Hoje Macau 11 AGO 2020 #4587

Page 1

MOP$10

TERÇA-FEIRA 11 DE AGOSTO DE 2020 • ANO XIX • Nº4587

CASO IPIM

PUB

RÓMULO SANTOS

DIRECTOR CARLOS MORAIS JOSÉ

HONG KONG

AGNES LAM

ÚLTIMAS CARTADAS

CAÇA ABERTA

DEIXEM-ME EXPLICAR

GRANDE PLANO

PÁGINA 5

PÁGINAS 12 E ÚLTIMA

www.hojemacau.com.mo•facebook/hojemacau•twitter/hojemacau

hojemacau

Abre-te, sésamo A emissão de vistos de turismo para entrar em Macau regressa amanhã, para já, apenas para residentes de Zhuhai. A abertura considerada essencial à retoma económica será gradual, mas o director dos Serviços de Saúde alertou que as restrições podem voltar a apertar caso surjam novas infecções locais de covid-19. Além disso, os residentes de Macau com nacionalidade chinesa podem viajar para toda a China sem terem de cumprir quarentena.

h

PÁGINA 4

O PRIMEIRO QUINTETO COM PIANO MICHEL REIS

A BELA INVENÇÃO PAULO JOSÉ MIRANDA


2 grande plano

11.8.2020 terça-feira

CASO IPIM

OS DOIS LADOS Nas alegações finais apresentadas ontem em tribunal no caso do Instituto de Promoção do Comércio e do Investimento de Macau, o Ministério Público considerou que os factos que alegou foram provados, enquanto a defesa alertou para a falta de provas

O

julgamento do processo que tem Jackson Chang, ex-presidente do Instituto de Promoção do Comércio e do Investimento de Macau (IPIM), no banco dos réus entrou ontem nas alegações finais. O Ministério Público (MP) manteve os crimes, e considerou que todos “os factos da acusação ficaram provados”. Da parte da defesa, o advogado de Jackson Chang disse que o ex-presidente do IPIM “não merece a justiça que passou, mas merece a justiça que será feita”. Descrevendo Jackson Chang como “inocente”, Álvaro Rodrigues pediu para no caso de ter outro entendimento, o tribunal aplicar ou para ponderar pena suspensa se optar por prisão, tendo em conta a personalidade, percurso profissional e tempo de prisão preventiva cumprido pelo arguido. “Por tudo o que aprendemos neste processo, acredito que a prisão preventiva do arguido foi completamente injusta, infundada e infeliz (...). Um pai que even-

tualmente para manter um posto de trabalho a uma filha passou uma informação a essa mesma filha e já pagou com pelo menos um ano de prisão, um ano de humilhação nos media, eu acho que chega”, declarou. O MP alega que Ng Kuok Sao e a esposa, Wu Shu Hua, chefiavam uma associação criminosa criada em 2010, que funcionou até ser descoberta. Durante esse período, a acusação diz que foram falsificados vários documentos para pedir fixação de residência. Os empresários recrutariam clientes e cobravam “taxas exageradas”. O delegado do Ministério Público Pak Wa Ngai disse que a participação de Jackson Chang no alegado grupo “parece ser baixa”, mas deu a entender que o ex-presidente do IPIM não teria recebido várias vantagens ilícitas se tivesse prestado apoio apenas num caso. Lançada a ideia, declarou que “podemos confirmar, sem dúvidas, que participou na associação criminosa”. O advogado de Jackson Chang, contestou a acusação. “A hipótese de ser

MINISTÉRIO PÚBLICO PEDE CONDENAÇÕES, DEFESA APONTA FALTA DE PROVAS

considerado membro de associação criminosa não faz sentido nem chamando as regras de experiência comum”, declarou Álvaro Rodrigues. O advogado argumentou que Jackson Chang denunciou dezenas de casos suspeitos, alguns dos quais relativos a pedidos de fixação de residência tratados pela empresa de Ng Kuok Sao e que indeferiu vários que obrigaram o empresário a devolver o dinheiro aos requerentes. “Não fazia sentido Ng Kuok Sao dar benefícios a quem só lhe prejudicava os negócios”, notou o advogado. Para além disso, argumentou que não há informações novas em relação às outras acusações contra Jackson Chang para justificar que a associação criminosa seja um crime autónomo. Álvaro Rodrigues considera que o Ministério Público não agiu de forma “leal”, por acusar Jackson Chang com o “maior número de crimes possível, na esperança” de condenação. Ao longo da sua intervenção, disse também que o MP teceu acusações “sem provas nenhumas”, e que se “prendeu um inocente”.

DEONTOLOGIA EM CHEQUE

O Ministério Público acusou Jackson Chang de violar “os deveres e o código de deontologia dos funcionários públicos”, e de abuso de poder ao requer informações sobre processos de pedidos

“Essas condutas, sem dúvida, tinham como objectivo ocultar a proveniência ilícita dos interesses.” PAK WA NGAI

Álvaro Rodrigues considera que o MP não agiu de forma “leal”, por acusar Jackson Chang com o “maior número de crimes possível, na

de residência de algumas pessoas. Pak Wa Ngai disse que o ex-presidente do IPIM forneceu dados confidenciais ao empresário Ng Kuok Sao, explicando que no caso de uma requerente deu informações de que o investimento tinha de ser de 13 milhões de patacas. No seguimento, refutou a defesa de a informação de 13 milhões de patacas ser o valor necessário público em 2018. “É absurda essa posição. Mesmo que tenha sido divulgada em 2018, isso não tem efeitos retroactivos no que aconteceu. Antes não

se podia ter acesso a essa informação”, declarou Pak Wa Ngai. O debate sobre que informações do IPIM eram confidenciais foi uma constante nas sessões de julgamento. Para o MP, ficou provado que o montante mínimo de investimento e o progresso dos pedidos não podiam ser divulgados. Da parte da defesa, Álvaro Rodrigues notou a inexistência de uma regra escrita que dite a confidencialidade. O advogado argumentou que os factos da acusação são de uma altura em que o IPIM estava em transição para

adoptar novas medidas, descrevendo como “louvável” a postura de “transparência” de Jackson Chang perante os cidadãos. “Não faz sentido acusar de violação de segredo o funcionário que tem poderes para determinar o que é segredo ou não”, declarou. Sobre ajudar os requerentes em relação ao andamento de processos, o advogado defendeu que “não é abuso de poder, é um dever da administração”. A acusação acredita que Jackson Chang correu o risco de dar as informações a troco de benefícios. Os


grande plano 3

terça-feira 11.8.2020

DA MOEDA

Culpado de ser boa pessoa

Defesa de Miguel Ian rejeita papel de “mentor” em alegado grupo criminoso

O

Ministério Público considera que o alegado grupo de Ng Kuok Sao “dependia” de Miguel Ian para elaborar documentos, e que o antigo funcionário do IPIM assumia o cargo de “mentor” na organização. “Desempenhava um papel muito importante, de mentor e conselheiro porque quando o grupo tinha dificuldades lembrava-se logo dele”, descreveu o delegado do MP. No entender da acusação, os conselhos dados por Miguel Ian não se deviam apenas a uma relação de amizade, já que antes de 2014 ficou dois anos e nove meses sem contacto com Ng Kuok Sao. Depois disso, Pak Wa Ngai descreveu que as conversas entre os dois arguidos se centravam em dois aspectos: pedidos de residência e imóveis na Ilha da Montanha. Para o MP, em troca das informações prestadas, Miguel Ian tinha o objectivo de comprar imóveis na Ilha da Montanha a um valor abaixo do mercado. Em causa está a possível venda de fracções no edifício Star Tower por Ng Kuok Sao, a um preço de 19 mil renminbis por metro quadrado. O MP reconheceu

ocultar a proveniência ilícita dos interesses”, declarou.

A ORIGEM DO DINHEIRO

esperança” de condenação e disse que o MP teceu acusações “sem provas nenhumas” e que se “prendeu um inocente”

salários de Angela Ip, mulher, e Júlia Chang, filha, que trabalharam numa empresa de Ng Kuok Sao em períodos desfasados, estariam entre eles. O MP descreveu que não encontrou vestígios de Angela Ip ter trabalhado na empresa e que Júlia Chang não tinha capacidades para exercer a função de recepcionista, comentando que o seu salário “não era razoável”, por ser mais alto que o de uma colega com habilitações superiores. “Achamos que estes chamados salários eram benefícios do grupo de Ng Kuok Sao a

[Jackson Chang]”, declarou o delegado. Álvaro Rodrigues remeteu a análise desta acusação para hoje, mas frisou que

“Não faz sentido acusar de violação de segredo o funcionário que tem poderes para determinar o que é segredo ou não.” ÁLVARO RODRIGUES

tanto a mulher como a filha trabalharam na empresa e que os investigadores do Comissariado contra a Corrupção (CCAC) o admitiram. O MP alegou ainda que Jackson Chang forneceu informações através da filha. “Júlia desempenhou um papel importante entre Jackson Chang e Ng Kuok Sao”, disse Pak Wa Ngai, acrescentando que isso ocultou a ligação entre os dois homens. Para além disso, recordou que o ex-presidente do IPIM pediu à mulher para apagar mensagens. “Essas condutas sem dúvida tinham como objectivo

Para além da família, o MP descreveu que o empresário deu “lai sis” com regularidade a Jackson Chang. A lógica da acusação é que por não ter sido descoberto que o ex-presidente tenha dado informações a outras pessoas, a proveniência dos “lai sis” seria Ng Kuok Sao. No caso de 500 mil dólares de Hong Kong que o casal emprestou a um amigo, a acusação não encontrou transferências bancárias desse valor nas contas de Angela Ip ou Jackson Chang. A teoria é que esse numerário “não vinha das contas bancárias nem de rendimentos normais dos dois”, mas antes de pagamentos de Ng Kuok Sao que o casal guardaria. “Se tivesse depositado no banco seria mais fácil ser descortinada esta forma de entrega em numerários para ocultar proveniência ilícita desses bens”, descreveu. De acordo com o MP, o dinheiro em numerário que permitiu a compra de dois relógios e 51 mil patacas encontradas no gabinete de Jackson Chang tem a mesma origem. Adefesa abordou alternativas para a origem do dinheiro. Descreveu que entre Abril de 2011 e Março de 2014 foram levantadas 544,500 mil

patacas de contas de Jackson Chang, e que entre 2016 e 2018 foram levantados 230 mil dólares de Hong Kong. “Montante mais do que suficiente para comprar dois relógios. E repare que para fazer esse exercício não precisamos de ‘powerpoint’”, comentou. Álvaro Rodrigues frisou ainda que o arguido ganhava em média 1,3 milhões de pa-

O RUMO NORMAL

E

m relação a Glória Batalha, o Ministério Público entende que revelou dados internos do IPIM e que os passou para fora do organismo. Apesar de reconhecer que a informação se destinava a alguém que tinha qualificações de quadro qualificado, o MP defendeu que o processo devia ter seguido os trâmites normais, sem avaliação

preliminar. “Segundo as testemunhas do IPIM, isso não acontece nos processos normais”, disse o delegado Pak Wa Ngai. Explicou que na falta de elementos, os funcionários faziam uma audiência escrita, “mas nunca com avaliação preliminar”. Assim, defendeu que os crimes de abuso de poder e violação de segredo devem ser dados como provados.

que Miguel Ian ainda não adquiriu essas fracções, mas argumentou que 20 por cento dos imóveis permanecem disponíveis para compra. A defesa da ex-chefia também foi ouvida ontem e disse que os imóveis disponíveis pertencem a uma testemunha do caso, frisando que Miguel Ian “não chegou a receber vantagens ilícitas nem tinha motivo para falsificar documentos” para o grupo de Ng Kuok Sao. Além disso, a defesa descreveu que entre as mensagens trocadas entre os dois só três eram sobre a Star Tower e duas sobre pedidos de residência, num universo de mensagens em que havia 47 a combinar refeições. O advogado Jorge Ho declarou que Miguel Ian “não sabia” que o conteúdo dos documentos apresentados ao IPIM era falso, e que o empresário “estava a aproveitar-se dele”. Descreveu assim que Miguel Ian foi “demasiado boa pessoa” e que “por causa desta acusação perdeu o emprego, a família perdeu o pilar de sustento económico”.

tacas e que era proprietário de dois imóveis na Taipa, juntamente com a mulher. Uma das fracções foi hipotecada em 2013 por 4,9 milhões de patacas. Depois de um contrato promessa de compra e venda na ilha de Hengqin de 2,9 milhões de renminbis, restavam 1,5 milhões de patacas. O advogado notou que o investigador chefe do CCAC não conseguiu confirmar a origem do dinheiro. “No direito penal, meter uma pessoa na cadeia sem provas directas? Só com experiência comum?”, alertou. O causídico argumentou que a experiência comum foi usada pela acusação para “restituir os factos”. Salomé Fernandes

info@hojemacau.com.mo


4 coronavírus

P

ODE muito bem ser o primeiro sinal de retorno a alguma normalidade fronteiriça e até de reactivação económica de maior escala em Macau. O Governo anunciou que a partir de amanhã será retomada a emissão de vistos de turismo para os residentes de Zhuhai que pretendem entrar em Macau, tanto individuais, como de grupo. Obtendo o visto, os visitantes passam a estar isentos de quarentena à entrada em Macau, tendo apenas de apresentar um teste de ácido nucleico negativo e fazer prova que, nos 14 dias anteriores não estiveram em Hong Kong, Taiwan ou no estrangeiro. A medida foi avançada ontem pela secretária para os Assuntos Sociais e Cultura, Ao Leong U. “A partir do dia 12 de Agosto os vistos de turismo individuais e de grupo vão voltar a ser emitidos para a cidade de Zhuhai e (…) para os cidadãos de Zhuhai virem a

TIAGO ALCÂNTARA

A partir de amanhã é retomada a emissão de vistos de turismo, individuais e de grupo, para quem vem de Zhuhai. Também a partir de amanhã os residentes de Macau podem viajar para toda a China sem necessidade de quarentena. Quem não tem passaporte chinês continua de fora. Basta haver um caso para as restrições voltarem, alerta Lei Chin Ion

11.8.2020 terça-feira

FRONTEIRAS VISTOS TURÍSTICOS ENTRE ZHUHAI E MACAU A PARTIR DE AMANHÃ

As portas estão abertas

Macau”, sublinhou a secretária, por ocasião da conferência de actualização do novo tipo de coronavírus. Questionada sobre a razão pelo qual a nova medida se restringe a Zhuhai e não inclui a recentemente “aberta” província de Guangdong, Ao Leong U argumentou que este é um processo que tem de ser feito gradualmente e de acordo com a evolução da epidemia, antes de serem dados novos passos. “Temos de observar se as medidas tomadas são ou não suficientes,

“É simples! Basta aparecer um caso em Macau (…) serão reforçadas novamente as medidas.” LEI CHIN ION DIRECTOR DOS SERVIÇOS DE SAÚDE

Testes Rastreio em crianças só por via nasal Os testes de ácido nucleico para menores de 18 anos terão de ser feitos através da via nasal (zaragatoa nasofaríngea), sendo que os maiores de idade podem optar também pela recolha de amostras por via oral (zaragatoa de orofaringe). A medida foi anunciada no seguimento de mais um incidente envolvendo um menor que terá engolido a extremidade da zaragatoa usada no exame. “Todas as crianças com menos de 18 anos vão ser obrigadas a ser testadas via nasofa-

para depois comunicarmos ao Governo Central as nossas intenções de retomar a emissão de vistos a partir de outras regiões”, começou por responderAo Leong U. “Pode existir um ressurgimento da epidemia. Temos de observar a situação, garantindo que tudo é seguro para passarmos à próxima etapa”, acrescentou.

POR FIM, A CHINA

Na conferência de ontem, Ao Leong U anunciou ainda que a partir de amanhã os residentes de Macau com passaporte chinês ou salvo conduto podem viajar para toda a China sem necessidade de fazer quarentena. As condições para viajar além de Guangdong mantêm-se iguais às anteriormente definidas para circular na província, com a agravante de ser aconselhada a obtenção do relatório do teste de ácido nucleico em suporte físico, ou seja, em papel. “A partir do dia 12 de Agosto, os residentes de Macau que entram

ríngea”, esclareceu a médica Leong Iek Hou. Sobre o caso registado na manhã de ontem e que envolveu uma bebé de 9 meses, a responsável garantiu que, depois de ter sido transportada para o hospital, a criança encontra-se em “situação estável”. Foi ainda solicitado à empresa responsável, “Companhia de Higiene Exame Kuok Kim (Macau) Limitada”, a entrega de um relatório detalhado do incidente. No final de Julho, o caso envolveu uma criança de sete anos.

no interior da China, com um historial de viagem sem passagens no estrangeiro nos últimos 14 dias e um código de saúde que confirme o resultado negativo ao teste de ácido nucleico, válido nos últimos sete dias, passam a estar isentos de observação médica de 14 dias. Se os cidadãos quiserem sair além de Guangdong devem pedir o suporte em papel do teste de ácido nucleico porque não é fácil estabelecer o reconhecimento mútuo do código de saúde com outras cidades da China”, explicou a secretária. Excluídos das isenções de quarentena continuam os residentes estrangeiros, dando assim continuidade à medida restritiva implementada por Pequim desde Março. “AChina ainda não admite a entrada de estrangeiros, isto é só para residentes de Macau titulares de passaporte da China ou de outros documentos de identificação emitidos pela China”, esclareceu a secretária.

Ao Leong U avisou ainda que as medidas nas fronteiras podem voltar para trás caso se verifique um “agravamento da situação epidémica”. O Director dos Serviços de Saúde, Lei Chin Ion, corroborou o cenário, vincando que basta existir um novo caso em Macau para as restrições voltarem. “É simples! Basta aparecer um caso em Macau. Não estou a falar de casos importados, mas se aparecer um caso confirmado de transmissão local, serão reforçadas novamente as medidas. Se forem registados mais de 10 caso locais, Macau passa a ser considerada uma zona de alto risco. Até lá, é uma zona de médio risco, mas também temos medidas para essa situação”, garantiu Lei Chin Ion. Pedro Arede

pedro.arede.hojemacau@gmail.com

DSEJ Lançada plataforma para apoiar estudantes em Portugal Numa altura em que o ano lectivo está “prestes a começar”, o subdirector substituto da Direcção dos Serviços do Ensino Superior (DSEJ), Chan Iok Wai, anunciou o lançamento de uma plataforma de registo no portal do organismo, com o objectivo

de apoiar os estudantes que se encontram em Portugal. O registo pode ser feito a partir do meio-dia de hoje e os estudantes têm de fornecer informações “como o nome da universidade, o curso ou ano e dados de contacto” e ainda o motivo pelo qual

“não querem, por enquanto, regressar a Portugal”. Sobre os estudantes que decidiram permanecer em Portugal, Chan Iok Wai afirmou que podem contactar a Delegação Económica e Comercial em Lisboa, caso necessitem de qualquer tipo de apoio.


política 5

terça-feira 11.8.2020

AL AGNES LAM EXPLICOU VOTO A FAVOR DE CRIMINALIZAÇÃO DE “NOTÍCIAS FALSAS”

Votar com o estabelecimento

A

deputada Agnes Lam esteve entre os 27 membros da Assembleia Legislativa que na semana passada votaram a favor das alterações à Lei de Protecção Civil, que criminalizam notícias consideradas falsas pelas autoridades. Este foi um dos aspectos mais polémicos da lei que levou o Governo a apresentar uma segunda versão do diploma, após críticas do sector. Apesar das mudanças, quatro deputados do campo democrata votaram contra o artigo. Feita a votação, a legisladora sentiu necessidade de explicar o seu voto, num comunicado publicado nas redes sociais, durante o fim-de-semana. A “cedência” do Executivo foi utilizada como justificação: “Será que podemos votar contra uma lei que já foi alterada, após termos pedido algumas alterações? Sim, podemos. Mas se votarmos contra, que motivação tem o Governo para fazer cedências no futuro?”, argumentou Agnes Lam. A deputada eleita pela via directa considerou ainda que se tivesse votado contra o artigo polémico no futuro não poderia exercer influên-

cia junto do Executivo para outras alterações necessárias: “Este voto a favor não é apenas devido às mudanças feitas [no diploma], é também para manter a capacidade de lutar por mudanças no futuro”, vincou. “É um aspecto político, e espero que todos compreendam”, apelou. Sobre o conteúdo do documento, Agnes Lam defendeu que as duas objecções que tinha foram alteradas pelo secretário Wong Sio Chak, após uma reunião. A deputada considerava ser inaceitável que os órgãos de comunicação social estivessem obrigados por lei a

“Com as mudanças [...] senti que os requisitos para haver condenação eram aceitáveis e que seria impossível condenar alguém sem intenção de cometer o crime.” AGNES LAM DEPUTADA

aderir à propaganda oficial, porque isso “facilmente levaria à interferência na liberdade de imprensa”. Segundo Agnes Lam, como esta obrigação foi removida na segunda versão da lei, nada impedia que votasse a favor.

VERSÃO ACEITÁVEL

Quanto à segunda objecção, a legisladora afirmou ser contra a utilização da expressão “por quaisquer outros motivos” no artigo que criminalizava a difusão de notícias falsas. Como a expressão foi removida, Agnes Lam considerou que já podia votar a favor. Porém, a legisladora defendeu que o Executivo até foi mais longe e alterou outros aspectos, como a obrigatoriedade de estar declarado o estado de emergência para haver crime, assim como a obrigatoriedade de provar intenção de causar pânico e dificultar as operações de resgate e salvamento.

Autocarros Motoristas dizem que câmaras são usadas para os controlar Lei Chan U, ligado aos Operários, defende que o Governo deve apertar a supervisão aos equipamentos de videovigilância nos autocarros. O deputado argumenta que as câmaras estão a ser utilizadas para controlar o trabalho dos motoristas, além da segurança dentro dos veículos. Em declarações ao jornal Ou Mun, o legislador afirmou ter recebido várias queixas de motoristas, que dizem que entre as oito câmaras instaladas nos autocarros há equipamentos que são utilizados

haver condenação eram aceitáveis e que seria impossível condenar alguém sem intenção de cometer o crime. O artigo reuniu os requisitos pelos quais lutei e, por isso, decidi votar a favor”, explicou. A resposta acabou por não convencer todos os seguidores da deputada, e num comentário Agnes Lam foi mesmo confrontada com o facto de agora falar em objecções à versão inicial, mas no dia da votação na generalidade ter saído do Plenário sem votar. A deputada defendeu-se e respondeu que o facto de ser contra um artigo individual não faz com que seja contra o restante conteúdo do diploma.

RÓMULO SANTOS

A deputada defende que perdia legitimidade para “negociar” com o Governo se tivesse votado contra a segunda versão da lei. Como tal, Agnes Lam argumenta que o voto a favor da criminalização das fake news foi para manter “a capacidade de lutar por mudanças no futuro”

contra os profissionais e que abrem portas a ameaças de suspensões e despedimentos. Alguns motoristas revelaram que este meio é uma ferramenta de vingança das empresas. Ainda de acordo com Lei Chan U, quando as concessionárias de autocarros fizeram o pedido para instalar as câmaras não foi mencionado que iriam gravar imagens. Assim sendo, o deputado diz que sem autorização prévia podem acontecer violações à lei de protecção de dados pessoais.

Finalmente, segundo a deputada, também só haverá condenação no caso de a informação falsa estar PUB

relacionada com os mecanismos de resposta a crises. “Com as mudanças [...] senti que os requisitos para

João Santos Filipe

joaof@hojemacau.com.mo


6 sociedade

11.8.2020 terça-feira

TURISMO COUTINHO QUER QUOTAS PARA RESIDENTES NOS ‘RESORTS’

“As medidas introduzidas estão a resultar, como é o caso da aquisição de bilhetes a preços módicos, o que fez com que, aos fins-de-semana, em especial o último que passou, as concessionárias estivessem lotadas”, acrescentou.

O deputado quer que o Governo aproveite a revisão dos contratos de exploração de jogo para exigir às concessionárias a criação de quotas para residentes que permita continuar a usufruir dos hotéis e ‘resorts’ quando a entrada de turistas do Interior da China for normalizada. A proposta vai ser apresentada ao Chefe do Executivo

INVESTIMENTO INTERNO

Aproveitar a onda

O

RÓMULO SANTOS

deputado da Assembleia Legislativa (AL) José Pereira Coutinho defendeu ontem que o Governo deve passar a exigir aos casinos uma quota turística para residentes, nos ‘resorts’ de luxo, durante a revisão das concessões do jogo. À agência Lusa, o deputado disse que as medidas do Governo de incentivo ao turismo doméstico resultaram, assim como os pacotes de descontos promovidos pelas concessionárias do jogo que exploram os ‘resorts’ integrados. No entanto, defende Pereira Coutinho, é preciso dar continuidade a essa política. “Tendo em conta a pandemia e as restrições de deslocação de residentes de Macau para o exterior, o Governo introduziu medidas extremamente positivas em articulação com as concessionárias de jogo, o que permite que, sobretudo aos fins-de-semana e feriados, as famílias possam usufruir de hotéis e ‘resorts’, locais de diversão muito virados para as famílias, muitas das quais nunca tinham sequer entrado naqueles locais”, explicou.

Emprego Associação pede apoios face à falta de empregadas domésticas O presidente da Associação Macau Oversea Worker Employment Agency, que reúne as agências de contratação de trabalhadores não-residentes (TNR), queixou-se da escassez de empregadas causada pela situação de pandemia. Segundo Ao Ieong Kuong Kao, cada vez menos pessoas recorrem a agências de emprego para contratar empregadas

domésticas, porque sentem que as agências não dão resposta ao problema e porque sentem que vão ter mais sucesso na contratação pelos seus meios. O presidente da associação queixou-se que a contratação à margem das agências está a inflacionar o mercado, o que faz com que os salários, que eram de 4 mil patacas por mês antes da pandemia,

já tenham subido para 4.500 a 5 mil patacas. Segundo Ao Ieong, a situação deverá manter-se até ao fim da pandemia e por isso defende que o Executivo se coordene com as organizações sem fins lucrativos para criar um esquema de empregadas flexíveis. O objectivo é fazer com que as empregadas possam ir a várias casas, sem ter um patrão fixo.

É neste contexto que o deputado vem defender que “na revisão dos contratos seja introduzida uma percentagem para os residentes de Macau poderem, no futuro, continuar a beneficiar dessas medidas, mesmo quando começarem a surgir mais turistas do continente”. “Esta quota turística local deveria fazer parte da responsabilização das concessionárias para com o território, porque a maior parte dos lucros não é investida em Macau”, salientou.

“Esta quota turística local deveria fazer parte da responsabilização das concessionárias para com o território, porque a maior parte dos lucros não é investida em Macau.” JOSÉ PEREIRA COUTINHO DEPUTADO

A proposta vai ser apresentada ao líder do Governo “no âmbito do diálogo permanente com o Chefe do Executivo”, para se deixar a mensagem de que as acções foram positivas, mas que merecem continuidade”, sustentou. O Governo de Macau prometeu avançar com um concurso público até 2022, ano em que terminam as licenças de exploração do jogo.

DEMOGRAFIA POPULAÇÃO DE MACAU RECUA DEVIDO À SAÍDA DE TNR

N

O fim de Junho, a população total de Macau somava 685.400 pessoas, registo que traduz uma queda trimestral de 10.700 habitantes contabilizados no território. Segundo a Direcção dos Serviços de Estatística e Censos (DSEC), a queda deve-se ao facto de “o número de trabalhadores não residentes [TNR] que viviam em Macau ter caído”. De acordo com uma nota divulgada ontem, no final de Junho, o número de TNR que estavam em Macau era de 186.427, ou seja, menos 3.091 indivíduos, comparando com o final do primeiro trimestre de 2020 (189.518). Ainda sobre a situação dos TNR, a DSEC reporta que a emissão de documentos cresceu 21,2 por cento e que, pelo contrário, o seu cancelamento caiu 10,7 por cento. De um trimestre para o outro, foram ainda autorizados a residir em Macau mais 219 pessoas, um aumento de 31,1 por cento. Quanto às autorizações de residência caducadas totalizaram 203, um aumento de 43,0 por cento em termos trimestrais. Entre Abril e Junho registaram-se 1.409 nascimentos, mais 26, em termos trimestrais. Contabilizando, na primeira metade de 2020 nasceram 2.792 bebés, menos 83, face ao idêntico período de 2019. Já quanto aos óbitos, registaram-se 525 Abril a Junho, menos 19, comparando com o primeiro trimestre do ano. No total do semestre assinalaram-se 1.069 óbitos, menos 98, em relação ao mesmo período de 2019. Segundo a DSEC, no segundo trimestre deste ano havia ainda 386 indivíduos do Interior da China recém-chegados a Macau titulares de “Salvo-Conduto Singular”, menos 247, em termos trimestrais. Destaque ainda para a tendência decrescente do número de casamentos do território. Entre Abril e Junho foram registados 625 casamentos, menos 96 em termos trimestrais. No primeiro semestre de 2020 observaram-se 1.346 casamentos registados, correspondendo a um decréscimo de 627, em comparação com o mesmo período homólogo de 2019. P.A.


sociedade 7

terça-feira 11.8.2020

JOGO CABO VERDE ADMITE ATRASOS NA CONSTRUÇÃO DE RESORT DA MACAU LEGEND

Vai devagar, devagarinho

O hotel e casino a ser construído no ilhéu da Praia representa um investimento de 2,4 mil milhões de patacas para a Macau Legend, mas as obras decorrem a ritmo reduzido, devido à pandemia mundial

O

Governo cabo-verdiano admite que a pandemia de covid-19 deverá atrasar a conclusão do hotel-casino que o grupo Macau Legend está a construir na Praia, mas acredita que o investimento, de aproximadamente 2,4 mil milhões de patacas, não está em causa. Em declarações à agência Lusa, o ministro do Turismo, Carlos Santos, garantiu que tal como o empreendimento que o grupo do empresário David Chow está a implantar entre o ilhéu de Santa Maria e o litoral da Praia, os grandes investimentos no sector turístico em Cabo Verde não foram colocados em causa pelos promotores, até ao momento, apesar das consequências da covid-19. “Creio que não. E nem temos tido sinais nesse sentido [da pandemia colocar em causa investimento do grupo Macau Legend]. Aliás, digo que a esmagadora maioria dos investidores que estão a fazer investimentos em Cabo Verde [...] com a realização dos voos de repatriamento solicitaram ao Governo autorização para fazerem chegar os seus técnicos a Cabo Verde para dar continuidade aos projectos”, afirmou Carlos Santos. O grupo Macau Legend anunciou em Março que prevê inaugurar no final de 2021 o hotel-casino na cidade da Praia, em Cabo Verde, após em 2019 ter previsto a conclusão da obra para o final do corrente ano. “Em Cabo Verde, a construção do novo complexo de hotel e casino está em andamento e esperamos uma abertura gradual deste negócio no final de 2021”, apontou o grupo, em comunicado, mas adiantando que o “plano de construção do complexo hoteleiro e casino está actualmente a ser analisado”.

POSSÍVEIS ATRASOS

“Não tem havido manifestação de vontade de desistir. É muito bom, significa que os empresários e os investidores estão a acreditar no país, no destino Cabo Verde e na capacidade de continuar a crescer, nas oportunidades de negócio que temos”, insiste Carlos Santos, apesar de as obras do futuro hotel-casino decorrerem há vários

grandes investimentos as coisas continuarão”.

ACORDO DE 2015

Em 2015, David Chow assinou com o Governo cabo-verdiano um acordo para a construção do empreendimento, tendo sido lançada a primeira pedra do projecto em Fevereiro de 2016. Trata-se do maior empreendimento turístico de Cabo Verde, com um investimento global previsto de 250 milhões de euros [2,4 mil milhões de patacas] - cerca de 15 por cento do Produto Interno Bruto (PIB) cabo-verdiano - para a construção de uma estância turística no ilhéu de Santa Maria, que cobrirá uma área de 152.700 metros quadrados, inaugurando a indústria de jogo no arquipélago.

“Nós temos tido informações que eles [Macau Legend] continuam com as obras. Obviamente que neste momento, com a pandemia, houve um desacelerar.” CARLOS SANTOS MINISTRO DO TURISMO DE CABO VERDE

meses com poucos trabalhadores no local e sem avanços visíveis, além da construção da ponte que liga a Praia (ilha de Santiago) ao

A DOCA NÃO ESTÁ À VENDA

M

elinda Chan, directora executiva da Macau Legend e mulher do empresário David Chow, garantiu ontem ao jornal Ming Pao, de Hong Kong, que a empresa não tem a intenção de vender a Doca dos Pescadores, nem de desistir do mercado de Macau. As declarações foram citadas pelo portal GGR Asia, que refere ainda que havia empresas promotoras do jogo em Macau que haviam mostrado interesse em adquirir o empreendimento.

ilhéu de Santa Maria, concluída há vários meses. “As informações são as normais. Nós temos tido informações que eles continuam com as obras. Obviamente que neste momento, com a pandemia, houve um desacelerar, mas não temos tido informações contrárias, de que há desistência, e entendemos que aquela obra é para continuar, porque é um investimento de grande

porte. E vai continuar de certeza”, garantiu o ministro. Ainda assim, um novo atraso na conclusão da empreitada, que Carlos Santos garante ser um “projecto estruturante para o turismo em Cabo Verde”, não é descartada: “Provavelmente terá de haver aí algum atraso, precisamente por causa das paragens que existiram. Mas estamos esperançados que no que diz respeito aos

A obra envolve a construção de um hotel com ‘boutique casino’, de 250 quartos, uma grande piscina e várias instalações para restaurantes, bares e estabelecimentos comerciais, além de uma marina. Contudo, uma minuta de adenda ao acordo entre a empresa e o Governo cabo-verdiano, de Abril de 2019, refere que, “considerando que, face à evolução da envolvente nacional do empreendimento nos últimos dois anos, o promotor sugeriu, e o Governo entendeu aceitar, uma proposta de realização do projecto de investimento por fases”. Assim, nesta primeira fase do projecto, que deveria então estar concluída dentro de 22 meses, serão investidos 90 milhões de euros [848 milhões de patacas]. David Chow recebeu uma licença de 25 anos do Governo de Cabo Verde, 15 dos quais em regime de exclusividade na ilha de Santiago. Esta concessão de jogo custou à CV Entertaiment Co., subsidiária da Macau Legend, cerca de 11,2 milhões de patacas.

SMG Ciclone tropical “Mekkhala” não deve afectar Macau A Direcção dos Serviços Meteorológicos e Geofísicos (SMG) considera reduzida a possibilidade de o ciclone tropical “Mekkhala” vir a afectar Macau. Numa nota divulgada ontem, as autoridades dizem esperar que nos próximos dias o ciclone tropical se mova

para norte, em direcção ao estreito de Taiwan e à costa de Fujian. “A intensidade do ciclone tropical é fraca e a sua circulação, é relativamente pequena. Deste modo, a depressão tropical não deverá afectar Macau”, concluem os serviços meteorológicos.


8 publicidade

11.8.2020 terรงa-feira


terรงa-feira 11.8.2020

publicidade 9


10 eventos

11.8.2020 terça-feira

A madeira dos FRC PALESTRA DISCUTE IMPORTÂNCIA DA ESTÉTICA NO AMBIENTE IDEAL PARA O ESTUDO

Fong Lin Wa, presidente da Câmara de Comércio de Móveis e Antiguidades de Macau, vai ser o orador do evento que tem como tema a importância da estética na criação da sala de estudo ideal. A palestra está marcada para sexta-feira, às 18h30, na Fundação Rui Cunha

O

papel da estética na criação da sala de estudo como um lar e a importância para a reflexão de uma classe intelectual são os temas em discussão na Fundação Rui Cunha, na sexta-feira às 18h30. O evento co-organizado pela Câmara de Comércio de Móveis e Antiguidades de Macau será apresentado em cantonês com interpretação simultânea para inglês, e vai ter como principal orador o presidente Fong Lin Wa. Com o tema “Elegância dos Literatos I – Introdução aos Objectos de Madeira da Classe Intelectual”, Fong Lin Wa vai partilhar a história de quatro objectos raros feitos de madeira de sândalo vermelho e como estes foram importantes na constituição de um ambiente propício à reflexão de antigos estudiosos. Os objectos em causa são uma caixa e capa embelezada, um suporte para tinta, uma mesa e ainda um ceptro Ruyi de madeira esculpida. Não só de palavras vai viver a palestra que promete cativar outros sentidos, como o tacto. Assim sendo, os participantes vão ter a oportunidade para tocar nos objectos e sentirem a textura da madeira de sândalo vermelho, matéria-prima originária da Índia e

que ao longo da história foi muito utilizada na escultura, principalmente em móveis, mas também em representações religiosas ligadas ao hinduísmo. Além dos objectos, a palestra vai abordar a ligação com os intelectuais na criação de um ambiente propício ao estudo. “Uma sala de estudo antiga não seria apenas um espaço físico destinado ao trabalho e produção intelectual, mas também uma habitação espiritual de antigos letrados chineses, tendo como lema ‘lar é onde está o coração’, tal como ecoa na reflexão poética de Su Dongbo”, é explicado no comunicado sobre o evento.

“Uma sala de estudo antiga não seria apenas um espaço físico destinado ao trabalho e produção intelectual, mas também uma habitação espiritual de antigos letrados chineses.” FUNDAÇÃO RUI CUNHA

Dongbo viveu entre 1037 e 1101, e é considerado um dos pensadores mais influentes da Dinastia Song. Além da influência a nível do pensamento político, afirmou-se como homem das artes, com trabalhos de caligrafia, pintura, poesia, e até gastronomia e farmacologia. Ao longo da palestra vai também ser abordado o contexto das “tradicionais salas de estudo, repletas de peças de arte de refinada elegância”, ao mesmo tempo que vai traçar-se um perfil sobre “o gosto estético desta classe de eruditos”.

MERCADO DE ARTE

A palestra de sexta-feira resulta de um esforço conjunto entre a Fundação Rui Cunha e a Câmara do Comércio de Móveis e Antiguidades de Macau, uma associação sem fins lucrativos que tem como objectivo “incentivar o desenvolvimento do mercado de arte antiga em Macau”, ao mesmo tempo que tenta promover “a cultura artística chinesa” e reforçar a “comunicação e o profissionalismo” da indústria. Fong Lin Wa é o actual presidente da associação e ao mesmo tempo o CEO da empresa Old House Gallery, que fundou em 1993 e se dedica à venda de materiais de colecção. Conta com mais de 30 anos de experiência no ramo das peças de mobiliário antigo. A Câmara do Comércio de Móveis e Antiguidades de Macau, e a Old House Gallery, vão estar ainda representadas na palestra através de Fong Mei Leng, que vai assumir a posição de anfitriã. Fong tem um mestrado em Arte Empresarial na Universidade de Tsinghua, uma das mais conceituadas do Interior, e também no Instituto de Arte da Sotheby’s, uma multinacional dedicada a leilões e venda de objectos de arte. João Santos Filipe

joaof@hojemacau.com.mo


eventos 11

terça-feira 11.8.2020

s literatos

Balão de oxigénio Luísa Costa Gomes e Vhils entre vencedores de concurso Netflix/ICA

P

ROJECTOS da escritora Luísa Costa Gomes, do artista Alexandre Farto (Vhils) e do realizador Luís Filipe Rocha estão entre os dez vencedores do concurso promovido pela plataforma Netflix com o ICA, anunciou ontem este instituto. Os dez projectos vencedores do concurso de apoio à escrita de argumentos para autores em Portugal, promovido pela plataforma Netflix com o Instituto do Cinema e do Audiovisual (ICA) foram divulgados no ‘site’ oficial daquela instituição, tutelada pelo Ministério da Cultura. “Paradoxa” (ficção), de Luísa Costa Gomes, “Paredes Brancas, Povo Mundo” (documentário), deAlexandre Farto (Vhils), André Costa, Catarina Crua e Ricardo Oliveira, e “Barranco dos Cegos” (ficção), de Luís Filipe Rocha, são três dos projectos apoiados com seis mil euros. Além destes três, são ainda apoiados com seis mil euros “Cleptocracia” (ficção), de João Brandão, e “This is not a kanga” (documentário), de João Nuno Pinto, Fernanda Polacow e Bruno Morais Cabral). Os restantes cinco projectos vencedores serão apoiados com 25 mil euros: “Finisterra” (ficção), de Guilherme Branquinho e Leone Niel, “My name is Jorge: A redemption story” (documentário), de Sofia Pinto Coelho, “O chefe

Jacob” (ficção), de Raquel Palermo e João Lacerda Matos, “Rabo de Peixe” (ficção), de Augusto Fraga, Marcos Castiel e André Szankowski, e “Victoria” (ficção), de Dinis M. Costa. De acordo com informação divulgada pelo ICA em Junho, foram admitidas a este concurso 1.198 projectos, identificados na altura apenas com o título – havia 18 sem título -, sem identificação da respectiva autoria.

EUROS E COVID-19

A parceria entre o ICA e a Netflix, anunciada em Abril, apoia com 155 mil euros “os dez melhores projectos” de séries de ficção ou documentário, apresentados por “argumentistas e autores residentes em Portugal”. Segundo o regulamento, houve uma pré-selecção por um júri português, mas foi a plataforma Netflix a selecionar os projectos a serem financiados, atribuindo 25 mil euros a cada um dos cinco melhores e seis mil euros a cada um dos restantes. O júri que fez a pré-selecção dos projectos integrou a directora de conteúdos da Netflix, Verónica Fernández, o adjunto de comunicação da Fundação Calouste Gulbenkian, Luís Proença, o escritor Possidónio Cachapa, a jornalista Isabel Lucas e o realizador Jorge Paixão da Costa.

Óbito Morreu músico Waldemar Bastos

O músico angolano Waldemar Bastos morreu ontem de madrugada em Lisboa, vítima de cancro, aos 66 anos, disse fonte do gabinete de comunicação do Ministério da Cultura, Turismo e Ambiente de Angola. Nascido na província de M'Banza Kongo, o cantor, galardoado com o prémio de New Artist of the Year nos World Music Awards em 1999, estava em tratamentos oncológicos há um ano, refere a tutela angolana. Em 2018, o músico foi distinguido com o Prémio Nacional de Cultura e Artes, a mais importante distinção do Estado angolano nesta área. Apresentando-se com uma sonoridade que o próprio definia como "afro-luso-atlântica", Waldemar Bastos foi também o único não fadista a cantar na cerimónia de transladação, no Panteão Nacional, em Lisboa, do corpo de Amália Rodrigues, de quem era amigo.

Cinema Infantil ARTmusing volta com 8 filmes

O festival “ARTmusing” está de regresso com oito filmes, a pensar nas crianças e adolescentes, que vão ser exibidos entre 27 e 30 de Agosto no Centro Cultural de Macau. O arranque é feito a meio-gás e nos dias 27 e 28 são exibidos “O Príncipe Perdido” e “Rocca Muda o Mundo”, respectivamente. No sábado são exibidos dois filmes, “Abelha Maia” e “Klara a Super Estrela”. Finalmente, no dia 30, domingo, são exibidos: “Balada do Tibete”, “Vale de Moomin” e “Harvie e o Museu Mágico”. A entrada está limita à capacidade do auditório pequeno do CCM e por cada filme é cobrado um bilhete que curta 60 patacas.


12 china

11.8.2020 terça-feira

HK DONO DO APPLE DAILY DETIDO POR CONLUIO COM FORÇAS ESTRANGEIRAS

Uma maçã por dia

O empresário Jimmy Lai foi ontem detido ao abrigo da nova lei de segurança nacional. Pelo menos, sete outras pessoas foram detidas, incluindo dois filhos do magnata, e a redação do Apple Daily foi sujeita a buscas, enquanto os jornalistas transmitiam a operação nas redes sociais

F

OI detido em casa, cerca das 7h. Os nossos advogados estão a caminho da esquadra”, disse à agência de notícias France-Presse (AFP) Mark Simon, um dos colaboradores de Lai. Simon acrescentou que outros membros do grupo de comunicação social dirigido por Jimmy Lai também tinham sido detidos. Momentos antes, na rede social Twitter, Mark Simon tinha anunciado: “Jimmy Lai está agora a ser detido por conluio com potências estrangeiras”. Um responsável da polícia disse, a coberto do anonimato, à AFP que Lai foi detido por conluio com forças estrangeiras, um dos crimes previstos na nova lei de segurança nacional, e por fraude. Através do Twitter, Mark Simon indicou ainda que a polícia estava a fazer buscas na casa de Lai e na do filho. O South China Morning Post adianta que o próprio Mark Simon, que não se encontra em Hong Kong, é procurado pela polícia. Mais de duas centenas de polícias estiveram envolvidos na operação que tomou o edifício da Next Digital, a empresa que detém o Apple Daily, em Tseung Kwan O. Em declarações ao South China Morning Post, fontes policiais afirmaram que a operação não teve como

alvos departamentos editoriais ou repórteres. No entanto, dezenas de agentes das forças de segurança entraram na sede do grupo ao final da manhã, com os jornalistas do jornal Apple Daily a difundir em directo as imagens das buscas policiais, na rede social Facebook. Nas imagens, vê-se o chefe de redação do diário, Law Wai-kwong, a pedir à Polícia que não toque em nada antes de os advogados do grupo verificaram o mandado judicial, segundo a agência de notícias France-Presse (AFP). Os agentes ordenaram aos jornalistas que se levantassem e alinhassem para proceder à verificação da identidade, enquanto outros faziam buscas na redação.

ESCRITO NAS ESTRELAS

Os agentes da polícia ordenaram aos jornalistas que se levantassem e alinhassem para proceder à verificação da identidade, enquanto outros faziam buscas na redação

Jimmy Lai, de 72 anos, é o proprietário de duas publicações pró-democracia e frequentemente críticas de Pequim, o diário Apple Daily e o Next Magazine. Visto por numerosos habitantes de Hong Kong como um herói e único magnata do território crítico de Pequim, Jimmy Lai é descrito nos meios de comunicação oficiais chineses como “um traidor”, que inspirou as manifestações pró-democracia realizadas na região chinesa, e o líder de um grupo de personalidades acusadas de conspirar com nações estrangeiras para prejudicar a China. Em meados de Junho, duas semanas antes de ser aprovada a nova lei de segurança nacional, Jimmy Lai disse à AFP esperar a detenção. “Estou pronto para ir para a prisão. Se isso acontecer, terei oportunidade de ler livros que ainda não li. A única coisa que posso fazer é ser positivo”, afirmou. Para o empresário, a nova lei “vai substituir” o regime legal de Hong Kong e “destruir o estatuto financeiro internacional” da cidade. A lei da segurança nacional criminaliza actos secessionistas, subversivos e terroristas, bem como o conluio com forças estrangeiras para intervir nos assuntos da cidade.

APN LEI SOBRE BANDEIRA EMENDADA PARA “PROMOVER O PATRIOTISMO”

O

Comité Permanente da Assembleia Popular Nacional (APN) da China ratificou ontem uma emenda à lei sobre a bandeira da República Popular da China, estipulando que seja hasteada em mais órgãos, escolas ou instituições culturais. A lei actual sobre a bandeira e os emblemas oficiais do país foi aprovada em 1990, mas os legisladores chineses querem agora “promover uma atmosfera mais forte de patriotismo na sociedade”, noticiou o jornal oficial Global Times.

A bandeira deve ser hasteada diariamente nos edifícios que abrigam instalações do Partido Comunista da China (PCC), órgãos disciplinares e comissões de fiscalização, além de prédios governamentais ou tribunais. A nova lei estipula ainda que qualquer pessoa que deliberadamente queimar, danificar, desfigurar, corromper ou insultar em público a bandeira ou os emblemas nacionais chineses pode ser punida por responsabilidade criminal com

15 dias de detenção. A emenda também exige o hastear da bandeira em instalações culturais públicas, como bibliotecas, museus e galerias de arte, “todos os dias em que abrirem”. Segundo o Global Times, o mesmo texto estipula que as escolas devem dar aulas sobre a bandeira nacional “como parte importante da educação patriótica” e instruir os alunos sobre a “história e ligação espiritual” da bandeira. Um dos legisladores da APN, citado pelo jornal, garantiu que a

normativa “vai ter um papel positivo na promoção da consciência patriótica dos estudantes”. Outro acrescentou que “é ainda preciso enriquecer e detalhar mais a regulamentação” sobre o uso da bandeira e do emblema chineses na Internet. Hong Kong deve adoptar as emendas aprovadas pela APN, disse o representante de Hong Kong no Comité Permanente, Tam Yiu-Chung, citado pelo jornal South China Morning Post.

2,7

%

ECONOMIA INFLAÇÃO REGISTA SUBIDA HOMÓLOGA EM JULHO

O

índice de preços ao consumidor (IPC) da China, o principal indicador da inflação, registou um crescimento de 2,7 por cento, em Julho passado, em termos homólogos, informou o Gabinete de Estatísticas chinês. O número é ligeiramente superior ao esperado pelos analistas, que previam um aumento de 2,6 por cento. A instituição divulgou ainda que o Índice de Preços ao Produtor (PPI), que mede a inflação nas vendas por grosso, caiu 2,4 por cento, em Julho, face ao mesmo mês do ano anterior. Os dados reflectem o resultado de políticas governamentais destinadas a estabilizar os preços, indicou, em comunicado, no qual o Gabinete de Estatísticas salientou que “o mercado permaneceu geralmente estável”. À semelhança dos meses anteriores, os dados do GNE mostraram que os principais protagonistas da subida do IPC foram os alimentos, que encareceram 13,2 por cento em Julho. O preço da carne de porco, que no ano passado mais do que duplicou devido a um surto de peste suína que interrompeu o fornecimento doméstico, aumentou 85,7 por cento, em termos homólogos. O preço dos legumes frescos cresceu 7,9 por cento, enquanto o das frutas frescas caiu 16,6 por cento. No conjunto, o preço dos produtos não alimentares não registou variação, indicou.


china 13

terça-feira 11.8.2020

Covid-19 Registados 49 casos nas últimas 24 horas

A Comissão de Saúde da China informou ontem ter registado, nas últimas 24 horas, 49 novos casos de covid-19, na maioria procedentes do exterior. Entre os casos diagnosticados, 14 são de contágio local, todos eles na província de Xinjiang, no extremo noroeste da China, onde foi detectado um surto há quase um mês. Os 35 casos restantes foram diagnosticados entre viajantes do estrangeiro, conhecidos como casos “importados”. As autoridades de saúde detalharam que, até à meia-noite de domingo, 64 pacientes tiveram alta. O número de infecções activas na China continental é de 802, incluindo 41 doentes em estado grave. A Comissão não anunciou novas mortes por covid-19, mantendo-se o total desde o início da pandemia em 4.634, entre as 84.668 pessoas infectadas oficialmente diagnosticadas na China.

HONG KONG SANÇÕES CONTRA ONZE FUNCIONÁRIOS DOS ESTADOS UNIDOS

A

China anunciou ontem sanções contra onze funcionários norte-americanos, por interferência nos assuntos de Hong Kong, depois de os Estados Unidos terem adoptado medidas semelhantes contra várias autoridades da região. As sanções impostas por Pequim afectam os senadores republicanos Ted Cruz e Marco Rubio, entre outros, revelou o porta-voz do ministério dos Negócios Estrangeiros chinês Zhao Lijian. Zhao exigiu aos Estados Unidos que “parem de interferir nos assuntos internos da China”. “A China decidiu impor sanções a algumas pessoas que se comportaram mal em questões relacionadas com Hong Kong”, afirmou. O líder da organização de defesa dos Direitos Humanos Human Rights Watch (HRW), Kenneth Roth, também foi visado. A decisão assemelha-se a uma medida retaliatória adoptada por Pequim, em meados de Junho, quando baniu a entrada na China a membros do Congresso dos EUA e a um diplomata, depois de Washington ter feito o mesmo a líderes do Partido Comunista da China (PCC), devido ao alegado envolvimento em abusos contra membros de minorias étnicas chinesas de origem muçulmana na região de Xinjiang, no extremo noroeste da China. Na sexta-feira, Washington anunciou sanções contra 11 dirigentes de Hong Kong, incluindo a Chefe do Executivo, Carrie Lam, acusados de restringir a autonomia do território e a “liberdade de expressão e reunião”. O responsável pela polícia de Hong Kong, o secretário da Segurança e o da Justiça encontram-se também entre os responsáveis visados.

A delegação dos EUA foi submetida a um teste de coronavírus ao aterrar, no domingo, e viajará em veículos especiais durante a estada na ilha, para evitar o contágio

TAIWAN TSAI ING-WEN RECEBE MAIS IMPORTANTE REPRESENTANTE DOS EUA DESDE 1979

Um Azar nunca vem só

A Presidente de Taiwan recebeu ontem o secretário de Saúde dos Estados Unidos, Alex Azar, na mais importante deslocação de membros do Governo norte-americano desde a ruptura formal das relações diplomáticas entre Washington e Taipé, em 1979

A

vossa visita representa um grande passo em frente na cooperação antipandémica entre os nossos países”, disse Tsai Ing-wen, no momento em que recebeu a delegação norte-americana liderada por Azar. Por seu lado, Azar afirmou que “é uma honra trazer uma mensagem de forte apoio a Taiwan” do Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, e elogiou “o êxito” na prevenção da covid-19 na ilha, que considerou “uma das mais bem sucedidas do mundo”. “Os nossos valores democráticos partilhados trouxeram sucesso à saúde”, disse. A delegação dos EUA foi submetida a um teste de coronavírus ao aterrar, no domingo, e viajará em veículos especiais durante a estada na ilha, para evitar o contágio.

O secretário de Saúde norte-americano visitará também o Centro de Controlo de Doenças da ilha, onde vai assistir, com o ministro da Saúde e Bem-Estar de Taiwan, Chen Shih-chung, à assinatura de um memorando de entendimento entre o Instituto Americano de Taiwan e o Gabinete de Representação Económica e Cultural dos EUA em Taipé.

O último evento na agenda de Azar é um discurso na Universidade de Taipé, previsto para amanhã, de acordo com a agência de notícias espanhola Efe.

AMBIENTE PESADO

Azar é o primeiro membro do Governo dos Estados Unidos a visitar Taiwan em seis anos. Em 2014, a visita da então responsável da Agência de Protecção do

ASES PELOS ARES

A

viões da força aérea chinesa cruzaram ontem a linha imaginária que separa o estreito de Taiwan, numa altura em que se realiza a visita de mais alto nível à ilha por um funcionário norte-americano. Segundo um comunicado difundido pelo ministério da Defesa de Taiwan, caças J-10 e J-11 sobrevoaram a referida área por volta das 9h. O exército da ilha seguiu os

aviões, através do sistema de mísseis antiaéreos terrestres, e emitiu uma advertência verbal aos caças chineses, antes de enviar uma patrulha para os interceptar e “expulsá-los”. O Quartel-General da Força Aérea de Taiwan assegurou que esta “invasão deliberada deteriora a situação no Estreito de Taiwan” e “prejudica gravemente a segurança e a estabilidade na região”.

Meio Ambiente norte-americana, Gina McCarthy, provocou o protesto da China, que acusou os EUA de trair o compromisso de manter apenas relações não oficiais com Taipé. A visita do secretário de Saúde dos EUA é considerada como uma provocação por Pequim, que considera Taiwan, formalmente República da China, como parte do território chinês e se opõe a qualquer relação entre as autoridades da ilha e governos estrangeiros. Na quinta-feira, Wang Wenbin, porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros chinês, tinha prometido uma “retaliação firme e vigorosa” à visita do secretário da Saúde dos EUA a Taiwan, numa altura de escalada de tensões entre Washington e Pequim. Neste momento, menos de duas dezenas de países mantêm relações diplomáticas com Taiwan.


14

h

11.8.2020 terça-feira

“e ao anoitecer adquires nome de ilha ou de vulcão”

Compositores e Intérpretes através dos Tempos

Michel Reis

Gabriel Fauré (1845-1924)

O primeiro quinteto com piano

Quinteto com Piano No 1 em Ré menor, Op. 89

O

Quinteto Opus 89 de Gabriel Fauré tem uma imagem enigmática, destacando-se de entre as obras do compositor publicadas pelo velho Gustav Schirmer em Nova Iorque, em 1924, o ano derradeiro do compositor, em parte graças à improvável acção do jovem compositor Aaron Copland, então a viver na Europa. O Primeiro Quinteto surgiu em 1906. Durante muito tempo, os comentadores supuseram que, por ter surgido perto da sua nomeação como professor no Conservatório de Paris, a sua criação deve ter sido apressada e atormentada por distracções, e alguns usaram isto para alimentar os preconceitos contra a obra. Mas, como o professor Robert Orledge mostra no seu distinto estudo sobre Fauré (Eulenberg, 1979/1983), a gestação tinha sido longa e problemática. Um caderno de anotações sobrevivente contém ideias usadas no Finale, juntamente com esboços para o Requiem, Op. 48, indicando que as tentativas de composição do Quinteto datam de tão cedo quanto 1887. Em 1891, Fauré considerava a adição de uma segunda parte de violino a um terceiro quarteto de piano projectado, e nesta fase reproduziu esboços de um ‘Quinteto com Piano, Opus 60’ com o Ysaÿe Quartet (Eugène Ysaÿe tornar-se-ia o dedicatário da Opus Gabriel Fauré em 1875 89). O trabalho intermitente no Quinteto

prosseguiu até 1894, mas depois cessou até 1903. Um grande esforço ocorreu no final de 1904, durante o qual o compositor se referiu numa carta a “este animal de um Quinteto”. A peça foi finalmente concluída no final de 1905. A estreia, no dia 23 de Março de 1906 em Bruxelas, envolvendo o Quarteto Ysaÿe, foi ensaiada pela primeira vez apenas um dia antes, devido ao estilo de vida e aos “métodos” caóticos de Ysaÿe, um fato bastante triste a juntar à já difícil génese da obra. O tema de abertura do primeiro andamento do Quinteto com Piano No 1 em Ré menor, Op. 89, molto moderato, tipifica uma leveza distintamente arrebatada, alcançada em várias ocasiões por Fauré. À luz do caderno de 1887, podemos ser recordados do andamento ‘In Paradisum’ do Requiem. A tonalidade inicial inclina-se predominantemente para Fá Maior, conquistando a nota tónica somente quando esta gera uma cadência sombria. A característica suavidade de progressão é aparente, assim como o é alguma relação harmónica entre material secundário e o terceiro e o quarto andamentos do Segun-

do Quinteto com Piano, Opus 115. O tom é por vezes austero, e por outras melancólico, com algum grau de ambos na conclusão atenuada em Ré Maior. Uma introspecção melancólica prevalece durante o andamento lento, Adagio, realizada em parte por intervalos descendentes proeminentes do tom e semitom e por clímaxes melismáticos de curta duração que desaparecem com uma tristeza peculiar. Um novo tema a cerca de um terço do caminho, apresentando uma escala decrescente de quatro notas seguida por uma quinta descendente, mostra claramente a importância dos recursos expressivos de modalidade linear de Fauré. Longe de ser um caso escrito à pressa, este andamento - especialmente na sua conclusão - causou-lhe dificuldades prolongadas. O Finale, Allegro moderato, abre em estilo quase de “divertissement” apologético, como se hesitante em se tornar um scherzo ou passar-lhe por cima. Talvez isto seja importante, já que se sabe que Fauré se adaptou ao formato de três andamentos em Agosto de 1905. Novamente, a densidade das cordas é a força motriz e, embora

Uma introspecção melancólica prevalece durante o andamento lento, Adagio, realizada em parte por intervalos descendentes proeminentes do tom e semitom e por clímaxes melismáticos de curta duração que desaparecem com uma tristeza peculiar.

o piano assuma por vezes igual importância melódica, nunca o faz com um efeito retórico grandioso. A música é rica em contraponto livre, mas quase totalmente desprovida de notas aumentadas, ligaduras ou desvios da acentuação do down beat. O relativo “músculo” pianístico da conclusão surge como uma surpresa - ou, talvez, um aceno irónico do que poderia ter sido. O efeito compósito da Opus 89 é de uma melancolia estranhamente interior. Na década de 1880, Fauré tinha experimentado tonturas, fortes dores de cabeça e depressão, aparentemente recorrências da sua infância. Estas podem estar ou não relacionadas com a morte do seu pai em 1885 com quem teve um relacionamento difícil e reservado em criança. Da mesma forma, os seus problemas dos anos de 1880 podem ter pressagiado dificuldades auditivas posteriores; e estas começaram em 1902, pouco antes de voltar ao quinteto para o ataque definitivo. Qualquer que seja a verdade, e apesar do reconhecimento cansado do compositor de que parecia repetir-se incessantemente, os problemas desse trabalho negligenciado merecem ser vistos - ainda que especulativamente - como criativamente importantes e conscientes, não desatentamente perfunctórios ou desmotivados.

SUGESTÃO DE AUDIÇÃO:

•Gabriel Fauré: Piano Quintet No. 1 in D minor, Op. 89 • Cristina Ortiz (piano), Fine Arts Quartet – NAXOS, 2009


ARTES, LETRAS E IDEIAS 15

terça-feira 11.8.2020

A bela invenção

uma asa no além

O

escritor esloveno, a viver em Trieste, Milan G., tem um texto pouco conhecido chamado «A Bela Invenção». Neste pequeno ensaio, o escritor identifica a bondade como a grande invenção humana. «O Universo é um conjunto de relação de forças. Milhões de anos mais tarde, o humano introduziu a bondade nesta relação de forças.» G. acrescenta que nada que se conheça na história do Universo se compara a essa invenção humana: «Nem o amor é uma invenção tão radical como a bondade. O amor, se visto como extensão do sentimento maternal, é uma metáfora pobre da bondade. Como invenção, nem Deus se lhe compara.» Evidentemente, e isso aparece no texto, o amor entendido enquanto Eros, é uma força sexual e, neste sentido, parte da relação de forças do Universo. Mas o que é a bondade, a mais bela invenção humana, segundo Milan G.? Escreve assim: «Milhões de anos depois da origem do Universo, o humano inventa a bondade. Mas o que é a bondade e para que serve? A bondade afina o Universo. Como conjunto de relação de forças em expansão o Universo tende a desafinar e a bondade é o instrumento que permite afiná-lo. Fazer o bem, ser gentil, tratar bem ou cuidar do outro, isto é, da relação de forças exteriores, é aquilo que permite afinar o Universo, devolver-lhe aquilo a que o humano chamou justiça. Bondade e justiça estão interligadas. Poderíamos ser levados a pensar que foi a justiça que permitiu a invenção da bondade, visto esta servir a outra, mas não foi assim que aconteceu. A invenção da bondade surgiu da necessidade de colocar o som no seu lugar; e ao resultado chamou-se justiça. Veja-se através de um exemplo banal: a casa de um homem é destruída por um incêndio, pela relação de forças do Universo, e um conjunto de homens, seus vizinhos, reuniu-se e construi-lhe uma nova casa, isto é, afinaram o Universo, sentiram uma necessidade de repor o som justo, o som belo; e a isto mais tarde chamou-se justiça.» É preciso, contudo, não pensar que a bondade seja uma espécie de reposição de uma qualquer norma – por conseguinte, ser um instrumento normativo – ou uma reposição temporal, no sentido em que recuperava o sentido de um tempo anterior. Pode também ser isso, sem dúvida. Mas o alcance da bondade é maior: «Afinar o Universo, não é apenas repor a nota anterior, justa, bela, pois essa nota pode ainda não existir. Assim, a bondade muitas vezes cria notas que afinam o Universo, porque o Universo assemelha-se mais a um sistema de notas do que a um piano. Para

JACOPO BASSANO, THE GOOD SAMARITAN

Paulo José Miranda

que o sistema ganhe sentido, ou não o perca, por vezes tem de se criar notas, introduzir novas notas no sistema, na escala, na composição.» Se o exemplo que vimos anteriormente, da casa perdida no incêndio, se assemelha mais a uma reposição do sentido, à imagem clássica da afinação do piano, o exemplo da criação de sentido, a introdução de novas notas no sistema, é dado pela «sopa dos pobres». E a «sopa dos pobres» assume uma dupla conotação: 1) literal, um lugar aonde o pobre se dirige e tem uma refeição grátis; 2) metafórico, onde cabem todas as estruturas socias que impliquem a irradicação ou mitigação da fome, da desigualdade do

sofrimento humano, existentes e por existir. Além da sopa dos pobres, outro dos exemplos de bondade é a educação. «Educar alguém é afinar o Universo; desviá-lo da alienação também.» Não obstante, a bondade como o que ainda está por vir é o lado mais idealista do escritor. «A bondade é um iceberg, não apenas porque a grande maioria do que a constitui não se vê, mas porque a grande maioria do seu alcance, do que ela pode ser, ainda está por acontecer. A bondade é um instrumento que ainda é pouco usado, se comparado com o que ele pode fazer.» Aqui, Milan G. volta à metáfora do instrumento musical para mostrar como a bondade ainda

«Nem o amor é uma invenção tão radical como a bondade. O amor, se visto como extensão do sentimento maternal, é uma metáfora pobre da bondade. Como invenção, nem Deus se lhe compara.»

está nos seus primórdios e acrescenta: «Imaginem um piano em que até agora só se usou uma mão! Imaginem as belas composições que ainda estão por ser criadas!» A invenção chama-se «bela» precisamente pela sua ligação ao som. Não apenas à produção de som, mas de som belo e da possibilidade de repor ou afinal os sons maus. E devemos entender por maus aquilo que destrói, que agride. Há uma passagem enigmática que pode fazer as delícias dos mais racionalistas, esses que já vêem «som mau» com desconfiança: «No Universo não há bom nem mau, mas o ser humano fez isso acontecer através dos actos, dos gestos. Queimar propositadamente uma floresta é um gesto mau, tentar destruir o planeta é um gesto mau, matar um ser humano é um gesto mau. Mau é tudo aquilo que não deriva da relação de forças naturais, mas de uma decisão do ser humano e que implica destruição ou prejuízo de algo ou de alguém. Embora uma árvore ao cair possa matar um homem, ou um tigre na selva, nenhum ser humano pode fazê-lo. O humano não deve imitar as forças da natureza para prejuízo de outrem.» Temos, contudo, de sublinhar a não moralidade desta passagem, assim como de todo o livro de Milan G.. O que está em causa não é a moral, mas algo mais palpável: a imitação do Universo ou, se preferirem, a concordância com o Universo. Escreve G.: «Não há destruição gratuita no Universo. Nem acto para benefício de uma parte do Universo em prejuízo de outrem. Há coisas que acabam e coisas que começam, assim como o ser humano imita essa ordem natural, à sua escala, com o nascimento e a morte. O que não imita [ou concorda, pois em outros momentos G. usa esse verbo ao invés do verbo “imitar”] o Universo é o lucro, a destruição antes do tempo, o sofrimento.» É evidente que estamos perante uma posição política de entendimento do Universo e da bondade. É muito claro em várias passagens do livro que, para Milan G., a bondade não pode coexistir com o lucro. E, como sabemos, há centenas de milhar de posições humanas contra este entendimento da bondade. O que talvez não haja tanto, ou pelo contrário, haja até muito pouco, é alguém a tentar pensar e escrever acerca da bondade como Milan G. o fez. A despeito do que «achamos» ou deixamos de achar acerca da bondade, do Universo e da relação entre ambos, talvez fosse bom passar algum tempo reflectindo juntamente com este escritor esloveno. Pensar com ele esta «bela invenção» que é a bondade.


16 publicidade

11.8.2020 terรงa-feira


desporto 17

terça-feira 11.8.2020

No passado domingo, António Félix da Costa conquistou o título do Campeonato FIA de Fórmula E. A vitória do português somou mais um troféu ao palmarés onde figuram duas vitórias no Grande Prémio de Macau de Fórmula 3

AUTOMOBILISMO UM TÍTULO PORTUGUÊS COM MUITA INFLUÊNCIA CHINESA

A ligação oriental

A

NTÓNIO Félix da Costa, duas vezes vencedor do GP de Macau de Fórmula 3, celebrou no domingo a conquista do título do Campeonato FIA de Fórmula E. Antes disso, na primeira das três jornadas duplas do campeonato de carros eléctricos disputadas no aeroporto Berlim-Tempelhof, ouviu-se “A Portuguesa” duas vezes. Contudo, os mais atentos terão ouvido também a “Marcha dos Voluntários” na consagração do piloto português. Isto porque o primeiro título internacional do automobilismo lusitano numa competição de viaturas eléctricas foi conquistado com a preciosa ajuda de uma equipa chinesa, a DS Techeetah. Antes do sucesso trazido pelo piloto de Cascais, a equipa conquistou o seu primeiro título de pilotos na temporada 2017/2018, através do francês Jean-Éric Vergne, numa época em que também assegurou o segundo lugar no Campeonato de Equipas. A partir da temporada 2018/2019, a Techeetah associou-se à DS Automobiles, tornando-se DS Techeetah, uma associação que se tem mostrado proveitosa para ambas as partes. Na temporada 2018/2019, a equipa conquistou os ceptros de Campeã de Equipas e Campeã de

…À EFACEC

Pilotos, com Jean-Éric Vergne, e no defeso contratou Félix da Costa que estava ao serviço da BMW. Apesar de ser a equipa oficial do construtor automóvel DS Automobiles, que faz parte do Grupo PSA, como a Citroen e a Peugeot, e que fornece a motorização dos monologares pretos e dourados, a estrutura que levou Félix da Costa à conquista deste êxito para o automobilismo português é detida pela empresa chinesa SECA (Xangai) Limited.

Com sede em Xangai, a SECA é uma empresa líder no mercado chinês na área do marketing e gestão desportiva. A empresa é especializada na representação de talentos do desporto, gestão de eventos e desenvolvimento de conteúdos. Com fortes relacionamentos no desporto, entre os accionistas da empresa contam-se a China Media Capital (CMC) Holdings e Yao Ming, estrela incontestada do basquetebol chinês e membro do "NBA Hall of Fame”.

Na primeira das três jornadas duplas do campeonato de carros eléctricos ouviu-se “A Portuguesa” duas vezes. Contudo, os mais atentos terão ouvido também a “Marcha dos Voluntários” na consagração de António Félix da Costa

Se Yao Ming dispensa apresentações, a CMC, fundada e presidida por Ruigang Li, é um dos mais prestigiantes nomes no mundo dos investimentos e da gestão operacional no universo dos media e entretenimento na China e nos mercados globais. Com sede em Xangai, a CMC ajudou a criar e a desenvolver várias referências e líderes emergentes nos sectores dos media e entretenimento.

DO VIZELA…

Apesar da entrada do capital chinês logo na segunda época da Fórmula E, a base operacional desta estrutura está desde o primeiro dia em Inglaterra. O esqueleto da equipa manteve-se praticamente inalterado na sua filosofia, e parte técnica continua a ser inteiramente europeia, liderada pelo britânico

FUTEBOL PORTUGAL RECEBE ESPANHA E ANDORRA EM JOGOS PARTICULARES

A

selecção portuguesa de futebol, actual campeã europeia e detentora da Liga das Nações, vai defrontar Espanha e Andorra, em jogos particulares, em Outubro e Novembro, respectivamente, anunciou ontem a Federação Portuguesa de Futebol (FPF).

Mark Preston, que esteve mais de uma década ao serviço da McLaren na Fórmula 1, e que conta também Xavier Mestelan Pinon, um dos homens por trás do sucesso passado da Citroen no WRC e no WTCC. Contudo, o presidente da DS Techeetah é o chinês Edmund Chan, nascido no Canadá, e que entre muitos cargos e negócios em várias actividades desportivas, é sócio fundador da Kosmos, em parceria com o futebolista espanhol Gerard Pique e o CEO da Rakuten, Hiroshima Mikitani. Curiosamente, o “patrão” Félix da Costa também faz parte da administração do Futebol Clube de Vizela. Isto, porque a empresa SECA Corporate, sediada em Hong Kong, entrou no capital da SAD do FC Vizela, em Abril de 2017, detendo 80 por cento das acções.

Portugal, que ainda não realizou qualquer partida em 2020 devido à pandemia de covid-19, defronta os espanhóis em Lisboa em 7 de Outubro e, um mês depois, em 11 de Novembro, também na capital, recebe Andorra. A selecção nacional já tinha um particular

agendado com Espanha, em Junho, em Madrid, que serviria de preparação para a fase final do Euro2020, mas o encontro acabou por ser cancelado por causa da pandemia. Em Setembro, Portugal começa a defender o título da Liga das Nações frente a Croácia e Suécia, num Grupo 3 que inclui

ainda a França, que será igualmente rival de formação lusa na fase final do próximo Europeu, adiado para 2021. A selecção nacional recebe a Croácia em 5 de Setembro, no Estádio do Dragão, no Porto, e três dias depois desloca-se a Solna para defrontar a Suécia.

Em Outubro, após o particular com Espanha, Portugal joga fora com a França, em 11, e recebe a Suécia, a 14. No mês seguinte, a equipa das ‘quinas’ fecha esta fase da Liga das Nações com a recepção à França, em 14 de Novembro, e com uma deslocação à Croácia, em 17.

Igualmente ligada a este sucesso do automobilismo nacional, com forte componente chinesa, estará a portuguesa Efacec, recentemente nacionalizada, devido à participação de Isabel dos Santos na companhia portuguesa, arrestada pela justiça na sequência do caso “Luanda Leaks". Pioneira na mobilidade eléctrica e líder na produção de carregadores rápidos e ultrarrápidos para veículos eléctricos, a Efacec está a participar, de forma activa, em alguns dos maiores mercados de mobilidade eléctrica, principalmente na Europa e nos Estados Unidos. A sua presença ao lado da equipa chinesa não é inocente e esta segunda temporada a patrocinar a equipa de capitais chineses era vista como “uma nova oportunidade para potenciar novos negócios e reforçar o posicionamento da empresa como referência nos domínios da mobilidade, energia e ambiente” e a “entrada no mercado da região Ásia-Pacífico constitui uma aposta estratégia da Efacec. A parceria com a CMC oferece todas as condições para a Efacec elevar a notoriedade da marca e conquistar novos negócios na região”. Sérgio Fonseca

info@hojemacau.com.mo


18 (f)utilidades

HUSSEIN MALLA | AP

TEMPO

MUITO

11.8.2020 terça-feira

NUBLADO

MIN

27

MAX

33

ZONA DE IMPACTO

56

3 4 5 2

2 5

1

1 4

5

2

57

59

6 5 1 7 6 3 4 2

5 2 4 7 6 7 3 12 3

1 5 3 6 74 3 4

2 6 3 4 1 75 5 7

3 7 2 1 65 4 5 3 7 5 2 42 1 6

6 3 5 2 1 7 1

44 7 22 1 5 3

4 1 7 5 6 2 3

1 4 6 34 2 5 7

3

56 Cineteatro SALA 1

6 2 3 7 5 4 1

3 1 4 6 2 5 7

SUMIKKOGURASHI:GOOD TO BE IN THE CORNER [A] FALADO EM CANTONÊS LEGENDADA EM CHINÊS Um filme de: Mankyu 14.30, 16.00, 17.30, 19.30, 21.00 SALA 2

BEYOND THE DREAM [C] FALADO EM JAPONESE

58

SOLUÇÃO DO PROBLEMA 57

7 3 60 2 1 5 3 6 4 6

2 5 6 4 3 7 17

PROBLEMA 58

S583 U 1 5D2 O7 K 4 6U 7 4 6 3 5 2 6 4

6 5 - 9 0 %´ •

EURO

9.40

BAHT

0.25

YUAN

1.14

“O meu Governo fez isto” lê-se num graffiti que resume a ira e o descontentamento da população de Beirute na sequência da enorme explosão que arrasou a zona portuária da cidade.

7 3

55

5 1 7 4 2 6 5 2

HUM

C I N E M A 2 5 7 1 3 6 4

3 1 5 7 6 2 1 5 4 2 3 1 5 7 3 6 4 7 www. hojemacau. 4 2 6 com.mo 60

5 3 6 4 7 1 2

4 6 5 2 1 7 3

1 7 2 5 4 3 6

LEGENDADA EM CHINÊS E INGLES Um filme de: Chow Kwun-wai Com: Terrance Lau, Cecilia Choi 14.30, 16.45, 19.15, 21.30 SALA 3

DREAMBUILDERS [A]

7 4 1 3 6 2 5

FALADO EM CANTONÊS LEGENDADA EM CHINÊS Um filme de: Kim Hagen Jensen, Tonni Zinck 14.30, 16.30, 19.00, 21.15

UM JOGO HOJE Lançado em Abril deste ano, Trials of Mana é um produto tipicamente japonês, como os gráficos deixam bem claro, em que o jogador tem de levar as personagens a obterem a Espada de Mana e salvarem o mundo. Em cada jogo, é pedido ao utilizador que escolha três das seis personagens disponíveis, cujo passado vai conhecendo ao longo da história. O jogo foi um sucesso de vendas no Japão e é uma recriação do título com o mesmo nome que chegara ao mercado em 1995. João Santos Filipe

TRIALS OF MANA | XEEN | 2020

6 7 2 4 3 1 4 5 7 6 BEYOND 3 THE2DREAM 4 5 7 6 Propriedade 2 4Fábrica6de Notícias, 1 Lda Director Carlos Morais José Editores João Luz; José C. Mendes Redacção Andreia Sofia Silva; João Santos Filipe; Pedro Arede; Salomé Fernandes Colaboradores Anabela Canas; António Cabrita; António de Castro Caeiro; António Falcão; Ana Jacinto Nunes; Amélia Vieira; Duarte Drumond Braga; Emanuel Cameira; Gisela Casimiro; Gonçalo Lobo Pinheiro; Gonçalo M.Tavares; João Paulo Cotrim; José Drummond; José Navarro de Andrade; José Simões Morais; Luis Carmelo; Michel Reis; Nuno Miguel Guedes; Paulo José 1 Paulo 2 Maia5e Carmo;3Rita Taborda Duarte; Rosa Coutinho Cabral; Rui Cascais; Rui Filipe Torres; Sérgio Fonseca; Valério Romão Colunistas António Conceição Júnior; David Chan; Miranda; João Romão; Jorge Rodrigues Simão; Olavo Rasquinho; Paul Chan Wai Chi; Paula Bicho; Tânia dos Santos Grafismo Paulo Borges, Rómulo Santos Agências Lusa; Xinhua Fotografia Hoje Macau; 5 Lusa;3GCS;Xinhua 1 Secretária 7 deredacçãoePublicidadeMadalenadaSilva(publicidade@hojemacau.com.mo)AssistentedemarketingVincentVongImpressãoTipografiaWelfare Morada Calçada de Santo Agostinho, n.º 19, Centro Comercial Nam Yue, 6.º andar A, Macau Telefone 28752401 Fax 28752405 e-mail info@hojemacau.com.mo Sítio www.hojemacau.com.mo


opinião 19

terça-feira 11.8.2020

macau visto de hong kong

DAVID CHAN

SUN ZHONGZHE CHINA DAILY

N

O passado dia 6, Jiang Wei, Vice Presidente do Supremo Tribunal da China, salientou, no fórum que decorreu no “Salão de Conferências da China” que, nos últimos anos, os tribunais do país têm feito um trabalho aprofundado para integrarem os procedimentos de interrogatório com as novas tecnologias a fim de criarem os “tribunais inteligentes”. O tribunal inteligente é na verdade um "Tribunal Virtual". O Wechat é um dos softwares de comunicação mais populares na China. O Tribunal Virtual é uma aplicação que vai estar disponível no Wechat. Juízes, advogados, queixosos e réus deixam de precisar de se deslocar ao Tribunal, desde que usem o Wechat podem todos participar no julgamento. Depois de descarregar o Tribunal Virtual no Wechat, os litigantes podem escolher os serviços de acordo com as suas necessidades. O programa vai orientá-los, passo a passo, através de todos os procedimentos legais. Por exemplo, como carregar documentos online. O programa também tem uma série minutas legais para ajudar as partes a elaborar os documentos necessários. O Tribunal Ningbo começou a usar o Tribunal Virtual em Janeiro de 2018. Em Abril desse mesmo ano, o Supremo Tribunal da China anunciou que tinha sido criada uma equipa para preparar a criação destes tribunais em todo o país. Desde então, o programa foi oficialmente implementado nos círculos jurídicos da China. O sistema que dá suporte aos Tribunais Virtuais está ligado a todos os tribunais da China. Actualmente, mais de 3.500 tribunais já usam esta aplicação. A base de dados é automaticamente actualizada a cada cinco minutos. É o resultado da combinação da lei com a tecnologia. Desde que o Tribunal Virtual foi criado, comenta-se que, "os litigantes só precisam de ir uma vez ao tribunal, ou mesmo menos que isso." Este comentário demonstra bem as facilidades proporcionadas por este sistema. Antes da criação do Tribunal Virtual, a China já tinha Tribunais especializados na audição de casos relacionados com com-

Tribunal virtual I

pras feitas através da internet. Por isso, é preciso não confundir o Tribunal online com o Tribunal Virtual. O Tribunal Virtual é um tribunal inteligente. Transfere todos os procedimentos legais do julgamento para uma plataforma online. A única diferença é os litigantes deixarem de estar cara a cara no mesmo espaço físico. Neste modelo, olham um para o outro através do ecrã do computador. Outra vantagem é a possibilidade de

O Tribunal Virtual é uma aplicação que vai estar disponível no Wechat. Juízes, advogados, queixosos e réus deixam de precisar de se deslocar ao Tribunal, desde que usem o Wechat podem todos participar no julgamento

gravação, através do sistema inteligente de voz, dos testemunhos do queixoso e do réu. Esta possibilidade vem melhorar bastante a eficiência e a precisão do registo dos testemunhos e poupa tempo ao tribunal. Em jeito de resumo, o Tribunal Virtual é uma aplicação que liga todos os Tribunais da China, e que permite que os juízes, os procuradores, os queixosos e os réus sigam os procedimentos legais e resolvam as querelas através deste programa. Com este modelo, o julgamento transita do Tribunal físico para um tribunal virtual, que funciona online. Mas este sistema levante duas questões que merecem ser consideradas. Em primeiro lugar, poderá este programa efectivamente prestar o auxílio de que os litigantes carecem? Em segundo lugar, o julgamento virtual é mesmo possível? Não é muito relevante discutirmos a primeira questão porque vivemos em Macau, e o nosso sistema juídico é diferente. O Tribunal Virtual funciona de acordo com

a lei da China continental, e os requisitos e os passos que são necessários à sua implementação também seguem os trâmites da lei chinesa. Deste modo, não estamos em posição de avaliar se o programa ajuda ao não as partes envolvidas durante o processo. Quem poderá dar uma resposta fidedigna será apenas o utilizador continental. A avaliação que possam fazer do sistema e do programa será da maior importância. No entanto, quanto à segunda questão a situação já é outra. Um Tribunal online requer a combinação da lei com a tecnologia. Qualquer país ou região pode combinar a lei com a tecnologia e criar um Tribunal Virtual. É uma possibilidade que não tem fronteiras. O Tribunal online é prático e faz poupar tempo e dinheiro. O benefícios desta solução tornam-na merecedora de uma análise mais aprofundada. Continua na próxima semana.

Professor Associado da Escola Superior de Ciências de Gestão/Instituto Politécnico de Macau • Consultor Jurídico da Associação para a Promoção do Jazz em Macau • legalpublicationsreaders@yahoo.com.hk • http://blog.xuite.net/legalpublications/hkblog


“Um parvo em pé vai mais longe que um intelectual sentado.”

BIELORRÚSSIA UE RECLAMA CONTAGEM “PRECISA” DOS VOTOS NAS ELEIÇÕES

PALAVRA DO DIA

REUTERS/TYRONE SIU

António Lobo Antunes

CRIME POLÍCIA INDICIA DESEMPREGADO DE COACÇÃO SEXUAL

U

A

PUB

União Europeia (UE) reclamou ontem a contagem “precisa” dos votos nas eleições presidenciais de domingo na Bielorrússia e, condenando a “violência estatal desproporcional e inaceitável”, exigiu a libertação imediata dos manifestantes detidos. Numa declaração conjunta divulgada ontem ao início da tarde em Bruxelas, o Alto Representante da UE para a Política Externa, Josep Borrell, e o comissário europeu do Alargamento, Oliver Várhelyi, sublinham que, “após uma mobilização sem precedentes para eleições livres e democráticas, o povo da Bielorrússia espera agora que os seus votos sejam contados de forma precisa”. “É essencial que a Comissão Eleitoral Central publique os resultados que reflectem a escolha do povo bielorrusso”, sustentam os responsáveis da União Europeia. De acordo com os dados avançados no domingo, o Presidente Alexander Lukashenko garantiu um sexto mandato consecutivo ao reunir 80,23 por cento dos votos, contra apenas 9,9 por cento da opositora Svetlana Tikhanovskaia, mas a oposição contesta estes resultados e as suspeitas de fraude eleitoral levaram milhares de pessoas a manifestarem-se de forma pacífica em várias cidades da Bielorrússia no domingo à noite, com destaque para a capital Minsk, onde a polícia dispersou os manifestantes de forma violenta. Apontando que “a noite das eleições ficou marcada por uma violência estatal desproporcional e inaceitável contra manifestantes pacíficos”, da qual terá resultado um morto e vários feridos, o chefe da diplomacia europeia e o comissário do Alargamento reclamam “a libertação imediata de todos os detidos durante a noite passada”, sublinhando que “as autoridades bielorrussas devem assegurar que o direito fundamental de reunião pacífica seja respeitado”.

terça-feira 11.8.2020

Para começar a semana Polícia deteve Agnes Chow, figura de proa do campo pró-democracia de Hong Kong

U

MA das principais figuras do movimento pró-democracia em Hong Kong, Agnes Chow, foi ontem presa, juntamente com outras nove pessoas, no âmbito da nova lei da segurança, imposta em Junho por Pequim no território, anunciou fonte policial. "Agora está confirmado que Agnes Chow foi presa sob a acusação de 'incitar a secessão' sob a Lei de Segurança Nacional", lê-se, por seu lado, na conta da activista na rede social Facebook. A detenção de Agnes Chow ocorreu no mesmo dia que a polícia deteve o magnata Jimmy Lai, empresário e proprietário do Next Media, grupo de comunicação social de Hong Kong. A detenção de Lai foi saudada por Pequim, que o acusa de ser um “agitador” a soldo das potências estrangeiras que procuram desestabilizar a segurança nacional. “Esses agitadores antichineses em conluio com as forças estran-

geiras puseram gravemente em causa a segurança nacional e a prosperidade de Hong Kong”, disse, em comunicado, o gabinete chinês encarregado de seguir a situação em Hong Kong e Macau. “Jimmy Lai é um dos seus representantes”, lê-se na nota.

RESPOSTA E BRUXELAS

A União Europeia considerou que as buscas na redação do Apple Daily e a detenção do seu proprietário alimentam

“Agora está confirmado que Agnes Chow foi presa sob a acusação de ‘incitar a secessão’ sob a Lei de Segurança Nacional”, lê-se, por seu lado, na conta da activista na rede social Facebook

ainda mais os receios de uma crescente asfixia da liberdade de imprensa. “As recentes detenções de Jimmy Lai, membros da sua família e outros indivíduos, e as buscas aos escritórios do jornal Apple Daily, sob alegações de conluio com forças estrangeiras, alimentaram ainda mais os receios de que a Lei de Segurança Nacional esteja a ser usada para sufocar a liberdade de expressão e dos meios de comunicação social em Hong Kong”, declarou ontem o porta-voz do chefe da diplomacia da UE. “Além disso, a liberdade e o pluralismo dos meios de comunicação social são pilares da democracia, pois são componentes essenciais de uma sociedade aberta e livre”, prossegue o porta-voz, concluindo que “é essencial que os direitos e liberdades existentes dos residentes de Hong Kong sejam plenamente protegidos, incluindo a liberdade de expressão, de imprensa e de publicação, bem como a liberdade de associação e de reunião".

M desempregado de 26 anos está indiciado pela prática do crime de coacção sexual, após ter alegadamente apalpado o peito a uma mulher, com 30 anos, e de ter forçado beijos. O caso foi divulgado ontem e o homem conta no cadastro com vários crimes, como fraude, roubo ou prática de agressões. Segundo o relato das autoridades, os dois conheceram-se há vários meses através de uma aplicação online e marcaram um pequeno-almoço. Nessa altura, o homem levou a mulher a casa, no final do encontro. Na quinta-feira passada, o detido enviou uma mensagem à queixosa a dizer que queria vê-la. Momentos depois, ainda antes de receber uma resposta, o suspeito bateu à porta da mulher. Como a vítima teve medo que os outros colegas de casa fossem à porta, acabou por abrir. No entanto, nessa altura, segundo as autoridades, o homem empurrou a mulher para o quarto, onde forçou beijos e lhe apalpou o peito. O homem acabou por sair por sua iniciativa, mas a vítima terá logo dito que ia chamar as autoridades. Às autoridades, o sujeito negou as acusações, mas a polícia teve acesso às conversas de telemóvel entre os dois e considerou haver indícios da prática de coacção sexual, pelo que entregou o caso ao Ministério Público. O caso de coacção sexual é punido com pena de prisão que vai dos dois aos oito anos.

Líbano Primeiro-ministro vai entregar demissão

O primeiro-ministro libanês, Hassan Diab, vai entregar a Presidente Michel Aoun a demissão do Governo, disse ontem o ministro da Saúde do Líbano, Hamad Hassan. Falando aos jornalistas após uma reunião do executivo, Hamad Hassan disse que todo os membros do Governo apresentaram a demissão. Hamad Hassan acrescentou que Diab vai dirigir-se ao Palácio Presidencial para “entregar a resignação, em nome de todos os ministros”. A demissão do Executivo está relacionada com as explosões no passado dia 4 no porto de Beirute, que provocaram pelo menos 158 mortos e cerca de 6.000 feridos, e ainda na sequência das acusações de corrupção que levaram a uma crise económica sem precedentes e também à má gestão da pandemia de covid-19.


Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.