DIRECTOR CARLOS MORAIS JOSÉ
SEXTA-FEIRA 10 DE JULHO DE 2020 • ANO XIX • Nº 4565
MOP$10
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Pressão contínua
A economia de Macau deverá continuar a enfrentar grandes dificuldades na segunda metade do ano. As palavras são do Chefe do Executivo, Ho Iat Seng, que presidiu ontem à reunião do Conselho
STANLEY HO
E DEPOIS DO ADEUS
para o Desenvolvimento Económico, onde voltou a sublinhar a dependência excessiva da indústria do jogo, cujos efeitos negativos foram agora mais uma vez postos a nu com a pandemia da covid-19.
PÁGINAS 6-7
CORREDOR ESPECIAL
EUROPA POR UM CANUDO
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ANA JACINTO NUNES
PÁGINA 4
PÁGINA 5
PORNOGRAFIA INFANTIL
CRIMES MAIORES PÁGINA 8
h
DESENHOS E MATEMÁTICA GONÇALO M. TAVARES
O DIA DA GRANDE DANÇA VALÉRIO ROMÃO
UM DIA DE CADA VEZ ANTÓNIO DE CASTRO CAEIRO
2 grande plano
CHINA
10.7.2020 sexta-feira
CABULAR E PARA ROUBOS DE IDENTIDADE ASSOMBRAM EXAMES DE ACESSO À UNIVERSIDADE
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Quase 11 milhões de estudantes em toda a China fizeram esta semana o gaokao, o exigente exame de acesso ao ensino superior. Além dos anos de matéria curricular, outro peso a pairar por cima das cabeças dos alunos é a recente revelação de roubos de identidade com o objectivo de apropriação das melhores notas. A ponta do iceberg surgiu na província de Shandong, com a descoberta de 242 casos
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ARA milhões de estudantes chineses, o gaokao, exame de acesso ao ensino superior, é o momento mais importante das suas vidas, o teste derradeiro que determina se entram na universidade que lhes abre portas para uma vida melhor, em especial para as famílias mais desfavorecidas. E se todo o esforço, sacrifício e horas de estudo forem em vão e o sucesso for roubado por outro aluno? Foi com esta sombra presente que 10,71 milhões de estudantes fizeram, esta semana os exames de acesso às universidades chinesas. Um artigo publicado a 19 de Junho, no jornal oficial Southern Metropolis Daily, citado pela BBC, revelou que várias universidades da província de Shandong estão a investigar mais de duas centenas licenciados que se inscreveram nas instituições usando a identidade e resultados do gaokao de outros alunos. Na passada segunda-feira, a Comissão de Inspecção e Disciplina de Shandong em conjunto com os departamentos de educação e segurança publicaram os
resultados preliminares de uma investigação que revelou 242 casos de roubo de identidade ocorridos entre 1999 e 2006. Na grande maioria, as vítimas não faziam ideia de que a sua identidade e resultados de exames haviam sido roubados, algumas desistiram de ingressar na universidade na sequência da fraude. Houve igualmente casos de acordos entre vítima e infractor, uma espécie de compra do silêncio do es-
“Comparando com defraudar ou roubar dinheiro, roubar as qualificações, e as perspectivas de futuro, é ainda mais prejudicial. Tal infracção deve ser punida criminalmente e extinguida.” LIU JIXING COMITÉ PERMANENTE DA APN
tudante a quem foi roubada a identidade. Em resposta a esta situação, legisladores chineses apresentaram propostas para criminalizar a fraude nos exames, de acordo com a China News Service. No domingo, o Comité Central da Assembleia Popular Nacional (APN) começou a preparar um diploma para tornar o roubo de identidade no acesso à universidade um crime, em resposta ao escândalo e consternação social que o caso despoletou. O órgão oficial adiantou que a maioria dos 175 membros do Comité Central sugeriram penas exemplares para quem coloque em risco o futuro de terceiros. O gaokao é um exame “vai ou racha” para milhões de estudantes, altamente competitivo e intenso, que permanece como o único critério determinante para saber quem entra na universidade. É um momento decisivo que afecta significativamente a perspectiva de conseguir um bom emprego, principalmente para quem vive nas zonas rurais e menos desenvolvidas da China. Este ano um número record de 10,71 milhões de
Chen candidatou-se a um curso para adultos na mesma universidade. Depois de preencher os dados pessoais no website, descobriu
estudantes inscreveram-se nos exames, o que representou mais 400 mil em relação a 2019.
PALAVRA DE MINISTRO
“Qualquer estudante que defraude ou esteja envolvido em roubo de identidade nos exames de acesso ao ensino superior, ou gaokao, será
desqualificado e impedido de se inscrever em universidades e instituições de ensino superior”, avisou o Ministro da Educação chinês, citado pelo China Daily. Em comunicado, emitido no fim da semana passada, o ministério revelou estar a trabalhar de perto com as autoridades de segurança
pública e disciplina na fiscalização dos exames para responsabilizar culpados e cúmplices que desvirtuem a justiça dos resultados. O China Daily descreve que o Ministério da Educação deu instruções às universidades para verificar a identidade dos estudantes do ensino secundário para
grande plano 3
sexta-feira 10.7.2020
MENINOS
que tinha entrado em 2004 e terminado os estudos em 2007. O choque seguinte foi quando viu a fotografia de outra pessoa debaixo do seu nome
tentar encontrar infractores que tenham roubada identidade ou adquirido pontos extra no gaokao de forma fraudulenta. Os exames, que deviam ter decorrido no passado mês de Junho, foram adiados para a terça e quarta-feira desta semana, não só para preparar as escolas para o
reforço de segurança face ao escândalo de fraude, mas também devido à pandemia de covid-19. Na censura a este fenómeno, os membros do Comité Central da APN foram mais longe. “A característica essencial do que é o crime é o perigo que representa para a sociedade. Comparando com
defraudar ou roubar dinheiro, roubar as qualificações, e as perspectivas de futuro, é ainda mais prejudicial. Tal infracção deve ser punida criminalmente e extinguida”, referiu Liu Jixing. Zhang Yesui, colega de Liu na elite da APN, concordou e acrescentou que a lei criminal foi re-
vista em 2015 para incluir artigos que punem fraude nos exames nacionais, tal como o gaokao, medida que teve efeito persuasivo, uma vez que o número de casos verificados caiu.
O CASO DE CHEN
O iceberg de fraudes começou a despontar com
o caso de Chen Chunxiu, de 36 anos, residente de Liaocheng na província de Shandong. Em 2004, Chen conseguiu uma pontuação de 546 num total de 750 no gaokao, o suficiente para estudar economia e gestão na Universidade Tecnológica de Shandong. O problema é que esta realidade só foi conhecida pela aluna 16 anos depois. Para Chen Chunxiu, este era o exame que poderia mudar tudo. Ter sucesso no gaokao significava que a filha de um agricultor teria uma hipótese de realizar o sonho de entrar na universidade que queria. O sonho não se realizou. Depois da admissão negada, Chen passou por vários empregos, trabalhou em fábricas, foi empregada de mesa, até encontrar uma oportunidade para trabalhar como professora de infantário. Depois desses duros 16 anos, Chen descobriu que afinal de contas conseguira um resultado que lhe permitia entrar na Universidade Tecnológica de Shandong e que fora mesmo admitida. Alguém havia entrado com a sua nota e a sua identidade, depois de jogos de bastidores de familiares. Em Maio desde ano, Chen decidiu candidatar-se num curso para adultos na mesma universidade. Depois de preencher os dados pessoais no website, descobriu que tinha entrado em 2004 e terminado os estudos em 2007. O choque seguinte foi quando viu a fotografia de outra pessoa na ficha com o seu nome. A verdade começava a vir ao de cima. De acordo com a agência estatal Xinhua, o tio da estudante que roubou as notas e identidade de Chen, um funcionário local, foi acusado de pedir auxílio a um director de admissões que tinha acesso às informações do exame da vítima. A história de Chen foi amplamente divulgada na China nas últimas semanas. A sua família vivia na pobreza e só tinham dinheiro para pagar a educação a um filho, portanto, obrigaram o irmão, com menos “talento académico”, a abandonar os estudos para lhe dar prioridade. Este caso não é paradigmático da China rural, onde normalmente a educação dos filhos é privilegiada em relação à das filhas. Nessa altura, 2004, as universidades chinesas não
“Qualquer estudante que defraude ou esteja envolvido em roubo de identidade nos exames de acesso ao ensino superior, ou gaokao, será desqualificado e impedido de se inscrever em universidades e instituições de ensino superior.” MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO CHINÊS
tinham a obrigação de enviarem cartas aos estudantes rejeitados na admissão, portanto, o silêncio postal significava que estava na hora de procurar um trabalho.
A OUTRA FACE
Chen Chunxiu nunca recebeu a carta que lhe fora endereçada onde constava que fora admitida. O pai da estudante que tomou o seu lugar alegadamente interceptou a carta antes de ser remetida, com a ajuda do reitor da escola onde o exame foi feito, de acordo com a Xinhua. O que seguiu foi um rol de falsificações que permitiu à pessoa errada entrar na universidade na pele de Chen. Importa referir que a impostora contava entre familiares um director de polícia e funcionários da Universidade Tecnológica de Shandong para garantir que entrava na universidade. A filha de um agricultor pobre não tinha hipóteses no meio de um esquema deste género. Por coincidência, a impostora também se chama Chen, mas Chen Yanping. Até hoje, os colegas de universidade de conhecem-na como Chen Chunxiiu. Entretanto, a instituição revogou a licenciatura da alegada autora de fraude, que acabou também por perder o emprego. Segundo a Xinhua, as autoridades locais tomaram “medidas coercivas” contra o pai da alegada impostora, um termo vago que tanto pode significar detenção ou prisão domiciliária. João Luz com agências info@hojemacau.com.mo
4 política
10.7.2020 sexta-feira
ECONOMIA MACAU CONTINUA A ENFRENTAR PRESSÃO, DISSE HO IAT SENG
Problemas a descoberto Prevê-se que a pressão sobre a economia se alargue à segunda metade do ano, disse ontem o Chefe do Executivo, que referiu ainda como a epidemia deu novamente a conhecer os pontos fracos económicos do território mas “um entendimento mútuo”. Para além disso, observou que a prioridade é abrir a fronteira de forma responsável e segura. “Quando e como é para ser estudado, [mas] não apenas em Macau, penso que é um assunto nacional”, referiu em declarações aos jornalistas. Uma ideia também defendida por Sio Chi Wai, da secção para Estudo das Políticas da Diversificação Adequada da Economia. “É preciso considerar a política geral do Governo Central, deve ser reaberta de forma gradual, tendo em conta a saúde”, disse. Sio Chi Wai observou ainda que vários membros querem “aprofundar a cooperação com Hengqin”.
GCS
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surto desta epidemia “revelou mais uma vez os problemas” da estrutura industrial única de Macau, da dependência excessiva do sector do jogo e da falta de resiliência económica, disse ontem o Chefe do Executivo. Ho Iat Seng, que presidiu à reunião do Conselho para o Desenvolvimento Económico, considera que em Macau a situação epidémica está “relativamente controlada”, mas prevê-se que “face ao aumento contínuo dos factores de incerteza externos, Macau continue a enfrentar uma grande pressão (...) na segunda metade do ano”. Ao discursar na abertura do evento, Ho Iat Seng comentou que o novo tipo de coronavírus causou “um grande impacto na economia mundial”, e que a evolução da epidemia em vários países não se encontra estável, gerando “incerteza” quanto à recuperação económica. Assim, entende que a RAEM “não pode ficar alheia” aos desafios enfrentados a nível mundial. Como tal, Ho frisou a necessidade de se promover a diversificação da economia, aproveitar as vantagens do princípio “Um País, Dois Sistemas” e participar activamente na Grande Baía. A ideia é construir uma base mais sólida para o desenvolvimento da RAEM a longo prazo. À margem da reunião, questionado sobre a abertura das fronteiras com Guangdong, José Chui Sai Peng salientou esta “não é exclusivamente uma decisão do Governo da RAEM”,
CONCORRÊNCIA
Ho Iat Seng comentou que o novo tipo de coronavírus causou “um grande impacto na economia mundial”, e que a evolução da epidemia em vários países não se encontra estável, gerando “uma grande incerteza” para a recuperação económica
Por usa vez, o chefe da secção para Estudo das Políticas do Recursos Humanos, espera que o Governo possa dar meios para aumentar o nível profissional dos trabalhadores e promover formações em sectores e indústrias diferentes, de forma a “termos recursos humanos para sustentar o desenvolvimento das indústrias emergentes”. Lau Veng Seng alertou que se está a enfrentar um desafio ao nível da concorrência que se enfrenta de recursos humanos de outras regiões. “Temos de estabelecer um mecanismo de formação de talentos. Que são formados desde muito pequenos para que os jovens possam ter uma perspectiva clara sobre o seu futuro”, apelou. Salomé Fernandes
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MOTOCICLOS SONG PEK KEI APONTA PARA FALTA DE ESTACIONAMENTO
S
ONG Pek Kei lamenta que a população esteja dependente dos autocarros ou veículos privados, porque o Metro Ligeiro ainda não tem ligação a Macau. Em interpelação escrita, a deputada quis recordar o Governo da importância dos transportes públicos para aliviar a dificuldade de movimento da população.
Embora a deputada reconheça que o volume dos carros privados está sob controlo, destaca que o Governo precisa resolver o problema das motos. Dados da Direcção dos Serviços de Estatística e Censos mostram que atéAbril havia 122.907 registadas, mas que no total apenas existiam cerca de 70 mil lugares de estacionamento de motociclos. Para
além da escassez de lugares, aponta que alguns estacionamentos gratuitos são ocupados durante prazos longos, apelando às autoridades para reforçar a inspecção e combater o abuso deste tipo de estacionamento. Na interpelação, Song Pek Kei aponta ainda que a China e várias cidades no exterior usam sistemas de estacionamento mecânicos, que
permitem mais espaço. Assim, a deputada quer que o Governo considere criar edifício-garagem em alguns terrenos que estão por aproveitar. Já no âmbito dos transportes públicos, entende que os serviços de autocarros podem ser melhorados, nomeadamente ao nível da frequência e roteiros de autocarros. N.N. e S.F.
GCS Inês Chan diz que apoio ao desenvolvimento do sector vai continuar
“Vimos que o sector se está a desenvolver de forma bastante saudável e queríamos recolher opiniões sobre o surgimento de novas tecnologias, em relação ao sector como as estão a usar (...). O GCS continuará a apoiar o desenvolvimento do sector”, disse ontem a nova directora do Gabinete de Comunicação Social (GCS), à margem da reunião do Conselho para o Desenvolvimento Económico. Questionada sobre os subsídios aos meios de comunicação em língua oficial, Inês Chan respondeu que os cortes são voltados para a gestão e funcionamento do Governo e que se pretende manter o apoio ao sector e as “regalias do bem-estar da população”. No entanto, disse ser preciso “continuar a estudar” sobre os casos mais concretos.
Habitação económica Proposta de lei pronta para ir a plenário
Foi ontem assinado o parecer da proposta de lei da habitação económica que foi analisada pela 1ª Comissão Permanente da Assembleia Legislativa (AL) desde Novembro de 2018. O diploma, pronto para ser votado na especialidade, tem como principais objectivos combater a especulação imobiliária e resolver as necessidades de habitação dos residentes. Ho Ion Sang resumiu ontem os principais pontos de debate entre os deputados. Nomeadamente, a idade mínima dos candidatos individuais, fixada nos 23 anos, e as candidaturas em nome de um agregado familiar serem válidas a partir dos 18 anos ou o facto de o regime de pontuação passar a ter em conta o tempo de residência em Macau (pelo menos sete anos) e a proporção de residentes permanentes no agregado. A proposta de lei prevê ainda a redução de quase 50 por cento das multas por uso de fracções para fins não habitacionais.
DSF Serviços electrónicos suspensos temporariamente
Devido à manutenção do sistema informático, a Direcção dos Serviços de Finanças (DSF), anunciou que parte dos serviços electrónicos que providencia vão ser suspensos no período compreendido entre as 00h de sábado e as 09h de domingo. De acordo com uma nota divulgada ontem, dos serviços online e electrónicos afectados fazem parte, o quiosque de serviços de auto-atendimento, o serviço de consulta de informação parcial no website da DSF e o serviço de consulta e declaração de informação personalizada na aplicação móvel. Concluída a manutenção, todos os serviços voltam a estar disponíveis.
sociedade 5
sexta-feira 10.7.2020
A
partir da próxima quinta-feira, 16 de Julho, já não será possível aos residentes de Macau utilizar o corredor especial para o Aeroporto Internacional de Hong Kong, medida que altera os planos de muitos finalistas do ensino secundário que pretendem frequentar o ensino superior fora de Macau. O HM falou com alguns pais de alunos da Escola Portuguesa de Macau (EPM) e da The International School of Macao (TIS), que defendem que o consulado-geral de Portugal em Macau e Hong Kong deveria intervir para apoiar os finalistas a viajar para fora do território. “Foi levantada ontem [quarta-feira] a possibilidade de os pais se juntarem e pedir ajuda ao consulado”, contou ao HM Andrea Magalhães, que frisou, no entanto, não estar ainda formalizado qualquer pedido de apoio. “O consulado já deu apoio uma vez e desta vez pode ser que ajude todos os miúdos portugueses que são finalistas e que têm de ir para Portugal estudar. Vamos ver as hipóteses que se levantam”, disse Andrea Magalhães, mãe de uma aluna que frequenta o 12º ano na EPM e que, para já, está em fase de exames. “Sei de pessoas que vão [sair de Macau] em finais de Agosto e a minha filha irá em princípios de Setembro. Tudo depende do que as autoridades decidirem, porque de um dia para o outro podem abrir o corredor especial”, adiantou. No caso de Sandra Joaquim, o filho tenciona estudar na Holanda, onde inclusive já alugou casa. “Nesta altura, mesmo que quisesse aproveitar o corredor exclusivo, este termina já a 16 de Julho e ainda falta um mês e meio para ele ir para a Holanda. Vamos ver
CORREDOR EXCLUSIVO PAIS DE FINALISTAS DESEJAM INTERVENÇÃO DO CONSULADO
Porta que se fecha
O fim do corredor exclusivo entre Macau e o Aeroporto Internacional de Hong Kong vai afectar os planos de muitos finalistas do ensino secundário que tencionam estudar fora de Macau. Alguns pais ponderam pedir ajuda ao consulado-geral de Portugal em Macau e Hong Kong, mas Paulo Cunha Alves confirmou ao HM que não há, por enquanto, planos para negociar com as autoridades locais
Resposta do consulado-geral “Neste momento não existe a intenção, da parte deste Consulado Geral, de iniciar um novo processo negocial com as autoridades da RAEM e da RAEHK”
o que acontece no próximo mês e depois temos de ver o que podemos fazer.” Sandra Joaquim também pensou falar com o consulado “para ver se têm alguma sugestão”. “Acredito que o meu filho não seja o único estudante do 12º ano que irá estudar para a Europa. Tenho
esperança que o consulado possa ajudar”, acrescentou. No caso de Celeste Monteiro, a matrícula do filho no curso de gestão, também numa universidade holandesa, teve mesmo de ser adiada por um ano, ficando provisoriamente na Universidade de São José (USJ). “Com toda
esta situação, achamos melhor adiar por um ano. Penso que o consulado deveria intervir, pois faz parte dos deveres de um consulado”, defendeu ao HM.
CONSULADO SEM PLANOS
Contactado pelo HM, o consulado-geral de Portugal
em Macau e Hong Kong adiantou que, para já, não há planos para iniciar novas negociações com as autoridades. “Face à evolução da pandemia em Hong Kong, neste momento não existe a intenção, da parte deste Consulado Geral, de iniciar um novo processo negocial com
as autoridades da RAEM e da RAEHK. Todos aqueles que pretendem assumir os riscos de viajar deverão fazê-lo até ao final do dia 16 de Julho.” Filipe Regêncio Figueiredo, presidente da Associação de Pais da EPM, afirmou que actualmente há duas turmas a frequentar o 12º ano. “O corredor foi interrompido e não sabemos se daqui a duas semanas isto muda. Se não mudar, obviamente que para quem vai para a universidade ou para quem pretende ir para outro sítio isto é uma grande complicação.” O responsável aponta que seria bom o consulado poder interceder neste caso, ainda que “seja uma decisão que não lhes cabe a eles”. “Esta situação [corredor exclusivo] não se pode manter indefinidamente, não só por causa desta situação [dos estudantes] mas de tudo o resto”, acrescentou. O fim do corredor afecta também alunos do ensino superior que já estão matriculados em universidades no exterior. É o caso de Dinis Chan, finalista do curso de Direito em Lisboa, que não sabe quando poderá voltar a Portugal. “Reservei um voo e planeei regressar em Junho, mas o meu voo foi cancelado pela companhia aérea. Não sabemos como vai ficar a situação, talvez as aulas passem a funcionar online”, apontou. O início das aulas de Dinis Chan está marcado para Outubro. “Perante este cenário não temos escolha e só podemos tomar as nossas próprias medidas para nos proteger. Não sabemos quando reabrem as fronteiras e as universidades regressam à normalidade”, frisou. Andreia Sofia Silva
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SIN FONG GARDEN IP SIO KAI ESPERA CONSENSO ENTRE PROPRIETÁRIOS E COMISSÃO DE CONDOMÍNIO
O
deputado Ip Sio Kai, também director-geral da sucursal do Banco da China em Macau, disse ontem esperar consenso entre proprietários e comissão de gestão do condomínio do edifício Sin Fong Garden no que diz respeito a empréstimos. “Os proprietários e a comissão de gestão estão
a discutir se vão pedir mais dinheiro para a reconstrução [do edifício]. Em primeiro lugar, deve ser obtido um consenso colectivo”, disse ontem o responsável à margem de uma reunião de comissão da Assembleia Legislativa. Ip Sio Kai declarou que alguns proprietários fize-
ram empréstimos a título individual no passado para reconstruirem o prédio, mas que nesta fase é necessária vontade colectiva para aumentar o montante emprestado pelo banco. “Se alguns proprietários não concordarem será difícil atribuir esse montante. Li notícias de que ainda estão a
discutir [o assunto]”, frisou. Esta questão surgiu depois de a Associação de Conterrâneos de Jiangmen, ligada aos deputados Mak Soi Kun e Zheng Anting, ter recuado na atribuição das 100 milhões de patacas para a reconstrução do prédio, uma promessa feita em 2018. Os proprietários
correm agora o risco de ter de pagar um total de 170 milhões de patacas. O director-geral da sucursal do Banco da China em Macau assegurou que os proprietários ainda não contactaram o banco. “Num empréstimo normal, e não apenas para o Sin Fong Garden, o banco tem em conta
o ‘Loan to Value’ [garantias de quem pede o empréstimo] e a capacidade de pagamento. Se este processo for bem analisado, os riscos normais são evitáveis. Não deve haver grande diferença entre este empréstimo e o empréstimo comum para a compra de uma habitação”, rematou Ip Sio Kai.
6 óbito
RÓMULO SANTOS
CASINOS SJM TERÁ DE SE ADAPTAR ÀS ALTERAÇÕES DE MERCADO
10.7.2020 sexta-feira
C
OM as concessões actuais a chegarem ao fim em 2022, a SJM terá também de se preparar para alterações na repartição do mercado, segundo Lee, que prevê que os operadores norte-americanos venham a ser substituídos “por interesses mais amigos da China”. Outra das incógnitas no horizonte dos casinos do antigo magnata, que deteve o monopólio do jogo em Macau até 2002, é a lei do jogo, que deverá ser alterada até 2022, quando as concessões chegam ao fim. “O Governo anunciou que iria iniciar uma consulta pública este ano, mas já vamos em Julho e ainda não começaram”, explicou Carlos Lobo, que participou na elaboração da lei do jogo ainda em vigor. A disputa pelo poder no império de Stanley Ho acontece numa altura em que os casinos registam perdas recorde, por causa da pandemia, que atrasou a abertura de um empreendimento da SJM em Cotai (entre Taipa e Coloane). “Temos visto a parte de mercado da SJM diminuir ao longo dos últimos anos”, salientou o especialista em Gestão Internacional de ‘Resorts’ Integrados da Universidade de Macau Glenn McCartney, recordando que, depois de Stanley Ho ter perdido o monopólio do jogo no território, passou a enfrentar cinco operadores, e essa concorrência “existe mesmo entre membros da família”. Para a SJM crescer, “vai ter de aumentar a percentagem de mercado, atraindo novos clientes da China, ou ultrapassar os concorrentes, o que vai ser muito difícil”, num momento em que todos os operadores “estão desesperados por reconquistar os rendimentos perdidos com a covid-19”, com quebras de 97 por cento por mês, disse.
O
advogado Carlos Lobo disse à Lusa que a repartição da herança de Stanley Ho, o magnata dos casinos de Macau que deixou três mulheres e 15 filhos vivos, levanta “incertezas jurídicas” e pode reavivar disputas familiares. “Sempre que há famílias, há problemas, e numa família tão grande, é expectável que nem todos concordem”, antecipou Carlos Lobo. O jurista, que foi assessor do Governo de Macau, disse à Lusa que a partilha da fortuna de Stanley Ho “é um processo bastante complexo”, levantando questões sobre a jurisdição aplicável e a possibilidade de ser contestada por membros do clã. Falecido em 26 de Maio, Stanley Ho, cujas cerimónias fúnebres terminam hoje, em Hong Kong, deixou uma fortuna avaliada em cerca de 6,4 mil milhões de dólares, quando se reformou, em 2018. O império do homem mais rico da Ásia originou disputas ainda em vida, após ter sofrido um acidente que o incapacitou, em 2009, e que o levaria finalmente a abdicar da presidência das
Dividir quinhões STANLEY HO HERANÇA PODE REAVIVAR DISPUTAS ENTRE FAMÍLIA, DIZ ADVOGADO
Terminam hoje as cerimónias fúnebres do rei do jogo. O advogado Carlos Lobo defende que a repartição da herança de Stanley Ho pode gerar “incertezas jurídicas” e aquecer disputas familiares que duram há vários anos
óbito 7
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‘holdings’ dos seus casinos, em Junho de 2018, com 96 anos, em favor da filha Daisy Ho. Antes, em 2011, Stanley Ho chegou a processar a terceira mulher e os cinco filhos do segundo casamento, acusando-os de tentarem apropriar-se indevidamente dos seus bens, enquanto Angela Ho, filha mais velha do primeiro casamento, se queixava de que o pai não deixara nada à mãe, a macaense Clementina Leitão, considerada determinante na criação da fortuna do magnata. A herança poderá provocar novas guerras familiares, até pelo grande número de herdeiros do “rei dos casinos”: sobreviveram-lhe três das quatro mulheres e 15 dos 17 filhos.
SISTEMAS “DIFERENTES”
Sublinhando que não se sabe se Stanley Ho deixou ou
não testamento, o advogado considerou que, em qualquer caso, vai ser um processo “muitíssimo complicado”, a começar pela determinação da jurisdição aplicável. “Stanley Ho era residente em Hong Kong, mas também em Macau”, disse Carlos Lobo, recordando que os sistemas jurídicos das antigas colónias britânica e portuguesa “são completamente diferentes”. “Em Hong Kong, que segue o regime da ‘common law’ britânica, a pessoa que faz o testamento pode fazer literalmente tudo o que quiser”, enquanto que em Macau, onde o direito da família é semelhante ao de Portugal, “não pode fazer tudo e mais alguma coisa, e não pode beneficiar uns filhos relativamente a outros”. “Se Stanley Ho beneficiou filhos em detrimento de outros (...) alguém poderá ter legitimidade (...) para verificar se as coisas foram ou não bem feitas, e ser eventualmente ressarcido no seu dano”, preveniu. O advogado apontou ainda que a localização de bens imóveis pode igualmente atrasar a repartição célere da fortuna. “Havendo bens em Macau que eram dele, aplica-se necessariamente a lei de Macau”, apontou. Onze dias após a morte do pai, Deborah Ho, a filha mais nova do primeiro casamento de Ho com Clementina Leitão apresentou um pedido no Registo de Sucessão de Hong Kong para que os seus advogados sejam informados de todas as movimentações relacionadas com a herança. Dias depois, foi a vez de um sobrinho de Stanley Ho, Michael Hotung, apresentar igual pedido - o mesmo sobrinho que, no passado, reclamou 255 milhões de dólares em dividendos da Sociedade de Turismo e Diversões de Macau (STDM), em nome da mãe, Winnie Ho, irmã de Stanley, falecida em 2017. Para o jurista, apesar de parte da fortuna de Stanley Ho ter sido distribuída em vida, “é expectável que surjam pessoas e filhos que se
Para o jurista, apesar de parte da fortuna de Stanley Ho ter sido distribuída em vida, “é expectável que surjam pessoas e filhos que se julguem menos beneficiados relativamente aos outros irmãos e irmãs” julguem menos beneficiados relativamente aos outros irmãos e irmãs, e venham agora solicitar que o tribunal determine se aquilo que foi feito o foi de forma correcta e justa”.
OUTRO FILHO
Um mês depois da morte de Stanley Ho, a família anunciou que o magnata tinha mais um filho que nunca foi apresentado ao público, o que “traz mais um elemento de incerteza para o processo”, considerou Carlos Lobo. O até aqui desconhecido 17.º filho (15.º dos filhos vivos) chama-se Ho Yau-bong, informou, no final de Junho, a mãe, Angela Leong. Neste caso, a questão da repartição da fortuna poderá alargar-se a mais um membro da família, considerou Carlos Lobo. “Terá havido partilhas em vida por parte de Stanley Ho relativamente aos filhos, nomeadamente a Pansy Ho [que controla, através da STDM, com a Fundação Fok, a maior parte da SJM, e detém parte da MGM China], a Daisy Ho [presidente da SJM Holdings] e Lawrence Ho [à frente da Melco Resorts & Entertainment]”, todos filhos da segunda mulher, Lucina Laam King Ying. Para o jurista, a questão que se coloca é saber se Ho “fez partilhas relativamente a esse filho que ninguém sabia que existia”.
Reconstrução do império Analistas dizem que poder empresarial de Pansy Ho sai reforçado
C
OM a morte do monarca dos casinos, o posicionamento da sua filha, Pansy Ho, deverá sair reforçado no mundo dos negócios, apontaram vários analistas à Lusa. Pansy Ho, de 57 anos, foi a filha que anunciou aos ‘media’ a morte do pai, em 26 de Maio, e que ontem leu as mensagens de condolências na cerimónia de homenagem ao magnata de Macau, realizada em Hong Kong, enquanto “representante da família”, de acordo com um comunicado da empresa de assessoria. Em 2019, a multimilionária e a Fundação Henry Fok passaram a assegurar 53,012 por cento das acções da Sociedade de Turismo e Diversões de Macau (STDM), que já deteve o monopólio do jogo no território. A STDM, por sua vez, controla 54,11 por cento da Sociedade de Jogos de Macau (SJM) Holdings, com 22 casinos no território. Pansy Ho, filha mais velha do segundo casamento do magnata, que detém ainda parte da norte-americana MGM China, deverá “tomar o controlo da SJM e consolidá-lo”, disse à Lusa Ben Lee, analista da consultora de jogo IGamix. Recentemente, houve “movimentos que evidenciam que (…) os antigos aliados de Stanley Ho, a família Fok, redirigiram o apoio para Pansy”, considerada a favorita do magnata, “com a irmã, Daisy Ho, a ser nomeada copresidente da SJM” em 2018, apontou Lee. Pansy também vendeu parte da participação na MGM China, quando se sabe que a lei do jogo impede um accionista de deter mais de 5 por cento em mais do que uma concessionária. “Estes movimentos sugerem que Pansy irá procurar assumir o controlo” e “consolidar”
o seu poder sobre o antigo império de Stanley Ho, que inclui 22 casinos detidos pela SJM, interesses na subconcessionária norte-americana MGM Resorts International e nos ferries e helicópteros que ligam Macau e Hong Kong, através da empresa Shun Tak. Para Ben Lee, tal poderá desembocar naquilo a que chama “a reintegração do antigo império” de Stanley Ho, que foi dividido em três componentes: SJM, STDM e Shun Tak. “Isso dar-lhe-á muito mais poder e influência do que tinha dividido”, considerou Lee, sublinhando que os investidores veem com bons olhos o reforço do poder de Pansy.
SJM “COM NOVA DINÂMICA”
A SJM “tem estado num limbo desde que Stanley Ho ficou incapacitado [em 2009], não tem havido realmente qualquer direcção ou visão na empresa. A consolidação dos votos e procurações por detrás de Pansy Ho dar-lhe-á o controlo de que necessita para que a SJM ganhe uma nova dinâmica”, defendeu o analista. A “dança das cadeiras” levará provavelmente à perda de poder da quarta mulher de Stanley Ho, Angela Leong, actualmente co-presidente da SJM, com Daisy Ho, irmã de Pansy.
“Penso que o acordo [de poder] partilhado cessará quando Pansy Ho eventualmente se mudar para a SJM e assumir o controlo”, antecipou Lee. O advogado especialista na área do jogo, Carlos Lobo, é da mesma opinião. “A Angela é a pessoa que tem uma ligação maior a Macau, é deputada na Assembleia Legislativa há vários anos, e sempre liderou, enquanto Stanley Ho estava capaz, uma boa parte dos projectos da SJM”, lembrou o jurista. “Ganhou muita experiência e conseguiu navegar numa área extremamente complexa”, mas “está bastante enfraquecida e terá dificuldades em retomar a posição que tinha há alguns anos”, defendeu. Lawrence Ho, irmão de Pansy, detentor de um concorrente da SJM, a subconcessionária Melco Resorts & Entertainment, é uma incógnita no futuro xadrez. “Tenho visto muito pouca cooperação entre os dois, ele é muito independente”, apontou Lee. Para Carlos Lobo, “não se pode descartar o facto de que Lawrence faz parte deste mesmo grupo de irmãos que está a tomar conta deste processo”, defendendo que tem “potencial para ser alguém que as pessoas em Macau revejam como o real sucessor do pai”.
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10.7.2020 sexta-feira
EDUCAÇÃO DSEJ DÁ BOA NOTA AO REGRESSO ÀS AULAS
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O suspeito terá aderido a um grupo de conversação com mais de 100 participantes, onde o vídeo foi partilhado
PORNOGRAFIA INFANTIL RESIDENTE DETIDO POR DIVULGAR CONTEÚDO COM MENORES
Choque e cadeia
É o segundo caso em dois dias. Depois de informada pela Interpol, a PJ deteve mais uma pessoa por difusão de conteúdos pornográficos com menores. Desta feita, o suspeito é um residente de Macau de 65 anos. De acordo com as autoridades, o homem tem ainda na sua posse mais quatro vídeos e 70 fotografias da mesma natureza
U
M residente de Macau de 65 anos foi detido na passada quarta-feira após ter publicado um vídeo pornográfico que conta com a participação de menores. De acordo com a Polícia Judiciária (PJ), a publicação, que foi feita com recurso à aplicação móvel de uma plataforma não especificada, revela um menor de idade a ter relações sexuais com uma mulher. Segundo as autoridades, o vídeo foi publicado pelo suspeito na segunda-feira. Os dois intervenientes, têm nacionalidade estrangeira e não têm qualquer ligação com Macau. Recorde-se que o caso acontece um dia depois da detenção em Coloane de um trabalhador não residente (TNR) de nacionalidade filipina que tentou
publicar um vídeo no Facebook, cujo conteúdo mostra uma rapariga com menos de 14 anos a ter relações sexuais com um homem. Tal como no caso que envolveu o TNR, o alerta para a publicação de conteúdo relacionado com pornografia infantil por parte do residente de Macau, foi transmitido à PJ pela Organização Internacional de Polícia Criminal, Interpol. Após ter sido notificada na terça-feira de que o endereço de IP fornecido pela Interpol pertencia a Macau, a PJ deteve o suspeito no interior do seu apartamento na zona envolvente à Avenida do Ouvidor Arriaga. No decorrer da investigação, a PJ encontrou o conteúdo incriminatório no telemóvel do suspeito, que admitiu, de
seguida, ter descarregado o vídeo através de uma plataforma social estrangeira. Para o fazer, depois de se registar gratuitamente como membro da plataforma em questão, o suspeito terá aderido a um grupo de conversação com mais de 100 participantes, onde o vídeo foi partilhado, permitindo-lhe assim fazer o download. No mesmo grupo, o suspeito teve ainda acesso a mais vídeos de índole pornográfica com menores, tendo inclusivamente partilhado outros dois conteúdos da mesma natureza, noutros dois grupos de conversação.
IMAGENS COMPROMETEDORAS
Segundo a PJ, no decorrer da investigação, foram encontrados centenas de filmes e fotografias de cariz pornográfico, entre os quais foi possível confirmar
que quatro vídeos e 70 fotografias estão relacionados com pornografia infantil. Afastado, para já, ficou o cenário de os conteúdos estarem de alguma forma relacionados com Macau. O caso foi entregue ao Ministério Público, onde o suspeito vai responder pela prática de crimes relacionados com “Pornografia de Menor”, podendo ser punido com uma pena de prisão de 1 a 5 anos. Em causa está o artigo do Código Penal que prevê a produção, distribuição, venda, importação, exportação ou difusão “a qualquer título ou por qualquer meio” ou aquisição e detenção para esses fins, de materiais relacionados com pornografia infantil. Pedro Arede
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processo do regresso às aulas da escola secundária e primária foi um sucesso, embora haja famílias a expressarem preocupações. Foi esta a ideia transmitida por Wong Ka Ki, chefe do Departamento de Ensino da Direcção dos Serviços de Educação e Juventude (DSEJ), no programa do canal chinês da TDM “Fórum Macau”, noticiou o Ou Mun. De acordo com o responsável, as opiniões recolhidas pelo organismo mostram que os familiares se preocupam com a ansiedade dos filhos, com o facto de estes não se adaptarem à aprendizagem ou terem dificuldades quando passam de ano por falta de conhecimentos. Assim, a DSEJ vai reforçar a comunicação com as escolas e fazer ajustes consoante cada caso. A maior parte das escolas encontra-se na fase das avaliações e o final do ano lectivo acontece entre meados e o final de Julho. Cheong Chit, participante no programa e reitor da Escola Ilha Verde, afirmou que neste ano lectivo a escola cancelou os exames, avaliando os seus alunos através de provas e outros mecanismos. Já Kou Kam Fai, reitor da Escola Secundária Pui Ching, disse que a escola tornou mais flexíveis as regras para passar de ano, ao aumentar a possibilidade de repetição de exames e permitir aos alunos da escola primária transitarem para o ano seguinte mesmo que tenham chumbado a alguma disciplina.
Estágios Reduzido número de vagas preocupa associação
As 1800 vagas destinadas ao plano de estágios para recém-licenciados não são suficientes para responder às necessidades dos finalistas. A preocupação foi manifestada por Iu Veng Ion, presidente da Associação de Recursos. De acordo com o canal chinês da TDM – Rádio Macau, Iu Veng Ion refere que, apesar de a taxa de desemprego não ter subido exponencialmente, o contexto de crise gerado pela pandemia leva a que muitas empresas não tenham vontade de recrutar mais funcionários. Por isso, o responsável aconselha ainda os recém-licenciados a baixar os seus requisitos salariais. Já Lam Lon Wai, vicepresidente da Federação das Associações dos Operários de Macau (FAOM) sugere que dada a necessidade do mercado, além de ajustar a proporção de TRN nas áreas das finanças, jogo e turismo, o Governo convença as empresas a ceder mais oportunidades de emprego aos residentes, nomeadamente aos recém-licenciados.
DSEJ CONFIRMADO CANCELAMENTO DE QUESTIONÁRIO QUE PEDIA OPINIÃO SOBRE DEPUTADOS
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M resposta ao HM, a Direcção dos Serviços de Educação e Juventude (DSEJ) confirmou a interrupção do inquérito sobre a resposta do Governo à covid-19 que incluía duas questões destinadas a recolher opiniões sobre os
deputados da Assembleia Legislativa (AL). Quanto aos motivos que levaram a Escola para Filhos e Irmãos dos Operários a distribuir o questionário aos encarregados de educação e alunos do ensino secundário, a DSEJ diz ter entrado em
contacto com o responsável da escola para averiguar mais detalhes. “O respectivo “inquérito” teve por objectivo elevar nos alunos do ensino secundário complementar a consciência cívica e incentivá-los, bem como, aos seus encarregados de educa-
ção, a prestarem atenção à sociedade, aos trabalhos do Governo contra a pandemia e aos relativos às linhas de acção governativa”. Na mesma nota, a DSEJ lembra ainda que a resposta ao questionário não era obrigatória. Recorde-se que
o inquérito, cujo título e primeiras cinco perguntas eram sobre a resposta à pandemia da covid-19, incluía duas questões sobre a popularidade dos deputados da Assembleia Legislativa (AL), ao jeito de sondagem. Nomeadamente, pedia aos
inquiridos para indicar “o nome dos três deputados que melhor conhecem” e para assinalar com uma cruz “três deputados cujo trabalho considera mais satisfatório”. P.A.
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sexta-feira 10.7.2020
A
S conversas digitais e gravações de voz guardadas na aplicação WeChat dos telemóveis não são escutas telefónicas e podem ser utilizadas como prova em crimes com uma moldura penal inferior a três anos. A decisão foi tomada ontem pelo colectivo de juízes liderado por Leong Fong Meng, no âmbito do caso Instituto de Promoção do Comércio e Investimento de Macau (IPIM). Antes da pausa para o almoço na sessão de ontem, Pedro Leal, advogado de Glória Batalha, pediu para que as mensagens da aplicação WeChat não fossem utilizadas como prova contra a sua cliente, uma vez que a moldura para os crimes pelos quais está acusada, de violação de segredo e abuso de poder, é inferior a três anos. Segundo o entendimento do advogado da antiga vogal do Conselho de Administração do IPIM, a intercepção ou gravação de comunicações telefónicas, ou meio técnico diferente, só pode ser feita para crimes com uma pena superior a três anos de prisão. Por este motivo, o causídico apontou que as mensagens de texto e de voz de WeChat de Glória Batalha não poderiam ser utilizadas como prova. “Independentemente da forma como foram obtidas as provas, os crimes são punidos com uma pena que não é superior a três anos e é por essa questão que as provas não podem ser utilizadas”, justificou o advogado. Ouvido sobre o requerimento, o delegado do Ministério Público (MP), Pak Wa Ngai, defendeu a legalidade das provas. “Acho que esta é uma questão bastante pertinente”, começou por ressalvar. “Mas as disposições sobre as escutas não se aplicam porque estamos a falar de dados que foram obtidos nos telemóveis e nos backups dos telemóveis no material apreendido. As provas estão a ser utilizadas de forma legal”, indicou Pak. Após o almoço, Leong Fong Meng anunciou a decisão e aceitou as provas: “O tribunal entende que não se tratam de escutas telefónicas. Os dados estavam no telemóvel, mas foram obtidos
CASO IPIM CONVERSAS NO WECHAT NÃO SÃO “ESCUTAS”
Está em linha
O Ministério Público decidiu ontem abrir mais uma investigação à empresa Hunan por suspeitar que foi obtido um empréstimo com base em obras nunca realizadas posteriormente [...] Todos estes dados foram obtidos com autorização de um magistrado e passaram pelo Juízo de Instrução Criminal”, sublinhou. Esta interpretação foi igualmente justificada com um acórdão de 2016 do Tribunal de Segunda Instância, que segundo a juíza decidiu que aos dados no telemóvel não se aplicam as disposições das escutas. A decisão pode agora ser recorrida durante um prazo de 20 dias.
MAIS UMA
Ontem, o MP decidiu também começar mais uma investigação relacionada à Companhia de Engenharia de Instalação de Equipamentos Hunan, por mais um crime de falsificação de documentos. Em causa, está um documento apresentado na terça-feira pelo advogado de Wu Shu Hua, Kwong Kuok On, sobre uma carta enviada aos Serviços de Economia (DSE). Nesse documento, era focado um pedido de apoio para a compra de 12 máquinas para obras no casino Galaxy, no valor de 1,7 milhões de patacas.
“O tribunal entende que não se tratam de escutas telefónicas. Os dados estavam no telemóvel, mas foram obtidos posteriormente.” LEONG FONG MENG JUÍZA
A empresa Hunan tem como accionistas Ng Kuok Sao, Kevin Ho e um empresário do Interior Tang Zhang Lu, que são igual-
mente os únicos gerentes. Ainda esta semana Kevin Ho afirmou que apesar de ser accionista da empresa criada “há 11 ou 12
anos” nunca esteve envolvido na sua gestão. A acusação acredita que a empresa Hunan era uma fachada para permitir que os clientes do esquema do empresário Ng Kuok Sao – o principal arguido do caso IPIM e acusado de liderar uma associação criminosa – obtivessem autorização de residência temporária em Macau. Foi também por este motivo que o tribunal pediu anteriormente informações à operadora de jogo Galaxy, para perceber se a Hunan teve algum envolvimento nas obras da segunda fase do casino com o mesmo nome. João Santos Filipe
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BANCO DA CHINA ÂNGULO DE CCTV CAPTA PIN DOS UTILIZADORES NO MULTIBANCO
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URANTE a sessão de ontem foram exibidas imagens fornecidas pelo Banco da China às autoridades, em que uma empregada do empresário Ng Kuok Sao utiliza o multibanco, em 2018. Apesar de a questão ter sido ignorada em tribunal, o ângulo de uma das três câmaras instaladas pelo Banco da China no local permite captar o código pin inserido pela utilizadora. Por esse motivo as imagens da câmara que apontam ao painel de controlo têm no centro um quadrado preto a tapar o painel de controlo da máquina ATM, onde a empregada estava a inserir o código pin da conta. A mulher, que utilizava o multibanco da empresa, estava ainda acompanhada por uma folha com vários números. A partir do zoom das imagens, de alta resolução, as autoridades conseguiram aceder a todo o documento. Ontem, o HM entrou em contacto com o Banco
da China, já depois do horário do expediente, para perceber a necessidade de instalar um câmara de segurança que permite captar imagens do utilizador a inserir o código pin, mas até ao fecho da edição não recebeu qualquer resposta. As máquinas de multibanco aconselham as utilizadores a colocar a mão por cima do painel de controlo quando inserem o código, o que poderia impedir a captação do código pessoal. Também o Gabinete de Protecção de Dados Pessoais e a Autoridade Monetária de Macau foram contactados sobre o mesmo assunto, durante o horário de trabalho, mas não houve qualquer resposta.
MANDADO DE NOTIFICAÇÃO N.° 481/AI/2020
-----Atendendo à gravidade para o interesse público e não sendo possível proceder à respectiva notificação pessoal, pelo presente notifique-se a infractora LI WANHUA, portadora do passaporte da RPC n.° ED2606xxx, que na sequência do Auto de Notícia n.° 152.1/DI-AI/2018, levantado pela DST a 30.07.2018, e por despacho da signatária de 18.05.2020, exarado no Relatório n.° 224/DI/2020, de 28.04.2020, em conformidade com o disposto no n.° 1 do artigo 14.° da Lei n.° 3/2010, lhe foi desencadeado procedimento sancionatório por suspeita de prestação de alojamento ilegal na fracção autónoma situada na Rua de Bruxelas n.° 93, Fu Tat Fa Yuen, 8.° andar AF, Macau.-----------No mesmo despacho foi determinado que deve, no prazo de 10 dias, contado a partir da presente publicação, apresentar, querendo, a sua defesa por escrito, oferecendo nessa altura todos os meios de prova admitidos em direito, não sendo admitida a apresentação de defesa ou de provas fora do prazo conforme o disposto no n.° 2 do artigo 14.° da Lei n.° 3/2010.-------------A matéria apurada constitui infracção ao artigo 2.° da Lei n.° 3/2010, punível nos termos do n.° 1 do artigo 10.° do mesmo diploma.------------------------------------O processo administrativo pode ser consultado, dentro das horas normais de expediente, no Departamento de Licenciamento e Inspecção desta Direcção de Serviços, sito na Alameda Dr. Carlos d’Assumpção n.os 335-341, Edifício ‘‘Centro Hotline’’, 18.° andar, Macau.-------------------------------------------------------------Direcção dos Serviços de Turismo, aos 3 de Julho de 2020. A Directora dos Serviços, Maria Helena de Senna Fernandes
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10.7.2020 sexta-feira
Concerto Náv na Livraria Portuguesa
No domingo, entre as 18h e as 18h40, os livros são a porta de entrada para um concerto da banda Náv. O grupo foi criado em Macau em meados do ano passado, e desde então “tem criado sons meditativos, usando o instrumento orgânico Handpan, combinando ritmos de percussão com melodias hipnóticas”. A banda indica ainda que está a trabalhar num álbum onde expande o repertório musical, com mais instrumentos acústicos. O evento tem lotação limitada, é de entrada gratuita e vai ser transmitido pelo facebook.
Sofitel Segunda ronda de Frizdale
“Frizdale no Sofitel – volume 2”, é o nome do evento que vai ocupar o espaço do salão de baile do Sofitel hoje à noite, a partir das 22h. O som vai estar a cargo de quatro DJs de origens internacionais, como o Reino Unido e Portugal : “room service”, “DBLSDS”, “relaxmarco” e “beefy buns”. A entrada custa 100 patacas por pessoa.
Notre-Dame Reconstrução do pináculo tem “amplo consenso”
A nova ministra da Cultura de França, Roselyne Bachelot, afirmou ontem que existe “um amplo consenso” para que o pináculo da catedral de Notre-Dame seja reconstruído com a mesma forma que tinha antes do incêndio de 15 de Abril de 2019. “Existe um amplo consenso na opinião pública e entre os responsáveis pela decisão” sobre como reconstruir o pináculo, declarou a ministra, referindo que é sempre difícil a obra sair exatamente idêntica, mas pelo menos deverá captar o “espírito” do pináculo. “No entanto, creio que será o Presidente da República (Emmanuel Macron) que tomará” a decisão, concluiu Roselyne Bachelot. A ministra fez estas declarações numa entrevista à radio France Inter, poucas horas antes de uma comissão criada para tratar deste assunto, se pronunciar sobre o assunto.
Emoções fortes ARTE RETROSPECTIVA DO TRABALHO DE PAULA REGO NAS GALERIAS TATE ATÉ FINAIS DE 2021
As quatro galerias britânicas - Tate Britain, Tate Modern, Tate St. Ives e Tate Liverpool - preparam-se para acolher uma retrospectiva do trabalho da pintora portuguesa Paula Rego, conhecida pelos temas fortes e emotivos da sua pintura e pelo excelente uso do pastel. O público poderá também conhecer melhor o trabalho de pintores como Rodin e Kusama, entre outros
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ETROSPECTIVAS dos artistas Paula Rego e Philip Guston, e mostras de criadores como Yayoi Kusama, Lubaina Himid, Heather Phillipson e Auguste Rodin estão previstas na programação das galerias Tate, em Londres, até final de 2021, anunciou a instituição.
A programação com os destaques das quatro galerias britânicas - a Tate Britan, Tate Modern, Tate St. Ives e a Tate Liverpool, única fora da capital - inclui ainda artistas como Petrit Halilaj, Shophie Taeuber-Arp, Emily Speed e Anicka Yi. A retrospectiva dedicada à artista portuguesa Paula Rego, anterior-
mente anunciada, estará patente de 16 de Junho a 24 de Outubro de 2021, na Tate Britain. Radicada em Londres, a pintora portuguesa detentora “de um poder imaginativo extraordinário”, segundo o comunicado da Tate, apresentará um percurso da sua carreira em pinturas, desenhos e impressões.
“Rego desempenhou um papel-chave na redefinição da arte contemporânea figurativa, particularmente na sua forma intransigente de representar as mulheres”, descreve a galeria britânica sobre a artista portuguesa. Paralelamente, a galeria vai apresentar a mostra “Hope. Stru-
eventos 11
sexta-feira 10.7.2020
COVID-19 MIA COUTO E JULIAN FUKS ENTRE 29 AUTORES CONVIDADOS A ESCREVER CONTOS SOBRE PANDEMIA
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ggle. Change: Photographing Britain and the World 1945-79” (“Esperança. Luta. Mudança: Fotografar a Grã-Bretanha e o Mundo 1945-79”, em tradução livre), com 300 fotografias documentais que contam a história moderna do território, nos seus conflitos e intervenções no estrangeiro, desde as migrações aos movimentos de direitos civis.
OUTRAS MOSTRAS E INSTALAÇÕES
Para a abertura da sessão da primavera de 2021, a Tate Modern vai apresentar, de 4 de Fevereiro a 31 de Maio - uma retrospectiva
de um dos mais destacados pintores norte-americanos, modernos, Philip Guston (1913-1980), percorrendo mais de 50 anos da carreira do artista. Guston ficou conhecido por fazer a ponte entre o pessoal e o político, o abstracto e o figurativo, o humorístico e o trágico, “criando algumas das pinturas mais influentes do século XX”, segundo a Tate. Serão também apresentadas duas instalações imersivas da japonesa Yayoi Kusama, da série “Infinity Mirror Rooms”, que transportam o visitante para o interior do universo da artista, e das
A retrospectiva dedicada à artista portuguesa Paula Rego, anteriormente anunciada, estará patente de 16 de Junho a 24 de Outubro de 2021, na Tate Britain
suas “intermináveis reflexões”. Para o Verão de 2021, a Tate Britain vai celebrar duas grandes figuras da arte moderna. É o caso de Auguste Rodin, na exposição “The EY Exhibition: The Making of Rodin”, de 6 de Maio a 10 de Outubro, sobre o escultor francês, cujas criações radicais provocaram uma cisão com a escultura tradicional, no final do século XIX. A exposição dedicada a Sophie Taeuber-Arp vai mostrar o trabalho multidisciplinar da artista francesa de origem suíça, um dos principais nomes do abstraccionismo, que se destacou nos anos 1920 e 1930, desafiando fronteiras da arte tradicional. Admirada por Kandinsky, Klee, Cocteau, Duchamp, Tzara e Jean Arp, de quem foi companheira de toda a vida, a expressão de Taeuber-Arp estende-se da pintura à escultura, do design têxtil e de mobiliário a objectos, assim como da arquitectura à dança. A Tate Liverpool irá mostrar trabalhos em pintura e impressões de Lucian Freud, e um novo trabalho da criadora britânica Emily Speed, mostras já anunciadas previamente.
A Tate St. Ives irá inaugurar uma exposição do artista do Kosovo Petrit Halilaj, cujas instalações exploram a herança cultural e memória.
MAIS ANDY WHAROL
No Outono do próximo ano Anicka Yi`s irá explorar na Tate Modern as ligações entre a ciência e o uso experimental de materiais, a par de uma exposição de Lubaina Himid, com trabalhos recentes sobre aspetos da vida contemporânea. Na programação da Tate há ainda duas exposições de grandes dimensões que ligam a História cultural e a sociedade: “Hogarth and Europe”, com trabalhos do artista britânico William Hogarth (1697-1764), e “Britain and the Caribbean”, com obras de artistas do Caribe que escolham a Grâ-Bretanha para viver, estão também previstas na Tate Britain. Ainda este ano, a Tate Modern confirma o prolongamento da exposição dedicada da Andy Warhol para mais dois meses, até 15 de Novembro, e também a mostra dedicada ao trabalho do norte-americano Ed Ruscha, até Julho de 2021.
IA Couto e Julian Fuks estão entre os 29 escritores convidados pelo The New York Times Magazine para escrever contos inspirados pelo momento que o mundo atravessa, varrido pela pandemia de covid-19, no âmbito de um projecto intitulado “Decameron”. Os escritores moçambicano e brasileiro são os únicos autores de língua portuguesa a figurar na lista, que integra ainda nomes como Margaret Atwood, Karen Russell, David Mitchell, Colm Toibin, Paolo Giordano, Leila Slimani, Rachel Kushner e Kamila Shamsie. O “Projeto Decameron” ganhou o nome inspirado pela obra-prima de Giovanni Bocaccio, uma colecção de cem novelas escritas entre 1348 e 1353, quando a Peste Negra devastou Florença. “Decameron” está estruturado como uma história composta por cem contos, contados por um grupo de sete raparigas e três rapazes que se abrigam numa vila isolada de Florença, para fugir da peste. Da mesma forma, “à medida que a pandemia de covid-19 foi varrendo o mundo”, o The New York Times Magazine pediu “a 29 autores que escrevessem novos contos inspirados pelo momento”, porque “quando a realidade é surreal, apenas a ficção pode fazer sentido”, como se lê na página ‘online’ da publicação, que tem todos os contos disponíveis para leitura. Edwidge Danticat, Tommy Orange, Charles Yu, Victor Lavalle, Uzodinma Iweala, Liz Moore, Etgar Keret, Mona Awad, Andrew O’Hagan, Téa Obreht, Alejandro Zambra, Dinaw Mengestu, Rivers Solomon, Yiyun Li, Dina Nayeri, Esi Edugyan, Laila Lalami, John Wray e Matthew Baker são os restantes autores integrados neste projecto.
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10.7.2020 sexta-feira
INUNDAÇÕES OITO MORTOS E SEIS DESAPARECIDOS EM 24 HORAS
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ELO menos oito pessoas morreram e outras seis estão desaparecidas depois das inundações e deslizamentos de terra que ocorreram nas últimas 24 horas na China, de acordo com dados ontem divulgados pelas autoridades chinesas. Um deslizamento de terras que ocorreu na quarta-feira, na província central de Hubei, provocou oito mortos, informou a estação pública de televisão CCTV. Pelo menos seis pessoas ainda estão desaparecidas na província de Guizhou (sudoeste), após outro deslizamento de terras que afectou três aldeias. Na localidade de Tongren, que fica numa área montanhosa a cerca de 1.500 quilómetros a sudoeste de
Xangai, 19 casas foram soterradas pelos deslizamentos de terras e outras 60 sofreram danos consideráveis, segundo as autoridades. Pelo menos 156 pessoas tiveram que ser retiradas das suas habitações. Entre os destroços e em circunstâncias difíceis, os socorristas procuravam ontem resgatar eventuais casos de pessoas soterradas. Desde o início de Junho, que o sul do país está a ser atingido por chuvas torrenciais que causam deslizamentos de terras e inundações. A inundações em todo o país já provocaram pelo menos 120 mortos ou desaparecidos este ano e os danos são estimados em 41,6 mil milhões de yuans, segundo o Diário do Povo.
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DIPLOMACIA PEQUIM PEDE RECONCILIAÇÃO COM WASHINGTON
Cachimbo da paz
O
min i s t r o dos Negócios Estrangeiros chinês apelou ontem a uma "reconciliação" entre a China e os Estados Unidos e propôs que os dois lados elaborem uma lista para identificar e resolver as disputas que estão a abalar a relação. Num discurso publicado no portal do ministério, Wang Yi reconheceu que os dois países enfrentam "os desafios mais sérios" desde que estabeleceram relações diplomáticas, em 1979, e defendeu que os laços se desenvolvam "de maneira sincera".
Wang Yi considerou que ambas as potências devem “coexistir pacificamente e enviar energias positivas”
"A China está pronta para falar se os Estados Unidos quiserem. Somente o diálogo pode evitar mal-entendidos", apontou. Wang Yi considerou que ambas as potências devem "coexistir pacificamente e enviar energias positivas". O chefe da diplomacia chinesa sugeriu a elaboração de vários dossiers para os dois países analisarem. O primeiro trataria de questões "bilaterais e globais", enquanto o segundo trataria de "questões problemáticas" que, em teoria, ainda podem ser resolvidas por meio de negociação. No terceiro constariam problemas não resolvidos.
MAUS CAMINHOS
Segundo Wang, a política dos EUA em relação à China tem como base "julgamentos errados" e a chave seria que Washington aceitasse que não pode mudar o país asiático.
"A China não pode ser como os Estados Unidos. Temos o nosso próprio caminho e as nossas características", argumentou. "Devemos gerir disputas, minimizar os danos que estas podem causar ao relacionamento. Devemos procurar um terreno comum", acrescentou. Nos últimos anos, Washington passou a definir a China como a sua "principal ameaça", apostando numa estratégia de contenção das ambições chinesas, que resultou já numa guerra comercial e tecnológica e em disputas por influência no leste da Ásia. As relações deterioram-se ainda mais nos últimos meses, com trocas de acusações sobre a origem da pandemia do novo coronavírus ou a aprovação da nova lei de segurança nacional de Hong Kong.
INFLAÇÃO REGISTADA SUBIDA HOMÓLOGA DE 2,5% EM JUNHO
O
índice de preços ao consumidor (IPC) da China, o principal indicador da inflação, registou um crescimento homólogo de 2,5 por cento, em Junho passado, informou ontem o Gabinete Nacional de Estatísticas do país asiático (GNE). O número está em linha com a previsão dos analistas e constitui um ligeiro aumento em relação a Maio, quando aumentou 2,4% por cento, face ao mesmo mês do ano anterior. Ainda assim, trata-se do segundo menor aumento percentual desde Abril de 2019, ilustrando o impacto económico das medidas de confinamento aplicadas na China para conter a pandemia da covid-19, no primeiro trimestre do ano.
Segundo o estatístico do GNE Dong Lijuan, os dados de Junho devem-se ao "progresso na retomada dos negócios nas cidades", além das políticas adoptadas "para garantir a oferta e estabilizar os preços". À semelhança dos meses anteriores, os dados do GNE revelaram que os principais protagonistas do aumento da inflação foram os alimentos, com uma subida de 11,1 por cento, em relação a Junho de 2019. O preço da carne de porco, principal fonte de proteína animal na dieta chinesa, aumentou 81,6 por cento, refletindo os efeitos de uma peste suína que dizimou a produção doméstica da China a partir de meados de 2018.
O preço das frutas frescas caiu 29 por cento e o dos ovos 13,6 por cento, enquanto o dos legumes frescos aumentou 4,2 por cento. O GNE indicou que o preço dos produtos não alimentares aumentou 0,3 por cento, em relação ao ano anterior, e o dos bens de consumo 3,5 por cento. O custo dos serviços aumentou 0,7 por cento. O custo dos cuidados médicos subiu 1,9 por cento, em Junho, o mesmo aumento observado na educação, cultura e entretenimento, enquanto os preços dos transportes e comunicações caíram 4,6 por cento. O preço do vestuário caiu 0,4 por cento e o da habitação 0,6 por cento.
Bolsa Atingidos máximos dos últimos cinco anos após soma contínua de ganhos O índice CSI 300, que reúne as 300 maiores empresas da China por capitalização de mercado, encerrou ontem no máximo dos últimos cinco anos, depois de somar ganhos consecutivos desde o início de Julho. O índice atingiu os 4.774 pontos, uma valorização de 18 por cento, face aos valores de há um mês. A maior parte deste aumento registou-se em
Julho - quase 15 por cento. Desde o início do ano, a subida do índice foi de 15 por cento, pelo que a subida nas últimas semanas apagou as perdas registadas no primeiro trimestre, devido à pandemia do novo coronavírus, sobretudo em Março, quando afundou 16 por cento. Os investidores animaram-se após injecções de liquidez do banco central da China e à medida
que o surto de covid-19 no país foi controlado. O índice CSI 300 atingiu o pico histórico em Junho de 2015 histórico, alcançando os 5.335,12 pontos, ou 11,8 por cento superior ao nível em que encerrou ontem. No entanto, as cotações chinesas registaram um 'crash' logo a seguir e, em pouco mais de três meses, o índice perdeu quase 40 por cento do valor.
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sexta-feira 10.7.2020
HK AUSTRÁLIA SUSPENDE TRATADO DE EXTRADIÇÃO
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Governo australiano suspendeu ontem o tratado de extradição com Hong Kong e prorrogou os vistos para os residentes daquele território no país, em resposta à lei da segurança nacional imposta por Pequim. O primeiro-ministro australiano, Scott Morrison, anunciou que uma série de vistos serão alargados de dois para cinco anos, uma medida que abrange cerca de 10.000 pessoas. Os cidadãos de Hong Kong na Austrália com vistos de estudante ou de trabalho temporário também podem obter o estatuto de residente permanente, explicou. O Governo australiano advertiu ainda os seus nacionais que vivem em Hong Kong sobre o risco de detenção ao abrigo da nova lei. Numa actualização dos seus conselhos
de viagem, o Ministério dos Negócios Estrangeiros australiano exortou os seus cidadãos a "reconsiderarem a necessidade de permanecerem em Hong Kong", caso tenham preocupações sobre a nova lei. Num aviso emitido ontem, o ministério australiano disse que a nova lei de segurança nacional imposta pela China a Hong Kong poderia ser "interpretada de forma ampla", o que poderia levar os australianos que vivem na antiga colónia britânica a serem processados na China continental. Embora salientando que "ainda não é claro como a nova lei será aplicada e o que ela abrange", apontou que os australianos "podem enfrentar um risco acrescido de detenção por motivos de segurança nacional vagamente definidos".
O
Presidente russo, Vladimir Putin, defendeu ontem os esforços do homólogo chinês para “preservar a segurança nacional em Hong Kong”, durante uma conversa na qual os líderes se comprometeram a “defender mutuamente a soberania” dos seus países. O ministério dos Negócios Estrangeiros da China informou que Putin disse a Xi Jinping, durante uma conversa por telefone, que se opõe a “qualquer medida provocadora que comprometa a soberania chinesa”. “Acho que a China é totalmente capaz de manter a prosperidade e a estabilidade de Hong Kong a longo prazo”, disse Putin, segundo o comunicado do Ministério. Xi felicitou ainda Putin, pelas alterações à Constituição russa, votadas entre 25 de Junho e 1 de Julho, que permitirão ao Presidente russo permanecer no poder até 2036. “Como sempre, a China apoiará a Rússia na escolha de um caminho de desenvolvimento que se adapte às suas características”, disse Xi, acrescentando que “é
Amigos para sempre Putin apoia Xi para “preservar segurança nacional em Hong Kong
“Acho que a China é totalmente capaz de manter a prosperidade e a estabilidade de Hong Kong a longo prazo.” VLADIMIR PUTIN PRESIDENTE RUSSO
necessário que os dois países continuem a cooperar, numa altura de mudanças na situação internacional”. Os dois líderes frisaram a sua rejeição pela “interferência de outros países” nos seus assuntos internos, algo que deve ser “impedido”, numa clara referência à suposta interferência estrangeira em Hong Kong. Vários países criticaram a decisão da China de impor uma lei de segurança nacional em Hong Kong, por considerarem que ameaça as liberdades na cidade, cuja soberania foi devolvida pela China, pelo Reino Unido, em 1997, mas que manteve estatuto de região administrativa especial, com uma miniconstituição própria. A regra jurídica, promulgada pela Assembleia Popular Nacional, prevê prisão perpétua por “secessão, subversão contra o poder do Estado, actividades terroristas e conluio com forças estrangeiras para colocar em risco a segurança nacional”.
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Edital n.º Processo n.º Assunto Local
EDITAL
: 45/E-BC/2020 : 43/BC/2020/F : Demolição de obra não autorizada pela infracção às disposições do Regulamento de Segurança Contra Incêndios (RSCI) : Avenida de Horta e Costa n.º 18-F, EDF. Tak Kaun, parte do terraço sobrejacente à fracção 5.º andar D, Macau.
Lai Weng Leong, Subdirector da Direcção dos Serviços de Solos, Obras Públicas e Transportes (DSSOPT), no uso das competências delegadas pelo Despacho n.º 06/SOTDIR/2020, publicado no Boletim Oficial da Região Administrativa Especial de Macau (RAEM) n.º 11, II Série, de 11 de Março de 2020, faz saber que ficam notificados o dono da obra ou seu mandatário, bem como os utentes do local acima indicado, cujas identidades se desconhecem, do seguinte: 1. Na sequência da fiscalização realizada pela DSSOPT, apurou-se que no local acima indicado realizou-se a seguinte obra não autorizada: Obra
Infracção ao RSCI e motivo da demolição
Renovação de um compartimento com cobertura e gradeamento Infracção ao n.º 4 do artigo 10.º, obstrução do 1.1 metálicos, paredes em alvenaria de tijolo e janelas de vidro. caminho de evacuação. 2. De acordo com o n.º 1 do artigo 95.º do RSCI, aprovado pelo Decreto-Lei n.º 24/95/M de 9 de Junho, foi realizada, no seguimento de notificação por edital publicado nos jornais em língua chinesa e em língua portuguesa de 4 de Junho de 2020, a audiência escrita dos interessados, mas estes não apresentaram qualquer resposta no prazo indicado e não foram carreados para o procedimento elementos ou argumentos de facto e de direito que pudessem conduzir à alteração do sentido da decisão de ordenar a demolição da obra não autorizada acima indicada. 3. Sendo as escadas, corredores comuns e terraço do edifício considerados caminhos de evacuação, devem os mesmos conservar-se permanentemente desobstruídos e desimpedidos, de acordo com o disposto no n.º 4 do artigo 10.º do RSCI. Assim, nos termos do n.º 1 do artigo 88.º do RSCI e no uso das competências delegadas pela alínea 8) do n.º 1 do Despacho n.º 06/SOTDIR/2020, publicado no Boletim Oficial da Região Administrativa Especial de Macau (RAEM) n.º 11, II Série, de 11 de Março de 2020, e por despacho do signatário de 6 de Julho de 2020 exarado sobre a informação n.º 05451/DURDEP/2020, ordena aos interessados que procedam, por sua iniciativa, no prazo de 8 dias contados a partir da data da publicação do presente edital, à respectiva demolição e à reposição do local afectado, bem como à remoção de todos os materiais e equipamentos nele existentes e à sua desocupação, devendo, para o efeito e com antecedência, apresentar nesta DSSOPT o pedido de demolição dass obrass ilegal, cujos trabalhos só podem ser realizados depois da sua aprovação. A conclusão dos referidos trabalhos deverá ser comunicada à DSSOPT para efeitos de vistoria. 4. Findo o prazo da demolição e da desocupação, não será aceite qualquer pedido de demolição da obra acima mencionada. De acordo com o n.º 2 do artigo 139.º do Código do Procedimento Administrativo, aprovado pelo Decreto-Lei n.º 57/99/M, de 11 de Outubro, notifica-se ainda que nos termos dos n.os 1 e 2 do artigo 89.º do RSCI, findo o prazo referido, a DSSOPT, em conjunto com outros serviços públicos e com a colaboração do Corpo de Polícia de Segurança Pública, procederá à execução dos trabalhos acima referidos, sendo as despesas suportadas pelos infractores. Uma vez iniciados os trabalhos, os infractores não poderão solicitar o seu cancelamento. Os materiais e equipamentos deixados no local acima indicado ficam aí depositados à guarda de um depositário a nomear pela Administração. Findo o prazo de 15 (quinze) dias a contar da data do depósito e caso os bens não tenham sido levantados, consideram-se os mesmos abandonados e perdidos a favor do governo da RAEM, por força da aplicação do artigo 30.º do Decreto-Lei n.º 6/93/M de 15 de Fevereiro. 5. Nos termos do n.º 3 do artigo 87.º do RSCI, a infracção ao disposto no n.º 4 do artigo 10.º é sancionável com multa de $4 000,00 a $40 000,00 patacas. Além disso, de acordo com o n.º 4 do mesmo artigo, em caso de pejamento dos caminhos de evacuação, será solidariamente responsável a entidade que presta os serviços de administração e/ou de segurança do edifício. 6. Nos termos do n.º 1 do artigo 97.º do RSCI e do n.º 7 do Despacho n.º 06/SOTDIR/2020, publicado no Boletim Oficial da RAEM n.º 11, II série, de 11 de Março de 2020, da decisão referida no ponto 3 do presente edital cabe recurso hierárquico necessário para o Secretário para os Transportes e Obras Públicas, a interpor no prazo de 8 (oito) dias contados a partir da data da publicação do presente edital. RAEM, 6 de Julho de 2020 Pela Directora de Serviços O Subdirector Lai Weng Leong
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h
10.7.2020 sexta-feira
Ficarão para sempre abertas estas mãos exageradas
FICÇÃO, ENSAIO, POESIA, FRAGMENTO, DIÁRIO
entre oriente e ocidente Gonçalo M. Tavares
Desenhos e matemática
1. Médico ginecologista judeu alemão. Estudou aviação e astronomia. Morreu em 1968. As temperaturas mais baixas atacam partes do corpo desprevenidas. Os infográficos de Fritz Kahn que no século XX explicavam a gripe, a estrutura do corpo, a linguagem e o desejo. Explicavam tudo. No século XXI, o gráfico tenta explicar, mas tropeça nas linhas e fica a balbuciar, meio mudo. 2. Tudo o que pode ser desenhado pode ser verdadeiro. Podemos desenhar algo e o seu contrário. Daí o perigo. 3. Dias e noites e dias. Miguel Cardoso lembra que Zeus trata bem aquele "que dispõe a casa/ e sabe o caminho da cama à cozinha/ o nome do vizinho, o tempo oportuno”. E que Zeus trata bem aquele que conhece ainda "os utensílios necessários, os trilhos que conduzem/ de volta à sala depois do campo vasto." Um trilho que vem do campo vasto e nos amarrota na cadeira - mas pouca gente vem hoje do campo vasto. Diminuiu de tamanho o mundo, e tudo que é vasto se vê de longe. 4. A nossa carta ser secreta, a carta dos outros ser acessível facilmente, eis a questão, mas colocada a grande escala; à Escala dos Estados e da guerra. Guerra micro e macro entre dois desejos: quero perceber o essencial do outro, quero esconder o essencial do outro. Pensar nos grandes códigos secretos em tempo de guerra. 5. Turing e uma carta que escreveu à própria mãe falando da sua investigação matemática e da possível aplicação em máquinas com um sistema “quase impossível de descodificar e muito rápido de codificar”. No final da carta, pergunta à mãe: “tenho dúvidas sobre a moralidade de semelhante coisa? Qual é a tua opinião?”. O matemático e a mãe.
ILUSTRAÇÃO ANA JACINTO NUNES
ARTES, LETRAS E IDEIAS 15
sexta-feira 10.7.2020
ofício dos ossos Valério Romão
O dia da grande dança J Á se passou muito tempo e isso nota-se. Sobretudo à noite, quando algumas pessoas vagueiam pelas ruas meio perdidas, perscrutando numa incredulidade que se renova a cada olhar a porta teimosamente fechada do bar onde, noite fora, diluíam às feridas no álcool até da dor restar apenas uma vaga memória a que regressariam somente no dia seguinte. Estranho paradoxo destes estranhos tempos: o álcool nas mãos impede a propagação do vírus; no bucho, fomenta-a. Também eu sinto falta da amizade desordeira e de regá-la até a algazarra ganhar um sentido a que apenas os iniciados têm acesso. A normalidade, ou o que quer que isto seja, voltou manca de onde quer que tenha estado. Embora tenhamos regressado ao dia-a-dia e às suas coisas, falta-lhes densidade e, sobretudo, diversidade. Esta normalidade é como entrar a medo na casa recém-assaltada e reparar que está tudo mais ou menos no sítio menos o que era essencial para dispersar temporariamente as tragédias que se vão acumulando.
Na rua organizam-se como se pode pequenos convívios. Os minimercados indianos, obrigados a fechar às oito da noite, mantêm a porta encostada depois da hora e pela frincha vão passando garrafas de cerveja que as pessoas recebem num murmúrio agradecido. Há uma certa clandestinidade em qua-
Há pessoas para quem a dança é uma coisa estranha que acontece nos outros. E há pessoas que precisam de dançar até deixar no chão da pista o rebanho de demónios variáveis que carregam diariamente às costas. Eu preciso dançar
(à Marta Lapa)
se tudo: nas pessoas que se juntam em número maior do que o permitido ou o aconselhado para jantar em casa de alguém, naqueles procuram um restaurante que lhes venda umas médias porque o indiano da rua já foi ou tem medo de ser multado por estar aberto depois da hora a que estava obrigado a encerrar. Beber depois das oito da noite tornou-se um acto discretamente revolucionário. Dançar é ainda mais difícil. As discotecas serão provavelmente os últimos sítios a abrir. Nota-se um pouco por todo o lado a ressaca dessa pouca catarse a que nos habituámos. Eu vejo a dança a insinuar-se no quotidiano das pessoas e nos seus gestos mais simples. Vejo-a na forma como as mãos se movimentam a entregar dinheiro e a receber troco; vejo-a na maneira como as pessoas abanam quase imperceptivelmente a cabeça ao som dos ritmos do trânsito na paragem do autocarro; vejo-a quando as pessoas, depois de meia dúzia de cervejas, fecham os olhos e batem compassadamente com a ponta do pé no chão, atentos à música que só eles ouvem. Há pessoas para quem a dança é uma coisa estranha
que acontece nos outros. E há pessoas que precisam de dançar até deixar no chão da pista o rebanho de demónios variáveis que carregam diariamente às costas. Eu preciso dançar. A nossa contemporaneidade, muito salubre e bem-comportada, propõe que possamos viver mais tempo e com melhor qualidade se evitarmos o excesso. Há toda uma ética da preservação ideal do indivíduo, da sua mente e do seu corpo, mediante a qual se desvaloriza quem preferiu os shots de tequila nocturnos aos batidos de açaí ao pequeno-almoço. O fumador é absolutamente desprezado. Para alguns, nem deveria merecer cuidados médicos quando na roleta do cancro lhe calhar garganta, boca ou pulmão. Eu bebo, e fumo, e danço. Provavelmente a minha passagem por aqui será mais breve do que a do meu compatriota vegano que mete no bucho seis horas de ginásio por semana. Dançar é o meu ginásio. O meu templo. Não sei quando acabará esta semi-vida a que estamos obrigados. Mas sei como se celebrará esse dia. A dançar.
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h tonalidades António de Castro Caeiro
10.7.2020 sexta-feira
Um dia de cada vez
Olha para este dia, Porque é a vida, A própria vida da vida.
A
VIDA da vida renova-se a cada instante. Não se sabe de onde vem nem para onde vai. Mas cada novo segundo esperado, expulsa o segundo presente, empurra-o para o passado há pouco. Olhem para o relógio. O modo como os segundos passam digitalmente. 4, 5, 6, 7. Quando está o 4, não está o 5. Quando está o 5, não está o 6, e quando está o 6 não está o 7. A descrição pode inserir advérbios. O ponteiro dos segundos passa pelos algarismos na direcção determinada, no seu movimento próprio, com a sua velocidade. A vida é indicada na presença máxima, quando ponteiro e algarismo coincidem e perde vivacidade logo no instante seguinte ou ainda não ganhou vida, quando está a segundos de se concretizar. Se assim é para os segundos, o que dizer dos dias? O dia de hoje é um enclave entre o dia de ontem e o dia de amanhã. A vida da vida no seu esplendor máximo atinge-se quando é dia, quando é o dia. Há dias felizes e dias tremendos. Não é a vivência psicológica dos dias. Um dia não acontece na mente, nem a todas as mentes. Acontece mesmo quando não estamos a dormir, quando submergimos, quando não tínhamos nascido, quando já tivermos morrido, a toda a humanidade por atacado a dormir e acordados, despertos ou intoxicados. E acontece num período de tempo. Podemos vivê-lo de diversas maneiras. Os dias passam de forma inexorável como os segundos que os perfazem. Amanhã está onde? Vem de onde para se tornar hoje? Não vem do passado, de certeza. É o dia de hoje que vai para o passado. O amanhã vem do futuro e expulsa o hoje de hoje para se tornar hoje e o hoje de hoje converte-se em ontem e o ontem em anteontem. Mas hoje, ontem e amanhã não estão numa linha, de maneira alguma. Nem o hoje é igual em todas as suas partes. O hoje tem muitas horas, muitos minutos e muitos segundos. Cada segundo é e não cheio de tempo. É escorradio, escapa. Ao escapar, o hoje transita para o sonho, perde o seu estatuto de actualidade. O amanhã não é ainda e não se sabe se será. Planeamos o amanhã que há ou não haverá, mas enquanto tal é um dia na nossa fantasia, que o digam todos os que não viveram para o testemunhar se pudessem falar. O amanhã é pura imaginação e o ontem não é senão um sonho. Só hoje há vida. A vida da vida é um dia. Mas os antigos também diziam que a vida era um só dia. Será o ontem o que havia antes de termos nascido? E o amanhã será a imaginação e a fantasia que
representamos do que haverá depois de termos morrido? O que houve antes de termos nascido e o que haverá depois de termos morrido não é realidade, não é de certeza actualidade. Quantos dias houve que nos passaram ao lado? Quantas semanas? Quantos meses? Para onde foram todos os anos em que nós vivemos sem saber bem como a fazer não se sabe bem o quê? Para onde foram décadas da nossa existência? Olhamos bem para cada um dos dias? Olhamos bem um só instante que fosse durante um só dia para ver o que estava a acontecer? É que os outros estão a acontecer, os outros estão a ir-se, o tempo está a decorrer, de forma inexorável, o nosso tempo está a passar, a minha vida está a passar e posso correr o risco de ter vindo à existência do nada que foi a eternidade do passado e estar a ir para a eternidade do futuro, amanhã, mesmo daqui a nada. E não olhei bem para um só dia, a essência da vida da vida.
Olha para este dia, Porque é a vida, A própria vida da vida. No seu breve curso residem Todas as realidades e todas as variedades da existência, A bênção do crescimento, O esplendor da acção, a glória do poder— Porquanto ontem foi apenas um sonho, E amanhã é Apenas a Visão, mas hoje, bem vivido, Torna todo o ontem num sonho de felicidade e Todo o amanhã numa visão de esperança. Olha bem, portanto, para este dia. Provérbio Sânscrito por Kalidasa, Poeta Indiano e dramaturgo Séc. V.
(f)utilidades 17
sexta-feira 10.7.2020
TEMPO
MUITO
NUBLADO
INVESTIDO PARA MATAR 32 2 4
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investigação do país. Sergei Furgal, governador da região de Khabarovsk, junto à fronteira com a China, foi detido na região e levado para Moscovo. Segundo o comité de investigação,
BAHT
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YUAN
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a mais alta agência de investigação criminal russa, Furgal é acusado de "organizar a tentativa de homicídio e o assassínio de vários empresários" locais entre 2004 e 2005.
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3 6 1 4 5 1 5 2 7
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34 Cineteatro SALA 1
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Um filme de: Tod Robinson Com: Sebastian Stan, William Hurt, Christopher Plummer 14.30, 21.30
A CHOO [C]
FALADO EM PUTONGHUA LEGENDADA EM CHINÊS E INGLÊS Um filme de: Kevin Ko & Peter Tsi Com: Kai Ko, Ariel Lin, Ta-Lu Wang 16.45, 19.30
LIGHT OF MY LIFE [C]
Um filme de: Casey Affleck Com: Anna Pniowsky, Casey Affleck, Tom Bawer, Elisabeth Moss 14.30, 17.00, 21.30
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1 4 3 7 6 2 5
2 3 4 5 7 6 1
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C I N E M A
THE LAST FULL MEASURE [C]
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SOLUÇÃO DO PROBLEMA 35
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PROBLEMA 36
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MAX
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S 3 U 7 2D1 O4 K 6 5U 36 6 2 2 4 3 1 5
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Um governador provincial no extremo oriente russo foi ontem detido por suspeitas de envolvimento numa série de homicídios e outros delitos graves, anunciou o comité de
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4 1 5 5 3 7 2 6 1
MIN
6 4 1 2 7 5 3
4 3 7 5 2 1 3 7 6 6 4 3 2 5 4 7 1 2 www. hojemacau. 1 6 5 com.mo
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# LAMHERE [B]
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FALADO EM FRANCÊS LEGENDADA EM CHINÊS E INGLÊS Um filme de: Eric Lartigau Com: Alain Chabat,, Doona Bae, Blanche Gardin 19.15 SALA 3
BEYOND THE DREAM [C] Um filme de: Chow Kwun-wai Com: Terence Lau, Cecilia Choi 14.30, 2130
FUKUSHIMA 50 [B]
FALADO EM JAPONÊS LEGENDADA EM CHINÊS E INGLÊS Um filme de: Setsuro Wakamatsu Com: Koichi Sato, Ken Watanabe 16.45, 19.00
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UMA SÉRIE HOJE
“Great Jones Street” é o terceiro romance do norte-americano Don DeLillo. Apesar de se sentir que é um livro de início de carreira, o autor já revela uma escrita escorreita e uma apetência para retirar sumo filosófico e teorizações alucinadas da actualidade. O livro tem como personagem principal uma estrela de rock, que também é o narrador, presumivelmente inspirada em Bob Dylan que foge das luzes da ribalta para se refugir num apartamento decrépito de Manhattan. Paranoia, fama, obsessão com a morte e a imortalidade seguem o percurso errante do protagonista. João Luz
GREAT JONES STREET I DON DELILLO
5 2 1 6 4 3 6 7 2 5 LIGHT 4 OF MY1LIFE 1 7 2 5 Propriedade Fábrica de Notícias, Lda Director Carlos Morais José Editores João Luz; José C. Mendes Redacção Andreia Sofia Silva; João Santos Filipe; Pedro Arede; Salomé Fernandes 6 1 7 3 Colaboradores Anabela Canas; António Cabrita; António de Castro Caeiro; António Falcão; Ana Jacinto Nunes; Amélia Vieira; Duarte Drumond Braga; Emanuel Cameira; Gisela Casimiro; Gonçalo Lobo Pinheiro; Gonçalo M.Tavares; João Paulo Cotrim; José Drummond; José Navarro de Andrade; José Simões Morais; Luis Carmelo; Michel Reis; Nuno Miguel Guedes; Paulo José 3 Paulo 6Maia5e Carmo;4Rita Taborda Duarte; Rosa Coutinho Cabral; Rui Cascais; Rui Filipe Torres; Sérgio Fonseca; Valério Romão Colunistas António Conceição Júnior; David Chan; Miranda; João Romão; Jorge Rodrigues Simão; Olavo Rasquinho; Paul Chan Wai Chi; Paula Bicho; Tânia dos Santos Grafismo Paulo Borges, Rómulo Santos Agências Lusa; Xinhua Fotografia Hoje Macau; Lusa; GCS; Xinhua Secretária de redacção e Publicidade Madalena da Silva (publicidade@hojemacau.com.mo) Assistente de marketing Vincent Vong Impressão Tipografia Welfare 7 4 3 2 Morada Calçada de Santo Agostinho, n.º 19, Centro Comercial Nam Yue, 6.º andar A, Macau Telefone 28752401 Fax 28752405 e-mail info@hojemacau.com.mo Sítio www.hojemacau.com.mo
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10.7.2020 sexta-feira
contramão
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A ver passar os comboios
IVI a infância e a adolescência numa simpática vila com inusual dinâmica económica e certo ambiente cosmopolita, surpreendentes sobretudo porque a minha vida começou ainda em tempos de ditadura: indústrias intensivas no sul de um país pouco dado a industrializações, produtos agrícolas e minérios que doAlentejo vinham desaguar à foz do rio e aproximar-se das redes internacionais destes comércios, uma fronteira internacional e suas inevitáveis traficâncias, turismos exploratórios que ainda mal anunciavam a emergência dessa nova indústria da exploração massiva do território que estava opor desenvolver. Os comboios paravam sempre duas vezes nessa vila, na estação mais a norte e no apeadeiro a este, o fim da linha antes do rio e dos territórios das Espanhas. Hoje pouco resta destas coisas: o comboio já só para uma vez, desde que fechou o apeadeiro, já não se extraem os minérios do Alentejo, os produtos agrícolas têm outras formas de distribuição, as fábricas fecharam, a União Europeia quase eliminou os contrabandos e já nem os barcos sobem o Guadiana como soíam. Vem desde cedo, portanto, a minha predilecção pelos comboios. Há documentos dessas primeiras experiências na ferrovia, entrando no apeadeiro e saindo na estação, ou vice-versa, que o meu pai teve a sabedoria de me proporcionar em devida altura e em quantidades generosas. Frequentemente íamos de bicicleta, ele a pedalar e eu sentado atrás. As terras pequenas têm esta característica, de todos nos conhecermos, para o bem ou para o mal, mas provavelmente para sempre. Por isso o revisor deixava que eu entrasse no comboio e seguisse viagem até à outra paragem da Vila, enquanto o meu fazia o percurso na bicicleta e me recolhia à chegada. Por coincidências da vida, vivo hoje no alto de um prédio com vista privilegiada para uma parte importante da infraestrutura ferroviária de uma grande cidade japonesa, onde o comboio é um meio de transporte essencial no quotidiano de mais de um milhão de pessoas que a habitam, ou de 3 milhões que ocupam a região circundante. Vejo as múltiplas linhas dos comboios locais e regionais, no seu movimento de permanente ligação entre a cidade e as suas periferias, e o viaduto com a linha especial para o “Shinkansen”, o comboio de alta velocidade que liga Hiroshima a Osaca e a Tóquio (a este) ou a Fukuoka (a oeste). Como na maior parte do mundo mais desenvolvido (e ao contrário do que se foi fazendo em Portugal), no Japão não se deixou de investir – e muito - na ferrovia
JOÃO ROMÃO
JOÃO ROMÃO
e nos transportes públicos à medida que se foi enriquecendo. Da minha varanda tenho sobretudo ampla vista sobre toda a plataforma logística intermodal para a circulação de mercadorias. Já só vejo a carga pronta e metida nos contentores mas posso adivinhar esses conteúdos e observar como chegam e como partem os objectos destes tráficos permanentes e sistemáticos, as longas composições de carruagens em movimento lento em partida ou chegada, a ligação aos camiões e carrinhas que fazem a ligação com a cidade, a intensidade desta circulação que marca também o ritmo da economia. Talvez por isso me tivesse surpreendido esta paisagem nas semanas iniciais: o movimento era pouco ou quase nenhum, os contentores alinhados e imóveis pareciam inúteis, aquela imensa infraestrutura parecia desproporcionada, desnecessária e despro-
positada pela sua inutilidade. Era, afinal, apenas mais um sintoma da omnipresença deste vírus que condena o planeta à imobilidade: com lojas e restaurantes fechados, indústrias remetidas a serviços mínimos e uma economia de mercado em que os mercados fecharam, nenhumas razões havia para meter barcos ao mar ou contentores nos carris. Foi preciso esperar mais de um mês, até a cidade e o país começarem gradualmente a levantar as restrições à mobilidade, para testemunhar desde a varanda a azáfama habitual do comércio de mercadorias em larga escala, as sucessivas transfusões de produtos diversos que nos vão satisfazendo o quotidiano. Não há como olhar para os comboios para ver como vão as economias. Não foram só as cargas, os contentores e as logísticas associadas: foram também as pessoas que voltaram a encher as composições do “Shinkansen”: aumentou o número
Foi preciso esperar mais de um mês, até a cidade e o país começarem gradualmente a levantar as restrições à mobilidade, para testemunhar desde a varanda a azáfama habitual do comércio de mercadorias em larga escala, as sucessivas transfusões de produtos diversos que nos vão satisfazendo o quotidiano. Não há como olhar para os comboios para ver como vão as economias
de carruagens e observo como vai gente sentada em quase todas as janelas, depois de semanas a ver passar comboios tristes e vazios, mas ainda assim em movimento para este e oeste. Os comboios locais e regionais também ganharam súbita nova vida, as estações estão cheias, as pessoas voltam a circular para escolas, empregos e lazeres, ainda que não se baixe totalmente a guarda e se mantenham as diligentes e protectivas máscaras a tapar os rostos. Há mais para ver, no entanto, nestas grandes estações ferroviárias, comuns na Ásia, que as empresas de transporte transformam em grandes espaços comerciais para ajudar a financiar o custo da mobilidade. À medida que os comboios recuperavam a actividade habitual, reabriam também as largas dezenas de restaurantes e lojas da estação principal de Hiroshima e voltava a actividade aos dois imponentes hotéis ali instalados, com o movimento de automóveis e autocarros a assinalar o lento regresso do turismo. Um turismo doméstico, é bom de ver, que apesar de se ter reduzido a propagação do vírus até valores quase nulos, não é ainda caso para se abrir fronteiras ao turismo internacional. Parece que na Europa se vêm as coisas de outra maneira – mas desde o início desta pandemia que os exemplos que vêm da Europa são pouco menos que aterradores.
opinião 19
sexta-feira 10.7.2020
MÁRIO DUARTE DUQUE*
C
HAMARAM-LHES “socialistas utópicos”, designação que muito confundiu porque, na realidade, foram empresários donos de recursos exorbitantes e em nada tinham em vista o estabelecimento de regimes socialistas. No ocidente contemporâneo tiveram a sua génese na revolução industrial e logo viram ser do seu interesse que a enorme riqueza que geravam deveria ser dispersada. Fosse directamente por via de melhores condições para quem contribuía para a geração da mesma riqueza, fosse em infra-estruturas colectivas que proporcionariam mais eficiência e riqueza, fosse ainda pela confiança do poder público no estabelecimento de parcerias para assegurar bens públicos convencionais, em moldes necessários e desejáveis. Em verdade, antes de se falar de sustentabilidade, os “socialistas utópicos”, estiveram logo imbuídos do verdadeiro sentido de sustentabilidade social no modo de gerar riqueza. O prestígio que disso resultava era necessariamente incontornável em todos os sectores. Distinguem-se claramente dos recentes neoliberais porque viam com interesse a sociedade como um todo e não discriminavam a sua participação nos bens públicos apenas em função do rendimento directo que retirassem de cada investimento. Foi exactamente dessa falta de definição e de contorno de condições materiais que resultou a designação de “utópico”. Havia a confiança de que o retorno far-se-ia num circuito mais abrangente, com maior participação e, consequentemente, maior capacidade de reciclar e multiplicar a riqueza. Naturalmente, no mesmo circuito das participações, era também fácil detectar e identificar a emergência dos factores adversos. Foram também essas organizações laborais que estiveram mais bem preparadas na Europa para fazer face às dificuldades do período entre as guerras mundiais, mas que acabaram por não sobreviver às transformações dos tempos seguintes. Para alguns “verdadeiros” socialistas (os chamados “científicos”) essa foi a forma de capitalismo tolerada porque assumia várias responsabilidades sociais para com a classe trabalhadora. Para outros “verdadeiros” socialistas, os “socialistas utópicos” foram os verdadeiros reaccionários às mudanças sociais.
Stanley Ho, o último “Socialista Utópico”
Da muita riqueza obsoleta ou delapidada, o último reduto foram as colecções de arte que vinham reunindo, que muitos conseguiram manter estoicamente a final, como se aí permanecesse a essência de tudo o que foi possível gerar e permanecer de valor. Portugal recorreu e dependeu desse modelo de ordenamento territorial na sua administração colonial. O exemplo que mais corresponde à génese europeia talvez tenha acontecido no arquipélago de São Tomé e Príncipe, mas foram as versões mais tecnológicas e as infra-estruturas mais contemporâneas que proliferaram e sobreviveram nas restantes colónias. A então “colónia”, depois Território de Macau sob Administração Portuguesa, não foi alheio a esse modelo de administração, mas com as necessárias adaptações, que resultaram exactamente do facto de Macau nunca ter sido, em verdade, uma colónia. Efectivamente foi apenas a reboque da Conferência de Berlim que Macau passou a integrar uma homogeneização grosseira do
Resta concluir se esses “socialistas utópicos” não mais tiveram razão de existir, ou se a administração pública não soube mais como os usar
modelo colonial. Todavia um território que ficava demasiado longe e isolado e onde os parceiros sempre foram locais e sempre foram capazes. Todavia o fim administrativo, assim como o compromisso entre parceiros, foram os mesmos. Isto é, assegurar a administração, os bens públicos convencionais, e desenvolver. A era global desses modelos de administração há muito que se extinguiu, teve revoluções pelo meio, mas acabou por dar lugar aos modelos neoliberais que passaram a tomar conta de bens públicos. Foram esses os novos parceiros em quem confiámos a reabilitação das nossas cidades, mas com quem já não vamos poder contar para a reabilitação do nosso ambiente e do nosso clima, pelo mesmo motivo de que o retorno do investimento nesse bem público não é imediato, sequer esses parceiros partilham esse compromisso. Em Macau, mesmo em mudanças de liberalização e em vazios de aptidão para infra-estruturar, manteve-se o legado de antigos “compromissos” de “socialismo utópico” do Dr. Stanley Ho. Efectivamente o facto de o imposto sobre o jogo da SJM ser ligeiramente inferior às restantes concessionárias prendeu-se exactamente com o “compromisso” de realizar trabalhos de dragagem para manter navegáveis os canais marítimos de Macau. O mesmo parceiro que certamente teria aderido a possíveis sinergias e a outras
contrapartidas no Porto Interior que o empreendimento Ponte-Cais 16 podia e devia ter gerado, e da mesma forma que o mesmo magnata já aderira no modelo de empreendimento do Projecto dos Lagos Nam Van, se melhor aviso tivesse sido produzido nesse momento. Parceiro que certamente se sentaria à mesa para discutir o que está ao alcance de cada um fazer, depois dos agentes da urbanização neoliberal terem ocupado o espaço de inundação do delta do Rio das Pérolas e de a hidrologia ter passado a fustigar Macau sem dó nem piedade. Mais ninguém com meios próprios o passou a fazer, e Macau deixou de ser lugar de “utopia”. Resta concluir se esses “socialistas utópicos” não mais tiveram razão de existir, ou se a administração pública não soube mais como os usar, para aquilo que é sua atribuição, mas apenas não tem como fazer sozinha. Por ocasião da epidemia COVID-19, o Chefe do Executivo teve necessidade de invocar a responsabilidade social junto das demais concessionárias de jogo. À semelhança de outros “socialistas utópicos” o Dr. Stanley Ho deixou também uma colecção de arte, cujas características são inconfundíveis. *Arquitecto
Sabedoria para resolver e paciência para fazer.
Studio City Pandemia atrasa obras de expansão
As obras de expansão da segunda fase do Studio City deverão ir além do dia 31 de Maio de 2022, data estimada para a conclusão do projecto. A revelação foi feita pela Melco Resorts em declarações ao portal Inside Asia Gaming. A razão do prolongamento é atribuída às interrupções provocadas pela pandemia. “Com o surto de covid-19 o período de construção foi adiado e prevemos prolongar as obras e o plano de desenvolvimento além dos 32 meses anteriormente estimados”. A Melco revelou ainda a intenção de aumentar a angariação de investimentos junto de investidores privados. Além disso, a Melco Resorts reduziu os custos diários de operação durante o segundo trimestre de 2020, de 2,5 milhões para 700 mil dólares americanos. Recorde-se que esta foi a segunda vez que o prazo de expansão da segunda fase do Studio City foi adiado, depois de a conclusão da construção estar originalmente prevista para 24 de Julho de 2019.
Covid-19 China recusa-se a acolher eventos desportivos até ao ano que vem
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A China anunciou ontem que não acolherá eventos desportivos internacionais até ao final de 2020 devido à pandemia de covid-19, excepto os que sirvam de teste para os Jogos Olímpicos de Inverno2022, que decorrerão em Pequim e Zhangjiakou. A decisão da administração geral do desporto afecta, entre outras competições, seis torneios do circuito feminino de ténis, incluindo as finais WTA, que iriam decorrer em Novembro em Shenzhen, e quatro do masculino. O país deveria também receber três importantes torneios de golfe, e os mundiais de escalada e badminton. A decisão afectará também o calendário do Mundial de Fórmula 1, competição na qual o Grande Prémio de Xangai foi adiado em Abril, devido à pandemia. Durante o mês de Outubro, a China deveria também receber duas competições de ciclismo: a Volta a Guangxi, em masculinos, e a Volta à Ilha de Chongming, em femininos.
sexta-feira 10.7.2020
PALAVRA DO DIA
BRENDAN SMIALOWSKI/GETTY
Homero
CARTÕES DE CONSUMO QUASE 1,7 MIL MILHÕES INJECTADOS NA ECONOMIA
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Contas na mesa Supremo obriga Donald Trump a entregar declarações fiscais a tribunal federal
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Supremo Tribunal dos EUA ordenou ontem o Presidente Donald Trump a entregar as suas declarações de impostos a um tribunal federal em Nova Iorque, mas considerou que o Congresso não poderá aceder aos documentos. Por sete votos contra dois, os juízes do Supremo Tribunal aceitaram o pedido de um procurador de Manhattan as declarações fiscais do Presidente, mas determinaram que o seu acesso seja restrito, impedindo, nomeadamente, que o Congresso conheça os documentos, como pede há vários anos. Donald Trump já reagiu a esta decisão judicial, repetindo a ideia de que tudo não passa de um “processo político” e mostrando-se satisfeito por o teor das declarações fiscais não se poder tornar público. Os juízes do Supremo rejeitaram as alegações dos advogados de Trump e do Departamento de
Justiça de que o Presidente estaria imune a qualquer investigação criminal, enquanto estivesse no cargo. Um procurador de Nova Iorque, Cyrus Vance, pediu, em 2019, ao Presidente para fornecer as suas declarações de impostos ao Congresso, no âmbito de uma investigação sobre um alegado pagamento com fundos da sua campanha das presidenciais de 2016. O procurador de Nova Iorque encarregado do caso procura informações sobre um pagamento à actriz pornográfica Stormy Daniels, em 2016, para comprar o seu silêncio num alegado caso sexual com Trump. Cyrus Vance suspeita que Stormy Daniels tenha sido paga com dinheiro da candidatura de Donald Trump, o que pode configurar uma violação das regras de financiamento de campanhas eleitorais.
PARA O FUTURO
Os advogados de Donald Trump alegaram que o Presidente não pode
ser sequer investigado, pois goza do estatuto de imunidade pelo cargo que ocupa, uma matéria que divide estudiosos e juristas. “Processos contra um Presidente são uma violação à Constituição”, repetiu ontem um dos advogados de Trump, perante os juízes que avaliam a questão. Não tendo sido esse o entendimento do Supremo Tribunal, a matéria volta agora para o tribunal de Nova Iorque, para as mãos de um grande júri, sendo provável que os documentos não possam ser tornados públicos, pelo menos por agora. O juiz Samuel Alito, que votou vencido neste acórdão do Supremo, alertou para os riscos de esta decisão poder prejudicar futuros Presidentes. “É quase certo que este caso seja apresentado como um caso sobre o actual Presidente e sobre a actual situação política. Mas o caso tem um significado mais profundo. (…) Este caso afectará todos
os futuros Presidentes”, escreveu Alito, na sua declaração de voto. Cyrus Vance já reagiu à decisão do Supremo, referindo-se a “uma tremenda vitória para o sistema judicial” e dizendo que, agora, poderá retomar as investigações sobre a alegada ilegalidade no pagamento à actriz pornográfica com dinheiros da campanha presidencial. Apesar desta decisão do Supremo, continua a correr, paralelamente, um processo judicial, num tribunal de recurso de Washington D.C., em que os democratas da Câmara de Representantes pedem o acesso aos documentos fiscais do Presidente. Os legisladores querem, para além das declarações fiscais do Presidente, acesso a registos de contas suas nos bancos Deutsche Bank e Capital One, no âmbito de uma investigação sobre a interferência russa nas eleições presidenciais de 2016 e de uma outra sobre os negócios de Donald Trump.
ERCA de 1,68 mil milhões de patacas foram injectados no mercado de consumo durante a primeira fase do cartão de consumo. Aproximadamente 63 por cento foram para pequenas e médias empresas (PME), comunicou a Direcção dos Serviços de Economia (DSE). Até quarta-feira, mais de 614.000 residentes tinham levantado o cartão de consumo electrónico, representando mais de 93 por cento do número total das pessoas inscritas. Por outro lado, entre Fevereiro e 7 de Julho foram submetidos mais de dez mil pedidos no âmbito dos planos de apoio e de bonificação de juros de créditos bancários para as PME. De acordo com a DSE, mais de 80 por cento dos pedidos foram aprovados, tendo sido concedidos cerca de 6,55 mil milhões de patacas. Os empréstimos concedidos pelo Governo totalizaram 1,68 mil milhões, e os dos bancos foram de 4,87 mil milhões. Relativamente ao “Plano das Lojas com Características Próprias”, voltado para empresas dos sectores de restauração e de comércio a retalho, a DSE explica que houve 41 empresas reconhecidas primeiramente como lojas com características próprias: 24 de restauração e 17 de comércio a retalho. Mediante os resultados, depois da fase experimental na Rua de Cinco de Outubro, o plano vai ser alargado de “forma gradual” a outros bairros comunitários.