Hoje Macau 12 FEV 2020 # 4464

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˜ DIRECTOR CARLOS MORAIS JOSÉ

MOP$10

QUARTA-FEIRA 12 DE FEVEREIRO DE 2020 • ANO XIX • Nº 4464

FITCH

PME

OPINIÃO

NEGÓCIOS EM RISCO

Banca segura ÚLTIMA

As bolas ben-wa

PÁGINAS 2 E 3

TÂNIA DOS SANTOS

hojemacau www.hojemacau.com.mo•facebook/hojemacau•twitter/hojemacau

A ronda das máscaras Tem hoje início mais uma fase de venda das máscaras de protecção contra o coronavírus de Wuhan. Metade da encomenda do Governo já desapareceu, restando para já 10 milhões de máscaras prontas a serem distribuídas. O Executivo assegura que tudo está a fazer para garantir o sucesso de próximas rondas.

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PÁGINA 4

SOLIDÃO DOMÉSTICA PAULO JOSÉ MIRANDA

QUINTA ESSÊNCIA AMÉLIA VIEIRA

RAVEL

MICHEL REIS


2 coronavírus

12.2.2020 quarta-feira

FALENCIAS PME

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RESPONSÁVEIS DIZEM QUE FINANCIAMENTO DO GOVERNO NÃO RESOLVE PROBLEMAS ESTRUTURAIS

Quatro responsáveis por negócios na área da restauração confessam que o apoio financeiro anunciado pelo Governo para colmatar as dificuldades causadas pelo novo coronavírus ao sector empresarial não chega para resolver problemas estruturais e temem o fecho de muitas PME. A solução pode passar por mais políticas de controlo e apoio nas rendas, defende a deputada Agnes Lam

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surgimento de uma nova estirpe do coronavírus trouxe problemas ao sector empresarial de Macau, já de si frágil devido aos crónicos problemas relacionados com a falta de recursos humanos e as rendas elevadas. Sem clientes e com perdas muitas vezes superiores a 50 por cento, os proprietários de Pequenas e Médias Empresas (PME) assumem que as medidas de financiamento anunciadas pelo Governo não chegam para resolver problemas estruturais. Teme-se mesmo a falência inevitável de muitos negócios, caso as ruas de Macau se mantenham vazias nas próximas semanas. Cristiana Figueiredo, fundadora do espaço Cuppa Coffee, na Taipa, diz ter sofrido uma quebra nas receitas na ordem dos 50 por

cento e, apesar de já ter beneficiado dos empréstimos concedidos pelo Governo em fases anteriores, defende que não são suficientes. “Oferecer empréstimos sem juros e não alterar este quadro de condições económicas vai resultar no inevitável fecho de muitas

“Oferecer empréstimos sem juros e não alterar este quadro de condições económicas vai resultar no inevitável fecho de muitas destas empresas.” CRISTIANA FIGUEIREDO PROPRIETÁRIA DO ESPAÇO CUPPA COFFEE

destas empresas e no consequente desperdício destes apoios financeiros, porque tudo o que aconteceu foi estas PMEs adquiriram mais dívida sem que as condições em que operam tenham mudado”, confessou ao HM. Cristiana Figueiredo destaca que “as dificuldades só têm aumentado”, uma vez que as PME “estão completamente à mercê dos proprietários dos espaços que arrendam, com aumentos de renda que não têm limites impostos por lei ou contratos de arrendamento que são obrigadas a cumprir até ao término, sob pena de, mesmo fechando, terem que pagar todas as rendas até ao final do contrato”. A empresária, que fala ainda de regras de licenciamento desfasadas da realidade e da escassez de recursos humanos, defende que o Governo deve reconhecer que as PME são o motor da economia local, “apesar das receitas serem insignificantes quando comparadas com as receitas do jogo”. “Só quando o Governo da RAEM compreender este papel fundamental das PME é que se vai empenhar com seriedade no urgente apoio às que ainda restam. O primeiro passo talvez seja chamar ao diálogo os pequenos empresários para encontrar soluções em conjunto que evitem a extinção total de PMEs fundadas por residentes de Macau”, acrescentou a proprietária do Cuppa Coffee.

PROBLEMAS ACRESCIDOS

João Pedro Magalhães, fundador do café The Factory Macau, defendeu ao HM que os empréstimos apenas adiam um problema que existe há muito. “Ajudam momentaneamente, mas só estamos a empurrar uma questão imediata para o futuro, além de que poder-se-á criar outro problema. As PME sofrem diariamente com as rendas elevadas, a aprovação de quotas para trabalhadores não residentes e com a falta de incentivos para

que se consuma produtos feitos em Macau.” Nesse sentido, o empresário diz não saber ainda se a Factory se vai candidatar ao apoio financeiro. “O problema agarrado a este empréstimo é que, caso a empresa não consiga recuperar o negócio, ficamos com as perdas e com o pagamento do empréstimo por fazer, pelo que ainda não sabemos se nos vamos candidatar.”

“Se durar mais um mês, penso que as PME vão começar a fechar. O maior problema são as rendas, pois não é fácil convencer os proprietários a reduzir a renda para ajudar as PME.” AGNES LAM DEPUTADA

No caso da Factory, as perdas devido ao coronavírus “são significativas e serão ainda maiores, visto que não há certezas que Macau esteja parado apenas 15 dias”. “Estas perdas poderão ditar despedimentos e com isso a redução de serviços prestados. Talvez alguns produtos terão de ser descontinuados e, no pior cenário, [talvez aconteça] o fecho da actividade”, adiantou João Pedro Magalhães.

DIFICULDADES DIFERENCIADAS

Raquel Fera, uma das fundadoras da Portuguese Bakery, diz já ter beneficiado do empréstimo, que considerou “um investimento”. Sobre a necessidade de novas medidas, nomeadamente um maior equilíbrio do sector imobiliário promovido pelo Governo, Raquel Fera assume ser algo “desafiante e complexo”. “Estes apoios são sempre uma boa iniciativa para as PME, mas não foram criados agora. No nosso caso ajudou, mas cada empresa terá


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quarta-feira 12.2.2020

S A VISTA `

CHINA NEGÓCIOS COM PERDAS DE UM BILIÃO DE YUAN

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BNU NOVO PACOTE DE CRÉDITO ESPECIAL PARA EMPRESAS

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Banco Nacional Ultramarino (BNU) anunciou ontem o lançamento de um pacote de crédito especial anti-epidemia para empresas de Macau. As soluções de financiamento vão desde o “suporte operacional do negócio, (…) pagamento de salários ou (…) aquisição de produtos/equipamentos de higiene ou materiais hospitalares”, lê-se no comunicado do BNU. “Em conjunto com as medidas tomadas pelo Governo de Macau, o BNU (…) disponibiliza agora um pacote especial de crédito para as suas próprias dificuldades, e este apoio pode ou não ajudar a resolver problemas que existam”, frisou. A Portuguese Bakery, que entrega pão ao domicílio, viu-se impedida de o fazer, pois “na grande maioria dos prédios não deixam entrar o pessoal das entregas”. Mas, no meio das dificuldades, acabou por surgir uma oportunidade. “Tivemos uma quebra no fornecimento a restaurantes, mas estamos a conseguir equilibrar [o negócio] com o fornecimento a supermercados e venda directa nas nossas lojas”, rematou.

CONTROLAR AS RENDAS

Para Fernando Sousa Marques, que explora dois restaurantes na Taipa, o Varandas e o Toca, o empréstimo de 600 mil patacas concedido para o Governo só traria alguns benefícios para um dos espaços. “Para o Varandas, 600 mil é muito pouco, pois só com o cancelamento das festas na altura do

Ano Novo Chinês perdi um milhão de patacas. Tenho 30 empregados e preciso de os manter. Vou fechar a partir do dia 15 até ao dia 30, depois veremos se a situação melhora”, contou ao HM.

“Estes apoios são sempre uma boa iniciativa para as PME, mas não foram criados agora. No nosso caso ajudou, mas cada empresa terá as suas próprias dificuldades, e este apoio pode ou não ajudar a resolver problemas que existam.” RAQUEL FERA PROPRIETÁRIA DA PORTUGUESE BAKERY

apoiar a continuidade dos negócios das empresas locais durante este período difícil”, sublinha-se na mesma nota. Uma das soluções diz respeito ao financiamento a prazo para apoio ao pagamento de salários e rendas, até 1,2 milhões de patacas, que prevê seis meses de carência de capital. As outras duas linhas de crédito são destinadas à aquisição de produtos/equipamentos de higiene e hospitalares de uso próprio, bem como para compra de ‘stocks’/ materiais para suporte

O empresário, há muito ligado ao sector da restauração, teme que muitas PME acabem mesmo por fechar portas. “Acredito que podem fechar, eu sou um deles também. Acredito que há muita gente que não consegue e desiste, simplesmente. Não digo que o Toca feche, pois consigo aguentar se o senhorio for flexível, e ele tem sido, mas o Varandas tem um custo muito maior. O proprietário tem capacidade para explorar, mas eu não tenho.” Fernando Sousa Marques acredita que uma das soluções poderia passar mesmo pelo apoio do Executivo ao nível das rendas. “O Governo pediu que os senhorios sejam flexíveis nas rendas, e acho que isso pode acontecer com aqueles que não tiverem encargos fixos nos bancos. Se não, é chato. O Governo também pode ser flexível com os senhorios e assumir o valor ou metade da renda de alguns espaços. Falo sobretudo das PME,

à operacionalização do negócio, ambas até um milhão de patacas, com um prazo de pagamento estipulado até três anos. “Para além do objetivo de disponibilizar soluções financeiras quando necessárias, especialmente neste período difícil, este lançamento do pacote especial para PME, está em linha com a nossa estratégia de fortalecer o relacionamento com todos os segmentos de empresas de Macau e contribuir para a diversificação económica da região”, frisou a instituição bancária.

porque as empresas grandes não precisam”, frisou. O empresário estabelece um prazo de seis meses para que a situação volte ao normal, ao nível de negócio e volume de clientes. Para a deputada Agnes Lam, a sobrevivência das PME depende do “tempo em que a situação durar”. “Se durar mais um mês, penso que as PME vão começar a fechar. O maior problema são as rendas, pois não é fácil convencer os proprietários a reduzir a renda para ajudar as PME”, disse ao HM. Agnes Lam diz conhecer casos de “lojas e restaurantes que estão a pagar rendas entre 50 a 100 mil patacas e que não têm clientes”. “Penso que as políticas do Governo devem focar-se na questão das rendas”, adianta. Andreia Sofia Silva

andreia.silva@hojemacau.com.mo

surto do coronavírus na China custou mais de um bilião de yuan aos sectores restauração, turismo e entretenimento, durante as férias do Ano Novo Lunar, estimou um conhecido economista chinês. O surto forçou à colocação em quarentena de cidades inteiras e ao encerramento de milhões de restaurantes, hotéis e estabelecimentos comerciais. As receitas dos restaurantes e retalhistas, que no ano passado se fixaram mais de um bilião de yuan durante os dias de férias, caíram este ano para metade, estimou num relatório Ren Zeping, economista-chefe e director da unidade de investigação Thinkgroup Evergrande. A maior cadeia de fondue da China, o Haidilao International Holding, ou as multinacionais MacDonalds e Starbucks, encerraram parte ou a totalidade dos seus estabelecimentos, durante o período do Ano Novo Lunar, que este ano aconteceu entre 24 de Janeiro e 30 de Fevereiro. No final de Junho, o Haidilao operava 550 restaurantes, em 116 cidades da China continental. O Jiumaojiu Group, outro operador de restaurantes listado na bolsa de Hong Kong, encerrou mais de 300 restaurantes. Associações de restauradores de Cantão apelaram já aos senhorios que abdicassem ou reduzissem o valor das rendas durante os próximos dois meses. O grupo chinês Wanda Group, proprietário de mais de 300 centros comerciais em todo o país, renunciou a quase 4 mil milhões de yuan em rendas mensais para apoiar os comerciantes.

DSE Chovem pedidos de ajuda financeira

A Direcção dos Serviços de Economia (DSE) divulgou ontem um comunicado onde dá conta do bom funcionamento do processo de candidaturas ao Plano de Apoio a Pequenas e Médias Empresas (PME) no primeiro dia, tendo sido aceites 35 mil pedidos online. “A DSE já enviou mais pessoal para acelerar o tratamento de todos os pedidos relacionados com as PME. Desde meados do mês passado até ontem foram aprovadas 90 candidaturas ao Plano de Apoio a Pequenas e Médias Empresas e as verbas de apoio serão atribuídas às respectivas empresas logo após a conclusão dos procedimentos administrativos”, explica o comunicado.


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12.2.2020 quarta-feira

“O Governo está a dar o seu melhor para adquirir mais máscaras em todo o mundo.”

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Á foram vendidas em Macau 10 milhões de máscaras ao fim de duas primeiras rondas de fornecimento à população, ou seja, metade da encomenda do Governo destinada ao racionamento deste tipo de material de protecção contra o contágio do novo tipo de coronavírus. A informação foi revelada ontem, por ocasião da conferência de imprensa diária de actualização da situação da doença na região. “Na primeira ronda vendemos cinco milhões e na segunda ronda também cinco milhões, ou seja, no total quase 10 milhões de máscaras, revelou o médico adjunto da direção do Centro Hospitalar Conde de São Januário, Lei Wai Seng, assegurando que as autoridades estão a fazer de tudo para garantir que haverá máscaras para todos, em futuras rondas de fornecimento. “Só podemos verdadeiramente confirmar que amanhã [hoje] é dado início à terceira ronda de venda de máscaras. Já quanto à quarta e quinta rondas nós (…) não sabemos. O Governo está a dar o seu melhor para adquirir mais máscaras em todo o mundo e é assim que vamos garantir o fornecimento de máscaras aos residentes de Macau”, explicou Lei Wai Seng, quando questionado sobre o estado do stock adquirido pelo Governo. Na véspera da terceira fase de venda das 20 milhões de máscaras encomendadas, Lei Wai Seng apelou ainda à população que evite uma

EPIDEMIA METADE DAS MÁSCARAS ENCOMENDADAS JÁ FORAM VENDIDAS

Dez milhões já lá vão Arranca hoje a terceira fase de venda de máscaras e inclui, pela primeira vez, unidades dedicadas a crianças. Depois de vendidas 10 milhões de máscaras nas duas primeiras rondas, o Governo garante que está a fazer de tudo para assegurar o fornecimento das próximas rondas. Um dos pacientes deve ter alta nos próximos dois dias

“corrida às farmácias”, que obrigou já a um reforço policial. Para esta terceira ronda, os Serviços de Saúde partilharam também que existem menos dois pontos de venda em relação à fase anterior, sendo agora 87. Os SS revelaram também que, a partir de hoje, os centros de saúde vão passar a fornecer máscaras infantis destinadas a crianças entre

os três e os oito anos, sendo que cada uma terá direito, no máximo a cinco máscaras, apenas disponíveis para aquisição nos centros de saúde, ao contrário das restantes. No, entanto, foi também esclarecido que as crianças têm, na mesma, direito a um total de dez máscaras, ou seja, os pais podem comprar cinco com tamanho de criança e outras

INFECTADA À ENTRADA

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ma mulher infectada com o novo tipo de coronavírus entrou em Macau quando já apresentava sintomas, confirmou ontem Lam Chong, Director do Centro de Controlo e Prevenção da Doença. “Na entrada em Macau, ela tinha tosse leve e, por isso, durante a despistagem, não conseguimos diagnosticar a infecção e como não se deslocou até Wuhan ou Hubei, em princípio, prefazia todos os requisitos para entrar em Macau”, justificou Lam Chong. “Nós temos

muitas medidas nas fronteiras para prevenção, especialmente a redução da circulação dos trabalhadores não residentes, residentes e turistas para tentar evitar que mais casos suspeitos possam entrar em Macau”, concluiu. Há mais dois casos confirmados em Hong Kong e Zhuhai de doentes que estiveram Macau, mas os Serviços de Saúde voltam a defender que o risco de contágio no território é reduzido. No total, são já 31 os casos com ligação a Macau.

cinco do tamanho normal, para adultos. Questionado sobre se cinco máscaras seriam suficientes para as crianças, Lei Wai Seng respondeu positivamente, uma vez que “não é preciso usar máscara em casa”.

LONGE DA NORMALIDADE

Nos próximos dois dias, um dos nove casos confirmados de Macau ainda em

isolamento, irá receber alta, confirmaram os SS. “Nos próximos dois dias, um dos casos confirmados irá receber alta. Mas ainda temos que provar que o teste de transmissibilidade e do vírus é negativo, inclusivamente nos testes aos excrementos. Havendo uma certeza de não haver transmissibilidade é que podemos dar alta”, confirmou Lei Wai Seng,

BAIXA TRANSMISSÃO

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o seguimento da confirmação de casos de infecção do novo tipo de coronavírus em Hong Kong em duas fracções autónomas do mesmo prédio situadas uma em cima da outra, Lau Kok Kun, da Direcção dos Serviços de Solos, Obras Públicas e Transportes (DSSOPT) defendeu ontem, que é pouco provável que venham a existir casos de transmissão por essa via em Macau. Isto porque, não só os sistemas de canalização são diferentes, mas também

porque ainda não existem provas do sucedido em Hong Kong. “Não temos de nos preocupar muito porque não temos sifões em formato U nas casas de banho. Como nas cozinhas e nas casas de banho estão instalados bacias e lavabos, há sempre água que abastece o sifão, não há, em princípio, oportunidade de o sifão ficar vazio, sem água. Basta manter água no sifão que, em princípio, já não é possível haver uma disseminação do vírus”, defendeu o responsável.

depois da possibilidade de dar alta a mais doentes ter sido admitida no passado domingo. Apesar dos sinais positivos dados pela possibilidade de mais pacientes infectados com o novo coronavírus terem alta e pela inexistência de novos casos nos últimos dias, o director do Centro de Controlo e Prevenção da Doença, Lam Chong, defendeu que a situação ainda está longe da nornalidade, vincando que o cenário é mais grave do que em 2003, altura do SARS (Síndrome Respiratório Agudo Grave). “Em Hubei, parece que o surto está mais calmo, mas noutras cidades da China, nos últimos dias, foram confirmados mais casos. Em comparação com a SARS, em 2003, o cenário é mais grave porque o surto, desta vez, atingiu vários países, noutras partes do mundo. Por isso, é dificil sabermos quando podemos ter a normalidade restabelecida”, explicou. O responsável dos SS lembrou ainda que o novo tipo de coronavírus é ainda desconhecido para os especialistas, encontrando-se em mutação. Exemplo disso mesmo foi o facto de, no dia anterior, Lei Chin Ion, director dos SS, ter referido que o período de incubação pode chegar aos 24 meses nos casos mais raros. Na conferência de imprensa de ontem, o médico adjunto da direcção do Centro Hospitalar Conde de São Januário, Lei Wai Seng adiantou que 103 motoristas de autocarros de casinos e de turismo foram contactados pelo Governo para fazer testes de despistagem ao novo tipo de coronavírus. No total, nas últimas semanas foram realizados 861 testes em Macau, dos quais já foram descartados 820 casos suspeitos. Trinta e uma pessoas continuam a aguardar o resultado das análises, enquanto 27 já saíram do isolamento imposto pelas autoridades de saúde. Pedro Arede com Lusa info@hojemacau.com.mo


política 5

quarta-feira 12.2.2020

DSEJ SULU SOU DEBATEU ENSINO À DISTÂNCIA

AU KAM SAN DEPUTADO DEFENDE LEGITIMIDADE PARA ELOGIAR HO IAT SENG

Defensa de honra

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O deputado elogiou a medida do Chefe do Executivo de encerramento dos casinos, mas foi atacado pelo historial de críticas. Agora, veio a terreiro defender a legitimidade para tomar posições de acordo com os “interesses da população” do Governo. Não foi e por isso também não faz muito sentido elogiar em demasia a acção do Executivo”, apontou. “Mas o facto de haver críticas, não impede que haja elogios. Pelo contrário, até faz com que esses elogios sejam mais honestos”, frisou.

RÓMULO SANTOS

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PÓS Ho Iat Seng ter anunciado o encerramento do casinos como forma de combate à epidemia, o deputado Au Kam San elogiou a medida e desvalorizou as preocupações de alguns sectores patronais, por considerar que a segurança do território era mais importante e que havia capacidade para aguentar um período com receitas reduzidas. No entanto, as afirmações do fundador da Associação Novo Macau causaram surpresa e algumas críticas, devido ao historial de “ataques” à actuação do Executivo, o que levou Au a vir a público defender-se. “Qual a razão que fez com que os elogios ao Governo tenham sido tão raros? Será que o Governo da RAEM fez tudo de errado? Claro que não, é impossível dizer que o Executivo da RAEM é totalmente inútil”, começou por justificar Au. “O problema é que o tempo que temos na Assembleia Legislativa é limitado por isso é mais importante que estejamos focados nas críticas para ajudar a população do que nos elogios”, sustentou. Por outro lado, Au Kam San sublinhou ainda que devido aos recursos financeiros da RAEM tem havido um acumular de problemas que faz com que seja difícil elogiar a actuação do Executivo, principalmente ao longo dos 10 anos de Chui Sai On. “O grande cerne do

CHUI NÃO MERECE

Au Kam San, deputado “O facto de haver críticas, não impede que haja elogios. Pelo contrário, até faz com que esses elogios sejam mais honestos.”

problema do Governo está relacionado com o facto de haver recursos abundantes na RAEM que permitiriam

No comentário de ontem, o deputado democrata fez ainda um balanço da acção do ex-Chefe do Executivo, Chui Sai On, e admitiu que houve política que elogiou, como a promessa de construção de 28 mil habitações públicas na Zona A dos aterros. “Quando houve medidas que iam beneficiar a população mostrámos o nosso apoio. E não temos problemas em reafirmar o apoio a essas medidas, como aconteceu quando Chui Sai On prometeu construir as 28 mil habitações públicas nos aterros, em 2014”, recordou. “Mas infelizmente o mandato dele chegou ao fim e as 28 mil fracções habitacionais não foram construídas nem sabemos quando vão ser. Será que neste contexto devemos elogiar a conduta do Governo?”, questionou. Face às críticas de que foi alvo, Au Kam San prometeu ir pautar as suas posições de acordo com “os interesses da população”.

responder às necessidades da população e tomar medidas que a beneficiasse. E devia ter sido essa a responsabilidade

João Santos Filipe

joaof@hojemacau.com.mo

CORONAVÍRUS GOVERNO FINANCIA INVESTIGAÇÃO PARA COMBATER EPIDEMIA

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Governo de Macau vai apoiar financeiramente projectos de investigação científica relacionados com o novo tipo de coronavírus, junto de “instituições de ensino superior, institutos de investigação científica, empresas de ciência e tecnologia e investigadores científi-

cos”. A informação foi divulgada em comunicado pelo Fundo para o Desenvolvimento das Ciências e da Tecnologia (FDCT), entidade responsável pelo programa de colecta, cujo principal objectivo passa por fortalecer a capacidade de prevenção e de controlo de doenças

infecciosas na RAEM, bem como “fornecer um forte apoio científico e tecnológico à prevenção e controlo da epidemia”. O apoio do FDCT será assim dado às investigações na área da “tecnologia de detecção da pneumonia causada pelo novo coronavírus, prevenção e tratamento

da doença, investigação e desenvolvimento de medicamentos, mecanismos de prevenção e controlo de doenças infecciosas súbitas e recuperação social após a epidemia”, pode ler-se na nota enviada. Os projectos terão prioridade na aprovação e a verba proposta de

cada projecto não deverá exceder as 500 mil patacas, com o período de apoio financeiro a não poder ultrapassar um ano. A inscrição pode ser feita pelo preenchimento do plano de candidatura no sistema de apoio financeiro online ou através do envio de uma candidatura via email.

excessiva carga de trabalho através das aulas online e a excessiva dificuldade dos exercícios e matérias leccionadas foram o assunto debatido ontem entre a Associação Novo Macau e a Direcção de Serviços de Educação e Juventude (DSEJ). O encontro com os representantes do Governo foi agendado pela associação que conta com o deputado Sulu Sou, após pais, alunos e até professores terem defendido junto da associação a necessidade de adaptar os conteúdos às aulas online. Por sua vez, segundo o comunicado da Associação Novo Macau, os representantes do Governo admitiram haver problemas com a implementação dos diferentes sistemas das escolas para o ensino online, que se ficam a dever ao facto de a epidemia ter apanhado as pessoas de surpresa, impedido que os sistemas fossem testados. Porém, a DSEJ mostrou abertura para que as melhorias sejam implementadas aos poucos e elogiou os esforços das escolas e todos os outros envolvidos no processo educativo. Outra das preocupações abordadas foram os critérios de avaliação dos estudantes, após o regresso à normalidade no ensino, mas os responsáveis da DSEJ garantiram que todas as limitações vão ser tidas em conta nos testes. Já em relação ao regresso às aulas, a DSEJ garantiu que as escolas vão ser instruídas para seguirem as políticas do Executivo, mas que quando se voltar à normalidade, vai haver máscaras e produtos de limpeza de mãos para os alunos. PUB

Anúncio Ao abrigo do n.º 2 do artigo 72.º do “Código do Procedimento Administrativo”, vem notificar o ex-guarda TRAN THI THU TRANG da Direcção dos Serviços Correccionais, a cessação das funções, a partir de 6 de Novembro de 2019, devido ao termo do seu Contrato Administrativo de Provimento. E, conforme o Despacho da entidade competente, as faltas dadas pelo TRAN THI THU TRANG, entre 20 de Junho e 18 de Julho e, 22 de Julho e 5 Novembro de 2019, são consideradas injustificadas, devendo o mesmo devolver a quantia relativa aos supracitados períodos de falta injustificada e a quantia total do vencimento de exercício relativa aos primeiros 30 dias de faltas por motivos de doença do ano de 2019. Nos termos do disposto nos artigos 148.º e 149.º do “Código do Procedimento Administrativo”, o notificado pode apresentar reclamação ao Director da DSC, em relação às faltas injustificadas ou à devolução da quantia relativa às faltas injustificadas e a quantia total do vencimento de exercício relativa aos primeiros 30 dias de faltas por motivos de doença do ano de 2019, no prazo de quinze dias a contar da publicação do presente anúncio. OU, nos termos do disposto nos artigos 155.º e 156.º do “Código do Procedimento Administrativo”, cabe recurso hierárquico necessário a interpor para o Secretário para a Segurança, no prazo legal de 30 dias após a publicação do presente anúncio. Direcção dos Serviços Correccionais, aos 21 de Janeiro de 2020. Pel’o Director da DSC, A Subdirectora, Loi Kam Wan


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12.2.2020 quarta-feira

Ganhos duplos

Associação pede que Governo subsidie alojamento de Trabalhadores não Residentes

A CRIME PAGOU PARA RAPTAREM MULHER POR QUEM DIZ ESTAR APAIXONADO

Herói de ocasião

O residente de 41 anos pagou a três homens para raptarem a mulher por quem estava apaixonado e diz que pretendia sair do “caso” como o salvador da sua amada. No entanto, a PJ acredita que se trata de uma tentativa de fraude

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Polícia Judiciária (PJ) anunciou a detenção de quatro homens envolvidos na simulação de um rapto, em que o cabecilha justifica o ocorrido com motivações amorosas. O caso foi revelado ontem e teve origem num residente com 41 anos, que pretendia conquistar uma ex-colega de escola. Segundo o cabecilha do esquema, como não era capaz de pensar numa solução para convencer a mulher a ficar consigo, decidiu pagar 600 mil patacas a um grupo de três homens. O bando tinha de raptar a mulher, o que iria permitir que o homem de 41 anos pagasse o resgate e saísse do episódio como o grande salvador. Com o esquema montado, o “apaixonado” convidou a mulher para jantar na noite de domingo. Após a refeição, num restaurante da península, cada um seguiu o seu

caminho e foi nesta altura que a mulher foi raptada. Quando caminhava na rua, a mulher viu um carro de sete lugares parar e da viatura saíram dois homens que a forçaram a entrar. Já dentro do carro, os homens amarram-na e colocaram-lhe uma venda, tendo levado a vítima para um lugar incerto. A “encenação” terá prosseguido já no lugar incerto, quando o homem de 41 anos ligou à vítima. A chamada telefónica foi atendida por um dos raptores, que exigiu um resgate de 3 milhões de patacas. O “apaixonado” não regateou e aceitou proceder ao pagamento.

Minutos depois, a vítima foi libertada numa estrada da Taipa e o cabecilha apareceu menos de 10 minutos depois, com a versão que tinha pago o resgate.

DÚVIDA DE MILHÕES

No entanto, a mulher terá ficado desconfiada, uma vez que o homem não foi capaz de explicar como tinha conseguido obter 3 milhões de patacas em dinheiro vivo à noite e num espaço de tempo tão curto. Estas dúvidas levaram a vítima a apresentar queixas junto da polícia que descobriu que a viatura utilizada para o rapto pertencia ao

A mulher terá ficado desconfiada, uma vez que o homem não foi capaz de explicar como tinha conseguido obter 3 milhões de patacas em dinheiro vivo à noite e num espaço de tempo tão curto

“apaixonado”. Após a investigação as autoridades apuraram que no momento do “golpe” tinha sido utilizada uma matrícula falsa. Por outro lado, as autoridades desconfiam que o objectivo do cabecilha do grupo não passava por conquistar a mulher, mas antes enganá-la e pedir o dinheiro da quantia paga, com o passar do tempo. Os indivíduos estão indiciados pela prática dos crimes de rapto, é punido com uma pena entre três e 10 anos de prisão, burla de valor consideravelmente elevado, que tem uma moldura pena que vai dos dois aos 10 anos de prisão, e ainda pela prática do crime de falsificação de notação técnica, que acarreta uma penalização que pode chegar aos três anos de prisão. João Santos Filipe

joaof@hojemacau.com.mo

Associação Choi In Tong Sam, ligada à Federação das Associações dos Operários de Macau (FAOM), sugere que o Governo da RAEM possa vir a subsidiar o alojamento temporário de trabalhadores não residentes (TNR) que tenham necessidades diárias de deslocação entre Macau e Zhuhai, nos hotéis económicos que se encontrem desocupados ou que tenham suspendido actividade. Desta forma, defende a associação ligada à FAOM num comunicado enviado às redacções, não só é possível reduzir o risco de contágio do novo tipo de coronavírus através da diminuição do fluxo diário de pessoas que cruzam as fronteiras, fixando-as em Macau, como contribui também para ajudar a indústria hoteleira, gerando receitas e aumentando as taxas de ocupação. “Sugerimos que o Governo considere subsidiar, no futuro, os hotéis económicos de Macau, à luz da severa situação epidemiológica que vivemos, de forma a que os residentes de Macau e estrangeiros que tenham de viajar diariamente de e para Zhuhai, possam arrendar um quarto por preço especial”, pode ler-se no comunicado. Lembrando que nos últimos dias têm sido vários os estabelecimento hoteleiros a anunciar a suspensão das suas actividades, “deixando livres um total de 1450 quartos” e que tanto as taxas de ocupação, como as despesas operacionais são tópicos de preocupação, a Choi In Tong Sam refere que a medida pode salvaguardar também os interesses da indústria hoteleira da região. “Se por um lado pode reduzir os riscos de infec-

ção cruzada nas fronteiras, por outro, pode também apoiar a indústria hoteleira a lidar com o actual dilema das baixas taxas de ocupação e a trabalhar em conjunto para lidar com as dificuldades”. Ao todo, fecharam temporariamente oito grandes hotéis e 15 pequenas unidades hoteleiras. Entre as unidades que já suspenderam as operações, estão o Four Seasons, o Conrad, o Sofitel e o Rocks.

CONTORNAR A QUARENTENA

Apontando que actualmente ainda são cerca de 35 mil os trabalhadores estrangeiros que todos os dias viajam entre Zhuhai e Macau, a associação lembra que nas regiões vizinhas, como Hong Kong e Taiwan, já foram implementadas medidas mais restritivas à entrada de visitantes provenientes do Interior da China, os quais são obrigados a um período de 14 dias de quarentena. O Governo de Macau não vai seguir, para já, a medida das regiões vizinhas. Confrontado com o facto na semana passada, Lam Chong, dos Serviços de Saúde, sublinhou apenas que é aconselhável, a quem entra no território vindo da China, que permaneça em casa e que, a seu tempo, o Governo irá anunciar novas medidas, se necessário. P.A.


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quarta-feira 12.2.2020

Parecer ignorado pelo Executivo avisa que mudanças na lei vão permitir buscas sem autorizações prévias nem o consentimento dos visados. Existe ainda a possibilidade de haver “monitorização oculta” de suspeitos, sem autorização prévia

CRIMINALIDADE INFORMÁTICA ALTERAÇÕES CRIAM NOVAS POSSIBILIDADES PARA A PJ

Auto-estrada invisível

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S alterações à Lei da Criminalidade Informática vão permitir que a Polícia Judiciária proceda a buscas sem autorização prévia de um juiz nem consentimento dos visados. É esta a interpretação da Associação dos Advogados de Macau, num parecer que o Executivo decidiu ignorar, e em que se coloca a possibilidade da PJ realizar a “monitorização oculta” de aparelhos informáticos. Segundo o documento disponibilizado no portal da AAM, com data de 14 de Novembro, apesar de haver vários aspectos na proposta de lei que se assemelham à legislação portuguesa, uma análise mais profunda mostra que há divergências, que reforçam os poderes da polícia. Um dos aspectos mencionados pela análise da AAM, foca as pesquisas informáticas em que não há autorização prévia das autoridades judiciárias competentes. Segundo a leitura da associação, a proposta de lei de Macau permite o acesso da PJ, sem autorização de um juiz, a computadores ou telemóveis com o objectivo de observar, copiar e monitorizar os dados. A condição

Outra das grandes dúvidas levantadas pela AAM, é a possibilidade de o documento permitir a realização de uma “monitorização oculta” de sistemas informáticos, sem autorização prévia de um juiz

essencial é que haja “fundadas razões para considerar que os dados informáticos relacionados com o crime são susceptíveis de servirem de prova e cuja obtenção seja urgente”. Após este acesso, a autoridade judicial tem 72 horas para validar a forma como foi obtida a prova. No entanto, no caso da legislação em vigor em Portugal, e apesar do Executivo de Macau defender as semelhanças, o acesso sem conhecimento do juiz só pode ser feito com o consentimento voluntário e por escrito dos suspeitos. A excep-

ção são os crimes de terrorismo, criminalidade violenta ou altamente organizada. Mas mesmo que o juiz não tenha conhecimento e haja uma autorização, as autoridades policias precisam sempre de uma validação posterior da autoridade judiciária. Por este motivo, a AAM alerta que a lei de Macau “não refere o consentimento do visado como requisito para a realização das referidas medidas sem prévia aprovação da autoridade judiciária”. “Isto significa que à partida, em Macau, poderiam ser realizadas

diligências sem a prévia aprovação da autoridade judiciária competente e sem a autorização do visado”, é acrescentado.

OPERAÇÃO OCULTA

Outra das grandes dúvidas levantadas pela AAM, é a possibilidade de o documento permitir a realização de uma “monitorização oculta” de sistemas informáticos, sem autorização prévia de um juiz, que só tem de ser obtida nas 72 horas seguintes, nem conhecimento dos visados. Em relação a este aspecto,

a AAM admite a possibilidade, com base em expressões e termos da lei que não são explícitos nem definidos. Anteriormente, o Governo admitiu ter ignorado o parecer da AAM por considerar que o conteúdo era “demasiado abrangente”, quando as alterações são “pontuais”. Segundo o Executivo explicou aos deputados, o parecer será tido em conta quando houver uma alteração “global”. João Santos Filipe

joaof@hojemacau.com.mo

VÍRUS MENOS 80% DE PASSAGEIROS E 57% DE VOOS NO AEROPORTO DE MACAU EM 10 DIAS

EPIDEMIA SERVIÇOS DE SAÚDE APELAM À MANUTENÇÃO DOS CANAIS DE DRENAGEM

Aeroporto Internacional de Macau indicou à Lusa que registou de 1 a 9 de Fevereiro uma queda no número de passageiros e de voos na ordem dos 80% e de 57%, respectivamente. Nesse período marcado pelas restrições devido ao surto do novo coronavírus chinês passaram pelo aeroporto apenas cerca de 50 mil passageiros, num território que recebe mais de três mi-

O seguimento da confirmação de casos de infecção do novo tipo de coronavírus em Hong Kong em duas fracções autónomas do mesmo prédio situadas uma por cima da outra, os Serviços de Saúde (SS) de Macau aconselham os residentes a manter adequadamente os canais de drenagem das suas habitações. “Para reduzir o risco de transmissão de novos coro-

O

lhões de turistas mensais. Dados fornecidos pela mesma entidade que gere o aeroporto dão conta de centenas de voos cancelados até pelo menos final de Março. À agência Lusa, a sociedade que gere o aeroporto adiantou que actualmente só é possível fazer a ligação para 20 destinos a partir de Macau, um número que continua a ser sujeito de ajustamentos efetuados

pelas companhias aéreas. Macau, que regista neste momento nove casos de pessoas infectadas com o novo coronavírus chinês, não tem ligações marítimas com Hong Kong, inclusive para o aeroporto internacional do território vizinho. O único acesso para o aeroporto de Hong Kong a partir de Macau só pode ser feito através da ponte Hong Kong-Macau-Zhuhai.

N

navírus através de fezes, os residentes devem manter adequadamente os canais de drenagem (incluindo canais de gás) e colocar, regularmente, água fresca nos canais de drenagem (canais em forma de U), bem como, prestar atenção à higiene ao usar as instalações sanitárias, ou seja, cobrir a tampa da sanita antes de descarregar o autoclismo, para limpar a sanita e lavar as

mãos depois de usar a instalação sanitária”, pode ler-se num comunicado oficial do Centro de Coordenação de Contingência do Novo Tipo de Coronavírus. Suspeitando que a transmissão entre habitações se possa dever às deficientes instalações de esgoto, os especialistas de Hong Kong já tomaram medidas preventivas retirando todos os moradores daquele prédio.


8 coronavírus

12.2.2020 quarta-feira

43,138 Infectados

7333 Em estado

21675 Casos

crítico

suspeitos

Covi novel cor

FONTES: • https://gisanddata.maps.arcgis.com/ apps/opsdashboard/index.html#/ • https://www.who.int/ emergencies/diseases/novelcoronavirus-2019/situation-reports bda7594740fd40299423467b48e9ecf6 • https://www.cdc.gov/coronavirus/2019ncov/index.html • https://www.ecdc.europa.eu/en/ geographical-distribution-2019-ncovcases • http://www.nhc.gov.cn/yjb/s3578/ new_list.shtml • https://ncov.dxy.cn/ncovh5/view/ pneumonia

OUTROS

INFECTADOS POR PAÍS / REGIÃO 42667 49 45 32 28 26 18 18 15 15 14 13 11 10

Interior da China Hong Kong Singapura Tailândia Coreia do Sul Japão Taiwan Malásia Austrália Vietname Alemanha EUA França Macau

8

Emiratos Árabes Unidos

8 7 3 3 3 2 2 1 1 1 1 1 1

Reino Unido Canadá Itália Filipinas Índia Rússia Espanha Nepal Cambodja Bélgica Finlândia Sri Lanka Suécia

135

Cruzeiro Dream Princess países com casos de nCov países sem casos de nCov

Infectados

9 MACAU

Infectados

1

Curado

Macau

49 HONG KONG

Infectados

1

HONG KONG

Hong Kong

Morto


coronavírus 9

quarta-feira 12.2.2020

id-19 ronavirus

1018

4284

HOJE NA CHÁVENA

Curados

Mortos

1-99 10-99 100-499 500-999 1000-9999 +10000 Ocorrências nas áreas afectadas

Dados actualizados até à hora do fecho da edição

Covid-19 vs SARS

CHINA NÚMERO DE INFECTADOS E MORTOS POR REGIÃO

42,000 12,000 10,000 8,000 6,000 4,000 2,000 0

20

dias

40

dias

60

dias

Dia em que a OMS recebeu os primeiros avisos do surto

80

dias

100

dias

120

dias

REGIÃO Hubei Guangdong Zhejiang Henan Hunan Anhui Jiangxi Jiangsu Chongqing Shandong Sichuan Heilongjiang Pequim Xangai Fujian Hebei Shaanxi

INFECTADOS 31728 1177 1117 1105 912 860 804 515 489 487 417 360 342 303 267 239 219

MORTOS 974 1 0 7 1 4 1 0 2 1 1 8 3 1 0 2 0

REGIÃO Guangxi Yunnan Hainan Guizhou Shanxi Liaoning Tianjin Gansu Jilin Mongólia Interior Xinjiang Ningxia Hong Kong Qinghai Taiwan Macau Tibete

INFECTADOS 215 153 142 127 122 111 104 86 81 58 55 53 49 18 18 9 1

MORTOS 1 0 3 1 0 0 2 2 1 0 0 0 1 0 0 0 0


10 china

12.2.2020 quarta-feira

GOVERNO LIDERANÇA ASSUME MAIOR POSTURA COLECTIVA

A guerra do povo

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Presidente chinês, Xi Jinping, protagonizou na segunda-feira uma aparição rara, desde o início do surto do coronavírus que paralisou a China e levou a liderança chinesa a assumir uma postura colectiva, enquanto referências a Xi escasseiam nos órgãos oficiais. Xi esteve primeiro num bairro a cerca de oito quilómetros da Cidade Proibida, e visitou depois um hospital de Pequim, onde participou numa videoconferência com funcionários de um hospital em Wuhan, epicentro do surto. Tratou-se da segunda aparição pública de Xi no espaço de uma semana. A última foi em 5 de Fevereiro, durante uma reunião com o primeiro-ministro do Camboja. De resto, à medida que os danos provocados pelo surto do coronavírus aumentam, o homem forte do regime de Pequim praticamente desapareceu dos órgãos oficiais. "Onde antes aparecia o nome de Xi Jinping, passou a estar 'Comité Central'", resume à agência Lusa um jornalista de um dos principais órgãos estatais da China. Desde que ascendeu ao poder, em 2013, Xi tornou-se o núcleo da política chinesa, desmantelando o sistema de "liderança coletiva" cimentado pelos líderes chineses desde finais dos anos 1970. Sob

a sua liderança, que após uma emenda constitucional em 2017 passou a ser vitalícia, o Partido Comunista da China declarou Xi líder "central". Na estação oficial CCTV, que até ao início do surto infalivel-

mente abria os noticiários com intervenções e imagens de Xi, ou no Diário do Povo, jornal oficial do partido cuja capa chegou a ser composta por 11 manchetes sobre o líder chinês, as referências ao Presidente desapareceram. Analistas

Governo chinês negou ontem alguma vez ter realizado ciberespionagem, após os Estados Unidos acusarem quatro membros do exército chinês de pirataria informática na usurpação de dados pessoais da agência de crédito Equifax. "O Governo e os militares chineses e seus associados nunca se envolveram ou participaram no roubo de segredos comerciais via ciberataque", disse Geng Shuang, porta-voz do ministério chinês dos Negócios Estrangeiros, em conferência de imprensa. Segundo a justiça norte-americana, o ataque à Equifax foi um dos maiores de sempre, afectando metade dos cidadãos norte-americanos. Geng Shuang rejeitou as acusações e acusou Washington de ser o maior perpetuador de espionagem cibernética do mundo, enfatizando que a China é uma "vítima". "Os EUA estão envolvidos no roubo e vigilância de informações em larga

O OUTRO LADO DO PODER

Victor Shih, investigador sobre política chinesa na Universida-

de da Califórnia considera que, "politicamente, [Xi Jinping] está a descobrir que o poder ditatorial total tem uma desvantagem". "Quando as coisas dão para o torto a responsabilidade recai sobre uma só pessoa", nota. Numa altura em que o povo chinês enfrenta um dos maiores desafios das últimas décadas, a ausência do seu líder forte parece estar a ser sentida. No domingo à noite, um taxista em Pequim aumenta apressadamente o volume do rádio ao ouvir o nome de Xi Jinping. Foi falso alarme. Tratou-se da repetição de um anúncio feito há vários dias por Xi, a declarar o combate ao vírus como uma guerra do povo.

CIBERESPIONAGEM GOVERNO CHINÊS NEGA ENVOLVIMENTO APÓS ACUSAÇÃO DOS EUA

O

“Não há dúvida de que [Xi] mantém firme controlo sobre o poder”, explica o observador de política chinesa Rong Jian. “Mas ele sabe que a forma como o surto se alastrou e as suas consequências danificaram a legitimidade e a reputação” do poder político

consideram que a retirada ilustra o esforço de Xi Jinping para se isolar de um surto que está a causar grande descontentamento popular. "Não há dúvida de que [Xi] mantém firme controlo sobre o poder", explica o observador de política chinesa Rong Jian. "Mas ele sabe que a forma como o surto se alastrou e as suas consequências danificaram a legitimidade e a reputação" do poder político, aponta.

escala, organizada e indiferenciada, contra governos, empresas e indivíduos", afirmou. "Desde os casos do WikiLeaks até Edward Snowden, a hipocrisia e os padrões duplos dos Estados Unidos em questões de cibersegurança são há muito tempo evidentes", acusou o porta-voz chinês. Retratados como membros de uma unidade de investigação militar chinesa, os quatro soldados são acusados nos Estados Unidos de conspiração criminosa por execução de fraudes via ciberataque e espionagem económica. Eles são acusados de terem explorado uma falha no ‘software' usado pela Equifax - cuja função é recolher dados pessoais de consumidores que solicitam crédito. Segundo a justiça norte-americana, os piratas informáticos obtiveram os nomes, datas de nascimento e números de previdência social de aproximadamente 145 milhões de cidadãos dos EUA.

HUBEI AFASTADOS LÍDERES DA COMISSÃO DE SAÚDE

A

S autoridades chinesas anunciaram ontem a demissão de dois altos quadros da Comissão de Saúde de Hubei, a província de onde surgiu o novo coronavírus que fez já mais de 1.000 mortos e quase 43.000 infectados. A estação televisiva oficial CCTV informou sobre as demissões do director da Comissão, Liu Yingzi, e do secretário do Partido Comunista da China (PCC) naquele organismo, Zhang Jin.

Ambos os cargos serão assumidos pelo vice-director da Comissão Nacional de Saúde, Wang Hesheng, que faz parte do grupo de trabalho formado pelo Governo central para lidar com o surto, e que foi também recentemente nomeado membro do mais alto órgão executivo de Hubei. Liu e Zhang são, até à data, os funcionários de mais alto escalão a serem afastados na sequência da crise de saúde pública. Por enquanto, não há indicações de que qualquer membro do Governo central possa ser afastado, e os órgãos oficiais do regime têm dirigido as culpas para as autoridades de Hubei e, sobretudo, para a capital de província, Wuhan. A má gestão e ocultação de informações cruciais aquando do surto da Síndrome Respira-

tóriaAguda Grave, ou pneumonia atípica, entre 2002 e 2003, levou à queda do presidente da câmara de Pequim, Meng Xuenong - que foi substituído pelo actual vice-presidente da China, Wang Qishan - e do ministro da Saúde, Zhang Wenkang. Na semana passada, a morte de Li Wenliang, o médico que inicialmente alertou a comunidade médica de Wuhan sobre o novo coronavírus, mas que foi obrigado pela polícia a assinar um documento no qual denunciava o aviso como um boato "infundado e ilegal", levou a reacções imediatas nas redes sociais chinesas, com o 'hashtag' #woyaoyanlunziyou ('eu quero liberdade de expressão', em chinês) a tornar-se viral. No entanto, a imprensa oficial culpou directamente as autoridades locais pelo sucedido.


quarta-feira 12.2.2020

Ah! Se eu podesse suicidar-me por seis meses

Uma asa no Além Paulo José Miranda

A solidão doméstica

M

ARIANNE Harrison, canadiana de nascimento, passou a viver nos EUA com os pais desde os 9 anos. Aí cresceu e estudou. Em meados dos anos 70 do século passado, dava a lume o seu belo e claustrofóbico “A Solidão Doméstica”. O livro retratava a vida de Mary desde os dias em que conhecera Roger Coleman no liceu, em finais dos anos 50. Sem ter ido para universidade, Mary Coleman casa com Roger e passa a ser uma mulher dedicada à família. Durante os vinte anos seguintes, a sua vida é literalmente de casa para o mercado, para as escolas dos filhos e de volta para casa. Há momentos em que ela se lembra da rapariga que tinha sido, dos sonhos, do que pensava que poderia ter sido a vida. Pensava até no que nunca poderia saber ou ter pensado, mas que se fazia sentir como um desconhecido fabuloso, “a sensação de que é à frente que vamos ser felizes”. Aos 42 anos, vê-se completamente sozinha em casa, sem nenhum interesse, vagando pelo triângulo cozinha, televisor, leito de dormir. Os filhos já não estão e o marido passa o tempo entre o trabalho, num escritório de advocacia, e os campos de golf. Descrito assim, parece tratar-se de mais um pouco estimulante livro de realismo doméstico ou realismo de subúrbios. Mas o modo como Marianne nos conduz ao interior de Mary muda tudo. Passamos a ver, a sentir e a falar através da protagonista. Tornamo-nos nela. Queria ter sido alguém, queria ter feito algo mais do que ter sido mãe. Pensa, e nós com ela, “que pena não ter nascido homem”, enquanto coloca a loiça na máquina que o marido tinha comprado e fazia a inveja das mulheres dos amigos do marido, quando iam jantar a casa. Nada lhe faltava. Não se podia queixar. Não tinha sequer a quem se queixar. “Quem me pode entender? Nada me falta, nada me dói... nem eu mesma sei o que é isto em que estou a pensar. Porque me atormentam estas ideias, meu Deus?” Muitas são as frases que Mary diz e pensa, que nos tocam profundamente. A minha preferida, e que é também o êxtase do romance, surge quase no final, quando aos 62 anos, aceitando a derrota para o cancro cerebral, numa cama de uma clínica, e segurando a mão de Roger, Mary lhe diz “Se ao menos a vida tivesse valido a pena...”. Nesse momento somos nós que sentimos a nossa

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O que Marianne nos mostra através das mais de 500 páginas de “A Solidão Doméstica” é que, apesar de todos os cuidados nas decisões, apesar de toda a diversão que possamos usar para esquecer uma vida mal decidida, no final saberemos o que fizemos a nós mesmos. Valeu a pena ter vivido?

própria vida perdida. Por instantes, tornamo-nos essa vida perdida. Aquilo não só nos dói, como – assim que nos recuperamos –, nos pomos a rever a nossa própria vida, a ver se vale a pena, perguntamos: se estivéssemos agora a morrer, também diríamos com Mary “Se ao menos a vida tivesse valido a pena...”. Além da importância literária de “A Solidão Doméstica”, hoje, tem também uma importância histórica. Há não tanto tempo atrás, havia mulheres que entristeciam por não terem nascido homens, porque só sendo homens a sociedade lhes dava a possibilidade de fazerem o que lhes era de direito fazer. Este livro de Marianne, que na época em que saiu foi completamente esquecido, é recuperado em finais dos anos 90, precisamente por este lado histórico, menos literário, embora não menos importante. De qualquer modo, e sem menosprezar o seu lado histórico, que é necessário nunca esquecer – porque a mulher poder ser o que quiser pode voltar a perder-se – a grandiosidade do livro passa pelo seu carácter existencial, ontológico. “A Solidão Doméstica” mostra-nos, ao detalhe, ao pormenor sempre angustiante, que a cada instante podemos tomar uma decisão que nos irá fazer arrepender de ter vivido. Errar na vida pode não ter conserto, apesar de também não se saber o que seria não errar. O que Marianne nos mostra através das mais de 500 páginas de “A Solidão Doméstica” é que, apesar de todos os cuidados nas decisões, apesar de toda a diversão que possamos usar para esquecer uma vida mal decidida, no final saberemos o que fizemos a nós mesmos. Valeu a pena ter vivido? Acompanhar aquela mulher ao longo das páginas, perceber que não foi quem poderia ter sido por imposição social, por expectativas familiares, por convenção, por regras que ela não criou, nem votou, vê-la a sofrer horrores aos sessenta anos, e depois ainda ouvi-la dizer ao marido “se ao menos a vida tivesse valido a pena”, talvez nos ensine tanto como a leitura de Beauvoir, Sartre e Heidegger juntos. Marianne, ela mesma, teve uma vida semelhante à de Mary, e só escreveu “A Solidão Doméstica” no fim. Foi o seu único livro, provavelmente autobiográfico, apesar de ter estudado Literatura Inglesa. Morreu de problemas no coração um ano depois da publicação do livro, com 71 anos. É ler, meus amigos, ou, se for caso disso, reler.


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Amélia Vieira

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EIXA para trás o filho frágil por que na natureza é preciso caminhar, e essa indiferença contida de mãe em andamento ensombra por instantes todas as ideias das maternais delícias, e só escutamos as leis mais simples, crueldade a que tudo preside sem tréguas e mistério - leis são carrascos de imposições maiores. Resistir. Sentimos que levam a dor como um peso caminhante, e não lhes é possível olhar para trás, nem sucumbir a ela. São algumas regras naturais a cuja vontade a dor não se dobra mas que vai pisando toda a esteira do mundo percorrido. São sinais de alarme para quem se foi desconfigurando da carga dura de tudo isto, que é certamente belo, mas padece de perfeição. E foi por um impulso todo ele antinatural que a Humanidade munida de contradição pôde existir; foi quando revertemos a lei natural e fomos formando as nossas próprias leis. As primeiras leis humanas fazem-se em defesa dos mais frágeis e desprotegidos - uma verdadeira lei de bases- com esse elemento alongado que não preside à Criação e talvez sem grande esperança, algum amargo cepticismo e uma luta contínua que arrasa a capacidade daquele que se ama sentir humano, pois que é este desvio que celebra o espaço para toda a civilidade. E já nestas alturas carregadas de humanidade parece estar-se sempre a principiar, aperfeiçoando, compondo, lembrando, pois que é severa a evolução para que se apaguem as réstias do sobrevivente da manada... ela anda descalça no fundo da nossa memória e não sabemos como apagar tão duro vestígio, nem concebemos alguém que esteja ligado à vida por frágeis fios... mas temos leis conquistadas capazes de quebrar aquelas outras que não teriam permitido tal evolução. Depois da infância somos os únicos que brincamos, arrastámos o lúdico com efeitos contrariantes ao natural, e se o fizemos, foi em busca dessa noção de empatia que melhora a qualidade do clã, olhando-nos com um elemento novo chamado emoção. Com este inssurecto instinto descobrimos a transcendência, alinhámos pelo amor incondicional, e talhámos

12.2.2020 quarta-feira

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A quinta essência as oferendas ao bem que nos ajudou num tal propósito, e neste momento demo-nos conta de um elemento que se estava fazendo: a ideia de Deus, que começa por ser um assombro e passa a progressivo fazer, quando ele em nós, também ia tomando parte na sua própria criação. Quem se recusava a participar seria então a presa débil, o abandonado, ou o condenado à morte, mas também nessa amargura há o silêncio que elucida da lei severa com a ferida aberta deste recanto do Universo tão denso onde lhe foi muito menos difícil a representação do Inferno. Não nos chegam de fora vozes outras, a pluridimensionalidade é que se abre, há muitas realidades no espectro não visível pois que estamos tridimensionais, ainda... mas quando se fazem sentir, sabemos que tudo se recobre de múltiplos significados, significando a luta antinatural a sua escalada mais ampla. Aferrolhados estivemos na nossa humanidade, mas as bases estavam lançadas para percorrer todos os lances que desvanecessem as sombras. E aqui o Amor fala, na ânsia de iluminar toda a parte de escuridão, porque mesmo transversal ao sentido da vida, é ele que vai elucidar da ruptura com a brava natureza, esse demónio vivo com a beleza das feras. O Eldorado, a parte visível da busca, precisou da regra de Ouro que nos desvincula-se das cicatrizes das chacinas, atravessámos este asfalto ainda com o anátema da morte - lei total- toda a morte é natural na medida em que sempre se morre, e quanto aos anátemas do filho enjeitado ainda descobrimos a força de uma estrela que o recolhe-se na viagem, que as aves morrem no ar, e quando são vistas em terra não nos parecem naturais. Guindastes como sentinelas e Jacob próximo das pedras onde vê a escada luta com o Anjo, fere o calcanhar, e perfaz a fixação à terra, coxeando, e não tarda que esta marcha irregular suba a pendurar o Amor onde ficará suspenso com os pés longe do chão. As escadas caíram, tudo desce, só o Amor ficou assim, sem atributos naturais que lhe permitisse voltar a tocar a terra fresca. Temo-lo ali, como a evidência mais que conseguida de que não deve baixar.

Aferrolhados estivemos na nossa humanidade, mas as bases estavam lançadas para percorrer todos os lances que desvanecessem as sombras. E aqui o Amor fala, na ânsia de iluminar toda a parte de escuridão, porque mesmo transversal ao sentido da vida, é ele que vai elucidar da ruptura com a brava natureza, esse demónio vivo com a beleza das feras


ARTES, LETRAS E IDEIAS 13

quarta-feira 12.2.2020

Compositores e Intérpretes através dos Tempos Michel Reis

Maurice Ravel (1875-1937)

O divertissement de Ravel Concerto para Piano e Orquestra em Sol Maior

Q

UANDO Maurice Ravel começou a planear o Concerto para Piano e Orquestra em Sol Maior em 1928, estava no auge da sua carreira, sendo a sua música o centro das atenções em numerosos festivais e celebrações, incluindo estas um doutoramento honorário pela Universidade de Oxford. Ravel decidiu que queria escrever um concerto para ele próprio interpretar numa digressão mundial de concertos planeada, e em 1929, pôs mãos à obra, tarefa no entanto interrompida pelo encomenda do pianista austríaco Paul Wittgenstein do Concerto para a Mão Esquerda. O compositor trabalhou furiosamente nos dois anos que se seguiram na composição simultânea dos dois concertos enquanto honrava compromissos de direcção e gravação. O Concerto em Sol Maior foi eventualmente concluído em 1931, mas devido à sua já delicada saúde, a estreia foi confiada à pianista a quem a obra foi dedicada, Marguerite Long, sob a direcção de Ravel, que teve lugar na Salle Pleyel, em Paris, no dia 14 de Janeiro de 1932, com a Orquestra Lamoureux, e que constituiu um sucesso imediato. O Concerto para a Mão Esquerda tinha sido estreado em Viena no dia 5 de Janeiro do mesmo ano. Os planos de Ravel de fazer uma digressão mundial com o Concerto em Sol Maior nunca se concretizaram, embora o compositor tivesse dirigido várias apresentações em vinte cidades europeias com Marguerite Long – a última em Novembro de 1933 – antes da sua saúde o ter levado a abandonar os palcos completamente. Entre as últimas obras completas de Ravel, o concerto sintetiza muitos dos seus traços mais característicos: sonoridades orquestrais sumptuosas, jazz, música espanhola, e a elegância oitocentista. O efeito geral do concerto é de uma obra impressionista com bastante impacto, uma das melhores de Ravel. Concebendo a obra com um divertissement, Ravel enquadrou este concerto de acordo com o plano clássico tradicional rápido-lento-rápido no qual o Allegramente de abertura delineia a forma-sonata, o segundo andamento apresenta um interlúdio pensativo, enquanto o finale explosivo borbulha de virtuosismo exuberante. De acordo com a máxima de Ravel “complexo mas não complicado”, a obra exibe novas texturas de cor tanto para a orquestra como para o pianista, combinado os dois numa pareceria equilibrada. A obra foi profundamente influenciada por expressões e harmonias de jazz, que na época eram muito popula-

res em Paris e nos Estados Unidos, onde Ravel tinha viajado em digressão de recitais, observando estar surpreso que tão poucos americanos fossem influenciados por este género. O primeiro andamento, marcado Allegramente, inicia-se subitamente com

Entre as últimas obras completas de Ravel, o concerto sintetiza muitos dos seus traços mais característicos: sonoridades orquestrais sumptuosas, jazz, música espanhola, e a elegância oitocentista. O efeito geral do concerto é de uma obra impressionista com bastante impacto, uma das melhores de Ravel

o som de um chicote. O solista ao piano apresenta imediatamente o enérgico tema de abertura através de uma série de arpejos floridos no registo agudo, interrompido por um tema sonhador de blues, inspirado no jazz, o primeiro solo de piano. Segue-se uma secção jazzy que recorda as viagens do compositor pelos Estados Unidos, incluindo no entanto algumas breves citações de Rachmaninov e de um dos temas do primeiro quadro do ballet Petrushka de Stravinsky. Estas duas secções lentas representam o âmago expressivo do andamento e são o foco de uma série de efeitos tímbricos inovadores, imbuídos de coloração bitonal, tanto na orquestra como no piano. Tanto o primeiro como o último andamento (Allegramente e Presto) estão bastante imbuídos de excitantes melodias ao estilo do jazz, embora conservando elementos clássicos. O primeiro andamento é uma peça fluida e vivaz com harmonias que recordam as futuras de Aaron Copland; para logo finalizar numa estrondosa coda em modo frigio, que caracteriza Ravel em muitas obras e que o vinculam de uma maneira especial com a música popular espanhola. O formoso e contemplativo segundo andamento em Mi Maior (Adagio assai) mostra o Impressionismo típico de Ravel, iniciando-se com uma exten-

sa melodia lírica no piano solo que, de acordo com Ravel, foi inspirada no Larghetto do Quinteto para Clarinete de Mozart. Enganador na sua simplicidade, pois as cadências estão entre as mais difíceis do repertorio, este nostálgico tema é apropriado pelas madeiras, com um extenso solo de corne inglês que toca fluidas linhas de fusas, durante o qual o solista ao piano toma um papel secundário de acompanhamento. O incrivelmente rápido finale, marcado Presto, é um catalogo de virtuosismo para solista e orquestra, que emprega muitas melodias equilibradas e ligeiras combinadas com outras mais poderosas e ritmos percussivos que a tornam uma experiência arriscada de tocar.

SUGESTÃO DE AUDIÇÃO: • Ravel: Piano Concerto in G/ Rachmaninov: Piano Concerto No. 4 • Arturo Benedetti Michelangeli, piano, Philharmonia Orchestra, Ettore Gracis – EMI, 1958


14 (f)utilidades TEMPO

C H U VA

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CUIDADO COM O SEMÁFORO

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SOLUÇÃO DO PROBLEMA 54

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PROBLEMA 55

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HUM

7 5 - 9 8 %´ •

Quem passasse ontem pelo Antigo Tribunal e atravessasse a pequena via que faz a ligação da Rua Central com a Av. da Praia Grande tinha à sua espera uma armadilha. Devido a obras em curso na Rua Central, o sentido do trânsito foi invertido.

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UM7FILME HOJE 6 56 5 2 3 4 1 3 2 1 5 6 4

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Um clássico do cinema italiano, acompanhado da belíssima música de Ennio Morricone, que conta a história de Toto, um menino que se apaixonou por cinema e que partilhava películas com Alfredo, o seu velho amigo responsável pela exibição dos filmes no cinema da aldeia. Um incêndio no Cinema Paraíso cegou Alfredo, o que obrigou Toto a ficar com o trabalho de exibir os filmes para a população. O rumo da vida fez Toto deixar a aldeia, à qual voltou anos depois, já adulto, revivendo memórias de tempos felizes. Um filme a não perder. Andreia Sofia Silva

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No entanto, os semáforos não acompanharam a mudança e continuavam a funcionar como se nada se tivesse passado, dando falsas indicações aos peões que assim corriam o risco de atravessar a rua face ao sinal verde e acabarem atropelados.

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VIDA DE CÃO

TENTÁCULOS DO POLVO A notícia publicada na edição de ontem neste jornal revela bem como funciona o Instituto para os Assuntos Municipais (IAM). Uma infografia que apelava a que as empregadas domésticas aprendessem a não mexer no lixo para não propagar a nova estirpe de coronavírus, como se fossem umas atrasadas mentais, estava a ser divulgada junto do Gabinete de Comunicação Social e o presidente do IAM, José Tavares, não só não sabia de nada como não concordava com o teor da mensagem, e bem. Provou-se então que o IAM é um polvo com tentáculos, uma máquina administrativa bastante pesada que tem alguns dirigentes com pensamentos retrógrados e racistas, sem noção do que é comunicação política e cívica. Recordo-me de uma outra polémica, quando o ainda Instituto para os Assuntos Cívicos e Municipais divulgou uma mensagem de feliz ano novo em espanhol, sem a menor noção do ridículo, tendo em conta o facto que a língua portuguesa está sempre na agenda política em Macau. A infografia já retirada do IAM é apenas um exemplo da xenofobia que permanece por estas bandas em relação aos trabalhadores não residentes, que são vítimas de discriminação e que têm sido sujeitos a condições de vida e de trabalho desumanas, que o coronavírus só veio piorar. Um dia alguém terá de dar o murro na mesa a favor destas minorias. Andreia Sofia Silva

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CINEMA PARAÍSO | GIUSEPPE TORNATORE | 1988

7 1 5 6 2 4 3 2 3 7 6 5 1 4 2 5 4 1 3 7 6 1 6 5 3 2 4 7 5 6 58 3 4 1 2 7 3 7 4 5 6 2 1 6 7 2 3 55 1 47 4 5 1 2 4 7 6 3 Propriedade Fábrica de Notícias, Lda Director Carlos Morais José Editores João Luz; José C. Mendes Redacção Andreia Sofia Silva; ; João Santos Filipe; Pedro Arede Colaboradores 1 2 6 Anabela 76 Canas; 4 António 33Cabrita; 5 António de Castro Caeiro;6António 2 3 1 4 7 5 Falcão; Ana Jacinto Nunes; Amélia Vieira; Gisela Casimiro; Gonçalo Lobo Pinheiro; Gonçalo M.Tavares; João Paulo Drummond; José Navarro de Andrade; José Simões Morais; Luis Carmelo; Michel Reis; Nuno Miguel Guedes; Paulo José Miranda; Paulo Maia e Carmo; Rita Taborda 3 4 1 Cotrim; 5 José 2Torres; Sérgio Fonseca; 4 Romão 5 Colunistas 6 António 7 Conceição 1 3 2 Chan; João Romão; Jorge Rodrigues Simão; Olavo Rasquinho; Duarte; Rui7 Cascais;6 Rui Filipe Júnior; David 2 Valério Paul Chan Wai Chi; Paula Bicho; Tânia dos Santos Cartoonista Steph Grafismo Paulo Borges, Rómulo Santos Agências Lusa; Xinhua Fotografia Hoje Macau; Lusa; GCS; Xinhua www. de redacção (publicidade@hojemacau.com.mo) hojemacau. 4 3 72 Secretária 2 6 54e Publicidade 15 Madalena da Silva7 4 1 2 3Assistente5de marketing 6 Vincent Vong Impressão Tipografia Welfare Morada Calçada com.mo de Santo Agostinho, n.º 19, Centro Comercial Nam Yue, 6.º andar A, Macau Telefone 28752401 Fax 28752405 e-mail info@hojemacau.com.mo Sítio www.hojemacau.com.mo 5


opinião 15

quarta-feira 12.2.2020

sexanálise

TÂNIA DOS SANTOS

A

Bolas ben-wa

S bolas ben-wa são bolas vaginais que ajudam a fortalecer o pavilhão pélvico. Há muitos outros nomes para este utensílio à saúde sexual, como bolas chinesas, bolas de gueixas, bolas do amor, duotones, ou simplesmente bolas vaginais. Nas minhas pesquisas não consegui chegar a uma história muito aprofundada de onde estas bolas vieram e para que propósito. A versão mais citada é que foram inventadas no Japão, por volta de 500 DC, para aumentar o prazer dos homens que penetravam vaginas. Só depois é que se começou a conjecturar outras vantagens. Bolas que podem ser de vários tipos, feitios e pesos. Quando as bolas já eram comuns no oriente, no mundo ocidental começou-se a falar nos exercícios Kegel no final dos anos 40, desenvolvidos para o tratamento de perdas urinárias no pós-parto, provocadas pela pouca tonificação muscular. O músculo é o pubococcígeo, o chão que sustenta todos os órgãos da zona, como o útero e a bexiga. O mesmo músculo que as bolas dizem tonificar. As pessoas que têm úteros passam por várias transformações ao longo do tempo que podem afectar

o seu tónus. Mas isso não quer dizer que o fortalecimento do pubococcígeo seja só recomendado para quem já passou por momentos desafiantes, ou para quem teve um prolapso uterino, ou sofre de incontinência urinária. O fortalecimento muscular serve a todos os úteros e bexigas que se querem melhor apoiados e sentir mais prazer - e que tenham vontade de exercitar músculos que não se exercitam no ginásio. As bolas são só um auxiliador para o programa de tonificação. Primeiro que tudo, é preciso comprar o apetrecho mais adequado a cada um. Nem todos os chamados sex toys são feitos com os materiais mais simpáticos para o corpo, nem mais higiénicos. É importante evitar materiais porosos para que não contribuam para o desenvolvimento de culturas bacterianas. O silicone é um bom material, de limpeza fácil. Também há bolas de vários tamanhos ou pesos para diferentes níveis de tonificação. A recomendação é que se comece pelos mais leves e se vá progredindo para os mais pesados. Ao inserir as bolas dentro da vagina (com ajuda de lubrificante) e se proceder com as suas rotinas diárias, o músculo irá

Não é por acaso que as bolas ben-wa são publicitadas como facilitadoras de orgasmos. Pavilhões pélvicos felizes, também provocam sexo feliz

naturalmente reagir às vibrações das bolas - que fará com que contraia ligeiramente e que se tonifique. O melhor será caminhar, correr, andar de um lado para outro enquanto as bolas estão inseridas – não mais do que meia-hora por dia. Nas primeiras vezes sugere-se experimentar em casa, caso a vagina ainda não seja capaz de segurar as bolas convenientemente e estas caírem pelas pernas abaixo (é muito normal se isso acontecer, com tempo e persistência isso irá mudar). Vários especialistas sugerem práticas diferentes, com o cuidado para não forçar em demasia. O mais importante é experimentar, analisar o nível de conforto, e fazê-lo com alguma regularidade. Há quem ainda sugira contracções particulares quando as bolas estão inseridas, para intensificar o exercício. Não faltam por aí indicações. Não há uma clara evidência científica que as bolas são a melhor opção do que os clássicos exercícios Kegel. As bolas são um método mais ‘antigo’ que usa pesos, enquanto que os Kegel são um método sem a inserção de objectos na vagina. Ainda assim, um e outro têm sido recomendados pelas prováveis vantagens à saúde – na prevenção e tratamento. São os testemunhos individuais que ajudam a corroborar as potenciais vantagens – que vão para além do estado de saúde físico, claro. Não é por acaso que as bolas ben-wa são publicitadas como facilitadoras de orgasmos. Pavilhões pélvicos felizes, também provocam sexo feliz.


Para ensinar há uma formalidade a cumprir - saber.

RÓMULO SANTOS

ESTUDO PERÍODO DE INCUBAÇÃO DO CORONAVÍRUS PODE DURAR ATÉ 24 DIAS

REINO UNIDO EMITIDO MANDADO DE DETENÇÃO PARA ANGELA GULBENKIAN

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período de incubação do novo coronavírus pode prolongar-se até 24 dias, e não 14 como se apurou anteriormente, segundo um estudo publicado ontem, e realizado por 37 investigadores, incluindo o proeminente epidemiologista chinês Zhong Nanshan. O portal de notícias chinês Caixin divulgou as conclusões do último rascunho da investigação, que mostra que a febre - um dos primeiros sintomas - se manifestava em apenas 43,8 por cento dos pacientes na sua primeira visita ao médico. “A ausência de febre é mais frequente [entre os pacientes analisados] do que na Síndrome Respiratória Aguda e Grave (SARS ou pneumonia atípica) e a Síndrome Respiratória do Oriente Médio (MERS), portanto a detecção dos casos não pode focar-se na medição da temperatura”, lê-se no texto. O mesmo sucede com a tomografia computadorizada, que detecta apenas sintomas de possível infecção em metade dos casos analisados, acrescentou. A amostra incluiu 1.099 pacientes do novo coronavírus, diagnosticados até 29 de Janeiro, em 552 hospitais, em 31 sítios diferentes da China, com uma idade média de 47 anos, e entre os quais 41,9 por cento eram mulheres. Entre os pacientes – 26 por cento não estiveram recentemente em Wuhan, o epicentro da epidemia, ou tiveram contacto com pessoas de lá - o período médio de incubação do vírus foi de três dias, mas houve também casos com um período de 24 dias. O estudo também revela que o coronavírus “tem uma taxa de mortalidade relativamente menor que a SARS e a MERS”.

U

Prontos para o embate Fitch diz que banca de Macau está mais imune do que no tempo do SARS

A

Fitch Ratings defendeu ontem que a banca de Macau e de Hong Kong estão mais imunes à queda dos preços de imóveis agora que enfrenta o surto do novo tipo coronavírus do que na altura da crise da SARS (Síndrome respiratório Agudo Grave), que entre 2002 e 2003 matou 774 pessoas em todo o mundo e atingiu os dois territórios. A agência de notação financeira “acredita que os bancos de Hong Kong e Macau estão mais protegidos das quedas nos preços dos imóveis do que durante o período da SARS, após a implementação de medidas macroprudenciais ao longo dos anos e a criação de amortecedores após a crise financeira global”. Contudo, alerta a Fitch, “os ganhos bancários serão enfraquecidos no curto prazo”, salientando que a própria autoridade

Monetária de Hong Kong referiu já ser expectável que entre 20 e 30 por cento das agências bancárias fechem temporariamente e/ou reduzam o horário de funcionamento naquele território. Em comunicado, a agência de notação financeira ressalvou ainda que, apesar das medidas excepcionais anunciadas pelo Governo de Macau, “é provável que o impacto no Produto Interno Bruto (PIB) no território “seja significativo, uma vez que as receitas do jogo contribuem com cerca de 70 por cento para o seu PIB”.

DESAFIO ACAUTELADO

A agência de rating sublinha, contudo, que a repercussão “na qualidade dos activos dos bancos deve ser contida, desde que o impacto no PIB não seja prolongado”. Uma análise justificada pelo facto de em ciclos negativos anteriores, os bancos de Macau terem conseguido manter os seus

custos de crédito “em níveis toleráveis”, com “a qualidade de seus activos a permanecer benigna em 2015, mesmo quando houve uma queda significativa na receita do jogo”. A Fitch lembrou também que as autoridades de Macau já anunciaram medidas de apoio destinadas a reduzir os encargos financeiros daqueles que possuem empréstimos e que enfrentam dificuldades, que podem agora solicitar um adiamento até seis meses no pagamento da dívida, devido ao impacto financeiro e económico que decorre do surto do coronavírus. Certo é que o actual surto “aumentará os desafios económicos de ambas as regiões e poderá influenciar” a avaliação daquela agência de notação financeira “se o dano à confiança for comparável à experiência destas cidades durante a disseminação da SARS em 2003”, concluiu.

Seul Macau designado como “zona contaminada” A Coreia do Sul anunciou ontem que vai incluir Macau e Hong Kong nas “zonas contaminadas” pelo novo coronavírus, pelo que quem viajar a partir das regiões semiautónomas da China poderá ser sujeito a quarentena. A designação, que entra em vigor à meia-noite de quarta-feira em Seul, obriga os viajantes

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quarta-feira 12.2.2020

PALAVRA DO DIA

Eça de Queirós

a preencherem um questionário sobre o seu estado de saúde e a medições de temperatura, anunciou o vice-ministro da saúde da Coreia do Sul, Kim Gang-lip. Quem apresentar sintomas, incluindo febre, será submetido a análise clínica, e, em caso de suspeita, imediatamente isolado e mantido sob vigilância.

M tribunal britânico emitiu um mandado de detenção contra a correctora e coleccionadora de arte Angela Gulbenkian, acusada de furto e de usar indevidamente o nome da Fundação Calouste Gulbenkian, disse ontem à Lusa fonte policial. A mesma fonte explicou que o mandado de detenção foi emitido pelo Tribunal da Coroa de Southwark para Angela Gulbenkian na sexta-feira, por não ter comparecido a uma audiência. “Um mandado de detenção europeu será submetido em devido tempo”, acrescentou. Em 26 de Junho já tinha sido emitido pelo Tribunal de Magistrados de Westminster um mandado de detenção europeu contra a alemã, casada com um sobrinho-bisneto do empresário arménio Calouste Gulbenkian, que está a responder na Justiça por alegadamente ter desviado 1,2 milhões que se destinavam a comprar uma escultura da autoria do artista japonês Yayoi Kusama. Contudo, o advogado Christopher Marinello, que representa o francês Mathieu Ticolat - que pagou a escultura, mas terá ficado sem o dinheiro e sem a obra de arte -, sublinhou que a alemã conseguiu ‘fintar’o mandado inicial ao convencer o tribunal de que estava a ser alvo de uma cirurgia na Alemanha. “O tribunal foi indulgente com ela naquele momento, mas provavelmente não o será desta vez. Ainda que tenha ido ao médico, foi vista em feiras de arte e em destinos de férias em todo o mundo”, afirmou Marinello. Na origem das duas acusações de crime de furto está a venda de uma escultura de Yayoi Kusama por 1,2 milhões de euros que nunca foi entregue ao comprador, um conselheiro de arte radicado em Hong Kong, Mathieu Ticolat, que processou Angela Gulbenkian civil e criminalmente.


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