tempos de covid-19. Esta é mista. Gentes que contemplam pelas janelas dos seus apartamentos e casas, sonhando com o nervoso miudinho que fica na barriga quando vemos quem nos excita. Há quem veja uma dança da janela, uma rapariga de cabelos escuros ondulados a dançar ao som de uma banda indie rock qualquer. A rapariga que dança começou agora um diário, o diário da pandemia. Também dança e canta, para espantar os males? Várias culturas ensinaram-lhe que cantar cura coisas, espanta outras. ‘Continuem com as vossas rotinas’, dizem uns, ‘aproveitem para descansar’, dizem outros. ‘É tempo de masturbação’, dizem todas as sexólogas
na internet. Quanta confusão mental num espaço tão pequeno que é uma casa. Tantos problemas no mundo que se mostram nus em tão poucos metros quadrados. Se calhar o mundo nunca mais será o mesmo, ninguém sabe ao certo. Ela não é futuróloga e rapidamente deixa de pensar nisso. Ela pensa na redefinição do amor. Mudam-se as crenças, mudam-se as vontades, mudam-se os comportamentos. O isolamento é agora uma prova de amor. Ainda assim sente-se ligada a quem mais ama porque há modernices, e porque tem um caderno e uma caneta em casa. Escreve parvoíces e desenha infantilidades - um diário para se distrair com (e d)ela própria. Alguém a viu de uma outra janela e apaixonou-se pela dança, pelo cabelo, por qualquer coisa que não sabe. O amor não acontece assim, mas a atracção, sim. Ela não faz ideia a quem pertence a silhueta por detrás da janela. Vive naquela casa há anos e nunca reparou que tinha a vista perfeita para uma rapariga de cabelos escuros ondulados. A vida pré-isolamento era mais atarefada. Agora está parada, com mais tem-
po para contemplar vidas e janelas. Talvez o isolamento tenha atiçado o tesão, como as forças opostas que constroem os nossos dilemas internos. ‘Quando sou obrigada a estar sozinha, mais me apetece estar com alguém’. Ela deixa um recado na janela, e espera que só ela repare. ‘Rapariga de cabelo escuro e ondulado que gosta de dançar à janela, queres jantar comigo?’. Desenha um arco-íris também, para não destoar das outras janelas. O jantar teria que ser reinventado, depois pensaria nos pormenores. Ela não
A incerteza é lixada, mas o amor ajuda a encará-la. O amor, que alimenta a solidariedade, empatia e esses clichés todos optimistas, precisa de um objecto, de uma concretização qualquer. Nesta invasão de medos activam-se formas de conexão virtual e mental
costuma ser tão extrovertida, mas a visão catastrófica do mundo obrigava-a a arriscar. Esperou que o objecto do seu desejo respondesse positivamente, com uma mensagem na janela, também? Esperou mais um pouco. Enquanto esperava, imaginava cenários de enamoramento em tempos de pandemia. Não tinha medo da rejeição, a solidão já a acompanhava de uma maneira ou de outra. Continuou à espera de um qualquer sinal. O amor é um alívio - tal como a esperança que nos motiva para pintar um arco-íris, colá-lo à janela e pedir que tudo fique bem. A incerteza é lixada, mas o amor ajuda a encará-la. O amor, que alimenta a solidariedade, empatia e esses clichés todos optimistas, precisa de um objecto, de uma concretização qualquer. Nesta invasão de medos activam-se formas de conexão virtual e mental. Não há formas certas ou erradas, há a redescoberta de uma forma diferente de se ser. Ainda não sei se a rapariga de cabelos escuros e ondulados reparou na mensagem, como é que irá responder, o que irá acontecer. A satisfação está na presença destas duas personagens que, sem uma pandemia, não seriam quem são.
A velhice confessada é menos velhice. Anne Lambert
WYNN MACAU LUCROS LÍQUIDOS DESCERAM 19%
quarta-feira 1.4.2020
PALAVRA DO DIA
DIÁRIO SEM BORDO
Comparticipação pecuniária Cheques começam a ser distribuídos hoje
Nevoeiro
Começam hoje a ser distribuídos, pelo Governo da RAEM, os cheques no âmbito do Plano de Comparticipação Pecuniária. A distribuição dos cheques será feita até ao dia 19 de Junho, sendo que cada residente permanente irá receber 10 mil patacas, enquanto que os residentes não permanentes recebem seis mil patacas. Os idosos e todos aqueles que optaram pelo depósito directo do cheque na conta bancária são os primeiros a receber este montante, seguindo-se os funcionários públicos aposentados ou alunos com bolsas de estudo. O pagamento faz-se depois faseadamente de acordo com os anos de nascimento dos beneficiários.
A
PUB
Wynn Macau Ltd teve uma quebra de 19 por cento nos lucros líquidos em 2019. Em causa está uma descida de 6,25 mil milhões de dólares de Hong Kong em 2018 para 5,06 mil milhões no ano passado. No documento em que anuncia os resultados, a empresa indica que as receitas diminuíram 8,7 por cento para 36,16 mil milhões de dólares de Hong Kong. O motivo principal apontado é uma descida no jogo VIP, parcialmente compensada por um crescimento no mercado de massas, tanto no Wynn Palace como no Wynn Macau. J Já os elementos que não são de jogo, tiveram também uma quebra, ainda que ao nível dos quartos as receitas se tenham mantido semelhantes ao ano anterior. Face ao contexto actual, a empresa explica que vai acompanhar as condições de mercado em Macau e na China e que “poderá considerar um dividendo especial no futuro quando as condições estabilizarem”. No entanto, descreve que “durante esta crise sem precedentes da covid-19, o principal foco do Conselho é salvaguardar as suas operações em Macau e, mais importante, o bem-estar dos seus mais de 13 mil funcionários”.
Macau Solidário Angariadas mais de 924 mil patacas
F
IZ a mala. Só falta fechar. De fora deixei a necessaire e uma mochila grande para pôr a parafernália das refeições: os talheres, o prato e a malga coloridos da Cristina e a outra malga que veio com o chili de lentilhas e vegetais da Vera. A aveia, o chá e o café, se ainda houver. Não, não saio amanhã. Ainda faltam uns dias. Mas hoje, ao contrário do que me caracteriza – aqueles cinco, sete minutos de pegar em três peças de roupa antes de apanhar um avião – fiz a mala com antecedência. Ficou também de lado uma mochila mais pequena, para o computador e os livros que ainda me servem. Além da roupa essencial para esta última etapa, e que a seu tempo será enrolada numa bola e colocada num saco já destinado, está também de fora, dobrada por cima do sofá vermelho, uma outra muda, escolhida a dedo dentro das possibilidades. Não quero sair daqui indigna do ar. Tenho que ir arranjadinha rumo à porta, lá de fora, e ao respirar. “Bom dia, gostaria de saber se se está a sentir bem e se precisa de alguma coisa?” pergunta-me a relações públicas do hotel. Digo que sim e agradeço o cuidado. “Boa tarde, estou a ligar dos Ser-
viços de Saúde” oiço mais tarde “Está a sentir-se bem? Como está a sua temperatura hoje? Tem tido alguma indisposição?” “36 graus e sinto-me lindamente”. “Obrigada e até amanhã”.
O que faz falta
Das rotinas diárias faz parte o arrumar a “casa”. Lavo a pouca loiça que tenho e que me está a uso. A bancada da casa de banho está dividida. De um lado, uma espécie de escorredor, onde estendi uma toalha, pequena, branca. Do outro, o copo com a escova e a pasta dos dentes. Ao lado, está
“Está também de fora, dobrada por cima do sofá vermelho, uma outra muda, escolhida a dedo dentro das possibilidades. Não quero sair daqui indigna do ar. Tenho que ir arranjadinha rumo à porta, lá de fora, e ao respirar.”
a escova do cabelo e o óleo de argão que dá para tudo. Entre um lado e outro, duas velas, grandes e cheirosas, para me fazerem sentir mais em casa. Na parede, as toalhas. Uma para as mãos. Outra para a loiça. Ficam bem ali, penduradas no varão dourado e a contrastar com o amarelo de fundo. Os pauzinhos, que me dão aos pares de três por dia também se incluem. Reutilizam-se para tentar adoecer menos o mundo. Afinal, não preciso de muito. Mas preciso de ar, do sorriso das pessoas do outro lado da mesa do café, do vento quente e húmido da estação, das vozes sem serem filtradas por linhas ou letras. De caras, sem máscaras, sem máscara alguma. Hoje está mais nevoeiro do que o habitual. Por esta altura do ano parece que Macau se enfia dentro de um capacete. A humidade dispara para se manter nos 100 por cento, a temperatura começa a aumentar a o território mergulha numa nuvem permanente, claustrofóbica que antecede a próxima estação. É uma espécie de prelúdio de Verão. Até amanhã Macau, 31 de Março de 2020 M.M.
A comunidade portuguesa em Macau arrecadou mais de 924 mil patacas em menos de uma semana para comprar material médico para Portugal. O valor foi avançado ontem à agência Lusa pelo presidente do BNU, Carlos Álvares. Se o dinheiro angariado, nas primeiras 48 horas já era considerado “animador”, para a presidente da Casa de Portugal, Amélia António, agora o sentimento de esperança ainda é maior. “Penso que vamos conseguir fazer uma coisa mais bonita ainda”, disse à Lusa a presidente da Casa de Portugal, uma das entidades que pertence ao movimento solidário que se propõe recolher fundos para adquirir equipamento de protecção para os profissionais de saúde em Portugal e material que garanta mais testes para despistar a covid-19. A angariação de fundos urgente foi anunciada na terça-feira passada, à noite, e vai estender-se até 5 de Abril, domingo. As entidades criaram uma conta no Banco Nacional Ultramarino (BNU) em Macau, com o número 9016556516, sob o nome COVID19 – Portugal Conta Solidariedade.
Vales de consumo Facilitada inscrição de recém-nascidos
Até dia 8 de Abril pode ser feita a pré-inscrição de recém-nascidos que satisfaçam os requisitos do plano de subsídio de consumo e que não tenham bilhete de identidade de residente (BIR), comunicou a Direcção dos Serviços de Identificação (DSI). Isto pode ser feito sem que o recém-nascido esteja presente. É preciso levar documentação, como o boletim de nascimento emitido pela Conservatória do Registo Civil, o BIR original do cidadão e fotocópia do BIR do cônjuge. O recém-nascido deverá ser levado posteriormente à DSI para conclusão do requerimento de BIR. Desde que o requerimento de BIR seja concluído até 23 de Abril, o documento poderá ser emitido até 29 de Abril.