Hoje Macau 13 SET 2016 #3656

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DIRECTOR CARLOS MORAIS JOSÉ

TERÇA-FEIRA 13 DE SETEMBRO DE 2016 • ANO XVI • Nº 3656

MOP$10

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AGÊNCIA COMERCIAL PICO • 28721006

MUST | CINEMA

Mestres da gestão PÁGINA 8

Pendurar existências PAULO JOSÉ MIRANDA

PROTECÇÃO AMBIENTAL

FECHADOS EM COPAS

EXERCÍCIOS

GRANDE PLANO

PÁGINA 12

hojemacau

Pequim e Moscovo no Mar do Sul OPINIÃO

Consumo responsável TÂNIA DOS SANTOS

MORTE CEREBRAL REGRAS ENTRAM EM VIGOR NO PRÓXIMO DIA 23

Golpe de rins

CCM

OUTUBRO ASIÁTICO PUB

EVENTOS

Apesar de o órgão mais procurado ser o fígado, o Governo quer dar prioridade ao sistema de transplante de rins por exigir “técnicas relativamente mais fáceis”. As

regras de definição da morte cerebral estão para breve, mas existe ainda um longo caminho pela frente até que o transplante seja uma realidade em Macau.

PÁGINA 7

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2 GRANDE PLANO

AMBIENTE EM MAIS DE CEM ASSOCIAÇÕES POUCAS DÃO A CARA

UM SILENCIO ´ ECOLOGICO ˆ

Existem em Macau mais de uma centena de associações na área da protecção ambiental, mas são poucas que mostram trabalho junto da comunidade. Duas delas queixam-se de que a comunicação com o Governo deixou de existir há oito meses, quando o Conselho Consultivo do Ambiente foi extinto

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S nomes são semelhantes, tais como os seus objectivos. Todas elas buscam um ambiente melhor para Macau e pretendem promover a consciência ambiental dos que cá vivem, mas a grande maioria das associações ambientais de Macau pauta-se pelo silêncio. Há, a título de exemplo, a Força Verde de Macau, a Associação Verde Segunda-feira ou a Associação de Amar Verde. Tal silêncio leva outros a agir. Foi o caso de Lin, uma das responsáveis pela Greenfriends Macau, associação com presença na rede social Facebook. “Há muitas associações em Macau, mas não vejo nada a acontecer, não oiço qualquer voz da parte delas. Não sei o que fazem. Então criámos a nossa própria associação para conseguirmos chegar às pessoas.”

“Há muitas associações em Macau, mas não vejo nada a acontecer, não oiço qualquer voz da parte delas” LIN RESPONSÁVEL DA GREENFRIENDS MACAU

A Greenfriends Macau já organizou acções de limpeza de praias e eventos nos trilhos de Coloane. “Queremos providenciar uma educação ambiental junto do público. Levamos grupos para junto da natureza, aos trilhos, a fazer limpeza de praias ou aos parques de campismo. Em Agosto organizámos uma acção de limpeza da praia, que juntou mais de dez pessoas.” Após a limpeza do lixo das praias, a associação selecciona e classifica o lixo, enviando-o para a organização Conservação Internacional dos Oceanos. Lin acrescenta ainda que o objectivo do grupo é mostrar ao Governo que o desenvolvimento urbano de Coloane tem de parar. “Organizamos actividades que digam algo ao Governo. Queremos

organizar acções de limpeza dos trilhos, para não os perdermos em prol da construção de mais edifícios habitacionais na zona de Coloane. Queremos exigir ao Governo que faça algo a favor do ambiente e contra o desenvolvimento”, disse ao HM.

O APOIO PÚBLICO

Ho Wai Tim prefere associar o seu nome à Associação de Ecologia de Macau, mas tem na sua morada muitas outras associações do sector, algo que foi notícia em 2012. Mas já desde 2003 que Ho Wai Tim anda a exigir um ambiente melhor. “A nossa associação de ecologia foi fundada em 2003, algo sugerido por um grupo de professores e depois os alunos também participaram. No início concentrámo-nos

“Queremos organizar acções de limpeza dos trilhos, para não os perdermos em prol da construção de mais edifícios habitacionais na zona de Coloane”

“Antes tínhamos dificuldades em termos de recursos financeiros e também ao nível da aceitação social.” Pelo contrário, Lin garante que a sua associação ainda não pediu apoio ao Governo, mas não afasta a possibilidade de o vir a fazer.

UMA TESE A CAMINHO

na protecção dos pássaros e do mangal da Taipa. Em 2007 foi-nos atribuído um prémio de ecologia por um órgão do interior da China. Depois disso começámos a fazer estudos de ecologia, estudamos os ventos e as plantas no mangal. Criámos o arquivo dos animais e das plantas de Macau. Também começámos a trabalhar na área dos resíduos alimentares e realizamos cursos de educação ambiental”, contou ao HM. Actualmente a Associação recebe cerca de cem mil patacas anuais da Fundação Macau, sendo que não pede fundos públicos da Direcção dos Serviços de Protecção Ambiental há cerca de cinco anos, confirmou Ho Wai Tim, que referiu ainda que nem sempre as associações ecológicas foram vistas pela sociedade com bons olhos.

“Ninguém está a elaborar uma proposta de Lei de Bases do Ambiente, o Governo não consegue entregar a proposta. Faltam profissionais na área do Direito e não têm tempo para a legislação ambiental”

Neste momento Ho Wai Tim está a trabalhar na sua tese de doutoramento na área da legislação marítima, a qual deverá ser entregue em mãos ao Governo. “Estou a elaborar uma proposta de lei de legislação marítima, a minha tese de doutoramento, e pretendo entregar ao Governo para que sirva de referência. Ninguém está a elaborar uma proposta de Lei de Bases do Ambiente, o Governo não consegue entregar a proposta. Faltam profissionais na área do Direito e não têm tempo para a legislação ambiental.” Joe Chan, um dos rostos mais conhecidos em termos da luta pela protecção ambiental de Macau, afastou-se da associação de Ho Wai Tim e hoje lidera a União Macau Green Student. Também uma outra associação, a Na Terra – Associação para o Desenvolvimento Sustentável, chegou a desenvolver um projecto de hortas comunitárias

“Depois da suspensão do Conselho do Ambiente, em Dezembro de 2015, a única plataforma de comunicação desapareceu” HO WAI TIM ASSOCIAÇÃO DE ECOLOGIA DE MACAU


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GREENFRIENDS MACAU

nas escolas. Até ao fecho desta edição não foi possível falar com Fernando Madeira, responsável pelo projecto.

AUSÊNCIA DE COMUNICAÇÃO

É certo que as associações são muitas e silenciosas, mas as poucas que desenvolvem projectos e com as quais o HM falou queixam-se da falta de comunicação com a DSPA desde que Raymond Tam assumiu o cargo de director. “Depois do terceiro director assumir o cargo, o contacto com as associações parou. Depois da sus-

pensão do Conselho do Ambiente, em Dezembro de 2015, a única plataforma de comunicação desapareceu. Já não temos nenhuma comunicação com o Governo há mais de oito meses e deixámos de conseguir discutir com o Governo”, referiu Ho Wai Tim. “O Governo não obriga as empresas do Jogo a fazer a protecção ambiental e se impulsionasse essas acções isso poderia ajudar as associações locais. Poderíamos criar mais sinergias. A Lei de Bases do Ambiente é muito vaga e o Governo poderia cooperar com as associações para estudar mais sobre a legislação ambiental.

Poderia iniciar o processo de consulta pública”, exemplificou. Também Lin garante que o apoio da DSPA é quase nulo. “Penso que não estão a fazer muito pela protecção do ambiente e ainda não implementaram um sistema de reciclagem. Eles fazem muitas actividades de sensibilização, mas não implementam políticas. O público não aprende nada com essas políticas.” Andreia Sofia Silva

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Angela Ka

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AU KAM SAN SLOGANS E AUSÊNCIA DE OBJECTIVOS

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deputado Au Kam San entregou uma interpelação escrita ao Governo onde defende que as suas políticas ambientais são semelhantes a slogans, sendo que, para implementar o sistema de reciclagem não há objectivos, acusa. Au Kam San lembrou que mesmo com as recentes casas construídas ou empreendimentos hoteleiros não foi implementado um modelo de reciclagem mais eficaz ou moderno. “As habitações públicas continuam a adoptar um modelo comum de reciclagem, o que não apresenta quaisquer diferenças em relação aos edifícios mais antigos ou zonas velhas da cidade. Será uma má conduta ou inacção política?”,

questionou o deputado à Assembleia Legislativa. Na área da reciclagem Au Kam San considera que o maior problema é a necessidade de tratar as pilhas, cuja queima directa aumenta a poluição e produz gases tóxicos. O deputado criticou o facto da DSPAnão ter definido até agora um sistema de reciclagem.Au Kam San referiu ainda o facto dos residentes terem de fazer uma reserva para deixarem as suas pilhas na estação de tratamento de resíduos especiais e perigosos, localizada junto à central de incineração, no Pac On. Para o deputado, essa burocracia faz com que as pessoas optem por deitar as suas pilhas utilizadas no lixo. A.K. (revisto por A.S.S.)

Vazios legais

Joe Chan critica ausência de metas ambientais no Plano Quinquenal

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presidente da associação Macau Green Student Union disse ao Jornal do Cidadão que o Plano de Desenvolvimento Quinquenal possui um conteúdo “vago” relativamente à protecção ambiental, sobretudo ao nível do tratamento de resíduos sólidos. Joe Chan lembrou que esta é uma questão que tem vindo a ser discutida nos últimos dez anos, sem que tenha havido qualquer avanço. Quanto à diminuição do lixo nos próximos cinco anos, o activista ambiental também lembrou que não estão definidas metas. “Depois de acabar de ler o conteúdo do Plano relativo à protecção ambiental, fiquei com a sensação de não ter lido nada”, apontou. “A parte da protecção ambiental começa no início com a ideia de que ‘será dada prioridade à construção de quatro grandes obras’, mas essa é uma ideia passiva. [Só se fala da] ampliação da Central de Incineração, que é uma decisão muito irresponsável e só vai piorar a poluição do ar”, defendeu Joe Chan.

Na apresentação do Plano de Desenvolvimento Quinquenal, o Secretário para as Obras Públicas e Transportes, Raimundo do Rosário, disse que cerca de 40% do lixo produzido em Macau é composto por desperdício de alimentos, na sua maioria vindos dos grandes hotéis. Tratam-se de resíduos difíceis de serem incinerados.

CONTRA O DESPERDÍCIO

Para Joe Chan, o Plano de Desenvolvimento Quinquenal deveria conter medidas para travar o desperdício alimentar, pois o Governo já referiu tratar-se de um problema grave. O ambientalista considerou que não basta fazer apelos à população e aos grandes hotéis mas que é necessário cobrar taxas às empresas que produzem um grande volume de resíduos alimentares através da criação de um regulamento administrativo. Para Joe Chan o problema do lixo doméstico está cada vez pior, dado que os contentores estão cheios diariamente. Tal causa problemas ao nível do saneamento, o que dá má imagem a um território turístico. “O problema do lixo doméstico não é muito difícil de resolver. Depende da determinação de cada um. Dois departamentos do Governo (DSPA e IACM) estão a fazer trabalhos em separado. Espero que possam partilhar o trabalho e um só organismo fazer a gestão e supervisão”, concluiu. A.K. (revisto por A.S.S.)


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COMPROMISSO PARA TROCA DE INFORMAÇÃO FISCAL ENTRE MACAU E IRLANDA

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MAcordo de Troca de Informações em Matéria Fiscal (TIEA) foi assinado ontem entre o Secretário para a Economia e Finanças, Lionel Leong, e o Embaixador da República da Irlanda na República Popular da China, Paul Kavanagh. Com a assinatura do documento abre-se mais uma valência de

cooperação entre as partes no que respeita ao combate à evasão fiscal transfronteiriça, ao mesmo tempo que se promove a criação “de um ambiente de tributação internacional justa”, afirma o Secretário citado em comunicado. A fim de cumprir os deveres internacionais, o Governo com-

prometeu-se com a implementação, até finais de 2018, de novos padrões para a troca automática de informações fiscais. É ainda salientado pelo Secretário o facto do presente acordo ser capaz de trazer “mais oportunidades de cooperação para ambas as partes, em diferentes áreas”.

Em 2011 e em 2013, Macau ficou aprovado na co-avaliação das primeira e segunda fases do Fórum Global sobre Transparência e Troca de Informações para Fins Fiscais da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico, tendo-se reconhecido que, na troca de informações, atingiu os padrões

internacionais, quer em termos jurídicos, quer em termos operacionais. Até à data, Macau celebrou pactos tributários com 21 jurisdições fiscais, incluindo cinco Convenções para Evitar a Dupla Tributação e Prevenir a Evasão Fiscal em Matéria de Impostos sobre o Rendimento e 16 Acordos de Troca de Informações Fiscais. S.M.

Sem trabalho, dizem eles Residentes fazem manifestação contra TNR

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Outra resolução resultante da reunião de ontem, e anunciada pelo Secretário para os Transportes e Obras Públicas, é o “baptismo de três grupos de trabalho”. O Conselho irá comportar um colectivo dedicado às questões financeiras, um outro debruçado na configuração jurídica que abarca a renovação urbana e um último encarregue de delinear “uma estratégia e um plano para trabalho futuro do CRU”. Não há ainda mais informação no que respeita a conteúdos concretos ao que será tratado por cada um destes grupos ficando essa informação como conteúdo para futuras reuniões.

STÃO insatisfeitos com o que dizem ser uma aprovação cada vez maior de trabalhadores não residentes e, por isso, vão fazer uma manifestação. Cerca de 300 operários que dizem estar desempregados organizaram ontem uma conferência de imprensa para fazer o anúncio, tecendo ainda críticas ao Governo sobre “insuficiências aquando da fiscalização de trabalhadores ilegais” em Macau. A manifestação está marcada para dia 15, dia do Festival da Lua, no Jardim do Iao Hon. O arranque está marcado para as 14h00 e as três centenas de homens vão marchar até à Sede do Governo, onde entregam uma carta ao Secretário para a Economia e Finanças, Lionel Leong, e à Direcção dos Serviços para os Assuntos Laborais. Num comunicado divulgado ontem à imprensa, os operários queixam-se do surgimento de “um grande volume de trabalhadores não residentes e trabalhadores ilegais”, que “têm directamente afectado” o emprego dos residentes locais, apesar do sector de construção local ainda estar relativamente próspero. “Por causa disso, já é muito difícil encontrarmos um trabalho estável a longo prazo. Ultimamente muitos de nós já não conseguem encontrar um trabalho há muito tempo. O Governo está sempre a garantir que os trabalhadores não residentes são apenas para complementar a falta de mão de obra local e só quando existir essa insuficiência é que poderá ser aprovada a contratação desses trabalhadores não residentes. Mas a realidade é diferente”, queixam-se, acusando que antes da chegada dos TNR os locais têm apenas um trabalho temporário. “Depois dos TNR chegarem, os nosso empregadores informam-nos que não precisamos de vir trabalhar. Isso é claramente contrastante à sua promessa.” Os operários desempregados pedem o Governo que resolva o problema.

Sofia Mota

Angela Ka (revisto por J.F.)

Renovação Urbana FUNDO AMPLIADO A SERVIÇOS DE VISTORIA

Reconstruir com benefícios O alargamento do Fundo de Reparação Predial para que integre serviços de vistoria foi uma das directivas que saiu ontem da Reunião Plenária do Conselho de Renovação Urbana. Ainda em fase de estudo está também a possibilidade de benefícios fiscais para a reconstrução. Vão ser criados três grupos de trabalho

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ampliação do Fundo da Reparação Predial para serviços de vistoria de edifícios baixos foi umas das directivas que resultou da Reunião Plenária do Conselho de Renovação Urbana que teve lugar ontem. Segundo o Secretário para os Transportes e Obras Públicas, Raimundo do Rosário, é necessário saber “como utilizar ou fazer um melhor uso do fundo de reparação predial”. Raimundo do Rosário anuncia a decisão de criar mais uma linha de apoio associada a este fundo em que os edifícios da classe M, onde se incluem os edifícios baixos que têm até sete pisos, poderão ter acesso a subsídios alargados a tarefas como vistorias ou inspecções.

A ideia foi desenvolvida por Arnaldo Santos, presidente do Instituto de Habitação (IH) e que tem a seu cargo a definição dos detalhes subjacentes à iniciativa. Arnaldo Santos esclarece que “neste momento há um subsídio para reparação dos edifícios baixos que inclui a electricidade e esgotos e os membros do Conselho concordam que se deve ampliar à inspecção dos edifícios baixos que tenham pelo menos 30 anos de construção”.

A decisão foi efectivamente tomada, sendo que “os detalhes estão a cargo do IH” para que sigam para despacho do Chefe do Executivo. Raimundo do Rosário dá ainda a conhecer que as Finanças apresentaram um projecto que engloba a possibilidade de isenções e atribuição de benefícios fiscais para a reconstrução de edifícios. “Esse documento foi entregue aos membros [do CRU] e será debatido numa próxima

As Finanças apresentaram um projecto que engloba a possibilidade de isenções e atribuição de benefícios fiscais para a reconstrução de edifícios

reunião que poderá ser mais ou menos daqui a um mês”, frisou.

“BAPTISMO” DE GRUPOS

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5 POLÍTICA

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Regime de Avaliação INTRODUÇÃO DE TERCEIRA ENTIDADE SEM DATA

Para “elevar a transparência”, o Governo quer ter uma terceira entidade a avaliar o seu desempenho. Contudo, não há ainda quaisquer dados sobre o sistema, que os deputados dizem ser necessário

Devagar, devagarinho

“A avaliação vai ser feita por uma instituição independente que não pertence ao Governo nem à Comissão para a Construção do Centro Mundial de Turismo e Lazer. (...) O Governo está a estudar como escolher uma instituição apropriada para depois ser responsável pela avaliação”

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Governo ainda não tem data para estabelecer o regime de avaliação independente que prometeu e não tem também quem o coloque em marcha. É o que diz Lao Pun Lap, director do Gabinete de Estudo das Políticas, que referiu ontem que o Governo ainda está a estudar a matéria. No programa Fórum Macau da TDM, o responsável foi questionado sobre o sistema que, como prometido, visa trazer responsabilização dos altos cargos em caso de problemas. O sistema tinha sido prometido ano passado e, em Abril deste ano, Sónia Chan voltou a mencioná-lo. Respondendo a críticas dos deputados, a Secretária para a Administração e Justiça relembrou que vai ser introduzido o sistema de avaliação por uma “terceira entidade” aos funcionários de altos cargos. No Plano Quinquenal, apresentado recentemente pelo Chefe do Executivo, esta é uma medida que volta a vir à baila. Mas não há nada de concreto sobre a sua implementação. “A avaliação vai ser feita por uma instituição independente que não pertence ao Governo nem à Comissão para a Construção do Centro Mundial de Turismo e Lazer. Por enquanto, o Governo está a estudar como escolher uma instituição apropriada para depois ser responsável pela avaliação”,

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facto de o Túnel da Colina da Taipa Grande não estar ainda construído está a preocupar o deputado Chan Meng Kam. Numa interpelação dirigida ao Governo, Chan Meng Kam questiona o Executivo acerca do progresso das obras, que deveriam estar prontas em 2013, e mostra-se preocupado com a ausência de informação. A preocupação aumenta agora com a aproximação da abertura do novo Terminal

LAO PUN LAP DIRECTOR DO GABINETE DE ESTUDO DAS POLÍTICAS

indicou ontem Lao Pun Lap, depois de questionado sobre quem fará esta avaliação.

FISCALIZAÇÃO GERAL

Do pouco que se sabe é que “durante o processo de realização do regime, este vai ser fiscalizado por todos os sectores da sociedade”, garante o director, acrescentando que “quando chegar a altura, a instituição também vai recolher opiniões dos diferentes sectores sociais”.

Lao Pun Lap acredita que isso pode elevar a confiança social quanto à concretização dos trabalhos, mas houve quem se mostrasse surpreendido com a promessa. No mesmo programa, o vice-presidente daAssociação Económica de Macau, Chang Chak Io, descredibilizou a decisão. “Nenhum Governo convida terceiros para fiscalizar o seu trabalho”, atirou. No Plano Quinquenal, o Executivo menciona que a ideia é

que esta terceira entidade avalie o desempenho do Governo. Detalhes não há muitos, a não ser que quem ficar a cargo deste trabalho tem de ter uma credibilidade assegurada, auto-disciplina e ser imparcial. Os deputados da Assembleia Legislativa têm vindo constantemente a criticar o facto não se ver figuras da Administração a assumir responsabilidades quando há erros, mas Sónia Chan considerava, em Abril, que há já um regime sufi-

cientemente efectivo para lidar com a responsabilização dos funcionários públicos, incluindo dos altos cargos. A Secretária para a Administração e Justiça frisava que há sanções e medidas de incentivo para os funcionários que façam mal ou bem o seu trabalho. Sónia Chan dizia ainda que os relatórios do Comissariado contra a Corrupção e do Comissariado de Auditoria – que apontam esses erros - são estudados muito seriamente e merecem ponderação, mas os deputados continuam a queixar-se que nunca se sabe se afinal alguém foi ou não responsabilizado.

Mais pessoas, os mesmos recursos Estado de túnel na Taipa preocupa Chan Meng Kam

Marítimo do Pac On, com data anunciada para o próximo mês de Fevereiro. Com capacidade para receber quatro mil pessoas diariamente na RAEM, Chan Meng Kam receia que o grande volume de turistas que poderão aceder ao território e o consequente aumento de veículos e de trá-

fego seja “um grande desafio para aquela zona da Taipa”.

MAIS QUE ATRASADO

Chan Meng Kam

É neste sentido que Chan Meng Kam interroga o Governo acerca do estado do processo de construção do Túnel, que segundo a Direcção dos Serviços de Solos, Obras Públicas e

Transportes (DSSOPT) estaria concluído em 2013. Na ausência de informações acerca deste projecto, o deputado questiona o Governo se já considerou algum plano de substituição da infra-estrutura que ainda não existe ou se, por outro lado, está a tomar medidas no que respeita à avaliação do

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Joana Freitas

Joana.freitas@hojemacau.com.mo

trânsito futuro daquela zona e à forma de o orientar da melhor maneira. O deputado relembra anda que o Governo pretenderia com a criação do Túnel Rodoviário da Colina de Taipa Grande estabelecer uma interligação directa entre os acessos marítimos, como por exemplo a Ponte de Amizade e o Cotai, possibilitando um acesso mais rápido da Península de Macau ao Cotai. A.K. (revisto por S.M.)


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Aviso ﹝N.º 401/2016﹞

Aviso ﹝N.º 403/2016﹞

Assunto: Notificação de audiência Local: Rua dos Navegantes, barraca n.o 22-12-07-022-001, Coloane (área assinalada na planta de localização em anexo)

Assunto: Desocupação e demolição de barraca Local: Rua dos Navegantes, barraca n.o 22-12-07-028-001, Coloane (área assinalada na planta de localização em anexo)

Comunica-se aos utilizadores da barraca acima mencionada, Lam Chi Weng, Lam Chi Mei e Ieong Wun, e outros indivíduos, conforme as averiguações deste Instituto, verificou-se que a respectiva barraca n.º2212-07-022-001 se encontra desocupada há mais de 60 dias consecutivos. Nos termos da alínea b) do n.º 2 do artigo 10.º do Decreto-Lei n.º 6/93/M, de 15 de Fevereiro, são cancelados os elementos de registo daqueles que deixem de residir na edificação informal onde se encontravam recenseados, considerando-se para o efeito a verificação factual por parte da fiscalização deste Instituto presumindo-se como tal o abandono da edificação informal por período superior a 60 dias consecutivos.

São por esta via notificados os possuidores/utilizadores/terceiros incertos e outros interessados da barraca acima referida, de acordo com o disposto na alínea c) do n.º 2 do artigo 10.º do Decreto-Lei n.º 6/93/M, de 15 de Fevereiro, foram cancelados os elementos de registo do utilizador e elementos da sua família da barraca acima referida, bem como de acordo com o disposto nos artigos 24.º e 28.º do mesmo decreto-lei, e pelo despacho do signatário, exarado na Prop.n.º 1261/DHP/DFHP/2016, de 12 de Setembro de 2016, os possuidores/utilizadores/terceiros incertos e outros interessados da barraca acima referida devem desocupá-la no prazo de 30 dias, a contar da data de publicação do presente aviso.

De acordo com os artigos 93.º e 94.º do Código de Procedimento Administrativo, aprovado pelo Decreto-Lei n.º 57/99/M, de 11 de Outubro, deve apresentar, por escrito, a sua contestação e todas as provas testemunhais, materiais, documentais ou as demais provas, no prazo de 10 dias, a contar da data da publicação do presente aviso. Se não apresentar a contestação por escrito no prazo fixado ou a mesma não for aceita por este Instituto, segundo o disposto do artigo 10.º do Decreto-Lei n.º 6/93/M, de 15 de Fevereiro, este Instituto irá cancelar os elementos de registo daqueles que residem na edificação informal. Para a consulta do respectivo processo, poderão dirigir-se ao IH, sito na Travessa Norte do Patane, n.º 102, Ilha Verde, Macau, durante as horas de expediente, ou contactar a Divisão de Fiscalização de Habitação P­ública deste Instituto através do tel. n.º 2859 4875. Instituto de Habitação, aos 09 de Setembro de 2016 O Presidente, Arnaldo Santos

Se não desocuparem a referida barraca no prazo acima indicado, as acções de desocupação e demolição serão efectuadas, coercivamente, pela entidade competente. Os indivíduos acima mencionados podem apresentar reclamação ao Presidente do Instituto de Habitação, no prazo de 15 dias, a contar da data de publicação do presente aviso, não tendo a reclamação o efeito suspensivo, nos termos dos artigos 148.º, 149.º e do n.º 2 do artigo 150.º do Código do Procedimento Administrativo, aprovado pelo Decreto-Lei n.º 57/99/M, de 11 de Outubro. Mais ainda, podem interpor recurso contencioso no Tribunal Administrativo, no prazo de 30 dias, a contar da data de publicação do presente aviso, nos termos do artigo 25.º do Código do Processo Administrativo Contencioso, aprovado pelo Decreto-Lei n.º 110/99/M, de 13 de Dezembro. Instituto de Habitação, aos 12 de Setembro de 2016 O Presidente, Arnaldo Santos


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SOCIEDADE

Morte Cerebral REGRAS EM VIGOR DIA 23. TRANSPLANTE DE RINS É PRIORIDADE

O caminho faz-se caminhando

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ACAU vai dar prioridade ao transplante de rins quando começar a fazer transplante de órgãos. É o que diz Kuok Cheong U, vice-director dos Serviços de Saúde (SS), que disse ontem que os novos critérios para definir a morte cerebral entram em vigor a 23 de Setembro. Depois de, no início deste ano, o Governo ter aprovado uma proposta da Comissão de Ética para as Ciências da Vida, um despacho publicado em Boletim Oficial, e assinado pelo Chefe do Executivo, indicava que as novas regras entrariam em vigor no final de Agosto. Tal não aconteceu, com o Governo a sugerir agora a nova data. Estes critérios são apenas a base para os transplantes, mas Macau já está a definir o que considerar em primeiro lugar. “Será primeiro o transplante de rins, porque as técnicas são relativamente mais fáceis para ser adoptadas”, frisou o responsável da Saúde, à margem de um seminário médico. Kuok Cheong U disse que a procura de tratamento por hemodiálise tem vindo a crescer em Macau ao longo dos anos, pelo que o transplante de rins será “uma opção preferível”.

O MAIS PROCURADO

O fígado é, contudo o órgão mais procurado. Como o HM avançou no final do ano passado, mais de duas dezenas de pessoas saíram de Macau para poderem receber transplantes, sendo que os SS assumiram na altura não reunir

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Instituto de Investigação Científica Tecnológica da Universidade de Macau em Zhuhai vai receber mais de 4,5 milhões de yuan da Fundação Nacional de Ciências Naturais (FNCN) para projectos de investigação científica. A notícia foi ontem divulgada pela própria universidade, que diz ter recebido aprovação para 12 projectos de investigação este ano.

GETTY IMAGES

Já foram definidas pelo Governo, mas podem vir a sofrer alterações. As regras para determinar a morte cerebral entram em vigor dia 23 deste mês, depois de décadas de estudos. A porta está aberta para transplantes, ainda que falte legislação para tal, e é com os rins que se começa

“condições” para activar o sistema de transplante na RAEM. Indicadas como sendo “um marco no desenvolvimento da Medicina em Macau”, as novas regras para definir a morte cerebral não abrem já portas ao transplante. As regulamentações para tal – onde se inclui a dádiva e a colheita – “serão publicadas oportunamente”, como

frisava o Governo em Abril. Ontem, Kuok Cheong U frisou que o Executivo vai convidar profissionais de diferentes países e regiões para abordar conjuntamente as leis que se seguem. O vice-director apontou que os critérios quanto à morte do célebre variam de lugar para lugar e há países que tomam como princípio

“Será primeiro o transplante de rins, porque as técnicas são relativamente mais fáceis para ser adoptadas”

a morte do tronco encefálico ou do córtex. De acordo com o despacho do início do ano, por cá, as novas regras para definir a morte cerebral “requerem a demonstração da perda irreversível das funções do tronco cerebral” e, ao mesmo tempo, “têm de se verificar condições como o conhecimento da causa e irreversibilidade da situação clínica, estado de coma profundo com ausência de resposta motora à estimulação dolorosa em qualquer parte da área dos pares cranianos, ausência de respiração espontânea, (…) ausência de hipotermia, de perturbações metabólicas ou de factores medicamentosos que possam ser responsabilizados pela supressão das funções referidas nas alíneas anteriores”. Mas Kuok Cheong U admite que “ainda há partes na legislação que podem ser ajustadas ou discutidas, sendo uma delas a avaliação técnica sobre a morte do cérebro”. É ao director dos SS que compete emitir as directrizes sobre os exames específicos e a metodologia para a determinação da morte cerebral. Foi em Novembro do ano passado que a Comissão de Ética aprovou internamente as directrizes e as propôs ao Governo, depois de se ter reunido duas vezes. Esta Comissão existe desde os anos 1990, mas só agora os trabalhos deram frutos devido à “complexidade” da questão.

O HM ERROU Na cerimónia solene de abertura do ano lectivo da Universidade de Ciência e Tecnologia de Macau, como noticiado pelo HM na edição de segunda-feira, o título honoris causa não foi atribuído ao Secretário para os Assuntos Sociais e Cultura, Alexis Tam, mas sim à professora Zhou Qifeng e ao professor Lin Yifu. A cerimónia contou a presença do Secretário. Aos leitores e visados, as nossas desculpas.

Angela Ka

info@hojemacau.com.mo Joana.freitas@hojemacau.com.mo

Fundo para estudar

Instituto de Investigação da UM recebe 4,5 milhões para pesquisas aos dois anos anteriores”, sublinha o Instituto. Os projectos vão ser dirigidos pela Faculdade de Ciências e Tecnologia, Faculdade de Ciências da Saúde e Instituto de Ciências Médicas Chinesas. O Instituto de Investigação Científica Tecnológica

Um comunicado dos Serviços Meteorológicos e Geofísicos (SMG) emitido ontem dá conta da chegada do tufão Meranti a Macau no próximo fim-de-semana. Os aguaceiros “ocasionais” deverão começar na noite de amanhã, sendo que na quinta-feira “o tempo da região vai, muito provavelmente, estar sob influência do tufão”, com “aguaceiros muito frequentes”. “No dia 16 de manhã os aguaceiros e ventos fortes vão tornar-se mais evidentes”, pelo que “há pouca possibilidade ver a lua”.

Joana Freitas

KUOK CHEONG U VICE-DIRECTOR DOS SERVIÇOS DE SAÚDE

Depois de, no ano passado, o Instituto ter recebido um financiamento à volta do mesmo valor da mesma fundação chinesa, o Instituto viu ser-lhe concedido este valor que corresponde a cerca de 30% dos 40 pedidos feitos pela instituição. “É uma taxa de sucesso alta, comparativamente

TUFÃO MERANTI A CAMINHO DE MACAU

da Universidade de Macau em Zhuhai foi criticado pelo Comissariado de Auditoria no ano passado. A instituição foi criada em 2011 com o objectivo de fixar uma base de investigação na China continental e conseguir obtenção de apoios financeiros atribuídos pela

Fundação Nacional para as Ciências Naturais, mas foi criada em forma de entidade privada não empresarial, o que levou o Comissariado a considerar que a situação impede a “fiscalização eficaz e controlo” e faz com que a universidade “corra riscos na gestão do Instituto de Investigação”. Uma reestruturação estaria a caminho, mas até agora nada se sabe. Como avançou ainda o HM, o Instituto

terá também violado a Lei Básica, segundo juristas, na medida em que que houve transferência de fundos de Macau para a região vizinha sem autorização. Mas, questionado pelo HM, o Governo optou por não investigar o caso, porque no relatório que espoletou esta ideia não estava claramente descrita esta “interpretação”. J.F.


8 SOCIEDADE

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DIMINUEM EMPRÉSTIMOS À HABITAÇÃO

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S novos empréstimos para a compra de casa em Macau diminuíram 16,5% em Julho, em termos anuais, e 25,7% comparativamente ao mês anterior, indicam dados oficiais ontem divulgados. Segundo as estatísticas da Autoridade Monetária de Macau (AMCM), os bancos concederam 3,5 mil milhões de patacas em empréstimos, dos quais 98,2% a residentes de Macau (3,43 mil milhões de patacas), ou seja, menos 5,7% em relação a Junho e menos 15,1% face a igual período do ano passado. A não residentes foram concedidos, em Junho, 63,95 milhões

de patacas – menos 55,4% e 94% em termos anuais e mensais, respectivamente. Os novos empréstimos comerciais para actividades imobiliárias aprovados em Junho atingiram também 5,5 mil milhões de patacas – menos 72,2% face ao período homólogo do ano passado. Em termos mensais, registou-se uma descida de 45,8%, segundo a AMCM. O saldo bruto dos empréstimos hipotecários para habitação correspondia a 177,2 mil milhões de patacas, enquanto o dos comerciais alcançou 169,6 mil milhões de patacas no final de Julho.

CONCURSO PARA SEGUNDA FASE DE MONG HÁ NA PRÓXIMA SEMANA

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de 1470 dias, mas orçamento das despesas só depois de terminado o concurso. O terreno, há muito bloqueado, está ao abandono e a população tem-se queixado das condições. Deveria estar concluído em 2015, mas um processo judicial com os antigos empreiteiros impediu o progresso. Au Kam San disse ontem ao canal chinês da Rádio Macau que o Governo deve anunciar ao público quanto custou o cancelamento do contrato com o empreitor anterior, assim como as medidas para que casos destes – que se repetiram com Toi San, por exemplo – não aconteçam de novo. A.K./J.F.

SCMP

Governo vai reabrir o concurso público para a segunda fase da empreitada de construção da Habitação Social de Mong Há e para a reconstrução do Pavilhão Desportivo de Mong Há. A construção, planeada para começar em 2011, está parada desde 2012. Em Junho deste ano, o Gabinete para o Desenvolvimento de Infra-Estruturas (GDI) ainda não tinha uma data para lançar o concurso para as obras. Mas ontem, a Direcção dos Serviços de Solos, Obras Públicas e Transportes anunciou a abertura na próxima semana, no dia 22. O prazo máximo de construção é

Cinema MUST ABRE MESTRADO EM GESTÃO CINEMATOGRÁFICA

Películas orientadas

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Universidade de Ciência e Tecnologia de Macau (MUST, na sigla inglesa) criou um Mestrado em Gestão Cinematográfica. De acordo com um despacho do Governo, o plano de estudos foi aprovado pelo Secretário para os Assuntos Sociais e Cultura, Alexis Tam, e publicado ontem em Boletim Oficial. Profissionais ligados à indústria cinematográfica ouvidos pelo HM aplaudem a iniciativa, realçando apenas que faz falta uma componente mais prática e disciplinas de história do cinema. Para o realizador António Caetano de Faria “faz todo o sentido haver este curso, porque há em Macau uma indústria em desenvolvimento e muita gente a trabalhar sem prática”. O cineasta diz que a formação é sempre positiva, “porque todos crescem com ela”, inclusivamente a própria cidade que “se quer afirmar na indústria do entretenimento e que tem imenso potencial com muitos ambientes para histórias”, refere. Em relação ao plano curricular, o profissional faz alguns realces. “Parece-me que falta uma disciplina de história do cinema”, diz, salientando contudo que o balanço é positivo. “Apesar de se terem feito vários workshops, ainda que pontuais, este é um início para apostar mais fundo nesta área de formação onde eu próprio sou um aprendiz. É uma área onde a formação é perpétua e dinâmica porque estamos aliados à tecnologia, dependemos de máquinas para trabalhar e a tecnologia está sempre em evolução. Por isso a formação e a informação nunca são de mais”, conclui.

O QUE FAZ FALTA

ACIDENTE COM BARCO DA TURBOJET NÃO DEIXOU FERIDOS

A Direcção dos Serviços para os Assuntos Marítimos e da Água confirmou a ocorrência de mais um acidente com um barco da TurboJet na madrugada do dia 11. Segundo o canal chinês da Rádio Macau, houve um embate com outro barco quando a embarcação da TurboJet seguia para Hong Kong. Não houve feridos de entre os 386 passageiros e dez funcionários. A parte traseira do barco e parte da sua superfície ficaram danificados.

Já para Pedro Cardeira é sempre bom apostar na formação e mais um curso é bem-vindo. “Olhando para as disciplinas que fazem parte do mestrado, parece-me que devia haver uma componente mais prática. Parece-me muito teórico”, frisa no entanto o realizador, que diz que apesar de haver vários cursos de cinema, estão sempre alocados ou a cursos de Comunicação Social

“Faz falta uma licenciatura ou um bacharelato especificamente em Cinema que juntasse as componentes som, imagem e edição, por exemplo” PEDRO CARDEIRA REALIZADOR

“Faz todo o sentido haver este curso, porque há em Macau uma indústria em desenvolvimento e muita gente a trabalhar sem prática” ANTÓNIO CAETANO DE FARIA REALIZADOR ou a outra área qualquer. “Faz falta uma licenciatura ou um bacharelato especificamente em Cinema que juntasse as componentes som, imagem e edição, por exemplo.” Olhando para o plano curricular deste curso da MUST, Pedro Cardeira acrescentaria algumas disciplinas. “Seria importante haver uma cadeira de Teoria do Cinema, que falasse do lado estético e da cultura cinematográfica e falta isso em Macau.

Mas claro que a criação deste curso é positiva”, conclui. Na lista de disciplinas do curso estão uma dúzia de cadeiras em dois anos, onde se incluem, por exemplo, Gestão do Financiamento do Cinema e Novos Média, Promoção e Marketing do Cinema, Cinema e Direito, Globalização do Cinema e Investigação de Documentários. O Mestrado tem a duração de dois anos e é leccionado nas línguas chinesa e inglesa. HM


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S Serviços de Saúde (SS) vão manter como está o programa de vacinação do Governo. Numa resposta ao HM, depois de questionado sobre se iriam seguir sugestões deixadas numa conferência sobre Saúde, o organismo explica que estão a ser feitos estudos para eventuais mudanças, mas não para agora. O presidente da Associação de Médicos de Língua Portuguesa de Macau, Jorge Sales Marques, afirmou numa conferência em Julho que iria apresentar aos SS uma proposta de alteração do plano de vacinação local. Entre as sugestões, segundo o jornal Ponto Final, estava a inclusão da administração da vacina contra o HPV a rapazes e mais cedo do que os 12 anos e a inclusão da vacinação contra o rotavírus, entre outros. Os SS não partilham da mesma opinião do profissional. “Apesar da vacinação contra o HPV ter algumas vantagens nos rapazes, ainda não foi implementada de forma geral por governos de países ou zonas em todo o mundo onde a vacinação contra o HPV já é realizada”, começa por frisar o organismo, salientando, contudo, que “continuará a realizar estudos sobre a inclusão dos rapazes como destinatários desta vacina gratuita, tendo em conta critérios como encargos da

Estudos continuados SS não querem para já alterar programa de vacinação

doença, a relação custo/benefício e a eficácia da vacina em Macau”. Sobre a idade de administração, os SS dizem que, apesar de poder ser efectuada aos nove anos, em todo o mundo é normalmente aconselhada a administração entre os 11 e os 12 anos. “Além disso, a vacinação nestas idades é anterior ao primeiro acto sexual da maioria dos adolescentes de Macau, assim sendo, os Serviços de Saúde mantêm a administração da vacina entre os 11 e os 12 anos de idade (aliás, 6.º ano do ensino primário)”, explicam.

AOS POUCOS

Sobre a proposta de introdução de uma vacina contra o rotavírus, doença que causa diarreia nos bebés, os SS dizem também que vão estudar a viabilidade “da introdução gradual e progressiva de novas vacinas”, algo que, contudo, não é para já. Outra das sugestões de Sales Marques reincidia sobre a administração da vacina anti-pneumocócica menos vezes, de quatro para três. Investigação é, neste caso, a palavra de ordem na resposta dos SS.

SOCIEDADE

“Informações actuais mostram que o período de administração das quatro doses da vacina conjugada contra o Pneumococo tem um efeito positivo nas crianças. Os SS continuarão a investigar a viabilidade de alteração para três doses se houver provas científicas que evidenciem efeitos idênticos.” O médico tinha ainda sugerido a administração da vacina da meningite B em crianças que viajam para zonas de risco, algo que os SS dizem estar já a fazer. O organismo tem vacinas da encefalite japonesa (chamada também encefalite tipo B) que são administradas a pessoas que, por diversas razões, tenham necessidade de permanecer nas zonas epidémicas por um longo período de tempo, como asseguram na resposta ao HM. Joana Freitas

Joana.freitas@hojemacau.com.mo

VACINAS CUSTAM MAIS DE 60 MILHÕES

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epois de mais de 470 milhões de patacas pagos para o fornecimento de medicamentos a farmácias convencionadas, os Serviços de Saúde pagaram ontem 62 milhões de patacas a três empresas para o fornecimento de vacinas. A Agência Lei Va Hong Limitada, a Four Star Companhia Limitada e a The Glory Medicina Limitada foram as empresas contempladas. Estas três empresas são as fornecedoras principais de medicamentos, de acordo com o Boletim Oficial e conforme publicado num artigo do HM na semana passada. Um dos administradores da Agência Lei Va Hong Limitada ocupa o mesmo cargo na The Glory Medicina.

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MANDADO DE NOTIFICAÇÃO N.°468/AI/2016 -----Atendendo à gravidade para o interesse público e não sendo possível proceder à respectiva notificação pessoal, pelo presente notifique-se o infractor TANG, WAI KIN, portador do Bilhete de Identidade de Residente Permanente da RAEM n.° 12713xxx, que na sequência do Auto de Notícia n.° 76/DI-AI/2015, levantado pela DST a 06.07.2015, e por despacho da signatária de 02.09.2016, exarado no Relatório n.° 574/DI/2016, de 22.08.2016, em conformidade com o disposto no n.° 1 do artigo 14.° da Lei n.° 3/2010, lhe foi desencadeado procedimento sancionatório por suspeita de controlar a fracção autónoma situada na Taipa, na Avenida Dr. Sun Yat Sen, N.° 93, Treasure Garden 25.° andar B onde se prestava alojamento ilegal.--------No mesmo despacho foi determinado, que deve, no prazo de 10 dias, contado a partir da presente publicação, apresentar, querendo, a sua defesa por escrito, oferecendo nessa altura todos os meios de prova admitidos em direito não sendo admitida apresentação de defesa ou de provas fora do prazo conforme o disposto no n.° 2 do artigo 14.° da Lei n.° 3/2010. ----------------A matéria apurada constitui infracção ao artigo 2.° da Lei n.° 3/2010, punível nos termos do n.° 1 do artigo 10.° do mesmo diploma.------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------O processo administrativo pode ser consultado, dentro das horas normais de expediente, no Departamento de Licenciamento e Inspecção desta Direcção de Serviços, sito na Alameda Dr. Carlos d’Assumpção n.os 335-341, Edifício ‘‘Centro Hotline’’, 18.° andar, Macau.----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------Direcção dos Serviços de Turismo, aos 02 de Setembro de 2016. A Directora dos Serviços, Maria Helena de Senna Fernandes

MANDADO DE NOTIFICAÇÃO N.° 469/AI/2016 -----Atendendo à gravidade para o interesse público e não sendo possível proceder à respectiva notificação pessoal, pelo presente notifique-se a infractora CAO HUI, portadora do Salvo-Conduto para Deslocação a Hong Kong e Macau da RPC n.º W96990xxx, que na sequência do Auto de Notícia n.° 109/DI-AI/2015, levantado pela DST a 15.09.2015, e por despacho da signatária de 02.09.2016, exarado no Relatório n.° 577/DI/2016, de 17.08.2016, em conformidade com o disposto no n.° 1 do artigo 14.° da Lei n.° 3/2010, lhe foi desencadeado procedimento sancionatório por suspeita de controlar a fracção autónoma situada na Rua de Nagasaki n.° 80, Kam Fung Tai Ha, 13.° andar D onde se prestava alojamento ilegal.---------------No mesmo despacho foi determinado, que deve, no prazo de 10 dias, contado a partir da presente publicação, apresentar, querendo, a sua defesa por escrito, oferecendo nessa altura todos os meios de prova admitidos em direito não sendo admitida apresentação de defesa ou de provas fora do prazo conforme o disposto no n.° 2 do artigo 14.° da Lei n.° 3/2010. ----------------A matéria apurada constitui infracção ao artigo 2.° da Lei n.° 3/2010, punível nos termos do n.° 1 do artigo 10.° do mesmo diploma.------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------O processo administrativo pode ser consultado, dentro das horas normais de expediente, no Departamento de Licenciamento e Inspecção desta Direcção de Serviços, sito na Alameda Dr. Carlos d’Assumpção n.os 335-341, Edifício ‘‘Centro Hotline’’, 18.° andar, Macau.-----------------------------------------------------------------------------------------------------------Direcção dos Serviços de Turismo, aos 02 de Setembro de 2016. A Directora dos Serviços, Maria Helena de Senna Fernandes


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CCM “VISOR DO CINEMA

EVENTOS

Chefes de estado e viagens por um sonho finalizam ciclo de cinema

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deixar de lado o contacto cultural. Neste episódio em forma de filme, o espectador é convidado a receber uma excursão do presidente Rafael Correa, em que é o próprio que procede à apresentação do país. A equipa de filmagens passa pelos encantos da floresta amazónica, observa baleias na costa de Manta e troca experiências em aldeias perdidas nos Andes. “Equador” é o sétimo filme da série de especiais que incorporam chefes de estado que pretendem mostrar lugares por quem os governa. O filme é projectado hoje, às 18h30, no auditório da Universidade de S. José.

MÚSICA DA COLÔMBIA

A fechar o ciclo de 2016 está a película de Ciro Guerra

“Los Viajes del viento”. Galardoado em 2009 com o prémio Cidade de Roma no Festival de Cannes, o filme conta a história do músico Ignacio Carrilo que é seguido por Fermín, um menino que sonha ser seu aprendiz. Rodado em cerca de 80 lugares da Colômbia é um convite a uma viagem geográfica e também humana, que marca a despedida do festival de cinema latino-americano da MAPEAL. Com entrada livre, tem lugar a 15 de Setembro na sala de conferências da Universidade de Ciências e Tecnologia de Macau, pelas 19h00. As projecções contam com entrada livre. Sofia Mota

info@hojemacau.com.mo

ORIE MIST

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SANDS

Festival da América Latina, da Association for the Promotion of Exchange Between Asia-Pacific and Latin America (MAPEAL), dá, entre hoje e dia 15 de Setembro, os últimos suspiros. Equador e Colômbia fecham mais uma edição com duas longas metragens de referência. Do Equador vem o filme homónimo, que integra a série “Royal Tour”, uma produção concebida para televisão produzida e apresentada por Peter Greenberg e que pretende mostrar as diferentes nações de forma inovadora. Numa abordagem que dá voz aos chefes de estado, Peter Greenberg convida a visitas contextualizadas historicamente, com ponto marcado em locais de referência sem

Mais de uma dúzia de filmes de mais de uma dezena de países. O “Visor do Cinema Asiático” vai estar em Macau no mês que vem para mostrar histórias que chegam aos grandes ecrãs da China ao Afeganistão

CC

Filmes sul-americanos despedem-se dia 15

MÚSICOS VETERANOS NO PALCO DO VENETIAN

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AND of Brothers” é uma banda composta por quatro veteranos da indústria da música, que se reúnem pela primeira vez em Macau, para tocarem. O concerto realiza-se no dia 15 de Outubro, no palco do Arena Venetian. Com mais de 20 anos de experiência, todos eles têm um percurso feito no “showbusiness”, mas com carreiras isoladas. Assim, Richie Ren vem de Taiwan e fez sucesso com o single “Heart too Soft”. Paralelamente à música, é também actor. Já Edmond é um multifacetado compositor de Hong Kong, produtor discográfico, actor e apresentador de televisão. William é cantor e conheceu o êxito com o seu single “Kiss more, Sad

more”. Steve faz parte da banda de Rock “Beyond”, de Hong Kong. Para este concerto no Cotai, a banda reserva um espectáculo “renovado” naquilo que é visto “como um passo dado em frente”, de acordo com informação da Sands. “Os fãs serão convidados a espreitar um espectáculo cheio de novidades e com uma equipa de músicos e bailarinos de nome internacional, um guarda roupa e uma animação surpreendente.” O concerto promete ser uma actuação especial, naquilo que acontece quando se reúnem enquanto “Band of Brothers”. Os bilhetes já estão à venda e os preços variam entre as 280 e as 1180 patacas.

À VENDA NA LIVRARIA PORTUGUESA O INVERNO DO MUNDO • Ken Follett Depois do extraordinário êxito de repercussão internacional alcançado pelo primeiro livro desta trilogia, A Queda dos Gigantes, retoma-se a história no ponto onde ficou. Uma segunda geração assume pouco a pouco o protagonismo, a par de figuras históricas e no contexto das situações reais, desde a ascensão do Terceiro Reich, através da Guerra Civil de Espanha, durante a luta feroz entre os Aliados e as potências do Eixo, o Holocausto, o começo da era atómica inaugurada em Hiroxima e Nagasáqui, até ao início da Guerra Fria. Como no volume anterior, a totalidade do quadro é oferecido como um vasto fresco que evolui a um ritmo de complexidade sempre crescente.

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MIRAMAR • Naguib Mahfouz Um romance coeso e de grande carga emocional sobre vidas que se cruzam, Miramar desenrola-se na Alexandria do início dos anos 60. Seis personagens, todas agora exiladas por força das circunstâncias, tornam-se residentes da elegante e decadente Pensão Miramar. A figura central é Zohra, a bela camponesa cuja relação com as outras cinco personagens simboliza a essência da realidade política e social da época.


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A ASIÁTICO” CHEGA A MACAU EM OUTUBRO

ENTE TERIOSO O

UTUBRO é mês de filmes asiáticos. É o que promete o Centro Cultural de Macau (CCM), que traz ao território o festival “Visor do Cinema Asiático”. Mais de uma dezena de filmes de diversos países esperam por si, naquele que garante ser um evento para todos os públicos. O “Visor do Cinema Asiático” decorre de 21 a 30 de Outubro e apresenta uma selecção de 13 filmes oriundos de mais de dez países, numa exibição que mostra “os mais recentes trabalhos produzidos na Ásia”. Esta edição explora temáticas ricas, das histórias “negras, enternecedoras e apaixonantes aos retratos mais emocionantes e controversos”. A mostra inclui filmes como “Depois da Tempestade”, uma história que aborda os laços familiares num remake assinado pelo multipremiado realizador japonês Kore-eda Hirokazu. Segue-se o filme palestiniano “O Ídolo”, baseado na vida de Mohammad Assaf, um cantor de casamentos em Gaza que se tornou mundialmente conhecido depois de ter vencido o concurso “Ídolos” árabe em 2013. “Dheepan”, vencedor da Palma de Ouro do festival de Cannes 2015, um olhar sobre a vida de um grupo de refugiados cingaleses em França, e “O Lamento”, um filme de suspense aclamado pela crítica e aplaudido pelo público da edição do Festival

OS FILMES

“Depois da Tempestade” (Kore-eda Hirokazu, Japão) - 21/10 às 19h30 “O Ídolo” (Hany Abu-Assad, Palestina) – 22/10 às 16h00 “Mustang”(Deniz Gamze Ergüven, Turquia, França, Alemanha) – 22/10 às 19h30 “An” (Kawase Naomi, Japão) – 23/10 às 16h00 “Debaixo do Sol” (Vitaly Mansky, Coreia do Norte, Rússia, Alemanha, República Checa, Letónia) – 23/10 às 19h30 “Tharlo” (Pema Tseden, China) – 26/10 às 19h30 “Tsukiji: Terra das Maravilhas (Naotaro Endo, Japão) 27/10 às 19h30 “Dheepan” (Jacques Audiard, França) – 28/10 às 19h30 “Faces do Paquistão” (Sharmeen Obaid-Chinoy, Paquistão e EUA) – 29/10 às 16h00 “Thanatos, Bêbado” (Chang Tso-Chi, Taiwan) – 29/10 às 19h30 “Imagem a Imagem” (Alexandria Bombach, Mo Scarpelli, Afeganistão) – 30/10 às 16h00 “O Lamento” (Na Hong-jin, Coreia) – 30/10 às 19h30

de Cinema de Cannes deste ano, são duas das outras películas em exibição.

DOCUMENTÁRIOS EM DOSE DUPLA

Mas o Festival abre ainda espaço para a obra “Faces do Paquistão”, com uma dupla de documentários: “Uma Rapariga no Rio: O Preço do Perdão”, que chama a atenção para a crise de direitos humanos das mulheres paquistanesas, e “Canção de Lahore”, ambos realizados por Sharmeen Obaid-Chinoy, cineasta vencedora de dois Óscares, serão mostrados, sendo que haverá espaço para ‘visitas guiadas’ a alguns dos países mais fechados e difíceis de visitar do mundo. “Debaixo do Sol, filmado na Coreia do Norte, e “Imagem

a Imagem”, que transporta o público para o Afeganistão, são dois documentários que desvendam mistérios através de imagens captadas secretamente, assegura o CCM. Mas nem só de filmes se faz um festival e, por isso, a 23 de Outubro está prevista uma tertúlia onde será debatida a forma como o cinema espelha a sociedade, “explorando e aprofundando os tópicos representados em quatro arrojados filmes incluídos no programa”, indica a organização. Os bilhetes já estão disponíveis nas bilheteiras do CCM e na Rede Bilheteira de Macau a vários preços. J.F.

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EVENTOS

HOJE NO PRATO Paula Bicho

Naturopata e Fitoterapeuta • obichodabotica@gmail.com

Grão-de-Bico NOME BOTÂNICO: CICER ARIETINUM L. FAMÍLIA: LEGUMINOSAE. NOMES POPULARES: CHÍCHARO; GRÃO; GRAVANÇO. O Grão, como actualmente o conhecemos, evoluiu de uma planta selvagem nativa do Crescente Fértil (Médio Oriente), região onde, cerca de 5.000 anos a.C., se iniciou também o seu cultivo. Trata-se da leguminosa mais tradicional da Dieta Mediterrânica, sendo também muito consumida na Índia, onde chegou há cerca de 4.000 anos. É ainda um dos mais antigos vegetais consumidos cozinhados e uma importante leguminosa em muitas culturas, constituindo uma das principais fontes de proteínas de origem vegetal. São consumidas as sementes. Composição Nutritivo e equilibrado, o Grão é rico em hidratos de carbono (amido), proteínas, fibras (solúveis e insolúveis), vitaminas (A, B1, B2, B3, B5, B6, folatos, biotina, E, K, provitamina A) e minerais (cálcio, cobre, ferro, fósforo, magnésio, manganês, potássio, selénio, zinco); contém ainda gorduras de boa qualidade (mono e polinsaturadas), embora em pequena quantidade. É muito calórico. Acção terapêutica Benéfico para as afecções cardiovasculares, o Grão impede a absorção do colesterol no intestino e reduz os seus níveis no sangue (colesterol total e LDL), melhorando a saúde das artérias e prevenindo a arteriosclerose; diminui a pressão arterial elevada, através de um mecanismo de acção semelhante a alguns fármacos de síntese; reduz igualmente os níveis de homocisteína no sangue, um importante factor de risco independente para o enfarte do miocárdio e AVC. Além disso, ajuda a evitar a anemia e permite uma melhor oxigenação dos tecidos. Devido às fibras que contém, esta leguminosa mantém o intestino saudável e estimula o peristaltismo, auxiliando ainda a expulsar os parasitas intestinais. Tem propriedades antioxidantes e protege o fígado dos efeitos nefastos das nitrosaminas, potentes agentes cancerígenos encontrados em alguns alimentos, como enchidos ou fumados, por exemplo. Alimento muito saciante e energético, fornece energia de forma gradual, sendo útil aos asténicos e trabalhadores braçais. É também um fortificante do sistema nervoso, indicado na irritabilidade, nervosismo, stress, falta de concentração e depressão. Contribui para a prevenção da obesidade, diabetes tipo II e cancro.

Outras propriedades Diurético, o Grão favorece a eliminação do ácido úrico sendo também um bom anti-séptico urinário; ácido úrico elevado, cálculos urinários e infecções urinárias são outras afecções que podem beneficiar com o seu consumo. Nas mulheres com menstruações irregulares permite normalizar o período; nas grávidas, contribui para prevenir as malformações do tubo neural do feto; em caso de esgotamento sexual é útil pelas propriedades afrodisíacas. Como consumir • Pode adquirir o Grão a granel ou embalado; neste caso pode estar cru ou cozido. Tenha em atenção que, no caso de já estar cozido, pode ter aditivos adicionados, como sal e conservantes. Se comprar a granel, verifique se não apresenta sinais de humidade ou manchas e guarde-o num frasco de vidro ou saco de papel, em local fresco e seco, conservando-se assim durante uns meses. Antes de cozer o Grão deve lavá-lo bem, retirar pequenas pedras que possam existir e por fim deixá-lo de molho durante a noite. No dia seguinte, despreze a água, lave-o novamente e coza o Grão em água abundante; o sal só se deita no final da cozedura. Depois de cozido, pode conservá-lo no frigorífico, por uns dias, ou no congelador durante uns meses. O Grão deve ser bem mastigado e ensalivado de forma a favorecer a digestão. Sugestões: • O Grão faz parte de inúmeros pratos típicos portugueses, como a sopa de Grão com Espinafres, Bacalhau cozido com Grão, cozido de Grão (rancho) ou pastéis de Grão (azevias). • Pode ser usado em guisados e estufados ou em saladas frias variadas. • Combina bem com Arroz, massa ou cuscuz. • Torrado ou frito, como aperitivo. • Torrado e moído, constitui um sucedâneo do Café. • Farinha de Grão: usada na cofecção de sopas, sobremesas, crepes ou bolachas. • Cru: Grão germinado. Receita – Salada de Grão-de-bico Numa taça deitar Grão cozido, atum desfiado, Cebola-roxa picada, Tomate-cereja aos quartos, Pimento-vermelho picado, Abacate aos cubos, Alcaparras ou Azeitonas descaroçadas aos pedaços e Coentros picados; temperar com azeite e sumo de Limão; misturar. Servir acompanhado de uma salada de Alface e sementes de Abóbora. Precauções Consumir com parcimónia em caso de patologia renal. Em caso de dúvida, consulte o seu profissional de saúde.


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Mar do Sul PEQUIM E MOSCOVO EM EXERCÍCIOS CONJUNTOS

XINHUA ESTADOS UNIDOS DEVEM REVER POLÍTICA CONTRA O TERRORISMO

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guerra dos Estados Unidos da América contra o terror “agravou ainda mais o terrorismo”, e “deve ser revista”, considerou ontem a agência oficial chinesa Xinhua, a propósito dos 15 anos dos atentados do 11 de Setembro. As intervenções militares no Iraque, Líbia, Síria e outros países, resultou que os “aliados europeus dos EUA tenham que suportar os efeitos dos erros” norte-americanos, ao sofrer frequentemente ataques terroristas nos seus territórios, sublinha a agência, num artigo de opinião.

Washington “necessita rever a sua política antiterrorista, ou até a sua política diplomática”, acrescenta, sublinhando que a “guerra nunca serviu como método para acabar com o terrorismo”, e só serve para alimentar grupos violentos. “Os EUA invadiram o Iraque, em 2003, derrubaram o regime de Saddam Hussein e elevaram a violência ou lutas sectárias que alimentaram grupos terroristas como o Estado Islâmico”, aponta. Para a agência estatal, as intervenções posteriores no norte de África e Médio Oriente produziram a pior crise de refugiados na Europa, desde a Segunda Guerra Mundial. “Os EUA devem abandonar a sua mentalidade da Guerra Fria e os padrões duplos na política antiterrorista”, acrescenta, apelando a Washington para que reforce a colaboração com a China neste aspecto.

A PONTE MAIS ALTA DO MUNDO

Operários e engenheiros chineses terminaram a estrutura do que se tornará a ponte mais alta do mundo, erguida 565 metros acima do solo, anunciaram as autoridades da província de Guizhou, no sudoeste do país. As duas extremidades da ponte Beipanjiang, localizada sobre o rio, numa área montanhosa de Guizhou, foram ligadas no sábado, diz o comunicado. Com 1.341 metros de comprimento, a estrutura vai começar a funcionar no final do ano, permitindo reduzir, de cinco para duas horas, a duração da viagem entre Liupanshui, em Guizhou, e Xuanwei, na província vizinha de Yunnan, segundo a televisão estatal CCTV.

Demonstrações navais As duas potências vão iniciar em breve acções militares no Mar do Sul da China, com o objectivo de reforçar a capacidade militar naval. O objectivo é o de agilizar respostas a possíveis ameaças no mar cícios conjuntos serão mais intensos e vastos em termos de organização, tarefas e comando, comparativamente com operações do género realizadas no passado”, lê-se na mesma nota. Pequim reivindica a soberania sobre quase todo o Mar do Sul da China, com base numa linha que surge nos mapas chineses desde 1940 e tem investido em grandes operações nesta zona, transformando recifes de corais em portos, pistas de aterragem e em outras infra-estruturas.

DISPUTAS TERRITORIAIS

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China e a Rússia vão iniciar exercícios navais no Mar do Sul da China, anunciou ontem o Ministério da Defesa chinês, numa demonstração de força após um tribunal internacional ter recusado as reclamações territoriais de Pequim na região. Os exercícios, que decorrerão ao longo dos próximos oito dias, envolvem navios de superfície, submarinos, aviões, helicópteros e fuzileiros navais

de ambos os países, revelou o porta-voz da marinha chinesa Liang Yang, em comunicado. “Estes exer-

No início de Julho, porém, o Tribunal Permanente de Arbitragem (TPA), com sede em Haia, decidiu a favor das Filipinas e contra a China no caso das disputas territoriais no Mar do Sul da China,

“Estes exercícios conjuntos serão mais intensos e vastos em termos de organização, tarefas e comando, comparativamente com operações do género realizadas no passado”

apesar de Pequim insistir que não aceita a mediação de terceiros. Vietname, Filipinas, Malásia e Taiwan também reivindicam uma parte desta zona, o que tem alimentado intensos diferendos territoriais com a China. Os Estados Unidos da América enviam frequentemente navios de guerra para a região, visando asseverar o direito à liberdade de navegação no território.

AMEAÇAS COMUNS

Os exercícios conjuntos desta semana vão realizar-se na costa da cidade de Zhanjiang, na província de Guangdong, sul da China. O objectivo é “reforçar a capacidade das marinhas da China e Rússia de lidar em conjunto com ameaças à segurança no mar”, afirmou Liang. Em Maio de 2015, as duas potências militares realizaram os seus primeiros exercícios navais conjuntos em águas europeias, no Mar Negro e no Mediterrâneo, no que foi para a China o exercício naval mais distante das suas águas territoriais até hoje. A China e Rússia mantêm fortes laços militares e diplomáticos, servindo de contrapeso ao ocidente em várias questões da geopolítica internacional, enquanto os seus presidentes, Xi Jinping e Vladimir Putin, respectivamente, têm uma relação próxima.

COMUNICADO DA MARINHA CHINESA

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CENTRAL NUCLEAR COM SISTEMA DESACTIVADO EDITAL Audiência relativa à notificação de reparação de prédio em mau estado de conservação Edital n.º :37/E-AR/2016 Processo n.º : 16/AR/2009/F Local : Rua do Bispo Medeiros n.º 2, Edf. Iau Yan, Macau Li Canfeng, Director da Direcção dos Serviços de Solos, Obras Públicas e Transportes, faz saber que ficam notificados os condóminos, inquilinos ou demais ocupantes do edifício acima indicado, do seguinte: Em conformidade com o Auto de Vistoria da Comissão de Vistoria constante do processo em curso nesta Direcção de Serviços, a parede exterior do edifício acima indicado encontra-se em mau estado de conservação, pelo que, nos termos do n.º 2 do artigo 54.º do DecretoLei n.º 79/85/M (Regulamento Geral da Construção Urbana) de 21 de Agosto, foi instaurado um procedimento administrativo relativo à notificação da sua reparação. No uso das competências delegadas pela alínea 12) do n.º 2 do Despacho n.º 11/SOTDIR/2016, publicado no Boletim Oficial da Região Administrativa Especial de Macau (RAEM) n.º 21, II Série, de 25 de Maio de 2016 e por despacho de 06 de Setembro de 2016 do Chefe do Departamento de Urbanização da DSSOPT, Lai Weng Leong, foi homologado o Auto de Vistoria acima indicado.

Notificam-se os interessados que no prazo de 10 (dez) dias a contar a partir da data da publicação do presente edital, devem dar cumprimento à ordem emanada no Auto de Vistoria, ou apresentar no mesmo prazo, conforme o disposto no artigo 94.º do Código do Procedimento Administrativo (CPA), aprovado pelo Decreto-Lei n.º 57/99/M, de 11 de Outubro, as alegações escritas relativas à decisão do procedimento de reparação da parede exterior do edifício acima indicado, podendo requerer diligências complementares acompanhadas de documentos. Se findo o prazo acima referido os interessados não derem cumprimento à respectiva ordem nem apresentarem quaisquer alegações escritas, tal não afecta a decisão tomada por esta Direcção de Serviços. Além disso, caso necessário, esta Direcção de Serviços pode aplicar aos infractores a multa estabelecida nos artigos 66.º e 67.º do citado diploma legal. Os interessados podem consultar o processo durante as horas normais de expediente nas instalações da Divisão de Fiscalização do Departamento de Urbanização desta DSSOPT, situadas na Estrada de D. Maria II, n.º 33, 15.º andar, em Macau. RAEM, 06 de Setembro de 2016 O Director dos Serviços Li Canfeng

O

sistema de alerta dos níveis de radiação numa central nuclear em Shenzhen, cidade na província chinesa de Guangdong, que confina com Macau, esteve acidentalmente desactivado durante três meses, avançou um jornal de Hong Kong. A ausência daquele sistema só

foi detectada a 24 de Maio, por um trabalhador da central, detalhou o jornal South China Morning Post. Trata-se do terceiro erro operacional detectado este ano na central de Ling Ao e reconhecido no último relatório semestral do grupo, que o classifica como sendo de grau 0, o mais baixo de uma escala com oito graus, e “sem impacto na segurança”. O sistema foi reactivado de imediato e uma inspecção posterior não detectou incidentes nos últimos três meses.

No início de Agosto quatro operários de uma unidade em Yangjiang, também em Guangdong, foram penalizados por ocultar um problema técnico que causou a paragem no sistema de refrigeração de um dos principais reactores. A China conta actualmente com 34 reactores de energia nuclear operacionais, enquanto 20 estão em fase de construção, entre os quais a central nuclear de Taishan, que fica a menos de 70 quilómetros de Macau.


13 hoje macau terça-feira 13.9.2016

A

China “melhorou a distribuição dos poderes e responsabilidades judiciais” e “garantiu o exercício independente e imparcial da justiça”, realçou ontem o governo chinês ao abordar a evolução dos direitos humanos no país. “Os direitos PUB

Branco mais branco não há Liberdades e direitos humanos salvaguardados, revela relatório do Conselho de Estado

e liberdades dos cidadãos, em vários domínios, foram efectivamente protegidos de acordo com a lei”, proclama o Livro Branco difundido ontem pelo Conselho de Estado chinês, com o título “Novos Progressos da China na Protecção Judicial dos Direitos Humanos”. O documento detalha que, em 2015, as procuradorias de diferentes níveis decidiram “não prender 131.675 pessoas e não julgar 25.778, em casos envolvendo a falta de evidências ou acções que não constituíam crime”. Por outro lado, aqueles órgãos apelaram em 6.591 casos, por considerarem que a decisão do juiz estava errada. No total, 54.249 pessoas foram investigadas em 40.834 casos envolvendo crimes relacionados com o trabalho, lê-se no livro branco. Entre 2012 e 2015, os tribunais do país concluíram 94.900 casos envolvendo corrupção e subornos, e condenaram 100.300 pessoas. O documento aponta também a aprovação de várias medidas em 2015, visando proteger o direito dos advogados de exercer a profissão,

de estar a levar a cabo a “pior onda de repressão contra activistas e advogados que defendem os direitos humanos”.

MATT HAHNEWALD

O livro Branco com o título “Novos Progressos da China na Protecção Judicial dos Direitos Humanos” divulgado ontem pelo Conselho do Estado chinês, referente a 2015, garante que os direitos e liberdades dos cidadãos foram salvaguardados respeitando sempre o primado da lei

CHINA

MENOS NOVE

tornando mais conveniente a sua participação em litígios.

MENORES PROTEGIDOS

Segundo o referido livro, a protecção dos direitos de vítimas menores também registou progressos, com o aumento de condenações em casos envolvendo o abuso sexual de menores. “Assegurar o primado da lei” foi um dos objectivos lançados pelo Presidente chinês, Xi Jinping, após a sua ascensão ao poder, em 2013. Porém, organizações de defesa dos Direitos Humanos acusam Pequim

“Os direitos e liberdades dos cidadãos, em vários domínios, foram efectivamente protegidos de acordo com a lei” LIVRO BRANCO

Sobre a aplicação da pena de morte, o documento revela que esta é “empregue com prudência”, visando garantir que é aplicada “apenas em casos considerados extremamente graves”. Em 2015, a nova alteração do Código Penal reduziu em nove o número de crimes puníveis com a pena capital, refere. A China exonera ocasionalmente réus presos ou executados injustamente, depois de os verdadeiros autores dos crimes terem decidido confessar ou, em alguns casos, a vítima ser encontrada com vida. Casos envolvendo erros da justiça são frequentes no país, onde as confissões forçadas continuam a ser prática comum, segundo organizações de defesa dos Direitos Humanos, e mais de 99% dos réus são considerados culpados.


h ARTES, LETRAS E IDEIAS

14

Máquina de pendurar existências, o amor R

AQUEL Nobre Guerra nasceu em Lisboa em 1979. Estudou e formou-se em filosofia na FCSH da Universidade Nova. Tem dois livros publicados: Groto Sato (Mariposa Azual, 2012) e “Senhor Roubado” (Douda Correria, 2016). E é com este livro que aqui vamos viajar. Senhor Roubado é uma estação de metro de Lisboa. Enuncio isto de antemão, pois sei por mim mesmo que é muito fácil não sabermos disso, se não vivemos em Lisboa ou não tivermos vivido nos últimos anos. Se alguém em São Paulo intitulasse o seu livro de “Do Paraíso à Consolação”, talvez fosse difícil para quem não é de São Paulo, saber que se trata de duas estações terminais de metro, de uma das linhas da cidade; linha que vai precisamente da estação Paraíso à estação Consolação (nunca se diz o contrário), como se de uma metáfora da vida e do amor se tratasse. E não é por acaso que começamos esta viagem pelos metros de Lisboa e de São Paulo, e suas metáforas, pois o livro da Raquel Nobre Guerra é precisamente uma enorme metáfora da vida e do amor, que no Brasil, quando for editado, deveria até chamar-se “Do Paraíso à Consolação”. Como ela mesma escreve no início de um dos poemas: “O amor desapareceu, diz-se por aí, e eu tendo a acreditar porque dormes cada vez mais longe na metade da cama que ocupaste com edições luxuosas do Paraíso Perdido.” Sim, é um livro de amor. Um livro de amor como nas canções pop, em que ele já se foi e resta agora a melodia daquilo que ficou, para outros ouvirem e sonharem identificações, que ora se ajustam ao corpo, como se tivessem sido escritas para quem lê, ora ficam largas ou muito apertadas e não assentam bem. Restos de canções que também aparecem, aqui e ali, no corpo do poema. Por vezes aparecem como a única parte do mundo onde a poeta entra. Porque uma canção é o lado de fora menos perigoso, menos entediante aonde ir. Leia-se este poema, onde um verso de uma canção dos The Doors, de An American Prayer, nos surge como a parte mais quotidiana do poema, a parte em que a poeta vai à rua, em que sai de si: “Deixa que nos chamempequeno cemitério de animais em flor. O meu coração gótico espera por ti aqui onde ninguém dança. Porque havemos sempre de brincar vestidos de santos até adormecer nos olhos da cabra que, escuta: I touched her thigh and death smiled. Se perguntarem por nós aponta para cima e responde com humor tipicamente irlandês Senhor Roubado. Linha Amarela. Estação Terminal.” Aquilo que podemos dizer acerca de nós, não é muito mais do que isto: o nome e a posição do lugar onde enfrentamos os dias; e dizê-lo com humor, dizê-lo com a

certeza de que a vida, a nossa, além de ter os dias contados, tem também um desconhecimento quase completo, para além de meia dúzia de nomes e algumas definições, que em relação aos frutos têm apenas um período mais alargado de validade. Entremos então no coração do livro: “Movo-me na medida exacta da nossa distância. Que direi eu deste lado do mundo?” Esta passagem poderia ser o mote do livro ou, se preferirmos uma linguagem mais musical, o leitmotiv do livro. Este lado do mundo a que a poeta se refere, não é apenas ela, é a única possibilidade que tem de apreender o mundo e tudo o que lhe acontece: “a exacta medida da nossa distância”. Que não é senão a distância de cada um de nós para nós mesmos e para as coisas, para o mundo. Não recuso agora a leitura de amor que o poema encerra, um amor em cinzas, mas quero alargar à possibilidade de o próprio poema nos mostrar mais que amor: mostrar que toda a nossa relação com o mundo e connosco mesmos é um amor em cinzas; não é de amor, mas de nós no amor, de nós como o resto do resto do resto do amor. “Uma espécie de beleza que nunca chegou para dois.” E julgais que o que nunca chega para dois é apenas um corpo, ou a impossibilidade de partilha do que se sente, quer seja no amor, quer seja no dia a dia? “para justificar o mundo caído” E julgais vós que um mundo caído é pertença de um amante em forma de despejo? Prefiro pensar que este amante despejado é ele mesmo, e também toda a humanidade, caído. Como Raquel Nobre Guerra escreve nos dois versos finais do poema: “De resto, tenho uma perninha no bem e outra no mal e mijo no meio, é honesto imaginar-me assim. ” Nenhum poema de amor é somente um poema de amor. Principalmente neste livro de Raquel Nobre Guerra. Aqui, o amor é usado para dizer o mundo, para dizer o pó da humanidade. O amor é usado tal como os humanos são usados nele. Neste livro o amor não é uma máquina lírica, é antes uma máquina de pendurar existências, como nos diz os primeiros versos deste poema: “Objectos restantes do nosso último encontro: o tubo de tabaco Lucky Strike (seguramente) e a pontuada consoante «só». Coisas sem significado que se deixam ficar como um piropo sem resposta.” A inventividade da linguagem não prescinde de fazer sentido, não prescinde de ontologia. A vida, e não a linguagem, e não os efeitos da linguagem, e não o en-

cantamento da linguagem, é o que importa aos versos de Raquel Nobre Guerra. A linguagem existe para dizer a vida, para complicar a vida, para fazer ver a vida, para tentar acalmar a vida. A vida é sempre o horizonte da linguagem, a vida que não existe a não ser que se invente. “O café ilumina-se de todos os anjos filhos da puta. Daqui a pouco sairei de casa Para o que é verdadeiramente triste.” Porque fora da linguagem, fora dos livros, fora de nós dentro dos livros, tudo é verdadeiramente triste. A tristeza maior, adivinha-se nos poemas deste livro, não é uma casa, seja ela qual for, não é uma vida, seja ela qual for, é uma vida separada da linguagem. Ir à rua é como se nos cortassem o cordão umbilical que nos liga à mãe linguagem; é essa dor, essa nostalgia que é sentida pela poeta que aqui escreve estes versos. Mesmo que haja a consciência de que a linguagem nos mente com todas as letras do alfabeto, e também é com ela que nós mentimos, a nós e aos outros: “Minto, porque cedo ao poder das palavras o que trago no saco são coisas remendadas que vou deixando cair.” Estes versos finais do poema inicial parecem ilustrar bem a falência do quotidiano face à poesia. Porque nada é mais triste do que o quotidiano. Fora dos livros, fora da leitura e da escrita, o mundo inteiro “ilumina-se de todos os anjos filhos da puta”, porque a tristeza do mundo começa sempre que um humano sai da sua casa para ir ao café do seu bairro ou para o trabalho ou simplesmente ir às compras, porque o corpo assim o exige. “Acordo com um perfume que não é o meu, faço contas ao corpo antes de ser bicho — às vezes penso, esta obsessão não é verdade estou morta sou infinita e a manhã despenca como uma grua.” Apesar de tudo é muito difícil ser-se bicho. É difícil entregar-se a uma animalidade esperada ou sonhada ou simplesmente uma animalidade que parece fácil aos outros. É sempre preciso fazer contas. Tudo na vida são contas, medições... Há que pensar! Há que pensar, que isto é uma coisa que não nos deixa. Não nos deixa sequer dormir, não nos deixa sequer trocar de sexo com alguém. O cérebro, que serve para inventar tantas coisas belas, não consegue inventar um botão de pausa. Nem trocar de sexo com alguém nos dá descanso, porque não há uma pausa para o pensar. Não dá descanso à poeta. Raquel Nobre Guerra parece saber que o poeta quando cai de boca no sexo, a boca não vai sem palavras, não vai sem pensamentos, não vai sem indecisões, que são o departamento de finanças deste país que é pensar, e com isso o poeta dá cabo de tudo. Não dá cabo só da sua vida, dá cabo também da possibilidade de fugir dela. Arruinada que está essa possibilidade de fuga, “a manhã despenca como uma grua.”


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máquina lírica

Paulo José Miranda

Estes poemas mostram a encruzilhada de se ser entre uma boca no amor ou uma boca na linguagem. E não há conciliação para esta poeta (ainda que a pessoa possa não ser assim), porque, como ela mesma escreve: “Bebo uma bica por dia, às vezes bebo-a fria depois disto bem que podia morrer, diga-se com as mãos ao redor de um pescoço amigo quero dizer, de um livro. Tenho o carácter objectivo de uma incompetência para a vida.” Só os livros nos compreendem. Só aos livros compreendemos. Tudo o resto é uma angústia enorme, por ter de ir à rua comprar comida, beber café (a parte boa da existência), fazer a máquina funcionar. “Quem nunca hesitou na paragem do 28 / e pensou: ali via a metáfora da minha vida.” Vida e poesia não são coisas separadas. A poeta não vai à rua, lambuzar-se de vida, e chega a casa e escreve o seu poema para afirmar o seu nome no mundo. Ela vai à rua, porque não pode deixar de ir, e sempre com culpa, por mais que haja pequenos açudes de alegria. Mas talvez os melhores versos deste livro que nos mostram a identificação entre vida e poema para Raquel Nobre Guerra se encontre aqui: “E um bom poema? Uma banana a apodrecer numa fruteira. E o que a comove? Uma banana a apodrecer numa fruteira.” Além desta guerra entre os aliados – que formam um enorme exército e podem ser resumidos no verso “Gente que está viva, diria, pasto para as sensações”, que no fundo são a rua, o amor, o sexo, a vida – contra a escrita, e de traçar uma fenomenologia de bairro bem conseguida – pois toda a fenomenologia é como o fim do mundo, e O fim do mundo começa sempre no café do bairro – o livro é repleto de belos versos. Por fim, deixo para mostrar aquilo que é certamente a cor mais visível deste livro: a ironia. Uma ironia quase constante, a fazer-se sentir ao longo dos poemas como um dor moinha nos dentes. Como nos exemplos seguintes, que não esgotam o caudal irónico desta poética: “Mas a natureza morta da metáfora / não me deu talho para o poema.”; “Mas aprofundei-me na ocupação da violência / um arzinho de filosofia para empernar meninos.”; ou ainda nesta estrofe inteira: “Sais de casa porque a morte te agita transpiras pelo empregado de mesa que lê Balzac, tens ambições literárias razões, enfim, para andar mal vestido despenteado com um saco na cabeça para que se diga ali vai a poesia portuguesa.” Ironia e ontologia, numa sucessão de duelos, como a poeta escreve no final de um dos poemas: “Dei por mim a propor duelos: Café e pistolas para dois?”


16 DESPORTO

hoje macau terça-feira 13.9.2016

O

S responsáveis da Federação Internacional Automóvel (FIA) reuniram com os chefes de equipa para os tranquilizar e garantem que serão feitos todos os possíveis para que a prova da RAEM decorra dentro da normalidade e asseguram que o transporte está também em andamento. Segundo o que o HM apurou, a Federação Internacional, que terá mais peso na organização da prova a partir de agora, informou as equipas que tudo será organizado segundo os parâmetros habituais e que irá disponibilizar mais pormenores nos próximos dias às equipas. As reacções surgem depois da demissão de Barry Bland do cargo de coordenador da Taça Intercontinental FIA de Fórmula 3 do Grande Prémio de Macau, que foi obviamente assunto no paddock do Campeonato Europeu FIA de Fórmula 3 que se disputou no passado fim-de-semana no Circuito de Nurburgring, na Alemanha. Depois da inesperada notícia da semana transacta, a incer-

GP FIA TRANQUILIZA EQUIPAS E GARANTE PROVA DE FÓRMULA 3

Nada de preocupações teza e preocupação reinavam no paddock da competição que mais carros fornece à prova da RAEM. Muitas

das equipas aguardam impacientemente instruções para poderem preparar a prova e vários pilotos, que tinham já PUB

verbalmente acertado a sua presença na prova, vão ter agora que esperar por uma resposta final sobre a sua participação. “As equipas foram todas apanhadas desprevenidas. Até aqui, quando o assunto era o Grande Prémio de Macau, as equipas falavam com Barry Bland. Com a demissão ficamos todos à nora, pois não sabemos com quem falar, nem sequer como vai ser a prova”, explicou um Team Manager que preferiu ficar no anonimato. No entanto, apesar do oceano de dubiedades, em muito ajudado pela a incapacidade da Comissão Organizadora do Grande Prémio de Macau

em prestar um esclarecimento público rápido e assertivo, há um tom de esperança nos discursos. O transporte, que alegadamente estava atrasado em dois meses, estará a ser arranjado e não será fonte de preocupação. Recorde-se que a federação internacional tem vindo a estudar a possibilidade de mudar o estatuto da prova de Fórmula 3 de Macau, promovendo-a a Taça do Mundo à imagem da actual corrida de GT.

QUEM ERA O SR BLAND?

Barry Bland foi quem em 1982 convenceu Rogério Santos, na altura o presidente do Leal Senado de Macau,

A Federação Internacional, que terá mais peso na organização da prova a partir de agora, informou as equipas que tudo será organizado segundo os parâmetros habituais e que irá disponibilizar mais pormenores nos próximos dias às equipas PARALÍMPICOS CHEN YU CHIA FALHA FINAL DOS 200M

a introduzir a Fórmula 3 no Circuito da Guia, quando a organização da prova considerava trazer a Fórmula 2 para substituir a decadente Fórmula Atlantic. Esta aposta foi a mais acertada, saltando o Grande Prémio para a ribalta internacional. Durante estes últimos trinta anos, o inglês, que sempre primou pela discrição, foi o elo de ligação entre as equipas de F3 que vêm a Macau. Era a Motor Race Consultants, a empresa de Barry Bland, que preparava toda a logística, tanto de carros, como das equipas. Bland, o “Ecclestone da F3”, como lhe chamou a imprensa inglesa a semana passada, foi também peça instrumental em acordos celebrados entre equipas e pilotos, pouco prováveis de acontecer sem a sua influência. Era também ele que fazia de elo de ligação entre a FIA e os delegados técnicos e as equipas. O capital de confiança que gozava o inglês junto do paddock permitiu que a prova mantivesse sempre o seu elevado estatuto de “grande evento de final de ano”, mesmo em períodos em que a F3 passou por maiores dificuldades. Sérgio Fonseca

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Chen Yu Chia, o único atleta de Macau a competir nos Jogos Paralímpicos, falhou a qualificação para se poder estrear no domingo numa final, no Rio de Janeiro. De acordo com a rádio Macau, Chen não conseguiu o tempo que lhe permitisse alinhar na prova de natação 200 metros livres, sector masculino, S14. Nesta final, o ouro foi conquistado por um atleta de Hong Kong, Lok Wai Tang, tendo o britânico Thomas Hamer terminado em segundo lugar e o australiano Daniel Fox em terceiro. Chen Yu Chia, de 18 anos, tem agora outra oportunidade, no próximo domingo, na prova de natação 200 metros medley, masculino, SM14.


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TEMPO

POUCO

?

NUBLADO

O QUE FAZER ESTA SEMANA Diariamente

MIN

26

MAX

33

HUM

60-90%

EURO

8.96

BAHT

EXPOSIÇÃO “THE RENAISSANCE OF PEN AND INK CALLIGRAPHY AND LETTERING ART DE AQUINO DA SILVA Armazém do Boi (até 18/09) EXPOSIÇÃO “ROSTOS DE UMA CIDADE – DUAS GERAÇÕES/ QUATRO ARTISTAS” Museu de Arte de Macau (até 23/10) EXPOSIÇÃO “MEMÓRIAS DO TEMPO” Macau e Lusofonia afro-asiática em postais fotográficos Arquivo de Macau (até 4/12)

O CARTOON STEPH

EXPOSIÇÃO “O PINTOR VIAJANTE NA COSTA SUL DA CHINA” DE AUGUSTE BORGET Museu de Arte de Macau (até 9/10) EXPOSIÇÃO “EDGAR DEGAS – FIGURES IN MOTION” MGM Macau (até 20/11) EXPOSIÇÃO “PREGAS E DOBRAS 3” DE NOËL DOLLA Galeria Tap Seac (até 09/10)

SOLUÇÃO DO PROBLEMA 78

PROBLEMA 79

UM DISCO HOJE

SUDOKU

DE

C I N E M A

YUAN

1.19

AS RENDAS DESTA VIDA

EXPOSIÇÃO COLECTIVA DE ARTISTAS DE MACAU IACM (até 30/10)

Cineteatro

0.22

AQUI HÁ GATO

EXPOSIÇÃO DE PINTURA “INSPIRAÇÃO INOVADORA”, DE MAK KUONG WENG Jardim Lou Lim Iok (até 16/10)

ESCULTURA “LIGAÇÃO COM ÁGUA” DE YANG XIAOHUA Museu de Arte de Macau (até 01/2017)

(F)UTILIDADES

Este fim-de-semana resolvi ir à região vizinha dar uma volta e no meio de Kowloon acabei por voltar atrás no tempo. Fui ao Kam Kee café comer o típico pequeno almoço chinês e não deixei de reparar no lado tradicional que aquela casa manteve ao longo dos anos. Ao lado, uma notícia: o Kam Kee café vai fechar ao fim de 45 anos devido a um aumento brutal de renda, na ordem dos 150%. Afinal não é só em Macau que isso acontece, pensei eu. Haverá quem defenda que coisas novas surgem com o passar dos tempos e que não devemos ser saudosistas, mas fico sempre triste quando espaços históricos fecham por causa de rendas e de proprietários insensíveis, que só olham para os números. Quando Macau e Hong Kong se transformarem (ainda mais!) em cidades que vivem em função dos números, teremos espaços sem história e sem cultura. Os pequenos cafés com banquinhos de madeira, as barbearias, as tascas, as mercearias fazem de Macau e Hong Kong aquilo que estes territórios são na sua génese. Não existem apenas prédios grandes e arranha-céus iguais a Banguecoque, Nova Iorque ou outras grandes metrópoles. Nas pequenas coisas encontramos a verdadeira essência. Pu Yi

“SKELETON TREE” (NICK CAVE, 2016)

O último álbum de Nick Cave não é mais uma viagem ao universo do artista. Mais que passar pelas temáticas comuns da existência, religião ou revolta este é uma álbum de dor, numa espécie de “catarse” e reconciliação com talvez a maior perda, a de um filho! Exímio, “Skelaton Tree” é um álbum a não perder e que apura os sentidos para o apelo a uma estreia local do documentário que o acompanha “One more time with feeling”. Sofia Mota

NERVE SALA 1

TRAIN TO BUSAN [C]

FALADO EM COREANO LEGENDADO EM CHINÊS E INGLÊS Filme de: Yeon Sang-ho Com: Gong Yoo, Ma Domng-Seok, Choi Woo-sik 14.30, 16.45, 19.15, 21.30 SALA 2

AT CAFE 6 [B]

FALADO EM MANDARIM LEGENDADO

EM CHINÊS E INGLÊS Filme de: Neal Wu Com: Zijian Dong, Cherry Ngan, Lin Bohong, Ouyang Nini 14.30, 16.30, 19.30, 21.30 SALA 3

NERVE [C]

Filme de: Henry Joost, Ariel Schulman Com: Emma Roberts, Dave Franco, Emily Meade, Miles Heizer 14.30, 16.30, 19.30, 21.30

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18 OPINIÃO

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RUI TAVARES

in Público

JASON ROTHENBERG, THE 100

Praças para o mundo

N

OVA Iorque. Minoru Yamasaki, o arquitecto das Torres Gémeas atacadas a 11 de Setembro de 2001, foi uma vez ridicularizado quando lhe perguntaram por que havia decidido fazer duas torres de 110 andares em vez de apenas uma com 220 andares. A resposta dele foi: “para preservar a escala humana”. Hoje, caminhando em direcção à Torre da Liberdade, que substituiu os edifícios destruídos, tenderia a dar razão a Yamasaki. Se fosse vivo, ele diria talvez que a nova torre se limita a ser mais um prédio muito alto numa cidade de prédios altíssimos – como era necessário ao brio com que se desejava refutar os terroristas. Mas falta-lhe a escala humana que era dada pelo espaço queYamasaki conseguira libertar entre as torres para uma praça que descreveu na sua biografia como “uma Meca de tranquilidade na baixa de Manhattan”. Sim, leram bem, uma Meca. Yamasaki teve uma vida tão fascinante como desconhecida e tão desconhecida

“Continuaremos a precisar de gente que acredite em praças onde a humanidade se encontre. É uma boa crença” como premonitória. Nasceu filho de imigrantes japoneses nos EUA e descobriu em jovem o que era ser tratado como terrorista no seu país (depois do Pearl Harbour, os nipo-americanos chegaram a ser detidos em campos de concentração; a família de Yamasaki salvou-se dessa sorte por pouco). Viu um seu projecto ser implodido por decisão política e refez a carreira trabalhando na Arábia Saudita – inclusive com Mohammed Bin Laden, pai de Osama – e viajando pelo Médio Oriente. No Irão viu a Mesquita do Xá em Isfahan, o edifício de que mais gostou. Fascinado pelas religiões, desenhou sinagogas (os seus amigos judeus brincavam dizendo que ele haveria de fundar um nova religião nipo-hebraica, o “judoísmo”). Numa fábrica onde trabalhou concebeu um altar rotativo para que toda a gente pudesse praticar aí a sua religião. Que diria ele ao saber do que aqui aconteceu há quinze anos? Pergunto-me se

o conseguiria conceber sequer: o cenário de apocalipse, as pessoas lançando-se para a sua morte. Pergunto-me o que diria ele dos anos que se seguiram, do “choque de civilizações” e da guerra, da islamofobia e do ricochete contra a globalização de que o seu prédio era um emblema tão arrojado quanto ingénuo: o restaurante do 106.º andar chamava-se “Janelas para o Mundo” e os dias nacionais eram comemorados na praça como numa ONU do comércio. São dez e meia da manhã no Memorial do 11 de Setembro. Lá dentro, as famílias das vítimas, Obama e outros dignitários tentam dizer algo de adequado perante a tragédia. Cá fora, teóricos da conspiração distribuem folhetos e conversam com testemunhas de Jeová, turistas tiram fotografias, paroquianos penduram fitas brancas junto à Igreja de São Paulo, o edifício mais antigo de Manhattan. Todos tentamos fazer justiça às vítimas deste dia e dos seguintes, aqui e no resto do mundo. Ninguém consegue. Desta nova era, temos oito anos de guerra apenas suplantados (mas não interrompidos) por oito anos de depressão financeira. Se a crise financeira se atenuar, voltaremos talvez à paranóia e intolerância dos primeiros anos. Continuaremos então a precisar de gente que acredite em praças onde a humanidade se encontre. É uma boa crença. Às vezes até funciona.


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OPINIÃO

sexanálise

TÂNIA DOS SANTOS

mania, que não é bem mania, mas a saudável tendência de começar a explorar produtos mais naturais para o corpo e a mente, tem ganho alguma popularidade. As pessoas agora procuram produtos ecológicos, recicláveis, saudáveis, biológicos e ‘verdes’. Depois de uma era industrial onde tudo era feito da forma mais lucrativa, independentemente de custos pessoais e ambientais, vivemos numa altura onde já há alguma consciência e regulamentação. Já podemos comprar do bom e do melhor – e do menos tóxico. Apercebi-me recentemente, contudo, que ainda não há regulamentação na produção de brinquedos e acessórios sexuais (!) e que, a produção de dildos, vibradores ou até de lubrificantes está parada no tempo. Falo-vos de algo que é como a idade da pedra industrial, onde as coisas são feitas da forma mais barata, sem cuidado com a toxicidade e perigo de uso. Isto é problemático: os brinquedos sexuais que são tão encorajados para a exploração sexual saudável, podem ser nocivos para a saúde. Os malfamados ftalatos (= phthalate) são dos perigos número um. Essa substanciazinha é normalmente adicionada a plásticos para contribuir à elasticidade, transparência, durabilidade e longevidade, muitas vezes utilizada em vibradores para tornar o plástico ‘mais confortável’ e mais atraente. Mas as evidências de que os ftalatos são tóxicos são mais que muitas, e facilmente se encontram nos brinquedos sexuais que vão parar aos nossos recantos mais sensíveis, e bastante propícios a doenças e traumas. Como não há regulamentação, não podemos confiar num vibrador que diga ‘isento de ftalatos’ porque 7 em 8 vibradores que foram testados pela Greenpeace, chumbaram no teste. Os efeitos são cumulativos (cancerígenos), mas há situações onde o mal-estar é instantâneo – ao ponto de ficarmos com as nossas partes de baixo a arder de desconforto. Como ainda há alguma vergonha em admitir o uso de tais acessórios, uma ‘defesa do consumidor sexual’ também está por desenvolver. Porque, vejamos bem, quem é que se atreve a devolver um dildo por causa de ardor? São raras as pessoas que voltariam às sex shops com reclamações ou a verbalizar insatisfação do produto. E muito honestamente, acho que são poucos os que sabem que esta falta de regulamentação tem consequências tão absurdamente nefastas. Os ftalatos são só a ponta do iceberg das problemáticas de produção. Também há questões sobre a porosidade do plástico, quanto mais poroso, mais recantos as bactérias têm para se esconder e maior propagação

TAMARA JENKINS, SLUMS OF BEVERLY HILLS (1998)

A

O consumo responsável na cama

“Ainda não há regulamentação na produção de brinquedos e acessórios sexuais (!) e a produção de dildos, vibradores ou até de lubrificantes está parada no tempo. Falo-vos de algo que é como a idade da pedra industrial, onde as coisas são feitas da forma mais barata, sem cuidado com a toxicidade e perigo de uso” de doenças – e por isso é sempre importante usar preservativos como protecção e fazer uma limpeza cuidada dos brinquedos. Também os lubrificantes vaginais e anais deverão ser cuidadosamente escolhidos. Se pensarmos que a vagina, especialmente, esse micro-clima super sensível com um pH ideal e uma flora vaginal estrategicamente

desenvolvida para sua protecção, pode ser desequilibrada por uma panóplia de produtos e substâncias – muitos lubrificantes têm cheiro, por exemplo, o que quer dizer que têm açúcar e que é um banquete para muitos fungos vaginais. Há lubrificantes que ainda têm parabenos, substâncias que já foram proibidas em muitos países da Europa.

A lista de problemáticas é extensa e não irei falar sobre elas em detalhe, mas recomendo leituras para um entendimento mais extenso. Vale a pena. Este é mais um aviso para quem está a pensar encher a sua despensa sexual para fazê-lo bem informado. Porque apesar de haver muitos produtos não controlados, existem lojas e sites que já são sensíveis a estas questões e que são organizadas por comunidades informadas e que promovem o uso de brinquedos sexuais não tóxicos, procurando fábricas, marcas e comercializadores com a mesma preocupação. Se querem uma sugestão de nicho de mercado aqui está: comecem uma linha de produtos sexuais ecológicos, recicláveis, saudáveis, biológicos e ‘verdes’. Os consumidores agradecem. #nontoxicsextoys


Se pudesse inventava outro céu / Ainda mais inutilmente azul / Ou então inventava a palavra / Ainda mais inútil quando dita. / Se pudesse inventava outro tempo / Ainda mais inútil porque breve / E levantava-te presa num abraço / Ainda mais inutilmente forte.” José Maria Rodrigues PUB

BARROSO PERDE «PRIVILÉGIOS» EM BRUXELAS

Durão Barroso vai deixar de ser recebido em Bruxelas como ex-presidente da Comissão Europeia. Além disso, terá de esclarecer o executivo europeu sobre as suas funções na Goldman Sachs. De acordo com o Financial Times e o Expresso, o seu sucessor, Jean-Claude Juncker, deu já instruções ao seu gabinete para tratar Durão Barroso «como qualquer outro lobista». Na qualidade de ex-presidente da Comissão e ex-primeiro-ministro de um Estado-membro, Barroso teria direito a «tratamento VIP» pelos líderes e instituições europeias em Bruxelas. Juncker responde assim a uma questão da provedora de justiça europeia, Emily O`Reilly, que pediu esclarecimentos sobre a posição da Comissão Europeia face à nomeação de Durão Barroso e as suas obrigações éticas. «Ao assumir o emprego, o Sr. Barroso será recebido na Comissão não como um antigo presidente mas como um representante [dos interesses do banco] e será submetido às mesmas regras de outros representantes», refere Juncker.

Riscos maiores G7 querem proteger doentes com demência

O

S ministros da Saúde dos países do G7 comprometeram-se ontem, no final de uma reunião de dois dias em Kobe (centro do Japão), a promover medidas para os doentes com demência, perante o rápido envelhecimento da população. Os representantes do Canadá, Alemanha, Itália, Estados Unidos, Reino Unido, França e Japão reconheceram a importância de “construir um sistema de atenção (para estes doentes) nas comunidades” em que residem, afirmaram, numa conferência de imprensa após o encontro. Os ministros acordaram promover o diagnóstico precoce e desenvolver políticas que melhorem as vidas dos doentes, assim como impulsionar a investigação para acelerar a criação de terapias. O resultado da reunião reflecte as discussões mantidas pelos líderes dos sete países mais desenvolvidos do mundo na cimeira do G7 entre 26 e 27 de Maio no parque natural de

Ise-Shima (centro do Japão), onde destacaram a necessidade de abordar os problemas do envelhecimento global. O Japão espera que as medidas que está a adoptar nesta matéria - mais de um quarto da população japonesa tem mais de 65 anos - sirvam de exemplo para os países que enfrentam problemas similares. Esta foi a primeira vez que os ministros da saúde do G7 se centraram no problema da demência. Cerca de 47,5 milhões de pessoas sofrem de demência no mundo e prevê-se que o número ascenda a 135,5 milhões em 2050, segundo dados da Organização Mundial da Saúde (OMS). Os ministros destacaram a importância do uso de tecnologia (nomeadamente os programas de reconhecimento facial) para a prevenção de fraudes, que frequentemente se dirigem a este sector vulnerável. Propuseram que os trabalhadores das instituições financeiras recebam formação nesta matéria para detectar clientes em risco de demência para lhes oferecer o apoio adequado. Representantes de países como o Laos, Birmânia, Singapura e Tailândia - onde se teme que o envelhecimento rápido da população se converta num problema grave - também participaram no encontro.

terça-feira 13.9.2016


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