Hoje Macau 13 NOV 2020 #4670

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Cuidado com o cartão As burlas informáticas relacionadas com cartões de crédito continuam a aumentar, apesar de a maioria das vítimas afirmar usar o cartão com critério. De Janeiro a Outubro deste ano registam-se já 207 casos, mais 88 do que em todo o ano de

ALEXANDRE MARREIROS

EXPOSIÇÃO

MURMÚRIOS NA CIDADE EVENTOS

ORÇAMENTO

De onde vem o dinheiro? PÁGINA 4

RODNEY SMITH

hojemacau ANOS

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MOP$10

SEXTA-FEIRA 13 DE NOVEMBRO DE 2020 • ANO XX • Nº 4650

DIRECTOR CARLOS MORAIS JOSÉ

2019. Enquanto a PJ diz continuar a investigar o caso de uma rede criminosa de 31 pessoas, maioritariamente estudantes, dedicada ao furto de cartões, os lesados em milhares de patacas desesperam por respostas das autoridades.

OPINIÃO

ESPAÇO CANAL

MÁRIO DUARTE DUQUE

ENSINO

Os mestres da pátria

INÊS OLIVEIRA

GRANDE PLANO

PÁGINA 5

UM SENTIMENTO

ANTÓNIO DE CASTRO CAEIRO

h

DITADOR DESEJÁVEL VALÉRIO ROMÃO

MULHERES DE ITÁLIA PUB

GONÇALO M. TAVARES

MARIA JOÃO VAZ | A VIDA É DELA VOZ HUMANA


2 grande plano

13.11.2020 sexta-feira

LABIRINTO DIGITAL

BURLA INFORMÁTICA

VÍTIMAS DESFALCADAS EM MILHARES ESPERAM ESCLARECIMENTO DA PJ

A Polícia Judiciária continua a investigar o caso que levou à detenção de 31 residentes de Macau envolvidos numa rede criminosa dedicada ao roubo de dados de cartões de crédito. Vítimas ouvidas pelo HM perderam milhares de patacas e garantem fazer uma utilização cuidada dos cartões. Entre Janeiro e Outubro de 2020, a PJ registou 207 casos de burla informática em Macau

N

O dia 29 de Outubro a Polícia Judiciária (PJ) anunciou a detenção de 31 residentes de Macau por envolvimento numa rede criminosa, alegadamente dedicada ao roubo de dados de cartões de crédito, que eram usados para comprar créditos em jogos online através de contas de Apple ID, para serem posteriormente comercializadas. Além de os detidos serem maioritariamente estudantes, o caso impressionou, não só pela quantidade de locais envolvidos, mas também pelo modo rebuscado como os dados dos cartões de crédito terão sido furtados e utilizados, continuando a não ser claro como é que as vítimas terão sido apanhadas na armadilha. Recorde-se que, no total, segundo a PJ terão sido roubados dados de mais de 500 cartões de crédito, dos quais 145 foram emitidos por bancos de Macau. Contactada pelo HM, a PJ aponta “suspeitar preli-

minarmente que os membros da associação criminosa roubaram informações dos cartões de crédito via email, mensagens de phishing e invasão de websites dedicados a compras online, mas ainda é necessário fazer uma investigação mais aprofundada”. No entanto, o modo de obtenção dos dados não parece bater certo com os relatos das vítimas ouvidas pelo HM, que asseguram fazer uma utilização cuidada, no que toca a providenciar os dados dos seus cartões para fazer compras. “A PJ diz que foi usado phishing para recolher os dados dos cartões de crédito de contas obtidas através das redes ou plataformas sociais mas, no meu caso, isso não faz sentido nenhum. Ou alguém clonou o cartão na rua, que é possível porque os cartões são todos contactless, ou foi nos sítios onde usei o cartão fisicamente, que são fáceis de descobrir porque não o usei muitas vezes. Por princípio não pago nada com cartão de

crédito precisamente por causa disso. Só uso quando não tenho alternativa”, começou por contar uma vítima que pediu para não ser identificada.

O presidente do BNU garante (…) que “a segurança do banco está permanentemente a ser auditada” No dia 18 de Outubro, conta, em apenas 11 minutos, perdeu cerca de 1.050 dólares americanos (USD), tendo-se apercebido do caso após ter recebido no seu telemóvel, 15 mensagens sequenciais emitidas pelo BNU [Banco Nacional Ultramarino] a reportar montantes extraídos da conta à qual estava associado o seu cartão de crédito. “Entre as 8h00 e as 8h11 da manhã recebi 15 mensagens do BNU. Em 11 minutos foram feitos 14 pa-

gamentos de 74.99 USD e a 15ª mensagem foi já o banco a reportar que o cartão tinha sido cancelado”, partilhou. De seguida, a vítima ligou para a instituição bancária que, desde logo, confirmou o cancelamento do cartão e a utilização dos seus dados numa conta Apple através da qual foram feitas compras na loja iTunes. A vítima contactou ainda a Apple para tentar obter mais informações, que esclareceu apenas, sem revelar em que aplicação foram feitas as compras, que, de facto, foram detectados pagamentos suspeitos numa conta Apple, entretanto cancelada, com os dados do seu cartão. Nos dias que antecederam o desfalque, a vítima aponta que apenas utilizou presencialmente o cartão, por duas vezes. Tirando isso, afirma só efectuar compras em websites que tenham a certificação PCI (Payment Card Industry – Data Security Standard), ou seja, que cumpram todos os padrões de segurança definidos internacionalmente.

“Nunca me deparei com actividades suspeitas em plataformas, redes sociais ou sites. Foi tudo normal e ninguém interagiu comigo. Nunca usei o meu cartão de crédito em websites suspeitos. É a primeira vez que sofro uma burla deste género. Normalmente até uso cartões de crédito virtuais quando é preciso”, acrescenta.

VIRA O DISCO

Também a 18 de Outubro, outra vítima que pediu para não ser identificada, relatou ter recebido duas mensagens de aprovações de transações provenientes do BNU. Apesar de inicialmente não ter dado importância ao caso

por ter programadas algumas operações automáticas, mais tarde, veio a aperceber-se que os dados do seu cartão de crédito tinham sido usados para fazer compras sem o seu conhecimento. No total, em poucos minutos, perdeu mais de 9.000 patacas. “Recebi duas mensagens de utilização do cartão de crédito, mas nem prestei grande atenção (…) porque pensei que seriam as mensagens dos pagamentos programados. Dois dias depois fui ver o extracto do cartão de crédito e estavam lá duas compras que eu não tinha feito. O dinheiro foi tirado em duas vezes. Na primeira, foram cerca de 1.000 patacas


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sexta-feira 13.11.2020

207 casos, ou seja, mais 88, contabilizando apenas os 10 primeiros meses do ano. Recorde-se que o caso que levou à detenção de 31 residentes de Macau, resultou de uma operação conjunta da PJ com as autoridades de Hong Kong e que o cabecilha do grupo continua a monte. No decorrer da investigação da operação “Soaringstar”, a PJ revelou na altura que a rede lucrou 600 mil patacas com o esquema e que, dos 31 residentes detidos, três são estudantes com idades entre os 19 e 21 anos, da mesma universidade e considerados “membros-chave”. Dos restantes 28 membros detidos, 13 são estudantes universitários e dois são estudantes do ensino secundário.

“Entre as 8h00 e as 8h11 da manhã recebi 15 mensagens do BNU. Em 11 minutos foram feitos 14 pagamentos de 74.99 USD.” VÍTIMA

e na segunda perto de 8.000”, contou ao HM. Também neste caso a vítima garantiu “não fazer compras em websites duvidosos”, nem “introduzir dados em plataformas que não estejam devidamente certificadas”. Além destes dois casos, o HM teve conhecimento de uma outra situação de burla informática aparentemente relacionada com o mesmo caso e que terá envolvido um desfalque entre 60 e 70 mil patacas.

SEGURANÇA GARANTIDA

Contactado pelo HM, o presidente do BNU, Carlos Álvares recusou-se a comentar concretamente sobre o

caso, apelando que, mal as vítimas se apercebam que os dados do seu cartão foram roubados, “liguem para a nossa linha telefónica a dizer que isso está a acontecer ou dirijam-se à agência do banco”, para que o cartão seja cancelado e substituído. O presidente do BNU garante ainda que a apre-

“Ainda é necessário fazer uma investigação mais aprofundada.” POLÍCIA JUDICIÁRIA

sentação deste tipo situações por parte dos clientes “não é recorrente” e que “a segurança do banco está permanentemente a ser auditada”, quer internamente, quer por auditores externos ou ainda, pela Autoridade Monetária de Macau (AMCM). Além disso, Carlos Álvares assegura que nestes casos “o cliente é sempre ressarcido”. “O que o banco faz é obter a reversão dos movimentos junto do operador porque o banco também não é culpado numa situação destas. O cliente é sempre ressarcido, mas o banco pode ou não assumir o custo”, explicou o responsável.

Das vítimas contactadas pelo HM, uma confirmou já ter recuperado o montante perdido, ao passo que outra continua a aguardar pela compensação do desfalque. Sobre as medidas de prevenção que os residentes devem adoptar para evitar que os seus dados sejam roubados, a PJ aponta que “devem ser salvaguardadas todas as informações dos cartões de crédito, especialmente o código de segurança CVV”. “Quando consumirem online através do cartão crédito, os residentes devem fazer compras em websites que assegurem o cumprimento de todas as medidas de

segurança”, referiu a PJ numa resposta enviada ao HM. Se as compras forem feitas em loja, a PJ aconselha que “os clientes assegurem a utilização do cartão de crédito dentro do seu campo de visão”, para evitar eventuais furtos de informação. Analisando o número de ocorrências de burlas informáticas relacionadas com o roubo de informação de cartões de crédito, é possível constatar que os casos registados têm vindo a aumentar, comparativamente ao ano passado. Isto porque, de acordo com dados da PJ, se durante o ano de 2019 foram registados 119 casos, entre Janeiro e Outubro de 2020, já ocorreram

De acordo com as autoridades, em troca de cada furto de dados dos cartões que eram depois introduzidos em contas Apple ID, os membros recebiam entre 20 e 25 patacas. Obtidas as informações, o dinheiro era usado para adquirir créditos em jogos online, sendo que após estarem “apetrechadas”, as contas eram posteriormente enviadas ao cabecilha do grupo para ser comercializadas. No mesmo dia em que o caso foi tornado público, a Direcção dos Serviços de Educação e Juventude (DSEJ) manifestou “grande preocupação” em relação ao caso, apelando para que os estudantes tenham cuidado. “Ao mesmo tempo que desfrutamos das facilidades proporcionadas pela Internet e pelas diversas aplicações, devemos ter cuidado com a mistura de informações do mundo cibernético, com as suas armadilhas e evitar sermos seduzidos para a prática de actividades ilegais”, pode ler-se na nota. Pedro Arede com N.W.

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13.11.2020 sexta-feira

ORÇAMENTO PEDIDAS EXPLICAÇÕES SOBRE PREVISÕES DE RECEITAS DO JOGO

Só fazer as contas

Economia Menos 71,8 mil milhões em receitas correntes

RÓMULO SANTOS

Entre Janeiro e Outubro, as receitas correntes do Governo diminuíram cerca de 66,5 por cento comparativamente ao período homólogo de 2019, para 36,1 mil milhões de patacas. A quebra registada representa 71,8 mil milhões de patacas, mostram dados da Direcção dos Serviços de Finanças. Os jogos de fortuna ou azar representaram 24,3 mil milhões das receitas. No mesmo período do ano passado, as receitas do jogo fixaram-se em 94 mil milhões. A taxa de execução até Outubro foi de 55,5 por cento. Os dados da conta central mostram também que as receitas totais se fixaram em 80,8 mil milhões, por comparação a 110,4 mil milhões no ano passado. Por outro lado, as despesas aumentaram 16,2 por cento em termos anuais para 62 mil milhões de patacas. A maior diferença registada foi ao nível dos apoios e abonos. As despesas totais ascenderam a 69,6 mil milhões.

De Fevereiro até Outubro, a receita média mensal dos casinos foi de 2,6 mil milhões de patacas. No entanto, o Governo aponta que a média vai subir para 10,8 mil milhões já no próximo ano. Os deputados querem saber quais os fundamentos para tal previsão

Forças de Segurança Recebidas 6 opiniões sobre Estatutos

A 3.ª Comissão Permanente da Assembleia Legislativa recebeu seis opiniões, até ao momento, sobre o novo Estatuto das Forças e Serviços de Segurança. A consulta sobre este assunto decorre até 5 de Dezembro e a informação sobre as opiniões recebidas foi divulgada ontem por Vong Hin Fai, presidente da comissão. Sobre a discussão do diploma, ontem foram abordadas as medidas coercivas que podem ser aplicadas pela polícia e a utilização das armas de fogo. Sobre este tópico, um deputado, que Vong não identificou, defendeu que a nova lei é um retrocesso neste aspecto porque é menos clara que a anterior, de 1994. No diploma aprovado ainda durante a Administração Portuguesa são especificadas as situações em que a arma de fogo pode ser utilizada. No novo, não há especificação, mas existe uma ressalva de que a “dignidade humana” deve ser sempre respeitada.

O

S deputados têm dúvidas sobre os métodos utilizados pelo Executivo para estimar que as receitas brutas do jogo vão ser de 130 mil milhões de patacas no próximo ano. Este foi um dos assuntos que estiveram a ser debatidos pela Primeira Comissão da Assembleia Legislativa, que segundo o deputado Ho Ion Sang está numa corrida contra o tempo para analisar o orçamento, que entra em vigor no próximo ano. Segundo as estimativas do Executivo, as receitas do jogo vão ser de 130 mil milhões em 2021, o que representa uma média mensal de 10,8 mil milhões. No entanto,

desde Fevereiro, altura em que se começaram a sentir os efeitos da pandemia da covid-19 em Macau, a média mensal das receitas foi de 2,6 mil milhões de patacas. No melhor

“As receitas brutas do jogo estão estimadas em 130 mil milhões de patacas na proposta do orçamento. Mas, o Governo tem de explicar como chegou a este valor.” HO ION SANG DEPUTADO

mês, Outubro, o valor não foi além de cerca de 7,3 mil milhões. “As receitas brutas do jogo estão estimadas em 130 mil milhões de patacas na proposta do orçamento. Mas, o Governo tem de explicar como chegou a este valor. Esperamos obter este esclarecimento [nas reuniões com os representantes do Executivo]”, afirmou Ho Ion Sang, deputado que preside à primeira comissão. Segundo a proposta do Governo, com receitas de 69,5 mil milhões e despesas de 95,2 mil milhões, o orçamento apresenta um défice de cerca de 25,5 mil milhões de patacas. Por este motivo, é necessário ir buscar à reserva financeira 26,5 mil milhões de

patacas. Também esta transferência está a preocupar os membros da comissão. Para perceberem o défice os legisladores esperam questionar o Executivo sobre a redução de 24 por cento das receitas com o imposto complementar e ainda sobre o orçamento de 110 milhões de patacas para a Direcção de Serviços de Educação e Juventude (DSEJ), que deixa de existir a partir em Fevereiro, quando é fundida com a Direcção de Serviços do Ensino Superior.

LIMITES DA LEI BÁSICA

Outro tema que levanta dúvidas é a contratação de cerca de 640 funcionários públicos para a Polícia Judiciária, o Corpo de Polícia de Segurança Pública, Serviços Correccionais, Serviços de Saúde, Protecção Ambiental e Universidade de Macau.Acomissão quer perceber como vai haver este aumento de pessoal, ao mesmo tempo que é apresentado um corte de mil milhões de patacas na educação. “Vai haver uma redução significativa com a despesa na educação, de mil milhões de patacas para o próximo ano. Mas, o Governo comprometeu-se a reduzir as despesas sem fazer cortes no que diz respeito ao bem-estar da população. Vamos perguntar que aspectos é que estes cortes vão afectar”, explicou Ho Ion Sang. Face à apresentação de um orçamento deficitário, houve deputados que recordaram que o artigo 105 da Lei Básica exige que se siga o princípio de “manter as despesas dentro dos limites das receitas”, de forma a encontrar um equilíbrio e evitar défices. Apesar de este ano já terem sido aprovadas duas alterações ao orçamento em vigor, que se tornou deficitário, a questão só agora foi levantada. No entanto, Ho Ion Sang encarou com normalidade o facto de a dúvida apenas ser levantada agora: “Na altura [em 2019] em que o primeiro orçamento foi apresentado não era deficitário… Ninguém esperava a pandemia”, afirmou. João Santos Filipe

joaof@hojemacau.com.mo

AL ALTERAÇÕES A LEIS SOBRE SEGURANÇA DEVEM ENTRAR EM VIGOR EM SIMULTÂNEO

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Governo pretende que a alteração à Lei dos Serviços de Polícia Unitários (SPU) entre em vigor ao mesmo tempo que as mudanças à Lei de Bases da Segurança Interna, por ambas se relacionarem. Foi o que explicou ontem Ho Ion Sang, presidente da 1ª

Comissão Permanente da Assembleia Legislativa. “Como é simples e contém apenas dois artigos, (...) as questões colocadas pela Comissão já foram respondidas pelo Governo”, apontou. Na discussão de especialidade seguem-se agora reuniões técnicas para o Executivo

apresentar depois uma nova versão de trabalho. Segundo Ho Ion Sang, há uma “relação muito íntima” entre a proposta em discussão, o regime de Protecção Civil e a Lei de Bases de Segurança Interna, que “também visam actualizar o comando de gestão” das

actividades desenvolvidas no âmbito da protecção civil. Na proposta sobre os SPU, determina-se que o comandante geral coadjuva o Comandante de Acção Conjunta nas suas acções. A proposta prevê ainda a interconexão de dados, tendo o presidente da Comissão

esclarecido que não foram aditadas novas competências, e que o regime jurídico de proteção civil já define as exigências neste contexto. Além disso, as informações estão sujeitas ao regime de protecção de dados pessoais. Por outro lado, o deputado foi questionado

sobre o afastamento de deputados em Hong Kong e a demissão em bloco do campo pró-democracia. Ho Ion Sang respondeu que o caso acontecera no dia anterior e “não sabia bem da situação”, pelo que não considerou adequado comentar. S.F.


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sexta-feira 13.11.2020

COOPERAÇÃO GOVERNO PROMOVE FINANCIAMENTO A EMPRESAS DE GUANGZHOU

O

Grupo de Trabalho Específico para a Cooperação Guangzhou - Macau 2020 reuniu ontem, com a participação de delegações governamentais dos dois locais. O gabinete do secretário para a Economia e Finanças comunicou que vão ser criadas condições para encorajar sociedades de locação financeira e instituições financeiras de Guangzhou a abrir filiais ou escritórios de Macau. A ideia passa por permitir que empresas de Guangzhou emitam obrigações ou obtenham financiamento em Macau. Através do Parque Industrial de Coopera-

ção em Hengqin, “serão encorajadas mais empresas farmacêuticas de renome de Guangzhou a instalarem as suas filiais em Macau e a reforçarem a cooperação com Macau na investigação e desenvolvimento de produtos e na expansão de negócios”, diz a nota. Na reunião foi também proposto que a cooperação entre jovens e a incubação de projectos de inovação juvenil receba apoio dos governos dos dois territórios. Depois do encontro foi celebrado um memorando de cooperação entre a Universidade de Macau e a Universidade de Guangzhou.

FÓRUM BOAO LIONEL LEONG PEDE APOSTA NA CIÊNCIA NO ENSINO SECUNDÁRIO

O

presidente executivo da delegação da primeira edição da Conferência do Fórum Internacional de Ciência, Tecnologia e Inovação do Fórum Boao para a Ásia, Lionel Leong considera que Macau deve apostar na introdução do ensino da ciência e da inovação no ensino secundário. O objectivo é que, chegada a altura de prosseguir os estudos no ensino superior, os curso relacionados com ciência e tecnologia sejam naturalmente apetecíveis. De acordo com o jornal Ou Mun, durante o Fórum que decorreu até à passada quarta-feira, Lionel Leong considerou ainda que, apesar de Macau possuir vantagens claras nestas matérias, existem desafios a nível legislativo, do financiamento e relacionados

com o desenvolvimento de talentos. Como exemplo de vantagens que podem contribuir para o desenvolvimento contínuo do território em termos de inovação, o responsável referiu o facto de Macau se assumir como plataforma entre a China e os países de língua portuguesa. Ultrapassados os desafios enunciados, Lionel Leong defende que Macau tem a porta aberta para transformar a investigação científica em produtos palpáveis e prontos a integrar o mercado. O responsável vincou ainda que, apesar de Macau ser um mercado pequeno, o investimento na investigação científica e tecnológica não deve ser descurado, pois deve estar orientada para o mercado global. P.A.

ENSINO STAR WORLD RECEBEU ONTEM CONCURSO DE PATRIOTISMO PARA ALUNOS

Quem quer ser patriota? O Hotel Star World foi ontem palco da fase final da 12ª edição da Competição Juvenil de Conhecimento Nacional. Depois de eliminados perto de 12 mil estudantes, sobraram 62 que responderam a questões sobre temas como a segurança nacional, Mar do Sul da China, resposta de Macau e da China à pandemia, entre outros

A

sala de banquetes do 8º andar do Hotel Star World transformou-se ontem no que pareceu ser um estúdio de concurso televisivo. A ocasião foi a 12.ª edição da Competição Juvenil de Conhecimento Nacional, a fase final de um concurso que testa alunos do ensino secundário e superior na sabedoria sobre temas como a segurança nacional, a política de saúde chinesa, o Mar do Sul da China, a resposta de Macau e da China à pandemia, entre outros. Na fase final de ontem competiram 62 estudantes, perante 150 pessoas, entre professores, directores, alunos de 24 escolas de Macau e convidados ilustres. Os vencedores vieram da Escola Pui Tou, Escola Kao Yip e Universidade da Cidade de Macau. A competição de ontem foi o culminar de várias etapas, iniciadas em Setembro com uma eliminatória

preliminar onde concorreram 12 mil estudantes, a maior participação de sempre com o aumento de 30 por cento em relação ao ano passado. Desde 2009, quando competição começou (sempre patrocinada pela Galaxy),

Uma aluna da Escola Keang Peng respondeu que as ilhas e territórios do Mar do Sul da China, disputados internacionalmente, “são zonas da China, consolidadas historicamente”, e que “por isso não existem problemas territoriais”.

mais de 90 mil alunos mediram conhecimentos numa actividade que se tornou famosa no meio estudantil, de acordo com a organizadora, a Associação para Educação das Condições Nacionais (traduzido do inglês). Nesta eliminatória, o tema principal foi a política nacional de saúde, mas foram feitas perguntas noutras categorias. Por exemplo, sobre o Mar do Sul da China, foi perguntado como os alunos entendem a situação e o reflexo que tem na segurança nacional. Uma aluna da Escola Keang Peng respondeu que as ilhas e territórios disputados internacionalmente “são zonas da China, consolidadas historicamente, por isso não existem problemas territoriais”. Na categoria de Segurança Nacional, um aluno do Colégio Yuet Wah (que pertence à Diocese de Macau) respondeu sobre a composição do Comité de Salvaguarda da Segurança Nacional citando a lei em vigor em Hong Kong.

CONVIDADOS ESPECIAIS

O prémio é uma viagem de cinco de dias a locais da Grande Baía. As equipas vencedoras, acompanhadas por representantes das escolas, vão visitar instituições governamentais e empresas do ramo da saúde. O objectivo é que os estudantes tomem conhecimento directo das condições de saúde do interior da China e alargam os seus horizontes. Na iniciativa marcaram presença a deputada Chan Hong, que preside à Associação da Educação de Macau, Wong Kin Mou da Direcção dos Serviços de Educação e Juventude, Chan Iok Wai da Direcção dos Serviços do Ensino Superior. Entre os convidados estiveram também representantes do Gabinete de Ligação do Governo Central na RAEM, do Comissariado do Ministério dos Negócios Estrangeiros e do Estado-Maior da Guarnição em Macau do Exército de Libertação do Povo Chinês. Nunu Wu com João Luz info@hojemacau.com.mo


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13.11.2020 sexta-feira

Request for Proposal – No. PTB202002FB – MIA Food and Beverage Services Subconcession 1. Company: Macau International Airport Company Limited (CAM) 2. Method: Open Request for Proposal (RFP) 3. Objective: To select ONE operator to operate and provide food and beverage services at the designated location of Macau International Airport 4. Location and Size: An area with an approximate size of 319.3m2 at the Landside Mezzanine Level of the Passenger Terminal Building of the Macau International Airport 5. Validity of the Bidders’ Proposals: The validity period of the Bidders’ proposals shall be 180 days counting from the deadline for submission of proposals 6. Minimum Qualification: For details, please refer to Section A.4 of Pages 4 to 5 of the RFP 7. Request for Proposal Documents: The RFP documents and other pertinent information are available on the following website: www.camacau.com, within the period from 11 November 2020 to 12:00 noon, 4 January 2021 (Macau local time) Please always check the website for additional information, clarifications or modifications, which may be published from time to time, regarding the RFP documents or any other matters in relation to the RFP 8. Location and Deadline for Submission of Bidders’ Proposals: Macau International Airport Company Limited (CAM) 4th Floor, CAM Office Building, Avenida Wai Long, Taipa, Macau S.A.R. Attention to: Mr. Lei Si Tai, Executive Director Deadline for Submission: 12:00 noon, 4 January 2021 (Macau local time) Proposals submitted after the stipulated deadline will not be accepted 9. Proposal Evaluation Criteria: Experience and Qualifications 150 points Customer Service 230 points Financial 270 points Marketing and Operation Plans 200 points Design and Proposed Capital Investment 150 points ------------------------------------------------------------------------------------Total 1,000 points 10.

CAM reserves the right to reject any proposal in full or in part without stating any reasons

Horário de instalação das barreiras do Grande Prémio O “67º Grande Prémio de Macau” será realizado nos dias 20 a 22 de Novembro. Devido à realização deste evento, serão instaladas as barreiras a partir do dia 17 de Novembro em horas diferentes e vedado o trânsito rodoviário nas vias a seguir indicadas, que serão reabertas progressivamente, logo após a conclusão das corridas, no dia 22 de Novembro até à madrugada do dia 23. A Comissão Organizadora do Grande Prémio de Macau solicita a melhor compreensão dos condutores e residentes, bem como o respeito pela sinalização provisória e pelas instruções da Brigada de Trânsito. Data

17 de Novembro (3.a feira)

Hora de Instalação

15:00

Arruamento

Local de instalação

Est. de Cacilhas

Depósito de Pólvora (Rampa)

Est. D. Maria II

Saída da garagem do Museu das Comunicações

Rua dos Pescadores

Saída da Companhia das Águas de Macau

Open Tender Notice 1. Company:

CAM – Macau International Airport Co. Ltd.

2. Scope of Services:

Provision of landscaping maintenance for grass areas managed by CAM – Macau International Airport Co. Ltd.

i) ii)

Entrada e Saída das garagens do Edifício Jubilee Court (Junto à estação de gasolina)

Est. de Cacilhas

Entrada e Saída das garagens do Edifício Cheng Pak Kok

Est. dos Parses

Saída da garagem da Autoridade Monetária de Macau

Av. da Amizade

Rua de Nagasaki até a intersecção da Avenida da Amizade (Ao lado do Edf. Jardim San On)

Est. D. Maria II

Entrada da oficina de automóveis (Junto ao Museu das Comunicações)

Av. da Amizade

Ponte da Amizade – saída para a Av. da Amizade

10:00

Written request addressed to the details as follows. On company letterhead stating the company name and respective contact details. Deadline for request is at 01:00 PM on 16 Nov 2020. In person at the location identified as follows. CAM – Macau International Airport Co. Ltd. Macau International Airport Supply Service E&M Building 1st Floor, Office 41044 Taipa, Macau Attention: Head of Supply Service

3. Request for Tender Document:

Av. da Amizade

18 de Novembro (4.a feira)

For any enquiry regarding the Tender Procedure, please reach our Airport Operations Department – Supply Service at (853) 88982358.

15:00 CAM – Macau International Airport Co. Ltd. Av. de Wai Long 4. Location for Submission of CAM Office Building, 4th Floor Reception Proposals: Taipa, Macau Attention: Mr. Chu Tan Neng – Executive Director

5. Tender closing time and date:

At 12:00 PM on 30 Nov 2020 (Macau Local Time)

CAM reserves the right to reject any Proposal in whole or in part without stating any reason.

19 de Novembro (5.a feira)

10:00


sociedade 7

sexta-feira 13.11.2020

O caso envolve subsídios da Fundação Macau atribuídos em 2012 e entre os acusados de fraude está um polícia. Apesar de receberem apoios para correrem no Interior, os pilotos ficavam em Macau

FUNDAÇÃO MACAU DOIS PILOTOS PEDIRAM SUBSÍDIOS PARA CORRER E FALTARAM A PROVAS

Apanhados na curva

D

OIS pilotos, com os apelidos Lio e Io, estão a ser acusados de ter pedido subsídios à Fundação Macau para correrem em provas de automobilismo no Interior a que não compareceram. O caso, que envolve um polícia, está a ser julgado no Tribunal Judicial de Base (TJB) e, segundo o jornal Ou Mun, os arguidos negaram a prática de crimes na primeira sessão de julgamento. O caso remonta a 2012 e 2013, quando os dois homens pediram apoios à Fundação Macau com a justificação que pretendia competir em provas de automobilismo no Interior. Os pedidos acabaram por ser aprovados e a acusação acredita que foram praticados crimes de burla e de falsificação de documento. Os pilotos nunca chegaram a marcar presença nas corridas, tendo apresentado à Fundação Macau, como comprovativos da participação, a lista de inscrição e os resultados dos colegas de equipa. O primeiro arguido a ser ouvido foi o subchefe do Corpo de Polícia de Segurança Pública, com o apelido Lio. De acordo com a história contada em tribunal, o homem admitiu ter pedido o apoio, cujo

FDCT Orçamento para 2021 é semelhante ao deste ano Chan Wan Hei, presidente do Fundo de Desenvolvimento de Ciência e Tecnologia (FDCT), disse que o orçamento para o próximo ano deverá ser semelhante ao deste ano. No entanto, relativamente ao orçamento do FDCT para o ano de 2019, deverá haver uma quebra na ordem dos 10 por cento, noticiou o canal chinês da Rádio Macau. Chan Wan Hei disse ainda que poderá ocorrer um aumento do orçamento para projectos de investigação que sejam viáveis, uma vez que o FDCT irá focar-se mais nos resultados das investigações. Chan Wan Hei adiantou que as regras de acesso podem tornar-se mais restritas, com requisitos elevados e padrões de avaliação mais uniformes.

valor não foi revelado pelo jornal, mas negou ter havido crime. Segundo a acusação, Lio utilizou o mesmo esquema em duas ocasiões, a primeira em 2012 e a segunda no ano seguinte. Nos dois casos foi bem-sucedido. Em tribunal, o arguido justificou a primeira falta com o estado de saúde, e apesar de admitir não ter

participado, argumentou que não houve tentativa de fraude, mas antes negligência na forma como tratou as burocracias.

PROBLEMAS MECÂNICOS

Também Io, segundo o jornal Ou Mun, confessou em tribunal ter recebido dinheiro sem ter participado numa única prova. No entanto, o

Os pilotos nunca chegaram a marcar presença nas corridas, tendo apresentado como comprovativos da participação a lista de inscrição e os resultados dos colegas de equipa

vendedor de carros justificou a ausência com uma comunicação por parte da equipa a informá-lo que havia problemas mecânicos e o mais certo era não serem capazes de colocar a viatura em pista. Circunstância que afirmou ter mencionado na altura de submeter a documentação necessária para o processo. Porém, a resposta que terá recebido das autoridades, nomeadamente da Fundação Macau, era que primeiro tinha de apresentar todos os documentos exigidos, incluindo os resultados da equipa. Como tal, o arguido indicou que se limitou a seguir as instruções que lhe foram dadas.

Por sua vez, o representante da Fundação Macau atirou a responsabilidade para os organizadores do Grande Prémio, que supostamente verificavam toda a informação fornecida pelas equipas. Já o representante do GP, terá dito que os pilotos eram informados que tinham de participar nos eventos e que o cheque era passado em nome individual. Por esse motivo, disse a testemunha, os resultados da equipa não deviam ser tidos como prova de participação. João Santos Filipe e Nunu Wu info@hojemacau.com.mo

ENSINO MAIS DE 70% DAS ESCOLAS EM INTERCÂMBIO DE DOCENTES DO INTERIOR

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Direcção dos Serviços de Educação e Juventude (DSEJ) adiantou ontem que cerca de 70 por cento das escolas do território já aderiram ao “Plano de intercâmbio de docentes excelentes do Interior da China para Macau”, o que revela que esta iniciativa “foi bem aceite pelas escolas”. No início deste plano, eram 20 as escolas aderentes, mas no actual ano lectivo já são 40 as instituições de ensino que recebem docentes do interior da China por um curto período de tempo. A DSEJ explicou ainda que, nos “anos anteriores, uma média de mais de 20 docentes excelentes do Interior da China participou em intercâmbios pedagógicos e trabalhos de orientação

em diferentes escolas, envolvendo os ensinos infantil, primário e secundário, incluindo várias áreas de aprendizagem e disciplinas”. A secretária para os Assuntos Sociais e Cultura, Elsie Ao Ieong U, disse ontem que este intercâmbio de docentes tem contribuído “para a elevação do nível de ensino registado nos últimos anos”, algo que também “resulta dos grandes esforços dos serviços competentes e das escolas”. Elsie Ao Ieong U destacou o facto de as escolas “manterem uma atitude receptiva face ao plano”. Após o período de intercâmbio, os docentes não são contratados pela DSEJ, pelo que o Plano “não afecta a contratação de docentes locais”.


8 sociedade

O director da DICJ alerta para riscos dos jogos interactivos online, como o branqueamento de capitais, mas indica que o tema está a ser estudado. Além disso, em resposta a uma interpelação de Pereira Coutinho, referiu que as queixas relacionadas com sites de jogo ilegal têm diminuído

13.11.2020 sexta-feira

DICJ ADRIANO HO NÃO AFASTOU POSSIBILIDADE DE JOGO ONLINE EM MACAU

Pensar antes de agir

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M Setembro, o deputado Pereira Coutinho submeteu uma interpelação escrita a apelar ao Governo que definisse padrões oficiais e condições para o desenvolvimento de jogos interactivos online, para aumentar as receitas fiscais. Em resposta, o director da Inspecção e Coordenação de Jogos (DICJ), deixou alertas, mas não excluiu o cenário. “Os jogos interactivos podem aumentar as receitas do jogo, mas existem certos riscos, incluindo problemas sociais, como o branqueamento de capitais e o vício do jogo. Por isso, antes da sua introdução, o Governo deve proceder a estudos prudentes”, indicou Adriano Ho, acrescentando que as respectivas análises estão em curso. Os jogos interactivos abrangem, por exemplo, os

Além disso, o deputado considera que face ao impacto da covid-19 e medidas do Interior da China com vista à restrição da saída de fundos, as receitas do jogo físico e presencial “dificilmente” vão regressar a valores anteriores. Pereira Coutinho apelou também a que se tome o Reino Unido como referência e um aumento do grau de fiscalização, evitando os jogos interactivos ilegais que já existem em Macau.

TRABALHO ANTI-BURLA

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que se jogam no telemóvel ou com acesso pela internet, e em que se concorda fazer pagamentos em dinheiro ou outro valor. A prática de jogos de fortuna ou azar através de telecomunicações ou da internet é actualmente proibida em Macau. Pereira Coutinho defendeu que o desenvolvimento de produtos com terminais móveis e da internet reduz as exigências para negócios online, mas que “devido à desactualização da legislação é difícil, licitamente, atrair mais pessoas a aderir aos jogos interactivos”.

“Existem certos riscos, incluindo problemas sociais, como o branqueamento de capitais e o vício do jogo. Por isso, antes da sua introdução, o Governo deve proceder a estudos prudentes.” ADRIANO HO DIRECTOR DA DICJ

Motoclube Aniversário celebrado com volta entre Macau e Coloane

Decorre amanhã uma parada de motos e seguido de convívio de fraternização para celebrar o oitavo aniversário do Motoclube de Macau (MCM), comunicou a entidade. A parada entre Macau e Coloane arranca às 10h30. Segue-se às 13h um almoço no restaurante Vic’s, na Doca dos Pescadores, com música ao vivo. Estima-se que o oitavo aniversário seja celebrado por cerca de 140 associados e amigos do MCM.

Adriano Ho disse que o Governo vai reforçar a fiscalização e intensificar a competitividade da indústria do jogo em termos internacionais. “Relativamente ao recente aparecimento na internet de ‘websites’ de apostas ilegais explorados em nome dos casinos de Macau, a DICJ, depois de ter detectado ou recebido as respectivas denúncias, irá remetê-las à Polícia Judiciária”, disse o responsável. A DICJ contacta também os principais operadores de motores de busca para ajudar a bloquear os resultados de pesquisa de jogos ilegais e a remover as suas promoções. Por outro lado, referiu que as queixas relacionadas com as páginas electrónicas de jogo ilegal e aplicações móveis têm diminuído. Algo que atribui ao trabalho de combate e sensibilização educativa para as pessoas estarem atentas a essas plataformas. De acordo com a resposta, o Governo vai ouvir “seriamente” e “proceder a uma análise prudente” das sugestões sobre o desenvolvimento do sector, como a permissão da exploração de jogos interactivos por parte das concessionárias. Salomé Fernandes

info@hojemacau.com.mo

SMG Tufão “Vamco” com impacto baixo em Macau

Os Serviços Meteorológicos e Geofísicos (SMG) alertaram que nos próximos dias o tufão “Vamco” vai atravessar a parte central do Mar do Sul da China. Prevê-se que o impacto para Macau seja “relativamente baixo”. De acordo com a Lusa, a passagem do tufão Vamco pelas Filipinas causou pelo menos dois mortos, e numerosos bairros de Manila encontravam-se ontem submersos. O tufão era acompanhado por ventos de 155 quilómetros por hora quando tocou terra na quarta-feira à noite. As autoridades alertaram para o risco de deslizamentos de terras e de ondas altas no litoral.


sociedade 9

sexta-feira 13.11.2020

Previdência Central As queixas de Leong

O deputado Leong Sun Iok interpelou o Governo sobre a necessidade de implementar apoios sociais, uma vez que a proposta de Orçamento para 2021 prevê que o Governo não irá injectar as habituais sete mil patacas nas contas individuais dos residentes permanentes inseridos no regime de previdência central não obrigatório. Leong Sun Iok lembrou que, devido à pandemia da covid-19, os idosos e portadores de deficiência passaram a estar ainda mais vulneráveis a nível social e económico, pelo que o Governo deve garantir mais apoios sociais por outras vias. No último debate na Assembleia Legislativa, o secretário para a Economia e Finanças, Lei Wai Nong, lembrou que não existe almofada financeira suficiente para injectar fundos nas contas individuais do regime de previdência central. Na sua interpelação, o deputado Leong Sun Iok questionou também o Executivo se vai lançar uma terceira ronda do cartão de consumo.

Exército de Libertação Inscrições abertas visitar quartel

Abriram ontem inscrições para estudantes do ensino superior terem uma “experiência da vida militar”, comunicou a Direcção dos Serviços do Ensino Superior (DSES). Estão disponíveis 40 vagas destinadas a estudantes até 29 anos que frequentem o ensino superior no ano lectivo 2020/2021. No dia 6 de Dezembro, um grupo de alunos participa em actividades que incluem uma visita às instalações da Guarnição em Macau do exército, no Quartel da Taipa. O dia começa com a cerimónia do içar das bandeiras e será dado um treino de defesa individual. A iniciativa é organizada pelo Governo da RAEM e a Guarnição em Macau do Exército de Libertação do Povo Chinês. De acordo com a nota, pretende-se reforçar o conhecimento dos alunos sobre defesa nacional e desenvolvimento das tecnologias militares, e consolidar “os conceitos do Estado e a consciência patriótica”. As inscrições terminam a 21 de Novembro.

JOGO ANALISTAS DEFENDEM ADIAMENTO DO CONCURSO PARA NOVAS LICENÇAS

Só depois da covid

David Green e Pedro Cortés defenderam que o concurso público para a atribuição de novas licenças de jogo deve ser adiado, tendo em conta a enorme crise que o sector do jogo atravessa devido à pandemia da covid-19

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NALISTAS defenderam à Lusa o adiamento do concurso público para as novas licenças do jogo devido à pandemia da covid-19 que afecta, sem precedentes, a economia da capital mundial dos casinos e os seus operadores. A poucos dias do Chefe do Executivo apresentar as Linhas de Acção Governativa (LAG) para o ano financeiro de 2021, as incertezas no território ainda são muitas, com as operadoras de jogo no território a apresentarem grandes prejuízos no terceiro trimestre do corrente ano. No próximo

ano o Governo deveria apresentar o caderno de encargos para as concessionárias se prepararem para o concurso público agendado para 2022. “Não creio que a renovação da concessão deva ir em frente em 2022”, afirmou à Lusa analista David Green. O fundador da consultora especializada em regulação de jogos em

Macau Newpage Consulting defendeu ainda que o Governo devia esperar pela recuperação da receita bruta do jogo. Nos primeiros 10 meses do ano, as perdas dos casinos foram de 81,4 por cento em relação ao igual período do ano anterior, em resultado do impacto da pandemia de covid-19 e das fortes restrições nas

“Nesta altura, o véu já deveria ter sido mais levantado, não obstante todos os constrangimentos que a situação pandémica tem colocado ao Executivo.” PEDRO CORTÉS ADVOGADO

fronteiras. Só no final de Setembro passado, as autoridades chinesas retomaram a emissão de vistos em todo o país para Macau. O anúncio feito em Agosto, relativamente à criação de uma `lista negra' de destinos turísticos de jogo em casinos por perturbarem a "ordem comercial do mercado de turismo no estrangeiro da China", devia fazer também o Governo de Macau esperar pelas possíveis repercussões que esta medida de Pequim terá no território. Em Setembro, o Governo chinês estimou que a fuga de capitais do país, através de jogos de azar,

ascenda a pelo menos um bilião de yuan, agravando os riscos de uma crise financeira. Por estas duas razões, frisou David Green, avançar com o concurso público é “convidar alguns descontos substanciais de investimento” por parte dos operadores de jogo.

MUITAS DÚVIDAS

O advogado Pedro Cortés, sócio da Rato, Ling, Lei & Cortés – Advogados, escritório que presta consultoria na área do jogo, também afirmou à Lusa ter muitas dúvidas que o caminho a ser seguido seja o do concurso público em 2022. “Nesta altura, o véu já deveria ter sido mais levantado, não obstante todos os constrangimentos que a situação pandémica tem colocado ao Executivo”, disse. Apesar disso, Pedro Cortés diz que os sinais de que tanto as declarações do Chefe do Executivo e do secretário para a Economia e Finanças “têm ido no sentido do concurso”.


10 VOZ humana

13.11.2020 sexta-feira

EM TEMPO DE INCERTEZA E DE TRAIÇÃO, DE INJUSTIÇA E DE VILEZA, DE IRA E DE MENTIRA, O HOJE MACAU, DURANTE OS PRÓXIMOS MESES, VAI DAR VOZ À

“Sinto-me feliz ENTREVISTA Teresa Sobral FOTOS Inês Oliveira

Maria João Vaz, actriz e artista plástica, nasceu num corpo de homem com o qual nunca se identificou. Manteve o seu lado feminino em segredo durante a maior parte da sua vida, mas aos 56 anos de idade teve a coragem de se assumir finalmente como mulher Com que idade começou a sentir que era uma mulher num corpo de homem? Olhando retrospectivamente para a minha vida, o primeiro sinal de alguma coisa fora do comum, foi aos 5 anos. Sei exactamente a idade porque frequentava a pré-primária. Eu gostava imenso de trocar de sapatos com as minhas colegas de aula... era uma sensação indescritível... um prazer enorme e desconhecido. Aquela escola era péssima, havia vários castigos, levar reguadas na mão, ficar virada para um canto, e havia um castigo para os meninos, em particular, quando se portavam mal: vestiam-lhes um bibe de menina cor de rosa que formava uma saia com um laço atrás e uma fita no cabelo, e faziam-nos subir para cima da mesa. Era suposto ser a suprema humilhação, mas para mim não era, para mim era muito prazeroso. Nos verões com um amigo, fazíamos espectáculos para os nossos pais e irmãos, vestidos com roupas da minha mãe, com brincos de mola, malinhas e maquilhagem..., nós gostávamos imenso. Depois, não

me lembro - se calhar é um recalcamento qualquer...

Deixou de fazer isso? Sim, a partir de uma certa altura deixei de fazer isso em público e passei a fazer em privado. Com roupas das empregadas lá de casa, com as roupas da minha mãe, sentia-me muito bem, mas não havia qualquer consequência. A questão é que naquele tempo - estamos a falar do início dos anos 70 - não havia informação nenhuma, não se ouvia falar de homossexualidade nem de outras sexualidades. O meu pai era uma pessoa um bocadinho machista e o meu irmão mais velho, que era o meu "role model", era um cowboy, um conquistador, o rei dos skates, do surf e o meu protetor, mas apesar de eu o amar muito, ele tinha uma atitude agressiva para tudo o que era relativo a homossexualidade, que eu - apesar de não me identificar - sentia-me magoada. Para mim era claro que o que eu fazia secretamente não era normal e era condenável, e pronto...toda a vida mantive uma vida paralela em que me assumia como mulher em privado. Levava coisas para a casa de banho às escondidas da família, ou vestia-me dentro da cama - eu dormia com mais 2 irmãos no quarto - e vestia-me dentro da cama e assim ninguém sabia. Agora, eu conscientemente, não sabia o que aquilo significava. Achava que era uma pessoa estranha, uma pessoa esquisita e que mais ninguém era assim, por isso nunca me abri com ninguém e fui sempre uma pessoa muito frágil e sensível, nunca gostei de confrontos ... como o dinossauro do Toystory (filme da disney) "i don't like confrontations". Quando fiz o meu "coming out" as pessoas disseram “nunca imaginámos, nunca houve qualquer indício", isso significa que fiz um bom trabalho para me proteger e manter tudo secreto. Namoradas? A minha primeira namorada, é a mãe das minhas filhas. Mas apesar de ter sido namorado dela e de termos casado nunca deixei, por um momento, a minha prática de Cross-dressing e desejar não ter o que tinha entre as pernas, apesar de ter 3 filhas. Estive sempre muito presente na vida delas, os biberões, as fraldas, os banhos, o adormecer, o acordar, o vestir e despir, na grande maioria das vezes era

eu que tratava disso. Gostava muito de ter sido mãe. Percebi cedo que havia uma grande incompatibilidade emocional com a minha parceira, mas tinha 3 filhas que dependiam emocionalmente de mim, e a coisa foi-se arrastando. Nunca imaginei ser uma pessoa que se divorciasse ou que alguma vez me fosse assumir como mulher transgénero.

“Nunca imaginei ser uma pessoa que se divorciasse ou que alguma vez me fosse assumir como mulher transgénero.”

Também não havia muita informação Pois. Com o aparecimento da internet comecei a ver coisas, a informar-me. Ainda casada, a disforia era tanta, que mesmo com pouca informação comecei a medicar-me, mas depois tive medo pela minha saúde e parei. Comprava todo o tipo de coisas na net que me tornassem mais feminina. Foi um processo muito lento. Às vezes, preparava-me, pegava no carro e ia meter gasolina ou comprar qualquer coisa, e falava com as pessoas que me recebiam e atendiam como mulher. Uma vez fui de carro até Madrid fazer um workshop com a directora de casting Sara Bilbatua. Completamente "en femme", pus gasolina, fiz check in no hotel... eu sentia-me no paraíso. Só que depois havia sempre um com-

plexo de culpa, uma negação. Sempre. Deitava tudo fora. Depois voltava a comprar. E voltava o complexo de culpa. Nunca percebi efectivamente o que tudo aquilo queria dizer, o que de facto significava. A frustração, o desespero colocavam-me num beco sem saída, tive inclusive uma série de ataques de pânico, tendo um deles acabado no hospital. Percebi que não podia continuar em casa, tinha de sair e mudar as coisas. E saiu? Saí. E quando se assumiu como mulher Trans? A minha epifania deu-se entre 2017 e 2018, consultei aliás psicólogas especializadas que confirmaram o


ANOS

VOZ humana 11

sexta-feira 13.11.2020

ÀQUELES CUJAS VIDAS, POR ESTES DIAS, TENDEM A SER APONTADAS COMO MAUS EXEMPLOS E USADAS COMO ARMA DE ARREMESSO POR OUTRAS VOZES

como nunca” cis ou não binárias, ou intersexo, serei pan-sexual, há muitas definições. Já encontrou alguma dificuldade no seu dia a dia como mulher? Não. Até estou muito bem impressionada com as pessoas. Tive algum receio de me cruzar com os vizinhos e algumas pessoas do bairro mais radicais, o que me causava alguma apreensão, mas as minhas filhas respondiam a esse receio com "oh pai, isso pode acontecer nas primeiras semanas, mas depois vão habituar-se e já não vão ligar nenhuma", e tinham razão. Já ouvi umas bocas, como qualquer mulher ouve, de grupos de homens que passam de carro, mas sem drama. Claro que a violência acontece, e em países como o Brasil e os Estados Unidos, dezenas de mulheres trans são assassinadas por ano, especialmente afro descendentes.

que subitamente se tornou claro. O meu "coming out" para as filhas foi na Primavera de 2019 e para o resto da família no fim do Verão de 2019. Para o mundo, foi dia 3 deAgosto deste ano, depois de um ano de tratamento hormonal e de um confinamento que veio em boa hora para me dar tempo de adaptação e desenvolver a minha auto-confiança. É muito recente Sim, e o confinamento deu-me imenso jeito porque o meu corpo foi-se modificando sem olhares indiscretos. Como é que a sua família reagiu? As minhas filhas reagiram bem... se é o que eu quero e me faz feliz. Elas apoiam-me e querem o melhor

para mim, são as minhas melhores amigas. Há uma grande falta de informação sobre as pessoas transgénero e é muito comum pensar-se - no seu caso - que são pessoas homossexuais que gostam de se vestir de mulher. A identidade de género é erradamente confundida com a orientação sexual. Exactamente. A identidade de género é o sexo com que uma pessoa se identifica, no meu caso é o feminino. A orientação sexual diz respeito ao sexo que nos atrai emocionalmente e fisicamente. Se eu me sentir atraída por mulheres transgénero ou cisgénero, serei lésbica, se for por homens trans ou cis serei heterossexual, se gostar de homens e mulheres trans ou

Há uma resistência nas pessoas em geral em aceitar e compreender a igualdade de género e ainda mais as escolhas de identidade de género Infelizmente isso é verdade que existe, no entanto felizmente ainda o não senti na pele. No microcosmos que é o meu prédio, onde vivem pessoas de origem social e profissional completamente diferentes, houve uma recepção calorosa e encorajadora. Talvez eu tenha uma vantagem porque as pessoas sempre me viram na televisão, nas séries ou nas telenovelas, habituaram-se a ver-me transformada, cabelos, bigodes, barbas se calhar acham que é mais uma personagem ... não sei. Eu já lhes disse..."agora é assim, e chamo-me Maria João". E recebo

“Em Portugal, no “país dos brandos costumes”... as pessoas são pouco interventivas socialmente, mas são dissimuladas e violentas nas redes sociais. Há pouca iniciativa cívica de lutar pelos direitos humanos.”

“As minhas filhas reagiram bem... se é o que eu quero e me faz feliz. Elas apoiam-me e querem o melhor para mim, são as minhas melhores amigas.”

muita simpatia. Sempre nos demos bem e continua assim. Como olha para o seu passado como homem? Está morto, essa pessoa já não existe. Não gosto de contemplar a minha imagem, o meu invólucro antigo, causa-me desconforto e não me reconheço. É muito estranho porque olho para uma fotografia e parece uma pessoa muito mais velha do que eu...é passado sim, mas é uma pessoa mais velha. Porque eu sinto que fui transportada para 20 ou 30 anos para trás... há quem diga que as hormonas produzem uma segunda puberdade, talvez seja isso, sinto-me renascida. Quais as diferenças entre antes e depois? Se é que há diferenças? Houve uma transformação física e também psicológica, as hormonas têm certamente alguma coisa a ver, se eu era sensível, agora estou ainda mais. A percepção do mundo é diferente, o toque, os cheiros, o gosto pessoal das artes em geral sofreu também alterações, na música, no cinema, etc. Por outro lado sentindo-me liberta, muitas facetas que estavam encerradas em mim, podem agora expressar-se livremente, as outras pessoas notam-no mais do que eu, no fundo sou como sempre fui mas assumidamente, não há nada a esconder. Sinto-me feliz como nunca. Houve um momento marcante para mim, o momento em que me encontrei cara a cara com outra mulher trans, foi um dos dias mais felizes da minha vida, uma sensação indescritível de identificação e pertença, porque tudo o que tu dizes a outra pessoa e ela te diz a ti é instantaneamente compreendido como por mais ninguém. Há uma ligação fortíssima.

Assusta-a o crescimento dos discursos de ódio dos partidos populistas de extrema direita? Em Portugal, no "país dos brandos costumes"... as pessoas são pouco interventivas socialmente, mas são dissimuladas e violentas nas redes sociais. Há pouca iniciativa cívica de lutar pelos direitos humanos. E agora temos este novo deputado que apareceu (André Ventura) que diz à boca aberta o que muita gente diz à boca fechada. Foram fenómenos destes que levaram ao poder o Trump e o Bolsonaro, e a comunicação social tem alguma responsabilidade porque lhes dá cobertura, é vendável. Esse deputado aproveita a ignorância e o medo, e recorrendo a um discurso demagógico tenta ganhar dividendos dessa massa anónima e aparentemente descontente para levar a cabo a sua estratégia de perverter o sistema, afirmando coisas como "os imigrantes e os refugiados vêm tirar-nos o emprego"; "os gays e as lésbicas vão estragar as nossas famílias". A teoria do medo Sim, houve uma crise recente e as pessoas arranjam bodes expiatórios e esses partidos aproveitam-se do descontentamento da população e é nessas áreas problemáticas, entre aspas, que vão buscar os votos porque é a teoria do medo, exactamente. Manter o povo ignorante, manter as pessoas assustadas e depois aparecem como protectores. As pessoas dedicam cada vez menos tempo aos filhos, as crianças são educadas com Ipads e telemóveis ...é a cultura do espectáculo, a teoria do medo e a teoria do desconhecido, porque a percentagem de pessoas no mundo e em particular em Portugal que conhece alguém transgénero é diminuta, porque nós somos poucas, somos menos de 1 por cento da população. Acredita que chegará a altura em que ser mulher ou homem não passará pela genitália mas apenas pela sua identidade? Em que os direitos humanos são respeitados independentemente da opção de cada um? Vamos acreditar nisso. Eu quero acreditar nisso.


12 eventos

13.11.2020 sexta-feira

EXPOSIÇÃO EDIFÍCIO DO FÓRUM MACAU ACOLHE MOSTRA DE ALEXANDRE MARREIROS

Registo de uma cidade vazia

Na próxima quinta-feira, dia 19, é inaugurada, no edifício do Fórum Macau, a exposição “Whispering Rooms”, da autoria do arquitecto Alexandre Marreiros. O autor destaca o facto de se ter baseado nas ideias de “registar, conceitualidade e tempo” para realizar trabalhos que revelam uma Macau vazia em tempos de pandemia

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arquitecto e artista Alexandre Marreiros está de regresso às exposições individuais com “Whispering Rooms”, uma mostra que será inaugurada na próxima quinta-feira, dia 19, às 18h no edifício do Fórum Ma-

cau. A exposição, que tem portas abertas até ao dia 6 de Dezembro, insere-se na 12ª Semana Cultural da China e dos Países de Língua Portuguesa, organizada pelo Secretariado Permanente do Fórum de Macau. “Whispering Rooms” tem produção executiva da

Galeria 57 e curadoria do próprio Alexandre Marreiros e aborda a ideia de uma Macau vazia e silenciosa, uma realidade vivida nos primeiros tempos da pandemia da covid-19. O arquitecto destaca o facto de a mostra ir “de encontro a esta tríplice que considero fundamental: registar, conceitualidade e tempo”. “O conjunto de trabalhos que apresento será uma possível representação da ideia fragilizada, isolada, permeável e visível aos nossos olhos dos espaços inocupados. Um registo temporal da cidade que habito e que como muitas outras se encontrou desabitada, assombrada pelo silêncio e pelo vazio durante o presente ano de 2020”, descreve Alexandre Marreiros. Macau é, assim, representada como se fosse um “laboratório”, “vazia do que PUB

“Whispering Rooms” tem produção executiva da Galeria 57 e curadoria do próprio Alexandre Marreiros e aborda a ideia de uma Macau vazia e silenciosa, uma realidade vivida nos primeiros tempos da pandemia da covid-19

lhe faz dar sentido: as pessoas”. O autor aponta que “foi importante perceber esta transmutação em que nos encontramos obrigados a viver”.

REGISTO E OBSERVAÇÃO

A maior parte dos trabalhos que integram “Whispering Rooms” foram feitos recorrendo à técnica mista sobre papel. Permanece “uma total ausência de figuras no espaço”, sendo esta “uma das linhas condutoras a que esta obra se propõe: registar o que fui observando durante o presente ano em Macau”. Alexandre Marreiros quis também, com este trabalho, “construir um território interrogativo do que representam estes espaços vazios”. O público poderá visitar esta exposição com o acompanhamento de Alexandre Marreiros. As visitas guiadas estão agendadas para o dia 28 de Novembro, entre as 11h e as 14h, e o dia 5 de Dezembro, entre as 14h e as 19h. À mostra junta-se um catálogo ilustrado com todas as obras expostas, com direcção de arte de Victor

Marreiros, uma edição do Secretariado Permanente do Fórum Macau. Alexandre Marreiros estreia-se no edifício do Fórum Macau, mas já expôs em locais como o Museu de Arte de Macau, o espaço Creative Macau ou o espaço Art Garden, da AFA - Art for All Society. Em

Portugal, expôs também na Casa da Cultura da Comporta. O arquitecto participou também no festival literário Rota das Letras onde apresentou a exposição “Ocupar o Imaginário”.

Armazém do Boi Obras de Shi Wanwan nas Vivendas Verdes As obras inspiradas na marca d e i x a d a p e l a é p o ca d o s Descobrimentos em Macau, do artista chinês Shi Wanwan, estarão expostas nas Vivendas Verdes da Avenida do Coronel Mesquita entre a próxima terça-feira e o dia 23 de Dezembro. “Notes by the Sea”, a

exposição organizada pela equipa do Armazém do Boi resulta numa série de obras inspiradas em Macau que reflectem, segundo uma nota oficial, “os sinais dos tempos, o direito de decidir, as relações socioeconómicas e a memória cultural que é possível observar (…) em

determinados lugares, espaços e na comunidade”. Licenciado em escultura, Shi Wanwan um é “um artista conceptual”, que baseia as suas obras na criação de contextos específicos. A curadoria é de Song Zhenxi e a entrada na exposição é gratuita.


china 13

sexta-feira 13.11.2020

HONG-KONG DEPUTADOS PRÓ-DEMOCRACIA RENUNCIAM AOS CARGOS

5G Huawei prevê “explosão" no primeiro semestre de 2021

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"explosão" no uso das redes de quinta geração na China vai ocorrer no primeiro semestre de 2021, quando o número de utilizadores chegar a 20 por cento do total de consumidores de serviços móveis, previu ontem o grupo Huawei. Segundo o director da unidade de operadores de telemóveis do grupo chinês, Ryan Ding, a marca dos 20 por cento de utilizadores foi o ponto em que as redes 4G começaram a popularizar-se. As previsões são de que o 5G atinja esse percentual de usuários na China - e também na Coreia do Sul - ao longo dos primeiros seis meses do próximo ano, apontou Ding.A penetração actual do 5G na China é de 12 por cento. Num discurso proferido durante um fórum dedicado às telecomunicações, realizado ontem em Xangai, o executivo garantiu que a adopção do 5G no país está a superar as expectativas das empresas do sector e descreveu os próximos dez anos como uma "década de ouro" para estas redes. "A China Mobile (principal operadora do país) previa que teriam 100 milhões de utilizadores. Eu achei uma meta muito agressiva, mas já vão nos 130 milhões", exemplificou. Sobre as possibilidades do 5G para o sector industrial, onde as empresas envolvidas prometem que haverá uma "revolução", com a criação de cidades e fábricas inteligentes, Ding reconheceu que mais esforços devem ser feitos para entender o que as empresas precisam.

O protesto continua

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S deputados pró-democracia de Hong Kong começaram ontem a renunciar como forma de protesto após a destituição, com base numa norma ditada pelo Governo central chinês, de quatro membros do seu grupo político. Os 15 membros restantes do bloco disseram que iriam renunciar, em protesto e como demonstração de solidariedade depois de o Governo central da China, em Pequim, aprovar uma resolução esta semana que levou à destituição imediata de quatro legisladores pró-democracia. A maioria dos 15 legisladores não compareceu ontem a uma sessão ordinária do parlamento e alguns, posteriormente, entregaram cartas de demissão na secretaria da Assembleia Legislativa. A China criticou duramente a medida e o Gabinete de Assuntos de Hong Kong e Macau classificou as renúncias como "um desafio aberto" contra a autoridade do Governo central e a Lei Básica de Hong Kong. "Se esses legisladores esperam usar a sua renúncia para provocar oposição e implorar por interferência estrangeira, calcularam mal", referiu o Gabinete num comunicado. Wu Chi-wai, o chefe do bloco pró-democracia, disse que os Governos chinês e de Hong Kong estão a tentar acabar com a separação de poderes na cidade, já que a destituição dos quatro legisladores contornou os tribunais.

“Se esses legisladores esperam usar a sua renúncia para provocar oposição e implorar por interferência estrangeira, calcularam mal.” GABINETE DE ASSUNTOS DE HONG KONG E MACAU

“Apenas estamos a renunciar à legislatura neste momento. Não estamos a abandonar a luta pela democracia de Hong Kong.” CLAUDIA MO, DEPUTADA PRÓ-DEMOCRACIA

"Perdemos o nosso poder de controlo e equilíbrio, e todo o poder constitucional em Hong Kong está nas mãos da chefia do executivo", disse Wu. Wu Chi-wai disse que foi o fim da estrutura da cidade de "um país, dois sistemas" sob os quais Hong Kong desfrutou de autonomia e liberdades não encontradas no continente desde que o controlo da ex-colónia britânica foi cedido à China em 1997. Claudia Mo, uma legisladora pró-democracia que também entregou a sua renúncia, acrescentou: "Apenas estamos a renunciar à legislatura neste momento. Não estamos a abandonar a luta pela democracia de Hong Kong”. No início do dia, um dos legisladores pró-democracia, Lam Cheuk-ting, colocou um cartaz numa varanda dentro do prédio do Conselho Legislativo dizendo que a Chefe do Executivo de Hong Kong, Carrie Lam,

havia causado o desastre em Hong Kong e ao seu povo, e que a sua infâmia duraria dez mil anos. PUB

A saída em conjunto deixará a legislatura de Hong Kong com apenas 43 legisladores, 41 dos quais

pertencem ao bloco pró-Pequim. Isso significa que a legislatura poderia aprovar projectos de lei favoráveis a Pequim com pouca oposição.

RESOLUÇÕES E VIOLAÇÕES

Os deputados anunciaram quarta-feira a sua decisão de renunciar horas depois de o Governo de Hong Kong anunciar que destituía quatro legisladores - Alvin Yeung, Dennis Kwok, Kwok Ka-ki e Kenneth Leung.Os quatro pediram aos governos estrangeiros que sancionassem a China e Hong Kong pelo Governo chinês reprimir a dissidência na cidade chinesa semiautónoma. Pequim acusou-os de violar os seus juramentos de posse. Uma resolução aprovada esta semana pelo Comité Permanente do Congresso Nacional do Povo da China permite que qualquer legislador que se recuse a reconhecer a soberania da China sobre Hong Kong, ameace a segurança nacional ou peça que forças externas interfiram nos assuntos da cidade deve ser destituído do cargo.


h tonalidades António de Castro Caeiro

13.11.2020 sexta-feira

Terror de te amar num sítio

Um sentimento

RODNEY SMITH

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É a morte. A morte é o inimigo. É contra ti que eu me lanço, invencível e inflexível, ó Morte! Virgina Woolf, The waves.

U

M sentimento nasce e cresce. Mas morrerá? Há sentimentos que saem do horizonte, desaparecem da presença, mas talvez não morram. Pelo menos quando nos nascem, acontecem a seres humanos existentes. Um sentimento é uma personagem, talvez. Temos a sua percepção ao longe, é de sentir que falamos quando sentimos a sua aproximação e vinda. E toca-nos. Há sentimentos isolados daqueles enormes que temos por Deus, quando nos confrontamos com o seu mistério e o seu milagre, talvez. Há sentimentos que vemos nascer por alguém, único, singular, que muda toda a nossa vida. Há sentimentos bons. Há também sentimentos maus e há-os que são frequentes, que nos vibram a vida toda. Cada objecto tem o seu sentimento. Cada pessoa é um sentimento. De manhã à noite temos tantos sentimentos quantos os segundos que passam, os momentos que atravessamos, mesmo sem dar conta disso. Um sentimento não é nada que haja só dentro da minha cabeça nem só na cabeça dos outros. Há sentimentos colectivos e privados, daqueles que não contamos a ninguém e daqueles que não queremos calar em nenhuma circunstância. Quando estamos tristes, não é só o nosso cérebro que está triste, nem a parte da alma

onde dói, nem quem ou o quê de onde irradia tristeza. É tudo. Quando se sente a tristeza está-se triste. Pode não haver diferença entre sentir a tristeza e estar triste. Quando sinto tristeza sem estar triste, é uma outra tristeza. Quando estou tão triste que não sou de outra maneira, o sentimento é avassalador. O sentimento tem olhos e vê, não é cego e jamais existe sem olhar. Por vezes, sentimos a sua presença ao longe como um inimigo de atalaia, para nos emboscar e atacar. Outras vezes, suspeitamos da presença de um sentimento bom. Não lhe vemos os olhos nem o rosto, pressentimos só a sua presença, excitante. Vem do futuro, do tempo da promessa. A alegria também não é percebida por nenhuma cognição, nem quando estamos tris-

É sóbria a possibilidade que vem com a morte. Um sentimento de morte nasce e cresce não apenas agora a meio da vida nem mais tarde quando for próximo do fim. Vem de antes de termos nascido. Com o princípio vem já o fim

tes. Mas também pode ser assim percebida. Há alegrias que testemunhamos assim como ninguém quer a coisa. O acto cognitivo que percebe a alegria deixa-a a sangrar, não a deixa viver como ela nasceu e cresce tanto. Nem a nós nos deixa que ela nos atinja. Mas também, tristes, nos podemos lembrar da alegria, tingimo-la com a nossa tristeza. Não é uma mistura de tristeza e de alegria. É a tristeza com que vem até nós uma alegria passada ou meramente possível, no futuro, talvez. Mas a alegria do sentimento que nasce e cresce, o sentimento que faz nascer e crescer a alegria e se confunde com ela é outra coisa. Não podemos dizer verdadeiramente que estamos alegres, quase que deveríamos dizer: somos alegres ou melhor somos com a própria alegria. Há sentimentos que vêm, como pessoas por quem esperamos, prometidas. E assomam o horizonte. Aproximam-se cheias de possibilidade. Sem estar presentes ainda, esperamos já por essas pessoas. Vivemos já a acolher a sua presença futura sem que ainda existam ou então sem se terem convertido em realidade. O sentimento de esperança resulta da lance retroactivo da possibilidade que nos olha já no presente, mas acena do futuro como promessa. Não dá nada a não ser esperança, porque no presente é tudo igual como tem sido, mas já animado agora com a simples possibilidade de que tudo venha a ser diferente, possa vir a ser melhor. Um sentimento nasce e cresce. O sentimento da proximidade da traz consigo a angústia. É do futuro que tudo chega: promessa, esperança, e o desespero ameaçador. Mas a morte é esperada do lado de cá da vida. É todo futuro, quando, já não estarei cá, quando já nunca mais verei nada nem ninguém. E nem a mim me encontrarei. O sentimento da morte diz-me que tudo será sempre assim como tem sido, mas sem mim cá. O sentimento da morte vem já a fazer sombra sobre a vida em mim e assim sobre o mundo e os outros todos. A raiz da morte é o tempo e por isso é de lá que nasce o poder de alastrar a tudo o que existe, do mais pequeno e ínfimo até ao vasto e extenso universo. Mas o sentimento da morte aproximar-se ainda não a traz, ainda não está aí. Se ela tivesse chegado, não diria nada. A morte é sempre vista do lado de cá da vida. Desse sentimento ameaçador não vem só impossibilidade. A sua raiz é a possibilidade. Do impossível nasce o possível, do nada que também é, nasce o possibilitante. Não é como se tudo fosse tudo possível. É sóbria a possibilidade que vem com a morte. Um sentimento de morte nasce e cresce não apenas agora a meio da vida nem mais tarde quando for próximo do fim. Vem de antes de termos nascido. Com o princípio vem já o fim. O futuro mais longínquo existe desde sempre. Desde sempre a morte vem como possibilidade: a possibilidade de nada mais ser já possível. É essa a raiz de todos os sentimentos. É contra a morte que o cavaleiro avança a galope, com a lança em riste.


ARTES, LETRAS E IDEIAS 15

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tão frágil como o mundo

O ditador desejável

Ofício dos ossos

A

ideia que fazemos normalmente de um ditador é a de um tipo autoritário exercendo o seu poder de forma absoluta, ou quase. Mas isso é apenas a fase final da evolução da criatura. Um ditador não começa nunca com poder (a não ser nos pouco regimes onde ainda é o berço a determinar o trono) mas com vontade de poder. E essa é uma das características fundamentais de um ditador: querer sempre mais do domínio que exerce sobre os outros. O ditador não é um sujeito tão incomum como pensamos. Na verdade, ele existe um pouco por toda a parte; nas repartições públicas, na hierarquia das empresas, nas salas de aulas e até nas estruturas aparentemente menos atreitas a organizar-se verticalmente por níveis de autoridade. Sucede apenas existirem muito menos lugares de poder do que criaturas com vontade de os ocupar, pelo que os menos impiedosos ou talentosos ficam pelo caminho e, frustrados na sua vocação, acabam por engrossar as fileiras dos alcoólicos, dos perpetradores de violência doméstica ou dos vizinhos que contestam todas as decisões das assembleias de condóminos. O ditador é, na verdade, a resultante de uma peculiar disposição do humano. Além da indispensável sede de poder, o ditador precisa de ser guiado por uma ideia não raras vezes em confronto com a realidade. Há no ditador um peculiar sentido de justiça. Esta não visa corrigir os males do mundo operando no âmbito da moral vigente; a moral vigente é, para o ditador, uma consequência do decadentismo da sociedade que pretende refundar. O ditador, aquele de amplo espectro de concretizações, aquele que toma as rédeas de um país e congrega em seu redor a maioria da população, está normalmente a braços com uma batalha. Qualquer batalha serve. Pode ser com o sistema judicial do seu país, com a oposição – onde quer que esta ainda exista – ou contra um grupo étnico ou social. Mas um ditador precisa de inimigos, pois a sua promessa de mudança carece de obstáculos para os quais ele possa surgir como providencial figura de resolução. Quando não existem obstáculos ou inimigos, inventam-se uns e outros. Como o ditador tem o controlo praticamente absoluto das estruturas de poder que normalmente fiscalizam e admoestam o governo – porque dele são independentes – não lhe é difícil inventar espantalhos que mobilizem a fúria popular e assim consolidem o seu domínio. Paradoxalmente, o pior que pode acontecer a um ditador é conseguir que a realidade finalmente coincida com a ideia

VADIM ZAKHAROV, THE GREAT DICTATOR

Valério Romão

faz da realidade desejável. Deixa de conseguir justificar as medidas excepcionais a que teria de recorrer acaso a discrepância cujo diagnóstico justifica a sua existência existisse. Imaginemos uma Alemanha nazi sem judeus, sem tratado de Versalhes, uma URRS sem kulaks, um Napoleão cuja Europa já lhe pertencesse. Se a vontade de

poder é o combustível do ditador, a ideia é o seu motor. E essa ideia pode ser tudo, desde que seja o contrário absoluto de um estado de coisas diagnosticado. É claro que nada disto funciona sem o apoio popular generalizado – pelo menos numa primeira fase. O «povo» é que de facto faz andar a máquina. O

Para enorme fortuna do ditador, o povo tem memória de peixe de aquário. Bastam duas gerações volvidas sobre um tremendo erro para, de repente, a mesma fórmula bafienta parecer de novo tremendamente atractiva

povo, na sua eterna propensão para confiar nos homens providenciais e a eles entregar o seu destino, faz de rodas. É ele que leva ditador e ditadura na direcção de uma sociedade sem ou de uma sociedade com (preencher a gosto). E, para enorme fortuna do ditador, o povo tem memória de peixe de aquário. Bastam duas gerações volvidas sobre um tremendo erro para, de repente, a mesma fórmula bafienta parecer de novo tremendamente atractiva. E do nada – aparentemente – lá surge um homem que parece estar tão fora da história como o divino para meter nos eixos um país prestes a descarrilar. Sigam-me para mais receitas.


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h

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FICÇÃO, ENSAIO, POESIA, FRAGMENTO, DIÁRIO

entre oriente e ocidente Gonçalo M. Tavares

Mulheres de Itália (10) Bibiana está em coma na cama do hospital, mas percebe que os filhos estão a repetir o nome dela para perceberem se ela está a ouvir. Ela faz toda a força para mexer um dedo, mas não deve ter conseguido porque os filhos continuam a repetir o seu nome no mesmo tom. Bice está com uma amiga a fazer símbolos fálicos gigantes nas mesas da sala de aula. Brigida é uma escultura consagrada, mas há meses que só consegue comer pão e ver programas de televisão estúpidos. Está a sempre a repetir ao marido que não está deprimida. Brigitta está ao lado do Presidente na reunião a fazer uma cara séria para mostrar que é responsável e está atenta, mas tem uma enorme dor nos pés por causa dos sapatos novos. Não sabe se vai aguentar a dor, mas não os pode tirar naquele momento. Bruna está quase a entrar no avião e leva na mão esquerda um terço que, apesar da vergonha, nunca larga. Os meus dedos é que precisam disto, não é a minha cabeça. Não é para rezar, diz Bruna como se pedisse desculpas a alguém. Brunilde acabou de se queimar, ao tirar um bolo de laranja do forno, e diz foda-se, tão alto, que o pai se levanta da mesa, vira as costas e vai para o quarto. Calogera está a fazer palavras cruzadas e as últimas duas que escreveu foram: carteiro e revolucionário; e por isso está a pensar se a melhor actividade para um revolucionário não será mesmo a de baralhar as moradas todas. Calpurnia depois de virar a esquina, olha para todos os lados, abre um botão da camisa e puxa a minissaia um pouco mais para cima. Olha depois para trás como se tivesse acabado de cometer um crime. Camelia está a jantar com o marido e a pensar que já não suporta vê-lo comer e ficar depois com restos de carne nos dentes. Camilla está com raiva do irmão mais velho e parte uma garrafa de vidro e ameaça cortar-lhe os testículos se ele voltar a persegui-lo quando ela sai com um amigo. Candida está a tentar acabar a tese de mestrado sobre o artista Robert Morris e pensa que se o tivesse conhecido talvez lhe tivesse dito para ele fazer uma caixa onde coubesse um corpo gordo como o dela e não apenas caixas para corpos magros como o dele. Capitolina está deitada enquanto lhe fazem a depilação.

ILUSTRAÇÃO ANA JACINTO NUNES


(f)utilidades 17

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DIAS TRÁGICOS

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S3 U D O K U 1 5 6 7 2 4 1

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HUM

Os Estados Unidos registaram 140.000 novos casos de covid-19 entre quarta e quinta-feira, elevando o total para 10.384.543 desde o início da pandemia, segundo uma contagem

5 1 4 12 54 7 8 4 6 2 7 61 7 6 3 4 77 5 9 1 3 2 4 7 3 5 68

C I N E M A

Cineteatro SALA 1

THE MOVIE DEMON SLAYER: 2NO YAIBA MUGEN KIMETSU TRAIN [C]

4 2 7

FALADO EM JAPONÊS LEGENDADO EM CHINÊS Um filme de: Sotozaki Haruo 14.30, 16.45, 19.15, 21.30 SALA 2

Um filme de: Jacob Chase Com: Azhy Robertson, Gillian Jacobs, John Gallagher Jr. 14.30, 16.30, 19.30, 21.30

3

SALA 3

THE WITCHES [B]

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Um filme de: Robert Zemeckis Com: Anne Hathaway, Octavia Spencer Stanley Tucci, 14.30, 16.30, 19.30, 21.30

8 7 6 2 5 5 7 7 1 5 3 6 4 2 8 4 2 6 1

COME PLAY [B]

SOLUÇÃO DO PROBLEMA 60

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PROBLEMA 1

47 56 2 3 1 4 5 7 3 1 52 4 7 6 632 28 2 3 19 4 5 5 7 6 5 876 3 2 4 26 1 6 24 76 1 2 755 3 4 7 6 4 72 6 5 3 4 5 1 7 8 9

3

MAX

45-85% ´

EURO

9.41

independente da Universidade Johns Hopkins. De acordo com os números contabilizados pela instituição até às 20h00 de quarta-feira, hora local, o país registou 240.857 mortes provoca-

BAHT

0.26

YUAN

1.20

das pela doença desde o início da pandemia. O número de infecções nos Estados Unidos tem vindo a aumentar, superando os 120 mil por dia na última semana.

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UM JOGO HOJE Há coisas que tão parvas que enervam e outras que só causam embaraço. O site de jogos anti-drogas do IAS é um misto das duas coisas. A infantilização de um problema social complexo é um insulto à inteligência, ao sofrimento e uma demonstração alucinada de amadorismo e falta de noção. Por um lado, castigam-se consumidores com penas draconianas, por outro lado

ANTIDRUGS.GOV.MO | INSTITUTO DE ACÇÃO SOCIAL a prevenção é feita como um trabalho de escola do 3º ano, cujo resultado final é uma cartolina colorida. Neste caso, o resultado é um cão a disparar contra outro cão mau numa bomba de gasolina, um concurso de dança, apreensão de droga num aeroporto. Tudo absurdo, infantil, inútil. Mais vale dizer sim às drogas. A todas, em simultâneo. João Luz

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THE WITCHES

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hojemacau. com.mo

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Propriedade Fábrica de Notícias, Lda Director Carlos Morais José Editores João Luz; José C. Mendes Redacção Andreia Sofia Silva; João Santos Filipe; Pedro Arede; Salomé Fernandes Colaboradores Anabela Canas; António Cabrita; António de Castro Caeiro; António Falcão; Ana Jacinto Nunes; Amélia Vieira; Duarte Drumond Braga; Emanuel Cameira; Gisela Casimiro; Gonçalo Lobo Pinheiro; Gonçalo M.Tavares; João Paulo Cotrim; José Drummond; José Navarro de Andrade; José Simões Morais; Luis Carmelo; Michel Reis; Nuno Miguel Guedes; Paulo José Miranda; Paulo Maia e Carmo; Rita Taborda Duarte; Rosa Coutinho Cabral; Rui Cascais; Rui Filipe Torres; Sérgio Fonseca; Valério Romão Colunistas António Conceição Júnior; André Namora; David Chan; João Romão; Jorge Rodrigues Simão; Olavo Rasquinho; Paul Chan Wai Chi; Paula Bicho; Tânia dos Santos Grafismo Paulo Borges, Rómulo Santos Agências Lusa; Xinhua Fotografia Hoje Macau; Lusa; GCS; Xinhua Secretária de redacção e Publicidade Madalena da Silva (publicidade@hojemacau.com.mo) Assistente de marketing Vincent Vong Impressão Tipografia Welfare Morada Calçada de Santo Agostinho, n.º 19, Centro Comercial Nam Yue, 6.º andar A, Macau Telefone 28752401 Fax 28752405 e-mail info@hojemacau.com.mo Sítio www.hojemacau.com.mo

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MÁRIO DUARTE DUQUE

RODNEY SMITH

Plano Director V

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M morfologia urbana importa tanto o que se concretiza, com as características e os atributos do que se concretiza. A tipologia urbana de espaço canal é caracterizada por um território rasgado por artérias onde os humanos circulam socialmente nas suas diversas formas de locomoção e de interacção urbana. A fronteira desses espaços constitui o limiar entre o público e o privado, e o mesmo significa territorialidade, segurança e privacidade. Naturalmente as configurações que disso podem resultar são diversas e as variações constituem manifestação cultural. Efectivamente, no espaço mediterrânico, o limiar desses canais era tendencialmente murado, e ainda é, independentemente de a edificação privada se estender, ou não, até esse limite.

Disso resultava resguardo da luz, da territorialidade e da privacidade, senão mesmo contenção da ostentação privada que não era bem vista, sendo isso o que ainda persiste nas culturas a sul e a este do Mediterrâneo. Assim, as construções tinham poucas portas e janelas que dessem directamente para o espaço público, e tinham cortinas necessariamente. Aí, o espaço público era estritamente o necessário, porque não era de fácil manu-

O espaço canal, formado principalmente por ruas (os segmentos), mas também por praças (os nós), definidos pelos seus planos marginais (o alinhamento das fachadas dos edifícios), passou a ser a modalidade mais generalizada de definição do espaço urbano

tenção, e nem sempre claro se o mesmo era de todos, ou antes, se era de ninguém. Foi também essa uma tradição que emergiu de densidades populacionais mais altas, i.e. onde a vida humana estava organizada em regimes de grande concentração e proximidade, numa cidade que representa o território em torno, e que se dedica a actividades predominantemente de entreposto comercial. Se nos distanciarmos desta realidade urbana ocidental, que sequer é estranha à oriental, e se progredirmos na direcção das tradições do norte europeu, que são as mesmas que proliferaram do outro lado do Atlântico, ao norte do continente americano, aí as ruas não são muradas sempre que a construção não se estende até ao limiar da rua, o espaço público abunda em climas onde é mais fácil manter estruturas de verde ambiental, e facilmente gera paisagem natural. É também uma tradição que emergiu de densidades populacionais mais baixas, onde poucas são as ruas que têm actividades comerciais. Aí, as construções já precisam de captar luz, as janelas são maiores e não se correm cortinas.

Nos países de religião predominantemente protestante, correr cortinas é antes visto como encobrimento de algo que não é socialmente aceitável. Em verdade, circular à noite nas ruas de uma cidade holandesa, onde abundam edifícios com habitação no rés-do-chão, a tentação de um estrangeiro é mesmo olhar para os interiores das casas. E de tudo isso chegam ainda manifestações dispersas aos nossos dias, tais como, quando alguém responde a um anúncio de uma propriedade em Portugal, a primeira pergunta que faz é se está murada. Ou a avó que visita a casa dos netos na Holanda e vê as cortinas corridas, a primeira coisa que faz é abri-las, por causa do que os vizinhos possam pensar. Em verdade, as dispersões das semelhanças destas tradições foram no passado mais em torno de um mar, de um rio, ou de um canal. Resulta por isso curioso que, no passado, os humanos já estiveram mais próximo de poderem ser nacionais de meios hídricos, nas margens dos quais se fixaram, do que dos territórios continentais que a partir dessas margens se estendiam. E tudo teve a ver com os caminhos que se percorriam, dos quais o caminho pelo meio hídrico já foi o mais fácil e o mais público. As tradições urbanísticas ocidentais do sul e do norte, muito embora norteadas pelo mesmo modelo clássico de urbanização, resultaram de diferentes densidades demográficas, onde numa, a escassez era mais a edificação, e noutra, a escassez era mais o espaço público. Foi a revolução industrial que veio homogeneizar essas diferentes demografias urbanas do mundo ocidental e, no final do séc. XIX, a ocupação dessas cidades já se caracterizava na generalidade pelo aproveitamento do solo com construção até aos limites do espaço privado. Assim, o espaço canal, formado principalmente por ruas (os segmentos), mas também por praças (os nós), definidos pelos seus planos marginais (o alinhamento das fachadas dos edifícios), passou a ser a modalidade mais generalizada de definição do espaço urbano. Em verdade, o território urbano onde a construção esporadicamente se elevava, passou a ser toda igualmente elevada, apenas esporadicamente perfurada no miolo do domínio privado por pátios ou saguões, para ventilação e entradas de luz, e rasgada no domínio público por fundos canais onde toda a vida social se concentrava e acontecia, fosse nas rotinas diárias, como nas ocasionais, fosse para ligações distantes ou próximas. As ruas passaram a ser o suporte mais elementar de toda a organização social e económica urbanas, às quais os residentes da cidade pertenciam como a uma nação, da mesma forma como já tinham pertencido no passado a um mar, um rio ou um canal. Continua…


opinião 19

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um grito no deserto PAUL CHAN WAI CHI

D

A multiplicidade da História

EPOIS de anos de trabalho árduo, a Direcção dos Serviços de Educação e Juventude (DSEJ) concluiu os trabalhos de publicação de um conjunto de 12 volumes da versão piloto dos materiais didácticos de “História”, do ensino secundário de Macau, compilados pelo Instituto de Curricula e Manuais Escolares da Imprensa para a Educação do Povo da China. Segundo os dirigentes da DSEJ, mais de 90 por cento das escolas de Macau usam estes materiais didácticos. A Imprensa para a Educação do Povo vai trabalhar em conjunto com a DSEJ para completar a tradução para inglês e publicar as versões em inglês e português dos materiais didácticos de “História”. Espera-se que estejam disponíveis para as escolas em 2021. Não existem quaisquer dúvidas sobre as capacidades da Imprensa para a Educação do Povo da China. A DSEJ também criou a Comissão de Apreciação para emitir pareceres sobre a versão piloto dos materiais didácticos de “História”, compilados pela Imprensa para a Educação do Povo, por isso estes manuais não deverão conter qualquer tipo de erros ou sofrer qualquer género de omissões. No entanto, a edição, publicação e distribuição ficam inteiramente a cargo da Imprensa para a Educação do Povo, estando obviamente a cargo dos seus funcionários o trabalho de compilação dos materiais. Com base na sua formação académica, irão inevitavelmente adoptar uma abordagem materialista da História, o que é naturalmente compreensível. Mas os estudantes e os professores devem ter consciência de que os manuais de História não são a própria História, sendo apenas um dos meios que nos permite compreendê-la. Desta forma, será mais adequado encarar a versão piloto dos materiais didácticos de “História” como uma das muitas opções a que as escolas têm acesso para o estudo desta disciplina. Na medida em que 90 por cento das escolas de Macau adoptaram a versão piloto dos materiais didácticos de “História”, podemos depreender que estas instituições em geral apoiam de forma entusiástica a DSEJ. Um dos objectivos do estudo da História é a procura da verdade. Autores com diferentes perspectivas da História podem ter interpretações diferentes dos factos e é difícil decidir qual é a melhor. Tal e qual como o pato à Pequim e o pato à Cantão, cada um com o seu sabor particular e cada um com os seus apreciadores. Como tal, é difícil assinalar quais os prós e contras da

versão piloto dos materiais didácticos de “História”, compilados pela Imprensa para a Educação do Povo. Mas, enquanto cidadão que vive em Macau, numa região onde vigora o princípio “Um País, Dois Sistemas”, permito-me dar a minha opinião sobre os conteúdos da versão piloto dos materiais didácticos de “História”. Por exemplo, na versão piloto dos materiais didácticos de “História” para o 3o ano de ensino secundário geral, dedicado à “História Mundial”, a legenda da foto do Muro de Berlim diz o seguinte, “Em 1961, a Alemanha de Leste criou um bloqueio militar em torno de Berlim Ocidental para impedir a saída dos cidadãos nacionais e impedir a invasão dos valores do Ocidente. Este bloqueio veio a dar

Os materiais didácticos de “História” são invariavelmente manuais orientados para uma formação validada por um exame final. Os Governos ao longo dos tempos vão ajustando os conteúdos dos manuais escolares. Por isso, para conhecer a História, é melhor começar por procurar a verdade

origem ao “Muro de Berlim”, que se veio a tornar o símbolo da divisão da Alemanha”. A frase “saída dos cidadãos nacionais”, tem uma conotação diferente da habitualmente usada, “deserção dos cidadãos nacionais”. Ao usar a palavra “saída”, é difícil de compreender porque é que quase duzentos alemães de leste perderam a vida enquanto tentavam escalar o Muro. “Muro de Berlim” em chinês, grafa-se“柏林圍牆” (Muro de Berlim serve para encerrar/ separar), o termo usado na versão piloto dos materiais didácticos de “História” é “柏林牆” (Muro de Berlim), omitindo o“ 圍”(serve para encerrar/separar), despindo o muro do seu propósito, que era precisamente encerrar e separar, tornando-o num muro vulgar pintado com toda a espécie de graffitis. Na parte electiva da versão piloto dos materiais didácticos de “História”, o volume que diz respeito às “Relações Internacionais, Globalização e Cooperação Regional”, apresentam-se questões mais complexas. O editor adopta o ponto de vista do académico americano John King Fairbank, usndo o “sistema tributário” como modelo básico para análise da ordem internacional no Extremo Oriente e para a ordem mundial da China, e conclui que a ordem internacional para o Extremo Oriente, tradicionalmente centrada na China, foi estabelecida no tempo da Dinastia Qin. Esta tese de John King Fairbank deu lugar a grande discussão nos meios académicos. Depois do estado de Qin ter unificado os

Ex-deputado e antigo membro da Associação Novo Macau Democrático

outros seis estados, o seu Imperador enviou 300.000 soldados para a região Norte e construiu a Grande Muralha para impedir as invasões estrangeiras e enviou mais 500.000 soldados para estabilizar a situação no Sul. Nestas acções, onde é que podemos encontrar o tal “sistema tributário”? Na alvorada da Dinastia Han, o Imperador ainda era obrigado a casar com uma princesa originária de uma das tribos estrangeiras e proceder à oferta de grandes quantidades de bens e mantimentos, para garantir a paz nas fronteiras. Durante o período da Dinastia Han Oriental, o vizinho Japão era ainda uma sociedade tribal. Nessa época, os tributos prestados pelas dezenas de auto-proclamados Reis do Japão, ao Imperador Han, reduziam-se a alguns punhados de escravos, mas em contrapartida os presentes do Imperador Han aos Reis japoneses eram abundantes. Na Dinastia Ming, as sete viagens empreendidas por Zheng He, como parte do esforço diplomático do Imperador, resultaram em perdas substanciais. É na verdade desadequado aplicar a expressão «sistema tributário» para explicar a ordem internacional no Extremo Oriente. Os materiais didácticos de “História” são invariavelmente manuais orientados para uma formação validada por um exame final. Os Governos ao longo dos tempos vão ajustando os conteúdos dos manuais escolares. Por isso, para conhecer a História, é melhor começar por procurar a verdade.


Ser companheiro vale mais do que ser chefe. Agostinho da Silva

Hong Kong Sulu Sou diz que Pequim “usou poder excessivo”

Liga chinesa Jiansu Suning campeão pela primeira vez

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deputado Sulu Sou considera que o Governo Central retirou direitos aos residentes de Hong Kong ao retirar o mandato de quatro deputados do campo pró-democracia do Conselho Legislativo (LegCo). “O Governo Central usou um poder excessivo para retirar o direito de muitos residentes de Hong Kong de escolher os seus representantes através de eleições democráticas, dentro do grau de autonomia prometido pelo Governo Central a Hong Kong”, disse à TDM – Rádio Macau. Sulu Sou adiantou também que a decisão tomada pelo Comité Permanente da Assembleia Popular Nacional (CPAPN) é um “grande sinal de aviso para o princípio um país, dois sistemas, não só em Hong Kong, mas também em Macau”. “O que aconteceu ontem – e nos últimos anos em Hong Kong – demonstra e faz com que muitas pessoas vejam que o princípio ‘um país, dois sistemas’ não é o que nós entendemos”, acrescentou. Para o deputado, “esta decisão pode tornar a sociedade menos pacífica e criar mais conflitos políticos e sociais em Hong Kong – não há dúvida”. No caso de Macau, Sulu Sou acredita que “não é necessário” aplicar tal medida, mas admite a existência de réplicas desta decisão. Tal pode acontecer caso “o Governo ou alguém da classe dirigente não tenha sabedoria e não compreenda a situação política de Macau”. “Não é algo que queremos ver”, concluiu.

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PALAVRA DO DIA

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Dez mãos dadas

COMÉRCIO CHINA E NAÇÕES DA ÁSIA E DO PACÍFICO COM MAIOR ACORDO MUNDIAL

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UINZE países da Ásia e do Pacífico devem assinar o maior acordo comercial do mundo, apoiado pela China, durante a cimeira da Associação das Nações do SudesteAsiático, que arrancou ontem. A Parceria Económica Abrangente Regional (RCEP, na sigla em inglês) é o maior acordo comercial do mundo em termos de Produto Interno Bruto (PIB). Este pacto foi proposto em 2012 e é visto como a reacção chinesa a uma iniciativa semelhante lançada pelos Estados Unidos e, entretanto, abandonada pelo Governo do Presidente cessante, Donald Trump. O acordo abrange dez economias do sudeste asiático, mais a China,

Japão, Coreia do Sul, Nova Zelândia e Austrália. “Depois de oito anos de negociações, sangue, lágrimas e suor, finalmente chegou a hora de selar o acordo”, disse o Ministro do Comércio da Malásia, Mohamed Azmin Ali, antes do início da cimeira, que se realiza via ‘online’, este ano, devido à epidemia do novo coronavírus. O primeiro-ministro do Vietname, Nguyen Xuan Phuc, também confirmou a assinatura do acordo esta semana.

INFLUÊNCIA CRESCENTE

A Índia tinha previsto aderir a este pacto comercial sem precedentes, mas decidiu, no ano passado, retirar-se, temendo uma invasão de produ-

tos chineses baratos no seu mercado interno. Nova Deli reservou, porém, a opção de aderir a este acordo posteriormente. O RCEP, cujos membros representam 30 por cento do PIB global, constitui um “grande passo para a liberalização do comércio e dos investimentos” na região, disse Rajiv Biswas, economista-chefe para a Ásia e Pacífico da consultora IHS Markit. A assinatura do acordo surge num contexto de crise económica, devido à epidemia da covid-19. Este pacto comercial também é amplamente visto como uma forma de a China ampliar a sua influência na região, após o isolacionismo adoptado pelos Estados Unidos, durante a presidência de Donald Trump.

CASO NAVALNY RÚSSIA APLICA SANÇÕES À ALEMANHA E FRANÇA

A

Rússia adoptou sanções contra altos funcionários alemães e franceses em resposta às restrições impostas pela União Europeia a seis autoridades russas e a uma entidade que acredita terem estado envolvidas na tentativa de assassínio do opositor Alexei Navalny. “As sanções vão afectar altos cargos das administrações dos líderes da Alemanha e França”, afirmou

ontem o ministro russo dos Negócios Estrangeiros, Serguei Lavrov, em conferência de imprensa por videoconferência com meios de comunicação russos e estrangeiros. Segundo a agência Interfax, os visados são os chefes de gabinete da chanceler alemã, Angela Merkel, e do Presidente francês, Emmanuel Macron. “Tendo em conta que a promotora de sanções comu-

nitárias em relação a [Alexei] Navalny [opositor russo envenenado] foi aAlemanha e que afectam directamente altos funcionários da administração presidencial da Rússia, as nossas sanções serão recíprocas”, disse Lavrov. Segundo relatou, as sanções russas também vão afectar a França, já que a lista da UE foi preparada com base numa proposta conjunta de Paris e Berlim.

Essa lista, segundo Bruxelas, incluía “evidências” sobre o envenenamento de Navalny em Agosto passado com um agente tóxico do grupo Novichok, uma substância química soviética proibida. Lavrov observou que as sanções russas já foram adoptadas e vão ser anunciadas “em breve” às partes afectadas.

Jiansu Suning sagrou-se ontem pela primeira vez campeão chinês de futebol, depois de vencer no segundo jogo da final o Guangzhou Evergrande, que detinha o título, por 2-1, em Suzhou. Depois do nulo no primeiro embate, o italiano Éder deu vantagem ao Jiansu Suning aos 45+3 minutos, numa altura em que o Guangzhou Evergrande já actuava com menos uma unidade, por expulsão de He Chao (45+1). Na segunda parte, logo aos 47 minutos, o brasileiro Alex Teixeira aumentou a vantagem, enquanto o Guangzhou Evergrande ainda conseguiu reduzir a diferença os 61, por Wei Shihao. O Jiansu Suning, comandado pelo romeno Cosmin Olaroiu, festejou o primeiro título chinês de sempre, depois de já ter sido vice-campeão em 2012 e 2016, precisamente atrás do Guangzhou Evergrande, agora treinado pelo italiano Fabio Cannavaro. Esta temporada, o campeonato chinês teve uma fase regular mais curta, com as equipas dividas em dois grupos, e depois foi decidido através de ‘play-off’, devido à pandemia da covid-19. O Shanghai SIPG, do téccnico Vítor Pereira, terminou a prova no quarto lugar, enquanto o Wuhan Zall, que contou com o central Daniel Carriço, que fez 11 jogos e marcou um golo, ficou no 15.º e penúltimo lugar.


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