Hoje Macau 10 DEZ 2020 #4688

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DIRECTOR CARLOS MORAIS JOSÉ

MOP$10

QUINTA-FEIRA 10 DE DEZEMBRO DE 2020 • ANO XX • Nº 4668

FESTIVAL DE CINEMA

A FESTA POSSÍVEL

hojemacau ANOS

GRANDE PLANO

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Metidos em trabalhos A questão dos TNR e do trabalho voltou ontem a estar em foco no palco do hemiciclo. Wang Sai Man quer que o Governo crie um mecanismo temporário que dê resposta aos trabalhadores não residentes sem emprego e que não conseguem sair do território devido à pandemia. Em

causa, segundo o deputado, estão questões de recursos humanos, mas também de segurança. Já Leong Sun Iok, pede uma nova ronda de apoios que ajude os trabalhadores locais a enfrentarem a época do Ano Novo Chinês que se avizinha, pródiga em despesas e em novas pressões.

PÁGINAS 4 E 5

TUI

FÓRUM GLOBAL DE TURISMO

PÁGINA 6

ÚLTIMA

SAM HOU FAI ATÉ 2023

OPINIÃO

PROFECIAS DO NORTE

EM DEFESA DO MUNDO NATURAL OLAVO RASQUINHO

DOCLISBOA

LIGADO À EXTENSÃO EVENTOS


2 grande plano

IFFAM

10.12.2020 quinta-feira

GALA NA INTERNET LIMBO DE BEN SHARROCK FOI O GRANDE VENCEDOR DO FESTIVAL

A quinta edição do festival de cinema de Macau distinguiu um filme britânico que aborda a questão dos refugiados na Escócia. Num evento totalmente realizado online, Suzanne Lindon, filha do consagrado actor e realizador Vincent Lindon, recebeu o prémio para melhor realizadora

O

de vídeo. “Espero que esta distinção seja um sinal de que estamos a atingir algum sucesso e que este prémio nos ajude a levar o filme a uma audiência maior”, expressou. Ao vencer o prémio de melhor filme, Sharrock vai receber 60 mil dólares norte-americanos, o que correspondeu a cerca de 478 mil patacas. No entan-

to, o realizador prometeu doar uma parte dos ganhos: “Quero acrescentar que uma parte do prémio monetário vai ser doada a instituições de caridade que trabalham com refugiados na Escócia”, garantiu. Segundo o presidente do júri, Ning Hao, o filme foi distinguido pela conjugação de um tema provocante com um estilo “muito moderno”

SOFIA MARGARIDA MOTA

filme Limbo, do realizador Ben Sharrock, foi o grande vencedor do prémio para melhor filme do Festival Internacional de Macau. A lista com as películas agraciadas foi divulgada na noite de terça-feira, numa cerimónia que decorreu online e conduzida por Mike Goodridge, director artístico do evento. Limbo aborda com algum humor a questão dos refugiados numa ilha da Escócia, e a espera para que os processos pendentes sejam aprovados. A temática não foi esquecida no discurso do realizador: “Dediquei muitos anos da minha vida a este filme e pessoalmente considero o tema extremamente importante. Mas, no final de contas, sei que quando se faz um filme com este assunto que o sucesso significa chegar a uma audiência grande e levar as pessoas a reagirem e fazer alguma coisa”, afirmou Ben Sharrock, numa mensagem

do realizador. “O júri considerou de forma unânime que Limbo provoca o espectador a reflectir sobre o tema, devido à forma como explora com profundidade a sociedade e a relação entre cultura e humanidade”, foi explicado. “Estas são características conjugadas com a linguagem cinematográfica única do realizador, assim como um estilo artístico muito moderno, que se misturam magicamente e levam à audiência um prazer inesquecível que atinge todos sentidos”, acrescentou. “É um filme excepcional”, sentenciou. Além do prémio para melhor filme, Limbo foi o grande vencedor da noite e confirmou o estatuto ao também ser agraciado com o prémio para melhor argumento.

TAL PAI, TAL FILHA

Mike Goodridge, director artístico “Foi uma desafio enorme para toda a equipa do festival fazer o evento online, mas estamos felizes com os resultados.”

Quanto à melhor realização, a vencedora foi a francesa Suzanne Lindon, filha do conceituado realizador e actor francês Vincent Lindon.

Em Spring Blossom, Suzanne abordou a história de um amor entre uma adolescente com 16 anos e um homem bem mais velho. Na mensagem gravada e divulgada online, Lindon revelou que a história foi inspirada numa experiência pessoal. “Quero agradecer ao meu primeiro amor, porque foi desse amor que partiu a inspiração para este filme”, reconheceu a francesa. “Quando escrevi o filme ti-

nha 15 anos e nunca imaginei que iria ter a oportunidade de o apresentar num festival como este nem receber um prémio. É uma mensagem de esperança para as pessoas como eu, jovens, porque mostra que se acreditarmos e trabalharmos para os nossos sonhos que podemos alcançá-los”, frisou. Finalmente, a também actriz, elogiou a organização por não ter abdicado do evento “nos temos difíceis


grande plano 3

quinta-feira 10.12.2020

LISTA DE VENCEDORES • MELHOR FILME Limbo - Ben Sharrock • MELHOR REALIZADOR Suzanne Lindon - Spring Blossom • MELHOR ACTOR Lance Henriksen - Falling • MELHOR ACTRIZ Magdalena Kolesnik - Sweat • MELHOR ARGUMENTO Limbo - Ben Sharrock • MELHOR CURTA Under - Jiao Yue • DISTINÇÃO ESPÍRITO DO CINEMA

Ben Sharrock, realizador de Limbo “Espero que esta distinção seja um sinal de que estamos a atingir algum sucesso e que este prémio nos ajude a levar o filme a uma audiência maior.”

Hirokazu Kore-eda Under, melhor curta

Hirokazu Kore-eda, realizador “Foi há 25 anos que me tornei realizador. Nos últimos tempos tenho recebido muitas distinções e sinto que todo o trabalho árduo está a ser recompensado.”

Suzanne Lindon, realizadora de Spring Blossom “Quero agradecer ao meu primeiro amor, porque foi desse amor que partiu a inspiração para este filme.”

Limbo, melhor filme

que todos vivemos”, numa referência à pandemia da covid-19. A decisão do júri foi explicado por Erick Khoo, realizador, que definiu Spring Blossom como um “poema” e uma “pequena pedra preciosa”, sobre a experiência do primeiro amor. O prémio de melhor actor distinguiu Lance Henrikson, protagonista do filme Falling, realizado por Viggo Mortesen, mais conhecido

Lance Henriksen Melhor Actor, Falling

Magdalena Kolesnik, Melhor Actriz, Sweat

pelo papel como actor enquanto Aragon na trilogia do Senhor dos Anéis. Em Falling, Lance Henrikson desempenha o papel de um pai conservador que se vê obrigado a vender a quinta onde mora, devido a uma situação de demência, e a mudar-se para casa do filho, que vive uma relação homossexual. Na categoria de melhor actriz, a vencedora foi Magdalena Kolesnik, pelo papel

desempenhado em Sweat, realizado por Magnus von Horn. Na película, Kolesnik assume a personagem Sylwia Zajac, uma influenciadora na época digital, com milhares de seguidores, mas que mesmo assim se sente sozinha e procura uma relação com maior intimidade. “Foi um papel que exigiu muita energia e esforço. Confesso que tive de me esforçar mesmo muito. [...] Estou

muito feliz por ter recebido este prémio e quero agradecer a Magnus von Horn por ter acreditado em mim”, disse a polaca sobre a distinção. Já na categoria de “curtas”, o prémio foi para Under, realizado por Jiao Yue, que o júri, pela voz de Mathilde Henrot, sublinhou ter “muitas qualidades”. Por sua vez, Jiao Yue reconheceu as limitações orçamentais do filme, que o próprio disse ter financiado,

agradeceu à equipa envolvidas e prometeu começar a trabalhar na próxima obra.

RECONHECIMENTO A KORE-EDA

Finalmente, o prémio “Espírito do Cinema”, atribuído a quem se tenha distinguido pelo contributo para a sétima arte foi para Hirokazu Kore-eda. O japonês tem uma carreira longa com o trabalho mais premiado a ser “Shoplifters”, que in-

clusive arrecadou a Palma de Ouro em Cannes, sobre uma família pobre que vive de pequenos roubos. O prémio foi justificado pelo director do festival, Mike Goodridge, por se ter considerado Hirokazu Kore-eda como “um visionário” e um dos realizadores “mais atrevidos e inovadores”. Por sua vez, o japonês agradeceu o prémio e admitiu que depois de 25 anos sente que o trabalho está a ser recompensado. “Foi há 25 anos que me tornei realizador. Nos últimos tempos tenho recebido muitas distinções e sinto que todo o trabalho árduo está a ser recompensado”, admitiu. “No futuro espero poder continuar a criar e a produzir mais filmes”, acrescentou. Devido à pandemia que assola o mundo, o Festival Internacional de Macau foi realizado de forma online, com os filmes a serem colocados numa plataforma digital a que as pessoas podiam aceder através do pagamento de um bilhete. No entanto, em jeito de balanço, o director artístico do evento disse estar feliz com os resultados alcançados. “Foi uma desafio enorme para toda a equipa do festival fazer o evento online, mas estamos felizes com os resultados e com as opiniões que recebemos das pessoas de Macau e Hong Kong”, afirmou Mike Goodridge. O Festival Internacional de Macau começou a ser organizado em 2016 e esta foi a quinta edição. João Santos Filipe

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4 assembleia legislativa

Deputados chumbaram recurso de Sulu Sou

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OI ontem chumbado o recurso apresentado por Sulu Sou sobre a decisão da Mesa da Assembleia Legislativa (AL) relativamente a um projecto de lei que tinha apresentado, sobre a publicação das contas por parte das associações que beneficiem de apoios. O deputado apresentou o projecto em Julho de 2020, tendo sido liminarmente rejeitado pelo presidente da AL, Kou Hoi In, por este considerar que a iniciativa envolvia o “funcionamento do Governo” e por isso a iniciativa legislativa sobre a matéria era reservada ao Executivo. O deputado recorreu da decisão para a Mesa, que a manteve. Perante a deliberação da Mesa, Sulu Sou apresentou novo recurso – que foi ontem a debate na Assembleia Legislativa. Antes da votação, Kou Hoi In indicava já que “a decisão da Mesa vai ser então confirmada através de deliberação do Plenário”. O desfecho confirmou-se, já que houve apenas quatro deputados a votar contra a decisão da Mesa. Um dos pontos abordados foi as competências de fiscalização e aplicação de sanções administrativas previstas no projecto, que ficariam a cargo do Gabinete para o Planeamento da Supervisão dos Activos Públicos da RAEM. Sulu Sou frisou ontem que uma lei deve ser executada por uma entidade pública, “senão é tida por inexistente”, e que o documento não prevê regras sobre o

funcionamento da estrutura, cuja discricionariedade se mantém do lado do Governo. “Não concordo que este projecto de lei venha prejudicar esta matéria de reserva de iniciativa de Governo”, lançou o deputado, frisando que o recurso pretendia colmatar lacunas sobre o apoio financeiro às associações, nomeadamente de transparência. Sulu Sou alegou ainda que o presidente da AL rejeitou a iniciativa legislativa “sem nenhuma fundamentação”, e argumentou estar a prejudicar-se o poder dos deputados.

COM FUNDAMENTOS

A deputada Chan Hong frisou que tanto o presidente como a Mesa “sempre fundamentaram as suas decisões” e que “qualquer outra ideia que se transmita não corresponde à realidade”, apontando que a decisão teve por base o conceito de funcionamento do Governo. “Não se pode confundir o poder do Governo de atribuir competências a determinadas entidades com os poderes dos deputados nesta matéria”, defendeu, em representação da Mesa. Em declaração de voto, Ma Chi Seng expressou apoio a esta visão, comentando que votou contra porque o Gabinete que supervisiona os activos públicos passava a ter novas funções e competências, algo que “é da reserva do Governo”. S.F.

CORRUPÇÃO PEDIDO TRATAMENTO IMPARCIAL DE DENÚNCIAS ANÓNIMAS

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Dia Internacional contra a corrupção foi ontem marcado na Assembleia Legislativa com Sulu Sou a pedir ao Governo para “garantir um tratamento imparcial e igual em relação às denúncias anónimas” e preparar a criação da lei de protecção dos informadores de interesse público. O deputado indicou que casos de corrupção envolvendo funcionários públicos “e até titulares dos principais cargos”, prejudicaram a credibilidade do Governo. “As relações sociais em Macau são de muita proximidade, e como no actual sistema jurídico existem deficiências ao nível do combate à corrupção, é impossível garantir que o público tenha confiança e não seja alvo

RÓMULO SANTOS

Sem poder para andar

10.12.2020 quinta-feira

de represálias após denúncia”, argumentou. Sulu Sou reconheceu que as queixas apresentadas “continuam a ser anónimas” e considera que o combate à corrupção pode ser prejudicado com a necessidade de as denúncias serem identificadas. Em causa, está a possibilidade de os informadores serem “alvo de censura, sanções e despedimento”. O receio de represálias estende-se aos órgãos de comunicação. O deputado considera que “provavelmente vão também ser pressionados pelo governo ou empresários, que dão instruções aos operadores da imprensa para suspenderem as investigações e reportagens mais aprofundadas ou até a fazerem tábua rasa dos indícios e provas de corrupção”. S.F.

Penso rápido EMPREGO PEDIDO MECANISMO PARA CONTRATAÇÃO DE TNR RETIDOS

Wang Sai Man pediu uma forma provisória de contratar os trabalhadores não residentes que não conseguem sair de Macau. Algo que o deputado justificou não só com a necessidade de recursos humanos, mas também com preocupações de segurança – riscos que o secretário Wong Sio Chak já disse serem “insignificantes”


assembleia legislativa 5

quinta-feira 10.12.2020

LAG Mak Soi Kun e a definição de debate

“Muitos cidadãos e especialistas perguntaram-me: o debate das LAG (Linhas de Acção Governativa) na Assembleia Legislativa é um debate? O debate é assim? A minha resposta é: é um debate, pois estamos a realizar um debate, de acordo com a Lei Básica, não é?”, lançou ontem Mak Soi Kun. A intervenção de ontem do deputado na AL foi dominada pelo significado do conceito. Mak Soi Kun explicou que um cidadão lhe transmitiu as dúvidas do filho sobre as LAG serem um debate. A estranheza da criança do ensino primário prendeu-se com o facto de o formato ser “diferente da forma apresentada pelos professores nas aulas” e assemelhar-se antes a uma sessão de perguntas e respostas, em que algumas questões ficam ainda por responder. “No próximo debate das Linhas de Acção Governativa, será que podemos fazer com que os cidadãos pensem que nós estamos realmente a realizar um debate, em vez de perguntas e respostas?”, quis saber Mak Soi Kun.

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ANG Sai Man quer que o Governo crie um mecanismo provisório para a contratação de trabalhadores não residentes (TNR) que por causa da pandemia tenham ficado retidos em Macau. O objectivo é que a curto prazo se possibilite a sua contratação legal por parte de micro, pequenas e médias empresas, bem como por famílias. O deputado alega que a medida “vai contribuir para uma redução dos riscos de segurança na comunidade e, ao mesmo tempo, aliviar a urgente necessidade de recursos humanos por parte de algumas empresas e famílias”. Wang Sai Man reconheceu ontem a situação de muitos trabalhadores não residentes, que “foram despedidos por causa da epidemia”, ou não tiveram contrato renovado, e que devido à suspensão de voos internacionais não conseguiram regressar ao local de origem, ficando retidos no território. O deputado indicou ainda que como os Serviços de Migração só lhes emitem um “título de apresentação”, não podem ser legalmente contratados. “Durante a permanência em Macau, esses trabalhadores não têm qualquer rendimento para sustentar a vida, por isso é alta a probabilidade de passarem a dedicar-se a trabalho ilegal, e alguns atrevem-se a colocar a sua vida em risco na prática de ilegalidades, o que constitui um perigo para a segurança pública”, declarou. Note-se que o risco representado pelos TNR retidos em Macau foi anteriormente desvalorizado pelo

Ensino Crianças educadas por avós e empregadas, alerta Chan Hong próprio secretário para a Segurança. No debate das Linhas de Acção Governativa, a deputada Chan Hong associou a impossibilidade de alguns TNR saírem de Macau – e por isso ficarem com permanência provisória – a um aumento de crimes como abuso de menores e roubos. No entanto, Wong Sio Chak respondeu que os Serviços de Polícia Unitário estudaram a criminalidade de TNR e indicaram que entre Março e Julho os casos diminuíram. O secretário acrescentou ainda que os riscos por não conseguirem sair “são insignificantes”. Além de questões de segurança, Wang Sai Man apontou a dificuldade de contratação de em-

pregadas domésticas para apelar à criação do mecanismo de contratação temporário. “A Direcção dos Serviços para osAssuntos Laborais tinha sugerido que contratassem empregadas domésticas do Interior da China, mas os empregadores disseram que o salário, as regalias e o ambiente de trabalho em Macau não são atractivos para estas empregadas domésticas”, comentou. Além disso, indicou que nem todas as famílias conseguem dar alojamento a estas trabalhadoras.

CONTRATAÇÃO CONSERVADORA

O emprego foi também tema central da intervenção de Leong Sun Iok, que pediu ao Governo para lan-

“A Direcção dos Serviços para os Assuntos Laborais tinha sugerido que contratassem empregadas domésticas do Interior da China, mas os empregadores disseram que o salário, as regalias e o ambiente de trabalho em Macau não são atractivos para estas empregadas domésticas.” WANG SAI MAN DEPUTADO

çar uma terceira ronda de medidas de apoio económico para ajudar a população. O deputado mostrou-se preocupado com a dificuldade de a economia recuperar a curto prazo, observando que as vacinas vão demorar algum tempo a chegar a Macau. Assim, o deputado antecipa que as micro, pequenas e médias empresas vão “continuar a enfrentar grande pressão” e “passar a ser mais conservadoras” na contratação de trabalhadores. Leong Sun Iok espera assim mais dificuldades por parte dos residentes no acesso ao mercado de trabalho. “Os trabalhadores que não foram demitidos e que anteriormente auferiam salários altos estão muito preocupados com o seu futuro, não depositam muita expectativa na obtenção de bónus, duplo salário e aumentos salariais”, acrescentou. Com a aproximação do Ano Novo Chinês, o deputado aponta a necessidade de gastar mais dinheiro – e consequentemente o aumento da pressão no trabalho e “na vida”. Tendo em conta que a previsão das receitas do jogo no orçamento para o próximo ano é de 130 mil milhões de patacas, Leong Sun Iok aponta que a Fundação Macau poderá mobilizar mais de dois mil milhões de patacas. “A prestação atempada de apoios ajudará as empresas e a população a ultrapassarem as dificuldades”, apelou. Salomé Fernandes e P.A.

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“Muitos professores alegam certas dificuldades em promover a cooperação entre a escola e os pais: alguns pais não têm tempo para disciplinar os seus filhos, e quem assume a responsabilidade de educar são os avós e as empregadas domésticas”, observou ontem Chan Hong. A deputada aproveitou o período de intervenção antes da ordem do dia para alertar que a situação familiar de algumas crianças “é muito complicada”, tendo em conta que os pais passam cada vez menos tempo com os filhos. Chan Hong lamentou que alguns pais não se articulem com os planos educativos das escolas e dos professores e descreveu a educação familiar como “um problema social grande”. A legisladora quer a mais centros de educação familiar nos bairros comunitários e um reforço da capacidade de comunicação entre pais e filhos.

Economia Aprovada nova alteração ao orçamento de 2020

A terceira proposta de alteração ao orçamento de 2020, que permite ao Governo ir buscar mais 8,1 mil milhões de patacas à reserva extraordinária, recebeu ontem luz verde dos deputados. A juntar-se a verba de 26,5 mil milhões da reserva prevista na proposta de Lei do Orçamento de 2021, o valor da reserva vai diminuir para 570 mil milhões de patacas. O secretário para a Economia e Finanças disse na Assembleia Legislativa que o prolongar da pandemia levou a um “impacto negativo na economia mais grave do que o esperado”, e que todos os serviços “envidaram todos os esforços para reduzir as despesas orçamentadas não essenciais”. No entanto, as receitas brutas de jogo são insuficientes para satisfazer as despesas das finanças públicas. Ontem foi também aprovado o parecer da 2ª Comissão Permanente sobre a execução do orçamento do ano passado, sem discussão.


6 sociedade

10.12.2020 quinta-feira

JUSTIÇA SAM HOU FAI RECONDUZIDO COMO PRESIDENTE DO TRIBUNAL DE ÚLTIMA INSTÂNCIA

Venham mais três

Covid-19 Quarentena alargada a Chenghua

GCS

Desde as 12h00 de ontem que todos os indivíduos que nos 14 dias anteriores à entrada em Macau tenham estado no Subdistrito de Tiaodenghe do Distrito de Chenghua, da cidade de Chengdu, estão sujeitos a uma quarentena de 14 dias. O anúncio foi feito ontem pelo Centro de Coordenação de Contingência do Novo Tipo de Coronavírus e depois de já ter sido anunciada a obrigatoriedade de fazer quarentena à chegada a Macau para quem tenha estado no distrito de Pidu, também este localizado na cidade de Chengdu, nos 14 dias anteriores.

Turismo Cancelamento de fogo-de-artifício sem impacto

Maria Helena de Senna Fernandes, directora dos Serviços de Turismo, não acredita que o cancelamento do fogo-de-artifício da passagem de ano tenha um grande impacto no número de visitantes. Em declarações citadas pelo canal chinês da Rádio Macau, a responsável apontou que a decisão do Instituto Cultural foi muito ponderada e que o cancelamento vai ter pouco impacto no número de visitantes que virão do Interior para Macau para a passagem do ano. Em relação ao Ano Novo Chinês, agendado para 21 de Fevereiro, Maria Helena de Senna Fernandes apontou que existe uma expectativa diferente, nomeadamente com a realização de várias actividades para atrair turistas.

Metro Cantão estuda ligação com Ponte HKZM

No rescaldo de uma das principais polémicas do seu mandato à frente do TUI, Sam Hou Fai vai ser reencaminhado no cargo por mais três anos, até 2023. Já a juíza Teresa Leong, pediu para se reformar

O

juiz Sam Hou Fai vai ser reconduzido no cargo de presidente do Tribunal de Última Instância (TUI) durante mais três anos. A notícia foi avançada ontem pela Rádio Macau. Segundo a informação da emissora, o actual mandato de Sam Hou Fai termina a 20 de Dezembro, mas vai ser renovado até Dezembro de 2023. O magistrado é a única pessoa a ter ocupado o cargo desde a criação da RAEM, o que aconteceu em Dezembro de 1999. Arecondução de Sam Hou Fai surge após o magistrado ter estado envolvido numa das principais polémicas dos seus mandatados, que envolveram ainda o presidente da Associação dos Advogados de Macau, Jorge Neto Valente, e o Conselho de Magistrados Judiciais, órgão presidido pelo próprio Sam Hou Fai. Em causa, esteve o discurso proferido pelo juiz na abertura

do ano judiciário, quando o magistrado elogiou as mudanças legislativas que permitem que certos processos possam ser decididos pelo TUI. No mesmo discurso, Sam Hou Fai apontou o exemplo de uma disputa entre o Governo da RAEM e a empresa Iao Tin no que diz respeito ao direito de propriedade de um terreno na Taipa. No entanto, as palavras caíram mal ao presidente da Associação dos Advogados de Macau (AAM), Jorge Neto Valente, que criticou o magistrado por comentar um caso sobre o qual ainda tinha de tomar uma decisão. Por este motivo, o ad-

O magistrado é a única pessoa a ter ocupado o cargo desde a criação da RAEM

vogado pediu ao juiz a escusa do processo. Apesar de não ter feito uma declaração de interesse, o escritório do actual presidente da AAM representa um dos intervenientes no processo, o Banco Industrial e Comercial da China (ICBC, em inglês), que a troco de um empréstimo à empresa Iao Tin recebeu como garantia o terreno que o Governo pretende recuperar.

POSIÇÃO CONJUNTA

Após as primeiras críticas, a resposta de Sam Hou Fai chegou através do Conselho de Magistrados Judiciais, que em comunicado acusou Neto Valente de desvirtuar “deliberadamente” e interpretar “inveridicamente” e “erradamente” o discurso. Porém, Neto Valente manteve que as declarações do juiz tinham contrariado a lei, no aspecto em que impede os magistrados de falar de casos específicos.

No discurso da polémica, o presidente do TUI defendeu ainda um afastamento do sistema jurídico de Macau da realidade de Portugal, por considerar que as duas regiões divergem “consideravelmente em ética moral, concepção de valores, usos e costumes, património cultural e muitos outros aspectos”. Sam Hou Fai considerou ainda que “as disparidades merecem [...] atenção na elaboração e aplicação de lei, e devem ser encaradas com imensa cautela”. Ainda de acordo com a Rádio Macau, a juíza Teresa Leong, que faz parte do Tribunal Judicial de Base desde 1999, fez entrar o pedido de reforma. Além de juíza, Teresa Leong é uma das docentes dos cursos de Formação para Ingresso nas Magistraturas Judicial e do Ministério Público. João Santos Filipe

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O Metro de Cantão está a estudar construir uma ligação com a Ilha Artificial da Ponte de Hong Kong-Zhuhai-Macau, segundo o jornal Ou Mun. A informação consta no documento do concurso público para a construção da Linha Número 18 de Metro de Cantão, que deverá contemplar dois percursos, um entre Nansha e Zhongshan, e outro entre Nansha e o posto fronteiriço na Ilha Artificial da Ponte de Hong Kong-Zhuhai-Macau. Segundo o documento, o posto fronteiriço na Ilha Artificial reserva na zona norte alguns terrenos para construir espaços como hotéis, centros de exposições e convenções e edifícios comerciais. Caso a Linha 18 seja concretizada, a ligação entre Nansha e a Ilha Artificial pode ser feita em meia hora.

Habitação Pedida reconstrução do Edifício Mei Lok Garden

A presidente da Comissão de Gestão de Condomínio do Edifício Mei Lok Garden, Chan Fong, pediu ajuda ao governo para a reconstrução do edifício. Em declaração ao jornal O Cidadão, a responsável apontou que o edifício foi construído em 1987, mas que segundo a opinião do Instituto de Habitação pode cumprir todos requisitos da nova lei habitação económica, desde que seja reconstruído. Nas mesmas declarações, a também presidente da Associação dos Moradores da Ilha Verde defendeu que os proprietários originais das diferentes habitações foram prejudicados porque anteriormente as habitações económicas podiam ser transaccionadas livremente, após um certo número de anos. Porém, com a nova lei a venda enfrenta várias restrições. Por este motivo, Chan Fong apelou ao Governo para que esclareça muito bem as questões relacionadas com o direito de propriedade destes moradores.


sociedade 7

quinta-feira 10.12.2020

Burla Simula sequestro para desfalcar irmã em 50 mil yuan

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M vendedor de 35 anos, oriundo do Interior da China é suspeito de tentativa de burla e simulação de crime, após a irmã ter ligado para as autoridades de Macau a pedir ajuda e a relatar o seu alegado sequestro, motivado pela incapacidade de saldar uma dívida de jogo, no valor de 50 mil yuan. O alerta foi dado na passada segunda-feira, depois de o homem ter pedido à família para transferir o montante. Segundo revelou ontem a Polícia Judiciária (PJ), em conferência de imprensa, durante o tempo em que esteve supostamente sequestrado, o indivíduo ficou, na verdade, sozinho num hotel do Cotai. A revelação foi feita com recurso ao sistema de videovigilância, sendo que os agentes da PJ o encontraram sozinho num quarto. Após a detenção, o homem confessou ter contraído um empréstimo para jogar, que acabou por perder na totalidade e que isso o motivou a simular o sequestro e, consequentemente, a pedir à sua irmã para enviar o dinheiro. Também ontem, a PJ revelou outro caso relacionado com simulação de crime. Desta feita, tratou-se de um homem do Interior da China que alegou ter sido desfalcado em 300 mil dólares de Hong Kong, após ter sido levado por quatro indivíduos para um apartamento para fazer quarentena. A queixa foi apresentada à PJ pelo próprio, dizendo que suspeitava que estava a ser vítima de burla. P.A.

Um residente de Macau foi detido quatro anos depois de alegadamente ter violado uma menor com 14 anos em duas ocasiões. Ambas as violações contaram com a participação do namorado da vítima, detido em 2017, após ter sido apresentada queixa

PJ DETIDO SUSPEITO DE VIOLAR MENOR DE 14 ANOS EM 2016

O tempo não cura cobertos, somente após a vítima ter sido interrogada pelo magistrado que ficou a cargo do caso. No dia 12 de Setembro de 2017, a PJ conseguiu deter o namorado, tendo este sido levado para o Ministério Público (MP) no dia seguinte. O mesmo não aconteceu com o segundo suspeito que, ao longo dos últimos três anos “tem conseguido esquivar-se à polícia”. Contudo, na passada sexta-feira, o homem que também participou nas violações a par com o namorado, foi detido no posto fronteiriço das Portas do Cerco, ao tentar sair de Macau.

A

Polícia Judiciária (PJ) deteve na passada sexta-feira um residente de Macau de 24 anos, suspeito de ter participado, por duas vezes, na violação de uma menor em 2016. Na altura, o suspeito tinha 20 anos e a vítima 14. O namorado da vítima, detido desde 2017, terá participado nas mesmas violações, sendo também arguido no caso. Segundo revelou ontem a PJ, em conferência de imprensa, ambas as violações remontam a 2016. No primeiro caso, o namorado, cuja idade não foi revelada, terá convencido a vítima a ir até sua casa na zona central da cidade, na companhia de outro homem. Já em casa, a vítima terá recusado ter relações sexuais com o segundo homem, mas, apesar da resistência, acabou mesmo por ser violada tanto por ele, como pelo namorado. Noutra ocasião, mais precisamente a 20 de Março de 2016, reve-

SEM ESCAPATÓRIA

lou o porta-voz da PJ, o namorado terá levado a vítima e o segundo suspeito de carro para “um monte”. Aqui, a vítima terá sido uma vez

A vítima terá sido uma vez mais forçada a ter relações sexuais, depois “de lhe ter sido tirada a roupa de forma violenta”

mais forçada a ter relações sexuais, depois “de lhe ter sido tirada a roupa de forma violenta” e de não ter dado consentimento ao suspeito para o fazer. O caso veio a lume somente em 2017, após a vítima ter contado a uma amiga que, em certa altura, o namorado tinha usado estupefacientes para a deixar inconsciente. Por sua vez, a amiga ligou ao Corpo de Polícia de Segurança Pública (CPSP) a relatar o sucedido, sendo que os casos de violação foram des-

TOXICODEPENDÊNCIA PROGRAMA DE APOIO DEU EMPREGO A 31 ESTAGIÁRIOS

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NTRE Janeiro do ano passado e Setembro de 2020, 31 estagiários conseguiram emprego ao abrigo de um programa de promoção de trabalho a jovens reabilitados de toxicodependência, apoiado pelo Instituto de Acção Social (IAS). A informação é avançada pelo presidente do IAS, Hon Wai, em resposta a uma interpelação escrita de Agnes

Lam. Através deste programa tinham sido enviados 67 alunos para o Instituto Cultural, e 14 para empresas de solidariedade social. Durante este período, realizaram-se também 23 acções de formação, com 88 participantes no total, dos quais 25 tinham até 20 anos, e 51 entre 21 e 40 anos. O IAS espera que através do

programa sejam dadas oportunidades para os indivíduos toxicodependentes “adquirirem as técnicas de diferentes trabalhos” e apoiar a integração no mercado de trabalho “por forma a manter uma postura ética e restabelecer as devidas funções sociais”. De acordo com Hon Wai, ao longo dos últimos cinco anos o número de pessoas em

tratamento por toxicodependência acompanhadas pelo IAS tem-se mantido estável. Por ano, são contactadas cerca de 500 pessoas. “De acordo com os dados do ano de 2019, dois por cento com idade inferior a 20 anos, 49 por cento entre os 20 e os 39 anos e 49 por cento por idade igual ou superior a 40 anos”, é referido. S.F.

Segundo a PJ, o homem detido na passada sexta-feira negou a prática de qualquer crime e os dois suspeitos já foram presentes ao MP. O segundo suspeito irá responder pela prática dos crimes de estupro e violação. Caso se confirme a acusação, no caso do estupro, o homem pode ser punido com pena de prisão até 4 anos, por ter abusado da “inexperiência de menor entre 14 e 16 anos” para “prática de cópula, coito anal ou coito oral, ou o levar a praticá-lo consigo ou com terceiro”. Pelo crime de violação, o homem pode ser punido com pena de prisão de 3 a 12 anos. Sobre o primeiro suspeito, ou seja, o namorado, não foi adiantado o enquadramento penal em que este poderá incorrer. Pedro Arede

pedro.arede.hojemacau@gmail

Nude Chat Residente chantageado a pagar 5.000 patacas

Um residente de Macau de 21 anos foi chantageado a pagar 5.000 patacas depois de ter participado numa “conversa nua” online, através da plataforma LINE. De acordo com a Polícia Judiciária, depois de ter conhecido uma mulher através da plataforma, com quem aceitou interagir sem roupa, o homem recebeu três vídeos com a duração total de 1:30 minutos. Logo de seguida, a mulher terá pedido o pagamento de 5.000 patacas, como forma de impedir que o conteúdo fosse divulgado entre a sua família. O homem não efectuou qualquer pagamento.


8 eventos

10.12.2020 quinta-feira

Bom filho à cas DOCLISBOA MACAU RECEBE FESTIVAL DE CINEMA COM FILMES PORTUGUESES E LOCAIS

A extensão do festival DocLisboa está de regresso a Macau. Entre os dias 16 e 19 deste mês o público poderá assistir a películas portuguesas e locais, como é o caso do filme “A Lily Ainda por Desabrochar”, de Lei Cheok Mei, ou “Grandmas’ Dangerous Project”, de Peeko Wong. De Portugal chega o filme “Zé Pedro Rock’n’Roll”, de Diogo Varela Silva, entre outros

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S amantes do cinema, sobretudo do género documentário, terão oportunidade de ver algumas películas entre os dias 16 e 19 deste mês no âmbito da VIII edição da Extensão a Macau do DocLisboa, festival de cinema documental. Trata-se de uma iniciativa do Instituto Português do Oriente (IPOR). Nesta edição destaca-se a exibição de cinco obras de realizadores portugueses e duas de realizadores estrangeiros, e que foram apresentadas no XVII Festival Internacional de Cinema DocLisboa. Serão também exibidas mais três produções, duas no âmbito da colaboração com a Crea-

tive Macau e uma outra no âmbito da colaboração com o Festival Literário Rota das Letras. No primeiro dia da extensão do DocLisboa em Macau será exibido o filme “A Lily Ainda por Desabrochar”, da realizadora Lei Cheok Mei, que venceu, em 2018, a secção Local View Power do Festival Internacional de Cinema e Prémios em Macau. A realizadora foi também nomeada para o prémio de melhor documentário no concurso Golden Harvest Awards for Outstanding Short Films o ano passado. Também no dia 16, será exibido o filme “Gradmas’ Dangerous Project”, de Peeko Wong, vencedor do Prémio Best Local Entry. “The Li-

Rio Torto, de Mário Veloso

ghthouse”, de Jay Pui Weng Lei poderá também ser visto. Este filme venceu o Prémio Macau Cultural Identity do Sound & Image Chalenge de 2019.

ZÉ PEDRO E AMIGOS

A 18 de Dezembro será exibido o filme “Três Perdidos Fazem um Encontrado”, de Atsushi Kuwayama, e que venceu o Prémio Escolas e o Prémio ETIC - melhor da

competição portuguesa da Secção de Competição Portuguesa do Doclisboa. Este filme retrata um japonês de coração partido e o seu amigo indiano em peregrinação numa auto-caravana velha, em busca de uma nascente sagrada no sul de Portugal, procura que se torna um apelo à alteridade e empatia. No mesmo dia será exibido “Rio Torto”, de Mário Veloso, vencedor do

Prémio Fernando Lopes, Prémio Midas e o Prémio Pedro Fortes da Secção Verdes Anos do Doclisboa.

Há Margem

Neste festival são também exibidos os filmes “Prazer! Camaradas!”, de José Filipe Costa; “Há Margem”, de

No primeiro dia da extensão do DocLisboa em Macau será exibido o filme “A Lily Ainda por Desabrochar”, da realizadora Lei Cheok Mei, que venceu, em 2018, a secção Local View Power do Festival Internacional de Cinema e Prémios em Macau

MAM TRAJES DA DINASTIA QING EM EXPOSIÇÃO A PARTIR DE 16 DE DEZEMBRO

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ERÁ inaugurada na próxima semana, no dia 16, no Museu de Arte de Macau (MAM), a exposição “Aparência Majestosa: Trajes dos Imperadores e Imperatrizes Qing da Colecção do Museu do Palácio”, pelas 18h30. Esta mostra, realizada em parceria com o Instituto Cultural e o Museu do Palácio, apresenta cinco

secções, incluindo “Trajes Oficiais”, “Trajes Festivos”, “Trajes Regulares”, “Trajes Militares e de Viagem” e “Trajes de Lazer”. O público poderá ver cerca de 90 peças (conjuntos) de trajes e acessórios dos imperadores e imperatrizes da dinastia Qing da colecção do Museu do Palácio. A mostra tem, assim, como objectivo “dar a

conhecer todo o trabalho sofisticado por detrás do fabrico de cada item, a influência mútua e a integração das culturas Manchu e Han, bem como os gostos sofisticados da moda chinesa”. Esta exposição centra-se na selecção de artefactos dos períodos dos imperadores Kangxi, Yongzheng e Qianlong, “a fim de recriar o esplen-

dor da época, apresentando igualmente vários itens deslumbrantes pertencentes a consortes imperiais de meados e finais da dinastia Qing, com vista a reflectir a evolução das tendências da moda”. Além desta mostra, serão também realizadas diversas actividades paralelas, incluindo palestras com

oradores especializados do Museu do Palácio, visitas guiadas, workshops e jogos com prémios. No dia 14 de Dezembro terá lugar a palestra “Esplendor Nacional e Aparência Imperial – O Sistema de Cores dos Trajes da Dinastia Qing e a Sua Evolução” com Zhang Xin, investigador associado da Divisão de Artefactos


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quinta-feira 10.12.2020

sa torna

HOJE TERAPIA Paula Bicho

Naturopata e Fitoterapeuta • obichodabotica@gmail.com

Eczema e Psoríase (II) • DESCRIÇÃO Diariamente despendemos o nosso capital de energia e, à noite, um sono restaurador proporciona-nos a energia necessária para enfrentarmos um novo dia. Mas nem sempre é assim quando nos sentimos fatigados. A fadiga pode ser um sintoma de diversas patologias, ou ter origem em maus hábitos alimentares (excesso de açúcares, deficiências nutricionais, alergias alimentares, intoxicação), estilo de vida desadequado (excesso de trabalho, maus hábitos de sono, stress, consumo excessivo de cafeína ou de álcool) ou até na toma de alguns medicamentos. Neste caso, convém averiguar a causa de forma a, sempre que possível, ser corrigida ou tratada.

Uma alimentação desequilibrada, os agroquímicos e a maioria dos aditivos alimentares, o tabagismo, o consumo de álcool, drogas ou de medicamentos e a poluição do ar, entre outros factores, introduzem no organismo substâncias com alguma toxicidade que, ao longo do tempo, se vão acumulando no corpo. Deste acúmulo, resulta uma intoxicação lenta, mas crónica, com sobrecarga e consequente mau funcionamento dos órgãos. As plantas desintoxicantes e depurativas do sangue promovem a eliminação destes resíduos, sendo usadas no tratamento de fundo de certas afecções cutâneas. Outras plantas, porém, com actividade anti-inflamatória, suavizante ou calmante da pele, como exemplo, podem também ser benéficas no seu tratamento. Vamos conhecer Hoje algumas delas: Amor-perfeito-bravo, Viola tricolor, partes aéreas: Planta muito apreciada pelas suas lindas flores, o Amor-perfeito-bravo é também um remédio para as afecções da pele. Exerce uma acção anti-inflamatória e favorece a desintoxicação do organismo, sendo útil para o tratamento de acne, eczema e psoríase, especialmente nas crianças. Pode ser tomado em infusão ou tintura. Em caso de comichão, a infusão pode ser aplicada topicamente em compressas ou como loção.

m, de Filipe Oliveira

Filipe Oliveira, “Outside the Oranges are Blooming”, de Nevena Desivojevic; e “The Sound of Masks”, de Sara CF de Gouveia. Destaque ainda para, a 19 de Dezembro, a exibição de “Zé Pedro Rock’n’Roll”, documentário de Diogo Varela Silva sobre o músico da banda portuguesa Xutos & Pontapés. Este filme venceu o Prémio Público da Heart Beat do Doclisboa.

A extensão a Macau do Doclisboa é uma iniciativa do Instituto Português do Oriente (IPOR) em parceria com o Instituto Cultural e Associação Pelo Documentário (APORDOC). O objectivo desta iniciativa é “proporcionar ao público um conhecimento sobre as propostas e as linguagens que marcam o cinema documental contemporâneo, em Portugal e em Macau, colocando, deste

Bordados do Departamento de Vida no Palácio e Rituais Imperiais no Museu do Palácio. A 26 de Dezembro tem lugar a "Actividade para a Família dos Amigos do MAM: Novas Vestes do Imperador”.

modo, em diálogo expressões artísticas oriundas destes dois contextos”. Todas as sessões decorrem no auditório Dr. Stanley Ho, no edifício do consulado-geral de Portugal em Macau e Hong Kong, a partir das 19h. A entrada é livre. No sábado serão feitas duas exibições, uma às 17h e outra às 18h30.

Hortelã-pimenta, Mentha x piperita, folhas e óleo essencial: Inexistente no estado espontâneo por se tratar de um híbrido da Hortelã-das-cozinhas, a Hortelã-pimenta é uma planta muito popular pelo seu aroma e sabor fresco. A infusão pode ser aplicada topicamente como loção para aliviar o eczema, e o óleo essencial diluído num óleo neutro pode ser útil em aplicação tópica para acalmar a comichão. Labaça-crespa, Rumex crispus, raízes: Encontrada com frequência nas bermas das estradas, a Labaça-crespa é considerada por muitos uma erva daninha; no entanto, poucos sabem tratar-se de uma planta medicinal. É um depurativo do sangue, e favorece a desintoxicação do fígado e a evacuação do intestino, sendo indicada

para situações de toxicidade crónica, inclusive afecções da pele, tais como acne, eczema e psoríase. Pode ser tomada em tintura e decocção, preferencialmente em pequenas doses e em tratamentos prolongados. Onagra (Erva-dos-burros), Oenothera biennis, óleo das sementes: Originária da América do Norte, a Onagra cresce em baldios e nas bermas das estradas, sendo também cultivada pelo óleo das suas sementes. Este é rico em ácido linoleico e ácido gama-linolénico, dois ácidos gordos ómega-6 com uma importante função no combate à inflamação. Além disso, é igualmente antioxidante e suavizante da pele, sendo recomendado para o tratamento do eczema, dermatite e neurodermatite. Considerado seguro para crianças pequenas, pode ser tomado em cápsulas, em tratamentos prolongados. O óleo pode também ser aplicado topicamente na área da pele afectada. Sabugueiro, Sambucus nigra, flores: Nativo da Europa, onde habita em bosques, sebes e terrenos incultos, o Sabugueiro é um popular remédio usado desde a Antiguidade Clássica. Apresenta actividade antioxidante, anti-inflamatória e levemente adstringente, sendo benéfico para o tratamento de afecções cutâneas como acne, eczema e psoríase. A infusão pode ser aplicada topicamente em lavagens ou como loção. Urtiga, Urtica dioica, U. urens, partes aéreas: Planta das regiões temperadas de todo o mundo, a Urtiga é muito conhecida pelas suas folhas pungentes (picam!). Usada como remédio desde há séculos, pode também ser consumida como alimento. É um bom desintoxicante, com efeitos diuréticos e depurativos do sangue, exercendo igualmente uma acção anti-inflamatória e anti-alérgica. Recomendada para o tratamento das afecções da pele crónicas, tais como eczema e psoríase, pode ser tomada em infusão e tintura. A infusão pode ainda ser aplicada topicamente como loção para aliviar a pele inflamada e debilitada.

ADVERTÊNCIAS: Este artigo tem como finalidade apenas a divulgação e não deve substituir a consulta de um profissional de saúde, nem promover a auto-prescrição. O uso indiscriminado de plantas pode resultar na ocultação de sintomas protelando o correcto diagnóstico e tratamento. Além disso, algumas delas apresentam contra-indicações, efeitos adversos ou interacções com medicamentos. Consulte o seu profissional de saúde.


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10.12.2020 quinta-feira

MONTEPIO GERAL DE MACAU ASSEMBLEIA GERAL CONVOCATÓRIA Nos termos do Artº 34º, nº 1, al. b) dos Estatutos em vigor, convoco a Assembleia Geral Ordinária para reunir na sua Sede, sita na Avenida Doutor Mário Soares, nº 25, 3º andar (4º piso) do Edifício “Montepio”, no próximo dia 28 de Dezembro de 2020, pelas 17H15, com a seguinte ordem de trabalhos:

Assine-o TELEFONE 28752401 | FAX 28752405 E-MAIL info@hojemacau.com.mo

www.hojemacau.com.mo

1º - Discussão e aprovação do Orçamento do Montepio Geral de Macau para 2021; e 2º - Outros assuntos de interesse da Associação. No caso de não comparecer nesse dia e hora indicados, o número de associados mencionado no nº 1 do Artº 36º, considerase desde já convocada nova reunião, que se realizará nos termos do seu nº 2 no mesmo local decorrida uma hora, com qualquer número de associados. Montepio Geral de Macau, aos 30 de Novembro de 2020. A Presidente da Assembleia Geral, Rita Botelhos dos Santos

AVISO COBRANÇA DA CONTRIBUIÇÃO ESPECIAL 1. Faço saber que, o prazo de concessão por arrendamento dos terrenos da RAEM abaixo indicados, chegou ao seu término, e, que de acordo com o artigo 53.º da Lei n.º 10/2013 <<Lei de Terras>>, de 2 de Setembro, conjugado com os artigos 2.º e 4.º da Portaria n.º 219/93/M, de 2 de Agosto, foi o mesmo automaticamente renovado por um período de dez anos a contar da data do seu termo, pelo que devem os interessados proceder ao pagamento da contribuição especial liquidada pela Direcção dos Serviços de Solos, Obras Públicas e Transportes. Localização dos terrenos: - Estrada da Areia Preta, n.os 48C a 48G e Rua das Indústrias, n.os 27 a 31, em Macau, (Edifício Son Long Fase 2); - Istmo de Ferreira do Amaral, n.os 74 a 98, Praça das Portas do Cerco, n.os 126 a 150, e Estrada dos Cavaleiros, n.os 101 a 119, em Macau, (Edifício Arco-Íris); - Travessa do Conselheiro Borja, n.os 1 a 7, em Macau, (Edifício dos Funcionários); - Rua de Silva Mendes, n.os 36A e 36B, em Macau, (Edifício Bloco dos Funcionários Bloco I a III); 2. Agradece-se aos contribuintes que, no prazo de 30 dias subsequentes à data da notificação, se dirijam à Recebedoria destes serviços, situado no rés-do-chão do Edifício “Finanças”, ao Centro de Serviços da RAEM, ou, ao Centro de Serviços da RAEM das Ilhas, para os efeitos do respectivo pagamento. 3. Na falta de pagamento da contribuição no prazo estipulado, procede-se à cobrança coerciva da dívida, de acordo com o disposto no artigo 6.º da Portaria acima mencionada. Aos, 27 de Novembro de 2020. O Director dos Serviços de Finanças Iong Kong Leong


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quinta-feira 10.12.2020

Hong Kong Pompeo avisa que não haverá tratamento diferenciado

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secretário de Estado Mike Pompeo advertiu na terça-feira as empresas norte-americanas sobre os riscos de fazer negócios na China e também em Hong Kong, uma região à qual Washington não irá fornecer qualquer tratamento especial. “Hong Kong era um local especial, já não é”, defendeu Pompeo em entrevista durante um evento organizado pelo diário The Wall Street Journal, e na qual se referiu à ex-colónia britânica como “nada mais que outra cidade governada pelo comunismo chinês”. Algumas horas antes, no mesmo fórum, a chefe do Governo de Hong Kong, Carrie Lam, tinha defendido que o princípio de “um país, dois sistemas”, e o respeito dos direitos e liberdades “permanecem muito vivos”, com um sistema judicial justo, imparcial, transparente e independente. “Nada mudou, a única diferença é que não assistimos a essas cenas caóticas, disruptivas para os negócios”, considerou. Na sequência da aprovação da controversa Lei de Segurança Nacional que Pequim impôs em Hong Kong em junho, Washington anunciou em julho que iria pôr termo ao tratamento económico e comercial especial que o seu Governo concedia a Hong Kong. Para mais, impôs sanções a partir desse período a vários funcionários, incluindo Lam, com um último pacote de medidas anunciadas por Pompeo na segunda-feira.

SICHUAN DOIS MILHÕES DE PESSOAS VACINADAS DE URGÊNCIA APÓS NOVO SURTO

Não há tempo a perder

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província chinesa de Sichuan, que diagnosticou sete casos de covid-19 nos últimos dias, iniciou um programa de vacinação de "emergência" que abrangerá até dois milhões de pessoas, avançou ontem a imprensa estatal. Segundo o jornal oficial Global Times, as autoridades esperam concluir esta campanha de vacinação antes do final deste ano. Sichuan declarou, nos últimos dias, o estado de alarme, reservado para tempos de guerra, e ordenou a execução de testes em massa num dos distritos da cidade, após ter detectado uma cadeia de transmissão do vírus cuja origem ainda é desconhecida. Os primeiros a receberem a vacina serão funcionários de saúde,

professores, estivadores, estudantes ou funcionários que tenham que viajar para o estrangeiro, explicou o número dois da equipa de Sichuan encarregue de combater a pandemia, Luan Rongsheng. A partir do início de 2021, outros grupos, como idosos ou portadores de doenças crónicas, começarão a ser vacinados. Segundo Luan, a vacinação da população em geral começará em Fevereiro, após o Ano Novo chinês, mas dependerá de quantas vacinas estarão disponíveis. O responsável

S Emirados Árabes Unidos disseram ontem que uma vacina contra o coronavírus desenvolvida por uma farmacêutica chinesa e testada no país revelou uma eficácia de 86 por cento, num comunicado que fornece poucos detalhes. Os Emirados Árabes Unidos, que reúnem sete emirados, incluindo Dubai e Abu Dhabi, testaram a vacina desenvolvida pela Sinopharm, a partir do início de Setembro, em 31.000 voluntários de 125 países diferentes e idades entre 18 e 60 anos. "A análise não revelou nada que suscite uma preocupação séria com a

segurança", apontou o comunicado difundido pelo Ministério da Saúde e Prevenção dos Emirados Árabes Unidos, sem detalhar se algum dos participantes sofreu efeitos colaterais. Não é claro se os resultados incluíam apenas participantes dos testes nos Emirados Árabes Unidos ou se também incluíam resultados da China e de outros países. No mesmo comunicado é referido que a vacina recebeu "registo oficial", sem detalhar o que isso significa. A vacina da Sinopharm foi aprovada para uso de emergência em alguns paí-

APROVAÇÃO A CAMINHO

A vacinação será feita em duas doses inoculadas com intervalos entre 14 e 28 dias. As condições

Sichuan declarou, nos últimos dias, o estado de alarme, reservado para tempos de guerra, e ordenou a execução de testes em massa num dos distritos da cidade

COVID-19 EMIRADOS ÁRABES UNIDOS AFIRMAM QUE VACINA CHINESA TEM 86% DE EFICÁCIA

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considerou que assim que a taxa de vacinação ultrapassar os 80 por cento, dificilmente o vírus reaparecerá. Embora as autoridades não tenham confirmado esta informação oficialmente, o jornal Sichuan Daily destacou que vão ser utilizadas vacinas à base de vírus inativados e que o seu preço se vai fixar em 400 yuans.

ses e a empresa ainda está a realizar testes clínicos realizados em 10 países. Marrocos está a preparar um ambicioso programa de vacinação, com o objectivo de vacinar 80 por cento da sua população adulta, em colaboração com a Sinopharm. Autoridades importantes dos Emirados Árabes Unidos, incluindo o governante de Dubai, o xeque Mohammed bin Rashid Al Maktoum, receberam publicamente as vacinas, como parte dos testes.

seriam idênticas às estabelecidas em algumas cidades da província de Zhejiang, na costa leste da China, onde a vacina começou a ser administrada a pessoas em grupos de risco em Outubro passado. A China ainda não concedeu licenças a nenhuma vacina candidata para comercialização, embora no final de Julho tenha aprovado o seu uso em alguns casos considerados urgentes. No entanto, o Conselho de Estado (executivo) anunciou que vai aprovar a comercialização de 600 milhões de doses de vacinas contra o coronavírus - quatro delas já na última fase de testes - antes do final de 2020.

INFLAÇÃO PREÇOS AO CONSUMIDOR CAÍRAM PELA PRIMEIRA VEZ DESDE 2009

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principal indicador de inflação na China, o índice de preços ao consumidor, registou uma contracção homóloga de 0,5 por cento em Novembro, na primeira queda desde Outubro de 2009, segundo dados oficiais ontem divulgados. Em Outubro, aquele indicador tinha já registado o menor crescimento homólogo

dos últimos onze anos, sobretudo devido à queda do preço da carne de porco, que chegou a registar subidas homólogas acima dos 100 por cento, nos últimos 19 meses, devido a um surto de peste suína que devastou a produção doméstica. Em Outubro, o preço da carne de porco caiu 2,8 por cento, mas em Novembro a queda foi superior e fixou-se em 12,5 por cento. Dong Lijuan, estatístico do Gabinete Nacional de Estatísticas (GNE) da China, atribuiu a queda no preço à "recuperação contínua da produção de carne suína". No conjunto, os preços dos alimentos caíram 2 por

cento, em Novembro, a primeira queda desde Janeiro de 2018. No período de Janeiro a Novembro, a inflação ao consumidor da China aumentou 2,7 por cento, em relação ao mesmo período de 2019. O índice de preços ao produtor da China caiu, em Novembro, 1,5 por cento, em relação ao mesmo mês do ano anterior, depois de registar uma queda de 2,1 por cento em Outubro. O GNE disse que a produção industrial da China continuou a recuperar, enquanto a procura no mercado aumentou, elevando os preços dos bens industriais.


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retrovisor Luís Carmelo

10.12.2020 quinta-feira

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Pessoa nu

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Á muitos anos que sei que Fernando Pessoa foi a Portalegre comprar uma tipografia. Sempre achei curiosíssimo por muitas razões, mas sobretudo porque Pessoa não gostava de viajar, ou seja, de cruzar o território físico (não outros, é claro). Numa das sessões recentes que tiveram lugar na EC.ON-Escola de Escritas, o Jerónimo Pizarro acentuou muito este facto e confirmou que o território de eleição do poeta era sobretudo a geometria da Baixa lisboeta. Todos os destinos do mundo, mesmo aqueles africanos de onde pela segunda vez regressou em 1905, se circunscreviam, na realidade, à pátria braquiana que liga, na capital, o Rossio ao cais das colunas. Esta semana, por acasos de um projecto de escrita em que ando envolvido, dei com uma carta escrita por Pessoa a Armando Teixeira Rebelo no dia 2 de Agosto de 1907, estando alojado precisamente em Portalegre no então “Hotel Brito”*. Relembremos que o poeta tinha na altura 19 anos (feitos em Junho, no dia de santo António e de Lisboa). O calor e o “nada” extremos vividos nessa viagem - não o “nada que é mito”, mas apenas o da mera carambolagem, como diria o dadaísta Tzara - tocaram de tal modo Pessoa que a carta acaba por roçar, cito, o “hiperaborrecimento, o ultra-estafanço-de-tudo, a absoluta sensação de o-que-há-de-fazer-um-tipo num sítio destes”. Raramente vi um documento em que a exaustão de uma atmosfera e de uma cidade fosse tão radical. Nada parece compensar Pessoa neste seu logro. Nem mesmo o poema que faz de ‘post-scriptum’ à epístola, intitulado “O Alentejo visto do comboio”, e que é uma verdadeira ‘quête’ do inferno. Reza assim: “Nada com nada em sua volta/ E algumas árvores no meio,/ Nenhuma das quais claramente verde,/ Onde não há vista de rio ou de flor./ Se há um inferno, eu encontrei-o,/ Pois se não está aqui, onde Diabo estará?”. Logo nas primeiras linhas da carta, Pessoa explica a Armando Teixeira Rebelo a razão que o terá levado a escrever: “a minha alma sentiu, como um suspiro mental, a necessidade de dar expressão do seu presente estado e tendências a um cérebro amigável como o teu”. Depois torna claro quais as “circunstâncias angustiosas” que estava a viver e que lhe deram a “ideia de que talvez o processo desta composição epistolar” pudesse “ser subjectivamente conducente a um alívio do meu fardo terreno neste momento”. Segue-se a este passo da carta a caracterização possível da cidade que teve nesses dias diante dos seus olhos: “Portalegre é um lugar em que tudo quanto um forasteiro pode fazer é cansar-se de não fazer nada. As suas qualidades componentes parecem-me conter (depois de uma profunda aná-

Sê todo em

O que vem provar que Fernando Pessoa tinha direito a ser uma pessoa como qualquer um de nós como porventura o terá sido na larguíssima maior parte das suas vivências e misérias - e não o mago-mágico que amiúde comparece em muita da emoldurada mitografia lusitana

lise), em quantidades relativas e incertas, calor, frio, semiesPãholismo e nada. O vinho é bom (embora não daqui, creio), mas é decididamente alcoólico, especialmente quando a jarra de água está na outra extremidade da mesa e tu te esqueces (quer dizer, eu me esqueço) de o pedir.” Só quase no final é que a escrita acaba por dar conta da finalidade prática da ida de Pessoa a Portalegre: “A desmontagem e embalagem da tipografia está a levar um tempo danado — poeticamente falando, é claro. Apesar disso, os homens têm trabalhado bastante depressa e tenho os olhado e observado com a maior das energias.”. E pouco depois surge aquela que é talvez a confissão decisiva: “Acredito sinceramente que, se tivesse que aqui ficar um mês, teria de ir para Lisboa e depois para o Hotel Bombarda”. O que é extraordinário neste texto é verificar a auto-imagem de uma pessoa comum que se aborrece infinitamente com a viagem e com local visitado, chegando ao ponto de definir - com alguma ironia - uma certa distância entre si e a loucura, como se tudo fosse uno, unívoco e irreversível. Ou seja: a reversibilidade própria das heteronímias, o olhar oblíquo e transmutado ou ainda a coexistência entre o actual e o eu-atemporal estão completamente de fora deste jovem Pessoa que aqui escreve e se descreve no seu imenso fastio de Portalegre, ele que havia criado o primeiro heterónimo aos seis anos de idade (baptizado com o curioso nome de Chevalier de Pas). O homem aqui retratado chama a si o vinho e a linguagem para diluir a existência, queixando-se da pequenez, mas fazendo-se, de algum modo, refém dela ao espelhá-la através duma assimetria previsível e até lógica. Esperar-se-ia antes um fastio que fosse alvo de desmontagem (tal como os cubistas sabiam fazer) e que tivesse sido projectado num daqueles ecrãs interiores afinal tão pessoanos - em que o sentido e o não sentido ou em que a realidade e a irrealidade andassem de mãos dadas. Mas não. O que irradia desta carta é sobretudo um “basta”, embora literária e engenhosamente ‘dito a arder’. O que vem provar que Fernando Pessoa tinha direito a ser uma pessoa como qualquer um de nós - como porventura o terá sido na larguíssima maior parte das suas vivências e misérias - e não o mago-mágico que amiúde comparece em muita da emoldurada mitografia lusitana. A sacralização da poesia (e do poeta absoluto) tem os seus reversos, um deles é esquecer que todos limpam o rabo seja em que papel for e seja em que partida e destino for. *Pessoa, F. Escritos Íntimos, Cartas e Páginas Autobiográficas. (Introduções, organização e notas de António Quadros.) Mem Martins, Publ. EuropaAmérica, 1986 (p. 56).


ARTES, LETRAS E IDEIAS 13

quinta-feira 10.12.2020

cada coisa

diário de Próspero

António Cabrita

Desatinos

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acaso atirou-me para o estômago de Xipamanine e só teria boleia duas horas depois. Andar de chapa em pleno Covid não me parecia prudente. Sentei-me na tasca mais protegida da poeira. Eles chegaram vinte minutos depois e abancaram na mesa ao lado da minha, num estardalhaço. Cinco bizarmas, altos e maçicos como zulus. Na melhor das hipóteses, seis ex-piratas convertidos ao basquetebol. Não eram, falavam em casas ardidas e em extorsões. E o líder - há azares que nunca vêem sós – achou graça que na mesa ao lado um white se procurasse concentrar na leitura. O que dava uma função diferente ao tampo das mesas, agastadas por décadas de cotovelos ébrios. Para mostrar-se magnânime, interpelou-me, queria pagar-me um copo. Escusei-me às primeiras, mas ele insistia e de cinco em cinco minutos voltava à carga. Ao cabo de vinte minutos amaldiçoei-me por não ter zarpado mais cedo nem poder agora evitar a oferta, sem parecer indelicado. Suspirei para dentro, apropriei-me com um olho de uma linha do livro que estava a ler e atirei para a mesa do lado, num sorriso contrafeito: - Bom, se até o Hegel, na Fenomenologia do Espírito, evoca a necessidade de tornar fluido o “pensamento congelado”, poderei eu recusar a sua oferta em oferecer-me uma cerveja? Fez-se silêncio e a coisa deve ter-lhe parecido rebuscada, de um momento para o outro eriçou-se. Lançou para os outros: - O white gosta de confusionar os bradas... – e sacando a pistola do bolso, pô-la em cima da mesa, sem deixar de me mirar – Vamos ver o que esse boss, como é que era mesmo o nome? - Hegel...- repeti, reprimindo a custo o soluço – é alemão... - Vamos ver o que esse boss fala depois de ver o buraco de uma bala no bucho... de outro white. - Bom, dou por alternativa aceitar o seu copo... – reagi, mansamente. Na hora seguinte, rodeado de risos e grunhidos e de mil disparos escatológicos, bebi cinco canecas a mata-cavalos, quase em silêncio; o capanga queria comprovar se o white aguentava. Não é verdade que cinco canecas depois se desloque o foco da depressão. E explicava ele aos outros, trocista, topando o meu incómodo: - Julgava que o “mano” lia uma cena de economia e nos ia falar como livrar impostos! Ficou o Hegel mais às curvas do que eu, apreensivo com os rumos de tanta

generosidade. À sexta caneca, comprovando que a minha necessidade inata para ser tranquilizado me traía, deixei escapar um arroto. O que lhe provocou uma gargalhada e amenizou a tensão. Resolveu aí guardar a pistola e condescender: - O white sabe beber... – antes de prevenir, de seguida – mas para a próxima faço-te engolir o livro! O livro, de bolso por sinal, chama-se La Figure du dehors, e é do Kenneth White: daria uma bela e indigesta refeição. Sairam dez minutos depois, na mesma estúrdia em que tinham entrado, deixando-me a cismar na ressaca e na petulância com que a cultura às vezes arrisca não ser mais do que um descarnado out of time. Noutra vez resolvi ir experimentar o ambiente de um café novo, numa zona nobre da cidade, um pouco retro, bastante kitsch, e estupidamente caro. Normalmente, só levo comigo o suficiente para pagar dois cafés, para não me entregar a outros estragos. Estava naquele limiar em que começamos a pensar em ir para casa quando me abordou um tipo baixote, anafado e cinzento:

- Desculpe. Dizem-me que o senhor escreve versos. - Às terças-feiras. Ele riu: - Hoje é domingo, mas poderei pagar-lhe. - Pagar-me o quê? - Um poema para a minha dama. Cocei o queixo, olhando-lhe os dedos encardidos do tabaco: - Hum, e qual é a pressa? - Ela faz anos hoje e fiquei de ir jantar com ela. Gostava de levar o poema comigo. Por quanto mo fazia? - É um uísque duplo, por quadra. Se for soneto, três. - Posso voltar daqui a meia hora? - Quarenta minutos, a primeira dose é para me descer a inspiração, só ao segundo começo. Espetou a mão sapuda no ar e selámos o acordo com um passou-bem. Pedi-lhe uma fotografia da amada. Bom, ela era o impossível cruzamento de um radiador de Mercedes Benz com uma fêmea de tubarão-martelo. Há gostos para tudo. Porém, se o Mallarmé fazia de encomenda poemas para os casamentos e depois explicava aos amigos

Pedi-lhe uma fotografia da amada. Bom, ela era o impossível cruzamento de um radiador de Mercedes Benz com uma fêmea de tubarão-martelo. Há gostos para tudo

que aqueles poemas não eram obscuros porque não tivera o tempo para isso, eu também seria capaz. Pedi o primeiro duplo. Ele voltou uma hora depois: - Não quis apressá-lo na sua escrita. Passei-lhe o poema. A cara dele alterou-se à primeira palavra: «Rémora grudada à sua pele/ lustrosa, o meu amor por ela./ (Ela não sabe que lhe chamo tubaroa!) / Rémora de si mesmo saudosa// mas rendida à emoção que só/ no seu flanco estua, quando ela arfa/ e um heliventilador me limpa o dó,/ no ar que me somava as derrotas.// (E quem mais aceitaria que eu/ fume por dia dois cinzeiros?) Rémora/ de amor ardente e ciúme ao rubro, e mui/ inquieta por fazer anos a minha fera/ e eu ainda à toa quanto ao presente.../ (Se ela soubesse que lhe chamo tubaroa!)» Desculpe, o que é rémora? – perguntou desconcertado. Expliquei-lhe. Não gostou do tom jocoso. Nem topou o verso camoniano. - O senhor é maningue excêntrico, o poema nem tem lírios! - Com emendas é mais um uísque! Irritou-o a piada. Pôs uma carranca e deixou-me a sós com a conta por pagar, num café fino onde nunca havia entrado e nos braços de um gerente, percebi depois, um bocado bruto para brancos desabonados. Este declinou a minha oferta com a sentença: - Os uísques pagam-se com o dinheiro e os sonetos com o aplauso. Gente ingrata, é o que é!


14 (f)utilidades TEMPO

MUITO

10.12.2020 quinta-feira

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PROBLEMA 19

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SOLUÇÃO DO PROBLEMA 18

9 8 5 7 2 6 9 3 4 8

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Cineteatro 21 SALA 1

9 6 5 2 7 4 7 THE RENTAL [C] 1 59 7 3 2 8 6 3 5 9 6 14 8 1

7 6 2 9 5 4 3 8 1

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O número de refugiados e pessoas deslocadas no mundo ultrapassou a marca dos 80 milhões em meados de 2020, um recorde em plena pandemia de covid-19, indicou ontem a ONU. Em comuni-

1 8 3 5 6 4 6 1 7 8 9 4 2 2

THE MOVIE 20DEMON SLAYER: KIMETSU NO YAIBA MUGEN TRAIN [C]

8 9 6 9 3 1 7 2 7 5 4 3

FALADO EM JAPONÊS LEGENDADO EM CHINÊS Um filme de: Sotozaki Haruo 14.30, 16.45, 17.15, 21.30

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C I N E M A

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4 9 2 7 5 9 1 3 2 8 6

50-80% ´

EURO

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BAHT

cado, o Alto Comissário das Nações Unidas para os Refugiados, Filippo Grandi, lamentou que o mundo tenha chegado a este “ponto de viragem sombrio” e advertiu que a situação se agravará

0.26

YUAN

1.22

caso “os líderes mundiais não puserem fim às guerras”. “A comunidade internacional não está a conseguir preservar a paz”, disse, sublinhando que a deslocação forçada duplicou na última década.

20

Um filme de: Dave Franco Com: Dan Stevens, Alison Brie, Shiela Vand 14.30, 16.30. 19.30, 21.30

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HUM

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SALA 2

5 7 3 4 3 4 7 21 3 1 2 5 8 FIND YOUR VOICE [B] 2 6 8 7 9 8 2 6 4 5 9 73 6 41 64 9 8 3 1 2 7 59 6 5 4 6 4 i WeirDO [B]

FALADO EM PUTONGHUA LEGENDADO EM CHINÊS E INGLÊS Um filme de: Liao Ming-yi Com: Austin Lin, Nikki Hsich 14.30, 21.30

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FALADO EM CANTONÊS LEGENDADO EM CHINÊS E INGLÊS Um filme de: Adrian Kwan Com: Andy Lau, Lowell Lo, MArk Lui, Hugo Ng 16.30, 19.30

4 8 5 7 2 3 1 6 9

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22DISCO HOJE UM

6 1 7 5 8 2 Gorillaz é o3 álbum 4 9 7de1estreia 6 da banda virtual britânica, com 5 2nome, 8 que3 serviu 9 4 o mesmo de catapulta para os quatro mem6 9que1a compõem 3 8 bros7 animados deixarem 2 8de ser 5 estranhos 4 6 aos 9 olhos do mundo. Fruto da colaboração feliz 1 entre2 o vocalista 3 4 7 5 dos Blur, Damon Albarn (único 9 permanente 7 6 8da 2 3 membro banda), e do cartonista Lamie Hewlett, 1 5destacaram-se, 2 6 4 des7 os Gorillaz de logo, pelos seus concertos 8 3 e4som 9 5 1e holográficos penetrante variado, tendo firmado no single “Clint Eastwood” um dos seus maiores sucessos de sempre. O álbum “Gorillaz” vendeu mais de 7 milhões de cópias e até hoje, 2-D, Murdoc, Noodle e Russel continuam a trilhar um rumo digital de sucesso, no panorama musical do mundo real. Pedro Arede

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5 6 7 8 4 1 9 2 3 GORILLAZ | 2001

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8 6 2 7 3 6 9 8 7 4 3 2 5 1 46 1 4 5 8 5 4 3 8 2 1 7 9 6 69 54 1 8 7 5 2 7 1 9 6 5 3 4 8 THE RENTAL 43 1 4 1 9 7 9 8 5 2 7 6 1 3 4 25 2 3 1 6 1 3 6 4 5 8 9 2 7 5 2 7 8 Lda Director Carlos7Morais2José4 3João1 9C. Mendes 6 Redacção 8 5Andreia Sofia Silva; João Santos Filipe; Pedro Arede; Salomé Fernandes Propriedade Fábrica9 de Notícias, Editores Luz; José Colaboradores Anabela Canas; António Cabrita; António de Castro Caeiro; António Falcão; Ana Jacinto Nunes; Amélia Vieira; Duarte Drumond Braga; Emanuel Cameira; Gisela Casimiro; 7 5LoboPinheiro; 9Gonçalo9M.Tavares;JoãoPauloCotrim; 6 3 8 2 4 José 5Drummond; 2 1JoséNavarro 3 de7Andrade; 8 José6Simões9Morais;LuisCarmelo;MichelReis;NunoMiguelGuedes;PauloJoséMiranda; Gonçalo Paulo Maia e Carmo; Rita Taborda Duarte; Rosa Coutinho Cabral; Rui Cascais; Rui Filipe Torres; Sérgio Fonseca; Valério Romão Colunistas António Conceição Júnior; André Namora; David 2 3Romão; 5 Simão;OlavoRasquinho; 9 4 Jorge 3Rodrigues 7 8 Paul 6Chan7WaiChi; 5Paula9Bicho;2Tânia4dosSantos 1 Grafismo 3 PauloBorges,RómuloSantosAgênciasLusa;XinhuaFotografiaHoje Chan; João Macau; Lusa; GCS; Xinhua Secretária de redacção e Publicidade Madalena da Silva (publicidade@hojemacau.com.mo) Assistente de marketing Vincent Vong Impressão Tipografia Welfare 9deSanto 4 8Calçada 1 6 Agostinho, 5 n.º19,CentroComercial 3 Nam 1 Yue,96.ºandar 6A,Macau 8 Telefone 4 528752401 7 Fax228752405e-mailinfo@hojemacau.com.moSítiowww.hojemacau.com.mo Morada 5 6


opinião 15

quinta-feira 10.12.2020

a propósito de

OLAVO RASQUINHO*

David Attenborough

Uma vida em defesa do mundo natural

D Sir David Attenborough

AVID Attenborough, naturalista, grande comunicador da BBC, desde há cerca de 60 anos tem vindo a desenvolver ação altamente meritória em defesa do mundo natural, através de um grande número de documentários, palestras e entrevistas. Desde criança que a sua curiosidade pela história natural o levou a aprofundar os conhecimentos sobre a fauna e a flora em todo o mundo. Grande parte da vida profissional foi dedicada a dar a conhecer a vida selvagem ao grande público e, como ele próprio afirma, considera-se privilegiado por a sua profissão lhe ter proporcionado conhecer os mais diversos habitats. Sente-se, no entanto, simultaneamente angustiado pela degradação de que a biodiversidade tem vindo a ser alvo. Em sua homenagem, a Netflix estreou recentemente o documentário produzido pela Silverback Films e World Wide Fund for Nature (WWF), intitulado “David Attenborough - Uma Vida no Nosso Planeta”, em que o naturalista faz um balanço das transformações da vida selvagem que testemunhou no decorrer da sua longa vida (nasceu em 8 de maio de 1926). Durante uma hora e vinte e três minutos temos a possibilidade de apreciar imagens de documentários anteriores, acompanhados da narração sobre o que observou há dezenas de anos e aquilo que se nos depara atualmente.

No início do seu testemunho, David Attenborough mostra imagens desoladoras da cidade Pripyat em ruínas, na então Ucrânia soviética, onde, nas suas vizinhanças, ocorrera em 26 de abril de 1986, o grave acidente na central nuclear de Chernobil. O rebentamento das instalações nucleares, consequência de mau planeamento e erro humano, gerou a emissão de radiação que contaminou trabalhadores da central, habitantes das povoações próximas, e o meio ambiente. A radiação afetou também os países vizinhos e chegou a ser detetada em regiões tão longínquas como o Japão. O naturalista considera que este desastre foi um acontecimento isolado, mas que a verdadeira tragédia do nosso tempo se desenrola diariamente, quase impercetivelmente, que consiste na perda de grande quantidade de locais selvagens devido à sobre-exploração dos recursos em todo o planeta. Lemos e visualizamos com frequência, nos meios de comunicação social, artigos e documentários sobre o impacto das atividades antropogénicas no nosso planeta, mas raramente temos acesso a provas tão evidentes como as que nos são apresentadas neste testemunho. É-nos dado a comparar vários habitats como eram há dezenas de anos e como estão agora. Por exemplo, as florestas no Bornéu, que foram em grande parte dizimadas e substituídas por dendezeiros, o que provocou uma diminuição do número de orangotangos de cerca de dois terços em pouco mais de sessenta anos; a cobertura de gelo do

Os orangotangos estão a ficar sem habitat

ANOS

Bornéu - Plantação de palmeiras dendém (à esquerda) substituindo a floresta tropical

1937 1954 1960 1978 1997 2020

POPULAÇÃO (Milhares de milhões) 2,3 2,7 3,0 4,3 5,9 7,8

Uma morsa prestes a despenhar-se

Oceano Ártico, no verão, reduzindo-se de ano para ano; recifes de corais totalmente destruídos; zonas marítimas alvo de sobre-exploração da pesca; etc. Assistimos a cenas dramáticas da vida de animais selvagens, como orangotangos tentando sobreviver em florestas destruídas Uma sequência de imagens de satélite mostra-nos a redução da área abrangida pelo gelo no Oceano Ártico, que tem vindo a sofrer, no verão, uma diminuição de cerca de 40% em 40 anos. São particularmente chocantes as imagens que nos mostram milhares de morsas a aglomerarem-se numa praia no litoral nordeste da Rússia, onde são forçadas a descansar devido à escassez de plataformas de gelo. Por o espaço ser restrito, atropelam-se mutuamente, muitas acabando por se despenharem por uma zona rochosa escarpada, dando-nos a sensação de suicídio coletivo. Na realidade, segundo o naturalista, trata-se de uma tentativa malsucedida de regresso ao mar, na medida em que estes animais têm fraca visão e, orientando-se pelo olfato, acabam por se despenharem por um penhasco que se lhes depara pelo caminho. A longa vida de David Attenborough permitiu-lhe acompanhar o aumento da população mundial e avaliar o impacto negativo deste crescimento sobre a biodiversidade. As provas de que esse aumento populacional não foi acompanhado por medidas de sustentabilidade são tão avassaladoras que se torna moralmente obrigatório ver e rever este testemunho. Narrando a sua experiência, analisa a evolução da Terra, lamentando a perda de habitats onde outrora proliferavam animais selvagens. Atribui as causas deste desastre ao aumento desregrado da população mundial, à queima de combustíveis fósseis e, consequente, ao aumento da concentração de gases de efeito de estufa, em especial do anidrido carbónico, e à destruição de habitats selvagens. À medida que a narrativa decorre, pode-se constatar a seguinte progressão da população

CO2 NA ATMOSFERA (Partes por milhão-PPM)

NATUREZA SELVAGEM RESTANTE

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mundial, a sua correspondência com a concentração de dióxido de carbono na atmosfera e a regressão da natureza selvagem (ver tabela). Perante a influência tão negativa das atividades humanas sobre o ambiente, David Attenborough corrobora a opinião de muitos cientistas de que estamos a deixar o Holocénico, período geológico em que a estabilidade do clima é uma das principais características, e que estamos a entrar noutro período, em que a influência dos humanos se reflete de maneira trágica sobre o nosso planeta. O testemunho é dramático mas não derrotista, propondo alterações no comportamento humano de modo a reverter a tendência para o agravamento da situação da vida selvagem. Assim, preconiza a substituição do uso de combustíveis fósseis pelas energias renováveis (solar, eólica, hidráulica e geotérmica), estabilização da população mundial, reflorestamento, enfim, como realça, “… deixarmos de estar apartados da natureza e passarmos a fazer parte dela”. Relata como exemplo o que foi feito na Costa Rica, onde, há um século, mais do que três quartos estavam cobertos por floresta. Porém, até à década de 80 do século passado, essa área foi reduzida a um quarto, devido ao abate descontrolado de árvores. Perante esta realidade, o governo decidiu subsidiar os proprietários para replantarem árvores nativas, o que implicou que a floresta voltasse a cobrir, ao fim de 25 anos, metade do país. “Imaginem que conseguíamos isso à escala global…”, comenta o naturalista.

Os combustíveis fósseis são a principal causa do aquecimento global

Tal como no início, o documentário termina com imagens de Chernobil, mostrando a natureza a recuperar em Pripyat, mais de trinta anos depois do desastre. A floresta invadiu a cidade abandonada e a vida selvagem retomou o seu ciclo. As últimas frases do testemunho do naturalista constituem uma mensagem de esperança: “Durante muito tempo eu, e talvez vocês, tememos o futuro. Mas está a tornar-se evidente que nem tudo é uma desgraça. Temos a oportunidade de nos redimir, de concluir a jornada de desenvolvimento, de gerir o nosso impacto e, mais uma vez, de ser uma espécie em equilíbrio com a natureza. Tudo o que precisamos é de vontade para o fazer. Temos agora a oportunidade de criar o lar perfeito para nós próprios, e de recuperar o mundo rico, saudável e maravilhoso que herdámos. Imaginem só…”. *Meteorologista. O autor escreve segundo o novo acordo ortográfico


Saber amar não é amar. Amar não é saber. Marcel Jouhandeau

PALAVRA DO DIA

Construção Ajuste directo do Governo criticado por sector

TDM John Lai substituído por Chan Hin Chi

John Lai, membro do conselho de administração da Teledifusão de Macau (TDM), será substituído no cargo por Chan Hin Chi a partir do dia 14 de Dezembro, aponta um despacho ontem publicado em Boletim Oficial (BO). Recorde-se que John Lai foi absolvido, em 2018, de dois crimes de abuso de poder pelo Tribunal Judicial de Base (TJB). Foi renovada ainda a nomeação de Cristina Ho Hoi Leng como membro do conselho de administração a TDM, com efeitos a partir do próximo dia 20.

U

PUB

M grupo constituído por seis associações ligadas ao sector da construção civil criticou o Governo devido ao ajusto directo superior a 2 mil milhões de patacas à empresa estatal Companhia de Engenharia e de Construção da China. O contrato prevê a construção de 1.800 habitações para idosos. No entanto, o grupo local está preocupado com o comportamento do Governo de Ho Iat Seng, que contraria as práticas da concorrência e também porque reflecte uma política de preterir as empresas locais. Segundo Fernando Tse, vice-presidente da Associação de Empresas de Consultores de Engenharia de Macau, as preocupações já foram reflectias ao Executivo, que explicou a decisão com a necessidade de acelerar os prazo de construção. Por sua vez, Lo Kai Jone, presidente honorário da Associação de Engenharia e Construção de Macau, revelou que o sector teve uma reacção forte à decisão de fazer um ajuste directo, em vez de um concurso público. Em declarações citadas pelo canal chinês da Rádio Macau, Lo apontou que se a construção fosse feita de forma mais tradicional, ao invés do modelo com casas pré-fabricadas, que as construtoras locais tinham toda a capacidade para fazer o trabalho. Com o novo molde de construção, o presidente honorário diz admitir a opção do Governo, até porque este modelo necessita de investimento e experiência técnica, mas avisou que o ajuste directo não é assim tão eficaz na poupança de tempo. Face a este cenário, Lo apelou ao Governo para que não volte a recorrer a ajustes directos para atribuir obras.

quinta-feira 10.12.2020

SPU Lei está pronta para ser votada

Hu Heping, ministro da Cultura e do Turismo da República Popular da China

FÓRUM CONTROLO DA PANDEMIA VAI TRAZER RÁPIDA RECUPERAÇÃO ECONÓMICA

Optimismo central

U

M responsável chinês disse ontem que o Governo de Macau conseguiu responder de forma peremptória à pandemia e que o território vai conseguir uma rápida recuperação económica. Durante o Fórum Global de Economia Turística, organizado por Macau, o ministro da Cultura e do Turismo da República Popular da China, Hu Heping, afirmou que o Governo de Macau “respondeu à pandemia em tempo oportuno” e que por isso “conteve eficazmente a sua propagação”. As medidas sanitárias adoptadas pelo Governo da RAEM mostraram-se eficazes, e desde 26 de Junho que não é detectado qualquer caso. Por essa razão, Hu Heping acredita que “a economia de Macau vai recuperar rapidamente com o apoio do Governo Central” e “demonstrar melhor que nunca o seu papel de centro mundial de turismo assim como o seu papel de cooperação entre

a China e os países de língua portuguesa”. A China, por outro lado, frisou o responsável, foi o “primeiro país do mundo a controlar a pandemia e a primeira potência a recuperar a economia”. Também no Fórum, que está a decorrer presencialmente e online, o secretário-geral da Organização Mundial de Turismo, Zurab Pololikashvili, apontou que “Macau emergiu como um líder turístico”. Já a secretária para os Assuntos Sociais e Cultura de Macau lembrou que “de acordo com os dados da Organização Mundial de Turismo, nos primeiros oito meses de 2020, o número de visitantes internacionais caiu 70 por cento, a indústria turística foi globalmente fortemente atingida”. “Enquanto destino internacional de turismo, os sectores predominantes de Macau do turismo e do jogo foram profundamente afectados este ano, com as recei-

tas a registarem uma acentuada diminuição”, afirmou. Em 23 de Setembro, as autoridades chinesas retomaram a emissão de vistos individuais e de grupo para o território, suspensos desde o início da pandemia, o que tem resultado numa subida gradual dos visitantes na capital mundial do jogo, ainda que muito abaixo de uma média mensal de cerca de três milhões de visitantes, em 2019.

OUTRAS CONTAS

As incertezas no território ainda são muitas, com as operadoras de jogo a apresentarem centenas de milhões de euros em prejuízos no terceiro trimestre do corrente ano. Os casinos de Macau tinham fechado 2019 com receitas de 292,4 mil milhões de patacas. Para 2021, o Governo prevê arrecadar 45,5 mil milhões de patacas, o que, apesar de uma melhoria, está ainda muito longe das 112,71 mil milhões patacas arrecadadas em 2019.

A lei que reduz as competências do comandante-geral dos Serviços de Polícia Unitários (SPU) no mecanismo de resposta no âmbito da protecção civil está pronta para ser votada na especialidade. O documento estava a ser analisado pela primeira comissão da Assembleia Legislativa e os trabalhos chegaram ontem ao fim. Esta é uma formalidade que surge na sequência do Regime Jurídico de Protecção Civil, que substitui o comandante-geral dos SPU pelo secretário para a Segurança, como Comandante da Acção Conjunta de resposta a eventuais calamidades.

Emprego Prioridade aos trabalhadores locais

Em resposta a uma interpelação escrita de Song Pek Lei, a Direcção dos Serviços para os Assuntos Laborais (DSAL) reiterou que está a ser dada primazia ao emprego dos trabalhadores locais através da análise atenta das candidaturas apresentadas pelos residentes. “A DSAL vai encarar de forma séria a procura de emprego por parte dos trabalhadores locais. Vamos analisar a informação submetida, tirar ilações sobre as áreas e o tipo de trabalho que têm maior procura e combiná-las com o mecanismo de saída de trabalhadores não residentes [TNR] com o objectivo de aumentar as oportunidades de emprego dos residentes”, pode ler-se na resposta. Às empresas de maior dimensão que empreguem TNR nas posições para as quais existem candidatos residentes com as mesmas valências, a DSAL irá indicar que “seja dada primazia à contratação de trabalhadores locais”.


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