Hoje Macau 11 JUL 2016 #3610

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Director carlos morais josé

Mop$10

segunda-feira 11 de julho de 2016 • ANO Xv • Nº 3610

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sofia mota

hojemacau

CAminho das hortas

Campos de zinco As condições de vida não serão as melhores mas quem lá mora diz que ali é que se está bem

Agência Comercial Pico • 28721006

pub

grande plano

EPM

Obras ainda presas página 6

Costa nunes

David Chow

opinião

Um regresso Projectos Consultas ao jardim sensíveis de infância no Sado Diário de Pequim David Chan

página 7

Página 8

h

António graça de Abreu


2 grande plano

Caminho das Hortas Prédios vão nascer no local onde os moradores gostam

O Caminho das Hortas é o um dos poucos lugares que sobreviveu à urbanização da ilha da Taipa. Ali moram pessoas em barracas com parcas condições de higiene e habitação, mas nem isso faz com que desejem sair de um lugar que sentem como seu. Sabem que vão ser construídos dois prédios e que um dia terão de encontrar uma nova casa, mas é ali que encontram a felicidade

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entro dos painéis de zinco forrados a plástico e madeira habitam pessoas que desde sempre só conheceram aquele lugar e aquela casa. No Caminho das Hortas, logo à entrada da ilha da Taipa e no meio dos muros de betão, persiste uma quase aldeia que parou no tempo. As barracas continuam a existir, sem saneamento básico nem condições mínimas de habitação, mas nem por isso as pessoas querem sair daquele lugar pautado pela pobreza. Ainda assim, o tempo

marca a hora e também ali o betão vai passar a existir. Em dois terrenos vão nascer dois edifícios com 90 metros de altura. Os projectos são privados e estão neste momento a ser analisados pelo Conselho do Planeamento Urbanístico (CPU). Todos os dias Alessandra faz aquele caminho de terra batida. Tem a sorte de viver num apartamento localizado bem à entrada do Caminho das Hortas. O vai e vem para ir levar e buscar os filhos à escola faz com que o seu olhar se cruze com os dos moradores chineses.

“Gosto de viver aqui, é tranquilo, calmo, ninguém mexe com ninguém. Mesmo que eu não fale Chinês eles cumprimentam”, disse ao HM. Alessandra desconhece os planos que estão pensados para aquele local, mas não tem dúvidas: com certeza que um dia também aquele local vai ser destruído. “Aqui em Macau tudo se destrói para construir casinos, hotéis e prédios altos. Não queria que isto fosse destruído porque tem muita área verde, até para respirarmos um pouco, temos de manter este pulmão

Sofia Mota

Tempos de telhados de zinco

de Macau que é cada vez menor”, diz ao HM. Se por debaixo do zinco moram pessoas sem nada, que caminham quase por cima dos esgotos e que têm as cozinhas na rua, a verdade é que há famílias que moram em barracas com um pouco mais de condições e exibem o carro que possuem à porta. “O Governo poderia fazer algo por estas famílias, mas provavelmente vai fazer o que faz sempre, que é colocá-las nestes prédios de habitação pública e construir algo aqui”, aponta Alessandra.

O sítio que os viu nascer

Min sai da garagem da barraca que habita com a sua família e já sabe que um dia vai ter de sair dali, mas não vê como pode vencer o braço de ferro com os construtores. Nasceu ali e ali viveu toda a vida. “Os meus avós já aqui moravam”, relembra, e agora divide o lar com os pais e a irmã mais velha. Tem a vida folgada e afirma que se ali mora é por opção. “Não preciso de

viver aqui, mas prefiro este sítio”, confessa. É uma casa de família de quem não conhece outra. Tem um lugar de garagem e Min encara quase com indiferença a mudança nesta terra que está em constante mutação. “Gosto de viver aqui. Mas teremos que procurar outro lugar.” Não sabe ainda onde, nem quando, e aguarda o desenvolvimento do processo “com alguma preocupação”. Wu, outro residente que ali nasceu diz que “aqui vivem pessoas com poucas posses.” Enquanto fuma um cigarro à porta na entrada do bairro diz ao HM que considera ainda que, por parte do Governo, deve vir uma ajuda. “Não precisamos de ajuda monetária”, afirma, mas sim “de um lugar para viver e acho que o Governo deveria arranjar um apartamento para nós”. Não deixa de referir que considera que as casas normalmente arranjadas pelo Governo “são pequenas para as famílias que ali vivem, sendo que se juntam várias gerações”.


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de viver. Construções geram receios

“Estamos contra o plano da zona norte da Taipa porque pensamos que deveriam ser construídas mais zonas verdes”

Sofia Mota

“Aqui em Macau tudo se destrói para construir casinos, hotéis e prédios altos. Não queria que isto fosse destruído porque tem muita área verde”

Jason Chao, ANM

Alessandra moradora

Lang prefere fazer petiscos na sua cozinha ao ar livre

Sofia Mota

“Se for para uma dessas casas do Governo não tenho uma cozinha arejada e é tudo muito pequeno. Gosto assim como está” Lang moradora

“Ganhamos muito pouco e aqui também gastamos muito pouco” Hua moradora

Não obstante o tamanho, Wu refere a existência de uma cozinha nos apartamentos, “o que é bom”. Já para Lang, uma residente com cerca de 30 anos, é precisamente a cozinha que representa a mais valia daquela localização.Asua situa-se na rua, à entrada do quarto de dormir e único também. Lang nasceu e vive ali com o marido. Tem uma vida despreocupada e, apesar de saber do destino do lugar que a sua casa ocupa, não parece ter grandes preocupações. Na perspectiva de mudar para uma casa num prédio, engelha o nariz. “São casas muito pequenas”, afirma, “com muito pouco espaço”. Lang vive da confecção de petiscos e é a cozinha que mais a preocupa. Ali tem uma placa de fogão improvisada numa banca de madeira ao ar livre em frente ao quarto onde mora. “Cozinho aqui ao ar livre, o que é bom”, continua, justificando que gosta “de uma cozinha assim”, enquanto aponta com entusiasmo e orgulho para a panela ao lume e a panóplia de tachos e pratos que se

acumulam na pequena bancada que é também o seu ganha pão. “Se for para uma dessas casas do Governo não tenho uma cozinha arejada e é tudo muito pequeno. Gosto assim como está”, remata com um sorriso. Para Lang este lugar é um pouco melhor que “esses prédios altos” dos quais os moradores “não gostam”. O corredor comum continua beco dentro em direcção ao interior da cozinha-sala-despensa de Hua. A vizinha partilha da opinião daqueles que por sempre ali viveram. Nasceu ali, mas para ela uma das razões fundamentais para lá querer permanecer é mesmo o facto de não gastar dinheiro em rendas. “Ganhamos muito pouco e aqui também gastamos muito pouco”, afirma. “Pessoas com dinheiro vivem em sítios bons, nós não o temos e temos que viver aqui”, continua, com um sorriso de satisfação. “Eu gosto mesmo é de viver aqui.” Na perspectiva de ter efectivamente que mudar, Hua tenciona ir procurar uma casa “nova” sendo

que “gostaria que fosse semelhante àquela em que habita agora”. Ao mesmo tempo acha que o Governo “não os pode ajudar”. A preocupação não se sente no bairro. É antes substituída por um certo conformismo, mais ou menos triste, ditado pelo destino. Para nenhum dos moradores a falta de saneamento parece representar um problema maior, sendo que casas de banho são lugares por ali desconhecidos e, se calhar por isso, desnecessários. Para quem sempre assim viveu, a vida ensinou como rodear obstáculos e transformar alguns em vantagens.

Sem consulta

Os dois terrenos nos quais vão nascer os edifícios fazem parte do Plano de Ordenamento Urbanístico da Zona Norte da Taipa, o mesmo que já levou a Associação Novo Macau (ANM) a protestar e a pedir uma consulta pública sobre mesmo. Jason Chao, membro da direcção da ANM, mostra-se contra a construção

sem que tenha havido uma consulta prévia à população. “Não sei se os habitantes têm outros sítios para viver, mas devem ser realojados em habitações públicas”, disse ao HM. “Estamos contra o plano da zona norte da Taipa porque pensamos que deveriam ser construídas mais zonas verdes.” Rui Leão, arquitecto e membro do CPU, apenas referiu que “quando as pessoas ocuparam e construíram lá barracas tinham a obrigação cívica de ter consciência de que, mais cedo ou mais tarde, iriam ter de sair dos locais. Quando as pessoas constroem uma barraca têm de ter consciência de que estão a construir num terreno que, à partida, vai ter destino”. Ainda assim, no tempo da Administração portuguesa foi dado aos moradores do local uma espécie de licença para lá habitar. Para Francisco Vizeu Pinheiro, arquitecto, “as pessoas devem ser compensadas, tal como foi feito noutras zonas de barracas em Macau”.

Isto, apesar das habitações públicas “nem sempre darem às famílias a dignidade que estas merecem”. “Há que ver caso a caso, se há famílias com idosos e crianças. Macau está bem fornecida em termos económicos e não deve tratar estas famílias como refugiados económicos ou sociais, mas sim dar-lhes um tratamento digno.” O arquitecto lembrou a história do Caminho das Hortas, de um tempo em que o território tinha “muitas áreas com bairros de lata e pequenas povoações”. “A Taipa tinha as suas aldeias pequenas, havia muitas fábricas de panchões e zonas agrícolas que foram sendo invadidas por estaleiros de construção, uns legais e outros ilegais.Antes de ser concluída a ponte entre Macau e Taipa já havia zonas de aterros e essas zonas mais antigas ficaram abaixo do nível dos aterros, dos diques. Era interessante manter a memória dessa zona.” Para Vizeu Pinheiro, “o grande perigo é autorizar apenas a construção de grandes torres sem que se tenha um plano global da zona com uma boa proporção de zonas verdes, paisagismo e zonas de ventilação”, concluiu. Nos últimos anos, com o desenvolvimento de Macau e a chegada dos trabalhadores não residentes (TNR), o Caminho das Hortas começou a ser habitado por emigrantes que nada sabem da história daquele lugar. Junto a uma oficina moram Sandro Rana e Rojan Lam, vindos do Nepal. Falam com o HM enquanto fazem o almoço e lavam a roupa na máquina de lavar comum. As casas são pobres, mas aqui os dois homens conseguem pagar uma renda inferior àquelas que são cobradas nos grandes edifícios: cinco mil patacas. Sandro e Rojan vivem alheados do que se passa com as famílias chinesas e desconhecem os planos de construção que existem para aquele lugar. Também não se preocupam que a História do Caminho das Hortas seja destruída: afinal de contas, sempre é melhor casas novas para morar em vez de barracas de quinze metros quadrados sem casas de banho e onde o plástico serve as vezes de chão. Andreia Sofia Silva

andreia.silva@hojemacau.com.mo

Sofia Mota

info@hojemacau.com.mo


4 Política

hoje macau segunda-feira 11.7.2016

Terras Pró-democratas querem apoio para chumbar proposta de Tong

Próximos capítulos Apoio para que a proposta de “clarificação” da Lei de Terras não passe na AL é o que pedem os deputados Ng Kuok Cheong e Au Kam San, que falam mesmo em iniciativas para pressionar o Governo caso a proposta avance para plenário

Analistas falam em irresponsabilidade na aprovação da Lei de Terras

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g Kuok Cheong e Au Kam San querem unir esforços com outros deputados da Assembleia Legislativa (AL) para chumbar a proposta de clarificação da Lei de Terras apresentada por Gabriel Tong. Os dois deputados da ala pró-democrata, e fundadores da Iniciativa de Desenvolvimento Comunitário de Macau, vão ainda realizar uma conferência para discutir o diploma com o público no próximo domingo, ponderando mesmo “iniciativas sociais” caso a proposta vá avante. Depois de Ng Kuok Cheong ter dito que preferia o tribunal a resolver casos de conflitos de terrenos, o deputado e o seu colega de bancada, Au Kam San, dizem mesmo que vão “aliar-se com outros deputados para que a proposta de Tong seja negada”. Embora Au Kam San tenha referido que ainda não leu a proposta do deputado nomeado pelo Chefe Executivo, o desejo é ir contra ela. Gabriel Tong apresentou um pedido que diz não ser de alteração, mas de clarificação da lei e onde o Chefe do Executivo é quem tem o poder de decidir sobre a suspensão ou prorrogação do prazo de concessão do terreno, “sempre que haja motivo não imputável ao concessionário e que tal motivo seja, no entender do Chefe do Executivo, justificativo”. Esse acto deve ser feito com o “requerimento do concessionário”. Tong já afirmou ter do seu lado mais de dez deputados que concordam com a proposta, mas Au Kam San diz que, se encontrarem um mínimo de problema, “vão aliar-se com outros deputados para chumbar a proposta, bem como convocar iniciativas sociais para pressionar o Governo e a AL”.

Outras vozes

[Ng Kuok Cheong e Au Kam San] vão “aliar-se com outros deputados para que a proposta de Tong seja negada”

“Má reputação”

Além dos dois deputados, Ella Lei e Chan Meng Kam foram outros dos membros do hemiciclo que se mostraram contra a alteração do diploma aprovado em 2013. Questionado sobre se acha que consegue votos suficientes para chumbar a proposta de Tong,Au Kam San diz que não compete à AL “clarificar leis”, como Tong deseja, pelo que acredita na viabilidade dela não passar pelo hemiciclo. A associação dirigida por Ng Kuok Cheong e Au Kam San disse ainda que não concorda com um eventual passo atrás na decisão de retirar os terrenos nos Nam Van à sociedade com o mesmo nome – os lotes que têm dado mais polémica – e afirma que vai, por isso, fazer uma conferência pública no próximo domingo para explicar a Lei de Terras. Os deputados dizem que vão convidar todos os membros do hemiciclo eleitos directamente. Ng Kuok Cheong referiu que os construtores têm “um mau hábito”, que é o de não desenvolverem os terrenos no prazo devido, muito devido à falta de preocupação do Governo face ao problema, acusa. Tomás Chio (revisto por J.F.) info@hojemacau.com.mo

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gnes Lam diz ter havido falta de responsabilidade na aprovação da Lei de Terras em 2013, da parte dos deputados que agora criticam o diploma. A ex-candidata às eleições da Assembleia Legislativa e comentadora política, concorda que em caso de conflito sobre terras sejam os tribunais a entrar em cena. A ex-candidata fala de falta de rigor tanto na elaboração, como na aprovação do diploma. Algo que provocou, diz, “o dilema” que hoje se vive. Outros analistas, como Leung Kai Yin e Wong Tong, falam mesmo numa lei que está a deixar o sector jurídico e legislativo com “má reputação”. Em declaração ao Jornal de Cidadão, Agnes Lam, presidente da Energia Cívica, considera que, durante a revisão da lei, quando os construtores já tinham na mente que “os terrenos iriam ser retirados”, já se deveria ter considerado a questão da imputabilidade. Lam critica “os deputados e o Governo” que, “durante a elaboração e aprovação da lei foram irresponsáveis”.

Questão jurídica

A quem pertence a razão nos casos em que alegadamente o fim de concessão sem aproveitamento não deve ser ao concessionário é algo que deve ser tratado pelo tribunal, diz. Se houve

muitos concessionários a queixarem-se diz, este é de facto um problema político, onde os direitos de ambas as partes não foram equilibrados. Sobre a proposta de Gabriel Tong, que quer apresentar uma clarificação à lei, Agnes Lam diz discordar, porque não é o Chefe do Executivo que deve ter este poder, mas sim os tribunais, “para que não haja mais acusações no futuro”. Os analistas políticos Leung Kai Yin e Wong Tong consideram que o assunto está a afectar a imagem do sector legislativo e jurídico de Macau. Wong Tong diz que os deputados estão a agir como alguém que “hoje quer derrubar o que fez ontem” e diz que Gabriel Tong não deveria ter interferido com a proposta que fez à AL. Angela Ka (revisto por J.F.) info@hojemacau.com.mo

Chefe do Executivo na AL dia 27

O Chefe do Executivo, Chui Sai On, vai deslocar-se no próximo dia 27 à Assembleia Legislativa para uma sessão de perguntas e respostas com os deputados sobre as Linhas de Acção Governativa (LAG) e assuntos sociais. O plenário tem a duração de três horas, segundo o portal da Assembleia Legislativa. O líder do Executivo da RAEM está presente, regra geral, três ocasiões por ano no hemiciclo. Desloca-se à Assembleia Legislativa para apresentar as LAG para o ano seguinte e para responder aos deputados sobre as políticas anunciadas na véspera, tradicionalmente em Novembro. Regressa depois na primavera (Março/Abril) e uma terceira vez antes de os deputados irem de férias (Julho/Agosto).


5 DSF com novo armazém na Ilha Verde

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Direcção dos Serviços de Finanças terá um novo armazém para a venda de bens em hasta pública na Ilha Verde. O anúncio de abertura de concurso público para a obra foi publicado na semana passada em Boletim Oficial, com a DSF a dar mais detalhes num comunicado. “Face às necessidades de trabalho da DSF, a Direcção dos Serviços de Solos, Obras Públicas e Transportes (DSSOPT) irá construir um armazém na Ilha Verde. Foi necessário encontrar outro terreno para construir o armazém visto que o armazém da DSF situado junto da Avenida do Dr. Rodrigo Rodrigues e da Estrada do Reservatório teve de ser demolido para que se construísse aí um posto de transformação destinado ao uso do Centro Hospitalar Conde de S. Januário”, explica o organismo em comunicado. Assim, o novo armazém fica entre a Estrada Marginal da Ilha Verde e a Rua das Camélias, sendo que terá cerca de 180 metros quadrados. Prevê-se que a obra do edifício de um piso tenha início em finais deste ano e que o prazo de execução seja de 180 dias úteis. “O armazém destina-se a depositar os materiais do Governo a serem vendidos em hasta pública e o seu conceito é simples e pragmático: a estrutura principal é em aço, com ventilação e iluminação natural”, explica da DSF. A entrega de propostas termina a 28 de Julho. J.F.

Kaifong apela a revisão do Parque Central da Taipa

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União Geral das Associações dos Moradores de Macau (Kaifong) alertou para a existência de lacunas no design do Parque Central de Taipa e apela ao Governo para uma revisão nas questões relativas a reparações e equipamentos. Depois da notícia de que duas estudantes foram observadas enquanto tomavam banho no balneário da piscina do Parque Central da Taipa, Lam Ka Chun, vice-director da Divisão para os Assuntos Sociais para a Taipa dos Kaifong, alerta, no Jornal Ou Mun, para a existência de lacunas no design deste espaço, sendo que considera que as indicações de género não são de fácil identificação. Por outro lado, o espaço apenas dispõe de um guarda, o que é para o director insuficiente. Lam Ka Chun sugere ainda a instalação de portas nos balneários de modo a garantir a privacidade dos utilizadores. O caso do homem que espiava as estudantes veio atrair a atenção do público para os equipamentos do parque. Um dos elevadores sofre de um problema de infiltração que, mesmo já tendo sido alvo de reparação, continua a manifestar-se aquando de chuvas. Lam Ka Chun sublinhou ainda que há muitos recantos escondidos dentro do parque dando como exemplo as escadas do estacionamento que podem ser abrigo a toxicodependentes e representar uma ameaça à segurança pública. O Parque Central de Taipa começou a funcionar há três anos e já conta com inúmeras queixas. T.C. (revisto por S.M.)

Política

Tiago Alcântara

hoje macau segunda-feira 11.7.2016

Função Pública Governo “sem condições” para oferecer residências

Forças sem casa A política de atribuição de moradias a funcionários públicos está fraca e as autoridades da Segurança não vão poder ter acesso a casas em breve, diz a tutela de Wong Sio Chak

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Governo não tem condições para abrir mais residências para funcionários públicos. É o que admite o Gabinete do Secretário para a Segurança, numa resposta a uma interpelação de Zheng Anting. O deputado queria saber quando é que as forças policiais vão poder ter mais casas, algo pedido já por outros deputados, como Leong Veng Chai. A curto-prazo, reforça a tutela de Wong Sio Chak, não vai ser possível, porque as residências para os membros das Forças de Segurança estão envolvidas no mesmo planeamento que a habitação pública.

A única garantia para já é que os departamentos do Executivo estão atentos às necessidades. “O Governo já realizou um concurso público para que os funcionários públicos se possam candidatar a 110 fracções, em Março último. Este concurso contou com a [ajuda] da tutela da Secretaria para a Segurança e a Direcção dos Serviços da Finanças (DSF) vai publicar a lista de seleccionados em 2017”, explica Sam Chong Lin, Chefe substituto do Gabinete do Secretário Wong Sio Chak.

Com limites

Sam Chong Lin acrescentou que o número de residências

para a Função Pública é limitado e prevê que a DSF não vá receber mais residências em breve, algo que leva a que, consequentemente, também não haja mais concursos para os funcionários públicos. Zheng Anting interpelou o Governo sobre a possibilidade de remodelar as instalações governamentais actualmente vazias para estas servirem de residências policiais e tinha ainda perguntado ao Governo qual é o ponto de situação da construção de habitações para os membros das Forças de Segurança. Tomás Chio (revisto por J.F.) info@hojemacau.com.mo

ATFPM propõe seminário sobre eleições livres de corrupção

A

Associação dos Trabalhadores da Função Pública (ATFPM) sugeriu ao Governo a organização de um seminário sobre eleições livres de corrupção. Apesar das eleições para a Assembleia Legislativa serem apenas em 2017, a ATFPM assegurou a Ip Song Sang que pediu ao Executivo que começasse

agora com as campanhas de promoção. “Rita Santos adiantou que desejaria que as eleições para a Assembleia Legislativa do próximo ano sejam mais competitivas e livre de fraudes eleitorais e os cidadãos possam votar em consciência, elegendo os seus deputados. A ATFPM já apresentou um proposta ao

Governo para iniciar ainda este ano a promoção e combate de corrupção das eleições para a Assembleia Legislativa, esperando que a campanha eleitoral seja incorrupta e justa”, pode ler-se num comunicado da Associação. A ATFPM visitou o Ministério Público, numa perspectiva de troca de opiniões,

e foi nesse encontro com Ip Son Sang que José Pereira Coutinho, presidente da Associação, e Rita Santos, presidente da Assembleia Geral, viram o Procurador da RAEM aceitar ainda um convite para a realização de um seminário “para permitir aos cidadãos conhecer os procedimentos e os trabalhos de rotina” do MP.


6 sociedade

hoje macau segunda-feira 11.7.2016

Prisão Obras continuam sem data nem orçamento

Parado no tempo

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Tiago Alcaântara

Continua sem se saber quando estarão concluídas as obras do Estabelecimento Prisional de Macau, enquanto a lotação está quase esgotada. Também dos custos nada de sabe

ão há previsão de custos, nem calendário para a última fase da obra da nova prisão. A Direcção dos Serviços Correccionais está em fase de conclusão da planta relativa à terceira fase de construção e espera que o concurso para realização da mesma seja realizado ainda este ano. Em declarações no Jornal do Cidadão, Lei Kam Cheong, director dos Serviços Correccionais, afirma o desejo de que o organismo “possa concluir a planta da terceira fase da construção para nova prisão este ano”, sendo que não há ainda valores para custos. A ausência de números é devida à sua dependência do mercado, dos recursos humanos e da média de salários, afirma.

Árduas previsões

A construção da nova prisão envolve quatro fases, tendo sido prevista a sua conclusão em 2014 num total de trabalhos de 535 dias

Cartório em suspenso

Santa Casa procura novos arrendatários mas ainda não terminou contrato

A

ntónio José de Freitas, provedor da Santa Casa da Misericórdia, assegurou estar já à procura de novos arrendatários para o espaço do Cartório, apesar de “ainda não ter recebido” o aviso oficial do Governo a informar sobre a saída da instituição do rés-do-chão da Santa Casa. António José de Freitas já tinha referido que propôs ao Governo uma redução do actual valor da renda de 1,2 milhão de

patacas para 800 mil patacas mensais, mas ainda não recebeu resposta, nem aviso da não renovação do contrato de arrendamento para o Cartório, que o Governo pretende transferir para a zona norte da cidade. O provedor diz que já está em curso um processo de negociação com as empresas interessadas em arrendar o lugar, mas assegura que ainda nada está decidido sobre o futuro já que “para que a transferência do arrendamento

seja feita não se pode negociar com os novos arrendatários antes do contrato terminar”. António José de Freitas confirma que há bancos interessados em ficar com o espaço e admite que, como a renda da zona do Leal Senado é a mais cara da zona central, se não fossem as grandes companhias seria “impossível” arcar com a despesa da renda. António José de Freitas também falou da declaração de Alexis Tam, Secretário para

Questionado acerca do calendário para a última fase da obra, Lei Kam Cheong considera este de difícil previsão. Ao mesmo tempo, garante a fiscalização para uma “boa construção”, priorizando a qualidade, sendo que os solos, o tempo e os materiais são a principal razão das demoras. A construção da nova prisão envolve quatro fases, tendo sido prevista a sua conclusão em 2014 num total de trabalhos de 535 dias. A obra teve início em 2011 e a primeira fase ficou concluída apenas este ano e contou com um custo de 150 milhões patacas. A segunda fase começou em Março com previsões de custos de mil milhões de patacas e uma duração de 900 dias. No passado mês de Maio, o sub-empreiteiro da primeira fase acusou o Governo de falta de pagamento referindo que o design da obra sofreu múltiplas alterações durante a construção. O director mencionou também a lotação quase esgotada do estabelecimento prisional de Coloane sendo que tem cerca de 1300 reclusos e uma lotação para 1500. Tomás Chio (revisto por S.M.) info@hojemacau.com.mo

os Assuntos Sociais e Cultura, sobre o fato da Santa Casa de Misericórdia não ser “apropriada” para actividades comerciais e considera que isso depende da interpretação de cada um. Apesar da Santa Casa ser uma organização sem fins lucrativos, também gasta dinheiro, diz o provedor, que garante que, no futuro, quando o espaço for arrendado a outros, só se farão decorações e renovações do interior, não afectando a parede exterior. Tudo vai ser em conformidade com a Lei do Património Cultural, garantiu ainda. Angela Ka (revisto por J.F.) info@hojemacau.com.mo

Macau só não reserva vacinas contra meningite meningocócica

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acau não reserva vacinas contra a meningite meningocócica, porque estas não estão contempladas no Programa de Vacinação da RAEM. De resto, garantem os Serviços de Saúde (SS), todas as vacinas necessárias para 13 doenças mais comuns estão totalmente disponíveis. O anúncio chega mais uma vez depois de ter havido boatos de que não haveria vacinas suficientes para os residentes de Macau, algo que aconteceu em Guangdong ainda que num período temporário. Os SS garantem que as vacinas adquiridas por si são destinadas, de forma gratuita, aos cidadãos de Macau e não são fornecidas a não residentes, com a excepção “de uma pequena minoria de crianças não residentes mas com fixação de residência” no território. Os visitantes de Macau só podem aceder por conta própria à administração de vacinas em casos urgentes, como por exemplo para prevenir o tétano. “Os Serviços de Saúde frisam que em Macau existem vacinas em número suficiente. Os cidadãos não têm razões de preocupação”, assegura o organismo. O Programa de Vacinação da RAEM abrange vacinas que previnem 13 doenças, como as contra tuberculose, hepatite B, tosse convulsa, tétano, difteria, pliomielite, sarampo, rubéola, parotídite, pneumococo, haemophilus influenzae (que provoca meningite nas crianças), varicela e cancro do colo do útero. A única vacina não contemplada, admitem os SS, é a contra a meningite meningocócica. “Os SS apenas disponibilizam uma pequena quantidade de vacinas [destas] destinadas ao uso no decurso de eventuais surtos e aos residentes que permanecem a longo prazo ou frequentam escolas em regiões epidémicas. Mas as vacinas são efectuadas por sua conta”, explica o organismo. J.F.

Pin-To Música vai fechar no fim do mês

A Pin-To Música, que se situa no Leal Senado, vai fechar portas 21 de Julho. Segundo uma declaração sobre o encerramento da conhecida loja de música e literatura na sua página do Facebook, a Pin-To Música fecha porque o seu contrato de arrendamento não foi renovado. A loja abriu três anos depois da Pin-To Livro, em 2006. A loja está agora com saldos e actividades especiais.


7 hoje macau segunda-feira 11.7.2016

Costa Nunes Lola Couto do Rosário na direcção do jardim-de-infância

Miguel de Senna Fernandes decidiu ir buscar um nome com ligações ao jardim-de-infância Dom José da Costa Nunes. Lola Couto do Rosário terá sido afastada em 2001 do cargo de directora por suspeitas de desvio de dinheiro, mas o presidente da APIM afasta esses boatos e relembra o currículo da educadora. “Isso não pesa minimamente na nossa decisão”, diz

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omina três línguas e é um rosto conhecido do jardim-de-infância Dom José da Costa Nunes. Lola Couto do Rosário é o nome escolhido pela direcção da Associação Promotora da Instrução dos Macaenses (APIM) para dirigir a instituição de ensino infantil, com um contrato renovável por um ano. É este o nome que vai substituir Vera Gonçalves, que assumia as funções de directora desde 2009. Lola Couto do Rosário esteve no Costa Nunes entre 1998 e 2001, de onde saiu sob suspeitas de desvio de fundos, segundo fonte ligada à escola. Foi a APIM e o seu presidente na altura, José Manuel Rodrigues, que a afastaram do

Sociedade

Regresso a casa

“Claro que também equacionámos todo o percurso da Lola. Se existirem rumores sobre a idoneidade [dela] isso não pesa minimamente na nossa decisão, uma vez que a nova directora vai trabalhar num ambiente completamente diferente, com toda a direcção da APIM por cima”

pessoa que preenche os requisitos. Havia outros nomes também, mas decidimos por este. A pessoa que reuniu maior consenso foi a Lola”, frisou Miguel de Senna Fernandes. O HM tentou falar com algumas educadoras que trabalharam de perto com Lola Couto do Rosário, mas nenhuma delas quis prestar declarações sobre esta nomeação. A nova directora do Costa Nunes está neste momento em Portugal onde continua ligada ao ensino infantil, no jardim-de-infância de Ferreiras, tendo coordenado o jardim-de-infância de Olhos de Água, no Algarve e acumulado funções como coordenadora do Departamento de Educação Pré-escolar. Esteve, nos anos 90, seis anos como directora do jardim-de-infância luso-chinês Veng Tim, tendo começado a carreira no Colégio Dom Bosco em 1982. Andreia Sofia Silva

andreia.silva@hojemacau.com.mo

Miguel de Senna Fernandes presidente da APIM

cargo, ainda que não tenha sido provado nada. O HM sabe que a nomeação de Miguel de Senna Fernandes deixou muitas pessoas dentro e fora da instituição surpreendidas, sendo que algum do pessoal docente diz só ter sabido da nomeação através das notícias.

Perfil certo

Confrontado com aquilo que considera “boatos”, Miguel de Senna Fernandes, presidente da APIM, afasta essa possibilidade. “Vamos supor a hipótese disso se confirmar. Não é isso que está aqui em causa.

A Lola deixou o Costa Nunes em 2001, passaram-se alguns anos, e mesmo que se confirmem esses boatos, achamos que o perfil dela serve este propósito. Claro que também equacionámos todo o percurso da Lola. Se existirem rumores sobre a idoneidade [dela] isso não pesa minimamente na nossa decisão, uma vez que a nova directora vai trabalhar num ambiente completamente diferente, com toda a direcção da APIM por cima. Só terá o nosso apoio. Isso pesaria apenas se tivéssemos dúvidas sobre a capacidade de gestão

de recursos, então claro que nunca iríamos escolher este nome”, disse Senna Fernandes. O presidente da APIM garantiu que será aberto “um novo capítulo” na vida do jardim-de-infância, até porque domina três línguas, algo que era tido como necessário devido à diversidade de alunos da instituição. “Julgamos que a nova directora, com a supervisão da direcção, fará o seu trabalho como deve ser, dadas as suas capacidades. É uma pessoa com larga experiência de direcção e que domina várias línguas. Não há uma razão pessoal mas é uma

Correios Aplicação chega ao IOS

Após ter lançado uma aplicação para os telefones móveis de sistema Android em Outubro passado, a Direcção dos Correios de Macau lançou no final da semana passada a versão para aparelhos que utilizam o sistema IOS. O descarregamento da aplicação é gratuito e esta tem por objectivo facilitar a consulta de informações relativas aos serviços prestados pela instituição. A “Macao Post APP”, assim se chama, está já disponível na sua “APP Store”.

Docentes preparados para reforma curricular

ETAR do Parque Transfronteiriço pode custar até 123 milhões

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o ano lectivo de 2015/2016 (até 1 de Junho) a Direcção dos Serviços de Educação e Juventude (DSEJ) realizou cerca de 370 acções de formação para o pessoal docente, num total de cerca de 3900 horas e com mais de 16.100 vagas. O objectivo? Preparar os professores para a reforma curricular e melhorar as suas aptidões ao nível do ensino e da gestão escolar, como diz um comunicado do organismo. Mais de 600 professores participaram em programas de preparação para directores de escolas e quadros médios e

superiores de gestão escolar. Além disso, devido à implementação das novas competências académicas básicas dos vários níveis de ensino, realizaram-se ainda cursos sobre desenvolvimento de currículos no ensino infantil, mas também, no âmbito do ensino primário, cursos de língua chinesa, portuguesa, inglesa, Educação Física e Saúde, Música, Artes Visuais e Tecnologias de Informação. As mesmas áreas, à excepção do Português e das Tecnologias de Informação, foram também objecto de estudo para o ensino secundário geral e complementar.

Waterleau, a Macau Newland Technology e a ATAL Engineering foram as três empresas que concorreram ao contrato de concessão para a operação e gestão da Estação de Tratamento de Águas Residuais (ETAR) do Parque Industrial Transfronteiriço.As propostas a concurso público foram abertas na sexta-feira na Direcção dos Serviços de Protecção Ambiental, que indica que os preços propostos variam entre 109 milhões e 123 milhões de patacas. De acordo com a lista de empresas, pode ver-se que as conhecidas Waterleau concorreu em consórcio com a OriginWater, tendo apresentado o preço mais baixo, e a ATAL concorreu com a

Beijing Urban Drainage e Chengdu Drainage. Também a Macau Newland Technology concorreu com concurso com a CITIC Envirotech de Cantão. O prazo do contrato é de cinco anos e, além da substituição dos equipamentos já envelhecidos, também deve ser finalizada nos primeiros 24 meses após o início do contrato a construção de um conjunto de instalações de pré-tratamento para o tratamento exclusivo das águas residuais com sedimentos provenientes da Estação de Tratamento de Águas da SAAM da Ilha Verde, para que a capacidade de tratamento da ETAR seja optimizada. J.F.


8 Sociedade

hoje macau segunda-feira 11.7.2016

David Chow Associações portuguesas esperam resort amigo do ambiente

Cuidado com os golfinhos

A Quercus e a Associação dos Cidadãos pela Arrábida e Estuário do Sado esperam que o futuro empreendimento do empresário David Chow possa respeitar a protecção ambiental, já que ficará situado bem junto ao Estuário do Sado. É ainda exigida transparência no processo de avaliação ambiental que será feito pelo Ministério do Ambiente Hoje Macau

“Estamos numa zona sensível, temos o privilégio e a honra de ter uma colónia de golfinhos e não queremos que nada belisque esta unidade piscatória” Maria das Dores Meira presidente da Câmara Municipal de Setúbal

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esenvolver sim, mas com cuidado. O projecto que o empresário de Macau David Chow pretende construir junto à zona ribeirinha de Setúbal e à área protegida do Estuário do

“Neste momento há algumas cautelas porque estamos a falar de um projecto de grandes dimensões a ser implantado numa zona junto à entrada do Estuário do Sado, que é sempre sensível do ponto de vista ambiental” Nuno Sequeira membro da direcção nacional da Quercus

Sado já trouxe o alerta a algumas entidades portuguesas de defesa do ambiente. Confrontados pelo HM sobre esta questão, tanto a Quercus – Associação Nacional de Conservação da Natureza, uma das mais importantes em Portugal, como a Associação dos Cidadãos pela Arrábida e Estuário do Sado mostraram estar atentos ao empreendimento. “Tomámos conhecimento do projecto pela comunicação social e é de facto um projecto de grande dimensão para aquela zona ribeirinha de Setúbal”, disse ao HM Nuno Sequeira, membro da direcção nacional da Quercus. “Só nos poderemos pronunciar de uma forma mais concreta quando tivermos acesso às informações de avaliação do impacto ambiental, que terá de ser obrigatório. Neste momento há algumas cautelas porque estamos a falar de um projecto de grandes dimensões a ser implantado numa zona junto à entrada do Estuário do Sado, que é sempre sensível do ponto de vista ambiental e também porque estamos a falar de um projecto que irá acrescentar mais uma porção urbana e turística a uma zona onde já existem outros

empreendimentos, nomeadamente na zona de Tróia.” A primeira fase do projecto da Macau Legend inclui um complexo com hotel, lojas e residências, uma marina, um complexo desportivo e até uma área com slot-machines, indica um comunicado da empresa à Bolsa de Valores de Hong Kong.

Sob pressão

Nuno Sequeira pede um processo transparente por parte do

Ministério do Ambiente, que vai agora realizar o estudo de impacto ambiental. O empreendimento de David Chow “vai acrescentar mais pressão turística e urbana a uma zona sensível”, considera. “Esperamos que todos esses impactos sejam tidos em conta e que seja feita uma avaliação rigorosa. Vamos estar atentos a esta situação nos próximos meses, participando na consulta pública, e esperamos que da parte de todas as entidades que estão envolvidas no processo, desde públicas a privadas, exista toda a transparência para dar conta às associações de defesa do ambiente que digam respeito ao projecto”, disse o responsável da Quercus. Fernanda Rodrigues, presidente da Associação dos Cida-

Macau Legend adquire parte do casino de Tróia A

lém do projecto pensado para Setúbal, a empresa de David Chow entrou ainda em acordo com três empresas portuguesas - a Fundo Aquarius, Amorim Turismo e B&G – para a obtenção de interesses do casino de Tróia, a 15 minutos de barco de onde vai ficar o espaço de Chow. Assim, e de acordo com o que a empresa comunicou à Bolsa de Valores de Hong Kong, a B&G (detida pela Fundo Aquarius e Amorim Turismo) vai “transferir a concessão e o casino de Tróia” para uma joint-venture. “A Empresa Joint Venture – B&G e Macau Legend – passa a ser a dona e gere a operação do já existente Casino Tróia e vai utilizar [esses] meios financeiros para desenvolver o projecto de Setúbal. A B&G e a Macau Legend esperam formar a Joint Venture Company a 31 de Dezembro de 2016 e 55% das acções serão detidas pela Macau Legend.” Com a proposta, a empresa de David Chow fica com a concessão do casino e o casino por 343,6 milhões de dólares de Hong Kong. A concessão termina em 2031.

dãos pela Arrábida e Estuário do Sado, espera a junção de desenvolvimento sócio-económico da região com a protecção ambiental. “Encaro este projecto como um desafio interessante para o desenvolvimento da região, desde que tenham em conta a especificidade da região em termos de defesa ambiental e a preocupação com a população que cá reside. Temos de compatibilizar a defesa do ambiente com um desenvolvimento sustentável, mas sem pôr em causa o papel do ser humano nesse ambiente. Se a criação de postos de trabalho e a geração de riqueza tiver em conta o crescimento sustentável com base em critérios ambientais, já que esta é uma região especial, estamos de acordo”, concluiu. Na apresentação do projecto em Macau, a presidente da Câmara Municipal de Setúbal, Maria das Dores Meira, referiu que “se encontra tudo em negociação”, estando ainda a ser feito um plano pormenor para a área. David Chow pretende construir ainda numa área maior do que a prevista inicialmente, num projecto que poderá ir dos cem milhões de euros já anunciados para 500 milhões. O plano de pormenor poderá demorar entre seis meses a um ano a ser realizado. Maria das Dores Meira falou da zona que tem ainda a fábrica de construção naval Lisnave, uma cimenteira e uma fábrica de papel. “Não temos por que duvidar da obstrução por parte do Ministério do Ambiente em relação ao estudo, mas ele tem de ser feito. Estamos numa zona sensível, temos o privilégio e a honra de ter uma colónia de golfinhos e não queremos que nada belisque esta unidade piscatória”. Andreia Sofia Silva (com J.F.) andreia.silva@hojemacau.com.mo

Wynn distribui bónus de Verão

A Wynn Macau vai distribuir este mês um bónus de Verão igual a um mês de salário bruto por todos os nove mil empregados, à excepção dos gestores seniores. A medida, explica a empresa, foi decidida apesar dos desafios enfrentados pelo sector para celebrar a próxima inauguração do Wynn Palace, a 22 de Agosto, e o 10º aniversário da empresa em Macau que se celebra a 6 de Setembro.


9 hoje macau segunda-feira 11.7.2016

Menos uma terra TSI nega recurso a Sinca por caducidade de terreno no Pac On

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Tribunal de Segunda Instância (TSI) não deu razão à Sinca – Indústrias de Cerâmica face à declaração de caducidade do contrato de concessão de um terreno que a empresa tinha na Taipa. A Sinca interpôs um recurso em tribunal contra o acto do Chefe do Executivo que declarou a caducidade, mas o TSI nega-lhe razão. ASinca perdeu o lote de sete mil metros quadrados no Pac On em 2015, depois do Chefe do Executivo ter declarado a caducidade de concessão de arrendamento provisório após 25 anos. A concessionária considera que há violação da lei por “desrazoabilidade no exercício de poderes discricionários”, violação do princípio de boa fé e do princípio de igualdade. Mas alegava também que a própria nova Lei de Terras, com base na qual foi retirada a concessão, foi violada no que concerne ao artigo que versa sobre a conclusão ou aproveitamento dos terrenos.

Sem razão

O TSI diz não perceber as alegações da Sinca, já que, considera, “foi declarada a caducidade da concessão provisória do terreno pela falta de aproveitamento dentro do prazo fixado e pelo

termo do prazo da concessão provisória sem esta ter sido convertida em definitiva”. Mais ainda, o tribunal diz que, tendo em conta a nova Lei de Terras, não houve qualquer erro na decisão de Chui Sai On. “Os juízes entenderam que não lhe assiste razão. (...) O legislador da nova Lei de Terras impõe, sem qualquer alternativa, a verificação da caducidade no caso do termo do prazo da concessão provisória sem esta ter sido convertida em definitiva. Nesta conformidade, a prorrogação do prazo do aproveitamento do terreno com causa justificativa só é possível quando ainda não se verifica o termo do prazo da concessão provisória, que não é o caso”, justifica o TSI, que nega, assim, o recurso da Sinca. A empresa ainda pode interpor recurso da decisão para a Última Instância. J.F.

Sociedade

Jogo PJ desmantela rede de agiotagem e apreende armas

Crime nos NAPE É o segundo caso numa semana: oito pessoas foram detidas por agiotagem, mas a PJ acredita que há mais envolvidos

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Polícia Judiciária (PJ) deteve oito pessoas da China por suspeita da prática de agiotagem na sequência de uma operação na quarta-feira, que resultou na apreensão de armas. Em comunicado, a PJ informa que a operação foi realizada na sequência de informações recebidas em Abril, dando conta de que uma organização estaria a praticar agiotagem na zona dos casinos dos NAPE. Segundo a PJ, a rede, que estaria a operar há pelo menos um ano, envolvia mais de 60 pessoas, das quais dez teriam chegado a Macau, por turnos, para angariar clientes, estando ainda supostamente “encarregados de sequestrar e ameaçar os devedores”. Além de ter descoberto a suposta “sede” da rede localizada nos NAPE e de ter detido oito homens da China, a PJ apreendeu uma série de materiais, desde armas (três “bastões telescópicos” e seis soqueiras), até

termos de dívidas e 14 documentos de identidade alheios. A PJ refere ainda que os oito detidos admitiram o crime e que indicaram que podiam lucrar 10% do valor de cada empréstimo concedido.

Mais do mesmo

Os suspeitos foram presentes ao Ministério Público por associação criminosa, posse de armas proibidas, agiotagem para jogo e exigência ou aceitação de documentos. A PJ indica que a investigação prossegue, nomeadamente com a busca por eventuais cúmplices em fuga.

Trata-se do segundo caso de agiotagem tornado público numa semana, depois de, na sexta-feira, a PJ ter informado que dez pessoas foram detidas por suspeita de emprestarem dinheiro a funcionários dos casinos, especialmente a croupiers para apostas de jogo. A PJ indicou que o montante emprestado ascendeu aos quatro milhões de patacas e abrangeu 120 vítimas. Os suspeitos foram acusados de criminalidade organizada, usura para o jogo e exigência ou aceitação de documentos. LUSA/HM

Funcionária portuguesa vê negada aquisição de casa

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ma funcionária pública de nacionalidade portuguesa pretendia adquirir a casa onde reside, propriedade do Governo, mas viu a sua pretensão negada em virtude desse direito assistir apenas a “funcionários do quadro”. A decisão é final pois, após vários recursos submetidos pela queixosa, foi agora emitida pelo Tribunal de Última Instância (TUI). A funcionária em causa foi recrutada em Portugal em 1982, para exercer funções como professora do ensino primário na Direcção dos Serviços de Educação e Juventude (DSEJ). Em

1983, participou no concurso público para atribuição de moradias por arrendamento e foi-lhe concedido um apartamento, tendo mudado para um outro em 1989, onde tem vindo a morar. O estatuto de recrutada no exterior cessou no final de Agosto de 1999 porque entretanto celebrou um contrato além do quadro com a DSEJ. Em Outubro do mesmo ano, celebrou contrato com o Instituto Politécnico de Macau, continuando a exercer funções de docente, e foi autorizada a continuar a habitar no mesmo apartamento por arrendamento.

Em 2013, apresentou um requerimento para adquirir o apartamento mas viu o pedido indeferido. A partir daí recorreu sucessivamente às instâncias judiciais vendo agora o seu pedido finalmente recusado pelo TUI. Diz o acórdão que, apesar da recorrente estar quase trinta anos a trabalhar para o Governo de Macau, “nunca foi ela provida por nomeação definitiva (nem em comissão de serviço), pelo que não detinha a qualidade de funcionário do quadro”, condição essencial segundo a lei para aceder à aquisição do imóvel.

Vandy Poon diz que CTM é “melhor parceiro”

Vandy Poon, director-executivo da CTM, diz que a empresa é a melhor fornecedora que Macau tem neste momento. Numa altura em que têm sido tecidas críticas à empresa e onde se debate a renovação ou não do contrato, o responsável reage, deixando um alerta ao Executivo. “No que diz respeito à rede e conhecimentos que implementámos, penso que somos os melhores parceiros para continuar a oferecer este serviço a Macau. Se o Governo ou outra entidade quiser arriscar, pode fazê-lo. Mas se aparecer um grupo que não sabe como fazer ou que nunca fez antes não acredito que consiga oferecer melhor serviço à cidade”, frisou em declarações citadas pela TDM. Vandy Poon referia-se à eventual entrada de mais empresas de telecomunicações no mercado, quando deputados da Assembleia Legislativa se queixam de monopólio, concorrência desleal (devido ao uso de redes que são da CTM por outras empresas) e prejuízo do interesse público.


10 eventos

Cinema Projectos seleccionados para Feira de Investimento

Das oito candidaturas submetidas, sete foram seleccionadas para participar em mais uma Feira de Investimento do Cinema que reúne Macau, Hong Kong e Guangdong. O caminho ainda agora começou, mas os autores mostram contentamento e esperança

oito projectos cinematográficos para serem apresentados a investidores e produtores das três regiões.

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a x i m Bessmertnyi, António José Caetano de Faria, Ho Fei, Hoi Kuok Meng, Lou Ka Hou, Fernando Eloy e Wong Kong Po são os escolhidos para estar na Feira de Investimento de Produção Cinematográfica Guangdong-Hong Kong-Macau 2016. Terminou mais um processo de selecção de candidaturas para participar na Feira, que este ano decorre a 16 e 17 de Agosto, e de Macau foram escolhidos sete de

Sete na setima ´

Juventude em destaque

Maxim Bessmertnyi diz ao HM que “está feliz”, salientando contudo que ainda é cedo para aprofundar comentários acerca do que aí vem. “Ainda são os primeiros passos de uma longa jornada”, refere o jovem cineasta radicado em Macau há mais de uma década. “O guião apresentado está numa fase muito inicial”, adianta. Para já sabe-se que versa “num estudo de carácter de quatro jovens de uma pequena cidade num período crucial de mudança nas suas vidas”. O filme é inspirado em Macau, sem descurar pequenas cidades de Portugal ou da Rússia, como frisa o realizador, que frequentou a Escola Portuguesa de Macau, ao HM. Já Fernando Eloy foi selecionado com o guião para uma longa-metragem chamada “China Beat”. O filme “absolutamente contemporâneo” retrata a juventude chinesa através de “um grupo de jovens que anda à procura do sonho”. Por outro lado, representa também uma “plataforma de ligação com os países de Língua Portuguesa em que uma das personagens volta para a China depois de quatro anos a trabalhar para uma

FRC Apresentação de livro “Em Busca da Felicidade”

É apresentado hoje, pelas 18h30, o livro “Em busca da Felicidade” da escritora baiana Maria José Santos da Silva, autora que faz a sua vida em Macau há mais de 20 anos. O evento, que tem lugar na Fundação Rui Cunha, traz-nos o livro da escritora que tem apenas o ensino básico. Segundo a organização, Maria José “atreveu-se”, em Macau, a escrever dois pequenos livros e em ambos há a marca da fala na primeira pessoa, a fala da sua vida atribulada, da vivência de conflitos, paixões, amores e desamores bem como das preocupações de quem procura “transpirar” coerência, bom senso, sentido de justiça e rectidão. “Esta missão é feita de forma simples e sentida. Maria José Santos da Silva relata de uma forma aberta momentos de adversidades e de vicissitudes no dia-a-dia de cada um de nós, fazendo desfilar perante o leitor as suas emoções, os seus desafios e a sua inabalável fé”, indica a organização.

multinacional chinesa no Brasil”, facto crucial na mudança que sofre no que respeita à “sua percepção acerca do mundo e das pessoas, incluindo as preferências musicais.” “Estes jovens percebem, aqui em Macau, que têm que fazer alguma coisa da vida deles e também pela China”, adianta Fernando Eloy. Para o cineasta, este processo de abertura da China tem sido essencialmente de absorção, mas “cada vez mais a tendência é inversa”. O filme é uma mensagem de esperança para o mundo e de esclarecimento do que é ser chinês, sendo que “os jovens chineses são mais parecidos do que diferentes relativamente aos seus pares no mundo.” Para o realizador, os “filmes hoje em dia são uma indústria” e o papel do Governo é fundamental

À venda na Livraria Portuguesa

não só para a credibilização do processo mas para dar a conhecer aos investidores este mercado. “E por se estar a falar de indústria, será também obrigação do Instituto de Promoção do Comércio e do Investimento de Macau (IPIM) integrar este processo”, admite. O HM tentou contactar António Caetano de Faria, o outro único português nomeado, mas o realizador não estava disponível.

Plataforma de comunicação

A iniciativa promovida pelo Instituto Cultural contou com oito candidaturas. Segundo a organização, a selecção decorreu após análise realizada pelo júri e baseada nos critérios de criatividade do argumento, experiência e capacidade de execução do candidato, experiência e

capacidade de execução do produtor e da empresa produtora, bem como racionalidade orçamental. A iniciativa tem como objectivo descobrir potenciais projectos regionais para o grande ecrã, de modo a ampliar os canais de comunicação para os cineastas locais. O evento que se realiza anualmente desde 2014 pretende proporcionar uma plataforma “de alta qualidade e de facilitação” de contactos aos produtores e investidores de cinema das três regiões, criar oportunidades para investimento e cooperação na área do cinema e estimular os talentos neste campo, bem como promover o desenvolvimento da indústria cinematográfica nas três regiões, afirma a organização. Sofia Mota

info@hojemacau.com.mo

Rua de S. Domingos 16-18 • Tel: +853 28566442 | 28515915 • Fax: +853 28378014 • mail@livrariaportuguesa.net

A Rapariga de Papel • Guillaume Musso

Poderes Invisíveis • José Mattoso

Há apenas alguns meses, Tom Boyd era um escritor famoso em Los Angeles, apaixonado por uma célebre pianista. Mas na sequência de uma separação demasiado pública, fechou-se em casa, sofrendo de bloqueio artístico e tendo como única companhia o álcool e as drogas. Certa noite, uma desconhecida aparece em sua casa, uma mulher linda e completamente nua. Diz ser Billie, uma personagem dos romances dele, que veio parar ao mundo real devido a um erro de impressão do seu livro mais recente.

«As crenças acerca dos seres invisíveis que povoam o Céu, o Inferno e os outros lugares do Além suscitaram algumas das práticas mais arreigadas, mais complexas, mais perturbadoras e mais criativas de novas práticas e novos rituais.
Em certos casos inspiraram sistemas coerentes; noutros aparecem como elementos contraditórios ou até absurdos de uma visão do mundo. Este conjunto de investigações representa o meu contributo pessoal para o conhecimento de um dos capítulos mais fascinantes do período medieval.»


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a arte pub

hoje macau segunda-feira 11.7.2016

Novembro agitado

“Salão de Outono “ e “Vafa “ em simultâneo na Casa Garden

A

Fundação Oriente (FO) e a Associação Art for All (AFA) resolveram juntar o Salão de Outono com o festival Vafa (Art Vídeo para Todos), o festival internacional de vídeo-arte organizado já desde 2010. A ideia é cativar maior número de pessoas, pelo que “Um Outono repleto de arte” é também a aposta da organização ao organizar estes dois eventos em conjunto, combinando em simultâneo obras de arte locais e internacionais. A participação no Salão de Outono ainda é possível para todos os residentes e também para os artistas que mais recentemente vivem e trabalham em Macau, pois as inscrições estão abertas. Os candidatos podem apresentar trabalhos de pintura, gravura, escultura, fotografia, instalação e vídeo. Todas as candidaturas serão analisadas e seleccionadas por um júri composto por representantes da FO e da AFA, bem como por conceituados artistas locais.

Os finalistas serão notificados no final de Setembro. Para participar basta fazer o download do formulário de inscrição em www. afamacau.com. O prazo termina a 30 de Agosto.

Prémio “Jovem”

A FO adianta ainda que tem para oferecer 50 mil patacas para reconhecer e apoiar os jovens artistas plásticos de Macau em início de carreira. Os artistas terão ainda a oportunidade de exporem o seu trabalho no território e também de desenvolver as suas qualidades artísticas em Portugal, já que o vencedor terá ainda direito a uma residência artística no país no próximo ano. Os candidatos ao prémio poderão mostrar as suas obras em conjunto com os trabalhos seleccionados para o “Salão de Outono “. Ao prémio podem candidatar-se apenas artistas actualmente residentes em Macau ou que provem ter vivido em Macau durante os

eventos

últimos dois anos, independentemente da sua nacionalidade. Têm de ser portadores de Bilhete de Identidade de Residente e ter entre os 18 e os 35 anos.

em movimento

O concurso para o quinto Vafa também se encontra a decorrer e os artistas interessados podem apresentar as suas obras de vídeo-arte até ao dia 30 de Agosto. O júri é composto por artistas internacionais de vídeo-arte e alguns curadores de arte. Primeiro prémio e quatro menções honrosas são os prémios disponíveis, sendo que o vencedor do melhor vídeo receberá mil dólares americanos e será convidado para vir a Macau, caso não seja residente, para participar na cerimónia de abertura da exposição. O valor para cada menção honrosa é de 500 dólares americanos. Como a vídeo-arte é uma criação independente, não há critérios fixos relativos ao tema e forma das obras. A única restrição à criação será para vídeos com informações violentas ou provocadoras.


12 China

hoje macau segunda-feira 11.7.2016

Pequim condena sistema antimísseis norte-americano na Coreia do Sul

Segurança que gera insegurança

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do Sul não ajudará à desnuclearização da península coreana. A China exprime, assim, “a sua forte desaprovação e a sua firme oposição” ao acordo anunciado por Seul e Washington.

Região quente

China condenou sexta-feira a instalação de um sistema antimísseis norte-americano na Coreia do Sul por considerar que “prejudica seriamente” a segurança na região. Seul e Washington anunciaram sexta-feira um acordo para a instalação na península coreana do sistema THAAD (Terminal High Altitude Area Defence), dadas as crescentes ameaças da Coreia do Norte. Para o Ministério da Defesa chinês, este acordo “prejudica seriamente os interesses estratégicos a nível de segurança de países da região, incluindo a China”. “A China insta fortemente os EUA e a Coreia do Sul a pararem o processo de instalação do sistema antimíssil THAAD”, acrescentou o Ministério, na mesma declaração, feita através de um comunicado. Para Pequim, a instalação deste sistema na Coreia

Pequim já havia condenado, por diversas vezes, a possível instalação do THAAD em território sul-coreano, temendo que o seu raio de alcance vá muito além das efectivas necessidades de defesa da península coreana e interfira em interesses chineses. Por outro lado, a China teme que acabe por provocar uma corrida ao armamento na região. Os Estados Unidos da América e a Coreia do Sul iniciaram conversações com vista à instalação do sistema norte-americano antimísseis na península coreana em Fevereiro, um mês depois de a Coreia do Norte ter feito o seu quarto teste nuclear. Seul e Washington “fizeram uma aliança para instalar o THAAD”, como “medida de defesa para garantir a segurança” da Coreia do Sul e da sua população, disseram na passada sexta-feira os responsáveis pela Defesa dos dois países, num comunicado conjunto que não avança uma data para a concretização do acordo.

“A China insta fortemente os EUA e a Coreia do Sul a pararem o processo de instalação do sistema antimíssil THAAD” Comunicado do Ministério da Defesa chinês

Associações mundiais pedem libertação de advogados Associações de advogados de todo o mundo dirigiram uma carta ao Presidente chinês a pedir que “honre o seu compromisso” de proteger a lei e libertar os defensores de direitos humanos que estão detidos há um ano. Segundo o South China Morning Post, citado pelas agências de notícias internacionais, na carta lê-se que o Presidente Xi Jinping “devia libertar todas as pessoas detidas de forma ilegítima” e assegurar que “as duas dezenas de advogados que enfrentam acusações possam

escolher a sua própria defesa”. Vinte e três chineses defensores dos direitos humanos continuam detidos, 17 deles incomunicáveis e que correm o risco de ser torturados, segundo relatos de familiares e colegas. Entre 9 e 10 de Julho do ano passado, as autoridades chinesas prenderam 319 advogados, outros trabalhadores e activistas de várias zonas do país. Até hoje, apenas seis dos detidos tiveram acesso a um advogado de sua livre escolha ou direito a falar com os seus familiares.

Pé de vento

Tufão faz pelo menos dois mortos e 70 feridos em Taiwan

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tufão Nepartak fez pelo menos dois mortos e 70 feridos em Taiwan, onde provocou também danos em infra-estruturas, edifícios e campos agrícolas, informou ontem o Centro de Resposta de Emergências. O Nepartak perdeu intensidade ao entrar na ilha e no norte de Taiwan foi restaurado, sexta-feira, o serviço de transportes públicos e os voos nos aeroportos face ao relativo afastamento do tufão, que encetou uma rota pelo extremo sul e não pelo centro, como se previa. No entanto, o sul e o leste de Taiwan não foram poupados às chuvas torrenciais e fortes ventos que destruíram infra-estruturas e zonas agrícolas. Até 180 mil casas do leste e sul da Ilha Formosa ficaram sem água e sem electricidade devido à passagem do tufão, embora o fornecimento tenha sido restabelecido entretanto na maioria das habitações. Milhares de pessoas foram retiradas e foram realizadas operações de resgate de idosos e de outras pessoas que ficaram incomunicáveis em distintos pontos da ilha. Muitos supermercados ficaram sem alimentos frescos e o preço dos vegetais disparou em face da previsível perda de colheitas. Mais de 35 mil soldados foram colocados sob alerta, sendo que 3.000 foram destacados para as zonas de maior perigo de inundações e deslizamentos de terras. O ‘olho’ do tufão tocou terra pelas 05:50, perto da cidade de Taitung, muito mais tarde do que o previsto e com menos velocidade. Dezenas de voos com destino a Taiwan, procedentes de Hong Kong e de Macau, sofreram atrasos ou foram cancelados devido ao Nepartak. Trata-se da primeira grande tempestade da época de tufões do Pacífico e o seu nome – Nepartak – provém de um famoso guerreiro da Micronésia.

Simulacro de combate naval perto das Paracel

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marinha chinesa fez um simulacro de combate nas águas a sul da ilha de Hainan e do arquipélago Paracel, situados no mar da China Meridional e reclamados pelo Vietname e Taiwan. O simulacro realizado na sexta-feira foi protagonizado pelas frotas Nanhai e alguns barcos das frotas

Beihai e Donghai, assinalou ontem a agência oficial Xinhua, adiantando que faz parte dos exercícios anuais do Exército de Libertação Popular chinês. Apesar disso, aconteceu num momento de especial tensão, em vésperas do Tribunal Permanente de Arbitragem de Haia se pronunciar na terça-feira sobre um conten-

cioso entre a China e as Filipinas por outro arquipélago na zona, o Spratly. No simulacro participaram também as forças aéreas, assim como submarinos, navios e forças de defesa costeira e foram encenadas operações de controlo aéreo e confrontos marítimos. No passado dia 4 de Julho, a China proibiu,

até precisamente sexta-feira, o acesso às águas junto das ilhas Paracel para realizar o simulacro. O China tomou controlo das Paracel em 1974 depois de vencer uma batalha naval ao então denominado Vietname do Sul, mas o arquipélago, formado por umas 40 ilhas, é reclamado pelo Governo do actual Vietname.


13 hoje macau segunda-feira 11.7.2016

Região

Índia Quinze mortos e milhares de desalojados nas cheias

Pelo menos 15 pessoas morreram e milhares ficaram desalojadas na sequência das cheias causadas pelas chuvas torrenciais que assolam o estado indiano de Madhya Pradesh, disseram ontem as autoridades locais. Canais de televisão indianos mostraram ontem imagens de cidades inundadas naquele estado, com residentes forçados a andar com a água pela cintura. O chefe do Governo daquele estado, Shivraj Singh Chouhan, pediu às autoridades para estarem de prevenção nas próximas 24 horas, para quando estão previstas mais chuvas fortes. “Sete pessoas perderam a vida nas últimas 24 horas, aumentando as vítimas para 15”, disse Shivraj Singh Chouhan numa mensagem de vídeo no Twitter. Segundo o governante, “nos últimos dias cerca de seis mil pessoas já foram salvas e encaminhadas para abrigos temporários”.

Fim-de-semana sangrento

Coreia do Norte lança míssil

Protesto em Caxemira contra morte de terrorista faz 14 mortes

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número de mortos em protestos violentos na Caxemira indiana aumentou ontem para 14 e o de feridos para cerca de 200, no segundo dia de distúrbios, após a morte de um terrorista do grupo separatista Hizb-ul-Mujahideen. O inspector-geral da polícia de Caxemira, Javid

Geelani, disse à agência EFE que durante a manhã morreu mais uma pessoa, elevando o número total de vítimas desde sábado para 14. O responsável afirmou que se registaram vários confrontos entre manifestantes e forças de segurança e que foram lançadas pedras, mas assegurou que a situação geral

é “melhor” do que a vivida no sábado. O inspector-geral não fez um balanço detalhado do número de feridos, que no sábado afirmou ser de 96 durante uma conferência de imprensa, e que, segundo os média locais, subiu ontem para cerca de 200. Burhan Wani, de 21 anos, um dos rostos mais conheci-

dos do Hizb-ul-Mujahideen pela sua actividade nas redes sociais, morreu na sexta-feira numa operação conjunta da polícia e do exército indianos, em Kokernag. Depois de a notícia ter sido divulgada, os líderes independentistas convocaram uma greve de três dias para protestar contra a morte do jovem.

A Coreia do Norte lançou sábado um míssil balístico a partir de um submarino (SLBM) ao largo da costa leste (mar do Japão), segundo fontes da Defesa de Seul citadas pela agência de notícias Yonhap. O lançamento foi realizado por volta das 11:30, hora local, nas águas da costa sudeste da cidade portuária norte-coreana de Sinpo, segundo o exército da Coreia do Sul. O alegado disparo de míssil ocorre depois de esta semana os Estados Unidos terem imposto sanções ao líder nortecoreano, Kim Jong-un, e a outros dirigentes do regime por violações dos direitos humanos, o que Pyongyang qualificou como uma “declaração de guerra”. As duas Coreias continuam tecnicamente em guerra, uma vez que o conflito de 1950-53 terminou com a assinatura de um armistício e não de um tratado de paz.

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Abertura do prazo de candidatura para a Bolsa de Mérito Especial Prazo de candidatura 11 a 29 de Julho de 2016

Requisitos de candidatura 1. Ser residente permanente da RAEM; 2. Frequentar curso de licenciatura, em regime de frequência obrigatória e a tempo inteiro, em instituição de ensino superior constante no ranking mundial das universidades publicado pelo jornal britânico TIMES; 1) Podem candidatar-se à bolsa os estudantes que frequentem qualquer curso nas universidades classificadas dentro das 100 melhores no ranking mundial; ou 2) Podem candidatar-se à bolsa os estudantes que frequentem os cursos especificados nas universidades classificadas até ao 50.º lugar do ranking mundial, por áreas dos cursos, e apenas serão aceites os estudantes que frequentem os cursos especificados nestas universidades. 3. Frequentar curso de licenciatura, em regime de frequência obrigatória e a tempo inteiro, numa das instituições de ensino superior classificadas dentro das 10 melhores de outros rankings mundiais de reconhecido mérito, carecendo, no entanto, de apreciação e aceitação da Fundação Macau. Para mais informações, queira consultar o website da Fundação Macau: www.fmac.org.mo Apresentação de candidatura e consulta Endereço: Avenida de Almeida Ribeiro, nºs 61-75, Circle Square, 7ºAndar, Macau Telefone: 87950920 / 87950913 E-mail: db_info@fm.org.mo Horário de expediente: De segunda a quinta-feira, 9H00—13H00, 14H30—17H45; À sexta-feira, 9H00—13H00, 14H30—17H30.


h artes, letras e ideias

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Pequim, 10 de Outubro de 1977 Anteontem espectáculo memorável pela companhia de Cantos e Danças Dongfeng (Oriente), no velho Teatro Tianqiao, lá para sul, para os lados do Templo do Céu. Pleno o aproveitamento político que os camaradas chineses estão a fazer da reaparição, do renascer deste grupo artístico criado em Janeiro de 1962, por proposta de Zhou Enlai, primeiro-ministro, com o objectivo de “estimular e desenvolver a amizade entre o povo chinês e os povos dos países do Terceiro Mundo.” Estes bailarinos, acrobatas, cantores encheram o palco durante quase três horas com um repertório que incluía temas musicais e danças folclóricas da Ásia, África e América Latina. Tudo muito bem imitado, tudo muito bem conseguido, tudo alegre, colorido e bonito. Dizem-me que nestes anos recentes de políticas e delírios esquerdistas, Jiang Qing, a viúva de Mao e membro principal do “bando dos quatro” terá afirmado que a música deste Grupo de Cantos e Danças “é decadente” e Zhang Chunjiao, outro figurão proeminente do execrável “bando” emitiu a seguinte opinião: “Afinal para que serve este conjunto artístico se eles se limitam a copiar os ma-

cacos de África? A dança africana e o rock and roll são uma e a mesma coisa.” Este Grupo do Oriente reapareceu agora após quase dez anos de silêncio e apresentou um espectáculo de muita qualidade. Os números sucessivos, com inúmeros bailarinos e músicos em palco, mostraram não só o trabalho e as lutas do povo chinês mas também as de outros

países. Assisti a cantos e danças do Kampuchea, do Mali, do Peru, da Birmânia, da Argentina, da Etiópia, do Vietname com os chineses bem ataviados e garbosos (até a cara pintaram de negro!) exemplarmente travestidos de gentes das nações do mundo. Foi um ar fresco a soprar na vida cultural tão limitada desta China.

A 1 e 2 de Outubro, feriados nacionais comemorativos da fundação da República Popular da China, tive também o privilégio de assistir em três parques diferentes de Pequim a dezenas e dezenas de espectáculos onde grupos de crianças e actores profissionais representavam, cantavam, dançavam. Muitas vezes a encenação tinha um forte objectivo político, a denúncia e combate ao “bando dos quatros”. Por exemplo, um grupo de crianças bailarinas, quase no final da dança, ia buscar pequenas granadas de mão, em madeira e, ritmando gestos e música, saltavam no ar e lançavam as granadas contra um grande painel com a figura pintada, velha e feia, exactamente da senhora Jiang Qing, quarta mulher de Mao Zedong e cabecilha do “bando dos quatro.” Libertos do recente despotismo cultural, é verdade que escritores e artistas começam a aparecer um pouco por toda a parte. Do que me vou apercebendo aqui nas conversas com os dezanove camaradas chineses com quem trabalho e a quem ensino português, as diferentes editoras publicam outra vez livros de poesia, romances, teatro de autores que tiveram grande importância na história da moderna literatura, alguns deles muito próximos do

Partido Comunista mas proibidos, censurados até há pouco. Homens como Tian Han, Cao Yu, Ai Qing, Mao Dun, Ba Jin. O velho Mao Zedong indicava justamente que “o antigo deve servir o actual” e assim surgiram agora reedições de algumas das mais importantes obras clássicas da literatura chinesa, como a “Poesia Completa de Li Tai Bai” 1 , e antologias de poemas das dinastia Tang, Song, Yuan, Ming e Qing, ou seja todos os ciclos dinásticos desde 618 a 1911. Vão também ser reeditadas reproduções de pinturas célebres de diferentes dinastias, e também cópias de quadros de Rembrant. Reapareceram traduções para chinês de peças do teatro clássico grego, algumas comédias e tragédias de Shakespeare, obras de Heinrich Heine, Nicolau Gogol, Balzac e Vítor Hugo. Voltou também a música clássica ocidental. Já se podem comprar partituras e ouvir discos com música de Mozart, Beethoven, Chopin, Bach, etc. Parece ser assim verdade que, aniquilado o “bando dos quatro” (a linha esquerdista radical de Jiang Qing, Zhang Chunqiao, Wang Honwen e Yao Wenyuan) a literatura, a dança, a música, a arte em geral retomam na China o importante lugar que lhes cabe na construção de uma sociedade mais justa, mais educada, mais fraterna, mais humana, mais livre.

Pequim, 15 de Outubro de 1977 Olha o muro e edifício nunca crido Que entre um império e outro se edifica, Certíssimo sinal e conhecido Da potência real, soberba e rica

Os Lusíadas, canto X, 130 Luís de Camões, em pleno século XVI, dá testemunho da existência do “muro”, da vasta Grande Muralha da China. Fernão Mendes Pinto dedica-lhe todo o capítulo 95 da Peregrinação e dá-se mesmo ao rigor de explicar: “Este muro vi eu algumas vezes e o medi, que tem por todo em geral seis braças de alto e quarenta palmos de largo.”


15 hoje macau segunda-feira 11.7.2016

diário (secreto) de pequim (1977-1983)

Domingo passado, iluminado por um ameno sol de Outono, foi tempo de viagem curta até ao troço da Grande Muralha da China que passa oitenta quilómetros a norte de Pequim.2 Por má estrada, são quase duas horas de caminho. O autocarro chinês, meio decrépito, avança por terras planas nos arredores da capital, com pomares, campos verdes de trigo, milho, sorgo, algodão, mais pequenos rios e lagos onde patinham grandes bandos de patos. Cruzamo-nos com milhares de bicicletas, camiões, carroças e inúmeros

grupos de camponeses, indo e vindo da azáfama dos campos. Aqui e acolá umas bandeirolas vermelhas espetadas no terreno indicam grupos de trabalho. Na China, os domingos são dias normais para o labor agrícola, é preciso dar de comer a 900 milhões de almas e este velho império, com um quinto da população mundial, conta apenas com 1/14 avos da terra arável existente no globo. Chegamos a Changping. Acabou a planície, a estrada começa a subir e a paisagem muda rapidamente. Estamos a entrar no

maciço montanhoso, a Grande Muralha não está longe. As montanhas elevam-se abruptas e nuas, como que talhadas a cinzel entre o fundo de vales pedregosos e o céu azul. O caminho que seguimos foi outrora uma via estratégica. Por aqui, vindos do norte passaram hordas de invasores mongóis que atravessaram a Muralha, conquistaram e governaram a China durante quase um século (dinastia Yuan, 1279-1368). Era também o percurso, o itinerário das caravanas que se dirigiam

para norte. Caravanas autênticas de cavalos, camelos, carroças carregadas de “sacos de lã e peles da Mongólia a caminho de Pequim ou transportando volumes de folhas de chá de Tianjin, a caminho de Kiakhta, na fronteira da Sibéria”, (in Mournier, L’Émpire du Milieu, Paris, Plon, 1903). Esta estrada continua a ser hoje uma importante via de comunicação. O trânsito é intenso, camionetas e camiões, de todos os tipos e formatos, sobem e descem, carregados dos mesmos produtos de outrora mas também de muitos outros. O dia está bonito por isso são incontáveis os autocarros de passageiros apinhados de chineses, que vão, tal como eu, de visita à Grande Muralha. Dizem-me que o troço de Badaling que vamos percorrer chega a receber mais de dez mil visitantes num só dia. Paralela à estrada, mas do outro lado do estreito vale, segue a via férrea, furando túneis, escondendo-se debaixo das montanhas, reasparecendo, subindo, subindo sempre. Chegamos a uma aldeia chamada Juyongguan, com casas pobres dos camponeses, baixas, com janelas envidraçadas e, à volta, pedaços de terra encravados nos socalcos da montanha. À entrada da aldeia levanta-se um grandioso pórtico em pedra construído em 1345, no período mongol, com baixos relevos representando Buda e com inscrições em seis línguas, chinês, sânscrito, tibetano, mongol, uighur e targut. Nesses tempos recuados a estrada passava sob este pórtico, daí as frases que são uma espécie de encantamentos (dharani, em sânscrito) destinados a viajantes de tão longínquas paragens. Em Juyongguan encontramos ainda trepando pelas encostas um par de muralhas menores, muito destruídas pelos séculos. Trata-se de fortificações recuadas, antes da Grande Muralha que se situa uns dez quilómetros mais para norte. A estrada continua a subir, as curvas sucedem-se em cotovelos apertados, um comboio avança pachorrentamente a nosso lado, cheio de chineses que espreitam

António Graça de Abreu

às janelas e procuram, tal como eu, descobrir a Muralha. Mais uma curva, um chiar de travões, uma guinada do volante do autocarro e aí estão os topos das nervuras das montanhas devassados pelo engenho do homem. A Grande Muralha serpenteia um pouco por toda a parte, sobe, desce, volta a subir, flecte em ziguezagues, acompanha os picos e as quebras dos montes. A construção da Muralha da China iniciou-se no século V antes da nossa era. Durante o período dos Reinos Combatentes (476 a.C.-221 a.C.) alguns príncipes feudais viam as suas terras constantemente invadidas por tribos nómadas vindas do norte. Para assegurar a defesa dos seus territórios, também nas lutas que travavam entre si, mandaram construir extensas muralhas para protecção das fronteiras. Mais tarde, o primeiro imperador da dinastia Qin, que se chamou Qin Shihuang, unificou a China pela primeira vez e deu ordens para se ligarem entre si as muralhas já existentes. Na dinastia Ming (13681644) foram construídas novas muralhas para delimitar, com rigor, as fronteiras do império. O resultado foi esta extraordinária obra que se estende por quatro províncias, duas regiões autónomas e dois municípios centrais, a saber, Hebei, Shanxi, Mongólia Interior, Shaanxi, Gansu, Ningxia, Pequim e Tianjin.

1- Trata-se do poeta Li Bai, ou Li Po (701-762), com Du Fu (712-770) os mais destacados poetas dos trinta séculos de poesia chinesa. Aproveitando as aberturas políticas então registadas, também nas Edições de Pequim, iniciei na altura, com a imprescindível ajuda dos companheiros de trabalho, as minhas primeiras traduções para português de poesia chinesa. No ano de 1990, em Macau, o Instituto Cultural editou os Poemas de Li Bai, uma antologia com 202 poemas por mim traduzidos. Os Poemas, reeditados em 1996, obtiveram o Prémio Nacional de Tradução 1990, da Associação Portuguesa de Tradutores e do PEN Clube Português. 2- No meu livro Toda a China II, Lisboa, Ed. Guerra e Paz, 2014, pags. 133 a 139, o leitor poderá encontrar uma bem mais desenvolvida abordagem e descrição das minhas passagens e permanências, ao longo de mais de três décadas, por diferentes troços da Grande Muralha da China.

(continua)


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h

hoje macau segunda-feira 11.7.2016

Paulo Maia e Carmo tradução e ilustração

guo xi Ao pintar uma paisagem a atenção deve ser dada em primeiro lugar a uma grande montanha que deverá ser designada o cume mestre1. Uma vez isto decidido, outros detalhes se seguem: a perspectiva e a proporção devem ser trabalhadas em função do cume mestre, que dominará toda a região – é por isto que ele é designado o cume mestre. Falando de forma figurada, a sua relação com os outros será como a do imperador com os seus súbditos, a do patrão com os seus empregados. Ao pintar pedras e árvores, atenção deve ir em primeiro lugar para um grande pinheiro, que deverá ser designado por velho mestre. Uma vez que o velho mestre esteja decidido, o artista pode prosseguir com os outros detalhes; por exemplo, ninhos curiosos, pequenas plantas, flores pequenas, plantas daninhas e pedras partidas, todas contribuem com detalhes subsidiários na pintura de uma montanha. É por isso que o pinheiro é chamado o «velho mestre», pois a sua relação com os outros é a de uma personagem de grande virtude para um homem de menor importância. Algumas montanhas estão cobertas de terra, enquanto outras estão cobertas de pedras. Se a montanha de terra tem pedras no topo, então o crescimento de árvores e florestas será raro e pobre, mas se a montanha pedregosa tiver terra no topo, a vegetação florescerá. Algumas árvores crescem na montanha, outras árvores junto da água. Numa montanha onde o solo é rico, pode crescer um pinheiro com mil pés de altura (no sistema imperial um pé corresponde a 30,48 cm, ou seja pinheiros com 30,480 m de altura.). Junto à água onde o solo é pobre, pode crescer um arbusto com apenas alguns pés de altura.

1- Nesta primeira parte do capítulo Guo Xi está claramente a expor um método prático, como um mestre para um aluno, o que proporciona uma rara oportunidade de perceber como um pintor da dinastia Song entendia e gostaria de transmitir os segredos do seu ofício. Os diferentes elementos da

composição são tratados individualmente como participantes do «grande drama da natureza» que finalmente ganhará vida na segunda parte do capítulo, quando tratar da atitude do pintor em relação ao seu trabalho, ultrapassando a função utilitária dos diversos componentes.

«Linquan Gaozhi»

A Grande Mensagem Sobre Florestas e Nascentes


17 hoje macau segunda-feira 11.7.2016

tempo

Muito

?

nublado

O que fazer esta semana Hoje

Palestra “Liderança Ética” Instituto Ritchie, 18h00

min

26

max

30

hum

80-98%

euro

8.829

baht

Ciclo de Cinema CREDD com “A Time to Kill” Casa Garden, 19h30

Diariamente

Exposição “Transient”, de Sofia Arez (até 23/07) Creative Macau Escultura “Ligação com Água” de Yang Xiaohua Museu de Arte de Macau (até 01/2017) Exposição “Voice on Paper”, de Papa Osmubal Fundação Rui Cunha (até 22/07) Exposição “O Pintor Viajante na Costa Sul da China” de Auguste Borget Museu de Arte de Macau (até 9/10)

o cartoon steph

Exposição “Reminescent – Portugal Macau” Galeria Dare to Dream (até 22/07) Exposição “Cnidoscolus Quercifolius” - Alexandre Marreiros Museu de Arte de Macau (até 31/07) Exposição “ Exposição do 70º Aniversário” - Han Tianheng Centro Unesco de Macau – (até 07/08) Exposição “Color” 2016 Centro de Design de Macau Exposição “Pregas e dobras 3” de Noël Dolla Galeria Tap Seac (até 09/10) Solução do problema 33

C i n e m a

Independence day: Resurgence Sala 1

Cold war 2 [C] Filme de: Longman Leung, Sunny Luk Com: Aaron Kwok, Tony Leung Ka Fai, Chow Yun Fat 14.30, 16.30, 19.30, 21:30 Sala 2

The Secret life of Pets [A] Com: Chris Renaud, Yarrow Cheney 14:15, 16:00, 19:30

The Secret life of Pets [3D] [A] Com: Chris Renaud, Yarrow Cheney 17:45

INDEPENDENCE DAY: RESURGENCE [b]

Filme de: Jon M. Chu Com: Mark Ruffalo, Jesse Eisenberg, Woody Harrelson, Lizzy Caplan 21.30 Sala 3

THE LEGEND OF TARZAN [B]

Um Filme hoje

1.19

Recentemente andava no telhado de uma escola e olhei lá para dentro. Numa sala de aula vi um grupo de crianças chinesas de idade não superior a nove anos, que estavam a aprender a conjugação dos verbos em Inglês no tempo passado. Era uma aula de Inglês do segundo ano da escola primária inglesa. Sei que no chinês não existe a conjugação dos verbos no tempo passado (de facto os verbos do chinês ficam sempre da mesmo forma para todos os tempos), nem uma muito clara definição do conceito do tempo passado (porque se perguntarmos aos chineses como é o tempo passado eles vão mostrar uma cara frustrada). Senti-me cansadíssimo só por ver as crianças a decorar as conjugações do verbo, exaustivamente. Entendo perfeitamente que o Inglês é mesmo importante, porque é uma língua internacional, que já se tornou um factor decisivo durante a procura do emprego em Macau. É preciso envidar tantos esforços na aprendizagem do Inglês que, quando as crianças entram nas escolas secundárias, só há quatro aulas de Chinês por semana, com as outras disciplinas todas veiculadas em Inglês. Parei para pensar que as crianças quando se formarem da escola secundária já vão esquecer-se do Chinês. Provavelmente vão, acho eu, porque ainda um destes dias ouvi um veterano perguntar a um colega como se escrevia a palavra “limão” em Chinês. Pu Yi

“The Nice Guys” (Shane Black, 2016)

Quem escreveu o guião deste filme tem um humor fantástico. “The Nice Guys” faz rir de assuntos sérios da primeira à última cena, com um humor subtil mas inteligente. Cruzar Ryan Gosling com Russel Crowe já é, por si, um golpe de mestre, mas juntar estes dois num filme como este só pode acabar numa película de qualidade. Os dois são detectives privados, sendo que cada um trabalha à sua maneira. A década é 1970 e caos que os junta por acidente é o aparente suicídio de uma actriz porno. Joana Freitas

Filme de: David Yates Com: Alexander Skarsgard, Samuel L. Jackson, Margot Robbie 14.30, 16.30, 21.30

THE LEGEND OF TARZAN [3D] [B] Filme de: David Yates Com: Alexander Skarsgard, Samuel L. Jackson, Margot Robbie 19.30

problema 34

Sudoku

de

Exposição “Dinossauros em carne e osso” Centro de Ciência de Macau (até 11/09)

Cineteatro

yuan

As escolas inglesas

Amanhã

Exposição “Artes Visuais de Macau” Instituto Cultural (até 07/08)

0.22

aqui há gato

Lançamento do livro “Em Busca da Felicidade” de Maria Silva Fundação Rui Cunha, 18h30

Exposição “Edgar Degas – Figures in Motion” MGM Macau

(f)utilidades

www. hojemacau. com.mo

Propriedade Fábrica de Notícias, Lda Director Carlos Morais José Editores Joana Freitas; José C. Mendes Redacção Angela Ka; Andreia Sofia Silva; Filipa Araújo; Manuel Nunes; Tomás Chio Colaboradores António Falcão; António Graça de Abreu; Gonçalo Lobo Pinheiro; José Drummond; José Simões Morais; Maria João Belchior (Pequim); Michel Reis; Rui Cascais; Sérgio Fonseca Colunistas António Conceição Júnior; André Ritchie; David Chan; Fernando Eloy; Isabel Castro; Jorge Rodrigues Simão; Leocardo; Paul Chan Wai Chi; Paula Bicho; Rui Flores; Tânia dos Santos Cartoonista Steph Grafismo Paulo Borges Ilustração Rui Rasquinho Agências Lusa; Xinhua Fotografia Hoje Macau; Lusa; GCS; Xinhua Secretária de redacção e Publicidade Madalena da Silva (publicidade@hojemacau.com.mo) Assistente de marketing Vincent Vong Impressão Tipografia Welfare Morada Calçada de Santo Agostinho, n.º 19, Centro Comercial Nam Yue, 6.º andar A, Macau Telefone 28752401 Fax 28752405 e-mail info@hojemacau.com.mo Sítio www.hojemacau.com.mo


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hoje macau segunda-feira 11.7.2016

José Pacheco Pereira

in Público

Ruben Alves, A Gaiola Dourada

A questão portuguesa na União Europeia

T

udo é mau esta semana, para não variar, embora a pátria esteja entregue às delícias do futebol para se distrair. Mas há uma coisa nova, que tanto pode dar para o torto, como criar uma pequeno espaço de oportunidade para aliviar as grilhetas do Tratado Orçamental. Volto de novo atrás: eu escrevi que não sei, à data em que escrevo, como é que esta matéria vai evoluir, mas que existe, existe. Existe hoje na Europa uma “questão portuguesa”, como no passado houve uma questão grega e há no presente uma questão britânica, inglesa, escocesa e norte-irlandesa, logo, a prazo, uma questão espanhola. Como se vê as companhias para a “questão portuguesa” não são brilhantes, pelo que não sei até que ponto haver “questão” é bom ou mau. Os partidários do “bom aluno” na versão actual Passos-PSD, acham que é péssimo haver essa “questão” e que o ideal seria, como agora se diz, Portugal estar fora do “radar” da actual “Europa”, com o seu eco nas agências de rating e nos mercados. Compreende-se esta posição que mistura

“Na União começa a haver a divergência que interessa a Portugal, a contestação ainda embrionária, mas densa de significado político, da aplicação rigorosa do Tratado Orçamental” a submissão com a concordância política. As políticas que a “Europa” quer impor são o programa que o PSD não pode enunciar em público: continuação da austeridade por mais duas décadas pelo menos, e manter como alvo dessa austeridade os salários, as pensões, as reformas e os custos sociais do estado. O PSD quando fala da “oportunidade perdida” e do “desbaratar” que o PS estaria a fazer dessa “oportunidade” fala da continuidade da política de austeridade, mas não o pode fazer explicitamente como já não o fez nas últimas eleições. Disfarçou-o, mas a política é esta. A grande ajuda do PSD é que seja a “Europa” a impô-la, criando uma crise de legitimidade política no PS (“estão a ver como eles fazem o mesmo”), acentuando a tese da inevitabilidade e esperando que a imposição dessas políticas divida a coligação virtual que permite a Costa governar. Se não houvesse a “questão portuguesa” a margem de manobra do governo Costa seria já nula, embora permaneça muito escassa, e, como ela existe, acentua a esperança do

governo de passar pelos pingos da chuva por parte do governo e a esperança contraditória de que os amigos do PSD no PPE e nos mais agressivos “ajustadores” do Eurogrupo, a começar por Schäuble, se voltem contra Portugal com o mesmo vigor punitivo que tiveram com a Grécia. A essência da “questão portuguesa” é que já não o podem fazer com o à-vontade com que o faziam antes, visto que há hoje na Europa uma clara divisão entre países no entendimento da aplicação do Tratado Orçamental, em particular nas suas consequências sancionatórias. Não oferece dúvida para ninguém que para Schäuble, Djisselbloem, Dombrovski, a actual solução governativa e a política a que chamam de “reversões” são inaceitáveis e a abater. Não é que Portugal seja muito importante, mas o exemplo é mau. A questão das “reversões” daquilo a que chamam “reformas estruturais”, – insisto, nenhuma das medidas tomadas pelo governo anterior com excepção da legislação laboral foi estrutural, – é para eles vital, porque a sua concepção do controlo do défice e da política

que entendem ser necessária passa por ter como alvo o estado social e os rendimentos do trabalho ou das pensões. Se pensam que é 0,1 ou 0,2% do défice que os irritam, desenganem-se. Já fecharam os olhos muitas vezes a violações bem mais graves ao Tratado. O que eles não querem é que o alvo da austeridade mude. O que protege a França não é só “ser a França”, como disse reveladoramente Juncker, mas ver Valls tão empenhado na nova Lei do Trabalho. Esta é a música que gostam de ouvir. Convém não minimizar o poder destes homens, com origem na Alemanha, que hoje manda na União e que entende que todas as “reformas” necessárias, como se vê nos textos de Schäuble, vão no sentido de tirar os poderes já residuais dos parlamentos nacionais, e ultrapassar a Comissão, que acham demasiado sensível às pressões políticas, para as entregar a um grupo de tecnocratas, certamente escolhido pela Alemanha. Como propõe Schäuble, que sabe muito bem o que quer, essa nova instituição teria poderes para reprovar orçamentos dos estados nacionais e propostas deste tipo são vistas como a resposta “integratória” pós-“Brexit”. Por isso, estes homens olham com preocupação para a situação portuguesa, embora não tenho dúvidas que estão confiantes de que, no momento necessário, a podem esmagar sem contemplações. E podem.


19 hoje macau segunda-feira 11.7.2016

opinião

macau visto de hong kong

N

Médicos de Hong Kong enfrentam mudanças

o passado dia 8, o website “www.scmp. com” anunciou a conclusão da discussão da adenda à proposta de lei sobre o “Registo de Médicos”. Foi resultado de uma Segunda Leitura, que teve lugar no Conselho Legislativo de Hong Kong. Está concluída mais uma etapa do processo inerente à aprovação da proposta de lei. Mas, de facto, não são notícias por aí além, porque apenas 32 horas separam este elenco legislativo do final do seu mandato. No caso de não se conseguir concluir todos os procedimentos necessários à aprovação da proposta de lei, o novo Conselho Legislativo, que tomará posse em Setembro, terá de pegar no processo a partir da estaca zero. Todo o trabalho desenvolvido pelo actual Conselho terá sido em feito em vão. Uma das razões que justifica a lentidão da discussão da proposta de lei, assenta numa campanha de obstrução desencadeada pelo Dr. Leung Ka-lau, o delegado responsável pelo sector da saúde. Leung pediu constantes adiamentos à discussão. “O processo vai ser demorado. O debate continuará na próxima reunião do Conselho Legislativo, a realizar quarta-feira” declarou o Ministro da Saúde, Dr. Ko Wing-man. A proposta pretende atrair mais leigos para o Conselho Médico de Hong Kong, que passará a ter um total de 32 membros. O Governo espera que esta proposta de lei aumente a credibilidade deste Conselho, sobretudo no que respeita à capacidade de gerir e dar resposta às queixas de mau atendimento médico. Os grupos que defendem os direitos dos utentes também estão a favor de uma maior transparência. Um dos casos que provocou mais celeuma foi a morte do filho do conhecido cantor Peter Cheung e da famosíssima Eugina Lau. Este caso data de 2005. O bebé morreu 24 horas após o nascimento. O casal apresentou queixa ao Conselho Médico, acusando o médico assistente de negligência. O julgamento só teve lugar em Maio de 2014, nove anos após o sucedido. O resultado da Segunda Leitura da proposta de lei expressou-se da seguinte forma, 53 votos a favor, 8 contra e 4 abstenções. Este resultado indica que existe uma forte probabilidade de a proposta ser aprovada durante a sessão da próxima semana. Actualmente existem cerca de 13.000 médicos em Hong Kong. O Conselho Médico é composto por 28 membros, metade

Dr House

david chan

“Se a proposta de lei for aprovada, mais de metade dos membros do Conselho Médico passará a ser indigitada pelo Governo. O medo de que o Governo passe a controlar o Conselho é compreensível” dos quais são eleitos pela classe médica, sendo os restantes indigitados pelo Governo. A proposta de lei pretende a criação de mais quatro membros, a serem indigitados pelo Governo e provenientes de áreas não relacionadas com a saúde, ficando assim em minoria os membros eleitos pela classe. Todos sabemos que para se ser médico é preciso estudar imenso. Não é qualquer um que o consegue. Em Hong Kong, são necessários pelo menos seis anos para formar um médico e durante este período os estudantes desfrutam apenas de um mês de férias anuais. Para além disso os médicos estão sujeitos a uma enorme quantidade de normas que regulam as suas condutas profissionais. Ficando em minoria no Conselho Médico, a autonomia da classe será afectada. É, pois, compreensível o seu mal-estar.

Um dos deveres do Conselho Médico é a definição de modelos processuais. Estes modelos não são apenas académicos, estendem-se às competências profissionais. Este corpo de conhecimentos e capacidades não será facilmente entendido por um homem de leis. É por este motivo que o melhor regulador de qualquer classe profissional é um organismo constituído pelos seus próprios membros. Neste sentido, a indigitação de quatro elementos oriundos da área do Direito, não será útil ao Conselho Médico. Agora analisemos o ponto de vista do público em geral. O vulgar cidadão está alheio às dificuldades e exigências da profissão médica. Mas o senso comum diz-lhe que não é normal um caso como o de Peter Cheung arrastar-se durante nove anos. Talvez este caso tenha sido uma excepção, no entanto o website “www.hk.on.cc” publicou mais números no dia 29 do mês passado. Estes números demonstram que é preciso esperar pelo menos 17 meses para dar início a uma investigação por negligência médica. Se a situação envolve procedimento disciplinar contra o médico, então será preciso esperar mais 41 meses. Por outras palavras, vão ser necessários 58 meses para concluir uma queixa contra um médico. Será este tempo aceitável para o público em geral? Se a proposta de lei for aprovada, mais de metade dos membros do Conselho Médico passará a ser indigitada pelo Governo. O

medo de que o Governo passe a controlar o Conselho é compreensível. Alguns comentadores também sugerem que o objectivo deste controlo é diminuir a exigência nos exames de admissão, de forma a que médicos vindos de outros lugares, especialmente da China continental, pudessem vir a ser admitidos em Hong Kong. Com esta entrada de médicos vindos do exterior, o número destes profissionais aumentaria bastante em pouco tempo e a falta de médicos nos Hospitais de Hong Kong poderia ser resolvida rapidamente. Mais uma vez todas estas preocupações são compreensíveis, mas parece que até ao momento, não existem provas claras de que seja este o objectivo do Governo. Colocar mais quatro homens de leis no Conselho Médico poderá fazer aumentar a confiança do público, mas acabará com a “confiança mútua” entre o Governo de Hong Kong e a classe médica. As próximas duas semanas vão ser determinantes para o Governo fazer um balanço entre os interesses da classe médica e a confiança do público. Como Macau vai criar em breve a sua própria Faculdade de Medicina e um Conselho Médico, este caso pode servir de exemplo para ponderar as diversas questões com antecedência. Consultor Jurídico da Associação para a Promoção do Jazz em Macau


Miniatura / O poeta assinou com o velho carimbo chinês / e a criança contemplou / atraída / o sinal bonito / e a matriz / que o fez / Não se podia dizer / onde vibrava mais a poesia / se no papel de arroz / se nos olhos encantados/ do petiz” Beatriz Basto da Silva

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Dois homens encontrados mortos

Foi encontrado um homem com cerca de 30 anos na plataforma do primeiro andar do Centro Internacional de Macau na ZAPE. Segundo o canal chinês da TDM, os bombeiros terão recebido uma chamada no sábado passado a alertar para o incidente. O homem apresentava múltiplas fracturas, tendo acabado por morrer a caminho do hospital. O jovem foi encontrado sem roupa e a Polícia de Segurança Pública (PSP) suspeita que terá caído de uma janela da casa de banho de uma fracção situada no quinto andar de um prédio. A PSP interditou o espaço onde o homem foi encontrado e tentou pedir mais informações acerca das fracções ao redor sem conseguir respostas. O caso está agora em investigação na Polícia Judiciária, que investiga ainda um outro caso, de um homem encontrado morto na zona costeira da Estrada Nordeste da Taipa. Não se sabem as causas da morte.

Fé no futuro

Crença na resolução de falta de mão-de-obra na saúde

O

presidente da Associação de Médicos de Língua Portuguesa de Macau disse acreditar que a falta de clínicos em algumas especialidades na região será resolvida a curto e médio prazo e propôs alterações no plano vacinação local. Jorge Sales Marques afirmou que “continua a haver” no hospital público de Macau falta de profissionais em algumas especialidades, sobretudo cirúrgicas, “que precisavam de ser reforçadas”. “Penso que a curto e médio prazo irá ser resolvido. Se isto será ou não com portugueses, o que interessa, na minha opinião, é que sejam médicos de qualidade acima da média, que sejam médicos que consigam melhorar o apoio e a assistência médica aqui em Macau”, disse aos jornalistas, à margem de uma conferência organizada pela associação, dedicada à pediatria. Esta foi a primeira de quatro conferências que a Associação de Médicos de Língua Portuguesa de Macau vai organizar este ano e a primeira promovida pela actual direcção, presidida pelo pediatra Jorge Sales Marques e eleita em Janeiro passado.

Alterações às vacinas

O presidente da Associação disse que vai propor aos Serviços

de Saúde pequenas alterações ao plano de vacinação, com base “no que se faz hoje internacionalmente”. Uma dessas propostas é que a vacina do HPV (o vírus que provoca o cancro do colo do útero) passe a abranger também os rapazes e comece a ser administrada mais cedo, aos nove anos. Actualmente, as raparigas recebem a primeira dose aos 11 anos. Jorge Sales Marques vai ainda propor que a vacina anti-pneumocócica (que previne infecções graves) passe a ser administrada em menos doses (passando de quatro para três), que a vacina do rotavírus (responsável por gastroenterites agudas) passe a integrar o plano de vacinação de Macau e que a vacina da meningite B seja administrada a crianças que viajam para determinadas zonas do mundo. Segundo o médico, em Macau, a bactéria da meningite B “não é prevalente”. Além da vacinação, a conferência contou ainda com apresentações sobre o défice de atenção e a hiperactividade e sobre os distúrbios alimentares nas crianças e adolescentes. Jorge Sales Marques realçou que a pediatria em Macau “está de boa saúde”. LUSA/HM

segunda-feira 11.7.2016


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