Hoje Macau 11 ABR 2017 #3791

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DIRECTOR CARLOS MORAIS JOSÉ

MOP$10

TERÇA-FEIRA 11 DE ABRIL DE 2017 • ANO XVI • Nº 3791

HOJE MACAU

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AGÊNCIA COMERCIAL PICO • 28721006

hojemacau

INTERPELAÇÕES

As regras do Regimento PÁGINA 6

O sexo dos insectos OPINIÃO TÂNIA DOS SANTOS

PROJECT JUST MACAU

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Deixe aqui a sua queixa

h PÁGINA 5

Do ombro à ventania PAULO JOSÉ MIRANDA

SUFRÁGIO UNIVERSAL

Uma ideia, duas visões

AU KAM SAN | DEPUTADO

Propósitos de um democrata PUB

ENTREVISTA

TATIANA LAGES

PÁGINA 4

LIGA DE ELITE

LEÃOZINHO PÁGINA 13


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AU KAM SAN DEPUTADO

A população de Macau percebe a importância da democracia, mas não se mexe para que o contexto político mude. É por isso que, justifica Au Kam San, não é fácil chegar a bom porto na causa que abraçou há várias décadas. Candidato às próximas legislativas, sabe apenas que vai concorrer ao lado de Ng Kuok Cheong, sem qualquer associação na retaguarda. Quanto à Novo Macau, já era. O deputado garante que não saiu em ruptura com Jason Chao. Mas não se habituou ao novo modelo de funcionamento da associação que fundou

“As pessoas dizem ‘façam vocês por nós’” Que balanço faz do trabalho desenvolvido na Associação do Desenvolvimento Comunitário de Macau (ADCM)? AAssociação do Desenvolvimento Comunitário de Macau não é uma associação política. Está focada nos trabalhos sobre o desenvolvimento comunitário. No entanto, é um facto que esses trabalhos requerem um alto grau de profissionalismo e vários participantes. A ADCM foi criada em 2015 mas, até agora, ainda não desempenha bem o seu papel, por ter falta do que é necessário. O conceito do desenvolvimento comunitário é prestar auxílio aos cidadãos em áreas diferentes e juntar pessoas para expressar as queixas. Acreditamos que o Governo vai compreender as necessidades e as expectativas dos cidadãos através da interacção; dessa forma pode reforçar a justiça e a transparência. Isso é uma das direcções da associação. Apesar disso, para atingir esses objectivos, é necessário profissionais de qualidade. Para já, temos falta de recursos humanos e, por isso, estamos numa fase de formação de mais talentos na área de desenvolvimento comunitário, através da organização de cursos. AADCM já entrou em funcionamento há mais de um ano, mas não vejo ainda o fruto do nosso trabalho. Mas não estamos ansiosos, uma vez que achamos que os trabalhos na área do desenvolvimento comunitário não podem ser feitos em pouco tempo. É com esta associação que se candidata às eleições este ano? Não, não vou candidatar-me com esta associação. Esta associação não é uma associação política, algo que ficou bem definido no início. A associação só está focada no desenvolvimento comunitário. Quanto às eleições, eu e Ng Kuok Cheong vamos participar nas legislativas. Trabalhamos em conjunto há muitos anos e acreditamos que não

“A Novo Macau passou a estar contra as outras associações independentes. Não consegui habituar-me a essa nova regra e saí do jogo. A minha saída não teve nada que ver com uma pessoa em particular.” precisamos de uma associação que nos lidere nas eleições. Na altura certa, vamos recolher assinaturas dos cidadãos e constituiremos uma comissão de candidatura, através da qual entregaremos uma lista para nos candidatarmos à Assembleia Legislativa (AL). Que expectativas deposita nas eleições deste ano? A AL vai ter rostos novos? É difícil prever se vai haver rostos novos na AL porque isso depende de escolha dos eleitores. Mas, pelo menos, do nosso ponto de vista, existem alguns factores novos nas eleições que aí vêm. Este ano, há mais 30 mil eleitores, metade dos quais são jovens com idade inferior a 25 anos. Nesse sentido, é possível que seja a primeira vez que essas pessoas vão votar. Caso haja novas formas de pensar entre esses jovens, a decisão deles pode influenciar muito o resultado das eleições. Esperamos que esses jovens tenham ideias e objectivos novos, e que fomentem a participação nas eleições, quer sejam eleitores ou candidatos. Nas últimas eleições, tivemos um resultado não muito satisfatório. Não estou a dizer que tivemos menos votos. Normalmente, os

assentos dos deputados eleitos por via directa são divididos por três grupos políticos. A ala mais próxima de Pequim – a Federação das Associações dos Operários de Macau (FAOM) e os Kaifong –, ocupa basicamente cerca de um terço dos lugares na AL. O segundo grupo é mais independente e aberto, incluindo as associações sindicais independentes, bem como o grupo democrático. O outro é dos empresários, que geralmente têm relações com os casinos. Começaram a participar nas eleições em 1996 e, como investiram muitos recursos, conseguiram alguns assentos na AL. Digo que o resultado nas últimas eleições não foi satisfatório porque os empresários garantiram sete assentos na AL, de entre um total de 14. Conquistaram metade. Por isso, a proporção na AL tornou-se anormal. Este resultado também está ligado ao que se passava na altura, com a indústria de jogo a ganhar lucros significativos. As operadoras queriam também “jogar” as eleições. Este grupo tem uma característica: quanto mais investem, mais assentos obtêm. Nesse contexto, em 2013, para mim o resultado não foi satisfatório. Por isso, espero que este ano a proporção de grupos políticos na AL possa voltar ao normal, uma vez que, com a diminuição de receitas nos casinos, a situação é agora diferente. Acredito que as operadoras de jogo não vão investir tanto dinheiro como em

“Trabalhamos em conjunto há muitos anos e acreditamos que não precisamos de uma associação que nos lidere nas eleições.”

HOJE MACAU

ENTREVISTA

2013. É um facto que, actualmente, existem vários empresários na AL, quer entre os deputados eleitos por via indirecta, quer nos nomeados pelo Chefe do Executivo. Caso a maioria de deputados eleitos por sufrágio directo seja proveniente do empresariado, a AL vai estar sempre do lado dos capitalistas, o que não é bom, nem permite garantir um equilíbrio. Mesmo que eu não consiga continuar a ser deputado, espero que a AL tenha uma situação equilibrada entre as várias alas. Jason Chao foi a principal razão por que saiu da Associação Novo Macau (ANM)? A minha saída não teve nada que ver com uma pessoa em particular. Sou um dos fundadores da associação, conheço muito bem os princípios e objectivos da criação da ANM. Tentámos reunir o maior número possível de pessoas de associações independentes e oferecíamos-lhes apoio, de modo a alargar o poder do grupo independente. No entanto,


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universal seja uma realidade em Hong Kong, é possível que seja eleito um Chefe do Executivo sem proximidade política a Pequim. Aos olhos da China, seria um grande desastre. Por isso, é difícil haver democracia em Hong Kong. Quanto à eleição de Carrie Lam, é simples: vai consolidar o fruto do trabalho de C.Y. Leung. Porque é que C.Y. Leung foi nomeado vice-presidente da Conferência Consultiva Política do Povo Chinês? Porque teve uma relação muito má com a sociedade, não pôde continuar a ser Chefe do Executivo. Mas, do ponto de vista da China, C.Y. Leung fez um bom trabalho, porque nos últimos cinco anos conseguiu destruir vários regimes em Hong Kong. Carrie Lam teve todo o apoio porque vai continuar o caminho de C.Y. Leung.

“A Comissão Eleitoral tem cerca de 20 membros do sector da educação. Como é que essa gente foi eleita? Não sei. Quem são eles? Também não faço ideia.”

depois houve uma mudança nessa tradição. Além disso, surgiu uma nova regra no jogo, à qual não me consegui habituar, e não quis continuar com esse ambiente. Por isso, acabei por sair da associação. Eu e Ng Kuok Cheong insistimos na ideia de que era preciso dar uma oportunidade aos jovens para que crescessem e conseguissem substituir-nos. Somos dos anos 50. Na ANM, existia um problema: havia poucas pessoas dos anos 70 e dos anos 80. Em 2009, apareceram jovens que queriam e tinham coragem para assumir essa grande responsabilidade, pelo que lhes demos a plataforma para que pudessem subir. A associação passou a ser liderada por esses jovens e nós já não estávamos na direcção. Quando os jovens assumiram a responsabilidade de liderar a ANM, é óbvio que o fizeram com a sua ideologia. Ou seja, em Macau, também há gente que critica Ng Kuok Cheong e Au Kam San porque, apesar de terem lutado pela democracia durante tantos anos, nada conseguiram.

É verdade que isso depende do contexto político. Quanto à democracia em Macau, não temos apoios fortes para avançar nesse sentido. Mas tentámos criar cada vez mais condições para que fosse possível lutar pela democracia. Quando surgiu uma nova maneira e uma nova ideologia na ANM, achámos que isso seria bom, pelo que lhes demos uma oportunidade para que tentassem. No entanto, a ANM passou a estar contra as outras associações independentes. Não consegui habituar-me a essa nova regra e saí do jogo. Por isso, a minha saída não teve nada que ver com uma pessoa em particular. Além disso, como senti que já havia alguém capaz de assumir as minhas responsabilidades, achei que era a altura adequada para sair. Carrie Lam foi eleita Chefe do Executivo em Hong Kong. Acredita que o processo democrático e as eleições por sufrágio universal na região vizinha vão ser mais difíceis?

Não é de agora. As eleições por sufrágio universal têm sido difíceis por duas razões. Em primeiro lugar, há muitos países e vários grupos de pessoas que escolhem Hong Kong como destino para “combater” à China. O Governo Central gosta de Hong Kong por ser uma cidade internacional, mas também entende que isso pode ser uma ameaça ao Governo Central. Na minha opinião, não causa qualquer ameaça à China. Nasci numa família de esquerda e fui

“Há gente que critica Ng Kuok Cheong e Au Kam San porque, apesar de terem lutado pela democracia durante tantos anos, nada conseguiram.”

membro de uma subunidade da FAOM, pelo que tenho bastantes conhecimentos sobre a ideologia da República Popular da China. Por isso, sei que quando a democracia em Hong Kong avança um pouco, a China vai monitorizar a situação e limitar o desenvolvimento da democracia. Esta é uma das razões. Depois, antigamente, o povo de Hong Kong pensava que bastava ter liberdade, não se preocupava com a democracia. Depois da transferência da soberania, o Reino Unido afastou-se do território e as pessoas começaram a lutar pela democracia. Em Macau, a maioria dos cidadãos compreende a importância de democracia mas, no que toca à luta, as pessoas dizem “façam vocês por nós”. Em Hong Kong, o povo tem poder: basta olhar para o Occupy Central que levou mais de 100 mil pessoas para a rua. No Conselho Legislativo de Hong Kong, a ala pró-democrática ocupa 60 por cento dos assentos e o grupo próximo do Governo Central tem 40 por cento. Caso o sufrágio

Acha que a subida ao poder de Carrie Lam pode trazer algum impacto na luta pelo sufrágio universal em Macau? Não vejo qualquer impacto. Macau é um caso completamente diferente de Hong Kong. O Gabinete de Ligação do Governo Central não precisa de agir em Macau da mesma maneira. Na RAEM, há 400 membros da Comissão Eleitoral, sendo que 125 são do sector comercial, industrial e financeiro. E só me refiro a este sector. Como é que estes membros são eleitos? AAssociação Comercial de Macau fecha a porta e faz uma reunião para determinar a lista. Tenho experiência de mais de 30 anos como professor. A Comissão Eleitoral tem cerca de 20 membros do sector da educação. Como é que essa gente foi eleita? Não sei. Quem são eles? Também não faço ideia. Mesmo que haja uma eleição, será feita dentro desse grupo de gente. Sendo assim, a Associação Comercial de Macau manda os membros da Comissão Eleitoral votar em determinado sentido. Por isso, a tomada de posse de Carrie Lam como Chefe do Executivo não vai ter qualquer influência em Macau. Vítor Ng

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Á espaço para a democracia em Macau.” A afirmação é do presidente da Associação Novo Macau, Scott Chiang, quando se festejam os 30 anos da Declaração Conjunta. “Para aqueles que se denominam de patrióticos, é claro que não é necessária mais expressão democrática em Macau. Para a China, o importante é que o território esteja em harmonia e sob controlo”, afirmou ao HM. No entanto, o importante, afirma, é o ponto de vista dos residentes e, neste sentido, “é necessário que tenham mais controlo na escolha do Governo e do sistema político”, considerou. Para Scott Chiang, a Lei Básica não é um impedimento para que a democracia se desenvolva no território até porque “há espaço na Lei Básica de Macau para ter um regime de voto universal na eleição do Chefe do Executivo”, disse. Para o responsável pró-democrata, a diferença com Hong Kong está na percepção que as pessoas têm da importância do seu contributo para a sociedade, que levará gradualmente a uma mudança do próprio sistema. Para Scott Chiang, é necessário que as pessoas “sintam que têm o destino nas suas mãos porque só assim podem ter atitudes capazes de mudar o futuro para melhor”. “É desta forma que Macau fará por ter um sistema diferente rumo à democracia” disse.

“Nenhum movimento democrático semelhante ao de Hong Kong vai ter sequência em Macau. Não terá qualquer expressão” CARLOS MONJARDINO PRESIDENTE DA FUNDAÇÃO ORIENTE As palavras de Scott Chiang aparecem em resposta às declarações do presidente da Fundação Oriente e antigo número dois do Governo de Macau nos anos 80, Carlos Monjardino, que, de acordo com a Agência Lusa, acredita que os movimentos pró-democracia não terão expressão no antigo território português, pelo menos da mesma forma que Hong Kong. “Não há muitos movimentos pró-democracia no território. Sempre houve uma diferença muito grande, no que respeita a esse assunto, entre Hong Kong e Macau. Em Hong Kong sempre foram muito mais virulentos, digamos assim”, afirmou Carlos Monjardino

Declaração Conjunta O SISTEMA POLÍTICO DE MACAU, 30 ANOS DEPOIS

Longe está a democracia Para Scott Chiang, presidente da Associação Novo Macau, a conjuntura política pode estar a caminho de uma democracia. Já Carlos Monjardino, presidente da Fundação Oriente, considera que o território não tem um movimento que zele por esse sistema enquanto que deputados pró-democratas responsabilizam a Lei Básica por não garantir o sufrágio universal. As opiniões são dadas quando se comemoram os 30 anos da Declaração Conjunta numa declaração à Lusa sobre os 30 anos da assinatura do acordo para a transferência de administração de Macau para a China. O documento foi assinado a 13 de Abril de 1987 pelo então primeiro-ministro português, Cavaco Silva, e o seu homólogo chinês, Zhao Zyang. A transferência efectiva do território aconteceu em Dezembro de 1999. “Já quando eu estava lá me faziam a mesma pergunta que me está a fazer. E eu respondia sempre da mesma maneira. Nenhum movimento democrático semelhante ao de Hong Kong vai ter sequência em Macau. Não terá qualquer expressão”, disse Carlos Monjardino, explicando a sua visão com as “diferenças de herança” entre os dois territórios.

gueses estavam muito cépticos em relação à forma como a China iria tratar o território. “Há 30 anos - eu estava lá nessa altura - nós olhávamos para o futuro de Macau de uma forma muito cautelosa, mas depois por razões várias, basicamente políticas, quando a China passou a ter as rédeas, resolveu promover Macau. Era uma hipótese - não aquela que nos parecia a mais provável - mas foi o que aconteceu”, indicou o também vice-presidente da Fundação Stanley Ho.

HOJE MACAU

POLÍTICA

Para Scott Chiang, é necessário que as pessoas “sintam que têm o destino nas suas mãos porque só assim podem ter atitudes capazes de mudar o futuro para melhor”

OS OUTROS PRÓ-DEMOCRATAS

De acordo com a Lusa, há deputados pró-democracia em Macau que consideram que, ao contrário de Hong Kong, a luta pela democracia na antiga região portuguesa sofre de “uma deficiência congénita”, criada pela Lei Básica de Macau, em vigor desde que o território deixou de ser administrado por Portugal. Ao contrário do que aconteceu em Hong Kong, a Lei Básica de Macau não estabelece o voto universal como objectivo na eleição do líder do Governo. Em Hong Kong, a sociedade local empenhou-se na exigência desse direito e o compromisso acabou por entrar na lei que funciona como uma constituição para

a região. Já em Macau, segundo os deputados pró-democracia, foram poucas as solicitações e a Lei Básica, definida em 1993, não o incluiu. Na Assembleia Legislativa de Macau, só 40 por cento dos

deputados são eleitos por sufrágio directo e o Chefe do Executivo é eleito por um colégio. Carlos Monjardino admite que, quando se estava a negociar os termos da transferência de Macau, os responsáveis portu-

“Felizmente que em todos estes anos a República Popular da China percebeu a utilidade de Macau”, completou. A China, recordou o antigo banqueiro, “fez o Fórum Macau - onde estão reunidos todos os países de língua portuguesa - e, internamente, abriu as portas para o jogo”.

ANM QUER SABER AS RAZÕES DO CORTE DE SUBSÍDIOS A ESCOLAS A Associação novo Macau (ANM) pede explicações ao Governo sobre as seis escolas que deixaram de receber subsídios. De acordo com a Rádio Macau, a organização esteve ontem no Comissariado de Auditoria para pedir uma investigação aprofundada sobre as contas que envolvem dinheiros públicos. Segundo os Serviços de Educação e Juventude (DSEJ), a suspensão deveu-se a problemas técnicos de registo de contas. Em resposta à Rádio Macau, no início do mês, foi explicado que as escolas registaram de forma errada certas contas e que houve um fornecimento incompleto de informações para apreciação. A ANM quer saber se existiram motivos

Sofia Margarida Mota com Lusa info@hojemacau.com.mo

mais graves para a suspensão dos subsídios. Para Scott Chiang, presidente da associação, há ainda questões que não estão esclarecidas. Por outro lado, a ANM também considera que a lei que regula a aplicação do plano de contabilidade das instituições educativas particulares sem fins lucrativos, deve ser revista. No final de Março, na Assembleia Legislativa, o Secretário para os Assuntos Sociais e Cultura, Alexis Tam, revelou que nos últimos anos a atribuição a subsídios a seis escolas foi suspensa. A DSEJ veio esclarecer e disse que duas dessas escolas ainda não regularizaram a situação tendo as restantes quatro passado pela apreciação das contas.


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J

ASON Chao já esteve do outro lado da barricada como candidato às eleições para a Assembleia Legislativa, em 2013, pela Associação Novo Macau. Este ano o activista resolveu despir essa camisola e criar uma plataforma de recepção de queixas no âmbito das eleições. O “Project Just Macau” vai funcionar na plataforma JustMacau. net e promete ser um receptor de queixas dos residentes sobre casos suspeitos de corrupção ou outro tipo de ilegalidades cometidas durante o processo de campanha eleitoral. Jason Chao quer, assim, fazer um trabalho de monitorização das eleições semelhante ao que já é feito pela Comissão para os Assuntos Eleitorais da Assembleia Legislativa (CAEAL), apesar desta entidade “ter o poder legal para investigar e impor sanções”, defendeu ao HM. O JustMacau. net será apenas um website para garantir que as autoridades “estão a fazer o seu trabalho”. “As eleições dos candidatos pelo via do sufrágio directo para a AL são a única forma de os cidadãos terem uma verdadeira posição sobre a política local”. Jason Chao convida todos os residentes que estejam interessados em construir uma Macau mais justa a usarem esta plataforma PUB

Monitorização paralela Jason Chao cria plataforma para receber queixas sobre eleições

para serem os “guardiães da justiça nas próximas eleições”, aponta um comunicado ontem divulgado. Jason Chao admite que “o número de cidadãos a participar não será aquele que estou à espera, mas

estou sobretudo à procura de informação em termos de qualidade”.

CONTRA O ANONIMATO

O activista explica que o novo website representa “um canal aberto

e seguro para que todos possam submeter as suas informações e queixas”. “Apesar das autoridades terem canais oficiais para a utilização do público em caso de suspeita de actividades ilegais nas eleições, a falta de transparência na forma como essas queixas são tratadas faz com que a justiça no processo seja questionável”, pode ler-se. Contudo, o mentor do JustMacau.net apela ao fim do anonimato na submissão das queixas. “Compreendemos que há o risco de represálias se as identidades forem reveladas. Contudo, o anonimato enfraquece, na maioria das vezes, a credibilidade da queixa. Por norma, o contacto com a fonte exige mais informações ou confirmações para que se possa constituir um caso sólido. Deixem sempre um canal [de contacto] após a submissão da queixa. De outra forma, o JustMacau.net pode não conseguir fazer as devidas acções de acompanhamento”.

UM ELO DE LIGAÇÃO

O website JustMacau.net não quer apenas constituir-se como uma

POLÍTICA

plataforma de recolha de queixas, mas pretende também ser um meio de ligação entre os residentes e a CAEAL. “Os residentes que confiarem no website podem submeter queixas às autoridades através da nossa plataforma. Todas as queixas entregues através do nosso website serão contadas e enviadas às autoridades, sendo mantido um registo público das mesmas”, explica o comunicado. Para além disso, “os residentes podem entregar queixas às autoridades pela sua própria iniciativa e entregar-nos uma cópia para que fique publicamente registada”. Para Jason Chao, o facto da plataforma JustMacau.net manter este sistema de registo, acessível a todos, constitui “uma chave de monitorização mesmo se as autoridades levarem os casos a sério”. O activista considera que “enquanto a existência de actividades ilegais nas eleições são um ‘segredo aberto’, na maioria dos casos as autoridades falharam ao não atribuir responsabilidades aos candidatos sem escrúpulos, mas poderosos”. Andreia Sofia Silva

andreia.silva@hojemacau.com.mo


6 POLÍTICA

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MERCADO ABASTECEDOR ELLA LEI QUER SABER MAIS

A

deputada Ella Lei quer saber mais detalhes acerca do novo mercado abastecedor de Macau. Em causa estão receios associados à mudança de gestão em 2022. Para a deputada, a empresa que actualmente gere a estrutura, a Sociedade do Mercado Abastecedor de Macau Nam Yue, Lda., deverá manter-se até à data prevista. No entanto, Ella Lei teme que, quando for

altura de mudar o modelo de gestão, será mais complicado caso a empresa responsável saia e a responsabilidade passar a ser do Executivo. Ella Lei espera que o Governo estabeleça um mecanismo de comunicação com a Nam Yue de forma a garantir, desde já, os processos de entrada, gestão e fiscalização, para o futuro. A deputada quer também saber,

na prática, quais as diferenças efectivas de um novo modelo de gestão. Ella Lei questiona ainda o Instituto para os Assuntos Cívicos e Municipais (IACM). Em causa está o esclarecimento relativo à forma como os actuais comerciantes vão transitar de espaço. A deputada salientou que existem muitas bancas do mercado que não estão a ser

aproveitadas como estava previsto. A situação acontece porque, afirma, muitos comerciantes acabam por não ter atempadamente os fornecimentos que esperam, pelo que ficam sem produtos para venda. De modo a garantir uma concorrência justa, a deputada quer saber se o Governo vai tomar medidas para prevenir a continuidade deste tipo de situação. V.N. com S.M.M.

ELEIÇÕES CAEAL VOLTA A ENCONTRAR-SE AMANHÃ COM DEPUTADOS

A Comissão de Assuntos Eleitorais da Assembleia Legislativa (CAEAL) e o Comissariado contra a Corrupção vai reunir novamente com os deputados da Assembleia Legislativa (AL). A reunião realiza-se amanhã e tem como objectivo a apresentação das instruções eleitorais. A sessão será iniciada pelo presidente da CAEAL, Tong Hio Fong, que irá explanar aos tribunos as instruções para o próximo acto eleitoral. De seguida será dada a palavra aos deputados para uma troca de opiniões com as comissões. No passado dia 28 de Fevereiro houve um encontro semelhante, onde foram recolhidas opiniões dos deputados, principalmente no que toca a questões de campanha eleitoral relacionados com a comunicação social.

AL COMISSÃO QUER REVER PROCESSO DE INTERPELAÇÕES AO GOVERNO

Vozes com nova regulação

O

S deputados têm até ao próximo dia 18, terça-feira, para apresentarem as suas opiniões junto da Comissão de Regimento e Mandatos da Assembleia Legislativa (AL), presidida por Vong Hin Fai. O motivo? A “possibilidade de introduzir aperfeiçoamentos ao Regimento da AL”, ao nível do “processo de interpelação da acção governativa”.

GCS

A Assembleia Legislativa está a recolher opiniões dos deputados sobre uma possível alteração ao Regimento e à forma como as interpelações são apresentadas ao Governo. Coutinho teme mais restrições. Ella Lei e Kwan Tsui Hang querem mudar a forma de emissão de voto

“Todas as vezes que a comissão solicita a nossa opinião não é para nos ajudar, mas sim para restringir o direito de expressão na AL.”

ANTECEDÊNCIA, PRECISA-SE

Ella Lei, também eleita pela FAOM, disse que muitas vezes só teve conhecimento de que iria votar um pedido de emissão de votos em cima da hora do debate. “Não existem regras definidas para a distribuição do texto da proposta. Os proponentes só precisam de entregar o texto ao presidente da AL antes da sessão plenária, e depois o presidente distribui no início da reunião.” “O processo de emissão de votos precisa das nossas votações, e é necessário termos tempo suficiente para pensar. Os textos deveriam ser entregues aos deputados com alguma antecedência para pensarmos sobre o assunto”, rematou Ella Lei. À data, a deputada também se absteve de votar na proposta de voto de pesar pela morte de Mário Soares.

“Os assuntos relacionados com a emissão de votos não deveriam ser tão simples. Não temos tempo para pensar, nem podemos ter uma discussão rigorosa.”

JOSÉ PEREIRA COUTINHO DEPUTADO José Pereira Coutinho confessou ao HM que teme mais restrições sobre o tempo de uso da palavra pelos deputados durante o debate. “Todas as vezes que a comissão solicita a nossa opinião não é para nos ajudar, mas sim para restringir o direito de expressão na AL”, disse o deputado ao HM. Para Coutinho, é importante mudar uma regra existente: quando o deputado intervém numa discussão sobre uma proposta de debate, não pode depois apresentar a sua declaração de voto. “Essa é uma das questões que, de

ser tão simples. Não temos tempo para pensar, nem podemos ter uma discussão rigorosa. Em termos políticos temos de ter tempo para abordarmos a questão e para nos prepararmos, mas os deputados só têm alguns minutos para falar.”

KWAN TSUI HANG DEPUTADA facto, impede o bom desempenho dos deputados”, acrescentou o deputado. Já Kwan Tsui Hang afirma que a forma de apresentação das emissões de voto tem de mudar. A deputada recorda o exemplo do voto de pesar pela morte de Mário Soares, uma proposta feita por José Pereira Coutinho, para explicar que

não existe tempo suficiente para a preparação dos deputados. “A decisão da proposta de emissão de voto é feita por um grupo de funcionários da AL e penso que esta não é a forma mais exigente para o fazer”, defendeu ao HM. “Muitas vezes só tomamos conhecimento de que temos de tomar uma decisão minutos antes do debate, quando

estamos sentados na sala. Não sei porque é que o processo pode ser feito de maneira tão simples”, apontou ainda. À data da votação, Kwan Tsui Hang acabaria por se abster de votar a favor ou contra do voto de pesar pela morte de Mário Soares. “Os assuntos relacionados com a emissão de votos não deveriam

O HM contactou ainda o deputado Ng Kuok Cheong, que não quis fazer qualquer comentário face à possibilidade de rever o Regimento da AL. Andreia Sofia Silva

andreia.silva@hojemacau.com.mo


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La Scala DESTINO A DAR AO TERRENO CONTINUA A SER TEMA DE DEBATE

O futuro do terreno na avenida Wai Long continua a dar que falar. Na última edição de debate do Fórum Macau da TDM, defendeuse a construção de habitação pública, mas também de uma escola secundária e um centro comercial. Uma associação acredita que construir apartamentos de luxo será mais prático

O

Governo quer construir habitação pública na avenida situada junto ao Aeroporto e à Universidade de Ciências e Tecnologia de Macau, mas para muitas vozes do sector o assunto não é assim tão simples de resolver. No último debate do Fórum Macau da TDM defendeu-se a necessidade de preservação da paisagem envolvente e de construção de infra-estruturas fundamentais ao dia-a-dia dos futuros residentes.

A

S receitas da Administração de Macau aumentaram 5,3 por cento até Fevereiro, em termos anuais homólogos, em linha com o aumento da verba arrecadada com os impostos directos cobrados sobre a indústria do jogo, indicam dados oficiais. De acordo com dados provisórios publicados no portal da Direção dos Serviços de Finanças, a Administração de Macau fechou os primeiros dois meses do ano com receitas totais de 16.960 milhões de patacas, estando cumpridas em 18,7 por cento. Os impostos directos sobre o jogo – 35 por cento sobre as receitas brutas dos casinos – foram de 14.144 milhões de patacas, refle-

TIAGO ALCÂNTARA

Entre a simplicidade e o luxo

SOCIEDADE

deputado acredita que algumas das questões que têm sido levantadas, como as consequências do ruído e da poluição do ar junto dos futuros moradores, poderão ser facilmente resolvidas. Em declarações ao Jornal do Cidadão, Liu Chak Wan, membro do Conselho Executivo e empresário, defendeu que, caso o Governo resolva as condicionantes do trânsito e de acessos, o terreno que chegou a ser concessionado para a construção do La Scala poderá receber edifícios de habitação pública. Para Liu Chak Wan, questões como poluição e ruído não deverão constituir um entrave para o projecto, uma vez que a MUST também não sofre com estes problemas.

Na opinião de Leong Chong In, [poderá] ser construída uma escola secundária

Segundo o Jornal do Cidadão, Manuel Wu Iok Pui, membro do Conselho do Planeamento Urbanístico (CPU), disse não estar contra a intenção do Governo, mas destaca a importância de construir um edifício com um máximo de 155 metros de altura. Manuel Wu Iok Pai defende que a colina não deve ser escavada, por forma a proteger a paisagem do local. Apesar disso, o membro do CPU afirmou não estar satisfeito com o planeamento do Executivo para o

terreno, pois não existem explicações sobre as futuras infra-estruturas de apoio à habitação pública. Leong Chong In, também membro do CPU, disse no debate que a construção da habitação pública não vai trazer qualquer tipo de problema, mas entende que se deve olhar para as diferentes perspectivas, para que haja um melhor aproveitamento do terreno. O membro do CPU acha que é importante construir habitação privada e também casas públicas para os mais

Dinheiro a entrar

Receitas do Governo acompanham lucros do jogo

tindo um aumento de 5,4 por cento face ao mesmo período do ano passado e uma execução de 19,7 por cento em relação ao Orçamento autorizado para 2017. A importância do jogo reflecte-se no peso que detém no orçamento: 83,3 por cento nas receitas totais, 83,4 por cento nas correntes e 94,3 por cento nas derivadas dos impostos directos. Já na rubrica da despesa verificou-se uma queda de 29,8 por cento face aos primeiros dois meses de 2016, para 5.180 milhões de patacas – influenciada por um declínio igual nos

gastos correntes – com a taxa de execução a corresponder a 6,1por cento. Até Fevereiro foram gastos apenas 11,1 milhões de patacas ao abrigo do Plano de Investimentos e Despesas de Desenvolvimento da Administração (PIDDA) – cujo valor orçamentado para 2017 é de 15.256 milhões de patacas, pelo que a taxa de execução correspondeu a 0,1 por cento.

BOAS CONTAS

Entre receitas e despesas, a Administração de Macau acumulou assim um saldo positivo de 11.779 milhões

jovens. Como os edifícios ficarão situados perto da MUST, poderá, na opinião de Leong Chong In, ser construída uma escola secundária. O responsável sugere também a edificação de um centro comercial, com vista a fomentar o desenvolvimento económico e turístico de Macau.

SIM AO PRIVADO

Au Kam San, que sempre defendeu a construção de casas públicas junto da avenida Wai Long, acredita que esse projecto deve ser mantido. O

de patacas – com a “almofada” financeira a aumentar 34,9 por cento em termos anuais homólogos para um valor que excede, até ao segundo mês, o previsto para todo o ano - 5.567 milhões

Com uma posição contrária estão os representantes da Associação União Geral Song San de Macau, que consideram ser mais prático construir apartamentos de luxo junto à avenida Wai Long. Isto porque, neste caso, o Governo não vai necessitar de elaborar planos para melhorar as instalações ao nível do trânsito. Amesma associação defende que o terreno deve ir a leilão, apesar de já ter sido revertido para a Administração. Os lucros obtidos poderiam contribuir para a renovação urbana dos edifícios antigos do território, o que também poderia, na visão desta associação, resolver os problemas de habitação da população. V.N./A.S.S.

de patacas - dado que a taxa de execução corresponde a 211,6 por cento do orçamentado. A receita pública, que voltou a crescer em Janeiro após meses de quedas ho-

mólogas, encontra-se em linha com o desempenho da indústria de jogo, o principal motor da economia local, que tem vindo a mostrar sinais de recuperação desde a segunda metade do ano passado. Março marcou o oitavo mês consecutivo de subida das receitas dos casinos, após 26 meses de quedas anuais homólogas. A Administração de Macau encerrou 2016 com receitas de 102.412 milhões de patacas , uma diminuição de 6,7 por cento, naquele que foi o segundo ano consecutivo de queda em pelo menos cinco anos, depois do “tombo” de 29,7 por cento em 2015.


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9 SOCIEDADE

GCS

hoje macau terça-feira 11.4.2017

VIOLÊNCIA DOMÉSTICA PRIMEIROS TRÊS MESES COM 21 CASOS CONFIRMADOS

GONÇALO LOBO PINHEIRO

Tang Yuk Wa , chefe de departamento de serviços familiares e comunitários do Instituto de Acção Social (IAS) revelou ontem que nos primeiros três meses, depois da entrada em vigor da “Lei de Violência Doméstica”, foram comunicados 675 casos. Depois de eliminadas as situações repetidamente denunciadas restaram 470. Desses, 364 tratavam de problemas da família e 65 foram suspeitos de violência doméstica que, por iniciativa própria, contactaram o IAS, num total de 429 casos. De acordo com o comunicado enviado à comunicação social e após uma avaliação profissional para efeitos de tipificação, o IAS verificou que 184 foram casos de disputas na família, 94 relativos a conflitos familiares e 151 casos suspeitos de violência doméstica. Após intervenção por parte da equipa de assistência social e da devida avaliação e diagnóstico, são 21 os casos de violência confirmados.

UM GRUPO DE DEZ PESSOAS VAI ESCOLHER NOVO REITOR

Peter Lam, presidente do Conselho da Universidade de Macau, disse que foi criado um grupo composto por dez membros encarregue da escolha do novo reitor da instituição de ensino superior pública. Segundo o Jornal do Cidadão, alguns desses membros já fazem parte do Conselho da UM, para além de serem académicos da China e de Hong Kong. Com a saída anunciada do actual reitor, Wei Zhao, Peter Lam explicou que os trabalhos relativos à contratação do substituto estão em curso, sendo que foi aberto um concurso a nível internacional para a escolha. A lista de candidatos, a ser escolhida por uma empresa de consultadoria, será depois entregue ao grupo dos dez para ser discutida. Peter Lam disse também que ainda este ano será escolhido o nome que irá substituir Wei Zhao.

Educação ARRANCA HOJE MAIS UM PROGRAMA DE APERFEIÇOAMENTO CONTÍNUO

Marcar presença online

Entra hoje em vigor o decreto administrativo que regula a terceira fase do Programa de Desenvolvimento e Aperfeiçoamento Contínuo de 2017. A DSEJ promete apertar a fiscalização com a implementação de um registo de presenças electrónico

“N

ESTA fase vamos aumentar o grau de fiscalização com uma nova medida que é o registo electrónico do mapa de presenças, porque se tratam de fundos do erário público.” Quem o diz é Leong Vai Kei, Chefe do Departamento de Ensino da Direcção dos Serviços de Educação e Juventude (DSEJ). Já havia a exigência de envio de um mapa de presenças, devidamente assinado pelos formandos, mas as instituições de ensino agora são obrigadas a registar online as presenças no prazo de sete dias a contar do fim de cada aula. Trimestralmente a DSEJ procede a várias formas de fiscalização de dados e verificação documental. “Fizemos mais de 5000 vistorias in loco e mais de 5000 revisões de documentos”, explica Wong Chi Iong, chefe substituto da Divisão de Extensão Educativa. O responsável revela que não foram encontradas irregularidades muito graves, mas principalmente falhas administra-

tivas, tais como falta de mapas de presença, ou esquecimentos de avisar quando ao início do curso. Os serviços de educação começam agora a receber os pedidos das instituições de ensino para a participação neste programa, sendo que o prazo para submeter a documentação termina a 25 de Abril. Este programa de financiamento de ensino começa hoje e durará até 31 de Dezembro de 2019. Podem candidatar-se aos subsídios de 6000 patacas todos os residentes de Macau, detentores de BIR e que tenham completado os 15 anos de idade até ao dia 31 de Dezembro de qualquer um dos anos de 2017 a 2019.

A data do início dos cursos, ou da realização dos exames de credenciação, terá lugar entre o dia 30 de Abril e o dia 30 de Setembro deste ano, ou seja, os cursos que tenham tido início entre Janeiro último e dia 30 de Abril não são abrangidos pelo subsídio. No próximo dia 28 de Abril está prevista a publicação dos resultados da apreciação dos serviços aos cursos candidatos a entrarem no Programa de Desenvolvimento e Aperfeiçoamento Contínuo.

PARTICIPANTES CRESCEM

Feita a apreciação dos serviços educativos em relação aos cursos

“Nesta fase vamos aumentar o grau de fiscalização com uma nova medida que é o registo electrónico do mapa de presenças, porque se tratam de fundos do erário público” LEONG VAI KEI CHEFE DO DEPARTAMENTO DE ENSINO

autorizados a participar no programa, os residentes interessados podem ver a lista de formações disponíveis no site da DSEJ. Durante a primeira fase do programa de aperfeiçoamento, que se realizou entre 2011 e 2013, registaram-se quase 316 mil números de participações distribuídos por mais de 145 mil participantes. Esta fase teve um investimento público de mais de 523 milhões de patacas. A segunda fase foi de crescimento a todos os níveis. O número de participações em cursos patrocinados pelo programa foi de 381 mil, repartidos por mais de 167 mil formandos. Esta fase, que se realizou entre 2014 e 2016, representou um investimento do Governo de mais de 744 milhões de patacas. Neste ano, a DSEJ prevê um aumento dos participantes, mas apenas ligeiro. João Luz

info@hojemacau.com.mo


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11 hoje macau terça-feira 11.4.2017

EVENTOS

SOFIA MARGARIDA MOTA

CCM “ARROZ” TRAZ A SIMBIOSE ENTRE HOMEM E NATUREZA

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FRC SERÕES QUE DÃO A CONHECER AS RUAS DE MACAU

Histórias da História

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proposta de passar o final do dia a contar as histórias antigas de Macau é da Associação dos Antigos Alunos da Escola Comercial Pedro Nolasco. O evento acontece na Fundação Rui Cunha e conta, esta quarta-feira, com a terceira edição, a cargo de Jorge Cavalheiro com o tema “Conhecer a História de Macau, percorrendo as suas ruas”. “Asessão será sobre os primeiros tempos dos portugueses em Macau”, referiu José Basto da Silva, presidente da associação, ao HM. “Na altura existia um muro que separava a parte portuguesa da parte chinesa e vamos abordar o que se passava com essa divisão e

nas ruelas que circundavam o muro”, explicou. Depois da palestra, a associação já tem pensado um segundo momento: “A ideia é convidar os interessados visitar a esse recantos que vão ser abordados no dia 12”.

JUNTOS À CONVERSA

A criação de encontros para partilhar acontecimentos de

outros tempos nasceu da vontade de reunir pessoas a conversar sobre o que é a cultura local. “Queríamos juntar um grupo de amigos no final do dia para recuperar histórias antigas do território ao mesmo tempo que, à volta delas, as pessoas teriam um pretexto para estarem juntas e passarem um final de tarde diferente, depois de um dia

“A informação dilui-se de geração para geração e este é um espaço para que possa ser partilhada e evitar que as memórias se percam com o tempo” JOSÉ BASTO DA SILVA

À VENDA NA LIVRARIA PORTUGUESA OS RAPAZES DOS TANQUES • Adelino Gomes Fotografia de Alfredo Cunha Histórias na primeira pessoa dos cavaleiros que em 1974 derrubaram a ditadura. Nos 40 anos do 25 de Abril, este álbum recolhe as fotografias históricas que Alfredo Cunha registou nesse dia e junta-lhes uma reportagem de Adelino Gomes com alguns dos homens, então jovens soldados, cujos rostos essas fotos fixaram para sempre.

de trabalho”, disse José Basto da Silva. De acordo com o responsável, a importância destes pequenos encontros está ainda na surpresa que acarretam. Apesar de o público ser, na sua maioria, residente, muitas vezes não sabe pequenos detalhes sobre o que o rodeia e que acabam por dar outro valor à realidade. O objectivo, disse, é evitar que o conhecimento que, muitas vezes passa de boca em boca, se perca. “A informação dilui-se de geração para geração e este é um espaço para que possa ser partilhada e evitar que as memórias se percam com o tempo”. Sofia Margarida Mota

sofiamota.hojemacau@gmail.com

RROZ” é a coreografia que marca o regresso ao território a companhia de dança taiwanesa “Cloud Gate”. O espectáculo acontece no dia 15, pelas 20h no grande auditório do Centro Cultural de Macau (CCM). Sob a direcção de Lin Hwai-min, a coreografia, indica a organização, é a “celebração do ciclo da natureza em paralelo com o drama humano”. “Entre grãos e frondosos campos verdes, o espectáculo junta projecções de vales e arrozais a uma mescla coreográfica de dança contemporânea e artes marciais internas”, indica o CCM. No som sobressaem os ritmos das canções tradicionais Hakka e as composições clássicas de Camille Saint-Saëns e Richard Strauss. A dança dos elementos, tecida a partir da terra, da luz, do vento, da água e do fogo, representa conceitos entre a morte e o renascimento, “entre o ocidente e oriente”. Fundada em 1973, a “Cloud Gate” tem-se dedicado à transformação estética numa celebração contemporânea do movimento físico. Descrita como uma das melhores companhias de dança e teatro do mundo, a trupe tem sido convidada frequente do festival “Next Wave” de Nova Iorque.

A “Cloud Gate” também tem marcado presença em eventos e palcos internacionais como no Teatro Sadlers Wells, no Centro Barbican de Londres, no “Festival Internacional de Teatro Chekhov” e no “Movimentos” na Alemanha. O regresso da “Cloud Gate” ao CCM cimenta uma longa relação com o território com o sucesso de “Moon Water” e “Nove Canções”. De acordo com a organização, a companhia é “inconfundível nos seus movimentos meticulosos e precisos em que os bailarinos sobem ao palco numa demonstração de capacidade e precisão”. S.M.M.

TAP SEAC ABERTAS INSCRIÇÕES PARA WORKSHOPS

São mais de trinta os workshops que constam do programa da próxima feira de artesanato do Tap Seac com data marcada para os dias 21 a 23 e de 28 a 30 de Abril. As inscrições já estão abertas e, de acordo com a organização, os temas são muitos entre os quais, destaca, “candeeiros de mesa de cimento”, “porta canetas com panda”, “broches com rosa de fio de prata”, “carteiras de pele com três compartimentos para moedas e cartões”, “cultivar bonsais e plantas”, “pendentes com fio de prata”, “ovelhas de feltro”, “livros cosidos à mão de estilo japonês”, “workshop para pais e filhos: livros ilustrado com estrelas”, “postais de flores de Primavera pintados com aguarela”, entre outros. Todos os interessados poderão inscrever-se nos workshops através do “Sistema de Inscrição de Actividades” na página electrónica do Instituto Cultural. As inscrições terminam no dia 18 e os resultados das inscrições serão determinados por sorteio informático.

RUA DE S. DOMINGOS 16-18 • TEL: +853 28566442 | 28515915 • FAX: +853 28378014 • MAIL@LIVRARIAPORTUGUESA.NET

NOS BASTIDORES DOS TELEJORNAIS - RTP, SIC E TVI • Adelino Gomes Como se editam os telejornais das 20h nas três grandes estações de televisão em Portugal? Adelino Gomes acedeu, entre 2007 e 2010, aos bastidores dos telejornais da RTP1, da SIC e da TVI e registou as suas observações com enorme precisão e acutilância. Neste livro reproduzem-se partes significativas do seu diário de campo: frases, depoimentos, decisões que vão marcando o quotidiano das redacções e que nos mostram a maneira como de facto se editam os telejornais. Como se faz de um acontecimento uma notícia, o que fica de lado e porquê, como se decidem os alinhamentos e os intervalos... Critérios editoriais de interesse público, independência dos jornalistas, investigação crítica? O leitor perceberá que, mesmo com estes tópicos presentes, a edição dos telejornais gira, sempre, em torno da guerra pelas audiências e de uma concorrência que, na hora da verdade (a emissão em directo do telejornal), se impõem sobre tudo.


12 CHINA

hoje macau terça-feira 11.4.2017

Hong Kong MANIFESTANTE CONDENADO A CINCO ANOS DE PRISÃO

O corpo é que paga

U

M tribunal de Hong Kong condenou um manifestante a quatro anos e nove meses de prisão por participar num motim e incendiar um táxi em Fevereiro do ano passado, avançou ontem a emissora pública RTHK. Ao condenar Yeung Ka-lun, o juiz Anthony Kwok disse esperar que a sentença envie uma mensagem aos “jovens radicais” de que, se escolherem desafiar as autoridades, têm de estar preparados para as consequências. O juiz disse sentir-se incomodado por colocar Yeung na prisão, notando que o jovem de 32 anos tinha demonstrado bom carácter antes deste incidente, que aconteceu na zona comercial movimentada de Mong Kok por ocasião do Ano Novo

“Uma vez que alguém viola a lei, não há volta a dar, mesmo que a causa pela qual protesta seja nobre”, disse. O juiz defendeu que todos os manifestantes têm de partilhar as consequências das suas acções, independentemente do que cada um fez individualmente.

chinês de 2016. No entanto, Yeung agiu de forma a perturbar gravemente a paz, sublinhou. O juiz disse que foi por sorte que o táxi não ficou destruído pelo incêndio, e acusou Yeung de ignorar o

risco de as chamas se espalharem. Anthony Kwok disse ainda sobre o caso que a necessidade de dissuadir outros era maior do que a de ajudar a reabilitar Yeung. PUB

“Uma vez que alguém viola a lei, não há volta a dar, mesmo que a causa pela qual protesta seja nobre.” ANTHONY KWOK JUIZ A polícia aplaudiu a condenação, dizendo que reflecte a gravidade dos crimes

O PROBLEMA DAS BOLINHAS

Os distúrbios, que surgiram na sequência de uma operação policial contra a venda ambulante ilegal de comida, resvalaram em confrontos considerados os mais violentos dos últimos anos e a maior demonstração de descontentamento popular na antiga colónia britânica desde os protestos pró-democracia do final de 2014. Mais de 100 pessoas ficaram feridas, incluindo polícias, manifestantes e jornalistas, e 65 foram detidas naquele que foi um raro surto de violência em Hong Kong. Três outros manifestantes foram este ano condenados a três anos de prisão por envolvimento nestes distúrbios.

Sentido proibido Mulher de activista de Taiwan impedida de entrar em Pequim

A

mulher de um activista de Taiwan detido na China não conseguiu viajar ontem para Pequim, devido ao cancelamento da autorização de entrada na China, mas prometeu continuar a lutar pela libertação do marido. Lee Ming-cheh, voluntário de uma organização não-governamental, está detido desde 19 Março, em local desconhecido na China, por alegados actos contra a segurança do país. A detenção ocorreu depois de Lee ter entrado na China pela cidade de Zhuhai, após uma passagem por Macau. A mulher, Lee Ching-yu, disse aos jornalistas ter sido informada pela companhia aérea que Pequim tinha cancelado a autorização de viagem, emitida pelas autoridades chinesas. Lee Ching-yu deslocava-se à China para pedir informações sobre o marido, Lee Ming-cheh. A mulher do activista detido mostrou um bilhete manuscrito, entregue por um alegado intermediário chinês, no qual era prometido que se não viajasse para Pequim, não seria mostrada “a foto do marido com as palavras ‘culpado’”. O mesmo intermediário afirmou que ia ser organizado um encontro do casal “o mais rápido possível”.

A mulher de Lee disse estar a ser alvo “de ameaças (...) e intimidações” e não aceitar que a China comunique através de “intermediários”. Lee Ching-yu afirmou exigir que a comunicação seja feita pelos canais oficiais e com um registo escrito.

PRESSÕES E CONFISSÕES

No domingo, o Gabinete dos Assuntos de Taiwan no Conselho de Estado chinês declarou ter encarregado uma organização de enviar as mensagens de Lee Ming-cheh para a mulher e pais, sem referir o nome da entidade. Após saber da notícia, a mulher do activista afirmou, em comunicado, que não se deixará “chantagear por ninguém”. No mesmo comunicado, Lee Ching-yu disse, no domingo à noite, que um alegado “intermediário” da China a advertiu de que se voltasse a Pequim seria exibida na televisão uma confissão, tendo sido aconselhada a ser “discreta e a colaborar” se queria a libertação rápida do marido. “Como já disse, a 31 de Março, não vou reconhecer nenhuma confissão ou declaração de Lee Ming-cheh antes de o ver pessoalmente”, disse a mulher, que acrescentou que lhe tinham passado, a 7 de Abril, uma fotocópia de uma alegada confissão do marido.

MORREU ACTIVISTA QUE PROFANOU RETRATO DE MAO ZEDONG EM 1989

Yu Zhijian, que passou quase 12 anos na prisão por atirar ovos contra o retrato de Mao durante as manifestações de 1989 na praça de Tiananmen, em Pequim, morreu nos Estados Unidos, informou a viúva. O opositor chinês, de 53 anos, morreu a 30 de Março de complicações relacionadas com a diabetes, disse ao telefone a viúva, Xian Gui’e, a partir da sua residência no estado de Indiana, no centro dos Estados Unidos. “Yu Zhijian nunca se arrependeu do que fez em 1989, mas queria pedir desculpas à família de Mao por atirar ovos contra o retrato”, disse à agência noticiosa France Presse (AFP). Yu Zhijian passou quase 12 anos na prisão por ter atirado ovos, a 23 Maio de 1989, contra o retrato do ditador comunista. Após a repressão sangrenta das manifestações, a 4 de Junho de 1989, Yu Zhijian foi condenado a prisão perpétua, mas acabou por ser libertado por bom comportamento em Setembro de 2000. Xian disse que ela e o marido tinham obtido cidadania norte-americana e que nunca tentaram regressar à China.


13 hoje macau terça-feira 11.4.2017

LIGA DE ELITE

DESPORTO

ANÁLISE da 9ª jornada por João Maria Pegado

TATIANA LAGES

De derby teve muito pouco

Benfica 9 - 0 Sporting

estado na origem deste resultado tão desnivelado? As ausências de jogadores nucleares em ambas as equipas, com maior prejuízo para os Leões do território que não tem a mesma qualidade no seu plantel daquela que os encarnados apresentam. No lado do Benfica não tivemos os goleadores Leonel Fernandes e Nicholas Torrão e o lateral esquer-

EQUIPA DA SEMANA

do Chi Kin, sendo substituídos por Alison Brito, Vinícius Morais e Amâncio Goitia, jogadores que ainda não efectuaram muitos jogos este ano mas que têm muitos anos de liga elite e não seria por aqui que a estrutura do Benfica ia ficar mais frágil . No lado dos Leões as ausências dos reforços da Guiné Conacri , Iuri Capelo, Duarte Pinheiro Torres e o capitão César Gibelino, retirou muita da qualidade e experiência à formação leonina tendo sido substituídos por jogadores muito jovens que pela primeira vez jogavam um derby. Este factores de juventude e inexperiência no lado do Sporting fooram determinantes para um resultado tão desnivelado aliado a um Benfica de Henrique Nunes, que desde do jogo com Cheng Fung aprendeu a lição e respeita o adversário e esse respeito passa por levar o jogo de forma séria do princípio ao fim.

DO JOGO

Desde de início se percebeu as dificuldades do Sporting em con-

JOGADOR DA JORNADA • #77 CHAN MAN ( BENFICA ) Foi um dos responsáveis pela grande intensidade posta pela equipa do Benfica no jogo frente ao Sporting. Jogador que já passou por Portugal e que deveria ter tido mais oportunidades no sul do País. Grande atitude competitiva aparece este ano mais disciplinado tacticamente no momento defensivo mas é no momento ofensivo que se destaca na qualidade dos seus cruzamentos. Neste jogo teve oportunidade para nos mostrar que evoluiu também ao nível da finalização com dois bons golos apontados. TATIANA LAGES

A

liga elite chegou ao fim da primeira volta com o derby lisboeta no Estádio de Macau. Derby que no entanto não foi como todos os adeptos gostavam de ter assistido (Benfica 9 Vs 0 Sporting). Acredito que nem os próprios adeptos benfiquistas ficaram extremamente contentes com este resultado. Mas o que estará

seguir ter bola e o plano de jogo de Nuno Capela ofensivamente passava muito pela activação da ligação Ema Maicon, Miguel Botelho ou Tony Lopes para tentarem os ataques rápidos atacando a profundidade nas costas da defesa encarnada. Mas a equipa de Henrique Nunes nunca deu possibilidade para essa ligação funcionar, com Cuco na marcação a Ema e os centrais bem subidos quase na linha de meio. A bola era recuperada ainda no meio campo defensivo do Sporting forçando os defesas leoninos a constantes ataques dos homens mais avançados dos encarnados que estavam muito perdulários na hora da finalização. Seria apenas uma questão de tempo e aos 12 minutos Edgar Teixeira inaugura o marcador e a partir daí vieram mais 4 até ao intervalo e mais 4 na segunda parte. Vinicius Morais (3 golos), Adilson Brito(2 golos), Chan Man(2 golos) e Ethan Lay (1) foram os marcadores. Destaque no Benfica para os 3 golos de Vinicius Morais, para a forma séria com que Edgar Teixeira encara todos levando os colegas atrás e para o desbloqueador através dos corredores que foi Chan Man. No lado do Sporting uma nota positiva para o defesa central Eric Peres que demonstrou algumas dificuldades já na parte final mas que sem ele em campo o resultado poderia ser mais avolumado.

OUTROS ENCONTROS

Na sexta feira jogou-se o Kei Lun 5 vs 2 Policia, regresso do Kei Lun às vitórias acabando a primeira volta num excelente quarto lugar. No sábado para além do derby, realizou-se também outro jogo grande entre o CPK 3 Vs 1 Cheng Fung. Jogo que só teve golos na segunda parte com a equipa de João Rosa a colocar-se em vantagem logo no começo dos últimos 45 minutos mas o CPK deu a volta ao marcador em 2 minutos a 15 minutos do fim pelo inevitável Diego Patriota a bisar. No domingo e já sem Sadan o Monte Carlo 9 Vs 2 Lai Chi, mais um resultado desnivelado onde o Monte Carlo fez o seu trabalho mas voltou a sofrer golos. No último jogo da primeira volta teve lugar o KA I 4 vs 1 Development Team.


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ARTES, LETRAS E IDEIAS

14

máquina lírica

Do ombro à ventania

O

livro Lisbon Blues foi publicado pela primeira vez em 2009, no Brasil, e reeditado em 2015, em Portugal, pela Abysmo, com mais três poemas e ilustrações de Pierre Pratt. O livro está dividido em três partes: “Mapas”, “Derivas” e “Último Cabo”, com um primeiro poema a servir de homenagem “À Memória de Hélder Gonçalves”. Contrariamente ao último livro que lemos aqui, Manucure, de Rosalina Marshall – em que o título do livro remete para um poema de Mário de Sá-Carneiro e os títulos dos poemas são todos eles versos ou partes de versos desse poema, impondo que a leitura não se afaste desse farol – neste livro de José Luís Tavares a palavra “blues” no título do seu livro não concede de imediato uma evidência ao caminho da nossa leitura. De qualquer modo, e porque o título vem em inglês, “Lisbon Blues”, podemos arriscar que o poeta quer invocar essa música negra norte-americana, tão diferente, nas suas origens, da musica tradicional de Lisboa, o fado. E parece-me estar aqui, nesta diferença entre blues e fado, a chave para a leitura deste livro do poeta de Cabo Verde, radicado em Lisboa. Sem dúvida, trata-se também de um livro sobre Lisboa, não apenas pelo título dos poemas – “Rua do Sol ao Rato”, “Madrugada do Chiado”, “Balada do Cais do Sodré”, “Postal do Intendente”, etc. – mas os próprios poemas remetem para um encontro entre alguém que vem de fora, não só de Lisboa, mas também do país, da cultura deste país, e a cidade retratada. A chave do blues, ao invés do fado ou de uma qualquer expressão musical de Cabo Verde (a coladeira ou a morna, por exemplo), torna-se assim ainda mais pertinente, até porque não há em Lisboa qualquer tradição de blues, qualquer tradição no culto dessa expressão popular norte-americana e negra. E a palavra “negra” é aqui a chave. O blues não é apenas uma expressão musical com raízes negras, mas com raízes negras de origem escrava. Independentemente de a música de Cabo Verde vir ou não de escravos, a verdade é que para um europeu ela não é de imediato ligada a esse facto, do mesmo modo que o blues. Além de que, do ponto de vista musical, há muito mais influência europeia na morna ou na coladeira, por exemplo, do que há no blues. José Luís Tavares usa o blues como metonímia de preto, de africano, de alguém que é diferente ou olhado de um modo diferente, pela sua cor, pela sua raça. Escreve

Paulo José Miranda

Quando é o rosto que recua, como pode o delírio (tremens) curar-se com a ginjinha, baixa ciência que o hábito ergueu em lei? Ninguém para contar do longo inverno corrido sobre a alma, afeiçoado o corpo ao umbral dos instantes em que um sol baldio escurece a pele. De vez em quando o fungar de um bairro acordava-me para a forca da existência, mas, perdoai-me, altas musas, eu soçobrei a destinos mais prosaicos – algum álcool, rasteiros versos onde tinha por (mau) costume misturar deus vómito ressaca.

ele, logo no primeiro poema do livro (após o poema inicial, à parte, de homenagem), “Pela Mão De Cesário”: “pobre Cesário negro (...)”. Estabelecendo assim, e logo desde o início, uma ligação àquele que cantou a cidade de Lisboa como ninguém – como já Dante o tinha feito em relação ao poeta Vergílio – e também a si mesmo, negro, e por isso mais afastado dos outros que o poeta do “Sentimento dum Ocidental”. Porque a marginalidade mais dura não é aquela que se escolhe, quer seja pelo ópio, quer seja pela aguardente, quer seja pela pedofilia, mas aquela que nos é imposta. A história do blues é a história de marginalidades impostas, pelo menos até finais dos anos 60 do século passado (provavelmente até muito mais tarde). E no início deste novo século, escreve assim Tavares, na última estrofe de “Santa Catarina Outra Vez”: “Detesto negros e turistas”, disse o homem debruçado no varandim da tarde. Eu vou afundar-me no transumante abismo dos póstumos abraços. Por outro lado, a própria poesia de José Luís Tavares traz algo de marginal, não apenas na temática, mas principalmente na retórica, que nos parece a cada esquina uma poética de outros tempos. O verso é cuidado, limado, mesmo quando calca o dedo na nossa ferida, ao terminar o poema “Litania Para Um Domingo De Lisboa”: “o domingo é um tropo esvanecendo-se / num débil rufar de cinzas.” Ou mesmo quando esbofeteia, como é o caso do poema 16, da segunda parte do livro “Deriva”:

Agora cresceu-me esta pedra sobre o rim, bebo muita água e pouco gin (é fácil ser-se virtuoso quando a morte vela a dois haustos de distância); demasiado tarde, dizem as cartas, nem futuro ou redenção, tolo rapaz que acreditaste na arte e agora vês o paraíso escurecer sobre os teus pobres trinta anos. Brilha ao longo de todos os poemas de José Luís Tavares um metal de outros tempos, palavras que nos aparecem como se de amigos há muito desaparecidos se tratassem. É, sim, também um livro revivalista. Um livro que usa a palavra como resistência. Mais: que teima em deixar a palavra cair; a palavra que ele pretende precisa, porque, escreve “(...) Não havia / outra palavra para esse naufrágio (...)” (“Castelo de São Jorge”, p. 34). Há ao longo destes poemas uma nostalgia de um outro tempo, de um tempo

ao mesmo tempo nosso e que nunca o foi, o tempo em que a poesia era acima de nós, quando tínhamos que subir as escadas para procurar palavras, para lhes abrir o sentido. O tempo em que o mistério chegava até nós pelo incompreensível de um verso, devido a uma ou mais palavras que nos obstruía o caminho. Este livro de José Luís Tavares, que além de percorrer a cidade de Lisboa, as suas paisagens e os seus personagens, à laia de Cesário – e de se encontrar com outros poetas, Pessoa e os seus heterónimos, Armando da Silva Carvalho, Alberto Pimenta –, encontra-se também com esta encruzilhada de tempos, em que se sente perder tudo aquilo em que mais se acredita “(...) como doeu a crua / evidência de que a poesia tinha morrido.” (p. 83) E a nostalgia que sente no livro, e que é simultaneamente em relação ao tempo da nossa vida, ao tempo do mundo e ao tempo da poesia, surte efeito precisamente pelo uso quase arcaico da linguagem. É um livro que, em toda a sua extensão, vai, como ele mesmo escreve “do ombro à ventania” (p. 63). Pela palavra, pela métrica, pela nostalgia. Terminemos com a voz do poeta, no poema 19, da segunda parte do livro, “Deriva”: Dispostos à morte, essa faca que o dia escurece, embora de canções falássemos na tarde de mormaço a que ainda hoje associo o vinil das primeiras lágrimas. Homem minado de dúvidas (assim perdi deus amigos sinecuras) como doeu a crua evidência de que a poesia tinha morrido. (Disse-me o alberto pimenta que fora nero o assassino.) Agora rasuro os mínimos sinais que atestem que na verdade andei por tardes ofegantes a encher cadernos com essa obscura mistura de acaso e cálculo. E se a vida também não for nada disto – a creche, os filhos, os juros algozes, a forca do amor, domingos de manhã em que bate a ressaca, a sabedoria que só chega depois do erro? Eu podia ter perguntado às ciganas do parque; saber recusar, porém, todo o consolo, eis o que poderia salvar destes vicariantes dias em que seitas flibusteiras nos intimam à felicidade. Mas há demasiadas canções que nos fazem desastrados aprendizes da ternura.


15 hoje macau terça-feira 11.4.2017

TEMPO

MUITO

?

NUBLADO

O QUE FAZER ESTA SEMANA Amanhã

EXPOSIÇÃO “ILUMINAÇÃO ARTIFICIAL” DE ANABELA CANAS 18h30 | Galeria da Livraria Portuguesa

MIN

22

MAX

26

HUM

80-98%

EURO

8.48

BAHT

EXPOSIÇÃO “AFTERWARDS WORKS BY LEE SUET-YING” Armazém do Boi | Até 22/4 EXPOSIÇÃO “MAORGANIC WORKS BY ALAN IEON, TKH, JACK WONG, RUSTY FOX” Armazém do Boi | Até 22/4

O CARTOON STEPH

EXPOSIÇÃO “MARIONETAS ASIÁTICAS VOZES DA TERRA” Casa Garden | Até 15/4 INSTALAÇÃO “SEARCHING FOR SPIRITUAL HOME II” DE YEN-HUA LEE Armazém do Boi | Até 7/5 EXPOSIÇÃO “VELEJAR NO SONHO” DE KWOK WOON Oficinas Navais N.º1 Até 23/4

Cineteatro

C I N E M A

BYE BYE MAN SALA 1

A SILENT VOICE:THE MOVIE [B] FALADO EM JAPONÊS LEGENDADO EM CHINÊS E INGLÊS Fime de: Naoko Yamada 14.15, 19.15

SWORD ART ONLINE THE MOVIE: ORDINAL SCALE [B] FALADO EM JAPONÊS LEGENDADO EM CHINÊS Filme de: Tomohiko Ito 16.45, 21.45

GHOST IN THE SHELL [3D][B]

1.15

UM LIVRO HOJE

Cresce como algodão fúngico, brota como cogumelos microscópicos de farelos esverdeados. É a vida que mata a outra vida, que a consome num acesso de conquista, da putrefacção expansionista que coloniza a frescura e a destrói impiedosamente. Este apodrecimento não é exclusivo dos fungos, do pequeno ciclo de vida que traz a génese da decomposição. Vejo o mesmo acontecer entre os humanos, bolor a alastrar em mentes pouco ventiladas, onde o escuro e a humidade ganham contornos peganhentos. Criam um mofo que nunca fará queijos, ou penicilina, apenas pestilência e verdete. Andam com o vigor da juventude, com sorrisos largos e insuspeitos, mas albergam pequenas psiques já caducas há séculos, bem antes de terem nascido. Fecham-se num microcosmos selado a preconceito, impermeável a ideias novas, ou mesmo ideias estabelecidas mas ainda actuais. Celebram a caducidade. São como peças arqueológicas de um passado fantasmagórico que falam, que percorrem as mesmas calçadas e vão aos mesmos concertos que os humanos arejados, aqueles que vivem como gatos, livres para sorrir e beijar o futuro nos lábios. Estas pessoas bolorentas deviam estar num museu, mesmo as novas réplicas de fúngicos humanos. Deviam servir de testemunho, de lição assustadora para as novas gerações, para que estas celebrem a abertura desabridamente, a circulação de ar com portadas escancaradas, e expulsem o odor neandertal que propaga no mofo escuro. Pu Yi

NORMAN MAILER | EXÉRCITOS DA NOITE

Este livro valeu a Norman Mailer o Pulitzer e a reputação de ser um dos maiores escritores dos anos 60 norte-americanos. O livro é um relato ficcionado de uma manifestação real, a Marcha ao Pentágono, um dos eventos de maior destaque na luta contra a guerra do Vietname. Um dos objectivos da manifestação era fazer levitar o edifício com o poder da meditação, uma meta profundamente hippie e bem humorada contra o cinzentismo da militarização. A ocupação acabou com a prisão em massa dos manifestantes. O escritor descreve como se queria despachar a tempo de ser preso e regressar a Nova Iorque para uma festa que não podia perder. Exércitos da Noite é uma das pedras basilares do New Journalism e da contracultura dos anos 60. João Luz

Filme de: Rupert Sanders Com: Scarlett Johansson, Takeshi Kitano 19.30 SALA 3

BYE BYE MAN [C] Filme de: Stacy Title Com: Douglas Smith, Doug Jones, Carrie-Anne Moss 14.00, 15.45, 17.30, 21.45

SALA 2

IN THIS CORNER OF THE WORLD [B]

Filme de: Rupert Sanders Com: Scarlett Johansson, Takeshi Kitano 14.30, 16.30, 21.30

FALADO EM JAPONÊS LEGENDADO EM CHINÊS E INGLÊS Filme de: Sunao Katabuchi 19.15

GHOST IN THE SHELL [B]

PROBLEMA 16

SOLUÇÃO DO PROBLEMA 15

SUDOKU

DE

EXPOSIÇÃO “AD LIB” DE KONSTANTIN BESSMERTNY Museu de Arte de Macau (Até 05/2017)

YUAN

BOLOR

EXPOSIÇÃO “OVERLOOK THE MACAU CITY” DE CAI GUO JIE Art Garden | Até 23/4

EXPOSIÇÃO “SOLIDÃO” FOTOGRAFIA DE HONG VONG HOI Museu de Arte de Macau

0.23 AQUI HÁ GATO

Diariamente

EXPOSIÇÃO “ANSCHLAG BERLIM DESENHO DE CARTAZES DE BERLIM” Galeria Tap Seac

(F)UTILIDADES

www. hojemacau. com.mo

Propriedade Fábrica de Notícias, Lda Director Carlos Morais José Editores Isabel Castro; José C. Mendes Redacção Andreia Sofia Silva; Sofia Margarida Mota Colaboradores António Cabrita; Anabela Canas; Amélia Vieira; António Falcão; António Graça de Abreu; Gonçalo Lobo Pinheiro; João Paulo Cotrim; João Maria Pegado; José Drummond; José Simões Morais; Julie O’Yang; Manuel Afonso Costa; Maria João Belchior (Pequim); Michel Reis; Paulo José Miranda; Paulo Maia e Carmo; Rui Cascais; Rui Filipe Torres; Sérgio Fonseca; Valério Romão Colunistas António Conceição Júnior; André Ritchie; David Chan; Fa Seong; Fernando Eloy; Jorge Rodrigues Simão; Leocardo; Paul Chan Wai Chi; Paula Bicho; Rui Flores; Tânia dos Santos Cartoonista Steph Grafismo Paulo Borges, Rómulo Santos Ilustração Rui Rasquinho Agências Lusa; Xinhua Fotografia Hoje Macau; Lusa; GCS; Xinhua Secretária de redacção e Publicidade Madalena da Silva (publicidade@hojemacau.com.mo) Assistente de marketing Vincent Vong Impressão Tipografia Welfare Morada Calçada de Santo Agostinho, n.º 19, Centro Comercial Nam Yue, 6.º andar A, Macau Telefone 28752401 Fax 28752405 e-mail info@hojemacau.com.mo Sítio www.hojemacau.com.mo


16 OPINIÃO

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“The economy is a wholly owned subsidiary of the environment. All economic activity is dependent upon that environment with its underlying resource base.” US Senator Gaylord Nelson on first Earth Day, 1970

A

poluição do ar, de acordo com a Organização Mundial de Saúde, é actualmente a principal causa de morte, mas trata-se de uma mensagem que ainda não foi captada, conscientemente, pelas mentes dos decisores políticos em todo o mundo. O movimento de poluentes não respeita fronteiras políticas, e mata inocentes. O mais doloroso é as alterações climáticas que estão a colocar um enorme desafio para prever o movimento de poluentes. As decisões tomadas com base em estudos de modelos e legislações não estão a produzir o resultado desejado, pois existe sempre uma lacuna entre teoria e a prática. As questões ambientais mudam de um lugar a outro, e de tempo a tempo. As questões ambientais são de cariz local e global. A compreensão das questões ambientais é necessária para se encontrarem soluções. Os problemas de poluição atmosférica mudaram ao longo de um período de tempo. As questões como a nuvem marrom atmosférica, as alterações climáticas, os poluentes atmosféricos perigosos, a neve preta/lamacenta, que não foram discutidas durante algumas décadas, ganham actualmente, importância. A poluição é originária da palavra latina “Pollutus”, que significa “sujo ou pouco claro”. A poluição do ar pode ser definida, como a condição atmosférica, em que as substâncias estão presentes em concentrações superiores às normais, para produzir efeitos significativos nos seres humanos, animais, vegetação ou matéria. O ar que respiramos é o recurso natural mais importante, e que nos permite sobreviver. A composição do ar continua a mudar constantemente, devido às emissões naturais, bem como às produzidas pelo homem para a atmosfera. A atmosfera terrestre é uma camada de gases retida pela gravidade. O ar seco, em média, consiste em 78,09 por cento de azoto, 20,95 por cento de oxigénio, 0,93 por cento de árgon e 0,039 por cento de dióxido de carbono, em volume. Também estão presentes constituintes menores como o metano (CH4), ozónio (O3), dióxido de enxofre (SO2), dióxido de azoto (NO2), óxido nitroso (N2O), monóxido de carbono (CO), amoníaco (NH3) etc. Estes constituintes variam de lugar para lugar devido à mudança nas condições atmosféricas. Os constituintes do ar sobre o mar não

são iguais aos do litoral. O ar da litoral mar pode não ter as mesmas concentrações de constituintes como o ar do deserto. O ar da costa será dominado pelo vapor de água e o ar do deserto terá mais poeira suspensa. A espessura da floresta amazónica, da mesma forma, terá mais vapor de água e compostos orgânicos voláteis enquanto o ar acima do depósito de resíduos sólidos é provável que tenha mais metano e amoníaco. A baixa concentração de poluentes atmosféricos não significa que possa haver negligência, se considerarmos o exemplo do chumbo, que está presente na atmosfera em camadas, tendo sido a quantidade total em 1983 e na década de 1990, estimada em cerca de trezentas e trinta mil toneladas e cento e vinte mil toneladas, respectivamente. As emissões totais de fontes naturais foram de cerca de duzentas e vinte mil a quatro milhões e noventas mil toneladas por ano. Quando o sistema solar se condensou a partir da “nebulosa primordial”, que não é mais que nuvens interestelares de gás e poeira, a situação não era tão complexa como actualmente, e a poluição do ar não era um problema. Acreditava-se que a atmosfera primitiva do planeta era uma mistura de dióxido de carbono, nitrogénio, vapor de água e hidrogénio. A atmosfera inicial do planeta reduziu ligeiramente a mistura química, em comparação com a atmosfera presente, que é fortemente oxidante e com o lapso de tempo, camadas distintas da atmosfera foram formadas com características distintas. A troposfera é a camada mais baixa de atmosfera que se estende da superfície da terra até dez a quinze quilómetros de altitude, dependendo do tempo e latitude. A estratosfera está posicionada apenas, acima da troposfera, e estende-se entre onze e cinquenta quilómetros. Na estratosfera, a temperatura aumenta com a altitude, de sessenta graus negativos na base até zero graus no topo. A mesosfera, situa-se justamente acima da estratosfera, estendendo-se entre cinquenta e oitenta quilómetros de altitude. Os vaivéns espaciais orbitam nesta camada da atmosfera. Devido à diminuição do aquecimento solar, a temperatura diminui com a altitude na mesosfera, sendo zero graus na base, e noventa e cinco graus negativos no topo. O topo da mesosfera é a região mais fria da atmosfera. A termosfera é a última camada da atmosfera, situando-se a oitenta quilómetros acima da exosfera. Na termosfera, a temperatura aumenta com a altitude, à medida que os átomos dessa camada são acelerados pela radiação solar. A temperatura na base da termosfera é de noventa e cinco graus negativos, sendo de cem graus a cento e vinte quilómetros, e de mil e quinhentos graus na parte superior. A ionosfera estende-se entre cinquenta e cem quilómetros cobrindo parcialmente a mesosfera e a termosfera. Tem variação diurna e sazonal, pois a ionização depende do Sol e da sua actividade. A poluição do ar, desde a sua descoberta, tem sido

JESSE V. JOHNSON, ACCIDENT MAN

A poluição atmosférica

um problema. O “Ar pesado de Roma”, em 61 A.D. foi registado pelo filósofo romano Séneca. O rei Eduardo I, em 1273, proibiu a combustão de carvão em Londres. Na década de 1280, as pessoas usavam carvão como combustível em processos como o calcário e metalurgia, levando à poluição do ar que continha fumo preto, bem como óxidos de enxofre. O final do século XVIII e início do século XIX viram mudanças dramáticas no fabrico, agricultura, mineração, produção, bem como nos transportes. A invenção da energia eléctrica no século XIX, resultou na sua distribuição em 1880, despedindo-se do carvão. O exemplo muito famoso de poluição do ar, foi a formação de poluição em torno da cidade de Los Angeles durante a década de 1940, que levou à aprovação da primeira legislação ambiental estadual nos Estados Unidos. A “Lei de Controlo da Poluição do Ar”, foi promulgada nos Estados Unidos, em 1955, sendo a primeira legislação ambiental federal do país. O petróleo, mais tarde, na década de 1960, ultrapassou o carvão como fonte de energia primária. O uso extensivo do óleo conduziu às emissões, onde quer que os veículos circulassem. A revolução industrial do pós-século XVIII, fez a economia mudar para a fabricação baseada em máquinas,

em muitos dos países desenvolvidos. A mecanização das indústrias têxteis e das técnicas de fabrico de ferro aumentou a procura de combustível, e a sua poluição atmosférica nas áreas de tais actividades. Os desenvolvimentos no século XIX levaram à segunda revolução industrial. A actividade da construção civil viu também a mudança no material, assim como, na tecnologia. A invenção do cimento, substituiu as paredes de barro, e o aumento da procura de cimento levou a emissões desse sector. Os mercados europeus e americanos estavam saturados, abrindo-se os mercados asiáticos aos veículos, apesar de existir um enorme desequilíbrio, pois as pessoas pobres viajam em cima de autocarros ou camiões, enquanto as pessoas ricas circulam em carros individuais, como acontece na Índia, Paquistão e muitos outros países. Enquanto a crise económica na Grécia teve como resultado a redução da poluição do ar, a China testemunhou uma dramática explosão da qualidade do ar na última década. A análise dos dados da rede de monitorização criada pela OMS e pelo PNUMA, em cinquenta cidades, e trinta e tinta e cinco países desenvolvidos e em desenvolvimento, mostra que nos últimos quinze a vinte anos, as lições de experiências anteriores nos países agora desenvolvidos, ainda ne-


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OPINIÃO perspectivas

JORGE RODRIGUES SIMÃO

como agente mortal

cessitam de ser assimiladas. A poluição do ar em vinte das vinte e quatro megacidades, apresenta níveis que têm graves efeitos sobre a saúde. O aumento da população nos países em desenvolvimento no futuro, com a falta de controlo da poluição do ar, irá piorar em muitas outras cidades. No início da década de 1970, quando o rápido crescimento na Europa, levou a poluição ambiental a níveis inusitados, apesar de em 1952 a poluição de Londres, ter sido a causa de cerca de quatro mil pessoas, estava fresco na memória a “Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente Humano” realizada em Estocolmo, em 1972, que tinha por objecto a fundação da cooperação internacional neste domínio, seguida de um conjunto de medidas que visavam reduzir a poluição do ar. A “Convenção sobre a Poluição Atmosférica Transfronteiriça a Longa Distância”, foi assinada pelos países da “Comissão Económica das Nações Unidas para a Europa (CEE-ONU, ou UNECE, na sigla inglesa) ”, a 13 de Novembro de 1979. A UNECE é uma das cinco comissões regionais da ONU, dependentes do “Conselho Económico e Social (ECOSOC) ”. A UNECE é um fórum, em que os cinquenta e seis países da Europa, Ásia central e a América do Norte se reúnem, para elaborar as ferramentas da sua cooperação económica. O “Protocolo de

Helsínquia” de 5 de Julho 1985, tinha por objectivo reduzir as emissões de enxofre ou dos seus fluxos transfronteiriços, em pelo menos 30 por cento nos países da UNECE. Todas as decisões de negócios afectam o ar e a atmosfera. Tal como a água que é purificada, embalada e o preço fixado, o ar puro igualmente, será fixado um preço. Há bares de oxigénio, desde 1990, abertos em muitas partes do mundo para fornecer oxigénio aos clientes. No entanto, apesar da necessidade urgente de políticas e legislação rigorosas sobre a poluição do ar em várias partes do mundo, o controlo da poluição do ar ainda não é uma prioridade política, em comparação com os negócios e a economia em muitas partes do mundo, e como resultado, a poluição é

A poluição do ar, devido à complexidade do problema, não foi completamente compreendida por muitos países em desenvolvimento e não é uma prioridade

continuada de uma forma ou outra, e muitas das formas nem sequer são monitorizadas e controladas. Ao longo dos anos, apenas alguns poluentes atmosféricos convencionais tais como o SO2, NO2, partículas, O3 etc., são monitorizados pelos investigadores e pelas autoridades de controlo da poluição. Os poluentes, como os “Poluentes Orgânicos Persistentes (POPs)” foram negligenciados no passado, mas recentemente são monitorizados continuamente, devido aos seus graves efeitos sobre a saúde. Os poluentes orgânicos, bem como os poluentes inorgânicos do ar causam doenças mortais, e a sua monitorização é muito importante para os seres humanos e meio ambiente. Enquanto muitos países em desenvolvimento levaram a questão a sério, outros só quiseram satisfazer a comunidade internacional. Ainda que as legislações ambientais tenham entrado em vigor em todo o mundo, a capacidade das instituições competentes para a sua monitorização foi limitada, principalmente devido à insuficiência de conhecimentos e capacidade de pesquisa e de aplicação da lei. Muitas instituições tinham muito poucos recursos humanos e orçamentos limitados para monitorizar. A ausência de especialização, levavam a uma monitorização inadequada, selecção imprópria do local e metodologia de amostragem, bem como efectuavam uma análise pobre. Muitas instituições continuam a deparar-se com recursos humanos insuficientes e sem preparação técnica, sendo a média de um a dez técnicos e cientistas para um milhão de habitantes. O que torna a poluição atmosférica mais difícil em comparação com outras formas de poluição é a sua complexidade, pois ao contrário da água que pode ser contida num recipiente para um estudo fácil, é difícil simular a configuração atmosférica num laboratório. Além disso, a aerodinâmica na superfície da terra não pode ser facilmente explicada pela matemática, como ocorre na natureza. Uma variedade de factores como a radiação, atrito, fluxo padrão, reacção química, influência por configuração biológica, alterações climáticas, mudança de estilo de vida, novas invenções, modificações sociais, direito da terra, atitude do povo, fisiologia das pessoas, transformações económicas da região em conjunto, são responsáveis pelo cenário em um determinado momento e por uma determinada razão. A poluição do ar, devido à complexidade do problema, não foi completamente compreendida por muitos países em desenvolvimento e não é uma prioridade. As questões como a má governação, baixa capacidade de pesquisa, analfabetismo, corrupção, conflitos nacionais/internacionais e a instabilidade política, têm muitas vezes causado a fraca atenção à poluição do ar, apesar de sete milhões de pessoas morrerem anualmente, segundo a OMS, devido à poluição do ar em todo o mundo. Apesar da magnitude do problema, a perda de vidas e riqueza devido à poluição do ar é invisível para muitos go-

vernos. O analfabetismo entre os cidadãos, também é motivo para não se queixarem da poluição. O uso de recursos humanos para outras funções como eleição/recenseamento/desporto, também é uma das muitas razões para a má implementação da legislação ambiental. Muitas instituições de aplicação da legislação ambiental em grande número de países, estão mais preocupadas com as despesas em termos financeiros, ao invés do controlo de poluição, como seja a apropriação indevida de recursos financeiros que pode levar o funcionário responsável a ser punido com uma pena de prisão. Por outro lado, a poluição não contabilizada não é de modo algum tão grave, como a apropriação financeira indevida. As leis ambientais também podem ser usadas de forma abusiva para arrecadar fundos ou causar prejuízos aos adversários das pessoas no poder. As questões, causas, factores de influência e impactos da poluição do ar podem ser atribuídos a muitos agentes que não são quantificáveis.Acorrupção entre os governantes, baixa ética entre as indústrias, falta de disponibilidade de tecnologia, incapacidade de adoptar novas tecnologias e a baixa capacidade de pesquisa afligem muitos países. Apesar do entusiasmo demonstrado por muitas organizações internacionais para apoiar a causa, muitas vezes é negado ou mal adoptado pelos países beneficiários. As principais fontes de poluição são o processo de combustão, indústria, transportes, eliminação de resíduos, uso de agro químicos e a respiração de organismos vivos, e nenhuma dessas fontes pode ser evitada, uma vez que se destinam à sobrevivência dos seres humanos. Para além destas fontes, outras como o incêndio acidental, tempestades de vento, desastres naturais, educação/pesquisa, decomposição de matéria morta, guerras, explosões, utilização de explosivos, eventos desportivos, testar/praticar o uso de armas de guerra, lançamento de satélites, erupções vulcânicas, construção, produção de metano em campos de arroz devido à biodegradação, demolição de edifícios, metano gerado por animais ruminantes durante a digestão dos alimentos, pintura, processamento de grãos, erosão do solo e desintegração de rochas/ minerais, aumentam a poluição. Os sectores de serviços como saúde, informática e subcontratação de processos de negócios, também contribuem com poluentes atmosféricos ao usar equipamentos, ar condicionado e transportes. A libertação de agentes patogénicos dos estabelecimentos de cuidados de saúde, criação de animais, abate e pesquisa pode ser muito mais prejudicial, em comparação com os poluentes convencionais. Ao contrário da guerra e do crime, a poluição do ar geralmente ocorre de forma lenta, levando anos até que o impacto real seja visível, como os desastres de Chernobil e Bhopal, que foram amortecidos pela memória de pessoas devido a outras questões quentes de maior interesse individual.


18 OPINIÃO

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macau visto de hong kong

Obsessão pelo telemóvel IVAN REITMAN, NO STRINGS ATTACHED

E OUTRAS FALTAS DE RESPEITO

N

O dia 30 de Março o website “Ming Pao” anunciou que Alvin Cheng Kam-mum tinha sido preso por desacatos em tribunal. Recebeu uma pena de três meses. Alvin é vice-presidente de um dos partidos políticos de Hong Kong, o Civic Passion. Inicialmente Alvin tinha comparecido em tribunal por não ter respeitado uma Ordem de Injunção emitida em 2014, que proibia a ocupação ilegal de Mongkok. Mesmo depois da proibição, Alvin permaneceu em Mongkok a liderar os manifestantes. Alvin foi representado por Gerord McCoy, dirigente da Ordem dos Advogados. Durante o julgamento, o juiz Andrew Chan interrompeu subitamente McCoy e dirigiu-se a Alvin nos seguintes termos, “Não se importa de parar de jogar no telemóvel enquanto está no tribunal? O tribunal tem autoridade para lhe apreender o telemóvel. Acha que tem liberdade para entrar e sair quando lhe apetece? Como é que eu posso acreditar na sinceridade do seu arrependimento pelas infracções que cometeu?” O juiz acabou por condenarAlvin a três meses de prisão após ter proferido estas palavras. Este caso é insignificante, mas tem grandes implicações. Hoje em dia os telemóveis tornaram-se parte da vida de todos nós, sobretudo dos mais novos. Todos os jovens, tenham a idade que tiverem, jogam nos telemóveis. É absolutamente invulgar ver um jovem sem telemóvel. Os telemóveis foram concebidos para comunicarmos, mas actualmente as suas funções

excedem largamente a simples comunicação. Podemos ver vídeos, jogar jogos electrónicos e até trabalhar através do telemóvel. Mas se virmos bem, quantos jovens usarão estas plataformas para estudar ou trabalhar?

O telemóvel deixou de ser uma ferramenta de comunicação e passou a ser uma plataforma de jogos. Torna os jovens mais auto-centrados e aprisionados no seu próprio mundo. Se isto continuar, não vão aprender a relacionar-se com as outras pessoas Há duas semanas tiveram lugar em Macau os Exames de Admissão Conjunta. Foi um dos maiores acontecimentos no campo da educação, porque foi a primeira vez que se realizaram em simultâneo nesta cidade exames para admissão em quatro universidades, com o programa do ensino secundário muito mais unificado. É previsível que num futuro próximo o exame de admissão dê acesso a mais universidades e que o programa do ensino secundário conheça mais etapas de unificação. Esta unificação irá combater os programas individuais de cada escola, uma situação que deve ser evitada. Analisemos agora os comportamentos dos estudantes submetidos a este exame. Não vamos falar de resultados, mas sim de atitudes e expectativas. Estariam entusiasmados? Aparentemente, não. É fácil de verificar que os telemóveis foram um problema. A maior parte dos alunos não desligou o telemóvel depois de entrar na sala de exame. Sempre que o telefone

tocava atendiam. Também se podia ver alguns a jogarem nestes aparelhos. Parte dos alunos falava com amigos através do Wechat ou de outras aplicações. No entanto, tinham à sua frente a folha de exame. Não pareciam dar-se conta de que os examinadores podiam desconfiar que estavam a falar sobre as perguntas do exame. Esta situação pode conduzir a uma desclassificação e ao impedimento de entrar numa sala de exames. Mas mesmo assim os jovens insistem nestes comportamentos. Será que não se apercebem que estão a desrespeitar a instituição escolar? Alguns estudantes mascavam pastilha elástica durante o exame e recusavam-se a deitá-la fora. Outros iam à casa de banho logo a seguir a terem entrado na sala de exame. Aparentemente não faziam ideia que, devido ao secretismo do exame, é proibido ir à casa de banho depois da entrada na sala. Este género de comportamentos parece indiciar que a nova geração não sabe respeitar o próximo. O relacionamento normal com os outros é um problema sério para estes jovens. O telemóvel deixou de ser uma ferramenta de comunicação e passou a ser uma plataforma de jogos. Torna os jovens mais auto-centrados e aprisionados no seu próprio mundo. Se isto continuar, não vão aprender a relacionar-se com as outras pessoas. Mas a questão do telemóvel também passa pelo local de trabalho. Alguns empregadores reportaram alguns casos curiosos que passo a descrever: Temos o caso de uma pessoa que se ia candidatar a um emprego. No entanto, antes da entrevista, pediu que lhe enviassem fotos do escritório para ver se as condições lhe agradavam. Se fosse o caso, ia à entrevista, se não fosse não ia. Vejamos ainda a história do empregado que se despediu através duma mensagem para o telemóvel do patrão. Ou seja, não se deu ao trabalho de ir ao escritório cumprir as formalidades necessárias ao despedimento, nem passar trabalho aos colegas. Em vez disso pediu ao patrão que lhe enviasse os documentos de rescisão. Outro exemplo: o patrão pede ao empregado para resolver um problema informático. O empregado responde que o assunto se resolve descarregando umas aplicações no telemóvel. Mas não pensa que alguns dos seus colegas podem não estar familiarizados com o uso do telemóvel nestas situações. Esta forma de resolver o problema só iria beneficiar alguns, não resolvia o problema de todos. Face a estas situações, é fácil compreender porque é que o juiz condenou Alvin a três meses de prisão. Se não ensinarmos os jovens a usar os telemóveis de forma adequada, os problemas vão continuar a acontecer. Professor Associado do IPM Consultor Jurídico da Associação para a Promoção do Jazz em Macau Jazz legalpublicationsreaders@yahoo.com.hk http://blog.xuite.net/legalpublications/hkblog

DAVID CHAN


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sexanálise

O sexo dos insectos

JOHN LASSETER, ANDREW STANTON, A BUG’S LIFE

TÂNIA DOS SANTOS

O

sexo dos insectos ensina-nos que não podemos confundir o que é normal do que é natural. Se o natural é o biológico e lógico do mundo animal, parece que os insectos estão a desafiar alguns conceitos de género, e a praticar tipos de sexo muito particulares. Parece que o normal para as criaturas de seis pernas não é o que uma mente pouco reflexiva pudesse assumir – porque está presa em conceitos de ‘naturalidade’ ocas. Há alguma facilidade por parte dos biólogos em estudar estas criaturas (são baratas, de fácil acesso) e de tomar algumas conclusões relativamente ao funcionamento humano. Aliás, para os mais aficionados na matéria, estas criaturas apresentam aquilo que seriam comportamentos de amor, zanga ou reconciliação, com um cérebro minúsculo e com a ausência de hormonas como as nossas - alguma coisa faz com que estas miniaturas consigam funcionar de uma forma tão organizada. Mas como os insectos são feios e como temos muito medo deles, temos alguma dificuldade em antropomorfizarmo-los e aprender o que quer que seja com eles. A proposta de Marlene Zuk no seu livro Sex on Six Legs: Lessons on Life, Love, and Language from the Insect World é de que temos que parar de recusar o que são propostas de normalidade dos insectos, e quiçá aprender alguma coisa com eles. As moscas, as abelhas, os louva-deus, os gafanhotos, as joaninhas ou os escaravelhos têm estilos de vida diferentes do que a nossa visão antropocêntrica poderá esperar - ao ponto de confundir muitos pensado-

res (e isto aconteceu durante a antiguidade clássica) com a ambiguidade dos papéis de género que os insectos apresentavam. Todos já sabem que uma colmeia é uma monarquia matriarcal, com uma chefe de estado feminina. O que o senso comum e as visões populares preconizam é que as abelhas trabalhadoras são machos – quem faz o trabalho, e desenvolve a vida da colmeia – quando na verdade são fêmeas. A autora do livro, bióloga, tem a sensibilidade de uma cientista social ao pensar porque raio é que a assumpção primária é de que as abelhas trabalhadoras são machos? E ninguém se informa, ou corrige, que as abelhas são na verdade, fêmeas (e responsáveis pela criação de um terço da nossa comida)? Também é o caso das formigas onde os soldados são as fêmeas, para grande surpresa do mundo em geral. Mundo geral esse que cresceu com filmes e series de animação onde as abelhas e formigas eram traduzidas a um mundo antropomórfico masculino (a excepção será talvez os que viveram a sua juventude nos anos 80 e que cresceram com a ideia d’A Abelha Maia). Claro que este tipo de confusão não é o fim do mundo, e provavelmente não passa de pura ignorância. Conseguimos, contudo, ter alguma noção

Os insectos-fêmea têm poderes extraordinários na forma como procriam. Imaginem: estas criaturinhas podem copular com múltiplos machos e escolher o esperma que desejam de facto fecundar – aliás, podem guardá-lo para depois

sobre o nosso desconhecimento dos nossos companheiros invertebrados e do nosso viés em assumir que certas ideias são masculinas, quando que não deveriam haver receios em vê-las como femininas. Os insectos-fêmea têm poderes extraordinários na forma como procriam. Imaginem: estas criaturinhas podem copular com múltiplos machos e escolher o esperma que desejam de facto fecundar – aliás, podem guardá-lo para depois. O esperma só é utilizado quando ela quiser pôr ovos, seja isso daqui a uma hora, semanas ou meses depois do contacto sexual. Os machos tiveram que desenvolver mecanismos evolutivos para se protegerem destas estratégias que dão poucas garantias que a sua carga genética seja passada a outras gerações. Por isso é que os insectos têm pénis com picos, ganchos, i.e., mais parecem um canivete suíço, para certificar que o seu esperma se torne no vencedor. Estas curiosidades e outros detalhes da vida sexual dos insectos podem ser pesquisadas e analisadas no livro que foi a minha inspiração da semana, e também por essa internet fora. Podem deixar-se levar pelo mundo verdadeiramente fascinante do que são formas naturais de envolvimento e desenvolvimento sexual, que compõem uma possibilidade infinita de formas sexuais alternativas. É óbvio que não me pus a escrever a pensar que os homens deveriam ter um pénis a assemelhar um instrumento de guerra, não acho que exista uma lição de facto para ser aprendida – nada do que os insectos fazem poderíamos repetir em casa! Mas, quer queriam quer não, toda a investigação à volta do sexo dos insectos ensinam-nos acerca dos seus mecanismos evolutivos, e das tão criativas formas de desenvolvimento – e de inclusão! Porque no mundo fantástico dos insectos temos colónias compostas por maiorias arrebatadoras femininas, observamos comportamento homossexual e temos exemplares hermofroditas. Tudo de forma normal e muito natural.

OPINIÃO


Trump deveria consultar os índios acerca dos sinais de fumo. Atlântido

Lendas do mar

D

LUGAR IDEAL

Os estaleiros, na pacata ilha de Coloane, figuram como “o sítio ideal para uma narrativa museológica, e “seria uma maneira interessante de atrair gente tanto da Ásia como da Europa”, sublinha, ao descrever um PUB

Arquitectos defendem museu para recuperar estaleiros de Lai Chi Vun

SOFIA MARGARIDA MOTA

OIS arquitectos defendem a construção de um museu marítimo nos antigos estaleiros de Lai Chi Vun, em Macau, em homenagem à tradição de construção naval do território. “Pegando na função original e para a qual foram criados – o fabrico de navios –, esta era uma oportunidade única de fazer um museu marítimo e mostrar o processo de construção ou as suas fases, tanto de barcos chineses como de portugueses”, considera Francisco Vizeu Pinheiro, para quem “Macau podia ter o melhor museu marítimo da Ásia – senão do mundo”. “Um museu desta categoria ia pôr Macau no mapa realmente a nível mundial”, mostrando, por exemplo, a história marítima chinesa e a portuguesa, sobretudo da época dos Descobrimentos, e o cruzamento, as trocas de tecnologia, de que foi exemplo a lorcha, um barco que combinava as duas técnicas náuticas, diz o arquitecto à Lusa.

• VIZEU PINHEIRO, ARQUITECTO “Macau podia ter o melhor museu marítimo da Ásia – senão do mundo.”

“museu dinâmico, com aspectos virtuais, elementos 3D” e até “um centro de investigação e de estudo de temas marítimos, também ligados à rota marítima da seda”. Carlos Marreiros corrobora, ao defender “um belo museu com construção autêntica da época”, que permita “saber da história que tem a ver com todo o sul da China

– e não apenas Macau –, moderno e abrangente”, e até a colocação de “uma ou outra embarcação de construção tradicional para se ver como é que era feita”. “A sociedade e especialistas foram claros a dizer que tem interesse histórico, porque é o que resta de uma indústria naval que teve os seus dias e pertence às memórias

colectivas de Macau”, sublinha o arquitecto e também membro do Conselho do Património. Marreiros considera que “politicamente as pessoas estão interessadas em preservar”, mas do “ponto de vista técnico é muito difícil, um desafio”. “Pela ligeireza e fragilidade da construção aquilo é quase um

terça-feira 11.4.2017

património intangível”, salienta Marreiros, recordando que, na década de 1980, ‘apanhou’ o arquitecto Siza Vieira a desenhar os estaleiros de Lai Chi Vun, como muitos outros. “É preciso haver uma ideia concreta para a zona”, isto porque “a preservação daquelas estruturas informais, de construção vernácula e ‘ad hoc’ é uma coisa e a envolvente é outra, pelo que é altura de se pensar de forma holística – mas já hoje – em como viabilizar o projecto” que mantenha “o ‘feeling’ do sítio”. “O conjunto patrimonial tem de ser protegido, a par da sua inserção paisagística e o elemento água, portanto, isto é uma coisa bastante grande (...) e custa muito dinheiro”, salienta o arquitecto, apontando que se o governo ‘chamar’ a iniciativa privada tem de se “arranjar uma forma de viabilizar o investimento”. Vizeu Pinheiro, que considera que existem “várias narrativas que se podiam sobrepor, valorizar mutuamente, e ajudar a proteger” os estaleiros e a vila de Coloane”, que “corre o risco de ver substituídos edifícios antigos por modernos”, o que “iria alterar completamente o ambiente”. Lusa


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