DIRECTOR CARLOS MORAIS JOSÉ
MOP$10
SEGUNDA-FEIRA 14 DE NOVEMBRO DE 2016 • ANO XVI • Nº 3695
MARISA GASPAR
hojemacau
ENTRE DOIS MUNDOS ENTREVISTA
CORTA! CINEMA MARCO MUELLER DEMITE-SE DO MIFF
IPM | PORTUGUÊS
O ano de todos os êxitos
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PÁGINA 5
PÁGINA 7
OPINIÃO Mundo ao contrário RUI FLORES
FÓRUM MACAU
Qual é a táctica? PÁGINA 9
h
Pintores antigos YAO ZUI
Terror e beleza LEONARD COHEN (1934-2016)
O CANTOR MORREU EVENTOS
AGÊNCIA COMERCIAL PICO • 28721006
PUB
RUI FILIPE TORRES
2 ENTREVISTA
MARISA GASPAR ANTROPÓLOGA, AUTORA DE UMA TESE SOBRE MACAENSES
Tropeçou em Macau e nos macaenses por acaso, já lá vão mais de 10 anos. Do acaso ao fascínio, Marisa Gaspar passou para a investigação. A antropóloga apresenta em Janeiro o livro que resulta de uma tese de doutoramento em que explora o conceito de ambivalência: fazer parte de dois mundos não é sinónimo de desconforto
“No Tempo do Bambu – Identidade e Ambivalência entre Macaenses”. O livro surge na sequência da tese de doutoramento que fez, mas o contacto com a comunidade macaense não começou com os anos de pesquisa que resultaram nesta obra. Sim, há mais de uma década que investigo Macau e os macaenses, sobretudo a comunidade que está radicada cá. Isto foi o culminar de uma investigação para um doutoramento. Depois de ter sido defendida em 2013, o passo seguinte seria a publicação, que se concretizou. O livro saiu pela edição do Instituto do Oriente da Universidade de Lisboa. Como é que surgiu o interesse por Macau e pelos macaenses? Não tinha qualquer ligação a Macau – agora sim, tenho muitas afectivas – mas, até então, não. Quando fui a primeira vez a Macau fui sozinha, à descoberta, e rapidamente conheci pessoas que foram muito calorosas e que me integraram. O gosto por Macau começou em 2003. Quando terminei a minha licenciatura em Antropologia tive a oportunidade de fazer um estágio profissional no Centro Científico e Cultural de Macau aqui em Lisboa. O centro foi fundado em 1999, precisamente com a preocupação de, uma vez que Macau tinha passado para a China, manter a ligação ao território e ser uma ponte activa nas relações China-Portugal, passando sempre por Macau. Não conhecia o centro e pouco conhecia a história de Macau – como a maior parte dos portugueses, que sabem aquela história romântica de que foi cedido aos portugueses que ficaram lá e defenderam a costa. A Expo 98 também foi importante, porque nos aproximou mais do Oriente, as pessoas tiveram oportunidade de perceber que havia um pavilhão muito interessante, o de Macau. Mas, como referi, pouco sabia de Macau. Foi esse estágio que me permitiu ter mais conhecimento sobre o Oriente e, à medida que ia sabendo mais, ia estudando mais e ficando cada vez mais fascinada. Depois, o facto de ter conhecido Henrique de Senna Fernandes, numa das suas passagens por Lisboa: tive a oportunidade de passar
longas tardes com ele à conversa e fiquei completamente fascinada por esta comunidade, por esta terra, quis saber mais e investigar mais. Nunca pensei que teria um projecto destes. Entretanto, a minha vida foi mudando, passei por outros sítios, estive um pouco desligada desta investigação, mas sabia que, no futuro, iria voltar a ela e iria fazer um projecto com mais consistência. A identidade macaense é um assunto muito polémico, não reúne consenso dentro da própria comunidade macaense – ou nas comunidades macaenses. É neste contexto que surge a ambivalência a que se faz referência no título? A que conclusões chegou? Em relação às conclusões, tenho de salientar que são sempre as minhas interpretações – há sempre muitas divergências no seio da própria comunidade, é natural que umas se identifiquem mais e outras menos com as observações que faço e com as conclusões a que chego. A ambivalência não diz respeito ao que serão os marcadores identitários da comunidade porque, nesse sentido, não encontro grandes discrepâncias. O meu estudo baseia-se na comunidade, mas não me fixei só em Macau ou só em Portugal. A comunidade é muito dinâmica e funciona sobretudo em rede – o que move a comunidade são redes de pessoas e determinadas pessoas dentro da comunidade. Quando percebi isso, achei que poderia focar-me em redes de pessoas e não tanto nos sítios onde estão fixadas, até porque a comunidade tem muitos fluxos entre Portugal, Macau e a diáspora. Mas o importante é perceber que as pessoas estão constantemente em contacto. O facto de estar cá em Portugal não quer dizer que não saibam exactamente o que se está a passar em Macau, porque as pessoas usam as redes sociais e a Internet como forma de comunicação diária e actualizada. Acredito até que os macaenses em Portugal saibam mais das notícias de Macau e do que se passa com os macaenses em Macau do que propriamente o que está a acontecer aqui no país de acolhimento. Mas o que me interessava perceber era exactamente o que se tinha passado desde 1999 – a grande alteração social, económica e cultural em
MARISA GASPAR
“A identidade mold
“A comunidade é muito dinâmica e funciona sobretudo em rede – o que move a comunidade são redes de pessoas.”
3 hoje macau segunda-feira 14.11.2016 www.hojemacau.com.mo
a-se às situações” Macau – e a forma como isso se estava a reproduzir em termos de alterações identitárias na comunidade. Que alterações identitárias foram essas? Aconteceram? Sim, essa é a conclusão a que o meu estudo chega. De facto, o que percebi é que há uma mudança de paradigma. Se antes a comunidade macaense se identificava sobretudo com uma cultura e uma identidade lusófona, de matriz portuguesa, neste momento houve uma mudança de paradigma: mais importante do que ter essa matriz portuguesa na sua cultura e na sua identidade é marcar pela diferença, ou seja, ‘eu sou diferente quer do português, quer do chinês, porque sou uma mistura dos dois, sou mestiço, sou filho desta terra, como toda a nossa cultura é um produto dessas misturas, seja na comida, seja na língua que se mistura, somos nós, somos um produto da vivência destes dois mundos que resultou nesta mistura’. Acho que esta identificação começa a acontecer precisamente com a preparação para a transição e sobretudo depois da transição, até porque o discurso formal, oficial e político em Macau é precisamente nesse sentido – marcar pela diferença. Macau é diferente da China, tem uma cultura e uma identidade próprias e é isso que está a ser incutido diariamente. Os macaenses, como filhos da terra que são, têm aqui um papel muito importante – mostrarem ao mundo como duas culturas tão diferentes se misturaram e resultaram nesta comunidade.
“Mais importante do que ter a matriz portuguesa na sua cultura e na sua identidade é marcar pela diferença.”
Faz referência a uma ambivalência estratégica. Que estratégia é esta? O que entendo por ambivalência é um conceito mais abstracto que tentei explorar. A sensação que tenho, do trabalho de campo intensivo com os macaenses, é que o facto de terem características de informação e saberem estar em ambos os mundos – de conhecerem a cultura ocidental, portuguesa, assim como têm os requisitos da cultura oriental – faz com que a ambivalência seja usada de forma estratégica, de tirar o maior proveito possível dela. Em situações em que convém ser mais
ocidental, são mais ocidentais; quando convém ser mais oriental, são mais orientais. Não estando em nenhum dos dois mundos mas estando no meio deles, a verdade é que sabem estar em ambos. Há esse aproveitamento positivo. A ambivalência pode sempre vista, em termos sociológicos, como o não saber estar ou uma confusão de identificação, mas no caso dos macaenses a ambivalência sempre existiu e foi aproveitada de uma forma muito proveitosa e positiva. Esta ambivalência será também identitária, porque haverá alturas e situações em que se deve, se pode ou é mais proveitoso identificar-se com determinados parâmetros, e noutras com outros. Isto para explicar que a identidade é uma coisa muito fluida, plástica, que se molda às situações, àquilo que os indivíduos querem fazer com ela. Os macaenses são um caso muito específico, atendendo a que a questão da mestiçagem foi um processo mais claro nas antigas colónias portuguesas, até pelas características políticas. À descolonização corresponderam processos de
UM LIVRO DISPONÍVEL
A
obra de Marisa Gaspar é apresentada na Casa de Macau em Lisboa a 19 de Janeiro do próximo ano, mas está já disponível para quem se interessa pelo tema. Existem exemplares impressos que não vão ser comercializados – a edição foi patrocinada pela Fundação para a Ciência e Tecnologia do Governo português – e sim distribuídos pelas bibliotecas da especialidade. Mas existe uma versão de “No Tempo do Bambu” em e-book, que pode ser descarregada gratuitamente no site do Instituto do Oriente do Instituto de Ciências Sociais e Políticas da Universidade de Lisboa. Em Janeiro, para assinalar a publicação da obra, vai realizar-se um debate que conta com as intervenções do académico Brian O’Neill, autor do prefácio do livro; de Ana Paula Laborinho, presidente do Instituto Camões; e de Fernanda Ilhéu, coordenadora do ChinaLogus – Business Knowledge & Relationship with China, do Centro de Estudos de Gestão da Universidade de Lisboa.
independência, mas no caso de Macau aconteceu uma transferência de poderes – e não passou a ser dos macaenses, como já não era antes. Coloca uma questão: “Macau, ainda terra minha?”. Que resposta é que se pode dar? De facto, Macau é incomparável com qualquer uma das ex-colónias portuguesas. Lembro-me perfeitamente de ouvir, nas minhas entrevistas, macaenses dizerem que tinham pisado Portugal pela primeira vez com 18, 20 anos, quando tinham oportunidade de vir estudar. Quando ouvia isto, era já no seguimento de uma longa conversa, e para trás tinha ficado uma paixão à pátria, um amor à terra – uma terra que não conheciam. Deixava-me chocada por perceber que era um amor quase platónico, porque estamos a falar de um país que ficava muito longe e que não conheciam de todo. Nesse sentido, o processo educativo vinha obviamente de uma política de instrução escolar – refiro-me a um grupo numa faixa etária entre os 60 e os 70 anos. Este grupo viveu o Macau antes e o depois da transição – e talvez muito mais o Macau antes, que podia ser o Macau chinês que sempre foi, mas esta comunidade era lusófona. Nesse sentido, havia essa ligação muito forte a Portugal. Com o processo de transferência houve muitas questões delicadas, mas penso que se resolveram pelo melhor e, no geral, as pessoas ficaram satisfeitas. Todas elas me falavam do fantasma do processo de descolonização em África e como isso as tinha, de certa forma, traumatizado, gerando o receio de terem de largar tudo e irem embora. Mas isso não aconteceu, as pessoas foram bem integradas, quem quis vir embora veio, houve muita gente que percebeu que era melhor estar em Macau e regressou. A verdade é que a comunidade é isto: são várias redes de pessoas que têm ligações por laços familiares, mas não só, por laços de afectividade que ficou dos tempos da escola, que se continuam a relacionar e a mover. Estamos a chegar ao próximo Encontro das Comunidades Macaenses e há uma demanda para Macau. Há a necessidade de manter os laços bem activos com Macau e de perceber que ‘a minha terra continua ali e as minhas origens são aquelas’. Isabel Castro
isabel.castro@hojemacau.com.mo
4 POLÍTICA
hoje macau segunda-feira 14.11.2016
SEGURANÇA SOCIAL PRÓXIMOS 50 ANOS SUSTENTADOS POR 68 MIL MILHÕES
A
Segurança CRITICADO SISTEMA PARA ADJUDICAÇÃO DE CONTRATOS
Preço (pouco) certo Mais fiscalização aos serviços de segurança de modo a combater a fraude nos salários é a premissa deixada pelo deputado Au Kam San em interpelação ao Executivo. Na origem do problema está o critério que valoriza as propostas mais baratas
Q
UANTO mais barato, melhor, é a ideia que está na base da interpelação do deputado Au Kam San, que critica o sistema de adjudicação dos serviços de segurança por parte do Executivo em que, mais que a qualidade, a aceitação tem tido como critério o preço mais baixo. Com os valores reduzidos que as propostas apresentam de modo a serem aceites, o deputado levanta a suspeita de “possibilidade de fraude nos processos”. De modo a evitar a situação, Au Kam San pede maior fiscalização por parte do Governo, aos serviços de segurança. “As empresas que prestam o serviço de segurança a baixo custo, não conseguem pagar os salários aos funcionários”, afir-
ma o deputado enquanto adianta que as adjudicações a empresas de segurança privadas são em número “extraordinariamente” grande. Apesar dos serviços serem adjudicados de acordo com as necessidades próprias de cada departamento e através do concurso público, o baixo custo
“Segundo este princípio, quem apresentar o preço mais baixo consegue mais facilmente obter a adjudicação” AU KAM SAN DEPUTADO
é o factor que mais conta na avaliação das propostas. O peso dos gastos pode atingir os 60 por cento a 80 por cento da pontuação total atribuída às propostas. “Podemos concluir que, segundo este princípio, quem apresentar o preço mais baixo consegue mais facilmente obter a adjudicação”, lê-se na interpelação. Tendo como referência a boa gestão dos dinheiros públicos, Au Kam San concorda que o valor monetário deve ser um critério a considerar na avaliação das propostas, no entanto, não ao ponto de permitir que os funcionários do sector da segurança possam vir a usufruir de um salário inferior aos valores mínimos legais.
FAZER PELA VIDA
O que se tem vindo a verificar, aponta o deputado, é que, de
acordo com empresas do sector, o facto do preço do serviço se ter transformado em factor decisivo para a adjudicação bem sucedida, é imperativa para as entidades patronais, a redução de gastos e consequente limite dos salários abaixo do ordenado mínimo previsto pela lei, de modo a ser sustentável. “Para as empresas, se o salário mínimo obrigatório e previsto por lei tiver que ser assegurado, é quase impossível sustentar o serviço que foi adjudicado, porque os gastos com o mesmo serão superiores ao orçamento aprovado”. Au Kam San questiona retoricamente como é que as empresas poderão resolver este problema sem que incorram em fraude nos preços dados para avaliação em concurso público. Para o deputado é claro que só não existe fraude, caso os concessionários dos serviços de segurança estejam dispostos a suportar o défice entre o serviço pago pelo Governo e os verdadeiros custos do mesmo. “Só quando as empresas estiverem preparadas para suportar a diferença entre os custos reais e o orçamento adjudicado, é que não se estará a incorrer em fraude”, afirma o deputado. Para Au Kam San a solução passa pelo reforço dos serviços de fiscalização ao sector da segurança. Angela Ka (revisto por SM) info@hojemacau.com.mo
TÉ o final deste ano o activo total do Fundo de Segurança Social (FSS) é estimado em cerca de 68 mil milhões, sendo que o montante poderá sustentar o funcionamento das pensões para idosos por mais 50 anos. A informação é dada por Iong Kong Io, presidente do Conselho de Administração do Fundo de Segurança Social no programa Macau Talk do canal chinês da Rádio Macau. O responsável sublinhou ainda que, a curto prazo, o Governo não terá necessidade de proceder a qualquer injecção de capital. Para Iong Kong Io, o regime de segurança social é a principal garantia social e como tal o Governo assume 85% das despesas do fundo destinado ao sector, sendo que salvaguarda que a dependência em demasia do Executivo acarreta riscos. “Para assegurar a sustentabilidade prolongada do regime é necessário que este seja assumido também por parte de empregadores e empregados”, afirma o dirigente. O Fundo de Segurança Social vai, a partir do próximo ano, aumentar o montante das contribuições por parte da entidades patronais e laborais, das 45 patacas para 90 patacas, mantendo a proporção um para dois. Iong Kong Io referiu ainda que, actualmente, as pensões dos idosos ocupam mais de 90% das despesas do Fundo de Segurança Social, sendo o restante montante absorvido pela atribuição de subsídios, nomeadamente, de invalidez.
CHUI SAI ON QUER ESTAR MAIS PERTO DA POPULAÇÃO
O Chefe do Executivo, Fernando Chui Sai On , pretende visitar gradualmente as várias zonas do território. A notícia foi avançada pelo gabinete do Executivo que divulga o recente passeio feito pelo governante ao Bairro da Horta da Mitra. A iniciativa tem como finalidade um aproximar da população para que sejam detectadas as suas necessidades. Na Horta de Mitra, Chui Sai On interrogou os comerciantes da restauração acerca das dificuldades que sentem e dos preços dos produtos. Por outro lado, e à medida que o passeio decorreu, Chui Sai On falou com os residentes da zona e perante a curiosidade relativa ao seu estado de saúde, fez questão de sublinhar que se encontra melhor.
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O director do primeiro Festival Internacional de Cinema de Macau, Marco Mueller, demitiu-se ontem. Uma referência do cinema internacional que deixa o evento mais pobre e os protagonistas da sétima arte receosos quanto ao futuro
Cinema MARCO MUELLER DEMITE-SE DE FESTIVAL INTERNACIONAL
Luz, câmara, demissão realizadores locais, precisamos muito do apoio de um profissional como o Marco que poderia servir de ponte. Ele era capaz de levar as nossas obras para outras paragens e internacionalizar o trabalho que fazemos”, explica a jovem realizadora. Não há dúvidas e “é inevitável a perda que o festival vai sofrer com a saída de Mueller, até porque muitos dos filmes que constam no cartaz foram trazidos por ele”, lamenta Emily Chan.
M
ARCOMuellerdemitiu-se do cargo de director do Festival Internacional de Cinema de Macau. A notícia foi dada ontem em comunicado emitido pela Comissão Organizadora do evento. O acontecimento dá-se a cerca de três semanas do início do festival que tem data marcada de 8 a 13 de Dezembro e apresenta um cartaz com 43 filmes. Na origem da saída estarão divergências entre Mueller e a Associação de Cultura e Produções de Filmes e Televisão de Macau. Macau perdeu o passaporte para a internacionalização na sétima arte com a saída de Marco Mueller da direcção do primeiro Festival Internacional de Cinema (MIFF). Este é o sentimento que ficou, ontem, entre realizadores residentes a propósito da notícia da demissão do reconhecido programador, Marco Mueller, do cargo de direcção artística da primeira edição do evento que prometia colocar Macau no mapa dos festivais de cinema. Nos realizadores locais fica a sensação de perda, de esperança desfeita e de sonho perdido. “Este sonho de existir um festival com um grande programador mundial diluiu-se antes mesmo de ter início”, reage o realizador de “Cartas de Guerra”, Ivo Ferreira, em declarações ao HM. Ter um festival de cinema em Macau não seria uma distinção. O segredo estava, e até ontem, bem entregue ao facto de assumir a liderança com um nome como o de Marco Mueller. Para Ivo Ferreira, “festivais há muitos, há milhões no mundo todo e sem relevância alguma. A diferença acontece quando têm características particulares, como por exemplo, ter um grande director e um programador fantástico, como estava para acontecer em Macau com a presença do Mueller”. O realizador lamenta a notícia do fim ainda antes do início, e a
SOCIEDADE
“Se não contamos com ele vai ser mais difícil dar passos no sentido de trazer o bom cinema a Macau e tornar o festival de cinema num evento de renome” EMILY CHAN REALIZADORA Sem Mueller, e com a promessa agora esmorecida, o receio torna-se inevitável: “se não contamos com ele vai ser mais difícil dar passos no sentido de trazer o bom cinema a Macau e tornar o festival de cinema num evento de renome”.
DIFERENÇAS MAIORES
demissão de Mueller “esmorece muito o sonho de termos um grande festival de cinema em Macau”, até porque a sua presença na direcção do MIFF não estava guardada para reconhecimento futuro e já tinha contribuído para colocar Macau no mundo. “Eu que passo muito tempo em Festivais, agora quando digo que venho de Macau, as pes-
“Este sonho de existir um festival com um grande programador mundial diluiu-se antes mesmo de ter início” IVO FERREIRA REALIZADOR
soas já sabem, precisamente pela referência ao director”. “É uma pena”, remata Ivo Ferreira.
FUTURO INCERTO
O sentimento é partilhado por Emily Chan que, apesar de já ter uma película agendada para o evento, não deixa de se mostrar surpreendida e até temerosa quanto ao futuro do MIFF. “Estou assustada e não percebo as razões deste desfecho”, afirma a realizadora local ao HM em reacção à notícia de ontem. “Durante a convivência com o Marco, ele mostrou ser caloroso e com vontade de ajudar os realizadores locais, sobretudo os mais jovens. É uma figura carismática e essencial”, explica. Para Emily Chan, a ausência de Marco Mueller também “é uma pena”. Macau ainda está a dar os primeiros
passos na sétima arte e na projecção do que se faz no território e, no ponto de vista da realizadora, Marco Mueller era a esperança do futuro do cinema local. “ Em Macau o cinema é muito recente e está numa fase inicial, e nós,
UMA SURPRESA
T
ambém para o Secretário para os Assuntos Sociais e da Cultura , Alexis Tam, a saída de Marco Mueller parece ser uma surpresa. O Secretário reagiu à saída do programador italiano do cargo de director do Festival Internacional de Cinema de Macau, dizendo que a decisão é “pessoal” e “inesperada”, conforme citado pela Rádio Macau. Segundo a mesma fonte, Alexis Tam sublinha ainda que esta é uma decisão que “naturalmente respeita”.
Marco Mueller conta já com um vasto currículo e com o nome à frente de alguns dos grandes festivais internacionais, como o de Veneza ou Roma tendo ainda colaborado como consultor do festival de cinema de Pequim e programador do festival da Rota da Seda. Em nota enviada ao HM a Comissão Organizadora faz saber que “foi por motivo de divergências de opiniões entre o Sr. Marco e a Associação de Cultura e Produções de Filmes e Televisão de Macau” que o agora ex-director do MIFF, apresentou a sua demissão. A mesma entidade dá ainda a conhecer que Marco Mueller não vai ser substituído e que “a Comissão Organizadora e a Associação de Cultura e Produções de Filmes e Televisão de Macau, decidiram não convidar um outro director para o Festival de Cinema, sendo que o Secretariado irá assumir todas as tarefas e responsabilidades de director do Festival.” Sofia Mota
sofiamota.hojemacau@gmail.com
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hoje macau segunda-feira 14.11.2016
AVISO COBRANÇA DA 2.ª PRESTAÇÃO DO IMPOSTO COMPLEMENTAR DE RENDIMENTOS Avisa-se os Srs. contribuintes que a 2.ª prestação do referido Imposto, respeitante a 2015, é cobrada durante o mês de Novembro do ano corrente. No mês de pagamento, se os Srs. contribuintes não tiverem recebido o conhecimento de cobrança, agradece-se que se dirijam ao NÚCLEO DE INFORMAÇÕES FISCAIS, situado no r/c do Edifício “Finanças”, ao Centro de Atendimento Taipa ou ao Centro de Serviços da RAEM, trazendo consigo o conhecimento de cobrança ou fotocópia do ano anterior, para efeitos de emissão de 2.ª via do mesmo. Por outro lado, os contribuintes, que sejam titulares do Bilhete de Identidade de Residente da RAEM, podem recorrer aos quiosques desta Direcção de Serviços para efectuarem a impressão de 2.ª via do conhecimento de cobrança pessoal. 3. O pagamento pode ser efectuado, até ao último dia do mês de Novembro, nos seguintes locais: - Nas Recebedorias do Edifício “Finanças”, do Centro de Atendimento Taipa, do Centro de Serviços da RAEM ou do Edifício Long Cheng; - Os impostos/contribuições podem ser pagos por intermédio de cartão de crédito ou de débito emitidos pelo Banco da China ou pelo Banco Nacional Ultramarino (incluindo “Maestro” e “UnionPay”). O valor total de pagamento não pode ser superior a MOP$100.000,00 (cem mil patacas), sendo apenas permitido utilizar na operação um único cartão. Pode-se também optar pelo pagamento através do cartão “Quick Pass”, sendo que o valor total de pagamento não pode ser superior a MOP$1.000,00 (mil patacas). - Nos balcões dos Bancos a seguir discriminados: Banco da China Banco Comercial de Macau Banco Delta Ásia Banco Industrial e Comercial da China Banco Luso Internacional Banco Nacional Ultramarino Banco Tai Fung Banco OCBC Weng Hang - Nas máquimas ATM da rede Jetco de Macau, assinaladas com a indicação <<Jet payment>>; - Por pagamento electrónico [“banca-on-line”]: Banco da China Banco Luso Internacional Banco Nacional Ultramarino Banco Tai Fung Banco OCBC Weng Hang - Por pagamento telefónico “banca por telefone” : Banco da China Banco Tai Fung 4. Se o pagamento for efetuado por meio de cheque, a data de emissão não pode ser anterior, em mais de três dias, à da sua entrega nas Recebedorias da DSF, e deve ser emitido a favor da <<Direcção dos Serviços de Finanças>>, nos termos das alíneas 2) e 3) do n.º 1 do Artigo 4.º do Regulamento Administrativo n.º 22/2008. Se o valor do cheque for igual ou superior a MOP$ 50.000,00, deverá o mesmo ser visado, nos termos da alínea 4) do Artigo 5.º do Regulamento Administrativo acima mencionado. 5. Os contribuintes podem também efectuar o pagamento através do envio de ordem de caixa, cheque bancário ou cheque por correio registado para a Caixa Postal 3030. Não é possível enviar dinheiro, mas apenas ordem de caixa, cheque bancário ou cheque, devendo incluir-se um envelope devidamente selado e endereçado ao próprio contribuinte, a fim de se enviar posteriormente o respectivo conhecimento, comprovativo do pagamento. Note-se que devem ser respeitadas as regras descritas no ponto 4, relativamente aos cheques: - O envio para a caixa postal deve ser feito 5 dias úteis antes do termo do prazo de pagamento indicado no conhecimento de cobrança. 6. Nenhum dos métodos acima mencionados acarreta quaisquer encargos adicionais aos contribuintes pela prestação do serviço de cobrança. 7. Para a sua comodidade, evite pagar os impostos nos últimos dias do prazo. 1. 2.
Aos 28 de Outubro de 2016. O Director dos Serviços Iong Kong Leong
7 O Centro Pedagógico e Científico da Língua Portuguesa comemora hoje cinco anos de existência com um colóquio a duas vozes. O seu director, Carlos André, afirma que 2016 foi um dos melhores anos para o centro, que está quase a atingir a totalidade dos docentes de língua portuguesa da China
Q
UANDO foi criado, em 2012, tinha um objectivo: formar todos os docentes de língua portuguesa da China que se viam a braços com vários desafios, com muitos professores a darem aulas nas universidades com apenas uma licenciatura, dada a imensa procura pelo idioma. Cinco anos depois, pode-se dizer que o Centro Pedagógico e Científico da Língua Portuguesa, do Instituto Politécnico de Macau (IPM), cumpriu os seus objectivos. “Devo dizer que as acções de formação realizadas até agora no interior da China devem ter abrangido entre 80 a 90 por cento dos docentes de português no país. Estamos
Português IPM QUASE A ATINGIR TODOS OS DOCENTES DA CHINA
Um ano de sucesso muito perto dos 100 por cento dos professores atingidos pelas acções de formação que realizamos ou que vamos realizar este ano. Até Dezembro, ainda temos três acções de formação”, disse ao HM Carlos André, director do centro. Para o responsável, o ano que está prestes a terminar foi o ponto mais alto em termos de projectos e actividades. “O nosso corpo docente cresceu ao longo deste ano e diria que, se todos os anos têm correspondido a um progresso, 2016 foi um ano de grande sucesso, com o ponto alto que foi o lançamento de dois livros com a presença do primeiro-ministro português [António Costa] e o Secretário para os Assuntos Sociais e Cultura [Alexis Tam].”
Até ao final deste ano ainda vão ser lançados mais quatro livros. Quanto às acções de formação para 2017 “vão ser intensificadas”, garantiu Carlos André. “O ponto alto será Julho, um mês forte na vida
“Diria que, se todos os anos têm correspondido a um progresso, 2016 foi um ano de grande sucesso.” CARLOS ANDRÉ CENTRO PEDAGÓGICO E CIENTÍFICO DA LÍNGUA PORTUGUESA
AAM LISTA DE NETO VALENTE É A ÚNICA A CONCORRER À PRESIDÊNCIA
J
ORGE Neto Valente vai recandidatar-se à presidência da Associação dos Advogados de Macau (AAM). A informação é adiantada pela Rádio Macau, sendo que as eleições, estão marcadas para Dezembro e contam com uma lista única. Além de Neto Valente na presidência, Paulino Comandante mantém-se na direcção. O presidente da Assembleia Geral vai ser Philip Xavier e Rui Cunha fica na liderança do Conselho Fiscal. Já o Conselho Superior da
SOCIEDADE
TIAGO ALCÂNTARA
hoje macau segunda-feira 14.11.2016
Advocacia ainda não tem presidente mas tudo indica que será Frederico Rato. Em declarações à Rádio Macau, Neto Valente disse que a lista é de continuidade. “Não apareceu outra lista, infelizmente. Avisámos, tentámos, convidámos, mas não
conseguimos arranjar outra lista. Portanto, há algumas renovações, algumas substituições mas é uma lista de continuidade.” Neto Valente apontou como prioridade as tarefas que a AAM tem em curso, nomeadamente, “a revisão dos estatutos de regulamentos e diplomas vários que regulam a profissão”. Já o objectivo principal continua a ser “melhorar” a Justiça. “Infelizmente a Justiça não está com muita saúde e não tem nada que a recomende”, enfatizou.
do centro, porque teremos o fórum internacional do ensino da língua portuguesa, que vamos realizar em Pequim. Teremos ainda o curso de formação em Macau. Mas o ponto mais alto será a realização do congresso da Associação Internacional de Lusitanistas, organizado por nós pela primeira vez na Ásia e onde contamos ter os melhores dos melhores professores ligados à língua e cultura portuguesas em todo o mundo”, adiantou Carlos André.
ANALISAR EXPERIÊNCIAS
Hoje e amanhã decorre no IPM, em parceria com a Escola Superior de Línguas e Tradução, o colóquio intitulado “Diálogos entre língua(s), literatura(s) e
cultura(s) no ensino e na tradução do português e chinês”. Irão participar Alexandra Assis Rosa, subdirectora da faculdade de letras da Universidade de Lisboa, e Catarina Xu, subdirectora da faculdade de estudos europeus e latino-americanos da Universidade de Estudos Internacionais de Xangai. Para Carlos André, o objectivo é fazer “um intercâmbio de experiências”. “Este ano fizemos uma celebração do aniversário com um figurino bastante diferente. Em vez de pedirmos a uma pessoa para fazer uma conferência resolvemos colocar várias pessoas com experiências muito diversas na área do ensino do português como língua estrangeira, decidimos pô-las a conversar. Esperamos uma troca de impressões e que isso seja enriquecedor para todos”, rematou. Andreia Sofia Silva
andreia.silva@hojemacau.com.mo
SERVIÇOS DE SAÚDE BASE DE DADOS PARA TRANSPLANTE DE RINS A CAMINHO
E
STÃO a ser efectuados os trabalhos preparatórios para a criação de uma base de dados dos doentes à espera de transplante de rins. A notícia foi dada ontem por Tai Wa Hou, coordenador do grupo de trabalho do transplante de órgãos dos Serviços de Saúde (SS) no
programa Fórum Macau, em que o responsável adiantou ainda que a iniciativa poderá estar concluída daqui a dois anos. À margem do programa, Tai Wa Hou garantiu ainda que dará inicio a um projecto idêntico em que serão considerados os doentes que aguardam transplante de fígado. A informação é dada após o primeiro transplante renal efectuado em Macau, no Centro Hospitalar Conde de São Januário, no início do mês. O responsável dá ainda a conhecer que é intenção
dos SS criar um sistema de partilha e distribuição de órgãos. “A criação da lista de espera de doentes que aguardam transplante de rins envolve muitas componentes e Macau neste momento conta com poucos especialistas”, refere Tai Wa Hou. O presidente da associação dos doentes renais, Leong Kam Wa, referiu no mesmo programa que, actualmente, Macau conta com cerca de 600 doentes que sofrem do insuficiência renal crónica e que necessitam de transplante.
8 hoje macau segunda-feira 14.11.2016
A licenciatura em gestão de jogo administrada pelo Instituto Politécnico de Macau abriu portas, este ano, aos alunos cabo-verdianos. A iniciativa pretende preparar a população para a entrada de novos casinos nas ilhas africanas
Jogo MACAU FORMA FUTUROS OPERACIONAIS DE CABO VERDE
Apostar a dobrar SOFIA MOTA
SOCIEDADE
N
O Instituto Politécnico de Macau (IPM) há uma turma composta unicamente por cabo-verdianos que aprendem como gerir casinos, numa altura em que o país se prepara para dar cartas na indústria do jogo. Belany, António e Kino são três dos 17 estudantes que conquistaram uma bolsa de estudo para frequentar a licenciatura em Gestão de Empresas, variante em Gestão de Jogo e Diversões, do IPM. Muitos nunca entraram num casino a sério, mas a sala onde começaram a ter as aulas práticas na capital mundial do jogo apresenta semelhanças com uma sala de jogo. Atrás de uma mesa – vestindo a pele de ‘croupier’ – Belany Lopes, de 22 anos, separa e espalha fichas de diferentes cores, de forma metódica, pelo pano verde, sob o olhar de uma colega, enquanto murmura números. “Estava a fazer os cálculos de ‘blackjack’. No começo parece difícil, mas com a prática fica fácil! É interessante”, disse à agência Lusa. “Para gerires um bom negócio tens de entender tudo para saber como funciona”, afirma. “Sempre quis fazer gestão e gestão de jogo é algo diferente”, observou Belany, que se formou em Bioquímica no Brasil, mas concluiu que “não gostava de ficar o dia inteiro no laboratório” e que a idade lhe permitia “esta aventura”. Kino Rodrigues, de 23 anos, ao contrário da maioria dos colegas, que se conheceram na terra-natal
na indústria do jogo, o regresso a casa não é aposta garantida. Belany ri-se: “Sinceramente, não sei. Acho que prefiro aventurar-me, queria trabalhar um pouco em Macau, ganhar mais experiência antes de voltar”, disse, sem esconder outras possibilidades em cima da mesa, como Las Vegas ou República Checa. Também Kino afirma que desde que saiu do seu país, em 2014, sempre pensou em viver e trabalhar fora, mas o cenário pode mudar perante um convite para trabalhar em Cabo Verde: “É a minha terra, ficava perto da minha família”. Já António Lopes pretende esforçar-se para arranjar emprego fora: “Mesmo sabendo que no meu país há possibilidade de trabalho sempre há aquela ideia de que vou estar melhor do que lá”. Mas, “se não der”, “não tenho problemas em voltar”, confessou.
OS PRIMEIROS
durante o processo de candidatura, estava fora de Cabo Verde antes de ir para Macau: encontrava-se em Pequim desde 2014 a estudar mandarim. “Apareceu a oportunidade e como gostava de fazer ‘management’ [gestão] resolvi vir. O nosso país é pequeno e nem todo o mundo tem a possibilidade de continuar os estudos. Acho que é o caso de muitos dos que aqui estão”, afirmou, garantindo, porém, que não deixou o mandarim na gaveta: “Continuo a praticar em casa, por mim mesmo, a falar, a tentar escrever”.
OPORTUNIDADES DE OURO
Embora reconheça o “desafio enorme”, até porque estudam em inglês, Kino diz estar “a gostar muito” e reconheceu a mais-valia numa altura em que Cabo Verde se
abre à indústria do jogo: “É uma oportunidade de ouro”. António Lopes, de 19 anos, um dos mais novos da turma, também juntou o útil ao agradável: “Contas sempre foi uma das minhas paixões. Eu queria fazer outro curso, mas como tenho outros dois irmãos que estudam, eu sabia que ia ser difícil para os meus pais”. Além disso, este curso “era atractivo porque, com o empreendimento que vão fazer em Cabo Verde, as possibilidades de trabalho são maiores”, frisa António Lopes, que ainda não tem idade para entrar nos casinos em Macau, vedados a menores de 21 anos. “Estou a gostar, mas a minha grande paixão era fazer engenharia aeronáutica ou pilotagem. Quem sabe depois talvez desista” dessa ideia, partilhou, dando uma única
HABITAÇÃO KWAN TSUI HANG QUESTIONA MANUTENÇÃO DOS EDIFÍCIOS A deputada Kuan Kwan Tsui Hang questionou o Governo acerca do que tem sido feito no que respeita à debilitação dos edifícios destinados à habitação pública, nomeadamente nos problemas relativos à queda de telhas. Kuan Tsui Hang revela em interpelação escrita , que não tem
certeza: “Vim para estudar, não vim para brincar. Se era para brincar ficava em Cabo Verde”. Apesar de considerarem o curso uma oportunidade, ao abrir o leque de opções de emprego quando Cabo Verde dá os primeiros passos
visto qualquer acção por parte do Executivo em resposta às queixas que têm vindo a ser feitas, nem uma intensificação da fiscalização do estado de conservação e manutenção da habitação pública. A deputada ilustra a preocupação com a situação do Edifício do Lago. O complexo
“O nosso país é pequeno e nem todo o mundo tem a possibilidade de continuar os estudos. Acho que é o caso de muitos dos que aqui estão” KINO RODRIGUES ESTUDANTE
Esta turma tem duas particularidades: só tem cabo-verdianos e é a primeira do curso desde que, neste ano lectivo, se alargou a língua veicular ao inglês. O curso funciona desde 2009/2010 mas, até agora, apenas em chinês, explicou a directora do Centro Pedagógico e Científico na Área do Jogo do IPM, Hester Cheang Mio Han. “Este grupo é grande para um curso tão especial ou específico como este”, sublinha. O programa da bolsa de estudos inclui a isenção de propinas e outras taxas, alojamento gratuito e um subsídio mensal ao longo dos quatro anos do curso, mas dependente do aproveitamento. Este ano foi lançada em Cabo Verde a primeira pedra do projecto turístico do Ilhéu de Santa Maria/Gamboa, defronte da cidade da Praia, que inclui um casino com contrato de concessão de 25 anos. Trata-se do maior empreendimento turístico previsto para o país, resultante de um investimento do grupo Macau Legend, do empresário chinês de Macau David Chow, estimado em 250 milhões de euros - cerca de 15% do PIB de Cabo Verde - e tem abertura prevista para 2019. Mas o primeiro casino do país vai abrir ainda este ano, na ilha do Sal, dentro de um empreendimento da marca Hilton, encontrando-se a construção em fase final, afirma a agência Lusa, citando uma fonte da Inspecção Geral de Jogos de Cabo Verde. LUSA/HM
habitacional na Taipa já foi alvo de queda de telhas e da renovação de uma das paredes com apenas quatro anos de utilização. O Edifício Lok Kuan, em Seak Pai Van, também foi já sofreu de problemas nos telhados e a deputada apela a uma resposta pronta por parte das autoridades.
9 hoje macau segunda-feira 14.11.2016
SOCIEDADE
Fórum Macau ACADÉMICOS FALAM EM FALTA DE ESTRATÉGIA E DESCONHECIMENTO
“O que quer o Governo do Fórum?”
T
ODOS eles mantêm blogues onde comentam a actualidade do território, mas poucos escrevem regularmente sobre o Fórum Macau. Ainda assim, Pedro Coimbra, autor do blogue “Devaneios a Oriente”, Arnaldo Gonçalves, do “Exílio do Andarilho” e Luís Crespo, do “Bairro do Oriente”, participaram num debate organizado pelo jornal Ponto Final sobre o Fórum e o seu futuro, intitulado “Fórum Macau: Quo vadis?”. Apesar da fraca adesão do público, o debate aconteceu e deixou algumas ideias: poucos sabem o que o Fórum Macau faz ou aquilo que o Governo do território quer fazer com uma entidade criada em 2003. As críticas foram quase tantas como as questões. “É algo mais institucional, que tem que ver com circunstâncias históricas. É um Fórum sem grande ambição e acho que nunca terá grande ambição. É um instrumento diplomático de relações externas da China”, disse ao HM o académico Arnaldo Gonçalves. No debate, o académico afirmou que ainda não percebeu a estratégia do Secretário para a Economia e Finanças, Lionel Leong. “Há uma mudança de estilo na projecção internacional de Macau entre Edmund Ho e Chui Sai On, e o [Fórum] teria outro tipo de desenvolvimento. Se o Governo de Macau está realmente interessado no Fórum e se tem uma estratégia, ainda não percebi que o Secretário Lionel Leong a tenha. Já tivemos três coordenadoras [Cristina Morais vai deixar o cargo], qual é a sequência na liderança da estrutura? Não percebi ainda o que o Governo quer do Fórum.” Luís Crespo defendeu que poucos conhecem o trabalho do Fórum Macau. “Existe um certo desencanto. Sabemos muito pouco sobre aquilo que o Fórum faz. É
GCS
Pedro Coimbra, Arnaldo Gonçalves e Luís Crespo consideram que a população local continua a não saber as funções e o papel do Fórum Macau. Num debate organizado pelo jornal Ponto Final, muito se falou sobre a ausência de uma estratégia concreta por parte do Executivo local
algo que não se faz sentir no nosso dia-a-dia. Há a história do centro de produtos portugueses em Zhuhai, ou outras medidas que são anunciadas ao mais alto nível, mas depois não se vêem grandes resultados. Fomos bafejados pela sorte e a China tem sido bastante generosa, mas não estamos a aproveitar isso, porque depois dependeria do epicentro da lusofonia, que é Portugal, e que nunca demonstrou interesse em continuar aqui em Macau”, apontou.
BILATERALISMO EM QUEDA
O jurista Pedro Coimbra alertou para o facto de a China manter relações bilaterais com países membros do Fórum Macau. “As ligações ao petróleo não passam pelo Fórum. Penso que foi a China, farta de alertar o território com os discursos sobre diversificação eco-
nómica, que nos deu este presente. Uma estrutura comandada por Pequim para que Macau se volte para outras coisas que não o jogo. Nestes anos Macau mexeu com o Fórum? Não se viu nada.” Arnaldo Gonçalves lembrou ainda que as relações bilaterais atravessam também um período de crise. “As relações bilaterais fazem-se sem o Fórum e estão a fazer-se muito mal: veja-se a evolução das relações económicas, é dramática. Relações com Angola e Brasil, com queda de exportações de 60 por cento, é cair na vertical”, disse ao HM. O debate focou-se ainda no facto de apenas dois projectos terem sido aprovados no processo de candidatura ao fundo financeiro anunciado por Pequim. “Pusemos as expectativas à frente da realidade e isso acontece no Fórum. Não nos podemos esquecer
“É importante Macau ter isto porque não tem outra janela para o mundo.” ARNALDO GONÇALVES ANALISTA que o dinheiro é da China e tem de ser aplicado com bom senso. Os projectos têm de ter consistência e não podem ser um conjunto de boas intenções. Isso não está a acontecer e estão a pôr o carro à frente dos bois”, defendeu Arnaldo Gonçalves. Quanto à candidatura de projectos de Macau, o cenário parece ser negro. “Não acredito que haja empresas de Macau [a concorrerem ao fundo] porque não há empresas
tecnologicamente filiadas aqui, são de Hong Kong e isso tem que ver com a pequenez do território. Os empresários daqui são sobretudo de Hong Kong.” Ainda assim, colocou-se a questão: vale a pena a existência do Fórum Macau? Sim, defenderam os participantes, por ser mais um instrumento de diplomacia externa chinesa. “É importante Macau ter isto porque não tem outra janela para o mundo. Que projecto tem Macau como cidade internacional, virada para os outros países? Nenhum. A China quer apenas fazer marketing político”, defendeu o académico Arnaldo Gonçalves. Andreia Sofia Silva
andreia.silva@hojemacau.com.mo
10 EVENTOS
É um ano negro para quem gosta de música – de música a sério. Leonard Cohen morreu na passada sexta-feira, aos 82 anos. Tinha músicas e poemas para acabar, mas dizia-se preparado para ir embora
Despedida MORREU O MÚSICO LEONARD COHEN
AS COISAS PAR
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Á menos de um mês contava que só pensava na família, nos amigos e no trabalho que tinha em mãos. “Tive uma família para alimentar. Nunca vendi o suficiente para ser capaz de deixar de pensar em dinheiro. Tive dois filhos e a mãe deles para apoiar durante toda a vida. Tornou-se um hábito”, explicava à New Yorker, numa longa entrevista publicada a 17 de Outubro. “Depois há a questão do tempo, que é poderoso, com o seu incentivo para acabar. Estou longe de conseguir acabar. Acabei algumas coisas. Não sei quantas mais conseguirei acabar, porque neste momento sinto uma grande fadiga... Há alturas em que tenho de me deitar”, desabafava. “Já não consigo tocar.” Leonard Cohen morreu aos 82 anos e a notícia chegou pelo Facebook. Na página oficial de Cohen alguém anunciou, “com profundo pesar, que morreu o legendário poeta, escritor de canções e artista”, para depois acrescentar que “perdemos um dos visionários mais prolíficos da música”. Não foram dados detalhes sobre o que aconteceu – apenas que estava planeada uma cerimónia em Los Angeles, onde o músico viveu durante muitos anos. No artigo de Outubro, a New Yorker contava que Cohen tinha poemas para terminar, letras de músicas que ainda não tinha acabado, outras que não tinha gravado e outras prontas mas ainda por lançar. Estava a pensar, na altura, fazer um pequeno livro de poemas. “A grande mudança é a proximidade com a morte”, dizia. “Eu sou o tipo de pessoa arrumada. Gosto de acabar as coisas que comecei. Se não puder, tudo bem. Mas a minha natureza é essa.” Leonard Cohen sabia que não seria capaz de acabar as canções que tinha a meio. “Acho que não vou conseguir. Talvez, quem sabe? Mas não me atrevo a ficar preso a uma estratégia espiritual. Jamais o faria. Tenho algum trabalho para fazer. Estou pronto para
morrer. Espero que não seja muito desconfortável. Chegou a minha hora.” Uns dias depois, foi lançado o 14o. e último álbum do cantor, “You Want it Darker”. Na música que abre o disco – a música que dá o nome ao disco – ouve-se “I’m ready my Lord”. Cohen estava pronto.
DA SIMPLICIDADE
O que é que tinha Cohen de especial? “Para mim tudo. As palavras que tocam no mais íntimo de nós, na esperança, no amor, na sua constante beleza. A voz que nos envolve como nenhum outro, que ecoa dentro do nosso corpo. A música que se eleva em arranjos de uma simplicidade espiritual tão difícil de conseguir.” José Drummond, artista plástico, recebeu a notícia do desaparecimento de Leonard Cohen com profunda tristeza. “É uma estupidez por certo mas, tal como com David Bowie, sinto-me órfão”, diz. “São aqueles que estiveram sempre ao meu lado. Em quem sempre me refugiei em momentos de dor ou de alegria. É tão difícil escolher uma música apenas”, admite. Cohen foi transversal – atravessou gerações, países, chegou à fama sem nunca ter sido o artista que mais discos vendeu. Educou os sentimentos de muitos, com letras em que se fundiram imagens religiosas, temas de redenção e desejo sexual. E o amor, pois, o amor. “Cohen foi sempre o meu preferido para sonhar, para namorar, para acordar, para adormecer”, diz Drummond, sobre este homem “enigmático, uma estrela que se ocultava, que deixava a música falar por ele, que embora nascido judeu se dedicou ao budismo zen e que, nos seus poemas, incorporava todo um sentido cristão”, resume. “Podemos falar tanto sobre ele e o que quer que digamos é sempre bom.” Natural do Quebeque, Leonard Cohen já era um poeta e um novelista conceituado quando, em 1966, se mudou para Nova Iorque. Tinha 31 anos quando entrou no mundo da música. Não foi preciso muito
Cohen foi transversal – atravessou gerações, países, chegou à fama sem nunca ter sido o artista que mais discos vendeu. Educou os sentimentos de muitos
tempo para que a crítica começasse a comparar o seu trabalho ao de Bob Dylan, pela força lírica das canções que escrevia. Apesar de ter influenciado muitos músicos e de ter sido distinguido das mais diversas formas – celebrado pelo mundo do espectáculo, mas também pelas autoridades oficiais do Canadá, por exemplo – Cohen raras vezes atingiu os tops com o folk-rock (rótulo talvez curto) que foi gravando. Escreveu, no entanto, músicas que foram revisitadas por centenas de artistas. “Hallelujah”, lançada em 1984, é talvez o melhor exemplo do modo como o escritor de canções marcou gerações de cantores.
DO SAGRADO AO PROFANO
Muitas das canções que Leonard Cohen escreveu tornaram-se famosas pela voz de outros músicos – no início dos anos 1960, Judy Collins ajudou à projecção do compositor ao gravar alguns dos seus primeiros temas. Os admiradores de Cohen comparam os seus trabalhos a uma espécie de profecia espiritual. Escreveu sobre religião, mas também sobre amor e sexo, política, arrependimento e acerca daquilo que um dia disse ser a procura por “uma espécie de equilíbrio no caos da existência”. As letras das suas músicas eram muito pessoais – e às vezes assemelhavam-se a preces, como “Bird on the Wire”, de 1969. Entre os temas mais conhecidos estão “Suzanne”, “So Long, Marianne”, “Famous Blue Raincoat” e “The Future”. “So Long, Marianne” nasce do relacionamento com Marianne Ihlen, uma mulher que foi namorada – e musa – de Cohen nos anos 1960, depois de se terem conhecido na Grécia.
No artigo da New Yorker, depois de ter ficado a saber que Marianne teria poucos dias de vida, conta-se que Leonard Cohen lhe escreveu um email: “Bem Marianne, chegou a altura em que somos mesmo velhos e em que os nossos corpos já não aguentam, e eu acho que te vou seguir muito em breve”. Dois dias depois, o cantor ficou a saber que ela morreu depois de ter lido o email que lhe enviou. So Long, Marianne.
DOS LIVROS AOS DISCOS
A voz anasalada e grave – muito grave – de Cohen nem sempre foi bem recebida pela crítica e por outros músicos, como o britânico Paul Weller, que chegou a considerar que se estava perante um estilo melancólico “de cortar os pulsos”. Mas a verdade é que o trabalho de Leonard Cohen também é marcado pela ironia e por um sentido de humor muito próprio. Nascido em 1934, filho de judeus, o poeta, novelista e escritor de canções cresceu em Montreal, num bairro onde se falava inglês. Na adolescência, leu Federico García Lorca, aprendeu a tocar guitarra e formou uma banda de country que se chamava “Buckskin Boys”. Frequentou a McGill University, em Montreal, tendo publicado o seu primeiro livro de poesia pouco depois de se ter formado.
“Tenho algum trabalho par pronto para morrer. Espero desconfortável. Chegou a m
LEONARD COHEN EM ENTREVISTA À NEW YOR
11 hoje macau segunda-feira 14.11.2016
RA FAZER A viver com apoios do Governo do Canadá e com dinheiro que herdou da família, Cohen publicou, na década de 1960, as colecções de poesia “The Spice-Box of Earth” e “Flowers for Hitler”, e os romances “The Favourite Game” e “Beautiful Losers”. Mas, desiludido com o modo de vida que tinha, decidiu começar a escrever canções e acabou por fazer uma audição em 1967 com John Hammond. O produtor conseguiu um contrato com a Columbia Records, a discográfica com que Cohen viria a ter uma relação de cinco décadas. Deu centenas e centenas de concertos, mas também passou por períodos de isolamento, de meditação, longe dos públicos. Durante os anos 1990, esteve num mosteiro budista zen nas Montanhas de São Gabriel, perto de Los Angeles. Entre 2008 e 2013, voltou a palco com muita regularidade, depois de ter sido incapaz de recuperar grande parte dos nove milhões de dólares que dizia terem-lhe sido tirados por Kelley Lynch, antiga manager e companheira. Apesar da relação por Marianne – e das outras mulheres que fizeram parte da sua vida – Leonard Cohen não casou. Deixou dois filhos, milhares de fãs e uma obra para durar até ao fim do amor. Isabel Castro (com agências) isabel.castro@hojemacau.com.mo
ra fazer. Estou que não seja muito minha hora.”
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EVENTOS
A ALQUIMIA DE TRANSFORMAR A ESCURIDÃO
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M mês depois de completar 82 anos, Leonard Cohen ofereceu ao mundo o seu, agora confirmado, último álbum. “You Want it Darker” não é só mais uma viagem do compositor, poeta e cantor canadiano, à melancolia da existência. Agora, visto à luz da sua recente despedida, é o adeus sóbrio e sublime de um dos grandes nomes da canção dos últimos 50 anos. Leonard Cohen abre o disco com o tema que lhe dá nome e faz antever a morte, em que o “I´m ready my lord” não é só mais um verso, mas sim a assinatura da canção. A playlist que se segue, faixa a faixa, não é menos consciente. “Treaty” é uma verdadeira metáfora de amor e angústia perante a vida. Um tema de cansaço que, agora, se pode associar ao seu debilitado estado de saúde e à impotência perante o inevitável. O tão almejado “tratado” regressa na última faixa de “You Want it Darker”, agora num frenesim de cordas que marcam o abrir de portas do fim do disco e de 50 anos embalados pelos temas de Leonard Cohen.
A voz grave, que mais parece vinda das entranhas da melancolia, continua pelo álbum fora. Limpa, como a verdade que Cohen aponta tema a tema, e cortante em cada palavra que entoa. “I´m travelling light, it´s au revoir” é só um verso que abre mais uma canção, já com “You Want it Darker” a meio. Uma canção entre bandolins e coros, que o cantor tanto honrou ao longo da carreira, num convite a uma dança harmoniosa com a despedida de um amor, de uma vida. Não é possível escolher o melhor tema dos nove que compõem o último disco de Cohen. Mas é imperativo um tirar de chapéu, grato e humilde, como também ele ensinou a fazer nos concertos que deu nos últimos anos de vida. “You Want it Darker” é mais um reflexo daquele que conseguiu dotar a escuridão da existência de uma beleza doce, capaz de fazer os outros entenderem melhor o que levam no coração. “You Want it Darker” é um álbum, como todos os outros de Leonard Cohen, de amor, esperança, desilusão e, agora, de um verdadeiro adeus. S.M.
12 CHINA
hoje macau segunda-feira 14.11.2016
Alibaba MAIS DE 12 MIL MILHÕES DE EUROS EM MEIO DIA
Rica sexta-feira
O “Dia dos Solteiros” proporcionou ao gigante um número astronómico de vendas sustentado nas promoções de empresas de todo o mundo
O
gigante do comércio electrónico chinês Alibaba facturou nas primeiras 13 horas de sexta-feira, o “Dia dos Solteiros”, 91.200 milhões de yuan, aproximando-se da marca registada na totalidade do mesmo dia, em 2015. O “Dia dos Solteiros” gera todos os anos fortes vendas na China, devido às promoções que as empresas de comércio electrónico e os grandes armazéns lançam neste dia. A iniciativa, celebrada a 11 de Novembro pelos quatro ‘um’ que combinam nesta data (11/11), que afigura assim a condição de solteiro, foi criada em 2009 pelo fundador do Alibaba, Jack Ma. Nos primeiros cinco minutos após a meia-noite de sexta-feira, as vendas do Alibaba atingiram os 900 milhões de euros. Ao fim de uma hora, já iam em 4.800 milhões de euros.
“Conseguimos superar a nossa marca oito horas antes, face ao ano passado”, anunciou um mestre-de-cerimónias, num evento organizado para a ocasião na cidade de Shenzhen, sul da China. Um ecrã gigante no local do evento dava conta da facturação das duas plataformas digitais do grupo, TMall.com e Taobao.com.
Nos primeiros cinco minutos após a meia-noite de sexta-feira, as vendas do Alibaba atingiram os 900 milhões de euros. Ao fim de uma hora, já iam em 4.800 milhões de euros
Dezenas de milhares de vendedores em todo o mundo aderem a este dia.
PARA TODOS OS GOSTOS
Este ano, mais de 11.000 marcas internacionais, entre as quais a Apple, Burberry, Disney ou Zara, fizeram promoções aos seus produtos no Taobao e Tmall. A Gallo, a marca portuguesa de azeite, aproveitou também a data para lançar uma promoção na sua loja oficial no Tmall. Cada garrafa de 500 mililitros de azeite marcava 368 yuan (50 euros), quase 40% abaixo do preço habitual. País mais populoso do mundo, com cerca de 18% dos habitantes na Terra, a China é responsável por quase 40% do conjunto mundial de vendas pela internet. Pelas contas do Ministério do Comércio chinês, em 2015 o valor de vendas ‘online’ superou os quatro biliões de yuan - mais do triplo do PIB português.
Em nome dos pais Plano para reunir progenitores migrantes com filhos deixados para trás
A
China está a analisar formas de reunificar milhões de famílias separadas devido à migração interna, que resultou em que mais de nove milhões de crianças cresçam longe dos pais. Segundo o jornal oficial China Daily, o novo ministro dos Assuntos Civis, Huang Shuxian, avançou com essa proposta esta semana, durante a sua primeira reunião após suceder no cargo a Li Liguo. Devido ao alto custo de vida nas cidades e às restrições na autorização de residência, que limitam o acesso a serviços básicos como educação e saúde pública, milhões de trabalhadores optam por deixar os filhos ao cuidado de familiares. Em muitos casos, os pais só visitam as crianças uma vez por ano. Um censo divulgado pelo Governo na quinta-feira estima que o total de crianças “deixadas para trás” ascende a 9,02 milhões. Quase 90% - 8,05 milhões vive com os avôs, 3% com outros familiares e 4% permanece só quase 400.000 crianças. Uma das soluções propostas por Huang, segundo o China Daily, seria conceder autorização de residência (Hukou, em chinês) aos menores que migram com os pais, para que possam ir à escola
nas cidades ou recorrer ao serviço nacional de saúde. A autorização de residência ‘Hukou’ é um sistema implantado em 1958, durante o Governo de Mao Zedong, para controlar a migração massiva dentro do país e assegurar a continuidade da produção agrícola e a estabilidade social nos centros urbanos. O ministro propôs ainda a adopção de medidas para estimular os pais a voltar a casa e o apoio aos menores que abandonaram os estudos para que voltem à escola.
CAMPO DE FATALIDADES
A ocorrência de tragédias envolvendo estas crianças é frequentemente notícia na imprensa chinesa. No ano passado, quatro irmãos, com idades entre os cinco e os 14 anos, abandonados pelos pais durante meses, morreram depois de terem ingerido pesticida em Bijie, na remota província de Guizhou. No total, cerca de 60 milhões de chineses cresceram longe dos pais, desde as reformas económicas lançadas no país no final da década de 1970, que resultaram na transição de uma sociedade maioritariamente agrária para uma urbano-industrial, a um ritmo ímpar na História da humanidade.
EX-CHEFE DA POLÍCIA CONDENADO À MORTE POR HOMICÍDIO
Um ex-chefe da polícia de uma província do norte da China foi sexta-feira condenado à morte por homicídio da amante, coação, suborno e posse de armas de fogo e de material explosivo. Zhao Liping, 64 anos, matou a tiro a amante, de 28, identificada apenas como Li, e depois queimou o corpo, segundo o comunicado difundido por um tribunal da cidade de Taiyuan. Zhao foi responsável pela polícia na Mongólia Interior, província no extremo norte da China, ao longo de sete anos, até se ter reformado, em 2012, e foi também vice-chefe do órgão de consulta do governo local. O tribunal não detalha a causa do homicídio, em Março de 2015, mas os jornais chineses dizem que Li terá ameaçado que iria expor os seus crimes de corrupção. O ex-polícia usou o seu poder para “obter benefícios” e recebeu 24 milhões de yuan em subornos, acrescenta o comunicado.
13 hoje macau segunda-feira 14.11.2016
EXTRADITADO DA NOVA ZELÂNDIA APÓS 15 ANOS DE FUGA
U
M empresário chinês do sector farmacêutico, incluído na lista dos 100 fugitivos mais procurados pela China no estrangeiro, foi extraditado depois de 15 anos em fuga na Nova Zelândia e na Austrália, anunciou sábado o Governo chinês. Yan Yongmin rendeu-se à polícia na Nova Zelândia e foi extraditado para a China com a cooperação das autoridades daquele país, afirmou a comissão central para a inspecção da disciplina chinesa. Yan, antigo director da Tonghua Golden Horse Pharmaceutical Group em Tonghua, cidade do nordeste da China, fugiu para a Austrália em 2001 depois de ter sido acusado de fraude e desfal-
que na China, segundo notícias anteriores. Posteriormente, o fugitivo que adoptou a cidadania da Nova Zelândia com o nome de William Yan, estava na lista do Governo chinês dos 100 fugitivos mais procurados no estrangeiro. Segundo o jornal do Governo chinês China Daily, 33 pessoas que faziam parte da lista já foram transferidos para a China desde Julho último. A China tem poucos tratados de extradição com outros governos e a Nova Zelândia é o terceiro maior destino dos fugitivos chineses, a seguir aos Estados Unidos e ao Canadá, segundo a revista de negócios chinesa Caixin.
DETECTADAS 1.600 MILHÕES DE PARTÍCULAS DE MATÉRIA ESCURA
O
satélite lançado pela China para o espaço no ano passado para explorar a matéria escura do universo já detectou 1.600 milhões de partículas, informou sábado o diário chinês Global Times. Os cientistas pretendem agora analisar a informação obtida para entenderam de que é feita uma matéria que é cinco vezes mais abundante do que a visível – composta por átomos – e que se pensa que forma a maior parte do Universo. Os cientistas estabeleceram a existência da matéria escura - considerada a parte invisível do cosmos - na década de 1970, pelos seus efeitos gravitacionais na matéria visível, mas o seu conhecimento sobre a mesma é muito escasso. O satélite para a matéria escura chinês, chamado Wukong, foi lançado em 17 de Dezembro de 2015 e, depois de quase um ano em funcionamento, encontra-se actualmente numa órbita a 504 quilómetros de altitude desenvolvendo as suas operações com normalidade.
Este satélite inclui um telescópio espacial, o primeiro da China, que observa a direcção, energia e carga eléctrica das partículas espaciais de alta energia. Está previsto que durante os primeiros dois anos de operação, o telescópio faça pesquisas em todas as direcções e, passada essa primeira etapa, centre a sua actividade nas zonas onde os resultados iniciais sejam mais promissores. A China lançou sábado com êxito um novo satélite de observação meteorológica, o Yunhai-1, a partir da base espacial de Jiuquan (norte), no deserto de Gobi, impulsionado por um foguete da série Longa Marcha-2D. Este satélite, desenvolvido pela Academia de Tecnologia de Voos Espaciais de Xangai, vai dedicar-se à observação atmosférica, marítima e do espaço e à prevenção de desastres meteorológicos, assim como a realizar experiências científicas.
CHINA
ASSESSOR DE TRUMP QUER VER EUA NA ROTA DA SEDA
Novos desígnios
O ex-director da CIA diz que a oposição norte-americana ao Banco Asiático de Investimento foi uma falha e espera que a Administração liderada por Trump se associe ao plano da Nova Rota da Seda lançado pela China
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M assessor de Donald Trump, Presidente eleito dos Estados Unidos, afirmou sexta-feira desejar que o seu país participe na iniciativa chinesa Nova Rota da Seda, e apelou a Pequim para que contribua mais nas questões internacionais. James Woolsey, assessor para a Segurança Nacional, Defesa e Serviços Secretos, disse também que a decisão de Barack Obama em se opor ao Banco Asiático de Investimento em Infra-estruturas (BAII) foi um erro. “Em Washington, reconhece-se hoje que a oposição da administração Obama ao BAII foi um erro estratégico”, escreveu Woolsey, num artigo de opinião difundido pelo jornal de Hong Kong South China Morning Post. Fundado no início deste ano, o banco proposto por Pequim foi visto inicialmente em Washington como um concorrente ao Banco Mundial e ao Fundo Monetário Internacional, duas instituições sediadas nos EUA e habitualmente lideradas por norte-americanos e europeus. Das grandes economias mundiais, apenas os EUA e o Japão ficaram de fora. Portugal tem uma participação de cerca de 13 milhões de dólares e o Brasil é o único membro em todo o continente americano e o nono maior accionista. Sobre a iniciativa chinesa “Uma Faixa e Uma Rota”, um gigante plano de infra-estruturas, que pretende reactivar a antiga Rota da Seda entre a China e a Europa através da Ásia Central, África e sudeste Asiático, Woolsey diz que espera “uma resposta muito mais clara da próxima administração”. Segundo as autoridades chinesas, aquela iniciativa vai abranger 65 países e 4,4 mil milhões de pessoas - cerca de 60% da população mundial - e inclui a construção de uma malha ferroviária de alta velocidade entre a China e a Europa.
APELOS E VISÕES
O assessor de Trump apelou ainda às economias emergentes como a
“Vejo a emergência de um grande acordo em que os EUA aceitam as estruturas sociais e políticas da China e se comprometem a não alterá-las, a troco de um compromisso em que a China não desafia o actual status quo da Ásia” JAMES WOOLSEY ASSESSOR PARA A SEGURANÇA NACIONAL China, “que beneficiam muito do mercado global”, para que desempenhem um maior papel nas acções multilaterais contra o terrorismo, missões de ajuda humanitária ou operações militares para salvaguardar a paz. O ex-director da CIA (1993 a 1995) disse que o novo Governo dos EUA “provavelmente continuará a proteger os seus aliados contra abusos da China”, afirmando que “a presença norte-americana na Ásia não é guiada por ambições territoriais”. As duas maiores economias do mundo devem assim chegar a um
“acordo tácito”, em que Pequim respeita o estado actual da região e os EUA não desafiam o sistema social e político da China. “[O sistema chinês], mesmo que não gostemos, não temos necessariamente de fazer algo nesse sentido. Vejo a emergência de um grande acordo em que os EUA aceitam as estruturas sociais e políticas da China e se comprometem a não alterá-las, a troco de um compromisso em que a China não desafia o actual status quo da Ásia”, escreveu. “Será um empreendimento arriscado”, reconheceu.
h ARTES, LETRAS E IDEIAS
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Paulo Maia e Carmo tradução e ilustração
YAO ZUI
«Xu Huapin»
Continuação da Classificação dos Pintores Só posso apresentar uma face do assunto mas é quase como as três coisas preciosas1. Quando os pintores misturam a tinta e molham o pincel a sua intenção é trabalhar cautelosamente a forma das coisas, mas há uma resposta que não está nas formas2. Eles acendem o fogo quando experimentam a tinta e prosseguem o seu trabalho incansavelmente. Os seus olhos ficam pasmados pelas cores brilhantes na seda, mas as ideias não são consumadas. Formas que sejam vulgares e triviais podem no entanto ser melhoradas por algumas leves acentuações (mudanças na luz e as partes pesadas) e expressões de alegria e tristeza podem ser transmitidas ao alterar minimamente alguns detalhes, o mais pequeno cabelo. Além disso nos tempos recentes as modas como os modos de vestir costumam mudar três vezes num mês; mal são aperfeiçoados e já estão esquisitos e velhos. Não é certamente fácil para os pintores que procuram a perfeição.
1 - Osvald Sirén nota que são expressões retiradas de Lunyu as «Conversações» de Confúcio, livro XVI, parágrafos 4-5, «Sobre os três bens e os três males», onde são nomeadas séries de três como: «Três géneros de amizade»; «Três géneros de prazeres». Neste contexto, no entanto, também será relevante o que se diz na mesma obra, livro VII, 8: «Só estou disposto a ensinar aquele que procura ardentemente compreender (…) se, ao mostrar-lhe um ângulo, o vejo incapaz de deduzir os outros três, abandono a experiência.» 2 - Zhang Yenyuan voltará à origem da filosofia daoísta para explicar o paradoxo: «aquele que decidir mover o pincel com a intenção de fazer uma pintura, perde em grande medida a arte da pintura, ao passo que aquele que
cogitar e mover o pincel sem essa intenção, alcança a arte da pintura. As suas mãos não ficarão rígidas; o seu coração não ficará frio; sem saber como, ele alcança-a», (citado por Sirén p. 24). Era o que Zhuangzi ilustrava com as famosas histórias do cozinheiro do Príncipe Hui ou o canteiro de Ying, que realizavam as tarefas mais difíceis sem esforço aparente, porque alcançaram o segredo do Dao. É nos passos em volta desse mistério – «um Dao que se manifesta não é um Dao» - que se desenrola a literatura daoísta a que os comentadores da pintura recorreram para a explicar. No Huainanzi, por exemplo, diz-se: «A grande simplicidade não tem forma; a Via que vai mais longe é incomensurável. De modo que o céu é redondo sem necessitar de um compasso; a terra é linear sem necessitar de uma régua.»
15 hoje macau segunda-feira 14.11.2016
cidade ecrã
Rui Filipe Torres1
Terror e beleza em Godard 1. Weekend No Lisbon & Estoril Film Festival ’16 a retrospectiva de Godard avança e, no ecrã do teatro da Trindade, foi possível ser público de um dos filmes mais perturbadores da história do cinema, tem como título“Weekend”. Teve estreia em Paris em Dezembro de 1967, mas está longe de ser um filme de Natal. A experiencia da sua visão, imagem e som, é, uma imersão no abismo. Uma visão da falência da classe média e da sua construção burguesa, ou da sua aproximação aos ideias internacionais proletários. Com uma estrutura narrativa com poucas concessões à lógica mais imediata da continuidade, este filme terrível, mais do que antecipar o movimento dos estudantes e operários do icónico Maio de 68, visto hoje, em 2016, surge como uma visão pictórica, cinematográfica, de um real que ultrapassa em dimensão e barbárie a que filme vive e anuncia. Quase sempre os mais terríveis abismos do humano nos chegam em curtos fragmentos, mediados pelo electrodoméstico da comunicação de todos os lares e cozinhas a que chamamos televisão, com aquela previsibilidade e rotina de boletim de meteorologia onde sempre é de querer que em alguma parte do mundo a severidade climática seja mais intensa, pouco ou nada já incomoda, transforma. Em 2016, já todos vimos em sucessivos telejornais dezenas de carros incendiados na noite dos bairros periféricos de Paris, atentados e massacres em cidades da Europa, Américas, Ásia, África, e ao que parece a vacina da indiferença cumpre a possibilidade de sentir somente o aconselhado pelo termómetro do emocional esperado. Não é o caso do “Weekend”, aqui a experiencia de imersão cinematográfica, mesmo que distanciada - o filme é neste sentido brechtiano-, é de permanente espanto pela expressão cinematográfica, pictórica, do abismo, neste filme que ultrapassa todas as convenções formais anteriores a si próprio. Com inicio no interior confortável de um apartamento o filme precipita-se para um dos mais inquietantes planos sequencia da história do cinema, um travelling continuo lateral a uma estrada no campo, onde um engarrafamento de trânsito tem dimensão hiper, e obriga-nos a um confronto com uma imagem em espelho que não queremos olhar. Se o engarrafamento é ultrapassado, o confronto com um ecrã espelho catártico da barbárie presente neste nosso tempo civilizacional, não. “Weekend” é um filme impossível, Godard sabe-o, o filme termina anunciando o fim do cinema. Maio de 68 foi anúncio a um tempo novo onde o axioma foi; é proibido proibir. “ Weekend” visto em 2016, parece-me um urgente e difícil aviso à Barbárie que somos porque nos habita. 2. “ Le Mépris”, França/Itália 1963 (ou a morte de Penélope)
A 5ª longa metragem de Jean- Luc Godard é uma superprodução internacional com a estrela Brigitte Bardot, capaz de iluminar qualquer ecrã, e é também, na primeira parte da obra do autor, o filme mais reflexivo sobre a história do cinema e o seu futuro. Adapta Alberto Moravia, e põe em cena um produtor americano e um cineasta/autor. Jack Palance permite a Godard ligar Jeremy Prokosch à galeria de produtores hollywoodianos que se comporta como um imperador romano, assina cheques nas costas do seu escravo e líquida os últimos vestígios do humanismo europeu. Ao ir ter Fritz Lang para interpretar o realizador, Godard relaciona o cinema de “nouvelle vague” e o cinema estúdio de forma aberta enquanto linha narrativa. Lang é o artista que recusou todos os compromissos, resistido tanto à ditadura nazi como à maquinaria hollywoodiana. Encarna a figura do Sábio, cita Dante, Holderlin, Brecht e Corneille. Godard faz coexistir, ao longo do filme, e muitas das vezes na mesma cena, diferentes tempos. Na segunda cena de abertura do filme, que é a terceira dado que o genérico inicial é também uma cena introdutória e situacionista do posicionamento formal do filme; por um lado através da utilização da voz-off, indica a autoria artística e técnica e, simultaneamente, pela materialidade do filmado e pela forma como faz, o posicionamento, o lugar que o filme quer ocupar no vasto território do cinema. É afirmado que se está num cinema reflexivo, autoral, e numa co-produção entre França e Itália Na cena seguinte, Camille e Paul, na cama, uma das mais memoráveis cenas eróticas do cinema, estamos em simultâneo no tempo da vida banal e no tempo ficcional. A materialidade dos corpos percorridos lentamente, em
particular o corpo de Camille, na situação do banal quotidiano na vida dos afectos de um casal, com um trabalho plástico que distancia e aproxima, que afirmam o lugar do filme enquanto matéria própria. “ ...então gostas de mim completamente” pergunta Camille, responde Paul “...sim, Amo-te completamente, ternamente, tragicamente” responde Camille “ Eu também Paul”. Se a cena se inscreve no tempo da vida banal, é também uma cena que vai permitir o desenvolvimento da linha narrativa do filme que vive na tensão entre possibilidade ou impossibilidade do amor vivido. Permite o confronto do amor icónico de Penélope e Ulisses, e os resíduos desejos e impossibilidade, desse amor, icónico no contemporâneo. Na cena seguinte, que se decompõe em três cenas, duas exteriores e uma interior, todos os plots do filme ficam em definitivo lançados. Todas as personagens conhecidas e identificadas. Toda a proposição narrativa é conhecida. No exterior de uma Cinecitá que se aproxima sem possibilidade de retorno do um espaço ruína, afirmando a dimensão narrativa do espaço/décor, conhecemos o produtor “americano”, conhecimento construído de forma fílmica, num continuado discurso e acção, e não de forma meramente informativa/ descritiva. Na sala de projecção, assistimos ao visionamento de imagens do filme que é rodado dentro do filme, o plot principal da narrativa. Diferentes tempos no tempo da materialidade do filme. Um tempo civilizacional, um tempo ficcional. O conflito entre autor e produtor, o detentor das condições de produção, leia-se o dinheiro necessário para o exercício do cinema, é instalado. O poder do produtor
é afirmado numa imagem de total expressividade, ao assinar um cheque nas costas dobradas da assistente, a servir de mesa. O exercício de domínio e submissão continua no exterior quando, instalado ao volante do descapotável, o jogo de captura e sedução a Camille se instala, com a submissão de Paul, marido e escritor contratado, empregado, do produtor. O filme está lançado, materializado na matéria fílmica. A morte de Penélope. “ O cinema, diz André Bazin, substitui o nosso olhar sobre o mundo que foge aos nossos desejos, Le Mépris é a história desse mundo.” A morte de Penélope é a impossibilidade do regresso a casa. Quem morre é Camille, mas são as múltiplas leituras tornam o filme notável, magnifico. O jogo entre o agora “herói relutante” versus o herói guerreiro e de vontade determinada, a impossibilidade da permanência do amor e o amor incondicional, definitivo, atravessa a obra numa contaminação direta com fenomenologia do real, das relações concretas das práticas do social e do cinema. O homem contemporâneo vive uma orfandade que o assusta e que deseja, e a casa, esse lugar doméstico que pode apaziguar o mundo é um lugar perdido, vivido de forma intermitente, perante a dureza da operacionalidade do mundo e da perda da inocência. Morre o Produtor e Penélope, mas Ítaca, onde fica? 1 - Cineasta. Licenciado em Ciências da Comunicação pelo Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas da Universidade de Lisboa. Mestrando em Desenvolvimento de Projecto Cinematográfico na Escola Superior de Teatro e Cinema do Instituto Politécnico de Lisboa. O texto não segue o novo acordo ortográfico.
16 PUBLICIDADE
hoje macau segunda-feira 14.11.2016
17 hoje macau segunda-feira 14.11.2016
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O QUE FAZER ESTA SEMANA Diariamente VAFA - SALÃO DE OUTONO Casa Garden
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EXPOSIÇÃO “MEMÓRIAS DO TEMPO” Macau e Lusofonia afro-asiática em postais fotográficos Arquivo de Macau (até 4/12) ESCULTURA “LIGAÇÃO COM ÁGUA” DE YANG XIAOHUA Museu de Arte de Macau (até 01/2017)
O CARTOON STEPH
PROBLEMA 120
SOLUÇÃO DO PROBLEMA 119
UMA SÉRIE HOJE
SUDOKU
DE
C I N E M A
YUAN
1.17
OS QUATRO VOTOS DA VERGONHA
EXPOSIÇÃO “O ARAUTO DOS TEMPOS: O POETA F. HUA-LIN” Academia Jao Tsung-I (até 13/11)
Cineteatro
0.22
AQUI HÁ GATO
EXPOSIÇÃO “SE EU ESTIVESSE EM SÃO FRANCISCO/MACAU” Fundação Rui Cunha
EXPOSIÇÃO “EDGAR DEGAS – FIGURES IN MOTION” MGM Macau (até 20/11)
(F)UTILIDADES
Terminou uma semana de loucos, em que o mundo parece ter acabado, continuando a girar. Um empresário louco e racista ganhou as eleições nos Estados Unidos, um grande cantor morreu e, em Macau, o que aconteceu? Mais uma lei sindical que foi chumbada. Bom, o mundo por aqui também continuou a girar na loucura do costume, nada de novo. Ouvir os mesmos argumentos após uma eleição de Donald Trump só me faz pensar que estamos todos loucos: os candidatos, as pessoas e os políticos. Trump ganhou a eleição após uma campanha cheia de palavras racistas e xenófobas mas, por cá, o racismo também impera contra as pessoas que fazem esta economia girar todos os dias, ainda que não haja a tal diversificação. É comum ouvir-se cá no burgo que a Lei Básica só contempla residentes, que os não residentes têm de sair, que estão a roubar os empregos em Macau (Quais? Aqui há pleno emprego), que vivem com baixíssimos salários e que não têm acesso a nenhum tipo de apoio social. Muitos deles vivem em Macau há décadas. Não, não está tudo bem. O mundo acaba aqui todos os dias mais um bocadinho. Deixamos de aprovar uma lei sindical por apenas quatro votos e os não residentes vieram novamente à baila. What else? Pu Yi
THE CROWN | PETER MORGAN | 2016
A história da monarquia inglesa é contada a partir da morte do rei Jorge VI, pai da actual rainha Isabel II. Uma série coesa e com boas interpretações que aborda de forma equilibrada as grandes polémicas da casa real inglesa. Apesar de estar a desiludir em termos de telespectadores, vale a pena passar os olhos por esta produção. Andreia Sofia Silva
INFERNO SALA 1
YOUR NAME [B] FALADO EM CANTONENSE LEGENDADO EM CHINÊS E INGLÊS Filme de: Makoto Shinkai 14.30, 16.30, 19.30, 21.30 SALA 2
INFERNO [B] Filme de: Ron Howard Com: Tom Hanks, Felicity Jones, Irrfan Khan 14.30, 16.45, 19.15, 21.30 SALA 3
TROLLS [A]
FALADO EM CANTONENSE Filme de: Mike Mitchell, Walt Dohrn 14.15, 16.00, 19.30
TROLLS [A] [3D] FALADO EM CANTONENSE Filme de: Mike Mitchell, Walt Dohrn 17.45
DOCTOR STRANGE [B] Filme de: Scott Derrickson Com: Benedict Cumberbatch, Chiwetel Ejiofor, Rachel McAdams 21.30
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18 OPINIÃO
hoje macau segunda-feira 14.11.2016
FRANCISCO LOUÇÃ Público
HENRY SELICK, THE NIGHTMARE BEFORE CHRISTMAS
Trumpificação e o que de pior poderia haver em 2016
N
O final de 2015, diversas instituições publicaram as suas listas de pesadelos sobre tudo o que de pior poderia acontecer em 2016. Em resumo, temiam três famílias de riscos, a que chamam os “cisnes negros” ou o improvável mas que pode ocorrer: Brexit e crise europeia, acidentes financeiros e degradação económica, eleição de Trump e crise da globalização. Admitia-se então que estes seriam cenários extremos e pouco prováveis. Ora, só com mês e meio para ver o que mais virá neste ano, o quadro já não é simpático. A Bloomberg, baseada em inquéritos a empresários de topo, fez então um ranking dos pesadelos e apresentou um gráfico com o cálculo dos seus efeitos. Os três piores seriam
um ataque do Daesh aos pipelines do Médio Oriente fazendo subir o preço do petróleo, o Brexit e um ciberataque destrutivo contra a banca internacional. A eleição de Trump, em contrapartida, só seria viável se Clinton desistisse. Provocaria uma grande incerteza que favoreceria a indústria militar, um arranjo com a Rússia para uma nova Guerra Fria deslocada para o Pacífico e impactos imprevisíveis na ordem internacional, mas seria do domínio dos impossíveis. Na União Europeia, o
Tome nota, por favor: o centro deste risco é a Europa, que acumulou os maiores erros ao longo da década e os vai pagar agora com a trumpificação da sua política na França e na Alemanha
pesadelo seria a saída do Reino Unido, o enfraquecimento de Merkel e o recuo do BCE na política de expansão monetária. Na economia, os piores cenários seriam um fraco crescimento chinês ou a aceleração do aquecimento climático com efeitos devastadores na agricultura e acesso a água. Outro focos de tensão poderiam ser o Brasil se Dilma fosse afastada e a Venezuela se a crise se prolongasse. Como é bom de ver, os pesadelos chegaram pela calada do dia. Outra instituição que apresentou os seus cenários foi o The Economist: o pior, embora com baixa probabilidade, seria a eleição de Trump, que destabilizaria a economia global.A União Europeia poderia fracturar-se se o Reino Unido saísse, se a crise dos refugiados criasse novas tensões internas e atingisse Merkel e se a Grécia fosse empurrada para fora do euro. De tudo isto, já temos quanto baste – mas só pode piorar. Primeiro, a crise europeia: muros contra os refugiados e ascenso da xenofobia, aventura de Cameron no referendo britânico, sangria da Grécia. Mas vem mais: referendo em Itália e eleições austríacas em Dezembro e depois eleições francesas e alemãs em 2017. Cada um destes processos só pode acentuar a crise europeia. Segundo, a vitória de Trump. Ameaça imediata, renegar o Acordo de Paris sobre alterações climáticas. Mas olhe para o governo que se perfila, com o peso dos tubarões de Wall Street e a ressurreição dos profetas conservadores, e percebe-se o que está a chegar: maná dos céus para a finança e o neo-liberalismo casado com o autoritarismo, como nos seus mais esfusiantes momentos. Há no entanto um pesadelo de que ainda não acordámos, uma nova crise financeira. A pergunta, aliás, não é se ocorrerá, é quando ocorrerá. O aumento da volatilidade nos mercados financeiros e a acumulação de dívidas são as consequências de uma política ameaçadora: o BCE espalhou dinheiro que valorizou as acções mas não o investimento, enquanto as taxas de juro negativas comprimiam as margens bancárias e estimularam novas operações financeiras de risco, de que o Deutsche Bank é o exemplo mais conhecido (o valor nocional dos seus derivados é superior ao valor do PIB mundial). Ou seja, o nosso problema são as soluções para o problema. Chegados ao fim de 2016, temos então uma crise da procura mundial e zero capacidade para responder a uma recessão, porque os bancos centrais não podem fazer nada. Tome nota, por favor: o centro deste risco é a Europa, que acumulou os maiores erros ao longo da década e os vai pagar agora com a trumpificação da sua política em França e na Alemanha.
19 hoje macau segunda-feira 14.11.2016
OPINIÃO
dissonâncias ruiflores.hojemacau@gmail.com
C
Um mundo ao contrário
OMO presidente, Donald Trump não deverá adoptar todas as políticas que estiveram na base da sua campanha eleitoral e da extraordinária vitória sobe Hillary Clinton. As declarações que proferiu sobre o plano de seguro de saúde para os mais desprotegidos (Obamacare) após o primeiro encontro com Barack Obama, dão conta que, afinal, Trump, presidente, deverá deixar cair muitas das promessas de Trump, candidato. As ondas de choque à eleição de Donald Trump – sobretudo na Europa –, fazem prever profundas alterações não apenas na forma como os Estados se relacionam com Washington, mas também na forma como definem as suas políticas de segurança e de defesa e sob que prisma são definidas as linhas mestras das relações internacionais. O presidente da Comissão Europeia, Jean Claude Juncker, por exemplo, aproveitou a eleição de Trump para salientar uma das principais prioridades da Estratégia Global da União Europeia para as políticas externa e de segurança: o reforço dos orçamentos de defesa dos Estadosmembros. Aliás, a surpreendente vitória de Trump constituiu uma oportunidade para Juncker chamar a atenção para a estratégia adoptada pelos chefes de Estado e de governo da União Europeia, há quatro meses, que passou praticamente ao lado da imprensa internacional. O documento, aprovado cinco dias depois do referendo que determinou a saída do Reino Unido da União Europeia, no Conselho Europeu convocado para discutir o Brexit, não mereceu grande atenção por parte da comunicação internacional. Sobretudo aquela que é capaz de formatar a opinião pública internacional. No documento – redigido muito antes de qualquer indicação de que Trump poderia ganhar a Casa Branca – propõe-se que os Estados-membros da União Europeia reforcem a sua contribuição para a NATO, aumentem os seus orçamentos de defesa para a percentagem indicativa de 2% do Produto Interno Bruto e intensifiquem a cooperação militar. Numa frase: os europeus tinham de ter melhor equipamento, reforçar a componente formativa e estar mais bem organizados. Objectivos que não são fáceis de conciliar com políticas orçamentais restritivas. Por tudo isto, a mera eleição de Trump e toda a incerteza subjacente à manutenção das políticas de Obama em matérias de relações externas, veio pôr as questões de segurança e de defesa no centro da discussão no interior da União Europeia.
JUAN DIEGO SOLANAS, UPSIDE DOWN
RUI FLORES
Independentemente de vir ou não a aplicar muitas das prioridades enunciadas no último ano, convém ter presente algumas das prioridades que Trump tem para sua América. • Ambiente. Trump não acredita que as alterações climáticas sejam um problema ambiental significativo e duvida que seja o ser o humano o principal responsável pelo aumento da temperatura média do globo. Por isso, quer retirar os Estados Unidos (EUA) do acordo de Paris sobre as alterações climáticas que entrou em vigor apenas no início deste mês. • China. As principais ideias de Trump quanto à China passam pela denúncia da prática de dumping e de manipulação do mercado e por aumentar a presença militar americana no Mar do Sul da China. • Comércio internacional. Embora defenda o comércio livre, Trump tem criticado vários acordos assinados por Washington, por considerar que foram mal negociados e resultaram na perda de postos de trabalho para os norte-americanos. Quer, por isso, rever o acordo de comércio livre com o Canadá e México (NAFTA). Promete penalizar as empresas que desloquem a produção para fora do país, apontando o dedo
à Ford, a quem promete impor uma taxa de 35% na importação de veículos oriundos das fábricas localizadas no México. Trump anunciou que vai retirar os EUA da Parceria Transpacífica (TTP, na sigla inglesa), pois, diz, esta beneficia apenas a China, o Japão e as grandes empresas americanas. • Defesa. O aumento do orçamento militar é apresentado como uma das suas primeiras medidas. Trump pretende aumentar os efectivos no exército, marinha e força aérea, além de reforçar o escudo antimíssil norte-americano. Admite que o Japão tenha armamento nuclear e quer Tóquio e Seul a pagar mais pelo apoio que lhes é dado pelos Estados Unidos. • Estado Islâmico. Trump promete intensificar os ataques militares ao Estado Islâmico. Suspender a compra de petróleo à Arábia Saudita, caso esta não coopere na luta contra o Estado Islâmico. • Imigração. Trump promete deportar 11 milhões de imigrantes sem documentos que vivem nos EUA, construir um muro na fronteira sul do país e triplicar o número de agentes de imigração e controlo aduaneiro. Trump quer acabar com a política de atribuição de cidadania a filhos de imigrantes ilegais nascidos em território americano.
“Vêm aí tempos de incerteza e de alterações profundas do posicionamento de Washington no mundo. Se, por um lado, as políticas anunciadas por Trump levarão a um maior isolamento de Washington, por outro, demonstram uma visão comercial em relação ao apoio que é dados pelos EUA aos seus aliados tradicionais”
• Irão. Trump critica o acordo assinado com o Irão e propõe-se renegociá-lo, pois acusa Teerão de ser o maior patrocinador do terrorismo mundial. • NATO. Devido ao aumento do terrorismo na Europa, Trump questiona a utilidade da NATO, qualificando a instituição de obsoleta. Quer que os Estados europeus contribuam mais para a aliança. • Rússia. Trump está apostado em manter uma boa relação com Putin, a quem reconhece excelentes capacidades de liderança e elogia a sua actuação na Síria. • Segurança nacional. Trump propõe-se reforçar o programa de contra-terrorismo no interior dos Estados Unidos, incluindo os controversos programas de vigilância do governo da NSA, e manter a prisão de Guantánamo, em Cuba. Vêm aí tempos de incerteza e de alterações profundas do posicionamento de Washington no mundo. Se, por um lado, as políticas anunciadas por Trump levarão a um maior isolamento de Washington (no que diz respeito ao comércio internacional, por exemplo), por outro, demonstram uma visão comercial em relação ao apoio que é dados pelos EUA aos seus aliados tradicionais. Ao mesmo tempo que Japão e a Coreia do Sul deverão ter de pagar mais pelo escudo que lhes é propiciado pela presença militar americana, um eventual reforço de meios no Mar da Sul China pode levantar alguma inquietação em Beijing. Os tempos do “realpolitik” estão para ficar. Uma visão realista das relações internacionais parece ter tomado conta da lógica da política internacional. A resposta de Juncker à eleição de Trump indicia isso.
Pescar peixe já frito não é bonito
segunda-feira 14.11.2016 Atlântido
Seul CENTENAS DE MILHARES PROTESTAM CONTRA PRESIDENTE
O povo saiu à rua
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ENTENAS de milhares de pessoas saíram este sábado à rua na capital da Coreia do Sul, numa das maiores manifestações antigovernamentais da história do país, para reclamar a demissão da presidente Park Geun-Hye, envolvida num escândalo político. Apolícia, que inicialmente esperava uma multidão de 170 mil pessoas, estimou depois em 260.000 o número de manifestantes, enquanto os organizadores do protesto falam em um milhão de pessoas na rua. Esta é a terceira de uma série de manifestações semanais contra Park, que luta pela sua sobrevivência política. As autoridades apelaram à calma e cerca de 25.000 polícias foram mobilizados na capital, bloqueando todos os acesso à Casa Azul, a sede da presidência em Seul. Durante a noite, uma maré humana invadiu a avenida Gwanghwamun, empunhando velas e cantando slogans em que pediam a demissão da presidente.
CUIDADO COM OS AMIGOS
O escândalo que envolve Park Geun-Hye há três semanas deve-se à sua amiga Choi Soon-Sil, que está detida e acusada de fraude e abuso de poder. Os procuradores estão a investigar alegações de que Choi, de 60 anos, usava a sua amizade com a Presidente para conseguir donativos de grandes empresas
A manifestação de sábado é a maior na Coreia do Sul desde 10 de Junho de 2008
como a Samsung para fundações sem fins lucrativos que ela própria criara e usava para fins pessoais. Choi é também acusada de interferir nos assuntos do Estado e de aceder a documentos
confidenciais apesar de não ter qualquer cargo oficial ou habilitações de segurança. Os relatos da influência nefasta de Choi sobre Park lançaram as taxas de aprovação da Presidente para cinco por cento, um mínimo histórico para um Presidente em exercício. Na manifestação de sábado ouviram-se ainda outras críticas, desde a queda do preço do arroz até à forma como as autoridades coreanas lidaram com o naufrágio do ferry Sewol em 2014, que fez mais de 300 mortos, entre os quais 250 estudantes. Tentando apaziguar a cólera popular, a Presidente apresentou várias desculpas, demitiu altos responsáveis e até aceitou renunciar a algumas das suas prerrogativas, mas em vão. Park reconheceu ser responsável pelo escândalo, admitindo ter sido, por amizade, “negligente” e pouco vigilante. No entanto, recusou ter participado, sob influência daquela a quem os media sul-coreanos chamam de “Raspoutine”, num culto religioso de inspiração xamânica. A amiga de 40 anos da Presidente é filha de um misterioso chefe religioso, Choi Tae-Min, que se tornou no seu mentor após o homicídio da mãe em 1974. A manifestação de sábado é a maior na Coreia do Sul desde 10 de Junho de 2008, quando uma vigília contra a decisão governamental de pôr fim à importação de carne dos EUA reuniu 80 mil pessoas, segundo a polícia, ou 700 mil, segundo a organização. No verão de 1987, milhões de pessoas manifestaram-se durante semanas em Seul e em outras cidades até que o então governo militar cedeu a realizar eleições presidenciais livres.
NOVA ZELÂNDIA ALERTA DE TSUNAMI APÓS SISMO DE 7.8
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M terramoto de magnitude 7.8 na escala de Richter abalou ontem a Nova Zelândia, pouco depois da meia-noite (hora local). O epicentro estará situado a 208 quilómetros a sudoeste de Wellington, a capital neozelandesa e foi lançado um alerta à população da costa Leste da ilha do Sul a procurar zonas altas, por haver sinais de formação de um pequeno tsunami. O Ministério da Protecção Civil pediu às populações costeiras
visadas que procurem refúgio, “como medida de precaução”, porque cerca de duas horas depois do sismo, formou-se um pequeno tsunami na zona, com uma onda que atingiu um metro de altura, disse a sismóloga Anna Kaiser à Radio New Zealand. “Isto é razoavelmente significativo para as pessoas levarem a sério”, acrescentou, citada pela Reuters. “A primeira onda pode não ser a mais forte. As ondas podem
continuar durante várias horas”, diz um comunicado o Ministério da Protecção Civil. O sismo ocorreu a cerca de 91 km de Christchurch, a maior cidade da ilha do Sul. Um relatório preliminar da agência norte-americana de tsunamis diz que “este terramoto tem o potencial para gerar um tsunami destrutivo na região de origem”. Depois do sismo inicial, foram sentidas muitas réplicas, algumas delas fortes.
PARIS STING EVOCOU VITIMAS DOS ATENTADOS DO BATACLAN
O cantor britânico Sting evocou este fim-de-semana as vítimas do ataque à sala de concertos Bataclan, em Paris, com um minuto de silêncio, e sublinhou a necessidade de celebração da vida com música, naquele «lugar histórico». Um ano após os atentados de 13 de Novembro de 2015, a música regressou à sala de espectáculos onde 90 espectadores foram mortos por um grupo de terroristas do Estado Islâmico, com um concerto de homenagem às vítimas. «Esta noite temos duas tarefas a conciliar: primeiro, recordar os que perderam a vida no ataque, e, depois, celebrar a vida, a música, neste lugar histórico», disse o cantor britânico em francês, antes de fazer um minuto de silêncio.
JAPÃO CONDENADO À MORTE POR DOIS HOMICÍDIOS EXECUTADO
Um condenado à morte foi executado sexta-feira no Japão, naquela que foi a primeira execução no país desde Março e a 17.ª desde o regresso ao poder do primeiro-ministro conservador Shinzo Abe, há quatro anos. Kenichi Tajiri, 45 anos, foi considerado culpado das mortes de duas mulheres durante assaltos em 2004 e 2011 e enforcado, após aprovação do ministro da Justiça, Katsutoshi Kaneda, anunciou o Governo. “São casos extremamente brutais que causaram grande tristeza às famílias”, disse Kaneda em conferência de imprensa. “Decidi ordenar a execução depois de muita reflexão”, acrescentou. Esta é a segunda vez que um homem é executado depois de ter sido julgado por um tribunal composto por cidadãos comuns ao lado de juízes, um sistema criado em 2009. O Japão e os Estados Unidos são as únicas democracias industrializadas que aplicam a pena de morte, uma prática regularmente denunciada por associações internacionais de defesa dos Direitos Humanos.