DIRECTOR CARLOS MORAIS JOSÉ
TERÇA-FEIRA 13 DE DEZEMBRO DE 2016 • ANO XVI • Nº 3715
MOP$10
EUA/CHINA
Quando o telefone mossa GRANDE PLANO
PUB
Antes da tempestade PÁGINA 4
CASO HO CHIO MENG VIAGENS E CASA MARCAM O DIA
CINEMA
FITAS DA DANÇA EVENTOS
ADVOGADOS
Valente presidente PÁGINA 9
O luxo e o lixo
hojemacau
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PAULO JOSÉ MIRANDA
TUDO´ EM FAMILIA
O segundo dia do julgamento do ex-procurador de Macau ficou marcado pela acusação de que Ho Chio Meng e a família terão feito uma viagem à Dinamarca - e a outros países euro-
peus - paga pelo Ministério Público. Junta-se a isto, a utilização de uma vivenda em Coloane para uso pessoal e familiar com custos anuais estimados em meio milhão de patacas.
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AGÊNCIA COMERCIAL PICO • 28721006
LEI ELEITORAL
2 GRANDE PLANO
As relações entre Pequim e Washington aqueceram na última semana com o telefonema entre Donald Trump e a Presidente de Taiwan. O Presidente eleito usou esta manobra como pressão para renegociar acordos de comércio, e forçar a China a rever políticas cambiais e a posição em relação à Coreia do Norte O magnata de Nova Iorque comentou que não tem de respeitar a política “uma só China”, a não ser que se redesenhem as relações no plano do comércio externo
EUA PRESIDENTE ELEITO CAUSA POLÉMICA COM DECLARAÇÕES SOBRE “UMA SÓ CHINA”
TRUMP E A FOR
E
M entrevista à Fox News, o presidente eleito Donald Trump questionou numa assentada as relações entre a China e os Estados Unidos da América ao dizer que não tem de respeitar a política “uma só China” defendida por Pequim. Acrescentou ainda que não aceita que um país dite com quem deve falar ao telefone. O rastilho diplomático acendeu-se com um telefonema da presidente Tsai Ing-wen a congratular Trump pela vitória nas eleições, algo que à partida parece inócuo, mas que representa um acto inédito em termos diplomáticos desde a administração de Jimmy Carter. As reacções não se fizeram esperar. Desde as várias sensibilidades entre políticos cimeiros do Partido Republicano à Casa Branca e, claro, a Pequim. Em primeira instância, o Governo Central relativizou o contacto telefónico, retratando-o como um pequeno truque político de Taiwan. O Ministro dos Negócios Estrangeiros chinês, Wang Yi, afirmou não acreditar estar iminente uma mudança de política de Washington em relação a Pequim, em declarações à Phoenix TV de Hong Kong. “A política ‘uma só China’ é a fundação do relacionamento saudável nas relações sino-americanas, algo que espero não se venha a deteriorar”, acrescentou Wang Yi. Curiosamente, no dia do polémico telefonema, em Pequim reuniam-se Xi Jinping e Henry Kissinger, o antigo secretário de Estado das administrações Nixon e Ford, para promover as relações China-Estados Unidos. Tudo como dantes? O analista de política internacional Arnaldo Gonçalves acha que a situação está a ser exacerbada fora do seu verdadeiro relevo. “É natural que quando um Presidente é eleito se façam contactos informais. Taiwan é aliado dos Estados Unidos desde a 2ª Grande Guerra Mundial”, relativiza. O analista realça a “posição de princípio da
China, que considera Taiwan uma província renegada, com a qual não mantém relações políticas”, apesar de manterem contactos permanentes no plano comercial. É, portanto, uma situação híbrida, que não é clara, que se junta à dúbia posição norte-americana nas relação de forças em jogo na região. Para Francisco Leandro, coordenador do Instituto dos Estudos Sociais e Jurídicos da Universidade de São José, “parece haver uma mudança de paradigma na política externa norte-americana, para uma visão mais mercantilista, quase num prisma neo-realista, muito na base dos interesses nacionais”. O analista considera que as boas relações são do interesse de ambas as potências, e que “ninguém ganharia nada com um escalar bélico, militar ou económico, nem a China, nem a Formosa, nem os Estados Unidos da América”. A Casa Branca tentou, de imediato, apaziguar as tensões diplomáticas reiterando a posição oficial da administração Obama, ou seja, de manter intactas as relações externas em relação à política “uma só China”. A administração norte-americana também alertou para o perigo de, ao se exacerbar a questão de Taiwan, correr-se o risco de colocar em cheque os progressos diplomáticos conseguidos nas últimas décadas entre Washington e Pequim. Na verdade, a questão de Taiwan continua a ser uma embrulhada internacional, um paradoxo. Ao mesmo tempo que existe uma cooperação com os americanos em questões de segurança, a Casa Branca mantém intacta a posição firmada com a China, desde a administração Nixon, acerca da questão formosina. Mike Pence, o vice-presidente eleito, e bombeiro de serviço, veio a terreiro relativizar as palavras de Trump, ao afirmar que “apenas se tratou de uma chamada de cortesia”, semelhante ao telefonema com o Presidente Xi Jinping. “Não foram discussões de substância e não me parece que haverá uma mu-
“É natural que quando um Presidente é eleito se façam contactos informais. Taiwan é aliado dos Estados Unidos desde a 2ª Grande Guerra Mundial.” ARNALDO GONÇALVES ANALISTA
dança de política nesta matéria”, afirmou o ainda governador do Indiana ao Meet the Press. Reince Priebus, que será nomeado como chefe de pessoal da Casa Branca, também meteu água na fervura, desdramatizando toda a questão como um simples exercício de cordialidade. O próprio Trump considerou que seria uma indelicadeza não receber a chamada da líder de Taiwan.
SEGUIR O DINHEIRO
Não há coincidências, muito menos em política. Neste capítulo é de realçar que o único antigo candida-
3 hoje macau terça-feira 13.12.2016 www.hojemacau.com.mo
MOSA CHAMADA to republicano à Casa Branca que apoiou abertamente a campanha de Trump, Bob Dole, é hoje lobista numa firma que tem como cliente a diplomacia de Taiwan. O antigo político foi um dos homem de bastidores por detrás da chamada polémica. A firma onde trabalha recebeu 140 mil dólares para estabelecer uma ponte entre o recém Presidente eleito e Tsai Ing-wen. A informação foi revelada pelo New York Times, ao abrigo da legislação sobre o registo de agentes estrangeiros. O antigo candidato republicano às eleições de 1996 não escondeu em entrevista ao Wall
“Ninguém ganharia nada com um escalar bélico, militar ou económico, nem a China, nem a Formosa, nem os Estados Unidos da América.” FRANCISCO LEANDRO ANALISTA
Street Journal a sua influência na chamada. “Quando representamos um cliente, supostamente temos de responder aos seus pedidos”, revelou Dole. O cliente em questão é o departamento de representação económica e cultural de Taiwan, uma espécie de gabinete diplomático do território. De acordo com o ex-político, o seu cliente está muito satisfeito e optimista em relação às futuras relações com Washington. Outro aspecto económico por detrás do suposto faux pas diplomático está relacionado com comércio externo. Ainda na entrevista à Fox News, Trump revela que o que está em causa não será, exactamente, uma posição de princípio. O magnata de Nova Iorque comentou que não tem de respeitar a política “uma só China”, a não ser que se redesenhem as relações no plano do comércio externo. Como é seu hábito, Trump levou estas questões para o Twitter e aproveitou para se referir à possível manipulação cambial do yuan, como uma forma de concorrência desleal que deverá ser travada durante a sua administração. O magnata afirmou várias vezes na campanha que a desvalorização da moeda chinesa em relação ao dólar é uma tragédia para a economia americana. Ironia das ironias, as próprias declarações de Trump tiveram como consequência a desvalorização do yuan. Esta parece ser outra condição ligada à manutenção da política externa com a China. No fundo, Taiwan está a ser usada como arma de arremesso para questões económicas, e para pressionar Pequim a ser mais inflexível com o regime de Kim Jong-un.
ÀS ARMAS
Com o avançar das declarações de Donald Trump, a China resolveu mostrar o seu músculo militar. Na semana passada, um
bombardeiro Xian H-6, com capacidade nuclear, sobrevoou a disputada “nine dash line”, em torno do Mar do Sul da China, passando por uma série de ilhas com soberania disputada. Um claro sinal para a futura administração Trump, apesar de não representar propriamente uma novidade. É de recordar que os Estados Unidos também enviaram uma mensagem similar a Pyongyang com dois bombardeiros U.S. B-1 a sobrevoar a Coreia do Sul no passado mês de Setembro. Foi a resposta de Washington aos testes nucleares realizados pelo regime norte-coreano. Outra das questões que Donald Trump quer rever em matéria internacional, e para a qual “a China pode fazer mais”. Para o especialista Arnaldo Gonçalves, estas “manobras são normais, e funcionam para intimidar a outra parte”. O investigador prevê que Washington faça também “exercício militares juntamente com o Japão, ou a Austrália, numa jogada do habitual xadrez geopolítico”. Outra questão de máximo interesse foi a possibilidade de levantar o protecção em termos nucleares ao Japão e à Coreia do Sul. Donald Trump repetiu várias vezes durante a campanha que “quem quer segurança tem de a pagar”. Um assunto muito sensível, com “muito maior repercussão para a própria Ásia, e de vital importância no Conselho de Segurança da OUN”, comenta Francisco Leandro. Por um lado, “esta posição poderia ser encarada pela China como um certo desanuviar da sua vizinhança, mas por outro os chineses estão também muito interessados no equilíbrio”. O académico considera que não estão em causa apenas os interesses de segurança da Coreia do Sul e do Japão, mas de toda a lógica asiática, até extensiva à Euro-Ásia.
DIZ-ME COM QUEM ANDAS
Para já, no panorama internacional ainda nos movemos em total
imprevisibilidade, restando aos analistas políticos interpretar as nomeações que o magnata nova-iorquino fará. Nesse capítulo, Trump também dá uma no cravo e outra na ferradura. Se, por um lado, nomeou o Governador do Iowa Terry Branstad como embaixador norte-americano em Pequim, um político com ligações próximas a Pequim, por outro, John Bolton tem sido um nome muito mencionado na campanha como uma forte possibilidade para ocupar um lugar de destaque no Departamento de Estado. O antigo oficial da administração de George W. Bush tem sido um dos defensores de uma abordagem mais dura nas relações sino-americanas. Em declarações ao Wall Street Journal em Janeiro último, Bolton defendeu a tomada de uma posição musculada para travar a “agressividade militar chinesa nos mares do Este e Sul da China”. Nesse sentido, o possível nomeado considera útil uma “escalada diplomática como, por exemplo, receber uma visita de Estado da diplomacia de Taiwan na Secretaria de Estado da Casa Branca, no sentido de reconhecer a soberania da região”. Algo que seria tomado por Pequim como uma total afronta, e um romper com a linha de cooperação estabelecida nas últimas décadas. São nomeações que deixam todos os cenários em aberto, seja no plano económico, ou bélico. Por enquanto, ainda só temos o famoso telefonema. Para Francisco Leandro, “é algo que faz parte do jogo, e não tem importância por aí além, mas não nos podemos esquecer que houve coisas que se disseram na campanha que não se podem repetir”. O académico vê este episódio como a marcação de um penálti. Quem marca ameaça para um lado para ver para onde o guarda-redes cai. Vejamos se a bola entra.
4 POLÍTICA
hoje macau terça-feira 13.12.2016
Lei eleitoral GOVERNO QUIS “EVITAR TEMPESTADE” COM DECLARAÇÃO DE FIDELIDADE
Antes que o localismo nos separe O parecer que dá por concluída a análise na especialidade às alterações da lei eleitoral confirma que o Governo quis fazer “uma preparação antes da tempestade”, ao obrigar os candidatos às eleições a fazerem uma declaração de fidelidade. Nem todos os deputados aceitam a mudança
A
chamando a atenção para a “inexistência de incidentes similares aos acontecidos na região vizinha”. O HM tentou contactar vários deputados eleitos pela via directa, mas apenas Au Kam Sam e Song Pek Kei estiveram contactáveis. Au Kam Sam representa a voz dos que não concordam com este aditamento. “É completamente desnecessário quando já existe a obrigatoriedade de declarar o respeito à Lei Básica e à RAEM. Não vejo nenhuma necessidade para o estabelecimento deste mecanismo de confirmação antes da eleição. O que aconteceu em Hong Kong levou a uma interpretação por parte do Governo Central, mas em Macau não aconteceu nada”, referiu. Para o deputado pró-democrata, “o Governo bajulou de forma errada o Governo Central”. “Se a interpretação da lei feita por Pequim sobre Hong Kong foi necessária
também gerou algumas dúvidas. Esta medida envergonha a política “Um Pais, Dois Sistemas”, e vai trazer mais discussões e processos desnecessários.” Já Song Pek Kei diz tratar-se de um procedimento natural. “Depois do que aconteceu em Hong Kong é normal que o Governo tenha algumas preocupações. Sobre a declaração de finalidade não acho que seja um grande problema.”
COMISSÃO CONCORDOU
Perante esta explicação, “a comissão concorda com a opção legislativa do Governo”, não sendo levantada nenhuma questão sobre a natureza desta “fidelidade”, que tem sido entendida como estando relacionada com questões de soberania, apesar de a secretária para a Administração e Justiça já ter dito que se aplica a qualquer ideia que contrarie “o texto da Lei Básica”.
A apreciação desta declaração, cuja sinceridade será avaliada pela Comissão dos Assuntos Eleitorais que terá em conta, por exemplo, opiniões manifestadas anteriormente pelos candidatos, será “jurídica e não política”, já que a Lei Básica prevê a sua defesa e a fidelidade à Região Administrativa Especial de Macau (RAEM) da República Popular da China (RPC) “como deveres legais que os candidatos (…) devem cumprir”. “A assinatura da declaração é um requisito (…) que os candidatos à AL devem satisfazer, facto que não deve ser equiparado à liberdade de expressão ou à censura política. Isto porque a liberdade de expressão trata-se de um direito dotado pela Lei Básica mas não é, ao mesmo tempo, um direito absoluto”, lê-se no parecer. “Os que recusem declarar que defendem a Lei Básica da RAEM da RPC ou que, por factos comprova-
dos, não defendam a Lei Básica” de Macau “ou não são fiéis à RAEM” são considerados inelegíveis, indica o documento. Noutro capítulo, das incompatibilidades, o assunto volta a ser mencionado: “Ser fiel à RPC e à RAEM é um conceito completo, isto é, não se pode separar”. À lista de incompatibilidades dos deputados foi acrescentada a impossibilidade de ocupar cargos na administração de um Estado estrangeiro, incluindo de se candidatar a um cargo político. Tal aplica-se também a deputados que não tenham nacionalidade chinesa. “Estes deputados não estão isentos do dever constitucional de serem fiéis à RAEM da RPC só porque possuem nacionalidade estrangeira”, esclareceu o Governo à comissão, de acordo com o parecer. HM/LUSA
GCS
declaração de fidelidade dos candidatos a deputados em Macau, aditada à lei eleitoral depois do caso dos independentistas de Hong Kong, surgiu como “preparação antes da tempestade”, justificou o Governo à comissão da Assembleia Legislativa (AL) que analisou o diploma. “Segundo os representantes do Governo, aproveitando a oportunidade de alterar a presente lei, pode haver uma boa preparação antes da tempestade e a adopção de ‘medidas de prevenção em tempos de tranquilidade’”, lê-se no documento. No parecer sobre a revisão da lei pode ler-se que apenas um dos dez deputados que compõem a comissão que analisa o diploma manifestou reservas quanto a este ponto, argumentando que Macau “actualmente é harmoniosa” e
EDIFÍCIOS DO GOVERNO AO ABANDONO LEVAM AU KAM SAN A PEDIR JUSTIFICAÇÕES
O
deputado Au Kam San pede explicações ao Governo relativas ao abandono de espaços públicos e à sua não rentabilização. Para o deputado, é necessário que o Executivo explique o abandono dos espaços que detém, uma vez que continua a pagar rendas elevadas a proprietários privados para
o aluguer de escritórios afectos aos serviços públicos. Em interpelação escrita, Au Kam Sam refere o relatório do Comissariado deAuditoria acerca do planeamento e construção dos escritórios que irão albergar serviços públicos. “O relatório indica que ao longo dos últimos dez anos foram gastos cerca de cinco mil mi-
lhões de patacas para alugar edifícios privados que servem de escritórios do Governo”, lê-se no documento. Este montante de despesa levanta problemas: “as Obras Públicas não respondem de forma activa às opiniões dos departamentos relacionados com as finanças sobre a construção de um edifício para os
serviços públicos num momento em que a estrutura do Governo se está a expandir”. O facto dos cofres públicos estarem recheados, devido às receitas do jogo dos últimos dez anos, têm feito com que o Governo não se preocupe com despesas desnecessárias. “Isso quer dizer que se pode gastar sem contar o dinhei-
ro?”, questiona o deputado. Relativamente aos edifícios do Governo que estão abandonados, Au Kam San faz referência, a título de exemplo, à denúncia já apontada por Ng Kuok Cheong sobre a Igreja de S. Domingos. “Está abandonada desde 2006. Quanto é que já se perdeu em rendas com este espaço que não
tem uso?” Para o deputado as perdas podem ir já nos 10 milhões de patacas. Au Kam San pretende ainda saber quem é o responsável pela gestão dos edifícios abandonados e quem se vai responsabilizar pelas perdas que têm tido por não se aproveitar a propriedade pública. Angela Ka (revisto por SM)
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AL ALTERAÇÕES À LEI DA DROGA E LEI ELEITORAL VOTADAS ESTA SEMANA
IMPOSTOS MACAU ASSINA ACORDO COM ESTADOS UNIDOS
Foi ontem publicado em Boletim Oficial um despacho que dá conta da assinatura de um Acordo InterGovernamental entre o Governo de Macau e os Estados Unidos ao nível do cumprimento de obrigações fiscais em contas externas. Segundo a Autoridade Monetária e Cambial de Macau (AMCM), o acordo “tem em vista a implementação desta legislação americana, cujo objectivo reside no combate à evasão fiscal por parte por cidadãos norte americanos.” A AMCM garante ainda que o acordo “será assinado em breve, seguindo-se a sua implementação”.
Os últimos cartuchos
Os deputados reúnem esta semana para votar vários diplomas, onde se incluem as alterações à lei da droga e lei eleitoral. Será ainda votado o orçamento para o próximo ano
Em que é que ficamos?
“No caso das lojas que não estão integradas neste regime, o Conselho dos Consumidores nada pode fazer, não pode interferir para exigir às lojas que resolvam as questões em causa. Resta aos consumidores avançarem para tribunal”, lamenta.
pefacientes. O parecer da comissão encarregue da análise deste diploma, na especialidade, faz mesmo referência à “postura do século passado” adoptada pelo Governo. Os deputados vincaram ainda que há 50 anos que “não existe em Macau uma pena de prisão tão elevada para o crime de consumo”. Também esta quinta-feira é votado na especialidade o aumento do subsídio de residência, além de que, na agenda, está ainda prevista a votação, na generalidade, das alterações ao Código Penal ao nível dos crimes sexuais. As mudanças visam a criminalização do assédio e o estabelecimento de três novos crimes ao nível da “importunação sexual”, prostituição e pornografia com menores.
UMA DATA
VAMOS A VOTOS
Si Ka Lon quer mais lojas certificadas e lei dos consumidores
O
deputado Si Ka Lon entende que a Administração deve ser mais pró-activa na divulgação junto dos comerciantes das vantagens de adesão ao programa das lojas certificadas. Numa interpelação escrita ao Executivo, o tribuno mostra-se preocupado também com o facto de não haver uma data para a submissão da proposta de lei dos direitos do consumidor. Na missiva, Si Ka Lon começa por recordar que o regime das lojas certificadas foi estabelecido em 2001. “Serve para distinguir os estabelecimentos comerciais em que, no último ano, não se tenham verificado quaisquer incidentes ou disputas com os clientes. É uma forma de enaltecer as lojas que cumprem as leis”, escreve. O esquema existe há 15 anos mas, para o deputado, o número de estabelecimentos que aderiram ao programa deixa muito a desejar. “Foram menos de 1500 as lojas aderentes e apenas cerca de mil obtiveram a certificação”, aponta. “Para facilitar a fiscalização dos estabelecimentos comerciais de Macau, as autoridades devem promover plenamente a integração das lojas neste regime”, sublinha Si Ka Lon, destacando que, em caso de desentendimentos entre comerciantes e clientes, a certificação facilita a resolução dos problemas, através do mecanismo de arbitragem de conflitos do consumo.
POLÍTICA
O deputado pretende obter do Governo explicações sobre o modo como vai ser promovida a certificação de lojas, recordando que a protecção não se aplica apenas aos consumidores: “Também os comerciantes podem defender melhor os seus interesses”. Na interpelação, Si Ka Long pergunta ainda quando é que o Executivo vai avançar com um calendário para a revisão da legislação dos direitos dos consumidores. “No relatório das Linhas de Acção Governativa diz-se que a proposta já está feita e que se vai avançar com o processo legislativo”, nota. A consulta pública sobre a revisão do regime da defesa dos direitos e interesses do consumidor foi concluída em 2014. No ano passado, os Serviços de Economia diziam que a proposta iria estar pronta ainda em 2105, e que o processo legislativo deveria ter início em Novembro. Mais de um ano depois, ainda não se sabe quando dará entrada na Assembleia Legislativa. Angela Ka
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A
Assembleia Legislativa (AL) volta reunir esta quinta e sexta-feira para votar algumas propostas de lei antes do período de férias natalícias e do fim de mais um ano. Um dos diplomas que será votado na generalidade, já esta quinta-feira, é a proposta de lei que estabelece alterações à lei de “proibição da produção,
do tráfico e do consumo ilícitos de estupefacientes e de substâncias psicotrópicas”, também conhecida como lei da droga. O conteúdo final desta proposta de lei, que está em processo de revisão há cerca de três anos, continua a não gerar consenso no seio dos deputados, que consideram excessivo o aumento das penas para o consumo de estu-
Esta sexta-feira terá lugar o segundo debate da semana, o qual servirá para votar, na generalidade, as alterações à Lei Eleitoral para a AL. Os deputados irão decidir se aprovam, ou não, um diploma que irá obrigar os candidatos às eleições a fazerem uma declaração de fidelidade à RAEM, à Lei Básica e à República Popular da China. Caberá ainda à Comissão para os Assuntos Eleitorais a análise do perfil do candidato, havendo a possibilidade de muitos ficarem afastados da corrida eleitoral. O mesmo debate serve ainda para votar, na especialidade, o orçamento para o próximo ano. Os deputados já apontaram, no parecer sobre a proposta de orçamento, que o plano de investimentos públicos para 2017 é “extremamente ambicioso”. “Trata-se, sem dúvida, de um plano de investimentos públicos extremamente ambicioso e porventura de difícil alcance a uma taxa de execução orçamental elevada ou mesmo razoável”, concluíram. No orçamento para 2017 o Plano de Investimentos e Despesas de Desenvolvimento da Administração (PIDDA) aumenta 37,8 por cento para 15.256 milhões de patacas. Nesse sentido, constata-se no parecer que “a baixa taxa de execução orçamental do PIDDA no ano em curso – de 28,7% – no período de Janeiro a Outubro (…) faz antever que transitem para 2017 parte das acções de investimento não realizadas anteriormente”. HM
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hoje macau terรงa-feira 13.12.2016
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SOCIEDADE
DAVID CHOW ANO NOVO CHINÊS COM HOTEL LEGEND PALACE
O
novo empreendimento hoteleiro da Doca dos Pescadores, o Legend Palace, deve ser inaugurado antes do ano novo chinês, ou seja, até 27 de Janeiro. É pelo menos esta a expectativa de David Chow, presidente da Macau Legend Development. Em declarações ao jornal Ou Mun, o empresário explicou que, neste momento, as Obras Públicas e o Turismo já estão a fazer vistorias na obra. Em meados de Janeiro, o
hotel deverá começar a operar, para uns dias depois ser oficialmente inaugurado. O Legend Palace tem mais de 220 quartos. David Chow espera que possa contribuir para a dinamização do sector de exposições e convenções do território, sendo que, para esta área de negócios, tem já um novo projecto associado ao hotel: a construção de um pavilhão. O pedido para o projecto vai ser submetido no próximo mês ao Governo.
Entretanto, o empresário vai voltar à carga com a ideia da construção de um pontão de protecção a embarcações de recreio, um projecto que foi chumbado em Outubro passado. David Chow explica que o abrigo marítimo terá capacidade para receber 40 iates e diz também que já chegou a entendimento com várias empresas do sector. O empresário pronunciou-se sobre as receitas do jogo, dizendo que acredita que
Trabalho ESTUDO REVELA AUMENTO NA VONTADE DE MUDANÇA DE EMPREGO
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E preciso mudar de ares Um estudo realizado pela Associação de Gestão de Macau mostra que a vontade dos residentes em mudar de posto de trabalho é cada vez maior, sobretudo para os que trabalham no sector do jogo. A maioria nunca foi promovida na empresa, devido à instabilidade da economia
N
UMA sociedade onde existe uma situação de pleno emprego, a satisfação no trabalho não parece ser notória. É o que revela um estudo da Associação de Gestão de Macau, referente ao panorama da mobilidade no trabalho em Macau este ano. A percentagem de inquiridos que têm uma intenção clara de mudar de emprego subiu de 13,7 por cento em 2015 para 26 por cento este ano. Os motivos apontados prendem-se com a insatisfação em relação ao salário, o sistema de previdência e as limitações em termos de ascensão na carreira. São ainda apontadas razões como o stress da profissão e a perspectiva negativa do futuro desenvolvimento da empresa. Metade dos inquiridos que desejam mudar de emprego quer entrar em sectores tido como estáveis, como a administração pública, o sector bancário ou o sector do jogo. O inquérito revela que 30 por cento dos inquiridos que trabalham no sector do jogo, hotéis e associações afirmam que têm vontade de mudar de emprego no próximo ano. Menos de dez por cento dos funcionários públicos inquiridos revelam vontade de mudar de emprego. O estudo mostra ainda que o número de inquiridos que “têm incerteza sobre o plano de mudança de emprego” baixou de 46,3 por cento no ano passado para 19,3 por cento em 2016.
Há três anos que a Associação de Gestão de Macau realiza este estudo, sendo que, este ano, um total de 1308 entrevistas foram realizadas entre os meses de Agosto e Dezembro. Os empregados entrevistados têm entre 21 e 35 anos, sendo que 60 por cento está no actual emprego há menos de três anos, o que
sugere uma elevada mobilidade profissional dos residentes.
POUCA SUBIDA
Em relação à progressão na carreira, mais de 60 por cento dos inquiridos referiram que não receberam qualquer promoção nos últimos dois anos, sendo que 34,6 por cento garantiram
Os motivos apontados prendem-se com a insatisfação em relação ao salário, o sistema de previdência e as limitações em termos de ascensão na carreira
que nunca foram promovidos na empresa onde trabalham. O mau desempenho das empresas, aliado ao contínuo agravamento do ambiente económico desde 2014 (altura em que as receitas do jogo começaram a cair), são as razões encontradas para a pouca promoção dos trabalhadores, pois muitas empresas terão optado por adiar temporariamente a expansão dos seus negócios, tendo também diminuído as suas operações. Mais de 70 por cento dos inquiridos têm uma expectativa negativa quanto ao mercado de trabalho, enquanto 77 por cento têm experiência em termos de mudança de trabalho. Já 80 por cento dos entrevistados confirmaram que já mudaram de emprego mais de duas vezes. Em comunicado, a Associação de Gestão de Macau, uma entidade que promove cursos de formação profissional, sugere que sejam dadas aulas de planeamento futuro nas escolas secundárias, por forma a ensinar os alunos a terem objectivos profissionais e a fazerem uma avaliação do seu trabalho. É ainda sugerida uma revisão dos salários e do sistema de segurança social, bem como a construção de um meio de comunicação entre patrões e empregados, para que se possam manter os funcionários na mesma empresa. Angela Ka (revisto por A.S.S) info@hojemacau.com.mo
se chegou a um período de estabilidade. Mas, para o presidente da Macau Legend Development, é mais importante apostar na diversificação da oferta turística. Chow considera que seria uma mais-valia a construção de um túnel entre o aeroporto de Zhuhai e a fronteira da Ilha da Montanha, uma obra acompanhada por uma cooperação estreita entre os aeroportos de Macau e da cidade vizinha.
A ver no que isto dá Ambrose So cauteloso em relação a novas medidas
S
Ó quando a nova política entrar em vigor é que vai ser possível avaliar o real impacto da novidade. É assim que Ambrose So, presidente do conselho de administração da Sociedade de Jogos de Macau (SJM), reage aos novos limites que o Governo pretende impor relativos ao transporte de dinheiro para quem entra no território. Em declarações à imprensa em língua chinesa, o responsável começou por lembrar que a notícia da proposta de lei teve consequências negativas para as operadoras cotadas em bolsa. “Psicologicamente, a medida tem impacto”, admite, ressalvando, no entanto, que é preciso esperar para ver quais serão os efeitos efectivos. No início deste mês, o Conselho Executivo anunciou que estava concluída a proposta de lei que obriga à declaração nas fronteiras do transporte de dinheiro no valor igual ou superior ao equivalente a 120 mil patacas. Ambrose So reagiu também às novas regras para o levantamento de dinheiro com cartões da China UnionPay nas máquinas ATM de Macau – desde sexta-feira que só é possível levantar cinco mil patacas de cada vez, sendo que se mantêm os limites de 10 mil patacas por dia e de 100 mil por ano. Apesar de os analistas do sector acreditarem que não vai ter repercussões para os casinos, o presidente do conselho de administração da SJM acredita que a medida poderá ter influência no segmento de massas. Mas, mais uma vez, “é necessário aguardar para se poder fazer uma avaliação”.
JAPÃO NÃO PREOCUPA
Questionado sobre o processo de legalização do sector do jogo no Japão, Ambrose So explicou que o mercado nipónico não tem um peso significativo em Macau. “Os clientes dos casinos do território chegam sobretudo da China Continental”, recordou. “Os clientes japoneses não ocupam uma proporção significativa.” De qualquer modo, acrescentou o responsável, a legislação sobre a matéria no Japão ainda vai demorar algum tempo até estar concluída. Num futuro mais próximo, a concorrência nipónica poderá não ter qualquer importância para Macau mas, a longo prazo, “o cenário pode ser diferente”, afirma ainda Ambrose So, uma vez que o território vai passar por um processo de renovação das licenças. “Depende das condições que forem criadas. É prematuro tentar fazer agora uma previsão”, concluiu.
8 SOCIEDADE
hoje macau terça-feira 13.12.2016
Caso Ho Chio Meng MP PAGOU VIAGENS À EUROPA COM A FAMÍLIA
Cavaleiro da Dinamarca O antigo procurador da RAEM confirmou em tribunal que o Ministério Público pagou uma viagem que fez à Dinamarca a título oficial, tendo Ho Chio Meng aproveitado para conhecer outros países da Europa, acompanhado da família, com o mesmo orçamento
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O segundo dia do julgamento de Ho Chio Meng, o ex-procurador continuou a negar que cometeu os crimes de que é acusado, mas, segundo a Rádio Macau, admitiu ter viajado em família com o dinheiro do Ministério Público (MP). A Rádio Macau, que esteve presente na sessão de julgamento, conta que o ex-procurador fez uma viagem oficial à Dinamarca, em 2005, mas aproveitou para conhecer outros países europeus com a família. A acusação referiu que tudo foi pago pelo MP, e Ho Chio Meng não negou. Este afirmou no Tribunal de Última Instância (TUI) que assinou o despacho que autorizou o pagamento de todos os gastos, mas disse que pagou o bilhete de avião do seu sobrinho e que recebeu o aval do então Chefe do Executivo, Edmund Ho, para realizar a viagem. Ho Chio Meng disse mesmo que Edmund Ho lhe desejou “Boa sorte. Boa viagem”. As despesas terão sido superiores a 500 mil patacas, montante que excedeu o limite previsto. Ainda assim, Ho Chio Meng referiu que não sabia a forma como as despesas foram liquidadas no seio do MP. A autorização de Edmund Ho para a viagem levou Sam Hou Fai, actual presidente do TUI, a questionar as razões para essas despesas terem sido pagas em prestações e estarem associadas a facturas que, segundo a Rádio Macau, estavam ligadas a viagens fantasma a países como a Tailândia e Singapura.
VIVENDA PARA TODOS
Na sessão de ontem falou-se ainda de uma vivenda localizada em Cheoc Van, Coloane, que durante 14 anos serviu de hospedagem ao MP. A acusação defende que a casa serviu de residência a Ho Chio Meng e à sua família, algo que o antigo procurador refutou. Ao recusar a acusação, disse lamentar nunca ter informado o actual procurador do MP, Ip Son Sang, da existência da vivenda.
IC EFECTUA ANÁLISE ÀS ESTÁTUAS DAS RUÍNAS DE SÃO PAULO Hoje, no período compreendido entre as 7h00 e as 18h00, o Instituto Cultural estará a realizar um estudo de conservação das estátuas das Ruínas de São Paulo, pelo que serão colocados andaimes junto à fachada das ruínas. Contudo, tal operação não vai afectar o normal funcionamento das ruínas ou do Museu de Arte Sacra e Cripta.
ILHA VERDE INCÊNDIO DESTRUIU PARTE DO ANTIGO CONVENTO
Ocorreu no passado domingo um incêndio no parque de estacionamento da montanha localizada na Ilha Verde, levando à destruição de parte do convento jesuíta, actualmente em ruínas. Segundo o comunicado divulgado pelo Instituto Cultural (IC), a estrutura do antigo convento não ficou afectada, sendo que apenas uma parte da parede ficou danificada. O IC confirmou que dá toda a atenção a este local e que tem vindo a trocar opiniões com outros departamentos públicos quanto à protecção do convento e árvores antigas, bem como à manutenção da montanha, que actualmente constitui um terreno privado cheio de sucata e lixo.
HABITAÇÃO EMPRÉSTIMOS SOBEM 16,3 POR CENTO
Ho Chio Meng disse ter cometido “um erro”, já que, se tivesse acompanhado o “actual líder do MP” numa visita ou “organizado um barbecue” para delegados do procurador, “talvez não tivesse sido acusado” de mais de 1500 crimes. A acusação afirma que a vivenda vinha a ser usada como habitação pessoal de Ho Chio
Ho Chio Meng disse mesmo que Edmund Ho lhe desejou “Boa sorte. Boa viagem.”
Meng e a família nos últimos dez anos. Uma rusga, realizada em Abril, levou à descoberta de vários objectos pessoais do antigo procurador. A habitação representava, para o MP, uma despesa de meio milhão de patacas anuais. O contrato de arrendamento da habitação chegou ao fim em Dezembro de 2014, ano em que Ho Chio Meng deixou de ser procurador da RAEM, e só aí este terá, segundo o próprio, habitado efectivamente a casa. Num ano e quatro meses não pagou qualquer renda, admitiu em tribunal, pois tinha a intenção de adquirir a casa. Ho Chio Meng levou para tribunal uma lista de pessoas
que, de facto, terão ficado hospedadas em Coloane, tendo referido ainda que foi em Cheoc Van que várias “personalidades” lhe falaram da eleição para o cargo de Chefe do Executivo, isto no ano de 2009. De frisar que o nome de Ho Chio Meng chegou a ser apontado como eventual candidato. O MP recebeu uma ordem de despejo da vivenda por parte do proprietário, quando Ho Chio Meng já se encontrava preso preventivamente. Hoje Macau
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Os novos empréstimos para a compra de casa cresceram 16,3 por cento em Outubro em relação ao mesmo mês de 2015 e caíram 46,5 por cento na comparação com Setembro. Segundo as estatísticas da Autoridade Monetária de Macau (AMCM), os bancos concederam 2,9 mil milhões de patacas em empréstimos, dos quais 97,9 por cento a residentes de Macau. Os empréstimos a residentes subiram 15,6 por cento em relação a Outubro de 2015, mas desceram 47 por cento em relação a Setembro. A não residentes foram concedidos 61,2 milhões de patacas – mais 62,9 por cento em termos anuais e menos 5,2 por cento em termos mensais. Os novos empréstimos comerciais para actividades imobiliárias aprovados em Outubro atingiram 6,2 mil milhões de patacas – menos 32,6 por cento face ao período homólogo do ano passado. Em termos mensais, registou-se uma descida de 31,3 por cento, indica a AMCM. O saldo bruto dos empréstimos hipotecários para habitação correspondia a 178,6 mil milhões de patacas, enquanto o dos comerciais alcançou 171,5 mil milhões de patacas, no final de Outubro.
9 hoje macau terça-feira 13.12.2016
JORGE NETO VALENTE CONTINUA À FRENTE DA ASSOCIAÇÃO DOS ADVOGADOS DE MACAU
Prevenir um mal maior HOJE MACAU
A Associação dos Advogados de Macau foi a votos e mais de 90 por cento dos membros concordaram com a ideia de que Jorge Neto Valente deve continuar a liderar a entidade. A grande prioridade para o novo mandato é “contribuir para evitar o desprestígio da justiça”
SOCIEDADE
H
Á uma linha de continuidade, mas existe também uma renovação na constituição dos órgãos sociais da Associação dos Advogados de Macau (AAM). A entidade de direito público conseguiu chamar novas pessoas. “Espera-se que venham imprimir algum dinamismo à continuidade”, afirmou Jorge Neto Valente ao HM. Em termos gerais, no que toca à direcção, há apenas três membros que vinham já do passado, entre eles Neto Valente, presidente da direcção, e o secretário-geral, Paulino Comandante. Como vogais, a direcção passa a ter, além de Álvaro Rodrigues, os advogados Oriana Pun, Bruno Nunes, Chu Lam Lam e Regina Ng. O resultado das eleições foi anunciado ontem. O acto serviu para eleger não só os órgãos sociais da AAM, mas também o Conselho Superior de Advocacia. Em nota à imprensa, explica-se que, “apesar de se apresentarem a sufrágio apenas listas singulares, a assembleia eleitoral, realizada no passado dia 6, contou com 257 advogados votantes, sendo considerados nulos 15 votos”. O mesmo comunicado indica que cerca de 94 por cento dos eleitores expressaram apoio aos candidatos. Ainda no que diz respeito à AAM, a mesa da assembleia-geral continua a ser liderada por Philip Xavier, que vai ter como secretários Leong Hon Man e Lei Wun Kong. Quanto ao conselho
fiscal, mantém-se Rui Cunha na presidência e Diamantino Ferreira como vogal, sendo que Francisco Leitão se junta ao órgão na qualidade de vogal. Quanto ao Conselho Superior de Advocacia, é constituído por dois grupos: com mais de dez anos de exercício da profissão no território estão Frederico Rato, Sou Sio Kei e Artur Robarts (como substitutos Luísa Empis de Bragança, Leong Weng Pun e Kuong Iok Kao); com menos de dez anos, Diane Aguiar, Rita Martins e José Liu (Cheang Seng Cheong, Lou Sio Fong e José Abecasis são os substitutos).
PROTOCOLO PARA RETOMAR
Entre os principais objectivos para o novo mandato, Neto Valente destaca o impulso aos mecanismos de arbitragem, bem como o estabelecimento de um centro de arbitragem “na linha da plataforma entre a China e os países lusófonos”. A direcção pretende ainda prosseguir com a formação, para “continuar a elevar o nível dos profissionais”, e garantir a saúde
financeira da associação, que não tem, até à data, dado quaisquer problemas, segundo explica o presidente. Ainda no que diz respeito ao funcionamento da AAM, está já planeada a construção de um novo site. Existe ainda a possibilidade de ser restabelecida a relação com a Ordem dos Advogados Portugueses”. O protocolo entre as duas entidades tem estado suspenso. A associação de Macau está já a trabalhar para que haja uma maior colaboração.
“A prioridade é evitar o desprestígio contínuo da justiça que, na minha opinião, se verifica perante a sociedade e a opinião pública” JORGE NETO VALENTE PRESIDENTE DA ASSOCIAÇÃO DOS ADVOGADOS DE MACAU
A ideia não é só facilitar o acesso dos advogados portugueses ao mercado de trabalho do território, é permitir que o movimento aconteça em sentido inverso. “Tem havido uma tendência para advogados de Macau se querem inscrever na Ordem em Portugal e isso passa por estabelecer uma relação privilegiada com a Ordem dos Advogados Portugueses”, indica Neto Valente.
O PROBLEMA DA LEI DE BASES
Quanto ao estado do sector, o presidente da AAM – uma das vozes mais críticas do modo como tem evoluído – diz que o grande objectivo do mandato é “contribuir para evitar o desprestígio da justiça”. Neto Valente desdobra a ideia com um exemplo, que considera prioritário: a alteração à Lei de Bases da Organização Judiciária. “Só quando surgem episódios é que se lembram dessa alteração”, lamenta. “Mas não está na nossa mão. Se estivesse, há muito que tinha sido alterada”, afiança. Em causa está, mais uma vez, o julgamento de um arguido que, à data dos factos, tinha um estatuto
equiparado ao dos titulares dos principais cargos. O ex-procurador Ho Chio Meng está a ser julgado em primeira instância no Tribunal de Última Instância, sem possibilidade de recurso das decisões do colectivo de juízes. O mesmo problema já se tinha verificado aquando do julgamento do antigo secretário para os Transportes e Obras Públicas, Ao Man Long, detido há dez anos. Jorge Neto Valente conta que, no ano passado, fez um apelo ao responsável pelo TUI, para que os vários intervenientes no sector se juntassem e discutissem a questão, mas a sugestão caiu em saco roto. “Por isso é que digo [que a prioridade] é evitar o desprestígio contínuo da justiça que, na minha opinião, se verifica perante a sociedade e a opinião pública”, sublinha. “A justiça não tem estado a ser prestigiada, pelo contrário.” Isabel Castro
isabelcorreiadecastro@gmail.com
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Estreia PRIMEIRA EDIÇÃO DE FESTIVAL DE CINEMA DEDICA
EVENTOS
As linhas do vizinho
“Actos de Design Não-Identificados” hoje na Casa Garden
O
festival This is My City mostra hoje à tarde, na Casa Garden, um conjunto de oito curtas-metragens sobre o que de melhor se faz em Shenzen em termos de design. O projecto “Actos de Design Não-Identificados” foi apresentado o ano passado na Bienal de Arquitectura e Urbanismo de Shenzen e serviu de preparação para a abertura de uma galeria do Museu Victoria & Albert na segunda metade do próximo ano, no Museu de Design de Shekou, em Shenzen. O projecto nasceu de uma colaboração entre o museu e a China Merchants Shekou (CMSK) para apoiar o estabelecimento de uma nova plataforma virada para o design, intitulada Design Society, com abertura em Shenzen em 2017. Ao HM, Luísa Mengoni, ex-curadora de Arte Chinesa no Museu Victoria & Albert, falou um pouco do projecto. “O que vamos ver hoje é o resultado de uma pesquisa e entrevistas feitas em Shenzen, as quais visaram captar a essência
e a natureza destes projectos. Para além de um trabalho de pesquisa feito em estúdios de design, visitamos fábricas e workshops. Tentamos mostrar um pouco mais do que é feito em Shenzen para além do que conhecemos.”
ESTREITAR LAÇOS
Com uma ligação óbvia a Hong Kong, devido à proximidade geográfica, a ideia é que se possam estabelecer laços também com Macau na área do design. “Estou muito satisfeita com o convite que nos foi endereçado pela organização do TIMC. Para nós é uma boa oportunidade para começar algum tipo de colaboração com Macau e talvez desenvolver cooperações futuras. Uma das coisas que realmente queremos fazer em Shenzen é tornar o Delta do Rio das Pérolas uma rede de ligação com instituições relevantes em termos de design, criatividade e inovação. Sem dúvida que há uma oportunidade de colaboração com Macau.” Convidada a comentar o mercado dos designers
locais, Luísa Mengoni considera que é fundamental estabelecer mais laços com Hong Kong e o continente. “A primeira vez que vim para Shenzen em 2012, participei numa exposição que recebeu designers de Macau e Hong Kong. A minha ideia do que se faz em Macau é que é crucial estabelecer uma rede de ligações mais profunda. É muito importante encorajar a criatividade e a inovação, o ambiente digital tem vindo a tornar-se muito proeminente. Estabelecer um diálogo é a melhor maneira de fazer isso acontecer.” “Há vários desenvolvimentos em termos de design nestas regiões e é importante ter em conta os contextos históricos”, disse ainda Luísa Mengoni. A galeria do Museu Victoria & Albert será dedicada aos projectos de design que têm sido feitos ao longo dos séculos XX e XXI, sendo também uma plataforma de formação de profissionais nesta área.
À VENDA NA LIVRARIA PORTUGUESA PRESOS • Oliver Jeffers
Tudo começou quando o papagaio do rapaz ficou preso numa árvore. Mas o verdadeiro problema surgiu quando ele atirou um sapato para soltar o papagaio e este também ficou preso na árvore. Seguiram-se uma escada, um balde de tinta, um orangotango e uma baleia, que se encontrava no sítio errado à hora errada. E isto foi apenas o início de tudo. Se ao menos o rapaz conseguisse ter uma ideia que o ajudasse a resolver as coisas…
Andreia Sofia Silva
andreia.silva@hojemacau.com.mo
BAILAO NO A primeira edição do “Rollout Dance Filme Fest” está prestes a começar, um festival de cinema todo ele dedicado à arte da dança. O HM falou com Erik Kwong, organizador da iniciativa, que deu a conhecer a ideia, o objectivo e a satisfação pela adesão internacional dos filmes que estarão em competição
“Rollout Dance Film Fest” é o festival dedicado ao cinema que aborda a arte de dançar e que arranca com a sua primeira edição a partir de sexta-feira. “A ideia deste tipo de festivais, com temas mais circunscritos, já fervilha na Europa e mesmo no Brasil mas na Ásia ainda não é comum” explicou Erik Kwong, organizador da iniciativa, ao HM. Apesar de não ser frequente no continente asiático, Erik Kuong é “experiente” neste género de eventos. “Já fazia uma série de actividades e projecções que envolviam cinema e dança, mas em Hong Kong”, explicou, sendo que a ideia de trazer um festival mais coeso e consistente a Macau sempre foi algo que teve em mente. Por outro lado, dada a sua ligação às artes, e sendo
RUA DE S. DOMINGOS 16-18 • TEL: +853 28566442 | 28515915 • FAX: +853 28378014 • MAIL@LIVRARIAPORTUGUESA.NET
PERDIDO POR XANGAI • Pedro Paixão
A narração de uma viagem registada a vários níveis: física, psíquica e histórica. Nela se conjugam descobertas e aventuras pessoais, meditações sobre a condição humana e sobre a diferença de modos de vida, reflexões sobre a convicção comunista e o regime chinês em particular. Assim, o narrador pode passar de espectador de uma luta de grilos numa ruela de Xangai, a tentar compreender o fascínio que o povo chinês tem tradicionalmente pelo o jogo, à ocupação chinesa do Tibete e ao desaparecimento do Panchen Lama. É por isso um livro que compreende informação, emoção e detalhes da forma de vida oriental no seu embate com o ocidente, na nova capital do planeta: Xangai. Os textos são ilustrados por uma série de fotografias originais captadas pelo autor nas suas viagens àquela cidade chinesa.
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ADO À DANÇA
hoje macau terça-feira 13.12.2016
EVENTOS
LIVRO MORAIS JOSÉ E A INVEJA DE BERNARDO VASQUES
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também júri dos filmes que estarão em competição, Erik Kuong considera que a ideia de fazer o festival no território é também uma “forma de mostrar a curadoria local de uma forma mais internacional”. A paixão pela dança vem essencialmente enquanto forma de expressão. O desafio passa por mostrar uma arte através da outra, aliando o movimento da performance às imagens do cinema. “É dar uso à linguagem do corpo através da linguagem da imagem filmada”, referiu.
UM INÍCIO FELIZ
Relativamente ao números de aderentes na secção de competição, o responsável não podia estar mais satisfeito. “A organização recebeu cerca de 150 filmes vindos de 35 países. Foi muito bom e ficámos muito surpreendidos. Temos também um júri internacional constituído por seis elementos: um da Austrália, um do Brasil, um de Singapura, um de Hong Kong, um elemento que apesar de ser também de Hong Kong, vive em Macau e eu”. O contentamento é igualmente manifestado no que respeita ao mérito artístico das películas a serem exibidas.
“A qualidade dos filmes que recebemos foi muito além das nossas expectativas”, expressou ao HM.
FIM-DE-SEMANA EM MOVIMENTO
O evento tem um prelúdio. A ideia é cativar o interesse e a curiosidade do público local. Para o efeito teve lugar, ontem, a projecção de “Dress to
see”, um filme do realizador local Tomas Tse. “A intenção é começar com o que se faz no território anfitrião”, explicou Erik Kuong. Oficialmente, o “Rollout Dance Film Fest” tem início sexta-feira com o filme de abertura. A escolha incidiu em “Mr Gaga”, o documentário que retrata a vida e o trabalho do coreógrafo israelita Ohad
Naharin. No dia de arranque haverá também uma presença local com uma projecção extra, desta feita de “Wanderland”, um filme realizado por Cloe Lao. O sábado vai ser preenchido com a exibição dos 60 filmes que passaram a selecção inicial e que abrangem o cinema e a dança vindos de todo o mundo. O filme vencedor receberá 1000 dólares americanos. Segundo Erik Kwong, “apesar de não ser uma quantia muito avultada, representa uma ajuda para a promoção do filme, essencialmente no estrangeiro.” Além do prémio do júri, o festival conta ainda com a atribuição de uma distinção para um filme escolhido pelo público. Por último, “no domingo vamos ter secções dedicadas à Europa, ao Brasil e contamos com um documentário de HK. Tentamos que o programa seja acessível a todos para cativar as audiências. Queremos chegar ao público em geral”. De Macau, concorreram um total de seis filmes que estão seleccionados e “esta pode ser uma forma de cativar mais a produção local não só na dança, mas também no cinema associado a esta forma de arte”, explicou Erik Kwong. Para o organizador esta pretende ser a primeira edição de muitas: “Queremos no futuro encomendar trabalhos para que possam participar e integrar, queremos ser um Festival Internacional”. Sofia Mota
sofiamota.hojemacau@gmail.com
apresentado hoje em Macau o mais recente livro de Carlos Morais José, “O Arquivo das Confissões – Bernardo Vasques e a Inveja”. A obra, editada pela Livros do Oriente, foi lançada em Lisboa, durante o Fórum do Livro de Macau, que decorreu entre 24 de Outubro a 4 de Novembro. “No início do século XIX, um padre católico permite a leitura de uma dessas confissões a um pastor protestante, em troca de uma garrafa de aguardente, numa taberna do cais de Singapura. O documento narra a história do homem que, devorado pela Inveja, roubou na Ilha de Moçambique um livro de versos ao que considerava ser o maior poeta português da sua época. Absorvido pela obra e pelo crime, empreende uma estranha viagem pelos confins da Ásia e da sua mente, que o levará, de infâmia em infâmia, até aos pés de um confessor, na Igreja da Madre de Deus, em Macau, onde procura a absolvição e o esquecimento”, lê-se na contracapa da obra. “Como poderia admitir Bernardo PUB
Vasques a existência de outrem que possuía em demasia o talento que ele tanto se esforçava por ter? Em que consiste, afinal, essa paixão retorcida, deusa esverdeada, aguilhão da História, a que damos o nome de Inveja?”, continua o texto de apresentação. Sobre “O Arquivo das Confissões – Bernardo Vasques e a Inveja”, o escritor e crítico literário Fernando Sobral escrevia, há alguns dias, num texto publicado no Jornal de Negócios, que é “um dos mais fascinantes e perturbadores livros” que leu “nos últimos anos”. Nascido em Lisboa, Carlos Morais José é licenciado em Antropologia e reside em Macau desde 1990. É director do Hoje Macau e proprietário da editora Livros do Meio. Tem vários livros publicados. A apresentação de hoje está a cargo de Carlos André, director do Centro Pedagógico e Científico da Língua Portuguesa do Instituto Politécnico de Macau. O lançamento está marcado para as 18h30, na Fundação Rui Cunha.
12 CHINA
hoje macau terça-feira 13.12.2016
OMC CHINA PRONTA PARA DEFENDER ESTATUTO INTERNACIONAL
Parceiro incómodo
Na véspera do prazo de expiração de uma cláusula do tratado de adesão da China à Organização Mundial do Comércio (OMC), Pequim terá que defender o seu novo estatuto de economia de mercado perante os demais sócios, que se negam a reconhecê-la como tal com medo de uma enxurrada de produtos a preço de custo
C
OMPLETOU-SE ontem o décimo quinto aniversário da adesão da China à OMC, num contexto marcado pela desconfiança geral em relação às exportações chinesas, em especial dos Estados Unidos, onde o presidente eleito, Donald Trump, ameaça impor direitos alfandegários de 45 por cento, informa o Jornal de Angola. Nos termos do seu protocolo de adesão, os países membros da OMC podiam até esta data tratar Pequim como uma “não economia de mercado”, o que implicava a possibilidade de impor ao país duras tarifas anti-dumping, com o argumento de que
os preços da China não reflectem a realidade do mercado. Mas nem os Estados Unidos, nem a União Europeia ou o Japão tinham a intenção de abolir o seu arsenal anti-dumping a partir de 12 de Dezembro: a China terá que iniciar um longo processo na OMC se pretender impor-se aos seus sócios, explicam especialistas em comércio internacional. “A China tomará medidas para defender os seus direitos se os membros da OMC continuarem com as velhas práticas anti-dumping contra produtos chineses após a data de expiração” da cláusula, advertiu na semana passada o
porta-voz do Ministério chinês do Comércio, Shen Danyang, citado pela agência Nova China, em reacção ao anúncio do Japão, um dia antes, sobre a manutenção da sua taxação dos produtos chineses.
PROTECCIONISMO DISFARÇADO
“A China passará automaticamente ao estatuto de economia de mercado” em 11 de Dezembro, segundo a agência oficial chinesa. A negativa de outras potências de reconhecer este estatuto a Pequim não é “senão um proteccionismo disfarçado, o que vai contra a corrente da globalização e envenena a recuperação da economia mundial”, acusou,
denunciando que o Ocidente aplica dois pesos e duas medidas em relação à China. Para Washington, no entanto, a concessão do estatuto de economia de mercado não é, nem pouco mais ou menos, automática e as cláusulas anti-dumping do protocolo de adesão permanecem intactas. “Os Estados Unidos continuam preocupados com os graves desequilíbrios do dirigismo chinês, como as super capacidades de produção, especialmente no sector de aço e alumínio”, insistiu o Departamento de Comércio dos EUA. “A China não fez as reformas necessárias para funcionar conforme as regras de mercado.” Por isso, Washington continuará a aplicar métodos de cálculo alternativos para determinar as margens de dumping chineses, prometeu o Departamento de Comércio, apoiado pela Aliança de Manufactureiros Americanos (AAM), segundo a qual o excedente comercial da China custou 3,2 milhões de empregos nos Estados Unidos desde a adesão de Pequim à OMC. Em Bruxelas, o enfoque foi um pouco diferente: a Comissão Europeia anunciou no mês passado um novo método para combater o dumping, que não se dirigiria mais especificamente contra a China, mas poderia ser aplicado a todo o país suspeito de vender a preço de custo. Mas os vinte e oito membros da organização estão divididos e a proposta, denunciada por Pequim, não pode ser aprovada antes do limite do prazo de 11 de Dezembro pelos Estados-membros da UE, nem pelo Parlamento Europeu. Em qualquer caso, enquanto o órgão regulador do comércio internacional não der o seu veredicto definitivo sobre a interpretação da famosa cláusula, “a UE e os demais membros da OMC poderão continuar a tratar a China como não economia de mercado que é”, considera Milan Nitzschke, porta-voz da Aegis Europe, uma organização que reúne cerca de 30 indústrias europeias.
6,5% ESTUDO META DE CRESCIMENTO EM 2017
A
China deveria determinar uma meta de crescimento económico de cerca de 6,5 por cento para 2017, embora seja bastante provável que o país consiga superar esse nível, afirmou esta segunda-feira o Centro Estatal de Informação. O centro é um instituto de pesquisa oficial afiliado à Comissão Nacional de Desenvolvimento e Reforma, um importante órgão de planeamento económico. A sugestão da meta de crescimento surgiu num artigo publicado pelo China Securities Journal. A recomendação foi feita no momento em que os principais líderes se preparam para uma reunião este mês para definir a agenda económica e de reformas para 2017 durante a Conferência Central de Trabalho Económico. “Em 2017, as operações económicas da China precisarão de intensificar os esforços para aliviar contradições arraigadas e problemas estruturais”, disse o centro, destacando o mercado imobiliário, capital social e riscos financeiros regionais entre suas maiores preocupações. A economia da China cresceu 6,7 por cento no terceiro trimestre em relação ao ano anterior e deve alcançar a projecção do governo para o ano de 6,5 a 7 por cento, face às despesas mais altas do governo, um boom imobiliário e empréstimos bancários recordes.
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VENDAS DE AUTOMÓVEIS BATEM RECORDE MENSAL
As vendas de automóveis na China, o maior produtor e comprador de veículos desde 2009, subiram 16%, em Novembro, face ao mesmo mês do ano passado, estabelecendo um novo recorde, revelou ontem uma associação do sector. No conjunto, venderam-se 2,94 milhões de carros, monovolumes e utilitários, um novo “recorde de vendas” mensal no país, detalhou em comunicado a Associação de Fabricantes de Automóveis da China (CAAM). Entre Janeiro e Novembro, venderam-se 24,9 milhões de automóveis na China, ultrapassando o número total de vendas em 2015. O crescimento do mercado automóvel chinês tem recuperado, desde o início do ano, depois de o Governo ter anunciado uma redução do imposto sobre as vendas de carros passageiros.
13 REGIÃO
hoje macau terça-feira 13.12.2016
TAILÂNDIA NOVO REI PERDOA PRISIONEIROS
O
novo rei da Tailândia decretou uma amnistia de larga escala a prisioneiros, no seu primeiro gesto de “misericórdia” como monarca, após a morte do pai. O rei Bhumibol Adulyadej morreu em Outubro, aos 88 anos, após sete décadas de reinado, deixado o país politicamente instável sem uma figura unificadora. O seu único filho, Vajiralongkorn, de 64 anos, foi proclamado rei este mês. No entanto,
o monarca, divorciado três vezes, não reúne o mesmo nível de devoção que o pai, em parte devido aos rumores sobre a sua vida privada. A amnistia foi a “primeira oportunidade [de Vajiralongkorn], desde que sucedeu ao trono, de demonstrar misericórdia”, de acordo com um comunicado publicado no domingo na Gazeta Real, próxima do Palácio. Sob o reinado de Bhumibol, os perdões eram eventos anuais. Mulheres detidas por primeiros crimes, presos que já cumpriram um terço das suas penas e prisioneiros com deficiências ou doença graves foram alguns dos amnistiados. O decreto não indica quantas pessoas vão ser libertadas.
O
De mãos dadas
S governos da Índia e da Indonésia acordaram ontem cooperar de forma mais próxima no combate ao terrorismo e na segurança marítima na região, no âmbito da primeira visita oficial do Presidente indonésio, Joko Widodo, a Nova Deli. “Acordámos cooperar para garantir a segurança nas vias marítimas […] e a nossa colaboração também se estenderá à luta contra o terrorismo, a delinquência organizada, as drogas e o tráfico de pessoas”, afirmou o primeiro-ministro indiano, Narendra Modi, numa declaração após um encontro bilateral com o chefe de Estado indonésio. O Presidente da Indonésia, um “aliado estratégico” da Índia, reuniu-se também com o seu homólogo india-
Índia e Indonésia aprofundam cooperação contra terrorismo
“A nossa colaboração também se estenderá à luta contra o terrorismo, a delinquência organizada, as droga e o tráfico de pessoas.”
no, Pranab Mukherjee, durante a visita de Estado, que se prolonga até esta terça-feira. Durante o encontro, que decorreu ontem na capital indiana, Nova Deli, os líderes destes países do sul asiático decidiram concluir o memorando de entendimento sobre cooperação marítima entre a Indonésia e a Índia, no sentido de “fortalecer e acelerar ainda mais” a sua colaboração nesta matéria. “A cooperação marítima é um dos pilares mais importantes para melhorar as relações bilaterais”, assinalaram, num comunicado conjunto. O primeiro-ministro indiano também transmitiu “sinceras condolências” à Indonésia pela centena de vítimas mortais registadas após o terramoto que atingiu a província indonésia de Aceh na quarta-feira passada.
JOKO WIDODO PRESIDENTE INDONÉSIO
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EDITAL
Edital n.º :154/E-BC/2016 Processo n.º :683/BC/2011/F Assunto :Demolição de obra não autorizada pela infracção às disposições do Regulamento de Segurança Contra Incêndios (RSCI) Local :Rua da Alfândega n.º 10, Edf. Man Fai, parte do terraço sobrejacente à fracção 5.º andar B, Macau. Cheong Ion Man, subdirector da Direcção dos Serviços de Solos, Obras Públicas e Transportes, no uso das competências delegadas pelo Despacho n.º 12/SOTDIR/2015, publicado no Boletim Oficial da RAEM n.º 38, II série, de 23 de Setembro de 2015, faz saber que ficam notificados o(s) dono(s) da obra ou seu(s) mandatário(s) e os utentes do local acima indicado, cujas identidades se desconhecem, do seguinte: 1.
Na sequência da fiscalização realizada pela DSSOPT, apurou-se que no local acima indicado realizaram-se as seguintes obras não autorizadas: Obra 1.1
Infracção ao RSCI e motivo da demolição
Construção de suporte metálico e cobertura de vidro na parte Infracção ao n.º 4 do artigo 10.º, obstrução do caminho de do terraço sobrejacente à fracção 5.º andar B. evacuação.
2.
De acordo com o n.º 1 do artigo 95.º do RSCI, aprovado pelo Decreto-Lei n.º 24/95/M, de 9 de Junho, foi realizada, no seguimento de notificação por edital publicado nos jornais em língua chinesa e em língua portuguesa de 12 de Setembro de 2016, a audiência escrita dos interessados, mas estes não apresentaram qualquer resposta no prazo indicado e não foram carreados para o procedimento elementos ou argumentos de facto e de direito que pudessem conduzir à alteração do sentido da decisão de ordenar a demolição das obras não autorizadas acima indicadas.
3.
Sendo as escadas, corredores comuns e terraço do edifício considerados caminhos de evacuação, devem os mesmos conservar-se permanentemente desobstruídos e desimpedidos, de acordo com o disposto no n.º 4 do artigo 10.º do RSCI. Assim, nos termos do n.º 1 do artigo 88.º do RSCI e no uso das competências delegadas pela alínea 6) do n.º 1 do Despacho n.º 12/SOTDIR/2015, publicado no Boletim Oficial da RAEM n.º 38, II série, de 23 de Setembro de 2015, e por despacho de 01 de Dezembro de 2016 exarado sobre a informação n.º 09562/ DURDEP/2016, ordena ao(s) dono(s) da obra ou seu(s) mandatário(s) que procedam, por sua iniciativa, no prazo de 8 dias contados a partir da data da publicação do presente edital, à demolição das obras acima indicadas e à reposição do local afectado, bem como aos interessados e aos utentes que procedam à remoção de todos os materiais e equipamentos nele existentes e à desocupação do local acima referido, devendo, para o efeito e com antecedência, apresentar nesta DSSOPT o pedido da demolição da obra ilegal, cujos trabalhos só podem ser realizados depois da sua aprovação. A conclusão dos referidos trabalhos deverá ser comunicada à DSSOPT para efeitos de vistoria.
4.
Findo o prazo da demolição e da desocupação, não será aceite qualquer pedido de demolição da obra acima mencionada. De acordo com o n.º 2 do artigo 139.º do Código do Procedimento Administrativo, aprovado pelo Decreto-Lei n.º 57/99/M, de 11 de Outubro, notifica-se ainda que nos termos dos n.os 1 e 2 do artigo 89.º do RSCI, findo o prazo referido, a DSSOPT, em conjunto com outros serviços públicos e com a colaboração do Corpo de Polícia de Segurança Pública, procederá à execução dos trabalhos acima referidos, sendo as despesas suportadas pelos infractores. Além disso, findo o prazo da demolição e da desocupação voluntárias, a DSSOPT dará início aos trabalhos de demolição e de desocupação, os quais, uma vez iniciados, não podem ser cancelados. Os materiais e equipamentos deixados no local acima indicado ficam aí depositados à guarda de um depositário a nomear pela Administração. Findo o prazo de 15 (quinze) dias a contar da data do depósito e caso os bens não tenham sido levantados, consideram-se os mesmos abandonados e perdidos a favor do governo da RAEM, por força da aplicação do artigo 30.º do Decreto-Lei n.º 6/93/M, de 15 de Fevereiro.
5.
Nos termos do n.º 3 do artigo 87.º do RSCI, a infracção ao disposto no n.º 4 do artigo 10.º é sancionável com multa de $4 000,00 a $40 000,00 patacas. Além disso, de acordo com o n.º 4 do mesmo artigo, em caso de pejamento dos caminhos de evacuação, será solidariamente responsável a entidade que presta os serviços de administração ou de segurança do edifício.
6.
Nos termos do n.º 1 do artigo 97.º do RSCI e das competências delegadas pelo n.º 4 do Despacho n.º 12/SOTDIR/2015, publicado no Boletim Oficial da RAEM n.º 38, II série, de 23 de Setembro de 2015, da decisão referida no ponto 3 do presente edital cabe recurso hierárquico necessário para o Secretário para os Transportes e Obras Públicas, a interpor no prazo de 8 (oito) dias contados a partir da data da publicação do presente edital.
RAEM, 01 de Dezembro de 2016
Pelo Director dos Serviços O Subdirector Cheong Ion Man
h ARTES, LETRAS E IDEIAS
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O luxo e o lixo
LEITURA DE PÁGINA ÓRFÃ, DE RÉGIS BONVICINO
O
seu sentido mais dilatado: “impossível impedir o cair da tarde”. Mas este sentido dilatado recupera o primeiro verso “cai a tarde”. Cai a vida. Impossível retardar este cair. Este pensar, este cair em todo este sentido não é outra coisa senão a exposição da sintaxe e do seu mistério. Estamos, no fundo, diante de um livro que, desde o seu primeiro poema e a um mesmo tempo, não BONVICINO. RÉGIS. PÁGINA ÓRFÃ, MARTINS, MARTINS FONTES, SÃO PAULO, 2007
livro de poesia acerca do qual vou aqui escrever é um luxo. Não é um Ferrari, é o silêncio que o Ferrari produz à sua volta, assim como a aridez dos solos ao redor dos eucaliptos. Por conseguinte, o luxo de aqui se trata é o lixo. O lixo é o silêncio do luxo, a aridez provocada pelo luxo. O sexto poema do livro, à página 21, chama-se precisamente “O lixo”. Ao lixo havemos de voltar, mas por ora comecemos pelo uso da língua, pelo modo como o instrumento é tocado. Aquilo que faz com que alguém seja maior do que é é a sintaxe. Há momentos, neste livro, em que a sintaxe nos faz ver a língua, nos faz ver o pensar, o ato de pensar, momentos em que a sintaxe nos faz ver que não estávamos a ver antes. A sintaxe é a língua pensando-se a si mesma e mostrando-se, nesse ato, à nossa consciência. “Cai a tarde / e não há quem o retarde / o cair da tarde / Cai a tarde” O artigo defino masculino do segundo verso é tudo (obviamente exagero, mas é tudo). Quero dizer que aquele “o” nos faz ver o verbo, nos faz ver o verdadeiro sentido de uma frase, aquele “o” nos revela a língua. “Cai” não é cai, cai é cair, e cair, aqui, não é qualquer cair, é “o” cair. Que este poema “Resgate” é excelente, não está em causa. Mas a excelência da poesia não é apenas o sentido do que diz, mas o manuseio da língua a fazer-nos ver a língua, a fazer-nos ver o que é a língua. Não basta dizer o que não pode ser dito para ser poesia, é preciso dizer o que não pode ser dito de um modo absolutamente sintáctico. Dizer de um modo onde a língua se pense a si mesma e nos faça pensar nesse seu gesto interior. Por exemplo, sem o terceiro verso pensaríamos tudo completamente diferente. Para além da musicalidade, do parentesco entre tarde e retarde, isto é, para além do belo há a verdade, há o pensar, há o cair na própria língua, na sintaxe e no sentido dela. Por outro lado, “o cair” da tarde já não é mais verbo. “O cair da tarde” é complemento directo de um sujeito: “vejo o cair da tarde”; “sinto o cair da tarde”. Ou, no
recusa a narrativa nem deixa de privilegiar o verso. Nada para um homem sujo / só a água numa cuba / sequer um olhar // (...) [p. 13] A narratividade expressa na primeira estrofe não anula a pertinência do primeiro verso isolado: Nada para um homem sujo (...). E é deste homem sujo do primeiro verso que todo o livro irá tratar, isto é, de nós aqui dependurados numa cidade
de costas viradas para a sua língua, para a sua história, para a sua humanidade. Que cidade é esta? São Paulo? Não. São Paulo é apenas a metonímia deste nosso tempo. A cidade é este nosso tempo exíguo, de onde dependurados vivemos com medo de cair. A primeira estrofe deste poema inaugural mostra, acusa, predica o isolamento a que alguém – um homem sujo – está votado.
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máquina lírica
Mas essa solidão ao invés de ser amenizada por um outro, pela presença de outro, é, pelo contrario, intensificada, amplificada. 1 + 1 dá quatro. Quatro solidões, ou mais, emergem quando um e outro se juntam. A cidade é uma máquina de multiplicar solidão. Na segunda estrofe do poema, o poeta escreve: mãos sujas / aroma de / amantes talvez. // (...) [idem] A possibilidade de trazer agarrado à sua pele o cheiro de amantes está directamente ligado com suas mãos sujas. O corpo de uma mulher é um coisa, e esta relação entre um homem e uma coisa – com os dez dedos e ter / ao cabo – o corpo dessa mulher [idem] –, mais do que tudo, suja o mundo. O que mais suja o mundo é esta relação entre os humanos, isto é, entre um humano e uma coisa, pois ninguém vê o humano como
humano, todo o humano é para um outro uma coisa. Esta coisa nas mãos ou na boca de um humano suja o mundo. Começa assim este livro de Régis Bonvicino. Mas não se fica por aqui. Assim, no dealbar das páginas do livro, poderia parecer que cada um em si mesmo é o luxo ou a procura do luxo e outro para cada um de si mesmo é sempre um lixo. Embora esta equação exerça sobre nós uma forte atracção, contudo, não é certa. Nem todas as coisas são lixo e nem todo o si mesmo é luxo, como veremos ao longo do livro. Lixo e luxo, veremos em seguida, determinam-se pela utilidade ou não utilidade da relação de um humano com uma coisa. Não se entenda aqui utilidade de modo ordinário, como por exemplo um garfo diante de uma massa
ou uma colher diante de um prato de sopa. Utilidade, aqui, é aquilo que nos serve e nos faz esquecer de nós e dos outros. A utilidade é, por exemplo, e no seu esplendor, a publicidade. Vejamos o poema, que se chama “Anúncio” [pp. 25-6], onde o poeta nos mostra como hoje o humano troca todos os dias a realidade pela publicidade, o existente pelo inexistente, como se de um ganho se tratasse. Mais: como se fosse o sentido da vida. O poema tem, uma vez mais, narrativa. Nessa narrativa há um acontecimento que obriga as pessoas a conduzirem seus carros mais devagar, a atravessar um viaduto muito lentamente, como tantas vezes na cidade. O poeta vai junto com os demais, mas não está com os demais. O poeta enuncia a realidade que vê: urina e fezes na calçada, latas velhas de anchova em conserva; em suma, mendigos cultivando detritos. O poeta faz-nos ver assim os novos pobres camponeses da grande metrópole e suas actividades “agrícolas”. Cultivar detritos é a grande agricultura dos miseráveis das grandes cidades. Por outro lado, o resto das pessoas, a maioria, olha o outdoor com o rosto de uma modelo anunciando não se sabe o quê – pois nunca se sabe o quê. Ninguém vê um homem entre o arame farpado, ninguém vê esse preso no campo de concentração da vida, no campo de concentração dos dias sem nada, mas todos vêem o rosto da modelo que pode muito bem nem existir, que não existe, mesmo. Todos os dias trocamos a realidade pela ficção, trocamos o existente pelo inexistente, trocamos a poesia pela publicidade. Julgo que o titulo do livro, o sentido do titulo do livro explode páginas antes com o poema “Azulejo” [p. 18]: Meu pai e minha mãe / mortos / ninguém / algum // (...). Evidentemente não podemos esquecer o poema da página 84, “Página”. Leia-se a estrofe final: a flor da azálea / o lixo real, / e o verdadeiro / desta página Poderíamos pensar, biograficamente, isto é, sem interesse nenhum para a poesia, que foi necessário a morte dos pais para o poeta ver a verdade e no-la mostrar. Mas toda a verdade advém sempre de uma morte ou de várias mortes no coração de alguém. Retornemos ao “Azulejo”, ao seu final: cacos ásperos / que, agora, / num ato de acúmulo / rejunto. Aquele que sobrevive à morte de um amor, fica entregue ao a-cúmulo de rejuntar os cacos ásperos da realidade, os cacos que a publicidade de
Paulo José Miranda
todos os dias teima em fazer esquecer. O poema que dá titulo ao livro, “Página órfã”, os dois últimos versos terminam assim o livro: (...) beco sem saída, página órfã, / nunca, imitação da vida [p. 110] Imitação da vida tanto é o lixo quanto é o luxo. Para além da sujidade do mundo, também muitos são os versos que nos mostram o seu luxo, não só através da enumeração de várias grifes, mas de hábitos ligados a um mundo de grife. O poema “It’s not looking great!”, referência explícita à top model Kate Moss, mostra que o luxo facilmente se deteriora em lixo, no mundo grife. O que não é mais útil, grifemente útil, torna-se lixo. Mais: deve tornar-se lixo e ser apontado como exemplo. Assim, as referencias contínuas, quase nauseantes de tanto a-cúmulo, a grifes e às modelos que servem de médiuns a esses mortos, tem uma razão de ser: mostrar o outro lado da realidade, mostrar o que não é a poesia, mas a publicidade, o inexistente. O luxo facilmente se vê, no poema, como lixo. À flor da página, a borboleta voa sobre o lixo e o luxo transmutando um no outro, em verdade. É assim que o poeta quer ver a sua palavra e que ela seja vista, testemunhada. O poeta não é concreto, é duro, violento. O poeta não é lírico, é sintacticamente belo. Não há meio termo neste livro, não há classe média, não há nada médio. Sentimos a vertigem de passar dos muito ricos para os muito pobres, dos miseráveis para os hiper-supérfluos. Atravessamos ainda a rua, o verso, da ignorância medíocre para a cultura erudita. E o poema que melhor diz a poesia em geral e, em particular, a deste livro, chama-se “Prosa”, que começa assim: “Um poema não se vende como música, não se vende como quadro, como canção, ninguém dá um centavo, uma fava, um poema não vive além de suas palavras (...)” [p. 98] Nem mais. Quem investe em poesia? Quem usa a poesia do seu tempo como modo de impressionar, numa reunião social? Quem trauteia um poema enquanto faz a barba? Quem imaginaria um monstro tamanho chamado top ten poético? E um poeta, como Régis Bonvicino neste seu livro, não canta a sua dor, não resmunga a sua verdade, nem inventa superficialidades ísmicas. Pois ele sabe que a poesia não vale nada, senão uma palavra esperando outra. Por fim, resta-me assinalar a acertada inscrição no pórtico do livro, verso de Frederico García Lorca: “y los que limpian con la lengua”. O lixo e o luxo.
16 DESPORTO
hoje macau terça-feira 13.12.2016
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BENFICA VENCE DÉRBI CONTRA SPORTING EM ENCONTRO EQUILIBRADO
A liderança mais sólida LUSA
tricampeão em título Benfica reforçou domingo a liderança da I Liga portuguesa de futebol, ao receber e bater por 2-1 o rival Sporting, que ‘tombou’para o terceiro lugar, ultrapassado pelo FC Porto. Após 13 jornadas, os comandados de Rui Vitória passaram a contar mais cinco pontos do que o ‘onze’ de Jorge Jesus - que justificou o desaire com erros de arbitragem, queixando-se de dois penáltis - e mantiveram quatro à maior sobre a equipa de Nuno Espírito Santo, que goleou fora o Feirense por 4-0. Na Luz, perante 63.312 espectadores, a formação ‘encarnada’ construiu uma vantagem de dois golos, materializada pelo argentino Salvio, aos 24 minutos, e o mexicano Raúl Jiménez, aos 47, mas ‘penou’para garantir o triunfo. Os ‘leões’, que foram superiores em vários períodos do jogo, atacaram a remataram mais, reduziram pelo holandês Bas Dost, aos 69 minutos, sendo que, antes e depois, construíram várias
ocasiões para conseguir evitar a derrota. A formação ‘encarnada’ soube, no entanto, sofrer, sobretudo nos derradeiros 20
minutos, mas também teve algumas ocasiões flagrantes, nomeadamente por Jiménez e Rafa, que foi titular, em vez de Cervi. PUB
A primeira parte foi equilibrada, com o Sporting mais rematador e o Benfica letal aos 24 minutos, num rápido contra-ataque: Gonçalo Guedes furou pelo meio, lançou Rafa e este cruzou de ‘trivela’ para o golo de Salvio. Em vantagem, a formação ‘encarnada’ não passou por grandes calafrios até ao intervalo e, aos 44 minutos, quase chegou ao segundo, com Rui Patrício a deter com a mão direita o remate do isolado Jiménez, isolado por um jogador ‘leonino’. A segunda metade começou, praticamente, com um remate de Bas Dost ao poste esquerdo, para, na jogada seguinte, o Benfica chegar ao segundo, por Jiménez, que se antecipou a João Pereira e cabeceou vitoriosamente, após centro de Nelson Semedo.
FORÇA VERDE
Com Joel Campbell, o Sporting foi muito mais forte na segunda parte e, depois de vários falhanços e algumas defesas importantes de Ederson, conseguiu marcar, aos 69 minutos, num cabeceamento de Bas Dost, servido pelo costa-riquenho. Na parte final, a equipa ‘leonina’ tentou tudo para chegar à igualdade, que Campbell poderia ter selado, aos 78 minutos, mas, com mais espaço, o Benfica também teve as suas ocasiões,
nomeadamente por Rafa. O resultado não se alterou.
DRAGÕES A SUBIR
A formação ‘encarnada’ venceu e tem quatro pontos à maior sobre o segundo classificado, agora o FC Porto, que goleou em Santa Maria da Feira por 4-0, num embate marcado pela prematura expulsão de Ícaro, logo aos três minutos. Contra 10 unidades, os ‘dragões’venceram facilmente, com um ‘bis’ de André Silva, aos quatro e 66 minutos, o segundo de grande penalidade, e, pelo meio, tentos do argelino Brahimi, aos 33, e do espanhol Marcano, aos 50. Face ao desaire na Luz e ao triunfo dos ‘dragões’, o Sporting caiu para o terceiro posto e só tem agora um ponto de avanço sobre o Sporting de Braga, que recebeu e bateu o Paços de Ferreira por 3-0.
Após 13 jornadas, os comandados de Rui Vitória passaram a contar mais cinco pontos do que o ‘onze’ de Jorge Jesus que justificou o desaire com erros de arbitragem
Na ressaca das derrotas com FC Porto e Shakhtar Donetsk, os ‘arsenalistas’ venceram com dois tentos de Rui Fonte, que saltou do banco para ‘bisar’, aos 16 e 65 minutos, servido por Wilson Eduardo, e um ‘golaço’ de Ricardo Horta, aos 23. No outro encontro domingo disputado, dois auto-golos do central brasileiro Kaká, aos 62 e 89 minutos, empurraram o Nacional para um triunfo por 3-2 na recepção ao Tondela, que esteve a vencer por 2-0 na Choupana. Wagner, aos 23 minutos, e Miguel Cardoso, aos 30, apontaram os tentos da equipa de Petit, enquanto César apontou o único golo que ‘fugiu’ aos forasteiros, aos 65. Nos embates de sábado, destaque para o triunfo por 2-1 do Vitória de Guimarães sobre o Boavista, no Bessa, graças a novo livre directo do peruano Hurtado, a exemplo do que havia acontecido na Taça de Portugal, então no prolongamento. Por seu lado, o Belenenses bateu em casa o Marítimo por 1-0, com um tento de Gerson, e o Desportivo de Chaves superou o Moreirense por 2-1, num triunfo selado sobre o final por Rafael Lopes. Sexta-feira, no arranque da ronda, o Vitória de Setúbal recebeu e bateu o Estoril-Praia por 2-0. Lusa
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TEMPO
POUCO
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NUBLADO
O QUE FAZER ESTA SEMANA Hoje
MIN
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25
HUM
60-90%
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EURO
8.19
BAHT
FESTIVAL THIS IS MY CITY (Até 13/12) EXPOSIÇÃO “ONLOOKERS” DE ALLEN WONG Art Garden (Até 18/12) EXPOSIÇÃO “O TEMPO CORRE” DE LAI SIO KIT Casa Garden (Até 08/01) EXPOSIÇÃO “SOLIDÃO”, FOTOGRAFIA DE HONG VONG HOI Museu de Arte de Macau
O CARTOON STEPH
PROBLEMA 138
UM LIVRO HOJE
SUDOKU
DE
SOLUÇÃO DO PROBLEMA 137
C I N E M A
YUAN
1.12
O PRIMEIRO ESTÁ FEITO
Diariamente
Cineteatro
0.21
AQUI HÁ GATO
LANÇAMENTO DO LIVRO “O ARQUIVO DAS CONFISSÕES - BERNARDO VASQUES E A INVEJA - DE CARLOS MORAIS JOSÉ Livraria Portuguesa - 18h30
EXPOSIÇÃO “AD LIB” DE KONSTANTIN BESSMERTNY Museu de Arte de Macau (Até 05/2017)
(F)UTILIDADES
Um fim-de-semana cheio de filmes. Foi o que me constou do regresso à labuta semanal da redacção. Filmes daqui e de acolá. Filmes para muitos e para poucos. Um festival que tem um sabor acre e doce. Se, por um lado, parece deixar a expectativa de ser um grande evento, por outro, o futuro é temido por tão incerto. A primeira edição do Festival Internacional de Cinema de Macau está prestes a terminar. Uma promessa quase cumprida de, a seu tempo, colocar Macau nos destinos para os cinéfilos. Eram estas as vozes entre os corredores, entre uma projecção e uma passadeira vermelha. Vozes que, no fundo, só desejam que, para o ano, exista o cuidado de convidar alguém como o ex-director, Marco Muller. De que numa próxima edição não deixem, por cá, de perceber que é preciso trazer experiência de outros locais. Alguém a quem seja dada uma verdadeira carta-branca de confiança. Foi essa a promessa que, de alguma forma, conseguiu erguer esta edição. Que a memória não atraiçoe e que outros interesses não se levantem. Pu Yi
“A CONDIÇÃO HUMANA” | ANDRÉ MALRAUX
A condição humana de André Malraux passa-se numa Xangai em que quatro homens vivem o cenário da revolução chinesa de 1927. Mas podia passar-se em qualquer lugar, com um número indefinido de personagens. Um livro que aborda o indivíduo e as suas fronteiras, as impostas por si, pelos outros ou por uma qualquer moral. Um documento a ler, e também para reler. Sofia Mota
FANTASTIC BEASTS & WHERE TO FIND THEM SALA 1
SALA 2
FALADO EM COREANO, LEGENDADO EM CHINÊS E INGLÊS Filme de: Kwon Soo-kyung Com: Cho Jung-seok, Doh Kyung-soo, Park Shin-hye 14.30, 16.30, 21.30
Filme de: David Yates Com: Katherine Waterston, Dan Fogler, Alison Sudol, Ezra Miller 14.15, 16.45, 19.15, 21.45
MY ANNOYING BROTHER [B]
YOUR NAME [B] FALADO EM JAPONÊS LEGENDADO EM CHINÊS E INGLÊS Filme de: Makoto Shinkai 19.30
FANTASTIC BEASTS & WHERE TO FIND THEM [B]
SALA 3
THE YOUNG MESSIAH [B] Filme de: Cyrus Nowrasteh Com: Adam Greaves-Neal, Sara Lazzaro, Vincent Walsh 14.30, 16.30, 19.30, 21.30
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18 OPINIÃO
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macau visto de hong kong
Evitemos a “quebra de palavra” SIDNEY LUMET, 12 ANGRY MEN
S
“Do ponto de vista legal o silêncio é a melhor forma de evitar a quebra de palavra, mas do ponto de vista social não cai bem.”
EGUNDO noticiava no passado dia 5 o CHINAXIAO-KANG.COM, um destacado membro do Governo de Hong Kong, o Secretário de Estado das Finanças, Zeng Junhua, ter-se-ia recusado a responder a algumas questões postas por escrito pelos deputados do Conselho Legislativo, Liang Guoxiong, Luo Xiaoli, Luo Guancong e Yao Songyan. A posição de Zeng estará relacionada com o processo administrativo movido pelo Governo de HK contra aqueles quatro deputados. Como é sabido, uma das funções do Conselho Legislativo é a monitorização do desempenho do Governo. Esta monitorização é principalmente feita através de interpelações orais. As interpelações escritas são usadas raramente, ao contrário do que acontece em Macau onde ambas as formas são frequentes. Como foi referido, a recusa de responder às interpelações está relacionada com o processo administrativo que o Governo moveu aos deputados. Há algumas semanas atrás, o Congresso Nacional Popular fez uma análise explicativa do artigo 104 da Lei Básica de Hong Kong. Nesta análise encontram-se indicações sobre a forma como o juramento de lealdade deve ser feito, o que valida um juramento, e em que circunstâncias pode ser aceite. De acordo com o espírito do documento, o Governo da RAEHK concluiu que os juramentos de lealdade destes quatro deputados eram inválidos e, desta forma, iniciou-se o processo administrativo. Se o Governo ganhar o processo os deputados serão afastados do Conselho Legislativo definitivamente. Dado que a legitimidade das suas funções está a ser posta em causa, parece razoável que Zeng tenha ignorado as questões que lhe colocaram. Mas a atitude do Secretário de Estado das Finanças foi severamente criticada no Conselho Legislativo. Os seus opositores não encontraram razões válidas para o seu comportamento. No entanto Zeng considerou que o silêncio, nestas circunstâncias, era a resposta adequada visto que as capacidades legais dos referidos deputados estão a ser postas em causa pelo Governo local. Zeng avançou que a omissão de resposta tinha sido aconselhada pelo Secretário de Estado da Justiça. Mas surpreendentemente, da parte da tarde, Zhang Bingliang, Secretário
DAVID CHAN
de Estado da Habitação e Transportes, manifestou a sua vontade de responder às questões dos quatro deputados, durante a reunião do sector da Habitação. Zhang afirmou que se a sua resposta não interferisse no processo administrativo, estaria disposto a dá-la. Esta mudança de posição oficial levou as pessoas a questionarem porque é que de manhã Zeng se tinha recusado a responder às perguntas. Estas posições contraditórias dos dois membros do Governo indiciam a forma como o Executivo está a lidar com este processo. O silêncio do Secretário de Estado das Finanças reafirma a convicção de que a capacidade legislativa dos deputados está a ser posta em causa. Responder-lhes seria reconhecer-lhes essa capacidade e desvalorizar o processo em curso. Para justificar esta posição Zeng alegou ter recebido “conselho legal para se manter em silêncio”. Mas, perante as críticas, o Governo da RAEHK reviu a sua posição e, na pessoa do Secretário de Estado da Habitação e Transportes, surge a vontade de responder “se a sua resposta não interferir no processo administrativo”. Desta vez o que se salienta é a não interferência no processo administrativo. E será que esta argumentação vai ser aceite em Tribunal? Provavelmente sim. No Direito Civil, existe uma figura legal chamada “Quebra de Palavra”, que basicamente obriga ao cumprimento da palavra dada. Se houver “quebra de palavra”, a parte lesada pode pedir uma indemnização. As preocupações do Governo de Hong Kong são compreensíveis. Se o Governo responder aos deputados, o Tribunal pode ser levado a crer que as suas capacidades legais estão a ser reconhecidas. Parece ser uma posição prudente. Mas quando muda de postura e afirma desejar responder “desde que não haja interferência no processo administrativo”, afigura-se-nos que está a agir de forma mais adequada, garantindo a função supervisora dos deputados e ao mesmo tempo não descurando o processo administrativo em curso. Do ponto de vista legal o silêncio é a melhor forma de evitar a quebra de palavra, mas do ponto de vista social não cai bem. O silêncio do Governo perante as questões dos deputados pode ser encarado como falta de respeito pelo Conselho. Neste caso, o equilíbrio entre a lei e o interesse público terá de ser remetido para um Conselheiro Jurídico. Conselheiro Jurídico da APJM Professor Associado do IPM
legalpublicationsreaders@yahoo.com.hk http://blog.xuite.net/legalpublications/hkblog
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OPINIÃO
sexanálise
TÂNIA DOS SANTOS
ALFRED HITCHCOCK, SPELLBOUND
O
sexo teorizado complexifica-se na sua diversidade ideológica, e reduz-se a uma possível doutrina. Estas ideias e experiências do sexo bebem um pouco daquilo que sabemos e daquilo que experimentamos, que depois se misturam em discursos ricos e especializados sobre o tema (isto para dizer que no que toca a sexo, especialmente, a ideologia não é o único preditor para a forma de como ela é sentida e imaginada). A psicanálise trouxe uma perspectiva do sexo a domínio público, e só por isso (independentemente do seu conteúdo) foi recebido com algum choque/ fascínio - ou recusado de todo. A este discurso estavam associadas não só perspectivas do sexo mas perspectivas psicoterapêuticas que em muito contribuíram para a forma como percebemos a doença mental hoje em dia, e o sexo tornou-se conceito chave da psique humana. Com a grande praga histérica do séc. XIX, médicos tentavam perceber o que é se passava com a mulheres, que entravam em grandes estados de ansiedade, irritabilidade e tendências ‘promíscuas’. Até então julgavam que elas padecessem de um mal físico – o seu útero estaria fora de controlo. Não é por acaso que histeria vem do termo grego hiteros, que quer dizer útero. Desde a antiguidade clássica que se entendia a explosão emocional feminina como uma desconexão do útero e das suas necessidades, ou seja, o útero era uma entidade própria e potencialmente problemática, e por isso, o foco do problema. Um tratamento possível (mas extremo) era uma histeroctomia. Mas Freud veio mudar o paradigma ao reforçar a condição psíquica/mental do conflito sexual, sendo esta a principal razão para a manifestação histérica. A cabeça é que devia ser tratada, não o órgão reprodutor per se. Com o desenvolvimento de terapias do foro ‘psico’, assim fundou a psicanálise, que incluía uma teoria do desenvolvimento humano que girava em torno da sexualidade. E assim um neurologista se tornou psicanalista. Já se passaram mais de 100 anos desde que estas ideias psicanalíticas vieram a público, e o imaginário sexual que fora descrito continua entre nós, presente e activo. Na gíria popular ouvem-se conceitos de especificidade psicanalítica: fala-se de recalcamentos, líbido, mecanismos de defesa, ego, inconsciente, complexo de Édipo. Mas sempre me perguntei sobre qual seria a ‘lição’ retirada desta teorização para forma como o sexo (e o género) é entendido hoje em dia. As teorias feministas têm a dizer uma ou outra coisa, já que a linguagem psicanalítica sobre as mulheres veio atrasar tentativas de emancipação ao longo da história. Problemas: (1) define
A psicanálise
um estado de inveja do pénis como parte do desenvolvimento psicossexual feminino (2) entende que a satisfação sexual é alcançada através da penetração vaginal, única e simplesmente (3) define a condição feminina através da maternidade (4) considera que tudo fora do comportamento ‘normal’feminino da época, é automaticamente problematizado. Entre outros. Claro que tudo isto acontece como uma pescadinha de rabo na boca. As ideias psicanalíticas vieram reforçar ideologias heteronormativas, e as ideias (expectativas) heteronormativas da sociedade em geral reforçaram teorias e perspectivas académicas.
“A sexualidade permanece como sempre foi, um mistério.” Não sou especialista em psicanálise para poder espremer outras considerações acerca das consequências reais da psicanálise. Surpreende-me, contudo, que seja uma perspectiva psicológica muito popular na cultura pop, encontramo-la nos filmes, nas artes plásticas, na música ou na literatura. Dá que pensar o que a psicanálise poderá ainda dizer sobre nós, como sociedade, e da nossa forma de pensar o sexo. Talvez
somente mergulhando nos meandros simbólicos e inconscientes do sexo contemporâneo poderemos ver uma inveja do pénis ainda – ou o medo da castração masculina. Talvez ainda possamos assistir ao desejo do filho de matar o pai por ciúmes da mãe, ou dos ciúmes da filha, chamado complexo de Electra. Pode ser que nos recantos do nosso inconsciente ainda faça sentido que o sexo vaginal de penetração seja o único tipo de sexo que nos satisfaz e que nos dá sanidade. Talvez nada disto faça sentido e a sexualidade permanece como sempre foi, um mistério.
Os espanhóis não brincam. Na pesca, para eles, todo o peixe é pescado.
terça-feira 13.12.2016
Atlântido
Reino Unido MOVIMENTO NEO-NAZI BRITÂNICO PROIBIDO NADADORA CHINESA BANIDA POR DOIS ANOS
A nadadora chinesa Chen Xinyi foi banida de competir por dois anos, anunciou ontem a Federação Internacional de Natação (FINA), depois de não ter passado num teste de ‘doping’, durante os Jogos Olímpicos no Rio de Janeiro. A atleta de 18 anos testou positivo em hidroclorotiazida, substância diurética proibida pela Agência Mundial Antidopagem (AMA), em 8 de Agosto passado, no mesmo dia em que terminou em quarto lugar nos 100 metros mariposa. Chen fica assim banida de competir entre 11 de Agosto deste ano e 10 de Agosto de 2018, detalhou a FINA, em comunicado. Os diuréticos aumentam o fluxo da urina e podem ser usados para esconder a presença de substâncias que servem para melhorar a performance desportiva, durante os testes ‘antidoping’. Chen venceu a medalha de ouro nos 100 metros mariposa e 50 metros livre, durante os Jogos Asiáticos, em 2014, estabelecendo um novo recorde naquela competição regional.
Sem lugar ao ódio
O
movimento neo-nazi britânico ‘National Action’, que manifestou apoio ao homem que assassinou a deputada Jo Cox, será o primeiro grupo de extrema-direita a ser proibido ao abrigo da lei antiterrorista do Reino Unido, foi ontem divulgado. Avançada esta segunda-feira pelo Ministério do Interior britânico, a decisão de interdição será a primeira deste género nos termos da legislação designada como Terrorism Act 2000. “Adopto hoje medidas para proibir o grupo neo-nazi ‘National Ac-
tion’. Isto significa que ser membro ou apelar ao apoio desta organização será um crime”, indicou a ministra do Interior britânica, Amber Rudd, citada num comunicado. O movimento ‘National Action’ “é uma organização racista, anti-semita e homofóbica que alimenta
o ódio, glorifica a violência e promove uma ideologia abjecta”, sublinhou a ministra. “Não tem absolutamente lugar no Reino Unido”, frisou ainda. A página oficial na Internet do movimento mostra, por exemplo, imagens de membros da orga-
O movimento ‘National Action’ “é uma organização racista, anti-semita e homofóbica que alimenta o ódio, glorifica a violência e promove uma ideologia abjecta” AMBER RUDD MINISTRA DO INTERIOR BRITÂNICA
EXÉRCITO SÍRIO CONQUISTA IMPORTANTE ÁREA EM ALEPO
O exército sírio conquistou uma importante zona no sudeste de Alepo, passando a controlar 90% da áreas que tinham sido dominadas pelos rebeles, segundo o Observatório Sírio para os Direitos Humanos. De acordo com a organização não-governamental, forças leais ao Presidente Bashar al-Assad tomaram ontem a zona de Sheikh Saeed, após violentos confrontos que começaram na tarde de domingo. «O exército controla agora totalmente Sheikh Saeed», disse à agência AFP o líder do Observatório, Rami Abdel Rahman.
nização a fazerem a saudação conotada com o regime nazi. O grupo também organizou um concurso para escolher a “Miss Hitler 2016” e defende “o poder branco”.
EM DEFESA DA MORTE
Na sua conta na rede social Twitter, o grupo neo-nazi defendeu o “sacrifício” de Thomas Mair, de 53 anos, o homem que foi declarado culpado do homicídio da deputada trabalhista britânica Jo Cox, uma defensora da permanência do Reino Unido na União Europeia (UE) e do acolhimento de refugiados. A deputada de 41 anos foi atingida a tiro e esfaqueada em 16 de Junho deste ano, quando participava numa acção da campanha a favor da permanência britânica na UE com eleitores do seu círculo em Birstall (cidade no norte de Inglaterra), uma semana antes da realização do referendo de 23 de Junho em que o ‘Brexit’ (como ficou conhecida a saída britânica do bloco europeu) saiu vitorioso. “Votem para a saída, não deixem que o sacrifício deste homem seja em vão. Jo Cox teria ocupado Yorkshire com mais sub-humanos”, escreveu o grupo na rede social Twitter. Em Novembro último, um tribunal londrino considerou que Thomas Mair, que possuía literatura conotada com a extrema-direita e objectos relacionados com o nazismo, tinha agido por ideologia política e qualificou o homicídio da deputada trabalhista como um crime terrorista. Thomas Mair foi condenado a uma pena de prisão perpétua. No comunicado divulgado ontem, o Ministério do Interior britânico precisou que a decisão de proibir o movimento neo-nazi foi tomada antes do julgamento de Thomas Mair e que preferiu só agora divulgar a medida para que não tivesse “qualquer impacto” no processo.
SORTEIO DA LIGA DOS CAMPEÕES DORTMUND E JUVENTUS NO CAMINHO DOS PORTUGUESES
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Borussia Dortmund foi sorteado para jogar frente ao Benfica nos oitavos de final da Liga dos Campeões, ditou o sorteio realizado esta segunda-feira em Nyon, na Suíça. Os alemães, treinados por Thomas Tuchel, venceram o grupo F, onde estava
o Sporting, terminando com 14 pontos - 4 vitórias e dois empates. É, assim, um regresso a Portugal, depois de uma vitória por 2-1 em Lisboa frente aos leões. No jogo na Alemanha, o Dortmund venceu por 1-0. Na Bundesliga, a equipa onde
atua o português Raphael Guerreiro, está mais discreta, ocupando o 6.º lugar, a 8 pontos do líder Bayern. O jogo da primeira mão disputa-se a 14 de Fevereiro, no Estádio da Luz, ficando a partida em Dortmund para 8 de Março.
Já o FC Porto vai encontrar a Juventus (no Dragão a 22 de Fevereiro e em Turim a 14 de Março). Reencontro dos dragões com o adversário com o qual disputaram a final da entretanto extinta Taça dos Vencedores das Taças, em
1984. Autêntico tubarão do futebol europeu, a Juventus é actual pentacampeã em Itália, liderando novamente esta época o campeonato do seu país. Na Liga dos Campeões, a equipa de Turim qualificou-se tranquilamente para os oitavos
de final como primeira classificada do Grupo H, somando 4 vitórias e 2 empates (11 golos marcados e apenas 2 sofridos). O argentino Gonzalo Higuaín, contratado no Verão passado por verba a rondar os 90 milhões de euros, é a figura de proa da equipa.