Hoje Macau 13 MAI 2016 #3571

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MOP$10

SEXTA-FEIRA 13 DE MAIO DE 2016 • ANO XV • Nº 3571

AGÊNCIA COMERCIAL PICO • 28721006

hojemacau

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DIRECTOR CARLOS MORAIS JOSÉ

LGBTI

TABACO PROIBIÇÃO TOTAL ADIADA

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Não será nesta sessão legislativa que a proibição total de fumo nos casinos será implementada e muitos duvidam que tal venha alguma vez a acontecer. As “pressões” para que a revisão ao Regime de Controlo do Tabagismo caia em saco roto são muitas, dizem, enquanto há quem alegue existirem outras prioridades.

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GONÇALO LOBO PINHEIRO

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DA-ME LUME ´

Um mundo à parte?

LILIANA INVERNO

CAMINHOS DO SABER ENTREVISTA

GALGOS

A chacina continua PÁGINA 8

Revolução Cultural

O MAO DA FITA CENTRAIS

DROGA

Infernos artificiais PÁGINA 9

PUB

PÁGINA 5

OPINIÃO

Obsessão pelo passado ANDRÉ RITICHIE


2 ENTREVISTA

LILIANA INVERNO

“IPOR é mais do que a sua oferta formativa”

GONÇALO LOBO PINHEIRO

COORDENADORA DO CENTRO DE LÍNGUA PORTUGUESA DO INSTITUTO PORTUGUÊS DO ORIENTE

Depois de três anos, Liliana Inverno está de partida. Deixa o centro de língua portuguesa do IPOR com a sensação de dever cumprido. Instituto que é, aponta, muito mais do que números, turmas e alunos. Atrás da cortina existe muito trabalho e projectos O Instituto Português do Oriente (IPOR) publicou uma Manifestação de Interesse para as funções de Coordenador do Centro de Língua Portuguesa, lugar ocupado por si. De saída, qual o balanço que faz do trabalho realizado? Efectivamente, confirmei recentemente à Direcção a minha intenção de, cumpridos os três anos de contrato inicialmente previstos e atingidos os principais objectivos definidos para esse período, querer regressar à vida académica, em particular à investigação e à orientação de trabalhos académicos. Com a excepção de actividades pontuais de arbitragem científica e o acompanhamento de projectos já iniciados, esta foi uma dimensão da qual, por opção, me desliguei durante os últimos três anos, para poder centrar-me exclusivamente nos compromissos que com gosto assumi com a Direcção do IPOR em 2013. Não é possível assumir as duas funções? A minha avaliação é a de que, nem o meu método de trabalho, nem as regras das universidades - que impõem, por exemplo, que apenas doutorados com ligação a instituições universitárias possam orientar teses – nem o nível de exigência que hoje a diversidade de esferas de intervenção do CLP impõe permitem essa conciliação. É neste contexto que surge a Manifestação de Interesse. Gostaria que fosse possível conciliar as actuais funções, que me proporcionaram uma das mais ricas e desafiantes experiências profissionais até hoje, com uma carreira académica. Como olha o trabalho desenvolvido até aqui? Foram três anos de um trabalho colectivo muito exigente, mas acima de tudo, muito enriquecedor, de implementação da visão e estratégia

que a actual Direcção, em boa hora, definiu para a acção do CLP e na qual Coordenação e corpo docente se empenharam por levar a bom porto. Creio que o conseguimos. Mas mais importante que o meu balanço, que sou parte interessada, é o balanço que a instituição faz desse trabalho. É, por isso, para mim motivo de grande satisfação que esse balanço também seja positivo, como de resto já o exprimiu publicamente o director da instituição, João Laurentino Neves.

“A oferta formativa da instituição alargou-se de forma substancial nos últimos três anos” O Curso Geral do IPOR foi alvo de uma reestruturação curricular quando assumiu funções. Pode explicar esse processo e quais as metas atingidas? A reestruturação curricular de que foi objecto o Curso Geral do IPOR, em 2013, passando de um sistema de organização próprio por módulos para o sistema de organização por níveis definido no Quadro Europeu Comum de Referência para as Línguas (QECR), é a face mais visível de um processo que se estendeu a toda a oferta formativa da instituição e que visou o seu alinhamento com as orientações dos documentos de referência internacional para o ensino e certificação de línguas estrangeiras e do Português língua estrangeira, em particular. O objectivo foi atingido? Sim, esse objectivo, no essencial, está hoje cumprido, não só no Curso Geral, mas também no Curso de Crianças, nos cursos intensivos

de iniciativa própria da instituição e nas formações para fins específicos solicitadas por instituições parceiras. Creio que conseguimos desenvolver um conjunto de ferramentas que oferecem a formandos e instituições parceiras uma garantia de elevada qualidade na formação e certificação disponibilizadas pelo IPOR: programas alinhados com os descritores do QECR para todas as formações, distinguindo entre programas globais, modulares, ponderados e parciais em função da natureza, público e objectivo de cada formação; instrumentos e critérios de avaliação de diferentes tipologias (colocação de nível, diagnóstico e avaliação de desempenho); exames próprios de certificação, reconhecidos pelas instituições oficiais de Macau, em consonância com a estrutura e objectivos dos exames do sistema de certificação CAPLE. Antes dessa reestruturação, este curso não conseguia atribuir ao alunos uma certificação que respeitava o conjunto de competências comunicativas definidas no QECR? Na análise que fizemos com a direcção, o que sentimos é que a organização modular não respondia às necessidades actuais e criava fragilidades que importava corrigir. O que fizemos foi precisamente assegurar que elas seriam reduzidas ao máximo, o que passava por adoptar o Quadro como referência quer para a elaboração dos programas, quer para a organização curricular das formações, quer para todas as certificações correspondentes. Qual a oferta que neste momento o IPOR tem para quem queira aprender a Língua Portuguesa? Embora o Curso Geral seja, de facto, o curso mais antigo e também

aquele que reúne o maior número de alunos, a oferta formativa da instituição alargou-se de forma substancial nos últimos três anos, ajustando-se ao alargamento que igualmente se verificou ao nível das instituições com as quais o IPOR coopera actualmente. Para além do Curso Geral, o IPOR oferece ainda o Curso de Português Língua Não Materna para Crianças e Jovens (nível A1 a B1), cursos gerais intensivos de nível A1 e B1 e cursos intensivos de conversação. Para além deste núcleo central de formações, o IPOR desenha e coordena ainda um número crescente de formações, gerais e específicas, promovidas por mais de uma dezena de instituições parceiras, entre elas três instituições de ensino superior. Relativamente às cooperações, há pouco tempo a Liliana deslocou-se à Austrália. Em que consistem estes acordos? Porque são uma mais valia? A direcção do IPOR tem desenvolvido vários contactos no sentido de dar corpo a recomendações que têm vindo a ser formuladas em Assembleias Gerais pelos Associados da instituição, que, por norma, partilha com os diferentes coordenadores das unidades orgâ-

“A capacidade de qualquer instituição depende sempre da sua capacidade de se manter atenta àquelas que são as expectativas e as motivações de quem as procura”

nicas da instituição. Entre essas recomendações figurava a de conferir uma vertente regional à acção do IPOR. Desses contactos resultou a orientação conferida ao CLP de preparar e orientar uma formação na Austrália, que me coube a mim executar. Quando iniciou funções disse que um dos objectivos era reforçar a “interligação e da cooperação com as instituições da RAEM ao nível do ensino do Português enquanto língua estrangeira”. Conseguiu? O que se fez, ou está a fazer para que isto aconteça? O CLP participou, ao lado da direcção, no reforço, da interligação e da cooperação com as instituições da RAEM ao nível do ensino do Português língua estrangeira. Fizemo-lo, antes de mais, ouvindo as necessidades dessas instituições e alargando em conformidade a nossa oferta formativa para fins específicos. Dessa abordagem resultou um aumento muito significativo do número de formações prestadas. Veja, só para 2016 temos já confirmadas cerca de 40 formações. Foram ainda criadas novas parcerias e reforçadas as existentes.


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Por exemplo? O recente desenvolvimento de um programa de iniciação à Língua Portuguesa, em regime intensivo, para os funcionários públicos, por via do renovado protocolo com os Serviços de Administração e Função Pública. Iniciámos também uma colaboração com o BNU, desenvolvendo um programa de formação linguística especificamente destinado aos seus trabalhadores. No Instituto de Formação Turística, para além das cinco disciplinas curriculares de Língua Portuguesa que já assegurávamos, passaremos brevemente a assegurar duas outras disciplinas curriculares e iniciámos este mês o primeiro de um conjunto de três cursos para a área do turismo, sendo que, em ambos os casos, a certificação será conjunta. Ou seja, pela primeira vez teremos uma certificação conjunta com uma instituição de ensino superior. O IPOR tem ganho ou perdido alunos? Qual é o crescimento dos dados relativamente às matrículas? Tenho sempre alguma dificuldade em compreender esta obsessão com os números porque não consigo deixar de sentir que a ela está sub-

“O processo de aquisição e aprendizagem de uma língua, diz-nos toda a literatura disponível, é o mesmo em todos os continentes” jacente a ideia de que o balanço a fazer sobre a intervenção do CLP deve assentar exclusivamente no aumento ou diminuição do número de alunos na sua oferta própria. É óbvio que este é um dado importante e, felizmente, os números têm-nos sido favoráveis. Mas como acabei de explicar, o contributo desta unidade orgânica do IPOR para o cumprimento da missão da instituição vai muito além daquilo que é a sua oferta formativa. Compreende, também, o desenvolvimento de projectos de formação dirigidos aos docentes do IPOR e de instituições do sistema educativo da RAEM e da região Ásia-Pacífico. É nesse contexto que surgem, por exemplo,

as formações para docentes que temos desenvolvido no âmbito do Programa de Desenvolvimento e Aperfeiçoamento Contínuo sobre a preparação de candidatos para a certificação CAPLE. Na esfera de acção do CLP recai também, em estreita articulação com a direcção, a supervisão de projectos editoriais de suporte às formações de PLE e de acções de promoção da língua portuguesa. O IPOR lançou já o Guia de Conversação Chinês-Português e tem em fase de conclusão três outros projectos editoriais de grande significado. Em 2015, foi realizado também um Encontro de Pontos de Rede na Ásia, para o qual contámos com a participação de leitores de sete países e o contributo de colegas de instituições de ensino superior locais. Tem-se feito muita coisa, mas como é que o IPOR se pode tornar atraente para novos e mais alunos? Creio que o IPOR já é atraente para quem, na RAEM, deseja aprender português. De qualquer forma, a capacidade de qualquer instituição depende sempre da sua capacidade de se manter atenta àquelas que são as expectativas e as motivações de

quem as procura. No IPOR, uma dos mecanismos que encontrámos de manter essa atenção passa, por exemplo, pelo inquérito de avaliação pelos formandos de todas as formações que assegura. Quais os planos futuros para o IPOR? Há a possibilidade de se expandir em termos e infra-estruturas? Como compreenderá, não me pronunciarei sobre matérias que são da exclusiva competência da direcção do IPOR e da sua Assembleia Geral. O que posso dizer, é que foi para mim um privilégio ter tido a oportunidade fazer parte do presente desta Instituição. Quanto ao futuro, enquanto se mantiver a orientação estratégica seguida nos últimos quatro anos, estarei sempre disponível para dar os contributos que me sejam solicitados, ainda que à distância. Considera que é dada a devida importância à nossa língua na RAEM? As pessoas estão sensibilizadas para a oportunidade que têm em aprender esta língua? A língua é de todos os que a falam e o espaço que ocupa nas suas vidas

depende muito daquela que é a sua motivação de base para exercer cidadania nesse espaço linguístico e cultural. Deu aulas em África, agora está na Ásia. Como é ensinar a mesma língua mas em culturas tão diferentes? O processo de aquisição e aprendizagem de uma língua, diz-nos toda a literatura disponível, é o mesmo em todos os continentes. O que muda é o estatuto que a língua assume em cada contexto – tipicamente língua segunda nos PALOP e língua estrangeira na Ásia – e, consequentemente, a relação que o aprende estabelece com ela. Sai com a sensação de dever cumprido? Sim, e a isso não é alheio, nem o apoio que sempre tive da direcção, nem o empenho com que sempre contei por parte do corpo docente do IPOR e pessoal administrativo. Mas saio, acima de tudo, com a absoluta convicção de que a viagem é a recompensa do caminho. Filipa Araújo

filipa.araujo@hojemacau.com.mo


4 POLÍTICA

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De fora sem amor

Sociólogo diz que já existem conflitos entre locais e TNR

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“Agente provocador” CRITICADA SUGESTÃO DO RELATÓRIO DE JOGO

Crime à força?

O relatório da revisão intercalar do Jogo defende a introdução na lei da figura do “agente provocador” para combater apostas ilícitas, mas especialistas estão contra a medida ou falam de dificuldades na implementação Heng Ip defendeu que, para rever a legislação, é necessário o consenso social. A figura do “agente provocador” não é usada para combater outro tipo de crimes, sendo que o advogado teme que, na prática, não seja fácil concretizar a medida.

Para Hugo Bandeira Maia, advogado, a possível alteração à lei penal – algo defendido no relatório - para incluir este agente no sector do Jogo não é “uma coisa habitual”. “Esta figura não é muito comum no Jogo. Normalmente nunca é

BASE DE DADOS BEM VISTA

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aulo Chan, director dos Serviços de Inspecção e Coordenação de Jogos (DICJ), garantiu que está a ser estudada a criação de uma base de dados para as dívidas de Jogo, para além do reforço das empresas junket. Para o deputado Zheng Anting, a medida pode corrigir a imagem negativa do sector e aumentar a confiança dos clientes. Já Kuok Chi Chong garante que tem vindo a discutir o assunto com a DICJ, no sentido de se criar uma base de dados centralizada, defendendo uma regulamentação mais rigorosa para os que querem ser promotores de Jogo. O Gabinete de Dados Pessoais já explicou que a criação da base de dados depende da autorização dos envolvidos para a divulgação dos dados sobre concessões de crédito e as apostas realizadas. Kuok Chi Chong diz que se a base de dados vai apenas acumular informações de promotores e devedores não vai ser difícil de implementar. Apesar de tudo, ficou por explicar como vão ser cobradas as dívidas de Jogo não recuperadas junto dos devedores que vivem no interior da China. Isto porque no continente estas dívidas não são reconhecidas à luz da lei.

pensar enfrentar esta questão”, defendeu. Para Larry So, a queda das receitas do Jogo poderá ter levado as operadoras a recrutar menos TNR nos últimos dois anos, mas isso não resolveu a questão, dado que os TNR continuam a representar uma grande fatia da população. O sociólogo acredita que não podem existir abusos na importação de TNR, sobretudo por parte dos casinos e defende a introdução de uma proporção adequada de trabalhadores locais e do exterior como forma de diminuir os sentimentos negativos dos residentes. Larry So considera ainda importante que as operadoras de Jogo determinem o número de trabalhadores para o futuro, para que a actual formação responda a essas necessidades para que se possa diminuir a importação de trabalhadores. F.F. (revisto por A.S.S.)

usada”, explicou o advogado, adiantando ainda que em tribunal poderá ser sempre alegada a “vontade condicionada” do suspeito.

GONÇALO LOBO PINHEIRO

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S autoridades já admitiram a dificuldade de acusar e condenar os autores de apostas ilegais nos casinos, mas a possibilidade de introduzir a figura do “agente provocador” no sistema jurídico do Jogo não parece agradar aos especialistas do sector. A sugestão faz parte do relatório intercalar do Jogo, apresentado esta quarta-feira. Anstun Mak Heng Ip, advogado, disse ao HM que a figura do “agente provocador” pode instigar a prática do crime. “Estes crimes podem não acontecer numa fase inicial, mas se os agentes provocadores incentivarem, as pessoas cometem esses crimes e podem ocorrer mais casos”, defendeu. O advogado considera que a ideia é “viável” e que pode de facto ajudar na investigação, mas traz desvantagens para aqueles que, à partida, não iriam cometer o crime. Anstun Mak

relatório da revisão intercalar do sector do Jogo revelou que a importação de um avultado número de trabalhadores não residentes (TNR) trouxe inconvenientes aos que são de Macau, algo que deu origem a conflitos do ponto de vista social e cultural. O relatório fala ainda de sentimentos de xenofobia que surgiram nos últimos anos. O sociólogo Larry So disse ao HM concordar com um cenário que não é novo, referindo que os locais têm receios de que a mão-de-obra importada venha roubar postos de trabalho. “Existem conflitos que já trouxeram mudanças ao nível da harmonia e causaram sentimentos nos locais que não gostam da vinda de pessoas de fora. Penso que o facto do relatório falar disto mostra que o Governo está seriamente a

À MARGEM

Já Kuok Chi Chong, presidente da Associação de Mediadores de Jogo e de Entretenimento de Macau, diz que os actos ilegais devem ser combatidos, concordando com a figura do “agente provocador”. “Nós operamos as salas VIP de forma normal e não fazemos [apostas ilegais], portanto se o Governo tomar essa medida não nos vai afectar”, disse, acreditando que a introdução desta é uma questão “sensível” e que as leis têm uma limitação para isso. Kuok Chi Chong não quis comentar se o panorama das apostas ilegais é grave no sector. Flora Fong (com F.A./revisto por A.S.S.) flora.fong@hojemacau.com.mo

ANGELA LEONG DEFENDE-SE E PEDE MAIS TERRENOS

O relatório intercalar do Jogo refere que a Sociedade de Jogos de Macau (SJM) é a operadora com menos actividades não ligadas ao Jogo, com apenas 28%, enquanto que a Venetian lidera. Ao canal chinês da Rádio Macau, a directora-executiva da SJM, Angela Leong, apontou que a operadora nunca parou de desenvolver os factores não Jogo, mas diz serem necessários mais terrenos. Angela Leong refere que, como as políticas sociais têm mudado constantemente, a sua execução pode atrasar o desenvolvimento da SJM. A empresária e deputada admitiu que o fomento da diversificação económica e do sector de entretenimento é importante para garantir o aumento das receitas e a criação de uma maior responsabilidade social. Angela Leong disse ainda que o novo projecto da Lisboa Palace, no Cotai, vai ter apenas 10% de actividades não ligadas ao Jogo, mas espera desenvolver mais projectos nos aspectos cultural, artístico, lazer e familiar.


5 POLÍTICA

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A revisão ao Regime de Prevenção e Controlo do Tabagismo está longe de acontecer. A opinião é de alguns deputados da Comissão que defendem que o Governo sofre muita “pressão” para a não proibição total do fumo. Ng Kuok Cheong defende mesmo que a revisão nunca vai acontecer porque Governo e membros da AL não querem que aconteça

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M Julho de 2015, Chan Chak Mo, presidente da 2.ª da Comissão Permanente da Assembleia Legislativa (AL), disse precisar de um ano para ter pronto o parecer sobre o diploma que revê o Regime de Prevenção e Controlo do Tabagismo. Dez meses corridos e não parece que o prazo vá ser estabelecido. Chan Chak Mo justifica que o grupo de trabalho tem tratado “de outras propostas” sendo que esta revisão “ainda não foi prioritária”. No entanto, diz, está “agendada uma reunião já na próxima semana para discutir esta proposta”. Para o deputado Ng Kuok Cheong, também membro da Comissão que avalia a revisão à lei, não há dúvidas: poucos são aqueles que querem que esta “revisão vá para a frente”. Note-se que a principal alteração proposta é a

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proposta de revisão da Lei Eleitoral do Governo sugere uma diminuição do dinheiro para campanha de cinco para 4,5 milhões, mas há quem defenda que deve ser ainda menos, para um máximo de três milhões de patacas. Alguns representantes de associações, contudo, defendem que a redução dos orçamentos pode levar a uma diminuição de novos candidatos ao lugar de deputado.

Tabaco AL ACUSADA DE NÃO QUERER AVANÇAR COM REVISÃO À LEI

Pressões impeditivas lei e permitir as salas de fumo”. Mas, o cenário mais possível, para si, é a não aprovação da lei. “Eu gostava que fosse definido, mas não sei se vai acontecer, não acredito que os trabalhos terminem até ao final desta sessão, nem sequer da próxima”, rematou, defendendo que a única luz de trabalho e vontade surge dos Serviços de Saúde. “Só eles é que me parecem mais determinados nesta proibição”, apontou.

UM NÃO CERTO

proibição total de fumo nos casinos, incluindo nas salas construídas para esses efeitos. “AAL está a atrasar os trabalhos até levar a que a proposta caia. A verdade é que grande parte das pessoas não está de acordo com esta revisão. E caso ela não seja aprovada na próxima sessão legislativa, que é a última desta legislatura, então cai. Esta é a verdadeira intenção do Governo”, argumentou Ng Kuok Cheong. Para o deputado há uma movimento claro de “demora nos trabalhos”. “Como existe esta intenção de não a aprovar, os trabalhos são muito demorados”, explicou ao HM, adiantando que “há muitos deputados que estão preocupados

com as possíveis consequências da revisão”, no que diz respeito “às receitas do Jogo”.

BATATA QUENTE

O membro do grupo acusa ainda os assessores e técnicos da AL de serem contra esta revisão, porque “são contra a proibição do fumo nas salas VIP” e por isso não trabalham de forma eficiente. “Está tudo a ser feito para que não seja aprovada [a revisão]. Os assessores e técnicos justificam que têm de estudar e demoram muito nas suas opiniões. Depois, quando as voltam a entregar ao Governo, argumentam que é preciso estudar mais”, explicou. Ng Kuok Cheong teme que o Governo “possa alterar a essência da

“A AL está a atrasar os trabalhos até levar a que a proposta caia. A verdade é que grande parte das pessoas não está de acordo com esta revisão” NG KUOK CHEONG DEPUTADO

Sem dinheiro não sou político Temida ausência de candidatos por diminuição de valor de campanha

Segundo o jornal Ou Mun, Lao Cho Chon, da Associação da Nova Juventude Chinesa de Macau, disse que o valor é elevado e pode levar a um tráfico de influências junto dos eleitores. Lao Cho Chon pensa que um limite de três milhões já é suficiente para cobrir as

despesas com a campanha eleitoral, sugerindo o estabelecimento de um limite de orçamento com base no número de eleitores. Caso haja 300 mil eleitores, três milhões de patacas serão suficientes, acredita. Já Ieong Po I, director da Associação de Ténis dos Trabalhadores da Adminis-

A concordar com a opinião está também o deputado Leong Veng Chai, que não acredita na aprovação da lei. “Apoio a proibição total, mas não acredito nela”, frisa. A verdade, diz, é que o Governo sofre de muita pressão das seis operadoras do Jogo. “A discussão vai continuar e não vai conseguir ultrapassar estas questões. A pressão ao Governo é muita, não acredito que seja aprovada”, explicou. O fim dos trabalhos nesta sessão são um cenário longe de acontecer para o deputado. “Nesta sessão não será com certeza, até porque as propostas relativas ao ensino superior e aos condomínios em análise são muito complicadas e vão ocupar o tempo que falta”, acrescentou. Mak Soi Kun, deputado também membro do grupo de trabalho, é mais optimista, mas também não acredita que seja discutida até ao fim desta sessão. “A Comissão tem em mãos agora propostas muito importantes, como o ensino superior. O próximo passo é o Governo analisar agora as opiniões que foram recolhidas sobre a revisão ao regime. Numa próxima reunião vamos decidir, mas não me parece que seja nesta sessão”, explicou.

tração Pública de Macau, considera que os candidatos relativamente “ricos e poderosos” têm feito trabalhos para as próximas eleições, receando que a redução de despesas possa combater a chegada de novos candidatos. Quanto ao regime de responsabilidade penal das

pessoas colectivas, Lei Wen Kong, presidente da Associação de Promoção Jurídica de Macau, sugeriu que a lei possa punir também as entidades sem personalidade jurídica. Lei

Filipa Araújo (com F.F. e A.S.S)

filipa.araujo@hojemacau.com.mo

Wen Kong pensa que os interesses das associações que apoiam os candidatos podem não ser iguais aos interesses de quem quer ser deputado, defendendo que o documento deve esclarecer as responsabilidades caso seja cometido um crime com base nos interesses dos rostos candidatos. Flora Fong

flora.fong@hojemacau.com.mo


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Aviso de recrutamento Pretende admitir, mediante contrato individual de trabalho, nos termos do “Novo Estatuto de Pessoal do Instituto para os Assuntos Cívicos e Municipais”, homologado pelo Despacho n° 49/CE/2010, trabalhadores para os seguintes cargos: 1. 2. 3. 4.

Um Intérprete-tradutor de 2.ª classe, 1.º escalão (Área de tradução e interpretação nas línguas chinesa e portuguesa, referência n°0602/DIT-GAT/2016) Um Técnico Superior de 2.ª classe, 1.º escalão (Área de Direito, referência n°0702/GJN/2016) Um Técnico de 2.ª classe, 1.º escalão (Área Microbiologia, referência n°0802/LAB/2016) Um Operário qualificado, 2.º escalão (Área de estucagem, referência n°0902/DR-SSVMU/2016)

Documentos de candidatura: • Relativamente às condições, os documentos necessários e os pormenores do concurso, constantes do aviso, podem ser obtidos na página electrónica (http://www.iacm.gov.mo/p/recruit/) deste Instituto ou consultados nos Centros de Prestação de Serviços ao Público e Postos de Atendimento e Informação; • Os respectivos boletins de candidatura deverão ser entregues no prazo de vinte dias, ou seja até ao dia 1 de Junho 2016, a contar do primeiro dia útil imediato ao da publicação do presente aviso; • Os interessados ao concurso obrigam-se a entregar pessoalmente o boletim de inscrição devidamente preenchido e assinado e os documentos referidos no aviso de concurso, no prazo acima referido e dentro das horas de expediente, nos seguintes Centros de Prestação de Serviços ao Público e Postos de Atendimento e Informação. Locais dos Centros de Prestação de Serviços ao Público e Postos de Atendimento e Informação:  Centro de Prestação de Serviços ao Público da Zona Norte – Rua Nova da Areia Preta, n.° 52, Centro de Serviços da RAEM (Tel. 2847 1366)  Centro de Prestação de Serviços ao Público das Ilhas – Rua da Ponte Negra, Bairro Social da Taipa, n.° 75 K (Tel. 2882 5252)  Centro de Prestação de Serviços ao Público da Zona Central – Rotunda de Carlos da Maia, n.os5 e 7, Complexo da Rotunda de Carlos da Maia, 3.º andar (Tel. 8291 7233)  Posto de Atendimento e Informação Central – Avenida da Praia Grande n.os 762-804, China Plaza, 2.° andar (Tel. 2833 7676)  Posto de Atendimento e Informação de T’oi Sán – Avenida de Artur Tamagnini Barbosa, n.° 127, r/c, Edf. D. Julieta Nobre de Carvalho, bloco “B” (Tel. 2823 2660)  Posto de Atendimento e Informação de S. Lourenço – Rua de João Lecaros, Complexo Municipal do Mercado de S. Lourenço, 4.° andar (Tel. 2893 9006) Horário de expedicate: Centro de Prestação de Serviços ao Público: 2.ª a 6.ª feira, das 09:00 às 18:00 horas, sem interrupção ao almoço. Posto de Atendimento e Informação: 2.ª a 6.ª feira, das 09:00 às 19:00 horas, sem interrupção ao almoço. Macau, aos 9 de Maio de 2016. O Presidente do Conselho de Administração José Maria da Fonseca Tavares

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MAIS DE 30 TRABALHADORES QUEIXAM-SE POR FALTA DE TRABALHO

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deputado Au Kam San recebeu pedidos de ajuda da parte de 30 trabalhadores locais que estão desempregados desde Fevereiro, tendo apresentado uma queixa junto do Gabinete de Recursos Humanos (GRH). Os trabalhadores alegam que os estaleiros onde trabalham têm trabalhadores não residentes, o que faz com que os patrões não necessitem dos locais. Ao HM, Au Kam San afirmou que os trabalhadores estavam em dife-

O segundo inquérito realizado pela Associação ArcoÍris mostra que a comunidade LBGTI continua a ser vítima de discriminação em Macau. Quase 60% dos inquiridos “concorda totalmente” com a inclusão dos casais do mesmo sexo na proposta de Lei da Violência Doméstica, até porque 7% diz ter passado por essa situação

rentes lotes de construção, incluindo de empreendimentos de Jogo e de habitação pública, mas não conseguiram manter o emprego depois de Fevereiro. “Eles disseram que existem 400 trabalhadores locais, mas em dois lotes de construção da empresa China State há 600 TNR. Consideram isto um abuso de recursos”, explicou. Ao GRH, os trabalhadores pediram a diminuição do número de TNR

na construção civil e para que seja suspensa a sua importação. O organismo apenas contactou a DSAL, a qual prometeu dar apoio na procura de trabalho. Para o deputado, a falta de coordenação entre o GRH e a DSAL faz com que a aprovação dos TNR não corresponda ao número de trabalhadores locais. Au Kam San defende a fusão dos dois organismos para que a situação possa melhorar. F.F. (revisto por A.S.S.)

JUVENTUDE DINÂMICA DENUNCIA CASO JINAN AO CCAC

A Associação Juventude Dinâmica entregou ontem uma denúncia ao Comissariado contra a Corrupção (CCAC), por suspeita de que o Chefe do Executivo, Chui Sai On, não declarou impedimento no processo da aprovação da doação de cem milhões de yuan pela Fundação Macau (FM) à Universidade de Jinan. O Chefe do Executivo é presidente do Conselho de Curadores da FM, sendo ao mesmo tempo vice-presidente do conselho geral da Universidade de Jinan. Mesmo que Chui Sai On já defendesse que não é remunerado pelo cargo que assume na instituição do ensino superior, a associação considera que a sua decisão viola o Código de Procedimento Administrativo. A Juventude Dinâmica espera que o CCAC investigue se o caso envolve conflito de interesses.

Inquérito LGBTI GRAU DE DISCRIMINAÇÃO É ALTO EM MACAU

Diferentes dos outros Associação Arco-Íris mostra que a maioria dos participantes defende a inclusão dos casais do mesmo sexo na proposta de Lei de Prevenção e Combate à Violência Doméstica. Pouco mais de 59%, ou seja, 422 pessoas, “concordam totalmente” com a inclusão, enquanto que 32,17%, 230 pessoas, “concordam” com a proposta, entretanto já negada pelo Governo. Um total de 6,43% optaram por não comentar o assunto. Ainda que mais de 90% dos que responderam afirmaram que nunca foram vítimas de violência doméstica, quase 7% admitiu ter passado por situações do género. “Mais membros da comunidade LGBT consideram fundamental a inclusão dos casais do mesmo sexo na Lei da Violência Doméstica”, disse Jason Chao, porta-voz da Associação. “Há três anos que mantemos o diálogo com o Governo e este sabe claramente qual é a nossa posição e a da ONU. A eliminação dos casais do mesmo sexo da proposta de lei foi deliberada e o principio da não descriminação não está a ser respeitado”, acrescentou.

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AIS de 52% de pessoas da comunidade LBGTI (lésbicas, bissexuais, gays, transexuais/transgénero e intersexo) dizem haver um “considerável” ou “muito elevado” grau de discriminação face à orientação sexual em Macau. Num inquérito considerado mais representativo da comunidade LGBT em relação a 2013, 800 pessoas participaram online, sendo que a média de idades se situou nos 24 anos. As respostas revelam ainda que cerca de 60 pessoas dos inquiridos já foi vítima de violência doméstica. Uma das 50 perguntas feitas visou saber o nível de felicidade da comunidade LGBT em Macau. E a verdade é que cerca de 60% dos inquiridos avaliou a sua felicidade abaixo de cinco pontos, numa escala de 1 a 10. O inquérito dá conta que mais de 26% disse ser “baixo” o nível de discriminação, mas a verdade é que o trabalho das instituições

MAIS TRABALHO PRECISA-SE

Jason Chao explicou que “muitos disseram que mais trabalho poderia ser

PREVENÇÃO CONTRA HIV DEVE MELHORAR

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educacionais para combater a descriminação é considerado “muito inadequado” por 52,31% das pessoas, enquanto que 55,8% também acha “muito inadequado” o trabalho feito pelo Governo nesse sentido. Jason Chao prometeu avançar com mais dados sobre a discriminação, sobretudo

em relação à sua origem já que, diz, “é um facto” que esta existe e é “elevada”.

VIOLÊNCIA QUE EXISTE

Os casos de violência doméstica registados no seio de casais LGBT são geralmente baixos, mas o segundo inquérito realizado pela

SOCIEDADE

ason Chao admitiu que o nível de informação e prevenção do HIV no seio da comunidade LGBT “é muito fraco”. “A maioria das relações sexuais são escondidas, então há muitas informações que não conseguimos que sejam transmitidas. Já falamos com os Serviços de Saúde e estamos abertos a todos os tipos de cooperação. A orientação sexual não é um facto principal para o HIV mas sim o sexo desprotegido”, apontou.

“A eliminação dos casais do mesmo sexo da proposta de lei foi deliberada e o principio da não descriminação não está a ser respeitado” JASON CHAO PORTA-VOZ DA ASSOCIAÇÃO ARCO-ÍRIS feito com as instituições educativas”, já que “não há fundos pensados para apoiar a comunidade LGBT”. “A comunidade LGBT é um tema que tem sido bastante abordado e penso que tanto os Serviços de Educação e Juventude (DSEJ), como outros departamentos do Governo poderiam fazer um trabalho (de inclusão) nesse sentido”, acrescentou. Anthony Lam, presidente da Associação, prometeu avançar com um trabalho de cooperação com entidades e sobretudo com o Instituto Politécnico de Macau (IPM), por ter o curso de serviço social. O objectivo é fazer com que mais assistentes sociais tenham mais noções sobre os problemas da comunidade LGBT. Daqui a dois ou três anos a associação deverá lançar um novo inquérito. Para já, este será entregue ao Governo. Andreia Sofia Silva

andreia.silva@hojemacau.com.mo

TAXA DE SUICÍDIO MAIS BAIXA

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m 2013, 20% dos participantes do primeiro inquérito confessaram ideias suicidas e este ano essa taxa baixou para cerca de 10%. Ainda assim, Jason Chao explica que não se pode falar de uma diminuição, já que este inquérito é mais representativo da comunidade e contou com mais participantes. “Havia menos respostas de gays em 2013 e agora há um maior equilíbrio, por isso temos uma taxa mais baixa”, disse o porta-voz, prometendo avançar com mais dados em breve.


8 SOCIEDADE

hoje macau sexta-feira 13.5.2016

Galgos MAIS DUAS DEZENAS A CHEGAR. LUFTHANSA DIZ NADA PODER FAZER

Directos para o matadouro

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UAS dezenas de galgos chegam hoje a Macau, vindos da Irlanda. O alerta foi dado pela ANIMA – Sociedade Protectora dos Animais e pelo grupo “Stop the export of greyhounds to China”, criado no Facebook por activistas irlandeses. De acordo com a informação disponível nas redes sociais, os animais já estão em transporte, tendo sido retirados da pista de corridas Banteer, que terá sido a responsável pela venda dos outros nove animais que já chegaram ao território. “De acordo com os nossos parceiros irlandeses e confirmado por fontes de Hong Kong e pela Grey2k USA Worldwide, 24 novos galgos irlandeses chegarão a Macau esta sexta-feira, 13 de Maio”, pode ler-se num comunicado da ANIMA. Os animais chegam à ponte-cais 27, entre as 17h00 e as 17h30, mas todo o processo de exportação está a criar indignação na Irlanda, como é possível verificar nas redes sociais e em notícias da imprensa. Mas a má imagem não é só atribuída ao governo do país. “A exportação destes animais está [também] a prejudicar a imagem de Macau como uma cidade amigável e internacional de lazer e entretenimento. Má publicidade em todo o mundo

enche as notícias dos média internacionais, como televisões, rádio e jornais, e nas redes sociais, destruindo todo o trabalho feito pelo nosso Governo nos últimos anos”, realça a ANIMA.

IRLANDA CENSURADA

O governo irlandês tem sido criticado recentemente pelo facto de estar a permitir a exportação de galgos para o Canídromo de Macau, depois da Austrália ter barrado a venda devido às más condições a que os animais estão sujeitos e que foram dadas a conhecer por diversos média, inclusive por uma cadeia de televisão australiana que filmou o espaço com uma câmara oculta. Mais de 30 cães serão abatidos mensalmente, ainda que jovens, por perderem nas corridas. A Irlanda chegou a proibir a importação, mas voltou a permiti-la, o que levou já a manifestações em frente ao Ministério da Agricultura do país. Outra manifestação está marcada para 2 de Junho.

S novos empréstimos concedidos em Macau para compra de casa aumentaram em Março 31,4% em relação ao mês anterior mas caíram 39,9% em comparação com o mesmo período do ano passado, segundo dados oficiais ontem conhecidos. O valor dos novos empréstimos para habitação chegou aos três mil milhões de patacas em Março, relevou a Autoridade Monetária de Macau. Os novos empréstimos tinham terminado

“É mais um grupo de animais jovens saudáveis que vem para a morte”

uma resposta ao HM, a companhia aérea Lufthansa diz que não pode evitar o transporte de galgos, por não ser da sua responsabilidade. A empresa, recorde-se foi alvo de uma petição para que pare o transporte de galgos para Macau, depois da Qantas o ter feito, bem como outras companhias aéreas. “Por favor dirija-se às autoridades responsáveis para mudarem a legislação que permite que este tipo de maus tratos aconteçam em Macau. Como empresa, não sabemos qual o propósito da viagem dos animais. A nossa maior preocupação é providenciar o tratamento mais adequado aos nossos passageiros animais, mas a legislação contra esse tipo de desportos tem de ser feita na esfera política e monitorizada pelas autoridades”, frisa a Lufthansa. A resposta é uma cópia do que tem vindo a ser dito em posts nas redes sociais, ainda que em nada responda à questão colocada pelo HM, se a operadora ponderava parar o transporte como todas as outras.

Joana Freitas

ANIMA

2015 com um crescimento em Dezembro, após meses de queda. No entanto, desde o início do ano voltaram a cair: em Janeiro, o valor foi 35,8% inferior ao de Dezembro e menos 16,2% na comparação homóloga (quando comparado com Janeiro de 2015); em Fevereiro caíram 29,5% em relação a Janeiro e 57,1% em comparação com o mesmo período do ano passado. Também o preço médio do metro quadrado das casas em Macau

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Os animais terão sido transportados até ao aeroporto numa carrinha sem ventilação, algo que é contra as regras de transporte de animais na Irlanda. “É mais um grupo de animais jovens saudáveis que vem para a morte”, indica a ANIMA. De 30 de Abril a 3 de Maio mais de 50 ferimentos em galgos foram reportados no site do Canídromo, desde patas partidas, a músculos e pernas inchados. A Irish Council Against Blood Sports indica que muitos deles, com infecções devido às más condições das jaulas, foram dados como curados e prontos a correr mesmo sem certificado de saúde. joana.freitas@hojemacau.com.mo

EMPRÉSTIMOS PARA COMPRA DE CASA SOBEM 31,4%

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RESPOSTA ALEMÃ

tem caído, tendo a diminuição sido de 13% no conjunto do ano passado, comparando com o ano anterior, segundo dados dos serviços de estatística do território. Em Março, o preço médio do metro quadrado das casas caiu para 72.741 patacas, menos 20,6% que no mesmo mês do ano passado. Já o número de transacções aumentou exponencialmente, com 591 casas vendidas em Março, mais 44% em comparação com 2015 e mais 120% em relação a Fevereiro deste ano.

FRC PROCURA VOLUNTÁRIOS

A Campanha de Solidariedade da Fundação Rui Cunha (FRC) pretende “promover, apoiar e incentivar ou patrocinar acções de natureza filantrópica, no sentido de minorar as necessidades e promover o bem-estar das pessoas ou colectividades”. Neste contexto, a FRC decidiu “melhorar a sua campanha e diversificar os contactos com outras entidades receptoras de actividade voluntária”, procurando para isso ajuda. Os interessados em prestar este apoio à comunidade, devem, portanto, contactar a FRC (emailvoluntariado@ruicunha.org) para se inscreverem. No acto da sua inscrição, explica a FRC, “ficarão a conhecer os direitos e deveres dos voluntários e da entidade promotora”, numa relação, garantem, “fundada no respeito pela actividade que a cada um compete”. Após o processo, a FRC credita o voluntário(a) junto da entidade receptora certificando-o e procurará de variadas formas enriquecer a sua acção social.


9 hoje macau sexta-feira 13.5.2016

Há mais 49 pessoas no Sistema de Registo Central de Toxicodependentes em Macau, incluindo mais 37 jovens. Autoridades alertam para a predominância do consumo de ice e para o aumento dos gastos com estupefacientes

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primeira sessão plenária da Comissão de Luta contra a Droga serviu para as autoridades policiais revelarem um balanço positivo em termos do controlo do consumo e do tráfico de droga no território. Contudo, nem todos os dados mostram esse paradigma. As informações mais recentes do Sistema de Registo Central dos Toxicodependentes de Macau mos-

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HM sabe que é Ricardo Carvalho o advogado que vai representar o português acusado de pedofilia. Apesar de não poder confirmar a informação, o gabinete do advogado confirmou que Ricardo Carvalho não se encontra no território até ao final do presente mês. Do outro lado, a representar a ex-mulher do suspeito e mãe das

Droga REGISTO CENTRAL COM AUMENTO DE CONSUMIDORES

A dura substância tram um aumento de consumidores. Em 2015 havia um total de 617 toxicodependentes, um aumento de 49 pessoas face a 2014. Numa faixa etária mais baixa estão 76 jovens, um aumento de 37 pessoas. Dados revelados pela Polícia Judiciária (PJ) mostram que o ice continua a ser a droga mais consumida no território, tendo passado de uma percentagem de 8,3% em 2009 para 31,1% em 2015. Os consumidores também gastam hoje mais dinheiro com os estupefacientes. Por mês cada toxicodependente gasta cerca de 6500 patacas, um aumento de 8,6% face a 2014.

PREFERÊNCIAS QUÍMICAS

A PJ confirmou que o “ice continua a ser a droga mais procurada, ultrapassou a heroína”, existindo ainda o consumo de ketamina e cocaína. Os responsáveis apontaram que a quebra no consumo de heroína se deve ao elevado preço desta droga no mercado. O ice é sobretudo consumido por menores de 21 anos, sendo que em segundo lugar as preferências

“O ice continua a ser a droga mais procurada, ultrapassou a heroína” de consumo incidem sobre a ketamina, cocaína e o MDMA. “Os jovens consomem droga porque esta é introduzida pelos amigos, sentem curiosidade ou não sabem dizer que não. Muitos também sentem demasiada pressão e querem que a droga ajude a diminuir essa pressão”, disse Io Kong Fai, responsável da PJ. Apesar da PJ afirmar que se conseguiu “um bom resultado no combate” à heroína, a verdade é que as declarações de Io Kong Fai dão a entender que muitos deles acabam por recorrer a este estupefaciente quando têm dinheiro. “O mercado da heroína está em diminuição e talvez possamos deduzir que os consumidores de heroína não têm capacidade para a comprar. A capacidade económica não é elevada e os traficantes também não querem traficar. Muitos consumidores quando não têm

dinheiro vão ao tratamento da metadona e quando têm dinheiro tentam comprar de novo heroína”, explicou.

SEMPRE A SUBIR

Em 2013 a PJ detectou 2,5 quilos de ice, número que passou para 6,6 quilos em 2015. Em cerca de cinco meses já foram detectados 1,8 quilos desta droga. “Não tivemos casos interceptados de trânsito de ice, que está a ocupar o primeiro lugar na lista de drogas e no futuro próximo vai ficar em primeiro lugar no mercado local

SOCIEDADE

e substituir a ketamina”, apontou Io Kong Fai. Cerca de 70% do consumo continua a ser feito em casa, na casa de amigos ou até em hotéis. Ainda assim, “o consumo de droga entre estudantes não é muito grave”, apontou o responsável da PJ. Io Kong Fai explicou ainda que o “tráfico de droga é cada vez mais notório em Macau”, por se tratar de um território “cada vez mais internacional”. Os casos ligados a Hong Kong “subiram em flecha” mas as autoridades admitem ter “um bom mecanismo de troca de informações, apesar do tráfico de droga se tornar cada vez mais transnacional e os modos de actuação serem mais inovadores”. Andreia Sofia Silva

andreia.silva@hojemacau.com.mo

NÚMEROS PODEM SER MAIORES

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m declarações à Rádio Macau, Augusto Nogueira, presidente da Associação de Reabilitação dos Toxicodependentes de Macau, disse que “provavelmente o número (de consumidores) deverá ser maior”. “Mas isso é como tudo, só sabemos quando as pessoas vão pedir ajuda ou são apanhadas pela polícia. Aí são inseridas no registo central e ficamos a saber.” Augusto Nogueira relembrou ainda que vai ser inaugurado em Ká Ho, Coloane, em Junho ou Agosto, um novo centro de tratamento. “A capacidade de acolhimento será de 70 camas: 50 para homens, 20 para mulheres e dez para casos especiais. Depois iremos ajudar vários tipos de adições. Não só à droga, como também ao jogo ou ao álcool”, apontou.

NETO VALENTE E RICARDO CARVALHO ADVOGADOS EM CASO DE PEDOFILIA crianças que alegadamente, segundo a polícia, terão sido molestadas, estará o advogado Jorge Neto Valente. Asemana passada, um homem de nacionalidade portuguesa foi preso preventivamente acusado de praticar crimes de pedofilia com os seus dois

filhos menores. As suspeitas partiram da ex-mulher do acusado que, depois de um processo de divórcio de três anos, começou a estranhar o comportamento duvidoso dos filhos sempre que o pai estava presente. A mãe terá ganho o poder paternal das

crianças em Abril. Depois de uma avaliação por parte de uma psicóloga, as crianças terão, alegadamente, confirmado os abusos sexuais por parte do progenitor. O homem está em prisão preventiva a aguardar julgamento.


10 CHINA

hoje macau sexta-feira 13.5.2016

PEQUIM PRESSIONA TÓQUIO CONTRA IDEIAS DE MILITARISMO

Haja paz, irmãos

Aproveitando a vista de Obama a Hiroxima, a China aproveitou para dizer ao Japão para não pensar em militarismos de novo pois só trazem sofrimento. A visita do Presidente americano, entretanto, está a ser utilizada para retomar as ideias de desnuclearização global

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China instou o Japão a não tomar o caminho do militarismo de novo, disse o porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros esta quarta-feira durante o seu comentário à visita que o presidente Barack Obama fará a Hiroxima. “Esperamos que, ao convidar outros líderes a visitarem Hiroxima, o Japão mostre ao mundo que nunca mais vai seguir pelo caminho do militarismo, facto este que infligiu forte sofrimento ao seu próprio povo, aos povos dos países vizinhos e ao resto do mundo” disse o porta-voz Lu Kang em conferência de imprensa. “As duas bombas atómicas que os Estados Unidos lançaram sobre Hiroxima e Nagasaki antes do final da segunda Grande Guerra Mundial esmagaram as ilusões militaristas dos japoneses de uma vez por todas, causando enormes perdas humanas”, disse Lu. Os civis japoneses que sofreram com as bombas nucleares merecem toda a nossa simpatia, disse ainda. “Uma importante lição que a segunda Grande Guerra nos deu

“Esperamos que, ao convidar outros líderes a visitarem Hiroxima, o Japão mostre ao mundo que nunca mais vai seguir pelo caminho do militarismo”

é que devemos usar a história como um espelho, prevenir que a tragédia da guerra aconteça novamente e fortalecer a ordem internacional do pós-guerra,” acrescentou Lu.

REAVIVAR A DESNUCLEARIZAÇÃO

A viagem a Hiroxima do presidente Barack Obama, é uma oportunidade para reavivar o debate sobre o desarmamento nuclear no mundo, disseram nesta quarta-feira as autoridades da cidade. Obama poderá perceber pessoalmente o impacto que o bombardeamento nuclear de 1945 teve sobre a cidade, explicaram aquelas fontes oficiais. A 27 de Maio, Obama ficará na História como o primeiro Presidente americano em exercício a visitar Hiroxima, anunciou na terça-feira a Casa Branca, salientando, todavia, que o objectivo não é apresentar desculpas por uma decisão tomada por Harry Truman há 71 anos. Obama, que viajará ao Japão para uma cimeira do G7, visitará o local onde ocorreu o primeiro bombardeamento nuclear da história acompanhado do primeiro-ministro japonês, Shinzo Abe. “Espero que aqui, em Hiroxima, Obama proponha medidas concretas na direcção de um mundo sem armas nucleares”, declarou a presidente da câmara de Hiroxima, Kazumi Matsui. Aproximadamente 140.000 pessoas morreram devido à bomba nuclear lançada no dia 6 de Agosto de 1945 pelos Estados Unidos às 8h15 locais. Dezenas de milhares morreram pela explosão da bola de fogo e outras devido aos ferimentos e doenças provocados pelas radiações nas semanas, meses e anos posteriores.

LU KANG PORTA-VOZ DO MINISTÉRIO DOS NEGÓCIOS ESTRANGEIROS

Contra os linguareiros Divulgação de “gaffe” de Elizabeth II censurada

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governo chinês censurou a circulação de notícias sobre os recentes comentários da rainha Elizabeth II, que afirmou na terça-feira entender que as autoridades chinesas eram muito rudes. O constrangimento internacional veio após uma conversa particular da monarca ter sido apanhada em flagrante pelas câmaras. No ano passado, o presidente Xi Jinping fez uma visita oficial ao Reino Unido, numa iniciativa para estreitar as relações entre Londres e Pequim. Em Pequim, o porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros disse que a visita de Xi ao Reino Unido no ano passado foi extremamente bem sucedida graças aos esforços dos dois países. No entanto, as notícias controladas pelo governo chinês desta quarta-feira censuram as notícias sobre os comentários da rainha. O porta-voz de Elizabeth também exaltou o sucesso da visita, afirmando que isto só foi possível porque ambas as partes trabalharam juntas para garantir que a viagem procedesse sem ocorrências negativas. As observações da rainha podem ser um elemento indesejado aos esforços do governo britânico para estimular as trocas comerciais com a China — país que já registou uma série de tensões históricas nas relações com o Reino Unido. A monarca nunca faz comentários política ou diplomaticamente sensíveis em publico, e é raro que o conteúdo das suas conversas particulares seja revelado.

REI DE MARROCOS REÚNE COM XI JINPING

CHINA DAILY ACHA LISBOA ROMÂNTICA

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Presidente chinês, Xi Jinping, encontrou-se na quarta-feira em Pequim com o Rei Mohammed VI de Marrocos. Juntos, decidiram estabelecer relações de parceria estratégica sob os princípios de respeito mútuo e benefício recíproco, a fim de abrir uma nova página nas relações bilaterais. Xi Jinping relembrou que Marrocos é um dos países africanos e árabes que mais cedo estabeleceu relações diplomáticas com a China. O líder chinês frisou ainda que a China dá grande importância ao desenvolvimento das relações bilaterais com Marrocos e apoia firmemente os esforços deste país africano na manutenção da estabilidade nacional e no desenvolvimento económico. Segundo Xi Jinping, a China quer participar no plano de recuperação industrial de Marrocos e

vai estimular as empresas chinesas a participarem na construção de infra-estruturas no país africano, além de aprofundar a cooperação na pesca, medicina, telecomunicações, artigos electrónicos, produção de equipamentos, sector aeroespacial e energia limpa. A China vai ainda ampliar a cooperação no turismo e educação e reforçar a coordenação com Marrocos nos assuntos internacionais, tais como mudanças climáticas, a fim de defender os interesses comuns dos dois países e dos países em desenvolvimento. O Rei Mohammed VI agradeceu o apoio ao governo chinês e disse querer aprofundar a cooperação com a China nos sectores económico e comercial e na construção de infra-estruturas. Para o líder africano, a parceria estratégica vai gerar um novo impulso nas relações bilaterais.

China Daily, dedicou ontem uma extensa reportagem a Lisboa, que descreve como uma “cidade para apaixonados”, e homenageia a riqueza arquitectónica e histórica da capital portuguesa à qual junta Sintra. “A sua estética apela igualmente a casais apaixonados e aficionados da arquitectura”, aponta o jornal, num texto assinado pelo jornalista Erik Nilsson e acompanhado de fotografias do Palácio da Pena e do Castelo dos Mouros, em Sintra. “Talvez a característica mais marcante da paisagem de Lisboa resida nos geométricos padrões coloridos que irradiam de edifícios cobertos por azulejos”, descreve o articulista.

Numa alusão à “encantadora miscelânea de construções que colidem contra a costa oceânica como ondas”, Nilsson retrata ainda “o poliamor entre o neo-gótico, neo-árabe, neo-barroco, neoclássico, art déco, arte nova e estruturas medievais”. O autor destacou ainda a cultura vinícola do Norte de Portugal, com vivas descrições do Alto Douro Vinhateiro e das paisagens que preenchem o percurso até à Ribeira portuense. Fundado no início da década de 1980, o China Daily é o mais antigo jornal oficial chinês de língua inglesa, com edições diárias no continente, em Hong Kong e nos Estados Unidos da América, e edições semanais para a Europa e África.


11 hoje macau sexta-feira 13.5.2016

FILMES DE MACAU NA ESLOVÉNIA

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cineasta de Macau Cheong Kin Man está a coordenar uma mostra de filmes de Macau na Eslovénia. O convite partiu do Departamento de Estudos Asiáticos da Universidade de Liubliana, a entidade organizadora do evento. Segundo Kin Man, o contacto surgiu durante a sua segunda visita ao país, em Junho passado, para a projecção do seu filme “Uma Ficção Inútil” enquadrado no nono Festival de Cinema de Migração realizado na Cinemateca Eslovena.

“Convidaram-me a apresentar ‘Uma Ficção Inútil’ na Feira do Livro Académico Liber.Ac. e por causa das limitações da organização propus uma ‘monstra de curtas-metragens experimentais de expressão chinesa’, explica o realizador. Assim, para além do filme de Cheong Kin Man, serão apresentados ao público esloveno no próximo dia 24 mais uma selecção do autor de 11 curtas-metragens de Macau. A saber: “Ah Ming’s Macau”, de Albert Chu, “As Fontes de Água de Macau” de

CINEMA GAULÊS NO GALAXY Season Lao “Avião de Papel” de Vincent Hoi, “Deixados para trás” de Cecilia Ho, “Era uma vez em Ká-Hó”, de Hélder Beja; “Pateo do Mungo”, “Who are those devils”, de Lam Kin Kuan, “Um amigo meu”, de Tracy Choi, “Uma Pataca Apenas”, de Vincent Hoi, “Uma Semana no Iao Hon” de Ao Ieong Weng Fong e “Venha, a Luz”, de Chao Koi Wang. O programa foi aprovado pela Cinemateca Eslovena e teve ainda a cooperação do “Objectifs - Center for Photography and Film”, de Singapura, o grupo de artistas

Uma Ficção Inútil

“TRIPOT” da Bélgica, do qual Kin Man faz parte e da iniciativa de intercâmbio internacional de artistas “Pool” da Alemanha.

Armazém do Boi FÓRUM E EXPOSIÇÃO SOBRE ESPAÇOS DE ARTE

Teorias de sobrevivência tercâmbios artísticos frequentes, apesar de cada uma destas regiões ter suas próprias tendências e processos de desenvolvimento artístico diferentes. Todavia, lê-se ainda no comunicado distribuído à imprensa, nos últimos dez anos o crescimento dos espaços de arte independentes nas três regiões tornou-se um tema da actualidade, ao que não serão alheias as políticas culturais oficiais e a demanda do público.

PROTAGONISTAS

bém pela Estação Huangbian de Cantão, vai contar com a presença de grupos artísticos representativos da Formosa para estudar como os espaços de arte e os grupos independentes se adaptam às mudanças sociais para conseguirem sobreviver. Para discutir o assunto, estarão também presentes representantes de artistas, que vão discutir a evolução dos espaços de arte independentes, numa sessão

onde explicarão aos presentes como continuar a melhorar a sua performance e sobre forma de adaptação para sobreviverem. Explorar as ecologias artísticas de cada uma das regiões, discutir outros temas de interesse e a partilha de experiências e ideias é também um dos objectivos do evento. Segundo a organização, Macau, Guangzhou e Taiwan têm in-

Os oradores serão Frank Lei (Armazém do Boi), Li Xiaotian (Huangbian Station) e Lai Hsin-Lung (Hantoo Art Group). Participam ainda os artistas Bianca Lei, Noah Ng e Cora Si (Armazém do Boi), Catherine Chen, Chen Jialu, Zhongjian Du, Haibin Huang, Jingbin Liu e Zhiyong Li (Estação Huangbian – Cantão) e Lai Hsin-Lung, Yang Jen-Ming, Lu Hsien-Ming e Chang-Ling (Grupo Hantoo Art - Taiwan). “Teoria da Evolução dos Espaços Arte”, assim se chama o evento, é organizado pelo Armazém do Boi e patrocinado pelo Instituto Cultural e pela Fundação Macau e comissionado conjuntamente pela Estação Huangbian de Cantão e pelo Grupo Art Hantoo de Taiwan. A produção é de Gigi Lee, artista e curadora de Macau. O local da exposição é, naturalmente, o Armazém do Boi. Fórum e Exposição acontecem a 21 de Maio estando o início do fórum previsto para as 15h00 e a cerimónia de abertura da exposição para duas horas mais tarde, ficando depois patente ao público até ao dia de 10 Julho. A entrada é livre. M.N.

Começou esta semana e segue até ao dia 18 a terceira edição do Festival de Cinema de França, parte integrante do “Maio Francês”. O certame mostrará um filme por dia num total de oito filmes nunca exibidos em Macau. Assim, é possível assistir a “Le goût des merveilles”, de Eric Besnard (hoje às 19h15), “Le tout nouveau testament” , de Jaco Van Dormael (amanhã, às 19h00), “La belle et la bête”, de Christophe Gans (a 15 de Maio, 16h30), “Ni le ciel ni la terre”, de Clément Cogitore (16 de Maio, 19h15), “Un Français”, de Diastème (17 Maio, 19h15) e “Marguerite”, de Xavier Giannoli, dia 18 de Maio às 20h40.

ESPÍRITO INACIANO EM ANÁLISE NA USJ

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ODAS as quintas-feiras até ao dia 2 de Junho, o Padre Luís Sequeira está a apresentar uma série de palestras sobre o “espírito inaciano”, filosofia essencial dos Jesuítas nascida, naturalmente, de Inácio de Loiola, um dos fundadores da Companhia de Jesus. Oriundo do seio da nobreza basca do séc. XVI, Loiola era pouco dado às coisas espirituais e mais a sonhos mundanos. Todavia, foi notando estados interiores diferentes: quando pensava nas coisas do mundo, sentia um contentamento momentâneo mas depois acabava e sentia-se vazio e insatisfeito. Com o tempo, foi aprendendo que esta procura se fazia em ambiente de conflito e de movimentos interiores contraditórios. É nesta indagação que se desenvolve o “espírito inaciano”, conhecido especialmente por ser a procura de Deus em todas as coisas. Um caminho de abnegação e discernimento, uma história de amor pelo divino que os jesuítas gostam de contar. Organizadas pela Faculdade de Estudos Religiosos, as conferências decorrem no Auditório do Seminário da Universidade de São José, todas as quintas até dia 2 de Junho, pelas 18h30. A entrada é livre. GONÇALO LOBO PINHEIRO

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Armazém do Boi vai organizar um fórum e uma exposição sobre a teoria da evolução e sobrevivência dos espaços artísticos. Este evento será o primeiro sobre o tema apresentado pelo Armazém do Boi e é participado por artistas e especialistas de Macau, Taiwan e Cantão. Assim, este programa de intercâmbio regional, encetado tam-

EVENTOS


12 EFEMÉRIDE

Passaram 50 anos, mas as memórias ainda perduram e são descritas por um ex“pequeno guarda vermelho” e por um jornalista que rumou até África. São Yao Jingmin e Li Changsen, dois tradutores da língua de Camões que têm em Macau a sua casa

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UANDO a Revolução Cultural começou,Yao Jingming tinha oito anos. Como milhares de crianças chinesas foi um “pequeno guarda vermelho”, enviado para o campo para aprender grandes lições de vida. “Ainda me lembro de quando era um ‘pequeno guarda vermelho’, das escolas paralisadas, de professores ‘derrubados’, humilhados com uma placa ao pescoço com o nome riscado e o crime cometido, como serem espiões e coisas do género”, contou Yao Jingming à agência Lusa, a propósito dos 50 anos do início da Grande Revolução Cultural. “Passaram-se coisas horríveis... Assistia com um olhar curioso e, como era pequenino, até achava interessante. Na minha mentalidade, Mao Zedong tinha sempre razão. Ainda não sabia distinguir o bem do mal”, relata. Yao Jingming nasceu em 1958 em Pequim. Após terminar a escola primária, foi “seleccionado” – eufemismo para obrigado – para estudar Espanhol numa escola ligada ao Instituto de Línguas Estrangeiras de Pequim. A primeira expressão que aprendeu na língua de Cervantes foi: “¡Viva el Presidente Mao!”.

REVOLUÇÃO CULTURAL MEIO SÉCULO DEPOIS A MEMÓRIA AINDA PERDURA

“NAO PODE VOLTAR A ˜

O Espanhol acabaria por ficar na gaveta e no final do ensino secundário, em plena adolescência, foi enviado com os colegas de turma para o campo, onde esteve cerca de um ano e meio para ser “reeducado” pelos “mestres”.

SORTE NO CAOS

Foi só com o final da Revolução Cultural em 1976 e a restauração do sistema de exames nacionais para o acesso ao ensino superior, que Yao Jingming ingressou no então Instituto de Línguas Estrangeiras de Pequim, onde se licenciou em Língua Portuguesa e iniciou a sua vida profissional como tradutor. Mas, antes dele, em 1965, Li Changsen já tentava aprender a língua de Camões e teve a sorte de poder entrar na licenciatura de Português de uma universidade chinesa. “Uma rara oportunidade” para Li que nunca abandonou os estudos, mesmo quando um ano depois irrompeu o caos da Revolução. Entrou no Instituto da Radiodifusão de Pequim (actual Universidade de Comunicação da China). Com a chegada da Grande Revolução “toda a ordem pedagógica deixou de existir. Tudo dependia, de facto, de cada turma, da vontade dos alunos. Era a anarquia”, relembra. Metade dos 40 alunos das turmas de Português desistiu dos estudos para se dedicar ao movimento revolucionário, mas os outros decidiram não desperdiçar a oportunidade de terem conseguido entrar na universidade. “Por isso, apesar do caos em todo o país e também dentro do instituto, eu e outros continuámos”, conta Li, recordando as vezes que foi ao hotel da professora Rosália “só para aprender mais umas palavras, conversar, praticar a língua”, em conturbados tempos em que os materiais didácticos não passavam de uma miragem.

ARROZ DA MEMÓRIA

Seguindo directivas decretadas por Mao, quase todos os estudantes da escola secundária iam para o campo ou para as fábricas, como relembra Yao Jingmin. “Aprendemos coisas boas, mas também outras muito negativas. Permitiu conhecer a realidade do mundo rural e, depois, conhecer a humanidade dos camponeses”, conta Yao, considerando que até teve “sorte” porque foi mandado para uma comuna popular nos subúrbios de Pequim. “Havia duas camponesas experientes para nos guiar. Todos os dias levavam-nos para o campo

para trabalhar no arrozal. Sei tudo sobre como cultivar! Mas foi muito duro”, lembra, descrevendo dias que começavam às cinco da manhã e a “enorme fome” no final da jornada: “Comíamos muito, sempre cereais, não havia muita carne”. “Tenho ainda uma impressão muito clara daquela experiência. Para mim foi positiva porque aprendi muita coisa que não se podia aprender na escola”, sublinha Yao, ainda com as mensagens, músicas e instruções da propaganda transmitidas pelos altifalantes da aldeia presentes na memória.

OUTROS ENSINAMENTOS

A Revolução Cultural paralisou todo o ensino na China. No caso dos cursos de Português, as novas admissões foram suspensas durante sete anos, até ser colocada em marcha uma nova política que veio

facilitar a entrada de camponeses, operários e soldados e resgatou os “bem-comportados” que haviam sido enviados para o campo. Em 1969, “apesar de toda a turma ter sido transferida da cidade para o campo”, Li continuava a estudar, mas apenas de manhã, “porque à tarde ia para a lavoura”. Foram oito meses a aprender o “espírito revolucionário dos camponeses”, num templo antigo e abandonado transformado em sala de aula. No ano seguinte, foi “felizmente” escolhido para trabalhar na Rádio Pequim – hoje Rádio Internacional da China –, na secção de Língua Portuguesa, onde fez carreira durante mais de duas décadas, como intérprete/tradutor e jornalista. Outros continuaram a receber “reeducação ideológica”. Em 1973, ainda corria a Revolução Cultural, partiu para África, onde teve o primeiro contacto real com

“De certo modo, explorou a da humanidade: pais que d filhos, homens que denunci mulheres, tudo para se salv próprios de consequências podiam ser até a morte. A c YAO JINGMING ESCRITOR E TRADUTOR falantes de Português. Foi designado pelo Governo Central para trabalhar em dois centros de treino militar, na Tanzânia, para onde eram enviados guerrilheiros do Movimento Popular de Libertação de Angola e da Frente de Libertação de Moçambique, trabalhando como intérprete durante quase dois anos. Já como jornalista teve um dos pontos altos da carreira em 1987, quando testemunhou a assinatura da Declaração Conjunta


13 hoje macau sexta-feira 13.5.2016

EFEMÉRIDE

A ACONTECER”

ao máximo o mal denunciavam iavam as varem a si muito graves, que confiança acabou”

“A nossa moral, o nosso espírito de nação foram fortemente arruinados. Fez-se em nome da cultura, mas foi um movimento puramente político, com o objectivo de arruiná-la”

sino-portuguesa. Foi para Macau que foi destacado, de seguida, para colaborar no processo de transição. Nunca mais deixou o território. O caminho foi diferente para Yao, que no final da década de 1980 partiu para Portugal para trabalhar na Embaixada da China. O impacto foi “grande” para quem pouco sabia do mundo. Conheceu Eugénio de Andrade, o primeiro poeta que viria a traduzir para Chinês. Seguir-se-iam Fernan-

do Pessoa, Mário de Sá Carneiro, Miguel Torga ou Sophia de Mello Breyner. Depois de Lisboa, ainda regressou a Pequim mas por um curto período de tempo e no início dos anos 1990 mudou-se para cá, onde ainda vive.

JÁ CHEGA

A Grande Revolução Cultural Proletária, que agitou a China entre Maio de 1966 até à morte de Mao Zedong

dez anos depois, pretendeu purgar a China da “infiltração de elementos burgueses” nas estruturas do Governo e da sociedade. Por todo o país, os Guardas Vermelhos - grupos de adolescentes e jovens sempre acompanhados pelo “livro vermelho” com os ensinamentos de Mao - ocuparam todas as estruturas da sociedade para impor o novo modelo, enquanto milhões de estudantes e intelectuais foram enviados para os campos para “reeducação” pelo trabalho. Milhões de pessoas sofreram humilhação pública, prisão arbitrária, tortura, confiscação de bens. A tradição cultural milenar foi renegada, museus, monumentos e livros foram destruídos. Estimativas colocam em 750 mil mortos o resultado da violência da Revolução Cultural. Hoje, à distância de 50 anos, Yao não tem dúvidas de que as repercussões negativas da Revolução Cultural perduram. Foi um movimento que, “de certo modo, explorou ao máximo o mal da humanidade: pais que denunciavam filhos, homens que denunciavam as mulheres, tudo para se salvarem a si próprios de consequências muito graves, que podiam ser até a morte. A confiança acabou”. Yao Jingming ainda reflecte sobre momentos que viveu durante aquele tempo, a partir dos quais constrói poemas. “Acho que só percebi realmente as consequências negativas da Revolução Cultural, que foi um desastre, na universidade, com a leitura de escritores, também porque tinha o pensamento mais maduro e capacidade para distinguir as coisas”, afirma Yao, confessando não gostar de falar sobre o tema, embora lhe seja “tão familiar”. Yao Jingming não tem dúvidas em afirmar que “foi pior do que qualquer desastre natural, porque destruiu muitas coisas boas da tradição chinesa. Não só a nível material, mas também espiritual”. “A nossa moral, o nosso espírito de nação foram fortemente arruinados. Fez-se em nome da cultura, mas foi um movimento puramente político, com o objectivo de arruiná-la”, afirma. E a lição que fica é simples, é a de que “uma vez já chega. Não pode voltar a acontecer”. Diana do Mar (agência Lusa) Editado por HM

De necessário a espião Gary Ngai, o tradutor de Mao Zedong

Q

UANDO deixou a Indonésia rumo à China, Gary Ngai Mei Cheong mudou para sempre a sua vida. O cargo de tradutor de Mao Zedong não o protegeu da Revolução Cultural e acabou enviado para o campo, acusado de ser “espião imperialista”. Nascido na Indonésia em 1932, Gary Ngai tornou-se o primeiro membro da sua família de seis gerações de chineses ultramarinos a partir para a China, onde nunca havia estado. Foi inserido num grupo de 80 alunos de escolas chinesas da Indonésia “escolhidos” para prosseguir estudos na China, o primeiro grupo de estudantes estrangeiros a chegar à nova China comunista. “Estávamos em Agosto de 1950, em pleno início da República Popular da China quando cheguei a Pequim”. O sentimento era o de que se vivia “uma época dourada” e que os líderes eram como Edgar Snow os descrevera na obra “Estrela Vermelha sobre a China”. Após um período de “doutrinação”, foi seleccionado para participar no programa da Reforma Agrária em curso, indo inicialmente para Cantão. “Fiquei surpreendido com a China que encontrei. Éramos apenas jovens estudantes e não sabíamos muito bem o que estava realmente a acontecer, mas havia um extremismo que ia contra a política de que Mao falava”, relata Gary Ngai, 83 anos, à Lusa. Depois de se graduar, em 1956, iniciou a carreira profissional no Departamento de Relações Internacionais do Partido Comunista da China (PCC).

ALGO DE ERRADO

Inicialmente afecto à secção do sudeste asiático, foi depois transferido para a da Europa ocidental, em que uma das rotinas passava por traduzir jornais estrangeiros, do Holandês, Sueco, Inglês, Alemão e Italiano para dirigentes do partido. Esteve com Mao Zedong “poucas vezes, sobretudo quando líderes comunistas da Europa visitavam Pequim”, mas ficava

“nervoso por estar muito perto”, porque “ele era, afinal, um líder”. Com Deng Xiaoping a relação foi diferente. “Traduzia para ele e para os filhos os filmes de ‘cowboys’ a preto e branco que adoravam. A relação era boa e a amizade continuou mesmo depois de Mao ter posto Deng de parte. Gary Ngai começou a perceber que “algo estava a ficar errado”, no início de 1959, quando lhe foi negada autorização para se juntar a uma delegação que iria partir para Suíça. “Soube mais tarde que fui discriminado por ser um chinês ultramarino. Foi um amigo meu que trabalhava no gabinete que fazia a selecção que me disse que só foram escolhidos os que não tinham qualquer tipo de relação com o estrangeiro”, recorda. Seguiu-se uma perseguição no trabalho, buscas em casa, interrogatórios durante dias a fio pela suspeita de “conluio com estrangeiros contra a China”, e violência física e psicológica por parte dos próprios colegas de trabalho que estavam do lado político oposto. Com a Revolução Cultural (1966-76) em marcha, Gary Ngai foi enviado para a província de Heilongjiang, perto da fronteira com a Rússia, notória pelos invernos rigorosos, com temperaturas que atingiam os 36 graus negativos, sendo transferido depois para Henan. No total foram aproximadamente quatro anos. “Éramos vistos como pessoas que deixaram de ser de confiança. Os chineses ultramarinos tinham conexões com o exterior e, por isso, consideravam-nos ‘espiões imperialistas’”, diz hoje Gary Ngai entre risos, à distância de 50 anos. Em 1972, com a histórica visita do Presidente dos Estados Unidos Richard Nixon à China, foi “chamado” a Pequim, voltando antes do que seria suposto, por causa da falta de especialistas em línguas estrangeiras. Em 1979, mudou-se para Macau, onde continua radicado até hoje. Diana do Mar (agência Lusa) Editado por HM


h ARTES, LETRAS E IDEIAS

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Declínio do porto de Macau

C

OMO prova das boas relações existentes entre as autoridades portuguesas e chinesas, a visita a Macau do Comissário Imperial Lin Zexu acompanhado pelo Vice-Rei de Liangguang (Guangdong e Guangxi), Deng Tingzhen, a 3 de Setembro de 1839 e também do Hopu de Cantão, chefe das alfândegas chinesas naquela província, de 5 a 8 de Setembro. Wu Zhiliang refere que “Na véspera da visita de Lin Zexu a Macau, corriam, por todo o lado, rumores de que as forças militares da China atacariam Macau para expulsar os ingleses. Aproveitando-se desta circunstância, Charles Elliot propôs ao Governo de Macau o auxílio militar britânico”, e <uma força de 800 a 1000 homens se pode pôr imediatamente ao dispor de V. Exa.>, que Silveira Pinto delicadamente recusou. Dias antes, em finais de Agosto, os súbditos britânicos tinham saído da cidade, mas, após uma breve estadia em Hong Kong, regressaram a Macau a 23 de Janeiro de 1840, apesar de ser um acto nada conveniente para os portugueses, que não tinham força suficiente para não o permitir. Os ingleses, após serem expulsos de Cantão pelos chineses, nada tinham a perder e refugiados em Hong Kong, agora sem víveres, sentiam o cerco apertar-se e por isso, daí remeteram um novo pedido no dia 12 de Dezembro de 1839 ao Governador de Macau para poderem regressar a essa cidade e aí residirem. Não obtiveram tal permissão, pois Silveira Pinto não aceitou. Com Alfredo Gomes Dias seguimos, “as autoridades britânicas decidem então forçar a entrada no porto de Macau utilizando para o efeito a corveta Hyacinth, largada a partir da fragata Volage fundeada na rada de Macau. São os acontecimentos de 4 de Fevereiro” de 1840. Lembrava Março de 1839 em Cantão; “Entrando de imediato em acção, Lin começou a confiscar milhares de quilos da droga e de cachimbos de ópio, prendendo mais de 1600 chineses. Quanto aos estrangeiros, começou por tentar demovê-los, através de didácticas chamadas de atenção no capítulo da ética. Mas essa técnica persuasiva não resultou e Lin, furioso, decretou, em Março de 1839, um bloqueio completo à

comunidade estrangeira em Guangzhou. O cerco só foi levantado quando Lin, que passou a viver num barco, para melhor vigiar os estrangeiros, obteve mais de 20 mil cestos de ópio, a totalidade da mercadoria que então se encontrava nas feitorias de Guangzhou. Em Abril, numa acção espectacular, todo esse ópio foi lançado ao rio da Pérola”, segundo Fernando Correia de Oliveira, no livro 500 Anos de Contactos Luso-Chineses editado em 1998: “O principal negociante inglês, William Jardine, fundador da casa comercial que ainda hoje existe em Hong Kong, foi de imediato a Londres pedir auxílio económico e militar. O parlamento inglês, sem declarar a guerra à China, aprovou o envio de uma esquadra de 16 navios para a zona de Guangzhou”.

FORÇAR A ENTRADA EM MACAU

Segundo Marques Pereira, no Decreto de 5 de Janeiro de 1840, o Imperador Daoguang (1821-1850) proibira o comércio com a Inglaterra e a 8 de Janeiro, o comandante do navio de guerra inglês Volage anunciava para o dia 15 o bloqueio do porto de Cantão. A 23 de Janeiro “os ingleses desembarcaram em Macau passando a residir nesta cidade”, segundo Alfredo Dias. Ao fim de uma semana de estadia britânica em Macau, a 31 de Janeiro de 1840 o novo “Procurador José Vicente Jorge entrevista-se com o Tou-T’ói, pelas 15.30 horas, no Hopu de Macau. O Tou-T’ói veio com o fim de exigir a expulsão do capitão Elliot e dos ingleses residentes em Macau, apoiado com mil homens que, a pedido dos mandarins, ficaram retidos na Casa Branca, dizendo que tal tropa se destinava a proteger os portugueses. Ofereceu-se, porém, para prorrogar a publicação do edital dos Suntós dos dois Kuongs e de Cantão, que ordenava a ele, Tou-T’ói, que viesse, à testa da tropa, prender os ingleses, e ao ajudante-geral Kuam-Chon-Hiae que seguisse com mais mil homens para se juntarem aos mil de Tou-T’ói, a fim de promover o encerramento das alfândegas, a suspensão do comércio português e o isolamento de Macau, bem como a retirada de todos os chineses, dentro

de cinco dias, pois a cidade seria invadida. O procurador não cedeu ante a intimidação do enviado chinês”, segundo Luís Gonzaga Gomes. Já Alfredo Dias refere que, a 1 de Fevereiro há a “Proclamação imperial onde se pretende sossegar as comunidades chinesas e estrangeiras em Macau afirmando que pretendiam apenas cercar e prender os ingleses”. Marques Pereira diz que no dia seguinte, o comissário imperial chinês, Lin, dirige de Cantão, pelo navio Thomas Coutts, uma carta à rainha de Inglaterra (Victória), criminando a insistência dos seus

súbditos em trazerem ópio à China, e em espalharem entre a população essa droga nociva, a despeito das justas leis do império contra semelhante contrabando. Esta carta foi, pelo mesmo comissário, mandada publicar em todos os distritos do sul da China. A 4 de Fevereiro de 1840, segundo Montalto de Jesus, “Tendo começado as hostilidades, o barco Hyacinth forçou o caminho pelo Porto Interior de Macau. Isto provocou um veemente protesto do governador Silveira Pinto, que responsabilizou o governo inglês pelas consequên-


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José Simões morais

cias. Foi salientado que, mesmo sob a aparência de protecção, tal caminho não tinha sido seguido pelo contra-almirante Drury. O Capitão Smith acabou (no dia seguinte) por retirar o Hyacinth, na condição de serem tomadas medidas enérgicas para fazer retirar as tropas chinesas das proximidades da colónia”.

O COMÉRCIO DO CHÁ EM MACAU

A 6 de Fevereiro de 1840, Lin Zexu foi nomeado Vice-Rei de Liangguang e no dia 11, “Edital publicado em Cantão mandando fechar o comércio em Macau e destruir a Cidade por as autoridades portuguesas permitirem aí a presença de Elliot”, e continuando com Alfredo Dias, a 19 de Fevereiro, “O procurador José Vicente Jorge responde às autoridades chinesas que exigiam a expulsão dos ingleses de Macau dizendo que a Cidade estava preparada para repelir

qualquer ataque ou violência da parte dos Chineses”. Esta mudança de discurso do Procurador de Macau contrariava o que José Baptista de Miranda e Lima em Setembro de 1839 anunciara a Lin Zexu (1785-1850), a neutralidade de Macau na disputa entre a Inglaterra e a China. As palavras do novo Procurador, sem força para contrariar os ingleses, quebravam tal promessa e assim, terminava o período de paz e de comércio que a 29 de Setembro de 1839 o Governador Silveira Pinto referia num ofício ao governo de Lisboa, comunicando a abertura do comércio em Macau, fechado desde Março. Esse bom relacionamento comercial pode-se constatar na resposta dada a 27-12-1839 pelo Superintendente Geral da Alfândega de Cantão ao pedido feito pelo Procurador, permitindo o aumento da exportação de chá para Macau e ordenando ao mandarim de Hèong-Sán que consultasse o Hopu de Macau sobre a conveniência ou inconveniência da entrada dos navios vindos de Portugal, em Vampu (Huangpo); que não fosse permitido aos navios de Macau ficarem fora do porto de Cantão e que, quanto à gravação dos números nos barcos de Macau, continuasse a ser observado o que se encontra prescrito no respectivo regulamento”. Já como consequência das palavras de 19 de Fevereiro de 1840 do Procurador às autoridades chinesas, vemos na semana seguinte, a 26, “o Procurador do Senado, José Vicente Jorge, reclama(r) junto das autoridades chinesas contra a redução do fornecimento de chá, cuja exportação por navios portugueses era de 6000 picos líquidos, por ano”, segundo Gonzaga Gomes Não esquecer que, “Por meados do século XVIII, os comerciantes independentes de Macau foram contratados para fornecerem chá da China à EIC, em Madrasta, tal como acontecia com a VOC, em Batávia, à qual também forneciam o chá”, como lembra Leonor Seabra. Estas companhias (inglesa e holandesa) importavam o chá da China e, depois de preparado, vendiam-no para a Europa, sendo em Macau o chá apenas manufacturado e não cultivado, e era essa a principal indústria da cidade. Ressoam as palavras de Sir George Staunton no ano de 1797 pela defesa da estrangulação do pobre marinheiro inocente com o seguinte argumento: “Mas abstraindo de qualquer ideia de lucro, é sabido que um dos principais géneros trazidos da China, e que em nenhum ou-

A 4 de Fevereiro de 1840, segundo Montalto de Jesus, “Tendo começado as hostilidades, o barco Hyacinth forçou o caminho pelo Porto Interior de Macau. Isto provocou um veemente protesto do governador Silveira Pinto, que responsabilizou o governo inglês pelas consequências tro país se pode encontrar, é hoje um objecto de necessidade para quase todas as classes da sociedade na Inglaterra. Em quanto pois se não puder ir buscar a outra parte chá de tão boa qualidade e por tão baixo preço como o da China, será forçoso trazê-lo de Cantão e não desprezar precaução alguma para o poder obter”.

SUBSCRIÇÃO PARA PRESENTEAR O MANDARIM Mandado fechar o comércio em Macau no dia 11 de Fevereiro de 1840, pelo Edital do Comissário Imperial Lin Zexu publicado em Cantão, “Por abrigar senhoras e crianças inglesas em Macau, os portugueses foram afastados do comércio de Cantão”, segundo Montalto de Jesus. O comércio em Macau foi restabelecido a 9 de Março pelo Comissário Imperial Lin Zexu, como diz Wu Zhiliang e no dia 20 para Alfredo Dias, “Edital chinês abre o porto de Macau”. Ainda no Edital de 11 de Fevereiro de 1840, em nome do comissário imperial, um édito especial do mandarim de Chinsan ordenou, então, a prisão de Elliot, expressando considerável espanto pela sua tentativa arbitrária de excluir as embarcações americanas de Macau”, segundo Montalto de Jesus. Marques Pereira regista dos Archivos da Procuratura o dia 1 de Março de 1840, quando se fez a “subscrição promovida entre os macaenses a fim de presentearem o mandarim Pang, que se retirava para Cantão, depois de exercer nesta colónia o cargo de So-tam”. Alfredo Gomes Dias complementa, “Os macaístas quotizam-se para oferecerem um presente, em sinal de muito respeito e amizade, ao mandarim, que se retirara para Cantão depois de ter exercido o cargo de Tso-tang em Macau”. Luís Gon-

zaga Gomes refere para 3 de Março o “Edital do Tou-T’ói, declarando ter intercedido pela reabertura do comércio em Macau, que fora fechado, em consequência da guerra com os ingleses”. Muito mais tarde, já com o resultado definido da primeira Guerra do Ópio, faltava apenas saber por quanta prata, a 18-12-1841 “O Procurador do Senado, de apelido Carneiro, reclamou junto do Hopu Grande de Cantão contra o facto de os anistas (mercadores) de Cantão anteporem dificuldades à livre exportação do chá, tanto mais que os moradores de Macau, conformando com as ordens imperiais, deixaram de comerciar em ópio e pediu que fosse permitida a livre exportação do referido artigo, para esta cidade, sem embaraço algum. Encontrava-se o chá como um exclusivo chinês quando, após a I Guerra do Ópio (1839-1842), a pedido da Companhia da Índia Oriental o escocês Sr. Robert Fortune, do Chelsea Physic Garden, veio à China como botânico para estudar sobretudo os segredos da planta do chá. Aí regressou pela terceira vez em 1848 e clandestinamente entrou nas montanhas de Wuyi em Fujian e com a ajuda do seu criado chinês, fazendo-se passar por mandarim, visitou clandestinamente um dos locais de produção e manufactura do chá, que o esclareceu sobre a planta e as técnicas. Robert Fortune “enviou para a Índia umas vinte mil plantas de chá que arranjou na China Central, com toda a informação pormenorizada sobre tal indústria. Como por mágica da lâmpada de Aladino, uma grande fonte de riqueza foi assim transplantada da China para a Índia e o Ceilão, assim como para Java”, segundo Montalto de Jesus, que refere ter a sorte do chá da China ficado assim selada. E em 1866, já os ingleses importavam chá (4%) da Índia. Remata Alfredo Dias, “A partir de meados de 1840, conforme a guerra se afastava mais para norte também a importância política de Macau foi diminuindo. Deste modo, ao longo do tempo que durou o conflito, as autoridades do território aperceberam-se gradualmente de que a realidade política da região em que Macau se inseria estava a mudar radicalmente, a uma velocidade que lhes era difícil de acompanhar. As forças imperiais davam provas da sua incapacidade de se oporem aos desígnios britânicos e, por outro lado, os ingleses demonstravam toda a sua capacidade de iniciativa económica e política, consentânea com o seu estatuto de grande potência mundial”.


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h Mundo. Ou cambiantes tonais

P

EQUENINA, quando me sentia triste, cortava em fragmentos ínfimos, um monte de papelinhos e tecidos e lançava-os da janela só para ficar a ver a sua evolução aleatória, o rodopio em subidas e descidas, volutas leves, feitas e desfeitas, descritas no ar mas sempre e inexoravelmente a descer. E queria prolongar essa visão mais do que o possível. Por aqui fora, talvez todas estas palavras, frases ou fragmentos de umas e outras, possam ser de uma forma qualquer, o mesmo mecanismo de lançar pequenas células com um percurso descontrolado e aleatório, com inúmeras recombinações possíveis. Assim o texto pudesse fragmentar-se e reajustar-se sucessivamente aos olhos de quem vê. Formado de todas as possibilidades. O mundo. Esse conceito estranho que logo resvala para a divergente bivalência interior- exterior e para dela não se emancipar facilmente. Que leitura tem este estranho vocábulo que não implique a existência do olhar, dos muitos e por vezes múltiplos olhares. Que não os invalide que não os inviabilize como perspectivas fechadas em si, e que não os acolha como possibilidades dispersoras de uma necessidade atávica de um ponto de vista uno. Que mundo é este de fronteiras difusas, que nem o corpo, quase mais como matéria simbólica, torna estanques, mas que ao invés, perversamente se diverte em contínuas permeabilidades entre a razão, árdua elaboração orientadora de pendor, para alguns, profundamente lógico, as inevitáveis dores de um plasma emotivo que não conhece razões mas outras armas bélicas que ferem, e como armas que são, irracionais mas certeiras, e outras variadas instâncias de voto contraditório como a vontade, a cegueira parcial que a circunscreve, o desejo, este um sintoma mais absoluto de pendor vectorial, a validade da memória como alimento. Ou resíduo. A experiencia do mundo que se faz muitas vezes da viagem. No espaço e no tempo exterior ou interior. Levamos mais ou menos bagagem connosco.

Dessa, cada vez para mim fazem menos parte, as certezas. Mas uma mala é em si o mundo também. Levamo-lo sempre pequeno ou grande. Há a permanência de um dispositivo ético ou há a fuga. Em frente. Sempre. De si ou de tudo ou de âncoras virtuais, utópicas ou odiadas. Um olhar rotativo. Visão lateral…120 graus de ângulo. Ou tubular. Desde sempre me lembro de fazer a mala para partir. Em viagens imaginárias. Em criança, este exercício lúdico entretinha-me as noites antes de adormecer. Repetido infinitamente. Até hoje. O que levar numa mala pequenina. Um desafio de síntese repetido ao longo dos anos. Sempre valorizando mais os objectos de afecto, a memória afectiva ligada às coisas, do que as razões práticas. Uma espécie de balanço de essências. Talvez sem pensar, nesse tempo, me reorganizasse interiormente a partir das escolhas. Ainda o faço. Pensar o que levaria. Mas há momentos, há mesmo momentos em que nada. Nada mesmo. Hoje. Talvez não conseguindo, ou tendo vindo a progressivamente não conseguir e cada vez mais, encontrar âncoras de conforto nos registos que consubstanciam a memória das coisas da vida e das pessoas. Desvalorizando mais do que nunca os objectos. De que me rodeio, de que gosto. Que espelham continuamente tanto do que foi a vida. Algo deste sentir é ainda de forma imprecisa, toldado pela recente emergência substitutiva dos suportes digitais. Tudo quase cabe num disco externo de uns quantos gigabytes de memória. Mas sendo memória, nem por isso acrescenta nada à que se detém no suporto orgânico e com as lacunas imprevistas que ocorrem. Perdi muitas coisas inadvertidamente no espaço digital. Ou virtual. Mas não sei se a memória que se perde faz falta… Perdi a memória duas vezes. Parte da memória. Restaurada depois. Duas vezes no intervalo de dez anos e em virtude de grandes quedas e traumatismos do crânio. Corridas loucas no início da adolescência, primeiro, demasiada susceptibilidade a uma

visão chocante, depois. Fatias, níveis ou camadas de memória que deixaram temporariamente outros dados residentes sem contexto alcançável. Uma sensação lúcida e estranha da falta quase palpável. E das memórias, há aqueles dias em que lhes custo a encontrar o perfume. Mundo. Ou cambiantes tonais. Não. Não o mundo. Ou também. Mudo em cambiantes tonais ao longo dos dias. Das horas. Não como uma folha levada por diferentes aragens, mas pela permanente atenção ao que se desfia ante os olhos, sem estrutura prévia nessa circunstância simples e algo aleatória do olhar. O meu, no momento na circunstância do espaço. Conjugações desmultiplicáveis em variantes, sem sequer se alterar racionalmente a escolha. Pequenos acasos da atenção e da percepção, das rotinas e de acontecimento não controláveis. Um mundo do sensível em constante mutação de cambiantes tonais, pleno de contradições, assim, inapropriável na sua forma invertebrada. Sinal dos tempos. Também. Tão cansativo. Ou seria preciso explicar o inexplicável da amplitude do tempo. Em mim mais lento. Ou pelo contrário sentido demasiado voraz. Sinto-me resvalar para uma abordagem de certo modo desalentada e fragmentária da consciência de mim. Dos outros. Assim me afogo nesta desmultiplicação de escritos em lugares dispares. Assuntos que saltam de tudo para tudo e para nada. O nada. Mas também para nada mais do que este diálogo com uma outra de mim que é o ouvido estoico. De outro modo seria monólogo. Mas anda-se a configurar cada vez mais o ser fragmentário. Em camadas que já não se mantêm sobrepostas para uma leitura em profundidade, mas sim desacertada de um eixo único. Com não uma, mas múltiplas rotações próprias e translacções variáveis em torno de demasiada visões. Preocupações. Fracturantes. Esta minha enorme obsessão pela estrutura, pela organização e pela lógica, anda em ruptura e sofrimento. Estarei a - para além ou deixando mesmo para muito atrás a racionalidade toda que sempre me ocupou tornar-me pré-socrática por facilidade. O mundo sensível em mutação, a ciência em

mutação, as pessoas. Júlio Ver inventou um certo futuro. Mas que teria sido futuro sem ele e o mesmo talvez. À ciência também antecede a imaginação, algum sentido visionário da vida e das questões por resolver. E também no ser, não lhe entender uma estrutura ou intencionalidade e simplesmente a resignação ao registo das sensações, determinantes de emoções. Bem, mal. Bom, mau. Mas a apreensão de um mundo sensível, do sensível, como a abordagem da razão não têm as características nítidas de um interruptor que liga e desliga, acende e apaga em função de causas, consequências. De ontem para hoje, de súbito, o dia anoiteceu mais tarde. Com a sensação de uma enorme lacuna entre a última vez que terei reparado e o momento de agora. Esta estranha e conhecida propriedade do tempo de se expandir e dilatar ou ser uma porta abrupta de esquecimento de um algo impreciso para outro, figurado nesta simples sensação de estação a mudar todos os dias. Há uma beleza nas formas naturais, e em algumas em particular a minha alma desvanece-se de espanto. Nas flores. Na estrutura única de cada folha com os seus caminhos para a seiva. Mas a beleza vai até às partes mais recôndidas da sua estrutura celular, das implicações biológicas da organização das partes, dos múltiplos olhares por camadas de aproximação até à máxima transparência das paredes celulares, dos habitáculos das células, por aí fora, ao nível já dos átomos e de todas as partículas recém descobertas. Há no desenho das estruturas uma beleza própria que me fascina e não se fica só pelo visível. Não é só uma emoção estética no plano mais exterior e feérico da exaltação da cor das texturas ou das formas. Encanta-me a estrutura reticular das células. E saber da actividade ininterrupta nelas. Os filósofos da antiguidade, com a sua preocupação metafísica com um mundo sensível, em constante mutação, inapropriável, cambiante. Num constante nascer e morrer. Ser e não ser. E fora dos limites essenciais platónicos, o que não muda, não é circuns-


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Anabela Canas

ANABELA CANAS

de tudo e de nada

tancial e é comum a todos. Aqueles que se perguntavam neste território de contradições haveria um ponto médio do caminho a que se pudesse chamar permanente ou estável. Neste olhar sobre as cambiantes do mundo natural, qual seria o verdadeiro ser das coisas. Abordável através do logos ou da razão e nunca por via dos sentidos que registam um mundo de contradições e meras aparências. Ou que todas as coisas estão cheias de deuses, não como concepção mítica, mas o reconhecimento de que o universo é dotado de animação e de que a matéria é viva. Mesmo a matéria das palavras. Cheia de deuses, também. Escondidos. Que geram reacções insondáveis como se pela sua própria vontade e não por atributos lógicos das mesmas. Mas as cambiantes neutras da alma, as paragens também estão cheias de vida, uma vida mais

lenta, ou mais esforçada, ou menos forçada, numa lucidez própria com um movimento que necessariamente também desemboca em algum lugar do ser. Por vezes mais adiante. Mas não demais. A água como o princípio de todas as coisas. E o fluir das partículas ou do caudal, metáfora de intangibilidade dos sentidos. A corrente como oposto à solidez do objecto que ostenta o nome. Anaximandro considerava que o nosso mundo era só um de entre uma infinidade de outros mundos, e que evoluiriam e se dissolveriam em algo de ilimitado ou infinito. Não se referia a uma substância desconhecida para ele mas a algo de anterior às coisas criadas, limitadas, estas. Substituir mundo por sentido. Há uma imagem. Aconteceu esta, hoje, mas não perfeita. O caroço de um fruto. No

centro de uma camada circunstancial e degradável pelo tempo. Ou ingerida. O que sobra. Onde se reúne em síntese todo o ADN. No fundo toda a informação genética, neste caso. Que detém a possibilidade do recomeço. É talvez o cerne de tudo. Há um núcleo com uma vida potencial própria em que se encontra o essencial. Há que saber extrapolar desta imagem. Talvez assemelhando-se à noção de punctum como a entende Roland Barthes na sua “Câmara Clara”. Relativo à fotografia. O cerne do sentido. Mas sentido nunca desligado do olhar de quem é abalroado por algo que dispara da fotografia que não é inerte, e rompe aquele afecto genérico inicial. Como uma flecha incisiva. Que trespassa o observador. “ O punctum de uma fotografia é esse acaso que nela me fere

(mas também me mortifica e apunhala)”. Nas palavras de Barthes. A importância decisiva do acaso que o faz desvalorizar as fotos encenadas. Remete-me para a encenação, mesmo que involuntária do sentimento de si. Do ser. De novo a imagem onírica da mala de viagem. Que leva e o valor relativo. O que se leva na mala. De todos os dias com algum desleixo. Mas a escolha das grandes viagens. Mas parece que a vida se faz do anódino das escolhas do dia. Sem rigor. E esse núcleo essencial, acredito, por vezes, para além de todas as camadas expressivas, para aquém de toda a comunicação possível - impossível - de todos os padrões existenciais e de todas as circunstâncias, tem o secreto anseio de ser reconhecido em todos os detalhes do seu recorte. Aprofundadamente. E aceite.


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hoje macau sexta-feira 13.5.2016

Piquet Jr regressa em Novembro?

Ex-piloto de F1 quer competir no GP Macau

N

ELSON Piquet Jr, filho do tricampeão mundial de Fórmula 1 Nelson Piquet, pode fazer uma aparição surpresa na Taça Intercontinental FIA de Fórmula 3 do Grande Prémio de Macau. O ex-piloto de Fórmula 1

vai correr este fim-de-semana no Grande Prémio de Pau de Fórmula 3 e espera ser convidado para correr em Macau no mês de Novembro. Depois de uma curta passagem pela Fórmula 1 com a equipa Renault, que ficou marcada pelo escândalo na prova de Singapura

de 2008, onde causou um acidente propositadamente para o seu companheiro de equipa Fernando Alonso vencer a corrida, Piquet Jr virou-se para outras disciplinas dentro do automobilismo. Aos 30 anos “Nelsinho” sagrou-se campeão da Fórmula E a temporada passada, competição onde continua a participar actualmente. A última prova de Fórmula 3 de Piquet Jr foi precisamente em 2004 no Grande Prémio de Macau, na altura com a sua própria equipa, a Piquet Sports, curiosamente a primeira e única equipa 100% lusófona a participar no evento de Fórmula 3 do território. Na altura, no final a prova, Piquet disse ao HM estar “ligeiramente desapontado” com o 10º lugar obtido na corrida de domingo da 51ª edição do evento,

ele que tinha chegado à RAEM com o título de campeão britânico da especialidade e algum favoritismo às costas. Piquet Jr confessava que “como esperava o Circuito da Guia é um circuito super exigente” e que “gostaria de um voltar um dia, apesar da prioridade (da altura) ser continuar a trabalhar arduamente para chegar à Fórmula 1”. Fora de parte que está um eventual regresso ao “Grande Circo”, neste seu inesperado regresso à Fórmula 3, Piquet Jr irá conduzir um dos Dallara-Volkswagen da equipa Carlin, a mesma formação que venceu Grande Prémio em 2012 com o português António Félix da Costa. Sobre a sua mais nova contratação, Trevor Carlin disse ontem que “nós acreditamos que é uma grande mais valia para a equipa e para os nossos jovens

pilotos” e que a equipa está “desejosa de trabalhar com ele em Pau e esperançados repetir em Macau”. O chefe da equipa britânica enalteceu o espírito do brasileiro, a “fazer lembrar Jim Clark, dos tempos em que os pilotos corriam pela pura paixão de competir”. Caso concretize a ideia, Piquet Jr será o primeiro ex-piloto de Fórmula 1 a competir na corrida de Fórmula 3 de Macau depois de ter passado pela categoria máxima do desporto automóvel. Sérgio Fonseca

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PIQUET VS PIQUET

O

mais curioso é que Nelson Piquet Jr poderá competir contra o irmão mais novo, Pedro que, depois do ano passado ter vencido o campeonato brasileiro de Fórmula 3 por duas ocasiões, este ano está a participar no europeu, podendo também ele correr no Grande Prémio no final do ano. O neto do conhecido médico brasileiro Estácio Gonçalves Souto Maior está a dar os primeiros passos no mais competitivo automobilismo europeu esta época aos 18 anos, esperando também ele ter direito a convite para participar na prova rainha de Fórmula 3 nas ruas do território.

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HM • 2ª VEZ • 13-5-16

ANÚNCIO

ANÚNCIO

PROC. INTERDIÇÃO N.º CV1-16-0022-CPE

1.º Juízo Cível

REQUERENTE: O MINISTÉRIO PÚBLICO. REQUERIDO: CHEONG WENG CHON, do sexo masculino, nascido em 03/09/1956, natural da China, titular do Bilhete de Identidade de Residente Permanente da R.A.E.M., internado no Lar São Luis Gonzaga. *** A MERETÍSSIMA JUIZ DO 1.º JUÍZO CÍVEL DO TRIBUNAL JUDICIAL DE BASE DA R.A.E.M. FAZ SABER QUE, foi distribuída neste Tribunal, em 25 de Abril de 2016, uma Acção Especial de interdição por Anomalia Psíquica, com o número acima indicado, que o Ministério Público move contra CHEONG WENG CHON, a fim de ser decretada a sua interdição por anomalia psíquica. Tribunal Judicial de Base da R.A.E.M., aos 03 de Maio de 2016.

Declaração de herança Vaga n.º CV2-16-0022-CPE

2.ºJuízo Cível

Requerente: Ministério Público. Requerido: VAN CHI VA aliás VAN HAK PAU (尹志華 又名 尹黑豹), do sexo masculino, filho de VAN KAU KEI e de CHAN FONG LAN, falecido em 6 de Março de 2015 em Macau, com última residência no Asilo de Betânia. *** FAZ-SE SABER, que nos autos de Declaração de Herança Vaga, deixado pelo requerido, são citados por éditos de 30 (trinta) dias, os interessados incertos para deduzirem o seu habilitação com sucessores daquele falecido, para no prazo de 30 (trinta) dias, depois de findar o prazo dos éditos, bem como a citação dos credores desconhecidos, para reclamarem os seus créditos no prazo de 15 (quinze) dias, após findar o prazo dos éditos, que começa a contar-se da data da afixação do último edital, nos termos do disposto nos art.ºs 197.º n.º 1 e n.º 2, 194.º, 196.º, 1031.º n.º1 e 1033.º n.º 1 do C.P.C.M.. Macau, em 27 de Abril de 2016. ***

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19 hoje macau sexta-feira 13.5.2016

OPINIÃO

sorrindo sempre

N

Obsessão pelo passado (morto)

O Domingo passei um bom serão: fui assistir ao show do Patuá e diverti-me imenso. Ao longo da peça fui também ganhando motivação e ideias para temas que poderiam ser aqui abordados na minha coluna, a qual – caso o caríssimo leitor ainda não se tenha apercebido – passou a ser mensal. Não vou, no entanto, fazer aqui nenhuma crítica à peça “Unga Chá di Sonho” – para isso já basta a habitual apreciação detalhada do colega Leocardo que, aliás, já se encontra disponível no seu blog. Da última peça do Dóci Papiaçám di Macau quero apenas referir o seguinte: uma vez mais, manifesta a obsessão que nós, antigos residentes de Macau em geral e Macaenses em particular, temos pelo passado.

(E por falar nisso, vou amanhã ligar ao Dr. Leôncio, que até conheço mais ou menos bem, para ver se ele me passa algum chá.) No entanto, sou incapaz de afirmar que “aquele” Macau do passado – seja ele qual for, já que todos vivemos um passado diferente, num tempo diferente e de forma diferente – é que era o verdadeiro Macau, o que continha a “alma de Macau” – whatever that means. Não posso com esse discurso pois sou incapaz de aceitar que se cristalizem conceitos e que uma determinada ideia da cidade – pertencente ao passado – seja utilizada como critério absoluto do que é, ou devia ser, a essência de Macau. Isto para mim não existe.

JULIAN JARROLD, BRIDESHEAD REVISITED

ANDRÉ RITCHIE

MAIS,

Fico profundamente aborrecido e não tenho pachorra para aqueles que, afinal, analisando bem as coisas, sabem apenas falar do passado, do presente têm uma opinião crítica que já se tornou lugar comum e não traz novidade nenhuma – o trânsito, as ruas cheias de gente, a poluição e todas essas coisas que, ainda que sejam verdade, estou já cansado de ouvir – e do futuro não têm qualquer tipo de ideia ou visão. Portanto, que tal pararmos um pouco com essa atitude? Quer se goste, quer não, o passado pertence ao passado. Já morreu. É interessante recordá-lo, mas apenas até certo ponto – e de forma construtiva. Ora, pensemos antes no modo como devemos educar os nossos filhos para que determinados valores característicos da nossa identidade – e do nosso rico passado – não se percam no futuro. É que nesse aspecto quer me parecer que pouco ou nada está a ser feito pelos ilustres que vivem frustrados com o presente e passam o tempo a falar do passado.

*** O que tenho para dizer vem também na sequência de uma pequena discussão que tive no Facebook com conterrâneos meus quando um ilustre amigo nosso fez um post sobre a ameaça do eventual crescimento urbano para os lados de Coloane e a perda da “alma de Macau”. Fui ingénuo ao ponto de afirmar publicamente que se devia ter mais visão do futuro, já que existem recursos naturais em Henqin e Zhuhai, que ficam right across the border, e que havemos de ter isso em consideração. Uma vez que, se Coloane é para mim ao virar da esquina mas, no tempo dos meus avós, ficava longe e era a terra dos piratas e gwai chi lous (*), provavelmente para o meu filho, quando for crescido e as fronteiras com a China forem mais permeáveis – ou até inexistentes – Macau será apenas uma pequena parte de uma grande área metropolitana composta por Hong Kong e pelos municípios de Zhuhai e Shenzen. De resto, este assunto foi já por mim abordado aqui anteriormente. (**) Pelo que encaro a actual transformação urbana de Macau com naturalidade e de forma objectiva – não significando necessariamente que goste ou que sinta que esteja tudo a ser feito da melhor forma. De resto, Macau está em mutação e crescimento territorial desde o século XVI – trata-se de um processo contínuo que teve os seus surtos e ondas, com altos e baixos e intensidades diferentes. Portanto, nessa perspectiva, o que se está a passar não é forçosamente anormal. Mas isso pouco importa: naturalmente o meu ponto de vista não foi aceite pelos guardiões da “alma de Macau” e, para evitar o típico escalating fire das redes sociais –

SORRINDO SEMPRE

“Fico profundamente aborrecido e não tenho pachorra para aqueles que, afinal, analisando bem as coisas, sabem apenas falar do passado,do presente têm uma opinião crítica que já se tornou lugar comum e não traz novidade nenhuma (...) e do futuro não têm qualquer tipo de ideia ou visão

***

Faz frio? Fecha-se as escolas. Chuva forte? Fecha-se as escolas. “Filho, hoje não tens escola, está o sinal de chuvas fortes.” E o menino, feliz da vida, salta da cama, liga a televisão e passa o dia a ver desenhos animados. Caríssimo leitor, não sei se está a ver a gravidade da coisa. Afinal o símbolo da RAEM não é a flor de lótus, planta que nasce humildemente no substracto lodoso e que vai lutando e subindo até se chegar à superfície da água onde se transforma numa linda flor? Onde andam esses valores? Já o disse aqui e volto a dizer: andamos a criar flores de estufa.

Também gosto de falar do passado de Macau, sobretudo quando na companhia de maquistas mais antigos que viveram um Macau que nunca vivi e que procuro visualizar também com o auxílio de fotos antigas que, de quando em quando, saboreio com gosto.

(*) Malfeitor que rapta crianças. (**) “Compras no Tin Un ou no Carrefour”, edição de 07.08.2015 do Jornal Hoje Macau. http://hojemacau.com.mo/2015/08/07/compras-no-tinun-ou-no-carrefour/

onde as pessoas se pegam e se insultam a torto e a direito – deixei morrer o assunto. Compreendo que o facto de sermos portugueses não deixará de ter o seu peso nessa coisa toda. Continua presente o fantasma da mudança de soberania e, talvez também fruto de tudo o que se passou com as antigas ex-colónias portuguesas e do trauma daí resultante, o contínuo receio que temos de perder o que se construiu no “passado” – essa tal coisa que recordamos obcecadamente com a típica saudade lusa.


20 OPINIÃO

hoje macau sexta-feira 13.5.2016

“When the historical decision leading to the banking union was taken at the European Council in June 2012, the declared reason was to “ensure that the supervision of banks in all EU member states is equally effective in reducing the probability of bank failures.” One year later, while stressing that the completion of the banking union had become a priority among the policy objectives of European policymakers, the Council stated that “it is imperative to break the vicious circle between banks and sovereigns.” At the origin of these statements, there are the large amounts of money spent by several European governments to bail out those banks involved in the financial crisis that started in 2007.” The European Banking Union: A Critical Assessment Angelo Baglioni

O

“Dia da Europa”, comemorado a 9 de Maio de 2016, recorda a paz e a unidade que o continente europeu vive desde o final da II Grande Guerra. A data representa o aniversário da histórica “Declaração Schuman”. O ministro dos negócios estrangeiros francês, Robert Schuman, pronunciou, em Paris, a 9 de Maio de 1950, um discurso em que expôs a sua ideia de uma outra forma de cooperação política na Europa, que tornasse impensável uma nova guerra entre os países europeus, propondo a criação de uma “Comunidade Europeia do Carvão e do Aço (CECA) ”. Os Estados membros fundadores foram a França, República Federal da Alemanha, Itália, Holanda, Bélgica e Luxemburgo, e assinada, a 18 de Abril de 1951, em Paris, sendo a primeira de um conjunto de instituições europeias que levariam à actual União Europeia (UE). A proposta de Schuman é considerada como o começo da UE, e desde então, sucedem-se os actos anuais, nessa data, de celebração. O presidente da Comissão Europeia, conjuntamente com os demais comissários, participaram em eventos nacionais e europeus, incluindo visitas às instituições europeias e actividades da UE, tal como o diálogo com os cidadãos, debates, conferências e diversos eventos culturais nos Estados membros. O dia 9 de Maio, deveria ser uma oportunidade única para promover, ainda mais, a transparência e incentivar a aproximação entre a UE e os seus cidadãos, quando vive a sua pior crise de sempre de natureza económica, financeira, com profundas e graves clivagens internas, causadas pelo fluxo migratório e assolada por denodados actos de terrorismo. As instituições europeias abriram as suas portas, para dar uma oportunidade aos europeus de descobrir o seu trabalho diário. O tema central, da 24.ª edição de visitas de portas abertas, teve como lema a “Unidade na diversidade”, quando a UE vive exactamente o oposto, pois os seus Estados membros, nunca estiveram mais desunidos e fracturados pela adversidade das situações previsíveis, mas incontornáveis que os tem atingido.

A celebração dos sessenta e seis anos da “Declaração Schuman”, embrião da EU, demonstra o quanto é necessário, que se reinvente uma nova Europa, tal como foi pensada pelos seus fundadores, e reavivada por um conjunto de europeus ilustres, que têm vindo a propor um roteiro, para assegurar o futuro da EU, que a continuar a sofrer os impactos que conhecemos e sem uma liderança forte, que una todos os europeus e que nela se revejam, como garantes da sua identidade, a direcção que leva é de colisão e fractura. Seja qual for o resultado do referendo britânico, a Europa e os europeus necessitam urgentemente de um novo alento. É demasiado o que está em jogo, como seja evitar a marginalização da Europa, não apenas do ponto de vista económico e político, mas também social, moral e cultural. O desafio comum da Europa é conciliar-se com os seus cidadãos confusos, desorientados e cépticos, para voltar a criar uma Europa influente, que tenha um projecto de futuro e de esperança para todos. A UE terá de deixar a política hipócrita das palavras e passar aos actos, resolvendo os problemas que são imensos e se acumulam, caso contrário, morrerá. Se não for dado um novo impulso político aos cidadãos europeus, os demónios populistas que quase a têm destruído, acabarão por vencer. A história é distinta nas suas formas, mas o resultado poderá voltar a ser desastroso. A fim de se conseguir uma nova dinâmica devem ser valorizados novos êxitos. A UE é a entidade política, económica e mais solidária, menos injusta, mais democrática, pacífica e mais diversificada que a humanidade conheceu, tendo vindo a perder essas preciosas e únicas características, e ímpeto a cada dia, sendo um dos maiores triunfos políticos e económicos da época moderna. Fazer respeitar os seus valores e convertê-la num motor de progresso para todos os cidadãos europeus, exige a adopção de uma estratégia de vulto. É necessário urgentemente, um itinerário preciso, devendo tal obra ser iniciada, de imediato, pelas instituições europeias e Estados membros, não devendo ser um grupo de países dominados pela Alemanha e França. É necessário o restabelecimento da confiança, e dar um novo impulso à dinâmica europeia que passam por algumas estratégias, sendo o principal, o fortalecimento da democracia europeia, que não consegue responder aos problemas que atingem os cidadãos, não sendo possível, como peregrinamente muitos defendem, considerarem-se europeus, sem uma cultura de cidadania partilhada. Os Estados membros devem implementar uma educação cívica comum, que a todos sirva e comprometerem-se que o futuro presidente da Comissão Europeia seja eleito em função dos resultados eleitorais provindos das urnas. A democracia deve chegar à Comissão Europeia. É necessário clarificar as regras, para que os referendos sobre a adesão à EU, não se convertam em meros negócios políticos ou de estratégia duvidosa. A Europa “a la carte” não é uma opção, é um desastre. É indispensável, uma iniciativa estratégica, de segurança e defesa dos cidadãos da UE. Os Estados membros devem cumprir os seus compromissos em matéria de

CHARLIE CHAPLIN, THE KID

Unidade na diversidade


21 hoje macau sexta-feira 13.5.2016

OPINIÃO perspectivas

JORGE RODRIGUES SIMÃO

segurança interna, intensificando as cooperações policiais – (Europol, que é a agência responsável por garantir o cumprimento da legislação da UE, ajudando os Estados membros a lutar contra a criminalidade internacional e o terrorismo), judiciais (Eurojust, que é um organismo responsável por ajudar as autoridades nacionais a cooperarem para lutar contra as formas graves de criminalidade organizada, que envolvem mais do que um país da UE) e de informação, bem como no plano externo, implementar uma política de fronteiras moderna, suportada num corpo europeu de polícia de fronteiras e infra-estruturas de controlo e acolhimento, que respeitem os valores europeus. A UE, deve simultaneamente, implementar uma política de estabilização das regiões vizinhas em todos os domínios, quer seja no económico, cultural e diplomático, como no militar. A UE deve tomar a iniciativa que está relacionada com os refugiados. O “Acordo com a Turquia” não é uma solução a longo prazo. O país está inundado de refugiados e o tráfego de pessoas, prospera utilizando outras rotas. A Europa deve escolher outro caminho, que é o de acolher dentro dos limites possíveis, integrar, formar e preparar as condições para o regresso dos refugiados aos seus países, pois não é uma política de portas abertas, recebendo todos, mas apenas, os que estejam dispostos a integrar-se e a aceitar os valores europeus. Os cidadãos europeus só aceitariam uma tal política se melhorar a sua vida quotidiana. O desafio da segunda fase do plano do presidente da Comissão Europeia para estimular o crescimento, é investir nos sectores com maior futuro, capazes de promover a criação de empregos de proximidade, modernizar de forma duradoura a economia europeia e consolidar a vantagem competitiva, dentro de uma política industrial comum, que permita recuperar a autonomia europeia, como por exemplo, um plano de desenvolvimento e restauração do “habitat”, com a utilização de novos materiais e tecnologias digitais, que transformaria a vida dos cidadãos e conceder-lhe-ia a liderança mundial no sector. É importante considerar a criação de três planos centrados nos transportes, energias renováveis e nas competências digitais do futuro.

“Os governos erigem barreiras e restauram controlos fronteiriços, a crise dos refugiados cria obstáculos à circulação de pessoas e ao comércio internacional, e enquanto a Europa se parece desfazer no medo de ataques terroristas, aumenta o risco de que o Reino Unido vote por a abandonar”

A “zona euro”, terá de reforçar o seu potencial de crescimento, a sua capacidade de fazer face a choques assimétricos e favorecer a convergência económica e social. Tal, exige a necessidade de atribuir novas prerrogativas ao “Mecanismo Europeu de Estabilidade”, ou seja, uma competência orçamental para a “zona euro”, e a rápida implementação da união bancária, aproveitando para reformar e corrigir os defeitos existentes. O “Programa Erasmus” deve ser democratizado, alargando o horizonte cultural de toda a juventude europeia, com o fim de incentivar a igualdade de oportunidades e o sentimento de identidade a um projecto comum. Estas iniciativas pretendem, voltar a colocar o cidadão no centro do projecto europeu, e incentivar o crescimento, emprego e a inovação. É possível pôr em prática, se existir a necessária vontade política nos próximos anos. O presidente Franklin Roosevelt fez, com o “New Deal”, em 1933. As economias avançadas têm essa capacidade, devido às margens não utilizadas do orçamento europeu e ao emprego de novos recursos. Entre as soluções que terão de ser pensadas, está a disponibilidade de recursos e a solicitação de um empréstimo ao “Banco Europeu de Investimentos (BEI) ”. A médio prazo, a mobilização e a reflexão colectiva dos cidadãos europeus, devem ser as premissas da realização de uma nova “Conferencia Intergovernamental (CIG) ”, ou de um novo “Tratado Europeu”, que converta a Europa, numa grande potência democrática, cultural e económica, que garanta no seu espaço interno, a solidariedade e os direitos fundamentais, actualmente em perigo de vida, e que se dote dos meios essenciais para exercer a sua soberania. O novo “Tratado” a sair desse debate, aplicar-se-ia, apenas aos Estados membros que desejem uma maior integração, e sempre estiveram convencidos de que o interesse geral europeu, não se limita à soma dos interesses nacionais, o que só será possível, se as dezenas de milhões de europeus, acreditarem que o futuro da Europa se escreve unidos, e começarem a mobilizar-se nesse sentido. Assim, se evitaria que a UE se desintegre em pedaços a um ritmo vertiginoso, e cujo sinal é visível, como por exemplo, a decisão da Hungria, a 22 de Outubro de 2015, de construir uma cerca ao longo da fronteira com a vizinha Croácia, também Estado membro da UE. A crise da “zona euro” fragmentou os fluxos financeiros, causando divergência entre as economias, debilitando o apoio político às instituições da UE e confrontando os cidadãos europeus. Os governos erigem barreiras e restauram controlos fronteiriços, a crise dos refugiados cria obstáculos à circulação de pessoas e ao comércio internacional, e enquanto a Europa se parece desfazer no medo de ataques terroristas, aumenta o risco de que o Reino Unido vote por a abandonar.


22 (F)UTILIDADES TEMPO

MUITO

hoje macau sexta-feira 13.5.2016

?

NUBLADO

O QUE FAZER ESTA SEMANA Hoje

MIN

23

MAX

28

HUM

70-90%

EURO

9.10

BAHT

INAUGURAÇÃO DA EXPOSIÇÃO “MACAU ID” Fundação Rui Cunha, 16h30 “LE GOÛT DES MERVEILLES”, DE ERIC BESNARD (FRENCH MAY) Galaxy, 19h15

O CARTOON STEPH

“MICRO-SHAKESPEARE” PELO TEATRI LAITRUM (FAM) Praça Jorge Álvares, 12h30 INAUGURAÇÃO DA EXPOSIÇÃO “MACAU ID” Fundação Rui Cunha, 16h30 “LE TOUT NOUVEAU TESTAMENT”, DE JACO VAN DORMAEL Galaxy, 19h00 SOLUÇÃO DO PROBLEMA 87

APRESENTAÇÃO DO LIVRO “MACAU SÉCULO XXI” Clube Militar de Macau, 17h00 “LA BELLE ET LA BÊTE”, DE CHRISTOPHE GANS Galaxy, 16h30

Diariamente

EXPOSIÇÃO “O SONHO DO PAVILHÃO VERMELHO”, DE ZHANG BIN Casa Garden (até 19/05) EXPOSIÇÃO DE TIPOGRAFIA “WEINGART” Galeria Tap Seac (até 12/06) EXPOSIÇÃO “AGUADAS DA CIDADE PROIBIDA”, DE CHARLES CHAUDERLOT Museu de Arte de Macau (até 12/06) EXPOSIÇÃO “TIBET REVEALED” Galeria Iao Hin (até 20/06)

Cineteatro

C I N E M A

SALA 1

SALA 2

Filme de: Anthony & Joe Russo Com: Chris Evans, Robert Downey Jr., Scarlett Johansson 14.30, 21.15

Filme de: Jodie Foster Com: George Clooney, Julia Roberts, Jack O’connell 14.30, 16.30, 19.30, 21.30

CAPTAIN AMERICA: CIVIL WAR [B]

BOOK OF LOVE [B] FALADO EM MANDARIM E CANTONÊS LEGENDADO EM CHINÊS E INGLÊS Filme de: Xue Xiaolu Com: Tang Wei, Wu Xiubo 14.30, 16.45, 19.15, 21.30

PROBLEMA 88

UM LIVRO HOJE

SUDOKU

DE

Domingo

1.22

TODO TROCADO

“MICRO-SHAKESPEARE” PELO TEATRI LAITRUM (FAM) Praça Jorge Álvares, 12h30

MACAU INDIES IV (FICVM) Centro Cultural de Macau, 21h30 “Ignorância em 1984” de Mike Ao Ieong “Uma semana no Iao Hon” de Mike Ao Ieong “Ontem uma vez mais” de Emily Chan Bilhetes a 60 patacas

YUAN

AQUI HÁ GATO

MACAU INDIES IV (FICVM) Centro Cultural de Macau, 21h30 “Ignorância em 1984” de Mike Ao Ieong “Uma semana no Iao Hon” de Mike Ao Ieong “Ontem uma vez mais” de Emily Chan Bilhetes a 60 patacas

Amanhã

0.22

A recuperação de cinco edifícios classificados como património terá um custo para o Governo de dois milhões de patacas. Valor simpático, pensam uns. Valor exagerado, poderão pensar outros. Eu, cá para os meus bigodes, acho um preço bem baratinho. Não concordam? Então vejamos. O Governo gastou três milhões de patacas – metade do valor total – para colocar um pato gigante que tem por missão deixar as pessoas felizes. Certo. Certíssimo. Três milhões de patacas, ora a fazer as contas assim por alto dava para sete edifícios e qualquer coisa. Mas não, temos o pato em vez de prédios recuperados. Felizes, mas a ruir. No outro dia, o líder aqui do burgo afirmou, com a sua tranquilidade habitual, que cem milhões de patacas – entregues à universidade de Jinan – não é um valor muito alto. Ora pois bem, senhor líder, se assim não é abra lá os cordões à bolsa para fazer coisas que efectivamente “as gentes de Macau” precisem. Deixe lá os tachos e favores aos amigos e vamos trabalhar no que precisamos. Formação? Sim. Mas da verdadeira. Patos felizes? Sim. Mas só quando os problemas com a saúde, a educação, a habitação e o ambiente estiverem resolvidos. O tempo que por aqui se faz sentir é o reflexo do estado de Macau, todo trocado. Ora chove, ora faz sol. Haja paciência de gato! Pu Yi

“PIGGYBOOK” (ANTHONY BROWNE)

Piggott e os seus filhos são muito machistas, nunca ajudam nos trabalhos de casa e só gritam à mãe para ela fazer o jantar. A mulher de Piggott está sempre exausta e preocupada somente com o acabar os trabalhos domésticos. A situação não muda até um dia a mãe desistir: deixa a família e vai embora e a casa passa a ser uma grande confusão. Mas, como mãe é mãe e nunca deixa de se preocupar com a família, regressa a casa. Desde então Piggott e os filhos sabem a importância da partilha de trabalhos. Esta história infantil mostra a questão de desigualdade entre os dois géneros e salienta a importância de se agradecer o que se tem antes de se perder. Flora Fong

MONEY MONSTER [C]

SALA 3

THE INERASABLE [C] FALADO EM JAPONÊS LEGENDADO EM CHINÊS E INGLÊS Filme de: Yoshihiro Nakamura Com: Yuko Takeuchi, Ai Hashimoto, Kentaro Sakaguchi 14.30, 16.30, 19.30, 21.30

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Propriedade Fábrica de Notícias, Lda Director Carlos Morais José Editores Joana Freitas; José C. Mendes Redacção Andreia Sofia Silva; Filipa Araújo; Flora Fong; Manuel Nunes; Tomás Chio Colaboradores António Falcão; António Graça de Abreu; Gonçalo Lobo Pinheiro; José Drummond; José Simões Morais; Maria João Belchior (Pequim); Michel Reis; Rui Cascais; Sérgio Fonseca Colunistas António Conceição Júnior; André Ritchie; David Chan; Fernando Eloy; Isabel Castro; Jorge Rodrigues Simão; Leocardo; Paul Chan Wai Chi; Paula Bicho; Rui Flores; Tânia dos Santos Cartoonista Steph Grafismo Paulo Borges Ilustração Rui Rasquinho Agências Lusa; Xinhua Fotografia Hoje Macau; Lusa; GCS; Xinhua Secretária de redacção e Publicidade Madalena da Silva (publicidade@hojemacau.com.mo) Assistente de marketing Vincent Vong Impressão Tipografia Welfare Morada Calçada de Santo Agostinho, n.º 19, Centro Comercial Nam Yue, 6.º andar A, Macau Telefone 28752401 Fax 28752405 e-mail info@hojemacau.com.mo Sítio www.hojemacau.com.mo


23 hoje macau sexta-feira 13.5.2016

PERFIL NIEL WONG

NIEL WONG, PROFISSIONAL DE COMÉRCIO ELECTRÓNICO

G

OSTA de fazer dinheiro e tem muitas ideias. O jovem Niel Wong teve uma boa formação em Macau e na Europa e está a desenvolver-se na área de IT e comércio electrónico, sendo que está prestes a ser o seu próprio patrão. Desde a infância que Niel foi instigado ao desenvolvimento. “Na minha família, todos os adultos são empresários e os meus pais gostam de fazer negócios. Dentro desta atmosfera, naturalmente também gosto de fazer dinheiro”, conta-nos, mostrando que a sua determinação é grande. A ideia de Niel em estudar Gestão Empresarial surgiu nos primeiros anos da escola secundária. Niel estudou Comércio Electrónico na Universidade de Macau (UM). Quando questionado sobre o que o impressionou, Niel confessa-nos que não foram os estudos, mas sim a criação de uma associação de alunos de comércio electrónico, onde foram organizadas várias actividades, tais como uma competição de IT. “Para um projecto correr bem, é preciso cooperação com os colegas e, sendo o presidente, tive de motivar todos a trabalhar comigo.Ainda bem que a competição correu bem e ganhei também na amizade, porque até ao momento mantenho contacto com os concorrentes”. O jovem natural de Macau confessa-nos ainda que ficou “rico em experiências” ao

Negócios no sangue

viver no estrangeiro. No terceiro ano da licenciatura, teve meio ano em Amesterdão, na Holanda, onde fez intercâmbio. Partilhou connosco que gostava de passar tempo na Faculdade de Business da universidade, conversando com colegas e professores. Mas admitiu que não foi um estudo muito sério. Nessa altura, o foco foi perceber mais o que fazem os europeus. Quando voltou a Macau, antes de acabar o curso de licenciatura, começou a acreditar que consegue ver mais do mundo lá fora, além Macau. Assim candidatou-se ao curso de mestrado de Gestão Internacional na Universidade de Londres, onde passou dois anos da sua vida. “Depois de viver na Europa, fiquei admirado com o facto de a economia da Inglaterra e da Holanda serem muito maiores que a de Macau. Pelo ângulo de um profissional, Macau não é o melhor sítio para ganhar dinheiro, porque aqui pode-se desenvolver qualquer negócio só porque se conhecem muitas pessoas, mesmo que não se tenha muitos conhecimentos. Vejo isso também porque as indústrias focam-se no Jogo, unicamente, e não conseguem atrair talentos de diferentes lados do mundo”. Para Niel, Macau é tão pequeno que para aprender muito, só quando se está lá fora. Primeiro, a cultura e os hábitos diferentes. “Os estrangeiros costumam ter festas nas noites de sexta-feira. No início, não me

habituei a isso, mas tive que me habituar o que demorou vários meses.” Além disso, por ter estado lá fora, Niel compreende de forma mais abrangente a China. “Em Macau, leio mais os média de Hong Kong que mostram a imagem da China de forma negativa, mas na Europa, quando os europeus estudam a economia e dão exemplos, a China é sempre a primeira escolha, tanto a situação económica como os métodos de gestão. Eles olham para a China de forma competitiva, mas não de forma negativa. Portanto isso mudou a minha impressão sobre a China”. Actualmente Niel está a trabalhar como gerente de projecto de IT na companhia Laxino Systems, sendo responsável pela investigação e desenvolvimento de produtos de jogo electrónico, que serve o sector de Jogo. Niel está sempre atento ao que acontece em Macau e Hong Kong, mas o que atrai mais o jovem é a área comercial. “Quando leio jornais, a primeira coisa que tento perceber é se há a oportunidades de desenvolver qualquer coisa. Mas Macau é pequeno e a maioria das notícias [em Chinês] são muito aborrecidas”. Mesmo que tenha estudado no estrangeiro, o jovem considera que o que a UM ou as universidades da Ásia ensinam não diferencia muito das instituições ocidentais, porque os modelos académicos são semelhantes.

Apesar disso, “o mundo é grande”, como nos diz Niel, e a sua sugestão para outros jovens que tenham capacidades especiais é que se desenvolvam no estrangeiro. Mas o jovem profissional prefere manter-se em Macau porque tem mais tempo para a sua família. “Toda a minha família está em Macau, as minhas raízes estão cá e, de facto, receio o sentimento de mudança, portanto desenvolvo-me no meu território”, confessa-nos. E Niel Wong tem já pano para mangas no que a esse desenvolvimento diz respeito. Está a preparar-se para abrir uma empresa de consultoria de comércio electrónico e quer realizar as ideias que estão sempre a pairar na sua cabeça. “Estou a pensar em fazer umas coisas que todos podem usar na sua vida diária. Mas por agora não posso revelar”. Nos tempos livres, o jovem costuma relaxar durante encontros com amigos, jantar ou beber um copo. Mas o que considera importante é saber o que há de novo, o que os outros têm para contar e o que planeiam para o futuro. Afinal, diz, tudo é possível através de um “brainstorming” em conjunto. Flora Fong (revisto por J.F.) flora.fong@hojemacau.com.mo



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