Hoje Macau 12 JUN 2015 #3350

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gonçalo lobo pinheiro

Director carlos morais josé

Mop$10

www.hojemacau.com.mo

Soromenho-Marques sobre a União Europeia

s e x ta - f e i r a 1 2 d e j u n h o d e 2 0 1 5 • ANO X i v • N º 3 3 5 0

S. Januário

Ligações perigosas

“O tratado orçamental devia ser abolido”

sociedade Página 9

entrevista Páginas 2-4

União de facto José Pereira Coutinho retirou o seu projecto de lei sobre o arrendamento para se associar a Chan Meng Kam que apresenta uma proposta similar. O objectivo é reunir o maior consenso de modo a conseguir aprovar um diploma que controle as rendas. Em troca, o também presidente da ATFPM espera agora o apoio para a aprovação da Lei Sindical.

hojemacau

rendas coutinho e chan meng kam juntos por uma causa

Agência Comercial Pico • 28721006

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Ter para ler

Eu não sou daqui. Sou aqui isabel castro

Página 22

hoje macau

opinião

entrevista

rui nibra

O sonho de um grande Páginas 18-19

gonçalo lobo pinheiro

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página 5

h

Margens de respiração anabela canas


entrevista

Professor de Filosofia da Universidade de Lisboa, Viriato Soromenho Marques tem um extenso currículo, não apenas académico. Esteve em Macau para promover o seu novo livro intitulado “Portugal e a Queda da Europa”, no qual defende a abolição do Tratado Orçamental da UE e que o federalismo europeu não seja apenas penitência mas também salvação

Uma união monetária só pode sobreviver se tiver uma grande solidariedade política e por isso é que as uniões monetárias – que a História verifica e que sobreviveram – são as que tinham o suporte de uma união política, geralmente de recorte federal ou aparentado...

hoje macau sexta-feira 12.6.2015

Viriato Soromenho-Marques professor de Filosofia e Ciência Política, especialista em

“A nossa política doméstica Apontou diversos erros na construção da União Europeia, fazendo um diagnóstico não muito favorável. Por outro lado, apontou um outro caminho que seria mais federalismo. Isso faz-me lembrar o que Nietzsche diz de Kant: a raposa que destrói a sua jaula para a seguir construir outra e se meter nela... (Risos) Refere-se à passagem da Crítica da Razão Pura para a Crítica da Razão Prática, não é? Sim. Da crítica “radical” da possibilidade de conhecer à emergência do “radical”, “terrorista” imperativo categórico (risos). De facto, penso que há uma consistência na minha afirmação, isto é, a construção europeia foi efectuada através de uma metodologia que, desde o início e para os observadores mais atentos, estava “impregnada” de deficiências de design, ou seja, de construção. Temos vários marcos das críticas que foram feitas. As críticas foram feitas em diferentes períodos: um deles que foi na década de 70, porque a ideia de uma união monetária – que é hoje a zona Euro – já vem bastante de trás. Praticamente, desde que a comunidade europeia se constituiu, em 1958, com um dos Tratados de Roma, que temos várias tentativas de a construir. A primeira – e a mais consistente – é de 1970 e tem o nome do Primeiro-Ministro do Luxemburgo [Pierre Werner], que ficou encarregue de fazer o esboço e é o Plano Werner, que consiste em fazer uma união monetária de 70 a 80, ou seja, em dez anos. Este é muito parecido com aquele que está actualmente em vigor. Tendo sido objecto de críticas válidas, se o plano actual é muito semelhante, as críticas são igualmente válidas. As deficiências que hoje vemos claramente são fruto do choque daquela estrutura com a realidade. A primeira crítica é a seguinte: uma união monetária só pode sobreviver se tiver uma grande solidariedade política e por isso é que as uniões monetárias – que a História verifica e que sobreviveram – são as que tinham o suporte de uma união política, geralmente de recorte federal ou aparentado... ... pode dar um exemplo, para entendermos melhor o que é realmente para si essa necessidade..., digamos, federal. O exemplo mais puro é o do Federalismo Americano. Temos a Constituição Federal de 1787, aprovada e em vigor em 88, mas não temos o dólar nem nenhum

banco central. No entanto, tinham já uma Constituição comum dizia as competências do Governo comum. Só timidamente, à medida que a realidade ia evoluindo, é que eles começaram a introduzir o dólar – em 1792 – e houve várias tentativas falhadas de fazer um banco central. Está então a dizer que existem erros estruturais, conjunturais e também eventos dramáticos... Um outro caso, a que eu chamo de império federal, foi o II Reich, de Bismarck. A Alemanha tinha 30 e tal unidades políticas e a Prússia liderava a unificação depois da vitória sob a França. Só em 1876 é que foi possível unificar todos os bancos centrais que existiam nos estados alemães e que na altura se chamava Reich Bank. Em 1871 fizeram a Constituição. Digo que [isto] era Imperialismo Federal na medida em que os estados continuavam a estar representados parlamentarmente; a única questão é que o imperador era sempre da Prússia. O Império Austro-Húngaro – que também tem traços democráticos – tinha uma união monetária que passava pelo crivo do Parlamento. Como era um império constituído por dois reinos, de dez em dez anos havia uma sessão especial do Parlamento que se debruçava sobre a renovação da união monetária... Nós nunca tivemos nada disto na zona Euro. Sem união política, considera então impossível a união monetária? Que funcione, sim. A união política permite criar uma esfera de Governo comum e a Comissão Europeia não é um governo comum, até porque precisam de ter um orçamento comum que permita fazer investimentos, políticas contra-cíclicas quando os Estados estão com dificuldades. Num governo federal, quando há uma expansão económica, o governo tende a contrair. Quando fala de federalismo, está a falar de política, mas a verdade é que o Tratado Orçamental, que impõe a intromissão na definição dos orçamentos nacionais, não é só um instrumento económico mas, sobretudo, de economia política. No fundo, já existe federalismo através deste tratado... Existe uma caricatura, na medida em que só existe o federalismo como penitência e não como salvação. Uma questão central tem que ver com o orçamento comum e a capacidade de políticas de coordenação económicas, que são duas coisas que efectivamente ainda não existem na Europa. O orçamento co-

munitário da UE corresponde a 1% do PIB e, quando o [Jean-Claude] Juncker e o [Durão] Barroso se sentavam com os chefes de Estados dos Governo, tínhamos 1% do PIB europeu sentado à mesa de 45% do PIB europeu, que é sensivelmente aquilo que os orçamentos dos governos representam. Temos uma desproporção absolutamente brutal. Para podermos falar de federalismo económico de um governo que tivesse capacidade de fazer as tais medidas, precisaríamos de ter um orçamento europeu, no mínimo, de 4% a 5%. Isto para um federalismo “low-cost”... Isso significaria mais impostos para os povos europeus? Neste momento temos 1% e não dá. Como é que vamos arranjar os tais 5%? Através da superação de uma outra desvantagem que a actual situação traz: não só não temos política de coordenação económica, como temos uma competição fiscal – no sentido português da palavra – terrível. Isto provoca situações como as empresas do nosso PSI 20 pagarem impostos na Holanda. A vantagem da coordenação económica é que obriga a algum federalismo fiscal. Isto significa simplesmente que o orçamento comum é baseado nos impostos e toda a gente percebe. Se perguntar como é que funciona o orçamento europeu, só um técnico é que sabe responder. Mas esta baseia-se no princípio de garantir que algumas economias são contribuintes líquidas e outras beneficiárias: é de paternalismo fiscal. A ideia é manter sempre sete ou oito países à frente. É essa Europa que quer federalizar ainda mais, dando mais poder a estes países? Se já temos um federalismo na prática... O que temos é uma “consolidação de Estado”, ou seja, uma forma de hegemonia misturada com uma partilha de soberania monetária e cambial, mas que é um federalismo só com desvantagens e sem a solidariedade e o desenvolvimento. É um sistema monstruoso e que, na minha perspectiva, não vai sobreviver muitos anos. O BCE é que tem salvo a Europa de uma desagregação que teria acontecido em 2010 ou 2011. A grande reforma que precisamos não são na Grécia ou Portugal, mas sim da zona Euro e a prova disso é o BCE. O próprio resgate da Grécia e Portugal era proibido pelo artigo 125 [Tratado de Lisboa] e é muito interessante, porque o mecanismo que foi encontrado é o da ambiguidade e falta de coragem

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de se dirigir ao cidadão. O artigo 125 é uma espécie de cadáver que está no Tratado... E o artigo 123, que proíbe o financiamento monetário. Ou seja, enquanto os bancos centrais de outros países compram as suas obrigações do tesouro no mercado primário e consegue fazer um financiamento político, o BCE compra a dívida que está sobretudo na posse dos bancos, no mercado secundário. Então, pelos vistos, interpretando esse artigo do Tratado de Lisboa, conclui-se que os políticos europeus estão nas mãos desses bancos, fazem-lhes as vontades. Vamos federalizar mais para lhes dar ainda mais poder, para expandir e dar uma dimensão final às doutrinas neo-liberais? Não. A proposta que defendo é a explicitação do federalismo e isso implica ser capaz de voltar ao princípio, à ideia de um tratado


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União Europeia

é hoje política europeia”

constitucional, definindo claramente as competências da esfera europeia, fazer uma reforma fiscal que permita habilitar esse governo a ser eleito pelos cidadãos com os recursos orçamentais necessários e impedir esta situação em que temos o Conselho Europeu a controlar o processo. A Comissão Europeia está neste momento na posição de “serva” do Conselho Europeu e não tem tido capacidade de iniciativa. Os tratados recomendam que todo o processo legislativo começa na Comissão e agora é ao contrário: todo ele começa nas reuniões do Conselho Europeu, por sua vez dominado pela Alemanha, às vezes com o apoio da França. Temos que fazer esse caminho – claro que a política é a procura da liberdade possível – mas também procurar evitar a “física política” – que é quando se faz a única coisa que se pode fazer. Estamos a ver que a política na Europa está a estreitar-se tanto

O que temos é uma “consolidação de Estado”, ou seja, uma forma de hegemonia misturada com uma partilha de soberania monetária e cambial, mas que é um federalismo só com desvantagens e sem a solidariedade e o desenvolvimento. É um sistema monstruoso e que, na minha perspectiva, não vai sobreviver muitos anos

que qualquer dia já só temos física, sendo só administrada a desordem. Neste enquadramento, também deu a ideia de que prefere uma solução que passe pelos partidos políticos tradicionais do que pela emergência de novas forças políticas ou novos conceitos, que acontecem em países como a Grécia, a Espanha ou a França. Em que sentido prefere os tradicionais? O que prefiro é que exista uma consciência colectiva dos europeus no sentido de não voltarem as costas à Europa, porque é a casa que nós temos e, se ela se fragmentar, as ruínas caem-nos em cima. Julgo que tudo é possível porque entramos numa zona – com a Grécia – em que as regras já não se aplicam e é uma situação nova, porque é a primeira vez que um país da OCDE não cumpre os planos do pagamento do FMI e é, de facto, grave. É, sobretudo, feito num contexto em que não sabemos

se vai haver acordo, pelo que se não houver, a Grécia terá que criar uma nova moeda. No entanto, isto vai ser uma confusão muito dolorosa para a Grécia e para o resto da Europa, porque não é só a questão dos credores oficiais, mas também da inserção deste país no mercado europeu, na medida em que os importadores e exportadores vão, certamente, ficar numa situação em que deixarão de estar interessados em vender produtos à Grécia, país com nova moeda e que vai ter que renegociar tudo com toda a gente. Mas a dívida infinita também não é uma opção viável... Não. Temos que ser rigorosos. Vale a pena ler o documento das propostas apresentadas por Juncker, depois destes quatro meses de negociação com Tsipras. É como se nada tivesse acontecido, as mesmas coisas. É o IVA a aumentar, exclusões de sectores de pessoas com problemas...

Vale a pena ler o documento das propostas apresentadas por Juncker, depois destes quatro meses de negociação com Tsipras. É como se nada tivesse acontecido, as mesmas coisas. É o IVA a aumentar, exclusões de sectores de pessoas com problemas... Não existe um regime de federalismo político assumido: com eleições, governo, presidente da Europa, nada... Mas há uma dúzia de bancários e políticos de determinados países que jogam no mercado financeiro e impõem aos países determinadas medidas. Não lhe parece que podíamos aproveitar a Grécia para, pacífica e politicamente, começarmos a mudar as coisas? Era interessante. Essa racionalidade fazia sentido e julgo que os países que deviam ter logo aproveitado com a questão grega eram Portugal, Espanha e a Itália. O que eu acho inadmissível – e que os eleitores vão ter que punir estes governos nas próximas eleições – é que os governos de Portugal e Espanha não tivessem aproveitado, até porque sabemos que os ministros das finanças português e espanhol foram mais papistas que o Papa no Eurogrupo e isto significa que tanto em Portugal como em Espanha o que tivemos foram dirigentes partidários e não nacionais. Pensaram no seguinte: se conseguirmos ganhos por causa da Grécia, significa que toda a oposição que temos à nossa esquerda, vai ganhar as eleições porque vão perguntar porque não fizemos o que a Grécia fez. – É preciso que corra mal na Grécia para que nos corra bem a nós – é precisamente o discurso de Passos Coelho. Mas estes partidos do arco da governação são aqueles que defende... Não exactamente. A reforma do sistema partidário pode assumir várias dimensões. Falamos dos casos grego e espanhol, onde está a ver-se uma reforma ao lado dos partidos tradicionais. Todavia, julgo que também é possível vislumbrar uma reforma da parte dos partidos tradicionais. Podemos conceber um processo misto, com o aparecimento de partidos convencionais Continua na página seguinte


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que sejam capaz de dar a volta e ajustar contas com o seu passado, renovando-se, com novos partidos. No caso português, temos no espaço da direita uma certa renovação, com uma coligação que vai aguentar até ao fim e que vai partir outra vez para as eleições. A direita foi capaz de fazer uma coisa que a esquerda tem muita dificuldade em fazer, que foi unir-se, sempre com a perspectiva da manutenção do poder. Em relação à esquerda, vejo dois partidos mais pequenos – o PCP, que é um partido clássico que mantém basicamente as mesmas posições e o BE, que está numa posição de grande incerteza em relação ao futuro –, o aparecimento de uma força que vai disputar votos à esquerda, à direita e ao centro – que é Marinho Pinto – e a questão do PS, que é um grande enigma. Aparentemente, teria condições para se renovar e até produziu, com a equipa de Seguro, as primárias – que era um desígnio já muito antigo –, mas está a ser perturbado por uma grande dificuldade em não apenas calibrar o seu discurso programático mas também da narrativa do seu passado. A situação de ter um ex-primeiro-ministro preso não facilita a situação. Um dos grandes problemas do PS vai ser conseguir a demarcação muito clara relativamente à figura do anterior primeiro-ministro, mas também do método de fazer política que foi predominante durante esse período. As Legislativas 2015 estão à porta e há a possibilidade do Governo mudar. Em que medida é que uma possível alteração de partido poderia influenciar a forma como Portugal se posiciona na Europa? Julgo que a verdadeira escolha está, essencialmente, na compreensão de que a nossa política doméstica é hoje política europeia, tal como para Espanha, Grécia ou Itália. Qualquer possibilidade de contrariarmos a austeridade, que tem feito cair o investimento público a níveis tão baixos que só têm paralelismos históricos se recuarmos décadas, de ter capacidade para lutar contra a fragmentação financeira da UE, que faz com as nossas empresas tenham condições competitivas piores do que empresas da Eu-

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Os ministros das finanças português e espanhol foram mais papistas que o Papa no Eurogrupo e isto significa que tanto em Portugal como em Espanha o que tivemos foram dirigentes partidários e não nacionais

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ropa Central... Tudo isto só será possível mudando as regras do jogo europeu. A melhor política que um novo governo pode fazer, pelo bem do nosso país, será a de dialogar extensivamente com forças de outros países. Temos algum tempo, mas não temos todo o tempo do mundo, partindo do princípio que a situação da Grécia não vai escalar muito mais. Aquilo que temos mesmo discutir é a questão do tratado orçamental e a minha posição é radical: este devia ser abolido, porque é um instrumento que não serve à UE. Se tivermos que encontrar uma posição intermédia, teremos que rever aquelas metas absolutamente irrealistas do défice e da dívida pública que nos condenariam a uma austeridade por, pelo menos, mais 20 anos.

Temos que estreitar a cooperação com os PALOP, mas Portugal não pode pertencer a uma lusofonia mais forte se não tiver alguma coisa para oferecer. Devemos manter o projecto europeu, porque o que nos valoriza junto dos moçambicanos, brasileiros e angolanos é a nossa pertença à Europa.

Disse que Portugal não tem uma lógica de projecto colectivo. Em que medida seria possível contornar esta sua ideia? Maurice Duverger dizia uma coisa muito interessante quando aderimos à UE: ao entrarem na comunidade europeia, vocês, portugueses, parecem estar a reformar-se da História. Isto significa que Portugal não amadureceu suficientemente o seu desígnio estratégico, depois de termos rompido com uma tradição secular. A maioria dos portugueses e políticos não se apercebeu da mudança sísmica da revolução de 74: é que, nesta altura, não nos limitámos a substituir uma ditadura por um regime de democracia representativa. Já a tínhamos tido na Primeira República e na Monarquia. Em 74 interrompemos um ciclo em que a nossa identidade estratégica dependia de um apoio externo, que era o imperial. Em 74 estava em causa precisamente esta questão: onde é que vamos buscar este apoio externo? O país continuou a precisar disso... Adriano Moreira diz isso e eu apoio. Julgo que a Europa foi isso mesmo, mas não fomos capazes de perceber que a Europa era um espaço de luta e não de repouso. Devíamos ter negociado os termos de amarração na Europa. Uma espécie de projecto nacional, como houve com os Descobrimentos... Resumimo-nos agora à selecção nacional de futebol e, esporadicamente, tivemos Timor, que foi um caso de sucesso. Exacto. O falhanço nacional principal foi o Tratado de Maastricht. Em 1986 a negociação e as condições de entrada foram bem conseguidas. O que a democracia conseguiu não é nada que o Estado Novo não tivesse

já pensado, até porque o primeiro pedido de adesão à comunidade europeia foi feito em 66, e não foi com Marcelo Caetano mas sim com Salazar, que pediu a adesão discretamente. Foi De Gaulle que se opôs porque tinha acabado de criar a sua política agrícola comum. Olhou para Portugal e pensou que era um país pequeno mas demasiado parecido com França: tinha muito agricultores. A vocação europeia não é nenhuma descoberta democrática, mas sim lógica. Haveria outras alternativas? De entre várias outras, há um projecto mais audaz, que seria o de uma união lusófona, que faria de Portugal um país descentrado da Europa, com uma base europeia, mas fundamentalmente centrado em África, que era o projecto de Norton de Matos. Nova Lisboa era o embrião de uma capital em África, o que seria uma experiência absolutamente extraordinária. O que falhou? O que falha actualmente: não se pode fazer isto nem um regime federalista sem democracia plena. Julgo que a actual crise que estamos a viver é também um momento para um despertar da nossa consciência nacional, de não estamos condenados à fatalidade, de pensar o país como um processo de venda a saldo do capital construído, dos bens imóveis, até que não exista mais nada. Este governo tem vendido tudo aquilo que constituía um suporte da nossa capacidade de autonomia em caso de sermos obrigados a seguir o nosso destino. No fundo, o nosso país está a ficar um país de assalariados. O investimento chinês tem estado particularmente presente na área de investimento português.

Como vê a influência da China em Portugal e que futuro augura? A China é claramente uma potência que tem uma visão estratégica mundial, já não é só asiática, e também não tem estados de espíritos: partidos republicanos e democráticos, políticas conjunturais, nem presidentes burros ou inteligentes... Tem um projecto estratégico de décadas. Outro aspecto: a China não faz caridade e está a investir em Portugal porque neste momento é um bom negócio com empresas bastante válidas e estruturas lucrativas. Parece-me também que na perspectiva de projecção de poder no mundo, a China prefere a aliança e a parceria ao confronto e à dominação. Estando nós numa situação tão incerta e insegura em que a nossa permanência na zona Euro pode estar em perigo, é conveniente termos outras amarrações geopolíticas e geoestratégicas do ponto de vista económico com outras zonas do mundo. Temos que estreitar a cooperação com os PALOP, mas Portugal não pode pertencer a uma lusofonia mais forte se não tiver alguma coisa para oferecer. Devemos manter o projecto europeu, porque o que nos valoriza junto dos moçambicanos, brasileiros e angolanos é a nossa pertença à Europa.

Um dos grandes problemas [do PS] vai ser conseguir a demarcação muito clara relativamente à figura do anterior primeiro-ministro, mas também do método de fazer política que foi predominante durante esse período Como aos olhos da China... Faz todo o sentido fazermos parcerias com a China em vários sectores e talvez se tenha exagerado um pouco na percentagem de capital de cada sector que foi negociado e a culpa foi do nosso Governo. A Índia é também muito importante, mas os EUA também não devem ser esquecidos, tal como outros países. Diria que, à semelhança do que a região de Macau representa, também no que diz respeito ao investimento chinês em Portugal, o governo que vem a seguir deverá manter uma boa cooperação com a China. Carlos Morais José

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Leonor Sá Machado

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política

Do dia para a noite, Pereira Coutinho decidiu retirar o seu projecto de lei sobre o arrendamento e unirse a Chan Meng Kam. A notícia chegou com surpresa, mas tem um propósito: reunir o maior número de deputados para que seja aprovado algum diploma que controle as rendas. Coutinho aceita mas quis, em retorno, apoio na aprovação da Lei Sindical

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deputado José Pereira Coutinho surpreendeu tudo e todos quando anunciou a retirada do seu projecto de lei sobre o arrendamento – apresentado na semana passada à Assembleia Legislativa (AL) e pronto para ir a votos na segunda-feira – para se unir ao deputado Chan Meng Kam. “Sim, é verdade. Decidi unir-me ao grupo de deputado que também vai apresentar um projecto similar e com objectivos idênticos ao meu projecto”, começou por confirmar José Pereira Coutinho ao HM, enumerando pontos em comum entre os dois diplomas. “Os aspectos de controlo das rendas e referências no sentido de combater as pensões ilegais [são semelhantes]”, diz. Assumindo que está a aliar-se a forças diferentes dentro da AL, o deputado - viu o seu colega do hemiciclo rejeitar alguns dos seus projectos - admite que esta aliança poderá ser benéfica para todos. “Atendendo que o objectivo é aprovar a lei em causa, acho que seria importante eu subscrever este novo projecto e retirar o meu com o objectivo de que os residentes de Macau passem a ter uma Lei de Arrendamento num futuro próximo”, argumenta, esclarecendo que Chan Meng Kam conseguirá reunir mais votos a favor dos outros deputados. A carta de pedido de retirada do projecto de lei foi enviada ontem a Ho Iat Seng, presidente da AL. “Acabei de assinar o projecto de lei [da equipa de trabalho de Chan Meng Kam] e acabei de enviar uma carta ao presidente da AL para solicitar a retirada do meu projecto”, confirmou ao HM, no

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antónio falcão

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Rendas Coutinho retira projecto e une-se a Chan Meng Kam

Um apoio por outro apoio final da conferência de imprensa organizada na Associação dos Trabalhadores da Função Pública de Macau (ATFPM) sobre a Lei Sindical.

Unir forças

Pereira Coutinho não nega que a união traz algum interesse, já que assegura que recebeu uma garantia por parte de Chan Meng Kam de apoio ao projecto da Lei Sindical. “Foi uma das contrapartidas que lhe fiz e espero que [Chan Meng Kam] cumpra a promessa”, afirma. Questionado sobre o número de vezes que Chan Meng Kam votou contra os projectos de lei encabeçados por Pereira Coutinho, o presidente da ATFPM justifica que “às vezes é necessário dar passos para a frente ou para trás, faz parte da vida, [que] é feita de muitas surpresas”. “Vejo [esta união] de forma positiva, desde que [Chan Meng Kam] apoie o projecto da Lei Sindical tudo bem para mim, são mais apoiantes e aumentam as possibilidades da lei vir a ser aprovada. Apesar de ainda existirem algumas dificuldades”, argumenta.

Equipa de votos

A união a Chan Meng Kam vem ainda trazer mais votos. Pelo menos é nisso que acredita Pereira Coutinho. “Porque ao ser do Chan Meng Kam os outros dois [Song Pek Kei

e Si Ka Lon] também vão apoiar, em princípio, sendo da mesma equipa, daí mais votos”, explica. Recorde-se que um projecto de lei sobre esta matéria há muito tem sido anunciado pela deputada Song Pek Kei, que encabeçou um

grupo de trabalho dedicado a este projecto. Também Gabriel Tong esteve envolvido, ajudando na parte jurídica. Questionada pelo HM, a deputada confirmou que irá assinar o projecto de lei em causa por fazer parte da equipa de Chan

“Atendendo que o objectivo é aprovar a lei em causa, acho que seria importante eu subscrever este novo projecto e retirar o meu com o objectivo de que os residentes de Macau passem a ter uma Lei de Arrendamento num futuro próximo” Pereira Coutinho Deputado

Meng Kam. “Se o deputado José Pereira Coutinho já falou com o deputado Chan Meng Kam faremos uma equipa. O que de nós os três [Chan Mang Kam, Si Ka Lon e Song Pek Kei] assinar o projecto está a representar toda a equipa. O que queremos é impulsionar a lei”, disse ao HM. Sobre o projecto elaborado pela deputada, Song Pek Kei afirmou “que não está decidido quem poderá assinar esse projecto”, não dando qualquer informação extra sobre se o documento será ainda submetido à AL. Num email enviado ao HM, Chan Meng Kam esclarece que avançou com o projecto com o objectivo de “desenvolver de forma saudável o mercado de arrendamento”. Sobre o convite ao deputado Pereira Coutinho, Chan esclarece que faz parte de uma tentativa de “angariar mais apoio” a um só projecto de lei. Filipa Araújo (com Flora Fong) filipa.araujo@hojemacau.com.mo

Macau e Portugal aprofundam cooperação na formação de quadros

A

Secretária para a Administração e Justiça, Sónia Chan, recebeu ontem o Secretário de Estado da Justiça português, António Costa Moura, para debater uma cooperação mais profunda na formação de quadros. No final do encontro, o Secretário explicou que Sónia Chan se mostrou muito interessada nas reformas que estão em curso em Portugal. “Assumi com a Secretária da Justiça o compromisso de enviar toda a documentação relevante

produzida em Portugal sobre esta matéria e a Secretária mostrou muito interesse também no aprofundamento das relações a nível da formação”, disse à Rádio Macau. “Principalmente em matérias que dizem respeito ao registos e notariado com os códigos fundamentais sobre matriz portuguesa.” António Costa Moura mostrou ainda muito orgulho e confiança quanto ao futuro. “Tivemos abertura para que continue a ser assim e concordámos com estas autoridades que, de

facto, a área da formação é estratégica neste domínio. Dentro do quadro de competências de cada umas da entidades, que respeitamos e prezamos muito, levarei para Portugal a mensagem do empenhamento das autoridades locais”, declarou. Sobre a vinda de magistrados de Portugal para Macau, o Secretário de Estado da Justiça sublinhou que o país está também com falta de pessoas nesta área, mas vai continuar a respeitar a política de facilitação de contactos.


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Governo Salário mínimo universal até fim de 2018

Palavra de Lionel

Salário mínimo para todos será mesmo em 2018 “ou até mais cedo”. Entretanto, porteiros e funcionários da limpeza vão passar a receber ordenados de 30 patacas à hora em 2016, sendo que o Governo se mostra aberto a rever este valor

O

o Secretário para a Economia e Finanças, Lionel Leong, por forma a analisar na especialidade a proposta de lei referente à implementação do salário mínimo. O diploma passa agora a chamar-se Salário Mínimo para Trabalhadores de Limpeza na Administração Predial. Segundo Cheang Chi Keong, deputado que preside à Comissão, vai mesmo ser implementado o salário para todos daqui a três anos.

“O salário universal poderá ser implementado até finais de 2018 ou antes, se tudo correr bem. O Governo já deu um grande passo e o valor do salário mínimo vai ser actualizado”, explicou o deputado. As 30 patacas por hora será o valor a ter em conta na implementação dessa medida, ainda que o Governo esteja aberto a rever os montantes daqui a três anos. “No

“O salário universal poderá ser implementado até finais de 2018 ou antes, se tudo correr bem. O Governo já deu um grande passo e o valor do salário mínimo vai ser actualizado”

Riscos de part-time

Cheang Chi Keong Presidente da 3.ª Comissão Permanente da AL

O Governo está também a trabalhar na criação de um regime de trabalho a tempo parcial. “Ainda tem de ser criado um regime de tempo parcial, é algo que está ausente deste regime e tem que ser feito por lei. A Direcção dos Serviços para os Assuntos Laborais (DSAL) já tinha ponderado isto e o Governo já está a preparar isso. Alguns empregadores poderão usar o regime de part-time, e isso

apresenta riscos”, referiu Cheang Chi Keong. O parecer jurídico que conclui a análise na especialidade deverá estar concluído na próxima semana. Andreia Sofia Silva

andreia.silva@hojemacau.com.mo

Leonor Sá Machado

leonor.machado@hojemacau.com.mo

tiago alcântara

salário mínimo para porteiros e funcionários da limpeza entra em vigor já em Janeiro de 2016, sendo que o Executivo prometeu que até finais de 2018 o salário mínimo para todas as classes de trabalhadores deverá estar implementado. Os deputados da 3.ª Comissão Permanente da Assembleia Legislativa (AL) reuniram-se ontem com

futuro, aquando da aplicação do salário mínimo universal, vão ser aplicados estes valores, mas tudo dependerá da situação na altura”, disse Cheang Chi Keong. Para já, os trabalhadores da limpeza e segurança passam, a partir de Janeiro de 2016, a receber 30 patacas por hora, 240 patacas por dia, 6240 patacas mensais. Cerca de 6200 trabalhadores ficarão abrangidos, contudo, “13 mil trabalhadores de outras profissões vão continuar a receber menos de 30 patacas por hora”.

A

s mudanças no sector do retalho como consequência da diminuição das receitas do Jogo motivaram um encontro entre o Secretário para a Economia e Finanças, Lionel Leong, e representantes de 20 associações do sector industrial e comercial. No encontro, as associações fizeram “propostas como adopção de medidas que visam atrair a vinda de mais visitantes para Macau, a fim de aliviar os efeitos negativos provocados pela queda das despesas médias dos turistas”. Isto porque “caso haja uma descida drástica deles, maiores dificuldades poderão ser trazidas para a economia de Macau”, refere um comunicado oficial.

Retalho Exigidas medidas para aumento dos turistas

À espera de uma via saca Essas medidas visam a criação de planos promocionais trans-sectoriais ou a “realização de actividades festivas e feiras, para atrair a visita a Macau dos turistas e para reforçar a dinâmica da economia”. Foi ainda proposta maior publicidade a “diversos pontos de consumo em Macau, por forma a encaminhar os turistas para as zonas comunitárias, apoiando a sobrevivência das Pequenas e Médias Empresas (PME) lá instaladas”. As associações pedem que

seja aumentada a responsabilidade social das operadoras de Jogo, através do aumento de aquisição de bens e serviços locais, bem como que seja feito um reforço do incentivo ao consumo local por parte dos residentes.

Efeito dominó

Lionel Leong admitiu que devido ao ajustamento profundo das receitas oriundas do sector de Jogo, verificou-se, no primeiro trimestre, um decréscimo no co-

mércio a retalho, quer em termos do valor das transacções, quer em termos do volume de venda. Para o Secretário, isto demonstrou que a “situação desfavorável de operação do sector nos últimos tempos começou a ter repercussões nos outros sectores”. O mesmo comunicado aponta que se registaram “mudanças nos negócios dos estabelecimentos do comércio a retalho, tendo a descida das receitas do Jogo afectado a procura de consumo, por parte dos

turistas e dos residentes de Macau, no que diz respeito aos produtos de elevada qualidade, originando um decréscimo não só no valor dos seus negócios, como também no volume da sua venda”. Para além disso, o consumo dos residentes locais também foi afectado dadas as alterações do ambiente económico, passando uma parte dos trabalhadores do sector de Jogo a adoptar uma postura prudente nas suas despesas. “Determinadas actividades sectoriais viram as suas receitas a contrair-se, no entanto, não se conseguiram ser beneficiadas, ao mesmo tempo, de uma redução nos seus custos operacionais, dificultando assim a sua sobrevivência”.


política 7

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Chui Sai On em Pequim para falar sobre áreas marítimas

Numa visita a Pequim, agendada para os dias 16, 17 e 18 de Junho, Chui Sai On, o Chefe do Executivo, irá debater a questão da gestão das áreas marítimas que poderão ficar sob a jurisdição da RAEM. De acordo com um comunicado do Executivo, o líder do Governo vai discutir o novo modelo alfandegário com o directorgeral da Administração das Alfândegas da China, Yu Guangzhou, e o director da Administração Estatal Oceânica, Wang Hong. Recorde-se que Macau pediu a Pequim a jurisdição sob algumas áreas marítimas em redor de Macau.

Lei dos Animais Só cães e felinos são de consumo proibido

És um gato ou um rato?

Kwan Tsui Hang Deputada

Turismo Hungria e Macau com cooperação reforçada O Secretário para os Assuntos Sociais e Cultura, Alexis Tam, teve um encontro na passada quarta-feira com Pál Kertész, cônsul-geral da Hungria em Hong Kong e Macau, e com o cônsul Tamás Fehér, com o objectivo de reforçar as relações de cooperação nas áreas do turismo e da cultura. A Hungria deseja que seja reforçada a cooperação nestas áreas com Macau, para que seja possível aumentar a cooperação entre a China e os países da Europa Oriental e do Leste europeu, como indica um comunicado do Gabinete do Secretário. Alexis Tam referiu que o território está “disponível para estudar, de forma aprofundada e conjuntamente com a Hungria, formas de promover a cooperação no âmbito turístico”.

“Os maus tratos contra animais são diferentes dos maus tratos aos seres humanos, que podem ser morais e físicos. Mas nos animais é difícil compreender a sensação do animal em relação a determinado acto”

Neste momento, só os cães e gatos estão fora de perigo de ir parar à panela, já que a lei só proíbe o consumo destes dois tipos de animais. Para o Governo, a nova lei deve integrar uma política de abate indolor

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m Macau, todos os animais, excluindo cães e gatos, podem ser consumidos. A ideia foi transmitida pela deputada Kwan Tsui Hang ontem, quando sublinhou a diferenciação do Governo entre animais para consumo e cães e gatos. Ontem, durante a reunião da 1.ª Comissão Permanente da Assembleia Legislativa (AL) com membros do Governo, a presidente anunciou que a principal

preocupação da proposta de Lei dos Animais é a questão da dor infligida nos animais. Seja em situações de abate permitido ou actos de violência e maus tratos para com os animais, o Governo pretende que a dor infligida seja a menor possível. No que diz respeito ao abate, Kwan apontou oito diferentes casos que o documento legislativo prevê, incluindo consumo, surtos de doenças contagiosas ou epidemias, controlo

IACM junta-se a IH para promover protecção O presidente do Conselho de Administração do Instituto para os Assuntos Cívicos e Municipais (IACM), Alex Vong, referiu que vai juntar-se com o Instituto de Habitação (IH) para promover a protecção de animais. O evento vai acontecer este sábado no Edifício do Lago - habitação pública. Segundo o canal chinês da Rádio Macau, Vong foi questionado sobre a questão de terem sido descobertos animais mortos no edifício e afirmou que não tinha jurisdição, pelo que “só pode haver conclusão final quando acabar a investigação da Polícia de Segurança Pública”. Polícia que já disse não ter provas que possam levar a investigação adiante para já e que anda “de porta em porta” a tentar perceber o que se passou. O presidente do IACM disse ainda que vai abrir estas actividades de promoção a outras habitações públicas.

do número de animais – no caso do número de animais abandonados no canil municipal exceder o permitido –, alívio de dor ou sofrimento do animal ou segurança pública.

Abate sem dor

Outra das situações foca a desratização, prática muito

comum em Macau, mas que não tem, de acordo com o Governo citado por Kwan Tsui Hang, ser um acto doloroso para o animal: o Executivo prefere o abate por meio de “utilização de meios humanos que não inflijam dor aos animais”, explicou.

Por exemplo, a presidente da Comissão alertou para o emprego de produtos com veneno, como são os raticidas, ao invés de se optar pelas ratoeiras. “Temos que fazer os possíveis para evitar dores desnecessárias [para matar ratos]”, concluiu a deputada. É que, de acordo com o Executivo, “os ratos também são animais” e devem ser abatidos de formas menos violentas. A reunião de ontem focou-se na discussão de uma nova versão da proposta, recentemente entregue pelo Governo a estes deputados. Assim, foi debatida a noção de “maus tratos”, que Kwan entende não ser tão fácil de definir como no caso dos seres humanos. “Os maus tratos contra animais são diferentes dos maus tratos aos seres humanos, que podem ser morais e físicos. Mas nos animais é difícil compreender a sensação do animal em relação a determinado acto”, acrescentou a deputada. Leonor Sá Machado

leonor.machado@hojemacau.com.mo

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MANDADO DE NOTIFICAÇÃO N.º 135/2015 -----Atendendo a que não é possível proceder à respectiva notificação pessoal, pelo presente notifique-se o senhor GARETH ROBERTS, portador do Passaporte do Reino Unido n.° 761220xxx, explorador do Estabelecimento do Bar “THE HOLE IN THE WALL”, situado na Avenida Dr. Sun Yat-Sen n.° 1381, Vista Magnifica Court rés-do-chão P, Macau, que na sequência do Auto de Notícia n.° 014/B/2013-P°.225.48, levantado pelo CPSP em 09.07.2013, e por despacho da signatária de 04.06.2015, exarado no Relatório n.° 416/DI/2015, de 19.05.2015, lhe foi aplicada a multa de $60,000.00 (sessenta mil patacas), nos termos da alínea b) do n.° 2 e do n.° 3 do artigo 67.° do Decreto-Lei n.° 16/96/M, de 1 de Abril, por infracção ao artigo 30.° do mesmo diploma “Os estabelecimentos hoteleiros e similares só podem abrir ao público após a emissão da licença respectiva.”----------------------------------------------------------O pagamento voluntário da multa deverá ser efectuado no Departamento de Licenciamento e Inspecção desta Direcção de Serviços, no prazo de 10 dias, contado a partir da presente publicação, de acordo com o n.° 1 do artigo 62.° do Decreto-Lei n.° 16/96/M, de 1 de Abril, findo o qual será cobrada coercivamente através da Repartição de Execuções Fiscais, nos termos do n.° 2 do mesmo artigo. -------------------------------------------------------------------------------------Da presente decisão cabe recurso contencioso para o Tribunal Administrativo, a interpor no prazo de 60 dias, conforme estipulado na alínea b) do n.° 2 do artigo 25.° do Código de Processo Administrativo Contencioso, aprovado pelo Decreto-Lei n.° 110/99/M, de 13 de Dezembro. ------------------------------------Da presente decisão cabe reclamação para o autor do acto, no prazo de 15 dias e sem efeito suspensivo conforme o prescrito no n.° 1 do artigo 148.°, artigo 149.° e n.° 2 do artigo 150.°, todos do Código do Procedimento Administrativo, aprovado pelo Decreto-Lei n.° 57/99/M, de 11 de Outubro.------------------------------- Há lugar à execução imediata da decisão caso esta não seja impugnada. -------------------------------------------------------------------------------------------O processo administrativo poderá ser consultado, dentro das horas normais de expediente, no Departamento de Licenciamento e Inspecção desta Direcção de Serviços, sito na Alameda Dr. Carlos d’Assumpção n.os 335-341, Edifício “Centro Hotline”, 18.° andar, Macau. ----------------------------------------Direcção dos Serviços de Turismo, aos 4 de Junho de 2015. A Directora dos Serviços, Maria Helena de Senna Fernandes


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sociedade

O deputado da bancada democrata mostra-se aberto a apoiar a IUOE no aprofundamento do caso do terreno da Wynn no Cotai, até porque já falou sobre o tema com o Governo. Mas mais ninguém, nem o colega de bancada Ng Kuok Cheong, alinha com Au Kam San

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Wynn Cotai Au Kam San apoia petição da IUOE. Maioria não

Sozinho em causa

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ó o deputado Au Kam San parece querer apoiar a União Internacional de Engenheiros Operacionais do Nevada (IUOE, na sigla inglesa) na investigação e pedido de reembolso de 50 milhões de dólares americanos à Wynn. O democrata considera que é preciso que a AL enfrente o Governo com esta questão, porque nunca há respostas concretas, diz, da parte das Obras Públicas. Au Kam San disse apoiar “com certeza” a petição da IUOE. Isto, porque conforme relembra ao HM, “já elaborou uma interpelação escrita relativamente ao caso” e “a resposta do Governo mostrou que não havia nenhum registo” do terreno. “O Governo rejeita sempre [falar sobre o tema], parece que não existe este caso e que apenas a Wynn Macau travou promessas com uma outra parte, que não se sabe quem é. No entanto, no processo de concessão do terreno, uma empresa não iria ser tão estúpida ao ponto de oferecer um grande montante de dinheiro sem indicação de algum governante”, atira Au Kam San ao HM. Recorde-se que a IUOE enviou uma petição aos deputados esta semana, pedindo que actuem para que a Wynn receba uma indemnização

no valor de 50 milhões de dólares americanos. O valor corresponde ao alegado montante que a operadora teve de pagar a uma empresa de Pequim para conseguir ficar com o terreno que tem actualmente no Cotai. Num email enviado ao HM, a IUOE explicava que o objectivo da carta era pedir aos deputados que ajudem a descobrir “se os oficiais do Governo agiram dentro da sua

autoridade legal, ao prometerem os direitos de concessão do terreno no Cotai ao grupo de Ho Ho (empresário da Tien Chao), sem documentarem o caso”. Para Au Kam San é preciso esclarecer “qual foi o governante que indicou à empresa [de Pequim] que se comprometesse com a outra companhia” e, por isso, o deputado quer que a entrega da petição da

“O Governo rejeita sempre [falar sobre o tema], parece que não existe este caso e que apenas a Wynn Macau travou promessas com uma outra parte, que não se sabe quem é. No entanto, no processo de concessão do terreno, uma empresa não iria ser tão estúpida ao ponto de oferecer um grande montante de dinheiro sem indicação de algum governante”, Au Kam San Deputado

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nal Ou Mun, explicando que são uma empresa de grande dimensão e que empregam actualmente 800 pessoas. Devido ao elevado número, o grupo diz que “a mobilidade de recursos humanos é grande”, mas desdramatiza estes despedimentos. “Nos últimos anos, a cada ano, existiram entre cem a 200 funcionários, em média, que foram despedidos”, escrevem, apontando que o número actual é semelhante ao dos anos

O único

Mas Au Kam San não recolhe apoio dos colegas do hemiciclo. O teor complexo é uma das justificações mais dadas quando os deputados são questionados sobre o assunto, bem como a impotência da AL. Para José Pereira Coutinho, o tema não pode ser discutido

Joana Freitas (com Flora Fong) joana.freitas@hojemacau.com.mo

Coloane Governo “não recebeu” de Jogo

Grupo Neptuno desdramatiza despedimentos m dos principais grupos de promotores de Jogo a operar no mercado VIP de Macau, Neptuno, declarou que “não vai despedir mais de 300 funcionários das salas VIP este mês”, rejeitando as denúncias feitas pelo grupo Forefront of The Macau Gaming, que falaram em números superiores de despedimento à publicaçãoAllAbout Macau.As declarações do grupo Neptuno foram feitas através de um comunicado publicado no jor-

IUOE possibilite a realização de uma audição sobre o conteúdo do caso no hemiciclo. Audição que, diz, “incluiria o pessoal do Governo [responsável pelo caso]”. O deputado aponta mesmo que esta situação pode não ser a única e, que pelo interesse público, a AL deveria averiguar e pedir mais esclarecimentos sobre a situação. “Macau, sendo uma região de Direito, como é que pode acontecer haver entidades que fazem [as coisas por] dinheiro desta forma? Pelo grande interesse público, a AL deve [pedir] a solução deste caso”, frisou.

pelos deputados da Assembleia Legislativa. “Não posso subscrever esta petição, porque não estou por dentro do assunto. Não sei qual a situação, qual o imbróglio e não posso, realmente, fazer um juízo coerente e sério sobre a situação”, começou por dizer Pereira Coutinho ao HM. Da mesma forma que Pereira Coutinho, também Ng Kuok Cheong não quer apoiar o pedido da IUOE. Para o colega de bancada de Au Kam San, só o Comissariado contra a Corrupção (CCAC) poderá pronunciar-se sobre o caso. “O conteúdo é complicado, não sei bem o que [a IUOE] dos Estados Unidos está a fazer. A Assembleia Legislativa (AL) deve entregar o caso ao CCAC depois de receber o pedido de intervenção e vamos testar a reacção do CCAC”, disse ao HM. Recorde-se que o organismo liderado por André Cheong já está a investigar o caso, segundo confirmou anteriormente. Kwan Tsui Hang critica que a forma como foi entregue a petição nem sequer foi oficial, uma vez que os deputados terão recebido a carta por email, pelo que “nem sequer se sabe que é verdade”. O facto de não ser uma entidade de Macau a fazer o pedido, “ou um residente”, também tira a confiança da deputada. “Pode não ser verdade. A [IUOE] não foi directamente à AL e isto são negócios entre eles. A AL nem sequer pode fazer a investigação, só o CCAC.” Pereira Coutinho também concorda. “Compete às autoridades da RAEM, nomeadamente ao CCAC, ao Comissariado de Auditoria, à Direcção dos Serviços de Finanças, para saber se de facto no âmbito das suas competências, houve alguma coisa que não esta correcta, que é preciso investigar. Na qualidade de deputado não tenho dados para isso.” Outros deputados ouvidos pelo HM, como foi o caso de Chan Meng Kam e Song Pek Kei, ainda nem sequer viram a petição. E a maioria, como concorda Pereira Coutinho, não deverão alinhar com Au Kam San. “Acho que, se Pereira Coutinho não pega, mais ninguém pega.”

passados. “A declaração do alegado grupo não é verdadeira”, dizem, em resposta à Forefront of The Macau Gaming. O grupo Neptuno considera ainda que as “falsas declarações podem influenciar a motivação dos funcionários”, esperando que junto da sociedade “se possa diminuir os pensamentos negativos, não só no sector do Jogo mas também dos funcionários”. F.F.

A Direcção de Inspecção e Coordenação de Jogos (DICJ) não recebeu qualquer pedido para a abertura de um casino dentro de dois empreendimentos novos em Coloane. A confirmação foi dada ontem por Lionel Leong, que assegura que só as operadoras actualmente licenciadas podem apresentar requerimentos para licenças de Jogo. A afirmação do Secretário para a Economia e Finanças surge depois do deputado Au Kam San ter criticado o facto de dois dos empreendimentos em construção junto de Seac Pai Van virem a ter casinos sem autorização. Um deles seria o Louis XIII, em frente à habitação pública. “O Secretário explicou que se algum empreendimento hoteleiro tencionar abrir um casino, apenas as operadoras de Jogo podem apresentar o pedido, não podendo de maneira alguma a própria empresa hoteleira manifestar tal intenção”, explicou o Governo em comunicado. No mesmo documento, Lionel Leong apontou que o Executivo “irá rejeitar” qualquer pedido que não preencha os requisitos legais.


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S. Januário Rui Furtado e António Martins terão saído por burla de administrador

Limpezas no hospital?

Um comunicado dos Serviços de Saúde indica que o envolvimento dos dois médicos no caso de burla que levou à condenação de Rui Sá, ex-administrador do hospital público, fez com que os profissionais não vissem o seu contrato renovado

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ui Furtado e António Martins não viram o seu contrato renovado com os Serviços de Saúde (SS) devido ao envolvimento no caso do administrador do Hospital São Januário. Pelo menos é o que diz um comunicado dos Serviços de Saúde (SS), que refere que “posteriormente, os contratos [dos] dois cirurgiões não foram renovados”. Recorde-se que Rui Sá, ex-administrador do Centro Hospitalar Conde de São Januário, foi condenado por crime de falsificação de documentos e burla. Tal como escreveu o HM, o responsável teria pedido a dois médicos cirurgiões que passassem receitas em nome dos pacientes, para depois recolher os medicamentos – para doenças crónicas – e apropriar-se deles. Os dois médicos não foram acusados, tendo servido apenas de testemunhas no caso. Contudo, agora é público que estes são Rui Furtado e António Martins, ambos ex-funcionários do São Januário. Ora, os SS apresentam um comunicado assegurando não ser tolerantes face a infracções e anunciando melhorias na fiscalização do hospital. Mas, no mesmo comunicado, referem que a saída destes dois médicos se deveu ao envolvimento no caso e que Rui Sá foi despedido com justa causa. “O réu obteve dezenas de prescrições de medicamentos através de dois ex-cirurgiões da nacionalidade portuguesa, apropriando-se, por vezes, com grandes doses de medicamentos

para tratamento de insónia, Alzheimer e doenças do foro mental. (...) Posteriormente, os contratos destes dois cirurgiões não foram renovados”, pode ler-se. Os Serviços de Saúde reafirmam que não são indulgentes com as infracções e têm exigido de forma rigorosa aos trabalhadores, que devem ser regulares na permanência no seu posto de trabalho, realizando de forma periódica palestras que visam a reforçar o cumprimento rigoroso da lei e da integridade por parte dos trabalhadores. Os Serviços de Saúde têm também realizado a revisão e aperfeiçoado permanentemente o mecanismo interno de fiscalização. O

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“O réu obteve dezenas de prescrições de medicamentos através de dois excirurgiões da nacionalidade portuguesa, apropriando-se, por vezes, com grandes doses de medicamentos para tratamento de insónia, Alzheimer e doenças do foro mental. (...) Posteriormente, os contratos destes dois cirurgiões não foram renovados” Comunicado dos SS

lançamento do rigoroso do regime de sistema electrónico na vertente de entrada, saída e de ausência permite a eliminação de actos ilícitos.

Análises e bloqueios

O HM tentou contactar Rui Furtado, mas não foi possível até ao fecho desta edição. Não foi possível também contactar António Martins. No comunicado à imprensa, o SS esclarecem que têm realizado a revisão e aperfeiçoado permanentemente o mecanismo interno de fiscalização e que, depois do caso do ex-administrador, as autoridades de saúde “efectuaram uma análise auto-crítica sobre regulamentos

vigentes no que ao levantamento de medicamentos [diz respeito], de modo a bloquear eventuais lacunas”. Confirmando que denunciaram a situação “após a detecção das respectivas situações, tendo colaborado no julgamento na qualidade de assistente do processo”, os SS solicitam também que todos “os médicos dependentes dos Serviços e Unidades devem observar de forma rigorosa as respectivas regras, quando prescrevem medicamentos aos doentes”. As autoridades esclarecem ainda que a administração se tem esforçado para reforçar o cumprimento rigoroso da lei e da integridade por parte dos seus trabalhadores, realizando a revisão e aperfeiçoamento permanentemente o mecanismo interno de fiscalização. “O lançamento do rigoroso do regime de sistema electrónico na vertente de entrada, saída e de ausência permite a eliminação de actos ilícitos”, concluem os SS. Filipa Araújo

filipa.araujo@hojemacau.com.mo

Joana Freitas

joana.freitas@hojemacau.com.mo


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Aviso ﹝N.º 376 /2015﹞ Assunto: Desocupação e demolição de barraca Local: Largo da Fonte, em Coloane, Barraca n.º 22-11-11-006-001 (assinalada na planta em anexo) Comunica-se ao utilizador, CHOI KAN e aos eventuais ocupantes que, de acordo com o disposto no n.º 2 do artigo 10.º do Decreto-Lei n.º 6/93/M, de 15 de Fevereiro, foi cancelado o registo do utilizador, CHOI KAN, de acordo com o disposto nos artigos 24.º e 28.º do mesmo decreto-lei, e por despacho do signatário, exarado na Proposta n.º 0349/DHP/DFHP/2015, de 11 de Junho de 2015, o utilizador da barraca acima mencionada e eventuais ocupantes devem desocupá-la no prazo de 30 dias, a contar da data de publicação do presente aviso. Se não desocuparem a referida barraca no prazo acima indicado, as operações de desocupação e demolição serão efectuadas, coercivamente, pela entidade competente. Os encargos resultantes das operações de demolição coerciva serão suportados pelos indivíduos que violaram o referido decreto-lei. Os indivíduos acima mencionados podem apresentar reclamação ao Presidente do Instituto de Habitação, no prazo de 15 dias, a contar da data de publicação do presente aviso, não tendo a reclamação o efeito suspensivo, nos termos dos artigos 148.º, 149.º e do n.º 2 do artigo 150.º do Código do Procedimento Administrativo, aprovado pelo Decreto-Lei n.º 57/99/M, de 11 de Outubro. Mais ainda, podem interpor recurso contencioso no Tribunal Administrativo, no prazo de 30 dias, a contar da data de publicação do presente aviso, nos termos do artigo 25.º do Código do Processo Administrativo Contencioso, aprovado pelo Decreto-Lei n.º 110/99/M, de 13 de Dezembro. O Presidente, Ieong Kam Wa 11 de Junho de 2015


china

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ex-chefe da Segurança da China Zhou Yongkang foi ontem condenado a prisão perpétua por corrupção, abuso de poder e divulgação de segredos de Estado, anunciou o Tribunal de 1.ª Instância de Tianjin, norte do país. Zhou Yongkang, 73 anos, é o mais alto líder chinês preso e condenado por corrupção desde a fundação da Republica Popular da China, em 1949. De acordo com a sentença citada pela agência noticiosa oficial chinesa Xinhua, o tribunal decidiu também confiscar todo o património de Zhou Yongkang. Considerado até há pouco tempo um dos homens mais poderosos da China, Zhou Yongkang foi a principal figura atingida pela

Ex-chefe da Segurança sentenciado a prisão perpétua

Condenação de alto nível campanha anti-corrupção iniciada após a ascensão à chefia do Partido Comunista Chinês do actual presidente, Xi Jinping, em Novembro de 2012. Zhou Yongkang pertenceu ao Comité Permanente do Politburo do PCC, a cúpula do poder na China, onde tutelava o aparelho

de segurança da China, incluindo polícias, tribunais e serviços de informação. Estava preso desde o ano passado, juntamente com dezenas de antigos colaboradores e familiares, e entretanto foi expulso do PCC. O combate à corrupção é assumido pela liderança do

Zhou Yongkang, 73 anos, é o mais alto líder chinês preso e condenado por corrupção desde a fundação da Republica Popular da China, em 1949

PCC como “uma luta de vida ou de morte” para manter a credibilidade do PCC e assegurar a sua permanência no poder. Dezenas de quadros com categoria de vice-ministro ou superior, entre os quais vários generais, foram presos nos últimos dois anos e meio por suspeita de corrupção. Zhou Yongkang filiou-se no PCC em 1964 e ao longo da sua carreira, pertenceu à direcção de um dos ricos monopólios estatais chineses, a China National Petroleum Corporation, foi primeiro

secretário do partido na província de Sichuan, no sudoeste do país, e ministro da Segurança Pública. Segundo a acusação, Zhou “aproveitou-se dos seus cargos para favorecer outros e aceitou ilegalmente uma enorme quantidade de dinheiro e bens”.

Mea culpa

O ex-chefe da Segurança “assumiu-se como culpado e não vai recorrer da sentença”, disse a agência noticiosa oficial chinesa Xinhua. O julgamento decorreu num tribunal de Tianjin,

norte da China, no passado dia 22 de Maio, mas devido à natureza de um dos crimes imputados a Zhou Yongkang (“divulgação de segredos de Estado”), a audiência realizou-se à porta fechada, indicou a mesma fonte. A Xinhua não precisa a natureza do referido “segredos de Estado”. Citando o tribunal de Tianjin, a Xinhua adiantou que Zhou recebeu subornos no valor de cerca de 130 milhões de yuan. O antigo líder “aproveitou-se da sua posição para proporcionar lucros a cinco outras pessoas” e “foi informado” que a sua mulher, Jia Xiaoye, e um dos filhos, Zhou Bin, aceitaram dinheiro e bens no valor de 129 milhões de yuan (, anunciou também o tribunal.

Proposta para duplicar impostos ambientais

Pequim Aung San Suu Kyi reúne-se com conselheiro de Estado

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Governo chinês apresentou uma proposta de lei para duplicar os impostos ambientais, com vista a atacar o problema da poluição no país, informou a agência Xinhua. A medida, noticiada pela Xinhua na quarta-feira, vem na sequência de promessas de Pequim de que iria endurecer a legislação sobre a poluição sonora, assim como sobre os recursos naturais como a água e o ar, e sobre os resíduos sólidos. De acordo com a proposta, os infractores vão pagar entre noventa cêntimos e cinco dólares por tonelada de resíduos sólidos. No caso do ruído industrial, a multa varia entre 57 e 1.830 dólares. Não é explícito se as taxas vão ser aplicadas por cada dia que uma empresa viole a lei ou se por um período de tempo.

Não obstante, os impostos excluem os poluentes da agricultura, excepto os da criação de animais (pecuária) em larga escala e os procedentes dos veículos a motor, desde que estejam dentro dos padrões nacionais. Os impostos podem ser reduzidos para metade se as emissões ficarem abaixo do limite estabelecido pelo executivo chinês, informou a Xinhua, ainda que também possam aumentar em função das condições ambientais de cada região. Para muitas empresas, o custo de cumprir com as regulações ambientais da China representa um gasto maior do que o pagamento de multas, pelo que muitas indústrias se mostram pouco receptivas a instalar tecnologia amiga do ambiente.

líder da oposição da Birmânia e Nobel da Paz, Aung San Suu Kyi, reuniu-se ontem em Pequim com o conselheiro de Estado chinês, Yang Jiechi, um dia depois de iniciar a sua primeira viagem à potência asiática. Segundo a agência noticiosa oficial Xinhua, Suu Kyi esteve com Yan, um dos primeiros membros do Governo a recebê-la, ainda que não tenham sido revelados detalhes sobre a reunião. A Xinhua e a emissora CCTV são os únicos meios autorizados a cobrir a visita. Na quarta-feira, a Nobel esteve com Wang Jiarui, vice-presidente da Conferência Consultiva do Partido Comunista e também director do seu Departamento Internacional. Está previsto nos próximos dias que se encontre com o

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Presidente e primeiro-ministro chinês, Xi Jinping e Li Keqiang, respectivamente. A China tem gerido com cautela a cobertura a viagem e ainda não garantiu que os encontros com Xi e Li sejam abertos à imprensa. A líder chegou na quarta-feira à China para uma visita interpretada como uma tentativa de aproximação entre o seu partido e o Partido Comunista Chinês, a poucos meses das eleições birmanesas, no final do ano. A Nobel, que passou 15 anos privada de liberdade, vai reunir-se também com empresas chinesas como a estatal Chinese Power Investment Corporation, companhia responsável por um projeto na Birmânia para construção de uma barragem no rio Irrawaddy, suspenso desde 2011 e que Pequim quer reactivar.


eventos

Dança do Leão Campeonato Internacional no MGM

O 5º Campeonato Internacional de Dança do Leão vai ter também lugar em Macau, no MGM. Por mais um ano, o casino vai receber a jornada de Macau deste campeonato, que conta com mais de 14 equipas de diferentes países. A acontecer a 14 e 15 de Novembro, o evento deste ano conta também com equipas femininas. Em conjunto com a Associação Chinesa de Dança do Dragão e do Leão, com a Associação Geral de Wushu de Macau e com a Hong Wai Sports and Recreations Association, além do Governo, o MGM leva ainda a cabo o Programa de Treinos Júnior de Dança do Leão, para crianças dos seis aos dez anos. De 6 de Julho a 31 de Agosto, o treino acontece duas vezes por semana.

Pintura a óleo de Ng Fong Chao no Centro UNESCO

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g Fong Chao, artista de Macau, apresenta nesta sexta-feira a exposição “Escondida•Abstracta”. A mostra reúne cerca de 50 pinturas abstractas pintadas desde 1992 até aos dias de hoje. Pintadas a óleo, as telas dividem-se em quatro séries: “O passado – Paisagens Móveis”, “Além do Desejo”, “Escondida” e “Procura a Cruz”. A exposição está integrada no Projecto de Promoção de Artistas de Macau e tem organização da Fundação Macau, sendo inaugurada no

dia 12 pelas 18h30, no Centro UNESCO de Macau. Na Cerimónia será ainda lançado um álbum com os trabalhos expostos. Ng Fong Chao trabalha no Museu de Arte de Macau na área de organização de exposições. Desde 1990 que já participou em mais de uma centena de exposições colectivas em Macau e no exterior e, além das pinturas a óleo, faz gravuras, fotografia conceptual, videografia e artes performativas. A exposição estará patente até dia 29 de Junho às 15h00.

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Fotografia Ao Nga Wa lança livro “Move____” e exposição “Living Souls”

“Sou de facto apaixonada pe H Ao Nga Wa é uma fotógrafa natural de Macau que lança o seu primeiro livro e exposição de fotografia no próximo dia 30, com o apoio da Associação Cultural Yunyi. A iniciativa espelha as histórias de pessoas e vivências entre a Ásia e a Europa pub

á dois anos e meio,Ao Nga Wa partiu à aventura. Curso acabado na Universidade de Taiwan e a vontade de conhecer o mundo, com recurso ao couchsurfing, levaram esta jovem fotógrafa, natural de Macau, a encontrar histórias de pessoas diferentes dela e lugares que nunca tinha visto. O resultado dessa experiência pode agora ser visto no livro “Move____” e na exposição “Living Souls”, oficialmente apresentada no dia 30 deste mês. Segundo contou Ao Nga Wa ao HM, tudo partiu de uma proposta da Associação Cultural Yunyi. “Tenho uma página no Facebook e no início comecei a partilhar as minhas histórias e fotografias apenas com familiares e amigos, mas depois cada vez mais pessoas começaram a conhecer o meu trabalho. Foi aí que a associação Yunyi me encontrou e disse que gostaria de trabalhar comigo através do lançamento do livro e de uma exposição de fotografia”, contou. O livro conta, assim, as histórias das viagens que Ao fez e das pessoas que conheceu, mas não só. “São também as minhas próprias histórias”. O nome do livro convida o leitor a preencher o espaço em branco, para que ele próprio faça uma mudança na sua vida depois de olhar para o trabalho de Ao Nga Wa. “Em chinês, o nome tem algo a ver com mudança, uma mudança ou uma forma de es-

cape. Então é como uma palavra que usamos para aqueles que têm um ano sabático antes da universidade, ou alguém que parte para uma nova fase da vida. Depois, há um espaço em branco a seguir ao nome do livro que permite para preencher. O que eu quero que os leitores façam quando lerem o meu livro é que se sintam inspirados e completem a frase. Viajar é a minha forma de seguir em frente

e mudar a minha perspectiva de vida, mas não é a única maneira. As pessoas podem fazer o que entenderem para mudarem”, explicou a autora ao HM. Para já, tanto o livro como a exposição também estarão presentes em Taiwan. “Depois do meu primeiro projecto não sei bem o que vou fazer. Acabei de me graduar em Taiwan, onde já fiz uma proposta para uma exposição. Também vou

Ao Nga Wa

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Apresentado livro sobre restaurantes portugueses em

Arte e engenho na cozinha F oi ontem lançado o livro trilingue “Saboroso: Cozinha Portuguesa e Macaense em Macau”, da autoria do jornalista Nuno Mendonça e da fotojornalista Carmo Correia, com coordenação de Ricardo Pinto, da Praia Grande Edições. Ao HM, Nuno Mendonça levantou a ponta do véu de uma obra que pretende retratar a história dos restaurantes portugueses no território. “Este livro pretende ser um retrato daquilo que nos parece ser a paisagem relevante da cozinha portuguesa em Macau, sem ofensa para aqueles que ficaram de fora. Houve um critério de antiguidade e qualidade, de novidade,

também. A ideia era passar para o papel uma série de histórias que todos nós sabemos destas pessoas e deixar um testemunho das histórias delas, que geralmente começam em Portugal e que depois fizeram a transposição para Macau e descobriram um talento gastronómico que não sabiam que tinham. Acabaram por descobrir a sua vocação de uma forma inusitada e fruto do acaso e da necessidade. É um pouco a história da diáspora portuguesa, da cozinha portuguesa de Macau. Muitos turistas acham que a cozinha portuguesa de Macau não é portuguesa mas não concordo com

isso, acho q engenho e a disse o jorn O projec anos, mostr cozinheiros muitos deles ca, como so faz, diz Men manancial d aprendendo que foram publicação e confessou a esta obra p chinês e até


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publicar lá o meu livro e expor as minhas fotos, então vou estar por lá durante uns tempos.”

Viajar e sentir

A trilhar os primeiros passos na fotografia,Ao Nga Wa confessa que gostaria mesmo de fazer dessa área uma carreira. “Adoraria ser fotógrafa mas ainda estou a escolher o meu caminho, porque actualmente faço mais fotografia documental, mais

comercial. Não faço ideia de como vou ganhar dinheiro em Macau com isso. Mas gostaria de estudar na área da arte em fotografia ou estudos culturais. Mas estou feliz pelo facto de poder publicar o livro, depois vou ver que tipo de oportunidades posso ter. Em Macau ou em Taiwan”, diz.

Os sabores lá da terra D a Grande Praça ao Lions Bar, o MGM vai dedicar quatro meses à celebração do Dia de Portugal. O casino vai oferecer promoções ao nível da gastronomia e entretenimento com sabor português, bem como exposições. A banda portuguesa 80 & Tal vai ocupar o palco do Lions Bar até 14 de Julho. O grupo, constituído por Felipe Fontenelle, Tomás de Deus, João Rato e Miguel Andrade tem um vasto repertório de ‘covers’, que incluem, além de músicas em português, Sting & The Police, The Beatles, Stevie Wonder e muito mais. Mas, o MGM dedica ainda espaço à arte – pintura, fotografia, objectos e vídeo vão estar em exposição na mostra “Saudade”. Esta reúne memórias de artistas portugueses que chegaram a Macau pós-1999. Carmo Correia, Adalberto Tenreiro, António Mil-Homens, Joaquim Franco, José Drummond, Lines Lab, Marta G. Ferreira, Rui Calçada Bastos, Rui Rasquinho, Sofia Arez e Vitor Marreiros são os escolhidos para apresentar “pedaços de memórias e emoções de [alguém] que se inspirou pelo seu tempo em Macau”.

“O que eu quero que os leitores façam quando lerem o meu livro é que se sintam inspirados e completem a frase”

Macau

que é a cozinha feita com arte dos que vivem aqui”, nalista. cto, que arrancou há dois ra ao leitor histórias dos s portugueses, sendo que s têm experiências em Áfrioldados por exemplo. Isso ndonça, que haja “todo um de informações que foram o, a nível gastronómico e trazidos para aqui”. Com em Macau, Nuno Mendonça ao HM que gostaria de levar para o mercado português, é inglês. A.S.S.

Andreia Sofia Silva

andreia.silva@hojemacau.com.mo

Petiscos e mariscos

No restaurante Rossio, durante todo o mês de Junho, haverá à disposição um buffet de mariscos e especialidades portuguesas, como bacalhau, amêijoas, arroz de marisco, mgm

“Adoro fazer retrato e fotografia de rua, apanhar as pessoas. Penso que sou de facto apaixonada pelas pessoas e por Macau, mesmo que não tenha estudado nesta área. Quando tenho tempo livre tento fazer diferentes projectos com a fotografia. Tenho muitas ideias e tenho de encontrar uma forma para expressar os meus interesses, e penso que a fotografia é a melhor maneira”, disse ainda. Ao Nga Wa defende que nem todas as pessoas de Macau ousam viajar da forma como ela o fez, mas que desse plano nasceram muitas ideias e inspirações. “Enquanto estava a viajar tentava compreender as histórias das pessoas com quem me cruzei, tirei fotografias. Achei isso muito interessante e penso que a fotografia está muito ligada a captar momentos, é diferente de um filme. As pessoas de Macau, mesmo que tenham dinheiro para viajar, não descobrem tanto as coisas como eu fiz, porque eu estava a viajar de maneira diferente”, concluiu.

mgm

elas pessoas”

MGM Dia de Portugal até Outubro, com música e exposição

chouriço, entre outros. O preço do buffet é de 428 patacas por pessoa. Os sabores portugueses continuam no Pastry Bar e na Grande Praça. Inspirados pela exposição de Joana Vasconcelos, “Valkyrie Ocpub

topus”, também localizada na praça do empreendimento, os dois bares apresentam set menus para o lanche, com “snacks tradicionais”. Incluídos estão os famosos pastéis de nata, tartes de pêra bêbeda, pastéis de bacalhau,

aletria, torta de laranja, entre outros. O preço é de 288 patacas para duas pessoas, sendo que estão também incluídas sobremesas, como serradura e pudim abade priscos. As ofertas estão disponíveis até Outubro. J.F.


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artes, letras e ideias

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A ESPERA EM CANTÃO DE TOMÉ PIRES

N

uma viagem normal, em condições favoráveis, desde Cochim até à costa chinesa demorava-se quatro meses, mas esta, que trazia o Embaixador Tomé Pires, levava já mais de dezassete meses quando, em 15 de Agosto de 1517, a frota comandada por Fernão Peres de Andrade chegou a Tamão (Lin Tin). Aí, os primeiros contactos com os chineses foram através do Pio de Nantó, tendo os portugueses que ficar mais de um mês em Tamão à espera pela permissão para seguir até Cantão. Segundo Gonçalo Mesquitela, os portugueses chamavam a esta ilha de Tamão, Beniaga, que significa mercadoria, e a causa por “esta ilha ser assim chamada é porque todos os estrangeiros que vão à Província de Cantão, é a marítima mais ocidental que o Reino da China tem, a ela por ordenanças da terra hão-de ir por estar por espaço de três léguas da terra firme e ali provém os navegantes do que vão buscar” como refere João de Barros. Beatriz Basto da Silva explica que o termo de Ilha de Veniaga só foi usado pela primeira vez em 1525, referindo-a como a ilha de encontro comercial de mercadores portugueses e chineses e é uma expressão propositadamente vaga, tal como “a designação de ‘ilha do encontro’, já que podia não ser a mesma em cada ano, como convinha ao comércio clandestino que então se praticava na China meridional”, sendo Tamão, (Tunmen em mandarim), nesse ano de 1517 a Ilha da Veniaga. E continuando com Mesquitela: “A três léguas da ilha da Veniaga está outra em que vive o almirante ou capitão-mor do Mar, na vila de Nantó (Nantou encontra-se na área de Nanshan, em Shenzhen). Logo que chegam estrangeiros a Veniaga faz saber aos regedores de Cantão quais são e que mercadorias trazem e quais querem comprar”...”Informado disto por Duarte Coelho, mandou Fernão Peres recado ao capitão da armada chinesa, fazendo-lhe saber quem era e que vinha com uma embaixada d’el-rei D. Manuel de Portugal, seu Senhor, a el-rei e que por vir em paz e não em guerra, não respondera <a tentação dela que os seus navios lhe fizeram e que lhe rogava piloto que o levasse a Cantão> nas palavras de Barros. Ao que o capitão (chinês) respondeu manifestando-lhe muito boas vindas

e que pelo navio de Duarte Coelho, chegado dois dias antes, soubera, que a sua armada tinha partido de Malaca; e que pelos chineses que ali iam tinha também notícias da verdade e cavalheria dos Portugueses. Que folgava com a paz e que guardasse os costumes da terra, que ele primeiro ia mandar recado aos regedores de Cantão, e o que respondessem, isso fariam.” Mas os dias iam passando e a resposta não aparecia e então “Fernão Peres insistiu por mensageiro junto do Almirante do Mar, o Pio, tendo como resposta, dada nos mais amáveis termos, que os regedores de Cantão ainda não tinham comunicado a sua decisão.” E continuando com João de Barros: “Sobre este negócio houve tantos recados de parte a parte que enfadado Fernão Peres desta dilação, mandou tirar do porto da ilha alguns navios para se pôr em caminho e com os pilotos chineses que trouxera de Malaca, meteu-se em Cantão.” “Enquanto Fernão Peres subia o Rio das Pérolas até à cidade de Cantão, parte da armada permanecia próximo da foz, sob o comando de Simão de Alcáçova; João de Barros relata-nos que este grupo de navios foi atacado por piratas, mas não se refere a baixas avultadas; ter-se-á tratado de uma simples escaramuça...” refere João Oliveira e Costa.

A instrução protocolar Em finais de Setembro de 1517, os barcos que transportavam a Embaixada Portuguesa ao Imperador do Celeste Império entraram em Cantão. “Desfraldando bandeiras e salvando com toda a artilharia, os navios portugueses lançaram ferro em frente do cais principal da cidade” A. Cortesão. Como os três governadores de Cantão, o Tutam, o Concam e o Chumpim, se encontravam ausentes da cidade foi com o Puchanchi, o haidao interino Gu Yingxiang, que os portugueses primeiro trataram. Gu Yingxiang não os recebera, sendo toda a comunicação feita por intermédio do intérprete chinês”, como está referido no Revisitar os Primórdios de Macau para uma nova abordagem da História de Jin Guo Ping e Wu Zhiliang. Aí se diz que, devido ao haidao Wang Hong se encontrar


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José Simões Morais texto e fotos

fora numa missão oficial a Pequim, Gu Yingxiang nessa altura substituía-o na repartição do Haidao (Circuito da Defesa Marítima). “Logo o Puchanci, a mais alta autoridade que no momento se encontrava em Cantão, mostrou o seu desagrado contra o que dizia ser uma violação dos direitos da terra por parte dos portugueses, que demais tinham chegado sem consentimento oficial. Respondeu Andrade que o salvar da artilharia e desfraldar de bandeiras era devido à sua ignorância, apenas significando uma marca de respeito, e, quanto a vir sem licença, explicou que o Pio acabara por lha dar e fornecer pilotos” Armando Cortesão. Resolvido este pequeno problema, muitos outros foram ocorrendo. Para João de Barros: “A ida dos três governadores fora da cidade, segundo depois pareceu, foi mais artifício para Fernão Peres ver a majestade e pompa de suas pessoas quando entrassem nela, que alguma outra necessidade; e ainda para ver os graus da precedência de cada um e a diferença que a cidade fazia no seu recebimento, vieram um e um, tomando dia próprio para isso.” “Foi então arranjada uma entrevista com os portugueses. Andrade, que até aí tinha proibido o desembarque de qualquer português ou a entrada de chineses nos navios, enviou a terra o feitor (Giovanni da Empoli), <bem acompanhado de gente vestida de festa, e com trombetas diante, por ir com mais pompa, vendo que os chineses nestas coisas eram mui fumosos, e que as celebravam com grande aparato, e com esse estavam esperando este recado>. O feitor disse aos Governadores como o Rei D. Manuel de Portugal, desejando relações de amizade com tão grande Príncipe como era o Rei da China, enviara aqueles navios, sob o comando do seu Capitão Fernão Peres de Andrade, conduzindo um Embaixador e presentes para serem entregues aos Governadores de Cantão, que os enviariam à corte” A. Cortesão e com ele continuando, “No fim de Outubro de 1517, foi Tomé Pires desembarcado por Andrade, <no cais de pedra, com grande estrondo de artilharia, e trombetas, e a gente vestida de festa, ele com sete portugueses, que ficaram em sua companhia para irem com ele a esta embaixada, foram levados a seus aposentos, que eram umas casas das mais nobres que haviam na Cidade>. O presente para o Imperador, que só na sua presença deveria ser aberto, foi fechado na mesma casa e a chave entregue a Pires” Armando Cortesão. O encontro entre os governantes da cidade e o Em-

baixador Tomé Pires decorreu na Mesquita Huaisheng, que continua hoje a existir na Rua Guangta, no centro de Cantão. Ainda antes disso, o haidao interino Gu Yingxiang “imediatamente mandou comunicar tudo e Ning Cheng, eunuco dos Três Salões e Guo Xun, o marquês Wuding, à altura no cargo de Zongbing acorreram ao aviso. O cabecilha (Tomé Pires) saiu de longe para os receber mas não lhes fez genuflexões. O Censor Metropolitano e Grande Coordenador Chen Jin (o Tutão) chegou mais tarde sozinho e mandou dar vinte bastonadas no intérprete, dizendo ao Superintendente do Comércio Marítimo: <Estes bárbaros vieram de longe, atraídos pela admiração da nossa civilização, de maneira que desconhecem as cerimónias da nossa Corte celestial. Sendo eu um alto funcionário nomeado pela corte, mando-os receber durante três dias a instrução protocolar ao Templo Guangxiao>. No primeiro dia, começaram a fazer genuflexão com a perna esquerda, no segundo dia conseguiram fazê-la com a perna direita, e só no terceiro dia aprenderam a bater a cabeça no chão” Revisitar os Primórdios de Macau.

Fernão Peres deixa Pires em Cantão “Embora a comitiva ficasse alojada num edifício próprio, especialmente destinado às missões estrangeiras, as despesas da estada corriam por conta dos portugueses, como expressamente exigira Fernão Peres” assim diz João de Barros na Ásia, segundo Rui Manuel Loureiro e com ele continuando: “Durante longos meses, os portugueses estiveram ancorados diante da grande metrópole da província de Guangdong, efectuando proveitosos negócios e colhendo amplas notícias sobre a realidade sínica, por ocasião de sucessivas visitas à cidade e de múltiplos contactos com a população local e com os mandarins cantonenses. Entretanto, um navio capitaneado por Jorge Mascarenhas explorou demoradamente o litoral chinês até às imediações de Amoy”. E Beatriz Basto da Silva complementa “entre saguates (presentes destinados a predispor bem um interlocutor, costume muito comum então no Oriente, especificamente na China), deixou sementes de bom entendimento”. Por outro lado, segundo João Oliveira e Costa: “o êxito desta armada deveu-se em grande parte ao tacto do capitão-mor (Fernão Peres de Andrade), que procurou respeitar todas as práticas locais. Num país com um poder fortemente centrali-

zado, como era a China dos Ming, que contrastava com a situação política do resto do continente asiático, os Portugueses não podiam ofender as autoridades de uma cidade, pois se tal acontecesse não seriam bem aceites em todos os outro portos do Celeste Império. Não era possível repetir aqui o que acontecera na Índia e na África Oriental...” Rui Loureiro refere que: “De acordo com documentos coevos, o jurubaça principal da embaixada portuguesa, um chinês que dava pelo nome de Huo-che Ya-san (Huozhe Yasan), estabelecera excelentes relações com as autoridades provinciais, logo após o desembarque no porto de Cantão. Por sua própria iniciativa, e graças a uma generosa distribuição de dádivas, conseguira obter autorização imperial para Tomé Pires visitar Pequim como enviado do rei de Malaca.”

O encontro entre os governantes da cidade e o Embaixador Tomé Pires decorreu na Mesquita Huaisheng, que continua hoje a existir na Rua Guangta, no centro de Cantão “Depois de declinar convites para ir a terra, Andrade despediu-se dos Governadores, por lhe ter chegado notícia de que os navios que deixara em Tamão tinham sido atacados pelos piratas, e também porque uma parte da sua gente dos navios de Cantão estava adoecendo com febres e disenteria, doença que já vitimara nove homens, entre os quais Impole (o feitor da armada). Desta vez, os chineses prestaram todo o auxílio na reparação dos navios.” E seguindo ainda com A. Cortesão: “Após algum tempo em Tamão, recebeu Andrade notícia (aliás, falsa) de que os Governadores de Cantão já tinham ordem da corte para enviar a Embaixada. Mandou então lançar pregões para se qualquer chinês tivesse recebido agravo de algum português ou algo lhe fosse devido, se lhe queixasse a fim de receber reparação ou pagamento, o que causou excelente efeito. E, assim, partiu em Setembro de 1518, depois de se ter demorado quase catorze meses na China, chegando a Malaca <mui próspero em honra, e fazenda, cousas que poucas vezes juntamente se conseguem, porque há poucos homens que por seus trabalhos as merecem pelo modo que

Fernão Peres naquelas partes se ganhava>, conforme comenta Barros”, que adita ter Fernão Peres nesta estadia aprendido dos chineses algumas técnicas de construção naval, que introduziu nos navios portugueses e passaram a ser, nestes, de uso corrente.

A longa espera em Cantão Com Tomé Pires, segundo João de Barros, ficaram em Cantão sete portugueses mas, Cristóvão Vieira informa que <a gente que ficou em companhia de Tomé Pires> foram Duarte Fernandes, Francisco de Budoia, Cristóvão de Almeida, Pedro de Faria e Jorge Álvares, todos portugueses, <eu, Cristóvão Vieira, pérsio de Ormuz, doze moços servidores e cinco jurabaças> (intérpretes). Eram, pois, cinco portugueses, um persa lusitanisado e dezassete outros. Duarte Coelho foi enviado pelo capitão-mor D. Jorge de Mascarenhas para Malaca com a informação de o Embaixador Tomé Pires ter sido bem recebido em Cantão mas, quando aí chegou em Março de 1518, Duarte Coelho logo mandou avisar Fernão Peres de Andrade que a praça estava a ser atacada pelo Rei de Bintão. Já com a informação que chegara instruções do Imperador da China para lhes enviar o Embaixador português, os navios sob o comando de Fernão Peres largaram de Tamau em finais de Setembro de 1518, chegando no mês seguinte a Malaca. Ainda antes de partir, Fernão Peres de Andrade disse aos Governadores de Cantão que, no ano seguinte, outro Capitão português iria com uma armada buscar o Embaixador. No entanto, Tomé “Pires e o seu séquito ainda tiveram de esperar mais de quinze meses em Cantão antes de partirem para Pequim. Só depois de três recados transmitidos à corte e de terem vindo de lá outros três recados para os Governadores, pedindo mais pormenores sobre os portugueses, etc., chegou enfim ordem para a Embaixada seguir” A. Cortesão. Já Beatriz Basto da Silva diz que: “Tomé Pires aguardou viagem em Lantao” onde os visitantes ficaram em “prisão preventiva”, enquanto não chegava autorização imperial a Cantão. Assim, por questões de ordem diplomática, a embaixada teve que esperar até 1520 para que fosse permitido a Tomé Pires ir até Pequim entregar os presentes e a carta que trazia do Rei de Portugal D. Manuel ao Imperador da China, nessa altura Zheng De (150521) da dinastia Ming, cujo nome de Templo é Wu Zong.


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Margens de Respiração

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pensar naqueles dias em que chego a casa, e isso acontece-me só há algum tempo, e não me dispo, não tiro o casaco comprido, não tiro os sapatos de salto alto, as botas, não tiro o gorro. Não tiro o fato, não desaperto a gravata. É isso. Não visto um dos pijamas de ursos e coelhinhos, ainda sobreviventes de uma adolescência tardia, as meias de lã, o roupão vermelho felpudo, de malmequeres verdes, em que me sinto ligeiramente uma personagem de Almodover, em que me conheço e me posso rir de mim. Não dispo a personagem da vida. Não visto o conforto inestético e privado. Simplesmente poiso a mala e arrumo-me quieta e sentada. E nesses momentos, que podem prolongar-se por horas não faço nada e rastreio a vida. De um ponto de vista diferente. E deixo-a assentar. Um desses dias, subitamente, uma espécie de pequena epifania. E foi terrível. Pensei que de um modo geral já disse tudo o que era para mim importante dizer a todas as pessoas, num momento ou noutro. E agora mesmo, digo que já o disse antes. Senti um outro, dos meus outros eus, apontar-me um dedo esticado tal e qual como uma arma apontada às costas. Uma de mim, momentaneamente destrutiva ou lúcida, a perguntar melifluamente porque não me calo. A insinuar a dimensão vã de uma certa repetição monótona mascarada de renovação, com que se continua a dizer de novo. E a resposta que me ocorreu, tem a forma de uma palavra também horrível: manutenção. Tenho que pensar melhor nisto. E outras vezes fico ainda mais quieta, a fugir às palavras. Esses resíduos tóxicos a que não é fácil resistir e a que volto como qualquer viciado. E porque mesmo essas não deixam parar o tempo. E quero-o parado por uns tempo. Perdido é certo. Dou por mim cada vez mais a implorar em desespero por silêncio, em silêncio. Este silêncio. Dificilmente ou nem sempre as pessoas me entendem nele. Antes veem nesse silêncio a que eu aspiro, um fútil e pequeno paraíso, irrisório e desprezável. Preenchem-no como a um ferro-velho em que se acumulam trastes e tralhas usadas, repetidos na sua inutilidade, de tal forma que, se lá muito por debaixo de tanto e de tão inútil, houver uma pequeníssima preciosidade, ninguém repara. Fico nesta mistura de inquietude e desassossego, ou a possível serenidade contemplativa, misturados num cadinho de forma indefinida, mas no qual sempre se estabelece uma forma qualquer de equilíbrio, por ventura por efeito da gravida-

de, que faz girar ligeiramente o invólucro ajeitando o conteúdo e permitindo-lhe acamar-se da maneira natural. Estável. Demasiado lastro impossível de largar. Qualquer pequeno encontrão desloca os ingredientes, meio fluidos e parcialmente misturáveis, afectando pontualmente o equilíbrio dos mesmos, depois das oscilações provenientes da inércia dos movimentos, para de novo o conjunto se acomodar, numa síntese já diferente. Outra face. É isso. Por isso, e porque tenho gostos minimalistas, extáticos e pequenos, tenho um

gosto particular pela respiração. Parece ridículo, talvez. É o óbvio e incontornável acto involuntário de viver. Mas tem uma componente expressiva que por vezes me detenho a perscrutar. Voltando a uma ideia fixa, que é como voltar a lembrar-me de como se faz. Inspiro fortemente quando desespero, expiro tenazmente quando me quero calar, inspiro lentamente e de forma regulada quando quero ter calma e expiro disparatadamente quando me quero preparar para não me importar de a perder. Inspiro para ganhar tempo, expiro para deixar de sentir por momen-


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de tudo e de nada

tos… De quantas respirações precisarei para me desfazer de todo o lastro de vida que aparentemente me ancora e suporta, mas já não alivia, não promete nem garante nada, ou mais radicalmente, e com a amargura de ver um passado cada vez maior… Quantas, para reiniciar… Do pouco mar que eu vi ultimamente não tive concentração para retirar as emoções do costume. Talvez amanhã ou depois de amanhã cumpra essa urgência romântica de reencontro. Com o mar, quero eu dizer, ou com algum eu a precisar de voltar a mim. Como numa inspiração longa, que

no fundo é o segredo silencioso da concentração. Como um retorno. Ou como um perfume. Os movimentos de esforço no exercício físico fazem-se no momento da expiração. Mas o gesto de delinear também, mesmo que miticamente associado a um certo conceito de inspiração. O outro lado, muito mais conturbado e emotivo ainda, e não é do que falava agora, o das obsessões do amor. Quando a respiração parece fazer ressoar repetidamente, insolitamente, o nome de alguém, e resulta quase como uma oração,

uma lamúria, um acto de contrição, um choro, um desespero, uma súplica, tudo voltado sobre o acto da respiração em si próprio, e a tirar espaço ao ar que devia entrar e sair ritmicamente e sem impedimentos, a exercer a sua função de oxigenação do sangue, mas que tropeça num nome, numa agonia ou num espasmo muscular feito de sílabas e emoções, e nesse transtorno custa a abrir caminho. Pára. Repetidamente. O corpo parece por momentos perder a capacidade de respirar voluntariamente. Como se isso quisesse dizer que o corpo quer morrer, deixando-se atropelar no seu mecanismo mais elementar, ou tão simplesmente que precisa de um fôlego extra vindo de fora, uma respiração artificial, não podendo esta afinal vir, que não da vontade… como um exercício esforçado… e quando para além disso o corpo vai reagindo abalado fisicamente numa agonia, num arrepio real, num estremecimento que mais do que metafórico, realiza a força brutal e sísmica da existência de alguém que de dentro mina, como se lá se tivesse fisicamente, abusivamente instalado. Repele e abala profundamente na turbulência, o único ser que realmente deveria habitar este corpo. E retirando-se forçado ou não, voluntariamente ou não, qualquer deles deixa um vazio incurável, recortado na exacta escala e forma dessa ausência, da forma que antes habitava o espaço deixado então livre. Uma forma de vazio com consistência real de buraco, que ao longo do tempo se reconstrói de dentro. Não uma simples inexistência. Como na experiência da morte. E nesse lugar, de novo, a respiração. Também lembrar isso me torna excessivamente consciente desta. Como uma dor que obriga a estudar e regular a sua intensidade, de forma a minimizar a sensação. Qualquer outra sensação. Um dia saberei só respirar. Só respirar, quando quero. Quando o quero apenas. Não como uma doença ou uma lacuna de existência, mas como um estado de síntese. Sei-o nestas horas de fim de dia ou nas nocturnas, em que finalmente a cidade emudece, tranquila. Suspensa. De tanto ruído por aqui. E dentro. É um instante nítido e fugaz. O contágio dessa calma algo soturna, em que já não há ninguém na minha espera, na minha sombra, diria, e nenhuma mão se estende ou fica por estender, sei. Que é um instante modelo de toda a essência. Sem cálculos e filtragens com intensão. O eterno presente a fluir sem reserva. Em que um dia vou saber só respirar...

Anabela Canas


desporto

Aos 21 anos é um dos melhores guarda-redes a actuar em Macau. A defender as cores do Benfica, Rui Nibra tem-se demonstrado preponderante na equipa comandada por Bruno Álvares. Boas defesas atrás de boas defesas são o cartão de visita de um jovem jogador formado no Esposende, Boavista, Salgueiros e Desp. Chaves, clube que já o convidou a voltar a Portugal para a próxima época. O guardaredes português não tem dúvidas em afirmar que quer mesmo voltar a Portugal nem que seja para jogar no Campeonato Nacional de Seniores e esperar pelos 23 anos. Descubra porquê

“Quero, um dia, estar num grande clube português e, quiçá, mundial, e dizer a toda a gente que foi com muito orgulho que joguei e vivi dois anos aqui. Benfica e Macau merecem isso”

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Entrevista Rui Nibra, guarda-redes do Benfica de Macau, revela planos futuros

“Na próxima época quero gonçalo lobo pinheiro

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Quem é Rui Nibra? Sou um jovem guarda-redes que corre atrás dos seus sonhos. Penso que sou um homem forte. Saí de casa, de perto da minha família, de Portugal, para ser guarda-redes de futebol profissional. E em Macau conseguiu isso? Pelo menos estou perto do mercado asiático que é um dos mercados que me atrai. Senti, aos 19 anos, que Portugal não dava. Os clubes, neste momento, não estão a apostar em jogadores mais jovens e torna-se muito difícil jogar lá. Por isso, o risco de vir para Macau fez todo os sentido. Penso que ganhei.

Como é que foi o seu trajecto? Com que idade começou a jogar futebol? Quando tinha seis/sete anos nas escolinhas do Esposende. Depois, já nos infantis, fui para o Boavista onde permaneci até aos iniciados e onde joguei o campeonato nacional. Segui, nos juvenis, para o Salgueiros. Em juniores comecei no Salgueiros mas depois fui para o Desp. Chaves, onde cheguei a assinar contrato com os seniores. Treinava com os seniores e jogava com os juniores. No Chaves fui campeão da 2.ª Divisão B e cheguei à II Liga. Com a chegada aos campeonatos profissionais, o

clube emprestou-me ao Cinfães onde estava a jogar até vir para o Benfica de Macau. Porque não singrou no Desp. Chaves? Era o terceiro guarda-redes do plantel. Consegui ser convocado para alguns jogos mas não joguei. Jogava, sim, pelos juniores aos domingos. E, na verdade, não fiquei no plantel do Desp. Chaves porque tenho problemas relacionados com os direitos de formação, isto é, só aos 23 anos é que posso jogar como profissional onde me apetecer, sem ter que dar cavaco. O Desp. Chaves queria muito assinar

contrato profissional comigo, mas as equipas por onde passei antes não deixavam. Queriam todas receber dinheiro pelo tempo que lá passei. O Salgueiros estava a pedir aos Chaves dez mil euros. O Boavista outro valor também. Essa foi a principal razão que me leva a, neste momento, não estar no plantel do Chaves e a jogar na II Liga. Uma oportunidade que se gorou... Ou talvez não. Nos últimos tempos, o Desp. Chaves contactou-me novamente para saber como ando e se teria vontade de voltar. Tudo depende, também, se con-


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jogar em Portugal” correr como esperamos, também podemos ganhar tudo. Por isso, o que tinha para fazer aqui já fiz e estou de consciência tranquila. Não fechando portas a Macau, se permanecer mais tempo posso prejudicar-me, uma vez que não vou conseguir evoluir. Como ouvimos dizer que o vencedor de Macau iria disputar, para o ano, uma taça asiática, coisa que não estou muito por dentro, mas a ser verdade quero deixar o Benfica no primeiro lugar antes de regressar a Portugal. E, portanto, ainda continua a ser preferível jogar em equipas de terceira linha em Portugal do que na Liga de Elite de Macau. Sim. Repare, isto tem tudo a ver com o meu futuro. Se já tivesse 30 anos, as coisas seriam diferentes. Muito possivelmente, ficaria por Macau, para ganhar dinheiro, coisa que em Portugal não conseguiria em equipas inferiores, pois pagam mal. A questão é que tenho 21 e, por isso, muitos anos de futebol à minha frente. Quero evoluir, ser titular numa boa equipa em Portugal e chegar à I Liga. Depois, tudo pode acontecer. Não há nada que me impeça de sonhar e penso, muito humildemente, que tenho capacidade para chegar longe.

“Posso revelar que recebi convites do Desp. Chaves, Mirandela e Varzim. Tenho um empresário que está a acompanhar a minha carreira” Chao Pak Kei já nesta jornada que se avizinha. Não é imodéstia o que digo, mas sim porque sinto como é que os meus colegas estão. Estamos muito fortes psicologicamente e, mesmo com o CPK forte, não me parece que percamos. É como lhe disse, acredito mesmo que vamos golear. O que é que leva de Macau depois destas duas épocas? Levo experiência. Penso que, mesmo com todas as contingências, cresci como homem e como atleta. Macau, nestes dois anos, não foi um passo atrás, muito pelo contrário. Foi a jogar em Macau e a ser titular do Benfica que ganhei o meu primeiro contrato com um patrocinador de luvas. Foi aqui que venci o meu primeiro troféu individual como melhor guarda-redes da Liga de Elite na época passada. E foi aqui que conheci a minha namorada. Por isso, e por muito mais, levo de Macau muita coisa boa. Estou muito agradecido ao Benfica pela oportunidade que

Então, antes do dinheiro, a carreira e o futuro estão à frente. Sem dúvida. O meu futuro está em primeiro lugar. Como já disse e repito, tenho 21 anos. Um guarda-redes pode jogar até quase aos 40 anos. Tenho muitos anos pela frente e não os quero desperdiçar. Acredito que posso chegar a bons patamares.

sigo resolver as questões dos meus direitos de formação. Se isso ficar tudo resolvido, voltarei ao Chaves. Como segundo guarda-redes, para lutar pela titularidade. Novidade em primeira-mão... Em princípio, tudo indique que volte. Na próxima época quero jogar em Portugal. Existem equipas do Campeonato Nacional de Seniores interessadas em mim, bem como algumas equipas da II Liga e algumas equipas B. E que equipas são essas? (Risos) Não posso dizer quais são

todas as equipas. Posso revelar que recebi convites do Desp. Chaves, Mirandela e Varzim. Tenho um empresário que está a acompanhar a minha carreira. E o que é que dizem os responsáveis do Benfica de Macau a esta sua certeza de voltar ao futebol português? Para os responsáveis, assim como para os meus companheiros, é uma surpresa. Naturalmente que nunca lhes escondi que pretendo algo mais e Macau, infelizmente, é curto demais para o que almejo. No meu primeiro ano, ganhei tudo. Este ano, se tudo

Voltando ao futebol de Macau. Faltam duas jornadas para o final do campeonato e o Benfica, apesar de alguns percalços, está na liderança. Contudo, nada é definitivo e o Ka I também pode ser campeão. Como está o estado de espírito dos jogadores? Estamos muito bem. Conseguimos ganhar e golear neste último jogo. Dependemos apenas de nós e penso que seremos campeões, muito sinceramente. Claro que o futebol já provou que as coisas nem sempre acontecem como queremos mas todos estamos motivados para ganhar. O calendário do Ka I é mais simpático que o vosso. Mas acredito que vamos golear o

“Quero evoluir, ser titular numa boa equipa em Portugal e chegar à I Liga. Depois, tudo pode acontecer. Não há nada que me impeça de sonhar e penso, muito humildemente, que tenho capacidade para chegar longe”

me deu e penso que correspondi sempre em nível elevado. E o futebol do território, tantas vezes criticado, recolhe a sua simpatia? Recolhe. Muito sinceramente, tirando uma ou outra equipa, penso que a maioria faria boa figura se estivesse no Campeonato Nacional de Seniores, em Portugal. Obviamente que a falta de locais de treinos, de algumas infra-estruturas ou a falta de algum estímulo positivo de quem manda são pontos negativos que em nada beneficiam o futebol da RAEM. Então, depreendo que, por estas duas épocas, sente gratidão por Macau e pelo Benfica. Sim, naturalmente. E nunca vou esquecer o meu trajecto, seja onde ele me levar. Quero, um dia, estar num grande clube português e, quiçá, mundial, e dizer a toda a gente que foi com muito orgulho que joguei e vivi dois anos aqui. Benfica e Macau merecem isso. Voando até ao futebol português. Benfica campeão.Acha merecido? É merecido apesar de torcer por outra equipa (risos). A minha equipa foi irregular e hesitou. Penso que, no deve e no haver, o Benfica foi um merecedor campeão. Assim como, por exemplo, também ficou bem entregue ao Sporting a Taça de Portugal, que nunca baixou os braços e lutou até ao fim pelo troféu. Um defeso muito agitado com mudanças de treinadores em Portugal. Quer comentar? No futebol tudo é possível. Foi surpreendente, na verdade, mas já cheguei à conclusão que no futebol tudo pode acontecer mesmo as coisas que, à partida, parecem ser pouco prováveis. Quem é o seu ídolo? É o Gianluigi Buffon. Aliás, um dos sonhos que tenho, e que vejo cada vez mais difícil de concretizar, é o de jogar como adversário dele. Jogar contra ele seria algo que nem sei como descrever. Ou então, outro sonho seria o de lhe marcar um penálti de letra (risos). Uma última pergunta. Cristiano Ronaldo ou Messi? Sem dúvidas, Cristiano Ronaldo, porque é, de facto, o melhor do mundo. É o jogador mais trabalhador, mais completo. Dou-lhe muito valor pelo percurso que teve e por nunca ter virado a cara à luta. Ambos são grandes jogadores e muito dificilmente aparecerão outros melhores. Mas o Ronaldo é um jogador, a todos os níveis, muito completo. Messi é mais tecnicista e génio. Ronaldo é uma máquina. Gonçalo Lobo Pinheiro info@hojemacau.com.mo


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( F ) utilidades

?

hoje macau sexta-feira 12.6.2015

tempo aguaceiros ocasionais min 28 max 32 hum 65-90% • euro 8.97 baht 0.23 yuan 1.28

Cineteatro

O que fazer esta semana

Cinema

jurassic world Sala 1

jurassic world [b]

Filme de: Colin Trevorrow Com: Chris Pratt, Bryce Dallas Howard, Irrfan Khan 14.30, 16.45, 21.30

Hoje

jurassic world [3d] [b]

Filme de: Colin Trevorrow Com: Chris Pratt, Bryce Dallas Howard, Irrfan Khan 19.15

“O homem dos sete instrumentos”, concerto com Tozé Santos Consulado Geral de Portugal, 20h00 Entrada livre

Com: Dwayne Johnson, Kylie Minogue Carla Gugino 14.30, 16.30, 21.30

san andreas [3d][b]

Filme de: Brad Peyton Com: Dwayne Johnson, Kylie Minogue Carla Gugino 19.30 Sala 3

force majeure [b]

Filme de: Ruben Ostlund Com: Johannes Kuhnke, Lisa Loven Kongsli 14.30, 16.45, 19.15, 21.30

Sala 2

san andreas [b] Filme de: Brad Peyton

Diariamente Exposição Pintura Lusófona (até 14/06) Clube Militar Entrada livre

Aconteceu Hoje Nasce Anne Frank

Exposição “Ao Risco da Cor - Claude Viallat e Franck Chalendard” Galeria do Tap Seac (até 9/08) Entrada livre

Exposição “3 Black Suits” (até 14/06) Fantasia 10, Calçada de São Lázaro, 15h00 Entrada livre Exposição “Who Cares” (até 28/07) Armazém do Boi, 16h00 Entrada livre Exposição “De Lorient ao Oriente - Cidades Portuárias da China e França na Rota Marítima da Seda” Museu de Macau (até 30/08) Entrada livre Exposição de Artes Visuais de Macau (até 2/8) Pintura e Caligrafia Chinesas Edifício do antigo tribunal, 10h00 às 20h00 Entrada livre Exposição “Valquíria”, de Joana Vasconcelos (até 31 de Outubro) MGM Macau, Grande Praça Entrada livre

12 de JUNHO

U m d i s co ho j e “O Livro do Riso e do Esquecimento” (Hins Cheung, 2006) É o primeiro álbum do cantor de Hong Kong nascido em Cantão, contém 11 canções de estilo r&b e as letras contam histórias e experiências de vida e de amor. “O Livro do Riso e do Esquecimento”, não o prende pela apresentação exagerada destas histórias, contudo, consegue transmitir-nos uma emoção tranquila, sendo que ao ouvi-lo parece que estamos a conversar com amigos. As canções em cantonês tiveram boas reacções por todo o mundo. Flora Fong

• A 12 de Junho de 1929 nasce Anne Frank, vítima dos nazis que publicou um diário em que conta a sua experiência. Annelies Marie Frank, mais conhecida como Anne Frank nasceu em Frankfurt e morreu em Bergen-Belsen, em 1945. Foi uma adolescente alemã de origem judaica, vítima do Holocausto, que morreu aos quinze anos de idade num campo de concentração. Tornou-se mundialmente famosa com a publicação póstuma do seu diário, no qual descrevia as experiências do período em que a sua família se escondeu da perseguição aos judeus dos Países Baixos. O conjunto de relatos, que recebeu o nome de Diário de Anne Frank, foi publicado pela primeira vez em 1947 e é considerado um dos livros mais importantes do século XX. Otto Frank, pai de Anne e único sobrevivente da família, retornou a Amesterdão depois da guerra e teve acesso ao diário da filha. Foi em Julho de 1945, depois da Cruz Vermelha confirmar as mortes das irmãs Frank, que Miep Gies deu a Otto Frank o diário, juntamente com um maço de notas soltas que tinha guardado na esperança de devolvê-los a Anne. O diário de Anne Frank começou como uma expressão particular e a jovem escreveu várias vezes que nunca iria permitir que ninguém o lesse. Contudo, em Março de 1944, ouviu uma transmissão de rádio por Gerrit Bolkestein, membro do governo holandês no exílio, que disse que quando a guerra terminasse, criaria um registo público de pessoas holandesas sob opressão da ocupação alemã. Mencionou a publicação de cartas e diários e Frank decidiu apresentar o seu trabalho quando chegasse a hora. Anne começou a editar a sua escrita, removendo secções e reescrevendo outras, com vista à publicação, sendo que criou pseudónimos para membros do agregado familiar e amigos. O diário foi publicado na Holanda, em 1947, seguido por uma segunda edição ocorrida em 1950. Foi publicado pela primeira vez na Alemanha e em França em 1950.

fonte da inveja

Eu achava que a beleza não existia até a ter conhecido.

João Corvo


opinião

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André Ritchie

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sorrindo sempre

A menina que tinha um olho na nuca da tarefa de, em conjunto com a sua equipa de trabalho, dar a cara para o dito segundo post – o tal que todos ignoram pois a discussão na sequência do primeiro post ganhou ímpeto e tomou já um rumo próprio. Não é nada fácil desviar um rio com uma corrente forte. E cito aqui as sábias palavras de Joseph Goebbels, ministro da propaganda de Hitler: “uma mentira repetida 1000 vezes torna-se verdade”. Voltando então à história da menina que tinha um olho na nuca: mal sabia eu na altura que, afinal, tinha acabado de viver um cenário que se havia de repetir, persistentemente, ao longo de uma fase particular da minha vida profissional. O final foi o mesmo: a dada altura afastei-me e fui à minha vida.

Peter Farrelly, Bobby Farrelly, Dumb and Dumber

E

ra eu um teenager quando um dia, na zona de fumadores do Liceu, encontro um chonto di gente à volta de uma revista, discutindo um assunto com grande entusiasmo. Tratava-se de uma revista de fofoquices de Hong Kong (*), daquelas que folheamos quando estamos no cabeleireiro. Trazia um artigo impressionante: uma menina que tinha um olho na nuca. Perfeito, simétrico, bem no meio do cabelo. As fotos eram convincentes. E assustadoras. A malta comentava com grande excitação esse incrível fenómeno. E enquanto uns apontavam as vantagens que essa rapariga teria nos exames escritos por poder copiar o colega de trás, outros contavam histórias de freak shows que tiveram a oportunidade de assistir na Tailândia, cujos pormenores não vou aqui descrever por não ser adequado, e ainda outras histórias incríveis que conheciam, contadas por um amigo. E esse amigo, claro, é sempre um indivíduo que ninguém conhece e ninguém sabe ao certo quem é. Os meus conhecimentos limitados do corpo humano aliados ao bom senso foram suficientes para me levarem a concluir, prontamente, que aquele artigo não devia ser levado a sério. Um olho na nuca? Naquela revista? I mean, come on... No entanto, fui imediatamente confrontado pelos presentes que me exigiram, sem demora, argumentos concretos que sustentassem a minha posição. Ora, tinha mais que fazer. Afastei-me e fui à minha vida. Fast forward para a actual era das redes sociais e o cenário repete-se. Li algures que, no futuro, havemos de registar os tempos actuais como “antes do Facebook” e “depois do Facebook”. Não sei se será necessariamente assim. Contudo, não deixa de ser um facto que o Facebook, em conjunto com as outras redes sociais, alterou profundamente a forma como vivemos as nossas vidas. E, sobretudo, a forma como a informação – seja ela útil ou inútil, mas sobretudo a inútil – é partilhada e divulgada. O Facebook regista actualmente mais de 1.44 mil milhões de utilizadores. O news feed do Facebook é um espaço em constante actualização, a todo o segundo, com todo o tipo de informação, desde a estrondosa notícia do Jorge Jesus no Sporting aos inconsequentes selfies do não-sei-quem na praia com os seus cãezinhos. Deixemos de lado os selfies do não-sei-quem. Não me incomodam nada e confesso até que me relaxam ao fim do dia quando estou cansado e desligo o cérebro. O que me preocupa mesmo é as notícias bombásticas que são imediatamente partilhadas e espalhadas pelo mundo fora, pois frequentemente carecem de rigor informativo e, como tal, têm um poder deformativo enorme. Os comentários que conseguem gerar nas redes sociais e os impactos que têm na formação da opinião pública é um fenómeno que não pode ser ignorado.

Por alguma razão as agências noticiosas, também elas presentes nas redes sociais, e logo a seguir os cibernautas, têm a ânsia de divulgar as notícias sem antes verificar a sua veracidade, a credibilidade da fonte, apurar os factos ou simplesmente parar para reflectir um pouco sobre o assunto. Dessa atitude resultam notícias que são verdadeiramente hilariantes. O jornal satírico World News Daily Report, por exemplo, publicou um artigo sobre uma suposta entrevista que Ringo Starr deu a um jornal afirmando que o verdadeiro Paul McCartney morreu em 1966. O actual Paul McCartney é um sósia chamado Billy Shears, o qual entretanto se veio a revelar um excelente músico. Apanhei essa notícia no The Mirror, jornal que, achava eu, devia ser mais maduro e ajuizado. Por sua vez, a cadeia americana KTVU, subsidiária da Fox News, anunciou em primeira mão os nomes dos quatro pilotos do malogrado voo da Asiana Airlines que se despenhou na aterragem em São Francisco: Sum Ting Wong, Wi Tu Lo, Ho Lee Fuk, Bang Ding Ow. Explicação para quem não entendeu a absurdidade da coisa: “Something’s wrong! We’re too low! Holy f***! Bang, ding, ow!” Anda tudo louco? Naturalmente, esses são casos extremos em que só se deixa levar pela notícia quem, de facto, é muito obtuso e não tem cura. Por isso, deixemos estar. Analisemos agora outro tipo de notícia, menos surreal e com potencial para produzir efeitos mais abrasivos. Um exemplo que apanhei agora mesmo em circulação no news feed, vindo da Rede de Informação Universal (RIUS): “Brasil vendeu o jogo para a Alemanha num esquema de corrupção que envolveu milhões”. Essa captou a minha atenção pois veio na altura certa, coerente com o recente escândalo de corrupção da FIFA. Não sei o que é a RIUS, mas não interessa: tal como aquele nosso amigo que ninguém sabe ao certo quem é e que conta histórias mirabolantes, é irrelevante. E como nas redes sociais tudo funciona à velocidade da luz, em menos de 24 horas essa notícia já gerou 930 chilreanços no Tweeter, 247

mil likes e shares no Facebook e outros tantos milhares de comentários pelo ciberespaço fora. Nessas ondas de comentários tudo é válido e, por alguma razão, a discussão tende a escorregar para o campo da irrazoabilidade, onde falsas verdades são ditas com convicção e disparates que, sinceramente, não lembram nem sequer ao palhaço, são abundantes. Agora vejam: se com a notícia inicial alguém se sentiu lesado e pretende, através de um segundo post, colocar algum rigor à coisa e repôr a verdade, desejo-lhe então muita sorte pois terá pela sua frente uma tarefa árdua e ingrata. Porque entretanto já ninguém quer saber do conteúdo desse segundo post uma vez que, na sequência do primeiro post em que a notícia foi lançada bombasticamente, milhões de cibernautas já partilharam, comentaram, formaram uma opinião e tomaram uma posição sobre o assunto em discussão. E tudo com base em disparates e falsas verdades que por vezes são até maleficamente e habilmente semeadas no momento certo. E agora o busílis da questão: é apenas assim no ciberespaço? Não. Na realidade, trata-se de um comportamento que não se limita apenas às redes sociais, não fossem os cibernautas (também) pessoas reais de carne e osso. No nosso pequeno e queridíssimo Macau, assiste-se a essa atitude em todo o lado, nomeadamente no programa da manhã da rádio chinesa, no fórum semanal no Jardim da Areia Preta, nos debates e sessões de consulta pública, ou mesmo naquele órgão oficial onde representantes do Governo são convocados para prestar esclarecimentos a um grupo de distintas personalidades, entre elas um ilustre que interpreta a violência doméstica como modo de aproximação conjugal. É assim que se forma a opinião pública. E, posto isso, estamos a chegar ao fim do artigo. É momento de revelar ao caríssimo leitor a verdadeira raison d’être do tema de hoje o qual, mesmo não sendo uma especialidade minha, nem nw ada que se pareça, insisti em desenvolver: o que acabou de ler foi um desabafo. Sim. Porque no passado, em diversas ocasiões, o autor desta coluna foi incumbido

Sorrindo Sempre

Quem teve a pachorra de ler o Sorrindo Sempre anterior (edição de 29 de Maio) lembra-se com certeza da bengalada que dei a um funcionário do Fundo de Pensões (FP) a quem atribuí o título de ignóbil e pedi para deixar de pensar com o traseiro. Para a minha agradável surpresa, no dia em que a coluna foi publicada recebi uma chamada da Presidente do FP, que foi muito simpática comigo e me pediu desculpa pelo sucedido. Explicou-me também por que motivo o FP dá especial atenção ao endereço e ao nome do contribuinte, merecendo por isso um esclarecimento: O FP mantém uma base de dados dos contribuintes e o endereço é uma referência importante na eventualidade de futuras notificações. Rigor no registo do nome do contribuinte é fundamental para evitar que o cheque com o dinheiro do Fundo de Previdência seja emitido com gralhas. As explicações da senhora Presidente pareceram-me legítimas, ainda que não justifiquem o que para mim continua a ser uma falta do seu funcionário: o facto de ter sido incapaz de levantar aquelas (falsas) questões na minha presença. No entanto, seria muito mesquinho da minha parte insistir no assunto. E, no fim, até pedi desculpa à Presidente do FP, pois a senhora tem coisas muito mais importantes com que se preocupar no exercício das suas funções do que aturar as tretas que o André Ritchie escreve na sua coluna. Senti-me bastante mal pelo tempo que desperdiçou ao telefone comigo. Muito ng hou yi si. O Sorrindo Sempre é o meu espaço de desabafo para denunciar com cinismo e alguma maldade as absurdidades do meu dia-a-dia. Não quero, no entanto, transmitir a ideia de que sou uma prima donna que barafusta por tudo e por nada. Assim sendo, o Sorrindo Sempre desta semana termina então com este esclarecimento e sem uma história bombástica. Hoje mou ah. Paciência. A vida é assim. Sorrindo Sempre. (*) Vulgarmente conhecidas por “pat gwa chap chi”.


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Isabel Castro

isabelcorreiadecastro@gmail.com

contramão

James Whale, The Invisible Man

Eu não sou daqui

V

em de miúda: sempre gostei de ouvir os mais velhos. Os mais velhos são, em certa medida, como as casas abandonadas: guardam as histórias do passado que os livros não contam e, mais cedo ou mais tarde, transformam-se noutra coisa qualquer. Porque cresci com mais velhos à volta, cedo percebi que iam levar histórias com eles se ninguém quisesse habitar aquelas paredes. Os mais velhos explicam-nos também de onde vimos. E eu sempre quis saber quem sou. Quando vim para cá tive a sorte de, ao terceiro dia do meu campeonato local, conhecer um mais velho que, alguns anos mais tarde, teve a generosidade de me contar muitas histórias. Tínhamos um encontro semanal, na casa à sombra das árvores ou no escritório à sombra dos livros. Ele falava. Uma, duas, três horas. Eu ouvia. Uma, duas, três horas. Lá fora estava calor. Foi este mais velho que me ensinou como era Macau nos tempos da guerra. Nos tempos em que a felicidade se fazia e desfazia numa rua. A Macau dos tempos

em que a Praia Grande era mais ou menos praia e mais ou menos grande. A Macau das festas, das avós, dos netos, do chinês que se aprendia às escondidas, do português falado assim-assim. A Macau daqueles que amavam um país sem nunca terem estado nele. A Macau das identidades. A Macau que é mátria, longe da pátria. Este mais velho partiu há alguns anos e deixou-me mais só, como todos os meus mais velhos que foram indo, com todas as paredes em que deixei de poder habitar. Legou-me as histórias que me contou, sem necessidade de testamento. Fez-me acreditar ainda mais que as diferenças é que valem a pena, porque os espelhos sofrem de uma

monotonia irremediável. As tardes junto ao palácio ensinaram-me que eu não sou daqui, embora seja aqui. Sinto falta delas. Eu não sou daqui. Nem quero. Nunca quis ser de Macau – por respeito aos que de cá são e por respeito aos meus mais velhos, aos que fazem com que hoje esteja viva e com histórias nas minhas paredes. O facto de não ser daqui não significa, porém, que tenha de abdicar da noção de cidadania, com os direitos e deveres que ela traz às costas. Não sou daqui, embora aqui esteja e apesar de gostar do que é daqui. Não preciso de uma mátria e de uma pátria, porque a pátria é suficiente para as necessidades nacionais cada vez menores

Vemos a identidade ser usada para pendurar medalhas ao peito, para mudar o título nos cartões-de-visita, para a postura em bicos de pés. Esta identidade não responde a uma mátria e a uma pátria, porque é uma identidade escolhida consoante o hino que se entoa, de peito feito, em lugar de destaque que gosta de se realçar, terminada a cerimónia

que tenho. Sou uma portuguesa em Macau – e jamais poderia ser uma portuguesa de Macau. Eu nem unchinho di papiaçam. Gosto de teatro em patuá e de minchi, mas só me sinto mesmo em casa a ouvir Sérgio Godinho. E a comer francesinhas da terra dele, que também é a minha. Mortos no deserto e o Porto aqui tão perto, aqui tão longe. Mudemos de assunto. Percebo que o que para mim é simples, não seja fácil para outros. Sobretudo para quem, com outros tempos e diferentes vontades, continua a ter dificuldades em resolver problemas de identidade e com equívocos sentimentos de pertença. Não é um problema exclusivo de quem nasceu aqui, com a pátria em tempos tão longe, com a outra pátria agora tão perto: tenho uns amigos angolanos, netos de angolanos, que viveram anos em Portugal sem se sentirem portugueses mas que, no regresso a Angola, também não se sentiram angolanos. É também um dilema pessoal de alguns bons amigos que por aqui tenho. Mas é apenas isso: uma questão pessoal. E eu não tenho nada que ver com o que vai na alma dos outros. O problema começa quando as questões da identidade são usadas por quem não passou grande tempo a pensar nelas, por ter assuntos mais prementes na cabeça e na agenda – quase sempre de natureza política e quase sempre pouco recomendáveis. É então que vemos a identidade a ser usada para pendurar medalhas ao peito, para mudar o título nos cartões-de-visita, para a postura em bicos de pés. Esta identidade não responde a uma mátria e a uma pátria, porque é uma identidade escolhida consoante o hino que se entoa, de peito feito, em lugar de destaque que gosta de se realçar, terminada a cerimónia. Não me atrapalha por aí além este tipo de atitude, até porque é sempre razão para alguns sorrisos – e eu gosto de sorrir e de ver os outros sorrir. Já outros jogos menos florais fazem-me mais confusão, porque interferem com quem sou, com o sítio de onde venho, com os meus mais velhos e com os meus mais novos também. Eu não quero ser de onde não sou pelo que, quando o assunto me diz respeito, prefiro que os outros se limitem a serem quem são. Mas isso sou eu no plano dos desejos. Andam coisas feias a acontecer por aí. Coisas feias e perfeitamente dispensáveis, com acusações baratas, próprias de política em segunda mão, de quem trocou os pruridos que nunca teve para dar lugar à importância que, feitas as contas, não tem. Andam coisas feias a acontecer por aí. Eu não sou daqui, mas sou aqui. E não sou a única – um dado que terá relevo apenas para memória futura.

Propriedade Fábrica de Notícias, Lda Director Carlos Morais José Editores Joana Freitas; José C. Mendes Redacção Andreia Sofia Silva; Filipa Araújo; Flora Fong; Leonor Sá Machado Colaboradores António Falcão; António Graça de Abreu; Gonçalo Lobo Pinheiro; José Simões Morais; Maria João Belchior (Pequim); Michel Reis; Rui Cascais; Sérgio Fonseca Colunistas António Conceição Júnior; Arnaldo Gonçalves; André Ritchie; David Chan; Fernando Eloy; Isabel Castro; Jorge Rodrigues Simão; Leocardo; Paul Chan Wai Chi; Paula Bicho; Rui Flores Cartoonista Steph Grafismo Paulo Borges Ilustração Rui Rasquinho Agências Lusa; Xinhua Fotografia Hoje Macau; Lusa; GCS; Xinhua Secretária de redacção e Publicidade Madalena da Silva (publicidade@hojemacau.com.mo) Assistente de marketing Vincent Vong Impressão Tipografia Welfare Morada Calçada de Santo Agostinho, n.º 19, Centro Comercial Nam Yue, 6.º andar A, Macau Telefone 28752401 Fax 28752405 e-mail info@hojemacau.com.mo Sítio www.hojemacau.com.mo


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facebook

Eddie Murphy, mestre de capoeira

“Macau foi amor à primeira vista” S

e lhe falarmos de Edilson Almeida consegue reconhecer? É difícil, até porque até ele tem algumas dificuldades em se reconhecer pelo nome próprio. Pois bem, Edilson Almeida é, nada mais nada menos, do que o Mestre Eddie Murphy, cara muito conhecida de toda a comunidade de Macau. “É um orgulho, uma alegria quando passo na rua e as pessoas levantam a mão, dizem ‘olá mestre Eddie’, é muito bom”, começa por nos contar o único mestre de capoeira de Macau, Hong Kong e China. Mesmo lesionado não negou, como estávamos à espera, dar uma entrevista ao HM. De sorriso rasgado, conta-nos um pouco do que é. “Sou um optimista, adoro o que faço, amo minha família, adoro Macau.” Foi há sete anos que chegou ao território, não à China. Isto, porque vivia em Shenzen há cinco anos. “Acredita que nunca tinha vindo a Macau? Não acredito nisto, mas é verdade, em cinco anos aqui ao lado nunca vim a Macau. Estava cego”, relembra. A convite para colaborar com uma academia que na altura existia em Macau, o mestre Eddie abraçou o desafio e mal colocou os pés neste território não teve dúvidas: “foi amor à primeira vista”. “Mal cheguei fiquei apaixonado. Só o facto de ver coisas em Português, os nomes das ruas, os autocarros... não queria acreditar, senti-me em casa”, conta. A verdade é que

num abrir e fechar de olhos, o mestre e a sua família criaram raízes neste lado do mundo.

Primeiro passos

Pouco tempo depois de residir em Macau, a academia em que Eddie trabalhava fechou e o mestre de capoeira temeu o pior. “Tinha um mês para sair de Macau porque tinha ficado sem trabalho, pensei no que iria fazer para arranjar uma solução”, relembra, frisando que foi a ajuda das pessoas que fez com que, sete anos depois, Eddie Murphy seja responsável por uma academia de capoeira, uma empresa de entretenimento, uma escola de dança e de grande parte dos eventos de carnaval e latinos que acontecem no território. “Também é da nossa responsabilidade a organização do carnaval em Hong Kong”, acrescenta. Na altura, relembra, muita pessoas foram ao encontro do mestre de capoeira e apresentaram sugestões e “muita ajuda” para que o Eddie conseguisse avançar com a sua vida aqui. Por Macau ser um espaço pequeno, com traços de pequena vila, tem este lado positivo. “Em Macau é possível conhecer toda a gente. Todos sabem quem é quem e se é bom ou mau”, explica, sublinhando que cada um “escolhe com quem quer andar”. “À minha volta gosto de ter pessoas boas, pessoas que gostam de fazer o bem, pessoas positivas e que se esforçam por estar de sorriso mesmo nos dias maus. Tu tens duas

formas de viver a vida, ou de sorriso ou de cara fechada, tu é que escolhes o que queres ser”, partilha.

União é a máxima

Não associar o mestre ao seu trabalho na capoeira é quase impossível. Foi Eddie Murphy que trouxe para China esta espécie de dança que culturas mas, principalmente, que “faz bem à alma”. Das suas aulas fazem parte alunos de todas as nacionalidades e giro é ver as diferenças de comportamentos, reflexos dos diferentes lugares de onde chegam. “Os chineses são mais tímidos, porque são assim por natureza, o português é mais aberto. Com as crianças chinesas é preciso ir mais devagar, mas depois de se sentirem à vontade funcionam como família”, conta. E é esta união a base da capoeira e de todos os ensinamentos que o mestre pretende passar a todos aqueles que passam pela sua vida. “Muitas vezes acontece que quem começa a frequentar as aulas tem problemas, tem uma fase menos boa na vida, muitas vezes ligadas com a família. Os meus alunos chineses têm muitas vezes esse problema, uma educação mais rígida, com mais respeito porque é um respeito imposto e não pode ser assim. É importante – e esta é uma das linhas da capoeira – que se perceba que o respeito é merecido e não imposto”, partilha. Eddie Murphy acredita que Macau está melhor do que há sete anos e é a Taipa a zona

que mais lhe enche o coração. “Sou muito ligado aos valores familiares, à minha família de sangue ou à da capoeira, porque é isso que somos, uma família, e a Taipa permite no tempo livre ires passear com a tua família, ir a um parque com as crianças, dar um passeio. Adoro a Taipa”. É a indústria do Jogo que mais preocupa Eddie Murphy. “É preciso ter algum controlo nos casinos e na construção dos casinos, é preciso dar atenção aos que cá moram e não querem saber dos casinos, olhar para os filhos dos trabalhadores [desses espaços] que muitas vezes estão sem os pais durante a noite”, argumenta.

Um amor para sempre

Não há hesitação nenhuma quando perguntamos ao mestre o que pretende fazer no futuro. “Quero ficar em Macau, já não saio daqui”, diz-nos de sorriso rasgado. “Tenho recebido muito amor aqui, dos meus alunos, dos pais dos meus alunos, de todos aqueles que até não se identificam com o movimento da capoeira mas vão aos encontros e estão connosco”, conta. Planos para o futuro não faltam. Eddie Murphy, marcado pelo seu espírito de trabalho, levanta um pouco o véu e conta-nos que talvez para o próximo ano Macau receba, pela primeira vez, o Campeonato Mundial de Capoeira, que poderá receber pelo menos cem países. Filipa Araújo

filipa.araujo@hojemacau.com.mo


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cartoon por Stephff

Kiang Wu Residentes contra associações

mais negociações

N

o mesmo dia em que é publicada a sétima declaração assinada em conjunto por 41 associações contra a condenação de dois médicos do Kiang Wu por erro médico, é criada uma página no Facebook a criticar essas mesmas associações. O caso diz respeito aos dois médicos do Kiang Wu condenados inicialmente por negligência médica pelo Tribunal de Segunda Instância, depois absolvidos pelo mesmo tribunal porque o crime prescrevera. Diversas associações médicas e de deputados têm vindo a público assinar declarações criticando o TSI e em defesa dos dois médicos, sendo que ontem foi publicada a sétima declaração neste sentido, assinada por 41 associações. Mas também ontem, foi criada uma página no Facebook para “criticar as associações de saúde que menosprezam a decisão do juiz”. A página foi criada no Facebook por residentes de Macau, que refere que, quando as associações estão insatisfeitas com as decisões do tribunal, devem primeiro apontar baterias ao organismo. No entanto, as associações evitam falar sobre o relatório médico que ajudou a apontar negligência dos dois profissionais e apontam apenas que o TSI “não tem motivos razoáveis e prejudicou” a profissão. Os residentes dizem ainda que há falta de um mecanismo completo de queixas de erro médico em Macau, pelo que apela ao Governo a melhoria do respectivo regime. Os participantes da página esperam receber doações de residentes de Macau para cobrir despesas com a publicação de cartas nos jornais chineses, à semelhança das associações, mas até ontem o montante ainda não chegou para isso. Para as associações, os médicos não fizeram erros e a falta de tratamento “deve-se à mudança da doença do paciente”, uma criança de dois anos que se queixava de dores de estômago e que veio a descobrir, em Hong Kong, ter uma doença no sistema digestivo. F.F.

Comércio electrónico DSE organiza seminário

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Tem lugar no World Trade Center, às 14h30 do próximo dia 16, um seminário sobre comércio electrónico transfronteiriço, com enfoque na situação entre Macau e Guangdong. A iniciativa é promovida pela Direcção dos Serviços de Economia, juntamente com os Serviços do Comércio de Guangdong e a Associação da Indústria do Comércio Electrónico Transfronteiriço. O seminário será conduzido por especialistas desta área que vão focar-se na temática do desenvolvimento deste tipo de comércio, das suas tendências de evolução na China. O intuito é munir as empresas locais e jovens empreendedores a formar uma plataforma de intercâmbio comercial. A plateia pode contar com a presença de especialistas em logística do comércio electrónico, estabelecimento comerciais, pagamento a terceiros e vários outros assuntos.

Carros de Turismo Pilotos de matriz portuguesa continuam em bom número

Meia centena de inscritos A pesar da economia da RAEM estar a viver um momento menos positivo, tal não teve ainda reflexo directo no automobilismo local, pelo menos, no que à mais importante competição automóvel organizada no território diz respeito. O Campeonato de Carros de Turismo de Macau (MTCS, na sigla inglesa) arranca dentro de duas semanas no Circuito Internacional de Zhuhai e a Associação Geral-Automóvel de Macau-China (AAMC) já publicou as listas de inscritos. Ao todo estarão em confronto cinco dezenas de concorrentes divididos em duas classes “AAMC Road Sport Challenge”

e “AAMC Challenge”. Para a edição deste ano estão inscritos 27 carros na classe “AAMC Challenge”, categoria que sofreu uma revolução técnica em 2014 e este ano irá receber uma vaga de nomes conhecidos que na temporada transacta participaram na categoria “AAMC Road Sport Challenge”. Entre aqueles que mudarão de ares em 2015 estão Filipe Clemente Souza, Jerónimo Badaraco, Ng Kin Veng e Jo Merszei. Contudo, o favoritismo continuará a recair em Lui Man Kit, que se sagrou campeão a época passada, ou em Chou Keng Kuan, piloto que coleccionou troféu na precedente categoria N2000. Isto apesar

de Patrick Chan ter sido a surpresa dos da casa no atípico Grande Prémio de Macau do ano passado. Como em anos anteriores, a presença lusófona continua forte na categoria. O sempre competitivo Álvaro Mourato, que este ano também tem disputado o campeonato malaio de velocidade, está de volta, assim como português Rui Valente, que repete a participação com o seu MINI. Eurico de Jesus, Célio Alves Dias, Hélder Rosa e Miguel Kong completam o leque de macaenses inscritos.

Campeão de volta

Por seu lado, na classe Road Sport, o destaque vai para o regresso do ex-campeão Sun Tit Fan, que o ano passado teve um ano sabático, mas que desta vez terá a forte concorrência de Leong Ian Veng, campeão em título da categoria. O multifacetado Sérgio Lacerda, que volta novamente a tripular o seu Nissan Z33, o veterano Belmiro de Aguiar e Luciano Lameiras representam a armada de matriz portuguesa. Os dois eventos a realizar no circuito permanente da cidade continental adjacente a

Macau servem também como provas de apuramento para a Taça de Carros de Turismo de Macau – CTM e Corrida Macau Road Sport Challenge da 62ª edição do Grande Prémio de Macau. O primeiro “Festival de Corridas de Macau” ocorrerá entre os dias 27 e 28 de Junho e o segundo nos dias 25 e 26 de Julho. Estes eventos marcam o regresso do MTCS a Zhuhai ao fim de seis anos de ausência. Os horários das provas ainda não foram anunciados, no entanto, para além das quatro corridas dos pilotos de Macau, o primeiro fim-de-semana do “Festival de Corridas de Macau” terá também duas corridas a contar para um campeonato de carros de GT da China continental. Denominado BOSS GP, este campeonato junta uma elite metropolitana chinesa apaixonada por carros super-desportivos e que trará ao sul da China vários Porsche, Ferrari e Lamborghini, alguns de competição, outros simplesmente carros de estrada minimamente adaptados para as corridas. Sérgio Fonseca

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