DIRECTOR CARLOS MORAIS JOSÉ
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ORÁCULO NO TRIBUNAL
AGÊNCIA COMERCIAL PICO • 28721006
h
GIL MAC
MOP$10
SEXTA-FEIRA 11 DE MARÇO DE 2016 • ANO XV • Nº 3530
EVENTOS
COLOANE
A lição de Scott PÁGINA 8
CHEN XIWO
VEM AÍ A REVOLUÇÃO
ANABELA CANAS
De Tânger a Sagres
EVENTOS
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JOSÉ SIMÕES MORAIS
hojemacau RÁDIO-TÁXIS EMPRESA DE DAVID CHOW VAI TER CONCORRÊNCIA
AFINAL HAVIA OUTRA
Os cem lugares disponíveis para a operação de táxis por chamada não vão afinal ser disputados apenas pela Lai Ou, de David Chow. A DSAT admitiu ontem a proposta (anteriormente excluída) da Companhia de Serviços de Rádio-Táxi Macau no concurso das cem licenças à espera de cliente.
RUI LOURIDO
A China que bens tem ENTREVISTA
OPINIÃO Lugar decisivo
PAUL CHAN WAI CHI
Privilégios em Coloane MÁRIO DUARTE DUQUE
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PÁGINA 7
EDUARDO MARTINS
Cinza, amarelo. E azul
2 ENTREVISTA
RUI LOURIDO PRESIDENTE DO OBSERVATÓRIO DA CHINA
Rui Lourido olha para a China de hoje como um país que tem muito a dar à Europa e sobretudo a Portugal, onde os investimentos chineses continuam a ter uma conotação negativa que, segundo o presidente do Observatório da China, é preciso combater. Rui Lourido diz que hoje há uma maior garantia dos direitos laborais na China, por oposição a muitos países europeus
“Talvez na área cultural o Fórum devesse ter um papel mais activo, na transmissão da cultura milenar chinesa e das características de Macau na lusofonia”
“Hoje trabalha-se na Europa para se ser pobre” Os ministros do anterior Governo português realizaram várias visitas oficiais a Macau. É um território que recebe hoje uma maior atenção de Portugal face aos anos anteriores? Penso que estamos numa nova fase de Macau, graças ao desenvolvimento enorme trazido pelo Governo de Macau em vários níveis, e também da sua influência na China. A [RAEM] é uma cidade que tem também conseguido uma expansão da sua influência, por ter conseguido estabelecer aqui o Fórum Macau. A defesa do património tem sido coerente e tem permitido apresentar a recuperação de edifícios antigos. O governo português fez um óptimo trabalho também a esse nível, na feitura de museus e na recuperação do património religioso, mas o Governo chinês da RAEM tem sido exemplar a esse nível. Tem inclusivamente alargado a preservação da calçada portuguesa em ruas onde esta não existia anteriormente. O património e a influência de Macau foram áreas de grande sucesso e a integração de quadros que vêm da própria China permitem trazer para Macau uma outra influência. Esse diálogo entre o continente e as regiões administrativas é uma mais valia. Foi também um sinal de inteligência política ter conseguido transformar Macau numa cidade que é património mundial da humanidade e também a criação do Fórum Macau a continuar e a aumentar as relações com a lusofonia, nomeadamente com o Brasil. Considera então que o Fórum Macau tem desempenhado bem o seu papel? Não digo que tem desempenhado o que podia desempenhar. O que digo é que a existência do Fórum Macau é extremamente positiva, é uma mais valia para o território porque diz aos territórios da China que os chineses de Macau têm uma mais valia que as outras
regiões chinesas não têm. Há uma ponte com a Europa, com África e a Lusofonia. Isso valeu no século XVI, é por isso que Macau existe, e sempre foi uma presença pacífica e por mútuo acordo, que foi continuada numa outra vertente pelo actual Governo da RAEM que, compreendendo esta peculiaridade de Macau, a apresenta na própria China como uma forma de ter um outro palco político e uma outra visibilidade. E aí também Macau pode desenvolver-se de forma mais intensa cultural e economicamente. É necessário esse desenvolvimento, já que Macau é a cidade do Jogo por excelência? Penso que não só e fundamental como é urgente. É urgente que Macau diversifique as áreas económicas, é uma preocupação do Governo e do próprio Governo Central e isso é importante para a sustentabilidade do desenvolvimento económico e urbano de Macau. O peso dos casinos é excessivo porque na realidade a grande parte da população trabalha [lá] e há que encontrar alternativas nas actividades das indústrias criativas. Em muitos países as actividades das indústrias criativas ocupam já uma parte importante do seu tecido económico. Áreas de edições, de turismo, que não tenham a ver com o Jogo. E a área cultural, porque Macau é uma sociedade multiétnica que é, em si própria, uma mais valia para o tecido urbano e económico da cidade. Talvez na área cultural o Fórum devesse ter um papel mais activo, na transmissão da cultura milenar chinesa e das características de Macau na lusofonia. O Fórum podia pensar não só pensar em iniciativas económicas e empresariais mas organizar também iniciativas que levassem uma ópera de Pequim, um grupo de teatro. Isso permitia combater a percepção que há na Europa de que “enfim, vêm aí os chineses que compram tudo”.
“Na China há direitos de manifestação e salariais, em Portugal e noutros países da Europa temse degradado o grau de sindicalismo, de correspondência entre horários e o salário. Acha-se normal pagar às pessoas com recibos verdes ou salários abaixo do salário mínimo” Em Portugal há uma ideia de que as empresas chinesas estão a investir em tudo e isso é encarado com um certo negativismo. É preciso combater esse sentimento? Sim, é necessário combater no sentido em que é preciso ser realista. Na realidade os povos sempre circularam. Os europeus são indo-europeus, todos os povos que temos na Europa vieram de zonas euro-asiáticas e esquecemos essa origem multiétnica. A população portuguesa tem tido uma estabilidade que é agora questionada pelas novas populações e emigrantes e também homens de investimento. Vieram da Europa do Leste, da América Latina e agora temos o chinês. O Observatório da China rapidamente compreendeu que necessitava de ter um papel de divulgação cultural no sentido de ultrapassar essa visão do desconhecido da Europa e de Portugal sobre a China. É esse desconhecimento que leva à aversão, à recusa daquilo que é diferente de nós. São reacções naturais da população europeia, mas que não são aceitáveis. Rapidamen-
te começamos a organizar vários projectos (ver texto secundário). A China hoje em dia tem um crescimento de 7%, mas mesmo que desça é um crescimento imenso que não tem outro país na Europa. A própria economia chinesa contribui para o desenvolvimento da economia do mundo. Mas essa economia tem gerado questões sociais dentro da própria China, sobretudo com a questão da poluição. Podemos ver uma maior separação entre a sociedade e o sistema político? Naturalmente que sim e todo o Ocidente andou desde a revolução de Mao Tse-Tung a exigir à China que se abrisse ao mundo e que se tornasse capitalista. E quando essa nova política se implantou e essa abertura se concretizou, claro que as diferenças entre ricos e pobres aumentaram, mas esse era um objectivo do Ocidente, para poder vender os seus produtos na China. Se todos tivessem o mesmo nível de desenvolvimento na China não era possível termos uma classe média com poder de compra. Não podemos ter dois pesos e duas medidas e sermos hipócritas e dizermos “vocês estão a ser demasiado capitalistas”. Naturalmente que as diferenças sociais têm-se ampliado, mas isso é uma coisa à qual os governos têm de ter atenção, porque para o desenvolvimento ser sustentável há que dar poder de compra às pessoas e aumentar os salários mais baixos. O que assisto na China é isso: há um salário mínimo estabelecido para o campo, outro maior para as cidades e existe um quadro jurídico que a pouco e pouco se vem desenvolvendo e que dá mais garantias aos cidadãos. Isso é uma coisa que no Ocidente vem regredindo. Na China há direitos de manifestação e salariais, em Portugal e noutros países da Europa tem-se degradado o grau de sindicalismo, de correspondência entre horários e o salário.
3 hoje macau sexta-feira 11.3.2016 www.hojemacau.com.mo
HOJE MACAU
Acha-se normal pagar às pessoas com recibos verdes ou salários abaixo do salário mínimo. Há diferenças, portanto... Hoje em dia trabalha-se na Europa para se ser pobre, passa-se fome em muitas famílias. Há que ter a noção da realidade: a China está a conseguir ampliar o nível das pessoas que acedem a um nível médio de riqueza, e a classe média está aí para mostrar isso. Cem milhões de pessoas na China saíram do limiar da pobreza. É preciso desenvolver a liberdade de expressão e com a presença dos intelectuais e de todos aqueles com espírito crítico para que haja uma renovação sus-
tentável. Ao nível do ambiente, vem sendo degradado desde há 40 anos. O próprio Governo Central pôs o ambiente como um objectivo prioritário nos seus planos quinquenais. Numa sociedade evoluída há sempre contradições, mas o que é preciso é que a sociedade civil esteja atenta, com a sua massa crítica, e contribua para chamar a atenção. Mas não deixa de ser interessante observar que nos últimos anos os chineses procuram sair do seu próprio país. Isso revela o desejo de conhecer o mundo, aliado ao desenvolvimento económico, ou é uma forma de mostrar descontentamento?
“Numa sociedade evoluída há sempre contradições, mas o que é preciso é que a sociedade civil esteja atenta, com a sua massa crítica, e contribua para chamar a atenção”
É uma tendência das classes médias de tentarem buscar para os seus filhos aquilo que concorrencialmente é o que dá mais instrumentos a uma ascendência social e a uma sociedade de elite. Os chineses regressam, como regressaram aqueles que hoje estão a ocupar cargos na área cultural e até da administração. Aqueles que trabalham nas áreas científicas, culturais e até na Administração são os chineses que estudaram na América e exterior e regressaram. Mas há na realidade uma sociedade civil mais atenta e isso é um factor positivo. À medida que vai surgindo um maior conhecimento, a cultura traz sempre a inquietação e um maior conhecimento de nós
próprios. A saída de turistas chineses e de cidadãos chineses é um óptimo factor porque desenvolve o turismo europeu e as nossas economias e porque trazem ideias novas e também a sua cultura. A Europa tem de se adaptar à forma de vida na China. Na China nunca se viveu tão bem como agora, e dizemos que o mundo está em crise, mas está em crise o modelo ultra financeiro seguido no Ocidente... Se calhar continua-se a pensar muito a Ocidente e muito pouco a Oriente. Exacto. Andreia Sofia Silva
andreia.silva@hojemacau.com.mo
DEZ ANOS A APROXIMAR CULTURAS
A
comemorar dez anos de existência, o Observatório da China transformou-se de uma plataforma de académicos para uma entidade que tenciona aproximar mais a China a Portugal. “Recebemos o Governo de Cantão e de Jiangsu e ambas as regiões pretendem estreitar relações com Portugal e com o
mundo lusófono. O Observatório da China tem esta vocação cultural e vai levar a ópera de Cantão a Portugal em Dezembro, para além de organizar o segundo Festival Internacional de Cinema Chinês e do Olhar Lusófono em Outubro. Também vai decorrer em Outubro uma conferência para discutir em que medida a Europa
pode participar no projecto que a China apresentou “Uma faixa, uma rota”, disse ao HM Rui Lourido. Outro projecto do Observatório da China, disponível online desde o ano passado, é a biblioteca digital de Macau, com obras digitalizadas e disponíveis de forma gratuita, correspondentes aos séculos XVI a XIX.
“Trata-se de um manancial tão diversificado que permite estudar a história de Macau nesse período e também os sítios por onde os portugueses navegaram até chegar aqui. Este projecto pretende aproximar Macau ao mundo”, disse Rui Lourido. A Fundação Macau apoiou financeiramente esta biblioteca.
4 POLÍTICA
hoje macau sexta-feira 11.3.2016
Agenda muito cheia
Corrupção PRESENÇA DE GOVERNO CENTRAL NÃO PREOCUPA MUITO
É tudo normal. Será? A presença mais assídua e marcada do Governo Central no Gabinete para os Assuntos de Macau não preocupa os agentes sociais. São procedimentos normais de quem quer manter a ordem e acabar com a corrupção, apontam. Ainda assim há quem desconfie das intenções da mãe China
Q
UE o Governo Central está empenhado na campanha contra a corrupção ninguém duvida e prova disso poderá ser a transferência do Gabinete para os Assuntos de Hong Kong e Macau do Conselho de Estado para a alçada da Comissão Central de Inspecção e Disciplina do Partido Comunista. Mas, agentes políticos locais, não se mostram muito preocupados. Em Fevereiro passado, o jornal Epoch Times noticiou que o gabinete do Conselho de Estado responsável pelas duas regiões administrativas especiais estava “pela primeira vez” sob a fiscalização do organismo que combate a corrupção. Questionado sobre a acção e tomada de posição da China continental, José Pereira Coutinho, deputado, não se mostrou surpreendido, caracterizando a
decisão como positiva e “normal” dentro do seguimento da melhoria do funcionamento da máquina administrativa da República Popular da China. “Este procedimento é uma coisa normal no âmbito da estrutura interna da RPC. Não estou surpreendido que a [China] venha a proceder desta forma, tendo em consideração que não deve haver razões ou outras justificações que permitam que determinados sectores da estrutura governativa do Governo Central estejam fora do alcance ou da luta do órgão de combate à má governação e corrupção”, explicou ao HM. Para o deputado esta é uma questão que vem completar o trabalho disciplinar de “controlo dos trabalhos dos órgãos administrativos”.
DE DENTRO PARA FORA
Para o economista José Sales Marques o que se percebe é
“Por um lado, pode entender-se que o Governo Central ajudará Macau a criar um ambiente contra corrupção, por outro, pode entender-se como uma competição interna do Partido Comunista que se está a estender”
AL “Não há tempo” para discutir a Lei de Transferência de Infractores
que o organismo central de Inspecção e Disciplina “tem-se instalado não só a nível central, mas também a nível provincial e até de outras estruturas”. Assim sendo, é natural que “também se instale ao nível do organismo que supervisiona os assuntos de Hong Kong e Macau”. Scott Chiang, presidente da Associação Novo Macau, considera que o objectivo do Governo de Pequim em alargar o combate à corrupção para Macau não é muito certo, sendo que, aponta o activista, pode até não ser positivo. “Eu sei o que a Comissão pode fazer em Macau. Se for apenas investigar o que os governantes fazem aqui, é normal. Se for para exercer a lei que combate a corrupção no território, não é permitido por causa de ‘Um país, Dois sistemas’”, apontou. O pró-democrata tem algumas dúvidas sobre se o Governo Central está a reforçar o combate à corrupção só para se mostrar ou se está a “combater os inimigos que combatem a verdadeira corrupção”. Ou seja, para o activista tudo isto pode ser um jogo de aparências ou um braço de ferro com outras forças de poder. “Por um lado, pode entender-se que o Governo Central ajudará Macau a criar um ambiente contra corrupção, por outro, pode entender-se como uma competição interna do Partido Comunista que se está a estender. Não mostro muita esperança sobre esta questão porque, por baixo da mesa, não sabemos muitas coisas”, rematou, acrescentando que a luta contra a corrupção é uma luta “entre poderes” e por isso será muito “difícil combatê-la”.
H
O Iat Seng, presidente da Assembleia Legislativa (AL), referiu ao canal chinês da TDM, em Pequim, que o hemiciclo já recebeu a proposta de Lei da Assistência Judiciária Inter-regional, mas o hemiciclo ainda tem de tratar de mais de dez propostas, portanto, “não há calendário para debate”. O responsável diz que as Comissões Permanentes também não têm tempo para discutir a proposta. Ho Iat Seng, também membro permanente da Assembleia Popular Nacional (APN), explicou que a proposta foi entregue ao hemiciclo depois do Ano Novo Lunar e assegura que os assessores da AL já a estão a estudar. “A AL aprova algumas propostas de lei via processo de urgência, por exemplo, casos de aumentos de impostos, ou casos urgentes de proibição de alguns medicamentos. Fora estes casos, normalmente, não é utilizado o processo urgente para aprovação”, explicou. “Neste momento, todas as propostas têm a sua urgência e, além dos feriados e outras agendas como as reuniões em Pequim, o tempo não é suficiente, especialmente, no próximo ano, que é o último da 5ª legislatura e que será mais difícil devido ao excesso de trabalho. Espero que o Governo entregue as propostas mais rápido”, acrescentou. A proposta, que foi concluída pelo Conselho Executivo em Dezembro último, consagra o princípio e regras gerais da assistência judiciária inter-regional em matéria penal, definindo situações de entrega de infractor em fuga, execução de sentença penal, transferência de pessoa condenada, transmissão de procedimento penal e outras formas de colaboração judiciária entre regiões. Tomás Chio
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Filipa Araújo (com F.F.)
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SCOTT CHIANG PRESIDENTE DA ASSOCIAÇÃO NOVO MACAU
ACORDO DE EXTRADIÇÃO ENTRE HONG KONG E MACAU SEM DATA PARA CONCLUSÃO
A
S negociações continuam, mas não há qualquer novidade sobre a discussão ou os avanços. A Secretária para a Administração e Justiça, Sónia Chan, e o Secretário para Justiça de Hong Kong, Rimsky Yuen, reuniram ontem para discutir o acordo de extradição entre
Macau e Hong Kong. Sónia Chan explicou que a reunião servir para “continuar a apreciar as questões técnicas dos possíveis acordos”. Os problemas existem, conforme afirmou a Secretária, que, mesmo questionada pelos jornalistas, não revelou quais.
Ainda assim, uma vez mais, levantou-se a questão da possível retroactividade dos acordos. “Há esta questão (...) depois de entrar em acordo os lados poderão executar conforme os princípios de cada lado. (...) mas isto não é a retroactividade, pode é ser um princípio acordado.
Podemos usar os princípios vigentes na altura”, esclareceu Sónia Chan. Neste momento, os grupos de trabalho estão em “fase de negociação” e “os trabalhos preparatórios estão a ser trabalhados e depois serão entregues às assembleias”. Sem calendarização, nem sequer data para
a próxima reunião, Sónia Chan não divulgou mais pormenores. A Secretária não quis ainda comentar a questão da extradição ilegal de três pessoas de Macau para a China, denunciada, em Fevereiro passado, pelo jornal South China Morning Post. F.A.
5 hoje macau sexta-feira 11.3.2016
REVISÃO DA LEI DE BASES JUDICIÁRIA ESTEVE PRONTA MAS “NUNCA FOI APRESENTADA”
E calendário novo há?
A
revisão à Lei de Bases de Organização Judiciária e ao Estatuto dos Magistrados chegou a ser feita pelo Governo em 2011, mas nunca avançou. É o que denuncia José Pereira Coutinho que, na mais recente interpelação escrita enviada ao Executivo, pergunta as razões para que a proposta de alterações “nunca tenha sido apresentada à Assembleia Legislativa para ser analisado e aprovada”. O pedido de revisão da Lei de Bases voltou recentemente à ordem do dia devido à detenção do ex-procurador Ho Chio Meng, a quem foi também recusado um pedido de habeas corpus e impossibilitada a interposição de recurso, por este ser um cargo superior – consequentemente julgado pelo Tribunal de Última Instância. José Pereira Coutinho diz que já nas Linhas de
TIAGO ALCÂNTARA
José Pereira Coutinho diz não compreender porque é que o Governo nunca apresentou ao hemiciclo a proposta de revisão à Lei de Bases de Organização Judiciária e ao Estatuto dos Magistrados, que foi já feita em 2011. Situações de injustiça continuam, diz, referindo-se à impossibilidade de recurso dos altos cargos julgados no TUI
H
Acção Governativa para o ano de 2011 estava previsto “aperfeiçoar cada vez mais o funcionamento dos órgãos judiciais”, uma decisão que o deputado diz ter sido tomada na sequência de, em 2006, o ex-Secretário Ao Man Long ter sido julgado e condenado pelo mesmo tribunal e não ter podido recorrer da decisão. “Na altura, esta impossibilidade de apresentar recurso foi considerada por muitos sectores injusta apelando-se à alteração da lei, de forma a garantir o direito de recurso. Posteriormente, em 2011, o Governo apresentou [uma proposta] de alterações à Lei de Bases de Organização Judiciária e ao Estatuto dos Magistrados, sendo que uma das alterações previa alterar as competências do Tribunal de Segunda e Última Instâncias para possibilitar o recurso de decisões que o TUI julga em primeira instância”, assegura Pereira Coutinho. O deputado diz, contudo, não compreender porque é que a proposta nunca foi apresentada aos deputados. “Um problema grave que se verificou em 2006 repetiu-se em 2016, sem que a lei tenha sido alterada para evitar que acontecesse”, atira Pereira Coutinho, que pergunta ao Governo se há nova calendarização para apresentar esta proposta ao hemiciclo. Joana Freitas
joana.freitas@hojemacau.com.mo
Curar feridas
PEDIDA MEDIDA PARA RESOLVER CONFLITOS TURÍSTICOS U Sut Heng e Leong Iok Wa, deputados de Macau à Assembleia Popular Nacional(APN), sugeriram, durante a sua presença em Pequim, a criação de um mecanismo de mediação de turismo entre o Interior da China e Macau para resolver conflitos turísticos. Os dois deputados definiram quatro pontos para resolver conflitos turísticos. O primeiro passa pela criação um mecanismo de mediação de turismo entre o interior da China e Macau, sendo uma ponte comunicativa entre o sector e as autoridades go-
POLÍTICA
vernamentais regionais. A segunda ideia apresentada é a criação de um grupo, composto por membros de Macau e da China, que terá como função a implementação das lei relativas ao sector, que envolvam todos os agentes, sejam guias, agências ou turistas. A melhoria para a qualidade profissional dos guias é o terceiro ponto, sendo que os deputados sugeriram que a fiscalização seja feita com mais rigor na autorização das acreditações e licenças para os guias. Como último ponto, os deputados indicaram ser necessária a criação
de uma associação para o sector turístico na China, para que todas as associações possam resolver os conflitos via conversação. Hu Sut Heng e Leong Iok Wa consideraram que os turistas do Interior são a maioria dos turistas de Macau, portanto, uma cooperação dos sectores dos dois territórios é essencial. T.C.
Revisão do Regime Educativo Especial entregue este ano na AL
A
Direcção dos Servi ços de Educação e Juventude (DSEJ) deverá entregar na segunda metade deste ano à Assembleia Legislativa (AL) a revisão do Regime Educativo Especial, disse ontem Chow Pui Leng no programa “Macau Talk” do canal chinês da Rádio Macau. A chefe do Centro de Apoio Psico-pedagógico e do Ensino Especial da DSEJ explicou que a revisão do regime vai focar-se na aprendizagem dos estudantes com necessidades educativas especiais,
prometendo uma melhor regularização na atribuição dos diplomas a estes alunos quando completam os cursos. A nova lei vai ainda rever a integração destes alunos nas turmas regulares. Chow Pui Leng explicou que nos últimos anos lectivos havia 38 alunos
com necessidades educativas especiais formados nas escolas, sendo que 22 conseguiram frequentar o ensino superior, cerca de 66%. A responsável da DSEJ referiu ainda que o Governo espera que estes alunos possam ter acesso ao mercado de trabalho, sendo que existe um “mecanismo de transferência” destes alunos em conjunto com o Instituto de Acção Social (IAS), para que os alunos possam receber formação profissional em diversas instalações de serviços sociais. F.F.
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hoje macau sexta-feira 11.3.2016
HM • 2ª VEZ • 11-3-16
HM • 2ª VEZ • 11-3-16
ANÚNCIO
ANÚNCIO
Acção de Interdição n.º CV2-16-0011-CPE 2º Juízo Cível
AUTOS DE INTERDIÇÃO CV3-16-0012-CPE 3º Juízo Cível
Requerente: O MINISTÉRIO PÚBLICO. Requerido: KOU MAN KIN (高孟健), solteiro, residente em Macau, na Taipa, no Caminho das Hortas, Lar São Luís Gonzaga.
REQUERENTE: O MINISTÉRIO PÚBLICO, JUNTO DO T.J.B. da R.A.E.M.------------------------------------------------------------------REQUERIDO: KOU TAK WA.------------------------------------------*****
*** FAZ SABER que foi distribuída ao 2º Juízo Cível do Tribunal Judicial de Base de R.A.E.M., a acção acima mencionada, contra KOU MAN KIN (高孟健), para o efeito de ser declarada a sua interdição por anomalia psíquica.
Macau, aos 01 de Março de 2016. *****
FAZ-SE SABER que, foi distribuída neste Tribunal,
em 23 de Fevereiro de 2016, uma Acção de Interdição, com o número acima indicado, em que é Requerido KOU TAK WA, titular do BIR nº 7316657(1), nascido a 27/05/1966, internado no Lar São Luís Gonzaga, sito no Caminho das Hortas, Taipa, em Macau para efeitos de ser decretada a sua interdição por anomalia psíquica.--------RAEM, 02 de Março de 2016
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7 hoje macau sexta-feira 11.3.2016
SOCIEDADE
MAIS CASAS E MAIS QUARTOS DE HOTEL
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EGUNDO as estatísticas mais recentes da Direcção dos Serviços de Solos, Obras Públicas e Transportes (DSSOPT), até o quarto trimestre do ano passado, 16 novos empreendimentos habitacionais obtiveram a Licença de Utilização e 99 empreendimentos habitacionais ainda em construção ou concluídos poderão na totalidade proporcionar 15.352 fogos habitacionais, 10.950 lugares de estacionamento para automóveis e 3965 para motociclos. Destes empreendimentos, 77 edifícios são da classe M (médio, ou seja com a altura compreendida entre 9m até 20,5m) e estão na maioria localizados na
Península de Macau, quatro da classe A (alto, com altura compreendida entre 20,5m até 50m) e 18 edifícios da classe MA (muito alto, altura superior a 50m). Na mesma análise estatística da DSSOPT, existem 16 empreendimentos hoteleiros em construção e 34 em projecto, o que irá fazer surgir mais 19.600 quartos e 13 mil lugares de estacionamento (para veículos ligeiros e motociclos). Nove dos empreendimentos hoteleiros em construção estão localizados na Península de Macau (588 quartos), um na Taipa (373 quartos), cinco no COTAI (9541 quartos) e um em Coloane (236 quartos).
PENSÃO ESTRELINHAS
Foi aprovada em Boletim Oficial a construção de um edifício de cinco pisos, em regime de propriedade única, destinado a uma pensão de duas estrelas. A publicação, assinada por Raimundo do Rosário, Secretário para os Transportes e Obras Públicas, indica que a concessionária Ka Iek, submeteu em 7 de Novembro de 2013 o projecto de alteração de arquitectura que foi considerado passível de aprovação. Em 11 de Dezembro de 2013, a concessionária solicitou autorização para a modificação do aproveitamento do terreno que tem uma área de 114 m2 e está situado em Macau, no Pátio das Flores. O reaproveitamento do terreno deve operar-se no prazo global de 36 meses, contados a partir da publicação em BO.
Rádio-Táxis DSAT ACEITA CANDIDATURA DE EMPRESA EXCLUÍDA
David já não vai sozinho Foi a única a ser aceite em Janeiro, mas agora vê-se lado a lado com uma concorrente. A Lai Ou, de David Chow, viu a DSAT deferir um recurso da Companhia de Serviços de Rádio-Táxi Macau que vai também concorrer à licença para cem destes serviços
A
FINAL David Chow não vai concorrer sozinho à obtenção de licenças para rádio-táxis. A Direcção dos Serviços para os Assuntos de Tráfego (DSAT) anunciou ontem que vai aceitar a proposta da Companhia de Serviços de Rádio-Táxi Macau, que tinha sido excluída anteriormente. Esta vai, agora, estar apta a competir no concurso público para a concessão de cem licenças especiais de oito anos para a operação de táxis por chamada. A decisão da DSAT surge depois de um recurso da empresa. “No acto público de abertura de propostas de 13 de Janeiro deste ano, a Comissão
de Abertura das propostas excluiu a Companhia de Serviços de Rádio Táxi Macau S.A. porque esta incluiu um documento no sobrescrito errado”, começa por explicar o organismo. A empresa tinha colocado os preços das taxas a aplicar no documento de apresentação, algo que supostamente não era permitido porque estes valores só poderiam aparecer nas propostas, que são secretas. “Considerando-se que o documento inserido no sobrescrito
errado não era causa suficiente para a exclusão da concorrente, tendo em conta os princípios que devem presidir a um concurso público, e tendo a concorrente excluída interposto recurso, foi-lhe dada razão, considerando-se que o documento inserido no sobrescrito errado não era causa suficiente para a exclusão da concorrente.” A DSAT vai avançar, assim, com a abertura das propostas, numa sessão marcada para o dia 17 deste mês.
ERA UMA VEZ TRÊS
A Lai Ou Serviços de Táxi, empresa de David Chow – detentor da Macau Legend – foi uma das três concorrentes às licenças,
sendo que foi, na altura, a única a ser aceite. O empresário, responsável por empreendimentos como a Doca dos Pescadores, constituiu a nova empresa especificamente para este investimento, que estava já delineado. “Vamos investir 70 milhões de patacas [em infra-estruturas] e mais 30 milhões em carros. Os veículos
“Considerando-se que o documento inserido no sobrescrito errado não era causa suficiente para a exclusão da concorrente (...) foi-lhe dada razão” DSAT
que vamos usar vão ser de boas marcas, já temos 30 Mercedes”, disse o empresário ao canal chinês da Rádio Macau, na altura. Só “no segundo ou terceiro trimestres” é que se deverá saber a decisão do Governo, mas a empresa já tinha também ideias fixas sobre as taxas que pretendia cobrar aos passageiros. “A empresa sugere uma taxa de chamada e uma taxa de hora marcada de 15 patacas cada, bem como uma taxa de ausência de cinco patacas”, explicava um comunicado da DSAT. O contrato para os rádio-táxis vai ter determinadas exigências, como a obrigação de serem providenciados ao público cinco carros adaptados para deficientes e táxis de grande porte. Em contrapartida, o concessionário pode requerer ao Governo o pagamento de metade do preço destes veículos e pode ainda cobrar ao passageiro taxas diferentes das dos táxis normais – os pretos. Isto devido ao funcionamento ser apenas permitido por chamada, não podendo estes táxis apanhar passageiros nas ruas ou estar parados nas praças de táxi. As duas outras empresas que concorreram contra a Lei Ou não tiveram hipótese no concurso, por não cumprirem as regras. A Companhia de Serviços de Rádio Táxi de Macau chegou a reclamar da decisão na altura, mas a comissão responsável pelo concurso, cujo presidente é o vice-director da DSAT, Chiang Ngoc Vai, não aceitou a justificação. Agora, a DSAT volta atrás. A DSAT afirmou que pelo menos 50 rádio-taxis devem começar a circular em 2017, incluindo cinco acessíveis a deficientes. Contactada pelo HM, a empresa de David Chow disse que ia apenas reagir à notícia na segunda-feira. Flora Fong
flora.fong@hojemacau.com.mo
Joana Freitas
joana.freitas@hojemacau.com.mo
8 hoje macau sexta-feira 11.3.2016
Coloane NOVO MACAU DÁ DIRECTRIZES A CHUI SAI ON
Manual de instruções
HOJE MACAU
SOCIEDADE
A Novo Macau entregou um documento que mostra a Chui Sai On as leis que deve ter em conta para suspender o projecto de luxo que vai nascer em Coloane. Isto porque o Chefe do Executivo disse não saber as bases legais para, eventualmente, bloquear o empreendimento
O
responsabilidade legal sobre os trabalhos de elaboração do plano director da zona e deve utilizar a sua competência para bloquear a emissão da licença de obra, a qual ainda não foi feita pelos Serviços de Solos, Obras Públicas e Transportes (DSSOPT). “A ANM está surpreendida com o domínio das questões jurídicas por parte do Governo e apela ao Chefe do Executivo para que cumpra a sua responsabilidade de proteger a natureza em Coloane”, referiu Scott Chiang. O presidente da ANM disse ontem que a Associação espera que Chui Sai On tome medidas de prevenção para bloquear a emissão de licença da obra. Caso contrário, a ANM admite realizar uma votação junto da sociedade sobre o assunto. O documento ontem entregue na sede do Governo é um modelo de despacho e regulamento administrativo relacionados com a Lei
Chefe do Executivo, Chui Sai On, recebeu ontem da Associação Novo Macau (ANM) um documento que faz referência à Lei do Planeamento Urbanístico, para mostrar quais as competências que cabem ao Chefe do Governo quanto à construção de um edifício de luxo em Coloane. A entrega do modelo de despacho surge porque o líder do Governo disse não saber que bases legais tem para, eventualmente, bloquear o empreendimento de luxo que poderá nascer na Estrada do Campo e que vai tapar uma das colinas de Coloane. Scott Chiang lembrou que, na semana passada, Chui Sai On afirmou “não saber o conteúdo do relatório de avaliação ambiental”, para além de “não dominar as competências discricionárias para exercer este acto”. Esta resposta foi dada a Lam Iek Chit, membro do Conselho do Planeamento
Urbanístico (CPU), que pediu ao Chefe do Executivo para travar o projecto. Segundo o presidente da ANM, Chui Sai On tem toda a
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Tento na Língua
ERESA Vong, professora da Faculdade de Educação da Universidade de Macau (UM), está contra a medida do Governo em atribuir empréstimos a recém-licenciados que queiram melhorar ou aprender um novo idioma, defendendo que o Executivo deve reformar antes o sistema educacional do território para que os empréstimos não sejam necessários. “O Governo precisa de saber porque é que os estudantes que terminam as licenciaturas não têm competência linguística”, afirmou, citada pelo Jornal Ou Mun. Também a deputada Chan Hon não ficou convencida com a medida, chegando mesmo a defender que as reacções dos estudantes não vão ser
“A ANM está surpreendida com o domínio das questões jurídicas por parte do Governo e apela ao Chefe do Executivo para que cumpra a sua responsabilidade de proteger a natureza em Coloane” SCOTT CHIANG PRESIDENTE DA ANM
do Planeamento Urbanístico que permite ao Chefe do Executivo suspender o projecto, incluindo a emissão da licença da obra e princípios na área da protecção
UMA BASE SÓLIDA
Teresa Vong exemplificou que as universidades de Hong Kong não
funcionam com este sistema de empréstimos, pois são exigentes ao nível do Inglês durante todo o tempo do curso. É dada a oportunidade, apontou ainda, aos estudantes de línguas “e de outros cursos” de estudar, pelo menos um semestre, fora. Estas possibilidades permitem uma aposta na formação dos alunos, logo, depois de terminarem o curso, não precisam de ir estudar mais um ano, frisa. A ideia do Governo é “apenas um serviço de apoio financeiro”, portanto não é uma medida clara
Flora Fong
flora.fong@hojemacau.com.mo
COLINAS TAPADAS
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ntretanto, foi fornecido ao HM um esquema que demonstra que a construção do empreendimento do empresário de Sio Tak Hong vai ter “um grave impacto nas colinas de Coloane”. De acordo com o esquema, as colinas de Coloane onde o empreendimento vai nascer – e que actualmente têm 128 metros – vão ficar tapadas pelo prédio de luxo, sendo que apenas 28 metros vão ficar à vista, pelo menos na torre mais alta, que poderá ter, segundo o anteprojecto e aprovação pelo Governo, cem metros de altura. “Vamos ter outra situação igual à Taipa, onde as montanhas foram completamente tapadas”, refere fonte que forneceu o esquema ao HM.
Ensino Pedida revisão da iniciativa de empréstimo para formação
positivas, pois, sublinha, é difícil que os alunos queiram perder um ou dois anos para só se dedicarem à aprendizagem de uma língua. “O Governo deve classificar quais as exigências para os candidatos, dando-nos mais detalhes. Também é possível que o Governo possa abdicar desta ideia para apostar no intercâmbio de estudantes”, acrescentou ainda a deputada.
ambiental. Está complemente feito e, diz a ANM, só falta ser assinado pelo líder do Governo.
que venha apostar na formação de línguas em Macau. O Governo, sugere, deve preocupar-se mais com as questões internas da educação superior. “Durante a revisão, em 2008, do ensino não superior, o Governo frisou várias vezes a importância dos três idiomas em Macau, ou seja, Chinês, Inglês e Português. Até agora os alunos não se adaptaram à ideia do ensino e importância do Inglês, mas também o nível dos professores não é suficiente”, acrescentou ainda a docente.
Teresa Vong defende ainda que as disciplinas de línguas chinesa e inglesa devem ser obrigatórias na educação dos estudantes de Macau, para que a médio e longo prazo tenhamos mais alunos a estudar línguas. Alexis Tam, Secretário para os Assuntos Sociais e Cultura afirmou na segunda-feira que o Governo pretende ainda este ano lançar esta medida de empréstimos para formar recursos humanos na área linguística. Tomás Chio
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9 hoje macau sexta-feira 11.3.2016
Fundação Macau NOVO CENTRO PRONTO EM 2018. MAIS 70 MIL METROS QUADRADOS
O espaço a quem trabalha “De acordo com o plano preliminar deste projecto, pretende-se construir no terreno onde funciona o parque de estacionamento sem cobertura do Centro de Ciência um complexo multifuncional que poderá disponibilizar instalações adequadas para convenções, exposições e actividades culturais, assim como escritórios”, começa
por explicar o organismo. Neste espaço vai nascer “um auditório multifuncional com capacidade para mil pessoas, salões de convenção e exposição, escritórios e um parque de estacionamento em cave”, sendo que a área de construção é de 70.100 metros quadrados. A Fundação Macau prevê que a obra esteja concluída no final
de 2018 e o projecto vai ter em consideração “a ligação visual com o design do Centro de Ciência, o planeamento urbano e a poupança de energia verde”.
MÃOS NA OBRA
Tal como o HM já tinha avançado a empresa responsável pelo projecto é a P & T Architects and Engineers
A
INDA não há orçamento para a construção do novo Centro Multifuncional e Edifício de Escritórios que vai nascer junto ao Centro de Ciência, mas a obra será adjudicada através de concurso público. É o que garante a Fundação Macau, responsável pelo projecto, numa resposta ao HM, onde explica ainda que a obra deverá estar concluída até 2018 e vai ter mais de 70 mil metros quadrados.
Joana Freitas
joana.freitas@hojemacau.com.mo
ENFERMEIROS APOIAM EDIFÍCIO PARA DOENÇAS INFECCIOSAS
Haja moral
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A
UM encontro com o Secretário para os Assuntos Sociais e Cultura, Alexis Tam, a Associação do Pessoal de Enfermagem de Macau, presidida por Mónica Cordeiro, afirmou que “devido ao elevado número de doenças transmissíveis no mundo, o Governo de Macau deve tomar medidas preventivas, no sentido de reforçar a prevenção e o controlo” destas doenças. O grupo, que completa 35 anos, mostrou-se a favor do alargamento do Centro Hospitalar Conde de São Januário para construir o edifício de doenças infecciosas, “esperando que o Secretário consiga ultrapassar todas as dificuldades”. A questão, recorde-se, tem sido polémica por
A Fundação Macau prevê que a obra esteja concluída no final de 2018 e o projecto vai ter em consideração “a ligação visual com o design do Centro de Ciência, o planeamento urbano e a poupança de energia verde” Limited, responsável por obras de grande envergadura em Macau como o edifício do Banco da China, o antigo Hotel Westin, o edifício do Posto Fronteiriço de Macau da Ponte Hong Hong - Zhuhai – Macau e o próprio Centro de Ciência. Para este projecto recebe 60 milhões de patacas. “A elaboração do projecto iniciou-se recentemente e o mesmo, quando concluído, será submetido à aprovação dos serviços públicos competentes”, explica a Fundação, que diz, contudo, que “como a data de início e o custo da obra dependem da versão final do projecto aprovado, não pode, neste momento, responder sobre a data de início e o custo da obra”. Pode, “isso sim, garantir que a obra será adjudicada através de concurso público”. A construção do novo complexo pretende colmatar a falta de espaços e acabar com parte dos arrendamentos em edifícios comerciais privados.
TIAGO ALCÂNTARA
A Fundação Macau dá mais detalhes sobre a construção de um centro multifuncional: vai nascer até 2018, ainda que não haja data para o início das obras, e vai ser feito através de concurso público. Terá mais de 70 mil metros quadrados, divididos em auditório, sala de reuniões, convenções e outros espaços
SOCIEDADE
haver agentes da sociedade que não concordam com a construção do edifício no local planeado, devido à proximidade com blocos residenciais e escolas. Em resposta, Alexis Tam afirmou que o Governo “está convicto que irá melhorar os trabalhos desenvolvidos no sector da saúde, sendo necessário, neste momento, melhorar o hardware e o software”. O Secretário avançou ainda que os Serviços de Saúde vão tentar acelerar o recrutamento de pessoal e “introduzir mais quadros qualificado”, apostando também na formação. F. A.
Abuso sexual Associação cria regras para professores
Associação de Educação Chinesa considera que o caso de alegado abuso sexual cometido por um professor do ensino primário poderá influenciar de forma negativa a imagem dos professores no território. Ho Sio Kam, antiga deputada e actual presidente da Associação, confirmou que já estão a ser elaborados critérios para os professores do ensino não superior, por forma a melhorar a qualidade de educação e da moral dos professores. Segundo o jornal Ou Mun, a Associação já reuniu com os membros do Conselho de Educação para o Ensino não Superior sobre o assunto. “O professor, ao ter este tipo de comportamentos, envergonhou
todo o sector da educação”, apontou Ho Sio Kam. “Neste momento a escola em causa deve oferecer apoio psicológico às vítimas e tentar diminuir o impacto deste caso”, referiu.
MENTES SUBMERSAS
Lam, de 26 anos, é professor do ensino primário suspeito de ter cometido abuso sexual a uma aluna menor, a quem dará aulas, e de ter tirado fotos íntimas a outras raparigas sem o seu consentimento. Segundo as autoridades policiais, Lam foi apanhado no dia 15 de Janeiro a tirar fotografias às pernas e à roupa interior de uma rapariga na biblioteca da Universidade de Macau (UM). Nesse dia, e após os gritos da rapariga, Lam conseguiu
escapar, tendo sido preso pela polícia no dia a seguir, quando regressou ao local. Presente ao MP, o docente acabou por confirmar que tem um fetiche por fotografias íntimas e que abusou sexualmente da menor. Entretanto a Direcção dos Serviços de Educação e Juventude (DSEJ) já se pronunciou sobre o caso, tendo a sua directora, Leong Lai, referido que não vai ser dada tolerância a este tipo de casos. Leong Lai confirmou que, como o caso ainda não está encerrado e como não há uma acusação formal, o suspeito continua a dar aulas na escola. “Acredito que a lei existente vai punir de forma adequada o suspeito. A DSEJ vai continuar a acompanhar o caso e criar mais iniciativas para melhorar a moral dos professores no futuro”, referiu. Tomás Chio
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10 CHINA
hoje macau sexta-feira 11.3.2016
EMPRESAS ESTRANGEIRAS PROIBIDAS DE PUBLICAR NA INTERNET
Grande muralha digital
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MAnormativa que entrou ontem em vigor na China proíbe as empresas estrangeiras de publicarem conteúdo na Internet chinesa, em mais um esforço de Pequim para controlar aquele que ainda é considerado o espaço mais livre do país. O novo documento, designado “regulamento para a gestão dos serviços publicitários online”, obriga ainda as empresas chinesas com capitais estrangeiros a obterem a aprovação das autoridades antes de difundir conteúdos no espaço cibernético chinês. A medida, abrangerá sobretudo as “indústrias criativas” de jogos, animação, banda desenhada e gravações de áudio ou vídeo, mas também livros, jornais e revistas, segundo o jornal oficial Global Times. A regulamentação anterior, que data de 2002, permitia às empresas estrangeiras difundir conteúdo “criativo” directamente no espaço cibernético. As alterações tinham sido já anunciadas, no ano passado, pela Comissão Nacional de Reforma e Desenvolvimento (NDRC), o organismo ministerial chinês encarregue do planeamento económico, e o próprio Ministério do Comércio.
“Ajudará também a prevenir que a nossa cultura seja influenciada por culturas estrangeiras”, acrescentou. Na quarta-feira, as contas oficiais do jornal do South China Morning Post nas principais redes sociais chinesas - Sina Weibo, Tencent Weibo e Wechat - foram encerradas.
SOLO NACIONAL
A população online da China atingiu os 688 milhões de pessoas em 2015, mas Pequim esforça-se para sufocar a liberdade criada pela internet através do “Grande Firewall da China”. Aquele mecanismo censura sítios como o Facebook, Youtu-
“A proibição do investimento estrangeiro em serviços de publicação ‘online’ destina-se a proteger a segurança ideológica e cultural da nação” WANG SIXIN PROFESSOR NA UNIVERSIDADE DE COMUNICAÇÃO DA CHINA
be e Google. Nos últimos anos, foi aperfeiçoado, bloqueando selectivamente páginas com termos “sensíveis” em vez de uma censura integral do site. Desde que Xi subiu ao poder, em 2012, uma lei de segurança nacional que visa “a protecção da soberania do espaço cibernético” foi aprovada, enquanto as autoridades têm vindo a reforçar a monitorização da rede. Em Fevereiro passado, ao discursar na Conferência Mundial sobre a Internet em Wuzhen (leste da China), o Presidente chinês, Xi Jinping, defendeu que cada país deve controlar a sua própria Internet, uma vez que “liberdade e ordem” devem andar de mãos dadas na rede.
VALORES SOCIALISTAS
Os conteúdos online deverão, a partir de agora, “promover valores socialistas essenciais” e “transmitir princípios morais que sirvam para melhorar o país e promover o desenvolvimento económico”, detalha o Global Times. “A proibição do investimento estrangeiro em serviços de publicação ‘online’ destina-se a proteger a segurança ideológica e cultural da nação”, disse àquele jornal Wang Sixin, professor na Universidade de Comunicação da China.
HONG KONG LIVREIROS VOLTAM PARA O CONTINENTE Os dois livreiros de Hong Kong que estiveram desaparecidos e foram libertados pelas autoridades chinesas na semana passada voltaram “silenciosamente” à China, noticiou ontem o South China Morning Post. Segundo fontes do jornal da região vizinha, os homens regressaram à China horas depois de terem voltado a pôr o pé em Hong Kong e de ambos terem pedido à polícia desta região para arquivar os seus casos de desaparecimento. Liu voltou para Hong Kong na sexta-feira e Cheung Chi-ping no domingo e na quarta-feira, uma fonte disse ao South China Morning Post que os dois cruzaram a fronteira de volta para a China no mesmo dia em que haviam regressado a Hong Kong. “O regresso a Hong Kong foi apenas para dizer à polícia para deixar cair o caso deles – mais nada”, disse o presidente do Independent Chinese PEN Centre ao mesmo jornal, apontando que regressaram a Shenzhen com pressa, provavelmente porque é onde têm de permanecer sob custódia. Além disso, é onde as suas famílias estão, afirmou.
A ciência nos proteja Restruturação industrial em curso
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AN Gang, o ministro chinês da Ciência e Tecnologia destacou ontem o papel da ciência e inovação na “transformação da estrutura industrial” da China, que está a aplicar um plano para reduzir o excesso de capacidade de produção no sector secundário. O ministro, que falava em paralelo à sessão anual da Assembleia Nacional Popular, o órgão legislativo máximo da China, reconheceu a existência de dificuldades, apesar do apoio do Governo aos cientistas e empresários do país. “Existem alguns problemas que não solucionámos ainda e o passo seguinte é concretizar as medidas, para que os investigadores e cientistas sejam beneficiados”, frisou, em conferência de imprensa. O investimento chinês na área da Inteligência Artificial (IA) tem sido um dos temas do debate entre os deputados da ANP, que se reúnem em Pequim até ao dia 16 de Março. Liu Qinfeng, presidente da empresa tecnológica iFLYTEK e deputado da ANP, afirmou à agência oficial Xinhua que uma “aplicação massiva de IA só poderá ter lugar dentro de três ou cinco anos (...) e a China deve aproveitar esta oportunidade”. O ministro aproveitou ainda para falar da Tu Youyou, a chinesa recém-galardoada com o Prémio Nobel da Medicina, pela descoberta de uma terapia contra a malária, com base na medicina tradicional chinesa. “A medicina tradicional chinesa é um grande tesouro para nós”, sublinhou, apontando que aquela distinção, a primeira para uma mulher na China e para o país naquela categoria, “é um feito para a história da ciência” chinesa. Pequim está a levar a cabo uma reestruturação industrial, que deverá resultar na destruição de quase dois milhões de postos de trabalho só nos sectores do aço e do carvão.
MENOS LIMITES AO INVESTIMENTO EM BOLSAS ESTRANGEIRAS
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China vai permitir às entidades do país alargar os seus investimentos em acções cotadas em bolsas estrangeiras, anunciou ontem o director da Administração Estatal de Divisas da China e vice-governador do Banco central, Pan Gongsheng. Em declarações ao jornal oficial Shanghai Daily, Pan aponta para uma reforma no programa Investidores Institucionais Nacionais Qualificados (QDII, na sigla em inglês), lançado em 2007, e que permite a um grupo restrito de entidades chinesas investir além-fronteiras.
As mudanças não se deverão alargar ao mecanismo QDII2, que se destina ao investimento por individuais chineses no exterior, sem recorrer a intermediários, e dentro do limite máximo anual de aquisição de divisas estrangeiras fixadas para cada cidadão. Pequim considera que o referido limite - 50.000 dólares por ano - é suficiente para os investidores particulares e não “deverá haver nenhum ajuste”, esclareceu Pan. O anúncio de que o fluxo de investimento transfronteiriço da China para o exterior irá aumentar surge depois de, em 2015, o país ter feito vários ajustes no
sentido contrário, através do mecanismo Qualified Foreign Institutional Investor (QFII). Aquele programa, criado em 2003, permite a um grupo pequeno de entidades estrangeiras investir em ‘Shares’ denominadas na moeda chinesa (yuan) e compreende 81,1 mil milhões de dólares em capital. A única empresa portuguesa inscrita naquele programa é a seguradora Fidelidade, que desde o início deste ano passou a ter uma quota de 700 milhões de dólares para investir nas bolsas de Xangai e de Shenzhen.
11 hoje macau sexta-feira 11.3.2016
MAIS DE 40 FUNCIONÁRIOS DA HUAWEI ASSALTADOS NO RIO DE JANEIRO
O Consulado-Geral da China no Rio de Janeiro confirmou ontem, à imprensa estatal chinesa, que mais de quarenta funcionários do gigante chinês de telecomunicações Huawei foram assaltados na quarta-feira naquela cidade do Brasil. Os funcionários terão sido cercados por um grupo, quando se encontravam a jantar no bairro Estácio, na região sudeste da cidade, que acolherá em Agosto os Jogos Olímpicos de verão, detalhou a mesma fonte. O Brasil é o centro logístico do Huawei na América do Sul. O grupo chinês mantém operações em São Paulo, Rio de Janeiro, Brasília, Curitiba e Recife, além de possuir centros de treino e distribuição em Campinas e Sorocaba, ambos no Estado de São Paulo. A China é o principal parceiro comercial do Brasil desde 2009.
Sempre a inchar Inflação cresce 2,3% em Fevereiro
O
Índice de Preços no Consumidor da China (IPC), um dos principais indicadores da inflação, subiu para 2,3% em Fevereiro, face ao mesmo mês do ano passado, segundo anunciou o Gabinete Nacional de Estatísticas (GNE) do país. Trata-se do maior aumento em quase dois anos e supera a projecção de 1,8%, avançada pela agência financeira Bloomberg. O preço dos alimentos disparou durante o período do Ano Novo Lunar, com os preços da carne de porco e dos vegetais a subirem 25,4% e 30,6%, respectivamente. No mesmo período, o Índice de Preços ao Produtor caiu 4,9%, em termos homólogos, uma ligeira recuperação face à queda de 5,3% registada em Janeiro. A subida nos preços dos alimentos é ainda justificada pelas sucessivas vagas de frio que atingiram grande parte da China em Fevereiro, assume o analista do GNE, Yu Qiumei, em comunicado. “Tempestades de vento, queda da temperatura, chu-
va e nevões, em meados de Fevereiro, afectaram a produção e transporte de vegetais frescos”, justificou Yu, detalhando que os preços dos vegetais avançaram 29,9% face a Janeiro, a maior subida desde Março de 2008. A escassez de pessoal em alguns sectores, durante aquele período, contribuiu também para o aumento dos preços, explicou Yu.
“Tempestades de vento, queda da temperatura, chuva e nevões, em meados de Fevereiro, afectaram a produção e transporte de vegetais frescos” YU QIUMEI ANALISTA DO GABINETE NACIONAL DE ESTATÍSTICAS
Os preços no sector dos transportes e nos locais turísticos registaram também uma subida acentuada, reflectindo o aumento da procura durante o Ano Novo Chinês.
SINAL MAIS
É o 48.º mês consecutivo em que o principal indicador da inflação no sector grossista regista uma queda, reflectindo o impacto do excesso de produção que afecta grande parte do sector secundário chinês. Uma inflação moderada pode beneficiar o consumo, estimulando os consumidores a comprarem na expectativa que os preços subirão, enquanto uma queda encoraja os clientes e empresas a adiarem as encomendas. O aumento da inflação constitui, por isso, um sinal positivo para a economia chinesa, que cresceu no ano passado ao ritmo mais lento do último quarto de século (6,9%). Pequim está a encetar uma transição no modelo económico do país, visando um maior ênfase no consumo, em detrimento do investimento em grande obras públicas ou exportações.
PUB
CHINA
EVENTOS
GIL MAC MÚSICO, DESIGNER E PERFORMER, APRESENTA “ORÁCULO”
Está em Macau para o Rota das Letras e traz consigo um projecto inovador e único, que o vai levar numa viagem irrepetível e muito pessoal. Gil Mac apresenta “Oráculo” de sextafeira a domingo no antigo tribunal, mas não sem antes revelar o seu lado de músico, artista e investigador da vida de Camilo Pessanha – uma “obsessão” que nasceu aqui
“Comecei a fazer investigação sobre o Tarot e converti os grandes arcanos, são os grandes arquétipos, como se fossem os trunfos, que contam a história do Louco. Basicamente é a história dele, que tem o seu próprio caminho. Isto é como se fosse a viagem de Pessanha, que, em representação aqui será o Louco, o primeiro. Depois temos o seu universo, ligado a cada uma dessas cartas”
Designer, músico, encenador, performer... Por onde é que começamos exactamente, qual o pontapé de saída de Gil Mac no mundo das Artes? Sempre no mundo da música e como designer gráfico. Desde pequeno que comecei com bandas e, depois, fui estudar Design Gráfico. Mas mantive sempre essa relação entre música e design. Fui fazendo isso tudo até que entrei no CITAC [Círculo de Iniciação Teatral da Academia de Coimbra] há uns dez anos e intensifiquei muito a performance e é nisso que tenho trabalhado, na área de teatro. Sou um artista que trabalha nessas três áreas e vou mudando e faço-o em projectos individuais ou para a minha associação, para a qual trabalho muito, a DEMO. E para outras companhias. A sua orientação, especialmente ao nível do projecto musical Lucifer’s Ensemble, é um pouco ligada ao oculto, ao misticismo. Porquê esse interesse? Sim, sim. Não sei, nasceu ao mesmo tempo que estava no CITAC e estávamos a fazer um espectáculo chamado ‘Divodignos’, que era uma sociedade secreta em Coimbra e, essa investigação, fez com que tentássemos perceber os mistérios – porque aquilo passava-se no princípio do Séc. XIX – e, a partir daí comecei a desenvolver mais conhecimento e a estar ligado com o oculto, com esta curiosidade. Isso atrai o público? Acho que há muita gente ligada [ao oculto] e que tem essa curiosidade, outros têm algum receio. Como, para mim, esse esoterismo não é algo astérico, mas sim vontade do conhecimento. De certa forma, a procura do desconhecido, de alguma coisa que não é palpável. Esse mergulho é interessante, especialmente numa fase criativa. Mas, adicionalmente é a procura do conhecimento e, de alguma forma, o estar vivo e partilhar momentos com pessoas. Mas, por outro lado, as pessoas têm algum receio dessa experiência, da relação com algo não palpável, relacionam com o burlão, com o folclore de magia negra, algo que cria um afastamento. Mas não tenho tido muito esse problema. Acho que o público vem, de alguma forma, preparado. Aqui vai apresentar o “Oráculo”, uma “performance interactiva”, com Tarot e com Camilo Pessanha. O que é o “Oráculo”? Primeiro, é uma espécie de obsessão que nasceu quando vim a Macau para um projecto chamado CODE, que ia fazer em Hong Kong e a Babel (organização) propôs que fizesse cá. Há muito pouco tempo que percebi que tinha, realmente, esta ligação ao oculto. Mas começou por uma obsessão com Camilo Pessanha, quando
HOJE MACAU
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voltei a Macau em 2014. Comecei a investigar e vi Camilo Pessanha ligado a Macau. Na Fundação Oriente fiz um curso de Xilogravura da China e, em Lisboa, fiquei nos ‘calabouços’ a estudar Pessanha e a China. Como sou designer gráfico, e estou muito mais ligado à imagem, fiz uma compilação da minha investigação em postais para apresentar numa primeira actividade onde ia fazer num projecto chamado INSCRIÇÃO, que foi no Porto, sobre o universo de Camilo Pessanha. Nos postais mostrava a vida [do poeta]. A viagem era interessante, ainda que longa, mas ao fazê-lo percebi que poderia criar um conteúdo aleatório – duas ou três imagens poderiam relacionar-se com as várias histórias dentro desta história. Comecei a fazer investigação sobre o Tarot e converti os grandes arcanos [22 cartas maiores no Tarot], são os grandes arquétipos, como se fossem os trunfos, que contam a história do Louco. Basicamente é a história dele, que tem o seu próprio caminho. Isto é como se fosse a viagem de Pessanha, que, em representação aqui será o Louco, o primeiro. Depois temos o seu universo, ligado a cada uma dessas cartas. Nessa viagem vamos ter Fernando Pessoa, Orpheu... Vamos passar pelos Poetas Malditos, a geração de Orpheu, Baudelaire, que será o Mago... Esta sessão será para uma a duas pessoas. Porquê? Sim, porque tem a ver com a relação do Tarot e de proximidade. Essas duas pessoas terão de ser próximas, íntimas e ter, de alguma forma, alguma relação porque o Tarot é eficaz quando se responde a uma pergunta – uma vontade, uma inquietação, um desejo. Depois passaremos para a fase de o que Camilo Pessanha teria para dizer à pessoa (risos). Nos diversos projectos de que faz parte, como o DEMO, há uma interligação de diversas artes – desde a encenação à música, ao grafismo. No meio artístico é necessário existir essa interligação? A multidisciplinaridade, para nós, é um ‘statement’. No DEMO, as siglas são “Dispositivo”, “Experimental”, “Multidisciplinar” e “Orgânico”. Por causa disso mesmo, uma tentativa de direcção artística onde se criam objectos artísticos e onde o grupo é multidisciplinar, de várias áreas. No Lucifer’s Ensemble vocês têm também esse cruzamento, os vossos concertos são também uma performance. Lucifer’s Ensemble é também uma tentativa de multidisciplinaridade. Criar não uma peça de teatro musical, mas sim fazer um concerto performático. Já tínhamos trabalho partindo da influência da música com o projecto PRESENÇA. Com
“Começou uma obses por Cam Pessanha
com ssão milo a”
13 hoje macau sexta-feira 11.3.2016
O POETA MOSTRA O FUTURO
este, o formato é mais aproximado de um concerto, mas com grande performatividade. É mais fácil que as pessoas entendam o que se está a passar em palco com essa performance além da música? Lucifer’s Ensemble trabalha numa tentativa de transcendência, em nada há interactividade. O público é voyeurista. Há uma divisão completa entre um espaço e outro, as pessoas estão a ver uma cerimónia, estão em comunhão nessa cerimónia, mas há, de alguma forma, uma separação porque estamos a tentar trabalhar sobre essa relação de transcendência. Há esse ritual iniciático que desenvolvemos a partir de uma nova interpretação, uma nova forma de trabalhar essa performatividade a partir do ritual. E depois tens os vários momentos, as várias músicas, onde se podem ir vendo as transformações. Mas há sempre o cuidado de adaptação ao espaço onde vamos fazer o concerto e aos ambientes. Tem sido um trabalho muito interessante. Não ensaiamos como uma banda normal, criamos em blocos de residência, que vão fazer com que haja composição
PERFIL GIL MAC nasceu em Coimbra em 1975 e é encenador, músico e designer. É colaborador em projectos de intervenção urbana e foi membro de projectos de música experimental e electrónica desde o início dos anos 90, sendo vocalista dos Lucifer´s Ensemble. Criou várias bandas sonoras para teatro e co-fundou a associação cultural DEMO. É director artístico do INSCRIÇÃO – projecto que cruza artes performativas, visuais e Literatura para abordar a vida e obra de Camilo Pessanha e os movimentos literários do Simbolismo ao Futurismo em Portugal. Coordenou projectos interdisciplinares artísticos, incluindo em Macau.
EVENTOS
U
m Tarot transformado, dedicado ao universo de Camilo Pessanha e onde a vida do poeta se entrelaça com a nossa. “Oráculo” é uma “performance intimista para uma ou duas pessoas” mas, mais do que isso, é uma experiência irrepetível inspirada no Tarot comum. É muito fácil: vá ter com Gil Mac ao antigo tribunal, de sexta-feira a domingo, e – em quinze minutos – vai ser-lhe pedido que pergunte tudo o que quer saber sobre o seu futuro. Escolha uma carta. Não lhe toque. Essa carta – que pode ter Wenceslau de Moraes ou a primeira página da Orpheu como imagem, entre tantas outras – vai ligar-se a uma carta dos grandes arcanos do Tarot. A sua viagem só agora vai começar: o baralho responderá a uma questão ou desejo que traga consigo. O seu destino será transportado pelo universo de Camilo Pessanha e será desvendada pelos poetas malditos franceses, pela geração de Orpheu, pelo pensamento poético. Pelo futuro - quem sabe, o seu. Não tenha medo. Atreva-se a ingressar numa viagem estranha e intensa, mas que vale a pena. Fique a saber mais sobre Pessanha... e sobre si.
e se trabalhe nesse espaço [do concerto], onde temos sempre um artista convidado. Trabalhamos sempre com um artista [novo] para nova música e trabalhamos no espaço para [nos adaptarmos a ele]. E vamos iniciar agora o primeiro Clube do Oculto, que é uma tentativa de arranjar projectos convidados para essa cerimónia, para esse espectáculo, onde ocupamos sempre um espaço diferente. Não tem regularidade nenhuma, é espontâneo. Um dos pontos que defende é ter a arte como intervenção urbana. De que forma? Venho da música e essa será sempre uma alternativa e a [minha] arte também está muito ligada à ‘street art’. Logo no princípio da DEMO, num projecto que fizemos em Varsóvia e se chamava Russian Roulette, tínhamos essa intervenção – um telemóvel com uma aplicação que tinha um ‘revólver’ e uma única ‘bala’e se jogava com uma webcam em directo na net. Durante seis semanas havia seis performances diferentes e, ao sexto dia, tínhamos uma performance ligada a temas da sociedade e ao tema de ‘um estranho num lugar estranho’ – houve um dos dias que um colega nossa [o artista] recebeu ‘a bala’ e o tema seria os média.Apergunta que tínhamos de responder era como é que um cidadão tem voz no espaço público, como consegue atingir os média. Fizemos isto cá no Fringe, em 2014, onde andávamos na rua a perguntar às pessoas o que tinham para dizer sobre [diversos temas], em espaço público. Mas também trabalhamos muito numa relação de propaganda, que tem a ver com posters de grande dimensão. É conseguir fazer algo que está na franja da ilegalidade e da ‘street art’, onde, de alguma forma, não estamos a ferir o património, mas comunicamos no espaço público. Estiveram no Fringe cá em 2014. Sentiram participação do público nesse projecto? O público chinês é tido como um público tímido, que não expressa o que sente sobre o que vê. Sentiram isso? Sim, são públicos difíceis de atingir. É difícil de explicar, acho que há essa
inibição no princípio, e claro que há a questão da língua que deixa as pessoas mais nervosas, mas depois há esta tentativa de as pessoas continuarem a falar e cria-se mais proximidade e há, parece-me, vontade de que se exprimam. Não consigo responder a essa pergunta porque é quase uma relação sociológica e com as artes e a própria cidade.
“Quando me perguntam o que procuro em Camilo Pessanha costumo responder, de forma intuitiva, o fantasma. Sinto-o, por vezes, nas ruas escuras da parte velha chinesa, que é o local que me agrada mais em Macau”
Com certeza, queremos que o Lucifer’s Ensemble vá a todo o lado. Agora, neste momento estou envolvido com o projecto INSCRIÇÃO, com esta obsessão de Camilo Pessanha, que fez com que ele chegasse ao Orpheu. Trabalhamos muito já sobre o Futurismo e vamos continuar, até chegamos ao Portugal Futurista e criámos um espectáculo chamado Hidra e Orpheu, que era o que era para vir cá. Mas não tivemos apoios, não conseguimos as viagens e o Festival [Rota das Letras] também não conseguia suportar as viagens desse grupo [Hidra]. Mas estamos com muita vontade, e o Festival também, de o trazer para o ano. É muito interessante, seriam dois grupos sempre em movimento, com várias performances, aqui [no tribunal] ou na rua. Vamos conversar para planear. Em relação ao Lucifer’s, gostaria muito, mas como está ligado mais à arte sonora e à tecnologia estou a pensar propor ao This is my City. Gosto muito do Armazém do Boi também, acho incrível. Vontade de estar aqui tenho.
Não consegue avaliar o ambiente cultural de Macau? [Comparado] com onde venho, com a Europa, parece-me escasso. Mas não sei, acho que Macau é fascinante pela fusão de culturas e eu teria, pela minha natureza, tentado forçar mais os limites e a relação dessa mescla. Por acaso, no projecto que fizemos [no Fringe] foi muito fixe, porque fizemos workshops no Armazém do Boi e encontrámos uma população jovem chinesa politicamente envolvida e isso deu-me uma esperança muito grande. Ao mesmo tempo estava a acontecer o Occupy [em Hong Kong] e isso era muito próximo ao trabalho que estávamos a fazer cá, da relação com o espaço público. Mas é difícil responder a essa pergunta, é uma realidade diferente e complexa. Mas fascinante.
Camilo Pessanha é, como já disse, uma obsessão. Já visitou a campa aqui? E sente essa presença de Pessanha em Macau? Já visitei e, simbolicamente, desta vez, viajei para cá no dia da morte dele (risos). Quando me perguntam o que procuro em Camilo Pessanha costumo responder, de forma intuitiva, o fantasma. Sinto-o, por vezes, nas ruas escuras da parte velha chinesa, que é o local que me agrada mais em Macau. É difícil porque quando estudamos [a vida dele] começamos a imaginar uma época e é muito difícil abstrairmo-nos do Macau onde vivemos agora. Conseguimos ter alguns enquadramentos onde imaginamos a vivência dele, mas é uma relação com a história, uma imagem a preto e branco (risos). Há algum saudosismo que não é de um Macau como este de agora.
Há mais projectos na calha aqui para Macau? Dizia que gostava de trazer cá o Lucifer’s Ensemble.
Joana Freitas
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14 EVENTOS
hoje macau sexta-feira 11.3.2016
Polémico e irreverente, Chen Xiwo já viu obras suas proibidas na China, mas ainda assim não desiste de escrever sobre o sexo e o desejo. Convidado do Rota das Letras, Chen Xiwo acredita que o seu país vai acabar por sofrer uma inevitável revolução política
E A paixão por Macau de Xue Yihan Exposição “Amor Moldado” inaugura hoje no Albergue SCM
O
primeiro contacto de Yao Feng com o trabalho artístico de Xue Yihan aconteceu por culpa do acaso. Um dia Yao Feng, pseudónimo de Yao Jingming, académico da Universidade de Macau (UM), foi convidado para jantar em casa de um dos filhos de Xue Yihan, artista e um antigo soldado do exército chinês, já falecido. Foi então que Yao Feng se deparou com diversas gravuras sobre Macau expostas na parede da sala. “Este artista já morreu em 2008 e, no ano passado, os filhos convidaram-me para jantar na sua casa em Zhuhai. Durante o jantar reparei nos quadros na parede e fiquei impressionado. Eram quadros de gravura mas todos sobre Macau, sobre o palácio do Governador ou as Portas do Cerco. Falei com eles e fiquei com a ideia de fazer uma exposição em Macau”, contou Yao Feng ao HM. O contacto do artista com Macau só aconteceu depois de se ter reformado e mudado de armas e bagagens para Zhuhai. “Foi aí que teve a oportunidade de visitar Macau e ficou impressionado. Acabou por vir cá muitas vezes e, durante dois anos, fez muitos
trabalhos com um amigo (Zhang Zhenqi), também artista, todos eles feitos antes do período de transferência de soberania.” Os filhos de Xue Yihan acabaram por doar 12 obras do pai ao Governo de Macau. Na nota que escreveu sobre a exposição, Yao Feng destacou o facto de Xue Yihan ter retratado os lugares históricos de Macau através da gravura, num trabalho cheio de detalhes. “Para fazer estas obras, Xue Yihan percorreu as ruas e ruelas de Macau e acabou por seleccionar cuidadosamente os pontos históricos e culturais mais representativos para os temas da sua gravura, os quais ganharam uma excelente expressão através da sua técnica hábil de gravura e da sua alma acesa na paixão por esta terra. Sendo um artista experiente em arte de gravura, Xue Yihan sabia bem como interiorizar primeiramente a paisagem física e depois mostrá-la aos olhos do público, pelas cores e linhas cuidadosamente concebidas.”
TESTEMUNHO DE MESTRE
Para Yao Feng, as obras que serão vistas na exposição do Albergue SCM “são feitas com linhas
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No Sudão, ele foi inspector-chefe até ter visto a sua família ser assassinada às mãos dos islamitas. Agora, exilado no Cairo, Makana procura sobreviver prestando serviços como detective privado. Por sorte, o seu novo cliente tem dinheiro, muito dinheiro: dono de um clube de futebol, Saad Hanafi recorre aos préstimos de Makana justamente para que este encontre a estrela maior da sua equipa, Adil Romario, desaparecido em condições misteriosas.
complexas mas precisas, cores abundantes mas harmoniosas, o que serve para provar que Xue Yihan era um mestre em arte de gravura. Como as obras de gravura de Xue Yihan foram concluídas num importante momento histórico de Macau, já constituem uma preciosa testemunha artística deste momento”. Nascido em 1937, Xue Yihan foi membro da Associação dos Artistas da China e da Associação de Gravadores da China, bem como da Associação dos Artistas de Guangdong. Foi no período em que prestou serviço militar na marinha chinesa que retratou a vida dos militares no Mar do Sul da China. Depois de se ter mudado para Zhuhai aquando da sua reforma, Xue Yihan acabou por criar o Centro de Intercâmbio Cultural e Artístico, tendo chegado a expor o seu trabalho em países como a Austrália, Canadá, Estados Unidos e ainda em diversas cidades chinesas. A exposição estará patente até ao dia 22 de Abril, podendo ser visitada todos os dias entre as 12h00 e 20h00 - às segundas-feiras apenas estará aberta entre as 15h00 e 20h00. A entrada é livre. A.S.S.
STA quarta-feira ao final da tarde Chen Xiwo sentou-se na sala do edifício do antigo tribunal e contou perante uma plateia cheia o seu embate com as autoridades chinesas que confiscaram e baniram dois dos seus livros. A conversa, no âmbito do Festival Literário Rota das Letras, foi sobre “The Book of Sins”, um dos livros banidos no continente, mas também incidiu sobre “I love my mum”, outra obra polémica e banida, pelo seu forte teor sexual. À margem da sessão, o autor confessou ao HM que as autoridades do seu país não poderão evitar o descontentamento crescente da população. “Nos anos 80 o Governo tentou mudar a situação que vivíamos na altura, mas apenas fizeram uma revolução económica e não política. Mas uma revolução política não pode ser evitada. Acredito que num futuro próximo a China vai ter uma revolução contra o sistema político. As palavras dos cidadãos chineses não importam, apenas as palavras dos oficiais do Governo.” Questionado sobre o lado imoral que a cidade do Jogo pode ter, sobretudo por ser algo muito amado pelos chineses, Chen Xiwo considerou que a moralidade, sendo muito abordada na China, não se verifica na prática.
“Acho que a literatura é sempre sobre como podemos provocar o senso comum. O que é normal e aceite para mim não funciona, tenho sempre de fazer algo diferente”
“A moralidade na China é sempre algo contestado. É algo que sempre vimos retratado nos livros e na história chinesa, mas que nunca vemos mostrado na realidade. As pessoas não jogam apenas em Macau mas também jogam em diversas partes da China. Do que sei é que a maior parte das pessoas da China que vêm a Macau jogar são oficiais do Governo”, referiu.
ESTRANHA LITERATURA
Chen Xiwo vive actualmente na China onde é professor universitário, com um doutoramento em Literatura Comparada e Mundial. Os livros que mandou imprimir em Taiwan acabaram por ser confiscados pelas autoridades. “Apenas me disseram: não brinque connosco, não seja tão agressivo. Não argumente connosco porque esta é a nossa maneira de fazer as coisas. Fiquei furioso e perguntei em que lei se baseavam para banir o meu livro. Disseram-me que era pornográfico e obsceno”, contou Chen Xiwo na sessão do Festival. Referindo que o teor sexual já faz parte do quotidiano dos chineses, o autor confessou ainda que “banir o sexo tem tudo a ver com política”. “Ser erótico e sexual é algo legítimo”, apontou. Ainda assim, Chen Xiwo garantiu ao HM que nunca vai deixar de escrever sobre esta temática. “Uma mudança de tema é para mim impossível, porque a temática do sexo vai surgir no próximo livro. Mas ainda tenho de analisar que liberdade é que o meu editor me vai dar para publicar o meu próximo livro, por isso ainda estou a ponderar essa parte. Acho que a literatura é sempre sobre como podemos provocar o senso comum. O que é normal e aceite para mim não funciona, tenho sempre de fazer algo diferente”, disse Chen Xiwo na sessão do Festival, assumindo que nem todos compreendem as palavras que escreve.
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HEREGES • Leonardo Padura
Em 1939, o S.S. Saint Louis, onde viajavam novecentos judeus fugidos da Alemanha, passou vários dias ancorado no porto de Havana à espera de autorização para desembarcar. Um rapaz, Daniel Kaminsky, e o tio aguardam no cais a saída dos familiares, confiantes de que estes tentariam os oficiais havaneses com o tesouro que traziam escondido: uma pequena tela de Rembrandt, na posse dos Kaminsky desde o século XVII. Mas o plano fracassou e o transatlântico regressou à Europa, levando consigo qualquer esperança de reencontro e condenando muitos dos seus passageiros. “Hereges” é um romance absorvente sobre uma saga judaica que chega até aos nossos dias e que vem confirmar o autor como um dos narradores mais ambiciosos e internacionais da língua espanhola.
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Uma fonte da História
Chen Xiwo AUTOR DE ROMANCES BANIDOS NA CHINA
“Uma revolução política não pode ser evitada”
Daniel Pires lança Dicionário Cronológico da Imprensa Periódica de Macau
O EDUARDO MARTINS
“O meu trabalho é raro na literatura chinesa e não acho que tenha muitos fãs ou leitores que gostem dos meus livros, porque tenho uma escrita agressiva.” Ainda assim, Chen Xiwo referiu que nunca pensou sair da China, apesar de já ter estudado no Japão. “Alguns amigos sugeriram que
devia sair do país, mas penso que um escritor tem que estar na sua terra natal. Um escritor é como um político, mesmo que esteja na prisão tem de ficar no seu próprio país.” No meio de um debate sobre censura na literatura, houve ainda umas palavras sobre política. “No Ocidente há democracia, por exem-
CONCENTRAÇÃO MOTARD NO SÁBADO
Pelo menos cinquenta - os associados do Motoclube de Macau (MCM) - e, provavelmente, mais uns quantos motociclistas, que a organização espera se cifrem nas centenas, vão celebrar no próximo sábado o quarto aniversário do clube com a realização de uma parada de motos que irá percorrer em diversas artérias da cidade. A Super Parada, assim é chamada, parte do Roadhouse pelo meio-dia, num percurso circular, culminando com um buffet e um sorteio com diversos prémios. Fundado em 2012, o MCM assume-se como uma referência para os amantes das motos com cilindradas superiores a 400cm3 e organiza actividades regulares na RAEM e em regiões vizinhas que, diz em nota de imprensa, “cumulativamente já envolveram mais de dois milhares de participantes”.
EVENTOS
plo nos Estados Unidos escolhem o seu próprio presidente, mas na China somos impotentes”, rematou o autor. Andreia Sofia Silva
andreia.silva@hojemacau.com.mo
investigador português Daniel Pires apresenta, no dia 15, o “Dicionário Cronológico da Imprensa Periódica de Macau do Século XIX (1822-1900)”, um trabalho iniciado há 26 anos e que se debruça sobre uma “fundamental fonte histórica”. Cerca de 80 periódicos – a maioria em Português, mas também alguns em Inglês – foram publicados ao longo do século XIX em Macau, abrindo uma janela para a “sociedade, economia, política, educação” da época, considera Pires, que participa no Rota das Letras. Estes jornais eram importantes pela informação comercial que disponibilizavam numa cidade cuja principal função era ser um entreposto comercial. “As pessoas precisavam de saber que vinha aí a seda, quanto custava o metro, tinham de saber os câmbios, as datas de chegada e partida dos barcos”, explicou à Lusa. Eram também jornais marcadamente políticos – divididos entre os da oposição e do Governo – apesar da forte censura. “Mesmo quando não havia censura em Portugal, a censura aqui existia. Era uma cidade pequena, não tinha Taipa e Coloane, era a foz do Rio das Pérolas e acabou. Imagine-se o que era em termos de lutas, conflitos de interesses.” Os conflitos “resolviam-se com uma repressão forte”, que tinha a censura como aspecto fundamental mas também outros: “As pessoas que não obedeciam eram espancadas, enviadas para o degredo, Timor”. Esse foi o destino de alguns “jornalistas de grandíssimo valor e grandíssima coragem” que “fizeram frente ao poder discricionário”, como foi o caso do médico Francisco da Silva Magalhães, director do Gazeta de Macau. “Era um idealista, queria participar na construção da socieda-
de e era crítico – ser crítico nesta altura pagava-se caro, foram dois anos de castigo no degredo em Timor”, disse, lembrando um homem “muitíssimo inovador a vários níveis”. Ser jornalista em Macau no século XIX “não era fácil” e a pressão surgia de todos os lados. “Havia formas de dissuadir. Dizia-se ‘És director do jornal, cuidado com o que escreves ou o teu filho pode não ter emprego’”, exemplificou Pires.
PASSADO MARCADO
Entre os temas mais recorrentes nos periódicos da época, o investigador salientou, além do comércio, a relação entre portugueses e chineses – “uma relação difícil” –, a luta entre o Leal Senado [câmara] e o governador, a Guerra do Ópio e o tráfico de cules, emigrantes chineses que vinham para Macau e eram depois enviados para trabalhar na América Latina, “eram contratados, com mentiras à mistura, na China”. “Em Macau era-lhes dado um passaporte português, tornavam-se cidadãos portugueses sem saberem contar até três, e depois eram levados para o Peru e para Cuba, onde eram exploradíssimos. A primeira coisa que lhes faziam era retirar o passaporte”, contou. Para o investigador, que viveu três anos em Macau e publicou obras relacionadas com Camilo Pessanha, Wenceslau de Moraes e Bocage, “os jornais são absolutamente fundamentais como fonte histórica, talvez até sejam a principal fonte”. “Pode ter havido uma censura tal que as pessoas estivessem amordaçadas e houve muitos momentos em que estiveram, mas ali está tudo o que foi possível publicar”, conclui. O “Dicionário Cronológico da Imprensa Periódica de Macau do Século XIX (1822-1900)”, editado pelo Instituto Cultural de Macau, é lançado no dia 15 pelas 18h30, na Academia Jao Tsung-I. LUSA/HM
h ARTES, LETRAS E IDEIAS
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O Infante D. Henrique
De Tânger a Sagres
N
O artigo escrito em 4 de Março para comemorar os 622 anos do nascimento do Infante D. Henrique, deixámos o relato da sua vida quando em 1418, “logo após o regresso da expedição de socorro a Ceuta dois escudeiros de D. Henrique - João Gonçalves Zarco, (sobrinho do vedor da fazenda, João Afonso) e Tristão Vaz Teixeira - pediram autorização para praticar o corso. Os ventos conduziram-nos à ilha de Porto Santo, onde decidiram fixar-se, porventura decepcionados com uma guerra que não trazia honra nem proveito”, segundo Luís Filipe Thomaz. Desde 1416 D. Henrique estava encarregue da defesa e provimento de Ceuta, conquistada no ano anterior, mas tal praça mostrava-se um sorvedouro de gente e dinheiro. As necessidades financeiras, que precisava, obteve-as sobretudo pelo controlo da actividade corsária portuguesa na área do Estreito, onde, tal como o seu irmão D. Pedro, tinha ao serviço barcos corsários. Segundo Artur Teodoro de Matos, “o Infante D. Henrique vai construindo economicamente a sua casa com direitos, monopólios, <indústrias>, isenções, honras e privilégios. Depois de lhe ser concedida a alcaidaria-mor da cidade de Viseu, em 1416, recebe, em 1420, a administração da ordem de Cristo cedida pelo papa a rogo do rei, o que lhe permitirá investir os proventos desta na guerra contra os sarracenos e na <dilatação da fé católica>, objectivos tão caros ao Infante e que se coadunavam com os seus interesses económicos. Depois, é autorizado a realizar feira franca anual em Tomar (1420). Recebe o monopólio da estacada no Ródão para reter o peixe (1421); do relego de Viseu (1421); o direito de conceder terras suas e da Ordem de Cristo em regime de sesmaria (1422); de doação de casas para saboaria em Santarém (1424); facilidades para a sua indústria de sabão em Lisboa (1428), etc.” Desta forma e pelo corso, D. Henrique tinha os fundos que precisava para enviar os seus barcos para o Atlântico Sul, onde cria poder encontrar apoio do tão afamado reino cristão do Preste João, assim como perceber a extensão do território muçulmano. Em 1422 “começou a mandar navios da sua frota corsária para o Sul, dando-lhes
ordens para que tentassem dobrar o cabo Bojador” segundo Luís Filipe Thomaz, no entanto, “os planos henriquinos de exploração da costa ocidental africana não parecem constituir, na origem, um projecto expansionista distinto da conquista de Marrocos; muito pelo contrário, integram-se, com toda a verosimilhança, na mesma estratégia, visando simplesmente envolver o reino de Fez pelo Sul.” E prosseguindo, “Durante doze anos todas as tentativas fracassaram, sendo apenas em 1434 que Gil Eanes, finalmente, penetrou nas águas desconhecidas do Atlântico Sul. Tal sucessão de malogros explica-se por dois factores; por um lado, o temor dos baixios fronteiros ao cabo, o medo do desconhecido, porventura também a influência das velhas lendas sobre o <mar tenebroso> que se estenderia para lá do Bojador; por outro lado, o atractivo económico do corso, que levava as tripulações a preferirem as costas de Marrocos e de Granada, onde podiam capturar presas, ao litoral arenoso e despovoado do Sara.”
O DESASTRE DE TÂNGER
Enquanto o príncipe D. Duarte se preparava para ser Rei, os seus irmãos na segunda metade dos anos vinte do século XV viajavam pela Europa. O Infante D. Pedro, entre 1425 a 1428 e no ano seguinte, foi a vez do Infante D. Fernando, o irmão mais novo, acompanhar a irmã, Isabel, à Flandres, onde se casou com Filipe, o Bom, tendo este aliciado o Infante D. Henrique para aí ir viver. Tal ocorreu após a malograda expedição de 1424/25, “sob o comando de D. Fernando de Castro para se apoderar da Grã Canária”, organizada pelo Infante D. Henrique, sem querer saber de Castela que, “desde 1403, tinha sob a sua suserania as ilhas de Lançarote, Forteventura e Ferro” e em 1421 “o Rei de Castela D. João II concedeu o que faltava conquistar das Canárias ao andaluz Alfonso de las Casas, tendo o Papa confirmado tal concessão”, como refere Luís Filipe Thomaz. A salientar ter já o Rei D. Afonso IV, da primeira dinastia portuguesa, enviado uma esquadra que encontrou as Ilhas Canárias em 1336. E continuando, “A intervenção do Rei (D. João I) no processo tinha visado desviar das Canárias D. Henrique e seus apaniguados, para evitar as tensões com
Castela” e consciente de ter os filhos a ajudá-lo, D. João I começou a ponderar encontrar maneira de cativá-los. O estabelecimento português nos Açores, ilhas encontradas em 1427 por Diogo de Silves, foi segundo Filipe Thomaz, “provavelmente uma consequência do povoamento da Madeira e do desenvolvimento da navegação entre a ilha e o continente”. Em 1429 ocorreu um novo ataque dos marroquinos a Ceuta e perante a sua frequência, a coroa portuguesa debate
em 1433 sobre a “viabilidade de prosseguir a política expansionista em Marrocos”, Veríssimo Serrão. E seguindo, “A situação de Ceuta, isolada no território do Magrebe, impunha a conquista de novas praças para a realização daquele projecto”. D. João I preparava uma empresa a Marrocos, que pensava comandar pessoalmente, quando em 1433 finou. D. Duarte sucedeu a seu pai, reinando de 1433 a 1438. “Na corte de D. Duarte fizeram-se, entretanto sentir as corren-
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José Simões morais
tes favoráveis à conquista de Tânger”, segundo Veríssimo Serrão, “porto cobiçado pela sua posição estratégica face ao estreito de Gibraltar.” Em 1437, “graves carências no comando da expedição e uma táctica militar votada ao insucesso levaram o cerco do exército português que, a 12 de Outubro daquele ano, teve de se render na totalidade à pressão dos defensores de Tânger”, segundo Veríssimo Serrão e continuando, a 13 começaram as negociações, “a 17 assinou-se a paz”. “Por este tratado, D. Henrique obrigava-se a devolver Ceuta a Salah ben Salah, que a perdera em 1415 e que em 1437 governava Tânger. Como refém, os Muçulmanos retinham o infante D. Fernando. Os Portugueses embarcariam, sem armas e vitualhas, ficando como refém desse embarque um filho de Salah ben Salah e como refém deste quatro cavaleiros fidalgos portugueses.” O Infante D. Fernando, como mártir, aí ficou prisioneiro e só seria libertado em troca de Ceuta. Assim em Fez o deixaram sacrificado como Infante Santo, apodrecendo até a morte o
Em seu trono entre o brilho das esferas, com seu manto de noite e solidão, tem aos pés o mar novo e as mortas eras – o único imperador que tem, deveras, o globo mundo em sua mão. FERNANDO PESSOA EM MENSAGEM
levar em 1443, pois as Cortes não quiseram permitir que essa praça fosse restituída. Com a morte do Rei D. Duarte em 1439 e porque D. Afonso, o futuro Rei Afonso V, tinha apenas seis anos e o povo não aceitava D. Leonor para regente por esta estar nas mãos da nobreza, D. Pedro, irmão do falecido rei (D. Duarte), governou o país até 1449. Este, em 1443 concedeu ao Infante D. Henrique o monopólio da navegação, guerra e comércio nas terras além Bojador. “Com os dez anos de regência de D. Pedro II, regressava o entusiasmo pela navegação e atingiu-se o Cabo Branco e o Golfo de Arguim, região rica em ouro e escravos traficados pelos habitantes que iam ao interior fornecer-se de pessoas da sua raça e os capturavam, para depois trocar por panos, prata, tapetes e trigo com os portugueses, que aí tinham uma feitoria. Assim, ao explorar vastas zonas do Atlântico Central, um novo espaço geoeconómico se abre, levando a uma expansão da economia e em que o elemento monetário é cada vez mais importante”, Celina Veiga de Oliveira. Vitorino Magalhães Godinho sobre o carácter do Infante diz: “A atestar que não possuía excepcionais qualidades de organização prática, aí estão o desastre de Tânger, cuja responsabilidade lhe cabe inteira, e as dívidas que legou (e que não podem ter resultado das despesas com os descobrimentos, mas sim dos gastos da sua casa senhorial). Todavia, pensava também no acrescentamento material da ordem de Cristo, e o seu panegirista indica que esta adquiriu novas casas e herdades e pôde construir capelas. Nunca descurou o engrandecimento da sua casa e património, teve uma empresa de corso e vigiou atentamente para não ser defraudado do seu quinto de escravos. Sacrificou o seu irmão mais novo ao seu imperialismo marroquino, sacrificou o irmão mais velho em Alfarrobeira porque divergiam politicamente.” Já Luís de Albuquerque refere sobre a cultura do Infante: “D. Henrique personifica o tipo de homem de acção e não de reflexão erudita; no seu espólio há livros (mas pouquíssimos livros!) de cultura geral (assim escreveu Cortesão) e livros de devoção; es-
tes sim, devia o infante estimá-los, como católico fiel que era, à maneira do seu tempo. Quanto ao resto, é quase certo que passou muito bem sem roteiros, cartas, planisférios e outras coisas que, a partir de determinado momento, terão interessado vivamente navegadores e pilotos.”
SAGRES, A VILA DO INFANTE
D. Henrique fez de Lagos a sua cidade e mais tarde, Sagres o seu refúgio, talvez para expiar os remorsos sentidos por ter convencido o seu irmão D. Fernando a tomar o seu lugar como refém, após a malograda expedição de 1437 a Tânger, enquanto ele vinha a Portugal tratar da entrega de Ceuta ao rei de Marrocos. Mal foi libertado de Tânger, D. Henrique logo fez saber que tal entrega estava fora de questão e assim D. Fernando ficou cativo em Marrocos, onde veio a morrer em Fez após anos de tortuosa prisão. Sagres situada no extremo Sudoeste da Europa era um promontório Sacro desde tempos muito antigos, sendo uma zona sagrada e interdita ao comum dos mortais e onde S. Vicente estivera sepultado desde 760, até D. Afonso Henriques mandar transladar os ossos, ficando então a chamar-se Cabo de S. Vicente. Era na enseada onde as embarcações que navegavam entre o Mediterrâneo e o Atlântico Norte tinham por vezes de aguardar a chegada de ventos propícios. O promontório Sacro era uma zona árida e despovoada quando em 1443 o regente D. Pedro doou a região de Sagres ao seu irmão D. Henrique. Este aí mandou erguer a sua vila, usando para isso o trabalho de prisioneiros degradados. A construção foi realizada muito lentamente e assim o núcleo populacional ali feito, apenas em 1457 serviu como regular residência a D. Henrique. Já a existência aí de uma Escola de Navegação, conhecida por Escola de Sagres, é um mito. “Aos nove anos depois de Tânger, cinco passados sobre a queda de Bizâncio, D. Henrique levava o sobrinho (D. Afonso V) a Alcácer-Ceguer”, (segundo Oliveira Martins) e “no Outono de 1485, a 3 de Outubro, de manhãzinha, surgiu em frente a Sagres a armada em que o rei saíra de Lisboa três dias antes; e D. Henrique, hirto sobre sessenta e cinco
anos de um pensamento fixo, embarcou, tomando a direcção da empresa, e conquistando Alcácer”. “Em 1460, à data da morte de D. Henrique, a navegação portuguesa percorria já, de uma forma rotineira, os caminhos marítimos da Madeira e dos Açores, de Arguim e da Guiné, do Cabo Verde e da Serra Leoa, e executava sem problemas a grande volta do largo, que, aproveitando o regime de ventos dominantes, trazia as nossas embarcações de regresso dos mares tropicais ao litoral português, longe da vista de terra” como refere Rui Loureiro. Após a morte do Infante D. Henrique, D. Afonso V em 1469 arrendou a Fernão Gomes, por um período de cinco anos a exploração da costa africana. Com 67 anos, o Infante D. Henrique faleceu a 13 de Novembro de 1460 na sua vila de Sagres. Nessa noite de quinta-feira levaram-no para a igreja de Santa Maria em Lagos, onde foi sepultado com todas as honras e em frente à qual os sacerdotes se ocupavam em contínuas vigílias. Por ordem do Rei D. Afonso V, foram no ano seguinte os ossos trasladar para o mosteiro de Santa Maria da Batalha. Duas semanas antes de finar, o Infante D. Henrique estando já doente ditou a 28 de Outubro o seu testamento que começa: “Eu, o Infante Dom Henrique, governador da ordem da cavalaria de Nosso Senhor Jesus Cristo, duque de Viseu e senhor da Covilhã”. Nesse testamento percebe-se a sua forte devoção a Deus a que encomenda a alma e o corpo e lhe dê a salvação na ressurreição, pedindo para tal a ajuda misericordiosa de Maria e de São Luís, a quem desde a sua nascença fora encomendado, que ele e todos os santos e santas e anjos da corte celestial intercedam a Deus pela sua salvação. Pede para ser sepultado no Mosteiro da Batalha e aí se realizem missas e orações por ele, para as quais deixa alguma da sua imensa fortuna, assim como no Convento de Tomar. Das suas rendas do seu assentamento e das saboarias, das ilhas da Madeira e Porto Santo e da Deserta e Guiné com suas ilhas e toda sua renda e o quinto das enxávegas e das corvinas e Lagos e Alvor, por três anos após a sua morte deviam servir para as seguintes despesas: para a sua sepultura, pagar as suas dívidas...” e continua numa extensa lista. Rui Loureiro refere: “O Navegador, talvez sem o querer, certamente sem o saber, lançara Portugal numa aventura marítima de consequências imprevisíveis, que, muito em breve, haveria de conduzir os nossos navios e os nossos homens à Índia, ao Brasil, à China, e a tantas outras terras e mares desconhecidos”. E terminamos com as palavras de Luís Filipe Thomaz: “Não houvessem os grandes descobrimentos marítimos tido lugar e Portugal teria, quiçá sido, como Aragão, absorvido por Castela.” Por isso a nossa homenagem ao Infante D. Henrique, o Navegador do Céu de Portugal.
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h Cinza, amarelo. E a seguir o azul
A
CENDO o candeeiro como se abre a porta a um amigo. Luz doce. Quase espero que me acenda um cigarro para começar. Podia dizer assim porque das palavras e do que encobrem, por vezes pouco se sabe. Qualquer nudez. Todos os dias me sento ao lado dessa luz calorosa. Mas não agora. Mentia. É dia. E frio mas de céu azul. De vez em quando com um timbre quase lilás. E nuvens velozes. E esta luz ainda fina mas que, a adivinhar outra estação, começa a amarelar. Sigo o azul. Sigo o azul distante. O azul, que há-de ser sempre azul por mais que eu pinte a preto e branco. Sigo-o, mesmo à distância, para além de todas as nuvens e por detrás de todos os cinzentos possíveis e mesmo do plúmbeo da noite. Sem que os olhos me doam. O coração sim, às vezes. E afinal sempre acendo o candeeiro. Um cigarro. Pela companhia. Porque não sei quem está aí. Com que olhar. Com que desconforto ou interrogação. Quem vem sentar-se na minha frente. A pensar se é daqueles dias em que estagnei no imenso lamaçal de um mundo agreste e escorregadio. Que olho por entre franjas de inércia. Agitada. Em frente, daqueles dias em que há uma casa amarela, uma risca negra e depois o céu. Que dizer daquela risca negra e dos dias em que é exactamente ao contrário tudo. A começar no azul em baixo, comprimido por uma listra negra e uma casa amarela empilhada por cima. Pelo meio a memória de uma mancha enorme de uma oxidação estranha, ou corrosão, no capô de um carro. De um azul estranho também, obscurecido pelos reflexos e pela noite, aclarando no céu, e com matizes quase invisíveis. E ali também um candeeiro a rivalizar com uma lua reflectida. Bela só porque é uma luz. Ali, na curvatura em que me inclino, ambas as luzes idênticas. Luzes. Um feitiço só por si. Um farol. E por outro lado, outro dia já, a casa amarela, com a sua risca larga e escura a encimar umas janelas sonolentas e deitado logo a seguir um céu rosa. Sujo escuro e desmaiado, mas céu. Quanto muito. Daqueles dias em que sempre sabia que não sabia tanto, como não sabia agora e hoje. Em que os elementos não ajudam a clarear a mente nem o dia. Revolteando em redor, num redopio estonteante. Esvoaçantes os cabelos
e os pedaços de pensamentos sempre quebrados num golpe de jeito dúbio do vento. Inimigo de caminhos pacíficos. De vez em quando mergulhar a pique nas águas profundas. Tentando ver o que assentou no fundo, o que se perdeu, o que flutua e o que é demasiado pesado para voltar à tona. De vez em quando dar uma volta pelo lado b das coisas. Na correria dos dias que fogem sempre com mais marés do que aquelas em que um barco consegue navegar. E outras só porque demasiado alterosas. E depois voltar e ser tudo igual mas subtilmente diferente. Ser igual mas delicadamente outra. Continuar tudo por entender, exepto o que houver exacto no momento que passa. Os sinais do imediato. Não no seu sentido profundo mas na superfície de um léxico quase reduzido ao binómio O-1. Nada mais cortante. Nada mais do que o vazio que não é novo mas por vezes se adensa. Ou cabos e tormentas em que se desmultiplicam as intempéries de todos os invernos, unidas de repente, no rodopio de ondas que enrolam a areia, a desarrumam e nela rolam pedras. Demasiadas ventanias, demasiadas ondas e nenhuma que traga o marujo amado. Como mulher de pescador a sondar madrugadas ao longo de uma vida, até ao dia em que ele não vem. O seu barco não volta e acordar do sonho num quarto citadino e não haver pescador para com ele sonhar. Depois é já esta hora crepuscular, que é talvez a mais bonita. Digo, em alguns dias. O tom de azul tão precário, é o da maior transparência. Soturna e triste. Dura pouco e de alguma forma ainda bem, porque é aquele momento do dia em que tudo em mim se escoa por aquele azul adentro sem retorno possível. A sensação de perda, de desnorteamento, como uma morte em que se separa o que houver de alma, do invólucro seguro. Momentos de transição não são bons. Passou o que passou sem redenção e o que se segue a parecer de momento triste. Depois aquele incendiar das cores como o acender de luzes a substituir o dia. Há que dar um passo para a noite escura, que depois por vezes é extensa e apaziguadora. Quando é. Algo regressa a este espaço ocupado e mesmo a tristeza volta ao sítio. E pode ser grande. Imensa e a subir de tom. Depois, há-
-de haver um momento num dia em que se acalma. E o tempo que nunca chega… Aquela sensação recorrente de que a vida me ultrapassa. Não a vida em geral, não teria essa pretensão, a minha vida. E, noutro dia, um frio maior. A névoa que, finalmente associada a este, traz o inverno em pleno. O inverno que já estava. Mas há uma beleza estranha nestes tons de formas aveludas não fora o cortante gume na pele. Pousada a bruma nas árvores, e a nelas encobrir mais ou menos de uma realidade bela ou não, não deixa de ser uma forma de acalmar a ansiedade. Que um excesso de recorte e nitidez deixaria sempre. Não quereria saber a totalidade do caminho em frente. A ilusão de nitidez do castelo sempre adiado para mais longe depois de uma curva. Eventualmente. E depois de uma curva outra curva, antes de se entrever aquele que se torna de novo distante. Eventualmente inalcançável no fim da história. É essa imagem focada que espero todos os dias e que, no entanto, traria mais ilusão. Continuo guiada como cega pelo desconhecido dos dias. De todos os dias e esperando que não se vá. O desconhecido que sou eu e tudo o resto de que sei parte e nunca todo. Excepto uma parte maior lá à frente mas que pela experiência dos dias passados será sempre parte do todo. Uma parte. Do mistério maior em que, mesmo querendo, se fica à porta. Ou então em sonhos. Dessa névoa, não há nunca a dúvida de como tapa as cores e formas desenhadas antes dela e apesar dela. Esqueço por momentos e depois volta o saber do sol e de todas as coisas possíveis, que a névoa não faz desaparecer mesmo quebrando os olhos e a alma. E volta o saber de não saber nada. Mas de que nada lá estará, é uma ideia destrutiva que não pode guiar. Seria menos do que uma parada de cegos. O império do olhar é coisa a deixar por vezes ao olvido. É desse desconhecido maior que espero a revelação dos dias. A pouco e pouco. Que me vá revelando a parte de desconhecido que me cabe. Essa que tento desesperadamente entender. E do dia de agora. Não mais. Talvez um pouco mais. Não quereria saber tudo de uma vez. Tudo o que ainda resta para viver. Não seria bom perder o sonho.
Não seria bom não ter nada para que acordar. Do desconhecido que sou, tiro as medidas do desconhecido dos outros e bem maior. E do medo. Esse cão. Mas esse desconhecimento mútuo faz-se de pequenos clics que sentimos ou não no segundo certo de uma imagem, de uma mancha, de uma palavra, ou de um olhar. E nele não pode caber mais do que o que está à distância de um clic. Um arrepio. A sensação de queda. Um baque no peito. Um passo. A subir. Não se quer vogar para sempre, mesmo na matéria estética da profundidade de beleza de uma névoa. O céu azul de nuvens miudinhas. O céu de denso azul sobre o mar, ou o céu das estrelas têm outro sabor quando visíveis. O céu abismal onde vogam planetas, cometas, asteroides e meras poeiras cósmicas. Que somos. Armados de um ego que nos faz enormes e que devemos rebater em contraste com o todo, que como nós também está a morrer, mas a uma outra escala. Às vezes a vontade de acelerar o tempo. Que desperdício, esta lentidão. Não fora o facto irredutível de que esta retarda o fim. E o que importa não é o texto. É a caligrafia. Às vezes chove. Mesmo isso me parece um desabafo da alma. Em espelho. Mas numa casa antiga uma pessoa sabe sempre que a chuva pode entrar por vias esconsas e fazer eclodir o salitre das paredes. Como a realidade de que se quer fugir correndo para casa. Às vezes. Mas é como uma sonata melancólica, que embala por empatia. Não há maneira de se querer contrariar o que estiver a colorir a alma no momento. A violência não é bem-vinda. Mas os elementos não têm culpa, é da sua natureza. A culpa é da razão humana. Como a construção das casas. Imperfeita e vulnerável. Independentemente de planos e plantas. Adoro mapas. Cartas de marear. Esquemas de corte e costura. Um intrincado sistema de moldes sobrepostos pelos quais guiar a tesoura. Na realidade nunca o fiz. Corto sempre sem rede e por vezes estrago o tecido e isso obriga-me a mudar de planos. Mas as cartas, as mais antigas de grafismos mais imprecisos geograficamente mas de desenho mais bonito. E com mais margens de desconhecido. As cores, as manchas oxidadas como as da pele e o amarelado geral do papel. As linhas como um sistema venoso ou arterial. E
19 hoje macau sexta-feira 11.3.2016
ANABELA CANAS
de tudo e de nada
as rotas conhecidas como a circulação de vida, a que uns mais do que outros são apegados como por uma questão de morte ou vida. E navegar pelas estrelas. Nunca gostei dos constructos abstratos do moderno conjunto de artérias. Uma autoestrada igual à outra e circuitos indirectos pela cidade. Gosto dos caminhos como se percorrem a pé. Virar sem sinais de trânsito. Mas por entre uma teia de opções, em que virar para um lado se faz virando para esse lado. Perco-me mesmo na minha cidade nas condicionantes do trânsito e perco o norte. Eu não sei ler as estrelas. Dos mapas de viajar também gosto mais em cima da mesa, do que para cumprir à risca como um esboço que se refaz a tinta. Gosto do risco directo sobre o papel. Dos minutos muitas vezes não sei portanto, quem vem de facto sentar-se aqui. Na minha frente. As construções da memória e da motivação são estranhas e indomináveis. Como em outros momentos, na verdade, me assalta a estranheza mesmo ao alcance dos sentidos. Sabia que mesmo as luzes coloridas de uma árvore de Natal conseguiam um efeito
encantatório de escape a um lado mais negro. Mas no momento, as luzinhas mínimas e imensas eram estrelas e no céu. Numa aldeia cheia de portas e janelas fechadas sobre o silêncio, sobre o vazio e muitas ausências, em que o céu me fez lembrar que há muito não o via como se estivesse para baixo, cheio de estrelas e de imensidão… Deitada de costas no terreno áspero, incerto, um pouco húmido mesmo. Ou talvez simplesmente o frio. A tornar-se presente à medida que os minutos passavam. E a mão dada. Também. A tornar-se mais nítida. Até parecer uma entidade própria, solta, feita de duas e desligada dos dois corpos ali. Um animal pequeno adormecido e quente. Em silêncio que podia ser de tudo. Mas a pensar na enormidade do universo, naquela qualidade abismal do negro tão mais profundo quanto interrompido pelo cintilar de tantas estrelas como numa visão urbana raras vezes se vislumbra. E a sentir a vertigem de se abeirar desse imenso fundo negro, como se para baixo, para além de tudo. Como se habitar este ínfimo planeta, à escala de todo um universo, fosse estar na beira do precipício e não colada a
um núcleo de força gravitacional que centra como se um bloco compacto. Uma mole de formigas em cima de um torrão de universo. Não por debaixo. À beira dele. Numa curiosa, estonteante e momentânea inversão do sentido de orientação. Abismal. Como um átomo de Hidrogénio que, de tão pouca densidade, facilmente escapa ao campo gravitacional. Uma enorme melancolia quando leio notas científicas sobre as possibilidades de colisão de asteroides com este planeta pequeno e solitário. Não sei porquê, quando muitas das possibilidades mais não encerrem do que a certeza de que num momento outro todos vamos. Mas há mais do que cada um em si. A nossa cadeia por vezes inestimável de seres com continuidade é uma coisa frágil mesmo se tivermos descendência. O fim é frio e sem distinção de sentido quer seja um atropelamento súbito, o impacto de um amor, de um asteroide ou simplesmente o fim de um universo complexo de expectativas de permanência para além da vida terrena. Sim tudo e rigorosamente tudo pode acabar. Acaba. No fundo quando se apaga a consciência de ser. Esta é
Anabela Canas
aquela perspectiva que deveria presidir a valores maiores do que aqueles que circunstancialmente nos tolhem no dia a dia-. Que mesquinhas limitações as nossas. Orgulho, previdência, calculismos pontuais, estratégias. Como asteroides são na realidade pensamentos que me bombardeiam com impacto, sem esperar. Possíveis todos os dias, mas de cujas cores, nem sempre sei o que esperar. Porque há dias de espuma e dias de lava. E então, catapultada para baixo nessa imprevista alternância de sentir, de novo as costas no chão e o peso do universo pressentido além, agora em cima, penso: quem é esta pessoa ao meu lado e o que nos trouxe aqui. Os dois e não outra coisa. A doçura e a amargura não se podem anular. É talvez o agridoce doseado com mestria que harmoniza o paladar. E, na vastidão momentânea que a vista alcança, mergulhada para fora tanto como para dentro de mim - estranhas dinâmicas psíquicas a questionar talvez depois - sinto distância. O longe no perto. A distância confortável que só um fio ténue como aqueles que atam e prendem um balão, suportava. O fio da inércia de um lugar e um tempo fora daquele, e que aquele de algum modo questionava. Desconfortavelmente. A distância. De um momento. E na manhã de um outro momento ali, o ribeiro parado, um reflexo nítido e sombrio da ponte e aí, como se numa janela rasgada no negro do reflexo sombrio, o céu claro, como mergulhado num mundo ao contrário. Ou talvez não. Apenas um outro instante “em que (...) a ordem visível das esferas mais altas virá mirar-se na profundeza mais sombria da terra (...)” (M. Foucault). E noutro momento ainda, e num lugar já não a norte, um de todos aqueles outros dias, na verdade, que são mais a sul, à beira das águas rumorosas e de novo deitada de costas, e só – agora só - o sol escaldante mesmo nos intervalos da aragem fria, e a ferir, excessivo mesmo através das pálpebras cerradas. Já não uma mão em outra, que não era a que não está agora, de qualquer modo. Nem a distância. Tudo ali. Sem saber de onde vem esta sensação de perto no longe. Sentido com sentido. Mesmo sem que o do tacto e os outros, possam comprovar a não distância. O abismo, a retórica, o paradoxo. Em que a ausência é um lugar pleno. De traços fortes. A cheio. Porque não é um daqueles dias. De Hidrogénio. Hoje Ósmio, elemento do grupo da platina. Metal azul acinzentado, e o mais denso de todos os elementos. Hoje cinzas tocados de luz. O amarelo na parede em frente, pausa, e a seguir o azul até longe.
20 (F)UTILIDADES
hoje macau sexta-feira 11.3.2016
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TEMPO PERÍODOS DE CHUVA MIN 8 MAX 13 HUM 75-95% • EURO 8.68 BAHT 0.22 YUAN 1.22
O QUE FAZER ESTA SEMANA Hoje
AQUI HÁ GATO
RIR
ROTA DAS LETRAS: “LITERATURA ALÉM FRONTEIRAS” (ESCREVER NUMA LÍNGUA MINORITÁRIA) Com Jordi Punti, Owen Martell e Alexandra Buchler Antigo tribunal, 18h00
ROTA DAS LETRAS: CONCERTO DE JOÃO CAETANO E YAO SHISAN Centro Cultural de Macau, 20h00 Bilhetes a 150 patacas PALESTRA SOBRE ALUNOS COM SÍNDROME DE DOWN Universidade de São José, 18h30
Sábado
ROTA DAS LETRAS: “LIVROS, O PARQUE DE DIVERSÕES DAS CRIANÇAS” Edifício do antigo tribunal, 11h00
ROTA DAS LETRAS: AUTORES E SEUS LIVROS COM RICARDO ADOLFO Edifício do antigo tribunal, 16h00
O CARTOON STEPH DE
ROTA DAS LETRAS: LANÇAMENTO DA TRADUÇÃO DE “CLEPSYDRA”, POR YAO FENG + “AS MUITAS FACES DE CAMILO PESSANHA”, Com Pedro Barreiros, Daniel Pires e Paulo Franchetti Edifício do antigo tribunal, 17h00 ROTA DAS LETRAS: “ESCREVER NA CHINA” Edifício do antigo tribunal, 18h30 ROTA DAS LETRAS: CONCERTO DE CRISTINA BRANCO Centro Cultural de Macau, 20h00 Bilhetes a 150 patacas
Domingo
ROTA DAS LETRAS: “A AVENTURA DE ESCREVER SOBRE A COREIA DO NORTE”, COM ADAM JOHNSON Antigo tribunal, 15h00 ROTA DAS LETRAS: “NOVA LITERATURA DA ÁSIA” Antigo tribunal, 16h00 ROTA DAS LETRAS: “CAMILO PESSANHA E O MAL” Com Paulo José Miranda Antigo tribunal, 18h00
Diariamente
ROTA DAS LETRAS: “ÓRACULO”, PERFORMANCE INTERACTIVA Com Gil Mac Antigo tribunal, 15h00 às 20h00
Cineteatro
C I N E M A
THE DIVERGENT SERIES: ALLEGIANT SALA 1
GODS OF EGYPT [B]
Filme de: Alex Proyas Com: Nikolaj Coster-Waldau, Brenton Thwaites, Gerard Butler 14.30, 16.45, 21.30
MERMAID [B]
FALADO EM CANTONÊS LEGENDADO EM CHINÊS E INGLÊS Filme de: Stephen Chow Com: Deng Chao, Show Lo, Zhang Yu Qi, Jelly Lin 19.30 SALA 2
THE DIVERGENT SERIES: ALLEGIANT [B]
Filme de: Robert Schwentke Com: Shailene Woodley, Theo James, Jeff Daniels, Naome Watts, Maggie Q 14.30, 16.45, 19.15, 21.30
SOLUÇÃO DO PROBLEMA 46
PROBLEMA 47
UM LIVRO HOJE
SUDOKU
ROTA DAS LETRAS: “EXPOSIÇÕES, COM ERIC FOK, PEDRO BARREIROS, OU YANG SHI JIAN, ALEXANDRE MARREIROS E JOSÉ DRUMMOND Edifício do antigo tribunal, 15h00
O meu sono foi interrompido por uma voz que se acentuou na sala. A gargalhada invadiu o espaço e entre um ronronar e uma espreguiçadela lá fui ouvindo a história. Uma jornas cá da casa ria-se do absurdo. Relatava a “conferência de imprensa mais surreal” a que tinha assistido. Por aquilo que os meus ouvidos peludos captavam não havia qualquer novidade. Ela ria-se. Porque nós devemos rir do absurdo, do sério e do divertido. Pessoas sem humor são pessoas doentes. Nós gatos rimos muito. Sim, rimos, ao contrário do que os humanos possam pensar, nós rimos. Rimos de vocês, de nós, das nossas diferenças, principalmente disso, das desigualdades que nos colocam em pontos tão diferentes no mundo, mas em que ainda assim insistimos, tal como insistimos manter esta relação. Às vezes olho os humanos que se levam muito a sério. Lamento a tamanha perda de tempo, pobres de espírito que não sabem rir de si. Muito menos sabem que esse é o melhor riso, o que vem de dentro, da alegria só por se estar vivo. Entre miares e ronronares vou-me rindo dos outros, mas principalmente de mim, dos meus velhos bigodes, das minhas bolas de pêlo, das unhas por afiar. Vou-me rindo desta minha vida de gato. Pu Yi
“TRAVELLER” (LOLITA HU, 2009)
“Sendo uma viajante humilde, não tenho capacidade de explicar ao mundo que viajei - apenas observei, registei, compreendi e tentei participar. Eu sei claramente: sejam ou não seguros os destinos a que cheguei, já não volto para trás”, escreve a escritora taiwanesa que está a participar no Rota das Letras em Macau. Lolita Hu apresenta um livro que não é igual aos outros livros de viagem que se encontram nas livrarias. Este é para a autora e os leitores reflectirem sobre o acto de viajar e os significados. Flora Fong
SALA 3
LONDON HAS FALLEN [C] Filme de: Babak Najafi Com: Gerard Butler, Aaron Eckhart, Morgan Freeman 14.15, 16.00, 17.45, 21.45
THE ROOM [B]
Filme de: Lenny Abrahamson Com: Brie Larson, Jacob Tremblay, Joan Allen, William H. Macy 19.30
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Propriedade Fábrica de Notícias, Lda Director Carlos Morais José Editores Joana Freitas; José C. Mendes Redacção Andreia Sofia Silva; Filipa Araújo; Flora Fong; Tomás Chio Colaboradores António Falcão; António Graça de Abreu; Gonçalo Lobo Pinheiro; José Drummond; José Simões Morais; Maria João Belchior (Pequim); Michel Reis; Rui Cascais; Sérgio Fonseca Colunistas António Conceição Júnior; André Ritchie; David Chan; Fernando Eloy; Isabel Castro; Jorge Rodrigues Simão; Leocardo; Paul Chan Wai Chi; Paula Bicho; Rui Flores; Tânia dos Santos Cartoonista Steph Grafismo Paulo Borges Ilustração Rui Rasquinho Agências Lusa; Xinhua Fotografia Hoje Macau; Lusa; GCS; Xinhua Secretária de redacção e Publicidade Madalena da Silva (publicidade@hojemacau.com.mo) Assistente de marketing Vincent Vong Impressão Tipografia Welfare Morada Calçada de Santo Agostinho, n.º 19, Centro Comercial Nam Yue, 6.º andar A, Macau Telefone 28752401 Fax 28752405 e-mail info@hojemacau.com.mo Sítio www.hojemacau.com.mo
21 hoje macau sexta-feira 11.3.2016
Privilégios em Coloane
VICTOR FLEMING, GEORGE CUKOR, THE WIZARD OF OZ
MÁRIO DUARTE DUQUE
OPINIÃO
A
regra que protege os terrenos na Ilha de Coloane localizados a acima da cota 80 medida ao nível médio do mar é uma regra insipiente e avulsa que remonta a 1992, a qual movida em âmbito histórico e cultural, mas sem participação de especialidade ambiental ou de pressão em dar resposta a isso. Por isso, a regra serve de resguardo mas não serve para administrar esse território natural. Volvidos mais de 20 anos, a manutenção da mesma regra só pressupõe que nada houve a acrescentar à definição daquele território ou ao conhecimento do que ali existe e que é diferenciador. A paisagem natural resulta dos chamados “caprichos da natureza” e não se entende, nem se define, na mesma forma sistemática em que é possível definir a paisagem urbana. Enquanto num edifício se admitem definições do tipo de até determinado andar a finalidade poder ser comércio, por exemplo, e acima desse andar poder ser habitação, por
exemplo, na paisagem natural a diferenciação já não se processa na mesma maneira, porque está longe de poder ser homogénea altimetricamente. A paisagem natural caracteriza-se por relevos e por vegetação diferenciada, pontos conspícuos, uns naturais, outros já construídos, e por atributos de enquadramento visual. Na cultura da região, não é por acaso que as sugestões morfológicas do relevo natural são muitas vezes origem de santuários ou de mitos. A prova de que essa regra altimétrica não serve a totalidade dos recursos ambientais e paisagísticos na ilha de Coloane reside também no facto de que dela se excluiu a cota 0.00, que numa ilha corresponde exactamente à frente de mar e a lugares que tanto são de notáveis atributos paisagísticos, como são de vulnerabilidade acrescida. Por isso, a regra de resguardo, apenas acima dos 80 m de altitude, só pode ser entendida como medida cautelar enquanto melhor definição de especialidade esteja em preparação. Não serve para antecipar intervenções de grande impacto, nem serve de confiança para adiar melhor definição. Por outro lado, se a vocação da ilha de Coloane não é de santuário natural, e se se admite que a fruição de uma paisagem natural seja por via da construção de infraestruturas, as mesmas devem ser criteriosas, e
dificilmente serão em número suficiente para atender exclusivamente todos os promotores interessados. Por isso, nesses lugares, o equilíbrio reside na possibilidade de essas infraestruturas serem de iniciativa pública, por se tratar de recursos demasiado limitados para serem alienados a particulares, em exclusividade ou em permanência. E tanto que assim é que quando a ilha de Coloane foi recentemente palco de uma iniciativa habitação pública em grande escala, em Siac Pai Van, cujo impacto paisagístico está longe de ser pequeno, essa iniciativa não foi objecto da mesma polémica que hoje envolve o lote adjudicado ao empresário Sio Tak Hong, e a isso não é estranho o facto de a iniciativa e as contrapartidas em Siac Pai Van terem sido públicas. Já a polémica em torno da construção em altura é outro mito recorrente. A construção faz-se em altura sempre que é necessário ser distinguida, avistada, atingir um ponto geográfico alto ou assegurar o máximo de utilização, com o mínimo de afectação de solo. As obrigações que recaem na construção em altura resultam do facto de ser uma presença conspícua. Por isso, a posição de uma torre deve ser criteriosa, e não deve prescindir de atributos visuais e estéticos no
seu desenho. Tanto que assim é que, quando viajamos, torres de igreja, de televisão e faróis, todas chamam a nossa atenção e merecem a nossa admiração. Nessas construções paira também um sentido elitista, seja de recursos de engenho, seja de recursos financeiros, e também não é por acaso que as torres exprimem o prestígio de quem teve a iniciativa de as construir ou, no caso dos edifícios civis, o prestígio de quem lá mora. Enquanto lugar, as torres são por vezes também expressão do lado miserável do egotismo da condição humana. Daí as expressões “torre de marfim” e “torre de babel”, ou a letra de “sittin’ on the top of the world” ou de “down in the depths of the 90th floor”. A torre já significa perigo eminente, senão destruição, enquanto expressão de ambições desmesuradas, construídas sobre falsas premissas, tal como na carta XVI do Tarô. Quando as torres deixam de ser elegantes e passam a ser gordas, ou todos os edifícios passam a ser torres, os atributos das torres extinguem-se e todos esses edifícios passam a parecer uma mole indistinta de edifícios altos. Quando nessa mole de construções todas as torres são icónicas, as mesmas acabam por sucumbir na indiferença ao ruído urbano.
22 OPINIÃO
hoje macau sexta-feira 11.3.2016
um grito no deserto
FRANK CAPRA, IT’S A WONDERFUL LIFE
Q
UANDO todos esperavam que o Partido Cívico de Hong Kong perdesse as eleições nos Novos Territórios de Leste, Alvin Yeung Ngok-kiu, candidato por este partido, conquistou um lugar na Assembleia com mais 10.000 votos do que o seu opositor Chow Ho-ding Holden, candidato da Aliança Democrática para a Melhoria e Progresso de Hong Kong. Chow Ho-ding Holden era visto antecipadamente como vencedor devido a uma série de factores que se conjugavam a seu favor. Os habitantes de Hong Kong e de Macau, atentos a esta luta política, não depositavam muitas esperanças na vitória de Alvin Yeung. Embora se acreditasse que o Campo Pró-democrata liderava no Distrito dos Novos Território de Leste, Alvin Yeung estava rodeado por inimigos nestas eleições, tendo de se confrontar com o único candidato apoiado pelas várias forças do Campo Pró-governamental e, sem perder de vista outros candidatos da sua área política. Os incidentes de Mongkok, que tiveram lugar na noite do Ano Novo Chinês, tornaram ainda mais complicado este processo eleitoral. Na sequência destes incidentes, alguns ex-membros do Conselho Legislativo, que inicialmente apoiavamAlvinYeung, viram-se obrigados a retirar-lhe o seu apoio. Estas alterações dependentes das circunstâncias fizeram com que as pessoas se apercebessem do valor da moral na política. Com Alvin Yeung rodeado por uma série de factores desfavoráveis, foi importante que os eleitores de Hong Kong mantivessem um espírito crítico. Apesar da mobilização do Campo Pró-governamental e das divisões no seio do Campo Pró-democrata, o Partido Cívico conseguiu conquistar um lugar decisivo, mantendo assim um terço do número de assentos no Conselho Legislativo. Desta forma o Campo Pró-democrata mantém uma posição relativamente confortável nesta Assembleia. A Associação de Novo Macau perdeu um assento nas anteriores eleições para a Assembleia Legislativa de Macau. Algumas pessoas acharam que a perda de um lugar não faria grande diferença para a aprovação, ou rejeição, das leis. No entanto, passados dois anos, verificou-se que a Associação de Novo Macau sofreu cisões internas e os seus deputados não tiveram o desempenho esperado na Assembleia Legislativa. Numa votação recente, que se seguiu a um debate, não esteve presente nenhum deputado da Associação de Novo Macau. Os candidatos nomeados pelas associações que representam, são posterior-
Lugar decisivo
Como a política é um assunto que nos diz respeito a todos, os seus protagonistas deverão dar prioridade máxima ao bem-estar do povo e não aos seus interesses pessoais
PAUL CHAN WAI CHI
mente eleitos para o cargo de deputados. Mas se essas associações deixarem de vigiar o desempenho dos seus candidatos eleitos, como é que os eleitores podem confiar que os seus interesses e opiniões continuam a ser eficazmente representados? Como a política é um assunto que nos diz respeito a todos, os seus protagonistas deverão dar prioridade máxima ao bem-estar do povo e não aos seus interesses pessoais. Infelizmente, existem sempre muitos interesses envolvidos na política e se os seus representantes não tiverem a seriedade e a supervisão necessárias, é muito fácil deixarem-se levar gradualmente sem dar por isso. Ao mesmo tempo, quem defende interesses há muito instituídos fará de tudo para não os ver ameaçados, criando a divisão para reinar. Se não fosse a perspicácia dos eleitores, nestas eleições nos Novos Territórios de Leste, com a fraca popularidade de CY Leung Chun-ying, o lugar podia ter caído nas mãos do Campo Pró-governamental. Vendo que os legisladores do Campo Pró-democrata parecem não dar importância ao quadro geral aliando-se aos Pró-Regionalistas, com risco fazer Alvin Yeung perder votos, pergunto-me quem terá tido a brilhante ideia de uma estratégia tipo “acabarmos todos juntos e arruinados”. A separação dos poderes faz com que haja controlo e equilíbrio e destina-se a impedir que nenhum dos três se sobreponha e possa cometer abusos impunemente. O poder executivo, quer em Hong Kong quer em Macau, assenta na estabilidade e numa liderança forte, ao passo que o poder legislativo não está à altura da sua função de árbitro das acções governativas, devido à sua composição e à sua estrutura. Portanto, quando os altos responsáveis da RAEM não são pessoas de grande integridade, podem facilmente deixa-se corromper. Desde que veio a lume o caso de Ao Man Long, ficou claro que se o Governo da RAEM, e a sociedade em geral, não se empenharem a fundo, casos semelhantes acontecerão futuramente. Nas eleições nos Novos Territórios de Leste, o Campo Pró-democrata conseguiu conquistar um lugar, embora seja um mandato de curta duração. Em Setembro haverá eleições para o Conselho Legislativo de Hong Kong. Em face de muitas circunstâncias negativas, quer externas quer internas, os eleitores estão a tornar-se cada vez mais exigentes. A capacidade que o Campo Pró-democrata tiver para actuar de forma inovadora será a chave para obter o apoio da população. Porque em última análise são os eleitores que decidem. O lugar no Conselho Legislativo, em jogo nas eleições nos Novos Territórios de Leste, tem grande significado e se os pró-democratas o tivessem perdido teria tido graves consequências. Ex-deputado e membro da Associação Novo Macau Democrático
23 hoje macau sexta-feira 11.3.2016
PERFIL FACEBOOK
MIGUEL ROSA DUQUE, ESCULTOR DIGITAL
M
“Partilhar conhecimentos é essencial e um prazer”
IGUEL tem 39 anos, nasceu em Macau, é mestre em Design de Ambientes Virtuais pela Universidade de São José e bacharel em Multimédia (Artes) da Curtin University em Perth, Austrália. Foi para lá em 1999 após terminar o liceu em Macau pois, por estes lados, não existia qualquer oferta de formação na área da multimédia como ele pretendia. Considera-se um escultor digital, que define como “uma forma de arte e um meio de exprimir a imaginação por via da tecnologia”. Para além disso, atenta que é uma actividade que lhe permite “trabalhar de maneira aleatória dando forma a várias [ideias] e pensamentos”. Uma especialidade que, para além da aplicação na indústria cinematográfica pode, inclusivamente, gerar outras áreas de negócio: “imagina produzir a tua imagem num ambiente virtual e depois imprimi-la em 3D. Ficas com um bonequinho que és tu.” Produzir retratos realistas de pessoas em 3D é mesmo uma paixão “porque é um grande desafio”, considera. “Há inúmeros detalhes a que precisamos de ter atenção. E conseguir fazer algo em que a pessoas se reconhecem é um gozo”, garante. Teve mesmo dois trabalhos em 3D que foram publicados em dois números diferentes da 3D Artist Magazine, uma revista britânica de impacto no sector. Eram elas “Alien Cherokee” e “Captain Beleza”. Actualmente, trabalha como Director Criativo na Hogo Digital onde gere uma equipa de mais três designers, dedicando-se,
não só mas especialmente, à produção de websites - uma actividade a que se dedica há 22 anos e na qual se especializou. Um sector que o jovem entende necessitar muito de evoluir em Macau, especialmente no que se refere à usabilidade e acessibilidade dos sítios, considerando que grande parte dos existentes têm graves lacunas a esse nível. Para Miguel, facilitaria o trabalho de mudança de consciências para a necessidade de comunicar melhor se o Governo tivesse mais cuidado com os seus próprios sítios. “Vamo-nos deixar de bonecadas”, diz Miguel, “porque um website do Governo é feito para adultos, para informar e deve preocupar-se mais com a estrutura, com a forma, com a navegação e menos com decorações acessórias e ridículas”, explica. Um assunto, aliás, que na sua opinião, daria para um grande debate.
DAQUI PARA HOLLYWOOD? NÃO
Trabalhar em Hollywood na produção de objectos digitais para cinema, “podia ser uma hipótese mas apenas como experiência”, diz Miguel Duque, porque o que gosta mesmo é de ensinar “e fazer pesquisa”, garante. Foi professor durante quase cinco anos no Politécnico. Dava aulas nocturnas, em part-time, porque ainda não tinha o doutoramento, algo em que está realmente focado agora, inscrito no curso de Comunicação, com especialização em Negócios Online e Redes Sociais, da Faculdade de Ciências Sociais da Universidade de Macau. “Gosto é de dar aulas e espero fazê-lo a tempo inteiro”, confessa-nos. Para Miguel “par-
tilhar conhecimentos é essencial e um prazer”. Além disso, como apaixonado pela pesquisa, foca-se na área das tendências do design no mundo online e em formas de comunicação tanto a nível pessoal e de relacionamentos como de negócio. Na experiência que teve como professor ficou a achar que “apenas uma mão cheia dos alunos sabe o que quer”. Para Miguel Duque “há uma falta de foco” na maioria dos aprendizes de designer, algo que desconfia estender-se também um pouco aos jovens de Macau em geral.
QUEM SOU
A mãe é de Santarém, o pai de cá... “macaense como eu, mistura”, explica Miguel, referindo ainda origens escocesas e, claro, chinesas, o que nos leva a pensar num dos assuntos do dia: a identidade macaense. Miguel enfrenta o debate de uma forma desassombrada dizendo: “nós estamos em vias de extinção porque o que faz o macaense é a fusão do chinês com o português e isso hoje acontece menos”, explica. A extinção acontece “porque os portugueses já não olham tanto para os chineses de Macau, mas sim para os orientais de uma forma geral, de Taiwan à Tailândia”, diz Miguel. Os porquês dessa realidade, ele atribui-os à mudança da sociedade de Macau que “tornou-se muito materialista”, diz, e talvez daí as razões de procurar amor noutras paragens. Orgulhoso dos seus dois filhos - “tenho uma filha linda de 11 anos, em Inglaterra,
de mãe inglesa e o meu chinoquinha, como eu lhe chamo, que tem uma mãe sino-americana, que vive cá e vai fazer 6 anos em breve” - Miguel considera que ser pai é uma grande responsabilidade, mas algo difícil em Macau pelo tempo e, especialmente, pelo dinheiro que isso requer. As questões económicas são mesmo a grande razão pela qual não pensa em ter mais filhos. “É muito caro e as casas estão pela hora da morte”, diz-nos, adiantando que “ou o Governo se mete no meio ou estamos todos tramados com os preços das casas porque a tendência parece ser só subir”. O que nos leva à sua opinião sobre viver por aqui. Macau, confessa-nos, é para si “o pior sítio para se começar uma família”. Para além do preço das habitações, a falta de espaços verdes “essenciais para que as crianças se liguem à Natureza” e a poluição do ar, que considera ser “do pior”, são factores decisivos para a sua opinião. “Agora até querem acabar com Coloane”, lamenta-se. Mas nem tudo é mau, considerando que a grande vantagem de Macau “é ser pequeno” pois isso permite mais tempo para a família e amigos. Além disso, define a terra como um verdadeiro hub que permite partir para lugares completamente diferentes em muito pouco tempo e com viagens a preços acessíveis. “Essa é mesmo a maior vantagem de Macau”, garante. Manuel Nunes
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