pela língua
Um estudo de dois académicos chineses conclui que a acção do Governo na promoção da língua portuguesa é insuficiente. Para Cai Zhaoliang e Xue Yan, é preciso impulsionar a formação de quadros bilingues em chi nês e português para dar mais corpo à ideia da RAEM como plataforma de ligação entre a lusofonia e a China.
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DIRECTOR CARLOS MORAIS JOSÉ MOP$10SEXTA-FEIRA 14 DE OUTUBRO DE 2022 • ANO XXI • Nº5112 PÁGINA 6 JOSÉ LEITÃO DE MACAU PARA O MUNDO ENTREVISTA HOJE MACAU hojemacau CHINA COMPREENDER OS CONCEITOS LEI DO CONSUMIDOR OS APELOS DE RON LAM VOZES UM AMARGO INVERNO PÁGINAS 10-11 PÁGINA 4 PAUL CHAN WAI CHI TOMÁS PEREIRA E KANGXI Tereza Sena O YINGSHAO Carlos Morais José PUB.
JOSÉ LEITÃO
“Continuamos convictos
Depois de anos a operar em Portugal em parceria com um escritório de advogados local, a MdME estabelece-se agora no país por conta própria, apostando na assessoria jurídica ligada ao investimento entre Portugal e a China. José Leitão, responsável pelas áreas de compliance e Direito público, fala dos planos de expansão do escritório que aposta cada vez mais na internacionalização
A MdME abre agora oficialmen te o escritório em Lisboa, mas já tinham presença em Portugal há algum tempo.
Tínhamos feito o trabalho pre paratório e operamos desde que temos a licença da Ordem dos Advogados, há alguns meses. Mas estamos agora a fazer o lançamento [oficial] porque pudemos mudar de instalações e aproveitamos o facto de ter mais sócios em Portugal. Na realida de, já trabalhávamos há alguns anos com Portugal fruto de uma parceria que tínhamos com os escritórios da Morais Leitão, Galvão Teles, Soares da Silva & Associados. Agora operamos como escritório independente.
Quais os principais projectos que pretendem desenvolver a curto prazo?
Queremos recrutar mais pro fissionais, crescer e fazer o percurso normal de uma socie dade de advogados internacional em expansão. Temos planos a longo prazo, estamos aqui para ficar e esse é o passo seguinte para a nossa expansão, quer pela natureza das operações e a nacionalidade dos advogados, pois temos um ADN chinês e português, quer pela proximida de dos dois países e pelo fluxo de investimento que existe nos dois sentidos. Achamos que uma sociedade internacional nascida em Macau está tendencialmente
posicionada nestes dois fluxos de investimento. O nosso plano é fazer crescer a nossa assistência e sermos a sociedade internacio nal de advogados que assiste os clientes nas suas necessidades jurídicas e nas suas relações entre Portugal e China.
Mais do que uma questão es tratégica, o estabelecimento do escritório em Lisboa não é também uma questão de sobrevi vência, tendo em conta a situação em Macau, com a redução da comunidade portuguesa, por exemplo? O passo natural para as sociedades de advogados em Macau é mesmo a internacio nalização?
Acho que sobrevivência é uma palavra um pouco pesada. O plano de internacionalização com uma presença em Portugal é até do tempo pré-pandemia. Obviamente que a pandemia veio desacelerar o ritmo e obrigou-nos
a gerir os nossos esforços de outra maneira. Já sentíamos esta necessidade. Independentemente das circunstâncias que aconte cem neste momento em Macau, compreendemos que elas têm im pacto na comunidade portuguesa, porque torna difícil as viagens, as pessoas não têm como tirar férias, e para nós faz sentido uma diversificação. Macau é o centro da nossa actividade, continuamos a ter um projecto de longo prazo para Macau. Continuamos con victos da retoma de Macau e do regresso à normalidade. Há aqui um elemento de diversificação e internacionalização. Não lhe chamo sobrevivência, mas [este passo] ajuda, evidentemente.
2 entrevista 14.10.2022 sexta-feirawww.hojemacau.com.mo
REPRESENTANTE DO ESCRITÓRIO DA MDME EM PORTUGAL
“Acho que nos próximos meses as medidas vão começar a ser progressivamente aligeiradas e confio que, a curto prazo, teremos algo parecido com a normalidade.”
FOTO HOJE MACAU
da retoma de Macau”
Esta estratégia em relação a Macau passa por Hengqin?
Estamos atentos a todos os desen volvimentos que estão a ser feitos no âmbito do estreitamento da ligação de Macau com a China.
Hengqin surge no contexto do estreitamento de relações com a China, tal como a Grande Baía, e queremos fazer parte desse projecto. Achamos que Hengqin está ainda numa fase de evolução e ainda se vai revelar num futuro próximo qual será o papel de Ma cau e dos profissionais como os advogados. Mas Hengqin faz, sem dúvida, parte dos nossos planos e é um horizonte para o qual olhamos com interesse.
Promovem actividades em di versas áreas como consultoria e alta finança. Que perfil traça dos vossos clientes?
São clientes que, ou querem fazer o movimento para a entrada no mercado português, seja a título individual ou colectivo, ou são clientes que estão cá em Portugal e que sentem necessidade de ter um serviço jurídico mais focado neles e ciente das especificida des culturais. É fundamental trazermos essa compreensão aos clientes. No fundo, somos a ponte entre estas duas culturas. Eu vivi quase 14 anos em Macau, temos advogados chineses, e temos uma polinização cultural que é um elemento diferenciador. O nosso perfil de cliente é aquele que já tem alguns investimentos no mercado português ou quer fazer investimentos com algum volume e têm necessidade de ter um maior apoio na área do Direito português e de um aconselha mento estratégico. A entrada no mercado com barreiras de língua, culturais e jurídicas pode ser um processo difícil. Nós fazemos a assessoria jurídica, mas também ajudamos os clientes a navegar nesta nova realidade.
A China investe em Portugal há muitos anos, houve a política dos vistos Gold. Como descreve hoje o investimento chinês em Portugal? Portugal é um parceiro de negócios natural da China, e somos o mais antigo de todos. Achamos que a relação comercial entre Portugal e a China é estratégica para os dois países. Evidentemente quando se criam certas condições privilegia das de investimento existe um ciclo
“Portugal é um parceiro de negócios natural da China, e somos o mais antigo de todos.”
de um maior investimento, menos focado e mais de oportunidades, e depois vai-se refinando até se tornar um investimento menos quantitativo e mais qualitativo. É isso que vai acontecer. Existe uma
lente covid nos últimos dois anos que distorce todas as análises que se possam fazer, mas achamos que o apetite [pelo investimento] con tinua. O futuro vai ser marcado por investimentos mais estruturados e qualitativos, focados em áreas de interesse específicas.
Macau pretende desenvolver o seu sector financeiro...
E tem feito alguns desenvolvi mentos, no âmbito do mercado das obrigações. Tem feito algumas reformas. A reforma do sistema financeiro tem sido feita e é uma área em que somos bastante activos.
Face a esse mercado de obrigações, há interesse da parte das empresas portuguesas, incluindo no projecto da plataforma comercial? A questão da plataforma é uma discussão antiga.
Parece um slogan. Não é um slogan, mas sim um de sígnio. Como todos os desígnios demora tempo a ser implementa do e depende de uma confluência de factores. Acho que estão a convergir mais. O mercado de
obrigações é um sistema de capitalização de empresas inte ressante em Macau. Falta ainda, e achamos que temos um papel nisso, algum reconhecimento de parte a parte. Falta a sensibiliza ção das entidades para o sistema jurídico que é semelhante ao português, o que oferece algumas garantias, nomeadamente o facto de as leis estarem em português. Em Macau, onde são emitidas e vendidas as obrigações, falta a sensibilização do mercado local para o que são as empresas por tuguesas. Existe interesse, mas é preciso ainda algum trabalho de fundo de sensibilização e de um maior conhecimento das ferramentas dos dois mercados. É essa ponte que queremos fazer.
“Macau continua a ser um mercado muito distante e que precisa de intérpretes que o conheçam bem para o auxílio nessa entrada [das empresas].”
Há ainda um desconhecimento, junto das empresas portuguesas, do potencial de Macau?
É difícil dizer que há uma falta de conhecimento. Qualquer pessoa de qualquer empresa grande em Por tugal reconhece que Macau é um mercado com potencial. Mas falta ainda o meio logístico na supressão da distância cultural que há entre as duas realidades. Macau continua a ser um mercado muito distante e que precisa de intérpretes que o conheçam bem para o auxílio nessa entrada [das empresas].
Até que ponto a política covid zero tem impacto nas relações co merciais entre os dois países e na vossa actividade em particular?
A paralisação da entrada de pessoas não faz com que as situações jurí dicas do dia-a-dia não continuem a existir. Continuamos a ter muito trabalho [com o mercado chinês]. Sentimos a economia e as per guntas que os nossos clientes nos fazem virados para a ideia de que estas restrições são a prazo. A ideia é como pode haver uma melhor preparação para o ciclo que virá a seguir. Penso que estas restrições são temporárias e o comporta mento dos agentes económicos e nós, como auxiliar de negócios, terá a ver com isso. Acho que nos próximos meses as medidas vão começar a ser progressivamente aligeiradas e confio que, a curto prazo, teremos algo parecido com a normalidade.
entrevista 3sexta-feira 14.10.2022 www.hojemacau.com.mo
Andreia Sofia Silva
“A reforma do sistema financeiro tem sido feita [em Macau] e é uma área em que somos bastante activos.”
SEGURANÇA NACIONAL ASSOCIAÇÕES ELOGIAM WONG SIO CHAK
O gabinete do secretário para a Segurança, Wong Sio Chak, fez ontem um resumo de uma série de reu niões com associações tradicionais de Macau para trocar ideias sobre a acção governativa para o próximo ano, com a revisão da Lei da Segurança Nacional no topo da agenda.
Wong Sio Chak encontrou-se com os dirigentes da Aliança do Povo, ligado à comunidade de Fujian, a Associação Comercial de Macau, Associação Geral das Mulheres de Macau, a União Geral das Associações dos Moradores de Ma cau e a Associação Geral dos Chineses Ultramarinos de Macau.
O secretário realçou que durante a consulta pública sobre a revisão da Lei da Segurança Nacional “as asso ciações organizaram, de forma activa, os seus sócios e jovens representantes para participarem em várias sessões da consulta, exprimindo activamente as suas opiniões, o que contribuiu profundamente para o sucesso da consulta”.
O governante adiantou que o Exe cutivo está a ultimar o relatório final da consulta, de forma a “iniciar com a bre vidade possível o processo legislativo”.
Num sentido mais lato, Wong Sio Chak destacou que enalteceu a “coo peração eficaz” entre associações e serviços da área da segurança, que estabeleceram “relações de ajuda e confiança mútua entre a polícia e a população”, factores “importantes na salvaguarda da estabilidade e prospe ridade da sociedade”.
Segundo o gabinete da Segurança, os representantes das várias associações elogiaram o pessoal das forças e serviços de segurança no combate à epidemia nos últimos três anos e pediram maior sensibilização e divulgação sobre a Lei relativa à defesa da segurança do Estado. J. L.
CONSUMIDORES RON LAM QUER MELHOR EXECUÇÃO DA LEI
Trabalhos de casa
O deputado Ron Lam U Tou entende que há ainda muito a fazer para a plena implementação da lei de protecção dos direitos e interesses do consumidor, lamentando que ainda não tenha sido criado o conselho consultivo dos consumidores. O diploma entrou em vigor no início do ano
Aimplementação da lei de protec ção dos direitos e interesses dos consumidores
mereceu algu mas críticas da parte do deputado Ron Lam U Tou, que ontem fez o ba lanço da sessão legislati va. O deputado lamentou que, meses após a entrada em vigor do novo diplo ma, em Janeiro, ainda não tenha sido criado o conselho consultivo dos consumidores, o que faz com que a nova lei não tenha efeitos práticos.
“A lei determina que o conselho consultivo dos consumidores fis calize a regulação dos preços e forneça infor mações, mas como este conselho ainda não foi criado, entendo que esta lei é como se fosse um tigre sem dentes”, disse Ron Lam U Tou.
O também presi dente da Associação da Sinergia de Macau lembrou que, no pas sado, já tinha interpe lado o Governo sobre a necessidade de criar o conselho, bem como de aumentar o número de fiscais. “O Governo apenas contratou mais fiscais, mas ainda não lançou os regulamentos administrativos neces sários nem explicou as razões para esse atraso.”
Sobe e desce Outra lei que também mereceu críticas da parte do deputado, foi o regi me jurídico de seguran ça dos ascensores, uma vez que o novo diploma obriga a que todos os elevadores sejam verifi cados por uma empresa de manutenção e por uma outra empresa de fiscalização, ao invés de
ser a mesma empresa a executar as duas funções como anteriormente.
“Preocupo-me que este novo mecanismo nunca venha a ser apli cado. Não existem en tidades de inspecção independentes em Ma cau e só temos o Go verno a garantir que não vai haver problemas”, adiantou.
Ron Lam U Tou espera ainda que o Exe cutivo possa melhorar a comunicação entre deputados e a população no que à legislação diz respeito. “Sempre que o Governo trabalha na elaboração dos regula mentos administrativos não apresenta os pro jectos nem à popula ção nem à Assembleia Legislativa (AL). Será que esses regulamen tos vão corresponder à opinião pública? É
difícil os deputados e a população apresenta rem opiniões.”
O deputado entende que ainda existe falta de comunicação com a po pulação e os deputados. “Muitas das políticas que o Governo apresenta à AL não são precedidas de uma reunião formal para ouvir as nossas opiniões. Apenas é feita uma sessão [de consulta] em que os participantes só podem falar durante três minutos. Penso que o actual Governo está a falhar nesta área, pois temos apenas consultas formais ao invés de se fazerem contactos reais”, rematou. Na última ses são legislativa da 7.ª legislatura, o gabinete de Ron Lam recebeu 1178 pedidos de ajuda, tendo sido resolvidos 87 por cento dos casos.
Nunu Wu (com A.S.S.)
AL ORÇAMENTO PARA 2023 FICA ABAIXO DOS 200 MILHÕES DE PATACAS
AAssembleia Legislativa
(AL) vai contar com 198,208 milhões de patacas para financiar o funciona mento ao longo do próximo ano, de acordo com a delibe ração assinada por Kou Hoi In, tornada pública ontem e que será votada em plenário na próxima semana.
A proposta orçamental para o próximo ano é in ferior à de 2022, quando o valor total chegou perto dos 198,5 milhões de patacas, registando uma descida de 265 mil patacas, ou seja, menos 0,13 por cento, indica o documento.
Ainda assim, o presi dente da AL refere que as “despesas com pessoal” vão aumentar no próximo ano, “devido, principal mente, às despesas relacio nadas com a promoção, o acesso e a progressão do pessoal”, atingindo quase 170 milhões de patacas.
Já no capítulo das des pesas com funcionamento, Kou Hoi In dá conta de uma diminuição de 1,519 milhões de patacas, jus tificada com “a redução na aquisição de bens e serviços”, para um total de 23,075 milhões de patacas.
O presidente da AL refere mesmo que “na ela boração do orçamento para o ano 2023, a Assembleia Legislativa observou” as orientações em despacho do Chefe do Executivo “no sentido de o valor orçamen tado não exceder o valor constante no Orçamento do ano económico de 2022”.
A proposta será sub metida a votação no dia em que o plenário regresso ao activo, já na próxima segunda-feira.
J. L.
4 política www.hojemacau.com.mo 14.10.2022 sexta-feira
Ron Lam U Tou, deputado “A lei determina que o conselho consultivo dos consumidores fiscalize a regulação dos preços e forneça informações, mas como este conselho ainda não foi criado, entendo que esta lei é como se fosse um tigre sem dentes.”
CRISE EMPRESÁRIA TERÁ RECORRIDO À PROSTITUIÇÃO PARA PAGAR DÍVIDAS
Os frutos da nova era
IMOBILIÁRIO MERCADO CAI PARA NÍVEIS SEM PRECEDENTES
Odirector distrital de ven das da agência imobi liária Anzac Realty, Ho Kai Meng, considera que o mercado imobiliário caiu para um nível sem precedentes, devido à crise pandémica. Segundo Ho Kai Meng, citado pelo jornal Ex moo, cada vez menos pessoas se mostram interessadas nos preços do mercado imobiliário ou em visitarem habitações à venda. No mesmo sentido, antes de comprarem uma habi tação, os clientes levam agora mais tempo a tomar decisões.
Ho Kai Meng exemplificou igualmente que no passado as publicidades pagas nas redes sociais levavam a que a agên cia fosse contactada por vários potenciais clientes. Nos dias que correm, o interesse gerado pelos anúncios é muito mais reduzido.
Também as promoções perderam os efeitos do passado. O agente imobiliário informou que antes da crise uma fracção com desconto de cinco a oito por cento fazia com que hou vesse um frenesim no mercado. A venda concretizava-se em menos de um dia, após o anún cio com o desconto. Contudo, também esta situação não passa de uma miragem em compa ração com a realidade actual.
Para Ho Kai Meng, a nova situação reflecte a falta de con fiança da população, porque os bancos dão ofertas no emprés timo para compensar a parte da subida das taxas de juros.
Segundo o director de vendas da Anzac Realty, a situação é preocupante uma vez que as agências imobiliárias empregam 5 mil pessoas, e o número de tran sacções reflecte uma crise maior do que aquela em Hong Kong, Zhuhai, Shenzhen e Cantão.
Oacadémico e ex-candidato a deputado na Assembleia Legislativa Kou Seng Man afirma que há residentes a prostituírem-se para pagar dívidas contraídas ao longo dos três anos de pandemia. A revelação foi feita pelo director do Instituto Internacional (Macau) de Investigação Académica, na quarta-feira, e divulgada ontem pelo Jornal do Cidadão.
Numa altura em que abordava as medidas de apoio financeiro do Governo e a falta de eficácia no apoio sustentado às Pequenas e Médias Empresas (PME), Kou Seng Man revelou o caso de uma empresária que lhe pediu ajuda, para pagar parte das dívidas rela cionadas com o negócio.
Segundo o relato do acadé mico, a mulher é proprietária de
uma PME que fornece serviços complementares ao sector do jogo. Como recentemente acreditava que Macau tinha entrado “no último quilómetro” da covid-19, e não queria fechar o negócio, a empre sária recorreu a apoios do Governo. Em contrapartida, comprometeu -se a manter o negócio aberto durante um ano.
No entanto, a campanha contra o jogo, a entrada em Macau de uma fracção do volume de turistas do passado e o surto mais recente fize ram disparar as perdas da empresa, que chegaram às 300 mil patacas por mês, entre o pagamento da ren da, mão-de-obra e outras despesas.
Com prejuízos acumulados superiores a um milhão de patacas, a mulher resolveu pedir ajuda a vários amigos e conhecidos. Sem conseguir os apoios necessários, a
mulher admitiu a Kou Seng Man não ter encontrado outra solução que não fosse prostituir-se. Na explicação da mulher, citada por Kou, só com um trabalho nos dias que correm nunca ia conseguir ter dinheiro suficiente para fazer frente às obrigações.
Além da situação contada, Kou Seng Man afirmou ainda que há mais casos de residentes a prostituírem para fazerem frente às despesas do quotidiano e que é uma tendência que se desenvolveu com o arrastar da crise económica.
Começar pelo telhado
Para o director do Instituto Inter nacional (Macau) de Investigação Académica, a história da empresá ria que se prostitui mostra que a diversificação da economia está a ser forçada, com as quebras no sec
tor do jogo e sem que tenham sido criadas condições necessárias para o crescimento de outros sectores.
Na perspectiva de Kou, o facto de o Governo promover o desen volvimento e transformação da economia do território, sem que tenha formado mão-de-obra local ou promovido o desenvolvimento das empresas locais, faz com que os principais prejudicados sejam os residentes, que têm de fazer face a uma crise económica.
Por outro lado, Kou Seng Man alertou para os efeitos contraprodu centes de alguns apoios do Governo, e considerou que é necessário pen sar melhor nas medidas para apoiar as Pequenas e Médias Empresas. O académico apelou também ao Go verno para lançar medidas eficazes para a recuperação da economia.
João Santos Filipe
PEQUENAS E MÉDIAS EMPRESAS LOJAS CARACTERÍSTICAS COM OITO MILHÕES DE ACESSOS ONLINE
Opresidente da Associa ção Macau Live, José Rodrigues, revelou que no último mês os canais online de transmissão e promoção das “lojas com características próprias” registaram um tráfe go de oito milhões de acessos.
A iniciativa é desenvolvi da no âmbito do programa da divulgação das lojas com ca racterísticas próprias, apoiado pela Direcção dos Serviços de Economia e Desenvolvimento Tecnológico e organizado pela Associação Industrial e
Comercial. O objectivo da iniciativa é promover 30 lojas das zonas norte, central e das ilhas através das redes sociais e influencers.
Ao jornal ou Mun, o macaense defendeu que as pequenas e médias empre
sas (PME) estão cada vez mais atentas às plataformas online de transmissão para dar a conhecer os seus negócios, mas que ainda não mostram vontade de participar activamente, o que contrasta com regiões
vizinhas. No entanto, José Rodrigues espera que o Go verno continue a incentivar o desenvolvimento destas plataformas e a divulgá -las para que as PME lo cais consigam obter mais clientes.
sociedade 5www.hojemacau.com.mosexta-feira 14.10.2022
Segundo o director do Instituto Internacional (Macau) de Investigação Académica, Kou Seng Man, a situação que afectou a empresária em questão resulta da diversificação económica forçada, sem que tenham sido lançadas bases preparatórias
Com prejuízos acumulados superiores a um milhão de patacas, a empresária pediu ajuda a vários amigos e conhecidos. Sem conseguir os apoios necessários, acabou por recorrer à prostituição
Falta qualquer coisa
THE Três universidades locais avaliadas
O mais recente ranking da Times
Higher Education, que avalia as melhores universidades do mundo, destaca três instituições locais de ensino superior. A Universidade de Macau encontra-se no grupo das 201-250 melhores do mundo, ocu pando a 33ª posição na Ásia. Também nesse grupo, encontra-se a Univer sidade de Ciências e Tecnologia de Macau (MUST), que a nível asiático ficou em 36º lugar. A Universidade
de São José fica de fora das 500 melhores a nível mundial. O ranking da Times Higher Education coloca a Universidade de Oxford como a melhor do mundo, seguindo-se a Universidade de Harvard em segundo lugar e, em terceiro, a Universidade de Cambridge. As universidades chinesas ficam de fora do top 10, com a Universidade Tsinghua a surgir em 16.º lugar, e, em 17.º lugar, a Universidade de Pequim.
DSSCU Lançada plataforma de pagamentos online
A Direcção dos Serviços de Solos e Construção Urbana (DSSCU) lançou ontem uma nova plataforma que permite o pagamento online de vários serviços no domínio da construção urbana e do urbanismo. Os cidadãos podem assim efectuar pagamentos com cartão de crédito e pagamen tos online, agilizando os pagamentos dos vários serviços da DSSCU e do Conselho de Arquitectura, Engenharia
e Urbanismo (CAEU). Além disso, foi também lançado um serviço online de inscrição no exame de admissão nos domínios da construção urbana e do urbanismo em que os indivíduos já admitidos podem aceder à página electrónica do Conselho de Arquitec tura, Engenharia e Urbanismo através da conta única e fazer pedidos, efectuar pagamentos, bem como descarregar recibos electrónicos.
APESAR da aposta no ensino da lín gua portuguesa no território, o resultado não é positivo. Esta é a conclusão de um estudo dos académicos Cai Zhaoliang, da Universidade de Ciência e Tecnologia de Sichuan, e Xue Yan, Universidade de Macau, publicado no mês passado com o título De safios e Oportunidades para Macau como uma Platafor ma da Língua e Cultural no Conceito da Iniciativa Uma Faixa Uma Rota.
Segundo o documento, que consta na revista cien tífica International Journal of Social Science and Education Research, apesar dos esforços governativos, a proporção da população que consegue falar portu guês é cada vez menor. “O Governo de Macau lançou uma série de políticas a nível do ensino básico e superior para melhorar a proficiência dos estudantes de Macau no português,
porém, o resultado não é positivo”, consideram os investigadores.
Além da menor pro porção da população que é capaz de dominar a língua, para esta conclu são contribuiu também o facto de o português ser uma língua muito pouco utilizada e exigida a nível profissional, à excepção dos trabalhos na função pública. “Os residentes que são capazes de falar português ocupam uma proporção muito pequena da população e apenas são necessários em alguns sectores do Governo”, é justificado. “Esta realidade limita o desenvolvimento da língua portuguesa em Macau”, é acrescentado.
Papel a desempenhar
Em relação à “Iniciativa Uma Faixa, Uma Rota”, os investigadores acreditam que Macau tem um papel a desempenhar, principal mente na promoção da língua portuguesa e de um
maior conhecimento no Interior sobre os países de língua portuguesa.
“Para as pessoas no Interior, os países de lín gua portuguesa ainda são muito pouco conhecidos, assim como para as pe quenas e médias empresas chinesas. O Governo de Macau devia reconsi derar o seu papel como plataforma para promover um maior entendimento mútuo entre a China e os países lusófonos”, é apontado.
Ao mesmo tempo, para contribuir para esta melhor compreensão, os inves tigadores apontam que a
Os residentes que são capazes de falar português [...] apenas são necessários em alguns sectores do Governo”
educação, e principalmente o ensino superior, pode ser um caminho seguido, mas que é necessário receber mais alunos do Interior e dos países de língua por tuguesa.
Segundo os dados apre sentados, referentes a 2019, antes da pandemia, Cai e Xue notam que apenas 0,8 por cento de todos os estudantes do ensino superior em Macau eram provenientes de países de língua portuguesa. Esta é uma realidade que a RAEM devia mudar. “Como uma plataforma que faz a ligação entre a China e a Lusofonia, uma perspectiva de promo ver a língua portuguesa, o Governo de Macau devia assumir a responsabilidade de treinar quadros qualifi cados bilingues em chinês e português, não só no con texto de Macau, mas também ao adoptar medidas para se assumir como uma platafor ma formadora nesta área no Interior e nos países de língua portuguesa”,
argumentado.
6 sociedade 14.10.2022 sexta-feirawww.hojemacau.com.mo PORTUGUÊS POLÍTICAS DE ENSINO SEM RESULTADOS POSITIVOS
Os académicos Cai Zhaoliang e Xue Yan apontam que para desempenhar melhor as funções de plataforma entre o Interior e os Países de Língua Portuguesa o Governo devia apostar em levar a formação de bilingues para essas regiões
é
João Santos Filipe HM • 2ª vez • 14-10-22 PUB. ANÚNCIO 通 常 執 行 案 第 CV3-19-0077-CEO 號 第三民事法庭 Execução Ordinária 3º Juízo Cível EXEQUENTE: BANCO INDUSTRIAL E COMERCIAL DA CHINA (MACAU), S.A., com sede em Macau, na Avenida da Amizade, nº 555, Macau Landmark, Torre ICBC, 18º andar.-----------------------------------------------EXECUTADOS: 1. 陳枝彪 (CHAN CHI PIO), residente em Macau, na Avenida de Venceslau de Morais, nºs 201-207, Edifício Industrial Chun Fok, 4º andar B, Macau.------------------------------------------------------------------------------2. 陳妍霜 (CHAN IN SEONG), ausente em parte incerta, com última morada conhecida em Macau, na Avenida de Venceslau de Morais, nºs 201-207, Edifício Industrial Chun Fok, 4º andar B, Macau.--------*** FAZ-SE SABER que, nos autos acima indicados, são citados os credores desconhecidos do executado para, no prazo de QUINZE DIAS, que começa a correr depois de finda a dilação de VINTE DIAS, contada da data da seguinte e última publicação do anúncio, reclamarem o pagamento dos seus créditos pelo produto do bem penhorado sobre que tenham garantia real, o que é o seguinte:-------------------------------------------------------------------------------------------BENS PENHORADOS Denominação: 2/49 avos da fracção autónoma “A”, do 1º andar “A”.-----------Fim: Para estacionamento.--------------------------------------------------------------------Situação: Avenida de Venceslau de Morais, nºs 201-207.---------------------------Número de matriz: 070431.------------------------------------------------------------------Número de descrição na Conservatória do Registo Predial: 21631, a fls.137, do Livro B52.--------------------------------------------------------------------------------------Número de Inscrição na Conservatória do Registo Predial: 289319G. (registada a favor dos executados 陳枝彪 (CHAN CHI PIO) e 陳妍霜 (CHAN IN SEONG).------------------------------------------------------------------------------------------Macau, 28 de Setembro de 2022 ***
VENETIAN ALEGAÇÕES DA AAEC SEM RESPOSTA
AAsian American So ciedade de Diversão S.A. (AAEC, na sigla em inglês) enviou na segunda -feira uma carta à Comissão Especializada do Sector dos Jogos de Fortuna ou Azar a alertar para a possibilidade de a Venetian Macau S.A. não cumprir os critérios do programa do concurso público para as concessões do jogo.
Contactada pelo HM, a Venetian Macau respondeu “não ter comentários neste momento” sobre o assunto.
De acordo com a missiva a que o HM teve acesso, a companhia do empresário de Taiwan Marshall Hao argumenta que a Venetian, concorrente ao concurso pú blico, pode perder a “capa cidade financeira adequada para operar”, caso a justiça dê razão à AAEC no caso judicial bilionário em que pede uma indemnização superior a 96 mil milhões de patacas.
Como tal, a AAEC alega que a Venetian pode correr o risco de entrar em ban carrota, algo que colocaria em causa a capacidade para operar e cumprir a conces são, como também noticiou o Canal Macau da TDM no telejornal de quarta-feira à noite.
A carta enviada à Co missão Especializada do Sector dos Jogos de Fortuna ou Azar tem como pano de fundo uma disputa que remonta a 2001, ao primei ro concurso público para atribuir concessões de jogo. Na altura, a Las Vegas Sands submeteu uma candidatura em conjunto com a AAEC. Porém, a meio do processo, a gigante norte-americana acabou por se aliar à Galaxy Entertainment, parceria que obteve a concessão. O litígio judicial continua em aberto no Tribunal de Segunda Instância.
Turismo Preço dos alojamentos caíu quase 23%
Durante o terceiro trimestre deste ano, o índice de preços do alojamento desceu significativamente, menos 22,83 por cento, em relação ao mesmo período de 2021, de acordo com uma nota divulgada ontem pela Direcção dos Serviços de Estatística e Cen sos sobre os preços de produtos e serviços turísticos referentes ao terceiro trimestre. Ainda assim, o preço dos quartos de hotéis subiu 2,87 por cento em relação ao trimestre
anterior. Mas, ainda em termos anuais, a deflacção no capítulo do alojamento foi compensado pelos preços dos produtos alimentares, bebidas alcoólicas e tabaco, que subiram 5,59 por cento, e do vestuário e calçado (+ 5,27 por cento). Quanto ao índice de preços das secções transportes e comunicações, a DSEC deu conta de uma subida de 6,45 por cento, “em virtude da subida de preços dos bilhetes de avião”.
Justiça Wynn não tem de se registar como agente chinês
Um juiz federal americano considerou que Steve Wynn, fundador da concessionária do jogo Wynn Macau não está obrigado a registar-se como agente da República Popular da China nos Estados Unidos. Anteriormente, o Departamento de Justiça havia considerado que o milionário estava obriga
do a registar-se como agente do Governo chinês, depois de ter feito lóbi junto do Governo de Donald Trump. Steve Wynn recusou registar-se, o que levou o Departamento de Justiça a levar o caso a tribunal. Agora, o juiz decidiu que o Governo não tem autoridade legal, à luz das leis em vigor, para forçar
JOGO FITCH CONSIDERA QUE RECUPERAÇÃO DO SECTOR AINDA ESTÁ LONGE
o milionário a registar-se de forma retroactiva por activida des que terá realizado quando ainda liderava a empresa que gere casinos nos EUA e em Macau, em 2017. Na decisão, o juiz não avaliou se Steve Wynn actuou, ou não, como agente do Governo de Pequim junto do Governo americano.
Uma miragem longínqua
O aumento pouco significativo do número de visitantes e o abrandamento da economia do Interior deixam a Fitch pouco optimista face às perspectivas de uma recuperação rápida da indústria do jogo de Macau
APESAR do aumento do número de visitantes a en trar em Macau, a agência de notação financeira Fitch considera que a recuperação do sector do jogo “continua distante”.Aposição foi justificada com a manutenção das principais restrições de circulação e o abrandamento da economia do Interior.
“O número de turistas que vi sitam Macau está em recuperação, no seguimento do levantamento de várias restrições de circulação com o Interior, no entanto, os níveis continuam baixos”, pode ler-se no relatório mais recente da agência Fitch sobre a indústria do jogo. “O relaxamento das políticas rígidas de controlo do coronavírus podia resultar numa recuperação mate rialmente mais rápida dos visitantes e das receitas do jogo, mas a altura em que essas mudanças políticas vão ser implementadas é incerta”, é acrescentado.
Apesar de algum optimismo que se seguiu à Semana Dourada, em especial no primeiro dia em que entraram em Macau 37 mil visitantes, a Fitch considera que não há grandes razões para este sentimento, porque não se devem esperar mudanças políticas signi ficativas. “Qualquer levantamento
significativo das restrições a curto prazo é improvável”, é sublinhado.
Ao mesmo tempo, a agência de notação financeira aponta que a qualquer altura, em caso de novo surto, “as restrições podem tornar -se mais rígidas”.
Problemas maiores
As limitações no número de vi sitantes não são o único desafio encontrado, a Fitch considera que a recuperação também vai ser atrasada pela situação geral da eco nomia no Interior. “O crescimento económico mais lento na China também pode afectar de forma negativa a recuperação da indústria
do jogo, incluindo nos segmentos de massas premium e dos grandes apostadores”, é justificado.
Recentemente, a agência fez uma revisão em baixa das previ sões do crescimento da economia chinesa para o próximo ano. O crescimento esperado de 5,3 por
cento para 2023 deu lugar a uma previsão menos optimista, que se situa nos 4,5 por cento.
Em relação ao concurso público para as concessões de jogo, a Fitch acredita que as probabilidades das actuais concessionárias per derem a licença são “baixas, mas possíveis”. Segundo a agência, a favor das concessionárias, está o facto de cooperaram sempre com o Governo, ao investirem milhares de milhões de dólares americanos, serem dos maiores empregadores no território, e cooperarem para as políticas do Governo Central, como o projecto de integração da Grande Baía. João Santos Filipe
sociedade 7sexta-feira 14.10.2022 www.hojemacau.com.mo
“O crescimento económico mais lento na China também pode afectar de forma negativa a recuperação da indústria do jogo.” FITCH
“Tomás Pereira e o Imperador Kangxi”
A Via do Meio apresenta, em primeira mão, enquanto o livro não chega a Macau, um excerto da última obra da historiadora Tereza Sena, editada pela Guerra e Paz.
1º ANDAMENTO (Adagio) O CAMINHO
À medida que o palanquim descia a enor me escadaria de São Paulo, Tomás não tinha ainda absoluta consciência de que não voltaria a ser o mesmo homem.
A sua especialidade em cálculo do ca lendário soara aos ouvidos do imperador manchu. Muito jovem, mas senhor do mais vasto e lendário império, quase nos antípodas da modesta aldeia do Pedreiro, onde Tomás nascera havia cerca de vinte e seis anos, no distante Portugal da sua infância e juventude.
Quisera-o na sua corte e, magnificente e todo-poderoso, enviara dois emissários a Macau, escoltados por quinhentos soldados, para que, com a maior rapidez, levassem à sua presença o hábil Tomás, um padre muito curioso de instrumentos de Matemática e Arit mética.
Viajando com o título de Kiú Ciú Cin Kim (Ju qu jìn jing), ou seja, honrado e selec cionado pelo imperador, dirige-se à capital; a missão era conduzida com o grandioso aparato inerente a qualquer gesto imperial e por todos imediatamente reconhecida e reverenciada à passagem.
Com ele, queria o imperador Kangxi dar um exemplo esplêndido através do qual fosse público e notório, tanto aos Chineses como aos Portugueses, o apreço que nutria por esse padre.
Chamar-se-ia, a partir de então, Xu Risheng ( 徐日升), cuja tradução é «Sol Nascente», e não mais voltaria a Portugal, a transpor os quatro oceanos, nem a em barcar na Porta da Cruz, que se abria ao vasto mar, a qual agora vislumbrava pela última vez.
Não são as águas o que lá longe suporta o Céu. O Sol pendurado em pleno vácuo do éter.
Os cais ficam mais além de São Paulo, Dentro da Porta da Cruz entram as marés. Peixes saltam, ondas agitam‑se, O arco‑íris esconde‑se por detrás da névoa. Mercadorias chegam do Leste e do Oeste Em navios velozes, favorecidos pelos ventos.
Tudo isto representava muito mais para ele do que aquilo que o poeta e monge Qu Da jun assim vira e descrevera.
Sentia-se estranho, mas honrado, um tanto surpreso e até embaraçado
com aquele aparatoso e desconhecido cerimonial.
Na espaçosa sacristia tivera de trocar as austeras vestes negras da Companhia de Jesus pelo volumoso e sumptuoso tra je de seda, uma longa cabaia, ou champáo (cháng páo), que os emissários tinham en tregado ao visitador, o siciliano Tommaso Valguarnera, quando, à chegada, lhe dis seram ao que vinham.
Que traga não só dragões, mas Águias, e Ave fénix. É bom que saiam os dragões para glória de Deus, e da Missão. Já o dis sera o padre António de Gouveia aludindo aos dragões, como insígnias reais, bordados na veste cerimonial com que o padre Sam biasi – o primeiro de todos os inacianos a ser elevado à dignidade de mandarim – se apresentara em Macau, sem deixar de cau sar um certo escândalo, diga-se.
E assim, agora também vestido como dignitário do imperador – o que o tornava intocável –, percorria Tomás, compassada e solenemente, os cerca de 39 metros ao longo dos quais se estendia a longa nave central da deslumbrante Igreja de Nossa Senhora da Assunção do Colégio da Madre de Deus.
Os cânticos e o som do órgão elevavam as almas e exaltavam a nobreza da missão. À porta, ordenara-lhe o visitador – aquele que in loco governavaa província do Japão e a vice-província da China – que deixas se o Colégio de São Paulo e prosseguisse o seu caminho. Abençoou-o e aspergiu -o para que as gotículas da água benta o protegessem de todos os males. Um ritual de purificação também…
Nem um abraço lhe era agora permitido!
Votara obediência, e obedecia. Secara as lágrimas que toda a noite vertera junto à relíquia do braço de Xavier, o santo, em quem, mais uma vez, buscara consolo. Sufocara o desgosto de o desviarem da missão do Japão com que tanto sonhara.
Se era esse o seu caminho, percorrê‑lo‑ia com firmeza, determinação e resignação. E em breve lhe começaria a entender o sentido.
Ao longo da imponente escadaria de granito gravado, a multidão abria alas. Em sinal de alegria, repicavam os sinos na tor re, na Sé e demais igrejas.
Do alto da sua cadeira de seda, Tomás fixava os rostos e apercebia-se de quanta esperança depositavam na sua pessoa e nos seus talentos. De como toda a cidade dependia da benevolência imperial e de como esta repousava nas suas mãos e nas dos seus companheiros, recentemente rea dmitidos na corte depois da tormenta por que haviam acabado de passar. Tudo isso dava ainda mais significado a esta enviatu ra, um sinal inequívoco do favor do impe rador, em que até os mais incrédulos come çavam a acreditar, e ele encontrava nisso algum consolo.
Muitos se lembravam ainda de como o influente padre Adam Schall, o jesuíta que
então presidia ao Tribunal das Matemáti cas, e os seus confra- des na corte, Ludovi co Buglio e Gabriel de Magalhães, haviam conseguido, na década anterior, fazer gorar a embaixada holandesa que pretendia quebrar o monopólio dos Portugueses e obter permissão para comerciar na China. E tam bém fazer reverter temporariamente o de creto que proclamava a desertificação das orlas costeiras e interditava o comércio ma rítimo em todo o império, pese embora Ma cau se tivesse visto obrigada, na noite de 14 de Novembro de 1666, a queimar alguns navios por força das limitações impostas à dimensão da sua frota. Já atormentada e empobrecida pelas guerras, pairava desde então a ameaça do completo aniquilamen to da cidade, a todos os títulos dependente do mar. Nunca fora mais do que um entre posto comercial, um porto onde se cruza vam múltiplas rotas. As regionais, ligando a Índia ao Sudeste Asiático, à China, ao Japão e a Manila, e as transoceânicas para a Europa: as Rotas do Cabo, contornando África, e de Acapulco, passando pela Amé rica.
Bem vira ele como os habitantes de Ma cau se tinham mostrado reverentes quando da chegada dos emissários: dois mandarins do Tribunal dos Ritos de Pequim, Xiteku, secretário do 5.º grau, e Chanbuzhu, escri turário do 7.º grau, acompanhados por dois assistentes de Verbiest na Comissão da Astronomia, Zhou Lishan e Pang Daliang. Apenas no espaço de um mês tinham per corrido os cerca de 2000 quilómetros, 600
léguas ou 4000 li, que separam a capital de Macau, percurso, por norma, nunca percor rido em menos de três meses. Alcançaram a cidade, acompanhados por dignitários civis e militares da província de Cantão, que aí haviam engrossado o cortejo imperial.
Soavam ao longe trombetas, buzinas, gaitas e bátegas.
Logo que o avistaram, saíram-lhe ao en contro os oficiais da Câmara seguidos por grande número de pessoas. As salvas dos canhões disparados da Fortaleza do Monte saudavam os emissários do imperador, fa zendo ecoar pelos céus quão grande era a sua dignidade.
Foram recebidos, de seguida e com as maiores honras, pelas demais autoridades, civis e religiosas, e homens graves da cida de: o capitão-geral, ou governador militar do entreposto; o ouvidor e o seu escrivão; o governador do Bispado e o seu cabido; reitores das diversas ordens religiosas e, naturalmente, o provincial do Japão – à época Giovanni Filippo de Marini, precisa mente o superior com quem Tomás Pereira viajara de Lisboa para Goa –, secundados por todos os seus sócios, padres e irmãos, seminaristas, e até moços.
A multidão abrira alas em frente à Igre ja da Madre de Deus para que os emissá rios passassem. Vinham já escoltados por um esplêndido grupo de cavaleiros da terra desde a porta da muralha, que separava a cidade cristã das aldeias chinesas.
VIA do MEIO 14.10.2022sexta-feira 8
(EXCERTO)
Estarrecidos com a sur preendente fachada, melhor dizendo, um tabernáculo cheio de ídolos (os mais importantes decerto em re luzentes vestes douradas e caras e mãos vermelhas) e de símbolos que não com preendiam, podiam, contudo, perceber pelas curtas frases em letras sínicas nela gravadas qual era o propósito de tão grande templo. O de afastar as pessoas daqueles demónios que ali se viam, incentivando-as a combatê -los, para o que gozariam da protecção da quela bela senhora que pisava as seis cabe ças de um estranho dragão. As gárgulas do templo eram cabeças de leões. Representa vam a força e a coragem dos homens que ali viviam e que – diziam – faziam daquele lugar uma fortaleza da sua fé Subiram a escadaria ao som de cha ramelas e trombetas bastardas. Ao cimo, desceram das cadeiras de seda – transporte que a dignidade da sua condição exigia –, e aí formaram o cortejo.
Trespassada a porta central, entraram os emissários imperais na igreja que brilha va de ouro por todos os lados e observaram os detalhes com curiosidade: as pinturas e ídolos que se iam distribuindo pelas cape las laterais, separadas da nave central por colunas de madeira. Admiravam a rique za das enormes alcatifas de Cambaia que forravam o chão, os brocados de Meca e a enorme lâmpada mandada fazer propo sitadamente em Cochim por um benfeitor,
que só ela custara 1984 xe rafins, ou seja, quase 600 mil réis…
Escutavam com o maior deleite o som do órgão que vinha do magnífico e lumi noso coro situado logo à entrada, por cima da nave esquerda da igreja. O cheiro de incensos raros perfumava o ar, e as velas que ardiam em belos castiçais de prata lavrada (ofer ta do último pretendente Ming, Yongli, a Macau, mas isso não seria de referir agora) conferiam uma luminosidade especial, aco lhedora e tranquilizante.
Pararam boquiabertos à vista do grande arco de branca pedra lavrada – cuja enge nharia admiraram – demarcando a entrada do santuário, mas não menos quando os seus olhos bateram no colorido espectá culo que o respectivo tecto proporcionava. Rosas de vários tamanhos e cores invulga res, magnificamente talhadas em madeira, como se de um esmalte se tratasse (a eles parecia-lhes mais um cloisonné), caíam em cascata da cobertura da capela-mor e cape las do transepto. No centro, inscrevia-se o nome de Jesus, também o símbolo da Com panhia, um dos mais ricos e belos forros do mundo, disseram-lhes depois.
Chegados ao altar-mor, e para espanto de todos, três vezes se prostraram os emis sários frente à imagem de Cristo crucifi cado, e só então se dirigiram ao visitador, que aí os aguardava, a quem anunciaram o édito de Kangxi, datado de 11 de Setem bro de 1672:
o imperador convocava à sua presença aquele padre a quem impusera o nome de Xu Risheng
De imediato se apresentou este em públi co e agradeceu a benevolência do sobera no, saudando também os seus emissários. Deram-lhe apenas quatro dias para prepa rar a partida e se lhes juntar em Cantão, onde o esperariam. E assim, nesse dia 22 de Outubro de 1672, aí ia ele a caminho da corte, devidamente escoltado, recebendo os aplausos da multidão e as felicitações de todos os seus companheiros, mas também acompanhado pelas lágrimas de muitos.
Estava agora ao serviço do Filho do Céu, confiante de que Deus, o seu Deus, a quem servia e cria ser o único e verdadeiro, o acompanharia na jornada sem retorno e, através dele, cumpriria os seus desígnios: o de trazer a sua fé, que Ele proclamara uni versal, ao coração e às almas de todos os homens que ainda não a conheciam.
Viria depois a saber que percorrer o caminho, enriquecendo o conhecimen to intuitivo da vida com cada mudança, nada reprovando, nada aceitando ou re pelindo sem madura reflexão, constituía para os tauistas um percurso ao encon tro do todo absoluto, aquele a partir do qual as dez mil coisas (ou todas as coisas) que existem no Universo foram criadas.
Seriam assim tão diferentes essas jorna das? É disso que este livro falará.
O Yingshao
Carlos Morais José
OS ATREVIDOS mortais, que tudo parecem querer classificar e arrumar nas suas frágeis gavetas mentais, amiúde sofrem por não con seguirem sequer rotular certos seres, por estes escaparem às categorias preconcebidas. É o caso do yingshao. Com um forte corpo de ca valo, a pele tigrada como os temíveis felinos, face humana e duas asas implantadas no dor so, ao darem por este estranho ente os sábios hesitam se o hão-de considerar um animal ou um ser divino.
Humano, com certeza, não será; ¿deve remos então considerá-lo pertencente ao rei no da natureza ou ao reino do sagrado? Ou, tomando uma outra perspectiva, considerar que a sua existência esbate por completo as fronteiras entre os dois reinos e que essa se paração não passa de mais um erro derivado da nossa leitura incapaz do mundo e das dez mil coisas que o compõem.
Segundos os antigos textos, o yingshao terá nascido numa extraordinária montanha chamada Huaijiang, onde o lápis-lazuli, um raro pigmento encarnado, jade branco, ouro e prata abundantemente existem. De tal modo esta montanha esplandece e espanta os ho mens que muitos acreditam ser a morada ter restre do Imperador do Céu e dão-lhe o nome de Jardim da Paz.
Contudo, a beleza da sua terra originá ria não foi suficiente para ali prender o yin gshao . Aliás, nenhum lugar particular parece ter o condão de o fixar, pois esta criatura, tão magnífica quanto bizarra, é conhecida por continuamente se deslocar, quer por toda a terra, quer através dos Quatro Mares ou traçando temerários riscos ao longo da abó bada celeste.
Relatos arcaicos confirmam a presença do yingshao nos mais díspares e inopinados espaços, sendo desconhecido o que o faz mo
ver-se sem hesitações ou descanso. Num dia poderá ser avistado no sopé de um monte ver dejante, no outro descortinado no mais abra sante deserto ou sobrevoando as ilhas ignotas que salpicam os mares.
O yingshao é, sobretudo, apreciado pelos letrados, porque os sons que emite fazem lem brar os que ressoam no ar quando um ser hu mano lê um livro em voz alta. Quem o escuta, facilmente fantasia estar na presença de um in contido poeta ou de um inesgotável contador de histórias, embora até ao presente ninguém tenha sido capaz de encontrar sentido algum na cascata de sons que a sua boca incessante mente produz.
Alguns comentadores sugerem que o yin gshao se exprime numa língua perdida, fala da entre os antigos deuses. Estes são os que o consideram como pertencente ao reino dos seres divinos. Já outros apenas consideram esses sons como os grunhidos de uma besta incontinente que, continuamente, se vê impe lida a proferi-los, sendo que a semelhança ao homem-leitor não passará de uma coincidên cia e, definitivamente, o catalogam como per tencente ao reino dos animais.
O que seguramente sabemos é que o ho mem, nem animal nem divino ou uma mescla infeliz dos dois reinos, é a bamboleante cor da sobre o abismo que separa as bestas dos deuses (ou de uma realização humana ulterior, como descreve um bigodudo pensador ale mão), ser infeliz de não dar por si como uma totalidade plena de sentido.
Já o yingshao, aproveitando as suas pode rosas asas, sobrevoa esse mesmo abismo mas, para espanto de muitos, não se fixa nem de um lado nem do outro, preferindo uma vida nóma da e, aparentemente, sem outro sentido que não seja usufruir do movimento a que parece para sempre condenado.
VIA do MEIO 14.10.2022sexta-feira 9
Este
texto é uma ficção
inspirada no clássico “Livro das Montanhas e dos Mares” (Shanhai Jing).
ANA JACINTO NUNES
Compreender os conceitos da política externa chinesa
NAS VÉSPERAS DO XX CONGRESSO DO PARTIDO COMUNISTA CHINÊS, ESTE ARTIGO DE JINGHAN ZENG (曾敬涵)
AJUDA O LEITOR OCIDENTAL A COMPREENDER MELHOR ALGUNS ASPECTOS DO DISCURSO POLÍTICO CHINÊS
ACHINA apresentou uma série de conceitos de política exter na - nomeadamente “Novo Tipo de Relações entre Grandes Poderes”, “Iniciativa “Uma Faixa, Uma Rota” e “Comunidade Global de Futuro Partilhado”. Em termos gerais, re presentam as visões da China para as relações China- Estados Unidos (EUA), globalização, e um mundo globalizado, respectivamente.
Muitos analistas internacionais interpretam estes conceitos como movimentos estratégicos calcula dos de Pequim para construir uma ordem mundial sinocêntrica. Nas análises relevantes, estes conceitos são frequentemente considerados como planos estratégicos coerentes e consistentes, reflectindo as visões geopolíticas concretas de Pequim ou Xi Jinping. Os argumentos relevantes assumem que o sistema autoritário altamente centralizado da China pode ser facilmente mobi lizado para alcançar os objectivos geopolíticos de Pequim ou Xi Jinping. Curiosamente, embora não respondendo directamente aos seus homólogos internacionais, argumentos semelhantes são feitos dentro da China.
Alguns analistas académicos e mediáticos chineses interpretam esses conceitos como parte da estratégia do Partido Comunista Chinês (PCC) para liderar o reju venescimento nacional da China.
São produtos “de alto nível” do governo central ou do líder de topo, por isso, diz o argumento, esses conceitos diplomáticos reflectem a sabedoria dos líderes chineses para tornar a China novamente grande.
Este livro, contudo, argumenta que os pontos de vista acima referi dos estão errados. Desenvolve uma abordagem política dos slogans para estudar os conceitos de polí tica externa chinesa. O principal argumento é que esses conceitos de política externa chinesa devem ser entendidos como slogans políticos e não como planos estratégicos concretos. Neste livro, os slogans
referem-se a frases políticas curtas e marcantes utilizadas “como meio de concentrar a atenção e exortar à acção”.
A utilização de slogans polí ticos tem uma longa história na China. Este livro defende que os slogans políticos não são comple tamente vazios ou retóricos, mas têm várias funções principais na comunicação política: (1) declara ções de intenção, (2) afirmação de poder e um teste de apoio nacional e internacional, (3) propaganda estatal como meio de persuasão de massas, e (4) um apelo ao apoio intelectual. A principal função de um conceito de política externa é servir como um slogan para de clarar a intenção, a fim de atrair a atenção e o impulso para a acção.
Muitas análises internacionais concentram-se nesta parte e ten dem a sobreinterpretar a lógica estratégica desses conceitos chi neses, considerando-os como pla nos estratégicos coerentes e bem pensados. No entanto, a natureza dos slogans mostra que são frases políticas curtas e, portanto, ideias amplas e vagas. Como este livro mostrará, quando “Novo Tipo de Relações de Grande Poder”, “Ini ciativa Cinto e Estradas” e “Comu nidade de Futuro Partilhado para a Humanidade” foram apresentadas por Xi Jinping, eram ideias muito vagas que careciam de uma defi nição clara ou de um projecto. O processo de preenchimento dessas ideias com significados ocorreu muitas vezes de uma forma sub sequente e incremental. A sua introdução e posterior desenvol vimento seguem uma abordagem de abertura “suave”.
Como Ian Johnson descreve, elas não são “concebidas e pla neadas exaustivamente, depois completadas de acordo com esse desenho”, como muitos vêem no Ocidente. Em vez disso, “são primeiro anunciados a grandes fanfarras, estruturas erigidas como declarações de intenção, e só de
pois preenchidas com conteúdo”. Quando se trata de conceitos de assinatura, esta declaração de intenção assinala dois níveis de relações de poder: (a) a visão pes soal do líder de topo e (b) a visão da China como líder regional (se não global).
A este respeito, a introdução do conceito não se refere apenas à co municação da visão, mas também às suas relações de poder anexas. Por outras palavras, é muito mais do que uma declaração de inten ções. Isto traz consigo a segunda função dos slogans: afirmar o poder e testar o apoio. Quando um slogan crítico é apresentado por um líder de topo, ele não só assinala a sua visão, mas também espera estabe lecer a sua autoridade pessoal. Por exemplo, nos primeiros anos em que um novo líder toma o poder, ele introduzirá novos slogans para assinalar a sua própria visão de liderança, representando um gesto de sair da sombra dos seus anteces sores e assim afirmar o seu poder.
A este respeito, a resposta dos actores domésticos a este slogan não representa apenas a sua reacção à visão, mas também o apoio polí tico a este líder. O líder espera que os actores domésticos façam eco do seu slogan em formas escritas e orais para demonstrar a sua lealda de. Por outras palavras, a política do slogan contém por vezes uma componente de testes de lealdade e, portanto, está relacionada com a política de facção e de elite. Apesar de os slogans de política externa serem principalmente de face externa, os de assinatura in cluindo “Novo Tipo de Relações de Grande Poder”, “Iniciativa de Cinto e Estrada” e “Comunidade de Futuro Partilhado para a Huma nidade” desempenham uma função semelhante de teste de lealdade na arena doméstica, na qual se espera que os actores políticos repitam esses slogans em formas escritas e orais, a fim de assinalar lealda des ao “dono” desses slogans, ou
seja, Xi Jinping. Este sloganização dos conceitos políticos associa o resultado dos conceitos com Xi e torna-os assim o legado político de Xi, definindo o seu carácter e liderança para o melhor ou para o pior.
Na arena global, os slogans chineses também funcionam de forma semelhante. Os principais conceitos de política externa funcionam como slogans para assinalar não só a nova visão da China, mas também as suas relações de poder implícitas; por outras palavras, este último é um gesto político para afirmar a lide rança regional (se não global) da China. Muitos na China acreditam que só quando a China se tornar suficientemente poderosa é que as suas ideias receberão atenção global. Trata-se também de poder de estabelecimento de agenda que é normalmente propriedade de grandes potências no palco global. Claramente, se a China for insig nificante, as suas ideias são menos susceptíveis de chamar a atenção global e, por conseguinte, haverá uma resposta suave ou nenhuma resposta aos seus slogans. Assim, o governo chinês acolhe muito favoravelmente os actores inter nacionais a repetirem e adoptarem esses conceitos nos seus discursos e escritos, e tais acções são muitas vezes vistas não só como apoio aos conceitos em si, mas também como reconhecimento do crescente estatuto global da China, se não mesmo como liderança. Em suma, a introdução desses conceitos é uma afirmação do poder da China e funciona como um radar para discernir o apoio internacional à China. Assim, o conceito e a sua intenção declarada são por vezes deliberadamente mantidos vagos para acomodar os interesses das partes interessadas relevantes, a fim de maximizar o seu apoio.
Uma resposta global positiva aos slogans chineses seria tradu zida em materiais convincentes
para a propaganda interna, o que está ligado à terceira função dos slogans: a propaganda estatal como meio de persuasão de mas sas. Na arena doméstica chinesa, a resposta global entusiasta pode ser facilmente interpretada como prova do crescente significado e liderança globais da China. Ajuda a enriquecer a narrativa de propagan da sobre o renascimento da China trazida pela liderança do PCC. A mensagem é bastante poderosa ao ligá-la à educação histórica da China de “século de humilhação” em que a fraca dinastia Qing deixou a China ser invadida e humilha da pelas potências ocidentais, e agora o PCC conduziu a China na trajectória do rejuvenescimento nacional e de regresso à sua posição “legítima” no mundo.
Por outras palavras, a resposta global positiva aos slogans chine ses fornece exemplos concretos para apoiar as narrativas do PCC sobre o rejuvenescimento nacio nal da China e, assim, aumenta significativamente a sua legiti midade política interna. Embora com um desempenho diferente, estes três conceitos chineses que este livro examina - “Novo Tipo de Relações de Grande Poder”, “Iniciativa de Cinto e Estradas” e “Comunidade de Futuro Partilhado para a Humanidade” - atraíram uma atenção considerável no palco global e, assim, ajudaram o PCC a alcançar uma vitória da propagan da nacional. Esta atenção global também confere tanto ao líder de topo como ao governo chinês uma maior legitimidade internacional para consolidar o seu poder a nível interno.
Apesar da vitória da propagan da nacional, o seu impacto interna cional é um quadro diferente. Este livro argumenta que a comunicação internacional desses conceitos não é muito eficaz. O governo chinês tem investido enormes recursos intelectuais e financeiros na pro moção desses conceitos na cena
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mundial. Apesar da atenção que estes conceitos atraíram, o seu im pacto na persuasão em massa para um público global, não chinês, não tem correspondido ao investimento de promoção da China.
A este respeito, para os con ceitos de política externa virada para o exterior, a sua eficácia de propaganda estatal como meio de persuasão em massa reside princi palmente no âmbito doméstico em vez de internacional. Este problema da comunicação internacional não é apenas uma questão de branding - como aqueles conceitos chineses cunhados sem qualidades-chave de slogans populares, ou seja, sendo cativantes e simples. Mais importante, é também o resultado da natureza muito mutável e vaga da forma como esses significados conceptuais são construídos dentro e fora da China, o que traz consi go a quarta função dos slogans:
apelar ao apoio intelectual. O desenvolvimento dos conceitos de política externa chinesa segue frequentemente uma abordagem de abertura “suave”, como mencio nado anteriormente. Quando são apresentados, são frequentemente ideias vagas e indefinidas que estão sujeitas a alterações.
Isto é, são ideias imaturas que precisam de ser desenvolvidas e melhoradas. Assim, a sua in trodução é também um apelo ao apoio intelectual. Slogans vagos de política externa requerem poder intelectual para as traduzir em ideias mais ponderadas. Os líderes chineses esperam que a comunida de intelectual e política da China desenvolva esses conceitos vagos em algo mais concreto após a sua abertura “suave”.
Por outras pala vras, a introdução de um conceito serve de slogan para mobilizar os actores nacionais para o apoio
intelectual. Como tal, a introdução de um conceito chave de política externa estimula frequentemente uma discussão académica e política (semi-)aberta dentro da China. Du rante este processo, a comunidade académica e política chinesa enche gradualmente esses conceitos com significados concretos.
Embora este processo permita ao Estado fazer uso do poder in telectual, convida à participação de um grande número de acto res que frequentemente trazem complexidade. A natureza vaga dos conceitos de política externa chinesa significa que eles estão abertos à interpretação. Isto per mite que os académicos e actores políticos chineses carreguem esses conceitos com significados nas suas formas preferidas. Isto produz frequentemente uma variedade de narrativas que por vezes entram em conflito umas com as outras. Em
alguns casos, este fenómeno será intensificado quando um conceito de política externa envolve interes ses económicos substanciais, nos quais vários actores políticos e eco nómicos participarão activamente neste processo para procurarem influência.
Esses actores poderosos empre garão os seus recursos políticos e intelectuais para interpretar o con ceito de política nas suas formas preferidas, a fim de maximizar os seus interesses. Isto convida frequentemente a um difícil proble ma de coordenação com o qual o governo central chinês está a lutar para lidar. Quando se trata de co municação internacional, isto torna impossível para o governo central chinês forjar narrativas coerentes de política externa ou unificar o uso dos seus conceitos. Significa também que os líderes chineses não têm o controlo total dos seus
conceitos, mesmo na arena nacio nal. Em alguns casos, as discussões académicas e políticas sobre o conceito podem mesmo afastar-se das intenções originais dos líderes. Quando misturado com a política de facções, este facto turva ainda mais a água da política de slogans e torna difícil discernir a intenção real de manipulação do slogan.
A este respeito, a abordagem política do slogan argumenta que, durante este processo de comunica ção do slogan, não se trata apenas de como os líderes de topo ou o governo central utilizam o slogan para enviar mensagens aos actores nacionais e internacionais, mas também de como esses actores reagem a ele. Este processo de co municação nos dois sentidos molda os seus significados conceptuais e o nível de atenção que o conceito pode concentrar e a acção que pode exortar.
china 11sexta-feira 14.10.2022 www.hojemacau.com.mo
O piloto português
André Pires
confirmou ao HM que irá participar no 54.º Grande Prémio de Motos de Macau, caso a prova se realize no programa do 69.º Grande Prémio de Macau
Omotociclista de Vila Pouca de Aguiar, um dos poucos pilotos que nos últimos anos estava disposto a cumprir a quarentena obrigatória imposta à che gada a Macau para participar no evento desportivo do território, conseguiu reunir as condições para regressar à prova rainha do moto ciclismo asiático este ano. André Pires reconhece, no entanto, que esta não vai ser uma edição fácil.
Num ano em que a Comissão Organizadora do Grande Prémio de Macau se está a empenhar para tra zer de volta a popular competição de duas rodas ao programa de pro vas do evento, o piloto português tentou reunir uma equipa técnica portuguesa para o acompanhar em mais uma visita ao Oriente, algo que não se concretizou, dada a impossibilidade daqueles que habitualmente estão ao seu lado de cumprirem o número de dias que vão ser necessários para completar a edição deste ano da prova (ndr: está previsto que os pilotos partam no dia 3 de Novembro para regres sarem aos seus destinos no dia 21).
“Vai ser um Grande Prémio difícil”, reconheceu André Pires ao HM. “Para além da quarentena, para participar consegui encontrar uma equipa francesa que aceitou o desafio. Este ano a organização do
GP MOTOS ANDRÉ PIRES CONFIRMA PRESENÇA EM MACAU
Uma vontade de ir
obstáculo que a Comissão Organi zadora tem encontrado para atrair nomes sonantes para a prova deste ano, André Pires revelou que vai tripular “uma mota desconheci da”, mas que espera “durante os treinos adaptar-se bem à mota” e deseja “que consigamos fazer um bom trabalho”.
“Consegui encontrar uma equipa francesa que aceitou o desafio. Este ano a organização do evento está a fazer um esforço para que haja Grande Prémio de Motos e, se os outros pilotos também aceitarem, não quero perder mais um Grande Prémio.”
O motociclista português, que vai conduzir uma Honda CBR 1000, não prevê dificuldades de maior por não competir no Cir cuito da Guia há dois anos, até porque “as coisas também estive ram paradas por cá. Depois tive o projecto do MotoE no MotoGP e andei sempre ocupado com as corridas por aqui”.
evento está a fazer um esforço para que haja Grande Prémio de Motos e, se os outros pilotos também aceitarem, não quero perder mais um Grande Prémio”.
Neste momento, não é ainda público o número de pilotos internacionais que aceitaram o repto lançado pelas autoridades
desportivas da RAEM. No regula mento desportivo da última edição do Grande Prémio de Motos de Macau, podia ler-se que um “mí nimo de 22 inscrições devem ser recebidas para a corrida se reali zar”, porém, acredita-se que esse número será propositadamente reduzido este ano, precisamente
para acomodar o expectável nú mero inferior de interessados em participar na prova.
Dificuldades e recorde para bater
Para além de ter que ultrapassar o desconforto da quarentena obrigatória, que tem sido o maior
LIGA DOS CAMPEÕES PORTO E SPORTING COM SORTES DISTINTAS
OSporting voltou a perder ontem com o Marselha, desta feita por 2-0, em jogo da quarta jornada do grupo D da Liga dos Campeões de futebol, e complicou as suas aspira ções de apuramento para os oitavos de final.
Uma semana depois de ter saído de Marselha der rotado por 4-1, o Sporting voltou a perder diante dos franceses, num jogo em que a expulsão de Ricardo Es gaio, aos 19 minutos, após cometer a falta da grande penalidade que ditou o 1-0,
foi crucial para a derrota dos ‘leões’.
Guendouzi, aos 20 mi nutos, converteu para os gauleses o castigo máximo, tendo Aléxis Sanchéz, aos 30, ampliado a vantagem e praticamente sentenciado a derrota do Sporting. Com este desaire, o conjunto luso caiu do primeiro para o ter ceiro lugar, com os mesmos seis pontos do Marselha, agora segundo, num grupo liderado pelo Tottenham, que venceu 3-2 na recepção ao Eintracht Frankfurt, último, com quatro.
Já o FC Porto venceu em casa dos alemães do Bayer Leverkusen por 3-0 e deu um passo importante rumo aos oitavos de final da Liga dos Campeões de futebol, em jogo da quarta jornada do grupo B.
Numa partida em que o árbitro assinalou três grandes penalidades, uma para os alemães defendida por Diogo Costa, aos 16 minutos, e duas para o FC Porto, convertidas em golo por Mehdi Taremi, aos 53 e 64, os ‘dragões’, que se adiantaram logo aos
seis minutos, por Galeno, destacaram-se na segunda posição, ao beneficiarem ainda do empate caseiro do Atlético Madrid.
A duas jornadas do final da fase de grupos, os belgas do Club Brugge, que ontem empataram 0-0 em Madrid, já asseguraram o apuramen to para os oitavos de final, sendo que o FC Porto está agora isolado no segundo lugar, com seis pontos, mais dois do que o Atlético de Madrid, terceiro, e mais três do que o Bayer, quarto classificado.
André Pires fez a sua estreia no Circuito da Guia em 2013, ano em que obteve a sua melhor clas sificação, um 13º lugar, e desde aí tem sido presença assídua no maior evento desportivo de carácter anual da RAEM. A confirmar-se a prova de motociclismo deste ano, esta será a oitava participação de André Pires no Grande Prémio de Motos de Macau, o que o tornará o piloto português com mais presenças nesta corrida.
Sérgio Fonseca
12 desporto 14.10.2022 sexta-feirawww.hojemacau.com.mo
ADM SEGUNDA EDIÇÃO DO CHÁ GORDO ACONTECE ESTE SÁBADO
AAssociação dos Ma caenses (ADM) volta a promover, este sábado, mais uma mostra do Chá Gordo, que terá como tema o casamento. Desta forma, os participantes poderão recordar o período das décadas de 50 e 60 quando, nas cerimónias do casamento, o copo de água era feito com um Chá Gordo.
Os participantes são con vidados a provar mais de 30 pratos tradicionais, incluindo os tipicamente criados para o casamento e aqueles que nunca podem faltar num Chá Gordo, tal como o arroz gordo, o chau-chau lacassá, o aspic de camarão e o bolo menino. Incluem-se ainda iguarias como Peixe Depenado (mínchi de peixe), galinha na tempo di caça e sarrabulho de galinha. Os pratos serão preparados pelos chefes Marina de Senna Fernandes, Armando Sales Richie, Florita Alves, Gito de Jesus, Joyce Barros, Ivone No gueira, Mena Pacheco Silva, Berta Lei e Wilma Marques.
AADM irá decorar a sala da sua sede, na Rua do Campo, à maneira antiga, fazendo-se um apelo para que os participantes vistam “os melhores trajes” para que possam plenamente desfrutar da experiência.
A mostra temática “Chá Gordo - O Casamento” começa às 17h30 e termina às 20h30. Os bilhetes custam entre 230 e 280 patacas para adultos e 120 patacas para crianças dos 3 aos 11 anos.
Por sua vez, em Portugal, a Casa de Macau em Lisboa pro move um workshop de comida macaense com Maria João dos Santos Ferreira. A partir das 16h os participantes poderão aprender a confeccionar pratos como sopa de lacassá, bacalhau macaísta, Dourado, Tchatíni com arroz branco e legumes salteados e Arroz-Doce Ma caense.
Um baile de máscaras
Concertos, workshops de música e sessões comunitárias de percussão em Hac Sá, são as grandes atracções do “Concertos hush! 2022”, que regressa no fim de Outubro depois de sucessivos adiamentos devido à pandemia. Ao contrário dos tradicionais festivais de Verão, o hush! 2022 promete ser um hino à higienização
O“Concertos hush! 2022”
é a metáfora perfeita dos dias que correm em Ma cau, em oposição ao que se passa no resto do mundo.
Quando se pensa em festi vais de música, surgem imagens de excesso, altos decibéis até ao nas cer do sol, concertos icónicos que ficam na memória para o resto da vida, consumos excessivos de tudo e mais alguma coisa, muito suor e partilha de momentos exaltados.
O hush está no polo oposto das inebriantes celebrações orgiásticas dos sentidos, normalmente associa dos a festivais de Verão. A música irá partilhar o palco com as exi gências de prevenção da pandemia, “implementadas pelos Serviços de Saúde”, e o “Instituto Cultural (IC) irá continuar a adoptar medidas adequadas na organização das actividades artísticas e culturais”.
Assim sendo, todos os eventos do “Concertos hush! 2022” serão acompanhados pela constante apre sentação de comprovativos “atestan do que os participantes completaram o esquema de vacinação primário contra a covid-19”, incluindo duas doses da vacina inactivada ou da vacina de mRNA) há pelo menos 14 dias, ou um certificado de resultado negativo do teste de ácido nucleico emitido nos últimos 7 dias (pago por conta própria).
Além disso, “todos os parti cipantes deverão usar máscara de protecção, ser submetidos à medição da temperatura corporal, digitalizar o código QR de local e apresentar o código de saúde.
Da Barra a Hac Sá
No que diz respeito aos eventos, no dia 22 de Outubro terá lugar no Centro de Arte Contemporânea de Macau – Oficinas Navais N.º 2 o “Workshop de Recolha de Sons no Exterior”, dirigido pelo professor de engenharia de gravação Wan Si Lok. Entre a formação e o experi mentalismo, as sessões vão permitir aos participantes “utilizar as carac terísticas dos microfones e explorar sons ignorados no nosso dia-a-dia durante passeios pelos cantos da cidade, bem como os procedimentos básicos da captação de som”.
O IC ressalva que para parti cipar nesta actividade as pessoas têm de trazer “os seus próprios smartphones e computadores (de preferência Mac) com re cursos de gravação de áudio”. O workshop irá durar entre as 15h e as 21h.
Para o dia 29 de Outubro, também nas Oficinas Navais, está marcado o “Workshop de Mon tagem de Som”, ministrado pelo experiente músico local Lobo Ip que dará corpo aos sons captados uma semana antes. O artista irá guiar, entre as 19h30 e as 21h, os participantes na instrumentaliza ção de smartphones, programas de tablet, gira-discos e misturadores, com o objectivo de transformar
em música os sons anteriormente gravados. Uma espécie de aula de culinária sonora.
Depois da produção de mú sica, serão apresentados ao vivo os resultados dos “cozinhados musicais” num concerto no início de Novembro.
Ainda no Centro de Arte Con temporânea nas Oficinas Navais, no dia 30 de Outubro, terá lugar o “Workshop de Música Soul”, sob a batuta do músico Addison Wong. O evento será uma introdução ao soul, ou como descreve o IC “um género musical positivo”, que irá culminar com uma oportunidade para os par ticipantes improvisarem um pouco.
Importa referir que a música soul, uma manifestação afro-americana,
serviu de veículo e escape na luta da comunidade afro-americana por igualdade e direitos civis.
Roda de tambores
No dia 5 de Novembro, o público será brindado com um banquete de ritmos no concerto “Piqueni que com Música de Percussão”, num local que o IC designa como “Espaço Verde de Lazer Provisó rio de Hac Sá”. O evento dirigido pela Associação de Percussão de Macau parte da ideia de que tudo pode servir de instrumento de percussão. O desafio irá passar pela transformação de utensílios e objectos tipicamente usados em piqueniques para fazer música.
Os participantes devem ter vacinação completa ou teste de ácido nucleico emitido nos últimos 7 dias, usar máscara, medir a temperatura corporal, digitalizar o código QR de local e apresentar o código de saúde
No fim-de-semana de 12 e 13 de Novembro, na Quinta Urbana em Coloane, será organizado o “Acampamento de Músicas do Mundo”. Durante dois dias e uma noite, a Associação de Música Étnica Rítmica de Macau “levará os participantes a experimentar a alegria do ritmo da natureza, a ex plorar a conexão entre o ambiente ao ar livre e a música, a improvisar usando diferentes instrumentos rít micos, tais como asalato, didjeridu, djembê, cajón, maraca e hang”.
Os membros da associação vão prendar os campistas à hora de almoço do último dia com um concerto. Os participantes devem ser maiores de 18 anos e será dada prioridade a quem tenha “estudado instrumentos musicais, que tenha conhecimento preliminar sobre música e bom sentido de ritmo”, indica o IC. João Luz
eventos 13sexta-feira 14.10.2022 www.hojemacau.com.mo
HUSH 2022 MÚSICA REGRESSA A HAC SÁ NO FINAL DO MÊS E WORKSHOPS NA BARRA
JOHN COLTRANE | MY FAVORITE THINGS
“My Favorite Things” é o dis co em que Coltrane se aventura pela primeira vez no saxofone soprano, instrumento ofereci do por Miles Davis e que ocupa grande parte deste magnífico disco de versões. Editado em 1961, este disco abranda a velocidade do post-bop do quinteto de John Coltrane, a milhas da vertigem de “Giant Steps”. Por vezes, quando a imaginação permite, quase conseguimos reconhecer no saxofone as entoações de Julie Andrews no tema que dá nome ao disco. Deixo uma sugestão dentro da sugestão: acordar, abrir a janela e meter a versão, ou conversão, de “Summerti me” bem alto. João Luz
Director Carlos Morais José Editores João Luz; José C. Mendes Redacção Andreia Sofia Silva; João Santos Filipe; Nunu Wu Colaboradores
António Cabrita; Ana Jacinto Nunes; Amélia Vieira; Duarte Drumond Braga; Gonçalo Waddington; José Simões Morais; Julie Oyang; Paulo Maia
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O INVERNO DO NOSSO DESCONTENTAMENTO
NÃO ACREDITO QUE em Novembro venhamos a ter quaisquer notícias sobre a eminência da paz. Além disso, o Inverno que se aproxima vai ser amargamente frio devido às condições climáticas e às terríveis acções praticadas pela humanidade.
Com a guerra russo-ucraniana a apro ximar-se do oitavo mês, a Ucrânia deu início a uma contra-ofensiva nos territórios ocupados a leste e a sul do país. O impasse da guerra deixou inúmeros ucranianos sem -abrigo e muitos soldados russos morreram no conflito. A NATO impôs sanções econó micas à Rússia que, por sua vez, cortou o fornecimento de gás natural à Europa. Neste cenário de guerra, nenhum dos beligerantes sai vencedor. Os europeus estão a preparar -se para um Inverno muito difícil sem o fornecimento do gás russo. Se conseguirem sobreviver a este Inverno rigoroso, acredita -se que o fim da guerra energética marcará o início da guerra convencional.
Vai haver, sem qualquer dúvida, uma que bra no abastecimento de gás na Europa. Em bora Hong Kong e Macau estejam localizados numa zona de clima temperado, os seus dias invernosos podem ainda não ter acabado. Nos últimos anos, o clima de Macau tem arrefecido em Novembro, pela altura em que se realiza o Grande Prémio. No entanto, este ano, o tempo arrefeceu significativamente em meados de Outubro. De qualquer forma, a população de Macau não precisa de se preocupar com os rigores do Inverno, mas talvez o mesmo não se possa dizer em relação ao congelamento económico provocado pela pandemia, asso ciado à implementação da política da China de zero casos de Covid. A taxa de desemprego em Macau atingiu picos por diversas vezes e o declínio do seu PIB foi o mais grave de sempre. Sem levantar as restrições de entrada aos turistas em Macau, o Governo da RAEM volta a dar mais um subsídio de vida no mon tante de 8.000 patacas para aliviar a pressão financeira na vida dos residentes causada pela epidemia, com prazo de utilização de 8 meses e limite máximo diário de utilização de 300 patacas. Devido às mutações constantes das estirpes do coronavírus, vai levar muito tempo até que possa desaparecer completamente, ou em alternativa, ser capaz de forma dinâmica de atingir “zero casos” de infecção em Macau. Assim sendo, acredito que o congelamento da economia de Macau se vá estender muito para lá deste Inverno.
Hong Kong, também ela uma região administrativa especial à semelhança de Macau, alterou as regras de quarentena para quem chega à cidade para três dias de auto -gestão de saúde, com o intuito de revitalizar a sua economia atraindo pessoas de fora. Por enquanto, ainda não há certezas quanto à eficácia deste método, já que foi imple mentado há muito pouco tempo. Por outro lado, o Hang Seng Index de Hong Kong caiu
AP
abaixo do nível psicológico de 17,000 pontos a 11 de Outubro e fechou a 16832.36 pontos no próprio dia, tendo atingido o nível mais baixo em 11 anos.
Emitir opiniões favoráveis tornou-se a nova moda em Macau, como podemos ver no caso da revisão da “Lei Relativa à Defesa da Segurança do Estado”. A maior parte dos pontos de vista relativos à revisão da “Lei Relativa à Defesa da Segurança do Estado” são favoráveis. Apenas uma revista mensal e a Associação dos Jornalistas de Macau estão de alguma forma a manifestar um certo descontentamento com vários aspectos do conteúdo revisto. Além disso, as intervenções feitas pelos actuais deputados da Assembleia Legislativa de Macau não fazem qualquer menção aos pontos de vista e às preocupações manifestadas pela referida revista mensal e pela Associação dos Jornalistas de Macau. Aparentemente, a frialdade gélida da política
Os fogos da guerra não conseguem aquecer a Terra e as Nações Unidas desempenham um papel crucial para prevenir que o mundo inteiro enverede por um caminho trágico para todos
de Macau é muito mais severa do que a sua congelada economia. Acredito que a revisão da “Lei Relativa à Defesa da Segurança do Estado” levada a cabo pela Assembleia Legis lativa vai ser tão suave como deslizar no gelo.
Os fogos da guerra não conseguem aque cer a Terra e as Nações Unidas desempenham um papel crucial para prevenir que o mundo inteiro enverede por um caminho trágico para todos. O fracasso da Liga das Nações no passado serve-nos de dolorosa lição. Os maiores desafios que se apresentam ao mundo dos nossos dias, de que não havia memória há praticamente cem anos, são de facto instigados por quem está no poder. Embora o poder possa subjugar a verdade, nunca a pode substituir.
Precisamos de ter esperança para produ zir a mudança. Com a chegada do Inverno, será que ainda temos de esperar muito tempo pela Primavera?
vozes 15sexta-feira 14.10.2022 www.hojemacau.com.mo
um grito no deserto Paul Chan Wai Chi*
*Ex-deputado e antigo membro da Associação Novo Macau Democrático
Horizonte negro
dequada, fracas infraestruturas e baixa produtividade agrícola, que contribuem para a fome e vulnerabilidade crónicas”.
“A nível mundial e em muitos países e regiões, os actuais siste mas alimentares são inadequados para enfrentar estes desafios e acabar com a fome”, vaticinam.
CHINA FABRICANTES DE ‘CHIPS’ PROTESTAM CONTRA RESTRIÇÕES DE WASHINGTON
“S
OMBRIA” é como o Índice Global da Fome 2022 classi fica a situação da fome no mundo, agravada pelas úl timas crises e pelas actualmente em curso: impacto da pandemia de Covid-19, guerra na Ucrânia e alterações climáticas.
“Como mostra o Índice Glo bal da Fome (IGF) de 2022, a si tuação global da fome é sombria. A sobreposição das crises que o mundo enfrenta está a revelar as falhas dos sistemas alimentares, dos globais aos locais, e a realçar a vulnerabilidade das populações de todo o mundo em relação à fome”, lê-se no seu mais recente relatório, ontem divulgado.
No documento, o IGF de nuncia que “a percentagem de pessoas sem acesso regular a calorias suficientes está a au mentar”, em relação aos “cerca de 828 milhões de pessoas subalimentadas em 2021, o que representa uma inversão de mais de uma década de progresso no combate à fome”, devido a “uma onda de crises”.
O estudo prevê que “a situa ção é suscetível de piorar perante a actual onda de crises globais sobrepostas – conflicto, altera ções climáticas e repercussões económicas da pandemia de covid-19 – todas elas poderosas potenciadoras de fome”.
“A guerra na Ucrânia veio aumentar ainda mais os preços globais dos alimentos, de com bustíveis e fertilizantes e tem o
potencial de agravar ainda mais a fome em 2023 e nos anos seguin tes”, sustentam os especialistas responsáveis pela elaboração do
índice, considerando que “estas crises vêm juntar-se a factores subjacentes, tais como pobreza, desigualdade, governação ina
Sem melhorias até 2030
Segundo os especialistas, “sem uma mudança significativa”, existe um potencial de agrava mento da situação já em 2023, não se prevendo que o mundo no seu conjunto consiga atingir um nível baixo de fome até 2030, como previsto nas metas defini das na chamada Agenda 2030 (traçada pela ONU e composta por 17 grandes objectivos de desenvolvimento sustentável).
O IGF apresenta uma escala de gravidade da fome que inclui os níveis “baixo, moderado, grave, alarmante e extrema mente alarmante”. De acordo com o estudo, “a fome elevada persiste em demasiadas regiões”, os níveis de população que se encontram subnutridos estão a aumentar e não se prevê qualquer melhoria até 2030.
O sul da Ásia é a região que apresenta os valores mais elevados e a África subsaariana a segunda região com os níveis de fome mais graves, com a subalimentação e a taxa de mortalidade infantil “mais altas do que qualquer outra região do mundo”, nos termos do relatório, que considera que também em regiões como a África oriental, a Ásia ocidental e o norte de África “os valores são preocupantes”.
O sul asiático é também a região com maior taxa de atraso no crescimento infantil (raqui tismo) e, “de longe, a maior taxa de emaciação infantil do que qualquer outra região do mundo”.
PAQUISTÃO PELO MENOS 18 MORTOS EM ACIDENTE DE AUTOCARRO
PELO menos 18 pes
soas, incluindo 12 crianças, morreram num incêndio no autocarro que as levava de volta para a sua aldeia, após terem sido des locadas pelas inundações que atingiram o Paquistão neste Verão, disseram on tem fontes oficiais.
As vítimas “estavam a voltar para a sua aldeia
quando foram apanhadas neste acidente”, disse Vinod Kumar, um respon sável de saúde da região, à agência de notícias AFP no local do incidente.
“Aparentemente, o fogo começou no sistema de ar condicionado do autocarro, mas a investi gação vai revelar a causa real”, disse Hashim Brohi,
um responsável da polícia paquistanesa, também presente no local.
O incêndio no auto carro ocorreu na noite de quarta para quinta-feira, após o veículo ter saído de Carachi, no sul do país, onde os passageiros estiveram alojados após serem afectados pelas inundações causadas
pelas chuvas de monções. Os acidentes fatais são muito comuns no Paquis tão devido ao mau estado das estradas, veículos pouco conservados e pela direcção imprudente dos condutores.
Cerca de 1.700 pessoas morreram devido às inun dações desde o início das monções em Junho, cuja
severidade as autoridades paquistanesas atribuem às mudanças climáticas.
As águas estão a co meçar a baixar lentamen te nas áreas inundadas e muitos deslocados, que se refugiaram em acam pamentos improvisados, agora estão a voltar para casa para tentar recons truir as suas vidas.
OS fabricantes chineses de semi condutores manifestaram ontem oposição às restrições impostas pelos Estados Unidos à venda daqueles com ponentes, essenciais para a produção de alta tecnologia, a empresas ou indivíduos do país, segundo a imprensa estatal.
Citada pelo jornal oficial China Daily, a Associação Chinesa da Indús tria de Semicondutores assegurou que a proibição, anunciada no final da semana passada, representa uma interferência no comércio internacional.
“Esperamos que o Governo dos EUA corrija as suas práticas incorrectas em tempo útil”, disse a organização, apelando a um “consenso”.
A Associação instou Washington a “retornar à estrutura do mecanismo de consulta sobre comércio internacional”, patrocinado pelo Conselho Mundial de Semicondutores (WSC) e pela Assem bleia de Governos e Autoridades em Semicondutores (GAMS).
Na última sexta-feira, o Departa mento do Comércio dos EUA emitiu uma ordem que impede que empresas ou indivíduos chineses tenham acesso a ‘chips’ semicondutores fabricados nos Estados Unidos ou produzidos com componentes norte-americanas, sob ameaça de inclusão na sua lista de sanções para empresas estrangeiras.
Covid-19 Taiwan reabre fronteiras sem quarentena
Taiwan reabriu ontem por completo as fronteiras, fechadas desde 2020 devido à pandemia de covid-19, sem impor uma quarentena obrigatória aos visitantes.
A chegada de pessoas vindas do estrangeiro fica para já limitada de momento a 150 mil por semana e os viajantes terão de monitorizar o estado de saúde durante a primeira semana, informou a agência noticiosa oficial de Taiwan, CNA. O Aeroporto In ternacional de Taoyuan, a principal porta de entrada para a ilha, confirmou que está pronto para começar a receber passageiros estrangeiros, enquanto muitos taiwaneses que vivem na China se queixaram das dificuldades em encontrar bilhetes de avião para a ilha devido aos poucos voos disponíveis.
sexta-feira 14.10.2022 “O que faz andar o barco não é a vela enfunada, mas o vento que não se vê.” PlatãoPALAVRA DO DIA PUB.
ÍNDICE GLOBAL DA FOME SITUAÇÃO EM 2022 É “SOMBRIA”
“A nível mundial e em muitos países e regiões, os actuais sistemas alimentares são inadequados para enfrentar estes desafios e acabar com a fome.”
DOCUMENTO
ÍNDICE GLOBAL DA FOME