SEXTA-FEIRA 10 DE MARÇO DE 2017 • ANO XVI • Nº 3770
SOFIA MARGARIDA MOTA
DIRECTOR CARLOS MORAIS JOSÉ
REFORMA ADMINISTRATIVA
A dança das cadeiras PÁGINA 4
DIREITOS HUMANOS
TRABALHO
A história não morde
China aponta Ella quer dedo aos EUA mudar a lei Modo de perguntar OPINIÃO ISABEL CASTRO
PÁGINA 11
PÁGINA 5
h PAULO JOSÉ MIRANDA
hojemacau ESTALEIROS
www.hojemacau.com.mo•facebook/hojemacau•twitter/hojemacau
Ideias na gaveta AGÊNCIA COMERCIAL PICO • 28721006
PUB
GRANDE PLANO
MOP$10
2 GRANDE PLANO
Muito antes de o Governo decidir deitar abaixo os estaleiros, a povoação de Lai Chi Vun foi alvo de vários projectos vindos do sector privado. A muitos deles, o Governo nunca deu uma resposta, chegando a rejeitar outros. O HM revela três projectos propostos por dois amantes da indústria naval, sem esquecer as ideias de estudantes de Arquitectura “Os alunos que vieram de Milão ficaram maravilhados com aquela plasticidade, as soluções, o tipo de construção, como se resolviam problemas de arquitectura.” JOSÉ LUÍS SALES MARQUES PRESIDENTE DO IEEM
LAI CHI VUN OS PROJECTOS E AS IDEIAS ANTES DAS DEMOLIÇÕES
NO PRINCIPIO E ´
H
OUVE uma altura em que se pensou além do vazio virado para o mar. Sobre Lai Chi Vun já muito se criou antes de se decretar a demolição dos velhos estaleiros. Alunos de Arquitectura e amantes de barcos feitos com madeira dedicaram tempo pessoal a estudar e a apresentar sugestões para revitalizar a povoação. Muitas propostas foram entregues ao Governo, explicadas ao detalhe, ou então foram discutidas em debates públicos nos quais membros do Executivo estiveram presentes. Para Lai Chi Vun pensaram-se edifícios multiusos, ligações ao Cotai ou ao campus da Universidade de Macau, museus, um parque temático ligado à indústria naval, pequenas moradias. Muitos destes projectos acabaram por ficar na gaveta, pendentes, à espera de uma resposta que nunca chegou. Noutros casos, houve recusas. Um dos projectos partiu de Henrique Silva. O seu amor pelos barcos levou-o a preparar um projecto conceptual em parceria com uma empresa que se dedica à construção de empreendimentos navais virados para o turismo. A proposta foi apresentada ao Governo no ano passado. “Este projecto contemplava a existência de oficinas, que é uma coisa que não existe em Macau para quem precisa de manutenção de barcos, um museu e um clube para iates. E ainda uma escola de vela”, explicou ao HM. Além disso, “na zona onde ficaria a marina colocar-se-iam vivendas”, para dar uma oportunidade de investimento ao sector imobiliário. “Criava-se ali uma zona privilegiada, porque o turista que chega de barco não é propriamente uma pessoa pobre, e ficaria ainda com acesso privilegiado ao Cotai. Todos ganhavam, porque o projecto também ajudaria a desenvolver a economia tradicional de Coloane, sem ter de a destruir.
Projecto de Henrique Silva
Desenvolvia-se um núcleo diferente, com outro tipo de animações”, apontou Henrique Silva. A ideia era, assim, criar um complexo náutico “de nível internacional”, uma vez que a Doca de Lam Mau, localizada na zona do Fai Chi Kei, é de mais difícil e longínquo acesso. “Mantinha-se a memória do espaço e depois poderiam ser incorporados mais pormenores”, disse ainda.
PARQUE TEMÁTICO À BEIRA-MAR
Tam Chon Ip estudou arqueologia, é freelancer e um apaixonado pela cultura de um território que o viu nascer. Também ele teve ideias que gostaria de ver implementadas em Lai Chi
“Este projecto contemplava a existência de oficinas, que é uma coisa que não existe em Macau para quem precisa de manutenção de barcos, um museu e um clube para iates.” HENRIQUE SILVA EMPRESÁRIO LIGADO AO SECTOR NAVAL
Vun. A abertura de uma espécie de parque temático foi uma delas. “O nosso plano visava a preservação dos estaleiros para serem mostrados ao público, com a implementação de uma zona de teatro, um espaço público e outro tipo de infra-estruturas. Teríamos elementos não comerciais, com a conservação da arte e cultura. A parte mais importante seria um parque temático com workshops sobre a construção de barcos. Os participantes poderiam vivenciar a experiência da cultura tradicional de Macau”, resumiu ao HM. Um dos pontos centrais do projecto seria o estaleiro Liuhe, onde foi construída a Lorcha Macau.
3 hoje macau sexta-feira 10.3.2017 www.hojemacau.com.mo
RA A HISTORIA ´
“Sempre pensei que indústria de construção de barcos se poderia transformar em algo cultural e criativo, em que o lado tradicional e inovador poderiam combinar. É possível optimizar a povoação para os turistas, moradores e residentes. A própria povoação de Lai Chi Vun é um museu ao ar livre.” Apesar do esforço, Tam Chon Ip acabou por ver algumas das suas ideias recusadas, ao nível de pedido para financiamento. “Temos vindo a promover o projecto e também nos candidatámos a vários apoios, mas alguns projectos não foram aceites, o que criou dificuldades.” Este amante da história e da cultura chegou a promover uma pequena exposição sobre os estaleiros em Lai Chi Vun, “mas não houve qualquer novidade depois da visita das autoridades”.
LIGAÇÃO A HENGQIN
Em 2013, a povoação de Lai Chi Vun obteve projecção internacional ao ter sido alvo de um projecto desenvolvido por alunos de Arquitectura do Instituto Politécnico de Milão, no âmbito do Prémio Compasso Volante. José Luís Sales Marques, presidente do Instituto de Estudos Europeus de Macau (IEEM), presidiu ao júri, que contou também com a presença do arquitecto Carlos Marreiros. “Foi feito um concurso aberto a estudantes de pós-graduação de várias universidades, nomeadamente o Politécnico de Milão, a Universidade de Palermo, uma universidade de Singapura e outra do Japão. Nesse concurso os alunos vieram a Macau, estiveram alguns dias cá e fizeram vários levantamentos sobre a zona de Lai Chi Vun e a história de Macau”, contextualizou. Os estudantes foram orientados pelos professores, fizeram os projectos e apresentaram-nos primeiro em Palermo, e depois em Milão. “Foi uma oportunidade para expor questões importantes do ponto de vista de reabilitação urbana, e procurar soluções arquitectónicas para problemas que existiam e continuam a existir na cidade”, indicou José Luís Sales Marques. O presidente do IEEM recorda que foram apresentadas “várias soluções”, incluindo a possibilidade
de construir uma ligação entre Lai Chi Vun e a Ilha da Montanha, no pedaço de terreno onde funciona o campus da Universidade de Macau. “Foi um exercício muito válido e interessante, que envolveu muita gente, uma comunidade internacional bem informada. Os trabalhos estão bem fundamentados, há pormenores, e descrição do ambiente e do local. As soluções apresentadas eram destinadas sobretudo ao lazer,
que é muito aquilo que o Governo pretende para aquela zona.”
A IMPORTÂNCIA DAS TÉCNICAS
Numa entrevista concedida o ano passado ao HM, Carlos Marreiros revelou alguns detalhes sobre as propostas que o Governo viu, mas sobre as quais nunca reagiu. Foi pensada “a construção de residências de luxo, com apenas três andares, integradas na colina”, sem esquecer
a edificação de “uma pequena marina e um museu, incluindo uma super cobertura integrada com a actual estrutura dos estaleiros. A iniciativa privada fazia as suas contas, o Governo adquiria isto e geria-o”. À data, Marreiros confessou que sobre Lai Chi Vun não havia nada de concreto. “Fizemos estudos, propusemos ao Governo, não há resposta. Havia uma parte para viabilizar a construção, para construir e ganhar dinheiro”, apontou. Sales Marques entende que já não é possível deixar os estaleiros como eles estão, mas fala sobretudo da necessidade de manter vivas as técnicas de outrora. “São construções lacustres, que têm uma grande beleza. São estruturas industriais mas feitas com grande plasticidade, e isso também é importante, porque pode servir de inspiração para outras coisas. Os alunos que vieram de Milão ficaram maravilhados com aquela plasticidade, as soluções, o tipo de construção, como se resolviam problemas de
“O nosso plano visava a preservação dos estaleiros para serem mostrados ao público, com a implementação de uma zona de teatro, um espaço público e outro tipo de infra-estruturas.” TAM CHON IP AUTOR DE UM PROJECTO arquitectura, com recurso a meios bastante simples.” As exposições do Prémio Compasso Volante levaram à organização de um debate noAlbergue SCM, mas poucas respostas foram obtidas. “A nossa ideia era fazer uma exposição com a associação de moradores da zona, mas não conseguimos encontrar um local para isso [em Lai Chi Vun]. Fizemos então um debate ao ar livre nas instalações do Albergue, em que estiveram responsáveis do Instituto Cultural. Apresentamos as ideias todas na altura”, concluiu Sales Marques. O presidente do IEEM frisou que “a questão que se coloca é que não há qualquer resposta”. “É importante perceber o que existe na cabeça de quem manda nestas coisas.” Sales Marques, que se debruçou sobre o estudo de uma importante indústria naval, recorda que nos idos anos 50 e 60 chegaram a morar cerca de 50 mil pessoas na zona do Porto Interior, nas chamadas aldeias flutuantes. Nos dias de hoje parece não haver vontade de preservar essas memórias. “O que é triste em Macau é que as pessoas não dão valor a essas coisas, ao simbolismo, às coisas que nós fazemos. É pena que, por inacção, tenhamos de chegar ao ponto em que parece que não há alternativa se não a demolição. Aquele deve ser um espaço público, e não deve ser privatizado para a construção de luxo”, defendeu Sales Marques. Andreia Sofia Silva
andreia.silva@hojemacau.com.mo
Projecto da Compasso Volante
4 hoje macau sexta-feira 10.3.2017
O Conselho Executivo concluiu a discussão sobre a extinção da Comissão para o Desenvolvimento do Sector Logístico e a Comissão Consultiva das Pescas, assim como a reestruturação de órgãos consultivos relativos ao urbanismo e trânsito. Raimundo do Rosário deixa de liderar dois conselhos, mas ganha um novo
Governo REESTRUTURAÇÃO ADMINISTRATIVA DE ÓRGÃOS CONSULTIVOS
Já são menos duas
objectivo a optimização e o melhoramento de eficiência da consulta.
GCS
POLÍTICA
JOGO DA CADEIRA
Tendo em conta a natureza técnica do Conselho de Planeamento Urbanístico, assim como do Conselho Superior de Viação, a proposta aponta o director dos Serviços de Solos, Obras Públicas e Transportes para desempenhar as funções de presidente do Conselho do Planeamento Urbanístico. A cadeira de presidente do Conselho Superior de Viação será ocupada pelo director do Serviços para os Assuntos do Tráfego. Ou seja, Raimundo do Rosário deixa de presidir a ambos os órgãos consultivos.
A
De acordo com o porta-voz do Conselho Executivo, as alterações ao nível da liderança nestes dois organismos “é um detalhe técnico, não uma inferiorização hierárquica”
reforma já vinha sendo anunciada nas Linhas de Acção Governativa para 2017. A proposta aponta para que o director dos Serviços para os Assuntos de Tráfego desempenhe funções de presidente do Conselho Consultivo do Trânsito. Para este organismo o vice-presidente será designado por despacho do Chefe do Executivo. Das medidas anunciadas por Leong Heng Teng, porta-voz do Conselho Executivo, salienta-se a extinção de dois órgãos consultivos, a saber: a Comissão para o Desenvolvimento do Sector Logístico e a Comissão Consultiva das Pescas. A área do urbanismo também conheceu novidades e reformulação. Depois da revisão, o Conselho para a Renovação Urbana passa a ser presidido e coordenado pelo secretário para os Transportes e Obras Públicas. De acordo com Leong Heng Teng, com estas reformulações da máquina administrativa, em particular no que concerne aos órgãos consultivos, o Governo tem como
´
E
um aviso ao Governo, que serve também de chamada de atenção para os colegas da Assembleia Legislativa que, semana sim, semana não, escrevem ao Executivo a pedir regras menos flexíveis para a contratação de trabalhadores não residentes. Numa interpelação escrita, a deputada Wong Kit Cheng pede às autoridades que pensem bem se faz sentido impedir turistas de procurarem emprego no território. A enfermeira, ligada à Associação das Mulheres de Macau, recorda que desde 2013 que a tutela da Economia tem vindo a colocar a possibilidade de encontrar mecanismos que
De acordo com o porta-voz do Conselho Executivo, as alterações ao nível da liderança nestes dois organismos são “um detalhe técnico, não uma inferiorização hierárquica”, apesar de o secretário para os Transportes e Obras Públicas deixa de os presidir, passando a responsabilidade para as mãos de directores de serviços. Leong Heng Teng caracterizou estes reajustamentos como uma autêntica “revolução” na forma como operam os órgãos consultivos do Governo da RAEM. Raimundo do Rosário
Um dia destes não há ninguém Deputada preocupada com limites à contratação de trabalhadores
impeçam os visitantes de serem contratados durante a estadia com vistos de turistas. Até ao ano passado, contextualiza, foram submetidas três propostas nesse sentido, que foram alvo de consulta pública. “Durante a recolha de opiniões, não foi alcançada uma posição consensual.” Acontece que, no mês passado, a Direcção dos Serviços para os Assuntos Laborais anunciou que está a preparar uma proposta que obriga os trabalhadores não residentes sem
especialização, bem como aqueles que prestam serviços domésticos, a obterem uma licença de trabalho prévia, emitida pelos Serviços de Migração. “Só depois de possuírem esta licença para entrarem em Macau é que poderão obter a autorização de permanência”, cita a deputada. Para Wong Kit Cheng, esta ideia “só resolve uma parte dos problemas”, sublinhando que “os empregadores estão preocupados”. Há três aspectos que deixam apreensivas
as entidades patronais: a qualidade dos trabalhadores, o alojamento e os custos da deslocação para Macau. “As autoridades não explicaram como é que resolvem estes problemas. Os empregadores têm muitas dúvidas.”
NA MÃO DAS AGÊNCIAS
A deputada recorda ainda que o Governo declarou, há tempos, que o futuro da contratação de mão-de-obra ao exterior passará pela intervenção de agências de emprego com licença para ope-
rar no território. Aquando da consulta pública, aponta Wong, “muitas pessoas que dão trabalho a empregados domésticos apontaram que, em Hong Kong, existe uma regulamentação semelhante que se tem mostrado problemática”. Na região vizinha, o patronato diz que o processo de contratação é muito moroso, havendo ainda muitas queixas sobre os fracos serviços prestados pelas agências de emprego. “Além disso, Macau não tem acordos oficiais com os países de onde são
João Luz
info@hojemacau.com.mo
provenientes os trabalhadores não residentes”, alerta. Wong Kit Cheng avisa que, se forem colocados entraves aos turistas que procuram emprego, vai ser difícil aos patrões – essencialmente de empregados domésticos – resolverem os seus problemas de contratação. “Haverá falta de trabalhadores e um longo processo de espera.” Na missiva ao Governo, a deputada pergunta em que ponto estão as anunciadas alterações às regras de contratação, quais as garantias que as agências de emprego vão ter de dar ao patronato e se foram equacionados os custos adicionais para quem recruta ao exterior. I.C./ V.N.
5 hoje macau sexta-feira 10.3.2017
POLÍTICA
LAI CHI VUN ALEXIS TAM ASSEGURA QUE EXISTE COMUNICAÇÃO
O
secretário para os Assuntos Sociais e Cultura garantiu ontem que não há qualquer “insuficiência” de comunicação com o gabinete de Raimundo do Rosário, responsável pela tutela das Obras Públicas. Em declarações aos jornalis-
tas a propósito da demolição de dois estaleiros de Lai Chi Vun, Alexis Tam disse ainda ter “total respeito pela decisão tomada pelos serviços competentes por razões de segurança pública”, salientando que as estruturas se encontravam gravemente
O
Chefe do Executivo já tem em mãos um pedido de autorização por parte da deputada Ella Lei para que esta possa apresentar um projecto de revisão da lei das relações laborais. Em conferência de imprensa, a deputada da Federação das Associações dos Operários de Macau (FAOM) explicou que o pedido visa regulamentar as falhas existentes ao nível da sobreposição de feriados e dias de férias, bem como a implementação da licença de paternidade. “As férias definidas por lei são um direito básico dos trabalhadores”, apontou Ella Lei. “O problema é que a sobreposição de dias representa uma perda para os trabalhadores. Isso significa que existe uma lacuna na lei. Com esta proposta não estaremos a adicionar mais benefícios, mas apenas a lutar para que os trabalhadores passem a ter acesso aos seus direitos básicos e que não percam mais dias de férias”, acrescentou. A ideia apresentada pela deputada é semelhante ao sistema de compensação de férias que já existe na Função Pública. “Sugerimos que, quando aconteça uma sobreposição, as férias possam ser compensadas e gozadas nos restantes dias de trabalho.”
deterioradas. Os estaleiros começaram a ir abaixo na passada quarta-feira. O governante falou ainda do trabalho de planeamento desta zona de Coloane, tendo explicado que a Direcção dos Serviços de Solos, Obras Públicas e Transportes irá
coordenar um estudo de planeamento, para o qual o Instituto Cultural e a Direcção dos Serviços de Turismo foram convidados a participar. Por isso, mantém-se “o contacto estreito entre os diversos serviços governamentais”.
Alexis Tam garante que a sua tutela vai colaborar através da apresentação de um parecer no âmbito da salvaguarda cultural, de modo a melhorar o ambiente do local. O secretário para os Assuntos Sociais e Cultura acredita que o planeamento
Trabalho ELLA LEI PEDE AUTORIZAÇÃO A CHUI SAI ON PARA ALTERAR LEGISLAÇÃO
O Chefe dá-me licença?
Ella Lei entregou um pedido junto do líder do Governo para poder apresentar um projecto de lei de alteração ao diploma que regula as relações de trabalho. A deputada quer resolver a sobreposição de férias e feriados. E não esquece a licença de paternidade “O Governo prometeu que iria apresentar uma proposta em 2016, mas está a demorar muito tempo. Do meu ponto de vista, não é nada complicada para analisar”, apontou. “Estes dois assuntos têm vindo a ser discutidos há muito tempo. Existe consenso social, bem como solicitações junto da sociedade e razões que justificam estas medidas. O Governo deve colocar estes assuntos o mais depressa possível na sua agenda”, referiu Ella Lei.
“Em muitas empresas de serviços, as férias dos empregados não são compensadas, uma vez que calham no mesmo dia dos feriados obrigatórios, por causa dos calendários feitos pelas entidades patronais.”
LEI NADA PREVÊ
A lei das relações laborais define que cada trabalhador tem direito a seis dias de férias por ano, incluindo dez dias de feriados obrigatórios. No entanto, como a lei não define a situação da sobreposição de férias, muitos trabalhadores revelaram à deputada que viram os seus feriados reduzidos. “No caso dos empregados que trabalham por turnos, os chefes podem organizar bem o calendário e evitar a situação da sobreposição de férias. Entretanto, em muitas empresas de serviços, incluindo do sector do jogo, as férias dos empregados não são compensadas, uma vez que calham no mesmo dia dos feriados obrigatórios, por causa dos calendários feitos pelas entidades patronais.” A deputada garante que as iniciativas de reivindicação são afectadas pelo facto de existirem lacunas na lei. “Mesmo que os trabalhadores nos peçam ajuda não
futuro da zona “pode permitir aos estaleiros abandonados desenvolverem melhor o seu papel”, desejando que a área de Lai Chi Vun “possa ser transformada num local de lazer e de turismo, frequentado tanto por residentes locais, como por turistas”.
ELLA LEI DEPUTADA
conseguimos apresentar queixas formalmente, porque a situação não está definida.”
PATERNIDADE PARA QUANDO?
A questão da licença de paternidade é outro ponto que Ella Lei quer ver definido na lei laboral, uma vez que os pais que trabalham só têm direito a dois dias de faltas
justificadas; caso contrário, vêem o seu salário reduzido. A deputada sugere, por isso, que o diploma passe a definir cinco dias de licença de paternidade, gozados de forma contínua ou não, no prazo de 30 dias a contar desde o nascimento do bebé. Para Ella Lei, é fundamental que o pai possa acompanhar o processo
de crescimento do seu filho ao lado da mãe, por forma a partilhar a responsabilidade familiar. O Chefe do Executivo e os membros do Governo já falaram publicamente sobre a necessidade de legislar sobre a licença de paternidade, mas a deputada Ella Lei critica o facto de, até ao momento, nada de concreto ter sido feito.
A deputada explicou na conferência de imprensa que, no ano passado, foi feita uma recolha de assinaturas junto do sector, tendo sido recolhidas mais de 20 mil assinaturas. A maioria ter-se-á mostrado a favor do estabelecimento do regime de compensação de férias e de licença de paternidade. Vítor Ng (revisto por A.S.S.) info@hojemacau.com.mo
6 PUBLICIDADE
hoje macau sexta-feira 10.3.2017
ANÚNCIO 【N.º 52/2017】 Para os devidos efeitos vimos por este meio notificar o representante do agregado familiar da lista de candidatos a habitação social abaixo indicado, nos termos do n.º 2 do artigo 72.º do Código do Procedimento Administrativo, aprovado pelo Decreto-Lei n.º 57/99/M, de 11 de Outubro: Nome
N.º do boletim de candidatura
CHOI WENG HOU
31201305220
Por causa do representante do agregado familiar acima mencionado se recusar a assinar o contrato de arrendamento, sem motivo justificativo, este não reúne os requisitos exigidos para a candidatura, nos termos da alínea 3) do artigo 11.º do Regulamento de Candidatura para Atribuição de Habitação Social, aprovado pelo Despacho do Chefe do Executivo n.º 296/2009, com as alterações introduzidas pelo Despacho do Chefe do Executivo n.º141/2012. Tendo este Instituto publicado um anúncio na imprensa de língua chinesa e língua portuguesa, no dia 10 de Novembro de 2016, a solicitar ao interessado acima mencionado para apresentar por escrito a sua interpretação pelo facto acima referido no prazo de 10 (dez) dias a contar da data de publicação do referido anúncio, entretanto não o fez. De acordo com a alínea 3) do artigo 11.º do Regulamento de Candidatura para Atribuição de Habitação Social, aprovado pelo Despacho do Chefe do Executivo n.º 296/2009, com as alterações introduzidas pelo Despacho do Chefe do Executivo n.º 141/2012, e em conformidade com o despacho do signatário, exarado na Proposta n.o 3447/DHP/ DHS/2016, a respectiva candidatura foi excluída da lista geral de espera por IH. Caso queira contestar a respectiva decisão, nos termos dos artigos 148.º e 149.º e n.º 2) do artigo 150.º do Código do Procedimento Administrativo, pode reclamar da respectiva decisão administrativa, ao Presidente deste Instituto, no prazo de 15 (quinze) dias a contar da data de publicação do presente anúncio, a reclamação não tem efeito suspensivo; ou pode apresentar directamente recurso judicial ao Tribunal Administrativo, no prazo de 30 (trinta) dias a contar da data de publicação do presente anúncio, nos termos do artigo 25.º do Código de Processo Administrativo Contencioso, aprovado pelo Decreto-Lei n.º 110/99/M, de 13 de Dezembro e do artigo 30.º da Lei n.º 9/1999. Instituto de Habitação, aos 8 de Março de 2017.
O Presidente, Arnaldo Santos
NOTIFICAÇÃO EDITAL
N.° 29 / 2017
(Solicitação de Comparência do Empregador) Nos termos das alíneas b) e c) do n.° 1 do artigo 6.° do Regulamento da Inspecção do Trabalho, aprovado pelo Decreto-Lei n.° 60/89/M, de 18 de Setembro, conjugadas com o artigo 58.° e n.° 2 do artigo 72.° do Código do Procedimento Administrativo, aprovado pelo Decreto-Lei n.° 57/99/M, notifica-se a sociedade “MP3 DISCO COMPANHIA LIMITADA”, proprietário do estabelecimento de “Salão Bar MP3”, sita na Rua de Paris, 170, Edifício Nam Ngon Garden, Bloco 3, 3.º andar N, em Macau, para no prazo de 15 (quinze) dias, a contar do dia seguinte ao da publicação da presente notificação edital, comparecer no Departamento de Inspecção do Trabalho, sita na Avenida do Dr. Francisco Vieira Machado, n.ºs 221-279, Edifício “Advance Plaza”, 1.° andar, Macau, a fim de prestar declarações no processo n.° 4266/2016, proveniente das queixas apresentadas nestes Serviços pelos trabalhadores CASTRO, GLADYS PAMINTUAN, BANA, DEXTER TORRES, DAVID, JOHN MICHAEL PAMINTUAN, BANAGA, FELICIANE NATIVIDAD, relativamente às matérias de salário, alojamento, contrato de trabalho, forma de pagamento da remuneração e verificação da relação do trabalho. Direcção dos Serviços para os Assuntos Laborais - Departamento de Inspecção do Trabalho, aos 06 de Março de 2017. O Chefe do Departamento substituto, Lai Kin Lon
ANÚNCIO 【N.º 53/2017】 Para os devidos efeitos vimos por este meio notificar o representante do agregado familiar da lista de candidatos a habitação social abaixo indicado, nos termos do n.º 2 do artigo 72.º do Código do Procedimento Administrativo, aprovado pelo Decreto-Lei n.º 57/99/M, de 11 de Outubro: Nome N.º do boletim de candidatura CHAN HONG KIN 31201304445 Após as verificações deste Instituto, notamos que o total do rendimento mensal do agregado familiar de candidatos a habitação social acima mencionado ultrapassa o valor constante da tabela I do n.º 1 do Despacho do Chefe do Executivo n.º 179/2012, alterado pelo Despacho do Chefe do Executivo n.º 473/2015, pelo que, este não reúne os requisitos exigidos para a candidatura, nos termos da tabela I do n.º 1 do Despacho do Chefe do Executivo n.º 179/2012, alterado pelo Despacho do Chefe do Executivo n.º 473/2015, alínea 3 do artigo 2.º e n.º 1 do artigo 3.º do Regulamento Administrativo n.º 25/2009 (Atribuição, Arrendamento e Administração de Habitação Social). Este Instituto informou-o por meio de ofício, com o n.o 1610260090/DHS, datada de 31 de Outubro de 2016, a solicitar ao interessado acima mencionada para apresentar por escrito a sua interpretação pelo facto acima referido no prazo de 10 (dez) dias a contar da data de recepção do referido ofício, entretanto não o fez dentro do prazo indicado. Nos termos dos artigo 5.º e alínea 2) do artigo 11.º do Regulamento de Candidatura para Atribuição de Habitação Social, aprovado pelo Despacho do Chefe do Executivo n.º 296/2009, e n.º 2 do artigo 9.º do Regulamento de Candidatura para Atribuição de Habitação Social, aprovado pelo Despacho do Chefe do Executivo n.º 296/2009, com as alterações introduzidas pelo Despacho do Chefe do Executivo n.º 141/2012, e em conformidade com o despacho do signatário, exarado na Proposta n.º 3491/DHP/ DHS/2016, a respectiva candidatura foi excluída da lista geral de espera por IH. Caso queira contestar a respectiva decisão, nos termos dos artigos 148.º e 149.º e n.º 2) do artigo 150.º do Código do Procedimento Administrativo, pode reclamar da respectiva decisão administrativa, ao Presidente deste Instituto, no prazo de 15 (quinze) dias a contar da data de publicação do presente anúncio, a reclamação não tem efeito suspensivo; ou pode apresentar directamente recurso judicial ao Tribunal Administrativo, no prazo de 30 (trinta) dias a contar da data de publicação do presente anúncio, nos termos do artigo 25.º do Código de Processo Administrativo Contencioso, aprovado pelo Decreto-Lei n.º 110/99/M, de 13 de Dezembro e do artigo 30.º da Lei n.º 9/1999. Instituto de Habitação, aos 8 de Março de 2017. O Presidente, Arnaldo Santos
7 hoje macau sexta-feira 10.3.2017
SOCIEDADE
FIJ CASO JINAN TERÁ DADO ORIGEM A SITUAÇÕES DE AUTO-CENSURA
Diz que há mordaças silenciosas A doação de cem milhões de yuan à Universidade de Jinan pela Fundação Macau terá originado situações de auto-censura em alguns meios de comunicação em língua chinesa. É o que aponta o último relatório da Federação Internacional de Jornalistas, que fala de injustiças aquando da visita de Li Keqiang
O
mais recente relatório da Federação Internacional de Jornalistas (FIJ), referente ao ano de 2016, tece duras críticas ao panorama da comunicação social em Macau, com foco para situações de auto-censura e alegada pressão exercida por parte de entidades governamentais. Com o título “Macau discrimina”, a FIJ relata uma situação denunciada pela Associação dos Trabalhadores da Comunicação Social, ocorrida a 13 de Maio do ano passado, sobre a produção noticiosa acerca dos cem milhões de yuan que foram doados pela Fundação Macau (FM) à Universidade de Jinan. A associação “lançou um comunicado a condenar as acções de diversos jornalistas locais que fizeram auto-censura ao seu trabalho”, sendo que “vários jornalistas recusaram revelar os nomes dos funcionários do Governo que foram fontes de artigos que eles próprios escreveram sobre alegados favorecimentos levados a cabo pelo Chefe do Executivo, Chui Sai On”.
“O comunicado aponta: ‘Os artigos foram eliminados e os comentários mais críticos dos entrevistados foram removidos.Alguns jornalistas deliberadamente começaram a desempenhar outras funções. Um dos órgãos de comunicação enviou uma lista de entrevistados aos jornalistas e disse que deveriam ser contactados aquando da produção de notícias importantes. Os jornalistas foram ainda avisados de que as notícias deveriam ser positivas’”, lê-se. Segundo a FIJ, a mesma associação referiu que há “razões para acreditar que os órgãos de comunicação social exerceram auto-censura, mas também receberam pressão do Governo”. O relatório faz referência ao facto de Chui Sai On ser parte integran-
te da direcção da Universidade de Jinan, ao mesmo tempo que também preside ao conselho de curadores da FM. “Chui Sai On foi acusado de utilizar dinheiros públicos para os seus próprios interesses políticos”, aponta o documento.
LI KEQIANG SÓ PARA ALGUNS
O relatório da FIJ faz também referência ao tratamento dado aos media aquando da visita de Li Keqiang. “Em Outubro, o primeiro-ministro chinês Li Keqiang visitou Macau. Os media locais seguiram todos os procedimentos para pedirem o acesso aos locais de visita, mas pelo menos um meio de comunicação viu ser-lhe negada a permissão para ter acesso à maioria dos eventos, sem que lhe tenha
É ainda feito o aviso para a necessidade de maior isenção por parte dos jornalistas. “Consideramos urgente que todos os profissionais de media estejam alerta e que defendam o jornalismo profissional.”
sido dada qualquer explicação”, pode ler-se. Na prática, um “órgão online independente e livre” terá sido “tratado de forma injusta por parte do Governo” de Macau, aponta a FIJ. Sem apontar nomes, a entidade afirma que este “teve apenas permissão para participar em apenas três dos 12 eventos organizados, enquanto os media tradicionais obtiveram permissão para estar nos 12 eventos”. O documento refere ainda o facto de as autoridades policiais não terem divulgado informações sobre dois falsos atentados à bomba, um caso denunciado pela Associação de Jornalistas de Macau. “Quando foram questionados sobre o atraso na transmissão de informação para nós, responderam que ‘Não informamos os media até que todos os riscos tenham sido afastados’”. A associação disse que o acto foi uma clara violação do direito à informação”, esclarece o documento.
OS RECADOS DA FIJ
Na visão da FIJ, os meios de comunicação social locais “en-
frentaram obstáculos, não só da parte do Governo que atrasou o fornecimento de informação, mas também ao nível da auto-censura imposta pelas direcções [dos meios de comunicação].” É ainda feito o aviso para a necessidade de maior isenção por parte dos jornalistas. “Consideramos urgente que todos os profissionais de media estejam alerta e que defendam o jornalismo profissional. Devem manter uma solidariedade profissional e manterem-se neutros, precisos, equilibrados e justos. Devem recusar pedidos de manipulação de fontes, questões pré-seleccionadas ou submeter questões para aprovação do Governo ou orquestrar reportagens ‘exclusivas’.” A FIJ defende ainda que “o facto de as pessoas estarem em silêncio não significa que a sociedade é harmoniosa”. “O papel dos media deve ser o de observar e registar o que acontece, e não assumir este ou aquele lado. Um desequilíbrio de poder entre a elite que governa e as pessoas comuns pode levar a uma sociedade desastrosa, na qual ninguém se sente seguro e respeitado.” “Os jornalistas devem estar atentos às necessidades das pessoas e evitar suprimir da informação ou transformarem-se em ‘parceiros’ do outro lado da barricada. Se isso acontecer, as pessoas que apoiam a verdade devem dizer em voz alta ‘não!’”, alerta a FIJ. Ao HM, José Carlos Matias, presidente da Associação de Imprensa em Português e Inglês de Macau (AIPIM), referiu que a entidade não foi contactada pela FIJ. “A nossa associação está a levar a cabo um inquérito sobre questões relacionadas com a liberdade de imprensa e acesso às fontes, estando agora a iniciar o processo de análise e redacção [do relatório]. Quando tivermos o relatório em mãos, vamos tentar ter uma visão sobre os problemas levantados”, concluiu. Andreia Sofia Silva
andreia.silva@hojemacau.com.mo
8 PUBLICIDADE
hoje macau sexta-feira 10.3.2017
9 hoje macau sexta-feira 10.3.2017
SOCIEDADE
AVIAÇÃO CAMBOJA A UM VOO DE DISTÂNCIA
M
ACAU vai passar a ter voos directos para Preah Sihanouk, no Camboja. De acordo com a imprensa do país, a ligação vai ser assegurada pela Cambodia Angkor Air, que anunciou esta semana dois voos semanais, à quarta-feira e ao domingo. Os responsáveis da companhia aérea explicaram que a nova rota pretende dar resposta à procura crescente por parte de passageiros que querem visitar ambos os destinos. A empresa já tem um parceiro em Macau para a venda de bilhetes, sendo que espera que o serviço seja utilizado sobretudo por passageiros oriundos do território. Por sentir que existe uma forte procura por voos para o Camboja, a operadora está a estudar a possibilidade de criar uma ligação entre Phnom Penh e Macau, mas pretende analisar primeiro os resultados da rota para Preah Sihanouk. Neste momento, para a província só existem voos a partir de duas cidades: Ho Chi Minh e Siem Reap. Há cada vez mais turistas chineses no Camboja. No ano passado, verificou-se um aumento de 19,5 por cento, indicam os números do Ministério do Turismo. Em 2016, o Camboja foi visitado por mais de cinco milhões de pessoas, com a China a ocupar o segundo local de origem dos turistas, a seguir ao Vietname. As autoridades do país esperam conseguir atrair, em 2020, dois milhões de turistas chineses por ano.
ACIDENTE BARCO DE PESCA AFUNDOU-SE AO LARGO DE MACAU
Ao início da noite de ontem, as autoridades continuavam as operações de busca para encontrar os ocupantes de uma embarcação que se afundou, durante a tarde, ao largo de Macau. Até à hora de fecho desta edição, não tinha sido encontrado qualquer sobrevivente ou corpo. De acordo com a Rádio Macau, que avançou a notícia, a Direcção dos Serviços para os Assuntos Marítimos e de Água (DSAMA) não conseguiu identificar o proprietário do barco de pesca. De igual modo, não tinha dados sobre o número de pessoas a bordo. Ao final do dia, a embarcação já tinha sido encontrada, depois de ter estado desaparecida durante algum tempo, e rebocada para junto da margem. O barco afundou-se numa zona entre a Ponte da Amizade e o Terminal Marítimo de Passageiros da Taipa. Depois de ter sido dado o alerta, equipas de busca e salvamento foram mobilizadas para o local.
Educação GAES VAI FINANCIAR JUROS DE LICENCIADOS NO EXTERIOR
Pagar de dentro para fora É já no final deste mês que os alunos que estão em universidades estrangeiras a estudar português, mandarim ou inglês poderão ter apoio financeiro para suportar os juros dos empréstimos pedidos. Seis entidades bancárias participam na iniciativa
T
EM o nome pomposo de “Plano de Apoio de Pagamento dos Juros de Crédito para a Formação Linguística de Graduados do Ensino Superior” e, na prática, representa mais um apoio financeiro a quem estuda do lado de lá da fronteira. Segundo um comunicado oficial, o Governo vai começar a financiar os juros dos empréstimos pedidos pelos estudantes que estão a frequentar licenciaturas de Português, Mandarim ou Inglês. Caberá ao Gabinete de Apoio ao Ensino Superior (GAES) a
análise dos pedidos e a concessão do apoio, sendo que seis entidades bancárias já se juntaram ao plano. Chan Kun Hong, coordenador-adjunto do
O apoio visa que os alunos “aumentem as suas capacidades linguísticas” e que possam “ampliar os seus horizontes”
GAES, referiu que o apoio visa que os alunos “aumentem as suas capacidades linguísticas” e que possam “ampliar os seus horizontes”. O programa “é aplicável aos empréstimos concedidos pelos bancos para os estudos, incluindo as propinas, os custos de vida básicos e as despesas de transporte de ida e volta”. O mesmo comunicado aponta que os representantes dos seis bancos “mostraram-se honrados com a participação”, uma vez que vão exercer “responsabilidade social”. Ontem, foi
realizada uma reunião sobre a implementação do plano de apoio financeiro, tendo sido abordados os “detalhes da cooperação, a implementação de plano de execução, bem como o programa de propaganda”. Além do Banco Nacional Ultramarino, participam neste programa do Governo as sucursais do Banco da China em Macau, do Banco OCBC Weng Hang e Banco de Guandfa da China. Estão também incluídos o Banco Comercial de Macau e a sucursal do Banco Industrial e Comercial da China.
CAVALOS MACAU JOCKEY CLUB QUER CONTINUAR
A
Companhia de Corridas de Cavalos, responsável pelas operações do Macau Jockey Club, pretende renovar contrato com o Executivo, que chega ao fim este ano. Segundo o canal chinês da Rádio Macau, Thomas Li, director-executivo do Macau Jockey Club, explicou que a empresa está a preparar a renovação da concessão. Quanto à nomeação do delegado do Governo junto da empresa, Thomas Li adiantou que ainda não tem quaisquer informações sobre o assunto. O último contrato de concessão com a empresa foi assinado em 2015, sendo que,
já na altura, a Companhia de Corridas de Cavalos vinha sofrendo prejuízos anuais na ordem das 3,8 mil milhões de patacas. Numa resposta escrita à Agência Lusa, Thomas Li afirmou que o agravamento dos prejuízos de 2013 para 2014 se devia “à tendência de baixa do volume de negócios, semelhante à experimentada pelo sector do jogo em Macau e também noutros clubes de corridas na Ásia”. Desde 2005 que a empresa tem vindo a registar prejuízos todos os anos, sendo que o director-executivo do Macau Jockey Club
dizia, em 2015, que o “mais importante” era “melhorar as instalações, bem como os serviços (...), sendo a primeira prioridade a renovação das pistas”. “Os futuros aperfeiçoamentos vão levar-nos em direcção a padrões internacionais e a atrair mais clientes”, acrescentava Thomas Li. O responsável confirmou ainda que, nos próximos dois meses, o Macau Jockey Club vai contar com cem novos cavalos, tendo afirmado ainda que é difícil avançar o número dos animais que vão deixar de correr. Estima-se que a empresa irá manter 350 cavalos no activo.
10 CHINA
hoje macau sexta-feira 10.3.2017
A PARLAMENTO MAIS LUGARES PARA MULHERES E TRABALHADORES
A
Assembleia Nacional Popular (ANP), órgão máximo legislativo da China, conhecida por ser incorporada por homens abastados, planeia agora atribuir mais lugares a mulheres, camponeses, trabalhadores e profissionais, avançou a agência noticiosa oficial Xinhua. A agência chinesa informa que as mudanças na ANP incluem ainda uma redução dos delegados que representam o Governo e o Partido Comunista Chinês e que constituem agora cerca de um terço dos cerca de 3.000 membros. A Xinhua não detalhou como serão distribuídas as novas quotas.
Quando a actual legislatura arrancou, em 2013, o número de mulheres equivalia a 23% do total de delegados. Não existe informação sobre o número de trabalhadores ou profissionais. Nos últimos anos, a ANP ficou conhecida como a assembleia mais rica do mundo por reunir vários bilionários chineses homens. Constitucionalmente, a China continua a definir-se como “um Estado socialista liderado pela classe trabalhadora e assente na aliança operário camponesa”, mas as desigualdades sociais mantêm-se acima do “nível alarmante” definido pela ONU. PUB
EDITAL Edital n.º Processo n.º Assunto
:26/E-BC/2017 :68/BC/2017/F :Início de audiência pela infracção às disposições do Regulamento de Segurança Contra Incêndios (RSCI) :Avenida do Ouvidor Arriaga n.º 39, EDF. Holland Garden (Phase 4), partes do terraço sobrejacentes às fracções 5.º andar H e 5.º andar J, Macau.
Local
Cheong Ion Man, subdirector da Direcção dos Serviços de Solos, Obras Públicas e Transportes (DSSOPT), no uso das competências delegadas pelo Despacho n.º 12/SOTDIR/2015, publicado no Boletim Oficial da Região Administrativa Especial de Macau (RAEM) n.º 38, II Série, de 23 de Setembro de 2015, faz saber que ficam notificados os donos das obras e os proprietários dos locais acima indicados, cujas identidades se desconhecem, do seguinte: 1.
Na sequência da fiscalização realizada pela DSSOPT, apurou-se que nos locais acima indicados realizaram-se as seguintes obras não autorizadas: Locais
Parte do terraço sobrejacente à 1.1 fracção 5.º andar H
1.2
2.
Parte do terraço sobrejacente à fracção 5.º andar J
Obra Construção de um compartimento composto por cobertura metálica, paredes em alvenaria de tijolo, janelas de vidro e portão metálico. Construção de um compartimento composto por cobertura e chapa metálicas, janelas de vidro e portão metálico.
Infracção ao RSCI e motivo da demolição Infracção ao n.º 4 do artigo 10.º, obstrução do caminho de evacuação. Infracção ao n.º 4 do artigo 10.º, obstrução do caminho de evacuação.
Sendo as escadas, corredores comuns e terraço do edifício considerados caminhos de evacuação, devem os mesmos conservar-se permanentemente desobstruídos e desimpedidos, de acordo com o disposto no n.º 4 do artigo 10.º do RSCI, aprovado pelo Decreto-Lei n.º 24/95/M, de 9 de Junho. As alterações introduzidas pelos infractores nos referidos espaços, descritas no ponto 1 do presente edital, contrariam a função desses espaços enquanto caminhos de evacuação e comprometem a segurança de pessoas e bens em caso de incêndio. Assim, as obras executadas não são susceptíveis de legalização pelo que a DSSOPT terá necessariamente de determinar a sua demolição a fim de ser reintegrada a legalidade urbanística violada.
3.
Nos termos do n.º 3 do artigo 87.º do RSCI, a infracção ao disposto no n.º 4 do artigo 10.º é sancionável com multa de $4 000,00 a $40 000,00 patacas. Além disso, de acordo com o n.º 4 do mesmo artigo, em caso de pejamento dos caminhos de evacuação, será solidariamente responsável a entidade que presta os serviços de administração ou de segurança do edifício.
4.
Considerando a matéria referida nos pontos 2 e 3 do presente edital, podem os interessados, querendo, pronunciar-se por escrito sobre a mesma e demais questões objecto do procedimento, no prazo de 5 (cinco) dias contados a partir da data da publicação do presente edital, podendo requerer diligências complementares e oferecer os respectivos meios de prova, em conformidade com o disposto no n.º 1 do artigo 95.º do RSCI.
5.
O processo pode ser consultado durante as horas de expediente nas instalações da Divisão de Fiscalização do Departamento de Urbanização desta DSSOPT, situadas na Estrada de D. Maria II, n.º 33, 15.º andar, em Macau (telefones n.os 85977154 e 85977227).
RAEM, 02 de Março de 2017
Pelo Director dos Serviços O Subdirector Cheong Ion Man
S trocas comerciais entre a China e os países de língua portuguesa recuperaram em Janeiro, aumentando 33,47% em termos anuais homólogos para 8,21 mil milhões de dólares, indicam dados oficiais. Dados dos Serviços de Alfândega da China publicados ontem no portal do Fórum Macau indicam que a China comprou aos países de língua portuguesa bens avaliados em 5,26 mil milhões de dólares em Janeiro – mais 38,26% – e vendeu produtos no valor de 2,95 mil milhões de dólares – mais 25,71% face ao período homólogo do ano passado. Os dados relativos a Janeiro revelam uma recuperação, depois de 2016 ter marcado o segundo ano consecutivo de declínio do comércio sino-lusófono (-7,72%), após uma diminuição de 25,73% em 2015 naquele que foi o primeiro recuo desde 2009. O Brasil manteve-se como o principal parceiro económico da China, com o volume das trocas comerciais bilaterais a cifrar-se em 5,59 mil milhões de dólares, valor que traduz um aumento de 26,69% face a Janeiro do ano passado. As exportações da China para o Brasil atingiram 2,39 mil milhões de dólares, reflectindo uma subida de 42,12%, enquanto as importações chinesas totalizaram 3,20 mil milhões de dólares, mais 17,21% em termos anuais homólogos. Com Angola, o segundo parceiro chinês no universo da lusofonia, as trocas comerciais deram um ‘pulo’ de 84,09%, atingindo 2,02 mil milhões de dólares. Pequim vendeu a Luanda produtos avaliados em
COMÉRCIO COM PLP SUBIU 33% EM JANEIRO
Bons auspícios
167,2 milhões de dólares – mais 6,67% – e comprou mercadorias avaliadas em 1,85 mil milhões de dólares – ou seja, quase o dobro em termos anuais homólogos (+96,94%).
DE BRONZE
Já com Portugal – terceiro parceiro da China no universo de países de língua portuguesa –, o comércio bilateral foi de 407,1 milhões de dólares – menos 17,69% –, numa balança comercial favorável a Pequim que vendeu a Lisboa bens na ordem de 259,8 milhões de
dólares – menos 37,05% – e comprou produtos avaliados em 147,2 milhões de dólares, mais 79,2% face a Janeiro do ano passado. Os dados divulgados incluem – como sempre incluíram – São Tomé e Príncipe, apesar das relações diplomáticas que mantinha com Taiwan e de não participar no Fórum Macau. A 20 de Dezembro, o Governo são-tomense anunciou o corte com Taiwan e, dias depois a China anunciou o estabelecimento de laços diplomáticos com São Tomé e Príncipe.
Os dados relativos a Janeiro revelam uma recuperação, depois de 2016 ter marcado o segundo ano consecutivo de declínio do comércio sino-lusófono
Na sequência disso, o Gabinete de Apoio ao Secretariado Permanente do Fórum Macau afirmou ter uma “atitude aberta” quanto à participação de São Tomé e Príncipe no Fórum Macau. A China estabeleceu a Região Administrativa Especial de Macau como a sua plataforma para o reforço da cooperação económica e comercial com os países de língua portuguesa em 2003, ano em que criou o Fórum Macau, que reúne a nível ministerial de três em três anos. A quinta conferência decorreu em Macau entre 11 e 12 de Outubro com a presença de cinco primeiros-ministros (da China, Portugal, Cabo Verde, Guiné-Bissau e Moçambique), naquela que foi a representação de mais alto nível de sempre.Angola, Brasil e Timor-Leste fizeram-se representar por ministros.
PREÇOS DE FÁBRICA SOBEM PELO SEXTO MÊS CONSECUTIVO
O
S preços de fábrica na China subiram, em Fevereiro, pelo sexto mês consecutivo, segundo dados oficiais ontem divulgados, com a segunda maior economia mundial a beneficiar de um aumento do consumo. O índice de preços ao produtor subiu 7,8%, face ao mesmo período do ano passado, informou o Gabinete Nacional de Estatísticas chinês. A aceleração do aumento dos preços de fábrica, face aos cinco meses anteriores, suscita expectativas de que a China poderá começar a exportar inflação para a economia global, apesar dos receios de
que o novo presidente norte-americano, Donald Trump, desencadeie uma guerra comercial contra o país. O aumento, em termos homólogos, deve-se em parte à baixa base de comparação, sendo que em Fevereiro do ano passado os preços registaram uma “queda acentuada”, disse Sheng Guoqing, analista do GNE, em comunicado. O aumento da exploração de gás e petróleo, mineração de carvão e fundição de metais contribuíram também para aquela subida, indicou Sheng. O índice de preços ao consumidor, um dos principais indicadores da infla-
ção, subiu 0,8% no mês passado, o ritmo de crescimento mais lento dos últimos dois anos. As estatísticas chinesas sofrem no início do ano fortes oscilações, devido ao Ano Novo lunar, a principal festa das famílias chinesas. No relatório do governo, que foi apresentado no domingo passado pelo primeiro-ministro, Li Keqiang, na abertura da sessão anual da Assembleia Nacional Popular, as autoridades comprometeram-se em manter a inflação em torno de 3%.
11 hoje macau sexta-feira 10.3.2017
GOVERNO PEDE QUE AMERICANOS PAREM DE ESPIAR O PAÍS
O
Governo chinês apelou ontem, aos Estados Unidos para que “parem de escutar telefonemas, espiar e lançar ciberataques contra a China”, depois de o portal Wikileaks ter revelado um alegado programa de pirataria utilizado pelos serviços de inteligência norte-americanos. A China está “preocupada com a situação”, disse Geng Shuang, porta-voz do ministério dos Negócios Estrangeiros, advertindo que Pequim “salvaguardará firmemente a segurança do seu ciberespaço”.
Geng salientou a vontade do país asiático em cooperar com a comunidade internacional para “formar uma série de regras internacionais no ciberespaço que sejam aceitáveis para todas as partes no quadro das Nações Unidas”. O ‘site’ Wikileaks, que revela informações secretas e é dirigido pelo australiano Julian Assange, divulgou esta semana a primeira parte de uma nova série de novos documentos confidenciais, que denunciam as técnicas da Agência Central de Inteligência (CIA)
para piratear equipamentos informáticos e de comunicações. Os documentos detalham como a agência norte-americana consegue captar mensagens escritas em plataformas como o WhatsApp e o Sina Weibo - o Twitter chinês - e utiliza métodos para culpar outros países pelas suas operações de espionagem digital. O secretário de Estado dos EUA, Rex Tillerson, iniciará no próximo dia 18 a sua primeira visita oficial à China desde que assumiu o cargo, parte de um périplo que inclui ainda a Coreia do Sul e o Japão.
GOVERNO CRITICA SITUAÇÃO DOS DIREITOS HUMANOS NOS EUA
Bem prega Frei Tomás
P
EQUIM criticou ontem a violência policial, descriminação racial e natureza hipócrita da democracia nos Estados Unidos, em resposta às acusações à China no relatório anual de direitos humanos do Departamento de Estado norte-americano. “[os EUA] apontam o dedo e acusam a situação dos direitos humanos em muitos países, enquanto negligenciam os seus próprios terríveis problemas”, aponta o relatório publicado ontem pelo Conselho de Estado chinês. O “Relatório sobre os Direitos Humanos nos Estados Unidos em 2016”, difundido pela agência oficial Xinhua, denuncia o papel do dinheiro na política norte-americana e acusa a eleição presidencial nos EUA de estar “cheia de mentiras e farsas”. O documento, que recolhe dados sobretudo a partir de órgãos de comunicação dos EUA, afirma ainda que a imprensa norte-americana não fez uma cobertura objectiva e imparcial das eleições presidenciais, sublinhando que a taxa de abstenção destas foi a mais alta dos últimos vinte anos. E aponta ainda que o país tem a segunda taxa mais alta prisional no mundo - 693 prisioneiros por cada 100.000 habitantes.
CRIMES E DESIGUALDADES
Citando estatísticas do FBI, Pequim salienta que, em 2015 registaram-se nos EUA mais de um milhão de crimes violentos, entre os
quais 63,8% foram agressões agravadas, 27,3% assaltos, 7,5% violações e 1,3% homicídios. Segundo a China, em 2016 as desigualdades sociais acentuaram-se nos EUA, com a proporção de adultos com trabalho a tempo inteiro a atingir a proporção mais baixa desde 1983. O relatório destaca que, ajustado à inflação, o salário do trabalhador norte-americano está estagnado há 50 anos, enquanto a percentagem de pessoas nos EUA que faz parte da classe média caiu de 61%, em 2008, para 51%, em 2016. “Um em cada sete norte-americanos, ou pelo menos 45 milhões de pessoas, vive em pobreza”, aponta o documento, citando o jornal Daily Mail. A questão dos direitos humanos é uma fonte de persistente tensão entre o governo chinês e os países mais ricos, sobretudo na Europa e na América do Norte, que tendem a enfatizar a importância das liberdades políticas individuais. Para as autoridades chinesas, “o direito ao desenvolvimento é o mais importante dos direitos humanos” e o “papel dirigente” do Partido Comunista, no poder desde 1949, é “um principio cardial”. Desde a ascensão ao poder do Presidente chinês, Xi Jinping, em 2012, as autoridades prenderam dezenas de activistas dos Direitos Humanos, acusados de subversão do poder do Estado ou perturbação da ordem social.
O nome das coisas
Concedida aprovação preliminar a 38 marcas do grupo Trump
A
China concedeu aprovação preliminar a 38 marcas do grupo Trump, suscitando preocupações de que o Presidente norte-americano, Donald Trump, esteja a receber tratamento especial do Governo chinês, no que constituiria um conflito de interesses. O registo daquelas marcas permite ao grupo Trump abrir spas, casas de massagens, clubes de golfe, hotéis e até serviços privados de segurança. Os advogados de Trump na China solicitaram o registo da marca em Abril de 2016, enquanto o magnata atacava, em comícios políticos, o país asiático por manipulação da moeda e tirar postos de trabalho aos Estados Unidos. Os críticos dizem que os interesses globais de propriedade intelectual de Trump poderão ser usados por países estrangeiros como forma de o influenciar. Além disso, violam a cláusula da Constituição norte-americana que proíbe os funcionários públicos de aceitarem presentes de valor de governos estrangeiros, a não ser quando aprovado pelo Congresso. Trump disse que não fará negócios com o exterior enquanto estiver na Casa Branca. A Administração de Marcas da China publicou a aprovação provisória esta semana e, se não houver objecções, as marcas serão formalmente registadas ao fim de noventa dias. Em Fevereiro passado, o país asiático concedeu ao Presidente dos Estados Unidos o uso comercial do seu próprio nome para serviços no sector da construção.
CUSTOU MAS FOI
“[os EUA] apontam o dedo e acusam a situação dos direitos humanos em muitos países, enquanto negligenciam os seus próprios terríveis problemas” RELATÓRIO DO CONSELHO DE ESTADO CHINÊS
CHINA
O registo estava pendente há mais de uma década e ocorreu após várias tentativas falhadas de assegurar os direitos sob o seu nome. Na China, os tribunais estão subordinados ao poder político, que está concentrado no Partido Comunista, partido único no poder. Alan Garten, director jurídico da Organização Trump, afirmou que o grupo tem vindo a reforçar os seus direitos de propriedade intelectual na China desde há mais de dez anos e que registou a sua marca para o sector imobiliário muito antes do magnata anunciar a sua candidatura. “A conclusão recente do processo de registo é o resultado natural desses esforços constantes e empenhados”, disse. “Qualquer sugestão contrária demonstra um completo desprezo pelos factos, assim como uma falta de entendimento sobre as leis internacionais de registo de marcas”, acrescentou, citado pela AP. No entanto, Richard Painter, chefe da Casa Branca para questões de ética durante o mandato de George W. Bush, considera que o volume de novas aprovações pelas autoridades chinesas é motivo de alerta. “O registo de uma patente, marca ou direitos de autor por um Governo estrangeiro não é, à partida, inconstitucional, mas com tantos registos a serem concedidos dentro de um período tão curto de tempo, a questão é se não existirá uma ingerência em pelo menos alguns deles”, afirmou.
12 Crianças PUBLICADA SÉRIE DE LIVROS INFANTIS SOBRE
EVENTOS
Fim-de-semana de muitas palavras
Rota das Letras com apresentação de livros, debates e workshops
A
edição de 2017 do festival Rota das Letras continua com uma agenda cheia, em vários pontos da cidade. Hoje, parte substancial do programa encaixa-se no conceito “Rota das Escolas”, com escritores a visitarem estabelecimentos de ensino do território. De manhã, a escritora Madeleine Thien vai estar na Escola Internacional de Macau. Ainda antes da hora de almoço, Oliver Phommavanh passa pelo Colégio Dom Bosco e pela Escola das Nações, local onde vai estar também Philippe Graton. À tarde, no hotel St. Regis, a programação continua a ser dedicada aos mais novos, com uma sessão protagonizada por Oliver Phommavanh chamada “Ser Nerd é Fixe – Histórias para Miúdos”. Ao final do dia, o Rota das Letras regressa à sua sede, o edifício do antigo tribunal. Na secção “Autores os Seus Livros”, Bruno Vieira Amaral fala de “As Primeiras Coisas” e Natália Borges Polesso apresenta “Amora”. A conversa começa às 18h. À mesma hora, a poucos metros de distância, no Café das Letras, Mark O’Neill
partilha ideias sobre “Ireland’s Imperial Mandarin – How Sir Robert Hart Became the Most Influential Foreigner in Qing China”. Para as 20h, na Casa do Mandarim, está marcada a performance Hydra & Orpheu”. Os bilhetes são grátis e podem ser obtidos no edifício do antigo tribunal ou na Livraria Portuguesa. O espectáculo é repetido no sábado à noite.
GUERRA, TERRORISMO, JAZZ
É com um workshop destinado a jornalistas que arranca o dia de amanhã. José Manuel Rosendo vai partilhar experiências sobre reportagens de guerra. Quando forem 15h, a escritora Madeleine Thien estará no edifício do antigo tribunal para falar do livro “Do Not Say We Have Nothing”. Depois, às 16h30, segue-se uma conversa sobre os bastidores de um evento literário, com Sanaz Fotouhi, Deusa D’África, Hélder Beja e Peter Gordon. As 18h, Lawrence Lei e Abdulai Silá contam como é escrever para teatro e, a fechar a tarde, às 19h, Henrique Raposo e José Manuel Rosendo trocam ideias sobre “Europa, Refugiados e Terrorismo Islâmico”.
Domingo começa também com um workshop, por Natália Borges Polesso: “Da Ideia ao Conto” tem início marcado para as 11h. Às 15h, Ciwanmerd Kulek, Sanaz Fotouhi, Grace Chia e Hannah Tunnicliffe debatem o tema “Escrever de Dentro ou de Fora – Escrita Local vs Universal”. A secção “Autores e os Seus Livros” apresenta Peter Gordon e Juan José Morales com “The Silver Way: China, Spanish America and the Birth of Globalisation, 1565–1815”. Às 17h30, o festival vira-se para os escritores locais, com uma celebração do 30.º Aniversário do Macau Pen Club. A partir das 17h30, há mais apresentações de livros, com os autores presentes. Deusa D’África traz “Ao Encontro da Vida ou da Morte” e, quando forem 19h, o músico e escritor Sérgio Godinho apresenta “Coração Mais que Perfeito”. Às 20h30, há uma performance no edifício do antigo tribunal, com “Das Palavras”, pelo colectivo teatral “d’As Entranhas”. Depois, o festival ruma até ao China Rouge, para o concerto de jazz de Ines Trickovic. I.C.
EXPOSIÇÃO DESIGN DE BERLIM NO TAP SEAC
É
inaugurada na próxima terça-feira a exposição “Anschlag Berlin – Desenho de Cartazes de Berlim”, na Galeria do Tap Seac. Por iniciativa do Instituto Cultural (IC), vão ser mostrados ao público 70 cartazes da autoria de 35 designers que trabalham em estúdios da cidade alemã. “Berlim, com o seu rico pano de fundo histórico e singularidade cultural, proporciona um ambiente de grande abertura aos designers, despertando criatividade e permitindo a coexistência de múltiplas ideias relativas ao design”, aponta a organização. O IC explica que foram seleccionados para esta exposição trabalhos inspirados pelo Zeitgeist e a Berlim contemporânea, bem como
obras da autoria de designers contemporâneos provenientes de famosos estúdios de design da capital alemã: Cyan, LSD, HeSign, EPS51, Ruddigkeit, Ariane Spanier, Fons Hickmann m23 e Surface, entre outros. Os cartazes que será possível ver dizem respeito a exposições artísticas, festivais, concertos, espectáculos e questões sociais. Além da mostra, o IC organiza ainda um seminário intitulado “De Berlim a Macau: Palco de Designers”, na próxima quarta-feira, das 18h30 às 21h30, também na Galeria Tap Seac. Os oradores convidados são os três curadores da exposição – Fons Hickmann, Jianping He e Sven Lindhorst-Emme – e a designer Laucke Siebein. A entrada é livre.
À VENDA NA LIVRARIA PORTUGUESA A FILHA DO PAPA • Luís Miguel Rocha
Será o anti-semitismo a verdadeira razão para o Papa Pio XII não ter sido beatificado? Quando Niklas, um jovem padre, é raptado, ninguém imagina que esse acontecimento é apenas o início de uma grande conspiração que tem como objectivo acabar com um dos segredos mais bem guardados do Vaticano - a filha do Papa Pio XII. Rafael, um agente da Santa Sé fiel à sua Igreja e à sua fé, tem como missão descobrir quem se esconde por detrás de todos os crimes que se sucedem e evitar a todo o custo que algo aconteça à filha do Papa. Conseguirá Rafael ser uma vez mais bem-sucedido? Ou desta vez a Igreja Católica não será poupada?
O DRAGÃO MAK É lançada hoje a série de livros infantis “Mak, the city’s friendly dragon”, da professora Bernadette Terra. A série é constituída por 13 livros, que serão publicados um de cada vez, de seis em seis meses. Hoje marca-se a estreia com o lançamento dos dois primeiros episódios
N
“
A verdade, nem acredito bem que hoje é o lançamento destes livros, nos quais trabalhei durante tanto tempo”, conta-nos a autora, Bernadette Terra. Esta sexta-feira é a concretização de um projecto de amor, com a publicação dos dois primeiros números da série de livros infantis “Mak, the city’s friendly dragon”. Com uma carreira como educadora, a agora escritora publicada começou a trabalhar em Macau como professora na Escola de Enfermagem. Mas sentia que os seus horizontes profissionais precisavam de ser alargados noutras áreas da pedagogia. Então, mudou-se para a Escola Internacional de Macau (TIS, na sigla inglesa), e o contacto com
as crianças revelou-se enriquecedor a vários níveis, inclusive, inspirando-a a escrever os livros que hoje chegam aos leitores. “Estar todos os dias com os miúdos e vê-los a aprender e a evoluir ensinou-me também muita coisa”, revela a professora. Então, sem saber muito bem como, começou a escrever estas estórias que hoje são publicadas. Apesar de não ter um objectivo claro à sua frente, a inspiração compelia Bernadette Terra a escrever. Resolveu que o pano de fundo e personagem recorrente seriam a própria cidade onde vive. Começou por se inspirar e escrever sobre a cultura de Macau, sobre as suas festividades como o Ano Novo Chinês, o Festival dos Barcos-Dragão, e eventos como o bungee-jumping da Torre de Macau e o Grand Prix. Estes são os cenários onde a acção se desenrola. Só faltava uma personagem principal que, à partida,
Bernadette não sabia se seria uma pessoa ou um animal. Então pensou que o mais familiar para a cultura chinesa, e para as crianças, seria um dragão, simpático, claro. Começou por lhe chamar Ma-Co, mas os seus amigos portugueses, e especialmente o seu marido, alertaram a autora para o facto de o nome não soar muito bem na língua de Camões. Quanto à cor que o dragão deveria ter, teve a preciosa ajuda da filha, que lhe deu a ideia de usar as cores da bandeira de Macau, ou seja, verde, amarelo e branco.
RUA DE S. DOMINGOS 16-18 • TEL: +853 28566442 | 28515915 • FAX: +853 28378014 • MAIL@LIVRARIAPORTUGUESA.NET
RENDIDA • Sylvia Day
Gideon Cross apareceu na minha vida como uma luz na escuridão. Um homem lindo, fascinante, um pouco louco e muito sedutor. A atração que sentia por ele era diferente de tudo o que tinha experimentado na minha vida até então. Eu desejava-o como a uma droga que me enfraquecia dia após dia. Gideon encontrou-me fragilizada e carente e entrou facilmente na minha vida. Descobri que também ele tinha os seus próprios demónios. Tornámo-nos o espelho um do outro; éramos o reflexo das nossas mais profundas cicatrizes e... desejos. Este amor transformou-me, mesmo que ainda hoje continue a rezar para que os pesadelos do passado não voltem para nos atormentar.
13 MACAU
EVENTOS
hoje macau sexta-feira 10.3.2017
K ANDA POR AÍ
CONCERTO SCHUBERT E OBOÉS DE MOZART
A
Orquestra de Macau toca logo à noite na Igreja de São Domingos. O concerto, que começa às 20h, junta obras de Beethoven, Mozart e Schubert, e está integrado no ciclo “Maestros com Carisma”. Desta feita, o convidado para dirigir a formação é Arvo Volmer, que se junta ao chefe de naipe de oboés da orquestra, Kai Sai, para uma interpretação do único concerto composto por Wolfgang Amadeus Mozart para este instrumento de sopro. Em nota de imprensa, o Instituto Cultural explica que Kai Sai foi distinguido em vários concursos de música, tendo sido chefe de naipe de várias orquestras, entre ela a Sinfónica do Sul da Dinamarca. Quanto à obra de Mozart, diz a organização que, “com as suas belas e engenhosas melodias, constitui uma das peças mais difíceis de interpretar de todos os tempos, pondo em evidência a destreza do solista”. O programa do concerto – que dá pelo nome “Peça Incompleta de Schubert”
– inclui ainda a Abertura de Fidelio, a única ópera concluída por Beethoven, e a Sinfonia N.º 8 em Si menor (“Incompleta”), de Schubert, composta somente por dois andamentos, que foi
apenas estreada em Viena 37 anos após a morte do compositor. A entrada é gratuita. Os bilhetes são distribuídos por ordem de chegada no local do concerto, uma hora antes da actuação.
PUB
ASSOCIAÇÃO GERAL DE AUTOMÓVEL DE MACAU-CHINA Inscrição
Mak partilha as suas aventuras pela cidade com Mr. Panda, o condutor de autocarro, a vaca Mowie e o cão Luke, inspirado no animal de estimação da própria autora.
DRAGÃO SOLIDÁRIO
Desde que começou, Bernadette não conseguiu parar de escrever. Sempre que tinha um pouco de sossego e tempo lá ia tecendo as aventuras de Mak. “Mesmo durante os intervalos, à hora de almoço, ia para a biblioteca, ou onde conseguisse estar em sossego, e escrevia”, conta a autora. Bernadette recorda que deve ter havido uma altura em que o seu marido já não podia mais ouvir as ideias que tinha para os livros. Toda a gente que estava à sua volta estava, de uma maneira ou de outra, ligada à criação da série de livros. “Tive muita sorte de ter amigos que me ajudaram com este projecto, sem eles não seria possível. A minha filha fez o design das páginas, a
“Estar todos os dias com os miúdos e vê-los a aprender e a evoluir ensinou-me também muita coisa.” BERNADETTE TERRA AUTORA nossa tradutora de chinês, na altura, tinha apenas 15 anos, é amiga da minha filha”, explica. As ilustrações são de Natsumi Agrada Kurisaki, as traduções para português e a edição em inglês foram feitas por amigas professoras. Quando pediu a Isabel Goitia, sua amiga e colega, se queria fazer a tradução para português, a autora recorda que a sua amiga sorriu e, prontamente, respondeu “claro que sim”. As coisas foram-se compondo baseadas num circuito de amigos dedicados
da autora, até porque esta não tinha dinheiro para se lançar numa aventura destas sem a dedicação e voluntariado de quem a ajudou. Finalmente, Bernadette Terra tinha ambições solidárias para este projecto, uma veia comunitária. Como tal, dos lucros das vendas 10 por cento revertem para a Macau Child Development Association e outros 10 por cento para a Associação para os Cães de Rua e o Bem-Estar Animal em Macau. A ideia inicial era partilhar algo com a comunidade, não só as estórias, mas também retribuir solidariamente. A festa de lançamento da série de livros de Mak, o dragão simpático, acontece hoje na Creative Macau, no edifício do Centro Cultural, às 18h. João Luz
info@hojemacau.com.mo
Curso de Formação para os Comissários Desportivos do 64º. Grande Prémio de Macau
Avisa-se a todos os interessados que as inscrições do curso de formação para os comissários desportivos do 64º. Grande Prémio de Macau para o ano 2017 estarão abertas a partir do dia 13 de Março do corrente ano. Os interessados deverão preencher uma ficha de inscrição fornecida pelo AAMC, juntando o Bilhete de Identidade de Residente de Macau e uma fotocópia do mesmo, 2 fotografias a cores e 1 atestado médico passado por médico registado na RAEM, de que o interessado se encontra apto para prestar funções acima referido e entregar até ao dia 31 de Março de 2017 na sede da Associação Geral de Automóvel de Macau - China (AAMC). Data de inscrição: 13 de Março até 31 de Março. Requesitos para a inscrição: - Ter 18 anos de idade completos - Possuír Bilhete de Identidade de Residente de Macau Propina de inscrição: Mop100.00 por inscrição. Para mais Informações, favor de contactar através do número de telefone: (853) 2872 6578 Endereço do AAMC: Avenida Amizade, Edifício do Grande Prémio, Rés-do-chão da Torre de Controle, de fronte ao Terminal Maritimo de passageiros do Porto Exterior. De 2ª. Feira a 6ª. Feira: das 09H30 às 13H00 e das 14H30 às 18H30 (excepto feriados oficiais e tolerância de ponto aprovado pelo Chefe Executivo) Relativamente ao horário do curso de formação para os comissários desportivos, podem encontrar na página electrónica da Associação Geral de Automóvel de Macau – China, www.aamcauto.org.mo
14 EVENTOS
37º FESTIVAL INTERNACIONAL DE CINEMA DO PORTO
hoje macau sexta-feira 10.3.2017
Evento em idade adulta
PRÉMIOS O Júri Internacional da secção de Cinema Fantástico da 37ª edição do FESTIVAL INTERNACIONAL DE CINEMA DO PORTO decidiu atribuir os seguintes Prémios: • GRANDE PRÉMIO MELHOR FILME -FANTASPORTO 2017 Realive- Mateo Gil (Espanha) • PRÉMIO ESPECIAL DO JÚRI Saving Sally- Avid Liongoren (Filipinas) • MELHOR REALIZAÇÃO Liam Gavin – A Dark Song (Irlanda) • MELHOR ACTOR Frederick Koehler- The Evil Within (EUA) • MELHOR ACTRIZ Catherine Walker- A Dark Song (Irlanda) • MELHOR ARGUMENTO Mateo Gil – Realive (Espanha) • MELHORES EFEITOS ESPECIAIS Drew Casson - The Darkest Dawn (Reino Unido) • MELHOR CURTA-METRAGEM Cenizo - Jon Mikel Caballero (Espanha) • MENÇÕES ESPECIAIS A Repartição do Tempo – Santiago Dellape (Brasil) Garden Party – Théophile Dufresne, Florian Babikian, Gabriel Grapperon, Lucas Navarro, Vincent Bayoux, Victor Claire (França)
27ª SEMANA DOS REALIZADORES / Prémio Manoel de Oliveira
O Júri Internacional da 27ª Semana dos Novos Realizadores do Fantasporto 2017 decidiu atribuir os seguintes prémios: • PRÉMIO MELHOR FILME SEMANA DOS REALIZADORES 2017 Pamilya Ordinario de Eduardo W. Roy, Jr (Filipinas) • PRÉMIO ESPECIAL DO JURI Sins of the Flesh- Khaled el Agar (Egipto) • MELHOR REALIZADOR (Kim Jee-Woon – The Age of Shadows (Coreia do Sul) • MELHOR ARGUMENTO Ivan Szabó , Roland Vranik- The Citizen (Hungria) • MELHOR ACTOR Park Ji-Il – The Net (Coreia do Sul) • MELHOR ACTRIZ EX AEQUO: Nahed el Sebai – Sins of the Flesh (Egipto) Hasmine Kilip- Pamilya Ordinario (Filipinas)
COMPETIÇÃO OFICIAL EXPRESSO DO ORIENTE 2017
• MELHOR FILME The Net – Kim Ki -Duk • PRÉMIO ESPECIAL Dearest Sister- Mattie Do • MENÇÃO HONROSA Saving Sally - Avid Liongoren
(Coreia do Sul) (Laos) (Filipinas/França)
PRÉMIO CINEMA PORTUGUÊS
• MELHOR FILME PORTUGUÊS 2017 Um Refúgio Azul- João Lourenço • MELHOR ESCOLA DE CINEMA PORTUGUESA 2017 (Politécnico do Porto) Menção Especial do Júri para filme de Escola (Criatividade ) Schlboski – Tomás Andrade e Sousa - ETIC
PRÉMIOS NÃO OFICIAIS
• PRÉMIO DA CRÍTICA Ex-Aequo Caught – Jamie Patterson Division 19 – Susie Halewood • PRÉMIO DO PÚBLICO Saving Sally – Avid Liongoren • PRÉMIO ESPECIAL FANTASPORTO Catarina Machado – Pintora – pela sua contribuição para o Festival Rede TV GLOBO - • PRÉMIOS DE CARREIRA 2017: Ate de Jong- director /realizador Glória Perez- argumentista, vencedora de Emmy
(Rússia) (Rússia) (França/ Filipinas)
(Brasil) (Holanda)
O
filme começa com o renascimento do protagonista. Nascer de novo é reencontrar a memória dos acontecimentos vividos, um encontro novo com o que fomos, com o que somos. Estruturado por capítulos o filme vive o tempo de forma não cronológica. Sucessivas elipses dão a ver um vai e vem entre o tempo da vida antes da decisão da criogenização e o do momento actual da narrativa. O empolgante neste filme de realização cuidada, “décores” assépticos de uma realidade tecnológica já sucessivas vezes anunciada e vista em ecrã de cinema, telemóvel e electrodoméstico TV, é o mapear cirúrgico ao território
da habitabilidade do hedonista urbano, através da história do protagonista. Marc é um homem urbano, contemporâneo, jovem, belo e rico, figura de sucesso na agência de publicidade onde trabalha. Realive, interroga e dá resposta ( com a qual se pode ou não concordar – os filmes são democráticos) a uma pergunta filosófica central neste tempo de orfandade colectiva. Pode um ser suportar a solidão da consciência da sua total orfandade? Num tempo em que o antigo conforto da aceitação de Deus é, para muitos, impossibilidade, ou apenas desejo sonhado de pertença a uma organização possível para o mistério da metafísica. Reaparecer vivo num tempo futuro onde todos os que conhecemos desapare-
cerem, e no qual é a memória o que nos distingue, identifica, é acordar num mundo de solidão imensa. Como em (quase) todo o cinema , há uma história de amor. É trágico este amor, e o crime aqui, como o definir? Foi Godard que disse que para se fazer um filme é preciso uma mulher, um crime e uma pistola, e não necessariamente por esta ordem. A morte de Marc é anunciada por análises clínicas que identificaram um tumor na laringe, avançam um tempo de vida ao protagonista que não excede um ano. A decisão pelo suicídio assistido, para um regresso à vida num tempo futuro com data incerta, assim que a tecnologia médica o vier a permitir, ainda antes da falência dos órgãos
15
REALIVE A INSUPORTÁVEL ORFANDADE
EVENTOS
GRANDE PRÉMIO MELHOR FILMEFANTASPORTO 2017, 103 minutos, realização e argumento de Mateo Gil , produção de Espanha • Sinopse: “ Marc é diagnosticado com uma doença que lhe dá um ano de vida. Não aceita o seu destino e decide congelar o corpo. Sessenta anos mais tarde, em 2084, torna-se o primeiro ser humano a ser reavivado na história. É então que descobre que o amor da sua vida, Naomi, o acompanhou de forma inesperada”.
do corpo o que facilitará o regresso à vida, é a opção e decisão do protagonista. Esta decisão de antecipar a morte e impede a Noemi de viver com a morte anunciada em calendário conhecido esse tempo com Marc. A estória do amor dos dois tem sido, foi, uma estória de sucessivos falhanços e, decisão de Marc, é sentida por Noemi como totalmente egoísta. Impossibilita em absoluto à realização da redenção, a vivencia da revelação, esse estado de transcendência, esse tempo com sabor a paraíso que é a comunhão dos amantes. Marc e Noami, são, foram, os amantes comuns deste tempo onde a procura do êxtase transforma quotidianos em montanha russa
emocional, nesta incapacidade para a permanência no tempo da construção da pertença, da permanência com e no outro, mesmo quando esse outro é sujeito que se ama. Esta é a questão central em Realive, não sendo a linha principal do plot do filme, é o que dá unidade textual ao objecto filme. É Marc quem, através do último grito do gadget de maior sucesso e de uso massificado nesse novo tempo em que renasceu, 2084 (um par de óculos tecnológicos com um acesso directo, profundamente intenso a todo o banco de emoções, memórias, actos, anteriormente vividos) , nos dá a ver e qualifica a relação amorosa que teve com Noami. É descrita a relação no ecrã em sequências de imagem e em “voice
over” , como uma continuidade de desencontros, ora por vontade dele, ora por vontade da Noami. Primeiro ao abrigo de leituras sobre as respectivas carreiras profissionais que falam mais alto do que as exigências do compromisso na relação, depois porque quando um quer assumir o amor ao outro como realidade primeira na sua vida não é o tempo certo o fazer, segundo o outro, num vai e vem de do mesmo comboio em diferentes estações, ou linhas trocadas. Uma espécie de quando eu quero não queres tu e quando tu queres agora não estou para aí virado. E, no contínuo do tempo, desta forma, a vida amorosa dos dois amantes foi partilhada com relações mais ou menos canibais das vidas sexuais mutantes das
noites e dias da cidade, naquele só estou bem onde não estou que nos cantou Variações. Neste regresso à vida em 2084, Marc, é também um produto, o mais valioso produto de uma corporação, a valiosa publicidade concreta para a concretização da expectativa dos lucros na casa dos muitos milhões de yuan renminbi ( conhecem a moeda — o interessante no fantástico é sempre a leitura que é feita do real) . É o primeiro homem com total sucesso no processo tecnobiomédico de regresso à vida após a criogenização . O seu imenso valor comercial é apenas comparável à profunda solidão que sente e vive. Noami, também ela, decidiu um regresso à vida num tempo futuro,
sabe-o agora Marc, neste seu regresso. Mas não fez a criogenização em tempo de fulgor anímico nas células do seu corpo como fez o seu amor Marc. E, nestes casos, o re-viver é tecnologicamente de dificuldade mais elevada e sem certeza de sucesso. Na sua profunda solidão, Marc exige, como troca para a permissão à sua exibição como produto, o empenhamento total do gigante da industria médica no regresso à vida de Noami. Mesmo com essa promessa em linha, o seu sentimento de orfandade é total, não resiste, são demasiados tempos num tempo dentro de si que não existe. Está só, e não é Deus. Rui Filipe Torres
info@hojemacau.com.mo
h ARTES, LETRAS E IDEIAS
16
para não terem frio a mais. Do que o do seu inverno. Mas as dores devem ser tão leves aos outros, como os outros a elas. Há ideias mistas que se colam ao corpo como uma pele fina mas forte. A mistura de sentimentos de sinal oposto. Se haverá ou não sentimentos maus de sentir é o que me intriga tantas vezes. Sentir á o último reduto de estar. De ser vivo. De viver para o que naturalmente cresceu em si e não se alterou na essência. Sentir sem o escudo protector da indiferença benigna para que não haja tempestades que façam naufragar. Coisa a proteger. Talvez. Para que não me espreite ao espelho o rosto de uma planta. Uma flor. Não há sinal maior de estar vivo do que a dor. Dói-me logo existe em mim. Existo. A excluir outros sentimentos de igual capacidade de absorção de tudo, de mim, de toda a dor de todo o insucesso. Como o amor. Sim. Porque renegar o sonho maior de tanta gente. Coisas vagamente vergonhosas. A dor, como o amor. E a rimar. Passear numa cidade estrangeira. A dor. A perda. Tudo o que reunido é o que sou. No momento em que vou. Passear numa cidade estrangeira ao meu círculo vicioso. Um beco circular. Passear como se nada mais fosse possível fazer, e escolher o cenário que há-de preencher os olhos senão a mente. Mas a nova paisagem é como convalescer na Montanha Mágica de Mann. E tudo ser relativo ao momento em que tudo e nada pode ser possível. Em que tudo fica igual ou muda. Como sempre. Só num outro cenário e como tal a validar o momento diferente de todos como todos são de todos. Não há como uma viagem para nos catapultar para o espaço sem tempo e o tempo sem dono e não há como estar só para que tudo seja possível de não ter sentido nem metas nem sucesso nem horas nem sentido nem culpa nem nada. Mesmo. Há cidades para sempre entranhadas no mais recôndido escaninho da dupla e retorcida hélice do nosso ADN. Cidades feitas do ouvir contar, das fotografias e dos filmes de sempre. E da história, que estrutura uma origem de que se gosta e quer sentir fazer parte. Dos álbuns e dos livros, do cinema e das memórias coladas a uma canção. A muitas. Memórias às vezes sem dono, já. Das pessoas que nunca conhecêramos não fosse a esplêndida presença que deixaram em objectos que voltamos sempre a visitar, a revisitar como num domingo se visitava a família. Que nunca conhecemos mas conhece-
mos melhor do que a muitos dos nossos. Com quem nos cruzamos um dia numa das estradas de um momento de sorte e acaso, e por quem nos apaixonámos de emoções fortes, de ódios e rejeições ou de amor mesmo. Pessoas com nomes que nunca esquecemos e que nunca morreram para nós, póstumos a elas, por vezes, a quem encontrámos já em dimensões diferentes da matéria e do espaço, mas que reconhecemos como nossas. As nossas pessoas do intelecto e as nossas pessoas da admiração e as nossas pessoas de quem temos tantas fotografias que quase tomámos café aqui e ai com elas. Espiadas e abstraídas de nós. Também elas. Tanto a conhecer numa cidade onde não se nasceu nem cresceu mas acrescentou mundo e o olhar perdido nos limites da sua aldeia não fosse assim. Ou talvez nem fosse assim. Como dizia o poeta. O mundo do tamanho do olhar que se lhe deita. Mas assim é mais. E cidades onde se quer sempre voltar. Estar numa cidade estrangeira fervilhante de coisas, de fenómenos, de acontecimentos.. De objectos de cultura. De memória e de estar a acontecer. Numa arquitectura de trajectos de coleccionador. E não ver nada disso. Quase. Porque de uma cidade estrangeira de que goste, gosto sobretudo da cidade. Esse ser articulado, pujante e indiscutivelmente vivo. Dentro de lugares fechados para a cultura, ver só o suficiente para amadurecer em horas e dias. E dar as margens de silêncio precisas. Rigorosas como uma moldura a proteger e a guardar o tempo e espaço para pensar. Sem ruído. Sem sobreposição. Caminhar numa cidade civilizada. Num modelo cultural. E não esquecer de ver os sem-abrigo por fora das janelas de cada museu. Alguém que dorme às oito da noite numa manta de quadrados porque não há mais mundo por hoje. Os que pedem para comer. Tantos. Rostos morenos de famílias inteiras ao longo do rio. A vida. E aquelas figuras arrumadas e dignas como uma certa classe média. E que sobriamente também estendem a mão. A vida exposta na palma da mão limpa. A vida. Quilómetros num sentido ou noutro a mergulhar os olhos no verde denso das águas do rio que lembrava mais largo, e no ocre claríssimo como se duma cor diluída para não ferir. Quase um cinzento de prata amarelada. Os prédios todos semelhantes nas suas inúmeras diferenças. Apaziguados numa harmonia cromática
de extensão confortável sem sobressaltos. E assim ao longo dos dias. Pequena, grandes incursões para dentro das margens e voltar. À referência. Nelas, entrar em cada igreja não programada. E lá bem no fundo suponho uma súplica. Tão ténue e escondida até de mim. A sentar-me por longos momentos de respiração. Talvez que alguma coisa de mim, através de mim e sobre mim me salve. Deste momento. De mim. ANABELA CANAS
O
que me faz falta às vezes é o nada fazer. Aqueles dias em que a actividade parece um atributo acessório da existência, que em nada tem a ver com uma qualquer natureza ontológica. Que a contradiz em tudo e a força a uma outra coisa em nada semelhante. Incluir assim, nessa ânsia de existir simplesmente, uma certa indiferença a dormir ou comer, mesmo. Tarefas, decisões e horários. Estratégias, hierarquizações e planos. Uma espécie de jejum radical para a revisão de todo um mecanismo complexo de sentir. Do sentir. Sobretudo naqueles momentos particulares em que tudo nos quer ver bem. Ajudar. Sugerir. Tudo nos quer naquele lugar confortável que não inspire preocupações. Diminuir a dor. Obrigar. É nesses momentos que vem por vezes a recusa radical. Um luxo de liberdade a que nunca me dei por mais do que momentos. E depois voltar. Tão igual como qualquer rio que nos acompanhe os olhos na cidade onde vivemos. Nunca outro. Nunca as mesmas águas. O tempo. E voar um pouco mais longe do que o fim da minha rua só para andar ao longo do rio. De um outro rio. Um outro cenário. Um outro café. Sentar-me num café que não é o do topo da minha rua. Sentarme da mesma maneira e cruzar a perna da mesma maneira. Olhar o mesmo infinito sem consequência, sem explicação nem sentido. Mas ser um café que não é o da esquina no fim da minha rua. Sair da vida do costume como se a deixasse lavada de fresco e bem passadinha a ferro, impecável em cima da cama, para vestir num outro dia. Mas vestir uma outra. É o que é preciso, às vezes. Convalescer de estar triste, com uma manta de lã fina e quente, quase sem peso sobre as pernas, como num sanatório de montanha e relegar tudo para um plano entretanto de irrealidade. Ou convalescer nas palavras mais eficazes do que o motor de um 787, ou um A350. Do que um Concorde. Daqueles que caíam facilmente. Como estas. Depois. A cada dor particular o seu placebo próprio. Passar por uns dias. Passar por uma cidade estrangeira, pela vida como se pela vida de alguém tal e qual como uma “Laura, on the train that is passing through”… uma vaga melancolia sem questões de maior. Há momentos de dor. Ou de dores variadas. Não ter vergonha da dor ou da ausência dela. Deixá-las seguir o seu curso e o seu tempo. Cobri-las com uma lã fina
Outras margens
17 hoje macau sexta-feira 10.3.2017
de tudo e de nada
E todos os dias partia desalvorada do hotel para o rio, ali mesmo ao fundo da rua, quase como se em casa. Mas outro rio. Às vezes é preciso outro rio. Como o tempo. E partia apressada com a alma desfraldada a sair dos bolsos já de si cheios de pedras e pesos. Desfraldada e não feliz. Mas expectante dessas horas como um grau zero de existência plena, a caminhar simplesmente pelas margens desse rio. Só. Para dificuldade bastava aquele longo e prolongado tempo a reunir coragem de deixar a cama para trás. Com os seus fantasmas desalinhados e em pijama até à noite. Ideias que nos colam ao corpo, como quem transporta os ossos dos antepassados, limpos de toda a existência no silêncio de um pequeno
saco. E guardar silêncio sobre a dor. Mesmo de mim. Ferreamente diluída nos passos enquanto não pararem sob o efeito dos olhos. Porque às vezes é preciso ir mais longe, onde nada exige essa felicidade que nem sempre pode ser. Pesos. Ou seria a mala a fazer peso nas costas. Cheia daquelas coisas-casa. Livros de páginas em branco, canetas pretas, duas maçãs, a máquina fotográfica. O mapa a refazer um mapa, outro, mental tão desfeito ao longo dos anos. A reler nele, saborosamente, os nomes. A imprimir numa nova memória. Coisas. Inseparáveis e pesadas como uma concha de caracol. Inevitáveis. Curiosa concha-caixa a desse molusco, concha-casa espiralada e esconderijo, quando
é na realidade o esqueleto externo. Como o mistério de uma mala de senhora. Desde aquela bolsinha minúscula onde mal cabe o pó de arroz e um lencinho bordado, porque mais não é preciso para além do batom, até ao poraí- fora das dimensões e dos mistérios esclarecedores de uma diferenciação social, cultural de uma emancipação ou de um desamparo a fazer transportar um mundo- concha. Que aquilo que se transporta é um mundo…uma gaveta escolhida do mundo como um esqueleto externo. Um arcobotante a suportar uma eminência de queda, um peso a mais. Espiralado como as curiosas camadas de ser que precisamos poder derramar numa emergência em branco de papel. Ou de um olhar que é preci-
Anabela Canas
so prender ao vidro de uma lente. Para ver melhor. Apurar o cenário em que se representa um intervalo de tempo depurador. Coisas. Daquela mala desenhada para se prender firmemente às costas, ao peito, como se parte delas, dele. A fazer peso mas sem tolher os passos. Numa pressa de chegar. Ao rio. E aí parar numa das margens. A respirar fundo o alívio de ter chegado ali para ali caminhar. E caminhar ao longo dele. Grande demais e como tal inesgotável para a minha pequena escala. O que é bom. Que o mundo seja grande e o tempo também. A pequena história destes dias. Resumida à sua verdadeira extensão. Passear até à exaustão e pelas horas adiante, com aquela pequena garra fincada em mim em pano de fundo bem fundo. Para aquém das tonalidades envelhecidas em texturas suaves. De todo o cenário-cidade. Do céu. Cinzento a combinar. Respirar em grandes haustos um ar que parecia limpo do que ficou para trás e trazem até inesperados perfumes, de árvores não, que por todo o lado friorentas e nuas, mas arbustos que se cruzavam comigo, rápidos no andar. A andar como se para sempre. Para sempre acompanhada. Como por sombras num pano de fundo. Bem fundo. O que não tem remédio. Sinto, logo existo. Que maravilha única e insubstituível. Acontece uma vez. Não acredito em mais. Estar em Paris só para estar em Paris. Para andar ao longo das margens. Minhas. Do rio. Coisas diferentes. Há um peso que cola os passos ao chão. Mas a cabeça sempre mais acima do que os pés. Essa tonta. Tresloucada. A vida, digo eu. Inalcançável senão por partes. Dias. Paris é uma daquelas cidades a que pensei só voltar só, ou com um grande amor. Aqui estou. Sem querer distinguir as ramificações de uma e outra verdade. Ambas acompanham como uma pessoa querida. Está frio. Ponho quando posso prescindir delas, as mãos nos bolsos. Quando cabem. Saem por ali tantas coisas. E luvas, e bem lá no fundo para não o perder, como o primeiro mapa que me caiu por ali algures, um coração. Suponho-o diferente. Vi-me diferente - nesta cidade - depois de vinte anos. E noutras margens. E este é outro talvez também. O último romântico. Não o posso deixar cair por aí. Nem esquecê-lo no check-in. Vai ser revistado, talvez acusado de ter em mililitros mais do que o permitido transportar. Como o champô de que eu gosto. Suspiro. E continuo. A atravessar pontes sobre o rio. A acompanhar o rio sob pontes atrás de pontes a parar e com a alma sempre cheia de uma canção. Que durou dias.
18
h
José Simões Morais
O macaense Albino de Paiva de Araújo na Europa T
EMOS vindo a escrever sobre a história deste boémio e no último artigo tratamos já sobre uma das principais protagonistas, Blanche Lachmann, a tal Madame Paiva que em segundas núpcias casara com Albino de Paiva de Araújo, para em Paris conseguir um nome e uma dignidade equivalente à sua opulência. Falta agora apresentar o próprio Albino Francisco de Paiva de Araújo, que nasceu em Macau na freguesia de S. Lourenço a 19 de Maio de 1824 e suicidou-se em Paris em 1873. Estas são as datas referidas pelo padre Manuel Teixeira, mas Jorge Forjaz dá outras e se a de 1832 para o nascimento parece estar errada, a da morte, em 8 de Novembro de 1872, cremos ser a ajustada. No entanto, o ano de 1873 é referido pela maior parte dos autores que sobre esta história escreveram e a que Camilo Castelo Branco indica, mas mais à frente diz, “até que em 1873, li nos jornais portugueses que Paiva Araújo se suicidara em Paris”. Segundo Jorge Forjaz, o pai deste, Albino José Gonçalves Araújo nasceu no Rio de Janeiro (Candelária) em 1797 e faleceu em Macau, na freguesia da Sé, a 24 de Janeiro de 1832 (apesar de Manuel Teixeira referir 1842) e a mãe, Mariana Vicência nascera em Macau a 22 de Julho de 1802. Camilo Castelo Branco dá “uns ligeiros traços do perfil do sujeito. Paiva Araújo nascera em Macau e era filho único de um negociante rico, ali falecido por 1842. Quando o pai morreu, Paiva Araújo estava em Paris em um colégio. A viúva veio para a Europa, e para residir escolheu o Porto, onde não conhecia alguém. Mandou edificar uma casa perto da alameda da Aguardente [hoje desaparecida e que se situava no topo da rua do Bonjardim], mobilou-a com muito gosto e selecta riqueza de baixela d’ouro e prata, jarrões japoneses e porcelanas antigas. Fechou-se com o misterioso luxo de fada, sozinha, quase desconhecida de nome e de pessoa. Chamavam-lhe a Macaense. O seu nome era D. Mariana de Paiva Araújo. Sabia-se apenas que era viúva, muito rica e tinha um filho a educar em França. A casa arquitectada pelo risco burguês, trivial no Porto, era de azulejos amarelos com muitas janelinhas de estores brancos, sempre descidos. Tem um jardim com vasto portal
gradeado para a rua, tufado de bosquetes de árvores exóticas e miniaturas de montanhas que punham na alma saudades das florestas do Buçaco e Senhor do Monte. Paiva Araújo não frequentou curso algum nem adquiriu noções vulgares em algum ramo de ciência. Aos dezoito anos veio para a companhia da mãe. Sobejava-lhe riqueza à mãe extremosa que dispensasse o seu filho único dos fastios de uma formatura inútil. Por 1845 apareceu Paiva Araújo no Porto curveteando garbosamente o seu cavalo árabe por aquelas sonoras calçadas. Era um galhardo rapaz trigueiro, alto, com um buço preto encaracolado nas guias, elegante, sem as farfalhices coloridas da toilette dos casquilhos seus coevos. Tinha poucas relações, e dava-se intimamente com Ricardo Browne, o árbitro da moda. Ricardo Browne era tão poderosamente iniciador que até, pelo facto de ser muito surdo, contagiou de surdez fictícia muitos rapazes em condições as mais sanitariamente fisiológicas das suas grandes orelhas. Estes rapazes, assim cavaleiros, figurinos, lovelacianos, esgrimidores, mais ou menos surdos, chamavam-se simplesmente janotas, ou em nomenclatura mais culta – dandys. Não se conhecia ainda em Portugal o peregrino vocabulário de sport, de turf, de sportman, de high-life, de sporting, de gommeux. Ignoravam-se estas inglesias e francesismos da actualidade mascavada de idiomas com que um qualquer modesto noticiarista da travessa de Cata-que-farás, 4.º andar, lado esquerdo, parece que nos está conversando num salão de Regent-Street, a marinhar com as pernas pela espalda de um <fauteuil> carmezim, as suas emoções pessoalíssimas de Hyde-Park e Jockey-Club. O Porto e a vida reclusa de sua mãe deviam ser intoleráveis a Paiva Araújo. Browne saiu para Paris, e ele para Lisboa, onde se notabilizou facilmente pelas prodigalidades das suas despesas. Bulhão Pato, em um dos seus escritos entristecidos pela saudade
daqueles tempos, fala do cavalheiro Paiva Araújo. Dava jantares aos rapazes da alta linha, a colmeia do Marrare do Chiado, parte dos quais ainda vive mais ou menos pintada; e, feito o último brinde, quebrava a louça do toast, voltando a mesa como quem ergue a tampa de um baú. Pagava generosamente o prejuízo. O seu vinho, além de reduzir os cristais a cacos, não tinha mais funestas consequências. Assim que perfez a idade legal, pediu o seu património paterno à mãe, e foi viajar. Recebeu letras no valor de cento e tantos contos. Conheceu então em Baden-Baden a deslumbrante mulher que chegara da exploração dos lords com um pecúlio que lhe permitiu construir um palácio”, segundo Camilo Castelo Branco. Jorge Forjaz dá uma achega dizendo, “Blanche Lachmann deitou as mãos a Albino Araújo e não passou muito tempo estavam a casar, a 5.6.1851, na Capela dos Irmãos da Doutrina Cristão em Passy, Paris”. E continuando com Camilo: “Casou. Se ela morresse de 72 anos, segundo o cômputo de algumas folhas francesas, teria casado
A polaca, encontrando-se num momento só com o amigo de Paiva Araújo, perguntou-lhe, manejando o face-à-main, e sem desmanchar a linha senhoril, nem apagar o seu ar de romance: - O seu amigo é muito rico?
aos 39 anos com o nosso compatriota. Deveria ser, portanto, extraordinária e bestificadora a formosura de uma mulher que, em tal idade, ainda viçava flores com frescor e perfume, tendo sido tão cheiradas e mexidas! O certo é que ela tinha 25 anos quando casou em segundas núpcias, 46 nas terceiras, e 58 quando morreu no seu palácio de Newdeck, de uma febre cerebral consequente a um reumatismo cardíaco. Depois de ter entesourado no seu largo peito vinte pródigos conhecidos com os patrimónios correspondentes, ainda lhe restava espaço no coração para alojar um reumatismo! Valente e elástico músculo de polaca! Paiva Araújo, casado, visitou Lisboa e a mãe, com a esposa. A polaca no Porto, no topo da fétida rua do Bomjardim, com a nostalgia de Paris!... Certas mulheres que viveram em Paris, nas máximas condições de horizontalidade, só lá podem viver”. Interrompemos a crónica de Camilo Castelo Branco que já vai longa, mas acerca da vida em Portugal desta personagem é quem melhor está documentado. Jorge Forjaz adita, “Ainda estiveram juntos em Lisboa, onde ela teve algumas dúvidas sobre o real fundamento da fortuna dele, já então seriamente abalada. Conta Pinto de Carvalho que estando no Hotel Victor em Sintra <foi ali um amigo do marido visitá-lo. A polaca, encontrando-se num momento só com o amigo de Paiva Araújo, perguntou-lhe, manejando o face-à-main, e sem desmanchar a linha senhoril, nem apagar o seu ar de romance: -O seu amigo é muito rico? O interrogado ficou aturdido com a pergunta à queima-roupa, e hesitante na resposta, até que se atreveu a dizer: -Creio que sim. De Lisboa foram para o Porto, onde se hospedaram em casa da mãe de Paiva Araújo. Aí é que ela teve uma completa desilusão. Era uma casa onde havia boas mobílias, belas louças da Índia e ricas colchas de seda bordadas a ouro, mas onde faltava o dinheiro>”. E concluindo com Camilo Castelo Branco, “A polaca regressou a Paris, e como o seu marido constituía um empacho aos seus embelecos e astúcias, requereu a separação e regressou ao exercício profissional do galanteio>”. Encontramo-nos agora com as personagens principais apresentadas.
19 hoje macau sexta-feira 10.3.2017
em modo de perguntar
Paulo José Miranda
Carla Maciel
“Adoro o que faço. Sou uma privilegiada” “Em relação ao teatro, existem cada vez mais criadores, estão a nascer novas companhias, e os teatros, que têm vindo a criar diferentes dinâmicas para que o público consiga ter opção de escolha do teatro que pretende ver.”
Há vinte anos que vens trabalhando em teatro, cinema e televisão. Imagino que exijam esforços e técnicas diferentes. Podes explicar-nos quais as maiores diferenças que encontras nesses diferentes modos de se ser actriz? E tens alguma preferência por um deles? E a tua preferência foi mudando ao longo dos anos, ou sempre se manteve a mesma? O meu pai era um apaixonado pela música e em criança comecei juntamente com ele a aprender a cantar e tocar guitarra. Durante a infância e a juventude a música e a dança ocupavam a maior parte do meu tempo. Até que aos 17 anos entrei numa escola de teatro no Porto. Tive o privilégio de ter um enorme background do que poderia ser este universo tão fascinante e ao mesmo tempo tão assustador. O teatro apareceu de uma forma espontânea. Não tenho preferências. Adoro o que faço. Sou uma privilegiada . Gosto de fazer de tudo um pouco. Depende muito das fases e do trabalho que aparecer. Até agora tem sido muito equilibrado mas confesso que o cinema tem sido a linguagem que menos tenho trabalhado. Há sempre alguns personagens que marcam mais as actrizes, quais foram os personagens que mais te marcaram até hoje? E por quê? Fiz muitos personagens ao longo da minha carreira. Passei por várias companhias desde o Porto até chegar a Lisboa e tive a sorte de interpretar grandes personagens. Houve uma personagem que dada a exigência de transformação me deu muito gozo fazer, uma velha alentejana (inspirada na minha avó) no Teatro Meridional. O espectáculo chama-se Amanhã, de José Luis Peixoto. Nos últimos anos a Madame Bovary, de Gustave Flaubert, tão inteligentemente encenada pelo Tiago Rodrigues; e Albertine, a partir de Marcel Proust, e tão brilhantemente escrita e encenada pelo Gonçalo Waddington. Em televisão também tive a sorte de fazer bons papéis. De há uns anos a esta parte tens trabalhado com o teu marido, o Gonçalo Waddington, há algumas desvan-
tagens em levarem o trabalho juntos para casa, ou são só vantagens? A minha parceria com o Gonçalo nasceu instintivamente. Conhecemo-nos e ambos tínhamos um percurso artístico e objectivos semelhantes. À medida que fomos crescendo e amadurecendo, fomos conciliando os nossos sonhos sempre com a nossa vida pessoal. Claro que traz desvantagens e riscos, adoramos debater, somos os dois muito activos mas sempre com espírito de equipa, de colectivo, pelo respeito mútuo na discussão das ideias. Juntar o útil ao agradável e porque não? Dois casamentos
“Comecei a ler muito tarde. Sou uma auto didacta. À medida que ia trabalhando com encenadores e colegas, fui escutando e absorvendo informação.”
numa única lógica. Respeito, cumplicidade, e muito amor pelo que fazemos. Uma outra actividade à qual tens emprestado o teu tempo é o da leitura de textos literários. Embora hoje não seja uma actividade exclusiva de actores – há, aliás, cada vez mais não actores a fazerem leituras –, os actores fazem-nos melhor? Comecei a ler muito tarde. Sou uma auto didacta. À medida que ia trabalhando com encenadores e colegas, fui escutando e absorvendo informação. Nomeadamente livros que eram bases importantes para o entendimento do próprio espectáculo. Com os anos comecei a sentir falhas estruturais, senti que precisava de ler os clássicos por exemplo, os filósofos, a poesia e por aí adiante. Qualquer pessoa que lê muito, sabe ler um texto. Claro que os actores têm mais facilidade, talvez pela colocação da voz, alguma interpretação e talvez um maior à vontade. Mas depende dos textos.
Qual achas que está mais pujante hoje, em Portugal, o teatro ou o cinema? Penso que ambos estão pujantes. O cinema tem dado provas que cada vez mais há novos realizadores e de qualidade. Neste momento encontram-se um grande número de curtas e longas metragens fora do país, em festivais, a mostrar que o nosso cinema apesar das dificuldades existentes ainda tem cinema de excelência. Estreou recentemente o filme do Marco Martins, São Jorge, que é a prova disso. Em relação ao teatro, existem cada vez mais criadores, estão a nascer novas companhias, e os teatros, que têm vindo a criar diferentes dinâmicas para que o público consiga ter opção de escolha do teatro que pretende ver, apresentam-nos cada um a sua linguagem, trabalhando cada um deles para públicos diferentes. Considero que estamos no bom caminho. Apesar das dificuldades sentidas temos de ser perseverantes e exigentes continuando a mostrar o quanto a cultura é essencial. Nunca desistir. Que projectos para este ano? Este ano entro como actriz na segunda parte de uma tetralogia escrita e encenada pelo Gonçalo Waddington, O Nosso Desporto Preferido – futuro distante, com estreia em Abril no Teatro Municipal São Luiz. E em Novembro junto-me á actriz Teresa Sobral para criarmos um espectáculo com um texto do Gonçalo M. Tavares que tem estreia prevista para Janeiro de 2018. O ano ainda se preenche com um mestrado de teatro, ser mãe intensivamente, leituras e o que imprevisivelmente aparecer.
20 OPINIÃO
hoje macau sexta-feira 10.3.2017
a canhota
JOHN STURGES, THE GIRL IN WHITE
Terror é dizer que nunca se errou
T
ODOS nós cometemos erros, mas é raro que uma pessoa esteja sempre a errar. O essencial é mesmo admitir um erro quando ele acontece. Desde o princípio da educação que as crianças aprendem quando cometem erros ou quando fazem boas acções. Aprendem a admitir os seus comportamentos, a pedir desculpa e a corrigir más acções. No processo de crescimento podem aprender mais rapidamente através dessas falhas, memorizando os sentimentos que experimentaram ou as consequências do que correu mal, ganhando, por isso, experiência. Quando alguém pede desculpas com sinceridade, os outros conseguem perdoar, mesmo que o comportamento ou a acção não tenham sido os melhores. Acho terrível, no entanto, que na sociedade actual a verdade nem sempre seja uma coisa imediata para quem faz o mal e para quem mente. Muitas vezes, mesmo perante o público, os conflitos tendem a ser cada vez mais polarizados. Passa-se quase o mesmo com todas as denúncias e suspeitas apresentadas pelos doentes nos últimos anos, sobre eventuais erros médicos ou negligências cometidas pelos profissionais dos Serviços de Saúde (SS). Todas foram negadas, foi dito que não foi bem assim, que fizeram tudo o que podiam fazer. Do outro lado há sempre uma versão completamente diferente daquela que os médicos e os serviços públicos de saúde apresentam. Há sempre um desmentido daquilo que os SS afirmam. Em princípio a verdade será sempre uma, mas o público não consegue julgar quem fez mal. Não acredito que os SS e os seus médicos nunca cometeram erros no meio de tantas suspeitas. Pode utilizar-se o argumento de que os familiares e os doentes estão nervosos e que, por esse motivo, culpam apenas os médicos pelos diagnósticos errados. Pode-se sempre pensar como o próprio organismo, cujos responsáveis afirmaram o seguinte: “os diagnósticos podem não corresponder às expectativas criadas pelos
FA SEONG 花想
Falhas na prescrição de medicamentos, falta de inspecção, diagnósticos errados. Mesmo que o organismo negue todas as denúncias, dá que pensar o facto da população de Macau recear ser atendida no serviço público de saúde e alguém se preocupar com o facto de que, um dia, os problemas lhe vão bater à porta doentes originando, eventualmente, insatisfação nos utentes”. Não creio que os cidadãos que apresentam queixas sejam doidos varridos e que estejam a inventar coisas. Acredito que os seus argumentos terão o seu fundamento. Falhas na prescrição de medicamentos, falta de inspecção, diagnósticos errados. Mesmo que o organismo negue todas as denúncias, dá que pensar o facto da população de Macau recear ser atendida no serviço público de saúde e alguém se preocupar com o facto de que, um dia, os problemas lhes vão bater à porta. O pior é que, quando os problemas acontecem, quem lidera os SS acredita piamente nos seus médicos, confiando a cem por cento nas equipas. Parece-me que não há um devido esclarecimento sobre o que de facto aconteceu antes das respostas concedidas às dúvidas apresentadas. No caso da ocorrência de verdadeiros erros médicos, as consequências não serão sentidas apenas pelos doentes mas pode existir perigo para a população de Macau, porque quer dizer que, eventualmente, um erro de um médico poderá receber a conivência do Governo. Tais actos podem continuar a acontecer e o público nunca saberá onde está a verdade. Talvez seja a isto que podemos entender como a “predominância do poder Executivo”.
21 hoje macau sexta-feira 10.3.2017
contramão
ISABEL CASTRO
A história não morde ORLANDO VON EINSIEDEL, THE WHITE HELMETS
isabelcorreiadecastro@gmail.com
N
ÃO quero saber de quem é a culpa. Não me interessa se foram os concessionários que não fizeram o que deviam. Não me interessa se o Governo deixou um ultimato, dois ou três, se avisou ou não. Nem sequer dou qualquer valor ao facto de, em rigor, não estar a ser violada qualquer lei ou regulamento administrativo. Também não importa o argumento da segurança, porque existem sempre opções para que não nos caia o tecto em cima. Não quero saber. Quem destrói tem capacidade para construir, para reconstruir. Quem pode deitar abaixo pode evitar que vá ao chão. Pode segurar, pode manter, pode preservar. Pode dar uma nova vida ou então, apenas e só, pode deixar estar a vida que já existe, mas mais composta e digna. Lai Chi Vun começou a ir abaixo esta semana, apesar de tudo. Aparentemente, quem vive lá não queria que Lai Chi Vun fosse abaixo. Apesar de tudo, os estaleiros começaram a ser destruídos. Entra uma máquina e desaparece tudo. E tudo passa a ser lixo e pó e passado e não interessa, o Governo avisou. Não quero saber de quem é a culpa.
A história é complicada. Por isso, agora, também não interessa. O que me preocupa são os olhos vazios de quem manda deitar abaixo, argumentando que o que vai restar chega para que o pitoresco se mantenha. É a lógica do very typical, indeed, very typical. Lai Chi Vun é um corpo. Vale pelo conjunto que permitiu que ali se criasse uma vida, muitas vidas, uma povoação. Lai Chi Vun tem passado, tem histórias para contar, tem um ambiente que é só dali. Lai Chi Vun deixa de fazer sentido se for apenas uma amostra de Lai Chi Vun. Todos os que deixaram que Lai Chi Vun se degradasse têm culpa, mas eu não quero saber de quem ela é. Prefiro pensar que, há um mês ou dois, ainda se ia a tempo de se pensar de novo. Às tantas ainda se vai a tempo – foram dois estaleiros abaixo, quem destrói pode construir, pode reconstruir o que está em risco de desaparecer.
Os estaleiros deveriam ser mantidos só porque sim, porque são o último lado físico de um passado cada vez mais distante. Lai Chi Vun deveria ter uma nova oportunidade sobretudo porque tem vida ali
O problema é que as reconstruções, em Macau, têm sempre objectivos muito específicos, demasiado economicistas. Reconstrói-se para um museu, refaz-se para chamar gente de fora, põe-se tudo direitinho para ter quilómetros de turistas empacotados, a acotovelarem-se de sacos de bolachas nas mãos. Lai Chi Vun não serve para isso, como não servem os pátios do bazar chinês que são esqueletos com árvores lá dentro. Lai Chi Vun não serve, nem pode servir. Os estaleiros deveriam ser mantidos só porque sim, porque são o último lado físico de um passado cada vez mais distante. Lai Chi Vun deveria ter uma nova oportunidade sobretudo porque tem vida ali. Há gente que dorme naquele sítio, que cria ali os filhos e que deveria ter o direito a continuar a acordar com o som da água na madeira. Numa madeira reconstruída, limpa, segura. Quem pode destruir pode preservar, só porque sim, só porque é importante manter a memória colectiva, sem lojas de tralha inútil disfarçada de produto criativo, sem visitantes com malas cheias de leite em pó para crianças, sem gente a fotografar as casas e as caras e as mãos como se fizéssemos todos parte de um jardim zoológico, very typical, indeed, very typical. Quem pode destruir tem de ter a capacidade de ouvir. Nestes anos que levo e Macau, raras vezes vi a imprensa de língua chinesa tão envolvida na manutenção do passado como agora. A população já percebeu que a história não volta. Resta ao Governo entender que a história não morde. O passado não tem sete cabeças.
OPINIÃO
22 (F)UTILIDADES TEMPO
C H U VA
hoje macau sexta-feira 10.3.2017
?
FRACA
O QUE FAZER ESTA SEMANA Hoje
MIN
17
MAX
22
HUM
75-98%
•
EURO
8.44
BAHT
ROTA DAS LETRAS | PERFORMANCE “HYDRA E ORPHEU” POR DEMO 20h | Edifício Antigo Tribunal
Amanhã
ROTA DAS LETRAS | WORKSHOP “REPORTAGEM DE GUERRA” COM JOSÉ MANUEL ROSENDO 11h | Edifício Antigo Tribunal
O CARTOON STEPH
ROTA DAS LETRAS | SESSÃO “LITERATURA EM CENA: ESCREVER PARA TEATRO” COM LAWRENCE LEI E ABDULAI SILÁ 18h | Edifício Antigo Tribunal ROTA DAS LETRAS | SESSÃO “EUROPA, REFUGIADOS E TERRORISMO ISLÂMICO” COM HENRIQUE RAPOSO E JOSÉ MANUEL ROSENDO 19h | Edifício Antigo Tribunal
ROTA DAS LETRAS | WORKSHOP “DA IDEIA AO CONTO” COM NATÁLIA BORGES POLESSO 11h | Edifício Antigo Tribunal
Cineteatro
C I N E M A
PROBLEMA 194
SOLUÇÃO DO PROBLEMA 193
UM FILME HOJE
SUDOKU
DE
ROTA DAS LETRAS | SESSÃO “NOS BASTIDORES DE UM EVENTO LITERÁRIO” COM SANAZ FOTOUHI, DEUSA D´ÁFRICA, HÉLDER BEJA E PETER GORDON 16h30 | Edifício Antigo Tribunal
Domingo
1.15
MINCHINIZAÇÃO
ROTA DAS LETRAS | SESSÃO “AUTORES E OS SEUS LIVROS” COM BRUNO VIEIRA DO AMARAL E NATÁLIA BORGES POLESSO 18h | Edifício Antigo Tribunal
ROTA DAS LETRAS | PERFORMANCE “HYDRA E ORPHEU” POR DEMO 20h | Casa do Mandarim
YUAN
AQUI HÁ GATO
ROTA DAS LETRAS | SESSÃO “SER NERD É FIXE, HISTÓRIAS PARA MIÚDOS” COM OLIVER PHOMMAVANH 16h30 | Edifício Antigo Tribunal
ROTA DAS LETRAS | SESSÃO “AUTORES E OS SEUS LIVROS” COM MADELEINE THIEN 15h | Edifício Antigo Tribunal
0.22
A busca de pureza, coesão, congruência, é fútil, uma bestialidade doentia típica de tiranetes com bigodes ridículos. Do caos da mescla, na hibridização nasce o génio, o desconforto que nos impele para a superação. Da miscelânea vem a vida, das misturas nasce o amor. O minchi é uma dessas amálgamas, uma mistela crioula servida num prato onde o Oriente e o Ocidente casam em sabores familiares para todos. A mestiçagem gastronómica é a perfeita analogia para culturas em fusão, é amor. Gosto de ver velhos chineses a pedirem bacalhau com grau, a exigirem azeite e vinho branco, a pedirem CRF com o café. Gosto de ver portugueses a perderem-se nos mistérios do Oriente, quero que todos os pontos cardinais se confundam, que os mapas deixem de fazer sentido, que as fronteiras se derretam. Que todas as cores se confundam nesta minchinização, que os continentes se dobrem sobre si próprios e a verve do universo gema de confluência. Quero um mundo alcatifado a minchi, carne picada e batata são armas que podem salvar a humanidade, quero uma linguagem una para todos, que use a música e olhares de compreensão, que se mastigue em comunhão. Estamos todos metidos nisto, juntos, indissociáveis, como uma gigantesca molécula solidária. Somos todos feitos da mesma matéria, dos mesmos átomos gregários que nos soldam uns aos outros. A unidade é apenas aparente, uma armadilha do ego. Portanto, não resistam e brindem comigo à minchinização. Pu Yi
“WILD AT HEART” | DAVID LYNCH | 1990
Nicolas Cage e Laura Dern protagonizam este clássico da psique romântica de David Lynch. Chegou às salas de cinema em 1990, apresentando ao mundo o casal Sailor e Lula, duas alminhas simplórias que têm de lutar contra tudo e contra todos para estarem juntos. Pelo meio dançam heavy metal, entram em assaltos com um asqueroso Willem Dafoe, e passeiam alucinados em alusões ao Feiticeiro de Oz e a Elvis Presley. Um filme eterno, dos melhores da filmografia de David Lynch, com a habitual banda sonora de Angelo Badalamenti. A rever, pelo menos, uma vez por ano. João Luz
KONG: SKULL ISLAND SALA 1
KONG: SKULL ISLAND [C] Filme de: Jordan Vogt-Roberts Com: Tim Hiddleston, Samuel L. Jackson, Brie Larson 14.30, 16.45, 21.30
KONG: SKULL ISLAND [C][3D] Filme de: Jordan Vogt-Roberts Com: Tim Hiddleston, Samuel L. Jackson, Brie Larson 19:15 SALA 2
THE FOUNDER [B] Filme de: John Lee Hancock Com: Linda Cardellini, Michael Keaton,
Patrick Wilson 14.30,16.45, 21.30 SALA 2
LA LA LAND [B] Filme de: Damien Chazelle Com: Ryan Gosling, Emma Stone 19.15 SALA 3
THE GIRL WITH ALL THE GIFTS [C] Filme de: Colm McCarthy Com: Gemma Arterton, Sennia Nanua, Paddy Considine 14.30, 16.30, 19.30, 21.30
www. hojemacau. com.mo
Propriedade Fábrica de Notícias, Lda Director Carlos Morais José Editores Isabel Castro; José C. Mendes Redacção Andreia Sofia Silva; Sofia Margarida Mota Colaboradores António Cabrita; António Falcão; António Graça de Abreu; Gonçalo Lobo Pinheiro; José Drummond; José Simões Morais; Julie O’Yang; Maria João Belchior (Pequim); Michel Reis; Paulo José Miranda; Rui Cascais; Rui Filipe Torres; Sérgio Fonseca Colunistas António Conceição Júnior; André Ritchie; David Chan; Fernando Eloy; Jorge Rodrigues Simão; Leocardo; Paul Chan Wai Chi; Paula Bicho; Rui Flores; Tânia dos Santos Cartoonista Steph Grafismo Paulo Borges, Rómulo Santos Ilustração Rui Rasquinho Agências Lusa; Xinhua Fotografia Hoje Macau; Lusa; GCS; Xinhua Secretária de redacção e Publicidade Madalena da Silva (publicidade@hojemacau.com.mo) Assistente de marketing Vincent Vong Impressão Tipografia Welfare Morada Calçada de Santo Agostinho, n.º 19, Centro Comercial Nam Yue, 6.º andar A, Macau Telefone 28752401 Fax 28752405 e-mail info@hojemacau.com.mo Sítio www.hojemacau.com.mo
23 PERFIL
hoje macau sexta-feira 10.3.2017
MARIA ANA NASCIMENTO, ESTUDANTE DE TRADUÇÃO
M
“Macau é uma cidade sorridente”
ARIA Ana nasceu em Macau e por aqui viveu até fazer um ano. Como é natural, não tinha qualquer recordação da cidade. A imagem que foi construindo era baseada apenas nas estórias que os pais lhe contaram dos seus tempos asiáticos. Quis o destino que, 23 anos depois, a cidade regressasse à sua vida, e ela à cidade. Apesar de ter crescido a meio mundo de distância, assim que chegou a Macau Maria Ana não sentiu a cidade como um sítio estranho, aliás, teve “uma sensação esquisita de familiaridade”. Não vai tão longe ao ponto de assumir o regresso como o retorno a casa, mas reconhece que se sentiu diferente quando, por exemplo, chegou a Pequim. Na capital chinesa, a estudante experienciou um maior choque cultural, uma avolumada diferença. “Macau é uma terra que não me é desconhecida no seu todo”, revela. Depois foi reconhecendo os locais das estórias dos seus pais, e estes sítios sentiu-os como algo familiar. De resto, o maior impacto que teve quando aqui chegou foi apreendido na pele: a humidade. Outro aspecto que a fez sentir-se bem-vinda foi identificar “algumas réstias de
Portugal” pela cidade. Assim como pedaços, obviamente, da China Continental. Neste contexto, Maria Ana considera Macau uma terra “com uma cultura e sociedade muito próprias”. Além disso, a estudante finalista de tradução de chinês acha que “é uma cidade muito amiga, sorridente, que sabe acolher”. Neste aspecto, Maria Ana alerta que é necessário saber morar aqui. Macau é um lugar que não aceita bem quem cá chega com manias de superioridade, quem desvaloriza a cultura do outro, quem não respeita. Mas com o respeito vem a amizade com que a cidade retribui, na opinião da estudante. “Quando andas na rua ouves português, chinês, inglês, cantonês, é uma cidade muito multicultural, em todos os sentidos. Apesar de ser pequena em território, essa multiculturalidade torna Macau muito grande.”
TERRA DE OPORTUNIDADES
Aos 24 anos, Maria Ana gosta de pensar que o seu futuro passará por Macau, até porque é uma terra onde vê oportunidades, em especial na sua área profissional. Em Portugal existem saídas para quem tira tradução de chinês, mas além de não serem satisfatórias,
não são evidentes. “Vejo pelos meus colegas de curso que estão em estágios onde não fazem aquilo que gostam”, conta. Em Macau, Maria Ana sente que “o português e o chinês estão em cooperação e a precisar muito de trabalhar juntos”. Quando se candidatou ao estágio no Instituto Politécnico de Macau, uma das suas grandes motivações foi, precisamente, regressar à terra onde nasceu, “não foi uma decisão muito difícil”. Por cá estagia num laboratório de tradução onde se está a desenvolver um tradutor automático. No seu prato tem, essencialmente, trabalho de revisão, ou seja, avalia se as frases equivalem ao correspondente chinês e se estão bem escritas em português. “Estou a gostar bastante, não só pelo tipo de projecto que é, nem por ser uma oportunidade única, mas também porque nos está a dar uma grande bagagem de vocabulário e gramática em chinês”, conta. No entanto, profissionalmente os horizontes da estudante não se limitam à tradução. Já com outro curso no currículo, Sociologia, Maria Ana tem o sonho de trabalhar nas Nações Unidas. Nesta organização
gostaria de poder desenvolver pesquisa nas áreas do género, com relevo para o papel da mulher na sociedade, ou nas questões ligadas às desigualdades sociais. Outra área que a apaixona é a educação, em particular de crianças que precisam de cuidados especiais. No que toca a sentir falta de casa, de Portugal do seu cantinho nas Caldas da Rainha, Maria Ana não alimenta sentimentalismos ou saudosismo. “Ultrapasso bem as saudades. Não sou uma pessoa que esteja sempre a pensar no fuso horário, nas horas que são em Portugal para conseguir falar com alguém”, diz. Também não é fria ao ponto de dizer que não tem saudades, em especial quando estas apertam durante as datas e as celebrações que normalmente passaria em família. Mas o facto é que, no dia-a-dia, todos têm o seu trabalho, e sabe que não ficaria em casa dos pais para sempre. Quando a saudade aperta, as redes sociais ajudam na ponte com Portugal e aproximam de quem mais gosta. João Luz e Sofia Margarida Mota info@hojemacau.com.mo
National Geographic. Atlantis é só treta insábia
sexta-feira 10.3.2017
Atlântido
FILIPINAS, MALÁSIA E INDONÉSIA JUNTOS CONTRA PIRATARIA
Brincar com o fogo Um dos mísseis lançados por Pyongyang caiu a 200 quilómetros da costa japonesa
O
A
PUB
S Filipinas, a Malásia e a Indonésia vão lançar operações de patrulhamento conjunto contra os piratas que abundam nos mares daquela região, anunciou ontem o Governo filipino, depois de uma onda de ataques, raptos e assassínios por extremistas islâmicos. O Grupo Abu Sayyaf, que afirma lutar ao lado do grupo extremista Estado Islâmico, montou uma rede de raptos para resgate e tem vindo a actuar na região, raptando pescadores e marinheiros em navios de carga, incluindo um idoso alemão, que foi decapitado depois das exigências do resgate não terem sido satisfeitas. O secretário filipino da Defesa, Delfin Lorenzana, anunciou que chegou a acordo com os seus homólogos malaio e indonésio para montarem um dispositivo de segurança permanente que faça o patrulhamento da rota dos navios comerciais. “Vamos inaugurar em Abril ou Maio o patrulhamento dos três países nesta área”, afirmou em conferência de imprensa, citado pela agência France-Presse. Mas “os navios terão que respeitar o corredor estabelecido para que possamos protegê-los”, acrescentou Delfin Lorenzana. A região marítima entre os três países tem-se tornado cada vez mais perigosa nos últimos anos, podendo vir a tornar-se uma situação semelhante à da Somália, se a onda de ataques não for interrompida. Em Fevereiro último, o grupo Abu Sayyaf decapitou Jürgen Kantner, 70 anos, cinco meses depois de o seu iate ter sido encontrado à deriva nos mares a sul das Filipinas, com o corpo da sua companheira, Sabine Merz, que tinha sido morta a tiro. O Abu Sayyaf mantém reféns 31 estrangeiros e filipinos, incluindo seis marinheiros vietnamitas raptados num ataque a um navio de carga no sul das Filipinas no mês passado, de acordo com Lorenzana.
HONG KONG APREENDIDOS SETE QUILOS DE CORNOS DE RINOCERONTE
U
M dos quatro mísseis balísticos que a Coreia do Norte lançou na segunda-feira caiu a cerca de 200 quilómetros da costa do Japão, informou ontem o governo japonês, indicando que a ameaça de Pyongyang está “numa nova fase”. O míssil, que caiu no oceano a cerca de 200 quilómetros a noroeste da península de Noto, poderá ser o míssil lançado pelo exército norte-coreano que até à data caiu mais perto do território do Japão. “Este último lançamento mostra claramente que a ameaça da Coreia do Norte entrou numa nova fase”, disse em conferência de imprensa o ministro porta-voz do Executivo japonês, Yoshihide Suga. Tóquio estima que os quatro mísseis lançados (que se crê serem uma versão dos Scud soviéticos com uma capacidade
Yoshihide Suga
de alcance alargada de cerca de 1.000 quilómetros) caíram num raio entre 200 e 450 quilómetros da península, que se encontra a cerca de 280 da capital japonesa. Três dos mísseis caíram na Zona Económica Especial do Japão, espaço que se estende a cerca de 370 quilómetros desde as costas e sobre o qual o país
“Este último lançamento mostra claramente que a ameaça da Coreia do Norte entrou numa nova fase.” YOSHIHIDE SUGA MINISTRO PORTA-VOZ DO GOVERNO JAPONÊS
ostenta direitos de exploração e gestão de recursos naturais. Pyongyang disse esta semana que se tratou de um ensaio “para alcançar as bases das forças norte-americanas de agressão imperialista no Japão”.
E VÃO DOIS
O lançamento na segunda-feira é o segundo ensaio de mísseis que o regime de Kim Jong-un realiza este ano e desde a chegada da Administração Trump à Casa Branca. A acção surge numa altura de tensão e como resposta às manobras militares anuais que Washington e Seul levam a cabo por estes dias em território sul-coreano e depois do líder norte-coreano ter dito no Ano Novo que o país está a ultimar o desenvolvimento de um míssil intercontinental que lhe permitiria atingir os Estados Unidos.
S serviços aduaneiros de Hong Kong apreenderam na quarta-feira, no Aeroporto Internacional de Hong Kong, sete quilos de cornos de rinoceronte provenientes de Maputo e detiveram um suspeito, noticiou ontem a Agência de Informação de Moçambique (AIM). Citando um comunicado do governo da Região Especial de Hong Kong, a AIM adianta que o produto confiscado está avaliado em cerca de 180 mil dólares de Hong Kong e estava embrulhado em folhas de alumínio, guardado na mala do viajante detido por suspeita de envolvimento no caso. Os serviços aduaneiros de Hong Kong vão entregar o caso ao Departamento da Agricultura, Pescas e Conservação da região, para dar seguimento às investigações, acrescenta a AIM. Cornos de rinocerontes e pontas de marfim provenientes de Moçambique são frequentemente confiscados em aeroportos e portos de países asiáticos, onde são vendidos pela crença das suas propriedades curativas. A procura por cornos de rinoceronte e pontas de marfim é apontada como a principal ameaça à sobrevivência de rinocerontes e elefantes em Moçambique e na vizinha África do Sul, onde a caça furtiva é bastante activa.
XABI ALONSO DIZ ADEUS NO FINAL DA ÉPOCA
O médio espanhol Xabi Alonso, a representar actualmente o Bayern Munique, confirmou esta quinta-feira que vai abandonar a carreira no final da época. «Não foi uma decisão fácil, mas creio que é o momento adequado. Ainda me sinto bem, mas penso que é o momento apropriado», referiu o jogador, de 35 anos, em declarações ao site oficial do Bayern. Da parte do clube falou Karl-Heinz Rummenigge: «Xabi Alonso é um dos grandes do futebol. Ganhou tudo o que se pode ganhar. Além de boa pessoa, é um cavalheiro do futebol.» O médio deu os primeiros passos como profissional na Real Sociedad, mudando-se para o Liverpool em 2004. Após cinco épocas regressou ao seu país para representar o Real Madrid, de onde saiu no Verão de 2014 para o Bayern. Pela selecção espanhola conta 114 jogos, marcando 16 golos.