DIRECTOR CARLOS MORAIS JOSÉ
QUARENTENA
SEM EXCEPÇÕES
BANCO DA CHINA
ATM A OLHO NU PÁGINA 5
RECICLAGEM
TESTAR ACTIVISTAS PÁGINA 6
Abaixo da linha d’água O CCAC está a investigar mais casos relacionados com processos de residência no IPIM, além do que sentou no banco dos réus Jackson Chang e companhia. A novidade surgiu na sessão de julgamento da passada sexta-feira, quando a defesa procurou saber a razão que levou o CCAC a ‘‘filtrar e seleccionar’’provas. O julgamento prossegue hoje. GRANDE PLANO
ANIMA
SANGUE NOVO
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MOP$10
SEGUNDA-FEIRA 13 DE JULHO DE 2020 • ANO XIX • Nº 4566
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2 grande plano
CASO IPIM
13.7.2020 segunda-feira
O QUE E FEITO NA FUNCIONÁRIO DO CCAC ADMITIU HIPÓTESE DE ESTAREM A DECORRER MAIS INVESTIGAÇÕES
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A defesa de Glória Batalha entende que “dezenas de pedidos ajuda” para fixação de residência fizeram parte das suas funções normais e questionou os motivos que levaram dois pedidos a chegarem ao tribunal. Um desses casos foi discutido à mesa do restaurante Robuchon Ao Dome, num jantar com uma conta de quase 8 mil patacas
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Á mais factos a serem investigados pelo Comissariado Contra a Corrupção (CCAC) relacionados com processos de residência no Instituto de Promoção do Comércio e do Investimento de Macau (IPIM). As investigações foram dadas a entender por um funcionário do CCAC, ouvido na sexta-feira, quando testemunhava contra Glória Batalha Ung, ex-vogal do Conselho de Administração do IPIM, acusada dos crimes de abuso de poder e violação de segredo. As afirmações do investigador identificado como CF Ng surgiram após ter sido confrontado com “dezenas de pedidos de ajuda” feitos por várias pessoas a Glória Batalha, que a defesa entende terem sido prestados no cumprimento das funções. Segundo o advogado Pedro
Leal, um desses pedidos terá partido do Comandante do Corpo de Polícia de Segurança Pública, mas a data do mesmo não foi apontada. Na sexta-feira, a defesa quis saber o que levou a investigação do CCAC a “filtrar” e “seleccionar” provas. “Há dezenas de chamadas e mensagens relacionadas com pedidos de ajuda de fixação de residência. [...] Mas, aparentemente, houve casos que não interessaram e não estão nos autos. Porque é que seleccionaram estes dois?”, questionou Pedro Leal. “Houve uma selecção. O CCAC apreendeu os telemóveis e retirou o que lhe interessavam [...] Houve outras conversas que não constam nos autos e houve uma filtragem”, sublinhou. No entanto, a tese da “selecção” dos casos remetidos para o Ministério Público (MP) foi recusada pelo investigador CF Ng.
“Os restantes casos [não estão neste processo]... não quer dizer que não sejam relevantes e que não haja outras investigações a decorrer...”, respondeu Ng. Também o delegado do MP, Pak Wa Ngai, interveio na questão para defender a conduta do órgão de investigação. “O CCAC procedeu os trabalhos e cumpriu as suas funções. Mas a acusação é feita pelo MP,” realçou Pak. “Antes de haver uma acusação há segredo de justiça e não pode ser comentado.... há vários processos do IPIM que foram entregues para investigação. Mas, mesmo que não haja uma acusação não quer dizer que não tenha havido investigação”, sustentou.
MENSAGENS “INDECIFRÁVEIS”
Glória Batalha Ung está acusada da prática dos crimes de abuso de poder
“ONDE É QUE EU TRABALHO?”
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a sexta-feira à tarde, a acusação focou o empresário Tang Zhang Lu, que acredita ter fornecido informações falsas para obter o estatuto de residente em Macau. Tang estabeleceu três empresas com Ng Kuok Sao – principal arguido do processo -, entre as quais a Hunan, onde Kevin Ho também é accionista. Porém, uma das
conversas de WeChat mostram que Tang tinha dúvidas sobre a empresa onde tinha declarado trabalhar para obter residência. “Onde é que eu trabalho? E qual é o meu salário”, é ouvido a perguntar. Apesar destas dúvidas, o empresário não se coibiu de questionar se um amigo também poderia entrar para a empresa em causa.
e violação de segredo, uma vez que o MP defende que a responsável violou as suas funções quando transmitiu informações de processo de fixação de residência que iam ser ou estavam a ser analisados pelo IPIM. No âmbito da acusação, o principal método de prova apresentado em tribunal foram várias conversações de mensagens de voz e texto através da aplicação WeChat. No entanto, também
estas mensagem levantaram polémica para a defesa, uma vez que nos casos que envolvem a acusação, o CCAC foi capaz de decifrar as mensa-
gens. Porém, há mensagens “aleatórias” que não foram decifradas. O investigador do CCAC foi com três exemplos da
“Há dezenas de chamadas e mensagens relacionadas com pedidos de ajuda de fixação de residência. [...] Mas, aparentemente, houve casos que não interessaram e não estão nos autos.” PEDRO LEAL ADVOGADO
grande plano 3
segunda-feira 13.7.2020
SOMBRA
ESPOSA CHAMADA A DEPOR A pesar de ter sido vogal do IPIM vários anos e de ter assumido a presidência como substituta entre Outubro de 2018 e Maio deste ano, Irene Lau não era para ser ouvida como testemunha no processo. No entanto, o Ministério Público arrolou mesmo a ex-presidente do IPIM como testemunha por considerar necessários alguns esclarecimentos sobre os consensos no Conselho
de Administração do IPIM mencionados por Glória Batalha. Outra das revelações das mensagens de WeChat ouvidas na sexta-feira permitiram perceber que entre alguns funcionários Irene Lau era tratada como “Esposa do Sr. Lau”. Foi o que aconteceu numa conversa entre Glória Batalha e o subordinado Tyler Ian. Irene Lau é casada com o empresário e ex-deputado Tommy Lau Veng Seng.
do Bilhete de Identidade de Residente”. Com o auxílio de um subordinado, Tylar Ian, e após a persistência na recolha de documentos e inscrição em associações locais, Yan Peiyu conseguiu reunir as condições para ter parecer positivo do IPIM. O parecer positivo contou com o apoio de Irene Lau, que desempenhou as funções de presidente do IPIM depois de Jackson Chang ter sido afastado. O pedido de Yan, segundo a defesa, só foi aprovado pelos então secretário para a Economia e Finanças, Lionel Leong, e pelo Chefe do Executivo, Chui Sai On, já depois de Glória ter sido suspensa das funções.
CONTACTOS COM NG KUOK SAO
“prática”. Em dois casos, a conversação está toda decifrada, menos uma mensagem que surge no encalço da conversa. Num outro exemplo, são várias as mensagens, todas seguidas, que ficaram por decifrar. Na resposta, CF Ng indicou que o software do CCAC tem limitações.
JANTAR DE 8 MIL PATACAS
Antes das alegadas incongruências evocadas pela defensa em relação à prova,
os presentes na audiência foram confrontados com várias conversas e documentos que mostraram Glória Batalha a ajudar em dois pedidos de residência. Em relação ao segundo caso, Glória Batalha foi
ouvida a ajudar nos procedimentos para fixação de residência a Yan Peiyu, professora assistente na Universidade de Ciência e Tecnologia na área da Medicina Tradicional Chinesa. A assistência foi forne-
“Os restantes casos [que não estão neste processo]... não quer dizer que não sejam relevantes e que não haja outras investigações a recorrer...” INVESTIGADOR DO CCAC
cida a pedido de um amigo de Glória Batalha, um empresário chamado Zhang Hoi Pang, e o assunto foi abordado a primeira vez durante um jantar a 7 de Agosto de 2017, no restaurante Robuchon Ao Dome organizado por Zhang. Yan também esteve presente e a conta foi de 7.797 patacas Depois de ter sido informada por um subordinado que Yan Peiyu teria dificuldade a obter a residência, Glória Batalha contactou
Zhang e perguntou-lhe qual era a relação entre os dois: “Qual é a vossa relação? Se for preciso, eu ajudo a pensar numa forma para obter residência, mas se não for preciso é melhor dizer-lhe que não consegue a residência”, disse Glória a Zhang, a 29 de Agosto de 2017. Na resposta, o empresário falou de uma relação muito próxima da sua família com Yan Peiyu e indicou ainda que a académica “precisava mesmo
No caso referente a uma pessoa com o nome Lau I Tak, foram ouvidas conversas entre Glória Batalha e Irene Iu, secretária de Ng Kuok Sao, o empresário acusado de criar uma rede criminosa para vender autorizações de permanência em Macau. Numa conversa datada de 26 de Outubro de 2015, Glória Batalha é ouvida a dizer que o candidato precisa de apresentar mais documentos. “Diz ao teu patrão [...] tens que o informar que o salário [do candidato] é baixo. A experiência ainda não é suficiente, tem que apresentar mais documentos”, diz a ex-vogal do IPIM a Irene Iu. Após a conversa, Lau I Tak acabou por apresentar a informação pedida, de forma voluntária, o que levou a acusação a considerar que houve acesso a informação privilegiada, que deveria ter passado pelos canais “oficiais” do IPIM. Segundo a versão de Pedro Leal, a informação fornecida em ambos os casos poderia ter sido obtida através do portal online do IPIM, pelo que não houve qualquer segredo violado. Por outro lado, é defendido que fazia parte das funções de Glória Batalha ajudar as pessoas a obter residência por serem uma mais-valia para a RAEM e que havia mesmo um serviço de informações ao domicílio, que foi referido pelo Lionel Leong nas Linhas de Acção Governativa. João Santos Filipe
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GCS
NOVA RONDA
J
á arrancou o 18º plano de fornecimento de máscaras à população, que se mantém nos mesmos moldes que as rondas anteriores. Leong Iek Hou, do Núcleo de Prevenção e Doenças Infecciosas e Vigilância da Doença, indicou que sempre houve máscaras suficientes para as necessidades da população, mas apelou aos residentes para terem em conta a quantidade de máscaras que já têm no momento de aquisição.
Alvis Lo, médico “Devido à situação de epidemia, ninguém está isento de observação médica”
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S autoridades anunciaram que o secretário para a Economia e Finanças vai ficar sujeito a 14 dias de observação médica, desde que regressou a Macau. Lei Wai Nong esteve presente, na passada sexta-feira, nas cerimónias fúnebres de Stanley Ho em Hong Kong, em representação do Governo da RAEM. Apesar de ter sido dispensado de cumprir a quarentena à chegada a Hong Kong, no regresso teve de ficar num dos hotéis designados pelos serviços de saúde. O vice-presidente da Conferência Consultiva Política do Povo Chinês (CCPPC), Edmund Ho, também se deslocou à região vizinha para o funeral. O também membro da comissão de organização das cerimónias
COVID-19 LEI WAI NONG SUJEITO A OBSERVAÇÃO MÉDICA NO REGRESSO A MACAU
Calha a todos
As figuras políticas que se deslocaram a Hong Kong para participar no funeral de Stanley Ho ficaram sujeitas a quarentena médica no regresso a Macau. As autoridades indicaram que o secretário para a Economia e Finanças fica num dos hotéis designados, enquanto Edmund Ho está noutro local por motivos de segurança
fúnebres, e primeiro Chefe do Executivo da RAEM, ficou também sujeito a quarentena à chegada num local designado. No entanto,
o Centro de Coordenação de Contingência do Novo Tipo de Coronavírus comunicou que Edmund Ho “será submetido à observação médica
num outro local designado por razões de segurança”. Ambas as figuras políticas vão ser sujeitas a dois testes de ácido nucleico durante
o período de isolamento. De acordo com o Centro de Coordenação, o objectivo destas medidas é garantir a saúde da população. “Devido à situação de epidemia, ninguém está isento de observação médica”, disse o médico Alvis Lo na conferência de acompanhamento da covid-19, noticiou a Lusa. “Assim é mais seguro para a nossa sociedade”, apontou. É agora necessário que todas as pessoas cumpram quarentena, apesar de Alvis Lo ter indicado previamente que as medidas a tomar iam ser avaliadas mediante cada caso.
ESTUDAR O COMBATE
Na conferência de imprensa, Alvis Lo apresentou o relatório “Estudos sobre a pneumonia causada pelo
novo tipo de coronavírus – o inquérito destinado aos residentes de Macau que permaneceram na província de Hubei e o balanço das experiências de luta contra a epidemia faseada em Macau”. O estudo focou-se em 43 residentes que regressaram a Macau depois de terem ficado mais de um mês em Hubei, por não terem sido infectados, de forma a identificar semelhanças entre as pessoas e optimizar estratégias de prevenção. “De acordo com o estudo, mais de 88 por cento dos entrevistados negaram ter participado em actividades de alto risco durante o confinamento realizado em Hubei. Além disso, a política anti-epidémica de Hubei, incluindo a prevenção da exportação e importação de casos, a redução de aglomerações e o bloqueio da propagação do vírus, são todas as razões para o sucesso no combate a epidemia”, indica o comunicado do Centro de Contingência. Sobre o balanço das medidas faseadas de combate à epidemia em Macau, o relatório aponta que a redução do risco do surto nas comunidades se deveu à rápida “política de contenção” tomada pelo Governo e a medidas como o isolamento médico destinado aos grupos de alto risco, e a realização de pelo menos dois testes de ácido nucleico. S.F. e Lusa
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COVID-19 MINISTÉRIO DOS NEGÓCIOS ESTRANGEIROS DA CHINA ENALTECE APOIO DE MACAU EM ÁFRICA
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M nome do Ministério dos Negócios Estrangeiros (MNE) da China, o Comissariado MNE da China na RAEM agradeceu, por carta, o apoio prestado pelo Governo de Macau na missão de combate contra a epidemia em África, mais precisamente na Argélia e no Sudão. O agradecimento foi
formalizado num evento realizado na passada sexta-feira, na sede do Governo da RAEM. Segundo um comunicado divulgado pelos Serviços de Saúde (SS), a equipa de especialistas, composta por elementos de Chongqing e Macau que entre 14 de Maio e 11 de Junho estiveram naArgélia e no Sudão,
“superou diversas dificuldades como amarguras da jornada, condições difíceis e uma severa situação da epidemia nos dois países”. De entre as actividades que ajudaram “a comunidade local a melhorar o nível de prevenção da epidemia”, destaque para a realização de visitas, seminários e partilha de
experiências junto das autoridades de saúde locais, instituições médicas e o escritório de representação da Organização Mundial de Saúde. Os SS ressalvam ainda que o grupo de peritos que se deslocou a África conseguiu o reconhecimento e o “amplo elogio dos dirigentes”, nomeadamente, o
Presidente da Argélia, Abdelmadjid Tebboune e o PrimeiroMinistro do Governo de transição do Sudão, Abdalla Hamdok. Recorde-se que esta foi a primeira vez que Macau enviou pessoal ao exterior para executar missões de resposta a emergências médicas internacionais. P.A.
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segunda-feira 13.7.2020
RÓMULO SANTOS
Para bom entendedor Pereira Coutinho alerta para a desvalorização do português
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CCTV BANCO DA CHINA DIZ QUE CÂMARAS NÃO CAPTAM CÓDIGOS NAS MÁQUINAS ATM
São para te ver melhor O Banco da China assegura que as câmaras de videovigilância instaladas junto às máquinas ATM não têm capacidade para captar códigos de acesso dos clientes e servem apenas para garantir a segurança dos utilizadores. No entanto, numa sessão de julgamento do caso IPIM, foram exibidas imagens fornecidas pelo Banco da China onde é possível ver o código de acesso
A
S câmaras de videovigilância instaladas junto às máquinas ATM do Banco da China servem apenas para garantir a segurança dos utilizadores e não conseguem captar os códigos de acesso às contas bancárias. A garantia foi dada pelo gabinete de comunicação do Banco da China ao HM. “O nosso banco valoriza sempre a protecção dos direitos dos clientes. As câmaras de videovigilância são instaladas nas caixas multibanco, gravando as imagens das pessoas que fazem levantamentos, a fim de saber se as caixas multibanco funcionam bem.” Nesse sentido, “se o ângulo da gravação incluir a zona de digitação dos números, o sistema irá blindar essas imagens e será impossível obter os códigos de acesso dos clientes através das imagens da
videovigilância”. A resposta do Banco da China acrescenta que existe um sistema de alerta para que seja garantida a protecção dos dados pessoais dos clientes. “Antes do cliente digitar o código de acesso, no ecrã do multibanco surge de imediato um aviso de que é necessária maior protecção a fim de se evitar a divulgação das informações e do código.”
CÓDIGO NO CASO IPIM
Apesar do Banco da China negar que as câmaras de videovigilância captam os códigos de acesso às máquinas ATM, a verdade é que na sessão de
julgamento do caso IPIM, na passada quinta-feira, foram mostradas imagens fornecidas pela própria entidade bancária às autoridades onde é visível o código de acesso inserido pela empregada do empresário Ng Kuok Sao. Ng Kuok Sao é um dos arguidos no processo, acusado de criar uma rede criminosa de venda de autorizações de permanência em Macau. O assunto acabou por não ser explorado em tribunal, mas a verdade é que o ângulo de uma das três câmaras instaladas pelo Banco da China, junto às caixas
“Se o ângulo da gravação incluir a zona de digitalização dos números, o sistema irá blindar essas imagens e será impossível obter os códigos de acesso dos clientes através das imagens da videovigilância.” BANCO DA CHINA
ATM, captou o código pin inserido pela utilizadora. Por esse motivo, as imagens da câmara que apontam ao painel de controlo têm no centro um quadrado preto a tapar o painel de controlo da máquina ATM, onde a empregada estava a inserir o código pin da conta. A funcionária, que utilizava o multibanco, tinha em sua posse uma folha de papel com vários números inscritos. Recorrendo ao zoom das imagens de alta resolução, as autoridades conseguiram aceder a toda a informação contida no documento. O HM contactou também o Gabinete de Protecção de Dados Pessoais e a Autoridade Monetária de Macau sobre este assunto na quinta-feira, mas até ao fecho desta edição não obteve resposta. Hoje Macau
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deputado Pereira Coutinho considera que três das propostas de lei que estão a ser discutidas na Assembleia Legislativa (AL) diminuem o estatuto do português enquanto língua oficial da RAEM. Em causa estão os diplomas respeitantes à Protecção dos Direitos e Interesses dos Consumidores e à Actividade dos Estabelecimentos Hoteleiros e a Actividade das Agências de Emprego. Para o legislador, a médio e longo prazo, a desvalorização pode “pôr em causa as características identitárias de Macau, no que respeita à sua ligação ao mundo Lusófono”. Uma opinião que expressou através de carta ao presidente daAL, Kou Hoi In, esperando que este use a sua “magistratura de influência” de forma a que se chegue a um consenso e garantir o estatuto da língua portuguesa nas propostas de lei em causa Na proposta sobre os estabelecimentos hoteleiros, por exemplo, Coutinho destaca o artigo onde se prevê que o nome do estabelecimento deve ser redigido “numa das línguas oficiais, ou em ambas e ainda em língua inglesa se o interessado assim pretender”. Já no âmbito dos direitos dos consumidores, é referido que o importador deve dar as instruções ou manual escrito em chinês, português ou inglês, ou ser acompanhado de tradução numa destas línguas. “Dá-se uma preferência ao empre-
go da língua chinesa e, em termos práticos, coloca-se a língua inglesa numa posição de nítida supremacia face à língua portuguesa”, entende Pereira Coutinho. Para além disso, defende que esta aposta aparenta ser “incoerente” com políticas adoptadas para a construção da Grande Baía, que atribuem a Macau o papel de consolidar a plataforma de serviços para a cooperação comercial entre a China e os Países de Língua Portuguesa.
FUTURO EM RISCO
O deputado entende que esta opção “é também susceptível de violar” a Lei Básica de Macau e de “comprometer” a ligação de Macau ao mundo Lusófono. Em causa está o artigo que determina que, para além da língua chinesa, também o português é língua oficial da RAEM. “Independentemente dos argumentos que possam levar a cabo, em benefício de uma outra solução, o que nos inquieta e preocupa é o futuro da língua portuguesa na RAEM, com a possível perda das características de Macau enquanto ‘farol’ da lusofonia no oriente, e bem assim, o futuro dos milhares de jovens que se têm dedicado a aprender a língua portuguesa em Macau e no Interior do continente, que com o aprofundamento deste ‘rumo’ poderão ver o seu futuro pessoal e profissional comprometido”, explica no documento. S.F.
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13.7.2020 segunda-feira
Metro Ligeiro Comunicação em causa após avaria não reportada
O director dos Serviços para os Assuntos de Tráfego (DSAT), Lam Hin San, admitiu existir margem para melhorar a comunicação do Metro Ligeiro, em caso de acidente ou avaria. Isto porque, de acordo com o jornal Cheng Pou, após duas avarias no espaço de três dias, o segundo incidente acabou por não ser comunicado ao público. O primeiro incidente, reportado online, aconteceu no dia 7 de Julho e foi motivado por uma falha no fornecimento de energia eléctrica, o que obrigou os passageiros a serem transportados de autocarro. Já a segunda avaria, que nunca foi reportada, aconteceu no dia 9 de Julho, alegadamente motivada pelas mesmas razões. Sobre a falta de comunicação com o exterior, Lam Hin San referiu a necessidade de coordenar melhor o mecanismo de interação entre todas as partes envolvidas, lembrando que o Metro Ligeiro é um projecto recente em Macau que está ainda a ser aperfeiçoado.
Capricorn Leong, activista “Se calhar, da próxima vez é melhor mudar o nome do nosso evento para ´Roadshow da consciência ambiental da Grande Baía”.
AMBIENTE IMPOSIÇÃO DE TESTES OBRIGA A CANCELAR ACTIVIDADES DE RECICLAGEM
Para testar a paciência
Iniciativas de reciclagem da Macau for Waste reduction foram canceladas depois da CPSP ter anunciado a exigência de todos os participantes apresentarem um teste de ácido nucleico negativo. A responsável do grupo, Capricorn Leong, diz estar chocada e não compreender os critérios das autoridades
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U A S actividades de reciclagem da Macau for Waste Reduction foram canceladas depois do Corpo de Polícia de Segurança Pública (CPSP) ter notificado o grupo de que todos os participantes e voluntários das iniciativas estão obrigados a apresentar um teste de ácido nucleico negativo. As estações de reciclagem ao ar-livre tinham como objectivo sensibilizar a população para a importância de reciclar e recolher lixo e estavam agendadas para os dias 11 e 18 de Julho na Praça de Jorge Álvares e na Taipa (Ocean Garden). A estação de recolha que permanecerá activa está marcada para o dia 18, sábado, na Escola Portuguesa de Macau.
Numa publicação no Facebook, onde dá conta da notificação da polícia, o grupo Macau for Waste Reduction justifica a decisão de cancelar as iniciativas com o facto de ser um pequeno grupo ambiental, “sem capacidade financeira para subsidiar os testes de ácido nucleico dos participantes”. Contactada pelo HM, Capricorn Leong, activista e responsável pelo grupo diz estar chocada com a exigência das autoridades de apresentar um teste de despistagem à covid-19, porque, para além das estações de reciclagem serem eventos ao ar-livre, Macau já deu mostras de ter regressado à normalidade. “Estamos chocados e muito desiludidos. Pessoalmente, não consigo compreender qual
é o critério aplicado, quando toda a gente sai à rua para jantar fora ou ir às compras, recorrendo muitas vezes a autocarros lotados para o fazer. Além disso, anteriormente expliquei ao Governo que a nossa actividade decorre com os participantes em constante movimento, sendo que a maior parte nem sequer iria ficar mais de 15 minutos”, explicou Capricorn Leong.
TEMPOS DIFÍCEIS
Capricorn Leong refere ainda que a necessidade de realizar este tipo de eventos é da maior importância, pois se “todos evitassem produzir resíduos plásticos desnecessários”, não seria preciso realizar, “de forma tão urgente”, este tipo de iniciativas.
A activista lembra ainda que o critério de exigir a apresentação de testes de ácido nucleico “não se aplica a actividades com fins lucrativos” e dá o exemplo de um evento que decorreu no passado fim-de-semana na zona do Fisherman’s Wharf destinado ao comércio. “Se calhar, da próxima vez é melhor mudar o nome do nosso evento para ´Roadshow da consciência ambiental da Grande Baía’”, rematou Capricorn Leong. Recorde-se que no passado mês de Junho, o CPSP já tinha impedido que fossem montadas outras estações de reciclagem em locais públicos, obrigando as mesmas a passar para locais privados. Pedro Arede
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AMCM “Macau Offshore Credit Union HK” desautorizada
A Autoridade Monetária de Macau (AMCM) anunciou que a “Macau Offshore Credit Union HK” não está autorizada a exercer actividades financeiras em Macau. Numa nota enviada ontem, a AMCM deixa ainda um apelo para que o público efectue operações que considere necessárias através de instituições financeiras autorizadas, “de modo a evitar burla e prejuízos desnecessários”. O anúncio vem no seguimento de um aviso emitido pela instituição de supervisão financeira de Hong Kong, onde é reportado que a empresa exerceu actividades bancárias ou de recepção de depósitos através da sua página electrónica, sem a devida autorização.
Fraude PJ alerta para falsas chamadas em nome da DSEJ
A Polícia Judiciária (PJ) emitiu ontem um alerta onde dá conta da existência de chamadas fraudulentas efectuadas em nome dos Serviços de Educação e Juventude (DSEJ). De acordo com o canal chinês da TDM – Rádio Macau, as falsas chamadas eram destinadas aos requerentes das bolsas de estudo, sendo habitual que, do outro lado, o interlocutor coloque várias questões em língua inglesa. Citada pela mesma fonte, a DSEJ esclareceu que apenas recorre a chamadas telefónicas para abordar assuntos relacionados com as bolsas de estudo durante o horário de expediente e que, em caso de contacto telefónico, não serão solicitados dados pessoais ou dados bancários.
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segunda-feira 13.7.2020
ANIMA BILLY CHAN ELEITO PARA ASSUMIR A PRESIDÊNCIA DA ASSOCIAÇÃO
Passagem de testemunho Assume a presidência da Anima consciente de que a protecção dos animais é uma área com desafios. Billy Chan, que já foi vicepresidente, frisou o trabalho feito pela associação ao longo dos últimos anos. Albano Martins considera que foi “a escolha ideal”
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ILLY Chan foi a pessoa escolhida para ocupar o cargo de presidente da Anima, cargo anteriormente ocupado por Albano Martins, noticiou a TDM Canal Macau. As eleições realizaram-se no sábado. Ao HM, o novo presidente descreve que “a protecção animal em Macau nunca vai ser um trabalho fácil”. De entre os trabalhos desenvolvidos ao longo dos últimos anos, destacou que “a Anima tem salvo muitos animais”, apontando para um número superior a dez mil, nomeadamente ao ajudá-los a encontrar casa e assegurar que estão de boa saúde. Um caminho que quer manter. Apesar de já estar ligado à associação, a nível pessoal sente que a posição que passa a ocupar “é muito desafiante”. Quando questionado sobre os principais desafios que a Anima enfrenta, a resposta é curta e grossa: “recursos”. Mas para além
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de temas como a necessidade de espaço para cuidar dos animais, Billy Chan também entende serem precisas mudanças no sentido de as pessoas compreenderem que os animais “devem fazer parte da sociedade humana” e ser protegidos. Para além disso, reconheceu a importância da ajuda dada por Albano Martins e espera que se mantenha no futuro, para assegurar uma transição suave nos trabalhos da Anima. “Agora a posição dele é presidente honorário vitalício”.
UMA LIGAÇÃO PARA A VIDA
“São pessoas que conhecem aAnima desde longa data, da Comissão Executiva são quase todos eles trabalhadores daAnima. Portanto, conhecem
já os meandros dos problemas que a Anima defronta”, descreveuAlbano Martins, acrescentando que Billy Chan já foi vice-presidente da associação e “é uma pessoa cuidadosa, pragmática, defensora dos direitos dos animais desde longa data e a escolha ideal nesta fase”. Enquanto presidente honorário vitalício, Albano Martins fica agarrado à Anima para toda a vida. Nos próximos meses, vai
“A protecção animal em Macau nunca vai ser um trabalho fácil”, BILLY CHAN PRESIDENTE DA ANIMA
passar os dossiers e apoiar as pessoas que vão assumir as funções que desempenhava. “Ainda há muitos trabalhos que eu tenho que fazer por detrás, até termos a máquina toda preparada para poder executar isso. (...) Mas a responsabilidade será da Anima”, observou. Uma das questões que tem em mãos este mês é a apresentação do pedido de subsídio à Fundação Macau para 2021, em três línguas. Quanto ao papel de liderança, mostrou confiança de que “pessoas jovens com o tempo vão lá chegar”, frisando que têm muito presente o quão fundamental é seguir o que está previsto no código de ética. S.F.
FAROL DA GUIA IC DIZ NÃO TER AINDA RECEBIDO CARTA DA UNESCO
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OK Ian Ian, presidente do Instituto Cultural (IC), diz não ter ainda recebido a resposta do Centro para o Património da Humanidade da UNESCO relativa à carta enviada pelo Grupo para a Salvaguarda do Farol da Guia, escreveu o jornal Ou Mun. A carta, enviada em Junho, alerta para potenciais danos na integridade
“VAMOS! MACAU!” CERCA DE 47 MIL RESIDENTES PARTICIPARAM NAS EXCURSÕES
visual da paisagem provocados pela construção de um edifício com 90 metros de altura perto do monumento classificado. A presidente do IC frisou também que o Governo da RAEM vai manter uma comunicação estreita com a UNESCO através da Administração Estatal do Património Cultural da China, tal como tem sido
feito nos últimos 15 anos, referiu. Ainda no tópico da cooperação, a responsável frisou o diálogo permanente entre o IC e a Direcção dos Serviços de Solos, Obras Públicas e Transportes onde são discutidos assuntos relacionados com o património “de forma regular”. Mok Ian Ian apontou ainda que o património não deve ser
preservado de forma isolada, sendo necessário ligação permanente entre essa preservação e o desenvolvimento urbanístico do território. Para a presidente do IC, o património deve também ser reaproveitado, de forma a destacar o seu valor sustentável e para ser partilhado ao longo de gerações. N.W. e P.A.
ERCA de 47 mil pessoas já participaram nos 15 roteiros turísticos locais lançados pelo Governo de Macau para impulsionar o sector do turismo, afectado pela covid-19, afirmou a directora dos Serviços de Turismo, Helena de Senna Fernandes. O plano, avaliado em reuniões de coordenação semanais, poderá ser alargado com o lançamento de mais roteiros, dada a elevada procura, disse a responsável. Uma das possibilidades é incluir pontos do património cultural da cidade não abrangidos pelas excursões actuais, mas os residentes procuram normalmente mais actividades de interior e em família, como ‘workshops’, considerou a directora. No entanto, Helena de Senna Fernandes frisou que os planos estão sempre em ajustamento devido à pandemia da covid-19. Lançado a 15 de Junho, o plano de excursões locais “Vamos! Macau!” contempla 15 roteiros, seis comunitários e nove de lazer, com os residentes a receberem 560 patacas caso participem em duas excursões, limite máximo definido pelas autoridades. O Governo atribuiu 280 milhões de patacas, através da Fundação Macau, para subsidiar o programa. Segundo o jornal Ou Mun, participaram mais de 660 guias turísticos no programa. Citado pelo mesmo jornal, Wu Keng Kuong, presidente da Associação de Indústria Turística de Macau, disse que as excursões marítimas e os roteiros nos resorts são os mais populares e que muitos residentes não conseguiram inscrever-se devido ao número limitado de vagas. Wu Keng Kuong adiantou pretender lançar novos roteiros até ao final do mês, estando a aguardar confirmação das autoridades. Lei Chong In, vice-presidente da direcção da Associação de Mútuo Auxílio dos Moradores da Marginal, sugeriu a criação de excursões marítimas no Porto Interior para revitalizar a economia da zona. N.M e A.S.S.
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Cantam as nossas almas
Presidente do IC diz que residentes prestam mais atenção ao património
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S residentes de Macau estão “cada vez mais” conscientes do valor do património mundial na vida diária, bem como da importância da sua salvaguarda, afirmou no sábado a presidente do Instituto Cultural (IC), Mok Ian Ian. A responsável falava na cerimónia de abertura de dois dias de actividades que assinalam o 15.º aniversário da inscrição do centro histórico de Macau na lista do património mundial da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO). Danças folclóricas portuguesas, danças do leão e ópera cantonense dominaram o programa das comemorações, que terminou ontem. “O centro histórico, com os seus largos e praças de estilo europeu, os seus templos de estilo chinês, as suas igrejas e teatros de estilo ocidental e as suas mansões com elementos chineses e ocidentais, conta ao mundo a história de Macau, uma cidade que se distingue pelas origens e características multiculturais”, afirmou a responsável. O trabalho do IC procura, através de várias actividades de sensibilização das camadas mais jovens da população, “potenciar o desenvolvimento sustentável deste recurso precioso e não reproduzível” e garantir “a pre-
servação futura” do património cultural mundial de Macau, que pertence “a toda a humanidade”, salientou.
LAR NO LILAU
O evento decorreu na Casa do Mandarim e no Largo do Lilau, dois espaços que integram a lista do património mundial e testemunham o “mais antigo legado arquitectónico europeu existente em solo chinês na actualidade”, de acordo com a avaliação do comité do património mundial do centro histórico de Macau. Edifício de estilo tradicional chinês, a Casa do Mandarim foi construída antes de 1869 e situa-se mesmo em frente ao Largo do Lilau, um dos primeiros largos de estilo português da cidade. O centro histórico de Macau foi inscrito na lista do património da humanidade da UNESCO em 15 de Julho de 2005, tendo sido designado como o 31.º local do Património Mundial da China. A classificação integra vários edifícios históricos construídos pelos portugueses, incluindo o edifício e largo do Leal Senado, a Santa Casa da Misericórdia, as igrejas da Sé, de São Lourenço, de Santo António, de Santo Agostinho, de São Domingos, as Ruínas de São Paulo e Largo da Companhia de Jesus ou a Fortaleza da Guia.
BOOK CARNIVAL ORGANIZAÇÃO RETIROU LIVRO COM BANDEIRA DE TAIWAN
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MWA Chan, presidente da Associação da Promoção da Literacia de Macau, assumiu ter retirado da lista de livros em exposição na Macau Book Carnival um livro de política que tem a bandeira de Taiwan na capa, sem referir que de obra se trata. “Em relação aos livros de política, retirei um ontem à noite. Um livro que fala sobre bandeiras nacionais. Como é um livro de Taiwan, coloca a bandeira da República da China (na capa), achei que era inadequado. Por isso optei por não exibir esse livro. Os restantes estão bem”, disse em declarações reproduzidas pelo Canal Macau da TDM. A edição deste ano da Macau Book Fair, que decorre no ginásio do Instituto Politécnico de Macau (IPM) até ao dia 19 de Julho, conta com mais de 25 mil livros em exposição, vendidos a preços de saldo.
Só o Instituto Cultural disponibiliza um total de 1.100 títulos. Devido à pandemia da covid-19, não estão expostas obras oriundas da China. “Este ano, na oferta, não temos, lamentavelmente, os livros da China continental, pois os que são importados de lá devem ficar em quarentena por mais de 10 dias. O número de livros de Hong Kong e Taiwan é semelhante ao do ano passado. E existem cerca de 20 por cento de livros em idiomas estrangeiros”, justificou Imwa Chan. A.S.S.
Cem anos volta do m
POESIA LISBON POETS & CO EDITA CAMILO PESSANHA EM ESPANHOL, INGLÊS E F
“Clepsydra”, obra-prima de Camilo Pessanha, quase toda escrita em Macau, vai ganhar novas edições bilingues em português/inglês, português/francês e português/espanhol com a chancela da editora portuguesa Lisbon Poets & Co. O editor Miguel Neto acredita ter chegado mais perto da organização que Pessanha queria para os seus escritos e que não foi conseguida por Ana de Castro Osório na edição de 1920
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ST E ano celebra-se o centenário da primeira edição de “Clepsydra”, a obra mais importante do poeta Camilo Pessanha, editada em 1920 por Ana de Castro Osório. Como forma simbólica de celebrar a data, a editora portuguesa Lisbon Poets & Co acaba de editar duas edições bilingues, “Clepsydra - The Poetry of Camilo Pessanha” e “Clepsydra - La Poesía de Camilo Pessanha”, com introdução da académica Helena Buescu, da Universidade de Lisboa, e organização e fixação do texto por parte do professor Paulo Franchetti. Franchetti havia, inclusivamente, trabalhado na obra de Pessanha em edições anteriores publicadas em língua portuguesa. “Estas duas edições são importantes para dar a conhecer a falantes de outras línguas [a obra de Pessanha]. Também vamos publicar uma edição em francês, que está a ser terminada, e vamos traduzir para outras línguas. Pessanha já é pouco traduzido em Portugal e em outros países é, de facto, muito pouco conhecido”, apontou ao HM o editor Miguel Neto. É também objectivo da Lisbon Poets & Co “fazer esse contributo [para reavivar a memória]”. “ “A sua poesia tem uma natureza velada, é um pouco inacessível e
“Estas duas edições são importantes para dar a conhecer a falantes de outras línguas [a obra de Pessanha]. Também vamos publicar uma edição em francês, que está a ser terminada” MIGUEL NETO EDITOR
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segunda-feira 13.7.2020
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FRANCÊS
difícil, pelo que não a torna muito fácil para uma leitura imediata. Além disso, Pessanha esteve longe de Portugal, passou quatro décadas em Macau e foi lá que escreveu a maior parte dos poemas, e em Portugal produziu muito pouco”, frisou Miguel Neto. Ainda assim, isso não impediu Pessanha de ser considerado um dos nomes maiores do Simbolismo português. “‘Clepsydra’ é realmente marcante e é também a maior representação do Simbolismo em língua portuguesa, além de ser um livro que marcou toda a poesia vindoura, com Mário de Sá-Carneiro e Fernando Pessoa e poetas posteriores, como Eugénio de Andrade.”
QUESTÃO DE ORGANIZAÇÃO
Aquando da primeira publicação de “Clepsydra”, em 1920, Ana de Castro Osório não terá seguido a organização dos poemas conforme o desejo de Pessanha. A descoberta foi feita por Paulo Franchetti através de um documento depositado na Biblioteca Nacional colado a um dos primeiros exemplares de “Clepsydra”. Estas duas edições bilingues apresentam, portanto, a organização original conforme a vontade do autor. Aos 16 poemas juntam-se outros acrescentados por Paulo Franchetti, onde se incluem “dois poemas inacabados, poemas satíricos e poemas citados de memória por outras pessoas”. Por esse motivo, “o que está no livro não é apenas uma aproximação possível e mais recente à ‘Clepsydra’, mas também a toda a poesia de Pessanha, e é a primeira vez que ela é traduzida para inglês e para espanhol”, rematou Miguel Neto. Além destas edições, a editora Lisbon Poets & Co também promoveu nas redes sociais, em parceria com várias editoras portuguesas independentes, vídeos com a leitura de poemas de Camilo Pessanha. A campanha dura até esta quarta-feira, dia 15. Andreia Sofia Silva
andreia.silva@hojemacau.com.mo
FADO INÉDITOS DE AMÁLIA GRAVADOS EM PARIS SÃO EDITADOS DIA 23
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MA caixa com cinco CD com gravações inéditas de Amália Rodrigues (1920-1999) em Paris é editada no próximo dia 23, quando a fadista completaria 100 anos, no âmbito da edição da discografia integral da fadista. Dos cinco discos, apenas um deles é já conhecido, o espectáculo de Amália no Olympia, em 1956, remasterizado a partir das bobinas originais. Os outros incluem gravações entre 1957 e 1965, de actuações ao vivo e em estúdio na Rádio France, dois espectáculos completos, novamente no Olympia, em 1967 e em 1975, e ainda uma actuação para emigrantes portugueses, em 1964. Apesar de ter actuado por todo o mundo, o Olympia, em Paris, foi fulcral para a carreira de Amália, que, em várias entrevistas, se referiu à capital francesa como a rampa de lançamento do seu prestígio internacional. “De Paris parti para o mundo”, afirmou a fadista. Em Junho de 1956, uma revista portuguesa relatava deste modo o êxito da fadista na capital francesa: “Amália canta, e Paris acredita! A nossa Amália andou ao colo de Paris como se fosse um bebé gorducho e bonito que faz gracinhas. Em toda a parte, e em todos os seus espectáculos no Olympia bastava-lhe chegar...e logo se espalhavam sorrisos de simpatia, expressões de curiosidade, de admiração, talvez algumas de ciúme. Porque Amália é uma espécie de Casanova intelectual...”.
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HONG KONG MAIS DE 582 MIL VOTOS NAS PRIMÁRIAS DA OPOSIÇÃO
Faça sol ou covid-19
Os partidos pró-democracia em Hong Kong realizaram este fim-de-semana eleições primárias para nomear candidatos para as eleições legislativas de Setembro. Mais de 580 mil pessoas foram às urnas, apesar dos avisos das autoridades de que corriam o risco de violar a nova lei de segurança
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IL HARE S de pessoas fizeram fila ao calor, fora das mesas de voto não-oficiais, para votarem nas eleições primárias do campo pró-democracia que escolhem os candidatos para as eleições legislativas, marcadas para Setembro. De acordo com o South China Morning Post, que citou a organização das primárias, até às 21h de ontem tinham votado 582 mil pessoas, um número que em larga medida ultrapassou as expectativas de 170 mil
eleitores, e que representa 13 por cento dos votantes registados. Na sexta-feira, dia que antecedeu o sufrágio, a polícia invadiu os escritórios de um instituto de sondagens envolvido na organização das primárias. De acordo com os organi-
zadores, quando as mesas de voto fecharam, às 21h de sábado, 230 mil pessoas tinham votado, mais do que o esperado. “Atingimos a meta mínima que nos propusemos, mas não é suficiente. Quanto mais pessoas vierem votar nas primárias, mais válidas
“Aprecio cada oportunidade que ainda tenho de votar no candidato da minha escolha e espero que o povo de Hong Kong possa mostrar ao Governo que não vai dobrar o joelho.” POON ELEITOR PUB
MANDADO DE NOTIFICAÇÃO N.° 422/AI/2020
MANDADO DE NOTIFICAÇÃO N.° 436/AI/2020
-----Atendendo à gravidade para o interesse público e não sendo possível proceder à respectiva notificação pessoal, pelo presente notifique-se o infractor ZHANG LI, portador do SalvoConduto para Deslocação a Hong Kong e Macau da RPC n.° C61423xxx e portador do Passaporte da RPC n.° E61109xxx, que na sequência do Auto de Notícia n.° 205/DI-AI/2018 levantado pela DST a 05.11.2018, e por despacho da signatária de 03.07.2020, exarado no Relatório n.° 435/DI/2020, de 08.06.2020, nos termos do n.° 1 do artigo 10.° e do n.° 1 do artigo 15.°, ambos da Lei n.° 3/2010, lhe foi determinada a aplicação de uma multa de $200.000,00 (duzentas mil patacas) por prestação de alojamento ilegal na fracção autónoma situada na Rua Francisco H. Fernandes n.° 23, Edf. Hot Line, 5.° andar AF.-----------------------------------------------------------------------------O pagamento voluntário da multa deve ser efectuado no Departamento de Licenciamento e Inspecção destes Serviços, no prazo de 10 dias, contado a partir da presente publicação, de acordo com o disposto no n.° 1 do artigo 16.° da Lei n.° 3/2010, findo o qual será cobrada coercivamente através da Repartição de Execuções Fiscais, nos termos do n.° 2 do artigo 16.° do mesmo diploma.-------------------------------------------------------------Da presente decisão cabe recurso contencioso para o Tribunal Administrativo conforme o disposto no artigo 20.° da Lei n.° 3/2010, a interpor no prazo de 60 dias, conforme o disposto na alínea b) do n.° 2 do artigo 25.° do Código do Processo Administrativo Contencioso, aprovado pelo DecretoLei n.° 110/99/M, de 13 de Dezembro.----------------------------------Desta decisão pode o infractor, querendo, reclamar para o autor do acto, no prazo de 15 dias, sem efeito suspensivo, conforme o disposto no n.° 1 do artigo 148.°, artigo 149.° e n.° 2 do artigo 150.°, todos do Código do Procedimento Administrativo, aprovado pelo Decreto-Lei n.° 57/99/M, de 11 de Outubro.------------------------------------------------------------------Há lugar à execução imediata da decisão caso esta não seja impugnada.-------------------------------------------------------------------O processo administrativo pode ser consultado, dentro das horas normais de expediente, no Departamento de Licenciamento e Inspecção desta Direcção de Serviços, sito na Alameda Dr. Carlos d’Assumpção n.os 335-341, Edifício ‘‘Centro Hotline”, 18.° andar, Macau.------------------------------------Direcção dos Serviços de Turismo, aos 3 de Julho de 2020.
-----Atendendo à gravidade para o interesse público e não sendo possível proceder à respectiva notificação pessoal, pelo presente notifique-se a infractora YI SIRONG, portadora do Salvo-conduto de Residente da China Continental para Deslocação a Taiwan n.° L13588xxx, que na sequência do Auto de Notícia n.° 212.1/DI-AI/2019, levantado pela DST a 05.08.2019, e por despacho da signatária de 28.04.2020, exarado no Relatório n.° 162/DI/2020, de 08.04.2020, em conformidade com o disposto no n.° 1 do artigo 14.° da Lei n.° 3/2010, lhe foi desencadeado procedimento sancionatório por suspeita de prestação de alojamento ilegal na fracção autónoma situada na Rua de Pequim n.° 36, I Chan Kok, 16.° andar B.--------------------------------No mesmo despacho foi determinado que deve, no prazo de 10 dias, contado a partir da presente publicação, apresentar, querendo, a sua defesa por escrito, oferecendo nessa altura todos os meios de prova admitidos em direito, não sendo admitida a apresentação de defesa ou de provas fora do prazo conforme o disposto no n.° 2 do artigo 14.° da Lei n.° 3/2010.------------A matéria apurada constitui infracção ao artigo 2.° da Lei n.° 3/2010, punível nos termos do n.° 1 do artigo 10.° do mesmo diploma.------------------------------------------O processo administrativo pode ser consultado, dentro das horas normais de expediente, no Departamento de Licenciamento e Inspecção desta Direcção de Serviços, sito na Alameda Dr. Carlos d’Assumpção n.os 335-341, Edifício ‘‘Centro Hotline’’, 18.° andar, Macau.-------------------------------------------------Direcção dos Serviços de Turismo, aos 3 de Julho de 2020.
A Directora dos Serviços, Maria Helena de Senna Fernandes
A Directora dos Serviços, Maria Helena de Senna Fernandes
serão”, afirmou um dos organizadores, o antigo deputado pró-democracia Au Nok-hin, no sábado à noite. Ontem à noite, o ex-legislador afirmou que “mesmo sob ameaça da Lei da Segurança Nacional, tivemos quase 600 mil pessoas a votar”. De acordo com o diário da região vizinha, alguns candidatos tradicionais do campo democrático, incluindo veteranos, esbarraram em problemas ao tentar assegurar o apoio do eleitorado face a candidatos mais jovens que preferem tácticas de maior confronto às autoridades. “As primárias são uma batalha de diferentes abordagens. É uma questão de saber se ainda permitimos moderados e democratas tradicionais de constituírem a maioria da ala da pró-democracia no hemiciclo. A minha resposta é, definitivamente, não”, comentou Lester Shum, citado pelo SCMP, estudante que concorre pela primeira vez ao LegCo.
VOZ DE ELEITOR
“Segundo a nova lei de segurança nacional, ninguém sabe quantos candidatos pró-democracia serão autorizados a concorrer nas próximas eleições LegCo”, o Conselho Legislativo, disse à agência France-Presse um eleitor de 34 anos, que se apresentou pelo nome de Poon, numa das mesas do bairro de Tseung Kwan. O eleitor admitiu que os
Região candidatos “poderão ser desqualificados pelo Governo ao abrigo da nova lei”. “Aprecio cada oportunidade que ainda tenho de votar no candidato da minha escolha e espero que o povo de Hong Kong possa mostrar ao Governo que não vai dobrar o joelho”, acrescentou.
Na quinta-feira, Erick Tsang, responsável pelos assuntos constitucionais e continentais, avisou, em entrevistas a alguns meios de comunicação pró-Pequim, que aqueles que “organizam, planeiam e participam” nas primárias será provável que cometam infrações, ao abrigo da nova lei.
Covid-19 China regista sete novos casos oriundos do exterior A China registou nas últimas 24 horas sete novos casos da covid-19, todos importados do exterior, indicaram ontem as autoridades chinesas. Quatro das infecções foram diagnosticadas na cidade de Tianjin, duas em Xangai (leste) e uma na província de Zhejiang (sudeste), segundo a Comissão Nacional de Saúde da China.
Pequim, que registou no mês passado um surto com origem no maior mercado abastecedor da cidade, voltou a não diagnosticar novos casos, pelo sexto dia consecutivo. Este é também o sexto dia consecutivo sem transmissão local na China. As autoridades de saúde detalharam ainda que, até à meia-noite de sábado, 11 pacientes
tiveram alta, fixando o número total de casos activos no país asiático em 326, três dos quais se encontram em estado grave. A Comissão Nacional de Saúde não anunciou novas mortes por covid-19. De acordo com dados oficiais, desde o início da pandemia, a China registou 83.594 infectados e 4.634 mortos devido à covid-19.
desporto 11
segunda-feira 13.7.2020
A
D rone Grand Prix (DGP) tem vindo nos últimos anos a colocar no ar várias competições de drones de corrida FPV (First Person View), em locais como Xangai, Jiangyin, Nanjing ou Pequim, atraindo uma audiência curiosa ao vivo e alguns largos milhares de visualizadores através das populares transmissões online. A organização da liga pretende trazer a competição para Macau. Estes eventos oferecem um verdadeiro espectáculo estimulante de luzes e cor, com os pequenos e ágeis drones a ultrapassam os 140km/h de velocidade numa fracção de décimos de segundo. No futuro, a DGP planeia combinar as características de diferentes locais de várias cidades da Ásia e convidar pelo menos oito equipas nacionais e mais de trinta pilotos para participar num grande evento. A DGP está determinada “em criar a primeira geração de pilotos profissionais de classe mundial da China e promover ainda mais eventos para aqueles que gostam desta actividade mostrarem o seu talento”. A pandemia da covid-19 com certeza que trocou um pouco os planos da organização para este ano, mas não a fez baixar os braços. A ideia para a temporada de 2020, devido às limitações actuais, será reduzi-la, da meia dúzia de eventos inicialmente previstos, a duas ou três provas na China Interior ou em outros pontos no continente asiático. Inicialmente estava previsto um evento em Hong Kong, mas é provável que não se venha a disputar na ex-colónia britânica este ano. A DGP aponta a RAEM como uma possibilidade para a realização de um evento fora da China Interior ainda este ano, apesar das dificuldades actuais relacionadas com a circulação de pessoas. “Por agora, ainda estamos na incerteza sobre quan-
Porta-voz da Drone Grand Prix “Por agora, ainda estamos na incerteza sobre quantos eventos vamos organizar em 2020. Apresentámo-nos ao Instituto do Desporto para a um potencial evento em Macau, mas, por agora, ainda não temos informações actualizadas.”
DRONE GP LIGA DE CORRIDAS QUER EVENTO EM MACAU
Voos no Rio das Pérolas A liga de corridas de drones Drone Grand Prix, sediada em Xangai, gostava de realizar um evento no território e terá já contactado o Instituto do Desporto de Macau para perceber o interesse das autoridades locais em acolher um evento desta natureza tos eventos vamos organizar em 2020. Apresentámo-nos ao Instituto do Desporto para a um potencial evento em Macau, mas, por agora, ainda não temos informações actualizadas”, disse uma porta-voz da DGP ao HM, que aguarda resposta
da autoridade desportiva do território. O HM sabe que a DGP procura um parceiro na RAEM para ajudar a montar este projecto de trazer a competição chinesa, tendo já encetado contactos com a Macau Drone Racing Sports Association e falado com
o FC Barcelona. Em comunicado, o clube explica que Griezmann foi ontem submetido a exames que confirmaram a lesão e, sem indicar o tempo de paragem, refere que “a evolução da recuperação ditará a disponibi-
lidade” do jogador. Griezmann, que é actualmente o quarto jogador com mais minutos na equipa do FC Barcelona esta época, foi substituído no sábado, pelo uruguaio Luís Suárez, ao intervalo do jogo com o Valla-
drones de topo tornaram-se muito apetecíveis para patrocinadores, principalmente ligados a uma indústria em crescimento, tendo o vencedor da DRL levado para casa um prémio monetário de cem mil dólares norte-americanos. PUB
FUTURO É I.A.
Ao contrário do que é a normal associação, o uso de drones não se limita à utilização recreativa, logística, segurança e militar. As corridas de drone têm ganho uma dimensão interessante numa indústria em crescimento. Cerca de 3000 espectadores assistiram ao vivo à final da Drone Racing League (DRL), a principal competição mundial de drones, realizada na Arábia Saudita. Com números gordos nas visualizações online e transmissões em canais desportivos de renome internacional, como a ESPN e NBC Sports, as corridas de
dolid, que os catalães venceram por 1-0. Com duas jornadas por disputar, o FC Barcelona segue na segunda posição da liga espanhola, com menos um ponto do Real Madrid, que lidera e tem menos um jogo.
Sérgio Fonseca
info@hojemacau.com.mo
HM • 1ª VEZ • 13-7-20
alguns praticantes locais da modalidade.
Futebol Griezmann em risco para o que resta da temporada devido a lesão muscular O futebolista francês Antoine Griezmann sofreu uma lesão muscular na coxa direita e está em dúvida para as duas últimas jornadas da liga espanhola e para os oitavos de final da Liga dos Campeões, anunciou ontem
O ano passado, a Lockheed Martin aliou-se a DRL para uma competição ainda mais especial, substituindo os pilotos humanos por sistemas de inteligência artificial (IA). O desafio AlphaPilot reuniu equipas compostas por programadores, engenheiros e pilotos para desenvolver um drone totalmente autónomo, controlado por IA que poderá competir com pilotos humanos. A médio prazo, o objectivo final é testar as corridas entre dispositivos totalmente autónomos. Para esta primeira experiência, a organização tinha dois milhões de dólares norte-americanos para distribuir e metade foi arrecadado pelos vencedores, uma equipa formada por técnicos holandeses de um laboratório de investigação de drones da Universidade de Tecnologia de Delft. A competição foi disputada por nove equipas internacionais de estudantes, engenheiros e programadores dos cinco continentes, com cada equipas a apresentar um código de IA desenvolvido por si para os seus drones.
ANÚNCIO ACÇÃO ORDINÁRIA nº
CV3-19-0122-CAO
3º Juízo Cível
Autora:
華利娛樂國際一人有限公司, com sede em Macau, na “山邊巷18號境豐豪 庭14樓J座”.
Réus:
CHAN WAI KEONG, residente em Macau, na Avenida do Conselheiro Borja, Edf. Jardim Iat Lai, Bloco 1, 27º andar H; e LEONG LAP, de sexo masculino, ora ausente em parte incerta. ***
FAZ-SE SABER que, pelo 3º Juízo Cível do Tribunal Judicial de Base da RAEM, correm éditos de TRINTA (30) DIAS, a contar da segunda e última publicação dos anúncios, citando, o réu LEONG LAP, acima identificado, para no prazo de TRINTA (30) DIAS, decorridos que sejam os dos éditos, contestar, querendo, a acção supra identificada, sob pena de não o fazendo no dito prazo, não se consideram reconhecidos os factos articulados pela Autora, seguir o processo os ulteriores termos até final à sua revelia. Em síntese, a Autora pede que a acção seja julgada procedente por provada e, em consequência, serem os réus condenados a pagar à Autora: a) a quantia de HKD$3.000.000,00 (três milhões de dólares de Hong Kong) correspondente a MOP$3.090.000,00 (três milhões e noventa mil patacas), a título de capital; b) a quantia de HKD$889.452,05 (oitocentos e oitenta e nove mil, quatrocentos e cinquenta e dois dólares de Hong Kong e cinco cêntimos) correspondente a MOP$916.136,00 (novecentas e dezasseis mil, cento e trinta e seis patacas), a título de juros de mora vencidos; c) os juros de mora vincendos calculados à taxa de 5% ao ano, com base no valor de capital de HKD$3.000.000,00 (três milhões de dólares de Hong Kong) correspondente a MOP$3.090.000,00 (três milhões e noventa mil patacas) até efectivo e integral pagamento; d) as despesas relacionadas com a cobrança da dívida no valor de HKD. HKD$300.000,00 (trezentos mil dólares de Hong Kong) correspondente a MOP$309.000,00 (trezentas e nove mil patacas). Consigna-se que é obrigatória a constituição de advogado, no caso de querer contestar. Tudo conforme melhor consta do duplicado da petição inicial que neste 3º Juízo Cível se encontra à sua disposição e que poderá ser levantado nesta Secretaria Judicial nas horas normais de expediente. RAEM, aos 03 de Julho de 2020.
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13.7.2020 segunda-feira
A mão que assina o pacto traz a peste
Os que gostaram das pinturas que Zhang Xuan gostava Paulo Maia e Carmo texto e ilustração
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ONG Huizong (1082-1135) inventou um estilo de caligrafia a que deu o nome de «ouro esguio» (Shoujin) designação que descreve a elegância de traços vivos de pincel com pouca tinta, semelhantes a ondulantes filamentos de ouro aplicados sobre a seda. Esta última, um muito valorizado produto, fazia parte do pagamento de um tributo acordado com o Estado Liao de Khitan, e a possibilidade de cessação desse dever através de uma guerra levaria ao fim do seu reinado. Mas isso só sucederia no fim de um tempo iluminado pela estética, muitas vezes voltado para o esplendor das artes da anterior dinastia Tang (618-906). De que o próprio imperador Huizong foi agente e promotor ao fazer incluir, por exemplo no tradicional exame jinshi, provas de habilidade no manejo do pincel adequadas à arte da pintura. Também foi o imperador que escolheu modelos e ele mesmo refez essas pinturas exemplares, algumas que só sobrevivem hoje porque ele as executou. É o caso da pintura «Damas da corte preparando a seda recém-tecida» (rolo horizontal a tinta, cor e ouro sobre seda, 37,1 x 145,3 cm) que se encontra no Museu de Belas Artes de Boston. O original fora criado por um pintor profissional da corte do imperador Tang Minghuang (712-756) chamado Zhang Xuan (713-755). Fazia parte de um género de pinturas acarinhadas naquele tempo, representando cenas de damas da elite da corte das quais era enfatizada a beleza e a proporção das feições (shinu
hua). A encenação não mostra o trabalho de profissionais desse mester mas um ritual de propiciação anual da corte. Essa representação de senhoras e da sua beleza ideal, executando reconhecíveis rituais de pontuação do tempo, é uma característica que nos chegou da pintura de Zhang Xuan. Li Gonglin (1049-1106) no tempo de Huizong, é outro duplo autor de uma outra das famosas pinturas que nasceram do pincel do pintor de Changan (Shaanxi) conhecida como «Partida da dama Guoguo a cavalo num passeio de Primavera» de que uma cópia (rolo horizontal, tinta e cor sobre seda, 53 x 220 cm) se encontra no Museu Provincial de Liaoning. Nela está figurado um outro ritual que acontecia no terceiro dia do terceiro mês na corte de Xuanzong (685-762) uma ocasião cantada no poema de Du Fu (712-770) «Senhoras belas em passeio» (Liren xing) onde escreve: «Estas senhoras são das escolhidas pelo imperador, como um pôr-do-sol entre nuvens», e informa «O imperador atribuiu títulos de nobreza aos familiares de Yang Guifei», que é uma pista que confirma a personagem principal como a irmã mais velha, não menos bela, da favorita do imperador, Yang Yuhuan (719-756) conhecida como Guifei, cujos amores funestos seriam admiravelmente cantados por Bai Juyi (772-846), em mais um exemplo da fascinante arte dos Tang, adrede capaz de interpretar o tempo vital como lugar de beleza.
ARTES, LETRAS E IDEIAS 13
segunda-feira 13.7.2020
Cartografias Anabela Canas
Cântico órfico
C
ONFUSAS evidências por não serem mais que potencialidades. Por adivinhar. Divididos - nem seria o termo - entre a natureza titânica do corpo que aprisiona a alma e a natureza supostamente livre e divinamente dionisíaca desta. Mas na verdade vivemos sem fractura essa dicotomia. Eternamente aprisionados e simultaneamente livres. Na insatisfação que ao mesmo tempo transporta em si a chave da porta. A viver inundados ou atemorizadamente afogados. De limites e olhares. Ou em fantasias de nós, ou do mundo e de uma coisa na outra. Um desejo de formular e edificar uma realidade que nos sirva e de que sejamos culto e templo, à falta de maior evidência de que existimos e valemos. Não se deixa crescer ou ascender uma realidade para se amarrar e reprimir. Há que libertar, respirar, soltar amarras... E isto fez-me retornar àquela curiosa questão do segredo. Que tanto pode ser uma luz bruxuleante a captar curiosidade, ou um fogo-fátuo discreto, como um buraco negro em que sabemos não dever penetrar. Porque o segredo deixa pistas que não resistem a uma intuição, a uma apetência viva pelo detalhe. Um segredo reúne em si as apetências paradoxais de ser e deixar de ser. Ser desvendado. Partilhado, é apenas um dado com universo circunscrito e ainda privado mas já não íntimo. No máximo duas pessoas ou três. Quatro ou cinco, por essa ordem de ideias. Mas continuará a ser um verdadeiro segredo? Tantos por aí. Que se veem. Mas, no apetecível de contar, deixariam de o ser. Um segredo que se adivinha fere-se. A ele e ao ouvido adivinhador. Porque é um segredo altivo e que passa sem dirigir palavra. Sabemos que todos temos um segredo, segredos. Mas saber mesmo, que alguém tem um segrego, descendo ao particular, é quase saber-lhe metade. Não está demonstrado que seja. Mas é como dizer: vê. Descreve-me a pele, a febre para dentro e as chispas que se derramam na inocência de se querer inofensivas. Descreve-me aquilo que aos olhos não teme supurar se os olhos forem mesmo os olhos de quem vê. Lê-me no que, no mais, ninguém lê e sou livro teu. Segredo, é o que se sabe. Que existe. Senão, de tão bem guardado, não chega a ser, porque não existe para mais ninguém. E assim, como nomeá-lo? Não podemos pensar o segredo como uma especificidade de baús de couro velho, maços de cartas antigas, enlaçadas a fita de cetim, portas que se entreabrem no lusco-fusco da noite já caída para ficar, ou figuras que se esgueiram ao olhar das vizinhas atentas. Ou de uma faca poluída da invasão daquilo que só pelo amor. Ou
mesmo de terra sobre terra a esconder o que para alguém não deveria ter existido. Muito mais se esconde em cada desconhecido rosto, em cada fachada de prédio em cada janela entreaberta para que entre um pouco do universo e saia um pouco do que excede o diâmetro físico do crânio. Pode ser o que mais se teme reconhecer ao espelho. Ou a boneca sentada igual, sobre a cama e a colcha de seda. O que nela se aprisionou e que dela dificilmente se expira ou exala. Segredos não são coisas pequeninas, que não se querem reveladas. São coisas de volume sólido. Objectos redondos e espessos. Como esferas de chumbo. Mas que rolam sem querer. Ou, às vezes, o querendo e não querendo, no mesmo exacto ponto de decisão. Eu vinha do reino de M. situado na palavra bonita do Magrebe, reduzida de
dor recente naquele ano, em que tudo e ainda mais, um pouco depois. Saia cinza e sapatos de atacadores e casaco severo. Apeadeiro de avião. Na fila ao relento, uma cara sorridente que me antecedia, pergunta-me com simpatia evidente pelo adivinhado: missionária? Sem vontade para palavras explícitas fiquei-me por um aceno de que não nem por sombras. E ela, ainda simpática, como quem reflecte melhor e emenda um erro básico: franciscana? E a minha expressão e gesto em negativa, sem mais da minha parte a explicar a roupa ou a mala, desinteressou-a sem mais explicações nem palpites. Numa indiferença zangada. Lembrou-me o Júlio, esse sim, missionário e reformado, diz ele. Crioulo alto mas mais magro de cada vez e andar cada vez mais arrastado. Passa todos os dias – todos - na minha rua, a caminho
Um segredo reúne em si as apetências paradoxais de ser e deixar de ser. Ser desvendado. Partilhado, é apenas um dado com universo circunscrito e ainda privado, mas já não íntimo.
do rio. A caminho do rio onde se senta a olhar. E a batucar suavemente superfícies ocas de assento, a acompanhar trechos soltos. Falámos uma vez. Dizemos boas tardes das outras em que o encontro aqui em cima. Sempre a caminho. Curiosamente nunca me lembro de o ver voltar. Como uma maré que, quer enchente quer vazante, sempre tende para a costa. E sem falhar um dia da sua missão, enquanto arrasta as pernas já difíceis, a trautear músicas de jazz, espirituais, louvores a Cristo e, uma vez por outra, como excêntrico variar em excepção, até coisas latinas de amor. Mas é raro. Isso outra coisa. Ali, naquela pista de aeroporto, àquela mulher madura, bastar-lhe-ia ter trocado as cores, adivinhado no insólito tamanho da mala fora do formato e das medidas, tão grande e clandestino ainda assim e no amarfanhado interior quase vazio, para arrumar. Mas era curta se bem que instintiva a curiosidade. Não avançou pelo secreto conteúdo. E deixou-me amorosamente agarrada ao malão enorme e autorizado por distraído olhar, em que me trazia cuidadosamente para casa.
14 (f)utilidades TEMPO
MUITO
13.7.2020 segunda-feira
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O ÚLTIMO ADEUS
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Cineteatro SALA 1
EURO
Uma mulher segura um panfleto com o retrato de Stanley Ho, à saída do Hong Kong Funeral Home, em North Point. Centenas de pessoas
C I N E M A 38
THE LAST FULL MEASURE [C] Um filme de: Tod Robinson Com: Sebastian Stan, William Hurt, Christopher Plummer 14.30, 21.30
A CHOO [C] FALADO EM PUTONGHUA LEGENDADA EM CHINÊS E INGLÊS Um filme de: Kevin Ko & Peter Tsi Com: Kai Ko, Ariel Lin, Ta-Lu Wang 16.45, 19.30
3
# LAMHERE [B]
FALADO EM FRANCÊS LEGENDADA EM CHINÊS E INGLÊS Um filme de: Eric Lartigau Com: Alain Chabat,, Doona Bae, Blanche Gardin 19.15
4 1 3
SALA 3
BEYOND THE DREAM [C] Um filme de: Chow Kwun-wai Com: Terence Lau, Cecilia Choi 14.30, 2130
1
SALA 2
FUKUSHIMA 50 [B]
Um filme de: Casey Affleck Com: Anna Pniowsky, Casey Affleck, Tom Bawer, Elisabeth Moss 14.30, 17.00, 21.30
FALADO EM JAPONÊS LEGENDADA EM CHINÊS E INGLÊS Um filme de: Setsuro Wakamatsu Com: Koichi Sato, Ken Watanabe 16.45, 19.00
LIGHT OF MY LIFE [C]
4 SOLUÇÃO DO PROBLEMA 36
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PROBLEMA 37
36
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YUAN
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prestaram a derradeira homenagem a Stanley Ho na sexta-feira, último dia das cerimónias fúnebres do rei do jogo.
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LIGHT OF MY LIFE
UM FILME HOJE
ATHLETE A | BONNI COHEN AND JON SHENK
“Athlete A” é um documentário focado nas ginastas norte-americanas abusadas pelo médico Larry Nassar, condenado em 2018 por múltiplos crimes sexuais. O escândalo foi-se desenrolando progressivamente no Indianapolis Star, expondo o ambiente de crueldade por detrás do desporto. O filme aborda as diferentes formas em que a atmosfera de treino promovia abuso emocional das atletas, a distância a que os pais eram mantidos de um dos locais de treino, e os problemas enfrentados pelas sobreviventes que denunciaram publicamente aquilo que sofreram. O documentário, lançado há três semanas no Netflix, conta com relatos de ginastas olímpicas como Maggie Nichols. Salomé Fernandes
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3 7 Carlos Morais José Editores João Luz; José C. Mendes Redacção Andreia Sofia Silva; João Santos Filipe; Pedro Arede; Salomé Fernandes Propriedade Fábrica 5 de Notícias, Lda Director Colaboradores Anabela Canas; António Cabrita; António de Castro Caeiro; António Falcão; Ana Jacinto Nunes; Amélia Vieira; Duarte Drumond Braga; Emanuel Cameira; Gisela Casimiro; Gonçalo 6 Lobo Pinheiro; Gonçalo M.Tavares; João Paulo Cotrim; José Drummond; José Navarro de Andrade; José Simões Morais; Luis Carmelo; Michel Reis; Nuno Miguel Guedes; Paulo José Miranda; Paulo Maia e Carmo; Rita Taborda Duarte; Rosa Coutinho Cabral; Rui Cascais; Rui Filipe Torres; Sérgio Fonseca; Valério Romão Colunistas António Conceição Júnior; David Chan; João Romão; Jorge Rodrigues Simão; Olavo Rasquinho; Paul Chan Wai Chi; Paula Bicho; Tânia dos Santos Grafismo Paulo Borges, Rómulo Santos Agências Lusa; Xinhua Fotografia Hoje www. 4 Macau; 1 3 Lusa; GCS; Xinhua Secretária de redacção e Publicidade Madalena da Silva (publicidade@hojemacau.com.mo) Assistente de marketing Vincent Vong Impressão Tipografia Welfare hojemacau. com.mo Morada Calçada de Santo Agostinho, n.º 19, Centro Comercial Nam Yue, 6.º andar A, Macau Telefone 28752401 Fax 28752405 e-mail info@hojemacau.com.mo Sítio www.hojemacau.com.mo 4 1 4
opinião 15
segunda-feira 13.7.2020
ANTÓNIO SARAIVA
STANDO a acabar a revisão do meu livro “As Árvores na Cidade” tive uma dúvida de “última hora” sobre a exacta classificação do salgueiro de ramos amarelos: era o Salix x sepulcralis var. chrysocoma, ou o Salix x salamonii var. chrysocoma? No site “The Plant List”, tido como “a referência” dos nomes científicos das plantas indicava-se que Salix x sepulcralis era um sinónimo e o nome aceite era Salix x salamonii.
SARAH CASWELL HELLEBORUS, NIGER-AUSSCHNITT
E
Quem descobriu o Brasil, ou Uma Dúvida
OS JARDINS DE KEW
Ora eu tinha visto há algum tempo no site dos Jardins de Kew – os quais são os mais completos/conceituados a nível mundial (1) - o nome de Salix x sepulcralis, indicando inclusive onde tinha aparecido; e assim quis voltar a esse site – seria que teria lido apenas parte do texto e assim havido algo que me escapasse? E por tal voltei ao site dos Jardins de Kew, procurando esclarecer a minha dúvida.
UM ARTIGO SOBRE A DESCOLONIZAÇÃO
Qual não foi o meu espanto, porém, quando verifiquei não conseguir encontrar nenhuma “brecha” para pesquisar as espécies pelo seu nome - o que anteriormente nesse site era muito fácil-, mas sim um grande artigo do director científico dos Jardins, Alexandre Antonelli intitulado “It’s time to decolonise botanical collections” (artigo que copio a seguir para que o leitor possa, independentemente do que vou referir, fazer o seu juízo). Fiquei espantado e chocado. Então a política tinha aqui chegado? Sim porque a razão de ser dos Jardins Botânicos em geral, e de o Kew em particular (uma criação da era Victoriana, iniciado em 1840) é o de conservar/ aclimatar nos seus países as plantas que os botânicos-exploradores foram encontrando nos vários continentes - de preferência vivos (por vezes em estufas, pois, o clima outra coisa não permite), mas se tal não for viável herborizados.
QUEM DESCOBRIU O BRASIL? OU FAZENDO POUCO CASO DA CIÊNCIA
Ora Antonelli (um brasileiro), começando por contestar que o Brasil tivesse sido descoberto pelos portugueses em 1500, pois, segundo ele, o país já era habitado por milhões de pessoas (o que é uma falsidade pois não existia o “Brasil”, apenas centenas de tribos, com falas e costumes diversos e guerreando-se entre si, nomeadamente com curare) – continua negando também que as plantas tropicais tivessem sido “descobertas”, pois essas plantas já eram conhecidas e utilizadas pelos aborígenes há muito. Um discurso que seria admissível numa conversa de “chofer de táxi”, mas que não se
pode aceitar da parte de um botânico. De facto, essas plantas foram “apresentadas ao mundo” por botânicos intrépidos que viajaram por todo o globo em busca de novas espécies (2); e porque esses botânicos, provenientes de vários países europeus, dispunham – ou foram construindo – uma botânica sistemática e organizada, que definia rigorosamente os termos científicos que descrevem as plantas e as agrupava de acordo com as suas características (nomeadamente o tipo de flor). Tal método permitiu que fossem comparados os resultados e experiências dos diversos países e zonas do globo; e assim hoje na China, em Portugal, ou na América, quando falamos de uma planta sabemos do que estamos a falar. E assim as tais descobertas, por muitas aspas que lhe queiram pôr, fizeram com que os conhecimentos sobre determinada planta passassem de ser das poucas centenas dos membros da tribo para património de milhões de homens e mulheres.
UMA PSEUDO “NOVA POLÍTICA”
E, continuando, Alexandre Antonelli enuncia como frutos dessa “nova política” dos Jardins de Kew, o ensaio de duas espécies alimentares (o inhame selvagem em Madagáscar e a falsa bananeira na Etiópia), e o mapeamento das espécies úteis na Colômbia; e a digitalização das suas coleções. Ora para tal não é preciso “descolonizar” o ensaiar numa região de plantas provenientes de outras geografias foi o que as potências coloniais sempre fizeram através da história (em Portugal desde o tempo dos Romanos e dos Árabes). Sobre esta troca de plantas teve lugar uma Exposição muito interessante orientada pelo professor José Eduardo Ferrão,
“Antonelli continua dizendo que vai aumentar o número de funcionários de diversas etnias entre os funcionários dos seus Jardins. Eu pensaria, na minha ingenuidade, que para a admissão de pessoal os critérios seriam as qualificações e a experiência dos candidatos” “AAventura das Plantas e os Descobrimentos Portugueses”, exposição da qual resultou um livro com o mesmo nome. E se não tivesse havido essa troca muitos povos e países não teriam hoje de que viver, ou só poderiam suportar pequenas populações. P. ex., para o Brasil os portugueses levaram o café, a laranjeira, inhame, canela, jaca, fruta-pão, vinha, arroz, manga, a bananeira… para Angola a mandioca, o arroz, o feijão, o ananás, o milho, a batata doce, a bananeira, o limoeiro…E quanto à digitalização das coleções tanto um governo comunista como fascista ou democrático a poderia fazer. Mas, alto! Antonelli não fica pela digitalização - os textos e descrições vão ser “revistos” “and by examining and updating the western-centric labels we use to describe these items”.
HABILITAÇÕES OU ETNIAS?
EAntonelli continua dizendo que vai aumentar o número de funcionários de diversas etnias entre os funcionários dos seus Jardins. Eu pensaria, na minha ingenuidade, que para a admissão de pessoal os critérios seriam as qualificações e a experiência dos candidatos – e que em igualdade de habilitações, obviamente, não se fizesse distinção de cor – mas parece não ser assim.Até porque os textos e descrições vão
ser “revistos” “and by examining and updating the western-centric labels we use to describe these items”. E se este artigo começa com uma dúvida acaba com uma certeza. Pensava eu que as intrusões da ideologia na ciência tinham acabado com Galileu, há 400 anos (e pelas quais, aliás, já o Papa João Paulo II pediu desculpa). E que assim a botânica era “irrespective of politics” – e veja-se que nem a revolução russa de 1917 nem a chinesa de 1949 haviam tocado neste ponto. Assim para mim fico com a certeza de que o artigo de Antonelli, um membro influente da sociedade, revela uma alteração profunda de mentalidades, para pior e não para melhor; e que sob a aparência de “modernidade” é um triste sinal de regressão.
(1) Estes Jardins têm uma área de 120 hectares (e várias grandes estufas); nele são cultivadas cerca de 28 mil espécies diferentes de plantas e de fungos, tendo além disso mais de 7 milhões de plantas herborizadas e uma biblioteca com 750 mil volumes. O número de funcionários é de cerca de 1.100. (2) Exploradores que Antonelli de certa forma apouca com a seguinte frase: “Colonial botanists would embark on dangerous expeditions in the name of science but were ultimately tasked with finding economically profitable plants.”
Alguns pressentem a chuva; outros contentam-se em molhar-se.
Henry Miller
ALEMANHA GOVERNO APELA AO COMBATE AO NACIONALISMO
O
PUB
Governo alemão apelou no sábado à luta decisiva contra qualquer tendência nacionalista, para que não se repita um genocídio como o de Srebrenica, cidade da Bósnia e Herzegovina, exigindo justiça para que possa haver reconciliação. “Estamos de acordo que Srebrenica não se deve repetir nunca mais. Devemos enfrentar decisivamente qualquer tendência nacionalista onde quer que seja”, apelou, em comunicado, o ministro dos Assuntos Exteriores alemão. Para Heiko Maas, “nenhum outro lugar representa, como Srebrenica, as atrocidades e crimes contra a humanidade” cometidos na década de 1990 nos países da extinta Jugoslávia. O ministro lembrou que 8.000 pessoas foram assassinadas “e, isso, no final do século XX, no centro da Europa, praticamente debaixo dos olhos da comunidade internacional”. “Juntamente com a memória das vítimas, o reconhecimento da responsabilidade criminal dos perpetradores é o principal para reconciliar uma sociedade. Precisamente na Alemanha, estamos comprometidos com isso de maneira muito decidida, também pela nossa responsabilidade perante a nossa própria história”, sublinhou. Neste sentido, Heiko Maas adiantou que a Alemanha sempre apoiou o Tribunal Penal Internacional para a antiga Jugoslávia (TPIJ) e manifestou a satisfação por continuar a trabalhar de maneira responsável com o Mecanismo Residual de Tribunais Penais Internacionais.
PALAVRA DO DIA
Carnaval não conta Donald Trump usa pela primeira vez uma máscara em público durante visita a hospital
O
Presidente norte-americano Donald Trump usou no sábado, pela primeira vez em público, uma máscara de protecção, durante uma visita a um hospital militar. Trump voou de helicóptero para o Walter Reed National Military Medical Center, nos subúrbios de Washington, para um encontro com militares infectados pelo novo coronavírus e com quem presta cuidados de saúde ou cuida de doentes de covid-19. Quando deixou a Casa Branca, Donald Trump, disse aos repórteres: “Quando se está num hospital, especialmente … Penso que é esperado que se use uma máscara”. Trump estava a usar uma máscara no corredor de Walter Reed, quando começou a sua visita, mas não a tinha quando saiu do helicóptero, nas instalações. O Presidente não tinha usado máscara desde o início da pandemia nos Estados Unidos da América (EUA), que começou em Março e já infectou mais de 3,2 milhões de pessoas e matou pelo menos 134.000 no país. Os republicanos mais proeminentes, incluindo o vice-Presidente, Mike Pence, foram apoiando e aderindo ao uso da máscara à medida que o novo coronavírus ganhava terreno. Trump, contudo, recusou-se a usar máscara em conferências de imprensa de actualização de dados sobre a situação da pandemia no país, comícios e outros eventos públicos. Pessoas próximas do Presidente
dos EUA disseram à agência de notícias Associated Press que Trump receava que uma máscara o fizesse parecer fraco e que desviasse o foco para a crise de saúde pública e não para a recuperação económica.
SER E PARECER
Embora não usasse máscara, Trump enviou diferentes sinais sobre máscaras, reconhecendo que estas eram apropriadas se usadas num ambiente interior onde as pessoas estivessem próximas umas das outras. Porém, o Presidente norte-americano acusou os repórteres de as usarem para serem politicamente
correctos e publicou mensagens na plataforma Twitter a gozar com o democrata Joe Biden por usar uma máscara e insistindo que o seu adversário parecia fraco. O uso de máscaras tornou-se, assim, outra linha divisória na política norte-americana, com republicanos mais resistentes a usá-las do que os democratas. Poucas máscaras foram vistas nos recentes eventos da campanha de Trump em Tulsa, Oklahoma, Phoenix e Mount Rushmore, no Dakota do Sul. A única vez que foi conhecido que Trump terá usado uma máscara foi durante um momento privado de uma visita a uma fábrica da Ford, no Michigan.
IRÃO AVIÃO UCRANIANO ABATIDO DEVIDO A ERRO DE RADAR
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M erro humano relacionado com um mau ajuste do radar militar foi a causa do acidente com o Boeing ucraniano abatido em 8 de Janeiro perto de Teerão, provocando 176 mortos, concluiu o relatório da aviação civil iraniana. “Houve uma falha devido a erro humano no acompanhamento do procedimento de calibre do sistema de radar, “o erro de 107 graus”, não permitindo mais obser-
TAILÂNDIA VACINAS TESTADAS EM HUMANOS NO QUARTO TRIMESTRE DESTE ANO
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Trump acusou repórteres de usarem máscaras para serem politicamente correctos e publicou mensagens no Twitter a gozar com o democrata Joe Biden por usar uma máscara e insistindo que o seu adversário parecia fraco
var, de forma correcta, a trajectória dos objectos no campo”, indica o relatório publicado no sábado. Afalha “está na origem de uma sequência perigosa [de eventos] e poderia ter sido dominada se outras medidas tivessem sido tomadas”. De acordo com o documento, apresentado como um “relatório sobre factos” e não como um relatório final de investigação, outros erros ocorreram nos minutos que se seguiram.
Apesar das informações erradas sobre a trajectória da aeronave, o operador do sistema de radar poderia ter identificado o alvo como um avião de passageiros, mas houve “erros de identificação”. O relatório também refere que o primeiro dos dois mísseis disparados contra o avião foi disparado pelo operador de uma bateria de defesa "sem ter recebido uma resposta do centro de coordenação" do qual dependia. O segundo
míssil foi disparado trinta segundos depois, tendo em consideração "a continuidade da trajectória do alvo detectado", acrescenta-se no relatório. O avião que efectuava o voo PS-752 da Ukraine International Airlines, de Teerão para Kiev, foi abatido em 8 de Janeiro por dois mísseis. As 176 pessoas a bordo, a maioria iranianas e canadianas, mas também 11 ucranianas (incluindo os nove tripulantes), morreram no desastre.
segunda-feira 13.7.2020
MA equipa de investigadores da Tailândia quer começar, no quarto trimestre do ano, a realizar testes em humanos de uma vacina contra a covid-19 que, se tiver bons resultados, poderá ser distribuída em 2021, foi ontem anunciado. Após resultados positivos em macacos no mês de Maio, dois tipos de vacina serão enviados para San Diego, nos Estados Unidos da América (EUA) e para Vancouver, no Canadá, para serem produzidas 10.000 doses até Novembro, disse o director do centro de investigação de vacinas da Universidade de Chulalongkorn, em Banguecoque. Em conferência de imprensa, Kiat Ruxrungtham explicou que a vacina, desenvolvida em colaboração com uma equipa da Universidade da Pensilvânia, nos EUA, será testada numa primeira fase em cerca de 100 pessoas divididas em dois grupos. Em primeiro lugar, serão administradas diferentes doses a um grupo de indivíduos entre os 18 e os 60 anos, e depois a um outro grupo com idades compreendidas entre os 60 e 80 anos, acrescentou o responsável. Se os resultados da primeira fase forem positivos, os testes avançam para uma segunda fase, em que a amostra será ampliada para entre 500 e mil pessoas.Actualmente, a equipa de investigadores não aceita voluntários, já que os testes estão pendentes de serem aprovados pelas autoridades competentes, mas, se tiverem sucesso, prevê-se que a empresa BioNet Asia possa produzir a vacina a um nível massivo a partir do terceiro ou quarto trimestre de 2021. A Tailândia foi o primeiro país a detectar um caso de covid-19 fora da China, o epicentro da pandemia, mas, até ao momento, conseguiu conter a propagação com o encerramento de fronteiras e o uso intensivo de máscaras com 3.217 casos confirmados e 58 mortes.