Hoje Macau 10 JUN 2016 #3589

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DIRECTOR CARLOS MORAIS JOSÉ

hojemacau

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PÁGINA 5

ESCOLA SUSPENSA

Santíssima vergonha SOFIA MOTA

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JURISTA E PROFESSOR

‘‘

EVENTOS

OPINIÃO

Memórias de um povo ENTREVISTA

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A maior ameaça à liberdade de expressão ainda está para vir

A IMPORTÂNCIA DO CINEMA PORTUGUÊS

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PÁGINA 20

ANTÓNIO KATCHI

MARGARIDA MOZ

PAUL CHAN WAI CHI

por António Graça de Abreu SOFIA MOTA

AGÊNCIA COMERCIAL PICO • 28721006

DIÁRIO SECRETO DE PEQUIM

PREVIDÊNCIA

Patrões protegidos

MOP$10

SEXTA-FEIRA 10 DE JUNHO DE 2016 • ANO XV • Nº 3589


2 ENTREVISTA

ANTÓNIO KATCHI

Um Governo que não cumpre a lei e a utiliza a seu bel-prazer, um território que está a perder as suas liberdades e um Direito local cada vez pior. São algumas das opiniões de António Katchi que afirma não ter medo de dizer o que pensa Em 2011 afirmou que Macau caminhava para um sistema anti-democrático. Já atingimos esse ponto? De facto, sempre houve a expectativa que Macau pudesse ser um regime democrático ou, pelo menos, caminhasse para esse lugar. A verdade é que Macau tem apenas um pequeno elemento democrático que é a eleição por sufrágio directo de uma parte dos deputados. Claro, havia a expectativa que essa parte fosse aumentando até que se chegasse à eleição integral da Assembleia Legislativa (AL), por sufrágio directo, e também à eleição do próprio Chefe do Executivo através do mesmo sistema. Ora passaram quase 17 anos sobre a transferência da soberania e não houve nenhum passo nesse sentido. Pelo contrário, houve até um passo atrás com a extinção dos municípios. Que eram eleitos de forma parcial... Sim, havia um órgão que era parcialmente eleito por sufrágio directo e os municípios, os dois, o Leal Senado e o das Ilhas, foram extintos e substituídos pelos Instituto para os Assuntos Cívicos e Municipais (IACM), cujo Conselho de Administração é inteiramente nomeado

“O Executivo tem tratado a lei cada vez pior” pelo Governo. Portanto, não houve a evolução que se espera, mesmo que fosse gradual, para um regime mais democrático. Mas Macau poderia algum dia sê-lo? Não. Não se pode ter essa ilusão, de que em Macau poderia haver um regime plenamente democrático, porque Macau é uma região em que o regime é totalitário. Mesmo que por hipótese a AL e o Chefe do Executivo fossem eleitos por sufrágio universal directo, o facto é que eles estariam sempre subordinados a autoridades políticas nacionais destituídas de democraticidade. Mas há outros sinais... No capítulo dos direitos, liberdades e garantias têm surgido, por vezes, ameaças. Houve uma deterioração daquilo que normalmente se diz o primado da lei, portanto, no comportamento da Administração Pública. Isto é, após a transferência da soberania o Executivo tem tratado a lei cada vez pior. Porque muitas vezes as autoridades administrativas invocam a lei não como um fundamento que, de acordo com a interpretação possa justificar a acção, mas apenas como um pretexto que manifestamente não oferece qualquer justificação para a acção concreta. Por exemplo? Um dos exemplos mais conhecidos é quando se invoca a Lei da Segurança Interna para impedir a entrada em Macau de pessoas que não põe minimamente a segurança interna do território. Pessoas que não estão ligadas a organizações terroristas, nem a qualquer outro tipo de organização criminosa, nem em relação às quais existem menor fundamento para que as mesmas queiram vir aqui causa distúrbio, ou exercer qualquer actividade ilícita. Quando se proíbe a entrada de um jornalista, um advogado, de um professor universitário, de um

deputado, de um sindicalista ou até de uma pessoas que só vem apanhar o avião para qualquer outro lado, como já aconteceu, tudo isto significa que o Governo invoca esta lei, sem especificar o artigo. Mas mesmo que especificasse não existiria a menor relação naquilo que está previsto e aquilo que é o motivo real do qual eles estão a proibir a entradas das pessoas. A proibição do chamado “referendo”, em 2014, avançado pela Associação Novo Macau é outro exemplo de como o Governo usou a lei de forma errada e para seu interesse? Sim. O Governo invocou uma série de argumentou que nada tinham a ver com a situação. Primeiro, aquilo não era um referendo, se não o era e era apenas uma sondagem como é que se pode dizer que aquilo era ilegal pelo facto da constituição chinesa e a Lei Básica não preverem a figura de referendo? Logo aqui já está errado. Depois o Gabinete para a Protecção de Dados Pessoais veio a invocar uma parte do segundo acórdão do Tribunal de Última Instância (TUI), repare, uma parte apenas, a que lhe interessava. Com esta parte pegaram ainda na Lei de Protecção de Dados Pessoais e fizeram uma mixórdia para dizer que os movimentos que organizavam o chamado referendo, estavam a violar a lei.

Sou muito céptico em relação à campanha “Anti-corrupção” da China. Esta campanha não é contra a corrupção, isto é uma purga dentro do partido comunista

SOFIA MOTA

JURISTA E PROFESSOR UNIVERSITÁRIO DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

O Governo usa a lei de forma ilegal, para atingir os seus próprios interesses? Exactamente, neste caso, para interesses do regime chinês. O Governo está agir contra a lei. Neste caso, foi deste o Chefe do Executivo e da Secretária para a Administração e Justiça, que estavam envolvidos neste processo, até à antiga coordenadora do Gabinete para os Dados Pessoais, Sónia Chan, actual Secretária, todos eles, juntamente com a polícia, foram coniventes com esta violação da lei. Violação de direitos fundamentais com a invocação de uma disposição legal, mas que estava a ser manipulada. Assim como estava a ser manipulado o acórdão do TUI. E no futuro? A maior ameaça que as pessoas poderão vir a sofrer na sua liberdade de expressão ainda está para vir. Essa ameaça está contida no documento que o Governo divulgou recentemente sobre a Lei Eleitoral. É uma autêntica lei mordaça. Quais os riscos se esta proposta for aprovada? Se isto vier a ser uma lei obviamente que virá violar de uma forma bruta a liberdade de expressão, em geral, e nomeadamente a liberdade de propaganda política que é uma decorrência da liberdade de expressão. De acordo com a proposta, o que está previsto é que a partir do momento que o Chefe do Executivo fixa a data das eleições e até duas semanas antes do acto eleitoral, ou seja, até ao início do período oficial de campanha eleitoral, ninguém poderá falar publicamente sobre as eleições. Nem as pessoas que se vão apresentar como candidatos se podem assumir como tal, nem as pessoas que pretendem apoiar essa candidatura poderão falar em abono dessa mesma candidatura ou criticar outras, nem nós. Nem jornalistas, nem os residentes, nem os membros das associações, nem

simpatizantes. Ficaremos amordaçados e não poderemos dizer nada. Isto é como uma suspensão da liberdade de expressão. Mas mesmo no período eleitoral há entraves... Sim. Os candidatos só poderão realizar as actividades que tiverem sido previamente indicadas à Comissão Eleitoral. O documento prevê que antes do início da


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Achei chocante os casos de Eric Sautedé e Bill Chou. Foram demonstrativos da tal degradação do ambiente de liberdade que se vive em Macau. Felizmente isso não aconteceu em todas as instituições, não sei de nenhum caso no Instituto Politécnico de Macau (IPM) em que alguém tenha sido perseguido por exprimir as suas opiniões. Espero que assim continue. O que aconteceu na Universidade de Macau (UM) e na Universidade de São José (USJ) foi bastante grave, eu diria até que seria razão suficiente para o Governo demitir o reitor da UM, se outras razões não houvesse, como por exemplo a repressão que foram vítimas alguns estudantes, em 2014, na cerimónia de graduação, que estavam a manifestar o seu apoio ao professor Bill Chou. Portanto, medo não direi que tenha, mas consciência que as pessoas correm alguns riscos, sim, correm. Se algum dia aparecer num canal de televisão chinês a confessar algum crime, com certeza não estarei a falar de minha livre e espontânea vontade.

Acho que o Direito de Macau se não piorou muito foi graças a certas correcções feitas na AL. Isto porque muitas vezes há anteprojectos de propostas de lei horríveis, por exemplo a da Lei Eleitoral

campanha eleitoral os candidatos forneçam à Comissão em causa, uma informação completa sobre todas as actividade de campanha que pretendam realizar e que lhes entreguem todos os materiais de campanha. Isto é claro de um controlo total. E as pessoas só poderão falar em abono ou em critica de algum candidato se se tiverem registado como apoiante. Quem não o fizer não poderá sequer dar

a sua opinião. Isto não é suspender a liberdade de expressão? Sempre se mostrou uma pessoa que aponta do dedo ao que considera errado. Outros docentes universitários sofreram represálias por expressão livremente as suas opiniões. Não tem que o mesmo lhe aconteça? Não tenho medo, mas tenho noção que podem existir consequências.

Rematando: coloca de parte a possibilidade de Macau atingir o sufrágio universal? Acho que pode depender da correlação de forças que se estabeleça em Macau, Hong Kong e na China. Claro que podemos dizer que o regime chinês é muito mais poderoso do que a população de Macau. Isto é, mesmo que Macau lute muito é claro que sabemos que se o regime chinês quiser recusar o sufrágio universal, terá possibilidade de o fazer. Mas é preciso avaliar os custos dessa decisão, porque isso poderá fazer com que a nossa sociedade se torne altamente instável. O regime chinês terá de avaliar os prós e contras, e pensar que apesar de detestar a demoContinua na página seguinte

Antipatia pelo Governo chinês não implica antipatia contra a China PASSANDO à região vizinha, concorda com a separação de alguns jovens democratas da vigília para recordar Tiannamen? De todo, não concordo absolutamente. Isso implica uma ruptura pela luta da democracia em Hong Kong, como além significa uma quebra na solidariedade nacional que seria bom que existisse, pela luta da democracia na China. Seria muito importante que existisse uma unidade entre os activistas que lutam pela democracia, pela liberdade, pelos direitos humanos e pelos direitos laborais na China. Por outro lado, evidentemente que a luta pela chamada independência de Hong Kong é algo que é virtualmente impossível, além de que, no meu ponto de vista, isto é ilegítimo. Hong Kong não é uma nação: é uma parte da China, que foi roubada pelo imperialismo britânico através das guerras do ópio. Portanto, que Hong Kong é território historicamente chinês não suscita qualquer dúvida. Não há fundamento para a exigência da sua independência. Esta divisão do movimento democrático de Hong Kong vem enfraquecer o próprio movimento e vem dar argumentos ao regime chinês para lançar a ideia de separatismo, alegando que as pessoas de Hong Kong não são patriotas, sobretudo os democratas. Mais ainda, esta separação está a dar força à ideia da China que dar a liberdade aos democratas para apresentar candidatos ao Chefe de Executivo, iria colocar em risco a soberania chinesa sobre Hong Kong. Mas há uma atitude de ódio ao regime chinês? Pois, a cúpula dirigente do Partido Comunista tem responsabilidades na crescente antipatia da população de Hong Kong relativamente ao regime chinês. É óbvio que, de um ponto de vista racional, a antipatia ao Governo chinês não deveria

implicar antipatia contra a China. Eu, por exemplo, antipatizo com o regime, mas adoro a China como nação, ao mesmo tempo que odeio o regime. Infelizmente algumas pessoas criam esta aversão à China, não são raros os exemplos de pessoas que se recusam a falar mandarim, alguns nem sequer querem aprender. Há um culto de ódio. É irracional detestar a China porque se detesta o regime. Porque é que isto acontece? Não é só desinformação em Hong Kong, é também a atitude arrogante, prepotente, sobranceira, odiosa do Governo chinês, que não consegue gerar a simpatia a alguém, nem nos dirigentes norte-coreanos. É uma atitude além fronteiras... Sim, não é só com o seu povo, mas também com os países vizinhos. Uma atitude que cada vez mais a deixa isolada, e os países vizinhos, mesmo com regimes semelhantes ao chinês, acabem por cair nos braços do imperialismo americano. É o caso do Vietname, que se tem vindo a aproximar dos Estados Unidos da América que, por exemplo, vai agora comprar armas aos americanos. Porque é que isto acontece? Só por causa dos EUA que querem aumentar a sua presença? Sim, talvez. Mas a outra parte é por culpa da China que se afasta em vez de se aproximar. Em vez de suscitar confiança, tenta mostrar a sua força, ao mesmo tempo que de forma hipócrita diz que ninguém tem nada a temer. Há uma tendência, a nível mundial, para este tipo de regime actualmente? Como por exemplo, a eleição de Rodrigo Duterte, actual presidente das Filipinas. É um facto que quer a recente eleição do Duterte e a possível eleição do Donald Trump (nos EUA), significam vitórias de extrema-direita, como poderá acontecer em França, como esteve prestes a acontecer na Áustria. Claro que isto não é assim em todos os países, mas é um facto que ultimamente tem acontecido. Isto resulta do descontentamento da população em relação a outros candidatos que não fizeram nada, ou quase nada, para melhorar as condições de vida das pessoas. Nas Filipinas o Governo anterior nada fez para resolver problemas estruturais do país. Com a pobreza existe esta possibilidade.


4 ENTREVISTA

Depois da adesão histórica na manifestação de 2014 contra o Regime de Garantias, acha que estamos a perder o ritmo? Isto tem altos e baixos. As pessoas, em geral, mesmo aquelas que gostam de estar em manifestações também não têm disponibilidade para estar de forma constante. Acho que as pessoas do sector público temem participar, principalmente as que estão com vínculos precários. Mas mesmo as que estão no quadro têm medo, nomeadamente por

temerem consequência a nível de classificação de serviço. E esta luta dos jovens pró-democratas, Jason Chao, Scott Chiang? Tenho muita consideração por eles, acho-os bastante dedicados à causa pública, bastante corajosos. Nós bem sabemos que há muitas pessoas com esta idade que preferem estar, com todo o direito, tranquilos na sua vida. Estes novos jovens sacrificam o seu tempo e até a sua liberdade, como foi o caso de Jason Chao, para lutar pelas suas ideias e mudanças que acham que são boas para a sociedade. Posso não concordar com tudo mas acho que, de forma geral, lutam por boas causas, questões de maior liberdade, ambiente, maior participação das pessoas nos assuntos públicos, entre outras. Quando o ex-procurador é acusado de corrupção e detido, o que é que isto releva de Macau? Sou muito céptico em relação à campanha “Anti-

Há pessoas que podem pensar que os assessores jurídicos do Governo são menos bons, ou que não cumprem o seu papel, mas isso não é verdade. Eles muitas vezes tentam fazer o melhor trabalho mas são impedidos. E muitas vezes o que escrevem é posto na gaveta

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SOFIA MOTA

cracia, e a temer, poderá chegar a um ponto em que considere que é melhor ter uma sociedade tranquilizada com um regime político que não lhe agrade, a uma sociedade constantemente agitada, e com prejuízo para a economia local. É possível que venha a existir o sufrágio universal, mas tudo isto depende da luta popular. Sem a mobilização da população em favor de um regime democrático, o regime chinês não o irá fazer.

ANTÓNIO KATCHI

-corrupção” da China. Esta campanha não é contra a corrupção, isto é uma purga dentro do partido comunista. Não estou a dizer que as pessoas que tenham sido apanhadas, não sejam realmente desonestas, e não tenham feito aquilo de que são acusadas. Primeiro, não temos a certeza se estas pessoas fizeram aquilo a que são acusadas; depois, não sabemos quantas pessoas que fizeram coisas destas, ou pior, e que não são apanhadas, nem sequer incomodadas. Por outro lado, nós não podemos esquecer o procedimento que tem sido seguido na China continental. É que não é o Ministério Público (MP) que aparece com uma acusação, começa sempre por um acto da Comissão de Disciplina e Controlo dentro do Partido Comunista, ou seja, podemos crer que o Comité Permanente do Partido Chinês, ou seja, aquele conjunto de sete pessoas que dominam superiormente o partido, dá indicações para investigar ou acusar, eventualmente sem investigação, determinadas pessoas. Só depois é que passa para o MP e depois essas pessoas são levadas para tribunal, e já se sabe que não há garantia de independência dos tribunais na China. E em Macau? Em princípio não será assim, mas não sabemos. Como é que eu posso saber se o Comissariado Contra a Corrupção não se transformou

num braço da cúpula do partido chinês, nesta campanha anti-corrupção? Não estou a dizer que sim, mas também não ficava admirado que assim fosse. Passando para o Direito de Macau. Está a ganhar, ou ganhou, uma identidade própria? Acho que o Direito de Macau se não piorou muito foi graças a certas correcções feitas na AL. Isto porque muitas

A cúpula dirigente do Partido Comunista tem responsabilidades na crescente antipatia da população de Hong Kong relativamente ao regime chinês. É óbvio que, de um ponto de vista racional, a antipatia ao Governo chinês não deveria implicar antipatia contra a China

vezes há anteprojectos de propostas de lei horríveis, por exemplo a da Lei Eleitoral, mas depois, com as consultas públicas, melhoram, mas pouco, e quando chegam à AL ainda estão muito maus. Depois, devido à intervenção de alguns deputados, principalmente os eleitos por sufrágio directo, e dos seus assessores, são melhorados. Mas ainda assim aquém? Sim, mesmo assim aquém. Por que é que este trabalho dos assessores da AL não é feito pelos assessores do Governo? Na AL os deputados, em princípio, deixam falar os assessores jurídicos, porque os deputados não são superiores hierárquicos dos assessores. Portanto, cada deputado não é chefe dos assessores e por isso não têm autoridade para proibir que os mesmos se manifestem, e parto do princípio que até têm interesse em ouvi-los para eles próprios ficarem informados e terem argumentos para discutir com o Governo. Isto é diferente com o que acontece na Administração. Às vezes há pessoas que podem pensar que os assessores jurídicos do Governo são menos bons, ou que não cumprem o seu papel, mas isso não é verdade. Eles muitas vezes tentam fazer o melhor trabalho mas são impedidos. E muitas vezes o que escrevem é posto na gaveta. Filipa Araújo

filipa.araujo@hojemacau.com.mo


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POLÍTICA

Previdência Central PROPOSTA CONTRIBUIÇÃO DE 10% PARA REGIME

De previdente te dói um dente contribuição. Ao fim de dez anos o trabalhador tem direito à totalidade das contribuições do empregador. Estes montantes são geridos por entidades gestoras de fundos de pensões, consoante o grau de risco que o trabalhador quiser assumir. Às contribuições junta-se uma dotação anual do Governo, que já é efectuada desde 2012, e que este ano será de 7.000 patacas. Apesar de ser portável – ou seja, a conta não está dependente de uma relação laboral –, o montante só pode ser levantado após os 65 anos, salvo excepções. Este regime só se aplica aos residentes permanentes de Macau.

GCS

O Conselho Executivo já analisou a proposta de contribuições de 10% para o Regime de Previdência Central não Obrigatório, pagas por patrões e empregados

A

PÓS anos de debate, o Governo de Macau apresentou esta quarta-feira uma proposta para o Regime de Previdência Central não Obrigatório, que fixa as contribuições mensais mínimas de trabalhadores e patrões em 10% do salário, divididas irmãmente. Este segundo nível do regime de segurança social não será obrigatório, pelo menos nos primeiros três anos – ao fim dos quais é feita uma revisão. Mas para encorajar a adesão por parte das empresas, o Governo estabelece benefícios fiscais às entidades empregadoras, definindo que as contribuições são consideradas custos de exploração ou exercício de actividade. Ao contrário do regime de primeiro nível, que é obrigatório, este sistema de pensões fixa contribuições mínimas em igual proporção. No primeiro nível, actualmente, os patrões pagam 30 patacas mensais e os trabalhadores 15 patacas, embora o valor total vá aumentar para 90 patacas mas mantendo a proporção de 1 para 2.

CRÍTICAS E INCAPACIDADE

Chiang Chong Sek, presidente da Federação das Associações dos Operários de Macau (FAOM), referiu ao jornal Ou Mun que não há uma garantia do pagamento das contribuições, pois o sistema continua a não ser obrigatório. O responsável lembra ainda que em Macau a maior parte dos contratos são com prazos inferiores aos previstos no regime de previdência, sobretudo no sector da construção civil. Chiang Chong Sek teme, assim, que haja trabalhadores que nunca recebam as suas contribuições. Ieong Weng Seng, presidente da Associação de Pequenas e Médias Empresas da Restauração de Macau que os negócios de pequena dimensão não vão ter capacidade para contribuir devido à recessão económica . Andreia Sofia Silva (com A.K.) andreiasofiasilva@hojemacau.com.mo

HOTEL ESTORIL SIZA DE FORA, ALEXIS TAM LAMENTA

GARANTIA DE REFORMA

Neste momento, o regime de primeiro nível representa a única garantia de reforma para os residentes de Macau. Com o segundo nível, o Governo espera permitir que a população “prepare em conjunto a vida pós-aposentação”. “Cinco por cento [cada] é o limite mínimo. As duas partes podem acordar em mais”, explicou o porta-voz do Conselho Executivo, Leong Heng Teng, citado pela agência Lusa. “Tomámos com referência os modelos das regiões vizinhas”, justificou o presidente do Fundo de Segurança Social, Iong Kong Io, indicando que, deste modo, se promove a “justiça e igualdade de tratamento para as duas partes”.

VALORES DOS CHEQUES MANTÉM-SE!

O

Conselho Executivo confirmou também o montante da contribuição pecuniária, os cheques anuais que o Governo distribui à população: 9.000 patacas para os residentes permanentes e 5.400 para os não permanentes. Os cheques foram introduzidos em 2008 e foram gradualmente aumentando até 2014, mantendo o mesmo valor desde então. Este ano, a medida vai custar mais de 5,9 mil milhões de patacas aos cofres públicos. Os cheques começam a ser distribuídos em Julho.

Os trabalhadores com vencimentos inferiores ao salário mínimo (6.240 patacas) ficam isentos de contribuir, mas não os seus empregadores. Segundo Leong Heng Teng, 40% das empresas de Macau já ofe-

recem sistemas de pensões privados. Após a aprovação pela Assembleia Legislativa, estes regimes serão articulados, mas caso o regime anterior seja mais favorável ao trabalhador, este não deve ser alterado.

“O empregador não pode baixar o valor contribuído. Se for 8% [do salário], mantém-se 8%”, explicou Iong, indicando que a contribuição do trabalhador, nesses casos, “depende de negociação”, mas nunca poderá ser inferior a 5%. Quem não trabalhe por conta de outrem pode também contribuir com um mínimo de 500 patacas mensais. Caso a relação laboral termine, o trabalhador pode reclamar 30% das contribuições do empregador ao fim de três anos, a que se somam 10% por cada ano completo de

“Já não está disponível para participar no concurso público”. Foi desta forma que o Secretário para os Assuntos Sociais e Cultura, Alexis Tam, confirmou à TDM a total saída de cena de um dos Pritzker portugueses, Álvaro Siza Vieira, do projecto de requalificação do Hotel Estoril. “Eu queria convidá-lo, mas como sabe aqui em Macau, hoje em dia, é tudo uma confusão. Infelizmente, lamento, vou preparar uma carta para agradecer ao senhor Siza Vieira”, disse ainda Alexis Tam, que referira tratar-se de uma “decisão politica”. O arquitecto já tinha referido que aceitava a decisão do Executivo de retirar o convite directo para o projecto e a realização de um concurso público.


6 POLÍTICA

hoje macau sexta-feira 10.6.2016

O Secretário para a Economia e Finanças confirmou que a quebra nas receitas mantém-se igual às expectativas do Executivo

Jogo GOVERNO MANTÉM PREVISÃO DE QUEDA DE 13,35%

Bem te dizia...

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Governo de Macau mantém a previsão de uma queda das receitas do jogo de 13,35% este ano, disse o Secretário para a Economia e Finanças, Lionel Leong. Segundo o Secretário, citado num comunicado oficial, a diminuição das receitas nos primeiros cinco meses do ano corresponde às previsões do Governo. “Lionel Leong acrescentou que o Governo da Região Administrativa Especial de Macau (RAEM) prevê, para 2016, uma receita do jogo de cerca de 200 mil milhões de patacas, menos 13,35% comparado ao ano transacto, e que os dados dos últimos meses correspondem à previsão do Governo”, lê-se. Segundo a mesma nota, Lionel Leong afirmou que “o Governo está atento aos dados do corrente mês”, dado que “de acordo com a experiência, mesmo no período de crescimento, a receita do jogo no mês de Junho foi sempre inferior a mais de mil milhões do que a de Maio”, quando houve já uma quebra de cinco mil milhões. O Chefe do Executivo, Chui Sai On, quando da apresentação do orçamento da região para 2016, em Novembro último, reconhecendo uma postura cautelosa, avançou que o Governo previa que os casinos encerrem o ano com receitas na ordem de 200.000 milhões de patacas, menos 13,3% do que em 2015. Segundo o orçamento deste ano, o Governo de Macau prevê

fechar 2016 com um ‘superavit’ de 18,213 mil milhões de patacas, apesar da diminuição das receitas dos casinos, a que são aplicados impostos directos de 35%. As receitas dos casinos de Macau iniciaram em Junho de 2014 uma curva descendente, depois de anos de crescimento exponencial. No conjunto de 2014 caíram 2,6%, em 2015 diminuíram 34,3% e nos primeiros

cinco meses deste ano desceram mais 11,9% comparando com o período homólogo. Essa prolongada curva descendente, iniciada em Junho de 2014, resulta de um ‘cocktail’ de factores que analistas imputam aos efeitos da campanha anti-corrupção lançada por Pequim, ao golpe de confiança infligido por uma série de desfalques nas salas de jogo

Os analistas dividem-se quanto à possibilidade de Junho vir a marcar o primeiro mês de crescimento das receitas dos casinos ao fim de dois anos de quedas mensais homólogas consecutivas

VIP (de grandes apostadores) e ao abrandamento da segunda economia mundial. A queda das receitas do jogo arrastou o Produto Interno Bruto (PIB) de Macau, que recuou 20,3% em 2015, naquela que foi a sua primeira contracção anual desde 1999, ano da transferência do exercício de soberania de Portugal para a China. Os analistas dividem-se quanto à possibilidade de Junho vir a marcar o primeiro mês de crescimento das receitas dos casinos ao fim de dois anos de quedas mensais homólogas consecutivas. Isto depois de a tendência verificada em Maio – mês em que as receitas dos casinos caíram 9,6% – ter sido mais negativa do que o esperado pelos investidores. LUSA/HM

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AVID Chow, proprietário da Macau Legend, afirmou, depois da assembleia geral da empresa, que as receitas do Jogo, deste semestre, não se mostram fortes para impulsionar o próprio sector. A economia global e do interior da China não está saudável, diz o empresário, indicando que como Macau ainda está em fase de ajustamento económico, depois das últimas quedas, o crescimento da economia

poderá demorar pelo menos mais um ano. Para David Chow a conclusão da Ponte Hong Kong-Zhuhai-Macau, aliada à exploração dos elementos não-Jogo e à possibilidade de turistas poderem viajar directamente para Macau a economia irá crescer consideravelmente. Em relação à reconstrução da Doca dos Pescadores, afectada pelo tempo, David Chow explicou que a obra poderá demorar mais tempo que o

previsto, estando concluída, em principio, entre Agosto e o final de Setembro. O empresário explicou que vai aproveitar este tempo para adicionar mais elementos não relacionados com o Jogo, como por exemplo, a obra já começada do pavilhão dos dinossauros. Serão, diz, introduzidos mais restaurantes e zonas de lazer, como centros comerciais e centro de convenção, que possam estar ligados aos hotéis. A.K./F.A.

HOJE MACAU

DAVID CHOW ACREDITA EM DESENVOLVIMENTO DE ELEMENTOS NÃO-JOGO

Pagar para todos

Deputado pede fiscalização para empresas de seguros

O

deputado Zheng Anting pede que o Governo reforce a fiscalização das empresas que não adquirem seguros de trabalho para os seus funcionários. Na sua interpelação escrita, Zheng Anting alerta para o facto de, em caso de acidente de trabalho, o funcionário não vai conseguir receber a indemnização a que tem direito. O deputado alerta para um aumento ocorrido nos dois anos. Só em 2015 ocorreram mais de 7500 acidentes de trabalho, um aumento de 122 casos face a 2014. Segundo o Regime de Reparação dos Danos Emergentes de Acidentes de Trabalho e Doenças Profissionais, os empregadores têm a obrigação de comprar seguros pelos seus trabalhadores, assegurando que os funcionários são protegidos no trabalho. No entanto, o deputado Zhen Anting recebeu pedidos de ajuda por parte de alguns trabalhadores contratados a prazo para projectos de construção, alertando para o facto dos patrões não terem aumentado o valor do seguro, apesar de ter aumentado o número de trabalhadores. Caso haja acidentes, estes trabalhadores temporários não podem receber a sua indemnização de forma devida. “Os empregadores devem comprar seguros de acidentes de trabalho para os seus funcionários, caso contrário, podem ser multados com o máximo de cinco mil patacas por cada trabalhador. Muitos empregados consideram que o valor da infracção é baixo e o efeito dissuasor não é suficiente, o que faz com que os donos continuem a desafiar a lei e a não compram seguros pelos trabalhadores. Como é que o Governo reforça a fiscalização desta situação?”, questionou. Zheng Anting preocupa-se também com os trabalhadores que sofrem acidentes e que não conseguem pagar as suas despesas, ficando mais desamparados sem uma indemnização. O deputado considera que o Governo deveria dar mais assistência nestes casos. Flora Fong (revisto por A.S.S.) flora.Fong@hojemacau.com.mo

DSF CRIA SERVIÇOS ELECTRÓNICOS AINDA ESTE MÊS

O director dos Serviços de Finanças (DSF), Iong Kong Leong, confirmou que ainda este mês a entidade que lidera irá criar serviços online de consulta de dívidas fiscais e multas por via electrónica. A garantia foi dada no âmbito de um encontro com a Associação dos Trabalhadores da Função Pública (ATFPM). Segundo um comunicado, o encontro serviu para espelhar várias preocupações dos trabalhadores da DSF, em relação à necessidade de desburocratização de alguns serviços e da contratação de mais tradutores.


7 hoje macau sexta-feira 10.6.2016

SOCIEDADE

Ensino CONFIRMADO PEDIDO DE SUSPENSÃO DA ESCOLA DO SANTÍSSIMO ROSÁRIO Dois trabalhadores da construção civil morreram na manhã de ontem. O primeiro operário estava a instalar um elevador provisório, num estaleiro na Areia Preta, recorrendo a um escadote de dois metros. Ao perder o equilíbrio o operário caiu e morreu devido às várias fracturas ósseas por todo o corpo. Quando os bombeiros chegaram ao local o operário já se encontrava sem vida. A segunda morte registada aconteceu num estaleiro em frente à Rua de São Lourenço, tendo sido reportado que o trabalhador perdeu a vida depois de um choque eléctrico enquanto soldava. Também neste caso, quando os bombeiros chegaram o trabalhador já se encontrava sem vida. Os casos já foram reportados para a Direcção dos Serviços para os Assuntos Laborais (DSAL) e os projectos em causa foram suspensos para uma investigação mais profunda. Segundo os dados da DSAL, no ano passado registaram-se 7,517 vítimas dos acidentes de trabalho, mais 122 pessoas do que no ano anterior.

CASAL DETIDO POR LEVAR MENOR A ENVIAR FOTOS DE CARIZ SEXUAL

Duas pessoas foram detidas pela Polícia Judiciária (PJ) por alegadamente terem levado uma jovem de 16 anos, estudante, a enviar-lhes fotos de teor sexual. Segundo o jornal Ou Mun, a vítima conheceu o casal na internet, tendo este prometido trabalho como modelo, com um salário de 13 mil patacas. Para ganhar mais seis mil patacas a estudante teria de enviar algumas fotografias de teor sexual, sendo que a vítima enviou cinco fotos. Em três das fotos a alegada vítima vestia lingerie, mas o casal ameaçou publicar as fotografias caso ela não enviasse mais. O homem, de apelido Hoi e que transporta comida para fora, tem 30 anos, enquanto a namorada, de apelido Hoi, tem 29 anos. Esta admitiu às autoridades que já tinham feito semelhante acto para receber dinheiro.

TNR CROUPIERS QUANDO A NOITE CAI

Alguns professores defenderam, num colóquio de debate sobre o Plano de Desenvolvimento Quinquenal, que deveria ser permitida a contratação de trabalhadores não residentes para o lugar de croupier, mas apenas para o período nocturno. Tal iria “permitir aos pais que trabalham nos casinos ter mais tempos disponíveis para estar com os filhos”, lê-se num comunicado oficial. O debate contou com a organização da deputada nomeada Chan Hong, também presidente da direcção da Associação de Educação de Macau. Em relação aos não residentes, foi feita uma sugestão para que o Governo faça uma “ponderação da possibilidade de permanência em Macau dos finalistas não residentes das instituições de ensino superior público”. Foi ainda pedido para ser dada “atenção à questão de longo tempo de espera para a aprovação do processo de reconstrução das residências escolares”.

Vergonha ao alto

Depois de mentir sobre o método de ensino, a escola Santíssimo Rosário deve suspender a sua actividade. A DSEJ diz que a prioridade é recolocar alunos e professores em novas escolas. O bispo confessa: “estou envegonhado”

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Escola do Santíssimo Rosário, com pelo menos 62 anos de docência no território, vai suspender o seu funcionamento já no próximo ano lectivo. O bispo Stephen Lee diz-se envergonhado depois de tornado público o caso “Método Montessori”, que envolve a instituição num caso de publicidade falsa, para atrair mais alunos. Em reacção a Direcção dos Serviços de Educação e Juventude (DSEJ) confirmou ter recebido o pedido de suspensão e diz-se em fase de avaliação. A notícia foi avançada pela publicação Macau Concealers que explica ainda que nos últimos anos lectivos a instituição tem perdido muitos alunos. Apesar de ainda não estar confirmada a suspensão, a direcção da escola já informou professores, estudantes e os encarregados de educação. Para atrair mais alunos, o jardim de infância da escola em causa, publicitava que aplicava o Método Montessori - que aposta no respeito pelo desenvolvimento natural das habilidades

físicas, sociais e psicológicas da criança, frisando a sua autonomia – nas aulas. Algo que na prática não se verificava. Contudo, a responsável pelo jardim de infância, Ieong Wai Cheng, garantiu que os seus professores têm licenças para aplicar este método pedagógico. Em reacções à comunicação social chinesa, o bispo responsável diz que o caso é “vergonhoso”, sendo por isso a principalmente razão para o pedido de suspensão. TIAGO ALCÂNTARA

DOIS TRABALHADORES DA CONSTRUÇÃO MORRERAM

Na sua publicação, a Macau Concealers acrescentou que a comissão de educação católica da Diocese, criada em Abril e dirigida por Stephen Lee, tem actualmente duas tarefas em mãos: a primeira passa por resolver a questão das propinas do Colégio Diocesano de São José, que pratica preços mais altos do que outras instituições da Diocese; a outra é o pedido da suspensão. Posto isto, a Comissão decidiu avançar com uma proposta caso a suspensão seja aprovada pela DSEJ. O grupo de trabalho sugere que seja criada um conselho de curadores para aferir as finanças, pagamentos de despeças, controlo e gestão dos meios de comunicação sobre o assunto, em qualquer plataforma. Diz a Comissão que este trabalho é necessário para “evitar confusões de possíveis noticias falsas sobre o assunto”. Actualmente, a escola conta com 80 alunos que, conforme se pode ler na publicação, serão distribuídos por outras escolas, também elas da responsabilidade da Diocese. Para os 25 professores contratados ainda não está

definido um destino mas, explica a Comissão, estes profissionais devem integrar na Associação das Escolas Católicas de Macau, para que seja possível a sua recolocação noutras escolas, sendo que existe falta de recursos humanos.

PONTO POR PONTO

Questionada sobre o assunto, a DSEJ indicou que neste momento está a avaliar o pedido de suspensão tendo como prioridade os trabalhos ligados à transferência dos estudantes e professores. A direcção diz que é preciso manter um contacto próximo com a unidade de educação em causa, sublinhando que esta escola deve tratar da suspensão com base na lei vigente. A escola foi criada pelo Padre Joaquim Guerra, da Companhia de Jesus, em 1954. No início começou a funcionar como jardim de infância, expandindo-se para primária e secundária, depois de várias mudanças de localização. Em tempos de muitas inscrições a escola recebia mil alunos por ano lectivo. Tomás Chio (revisto por F.A.) info@hojemacau.com.mo

MAIS DE 200 CÂMARAS EM JULHO

GALGOS EM CONDIÇÕES “REPUGNANTES”

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primeira fase do sistema de videovigilância no território vai começar a entrar em funcionamento já a partir de Julho, confirmou Leong Man Cheong, comandante da Polícia de Segurança Pública (PSP), citado pelo jornal Ou Mun. Em relação às outras três fases de instalação de câmaras, a PSP ainda está a trabalhar nas obras de instalação e pedidos, para tudo seja feito de forma ordenada, disse o responsável. A primeira fase do sistema de videovigilância vai levar à instalação de 219 câmaras nos arredores dos postos transfronteiriços, as quais começam a funcionar em Julho, dez meses após terem sido instaladas. As 263 e 338 câmaras da segunda e terceira fases, respectivamente,

serão instaladas em zonas onde a insegurança é maior, nas principais vias e locais turísticos. Na quarta e última fase serão instaladas 800 câmaras de videovigilância em lugares mais isolados de Macau. Mesmo sem o recurso às câmaras, o comandante da PSP confirmou que houve um aumento de patrulhas em várias áreas. O regime jurídico da videovigilância em espaços públicos entrou em vigor em 2012 mas só agora está a ser plenamente implementado. Todos os dados capturados e questões relativas à instalação são da competência do Gabinete para a Protecção dos Dados Pessoais, para que os dados e imagem dos locais não sejam violados.

A.K. (revisto por A.S.S.)

Greyhound Racing NSW, órgão regulador das corridas de galgos do estado australiano de Nova Gales do Sul, acusou 179 treinadores e donos de cães de violarem as regras da indústria ao alegadamente enviarem, sem autorização, animais para a Macau. Segundo a emissora pública australiana, ABC, as acusações surgem no âmbito de uma investigação, lançada pelo órgão regulador estadual em Dezembro, a exportações de galgos para Macau. A investigação foi motivada após a divulgação de um trabalho do programa televisivo “7.30”, que revelou como centenas de galgos australianos, considerados demasiados lentos para competir, foram exportados para a Ásia, violando as regras das corridas. Lyn White, presidente da associação Animals Australia, alertou que as condições dos galgos em Macau são

“repugnantes”, e disse ao programa, na altura, que a ida para Macau representa “para esses cães uma pena de morte”. O regulador do estado de Nova Gales do Sul baniu a exportação de galgos para Macau em 2013. Se os acusados forem considerados culpados, enfrentam multas, suspensão e possível desqualificação da modalidade desportiva. Organizações de todo o mundo, incluindo a Animals Australia, levam a cabo uma campanha para encerrar a pista de corridas de Macau, a seis meses do fim da concessão. Segundo a associação local de protecção dos animais Anima, centenas de cães são abatidos todos os anos por já não serem considerados rentáveis. Os animais estão frequentemente lesionados, são submetidos a treinos cruéis e acondicionados em espaços sem condições, segundo as associações. LUSA


8 SOCIEDADE

hoje macau sexta-feira 10.6.2016

Estudo da UM sem conclusão

Função Pública MUDARAM AS REGRAS DE RECRUTAMENTO

Papéis e mais papéis

O resultado é vago. Governo faz consulta sobre habitação pública

SAFP vão analisar as competências gerais dos candidatos. Depois haverá outra avaliação por departamentos. Para Coutinho, isto é aumento de burocracia

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OI anunciado esta quarta-feira no Conselho Executivo a proposta que vai alterar a formar como se recruta na Função Pública. Segundo a agência Lusa, a Direcção dos Serviços de Administração e Função Pública (SAFP) vai avaliar as aptidões gerais de cada candidato, podendo, depois, os candidatos aprovados submeter-se a uma segunda etapa, de aferição de “competências funcionais”, efectuada por departamentos

específicos, para vagas existentes no momento. Questionado sobre as novas regras, o deputado e presidente da Associação dos Trabalhadores da Função Pública de Macau (ATFPM), José Pereira Coutinho, falou do aumento de burocracia. “Há que verificar se, em primeiro lugar, há um processo mais célere na contratação dos trabalhadores. No passado, com o recrutamento central organizado pelos SAFP, para contratar um mero condutor, levava cerca

de dois anos e o processo era muito moroso. Agora estão a dividir as coisas para que o recrutamento continue a ser dos SAFP, mas quem vai ver as qualificações das pessoas são os próprios departamentos. Penso que isto é mais burocracia, muita gente a pegar no mesmo processo. Mais valia que o recrutamento fosse entregue directamente aos serviços. É muita burocracia e não vejo que haja um sistema mais justo de contratação e mais célere”, disse ao HM.

Coutinho considera que o recrutamento centralizado “mostrou ser um falhanço”. “Com os SAFP metidos na contratação, quando deveriam estar alheios, vão demorar mais tempo. Se for o próprio departamento a resolver o caso demora menos tempo a contratar uma pessoa”, concluiu. O HM tentou contactar mais dirigentes de associações mas até ao fecho desta edição não foi possível estabelecer contacto. Andreia Sofia Silva

andreia.silva@hojemacau.com.mo

APOMAC

SECRETÁRIO ALEXIS TAM REUNIU COM DIRIGENTES DA APOMAC

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Instituto da Habitação (IH) vai realizar uma consulta pública sobre a criação de uma nova tipologia de habitação pública depois de ter recebido um estudo realizado pela Universidade de Macau (UM). Segundo declarações de Arnaldo Santos, presidente do IH, ao Jornal do Cidadão, o estudo não trouxe nenhuma conclusão para uma nova tipologia. “Os resultados mostraram que parte dos inquiridos concordam com a criação de uma nova tipologia de habitação pública, uns não discordam e outros não têm qualquer ideia sobre isto. O estudo não dá qualquer orientação para o Governo e então vamos precisar de mais sugestões”, explicou o director. O IH está ainda a preparar o documento de consulta pública, tendo Arnaldo Santos garantido que até finais

deste ano será lançado o processo, por forma a recolher opiniões de vários sectores. Dado o início do estudo da UM, o Governo suspendeu o Plano de Aquisição de Imóveis para Habitação por Residentes o ano passado. Raimundo do Rosário, Secretário para as Obras Públicas e Transportes, referiu que era necessário o Governo analisar uma nova tipologia de casas públicas, por forma a facilitar um maior acesso de residentes aos concursos. Raimundo do Rosário confirmou também que a decisão da realização do estudo foi tomada antes de assumir o cargo no Executivo. De referir que um relatório recente do Comissariado de Auditoria fez referência ao excesso de despesas públicas relacionadas com estudos, consultadorias e sondagens que não tiveram nenhum resultado. Tomás Chio (revisto por A.S.S.) info@hojemacau.com.mo

COTAI DESMANTELADO CONTRABANDO DE ALIMENTOS

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• Os problemas sentidos pela população mais idosa e as questões sociais existentes em Macau foram o mote para mais um encontro com o Secretário para os Assuntos Sociais e Cultura, Alexis Tam e os dirigentes da Associação dos Aposentados, Reformados e Pensionistas de Macau (APOMAC). Este foi o primeiro encontro oficial após a reeleição de Francisco Manhão e Jorge Fão para a direcção.

IC PREPARADAS LEIS PARA DIGITALIZAÇÕES E ARQUIVOS

O Governo está a preparar dois projectos de lei que versam sobre as “técnicas normativas da digitalização dos arquivos em papel” e sobre o “mapa de prazos de conservação para os arquivos administrativos comuns”. Os dois diplomas foram discutidos na última reunião do Conselho Geral dos Arquivos, ocorrida na semana passada. O comunicado do IC não faz referência às datas para a apresentação dos diplomas na Assembleia Legislativa.

HOMEM CONDENADO A TRÊS ANOS POR FORÇAR SEXO ORAL

Um homem foi condenado a uma pena de três anos e três meses de prisão por obrigar uma ex-namorada a fazer-lhe sexo oral, tendo também agredido a jovem. O caso remonta a 2004, quando o homem convidou a namorada após o fim da relação para um jantar, tendo cometido o crime nesse mesmo dia.

ORAM descobertos mais de 500 quilos de alimentos provenientes ilegalmente do interior da China. A mercadoria era vendida em diferentes estabelecimentos de praças de alimentos de um resort no Cotai. Segundo o canal chinês da Rádio Macau, os Serviços de Alfândega, junto com o Centro de Segurança Alimentar do Instituto para Assuntos Cívicos e Municipais (IACM), descobriu, depois de uma investigação, 507 quilos de frutas e mais de dois quilos de carne. Os alimentos não receberam autorização de entrada no território mas, ainda assim, entraram de forma ilegal. Em causa estão sete estabelecimentos de comida e ainda algumas

bancas de venda de alguns mercados. Os alimentos foram confiscados pelo IACM, entidade que irá também apresenta uma queixa aos proprietários dos sete restaurantes por incumprimento da Lei de Segurança Alimentar, sendo que um dos estabelecimentos será ainda acusado de infracção à Lei do Comércio Externo. As penas vão do pagamento de uma multa de 50 mil patacas ou, à pena máxima, cinco anos de prisão. Além disso, a Alfândega descobriu ainda que um estabelecimento contratou trabalhadores não residentes de forma ilegal. O caso foi transferido para Direcção dos Serviços para Assuntos Laborais (DSAL). F.F./F.A.


9 SOCIEDADE

hoje macau sexta-feira 10.6.2016

Governo vence Polytec em tribunal no caso Pearl Horizon

TIAGO ALCÂNTARA

sempre os casos em tribunal e nós podemos sujeitar-nos a não receber nada. O que podemos fazer?”, questionou.

PENSADOS MAIS PROTESTOS

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Grupo Polytec perdeu uma das suas muitas batalhas judiciais ao ver recusado pelo Tribunal de Segunda Instância (TSI) o pedido de suspensão da eficácia da declaração de caducidade do terreno onde iria ser construído o edifício Pearl Horizon. Já em Fevereiro o Tribunal Administrativo tinha rejeitado o primeiro pedido da Polytec quanto à possibilidade de se estender o prazo da concessão do terreno por mais cinco anos. Numa conferência de imprensa organizada para reagir ao caso, os proprietários prometeram não baixar os braços. Kou Meng

Pok, presidente da União dos Proprietários do Pearl Horizon, disse ao HM que a Polytec tem mais quatro processos em tribunal e que este é apenas um “pequeno caso”, sendo que a concessão do terreno ainda não está totalmente perdida. O responsável considera “irracional” o facto dos proprietários, que investiram o dinheiro nos imóveis, terem de ir a tribunal para conseguir reaver o terreno, afirmando que o Governo “fugiu à responsabilidade”, por considerar que este é um conflito no sector privado. “Todos os lesados do Pearl Horizon, incluindo eu, estamos muito ansiosos, porque a Polytec perde

A união dos proprietários planeia voltar a manifestar-se junto ao Gabinete de Ligação do Governo Central em Macau. Kou Meng Pok defende que os últimos protestos não alteraram a situação, mas espera que Pequim dê mais atenção ao caso. Kou Meng Pok referiu ainda que há vários proprietários que querem pôr a Polytec em tribunal por considerar que a empresa enganou os proprietários, já que o Governo deixou a construção avançar num terreno cuja concessão ia chegar ao fim, sendo que nada foi explicado a quem investiu. “Já lemos os contratos e não sabemos como podemos acusar a Polytec, e o Governo também não nos deu qualquer apoio jurídico. A Polytec não vai fazer nada até ter mais resultados”, revelou. Os proprietários ainda mantém a esperança de que a Polytec ganhe os restantes processos em tribunal e possa terminar a construção do edifício, na zona da Areia Preta. Flora Fong (revisto por A.S.S.)

flora.fong@hojemacau.com.mo

Muita gente, pouco dinheiro Governo português quer reforçar recursos humanos nos consulados

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Secretário de Estado das Comunidades Portuguesas, José Luís Carneiro, referiu, na sua habitual mensagem por ocasião do 10 de Junho, que o Governo português quer continuar a resolver a falta de recursos humanos nos diversos consulados espalhados pelo mundo, sendo que o consulado em Macau não é excepção. “Outra das preocupações políticas é a reparação gradual das insuficiências mais críticas, designadamente em recursos humanos, da rede consular. O novo Sistema de Gestão

Consular (eSGC) vai permitir uma maior simplificação e modernização dos serviços prestados aos cidadãos portugueses residentes no estrangeiro e um melhor e mais eficiente funcionamento da rede diplomática e consular”, pode ler-se no comunicado. Lembrando que o Instituto Camões tem duas redes de ensino do português no estrangeiro, com existência em 17 países e com mais de 68 mil alunos e 815 professores, José Luís Carneiro destacou ainda o papel do Conselho das Comunidades Portuguesas (CCP). “No pla-

no institucional deve fazer-se especial menção ao CCP e ao seu insubstituível papel de representação e consulta.” No último Congresso do Partido Socialista (PS), Tiago Pereira, coordenador-geral da secção do partido em Macau, pediu o fim do CCP. José Luís Carneiro referiu ainda que os objectivos do Executivo português são a aposta na “promoção da participação eleitoral dos emigrantes através de um trabalho que visa garantir a melhoria dos processos de recenseamento e das condições de exercício do direito de voto”. A.S.S.

Afinal não havia outra CESL-Ásia continua a ser um dos associados do IPOR

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CESL-Ásia mantém-se, afinal, como um dos associados do Instituto Português do Oriente (IPOR). O HM confirmou esta informação junto do próprio director do IPOR, João Laurentino Neves, que referiu que a empresa “se mantém como um dos associados e não formalizou a sua saída”. “Não lhe posso dizer se vai ou não sair, é uma decisão do próprio associado”, disse ainda Laurentino Neves. António Trindade, CEO da CESL-Ásia, referiu não ter informações sobre o assunto. O director do IPOR confirmou que a única saída de facto concretizada foi a do Banco Espírito Santo do Oriente (BESOR, actual Novo Banco Ásia). O HM questionou o IPOR depois de ver que, um ano depois de noticiar a saída destes dois associados, os logótipos das empresas

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GONÇALO LOBO PINHEIRO

A guerra continua

António Trindade

se mantém no website da entidade de ensino do português. Em Maio de 2015 o HM questionou António Trindade sobre o assunto, o qual se justificou com a saída da Somague do quadro accionista da CESL-Ásia. “Tínhamos uma pequena participação no IPOR, que foi correspondendo a uma indicação do então sócio maioritário da CESL-Ásia,

a Somague, a quem tinha sido pedida a participação no IPOR. A CESL-ÁSIA deixou de ter raízes no IPOR em Portugal e o papel no IPOR deixou de fazer sentido”, disse o CEO na altura. João Laurentino Neves não confirmou quando é que o lugar deixado vago pelo antigo BESOR vai ser ocupado. Andreia Sofia Silva

andreia.silva@hojemacau.com.mo


10 CHINA

hoje macau sexta-feira 10.6.2016

Taiwan INVESTIDORES PEDEM AO GOVERNO CONCESSÕES A PEQUIM

Ai o nosso rico dinheirinho... Os investidores de Taiwan com interesses na China querem que a nova presidente, Tsai Ing-wen, recupere o Consenso de 1992 para eliminar obstáculos nas relações com Pequim e permitir-lhes fazer negócios à vontade. Tsai Ing-wen respondeu garantindo que está a fomentar relações “robustas, sustentáveis e previsíveis” com a China

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S investidores taiwaneses na China instaram a nova Presidente de Taiwan, Tsai Ing-wen, a eliminar qualquer tipo de obstáculo nos laços com Pequim e a encarar com seriedade as relações comerciais com a segunda economia mundial. Numa reunião realizada na quarta-feira, o presidente da Associação de Empresas Taiwanesas Investidoras na China, Kuo Shan-hui, pediu ao Governo concessões a Pequim. Kuo pediu que o Governo da Formosa aceite o “Consenso de 1992” – que constituiu a base do intercâmbio entre os dois lados do Estreito durante os mandatos do

Presidente Ma Ying-jeou (20002008) e que foi abandonado por Tsai Ing-wen. “Sem o reconhecimento do Consenso de 1992 haverá grandes obstáculos para qualquer esforço

Vade retro!

Japão protesta aproximação de navio de guerra chinês às Senkaku

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Governo japonês apresentou ontem um protesto formal junto do Executivo de Pequim após a aproximação de uma fragata da marinha chinesa às disputadas ilhas Senkaku, a primeira incursão do tipo. O vice-ministro dos Negócios Estrangeiros nipónico, Akitaka Saiki, convocou o embaixador chinês em Tóquio, Cheng Yonghua, ao qual apresentou o protesto e transmitiu a sua preocupação relativamente à aproximação do navio de águas territoriais que o Japão considera suas, informou a diplomacia japonesa. O diplomata Cheng Yonghua defendeu, por seu lado, que a navegação do barco é totalmente justificável dado que Pequim sustenta que as ilhas Senkaku – chamadas de Diaoyu pela China e administradas de facto por Tóquio – são parte do seu território, explicaram fontes próximas do assunto à agência Kyodo.

em impulsionar novos intercâmbios entre Taiwan e a China”, disse Kuo. Este consenso é a fórmula pela qual ambas as partes aceitam o princípio de que há uma só China, embora o significado desse conceito seja diferente para cada uma delas. O empresário pediu ao Governo para impulsionar a ratificação de um acordo comercial no domínio dos serviços assinado em 2013, mas bloqueado pelo parlamento, e que complete as negociações do acordo de comércio de bens com a China.

“RELAÇÕES ROBUSTAS” A CAMINHO

Tsai, líder do independentista Partido Democrata Progressista (PDP),

O contratorpedeiro japonês Setogiri confirmou que na madrugada de ontem uma fragata da marinha chinesa penetrou em águas contíguas aos ilhotes e permaneceu na zona durante quase três horas sem chegar a entrar em águas que o Japão considera suas. Navios da guarda costeira chinesa navegaram no passado com frequência pela zona, mas esta é a primeira vez que uma incursão envolve um barco militar. O Ministério da Defesa japonês também informou ontem que foi detectada a presença de três navios militares russos numa área contígua às Senkaku precisamente no momento em que o barco chinês navegava na zona. A disputa territorial entre a China e o Japão em torno das Senkaku/ Diaoyu tem décadas, mas agravou-se em Setembro de 2012, depois de Tóquio ter anunciado a compra de três dos cinco ilhotes do pequeno arquipélago, de apenas sete quilómetros quadrados, administrado, de facto, pelo Governo japonês. O arquipélago desabitado, mas potencialmente rico em recursos minerais, fica no Mar da China Oriental, a cerca de 120 milhas náuticas de Taiwan, que também reclama a sua soberania, e a 200 milhas náuticas de Okinawa, no extremo sul do Japão.

bloqueou desde 2013 a ratificação do acordo de serviços com a China e advertiu que não apoiará nenhum acordo com o regime comunista até ser aprovada pelo parlamento uma lei de supervisão dos referidos tratados. Os laços institucionais com a China encontram-se bloqueados desde a ascensão de Tsai, apesar de a nova Presidente ter prometido, no discurso de posse, em Maio, manter o ‘status quo’ nos laços com a China e uma administração não independentista, o que Pequim entende ser insuficiente. Em resposta aos pedidos dos empresários, Tsai disse que o Governo está comprometido em ajudar as empresas taiwanesas na China a enfrentar os desafios

atuais, mas que também promove a transferência das mesmas para Taiwan e a sua expansão no plano da internacionalização. A Presidente de Taiwan acrescentou que está a fomentar relações “robustas, sustentáveis e previsíveis” com a China, procurando a estabilidade e a paz no Estreito.

HÁ MAIS MERCADOS

Taiwan tem vindo a acumular recursos para ajudar os seus empresários a desenvolverem os mercados do sudeste da Ásia e Índia, no que designa de “nova política rumo ao Sul”, a qual não pretende competir com os investimentos da China mas antes complementá-los. Há mais de 70 mil empresas taiwanesas com operações na China, onde a ilha tem investidos 133.700 milhões de dólares, segundo dados do investimento acumulado de 1991 até 2013. O valor pode ser substancialmente maior se forem tidos em conta os investimentos feitos a partir de terceiros países. A China tem pressionado Tsai a aceitar que a ilha é parte do país com medidas como a redução do número de turistas chineses, um eventual bloqueio do envio de estudantes para a ilha, a diminuição das compras de produtos agro-pecuários e um cerco diplomático internacional.

Fichados, gravados, mal pagos Amostras de ADN pedidas para passaportes em Xinjiang

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EQUERENTES de passaporte da região chinesa de Xinjiang, onde vivem minorias muçulmanas, terão de passar a apresentar amostras de ADN para terem o documento, revela o jornal oficial Global Times. Segundo o jornal, há ainda outros requisitos, como a entrega de fotografias tridimensionais ou gravações de voz.

Em algumas zonas de Xinjiang têm aumentado, nos últimos anos, os confrontos entre grupos locais e as forças de segurança chinesas, que já provocaram centenas de mortos. O Governo chinês tem reforçado as medidas de segurança e controlo em Xinjiang nos últimos anos com o argumento de que os confrontos armados e os

atentados na zona são obra de grupos terroristas ligados ao extremismo islâmico internacional. No entanto, esses ataques não costumam ser reivindicados por qualquer organização e grupos no exílio da etnia uigur, uma das principais de Xinjiang, denunciam que Pequim usa a desculpa da segurança para reprimir a cultura e a religião na zona. Uma das zonas onde estão a ser feitas as novas exigências é onde, segundo o Global Times, os pedidos de passaporte pela população para viagens a Hong Kong, Macau e Taiwan aumentaram cinco vezes no ano passado (de 20 mil para 100 mil), tendo as autoridades reconhecido já que querem baixar os números para os níveis de 2014.


11 hoje macau sexta-feira 10.6.2016

HK LANCÔME REABRE LOJAS APÓS PROTESTOS

INFLAÇÃO ATINGE 2%

Protegendo a pele

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empresa de cosméticos Lancôme reabriu ontem as suas lojas em Hong Kong, após ter fechado portas na véspera devido a protestos por a marca ter cancelado um concerto da cantora local, crítica da China, Denise Ho. Segundo o South China Morning Post, Denise Ho instou na sua página no Facebook toda a gente a erguer-se contra o que chamou de “terror branco que se tem vindo a espalhar” pela sociedade e a lutar pela liberdade de expressão. Na terça-feira, a cantora pediu explicações à marca francesa por a Lancôme, que pertence ao grupo L’Orèal, lhe ter cancelado um concerto, alegadamente devido às suas convicções políticas. Na quarta-feira, devido à marcação de protestos, as lojas e pontos de venda da marca estiveram fechados em Hong Kong, assim como os escritórios da L’Orèal. Entretanto, foi lançada uma petição na Internet para apelar ao boicote dos produtos Lancôme. O concerto promocional de Denise Ho, agendado para dia 19, foi cancelado após reacções negativas nas redes sociais da China conti-

nental ao apoio da artista ao Tibete e a movimentos pró-democracia como o Occupy Central (de Hong Kong). Em comunicado, a cantora considerou a situação “extremamente lamentável”, indicando estar a ser castigada por defender os seus direitos e afirmar as suas convicções. No domingo, a Lancôme disse que o evento tinha sido cancelado devido a “possíveis motivos de segurança”. O balcão de venda da marca no maior centro comercial de Times Square, em Hong Kong, foi encerrado, assim como o centro de beleza que a marca possui no mesmo edifício, depois de se saber que tinha sido convocado um protesto nas imediações. O organizadores do protesto, todavia, avisaram que poderão promover outras iniciativas se não houver resposta da marca.

“O objectivo deste protesto é mostrar ao mundo que devemos manter-nos juntos e, através do boicote [aos seus produtos], mostrar à Lancôme e à L’Orèal que não se podem focar apenas no mercado chinês”, afirmou Avery Ng, da Liga dos Sociais-Democratas, um dos 12 grupos que participaram nos protestos na tarde de quarta-feira.

AGITAÇÃO NA REDE

Entretanto, foi também lançada uma petição na internet para apelar ao boicote dos produtos da Lancôme que já reuniu mais de 4.000 assinaturas. A reacção dos internautas chineses surgiu em resposta a uma publicação do jornal de Pequim Global Times, no microblogue Weibo. O jornal questionou o evento, acusando a empresa de cooperar com “veneno de Hong Kong” e “veneno do

CHINA

Tibete”, ou seja, com uma apoiante da autonomia de Hong Kong e do Tibete. Alguns internautas chineses começaram, então, a apelar a um boicote à Lancôme.Após o anúncio do cancelamento do concerto, surgiram novas ameaças de boicote, desta feita do ‘outro lado da barricada’. O Global Times reagiu à notícia, dizendo que a marca francesa revelou “sabedoria” ao cancelar o concerto. Para o jornal, “os motivos são óbvios”: “Aparentemente, a Lancôme tomou mais em consideração os sentimentos do público da China continental, porque a China representa um mercado muito maior do que Hong Kong”. “Como empresa, deve procurar ganhos comerciais, uma sabedoria que deve revelar em situações complexas”, escreveu.

O Índice de Preços no Consumidor da China (IPC), um dos principais indicadores da inflação, subiu 2% em Maio face ao mesmo período do ano passado, anunciou hoje o Gabinete Nacional de Estatísticas (GNE) do país. Já em relação a Abril, o valor traduz um recuo de três décimas. A taxa de inflação é menor do que a prevista pelos especialistas, que estimavam que a subida de preços de Maio manter-se-ia similar aos meses anteriores, na ordem dos 2,3%. Os alimentos foram novamente o principal factor para a alta dos preços no cabaz de produtos básicos, dado que aumentaram 5,9% em termos anuais, uma taxa que, no entanto, foi sensivelmente inferior aos 7,4% de Abril. O Governo chinês fixou como meta para o conjunto do ano uma inflação não superior a 3%. Os economistas esperam que diante da baixa pressão inflacionária Pequim continue a adoptar medidas de estímulo, para fazer face ao abrandamento económico, pelo que se prevê que anuncie, ao longo do ano, pelo menos um corte das taxas de juro.

EXPORTAÇÕES CRESCEM MENOS

O crescimento das exportações chinesas denominadas em yuan desacelerou em Maio para 1,2%, em comparação com o período homólogo de 2015. Em Abril a subida foi de 4,1%, segundo dados alfandegários disponibilizados na quartafeira. As importações, por outro lado, cresceram 5,1%, uma recuperação significativa em relação à queda de 5,7% em Abril, segundo dados da Administração Geral das Alfândegas. O superavit comercial no mês passado atingiu 324,8 mil milhões de yuans, mais que os 298 mil milhões de yuans em Abril. O comércio externo cresceu 2,8% ao ano, para cerca de 2 triliões de yuans em Maio, enquanto o total para os primeiros cinco meses diminuiu 3,2% para aproximadamente 9,2 triliões de yuans, melhor resultado que a queda de 4,8% no período de Janeiro a Abril. Nos primeiros cinco meses, as exportações caíram 1,8% anualmente e as importações diminuíram 5%, levando a um saldo comercial de 1,4 trilião de yuans. O comércio com a União Europeia, o maior parceiro comercial da China, subiu 2% por ano nos primeiros cinco meses.

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Fukushima, meu amor

China expressa preocupações sobre derramamento nuclear

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China está muito preocupada com as consequências do acidente nuclear ocorrido em 2011 em Fukushima e pediu que o governo japonês tome medidas de acompanhamento oportunas, disse a porta-voz do Ministério das Relações Exteriores, Hua Chunying. A China espera que o Japão tome medidas efectivas para proporcionar informações oportunas, completas e precisas à comunidade internacional e proteja o ambiente oceânico, disse Hua em conferência de imprensa. A operadora da central, a Tokyo Electric Power Co., admitiu pela primeira vez na última segunda-feira que a sua insistência em descrever a tragédia como “dano de um reactor nuclear” nos últimos cinco anos havia “escondido a verdade”. O radioquímico marinho Ken Buesseler do Instituto Oceanográfico Woods Hole dos Estados Unidos disse que as consequências

do acidente nuclear de Fukushima foram sem precedentes pois mais de 80% das substâncias radioactivas derramadas escoaram para o mar. A porta-voz chinesa disse que seu país espera que o Japão mantenha um alto sentido de responsabilidade para seu próprio povo, os povos dos países vizinhos e a comunidade internacional, acrescentando que a China deseja se comunicar com as partes envolvidas, incluindo a República da Coreia. A China também pediu que a Agência Internacional da Energia Atómica (AIEA) reforce o monitoramento e a avaliação da água radioactiva, disse Hua. Após um terramoto seguido de tsunami em 2011, o Ministério das Relações Exteriores chinês advertiu sua população que seja prudente sobre viagens às áreas do desastre, segundo a porta-voz, dizendo que a advertência continua vigente.

A SANTA CASA DA MISERICÓRDIA CELEBRA O DIA DE PORTUGAL, DE CAMÕES E DAS COMUNIDADES PORTUGUESAS 10 de Junho de 2016


12 hoje macau sexta-feira 10.6.2016

CALENDÁRIO JOGO DE ABERTURA • Hoje 03:00H (St-Denis) FRANÇA-ROMÉNIA – Grupo A • 11 Junho 21:00H (Lens) ALBÂNIA-SUÍÇA – Grupo A 00:00H (Bordéus) GALES-ESLOVÁQUIA – Grupo B 03:00H (Marselha) INGLATERRA-RÚSSIA – Grupo B • 12 Junho 21:00H (Paris) TURQUIA-CROÁCIA – Grupo D 00:00H (Nice) POLÓNIA-IRLANDA NORTE – Grupo C 03:00H (Lille) ALEMANHA-UCRÂNIA – Grupo C • 13 Junho 21:00H (Toulouse) ESPANHA-REP. CHECA – Grupo D 00:00H (St-Denis) IRLANDA-SUÉCIA – Grupo E 03:00H (Lyon) BÉLGICA-ITÁLIA – Grupo E • 14 Junho 21:00H (Bordéus) ÁUSTRIA-HUNGRIA – Grupo F 03:00H (St-Etienne) PORTUGAL-ISLÂNDIA – Grupo F • 15 Junho 21:00H (Lille) RÚSSIA-ESLOVÁQUIA – Grupo B 00:00H (Paris) ROMÉNIA-SUÍÇA – Grupo A 03:00H (Marselha) FRANÇA-ALBÂNIA – Grupo A • 16 Junho 21:00H (Lens) INGLATERRA-GALES – Grupo B 00:00H (Lyon) UCRÂNIA-IRLANDA NORTE – Grupo C 03:00H (St-Denis) ALEMANHA-POLÓNIA – Grupo C • 17 Junho 21:00H (Toulouse) ITÁLIA-SUÉCIA – Grupo E

00:00H (St-Etienne) REP. CHECA-CROÁCIA – Grupo D

03:00H (Lens) VENCEDOR D-TERCEIRO B/E/F – Jogo 3

03:00H (Nice) ESPANHA-TURQUIA – Grupo D

• 26 Junho 21:00H (Lyon) VENCEDOR A-TERCEIRO C/D/E – Jogo 4

• 18 Junho 21:00H (Bordéus) BÉLGICA-IRLANDA – Grupo E

00:00H (Lille) VENCEDOR C-TERCEIRO A/B/F – Jogo 5

00:00H (Marselha) ISLÂNDIA-HUNGRIA – Grupo F

03:00H (Toulouse) VENCEDOR F-SEGUNDO E – Jogo 6

03:00H (Paris) PORTUGAL-ÁUSTRIA – Grupo F

• 27 Junho 00:00H (St-Denis) VENCEDOR E-SEGUNDO D – Jogo 7

• 19 Junho 03:00H (Lille) SUÍÇA-FRANÇA – Grupo A 03:00H (Lyon) ROMÉNIA-ALBÂNIA – Grupo A

03:00H (Nice) SEGUNDO B-SEGUNDO F – Jogo 8

QUARTOS DE FINAL

• 20 Junho 03:00H (St-Etienne) ESLOVÁQUIA-INGLATERRA – Grupo B

• 30 Junho 03:00H (Marselha) VENCEDOR JOGO 1-VENCEDOR JOGO 3 – QF1

03:00H (Toulouse) RUSSIA-GALES – Grupo B

• 1 Julho 03:00H (Lille) VENCEDOR JOGO 2-VENCEDOR JOGO 6 – QF2

• 21 Junho 00:00H (Paris) IRLANDA NORTE-ALEMANHA – Grupo C 00:00H (Marselha) UCRÂNIA-POLÓNIA – Grupo C 03:00H (Bordéus) CROÁCIA-ESPANHA – Grupo D 03:00H (Lens) REP. CHECA-TURQUIA – Grupo D • 22 Junho 00:00H (Lyon) HUNGRIA-PORTUGAL – Grupo F 00:00H (St-Denis) ISLÂNDIA-ÁUSTRIA – Grupo F 03:00H (Nice) SUÉCIA-BÉLGICA – Grupo E 03:00H (Lille) ITÁLIA-IRLANDA – Grupo E

OITAVOS DE FINAL • 25 Junho 21:00H (St-Etienne) SEGUNDO GRUPO A-SEGUNDO C – Jogo 1 00:00H (Paris) VENCEDOR B-TERCEIRO A/C/D – Jogo 2

• 2 Julho 03:00H (Bordéus) VENCEDOR JOGO 5-VENCEDOR JOGO 7 – QF3 • 3 Julho 03:00H (St-Denis) VENCEDOR JOGO 4-VENCEDOR JOGO 8 – QF4

MEIAS-FINAIS • 6 Julho 03:00H (Lyon) VENCEDOR QF1-VENCEDOR QF2 – SF1 • 7 Julho 03:00H (Marselha) VENCEDOR QF3-VENCEDOR QF4 – SF2

FINAL • 10 Julho 03:00H (St-Denis) VENCEDOR SF1-VENCEDOR SF2

O EURO Chegaram as noitadas, a gritaria, as cervejas e, claro, as justificações para entrar mais tarde no emprego ou as desculpas de mau pagador para os dias que não rendem nada depois das emoções da bola. A partir de hoje vai ser um mês non-stop. Nesta primeira fase, apesar de acontecerem vários jogos a horas “decentes” como meia-noite e até nove, Portugal vai jogar duas vezes às 3 da manhã (Islândia e Áustria) e apenas o último jogo, com a Hungria, acontece à meia-noite do dia 23. O primeiro é já na próxima terça-feira. Uma Islândia geladinha e um pires de tremoços, para a mesa do canto, faz favor


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O OU A VIDA

O CAMPEONATO DA POLÍCIA

N

UNCA uma prova do género terá sido alvo de tamanhas medidas de segurança como este Europeu levando até a que alguns jogadores, como é o caso de Boateng da Alemanha, tenham preferido que a família fique em casa para, como ele disse “poder concentrar-me no jogo sem pensar na segurança deles”. Além das ameaças terroristas – que são “reais”, segundo o presidente François Hollande – as autoridades receiam distúrbios provocados pelas dezenas de milhares de adeptos que vão circular em França durante o Europeu de futebol. Vão sobretudo ser vigiados com particular atenção os chamados hooligans, os adeptos fanáticos, muitos deles conotados com a extrema-direita e o racismo. No total foram enviados para o terreno 90 mil polícias e dez mil militares, que estão já em alerta máximo. A estes juntam-se mais, pelo menos, 3500 agentes

privados de segurança, recentemente contratados para efeito pela organização do Euro2016. Os serviços secretos estão igualmente mobilizados para vigiar movimentações de suspeitos de ligações a movimentos terroristas e o estado de emergência continuará em vigor durante toda a competição e prolongar-se-á até ao fim da volta à França em bicicleta, em Julho. Quer isto dizer que escutas ou prisões de suspeitos podem ser efectuadas sem necessidade de qualquer autorização judicial. Mesmo as “fan-zones” serão controladas como à entrada dos estádios, nomeadamente com inspecção de sacos. O Euro2016 deverá atrair a França cerca de 1,5 milhões de adeptos estrangeiros, segundo cálculos oficiais.

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O CAMPEONATO DO DINHEIRO

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OMADA em Setembro de 2008, a decisão de alargar para 24 o número de selecções finalistas dos Europeus de Futebol ficou a dever-se especialmente ao lucro recorde da edição desse ano na Áustria e Suíça (700 milhões de euros) mais do que a qualquer critério desportivo. Este campeonato

de 2006 vai ser participado por quase meia Europa. Ou seja, das 54 selecções pertencentes à UEFA, 24 vão estar em jogo em França. Alargar os Europeus de 16 para 24 selecções implica mais 20 jogos para vender. Assim, em vez de 31 partidas serão 51 e, mesmo que grande parte dos

jogos sejam entre selecções de segunda e terceira linha, o que conta é o pacote geral pois a UEFA não vende à peça. O montante a distribuir pelas selecções finalistas já foi anunciado e vai ser de 300 milhões de euros.


14 EVENTOS

MARGARIDA MOZ

“Não há festival que não queira ter um filme português” Margarida Moz, antropóloga que viveu a adolescência em Macau, é directora da Portugal Film, a agência “filha” do Indie Lisboa que traz, este fim-de-semana, à Cinemateca Paixão uma mostra do que melhor se faz no cinema Português

Mudou tudo. Já fui dar um passeio e perco-me. Há uma familiaridade que não muda como estes cheiros ou a quantidade de gente. Não é que goste mas não me são estranhos

Uma forma de dar a conhecer o cinema português ao mundo e de trazer o mundo ao que se faz em Portugal? Sim. Nós além de promovermos e levarmos os nosso filmes aos festivais de cinema internacionais temos também dentro do Indie Lisboa a rubrica “Lisbon Sreenings” em que trazemos programadores, indústria e jornalistas estrangeiros. É uma maratona de três dias de projecções com os filmes que achamos mais interessantes. Por exemplo, este ano mostrámos uma curta que não participava no festival por ainda estar em pós produção. Os programadores vêm assim os filmes em Abril que poderão estar prontos atempadamente para a sua programação. Por outro lado os realizadores sabendo de antemão que o filme suscitou interesse tendem a apressar o fim dos memos. No ano passado mostrámos a “Balada de um Batráquio” por exemplo, e o programador de Roterdão ficou logo interessado. Berlim também mostrou interesse e como foi o primeiro a aceitar o filme esteve na Berlinale onde ganhou o Leão de Ouro. A agência tem alguns veteranos do cinema português mas também já apresenta um bom número de jovens cineastas. Apostam efectivamente nos novos talentos portugueses? Não há duvida de que realizadores como Pedro Costa, Manuel de Oliveira, João Botelho, João Nicolau, etc, as pessoas já conhecem. Por outro lado as pessoas têm a ideia feita de que o cinema português é muito pausado e contemplativo. Mas a verdade é que estes jovens realizadores são todos muito diferentes entre eles e chamaram outra vez a atenção para o que se faz em Portugal. Neste momento não há festival nenhum que não queira ter um filme português ou ver alguns. Também temos uma ligação à Escola Superior de Teatro e Cinema de Lisboa onde vamos ver os trabalhos finais dos alunos e em que começamos a ter conhe-

cimento destes novos realizadores. Aliás neste aspecto a Leonor Teles destacou-se de imediato pela forma como fazia os filmes. Vem aí uma lufada de ar fresco no cinema português? Nós vemos muitos filmes e nem sempre há uma identidade nos realizadores. Por vezes vemos filmes muito bem feitos mas que não têm frescura ou ousadia. Falta risco. Depois há aqueles que se destacam. Por vezes são filmes com mais fragilidades a nível de realização mas que já têm a identidade de quem o faz. Têm levado trabalhos a festivais icónicos como Roterdão, Berlim, Clermont-Ferrand. O que se segue? Em Cannes já tivemos este ano dois filmes na semana da crítica. O “Ascensão”, do Pedro Peralta, e o “Campo de Víboras”, da Cristèle Alves Meira. Agora queremos Locarno e Veneza. Quais as maiores dificuldades que têm sentido? Começamos agora a sentir algumas. Por um lado, elevámos a fasquia de tal maneira que todos os realizadores têm uma grande expectativa em relação à agência. É como que se: se nos derem o agenciamento do filme, já é garantia de que vai circular. Por outro, continuamos a ter esta postura que pode parecer arrogante, mas que não o é, em que recusamos muitos dos filmes que nos propõem. Não podemos ter um catálogo com centenas de filmes e desde o início que estabelecemos um limite máximo de curtas e longas a agenciar anualmente. Se queremos acompanhar com proximidade realizadores e filmes, é humanamente impossível ser feito por três pessoas. A Portugal Film funciona comigo e com a Ana Isabel Strindberg a tempo inteiro e o Gonçalo Mata e o Rui Mendes que alternadamente vão fazendo outras coisas como as inscrições etc.

SOFIA MOTA

DIRECTORA DA PORTUGAL FILM

Passou a adolescência em Macau e está de regresso em visita. Reconhece a RAEM? Mudou tudo. Já fui dar um passeio e perco-me. Há uma familiaridade que não muda como estes cheiros ou a quantidade de gente. Não é que goste mas não me são estranhos. Vivi aqui numa idade muito importante, dos 10 aos 18, uma idade muito marcante. O que espera da mostra cá? Começámos a pensar no que trazer ainda no ano passado. A “Balada de um Batráquio” não era para vir mas acabámos por trazer pela premiação em Hong Kong. “Os olhos de André” também estiveram no mesmo festival e também acabou por vir dada a aceitação. Por outro lado, também é um filme que aborda a família que acho que é um tema universal. Aliás vamos ter três filmes que de alguma forma abordam este tema. Ainda temos “A toca do lobo” sobre o avô da Catarina Mourão, o “Gipsofilia” sobre a avó da Margarida Leitão. Eu também sou antropóloga de formação e trabalhei na área da família e do parentesco. São-me temas muito próximos também. Como é que a antropóloga foi parar ao cinema? Casualmente. Sempre estive na área de género, família e sexualidade. Fiz uma tese de mestrado em que trabalhava como voluntária na Associação Gay e Lésbica de Lisboa. A actividade da associação com maior apoio da câmara era o festival de cinema que aliás foi dos primeiro se não o primeiro em Lisboa, o Queer. Curiosamente agora estamos no mesmo edifício. A câmara de Lisboa aluga a preço simbólico vários espaços para a área do cinema e estamos lá todos, o Doc Lisboa, o Indie, a Monstra, a Academia de Cinema, etc. Mas continuo ligada à Antropologia, ainda dou aulas na escola Superior de Enfermagem de Lisboa.

Essa proximidade entre as várias entidades tem sido benéfica? Sim, muito. Se recebemos por exemplo filmes do Indie que não são seleccionados passamos àqueles que achamos mais apropriados.


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EVENTOS

UM RELAÇÕES SINO-EUROPEIAS EM CONFERÊNCIA

O auditório Ho Yin da Universidade de Macau acolhe hoje e amanhã o debate sobre a aproximação entre Centro e Leste da Europa e a China. “Relações contemporâneas entre a China e os Países da Europa Central e Oriental (PECO)” é o nome da série de palestras e conferências que discutem as relações sino-europeias e as políticas de relações estrangeiras chinesas no contexto da crescente colaboração entre as duas partes. Na mesa estão ainda as ambições de “Uma faixa, uma rota” que as inclua e fortaleça. A iniciativa emerge num contexto de estreitamento de relações que se verifica nos últimos anos, refere a organização, sendo que por um lado a China denota um crescimento substancial e por outro os PECO são cada vez mais absorvidos pela Europa Ocidental. Numa colaboração entre a Universidade de Macau e o Instituto de Estudos Europeus de Macau a iniciativa pretende ainda chamar a atenção da RAEM para os assuntos da União Europeia.

MGM DIA DO PAI EM VERSÃO GOURMET E SPA O dia do pai é todos os dias mas a 19 de Junho é celebrado em tom especial pelo MGM Macau num dia de menus especiais com um toque de bem-estar no SPA da casa. O restaurante Imperial Court, o Rossio e o Pastry Bar, cada um na sua especialidade, apresentam cardápios especificamente concebidos para pais e filhos partilharam o dia e a mesa. Por seu lado o Tria Spa, durante todo o mês de Junho tem para oferecer um pacote de rejuvenescimento ao super herói de cada um.

LMA PÉ DE DANÇA EM MODO BAILARICO

Do cinema que se faz em Macau, qual a sua opinião? Conheço muito pouco . Recebemos, há tempos, um filme de cá que esteve praticamente a ser seleccionado. Muito interessante.

Mas era muito longo e não havia na programação espaço suficiente. Depois há o Ivo Ferreira ou a Leonor Noivo que são muito bons. E do que se faz na Ásia?

Aí sim há mais acesso. Os filmes apesar de ainda serem muito locais já têm uma grande representação em festivais europeus. Taiwan, Hong Kong e mesmo Macau ao lado da Coreia do

Sul ou do Japão já têm representações. O cinema asiático já tem uma forte presença nos mercados. Sofia Mota

info@hojemacau.com.mo

Hoje é o dia de Portugal e nada melhor que um baile para fazer parte do repertório de eventos que assinalam a data. “Bailarico no Elemai” é o mote da festa que vai ter lugar hoje a partir das 22h00 no Life Music Association (LMA). Rui Simões, um dos organizadores do evento, diz ao HM que a iniciativa partiu de um grupo de amigos “que acharam engraçado fazer uma festa”. Houve a possibilidade de a fazer no LMA e a ideia avançou. Apesar do nome popular a música que preenche a noite será de “inspiração portuguesa” sendo que estará longe do baile de arraial mas sim entre o pop, o rock “e um som mais alternativo”. A cabine dos Djs vai contar com a presença de Hélder Beja, Hugo Pinto e Rui Simões e o evento conta com entrada é livre.


h ARTES, LETRAS E IDEIAS

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Portugal existe desde o século V

O

remoto nome poético das Curvas (Cale) do Rio ligadas ao porto, de onde provém o Condado Portucalense, criado sem independência em 1097, coloca-nos em questão o existir já no século V, na margem esquerda do Rio Douro, uma vila cujos romanos davam o nome de Cale, sendo esta conhecida desde então pelo nome de Portugal. No actual concelho de Gaia, confrontando com Mafamude e Coimbrões, tem a povoação de Portugal a sua História associada à representação da formação de um território, feito por conquistas, povoamento e conversões. De povoação, a território elasticamente expandido desde o Rio Douro até Coimbra, qual respiração tinha Portugal no Mosteiro de Crestuma o seu centro de poder de condado no início do século X, então integrado no reino de Leão (910-1037). A Galiza estava dividida em diversos condados, sendo um deles o Condado de Portucale, o único situado para Sul do Rio Douro. Pouco mais de um século faltava para como país aparecer Portugal. Aprendemos na escola que a palavra Portugal vem da junção de Porto Cale, de onde foi formado o Condado Portucalense. Para a palavra <porto>, todos sabemos significar local de costa onde as embarcações se abrigam e dá passagem para terra; já para <cale>, o dicionário refere vir do latim canale, que significa rego de água. No entanto, no tempo de Jesus, Estrabão, que percorreu a Península Ibérica nos primeiros anos da era de Cristo, mencionava Cale, assim chamada pela sinuosidade de curva, porque as curvas dos rios costumavam assim chamar-se na linguagem dos lugares. Também por essa altura, segundo Plínio, no século I os túrdulos encontravam-se na cale do Rio Douro e fala deles como estando ainda espalhados por todo o litoral Atlântico, do Douro ao Anas (Guadiana), sendo da sua autoria a estruturação viária pelo litoral, que atravessa o território de Norte a Sul e perdura há dois mil anos. Estrebão refere-se a eles como os túrdulos antigos (turduli veteres), com escrita própria e leis registadas em verso, eram descendentes dos tartéssios.

IMPÉRIO ROMANO NA PENÍNSULA

“Em tempos remotíssimos, o rio Douro, pela sua margem esquerda, limitava a

antiga Lusitânia; e nas eminências presentemente denominadas Serra do Pilar e Castelo, existiram castros em épocas passadas. Com efeito, no antigo monte da Meijoeira - a actual Serra do Pilar - foram achadas moedas gregas do século III a.n.E. e comprovam, que, em tão importante cerro, existiu um castro helénico. Mais a poente, no sítio denominado Castelo, também existiu um Castro, onde, mais tarde, os romanos levantaram uma fortaleza e, consequentemente, fundaram uma povoação a que deram o nome de CALE. Esta povoação foi-se tornando muito florescente, não só por estar próxima à foz dum rio importante, como também pela pequena enseada, que lhe servia de porto. Quando estes povos construíram a estrada de Lisboa para o norte, com

terminus em Braga, o porto de CALE, ficou a constituir o ponto obrigatório da passagem dos viandantes que, do sul, pretendessem seguir para as terras Minho-Galaicas; e aos que, destas, desejavam ir para as terras situadas entre os rios Douro e Tejo. Naqueles tempos, na margem direita, e fronteira a Cale não havia nenhuma povoação, consoante se prova com o Itinerário de Antonino (livro elaborado no século II)”. Estava a Península Ibérica dividida em três províncias separadas: Lusitânia (a Oeste), Baética (a Sul), Tarracones (no Leste e Norte). O actual território de Portugal correspondia a uma boa parte da província romana de Lusitânia, nos territórios entre Douro e Minho e governada desde Eremita Augusta, agora Mérida

A localização desse porto gera assim controvérsia, pois sem haver ainda na margem direita, o que viria a ser a cidade do Porto, pugna a margem esquerda do Rio Douro e próximo da foz, o lado de Gaia, o povoado mais antigo dessas cales, Portugal

em Espanha, e alguns dos territórios da Boetica habitados pelos celtibérios. Os Romanos dominaram a Península Ibérica até ao século V da era cristã, altura da sua decadência, coincidente com a chegada dos Bárbaros a invadir as terras Ocidentais. No século V, o Bispo Idácio de Aquae Flaviae (Chaves) na sua Crónica falava do porto de Calem e dizia que Braga era a cidade mais ao Sul do reino da Galécia, que terminava no Douro. Reino criado no século III, era dividido pelo Rio Minho, tendo a Norte os lucenses e a Sul, os bracarenses. Os restantes dois reinos da Península Ibérica eram a Bética, a Leste do Guadiana (Anas) e a Lusitânia, do Douro ao Guadiana. Da Resenha Histórica de CALE Vila de Portugal e Castelo de Gaia, na separata de Comunidades Portuguesas de 1970, onde não aparece o autor, diz-se, “O mesmo Idacio (c.395-468), quanto à povoação de CALE, mencionou-a, como o Castro chamado Portucale. Pela primeira vez, entre os mais antigos documentos, aparece o nome de Portucale, dado por este cronista, à povoação de Cale. Idacio, que viu Cale, antepôs-lhe, ao designá-la, o substantivo porto, alatinando para portu, bem certamente pelo facto de, naquele tempo, o porto de Cale ser muitíssimo conhecido. Na margem direita e fronteira a Portugal, continuava a ausência de qualquer burgo ou povoação, porquanto, se existisse, não deixaria de ser referida por este cronista, consoante o fez sobre Castrum Novum, que verificou existir no cerro de Penaventosa, do Porto.

VISIGODOS E O REINO DAS ASTÚRIAS

Os visigodos, vindos das margens do Danúbio e do Mar Negro, atravessaram a Europa e chegaram à Península Ibérica em 412. Como tropas federadas ao serviço de Roma vieram para expulsar os alanos, suevos e vândalos, que tinham acabado de ocupar a Península Ibérica. Após dominar toda a Espanha, este povo germânico pela força das armas em 476 tomou Roma, acabando com o Império Romano do Ocidente, tendo promulgado a “Lex Romana Visigo-thorum” em 506. “Em Lugo, no ano de 568, realizou-se um concílio, que


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José Simões morais

determinou quais as igrejas que ficavam a pertencerem à Sé de Coimbra: «a Sé Conimbricense tenha a mesma Coimbra, Eminio, Selio, Roma, Antuana e Portugal – o Castelo antigo dos romanos>, segundo Pinho Leal. Por este documento, comprova-se que a povoação de CALE, ou Portugal, estava sujeita, eclesiasticamente, à Sé de Coimbra, a qual, jamais, superintendeu em igrejas além da margem esquerda do Douro”, Resenha Histórica de CALE. Entre 568 e 586, o rei visigodo Leovigildo expulsou os funcionários imperiais e procurou unificar a Península. Foi o fim do Império Romano na Península Ibérica. Mas no início do século VII, o reino Visigodo (410-711) entrou em crise, com rebeliões a Norte, nas Astúrias e com os bascos, encontrando-se o Sul sob domínio bizantino. Em 711, acabou a guerra civil no reino visigodo, já que, com a chegada à Ibéria do exército muçulmano comandado por Tariq ibn Ziyad, numa só batalha deu-se a decapitação do reino visigodo. Pelágio, um príncipe godo, refugiou-se nas montanhas das Astúrias, e resistindo daí com um grupo de cristãos lutou entre 718 a 725 contra os maometanos. Refere Bernardo Vasconcelos e Sousa: “Tradicionalmente, a vitória dos cristãos sobre os muçulmanos na Batalha de Covadonga, no ano de 722, foi considerada como o início da chamada Reconquista, isto é, do processo militar pelo qual os cristãos recuperaram os territórios ocupados pelos seguidores do Islão. Mas mais do que um decisivo confronto bélico já no contexto de uma <reconquista>, Covadonga foi um recontro entre tropas muçulmanas que haviam penetrado na região montanhosa da Cantábria e uma força constituída por naturais daquela zona que reagiram para defenderem a sua autonomia, sob o comando de Pelágio, um membro da nobreza goda. A apropriação ideológica desta vitória, feita bastante mais tarde pelos clérigos asturianos, acabaria por conferir à batalha a importância de um facto transcendente, associado ao que se considerava ser a missão da monarquia asturiana, de libertação e de salvação de uma Hispânia que tombara perante os inimigos da fé cristã”. E nos três séculos seguintes a progressão dos Cristãos concentrados nas Astúrias reduziu o território dos Mouros, com isto surgiu os reinos de Oviedo, Leão, Galiza e Castela que ocuparam os territórios da antiga Lusitânia.

PORTUGAL NO REINO DAS ASTÚRIAS

O porto de Calem no século V foi referido pelo Bispo Idácio de Aquae

Flaviae (Chaves), que diz ser Braga a cidade mais a Sul do reino da Galécia, que terminava no Douro. Rio, obstáculo de difícil atravessar, era por isso de fronteira. A localização desse porto gera assim controvérsia, pois sem haver ainda na margem direita, o que viria a ser a cidade do Porto, pugna a margem esquerda do Rio Douro e próximo da foz, o lado de Gaia, o povoado mais antigo dessas cales, Portugal. Em 711 o último rei visigodo, Rodrigo (Roderico 710-711), tentou repelir a invasão muçulmana mas foi derrotado. Avançaram estes para Córdoba e Toledo, a capital visigoda, cercaram Mérida, que caiu em Junho de 713 e na Primavera seguinte, um exército muçulmano comandado por Musa ibn Nusair marchou para Saragoça, León e Astorga e dois anos depois caía Évora, Santarém e Coimbra. Em 716, após cinco anos, os muçulmanos tinham conquistado e ocupado toda a Península Ibérica, ficando sob domínio cristão apenas as Astúrias no Nordeste, na região montanhosa da Cantábria. O Reino de Astúrias (718-910) teve como primeiro chefe Pelágio (718-737), um nobre visigodo que em 725 e após a batalha de Covadonga, fundou esse pequeno reino. O terceiro rei das Astúrias, Afonso I (739-759), o Católico, reconquistou terras até ao Douro. Sucedeu-lhe Fruela I (757-768) que valorizou as terras galegas, mas a região para Sul do Rio Minho até ao Douro ficou esquecida e entregue a si própria. De salientar como refere Matoso, “que a expansão asturiana para a Galiza não foi, de modo algum, um movimento pacífico e que os chefes galegos que dominavam a região aceitaram com dificuldade a nova ordem política”. “No século oitavo vieram os árabes dominar uma grande parte da península ibérica; e, da sua permanência nas terras da antiga CALE ou Portugal, há a citar-se os nomes de Mafamude (freguesia), Almeára e Aldariça, povoações das freguesias de Canidelo e Santa Marinha e perto do oceano Atlântico, estabeleceram uma almenára – hoje lugar de Almeára – onde, de noite, acendiam fogueiras para guia das embarcações”, segundo José Matoso. Quanto à povoação Portugal, os maometanos também não substituíram a sua antiga designação, apesar de nela residirem as autoridades que superintendiam no governo das terras sob a sua jurisdição. A vila de Portugal estava separada a Poente da vila de Mafamude e daí pelo monte abaixo, desde o termo Norte de Coimbrões (de fundação anterior à romana) até Gaia. Quanto ao nome de Mafamude é de origem árabe

e supõe-se advir dos finais do século VIII, quando Afonso II realizou “uma expedição que chegou até Lisboa em 798 e acolheu no seu reino o caudilho Mahamud, natural de Mérida, que se tinha revoltado contra o emir. Há quem pense que ele se fixou em Mafamude,” da História de Portugal coordenada por José Matoso. É com o Rei Afonso II (793-842), o Casto, que começou verdadeiramente a luta com o Islão, ocorrendo o assalto a Lisboa com a ajuda dos francos. O reino das Astúrias, com o seu centro político mais importante em Oviedo, valoriza as terras entre Douro e Minho, iniciando os asturianos “a actividade repovoadora na bacia do Douro, então uma espécie de <terra de ninguém> no que respeitava ao controlo por parte de cristãos ou de muçulmanos”, segundo Bernardo Vasconcelos e Sousa. Mas com o Rei Ramiro (842-850) de novo, as terras entre Douro e Minho são esquecidas, ficando entregues aos chefes locais. PUB

Ordonho I (850-866) fez a Galiza prosperar, havendo pela primeira vez uma efectiva incursão ao que virá a ser território português, “durante o qual se repovoou a cidade de Tui, antiga sede episcopal, com jurisdição até ao rio Lima. Aqui, os representantes régios tinham não só de tentar impor a sua autoridade, mas também de reprimir novos ataques normandos, a que acresciam agora, no litoral, os roubos e destruição de piratas sarracenos, mencionados pela primeira vez por esta época”, José Matoso. Segundo Vasconcelos e Sousa, “No reinado de Afonso III (866-910, o Magno), os cristãos chegaram à linha do Rio Douro, sendo um dos mais importantes marcos desse avanço a tomada e o <povoamento> de Portucale, em 868, por Vímara Peres. Com centro em Portucale, junto à foz do Rio Douro, viria a constituir-se, a partir de finais do século IX, uma entidade político-administrativa cuja área se estendeu de sul do Rio Minho até à chamada Terra de Santa Maria, já a Sul do Douro”.


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h Mapa. Ideia - mundo E

TÉREO e vivo - uma questão mais de geometria. Vive aqui. Aqui onde quem, aquilo a não dizer. Aqui onde. E se fôr dentro ou fora, sólido, substancial ou imaterial. Vive. Aqui. Posso dizer. E disse. Um dia que viria. A brincar. Em cada passo que dou e deu. Dentro do espaço que é e foi habitado e passou a ser. Em cada pegada e impressão talvez escondida por aí em cantos que a vassoura do tempo corre. Mas não sabe e não varre. Contida na possibilidade material. Talvez da memória. Sólida. Visível. Talvez da visão imaterial. Vive. Aqui. Aqui onde, pergunto mas sei que aqui é entre camadas. Quem, o quê. De umas para outras e de novo. Camadas de ser. Como vestes de frio e calor. Coladas ao corpo ou em cima da cama. Espalhadas pelo chão. Camadas derramadas da vida e da pressa. Misturadas e. Por momentos. Talvez carinhosas. Esquecidas ou dispensadas na pressa de um minuto a seguir e a voltar atrás. Às mesmas e outras. Num dia bem noutro menos. Gostar e não gostar. Uns dias das pernas curtas, outros das sombras no rosto. Mas isso sou eu. E as roupas que caminham de curtas para largas e de volta a pesadas ou friorentas. Ou leves e florais ou opacas e aprisionantes. Correntes secretas. Ao negro ou a cores. A reserva… E os saltos. Não, os saltos têm que voar. Mais perto do rosto. Para mais perto do rosto. Dos olhos. E de repente lembrei-me daquela sensação de orelhas de elefante. Sim. Como guia. Como gesto, como rédea. Como ternura simétrica. As ternuras são-no raramente. Mas esta. Como os pés. Ponteiros de um relógio. Dez para as duas. Quatro da manhã. Os meus, meia-noite. Mas dez para as duas é uma hora terrível. Noventa quilos de massa visível sem peso, do dia anterior, ou cento e vinte para a frente e para trás. Um limbo. O que interessa é o peso. O peso e voar. E depois voar. Em círculos levemente tontos e aleatórios deixando pedras e grãos de poeira para as margens e retornar ao ar. Territórios. E desses o mais real. Onde se vive. Voar em círculos tentando não entontecer.

Embriagar. Voar fora do etéreo agarrado às coisas como se fosse. Voar sem registo e sem mapa. Âncora a puxar para cima a vertigem invertida. O puro prazer de voar. Como os pássaros ou então os insectos. Nos seus desígnios estranhos, insondáveis. Sim, sem se saber. Mas ainda assim. Não são metáforas, não existem de outra forma. Como dizer? Espirais e hélices que a mente escreve. E descreve, sem outra maneira de dizer. Densas e cheias de forma, sem acção nem tempo verbal. A simetria, ser estranhamente incisiva. E a ideia leve. A geometria. Atirada assim à erosão do elemento aéreo. Depuradamente só. Levemente triste ou justa. Levemente leve e exacta. Essencial. De essência. Ou talvez também de necessidade. O vôo durante. E como a palavra, o que dura. Que o tempo, o tempo não existe em estado puro. Estratégia, alvo, decisão. Golpe. Nada disso é o tempo bom. Só de asa. Numa aragem imprevisível. O que deixa simplesmente viver. Dizia, voar. Ideia nem sempre sonho. Nem sempre. Talvez porta. Janela-mundo. Talvez palavra. Aquela palavra. A palavra talvez. Aquela.Talvez sonho. Sonho, talvez. A lembrar Henry James. Aquela novela e há muito tempo… num arrepio de frio súbito. A esquecer de novo. Voar. Portanto. Voar numa ideia que vive aqui. Imprecisa, indefinida, cuidadosa. Voar na ideia em que vive aqui. Em que vivo aqui. Voar na ideia de quem de quê não dizer. Mas que vive. Vive aqui. Aqui onde quem não vou dizer. E eu. Também. E se sem querer não quereria. Querendo, quero. Às vezes o que é e a complexidade da vida, resume-se a quinze centímetros de distância, ou mesmo cinco ou dez centímetros de letras enfileiradas, com laços que as enlaçam e tornam para sempre – palavras para sempre. Que existem e formulam destino para sempre. Ou não. Mas que existem em si para sempre. No tempo ou no lugar certo ou errado. E entre a indefinição, a indecisão e o medo, e a generosidade

o risco. O erro. A dúvida de dois caminhos. Uma emoção forte. Um receio, uma fragilidade súbita. A diferença entre ser e não ser de um gesto definitivo. Como qualquer gesto que inflecte num sentido qualquer e tudo o que não foi passa a não ter sido nunca nem sabido. O que nunca foi. Aquela fotografia de muitos anos para sempre ali solta no álbum. Desde o dia em que lhe vi o outro lado. Um mistério que o rosto da frente não explica. Nunca mais vai poder explicar. Às vezes aqui, sobre a mesa. O verso, na verdade. Um esboço de dedicatória nunca terminada. E o que falta saber, a quem. E ter sido entregue. E não foi. Ou foi mas inacabada, desnecessária. Ou esquecida. Ou um gesto arrependido de o ser. Uma ideia que ficou suspensa para sempre. Misteriosamente inacabada e inconsequente. Uma carta de nada. Uma ideia quase. Que alguém não viu viver. Perdida no tempo de que já não há a memória, a possibilidade da avalanche de uma memória que volta. Que não tem onde voltar. Ou de onde voltar. Não há aquela caneta de tinta azul, nem a mão. E contudo, a ser acabada aquela frase, muito seria nada e sem vestígios de possibilidade de nada. Perante isso o que me existe é tudo. Ou o que era para ser. No quadro pintado de um destino, como em tinta invisível. Uma montanha com as suas vertentes, o pulo e o passo, um cristal com os seus ângulos, as fracturas preferenciais, a refracção a dissecar a luz, uma moeda com as suas faces. Jano. Etérea, indefinida. Em descontinuidade. Uma ideia. Há uma imagem temível. Um rio. E um obstáculo que lhe modela uma curva. Um meandro. E a erosão própria na zona de embate do caudal. E a acumulação de detritos do lado oposto. A modelar as margens. E a curva a apertar. Até que dois pontos se toquem. O início e o fim. E um dia, um caudal reforçado em fúria num inverno mais forte, ou distraidamente, esquece a curva e salta em frente. Para sempre. E da curva resta uma lua de água, uma forma de ferradura, um braço morto, isolada do rio para sempre. A vê-lo passar. A pensar que “curva de rio” é sinónimo em gíria do Brasil,


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ANABELA CANAS

de tudo e de nada

Uma angústia imprecisa, com outro nome. De forma desenhada. E de ideias gente sem matéria a que se prender. Aqui, pela casa. Em mim. O corpo da ideia. Olho de relance sempre. Um rasgo de olhar, só, para ver de novo. Talvez eu tenha visto a fera. Mas a fera não me viu a mim de pessoa difícil, obstáculo. Bar mal frequentado. Problema. Ideia difícil, talvez. Dou passos no centro de outras e aquela, sempre. Também. Como uma cor de luz que embrulha tudo o resto. E há a habituação do olhar. Que a anula por vezes. E as coisas tornam à sua cor própria como se afinal existisse intrínseca à matéria. Por detrás daquela luz que tudo modela a si. Olho em volta e é a casa. Por todos os lados menos um. E também por aí. E por toda a casa. A casa que habito e

é uma segunda pele debaixo da roupa. Do frio, do calor. Do desconsolo de ser assim, só. Olho e há uma luz quente, já. Para além do corpo e para além da casa, da cidade. Andando para trás, também da roupa, do corpo, ou mais aquém ainda. E é aí que vive. Para dentro de todas as casas, as roupas e todas as camadas de sentir de ser, de sentir e de querer. É aí. Que vive. Dorme. Acorda. Rapidamente se instala no dia novo. Às vezes com as roupas da véspera. Mais enxovalhadas de uma noite a pairar mais ou menos densa. Ou inexistente e ponte

rápida entre uma e outro. Dia, momento. De acordar. Com tudo à beira da cama ou o rosto na almofada. Distante acordar. Muito perto de ser longe nos meus sapatos à beira da cama. E depois volta de rosto fresco e de ponto em branco. Conheço o que vive comigo. Todos os dias. Que me tira o sono e me faz suar palavras pela noite fora. Que esqueço pela manhã. Aquelas. Mas sei que as conheço e voltam com máscaras diferentes mas as mesmas. Vozes. Conheço as minhas. Estranha forma de vida - adoro Amália - de sensações feitas e relembradas, desatadas do corpo, memória, inquietação, anseio, desejo. Uma angústia imprecisa, com outro nome. De forma desenhada. E de ideias gente sem matéria a que se prender. Aqui, pela casa. Em mim. O corpo da ideia. Olho de relance sempre. Um rasgo de olhar, só, para ver de novo. Talvez eu tenha visto a fera. Mas a fera não me viu a mim.

Anabela Canas


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h

PEQUIM, 8 de Setembro de 1977 Alegria, emoção ao chegar à China. O aeroporto pequeno numa manhã de sol, o grande retrato de Mao Zedong, a garganta presa. O acolhimento afectuoso, fraterno dos camaradas chineses, futuros companheiros de trabalho. O primeiro contacto com Pequim. Camponeses, carroças, casas pobres. As árvores bordejando a estrada, a vegetação repousante, as gentes que não conheço. A primeira decepção, a habitação que me destinaram, um apartamento feio, esquisito, mal mobilado. Vai ser preciso mudar esta casa. Estranha sensação do estranho. A primeira saída até ao centro da cidade. Pequim plana, avenidas largas, milhares e milhares de bicicletas, poucos automóveis sempre a buzinar. Trânsito desorganizado mas que funciona, reina uma grande ordem nesta desordem. Ainda hortas e terras cultivadas, os campos entram por dentro da cidade. Sempre muita gente. Transparece uma ideia de pobreza, não de miséria. A Praça Tian’anmen, a da Paz Celestial, enorme, vazia, majestosa. Amanhã faz um ano que morreu Mao Zedong. Cortejos com milhares de pessoas vêm depositar coroas de flores de papel nas tribunas da Praça, junto ao monumento dos Mártires da Revolução porque haverá cerimónias oficiais comemorativas do primeiro aniversário da morte de Mao. Ao fim da tarde, ainda uma visita e algumas compras na Loja da Amizade. Creio ser um dos grandes arma-

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diário (secreto) de pequim (1977-1983)

zéns de Pequim, destina-se a estrangeiros e tem montanhas de coisas bonitas e baratas. Ao jantar, neste hotel que tal como a loja também se chama “da Amizade” e é uma Babilónia de línguas e gentes de todo o mundo, conversa com um velho casal brasileiro, a Raquel Cossoy e o Amarílio Vasconcelos, já com muitos anos de Pequim, e outro casal colombiano, todos refugiados políticos. Cansaço, um dia pleno. PEQUIM, 9 de Setembro de 1977 Edições de Pequim em Línguas Estrangeiras, agora o meu local de trabalho. Um edifício pesado, tipo caixote com seis andares, espartano, uma espécie de convento marxista-leninista-maoísta. Mas funcional. Os companheiros de trabalho que vão fazer as traduções que depois corrigirei e a quem vou ensinar mais português, todos risonhos, simpáticos falando razoavelmente a língua de Camões. A camarada Bai Yuhua e o camarada Fu Ligang, dois dos mais competentes tradutores, estudaram português em Macau. Na cave das Edições, cerimónia fúnebre muito simples em honra de Mao Zedong. Tudo a preto e branco, as cores do luto, mas com aparência de missa comunista. O retrato do revolucionário, as pessoas a curvarem-se diante da figura do falecido timoneiro, muitas coroas de flores de papel, dois discursos longos de que não entendi uma palavra. De tarde, visita ao Palácio de Verão. Um estupendo conjunto de construções no estilo tradicional chinês, não muito antigo -- parece que é tudo dos séculos XVIII e sobretudo XIX – junto a um belo lago, com pavilhões, torreões, pagodes e, ao fundo, as montanhas a oeste da cidade.

Hei-de voltar muitas vezes ao Palácio de Verão, não fica longe do Hotel da Amizade, talvez uns cinco quilómetros, e hoje vi apenas de relance, com os olhos. Eu quero conhecer, quero começar a meter a China dentro de mim. PEQUIM, 14 de Setembro de 1977 O presidente Mao Zedong repousa no mausoléu que acabou de ser inaugurado, a sul da praça Tiananmen. Fui ver o corpo do defunto que mais contribuiu para mudar a face da China. Grupos compactos de pessoas organizadas por entidades de trabalho, filas silenciosas de soldados, os rostos parados, compungidos, aguardavam a vez de entrar na construção de mármore, rectangular, nem bonita, nem feia onde jaz Mao. Juntei-me à fila ininterrupta que avançava num lento ritmo fúnebre. Lá dentro, na vasta antecâmara, uma grande estátua também de mármore de Mao Zedong, sentado, branco, irradiando a altivez e segurança do melhor período da sua vida. Logo depois o salão com o sarcófago de cristal e Mao coberto pela bandeira comunista, e ele, velho, encarquilhado, uma cara que parece de cera. À minha frente, o peruano Guillermo Delly que pertence a uns estranhos grupos maoístas lá da sua pátria, agora também acabado de chegar à China e que trabalha comigo nas Edições de Pequim -ele no semanário Beijing Zhoubao北京周报, o que

dá Pekin Informe na língua de Cervantes --, pois o Guillermo levantou o braço e, de punho fechado, saudou Mao Zedong. Em 1970, já no ocaso dos dias mas ainda todo-poderoso, o grande líder confessou numa entrevista a Edgar Snow que entre as multidões imensas que gritavam Mao Zhuqi Wansui! 毛主席万岁ou seja “Viva o Presidente Mao”, um terço das pessoas eram sinceras, outro terço fazia o que via os outros fazer e o último terço era hipócrita. Em qual destes grupos entrará Guillermo Delly? E eu, que não fui capaz de erguer o punho, nem nunca gritei “Viva o Presidente Mao”?

DAZHAI, 16 de Setembro de 1977 A primeira viagem pelos atalhos imensos deste antiquíssimo Império do Meio, rumo a Dazhai1 大寨 , a aldeia modelo da agricultura chinesa encravada nas montanhas da província de Shanxi, a uns mil e tal quilómetros de Pequim. Ontem à noite, a estação ferroviária da cidade. Gente por todo o lado, acocorada, dormitando no chão, correndo para os comboios com a filharada às costas, carregando quanta cangalhada pode. Estes chineses vêm a Pequim e aqui compram tudo o que não existe nas suas aldeias, perdidas no mundo. Carregam volumes descomunais, com os objectos mais inesperados e espalhafatosos que enchem tudo quanto é saco ou oscilam na extremidade de varas de bambus num equilíbrio certo sobre ombros calejados.

António Graça de Abreu

O comboio pintado de verde-escuro com uma tira amarela, sólido, confortável, pelo menos para mim e para mais uns tantos privilegiados. A viagem foi paga pelas Edições de Pequim a meia dúzia de estrangeiros que lá trabalham. Eu sou um deles e tenho direito a ruanwoche 軟臥車, ou seja as couchettes “carruagem cama fofa”. Aprendi hoje que existem mais três tipos de carruagens, a yingwoche 硬臥車, ou seja, “carruagem cama dura” com sessenta beliches separados por tabiques, mais o “banco fofo”, almofadado e o “banco duro”, de pau, onde viaja a maioria dos chineses. Com o comboio em andamento, passei de carruagem para carruagem, para comprovar como se viaja de comboio na China. A minha carruagem tem apenas trinta e seis lugares distribuídos por doze compartimentos. As camas estão limpas, há toalhas, um candeeiro com abat-jour, sempre uma grande garrafa-termos com água quente e chá. E música chinesa. Por companheiro – somos apenas dois no compartimento – tenho um sudanês enorme, perto de dois metros de altura, de nome Ahmed Kehir, com feições de quase branco e pele negra. Pertence ao Partido Comunista do Sudão, vive exilado na China há doze anos, disseram-me ser um intelectual e poeta, trabalha na Beijing Zhoubao, edição em árabe e deve o bom tratamento ao facto de, há não sei quantos anos atrás, ter aparecido numa fotografia, divulgada por toda a China, ao lado de Mao Zedong, numa pretensa amena conversa com o grande timoneiro. O comboio partiu rigorosamente à hora marcada, deslizando nos carris com uma suavidade impressionante. A carruagem tem os interiores em madeira,

é clara e bonita. Num dos extremos funciona um fogão a carvão de pedra, para aquecer água. A conversa, em mau inglês, com o sudanês. A situação política em Portugal, África. Pois. Quase a adormecer, chega um chinês para dormir no nosso quartinho rolante. Mudaram-no de carruagem, é um quadro do Partido Comunista. Terá uns sessenta anos, como cartão de visita diz-nos num inglês de trapos ter lutado na guerra contra a invasão japonesa, nas montanhas das províncias de Hebei e Shanxi. Depois, o sono confortável. (continua) 1 - Dazhai ou Tatchai era, na realidade, um marco fundamental da propaganda política no que à agricultura dizia respeito nestes anos de vida na China. Recorde-se que em 1973, o primeiro-ministro Zhou Enlai visitou Dazhai pela terceira vez. Sobre Dazhai, ver na literatura da época, Ven Yin e Liam Hua, Tatchai, a Bandeira Vermelha da Agricultura na China, Pequim, Edições em Línguas Estrangeiras, 1977, publicado em língua portuguesa, e o bonito álbum ilustrado, em espanhol, Tachai, Bandera Roja en el Frente Agrícola de China, Pekin, Ediciones en Lenguas Estranjeras, 1978.


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Hoje

MÚSICA “ELITE PIANO” Fundação Rui Cunha, 18h00

Amanhã

FILME “A CAÇA REVOLUÇÕES” (MARGARIDA RÊGO) FILME “AULA DE CONDUÇÃO” (ANDRÉ SANTOS, MARCO LEÃO) FILME “DESPEDIDA” (TIAGO ROSA-ROSSO) FILME “O REBOCADOR” (JORGE CRAMEZ) FILME “BALADA DE UM BATRÁQUIO” (LEONOR TELES) Cinemateca Paixão, 16h30 FILME “A TOCA DO LOBO” (CATARINA MOURÃO) Cinemateca Paixão, 20h00 MÚSICA “MUNDOS DISTANTES – MÚSICA DE FINAL FANTASY” The Venetian Theater, 19h45

Domingo

FILME “GIPSOFILA” (MARGARIDA LEITÃO) Debate “Produção Cinematográfica em Portugal e sua visibilidade pelo mundo” Cinemateca Paixão, 16h30 FILME “OS OLHOS DE ANDRÉ” (ANTÓNIO BORGES CORREIA) Cinemateca Paixão, 20h00

25

MAX

29

HUM

80-98%

EXPOSIÇÃO “EDGAR DEGAS – FIGURES IN MOTION” MGM Macau EXPOSIÇÃO “ARTS FLY” Broadway Macau (até 28/06) EXPOSIÇÃO “ARTES VISUAIS DE MACAU” Instituto Cultural (até 07/08) EXPOSIÇÃO DE TIPOGRAFIA “WEINGART” Galeria Tap Seac (até 12/06)

EXPOSIÇÃO DOS ALUNOS DE ARQUITECTURA DA USJ Creative Macau (até 18/06) EXPOSIÇÃO DOS ALUNOS DE DESIGN DA USJ Creative Macau (até 18/06) EXPOSIÇÃO “DINOSSAUROS EM CARNE E OSSO” Centro de Ciência de Macau (até 11/09) EXPOSIÇÃO “REMINESCENT – PORTUGAL MACAU” Galeria Dare to Dream (até 22/07)

Cineteatro

C I N E M A

BAHT

0.22

YUAN

1.21

AQUI VOS SUICIDO

EXPOSIÇÃO “UNAMED” E CONCERTO DE SYLVIE XING CHEN Fundação Rui Cunha (até 25/06)

EXPOSIÇÃO “TIBET REVEALED” Galeria Iao Hin (até 20/06)

9.08

AQUI HÁ GATO

Diariamente

EXPOSIÇÃO “AGUADAS DA CIDADE PROIBIDA”, DE CHARLES CHAUDERLOT Museu de Arte de Macau (até 19/06)

EURO

SOLUÇÃO DO PROBLEMA 103

PROBLEMA 104

UM FILME HOJE

SUDOKU

O QUE FAZER ESTA SEMANA

MIN

DE

?

TROVOADAS

O CARTOON STEPH

TEMPO

(F)UTILIDADES

Se por gato me tomaram, sabei que o não sou. Esse nome que me deram, nunca a ele me filiei. Serei felino, por ter garras, talvez. Olhos amarelos, pêlo lustroso. Negro, negro como as almas. Não, não serei gato. Ronronante, ronronado, encantador. Farto de uíscas e de areia artificial. De festas e de bejecas, de beijocas tremeludas, de cadeiras arrepanhadas, das gentes, meu Deus, das gentes! O quanto fala esta gente... não entendem, não valorizam, a contenção dos animais. Não dizemos nada, as nossas discussões são breves, guardamos os estertores para o desejo. Eles não. Neles cio é constante. Como farão para sobreviver e não se esgadanhar a todo o instante? Fujo para o telhado e quero voar como os corvos. Eles também são negros como eu. Invejo-os. Precisava de voar. Até uma outra ilha. Vivo num pequeno apartamento. Trazem-me comida, limpam-me o rabo. Por que não sou feliz, porra?! Estremecem os bigodes ao cheiro de rato que passa. Deixá-lo. Nunca um sequer apanhei. Metem-me nojo. Cinzentos. Paranóicos. Também são muitos. O mundo parece demasiado habitado. Não há vazio. Tudo cheio como num sonho mau. Passos, passinhos e passadas. Ribombar de trovoada ausente. Não sou gato. Chamem-me felino, leonino, o que quiserem. Mas gato não. Admito, talvez, um... gattopardo. Sou snob, sabem? Toquei com Boris Vian. Eis a minha credencial. Era Outono em Pequim, num cinematógrafo decadente. Ele desertara, cantava mal e nunca esteve na China. Eu sou chinês e nunca estive em Pequim. Sei ser a Norte. Sei ser frio e cheio de gente. Sei ser grande, do tamanho da capital de um império ou ainda maior e mais confusa. Não sei nada. Nem sei ser gato ou corvo ou Boris Vian. Aqui vos suicido. Pu Yi

THE JUNGLE BOOK, JON FAVREAU, 2016

O protagonista é um menino que se chama Mogli e foi deixado na floresta. Aqui a família de lobos acolheu Mogli e foi com eles que foi criado. Como o temido tigre Shere Khan não gosta de seres humanos pretende, desde o início, matar o pequeno Mogli. Para proteger a vida de Mogli, os lobos decidem levar Mogli para a vila onde vivem os seres humanos, sendo acompanhado por professores, a pantera Bagheera e o urso Baloo. Na aventura para a vila, Mogli encontra uma cobra e Rei de gorila. Para conseguir ficar na floresta, Mogli terá de lutar contra o tigre. Tomás Chio

WARCRAFT: THE BEGGINING SALA 1

NOW YOU SEE ME 2 [B] Filme de: Jon M. Chu Com: Mark Ruffalo, Jesse Eisenberg, Woody Harrelson, Lizzy Caplan 14.30, 16.45,19.15,21.30 SALA 2

WARCRAFT: THE BEGINNING [B] Filme de: Duncan Jones Com: Travis Fimmel, Paula Patton, Ben Foster 14.15, 17.50, 21.30

WARCRAFT: THE BEGINNING [B] Filme de: Duncan Jones Com: Travis Fimmel, Paula Patton, Ben Foster 19:15 SALA 3

SING STREET [C] Filme de: John Carney Com: Jack Reynor, Aiden Gillen, Maria Doyle Kennedy 14.15, 17.50, 21.30

ANGRY BIRDS [A] FALADO EM CANTONÊS Filme de: Fergal Reilly, Clay Kaytis 16.05, 19.45

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Propriedade Fábrica de Notícias, Lda Director Carlos Morais José Editores Joana Freitas; José C. Mendes Redacção Angela Ka; Andreia Sofia Silva; Filipa Araújo; Flora Fong; Manuel Nunes; Tomás Chio Colaboradores António Falcão; António Graça de Abreu; Gonçalo Lobo Pinheiro; José Drummond; José Simões Morais; Maria João Belchior (Pequim); Michel Reis; Rui Cascais; Sérgio Fonseca Colunistas António Conceição Júnior; André Ritchie; David Chan; Fernando Eloy; Isabel Castro; Jorge Rodrigues Simão; Leocardo; Paul Chan Wai Chi; Paula Bicho; Rui Flores; Tânia dos Santos Cartoonista Steph Grafismo Paulo Borges Ilustração Rui Rasquinho Agências Lusa; Xinhua Fotografia Hoje Macau; Lusa; GCS; Xinhua Secretária de redacção e Publicidade Madalena da Silva (publicidade@hojemacau.com.mo) Assistente de marketing Vincent Vong Impressão Tipografia Welfare Morada Calçada de Santo Agostinho, n.º 19, Centro Comercial Nam Yue, 6.º andar A, Macau Telefone 28752401 Fax 28752405 e-mail info@hojemacau.com.mo Sítio www.hojemacau.com.mo


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um grito no deserto

Memórias de um povo

PAUL CHAN WAI CHI

LI ZHANG, JACKIE CHAN, 1911 REVOLUTION

A expressão “não podemos esquecer o passado, pois serve de lição para o futuro” sublinha a necessidade de olharmos para o que se fez de errado, aprendermos a perdoar e procurarmos o entendimento e a reconciliação.

D

ESDE os incidentes da Praça Tiananmen, ocorridos a de 4 Junho de 1989, a data é sempre assinalada em Macau com a celebração de diversas homenagens. O Governo chinês tem um ponto de vista sobre este episódio, mas o povo tem rejeitado essa opinião. Para sarar as feridas e seguir em frente, em união, serão necessários alguns esforços e muito bom-senso. O enquadramento de qualquer incidente em termos históricos é moldado social, política e culturalmente, e não só. Quando estes casos acontecem nenhuma das partes envolvidas pode escapar às responsabilidades. A compreensão da História da China moderna ajudará a determinar as causas das tragédias e a encontrar maneiras de evoluir. Este espírito

de compreensão e de vontade de evolução deve estar presente nas homenagens prestadas em memória das vítimas. Mas debrucemo-nos sobre os principais acontecimentos que marcaram as últimas décadas e que fazem parte da nossa memória colectiva. A China venceu a Segunda Guerra Sino-Japonesa em 1945, no entanto o povo chinês não viria a desfrutar de paz por muito tempo. Seguiu-se um período de quatro anos de guerra civil, entre o Partido Comunista e o Partido Nacionalista. Os Comunistas venceram e tomaram a China e os Nacionalistas retiraram-se para Taiwan. Hoje em dia já não se ouvem nas ruas de Taiwan gritos pela independência nem ataques à China continental e, não nos esqueçamos, a crise de 1958 terminou sem terem sido necessários acordos de cessar fogo ou conversações de paz. Mas Taiwan continua fiel ao lema “não à unificação, não à independência e não ao uso da força”. A China continua à procura de formas de resolver a questão de Taiwan, mas o que é importante reter é que tudo o que se passou na China, em Taiwan, em

Hong Kong e em Macau serve para lembrar que, enquanto as pessoas permanecerem “adormecidas”, as tragédias podem voltar a acontecer. O 28 de Fevereiro de 1947 em Taiwan, o Movimento Anti-direitista na China em 1957, A Revolução Cultural na China em 1966, o Motim 1-2-3 em Macau em 1966, as revoltas esquerdistas de Hong Kong em 1967 e o incidente de 4 de Junho de 1989, foram acontecimentos separados no tempo, mas politicamente relacionados. Embora o Dr. Sun Yat-sen tenha afirmado que a política diz respeito a todos, constatamos que quem abraça esta carreira acaba por defender interesses de grupo ou, simplesmente, interesses individuais e esquece muitas vezes o bem comum. Se todos tivessem deposto as armas e virado costas aos conflitos, a China não se teria envolvido numa guerra civil e as dissidências que opuseram o Governo chinês ao povo não teriam terminado em derramamento de sangue. A História não pode ser dissimulada e servir como instrumento de ajuste de contas. A expressão “não podemos esquecer o passado, pois serve de lição para o futuro” sublinha a necessidade de olharmos para o que se fez de errado, aprendermos a perdoar e procurarmos o entendimento e a reconciliação. Procurar a vingança pelos incidentes de 4 de Junho pode ser um acto político, mas não vai adiantar de nada às vítimas que nesse dia perderam a vida. Em 2016 celebra-se o 50º aniversário da Revolução Cultural e do Motim1-2-3 de Macau. Em vez de procurar retaliações, a China e Macau deverão analisar as causas destes acontecimentos e tentar evitar futuros conflitos e rupturas sociais. “Não devemos deixar que o ódio habite as nossas mentes, é necessário substitui-lo por amor”, terá dito Jesus Cristo quando foi crucificado, e é também o significado do perdão na doutrina de Confúcio. Este é o caminho que a Humanidade deve seguir, com estas palavras sempre presentes no coração.


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PERFIL

ARIEL TANG, DESIGNER

P

“Saí para encontrar o que gosto”

ARECE que quem trabalha na área da arte e design não tem um caminho fácil. Não basta gostar, também é preciso ganhar dinheiro. Mas Ariel Tang rompeu com um estilo de vida estável, deixou o seu trabalho e dedica-se hoje à área do design. “Sempre gostei de desenhar e comecei a contactar com o mundo das artes desde a escola. Os professores deram-me essa oportunidade. Entre o sétimo e o décimo segundo ano eu e uns colegas fizemos os boletins de turma, os professores sabiam que eu gostava de fazer isso”, contou ao HM. Em 2007 chegou a altura de escolher um curso superior e Ariel Tang considerou que as indústrias culturais e criativas ainda não eram muito desenvolvidas e poucas pessoas estudavam design. Então resolveu escolher o curso de gestão empresarial, respondendo às expectativas da família para garantir um bom emprego no futuro. Contudo, a formação não trouxe grande satisfação à jovem. “Depois de acabar a licenciatura, trabalhei em várias empresas, o último emprego que tive foi num banco. A remuneração era relativamente boa, a vida

estava tão estável que eu só pensei em fazer o que gosto mais”, apontou. Em 2014, Ariel conseguiu a oportunidade de estar presente na Feira de Arte na Praça de Tap Seac sem pagar a concessão do espaço e então começou a vender as suas obras. São postais, calendários, capas para telemóveis ou estátuas de madeira cujo design é totalmente feito por Ariel, sempre com os gatos como inspiração. “Tenho gatos em casa e sempre quis desenhá-los, penso que devem haver outras pessoas que gostem de animais. O resultado foi bom e vendi os meus trabalhos rapidamente”, lembrou.

CRIAR E GERIR

Depois de várias participações na feira, Ariel criou a “Little DoDo NaNa”, uma página na rede social Facebook para desenvolver os seus próprios produtos. “Para além de saber desenhar, entendo que também é preciso saber como gerir a venda dos produtos. Combinando com os meus conhecimentos em marketing, surgiu-me a ideia de desenvolver os gatos como uma personagem e

uma marca. Espero que no futuro alguém queira usar esta marca em outros produtos.” Mesmo sendo bem sucedida no mundo das artes, Ariel continuou o seu trabalho no banco. Até que no final do ano passado tomou uma decisão. “O meu chefe no banco queria que eu aprendesse coisas novas mas disse que eu não estava muito entusiasmada. Sabia isso porque nunca gostei da área. Depois da segunda participação na desisti do trabalho e comecei a estudar design.” Ariel teve sorte: conseguiu entrar na licenciatura em design gráfico do Instituto Politécnico de Macau (IPM) com uma bolsa de estudos. Já nessa altura a família estava preocupada com o facto da jovem poder vir a ficar sem rendimentos. Hoje em dia a jovem artista continua a trabalhar como freelancer. Faz design de interiores e trabalhos de design gráfico como, por exemplo, cartões de contactos para vários negócios e pessoas. A jovem vende alguns produtos em lojas e num website com alguma projecção lá fora. Para ela, esses pequenos trabalhos e colaborações fazem com que ela consiga manter alguma estabilidade

financeira. Quando acabar a licenciatura, Ariel pretende tornar-se numa verdadeira designer, com mais profissionalismo. Depois da mudança de rumo, Ariel não se arrepende da decisão de estudar gestão empresarial, porque acabou por se revelar útil no seu actual negócio. Na feira do Tap Seac conheceu amigos e pessoas da área das artes, mas lamenta o grande número de desistências. “Há pessoas que não olham para a arte de forma série e acham que não têm um elevado salário, por comparação à maioria das pessoas. São poucos os que têm vontade de se dedicar apenas a esta área porque estão mais preocupadas com o dinheiro. Isso é uma realidade em Macau”, notou. Ariel considera-se ela própria um exemplo muito raro porque nem todos conseguem fazer o que ela fez: mudar de vida. Para ela, o que importa é ganhar dinheiro com o que se gosta, sem dar importância ao que os outros dizem. Flora Fong (revisto por A.S.S.) flora.fong@hojemacau.com.mo


Cerzia luz / incessante / morrente / somente. / Bordava na lapela gasta / do teu casaco/ os sons do vitríolo. / Dá-me asco respirar. / Beija-me / como dantes. / Deixa-me / como sempre”

Um pontapé na SIDA

Tailândia é o primeiro país da Ásia a erradicar transmissão de VIH de mãe para filho

A

Tailândia tornou-se no primeiro país da região da Ásia-Pacífico a erradicar a transmissão do Vírus da Imunodeficiência Humana (VIH) e a sífilis de mãe para filho, informou ontem a Organização Mundial de Saúde (OMS). AOMS também reconheceu o país asiático como o primeiro com um grande número de afectados que consegue o que a organização qualificou como um “feito extraordinário” e “um passo crucial para reduzir a epidemia do VIH”. “ATailândia mostrou ao mundo que o VIH pode ser derrotado”, disse o director regional para o sudeste da Ásia da OMS, Poonam Khetrapal Singh, em comunicado. Aproximadamente 21 mil crianças nascem anualmente com VIH na região da Ásia-Pacífico, onde existem cerca de 200 mil menores afectados. Segundo a OMS, mulheres infectadas com o VIH têm entre 15 e 45 por cento de probabilidade de transmitir o vírus aos seus filhos durante a gravidez, parto ou durante a amamentação, mas o risco diminui para 1% se durante estes períodos lhes forem administrados anti-retrovirais. De acordo com o Ministério da Saúde da Tailândia, 98% das mulheres com VIH tem acesso a

anti-retrovirais e a transmissão do vírus de mãe para filho foi reduzida a menos de 2%. As autoridades tailandesas estimam que em 2000 aproximadamente mil crianças tenham sido infectadas com VIH, número que diminuiu cerca de 90% em 2015, até aos 85 casos em todo o país, onde um universo de 450 mil vivia com este vírus em 2014. Além de conter a transmissão do VIH entre mãe e filho, a Tailândia também conseguiu reduzir o número de mulheres infectadas: passou de 15 mil casos em 2000 para 1.900 em 2014 – uma descida de 87%. A OMS destacou que o sistema de saúde pública da Tailândia garante o acesso universal aos cuidados médicos e que o mesmo cobre o tratamento de VIH, tanto para tailandeses como para a população imigrante. “A Tailândia deu a volta à epidemia e transformou a vida de milhares de mulheres e crianças afectadas pelo VIH”, disse o director do programa da ONU contra a sida, Michel Sidibé, no mesmo comunicado. “O progresso da Tailândia mostra o que se pode alcançar quando a ciência e a medicina são apoiadas com um significativo compromisso político”, acrescentou. A OMS fez o reconhecimento antes de a ONU reunir ontem representantes de todo o mundo para tentar acelerar a luta contra a sida e de modo a que se atinja o objectivo de erradicar a epidemia antes de 2030. Essa meta – fixada em 2015 nos Objectivos de Desenvolvimento Sustentável adoptados pela ONU – chega depois de se ter conseguido, nos últimos anos, conter e reduzir a propagação da sida em todo o mundo.

FILIPINAS OLHO POR OLHO, VIDA POR VIDA

A polícia das Filipinas disse ontem que detectou ofertas de recompensas de um milhão de dólares para quem matar o Presidente eleito do país, Rodrigo Duterte, que declarou guerra aos delinquentes e aos traficantes de droga. “Chegaram a oferecer 50 milhões de pesos pela minha morte ou pela de Duterte”, revelou, em entrevista à emissora GMA o próximo chefe da polícia do país, Ronald Dela Rosa, sem facultar mais detalhes sobre quem teria instado os assassínios. Ronald Dela Rosa, que ficará à frente da polícia após a investidura de Duterte no próximo dia 30, disse que inicialmente foi detectada uma oferta de 10 milhões de pesos, mas ninguém estava disposto a cumprir a missão por esse montante. As declarações de Ronald Dela Rosa têm lugar depois de Duterte, que prometeu acabar com a delinquência e a droga nas Filipinas em menos de meio ano, ter oferecido compensações económicas aos filipinos que matem barões da droga. Numa festa realizada na quarta-feira em sua honra, em Cebu, a segunda cidade filipina, Duterte anunciou uma recompensa de 5,5 milhões de pesos a quem acabar com a vida dos traficantes de droga mais importantes da região.

Alice Tazem

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sexta-feira 10.6.2016


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