Hoje Macau 14 JAN 2016 #3492

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RÁDIO-TÁXIS EMPRESA DE DAVID CHOW CONCORRE SOZINHA

LICENCA PARA RODAR ´

A nova empresa de David Chow foi a única das três candidatas a ser aceite no concurso para a atribuição de licenças de rádio-táxis. O empresário garante carros de boas marcas e um investimento de 70 milhões em infra-estruturas. GRANDE PLANO

JOGO Junkets sofrem PÁGINA 7

com novo rigor

AGÊNCIA COMERCIAL PICO • 28721006

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MOP$10

QUINTA-FEIRA 14 DE JANEIRO DE 2016 • ANO XV • Nº 3492 PUB

DIRECTOR CARLOS MORAIS JOSÉ

ILEGAIS

Crescem e desaparecem PÁGINA 4

OPINIÃO

Renascimento Bowie LEOCARDO

FERNANDO ELOY

TURISMO

Licenciaturas a caminho da Taipa PÁGINA 8

h Mestria e vitalismo MANUEL AFONSO COSTA

CONSUMO

Para que serve o Conselho? PUB

PÁGINA 5


2 GRANDE PLANO

RÁDIO-TÁXIS EMPRESA DE DAVID CHOW FOI A ÚNICA A SER ACEITE A CONCURSO

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ESTAS JA CA CANTAM

Uma nova empresa detida pelo empresário David Chow ficará a cargo de cem rádio-táxis por oito anos. A decisão oficial ainda não foi anunciada, mas a Lai Ou foi a única das três candidatas a ser aceite

“Vamos investir 70 milhões de patacas. Os veículos que vamos usar vão ser de boas marcas”

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MA empresa de David Chow deverá ser a próxima companhia a operar cem rádio-táxis no território. A Lai Ou Serviços de Táxi, S.A. foi a única empresa a ser aceite no concurso público para a atribuição das licenças especiais para a operação destes veículos, depois das outras duas concorrentes terem chumbado por não cumprirem regras do concurso. A Lai Ou tem como presidente David Chow, empresário detentor da Macau Legend, que tem a Doca dos Pescadores.

A Direcção dos Serviços para os Assuntos de Tráfego (DSAT) realizou ontem o acto público de abertura das propostas, que vai valer a emissão de cem licenças de táxi por chamada para oito anos de operação. Dentro das três propostas apresentadas, só a proposta da Lai Ou foi admitida e David Chow já se prepara para a entrada em funcionamento, ainda que o Executivo não tenha anunciado a decisão oficial. “Vamos investir 70 milhões de patacas [em infra-estruturas] e mais 30 milhões em carros. Os veículos que vamos usar vão ser de

boas marcas, já temos 30 Mercedes”, disse o empresário ao canal chinês da Rádio Macau.

TAXAS PENSADAS

Só “no segundo ou terceiro trimestres” é que se deverá saber a decisão do Governo, mas a empresa já tem ideias fixas sobre as taxas que quer cobrar aos passageiros. “A empresa sugere uma taxa de chamada e uma taxa de hora marcada de 15 patacas cada, bem como uma taxa de ausência de cinco patacas”, explica um comunicado da DSAT. O contrato para os rádio-táxis vai ter determinadas exigên-

“A qualidade destes táxis vai mudar a percepção dos cidadãos” Responsável da DSAT confiante em modelo semelhante ao utilizado pela Uber comissão responsável pelo concurso, cujo presidente é o vice-director da DSAT, Chiang Ngoc Vai, não aceitou a justificação. As candidatas podem também interpor recurso dentro de dez dias úteis, mas a segunda empresa a ser rejeitada – a Companhia de Serviços de Táxis Taxi Go – não o vai fazer. Esta errou pelo facto de não ter assinado nem carimbado todas as páginas do plano de operação e gestão dos serviços, bem como o currículo do pessoal de gestão da sociedade. O responsável pela empresa, Billy Choi, afirmou que não vai recorrer da decisão. Com a conclusão do acto público, a Comissão tem agora de avaliar a proposta

da Lei Ou conforme o plano de operação de gestão e de serviços, sendo que a ideia é que os táxis especiais consigam entrar em funcionamento no próximo ano. A DSAT afirmou que, pelo menos 50 rádio-taxis, devem TIAGO ALCÂNTARA

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concurso público para a atribuição destas licenças deveria ter terminado no mês passado, mas a DSAT adiou a data de entrega até ontem, na sequência de algumas alterações ao processo. Ainda assim, as duas outras empresas que concorreram contra a Lei Ou não tiveram hipótese no concurso, por não cumprirem regras. No caso da Companhia de Serviços de Rádio Táxi de Macau, a proposta foi rejeitada porque colocou os preços das taxas a aplicar no documento de apresentação, algo que não era permitido porque estes valores só poderiam aparecer nas propostas, que são secretas. Esta empresa reclamou da decisão, mas a

começar a circular em 2017, incluindo cinco acessíveis a deficientes. Chang Cheong Hin, chefe da Divisão da Gestão de Transportes da DSAT, acredita que o novo modelo de operação vai fazer os

cidadãos de Macau “mudar a percepção que têm dos táxis” actualmente, já que este inclui possibilidade de chamada e reserva de serviços através da internet ou de aplicações móveis. Tal e qual como a Uber.

“Este é um avanço no actual serviço de táxis, acredito que a qualidade vai alterar a percepção dos cidadãos”, frisou o responsável, escusando-se a comentar se a Uber poderia afectar o funcionamento destes táxis. F.F. com J.F.

É PRECISO MAIS TAXISTAS

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Centro de Política de Sabedoria Colectiva sugere que o Governo impulsione mais condutores a trabalhar como taxistas. Isto porque existem cerca de 14 mil pessoas com carteiras profissionais de táxi, mas apenas mil têm realmente profissão como taxistas. Ao Jornal Ou Mun, um membro do grupo, Choi Seng Hon, disse ser viável aproveitar o concurso público para estudar como atrair mais condutores com carteiras profissionais a integrar o sector, tanto a tempo parcial como inteiro. Nem que para isso seja necessário, diz, fornecer benefícios fiscais aos taxistas.


3 hoje macau quinta-feira 14.1.2016 www.hojemacau.com.mo

Flora Fong

flora.fong@hojemacau.com.mo

Joana Freitas

joana.freitas@hojemacau.com.mo

Da crise nasceu uma tese

Residentes descontentes com mau discurso e recusa de transporte

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percepção dos residentes de Macau sobre o serviço de táxis”. É este o nome da tese final de licenciatura da aluna de Gestão de Turismo do Instituto de Formação Turística (IFT) Charlie Chan Choi Nei, a qual se revelou vencedora num concurso ontem realizado. Após entrevistar 160 pessoas, a aluna chegou à conclusão que a recusa de transporte, o mau diálogo entre taxistas e passageiros ou as cobranças abusivas são os factores que mais desagradam os residentes. “O discurso dos taxistas, a recusa em transportar os passageiros e o longo tempo de espera são os factores que os residentes consideram mais importantes e é nessas áreas que o sector tem tido um pior desempenho. É aqui que as pessoas estão mais insatisfeitas”, explicou Charlie Chan Choi Nei ao HM. A aluna referiu ainda que entrevistou residentes de origem chinesa e não chinesa, mas que não encontrou quaisquer diferenças de opinião em relação ao funcionamento do sector. “Depois há factores como as condições do veículo, a área geográfica ou os conhecimentos profissionais, que as pessoas também consideram ser importantes”, acrescentou a aluna. A finalista do curso de Gestão do Turismo decidiu abordar este tema na sua tese final por ver tantas queixas apresentadas online. “Têm surgido muitos relatórios e queixas sobre o ser-

viço de táxis e muitas pessoas começaram a partilhar as suas más experiências online. Sei que há um grupo no Facebook só para a partilha dessas experiências. Queria analisar melhor a situação dos táxis em Macau”, disse, mostrando vontade de mostrar o seu trabalho ao Executivo. “Gostaria de mostrar a minha tese ao Governo porque este é um grande problema em Macau, já que afecta a indústria do turismo em Macau e o dia-a-dia dos residentes. A indústria HOJE MACAU

cias, como a obrigação de serem providenciados ao público cinco carros adaptados para deficientes e táxis de grande porte. Mas não só. “Além de disponibilizar a marcação de serviços de táxi por telefone, através da página electrónica e de aplicações de telemóvel, deve-se explorar outras formas de marcação de táxis conforme o desenvolvimento social, a fim de possibilitar também a utilização do serviço por parte de pessoas com carências”, explica a DSAT. Em contrapartida, o concessionário pode requerer ao Governo o pagamento de metade do preço destes veículos e pode ainda cobrar ao passageiro taxas diferentes das dos táxis normais – os pretos. Isto devido ao funcionamento ser apenas permitido por chamada, não podendo estes táxis apanhar passageiros nas ruas ou estar parados nas praças de táxi. As exigências do Governo e a falta de autorização para cobranças de taxas especiais levaram a Vang Iek – anterior empresa responsável por estes táxis – a desistir do funcionamento, alegando falta de condições para tal. O ex-director geral da empresa, Sin Ma Lio, disse mesmo à rádio chinesa que “não entende porque é que o Governo nunca permitiu a cobrança destas taxas anteriormente”, quando a Vang Iek estava em funcionamento. A empresa – que não se candidatou a este concurso e não quis explicar a razão – pediu diversas vezes ao Executivo que autorizasse esta cobrança.

dos táxis tem que ser mais profissional, tal como no Japão, onde são muito educados, cumprimentam o passageiro e até o ajudam”, exemplificou Charlie Chan Choi Nei.

UBER É PRECISO

Na sua apresentação, a aluna deixou ainda como sugestão uma possível cooperação entre o Governo e a Uber, isto apesar das autoridades já terem referido que o serviço de transporte através da aplicação de telemóvel é

“Gostaria de mostrar a minha tese ao Governo porque este é um grande problema em Macau, já que afecta a indústria do turismo e o dia-a-dia dos residentes” CHARLIE CHAN ALUNA ilegal. Para Charlie Chan, a Uber poderia funcionar de forma aberta a curto prazo, até à entrada em funcionamento do metro ligeiro. “Poderiam assinar uma espécie de acordo, porque hoje em dia os transportes públicos não são suficientes. No meu questionário tinha um espaço para comentários e cerca de 20 pessoas disseram que a Uber poderia funcionar e afirmaram utilizar mais a Uber do que os táxis. Referiram ainda que os condutores da Uber são educados e praticam bons preços. O Governo deveria disponibilizar um número adicional de táxis para resolver o problema e aumentar as vantagens competitivas do sector, porque em Macau há pouco mais de mil táxis e isso é pouco, tendo em conta o número de residentes e de turistas”, rematou a finalista do IFT. A tese de Charlie Chan Choi Nei foi uma das vencedoras num painel que revelou 16 trabalhos de investigação realizados por alunos do IFT no final das suas graduações. A introdução da tese final de curso é uma das novidades do instituto, que pretende dar aos alunos a capacidade não só de trabalhar em áreas mais práticas mas também de “analisar e compreender como utilizar as actuais tendências da indústria”. Andreia Sofia Silva

andreia.silva@hojemacau.com.mo


4 POLÍTICA

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Segurança SECRETÁRIO FALA DE GRANDE AUMENTO DE IMIGRAÇÃO ILEGAL

Por trilhos ilícitos

Wong Sio Chak alerta para um elevado aumento de imigrantes ilegais em Macau, na ordem dos 60%, sendo que a maioria terá chegado ao território para trabalhar TIAGO ALCÂNTARA

Secretário para a Segurança, Wong Sio Chak, disse numa entrevista ao jornal Ou Mun que Macau registou um elevado número de imigrantes ilegais em 2015 face a 2014, um aumento que será na ordem dos 60%. Para o Secretário, quase 99% desses trabalhadores terão chegado à RAEM para trabalharem de forma ilegal. “O Governo tem feito muito para ultrapassar o problema da imigração ilegal, sendo que mais de 1800 imigrantes ilegais foram detectados e presos de Janeiro a Setembro do último ano. Desses, 30% deles são oriundos de países do sudeste asiático”, apontou Wong Sio Chak. Cerca de 900 imigrantes ilegais terão entrado em Macau pelo trilho de Long Chai Kok, localizado junto à praia de Hac-Sá, em Coloane, sendo que muitos terão afirmado ter chegado a Macau apenas para jogar nos casinos. Contudo, o Secretário para a Segurança disse ao Ou Mun acreditar que muitos vêm para trabalhar.

RESPOSTA À ALTURA

O facto desses imigrantes terem sido presos significa, para o Secretário, que Macau tem capacidade de resposta para este problema, mas também é um sinal de que o problema é grave. Com a aprovação da nova área marítima, Wong Sio Chak espera poder reorganizar os trabalhos nesta área. O Secretário explicou que,

1800 imigrantes ilegais detectados e presos de Janeiro a Setembro do último ano

enquanto os Serviços de Alfândega são responsáveis pela captura dos imigrantes ilegais no mar, a Polícia de Segurança Pública (PSP) trata dos casos em terra. Foi ainda garantida a cooperação entre a PSP e os Serviços para os Assuntos Laborais (DSAL), por forma

30%

são oriundos de países do sudeste asiático

a resolver o problema dos ilegais nas obras. “O Governo vai continuar a cooperar com o departamento de segurança de Guangdong, por forma a evitar que grupos criminosos utilizem o vazio legal para aumentar as actividades ilegais”, disse Wong Sio Chak na entrevista.

O Secretário referiu ainda que o Governo já tem um plano para a segurança informática, mas que “o maior problema é que será difícil recrutar profissionais no futuro para este centro”.

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prejudiquem os direitos dos residentes em relação ao estacionamento, será que se pode evitar que os departamentos do Governo possam reservar os parquímetros só para eles?”, apontou.

ON Wai e Au Chi Keung são agora vice-presidentes do Instituto de Acção Social (IAS), organismo do qual fazem parte desde a década de 90. Ambos tinham áreas específicas: Hon Wai integrava, desde 1995, cargos relativos ao combate da toxicodependência. Mestre e licenciado em Psicologia pela Universidade Nacional de Taiwan, foi chefe do departamento de Prevenção e Tratamento da Toxicodependência, posição desempenhada desde 2010 até à mais recente nomeação, que cumpre a partir deste mês. Também Au Chi Keung completou um mestrado e uma licenciatura, tendo mesmo passado por Portugal. Foi na Universidade Técnica de Lisboa que o profissional tirou Política Social. No IAS, sempre esteve ligado a assuntos de família, tendo igualmente uma licenciatura de

TIAGO ALCÂNTARA

HON WAI E AU CHI KEUNG NOMEADOS VICE-PRESIDENTES DO IAS

HOJE MACAU

WONG KIT CHENG PEDE NOVAS MEDIDAS PARA ESTACIONAMENTO deputada Wong Kit Cheng considera que o Governo deve dar mais atenção à mobilidade nos parques de estacionamento e ao número de parquímetros colocados na rua. Numa interpelação entregue ao Executivo, a deputada considerou que os lugares existentes nas ruas não são suficientes, pedindo mais medidas, como o aumento das tarifas. “Será possível alterar as medidas existentes, aumentando as taxas para quem utiliza os parquímetros diariamente, por forma a aumentar a mobilidade dos lugares de estacionamento?”, questionou. Wong Kit Cheng pede ainda que o Executivo emita licenças às empresas de reparações e de limpeza que estacionam nas ruas, por forma a controlar o número de lugares disponíveis. “Para que não se

Tomás Chio

info@hojemacau.com.mo

Sociologia pela Universidade Católica Fu Jen, de Taiwan. Trabalha no instituto desde 1985, na área de Família e Comunidade. Antes da nomeação – ambas se estendem por dois anos – foi chefe do departamento acima referido. As nomeações surgem num despacho publicado ontem em Boletim Oficial.


5 POLÍTICA

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Consumidores LEONG VENG CHAI CRITICA CONSELHO

Uma existência inútil O deputado Leong Veng Chai quer que o Governo alargue as funcionalidades e poderes do Conselho de Consumidores. Só assim, defendeu, o órgão administrativo poderá fiscalizar e proteger os interesses dos consumidores - razão pelo qual foi criado HOJE MACAU

ARA Leong Veng Chai, deputado, o Conselho de Consumidores, criado para fiscalizar e proteger os interesses dos consumidores, não está a cumprir as suas funções. O deputado pede mais acção do Governo, que até já iniciou a criação de um Regime para alterar esta situação. “As funções do Conselho de Consumidores não passam, já desde há muitos anos, de coordenação de conflitos e da comparação de preços”, apontou o deputado, numa interpelação escrita. Mesmo tendo como principais funções este dois pontos, Leong Veng Chai considera que os mesmos não estão a ser devidamente cumpridos. “Quando há conflitos, o Conselho [de Consumidores] solicita apenas à respectiva associação para proceder à conciliação ou para encaminhar o processo ao serviço competente para efeitos de acompanhamento, portanto, não há lugar a qualquer efeito dissuasor”, criticou, frisando que em caso de prolongamento do

“As funções do Conselho de Consumidores não passam, já desde há muitos anos, de coordenação de conflitos e da comparação de preços”

Chan Meng Kam quer telecomunicações transparentes

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deputado Chan Meng Kam alega que o mercado das telecomunicações local continua a caracterizar-se como monopólio, mesmo com a entrada de mais empresas no mesmo. Isto porque, explica, é a CTM que fornece todos os recursos materiais – como cabos de ligação – às outras redes. Assim, quando os materiais da CTM falham, todas as outras sofrem problemas devido à utilização conjunta. Posto isto, o deputado pede ao Governo - na forma de interpelação escrita - que o sector das telecomunicações seja mais transparente. Chan Meng Kam diz que, de acordo com a celebração de Revisão Intercalar do Contrato de Concessão do Serviço Público de Telecomunicações, entre o Governo e a CTM, em 2009, a empresa teve de devolver os materiais ao Governo intactos no fim do contrato. No entanto, a CTM ainda não deu quaisquer detalhes ao Executivo acerca do prolongamento da revisão, em 2011. O director dos Serviços de Regulação de

Telecomunicação (DSRT) já disse, em Dezembro passado, que a Direcção não pode lançar a lista de equipamentos exclusivos da CTM agora, mas sim apenas depois de findo o contrato de revisão.

EM PORMENOR

Chan Meng Kam considera que o Governo deve dar mais detalhes sobre os materiais necessários ao mercado para que o público e outras empresas de telecomunicações tenham mais informação e fiscalizem a utilização dos equipamentos com mais facilidade. “De acordo com as exigências da revisão, a CTM deveria entregar os detalhes em 2011. Queria então saber se o Governo já tem a lista dos equipamentos? E por que razão é que o Governo não publicou a lista?”, questionou Chan Meng Kam na interpelação. “Os equipamentos foram utilizados por uma outra empresa e isto é a maior causa da monopolização do mercado, pelo que quero saber se o Governo já reviu este problema para melhorar o desenvolvimento futuro do sector”, rematou. T.C.

POUCA DEFINIÇÃO

Relativamente ao equilíbrio do preço dos produtos, o deputado indica que o Conselho consegue apenas “equilibrar os preços através da sua comparação”, através de relatórios que indicam onde é que determinadas coisas são mais baratas. No entanto, os dados relativos aos preços dos produtos são “recolhidos nas acções desenvolvidas pelos próprio Conselho, ou seja, são os preços que os nossos cidadãos vêem todos os dias

Filipa Araújo

filipa.araujo@hojemacau.com.mo

TIAGO ALCÂNTARA

CTM e o monopólio

conflito o Conselho pode apenas propor a instauração de uma acção em tribunal. Algo que por si só “demora muito tempo” e “não consegue dar resposta atempada às necessidades dos envolvidos”. “Trata-se, então, de uma medida não exequível, nomeadamente para os turistas”, apontou.

marcados nos produtos, não são por conseguinte, os preços de venda por grosso”. Isto faz com que na realidade “não se conheçam os mecanismos para a definição dos preços”, aponta Leong Veng Chai. Depois de entregue o relatório final da consulta pública sobre a revisão da legislação relativa à protecção dos direitos e interesses dos consumidores, o deputado quer saber qual é a situação actual dos trabalhos dessa mesma revisão. Em forma de apelo, Leong Veng Chai defende que o Governo deve alargar as funções e os poderes do Conselho, pois só assim este conseguirá atingir os objectivos que justificam a sua criação. Analisando o ranking de queixas – liderado pela carne fresca, telecomunicações e equipamentos de comunicação - o deputado indagou ainda Governo sobre futuras resoluções. “Que medidas específicas dispõem os serviços competentes para resolver [este problema]?”, terminou Leong Veng Chai.

TAIWAN ATFPM EM TAIPEI PARA ASSISTIR ÀS ELEIÇÕES

Estará em Taipei uma delegação da RAEM composta por 40 pessoas dos sectores comerciais, sociais e da função pública locais. A visita será feita entre os dias 14 e 16 deste mês, tendo como objectivo o acompanhamentos da campanha eleitoral e das eleições em Taiwan. A delegação será chefiada pelo presidente da Associação de Trabalhadores da Função Pública de Macau (ATFPM), José Pereira Coutinho. De acordo com comunicado enviado pela ATFPM, a visita inclui várias actividades como uma ida à Fundação Nacional de Políticas, à sede de campanha da candidata Wu Siyao e do candidato Lai Shibao, à sede nacional de campanha da candidata do DPP, Cai Yingwen, e à própria cidade. As hostes têm início às 15h00 desta quinta-feira em Taipei e findam com um almoço no domingo seguinte.


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Governo da Região Administrativa Especial de Macau Fundo de Segurança Social Anúncio Nos termos dos artigos 36.º e 38.º da Lei n.º 4/2010, os beneficiários da pensão para idosos ou da pensão de invalidez do Fundo de Segurança Social (FSS), necessitam de efectuar, em Janeiro de cada ano, a prova de vida para fim de manutenção da sua atribuição. Pedimos a atenção dos respectivos benificiários. Este ano, o FSS continua a efectuar a notificação através de mensagens telefónicas. Os beneficiários, desde que concordem com o registo do número de telemóvel no FSS para a recepção de mensagens, vão recebê-las na forma de avisos sobre o tratamento da prova de vida. Assim, em Janeiro, os beneficiários, munidos do seu Bilhete de Identidade de Residente da RAEM, podem dirigir-se, pessoalmente, aos quiosques automáticos colocados em 33 locais espalhados por Macau para o efeito, ao posto de atendimento no Albergue da Santa Casa da Misericórdia, ao Centro de Serviços da RAEM na Areia Preta ou aos 5 Centros de Acção Social do Instituto de Acção Social, para tratar da prova de vida. Os que não podem comparecer por motivos de permanência no exterior, doenças ou dificuldade em movimentar-se, podem delegar outrem a deslocar-se, acompanhado dos respectivos documentos, aos diversos postos de atendimento para tratamento da prova de vida dentro de Janeiro. Devido a que o FSS e as diferentes hierarquias de instituições de seguro social da província de Guangdong chegaram a um acordo que ambos são, de forma recíproca, instituições exteriores de ajuda de verificação de prova de vida, os beneficiários de Macau que se encontram a viver na província de Guangdong podem deslocar-se pessoalmente a essas instituições de seguro social de diferentes hierarquias para a efectuação da prova de vida. Para mais informações acerca dos locais de tratamento da prova de vida ou dos documentos necessários a entregar por não poder comparecer pessoalmente, podem telefonar para o n.º 28532850 ou visitar a página electrónica do FSS exclusivamente sobre a prova de vida: http://www.fss.gov.mo/pt/sites/vida.

Aos 7 de Janeiro de 2016.

O Presidente do Conselho de Administração do FSS Iong Kong Io


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Jogo MAIS DE 30 JUNKETS SEM LICENÇA RENOVADA

Só cabe quem cumpre Já só cabem no mercado VIP dos casinos as promotoras que se souberem comportar à altura das exigências estabelecidas para o sector no passado mês de Outubro. O rigor na gestão das promotoras obrigou à não renovação da licença de dezenas de junkets

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ORAM 35 as empresas de junkets que viram a sua licença revogada depois de, em Outubro passado, não terem entregue todos os documentos necessários constantes de novas instruções em vigor. A confirmação foi feita pelo novo director da Inspecção e Coordenação de Jogos (DICJ), Paulo Chan, à Rádio Macau. “No ano passado, em Outubro, após o caso Dore, emitimos uma nova instrução no sentido de obrigar os promotores de jogo à entrega do seu modelo contabilístico, a identificação do responsável pela contabilidade, o local de depósitos, entre outros elementos”, explicou. “Até ao prazo definido alguns não chegaram a entregar os elementos e, como tal, não renovámos a sua licença de promotores de jogo. Houve 35 promotores em que não houve

renovação da licença”, acrescentou Paulo Chan. O director esteve ontem no programa Fórum Macau e sublinhou que a criação de uma nova legislação para os junkets vai ser prioridade na sua tutela. “Sim, maior exigência em relação à idoneidade das pessoas ou das companhias, à sua situação financeira, etc. É nessa orientação que nos vamos encaminhar”, acrescentou o responsável. No decorrer do programa, um ouvinte pediu que fosse criada uma base de dados de empréstimos feitos na área do Jogo e Paulo Chan afirmou que a ideia é “viável” se houver concordância do sector e da população. Também é importante que a implementação de uma norma desta natureza cumpra os requisitos estabelecidos pela Lei de Protecção de Dados Pessoais. Há já empresas que têm bases de dados não oficiais, segundo respondeu o director da DICJ.

Paulo Chan revelou que o relatório da revisão das licenças de Jogo inclui mais um item além dos originais oito orientações: vai agora ter-se em atenção do desenvolvimento das promotoras de Jogo e sua situação.

BOAS VONTADES

Quanto ao caso Dore, Paulo Chan revelou que já foi renovada a licença desta empresa por mais três meses. “Não quero que surjam mais problemas na sociedade. A Dore tem vontade de melhorar a sua forma de operar, incluindo os equipamentos e as suas contas”, indicou. O responsável afirmou que a DICJ tem negociado com os advogados da empresa e responsáveis da Wynn Macau. Além disso, espera que o assunto esteja resolvido muito em breve, reiterando que a natureza criminal da questão continua a ser alvo de investigação pela PJ.

“Maior exigência em relação à idoneidade das pessoas ou das companhias, à sua situação financeira, etc. É nessa orientação que nos vamos encaminhar” PAULO CHAN DIRECTOR DA INSPECÇÃO E COORDENAÇÃO DE JOGOS

“Espero que as empresas subam os salários” Associações defendem necessidade de aumentos salariais para funcionários

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HOI Kam Fu, director da Associação de Empregados de Jogo de Macau, pediu às seis empresas de Jogo que aumentassem os salários dos seus funcionários. Choi Kam Fu considera que apesar da economia de Macau estar numa profunda fase de ajustamento, há capacidade para aumentar os ordenados, já que o imposto sobre o Jogo ficou dentro das previsões do Governo. O responsável defende que é preciso engordar os salários se se quiser que as pessoas continuem a trabalhar no sector. Choi também está a favor do aumento dos salários para os trabalhadores das pequenas e médias empresas (PME) locais. O sector

que mais recursos humanos requer também precisa de boas novas, defendeu. Choi Kam Fu afirmou ao Jornal Ou Mun que “o lucro bruto do sector foi de 230 mil milhões em 2015”, acrescentando que “o aumento não vai causar muito impacto” nas empresas. “A nossa Associação já mandou uma carta a pedir o aumento de salários às seis concessionárias de Jogo em conjunto com a Associação dos Croupiers de Jogo de Macau e a Associação dos Chefes de Banca de Jogo de Macau”, explicou ao Ou Mun. O director acredita que estes aumentos são positivos, já que vêm em jeito de felicitação pelo trabalho até agora desenvolvido pelos

funcionários, de certa forma garantindo a continuidade do bom desempenho. Lao Ka Weng, um representante da Associação Power of the Macao Gaming disse concordar com Choi. “Um aumento de 5% em 2015 para os empregados do sector só providencia umas centenas de patacas e pode nem sequer vir compensar o aumento da inflação”, começou por afirmar. “Espero que as empresas de Jogo subam os salários à mão-de-obra, uma vez que cumprem um papel principal na sociedade”, acrescentou. A Wynn e a SJM já anunciaram bónus para os trabalhadores, mas não falaram sobre subida nos vencimentos. T.C.

SOCIEDADE

Um grito de alerta

Ano “difícil”, em que criatividade é necessária

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presidente do Instituto de Formação Turística (IFT), Fanny Vong, defendeu que, apesar de 2016 ser um ano de abertura de vários empreendimentos de Jogo, este será um ano complicado. “Vai ser um ano difícil para os hotéis, porque segundo o sector hoteleiro as taxas de ocupação vão baixar. Mas quando a economia abranda também podemos encontrar oportunidades”, defendeu Fanny Vong, que falou da necessidade de criar “novos produtos de turismo e de lazer”. “Os hotéis vão começar a pensar mais no lançamento de produtos que não estão relacionados com o jogo, produtos mais apelativos, o que pode mudar a imagem de Macau como um verdadeiro destino de turismo e não apenas de Jogo. É tempo para consolidar os objectivos do passado e ver o que pensámos há dez anos e não chegamos a concretizar. Há dez anos falava-se na diversificação, mas não chegou a ser o factor principal. Agora é altura de se tornar o factor principal e ver como Macau pode tornar-se um lugar atractivo para residentes e turistas”, acrescentou a presidente do IFT.

OLHAR PARA O LADO

John Ap, novo docente do IFT com 23 anos de experiência na área do Turismo, fala da crise nos casinos como uma “chamada de atenção”. “Nos últimos anos vimos uma queda significativa das receitas de Jogo nos último 18 meses. A indústria passa por vários ciclos e penso que isso é bom porque funciona como uma chamada de atenção. É importante para a indústria e também para o Governo de olhar para a necessidade de diversificação da economia. Quando existe uma fase difícil é uma boa altura para olhar para a diversificação”, apontou. “Os tempos vão ser difíceis, mas é algo cíclico, vai melhor, mas entretanto os gestores vão ter de pensar de forma criativa para gerar receitas por outras formas. Falo de eventos e de conferências. Grandes conferências têm ocorrido em Macau, mas segundo a minha observação não há muitas pessoas de fora de Macau a participar nestes eventos”, referiu. John Ap falou ainda da necessidade de criar mais serviços turísticos de qualidade para fomentar a diversificação. “Há sempre uma margem de melhoria na forma como se formam os profissionais e como se elevam os padrões. Se os visitantes se sentirem bem-vindos querem voltar, mas se os serviços não são muito bons, as pessoas vão reparar nisso. E é isso que precisa de acontecer na Ásia. Não podemos estar em restaurantes de luxo e em hotéis de cinco estrelas e depois sermos mal recebidos pelos taxistas ou pelos empregados das lojas”, rematou. Andreia Sofia Silva

andreia.silva@hojemacau.com.mo


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TIAGO ALCÂNTARA

SOCIEDADE

Somos os maiores

IFT CURSOS DE LICENCIATURA VÃO PARA A TAIPA

Casa arrumada

Turismo Macau distinguido com vários prémios

Fanny Vong, presidente do Instituto de Formação Turística, quer transferir todas as licenciaturas para o campus da Taipa e destinar o campus de Mong-Há para os cursos profissionais. Na calha estão mais duas licenciaturas

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qualificação melhor com padrões internacionais”, frisou ainda. Apesar disso, os alunos das licenciaturas vão continuar a poder ter aulas em Mong-Há. “Temos de realçar que investimos muito neste campus, em termos de materiais de cozinha, por exemplo, e vamos continuar a utilizar esses equipamentos. Sempre que seja necessário os estudantes vão continuar a utilizar este campus para fazer uso destes equipamentos”, disse Fanny Vong. O plano de transferência dos alunos perfaz duas fases, sendo que a primeira arranca em Agosto, altura em que termina o contrato de arren-

“Vamos mudar os estudantes deste campo de Mong-Há para a Taipa, porque o campus da Taipa tem capacidade para acolher todos os estudantes” FANNY VONG PRESIDENTE DO IFT

damento de um edifício antigo que o IFT ocupa na Taipa, destinado apenas à residência de estudantes. Os alunos que actualmente estão nesse espaço poderão depois mudar para a UM.

MAIS DOIS CURSOS

Em anteriores declarações, a presidente do IFT já tinha mostrado vontade de alargar a oferta formativa no âmbito da mudança para a Taipa, algo que irá concretizar em breve. “No próximo ano lectivo, que começa em Agosto, vamos lançar duas licenciaturas para o período nocturno. Vamos abrir uma turma na área de Gestão Hoteleira e outra em Retalho. A área do Retalho não é nova para nós, já temos um programa no horário diurno, mas pensamos que há uma necessidade de oferecer este programa a profissionais”, explicou Fanny Vong. O plano de aproveitamento do antigo campus da UM foi conhecido em Novembro de 2014, tendo sido cedido a quatro instituições do ensino superior locais. A Universidade Cidade de Macau (UCM), do deputado Chan Meng Kam, foi a única entidade privada a receber um espaço do Governo. Andreia Sofia Silva

andreia.silva@hojemacau.com.mo

TIAGO ALCÂNTARA

ARECE estar desbloqueado o processo de transferência de alunos e cursos para o espaço do antigo campus da Universidade de Macau (UM) que foi destinado ao Instituto de Formação Turística (IFT). Fanny Vong, presidente do IFT, confirmou ontem que a partir de Agosto todos os alunos dos cursos de licenciatura vão passar a ter aulas na Taipa. “Vamos mudar os estudantes deste campo de Mong-Há para a Taipa, porque o campus da Taipa tem capacidade para acolher todos os estudantes”, disse a presidente à margem do Tourism Education Student Sumitt. Quanto ao campus de Mong-Há, na península, vai destinar-se apenas aos cursos profissionais, com vista a uma expansão dos mesmos. “Este campus vai tornar-se na base para os cursos profissionais e vocacionais, porque todos os anos temos uma média de dois mil alunos no ensino profissional e queremos proporcionar um melhor ambiente, porque actualmente o espaço é partilhado entre os alunos de licenciatura e dos cursos profissionais”, disse Fanny Vong. “No futuro vamos ter a oportunidade de proporcionar uma melhor

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E acordo com o Ranking das Cidades mais Competitivas da China, correspondente ao ano de 2015, Macau conquistou dois lugares entre as “Cidades Turísticas Mais Características da China 2015” e da lista das “Dez Melhores Cidades na Preservação do Património Cultural 2015”, ocupando o segundo e terceiro lugares, respectivamente. A DST explica que a lista das “Cidades Turísticas Mais Características da China” avalia as características dos recursos naturais urbanos e ecológicos, as características dos produtos turísticos, a história e cultura turística, a experiência dos visitantes,

entre outros aspectos, sendo que na lista “Dez Melhores Cidades na Preservação do Património Cultural 2015” são avaliadas, em termos da classificação do património cultural, gestão e protecção, monitorização, uso e herança, entre outros.

E AINDA...

Macau ganhou ainda o prémio de “Melhor Promoção de Turismo” na 18.ª Feira Internacional de Turismo de Busan na Coreia, bem como o prémio do “Novo Destino de Turismo Mais Popular” na Feira de Viagens ao Exterior da Índia 2015. Por outro lado, a DST foi ainda considerada a “Melhor Entidade Oficial de Turismo” na 26.ª Edição da Cerimónia de Entrega de Prémios da Publicação de Turismo TTG 2015 (TTG Travel Awards 2015), conforme indicou a própria através de um comunicado. De acordo com uma pesquisa sobre tendências nas redes sociais, conduzida pela agência de viagens H.I.S., Macau é o primeiro local turístico na Ásia que os japoneses mais desejam visitar em 2016. Macau foi também premiada como o “Melhor Destino de Lazer e Turismo” na Cerimónia da Top Travel 2015, organizada pela revista Top Travel da China. F.A.


9 hoje macau quinta-feira 14.1.2016

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Á está em funcionamento uma aplicação de telemóvel que mostra aos passageiros os horários de chegada dos autocarros às paragens. O projecto, criado pelas concessionárias Nova Era e Sociedade de Transportes Colectivos de Macau (TCM), foi testado durante dois meses e promete uma taxa de precisão de 96%. Segundo o jornal Ou Mun, o subdirector geral da Nova Era, Kuok Tong Cheong, e a subdirectora da TCM, Leong Mei Leng, anunciaram a nova aplicação no site “Macau Public Bus” na passada terça-feira, estando disponível em Inglês e Chinês. A aplicação permite aos passageiros consultar as carreiras dos autocarros e várias in-

formações sobre a sua circulação. “Através do GPS pode saber-se a localização em tempo real dos autocarros, ver a que distância estão os autocarros prestes a chegar bem como o número de autocarros disponível”, apontaram os responsáveis. Espera-se que quase um milhão de utilizadores possa utilizar a aplicação, sendo que 300 mil poderão aceder à nova app ao mesmo tempo. Os responsáveis das duas operadoras de autocarros garantiram que fizeram vários ajustamentos durante o período de teste, frisando que o actual sistema é “estável”, apesar dos sinais poderem vir a ser mais fracos em zonas com maior densidade, como o bairro do Iao Hon. F.F.

JÁ HÁ 700 ASSINATURAS CONTRA O EDIFÍCIO DE DOENÇAS INFECCIOSAS

O Governo está a planear a criação do Edifício de Doenças Infecciosas ao lado do Hospital Conde São Januário, mas vários moradores do edifício Ka On Court estão contra a sua construção. A principal razão é, alegaram, receios de contaminação. Ao canal chinês da Rádio Macau, o morador de apelido Wong explicou que ali perto moram várias famílias e existe mesmo um jardim de infância, razão pela qual está preocupado com a segurança da comunidade. Neste momento está a decorrer uma campanha de recolha de assinaturas de moradores e pais de alunos do jardim de infância contra a criação. O documento conta já com 700 assinaturas. Cheong criticou o facto do Governo não ter sequer consultado os moradores sobre a construção do edifício naquela zona. Assim, espera que o Edifício de Doenças Infecciosas seja construído num sítio distante de habitações.

Hotel Estoril NG KUOK CHEONG QUER AVALIAÇÃO DE VALOR PATRIMONIAL

Que é feito da petição? Ng Kuok Cheong critica o Governo por não ter avaliado patrimonialmente o hotel Estoril e diz mesmo que o recente inquérito, que vai de encontro às ideias do Governo para o edifício, é tendencioso

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resultado do inquérito sobre a reconstrução do antigo Hotel Estoril e da piscina, publicado pelo Gabinete do Secretário para os Assuntos Sociais e Cultura, Alexis Tam, indica que a maioria dos residentes concordam com a transformação do edifício. No entanto, o deputado Ng Kuok Cheong espera que o Governo não adie mais o início do processo de avaliação ao valor patrimonial do espaço, sendo que a petição para tal já foi entregue – por uma associação - há vários meses. Os dados recolhidos mostram que 72,8% dos membros de associações e organizações locais respondeu que “não há necessidade” de preservar o espaço, sem opinar quanto ao destino exacto. Para Ng Kuok Cheong, o Governo tem uma “intenção clara” de reconstruir o Hotel Estoril e a piscina para mostrar um “bom desempenho” do próprio Governo. No entanto, o deputado defende que fazer um inquérito e começar uma avaliação ao eventual valor

gastou 600 mil patacas para pedir o mesmo a uma empresa. É importante referir que a empresa em causa já esteve envolvida num escândalo relativamente a um inquérito feito para a Lei da Imprensa. A empresa chegou a ser acusada de tendenciosa”, pode ler-se num comunicado enviado à imprensa, pela ANM.

GONÇALO LOBO PINHEIRO

AUTOCARROS NOVA APP PROMETE TAXA DE PRECISÃO DE 96%

SOCIEDADE

NÚMEROS CLAROS

patrimonial do edifício “são duas coisas diferentes”.

DEPOIS DE CLASSIFICAR

“O inquérito não foi feito em relação ao valor artístico do edifício, mostra apenas que as opiniões para manter o espaço são poucas. Isto é a verdade que o Governo quer mostrar ao público. Não me parece justo, pois parece que o Governo tem uma grande vontade de demolir o antigo hotel e a piscina”, indicou. Ng Kuok Cheong indicou ainda que apesar das opiniões

72,8% dos membros de associações e organizações locais respondeu que “não há necessidade” de preservar o espaço

mostrarem que a população não quer manter o espaço, não é o mesmo que dizer que o espaço não deva ser classificado como património. “O inquérito não inclui o significado histórico, ambiental e o design do edifício. Alguns residentes já entregaram uma petição para se iniciar uma avaliação ao valor do património. Acho que o Governo deve acelerar o processo. Caso seja para demolir o edifício, deve ser feito depois do mesmo ser avaliado”, reforçou. A Associação de urbanistas Macau Root Planning lançou a petição em causa em Setembro do ano passado. Também a Associação Novo Macau (ANM) duvida dos critérios usados no inquérito que o Governo pediu à empresa e-research & solutions para fazer. “O Governo realizou a consulta pública e a recolha de opiniões de forma independente, mas desta vez

Em esclarecimento aos dados fornecidos no inquérito, a empresa responsável, feito via telefónica, clarificou que a expressão “não tem opinião”, que levou os meios de comunicação a indicar que 80% dos inquiridos não tinha de facto opinião relativamente ao futuro do Hotel, queria apenas dizer que os inquiridos já não tinham mais opiniões a acrescentar. “A pergunta em causa é colocada apenas depois de 14 perguntas, o que quer dizer que 81,5% da população disse que já não tem mais opinião ou algo especial a acrescentar sobre a demolição e reconstrução do antigo Hotel Estoril e da Piscina Municipal Estoril. Se os residentes tiverem opinião, no questionário havia um outro conjunto de questões para saber as suas opiniões sobre as formas de disposição do edifício”, apontou a empresa, num comunicado enviado pelo Gabinete de Alexis Tam. O mesmo comunicado indica ainda que a maioria dos residentes que escolheu a opção “não tem opinião” manifestou o seu apoio à reconstrução. “A fim de evitar que a sociedade entenda que 80% da população assumiu uma posição neutra ou contra a reconstrução, a equipa de investigação reitera que, segundo os resultados das análises cruzadas, divulgados na conferência de imprensa, de entre a população que manifestou “não ter opinião”, 70,4% expressou o seu apoio à reconstrução”, rematou. Flora Fong (com Filipa Araújo) flora.fong@hojemacau.com.mo


10 EVENTOS

Música BRANDON LAMN LANÇA NOVO DISCO COMO BURNIE

BATIDAS ´ DE CA Brandon Lamn actua sob vários nomes, mas é Burnie quem acaba de lançar o disco “Lotus City”. Com Macau como pano de fundo, trilha um novo caminho para a música electrónica, dando-lhe novas roupas e até um corte e maquilhagem radicais

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11 hoje macau quinta-feira 14.1.2016

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artista de Macau Brandon Lamn voltou a assumir a forma de Burnie, nome artístico com o qual funciona a solo, para lançar um novo disco. Intitulado “Lotus City”, alude naturalmente à sua terra-natal, Macau, que tem a planta de lótus como figura representativa na bandeira. Em entrevista ao HM, Lamn confirma que grande parte do novo álbum vem beber à vivência da própria cidade, havendo mesmo faixas que assim o explicam. “A cidade dá-me material de inspiração e exemplo disso são as faixas ‘Fireworks’, ‘Cyclone’ e ‘Panda’ que, de certa forma, se relacionam facilmente com a cidade. Vivo aqui há 30 anos e produzi o disco em Macau, pelo que naturalmente o meu trabalho musical será afectado por isso mesmo”, explicou. Já disponíveis para ouvir gratuitamente na plataforma Soundcloud, estão ‘Square’ e ‘Soul Alliance’. É através de uma batida electrónica que o artista tenta passar para o ouvinte a sonoridade de uma cidade em constante movimento. As deslocações diárias, o trânsito nas estradas, a altura dos prédios e as vistas desarmadas do horizonte urbano são alguns dos elementos que fazem a qualidade deste disco.

MUDANÇA DE ESPÍRITO

Lançado este mês, o álbum pretende ser, segundo Burnie, uma compilação de sonoridades diferentes das anteriores lançadas. “Quando comparado com os álbuns dos EVADE [banda de Lamn], penso que todos conseguem identificar estilos musicais muito diferentes. EVADE é uma banda e por isso as músicas são o resultado daquilo que eu, a Sonia

“A cidade dá-me material de inspiração. (...) Vivo aqui há 30 anos e produzi o disco em Macau, pelo que naturalmente o meu trabalho musical será afectado por isso mesmo” PRESIDENCIAIS ORGANIZADO JANTAR DE APOIO A MARCELO REBELO DE SOUSA É já no próximo dia 21 pelas 18h00 que o Clube Militar acolhe um jantar de apoio à candidatura de Marcelo Rebelo de Sousa à Presidência da República Portuguesa. A iniciativa decorre de um grupo de alunos e amigos do “Professor Marcelo” em Macau, sendo que as inscrições fecham no dia 19.

EVENTOS

PINTURA EX-ALUNOS DE UNIVERSIDADE DE HONG KONG EXPÕEM OBRAS NO ALBERGUE

M e Faye temos feito durante estes anos”, diz. No entanto, acrescenta, ‘Lotus City’ é um trabalho “só” de Brandon. “É a forma como eu vejo a música electrónica”, define. Esta nova peça é resultado de uma série de experiências com base na cidade, mas que não só se inspiram na sua vivência, como em sons e batidas verdadeiras. Burnie faz uso da técnica de sample, onde se captam sons dos ambientes em redor para incorporar em músicas, geralmente funcionando como música de fundo. Neste caso, foram usados sons que remetem para “estilos de música oriental” e outros de downtempo.

PATROCÍNIOS CULTURAIS

O lançamento do álbum contou com o patrocínio do Instituto Cultural que, esclarece Lamn, financiou “a produção, masterização e impressão” da peça. “Sinto-me feliz por ver que o Governo está a investir recursos nas indústrias culturais e criativas, até porque qualquer artista precisa de um determinado tempo para crescer”, diz. Burnie aponta para uma média de dez anos até que a internacionalização seja possível. “É preciso ser paciente”, defendeu. Questionado sobre a qualidade, no geral, dos artistas locais, Brandon Lamn fala da existência de vários bons autores e compositores musicais, numa indústria “que se está a desenvolver” à imagem das de Taiwan e da Coreia do Sul no seu tempo. O próximo passo é publicitar o novo disco em Guangzhou já este sábado e mais tarde realizar o lançamento oficial em Macau e em Hong Kong. Além disso, o artista está em debate com lojas no Japão, Malásia e Singapura para a eventual venda do álbum a nível regional. “Estou também em negociações com uma empresa para a colocação do álbum online, em websites como o iTunes, Beatport e Amazon”, finalizou. Há ainda uma digressão asiática pensada e Lamn promete divulgar mais pormenores mal tenha as confirmações. Leonor Sá Machado

leonor.machado@hojemacau.com.mo

AIS de 30 ex-alunos da Universidade Chinesa de Hong Kong apresentam, a partir das 18h30 do próximo dia 20, peças de arte por si criadas no Pátio do Albergue SCM. A mostra está patente até 22 de Fevereiro e o espaço encontra-se aberto das 12h00 às 20h00. Intitulada Exposição dos Ex-Alunos do departamento de Belas Artes da Universidade Chinesa de Hong Kong 2016 conta com 44 trabalhos de 33 pessoas, incluindo diferentes formatos artísticos como escultura, colagens e pintura em aguarela. É com o objectivo de “promover a pintura tradicional chinesa” que Jor Yin Fun vai marcar presença como formador num workshop em Chinês. Este acontece no sábado seguinte, das 15h00 às 17h00 e tem entrada gratuita, com lugares limitados por ordem de chegada. A associação de ex-alunos foi fundada em 1982 por algumas pessoas que frequentaram cursos naquele departamento. A mostra terá lugar na galeria A2 e conta com o patrocínio da Fundação Macau e apoio institucional da Universidade de Hong Kong. É a Sociedade de Artes de Macau Bambu que estará responsável pela gestão da exposição.

FRC PROFESSOR DA USJ APRESENTA OBRA SOBRE DIREITO INTERNACIONAL

O

professor da Universidade de São José (USJ) Francisco José Leandro prepara-se para apresentar o seu novo livro - “A RAE de Macau e a União Europeia: Dois Sujeitos de Direito Internacional?” - na Fundação Rui Cunha (FRC). O lançamento vai acontecer às 18h30 do próximo dia 21. A cargo de José Luís Sales Marques, a apresentação conta ainda com Paulo Cardinal, actual assessor da Assembleia Legislativa. A publicação da obra conta ainda com a colaboração da Fundação Macau e do Instituto de Estudos Europeus. “Esta obra visa lançar alguma luz sobre a actual Personalidade Jurídica Internacional de Macau

sob a marca política da República Popular da China afirmada pelo Presidente Deng Xiaoping, Um País Dois Sistemas”, refere a FRC em comunicado.

De acordo com a organização da iniciativa, é ainda preciso aprofundar o estudo sobre o “estatuto jurídico internacional” na RAEM, com o objectivo de “identificar que tipo de capacidades jurídicas estão atribuídas à existência da RAEM, enquanto sujeito da comunidade jurídica internacional”. Francisco Leandro é doutorado em Ciência Política e Relações Internacionais pela Universidade Católica Portuguesa e actualmente leccionada na USJ. A obra será lançada em três línguas – Português, Chinês e Inglês – será editada com a FRC, e as outras duas entidades organizadoras. O lançamento será feito em Português, com tradução simultânea para Cantonês.

PACHA ABRE OFICIALMENTE COM DJS CONVIDADOS

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discoteca Pacha, no Studio City, abre as portas oficialmente no próximo dia 15. Durante dois dias, Djs convidados vão dar música aos presentes, com Sebastian Gamboa, DJ residente do Pacha Ibiza, a estrear-se em Macau na noite de sexta-feira. “Alicerçado no nome do melhor clube nocturno do mundo com as melhores performances internacio-

nais, planeámos o Pacha Macau no Studio City para ser uma das experiências mais incríveis de entretenimento que a cidade tem para oferecer”, explicou o presidente e CEO do Pacha nova-iorquino, Eddie Dean. No sábado, está prometida a presença de Erick Morillo. O DJ espano-americano de reconhecimento mundial apresenta-se com

os seus hits mais conhecidos frente à plateia do Pacha. Erick Morillo é conhecido pelo hit internacional “I Like to Move It”, de 1993, e pela discográfica Strictly Rythm. O DJ já foi premiado com uma série de galardões, incluindo de Melhor DJ da Casa três vezes em 1998, em 2001 e 2003. O de Melhor DJ Internacional foi em 2002, 2006 e 2009.


12 CHINA

hoje macau quinta-feira 14.1.2016

DETIDO CIDADÃO SUECO CO-FUNDADOR DE ONG

As teias da lei

Peter Dahlin foi detido no aeroporto de Pequim quando se preparava para apanhar um voo para a Tailândia. Encontrava-se desaparecido há vários dias e é acusado de pôr em perigo a segurança do Estado

da lei chinesa e das convenções internacionais. A Chinese Urgent Action Working Group apresentou recentemente à ONU um documento detalhado sobre as “manobras de intimidação, a vigilância, as agressões físicas, os desaparecimentos e as detenções arbitrárias” que afectam os activistas e os dissidentes chineses. O texto incluía um contacto do homem agora detido, mas ninguém atende nesse número desde terça-feira.

CERCO APERTADO

Na presidência de Xi Jinping, a China tem endurecido a repressão contra as vozes críticas ao regime comunista, mandando prender tanto activistas como autores de blogues, advogados e intelectuais.

Desde Julho passado, cerca de 300 advogados foram interrogados, detidos ou colocados sob vigilância residencial, entre os quais 38 continuam detidos pela polícia

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Governo chinês confirmou ontem a detenção do sueco Peter Dahlin, o co-fundador da organização não-governamental (ONG) China Action dado como incontactável há dias, e assegurou que permitirá que este contacte com diplomatas do seu país. “Peter foi detido pelas autoridades de Pequim por suspeita de pôr em perigo a segurança do Estado. Está a ser investigado”, disse ontem em conferência de imprensa o porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros chinês Hong Lei.

Hong assegurou que a China protegerá os direitos e interesses de Dahlin “de acordo com a lei” e “facilitará aos funcionários do consulado (sueco) o cumprimento do seu dever”. Dahlin, de 35 anos, que apoia os defensores dos direitos humanos, nomeadamente nos seus problemas com a justiça - foi abordado no início do mês, quando se preparava para embarcar num voo no aeroporto de Pequim, quando viajava para a Tailândia, via Hong Kong, disse o seu colega Michael Caster à Agência France-Presse, identificando-o como Peter Dahlin.

Anteriormente, um porta-voz da associação norte-americana Chinese Human Rights Defenders havia-o identificado como Peter Beckenridge. As autoridades confirmaram posteriormente a diplomatas suecos a detenção de Dehlin, acusado de pôr em perigo a segurança do Estado, uma acusação muito grave na China e que a ONG considera “infundada”. Aquela organização denunciou, em comunicado, que nos últimos dez dias ninguém conseguiu contactar com o sueco, nem sequer diplomatas do seu país, o que supõe uma violação

Foi também tornado público um projecto de lei que, entre outras medidas, estipula que as ONG estrangeiras devem estabelecer uma parceria com pelo menos um órgão governamental e submeter os seus planos de acção à polícia, para aprovação. Segundo meios de comunicação estatais, os voluntários das organizações não-governamentais estrangeiras a operar na China pretendem sabotar a segurança nacional ou tentam “criar problemas” para desencadearem uma “revolução colorida” contra o Partido Comunista. Muitas organizações e governos ocidentais estão preocupados com a possibilidade de esta legislação restringir significativamente as suas actividades, pois as referências vagas à “segurança do país” podem abrir caminho a uma repressão deixada ao critério da polícia. Desde Julho passado, cerca de 300 advogados foram interrogados, detidos ou colocados sob vigilância residencial, entre os quais 38 continuam detidos pela polícia.

DESLIZAMENTO DE TERRAS FAZ 69 MORTOS

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número de mortos num deslizamento de terras no sul da China, no mês passado, aumentou para 69, enquanto oito pessoas continuam desaparecidas, informou ontem a agência noticiosa oficial chinesa Xinhua. Seis dos 17 feridos que foram hospitalizados continuam internados, enquanto o número de suspeitos de negligência aumentou para 31, dos quais 25 foram detidos e seis continuam em fuga. Na origem do acidente esteve a excessiva acumulação ilegal de resíduos de construção e terra em montes com 100 metros de altura. Entre os detidos encontram-se o representante legal e o sub-director da empresa encarregue do depósito. O deslizamento ocorreu num parque industrial em Shenzhen, cidade vizinha de Hong Kong, e que experimentou trepidantes taxas de crescimento económico desde o início da política de reforma e abertura, adoptada pela China em 1978. A Organização Internacional do Trabalho estima que 20% das mortes no mundo, devido a acidentes laborais, ocorrem na China. Pelas contas do Governo chinês, só em 2014, 68.061 pessoas morreram em incidentes do género no país - uma média de 186 óbitos por dia.

MELHORA QUALIDADE DO AR EM 2015

A China alcançará a meta de crescimento de cerca de 7% em 2015 e manterá as bases econômicas saudáveis em 2016, disse nesta terça-feira um funcionário. O país cresceu 7% no primeiro e segundo trimestre e 6,9% no terceiro, disse Li Pumin, secretário-geral da Comissão Nacional de Desenvolvimento e Reforma (CNDR), o mais alto órgão nacional de planejamento econômico. A taxa de emprego ficou estável com 12,51 milhões de postos criados para os residentes urbanos nos primeiros sete meses, e o ano fechará com cerca de 13 milhões de novos trabalhos para esses moradores, acrescentou. Ele também destacou os esforços para diminuir a capacidade excessiva, incluindo mais macrocontrole, supervisão do mercado e políticas preferênciais. Na semana passada, a China confirmou em 7,3% o crescimento de 2014, igual à cifra preliminar


13 hoje macau quinta-feira 14.1.2016

POUPANÇA DE 147 MIL MILHÕES DE EUROS EM MATÉRIAS-PRIMAS

No total, aquela quantidade recorde de petróleo custou a Pequim 134,5 mil milhões de dólares, segundo a agência Bloomberg, que refere que as autoridades diminuíram as restrições à importação, visando aumentar as reservas nacionais. A China é o principal cliente do petróleo de Angola, país que atravessa assumidas dificuldades devido à queda do preço do crude nos mercados internacionais. As importações chinesas de minério de ferro, de que o Brasil é um dos principais fornecedores, subiram entretanto 2,2% em volume e totalizaram 57,6 mil milhões de dólares um valor médio 39% inferior, face a 2014. O preço do carvão, fonte de cerca de dois terços da energia consumida na China, caiu também 21,8%, mas Pequim comprou mais 29,9% em volume. A quantidade de cobre desembarcada nos portos chineses manteve-se inalterada, em termos homólogos, mas o preço médio diminuiu 17,1%.

Bendito abrandamento

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China gastou no ano passado menos 160.000 milhões de dólares na compra de matérias-primas como petróleo, minério de ferro, carvão e cobre, segundo dados da Administração das Alfândegas chinesas. O abrandamento da economia chinesa levou à redução do preço das “commodities”, afectando países como Angola (ver caixa) e o Brasil, mas beneficiou a China, que terá aproveitado para aumentar as suas reservas de petróleo.

O abrandamento da economia chinesa levou à redução do preço das “commodities”, afectando países como Angola e o Brasil, mas beneficiou a China Em 2015, o “gigante” asiático comprou 335,5 milhões de toneladas de crude, um volume 8,8% superior ao ano anterior, mas a um preço médio 45,3% inferior, de acordo com o sítio oficial das Alfândegas chinesas.

CHINA

CONTRA A MARÉ

IMPORTAÇÕES DE ÁFRICA RECUARAM QUASE 40% A

China importou menos 38% de África em 2015, face ao ano anterior, anunciaram as autoridades chinesas, numa altura em que a queda do preço das matérias-primas e o abrandamento económico afectam as trocas comercias do país asiático. Segundo a Administração das Alfândegas chinesas, a China comprou no

ano passado 440 mil milhões de yuan aos países africanos. Já as exportações da China para África subiram cerca de quatro por cento, para 670 mil milhões de yuan. A China tornou-se em 2009 o principal parceiro comercial do continente africano, evidenciando o enorme “apetite” chinês por matérias-primas e permitindo um aumento da influência diplomática de

Pequim na região. O “gigante” asiático é, por exemplo, o maior cliente do petróleo angolano e as visitas de altos responsáveis de Angola a Pequim são frequentes. Em Novembro passado, o Ministério do Comércio da China anunciou que o investimento chinês em África caiu mais de 40% no primeiro semestre de 2015, para 1,2 mil milhões de dólares.

O aumento da procura chinesa por matérias-primas contraria a contracção do índice de produção industrial e o abrandamento económico do país. As exportações da China em 2015 diminuíram 1,8%, para 2,14 biliões de dólares, face ao ano anterior, enquanto as importações recuaram 13,2%, para 1,58 biliões de dólares. No conjunto, o comércio externo da China caiu 7% face a 2014, enquanto o superavit comercial se expandiu 56,7%, em termos homólogos, para 562 mil milhões de dólares.

GOOGLE PLAY DEVE CHEGAR EM 2016

CAMPANHA ANTI-CORRUPÇÃO JÁ “ABATEU” MAIS DE 130 DIRIGENTES

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vice-presidente da Lenovo, Chen Xudong, disse ontem ao site chinês Tech. Sina que a Google pretende levar a sua loja de aplicativos, livros, filmes e música ao mercado chinês ainda em 2016. Embora o Android seja o principal sistema operacional utilizado pelos chineses, a presença da Google na região é bastante limitada. Ao contrário do que acontece no ocidente - onde todos os aplicativos para Android são distribuídos pela Google Play - a China possui diversas lojas de aplicativos diferentes. Uma das principais vantagens que a Google Play poderia trazer para o mercado chinês é a centralização. No entanto, segundo o Ubergizmo, a versão da loja que funcionará na China deve ser censurada, e provavelmente não trará todos os aplica-

tivos que são vendidos na loja ocidental. Rumores sobre o regresso da Google Play à China já existem desde o ano passado. A empresa já chegou a operar no país, mas teve problemas com o governo local, após o que optou por encerrar as suas actividades. Ao que parece, porém, desta vez a Google deverá adaptar-se às solicitações do estado chinês. Ainda assim, o regresso da Google ao território após mais de cinco anos sem operar não deverá ser fácil. O mercado chinês de aplicativos mudou bastante desde a saída da empresa, e caso a empresa resolva voltar, terá que encarar concorrentes de peso, como Alibaba, Tencent e Baidu.

ERCA de 130 responsáveis com o estatuto de vice-ministro ou superior foram “abatidos” no âmbito da campanha anti-corrupção lançada em 2012 pelo Presidente da China, Xi Jinping, anunciou o órgão máximo anti-corrupção do Partido Comunista Chinês (PCC). Os dois casos mais mediáticos envolveram a prisão do antigo chefe da Segurança Zhou Yongkang e do ex-director do Comité Central do PCC e adjunto do antigo presidente Hu Jintao, Ling Jihua. O número foi divulgado durante um plenário da Comissão Central de Controlo e Disciplina do PCC, que se realiza até quinta-feira em Pequim, e onde Xi advertiu que a campanha passará a focar as bases do Governo. “As infracções cometidas por pequenos funcionários deverão ser também punidas

com rigor”, disse Xi, citado pelo jornal oficial China Daily, que classifica o discurso do líder chinês como um ponto de viragem. A campanha anti-corrupção, a mais persistente do género realizada nas últimas décadas, deverá ainda intensificar esforços para deter e extraditar altos cargos chineses que fugiram do país, referiu Xi. Desde que há oito meses a China lançou a operação “Skynet”, visando suspeitos de corrupção evadidos além-fronteiras, 1000 suspeitos de crimes económicos foram já repatriados a partir de 68 países e regiões. Em alguns casos, os suspeitos foram detidos apesar da ausência de acordo de extradição, como é exemplo Yang Yinjun, reclamado por Pequim há 14 anos e repatriado desde os EUA em Setembro passado.


h ARTES, LETRAS E IDEIAS

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Mestria e vitalismo

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OMECEI cedo a ouvir falar de Aquilino do qual se dizia que era o grande mestre da língua portuguesa sendo assim considerado um escritor incontornável no panorama da História da Literatura Portuguesa da primeira metade do século XX. O primeiro texto que li de Aquilino foi nas edições Sá da Costa, uma introdução-prefácio ao Francisco Xavier de Oliveira, o Cavaleiro de Oliveira, e desde aí decidi que o leria, senão por inteiro, pelo menos o essencial da sua obra. O texto sobre o exilado Cavaleiro de Oliveira é caudaloso, tão expressivo e bem escrito que estimulou imenso a minha curiosidade pela restante obra. Trata-se de facto de um texto notável que vivamente recomendo como forma de entrar na escrita intensa e vital de Aquilino, como lhe chama José Carlos Seabra Pereira. Falando da obra de Aquilino, a verdade é que, apenas o essencial é extenso, pois em tudo o que escreveu o autor se situou num plano de grande mestria e qualidade. Ainda assim destaco o romance de estreia, A Via Sinuosa desde logo por isso, porque é bom caçar um escritor quando ele está mesmo a sair do ninho. Os romances de estreia são imperdíveis para mim, mas nesse plano Aquilino é um autor esquivo, pois a sua estreia é uma obra atípica; estou a referir-me ao folhetim A Filha do Jardineiro escrito em parceria com José Ferreira da Silva, obra de propaganda republicana. O Jardim das Tormentas, publicado alguns anos mais tarde, já pode ser considerado de estreia, mas é uma colectânea de contos. A verdade é que temos que ter em conta esses textos, pois esses é que são de juventude, escritos e publicados com a idade de 22 e 28 anos respectivamente e afinal o escritor tem já 33 anos quando publica o primeiro romance. De facto, quando se fala da obra de Aquilino Ribeiro há cinco títulos que ocorrem imediatamente e em catadupa como se constituíssem uma Pentalogia e são eles os romances, Terras do Demo (1919), O Malhadinhas (1922), incluído na colecção de contos A Estrada de Santiago, Andam Faunos Pelos Bosques (1926),

A Casa Grande de Romarigães (1957) e Quando os Lobos Uivam (1958). Mas como se pode constatar, nem sequer são textos próximos no tempo. As Terras do Demo é uma obra de juventude, o autor tem 34 anos, enquanto A Casa Grande de Romarigães e Quando os Lobos Uivam são obras de maturidade tardia, escritas quando o autor já passou dos 70 anos.

AQUILINO RIBEIRO nasceu na freguesia do Carregal no Concelho de Sernancelhe a 13 de Setembro de 1885 e faleceu em Lisboa a 27 de Maio de 1963. Da sua biografia consta como nota de destaque o facto de ter sido implicado no Regicídio de 1908. Consta também que frequentou o Seminário de Beja, o qual abandonou por falta de vocação e que entrou em 1907 para a Loja maçónica da Montanha do Grande Oriente Lusitano. Nesse mesmo ano foi preso por acusação de anarquismo, mas evadiu-se no ano seguinte, mantendo-se contudo na clandestinidade em Lisboa. Mais tarde, em 1910, foi para Paris e matriculou-se na Sorbonne, mas não viria a terminar o curso, regressando a Portugal em 1914 começando a leccionar no Liceu Camões. Entrou para a Biblioteca Nacional em 1917 e conviveu de perto com Jaime Cortesão e Raul Proença. Colaborou ainda com a Seara Nova, fazendo parte da direcção da Revista. Viria a ser julgado e condenado, mas à revelia, em Tribunal Militar em 1929, por práticas hostis ao regime, depois de ter sido preso e se ter evadido em 1927, por ter participado na revolta do 7 de Fevereiro e tendo reincidido na revolta de Pinhel em 1928.

Devo começar por confessar que apesar de ser já intenção minha ler e escrever sobre Aquilino Ribeiro, no âmbito modesto destas minhas Fichas de Leitura, a ideia se reforçou imenso depois de ler o notável estudo da obra do escritor, recentemente publicado na Verbo por José Carlos Seabra Pereira e designada, Aquilino – A escrita vital. Nessa obra Seabra Pereira na linha também de Urbano Tavares Rodrigues evidencia como linha isotópica transversal a toda a obra aquiliniana a questão da luta de eros contra cronos; mas o que alimenta esta tensão é em Aquilino da ordem de um imanentismo vitalista hostil às formas, secularizadas ou não, de uma qualquer forma de providencialismo, em particular o providencialismo de matriz historicista. A mundividência aquiliniana é sempre desenganada e realista ao mesmo tempo. Seabra Pereira fala de um sensualismo redentivo, mas sensualismo neste caso afasta-se da vulgata hedonista para se colar a um vitalismo global que sendo do corpo também

é do espírito. E é do corpo e do espírito simultaneamente porque em Aquilino a fórmula dicotómica tradicional nos aparece esvaziada. O homem aquiliano é uma totalidade orgânica determinada pela vontade sendo que esta vontade se insere num transe existencial dominado por um imperativo categórico que não sendo imoral é pelo menos não moral. E é justamente nesse plano que é absolutamente justo chamar-lhe vitalista. Ora o vitalismo é sempre muito mais individualista que gregário ou social e daí que as personagens de Aquilino pisem muitas vezes o risco mas curiosamente sem perderem quer o halo de autenticidade quer o halo de justiça admissível. Mesmo quando não são completamente justos os heróis de Aquilino impedem-nos de julgá-los por que eles se encontram em certa medida para além do bem e do mal. Mas só em parte. A maior parte das antropologias filosóficas centradas na dimensão ética e moral do homem, sobretudo, moral, aparecem estigmatizadas por um optimismo muitas vezes bondoso mas ingénuo. A dimensão da oikeiosis estóica, do conatus essendi espinosista ou da evangélica fórmula da perseveração do ser até ao fim, contudo tão naturais e espontâneas, é muitas vezes obliterada em ordem à prossecução de filosofias que sacrificam o indivíduo no altar social e comunitário. Seguramente que deve haver limites para a voracidade egoísta do amor de si, mas isso não obsta à autenticidade dinâmica daquilo que citando Ortega y Gasset, Seabra Pereira identifica como “desejo de ser” e aplicado a Aquilino aparece reforçado por uma instância libidinal activa. É aqui talvez que reside a propensão vitalista de Aquilino, ela é indissociável de eros e luta agónica contra a clausura do ser nas malhas de cronos. E talvez por isso a sua posição é ao mesmo tempo não escatológica mas também não historicista. Esta perspectiva é-me muito desafiante na medida em que eu sou mais sensível à tonalidade da bondade do ser e portanto ao argumento ontológico do ser para o bem, mesmo que isso possa sacrificar a pletora da expansão individual. É isso que encontro em Sócrates e é isso que encontro em Cristo. Esta assunção desenha em mim uma espontânea suspeita face às propostas que propõem formas expansivas do vitalismo do ser, como encontramos em Cálicles, no Górgias, em Trasímaco, na República, em Diderot no Supplément au Voyage de Bounganville e por maioria de razão em Sade e em Nietzsche, mas também, ainda que de modo mais timorato em “l’esprit parfaitement content et satisfait” de Descartes, na “Vera acquiescentia” de Espinosa ou até na Befriedigung hegeliana. Mas o curioso é que o vitalismo de Aquilino não chega nunca a possuir a marca ostensiva de uma expan-


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Fichas de leitura

são do poder ou para utilizar a expressão de Lévinas a promoção d’“Essa força que vai”. Contudo não podemos sonegar que o vitalismo mitigado, ou não, corresponde como nos diz Raymond Polin à procura de uma plenitude do ego e a um claro “accomplissement de tous les désirs”. Nesta perspectiva vamos no sentido do homem estético kierkgardiano e não da direcção de uma homanidade ética. A minha natural propensão vai para esta segunda perspectiva que é socrática e cristã. No âmbito da primeira estaremos sempre mais na linha de uma possibilidade de derrapagem dionisíaca em direcção ao universo irracional e herético da ubris e eu por mim prefiro adequar-me aos cânones do espírito apolíneo consagrados no célebre apotegma da deusa Nemesis: “Nada em excesso”, ou “Nada para além da medida” inscrito lapidarmente no Oráculo de Delfos. Se citei Hegel foi porém forçando uma dimensão que nele não é de modo nenhum dominante já que reconhecendo o carácter incontornável do querer ser ele não deixa de na filosofia da história salientar que todo o querer-ser é liminarmente ético (existentivo e ôntico) e metafísico (existencial e ontológico)1. Naquele tipo de posições é sempre a natureza que serve de modelo e que representa o valor por excelência e a referência obrigatória. No caso de Diderot é tão forte esta tendência que no Supplément, apesar de ele admitir a necessidade de uma moral de tipo universalista ao mesmo tempo pretende inferir o universalismo não na perspectiva de uma transcendência moral relativamente à natureza do homem mas justamente a partir da natureza do homem e, para cúmulo, fazendo da natureza do homem não a sua capacidade para ultrapassar as pulsões naturais primárias, porque só aí se pode encontrar a moral, mas antes justamente na natureza «tout court», fazendo jus a um naturalismo integral, já que só o artificialismo o poderia combater. Neste sentido o vitalismo de Diderot anuncia Nietzsche e pelo menos implicitamente Diderot é tão anti-Sócrates quanto anti-Cristo, tal como Nietzsche. E já que estou com a mão na massa, será talvez o momento asado para proceder a um esclarecimento estrutural sob a forma de uma quase declaração de princípios. É importante porque ela permite que se possam compreender melhor alguma das minhas opiniões aqui em sede de Fichas de Leitura, passadas e futuras. Ora a ideia esta: Independentemente de ser correcta ou não a ideia de que é com Sócrates que, através da sua radical reflexão ético-moral, o universo da norma se começa a sobrepor progressivamente ao universo da natureza, interessa ter em conta que este tipo de tensão dicotómica atravessa historicamente toda a história grega desde o princípio. Não vou (nem posso) alongar-me aqui sobre todos os momentos em que este conflito se manifestou de modo radical, mas não posso esquecer dois instrumentos culturais determinantes. O primeiro é a obra de Hesíodo, Os trabalhos e os dias, já que pela primeira vez se faz uma clara condenação da brutal desmesura e a

Ribeiro, Aquilino, Andam Faunos Pelos Bosques, Círculo de Leitores, Lisboa, 1983 Descritores: Literatura portuguesa, Romance, Ruralismo, Arcaísmo, 272 p.:21 cm Cota: C-8-5-168

apologia consequente da justiça e da medida e de resto como se justiça e medida fossem permutáveis. E o segundo é a cultura órfico-pitagórica, uma vez que é no quadro reflexivo desta cultura, que a cultura grega inaugura uma preocupação relativamente ao problema do bem e do mal. Aí se fala de um mal constitutivo da natureza do homem, espécie de mácula original e aí começa portanto a physis a sofrer os primeiros golpes e o caminho que conduz à norma a abrir uma clareira por onde haverá de irromper um dia. Deixo de lado agora as incidências escatológicas desta cultura, mas de qualquer modo deixo claro que a espiritualização da alma, a ideia de juízo e a procura da beatitude deixaram marcas profundas na tradição cultural do ocidente. Mas sobretudo o que é mais incontornável é o facto de que paralelamente à possibilidade de uma normatividade laica se enraiza a ideia de uma justiça transcendente assim como a ideia não menos pregnante de uma Théia moira (graça divina). Portanto começa a fazer o seu caminho a ideia de uma inseparabilidade, de um enlace decisivo portanto, entre moral e salvação. E é então quando, não as leis ou a tradição, isto é não Thémis, a diké ou o nomos mas sim os deuses, se tendem a tornar nos arquétipos personificados dos comportamentos éticos e morais que a dicotomia apolíneo / dionisíaco se torna analiticamente insubstituível. O facto de Dionísio aparecer no âmbito do orfismo intimamente associado a Deméter, deusa-terra-mãe, conferiu-lhe desde o início o estatuto de um deus que faz apelo das forças instintivas, subterrâneas, senão mesmo irracionais, por clara contraposição com Apolo, deus da claridade, da luz, da inteligibilidade e da razão. De facto, o apelo da terra-mãe é o apelo do indiferenciado, de uma pertença onde o eu extaticamente se dissolve (daí que também a oposição orgânico / individual seja tão determinante e decisiva na cultura ocidental contemporânea). Não vale a pena explorar a ideia, para mim errada, de que a desmesura do êxtase, o paroxismo, a catarse é aqui o caminho da sabedoria e da salvação. Interessa-me mais reter esta ideia de que todas as propostas vitalistas se confundem com o universo da Ubriç. E o que eu sinceramente penso é que até aos nossos dias continua a fazer sentido esta profunda duplicidade da cultura europeia e ocidental. Portanto, às forças obscuras de Dionisos e Deméter pode-se continuar a opor a sagacidade exegeta das forças da racionalidade, da inteligibilidade e o mundo artificial de Thémis, ou seja o mundo da norma e da diké. E que é neste universo ideológico e mental que se joga

de uma forma decisiva a secularização e a autonomia e a possibilidade de uma ética e de uma moral humanistas. Regresso a Seabra Pereira para começar por reconhecer que apesar da posição vitalista de Aquilino Ribeiro, em boa verdade mais espontaneamente poética, como Seabra Pereira ressalva, do que propriamente correspondendo a uma posição de fundo programática, a verdade é que o seu vitalismo nunca nos choca. Esse será provavelmente o maior mérito literário do autor, a capacidade de incluir no modus operandi e vivendi das personagens comportamentos de tipo libertino, sem que o sejam ideologicamente e sem que o conjunto da obra resulte como promoção do espírito libertino militante. Em boa verdade, e não posso deixar de comungar completamente com Seabra Pereira o entendimento explicativo reside no facto de que o voluntarismo de Aquilino, quer dizer das suas personagens, não é nunca uma “vontade de ter poder sobre outrem”, mas antes “vontade comum de poder fazer, de poder dizer, de poder fruir”. E, em boa verdade, nesta nuance aninha-se toda uma enorme diferença entre uma filosofia do domínio sobre as pessoas e as coisas e uma simples fruição lúdica das ‘coisas’ correspondendo neste plano a um libertinismo quase sem mácula, mais poético e lúdico do que outra coisa; o que Seabra Pereira designa: que é em geral apenas “vontade de expansão afirmativa e emancipante --- desembiocada mas não declamatória”. O poder não aparece como um programa ou como tendência para a substituição de uma moral evangélica. Quase que poderíamos dizer que este hedonismo

Manuel Afonso Costa

vitalista não sendo angélico também não é demoníaco. É ainda assim libertino, mas sem programa. Finalmente e o que provará a correcção tanto a da análise da obra aquiliana como a do notável texto de Seabra Pereira, vem este autor a plasmar e para mim de forma definitiva no seguinte: “tem ressonâncias nietzscheanas o irredentismo psicológico-moral que predomina na obra aquiliana, mas que se abstém das violências amorais da superação nietzscheana contra o humanismo judaico-cristão”. Ficará para outras núpcias este diálogo com Aquilino e Seabra Pereira, quando eu tiver lido a maior parte da obra do escritor. Por hoje vou dedicar algumas considerações particulares a esta obra que tenho em mão, Andam Faunos Pelos Bosques. Este romance é particularmente emblemático das considerações ideológicas que acabo de fazer pois ao mesmo tempo que não se coíbe de dar largas ao seu vitalismo erótico articula de modo por vezes magistral o demoníaco com o divino. A beleza faz corpo com eros e com a transgressão mundana porém legitimada pela função redentora do Fauno. Há semelhanças entre Fauno e Sátiro, mas a figura do Fauno embora seja associado ao prazer sexual perdeu a conotação bestial conquanto ainda possa ser representado metade humano, metade bode. Aquilino usa a simbologia do Fauno para dar largas ao seu vitalismo erótico ao mesmo tempo que compromete os padres que são quem faz as despesas da narrativa. O texto pretende também promover os cânones de uma sexualidade mais livre face ao conservadorismo rural na matéria. E a verdade é que as donzelas a dada altura por espontânea vontade se foram oferecer aos braços da inefável criatura, anjo, homem ou demónio: “Donzelinhas, mal a pojar dos seios, foram oferecer-lhe a flor temporã da puberdade. As casadoiras, no primeiro abrir mão da família, moscavam para ele”. A primeira reacção dos camponeses foi apanhar a fera e é espantosa a narrativa aquiliniana mobilizando todo o tipo de recursos geográficos, linguísticos e etnográficos para cantar a gesta da “Batida” heróica. Neste ponto, precisamente, poderá residir a eventual condenação do texto, uma vez que desde o léxico até à caracterização dos figurantes parece que se convoca um mundo fascinante mas desaparecido. 1- Hegel [Lições sobre a filosofia da história], in Gibelin 1946: 80 e 81. (A liberdadde do espírito instaura uma ordem moral. Este ser instaurador de uma compreensão do todo e instaurador de uma moral, quer dizer de uma ideia do bem e do mal é o ser que se revolta contra o inexorável do trágico. E é também o ser que troca a joie pelo bonheur.

*No quadro da colaboração de Manuel Afonso Costa com a Biblioteca Central de Macau-Instituto Cultural, que consiste entre outras actividades no levantamento do espólio bibliográfico da biblioteca e na sua divulgação sistemática, temos o prazer de acolher estas “Fichas de Leitura” que, todas as quintas-feiras, poderão incentivar quem lê em Português.


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Carlos Drummond de Andrade

In Impurezas do Branco (1968)

Declaração em Juízo Peço desculpas de ser o sobrevivente. não por longo tempo, é claro. tranqüilizem-se. mas devo confessar, reconhecer que sou sobrevivente. se é triste/cômico ficar sentado na plateia quando o espetáculo acabou e fecha-se o teatro, mais triste/grotesco é permanecer no palco, ator único, sem papel, quando o público já virou as costas e somente baratas circulam no farelo.

se se admiram de eu estar vivo, esclareço: estou sobrevivo. viver, propriamente, não vivi senão em projeto. adiamento. calendário do ano próximo. jamais percebi estar vivendo quando em volta viviam quantos! quanto. alguma vez os invejei. outras, sentia pena de tanta vida que se exauria no viver enquanto o não viver, o sobreviver durava, perdurando. e me punha a um canto, à espera, contraditória e simplesmente, de chegar a hora de também viver.

reparem: não tenho culpa. não fiz nada para ser sobrevivente. não roguei aos altos poderes que me conservassem tanto tempo. não matei nenhum dos companheiros. se não saí violentamente, se me deixei ficar ficar ficar, foi sem segunda intenção.

não chegou. digo que não. tudo foram ensaios, testes, ilustrações. a verdadeira vida sorria longe, indecifrável. desisti. recolhi-me cada vez mais, concha, à concha. agora sou sobrevivente.

largaram-me aqui, eis tudo, e lá se foram todos, um a um, sem prevenir, sem me acenar, sem dizer adeus, todos se foram. (houve os que requintaram no silêncio). não me queixo. nem os censuro. decerto não houve propósito de me deixar entregue a mim mesmo, perplexo, desentranhado. não cuidaram que um sobraria. foi isso. tornei, tornaram-me sobre-vivente.

sobrevivente incomoda mais que fantasma. sei a mim mesmo incomodo-me. o reflexo é uma prova feroz. por mais que me esconda, projeto-me, devolvo-me, provoco-me. não adianta ameaçar-me. volto sempre, todas as manhãs me volto, viravolto com exatidão de carteiro que distribui más notícias. o dia todo é dia de verificar o meu fenômeno. estou onde não estão minhas raízes, meu caminho onde sobrei, insistente, reiterado, aflitivo sobrevivente

da vida que ainda não vivi, juro por deus e o diabo, não vivi. tudo confessado, que pena me será aplicada, ou perdão? desconfio nada pode ser feito a meu favor ou contra. nem há técnica de fazer, desfazer o infeito infazível. se sou sobrevivente, sou sobrevivente. cumpre reconhecer-me esta qualidade que finalmente o é. sou o único, entendem? de um grupo muito antigo de que não há memória nas calçadas e nos vídeos. único a permanecer, a dormir, a jantar, a urinar, a tropeçar, até mesmo a sorrir em rápidas ocasiões, mas garanto que sorrio, como neste momento estou sorrindo de ser − delícia? − sobrevivente. é esperar apenas, está bem? que passe o tempo de sobrevivência e tudo se resolve sem escândalo ante a justiça indiferente. acabo de notar, e sem surpresa: não me ouvem no sentido de entender, nem importa que um sobrevivente venha contar seu caso, defender-se ou acusar-se, é tudo a mesma nenhuma coisa, e branca.


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TEMPO

C H U VA

?

FRACA

O QUE FAZER ESTA SEMANA Sábado GRAFFITI EM 3D PELO GRUPO TRULY DESIGN Praça da Amizade, 09h às 17h00

MIN

13

MAX

18

HUM

70-95%

EURO

8.67

BAHT

Albergue SCM, 14h00 às 21h00 Entrada livre

Domingo FLEA MARKET Albergue SCM, 14h00 às 21h00 Entrada livre

Diariamente

O CARTOON STEPH

SUDOKU

DE

Das 14h00 às 16h00 Entrada livre EXPOSIÇÃO “A JORNADA DE UM MESTRE” Albergue SCM (até 15/01/2016) Entrada livre EXPOSIÇÃO “AGUADAS DA CIDADE PROIBIDA” (ATÉ 07/2016) Museu de Arte de Macau (MAM) Entrada a cinco patacas

SOLUÇÃO DO PROBLEMA 8

PROBLEMA 9

UM DISCO HOJE

Cineteatro

C I N E M A

STEVE JOBS SALA 1

SALA 3

Filme de: J. Blakeson Com: Chloe Grace Moretz, Nick Robinson, Ron Livingston 14.30, 16.45, 19.15, 21.30

FALADO EM CANTONÊS LEGENDADO EM CHINÊS E INGLES Filme de: Wilson Yip Wai Shun Com: Donnie Yen, Lynn Xiong, Max Zhang 19.30

THE 5TH WAVE [B]

SALA 2

STEVE JOBS [B]

Filme de: Danny Boyle Com: Michael Fassbender, Kate Winslet, Seth Rogen 14.30, 16:45,19.15, 21.30

YUAN

1.21

SOMOS TODOS ANIMAIS

FLEA MARKET

Parque do Graffiti, Rua dos Mercadores

0.22 AQUI HÁ GATO

Entrada livre

SESSÃO DE PINTURA DE PAREDES

(F)UTILIDADES

Nem todos os animais podem ter um dono bom. Eu tenho a sorte de ter sido adoptado pelos que gostam de mim, que não me abandonam novamente. Tenho várias pessoas ao meu lado, que brincam comigo, mesmo que às vezes há quem ache que sou chato. Podem pensar que tenho azar por não estar em liberdade total, por não poder sair à vontade para ir conhecer gatas que posso vir a gostar. Mas é este o meu destino. Cada um tem o seu. E, se a verdade é que alguns nasceram com a sorte de virem a ter todos os cuidados que precisam – sem precisarem de se preocupar com alimentos e mimos da família – outros nasceram já abandonados, numa esquina da rua e sofrem com fome e frio. Pensemos nisto: nesta cidade pequena, não é difícil ouvir falar de animais abandonados. Existem muitos, todos os dias, que estão dependentes das associações para conseguirem sobreviver – apreciam o facto de estar vivos porque há alguém que não se importa de os ajudar. Os seres humanos que gostam de animais entendem esta ideia. Mas, deixo um aviso para os que não gostam: não têm direito de nos maltratar, de nos bater, matar, adoptar só para nos abandonarem de novo.Acredito na justiça – quando tratamos os outros bem, somos bem tratados.Adoro os meus “donos”, os que gostam de mim e os que gostam de animais. Não quero mais ouvir, em Macau e no mundo, casos de animais maltratados. Quero ouvir mais partilha de felicidade – tal como quando os humanos partilham snacks de gato comigo. Eu partilho a minha felicidade com eles. Pu Yi

“SOMETIMES I SIT AND THINK, AND SOMETIMES I JUST SIT” (COURTNEY BARNETT, 2015)

Hoje apresenta-se o único álbum de estúdio da australiana Courtney Barnett. O álbum, lançado em CD e em vinil, contém as faixas “Elevator Operator” ou “Depreston”. É com recurso a sonoridades calmas que a autora vai construindo um álbum que começa com um jeito rockeiro, mas vai-se acalmando para voltar a explodir em “Dead Fox”. Depois de várias digressões pela Ásia Pacífico, Burnett passa por Portugal, com presença marcada no festival Optimus Alive, em meados de Julho. Verão que é Verão agradece óculos de sol durante o dia, tem cerveja na mão ao final da tarde e precisa de camisola de manga comprida ao cair da noite. Leonor Sá Machado

IP MAN 3 [B]

SHERLOCK: THE ABOMINABLE BRIDE [C] Filme de: Douglas Mackinnon Com: Benedict Cumberbatch Martin Freenman 14.30, 16.45, 21.30

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Propriedade Fábrica de Notícias, Lda Director Carlos Morais José Editores Joana Freitas; José C. Mendes Redacção Andreia Sofia Silva; Filipa Araújo; Flora Fong; Leonor Sá Machado; Tomás Chio Colaboradores António Falcão; António Graça de Abreu; Gonçalo Lobo Pinheiro; José Drummond; José Simões Morais; Maria João Belchior (Pequim); Michel Reis; Rui Cascais; Sérgio Fonseca Colunistas António Conceição Júnior; Arnaldo Gonçalves; André Ritchie; Aurelio Porfiri; David Chan; Fernando Eloy; Isabel Castro; Jorge Rodrigues Simão; Leocardo; Paul Chan Wai Chi; Paula Bicho; Rui Flores; Tânia dos Santos; Thomas Lim Cartoonista Steph Grafismo Paulo Borges Ilustração Rui Rasquinho Agências Lusa; Xinhua Fotografia Hoje Macau; Lusa; GCS; Xinhua Secretária de redacção e Publicidade Madalena da Silva (publicidade@ hojemacau.com.mo) Assistente de marketing Vincent Vong Impressão Tipografia Welfare Morada Calçada de Santo Agostinho, n.º 19, Centro Comercial Nam Yue, 6.º andar A, Macau Telefone 28752401 Fax 28752405 e-mail info@hojemacau.com.mo Sítio www.hojemacau.com.mo


18 OPINIÃO

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bairro do oriente

LEOCARDO

SUGESTÃO DO CHEFE:

MARTIN SCORSESE, THE WOLF OF WALL STREET

N

ÃO podia concordar mais com quem defende que o Governo devia pagar era “quebas” aos tipos e tipas que investiram nos activos de risco daquela empresa de “bons rapazes” casineiros e no fim ficaram “a arder”, alguns com as economias de uma vida inteira (Isto não é certo, mas fica assim por motivos de... dramatização? Isso.) Nada contra as pessoas, que desconheço na sua totalidade, mas que no fundo devem ser pessoas como nós, com os seus problemas, sonhos, com as suas ambições, e é neste último que pecam especialmente: demasiada ambição, e ainda mais cara-de-pau. Dos “petit-je-ne-sais-quois” que nos separam culturalmente, a avareza (passo a falta de p.c.) é aquela que os chineses praticam com mais “profissionalismo”: levam aquilo tão a sério que no fim não conseguem usufruir do património que passaram a vida a acumular – e no fundo não é essa mesmo a percepção que temos de “riqueza material”? De facto o mundo é mesmo imperfeito, pois caso contrário a “riqueza de espírito” pagava pelos menos as continhas (e quem sabe deixava também uns trocados para jolas e tremoços, pelo menos?). Recordo-me de um episódio interessante que teve lugar num local público, aqui há uns anos, durante o auge da febre da especulação imobiliária. Estariam no local cerca de dez pessoas, e duas delas – ambas senhoras – conversavam a viva voz, aparentemente sobre qual seria o melhor fermento para fazer crescer ainda mais o bolo do capital que iam auferindo, e a certo ponto uma delas levanta a voz contra a outra, com um ar ultrajado, e de repente nem mais uma palavra se escutaria das duas, que pelo que deu a entender, “amuaram”. Que giro. Logo que foram embora, minutos depois, perguntei à única pessoa que não me era estranha naquele local, e que por sorte também era bilingue, qual a razão de súbita e insólita animosidade, que deixou mesmo toda a gente com cara de “isto só visto” nos momentos que se seguiram ao impacto. A prestável e cândida criatura contou-me então que as duas madames conversavam de facto sobre investimentos no sector do imobiliário, e uma delas não gostou que a outra lhe tivesse perguntado como havia obtido um empréstimo a juros apetecivelmente baixos – é lógico que se essa sabia, foi porque a “parte indignada” se vangloriou de ter obtido essa vantagem. Fiquei esclarecido, mesmo que desiludido pelo motivo tão fútil e mesquinho pelo qual se haviam desentendido aquelas duas alegres convivas. O dinheiro, o património, os negócios e mais o “raikusparta”

RENASCIMENTO

nunca devia ser argumento de coisa nenhuma. Que chato. Que previsível. Que boçal. Pena de morte para estes gajos todos, já! (Desculpem, mas estou ainda meio traumatizado de tantos apelos à violência gratuita que andei a ler nas redes sociais). E lá está, este é o piolho oriental que nos deixa a coçar as nossas ocidentais moleirinhas; os tipos querem fazer rios de nota, mesmo que em muitos casos através

“Temos aqui um grupo de gente que é o próprio reflexo da economia lúdicodependente que popula: a casa ganha sempre, e quando não ganha, há sarilho”

de meios “marginais” (no sentido “strictum sensum” da legalidade, entenda-se), e ai de quem ousar questioná-los seja do que for. Se ganharam, “ninguém tem nada a ver com isso”, e desconfiam mesmo de alguém que lhes dá os parabéns. Se perdem, “aqui d’el-rei” ao Governo para ver se faz JUSTIÇA (ah!), e “ai de mim, que sou tão parvinha e não sabia”. Em Portugal tivemos um caso semelhante com os activos tóxicos do BES, mas aparentemente esses foram mesmo ludibriados. Mesmo assim não consigo ter pena deles – e porque havia de ter? Se os activos lhes dessem uma pipa de massa, pagavam um copinho ao pessoal? Era o pagavas! E ainda levávamos com um “o que é que tu tens a ver com o que eu ganho”, que saímos de lá com um olho moral roxo. Patetas. Bem feito! Em suma, pode-se dizer que temos aqui um grupo de gente que é o próprio reflexo da economia lúdico-dependente que popula: a

casa ganha sempre, e quando não ganha, há sarilho. Veja-se o exemplo que foi a criação de um departamento governamental, coisa séria, com poderes XPTO, e tal, apenas para que ficasse assegurada a protecção dos “dados pessoais” de cada indivíduo. What’s the point? Ninguém quer saber o número do BIR do vizinho, ou mesmo o nome ou idade, e não dou conta de um número alarmante de raptos que justifique um secretismo tal que se chega ao ponto de se ficar sem saber muito bem o que se pode saber ou dizer de cada indivíduo. É uma mania, creio. Faz parte. É integrante da edição e não deve ser vendida separadamente. A expressão “quem não deve, não teme” não é para aqui chamada, portanto. Não se adapta. Sabem o que mais? Tenho uma teoria muito minha para explicar estas pequenas diferenças que todas juntas compõem certos abismos: o Renascimento. Sim, nós tivemos e eles não, mas já agora: e o que é que eles têm a ver com isso? Ah?!


19 hoje macau quinta-feira 14.1.2016

OPINIÃO

chá (muito) verde

FERNANDO ELOY | 义來

“Fazer o melhor de cada momento. Nós não estamos a evoluir. Nós não vamos a lado nenhum.” Esquire, 2004

D

“Não sei para onde irei a partir daqui mas prometo que não será aborrecido.” Madison Square Garden, no seu 50º aniversário

AVID Bowie foi um dos meus primeiros heróis. Hoje, porque me é mais difícil sentir a atracção pelas estrelas que sentimos quando somos jovens, para perceber o que um adolescente sente ao admirar o seu ídolo do momento tenho de me reportar ao que eu sentia por David Bowie onde tudo o que fazia era um acontecimento para nós. E continuou a fazer. Anos após anos, após anos Bowie continuou a surpreender trazendo-nos sempre trabalho de primeira qualidade, sempre provocativo, sempre grande. Ensinou-nos a libertar, a experimentar, a ser, a usufruir e conceitos tão rebeldes como a própria definição de sexualidade que é muito mais fluidez do que propriamente rótulos estritos de género ou preferência. A morte dele custou. Primeiro por assim se encerrar uma fonte ímpar de inspiração, de criatividade, de atitude, mas também por morrer um pouco de nós, daqueles que gostávamos da sua obra. Esse é o problema das mortes das pessoas que gostamos, ou nos identificamos: porque, no fundo, choramo-nos é a nós. Choramos a mágoa por não termos mais a pessoa, choramos a falta que ela nos faz, choramos por nós, por não mais a termos. Resta-nos a recordação que sabe sempre a pouco. Com a morte de pessoas que nos habituámos a “conviver” praticamente desde sempre, há uma sensação de eternidade que se esvai, um aproximar desconfortável à nossa própria mortalidade. Quando as estrelas rock da nossa infância se vão, há ainda algo de lúgubre que nos ataca, o sinal que também o nosso ciclo se aproxima do fim; e quando se tratam de foras de série como Bowie é impossível não nos ocorrer se, de facto, fizemos ou não alguma coisa de substancial com a nossa vida; um quinto que seja do que ele fez. A morte de David fez-nos também perceber quão importante a música e as artes são para as nossas vidas. Nunca tinha visto

NAGISA OSHIMA, MERRY CHRISTMAS MR. LAWRENCE

“Eu estava virtualmente a experimentar tudo… E acho que fiz praticamente tudo o que é possível fazer – excepto coisas realmente perigosas, como ser um explorador. Mas tudo o que a cultura ocidental tinha para oferecer – Eu quis passar por tudo.” Telegraph, 1996

BOWIE!

o facebook assim. Não me parece que esteja a exagerar que no dia da sua morte cerca de 90% dos meus 800 e tal contactos publicavam algo sobre David Bowie. Muita música claro, mas também inúmeras reflexões das quais me permito citar algumas: Duarte, psicólogo, dizia que “David Bowie, antes de morrer, já estava liberto da lei da morte. Movido por uma criatividade e curiosidade incessantes foi inventando, de obra-prima em obra-prima, o futuro da música e da cultura pop. Distinguia-se por ser alguém grande, de contribuir para uma forma de vida melhor - para usar o conceito de Wittgenstein: desprendia-se das fórmulas, dos sucessos, ou do espaço conquistado/inventado em trabalhos anteriores, para lançar-se vertiginosamente num novo projecto. Continuamente, encorajava ou colaborava com novos músicos e projectos musicais emergentes, que só depois se tornariam conhecidos – por exemplo os Kraftwerk - nunca temendo ficar na sua sombra. A música, a cultura, a forma de vida são bem mais importantes!” Andreia, produtora de espectáculos, dizia que “compreendo melhor Black Star agora, um disco quase perfeito mas tão enigmático. Foi composto já durante a doença, sabendo provavelmente que não iria recompor-se. Ao choque que senti com a notícia sucedeu-se a serenidade de perceber que Bowie soube lidar com a morte. Ouçamos Black Star. E tudo o resto. Celebremo-lo.” Stu, produtor de cinema e de banda desenhada, desabafava desta forma “É impressionante como um artista pode ter

tanta influência noutra alma”. José, artista plástico, confessava a sua mágoa assim: “Nunca a morte de uma celebridade me afectou desta forma. Quando soube da sua morte senti este vazio estranho dentro de mim como se me tivesse sido arrancado um bocado sem permissão.” De facto. Marilyn Manson contava-nos o seguinte: “A primeira vez que me apercebi de David Bowie, foi a assistir a “Ashes to Ashes” na MTV. Fiquei confuso e cativado. Mas foi só na minha primeira real estadia em Los Angeles, por volta de 1997, que alguém me disse para perder um momento a ouvir algo para além de Ziggy Stardust, Aladdin Sane e Hunky Dory. Então fui dar uma volta alucinante de carro pelas colinas de Hollywood e ouvi “Diamond Dogs.” Toda a minha nostalgia de repente se transformou em admiração. Estava a ouvi-lo cantar sobre ficção como uma máscara para mostrar a sua alma nua. Isto mudou a minha vida para sempre.” Pois é. Era esse o poder de David Bowie. Mudava a vida das pessoas que se detivessem a escutá-lo. Uma influência global, da moda à representação, à forma de estar, ao seu activismo como, por exemplo, quando criticou a MTV por não passar música negra, ou quando rejeitou o grau de cavaleiro oferecido pela rainha de Inglaterra por não saber para que servia, ou a sua permanente capacidade de estar sempre um passo à frente no tempo como quando, em 1996, foi o primeiro artista de primeiro plano a disponibilizar um single para download, ‘Telling Lies’, um processo que, na altura,

com as velocidades disponíveis, demorava cerca de 11 minutos. Mas não posso terminar sem o tweet integral de Val Kilmer que nos dá uma outra perspectiva, menos de Bowie e mais de Jones, o homem por quem Íman se apaixonou como ela recentemente disse: “A última vez que vi David Bowie foi em Brooklyn, junto com algumas pessoas muito muito sortudas que foram assistir a Lou Reed tocar a sua glória negra, BERLIN, ao vivo. Ele estava sentado mesmo à minha frente com a mulher de Lou, Laurie Anderson, que tinha visitado o meu rancho no Novo México com o Lou. Quando nos cumprimentámos, ele virou-se e eu reconheci-o instantaneamente. E eu, em vez de dizer ‘olá’ apenas comecei a dar-lhe uns tapinhas nos ombros. Não consigo descrevê-lo de forma mais precisa. Ele era tão especial que foi a única forma que consegui exprimir a minha alegria. Não acariciei muitos homens dessa forma em toda a minha vida. Estou tão feliz por o ter podido fazer. E, mais importante do que isso: ele deixou-me fazê-lo. Apenas sorriu quando lhe pedi desculpa pelos afagos. Pareceu-me que não apenas entendeu como aceitou a minha estranha oferta de gratidão e reconhecimento. E de repente o encanto desfez-se quando ele se focou intensamente no palco percebendo que para além de qualquer um de nós estava aquele concerto histórico que se iniciava. BERLIN era um disco importante para ele, como o disse várias vezes, e ele valorizava muito a sua amizade com Lou, apesar deste ser um tipo muito difícil, desafiante mesmo. Mas todos nós gostávamos de ser tão “cool” como o David. Mesmo o Lou. David era sempre o tipo mais cool na sala. E era um mestre cantor e compositor. Deus abençoe David Bowie.’” A morte de Bowie leva também consigo um dos expoentes máximos de uma geração de artistas para quem a fama era apenas boa, como ele disse, para arranjar um lugar num restaurante, tão ao avesso do comportamento tantas estrelas de brilho duvidoso dos dias de hoje que tudo fazem para aparecerem continuamente nem que seja para mostrar o novo par de sapatos. Da minha parte só espero conseguir pelo menos cumprir um percurso semelhante ao que ele preconizou quando celebrou 50 anos, idade que em breve farei, pois não há nada pior que o aborrecimento. Nada.

MÚSICA DA SEMANA DAVID BOWIE - “BLACK STAR”

I can’t answer why (I’m a blackstar) Just go with me (I’m not a filmstar) I’m-a take you home (I’m a blackstar) Take your passport and shoes (I’m not a popstar) And your sedatives, boo (I’m a blackstar) You’re a flash in the pan (I’m not a marvel star) I’m the great I am (I’m a blackstar)


N

O seu último discurso do Estado da União, na terça-feira, o ainda Presidente dos Estados Unidos falou sobre a maneira como está a correr a campanha para eleger o seu sucessor, mas preferiu não tocar no tema da noite, os militares norte-americanos detidos pelo Irão. O discurso do Estado da União diante das duas câmaras do Congresso (Câmara dos Representantes e Senado), arrancou pelas 21:10 de terça-feira, nos Estados Unidos. O candidato republicano, Donald Trump, foi criticado por Barack Obama pela sua retórica contra os muçulmanos, que vai contra os valores da sociedade americana. “Quando os políticos insultam os muçulmanos, isso não nos deixa mais seguros. É apenas errado”, uma passagem do discurso que, de acordo com a Reuters, recebeu muitos aplausos na sala. “Enquanto nos centramos em destruir o Estado Islâmico, as mensagens exageradas que referem que esta é a Terceira Guerra Mundial apenas beneficiam os jihadistas”, afirmou Obama perante o Congresso. “Eles não ameaçam a nossa existência

Dá-me este lugar o abrigo de uma gruta / o casulo de um silêncio / que nem o grito das aves marinhas / é capaz de interromper. (...)” José Jorge Letria

OBAMA “LEVOU” TRUMP PARA ÚLTIMO DISCURSO DA NAÇÃO

O canto do cisne aprovar uma base legal e específica para essa campanha.

ECONOMIA ESTÁ BEM

Obama, afirmou que falar em declínio da economia norte-americana é uma “ficção” e pediu para se “acelerar a transição energética” do país, o maior consumidor de petróleo do mundo. “Já vos disse que todas as discussões sobre o declínio da economia norte-americana são uma ficção política. Os Estados Unidos da América são a nação mais potente do mundo”, afirmou.

CUBA E GUANTÁNAMO nacional. Essa é a história que o Estado Islâmico quer contar, é o tipo de propaganda que usam para recrutar”, frisou. O Presidente tentou, assim, acalmar quem vê no combate ao Estado Islâmico uma “ameaça” à América e exortou o Congresso a

Há oito anos, Barack Obama dizia “Yes, we can”. Oito anos depois, num discurso que também foi um balanço do seu legado, Obama não pôde esquecer bandeiras e vitórias. O Presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, reafirmou a sua promessa de tentar encerrar a prisão de Guantánamo, durante

EUA NORTE-AMERICANA MANTEVE CRIANÇAS SUL-COREANAS COMO ESCRAVAS

A

S vítimas, uma menina que agora tem 16 anos e o seu irmão de 14, foram transferidas da Coreia do Sul para os Estados Unidos por um familiar da suspeita em Janeiro de 2010, explicou em comunicado a procuradoria do distrito do Queens. Segundo a acusação, Sook Yeong Park, de 42 anos, confiscou os passaportes dos menores e impediu qualquer contacto com os seus pais, mantendo as crianças como reféns. «Ela obrigava-os a fazer tarefas domésticas até altas horas da noite,

a trabalhar fora de casa e a entregar-lhe todo o dinheiro arrecadado. Em troca, as vítimas supostamente recebiam um lugar para dormir no chão, sem colchão», disse em comunicado o procurador do distrito de Queens, Richard A. Brown. Segundo as autoridades, a mulher obrigava a menina a trabalhar quase que diariamente durante cerca de 10 horas, desde que voltava da escola até as 2:00 da madrugada, limpando a sua residência e fazendo-lhe massagens nas costas e pés, além de

serviços de manicure e pedicure. Além disso, durante anos a mulher supostamente obrigou a menina a trabalhar vários dias por semana em lojas do bairro, e ficava com todo o dinheiro que esta ganhava. O irmão também teve que trabalhar durante pelo menos um dia por mês num estabelecimento desde Agosto de 2015, enquanto Park dizia aos dois que tinham que juntar dinheiro para pagar as suas despesas, já que a sua mãe não estava a enviar recursos da Coreia do Sul.

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o seu último discurso do Estado da União, na terça-feira à noite. “Vou continuar a esforçar-me para fechar a prisão de Guantánamo: é cara, é inútil e não é mais do que um panfleto de recrutamento para os nossos inimigos”, sustentou. E, depois do reatar das relações com o país de Fidel, Obama, instou o Congresso a levantar o embargo a Cuba.

A ÚLTIMA BATALHA: LUTA CONTRA O CANCRO

Na política doméstica, depois das armas, a outra guerra de Obama é o cancro. O Presidente dos Estados Unidos anunciou uma “nova campanha nacional” contra o cancro, por via da qual pretende aumentar os recursos públicos e privados para combater a doença. “Pelos entes queridos que todos perdemos, pela família que ainda podemos salvar, façamos com que os Estados Unidos sejam o país que cura o cancro de uma vez por todas”, disse.

quinta-feira 14.1.2016

ARQUITECTO CHILENO ALEJANDRO ARAVENA VENCE PRÉMIO PRITZKER

O arquitecto chileno Alejandro Aravena venceu o Prémio Pritzker, considerado o mais importante da arquitectura, foi ontem anunciado. Director da bienal de arquitetura de Veneza 2016, Alejandro Aravena tem 48 anos e é a primeira figura da arquitectura chilena a receber este galardão. Para o júri, Alejandro Aravena é um arquitecto “inovador e inspirador”, que demonstra como a arquitectura pode melhorar a vida das pessoas. O trabalho arquitectónico dele representa uma “oportunidade económica para os menos privilegiados, atenua os efeitos dos desastres naturais, reduz o consumo energético e providencia o bem-estar no espaço público”, sublinha o júri em comunicado. O prémio Pritzker, o mais importante na área da arquitectura, é atribuído desde 1979 pela Fundação Hyatt, da responsabilidade da família Pritzker, para agraciar um arquitecto cuja obra demonstre talento, beleza e que contribua para o desenvolvimento da Humanidade.


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