Hoje Macau 1 JUL 2020 # 4558

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QUARTA-FEIRA 1 DE JULHO DE 2020 • ANO XIX • Nº4558

DIRECTOR CARLOS MORAIS JOSÉ

DSEJ | NOVO MACAU

EDUCAÇÃO

CONVERSA ACABADA

CORRIDA DIGITAL

PÁGINA 4

PÁGINA 5

TRABALHO

EMPREGOS EM QUEDA PÁGINA 6

OPINIÃO

365 DIAS

JEROME FAVRE

TÂNIA DOS SANTOS

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hojemacau

Prenda de anos A Lei de Segurança Nacional de Hong Kong foi ontem aprovada pelo Comité Permanente da Assembleia Popular Nacional e está já em vigor no dia em que se assinala o 23.º aniversário da RAEHK, após ter sido promulgada às 23h desta terça-feira. O diploma, elogiado pelo Governo de Macau e criticado pela comunidade internacional, já teve como consequência a extinção do Partido Demosisto, de Joshua Wong.

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GRANDE PLANO E ÚLTIMA

SOBRE CONFÚCIO I XUNZI

CHEGAR TARDE À FESTA NUNO MIGUEL GUEDES


2 grande plano CHINA APROVOU E PROMULGOU ONTEM A LEI DE SEGURANÇA NACIONAL

PRONTO, ´ ´ JA ESTA Foi aprovada ontem a Lei de Segurança Nacional de Hong Kong. A legislação mereceu aplausos do Governo de Macau, críticas da comunidade internacional, levou à dissolução do partido Demosisto e já entrou em vigor após ter sido promulgada ontem à noite. Actos de secessão, subversão, terrorismo e conspiração com forças estrangeiras para comprometer a segurança nacional poderão ser punidos com prisão perpétua, uma pena prevista no actual código jurídico da cidade, deixado pelos ingleses

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Comité Permanente da Assembleia Popular Nacional (APN) aprovou ontem a lei relativa à defesa da segurança do Estado para a Região Administrativa Especial de Hong Kong (RAEHK), a qual

decidiu integrar no anexo III da Lei Básica de Hong Kong, estando prevista a sua promulgação e entrada em vigor na região hoje, dia 1 de Julho. Em comunicado oficial, o Governo de Macau manifestou o seu “forte apoio à legislação do Comité Central

e defesa resoluta da segurança nacional, considerando que esta medida se reveste de extrema importância para a estabilidade social de Hong Kong.” Segundo o governo liderado por Ho Iat Seng, “a defesa efectiva da soberania nacional, da segurança do País e dos interesses de desenvolvimento, assim como a protecção da Constituição e da Lei Básica são garantes da ordem constitucional na RAEHK e a essência para a concretização bem-sucedida do princípio ‘Um País, Dois Sistemas’.”

E EM MACAU, O QUE SE PASSARÁ?

O comunicado lembra que “o Governo da RAEM concluiu, no início de 2009, a legislação para a manutenção da segurança nacional, com a elaboração da ‘Lei relativa à defesa da segurança do Estado’. Em 2018, foi criado um mecanismo de orientação e coordenação para a execução de todos os assuntos relacionados com a protecção da segurança nacional em Macau (a Comissão de Defesa da Segurança do Estado da RAEM), com o qual se alcançou bons resultados em termos de protecção da soberania do País, de segurança, de interesses de desenvolvimento e de responsabilidade constitucional, estabelecendo-se os alicerces para o avanço e aprofundamento dos trabalhos relativos à defesa da segurança do Estado”.

JEROME FAVRE

HONG KONG

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O Governo de Macau manifestou o seu “forte apoio à legislação do Comité Central (...), considerando que esta medida se reveste de extrema

O comunicado refere ainda que “com a garantia de alto grau de autonomia da RAEM e da sua independência judicial, os direitos fundamentais e liberdades dos residentes ficam ainda mais protegidos, mantendo-se a estabilidade social, a prosperidade económica, e o estilo de vida tranquilo com alegria no trabalho”. O comunicado, finalmente, aborda a questão da lei local e as suas possíveis alterações, sem adiantar pormenores. “Macau irá,

sobre as bases já existentes, aperfeiçoar a legislação neste âmbito, tão necessária à manutenção do actual sistema de segurança nacional na RAEM, bem como realizar adequadamente o trabalho de implementação e aplicação das leis”. Para o governo, “é igualmente importante continuar a elevar o nível de consciencialização dos residentes sobre a segurança nacional” e melhorar “o sistema de intercâmbio com os serviços do Governo da RAEHK res-

ponsáveis pela execução dos mecanismos relacionados com a defesa da segurança do Estado”.

EDMUND HO FALA DE “GRANDE ACONTECIMENTO”

Também Edmund Ho, ex-Chefe do Executivo da RAEM e vice-presidente da Conferência Consultiva Política do Povo Chinês (CCPPC), considerou num comunicado que a aprovação da lei da segurança do Estado de Hong Kong é “um grande acontecimento e

VISTA DA EUROPA

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comunidade internacional, com os Estados Unidos e a União Europeia em destaque, para além de diversas ONG expressaram por mais do que uma vez o receio de que a lei sirva para silenciar vozes críticas em Hong Kong, após um ano de protestos na ex-colónia britânica. A União Europeia deplorou a aprovação da lei de segurança nacional, assumindo que esta é uma questão “muito grave”, que exigirá uma resposta, a ser concertada com os parceiros internacionais. “Esta lei ameaça seriamente comprometer o alto grau de autonomia de Hong Kong e ter efeitos negativos na independência do sistema judicial e no Estado de Direito, e deploramos esta decisão”, declarou o presi-

dente do Conselho Europeu, Charles Michel, durante uma conferência de imprensa no final de uma cimeira entre UE e Coreia do Sul, por videoconferência. Também a presidente da Comissão Europeia deplorou o facto de a China ter aprovado a controversa lei apesar das várias advertências da comunidade internacional, UE incluída. “Deixámos claro em diversas ocasiões, incluindo nos nossos contactos directos na semana passada com a liderança chinesa, que a nova legisla-

ção não está conforme com a lei básica de Hong Kong nem com os compromissos internacional da China. Para nós é um assunto muito grave e estamos seriamente preocupados”, declarou Ursula von der Leyen, na mesma conferência de imprensa. Questionada sobre a reacção europeia, Von der Leyen admitiu que a UE alertou por diversas vezes que “a China arriscava consequências muito negativas se avançasse efectivamente com esta legislação, incluindo em termos de confiança das empresas, reputação da China e percepção pública em Hong Kong”. “Permanecemos em contacto com os nossos parceiros internacionais nesta matéria e analisaremos com muita atenção a forma como responder”, completou.


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importância para a estabilidade social de Hong Kong”

muito significativo para um novo patamar do desenvolvimento do princípio ‘Um país, dois sistemas’, sendo uma medida importante para a “persistência e optimização do princípio”. Edmund Ho considerou que apoiar a lei “é uma estratégia fundamental para ajudar aquela região a sair da situação confusa e difícil em que se encontra e alcançar a estabilidade, a longo prazo”. “Esta lei veio colmatar lacunas jurídicas e reforçar áreas onde o regime era

fraco, definindo claramente o limite que não pode ser transposto em termos de segurança nacional, tornando-se num forte dissuasor para actos criminosos que colocam em risco a segurança nacional, garantindo a segurança da maioria dos cidadãos da RAEHK e direitos e liberdades que gozam conforme a lei, como vai ajudar Hong Kong a voltar à normalidade”, refere Edmund Ho. Já em Macau é diferente, segundo Ho. “O presidente Xi Jinping ao visitar, no ano passado, a RAEM indicou que todos os compatriotas de Macau têm uma tradição patriótica, forte sentimento de reconhecimento do País, sentido de pertença e orgulho da nação, sendo a razão fundamental para a implementação de sucesso do princípio de ‘Um país, dois sistemas’ em Macau”. “Sem segurança nacional, não há prosperidade e estabilidade”, refere ainda o ex-Chefe do Executivo. Para isso, “é necessário os diversos sectores da sociedade entenderem profundamente o espírito do Governo Central, erguerem firmemente a bandeira do patriotismo, associarem a persistência da defesa da soberania, segurança e interesses de desenvolvimento nacional com a salvaguarda da prosperidade e estabilidade de Macau, a longo prazo, e conscientemente ponderarem questões

que tenham em vista os interesses gerais do País e os interesses fundamentais de Macau”.

CARRIE LAM E OS PÉS PELAS MÃOS

Às 18h de ontem, a agência estatal Xinhua anunciou que o Presidente chinês, Xi Jinping, assinara a lei de segurança nacional que permitirá às autoridades chinesas combater actividades “subversivas e secessionistas” em Hong Kong. Logo a seguir, Carrie Lam anunciou que a lei já haveria de entrar em vigor rapidamente, algo que a Chefe do Executivo prometeu fazer “o mais depressa possível”. “A Lei da Segurança Nacional entrará em vigor esta tarde [ontem]. O Executivo irá completar os procedimentos necessários para a publicação, o mais cedo possível, para possibilitar a implementação da Lei da Segurança Nacional em Hong Kong”, referiu Lam em comunicado. A promulgação da lei, no entanto, só aconteceu às 23h. A lei requer que a região vizinha estabeleça, o mais depressa possível, um Comité de Salvaguarda da Segurança Nacional, que será presidido pelo líder do Executivo da RAEHK, de acordo com informação veiculada pela RTHK. O comunicado de Carrie Lam adianta ainda que serão constituídas na polícia de

PARTIDO AO MEIO

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partido político Demosisto anunciou a dissolução na sequência da aprovação da lei. “Após deliberações internas decidimos dissolver (o partido) e cessar toda a actividade devido às circunstâncias”, comunicou a formação partidária através de uma mensagem divulgada através do Twitter. O anúncio da dissolução do partido ocorreu poucas horas depois de quatro líderes partidários, Joshua Wong, Nathan Law, Jeffrey Ngo e Agnes Chow terem anunciado a demissão do Demosisto. O partido foi fundado em 2014 contra a interferência de Pequim no sistema político e social da região. Militantes como Wong, que chegaram a ser detidos por causa das

actividades políticas, são atacados frequentemente pela imprensa da República Popular da China que os aponta como “separatistas” apesar do Demosisto nunca ter incluído a questão da independência na agenda do partido. Segundo Pequim, o partido agora dissolvido é acusado de receber apoio de “potências estrangeiras” e de personalidades políticas internacionais. “Vou continuar a defender a minha casa - Hong Kong - até que eles me reduzam ao silêncio e me eliminem da face da terra”, escreveu Joshua Wong através do Facebook. “Um destino fatídico é-nos apresentado, as dificuldades pessoais são imprevisíveis e temos de as enfrentar com coragem.

Hong Kong e no departa- foi unânime e reflecte “a mento de justiça unidades vontade dos camaradas de responsáveis pela imple- toda a nação, incluindo de mentação da legislação. Hong Kong”. “Quero expressar os Tam Yiu-Chung, o único meus agradecimentos senti- representante de Hong Kong dos ao Comité Permanente no Comité Permanente da da APN por terem tido em APN, limitou-se a dizer consideração as perspecti- que a pena de morte não vas do Goverconsta entre no da RAEHK Para Edmund Ho, punições por e dos vários “actos de sesectores da “sem segurança cessão, subc o m u n i d a - nacional, não há versão, terrode de Hong rismo e consprosperidade e Kong, assim piração com como terem estabilidade” forças estrantomado em geiras para conta a situação em que comprometer a segurança Hong Kong se encontrou nacional”. “Esperamos que a durante o processo legisla- lei sirva como um obstáculo tivo”, declarou Carrie Lam. para impedir que as pessoas Depois de agradecer o causem problemas e que não apoio esmagador da popu- permita que Hong Kong seja lação de Hong Kong à lei, usada como ferramenta para a Chefe do Executivo ma- dividir o país”, disse Tam, nifestou confiança de que a em conferência de imprensa. legislação irá restabelecer a A lei, segundo o SCMP, paz e estabilidade na região, poderá punir com prisão depois de quase um ano de perpétua “actos de secessão, caos. subversão, terrorismo e conluio com forças estrangeiras PRENDA DE ANOS para pôr em risco a seguranEM 66 ARTIGOS ça nacional”. Ao contrário de Segundo a Xinhua, a legis- Portugal em Macau, a Grãlação está dividida em seis -Bretanha deixou em Hong capítulos, tem 66 artigos, Kong a possibilidade de descreve com clareza as prisão perpétua, que poderá responsabilidades de cada vir a ser usada no articulado instituição na manutenção ainda desconhecido da lei de da segurança nacional e segurança nacional. define quatro ofensas. O presidente do Comité Per- VISÕES DIFERENTES manente da Assembleia Numa primeira instância, Popular Nacional (APN), a Chefe do Executivo de Li Zhanshu, descreveu à Hong Kong, Carrie Lam, Xinhua que a aprovação recusou responder a per-

guntas relacionadas com a lei antes que apareça no anexo III para promulgação por Hong Kong. “Seria inapropriado responder a qualquer pergunta sobre a lei neste momento. Tudo o que posso dizer é que, quando for aprovada, faremos o possível para explicar como ela é implementada e como é aplicada”, sublinhou. Já a Amnistia Internacional afirmou que a aprovação da lei representa uma grande “ameaça” aos direitos humanos e que, “a partir de agora, a China terá o poder de impor as suas leis contra qualquer um que considerar suspeito de cometer um crime”. “A velocidade e o sigilo com os quais a China adoptou essa legislação aumentam o medo de que Pequim tenha criado uma arma de repressão para usar contra críticos do Governo, incluindo pessoas que apenas expressam opiniões de maneira pacífica”, especulou o chefe da organização para a China, Joshua Rosenzweig. Para o activista, o objectivo de Pequim é “governar Hong Kong por medo” e a lei pode “punir candidatos do movimento pró-democracia que se candidatam ao Conselho Legislativo de Hong Kong em Setembro próximo”. Até ao fecho da edição o texto completo da lei ainda era desconhecido, nem há qualquer menção de que a lei tenha efeito retroactivo.

LAM NÃO TEM MEDO DE SANÇÕES DOS EUA Anuncio a minha renúncia como secretário-geral do Demosisto e a minha partida do Demosisto. Realizarei o meu protesto a título pessoal”, afirmou nas redes sociais o activista Joshua Wong, referindo-se a um “reinado de terror”. Horas antes da dissolução do partido textos semelhantes a anunciar a saída foram publicados também por Nathan Law e Agnes Chow, membros fundadores da mesma organização política. Law indicou que “as personalidades políticas estarão em maior perigo e é difícil prever sua segurança”, embora tenha afirmado que “a luta do povo de Hong Kong não cessará e continuará com resistência constante”.

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Departamento de Comércio dos EUA anunciou no dia 29 a decisão de suspender o tratamento preferencial de comércio para Hong Kong, incluindo a disponibilidade de excepções de licenças de exportação, e está a realizar uma avaliação diferencial do tratamento. A chefe do executivo da Região Administrativa Especial de Hong Kong (RAEHK), Carrie Lam respondeu ontem que o impacto em Hong Kong é muito pequeno. “Acredito que o país tomará medidas preventivas quando necessário. Se as medidas preventivas propostas pelo governo central a nível diplomático exigirem a cooperação do governo da RAEHK, definitivamente cooperaremos plenamente», afirmou Lam. O Secretário de Estado dos EUA, Mike Pompeo,

anunciou no dia 29, que deixaria de exportar equipamentos de defesa controlada para Hong Kong a partir de agora e que os Estados Unidos exigirão um pedido de licença antes de exportar tecnologia de defesa e de utilização civil e militar para Hong Kong. Sobre as sanções dos Estados Unidos, Carrie Lam disse no dia 30 que os EUA têm um superávit comercial

de US$ 30 mil milhões com Hong Kong todos os anos e agora exigem apenas que haja um pedido de licença para exportação de produtos de utilização civil e militar, não é uma proibição à exportação. “Muitas indústrias que usam esses produtos podem ter substitutos. O impacto em Hong Kong será muito pequeno.” “Não temos medo de sanções”, disse Lam.


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1.7.2020 quarta-feira

LEI DO CONSUMIDOR PRAZO DE UM ANO PARA APRESENTAR QUEIXAS SOBRE DEFEITOS DE BENS

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DSEJ RECUSADA DISCUSSÃO COM NOVO MACAU SOBRE DIREITOS DOS PROFESSORES

Porta está fechada

A associação democrata queria discutir com os Serviços de Educação e Juventude a questão dos descontos dos professores usados para cobrir as compensações por despedimento sem justa causa, mas teve de se contentar com um encontro com os Serviços para os Assuntos Laborais

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Direcção de Serviços de Educação e Juventude (DSEJ) recusou reunir-se com a Associação Novo Macau para debater o pagamento ilegal de compensações por despedimento. Em causa está a prática das instituições de ensino local que pagam as compensações por despedimento sem justa causa a professores com dinheiro descontado por estes para o fundo de previdência. Apesar de vários anos com queixas públicas, que começaram em 2012 com a criação do Quadro Geral do Pessoal Docente das Escolas Particulares do Ensino Não Superior, a DSEJ sempre aceitou esta prática. Só quando um docente venceu um caso do género no Tribunal de Segunda Instância (TSI), em Março deste ano, é que a DSEJ admitiu ter que impedir este procedimento. No entanto, ontem foi tornado público que a DSEJ não se mostrou disponível para reunir com a

Novo Macau, um dos movimentos sociais mais activos no combate a esta prática. A revelação foi feita num comunicado sobre um encontro com a Direcção de Serviços de Educação e Juventude. “Anteriormente a Associação Novo Macau tentou agendar um encontro com a DSEJ para debater este assunto, mas os Serviços recusaram com a justificação que conhecem totalmente as opiniões da Novo Macau sobre este tema. Foi ainda dito que a Associação Novo Macau poderia fornecer mais informações através de carta, correio electrónico”. A postura foi lamentada pela associação que apoia o deputa-

do Sulu Sou: “A Novo Macau expressa o seu desapontamento com a decisão, questiona a falta de sinceridade na comunicação [da DSEJ] e sublinha que vai fazer tudo para criar oportunidades de diálogo e acompanhar os problemas que afectam os professores”, pode ler-se no comunicado.

MECANISMO DE QUEIXAS

Apesar da tentativa falhada de encontro com a DSEJ, a Novo Macau conseguiu reunir-se com a Direcção de Serviços para os Assuntos Laborais (DSAL). Em cima da mesa esteve a criação de um mecanismo para que os professores se possam queixar

“A Novo Macau expressa o seu desapontamento com a decisão, questiona a falta de sinceridade na comunicação [da DSEJ] e sublinha que vai fazer tudo para criar oportunidades de diálogo.” COMUNICADO DA ASSOCIAÇÃO NOVO MACAU

quando o dinheiro que descontaram é utilizado para pagar o seu despedimento sem justa causa. Neste encontro, terá sido explicado à Novo Macau pelo subdirector substituto da DSAL, Chan Chon U, que os casos têm de ser analisados de forma independente porque poderá haver acordos entre as duas partes e outras nuances nos contratos. Os representantes da DSAL informaram igualmente que vão finalizar no início do próximos mês um conjunto de instruções para as escolas privadas actuarem dentro da legalidade nestas situações e que a informação vai ser distribuída num esforço conjunto com a DSEJ. Todavia, a Novo Macau mostrou-se preocupada com a hipótese de as instruções não obterem grandes resultados, uma vez que não configuram uma obrigação legal. João Santos Filipe

joaof@hojemacau.com.mo

EGUNDO a Nova Lei de Protecção dos Direitos e Interesses do Consumidor, as pessoas que adquirirem um bem com defeito ou que não corresponda ao publicitado vão ter um ano para procederem à devolução ou para que o problema se resolva. Se a falha for relatada apenas nos últimos seis meses deste período compete ao consumidor provar que os defeitos são de origem ou que os termos “contratuais” da venda não estavam a ser cumpridos desde o início. A situação foi explicada ontem, pelo presidente da 1.ª Comissão daAssembleia Legislativa, Ho Ion Sang, após mais uma reunião com o Executivo para debater este tema, e aplica-se a compras de carros, computadores ou telemóveis. “Existe um prazo de um ano para devolver ou resolver os problemas que está em desconformidade com o contrato, nos primeiros seis meses assume-se que o problema já existia desde origem. Nos últimos seis meses é o consumidor que tem de provar que esta era a situação,” afirmou Ho. Anova lei continua a ser discutida na Assembleia Legislativa e para esta semana estão marcadas mais duas reuniões. Ontem, Ho Ion Sang vincou que quando a lei entrar em vigor haverá sessões por parte do Conselho de Consumidores para explicar à população as novas alterações.

Aliança de Povo Dentista apela a maior supervisão de receitas médicas

Daniel Chan, dentista e membro da Aliança de Povo de Instituição de Macau, apelou ontem ao Executivo para que aumente a fiscalização das receitas médicas na utilização dos vales de saúde. Durante um fórum organizado pela associação ligada ao empresário Chan Meng Kam, Daniel Chan explicou que muitos dos idosos se sentem confusos com os moldes em que os vales de saúde funcionam e que isso faz com que seja a faixa etária mais envolvida em infracções na utilização deste programa de apoio social. Por outro lado, Daniel Chan apelou a uma campanha de informação porque diz que há muitos idosos que acreditam que os vales podem utilizados para comprar mariscos secos e ervas ginseng, tidos como suplementos medicinais.


política 5

quarta-feira 1.7.2020

Covid-19 Quarentena à chegada a Hong Kong prolongada até 7 de Agosto

O Governo de Hong Kong prolongou até 7 de Agosto a medida que exige que as pessoas vindas de Macau, do Interior e de Taiwan cumpram uma quarentena de 14 dias, antes de entrarem no território. A prolongação da medida que visa controlar a epidemia da covid-19 foi declarada ontem no portal do Governo da RAEHK. Ao mesmo tempo, o Executivo apontou que está a trabalhar num mecanismo conjunto com Macau e o Interior para permitir que haja circulação entre as três regiões do sul da China.

Coronavírus Alerta para rumor de entradas em Zhongshan

O Centro de Coordenação de Contingência do Novo Tipo de Coronavírus comunicou ontem que a isenção de observação médica de isolamento para quem por motivo oficial ou comercial pretender entrar em Zhongshan é um rumor. “Apela-se a todas as pessoas que estejam atentas às comunicações promovidas pelo Governo e não promovam nem propalem rumores falsos”, disse o centro, esclarecendo que actualmente só há isenção de isolamento para a cidade de Zhuhai.

Cancro da mama Universidade de Macau lança novo estudo

A Universidade de Macau (UM) acaba de lançar um novo estudo na área do tratamento do cancro da mama, e que foi publicado no conceituado jornal científico Nature Communications. O trabalho de investigação, liderado por Chuxia Deng, director da Faculdade de Ciências da Saúde da UM, intitula-se “NOTCH1 Activation Compensates BRCA1 Deficiency and Promotes TripleNegative Breast Cancer Formation”. A equipa de investigação conta ainda com os professores Miao Kai, Xu Xiaoling e Wong Koon Ho, num trabalho que foi financiado pelo Fundo para o Desenvolvimento da Ciência e Tecnologia.

Cáritas Despesas aumentaram mais de 10 milhões de patacas

O secretário-geral da Cáritas Macau, Paulo Pun revelou que as despesas do organismo aumentaram em mais de 10 milhões de patacas durante o surto epidémico, apesar da suspensão parcial de serviços. De acordo com o canal chinês da TDM - Rádio Macau, Paulo Pun refere que o aumento dos gastos se deveu à necessidade de contratação de mão de obra durante o surto para o desempenho de alguns serviços. O responsável disse ainda que, perante a redução de orçamento prevista para 2021 e a necessidade de continuarem a ser prestados cuidados à população, o Governo deve encontrar novas soluções, alocando recursos de outra forma. Como exemplo, Paulo Pun sugere que o Governo deve ponderar a cedência de espaços às instituições dedicadas aos serviços sociais, de forma a reduzir as facturas relacionadas com as rendas.

O orçamento previsto para a aquisição da plataforma online (...) será de “alguns milhões de patacas”

EDUCAÇÃO FORNECEDOR DE PLATAFORMA ONLINE SERÁ ESCOLHIDO SEM CONCURSO

Exigências digitais

Governo contactou cinco empresas para fornecer a plataforma de aprendizagem online às escolas já a partir do próximo ano lectivo. O programa não pode ser desenvolvido de raiz e a decisão vai ser tomada sem recurso a concurso público. A Microsoft está na corrida e o orçamento estimado será de “alguns milhões de patacas”

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fornecedor da plataforma de aprendizagem online a ser distribuída pelas escolas já a partir do próximo ano lectivo será escolhido sem recurso a concurso público. A informação foi revelada ontem pela Direcção dos Serviços de Educação e Juventude (DSEJ), após uma reunião plenária do organismo. Segundo Wong Kin Mou, chefe de departamento da DSEJ, o facto de não haver concurso público está relacionado com o facto de a plataforma pretendida “ser muito exigente”. Por isso, apontou o responsável, tendo por base um conjunto de requisitos muito específicos e o objectivo de ter a plataforma operacional já em Setembro, o serviço terá de ser fornecido por uma empresa “com experiência no mercado neste tipo de serviço”. Wong Kin Mou garantiu ainda que a plataforma “não vai ser criada de raiz”. Segundo a DSEJ, o Governo já contactou, no total, cinco empresas, das quais aguarda ainda a apresentação de propostas: uma internacional com representação em Macau, duas locais e outras duas do Interior da China também com representação em Macau. No final da conferência de impren-

sa, o responsável revelou ainda que a empresa internacional que está em cima da mesa é a norte-americana Microsoft. “Vamos adquirir uma plataforma online para docentes, pais e alunos usarem e disponibilizar a todas as escolas, pequenas ou grandes (...) e contactámos cinco empresas para tentar satisfazer as nossas exigências. No futuro queremos que seja possível realizar aulas por videoconferência (...) mas a nossa expectativa não se limita ao tempo que durar a pandemia. Esperamos que a plataforma possa ser usada também no dia a dia para os alunos estudarem e os professores leccionarem à distância”, detalhou Wong Kin Mou.

Além do ensino online, o responsável explicou que a plataforma terá de ser uma ferramenta de “contacto e comunicação”, permitindo saber a localização e situação de saúde dos alunos, publicar notícias e notificar encarregados de educação. Questionada sobre as exigências de privacidade da futura plataforma online, a DSEJ referiu ser essa uma das principais preocupações expostas às empresas contactadas, garantindo que a recolha e tratamento de informação estará de acordo com a Lei de Protecção de Dados Pessoais e que serão realizados testes “para garantir funcionamento seguro da plataforma”. Quanto ao orçamento previsto para a aquisição da plataforma

PROPINAS SEM REEMBOLSO

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DSEJ não vai exigir a devolução das propinas referentes ao segundo semestre do ano lectivo, em que foram canceladas as aulas presenciais devido à crise gerada pela covid-19. Segundo o Chefe de departamento de Ensino da DSEJ Wong Ka Ki, mesmo durante a suspensão “as escolas disponibilizaram serviços de aprendizagem online” e os alunos serão compensados no futuro ao nível na matéria não leccionada. O responsével referiu ainda que durante o período de suspensão “foram recebidos dois ou três pedidos de devolução” e que os mais necessitados a nível financeiro poderão apresentar pedidos de apoio à DSEJ. Após a reunião plenária de ontem, Wong Ka Ki avançou ainda quejá foram reiniciadas as aulas presenciais dos ensinos primários e secundários com mais de 61 mil alunos de 68 escolas. Já a reabertura dos jardins de infância em Setembro irá depender da evolução da pandemia.

online, apesar de não haver ainda um montante definido, a DSEJ admitiu, que tendo em conta as necessidades, o orçamento será de “alguns milhões de patacas”.

PROFESSORES SEM HISTÓRIA

Questionado sobre o que irá ser feito para colmatar a falta formação especializada para os professores que vão passar a leccionar obrigatoriamente a disciplina de História aos alunos do 10.º ao 12.º ano, a DSEJ referiu que vão ser promovidas acções de formação. Sem revelar quantos professores formados em História existem em Macau, Wong Kin Mou apontou ainda que quando forem adoptados novos materiais didáticos será dado apoio e formação aos professores que vierem a assumir a função. Recorde-se que segundo uma publicação de quatro investigadores citada pela TDM – Rádio Macau e onde se inclui Teresa Vong da Universidade de Macau, a falta de formação especializada e a maior dependência de manuais didácticos publicados por editoras chinesas pode resultar numa instrumentalização do ensino da História. Pedro Arede

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1.7.2020 quarta-feira

DSAL SETE MIL CONTRATOS NÃO RENOVADOS OU CANCELADOS EM QUATRO MESES

Comércio Países lusófonos exportaram menos 22,6% durante o mês de Maio

Os países lusófonos exportaram menos 22,6 por cento para Macau nos primeiros cinco meses do ano, em relação a igual período de 2019, divulgou ontem a Direcção de Serviços de Estatísticas e Censos (DSEC). Os países de língua portuguesa exportaram até Maio para Macau produtos avaliados em 285 milhões de patacas, indicou a DSEC, em comunicado. Por outro lado, os países lusófonos importaram produtos no valor de oito milhões de patacas, um aumento de 800,4 por cento. No total, Macau exportou de Janeiro a Maio produtos avaliados em 4,54 mil milhões de patacas, menos 17,3 por cento comparando com o período homólogo de 2019. Por outro lado, importou menos 30,3 por cento, fixando-se nas 24,66 mil milhões de patacas. Ainda assim, explicou a DSEC, “o défice da balança comercial nos cinco primeiros meses do corrente ano cifrou-se em 20,11 mil milhões de patacas, menos 9,79 mil milhões de patacas, face ao período homólogo do ano transacto (29,90 mil milhões de patacas)”.

Chegar ao fim da linha Mais de sete mil contratos foram cancelados ou não renovados em Macau entre os meses de Fevereiro e Maio, avançaram à Lusa as autoridades. Durante o mesmo período, verificou-se uma redução de mais de 2000 trabalhadores não residentes não local “apenas complementa os recursos humanos locais”, sublinhou.

DEVOLVIDOS À PROCEDÊNCIA

Trabalho Defendidos estágios para recém-licenciados

Un Su Kei, vice-presidente da Direcção da Associação Geral de Estudantes Chong Wa de Macau, quer que o Governo ofereça mais vagas de formação e estágio para recém-licenciados, noticiou o jornal Ou Mun. O apelo surge depois de o Governo ter lançado estágios de curto prazo ou programas de experiência profissional para aliviar a pressão de procura de emprego dos recém-licenciados. A representante acredita que o impacto da pandemia na economia global leva a que o contexto actual não seja favorável à entrada de novas pessoas no mercado de trabalho. Disse ainda que muitos recém-graduados estão interessados em formações para melhorarem capacidades vocacionais, especialmente cursos de línguas, design e de gastronomia. Assim, sugere que o Governo aumente o número de cursos para permitir aos jovens acumular experiência e melhorarem as suas capacidades profissionais de forma a aumentar a competitividade do mercado no futuro.

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ESDE que se fez sentir o impacto económico em Macau, em especial com o encerramento temporário dos casinos em Fevereiro, e até Maio, foram “canceladas 2.141 permissões de emprego para trabalhadores não residentes”, indicou a Direcção dos Serviços para os Assuntos Laborais (DSAL), em resposta à Lusa.

Por outro lado, avançou a DSAL, “um total de 5.064 permissões de emprego não foram renovadas”, isto apesar de o Governo ter decidido utilizar 38,95 mil milhões de patacas da reserva especial para responder ao impacto económico originado pela pandemia da covid-19. Entre Fevereiro e Maio, recordou a DSAL, segundo os dados divulgados na sexta-feira

pela Polícia de Segurança Pública, houve uma redução de 2.103 trabalhadores não residentes no território. A DSAL justificou ainda que “o princípio básico da política de importação de mão-de-obra do Governo é garantir que o emprego prioritário dos trabalhadores locais e os direitos do trabalho não sejam danificados”. A contratação de mão-de-obra

As autoridades de Macau acrescentaram ainda terem recebido 49 queixas envolvendo 55 trabalhadores não residentes que viram os seus contratos cancelados ou não renovados. “Se forem encontradas violações das leis e regulamentos do trabalho”, frisou, o Governo vai fazer “o acompanhamento de acordo com a lei para proteger os legítimos direitos e interesses dos funcionários”. Em Fevereiro, Macau avançou com uma série de medidas de contenção da pandemia: enviou trabalhadores para casa, mandou encerrar os casinos durante pelo menos 15 dias, algo que levou à quase total paralisação da economia. Na segunda-feira, a última revisão das previsões macroeconómicas da Universidade de Macau apontou para uma quebra entre 54,5 e 60 por cento no Produto Interno Bruto do território neste ano. Nos últimos dias tem havido um número crescente de voos de repatriamento de cidadãos das Filipinas, Nepal e Mianmar que viram os seus contratos cancelados ou não renovados.

JOGO BLOOMBERG ESTIMA PERDAS ACIMA DOS NOVENTA POR CENTO EM JUNHO

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E acordo com analistas citados ontem pela agência Bloomberg, as receitas brutas dos casinos de Macau vão continuar a registar quebras acima dos 90 por cento no mês de Junho. Os resultados oficiais serão divulgados hoje pela Direcção de Inspecção

e Coordenação de Jogos (DICJ). Segundo as estimativas de sete analistas consultados pela Bloomberg, em Junho, a quebra média das receitas brutas de jogo deverá fixar-se nos 95 por cento, com o espectro das previsões a situar-se entre os 80 e os 96 por cento.

Avançando para o mês seguinte, a Bloomberg estima um cenário mais animador para o mês de Julho, apontando quebras de receitas em termos anuais na ordem dos 80 por cento, no cômputo da análise efectuada por seis analistas consultados pela agência,

cujo espectro se situa entre os 33 e os 95 por cento. Segundo o artigo da Bloomberg, a receita bruta do total acumulado de 2020 deverá registar uma quebra de 46 por cento, comparativamente com as receitas totais de jogo de 2019. A Bloomberg aponta ainda, segundo o ana-

lista da Sanford C Bernstein, Vitaly Umansky, que apesar do ligeiro alívio ao nível das restrições fronteiriças, Macau continua a sofrer o impacto directo da situação epidémica, referindo ainda que o recente surto registado em Pequim contribuiu para retardar a recuperação do sector do jogo.

Recorde-se que em Maio de 2020, as receitas brutas dos casinos de Macau registaram uma queda de 93,2 por cento relativamente ao mesmo período do ano passado, totalizando cerca de 1.764 mil milhões de patacas contra 25.952 mil milhões de patacas. P.A.


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ARA o investigador do Comissariado Contra a Corrupção (CCAC) que continuou ontem a testemunhar no caso que envolve o ex-presidente do Instituto de Promoção do Comércio e do Investimento de Macau (IPIM), Angela Ip On Kei e Júlia Chang foram contratadas com “condições mais favoráveis e flexíveis”, numa empresa de Ng Kuok Sao. A testemunha defendeu que as 15 mil patacas de rendimentos mensais que ambas auferiram estavam relacionados com alegados subornos a Jackson Chang, apesar de ter reconhecido que trabalharam. Relativamente à ilicitude cometida por Angela Ip On Kei, acusada de branqueamento de capitais, o investigador do CCAC disse que o salário da arguida se considera uma das vantagens ilícitas dadas a Jackson Chang. “Das 15 mil, o que foi corrupção e o que foi trabalho?”, questionou a advogada Icília Berenguel, acrescentando que “ninguém trabalha de borla”. O alegado envolvimento de Angela Ip On Kei prende-se com uma conversa em que Jackson Chang pede à mulher para eliminar mensagens. A testemunha indica que as mensagens foram apagadas antes de ir ao CCAC e não se descobriu o seu conteúdo. A defesa apontou que Angela Ip On Kei tem um MBA em Gestão Empresarial e já em 2007 trabalhava numa empresa de construção na qual ganhava 19 mil patacas mensais, salário que aumentou para 21 mil no ano seguinte. Icília Berenguel questionou a estranheza de sete anos depois a arguida trabalhar noutra empresa a ganhar 15 mil patacas. O investigador considerou

CASO IPIM CCAC DIZ QUE ORDENADO DE ANGELA IP ON KEI FOI VANTAGEM ILÍCITA

Salário ou corrupção? Apesar de um investigador do CCAC reconhecer que a mulher e filha de Jackson Chang trabalharam, associa os seus salários a vantagens ilícitas ao ex-presidente do IPIM. O CCAC não conseguiu descobrir o conteúdo de mensagens que Jackson Chang pediu a Angela Ip On Kei para apagar, nem que Júlia Chang tenha recebido dinheiro pela sua alegada participação numa empresa como vantagem a possibilidade de trabalhar a partir de casa, por achar que em Macau nenhuma empresa permite isso aos funcionários, apesar de quando confrontado com emails e documentos da empresa ter reconhecido a participação de Angela Ip On Kei numa parte do trabalho.

SEM INDÍCIOS DE ACTIVIDADE

Já no caso de Júlia Chang, o investigador reconheceu sem reservas que trabalhou, mas em relação ao que recebia declarou que “entendemos que não é um

salário, mas um rendimento privilegiado”. Em sessões anteriores, foram mostradas conversas de Júlia onde passa informações que diz virem do pai. Apesar de sofrer descontos salariais por atrasos, a testemunha explicou que recebia um bónus regularmente, o que não acontecia com os outros trabalhadores que também recebiam subsídios. Foi ainda recordado que outra pessoa que desempenhava as mesmas funções na empresa tinha um salário base inferior. Para além disso, a acusação acredita que Júlia Chang obteve

EUA SUPREMO TRIBUNAL DE JUSTIÇA NEGA RECURSO A MAGNATA NG LAP SENG

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recurso interposto pelo magnata do imobiliário de Macau Ng Lap Seng para o Supremo Tribunal dos Estados Unidos (ONU) foi negado, de acordo com a agência Reuters. O tribunal do topo da hierarquia judicial dos Estados Unidos confirmou a sentença de quatro anos de prisão por suborno a dois embaixadores das Nações Unidas a troco de influência para construir um centro de conferências. O colectivo de juízes manteve a decisão do tribunal federal que determinou que as leis anti suborno se aplicam aos pagamentos feitos pelo empresário,

apesar da defesa argumentar que a legislação excluía dinheiro entregue a pessoas envolvidas em entidades públicas, como as Nações Unidas. Em 2017, Ng Lap Seng foi considerado culpado pela prática dos seis crimes de que foi acusado, incluindo suborno, lavagem de dinheiro e corrupção. A acusação argumentou que Ng pagou mais de 1 milhão de dólares em subornos a John Ashe, antigo presidente da assembleia geral da ONU e embaixador de Antígua e Barbuda, e Francis Lorenzo, antigo ex-embaixador da República Dominicana.

O empresário do ramo imobiliário tinha uma ideia faraónica de transformar Macau na “Genebra asiática”, a capital das conferências e convenções, onde estaria incluída uma gala anual de apoio a países em desenvolvimento. Em simultâneo, Ng planeava construir habitação de luxo, unidades hoteleiras, marinas e um heliporto. De acordo com os registos federais, citados pela AP, Ng Lap Seng, de 71 anos, cumpre pena na Prisão de Allenwood, no Estado da Pensilvânia, e estará apto para ser libertado a partir de Janeiro 2022. J.L.

“Das 15 mil, o que foi corrupção e o que foi trabalho?”, questionou a advogada Icília Berenguel, acrescentando que “ninguém trabalha de borla”.

10 por cento de participação na San Fung Yu, outra empresa de Ng Kuok Sao, embora o registo comercial não mostre o seu nome. O investigador do CCAC disse que a arguida “não teria quotas que permitissem gerir a companhia”, e seria detentora delas de forma anónima. Apesar de Júlia Chang ter saído de Macau em 2017 para estudar, suspeita-se que tenha recebido acções quando ainda estava no território. Para a testemunha “as acções em si são já o benefício” – o organismo não conseguiu apurar se daí recebeu dinheiro ou benefícios.

Quanto à empresa em si “não havia indícios de ter negócio” em Macau, apesar de o CCAC não excluir a possibilidade de funcionar na China Continental. Durante a sessão, o advogado Rui Moura disse que a testemunha tinha “dualidade de critérios” face a documentos encontrados na investigação: “leva-me a crer que investigou para acusar”. Salomé Fernandes

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CRIME TRÊS DETIDOS POR CONSUMO DE DROGAS

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Polícia Judiciária (PJ) anunciou ontem a detenção de três pessoas, dois irmãos e uma mulher, por suspeitas do crime de consumo de droga. As investigações começaram em Fevereiro deste ano, quando uma empregada de limpeza de um centro comercial no Cotai encontrou seis notas falsas de 500 patacas numa casa-de-banho. Depois de dado o alerta, o Corpo de Polícia de Segurança Pública (CPSP) transferiu a investigação para a PJ. Foi no encalço destas investigações que foram identificados dois homens, com 35 anos e 29 anos. O primeiro foi detido a 29 de Junho, num

quarto de hotel do ZAPE com uma mulher de 22 anos, que também foi presa, onde a PJ afirma ter encontrado materiais para consumir drogas. Mais tarde, num apartamento, foi detido o irmão mais novo do primeiro suspeito. Os três detidos foram submetidos a análises que confirmaram o consumo de metanfetaminas, algo que acabaram por confessar.

Por este motivo, os dois homens e a mulher estão indiciados da prática dos crimes de consumo ilícito de estupefacientes e de substâncias psicotrópicas e detenção indevida de utensílio ou equipamento, ambos punidos com pena de prisão de três meses a um ano, ou multa de 60 a 240 dias. Os dois indivíduos estão ainda indiciados pela prática dos crimes de contrafacção de moeda, com moldura penal de 2 a 12 anos, e passagem de moeda falsa, punido com uma pena que pode chegar aos cinco anos de prisão. Segundo a PJ, os irmãos recusaram colaborar com a investigação neste ponto. J.F.S.


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A cama do menino jesus A PATRIMÓNIO INTANGÍVEL CONFECÇÃO DO ALUÁ NA NOVA LISTA DO INSTITUTO CULTURAL

O Instituto Cultural decidiu acrescentar 55 novas manifestações na lista de património cultural intangível. A confecção do Aluá, uma das mais conhecidas sobremesas macaenses, faz agora parte da lista. Esta inclui também manifestações culturais portuguesas como a confecção dos pastéis de nata, o fabrico e pintura de azulejos portugueses e as danças folclóricas lusitanas, entre outras

g a s t ro n o m i a macaense obteve ontem mais um reconhecimento oficial. Isto porque o Instituto Cultural (IC) decidiu incluir a confecção do Aluá, uma sobremesa, na lista das 55 novas manifestações do património cultural intangível. O Aluá é uma sobremesa que se faz a partir do côco ralado juntando-se manteiga e açúcar mascavado, bem como pinhões e amêndoas. Ao HM, a chefe de gastronomia macaense, Florita Morais Alves, explicou que todos os ingredientes são depois cozidos em lume brando, com farinha. “É uma receita antiga e requer uma técnica caseira. Nunca faria isso com máquinas, tem de ser cozido à mão, em lume brando, até formar uma massa homogénea.

Quando ganha forma, fica cristalizado e corta-se aos quadrados”, adiantou. Esta sobremesa, de difícil preparação, traz uma lenda consigo. “É uma guloseima que transmite a tradição macaense. As pessoas

“Para as pessoas mais antigas de Macau é uma coisa muito apreciada. Acho que o Aluá é uma das iguarias macaenses com maior representatividade e importância, tal como o minchi” FLORITA MORAIS ALVES CHEF

antigas contam que o Aluá é o colchão do menino jesus. Come-se sobretudo nas épocas festivas, no Natal, no Inverno.” Para Florita Morais Alves, é importante esta distinção do Governo. “Para as pessoas mais antigas de Macau é uma coisa muito apreciada. Acho que o Aluá é uma das iguarias macaenses com maior representatividade e importância, tal como o minchi.” Também Miguel de Senna Fernandes, presidente da Associação dos Macaenses, se congratula com esta distinção. “É importante incluir este prato e também outros, como o Ladu. Mas se calhar é necessário que o Ladu venha a ser mais popularizado. Mas o Aluá é um dos doces muito populares de Macau, eu adoro. A minha avó fazia sempre e as minhas tias também. Era uma


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A presidente da Casa de Portugal em Macau destaca o facto de ser necessário “trabalho” para que estes elementos se possam manter vivos além da distinção feita pelo IC coisa importantíssima pela altura do Natal”, contou ao HM. Miguel de Senna Fernandes destaca o facto de, nos dias de hoje, a comunidade chinesa fazer também a sua própria versão do Aluá. “É uma versão mais adocicada, com mais gordura. O nosso Aluá típico é diferente, é uma coisa trabalhosa que requer arte. Felizmente continuamos a ter hoje pessoas que o fazem.” O facto de a comunidade chinesa pegar em receitas macaenses é, para Miguel de Senna Fernandes, importante para divulgar ainda mais a gastronomia da sua comunidade. “Os chineses também se interessaram por isso e é interessante por uma questão de divulgação. Os pratos macaenses não podem ficar reféns da comunidade. Têm de ser divulgados e apreciados por Macau inteiro e só isso é que faz sentido para ser considerado património intangível.”

CULTURA PORTUGUESA PRESENTE

Além da confecção do Aluá, o IC decidiu incluir muitas manifestações que fazem parte da cultura portuguesa que permanece em Macau, como é o caso da confecção dos pastéis de nata ou o fabrico e pintura de azulejos portugueses. Ao nível das manifestações ou celebrações religiosas, destaque para a inclusão do Arraial de São João, que todos os anos se realiza no bairro de São Lázaro por ocasião do 24 de Junho, Dia de São João Baptista. O IC decidiu também incluir outras manifestações da

religião católica como é o caso da Procissão de Santo António, Procissão do Senhor Morte, Procissão do Senhor Roque, Festa de São Martinho ou Festa da Imaculada Conceição. Ao nível dos espectáculos ou artes performativas, o IC incluiu também na lista as danças folclóricas portuguesas. Amélia António, presidente da Casa de Portugal em Macau (CPM) é importante o destaque dado a estes elementos pois eles são a prova viva de um território culturalmente diverso. “É importante o reconhecimento do que é da cultura chinesa e outras culturas, em especial a portuguesa, por causa do tempo e do peso que teve na formação das características de Macau.” A presidente da CPM destaca o facto de ser necessário “trabalho” para que estes elementos se possam manter vivos além da distinção feita pelo IC. No caso da CPM, há muito que promove cursos na área do artesanato a fim de manter vivas algumas das tradições portuguesas. “As coisas devem ser promovidas e divulgadas e também ensinadas, que é aquilo que a CPM tem feito ao longo dos anos. Quando abrimos as nossas oficinas, incluindo as oficinas de cerâmica e de pintura de azulejo, foi uma das nossas preocupações, tal como a oficina de joalharia, uma coisa que é também bastante portuguesa”, rematou Amélia António. No que diz respeito à cultura chinesa, foram incluídos elementos como as danças do dragão e do leão, o festival das lanternas e da Primavera, o festival dos barcos dragão (Tung Ng) e a regata dos barcos dragão, entre outras. Na área do artesanato, de frisar a inclusão do fabrico de pivetes, a confecção de vestidos de casamento chineses, o fabrico de porcelana chinesa ou a confecção de pastelaria chinesa, entre outras iguarias. Andreia Sofia Silva

andreia.silva@hojemacau.com.mo

Memória sem fronteiras “A metamorfose dos pássaros” de Catarina Vasconcelos premiado em Taiwan

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f i l m e “A metamorfose dos pássaros”, da realizadora portuguesa Catarina Vasconcelos, foi distinguido com o Prémio Especial do Júri do Festival de Cinema de Taipé, em Taiwan, anunciou ontem a agência Portugal Film. “Depois de ter vencido o Prémio da Crítica Internacional - FIPRESCI, na Berlinale, onde teve a sua estreia mundial, e o Prémio de Melhor Filme no Festival de Vilnius, na Lituânia, a primeira longa-metragem da realizadora Catarina Vasconcelos venceu ontem o Prémio Especial do Júri no Festival de Cinema de Taipé, o mais importante festival de cinema de Taiwan”, refere a Portugal Film, num comunicado ontem divulgado. “A metamorfose dos pássaros”, a primeira longa-metragem de Catarina Vasconcelos, estava integrada na competição ‘New Talent’ (Novo Talento, em português), que inclui 12 filmes “que revelam novos cineastas”. Catarina Vasconcelos, citada no comunicado da Portugal Film, recebeu “com enorme felicidade a notícia do Prémio Especial do Júri” do Festival de Cinema de Taipé, que começou na quinta-feira e termina em 7 de Julho. “Pensar que este filme tão pessoal chegou até Taipé já era uma enorme alegria. Mas talvez a maior alegria seja o perceber que não há fronteiras no pensamento da morte e das memórias”, afirmou. Segundo a Portugal Film, “A metamorfose dos pássaros” já foi seleccionado “para mais de 20 festivais internacionais, nos Estados Unidos, Rússia, Espanha, Grécia, Coreia, Canadá, Polónia, Brasil, México, Austrália, Itália, entre outros”. Além disso, “o filme também já foi vendido no território chinês, onde terá estreia comercial”. Em Portugal, a primeira ‘longa’ de Catarina Vasconcelos será exibida no festival IndieLisboa, que decorre entre 25 de Agosto e 5 de Setembro, integrado na competição nacional.

a tristeza virada do avesso” (2013), em contexto académico em Londres. Os dois filmes aproximam-se em aspetos formais e temáticos e interligam-se porque Catarina Vasconcelos filmou a família, abordando a relação dos pais e a morte da mãe, na curta-metragem, e a história de amor dos avós e a morte da avó paterna - que nunca conheceu -, na longa-metragem. “Eu queria que [o filme] fosse sobre esta família, mas que pudesse falar com outras pessoas. […] O tempo que ele demora é quase o tempo que eu demoro a conseguir sair de mim para chegar aos outros. Consegui libertar-me da minha fa-

“HÍBRIDO DE FORMAS”

Catarina Vasconcelos, 33 anos, demorou-se seis anos na criação deste filme, depois de ter feito a primeira curta-metragem, “Metáfora ou

mília e do medo de inventar sobre eles, para poder inventar à vontade. Isso foi muito importante”, contou em entrevista à agência Lusa. É por isso que Catarina Vasconcelos apresenta “A metamorfose dos pássaros” como um ‘documentário-ficção’, um filme que está no meio, um “híbrido de formas” baseado nas memórias das infâncias e juventudes da família e preenchido pela ficção. Sobre este filme, Catarina Vasconcelos fala de “um processo altamente íntimo e pessoal”, na conjugação da montagem de som e imagem, devedora de uma relação que a realizadora tem com as artes plásticas e descrita como “uma coisa muito analógica, de bricolagem”. Há planos que parecem pinturas ou fotografias animadas, composições visuais encenadas e metafóricas, cheias de simbolismos, sobre a passagem do tempo e sobre a omnipresença da natureza. “Todo este lado que vem mais das artes plásticas foi muito importante e o filme não podia ter sido construído noutro sítio. Foram as soluções que encontrei para dar resposta a coisas que eu sentia”, explicou. “A metamorfose dos pássaros” foi produzido por Pedro Duarte e Joana Gusmão, com apoio financeiro do Instituto do Cinema e do Audiovisual, da RTP e da Fundação Calouste Gulbenkian.

Fundação Rui Cunha Exposição de postais ilustrados inaugura no dia 8 de Julho A Fundação Rui Cunha (FRC) prepara-se para acolher, a partir do dia 8 de Julho, quarta-feira, a exposição “Comunicação Tradicional na Era Digital – Colecção de Postais de uma Criança de 8 Anos”. Segundo um comunicado, trata-se de uma “viagem através das imagens de postais ilustrados, oriundos de diferentes

continentes e reunidos ao longo de vários anos”, uma colecção da autoria de Audrey Yung, uma menina de Macau com oito anos de idade. Quando Audrey nasceu os pais começaram este projecto graças à participação num programa digital de intercâmbio de postais, intitulado “POSTCROSSING”, projecto do português

Paulo Magalhães. Em oito anos foram recolhidos 2500 postais oriundos de países como África do Sul, Chile, Malta ou Nigéria, entre outros. A exposição revela apenas uma parte deste acervo. A mostra conta com o apoio dos CTT Correios de Macau e Museu das Comunicações e estará patente até ao dia 25 de Julho 2020.


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LIVRO PUBLICADO TERCEIRO VOLUME DE “XI JINPING: A GOVERNANÇA DA CHINA”

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terceiro volume do livro “Xi Jinping: A Governança da China” foi publicado pela Editora de Línguas Estrangeiras em Chinês e Inglês, passando a estar disponível na China e no mercado internacional. O recém-publicado volume agrega 92 artigos, incluindo discursos, conversas, instruções e cartas de Xi, secretário-geral do Comité Central do Partido Comunista da China (PCC), entre 18 de Outubro de 2017 e 13 de Janeiro de 2020, segundo um comunicado esta terça-feira.

Os artigos estão divididos em 19 tópicos, sendo que o volume contém também 41 fotografias do líder chinês durante o mesmo período. O recém-publicado volume foi publicado conjuntamente pelo Gabinete de Informações do Conselho de Estado, Instituto de História e Literatura do Partido e pela Administração de Publicações em Línguas Estrangeiras da China. O terceiro volume regista as práticas do Comité Central do PCC com Xi Jinping como núcleo da união e liderança de todo o Partido e do povo chinês e todos seus grupos étnicos na realização de novos e importantes avanços nos vários empreendimentos do Partido e do país desde a 19º Congresso Nacional do PCC, segundo o comunicado, citado pelo diário do Povo.

MANUFACTURA ACTIVIDADE NO PAÍS VOLTOU A CRESCER DURANTE O MÊS DE JUNHO

Perto da normalidade

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a c t i v i d a d e manufactureira da China voltou a crescer em Junho, depois da forte queda no primeiro trimestre, devido às medidas adoptadas para travar a pandemia da covid-19. O índice mensal dos gerentes de compras divulgado pelo Gabinete Nacional de Estatísticas da China e por um grupo do sector subiu para 50,9 pontos, depois de se ter fixado nos 50,6 pontos, em Maio passado. Uma leitura acima dos 50 pontos indica crescimento da actividade do sector, enquanto uma leitura abaixo indica contracção. A economia da China contraiu 6,8 por cento, no primeiro trimestre de 2020, devido à epidemia da Covid-19, que levou ao encerramento de fábricas e PUB

A economia da China está a recuperar gradualmente, apoiada por maiores gastos governamentais na construção de obras públicas

estabelecimentos comerciais e restrições na movimentação de centenas de milhões de pessoas. No entanto, o país onde a pandemia começou, em Dezembro passado, foi também o primeiro a repor a normalidade, a partir de Março, depois de o Partido Comunista Chinês ter declarado vitória sobre a doença. A indústria e outras actividades estão a regressar

aos níveis anteriores à pandemia, mas a procura externa, no entanto, permanece moderada, à medida que a pandemia do novo coronavírus atingiu os mercados de exportação da China. Os consumidores chineses, que perderam rendimentos, estão também relutantes em realizar grandes compras. A investigação revela sinais de que a economia

Covid-19 Registados 19 casos esta segunda-feira A China diagnosticou 19 novos casos de covid-19 esta segunda-feira, incluindo sete em Pequim, anunciaram ontem as autoridades. Todos os casos em Pequim são de contágio local, registando-se ainda outro na cidade de Xangai. Os restantes casos oriundos do exterior e foram localizados em Cantão, Xangai, Sichuán e Gansú, indicou a Comissão de Saúde da China. A Comissão

de Saúde da China não indicou novas mortes em todo o país. O número de casos activos fixou-se em 428, entre os quais sete em

da China está a recuperar gradualmente, apoiada por maiores gastos governamentais na construção de obras públicas. “O ambiente externo é muito severo”, admitiu a Federação Chinesa de Logística e Compras, em comunicado. A produção continua a ser “significativamente maior” do que a procura, lê-se na mesma nota.

estado grave. De acordo com os dados oficiais, desde o início da pandemia a China registou 83.531 infectados e 4.634 mortos devido à covid-19, a doença causada pelo novo coronavírus (SARS-CoV-2). A pandemia de covid-19 já provocou mais de 502 mil mortos e infectou mais de 10,20 milhões de pessoas em 196 países e territórios, segundo um balanço feito pela agência de notícias France-Presse (AFP).

Região Segurança Índia proíbe 59 aplicações ligadas à China A Índia proibiu na segunda-feira 59 aplicações ligadas à China, alegando que as suas actividades colocam em risco a soberania, defesa e segurança do país.A decisão da Índia surge no momento em que as suas tropas estão envolvidas num impasse tenso com soldados chineses no

leste de Ladakh, nos Himalaias. A Índia perdeu 20 soldados num confronto a 15 de Junho. As aplicações proibidas incluem o TikTok, UC Browser, WeChat e o Bigo Live, bem como as plataformas de comércio eletrónico Club Factory e Shein, usadas em dispositivos móveis e não

móveis conectados à Internet, de acordo com um comunicado do Governo. O Governo sublinhou as crescentes preocupações sobre segurança de dados e salvaguarda da privacidade de 1,3 biliões de indianos, que representam uma ameaça à soberania e segurança do país.


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TRAVÉS da Ferrari Driver Academy (FDA), e em parceria com a Motorsport Australia, a Ferrari colocou a primeira pedra do seu projecto para encontrar talentos na região Ásia-Pacifico.Amarca do “Cavalinho Rampante” identificou vinte e quatro países e territórios elegíveis para este programa que pretende levar um jovem talento desta zona do globo aos mais altos escalões do desporto motorizado. Curiosamente, ou talvez não, na lista de países e territórios onde consta a Coreia do Norte, não consta Macau! Segundo o comunicado de imprensa, a Motorsport Australia será responsável pela execução anual das fases iniciais do programa de desenvolvimento no seu Centro de Excelência no Sydney Motorsport Park. Os países e territórios designados, alguns deles sem qualquer traço de história no automobilismo, foram a Austrália, Paquistão, Índia, Nepal, Butão, Bangladesh, Birmânia, Tailândia, Laos, Vietname, Camboja, Malásia, Singapura, Indoné-

Estranha omissão Ferrari Driver Academy deixa jovens de Macau de fora

sia, Brunei, Filipinas, Japão, Coreia do Norte (!), Coreia do Sul, Taiwan, Hong Kong, Sri Lanka, Nova Zelândia e China. Os candidatos dos países designados e qualificados para participar desta iniciativa, com idades compreendidas entre 14 e 17 anos, precisarão de viajar até Austrália, e custear as suas despesas, para participar da avaliação. Um número a designar dos melhores pilotos deste grupo inicial será convidado a continuar nas etapas seguintes do programa, onde a Motorsport Australia e a FDA irão determinar em conjunto os melhores dois pilotos do ano da região. Os dois melhores serão convidados a viajar até Itália, para na pista de testes de Fiorano competirem contra os pilotos das academias de todo o mundo. Ao piloto vencedor das várias academias será oferecido um volante na FDA num campeonato europeu de Fórmula 4. O HM contactou a Scuderia Ferrari, que tem a tutela Ferrari Driver Academy (FDA), e a Motorsport Australia, para obter uma justificação para a omissão, propositada ou não, da RAEM da lista de países e território

Macau não é um lugar estranho à FDA, pois os jovens da academia de pilotos da marca de Maranello costumam ser presença habitual no Grande Prémio de Macau elegíveis para este programa, mas, apesar das insistências, até à publicação deste artigo não obteve qualquer resposta. Macau não é um lugar estranho à FDA, pois os jovens da academia de pilotos da marca de Maranello costumam ser presença habitual no Grande Prémio de Macau. Só na corrida de Fórmula 3 do passado foram quatro os representantes da FDA em pista: Callum Ilott (6º), Marcus Armstrong (8º), Enzo Fittipladi (16º) e Robert Shwartzman (abandono). Sérgio Fonseca

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ANÚNCIO “Fornecimento de artigos informáticos ao IAM” Concurso Público n° 13/DGF/2020

ANÚNCIO “Fornecimento de forragem e materiais destinados a animais ao IAM” Concurso Público n° 14/DGF/2020

Faz-se público que, por deliberação do Conselho de Administração para os Assuntos Municipais do IAM, tomada em sessão de 19 de Junho de 2020, se acha aberto concurso público para o “Fornecimento de artigos informáticos ao IAM”. O programa do concurso e o caderno de encargos podem ser obtidos, todos os dias úteis e dentro do horário normal de expediente, no Núcleo de Expediente e Arquivo do Instituto para os Assuntos Municipais (IAM), sito na Avenida de Almeida Ribeiro nº 163, r/c, Macau ou descarregados de forma gratuita através da página electrónica deste Instituto (http://www. iam.gov.mo). Se os concorrentes quiserem descarregar os documentos acima referidos, sendo também da sua responsabilidade a consulta de actualizações e alterações das informações na nossa página electrónica durante o período de entrega das propostas. O prazo para a entrega das propostas termina às 12:00 horas do dia 16 de Julho de 2020. Os concorrentes ou seus representantes devem entregar as propostas e os documentos no Núcleo de Expediente e Arquivo do IAM e prestar uma caução provisória no valor de MOP1.000,00 (mil patacas). A caução provisória pode ser prestada em numerário ou garantia bancária. Caso seja em numerário, a prestação da caução deve ser efectuada na Tesouraria da Divisão de Assuntos Financeiros do IAM ou no Banco Nacional Ultramarino de Macau, juntamente com a guia de depósito (em triplicado), havendo ainda que entregar a referida guia na Tesouraria da Divisão de Assuntos Financeiros do Instituto, após a prestação da caução, para efeitos de levantamento do respectivo recibo oficial. Caso seja sob a forma de garantia bancária, a prestação da caução deve ser, obrigatoriamente, efectuada na Tesouraria da Divisão de Assuntos Financeiros do IAM. As despesas resultantes da prestação da caução constituem encargos do concorrente. O acto público de abertura das propostas realizar-se-á no auditório da Divisão de Formação e Documentação do IAM, sita na Avenida da Praia Grande, nº 804, Edf. China Plaza 6º andar, pelas 10:00 horas do dia 17 de Julho de 2020. Macau, aos 23 de Junho de 2020.

Faz-se público que, por deliberação do Conselho de Administração para os Assuntos Municipais do IAM, tomada em sessão de 19 de Junho de 2020, se acha aberto concurso público para o “Fornecimento de forragem e materiais destinados a animais ao IAM”. O programa do concurso e o caderno de encargos podem ser obtidos, todos os dias úteis e dentro do horário normal de expediente, no Núcleo de Expediente e Arquivo do Instituto para os Assuntos Municipais (IAM), sito na Avenida de Almeida Ribeiro nº 163, r/c, Macau ou descarregados de forma gratuita através da página electrónica deste Instituto (http://www. iam.gov.mo). Se os concorrentes quiserem descarregar os documentos acima referidos, sendo também da sua responsabilidade a consulta de actualizações e alterações das informações na nossa página electrónica durante o período de entrega das propostas. O prazo para a entrega das propostas termina às 12:00 horas do dia 20 de Julho de 2020. Os concorrentes ou seus representantes devem entregar as propostas e os documentos no Núcleo de Expediente e Arquivo do IAM e prestar uma caução provisória no valor de MOP1.000,00 (mil patacas). A caução provisória pode ser prestada em numerário ou garantia bancária. Caso seja em numerário, a prestação da caução deve ser efectuada na Tesouraria da Divisão de Assuntos Financeiros do IAM ou no Banco Nacional Ultramarino de Macau, juntamente com a guia de depósito (em triplicado), havendo ainda que entregar a referida guia na Tesouraria da Divisão de Assuntos Financeiros do Instituto, após a prestação da caução, para efeitos de levantamento do respectivo recibo oficial. Caso seja sob a forma de garantia bancária, a prestação da caução deve ser, obrigatoriamente, efectuada na Tesouraria da Divisão de Assuntos Financeiros do IAM. As despesas resultantes da prestação da caução constituem encargos do concorrente. O acto público de abertura das propostas realizar-se-á no auditório da Divisão de Formação e Documentação do IAM, sita na Avenida da Praia Grande, nº 804, Edf. China Plaza 6º andar, pelas 10:00 horas do dia 21 de Julho de 2020. Macau, aos 23 de Junho de 2020. O Administrador do Conselho de Administração para os Assuntos Municipais Mak Kim Meng

O Administrador do Conselho de Administração para os Assuntos Municipais Mak Kim Meng


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NTRE os discípulos de Confúcio mesmo os mais jovens consideravam vergonhoso falar elogiosamente dos cinco tiranos. Como assim? Pois eu digo: é assim mesmo, falar deles elogiosamente é merecedor de vergonha. O Duque Huan de Qi foi o mais bem-sucedido dos cinco tiranos, mas, entre os seus primeiros feitos, contam-se o assassinato do próprio irmão mais velho e a captura do estado. Na condução dos assuntos internos da família, deixou por casar sete das suas irmãs e tias. Nos seus aposentos privados, dedicava-se à diversão e música mais extravagantes. Recebeu por quinhão todo o estado de Qi, mas não o considerou suficiente. Nos negócios estrangeiros, enganou Zhu e emboscou Ju, anexando trinta e cinco estados. Assim eram a impetuosidade, corrupção, perversão e extravagância do seu método e conduta. Como poderia ser digno de elogio na escola da grande pessoa exemplar? Apesar de ser assim, como é que não pereceu, mas, ao invés, se tornou num tirano? Pois eu digo: o Duque Huan de Qi adoptou as melhores medidas do mundo. Quem o poderia ter feito perecer? Num relance, viu que a capacidade de Guan Zhong era suficiente para que

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A mão conhece o que mal olhos vêem

Sobre Confúcio

lhe fosse confiado o estado – essa foi a melhor sabedoria do mundo. O Duque deixou cair e esqueceu a sua ira para com Guan Zhong, eliminando e esquecendo a sua inimizade. Depois, estabeleceu-o como “Tio” – essa foi a melhor decisão do mundo. O Duque estabeleceu-o como “Tio” e ninguém na família real se atreveu a invejá-lo. O Duque deu-lhe uma posição igual à das famílias Gao e Guo e nenhum dos ministros da corte se atreveu a odiá-lo. O Duque ofereceu-lhe por propriedade trezentos distritos de altar e ninguém de entre os ricos se atreveu a desdenhá-lo. Os nobres e os plebeus, os anciãos e jovens, todos seguiram o Duque Huan dispensando-lhe honra e respeito. Estas foram as melhores medidas do mundo. Se um senhor feudal tomasse uma só destas medidas, ninguém poderia fazê-lo perecer. O Duque Huan combinou todas estas medidas e implementou-as completamente. Como poderia ter perecido? Foi justo que se tornasse num tirano. Tal não de deveu à sorte, mas a um conjunto de coisas que fez bem.1 No entanto, entre os discípulos de Confúcio, mesmo os mais jovens consideram vergonhoso falar elogiosamente dos cinco tiranos. Como assim?

Elementos de ética, visões do Caminho PARTE I

Pois eu digo: assim é. Os tiranos não se baseiam no governo pela educação. Não se esforçam por ser refinados e elevados. Não buscam os extremos da cultura e boa ordem. Não fazam com que os corações do povo se submetam de bom grado. Dedicam-se a tácticas e estratagemas, prestam atenção à fadiga e repouso das tropas, acumulam provisões e promovem os conhecimentos de combate dos seus homens, assim conseguindo derrotar os seus rivais. Usam corações traiçoeiros para conseguir a vitória e a deferência como capa para o conflito. Dão-se a aparência de ser ren [humanos], mas caminham na estrada do lucro. São os heróis dos homens mesquinhos. Como poderiam ser dignos de elogio na escola da pessoa exemplar? Um verdadeiro rei não é assim. É meritório a todos os títulos, sabendo usar isso para salvar os que não são meritórios. É forte e sabe usar isso para ser bondoso com os fracos. Em batalha, é garantido que derrote os seus oponentes, mas sem se envolver em rixas vulgares com eles. Com humildade, atinge a forma apropriada. Disto dá mostras a todos debaixo do Céu e os estados violentos se transformam por si próprios. Só quando há estados caóticos e perver-

sos lança campanhas punitivas. O Rei Wen lançou quatro campanhas punitivas. O Rei Wu lançou duas. O Duque de Zhou conclui os seus trabalhos e, à época do Rei Cheng, reinava a paz e ninguém tinha ficado por punir. Assim, como poderia o Caminho não funcionar? O Rei Wen tinha um território de apenas cem li [léguas] e, contudo, todo o mundo foi unificado por ele. Os tiranos Jie e Zhòu abandonaram-no e pensaram deter o poder mais abundante debaixo do Céu, mas não conseguiram chegar à idade avançada de um mero camponês. Por isso, fazendo bom uso dele, até um estado de cem li basta para ser independente. Fazendo mau uso dele, mesmo com um estado de seis mil li, como Chu, ser-se-á vassalo dos inimigos. Assim, quando um líder não se esforça por atingir o Caminho, esforçando-se em vez disso por obter grande poder, tal é o modo de se colocar a si próprio em perigo. 1 Apesar de não nos ser dada uma categorização das boas medidas tomadas pelo Duque Huan, é possível identificar quatro aspectos no seu comportamento que agradavam a Xunzi: (1) reconhecer o talento de alguém (“a melhor sabedoria”), (2) empregar essa pessoa como ministro (“a melhor decisão”), (3) mostrar respeito por essa pessoa e (4) recompensá-la materialmente.

Tradução de Rui Cascais Xunzi (荀子, Mestre Xun; de seu nome Xun Kuang, 荀況) viveu no século III Antes da Era Comum (circa 310 ACE - 238 ACE). Filósofo confucionista, é considerado, juntamente com o próprio Confúcio e Mencius, como o terceiro expoente mais importante daquela corrente fundadora do pensamento e ética chineses. Todavia, como vários autores assinalam, Xunzi só muito recentemente obteve o devido reconhecimento no contexto do pensamento chinês, o que talvez se deva à sua rejeição da perspectiva de Mencius relativamente aos ensinamentos e doutrina de Mestre Kong. A versão agora apresentada baseia-se na tradução de Eric L. Hutton publicada pela Princeton University Press em 2016.


ARTES, LETRAS E IDEIAS 13

quarta-feira 1.7.2020

divina comédia Nuno Miguel Guedes

Chegar tarde à festa

N

O dia 12 de Junho deste ano estranho aconteceu uma coisa rara: o New York Times publicou uma entrevista a Bob Dylan, que o escritor de canções acedeu fazer uma semana antes do lançamento do seu primeiro disco de originais em oito anos: Rough And Rowdy Ways, assim se chama. Dylan nunca foi grande apreciador de interacções com a comunicação social (como o seu grande ídolo Sinatra, a quem dedicou os dois discos anteriores) mas neste caso deverá ter pesado o facto de que o entrevistador tivesse sido um amigo seu, Douglas Brinkley. Por esta altura a crítica já incensou o duplo álbum, uma chuva de estrelas por tudo o que é imprensa “especializada”. Pela minha parte, confirmo: bastariam o épico de 17 minutos que é Murder Most Foul (a propósito e a partir do assassinato de John Kennedy) e o ainda mais excelente I Contain Multitudes para provar que o homem está em forma e ainda por cima conta com cúmplices do calibre de Fiona Apple, entre outros. Mas regressemos à entrevista, que é o ponto de partida para esta conversa. Em rigor não traz grandes surpresas ou afirmações bombásticas. Dylan fala do estado do mundo, coisa que as suas canções sempre fizeram. Brinkley não é um entrevistador brilhante até porque nem sequer é jornalista e em quase todas as perguntas que faz as respostas estão contidas no enunciado. Sobre a morte de George Floyd e o que isso espoletou, por exemplo, Brinkley pergunta a Dylan o que acha do fenómeno, listando as canções que falam justamente do assunto racismo e de violência policial (cf. Hurricane, 1976). Espanta como o autor de canções teve algo mais a dizer do que “sim” ou “não”. Há no entanto perguntas e respostas que valem a pena. Sobre o soberbo I Contain Multitudes o entrevistador pega num verso para saber da relação de Dylan com a sua mortalidade: “I sleep with life and death in the same bed”. A réplica de Dylan aqui é menos interessante do que a sua letra mas nem por isso menos verdade: o homem tem 79 anos, é natural que pense nisso. E diz que pensa na morte “de uma maneira geral, não de uma forma pessoal”. Mas o que realmente me chamou a atenção a ponto de ser o pretexto desta crónica foi quando a dada altura o entrevistador revela o seu espanto quando em Murder Must Foul o cantor homenageia Glenn Frey e Don Henley, compositores principais da banda The Eagles. E é este espanto que me interessa, porque o que faz é disfarçar o pre-

conceito de Brinkley – o que está no subtexto da pergunta é “como é que um génio como tu pode gostar de uma banda como os The Eagles, tão mainstream e ainda por cima de sucesso”? Dylan não só lista alguma das canções da banda mas ainda diz que Pretty Maids All In The Row é uma das maiores canções de sempre. Este fenómeno é comum e universal. Trata-se de um preconceito de gosto, um pré-juizo inofensivo (por oposição a outros mais importantes, torpes e nefastos) que desperta a surpresa quan-

do alguém que respeitamos os quebra. O próprio Dylan foi alvo disso: como é que um dos melhores escritores de canções poderia gostar de Sinatra, um tipo que cantava sempre de smoking e em casinos. A resposta, sabemos, é simples: porque Dylan adora canções e conhece a vida de Sinatra. Há pouco tempo tive uma experiência semelhante: ao ouvir uma canção dos Crosby, Stills & Nash fui arrebatado: como é que estes hippies (subcultura que sempre desprezei) puderam escrever uma canção tão perfeita como

Vivemos na época em que a formulação mais comum que se utiliza para designar o que não está de acordo com os nossos gostos é “nunca ouvi/li/discuti mas”. A atitude de curiosidade saudável parece ter sido perdida neste mundo de trincheiras em que vivemos, feita de maniqueísmos e ignorância

Helplessly Hoping ? Na minha ignorância nem sequer me dava ao trabalho de os ouvir. Até o dia em que os ouvi e fiquei deslumbrado. Vivemos na época em que a formulação mais comum que se utiliza para designar o que não está de acordo com os nossos gostos é “nunca ouvi/li/discuti mas”. A atitude de curiosidade saudável parece ter sido perdida neste mundo de trincheiras em que vivemos, feita de maniqueísmos e ignorância. Mais ainda, a predisposição para ser devidamente contrariado é algo em vias de extinção. E é tão necessária. Teremos sempre preconceitos, disso ninguém duvide. E alguns, eventualmente, serão bons. Mas temos de estar dispostos a que alguém os arrase com inteligência e gentileza. Sem isso não pode haver caminho que valha a pena fazer. A propósito da minha tardia descoberta da canção mencionada, um amigo comentou: “Às vezes é melhor chegar tarde à festa”. Tem toda a razão. Melhor sempre encontrar alguém do que chegar cedo e estar sozinho.


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ONWARD [B]

FALADO EM CANTONÊS Um filme de: Dan Scanlon 14.30, 16.30, 19.30

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FALADO EM JAPONÊS LEGENDADA EM CHINÊS Um filme de: Tomohisa Taguchi 21.30

INHERITANCE [C] Um filme de: Vaughn Stein

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Com: Lily Collins, Simon Pegg, Connie Nielsen 14.30, 21.30

FUKUSHIMA [B]

FALADO EM JAPONÊS LEGENDADA EM CHINÊS E INGLÊS Um filme de: Setsuro Wakamatsu Com: Koichi Sato, Ken Watanabe 16.45, 19.00 SALA 3

THE HIGH NOTE [B]

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dados oficiais. De acordo com os dados recolhidos pela agência de notícias francesa até às 18:00 de ontem em Macau, já morreram pelo menos 505.652 pessoas e há mais de 10.322.400 infectados em

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196 países e territórios desde o início da epidemia, em Dezembro de 2019 na cidade chinesa de Wuhan. Pelo menos 5.187.300 casos foram considerados curados pelas autoridades de saúde.

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A pandemia do novo coronavírus já causou a morte a pelo menos 505.652 pessoas e infectou mais de 10 milhões em todo o mundo desde Dezembro, segundo um balanço da agência AFP baseado em

TRÁGICOS NÚMEROS

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MAX

Um filme de: Nisha Ganatra Com: Dakota Johnson, Tracee Ellis Ross, Kevin Harrison Jr. 14.30, 17.00, 19.15, 21.30

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UM FILME HOJE

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SOBREVIVENDO A PICASSO | JAMES IVORY | 1996

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1 4 6 5 3espanhol 6 da7pintura 5 conhecido 4 1por ser terrível para com as mulheres, teve uma Picasso, 2 o génio longa relação com a pintora francesa Françoise Gilot, com quem teve dois filhos. Françoise foi a 3 7 5 2 5 que 7 soube 4 lidar3com2a personalidade 1 6 de Picasso e também a única que o conseguiu única mulher deixar. Este filme norte-americano aborda esta intensa e complicada relação e revela também o 6 3 7INHERITANCE 4 7de um 6 dos1maiores 4 artistas 3 do5século2XX. Andreia Sofia Silva outro lado 2 1 3 6 3 5 2 1 6 7 4 Propriedade 5 6Fábrica2de Notícias, 1 Lda Director Carlos Morais4José Editores 2 João7Luz; José5C. Mendes 1 Redacção 6 Andreia 3 Sofia Silva; João Santos Filipe; Pedro Arede; Salomé Fernandes Colaboradores Anabela Canas; António Cabrita; António de Castro Caeiro; António Falcão; Ana Jacinto Nunes; Amélia Vieira; Duarte Drumond Braga; Emanuel Cameira; Gisela Casimiro; Gonçalo Lobo Pinheiro; Gonçalo M.Tavares; João Paulo Cotrim; José Drummond; José Navarro de Andrade; José Simões Morais; Luis Carmelo; Michel Reis; Nuno Miguel Guedes; Paulo José 7 Paulo5Maia4 6 Cabral; 1 Rui5 3 Fonseca; 7 Valério Romão Colunistas António Conceição Júnior; David Chan; Miranda; e Carmo;3 Rita Taborda Duarte; Rosa Coutinho Cascais; 2 Rui Filipe4 Torres; Sérgio João Romão; Jorge Rodrigues Simão; Olavo Rasquinho; Paul Chan Wai Chi; Paula Bicho; Tânia dos Santos Grafismo Paulo Borges, Rómulo Santos Agências Lusa; Xinhua Fotografia Hoje Macau; 4 Lusa;2GCS;Xinhua 1 Secretária 7 deredacçãoePublicidade 1 Madalena 4 daSilva 3 (publicidade@hojemacau.com.mo) 6 7 2 5AssistentedemarketingVincentVongImpressãoTipografiaWelfare Morada Calçada de Santo Agostinho, n.º 19, Centro Comercial Nam Yue, 6.º andar A, Macau Telefone 28752401 Fax 28752405 e-mail info@hojemacau.com.mo Sítio www.hojemacau.com.mo 36


opinião 15

quarta-feira 1.7.2020

sexanálise

TÂNIA DOS SANTOS

365 DIAS

O

filme mais visualizado na plataforma de streaming de eleição tem muito sexo. O 365 DNI (365 dias) está pelas bocas do mundo e popularidade não lhe falta. O filme é mauzinho. A banda sonora não podia ser pior. Os diálogos são fracos, a interpretação também. Comparam-no com o Fifty Shades of Grey, o filme que conseguiu fazer o erotismo popular e de fácil acesso, mas esse com algum BDSM e voyeurismo. A sinopse é simples, trata-se de uma versão erótica d’A Bela e o Monstro. O monstro é um chefe de família de uma máfia qualquer italiana, a bela é uma rapariga polaca que estava na Sicília de férias. Ele rapta-a e ela tem 365 dias para se apaixonar por ele. A tensão sexual amontoa-se até culminar em muito sexo. Não há grande carinho, só tesão, sedução e penetração forte para que os gritos dela se façam ouvir em Varsóvia: palavras do galã desta trama. Não podia deixar de comentar o estado deste sexo que se popularizou. O filme até começa bem, com masturbação e um dildo, que não é comum no pequeno e grande ecrã. Ganham pontos com isso. Mas depois de uma masturbação aplaudida, há três fellatios seguidos. Perderam pontos aí. As referências a penetração são inúmeras, como se fosse a única forma de sexo que existe. O sexo é violento e bruto - que não tem mal nenhum, só que é uma imagética tão utilizada, que já cansa. Todas as premissas e posições do sexo que lá vi pareciam inspirados numa pornografia corriqueira. Penetração e mais penetração, e o que é que podemos ter mais? Penetração. Não há uns preliminares jeitosos e sensuais, não se perde muito tempo em explorar outras partes do corpo. Há um pouco de cunnilingus, pronto. Nem foram muito por fetiches, como por momentos julguei que mergulhassem, quando se focaram nos pés da rapariga mais tempo do que eu esperava. Fetiche por pés teria sido uma inovação interessante para um filme popular como este. Fica a dica. Já para não falar que o enredo é discutível e problemático. O consentimento tem que lá estar - esse acordo explícito entre gentes que garante o sexo prazeroso a cada parte. Neste filme não há nada disso. Começa logo com o abuso que é um homem raptar uma mulher para que ela se apaixone por ele - e ela apaixona-se, como seria de prever. Para quem pensa a sério acerca das mensagens e representações que este tipo de filmes passa

365 dias

a reacção é de horror ao ver a romantização da síndrome de Estocolmo. O raptor até lhe garante que não lhe faz nada sem que ela lhe peça, mas ele fez muita coisa que ela não pediu. Como ficar presa na Sicília numa mansão com um mafioso, ou ser constantemente apalpada em supostos jogos de sedução. A vítima apaixona-se, assim, pelo raptor, como se fosse a coisa mais normal do mundo. Nem precisou dos 365 dias, parece que só precisou de duas semanas a dois meses, nem dá para perceber bem. De representações românticas preocupantes e sexo limitado, o filme não traz nada de novo,

só os clichés do costume que perpetuam os mitos do costume. Ainda assim, o raio do filme não deixa de ser uma sensação, e acho que sabemos porquê. O filme pode ser mau, mas trouxe um enredo fácil com muito sexo às nossas pobres almas que têm aturado este 2020 horrífico e cansativo. Estou convencida que se o filme fosse lançado noutra altura qualquer, não teria o mesmo impacto. Mas agora está a tornar-se num filme de culto, com críticos e apreciadores ansiosamente à espera da sequela (da trilogia!) – e de voltar a rever os protagonistas deste drama erótico.

A vítima apaixona-se, assim, pelo raptor, como se fosse a coisa mais normal do mundo. Nem precisou dos 365 dias, parece que só precisou de duas semanas a dois meses, nem dá para perceber bem. De representações românticas preocupantes e sexo limitado, o filme não traz nada de novo, só os clichés do costume que perpetuam os mitos do costume


Sempre me inclinei a pensar bem de toda a gente; evita muitos problemas. Rudyard Kipling

PALAVRA DO DIA

COMUNIDADES RELATÓRIO APELA A VOTO ELECTRÓNICO EXPERIMENTAL

BÉLGICA REI FILIPE PEDE PERDÃO POR FERIDAS DO COLONIALISMO

O

N

PUB

O relatório anual de actividades do Conselho das Comunidades Portuguesas (CPP) é apresentado como um assunto pendente a implementação experimental do voto electrónico à distância, “pelo menos para as eleições dos Círculos pela Emigração naAssembleia da República”. O objectivo é aumentar a participação das comunidades, especialmente as mais afastadas de postos consulares. Relativamente a eleições, defende-se também que houve “importantes avanços”, como o recenseamento eleitoral automático, mas expressa-se que as comunidades não devem ser procuradas só antes dos actos eleitorais. Por outro lado, esteve também em foco o tempo demorado no registo civil em Lisboa para os pedidos de aquisição de nacionalidade portuguesa que se iniciam nas Comunidades, nomeadamente no caso dos netos e cônjuges. “Pese haver manifestações contrárias de alguns outros órgãos de segurança, não se entende a razão do passaporte português não poder ter validade de 10 (dez) anos, como ocorre em outros países, inclusive europeus”, aponta o relatório. Quanto aos documentos de identificação, foi sugerida a emissão gratuita do cartão de cidadão para quem ainda tem BI vitalício, como forma de dar cidadania e apoio social a essas pessoas. “Uma terrível falha, ainda sem solução consensual, aplica-se à representação do CCP no Conselho Nacional de Educação (CNEdu), cuja interpretação restritiva da lei fundamenta a decisão de não arcar com a deslocação do nosso conselheiro indigitado, levando a um impasse que, talvez, somente a judicialização poderá definir isso”, equaciona ainda o CCP. As eleições para o próximo mandato do CCP foram adiadas para o próximo ano, por causa da pandemia.

quarta-feira 1.7.2020

Mão severa e dura Lei de segurança nacional de Hong Kong publicada ontem

A

lei de segurança nacional para Hong Kong, proibindo actos de secessão, subversão, terrorismo e conluio com forças estrangeiras para pôr em risco a segurança nacional, acabou por ser ontem publicada, na sua versão chinesa, pelas 23 horas, no Boletim Oficial do Governo da RAEHK. Como havia sido relatado anteriormente, a pena máxima por crimes previstos nesta é a prisão perpétua. Os infractores que se considere terem uma forte participação em crimes mais graves podem levar penas de dez anos a prisão perpétua, enquanto os que forem julgados como tendo papéis menores podem ter sentenças mais curtas ou algum tipo de restrição. Um artigo da lei diz que atacar, destruir instalações do governo para que elas não possam funcionar normalmente, constitui subversão. Actos como incêndio criminoso, danos a transportes públicos e serviços públicos como forma de ameaçar os governos centrais ou da RAEHK serão considerados terrorismo. As pessoas que fizerem lóbi por sanções contra a RAEHK ou o governo do continente ou usarem vários meios para despertar ‘ódio’ contra as autoridades podem estar sujeitas a uma pena máxima de prisão perpétua.

Aqueles que organizarem, planearem, implementarem ou participarem de actividades secessionistas serão abrangidos pela nova lei, independentemente de violência ser ou não usada. Embora a maior parte dos casos de segurança nacional seja tratada pelas autoridades locais, uma agência continental, a ser criada em Hong Kong, pode assumir o controlo em três circunstâncias específicas. Quando os casos envolvem ‘situações complicadas’ em que há interferência estrangeira e o governo da RAE tem dificuldades em exercer a sua jurisdição; quando o governo local não puder efectivamente fazer cumprir a lei; e quando houver uma séria ameaça à segurança nacional. Os suspeitos serão então julgados num tribunal do continente, sob a lei do continente. E mesmo para casos ouvidos em Hong Kong, qualquer caso que envolva segredos nacionais, ordem pública ou seja considerado inadequado para um julgamento aberto, os media e o público podem ser impedidos de participar de partes ou de todo o julgamento. Como no continente, o resultado do julgamento será tornado público. O Secretário da Justiça também pode decidir que certos casos sejam julgados por três juízes no Tribunal Superior, em vez de um júri, se envolverem segredos nacionais ou forças externas. Isto

será para proteger a segurança dos jurados e das suas famílias, afirma a lei. A nova lei também especifica que as leis locais não se aplicam aos funcionários da nova agência continental quando investigam casos de segurança nacional. Mesmo os veículos da agência não podem ser verificados pelas autoridades policiais locais durante o desempenho das suas funções. As autoridades também terão o poder de vigiar e escutar pessoas suspeitas de pôr em risco a segurança nacional. Além disso, qualquer pessoa condenada por violar a nova legislação não poderá participar de nenhuma eleição em Hong Kong e também perdem o direito de assumir qualquer cargo público ou se tornar um membro do Comité de Eleição do Chefe do Executivo. Aqueles que já fizeram um juramento de defender a Lei Básica e juraram lealdade à RAE, incluindo legisladores, conselheiros distritais, oficiais do governo ou oficiais públicos, membros do Conselho Executivo, juízes e membros do judiciário, perderão seus cargos imediatamente. A nova lei afirma ainda que se sobrepõe as leis locais de Hong Kong e também se aplica a residentes não permanentes do território. A lei entrou imediatamente em vigor.

rei Filipe dos belgas manifestou ontem o seu “mais profundo pesar” por actos de violência e crueldade durante o período colonial, numa carta enviada ao Presidente da República Democrática do Congo, nos 60 anos da independência do país. Na carta ao Presidente Félix Tshisekedi, o rei dos belgas apresentou o seu “mais profundo pesar pelas feridas” infligidas durante o período colonial no antigo Congo belga, um acto inédito de um monarca em exercício. Filipe condenou ainda “os actos de violência e crueldade” cometidos sob a administração de Leopoldo II, bem como “os sofrimentos e humilhações” vividos durante a colonização do Congo pela Bélgica. Impedidos de participar presencialmente nas cerimónias em Kinshasa por causa da pandemia da covid-19, o rei Filipe evocou, na carta que foi divulgada publicamente, o reinado de Leopoldo II que geriu o Congo e as suas riquezas como bens privados, numa época considerada particularmente brutal pelos historiadores (1885 a 1908). “Nessa época (…) foram cometidos actos de violência e de crueldade que pesam ainda sobre a nossa memória colectiva”, escreveu Filipe. O actual rei – que sucedeu ao seu tio Alberto II em 2013 – adiantou também que o período colonial que se seguiu à entrega da colónia por Leopoldo II à Bélgica (1908-1960) “causou também sofrimentos e humilhações”. “Gostaria de expressar o meu mais profundo pesar por estas feridas do passado, cuja dor é hoje reavivada pela discriminação que ainda está demasiado presente nas nossas sociedades”, acrescentou. Para além do Congo (depois Zaire a agora RDCongo), a Bélgica foi ainda potência colonial do Ruanda-Urundi, de cuja independência, em 1962, resultaram o Ruanda e o Burundi.


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